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UNIVERSIDADE POTIGUAR CURSO DE DIREITO EDUARDO ANDERSON CASSIMIRO VICTOR COMO APLICAR O DIREITO DIGITAL A CRIMES CIBERNÉTICOS NATAL 2022 UNIVERSIDADE POTIGUAR CURSO DE DIREITO EDUARDO ANDERSON CASSIMIRO VICTOR ORIENTADORA: PROF. LILIANA SANTO DE AZEVEDO RODRIGUES COMO APLICAR O DIREITO DIGITAL A CRIMES CIBERNÉTICOS NATAL 2022 EDUARDO ANDERSON CASSIMIRO VICTOR COMO APLICAR O DIREITO DIGITAL A CRIMES CIBERNÉTICOS Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de bacharelado em Direito da Universidade Potiguar como pré-requisito para a obtenção do grau de bacharelado em Direito. Orientadora: Prof. Liliana Santo de Azevedo Rodrigues NATAL 2022 AGRADECIMENTOS Primeiramente, quero agradecer a Deus pelo dom da vida, por ter sobrevivido a uma pandemia, e ante tudo, por me permitir concluir a mais uma etapa da minha vida e poder chegar até aqui. Toda gratidão do mundo aos meus pais, por todo investimento em mim depositado, desde o meu nascimento até o dia de hoje, isso tudo é por vocês, GRATIDÃO. A minha orientadora Liliana Santo que foi primordial para o desenvolvimento deste trabalho, não teria sido possível sem sua orientação e dedicação, meu muito obrigado Professora. RESUMO Neste trabalho serão abordados os aspectos históricos e evolutivos do cibercrime, também iremos apontar o surgimento e o desenvolvimento das leis que regem o direito virtual em nosso país, como também uma breve noção sobre os crimes cibernéticos. Traremos também a Convenção de Budapeste e a sua importância para o direito digital mundial, assim como algumas modalidades do cibercrime. Por fim, e para expor a relevância deste trabalho, o capitulo 3 tratará de um caso de suicídio cometido por jovem brasileiro e transmitido pela vítima em tempo real, por meio do aplicativo Tiktok, sendo a preocupação maior do tiktok esconder a história para não causar danos a si próprio, trazendo uma prejudicialidade enorme a paz publica, ferindo moralmente toda nossa sociedade, e como o uso indevido do digital pode acarretar danos irreversíveis. Palavras-Chave: Digital, Cibercrimes, Budapeste, Internet. ABSTRACT In this work, the historical and evolutionary aspects of cybercrime will be addressed, we will also point out the emergence and development of laws that govern virtual law in our country, as well as a brief notion about cyber crimes. We will also bring the Budapest Convention and its importance for global digital law, as well as some types of cybercrime. Finally, and to expose the relevance of this work, chapter 3 will deal with a case of suicide committed by a young Brazilian and transmitted by the victim in real time, through the Tiktok application, with tiktok's main concern being to hide the story so as not to cause damage to itself, bringing enormous harm to public peace, morally hurting our entire society, and how the misuse of digital can cause irreversible damage. Key-words: Digital, Cybercrimes, Budapest, Internet. SUMÁRIO INTRODUÇÃO..................................................................................................... CAPITULO 1 – CRIMES CIBERNÉTICOS.......................................................... 1.1 ASPECTOS HISTÓRICOS............................................................................ 1.2 EVOLUÇÃO E NOÇÕES GERAIS SOBRE CIBERCRIMINALIDADE........... CAPÍTULO 2 – CONVENÇÕES INTERNACIONAIS E SUA RELEVÂNCIA NOS CIBERCRIMES.................................................................................................... 2.1 A IMPORTÂNCIA DA CONVENÇÃO DE BUDAPESTE PARA O DIREITO DIGITAL E O COMBATE AO CIBERCRIME....................................................... 2.2 MODALIDADES DE CIBERCRIMES............................................................. CAPITULO 3 – ESTUDO DE CASO................................................................... 3.1 CASO JOÃO.................................................................................................. 3.2 ANÁLISE DO CASO JOÃO........................................................................... CONCLUSÃO................................................................................................. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................... INTRODUÇÃO O Direito eletrônico trata-se de uma parte ramificada do direito que rege as relações em ambientes virtuais. Muitos acabam achando que porque estão por trás de uma tela de celular ou computador que podem considerar que o acesso a internet virou ‘terra de ninguém’ e nela podem fazer o que bem entenderem. A cada dia vimos em noticiários ou nas diversas redes rociais que desfrutamos no atual momento o aumento de casos de crimes na internet, pessoas sendo expostas, tendo fotos e vídeos íntimos divulgados e a cada dia o aumento desses casos se intensificam. O Direito Digital assim como crimes cibernéticos, são ramos do direito relativamente novos no Brasil, surgindo em meados de 2012 com a Lei n° 12.737, também conhecida como Lei Carolina Dieckmann. O ocorrido foi em de 2011 onde um Hacker (criminoso virtual) invadiu o computador pessoal da atriz Carolina Dieckmann, possibilitando que o mesmo tivesse acesso a trinta e seis fotos de cunho íntimo dela, na época do fato, o invasor tentou extorquir a famosa exigindo uma quantia no valor de dez mil reais para não divulgar as fotos. A atriz abraçou a causa e cedeu seu nome a Lei. Essa também foi a primeira lei no nosso país que tipificou crimes cibernéticos. Outro Marco no Direito Digital é a LGPD ( Lei Geral de Proteção de Dados ) sancionada em 2018 porem começa a entrar em vigor, apenas em fevereiro de 2020, esta Lei discorre sobre o tratamento de dados pessoais, inclusive nos meios digitais, por pessoa natural ou por pessoa jurídica