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Autores: Profa. Simone Dias da Silva Prof. Wanderlei Sérgio da Silva Colaboradora: Profa. Christiane Mazur Doi Prática de Ensino: Introdução à Docência PRÁTICA DE ENSINO: INTRODUÇÃO À DOCÊNCIA Professores conteudistas: Simone Dias da Silva / Wanderlei Sérgio da Silva © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) S586p Silva, Simone Dias da. Prática de Ensino: Introdução à Docência / Simone Dias da Silva, Wanderlei Sérgio da Silva. – São Paulo: Editora Sol, 2023. 56 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Formação. 2. Estágio. 3. Professor. I. Silva, Simone Dias da. II. Silva, Wanderlei Sérgio da. III. Título. CDU 371.13 U517.05 – 23 Simone Dias da Silva Psicopedagoga (Universidade Castelo Branco) e pedagoga (Faculdades Campos Salles), mestra e doutora no Ensino de Ciências e Matemática (Universidade Cruzeiro do Sul). Por 23 anos, atuou na Educação Básica como docente e gestora escolar. Atualmente, atua no Ensino Superior no curso de Pedagogia. Autora de materiais didáticos para o Ensino Fundamental e para cursos de graduação e pós-graduação na EaD. Na Universidade Paulista (UNIP) é membro da Coordenadoria de Estágios em Educação. Wanderlei Sérgio da Silva Graduado em Geografia pela Universidade de São Paulo (USP), mestre em Ciências (Geografia Humana) e doutor em Geociências e Meio Ambiente pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp). Durante quinze anos, trabalhou no Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT) com pesquisas relacionadas às geociências e ao meio ambiente. Atuou como consultor em trabalhos da área durante seis anos, totalizando cerca de cem projetos de pesquisa, muitos deles como coordenador de equipe. Em 2001, ingressou na Universidade Paulista (UNIP), onde lecionou disciplinas do curso presencial de Turismo relacionadas à Geografia, ao Meio Ambiente e ao Planejamento, bem como disciplinas didático-pedagógicas no curso presencial de Psicologia (licenciatura). Coordenador chefe da Coordenadoria de Estágios em Educação e professor responsável pelas disciplinas relacionadas a Prática de Ensino, Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem, Didática Geral, Estrutura e Funcionamento da Educação Básica e Planejamento e Políticas Públicas da Educação. Profa. Sandra Miessa Reitora Profa. Dra. Marilia Ancona Lopez Vice-Reitora de Graduação Profa. Dra. Marina Ancona Lopez Soligo Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Claudia Meucci Andreatini Vice-Reitora de Administração e Finanças Prof. Dr. Paschoal Laercio Armonia Vice-Reitor de Extensão Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora das Unidades Universitárias Profa. Silvia Gomes Miessa Vice-Reitora de Recursos Humanos e de Pessoal Profa. Laura Ancona Lee Vice-Reitora de Relações Internacionais Prof. Marcus Vinícius Mathias Vice-Reitor de Assuntos da Comunidade Universitária UNIP EaD Profa. Elisabete Brihy Profa. M. Isabel Cristina Satie Yoshida Tonetto Prof. M. Ivan Daliberto Frugoli Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Material Didático Comissão editorial: Profa. Dra. Christiane Mazur Doi Profa. Dra. Ronilda Ribeiro Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista Profa. M. Deise Alcantara Carreiro Profa. Ana Paula Tôrres de Novaes Menezes Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Jaci Albuquerque Louise de Lemos Prática de Ensino: Introdução à Docência APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 1 A FORMAÇÃO PROFISSIONAL DOCENTE ...................................................................................................9 1.1 A formação profissional no ensino superior ................................................................................9 2 COMO SE DÁ A ATUAÇÃO DOCENTE EM CADA SEGMENTO DE ENSINO? ................................ 11 3 A CONSTITUIÇÃO DO SER PROFESSOR ................................................................................................... 13 4 A RELAÇÃO TEORIA E PRÁTICA NA FORMAÇÃO DOCENTE ............................................................. 16 4.1 O que é prática de ensino? ............................................................................................................... 16 5 ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO ............................................................................................ 19 6 RELAÇÃO ENTRE O SABER E O FAZER ..................................................................................................... 21 7 A NECESSIDADE DA REFLEXÃO SOBRE A ATIVIDADE PRÁTICA ..................................................... 22 7.1 A aplicação do conhecimento teórico na profissão ............................................................... 24 8 TEXTOS PARA REFLEXÃO ............................................................................................................................... 25 8.1 Educação? Educações: aprender com o índio .......................................................................... 25 8.2 O fax do Nirso ........................................................................................................................................ 29 8.3 A História de Chapeuzinho Vermelho (na versão do lobo) .................................................. 30 8.4 Uma pescaria inesquecível ............................................................................................................... 32 8.5 A folha amassada ................................................................................................................................. 34 8.6 A lição dos gansos ................................................................................................................................ 35 8.7 Assembleia na carpintaria ................................................................................................................. 36 8.8 Colheres de cabo comprido .............................................................................................................. 38 8.9 Faça parte dos 5%................................................................................................................................ 38 8.10 O homem e o mundo ....................................................................................................................... 40 8.11 Professores reflexivos ........................................................................................................................ 41 8.12 Um sonho impossível? ..................................................................................................................... 44 8.13 Pipocas da vida ................................................................................................................................... 45 8.14 Recomendações de leituras e reflexões complementares ................................................ 46 Sumário 7 APRESENTAÇÃO Profissões e vocações são como plantas. Vicejam e florescem em nichos ecológicos, naquele conjunto precário de situações que as tornam possíveis e – quem sabe? – necessárias. (Rubem Alves) Nesse momento, quando, de modo ideal, inicia-se a reflexão sobre a prática de ensino, temos por objetivo direcionar a sua atenção para perceber a educação (formal e informal) que acontece diariamente ao seu redor e, principalmente, pararefletir sobre aspectos inerentes a ela, que são de suma importância tanto para sua vida profissional quanto para a prática da cidadania. Para isso, propomos a leitura de textos de conhecimento popular e de autores renomados, de modo a instigar o seu pensamento reflexivo. Então, vamos começar com uma reflexão: Ensinar é um dom ou um ofício? Figura 1 Disponível em: https://bit.ly/3FejA6I. Acesso em: 29 nov. 2022. INTRODUÇÃO Neste livro-texto você encontrará algumas informações a respeito da formação profissional docente no ensino superior. Será convidado a refletir sobre a constituição do ser professor e a resgatar memórias dos bancos escolares onde observou e vivenciou a educação sob outro ângulo, de modo a realizar associações e levantar conjecturas sobre o longo e complexo processo que envolve o desenvolvimento profissional docente. Para isso encontrará abordagens teóricas e propostas para experimentar ou expandir a ação reflexiva a partir de questionamentos e de textos selecionados para tal finalidade, pois este é o recurso mais utilizado pelo bom profissional. Espera-se que você identifique a relação entre as práticas de ensino e o estágio curricular obrigatório, parte inerente da licenciatura para exercer a docência, e também a relevância da atividade prática enquanto aplicação do conhecimento teórico na profissão. 9 PRÁTICA DE ENSINO: INTRODUÇÃO À DOCÊNCIA 1 A FORMAÇÃO PROFISSIONAL DOCENTE Se você está em um curso de formação docente, deve ter muitas dúvidas sobre a estrutura do curso de licenciatura. Aqui, além de encontrar informações sobre este tema, também terá a oportunidade de refletir sobre a base do desenvolvimento profissional do professor – a relação teórica e prática. 