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ARTIGO - CRIMINALIZAÇÃO DA FAKENEWS


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1
Centro universo salvador
Faculdade de direito
Criminalização das Fake news: Implicações legais sobre o combate à desinformação e a disseminação do discurso de ódio 
nos meios digitais
Professor: Michel de Melo Possidio
Autores: Cristiano Paim de Assis (matrícula - 600892031); 
Levy Léoh Santos de Azevedo Coutinho (matrícula - 600765802); 
Maria da Conceição Nepomuceno (matrícula - 600808130); 
Roggério Gomes Soares (matrícula - 600895793).
Salvador, 28 de novembro de 2022
Centro universo salvador
Faculdade de direito
Criminalização das Fake news: Implicações legais sobre o combate à desinformação e a disseminação do discurso de ódio 
nos meios digitais
Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado para a disciplina Orientação Metodológica para o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), ministrada pelo professor Michel de Melo Possidio, como requisito parcial de avaliação do semestre de 2022.2.
Salvador, 28 de novembro de 2022
Criminalização das Fake news: Implicações legais sobre o combate à desinformação e a disseminação do discurso de ódio 
nos meios digitais
Autores: Cristiano Paim de Assis (matrícula - 600892031); 
Levy Léoh Santos de Azevedo Coutinho (matrícula - 600765802); 
Maria da Conceição Nepomuceno (matrícula - 600808130); 
Roggério Gomes Soares (matrícula - 600895793).
RESUMO: Este artigo versa sobre a criminalização das fake news e suas implicações legais sobre o combate à desinformação e a disseminação do discurso de ódio nos meios digitais. A escolha do tema deste artigo encontra respaldo na necessidade de analisar se, de fato, a criminalização das fake news, a partir da criação de um novo tipo penal se configura na melhor opção para dirimir e/ou coibir essa prática que se configura como nociva no atual estágio de organização da sociedade pós-moderna. Dessa forma, o presente estudo tem como premissa maior o questionamento sobre como as fake news poderiam passar a integrar o rol das condutas delitivas, passíveis de serem penalizadas. Por esse motivo, este artigo avaliou em que medida a criminalização das fake news pode ser uma opção para acabar com a circulação de conteúdos falsos nos meios digitais. Por conseguinte, o objetivo principal deste trabalho foi investigar e analisar os aspectos que permeiam a criminalização das fake news, a partir dos aspectos legais que permeiam a temática, bem como alguma das implicações que a criação de um novo tipo penal pode causar na prática desta conduta. A metodologia utilizada para a elaboração do artigo foi baseada no levantamento de fontes bibliográficas que serviram de fundamentação teórica para a construção da presente discussão. 
Palavras-chaves: Fake news; desinformação; discurso de ódio; criminalização.
Sumário: Introdução. 1. As Fake news no Contexto da Sociedade Digital e da Virtualização das Relações Sociais na Pós-modernidade. 1.1. O que são fake news? 2. Aspectos Constitucionais que permeiam a discussão da Criminalização das Fake news. 2.1. Liberdade de Expressão e Estruturas Normativas. 3. Criminalização das Fake news e da conduta de disseminar a desinformação e o discurso de ódio nos meios digitais. 3.1. Primeiros Passos para a Criminalização das Fake news: Iniciativas do Poder Público e Privado no intuito de combater a propagação da desinformação e do discurso de ódio. 3.2. Fake news e a Responsabilidade Criminal no Brasil: Possíveis enquadramento no Código Penal da conduta de disseminar a desinformação e o ódio nos meios digitais. Considerações Finais. Referências 
Data de Submissão: 28/11/2022
Data de Aprovação: XX/12/2022
Introdução
Primeiramente, antes de adentrar nas questões que permeiam a criminalização das fake news é necessário esclarecer alguns pontos intrínsecos a temática. Sendo assim, diante das possíveis implicações jurídicas e sociais, que a tipificação penal da conduta de disseminar o ódio e a desinformação nos meios digitais pode acarretar na dinâmica da sociedade pós-moderna é importante entender o contexto no qual está inserida essa conduta. Por esse motivo o primeiro passo é compreender, o que de fato são as fake news. 
A etimologia da palavra fake news tem origem na língua inglesa, onde verifica-se que fake significa falso e news significa notícia, daí porque, erroneamente, as fake news são tidas como “notícias falsas”, que na maioria das vezes circulam através dos meios digitais. A utilização equivocada dessa terminologia faz com que as “falsas notícias” sejam confundidas com notícias de caráter jornalístico. Porém, as fake news não são matérias jornalísticas, uma vez que encontram-se ancoradas em inverdades e na disseminação da desinformação. 
Dessa forma, o tema deste artigo possui importante repercussão no cenário político, social e econômico da sociedade pós-moderna. Ocorre que o mundo se tornou virtual. A maior parte das interações interpessoais migraram para os meios digitais. Toda a dinâmica advinda da virtualização das relações sociais fomentou um terreno fértil para a circulação de conteúdos falsos, que inclusive servem de matéria-prima para a disseminação da desinformação e do ódio. Essa situação compromete a formação de consciência crítica e como consequência o processo democrático do país. 
A escolha do tema abordado neste artigo tem como justificativa a necessidade de analisar se, de fato, a criminalização das fake news, a partir da criação de um novo tipo penal se configura como a melhor opção para dirimir e/ou coibir essa prática que se configura como nociva no atual estágio de sociabilização da humanidade. O problema que que serve de direcionamento para a produção deste artigo encontra-se embasado no questionamento acerca das implicações que criminalização das fake news e sua intima relação com os direitos fundamentais à: liberdade de opinião/pensamento; liberdade de expressão e a liberdade de informação previstos no texto constitucional. 
Ademais, a discussão sobre a criminalização das fake news, não é algo tão simples. Não se trata meramente de criar ou não um novo tipo penal, aplicar multas e sanções que visem coibir essa conduta. Muito pelo contrário, deve-se questionar se de fato, as fake news devem integrar o rol das condutas delitivas, uma vez que possuem uma imbricada relação com importantes direitos fundamentais.
Assim, este artigo tem como objetivo discutir os aspectos legais e as implicações sociais que permeiam a criminalização das fake news. Dessa forma, buscou-se como metodologia o estudo e análise de referenciais teóricos capazes de embasar a pesquisa desenvolvida. Sendo assim, a pesquisa bibliográfica forneceu os fundamentos essenciais para a análise das fake news como estruturas capazes de causar interferência na dinâmica das sociedades pós-modernas, acentuando-se na influência nociva que podem causam no estado democrático de direito. 
1. As Fake news no Contexto da Sociedade Digital e da Virtualização das Interações Sociais na Pós-modernidade 
A sociedade pós-moderna é digital. A forma como os indivíduos se relacionam nos mais diferentes contextos sociais é cada vez mais dependente de aparatos tecnológicos que propiciam a relativização das barreiras espaço-temporais. Vive-se a era da virtualização das relações sociais, onde a maior parte das interações são desempenhadas em meios digitais. 
Nesse contexto, Lóssio (2020, p.47) destaca que “nossa sociedade está passando por uma frequente transformação, saindo de um status anterior para um novo status, onde a cibernética faz parte de praticamente tudo na vida de todos (...).” Percebe-se, que cada dia mais as relações sociais estão em constante processo de reconfiguração para se adaptarem as novas demandas da sociedade. 
