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AULA 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ESPAÇO GEOGRÁFICO, 
ECONOMIA E COMÉRCIO 
INTERNACIONAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Rodolfo dos Santos Silva 
 
 
 
2 
INTRODUÇÃO 
Esta disciplina tem como objetivo estudar o espaço geográfico e as formas 
como o ser humano se apropria dos recursos disponíveis, de forma espontânea 
ou planejada, com base nos mecanismos de exploração com maior ou menor 
racionalidade, interferindo nas formas encontradas na natureza e se apropriando 
dos diferentes saberes, de forma a modificar os espaços conforme seus 
interesses, sejam eles institucionais, culturais, econômicos ou sociais. Serão 
apresentadas as bases teóricas do conhecimento geográfico e os fundamentos 
teóricos da economia. São duas ciências distintas que se complementam na 
análise do sistema econômico e geográfico, o qual se intensifica na complexidade 
da política, do espaço, do comércio e do mundo dos negócios. 
Atualmente, análises da realidade utilizando-se de instrumentos 
disponibilizados pela economia e pela geografia têm contribuído para apontar as 
constantes dificuldades econômicas, políticas e sociais vivenciadas pelas 
populações em diferentes espaços geográficos do mundo. As análises são 
realizadas com base no momento atual, porém não deixando de levar em 
consideração a formação econômica, geográfica e sócio-histórica dos países. 
Nesta aula, apresenta-se uma conceituação teórica básica da geografia, tendo 
como referencial teórico alguns de seus maiores expoentes. Depois, são 
apresentados os fundamentos econômicos tendo como base as escolas do 
pensamento econômico e as contribuições de seus principais economistas. 
O objetivo desta aula é conduzi-lo(a), por meio de uma linha histórica-
geográfica, aos principais conflitos econômicos e sua relação com a geografia e a 
política. Os descobrimentos, o aperfeiçoamento das técnicas e o desenvolvimento 
das tecnologias vão implicar na ampliação da produção, na busca por novos 
espaços de fontes de matérias-primas e de mercados consumidores, 
intensificando a luta pela dominação de territórios que possam garantir maiores 
vantagens aos Estados e ao capital. 
TEMA 1 – BASE TEÓRICA DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO 
A geografia e a economia são fundamentadas em conhecimentos 
científicos que vêm desde a Antiguidade, evoluíram com o tempo e continuam seu 
processo de transformação com a introdução de novos conhecimentos adquiridos 
junto às novas realidades e conjunturas existentes. Ambas as ciências tornaram-
 
 
3 
se mais específicas a partir do século XVIII, com a expansão colonial europeia e 
o desenvolvimento da industrialização. Ao lecionar geografia na Universidade 
Konigsberg, na Prússia Oriental, Immanuel Kant (1724-1824), filósofo prussiano, 
teve como seu seguidor mais entusiasta o geólogo e botânico Alexandre von 
Humboldt (1769-1859). 
Humboldt desenvolveu estudos sobre as paisagens e descreveu com 
precisão muitos espaços geográficos e ambientes naturais, antes desconhecidos 
pela academia científica e pelos povos da Europa. Karl Ritter (1770-1859), em sua 
Geografia comparada, propôs o estudo geográfico dos lugares, uma relação entre 
o indivíduo e sua localização geográfica. Friedrich Hatzel (1844-1904), 
influenciado pelas ideias darwinistas, propagou conceitos de que o ser humano 
era produto dos recursos proporcionados pelo ambiente natural e, quanto mais 
explorasse tais recursos, maior seria sua chance de progredir. Ao afirmar a 
relação entre espaço geográfico e poder, Ratzel proporcionou a base teórica 
utilizada para a legitimação da expansão do Império Alemão. As teorias 
desenvolvidas por Hatzel forneceram ao campo da geografia um leque de estudos 
sobre o ser humano e sua relação com o território. 
 Desenvolvida no contexto de pós-guerra franco/prussiana e da Comuna 
de Paris, a escola francesa tem em Paul Vidal de La Blache (1845-1918) um dos 
maiores opositores às teorias desenvolvidas por Hatzel. La Blache, responsável 
por embasar teoricamente a geografia clássica francesa, desenvolveu o 
possibilismo, que entendia que a natureza não determinava o comportamento do 
ser humano e o ser humano não dominava a natureza. Contudo, a natureza 
oferecia ao ser humano os recursos necessários para transformá-la. Para esse 
autor, o ser humano ocupou diversos pontos da superfície terrestre e, onde 
esteve, adaptou-se utilizando habilidades e técnicas para explorar os recursos 
ambientais existentes. No desenvolvimento de seus estudos, La Blache promoveu 
a necessidade de levantar os recursos humanos, os recursos econômicos e os 
recursos naturais para exploração de cada região. 
 Lacoste (2008) afirma que a geografia não serve apenas como disciplina 
escolar, sem pretensões políticas ou econômicas, em que simplesmente 
professores ensinam e alunos aprendem sobre as capitais dos países, regiões, 
relevos, clima e vegetação. A geografia é um forte instrumento científico e 
epistemologicamente ligado ao conhecimento, unindo práticas e estratégias de 
controle e de manutenção de poder. Ela é necessária a todos aqueles que mantêm 
 
 
4 
em seu controle o aparelho estatal, “pois a Geografia serve, em princípio, para 
fazer a guerra” (Lacoste, 2008, p. 22). 
TEMA 2 – FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA ECONOMIA 
 A economia, como a maioria das ciências, tem sua base na Grécia Antiga, 
mas é a partir do século XVI, com as escolas mercantilistas e fisiocratas que suas 
grandes linhas são traçadas. A economia moderna tem suas raízes em Adam 
Smith (1723-1790), com a divisão do trabalho e o liberalismo econômico. 
Defendendo o laissez faire, laissez passer, esse economista escocês alcançou 
notoriedade ao publicar em 1776, A riqueza das nações: investigação sobre a sua 
natureza e suas causas. Na obra, o autor lança os alicerces do liberalismo 
econômico ao defender a não intervenção do Estado no mundo dos negócios, 
destacando a existência de uma mão invisível, conduzida por interesses 
individuais, que seria a responsável por levar a sociedade a colher os resultados 
de uma economia que promoveria o bem-estar de toda a coletividade. 
 Outro grande nome da economia foi David Ricardo (1772-1823), que 
baseou a sua teoria na análise da produção, distribuição e tributação do produto. 
Esse autor, ao analisar os custos da produção agrícola, formulou teorias sobre os 
problemas econômicos, de como os resultados do processo produtivo são 
distribuídos de forma diferenciada entre as classes que compõem a sociedade, e 
afirmou que todos os custos se resumem aos custos do trabalho, dando sua 
contribuição para a teoria do valor do trabalho e da mercadoria. Ricardo também 
contribuiu para a economia internacional por meio de sua Lei dos Custos 
Comparativos ou Teoria das Vantagens Comparativas. No desenvolvimento 
dessa Lei, Ricardo buscou demonstrar que cada país deveria se especializar na 
produção dos bens que possuísse melhor dotação de fatores. Assim, o país 
importaria um produto, mesmo que pudesse produzi-lo, mas o preço de 
importação deveria ser inferior ao preço do produto fabricado internamente. A 
especialização favoreceria os países na troca de bens e serviços com outros 
países. No desenvolvimento de suas teorias, esse autor britânico deu as bases 
necessárias para que Karl Marx (1818-1883) formulasse a sua teoria crítica à 
economia capitalista. 
O economista e filósofo alemão Karl Marx desenvolveu a sua teoria 
fundamentado na crítica ao modo de produção capitalista e em especial aos 
economistas clássicos. Em 1844, publicou Manuscritos econômico-filosóficos, no 
 
 
5 
qual critica os socialistas utópicos por não perceberem o processo de alienação 
capitalista e também os economistas políticos da época, por defenderem o 
processo de exploração e acumulação capitalista. Para Marx, a ansiedade do 
lucro e da acumulação de capital levava o ser humano a viver em uma sociedade 
desumanizadapelo aumento da propriedade privada. Em resposta à teoria do 
valor do trabalho, de Ricardo, Marx escreve a Teoria da Mais-Valia. Se Ricardo 
entendia que era nos custos do trabalho que estava o valor da mercadoria, Marx 
afirma que a riqueza gerada pelo trabalho, valor da mercadoria, está sendo 
acumulada pelo capitalista individualmente e não pelos trabalhadores que a 
produziram. Em 1848, junto de seu amigo Friedrich Engels, escreveu o Manifesto 
Comunista, no qual realizaram uma análise da sociedade por meio do 
materialismo histórico e propuseram a união do proletariado para uma sociedade 
revolucionária igualitária, de transição, do socialismo para o comunismo. 
TEMA 3 – SISTEMAS ECONÔMICOS E SOCIAIS 
 O espaço geográfico é o resultado da ação do ser humano sob determinada 
área da superfície terrestre, ao passo que o sistema econômico é a forma política, 
econômica e social de organização dos seres humanos para produzir os bens e 
serviços de que necessitam, assim como decidem a melhor maneira para 
distribuição e consumo desses bens e serviços, de modo a garantir que 
contemplem toda a sociedade. O capitalismo e o socialismo são as formas de 
organização em sistemas econômicos nos diferentes espaços geográficos da 
superfície terrestre. 
3.1 Do capitalismo liberal ao capitalismo do bem-estar social 
O capitalismo, baseado no sistema de livre mercado, é conduzido de forma 
predominante pela iniciativa das forças de mercado e pelos interesses privados, 
em que há a propriedade dos meios de produção. Defendendo uma intervenção 
mínima do Estado na economia, o liberalismo de Adam Smith e seus seguidores 
formularam as bases de sustentação econômica desse sistema, quem tem no livre 
jogo da oferta e da procura a forma de regulação entre os preços das mercadorias 
e dos salários dos trabalhadores. Nesse sistema, os capitalistas, donos dos meios 
de produção, comércio e bancos, têm como principal objetivo o lucro, ao passo 
 
 
6 
que o trabalhador busca manter sua reprodução por meio dos ganhos salariais 
obtidos. 
No início do século XX, mais precisamente nas décadas de 1920 e 1930, o 
capitalismo passou por crises de produção e consumo, o que acabou levando o 
Estado a intervir diretamente na economia. A partir da década de 1930, surge um 
modelo de capitalismo em que prevalecem as forças de mercado, porém há forte 
presença do Estado nos setores que necessitam de regulação e de investimentos 
em infraestruturas. Existem setores da economia pelos quais os investidores 
privados não se interessam, principalmente por demandarem elevados níveis de 
recursos e muito tempo para se obter o retorno lucrativo. Jonh Maynard Keynes 
(1883-1946), em sua obra Teoria geral do emprego, do juro e da moeda (1936), 
questionou a autorregulação do mercado e sua mão invisível e criticou a crença 
dos liberais de que para toda produção haveria demanda. Keynes defendeu a 
intervenção estatal em uma economia em desequilíbrio, com políticas adequadas 
de investimentos para geração de emprego e renda e incentivos à iniciativa 
privada para promoção da demanda efetiva. É visível nas economias capitalistas, 
ainda que se queira defender o contrário, uma considerável atuação do Estado na 
economia. 
3.2 Do socialismo da URSS ao socialismo chinês 
O sistema econômico socialista tem como característica a centralização 
das decisões por parte de um órgão central de planejamento estatal. Nesse 
sistema, existe uma predominância da propriedade coletiva dos meios de 
produção. Surgido com base no socialismo científico marxista, esse sistema 
econômico foi implantado primeiramente em 1917, com o surgimento da União 
das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Após a Segunda Guerra Mundial, 
com a divisão espacial da superfície terrestre em dois grandes blocos 
econômicos, um socialista e outro capitalista, países como China, Cuba e Coreia 
do Norte se tornaram socialistas. Com a queda do muro de Berlim (1989) e a 
desintegração da URSS (1992), muitos países socialistas se tornaram adeptos do 
chamado socialismo de mercado. Neste modelo de economia socialista, há uma 
abertura para que as grandes multinacionais e o capital privado internacional 
também possam atuar em países socialistas, mas com certo controle estatal, 
como vem ocorrendo atualmente na China. 
 
 
7 
TEMA 4 – O ESTADO E SUA ORGANIZAÇÃO ESPACIAL 
Os Estados se dão em torno de um território, onde vive determinada 
população que busca extrair dele todos os recursos para sua sobrevivência. Com 
base em normas, regras e leis, essa população vive sob um regime de governo. 
Os regimes de governo, de acordo com Mallmann, Balestrin e Silva (2017), podem 
ser divididos em monarquias, quando poder é exercido por um soberano por meio 
de cargo vitalício e hereditário, e repúblicas, quando o poder é exercido por um 
chefe de Estado eleito para esse fim por um período de tempo preestabelecido. 
Atualmente, poucos são os países no mundo regidos por monarquias. Existem 
diferentes maneiras de se escolher o chefe de Estado nas repúblicas. Em alguns 
países, a população escolhe democraticamente seus governantes com 
diversificações na participação política. Em outros, os governantes são impostos 
à população por meio de golpes de Estado, sem o direito de escolha, como ocorre 
nos regimes ditatoriais e totalitários. 
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), até o início da 
Primeira Guerra Mundial, existiam pouco mais de 50 países. Atualmente, são mais 
de 193 países separados por fronteiras territoriais. Há ainda alguns territórios em 
disputas e outros que não são reconhecidos pelos membros da organização. 
Figura 1 – Divisão territorial dos países 
 
Créditos: Frees/Shutterstock. 
 
 
 
8 
Essa configuração espacial foi se desenvolvendo historicamente não de 
forma harmoniosa, mas depois de muitos conflitos. Há mais de 4.000 anos, muitos 
povos já organizavam seus territórios por meio de um Estado, com hierarquia 
social, e espaços que se configuravam, apesar de suas complexidades, em 
verdadeiras cidades. Foi o desenvolvimento de espaços de cultivos e colheitas, 
realizados por determinados grupos de pessoas, que proporcionaram o 
abastecimento da urbanidade. É na cidade que diferentes ofícios puderam ser 
exercidos, como o de sacerdote, soldado, comerciante, legislador, construtor de 
templos e edifícios, entre tantos outros. 
Tudo isso favoreceu com que alguns pudessem planejar, adquirir 
conhecimentos e escrever. A evolução da escrita impulsionou o surgimento de 
novas civilizações, tornando mais fácil a comunicação e a divulgação de novas 
maneiras de fazer as coisas entre os povos. Dos conquistadores gregos aos 
romanos, dos chineses aos hindus, surgem novas formas de administração da 
vida em sociedade. Neste contexto, as cidades-Estado gregas serviram como 
base essencial de organização política, com a inserção de preceitos democráticos 
e de conceitos culturais, religiosos e filosóficos. 
A ampliação das rotas de comércio, com as facilidades geradas pelas 
inovações tecnológicas da navegação e dos transportes terrestres, favoreceu o 
deslocamento de grandes contingentes populacionais por diversos espaços da 
superfície terrestre, intercambiando costumes, formas de organização, de 
produção e de comercialização. Também favoreceu os desbravadores, 
conquistadores e colonizadores, que na maioria das vezes utilizando-se de suas 
estratégias e poderio militar, e de forma violenta, impuseram aos conquistados 
seus interesses e valores. Neste contexto de guerras e conquistas grandes 
impérios foram formados. 
Durante a Idade Média (500-1500 d.C.), após a desintegração do Império 
Romano, a fragmentação dos territórios em diversos reinados consolidou a 
possessão daqueles que se consideravam povos civilizados, e dos outros povos, 
que eram percebidos como bárbaros. Também os espaços foram divididos 
religiosamente sob apredominância do cristianismo e do islamismo. As disputas 
por territórios entre árabes, cristãos e turcos promoveram modificações 
substanciais nas cidades, dadas as dinâmicas de estruturação em sua 
organização, que se conformavam de acordo com alterações promovidas por 
esses povos no poder. Lefebvre (2013) afirma que as cidades surgiram muito 
 
 
9 
antes desse período, mas, na Idade Média, era a Terra o grande laboratório dos 
seres humanos. Foi só a partir da industrialização que a cidade passa a ter essa 
função. 
De acordo com Mallmann, Balestrin e Silva (2017), as grandes descobertas 
dos séculos XV, XVI e XVII foram fundamentais para todos os campos, não 
apenas o geográfico, o econômico, o cultural e o religioso, mas também para o 
desenvolvimento tecnológico, político e científico. Houve nesse período o 
surgimento do Estado moderno, que representou a divisão dos territórios em 
determinado espaço geográfico, unindo povo, território e governo. Para tais 
autores, o Renascimento deu sua contribuição para questionamentos acerca da 
prevalência do poder religioso sobre o laico, e abriu espaços para que as línguas 
dos diferentes povos pudessem fortalecer seus laços e impulsionassem o 
surgimento de novos Estados. No absolutismo, as decisões estavam 
centralizadas nas mãos de um soberano, que concentrava o poder e os desejos 
das camadas sociais, não tão díspares quanto as que surgirão com o capitalismo 
industrial, porém interessado em melhorar suas condições de vida. 
No entendimento de Hobsbawm (2002), o modelo de Estado vivenciado em 
algumas partes da Europa não existia na maior parte do mundo não desenvolvido. 
Muitos territórios eram colônias das grandes nações europeias e pouquíssimos 
podiam ser percebidos como Estado-nação. Na África e na Ásia, as unidades 
políticas existentes não poderiam ser vistas como um Estado, dada as suas 
organizações bastante distintas em relação às da Europa. Impérios muito antigos, 
como os da China, dos otomanos e da Pérsia, possuíam organizações sem 
paralelos aos modelos europeus do século XIX. Para o autor, Estados como os 
dos impérios czaristas (Rússia) e Habsburgo (Austro-Húngaro) eram Estados 
imperialistas obsoletos como modelos de Estados, mas, devido ao status que 
possuíam como forças imperiais, se faziam presentes no mundo “desenvolvido”. 
A queda da monarquia francesa e a ascensão da dinastia napoleônica na 
França colocaram esse país no caminho da industrialização ainda na primeira 
metade do século XX, mas foi na outra metade, com Napoleão III, que o país 
entrou na modernidade da industrialização burguesa. Na guerra contra a Prússia, 
a França perdeu parte de seu território (Alsácia e Lorena) e sua relação com o 
comércio internacional. A Guerra Franco-Prussiana unificou os povos de língua 
germânica e deu à Prússia, comandada por Otton Von Bismark (1815-1898), a 
possibilidade de criar um grande império alemão (1871-1818). O crescimento da 
 
 
10 
Alemanha, como nação próspera e industrial, gerou concorrência e a ameaça de 
um conflito eminente – o que acabou tornando-se uma realidade com a Primeira 
Grande Guerra Mundial. 
O conflito ocasionado pelas contradições do modo de produção capitalista 
envolveu disputas territoriais, crises de consumo e de produção, e divergências 
entre trabalhadores e classes capitalistas, que eram responsáveis pela produção 
e pelo comércio, mas viviam realidades opostas. De um lado, os que conviviam 
em ambientes de misérias, e de outro, os que conviviam em ambientes de fartura 
e privilégios. Tudo isso impactou um modelo de capitalismo liberal que não soube 
responder à intensificação do conflito que já se anunciava. De acordo com Aquino 
et al. (1997), esse modelo de capitalismo era concentrado na Europa, que 
mantinha o predomínio econômico e político sobre o restante do mundo. Apesar 
de Japão e Estados Unidos já terem se tornado importantes militar e 
comercialmente, ainda assim prevalecia a dominância dos países europeus. Para 
esses autores, a Europa de 1914 era organizada desigualmente, pois “dos 23 
Estados europeus, 20 eram monarquias e só França, Suíça e Portugal eram 
repúblicas. Predominavam regimes políticos constitucionais, mas o 
parlamentarismo, forma típica do liberalismo político, limitava-se à Grã-Bretanha, 
Bélgica e França” (Aquino et al., 1997, p. 237). 
A corrida armamentista proporcionou uma Tríplice Aliança (Alemanha, 
Áustria-Hungria e Itália), e a Tríplice Entente (Inglaterra, França e Rússia) não 
suportou uma paz armada, dando início a uma intensa batalha por territórios em 
âmbito mundial. 1917, conforme Aquino et al. (1997), foi um ano decisivo para o 
final da Primeira Guerra, pois os Estados Unidos entraram no conflito ao lado da 
Tríplice Entente. A Rússia saiu do conflito após a queda da monarquia czarista e 
a chegada dos bolcheviques ao poder. Com o fim da guerra, em 1919, a geografia 
política e territorial mundial se alterou. 
 
 
 
11 
Figura 2 – Alteração na geografia política e territorial mundial 
 
Crédito: João Miguel A. Moreira. 
Entre 1918 e 1921, o processo de consolidação da URSS passou por 
problemas sociais, econômicos e políticos. Os soviéticos criaram o Exército 
Vermelho e a Polícia Política e também desfizeram as relações existentes entre 
Igreja e Estado. Estabeleceram o fim da grande propriedade fundiária, 
promoveram mudanças no modo de produção – no qual as fábricas passaram a 
ser controladas por comitês operários –, estatizaram bancos, estradas de ferros e 
diversas outras empresas. Na assinatura do tratado de paz com a Alemanha, em 
março de 1918, as concessões feitas pela Rússia fizeram com que ela perdesse 
boa parte de seu território e grandes riquezas minerais. Todas essas medidas 
proporcionaram reações imediatas da burguesia capitalista local e de seus 
aliados, que a todo custo tentaram derrubar do poder os bolcheviques. Contando 
com o apoio de tropas estrangeiras, antigos mandantes czaristas não obtiveram 
êxito contra as estratégias do bolchevismo e acabaram sendo derrotados e 
expulsos do país. O socialismo como sistema econômico prevaleceu na Rússia, 
com a consolidação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, em 1922. 
Após a Primeira Guerra Mundial, o liberalismo econômico, que havia 
superado o modelo imperialista de governar, recebeu um duro golpe com a grande 
crise provocada pelo pós-guerra e pela Revolução Russa de 1917, dando vez ao 
surgimento de novas formas de governo e de sistemas econômicos. As crises 
econômicas e políticas que afundaram o capitalismo a partir da década de 1920 
impuseram aos Estados a necessidade de reorganizar e reestruturar suas 
 
 
12 
economias. A fuga do Imperador Guilherme II, quando a Alemanha já estava 
derrotada, acabou por deixar nas mãos de civis a assinatura do tratado de paz, 
em condições totalmente desfavoráveis ao país. A Alemanha, na assinatura do 
Tratado de Versalhes (França), em 29 de junho de 1919, foi severamente 
penalizada, tendo que devolver territórios e colônias antes conquistados, entre 
eles Alsácia e Lorena à França e indenizar os países vencedores do conflito. Além 
disso, a rica região de produção industrial de Sarre, geograficamente estratégica 
para a Alemanha, foi cedida à França, para exploração, por 15 anos. 
Figura 3 – Tratado de Versalhes 
 
Fonte: <http://net.lib.byu.edu/~rdh7/wwi/versa/vmap3.gif>. Acesso em: 4 jun 2019. 
A Alemanha do pós-guerra, já dentro de um novo modelo de Estado, que 
ficou conhecido como República de Weimar, em um primeiro momento foi mantida 
com certo isolamento, principalmente pela intransigência francesa, que queria o 
seu enfraquecimento. A necessidade de arcar com tais custos fez com que a 
Alemanha passasse por uma crise econômica sem precedentes, com uma das 
maiores inflações percebidas até hoje. Conforme Vasconcellos (2012), nessa 
hiperinflação, um dólar americano chegoua valer 4.000.000.000.000 de marcos 
alemães. O período foi marcado por inúmeras manifestações e levantes 
oposicionistas, além do surgimento de partidos que vão do comunismo ao de 
extrema direita, condenando, internamente, as imposições sofridas pela 
Alemanha por meio do tratado. Esse isolamento provocou a aproximação da 
 
 
13 
Alemanha ao socialismo da URSS, e os EUA, percebendo isso, acabaram por 
manter fortes relações econômicas com os alemães, não aceitando cumprir e nem 
assinar as restrições econômicas estabelecidas pelo Tratado de Versalhes. 
O fim da Primeira Guerra Mundial proporcionou o desmembramento de 
territórios e o surgimento de diversos países (Tchecoslováquia, Polônia, Hungria, 
Iugoslávia, entre outros), e mobilizou os Estados a se prepararem para o 
enfrentamento de conflitos internos e uma futura nova guerra de proporções 
geográficas ainda maiores. A partir da década de 1920, as dificuldades de 
reestruturação foram muitas, e países como França e Inglaterra, antes potências 
econômicas, passavam por dificuldades para financiar a reconstrução de seus 
territórios. Enquanto isso, Itália e Alemanha viam crescer em seus domínios 
discursos de descontentamentos com as formas de governo, criando espaços 
para o aparecimento de partidos políticos de tendências nacionalistas e fascistas. 
Foi nesse contexto que surgiu o Partido Nazista, na Alemanha. 
Enquanto os países europeus buscavam se recuperar das ruínas 
ocasionadas pela máquina de destruição de seus inimigos, os Estados Unidos 
viam sua indústria crescer com o fornecimento de material bélico e para a 
reconstrução e recuperação desses países. No final da década, o mundo passou 
a enfrentar uma grande crise econômica. Primeiro, a evolução nos métodos e nas 
técnicas produtivas, em seguida, a concentração de poucas e grandes indústrias 
com alto padrão de desenvolvimento tecnológico e grande capacidade produção, 
dando origem aos cartéis e trustes. Essa concentração foi predatória para as 
pequenas e médias indústrias e também para milhões de empregos. Isso afetou 
os negócios e ocasionou um dos maiores problemas para o mundo capitalista, a 
quebra da Bolsa de Valores de Nova York. Como consequência, surgiu uma nova 
composição geográfica e nova natureza do comércio internacional. 
TEMA 5 – A NOVA COMPOSIÇÃO GEOGRÁFICA E A NATUREZA DO 
COMÉRCIO INTERNACIONAL 
O fechamento das vagas no mercado de trabalho, em decorrência da 
falência de inúmeras empresas, ocasionou queda no consumo e desaquecimento 
na economia. O liberalismo de mercado, pregado por Adam Smith e seus 
seguidores, entre eles o presidente norte-americano Herbert Hoover, fizeram crer 
que a ampliação do volume de estoque e o aumento da produção gerariam novas 
demandas, aumentando o fluxo de renda da economia. Essa crença na condução 
 