1.1 A formação profissional no ensino superior No Brasil, a primeira universidade nos moldes modernos surgiu após a Revolução Constitucionalista de 1932, em São Paulo. A Universidade de São Paulo (USP), que reuniu os cursos superiores já existentes na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, seria a primeira instituição de saber fundamental em todas as áreas do conhecimento humano e compensaria o isolamento das faculdades preexistentes. A Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras viria integrar em uma base comum os ensinamentos de diversas áreas do saber, segundo o tripé proposto pela USP: ensino, pesquisa e extensão. Nas décadas de 1950 a 1970, além das universidades estaduais, municipais e particulares, criaram-se universidades federais em todo o Brasil, ao menos uma em cada estado; mas a explosão do ensino superior no Brasil ocorreu somente nos anos 1970. Desde então, muitas propostas e discussões em prol da expansão, qualidade e democratização do ensino superior vêm ocorrendo com o intuito de viabilizar ao brasileiro a oportunidade de escolher uma profissão e constituir-se um profissional competente. O processo de democratização compreende reverter o quadro no qual ir à universidade é opção reservada às elites. A definição de um projeto para a educação superior deve entender esta como bem público, destinada a todos indistintamente, inserida no campo dos direitos sociais básicos, tratada como prioridade da sociedade brasileira, sendo que a universidade deve ser a expressão de uma sociedade democrática e multicultural, em que se cultiva a liberdade, a solidariedade e o respeito às diferenças (BRASIL, 2014, p. 19). A variedade na oferta de cursos, o aumento de cursos noturnos e o atendimento às necessidades do público interessado respodem por um lado às expectativas dos discentes e por outro às demandas sociais e profissionais do mundo corporativo. Ainda sobre a variedade de oferta, o investimento na educação a distância (EaD) revela a necessidade de um modelo alternativo e a superação do preconceito com esta modalidade de ensino e de aprendizagem que permitiu que o sonho de cursar uma faculdade se tornasse realidade para muitos brasileiros, principalmente por seu formato que oferece baixo custo e flexibiliza tempo e espaço. 10 PRÁTICA DE ENSINO: INTRODUÇÃO À DOCÊNCIA Com o aumento da valorização do saber acadêmico pelo mercado de trabalho e o acesso ao ensino superior em instituições particulares, a criação de programas de financiamento estudantil pelo governo, pelas próprias instituições de ensino superior (IES) e também pela iniciativa privada concretizou o atendimento desse público que busca a formação profissional no ensino superior, ocasionando um grande aumento na quantidade de vagas nos cursos de graduação. Além da graduação, enquanto formação profissional inicial, os cursos de pós-graduação também estão sendo muito procurados por profissionais que buscam uma formação continuada. Formação inicial Graduação: licenciatura e bacharelado Formação continuada Pós-graduação Lato sensu: especialização e aperfeiçoamento Stricto sensu: mestrado e doutorado Figura 2 Atualmente, os cursos de formação inicial de professores (licenciaturas) têm seu currículo e proposta pedagógica atrelada às diretrizes estabelecidas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) e pelos documentos legais e educacionais em vigor, assim mantêm suas propostas pedagógicas atreladas às atuais concepções de ensino e de aprendizagem, de modo a garantir que o futuro professor esteja preparado para o pleno exercício do magistério. E se você está lendo este texto, certamente está matriculado num curso de licenciatura. Mas o que é uma licenciatura? Trata-se de uma licença, autorização, permissão ou concessão dada por uma autoridade pública competente para o exercício de uma atividade profissional, em conformidade com a legislação. É um título acadêmico, obtido em curso superior, que faculta ao seu portador o exercício do magistério na educação básica dos sistemas de ensino. A licenciatura é uma categoria, entre os cursos de graduação, que autoriza os licenciados a atuar no magistério, iniciando, assim, uma carreira docente para lecionar (ensinar) na área de conhecimento e disciplina escolhida, como, por exemplo: nas áreas de conhecimento de ciências humanas e sociais há cursos de licenciatura e bacharelado em letras, história, geografia, filosofia, sociologia, entre outros. A licenciatura visa formar cidadãos preocupados em se qualificar para intervir de forma significativa na formação de outros cidadãos. Seu diferencial em relação aos outros cursos de graduação reside na duplicidade da formação pessoal e profissional do graduando. 11 PRÁTICA DE ENSINO: INTRODUÇÃO À DOCÊNCIA Alguns cursos oferecem as duas titularidades, de licenciado e bacharel. Dessa forma, o estudante deve escolher conforme seu interesse de atuação no mercado de trabalho. A licenciatura apresenta ao aluno uma área de atuação já definida, a área de educação e a função docente, mas apenas o pedagogo possui outras habilitações para atuar na gestão pedagógico-administrativa de uma instituição de ensino. Já o bacharelado viabiliza uma atuação mais ampla no mercado de trabalho, permitindo ao profissional atuar em diferentes áreas e funções, além do campo de pesquisa acadêmica, como, por exemplo: o geógrafo pode atuar no setor público e privado no planejamento urbano, no planejamento e desenvolvimento regional e territorial com a utilização de geotecnologias, podendo desenvolver diagnóstico socioambiental. Caso um bacharel queira lecionar, deverá cursar uma licenciatura, podendo eliminar algumas disciplinas comuns, ou cursar o mestrado, isso devido à hierarquia acadêmica dos cursos de licenciatura que, além de formar profissionais que ensinam, também ensinam outros profissionais a ensinarem. Pode ocorrer o contrário: o licenciado ao cursar uma complementação irá adquirir o bacharelado. Em ambas as situações, o profissional, terá duas titularidades. Ao concluir a licenciatura, você será um profissional da área da educação, podendo atuar como professor na educação básica, atualmente organizada em três segmentos: Quadro 1 Educação básica Educação infantilEnsino fundamental Ensino médio Organizada em etapas e atende crianças de 0 a 5 anos Organizado em dois ciclos: – Ensino fundamental I (anos iniciais): do 1º ao 5º ano – Ensino fundamental II (anos finais): do 6º ao 9º ano Do 1º ao 3º ano 2 COMO SE DÁ A ATUAÇÃO DOCENTE EM CADA SEGMENTO DE ENSINO? Na educação infantil, conforme legislação vigente, pode atuar o pedagogo e o professor que cursou o normal superior, com exceção dos professores formados em educação física e artes, que também podem possuir habilitação para esse segmento. Tradicionalmente, o pedagogo e o professor que cursou o normal superior também atuam no ensino fundamental I (anos iniciais), assumindo integralmente o currículo do 1º ao 5º ano. 12 PRÁTICA DE ENSINO: INTRODUÇÃO À DOCÊNCIA Já os professores com licenciatura numa área específica atuam no ensino fundamental II (anos finais) e no ensino médio, mas tal condição não é explícita na Lei 9394/96: Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura plena, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nos cinco primeiros anos do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade normal (BRASIL, 1996). Dessa forma, observa-se que não há rigidez quanto à atuação de licenciados no ensino fundamental. Alguns professores com licenciatura específica já estão atuando nos anos iniciais (1º ao 5º ano), como já vem ocorrendo nas disciplinas de língua estrangeira, artes e educação física em alguns sistemas de ensino do país. Apesar do Conselho Nacional de Educação (CNE) ter entendimento claro a esse respeito desde 2000, essa questão ainda é debatida e desconhecida por boa parte dos profissionais da educação. No estado de São Paulo, objetivando evitar maiores questionamentos, o Conselho Estadual de Educação fixou, por meio de pareceres, entendimento de que a docência nos anos iniciais do ensino fundamental poderá se dar por professores detentores de licenciatura com habilitações em áreas específicas. As instituições públicas (municipais e estaduais), que por força constitucional selecionam seus professores através de concurso público, estruturam o segmento correspondente aos “anos iniciais do ensino fundamental”, atribuindo aos professores egressos do curso normal de nível médio, curso normal superior, ou curso de pedagogia, a responsabilidade de praticamente todos os conteúdos para um professor por série (e classe). Na rede estadual ou nas redes municipais há, contudo, diversos exemplos de atribuição de componentes curriculares no ensino fundamental I a professores portadores de licenciatura em áreas específicas, como é o caso de educação física, arte ou língua estrangeira moderna. É nas redes municipais ou mais propriamente dizendo, nas escolas mantidas pelos municípios, que encontramos Propostas Político Pedagógicas mais diferenciadas e inovadoras e que requerem a participação de professores especialistas no segmento correspondente aos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Nada impede e é até salutar que esta prática possa ocorrer (SÃO PAULO, 2012, p. 1). Vale ressaltar que os dispositivos pertinentes da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional não preveem a estruturação rígida em “anos iniciais e anos finais do ensino fundamental”, daí porque entendemos ser absolutamente legal a docência de portadores de licenciatura específica em todo o ensino fundamental, dependendo sempre da organização dos sistemas de ensino e da proposta pedagógica de cada escola. 13 PRÁTICA DE ENSINO: INTRODUÇÃO À DOCÊNCIA Observação Os cursos técnicos e profissionalizantes não conferem título de bacharel ou de licenciado, apenas uma habilitação para atuar em áreas específicas. 