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A Pressa da Justiça Morosa - Roberto Portugal Bacellar (monografia)

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127Revista ENM
Roberto Portugal Bacellar
AMAPAR
A PRESSA DA JUSTIçA 
MOROSA*
Há muitos anos o Poder Judiciário recebe a crítica de que as soluções são 
muito demoradas e em face do grande volume de serviço dos magistrados, 
mesmo com a designação de muitas audiências por dia, algumas delas são 
agendadas para até dois anos para frente.
Esta monografia de nome curioso e, a princípio, paradoxal – A pressa da 
justiça morosa – apresenta um modelo de abordagem mais comum no sistema 
do common law denominado estudo de caso. 
No começo da década de 90, vários jornais inauguraram seções ou colunas 
especializadas em Direito, descrevendo sentimentos dos leitores de pertencer a 
uma sociedade mais justa onde seus direitos fossem respeitados. Registraram-
se dezenas de denúncias de mau atendimento e desrespeito ao cidadão pelos 
prestadores de serviços públicos. Os jornais, por sua vez, diante desse novo 
papel que lhes foi atribuído, abriram espaço em suas colunas, para registrar 
e até responder a essas questões, servindo de instrumento de justiça para esse 
grupo de indivíduos (SADEK, 2001).
Para contextualizar o problema objeto do estudo, por meio do método 
“caso análise”, temos como ponto de partida a suposta narrativa de um 
jurisdicionado encaminhada a um veículo de comunicação. A partir dessa 
história de atendimento ao jurisdicionado pelo Poder Judiciário passaremos 
a analisar a percepção dele como consumidor de serviços judiciários sobre 
a qualidade e eficiência/ineficiência do sistema. Após a análise dos fatos o 
desafio será o de projetar e construir medidas prospectivas em prol da atuação 
de um Poder Judiciário de qualidade com a abertura de um leque de soluções 
* Concurso de Monografia da AMB –Vencedor da Área II (Planejamento Estratégico do Judiciário)
128 Revista ENM
possíveis a fim de que o verdadeiro atendimento do jurisdicionado também 
seja “Finalidade da Justiça”. 
A monografia tem inspiração constitucional no postulado maior e 
fundamento antropológico comum da Dignidade da Pessoa Humana (art. 1o, 
III) e no princípio da Eficiência (previsto, dentre outros, nos arts. 37 e 39 da 
Constituição da República).
1. Os fatos do caso análise
“Recebi a intimação de que meu processo teria audiência de conciliação, 
instrução e julgamento. Pensei: finalmente meu caso vai ser julgado; como ainda 
tinha um ano e meio até o dia designado, me preparei muito para falar com o juiz. 
Dias antes da audiência não pude nem dormir e minha cabeça rememorava 
cada uma das melhores formas que eu já tinha planejado para contar o caso 
para o juiz. 
No dia, já pulei da cama bem cedinho revisei tudo, fiz anotações e uma hora 
antes já estava no Fórum esperando meu advogado. Meu coração estava agitado 
e esperar com calma era difícil no ambiente do fórum que estava uma correria. 
Uma coisa eu estranhei: demorou tanto para chegar o dia do julgamento 
e lá no fórum parecia que todo mundo estava com pressa. A audiência estava 
marcada para 14h, já era mais de 15h e ninguém falava nada; meu advogado 
confirmou que o caso ia ser julgado, mas ia atrasar mais um pouco. Começou 
com quase duas horas de atraso e o juiz estava com muita pressa: ele entrou na 
sala, nem se apresentou e já foi falando sobre o caso. Também percebi que ele 
estava com pressa porque quando eu comecei a contar o ocorrido ele enfiou a 
cabeça dentro daquele monte de papel do processo e ficou virando as páginas 
para frente e para trás. Parei de falar por um instante e ele disse: ‘pode falar 
que eu estou ouvindo!’. Comecei novamente a falar sobre o que eu queria e ele 
disse que era para eu chegar logo no ponto; continuei um pouco inseguro e ele 
esclareceu que eu estava falando sobre coisas que não eram ‘objeto da lide’. Não 
entendi muito bem, mas avancei falando e definitivamente fui interrompido 
porque o ponto que eu deveria falar era aquele do processo: era para falar 
do valor que o advogado pediu; quando eu comecei a falar do dinheiro ele 
começou a ler ‘de novo’ o caso; capotou o processo para um lado e para o 
outro sem prestar atenção no que eu estava falando. Percebi que ele realmente 
estava com pressa e não ia me ouvir. Parei de falar. Eu havia me preparado 
muito e tinha todo o tempo do mundo para contar o caso e buscar uma solução. 