 
14 
natural do mercado, inclusive do mercado internacional, e as facilidades para 
aquisição de ações no mercado financeiro levaram a economia americana a uma 
grande euforia, elevando o valor e a quantidade de ações ofertadas na Bolsa de 
Valores de Nova York. Porém, em 24 de outubro de 1929, a bolsa quebrou, e junto 
dela a economia norte-americana, impactando todas as economias mundiais. 
Os EUA, a partir da introdução de novas formas de produção, tecnologia e 
um grande contingente de imigrantes, com inversões de muitos recursos 
financeiros, se tornaram a grande potência econômica entre o final do século XIX 
e início do século XX. O desenvolvimento da agricultura, com a introdução de 
técnicas de plantio e aumento das áreas plantadas, e os investimentos estatais 
em estradas e ferrovias, com meios de transportes para escoar a produção ligando 
as diversas regiões às grandes cidades do país, possibilitaram o desenvolvimento 
urbano e industrial, além de tornar o país um dos maiores produtores agrícolas do 
mundo e impulsionar suas exportações. Conforme Souza (2005, p. 39) “Entre 
1910/1920, as exportações norte-americanas cresceram 372% e as importações 
239%. Durante os anos de 1920, a economia norte-americana cresceu 54%, 
contra 25% na década anterior”. 
Poucos meses antes da crise de 1929, a economia americana parecia estar 
no certo do liberalismo econômico, conforme previa a Lei de Say, para toda oferta 
haveria demanda. O presidente norte-americano Herbert Hoover entendia que o 
Estado não deveria se preocupar com o mercado, responsável por sua própria 
autorregulação. As ações na Bolsa de Valores disparavam em função das 
facilidades encontradas para o seu financiamento e de sua popularização. O 
crescimento da produção também gerava expectativa sobre as possibilidades de 
lucros que essas empresas aufeririam no futuro, gerando grande especulação 
sobre o valor de suas ações. Quase tudo levava à crença de que os ganhos seriam 
fáceis e de que prosperidade não teria fim. A corrida para a prosperidade gerava 
um grau de confiança em boa parte dos americanos, que apostavam com 
veemência nos “loucos anos vinte” (roaring twenties). 
Em 23 de outubro de 1929, teve início o período que ficou conhecido como 
o “Crash de Wall Street”, quando as ações da General Motors (GM) foram 
colocadas à venda com quedas em seus valores em relação aos preços ofertados 
em dias anteriores. Daí para frente, o sonho americano de enriquecimento e 
prosperidade tornou-se um pesadelo. Na Quinta-Feira Negra, nome pelo qual 
ficou conhecido o dia 24 de outubro de 1929, milhões de ações foram colocadas 
 
 
15 
à venda com sérias consequências não só para os investidores mas para toda a 
economia americana. A recessão atingiu globalmente a economia, arrastando os 
diversos países interdependes do sistema capitalista, e o mundo conheceu uma 
crise que envolveu o setor agrícola, industrial e comercial, resultando na grande 
depressão do século XX. 
Saiba mais 
Veja o filme Os loucos anos 20, sobre a crise de 1929: 
<https://www.youtube.com/watch?v=kKvmKVstkXc>. 
Para a proteger suas economias da grande depressão, muitos países se 
fecharam em Estados autoritários e totalitários. Os EUA, em 1932, elegeram um 
democrata em substituição aos políticos liberais anteriores que acreditavam 
fortemente nas leis de mercado como aquelas que colocariam a economia de volta 
ao caminho do crescimento e da prosperidade. A crise havia se tornado um grande 
problema político para os governantes. A população acreditava que a saída 
poderia vir do próprio Estado, e políticos como Franklin Dellano Roosevelt (EUA), 
Getúlio Vargas (Brasil), Benito Mussolini (Itália), Francisco Franco (Espanha), 
Antônio Salazar (Portugal) e Adolf Hitler (Alemanha) também. Cada um ao seu 
modo buscou enfrentar a crise do capitalismo. 
Nos EUA, Franklin Dellano Roosevelt assumiu o governo em substituição 
ao seu compatriota republicano Hebert Hoover, e conclamou as empresas e os 
trabalhadores para um novo acordo (New Deal). O New Deal passou a representar 
a solução para o futuro da economia americana. Por meio de uma política baseada 
em programas sociais e econômicos, Roosevelt implementou medidas para 
combater o desemprego, distribuir renda, sobretaxar as grandes fortunas e facilitar 
o consumo ao ampliar o crédito e controlar a taxa de juros. Com o New Deal, o 
Estado passou a coordenar as ações da economia americana, com fortes 
inversões públicas em bancos e na iniciativa privada para garantir a produção e o 
consumo. Os gastos públicos e os investimentos em grandes projetos estatais 
deram aos programas de Roosevelt forte aceitação popular e conotação de bem-
estar social, o que o levou a ser o único presidente eleito nos EUA por quatro 
mandatos consecutivos. 
No Brasil, Getúlio Vargas assumiu o governo do país em 1930 e implantou 
uma ditadura até 1945. Entre suas ações governamentais estão a criação de 
políticas votadas à normatização do trabalho e do controle estatal da economia. 
 
 
16 
Durante o período da grande depressão, ogoverno brasileiro adquiriu milhões de 
toneladas de café dos grandes produtores nacionais e mandou queimá-las para 
manter o preço do produto no mercado internacional. Teve como principais 
parceiros econômicos durante a década de 1930 os governos da Itália e da 
Alemanha, chegando a deixar dúvidas sobre de que lado o Brasil se posicionaria 
durante o confronto da Segunda Guerra Mundial. Uma forte pressão americana, 
com promessas de apoio ao projeto de industrialização e de transferências de 
tecnologias em diversos setores, inclusive de apoio militar, fez com que Getúlio 
se posicionasse ao lados dos aliados na guerra. 
Houve mudança significativa no comércio internacional a partir da década 
de 1930, e a maioria dos países passou a buscar uma reestruturação política e 
econômica. De modelo hegemônico internacional, a Europa perdeu espaços para 
as economias americana e japonesa, e afundou-se em problemas econômicos e 
sociais, com disputas internas entre as diversas tendências políticas que 
buscavam propor formas de reconstrução dos países, sejam por vias do 
socialismo, do liberalismo ou do conservadorismo. Assim, grupos radicais 
conservadores, que combatiam as ideias liberais e o socialismo, por medo de 
aproximação com os soviéticos, chegaram ao poder em alguns países. Esses 
grupos conservadores pregavam a instalação de modelos de economia e política 
de agressividade centralizadora, confiscadora e de controle ditatorial. Os modelos, 
defendidos por grupos de extrema direita, passaram a exacerbar o nacionalismo, 
a pregar o racismo, o antiliberalismo, a intolerância aos socialistas e comunistas 
e também aos grandes grupos econômicos e empresas monopolistas 
internacionais. Foi assim que o fascismo se firmou como modelo político e 
econômico na Itália e o nazismo se configurou na Alemanha. 
Na Itália, com a Marcha sobre Roma, realizada em 1922, o fascismo 
chegou ao poder com Benito Mussolini. Os fascistas culpavam os comunistas, 
socialistas e liberais pela crise econômica e social vivenciada pela Itália e, 
também, por não darem a ela o merecido retorno pelo envolvimento na Primeira 
Guerra Mundial. Com propostas de enfrentamento da crise por meio de decisões 
políticas ditatoriais, Mussolini se tornou o “Duce”, inclusive com a permissão dos 
membros da Coroa Espanhola para governar por decretos. O Partido Fascista 
punia com rigor seus adversários políticos e mantinha sob ameaças o restante da 
população que pudesse se revoltar. Promulgou leis que mudaram as relações de 
trabalho no país e não mediu esforços para exportar o fascismo a outras nações. 
 
 
17 
O Tratado de Versalhes impôs ao povo alemão condições difíceis de serem 
aceitas, o que ocasionou, além dos problemas econômicos, o surgimento de 
muitos grupos internos que divergiam do acordo assinado pelos liberais e da 
República de Weimar, e pretendiam derrubá-los do poder. Entre esses grupos 
estavam os representantes do Partido Nacional-Socialista, inimigo declarado dos 
marxistas, judeus e estrangeiros. Os liberais não resistiram à crise econômica e, 
aos percalços da grande depressão de 1929, os conflitos internos se 
intensificaram. Em 1932, o Partido Nazista chegou ao poder, e, a partir daí, a 
política econômica e externa da Alemanha mudou. O governo passou a realizar 
obras públicas e a investir pesadamente no setor industrial, principalmente no 
fortalecimento do poderio bélico do país, fortalecendo o capitalismo nacional. 
 
 
 
18 
REFERÊNCIAS 
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às sociedades atuais. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1997. 
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Labur, 2007. 
CASTRO, I. E. de. Geografia e política: território, escalas de ação e instituições. 
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. 
CORRÊA, R. L. Região e organização espacial. São Paulo: Ática, 2000. 
FRANCO JUNIOR, H.; CHACON, P. P. História econômica geral. São Paulo: 
Atlas, 1991. 
GARBOSSA, R. A.; SILVA, R. dos S. O processo de produção do espaço: 
impactos e desafios de uma urbanização. Curitiba: InterSaberes, 2016. 
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2002. 
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14. ed. Campinas: Papirus, 2008. 
LEFEBVRE, H. O direito à cidade. São Paulo: Centauro, 2013. 
MALLMANN, L.; BALESTRIN, N. L.; SILVA, R. dos S. Estado e políticas sociais 
no Brasil: avanços e retrocessos. Curitiba: InterSaberes, 2017. 
SOUZA, N. de J. de. Desenvolvimento econômico. 5. ed. São Paulo: Atlas, 
2005. 
VASCONCELLOS, M. A. S. de. Introdução à macroeconomia. In: PINHO, D. B.; 
TONETO JUNIOR, R.; VASCONCELLOS, M. A. S. Manual de economia. São 
Paulo: Saraiva, 2012. 
 
 
 
AULA 2 
ESPAÇO GEOGRÁFICO, 
ECONOMIA E COMÉRCIO 
INTERNACIONAL 
Prof. Rodolfo dos Santos Silva 
 
 
2 
INTRODUÇÃO 
Tendo em vista que a maior parte da população mundial vive nas cidades, 
as grandes metrópoles despontam como fonte de atrativos para boa parte da 
população que vive longe delas. A cada dia que passa são mais e mais pessoas 
que deixam o campo para buscar nas cidades por melhores condições de viver e 
morar. As transformações econômicas, políticas e sociais contribuem para alterar 
o papel a ser desempenhado pelas metrópoles. Assim como as alterações 
históricas nas estruturas de poder modificaram os papéis dos agentes 
econômicos, dos agentes políticos, das instituições e das grandes corporações, 
as inovações tecnológicas em todos os campos, especialmente no campo da 
informação e da comunicação, tornam possível afirmar que essas inovações são 
diferentes de todas as outras assim como também o é a sua capacidade de 
influenciar e de transformar. 
Atualmente, em todos os continentes, existem os grandes centros de 
aglomeração urbana, que se apresentam como verdadeiras metrópoles, 
constituídas historicamente no espaço geográfico e influenciadas diretamente 
pelo contexto da globalização. Este texto discute a importância da globalização 
na composição da geopolítica do pós-Segunda Guerra Mundial e como isso afetou 
a formação da economia e da política internacional. Na sequência, são 
apresentadas algumas reflexões sobre as teorias utilizadas, como base de 
sustentação do modelo de desenvolvimento capitalista, dentre elas a teoria 
keynesiana e também sobre a ascensão das grandes corporações internacionais. 
O terceiro e o quarto temas trazem como reflexão a globalização sob a roupagem 
do neoliberalismo e a forma como os agentes e os setores da sociedade são 
influenciados por essa nova roupagem. O quinto e último tema destaca as 
transformações morfológicas ocorridas nas metrópoles após a sua inserção em 
contexto de globalização e os novos conteúdos de internacionalização. 
TEMA 1 – A GLOBALIZAÇÃO E A ECONOMIA DO PÓS-GUERRA 
O processo de globalização e internacionalização da economia é um tema 
constante em todas as disciplinas acadêmicas, mas na pós-graduação surge 
como uma necessidade para entender a atual conjuntura econômica e política e 
a forma como geograficamente estão se estruturando os Estados e suas 
economias diante das turbulências constantes dos processos mercadológicos e 
 
 
3 
suas tecnologias. Além disso, as alternâncias de poder e de modelos econômicos 
e políticos em diferentes países tornam mais difícil uma continuidade e 
homogeneidade das políticas de produção, consumo e de comércio exterior 
implementadas. 
No entendimento de Harvey (2005), a globalização surge com o processo 
de expansão das diversas empresas dos países industrializados, por meio da 
destinação de suas plantas industriais para os países do Terceiro Mundo, onde 
estariam mais próximas de um possível mercado consumidor e de grande 
disponibilidade de matérias-primas. Damesma maneira, pode se destacar que 
isso ocorreu, principalmente após a Segunda Guerra Mundial, quando muitos 
Estados passaram a depender da contribuição das instituições criadas em Bretton 
Woods, dos outros países e de suas corporações. É possível afirmar também que, 
após o conflito, as disputas ideológicas e por territórios abriram espaços para que 
muitos fatores culturais, políticos, econômicos e sociais pudessem se sobrepor 
aos locais. 
A estruturação da economia capitalista do pós-Segunda Guerra Mundial se 
iniciou antes mesmo do fim do conflito, com a realização da Conferência 
Internacional de Bretton Woods, realizada no condado de mesmo nome, situado 
no Estado de New Hampshire, nos EUA, em 1944. Lá ficou estabelecida a 
hegemonia americana sobre as grandes nações capitalistas, tendo a moeda 
daquele país sido elevada à moeda de padrão internacional em substituição à libra 
inglesa. Também foram criadas instituições para fins de reconstrução dos países 
destruídos pela Guerra e de manutenção e ampliação dos objetivos da geopolítica 
do capitalismo, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. 
Com o acirramento das contradições entre os EUA e a URSS após 1945, 
ano do término da Segunda Guerra Mundial, as estratégias montadas por ambos 
para a expansão de seus interesses sobre os demais países geraram um novo 
conflito geopolítico que ficou conhecido como Guerra-Fria. Essa guerra, além de 
provocar uma corrida armamentista e ideológica, também provocou, forçosamente 
ou não, a aliança de muitos países aos sistemas econômicos propostos tanto por 
EUA quanto pela URSS: o capitalismo e o socialismo. O avanço do socialismo 
implicou uma redução da presença dos países capitalistas, principalmente com o 
processo de independência e descolonização levado a cabo por socialistas em 
países da Ásia e da África, que antes estavam sob domínio das grandes nações 
capitalistas. 
 
 
4 
Saiba mais 
A Guerra Fria tem esse nome por não haver uma declaração formal de 
guerra entre as grandes nações em disputas pela hegemonia geopolítica-
econômica internacional. De um lado, a União das Repúblicas Socialistas 
Soviéticas (URSS) e China, buscando ampliar a abrangência do socialismo para 
diferentes territórios e países do globo terrestre e, de outro, Estados Unidos, 
Inglaterra e França, buscando manter e ampliar a presença do capitalismo. 
O acirramento desse conflito se dá com a declaração do Presidente da 
República dos EUA, Harry Truman, no Congresso Americano em 1947, de que o 
país não permitiria o avanço do socialismo e utilizaria de todas as suas forças para 
combater o comunismo. Para reforçar a Doutrina Truman, o Secretário de Estado 
norte-americano Jorge Marshall, apresentou, no mesmo ano, um plano de 
reconstrução dos países europeus destruídos pela guerra. Esse plano ficou 
conhecido como Plano Marshall e foi o responsável por oferecer desde subsídios 
e técnicos agrícolas até o financiamento de grandes infraestruturas viárias, 
ferroviárias e aeroviárias, alinhando os países aos objetivos do capitalismo 
americano. Em 1955, a URSS, juntamente com os países do Leste Europeu, 
anunciou o Pacto de Varsóvia, propondo um programa de autoajuda entre os 
países já declarados socialistas. O Pacto contribuiu para uma relação econômica, 
política e social mais estreita entre os países do leste europeu e a URSS, que 
usou o pacto para justificar a sua atuação militar nos demais países do Pacto. 
As políticas implementadas a partir da década de 1950 levaram o mundo a 
uma preocupação constante com a possibilidade de um novo grande conflito 
belicoso internacional. Dessa forma, as grandes potências econômicas e políticas 
foram forçadas a uma coexistência pacífica. Cada uma a seu modo passou a 
elevar seus níveis de produção e consumo de seus territórios, visando apresentá-
los como o melhor sistema econômico a ser seguido, e ao mesmo tempo ampliar 
o número de países de cada sistema. 
 A manutenção de um sistema econômico capitalista que poderia fazer 
frente ao discurso de socialização dos resultados dos bens e serviços produzidos 
pela sociedade, com avanços significativos na qualidade de vida dos 
trabalhadores, tem respostas, do lado capitalista, nas propostas implementadas 
por Franklin Dellano Roosevelt nos EUA (1933) e por William Henry Beveridge na 
 
 
5 
Inglaterra (1942), cujos planos visavam o bem-estar social de todos os membros 
da sociedade e tiveram suas práticas embasadas na teoria keynesiana. 
John Maynard Keynes escreve em seu livro Teoria geral do emprego, do 
juro e da moeda, publicado em 1936, uma crítica ao modelo econômico baseado 
na teoria do laissez faire, responsabilizando os defensores do liberalismo pela 
grande crise econômica do sistema capitalista vivenciada em 1929 e que se 
estendeu até o início da Segunda Guerra Mundial (Keynes, 1996). A maior crítica 
desse autor britânico aos liberais era em relação à defesa que esses economistas 
faziam sobre a existência de uma autorregulação na economia. Segundo Keynes, 
isso levaria a economia à perfeição sem a interferência do Estado. Para Keynes, 
esse princípio percebia a existência do desemprego como voluntário e defendia a 
crença na regulação do mercado pelo próprio mercado. Com base em sua teoria 
da demanda efetiva, esse autor defendeu que o Estado é um indutor de 
investimentos que contribui para a elevação do volume de emprego em uma 
economia capitalista e que esse volume de emprego depende também da 
proporção da renda que é gasta na produção e no consumo (Keynes, 1996). 
TEMA 2 – DA TEORIA KEYNESIANA À HEGEMONIA DAS GRANDES 
CORPORAÇÕES 
Na mesma linha de Keynes, segue Rosenstein-Rodan (1902-1985), cuja 
teoria defende que os países mais pobres podem alcançar níveis de 
desenvolvimento se houver investimentos para isso. Esses investimentos devem 
ser realizados de forma programada e planejada em infraestrutura (rodovias, 
ferrovias e portos) e também no setor produtivo, em setores de grande interesse 
para o Estado, tudo ao mesmo tempo, pois há um forte grau de correlação entre 
eles. Tais investimentos, são investimentos de grande porte, que só o Estado 
possui condições de fazê-los. Os Estados mais pobres, segundo esse autor, 
necessitam de ajuda dos países mais ricos para alcançarem níveis de equilíbrio 
entre a oferta e a demanda, que poderiam melhorar as condições de vida de suas 
populações e seguirem o caminho do desenvolvimento econômico. 
 As investidas dos EUA, das grandes empresas capitalistas e das 
instituições de Bretton Woods sobre os países pobres e aqueles em processo de 
reconstrução vão contribuir para o processo de internacionalização da economia. 
Com financiamentos e deslocamentos de plantas industriais das grandes 
empresas para esses países, assevera-se a presença de empresas 
 
 
6 
transnacionais e sua dependência de fornecedores de diferentes países, assim 
como se expande o nível e importação e exportação e as relações entre as 
matrizes, onde estão localizadas essas empresas, e suas filiais, em diferentes 
países. Nesse contexto, o papel desempenhado por essas instituições e a forte 
presença delas junto aos Estados locais vão criar ciclos de altos e baixos em 
diferentes escalas, até o ponto em que esse modelo de desenvolvimento entre em 
crise. 
A globalização é um fenômeno que possui diferentes interpretações. 
Geógrafos como Massey (2009) e Souza (2005) a percebem como uma forma 
ideológica de expressar o espaço como sujeito ao tempo, sem levar em conta as 
diferenças espaciais existentes, como se tudo estivesse sendo submetido ao 
tempo, reduzindo a importância do espaço ao fim da fila na história e valorizando 
ideologicamente o tempo. O que significa que as nações que não acompanharam 
o desenvolvimento no tempo dos Estados hegemônicos capitalistas são 
consideradas atrasadas. Para estabelecer esse “conceito”, os ideólogoshegemônicos levam em consideração apenas o tempo para afirmar que as nações 
se desenvolveram, não considerando a história dos povos e seu interesse ou não 
pelo capitalismo, como os aborígenes da Ásia, da África ou da Amazônia que 
sobrevivem com aquilo que as florestas lhes proporcionam, sem a preocupação 
com os interesses do capital. Para tais autores, não há uma unicidade em relação 
ao que os mundo desenvolvido e mundo atrasado representam. O que se 
pergunta é: atrasado para quem? Desenvolvido para quem? 
Adam Smith (1988) e David Ricardo (1996) criticaram os defensores do 
mercantilismo e do protecionismo estatal que valorizavam a expansão das 
atividades do Estado para o exterior, porém impunham barreiras às atividades de 
importações. Para esses economistas, a relação entre os países era essencial 
para a promoção da produção desses países e sua especialização em 
determinados seguimentos. Ambos entendiam que a integração entre os países e 
seus mercados seriam inevitáveis (Smith, 1988; Ricardo, 1996). Atualmente é 
possível perceber que o avanço das tecnologias promove, consciente ou 
acidentalmente, a entrada dos países no contexto da globalização. Sob o ponto 
de vista do capitalismo, a globalização promove a unificação de muitos mercados 
em um único mercado. Muitas vezes, os produtos, serviços e preços podem se 
tornar semelhantes conforme o nível de integração entre os países e seus 
mercados. Não é à toa que os aeroportos internacionalizados possuem o mesmo 
 
 
7 
cheiro, tipos de produtos e serviços que se assemelham tanto em Nova York, 
Tokyo ou em qualquer outro aeroporto de uma grande metrópole no mundo. 
Os avanços tecnológicos na produção, transportes e comunicação e 
também de gestão ocorridos nas últimas décadas do século XIX provocaram uma 
forte integração entre produtores e mercados de diferentes países, a qual foi 
analisada pelos economistas neoclássicos como um processo de 
internacionalização da economia. Essa internacionalização levou a um processo 
de intensificação dos produtos e atividades econômicas de outros países, 
influenciando as economias locais. Para superar a crise de 1929, os Estados 
passaram a intervir severamente nas economias, tomando medidas drásticas para 
incentivar a produção e o consumo locais. Até mesmo a economia americana 
impôs barreiras protecionistas aos produtos estrangeiros, o que acabou 
provocando reações de outros países, que também impuseram barreiras aos 
produtos norte-americanos, impactando negativamente sobre o processo de 
integração dos mercados na década de 1930. 
Para que um país esteja inserido em um processo de globalização total, ele 
necessita estar em harmonia com as leis e as regras comerciais estabelecidas 
internacionalmente. Isso influencia na relação entre os preços, a qualidade e a 
quantidade dos produtos e serviços ofertados. Para Mankiw (2005), a redução de 
barreiras alfandegárias e tarifas ou dos transportes representa queda nos custos 
dessa integração, abrindo a possibilidade de que mais países possam ter seus 
mercados inseridos nesse processo. Para esse autor, essa integração comercial 
já existe há séculos e é necessária à satisfação de novas demandas 
proporcionadas por acréscimos na renda de parcela importante das populações 
dos países, mas há ressalvas, pois essa globalização integra e promove um 
determinado modelo de desenvolvimento e da mesma forma que integra e abre 
mercados, também é o responsável por desestimular e fechar outros. 
Para Santos (2015), esse modelo de desenvolvimento implementado pelas 
instituições de Bretton Woods sofreu esgotamento, dadas as contradições 
internas do capitalismo. Como forma de superação, as nações imperialistas do 
capitalismo apresentaram um modelo de expansão e internalização de suas 
ações, aproximando-se de um modelo que é perverso e que busca resolver as 
permanentes crises do capitalismo, que é estrutural, com ações que não possuem 
objetivos de resolver problemas estruturais, aprofundando ainda mais essa crise. 
Com a valorização do domínio das técnicas, de suas tecnologias e da informação, 
 
 
8 
criam um modelo que busca acobertar, sempre por meio de um discurso 
ideológico, os interesses das nações hegemônicas e de suas corporações, um 
pensamento único sobre todo o planeta que ressalta a tirania do dinheiro e da 
informação. 
TEMA 3 – GLOBALIZAÇÃO E NEOLIBERALISMO – UMA NOVA ROUPAGEM 
DO CAPITALISMO 
Essa crise estrutural se tornou mais evidente a partir da década de 1970 
com os aspectos de preocupações ambientais levantadas pelo Clube de Roma e 
pela Conferência Internacional sobre o Meio Ambiente, realizada em Estocolmo 
em 1972. As teses defendidas de que os recursos naturais não são inesgotáveis 
e as crises do petróleo de 1973 e 1979 colocam em xeque toda “política de estado 
de bem-estar social” implementada pelos países capitalistas. Essas crises tornam 
mais difícil a vida nos países mais pobres, dependentes da importação de 
combustíveis fósseis e seus derivados. Para Mallmann, Balestrin e Silva (2016), 
a economia capitalista tomou outro rumo depois desses acontecimentos. O 
discurso ideológico das grandes corporações capitalistas e seus atores voltaram 
suas críticas aos sistemas de proteções sociais como os responsáveis pelo 
empobrecimento dos Estados. 
As crises do petróleo mobilizaram as instituições financeiras e o capital 
corporativo em uma campanha de desregulamentação e redução da presença do 
Estado na economia. Os argumentos se voltaram para a culpabilização do Estado 
pelos seus gastos para manter as políticas de “bem-estar social” e, para custear 
tudo isso, houve a necessidade de maior arrecadação e cobranças de impostos, 
sobrecarregando os que ganhavam mais e o setor produtivo. Além disso, também 
se posicionavam contrários a todo um conjunto de leis que regulamentavam o 
trabalho, a produção, o comércio, o setor financeiro e até mesmo as exportações 
e importações, aumentando os custos da classe capitalista. 
As iniciativas voltadas a colocar um fim nas políticas de bem-estar social 
nos EUA tiveram seu início na década de 1970, ainda no governo de Jimmy 
Carter, porém é com Ronald Reagan que foram adotadas medidas mais 
contundentes para desregulamentar e desonerar a classe capitalista americana. 
Os trabalhadores perderam muitos dos direitos alcançados durante todo período 
do pós-Segunda Guerra. O setor financeiro passou a ter maior presença na 
economia e na política norte-americana. O Estado reduziu os impostos para os 
 