3 A CONSTITUIÇÃO DO SER PROFESSOR A escola é o principal espaço de atuação daquele que pretende lecionar – o professor. Figura 3 Disponível em: https://bit.ly/2KkJdop. Acesso em: 30 nov. 2022. Há outros espaços onde se pode ensinar, são os chamados ambientes não escolares, como ONGs, sindicatos, hospitais, movimentos sociais, presídios e instituições que acolhem menores em situação de risco ou de caráter socioeducativo. Nesses ambientes, o professor tem a oportunidade de compartilhar aquilo que sabe além dos muros da escola. Infelizmente, ainda temos no Brasil muitas “escolas de massas”, nas quais os professores têm que ensinar muitos alunos ao mesmo tempo e no mesmo lugar. Esse modelo surgiu com a Revolução Industrial e ainda está presente num país em pleno desenvolvimento econômico, social e cultural. Precisamos atualizar a escola. E você, futuro professor, pode ser agente transformador da escola real para o formato ideal. Tal ação deve estar baseada na equidade e na inclusão social partindo de uma revolução curricular e na aderência às tecnologias, o que consequentemente causará mudanças didático-pedagógicas no trabalho docente. O aluno de hoje não se encaixa nos padrões escolares clássicos. É como tentar colocar um par de sapatos dentro de uma caixa de fósforos. A criança e o adolescente do século XXI estão mergulhados num mundo tecnológico repleto de informações, buscam o conhecimento na rede e, dessa forma, a pesquisa torna-se presente em seu cotidiano, muito além da escola. 14 PRÁTICA DE ENSINO: INTRODUÇÃO À DOCÊNCIA Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas. Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do voo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o voo. Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em voo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o voo, isso elas não podem fazer, porque o voo já nasce dentro dos pássaros. O voo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado (ALVES, 2002, p. 29). Mas quem é esse professor que atua atrás e além dos muros da escola? É o indivíduo que, como você, decidiu contribuir para a formação pessoal e profissional de seus pares e que acredita em ações coletivas transformadoras. O que diferencia o bom professor? A sua identidade docente. A constituição do ser professor se inicia no curso de licenciatura, e essa trajetória perpassa sua cultura familiar e social, suas memórias, impressões e questões pessoais. Tal condição tem seu ponto de partida na primeira infância, ao ingressar na escola e ter seu primeiro professor. A identidade docente é uma construção social marcada por múltiplos fatores que interagem entre si, resultando numa série de representações que os docentes fazem de si mesmos e de suas funções, estabelecendo, consciente ou inconscientemente, negociações das quais certamente fazem parte suas histórias de vida, suas condições concretas de trabalho e o imaginário recorrente acerca dessa profissão (GARCIA; HYPOLITO; VIEIRA, 2005). É importante problematizarmos o conteúdo das memórias escolares, particularmente, de suas ideias a respeito do ensino e da postura dos professores, para melhor entender que influências têm no seu aprendizado profissional. Tais lembranças podem influenciar de diferentes maneiras no desenho de seu perfil profissional e na construção de sua identidade docente. Você pode decidir que professor pretende ser. “A escola da minha infância e início da adolescência não deixou lembranças significativas. Lá passei metade de meus dias durante longos nove anos. Aprendi, desaprendi e fiz amigos que não tenho mais. Passei pela escola. Esta é a impressão que ficou. Dos professores poucas lembranças, e das aulas inúmeras frustrações. Aos 12 anos queria muito entender por que era tão importante encontrar a mediana e a bissetriz de um triângulo ou resolver inequações, se tais saberes não me ajudavam a estimar o valor da compra ou conferir o troco com segurança quando ia ao supermercado. Por isso, hojesou uma professora que se preocupa com a aprendizagem significativa e a aplicabilidade do conhecimento (Profa. Dra. S. D. S.).” 15 PRÁTICA DE ENSINO: INTRODUÇÃO À DOCÊNCIA Figura 4 – S. D. S. em fotografia escolar, junho de 1983 As lembranças de nossa infância são experiências muito significativas na fase adulta, sendo algumas positivas e outras não, mas todas marcam nossa trajetória e constituem parte de nossa identidade. Segundo Oliveira (2006), o saber e o sabor de se constituir professor tem um tempero de mel e de fel, quando nossas dúvidas e incertezas se apresentam, o que pode ser muito relevante se considerarmos esse momento como indicador de um saber provisório, ou seja, que estamos em processo de construção profissional e tais sentimentos sinalizam que ainda somos aprendizes. Vamos fazer um exercício com sua memória. Puxe os fios da lembrança e reflita sobre as impressões de sua trajetória escolar. O que você se lembra dos professores, das aulas e das escolas onde já estudou? A) B) Figura 5 Disponível em: A) https://bit.ly/3irx5a8; B) https://bit.ly/3iqlOa3. Acesso em: 1 dez. 2022. Tais memórias podem repercutir ou não em sua formação profissional. No caso da formação docente, a imagem do professor de nossa infância e adolescência pode influenciar algumas escolhas e a tomada de decisão quanto a ser ou não professor ou que professor se pretende ser. 16 PRÁTICA DE ENSINO: INTRODUÇÃO À DOCÊNCIA O importante é que suas lembranças escolares alimentem positivamente seu sonho ou escolha. Quanto às lembranças tristes ou nebulosas, descarte-as simplesmente e mantenha apenas as boas recordações ou, ainda, transforme-as em pontos de reflexão para direcionar suas ações quanto ao que não pretende ser ou fazer em sua atuação profissional. Nossas memórias tornam-se referências quando, além de selecioná-las, fazemos um movimento de reflexão sobre elas, como ao refletir sobre suas ações durante a formação teórica e a formação prática, culminando na formação profissional docente. Você já sonhou com seu futuro profissional? Já se questionou sobre: • Que professor não pretende ser? • Como serão suas aulas? • Em que tipo de escola gostaria de lecionar? • Como será sua relação com os alunos e a equipe de trabalho? • O que você almeja para sua carreira profissional? Muitas respostas você somente terá durante sua trajetória, ao adquirir experiências e novas aprendizagens. Por ora, vamos dar o primeiro passo para sua formação docente, o curso de licenciatura que agora se inicia. 4 A RELAÇÃO TEORIA E PRÁTICA NA FORMAÇÃO DOCENTE 4.1 O que é prática de ensino? Nos cursos de licenciatura da UNIP, a disciplina de Prática de Ensino se dará por meio da articulação de atividades relacionadas às especificidades de cada curso. Será desenvolvida no decorrer de seu curso com atividades assim distribuídas: Quadro 2 Pr át ic as d e en sin o Introdução à docência Observação e projeto Integração escola e comunidade Vivência no ambiente educativo Princípios pedagógicos em sala de aula O uso dos recursos didáticos em sala de aula Trajetória da práxis Reflexões 17 PRÁTICA DE ENSINO: INTRODUÇÃO À DOCÊNCIA De modo geral, esse conjunto de atividades visa levá-lo a se perceber como indivíduo inserido em uma sociedade que compreende, entre outros aspectos, uma educação, que se configura como seu futuro ambiente de trabalho. Para isso, você deverá percorrer uma trajetória que possibilite a compreensão do papel que deverá exercer futuramente como professor, ajudando a formar ou transformar pessoas e a sociedade em que estão inseridas. Observação A Prática de Ensino, por ser uma disciplina teórico-prática, talvez a única com essa característica em se tratando da formação de professores, desenvolve-se a partir de vivências pedagógicas no interior da escola. Em seu desenvolvimento, o contato com o espaço educativo da escola é imprescindível, pois é dessa realidade que as propostas de ensino devem emergir. A Prática de Ensino: Introdução à Docência, bem como as demais atividades da dimensão prática do curso, apoia-se em documentos normativos e legais. Os principais documentos que dão base à prática de ensino são os seguintes: • Constituição da República Federativa do Brasil de 1988; • Lei Federal n. 9394 de 1996 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional; • Lei n. 11.788 de 2008 – Lei dos Estágios; • Resolução CNE/CP 002 de junho de 2015: Define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior e para a formação continuada. Em momento anterior aos pareceres e resoluções do Conselho Pleno do Conselho Nacional de Educação de 2002 (resoluções revogadas pela Resolução CNE/CP 2/2015), a concepção dominante nos cursos de formação de professores apresentava dois polos isolados: • supervalorizava os conhecimentos teóricos e acadêmicos, desprezando as práticas como importante fonte de conteúdos de formação – visão aplicacionista das teorias; • supervalorizava o fazer pedagógico, desprezando a dimensão teórica dos conhecimentos como instrumento de seleção e análise contextual das práticas – visão ativista da prática. Evidenciava-se, então, a necessidade de integração entre a teoria e a prática. 