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Escola de Administração Fazendária ESAF FISCALIZAÇÃO DE PROJETOS E OBRAS DE ENGENHARIA Ficha técnica Coordenador Técnico e Conteudista - Secretaria da Receita Federal do Brasil Athos André do Amaral Rocha Coordenação de Produção Equipe de produção DIEAD/ESAF Planilha Orçamentária – Módulo 3 ...........................................................................4 3.1 A Planilha Orçamentária: principais conceitos e como ela deve ser exigida ......... 4 3.1.1 Os diferentes tipos de orçamento (expedito, preliminar e detalhado) ..........4 3.1.2 Como deve ser o orçamento vinculado ao projeto? .....................................10 3.1.3 Preço: conceito e forma de composição ......................................................15 3.1.4 O lançamento do percentual do ISS na planilha de composição do BDI ....19 Encerramento ........................................................................................................24 Sumário 4 3.1 A Planilha Orçamentária: principais conceitos e como ela deve ser exigida 3.1.1 Os diferentes tipos de orçamento (expedito, preliminar e detalhado) Ao final deste tópico, o aluno será capaz de: § Analisar os diferentes tipos de orçamento e identificar a sua correta aplicação. Um dos itens que integram o pacote de projeto, o orçamento para a execução da obra, após a quantificação dos seus materiais e serviços, é o elemento que possibilitará a formação do preço de venda do objeto. A quantificação, ou seja, a mensuração dos insumos e serviços do projeto, é uma das responsabilidades do projetista. A ABNT NBR 13531:1995 – Elaboração de projetos de edificações – Atividades técnicas, cancelada em 2017, determinava, no seu item 3.4 (Contratação de prestação de serviços técnicos especializados de projetos), alínea “c” , que o cronograma físico- financeiro da obra era uma das etapas que deviam estar previstas na contratação de um projeto. A ABNT NBR 13532:1995 – Elaboração de projeto de edificações – Arquitetura determinava que o Projeto Executivo de arquitetura deveria trazer entre os seus elementos o “memorial quantitativo dos componentes construtivos e dos materiais de construção” (ABNT, 1995, item 4.4.9.2, alínea “b”).1 Ambas as normas foram substituídas pelo conjunto de normas ABNT NBR 16636. A norma técnica ABNT NBR 16636-1:2017 – Elaboração e desenvolvimento de serviços técnicos especializados de projetos arquitetônicos e urbanísticos – Parte 1: Diretrizes e terminologia, traz, no seu item 3 (Termos e definições), o subitem 3.40, conceituando orçamento: 1 ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 13532:1995 – Elaboração de projeto de edifica- ções – Arquitetura. Rio de Janeiro: ABNT, 1995. MÓDULO 3 PLANILHA ORÇAMENTÁRIA 5 3.40 - Elaboração de orçamento Atividade que envolve o levantamento de custos, de forma sistematizada, de todos os elementos inerentes ao projeto e à execução de determinado objeto de construção (ABNT, 2017). A norma técnica ABNT NBR 16636-2:2017 – Elaboração e desenvolvimento de ser- viços técnicos especializados de projetos arquitetônicos e urbanísticos – Parte 2: Projeto arquitetônico, traz como uma das responsabilidades do projetista, na etapa de Projeto Executivo, a elaboração de memoriais quantificativos e de planilhas orça- mentárias como documentos de texto a serem apresentados no projeto (item 6.4.7.2, alínea “b”). Pode ser que essa seja uma novidade para você, mas saiba que poucos profissionais de projeto, principalmente aqueles que atuam na iniciativa privada, têm o domínio dessa informação. Esse fato ocorre pela tendência que temos de que, fina- lizado o projeto, a responsabilidade pelo seu orçamento seja do orçamentista, elabo- rado de forma distante e dissociado do seu projetista, muitas vezes contratado pela construtora somente no momento prévio à execução da obra. Os tipos de orçamento podem variar em precisão e complexidade de acordo com o objetivo pretendido. O orçamento que servirá como uma referência inicial para a avaliação da viabilidade de um empreendimento terá menos complexidade e trará maior margem de erro do que um orçamento final, para obra, advindo de um Projeto Executivo. Esse último, embora de grande complexidade, terá ainda margem de erro aceitável, menor, porém, do que a margem de erro admitida para o primeiro. Conforme o TCU, por meio da Portaria Segecex nº 33, de 7 de dezembro de 2012,2 os orçamentos de obra podem ser classificados em expedito, preliminar e detalhado. 