 
9 
mais ricos e para as grandes corporações capitalistas, o que afetou sua política 
de arrecadação e de investimentos nos setores essenciais aos trabalhadores e à 
população mais pobre do país. A consequência de tudo isso foi o aumento do 
desemprego e da desigualdade ente os mais ricos e os mais pobres. 
Na Inglaterra, Margaret Thatcher ficou conhecida como a Dama de Ferro 
por tomar medidas que colocaram fim à estabilidade de emprego dos 
trabalhadores e às garantias sociais alcançadas durante a política de bem-estar 
social. Os operários britânicos reagiram com greves que duraram meses, mas a 
Dama de Ferro não cedeu. As manifestações dos trabalhadores e sindicatos na 
Inglaterra foi acobertada pela Guerra das Malvinas, que foi utilizada pelo Estado 
para desviar as atenções dos graves problemas sociais pelos quais passava. 
Margaret Thatcher agiu com rigor e venceu as duas batalhas, a que travou com 
os argentinos pelas Ilhas Malvinas ou Falkland e a que travou contra os 
trabalhadores e seus sindicatos. A vitória nas Guerra das Malvinas (1982) 
reconduziu o Partido Conservador e Margaret Thatcher ao poder. 
No Brasil, as crises do petróleo de 1973 e 1979 colocaram um fim aos anos 
de crescimento acelerado, denominado de Milagre Econômico pela Ditadura 
Militar. Os anos do “milagre” deram lugar a um arrocho salarial e manipulação 
dos dados econômicos, dentreos quais os que mais sofreram foram os 
trabalhadores assalariados. Baseados na “teoria do bolo”, o regime militar quis 
fazer crer que o bolo cresceria, com investimentos estatais e arrocho salarial, a 
economia melhoria e toda a sociedade teria o seu pedaço do desenvolvimento. O 
país cresceu, às custas de um financiamento de empréstimos externos, os setores 
mais escolarizados e a classe média alta e os mais ricos receberam a sua parte, 
porém os trabalhadores assalariados e os mais pobres não fizeram parte da 
distribuição do bolo. Assim, os trabalhadores de países como Argentina, Bolívia, 
Venezuela, Colômbia e México também passaram por um crescimento de 
determinados setores da economia, porém viram crescer o desemprego e a 
desigualdade social. 
Em 1979, liderados pelo governo americano, que elevou as taxas de juros 
para cobrir as perdas com a segunda crise do petróleo, as instituições financeiras 
internacionais seguiram na mesma linha. Isso apertou ainda mais as condições já 
desesperadoras dos países endividados. O México puxou a fila, declarando a 
moratória e suspendendo o pagamento de suas dívidas com os credores 
internacionais, em 1982. Com medo de não receberem seus recursos investidos 
 
 
10 
nos países latino-americanos, muitas agências financiadoras acabaram reduzindo 
ou cessando seus empréstimos ou refinanciamentos a esses países. O 
enfrentamento da crise acirra ainda mais os problemas enfrentados pelos países, 
piorando seus índices sociais e econômicos, colocando em dúvida também a 
credibilidade de seus políticos. A década de 1980 ficou conhecida como “a década 
perdida”, uma página a ser virada na história econômica dos países endividados 
latino-americanos. Foi um período no qual a ampliação do déficit público e do 
balanço de pagamentos, os altos índices inflacionários, o desemprego elevado e 
o aumento da pobreza e da desigualdade social deixaram marcas profundas na 
economia. 
As crises econômicas das décadas anteriores à década de 1990 colocaram 
em descrédito todo o sistema financeiro e as políticas econômicas de curto prazo 
que prometiam melhorar as condições de vida das populações dos países com 
base em um processo de globalização que apresentava como condição única a 
redução da participação do Estado na economia. As receitas apresentadas como 
solução aos países não deram conta de resolver a grave crise enfrentada. Com a 
queda do Muro de Berlim em 1989 e a desintegração da URSS, em 1992, o 
sistema capitalista se apresentou ao mundo como sistema hegemônico resultante 
da Guerra Fria. Assim, o modelo de globalização passou a ser implementado com 
um novo discurso, mas com a mesma roupagem, denominada de neoliberalismo. 
TEMA 4 – GLOBALIZAÇÃO E NEOLIBERALISMO – A PORTA DE ENTRADA DO 
GLOBAL PARA O LOCAL 
Para Garbossa e Silva (2016), essa nova roupagem da globalização passa 
a utilizar com mais veemência o discurso neoliberal, atrelado às teorias 
econômicas formalizadas pelos economistas Friedrich von Hayek (1899) e Milton 
Friedman (1912-2006), que apresentavam como proposta uma supressão da 
participação do Estado na economia, abrindo espaços para o domínio das 
grandes corporações industriais e financeiras internacionais. Ao mesmo tempo, 
abriu-se o caminho para a propagação de muitas inovações tecnológicas em 
diversas áreas, que implicaram diversificação dos setores de informações e 
telecomunicações, produção, transportes e gestão. Conforme os mesmos 
autores, esses ensinamentos passaram a ser seguidos por lideranças políticas 
das grandes potências internacionais a partir da segunda metade dos anos de 
 
 
11 
1970, primeiro na Inglaterra com Margaret Thatcher, depois Ronald Reagan nos 
Estados Unidos e também por Helmut Kohl na Alemanha (Garbossa; Silva, 2016). 
 Essa globalização, acompanhada de novos conteúdos e discursos, 
mantém seus interesses sobre os diferentes territórios. Para Harvey (2005), esse 
modelo de globalização afeta de forma significativa o local, pois as empresas que 
monopolizavam os setores das economias locais passam a ter a concorrência das 
grandes corporações monopolistas internacionais. Para esse autor, o capitalismo 
não pode prescindir dos monopólios e do poder que eles exercem sobre o Estado 
e sobre a economia local (Harvey, 2005). Para que o capitalismo tenha 
continuidade e possa continuar se expandindo, há a necessidade de se buscarem 
formas de reunir os poderes monopolistas locais em associação com os poderes 
monopolistas externos, reduzindo ou eliminando toda espécie de legislação ou 
influência de espaço ou localização que possam limitar as ações das corporações 
internacionais, sendo para isso necessário inclusive derrubar as tradicionais 
barreiras da política do território nacional. 
 O neoliberalismo acompanha esse discurso de globalização, que impõe a 
submissão do Estado aos interesses das corporações e das nações hegemônicas 
internacionais. Nesse sentido, Santos (2015) enfatiza que, para se tornarem 
hegemônicas, as nações e suas corporações se utilizam de uma série de 
instrumentos de pressão sobre os Estados com o intuito de promover toda espécie 
de desregulação que possa influenciar as opções do mercado global em 
detrimento do mercado local. A porta de entrada é a abertura do mercado 
financeiro para o capital estrangeiro, pois entende-se que o controle das finanças 
é essencial para tornar os demais setores da economia hegemonizados. O autor 
considera possível não se conseguir atingir todos os setores, pois alguns deles 
resistem à subordinação do capital e mantêm-se autônomos, com capacidade 
própria de reprodução. Tal condição é extremamente precária, pois existem 
dificuldades dos Estados em suportarem as pressões dos atores hegemônicos e 
assim também os negócios locais de resistirem à concorrência desses atores. 
Sendo assim, “o papel avassalador do sistema financeiro e a permissividade do 
comportamento dos agentes hegemônicos, que agem sem contrapartida, levando 
ao aprofundamento da situação, isto é, da crise” (Santos, 2015, p. 35). 
Harvey (2005) entende que essa hegemonização globalizante se dá em 
diferentes setores que podem ser oligopolizados com a estruturação de 
megaempresas que se aliam para dominar toda a oferta de determinado bem ou 
 
 
12 
serviço, como nos casos das montadoras de automóveis, do setor aéreo, do setor 
elétrico ou ainda do setor farmacêutico. Dessa forma, essas megaempresas 
capitalistas buscam garantir, por meio de sua condição de empresas 
transnacionais, que seus “direitos de propriedade intelectual” sejam garantidos 
pelos Estados, visando reprimir quem ousar burlar a legislação que lhes favoreça. 
Nessa condição, os Estados passam a subverter os interesses locais para atender 
aos interesses hegemônicos globais, com consequências diretas para a economia 
interna, principalmente sobre o setor produtivo industrial com auto grau de 
tecnologia que tenham similaridades com os produtos ofertados por esses setores 
hegemônicos. 
Na mesma linha de Harvey (2005), Wallerstein (1995) afirma que o 
capitalismo criou um sistema de atuação em escalas que se ampliam cada vez 
mais, tornando os Estados submissos às grandes corporações nacionais ou 
supranacionais. Os diferentes atores da sociedade atuam dentro de uma lógica 
que facilita a disseminação dos valores em escala global sobre a escala local, 
dificultando subsídios e financiamentos às práticas consideradas atrasadas e 
fomentando as ações de empresas nacionais e transnacionais que atuam dentro 
dessa lógica de globalização apoiadas pelo FMI e pelo Banco Mundial. Para esse 
autor, esse modelo é um Sistema Mundo carregado de preceitos ideológicos de 
leis, regras e normas para favorecer um modelo de produção e consumo que não 
são compatíveis com os modelos da maioria das sociedades, gerando 
desigualdades e concentração de riquezas. Valores como justiça, direitos sociaise igualdade são colocados em um mesmo conjunto de valores contraditórios como 
o lucro e como a exploração desmedida de recursos naturais. 
As contradições são muitas. O discurso da globalização neoliberal se opõe 
aos monopólios quando estes estão nas mãos do Estado ou de setores 
conservadores nacionais, porém dificilmente se opõem aos setores 
monopolizados pelas grandes multinacionais, como é o caso daqueles setores 
que, além de estarem sendo dominados por grandes empresas, não levam em 
conta as preocupações sociais ou ambientais do local. Muitos desses setores 
buscam garantir pretensos “direitos de propriedade intelectual”, como é o caso de 
monopólios farmacêuticos que agem de forma a ampliar o seu controle sobre o 
mercado, tanto o fornecedor quanto o consumidor, com elevados investimentos e 
maximização do capital. Buscam disponibilizar seus produtos por meio de 
 
 
13 
intensos trabalhos de marketing junto aos setores de saúde (médicos, 
enfermeiros, atendentes...). 
Além disso, investem grandes quantidades de capital em grupos com 
capacidade de fazer lobbies junto aos políticos locais visando aprovar medidas de 
interesse do setor, como instrumentos jurídicos protetivos de suas patentes e 
facilidades em contratos junto ao setor público. De acordo com Harvey (2005, p. 
226), “essa indústria está, com avidez, buscando ainda mais poder monopolista, 
à medida que procura estabelecer direitos de propriedade sobre materiais 
genéticos de todos os tipos (inclusive em relação a plantas raras de florestas 
tropicais, tradicionalmente coletadas pelos habitantes indígenas)”. 
TEMA 5 – A METRÓPOLE EM UM CONTEXTO DE INTERNACIONALIZAÇÃO 
DA ECONOMIA 
A partir de 1990, a configuração geopolítica toma uma nova forma com a 
desintegração dos países do leste europeu. O avanço das propostas neoliberais 
intensifica a disputa por territórios e por novas formas de exploração dos bens e 
serviços que se tornaram essenciais para o processo de acumulação capitalista. 
Nesse contexto, as grandes metrópoles são inseridas em uma dinâmica de 
concentração e propagação dos interesses do grande capital e de suas 
corporações. Além disso, as metrópoles historicamente representam um espaço 
geográfico onde habitam grandes contingentes populacionais e, atualmente, muito 
mais do que a indústria de transformação, elas se organizam para atender a 
determinadas funções de amplitude global nas diferentes áreas de serviços e 
comércio visando atender às exigências de uma ampla rede de grandes empresas 
e corporações. 
As grandes metrópoles exercem influência sobre os fluxos migratórios, 
apresentando-se como centros de empregos, de serviços de toda ordem e de 
acolhimento daqueles que buscam uma melhor qualidade de vida. A esperança 
de muitos se torna um problema para os administradores públicos, pois o 
crescimento acelerado não consegue atender, com boa infraestrutura, os 
habitantes que necessitam de um conjunto de redes de serviços como o 
abastecimento de água e saneamento básico, de energia elétrica, de parques e 
áreas de lazer, de transportes, de segurança e de moradia digna em áreas não 
degradadas e de fácil acesso ao trabalho, à escola, à saúde e ao comércio de 
bens e serviço e muito mais. 
 
 
14 
As metrópoles se estendem sobre uma grande área espacial, 
ultrapassando os limites de seu território, formando as grandes manchas urbanas, 
que, de acordo com Santos (2015), são aglomerações que possuem relação com 
a modernização nas culturas agrícolas, com a substituição dos trabalhadores por 
máquinas no campo, induzindo o processo migratório que ocasiona uma nova 
forma de regulação do território, demandando avanços na forma de condução das 
políticas urbanas. Para esse autor (Santos, 2015), as metrópoles são utilizadas 
para unificar os novos conteúdos produzidos pelo sistema capitalista, e a 
globalização representa a maximização extrema do processo de 
internacionalização do mundo capitalista. 
As metrópoles possuem características socioespaciais diferenciadas em 
relação a outras cidades, principalmente as metrópoles em âmbito internacional. 
Para Silva (2017), são nessas metrópoles que vivem as camadas de maior poder 
aquisitivo. A maioria dessa população mais afortunada possui propriedade nas 
áreas centrais da cidade, seja para fins de moradia, seja para exploração comercial 
e financeira. Grande parte dessa população mora nos arredores das metrópoles 
cercadas por grandes enclaves, segregados espacial e socialmente das 
populações mais pobres. As populações mais pobres ocupam a outra extremidade 
da metrópole, vivendo em grandes assentamentos humanos com pouca ou quase 
nenhuma infraestrutura. Marcada por grandes contingentes de trabalhadores, 
esses assentamentos são a residência de muitos trabalhadores assalariados do 
setor formal ou informal da economia, que vieram para a metrópole dado ao seu 
poder de atração, pois é nela que estão as melhores condições de trabalho, de 
saúde, de educação e de esperança de uma vida melhor. 
Esse modelo de globalização tem influenciado sobremaneira o processo de 
reestruturação produtiva e modificado com a mesma intensidade a organização e 
o funcionamento das metrópoles, transformando suas relações externas e 
reconfigurando sua dinâmica espacial. Atuando dentro de uma coesão de 
interesses históricos de reprodução do capital, a configuração espacial da 
metrópole, no entendimento de Lencioni et al. (2011), mantém uma série de fluxos 
materiais e imateriais que são capturados por redes urbanas internacionais, que 
se conectam entre si, produzindo situações de homogeneização, diante de uma 
alta complexidade de constituição desses espaços de aglomerações que não 
foram e nem se produziram organizadamente e muito menos por uma lógica de 
planejamento urbano. 
 
 
15 
Essas dificuldades despontaram em função da complexidade das 
aglomerações urbanas, como configurações espaciais contraditórias, de 
necessidades convergentes e, ao mesmo tempo, de interesses divergentes. Há, 
nesse contexto, uma série de demandas, de estruturas que se constituem como 
públicas. As estruturas públicas, assim como o atendimento às demandas 
impelidas pela sociedade, são constantemente colocadas em risco pela 
alternância dos interesses privados das classes que gravitam em torno da 
governança e gestão do poder local. Com o advento da globalização, pela 
flexibilização e desregulamentação das leis locais, determinados grupos privados 
possuem a liberdade para escolher como e quanto pagar de impostos, onde 
estabelecer sua moradia, onde adquirir e implementar seus negócios, contribuindo 
para alterar a morfologia urbana, incluindo a coisa pública, de acordo com os 
interesses de alguns grupos privados em detrimento da maioria. 
Scott (2012) afirmava que havia mais de 300 metrópoles no mundo, que se 
constituíam em cidades-regiões, com população de mais de um milhão de 
habitantes. O que há em comum entre essas aglomerações metropolitanas é que 
possuem, nesse contexto de globalização, grandes ícones dos conteúdos da 
economia internacional como as grandes redes de supermercados, redes de 
hotéis, empresas de fast foods, entre outros. Todos esses ícones do capitalismo 
mundial podem ser encontrados em qualquer grande metrópole do mundo 
capitalista. Além disso, a expansão desses aglomerados metropolitanos passa a 
constituir-se em grande desafio para os pesquisadores e os gestores de políticas 
públicas. 
De acordo com Garbossa e Silva (2016), no mundo existem 23 metrópoles 
com mais de 10 milhões de habitantes. Essas aglomerações urbanas reúnem em 
seus territórios os principais centros de dominação da sociedade capitalista, em 
que se concentram as funções superiores de direção, produção e gestão do 
planeta. Nelas se encontram os principais processos de ligação com os lugares, 
onde são articuladas redes de comunicação que interligam esses lugaresa 
diferentes localidades em todo o mundo. Para cada localidade são atribuídos 
diferentes papéis e funções dentro de uma hierarquia de geração de riqueza, de 
processamentos de informações e de direcionamentos que condicionam o 
comportamento de muitos agentes políticos, econômicos e até mesmo dos 
próprios membros da sociedade. 
 
 
16 
As metrópoles são centralidades que também possuem uma dinâmica 
própria para além do poder político, econômico e financeiro. Nas metrópoles, 
dentro de sua complexidade se situam as maiores ofertas de emprego, de serviços 
educacionais, de saúde e culturais. São nelas que se encontram as maiores 
oportunidades, as maiores concentrações de grandes afortunados, mas também 
do contraste da fome e da miséria. É nas metrópoles que está aquilo que é o que 
há de melhor e de pior em uma aglomeração urbana. 
 
 
 
17 
REFERÊNCIAS 
GARBOSSA, R. A.; SILVA, R. S. O processo de produção do espaço urbano: 
impactos e desafios de uma urbanização. Curitiba: InterSaberes, 2016. 
_____. Geografia política e geopolítica. Curitiba: InterSaberes, 2018. 
HARVEY, D. A produção capitalista do espaço. São Paulo: Annablume, 2005. 
KEYNES, J. M. A teoria geral do emprego, do juro e da moeda. São Paulo: 
Círculo do Livro, 1996. 
LEFEBVRE, H. O direito à cidade. São Paulo: Centauro, 2013. 
LENCIONI, S. et al. (Org.). Transformações socioterritoriais nas metrópoles 
de Buenos Aires, São Paulo e Santiago. São Paulo: FAUUSP, 2011. 
MALLMANN, L.; BALESTRIN, N. L.; SILVA, R; S. Estado e políticas sociais no 
Brasil: avanços e retrocessos. Curitiba: InterSaberes, 2017. 
MANKIW, N. G. Introdução à economia. São Paulo: Cengage Learning, 2005. 
MASSEY, D. Pelo espaço: uma nova política da espacialidade. Tradução Hilda 
Pareto Maciel, Rogério Haesbaert. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009. 
RICARDO, D. Princípios de economia, política e tributação. Tradução de Paulo 
Henrique Ribeiro Sandroni. São Paulo: Círculo do Livro, 1996. 
SANTOS, M. Por uma outra globalização. 24. ed. Rio de Janeiro/São Paulo: 
Record, 2015. 
SCOTT, A. J. As cidades da terceira onda. In: PACHECO, S. M. M.; MACHADO, 
M. S. (Orgs.). Globalização, políticas públicas e reestruturação territorial. Rio 
de Janeiro: 7 Letras, 2012. 
SILVA, R. S. Orçamento participativo como transformação do espaço 
urbano. Tese (Doutorado em Geografia) – UFPR. Curitiba: PPGEO/UFPR, 2017. 
SMITH, A. A riqueza das nações. São Paulo: Nova Cultural, 1988. (Coleção Os 
Economistas). 
SOUZA, N. J. de. Desenvolvimento econômico. 5. ed. rev. São Paulo: Atlas, 
2005. 
 
 
18 
VASCONCELLOS, M. A. S. de. Introdução à macroeconomia. In: PINHO, D. B.; 
TONETO JR., R.; VASCONCELLOS, M. A. S. Manual de economia: professores 
da USP. São Paulo: Saraiva, 2012. 
WALLERSTEIN, I. Análisis de sistemas-mundo: una introducción. México: Siglo 
Vientiuno Editores, 1995. 
 
AULA 3 
ESPAÇO GEOGRÁFICO, 
ECONOMIA E COMÉRCIO 
INTERNACIONAL
Prof. Rodolfo dos Santos Silva 
 
 
2 
CONTEXTUALIZANDO 
A geografia não serve apenas para a formação escolar, ela serve também 
para um conhecimento muito mais amplo, ao poder e ao Estado, conforme 
afirmam Yves Lacoste, David Harvey, Henri Lefebvre e tantos outros geógrafos. 
A economia, por sua vez, é também um instrumento de poder e conhecimento que 
demonstra como a sociedade produz os bens e serviços que necessitam e como 
tais bens podem ser distribuídos de forma a satisfazer as necessidades desses 
indivíduos. De modelos econômicos liberais, no qual os indivíduos buscam 
satisfazer as suas necessidades contribuindo para o desenvolvimento de todos, 
sem a interferência do Estado, ao modelo de política econômica keynesiano, 
implantado a partir da década de 1930, no qual o Estado atua como um agente 
econômico e propulsor da economia, buscando o pleno emprego dos fatores de 
produção. Também se discute, nesta aula, as teorias mercantilistas e sua 
contribuição para o desenvolvimento do comércio internacional. 
Após o período mercantilista, quando surge o Estado Absolutista, criam-se 
formas de controlar o mercado interno e, como consequência, também o mercado 
externo. Passa-se pela importância da industrialização e da teoria liberal para a 
formação de um discurso de abertura das fronteiras dos Estados para o comércio 
internacional. Outra abordagem é a forma como os Estados buscaram proteger 
os seus mercados dos produtos industrializados dos países mais desenvolvidos 
economicamente. Aborda-se as crises econômicas e as duas guerras como forma 
de alavancar um outro modelo de economia internacional, com apoio da ONU e 
de suas organizações para o desenvolvimento, como foi o caso da CEPAL. 
Discute-se, ainda, a formação dos blocos econômicos como medidas de proteção 
utilizadas pelos países em diferentes continentes. 
TEMA 1 – O COMÉRCIO INTERNACIONAL E A GEOPOLÍTICA DO 
DESENVOLVIMENTO 
Tem-se como consenso que os seres humanos, por volta de 12.000 anos 
atrás, tinham como suas principais atividades a caça, a pesca e a coleta, vivendo 
em bandos e em cavernas, utilizando ferramentas rústicas extraídas da natureza. 
Com o desenvolvimento de ferramentas, novas técnicas de caça e pesca e o 
domínio do cultivo das terras e da domesticação dos animais, os seres humanos 
passam a gerar excedentes de produção. Logo, passaram a criar formas de trocas 
 
 
3 
desse excedente com outros grupos de seres humanos por produtos que não 
possuíam. Com a criação de instrumentos de navegação passaram a ir cada vez 
mais longe para alcançarem localidades que dispunham dos recursos de que 
necessitavam. Produtos que eram mais procurados e aceitos tornaram-se objetos 
bastantes valorizados e facilmente trocados por outros objetos. Assim, surgiu a 
mercadoria-moeda, cuja necessidade entre os povos daquela época era comum, 
pois era algo raro. O sal, a pimenta, o chá e o couro já foram utilizados como 
moeda de troca. 
Apesar da mercadoria-moeda possuir características essenciais, como 
interesse comum e raridade, não possuía a durabilidade e muitas delas não eram 
de fácil manuseio. Com a criação da moeda metálica, por volta do Século VII a.C., 
no reino da Lídia, região onde hoje se localiza o Iraque, tornou mais fácil a 
realização do comércio. O metal, de difícil deterioração e fácil manuseio, 
impulsionou a realização de trocas e fomentou o comércio. Após a cunhagem da 
moeda em ouro e prata, a moeda ganhou todas as características necessárias 
para transformá-la no grande instrumento facilitador das trocas: raridade, de fácil 
aceitação, de valor intrínseco e durabilidade. 
De acordo com Huberman (1986), até o Século XI d. C., apesar da moeda 
existir já há algum tempo, ainda o comércio não havia alcançado tanta expressão, 
principalmente devido às condições de acessibilidade ao que se era produzido. 
As poucas estradas existentes na Europa Ocidental neste período eram bastante 
precárias, os perigos de assaltos e as cobranças de taxas pelos senhores das 
terras desencorajavam qualquer mercador. Com o advento das Cruzadas, os 
caminhos se ampliaram e muitas estradas deram espaços para o surgimento de 
pequenas localidades de comércio. Para o autor, poucas eram as cidades, muitas 
delas eram cercadas e possuíam apenas funções de justiça e de manutenção dos 
exércitos. 
A partir do Século XII, em muitas das fortalezas, diversas pessoas vindas 
de diferentes lugares passaram a se estabelecer em seu entorno, dentre elas 
mercadores, comerciantes que traziam de tudo para vender a quem lá habitavam 
e ficavam por ali mesmo. Além disso, as cidades italianas, que estavam entre as 
mais desenvolvidas, assim como Constantinopla, fortaleciam-se com a ampliação 
do comércio no mar mediterrâneo. “No mar do Norte e no Báltico, os navios 
corriam de um ponto a outro para apanhar peixe, madeira, peles, couros e peliças. 
 
