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Apostila LEGISLAÇÃO-POLÍTICA-BRASILEIRA-E-ÉTICA-ELEITORAL

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LEGISLAÇÃO POLÍTICA BRASILEIRA 
E ÉTICA ELEITORAL 
 
ATIVIDADES LÚDICAS AFRICANAS 
 
 
 
 
1
 
1 
 
Sumário 
FACUMINAS ............................................................................................ 2 
INTRODUÇÃO ......................................................................................... 3 
INELEGIBILIDADES .............................................................................. 16 
PROPAGANDA POLÍTICA .................................................................... 38 
O QUE É CIDADANIA ........................................................................... 46 
CIDADANIA E ELEIÇÕES ..................................................................... 47 
ELEIÇÕES LIMPAS ............................................................................... 47 
O CIDADÃO NA CONSTRUÇÃO DA DEMOCRACIA ........................... 48 
DOS PARTICIPANTES DO PROCESSO POLÍTICO-ELEITORAL 
ELEITORES ..................................................................................................... 49 
A FORÇA DO VOTO ............................................................................. 51 
REFERÊNCIAS ..................................................................................... 53 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2
 
2 
 
FACUMINAS 
 
 
A história do Instituto Facuminas, inicia com a realização do sonho de um 
grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos 
de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a Facuminas, como 
entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. 
A Facuminas tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de 
conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a 
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua 
formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, 
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o 
saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. 
A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma 
confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base 
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições 
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, 
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
3
 
3 
INTRODUÇÃO 
Há indícios de inconstitucionalidade na norma que autoriza doações de 
origem não identificada a campanhas eleitorais, o que justifica a suspensão da 
norma com eficácia, até a decisão final de mérito na ação direta de 
inconstitucionalidade. 
Embora existam inúmeras controvérsias a respeito do modelo de 
financiamento mais apropriado para afastar a influência predatória do poder 
econômico sobre as eleições, um aspecto do debate parece livre de maiores 
discussões. Trata-se da necessidade de se dar maior efetividade ao sistema de 
controle de arrecadação de recursos por partidos e candidatos. 
Sem as informações necessárias, entre elas a identificação dos 
particulares que contribuíram originariamente para legendas e candidatos, o 
processo de prestação de contas perde sua capacidade de documentar “a real 
movimentação financeira, os dispêndios e recursos aplicados nas campanhas 
eleitorais”. 
Obstrui-se, assim, o cumprimento, pela Justiça Eleitoral, da 
relevantíssima competência estabelecida no art. 17, III, da Constituição Federal 
(CF) de fiscalizar se o desenvolvimento da atividade político-partidária realmente 
assegura a autenticidade do sistema representativo. 
Nesse aspecto, cabe destacar que as informações sobre as doações de 
particulares a candidatos e a partidos não interessam apenas às instâncias 
estatais responsáveis pelo controle da regularidade das contas de campanha, 
mas à sociedade como um todo, na medida em que qualificam o exercício da 
cidadania. 
A indispensável transparência das contas eleitorais permite uma decisão 
de voto mais bem informada, já que confere ao eleitor um elemento a mais para 
que exerça, com pleno esclarecimento, o direito de escolha dos representantes 
políticos, bem como para avaliar a seriedade das propostas de campanha. 
 
 
 
4
 
4 
A divulgação de informações sobre a origem dos recursos recebidos por 
partidos também capacita a sociedade civil, inclusive aqueles que concorrem 
entre si na disputa eleitoral, a cooperar com as instâncias estatais na verificação 
da legitimidade do processo eleitoral. 
Fortalece, assim, o controle social sobre a atividade político-partidária. 
Além disso, o acesso a esses dados ainda aperfeiçoa a política legislativa 
de combate à corrupção eleitoral, ajudando a denunciar as fragilidades do 
modelo e a inspirar propostas de correção futuras. 
Por fim, a identificação fidedigna dos particulares responsáveis pelos 
aportes financeiros é informação essencial para que se possa constatar se as 
doações procedem, de fato, de fontes lícitas e se observam os limites de valor 
previstos no art. 23 da Lei 9.504/1997. Diante do exposto, está suspensa, com 
efeitos, a eficácia da expressão “sem individualização dos doadores” constante 
da parte final do § 12 do art. 28 da Lei 9.504/ 19974, acrescentado pela Lei 
13.165/2015. 
Lei 9.096/1995: 
Art. 34. A Justiça Eleitoral exerce a fiscalização sobre a prestação de contas do 
partido e das despesas de campanha eleitoral, devendo atestar se elas refletem 
adequadamente a real movimentação financeira, os dispêndios e os recursos 
aplicados nas campanhas eleitorais, exigindo a observação das seguintes 
normas: 
I – obrigatoriedade de designação de dirigentes partidários específicos para 
movimentar recursos financeiros nas campanhas eleitorais; 
II – (revogado); 
III – relatório financeiro, com documentação que comprove a entrada e saída de 
dinheiro ou de bens recebidos e aplicados; 
 
 
 
5
 
5 
IV – obrigatoriedade de ser conservada pelo partido, por prazo não inferior a 
cinco anos, a documentação comprobatória de suas prestações de contas; 
V – obrigatoriedade de prestação de contas pelo partido político e por seus 
candidatos no encerramento da campanha eleitoral, com o recolhimento 
imediato à tesouraria do partido dos saldos financeiros eventualmente 
apurados.” 
 CF/1988: 
Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, 
resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, 
os direitos fundamentais da pessoa humana e observados os seguintes 
preceitos: (...) 
III – prestação de contas à Justiça Eleitoral;” 
Lei 9.096/1995: 
Art. 1º O partido político, pessoa jurídica de direito privado, destina-se a 
assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade do sistema 
representativo e a defender os direitos fundamentais definidos na Constituição 
Federal.” 
Lei 9.504/1997: 
Art. 28. A prestação de contas será feita: (...) 
§ 12. Os valores transferidos pelos partidos políticos oriundos de doações serão 
registrados na prestação de contas dos candidatos como transferência dos 
partidos e, na prestação de contas dos partidos, como transferência aos 
candidatos, sem individualização dos doadores.” 
São inconstitucionais as contribuições de pessoas jurídicas às 
campanhas eleitorais. 
 
 
 
6
 
6 
O exercício de direitos políticos é incompatível com a essência das 
pessoas jurídicas. O exercício da cidadania, em seu sentido mais estrito, 
pressupõe três modalidades de atuação cívica: o ius suffragii (i.e., direito de 
votar), o jus honorum (i.e., direito de ser votado) e o direito de influir na formação 
da vontade política por meio de instrumentosde democracia direta, como o 
plebiscito, o referendo e a iniciativa popular de leis. 
Por suas próprias características, tais modalidades são inerentes às 
pessoas naturais, afigurando-se um disparate cogitar a sua extensão às pessoas 
jurídicas. 
O Supremo Tribunal Federal (STF) sumulou entendimento segundo o qual 
as “pessoas jurídicas não têm legitimidade para propor ação popular” (Enunciado 
365 da Súmula do STF), por não ostentarem o status de cidadãs. 
É certo que uma empresa pode defender bandeiras políticas, como a de 
direitos humanos, causas ambientais, entre outras. Daí a proclamar sua 
indispensabilidade no campo político, investindo vultosas quantias em 
campanhas eleitorais, vai uma considerável distância. 
Assim, autorizar que pessoas jurídicas participem da vida política é, em 
primeiro lugar, contrário à essência do próprio regime democrático. Por outro 
lado, a participação de pessoas jurídicas só encarece o processo eleitoral, sem 
oferecer, como contrapartida, a melhora e o aperfeiçoamento do debate. 
Ao vertiginoso aumento dos custos de campanhas não se segue o 
aprimoramento do processo político, com a pretendida veiculação de ideias e de 
projetos pelos candidatos. Pelo contrário, essa elevação dos custos possui uma 
justificativa pragmática, mas verdadeira: os candidatos que despendem maiores 
recursos em suas campanhas possuem maiores chances de êxito nas eleições. 
Considerando-se que existe uma correlação de quase 100% entre a 
quantidade de dinheiro empregada na campanha eleitoral e os votos 
 
 
 
7
 
7 
amealhados pelos candidatos, conclui-se que há irrefragável dependência de 
partidos políticos e candidatos com relação ao capital dessas empresas. 
Diversamente do alegado nas informações prestadas, a doação por 
pessoas jurídicas consubstancia, sim, fator de desequilíbrio nos certames 
eleitorais. Os limites máximos previstos na legislação, em vez de inibir, 
estimulam que as maiores empresas façam maiores doações. Dessa forma, não 
se mostra salutar, à luz dos princípios democrático e republicano, a manutenção 
de um modelo como esse, que permite a captura do político pelos titulares do 
poder econômico. 
Não bastasse isso, outra consequência da adoção desse modelo é que o 
peso político atribuído à participação de uma pessoa jurídica variará de acordo 
com a sua renda. 
Quanto maior o poderio econômico da empresa doadora maior será a sua 
capacidade de influenciar decisivamente no resultado das eleições, o que 
induziria à indesejada “plutocratização” da política brasileira. 
Além disso, a excessiva penetração do poder econômico no processo 
político compromete esse estado ideal de coisas, na medida em que privilegia 
alguns poucos candidatos que possuem ligações com os grandes doadores em 
detrimento dos demais. Trata-se de um arranjo que desequilibra, no momento 
da competição eleitoral, a igualdade política entre os candidatos, repercutindo, 
consequentemente, na formação das bancadas representativas. 
O quadro empírico também demonstra a situação descrita, uma vez que, 
examinando as informações acerca dos principais doadores de campanhas no 
País, eliminam-se quaisquer dúvidas quanto à ausência de perfil ideológico das 
doações por empresas privadas. 
Da lista com as dez empresas que mais contribuíram para as eleições 
gerais em 2010, a metade realizou doações para os dois principais candidatos à 
 