Magro e Andrade (2022, p.22) sinalizam que a internet: transformou a sociedade em que vivemos. Os autores ressaltam que da companhia das demais conquistas da civilizatórias, como um dos grandes marcos inventivos da humanidade, é parte indissociável da vida moderna e se amalgama a ela a tal ponto que influencia o próprio arquétipo decomportamento humano. 
Além disso, Lóssio (2020, p.47) afirma, também, que “a sociedade digital é o novo modelo social, o status ad quem do antigo modelo de sociedade onde o espaço cibernético ainda não tinha vez, simplesmente por não existir a internet, se tornando popular e assim fazendo com que esteja presente na vida de todos (...).” A tecnologia proporcionou uma série de oportunidades que emergiram a partir da nova ordem digital, que se encontra lastreada nas múltiplas potencialidades advindas das tecnologias. Vive-se em um momento onde o digital está cada vez mais presente na dinâmica das relações sociais. Menezes[footnoteRef:1], sinaliza que: [1: MENEZES, Paulo Brasil. Fake News: modernidade, metodologia, regulação e responsabilização. 33ª ed. rev. ampl. e atual. Salvador: JusPODIVM, 2022, p.66-67.] 
(...) a internet tem proporcionado um circuito atrativo para os líderes e pessoas interessadas em manifestar notícias previamente separadas e determinadas. A democratização do espaço cibernético ocasionada pela internet faz aumentar a quantidade de usuários e inclui na sociedade informativa uma porção social que outrora era excluída dessa propensão tecnológica.
Por conseguinte, a virtualização das relações sociais fez com que as barreiras espaço-temporal fossem relativizadas. Nesse sentido, é importante destacar que a informação, assim como a desinformação viajam na velocidade dos bytes, no atual estágio de desenvolvimento técnico-científico da sociedade pós-moderna. Além disso, conforme ressalta Barreto (2018, p.1) “nos últimos anos, a disponibilidade de conteúdo online tem tido impacto decisivo na formação da opinião e tomada de decisões dos seus usuários.”
Ademais, Barreto (2018) também nos informa que: 
Outrora, tínhamos o papel de divulgação de notícias através de alguns jornais televisivos ou impressos. Hoje, a conectividade permite a qualquer indivíduo produzir ou compartilhar conteúdo na Internet que, de quando em vez, poderá não ser verídico ou confirmado, com potencial para ocasionar ondas virais de boatos, popularmente conhecido como fake news.
Percebe-se a preocupação do autor em chamar a atenção para o fato de que a mudança da forma como as informações são transmitidas, atualmente, através da conectividade, permite que qualquer indivíduo possa propagar notícias e/ou informações, que poderão ou não retratar a realidade de forma fidedigna. Por esse motivo, a propagação de notícias é extremamente preocupante no atual estágio de virtualização das relações sociais, uma vez que a disseminação de informações/conteúdos falsos podem influenciar a formação da consciência crítica e, por conseguinte, o livre desenvolvimento da personalidade. 
Na mesma linha de pensamento, Menezes (2022) destaca que:
o espectro enganoso das fake news e a velocidade surpreendente como elas concorrem para liderar a agenda digital da sociedade, pulverizando no público nocividades cujas consequências são indeterminadas e pouco reprimidas, são fomentados em razão dos escassos estudos sobre os tipos de responsabilização que o sistema jurídico oferece para coibi-las. (...). 
Nesse sentido, Barreto (2018, p.01-02) apresenta a perspectiva de que as autoridades brasileiras têm buscado mecanismos para antecipação de tendências e assim implantar medidas de controle, criação de grupos de trabalho e, por fim, a criminalização da conduta em apreço. Não obstante, tem-se que que muitos são os instrumentos normativos imbuídos do objetivo de nortear a forma como as relações sociais e a economia são desenvolvidas nesse novo panorama da sociedade digital e da virtualização da dinâmica social. 
Menezes (2022, p.19) destaca que “o lado compassivo do ciberespaço, de ser um mecanismo de abertura social para novas comunicações e participação de comunidades antes marginalizadas dos processos de democratização mundial (...).” O ciberespaço propiciou a quebra das barreiras espaço-temporais de outrora, ao passo que fomentou novos ambientes de discussão e fomento de interações mediadas através da web. Além disso, por se tratara de um espaço de interação, a internet possibilita que os indivíduos possam manifestar suas inquietudes, aspirações e demais demandas de ordem social, econômico, político e cultural. 
Assim, ressalta-se que a Internet, os meios digitais e as redes sociais têm sido utilizados para uma série de atividades que integram a nova dinâmica social que se tornada cada dia mais digital. Por essa razão a disseminação de falsas informações e conteúdos, eivados de inverdades e ofensas, através dos meios digitais, além de comprometerem o livre desenvolvimento da personalidade, desestabilizam importantes estruturas sociais, que são essenciais à manutenção do Estado democrático de direito, como por exemplo a estruturas políticas.
1.1. O que são fake news? 
Como mencionado na introdução deste artigo, etimologicamente a palavra fake news tem sua origem na língua inglesa. Nesse sentido, a tradução ipsis litteris da expressão fake news nos remete ao errôneo entendimento de que se tratam de “notícias” aos moldes jornalísticos. Porém, diferentemente do que a acepção da palavra possa transparecer, tem-se que as fake news não são notícias, pois não são baseadas na verdade dos fatos. Tratam-se, portanto, de inverdades proferidas com o intuito de disseminar o ódio e a desinformação de forma acentuada nos meios digitais. 
Ademais, a equivocada utilização dessa expressão, contribui sobremaneira para a propagação destes conteúdos que se baseiam em inverdades e na disseminação do ódio entre os indivíduos. Como exposto, as fake news não devem ser confundidas com as notícias produzidas por jornalistas a partir de técnicas de apuração e de entrevista. Na pós-modernidade, as fake news tem sido utilizadas para disseminar interesses escusos, proliferar a desinformação e nutrir o ódio entre as pessoas, a partir de discursos deturpados da realidade e dos fatos que permeiam a dinâmica social. 
Entretanto, diferentemente do que se possa pensar, em que pese sua atuação nociva na atualidade através da disseminação do discurso de ódio e da desinformação através das redes sociais e dos aplicativos de mensagens, é importante ter em mente que as fake news não são uma atividade exclusiva da pós-modernidade. Desse modo, Martins (2021, p.02-03) afirma que: 
desde o processo histórico do Brasil já tem existência de boatos, ou seja, já existem boatos desde os tempos do descobrimento do Brasil podemos encontrar boatos que entrou para história como uma verdade contada no colonialismo como uma verdade contado pelo outro Europeu, o termo Boato assim define o dicionário como “novidade”, em tempo de pós-verdade hoje conhecemos as notícias falsas como as fake News.
As fake news, hoje, na sociedade contemporânea, têm um impacto causado pela ação humana ao compartilhar ou clicar em conteúdos nas redes sociais, consequentemente, isso pode ocasionar danos irreversíveis à vida de indivíduos seja de renome ou não, personalidade pública, instituições, empresas e ou até levar a linchamentos e mortes. O impacto das fake news traz consequências imensuráveis para as convivências das pessoas na sociedade, é temerário para o convívio harmônico das pessoas, infelizmente já foi constatado no Brasil linchamentos e mortes de pessoas por compartilhamento de boatos nas mídias sociais sem ao menos fazer checagem e levantamento do conteúdo replicado.
