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COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN “A Faculdade Católica Paulista tem por missão exercer uma ação integrada de suas atividades educacionais, visando à geração, sistematização e disseminação do conhecimento, para formar profissionais empreendedores que promovam a transformação e o desenvolvimento social, econômico e cultural da comunidade em que está inserida. Missão da Faculdade Católica Paulista Av. Cristo Rei, 305 - Banzato, CEP 17515-200 Marília - São Paulo. www.uca.edu.br Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. Todos os gráficos, tabelas e elementos são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência, sendo de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Diretor Geral | Valdir Carrenho Junior COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 3 SUMÁRIO AULA 01 AULA 02 AULA 03 AULA 04 AULA 05 AULA 06 AULA 07 AULA 08 AULA 09 AULA 10 AULA 11 AULA 12 AULA 13 AULA 14 AULA 15 06 23 38 53 70 89 106 123 145 164 183 205 221 236 249 CONCEITOS ECONÔMICOS E FINANCEIROS RELACIONADOS AO COMÉRCIO INTERNACIONAL REGIME DE COMÉRCIO INTERNACIONAL ACORDOS REGIONAIS DE COMÉRCIO SISTEMA BRASILEIRO DE COMÉRCIO EXTERIOR TERMOS DE COMÉRCIO INTERNACIONAL POLÍTICA BRASILEIRA DE EXPORTAÇÃO EXPORTAÇÃO SISCOMEX - SIMULANDO UMA EXPORTAÇÃO POLÍTICA BRASILEIRA DE IMPORTAÇÃO IMPORTAÇÃO SIMULANDO UMA IMPORTAÇÃO CARACTERIZAÇÃO E EVOLUÇÃO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL DE BENS AGROPECUÁRIOS E ALIMENTOS A DINÂMICA DE INSERÇÃO INTERNACIONAL DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO PADRÕES DE COMPETITIVIDADE INTERNACIONAL LOGÍSTICA INTERNACIONAL NO AGRONEGÓCIO COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 4 INTRODUÇÃO Toda pessoa, independentemente de onde mora, do nível de renda ou mesmo cultural, necessita de alguns bens essenciais à manutenção de sua vida, como abrigo, vestimentas e alimentos. Sem a combinação destes três bens essenciais, as condições de vida dessa pessoa estarão comprometidas. Cada um desses bens é produzido por um setor na economia. O setor econômico da construção civil constrói residências, que é a forma contemporânea de abrigo. O setor têxtil e de confecções, elaboram as vestimentas, sendo que o setor do agronegócio produz os alimentos. Por produzir bens considerados essenciais à vida humana, esses três setores estão presentes em todos os países do mundo. Contudo, é justamente o setor que produz alimentos que assume uma posição de destaque. À medida em que apresenta grande diversidade de bens produzidos, uma estrutura de produção complexa/heterogênea e, igualmente, por ser uma atividade que ocupa grande quantidade da área territorial de todos os países. Além disso, não podemos deixar de considerar que é grande a importância que a comercialização internacional de alimentos assume para o desenvolvimento de qualquer economia no cenário global. Por meio desse tipo de comércio, os países vendem excedentes produtivos e disponibilizam aos mercados consumidores, bens e serviços que ele não produz. Esta relação também é somada a interesses, acordos políticos e econômicos, deixando a interação entre países ainda mais complexa. Entretanto, as práticas decorrentes da globalização dos mercados têm promovido profunda modificação nas formas de atuação empresarial e governamental, especialmente no tocante aos procedimentos adotados para fazer o comércio internacional acontecer no ambiente do Agronegócio. Essa integração econômica e comercial tem mostrado importância ao longo do tempo, desenvolvendo economias e proporcionando melhoria nas condições de vida da população de diversos países. Nesta perspectiva, o Brasil vem se tornando um país especialista na produção e exportação de bens do agronegócio. Isso decorre, justamente, em virtude da abundância dos fatores naturais que nosso país detém. Principalmente, por ser considerado um especialista na produção, bem como, no fato de que grande parte da produção do agronegócio se destina aos mercados internacionais. Isso desperta para a necessidade de que universidades, centros de pesquisa, profissionais e outras COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 5 organizações relacionadas ao agronegócio e às transações internacionais tenham profundo conhecimento sobre o setor, peculiaridades e dinâmicas. Para orientar este entendimento, este livro contribuirá para que os leitores compreendam os procedimentos, trâmites e fluxos que deverão ser seguidos por empresas do Agronegócio que objetivam comprar bens ou serviços de outros países, bem como, vender a produção para mercados estrangeiros. Por isso, os temas abordados aqui são úteis tanto para a compreensão da dinâmica das relações comerciais na arena internacional, quanto para a aplicação no cotidiano profissional. No decorrer