de direito público ou privado, com o objetivo de proteger os direitos fundamentais de liberdade e de privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade da pessoa natural, de compras on-line a redes sociais, de hospitais a bancos, de escolas a teatros, de hotéis a órgãos públicos, da publicidade à tecnologia: pode ter certeza, a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) afeta diferentes setores e serviços, e a todos nós brasileiras e brasileiros, seja no papel de indivíduo, empresa ou governo. Tratando-se de uma nova realidade, o direito digital ainda conta com um limitado número de normas que regimentam a questão. Entretanto, isso vem mudando felizmente. A cada ano surgem no legislativo mais leis, decretos e regras que abordam esse assunto. Esse direito está aí para estabelecer leis e garantir que ninguém seja constrangido ou lesado nesse ambiente. Por fim, iremos aqui debater sobre a evolução do direito digital e sobre seus benefícios para a nossa sociedade. A escolha desse tema, se deu, inicialmente devido ao desenfreado número de crimes digitais ocorridos no nosso país no decorrer dos últimos anos, tendo se intensificado bastante na época da pandemia do novo Coronavirus. Tem-se notado que quanto mais meios digitais são criados e expandidos, mais casos vem à tona também, hoje em dia a sociedade vive quase que inteiramente dependente do meio digital, mais precisamente dependentes do celular, dormem, comem, se divertem com ele, como se aquele objeto fosse parte do seu corpo. Com o passar dos anos e o avanço da tecnologia, a internet avançou em muito, inclusive a grande parte da nossa vida hoje em dia é regida pelo digital,melhorando e simplificando muito nossa vida, como é o exemplo das CNH digitais, dos RG digitais que em alguns estados é possível utiliza-lo digitalmente, entre outras coisas que simplificam e ajudam a população. É inegável que o digital trouxe muitos benefícios, mas quanto aos malefícios? Hoje é extremamente comum, você ouvir nos noticiários, ouvir de familiares, de colegas ou conhecidos que foram vítimas dos famosos golpes digitais, tiveram cartão clonado, contas hackeadas, e pior, quantas pessoas anônimas e famosas tiveram a intimidade violada e exposta para o mundo todo, acarretando danos muitas vezes irreversíveis. São incontáveis os casos e infelizmente muitos acham que o digital é terra sem lei e não há punição, mas é aí que se enganam. Outros casos comuns no digital é o quanto os indivíduos confundem a liberdade de expressão com crime virtual, outro ponto muito forte que tem marcado nossa geração. O objetivo geral do trabalho é mostrar uma breve análise sobre a criação e evolução do Direito Digital no Brasil, como também os crimes cometidos e os traumas que as vítimas levam consigo para toda a vida. Os objetivos específicos são: i) levar ao conhecimento de todos a Iniciação do Direito Digital no Brasil e seu benefício para a sociedade; ii) mostrar a insegurança e invasão da privacidade no âmbito digital; iii) aplicar as legislações vigentes no nosso país e um pouco da história e criação da convenção de Budapeste. Nesta pesquisa foi aplicado o método de pesquisa bibliográfica, sendo seu objetivo explorar e aprofundar o material teórico sobre o assunto abordado. Esta arguição desenvolver-se-á a partir de inspeção de literaturas, leitura e detalhamento de obras doutrinárias, artigos científicos, revistas eletrônicas, artigos e por observação de leis e jurisprudências sobre o referido tema. Tendo seu início pela análise histórica do surgimento dos crimes virtuais, bem como seus conceitos e os crimes que ocorrem nesse meio, logo mais será discorrido sobre as mudanças na legislação Penal no que tange o Direito Digital, como também sua evolução até o presente momento, a importância da Convenção de Budapeste e por fim mostraremos um caso prático ocorrido em nosso país e analisaremos perante as legislação, e os perigos que o uso imprudentemente do digital pode causar a nossa sociedade. No capítulo 1 abordaremos sobre a evolução histórica do Cibercrime, tanto nacionalmente como internacionalmente, como se iniciou e alguns dos primeiros casos que marcaram época, mesmo quando não se falava em cibercrime, ou existia o famoso meio digital que temos acesso diariamente. Falaremos também sobre a legislação vigente em nosso país e as principais leis que regem o direito digital Brasileiro. No capítulo 2 discorreremos sobre a Convenção de Budapeste, sua história e criação, a sua importância para o direito digital e combate ao Cibercrime, como também algumas modalidades de Cibercrimes. E por fim, no capítulo 3 apresentaremos um estudo de caso, fato esse ocorrido em 2019, onde um jovem de 19 anos se suicidou e transmitiu ao vivo por meio do famoso aplicativo chines TikTok, como também a omissão da empresa responsável por ele e os perigos oferecidos para nossa sociedade. CAPITULO 1 – CRIMES CIBERNÉTICOS Neste capítulo abordaremos o contexto histórico do Cibercrime, seu desenvolvimento no Brasil, quando se deu início as primeiras legislações que versam sobre o assunto, assim como casos que marcaram o inicio do direito digital em nosso país. Falaremos também sobre o uso indevido das redes socais, a exposição, difamação, calunia, uso de imagem indevida “os famosos nudes vazados”, o próprio hackeamento de contas em redes sociais, invasão a contas bancarias, entre outros casos que serão exemplificados no decorrer deste artigo. 