 
4 
Um dos centros desse comércio nos mares do norte era a cidade de Bruges,em 
Flandres” (Huberman, 1986, p. 21). 
Já na Idade Média, quando os Estados ainda não tinham uma certa 
organização, as cidades desempenhavam o papel de concentrar as atividades 
econômicas. Nelas se situavam as atividades produtivas e as de comércio, tudo 
dentro de regulamentações locais. Com o surgimento dos Estados-Nações a partir 
do Século XV, as leis passaram a ser ditadas em âmbito nacional e o controle 
passou a ser absoluto do rei. Esse Estado Absolutista se colocava acima das 
diferentes camadas sociais, e sob o pretexto de protegê-las agia em nome delas 
e de si próprio, buscando manter os privilégios de uma nobreza em decadência. 
Para manter os seus domínios, o Estado mantinha um intenso processo de 
mercantilização de sua economia, objetivando alcançar os recursos de que 
necessitava por meio da cobrança de tributos. Ao mesmo tempo que se expandia 
e explorava suas colônias, o Estado Absolutista proporcionava o surgimento de 
uma nova classe social e de poder, a classe dos mercadores e comerciantes. De 
acordo com Franco Junior e Pan Chacon (1991, p. 111), “o Estado Absolutista 
assumiu, assim, o papel de controlador da economia, regulando os desvios, 
contrações e crises da adolescência do capitalismo. Nascidos no mesmo 
contexto, Estado Moderno e capitalismo caminhavam lado a lado, cada um 
viabilizando o outro por meio do mercantilismo”. 
O desenvolvimento do capitalismo e o fortalecimento da classe mercantil 
propiciou a formação dos burgos (cidades) do comércio e das manufaturas. A 
classe dominante dessas cidades passou a ser conhecida como burguesia. A 
existência de artesãos qualificados, de pequenas e médias manufaturas e um 
número significativo de grandes comerciantes possibilitou à Inglaterra, em 
meados do Século XVIII, as condições para protagonizar a Revolução Industrial. 
Só mais tarde, no Século XVIII, Bélgica, França, Alemanha e Itália vão contribuir 
para o fenômeno da industrialização se expandir por diversos países do mundo. 
Para Hobsbawm (2012), o período entre 1789 e 1848 foi do triunfo da burguesia 
liberal e da industrialização capitalista, no qual a revolução burguesa superou a 
monarquia e a indústria capitalista superou todas as formas de produção 
existentes, alcançando geograficamente parte da Europa e da América do Norte. 
Com a Revolução Francesa (1789), o liberalismo passou a ser o lema da 
burguesia em todo o mundo. Os ideais liberais contagiaram os setores do 
comércio, da indústria e até mesmo parte da classe média e a maioria dos 
 
 
5 
capitalistas. Com a tomada do poder na França por Napoleão Bonaparte, dentro 
de sua proposta de expansão do império francês, boa parte dos ideais 
revolucionários se perderam. De acordo com Aquino et al. (1997), em 1814, logo 
após derrotar Napoleão em Leipzig, os países vencedores (Rússia, Prússia, 
Inglaterra e Áustria), reuniram-se com a maioria dos países europeus que 
sofreram perdas com os avanços das tropas napoleônicas para conter os avanços 
liberais e nacionalistas e dividir o domínio territorial europeu entre tais países. 
A aliança entre esses países foi uma forma conservadora para manter os 
laços das oligarquias tradicionais e evitar os avanços do liberalismo e do 
socialismo que colocavam em risco os afortunados dos grandes impérios do 
Século XIX. Conforme Aquino et al. (1997), a aliança garantiu a distribuição dos 
territórios entre os países de acordo com a Lei de Compensações, tendo como 
maior beneficiada a Inglaterra que, além de receber inúmeras concessões antes 
atreladas ao poder territorial francês, também passou a ter o caminho livre para 
ampliar seus negócios no continente europeu e a consolidar seus domínios sobre 
os mares e outros territórios para além. É certo que as alianças entre as grandes 
nações tiveram primeiramente objetivos de arrebatar aliados para manter a 
hegemonia sobre os territórios, porém, a partir de então, as nações passam a se 
aliar não só com objetivos de estratégias bélicas, mas também para o 
desenvolvimento dos mercados. 
TEMA 2 – O COMÉRCIO INTERNACIONAL E AS NAÇÕES IMPERIALISTAS 
As nações imperialistas europeias mantiveram sua intenção de controlar o 
mercado e os outros países objetivando garantir seus objetivos intervencionistas. 
Apesar da dura repressão e tentativas de controles contra os ideais liberais e 
socialistas, muitas revoltas populares pipocaram por toda a Europa e até mesmo 
na América. Muitas ex-colônias europeias se tornaram independentes, inclusive 
as da América Latina. Em 1815, a classe dominante e a monarquia da Rússia, 
Prússia e Áustria resolveram criar a Santa Aliança, cuja finalidade foi manter 
distante qualquer ameaça dos ideais libertários e garantir a intervenção em 
qualquer país europeu onde houvesse conflitos provocados por comunistas ou 
liberais. A Santa Aliança, por meio de diversos congressos realizados entre os 
países-membros, discutia e aprovava propostas comuns de repressões e 
intervenções nos países. A Inglaterra não via com bons olhos esse poder 
intervencionista da Santa Aliança, pois esta atrapalhava o desenvolvimento do 
 
 
6 
comércio europeu e podia também atrapalhar os seus negócios nos demais 
continentes. 
Os objetivos expansionistas das nações imperialistas europeias vão 
encontrar resistências do outro lado do continente. Os EUA, temendo o avanço 
dominial dos países europeus, reage por meio de seu presidente James Monroe, 
que, em 1823, sobe à tribuna do parlamento para discursar contra o colonialismo 
europeu em territórios americanos. A Doutrina Monroe, aprovada pelo congresso 
americano, foi uma afirmação de que os EUA reagiriam a qualquer iniciativa de 
colonização europeia que ameaçasse a integridade territorial e política de 
qualquer nação independente americana. A Doutrina Monroe se constituiu 
primeiro em um mecanismo de defesa dos norte-americanos, depois, serviu para 
esconder as reais intenções de expansão comercial e política dos EUA sobre a 
América. 
Os ideais liberais influenciaram o nacionalismo em países como Alemanha 
e Itália, que, movidos pelas suas regiões de produção industrial, buscaram ter sua 
autonomia em relação às demais nações europeias. Para Hobsbawm (2002), o 
capitalismo teve seus altos e baixos durante a segunda metade do Século XIX, 
porém, sua produção industrial não deixou de crescer aceleradamente. A indústria 
do ferro e do aço, indicadores de crescimento do período, proporcionaram aos 
principais países produtores mais do que o dobro de suas vendas no período, 
graças à expansão vertiginosa do comércio internacional. EUA, Alemanha, 
Rússia, Suécia entraram para o rol das grandes economias capitalistas. Os 
investimentos estrangeiros, principalmente os ingleses e franceses, cruzaram os 
oceanos e promoveram profundas alterações em países como o Brasil e 
Argentina. “O investimento estrangeiro na América Latina atingiu níveis 
assombrosos nos anos 1880, quando a extensão da rede ferroviária argentina foi 
quintuplicada e como o Brasil atraíram até 200 mil imigrantes por ano” 
(Hobsbawm, 2002, p. 59). 
As alianças europeias, assim como os interesses individuais 
expansionistas das nações imperialistas levaram, conforme já estudado 
anteriormente, à Primeira Grande Guerra Mundial. A Primeira Guerra Mundial não 
teve consequências apenas bélicas e territoriais, mas possibilitou a introdução de 
inovações em todas as áreas. No campo político, o Estado passou a ter que 
aprender a lidar com descontentamentos de seus habitantes, com as oposições e 
com pressões vindas do exterior. No campo econômico, foram instituídas normas 
 
 
7 
para o trabalho, para a importação e exportação de produtos, houve controle sobre 
a produção, sobre o consumo e sobre formação de preços. Houve a imposição de 
racionamentos e de priorização de fabricação de determinados produtos em 
detrimento da produção de outros. O endividamento externo e a busca denovas 
alianças econômicas e políticas foram outra marca deixada pelo conflito. O avião 
foi utilizado como arma beligerante e outras tantas inovações tecnológicas não só 
contribuíram para a expansão do conflito em âmbito mundial como também para 
ceifar a vida de milhões de pessoas. 
Durante o conflito, a Rússia de Nicolau II se enfraqueceu econômica e 
politicamente, sua população foi a mais penalizada. Na área rural, milhares de 
pessoas morreram pela falta de alimentos e de acesso às condições básicas de 
vida, nas cidades o desemprego, a precariedade das condições de trabalho e da 
informalidade beiravam a miséria extrema. Filas intermináveis para comprar pão 
ou conseguir qualquer outro mantimento levaram a uma grande revolta, 
primeiramente liderada pelas mulheres e depois por milhares de pessoas, que 
culminou na repressão e mortes impostas pelo Estado. Em março de 1917, houve 
a revolução Russa, que colocou no poder provisoriamente os mencheviques e os 
descontentes com o governo czarista. Porém, esse governo provisório reprimiu 
com violência uma passeata que pregava o fim do capitalismo e o estabelecimento 
de um governo socialista. Apoiados pela elite dominante e pelos antigos aliados 
czaristas (Inglaterra, França e Japão) que pretendiam manter e ampliar seus 
investimentos na Rússia, o governo menchevique e os brancos czaristas foram 
depostos por Lênin, que liderou os bolcheviques e iniciou o processo de criação 
da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS. 
A Primeira Guerra Mundial não mudou só a configuração política e espacial, 
os EUA passaram a ser a grande nação motora do capitalismo mundial. A partir 
de então, esse país, aliados aos ingleses, buscou evitar a aproximação dos países 
europeus ao socialismo soviético. As crises econômicas tomaram conta da 
Europa durante a década de 1920, principalmente pelo processo de reconstrução 
dos países e também pela ampliação da capacidade das grandes indústrias das 
potências capitalistas; houve pouca demanda para muita produção. O resultado 
foi a crise de 1929. A crise de 1929 intensificou os problemas dos países europeus 
e a Itália se reconheceu fascista e apresentou seu modelo econômico e político 
ao mundo. 
 
 
8 
No poder desde 1922, após a “Marcha sobre Roma”, Benito Mussolini 
ascendeu ao poder com o compromisso de tirar o país da crise de desemprego, 
inflação alta e de instabilidade econômica e política. A “Grande Itália”, lema 
utilizado pelos fascistas, “camisas negras”, levou o governo a intervir na economia 
com construção de um elevado número de obras públicas para incentivar o 
emprego e promover o consumo, com incentivos à produção agrícola e 
concessões ao setor industrial. Apresentou a “Carta del Lavoro”, por meio da qual 
criou leis de proteção e incentivo aos trabalhadores, além de proibir as greves de 
patrões e empregados. Também, por meio das Corporações, uniu empregados e 
trabalhadores sobre um mesmo princípio, o da colaboração com o Estado. 
Visando a desviar os problemas internos e expandir o fascismo, o país acabou se 
envolvendo em conflitos bélicos, como o da “Guerra da Etiópia” (1935–1936) e a 
Guerra Civil Espanhola, quando se aproximou o nacional-socialismo alemão. 
O nacional-socialismo alemão nasceu durante a República de Weimar, logo 
após um levante socialista, liderados por Rosa de Luxemburgo e Karl Liebkencht, 
entre 1918 e 1919, na Baviera, Remânia e Berlim, que fora esmagado pelo 
Estado, sendo seus líderes todos executados. De acordo com Aquino et al. (1997), 
após esse evento o Governo Provisório buscou manter seu poder por meio de 
uma Assembleia Constituinte, embasada nos princípios do liberalismo econômico, 
com centralização do poder nas mãos do Estado. Com uma política de 
desvalorização constante da moeda, as exportações facilitaram a concentração 
da riqueza, principalmente dentre os exportadores de produtos industrializados e 
dos banqueiros. Quem mais perdeu com as altas inflacionárias foram os 
trabalhadores assalariados, os setores médios e as pequenas empresas. O 
descontentamento com o modelo econômico e político da Alemanha levou ao 
fortalecimento de grupos socialistas e de liberais que forçavam o Estado a tomar 
medidas por decretos. O aparecimento de grupos de ultradireita financiados por 
grandes empresas do setor industrial e financeiro, juntamente com a propagação 
de ideias contrárias ao comunismo bolchevique junto à pequena burguesia alemã, 
proporcionaram as bases de sustentação do Partido Nazista. 
Em 30 de janeiro de 1933, Adolf Hitler, do Partido Nazista foi escolhido 
como Chanceler da Alemanha e, em 1934, com a morte do Presidente Hinderburg, 
o Chanceler também assumiu a Presidência da República da Alemanha. Para se 
manter no poder, o Führer Alemão perseguiu os comunistas e opositores, pregou 
uma ideologia antissemita e passou a controlar os meios de comunicação e a 
 
 
9 
manter uma ideologia de apologia ao nazismo. Na economia buscou mobilizar o 
país para a retomada dos bens e dos territórios perdidos com o Tratado de 
Versalhes, com investimentos em indústrias bélicas e grandes obras públicas. 
Proibiu greves e apoiou a criação de corporações de trabalhadores e empresários 
visando a manter o país no caminho do pleno emprego. No setor externo, buscou 
formar alianças com países fornecedores de matérias-primas e manteve o 
interesse em unificar os povos de línguas germânicas e retomar territórios 
importantes, como os da Áustria e da Polônia. 
A Segunda Guerra Mundial trouxe consequências irreparáveis a todos os 
países, principalmente Europa e Ásia, onde os conflitos foram mais intensos. 
Estimam-se que foram aproximadamente 40 milhões o número de mortos, 20 
milhões só na URSS, sem levar em conta os que sofreram algum tipo de sequela 
devido aos efeitos da guerra. Ao terminar a guerra, os primeiros anos dos 
principais países localizados em territórios que foram assolados pelos conflito 
foram duríssimos, pois boa parte de sua infraestrutura estava destruída (portos, 
aeroportos, ferrovias, rodovias, centrais de energia e pontes), o que tornou sua 
recuperação ainda mais difícil, pois esses países sofreram com a “escassez de 
produtos, inclusive alimentos, fome e até mortes por falta de meios de 
subsistência; a escassez de carvão, além do impacto sobre a produção, também 
dificultava o aquecimento doméstico, essencial na época do inverno. Estas 
dificuldades se refletem nos índices do Produto Interno Bruto” (Saes; Saes, 2013, 
p. 436). 
A nação que saiu mais fortalecida do conflito foi os EUA. O país, além de 
ser o único a possuir a bomba atômica, ainda pôde se tornar hegemônico diante 
dos demais países capitalistas, tendo a garantia dos acordos firmados em Bretton 
Woods, antes mesmo da guerra terminar. Foi a única grande potência a sair da 
guerra com uma economia melhor do que a de quando começou o conflito. Todas 
as demais economias sofreram muito mais perdas com a guerra, ao passo que os 
EUA se tornaram a maior potência econômica, política, beligerante e financeira 
do mundo, saindo de um contexto de endividamento para uma das maiores 
emprestadoras de recursos do mundo. Mesmo antes de acabar a guerra, o 
Presidente Franklin de Lano Roosevelt (1933–1945) articulava formas de recursos 
para financiar as populações atingidas pela guerra, a União das Nações para a 
Reconstrução e Reabilitação – UNRR, uma espécie de embrião da ONU, foi 
utilizada como um instrumento de ajuda aos povos exilados da Segunda Guerra 
 
 
10 
Mundial. Com o término da Guerra, foi criada a Organização das Nações Unidas 
– ONU. 
TEMA 3 – DA CRIAÇÃO DA ONU ÀS CONTRIBUIÇÕES DA CEPAL PARA O 
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DA AMÉRICA LATINA 
Com a criação da ONU, na cidade de São Francisco, na Califórnia (EUA), 
em 24 de outubro de 1945, o objetivo era selar um acordo de paz entre os países 
e impedir que outro conflito nas mesmas proporçõesocorresse. Na época, 51 
países assinaram o acordo, hoje, a ONU possui 193 países filiados à Organização 
e tem sua sede em Nova York. Também tem como missão a promoção dos 
direitos humanos e o desenvolvimento econômico e social. Para isso, a ONU 
possui escritórios espalhados pelo mundo e todo um sistema com instituições e 
agências específicas que contribuem para melhorar as condições de vida no 
planeta. Possui um organograma de funcionamento com diversos ramos de 
atuação. A Assembleia Geral é o seu órgão máximo. Ademais, existem o 
Conselho de Segurança, o Conselho Econômico e Social, o Conselho de Direitos 
Humanos, o Tribunal de Justiça e o Secretariado. 
A ONU foi muito importante no processo de reconstrução e 
desenvolvimento dos países. Em 1948, por meio do Conselho Econômico e 
Social, criou a Comissão Econômica para a América Latina – Cepal. A Cepal foi 
criada para estudar como poderiam ser melhoradas as condições de vida das 
populações que vivem na América Latina e Caribe. Atualmente, a Cepal conta 
com a participação de todos os países latino-americanos e caribenhos e mais os 
EUA, Grã-Bretanha, França e Holanda. A sede administrativa da Cepal está 
localizada na Cidade de Santiago, capital do Chile. Lideradas por Raul Prebisch e 
Celso Furtado, os estudos realizados pela Comissão chegaram à conclusão de 
que a principal causa da origem da pobreza e da miséria da América Latina estava 
nas relações de trocas desiguais, produtos primários de baixo valor agregado por 
bens industrializados e de tecnologia, dotados de alto valor agregado com outros 
países. Para superação dessa condição, os estudiosos da Cepal propuseram que 
os países deveriam promover a industrialização e a diversificação de sua 
produção de bens e serviços. 
As teorias defendidas pelos membros da CEPAL foram fundamentais para 
a busca de uma maior integração dos países latino-americanos. A distribuição de 
renda, a construção de infraestruturas de energia, de rodovias, ferrovias, portos, 
 
 
11 
reforma agrária e planejamento econômico eram algumas das condições 
apontadas por Raul Prebisch, Celso Furtado e Oswaldo Sunkel como forma de 
superação das condições de subdesenvolvimento desses países. Uma das 
grandes influências da CEPAL foi a criação da Associação Latino-Americana de 
Livre Comércio – ALALC, no início dos anos de 1950. O incentivo a ALALC foi 
fundamental para a organização do comércio entre os países do continente, 
ampliando a comercialização entre eles e dando condições de melhorias nos 
mercados nacionais. Também houve grandes melhorias, em cada país, no seu 
processo produtivo, buscando resultados com o menor custo possível dentro de 
suas dotações relativas de fatores de produção. Além disso, alcançaram 
relativamente índices importantes na substituição de importações e ampliação de 
seus parques industriais, melhorando em muito a capacidade de produção e 
exportação de bens manufaturados. 
Entre as décadas de 1950 e 1960, muitas grandes indústrias com sedes 
nos países centrais tiveram que destinar suas plantas industriais para os países 
periféricos. Incentivos, isenções e melhorias na infraestrutura foram alguns dos 
apontamentos necessários feitos pela Cepal como forma de atrair investimentos 
fixos de grandes multinacionais que pudessem melhorar a produção de bens de 
consumo, principalmente bens de produção e bens de capital. Máquinas e 
equipamentos para produzir outros bens e, dessa forma, a indústria local alcançar 
maior eficiência e poder de concorrência com produto estrangeiro e elevar seu 
nível de substituição de importações. Motivados pela Cepal, os governantes 
passaram a proporcionar condições para que essas plantas industriais 
contribuíssem para o desenvolvimento econômico e social desses países. 
O pensamento estruturalista dos membros da Cepal fortaleceu as ideias 
nacionalistas de muitos políticos da América Latina. No Brasil, o populismo 
colocado em prática por governantes entre 1950 a 1964 foi nessa linha. Getúlio 
Vargas criou várias empresas para proporcionar infraestrutura e substituir 
importações. Dentre as empresas criadas nesse período está O Banco Nacional 
de Desenvolvimento Econômico – BNDE, em 1952, que inicialmente foi criado 
para auxiliar o programa de reaparelhamento econômico, serviu como o grande 
Banco de fomentação de empreendimentos básicos para o desenvolvimento 
econômico do país, tanto públicos quanto privados. A Petrobrás foi criada em 
1953, depois de muitas manifestações populares na defesa do petróleo brasileiro, 
e começou as suas operações em 1954. Além disso, o governo criou a Empresa 
 
 
12 
de Energia Elétrica Brasileira, expandiu as atividades da Companhia Siderúrgica 
Nacional e melhorou as condições de produção da Companhia Vale do Rio Doce. 
Enquanto o Brasil e outros países latino-americanos buscavam se organizar por 
meio da ALALC, a Europa já havia criado o seu Mercado Comum Europeu. 
TEMA 4 – O PROCESSO DE INTEGRAÇÃO ECONÔMICO EUROPEU E SEU 
MERCADO COMUM 
Com a colocação em prática do programa de reconstrução da Europa por 
meio do Plano Marshall, fortaleceu-se a ideia da criação de um mercado comum 
europeu, visando a romper as barreiras existentes, facilitar a circulação de 
produtos, serviços e pessoas, integração comercial e financeira entre os países. 
Anteriormente, o continente já havia tido uma experiência positiva com a 
Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, estabelecida em 1951, que facilitou 
as relações comerciais transnacionais. Em 1957, os governantes da Alemanha – 
RFA –, Itália, Holanda, Bélgica, Luxemburgo e França assinaram o Tratado de 
Roma, criando a Comunidade Econômica Europeia – CEE. Mais tarde, foram 
integrados também à CEE a Inglaterra, a Dinamarca e a Irlanda. Em 1981, a 
Grécia também passou a fazer parte da CEE e, em 1986, Portugal e Espanha 
também aderiram ao mercado comum. 
Em 1992, em Maastrich (Holanda), 27 países assinaram o Tratado da 
União Europeia – UE. Esse tratado oficializou a constituição de um mercado 
comum com a criação de uma moeda também comum, o Euro, assim como 
políticas de integração econômica em vários setores importantes, como o de 
circulação de pessoas e de transportes. Em 2013, 28 países eram os membros 
da União Europeia e outros tantos ainda estão em negociações para se integrarem 
ao grupo. Os países-membros da UE (em ordem alfabética) são: Alemanha, 
Áustria, Bélgica, Bulgária, Chipre, Croácia, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, 
Espanha, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Hungria, Holanda, Irlanda, Itália, 
Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Polônia, Portugal, Reino Unido, República 
Tcheca, Romênia e Suécia. 
Um dos maiores feitos da integração da UE foi sua unificação monetária, 
que se iniciou, no entendimento de Sandroni (2007), com a criação do Euro, 
adotado em 1° de janeiro de 1999, e que teve seu curso legal de circulação a partir 
de 1° de janeiro de 2002. Para o autor, conforme acordo de adesão, os 
países-membros tiveram algumas metas essenciais a seguir, dentre elas, a 
 
 
13 
abdicação de suas moedas, muitas delas centenárias, como foi o caso do Marco 
(Alemanha), Peseta (Espanha), Escudo (Portugal) e Franco (França). Além disso, 
“se comprometeram com as metas relacionadas com o déficit público (até 3% do 
PIB) e o endividamento interno (até 60% do PIB) e outras condições sobre inflação 
e taxas de juros fixadas pelo Tratado de Maastrich” (Sandroni, 2007, p. 320). 
Dessa maneira, o Tratado de Maastrich forçou os Estados europeus a 
adotarem como moeda o Euro, a comprometerem no máximo 60% de seu PIB 
com seu endividamento interno e, ainda, submeter as decisões adotadas pelo 
Banco Central Europeu (Eurobank). O Eurobank foi fundado em janeiro de 1999 
e possui sua sede na Cidade de Frankfurt (Alemanha). Além disso, esse Banco 
possui um Conselho Diretor, composto por um Comitê Executivo e pelos 
Presidentes de todosos países que possuem o Euro como moeda comum. Dentre 
os objetivos do Banco está a centralização do crédito, a manutenção da 
estabilidade da moeda, o poder liberatório, o controle da emissão de moeda em 
cada país, a quantidade de divisas mantidas por cada país e a emissão de moeda. 
Para se adaptarem a tantas mudanças, os países europeus, principalmente 
as economias mais frágeis, não conseguiram conter seu nível de endividamento, 
o que era pressuposto para aqueles que queriam se beneficiar com o novo 
mercado comum. Grécia, Portugal, Espanha e Itália estão entre os países que 
tiveram dificuldades de manutenção de um mercado integrado, em uma proposta, 
cuja adaptação custou gastos maiores do que suas receitas, não conseguindo 
acompanhar o nível de desenvolvimento estabelecido pelo Tratado de Maastrich. 
Até mesmo as grandes economias industrializadas da Europa passaram por alto 
grau de endividamento, mas com um grande número de reservas cambiais 
conseguiram se sobressair em relação aos demais países. O grande problema foi 
a colocação da dúvida se de fato um mercado comum tão consistente conseguiria 
resistir a uma crise econômica como a de 2008. 
A crise de 2008 provocou grandes problemas às economias de todo o 
mundo, porém, é na UE que os impactos dessa crise vão abalar um mercado 
comum que parecia estar muito sólido. O abalo trouxe a ampliação do número de 
desempregados no continente europeu, que já convivia uma relação difícil com o 
desemprego tecnológico. A tentativa de implementação de medidas neoliberais, 
como contrapartida de muitos países para se manterem na zona do Euro, aponta 
para a desintegração dos direitos sociais e o fim de um estado de bem-estar social 
 
 
14 
dos países-membros. Essa desintegração tem contribuído para que muitos 
governantes sejam pressionados a rever esse processo de unificação europeia. 
TEMA 5 – O COMÉRCIO INTERNACIONAL E A FORMAÇÃO DOS BLOCOS 
ECONÔMICOS – NAFTA, ALCA E MERCOSUL 
As teorias do comércio internacional estão centradas nas relações de 
trocas de bens e serviços, conforme as dotações relativas de cada país na divisão 
internacional do trabalho. Com o fortalecimento das fronteiras entre os países, as 
barreiras alfandegárias se tonaram mais rígidas e o intercâmbio de mercadorias 
entre os países mais controlados. Do Século XIV até meados do Século XVIII, no 
comércio internacional prevaleceu a Teoria Mercantilista. Defendida por muitos 
teóricos da economia, como Thomas Gresham, Thomas Mun, Antoine de 
Montchristien, dentre outros, a Teoria Mercantilista defendia o controle das 
relações de comércio nas mãos do Estado e tinha como principal objetivo o saldo 
positivo na Balança Comercial, aumentando as exportações e restringindo ao 
mínimo possível as importações, retendo ouro e prata como sinal de acúmulo de 
riquezas. Nessas condições, algumas nações, como Holanda, França e Inglaterra, 
passaram a monopolizar o comércio internacional impondo os seus interesses aos 
de suas colônias e dos países com maior grau de dependência econômica. 
Para Costa, Santos (2011) e Sandroni (2007), a Inglaterra, como país 
monopolista e já avançado em seu processo de industrialização, passou a se opor 
ao comportamento dos países que atuavam dentro de uma linha de comércio 
internacional regida pela Teoria Mercantilista para impor uma linha de liberal de 
comercialização entre os países. No entendimento dos autores, a Inglaterra 
passou a pregar o livre mercado internacional, com o mínimo de interferência dos 
Estados sobre suas fronteiras economicamente, visando a garantir a entrada de 
seus produtos nesses países sem taxas alfandegárias, ou com a menor taxa 
possível. Um dos principais argumentos utilizados era de que a abertura ao 
comércio internacional proporcionaria aos países o acesso a uma maior 
quantidade de bens e, como consequência, um maior desenvolvimento 
econômico. Mas, dado ao avanço na produção de bens industrializados, as 
relações de trocas entre os países tenderam a ser mais vantajosas para a 
Inglaterra. 
Um lorde inglês chamado David Ricardo, em 1817, foi o responsável por 
criar uma teoria para justificar as vantagens obtidas por cada país nas relações 
 
 
15 
de trocas no comércio internacional. A teoria das vantagens comparativas pregava 
que cada país deveria se especializar naquilo que melhor pudesse produzir, ou 
seja, naquele produto ou serviço que, comparativamente ao ofertado no mercado 
internacional, os custos fossem mais vantajosos. Em oposição às teorias de 
abertura de mercado, surgiram também as medidas protecionistas, cujos Estados 
pretendiam proteger suas fronteiras e seu mercado interno para garantir sua 
produção e emprego e evitar a saída de divisas. A intensificação dessa atitude 
dos países acabou levando os países à Primeira Guerra Mundial, pois conforme 
Sandroni (2007, p. 162) “o protecionismo foi posto em prática em primeiro lugar 
pelos Estados Unidos e Alemanha, que disputavam os mercados de produtos 
industriais com a Grã-Bretanha, sendo seguidos gradualmente pela maioria dos 
países”. 
Após a ocorrência das duas grandes guerras mundiais, o comércio 
internacional passou por mudanças para se adaptar ao novo modelo de economia 
internacional posta, principalmente pelo processo de reconfiguração geopolítica e 
da Guerra Fria. Uma dessas mudanças foi a realização de um tratado de comércio 
internacional objetivando a criação de um órgão que pudesse contribuir de alguma 
forma para normatizar as transações econômicas entre os países. Um desses 
órgãos foi o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (General Agreement on Tariffs 
and Trade – GATT), criado em Genebra, na Suíça, em 1947, para contribuir para 
o desenvolvimento do comércio internacional, por meio da realização de acordos 
entre os países para reduzir tarifas alfandegárias, tratamento bilateral igualitário, 
eliminação de subsídios e de reserva de mercado para produtos internos por meio 
de cotas de importação. Em um primeiro momento, 23 nações foram signatárias 
do GATT. Em 1995, na cidade de Marrakesh, no Marrocos, foi criada a 
Organização Mundial do Comércio – OMC, que passou a ter os mesmos objetivos 
do GATT, que além de contar com um número maior de países, passou a existir 
de forma permanente, haja vista que o GATT era temporário. 
A partir da década de 1950, várias foram as crises econômicas que 
afetaram o mercado internacional e muitos países buscaram, por meio de relações 
comerciais com seus vizinhos, organizarem-se por meio de mercados comuns. 
Um dos primeiros mercados a se formar foram, conforme já vistos, a Associação 
Latino-Americana de Livre Comércio – ALALC – e a Comunidade Econômica 
Europeia do Carvão e do aço. No desenvolvimento dessas articulações entre os 
países para protegerem seus mercados surgiram ainda o Nafta e o Mercosul. 
 