18 PRÁTICA DE ENSINO: INTRODUÇÃO À DOCÊNCIA A visão aplicacionista das teorias, por um lado, ao desprezar a prática, diminuía o potencial de aprendizagem dos temas estudados, menosprezava o fazer em detrimento do saber. Ora, o saber sem uma aplicação necessária é praticamente inoperante. Não se pode imaginar a teoria sem a prática, pois ela (a teoria) só foi desenvolvida por necessidade prática, ou seja, alguém, na prática, observou a necessidade de desenvolvê-la. Esse extremismo aplicacionista das teorias, portanto, não oferecia resposta adequada aos problemas da sociedade, pois se mostrava reducionista do potencial de aprendizagem dos temas abordados. Por outro lado, a visão ativista da prática também, ao desprezar a teoria, diminuía o potencial de aprendizagem dos temas estudados, pois menosprezava o saber em detrimento do fazer. Se há o que se fazer, que se faça direito, e fazer direito envolve a teoria necessariamente, o conhecimento em plena integração com a ação. A prática sem a teoria não oferece respostas adequadas para a evolução da sociedade. O fazer não pode prescindir do saber. Assim, o extremismo ativista da prática, do mesmo modo, se mostrava reducionista do potencial de desenvolvimento da aprendizagem, que visa à melhoria da sociedade. Era necessária, portanto, uma mudança de paradigma, e isso foi objeto dos pareceres e resoluções do Conselho Nacional de Educação (CNE), que aprimorou de modo significativo a concepção de prática e de estágio em documentos legais e normativos recentes. As resoluções e pareceres do CNE são peças indispensáveis do conjunto das Diretrizes Curriculares Nacionais. Desse modo, sinalizam que a prática de ensino não pode ser restringida ao estágio, desarticulada do restante do curso. A prática deve estar presente nas áreas ou nas disciplinas como componente curricular desde o início da licenciatura. A prática de ensino é uma dimensão do conhecimento que está presente tanto nos cursos de formação, nos momentos de reflexão sobre a atividade profissional, como durante o estágio, nos momentos em que se exercita a atividade profissional. Essa visão mostra uma importante evolução na concepção de prática. Aponta para o fato de que toda teoria apresenta uma dimensão prática. Essa prática não tem sua origem na teoria; pelo contrário, articula-se com ela, em tempo e espaço curricular específico e numa abordagem interdisciplinar. As atividades propostas nas disciplinas de prática de ensino devem privilegiar os procedimentos de observação, pesquisa e reflexão em situações contextualizadas, podendo ser enriquecidas por tecnologias, projetos, situações simuladoras e estudos de caso. Quando você estiver realizando as atividades de prática de ensino, será o momento emque estará buscando fazer algo, produzir algo, que a teoria irá conceituar e significar, com isso administrar o campo e o sentido dessa atuação. A prática de ensino contempla todas as atividades desenvolvidas com alunos e professores na escola ou em outros ambientes educativos não escolares, sob acompanhamento e supervisão da universidade, em articulação direta com o estágio curricular supervisionado e com as atividades de trabalho acadêmico; também concorre conjuntamente para a formação da identidade do professor. 19 PRÁTICA DE ENSINO: INTRODUÇÃO À DOCÊNCIA A prática profissional iniciará com a prática de ensino, numa perspectiva de gradativa problematização do trabalho educativo que leve em conta a sua complexidade. As atividades previstas na dimensão prática do curso são planejadas com a intenção de desenvolver competências que possibilitem reflexão e organização do trabalho em grupo, na tentativa de abranger e, eventualmente, superar as condições do cotidiano das unidades escolares. As atividades práticas criarão oportunidades para que você se defronte com problemas concretos do processo de ensino e de aprendizagem e da dinâmica própria do espaço escolar, como resultado de estudos, propostas pedagógicas e pesquisas desenvolvidas ao longo do curso. Isso deve impulsioná-lo a um processo de reflexão sobre questões ligadas às políticas educacionais do país, ao projeto político-pedagógico da escola e às ações pedagógicas desenvolvidas no cotidiano das salas de aula. Tudo isso você irá aprender, de modo que quando estiver realizando as práticas e os estágios não sejam palavras e assuntos sem sentido. 5 ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO Como anteriormente mencionado, o estágio curricular supervisionado está diretamente ligado à prática de ensino. Trata-se de uma situação de aprendizagem que supõe uma relação pedagógica entre alguém que já é um profissional atuando numa instituição de ensino e um estudante – o estagiário. Art. 14. § 4º O estágio curricular supervisionado é componente obrigatório da organização curricular das licenciaturas, sendo uma atividade específica intrinsecamente articulada com a prática e com as demais atividades de trabalho acadêmico (BRASIL, 2015). O estágio oferece ao futuro professor um conhecimento da realidade em situação de trabalho. Em contato com o mundo do trabalho, terá oportunidade de adquirir habilidades técnicas para iniciar o exercício da docência sob a supervisão de um profissional experiente. Não é uma atividade facultativa, já que se trata de uma das condições para a obtenção do diploma. Lembrete Estágio curricular supervisionado é o tempo de aprendizagem que supõe uma relação pedagógica entre alguém que já é um profissional reconhecido em um ambiente institucional de trabalho e o estagiário. O estágio curricular supervisionado, por sua vez, inserido em momento adequado do curso, constitui a fase de treinamento que permite a você, por meio da vivência prática das atividades docentes, complementar sua formação acadêmica nos aspectos técnico, cultural, científico e humano. É o espaço de consolidação dos conteúdos teóricos das disciplinas pedagógicas e de fundamentos da educação. É um período de permanência em ambiente real de trabalho em escolas da comunidade e em outros espaços educacionais, possibilitando a você vivências concretas necessárias para assumir a liderança de uma sala de aula, assim como trocar experiências com outros profissionais da educação. 20 PRÁTICA DE ENSINO: INTRODUÇÃO À DOCÊNCIA O estágio é realizado considerando-se a formação pessoal, vivência profissional e cidadania, não se trata de uma simples preparação para o trabalho, mas de uma primeira experiência no campo profissional. Também contribuirá para a realização das atividades de prática de ensino, nas quais deverá movimentar suas observações, impressões e aprendizagens obtidas ao estagiar em ambientes escolares e não escolares. Você, futuro educador, deve preparar-se para oferecer a seus educandos as melhores condições para o desenvolvimento de competências. Não deve apenas transmitir informações isoladas ou propor tarefas repetitivas, mas apresentar conhecimentos contextualizados, usar estratégias para desenvolver habilidades específicas visando uma aprendizagem significativa. O planejamento e a execução das práticas no estágio devem estar apoiados nas reflexões desenvolvidas nos cursos de formação. Em outras palavras, as reflexões desenvolvidas no seu curso devem apoiar o planejamento e a execução das atividades práticas do estágio. As atividades de estágio são avaliadas. Essa avaliação constitui momento privilegiado para uma visão crítica da teoria e da estrutura curricular do curso. Trata-se, assim, de tarefa para toda a equipe de professores, e não apenas para o professor orientador de estágio. O estágio não é uma atividade exclusivamente prática, uma vez que é alimentado pelas reflexões teóricas desenvolvidas durante o curso de formação do professor. Desse modo, não há como fazer uma distinção tão exata entre teoria e prática no curso de formação docente, tanto nas atividades envolvidas diretamente com o estágio quanto nas atividades desenvolvidas nas demais disciplinas. Assim, a prática de ensino juntamente ao estágio supervisionado deve articular a teoria e a prática de maneira que, até o final do curso, você as tenha relacionado para construir novos saberes. Art. 15. § 2º Durante o processo formativo deverá ser garantida efetiva e concomitante relação entre teoria e prática, ambas fornecendo elementos básicos para o desenvolvimento dos conhecimentos e habilidades necessários à docência (BRASIL, 2015). Essa competência está associada à conjugação dos diversos saberes mobilizados pelo indivíduo (saber, saber-fazer e saber-ser) na realização de uma atividade. Não se referem apenas aos conhecimentos formais da profissão, mas a toda a gama de aprendizagens interiorizadas nas experiências vividas. De acordo com Cruz (2002), é a prática de determinadas habilidades que constrói a competência. Uma pessoa é competente quando tem os recursos para realizar bem uma determinada tarefa, mesmo que seja uma situação complexa. Lembrete Habilidades expressam competências, as quais se constituem na prática. 21 PRÁTICA DE ENSINO: INTRODUÇÃO À DOCÊNCIA 6 RELAÇÃO ENTRE O SABER E O FAZER Não basta ao profissional ter conhecimentos sobre o seu trabalho. É fundamental que saiba mobilizar esses conhecimentos, transformando-os em ação. Para ser professor não basta o saber, é necessário aplicar o conhecimento sobre o seu objeto de trabalho, que, no melhor sentido da palavra, é o educando. Caso a aprendizagem não ocorra, não houve êxito. O profissional de hoje precisa de uma formação adequada e ter a consciência de que não basta abrir um livro didático em sala de aula para que os educandos aprendam. A educação escolar não deve receber uma abordagem superficial e mecânica, sem vínculos com as situações que fazem sentido em seu cotidiano. Os educandos devem resolver problemas, discutir ideias, checar informações, levantar hipóteses, fazer conjecturas e serem desafiados constantemente. Como sinalizou Paulo Freire, “ensinar não é apenas transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção” (2002, p. 22). Muitas vezes nos deparamos com um ensino que se resume a regras e modelos que o educando não entende e nem o professor sabe para que servem. Falta aprofundamento no saber docente para conhecer os aspectos mais relevantes do processo de ensinar e aprender, aqueles que possibilitam considerar os conhecimentos prévios dos alunos, as situações didáticas e os novos saberes a construir. É preciso aumentar a participação do educando na produção do conhecimento, pois eles não suportam mais aulas maçantes e vazias de significados. O professor tem o dever de adquirir conhecimentos para ensinar oferecendo condições e situações de aprendizagem adequadas. Deve conhecer o conteúdoespecífico e as formas de sua produção, ser consciente do seu papel na sociedade, na formação do educando para o trabalho e a cidadania. Por isso, o desenvolvimento profissional permanente é uma necessidade inevitável, mas não deve ser visto como uma mera consequência da profissão, pois o professor não dever ser apenas um consumidor de conhecimentos. O desenvolvimento profissional, seja ele inicial ou continuado, deve ser encarado de modo positivo e produtivo, sendo o professor capaz de produzir conhecimento, de valorizar o que já foi desenvolvido por outros profissionais, de questionar suas próprias crenças e práticas de ensino através da reflexão. Não podemos mais aceitar profissionais que cometem erros e imprudências em sala por falta de conhecimento, por não investir em seu desenvolvimento profissional, seja ele inicial ou continuado. No caso específico da formação de professores, o processo reflexivo é exigência permanente para conhecer e refletir criticamente sobre os elementos presentes em qualquer situação de sala de aula. É desvelando o que fazemos dessa ou daquela forma, à luz de conhecimentos que a ciência e a filosofia oferecem hoje, que nos corrigimos e nos aperfeiçoamos. É a isso que chamo pensar a prática, e é pensando a prática que aprendemos a pensar e a praticar melhor. E quanto mais penso e atuo assim, mais me convenço, por exemplo, de que é impossível ensinar conteúdo sem saber como pensam os alunos no seu contexto real, na sua continuidade. Sem saber o que eles sabem independentemente da escola para que os ajudemos a saber melhor o que já sabem, de um lado e, de outro, para, a partir daí, ensinar-lhes o que ainda não sabem (FREIRE, 2002, p. 105). 