129Revista ENM
No fundo eu até entendi que para o juiz eu era só mais um número. Para mim, 
resolver o caso com meu vizinho era realmente muito importante.
Lembro que teve uma hora na audiência que começamos a conversar – 
meu vizinho (a outra parte) e eu – e parecia que as coisas iam se encaminhar, 
já tínhamos algumas possibilidades de acordo e quase chegamos lá. Mas o 
juiz disse que infelizmente não teria mais tempo para conversa e tinha de 
começar a instrução. Eu argumentei que a conversa estava boa e poderia nos 
levar a uma conciliação. Ainda assim o caso foi instruído – como eles dizem. 
Ouviram testemunhas, minha fala não foi registrada porque quando eu tentei 
falar novamente disseram que os advogados não tinham pedido depoimento. 
Meio difícil de entender: eu estava ali e poderia esclarecer algumas coisas para 
ajudar a resolver a questão.
Saiu a decisão na hora. Condenaram o vizinho a me pagar 7 mil. Eu tentei 
falar com o juiz sobre a sentença e ele disse que agora só podia mudar alguma 
coisa se eu recorresse. Eu ia dizer apenas que eu sei que ele não tem como 
pagar e por isso queria muito contar para o juiz que não era bem isso que eu 
queria, eu queria era resolver o caso mesmo. Fazer o quê? Tinha muita vontade 
de voltar o caso e aproveitar aquele momento e continuar conversando até 
achar uma solução. Agora a coisa ficou pior e o relacionamento está péssimo. 
Eu tinha todo o tempo do mundo, mas depois de tantos anos de espera, o juiz 
estava com muita pressa de julgar rápido o processo naquele dia. Foi o que ele 
fez e até entendo: são tantos os outros casos, não é?”
2. Desafios
Sabe-se que o desafio de satisfazer os interesses do jurisdicionado não é 
tarefa fácil.
Os resultados que o usuário espera (e avalia de maior importância) – 
rapidez, bom atendimento (qualidade), clareza, informalidade e efetividade 
geram uma expectativa.
A relação entre o que o cidadão (jurisdicionado) espera do juiz e aquilo que 
o juiz faz (decidindo ou não o mérito da causa) é que determina a qualidade 
do serviço – segundo a perspectiva dele, jurisdicionado.
Se no passado atender apenas ao pedido imediato do jurisdicionado 
dirigido ao Estado-juiz de condenação, de constituição ou de declaração 
era suficiente para determinar a eficiência formal do Poder Judiciário, hoje 
a exigência é por uma tutela de resultados que produza efetivos resultados 
130 Revista ENM
práticos e proporcione atendimento à expectativa de justiça do cidadão. A isso, 
como resultado, se tem denominado de tutela jurisdicional justa. 
Se no passado prometer acesso formal à justiça era suficiente, hoje esse 
acesso é denominado de acesso à ordem jurídica justa, o que inclui um 
processamento adequado e célere. A celeridade, entretanto, não mais pode 
ser analisada apenas na perspectiva do Estado, antes deve ser tomada a partir 
dos interesses do principal destinatário da Justiça que é o jurisdicionado. A 
celeridade só se impõe e se justifica tendo em vista o interesse do jurisdicionado.