2 BRASIL. Tribunal de Contas da União. Portaria Segecex nº 33, de 7 de dezembro de 2012. Aprova revisão do Roteiro de Auditoria de Obras Públicas, declarando-o documento público, revoga suas versões anteriores, e dá outras providências. Brasília: TCU, 2012. 6 As avaliações expeditas podem ser feitas com base em custos históricos, índices, gráficos, estudos de ordens de grandeza, correlações ou comparação com projetos similares. Podem, por exemplo, ser utilizados índices específicos conhecidos no mercado, a exemplo do CUB, para avaliação expedida do custo de construção de edificações. O CUB é o custo por unidade de área construída para alguns tipos de projetos padronizados estabelecidos pela ABNT NBR 12721:2006 – Versão Corrigida 2:2007 – Avaliação de custos unitários de construção para incorporação imobiliária e outras disposições para condomínios edifícios – Procedimento. Outros exemplos de estimativas de custo são o custo por MW (megawatt) de potência instalada, no caso de usinas termoelétricas, ou a estimativa de custo de rodovias mediante o uso de um custo médio por quilômetro de rodovia construída. Dessa forma, as avaliações expeditas têm como vantagem: a) Possibilitar a análise da viabilidade dos empreendimentos e a escolha da alternativa a ser desenvolvida na etapa de detalhamento dos projetos, sem impor o elevado ônus da elaboração de um orçamento detalhado. b) Não requerer muitas informações detalhadas sobre o projeto, e, por isso, o seu custo é muito menor do que o custo de elaborar um orçamento completo, muito embora a elaboração de uma estimativa requeira muita experiência do estimador, além de conhecimento, sensibilidade e informações atualizadas. c) Avaliar preliminarmente os orçamentos de obras públicas para indicar se o va- lor global do empreendimento está adequado ou não, apesar de ser um método simples e de pouca precisão (BRASIL, 2012, p. 29). O orçamento preliminar é mais detalhado do que a ava- liação expedita de custos, pois pressupõe o levanta- mento de quantidades e requer pesquisa de preços dos principais insumos e serviços. Enquanto a avaliação ex- pedita é utilizada no estudo de viabilidade, o orçamento preliminar costuma ser utilizado na fase de anteprojeto. Os orçamentos preliminares normalmente são elabo- rados quando a execução do projeto de engenharia de 7 detalhamento já foi contratada, o que propiciará a geração de muitos dados, embora não definitivos, para servirem de base para o orçamento. Dessa forma, estarão dis- poníveis para o orçamentista dados como os custos dos serviços de engenharia que já foram contratados, especificações preliminares de equipamentos de processo e de utilidades e listas preliminares de materiais. Também poderá dispor de dados so- bre o tipo de fundações e plantas arquitetônicas das edificações. Apesar do menor grau de incerteza do orçamento preliminar, o orçamentista ainda pode fazer uso de levantamentos expeditos de algumas quantidades e atribuição de custos para alguns serviços. Exemplos de levantamentos expeditos que podem ser utilizados em um orçamento preliminar de obra de edificação: Área d e form as (m ²) = volum e de concr eto (m ³) x 1 2 Peso de aço (kg) = volume de concreto (m ³) x 100 Volume total de concreto (m³) = área construída x 0,16 Volumede remoção de entulho = volume de demolição x 2 Área dereboco = área de alvenaria x 2 8 O orçamento detalhado é elaborado com base nas composições de custos unitários e extensa pesquisa de preço dos insumos. Esse tipo de or- çamento procura chegar a um valor bem próximo do custo real da obra, com uma reduzida mar- gem de incerteza e a sua elaboração ocorre nas fases de Projeto