22 PRÁTICA DE ENSINO: INTRODUÇÃO À DOCÊNCIA Saiba mais Para ampliar sua compreensão a respeito da importância do estágio supervisionado, acesse: SOUZA, E. M.; MARTINS, A. M. G. S. Estágio supervisionado nos cursos de licenciatura: pesquisa, extensão e docência. Revista Práxis Educacional, Vitória da Conquista, v. 8, n. 13, p. 143-145, 2012. 7 A NECESSIDADE DA REFLEXÃO SOBRE A ATIVIDADE PRÁTICA Refletir é olhar a própria ação de uma maneira particular e à distância. É tomar uma certa distância para melhor julgar o que se está fazendo, ou o que se fez, ou o que se fará. Pierre Furter Durante o curso de licenciatura, o futuro professor desenvolverá habilidades e, assim, irá adquirir competências, mas o percurso nesse processo pede outra organização, na qual o exercício das práticas profissionais e de reflexão sistemática sobre elas ocupe um lugar central. A realização das atividades e a reflexão sobre as práticas deixam de ser periféricas na formação do professor e passam a ocupar um espaço maior e mais importante. Não se trata de desvalorizar a teoria, mas de valorizar a prática para que o conhecimento seja aplicável e aplicado, pois tais elementos, anteriormente, eram negligenciados nos cursos de licenciatura, mas agora isso foi resolvido. Lembre-se de que a prática não se resume ao estágio. Desde o início do curso, ela estará presente em todos os momentos para possibilitar ao professor em formação uma visão abrangente sobre tudo o que de mais importante envolve o “ser professor” de uma escola de educação básica no Brasil, estando apto, assim, a atuar profissionalmente. Outro ponto importante é a realização das atividades de prática de ensino de maneira colaborativa, favorecendo a interação, o diálogo e a confiança entre os futuros professores, e entre eles e seus formadores, uma vez que tais aprendizagens necessitam de práticas sistemáticas. Os cursos de licenciatura devem criar dispositivos de organização curricular e institucional que favoreçam o uso de recursos de tecnologia da informação e comunicação que possibilitem a convivência interativa dentro da instituição e entre esta e o ambiente educacional. A promoção de atividades que propiciem comunicação é condição sine qua non (do latim, significa “sem a qual não”) para a qualificação do curso. A socialização deve ser promovida e os estudantes devem compartilhar suas experiências, visando somar conhecimentos e subtrair dúvidas nesses contatos. 23 PRÁTICA DE ENSINO: INTRODUÇÃO À DOCÊNCIA Para que sua formação docente seja um sucesso, é importante reconhecer a importância de outra modalidade de prática – a prática reflexiva. Podemos afirmar que o termo reflexivo tem como uma de suas raízes as ideias de John Dewey (1859-1952) filósofo, psicólogo e pedagogo norte-americano, ao caracterizar o pensamento reflexivo e defender o poder da reflexão como elemento impulsionador da melhoria das práticas profissionais docentes. Dewey (1959, p. 13) considera o pensamento reflexivo como a melhor maneira de pensar e o define como “a espécie de pensamento que consiste em examinar mentalmente o assunto e dar-lhe consideração séria e consecutiva”. Formar um profissional reflexivo envolve atividades de busca e investigação, o oposto da rotina, onde há aceitação sem reflexão do contexto. Na ação reflexiva, há a problematização da realidade vivida. É necessário que, durante o curso e principalmente no decorrer das disciplinas de Prática de Ensino e Estágio Supervisionado, você desenvolva três atitudes básicas, que de acordo com Lalanda e Abrantes (1996) favorecem a ação reflexiva da seguinte forma: • Abertura de espírito: saber ouvir opiniões, informações provenientes de fontes diversificadas, ter capacidade de aceitar alternativas de percurso e reconhecer possibilidades de erros. • Responsabilidade: fazer ponderações cuidadosas das consequências de determinadas ações. • Empenho: traduz-se no desejo de mobilizar as atitudes anteriores. O termo professor reflexivo foi disseminado através das ideias de Donald Schön sobre a prática profissional, fundamentando-se nos princípios de Dewey. Schön (2000) percebeu que em várias profissões, não apenas na prática docente, existem situações conflitantes, desafiantes, nas quais a aplicação de técnicas convencionais simplesmente não resolve os problemas. Não se trata de abandonar a utilização da técnica, mas haverá momentos em que o profissional estará em situações conflitantes e ele não terá como se guiar somente por critérios técnicos preestabelecidos. Os bons profissionais utilizam uma série de estratégias não planejadas, cheias de criatividade, para resolver problemas do dia a dia. Schön (2000) identifica nos bons profissionais uma combinação de ciência, técnica e arte. É essa dinâmica que possibilita ao professor agir em contextos instáveis como os da sala de aula. Schön (2000) propõe a superação dessa formação de caráter técnico e sugere uma proposta de formar um profissional capaz de refletir sobre sua ação para compreender e melhorar sua prática. Defende a ideia de “aprender fazendo” como princípio formador, pois acredita que somente pela própria experiência vivida o profissional irá se apropriar verdadeiramente de conhecimentos. E, ainda, defende a reflexão como o principal instrumento de apropriação desses saberes. 24 PRÁTICA DE ENSINO: INTRODUÇÃO À DOCÊNCIA Encontramos em Schön (2000) uma forte valorização da prática na formação profissional, mas como uma prática refletida como momento de construção de conhecimentos pela análise e problematização de situações novas, de incerteza e indefinição. Dessa forma, é possível considerar a reflexão como um modo de conexão entre o conhecimento e a ação nos contextos práticos da sala de aula. Saiba mais Leia um pouco mais sobre prática reflexiva e formação docente acessando o seguinte artigo: ZEICHNER, K.; SAUL, A.; DINIZ-PEREIRA, J. E. Pesquisar e transformar a prática educativa: mudando as perguntas da formação de professores. Revista e-Curriculum, São Paulo, v. 12, n. 3, p. 2211-2224, out./dez. 2014. Disponível em: https://cutt.ly/QMVFixj. Acesso em: 21 nov. 2022. 7.1 A aplicação do conhecimento teórico na profissão A formação de professores necessita de estudos disciplinares que possibilitem uma sistematizaçãoe um aprofundamento de conceitos e relações, no entanto, é indispensável levar em conta que a atuação do professor não é a do físico, nem do biólogo, psicólogo ou sociólogo, é a atuação de um profissional que usa os conhecimentos dessas disciplinas específicas para ensinar. O professor é um profissional diferenciado, que não deve ser confundido com o geógrafo, historiador, matemático, biólogo etc. Esse profissional fez sua opção pela carreira docente, que tem seus métodos e objetos próprios de trabalho, os quais são diferenciados daqueles de profissionais formados em cursos de bacharelado. Nesse sentido, o conhecimento básico obtido na dimensão teórica do curso deve ser aplicado na sua dimensão prática. O professor deve ter uma base de conhecimento que se refere a um repertório próprio, com categorias de conhecimento que subsidiam a compreensão necessária para promover a aprendizagem dos alunos. As fontes desse conhecimento básico do professor para ensinar, segundo Shulman (1987), são: a formação acadêmica (licenciatura); o contexto educativo institucionalizado (a universidade e as escolas); a escolarização anterior e os fenômenos socioculturais que permeiam sua vida e, por fim, o saber teórico que valida a prática em si mesma. Prática é um termo que possui um conceito mais amplo se comparado ao termo “estágio”. Nesse sentido, sua dimensão deve abranger todo o curso. Todas as disciplinas que constituem o currículo de formação, e não apenas as pedagógicas, têm sua dimensão trabalhada tanto na perspectiva da sua aplicação no mundo social e natural quanto na perspectiva da sua didática, em tempo e espaço curricular específico. As atividades desse espaço 25 PRÁTICA DE ENSINO: INTRODUÇÃO À DOCÊNCIA curricular de atuação coletiva e integrada dos formadores superam o estágio e têm como finalidade promover a articulação das diferentes práticas numa perspectiva interdisciplinar. Nessa perspectiva, não existe disciplina exclusivamente teórica, completamente desarticulada da prática. Todas as disciplinas do curso têm uma dimensão prática, até porque as teorias somente são desenvolvidas quando na prática alguém descobre sua necessidade. 