 
 
8
 
8 
Presidência e suas respectivas agremiações. O que se verifica, assim, é que 
uma mesma empresa contribui para a campanha dos principais candidatos em 
disputa e para mais de um partido político, razão pela qual a doação por pessoas 
jurídicas não pode ser concebida, ao menos em termos gerais, como um 
corolário da liberdade de expressão. 
A práxis, antes de refletir as preferências políticas, denota um agir 
estratégico destes grandes doadores que visam a estreitar suas relações com o 
poder público, de forma não republicana. 
Deve-se considerar também a inconstitucionalidade dos critérios de 
doação a campanhas por pessoas jurídicas sob o enfoque da isonomia entre 
pessoas jurídicas. 
A Lei das Eleições (Lei 9.504/1997), não estende tal faculdade a toda e 
qualquer espécie de pessoa jurídica. Em verdade, o preceito estabeleceu um rol 
de entidades que não podem realizar 18 doações em dinheiro ou estimáveis em 
dinheiro a candidatos e a partidos políticos. Prescreveu, por exemplo, 
contribuições por associações de classe e sindicais, bem como por entidades 
integrantes do denominado terceiro setor. E como resultado dessa vedação, as 
empresas privadas, cuja esmagadora maioria se destina à atividade lucrativa, 
são as protagonistas entre as pessoas jurídicas em detrimento das entidades 
sem fins lucrativos e dos sindicatos. 
Com efeito, ao vedar que associações civis sem fins lucrativos e entidades 
sindicais realizem doações, a legislação eleitoral cria, sem qualquer fundamento 
constitucional, desequiparação entre pessoas jurídicas, razão por que a violação 
à isonomia é manifesta. 
O princípio geral de igualdade, encartado no art. 5º, caput, da Constituição 
Federal, se afigura como limite material, e não apenas formal, ao legislador. Ele 
impõe que exista uma razão constitucional suficiente que justifique a 
 
 
 
9
 
9 
diferenciação, bem como reclama a necessidade de que esse tratamento 
diferenciado guarde pertinência com a causa jurídica distintiva. 
Na realidade, não existem princípios contrapostos que demonstrem a 
autorização de doações a campanhas por parte de empresas, mas que não 
franqueiem similar possibilidade às entidades sindicais. 
A mesma racionalidade pode ser estendida à proibição de doações por 
entidades não governamentais que recebam recursos públicos, prevista no 
art. 24, X, da Lei 9.504/1997. 
Se as empresas privadas que contratam com o governo não apenas 
podem doar como também figuram entre os maiores doadores, é inelutável que 
entidades não governamentais também devem poder realizar doações a 
campanhas políticas. Daí por que, se a mens legislatoris do art. 24, X, da Lei 
9.504/1997 quis impedir a formação de pactos antirrepublicanos entre 
associações que recebem recursos governamentais com o poder público, a 
permissão de doações por empresas privadas colide frontalmente com a sua 
finalidade subjacente. Trata-se, destarte, de critérios injustificáveis que, além de 
não promover quaisquer valores constitucionais, deturpam a própria noção de 
cidadania e de igualdade entre as pessoas jurídicas. 
Em virtude disso, são inconstitucionais: 
a) o art. 24 da Lei 9.504/199712, na parte em que autoriza, contrario sensu, a 
doação por pessoas jurídicas a campanhas eleitorais; 
b) o art. 24, parágrafo único13e14, e o art. 81, caput e § 1º, da Lei 9.504/199715; 
c) o art. 31 da Lei 9.096/199516, na parte em que autoriza, contrario sensu, a 
realização de doações por pessoas jurídicas a partidos políticos. 
d) as expressões “ou pessoa jurídica”, constante no art. 38, III17, e “e jurídicas”, 
inserta no art. 39, caput e § 5º, todos os preceitos da Lei 9.096/199518. 
 
 
 
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As contribuições de pessoas físicas regulam-se de acordo com a lei em 
vigor. Os critérios normativos vigentes relativos à doação a campanhas eleitorais 
feitas por pessoas naturais bem como o uso próprio de recursos pelos próprios 
candidatos não vulneram os princípios fundamentais democrático, republicano e 
da igualdade política. Diante disso, foi reconhecida a constitucionalidade do 
art. 23, § 1º, I e II, da Lei 9.504/199719 e do art. 39, § 5º, da Lei 9.096/199520. 
Ademais, não foram modulados os efeitos da decisão, uma vez que não se 
alcançou o quorum exigido pelo art. 27 da Lei 9.868/199921. 
Consequentemente, a decisão aplica-se às eleições de 2016 e às 
seguintes,a partir da sessão de julgamento, independentemente da publicação 
do acórdão. Por outro lado, mostra-se também desnecessário proceder à 
modulação, porquanto as doações feitas por pessoas jurídicas em eleições 
passadas já se exauriram no tempo. 
Com invulgar felicidade, o professor titular de Direito Civil da Faculdade 
de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro Gustavo 
Tepedino preleciona: ‘as pessoas jurídicas são sujeitos de direitos (...) 
dotadas de capacidade de direito e de capacidade postulatória, no 
plano processual (...). Todavia, a fundamentação constitucional dos 
direitos da personalidade, no âmbito dos direitos humanos, e a 
elevação da pessoa humana ao valor máximo do ordenamento não 
deixam dúvidas sobre a preponderância do interesse que a ela se 
refere, e sobre a distinta natureza dos direitos que têm por objeto bens 
que se irradiam da personalidade humana em relação aos direitos (em 
regra, patrimoniais) da pessoa jurídica, no âmbito da atividade 
econômica privada’. (...) (TEPEDINO, Gustavo.) 
“É o que defende o saudoso filósofo norte-americano Ronald Dworkin: 
as ‘empresas são ficções legais. Elas não têm opiniões próprias para 
contribuir e direitos para participar com a mesma voz e voto na política’ 
(Do original: ‘Corporations are legal fictions. They have no opinions of 
their own to contribute and no rights to participate with equal voice or 
vote in politics.’)” (DWORKIN. Ronald.) 
 
 
 
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Este cenário se agrava quando se constata que as pessoas jurídicas, 
nomeadamente as empresas privadas, são as principais doadoras para 
candidatos e partidos políticos. Deveras, as pessoas jurídicas são as grandes 
protagonistas no financiamento das campanhas eleitorais, respondendo pela 
absoluta maioria das doações. E os dados a este respeito são bastante 
eloquentes. 
De acordo com a substanciosa petição apresentada pela entidade Clínica 
de Direitos Fundamentais da prestigiada Faculdade de Direito da Universidade 
do Estado do Rio de Janeiro – Clínica UERJ Direitos, nas eleições de 2012, por 
exemplo, as pessoas naturais doaram pouco menos de 5% dos recursos. Mesmo 
entre as pessoas jurídicas existe uma forte concentração entre os principais 
doadores. No pleito de 2010, por exemplo, apenas 1% dos doadores, o 
equivalente a 191 empresas, foi responsável por 61% do montante doado. Não 
bastasse, os dez principais financiadores – em geral construtoras, bancos e 
indústria – contribuíram com aproximadamente 22% do total arrecadado (Fonte: 
Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social e Transparency 
International, em estudo intitulado A responsabilidade das empresas no 
processo eleitoral, 2012, p. 34). 
Diante desse quadro empírico, não é difícil constatar que um número 
restrito de pessoas jurídicas – aproximadamente 20 mil empresas, o 
que corresponde a menos de 0,5% do total de empresas brasileiras, 
segundo informações do IBGE – financia as campanhas políticas no 
Brasil.” (Trecho do voto do rel. min. Luiz Fux no presente julgamento.) 
“(...) [pela] Presidência da República, por intermédio da Consultoria-
Geral do Ministério da Justiça e da Consultoria-Geral da União (...).” 
(Trecho do voto do rel. min. Luiz Fux no presente julgamento.) 
Lei 9.504/1997: 
Art. 24. É vedado, a partido e candidato, receber direta ou indiretamente doação 
em dinheiro ou estimável em dinheiro, inclusive por meio de publicidade de 
qualquer espécie, procedente de: 
 
 
 
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2 
12 
I – entidade ou governo estrangeiro; 
II – órgão da administração pública direta e indireta ou fundação mantida com 
recursos provenientes do Poder Público; 
III – concessionário ou permissionário de serviço público; 
IV – entidade de direito privado que receba, na condição de beneficiária, 
contribuição compulsória em virtude de disposição legal; 
V – entidade de utilidade pública; 
VI – entidade de classe ou sindical; 
VII – pessoa jurídica sem fins lucrativos que receba recursos do exterior. 
VIII – entidades beneficentes e religiosas; 
IX – entidades esportivas; 
X – organizações não governamentais que recebam recursos públicos; 
XI – organizações da sociedade civil de interesse público. 
XII – (VETADO).” 
Como bem explica Robert Alexy, ‘a assimetria entre a norma de 
tratamento igual e a norma de tratamento desigual tem como 
consequência a possibilidade de compreender o enunciado legal de 
igualdade como um princípio de igualdade, que prima e exige 
tratamento igual e que permite um tratamento desigual apenas se isso 
for justificado por princípios contrapostos’ (ALEXY, Robert.) 
No caso, porém, ocorre justamente o oposto: se o tê-los que orienta a 
norma proibitiva for evitar o surgimento de relações promíscuas entre 
as referidas entidades e o sistema político, deveria a fortiori ser 
proscrita qualquer doação por empresas privadas.” (Trecho do voto do 
rel. min. Luiz Fux no presente julgamento.) 
Lei 9.504/1997: 
 