1.1 ASPECTOS HISTÓRICOS Quando paramos e analisamos, o cibercrime está ligado diretamente a tecnologia e a inovação, olhando para o passado, podemos ver um caso, ainda que bastante superficial, relatado no livro Manual de Crimes Informáticos de Damásio de Jesus e José Antônio Milagre (2016, p. 22) que em 1820 na França, houve um boicote dos funcionários de Joseph-Marie Jacquard, onde ele produziu uma máquina que substituía tarefas antes executadas por humanos, resultando numa sabotagem por parte de seus empregados para desencoraja-lo no uso da nova tecnologia. Já em 1939, Alan Turing é recrutado pelo Serviço de Inteligência Americano no intuito de descobrir o segredo de máquinas codificadoras eletromagnéticas, mostrando que desde a primeira metade do século XX já estudavam a quebra de técnicas e códigos para se ocultar ou proteger informações (Jesus e Milagre, 2016, p. 22). Obviamente, o conceito de cibercrime surgiu muitos anos depois do fato ocorrido, Jesus e Milagre explicam que a doutrina ela divaga acerca do primeiro delito informático teria ocorrido no âmbito do MIT (Massachusetts Institute of Technology) no ano de 1964, onde um aluno de 18 anos teria cometido um ato classificado como cibercrime, entretanto, outros ainda falam que o primeiro caso de que se tem notícia sobre hacking foi no ano de 1978, na universidade de Oxford, onde um estudante copiou de uma rede de computadores uma prova, sendo uma invasão seguida de cópia. Até essa data não existia nenhuma lei que versasse sobre o Direito Digital nos Estados Unidos, no mesmo ano a Flórida formulou leis sobre o Direito Digital, sendo o primeiro estado Americano a faze- la (Jesus e Milagre, 2016, p. 22). Um dos crimes Cibernéticos mais famosos das antigas, foi detectado por Cliff Stoll. Ele era administrador de sistemas no Lawrence Berkeley National Laboratory, em 1986. Percebendo que o tempo de uso dos computadores era maior do que o uso efetivo na instituição, ele descobriu que uma conta que deveria estar inativa estava sendo usada por um hacker do Chaos Computer Club, na Alemanha Oriental, a partir do login no computador do laboratório, o criminoso tinha acesso à rede do Departamento de Defesa americano, com o intuito de vender informações para a União Soviética. O nome do hacker era Markus Hess e na época, era difícil obter a cooperação das autoridades na investigação desse tipo de crime, já que a atividade ainda era recente. O trabalho de Stoll é conhecido como um dos primeiros exemplos de perícia forense digital (Canaltech). 1.2 EVOLUÇÃO E NOÇÕES GERAIS SOBRE CIBERCRIMINALIDADE Iniciando o novo milênio, estávamos fascinados com prematuro mundo digital, marcando o início do sec. XXI. Embora muito intrigante e esplêndido, o digital ainda era muito desconhecido. Com o passar dos anos, o meio digital foi se popularizando, surgiram as primeiras redes sociais, muitas instituições aderiram sistemas online, já era possível acessar uma conta no banco através de internet, entre outras coisas. Com elas, também surgiram a preocupação e o medo relacionadas à segurança e sobre quem também poderia acessar suas informações, e agora, não só as grandes instituições e governos teriam essa preocupação, mas toda a população em si. O termo “cibercrime” é relativamente antigo e surgiu somente no final da década de 90, durante reunião do G-8 que se destinava à discussão do combate às más práticas na internet de forma preventiva e punitiva. A partir disso, o termo passou a ser usado para designar delitos penais praticadas na internet (D’URSO, 2017). Para Rocha (2017, p.16): Todo o tipo de conduta delituosa é praticada online, desde pedofilia, prostituição, tráfico, pirataria, até sabotagem e terrorismo. A digitalização dos métodos de trabalho tem causado em muitos países, inclusive ao Brasil, transtornos provocados por uma nova onda de crimes cibernéticos. Só neste ano foram registrados inúmeros sequestros de informações de empresas e hospitais por todo mundo. https://canaltech.com.br/seguranca/historia-da-seguranca-virtual-a-origem-do-cibercrime-203073/No Brasil, a primeira legislação que versa sobre o Direito Digital tipificando crimes cibernéticos, foi a Lei n° 12.737/2012, mais conhecida popularmente como Lei Carolina Dieckmann, levando o nome da atriz, em razão de ter sido vítima de crime cibernético ao ter seu computador invadido e imagens furtadas divulgadas e utilizadas para praticar extorsão contra ela. sendo a lei sancionada em novembro de 2012 sendo um marco bastante memorável para a legislação, embora sua criação tenha sido tardia e branda se comparado a outros países. Muitas são as discursões sobre as penas impostas por essa lei, visto que pouco coíbem os invasores, sendo as penas muito maleáveis, deixando uma ideia que o crime ficará impune, visto que o objetivo da criação da lei é impossibilitar os hackers a praticas delituosas, não se chegara ao objetivo, visto que a aplicação das penas nela prevista são demasiadamente baixas. Para Castro (2013 ,p. 2): A Lei deveria ter criado a responsabilidade criminal dos administradores dos sites de redes sociais por injúrias, difamações, calúnias e demais crimes praticados contra terceiros, por falta de controle de acesso, embora faturem bilhões de dólares, utilizando, por exemplo, a tão comentada teoria do conhecimento do fato, responsabilidade objetiva. Com a entrada da supracitada Lei em vigor o Código Penal Brasileiro passou a tipificar o crime de Invasão de Dispositivo Informático, previsto no artigo 154-A do CP, da seguinte maneira: Art. 154 – A. Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita: Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. A legislação brasileira conta também com o Marco Civil da Internet, Lei 12.965/2014, em vigor desde 2014, popularmente conhecido como a Constituição da Internet Brasileira, ela traz de uma maneira sistematizada dez princípios elaborados pelo comitê Gestor da internet brasileira, um de seus principais objetivos foi definir em lei os direitos provenientes da utilização da internet, tais como garantias, direitos e deveres versando sobre o que se pode ou não fazer no âmbito civil, antes de se criminalizar condutas praticadas na http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art154a internet, determinando as diretrizes para atuação da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (Cardoso, 2022). Para BIONI (2019, p. 186) Tidos como um dos pilares do MCI, ao lado da neutralidade de rede e da liberdade de expressão, a sua proeminência consolidou-se com o episódio do escândalo de espionagem revelado pelo ex-analista Edward Snowden, da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos. Tais revelações repercutiram no MCI, que teve mudanças substanciais em seu texto para “endurecer” 102 a proteção ao direito à privacidade e aos dados pessoais, bem como na própria aceleração de seu trâmite legislativo que, com a adoção do regimento de urgência, culminou em sua aprovação no Congresso brasileiro em 2014. A lei do Marco Civil traz consigo dez princípios, sendo eles: liberdade, privacidade e Direitos Humanos; governança democrática e colaborativa; universalidade; diversidade; inovação; neutralidade da rede; inimputabilidade da rede; funcionalidade, segurança e estabilidade; padronização e interoperabilidade; ambiente legal e regulatório. Outro marco de valor imensurável a nossa legislação foi a Lei Geral de Proteção de Dados – LGPD (13.709/2018). Ela tem como seu principal objetivo proteger os direitos fundamentais de liberdade e de privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade da pessoa natural, de compras on-line a redes sociais, de hospitais a bancos, de escolas a teatros, de hotéis a órgãos públicos, da publicidade à tecnologia, pode ter certeza, a LGPDafeta diferentes setores e serviços, e a todos nós brasileiras e brasileiros, seja no papel de indivíduo, empresa ou governo. Voltada também para a segurança jurídica, acertando as práticas e regulamentos, que a partir daí protegem os dados pessoais de todo e qualquer cidadão que esteja no nosso país ou fora dele, sendo baseada em padrões internacionais (MPF). A LGPD “dispõe sobre o tratamento de dados pessoais, (...) com o objetivo de proteger os direitos fundamentais de liberdade e de privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade da pessoa natural.” Para Bioni (2019, p. 175) Destaca-se, nesse sentido, o referencial teórico de Alan Westin que compreendia a privacidade como a “reivindicação dos indivíduos, grupos e instituições de determinar, por eles mesmos, quando, como e em qual extensão suas informações pessoais seriam comunicadas aos outros.” Dá-se ênfase à autonomia do indivíduo em controlar o fluxo de suas informações pessoais. Ela traz consigo a definição do que são dados pessoais em seu art. 5° inciso I, considerando que um dado pessoal é aquela informação relacionada a pessoa natural identificada ou identificável. No mesmo artigo, inciso II, ele define o que é dado pessoal sensível, que está ligado a origem racial ou étnica, religiosidade, escolhas políticas, opção sexual ou dado referente a saúde. Já em seu art. 14 a legislação estabelece que o tratamento de dados pessoais sobre crianças e adolescentes, caberá a realização mediante consentimento dos pais ou responsáveis legais. Trouxe também inúmeras garantias e direitos aos cidadãos, afirmando em seu texto que todo titular é possessor dos seus dados, sendo preciso seu consentimento para tratamento do mesmo citado, todavia, essa regra pode ser excepcionada mediante proteção da vida, serviços de saúde, processo judicial entre outros fatores especificados pelo inciso II do art. 11, inclusive pode o cidadão revogar o consentimento de tratamento, e também pedir que seus dados sejam excluídos (MPF). Para Bioni (2019, p. 189) é uma carga principiológica que procura conformar, justamente, a ideia de que o titular dos dados pessoais deve ser empoderado com o controle de suas informações pessoais e, sobretudo, na sua autonomia da vontade. Sobre o Consentimento pode-se afirmar que O titular dos dados pessoais alçou papel de protagonista a partir da segunda geração de leis de proteção de dados pessoais. Naquele momento, optou-se por uma estratégia regulatória que nele depositava a responsabilidade de autoproteger as suas informações pessoais. Essa diretriz normativa foi fundada a partir do direito de o indivíduo controlar os seus dados pessoais, socorrendo-se, por isso, à técnica legislativa de exigir o consentimento 127 do titular dos dados pessoais para que eles fossem coletados, utilizados, compartilhados, enfim, para toda e qualquer etapa de tratamento de tais informações. (BIONI, 2019, p. 190) Já prevendo na LGPD a existência dos agentes de tratamento de dados e estipulando as suas funções nas organizações, tais como o controlador que toma as decisões sobre o tratamento; o operador, que realiza o tratamento em http://www.mpf.mp.br/servicos/lgpd/o-que-e-a-lgpd nome do controlador. O Brasil também adotou por meio da Lei n° 13.853/2019 a Autoridade Nacional de Proteção de Dados Pessoais – ANPD, que tem por objetivo a aplicabilidade de penalidades e fiscalização dos descumprimentos da LGPD. CAPÍTULO 2 – CONVENÇÕES INTERNACIONAIS E SUA RELEVÂNCIA NOS CIBERCRIMES Neste capítulo trataremos sobre a Convenção de Budapeste, sua importância para o Direito Digital e o Combate ao cibercrime, os demais países que fazem parte, e como a legislação interna de cada país é influenciada pela convenção, apontando também alguns exemplos de crimes digitais e suas consequenciais. 