do estudo, você terá oportunidade de compreender os aspectos técnicos do comércio exterior, pois sem o conhecimento deles, não é possível atuar na área. O objetivo principal aqui é proporcionar conhecimentos gerais, relativos aos padrões internacionais do comércio, e quando devem ser utilizados, sem visar o esgotamento do assunto, mas sim, instigar e fomentar a pesquisa nesta temática. Especificamente, são discutidos neste livro os seguintes temas: • Conceitos Econômicos e Financeiros relacionados ao Comércio Internacional; • Regime de Comércio Internacional; • Acordos Regionais de Comércio (ARC); • Sistema Brasileiro de Comércio Exterior; • Termos de Comércio Internacional (INCOTERMS); • Exportação e importação, aspectos regulatórios e operacionais; • O que significa Comércio Internacional?; • A dinâmica de inserção internacional do Agronegócio Brasileiro; • Padrões de competitividade e logísticos do Agronegócio Brasileiro. Vale ressaltar que a escolha destes temas foi realizada com o objetivo de trazer à discussão os aspectos mais relevantes que envolvem o Agronegócio e Comércio Internacional. Isso implica reconhecer que nem todas as áreas foram contempladas. No entanto, a compreensão dos conceitos, teorias, processos e relações apresentados nessa obra o qualifica a aprofundar o entendimento desse assunto tão rico e importante para a sociedade. Por fim, desejo que este texto forneça uma base sólida para compreender as transações internacionais relacionadas ao agronegócio. Também espero que este arcabouço conceitual possibilite a expansão dos seus horizontes, motivando a busca por aperfeiçoamento profissional constante no desenvolvimento do comércio internacional. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 6 AULA 1 CONCEITOS ECONÔMICOS E FINANCEIROS RELACIONADOS AO COMÉRCIO INTERNACIONAL Nesta primeira aula, convido você a conhecer os pressupostos fundamentais da Economia e da Gestão Financeira Internacional. Estes conceitos básicos proporcionam o entendimento teórico necessário da estrutura econômica e financeira que envolvem todos os players1 que atuam no mercado internacional. Cenário este, que permeia as empresas do agronegócio brasileiro, bem como, envolve aqueles profissionais que atuam ou pretendem atuar neste fabuloso tabuleiro que envolve a gestão financeira do comércio internacional. 1.1 Gestão Financeira Internacional O que significa Gestão Financeira Internacional? Se procurarmos no Buscador Google encontraremos esta definição como a mais representativa de todas: “Gestão Financeira Internacional compreende o conjunto de processos, métodos e ações que permitem uma empresa controlar, analisar e planejar suas atividades financeiras internacionais (GOOGLE, 2021). Neste início, peço que você pense o seguinte: toda empresa do agronegócio busca crescer e, de forma direta, ganhar mais dinheiro com o Comércio Internacional. A Gestão Financeira Internacional é o caminhoque possibilita isso a elas. 1 Player é uma palavra de origem inglesa e que é traduzida para o português como jogador ou tocador. Em negócios internacionais, player pode ser compreendido como uma pessoa física ou jurídica que estabelece relações de comércio no contexto internacional. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 7 Figura 1 – A Gestão Financeira Internacional Fonte: GSTATIC, (2021) Disponível em: <https://gstatic.com/content/45.jpg> Acesso em: 23 out. 2021. Para conhecer e dialogar com os principais conceitos que envolvem este tipo de gestão financeira, iniciaremos nosso estudo em Comércio Exterior explorando as escolas de pensamento que permeiam os principais pensadores e profissionais desta área de conhecimento. É com base nestas escolas que você decidirá qual perspectiva econômica poderá ser adotada nas transações financeiras internacionais que são desenvolvidas no agronegócio brasileiro. Vamos lá? 1.1.1 Escolas de Investimento Para Mello (2020) são duas as grandes escolas teóricas de investimentos que dão todo o suporte teórico para o desenvolvimento da Gestão Financeira Internacional: a Escola de Análise Fundamentalista e a Escola de Análise Técnica. O quadro a seguir ilustra as características de cada uma destas escolas: https://files.oglobo.com/wp-content/uploads/232.jpg COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 8 Análise Fundamentalista Análise Técnica A análise fundamentalista baseia-se no estudo dos demonstrativos financeiros e das tendências futuras de desempenho econômico da empresa e do setor em que atua, para formular opiniões sobre o valor da ação da empresa analisada. A análise técnica (ou análise grafista) examina o comportamento do preço das ações por meio de índices e gráficos de preços do próprio mercado, para captar tendências de alta (e comprar) ou baixa (e vender). Quadro 1 – Características das Escolas Teóricas