 
 
1
3 
13 
Art. 24. É vedado, a partido e candidato, receber direta ou indiretamente doação 
em dinheiro ou estimável em dinheiro, inclusive por meio de publicidade de 
qualquer espécie, procedente de: 
I – entidade ou governo estrangeiro; 
II – órgão da administração pública direta e indireta ou fundação mantida com 
recursos provenientes do Poder Público; 
III – concessionário ou permissionário de serviço público; 
IV – entidade de direito privado que receba, na condição de beneficiária, 
contribuição compulsória em virtude de disposição legal; 
V – entidade de utilidade pública; 
VI – entidade de classe ou sindical; 
VII – pessoa jurídica sem fins lucrativos que receba recursos do exterior; 
VIII – entidades beneficentes e religiosas; 
IX – entidades esportivas; 
X – organizações não governamentais que recebam recursos públicos; 
XI – organizações da sociedade civil de interesse público; 
XII – (VETADO).” 
Lei 9.504/1997: 
Art. 24. É vedado, a partido e candidato, receber direta ou indiretamente doação 
em dinheiro ou estimável em dinheiro, inclusive por meio de publicidade de 
qualquer espécie, procedente de: (...) 
Parágrafo único. Não se incluem nas vedações de que trata este artigo as 
cooperativas cujos cooperados não sejam concessionários ou permissionários 
de serviços públicos, desde que não estejam sendo beneficiadas com recursos 
 
 
 
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14 
públicos, observado o disposto no art. 81. (Incluído pela Lei n. 12.034, de 2009)” 
Renumerado para art. 24, § 1º, por força do art. 2º da Lei 13.165/2013. 
Lei 9.504/1997: 
Art. 81. As doações e contribuições de pessoas jurídicas para campanhas 
eleitorais poderão ser feitas a partir do registro dos comitês financeiros dos 
partidos ou coligações. (Revogado pela Lei n. 13.165, de 29-9-2015) 
§ 1º As doações e contribuições de que trata este artigo ficam limitadas a dois 
por cento do faturamento bruto do ano anterior à eleição. (Revogado pela Lei n. 
13.165, de 29-9-2015)” 
Lei 9.096/1995: 
Art. 31. É vedado ao partido receber, direta ou indiretamente, sob qualquer forma 
ou pretexto, contribuição ou auxílio pecuniário ou estimável em dinheiro, 
inclusive através de publicidade de qualquer espécie, procedente de: 
I – entidade ou governo estrangeiros; 
II – autoridade ou órgãos públicos, ressalvadas as dotações referidas no art. 38; 
III – autarquias, empresas públicas ou concessionárias de serviços públicos, 
sociedades de economia mista e fundações instituídas em virtude de lei e para 
cujos recursos concorram órgãos ou entidades governamentais; 
IV – entidade de classe ou sindical.” 
Lei 9.096/1995: 
Art. 38. O Fundo Especial de Assistência Financeira aos Partidos Políticos 
(Fundo Partidário) é constituído por: (...) 
III – doações de pessoa física ou jurídica, efetuadas por intermédiode depósitos 
bancários diretamente na conta do Fundo Partidário;” 
Lei 9.096/1995: 
 
 
 
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5 
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Art. 39. Ressalvado o disposto no art. 31, o partido político pode receber doações 
de pessoas físicas e jurídicas para constituição de seus fundos. (...) 
§ 5º Em ano eleitoral, os partidos políticos poderão aplicar ou distribuir pelas 
diversas eleições os recursos financeiros recebidos de pessoas físicas e 
jurídicas, observando-se o disposto no § 1º do art. 23, no art. 24 e no § 1º do 
art. 81 da Lei n. 9.504, de 30 de setembro de 1997, e os critérios definidos pelos 
respectivos órgãos de direção e pelas normas estatutárias. (Incluído pela Lei n. 
12.034, de 2009).” 
Lei 9.504/1997: 
Art. 23. A partir do registro dos comitês financeiros, pessoas físicas poderão 
fazer doações em dinheiro ou estimáveis em dinheiro para campanhas eleitorais, 
obedecido o disposto nesta Lei. (Redação originária) § 1º As doações e 
contribuições de que trata este artigo ficam limitadas: 
I – no caso de pessoa física, a dez por cento dos rendimentos brutos auferidos 
no ano anterior à eleição; (Revogado pela Lei n. 13.165, de 29-9-2015) 
II – no caso em que o candidato utilize recursos próprios, ao valor máximo de 
gastos estabelecido pelo seu partido, na forma desta Lei. (Revogado pela Lei n. 
13.165, de 29-9-2015)” 
Lei 9.096/1995: 
Art. 39. Ressalvado o disposto no art. 31, o partido político pode receber doações 
de pessoas físicas e jurídicas para constituição de seus fundos. (...) 
§ 5º Em ano eleitoral, os partidos políticos poderão aplicar ou distribuir pelas 
diversas eleições os recursos financeiros recebidos de pessoas físicas e 
jurídicas, observando-se o disposto no § 1º do art. 23, no art. 24 e no § 1º do 
art. 81 da Lei n. 9.504, de 30 de setembro de 1997, e os critérios definidos pelos 
respectivos órgãos de direção e pelas normas estatutárias.” 
 
 
 
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Lei 9.868/1999: 
Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em 
vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o 
Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros, 
restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a 
partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.” 
 
 
INELEGIBILIDADES 
A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos de prefeito pelo 
mesmo núcleo familiar aplica-se na hipótese em que tenha havido a convocação 
do segundo colocado nas eleições para o exercício de mandato-tampão. Inexiste 
tratamento diferenciado em relação ao mandato regular, de tal modo que, em 
virtude da inelegibilidade por parentesco [Constituição Federal (CF), art. 14, 
§§ 5º e 7º2], descabe o exercício da chefia do Poder Executivo local, pela terceira 
vez consecutiva, por membros integrantes do mesmo grupo familiar. 
O constituinte revelou-se claramente hostil a práticas ilegítimas que 
denotem o abuso de poder econômico ou que caracterizem o exercício distorcido 
do poder político-administrativo. Sendo assim, buscou proteger a normalidade e 
a legitimidade das eleições contra a influência, sempre censurável, do poder 
econômico ou contra o abuso, absolutamente inaceitável, do exercício de função 
pública. Para isso, definiu situações de inelegibilidade, destinadas a obstar, 
precisamente, entre as várias hipóteses possíveis, a formação de grupos 
hegemônicos que, ao monopolizar o acesso aos mandatos eletivos, virtualmente 
patrimonializam o poder governamental e convertem-no em verdadeira res 
doméstica, uma inadmissível inversão dos postulados republicanos. 
 
 
 
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17 
As formações oligárquicas constituem grave deformação do processo 
democrático. 
A busca do poder não pode limitar-se à esfera reservada de grupos 
privados, notadamente de índole familiar, sob pena de frustrar-se o princípio do 
acesso universal às instâncias governamentais. Além disso, legitimar-se o 
controle monopolístico do poder por núcleos de pessoas unidas por vínculos de 
ordem familiar equivaleria a ensejar, em última análise, o domínio do próprio 
Estado por grupos privados. Não se pode perder de perspectiva, neste ponto, 
que a questão do Estado é, por essência, a questão do poder. 
A patrimonialização do poder constitui situação de inquestionável 
anomalia, e a consagração de práticas hegemônicas na esfera institucional do 
poder político conduziria o processo de governo a verdadeiro retrocesso 
histórico, o que constituiria, na perspectiva da atualização e modernização do 
aparelho de Estado, situação de todo inaceitável. 
CF/1988: 
Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto 
direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: 
(...) § 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito 
Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos 
mandatos poderão ser reeleitos para um único período subsequente. 
(...) § 7º São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os 
parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do 
Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito 
Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses 
anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à 
reeleição.” 
 
 
 
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18 
“(...) quem analisa detidamente os princípios que norteiam a Constituição na 
parte atinente às inelegibilidades há de convir que sua intenção, no particular, é 
evitar, entre outras coisas, a perpetuidade de grupos familiares, ou oligarquias, 
à frente dos executivos.” (Trecho do voto do rel. min. Cordeiro Guerra no 
julgamento do RE 98.935, P.). 
A causa de inelegibilidade prevista no art. 14, § 7º, da Constituição 
alcança a cunhada de governador quando concorre a cargo eletivo de Município 
situado no mesmo Estado. 
Inelegibilidade reflexa – Repercussão Geral O Enunciado 18 da Súmula 
Vinculante, segundo o qual “a dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, 
no curso do mandato, não afasta a inelegibilidade prevista no § 7º do artigo 14 
da Constituição Federal”, não se aplica aos casos de extinção do vínculo 
conjugal pela morte de um dos cônjuges. 
O que orientou a edição da Súmula Vinculante 18 e os recentes 
precedentes do Supremo Tribunal Federal foi a preocupação de inibir que a 
dissolução fraudulenta ou simulada de sociedade conjugal seja utilizada como 
mecanismo de burla à norma da inelegibilidade reflexa prevista no § 7º do art. 14 
da Constituição. 
As hipóteses de inelegibilidade previstas no art. 14, § 7º, da Constituição 
Federal (CF)1, inclusive quanto ao prazo de seis meses, são aplicáveis às 
eleições suplementares. 
O dispositivo constitucional não prevê qualquer distinção entre eleições 
ordinárias e eleições suplementares. Assim, aplica-se a seguinte norma de 
hermenêutica do Direito: onde o legislador não distingue não cabe ao intérprete 
fazê-lo. O dispositivo constitucional prevê as hipóteses de inelegibilidade reflexa 
ou indireta, restringindo a capacidade eleitoral passiva. 
 