Básico ou Executivo, ou seja, o orçamento detalhado só é justificável se o proje- to apresentar elevado grau de desenvolvimento, o que possibilitará a obtenção de listas completas de materiais. A sua função é servir de base para a licitação da obra, podendo também ser uma ferramenta para o controle de custos de implan- tação do empreendimento. Eventuais aditivos de contrato, quando da execução da obra, deverão sempre se pautar nesse tipo de orçamento (BRASIL, 2012, p. 30). Você sabia que, atualmente, a tecnologia BIM é poderoso instru- mento para a extração de listas completas de materiais e insumos de um projeto, trazendo grande ajuda na sua quantificação para a elaboração do orçamento detalhado? 9 Em relação à precisão esperada para os diferentes tipos de orça- mento, a Orientação Técnica IBR nº 004/2012 do Ibraop3 assim os define: Saiba Mais Tipo de orçamento Estimativa de custo Preliminar Detalhado ou analítico (orçamento base da licitação) Detalhado ou analítico definitivo Estudos preliminares Anteprojeto Projeto básico Projeto executivo Área de construção multiplicada por um indicador. Quantitativos de serviços apurados no projeto ou estimados por meio de índices médios, e custos de serviços tomados em tabelas referenciais. Quantitativos de serviços apurados no projeto, e custos obtidos em composições de custos unitários com preços de insumos oriundos de tabelas referenciais ou de pesquisa de mercado relacionados ao mercado local, levando-se em conta o local, o porte e as peculiaridades de cada obra. Quantitativos apurados no projeto e custos de serviços obtidos em composições de custos unitários com preços de insumos negociados, ou seja, advindos de cotações de preços reais feitas para a própria obra ou para outra obra similar, ou ainda, estimados por meio de método de custos real específico. + 30%* + 20% + 10% + 5% Fase de projeto Cálculo do preço Faixa de Precisão 3 3 IBRAOP – INSTITUTO BRASILEIRO DE AUDITORIA DE OBRAS PÚBLICAS. Orientação Técnica IBR nº 004/2012. Florianó- polis: Ibraop, 2012. p. 4. 10 3.1.2 Como deve ser o orçamento vinculado ao projeto? Ao final deste tópico, o aluno será capaz de: § Observar a necessidade de adequação do orçamento gerado na fase de projeto (orçamento de referência da Administração) ao Decreto nº 7.983/2013. As regras para os orçamentos das obras públicas eram dadas pela Lei de Diretrizes Orçamentárias anualmente, até o ano de 2013. Na ocasião da edição de cada uma da- quelas leis, eram definidos os critérios que deveriam ser obedecidos pela Administra- ção Pública na sua elaboração. Ponto comum entre tais leis era a adoção das tabelas do Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil (Sinapi), mantidas pela Caixa Econômica Federal, por meio de pesquisa de preços no mercado, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e a observação de ex- tração de medianas para os custos apontados naquelas tabelas. No ano de 2013 foi editado o Decreto n° 7.983, de 8 de abril de 2013, que, consolidando o entendimento recorrente daquelas leis de diretri- zes orçamentárias, estabeleceu regras e critérios para a elaboração do orçamento de referência de obras e serviços de engenharia contra- tados e executados com recursos dos orçamentos da União. Observe que no mesmo ano, complementando a jurisprudência sobre o tema, o TCU editou o Acórdão nº 2.622/2013 – TCU – Plenário, que retomava o posicionamento da corte dado no Acórdão nº 2.369/2011 – TCU – Plenário, com análise da incidência do Benefício e Despesa Indireta (BDI) sobre os orçamentos de obras públicas e que teve abor- dagem complementar por meio do Acórdão nº 2.440/2014 – TCU – Plenário. Saiba Mais 11 Para que possamos entender a aplicação do Decreto nº 7.983/2013 aos orçamentos das obras públicas, é necessário retomar alguns conceitos previstos no seu texto: Custo unitário de referência Valor unitário para execução de uma unidade de medida do serviço previsto no orçamento de referência e obtido com base nos sistemas de referência de custos ou pesquisa de mercado. Composição de custo unitário Detalhamento do