Nesse sentido, Menezes (2022) chama a atenção para o fato de que a origem das fake news é um fenômeno que ocorre desde os tempos das civilizações antigas. Segundo o autor “a sua origem conclama estudos e evidências pretéritas, em que notícias dessa natureza eram também retratadas com o perfil de dissimular situações ou fatos.” Portanto, não se tratam de um fenômeno que se originou na pós-modernidade. 
Sendo assim, as fake news devem ser compreendidas como conteúdos, elaborados a partir de uma perspectiva limitada e distorcida da realidade fática que rodeia um determinado contexto social, que na maioria das vezes encontra-se embasado eminverdades. Importante destacar que fake news não são conteúdos jornalísticos produzidos de forma embasada em princípios éticos e profissionais. Esses conteúdos são utilizados com o objetivo de induzir os indivíduos a uma falsa percepção da realidade. Como consequência tem-se o comprometimento do acesso à informação de qualidade, resultado de pesquisa e trabalho jornalístico.
Desse modo, é importante destacar que as fake news não são conteúdos jornalísticos. São conteúdos produzidos em desacordo com os fatos e acontecimentos, sem obedecer aos princípios éticos e profissionais inerentes a práxis jornalística. Desse modo, nada mais são do que conteúdos descompromissados com a verdade, desprovidos de técnicas de apuração e de entrevista jornalística, produzidos com o intuito de promover a desvirtuar o acesso a informação e/ou estimular o discurso do ódio nos meios digitais, de forma a desvirtuar e manipular a verdade no intuito de propagar interesses adversos. 
Por esse motivo é importante ter em mente que fake news não é conteúdo jornalístico. Diferentemente do que a acepção da palavra possa conduzir, fake news não resultam da análise de um fato social, a partir da utilização de técnicas jornalísticas de apuração, entrevista e produção textual. Muito pelo contrário, as fake news resultam de intuito adversos e, na maioria das vezes, de interesses escusos, no intuito de fomentar uma falsa percepção da realidade, assim como a disseminação do discurso de ódios ofensas direcionadas à determinadas pessoas e/ou grupos sociais. Nesse diapasão Menezes (2022, p. 349) informa que:
As notícias e os fatos compartilhados no ambiente digital trazem repercussões para grandes áreas da vida humana. Se a palavra escrita impõe consequências para quem as lê, comunicações vocalizadas também produzem impactos na esfera discursiva digital.
As interferências são vastas. Elementos psicológicos são influenciados, fatores sociológicos são verificados, argumentos políticos são retratados, desestabilidades econômicas são sentidas, furos jornalísticos são alcançados, assim como uma comunicação mais desafiadora é vivenciada. Enfim, o substrato informacional que circula no espaço público afeta as relações do homem com o seu corpo social.
Na pós-modernidade a circulação de informações alcançou outro patamar, tendo em vista as inúmeras potencialidades advindas dos meios digitais. A tecnologia dirimiu as barreiras espaço-temporais, que existiam outrora, e fomentaram novos espaços de comunicação e interação. A sociedade pós-contemporânea acostumou-se a viver em um mundo cada vez mais digital onde as notícias circulam traves de hiperlinks que propiciam uma maior interatividade entre os usuários. 
Menezes (2022, p.113) nos apresenta uma concepção simples das fake news, onde ressalta que “(...) as fake news podem ser entendidas como atos informais nos quais as notícias, sem o devido controle ou sem o respectivo teste de veracidade são disseminadas perante a sociedade.” Conforme a concepção simples apresentada por Menezes (2022), tem-se que as fake news nada mais são do que “(...) a proliferação de fatos, geralmente de maneira não solene, sobre um determinado assunto.”
Por esse motivo as fake news são extremamente perigosas para a desconstrução das estruturas sociais, o que influencia negativamente na forma como os indivíduos percebem a realidade ao seu redor. Por consequência tem-se o enfraquecimento da ordem democrática nacional, uma vez que as inverdades perpetradas neste formato se constituem em verdadeira ofensa ao verdadeiro trabalho jornalístico, que é embasado em objetividade, apuração de fatos e transmissão destes em conformidade com a realidade fática que os permeia. De acordo com Menezes (2022, p.353): 
(...) as notícias que trazem indícios de fraudes, bem como as que já constituem uma falsidade em si, não podem ficar destituídas de fiscalização. A possibilidade de crescimento da desconfiguração do espaço público digital por meio da inserção de fatos imprecisos e dissimulados é iminente. Por isso, é necessário correlacionar os fatos com suas eventuais responsabilizações.
Muito embora não exista, ainda, legislação específica para dizer o que é ou não uma notícia desconfigurada, assim como, até o momento, não há regulamentação legal no Brasil privativa sobre desinformação e que possa estabelecer responsabilidades particulares, as fake news disseminadas no espaço público recebem tratamento jurídico diversificado, a depender de qual seara incidem os seus efeitos.
	
Assim, a utilização errada da expressão fake news compromete de sobremaneira a criminalização da conduta de disseminar a desinformação e o ódio nos meios digitais. Isso porque, existem pessoas que se insurgem contra a criminalização das fake news. Esses indivíduos utilizam como elemento de defesa a tese de que a criminalização das fake news pode relativizar os direitos fundamentais à liberdade de expressão e de informação. 
Em que pese, existam esforços para a criminalização das fake news, tem-se que a temática ainda é carente de discussões mais abrangentes sobre suas implicações sociais e legais. As fake news são repassadas através dos meios digitais e das redes de sociabilização de forma rápida e massiva, alcançado grandes números de indivíduos. Por essa razão é importante estimular a discussão acerca da interferência das falsas informações na sociedade, bem como perquirir mecanismos que possam cobrir a disseminação dessa conduta. 
Dessa forma, percebe-se que ainda temos muito a avançar nos aspectos legislativos, para que se possa chegar a uma possível tipificação dessa conduta, que se amolda como danosa na sociedade na pós-moderna. Não se trata meramente de criar ou não um novo tipo penal, mas sim de repensar as estruturas legislativas que se tem no ordenamento jurídico e verificar como construir uma lei que coíba a prática dessa atividade nociva.
2. Aspectos Constitucionais Que Permeiam a Disseminação das Fake news 
A Constituição Federal de 1988 (CF/88), conhecida como “Constituição Cidadã”, considerada um importante marco na redemocratização do país, após o período da ditadura militar, onde direitos e garantias fundamentais foram suplantados. Cunha Júnior (2015, p.119) afirma que “(...) o sentido compromissário da Constituição de 1988 está bem evidente no seu preâmbulo, que afirma ter sido ela elaborada para instituir o Estado Democrático”, in verbis:
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. (Preâmbulo da Constituição Federal do Brasil de 1988) (grifo nosso)
	
Além disso, Cunha Junior (2015, p.517) é enfático ao afirmar que a Constituição de 1988 inaugura, pelo menos teoricamente, uma etapa de amplo respeito pelos direitos fundamentais e reconhecida efetividade. Ocorre que as garantias e os direitos fundamentais passaram a ocupar lugar de destaque na dinâmica social, uma vez que assumiram a condição de estruturas norteadores das atividades sociais, políticas, econômicas e culturais do país. 