O acesso à ordem jurídica justa mede-se pela correspondência mais próxima 
que houver entre a qualidade esperada do Poder Judiciário e a experimentada 
pelo cidadão. Essa relação vai determinar a satisfação ou não satisfação do 
jurisdicionado e a realização ou não realização da nova promessa “acesso à 
ordem jurídica justa”.
O caso retrata a evidência corrente de que muitos dos valores e expectativas 
do cidadão de ser respeitado, ouvido e valorizado pelo Poder Judiciário não têm 
sido considerados. Mesmo no plano operacional dos tribunais, valorizam-se 
mais a celeridade numérica, quantitativa e as soluções que resultam na extinção 
de processos. Esse tecnicismo, embora elogiávelpara parcela das demandas 
e necessário a vencer o índice de congestionamento dos tribunais, não pode 
desconsiderar o jurisdicionado como ser humano (art. 1o, III, da Constituição 
da República). 
Os fatos narrados indicam haver algumas soluções técnico-jurídicas 
que acabam sendo inadequadas: na perspectiva do Tribunal, a celeridade 
de extinguir processos na própria audiência é mais produtiva, a despeito e 
até contra a vontade do jurisdicionado (desconsiderando totalmente a sua 
perspectiva).
Aos olhos do principal destinatário e usuário da prestação jurisdicional, a 
celeridade desejada no atendimento de seu caso (rapidez) não se confunde com a 
pressa que ele percebe (da parte do Poder Judiciário) no dia do julgamento do seu 
caso. Nesse dia, ele quer ser ouvido, quer atenção, quer ser respeitado e valorizado. 
Para o jurisdicionado, qualidade depende de um serviço atencioso que será célere 
ainda que demore todo o tempo necessário à satisfação de seus interesses.
Essa postura do Poder Judiciário, que desconsidera os interesses do 
jurisdicionado, lembra a da rainha descrita por Antoinne de Saint-Exupéry que 
“desejando conhecer os seus súditos e saber se eles gostavam de seu reinado, 
saiu dos limites do palácio e vislumbrou pessoas felizes, bem alimentadas; 
131Revista ENM
tudo isso cuidadosamente preparado pelos cortesãos que ergueram ao longo 
da estrada um cenário maravilhoso e contrataram artistas para que dançassem 
ali. Fora daquele estreito caminho ela nem sequer entreviu nada, e não soube 
que pelos campos adentro seu nome era amaldiçoado pelos que morriam de 
fome” (apud, CALANZANI, 1999, p. 29).
O acesso à ordem jurídica justa, como concretização da realidade dos 
fatos, exige uma nova percepção de celeridade voltada a analisar o tempo pela 
importância que o jurisdicionado a ele destina.
Todos os entraves já conhecidos que determinam a demora na prestação da 
tutela jurisdicional não justificam a pressa no atendimento ao jurisdicionado.
“O tempo social é estudado pela cronêmica. Trata-se da percepção, 
estruturação e reação ao tempo social, assim como às mensagens que 
interpretamos através de seu uso. O conceito de tempo é parte essencial da 
forma como vemos o mundo e interagimos com ele.” (RECTOR, 2003, p.78)
“Hoje, a unidade ‘hora’ deixou de ser o referencial da rapidez porque os 
cronômetros estão preparados para os milionésimos de segundo. Esta nova 
modalidade de viver tem como referencial a instantaneidade...” (MACCALÓS, 
2002, p. 162).
A exigência de rapidez assusta porque sabemos que em alguns casos a 
demora (na prestação da tutela jurisdicional) é necessária ao alcance de uma 
solução justa. Há situações, entretanto, que independentemente do tempo de 
espera é preciso valorizar o atendimento.
A falta de respeito ao jurisdicionado ou a percepção dele de que foi mal 
atendido, ou atendido com pressa, prejudica a imagem e a legitimação social 
do Poder Judiciário.