2.1 A IMPORTÂNCIA DA CONVENÇÃO DE BUDAPESTE PARA O DIREITO DIGITALE O COMBATE AO CIBERCRIME A Convenção de Budapeste foi criada em 21 de setembro de 2001, na Hungria, ela também é conhecida como Convenção sobre Cibercrimes, resultado de 4 (quatro) anos de trabalho do “Comitê de Peritos em Crimes no Ciberespaço (PC-CY)”, estabelecido pelo Comitê de Ministros do Conselho da Europa, em 4 de fevereiro de 1997. Atualmente ele conta como signatários, os países da União Europeia, Estados Unidos que é membro sem voto do conselho, outros países também de aderiam, como é o caso do Canadá, Australia e Japão, também países da América Latina, como Argentina, Paraguai, Chile, Republica Dominicana, Costa Rica, Colômbia e recentemente o brasil, promulgada por meio do Decreto Legislativo n° 37/21 também aderiu a convenção. Tendo sido elaborada pelo Comitê Europeu para os Problemas Criminais e foi o primeiro tratado internacional sobre os chamados cibercrimes. O documento lista os principais crimes cometidos por meio da internet e além dos 66 países que ratificaram, outros 158 utilizam como orientação para suas legislações nacionais de combate aos crimes cibernéticos. Como característica bastante marcante dos Cibercrimes, presumimos que se tratam de condutas que ultrapassam fronteiras, e por consequência há conflitos com a competência e atuação territorial das autoridades nacionais. Diante disso, os especialistas europeus chegaram à conclusão de que somente um instrumento internacional que fosse vinculante aos países signatários poderia ter a necessária eficiência na luta contra esse novo (Silva, 2022). Mediante a observação de Jesús-María Silva Sánchez (2011, p. 36): O progresso técnico dá lugar, no âmbito da delinquência dolosa tradicional (a cometida com dolo direto ou de primeiro grau), a adoção de novas técnicas como instrumento que lhe permite produzir resultados especialmente lesivos; assim mesmo, surgem modalidades delitivas dolosas de novo cunho que se projetam sobre os espaços abertos pela tecnologia. A criminalidade, associada aos meios informativos e à internet (a chamada ciberdelinquência), é, seguramente, o maior exemplo de tal evolução. Nessa medida, acresce-se inegavelmente a vinculação do progresso técnico e o desenvolvimento das formas de criminalidade organizada, que operam internacionalmente e constituem claramente um dos novos riscos para os indivíduos (e os Estados). Deste modo, vale ressaltar que a Convenção não é internacional, mas sim europeia, como mostra seu art. 37, todavia no que versa o artigo, o comité de Ministros do Conselho da Europa pode, depois de ter consultado os Estados contratantes da Convenção e de ter obtido o acordo unânime, convidar qualquer Estado não membro do Conselho (Convenção sobre o Cibercrime, 2001). A Convenção de Budapeste tem por desígnio: a) uniformizar as legislações penais substantivas; b) incentivar alterações nas legislações processuais nacionais de maneira a facilitar as investigações e persecução criminal necessárias para combater delitos praticados com o uso de sistemas de computadores, e ainda, demais delitos em que as provas devam ser obtidas mediante meios eletrônicos; c) consolidar importantes meios de cooperação internacional. Seu capítulo I traz algumas terminologias aplicáveis. O Art. 1º colaciona algumas definições utilizadas na Convenção. São elas: a) Sistema Informático; b) Dados Informáticos; c) Fornecedor de Serviço; d) Dados de Tráfego. O seu capitulo II dispõe sobre as medidas que devem ser tomadas no âmbito do direito interno de cada país acerca de algumas infrações que são agrupadas em cinco títulos. O Título 1, tratando de “infrações contra a confidencialidade, integridade e disponibilidade de sistemas informáticos e dados informáticos”, colaciona os seguintes tipos: (Art. 2º) acesso ilegítimo; (Art. 3º) interceptação ilegítima; (Art. 4º) interferência em dados; (Art. 5º) interferência em sistemas; e (Art. 6º) uso abusivo de dispositivos. No Título 2 encontram-se algumas infrações relacionadas com computadores, dentre as quais: (Art. 7º) falsidade informática e (Art. 8º) burla informática. Já o Título 3 trata das infrações relacionadas a conteúdos, como aquelas atinentes à pornografia infantil (Art. 9º)93. No Título 4, (Art. 10º) encontramos as infrações relacionadas à violação de direitos autorais e outros direitos conexos. O Título 5, por sua vez, trata da tentativa e cumplicidade (Art. 11º), (Conselho da Europa, 2001). Nesse documento ainda são recomendadas medidas pelas quais as autoridades possam obter dados de pessoas, ou de fornecedores que prestam serviço em território nacional, para viabilizar investigações (Art. 18º); além da busca e apreensão de dados informáticos armazenados (Art. 19); do recolhimento em tempo real de dados informáticos, dentre os quais estão aqueles relativos ao tráfego (Art. 20º) e a interceptação de dados relacionados ao conteúdo (Art. 21º); além de tratar da necessidade de serem estabelecidas nas legislações internas medidas acerca da competência para quaisquer daquelas infrações penais anteriormente elencadas (Art. 22º), (Conselho da Europa, 2001). O Capítulo III é responsável por trazer: os “princípios gerais relativos à cooperação internacional” (Art. 23º); “princípios relativos à extradição” (Art. 24º)94; e os “princípios gerais relativos ao auxílio mútuo” (Art. 25º). Interessante também é o que dispõe o Art. 35º ao tratar da chamada “Rede 24/7”95, que é um sistema para aconselhamento técnico e de assistência às investigações que deve ser mantido pelas partes do Tratado, (Conselho da Europa, 2001). Por fim, a Convenção traz disposições envolvendo a assinatura e a entrada em vigor; adesão; aplicação territorial; efeitos; reserva; denúncia; entre outras coisas. BRITO (2013, p. 49) fala que: A Convenção possui três objetivos específicos, a saber: (a) harmonizar a tipicidade penal no ambiente do ciberespaço pelos Estados signatários; (b) definir os elementos do sistema de informática promovendo a unidade na interpretação da legislação penal interna e possibilitar a credibilidade da prova eletrônica no ambiente virtual; (c) implementar um sistema rápido e eficaz de cooperação internacional no combate à criminalidade informática. Embora que de forma resumida, essa é a Convenção de Budapeste, unindo internacionalmente países no combate ao Cibercrime. 