 
16 
De acordo com Costa e Santos (2012), o Tratado Americano de Livre 
Comércio (Nort American Free Trade Agreement – Nafta) foi criado em 1989 e 
representa um acordo de livre comércio estabelecido entre os Estados Unidos e 
Canadá e depois ampliou-se com a participação do México. Pretendia os EUA, 
com a formação do bloco econômico, fazer frente ao Mercado Comum Europeu, 
encaminhado pelos países que compõem a União europeia. O acordo entrou em 
vigor em 1994 e tinha como previsão a abolição total das tarifas alfandegárias 
entre os três países em 2010. Apesar dos avanços comerciais entre os membros 
do bloco, alguns entraves políticos e econômicos acabaram não tornando possível 
tal abolição na data prevista. O chile, apesar de ser um país geograficamente 
localizado ao sul da América, é membro associado do bloco e possui vantagens 
nas relações comerciais com todos os demais países-membros. Apesar de se 
constituir como bloco, o Nafta não permite a livre circulação de pessoas entre os 
países pertencentes a ele. 
Na década de 1990, os EUA buscaram impor a todosos países americanos 
uma Área de Livre Comércio das Américas – Alca –, que tinha como objetivo uma 
integração entre todos os países da América Latina e Caribenha, mais o Canadá. 
De iniciativa dos EUA, a Alca pretendia ser o maior mercado comum do planeta. 
Uma das propostas para essa Área de Livre Mercado era a integração monetária. 
A proposta americana era de que o Dólar fosse a moeda comum a todos. Para 
Sandroni (2007), o projeto da Alca tinha grande abrangência, que ia desde a 
integração monetária, a preservação da propriedade intelectual, a instalação de 
bases militares americanas, acordos de comércio e tarifas até barreiras de 
proteção entre os países-membros em relação aos demais blocos econômicos ou 
países não membros. 
A Alca não foi bem-vista por governantes de muitos países latino-
americanos, especialmente o Brasil e a Argentina, que percebiam na proposta 
americana uma mão de única via. Todos os mercados do continente aberto aos 
interesses do governo americano, sem a devida contrapartida dos EUA. Além 
disso, a dolarização das economias de muitos dos países latino-americanos e 
caribenhos, iniciada nos primeiros anos da década de 1990, colocaram os países 
na dependência da oferta de dólares no mercado internacional. Muito diferente da 
proposta de unificação monetária da União Europeia, onde os países-membros 
se dispuseram a acabar com suas moedas para a criação de uma moeda comum, 
os EUA não se dispuseram a aceitar uma nova moeda e muito menos de pôr fim 
 
 
17 
ao Dólar e criar um Conselho Monetário dos países-membros da Alca. A proposta 
da Alca não avançou porque houve reações contrárias internas em praticamente 
todos os países atingidos pela Área de Livre Comércio das Américas. 
Um dos grandes entraves para a Alca foi a articulação já existente entre os 
países do cone sul das Américas, o Mercosul. De acordo com Costa, Santos 
(2012) e Sandroni (2007), o Mercosul começou a nascer após acordos comerciais 
realizados entre o Brasil e a Argentina e foi criado oficialmente com a assinatura 
do Tratado de Assunção, em 29 de novembro de 1991. Reunindo Brasil, 
Argentina, Paraguai e Uruguai, o acordo teve como proposta criar uma relação de 
livre comércio entre os países do Cone Sul, por meio de uma integração 
progressiva, levando em conta o desenvolvimento de cada país. Além de manter 
uma ampliação da comercialização de bens e serviços, matéria-prima e mão de 
obra entre os membros do Mercosul, o acordo previa o estabelecimento de 
cobranças de taxas de importação e exportações comuns e também a realização 
de diversos foros para discussões sobre as políticas da área de livre comércio do 
Cone Sul, principalmente sobre a adesão de novos países ao Bloco. 
Saiba mais 
Saiba mais sobre a Primeira Guerra Mundial assistindo ao Vídeo: 
PRIMEIRA Guerra Mundial o fim de uma era dublado. Erivaldo Santos. 
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=s25JGNCSu4M>. Acesso 
em: 22 mar. 2019. 
 
 
 
18 
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AULA 4 
ESPAÇO GEOGRÁFICO, 
ECONOMIA E COMÉRCIO 
INTERNACIONAL 
Prof. Rodolfo dos Santos Silva 
 
 
2 
INTRODUÇÃO 
Nesta aula, alguns assuntos importantes serão discutidos, dentre eles, a 
história da moeda e sua importância para os negócios e para o comércio exterior. 
Do surgimento da moeda ao padrão-ouro, discutem-se as consequências de uma 
moeda com seu valor garantido pelo Estado. Outro assunto de importância 
relevante são as características da moeda e sua abordagem como instrumento 
internacional de acumulação e de trocas. O texto apresenta ainda o padrão-ouro 
estabelecido pelas metrópoles para as suas colônias e o domínio internacional da 
Inglaterra sobre os mares e sobre o comércio internacional até ser superado pelas 
organizações criadas em Bretton Woods. 
Como havia muitas dificuldades para os países manterem o padrão-ouro, 
pois não possuíam reservas em metais preciosos, foram criadas moedas sem 
lastros. O que se aborda neste texto é a forma encontrada para que os países 
pudessem manter a sua relação de comércio exterior com uma moeda que apenas 
tinha seu valor mantido internamente. Nesse sentido, discute-se como a 
Conferência Monetária Internacional de Bretton Woods representou um marco na 
história monetária internacional. 
Tendo como referencial a criação do Banco Mundial, do FMI e do 
estabelecimento do Dólar como moeda internacional, são apresentados os 
argumentos que provocaram profundas alterações nas transações econômicas 
internacionais, principalmente após a criação da Agência Internacional de 
Desenvolvimento (AID) e do GATT (General Agreement on Tariffs and Trade), que 
passaram a ser determinantes na reestruturação do capitalismo e no processo de 
reconstrução dos países após a Segunda Guerra Mundial. 
TEMA 1 – O DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA MOEDA 
É na Antiguidade que surgiram as primeiras representações da moeda. As 
primeiras informações históricas sobre a moeda datam do século VII a. C., na Ásia 
Menor, e também no Peloponeso no sul da Grécia. O Rei tinha o costume de 
cunhar moedas para manter as transações econômicas no reino e com outros 
países. Naquela época, descobre-se que a fundição de metais e sua utilização 
como moeda poderia agregar valor e ao mesmo tempo durabilidade a metais de 
fácil aceitação no mercado, pois,além de evitar o seu desgaste devido ao 
manuseio, o ouro e a prata haviam se tornado metais preciosos de muita raridade. 
 
 
3 
Sua fácil aceitação, valor intrínseco, raridade e durabilidade proporcionaram uma 
organização monetária do comércio de bens e serviços. 
Antes da moeda havia o escambo, que representava várias formas de 
realização de trocas de bens e serviços sem a intermediação da moeda, e era a 
forma mais primitiva de realização de trocas, nas sociedades primitivas. 
Atualmente, o escambo tende a ser utilizado quando há uma falta de ou 
desvalorização intensa da moeda no mercado, devido às crises na economia e à 
falta de confiança dos consumidores e produtores em relação à moeda existente. 
Nesses momentos de crise, as moedas são substituídas por mercadorias que se 
tornam o instrumento de troca, substituindo as funções exercidas pela moeda, 
originando o que os economistas chamam de moeda mercadoria. O escambo foi 
utilizado muitas vezes na história. 
Os livros trazem exemplos das caravanas portuguesas quando chegaram 
à América carregadas de especiarias para trocar por madeira e metais preciosos 
com os habitantes locais. Assim, as especiarias faziam o papel da moeda, 
adquirindo a função de mercadoria moeda. Os tecidos, o couro, o sal, a pimenta, 
em muitos casos foram utilizados dessa forma. Com a cunhagem, a moeda 
metálica passou a ter como principal função facilitar as trocas, e assim também, a 
partir do momento em que passou a fazer esse papel, cumpriu também a função 
de atribuição de valor a determinado produto. Coordenada pelo Estado, ela 
fortaleceu as transações econômicas, possibilitou maior nível de acumulação de 
riquezas, abriu novos mercados para as nações e deu mais poder aos seus 
possuidores. 
A moeda propiciou o desenvolvimento de uma das mais importantes teorias 
econômicas, a do Fluxo Circular da Renda. Nessa teoria, as trocas são facilitadas 
pela moeda (fluxo monetário) e pelos bens e serviços (fluxo real) que percorrem 
o caminho da economia perfazendo um fluxo circular. Ao produzir bens e serviços, 
o setor produtivo gera mais empregos, e os empregados, com mais dinheiro no 
bolso, contratam e compram mais no mercado de bens e serviços. Para poder 
dispor de bens e serviços, o mercado tem de comprar dos produtores. Se os 
produtores vendem, contratam mais trabalhadores. Todo esse processo é 
realizado por intermédio da moeda. Quanto mais se produz, mais se contrata; 
quanto mais se contrata, mais moeda circula na economia e mais o mercado 
vende. 
 
 
4 
Conforme Costa e Santos (2011), no comércio exterior isso também 
acontece, dentro de uma dinâmica de trocas de bens e serviços de acordo com o 
nível de especialização obtidos por cada país na divisão internacional do trabalho. 
Essas relações de trocas são baseadas nos tratados de comércio exterior 
estabelecidos entre os países que possuem esse intercâmbio. Nesses 
intercâmbios, muitas vezes há uma deterioração das relações de troca quando 
um necessita vender ao outro uma quantidade de bens maior do que pode 
adquirir, o que leva muitas vezes, a um saldo monetário positivo para quem vende 
e negativo para quem compra. Essa política de vender mais e comprar pouco, 
para evitar a saída de moeda (divisas internacionais) tem base na teoria 
mercantilista, surgida no século XVI. A teoria justifica as práticas dos grandes 
Estados sobre as suas colônias, de trocar especiarias por ouro e prata, ou por 
qualquer outro produto (madeira nobre, por exemplo) que pudesse ser 
rapidamente convertido em ouro. 
Durante o período da Idade Média, a moeda ajudou a consolidar muitos 
reinos, devido à possibilidade de cunhagem e à garantia de seu curso por parte 
do Estado. Em muitos desses reinos, o ouro e a prata eram cunhados com o 
brasão do reino e valiam quanto pesavam, porém, em alguns deles, por causa da 
escassez de ouro e prata, muitos utilizavam metal não nobre ou forjavam o metal 
precioso misturado a outros metais de menor valor, o que disfarçava o valor da 
moeda e o tornava depreciável. A forma encontrada para que as pessoas 
percebessem a moeda cunhada em metal não precioso como um instrumento 
facilitador das trocas foi garantir seu curso por meio de leis e forçar sua aceitação. 
O curso forçado gerou desconfiança no papel importante desempenhado 
pela moeda como instrumento facilitador das trocas, tornando-a frágil diante das 
facilidades encontradas pelos governantes estatais para cunhar moedas sem 
valor intrínseco ou sem lastro. Isso gerou rápida desvalorização em relação aos 
bens e serviços. Quanto mais moeda era cunhada dessa forma, menos ela valia, 
o que gerava inflação. A inflação, originária do latim inflare, representa a elevação 
dos preços, como se fosse um balão inflando e que logo estoura. Um exemplo 
clássico dessa emissão ocorreu durante as década de 1980 e 1990 no Brasil, 
quando a desvalorização da moeda chegou à casa dos 1.900 % ao ano. Em 1° 
de julho de 1994, o Cruzeiro Real foi substituído pelo Real, a atual moeda do país. 
Um Real (R$1,00) passou a valer CR$ 2.750,00 (dois mil, setecentos e cinquenta 
Cruzeiros Reais). 
 
 
5 
É também na Antiguidade que surge a moeda papel, um tipo de moeda que 
poderia, a qualquer momento, ser convertido em metal precioso ou ser 
representativo de crédito concedido pelo governo aos seus credores. Na história 
econômica, dizem que esse tipo de moeda surgiu devido à escassez de ouro e 
prata, mas principalmente pela necessidade de guarda dos metais preciosos, por 
ter se tornado cada vez mais perigoso o seu transporte e por causa do elevado 
número de assaltos em alto mar por piratas ou nas estradas por grupos armados. 
Afirma-se que foi um judeu o responsável por iniciar esse processo de emissão 
de papel moeda ao criar um estabelecimento para guardar ouro denominado de 
ourivesaria. Conta-se que para cada quantidade de ouro guardada, o proprietário 
da ourivesaria concedia um certificado. Com essa certificação, com lastro 
correspondente à quantidade de ouro depositada, seu proprietário poderia trocar 
ou adquirir qualquer bem ou serviço que necessitasse. Nasce dessa relação entre 
ouro depositado e certificado para fins comerciais o papel-moeda com lastro 
metálico (ouro ou prata). 
 Com a emissão do papel moeda lastreada em ouro, ou seja, com valor 
nominativo e de fácil aceitação no comércio, pois podia ser rapidamente 
convertido em metal precioso, algumas moedas internacionais passaram a ter, 
não mais seu valor intrínseco, mas um valor lastreado. Alguns metais baratos, 
mas de grande durabilidade e fácil manuseio, assim como moedas cunhadas ou 
papéis emitidos, passaram a circular como instrumentos monetários. Para garantir 
a aceitação desses instrumentos monetários, pois sua circulação e credibilidade 
dependia das instituições bancárias ou financeiras que os emitiam, o Estado 
tomou para si o controle dessa emissão. 
 Alguns dos problemas que levaram o Estado a assumir, por meio de 
legislações e da criação de um banco emissor específico, estão relacionados ao 
fato de que muitas instituições financeiras emitiam papéis moedas (com 
possibilidades de lastro) que colocavam em risco o sistema monetário como um 
todo. Algumas dessas instituições não emitiam apenas papéis moedas com lastro 
e acabavam colocando em circulação mais papel-moeda que a quantidade de 
ouro em sua posse. Como eram constantes as crises econômicas no século XVIII, 
nesses momentos muitas pessoas que tinham papéis-moeda conversíveis em 
ouro corriam para os bancos para retirar a quantidade de ouro estabelecida 
nominalmente em cada papel-moeda. O resultado disso era uma quebradeira de 
muitos bancos e a desconfiança em relação ao sistema monetário. 
 
 
6 
TEMA 2 – O ESTADO E O SISTEMA MONETÁRIO 
 A segurança do sistema monetário foi assumida pelo Estado, que garantiu 
o seu curso com a criação de leis. Quando uma determinadainstituição financeira 
tende a quebrar, por malversação de recursos, o Estado assume o risco e mantém 
o controle sobre o sistema financeiro. 
2.1 O padrão ouro e o comércio internacional 
No entendimento de Rossetti (2003), o sistema do padrão ouro foi adotado 
pelos países como forma de garantir que suas moedas pudessem ter fácil 
circulação e aceitação, tanto em âmbito nacional quanto internacional. Como 
abordado anteriormente, a moeda-papel tinha sua conversão em ouro em 
qualquer tempo e, para que isso ocorresse, deveria haver, na mesma proporção 
do papel ou moeda emitida, uma correlação em ouro. Nesse sistema, as 
autoridades monetárias passaram a cobrar um valor mais alto para a venda de 
sua moeda cunhada em ouro e um valor mais baixo para comprar moeda ou 
papel-moeda de ouro de outros países. 
Durante a primeira metade do século XX, tornou-se quase uma regra a 
implantação de um padrão ouro relacionado às moedas dos países para o 
comércio internacional. Muitos países, como não possuíam uma moeda atrelada 
ao padrão ouro, mantinham a cotação de sua moeda relacionada a outra moeda 
forte com padrão em ouro. Para isso, ou mantinham suas reservas na moeda que 
estava atrelada ao padrão ouro, para convertê-la quando precisassem, ou 
mantinham um estoque em ouro para converter sua moeda, caso fosse 
necessário. Esse padrão ouro (ou a moeda de outro país com padrão ouro) era 
utilizado para manter a cotação da moeda local. Caso houvesse uma emissão 
acima da quantidade de reservas existentes, haveria uma desvalorização da 
moeda, e os preços dos bens e serviços subiriam. Normalmente essa conversão 
se dava em relação à moeda internacional, em libras esterlinas inglesas que, até 
1944, era a principal moeda utilizada nas transações internacionais, apesar do 
dólar americano vir ocupando, a partir do início do século XX, espaços importantes 
no comércio internacional. 
 Na medida em que o ouro foi se tornando escasso, também as reservas 
em ouro foram escasseando. Os países passaram a não possuir a mesma 
quantidade de ouro para lastrear a quantidade de papel-moeda emitida. A 
 
 
7 
dificuldade de manter as moedas lastreadas em libra esterlina, dólar ou ouro 
tornou comum, a partir da Primeira Guerra Mundial, a emissão da moeda 
fiduciária, que ficou conhecida por esse nome devido ao seu curso ser forçado 
mediante a confiança (fiducia em latim) dada ao Estado emissor de papel-moeda 
sem lastro ou parcialmente lastreada. Ainda durante a Segunda Guerra Mundial, 
os EUA, percebendo a fragilidade do mercado internacional e suas moedas, 
convocou em 1944 a Conferência Monetária Internacional de Bretton Woods. 
2.2 A Conferência Monetária Internacional de Bretton Woods 
Em 1944, foi realizada no Condado de Bretton Woods, no Estado de New 
Hampshire – EUA, a Conferência Monetária e Financeira da Organização das 
Nações Unidas. A Conferência foi de suma importância para reorganização do 
comércio internacional após a Segunda Guerra Mundial. É importante destacar 
que essa Conferência foi realizada antes do término da Guerra, no mês de julho 
de 1944, convocada sob a liderança dos Estados Unidos, e reuniu 44 países. No 
entendimento de Garbossa e Silva (2018), Bretton Woods representou um marco 
na história monetária internacional. Para esses autores, foi nessa Conferência 
Monetária que os Estados Unidos apresentaram sua moeda como uma moeda 
internacional, propondo ao comércio internacional que todas as moedas 
pudessem ter no Dólar (US$) sua referência de moeda forte e lastreada 
(Garbossa; Silva, 2018). 
Para que os 44 países aceitassem e fossem signatários do Tratado de 
Bretton Woods, foram destacados os problemas econômicos gerados pela crise 
de 1929 e a necessidade de se reorganizar o comércio internacional diante das 
ações dos países que vinham, por meio de elevações tarifárias, ampliando o saldo 
e tornando superavitária sua balança comercial, em detrimento dos países 
vizinhos. Além disso, havia uma necessidade de redefinir o caminho a ser seguido 
pelas nações no pós-Guerra, pois o capitalismo internacional se deparava com 
aquilo que havia se tornado uma ameaça constante, o socialismo soviético. Um 
dos grandes objetivos era convencer os 730 delegados, dentre eles os 
representantes brasileiros, da necessidade de fortalecimento do capitalismo 
mundial por meio da escolha do dólar como moeda internacional. Justificava-se 
para isso que a moeda americana era lastreada em ouro. Além disso, era 
apresentada como proposta a criação de instituições bancárias e financeiras que 
 
 
8 
pudessem contribuir para a nova geopolítica do comércio internacional e do 
capitalismo mundial. 
Na Conferência de Bretton Woods, o dólar foi apresentado como a moeda 
internacional com maiores possibilidades para garantir a existência do livre 
mercado entre os países. Foi defendida como uma moeda estabelecida no padrão 
ouro, adequada à utilização por diversos países como referência monetária 
internacional. De acordo com Garbossa e Silva (2018), isso foi contestado pelo 
representante britânico na Conferência, John Maynard Keynes (1883-1946). 
Keynes foi um dos maiores nomes do pensamento econômico do século XX e se 
destacou por se opor às teorias da economia clássica de autorregulação do 
mercado. Na Conferência, esse economista defendeu a manutenção da 
hegemonia da libra esterlina, moeda inglesa, sobre as demais moedas, inclusive 
sobre o dólar. Os argumentos do célebre lorde inglês não foram suficientes para 
convencer os delegados presentes em Bretton Woods de que a Inglaterra, depois 
de passar pela Segunda Guerra Mundial, conseguiria bancar sua moeda, a libra 
esterlina, com lastro metálico. 
Dentre os objetivos principais dessa Conferência Monetária, além do 
interesse dos Estados Unidos em impor aos demais países sua moeda como 
moeda internacional, estava a busca pela estabilidade da moeda nos países 
participantes, o processo de reconstrução dos países destruídos pela guerra e a 
nova geopolítica mundial. As evidências urgentes de se pensarem estratégias 
para um futuro no qual haveria a necessidade de se enfrentarem os problemas 
ocasionados pela tragédia da Segunda Guerra Mundial e a nova geopolítica que 
apontava o fortalecimento da URSS e do avanço socialista proporcionaram a 
criação de instituições que serão a base de sustentação do sistema capitalista de 
Bretton Woods para frente. Uma dessas instituições foi o FMI. 
TEMA 3 – O FMI E AS ESTRATÉGIAS PARA ASSEGURAR UMA GEOPOLÍTICA 
CAPITALISTA 
O Fundo Monetário Internacional (FMI) foi outra instituição criada em 
Bretton Woods em 1944 e de grande importância para o desenvolvimento do 
comércio internacional. O FMI tem sua sede em Washington (EUA) e compõe 
junto com o Grupo Banco Mundial o Sistema Financeiro Internacional (SFI). Tem 
como objetivo a captação de fundos, por meio de uma cooperação dos países 
membros para manter o SFI. Cada país membro contribui com uma cota de 
 
 
9 
participação para o Fundo. Essa cota depende da posição do país em relação ao 
seu nível de desenvolvimento capitalista. Dentre outros objetivos estão a 
solvência do dólar em relação às moedas internacionais e a coordenação da 
paridade das demais moedas em relação à moeda americana, para evitar que 
alguns países busquem obter vantagens na exportação de seus produtos no 
mercado internacional por meio da desvalorização de suas moedas. 
Em 1944, na Conferência de Bretton Woods, foram apresentadas duas 
propostas de instituições para servir como organização de fomento e crédito para 
o desenvolvimento dos países e evitar novos confrontos bélicos internacionais: 
uma de John Maynard Keynes (1883-1946), Secretário do Tesouro britânico, e 
outra de Harry Dexter White (1892-1948), Secretário do Tesouro norte-americano. 
Keynes pretendia criar um modelo de banco de crédito internacional que 
promovesse a união de compensações internacionais,que tivesse o papel de agir 
como um regulador da atuação dos bancos centrais nacionais. Com um Banco 
Central Mundial pretendia captar recursos por meio dos Estados membros para 
fornecer créditos aos países, evitando excessos. Para Keynes, o banco não 
poderia ter ingerência sobre os países recebedores tomadores de empréstimos e 
os países pobres poderiam ser subsidiados por créditos adicionais com juros 
menores. Para White, deveria ser criada uma instituição com a capacidade de 
possuir fundos por meio de uma moeda forte, lastreada em ouro para financiar a 
reconstrução e o desenvolvimento dos países. Segundo a proposta de White, os 
países deveriam se ajustar às determinações da instituição para que pudessem 
receber recursos em moeda internacional, que deveria ser o dólar americano. 
Prevaleceu a proposta de White e assim foi criado o FMI. 
O FMI – Fundo Monetário Internacional, apesar ter sido criado na 
Conferência Monetária Internacional de Bretton Woods-EUA, em 1944, é uma 
instituição multilateral especializada da ONU – Organização das Nações Unidas, 
sediada em Washington nos Estados Unidos. É uma instituição que tem em seus 
quadros de associados quase todos os países industrializados do mundo 
capitalista. Cada país contribui com uma parte para a composição dos recursos 
do FMI. Uma de suas funções, para o qual foi criado, é controlar a paridade 
monetária das moedas dos países com o ouro, tendo a moeda americana como 
referência, no mundo capitalista. O FMI também é utilizado como um fundo aos 
quais os países podem recorrer de acordo com os problemas econômicos, 
detectados pelos agentes do Fundo nesses países. O Fundo atua como propositor 
 
 
10 
de medidas que podem ser adotados pelos países para melhoria de suas 
economias. De acordo com Sandroni (2007, p. 348), quando há solicitações de 
auxílios por parte dos países, “o FMI oferece assistência, fiel a uma política do tipo 
monetarista (taxa cambial única e fixa, moeda conversível, corte nos gastos 
públicos, contenção salarial etc.), que nem sempre atende aos interesses dos 
países”. 
O FMI, o Banco Mundial e o GATT foram, até a década de 1990, as 
organizações dominantes, com capacidade de intervenção em todos os 
continentes e de alterarem a geopolítica internacional. Apesar de inicialmente 
estarem ligadas às Organizações das Nações Unidas (ONU) e agirem como se 
representassem os interesses de todas as nações, implicitamente tais 
organizações agiam e agem com o objetivo de expandir os interesses do grande 
capital com sede nas maiores economias mundiais. O GATT, em 1995, passou 
por uma reformulação e tomou uma outra nomenclatura, a Organização Mundial 
do Comércio (OMC). 
Apesar de a cidade de Londres (Inglaterra) ter sido proposta por Keynes 
primeiramente como sede do FMI, os representantes norte-americanos sugeriram 
a capital dos EUA, Washington como sede. Por entender que geopoliticamente a 
Inglaterra perderia importância caso a sede da instituição ficasse em Washington, 
Keynes propôs então, a cidade de Nova York (EUA) como sede do FMI. Os EUA, 
por possuírem os maiores argumentos, o da força política e o de possuírem a 
maior quantidade em moeda padrão-ouro e ainda a possibilidade de a imprimirem, 
acabaram garantindo a cidade de Washington como sede do FMI. Assim, o padrão 
ouro que vinha sendo sustentado pela libra inglesa desde 1870 no comércio 
internacional acabou sendo substituído pelo US$ com a criação do FMI. Assim, a 
partir de 1944, o FMI se tornou uma instituição fundamental na geopolítica 
mundial, tendo como uma de suas organizações executivas o Grupo Banco 
Mundial (BIRD e AID). 
TEMA 4 – AS INSTITUIÇÕES DE BRETTON WOODS E A GEOPOLÍTICA 
INTERNACIONAL (O BANCO MUNDIAL E A AID) 
Dentre as instituições criadas pela Conferência Mundial de Bretton Woods 
está o Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD). Pela sua 
importância geopolítica, o BIRD ficou conhecido e popularizado como Banco 
Mundial (World Bank), que foi criado para promover empréstimos e 
 
 
11 
financiamentos aos países destruídos pela guerra, assim como contribuir para o 
desenvolvimento econômico dos países mais pobres. Estrategicamente, o BIRD 
foi constituído com base em recursos capitalizados junto aos países membros. 
Em 1946, quando o BIRD começou a operar, ficou definido que os países com 
maior poder de comando sobre o Banco seriam aqueles com posse da maior 
quantidade de reservas em moeda internacional, definidas pela Conferência de 
Bretton Woods. Assim, os EUA ficaram sendo o país com maior poder de decisão 
dentro do Banco Mundial. 
No entendimento de Pereira (2010), diante das alterações geopolíticas com 
o Plano Marshall e a Guerra Fria, para dar conta de atender a seus objetivos, o 
Banco passou a criar outras instituições que pudessem contribuir para melhorar o 
atendimento às demandas surgidas após o período referenciado. Em 1956, foi 
criada a Corporação Financeira internacional (CFI), que visava especificamente 
atender os países em desenvolvimento, principalmente as demandas privadas 
desses países. Também foi criada, em 1966, a Agência Internacional de 
Desenvolvimento (AID), objetivando atender às demandas dos países mais 
pobres que ficaram de fora do projeto inicial de reconstrução e desenvolvimento 
do pós-guerra. Assim, países como o Brasil, a Índia e países africanos passaram 
a demandar e ter acesso aos empréstimos e investimentos dessas instituições 
financeiras e de desenvolvimento, dentro da lógica da aproximação desses países 
aos interesses do Banco Mundial e do propósitos estabelecidos pela Conferência 
de Bretton Woods. 
Em decorrência das demandas e dificuldades enfrentadas pelos países 
pobres e em desenvolvimento, o Banco Mundial e suas instituições passaram a 
ter uma influência muito grande sobre eles. Além de empréstimos e 
financiamentos, o BIRD passou a oferecer assessorias técnicas na elaboração de 
projetos e orientações sobre decisões internas desses países como na elaboração 
de políticas públicas e decisões políticas. Até porque um dos grandes objetivos 
das instituições de Bretton Woods, desde o princípio, foi alinhar os países ao 
modelo econômico dos Estados Unidos. Muitas vezes o tipo de projeto financiado 
tinha relação com modelos de desenvolvimento estabelecidos pelas linhas gerais 
do Banco, porém impactavam de forma negativa sobre as questões sociais dos 
países, como os graves problemas ambientais causados pelo financiamento de 
barragens e de rodovias. 
 