Não interessa e não é a prioridade do jurisdicionado, por exemplo, se 
o índice de congestionamento dos tribunais diminuiu ou se os juízes são 
trabalhadores e têm boa produtividade nas suas (belas e bem fundamentadas) 
sentenças de mérito. Interessa sim, a esse consumidor (de justiça), que ele 
seja bem atendido, receba as informações necessárias em linguagem acessível. 
Claro que a ele também interessa que a solução final do seu caso seja rápida, 
seja eficaz e, segundo sua perspectiva, seja justa. 
Além do conhecimento técnico-jurídico, o desenvolvimento de habilidades 
sociais e humanistas pelos magistrados é uma necessidade voltada ao melhor 
atendimento jurisdicionado. Capacitações permanentes a partir da definição 
de políticas públicas podem ser estimuladas ainda mais pela Escola Nacional 
132 Revista ENM
de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (Enfam-STJ) e aplicadas em 
todos os tribunais brasileiros. 
A Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados 
(Enfam), a partir do art. 105, parágrafo único, I, da Constituição da 
República, por meio das Resoluções 1/2007 e 2/2007, com ênfase na 
formação humanística e pragmática dos magistrados apresentou, em um 
primeiro momento, um balizamento geral destinado a orientar e colaborar 
com os tribunais regionais federais e tribunais de Justiça na implementação 
dos cursos de formação para ingresso, aperfeiçoamentos para vitaliciamento 
e promoção de magistrados. Em seguida, e antes ainda de estabelecer as 
diretrizes para os conteúdos programáticos mínimos, a Enfam colheu 
subsídios das escolas de Magistratura Federal e Estadual e obteve, por meio 
dessa interface, preciosas informações necessárias a projetar o perfil de 
magistrado que se espera ver integrado aos quadros da magistratura, perfil 
esse de um magistrado integral, humanista, pragmático e com conhecimentos 
interdisciplinares que o capacitam a manter um relacionamento aberto com 
a sociedade. 
Uma formação humanista e interdisciplinar, além de tratar de situações 
práticas da atividade e de assuntos diretamente relacionados ao exercício 
jurisdicional (elaboração de decisões, sentenças, audiências e alterações 
legislativas), abrange conhecimentos relativos às relações interpessoais e 
interinstitucionais, psicologia, sociologia, deontologia, ética, administração 
e gestão de pessoas, recursos da informação, impacto político, econômico e 
social das decisões judiciais, difusão da cultura de conciliação como busca da 
paz social, técnicas de conciliação, dentre outros conhecimentos.
O próprio Conselho Nacional de Justiça (CNJ) como gestor de políticas 
gerenciais de uma magistratura nacional pode formular recomendações aos 
tribunais no sentido de formar, capacitar e aperfeiçoar continuamente os 
magistrados e servidores para atender, no contexto de programas de qualidade, 
as expectativas do jurisdicionado como cidadão. 
Indaga-se e questiona-se sobre essa possibilidade de efetivamente atender a 
todas essas expectativas do cidadão.
A experiência do Poder Judiciário, como órgão oficial de resolução de 
controvérsias, tem indicado que a satisfação plena é muito difícil de ser 
alcançada. Quem decide sempre desagrada e, portanto, sempre haverá 
insatisfação. Ninguém melhor que Millôr Fernandes para exprimir esse 
133Revista ENM
sentimento de desagrado permanente do destinatário da justiça: “– como é 
que eu posso acreditar numa Justiça que dá razão aos outros?”.
Se não é possível chegar ao ideal, certamente é possível conduzir um 
processo de modo a valorizar a pessoa humana dentro de uma perspectiva de 
acesso à ordem jurídica justa.
A celeridade esperada pelo jurisdicionado não é a que decorre de 
julgamentos apressados ou a que determina produtividade quantitativa.
Para chegar mais além, há necessidade de um esforço no sentido de 
prestigiar o jurisdicionado dando ao caso atenção e destinando a ele o tempo 
necessário à sua percepção de satisfação com celeridade. E a proposta é a de 
que o atendimento presencial seja qualificado, que a morosidade e a demora 
não pretendam ser compensadas no dia do atendimento das partes e em 
desatenção às suas necessidades de serem ouvidas.