 
 
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O intuito é impedir a hegemonia política de um mesmo grupo familiar, 
dando efetividade a preceito básico do regime democrático: a alternância no 
poder. Trata-se, assim, de hipótese constitucional que busca proteger a 
normalidade e a legitimidade das eleições contra a apropriação da res pública 
por núcleos estamentais ou por grupos familiares. Possui o desiderato ético, 
político e social de prevenir o apoderamento familiar dos mandatos eletivos, 
inclusive com utilização indevida da estrutura administrativa. 
A busca do poder não pode limitar-se nem restringir-seà esfera reservada 
de grupos privados, sob pena de frustrar-se o princípio do acesso universal às 
instâncias governamentais. 
Por essas razões – e diferentemente do que pode ocorrer com os prazos 
de desincompatibilização para a disputa de eleições suplementares –, o art. 14, 
§ 7º, da CF é insuscetível de mitigação em favor dos seus destinatários. Nesse 
sentido, o cônjuge do prefeito afastado por irregularidades está impedido de se 
candidatar nas eleições suplementares que ocorrerem a menos de seis meses, 
contados do afastamento do então titular do cargo. 
O afastamento do então titular se deu a menos de seis meses do pleito 
complementar. Assim, incide a inelegibilidade do prazo fixado no § 7º do art. 14 
da Constituição, a qual constitui uma condição de fato inalcançável para o 
cônjuge. A questão não pode ser vista pelo ângulo da desincompatibilização, 
uma vez que não se trata de cargo do qual deva o cônjuge, ele próprio, 
desincompatibilizar-se. A hipótese é de inelegibilidade, e, como tal, deve ser 
considerada para todos os efeitos. 
O cônjuge pode candidatar-se à sucessão quando o titular causador da 
inelegibilidade puder, ele mesmo, candidatar-se à reeleição. No entanto, deve 
ser observada a necessidade de afastamento do cargo até seis meses antes do 
pleito a fim de não incidir a vedação do art. 14, § 7º, da CF. Negar essa 
possibilidade seria consagrar o paradoxo de impor-se ao cônjuge ou parente do 
 
 
 
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causante da inelegibilidade o que a este não se negou: permanecer todo o tempo 
do mandato, se candidato à reeleição, ou afastar-se seis meses antes para 
concorrer a qualquer outro mandato eletivo. Nas hipóteses em que a reeleição 
de um dos cônjuges for constitucionalmente autorizada, a inelegibilidade do 
outro soaria incongruente. 
Assim, quem puder se reeleger pode ser sucedido pelo cônjuge; e, 
diversamente, quem não puder se reeleger não pode ser sucedido por ele. 
CF/1988: 
Art. 14. (...) 
§ 7º São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes 
consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da 
República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de 
Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao 
pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição. 
Na espécie, o marido da recorrente, então prefeito, teve seu mandato 
cassado pela Justiça Eleitoral, em razão da prática de abuso do poder 
econômico. Convocadas eleições suplementares, sua esposa lançou-se 
candidata e teve indeferido o registro de candidatura em razão do contido no 
art. 14, § 7º, da Constituição Federal. Neste recurso extraordinário, alegava que, 
em caso de eleições suplementares, os prazos do dispositivo constitucional 
deveriam ser mitigados. 
Entretanto, como – no caso – a perda do mandato de prefeito se deu em 
menos de seis meses do pleito complementar, a desincompatibilização no prazo 
fixado pelo § 7º do art. 14 da Constituição Federal constituiria uma condição 
inalcançável para a recorrente, mesmo que ela desejasse. Assim, a questão em 
análise não diz respeito à desincompatibilização da esposa candidata, já que ela 
não exerceu o cargo do qual deveria, ela própria, desincompatibilizar-se. 
 
 
 
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A hipótese seria de inelegibilidade e, nessa condição, deveria ser considerada 
para todos os efeitos. 
A solução da controvérsia depende da análise de normas 
infraconstitucionais, uma vez que, no caso, a decisão proferida pelo TSE, acerca 
da eventual elegibilidade do agravante para o pleito eleitoral que estava a 
disputar, foi fundamentada no exame das circunstâncias assinaladas no acórdão 
regional, a partir das quais se concluiu pela sanabilidade das irregularidades que 
ensejaram a rejeição das contas do agravado, o que foi feito, ainda, com 
supedâneo nas normas do art. 1º, I, g, da LC 64/1990. 
 LC 64/1990: 
Art. 1º São inelegíveis: 
I – para qualquer cargo: (...) 
g) os que tiverem suas contas relativas ao exercício de cargos ou funções 
públicas rejeitadas por irregularidade insanável que configure ato doloso de 
improbidade administrativa, e por decisão irrecorrível do órgão competente, 
salvo se esta houver sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciário, para as 
eleições que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes, contados a partir da data 
da decisão, aplicando-se o disposto no inciso II do art. 71 da Constituição 
Federal, a todos os ordenadores de despesa, sem exclusão de mandatários que 
houverem agido nessa condição;” 
Há indícios de inconstitucionalidade no art. 22-A da Lei 9.096/1995, 
introduzido pela Lei 13.165/2015, que regula a perda de mandato por infidelidade 
partidária, no tocante à sua incidência sobre os partidos políticos registrados até 
a entrada em vigor da Lei 13.165/2015, quando o prazo de trinta dias para as 
filiações de detentores de mandato eletivo ainda estava transcorrendo. Há forte 
plausibilidade jurídica no que se refere à violação ao princípio da segurança 
 
 
 
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jurídica e, mais especificamente, ao direito adquirido e às legítimas expectativas 
das agremiações recém-fundadas. 
A proteção da segurança jurídica designa um conjunto abrangente de 
ideias e conteúdos, que está positivado em diversos dispositivos da Constituição 
de 1988, como os que preveem o direito à segurança [Constituição Federal (CF), 
art. 5º, caput] e a proteção ao direito adquirido, à coisa julgada e ao ato jurídico 
perfeito (CF, art. 5º, XXXVI). 
Do ponto de vista objetivo, ela se refere 
(i) à anterioridade das normas jurídicas em relação às situações às quais 
se dirigem; 
(ii) à estabilidade do Direito, que deve ter como traço geral a permanência 
e continuidade das normas; e 
(iii) à não retroatividade das leis, que não deverão produzir efeitos 
retrospectivos para colher direitos subjetivos constituídos. Já do ponto 
de vista subjetivo, a segurança jurídica refere-se à proteção da 
confiança relativamente aos atos do poder público, tendo como 
corolário a tutela das expectativas legítimas. 
A cláusula do direito adquirido constitui conteúdo elementar do direito 
à segurança jurídica. Ela veicula a proibição de que nova norma se aplique a 
direitos constituídos pela concretização dos requisitos necessários ao seu 
surgimento, regidos pela norma anteriormente vigente. Em outras palavras, 
eventuais alterações legislativas não podem pretender desconstituir um 
direito subjetivo cujo ciclo aquisitivo já tenha se consumado, integrando-se 
ao patrimônio de seu titular. 
No caso, a incidência do art. 22-A sobre situações jurídicas pendentes 
de partidos políticos recém-criados parece violar o direito adquirido dessas 
legendas. 
 
 
 
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Há, aqui, ADI 5.398 MC-REF rel. min. Roberto Barroso Plenário DJE 
de 20-11-2018 Informativo STF 901 uma questão de direito intertemporal, 
relativa ao conflito de leis no tempo. 
Se, por ocasião da edição do dispositivo impugnado, já tivesse sido 
consumado o registro do estatuto partidário de diversos partidos no Tribunal 
Superior Eleitoral (TSE), teria surgido o direito de receberem em seus 
quadros detentores de mandato eletivo, ao abrigo da justa causa então 
vigente. Tal direito não poderia ser desconsiderado por eventual alteração 
legislativa. 
Assim, em razão da ausência de disposições transitórias para regular 
as situações jurídicas pendentes, a possibilidade de aplicação da Lei 
13.165/2015 a esses partidos, quando ainda em curso o prazo de trinta dias 
para filiações de detentores de mandato eletivo, constitui uma indevida 
retroatividade da lei, para alcançar direitos constituídos de acordo com a 
disciplina normativa anterior. 
Muito embora não exista direito adquirido a regime jurídico nemdireito 
à permanência indefinida de uma mesma disciplina normativa sobre 
determinada matéria, tal circunstância não impede que direitos sejam 
adquiridos na constância de um dado regime jurídico ou que alterações 
futuras possam atingir situações constituídas anteriormente de forma 
ilimitada. 
Há, por óbvio, direitos que devem ser conservados em face de 
mudanças normativas. Mais do que isso, ainda que não se pudesse 
caracterizar cabalmente a existência de um direito adquirido neste caso, seria 
necessário proteger as situações estabilizadas pela previsão normativa 
anterior, assegurando-se uma transição razoável, em respeito às legítimas 
expectativas geradas nas novas agremiações e nos parlamentares em vias 
de se filiarem a elas. 
 