8 TEXTOS PARA REFLEXÃO Pergunto coisas ao buriti; e o que ele responde é: a coragem minha. Buriti quer todo o azul, e não se aparta de sua água – carece de espelho. Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende. Guimarães Rosa A seguir, veremos alguns textos com objetivos específicos para analisar, interpretar e refletir dentro da prática pedagógica cotidiana. 8.1 Educação? Educações: aprender com o índio O livro O que é educação, escrito por Carlos Rodrigues Brandão, foi publicado pela primeira vez em 1981. Nele, o autor propõe uma discussão sobre o processo de educação ao longo do tempo, desde os gregos e romanos, passando pela educação indígena, até a que temos atualmente, e destaca que não há uma única forma nem um único modelo de educação, e que não é somente na escola que ela acontece, nem o professor o seu único representante, entre inúmeras outras questões. Destaque Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, para aprender-e-ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias misturarmos a vida com a educação. Com uma ou com várias: educação? Educações. E já que pelo menos por isso sempre achamos que temos alguma coisa a dizer sobre a educação que nos invade a vida, por que não começar a pensar sobre ela com o que uns índios uma vez escreveram? Há muitos anos nos Estados Unidos, Virgínia e Maryland assinaram um tratado de paz com os Índios das Seis Nações. Ora, como as promessas e os símbolos da educação sempre foram muito adequados a momentos solenes como aquele, logo depois os seus governantes mandaram cartas aos índios para que enviassem alguns de seus jovens às escolas dos brancos. Os chefes responderam agradecendo e recusando. A carta acabou conhecida porque alguns anos mais tarde Benjamin Franklin adotou o costume de divulgá-la aqui e ali. Eis o trecho que nos interessa: 26 PRÁTICA DE ENSINO: INTRODUÇÃO À DOCÊNCIA “Nós estamos convencidos, portanto, que os senhores desejam o bem para nós e agradecemos de todo o coração. Mas aqueles que são sábios reconhecem que diferentes nações têm concepções diferentes das coisas e, sendo assim, os senhores não ficarão ofendidos ao saber que a vossa ideia de educação não é a mesma que a nossa. … Muitos dos nossos bravos guerreiros foram formados nas escolas do Norte e aprenderam toda a vossa ciência. Mas, quando eles voltavam para nós, eles eram maus corredores, ignorantes da vida da floresta e incapazes de suportar o frio e a fome. Não sabiam como caçar o veado, matar o inimigo e construir uma cabana, e falavam a nossa língua muito mal. Eles eram, portanto, totalmente inúteis. Não serviam como guerreiros, como caçadores ou como conselheiros. Ficamos extremamente agradecidos pela vossa oferta e, embora não possamos aceitá-la, para mostrar a nossa gratidão oferecemos aos nobres senhores de Virgínia que nos enviem alguns dos seus jovens, que lhes ensinaremos tudo o que sabemos e faremos, deles, homens”. De tudo o que se discute hoje sobre a educação, algumas das questões entre as mais importantes estão escritas nesta carta de índios. Não há uma forma única nem um único modelo de educação; a escola não é o único lugar onde ela acontece e talvez nem seja o melhor; o ensino escolar não é a sua única prática e o professor profissional não é o seu único praticante. Em mundos diversos, a educação existe diferente: em pequenas sociedades tribais de povos caçadores, agricultores ou pastores nômades; em sociedades camponesas, em países desenvolvidos e industrializados; em mundos sociais sem classes, de classes, com este ou aquele tipo de conflito entre as suas classes; em tipos de sociedades e culturas sem Estado, com um Estado em formação ou com ele consolidado entre e sobre as pessoas. Existe a educação de cada categoria de sujeitos de um povo; ela existe em cada povo, ou entre povos que se encontram. Existe entre povos que submetem e dominam outros povos, usando a educação como um recurso a mais de sua dominância. Da família à comunidade, a educação existe difusa em todos os mundos sociais, entre as incontáveis práticas dos mistérios do aprender; primeiro, sem classes de alunos, sem livros e sem professores especialistas; mais adiante com escolas, salas, professores e métodos pedagógicos. A educação pode existir livre e, entre todos, pode ser uma das maneiras que as pessoas criam para tornar comum, como saber, como ideia, como crença, aquilo que é comunitário como bem, como trabalho ou como vida. Ela pode existir imposta por um sistema centralizado de poder, que usa o saber e o controle sobre o saber como armas que reforçam a desigualdade entre os homens, na divisão dos bens, do trabalho, dos direitos e dos símbolos. 27 PRÁTICA DE ENSINO: INTRODUÇÃO À DOCÊNCIA A educação é, como outras, uma fração do modo de vida dos grupos sociais que a criam e recriam, entre tantas outras invenções de sua cultura, em sua sociedade. Formas de educação que produzem e praticam, para que elas reproduzam, entre todos os que ensinam-e-aprendem, o saber que atravessa as palavras da tribo, os códigos sociais de conduta, as regras do trabalho, os segredos da arte ou da religião, do artesanato ou da tecnologia que qualquer povo precisa para reinventar, todos os dias, a vida do grupo e a de cada um de seus sujeitos, através de trocas sem fim com a natureza e entre os homens, trocas que existem dentro do mundo social onde a própria educação habita, e desde onde ajuda a explicar – às vezes a ocultar, às vezes a inculcar – de geração em geração, a necessidade da existência de sua ordem. Por isso mesmo – e os índios sabiam – a educação do colonizador, que contém o saber de seu modo de vidae ajuda a confirmar a aparente legalidade de seus atos de domínio, na verdade não serve para ser a educação do colonizado. Não serve e existe contra uma educação que ele, não obstante dominado, também possui como um dos seus recursos, em seu mundo, dentro de sua cultura. Assim, quando são necessários guerreiros ou burocratas, a educação é um dos meios de que os homens lançam mão para criar guerreiros ou burocratas. Ela ajuda a pensar tipos de homens. Mais do que isso, ela ajuda a criá-los, através de passar de uns para os outros o saber que os constitui e legitima. Mais ainda, a educação participa do processo de produção de crenças e ideias, de qualificações e especialidades que envolvem as trocas de símbolos, bens e poderes que, em conjunto, constroem tipos de sociedades. E esta é a sua força. No entanto, pensando às vezes que age por si próprio, livre e em nome de todos, o educador imagina que serve ao saber e a quem ensina, mas, na verdade, ele pode estar servindo a quem o constituiu professor, a fim de usá-lo, e ao seu trabalho, para os usos escusos que ocultam também na educação – nas suas agências, suas práticas e nas ideias que ela professa – interesses políticos impostos sobre ela e, através de seu exercício, à sociedade que habita. E esta é a sua fraqueza. Aqui e ali será preciso voltar a estas ideias, e elas podem ser como que um roteiro daqui para a frente. A educação existe no imaginário das pessoas e na ideologia dos grupos sociais e, ali, sempre se espera, de dentro, ou sempre se diz para fora, que a sua missão é transformar sujeitos e mundo em alguma coisa melhor, de acordo com as imagens que se tem de uns e outros: “e deles faremos homens”. Mas, na prática, a mesma educação que ensina pode deseducar, e pode correr o risco de fazer o contrário do que pensa que faz, ou do que inventa que pode fazer: “eles eram, portanto, totalmente inúteis”. Fonte: Brandão (1993, p. 3-5). 28 PRÁTICA DE ENSINO: INTRODUÇÃO À DOCÊNCIA Brandão se tornou uma referência nesse assunto, afirmando que a educação aparece sempre que surgem formas sociais de condução e controle do ensinar e aprender, acontecendo quando se sujeita à pedagogia e criam-se situações próprias para seu exercício, seus métodos, e estabelecem-se suas regras. Dessa forma, ninguém educaria ninguém, os homens se educam entre si mediatizados pelo mundo. Exemplo de aplicação Vamos refletir sob algumas questões. • Se é verdade que “ninguém escapa da educação”, como se explica a expressão “falta de educação”? • Os índios das Seis Nações iniciam a sua carta com a expressão “Nós estamos convencidos, portanto, que os senhores desejam o bem para nós e agradecemos de todo o coração”. Seria um sinal de ingenuidade? Explique seu ponto de vista. • “Diferentes nações têm concepções diferentes das coisas”. Que relação há entre as diferentes nações e as diferentes educações de cada povo? • A nação brasileira apresenta apenas uma educação? • “Muitos dos nossos bravos guerreiros foram formados nas escolas do Norte [...]. Mas, quando eles voltavam para nós, eles eram [...]totalmente inúteis. Enviem-nos alguns dos seus jovens, que lhes ensinaremos tudo o que sabemos e faremos, deles, homens”. Como se insere a educação no processo de dominação de uma nação pela outra? • “Não há uma forma única nem um único modelo de educação; a escola não é o único lugar onde ela acontece e talvez nem seja o melhor; o ensino escolar não é a sua única prática e o professor profissional não é o seu único praticante”. Considerando-se essa afirmação, qual o papel da escola no processo educacional de um povo? • “Existe a educação de cada categoria de sujeitos de um povo; ela existe em cada povo, ou entre povos que se encontram. Existe entre povos que submetem e dominam outros povos, usando a educação como um recurso a mais de sua dominância”. Com base nessa afirmação, como seria possível definir, em poucas palavras, a educação do Brasil? • A educação “pode existir imposta por um sistema centralizado de poder, que usa o saber e o controle sobre o saber como armas que reforçam a desigualdade entre os homens”. Se há um controle sobre o saber, como ter certeza de que o que se aprende nas escolas é verdade? • “A educação do colonizador, que contém o saber de seu modo de vida e ajuda a confirmar a aparente legalidade de seus atos de domínio, na verdade não serve para ser a educação do colonizado. Não serve e existe contra uma educação que ele, não obstante dominado, também possui como um dos seus recursos, em seu mundo, dentro de sua cultura”. Diante dessa afirmação, o que dizer sobre o atual estágio da educação brasileira? Ela reflete a educação do vencedor ou do vencido? A educação que nós recebemos, então, não é a única possível? Qual seu ponto de vista? 