de Investimento Fonte: Adaptado de Mello (2020, 18) A forma de analisar a perspectiva da gestão financeira a partir destas duas óticas teóricas apresentadas demonstram duas maneiras distintas que o gestor financeiro se depara ao operar no mercado internacional. A maneira fundamentalista, calcada em demonstrativos financeiros consolidados, ou a técnica, que opera, sobretudo, em movimentos de compra e venda em mercado de ações. Importante destacar que a existência das diferentes características relatadas não atribui grau de superioridade ou inferioridade a qualquer uma delas. Ambas são poderosíssimas neste processo de gestão. Porém, cabe a você escolher a que mais se enquadra com o perfil da empresa gerenciada. Para você que achava que era somente teoria e mais teoria: encara este desafio? ISTO ESTÁ NA REDE Sabe aquele momento em que lhe perguntam qual caminho de uma bifurcação seguir e você não tem ideia de qual deles é o melhor? Muita gente já se deparou com essa situação no mundo dos investimentos financeiros e a dúvida está em escolher entre a análise técnica e a fundamentalista. O inusitado é que, depois de escolher um dos caminhos para seguir, você acaba percebendo que a outra opção também levaria ao mesmo lugar, visando sempre maiores ganhos para sua empresa. Entenda mais sobre quais são as bases de pensamento de cada escola de investimentos, suas diferenças e se elas podem se relacionar ou não. Acesse e descubra muito mais informações em: https://www.infomoney.com.br/colunistas/convidados/analise-tecnica-ou- fundamentalista-como-tirar-proveito-das-duas-escolas/ COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 9 1.1.2 Ensinamentos Econômicos à Gestão Financeira Internacional A Economia de Finanças, com foco no estudo do comportamento dos mercados financeiros, oferece valiosos ensinamentos para os gestores de finanças internacionais. Assim, neste instante vou apresentar os cinco conceitos básicos para o estudo das finanças internacionais. A importância do conhecimento destes conceitos, permeiam todo o entendimento que faremos neste curso de Comércio Internacional. Os conceitos são listados a seguir: • Trade off entre risco e retorno; • Arbitragem; • Eficiência de Mercado; • Precificação dos ativos de capital. • Estrutura a termo das taxas de juros. Como um bom profissional do Agronegócio você precisa conhecer estes conceitos de forma detalhada para o pleno desenvolvimento e sucesso nas relações de comércio internacional. Os dilemas que o gestor financeiro se depara nas negociações internacionais determinam a forma com que ele operará nos mercados externos. Siga adiante! 1.1.2.1 Trade off entre risco e retorno O primeiro conceito básico compreende a relação entre os conceitos de risco e retorno. Os economistas fazem uma distinção entre esses dois conceitos baseados nos dilemas listados a seguir, conforme observamos em Mello (2020, p. 68). 1o DILEMA Em situações de risco, conhece-se a distribuição de probabilidades do evento futuro. Um exemplo simples para seu entendimento, está na probabilidade que você, estudante de Agronegócios, possui em concluir esta disciplina de Comércio Exterior com excelente menção ao término do seu estudo. Ou ainda, a probabilidade que uma empresa americana possui de receber um calote internacional em uma relação comercial estabelecida com o governo do Afeganistão. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 10 2o DILEMA Em situações de incerteza, não se conta com uma distribuição de probabilidades. Ou seja, se navega no escuro. Em outro exemplo simples, podemos considerar as chances de que haja uma tempestade gigantesca de areia no cerrado brasileiro, especificamente, no Congresso Nacional, em Brasília, durante a posse do novo presidente brasileiro nas eleições de 2022. Ou seja, se a relação comercial estabelecida entre duas empresas possui alta incerteza, qualquer coisa pode acontecer! 3o DILEMA Existem maneiras técnicas para avaliar o risco e, em menor grau, a incerteza. As pessoas no geral, inclusive você e eu, apresentam grande aversão ao risco. Para assumir maiores riscos, todos necessitamos de uma compensação maior. Não seria diferente no Comércio Internacional: quanto maior o risco, maior a taxa de retorno desejada por qualquer um dos participantes. Como exemplo, podemos imaginar o próprio processo do descobrimento do território brasileiro por meio dos europeus. Imaginem, naquela época, pessoas embarcavam em um frágil barco rumo ao total desconhecido no oceano Atlântico. Porém, a busca por uma grande compensação, envolvendo tesouros magníficos, financiaram e desenvolveram a navegação em diversas nações europeias neste período. Ou seja, os riscos de insucesso eram plenamente aceitáveis quando confrontados com as possibilidades de ganho. Entre os investidores do Agronegócio brasileiro, a diversificação de carteiras de investimento é muito usada. Para as empresas, isso ocorre por meio do casamento de prazos ou de moedas, ou pela diversificação de clientes ou de fornecedores. Do mesmo modo, diversas operações de hedge2 para o câmbio e para as taxas de juros são utilizadas. 