 
12 
Como muitos países haviam encontrado o caminho dos bancos privados 
para seus financiamentos, o BIRD, por meio da AID, se especializou no 
assessoramento e atendimento aos países mais pobres, visando garantir 
empréstimos a fundo perdido e subsídios a esses países, por meio de incentivos 
a experiências inovadoras e projetos que pudessem minimizar as condições de 
pobreza desses países. Para muitos autores como Harvey (2005), Davis (2006), 
Chossudovsky (1999), dentre outros, o Banco financiou projetos e obras de 
infraestrutura, como rodovias, barragens, usinas e portos, que provocaram danos 
irreversíveis ao meio ambiente e trouxeram prejuízos às pessoas que necessitam 
dos rios, mares e florestas, que foram devastadas por tais projetos. A partir da 
década de 1970 e das Conferências sobre o clima e meio ambiente, o Banco 
passou a ter como estratégia a introdução, em seus documentos e suas ações, 
de questões relacionadas à preservação ambiental e a preocupações sociais. 
Para Santos (2015), acabar com a pobreza foi sempre um grande problema 
para o capitalismo globalizado, principalmente porque há uma relativização da 
pobreza ao não consumo, o que representa não existência de mercado para 
muitos dos produtos massificados globalmente. Dessa forma, a intenção do 
capitalismo de combater a pobreza de forma global, direcionada pelo Banco 
Mundial em diferentes regiõesgeográficas do planeta, é parcializada, segmentada 
e não resolve os verdadeiros problemas dos países. Para esse autor, o Banco 
Mundial, com conivência dos governos nacionais, “financia programas de atenção 
aos pobres, querendo passar a impressão de se interessar pelos desvalidos, 
quando, estruturalmente, é o grande produtor da pobreza” (Santos, 2015, p. 73). 
Para Pereira (2008), o Banco Mundial e a AID, a partir da década de 1960, 
serviram aos interesses ideológicos norte-americanos, apresentando-se como 
combatentes, mais discursivos do que efetivos, da pobreza, buscando sufocar os 
ideais socialistas de igualdade e de melhoria da qualidade de vida nos países 
pobres. Também se colocou como um promotor das grandes empresas e 
laboratórios agrícolas multinacionais, subsidiando alterações no modo de 
produção agrícola dos países periféricos pela produção de grandes extensões, 
baseada em alta tecnologia, de agrotóxicos e de outros defensivos agrícolas. Os 
maiores beneficiados de todo o trabalho desempenhado pelo Grupo Banco 
Mundial (Banco Mundial e AID) foram as grandes empresas multinacionais, 
principalmente as norte-americanas, o próprio governo dos EUA e Wall Street. O 
 
 
13 
Grupo passou a acompanhar o nível de crescimento dos países e de suas contas 
por meio dos seus balanços de pagamentos. 
TEMA 5 – O BALANÇO DE PAGAMENTOS E A GEOPOLÍTICA INTERNACIONAL 
O balanço de pagamentos tem sua origem ainda no período mercantilista 
quando um de seus principais articuladores, o economista inglês Thomas Mun 
(1575-1641), filho de um comerciante londrino, dedicou-se com êxito ao comércio 
exterior viajando pela Itália e pelo Oriente Médio. De 1615 até o fim da vida foi 
Conselheiro da Companhia das Índias Orientais e relatou toda a sua experiência 
na obra A Discourse of trade from England unto the East Indies (uma dissertação 
sobre o comércio da Inglaterra com as Índias Orientais) de 1621. Na obra, 
defendeu a necessidade da organização de uma contabilidade que levasse em 
conta as saídas e entradas de metais preciosos (ouro e prata, moedas com 
valores intrínsecos) no país, principalmente porque entendia que, por meio do 
comércio exterior, o país possuía seu principal instrumento do enriquecimento. 
Em sua principal obra England’s Treasury by Forreign Trade (O tesouro da 
Inglaterra obtido pelo Comércio Exterior), obra escrita em 1630, mas só publicada 
em 1664, defendeu que o comércio exterior era o principal instrumento para o país 
alcançar o enriquecimento. 
 Essa relação do comércio exterior com a balança comercial está fortemente 
presente em uma das mais importantes obras sobre a política mercantilista escrita 
pelo economista austríaco Phillip von Hornick (1638-1712). Em sua obra, de 1684, 
“A Áustria acima das outras nações, se ela assim o desejar”, apresentou uma lista 
contendo “9 regras mais importantes da economia nacional”. No entendimento 
desse autor, para que um país como a Áustria pudesse ser rico, deveria ter como 
premissa estudar o solo de seu território com o máximo cuidado, considerando 
cada espaço como possibilidade agrícola. Deveria também manufaturar em seu 
território todos os produtos primários que não pudessem ser consumidos em sua 
forma natural. Defendeu ainda que a população deveria ser do tamanho que o 
país pudesse atendê-la satisfatoriamente e que os habitantes do país deveriam 
fazer todos os esforços para se contentar com os produtos domésticos. Enfatizou 
que todo o ouro e toda a prata da Áustria não deveriam ser retiradas sob nenhum 
pretexto, ou seja, o metal precioso deveria ser mantido no país. Propagou ainda 
que os produtos primários estrangeiros não deveriam receber em troca ouro ou 
prata e sim outros produtos domésticos manufaturados. Propôs que os produtos 
 
 
14 
importados estivessem em seu estado in natura para serem transformados dentro 
do território austríaco. Para os estrangeiros, conforme esse economista, deveriam 
ser vendidos produtos manufaturados, cabendo à Áustria importar apenas os 
produtos cuja oferta interna não fosse suficiente, mas com qualidade acima dos 
existentes internamente. 
 A preocupação com a obtenção de um saldo positivo nas transações 
econômicas com outros países ou colônias levou os mercantilistas a 
desenvolverem um sistema contábil semelhante ao que chamamos 
modernamente de “Balanço de Pagamentos”. Um dos precursores desse sistema 
foi Edward de Misselden (1608-1654), que, em seus manuscritos, publicados em 
1623, destacou como as transações do comércio internacional afetavam a política 
monetária dos países. Para tanto, ele concebeu um balanço de pagamentos 
contendo diversas contas em que sequencialmente figuravam os seguintes 
elementos: 
1. Balança Comercial: 
a. Mercadorias visíveis; 
b. Itens invisíveis; 
2. Conta de Capital: 
a. Capital de Curto Prazo; 
b. Capital de longo prazo; 
3. Transferências unilaterais; 
4. Ouro e prata; 
5. Erros e omissões. 
Utilizando seu modelo de balanço de pagamentos, esse economista 
britânico calculou pela primeira vez o balanço de pagamentos de seu país. 
Na atual conjuntura, o balanço de pagamentos passou a ser estruturado e 
acompanhado pelo FMI, após a Conferência Monetária Internacional de Bretton 
Woods (1944) e do Acordo Geral de Tratados e Tarifas (GATT) de 1947. Conforme 
Sandroni (2007) e Rossetti (2003), o balanço de pagamentos representa o registro 
de todas as transações econômicas e financeiras que os habitantes de um país 
tem com outros países. Composto por quatro contas específicas, o balanço de 
pagamentos registra a entrada e saída de divisas relacionadas às transações com 
bens e serviços e capitais físicos e financeiros entre o país e os demais países. 
Conforme o tipo de transação econômica e financeira realizada, ela pode ser 
 
 
15 
registrada em diferentes grupos de contas, que se somam ao final do balanço de 
pagamentos. 
Desde 1947, o Fundo Monetário Internacional (FMI) vem baixando novas 
resoluções para o registro das contas de transações internacionais entre os 
residentes no país e os residentes em outros países. Os intervalos entre cada 
resolução têm sido de aproximadamente dez anos. A última resolução colocada 
em prática pelo Brasil, em 2015, é a 6ª edição do Manual de balanço de 
pagamentos (MBP) e foi publicada pelo Fundo Monetário Internacional em 2009. 
Até então, a 5ª versão do MBP, utilizada pelo país desde 2001, havia sido editada 
pelo FMI em 1993. Normalmente as versões novas dos manuais buscam trazer 
inovações ao balanço de pagamentos (BP) do país, harmonizando suas contas 
com as contas do setor externo, diante de compromissos e acordos assumidos 
juntos ao FMI e aos países que compõem o G20. 
A 6ª edição do Manual de Balanço de Pagamentos (MBP) coloca as contas 
externas do Brasil de acordo com as contas internacionais da maioria dos países 
do mundo que já aderiram à metodologia avançada de divulgação de seus BPs. 
Assim, o BP se situa com o mesmo padrão de contas em uma geopolítica que 
inclui os países europeus, os EUA, a África do Sul, a Arábia Saudita, a Austrália, 
o Canadá, o Chile, a Colômbia, a Coreia do Sul, as Filipinas, a Índia, a Indonésia, 
a Malásia, a Rússia e a Tailândia. A cada nova edição são incluídos novos 
procedimentos que abordam novos conceitos para as contas que já existiam no 
BP. Também são alteradas uma ou outra nomenclatura. Um novo estilo de 
apresentação é acrescentado, assim como utilizadas novas fontes de informações 
que consistirão na base de apresentação do BP do Brasil para o resto do mundo. 
Hoje, a composição do balanço de pagamentos brasileiro, conforme a 6ª 
edição do Manual de Balanço de Pagamentos (MBP), apresentando o registro 
estatístico de todas as transações – fluxo de bens e direitos de valor econômico – 
entre os residentes de uma economia e o restante do mundo, ocorridos em 
determinado período de tempo e divulgadospelo Banco Central, é a seguinte: 
 
 
 
16 
Quadro 1 – Composição do balanço de pagamentos brasileiro 
 TRANSAÇÕES CORRENTES 
 Balança Comercial 
o Exportações 
o Importações 
 Balança de Serviços 
o Transportes 
o Viagens internacionais 
o Seguros 
o Serviços governamentais 
o Serviços financeiros 
o Computação e informação 
o Royalties e licenças 
o Aluguel de equipamentos 
o Serviços de comunicações 
o Serviços de construção 
o Serviços relativos ao comércio 
o Serviços empresariais, profissionais e técnicos 
o Serviços Pessoais, culturais e recreação Serviços diversos 
 Rendas 
o Rendas – salário e ordenado 
o Rendas – lucros e dividendos 
o Rendas – juros 
 Transferências Unilaterais Correntes 
 CONTA DE CAPITAL 
 CONTA FINANCEIRA 
o Investimento direto 
o Investimento estrangeiro direto 
 Investimento em carteira 
o Investimento brasileiro em carteira 
 Derivativos 
o Outros investimentos 
o Outros investimentos brasileiros 
o Outros investimentos estrangeiros 
 ERROS E OMISSÕES 
  Haveres da Autoridade Monetária 
Fonte: Banco Central do Brasil, 2018. 
Por meio do Quadro do Balanço de Pagamentos, signatários das 
resoluções da ONU, com a edição de seus manuais, podem acompanhar todas 
 
 
17 
as entradas e saídas de divisas do país, observando as relações existentes entre 
indivíduos do país com outros países. A balança comercial registra os valores das 
exportações e das importações. Se o valor das exportações superar o das 
importações, há um superávit na balança comercial. Se acontecer o contrário, 
teremos um déficit; e, se os valores forem equivalentes, a balança comercial 
estará em equilíbrio. Na Balança de Serviços são registradas as despesas e 
receitas de diversos tipos realizadas pelo país, tais como: transportes, viagens 
internacionais, seguros, serviços governamentais, serviços financeiros, 
computação e informação, royalties e licenças, aluguel de equipamentos, serviços 
de comunicações, serviços de construção, serviços relativos ao comércio, 
serviços empresariais, profissionais e técnicos, serviços Pessoais, culturais e 
recreação, e ainda serviços diversos. 
Há ainda a Conta de Rendas, que relaciona as rendas advindas de salários 
e ordenados, as rendas de lucros e dividendos e as rendas de juros. Também, 
constam no balanço de pagamentos as transferências unilaterais, em que são 
registradas as contas de donativos ou de manutenção de embaixadas e serviços 
consulares, ou mesmo de imigrantes que mandam parte de seus recursos para 
familiares em seus países de origem. Nas Contas de Capital e Contas Financeira, 
são apresentados os resultados com investimentos diretos realizados no país, 
assim como os investimentos e reinvestimentos das empresas estrangeiras 
estabelecidas no Brasil e as saídas de investimentos de empresas nacionais 
estabelecidas no exterior. Também são relacionados os investimentos em carteira 
tanto de residentes do país quanto de estrangeiros, assim como são apresentados 
ainda os investimentos em derivativos. 
Na conta Erros e Omissões é apresentada uma rubrica contendo o registro 
das diferenças decorrentes de erros e omissões por variação na taxa de câmbio 
ou na tabulação final dos resultados dos haveres da autoridade monetária. O 
Resultado Final do Balanço de Pagamentos é apresentado por meio das entradas 
das receitas totais (entradas) menos as saídas de receitas, representado um 
déficit (se o saldo for negativo) ou um superávit (se o saldo for positivo). Se as 
receitas forem iguais as saídas, haverá um equilíbrio no Saldo do Balanço de 
Pagamentos. 
 
 
 
 
 
18 
REFERÊNCIAS 
BANCO CENTRAL DO BRASIL. Informações econômicas – financeiras: séries 
temporais metadados. BCB, 2018. Disponível em: 
<https://www4.bcb.gov.br/pec/series/port/metadados/mg182p.htm>. Acesso em; 
26 mar. 2019. 
CHOSSUDOVSKY, M. A globalização da pobreza: impactos das reformas do 
FMI e do Banco Mundial. São Paulo: Moderna, 1999. 
DALLA COSTA, A. J. SANTOS, J. R. S. Economia internacional: teoria e prática. 
Curitiba: InterSaberes, 2011. 
DAVIS, M. Planeta favelas. Rio de Janeiro: Boitempo, 2006. 
GARBOSSA, R. A.; SILVA, R. S. Geografia política e geopolítica. Curitiba: 
InterSaberes, 2018. 
HARVEY, D. A produção capitalista do espaço. São Paulo: Annablume, 2005. 
KEYNES, J. M. Teoria geral do emprego, do juro e da moeda. Tradução Manuel 
Resende. São Paulo: Saraiva, 2012. 
PEREIRA, J. M. M. O Banco Mundial como ator político, intelectual e 
financeiro (1944 – 2008). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010. 
ROSSETTI, J. P. Introdução a economia. São Paulo: Atlas, 2003. 
SANDRONI, P. Dicionário de economia do século XXI. Rio de Janeiro/São 
Paulo: Record, 2007. 
SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência 
universal. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2015. 
VASCONCELLOS, M. A. S. de.; GARCIA, M. H. Fundamentos de economia. 
São Paulo: Saraiva, 2008. 
 
 
 
AULA 5 
ESPAÇO GEOGRÁFICO, 
ECONOMIA E COMÉRCIO 
INTERNACIONAL 
Prof. Rodolfo dos Santos Silva 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Este texto discute como os seres humanos se apropriam do espaço 
geográfico para realizar transações econômicas nos diferentes locais, lugares e 
territórios, garantindo a produção e o consumo, seja através de novas 
metodologias, como supply chain, de envolvimento dos gestores e suas relações 
com a cadeia de suprimentos, ou com supply value. Através da cadeia de 
suprimentos e da cadeia de valores, busca-se atingir maiores vantagens 
competitivas nos circuitos espaciais de produção. Busca-se também entender 
como as vantagens competitivas se dão em um contexto de globalização dentro 
de uma sistemática de interligações entre os países, e como elas envolvem seus 
circuitos de produção e suas relações de interdependência com o Estado e com 
as grandes corporações capitalistas. 
Vamos discutir, também, a influência da reestruturação produtiva, a partir 
da década de 1970, sobre a nova lógica de localização, produção e acumulação 
capitalista e, dessa forma, como esse modelo de produção fordista de massa, 
padronizado, foi substituído por um modelo de racionalização e flexibilidade. 
Também buscamos entender o processo de remodelação sobre a maneira de 
produzir bens e serviços, o que dinamizou a concorrência intercapitalista, e como 
isso influenciou a já bastante complexa divisão internacional do trabalho. Também 
abordamos a ampliação dessa complexidade a partir da implementação de 
políticas governamentais neoliberais nas economias capitalistas, a partir da 
década de 1990, e como a neoliberalização influenciou os padrões e processos 
de produção e atividades relacionadas em diferentes lugares, locais, territórios e 
escalas. 
TEMA 1 –CADEIA DE SUPRIMENTOS (SUPPLY CHAIN) 
As relações econômicas entre os países, através da globalização, 
proporcionam uma série de bens e serviços, que ultrapassam suas fronteiras 
geográficas. Nessa relação entre o país produtor e o destino de sua produção no 
comércio internacional, está o supply chain, um termo inglês bastante utilizado 
para designar os procedimentos de uma cadeia de produção que formam as 
demandas correntes de um país, desde a extração da matéria-prima até o 
consumidor final. Para se chegar a um resultado melhor dentro desse 
encadeamento produtivo, há que se considerar o envolvimento de todos os 
 
 
3 
agentes econômicos e instituições que fazem parte do processo. Nessa cadeia 
produtiva estão o coletor, ou extrativista, ou ainda o produtor da matéria-prima, os 
demais envolvidos no processo de produção, os fornecedores, os estoques e o 
armazenamento, o setor de distribuição, as empresas de comércio varejista e 
atacadistas, até chegar ao consumidor final. 
 
 
 
 
 
 
Crédito: Thyago Macson. 
Quando se tem uma boa gestão da Cadeia de Suprimentos (Supply Chain), 
é muito provávelque os resultados alcançados estejam dentro dos objetivos 
traçados, atendendo aos interesses dos negócios empresariais e dos 
consumidores. Para isso, é importante que o produtor compreenda que, ao 
confeccionar determinado produto até o momento em que ele passe a agregar 
valor de mercado, e se torne uma mercadoria acabada, é necessário um longo 
caminho, de muitas etapas. Essas etapas estão relacionadas a cada parte do 
processo produtivo. Para entender melhor: na cadeia produtiva de roupas de 
algodão, para que tudo ocorra conforme o planejado, é necessário acompanhar 
desde o cultivo da terra, sua preparação, os cuidados com o plantio do algodão, 
os defensivos agrícolas, a colheita, o ensacamento através de fardos, o 
deslocamento até o seu processo de transformação em fios para a 
industrialização têxtil. Nesse processo de industrialização, o tecido pode receber 
corantes artificiais que determinarão suas cores conforme o fabricante de roupas 
assim o desejar. O fabricante poderá transformar em tecidos aqueles que serão 
encaminhados para atender ao mercado atacadista ou varejista interno ou 
externo. Assim, chega-se até o consumidor final. 
 
 
4 
A padronização do circuito de produção espacial, com o fluxo de 
informações no rastreamento do conjunto de atividades que se engrenam 
progressivamente nesse circuito de produção espacial, vai desde a escolha da 
terra, passando pela utilização de fertilizantes, até o produto acabado, distribuído 
e comercializado. O processo inclui a boa gestão da cadeia de suprimentos 
(supply chain management), pois ela tende a favorecer o processo de integração, 
enquanto elo de produção, e garantir a ampliação dos ganhos de escalas das 
empresas envolvidas no processo, envolvendo também o setor externo até o 
consumidor final. Para melhorar o fluxo de informações, há uma série de 
instrumentos que a informática oferece, através de softwares avançados, que 
facilitam análise e o acompanhamento de toda a Cadeia Produtiva e dos valores 
que envolvidos. 
TEMA 2 – CADEIA DE VALOR (SUPPLY VALUE) E VANTAGENS COMPETITIVAS 
EM UM CIRCUITOS ESPACIAL DE PRODUÇÃO 
Uma Cadeia de Valor (Value Chain) tem muitas vantagens competitivas, 
quando há uma cadeia produtiva consistente. De acordo com Alves (2015), elas 
se estabelecem em um circuito de produção espacial que vai do produtor da 
matéria-prima ao consumidor final, representando um ciclo de vida mais longo 
para os negócios através de suas vantagens competitivas. Há uma 
interdependência entre todos os participantes desse processo, pois qual cada um 
tem sua importância. Para se alcançar uma vantagem competitiva, objetivo 
primeiro de uma empresa, não basta apenas a produção realizada pela empresa, 
e sim todo o ciclo de produção e o circuito espacial de produção. 
A vantagem competitiva, dentro de um circuito espacial de produção, segue 
uma lógica que ultrapassa o custo de produção da empresa, mensurado através 
de um planejamento estratégico, buscando alcançar o maior valor possível que os 
compradores estão dispostos a pagar pelos bens e serviços que a empresa tende 
a oferecer. Quanto maior for o valor pago pelo conjunto de compradores, para 
além dos custos de produção, em cada um dos processos de produção internos 
da empresa, mais rentável será a empresa. 
Para a obtenção de uma compensadora vantagem competitiva da produção 
de bens e serviços realizados pela empresa em seu Suply Chain (Cadeia de 
Suprimentos), ou circuito espacial de produção, é necessário proceder à avaliação 
e análise de cada processo interno da empresa utilizando o Value Chain (Cadeia 
 
 
5 
de Valor), um instrumento analítico que possibilita também a identificação, 
avaliação e a correlação existente entre a cadeia de produção da empresa e as 
vantagens competitivas apresentadas. Dessa forma, é possível inferir que as 
vantagens competitivas da cadeia de valor são intrínsecas às diversas atividades 
desempenhadas por uma empresa, e também na forma de interação dessas 
atividades. A empresa executa as atividades com um custo menor ou melhor do 
que a empresa concorrente. 
De acordo com Porter (1989), a análise de fontes de vantagem competitiva 
tem de ocorrer na Cadeia de Valor ou Cadeia de Suprimentos (Suply Chain), ou 
seja, nas atividades distintas que uma empresa realiza, com vistas a projetar, 
produzir, comercializar e entregar. Para além disso, na sua continuidade, busca-
se ofertar uma rede de suporte ao cliente. Nesse encadeamento de valores, Porter 
(1989) aponta que a empresa é uma parte de um conjunto maior de atividades 
agregadas dentro de uma Cadeia de Valor. A cada atividade realizada com 
sucesso, acrescentam-se novos valores, desde a sua fonte de matéria-prima, 
passando por todo o processo de produção e comercialização, até a chegada ao 
seu consumidor final. Para isso, a cada valor adicionado, é possível, através da 
observação estratégica de cada parte de sua estrutura, identificar as atividades 
mais relevantes e seus diferentes custos e benefícios oportunizados. 
Ainda no entendimento de Porter (1989), as vantagens competitivas são 
estabelecidas não só pela identificação dos custos e valores da empresa em sua 
cadeia de suprimentos e cadeia de valores, mas sim pela combinação com os 
valores estabelecidos pelas empresas concorrentes, em cada uma das etapas, 
abordadas dentro de uma análise de sistema que envolve as cinco forças que 
regem a competição em um setor. Na opinião do autor, as cincos forças são os 
clientes, os fornecedores, os novos entrantes em potencial, os produtos 
substitutos e a rivalidade entre os concorrentes. Se bem utilizada, a análise 
dessas cinco forças evidencia a formação dos custos e valores, quando 
combinadas com o desempenho de várias empresas que atuam no mesmo setor, 
incluindo fornecedores, fabricantes, transportadores, até atacadistas e varejistas. 
A rivalidade entre os concorrentes é identificada a partir da eficiência dos 
sistemas que garantem os fluxos de informações sobre o desenvolvimento do 
produto, desde a matéria-prima até o consumidor final. Na atualidade, os sistemas 
de informática e de softwares garantem suporte de acompanhamento dos fluxos 
de produção e de deslocamento do produto, facilitando aos analistas a 
 
 
6 
compreensão da evolução dos custos e das vantagens obtidas em cada parte do 
processo, em relação às empresas concorrentes. Essa compreensão tende a 
facilitar a intervenção dos produtores no fluxo deficitário, resultando em maiores 
vantagens competitivas para as empresas. Santos (2008) destaca a existência de 
diferentes circuitos quando se trata de observar a economia mundial sobre o 
prisma geográfico. 
TEMA 2 – CIRCUITO INFERIOR, CIRCUITO SUPERIOR E ECONOMIA 
INTERNACIONAL 
Conforme Santos (2008) a globalização apresenta uma sistemática de 
interligações entre os países, fazendo com que dependam um do outro. O 
processo decorre das facilidades proporcionadas pelos sistemas de comunicação 
e da integração entre as grandes corporações e os Estados capitalistas. Esse 
sistema enfatiza a relevância das análises geográficas, quando se discute a 
história e a influência das grandes corporações sobre os espaços. Cada espaço 
apresenta impacto particular quando é atingido pelas forças de transformações e 
pelas modernizações tecnológicas. Os países subdesenvolvidos não ocupam uma 
linha histórica de evolução, da mesma forma que os países desenvolvidos. Não 
podem ser denominados de em desenvolvimento, porque os espaços onde as 
forças de transformação podem alterar a realidade ainda são extremamente 
seletivos. É de se levar em conta que as mudanças são instáveis e 
multipolarizadas, trazendo como consequência a fragilidade na tomada de 
decisões de seus governantes e nos interesses divergentes das forças de 
transformação internas e externas. 
Com o processo de globalização, há uma concentração espacial da 
produçãoe do consumo em certas áreas geográficas dos países 
subdesenvolvidos, que varia conforme a renda, o que é determinado por uma 
hierarquização das atividades em âmbito regional. Assim, a produção e o 
consumo dependem da localização e da capacidade do indivíduo no espaço, que 
não são as mesmas em todos os lugares, nem quantitativamente e nem 
qualitativamente, porque os modos de produção e consumo locais ainda 
persistem, mesmo quando os produtos e as formas de consumo padronizadas do 
modelo de produção globalizado se estendam de forma a atingir escalas 
abrangentes em cada país. Nesse sentido, Santos (2008), para entender o 
impacto dessas mudanças, que atingem especialmente as cidades, separa o 
 