3. A Dignidade da pessoa humana e o Princípio da eficiência
O Postulado maior e fundamento antropológico comum a todos os 
princípios constitucionais é o da Dignidade da Pessoa Humana.
Art. 1o A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel 
dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado 
Democrático de Direito e tem como fundamentos:
...
III – A dignidade da pessoa humana.
O princípio constitucional da eficiência é originário da ciência da 
Administração e é descrito, dentre outros, nos arts. 37 e 39 da Constituição 
da República.
O parágrafo 7o do art. 39 deixa clara essa assertiva ao descrever:
Art. 39
(...)
§ 7o Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios 
disciplinará a aplicação de recursos orçamentários provenientes 
da economia com despesas correntes em cada órgão, autarquia 
e fundação, para aplicaçãono desenvolvimento de programas 
de qualidade e produtividade, treinamento e desenvolvimento, 
modernização, reaparelhamento e racionalização do serviço público, 
inclusive sob a forma adicional ou prêmio de produtividade.
134 Revista ENM
O Poder Judiciário, por ser titular do monopólio jurisdicional1, pouco 
se incomodava, no passado, com a visão do povo, principal destinatário das 
decisões judiciais. 
Hoje, as colunas de leitores nos jornais, artigos assinados (como verdadeiros 
desabafos), enquetes e pesquisas de opinião têm retratado a falta de respeito ao 
cidadão que necessita dos serviços judiciários.
Tais reclamações, em relação ao atendimento do jurisdicionado, devem 
ser também consideradas com fonte de inspiração para mudanças, inclusive 
na interpretação do que seja acesso à ordem jurídica justa que deve ter como 
componente a celeridade, tendo em vista os interesses dos jurisdicionados. 
Alguns formulários de satisfação aplicados em tribunais brasileiros igualmente 
têm sido uma rica fonte de conhecimento para identificar desrespeitos ao 
cidadão e aperfeiçoar a atividade do Poder Judiciário.
A qualidade dos serviços judiciários – com foco na satisfação dos interesses 
dos usuários – é o caminho para o alcance da eficiência. 
A eficiência, em parte, resultará como consequência da melhor qualificação 
do tempo destinado ao atendimento do jurisdicionado. Independentemente 
da fração de tempo destinada ao jurisdicionado, nela o juiz e os servidores 
precisam dar toda a atenção aos desabafos, ansiedades e reclamos do cidadão. 
Resulta a convicção de que a imagem do Poder Judiciário perante a 
população pode melhorar, a despeito da demora e até mesmo do conteúdo da 
decisão de mérito, desde que o jurisdicionado seja bem atendido e valorizado. 
4. Celeridade e justiça como valores dos jurisdicionados
A busca da paz é a razão da existência do Poder Judiciário. A pacificação 
social é o resultado que se almeja quando se procura o Estado-Juiz e na 
pacificação está o valor: Justiça. 
Como se fez breve referência e bem ressalta GRISSANTI em seu estudo, “a 
partir do começo da década de 90, um crescente número de jornais inaugurou 
seções ou colunas especializadas em direito. Essa data tem estreita relação 
com o restabelecimento da democracia e movimentos de conscientização 
da cidadania. Esse sentimento de pertencer a uma sociedade, de ter seus 
direitos respeitados, levou alguns cidadãos a apresentar denúncias contra os 
1 Nasce hoje uma pequena “concorrência” formada pelos denominados tribunais arbitrais oriundos da Lei 
9.307/1996 (Lei Marco Maciel).