Nesse contexto, Martins (2021, p.06) ressalta que se pode destacar que as fake news no Brasil vêm tomando uma proporção e um caminho incerto, uma vez que vem causando fortes impactos na sociedade, na proporção em que tem causado transtornos e consequências nas interações sociais. De acordo com Martins (2021) a reprodução de mentiras compartilhadas através das redes sociais e de aplicativos de mensagens, proliferam de forma desenfreada. 
Nas palavras do autor: “(...) as fake news são inverdades que alienam um público que pouco checa a informação de maneirasistemática”. A sociedade pós-moderna está essencialmente alicerçada na contínua circulação de informações através dos meios digitais e das plataformas de comunicação. O virtual cada dia mais se torna real. Por esse motivo percebe-se que as fake news são extremamente nocivas a manutenção do equilíbrio e da dinâmica social, uma vez que comprometem sobremaneira uma das estruturas basilares do Estado Democrática, qual seja: a troca de informações e a formação do livre desenvolvimento da personalidade. 
Por conseguinte, Martins (2021, p.06) afirma que “(...) infelizmente as fake news é um desserviço que segue na contramão das informações autênticas, criando impactos negativos em vítimas que estão inseridas no meio da sociedade”. Dessa forma, a complexa e imbricada relação que as fake news mantém com o direito fundamental à liberdade de expressão; de opinião/pensamento e de informação faz com que se seja necessário discutir a aplicação de penalidades direcionadas para coibir a disseminação do ódio e da desinformação na internet. 
2.1. Direitos Fundamentais à Liberdade de Opinião/Pensamento, Liberdade de Expressão e a Liberdade de Informação e suas Correlações com as Fake news
 A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, inciso IV, dispõe sobre a liberdade de opinião ou pensamento. Nesse contexto, Menezes (2022, p.354) destaca que “uma das atividades mais praticadas no espaço digital é a liberalidade de fala e de opinião. A sociedade é livre para participar do processo deliberativo, sendo um direito fundamental o acesso à informação e à liberdade de expressão.” Além disso, o autor destaca que:
é certo que o espaço público digital não pode mais conviver com uma onda de desinformação sem a devida responsabilização. O ordenamento jurídico brasileiro contempla vários regramentos que podem ser aplicados no exercício de combate à desinformação, os quais precisam estar mais destacados para a sociedade e, principalmente, os operadores do Direito. (Menezes, 2022, p.13-14).
Não obstante, Menezes (2022) também ressalta que “o exercício desses direitos não é ilimitado ou absoluto, pois uma sociedade democraticamente livre não significa ser uma comunidade cidadã com capacidade de realizar ou desempenhar a atividade que lhe convier em qualquer circunstância.” Assim, ao passo que os direitos fundamentais atuam como verdadeiras estruturas norteadores da dignidade da pessoa humana, é imperioso que o acesso às informações, bem como a liberdade de expressão e de opinião sejam asseguradas a todos os cidadãos, de forma ampla e em total consonância com o Estado Democrático de Direito. 
Por conseguinte Cunha Júnior (2015, p.557) afirma que o direito fundamental à liberdade de opinião ou pensamentos é a liberdade de expressar juízos, conceitos, convicções e conclusões sobre alguma coisa. Segundo o autor a Constituição consagra a liberdade de manifestação do pensamento, sob qualquer forma, processo ou veículo, sendo vedado o anonimato conforme previsto no artigo 5º, inciso IV, da CF/88, assim como toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística, consoante previsão do artigo 220, § 2º, da CF/88. Desse modo, a liberdade de opinião é uma importante garantia que deve ser assegurada e não desvirtuada. 
Por esse motivo que a Constituição federal de 1988 vedou o anonimato na transmissão de opiniões e/ou pensamentos. Nesse interim, Cunha Júnior (2015) afirma que tendo como foco harmonizar a liberdade de manifestação do pensamento com os demais direitos de personalidade, que o texto constitucional proibiu o anonimato, conforme se verifica na parte final do inciso IV, do artigo 5º, da CF/88. 
Portanto, o anonimato na transmissão de pensamentos e de opiniões não encontra ampara constitucional no ordenamento jurídico brasileiro. Isso porque a transmissão de pensamentos e/ou opiniões de forma anônima pode comprometer sobremaneira o Estado Democrático de Direito, a partir da disseminação de informações distorcidas e de inverdades visando a atender interesses escusos de determinados indivíduos e/ou de grupos específicos. 
Ademais, no tocante ao direito fundamental a liberdade de expressão Cunha Júnior (2015, p.557) destaca que o artigo 5º, inciso IX, da CF/88 prevê que: “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença.” O autor ressalta que a liberdade de expressão de atividade intelectual, artística, científica e de comunicação tem fundamento na liberdade de pensamento, da qual é uma decorrência lógica. 
Nesse sentido, Menezes (2022, p.221) chama a atenção para o fato de que liberdade de expressão e fake news não se confundem, apesar de algumas misturas indesejáveis a respeito de seus campos específicos. Nesse sentido, é importante ter em mente que ambas as terminologias não devem ser confundidas, tendo em vista que se tratam de expressões que ocupam campos semânticos diametralmente opostos, uma vez que possuem traços bem distintos em suas estruturas. 
Desse modo, tem-se que a liberdade de expressão é um dos muitos direitos fundamentais que mantém íntima relação com a dignidade da pessoa humana. Por essa razão, Cunha Júnior (2015) sinaliza que a ideia prevista no inciso IX, do artigo 5º, da CF/88, é a de garantir a todos a liberdade de produzir e revelar as suas realizações intelectuais, artísticas e científicas, independentemente de censura ou licença. Entretanto, tal liberdade não assegura e nem autoriza a disseminação de inverdades e do discurso de ódio através das plataformas digitais. 
Não obstante, Menezes (2022, p.355) afirma que “(...) que a disseminação de fake news, por si só, não constitui um crime específico nem se configura uma infração penal em tese, pois não há um tipo penal previsto em lei.” Conforme Menezes (2022) “a criação e a divulgação de desinformação no ambiente digital, até o momento, não são práticas propriamente criminosas.” Entretanto, percebe-se que o atual contexto social se questiona acerca da necessidade de criminalizar a disseminação e propagação do discurso de ódio nas redes sociais.
Nesse interim, Dourado (2020, p. 20) destaca que: “o discurso de ódio, o apelo às ameaças ou a medos coletivos e o viés sensacionalista integram narrativas que influenciam a opinião pública ao longo do tempo.” Por esse motivo, a disseminação de informações falsas nas redes sociais e na internet configuram aspecto nocivo para a desconstrução da democracia, uma vez que a desinformação faz com que os indivíduos percebam o universo ao seu redor de forma desconexa dos fatos reais e muitas das vezes de forma errônea. 
3. Criminalização das Fake news e da Conduta de Disseminar a Desinformação e o Discurso de Ódio nos Meios Digitais
A maior parte das relações sociais, na pós-modernidade, se desenvolvem no ambiente virtual, sendo que a Internet é o meio através do qual essas interações se desenvolvem. Nesse sentido, Menezes (2022, p.285) afirma que o espaço virtual não pode ser extremamente aberto. Conforme o autor “seria exagero, em pleno século XXI, atribuir um espaço intangível para que todos falassem o que bem desejassem, retratando fielmente fatos ou inventando estórias de maneira ardilosa, negligente e, até mesmo, involuntária.” 