4o DILEMA Relação entre risco e retorno. 2 Hedge é um instrumento de proteção que pode ser fundamental para empresas e investidores se protegerem contra os riscos provocados pelas oscilações do mercado financeiro. O objetivo, neste caso, é garantir um preço de compra ou venda futura, e não lucrar com a operação (ASSAF NETO, 2008). COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 11 Com toda a certeza este é o principal de todos os dilemas apresentados até agora. A taxa de retorno é o lucro obtido com o investimento realizado. Existem diferentes maneiras de calcular o lucro, principalmente para investimento em ações. O lucro, nesse caso, decorre da valorização da ação (que não representa um fluxode caixa), acrescida do dividendo pago (esse sim, um fluxo de caixa). O gráfico apresentado a seguir mostra o dilema risco-retorno para ações: Gráfico 1 – Dilema Risco-Retorno para ações Fonte: Mello (2020, 69). No gráfico apresentado, a reta AB mostra o percentual de poupança do investidor usado para o investimento em ações. À medida que o investidor compromete um percentual maior de seu portfólio com a compra de ações (indo de A para B), o retorno médio esperado sofre aumentos, mas o mesmo ocorre com o risco correspondente. Uma medida de risco muito utilizada em finanças é o desvio-padrão de uma distribuição normal de retornos. Para informar e relembrar temos que o desvio-padrão é a quantidade média de variabilidade em um conjunto de dados qualquer. Ele informa, em média, o quão longe cada valor está da média. Um desvio padrão alto significa que os valores geralmente estão longe da média, enquanto um desvio padrão baixo indica que os valores estão agrupados perto da média (DAL-ZOT; CASTRO, 2015). COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 12 ISTO ACONTECE NA PRÁTICA No comércio internacional de produtos do agronegócio, muitas pessoas encaram o trading3 como novidade, ainda pouco conhecida. Entretanto, esta modalidade de negócios já está há vários anos presente no cenário do agronegócio brasileiro, não sendo poucos aqueles que transformaram o seu modo de vida em torno deste assunto. Há diversas fontes para se aprofundar no estudo sobre trading. Uma das principais é por meio do depoimento de especialistas desta área. Ao consultar opiniões “reais” de corretores e consultores sobre as principais operadoras do mercado, tem-se a possibilidade de ir muito mais além neste jogo financeiro. Assim, para ilustrar este conceito, é sugerido o acesso ao portal eletrônico: Trading no Brasil. Nesta plataforma digital é possível acessar pontos de vistas de profissionais que atuam diretamente neste mercado, e talvez mais importante do que isso, aprender técnicas, conhecimentos e valores que configuram a vida destes profissionais envolvidos em trading. Acesse: Trading no Brasil, no link http://www.tradingnobrasil.com/ e aprenda com base na experiência destes profissionais como você pode participar deste importante mercado. 1.1.2.2 Arbitragem O segundo conceito essencial no estudo das finanças internacionais é a arbitragem. Para Mello (2020, p. 70) a arbitragem é definida como: “a compra de ativos ou commodities em um mercado para uma revenda imediata em um outro mercado, a fim de se beneficiar de um diferencial de preços”. Neste contexto, a arbitragem baseia-se na lei do preço único, segundo a qual os diferentes mercados que negociam o mesmo produto convergirão para um mesmo preço, existindo apenas diferenças equalizadoras (custos de transportes, diferenças de tributação e outros elementos de fricção). O pré-requisito é que haja troca de informação entre os mercados e a mobilidade de capitais. No mercado de câmbio, a arbitragem é fundamental. Graças à arbitragem, existe uma regularidade na precificação das diferentes taxas de câmbio e o funcionamento do mercado cambial ocorre por meio de taxas cruzadas de câmbio. O processo de arbitragem pode envolver os seguintes elementos: 3 Trading é uma modalidade de investimento de curtíssimo prazo, que consiste na compra e venda de ações de alta liquidez. O que o formato traz é seu alto potencial para rendimentos em um só dia ou mesmo em minutos. As negociações do tipo trading acontecem online, por meio de uma plataforma chamada home broker, que realiza toda a operação remota e segura. http://www.tradingnobrasil.com/ COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 13 • Aspectos fiscais; • Transferência de riscos; • Regulação governamental. Um exemplo que ilustra bem o conceito de arbitragem no mercado de câmbio pode ser verificado na seguinte