custo unitário do serviço que expresse descrição, quantidades, produtividades e custos unitários dos materiais, mão de obra e equipamentos necessários à execução de uma unidade de medida. Custo total de referência do serviço Valor resultante da multiplicação do quantitativo do serviço previsto no orçamento de referência por seu custo unitário de referência. Custo global de referência Valor resultante do somatório dos custos totais de referência de todos os serviços necessários à plena execução da obra ou do serviço de engenharia. Uma das questões definidas no Decreto nº 7.983/2013 é a ênfase na utilização das medianas dos custos unitários previstos nas tabelas do Sinapi para a obtenção do custo global de referência: 12 Art. 3º O custo global de referência de obras e serviços de engenharia, exceto os serviços e obras de infraestrutura de transporte, será obtido a partir das composições dos custos unitários previstas no projeto que integra o edital de licitação, menores ou iguais à mediana de seus correspondentes nos custos unitários de referência do Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil – Sinapi, excetuados os itens caracterizados como mon- tagem industrial ou que não possam ser considerados como de construção civil (BRASIL, 2013)4. 4 A demonstração do custo global de referência é feita por meio do orçamento sintético da obra. Conforme Baeta (2012)5, o orçamento sintético, ou planilha orçamentária, é a relação de todos os serviços de uma obra com as respectivas unidades de medida, quantidades e preços unitários. Ou seja, o orçamento sintético é a planilha que demonstra a soma dos custos totais de referência dos serviços, estes conforme o conceito apresentado no Decreto nº 7.983/2013. O orçamento analítico é a apresentação de cada um dos custos unitários dos serviços que integram o orçamento (BAETA, 2012, p. 77). 4 BRASIL. Decreto nº 7.983, de 8 de abril de 2013. Estabelece regras e critérios para elaboração do orçamento de referência de obras e serviços de engenharia, contratados e executados com recursos dos orçamentos da União, e dá outras provi- dências. Diário Oficial da União, Brasília, 2013. 5 BAETA, André A. Pachioni P. – Orçamento e controle de preços de obras públicas –. São Paulo: Pini, 2012. p. 62. 13 Saiba que é bastante comum, até mesmo entre fiscais de projetos e obras da Administração Pública, o erro na interpretação desses dois conceitos. Muitas vezes entende-se o orçamento sintético como sendo apenas um resumo dos itens globais de uma obra (mobilização, infraestrutura, supra- estrutura, instalações, etc.) que, por conta da palavra “sintético” do seu nome, transmite a ideia de síntese e, por consequência, confere ao orça- mento analítico a ideia de uma relação completa de itens que permitiria a “análise” dos custos da obra. Efetivamente, o orçamento sintético é a peça que contém a relação completa dos custos unitários de referência (ou de serviço), e que pela sua soma é definido o valor da obra (ou projeto). O orçamento analítico é peça que contém a relação completa das composi- ções de custos unitários, ou seja, o detalhamento de cada um dos custos unitários de serviço apresentadosno orçamento sintético. Fique Ligado O Projeto Básico finalizado deve disponibilizar o orçamento de referência da Adminis- tração, que é uma das peças que integrarão o futuro edital de licitação da obra, de- vendo trazer obrigatoriamente o orçamento sintético, o orçamento analítico, a com- posição do BDI, o cronograma físico-financeiro da obra, o critério de aceitabilidade dos preços6 e as cotações de mercado. Esse último item não deve constar do edital nem ser disponibilizado às licitantes, servindo apenas de instrumento de consulta da Administração para o momento da fase externa da licitação, quando da análise dos orçamentos apresentados pelas proponentes. As cotações de mercado deverão ser feitas para aqueles itens que não constam das tabelas de referência oficiais (Sinapi, Sistema de Custos Referenciais de Obras – Sicro, Sistema de Orçamento de Obras de Sergipe – Orse/SE, Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil – Novacap/ DF, Secretaria de Infraestrutura do Ceará – Seinfra/CE etc.), legalmente aceitas para 6 Na contratação de serviços de engenharia o instrumento convocatório deve estabelecer critérios de aceitabilidade dos preços unitários e global (Decreto nº 7.963/2013, art. 11 e Orientação Normativa AGU nº 5, de 1º de abril de 2009). 