 
 
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A proteção das legítimas expectativas criadas em particulares por atos 
do próprio poder público decorre da obrigação estatal de agir com boa-fé. 
Trata-se, logicamente, de uma exigência do Estado Democrático de Direito. 
A boa-fé demanda que as autoridades públicas protejam a confiança e as 
legítimas expectativas suscitadas, até mesmo diante de alterações 
legislativas posteriores, sempre que estas estejam fortemente amparadas em 
comportamentos objetivos do Estado. 
Portanto, ainda que não se queira identificar um direito adquirido na 
hipótese, a incidência do art. 22-A sobre os partidos políticos registrados no 
TSE imediatamente antes da entrada em vigor da Lei 13.165/2015 violou a 
legítima expectativa dessas agremiações e dos detentores de mandato 
eletivo. 
Além da forte plausibilidade jurídica do direito invocado, por violação 
ao princípio da segurança jurídica, o perigo na demora está igualmente 
configurado. 
Com efeito, ao não incluir no rol de “justas causas” para desfiliação a 
“criação de novo partido”, o art. 22-A inviabilizou a imediata migração de 
parlamentares eleitos às agremiações recém-fundadas. Com isso, o 
dispositivo impugnado estabeleceu obstáculos ao desenvolvimento e 
fortalecimento das novas agremiações. 
Em primeiro lugar, porque impedir a filiação desses parlamentares aos 
novos partidos sem perda de cargo inviabilizaria que tais agremiações 
tivessem, desde logo, direito à realização de propaganda partidária e à maior 
participação na distribuição do fundo partidário e do horário de propaganda 
eleitoral gratuita5 para as eleições municipais de 2016. 
Em segundo lugar, porque a nova norma causava embaraço ao 
funcionamento parlamentar dos novos partidos, na medida em que, somente 
com a migração de parlamentares, as legendas recém-criadas poderiam 
 
 
 
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obter, desde sua criação, funcionamento parlamentar, i.e., o direito de se 
fazer representar nas casas legislativas, de se organizar em bancadas, sob 
a direção de um líder, e de participar das suas diversas instâncias. 
Na data em que a Lei 13.165 foi editada, em 29-9-2015, 3 (três) novos 
partidos haviam sido registrados no Tribunal Superior Eleitoral, de modo que 
estavam correndo seus prazos de 30 dias para que recebessem 
parlamentares detentores de mandato eletivo, ao abrigo da justa causa de 
desfiliação, conforme fixado pelo TSE na Resolução 22.610/2007 e na 
Consulta 755-35. São eles: 
(i) o Partido Novo (registrado no TSE em 15-9-2015), 
(ii) a Rede Sustentabilidade (registrada no TSE em 22-9- 2015), e 
(iii) o Partido da Mulher Brasileira (registrado no TSE em 29-9-2015). Tome-
se de forma exemplificativa o caso da Rede Sustentabilidade. A legenda 
obteve registro no TSE em 22-9-2015. 
Todavia, quando alcançou o 7º dia do prazo, a Lei 13.165/2015 entrou 
em vigor, excluindo a possibilidade de imediata migração de parlamentares 
amparada pela justa causa de ‘criação de novo partido’. Passou, assim, a 
sujeitar os que mudassem de partido à perda de mandato eletivo por 
infidelidade partidária. Como é intuitivo, tal alteração inibiu novas filiações e 
a obtenção de representatividade pela nova agremiação. 
“Na situação em análise, referida expectativa legítima foi gerada nos 
partidos novos não apenas pelas manifestações do TSE, na Resolução 
22.610, de 2007, e na Consulta 755-35, de 2011, mas também por 
sucessivos pronunciamentos do STF, que implícita ou explicitamente 
assentaram que a migração a legendas recém-criadas constituía justa 
causa para desfiliação.” (Trecho do voto do rel. min. Roberto Barroso 
no presente julgamento.) 
Lei 9.504/1997: 
 
 
 
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Art. 47. As emissoras de rádio e de televisão e os canais de televisão por 
assinatura mencionados no art. 57 reservarão, nos trinta e cinco dias 
anteriores à antevéspera das eleições, horário destinado à divulgação, em 
rede, da propaganda eleitoral gratuita, na forma estabelecida neste artigo. 
(...) § 2º Os horários reservados à propaganda de cada eleição, nos termos 
do § 1º, serão distribuídos entre todos os partidos e coligações que tenham 
candidato, observados os seguintes critérios: 
I – 90% (noventa por cento) distribuídos proporcionalmente ao número de 
representantes na Câmara dos Deputados, considerados, no caso de 
coligação para eleições majoritárias, o resultado da soma do número de 
representantes dos seis maiores partidos que a integrem e, nos casos de 
coligações para eleições proporcionais, o resultado da soma do número de 
representantes de todos os partidos que a integrem; 
II – 10% (dez por cento) distribuídos igualitariamente.” Art. 49 da Lei 
9.096/1995, aplicável aos partidos recém-criados, por força do Acórdão do 
TSE de 6-11-2012, na Propaganda Partidária 1.458. 
A perda do mandato em razão de mudança de partido não se aplica aos 
candidatos eleitos pelo sistema majoritário. A dinâmica do sistema majoritário, 
adotado para a eleição de presidente, governador, prefeito e senador, é diversa 
da que ocorre no sistema proporcional. 
As características daquele, com ênfase na figura do candidato, fazem 
com que a perda do mandato, no caso de mudança de partido, frustre 
a vontade do eleitor e vulnere a soberania popular [Constituição 
Federal (CF), arts. 1º, parágrafo único, e, caput]. 
Como a regra aplicável é a da maioria de votos e não a do quociente 
eleitoral, o candidato eleito é o mais bem votado. 
Logo, não é necessário impor a fidelidade partidária como medida para 
preservar a vontade do eleitor. Nesse sentido, no sistema majoritário, 
a imposição da perda do mandato por infidelidade partidária é 
 
 
 
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antagônica à soberania popular, uma vez que nos pleitos dessa 
natureza os eleitores votam em candidatos e não em partidos (CF, 
art. 77, § 2º). 
Foi declarada, portanto, a inconstitucionalidade do termo “ou vice” 
constante do art. 1.032 e da expressão “e, após 16 (dezesseis) de outubro 
corrente, quanto a eleitos pelo sistema majoritário”, ambos da Resolução 
22.610/2007 do Tribunal Superior Eleitoral. Por outro lado, o termo “suplente” 
constante do citado art. 10 recebeu interpretação conforme à Constituição, com 
a finalidade de excluir do seu alcance os cargos do sistema majoritário. 
O sistema proporcional, adotado para eleição de vereador, deputado 
estadual e deputado federal, contempla os partidos políticos. O número de 
cadeiras que cada um deles tem na Casa Legislativa está relacionado à votação 
obtida na circunscrição. No sistema de lista aberta, em vigor no Brasil, o eleitor 
escolhe um candidato do partido, sem ordem predeterminada. 
A ordem das cadeiras é ditada pela votação que os candidatos, 
individualmente, obtenham. Porém, o sucesso individual depende 
impreterivelmente da quantidade de votos recebida pelo partido a que seja filiado 
(quociente partidário). Esse sistema apresenta várias disfunções, tais como o 
custo elevado de campanha e o fato de cerca de apenas 7% dos candidatos 
serem eleitos. 
A Constituição optou por desenho institucionalque ADI 5.081 rel. min. 
Roberto Barroso Plenário DJE de 19-8-2015 Informativo STF 787 36 fortalecesse 
os partidos políticos, inclusive mediante a criação do fundo partidário e da 
garantia do acesso gratuito ao rádio e à televisão (CF, art. 17, § 3º). Esse cenário, 
somado à possibilidade de criação de coligações nas eleições proporcionais, 
permite que partidos sem densidade mínima para atingir o quociente eleitoral 
consigam representatividade. Assim, há multiplicidade de partidos, a destacar as 
chamadas “legendas de aluguel”, existentes somente para obter dinheiro do 
fundo partidário e acesso aos meios de comunicação. 
 