2.2 MODALIDADES DE CIBERCRIMES O cyberbullying ocorre no momento em que se usa a internet, e outros meios comunicação para difundir ou transmitir palavras, frases, textos e imagens para constranger ou intimidar um indivíduo ou grupo de pessoas. Uma vítima de cyberbullying passa a associar seu nome ou imagem a um perfil ou contexto falso, e recebe rótulos depreciativos ou ridicularizados em sites, redes sociais ou fóruns na internet. Já a ciberguerra é uma modalidade de conflito que tem se tornado mais frequente. Alguns autores acreditam que a primeira guerra cibernética ocorreu após a primeira semana de abril de 2001, quando um avião espião dos EUA colidiu com um caça chinês sobre uma área perto da província de Hainan. Depois, hackers chineses se uniram e hackearam cerca de 10.000 sistemas dos EUA em retaliação ao incidente mencionado. A partir dos exemplos acima, a guerra cibernética (também conhecida como guerra cibernética) pode ser definida como um tipo de guerra em que o conflito ocorre não por meios físicos, como armas, mas por meio de ataques cibernéticos e de computador no chamado ciberespaço, (JUS). Um fato que chamou a atenção para a prática da ciberespionagem, aconteceu em 2008, durante a campanha do então candidato presidencial dos EUA, Barack Obama. Na época, os computadores foram infectados por meio de um cavalo de Tróia - um arquivo disfarçado de aplicativo útil como um "presente da Grécia", mas na verdade ocultando funcionalidades maliciosas - provocando investigações de agentes do FBI e do ServiçoSecreto dos EUA, que disseram aos chefes de tecnologia e campanha de Barack Obama que hackers invadiram os sistemas do partido e obtiveram documentos e dados sobre sua campanha presidencial por meios criminosos e fraudulentos. No contexto dessa ciberespionagem, vale mencionar que a Anistia Internacional realizou uma pesquisa em 2015 sobre as percepções dos cidadãos sobre as operações de vigilância das agências de inteligência lideradas pelos EUA. O estudo foi realizado no Brasil, Holanda, França, Canadá, Alemanha e outros países, entrevistando mais de 15.000 pessoas. Em relação ao Brasil, a análise mostra que 80% dos cidadãos brasileiros se opõem à espionagem virtual, 55% dos participantes brasileiros acreditam que os dados considerados confidenciais não podem ser usados como desculpa para verificar ou promover medidas preventivas de segurança, e o governo deve interceptar os dados em medidas extremas. Existem vários tipos de crimes cibernéticos ao redor do mundo, no entanto, os mencionados acima são mais consistentes entre diferentes autores de diferentes países, razão pela qual foram escolhidos para esta importante parte do presente trabalho, com o intuito de expandir o conhecimento técnico- científico que estrará presente cada vez mais em nosso dia-a-dia. (JUS) Uma outra modalidade de cibercrime, é o ciberterrorismo. Bruce Hoffman em sua obra, Inside Terrorism, acrescentou que após a Segunda Guerra Mundial, principalmente no final da década de 1960 e ao longo da década de 1970, o terrorismo foi visto como parte do contexto histórico revolucionário. O termo foi usado e expandido para incluir grupos nacionalistas e separatistas raciais fora dos contextos coloniais ou neocoloniais. Anteriormente, o terrorismo só aparecia no contexto de ataques físicos e brutais, mas com a expansão da Internet, o terrorismo foi inserido no âmbito virtual. Por isso, a guerra cibernética e o terrorismo cibernético são temas que alarmam Estados e Nações caso não estejam preparados para lutar, principalmente para prevenir ataques terroristas pela Internet com o objetivo de causar danos irreparáveis a sistemas e dispositivos de comunicação virtual (JUS). CAPITULO 3 – ESTUDO DE CASO Neste capítulo será apresentado um caso de suicídio, ocorrido em fevereiro de 2019 no Paraná e transmitido ao vivo por meio do aplicativo chines, que se tornou bastante popular em nosso país, conhecido como TikTok. Esse exemplo mostrará omissão da empresa titular dos dados perante o ocorrido, ferindo diretamente os direitos constitucionais e incitando ainda que indiretamente ao crime. 3.1 CASO JOÃO O trágico caso ocorreu na cidade de Curitiba, capital do estado do Paraná por volta das 15h23 do dia 21 de fevereiro de 2019. Um jovem de 19 anos e influenciador digital filmou e transmitiu ao vivo seu suicídio, pelo aplicativo Tik Tok, no dia anterior, o influenciador havia dito aos seguidores que faria uma exibição “especial” e levou aproximadamente 280 pessoas assistirem ao rapaz se suicidar, enquanto transmitia tudo ao vivo. A empresa por outro lado e para decepção de todos, Ao descobrir a tragédia, uma operação tomou conta do escritório brasileiro da empresa para tentar abafar uma possível crise por causa do vídeo, tendo trabalhado incansavelmente por horas, para que o caso não degradasse a preciosa imagem que o aplicativo tem a zelar (The Intercept). O The Intercept afirma ter ouvido uma ex-funcionária da ByteDance, empresa dona do TikTok aqui no país, e aponta que o vídeo obteve 497 comentários e 15 denúncias de espectadores antes de ser tirado do ar, mais de uma hora depois de sua exibição ao vivo. A reportagem também mostra documentos com horários que comprovariam a ciência do TikTok sobre a trágica situação horas antes das autoridades serem avisadas (The Intercept). De acordo com a fonte ouvida pelo The Intercept, os cerca de 60 funcionários do escritório da ByteDance, localizado no Itaim Bibi, em