29 PRÁTICA DE ENSINO: INTRODUÇÃO À DOCÊNCIA • “[...] quando são necessários guerreiros ou burocratas, a educação é um dos meios de que os homens lançam mão para criar guerreiros ou burocratas. Ela ajuda a pensar tipos de homens. Mais do que isso, ela ajuda a criá-los, através de passar de uns para os outros o saber que os constitui e legitima”. Faça uma relação entre essa afirmação e o processo de globalização, atualmente em curso em nosso planeta. • “[...] pensando às vezes que age por si próprio, livre e em nome de todos, o educador imagina que serve ao saber e a quem ensina, mas, na verdade, ele pode estar servindo a quem o constituiu professor, a fim de usá-lo, e ao seu trabalho, para os usos escusos que ocultam também na educação”. Qual a importância do professor/educador na formação ou na transformação da sociedade em que ele se insere? • A missão da educação “é transformar sujeitos e mundo em alguma coisa melhor, de acordo com as imagens que se tem de uns e outros [...] e deles faremos homens”. Mas, na prática, a mesma educação que ensina pode deseducar, e pode correr o risco de fazer o contrário do que pensa que faz, ou do que inventa que pode fazer: “eles eram, portanto, totalmente inúteis”. Reflita. 8.2 O fax do Nirso Vejamos o seguinte caso, de um autor desconhecido. “Um gerente de vendas recebeu o seguinte fax de um dos seus novos vendedores: ‘Seo Gomis O criente de Beozonte pidiu mais cuatrucenta pessa. Faz favor toma as providenssa, Abrasso, Nirso’ Aproximadamente uma hora depois, recebeu outro: ‘Seo Gomis Os relatório di venda vai xega atrazado proque to fexando umas venda. Temo qui manda umas treis mil pessa. Amanhã to xegando. Abrasso, Nirso’ No dia seguinte: ‘Seo Gomis Num xeguei pucausa de que vendi maiz deis mil em Beraba. To indu pra Brasilha. Abrasso, Nirso’ No outro: ‘Seo Gomis, Brasilha fexo 20 mil. Vo pra Froniloplis e de la pra Sum Paulo no vinhâo das cete hora. Abrasso, Nirso’ 30 PRÁTICA DE ENSINO: INTRODUÇÃO À DOCÊNCIA E assim foi o mês inteiro. O gerente, muito preocupado com a imagem da empresa, levou ao presidente as mensagens que recebeu do vendedor. O presidente escutou atentamente o gerente e disse: “Deixa comigo, que eu tomarei as providências necessárias”. E tomou. Redigiu de próprio punho um aviso e o afixou no mural da empresa, juntamente com as mensagens de fax do vendedor: ‘A parti de oje, nois tudo vamo fazê feito o Nirso. Si priocupá menos em iscrevê serto, mod vendê maiz. Acinado, O Prizidenti.’” Exemplo de aplicação Algumas questões para reflexão: • A educação escolar está perdendo espaço no mercado de trabalho? • Num mercado competitivo, todo profissional precisa de um diferencial para ocupar determinadas posições e ascender na carreira. Por vezes, esse diferencial é representado por um ou mais diplomas. Com base no texto e nessa afirmação, analise o papel da educação formal no mercado de trabalho. • Alguns estudiosos afirmam que a educação evolui num ritmo muito lento em relação a outros elementos da sociedade. Que aspectos devem, então, ser ressaltados na educação para que ela acelere sua evolução e consiga acompanhar o ritmo dos outros elementos sociais? 8.3 A Históriade Chapeuzinho Vermelho (na versão do lobo) A próxima história tem a seguinte condição: o direito de exercer novos pontos de vista a partir de uma história que todos acreditam que já conhecem. Destaque Esta história será contada de uma maneira não tradicional. Certa manhã estava eu passeando pela minha casa – sim, porque eu não sei se vocês sabem, mas a floresta é a minha casa – e, de repente, deparei com uma visão terrível. Vi uma menina vestida com uma roupa vermelha horrorosa, com um chapéu vermelho igualmente horroroso, carregando uma cesta cheia de produtos embalados com material plástico, que leva milhares de anos para se desintegrar na natureza. 31 PRÁTICA DE ENSINO: INTRODUÇÃO À DOCÊNCIA Imaginei que ela fosse fazer um piquenique ou coisa parecida e pensei: não posso permitir que ela deixe aquele material jogado pela mata. Ela vai sujar a minha casa e dos meus companheiros de floresta. Vou tentar preveni-la dos cuidados ecológicos fundamentais. Por outro lado, que descuidados são esses humanos: deixar uma menina tão pequena passear pela floresta desse jeito, correndo o perigo de ser apanhada por algum predador (dentre os quais eu me incluo). Como eu estava com o apetite devidamente saciado, resolvi, sem segundas intenções, falar com a menina e induzi-la a sair da floresta pelo mesmo caminho por onde entrou. Isto seria melhor para todos… e assim o fiz, mas, assim que me deparei com a menina, ela foi logo gritando feito uma louca e me batendo com a cesta que tinha na mão; nem sequer me ouviu, não me deu oportunidade para falar o que eu queria e explicar o motivo da nossa conversa. Só repetia várias vezes que eu não iria comer o lanche que ela havia preparado para a sua vovozinha, que eu era horrível, que isso e aquilo. Logo vi que não conseguiria atingir o meu intento. Mas… ela é só uma menina… e assim pensando, resolvi perdoá-la. Apesar de ter ficado furioso com ela num primeiro instante, resolvi procurar por uma velhinha que, algum tempo antes, havia construído uma casinha de madeira perto do rio. Na época, todos nós aqui da floresta havíamos ficado furiosos com ela, pois derrubou nossas árvores e, assim, destruiu a casa de muitos de nossos companheiros animais para construir aquela casa horrenda, mas, devido à avançada idade, resolvemos relevar e deixá-la ficar. Só podia ser ela a vovozinha daquela menina tão mal-educada. Segui por atalhos que só nós, moradores da floresta, conhecemos e, assim, cheguei na casa da velhinha bem antes da sua neta. Segui um caminho muito longo para alertar a senhora dos males que ela e a sua neta poderiam provocar no nosso ecossistema, mas ela também não me deu a menor oportunidade de me pronunciar; foi logo me batendo e fazendo um escândalo tremendo, muito barulho, muita gritaria, virou-se e pegou uma velha espingarda, certamente com a intenção de matar-me. Não tive outra alternativa, senão comer a velha senhora. Minutos depois, a menina acabou chegando na casa da sua avó. Sabendo que ela iria provocar novo escândalo, resolvi me disfarçar e, assim, vesti algumas roupas da tal velhinha e tentei me fazer passar por ela, deitado em seu leito. Quando ela chegou, tentei dissuadi-la a ir embora o quanto antes, mas a menina novamente começou a me insultar dizendo: que nariz grande e horrível você tem… que orelhas estranhas você tem… que olhos caídos e remelentos você tem… eu procurei responder a todas as perguntas com ternura, mas para tudo há um limite, e minha paciência já estava em ponto de se esgotar, quando tirei o disfarce. Diante dos gritos da menina, e temendo a aproximação de caçadores que sempre afluíam ao local, não tive alternativa senão comê-la também. 32 PRÁTICA DE ENSINO: INTRODUÇÃO À DOCÊNCIA Meu temor, no entanto, se concretizou: um caçador me encontrou e, antes mesmo que eu começasse a me explicar, atirou impiedosamente e me acertou… agora, cá estou eu, com a barriga aberta, moribundo, e vocês ainda estão vibrando com isto, ensinando suas crianças que o malvado dessa história sou eu… isso é muito injusto, muito injusto. Adaptado de: Antunes (2004). Esta história possui uma peculiaridade: ela é relatada na versão do lobo. Isso nos leva a algumas importantes reflexões sobre a educação que estamos oferecendo em nossas escolas. Exemplo de aplicação • Ao apresentar aos alunos nossas opiniões sobre fatos como verdades absolutas, será que não estamos negando-lhes o direito de optar? • Será que é justo negar-lhes o direito de optar, mesmo que essa opção represente a ideia da minoria? • Será que o que extraímos do conteúdo da geografia, da história, da literatura e mesmo da matemática representa uma verdade ou uma opinião? • Será que, quando falamos em exclusão, não estamos sendo excludentes ao tirarmos a oportunidade do aluno de avaliar, fazer seu próprio julgamento e tirar suas conclusões? • Com relação ao conteúdo ensinado e aprendido nas escolas, há apenas uma verdade? • Com relação ao conteúdo ensinado e aprendido nas escolas, há apenas verdades? • Problematizar uma dúvida não levaria à construção de outras verdades? 