14 as composições de custos dos orçamentos da Administração, e têm de ser apresen- tadas com, no mínimo, três cotações para cada item (BRASIL, 2011)7. Na apresentação do orçamento pela licitante deve constar o orçamen- to sintético, o orçamento analítico, a composição do BDI da proponen- te, o cronograma físico-financeiro da obra e a indicação do responsável técnico pelo orçamento, com sua formalização. A responsabilidade técnica pelo orçamento será configurada por meio da Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) – sistema Confea/Crea – de um engenheiro ou de Registro de Responsabilidade Técnica (RRT) – CAU/BR – de um arquiteto e urbanista. 7 BRASIL. Tribunal de Contas da União. Acórdão nº 1.266/2011 – TCU – Plenário. Brasília: TCU, 2011. 15 3.1.3 Preço: conceito e forma de composição Ao final deste tópico, o aluno será capaz de: § Analisar os itens formadores do preço de uma obra e entender o conceito de preço de venda. Aprofundando o tópico anterior, veremos, a seguir, o critério de formação do preço de venda para uma obra. O orçamento referencial para a licitação de uma obra da Administração Pública é elaborado na fase do Projeto Básico pelo projetista e seu orçamen- tista, que iniciará o seu trabalho pela análise dos projetos. Tanto melhor e mais preciso será o orça- mento quanto mais completo for o projeto. Essa é a principal razão pela qual há intensa campanha dos conselhos profissionais, para que as licitações sejam feitas adotando-se o Projeto Executivo de uma obra, e não o Projeto Básico, conforme permi- tido pela Lei nº 8.666/1993. Pela análise do projeto é possível a listagem dos serviços previstos e a sua quanti- ficação. A etapa seguinte é o cálculo do custo unitário de cada serviço, o orçamento analítico, com a apresentação das composições de custos unitários. O orçamento analítico permitirá a consolidação do orçamento sintético e a aplicação do BDI. Con- forme o Decreto nº 7.983/2013, sobre o custo global de referência (advindo do orça- mento sintético), deve ser aplicada a taxa de BDI contendo, minimamente, os seguin- tes itens: I. Taxa de rateio da Administração central. II. Percentuais de tributos incidentes sobre o preço do serviço, excluídos aqueles de natureza direta e personalística que oneram o contratado. III. Taxa de risco, seguro e garantia do empreendimento. IV. Taxa de lucro. Análise do projeto 16 Há ainda outros itens que poderão integrar o BDI, representando as despesas aplicadas à realidade de cada tipo de empresa, como as despesas administrativas e as despesas financeiras. A primeira refere-se ao desembolso quando da contratação de serviços com alocação de postos de trabalho. A segunda, “aos gastos relacionados à perda decorrente da defasagem entre a data do efetivo desembolso e a data da receita correspondente” (BRASIL, 2001)8. O Acórdão n° 325/2007 – TCU, no entanto, fundamenta que tais despesas não devem incidir sobre equipamentos, e que a despesa financeira não deve incidir sobre serviços9. Importante Há, no entanto, itens não recomendados para inclusão no BDI (MENDES, 2013, p. 42), quando da elaboração do orçamento de referência pela Administração, embora possam constar do BDI ofertado pela licitante no momento da licitação. São eles: o Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). Ao incluí-los, a licitante deve apresentá-los de forma destacada na composição do BDI. A fórmula de cálculo do BDI para as obras da Administração Pública consta do Acórdão nº 2.369/2011 – TCU – Plenário, consolidada no Acórdão nº 2.622/2013 – TCU – Plenário. Esse último traz ainda valores médios orientativos para o BDI e seus componentes, conforme o tipo de obra, e que servem de referência para a montagem do orçamento da Administração. 