situação: Um profissional de Comércio Exterior da filial brasileira de uma grande empresa americana agroindustrial, decide fazer uma viagem internacional para visitar uma feira de exposições de agronegócios na Alemanha. No entanto, ao fazer a solicitação do pagamento com os custos da viagem, ele percebe que o prazo para esta solicitação estava encerrado. Ou seja, a empresa não aceitava mais os pedidos para o pagamento destes custos. Além disso, os custos da viagem seriam pagos em Euros. Como ele acompanha o mercado internacional e a variação do valor das moedas internacionais, decide fazer a viagem pagando as despesas do próprio bolso. Para tanto, esse profissional realiza um processo triangular de arbitragem cambial, pois em anos anteriores, para investir, ele tinha comprado dólares americanos a um custo menor do que o atual, com seu salário pago em reais. Ao comprar dólares americanos com reais e depois trocar esses dólares por euros, o processo de arbitragem cambial ocorre na prática. Isso acontece com base nas taxas cruzadas de câmbio entre o Real e o Euro, pois possibilitam que os valores estejam relacionados, mesmo com diferentes valores nominais e tempos. 1.1.2.3 Eficiência de Mercado O terceiro conceito fundamental para o estudo das finanças internacionais é a eficiência de mercado. Um mercado eficiente é aquele cujos preços das ações negociadas, prontamente, incorporam novas informações. Mello (2020) identifica a existência de uma hipótese subjacente nesse enfoque, identificada como hipótese das expectativas racionais. Ou seja, “as expectativas podem ser racionais, no sentido de uma avaliação de retornos futuros de um ativo, sob condições pensadas de avaliação de riscos” (MELLO, 2020, 69). COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 14 ANOTE ISSO O pressuposto das expectativas racionais é um conceito econômico formulado pela primeira vez por John Muth, em 1961, e que se popularizou após a publicação de artigo assinado por Robert Lucas e Leonard Rapping em 1969, sobre salário real, emprego e inflação. O cerne desse conceito está baseado na hipótese de que os agentes econômicos utilizam toda a informação disponível sobre o atual comportamento e as previsões para o futuro da economia. Com base na experiência e nessas informações, os agentes antecipam de forma racional as atitudes e políticas futuras do governo, reagindo no presente em consonância com as expectativas formadas e anulando em algum grau a efetividade dessas políticas. A hipótese das expectativas racionais é considerada como o marco teórico da nova economia clássica e se tornou popular entre os economistas a partir da década de 1970, sendo largamente utilizada em modelos e na análise macroeconômica. Ao tratar de aspectos de comportamento dos agentes, a hipótese das expectativas racionais lida também com o conceito de risco moral, motivando estudos nessa área e influenciando a chamada economia comportamental. Fonte: WIKIPEDIA, 2021. https://pt.wikipedia.org/wiki/Expectativas_racionais 1.1.2.4 Precificação dos ativos de capital O quarto conceito essencial ao estudo das finanças internacionais é a precificação dos ativos de capital. Esse conceito se refere à maneira pela qual os valores mobiliários são avaliados em linha com os riscos e retornos antecipados. O modelo chamado Capital Asset Pricing Model (CAPM) é muito utilizado para fins de precificação e para guiar decisões financeiras. CAPM é a sigla para Capital Asset Pricing Model, que significa em português “Precificação de Ativos Financeiros”. O CAPM parte do modelo de escolha da carteira desenvolvido por Harry Markowitz , em 1959. Neste modelo de Markowitz, um investidor escolhe uma carteira em um momento t - 1 que produza um retorno estocástico em t. O modelo admite que os investidores sejam avessos ao risco e que, ao escolherem entre carteiras, preocupem-se apenas com a média e a variação do retorno de seu investimento de um período. Ou seja, este modelo constitui umaforma de analisar e investigar as relações existentes entre o risco e o retorno esperado de um investimento (ASSAF NETO, 2008). De acordo com o Modelo CAPM, é possível explicarmos o prêmio de risco – taxa esperada de retorno menos a taxa livre de risco – para cada ativo financeiro. Ou seja, o modelo CAPM é usado para montar carteiras de investimentos e para selecionar https://pt.wikipedia.org/wiki/Nova_economia_cl%C3%A1ssica https://pt.wikipedia.org/wiki/Nova_economia_cl%C3%A1ssica https://pt.wikipedia.org/wiki/D%C3%A9cada_de_1970 https://pt.wikipedia.org/wiki/D%C3%A9cada_de_1970 https://pt.wikipedia.org/wiki/Macroeconomia https://pt.wikipedia.org/wiki/Risco_moral https://pt.wikipedia.org/wiki/Expectativas_racionais COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 15 as ações que compõem o portfólio de investimentos. A interpretação do CAPM deve ser