135Revista ENM
serviços prestados por certos órgãos públicos, no que diz respeito ao mau 
atendimento, não execução de serviços etc. E outros, como consumidores, 
foram levados a apresentar queixas quanto à qualidade dos serviços ou 
produtos adquiridos. Perceberam, então que, para essas “pequenas” questões 
de direito, os jornais com que tinham contato diário, ou quase diário, 
poderiam ser um veículo a mais para fortalecê-los diante da ‘surdez’ de uma 
empresa que se recusa a atender às reclamações de seus consumidores, ou 
da ‘cegueira’ de órgãos públicos que não vêem seus usuários com o respeito 
que merecem. Os jornais, por sua vez, diante do novo papel que lhes foi 
atribuído, abriram espaço em suas colunas, passando a responder a essas 
questões, servindo de instrumento de justiça para esse grupo de indivíduos.” 
(SADECK, 2001, p. 219).
Só na cidade de São Paulo esse estudo selecionou sete jornais – o Estado 
de S. Paulo, Gazeta Mercantil, Folha de S. Paulo, Jornal da Tarde, Agora São 
Paulo, Diário Popular e Notícias Populares –, dos quais cinco foram analisados.
As reclamações são tanto em relação ao processo (forma, tempo, local, 
atendimento) quanto em relação ao resultado. 
Sabe-se haver maior satisfação quando a solução é alcançada diretamente 
pelas partes em uma negociação, conciliação ou mediação. Quando isso 
não é possível torna-se necessário fazer Justiça pela atividade final do juiz no 
processo, que é a sentença (a decisão da causa). O desafio de fazer com que 
o sentimento de justiça do juiz corresponda exatamente ao sentimento de 
justiça das partes é muito difícil de ser alcançado.
Não é missão difícil, porém, atender com respeito, com educação e com 
urbanidade ao cidadão que procura pelos serviços judiciários. 
Justificado pelo absurdo volume de serviço nos juízos brasileiros, os 
magistrados estão constatando a triste realidade narrada pelo cidadão: “demoram 
para atender as partes e ao atendê-las o fazem com pressa”. 
Perceba-se, em uma análise realista, que, depois de toda a demora no 
atendimento das partes, não se afigura razoável um atendimento apressado e 
que seja percebido pelo jurisdicionado como falta de respeito, falta de atenção 
e desconsideração.
5. Reflexões e conclusões
Por acreditar na viabilização de efetivas medidas de gestão oriundas do 
próprio Poder Judiciário é que os tribunais deverão construir, com base nos 
136 Revista ENM
princípios da administração, uma projeção estratégica voltada ao atendimento 
do jurisdicionado.
Além de produzir, em nome do Estado, decisões judiciárias e solucionar 
controvérsias, os magistrados e os servidores precisam ser capacitados para 
ouvir os reclamos da população e viabilizar um atendimento ao público de 
qualidade.
Formulários de satisfação e outros mecanismos de pesquisa poderão indicar 
as deficiências a serem corrigidas. Instrumentos de gestão estratégica e de 
acordo com as diretrizes da Enfam facilitarão a capacitação e qualificação dos 
magistrados para melhor desempenho social e atendimento do jurisdicionado.
As propostas estratégicas de treinamento, capacitação e percepção da 
celeridade poderão levar o Poder Judiciário a alcançar o ideal de efetivação da 
promessa de “acesso à ordem jurídica justa”, que é aquela analisada segundo a 
perspectiva do jurisdicionado.
Da experiência vivida pelo Poder Judiciário, resulta a convicção dirigida à 
necessidade de democratizar gestão ouvindo os jurisdicionados e capacitando 
melhor os magistrados.
O prestígio dos juízes e do próprio Poder Judiciário depende 
fundamentalmente do atendimento do jurisdicionado. A demora na prestação 
jurisdicional é menos traumática do que a pressa que é percebida pelo 
jurisdicionado como desatenção e desrespeito.
O momento atual exige que o Poder Judiciário resgate a sua boa reputação, 
amplie a sua legitimação social e faça aflorar sua essência (um serviço público 
essencial e de qualidade).
“Há esperança, e o limite entre o possível e o impossível está na força, 
na coragem e na determinação que dedicarmos aos nossos ideais.”
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