8 BRASIL. Tribunal de Contas da União. Revista do TCU, Brasília, v. 32, n. 88, abr./jun. 2001. 9 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Nota Técnica n° 3/2009 – SCI. Brasília: STF, 2009. p. 4. 17 Com o cálculo do BDI, finalmente é possível obter o preço de venda (PV), que é o resultado da aplicação do percentual do BDI ao custo direto da obra (BRASIL, 2013, art. 2º, inciso VI), dado pela fórmula abaixo: PV = CD (1 + %BDI) onde: CD é o custo direto da obra. Observe No caso de obras e serviços de engenharia, na oferta do BDI deve ser considerado também o BDI reduzido para materiais e equipamentos de natureza específica e que representem valor significativo da obra. Vejamos o que destaca o Decreto n° 7.983/2013, no seu art. 9º, parágrafo 1º: § 1º Comprovada a inviabilidade técnico-econômica de parcelamento do objeto da licitação, nos termos da legislação em vigor, os itens de forneci- mento de materiais e equipamentos de natureza específica que possam ser fornecidos por empresas com especialidades próprias e diversas e que repre- sentem percentual significativo do preço global da obra devem apresentar incidência de taxa de BDI reduzida em relação à taxa aplicável aos demais itens (BRASIL, 2013). 18 Esses equipamentos e materiais podem ser, por exemplo, máquinas de ar-condicio- nado, elevadores, grupos geradores, divisórias, mobiliário, estabilizadores e nobreaks, ou seja, todos aqueles cuja fabricação ou montagem tenham processo que não seja de domínio da licitante (ou contratada), e que, dada a sua especificidade, tenham for- necedores que detenham tal domínio. O Acórdão nº 2.452/2017 – TCU – Plenário informa que uma taxa de BDI acima do limite referencial da Administração Pública não representa, por si só, superfaturamento, desde que o preço contratado (preço de venda) esteja compatível com o preço de mercado. 19 3.1.4 O lançamento do percentual do ISS na planilha de composição do BDI Ao final deste tópico, o aluno será capaz de: § Identificar a forma correta de lançamento do tributo Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) na composição do BDI em relação às diferentes legislações municipais. Um dos tributos incidentes no cálculo do BDI é o ISS. A incidência desse imposto segue legislação municipal, ou seja, varia conforme o município onde será executada a obra. Por essa razão deve-se ter muito cuidado quando do seu lançamento na composição do BDI. Além de ter variação de alíquota conforme o município, ainda pode haver va- riação da incidência da alíquota. Alguns municípios têm na sua legislação a previsão de incidência da alíquota sobre todo o orçamento (material e mão de obra previstos na planilha orçamentária). Outros, no entanto, fazem incidir talalíquota somente so- bre a mão de obra, isentando sua incidência sobre materiais. Nesses casos, para efeitos de facilitação do cálculo do BDI e para que não se incorra em erro ou descuido no percentual do ISS a ser considerado, o que poderia configurar o enriquecimento da contratada, exigindo eventualmente a revisão de contrato, é feito cálculo de uma alíquota proporcional do ISS, que, considerada somente sobre a mão de obra, pode ser lançada diretamente na planilha do BDI que será aplicado a todos os itens da planilha orçamentária. 20 A fórmula de cálculo do ISS proporcional é assim descrita: ISSdif = [VMO (sem BDI) / VT (sem BDI)] x % ISSmun onde: ISSdif = ISS diferenciado; VMO (sem BDI) = soma dos valores da mão de obra sem a incidên- cia do BDI; VT (sem BDI) = valor total da obra (material e mão de obra) sem a incidência do BDI; % ISSmun = alíquota do ISS conforme legislação municipal. Observe Assim, calculado esse ISS diferenciado, pode-se lançá-lo diretamente na planilha de cálculo do BDI. Vejamos, a seguir, as duas formas de cálculo do BDI, considerando ISS incidente somente sobre a mão de obra para um dado município. A primeira é a forma incorreta, ao fazer incidir a alíquota do ISS em todos os itens da planilha orçamentária, indistintamente. A segunda é fazendo incidi-la somente sobre a mão de obra, pelo cálculo do ISS proporcional, conforme a fórmula acima demonstrada. 