Desse modo, percebe-se a preocupação do jurista em perquirir possíveis limitações/barreiras para serem impostas contra às práticas que se desenvolvem nos ambientes virtuais e nas plataformas de mensagens instantâneas. O importante nesse contexto é salvaguardar as garantias e direitos fundamentais que podem ser afetados direta ou indiretamente pela prática nociva de disseminar o discurso de ódio e a desinformação.
Como dito vive-se em uma sociedade cada vez mais digital. Por esse motivo, Menezes (2022) sinaliza que o Estado seria o primeiro candidato da lista para exercer a função de agente regulamentador das relações cibernéticas. O autor afirma que no tocante “aos limites de atuação, o Estado nem sempre poderá conseguir observar o jogo de palavras como inofensivo ao circuito democrático. Nessecontexto, Menezes (2022, p. 355) ressalta de forma enfática que:
(...) é de fundamental importância informar que a disseminação de fake news, por si só, não constitui um crime específico nem se configura uma infração penal em tese, pois não há um tipo penal previsto em lei. Assim, a criação e a divulgação de desinformação no ambiente digital, até o momento, não são práticas propriamente criminosas. 
Sendo assim, a criminalização das fake news e da conduta de disseminar o discurso de ódio e a desinformação, através dos meios digitais, necessita de um olhar mais acurado do Estado, uma vez que existem implicações e correlações muito íntimas com os direitos e garantias fundamentais. Dessa forma, mister se faz entender quais seriam os primeiros passos a serem adotados para que se possa chegar a uma tipificação específica da conduta em tela, ou se de fato pode-se aproveitar multas e penalidades já existentes em outros diplomas normativos que possam coibir a prática de propagar o ódio e a desinformação. 
3.1. Primeiros Passos para a Criminalização das Fake news: Iniciativas do Poder Público e Privado no combate à disseminação da desinformação e do discurso de ódio
Atualmente, encontra-se em trâmite no Senado o Projeto de Lei 2630/20 que institui a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet, conhecida como “Lei das Fake News”, que tem como objetivo principal criar medidas de combate à disseminação de conteúdo falso nas redes sociais e nos aplicativos de mensagens privadas tais como: WhatsApp e Telegram, excluindo-se serviços de uso corporativo e e-mail. Trata-se, portanto, de importante passo para a tipificação da conduta de disseminar o ódio e a desinformação nas redes sociais e nos meios digitais. Assim, nos termos do caput do art. 1º do texto original do PL 2630/20, tem-se que o referido projeto de lei:
Art. 1º Esta Lei, denominada Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet, estabelece normas, diretrizes e mecanismos de transparência para provedores de redes sociais e de serviços de mensageria privada a fim de garantir segurança e ampla liberdade de expressão, comunicação e manifestação do pensamento.
Além disso, é importante destacar que as disposições dos §§ 1° e 2°, ambos do art. 1º do texto original do PL 2630/20 que informam que: 
§1° Esta Lei não se aplica aos provedores de redes sociais e de serviços de mensageria privada que ofertem serviços ao público brasileiro com menos de 2.000.000 (dois milhões) de usuários registrados, para os quais as disposições desta Lei servirão de parâmetro para aplicação de programa de boas práticas, com vistas à adoção de medidas adequadas e proporcionais no combate ao comportamento inautêntico e na transparência sobre conteúdos pagos.
§ 2º O disposto no caput aplica-se, inclusive, aos provedores de redes sociais e de serviços de mensageria privada sediados no exterior, desde que ofertem serviço ao público brasileiro ou que pelo menos uma integrante do mesmo grupo econômico possua estabelecimento no Brasil.
Dessa forma, verifica-se a preocupação do legislador em tentar conferir transparência e, por conseguinte, uma certa segurança para os conteúdos que são distribuídos e veiculados nas redes sociais e nos serviços de mensagens privada, bem como a possibilidade de atribuir responsabilidade aos provedores de acesso, pelo combate à desinformação. Entretanto, verifica-se que alguns aspectos polêmicos podem ser complexos, principalmente no tocante as liberdades individuais e no direito fundamental à privacidade, intimidade e a vida privada, previstos no art. 5º, inciso X, da CF/1988. Nesse interim, Menezes (2022, p. 293) destaca que: 
Com o advento da sociedade das plataformas, é perceptível que os comunicadores oficiais representativos dos instrumentos jornalísticos de massa perderam o monopólio das notícias. A virtualidade do espaço deliberativo proporcionou, assim, uma pulverização descentralizada das mídias. Surgem, nesse cenário, novas emissões de informação sem possuir, em variados casos, os cuidados profissionais para que as notícias sejam transmitidas com qualidade.
Os procedimentos de seletividade da qualidade da notícia se perdem-no famigerado espaço de velocidade comunicativa e as regras de responsabilidade, conquanto superficiais, não cumprem a finalidade de refrear essa preocupante e temerária atuação dos influenciadores digitais. (...). 
 
Nesse contexto surge a indagação sobre quais os limites a serem adotados pelo legislador, para que não haja excessos desnecessários no combate a disseminação do discurso de ódio e da desinformação através dos meios digitais. Importante ter em mente que o texto constitucional prevê que a intimidade e a vida privada são invioláveis, sendo assegurados aos indivíduos o direito à indenização pelo dano material ou moral que decorra da violação ao direito fundamental à privacidade. 
Por esse motivo a discussão acerca da tipificação da conduta de disseminar fake news está para além da simples discussão de criar um novo tipo penal ou enquadrar a conduta em um tipo já existente. Essa questão precisa ser analisada à luz da Constituição Federal, dos direitos e garantias fundamentais, bem como deve-se ter em mente o contexto no qual essa prática está inserida no atual estágio de evolução social e tecnológica da sociedade pós-moderna.
Desse modo, diante do crescente número de agressões as instituições do Poder Público, acentuando-se nos constantes ataques aos Superior Tribunal Federal (STJ), bem como a seus membros e atos praticados em consonâncias com as diretrizes constitucionais, fez necessário a criação do Programa de Combate à Desinformação (PCD) pelo STF, disponível no endereço eletrônico (https://portal.stf.jus.br/desinformacao/) e instituído através da Resolução n. 742 de 27 de agosto de 2021. 
A disseminação de fake news imbuídas do notório objetivo de propagar a desinformação e espalhar o discurso do ódio entre os cidadãos, através dos meios digitais, afeta de forma negativa o Estado Democrático de Direito, suas estruturas basilares e a dinâmica social, na proporção em que corroboram para descredibilizar instituições essenciais da homeostase social. Desse modo, conforme disposto no artigo 1° da Resolução n. 742 de 2021 do STF, o Programa de Combate à Desinformação foi instituído com o objetivo primordial de: 
(...) enfrentar os efeitos negativos provocados pela desinformação e pelas narrativas odiosas à imagem e à credibilidade da Instituição, de seus membros e do Poder Judiciário, a partir de estratégias proporcionais e democráticas, a fim de manter a proteção da Corte acerca das liberdades de comunicação.
 
A Resolução n. 742/2021 do STF leva em consideração as disposições do Marco Civil da Internet - Lei n. 12.965/2014 e da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) – Lei n. 13.709/2018, no que se refere aos efeitos nocivos da propagação de notícias falsas através dos meios digitais. 