realizada através da avaliação do retorno que um ativo pode oferecer em relação ao seu risco intrínseco – isto é, o risco não-diversificável, que não depende, portanto, da atuação ou escolha do investidor. Um exemplo de cálculo do CAPM é verificado a seguir: Calcule o retorno exigido para um investimento (Ri), sabendo que os títulos públicos pagam 9%, o mercado remunera a 10% e o beta CAPM é 1,5. Cálculo: Ri = 9% + 1,5 (10% - 9%) = 10,5%. Como é possível observar nesta equação acima, o beta tem influência sobre a diferença entre o retorno de mercado esperado e o retorno livre de risco, que é o prêmio pelo risco assumido. De outra forma: o prêmio é de 1% e o beta de 1,5 incidiu sobre esse prêmio, produzindo resultado de 1,5%, que, somado aos 9% do retorno livre de risco, chega aos 10,5%, conforme calculado pela fórmula (Fonte: adaptado de ASSAF NETO, 2008). 1.1.2.5 Estrutura a termo das taxas de juros O quinto e último conceito trata da distribuição da dívida, ao longo dos anos, e de como se estabelecem juros de curto, médio e longo prazos. Os mercados financeiros utilizam, com frequência, estratégias com base no comportamento temporal das taxas de juros. Uma das operações mais utilizadas por tesourarias de bancos baseia-se, inclusive, na arbitragem entre diferentes curvas de yield4. Uma maneira de representarmos a estrutura a termo das taxas de juros é pelas yield curves. A curva ilustra a dependência do retorno em relação ao prazo de seu vencimento. O gráfico a seguir mostra uma típica yield curve: 4 Yield curve é uma linha que traça os rendimentos, em termos de taxa de juros, de títulos com qualidade de crédito igual, mas com datas de vencimento diferentes. Essa expressão também pode ser denominada como curva a termo, curva de rendimentos ou, ainda, curva de juros (Fonte: ASSAF NETO, 2008). COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 16 Gráfico 2 – Exemplo de yield curve Fonte: Mello (2020, 73). No gráfico, o eixo horizontal mostra o número de anos até o vencimento (n). No eixo vertical, apresenta-se a taxa de retorno esperada (y ou yield). Cada ponto da curva mostra o yield em relação aos anos, até o vencimento. Para construirmos a curva, em geral, comparamos as debêntures com diferentes prazos de vencimento (maturidade) e calculamos as taxas implícitas de retorno anual. 1.2 Principais Funções da Gestão Financeira Internacional Em linhas gerais, as funções da gestão financeira internacional referem-se ao planejamento estratégico e controle de todos os recursos financeiros envolvidos em uma operação de comércio internacional, ou seja: investimentos, despesas, avaliações de risco, pagamentos, patrimônio, fretes, seguros, entre outros (ASSAF NETO, 2008). 1.2.1 Gestão do Risco Em nossos dias, a gestão do risco compreende um novo conceito e área de estudo, sendo que os profissionais atuantes no agronegócio brasileiro que se dedicam a essa qualificação estão entre aqueles que são muito disputados pelas empresas. Isso ocorre COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 17 porque a gestão do risco mostra, com clareza, aos administradores os riscos e retornos de qualquer decisão estratégica no nível tanto institucional quanto transacional. Em uma melhor definição, a gestão de risco é “o conjunto de atividades coordenadas que têm o objetivo de gerenciar e controlar uma organização em relação a potenciais ameaças, seja qual for a sua manifestação”. Isso implica o planejamento e uso dos recursos humanos e materiais para minimizar os riscos ou, então, tratá-los (Fonte: ASSAF NETO, 2008). No comércio exterior que envolve o contexto do agronegócio, a gestão de risco é o processo de identificar e administrar os riscos existentes em uma operação comercial. Essa é uma das tarefas mais importantes de qualquer gestor ou profissional de comércio exterior que atue na gestão financeira de uma fazenda ou agroindústria. Vale mencionar que no agronegócio há fatores de risco de diversas fontes, tanto do próprio sistema quanto relacionadas a fatores agronômicos, climáticos, de mercado e de estratégia organizacional. Qualquer evento incerto que possa impactar um negócio e ao qual é associada uma probabilidade de ocorrência, é considerado um fator de risco. Entende-se, portanto, o risco como incerteza. Existem várias técnicas de gestão de risco, que se apoiam em diversos instrumentos do mercado, tal como operações de hedge em mercados futuros e de opções. As empresas agroindustriais que operam no mercado internacional, em adição ao padrão das normas de gestão de risco de empresas que operam em um mercado doméstico, têm de lidar com o risco. Entre os principais riscos observados, tem-se: • Riscos do ambiente econômico; • Riscos do ambiente político-legal; • Riscos do ambiente cultural; • Grande dívida externa; • Governos instáveis; • Tarifas ou outras barreiras comerciais; • Corrupção; • Entre outros. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 18 1.2.2 Risco Cambial e Sistemas de Flutuação Basicamente, o risco cambial que determina o valor de uma moeda pode ser dividido em dois sistemas: sistema de flutuação livre e sistema de flutuação administrada ou também conhecido como “dirty floating”. No sistema de flutuação livre, os governos e os bancos centrais não têm participação no controle do câmbio. Eles atuam na regulação do mercado para a minimização de fraudes, porém, não interferem na livre flutuação do valor das moedas. Ou seja, no sistema de câmbio flutuante, as operações de compra e venda de moedas funcionam sem controle por parte do governo. Dessa forma, o valor das moedas estrangeiras varia de acordo com a lei da oferta e demanda presente no mercado, flutuando para cima e para baixo. Para Mello (2020), a vantagem desse sistema cambial é que ele se autorregula. Em outras palavras: as próprias forças de mercado se encarregam dessa tarefa de regulação, inibindo, via variação na taxa de câmbio, grandes deslocamentos de oferta ou demanda. Além disso, a taxa de câmbio é apenas um preço. Desse modo, as forças específicas de oferta e demanda de seu próprio mercado é que devem atuar, e não o conjunto da economia. Isso aumenta a eficiência de mercado na visão econômica e dos adeptos deste sistema. A grande desvantagem em se optar por uma taxa de câmbio flutuante é a imprevisibilidade que esse sistema proporciona para os atores do mercado. É sempre importante considerar que no comércio internacional, as taxas de câmbio flutuantes aumentam o risco das transações no mercado e, portanto, aumentam o custo de efetuar negócios com outros países. Para Mello (2020), dois alertas precisam ser feitos: o primeiro é que o fato de o câmbio ser flutuante não significa que ele tenha de ser volátil todo o tempo, pois o sistema pode ser muito estável e previsível. O segundo é que a comunidade financeira internacional já desenvolveu mecanismos para administrar esse risco, entre eles, os derivativos de câmbio5. 5 Derivativosde câmbio são aplicações financeiras que derivam de outros valores e por isso têm esse nome. No mercado de câmbio, por exemplo, os derivativos são aplicações que derivam do valor do dólar. Há vários tipos de operações, mas três são mais conhecidas: mercado a termo, mercado futuro e mercado de opções (Fonte: ASSAF NETO, 2008). COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 19 ISTO ESTÁ NA REDE O câmbio flutuante é o padrão do mundo moderno e um dos pilares da política econômica brasileira. Nesse regime cambial, as cotações das moedas flutuam livremente conforme a oferta e demanda do mercado. Mas, isso não significa uma ausência total de interferência do governo, pois a maioria dos países (incluindo o Brasil) intervém em alguma medida para controlar oscilações bruscas da taxa de câmbio. Por isso, é importante que você entenda exatamente o que é, como funciona e quais são as vantagens do câmbio flutuante no Brasil e no mundo. Continue lendo e fortaleça seu repertório econômico. Acesse: https://www.capitalresearch.com.br/blog/investimentos/cambio-flutuante/ De outra forma, no sistema de flutuação administrada ou dirty floating, o câmbio flutua, porém, o governo ou Banco Central do país intervém comprando e vendendo moedas, de modo a influenciar a formação da taxa de câmbio. Essa intervenção tem por objetivo prevenir excessivas variações na taxa de câmbio, dando maior previsibilidade ao câmbio. No entanto, essa intervenção tem um problema: seu alvo são as taxas de câmbio que, naturalmente, não existiriam se as forças de demanda e oferta funcionassem livremente, de acordo com os fundamentos do mercado. Por isso, em determinadas situações, o sistema pode viabilizar taxas artificiais e distorcidas. Percebe-se, desta forma, que um dos motivos do uso do sistema de flutuação administrada é a possibilidade gerada pelo controle da depreciação da moeda do país, e assim, viabilizar condições superiores para as exportações. Pois bem, em países com inflação elevada, pode ocorrer o efeito contrário, ou seja, o Banco Central administra o sistema de câmbio para valorizar a moeda nacional e, assim, diminuir os preços dos produtos importados. Assim, temos que o objetivo da flutuação administrada é o de suavizar a volatilidade no mercado de câmbio. Isso ocorre, porque uma grande flutuação no preço da moeda estrangeira pode gerar imensos prejuízos para a economia de qualquer país, entre eles: inflação, incerteza para administração dos negócios, fuga de capitais de investidores estrangeiros, entre outras coisas. No Brasil, o sistema de câmbio flutuante foi adotado em 1999, durante a execução do Plano Real. Antes de aderir a esse regime, o país praticava o câmbio fixo, onde o valor do câmbio era fixado internamente. Com