21 Tabela 1 – Exemplo de ISS lançado de forma incorreta na planilha de cálculo do BDI Lucro Tributos Cálculo do BDI = PIS COFINS ISS Seguros Garantias Riscos PLANILHA DE COMPOSIÇÃO DO BDI Despesas Indiretas Despesas Financeiras 0,25423 6,38% 1,21% 7,58% 7,65% Administração Central 4,67% 0,74% 0,00% 0,97% 0,65% custo global do contrato R$ 4.000.000,00 custo dos materiais R$ 3.000.000,00 custo da mão de obra R$ 1.000.000,00 Alíquota do ISS para o município de Zelig 4% Alíquota do ISS proporcional 1,00% TOTAL DO BDI (custo global do contrato x 25,42%) R$ 1.016.800,00 PREÇO DE VENDA (custo global do contrato + BDI) R$ 5.016.800,00 CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA 3,00% 0,00% BDI - 25,42% Lançamento incorreto da alíquota do ISS Taxa do BDI que incidirá sobre todo o orçamento 4,00% (1+(AC +S+G+R)) x (1+DF) x (1+L) (1- I) -1 = 22 Tabela 2 – Exemplo de ISS lançado de forma correta na planilha de cálculo do BDI Lucro Tributos Cálculo do BDI = PIS COFINS ISS Seguros Garantias Riscos PLANILHA DE COMPOSIÇÃO DO BDI Despesas Indiretas Despesas Financeiras 0,21477 6,38% 1,21% 7,58% 4,65% Administração Central 4,67% 0,74% 0,00% 0,97% 0,65% custo global do contrato R$ 4.000.000,00 custo dos materiais R$ 3.000.000,00 custo da mão de obra R$ 1.000.000,00 Alíquota do ISS para o município de Zelig 4% Alíquota do ISS proporcional 1,00% TOTAL DO BDI (custo global do contrato x 21,47%) R$ 858.800.00 PREÇO DE VENDA (custo global do contrato + BDI) R$ 4.858.800,00 CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA 3,00% 0,00% BDI = 21,47% Lançamento correto da alíquota do ISS Taxa do BDI que incidirá sobre todo o orçamento 1,00% (1+(AC +S+G+R)) x (1+DF) x (1+L) (1- I) -1 = Na tabela 1, a alíquota de 4% do ISS foi incluída integralmente no cálculo do BDI. Essa iniciativa está incorreta, pois para o município em questão a legislação municipal considera tal tributo incidindo apenas sobre a mão de obra. Como o BDI é um valor percentual corretamente aplicado sobre todo o custo do contrato (R$ 4.000.00,00), essa alíquota é transportada indiretamente também para os valores do material. Na tabela 2, ao calcular-se a alíquota proporcional do ISS, ainda que o BDI resultante seja aplicado sobre o custo global do contrato, a incidência do ISS proporcionalmen- te será apenas sobre a mão de obra. 23 Observe que, no exemplo em questão, para o valor aproximado da obra de R$ 5.000.000,00, equivalente a um prédio de 3.300 m², de padrão médio, o erro na estimativa do seu preço seria aproximadamente de R$ 150.000,00. Caso a obra a ser construída tivesse área total de 33.000 m², ou seja, dez vezes maior que a do nosso exemplo, o erro no valor do orçamento pelo simples equívoco na forma de lançamento do ISS seria da ordem de R$ 1.580.000,00. Fique Ligado 24 Encerramento Neste Módulo 3 destacou-se exclusivamente a ela- boração de planilhas orçamentárias, devido à sua importância dentro do processo licitatório. Tratou- -se inicialmente do orçamento de referência da Ad- ministração para a contratação das suas obras, cuja forma de elaboração é definida em decreto da Presi- dência da República. Para os estudos preliminares de uma obra, foi feita a distinção entre os possíveis tipos de orçamento (expedito, preliminar e detalhado), a forma de composição do preço (preço de venda) de uma obra e a formação do BDI, com a particularidade de correta definição do percentual do ISS nele incidente. Esses conceitos também serviram de base para a discussão da forma e das possibilidades de eventual concessão de aditivos de obra, um dos temas a serem discutidos no próximo módulo. _GoBack 3.1 A Planilha Orçamentária: principais conceitos e como ela deve ser exigida 3.1.1 Os diferentes tipos de orçamento (expedito, preliminar e detalhado) 3.1.3 Preço: conceito e forma de composição 3.1.2 Como deve ser o orçamento vinculado ao projeto? 3.1.4 O lançamento do percentual do ISS na planilha de composição do BDI Encerramento
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