 
 
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A política fica afastada do interesse público e se torna negócio privado. 
Nesse contexto, surgiu a tradição de infidelidade partidária, a culminar em 
posicionamento do Supremo Tribunal Federal sobre o tema (MS 26.602, rel. min. 
Eros Grau, P; MS 26.603, rel. min. Celso de Mello; e MS 26.604, rel. min. Cármen 
Lúcia, P). 
O sistema majoritário, utilizado para eleição de prefeito, governador, 
senador e presidente da República, contempla o candidato que obtiver o maior 
número de votos. A votação dos demais candidatos é desconsiderada. 
Quota eleitoral de gênero O art. 9º da Lei 13.165/20151 recebeu 
interpretação conforme à Constituição Federal (CF) no sentido de que: 
a) Ao patamar legal mínimo de candidaturas femininas (hoje o do art. 10, § 3º, 
da Lei 9.504/19972, isto é, ao menos 30% de cidadãs) deve ser equiparado o 
mínimo de recursos do Fundo Partidário a lhes serem destinados, que deve ser 
interpretado como também de 30% do montante do fundo alocado a cada 
partido, para eleições majoritárias e proporcionais; e 
b) Havendo percentual mais elevado de candidaturas femininas, o mínimo de 
recursos globais do partido destinados a campanhas lhes seja alocado na 
mesma proporção. Inexistem justificativas razoáveis ou racionais para a 
diferença na distribuição de recursos do Fundo Partidário destinados ao 
financiamento das campanhas eleitorais voltadas a candidaturas de mulheres, 
tal qual previsto no dispositivo. 
Com efeito, a prevalecer o comando impugnado, o estabelecimento de 
um piso de 5% significaria, na prática, que, na distribuição dos recursos públicos 
que a agremiação partidária deve destinar às candidaturas, os homens poderiam 
receber no máximo 95%. 
No entanto, caso se optasse por fixar a distribuição máxima às 
candidaturas de mulheres, apenas 15% do total de recursos do fundo poderiam 
 
 
 
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ser-lhes destinados, hipótese em que os recursos reservados às candidaturas 
masculinas seriam de 85%. Em virtude do princípio da igualdade, o partido 
político não pode criar distinções na distribuição desses recursos exclusivamente 
baseadas no gênero. 
A autonomia partidária não consagra regra que exima o partido do 
respeito incondicional aos direitos fundamentais. Noutras palavras, a autonomia 
partidária não justifica o tratamento discriminatório entre as candidaturas de 
homens e mulheres, pois o art. 17 da CF dispõe ser livre a criação, fusão, 
incorporação e extinção de partidos políticos, “resguardados os direitos 
fundamentais da pessoa humana”. 
Da mesma forma, é certo que, enquanto pessoas jurídicas de direito 
privado, conforme preceitua o art. 44, V, do Código Civil (CC), aplicam-se aos 
partidos políticos ADI 5.617 rel. min. Edson Fachin Plenário DJE de 3-10-2018 
Informativo STF 894 38 não só a garantia da plena autonomia, nos termos do 
art. 17, § 1º, da CF5, mas também a própria liberdade de associação livre da 
interferência estatal (CF, art. 5º, XVIII6). 
Entretanto, o respeito à igualdade não é obrigação cuja previsão somente 
se aplica à esfera pública. Incide, aqui, a ideia de eficácia horizontal dos direitos 
fundamentais, sendo importante reconhecer que é precisamente nesta artificiosa 
segmentação entre o público e o privado que reside a principal forma de 
discriminação às mulheres. 
Finalmente, descabe argumentar que a disposição dos recursos 
destinados às campanhas de mulheres da forma como prevista na norma 
impugnada revelariam o “consenso possível”. Em caso de proteção deficiente de 
direitos fundamentais, a liberdade de conformação do legislador é reduzida, 
incumbindo ao Judiciário zelar pela sua efetiva promoção. 
Nessa perspectiva, a inexistência de consenso revela não um limite à 
atuação do legislador, mas uma omissão inconstitucional, na medida em que 
 
 
 
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priva as candidaturas de mulheres dos recursos públicos que irão custear suas 
aspirações políticas de ocupar uma posição democraticamente representativa, 
apenas pelo fato de serem mulheres. Da mesma forma, não cabe sustentar que 
o percentual de candidaturas para as mulheres limita-se a reconhecer uma 
igualdade de oportunidades, no sentido de garantir iguais condições a partir de 
uma posição inicial, nomeadamente as candidaturas. 
Vale ressaltar, nesse aspecto, a “igualdade transformativa”, prevista no 
Comentário Geral 25 do Comitê para Eliminação da Discriminação contra a 
Mulher8. São inconstitucionais, por arrastamento, o § 5º-A9 e o § 7º10 do art. 44 
da Lei 9.096/1995, os quais, em tese, conferia discricionariedade, quer às 
agremiações partidárias, quer às secretarias da mulher, para autorizar-lhes a 
utilizar os recursos destinados à promoção e difusão da participação política das 
mulheres em suas campanhas. 
A utilização dos recursos destinados à promoção e difusão da 
participação política das mulheres em suas campanhas é, na verdade, uma 
obrigação que não está no âmbito da discricionariedade dos partidos políticos. 
É preciso reconhecer que ao lado do direito a votar e ser votado, como 
parte substancial do conteúdo democrático, a completude é alcançada quando 
são levados a efeito os meios à realização da igualdade. Só assim a democracia 
se mostra inteira. Caso contrário, a letra constitucional apenas alimentará o 
indesejado simbolismo das intenções que nunca se concretizam no plano das 
realidades. 
A participação das mulheres nos espaços políticos é um imperativo do 
Estado e produz impactos significativos para o funcionamento do campo político, 
uma vez que a ampliação da participação pública feminina permite equacionar 
as medidas destinadas ao atendimento das demandas sociais das mulheres. 
Não se pode deixar de reconhecer que a presença reduzida de mulheres na vida 
política brasileira “colabora para a reprodução de concepções convencionais do 
 
 
 
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‘feminino’, que vinculam as mulheres à esfera privada e/ou dão sentido a sua 
atuação na esfera pública a partir do seu papel convencional na vida doméstica” 
e “coloca água no moinho da reprodução de posições subordinadas para as 
mulheres e da naturalização das desigualdades de gênero”. 
“Precisamos de uma nova forma de pensar sobre as representações 
legais que desafiem os estereótipos de gênero que estão por trás dos abusos de 
direitos humanos baseados no gênero.” 
Daí por que a atuação dos partidos políticos não pode, sob pena de ofensa 
às suas obrigações transformativas, deixar de se dedicar também à promoção e 
à difusão da participação política das mulheres. 
É inconstitucional a expressão “três” contida no art. 9º da Lei 
13.165/201513. O critério de distribuição de recursos oriundos do Fundo 
Partidário deve obedecer à composição das candidaturas e deflui diretamente 
da cota fixada no art. 10, § 3º, da Lei de Eleições. Ademais, embora a 
legitimidade das políticas afirmativas dependa de seu caráter temporário14, a 
distribuição não discriminatória dos recursos deve perdurar enquanto for 
justificada a composição mínima das candidaturas. 
Na hipótese, a temporariedade recai sob as cotas de candidaturas, não 
sob a distribuição de recursos que não está sujeita ao tratamentodiscriminatório. 
Lei 13.165/2015: 
Art. 9o Nas três eleições que se seguirem à publicação desta Lei, os partidos 
reservarão, em contas bancárias específicas para este fim, no mínimo 5% (cinco 
por cento) e no máximo 15% (quinze por cento) do montante do Fundo Partidário 
destinado ao financiamento das campanhas eleitorais para aplicação nas 
campanhas de suas candidatas, incluídos nesse valor os recursos a que se 
refere o inciso V do art. 44 da Lei n. 9.096, de 19 de setembro de 1995. 
Lei 9.504/1997: 
 
 
 
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32 
Art. 10. Cada partido ou coligação poderá registrar candidatos para a Câmara 
dos Deputados, a Câmara Legislativa, as Assembleias Legislativas e as 
Câmaras Municipais no total de até 150% (cento e cinquenta por cento) do 
número de lugares a preencher, salvo: 
(...) § 3º Do número de vagas resultante das regras previstas neste artigo, cada 
partido ou coligação preencherá o mínimo de 30% (trinta por cento) e o máximo 
de 70% (setenta por cento) para candidaturas de cada sexo. 
CF/1988: 
Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, 
resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, 
os direitos fundamentais da pessoa humana e observados os seguintes 
preceitos: 
I – caráter nacional; 
II – proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo 
estrangeiros ou de subordinação a estes; 
III – prestação de contas à Justiça Eleitoral; 
IV – funcionamento parlamentar de acordo com a lei.” CC: “Art. 44. São pessoas 
jurídicas de direito privado: (...) 
V – os partidos políticos.” 
CF/1988: 
Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, 
resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, 
os direitos fundamentais da pessoa humana e observados os seguintes 
preceitos: 
(...) § 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura 
interna e estabelecer regras sobre escolha, formação e duração de seus órgãos 
 
 
 
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permanentes e provisórios e sobre sua organização e funcionamento e para 
adotar os critérios de escolha e o regime de suas coligações nas eleições 
majoritárias, vedada a sua celebração nas eleições proporcionais, sem 
obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, 
estadual, distrital ou municipal, devendo seus estatutos estabelecer normas de 
disciplina e fidelidade partidária. 
CF/1988: 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a 
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade, nos termos seguintes: 
(...) XVIII – a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas 
independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu 
funcionamento; 
As violações a direitos fundamentais não ocorrem somente no âmbito das 
relações entre o cidadão e o Estado, mas igualmente nas relações travadas entre 
pessoas físicas e jurídicas de direito privado. Assim, os direitos fundamentais 
assegurados pela Constituição vinculam diretamente não apenas os poderes 
públicos, estando direcionados também à proteção dos particulares em face dos 
poderes privados. 
A ordem jurídico-constitucional brasileira não conferiu a qualquer 
associação civil a possibilidade de agir à revelia dos princípios inscritos nas leis 
e, em especial, dos postulados que têm por fundamento direto o próprio texto da 
Constituição da República, notadamente em tema de proteção às liberdades e 
garantias fundamentais. 
O espaço de autonomia privada garantido pela Constituição às 
associações não está imune à incidência dos princípios constitucionais que 
 
 
 