Sendo assim, a referida resolução encontra-se em consonância com as diretrizes estabelecidas na Constituição Federal de 1988 e nas legislações infraconstitucionais, que buscam proteger os direitos fundamentais à informação, a liberdade de expressão, acentuando-se na internet, conforme expresso em seu texto, in verbis:
O PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, no uso de suas atribuições legais e regimentais, 
CONSIDERANDO que a Constituição Federal de 1988 reforçou o sistema de proteção das liberdades de comunicação, com ênfase no acesso à informação e nas liberdades de imprensa e de expressão;
CONSIDERANDO que a Convenção Americana sobre Direitos Humanos determina que toda pessoa possui o direito de buscar, receber e difundir informações e ideias de toda natureza, ressalvando, porém, a necessidade de coibir apologia ao ódio nacional, racial ou religioso que constitua incitação à discriminação, à hostilidade, ao crime ou à violência;
CONSIDERANDO que o Marco Civil da Internet determina que o uso da Internet no Brasil tem como fundamento e princípio o respeitoà liberdade de expressão, bem como o respeito aos direitos humanos, a pluralidade e a diversidade, com o objetivo de promover o acesso à informação, ao conhecimento e à participação na vida cultural e na condução dos assuntos públicos;
CONSIDERANDO que a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) tem como fundamento a autodeterminação informativa, a liberdade de expressão, de informação, de comunicação e de opinião, com respeito aos direitos humanos, o livre desenvolvimento da personalidade e a dignidade dos cidadãos brasileiros, no exercício de sua cidadania;
CONSIDERANDO que a desinformação mina a confiança nas instituições e prejudica a democracia ao comprometer a capacidade dos cidadãos de tomarem decisões bem informadas, com impactos sociais, políticos, econômicos e jurídicos de cunho negativo; 
CONSIDERANDO que, sem embargo da máxima proteção ao direito à liberdade de expressão e de crítica, o combate ao discurso de ódio contra instituições públicas e contra grupos sociais revigora a promoção do pluralismo, da diversidade e do respeito aos direitos humanos;
CONSIDERANDO que os efeitos negativos produzidos pela desinformação podem ser potencializados pelo uso distorcido dos recursos proporcionados pelas tecnologias da informação e das comunicações (TICs), sobretudo a Internet, tendo em vista a velocidade de produção e difusão de conteúdos;
(...)
(Trechos do Texto da Resolução n. 742/2021 do STF – Grifo nosso)
Verifica-se que a desinformação, que se propaga na forma das chamadas fake news, compromete sobremaneira a tomada de decisões por parte dos cidadãos. Por esse motivo alguns veículos de comunicação também investiram esforços no sentido de denunciar e combater a propagação desses conteúdos que espalham nas redes sociais e na internet. 
Cita-se como exemplo o portal G1 da Rede Globo de Televisão, disponível no endereço eletrônico (https://g1.globo.com/), elaborou uma editoria específica, dentro do portal, para investigar e desmitificar as notícias falsas, veiculadas através das redes sociais e dos aplicativos de mensagens instantâneas. 
Nesse contexto, de utilização da internet como ferramenta de comunicação e de disseminação de informações, pode-se citar o Marco Civil da Internet – Lei n. 12.965 de 23 de abril de 2014, que "estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil". Trata-se, portanto, de um importante diploma normativo no que se refere ao uso da internet como um dos veículos de informação e de comunicação mais utilizados entre os indivíduos na pós-modernidade. Menezes (2022, p. 326) ressalta que:
A Lei n. 12.965/2014, que regula o uso da rede mundial de computadores, especificando princípios, garantias, direitos e deveres para quem usa tal tecnologia, bem como fixa algumas diretrizes para a atuação do Estado na defesa da boa utilização da rede, é um avanço nessa temática, contudo, ainda precisando ser complementada com uma regulação específica para o combate das fake news. 
Por conseguinte, o artigo 19 do Marco Civil da Internet dispõe sobre a responsabilidade por danos decorrentes de conteúdos veiculados através da internet e que sejam gerados por terceiros com o objetivo de assegurar a correta liberdade de expressão e impedir a censura, in verbis: 
Art. 19. Com o intuito de assegurar a liberdade de expressão e impedir a censura, o provedor de aplicações de internet somente poderá ser responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros se, após ordem judicial específica, não tomar as providências para, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço e dentro do prazo assinalado, tornar indisponível o conteúdo apontado como infringente, ressalvadas as disposições legais em contrário. (Marco Civil da Internet – Lei n°12.965 de 23 de abril de 2014).
Observa-se que o legislador buscou estabelecer limites para coibir toda e quaisquer práticas que vão de encontro à liberdade de expressão. Menezes (2022, p. 326) afirma que o artigo 19 do Marco Civil da Internet estabelece uma atuação que colabora para uma restrição indireta de conteúdos apontados como ‘infringentes’, podendo, diante da generalidade semântica, incluir a disseminação de notícias fraudulentas. Sendo assim, diante do contínuo e cada vez mais crescente número de notícias falsas que circulam na internet e nos meios digitais é importante buscar instrumentos normativos que possam combater essa prática nociva da pós-modernidade. 
Entretanto é importante chamar a atenção para o fato de que tramita no Superior Tribunal Federal (STF) o Recurso Extraordinário n. 1037396 (Tema 987 de Repercussão Geral) “que determina a necessidade de prévia e específica ordem judicial de exclusão de conteúdo para a responsabilização civil de provedor de internet, websites e gestores de aplicativos de redes sociais por danos decorrentes de atos ilícitos praticados por terceiros.” Mister destacar que o referido Recurso Extraordinário foi retirado de mesa no dia 19/09/2022.
Além disso, tem-se que o artigo 21 do Marco Civil da Internet prevê a responsabilidade subsidiária dos provedores que incorrem na violação da intimidade decorrente da divulgação, sem autorização de seus participantes, de imagens, vídeos ou quaisquer outros materiais contendo cenas de nudez ou de atos sexuais de caráter privado, nos seguintes termos: 
Art. 21. O provedor de aplicações de internet que disponibilize conteúdo gerado por terceiros será responsabilizado subsidiariamente pela violação da intimidade decorrente da divulgação, sem autorização de seus participantes, de imagens, de vídeos ou de outros materiais contendo cenas de nudez ou de atos sexuais de caráter privado quando, após o recebimento de notificação pelo participante ou seu representante legal, deixar de promover, de forma diligente, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço, a indisponibilização desse conteúdo.
Parágrafo único. A notificação prevista no caput deverá conter, sob pena de nulidade, elementos que permitam a identificação específica do material apontado como violador da intimidade do participante e a verificação da legitimidade para apresentação do pedido. (Marco Civil da Internet – Lei n°12.965 de 23 de abril de 2014).
Mesmo assim, pode-se perceber algumas das inúmeras inciativas no intuito de combater a disseminação da desinformação e do ódio na internet e nos meios digitais. Desse modo, tanto o “Portal do Combate à Desinformação” do STF, quanto a editoria “Fato ou Fake” do portal G1, bem como tantos outros sites e portais que versam sobre a mesma temática, possuem um objetivo em comum: serem instrumentos de conscientização para que a sociedade possa tomar ciência acerca das mazelas que a propagação das fake news pode causar na estrutura democrática de um país. 
Por esse motivo esses portais que são produzidos ancorados em princípios éticos e profissionais, são tão importantes para reforçarem o Estado Democrático de Direito e suas estruturas basilares. Desse modo, essas iniciativas aliadas com os instrumentos normativos do ordenamento jurídico brasileiro podem ser encaradas como os primeiros passos para a construção de um tipo penal específico que possa servir de “barreira” para coibir a propagação das fake news. 