 
7 
processo econômico e de organização do espaço em dois subsistemas: o circuito 
superior e o circuito inferior. 
O circuito superior tem ligação com o processo de modernização e 
padronização tecnológica, sob monopolização das grandes corporações e de 
Estados desenvolvidos, estando normalmente relacionado a processos 
econômicos e políticos que influenciam internamente países em escala nacional 
ou internacional. O circuito inferior tem forte relação com as atividades e os 
pequenos negócios que envolvem as populações dos centros urbanos das regiões 
e localidades mais pobres dos países subdesenvolvidos. Para Santos (2008), 
apenas o circuito moderno foi alvo de pesquisas intensivas, por envolver as 
grandes atividades comerciais e os grandes negócios urbanos, acreditando que 
pudessem representar toda a economia da cidade, o que de certa forma não 
envolvia o circuito inferior, das pequenas atividades e suas particularidades 
espaciais. 
3.1 O circuito inferior e o circuito superior 
 O circuito inferior desponta como um grau de importância econômica 
muito grande, quando analisamos o pequeno comércio das cidades dos países 
pobres dos vários continentes. Esse circuito é formado por subsistemas dentro de 
um sistema econômico geral, sendo incomparável internacionalmente com as 
atividades econômicas de países desenvolvidos, porque o padrão de 
contabilidade oficial tem sua base nos manuais contábeis dos países 
desenvolvidos. Por isso, são incapazes de relacionar as atividades do circuito 
inferior e dimensionar quantitativamente a importância desse circuito, que inclui 
os profissionais autônomos que atuam na informalidade e as atividades fabris e 
comerciais de pequeno porte, que nem sempre estão oficialmente registradas nos 
órgãos municipais, estaduais ou federais. 
O processo de globalização acelerou o crescimento econômico e a 
modernização da produção de bens e serviços, porém acelerou também o 
empobrecimento daqueles que não puderam ser integrados a esse modelo de 
capitalismo, que inclui alguns e exclui a maioria. Conforme Davis (2006), 
Chossudowski (1989) e Santos (2008), há casos de aceleração do 
empobrecimento das populações de diversos países, principalmente na África, 
Ásia e América Latina e Caribe, que assumem colocar em prática uma proposta 
de progresso tecnológico que, como pano de fundo, conduz a disparidades sociais 
 
 
8 
e econômicas. Segundo esses autores, é no campo em que os custos sociais são 
maiores. Isso se deve às dificuldades das famílias de pequenos produtores rurais, 
que vivem praticamente da produção de subsistência, de arcarem com qualquer 
custo adicional, como tecnologias que poderiam ampliar suas possibilidades de 
produção, para que pudessem alcançar um melhor nível de vida. Essas 
populações mais pobres dependem inteiramente de doações estatais, as quais, 
na maioria das vezes, não chegam nem perto daqueles que mais necessitam. 
Conforme Santos (2008, p. 193), “a alocação de uma importante parte dos 
recursos nacionais é feita em nome do progresso em benefício daqueles que já 
são ricos e ao preço de uma injustiça crescente”. 
Oliveira (2006) aponta que a situação das grandes cidades no Brasil só não 
é tão fortemente atingida pela pobreza quanto na área rural, porque a tecnologia 
envolvida na agricultura de extensão, como defensivos agrícolas e maquinaria, 
assim como a exploração do trabalho do camponês assalariado, em grande parte, 
da forma mais precária imaginável, financiam os produtos que nos alimentam, e 
servem para minorar a pobreza urbana. Apesar disso, conforme Garbossa e Silva 
(2016), o modelo de urbanização também é marcado por uma concentração 
espacial perversa de renda, que reversa os espaços urbanos mais bem 
infraestruturados para as grandes empresas do capital imobiliário e financeiro, e 
para as áreas mais distantes do centro, com pouca ou sem nenhuma 
infraestrutura, como as ambientalmente degradas, às populações mais pobres. 
Esse contingente de migrantes que saem do campo e vão para a cidade 
normalmente viabilizam nos grandes centros a criação de um circuito de produção 
não moderno, que não está inserido na economia de alto padrão tecnológico, o 
que Santos (2008) chama de circuito inferior. Nesse circuito, são inseridos os 
trabalhadores informais, que vendem nas ruas os seus produtos, sejam eles 
artesanais, de pequenas manufaturas ou fruto da agricultura familiar. Há os 
vendedores de panos para enxugar a louça, redes, chapéus, roupas e óculos; os 
vendedores de água ou ainda aqueles que vendem alho, frutas ou verduras nas 
esquinas das metrópoles urbanas ou das cidades médias. Para o autor, todos 
esses produtos ou produtores não estão adequados a um determinado padrão 
industrial, e revelam as principais características de um circuito inferior, que 
envolve empresas familiares de pequeno porte e um grande número de 
trabalhadores autônomos. Aqui, “o capital é muito pequeno, a tecnologia, obsoleta 
ou tradicional e a organização, deficiente. A procura de dinheiro líquido é 
 
 
9 
desenfreada. As despesas de publicidade são quase inexistentes. Poucos 
comerciantes se preocupam em arrumar suas vitrinas” (Santos, 2008, p.198). 
Em âmbito internacional, pode-se afirmar que o circuito inferior e o circuito 
superior têm relação com a definição de Colin Clark (1905-1989), que delineou, 
através de cálculos estatísticos e matemáticos, em publicações entre 1940 e 
1960, uma comparação entre as economias de diversos países, propondo a 
separação da economia em três setores distintos: terciário (comércio), secundário 
(indústria) e primário (agricultura). Apesar de ser questionado por muitos 
economistas, essa separação acabou prevalecendo, quando se trata de discutir a 
economia internacional e buscar entender as economias subdesenvolvidas. É 
comum considerar países nos quais o maior percentual do PIB está no setor 
primário da economia (agronegócio e commodities), como subdesenvolvidos ou 
em desenvolvimento. 
 Santos (2008) entende que nos três setores existem características do 
circuito inferior, mas destaca que o processo de terceirização acentua a 
precariedade nas relações de trabalho, conduzindo boa parte desse processo a 
problemas relativos à economia do circuito inferior. No entendimento desse autor, 
o circuito superior despontou com o processo de industrialização. A partir da 
década de 1960, com a introdução das tecnologias de ponta, que modernizaram 
a área rural, e com o aprimoramento de novas formas de crédito e a ampliação 
dos ganhos e lucratividade do setor bancário e financeiro, também os setores 
primários e secundários ganharam importância no circuito superior. 
 De acordo com Benko (2002), é a partir da década de 1960 que o modelo 
de produção fordista entra em colapso, já não servindo mais para o processo de 
acumulação característico do modelo de desenvolvimento capitalista. A era 
eletrônica toma conta do modo de produção; as bases da produtividade/qualidade 
do modelo taylorista/fordista se rompem, cedendo espaço para um modelo de 
acumulação baseado na racionalização/flexibilização de transferência das plantas 
industriais para regiões geográficas onde os saláriose as condições de produção 
sejam mais vantajosas para o capitalista, o que acabar por estabelecer uma nova 
divisão internacional do trabalho. É a necessidade de superação de um modelo 
de acumulação baseado no welfare state, para um modelo de acumulação flexível. 
A dinâmica dessa acumulação não é controlada nem pelos Estados capitalistas 
nacionais, nem pelas formas institucionais de concentração do capital 
(multinacionais, trustes etc.). 
 
 
10 
 Conforme Santos (2008), é a partir dessas alterações no modelo de 
acumulação capitalista que se insere o circuito superior, marcado pela 
modernização, que envolve o comércio e a indústria, os setores de importação e 
exportação, e os bancos, que fazem a ligação entre as atividades urbanas 
modernas locais e o circuito de acumulação superior. Para o autor, há uma forte 
dependência das empresas modernas de comércio, como lojas e grandes redes 
de hipermercados, em relação aos créditos oferecidos pelo setor financeiro. As 
facilidades oferecidas com a introdução de cartões de crédito, além das compras 
diretas via sistemas eletrônicos por aplicativos, fortalecem as grandes redes, do 
atacado ao varejo, representando os setores que mais crescem nos países 
subdesenvolvidos e em desenvolvimento. 
O setor moderno da indústria depende muito da capacidade tecnológica do 
país. Esse setor vem enfrentando a concorrência externa, que oferece no dia a 
dia inovações tecnológicas, dificilmente acompanhadas por um país que, no 
entendimento de Oliveira (2013), se compara a um ornitorrinco. O ornitorrinco é 
aquele animal aquático, mamífero, que põe ovos, tem bico de pato e aspecto 
bastante estranho. Para esse autor, o Brasil tem um elevado nível de 
desenvolvimento no setor de agronegócios e, ao mesmo tempo, um pequeno 
número de pessoas vivendo no campo. Com relação à indústria, grande parte 
ainda atua como se estivesse na Segunda Revolução Industrial, utilizando 
tecnologias que não conseguem acompanhar, em quantidade e qualidade, a 
produção externa. Quando se trata de custos, tem de ser socorrida por subsídios 
governamentais ou imposições de barreiras aos produtos externos correntes. 
Apesar disso, ainda se encontram no país indústrias de alto padrão tecnológico, 
em setores como aviação, biomedicina e biogenética. Por outro lado, as 
desigualdades sociais e econômicas se intensificam, demonstrando contrastes 
imensos entre os afortunados e os de extrema miserabilidade. 
O circuito superior passa por alterações no processo de acumulação, com 
o comércio, os bancos, o setor financeiro e imobiliário movimentando grande parte 
do PIB dos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento. Aliado a isso, 
nesses países, grande parte dos produtos são feitos no modo de produção 
fordista/taylorista, com plantas industriais pesadas e localizadas em determinadas 
regiões geográficas, como no caso do Brasil. Desde a década de 1970, todos 
esses países, inclusive os altamente industrializados, vêm enfrentando um novo 
modelo de acumulação capitalista, de flexibilização com uma nova configuração 
 
 
11 
espacial, caracterizado pela agilidade na alteração dos produtos, na metodologia 
e nos procedimentos de produção. 
TEMA 4 – A NOVA LÓGICA DE LOCALIZAÇÃO, PRODUÇÃO E ACUMULAÇÃO 
CAPITALISTA 
Benko (2002) defende que, a partir da década de 1970, houve uma 
reestruturação produtiva, passando de um modelo de produção fordista de massa 
estandartizado, com uma estrutura rígida que buscava atender as demandas de 
mercado, para um modelo de racionalização e flexibilidade, que remodelou as 
práticas de produção anterior. Essa ruptura foi fundamentada na necessidade de 
o capitalismo tornar mais dinâmica a concorrência intercapitalista, reconfigurando 
o processo de acumulação dentro de uma nova divisão internacional do trabalho. 
Para esse autor, o modelo fordista/taylorista buscava desenvolver-se em regiões 
geográficas especificas, favorecidas por farta mão-de-obra e incentivos 
governamentais. Destaca-se o contexto de uma grande metrópole, como São 
Paulo, Vale do Huhr na Alemanha, e Vale do Sena na França, no nordeste dos 
EUA e em Milão, Gênova e Turim na Itália. 
Nessa nova divisão internacional do trabalho, há uma transferência das 
unidades corporativas e suas plantas industriais, desta vez com unidades de 
produção menores e mais ágeis, para regiões com salários mais baixos, além de 
menos rigidez e regulações por parte do Estado. Busca-se o aumento da 
produtividade através de planos de autonomia e iniciativas com responsabilidades 
mais profundas por parte dos trabalhadores, remodelando o mercado de trabalho, 
para que haja um retorno mais rápido, e com menores investimentos, objetivando 
o máximo de lucro e custos menores, facilitando assim o processo de acumulação. 
Esse novo modelo redistribui no mundo capitalista o mapa dos poderes, 
como resultado de um desenvolvimento econômico produtivo-social keynesiano, 
sob o acompanhamento do Estado – o qual, ao mesmo tempo em que atuava 
como empresário, também provia leis que estimulavam o welfare state. Esse 
modelo, que durante muito tempo sustentou as trocas e o comércio internacional, 
e também o progresso técnico, teve sua fase de maturação logo após o final da 
década de 1960. Diante das crises da década posterior, o modelo foi considerado 
esgotado em seu papel de ampliar a lucratividade na velocidade que os dirigentes 
do mundo capitalista necessitavam. 
 
 
12 
A partir da década de 1970, Conforme Benko (2002), o novo modelo de 
acumulação busca alterar os modos de produção e consumo, interferindo nas 
relações sociais internas do país, assim como nas suas relações com outros 
países. Há interferência também na localização dos setores produtivos, do 
comércio, da moradia dos trabalhadores, dos poderes locais e, até mesmo o tipo 
de produção que será estabelecida em determinada região. Essa reestruturação 
espacial da sociedade reforça a ideia de um modelo com mecanismo de 
interferência, podendo redefinir a forma de pensar o espaço, a ideologia 
dominante e as relações de trabalho. “A maior flexibilidade favorece a 
desintegração vertical das relações de proximidade entre dirigente e 
subcontratante, a troca contínua de informações e, portanto, a proximidade 
espacial, que permite a interação e a regulação final do processo de produção 
global” (Benko, 2002, p. 29). 
Harvey (2016) destaca que essa flexibilidade do novo modelo de 
acumulação capitalista se esforça para produzir uma paisagem favorável à sua 
reprodução e evolução. Diante das suas tantas contradições, os capitalistas se 
apoderam dos poderes estatais para moldar as paisagens geográficas de acordo 
com seus interesses. Para esse autor, não há passividade nas paisagens 
geográficas construídas pelo capital, pois elas se alteram conforme os 
investimentos autônomos e contraditórios do desenvolvimento tecnológico. As 
contradições entre capital e trabalho realizadas no lugar, no espaço e no tempo, 
são necessárias para que o capitalismo possa continuar se reinventando; caso 
contrário, já haveria se desintegrado e deixado de existir. Para esse autor, capital 
e trabalho devem atuar juntos para redefinir os investimentos naquilo que melhor 
contribui para o processo de acumulação capitalista. 
No Brasil, conforme Cano (2011), houve uma transformação radical nas 
estruturas de produção do país a partir da década de 1990, quando foram 
implementadas políticas econômicas em base nacional, proporcionando 
resultados que impactaram a produção, o consumo, o emprego e as relações 
internacionais. Para o autor, com o advento da Constituição Federal de 1988, as 
mudanças se deram também no campo das políticas sociais e da organização 
estatal, contribuindo para que houvesse uma maior integração entre as regiões. 
Esse modelo foi providencial para um maior desenvolvimento do processo de 
urbanização e para o crescimento dascidades. 
 
 
13 
Quando se trata de desenvolvimento econômico, social e industrial, a 
década de 1980 foi percebida por muitos economistas como uma década perdida. 
Mesmo sendo considerada atrelada ainda ao modelo fordista/taylorista, nessa 
década, a indústria de transformação despontava como a mais dinâmica dentre 
os setores da economia brasileira. Conforme Cano (2011), a industrialização 
brasileira deu um passo atrás, ficando muito aquém do que se esperava, enquanto 
o processo de reestruturação produtiva dos países capitalistas avançava em ritmo 
acelerado. Houve um processo de desconcentração industrial muito pequeno, 
mas a crise industrial foi grande, e afetou todos os setores da economia do país, 
que acabou colhendo resultados menos piores nos “segmentos mais vinculados 
às exportações agroindustriais, minerais e de insumos básicos, além dos 
vinculados à questão energética, como álcool de cana-de-açúcar e petróleo, este 
decorrente da forte extração na Bacia de Campos, no RJ” (Cano, 2011, p.13). 
Santos (2008) entende que as economias de países periféricos, como o 
Brasil, estão sujeitas a interferências de empresas oligopolistas transnacionais, e 
por isso não conseguem se contrapor à centralização dos recursos no circuito 
superior da economia. Para o autor, nas menores cidades há uma participação 
maior do circuito inferior na economia, porém isso não impede o crescimento da 
pobreza extrema nessas localidades. O Estado não consegue reduzir a 
transferência de capitais dessas empresas transnacionais para suas matrizes – 
pelo contrário, a atração das empresas para países pobres ocorre com o aceno 
de muitas vantagens, dentre as quais estão a cessão de infraestrutura, mão de 
obra barata, além de facilidades na remessa de lucros e dividendos para o 
exterior. A partir da implantação do neoliberalismo, no novo modelo de 
acumulação capitalista, houve uma maior abertura para a entrada de capitais 
externos e uma desregulação do mercado, e muitas facilidades para o 
escoamento de capitais dos países pobres para os países mais ricos. 
TEMA 5 – A LÓGICA DA FINANCEIRIZAÇÃO GLOBALIZADA E O 
NEOLIBERALISMO 
Harvey (2016) afirma que, para que esse modelo de acumulação capitalista 
se perpetue, é necessário que o capitalismo esteja sempre se reinventando, como 
ocorreu durante a longa e persistente crise de 1929. O capitalismo só conseguiu 
uma certa recuperação desse impacto após a Segunda Guerra Mundial, na 
década de 1950. O capitalismo também teve que se reinventar no enfrentamento 
 
 
14 
das crises cambiais e das manifestações em defesa de liberdades sociais e 
econômicas, ocorridas em praticamente todas as grandes cidades em 1968, 
assim como as crises do petróleo do início e do final da década de 1970. Para o 
autor, o desmantelamento das políticas de proteção aos trabalhadores e da 
desregulamentação de uma série de leis que favoreciam um controle maior do 
Estado, serviu para o benefício de um modelo de capitalismo financeirizado 
globalmente e hiperendividado, que teve sua base sustentada nas propostas 
econômicas neoliberais implementadas por Reagan, Thacher e Kohl, que 
corroboraram para a previsível crise econômica de 2008. 
A implementação de políticas governamentais neoliberais nas economias 
capitalistas foi medida decisiva para colocar em marcha um plano de redução do 
poder do Estado na economia, com vistas a promover mudanças que 
favorecessem as grandes empresas transnacionais. A partir de um discurso de 
estabilidade e autossustentação econômica, modernização do parque industrial e 
elevação do nível de produtividade, países em desenvolvimento colocaram em 
prática reformas que tinham como objetivo também a redução do déficit fiscal e 
da dívida pública. No caso brasileiro, isso teve início com o governo Collor, e 
continuou nos governos de Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, sem 
deixar de influenciar também as políticas implementadas nos governos de Lula e 
Dilma Roussef. Segundo Cano (2011), as políticas empenhadas na dinâmica 
neoliberal trouxeram ao país um modelo que resultou em muitas mazelas, como 
“aumento do desemprego, queda dos salários reais, corte dos gastos sociais e 
aumento da violência hoje presentes em todas nossas regiões e cidades” (Cano, 
2011, p. 26). 
Para Brenner (2018), a neoliberalização, característica singular do 
neoliberalismo, vem sendo imposta há mais de 40 anos de forma diversificada, 
com um padrão de processos e atividades relacionadas, que vem sendo 
reproduzido em diferentes lugares, locais, territórios e escalas, objetivando 
garantir os interesses do mercado nas práticas políticas do Estado. Para esse 
autor, a neoliberalização surgiu como uma alternativa hegemônica de 
reestruturação regulatória da economia mundial, com intenções diversificadas do 
liberalismo clássico, associado ao imperialismo britânico do século XIX, que 
ganhou impulso a partir da crise do modelo nacional-desenvolvimentista em bases 
keynesianas durante a década de 1970. Apesar de ter sido desigualmente 
implementadas durante os vários anos que se seguiram, foram apresentadas 
 
 
15 
como soluções milagrosas para a crise, extensamente divulgadas e 
implementadas por organizações como Organização para Cooperação e 
Desenvolvimento Econômico (OCDE), Banco Mundial e FMI. 
O modelo de neoliberalização, implementado depois da década de 1990, 
buscou reestruturar os arcabouços geoinstitucionais, de forma a atender a 
interesses não apenas dos EUA, como também das diretrizes forjadas no 
Consenso de Washington, e de instituições supranacionais, como a Organização 
Mundial do Comércio (OMC), o G8 ou OCDE. Esse modelo, aplicado como um 
receituário único para diversos países terceiro-mundistas, tinha como principais 
diretrizes: privatização de empresas estatais, desregulação, liberalização 
financeira, abertura ao capital estrangeiro, e criação de novos circuitos de 
interjurisdicionais, para promover, legitimar e influenciar as lideranças políticas, a 
sociedade e o Estado da necessidade de colocar tais medidas em prática. Para 
tanto, esse processo de neoliberalização, que antes aparentava uma certa 
desarticulação, transformou-se em uma organizada e orquestrada rede 
transnacional, cujos “padrões de influência, coordenação e trocas recíprocas 
foram estabelecidos entre programas de reforma neoliberalizadoras em contextos 
e escalas jurisdicionais diversos” (Brenner, 2018, p.182). 
 
 
 
16 
REFERÊNCIAS 
ALVES, A. R. Geografia econômica e geografia política. Curitiba: InterSaberes, 
2015. 
BENKO, G. Economia, espaço e globalização: na aurora do século XXI. São 
Paulo: Hucitec, 2002. 
BRENNER, N. Espaços da urbanização: o urbano a partir da teoria crítica. Rio 
de Janeiro: Letra Capital, 2018. 
CANO, W. Novas determinações para as questões regionais e urbanas. 
Campinas: Unicamp, 2011. 
CHOSSUDOVSKY, M. A globalização da pobreza: impactos das reformas do 
FMI e do Banco Mundial. São Paulo: Moderna, 1999. 
DAVIS, M. Planeta Favelas. São Paulo: Boitempo, 2006. 
GARBOSSA, R. A.; SILVA, R. dos S. O processo de produção do espaço: 
impactos e desafios de uma urbanização. Curitiba: InterSaberes, 2016. 
HARVEY, D. 17 contradições do capitalismo. São Paulo: Boitempo, 2016. 
LEFEBVRE, H. O direito à cidade. São Paulo: Centauro, 2013. 
MALLMANN, L.; BALESTRIN, N. L.; SILVA, R. dos S. Estado e políticas sociais 
no Brasil: avanços e retrocessos. Curitiba: InterSaberes, 2017. 
OLIVEIRA, F. de. Crítica à razão dualística: o ornitorrinco. São Paulo: Boitempo, 
2013. 
OLIVEIRA, J. F. de (org.). Economia para administradores. São Paulo: Saraiva, 
2006. 
PORTER, M. Vantagem Competitiva: criando e sustentando um desempenho 
superior. São Paulo: Campus, 1989. 
SANTOS, M. O espaço dividido. São Paulo: Edusp, 2008. 
SOUZA, N. de J. de. Desenvolvimento econômico. 5. ed. revisada. São Paulo: 
Atlas, 2005. 
 
AULA 6 
ESPAÇOGEOGRÁFICO, 
ECONOMIA E COMÉRCIO 
INTERNACIONAL 
Prof. Rodolfo dos Santos Silva 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Para a elaboração do estudo que compõe as aulas desta disciplina, 
reunimos as expressivas relações existentes entre a economia, a geografia, a 
política e o comércio exterior, muito bem fundamentadas por meio de diversos 
autores clássicos e contemporâneos que garantem a cientificidade deste trabalho. 
Anteriormente foram abordados as bases teóricas do conhecimento geográfico e 
os fundamentos teóricos da economia, destacando o espaço geográfico e os 
sistemas econômicos e sociais. Também debatemos a inserção das metrópoles 
em um contexto de internacionalização da economia e como elas são 
transformadas no tempo e no espaço de forma a atender os diferentes agentes 
econômicos que delas necessitam, principalmente as grandes corporações 
internacionais. 
Estudamos também os grandes blocos econômicos regionais que, diante 
da atual geopolítica mundial, buscam garantir o seu processo de integração. Outro 
tema foi a importância da moeda nas transações econômicas internacionais desde 
o surgimento até os dias atuais. Vimos o quanto é importante a criação de 
instituições que possam garantir à moeda internacional o seu curso, como o Banco 
Mundial e o FMI, e, também, a quase institucionalização de uma moeda lastreada 
em ouro ocorrida na Conferência Monetária Internacional de Bretton Woods. 
Outro assunto estudado foi a necessidade de se conhecer toda a cadeia de 
suprimentos para obter vantagens competitivas no mercado internacional. Por 
meio do supply chain, discutimos sobre o acompanhamento das demandas 
correntes de um país, desde a extração da matéria-prima até o consumidor final. 
Também foi abordado o supply value, que representa o acompanhamento dos 
valores gerados na cadeia produtiva e as vantagens competitivas obtidas em cada 
uma das etapas de sua constituição. Além disso, levantamos a importância 
geográfica dos circuitos inferior e superior para a economia internacional. 
Nesta aula destacam-se, primeiro, as teorias de David Ricardo e o teorema 
de Herckscher-Ohlin como essenciais para a formação de um arcabouço teórico 
para o debate sobre o comércio exterior. Defendidas e refutadas por muitos 
teóricos, as duas teorias continuam tendo validade como determinantes para o 
comércio entre as nações. Foram os princípios delas que proporcionaram as 
bases para a elaboração de importantes documentos sobre o comércio exterior 
 
 
3 
por entidades internacionais, como a CEPAL e, ainda, contribuíram na formação 
de outras organizações, como o GATT e a OMC. 
Vamos abordar, ainda, a necessidade de uma discussão sobre o supply-
side economics, fundante das diretrizes do Consenso de Wahington, e suas 
implicações sobre geopolítica internacional, não apenas sobre os países do 
continente americano. Baseadas em pressupostos neoliberais, essas diretrizes 
tinham como principal argumento a estabilidade econômica e a política dos 
territórios. Discute-se também a criação de um grupo de países emergentes para 
a formação de um bloco econômico com expressão política, de cooperação 
econômica e ajuda mútua, reunindo os principais países considerados como 
economias emergentes para fazer frente aos blocos econômicos liderados pelas 
economias mais ricas participantes da OCDE. 
TEMA 1 – O PRINCÍPIO RICARDIANO DO COMÉRCIO EXTERIOR 
1.1 A teoria das vantagens comparativas 
 As principais teorias do comércio exterior estão fundamentadas na 
existência de diferenciações nas dotações relativas dos fatores de produção entre 
os países. Isso representa as condições em que cada país realiza a sua produção 
e as vantagens competitivas que oferece diante de uma economia em escala 
internacional. Cada país objetiva ampliar a oferta de seu excedente de produção 
a outros países. A fundamentação teórica que justifica os esforços dos países em 
se especializarem em determinado tipo de produção em larga escala, para 
trocarem seus excedentes, está baseada em David Ricardo (1772 -1823). Ricardo 
foi um dos expoentes da teoria econômica clássica que buscou desenvolver 
princípios orientadores do comércio internacional. Para esse autor, o comércio 
entre as nações deveria ser realizado com base na especialização de cada país 
na produção de determinados bens, enquanto os demais se encarregariam de 
outros tipos de produção. Essa teoria ficou conhecida internacionalmente como 
teoria das vantagens comparativas. Pelo princípio das vantagens comparativas, 
as nações deveriam se especializar na produção de mercadorias para exportação, 
cuja produção fosse mais eficiente, onde o custo fosse menor e as dotações 
relativas dos fatores de produção fossem maiores. 
 Para explicar a sua teoria, Ricardo descreve o comércio realizado entre 
Portugal e Inglaterra, utilizando produtos bastante transacionados entre os dois 
 