8.4 Uma pescaria inesquecível Vamos continuar com a leitura de um texto a respeito de ética. Destaque Ele tinha 11 anos e, a cada oportunidade que surgia, ia pescar num cais próximo ao chalé da família, numa ilha que ficava em meio a um lago. A temporada de pesca só começaria no dia seguinte, mas pai e filho saíram no fim da tarde para pegar apenas peixes cuja captura estava liberada. O menino amarrou uma isca e começou a praticar arremessos, provocando ondulações coloridas na água. 33 PRÁTICA DE ENSINO: INTRODUÇÃO À DOCÊNCIA Logo, elas se tornaram prateadas, pelo efeito da lua nascendo sobre o lago. Quando o caniço vergou, ele soube que havia algo enorme do outro lado da linha. O pai olhava com admiração, enquanto o garoto, habilmente, e com muito cuidado, erguia o peixe exausto da água. Era o maior que já tinha visto, porém sua pesca só era permitida na temporada. O garoto e o pai olharam para o peixe, tão bonito, as guelras volvendo para trás e para frente. O pai, então, acendeu um fósforo e olhou para o relógio. Pouco mais de 10 horas da noite… Ainda faltavam quase duas horas para a abertura da temporada. Em seguida, olhou para o peixe e depois para o menino, dizendo: — Você tem que devolvê-lo, filho! — Mas, papai — reclamou o menino. — Vai aparecer outro — insistiu o pai. — Não tão grande quanto este — choramingou a criança. O garoto olhou à volta do lago. Não havia outros pescadores ou embarcações à vista. Voltou novamente a olhar para o pai. Mesmo sem ninguém por perto, sabia, pela firmeza em sua voz, que a decisão era inegociável. Devagar, tirou o anzol da boca do enorme peixe e o devolveu à água escura. O peixe movimentou rapidamente o corpo e desapareceu. Naquele momento, o menino teve certeza de que jamais pegaria um peixe tão grande quanto aquele. Isso aconteceu há 34 anos. Hoje, o garoto é um arquiteto bem-sucedido. O chalé continua lá, na ilha, em meio ao lago, e ele leva seus filhos para pescar no mesmo cais. Sua intuição estava correta. Nunca mais conseguiu pescar um peixe tão maravilhoso como o daquela noite. Porém, sempre vê o mesmo peixe todas as vezes que se depara com uma questão ética. Porque, como o pai lhe ensinou, a ética é simplesmente uma questão de certo e errado. Agir corretamente, quando se está sendo observado, é uma coisa. A ética, porém, está em agir corretamente quando ninguém está nos observando. Essa conduta reta só é possível quando, desde criança, aprendeu-se a devolver o peixe à água. A boa educação é como uma moeda de ouro: tem valor em toda parte. Fonte: Canfield et al. (2003, p. 94-96). 34 PRÁTICA DE ENSINO: INTRODUÇÃO À DOCÊNCIA Refletir sobre ética é refletir sobre a moral, os costumes, as regras, os tabus, as crenças, e tudo isso pode variar, e se influenciar, dependendo da sociedade e da época. Portanto, para se refletir sobre ética, é necessário antes de qualquer coisase obter conhecimento e percepção de julgamento. Exemplo de aplicação Algumas questões para reflexão: • Complete a frase: “Ética é…”. • Se a ética é algo tão importante, por que não faz parte da grade curricular da maior parte das escolas de educação básica no Brasil? • Reflita sobre o conteúdo da frase “Gosto de levar vantagem em tudo, certo? ” – a chamada lei de Gerson – e faça uma relação com o texto. • “O que é certo é certo, mesmo que ninguém o faça; e o que é errado é errado, mesmo que todo mundo o faça”. Relacione a afirmação com o texto. 8.5 A folha amassada Controlar impulsos, como a raiva, pode ser um grande desafio, mas pode ser aprendido. Se uma pessoa consegue reconhecer determinada emoção, ela também consegue definir se o que está sentido é ou não apropriado para a situação. Falaremos sobre isso na próxima história, de autoria desconhecida. “Quando criança, por causa de meu caráter impulsivo, tinha raiva à menor provocação. Na maioria das vezes, depois de um desses incidentes, me sentia envergonhado e me esforçava por consolar a quem tinha magoado. Um dia, meu professor me viu pedindo desculpas depois de uma explosão de raiva, e entregou-me uma folha de papel lisa e me disse: Amasse-a! Com medo, obedeci e fiz com ela uma bolinha. — Agora, deixe-a como estava antes, voltou a dizer-me. Óbvio que não pude deixá-la como antes. Por mais que tentasse, o papel continuava cheio de pregas. O professor disse então: — O coração das pessoas é como esse papel. A impressão que nele deixamos será tão difícil de apagar como esses amassados. 35 PRÁTICA DE ENSINO: INTRODUÇÃO À DOCÊNCIA Assim, aprendi a ser mais compreensivo e mais paciente. Quando sinto vontade de estourar, lembro daquele papel amassado. A impressão que deixamos nas pessoas é impossível apagar. Quando magoamos alguém com nossas palavras, logo queremos consertar o erro, mas é tarde demais. Alguém já disse, certa vez: — Fale somente quando suas palavras possam ser tão suaves como o silêncio. Mas não deixe de falar, por medo da reação do outro. Acredite principalmente em seus sentimentos. Seremos sempre responsáveis pelos nossos atos, nunca se esqueça”. Exemplo de aplicação Ciente da importância de saber agir em situações que fujam do controle, considere algumas questões para reflexão: • Como educador, no futuro, você terá que desempenhar várias funções que extrapolam o “simples” ensinar e que se inserem no contexto de educar. Você se considera preparado emocionalmente para exercer tais funções? • Como lidar com alunos explosivos como o do texto? • Aluno explosivo representa necessariamente um aluno-problema? • Como desenvolver autocontrole de modo que, como professor, você não corra o risco de soltar bombas com suas palavras com potencial de causar estragos irremediáveis na vida de seus futuros alunos? 8.6 A lição dos gansos Para se obter um bom êxito profissional, é fundamental que saibamos trabalhar em conjunto. Veremos a seguir uma história que mostra um exemplo de relacionamento democrático para se conseguir chegar ao destino pretendido. Esta história também é de autoria desconhecida. “No outono, quando se vê bandos de gansos voando ao sul, formando um grande ‘V’ no céu, indaga-se o que a ciência já descobriu sobre o porquê de voarem dessa forma. Sabe-se que quando cada ave bate as asas, move o ar para cima, ajudando imediatamente a sustentar a ave de trás. Ao voar em forma de ‘V’, o bando se beneficia de pelo menos 71% a mais de força de voo do que uma ave voando sozinha. Sempre que um ganso sai do bando, sente subitamente o esforço e a resistência necessários para continuar voando sozinho. Rapidamente, ele entra outra vez em formação para aproveitar o deslocamento de ar provocado pela ave que voa imediatamente a sua frente. 36 PRÁTICA DE ENSINO: INTRODUÇÃO À DOCÊNCIA O ganso líder se cansa, ele muda de posição dentro da formação e outro ganso assume os demais que voam rumo ao sul. Os gansos detrás gritam, encorajando os da frente para que mantenham a velocidade. Finalmente, quando um ganso fica doente, ou ferido por um tiro e cai, dois gansos saem da formação e o acompanham para ajudá-lo e protegê-lo. Ficam com ele até que consiga voar novamente, ou até que morra. Só então levantam voos sozinhos, ou em outra formação, a fim de alcançar seu bando”. Exemplo de aplicação Pessoas que se deslocam numa mesma direção e que têm o sentido de comunidade podem atingir seus objetivos de forma mais rápida e fácil, pois se beneficiam de impulso mútuo. Numa equipe, quando um só elemento se esforça na direção contrária, o dispêndio de energia é muito maior e o avanço da equipe, menor. Será que você já aprendeu a lição dos gansos? Se tivéssemos o mesmo sentido dos gansos, nos manteríamos em formação com os que lideram o caminho para onde também desejamos seguir. Na educação, o papel de liderança é exercido pelos pais (na família), professores (na sala de aula), diretores (na unidade escolar) e, gradativamente, os liderados vão aprendendo a ocupar posições de liderança em suas vidas ou a aceitar as lideranças que se lhe apresentam. Você se sente preparado para exercer, por exemplo, o papel de professor? Principais questões para reflexão: • Que mensagem passamos quando gritamos detrás? Estímulo aos nossos líderes ou desestímulos? Será que nossa mensagem como liderados tem sido útil para promover a melhoria da qualidade de vida do grupo? Se você descobrir que tem errado na sua atitude, não se preocupe, pois isso não é o fim, mas o começo. 8.7 Assembleia na carpintaria No nosso cotidiano, é fácil encontrar defeitos nas pessoas com quem convivemos, e ao revelarmos o que pensamos, a situação, quase sempre, é recebida negativamente. Mas se expomos as qualidades dessas mesmas pessoas, o resultado pode ser positivo, uma vez que geralmente estas se sentirão mais motivadas a realizarem suas conquistas. É o que poderemos perceber lendo o próximo texto, de autoria desconhecida. “Era uma vez uma carpintaria onde aconteceu uma estranha assembleia. Foi uma reunião de ferramentas para acertar suas diferenças. Um martelo presidiu a reunião, mas os participantes avisaram-no que teria de renunciar, pois fazia muito barulho e golpeava muito. O martelo aceitou sua culpa, porém exigiu que fosse expulso o parafuso, alegando que dava muitas voltas para conseguir algo. 37 PRÁTICA DE ENSINO: INTRODUÇÃO À DOCÊNCIA Diante do ataque, o parafuso concordou, desde que expulsassem a lixa, por ser muito áspera no tratamento com os demais, atritando sempre. A lixa acatou a decisão, mas exigiu a expulsão da trena, por sempre medir os outros segundo a sua medida, como se fosse perfeita. No auge da discussão, entrou o carpinteiro, juntou o material e iniciou seu trabalho. Utilizou o martelo, a lixa, a trena e o parafuso, convertendo uma rústica madeira em um fino móvel. Quando a carpintaria ficou novamente em silêncio com a saída do carpinteiro, a assembleia reiniciou. Foi então que o serrote, até então calado, falou: — Senhores, ficou demonstrado que temos defeitos, mas o carpinteiro trabalha somente com as nossas qualidades, com nossos pontos valiosos. Vamos deixar nossos pontos fracos e concentremos em nossos pontos fortes. A assembleia entendeu então que o martelo era forte, o parafuso unia e dava força, a lixa era especial para limar e afinar a aspereza e a trena era precisa e exata. Sentiram-se como uma verdadeira equipe capaz de produzir móveis de qualidade. Sentiram, então, uma grande alegria em trabalhar juntos. O mesmo ocorre com os seres humanos. Quando se busca defeito no outro, a situação fica tensa e negativa. Ao contrário, quando se busca sinceramente o ponto forte, as qualidades dos outros, florescem as melhores conquistas humanas. É fácil encontrar defeitos, qualquer um pode fazê-lo. Mas encontrar qualidades é para os sábios.” Exemplo de aplicação Sozinho, você pode ser bom. Com outros, você tende a ser melhor. Reflita sobre essa questão e as que seguem:
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