3.2. Fake news e a Responsabilidade Criminal no Brasil: Possíveis enquadramento no Código Penal da conduta de disseminar a desinformação e o ódio nos meios digitais
Em que pese as fake news ainda não constituam um tipo penal específico, tipificado no Código Penal e/ou em uma legislação específica, isso não impede que sanções e/ou multas possam ser aplicadas quando a propagação de notícias falsas seja veiculada a partir de interesses escusos de grupos e/ou pessoas. Nesse sentido Menezes (2022, p. 355) sinaliza que: “(...) é de fundamental importância informar que a disseminação de fake news, por si só, não constitui um crime específico nem se configura uma infração penal em tese, pois não há um tipo penal previsto em lei. (...).”
Por conseguinte, Menezes (2022, p.356) ressalta que “é certo que as fake newspossuem vários sentidos e finalidades (...) a sua disseminação no espaço público moderno pode atingir vários núcleos penais existentes nas legislações criminais.” Dessa forma, percebe-se que as notícias falsas podem ser encaradas como estruturas polissêmicas, ou seja dotadas de múltiplos sentidos, capazes de causar diferentes danos à sociedade. Por essa razão, as fake news podem incidir em vários núcleos penais que já se encontram tipificados no Código Penal. 
No entanto, é importante ressaltar que até o presente momento, ainda não existe um tipo penal específico que verse sobre a prática de criar, divulgar e manipular a desinformação, bem como a propagação do discurso do ódio e da intolerância na internet e nos meios digitais. Assim, a presente discussão é de suma importância para que se possa refletir acerca de qual caminho a ser tomado no combate a propagação de fake news nas redes sociais e nos aplicativos de mensagens instantâneas.
Como dito, em pese não exista ainda um tipo penal específico para coibir/punir a propagação de fake news, é possível valer-se de dispositivos previstos no Código Penal (CP) - Decreto-Lei n° 2.848/40. Sendo assim, quando as fake news causarem algum dano e/ou ofensa a honra de alguma pessoa, poder-se-á aplicar as penalidades previstas nos dispositivos referentes a Calúnia (artigo 138 do CP); Difamação (artigo 139 do CP) e Injúria (artigo 140 do CP). 
Ademais, Menezes (2022, p.356) afirma que “as fake news divulgadas no espaço público digital que tratam de conteúdos ofensivos correlacionados aos núcleos e às condutas descritas nos tipos penais referentes a calúnia, difamação e injúria passam a ser consideradas crimes comuns.” Assim, é importante ter em mente que a internet, acentuando-se nas redes sociais e aplicativos de mensagens instantâneas, se tornou o maior meio de comunicação e de informação na atualidade. Por esse motivo é de suma importância que existam estruturas normativas capazes de coibir quaisquer atividades que possam comprometer a dignidade da pessoa humana, bem como os direitos da personalidade. 
Nesse contexto Menezes (2022, p. 358) ressalta que “a forma como tais publicações são realizadas é muito importante para a caracterização ou não de uma fake news que possa atrair uma responsabilização criminal (...).” Segundo o autor é extremamente necessário verificar os elementos do caso concreto, para que incompreensões não sejam evidenciadas. Dessa forma, deve-se analisar, principalmente, se aquela determinada publicação desconexa da realidade fática adentrou de forma negativa/nociva na esfera da intimidade e da vida particular da pessoa, para que assim se possa enquadrá-la em uma: calúnia, difamação ou injúria. 
Outro aspecto que devemos ter em mente, no tocante a responsabilização criminal das fake news, quando estas ofenderem a honra de alguém é justamente a causa de aumento prevista no artigo 141, inciso III, do Código Penal. De acordo com Menezes (2022, p.358) “nas hipóteses de crimes de calúnia, difamação e injúria, as penas estabelecidas podem aumentar na proporção de 1/3 (um terço) caso tais delitos sejam cometidos na presença de várias pessoas ou por meio que facilite a sua divulgação.” 
Por esse motivo, é importante compreender o significado da expressão: “(...) na presença de várias pessoas ou por meio que facilite a sua divulgação.” Isso por que as interações sociais, na pós-modernidade, migraram para o espaço virtual, onde as potencialidades do meio digital possibilitaram que os indivíduos pudessem obter acesso a inúmeras informações, bem como construírem e disseminarem diferentes tipos de conteúdos. Nesse sentido, Menezes (2022, p. 358) ressalta que:
Ora, se o habitat da humanidade tem se revertido para o espaço digital, local em que a imensa quantidade de fake news é despejada pelas redes sociais, que compõem a noção do ecossistema do discurso on-line, torna-se obvio que o significado de ‘presença de várias pessoas’ exige uma análise contextualizada.
Entretanto, mesmo que assim não seja o pensamento do legislador, a segunda parte da regulamentação não deixa margem para dúvidas, uma vez que o maior meio de comunicação na atualidade, que possui inclusive, o mais veloz instrumento de divulgação de fatos e notícias, é o espaço público digital, instrumentalizado pelas mídias sociais, que, por sua vez, são compostas pelas redes de relacionamentos sociais, aplicativos de pesquisa e de mensagens instantâneas. 
Na Pós-modernidade a migração das relações sociais para o virtual, tem propiciado uma série de novos formatos de interação e acesso a conteúdos de diferentes naturezas. O público e o privado se confundem, na proporção em que o espaço digital abrange todos aqueles que estão inseridos na virtualização das relações sociais, o que afeta uma parcela considerável da população mundial. Nesse contexto, as fake news disseminadas através de sites, blogs, redes sociais, aplicativos de mensagens instantâneas etc., faz com que essa população perca a noção do que de fato é real e aquilo que é falso. 
Por conseguinte, Menezes (2022) chama a atenção para outros tipos penais previstos no Código Penal, nos quais pode-se perceber correlações com as fakes news. Dessa forma, o autor ressalta que quando alguma pessoa denuncia uma outra pessoa tendo conhecimento de que esta pessoa é inocente, único e exclusivamente no intuito de prejudica-la, estamos diante do tipo penal denunciação caluniosa prevista no artigo 339, do Código Penal. Nesse sentido, Mezenes (2022, p.360-361) afirma que: 
Quando ocorre uma publicação, por meio de uma fake news inseridas nas redes sociais, a falsidade, que já é ínsita ao crime, torna-se muito mais evidente. Logo, uma fake news pode se transformar em crime de denunciação caluniosa, se a notícia veiculada em desfavor de uma pessoa sabidamente inocente der causa à instauração de inquérito policial, de procedimento investigatório criminal, de processo judicial, de processo administrativo disciplinar, de inquérito civil ou de ação de improbidade administrativa imputando-lhe um crime, uma infração ético-disciplinar ou um ato ímprobo. 
É importante ter em mente, também, que a denunciação caluniosa também abre espaço apenas para a instauração de inquéritos civis e ações de improbidade. Além disso, Menezes (2022) ressalta que a denunciação caluniosa também se estende a imputação para outras situações que não propriamente crimes, tais como infrações ético-disciplinares e atos ímprobos. No caso das fakes news isso se trona mais grave, tendo em vista a amplitude e a forma de disseminação dessa prática, através dos meios digitais, no intuito de prejudicar alguém imputando-lhe crime do qual se sabe ser inocente. 