 
4 
países: vinho (Portugal) e tecidos (Inglaterra). Para dar ênfase aos princípios 
teóricos, o autor destaca o valor do trabalho como um custo a ser considerado nas 
transações de ambos os produtos. Assim, busca comprovar que a Inglaterra tem 
desvantagem comparativa cada vez que for produzir vinhos em relação a 
Portugal. Para isso, argumenta que na produção de unidades de tecidos é 
utilizado, na Inglaterra, o trabalho de 100 homens. Caso a Inglaterra fosse produzir 
vinhos na mesma proporção que produz tecidos, seriam necessários 120 homens. 
Por outro lado, se Portugal tentar produzir a mesma proporção de tecidos, teria 
que despender do trabalho de 190 homens, enquanto que para produzir a mesma 
quantidade de vinho utilizaria o trabalho de 80 homens. Para o autor, ambos os 
países teriam elevados custos ao tentarem produzir bens para os quais não 
possuem dotações relativas de fatores produção. Se houver uma especialização 
de cada país naquilo que melhor produz a menores custos, é possível alcançar 
maiores vantagens comparativas e maiores ganhos relativos no comércio 
internacional. 
Os grandes teóricos da Comissão Econômica para a América Latina e o 
Caribe (CEPAL), dentre eles Osvaldo Sunkel, Celso Furtado, Maria da Conceição 
Tavares e Raul Brebisch, foram enfáticos ao afirmarem que a teoria das vantagens 
comparativas teria validade caso fossem desconsiderados os avanços na 
industrialização na produção de bens e serviços para além do estágio econômico 
existente, ou seja, se o cenário fosse estático. Os escritos da CEPAL tendem a 
apontar a defesa da teoria das vantagens comparativas como uma justificativa 
ideológica para a manutenção da divisão internacional do trabalho. Ao estudar as 
consequências do subdesenvolvimento nos países da América Latina e da África, 
os membros da CEPAL constataram a inadequação das teorias de Ricardo diante 
de uma relação de troca tão desigual entre os países produtores de bens de alto 
valor agregado (os países centrais) e aqueles que produzem bens de baixo valor 
agregado (os países periféricos). 
Para os cepalinos, a ocorrência do aumento da oferta e da demanda 
provoca também uma evolução dos preços no mercado internacional, o que 
acarreta um desenvolvimento das economias internas, ocasionando elevação da 
renda da população e provavelmente da demanda por tecidos em menor escala 
que a demanda por vinhos. Para esses autores, era certo que haveria uma 
variação menor dos preços dos bens primários (vinhos) em relação aos bens 
industrializados (tecidos), o que colocava em dúvida se de fato a teoria ricardiana 
 
 
5 
estava sendo eficiente ao não analisar essa deterioração das relações de troca 
entre Portugal e Inglaterra. Para os teóricos da CEPAL, os produtos 
industrializados rapidamente alcançariam preços majorados em relação aos dos 
produtos primários. Dessa forma, os países que industrializam os produtos 
conseguem maior valor agregado no mercado internacional do que os países que 
produzem e vendem bens primários.Krugman e Obstfeld (2001) destacam que a teoria das vantagens 
comparativas possui muitas falhas, como no caso do modelo ricardiano simples, 
que prevê um grau elevado de especialização dos países em bens que não são 
possíveis de serem encontrados no mundo real. Os autores fazem ressalvas ao 
fato de que Ricardo, em sua teoria, comete equívocos ao afirmar que todos os 
países sempre ganharão com as transações econômicas internacionais, sem 
deixar espaços para discussões sobre as diferenças existentes na forma de 
produção e nos recursos utilizados pelos países. Criticam o fato de a teoria 
ricardiana ignorar o papel desempenhado pelos fluxos da economia de escala nas 
transações econômicas internacionais. 
Apesar das críticas de muitos economistas, Krugman e Obstfeld (2001) 
pontuam que, mesmo com tais falhas, as teorias de David Ricardo vêm sendo 
apreciadas e confirmadas por diversos estudos sobre a economia internacional, 
pois é difícil contestar o fato de que os países tendem a exportar os excedentes 
de sua produção. Para tais autores, “as diferenças de produtividades 
desempenham um papel importante no comércio internacional e que as vantagens 
comparativas em vez das absolutas é que importam – parecem ser corroboradas 
pela experiência” (Krugman; Obstfeld, 2001, p. 36). 
TEMA 2 – O TEOREMA DE HECKSCHER-OHLIN 
A teoria ricardiana do comércio exterior tem fundamentos na explicação das 
vantagens comparativas levando em consideração as diferenças de produtividade 
da mão de obra. Heckscher e Ohin desenvolveram uma teoria para explicar que 
outros fatores exercem influência sobre o comércio internacional, e não apenas a 
mão de obra. No teorema de Hekscher-Ohlin, a terra, o trabalho e o capital 
utilizados intensivamente de forma abundante são a base fundamental das 
vantagens comparativas de um país para a realização do comércio com outros 
países. 
 
 
6 
De acordo com Sandroni (2007), Bertil Gotthard Holin (1899-1979) recebeu 
o Prêmio Nobel de Economia em 1977 por fornecer novas explicações sobre os 
fundamentos do comércio internacional. A partir da teoria desenvolvida por Eli 
Philip Heckscher (1879-1952), de quem é discípulo, em sua principal obra, 
Interregional and International Trade (Comércio Inter-regional e Internacional), de 
1933, elaborou uma explicação sobre o comércio entre os países utilizando os 
fatores de produção como justificativa dos preços relativos dos produtos no 
comércio internacional. Diferentemente da teoria das vantagens comparativas de 
Ricardo, que relacionam os preços do produto no mercado internacional ao fator 
trabalho, o teorema Herckscher-Holin define que os preços dos bens produzidos 
dependem dos preços e da abundância ou da raridade dos fatores de produção 
que constituem o produto a ser importado e exportado pelos países. O teorema 
exemplifica que um país como a Inglaterra, que possui abundância de bens 
manufaturados, capital e trabalho, mas que apresenta insuficiência de terras, 
poderia exportar para a Austrália bens manufaturados em troca de bens primários. 
A Austrália, por sua vez, conta com grande quantidade de terras e pode produzir 
minério de ferro, madeira e outros bens primários em abundância e exportar para 
a Inglaterra. 
Na teoria de Herckscher-Holin, a procura por terra seria a responsável pelo 
aumento dos preços desse fator de produção devido à extração e à produção de 
bens primários para exportação; por outro lado, na Inglaterra, ocorreria o aumento 
dos preços da mão de obra, e os bens de capital subiriam em decorrência da 
produção para exportação, enquanto o preço da terra diminuiria. Por se tratar de 
uma teoria baseada na neoclássica e que tem seus argumentos fundamentados 
nos fatores de produção, sem levar em consideração as relações sociais e as 
condições geográficas e espaciais, que influenciam no preço, na produção da 
força de trabalho e no deslocamento da produção nas diversas regiões, conforme 
Sandroni (2007), tem sido muito criticada por diversos economistas. Porém, é 
defendida por economistas como Mankiw (2008), Krugman e Obstfeld (2001), 
para quem a teoria é uma das mais importantes do comércio internacional, por 
levar em consideração os recursos dos países. “Ela enfatiza o mecanismo entre 
as proporções nas quais fatores diferentes de produção estão disponíveis em 
países diferentes, e em que proporções esses fatores são utilizados para produzir 
bens diferentes, por isso também, chamada de teoria das proporções dos fatores” 
(Krugman, Obstfeld, 2001, p. 70). 
 
 
7 
Teorias como as dos suecos Herckscher e Holin e a do inglês David Ricardo 
buscam fundamentar as ações dos países nas suas buscas por uma maior 
participação no mercado internacional. Desde a década de 1940, o mundo passa 
por transformações geopolíticas e espaciais que necessitam de uma forte 
regulamentação nas transações econômicas entre os países. Logo após findar a 
Segunda Guerra Mundial, foram criadas instituições de comércio internacional 
para facilitar as relações de troca entre os países, e uma delas foi o GATT. 
TEMA 3 – AS INSTITUIÇÕES DO COMÉRCIO INTERNACIONAL: O GATT E A 
OMC 
O Acordo Geral de Tarifas Alfandegárias e Comércio (GATT) foi uma das 
instituições criadas a partir de Bretton Woods para estruturar e normatizar acordos 
de comercialização entre os países. Intencionalmente, o GATT, fundado em 1947, 
é fruto de uma iniciativa do governo norte-americano para reduzir os custos por 
parte dos países com tarifas internacionais dos produtos manufaturados. Em 
1942, os EUA pretendiam criar a Organização Internacional do Comércio (ITO), 
cuja sigla vem do inglês International Trade Organization, que não prosperou por 
conta das dificuldades impostas pela Segunda Guerra Mundial. O GATT começou 
suas operações em 1948 e teve como papel contribuir para a manutenção das 
decisões tomadas em Bretton Woods em relação ao comércio internacional, 
principalmente na divulgação do dólar americano como moeda internacional e 
estabelecida dentro do padrão-ouro. 
A partir de discussões entre o FMI, o Banco Mundial e o FED (Banco 
Central americano), os Estados Unidos colocaram um fim ao padrão-ouro em 
1971. Essa atitude do governo americano impôs limitações a um discurso e uma 
prática de impressão do dólar como lastreado em ouro, como justificativa para 
garantir que fosse uma moeda de aceitação internacional, que teve seu início em 
1944, na Conferência de Bretton Woods. Essa abdicação do lastro em ouro para 
a manutenção de uma moeda internacional representou a não responsabilidade 
do governo americano em garantir o preço do ouro em dólares a US$ 35,00 a 
onça e que os países, principalmente aqueles que acumularam muitos dólares, 
pudessem converter os dólares em ouro àquele preço. Muitos países produtores 
de petróleo que haviam acumulado bilhões de dólares e pretendiam trocá-los por 
ouro se frustraram diante da decisão dos EUA. 
 
 
8 
A partir do interesse de suas 28 nações signatárias, que participavam de 
uma comissão da ONU liderada pelos EUA, o GATT foi criado para ser 
inicialmente temporário. Devido a sua definitiva importância na manutenção do 
dólar como moeda internacional e na rejeição por parte dos congressistas 
americanos em criar a ITO, o GATT foi mantido como organismo de comércio 
internacional até 1995, principalmente para combater o protecionismo exagerado 
que havia se estabelecido no comércio entre os países logo após o período pós-
Segunda Guerra Mundial. Em 29 de novembro de 1949, 148 países assinaram o 
Acordo Geral de Tarifas e Comércio. Com a crise econômica e política criada com 
o fim do compromisso dos americanos em manter sua moeda atrelada ao ouro 
em 1971, o GATT também foi abalado enquanto instituição de comércio 
internacional. Porém, nos seus primeiros anos de organização, criou e buscou 
seguir regras e princípios que pretendiam manter a igualdade no tratamento entreos países comerciantes, sem discriminar, incentivando a redução de tarifas por 
meio de negociações entre as nações que comercializam entre si. 
O GATT buscou ampliar a todos os países-membros os acordos e tratados 
obtidos entre as nações que os entendessem como vantajosos para ambas, que 
realizassem concessões bilaterais. Essa instituição começou a perder importância 
a partir da década de 1990, devido ao forte apelo internacional por formação de 
blocos econômicos de proteção à disseminação de um modelo de capitalismo 
baseado na globalização, que colocava em risco as economias dos países que 
preferiam fortalecer e proteger seu mercado interno. Além disso, as nações 
industrializadas tinham forte poder de influência e podiam fazer prevalecer seus 
interesses sobre os interesses das nações com menor influência econômica e 
política. Dessa forma, os países mais pobres tinham resistência em apresentar 
suas reclamações a uma instituição internacional que demonstrava estar mais 
próximas dos países industrializados do que dos reclamantes. Foi no Uruguai, na 
oitava rodada de negociações sobre redução de tarifas e barreiras comerciais 
entre os países, que ficou decidida a criação de uma nova organização multilateral 
para dar conta de atender as reivindicações dos países membros. 
Em primeiro de janeiro de 1995, em uma conferência realizada em 
Marrakesh, no Marrocos, foi formalizado um acordo assinado por 97 países que 
pôs fim ao GATT. Em sua substituição foi criada a Organização Mundial do 
Comércio (OMC), um fórum no qual são discutidos os tratados e tomadas as 
decisões sobre os assuntos que envolvem as transações comerciais de bens e 
 
 
9 
serviços entre os países. Como principal instância de normatização e regulação 
dos países-membros que fazem parte de sua estrutura administrativa, a OMC 
busca intermediar pacificamente os conflitos existentes, observando as 
formatações dos contratos bilaterais ou multilaterais realizados entre as partes, 
facilitando o diálogo entre os participantes para que estes possam preservar e 
fortalecer as suas relações comerciais na assinatura de futuros contratos. Com 
sede estabelecida em Genebra (Suíça), contando com a participação de 164 
países-membros, a OMC constituiu-se na principal instância de normatização e 
regulação do comércio internacional. 
As mudanças estabelecidas no comércio internacional, principalmente a 
partir da década de 1990, conforme Harvey (2016, p. 139), foram frutos de um 
esforço do capitalismo em produzir “uma paisagem geográfica favorável a sua 
própria reprodução e subsequente evolução”. Garbossa e Silva (2018) entendem 
que, para se adaptarem às mudanças geográficas e geopolíticas pós 1980, o 
capitalismo e suas nações hegemônicas buscaram fortalecer e criar instâncias de 
decisões políticas que influenciaram profundamente alterações espaciais em 
diversas nações, dentre elas as em desenvolvimento. Uma dessas instâncias foi 
o Consenso de Washington. 
TEMA 4 – A GEOPOLITICA DO CONSENSO DE WASHINGTON E O SUPPLY-
SIDE ECONOMICS 
O Consenso de Washington, de acordo com Batista Junior (1994), surgiu 
em decorrência de uma articulação entre as instituições de Bretton Woods (Banco 
Mundial, FMI e o Tesouro dos Estados Unidos) que promoveu um encontro de 
diversos países, ocorrido entre novembro e dezembro de 1989, na cidade de 
Washington D.C. O Encontro foi convocado pelo Institute for International 
Economics e tinha como objetivo reunir os representantes governamentais de 
todos os países da América Latina e do Caribe, com exceção de Cuba, os países 
que compõem o Tratado Nort American Free Trade Agrement (NAFTA) e também 
os países envolvidos com a geopolítica dos territórios das Américas. Desse 
primeiro encontro, diversos outros foram necessários para colocar em prática as 
diretrizes do Consenso de Washington. 
No entendimento de Oliveira (2005), as reuniões que resultaram no 
Consenso de Washington ocorreram em decorrência do processo de globalização 
e internacionalização iniciado no final da década de 1970 e que se propagaram a 
 
 
10 
partir da década de 1980, impactando sobre as economias dos diversos países 
latino-americanos e caribenhos. Para Batista Junior. (1994), os resultados dos 
encontros do Consenso de Washington chegaram a ultrapassar o espaço 
geográfico das Américas e foram apresentados como solução para combater os 
problemas econômicos e sociais de diversos países pobres na Ásia e na África. 
A defesa de uma economia sustentada no supply-side economics 
fundamentou as diretrizes do Consenso de Wahington. A liberalização com base 
na economia de mercado sustentou a necessidade de implemantação de políticas 
de estabilização, em um primeiro momento, e depois de políticas que tinham como 
objetivo uma reforma estrutural. Para Oliveira (2005), foram 10 as principais 
diretrizes econômicas do Consenso de Wahsington que visavam atacar esses 
dois eixos estruturais das economias em desenvolvimento. Para promover a 
estabilização, as políticas visavam combater o déficit público e alcançar um 
superávit no balanço de pagamentos. 
Para tanto, o receituário apresentava como base para alcançar a 
estabilização a dolarização da economia, a desindexação salarial em realação à 
inflação e outras políticas de preços, forçar os bancos centrais a manterem o 
controle sobre a emissão de suas moedas e também reduzir gastos públicos a fim 
de gerar superávit primário para pagamentos de juros da dívida pública. Com 
relação à proposta de reforma estrutural, o Consenso tinha como orientação 
ampliação do mercado interno e a abertura ao mercado internacional; privatização 
de empresas estatais; reforma fiscal que minimizasse os custos do produtor de 
bens e serviços; desregulamentação do setor financeiro; e criação de programas 
de combate a miserabilidade e violência. 
Para Batista Júnior (1994), houve uma inadequação das propostas do 
Consenso de Washington ao dignosticarem os problemas latino-americanos, pois 
não levaram em consideração as diferenças políticas, econômicas, sociais e 
geográficas dos países. Para esse autor, os propositores do Consenso não 
observaram os fatores históricos do endividamento e dos problemas enfrentados, 
desde o periodo de colonização até a expansão do comércio internacional, 
quando as poucas perspectivas de exportações pararam no elevado 
protecionismo dos países desenvolvidos. As decisões norte-americanas de 
derrubar a estabilização de sua moeda atrelada ao ouro e permitir a elevação por 
parte de seu Federal Reserved System, de taxas de juros exorbitantes, no início 
da década de 1970, implicou em uma crise sem precedentes dos países pobres e 
 
 
11 
endividados do mundo, que tomaram empréstimos incentivados por uma crença 
de que havia uma autorregulação no mercado, uma supply-side economics, e que 
diante da estabilidade de uma moeda internacional baseada no padrão ouro não 
haveria risco de crise. 
Garbossa e Silva (2018) afirmam que o Consenso de Washington implicou 
em uma nova velha ordem econômica mundial. De acordo com esses autores, ele 
trouxe de volta para o contexto internacional a velha política econômica do laissez-
faire, laissez-passer, da Inglaterra de Adam Smith do final do século XVIII e início 
do século XIX, só que travestida de uma nova roupagem defendida por Milton 
Friedamann e Friedrich Von Hayek. As teorias de Hayek e Friedmann 
proporcionaram as bases teóricas que fundamentaram as diretrizes do Consenso 
de Washington. Houve uma abertura nos países para a entrada de produtos e 
capitais estrangeiros, porém é certo que, durante os anos de 1990, as empresas 
locais não estavam preparadas para isso, nem mesmo os países se prepararam 
para uma inserção tão rápida. 
As instituições capitalistas locais, como caso a Federação das Indústrias 
de São Paulo, defenderam muito o discurso de abertura, porém não esperavam 
que de forma abruptatais produtos viessem a concorrer com suas próprias 
filiadas, como as indústrias de brinquedos, de calçados, de tecidos, os pequenos 
negócios e tantos outros. O fato é que até o setor automotivo enfrentou 
concorrência diante de um governo que, ao defender a entrada de produtos 
estrangeiros, afirmou que os carros produzidos no Brasil eram “carroças” se 
comparados com os produzidos na Europa ou nos Estados Unidos. O 
descontentamento dos setores atingidos foi geral, o que ocasionou em 
impeachment do primeiro governante brasileiro a implementar as medidas do 
Consenso, o que afundou o país em uma crise econômica e política. 
De acordo com Batista Junior (1994), o modelo proposto pelas instituições 
de Bretton Woods e defendido amplamente pelos EUA, cujas medidas não foram 
implementadas pelo seu principal defensor, passou a ser percebido, conforme o 
autor, como um modelo propositivo de mão única, com diretrizes forjadas apenas 
para os países latino-americanos e caribenhos implementarem. Os países 
considerados desenvolvidos, apesar de defenderem a implementação de tais 
medidas, não se dispuseram fazê-lo. Além de divulgadas como grande soluções 
para a estabilização econômica e política dos países pobres, as instituições de 
 
 
12 
Bretton Woods se encarregaram de forçar a execução de tais medidas nos países 
pobres da Ásia e da África. 
Oliveira (2005) destaca que as políticas neoliberais do Consenso de 
Washington foram implementadas no Brasil de forma mais moderada nos 
governos posteriores ao de Fernando Collor de Mello (1990/1992) e que apenas 
em 1998 a política de estabilização atrelada ao dólar foi rompida e muitas das 
diretrizes no país foram revistas. Da década perdida dos anos 1980 para os 
experimentos neoliberais dos anos 1990, o país atravessou períodos de 
instabilidade política com momentos de estabilidade, mas que ampliaram as 
incertezas com relação a produção industrial e redução do Estado na economia. 
Contudo, deixaram claro que a paridade com o dólar e outras medidas do 
Consenso só poderiam servir como antídoto se pudessem ser aplicadas a todos 
os países após um estudo das características e viabiliades políticas, econômicas 
e sociais de cada um, preservando a sua soberania. 
Conforme Batista Junior (1994), os países necessitam de muito mais do 
que simples medidas neoliberais que seguem um diagnóstico comum a todos sem 
levar em consideração as complexidades e especificidades existentes em cada 
território e Estado. Para a retomada do desenvolvimento, no caso brasileiro, o país 
necessita assumir liderança do conjunto dos países emergentes, pois, no 
entendimento de Zibechi (2013), o Brasil protagonizou, nos primeiros 10 anos do 
século XXI, uma postura de país periférico avançando para ser a sexta economia 
do planeta. Um dos grandes passos dados para isso foi a postura assumida diante 
do bloco econômico formado com Rússia, Índia, China e África do Sul, os BRICS. 
TEMA 5 – OS BRICS E A ORGANIZAÇÃO PARA A COOPERAÇÃO E O 
DESENVOLVIMENTO (OCDE) 
5.1 A formação dos BRICS 
Brasil, Rússia, Índia e China iniciaram conversas para criar um grupo com 
expressão política, de cooperação econômica e ajuda mútua, que reunisse países 
considerados como economias emergentes. No começo deste século, com 
grande interesse em garantir espaços na nova geopolítica internacional, 
protagonizados por blocos econômicos, como União Europeia e Nafta, e 
organizações multilaterais, como a OCDE, dos quais fazem parte as nações mais 
ricas do mundo, o grupo passou a realizar reuniões periódicas. O destaque em 
 
 
13 
âmbito global para as reuniões desses países dá-se em 2001, com a criação do 
termo BRIC pelo economista britânico Jim O’Neill. Esse executivo britânico da 
Goldman Sachs o utilizou para ressaltar as articulações existentes para a 
formalização de um possível bloco econômico desses países que apresentavam 
excelentes perspectivas de crescimento e de investimentos a médio e longo 
prazo. 
De acordo com Garbossa e Silva (2018), esse grupo de importantes países, 
mantidas as perspectivas de crescimento conforme os anos da primeira década 
do século XXI, tende a superar as maiores economias do mundo até 2050. Com 
a adesão de mais um país em ascensão na geopolítica mundial, a África do Sul, 
que agregou o “S” (de South África), em 2009, aumentou ainda mais tendência de 
fortalecimento do grupo. Assim, as reuniões dos BRICS, que inicialmente serviam 
para trocas de informações, em poucos anos se tornaram constantes, fato que 
expandiu significativamente suas ações de interação e cooperação política-
econômica-financeira. 
Conforme Brasil (2015), os BRICS como agrupamento assumiram como 
compromisso entre si a busca por maior espaço político-econômico-financeiro na 
articulação e coordenação em âmbito do G20 e a ampliação da participação 
democrática e dos assentos no Conselho de Segurança da ONU para melhorar a 
governança internacional. Em junho de 2014, foi realizada em Fortaleza (CE) a 
Reunião Internacional da Cúpula dos BRICS, em que foram assinados diversos 
protocolos de intenções, dentre eles a criação de um Novo Banco de 
Desenvolvimento (NBD) voltado para o fomento e o crescimento dos países-
membros, o estabelecimento de um Arranjo Contingente de Reservas (ACR) para 
socorrer, caso haja necessidade, os países em seus balanços de pagamentos, 
além de acordos de cooperação multissetorial em diversas áreas, como saúde, 
ciência, tecnologia e inovação, infraestrutura, além de outros setores. Nos últimos 
da segunda década do século XXI, os resultados eleitorais colocaram no poder 
no Brasil, e em outros países da América Latina, grupos favoráveis a uma 
aproximação maior com os EUA e a OCDE, reduzindo o nível de empenho com o 
qual país vinha se dedicando na condução de um bloco econômico com os demais 
países do BRICS. 
 
 
 
14 
5.2 O Brasil e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE) 
O Brasil, durante as primeiras décadas deste século, figurou entre as 
grandes economias do mundo, e tem-se questionado se ele deve ou não se 
integrar aos países que fazem parte da Organização de Cooperação e 
Desenvolvimento (OCDE). De acordo com o Ministério das Relações e Exteriores 
do Brasil, desde a década de 1990 o país vem se beneficiando do envolvimento 
de vários órgãos da administração pública brasileira tanto federal quanto estadual, 
participando como associado ou convidado de instâncias da OCDE. Em 2015, o 
Brasil assinou um protocolo de cooperação com a OCDE que tinha como objetivo 
aproximá-lo ainda mais dessa importante organização internacional. 
De acordo com Sandroni (2007), até setembro de 1961, havia uma 
instituição que congregava os países mais ricos da Europa, a Organização 
Europeia de Cooperação Econômica (OECE), criada em 1948 para dar suporte à 
realização do Plano Marshall. Com a forte presença norte-americana na execução 
do Plano Marshall, a França liderou uma articulação entre os principais países-
membros da OECE, dando passos importantes na direção da constituição de uma 
instituição que incluísse outros países que estavam contribuindo para a 
reconstrução e o desenvolvimento da Europa, dentre eles os EUA. Dessa forma, 
foi pensada e planeja a Organização de Cooperação e Desenvolvimento 
Econômico (OCDE), criada em setembro de 1961, em substituição à OECE, que 
acabou incluindo os EUA e o Canadá e, mais tarde, o Japão, em 1964. 
Além de França, Estados Unidos e Japão, são considerados países 
fundadores da OCDE Áustria, Bélgica, Dinamarca, Islândia, Grécia, Irlanda, Itália, 
Luxemburgo, Holanda, Noruega, Portugal, Reino Unido, Suécia, Suíça, Turquia, 
Alemanha e Espanha. Mais tarde outros países foram incluídos, dentre eles 
Finlândia, Austrália, Nova Zelândia, México, República Checa, Hungria, Polônia, 
Coréia do Sul, Eslováquia, Chile, Eslovênia, Israel, Estônia e Lituânia. Por produzir 
mais da metade de todaa riqueza do planeta, a OCDE é conhecida como grupo 
dos países ricos. Essa organização tem seu funcionamento movido por comissões 
econômicas e de desenvolvimento com o objetivo de incentivar o crescimento 
econômico dos países-membros, por exemplo mantendo elevados níveis de 
emprego, estabilidade de preços e investimentos. Além disso, promove debates 
entre os países sobre questões financeiras, sociais, ambientais e também sobre 
a expansão do comércio com outras nações. Para Sandroni (2007), algumas das 
 
 
15 
maiores contribuições dessa organização é a promoção, a assessoria e a 
assistência técnica para a elevação do nível de desenvolvimento dos países-
membros. 
 
 
 
16 
REFERÊNCIAS 
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