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34 
asseguram o respeito aos direitos fundamentais de seus associados. 
A autonomia privada, que encontra claras limitações de ordem jurídica, não pode 
ser exercida em detrimento ou com desrespeito aos direitos e garantias de 
terceiros, especialmente aqueles positivados em sede constitucional, pois a 
autonomia da vontade não confere aos particulares, no domínio de sua 
incidência e atuação, o poder de transgredir ou de ignorar as restrições postas e 
definidas pela própria Constituição, cuja eficácia e força normativa também se 
impõem, aos particulares, no âmbito de suas relações privadas, em tema de 
liberdades fundamentais. 
Primeiramente, as obrigações dos Estados-partes são garantir que não 
haja discriminação direta ou indireta contra as mulheres nas suas leis e que as 
mulheres sejam protegidas contra a discriminação – praticada por autoridades 
públicas, o judiciário, organizações, empresas e entidades privadas – nas 
esferas públicas ou privadas pelos tribunais competentes assim como sanções 
e outros remédios. 
Em segundo lugar, a obrigação dos Estados-partes é a de melhorar a 
posição de fato das mulheres por meio de políticas concretas e eficazes. 
Em terceiro lugar, a obrigação dos Estados-partes é a de enfrentar as relações 
prevalentes de gênero e a persistência de estereótipos baseados no gênero que 
atingem as mulheres não apenas por meio de atos individuais por indivíduos, 
mas também por meio da lei, e das estruturas legais e sociais e das instituições. 
Na visão do Comitê, uma atuação puramente legal e forma ou 
programática não é suficiente para atingir a igualdade de fato entre homens e 
mulheres, a qual o Comitê interpreta como igualdade material. Além disso, a 
Convenção exige que as mulheres tenham garantidas iguais oportunidades e 
que elas sejam empoderadas por um ambiente que as permita alcançar a 
igualdade de resultados. 
 
 
 
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35 
Não é suficiente garantir às mulheres tratamento que é idêntico ao dos 
homens. Ao contrário, diferenças biológicas e as que são social e culturalmente 
construídas entre homens e mulheres devem ser levadas em conta. Em certas 
circunstâncias, tratamento não idêntico de mulheres e de homens será exigido 
para resolver tais diferenças. 
O objetivo de alcançar a igualdade material também convoca uma 
estratégia efetiva para superar a sub-representação das mulheres e a 
redistribuição de recursos e poderes entre homens e mulheres. 
A igualdade de resultados é o corolário lógico da igualdade de fato ou 
material. Esses resultados podem ser de natureza quantitativa ou qualitativa; ou 
seja, mulheres gozando de seus direitos em vários campos em número e de 
forma igualmente justa em relação aos homens, gozando de mesmos padrões 
remuneratórios, igualdade na tomada de decisões e na influência política, e 
mulheres gozando de liberdade contra toda violência. 
A posição das mulheres não será melhorada enquanto as causas que 
sustentam a discriminação contra as mulheres, e sua desigualdade, não forem 
efetivamente enfrentadas. As vidas das mulheres e dos homens devem ser 
consideradas em seu contexto, e as medidas adotadas para a real transformação 
de oportunidades, instituições e sistemas a fim de que eles não mais tenham por 
base os paradigmas masculinos historicamente determinados de poder e de 
padrões de vida. 
Lei 9.096/1995: 
Art. 44. Os recursos oriundos do Fundo Partidário serão aplicados: 
(...) § 5º-A A critério das agremiações partidárias, os recursos a que se refere o 
inciso V poderão ser acumulados em diferentes exercícios financeiros, mantidos 
em contas bancárias específicas, para utilização futura em campanhas eleitorais 
de candidatas do partido. 
 
 
 
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Lei 9.096/1995: 
Art. 44. (...) § 7º A critério da secretaria da mulher ou, inexistindo a secretaria, a 
critério da fundação de pesquisa e de doutrinação e educação política, os 
recursos a que se refere o inciso V do caput poderãoser acumulados em 
diferentes exercícios financeiros, mantidos em contas bancárias específicas, 
para utilização futura em campanhas eleitorais de candidatas do partido, não se 
aplicando, neste caso, o disposto no § 5º. 
O gênero na política: a construção do “feminino” nas eleições 
presidenciais de 2010. 
Lei 13.165/2015: 
Art. 9º Nas três eleições que se seguirem à publicação desta Lei, os partidos 
reservarão, em contas bancárias específicas para este fim, no mínimo 5% (cinco 
por cento) e no máximo 15% (quinze por cento) do montante do Fundo Partidário 
destinado ao financiamento das campanhas eleitorais para aplicação nas 
campanhas de suas candidatas, incluídos nesse valor os recursos a que se 
refere o inciso V do art. 44 da Lei n. 9.096, de 19 de setembro de 1995. 
Para o registro de partido político, é constitucional a exigência de que o 
apoiamento mínimo seja preenchido exclusivamente por eleitores não filiados ao 
partido político. 
O objetivo da restrição é a garantia de coesão, coerência e substância ao 
modelo representativo instrumentalizado pela atuação partidária. Trata-se, 
portanto, de cidadãos distintos em seu exercício cívico e livres em relação a suas 
opções políticas. A limitação criada está em conformidade com o regramento 
constitucional relativo ao sistema representativo, uma vez que busca o exclusivo 
efeito de conferência de legitimidade do apoio oferecido à criação de novos 
partidos políticos. É constitucional a norma que prevê prazo mínimo de cinco 
 
 
 
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37 
anos – a contar da constituição do partido – para permitir a fusão entre as siglas 
partidárias. 
A exigência temporal para se levar a efeito fusões e incorporações entre 
partidos assegura o atendimento do compromisso do cidadão com a sua opção 
partidária, o que evita o estelionato eleitoral ou a reviravolta política contra o 
apoio dos eleitores, então filiados. Embora esteja garantida no ordenamento 
jurídico-constitucional a liberdade dos partidos políticos de se articularem, esses 
devem observar a imperatividade do caráter nacional das agremiações (controle 
quantitativo) e do cunho democrático de seus programas (controle qualitativo ou 
ideológico). 
A proliferação indiscriminada de partidos sem coerência ou respaldo 
social importa em risco institucional e conduz ao desalento democrático. Além 
disso, pode transformar o sadio pluripartidarismo em caos político. Diante disso, 
as normas analisadas têm como fundamento a tentativa de incentivar a utilização 
de mecanismos da democracia representativa, a reforçar a legitimidade e o 
compromisso do eleitor e do partido no qual se depositou aval. A Constituição 
Federal (CF) assegura a liberdade de criação, fusão, extinção e incorporação de 
partidos políticos, como expressão do princípio democrático e do 
pluripartidarismo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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38 
PROPAGANDA POLÍTICA 
Os candidatos aptos a participar de debate eleitoral não podem deliberar 
pela exclusão dos debates de candidatos cuja participação seja facultativa, 
quando a emissora tenha optado por convidá-los. 
O art. 46, § 5º, da Lei 9.504/19971, com a redação dada pela Lei 
13.165/2015, deve ser interpretado restritivamente com o fito de ampliar o debate 
político e conferir maior densidade democrática ao processo eleitoral. 
Permitir a exclusão de candidatos convidados pela emissora de televisão 
ou rádio resultaria em evidente conflito de interesses: o poder de decidir sobre a 
participação de um competidor ficaria nas mãos de seus próprios adversários, 
que, por óbvio, não têm nenhum estímulo para conceder espaço nos meios de 
comunicação de massa a quem possa subtrair seus votos e visibilidade. 
Em relação à definição dos participantes dos debates, é válida a fixação, 
por lei, de critério objetivo que conceda a parcela dos candidatos (os “candidatos 
aptos”) direito subjetivo à participação nos debates, não podendo a emissora de 
televisão ou de rádio a ele se opor, ainda que com a concordância de outros 
candidatos. O critério adotado pela legislação brasileira, tal como interpretado 
pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), assegura a participação nos debates dos 
candidatos de partidos ou coligações que tenham representatividade mínima de 
dez deputados federais. Trata-se de critério razoável, que é coerente com as 
normas relativas à propaganda eleitoral vigentes no País e que cumpre as 
finalidades constitucionais acima citadas. 
Todavia, o legislador não fechou as portas do debate político a candidatos 
de partidos ou coligações que tenham menos de dez deputados federais, 
tampouco tolheu por completo a liberdade de programação das emissoras de 
televisão e rádio. 
 