Ademais, Menezes (2022, p.361) destaca que uma das grandes inovações no rol dos crimes inserida no ordenamento jurídico nacional através da Lei n. 14.132/2021. O referido diploma normativo estabeleceu o chamado delito de perseguição nos meios digitais, ou como ficou conhecido Cyberstalking, previsto no artigo 147-A, do Código Penal, in verbis:
Perseguição
Art. 147-A. Perseguir alguém, reiteradamente e por qualquer meio, ameaçando-lhe a integridade física ou psicológica, restringindo-lhe a capacidade de locomoção ou, de qualquer forma, invadindo ou perturbando sua esfera de liberdade ou privacidade. 
Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
§1º A pena é aumentada de metade se o crime é cometido:
I – contra criança, adolescente ou idoso;
II – contra mulher por razões da condição de sexo feminino, nos termos do § 2º-A do art. 121 deste Código;
III – mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas ou com o emprego de arma.
§2º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência. 
§3º Somente se procede mediante representação. 
Menezes (2022) ressalta que o cyberstalking é considerado uma infração contra a liberdade individual e pessoal. De acordo com o autor, o cyberstalking “se trata de crime de perseguição nos meios digitais, exercido geralmente por meio de redes sociais.” Asredes sociais exercem papel preponderante na atual dinâmica social, uma vez que se constituem em importante ferramenta de comunicação e interação entre as pessoas. 
Desse modo, os conteúdos veiculas nestes meios, sejam eles verdadeiros ou falsos, conseguem transpor as barreiras espaço-temporais, tendo em vista que são transmitidos através da internet. Assim, Menezes (2022) ressalta que para que se tenha configurado o crime de perseguição é exigida a configuração de três condutas de dão início a ação de perseguir, combinando-se com três finalidades, quais sejam: “(a) ameaça à integridade física ou psicológica; (b) restrição da capacidade de locomoção; ou (c) invasão ou perturbação da liberdade ou privacidade.” Por esse motivo, Menezes (2022, p. 362) chama a atenção, no tocante a correlação entre fake news e perseguição virtual, para o fato de que:
A grande correlação entre fake news e a perseguição virtual é que, em muitas situações, aquela é utilizada como instrumento deste. A quantidade reiterada de notícias desconfiguradas contra uma determinada pessoa pode ser manejada como meio de perseguição, a ponto de promover uma das três condutas: ameaçar a integridade física ou psicológica; limitar a capacidade de locomoção; e invadir ou perturbar a liberdade e a privacidade da vítima. 
Diante disso, Menezes (2022, p.362) é enfático ao afirmar que: “(...)sabe-se que a desinformação utiliza, em sua imensa maioria, as mídias sociais para distribuir seus efeitos nocivos.” Desse modo, verifica que a perseguição virtual alcança um perigoso patamar, dada as inúmeras potencialidades intrínsecas aos meios digitais. Isso faz com que as fake news, disseminadas nas redes sociais e nos aplicativos de mensagens instantâneas, com o notório objetivo de perseguir alguém sejam tão danosas ao equilíbrio social. 
Não obstante, Martins (2021, p.10) assevera que estamos diante de uma ameaça iminente à dignidade humana e à vida dos cidadãos, na proporção em que notícias de natureza falsa que veiculam nomes de pessoas e ofendem a imagem de outrem podem causar a morte de indivíduos, além de desestruturarem as relações em sociedade. Sendo assim, as fake news podem causar uma série de danos, tanto no espaço público de interações sociais, quanto no ambiente privado, uma vez que são disseminadas através principalmente através de ferramentas digitais que utilizam a internet meio impulsionador. 
Portanto, esse é o motivo pela qual a discussão a respeito da criminalização das fake news é tão importante. Isso porque a produção de notícias falsas e a forma como estas são veiculadas através das redes sociais e aplicativos de mensagens instantâneas faz com que elas se tornem nocivas ao bem-estar social. Nesse contexto, Menezes (2022, p.328) é enfático ao afirmar que “não é despiciendo informar que as redes sociais e os mecanismos de serviços de mensagens privadas compõem o panorama da esfera pública.”
Assim, as fake news além de disseminarem a desinformação e o discurso de ódio através das redes sociais e aplicativos de mensagens instantâneas, são capazes de fomentar a propagação de calúnias, difamações e injúrias nos meios digitais. Além disso, as notícias falsas podem relacionar-se com outras condutas previstas no Código Penal e nas demais leis esparsas no ordenamento jurídico brasileiro, mesmo diante da inexistência de uma legislação específica que vise coibir a prática da propagação de fake news no espaço democrático real e virtual da pós-modernidade. 
Considerações Finais
A internet constitui-se em um meio de acesso à propagação de ideias, informações, iterações, disseminação de conteúdos diversos etc. Porém, em que pese não exista barreiras espaço-temporais é de suma importância zelar pela integridade e probidade de todos. Assim, espera-se que todos os conteúdos veiculados neste meio sejam elaborados em consonância com a realidade dos fatos e acontecimentos ao nosso redor e, que não violem preceitos legais a ponto de comprometerem de forma negativa a dinâmica social. 
O objetivo principal do presente artigo é discutir a criminalização das fake news e suas implicações legais sobre o combate à desinformação e a disseminação do discurso de ódio nos meios digitais. Nesse contexto, é importante destacar que diferentemente do que alguns indivíduos possam pensar, a internet e os meios digitais não são uma espécie de “espaço livre” da aplicação de sanções e/ou penalidades. Portanto, não se trata de uma espécie de “terra sem leis”. Muito pelo contrário, existem inúmeros esforços para criar leis que possam regulamentar os aspectos e as atividades desenvolvidas através da internet. 
Por esse motivo, a escolha do tema deste artigo está respaldada na necessidade de analisar se de fato, a criminalização das fake news, a partir da criação de um novo tipo penal se configura como a melhor opção para coibir essa prática nociva na pós-modernidade. Dessa forma, o presente estudo partiu do questionamento sobre como as fake news poderiam passar a integrar o rol das condutas delitivas, passíveis de serem penalizadas. Por esse motivo, este artigo avaliou em que medida a criminalização das fake news pode ser uma opção para acabar com a circulação de conteúdos falsos nos meios digitais.
Assim, conclui-se que a criminalização das fake news é algo que deve estar na pauta de discussões, tendo em vista todas as inúmeras animosidades e situações perigosas, por vezes de caráter criminoso, causadas pela continua disseminação da desinformação e de falsas notícias eivadas de interesses escusos. Sendo assim, observa-se que a criação de um novo tipo penal no Código Penal e/ou de uma legislação específica, tal qual proposta pelo Projeto de Lei 2630/20, é algo que deve ser priorizado na agenda de discussões tanto dos legisladores, quanto da sociedade civil, devido ao grau de desordem e de desinformação que pode ser causado por estas notícias de caráter falsas disseminadas nos meios digitais.
Por fim, como exposto no presente estudo, o atual estágio de evolução tecnológica da sociedade pós-moderna nos faz repensar se, de fato, nosso ordenamento jurídico contempla as novas formas de relação/interações sociais mediadas através de aparatos tecnológicos. Hoje em dia o real e o virtual se confundem. Desse modo, a maneira como nos relacionamos em nossos diferentes contextos sociais e culturais é resultado direto da utilização dos meios digitais. 
Referências
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