São Paulo, dividem-se em equipes de redes sociais, conteúdo, influenciadores, parcerias, moderação e administração. O time de moderação de conteúdo, seria o único que trabalha de maneira isolada, sendo eles os responsáveis para tirar do ar conteúdos que contrariam os termos de uso da plataforma, ou seja, ofensivos. Contudo, as transmissões ao vivo são monitoradas por uma equipe que fica na China, e era essa equipe chinesa que tinha a responsabilidade de ter monitorado e descoberto o suicídio do jovem brasileiro. A equipe de moderadores só ficou sabendo do vídeo depois que foi avisada em um grupo de WhatsApp, segundo o The Intercept. Assim, o conteúdo foi exibido por mais de uma hora e meia, sendo que a conta do jovem paranaense só foi excluída às 17h13, mais de uma hora e meia depois de sua morte. De acordo com os documentos obtidos pelo site, apenas às 19h56, mais de quatro horas e meia após a exibição do conteúdo, e duas horas e meia após ter acionado a equipe de relações públicas, o TikTok avisou as forças polícias do Paraná. O corpo do rapaz deu entrada no Instituto Médico Legal de Curitiba às 20h05, apenas nove minutos após a comunicação do app sobre a morte. Foi elaborada uma nota de pesar pela equipe de relações públicas do aplicativo, na qual o Tik Tok se dizia "extremamente triste com esta tragédia", além de apontar que a empresa possui "medidas para proteger usuários contra o uso indevido do aplicativo, incluindo mecanismos fáceis que permitem denunciar qualquer conteúdo que violar nossos termos de uso”. Em entrevista ao The Intercept, a ex-funcionária da ByteDance afirmou que a nota foi feita apenas para amenizar as críticas à imagem da empresa, caso o suicídio viesse a público, não ocorrendo até agora. Segundo a responsável pelo vazamento dos e-mails, “Marta Cheng (líder geral do Brasil e da América Latina) foi acionada e orientou os funcionários do Brasil a não contarem a história para ninguém”. Nessa altura, a família já havia encontrado o corpo do jovem. O Intercept afirma que obteve acesso à ficha de João no Instituto Médico Legal de Curitiba, onde constava que o corpo do jovem tinha sido registrado no local às 20h05, nove minutos após a comunicação do TikTok com as autoridades. Como já relatou o site americano The Verge, o TikTok tem sido usado de diferentes maneiras no mundo, nem todas tão, digamos assim, divertidas. Há relatos de outros dois suicídios na Índia, no mesmo ano e que estavam relacionados ao cyberbullying; há também casos de conteúdo racista e antissemita. (Veja) 3.2 ANÁLISE DO CASO JOÃO Ante todas as informações apresentadas, baseadas na fundamentação teórica apresentada no capítulo 1, especialmente acerca das noções gerais de cibercriminalidade, e sua relação com as Leis Vigentes no nosso país e a Convenção de Budapeste, analisaremos o caso citado no capítulo 2 e o infringimento da Lei pelo aplicativo TikTok. No artigo 21,b),II, fala claramente sobre a obrigação que um fornecedor de serviço tem de prestar as autoridades o seu apoio e sua assistência para recolher ou registrar em tempo real, dados relativos ao conteúdo de comunicações específicas no seu território, transmitidas através de um sistema digital, e claramente o Tik tok foi omisso em contactar as autoridades competentes em tempo real, tendo em vista os relatos no capítulo anterior. A omissão do Tik Tok em alertar as autoridades responsáveis, também desencadeia mesmo que indiretamente a incitação ao suicídio, visto que casos como esse estão se tornando cada vez mais comum em todo o mundo. Para Baume, Cantor e Rolfe (1997), a Internet surgiu como uma nova forma de compartilhamento de informações e rapidamente chamou a atenção de jovens desfavorecidos. Neste estudo, os autores apresentam vários outros estudos que mostram uma ligação entre a cobertura da mídia de notícias de suicídio e suicídios subsequentes. Esses estudossustentam que existe uma relação significativa entre notícias de suicídio e casos subsequentes de suicídio. Alguns dos dados encontrados sugerem que algum tipo de imitação pode ter ocorrido após a cobertura da mídia ou exposição pessoal ao suicídio. Dito isso, grupos vulneráveis podem ser incentivados a cometer suicídio por meio de notícias ou exposição direta a casos de suicídio. O cibersuicídio é então um termo usado para fazer referência ao suicídio e suas ideações na internet. Ele está associado a websites que atraem membros vulneráveis da sociedade e os tornam capacitados por meio do aprendizado de diversos métodos e abordagens para deliberar sobre a autoagressão. O cibersuicídio é um importante problema presente em todo o mundo, especialmente entre os jovens e adolescentes, sendo um grande desafio para o futuro, principalmente, no que se refere a sua prevenção e controle (BIRBAL et al., 2009). Diante das citações acima, vimos o quanto é preocupante a forma como o TikTok tratou do caso em questão, preocupando-se em zelar pela sua imagem, permitindo que uma transmissão de suicídio fosse disseminada mundo a fora, sendo assistida jovens e adolescentes. Redes sociais como Facebook e Twitter têm estratégias consolidadas para lidar com conteúdo e situações sensíveis como o suicídio, por meio de parcerias com instituições especializadas em prevenção, como o Centro de Valorização da Vida, CVV. Além do conteúdo de apoio aos usuários e filtros de Inteligência Artificial que detectam conteúdos apelativos. As equipes das plataformas estão focadas em agilizar o contato e trabalhar com as autoridades locais. A lei do Marco Civil alude que o responsável pelo conteúdo publicado em uma plataforma é o usuário que a publicou. Tendo em vista, as empresas donas da plataforma, como Tik Tok e a ByteDance, só poderiam ser responsabilizadas por dois tipos de conteúdo: exploração de menores e nudez (The Intercept). Todavia, mesmo que não haja obrigação legal das empresas em lidar com os conteúdos ofensivos de sua plataforma, há no mínimo obrigação moral de zelar pela comunidade, uma vez que em suas políticas e termos de uso as empresas se responsabilizam pelo cuidado e fiscalização de seus conteúdos e usuários. Ainda segundo Thiago Tavares, presidente da SaferNet Brasil, organização que defende direitos humanos na internet. “Competidores do TikTok têm indicadores de situações sensíveis muito mais afiados do que a plataforma parece ter, e esconder suas práticas e o que acontece na rede social certamente não é o melhor exemplo de como lidar com isso”. No começo do ano de 2019, o suicídio de uma menina de 14 anos incitado por conteúdos suicidas e de automutilação no Instagram, fez a Comissária da Infância do Reino Unido Anne Longfield escrever uma carta pedindo que as empresas de tecnologias tomassem providências quanto as políticas de prevenção. “Eu apelo a vocês que aceitem que existem problemas e que se comprometam a resolvê-los, ou admitam que são incapazes de fazer isso”, escreveu ela. Segundo Birbal et al. (2009), a facilidade de acesso à internet e a velocidade com que a informação é dispersa têm uma grande contribuição para a disseminação de atos suicidas, o que é particularmente atraente para os jovens. Na maioria dos países, enfatizam Becker e Schmidt (2005) e Radhakrishnan e Andrade (2012), o suicídio é a segunda ou terceira principal https://www.childrenscommissioner.gov.uk/2019/01/30/a-public-call-for-online-platforms-to-do-more-to-tackle-social-media-content-which-is-harmful-to-children/ https://www.childrenscommissioner.gov.uk/2019/01/30/a-public-call-for-online-platforms-to-do-more-to-tackle-social-media-content-which-is-harmful-to-children/ causa de mortalidade entre os adolescentes. As evidências apontam que há ligações entre os casos de suicídio apresentados na mídia (televisão, internet, jornal, etc.) e as subsequentes tentativas de suicídio entre os jovens. De acordo com dados do CDC (2010), o suicídio é a terceira causa de morte mais frequente entre jovens de 10 a 14 anos e de 15 a 24 anos; e a segunda causa no grupo de idades entre 25 e 34 anos, nos Estados Unidos. Segundo Mitchell et al. (2014), em 2011 nos Estados Unidos, 16% de alunos do ensino médio tiveram sérios pensamentos sobre cometer suicídio, 8% tentaram o suicídio, e 2% disseram que a tentativa de suicídio resultou na necessidade de cuidados médicos. Embora as meninas estejam mais propensas a considerar e tentar suicídio, os meninos têm uma taxa maior de sucesso na tentativa e consequente morte por suicídio, nos Estados Unidos (Mitchell et al., 2014). O suicídio é considerado um problema de saúde pública, sendo a segunda maior causa de morte entre jovens de 15 a 24 anos, e no Brasil esse número só expande. A Organização Mundial de Saúde alerta que o tema deve ser tratado com cautela porque há risco de imitação, especialmente entre a população mais jovem ou que tem depressão. Não é difícil imaginar o impacto que uma exibição ao vivo, que ficou no ar por mais de uma hora, possa ter causado em quem a assistiu. Devendo então, cada meio de comunicação digital, zelarem pela paz pública e cada vez mais criarem medidas para evitar casos como este ocorrido. CONCLUSÃO É nítido os benefícios que a internet trouxe para toda à humanidade, melhorando e facilitando a vida do ser humano com inúmeros benefícios que a tecnologia nos proporciona. Todavia podemos ver que infelizmente ainda nos deparamos com diversos crimes digitais em nosso cotidiano mesmo coma evolução da legislação, ainda é bastante comum. Perante o discorrido, podemos observar claramente que anteriormente apesar da criação e avanço das leis, principalmente em nosso país, a legislação ainda era muito branda em referência a punição de atos criminosos no digital, e por diversos anos a penalidade chegava a ser considerada meramente ilustrativa. Todavia, com a entrada do https://veja.abril.com.br/saude/suicidio-e-segunda-causa-de-morte-entre-jovens-de-15-a-24-anos-diz-oms/ https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2019/09/10/na-contramao-da-tendencia-mundial-taxa-de-suicidio-aumenta-7percent-no-brasil-em-seis-anos.ghtml https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2019/09/10/na-contramao-da-tendencia-mundial-taxa-de-suicidio-aumenta-7percent-no-brasil-em-seis-anos.ghtml https://www.who.int/mental_health/prevention/suicide/resource_media.pdf Brasil a Convenção de Budapeste podemos esperar uma severidade maior em relação a aplicabilidade das leis que regem o nosso direito digital, sendo este, um marco de valor imensurável para nossa legislação e para nossa sociedade. Ainda mediante o caso do jovem que fatidicamente ceifou sua própria vida, vemos uma atitude que é extremamente revoltante a todos nós, por parte do aplicativo TikTok, atitude essa que menosprezou o jovem e com certeza causou danos emocionais a diversas pessoas com o mesmo problema, estimulando mesmo que indiretamente ao suicídio. Era obrigação moral do aplicativo notificar as autoridades, mas ao contrário ele entendeu que ser omisso era a melhor solução naquela época, e eles estavam tão convictos da sua ideia, que o caso foi extremamente abafado, sua repercussão foi mínima, tão pequena que praticamente nenhum veículo de peso nacional divulgou o ocorrido, nenhum meio de televisão aberta. Lamentavelmente isso me assusta, não tendo o tiktok sofrido nenhuma punição severa. Esperamos ansiosamente que a entrada do Brasil a Convenção de Budapeste, tenha um impacto positivo, de uma punibilidade maior, em qualquer evento futuro que venha se configurar como crime digital. 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