 
 
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9 
39 
Unindo essas duas preocupações, a Lei 9.504/1997 facultou que as 
emissoras convidem para os debates candidatos com representatividade inferior 
à exigida na lei. 
No caso de competidores bem colocados nas pesquisas de intenção de 
voto, é razoável concluir que as emissoras terão estímulos para promover a sua 
inclusão, tanto como forma de aumentar a audiência quanto de garantir a 
credibilidade do programa. 
Com efeito, a participação de candidato bem colocado nas pesquisas 
enriquece o embate de ideias e permite que o programa reflita, com maior 
fidelidade, as tensões ideológicas presentes no debate público em torno das 
propostas dos candidatos com maior percentual de intenção de votos. 
Essa é a interpretação que já se extraía da legislação eleitoral antes da 
minirreforma de 2015 e que deve permanecer possível diante do atual cenário 
normativo. 
Basta que se confira interpretação conforme à Constituição à nova 
redação do art. 46, § 5º, da Lei 9.504/1997, dada pela Lei 13.165/2015, no 
sentido de somente possibilitar que dois terços dos “candidatos aptos” 
acrescentem novos participantes ao debate – candidatos que não tenham esse 
direito assegurado por lei nem tenham sido previamente convidados pela 
emissora. 
Além disso, a autonomia da empresa de rádio ou televisão relativamente 
à convocação de candidatos não enquadrados no critério do caput do art. 46 
deve observar critérios objetivos que atendam aos princípios da imparcialidade 
e da isonomia e o direito à informação, a serem fixados pelo TSE. 
Lei 9.504/1997: 
Art. 46. Independentemente da veiculação de propaganda eleitoral gratuita no 
horário definido nesta Lei, é facultada a transmissão por emissora de rádio ou 
 
 
 
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40 
televisão de debates sobre as eleições majoritária ou proporcional, assegurada 
a participação de candidatos dos partidos com representação no Congresso 
Nacional, de, no mínimo, cinco parlamentares, e facultada a dos demais, 
observado o seguinte: 
(...) § 5º Para os debates que se realizarem no primeiro turno das eleições, serão 
consideradas aprovadas as regras, inclusive as que definam o número de 
participantes, que obtiverem a concordância de pelo menos 2/3 (dois terços) dos 
candidatos aptos, no caso de eleição majoritária, e de pelo menos 2/3 (dois 
terços) dos partidos ou coligações com candidatos aptos, no caso de eleição 
proporcional. 
São constitucionais os incisos I e II do § 2º do art. 47 da Lei 9.504/19971, 
que disciplinam a distribuição dos horários reservados à propaganda eleitoral 
gratuita nas emissoras de rádio e de televisão e nos canais de televisão por 
assinatura. 
Os incisos I e II do § 2º do art. 47 da Lei 9.504/1997, em consonância com 
a cláusula democrática e com o sistema proporcional, estabelecem regra de 
equidade, resguardando o direito de acesso à propaganda eleitoral das minorias 
partidárias e pondo em situação de benefício não odioso aquelas agremiações 
mais lastreadas na legitimidade popular. 
Ademais, ao editar os referidos dispositivos, o legislador se ateve a um 
padrão equitativode isonomia, ponderando os aspectos formal e material do 
princípio da igualdade. Não há que se falar em igualdade material entre 
agremiações partidárias que contam com representantes na Câmara Federal e 
legendas que, submetidas ao voto popular, não lograram eleger representantes 
para a Câmara dos Deputados. Assim, não se pode exigir tratamento 
absolutamente igualitário entre esses partidos, porque eles não são 
materialmente iguais, quer do ponto de vista jurídico, quer da representação 
política que têm. Embora iguais no plano da legalidade, não são iguais quanto à 
 
 
 
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41 
legitimidade política. Apesar disso, é certo que a legislação não pode instituir 
mecanismos que, na prática, excluam das legendas menores a possibilidade de 
crescimento e de consolidação no contexto eleitoral, devendo ser assegurado 
um mínimo razoável de espaço para que esses partidos possam participar e 
influenciar no pleito eleitoral, propiciando, inclusive, a renovação dos quadros 
políticos. Dessa perspectiva, o tempo outorgado proporcionalmente à 
representatividade, embora dividido de forma distinta entre as agremiações, não 
nulifica a participação de nenhuma legenda concorrente. 
Por outro lado, o critério de divisão adotado – proporcionalidade da 
representação na Câmara dos Deputados – guarda estreita relação com a 
finalidade colimada pela representatividade proporcional. 
Assim, dado que a Câmara dos Deputados é a Casa Legislativa de 
representação do povo, pode a eleição de seus membros servir de critério de 
aferição, tanto quanto possível, da legitimidade popular, sendo legítimo 
pressupor que a representatividade de seus membros se apresenta como 
medida adequada e razoável para a divisão do tempo de acesso ao rádio e à 
televisão. Igualmente, o legislador andou bem ao estabelecer critérios distintos 
para o cálculo da representatividade das coligações formadas para as eleições 
majoritárias e proporcionais, para efeito de distribuição do tempo de propaganda 
eleitoral gratuita, considerando, no caso de coligações para eleições 
majoritárias, somente os seis maiores partidos que as compõem. Isso porque é 
próprio do sistema eleitoral majoritário refletir as correntes majoritárias da 
sociedade. 
O critério adotado mostra-se, ademais, tributário da própria essência 
desse sistema eleitoral, que é considerar as correntes políticas da maioria. 
De todo modo, tal perspectiva contribuirá para que se elimine a prática, tão 
comum no Brasil, de as legendas mais expressivas, ao lançar candidatos às 
eleições majoritárias, coligarem-se com inúmeros partidos pequenos, com o 
 
 
 
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único objetivo de obter maior tempo de propaganda eleitoral gratuita no rádio e 
na TV. 
É constitucional a expressão “superior a nove deputados” constante do 
caput do art. 46 da Lei 9.504/19973, na redação dada pela Lei 13.165/2015, que 
assegura a participação de candidatos dos partidos com representação superior 
a nove deputados em debates eleitorais transmitidos por emissoras de rádio ou 
televisão. 
O legislador, ao conferir nova redação ao caput do art. 46 da Lei 
9.504/1997, estabeleceu critério razoável de aferição da representatividade e da 
expressividade do partido político para efeito de assegurar a participação de 
seus candidatos nos debates eleitorais. 
Em realidade, o direito de participação em debates eleitorais – 
diferentemente da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão – não 
tem assento constitucional e pode sofrer restrição maior, em razão do formato e 
do objetivo desse tipo de programação. 
Sendo assim, trata-se de espaço naturalmente restrito, no qual, no 
entanto, deve haver a exposição e o confronto de ideias com densidade tal que 
promova no eleitor maior esclarecimento a respeito das ideias e das propostas 
dos candidatos e das diferenças entre essas. Munido de tais informações, o 
eleitor realiza o cotejo entre elas, podendo, assim, escolher de forma mais 
consciente em quem votará. 
Nesse cenário, o critério seletivo adotado pela norma impugnada quanto 
aos partidos políticos que terão assegurado o direito de seus candidatos 
participarem dos debates eleitorais poderá, até mesmo, contribuir para a redução 
da excessiva pulverização dos debates eleitorais. 
Por óbvio, ao prever o critério de representação superior a nove 
deputados, o dispositivo em questão não obstou a participação nos debates de 
 
 
 
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partidos políticos com menor representatividade, a qual ainda é facultada, 
estando a critério das emissoras de rádio e televisão. 
É constitucional a redação dada pela Lei 13.165/2015 ao art. 46 da Lei 
9.504/19974, o qual assegura a participação de candidatos dos partidos com 
representação superior a nove deputados em debates eleitorais transmitidos por 
emissoras de rádio ou televisão, não implicando em afronta à anterioridade 
eleitoral a sua incidência nas eleições realizadas no ano de 2016. 
Encontra amparo no texto da Constituição norma jurídica que contenha 
desigualação não odiosa, como na espécie, em que o fator de discrímen – a 
observância da proporcionalidade à representação – justifica elevar o patamar 
mínimo de representação na Câmara dos Deputados, para fins de assegurar a 
participação em debates eleitorais. 
Outrossim, ao entrar em vigor a Lei 13.165/2015, nos termos do seu 
art. 14, na data de sua publicação – em 29-9-2015 –, forçoso concluir 
ter sido observado o lapso temporal prévio de um ano exigido pela 
Constituição Federal (CF), dado que as eleições de 2016 foram 
marcadas para o dia 2-10-2016 (Lei 9.504/1997, art. 1º, caput). 
A exigência constitucional da anterioridade da lei eleitoral consubstancia 
marco temporal objetivo, que tem por escopo impedir mudanças abruptas na 
legislação eleitoral, como forma de assegurar o direito das minorias, em 
particular a paridade de armas na disputa eleitoral. Se, por um lado, o referido 
princípio obsta que eventual maioria parlamentar altere, no período de um ano 
que antecede as eleições, as regras que lhes serão aplicáveis; por outro, informa 
exatamente que as regras do processo eleitoral podem, sim, sofrer alterações 
pelo legislador, desde que respeitada a ressalva constitucional. 
Lei 9.504/1997: 
 
 
 
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44 
Art. 47. (...) § 2º Os horários reservados à propaganda de cada eleição, nos 
termos do § 1º, serão distribuídos entre todos os partidos e coligações que 
tenham candidato, observados os seguintes critérios: 
I – 90% (noventa por cento) distribuídos proporcionalmente ao número de 
representantes na Câmara dos Deputados, considerados, no caso de coligação 
para eleições majoritárias, o resultado da soma do número de representantes 
dos seis maiores partidos que a integrem e, nos casos de coligações para 
eleições proporcionais, o resultado da soma do número de representantes de 
todos os partidos que a integrem; 
II – 10% (dez por cento) distribuídos igualitariamente. 
Lei 9.504/1997: 
Art. 46. Independentemente da veiculação de propaganda eleitoral gratuita no 
horário definido nesta Lei, é facultada a transmissão por emissora de rádio ou 
televisão de debates sobre as eleições majoritária ou proporcional, assegurada 
a participação de candidatos dos partidos com representação no Congresso 
Nacional, de, no mínimo, cinco parlamentares, e facultada a dos demais, 
observado o seguinte: idem. 
CF/1988: 
Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua 
publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua 
vigência. 
Deparamos-nos constantemente com escândalos de corrupção em todos 
os setores da Administração Pública, inclusive atingindo gravemente o Poder 
mais sensível, que é o Judiciário - já que este tem por missão garantir a aplicação 
da

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