a mudança, o Brasil passou a operar no chamado câmbio flutuante sujo, no qual o Banco Central realizava intervenções https://www.capitalresearch.com.br/blog/investimentos/cambio-flutuante/ COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 20 eventuais para conter movimentos desordenados do mercado. Isso significa que, quando há alterações bruscas no valor de uma moeda, o Banco Central brasileiro entra em ação comprando ou vendendo reservas para manter o câmbio em um nível aceitável. Exemplo desta situação é o atual valor do dólar que, em plenos anos de 2021, atinge sua cotação mais alta desde o Plano Real. Vale lembrar que quando o Plano Real foi lançado, em junho de 1994, o dólar era cotado a R$ 1. No momento que este texto está sendo escrito, este valor se aproxima de R$ 5,80. Que diferença!!! Aprenda muito mais sobre o câmbio brasileiro, acessando este link: https://www.bcb.gov.br/estatisticas/estatisticascambio Figura 2 – O equilíbrio dos regimes cambiais DREAMSTIME. Banco de imagens, 2021. Disponível em: <https://dreamstime.net/255.jpg> Acesso em: 23 out. 2021. 1.2.3 Gestão de Risco de Empresas atuantes no Comércio Exterior Para Mello (2020), existem quatro mecanismos principais para administrar a gestão de risco para as empresas que operam no comércio exterior. Estes mecanismos são chamados de hedge e suas principais características são apresentadas no quadro a seguir. https://files.oglobo.com/wp-content/uploads/232.jpg COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 21 Descrição Características/exemplos Internos: uma empresa que vende seu(s) produto(s) em diversos mercados pode selecionar moedas para fazer casamentos na mesma moeda entre custos e receitas. A empresa BMW fabrica carros no Brasil, vende-os em dólares nos Estados Unidos e usa esses dólares para comprar auto partes no mercado norte-americano e enviá-las para o Brasil. Contratos a termo: uma empresa compra moeda estrangeira no mercado a termo e fixa sua taxa de câmbio É um mecanismo muito usado para cobrir o risco de exposição da transação, que compreende os fatores de incerteza do negócio que podem afetar o retorno de um negócio ou transação. Contratos de futuros e de opções: esses contratos existem para poucas moedas, mas incluem o Brasil. O mercado de futuros cria obrigações, enquanto o mercado de opções se baseia em direitos (e não obrigações) e dá maior flexibilidade para a decisão. É um mercado que exige maior atenção dos hedgers6. swaps de moedas: as empresas fazem acordos umas com as outras, para trocar fluxos futuros de pagamento em moedas diferentes e fixam datas para a compensação e liquidação. Pode ser feito em Bolsa ou mercado de balcão, ou ainda via operações diretas entre empresas. Quadro 2 – Tipos de Hedge Fonte: Adaptado de Mello (2020) Como estratégia de negócios, muitas empresas optam por operar em uma faixa de taxa de câmbio que ela acha mais provável de acontecer. No entanto, podem ocorrer surpresas. ISTO ESTÁ NA REDE As empresas exportadoras no estado de Pernambuco tem boa percepção sobre as oportunidades e riscos do comércio exterior. No entanto, a existência de fatores nacionais, conjunturais e regionais, inibem o melhor desempenho delas. Veja como essas empresas fazem a gestão de riscos internacionais, acessando: https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/4494/1/arquivo6111_1.pdf 1.2.4 Estabilidade da Taxa de Câmbio Como o último grande ponto de preocupação para as empresas decididas em operar o mercado internacional, com toda a certeza, compreende a estabilidade da taxa de câmbio. O regime de livre flutuação, adotado no Brasil, como o nome indica, depende 6 Hedger é a denominação do agente econômico que busca dar proteção no mercado de derivativos, ou seja, visa fixar antecipadamente o preço de uma mercadoria ou ativo financeiro de forma a neutralizar o impacto de mudanças no nível de preços. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 22 de forças de oferta e de demanda, que estão sempre se alterando. Portanto, não há surpresa alguma quanto à oscilação. O problema aparece quando essa oscilação é muito forte e muito rápida. Este movimento é chamado de overshooting. Para Fortuna (2020, p. 341): Overshooting significa uma reação exagerada, irracional, dos mercados de levar preços de um ativo a valores extremos e fora das expectativas mais otimistas. Overshootings ocorrem em momentos onde a carga emocional dos participantes do mercado é alta, o que ajuda a acentuar o movimento. Da mesma forma, Mello (2020) argumenta que um mercado cambial pode se dividir em duas categorias: instável e estável. O mercado cambial instável acontece quando um distúrbio em uma taxa de câmbio de equilíbrio empurra a taxa de câmbio cada vez mais longe do equilíbrio. Por sua vez, o mercado cambial estável acontece quando um distúrbio em uma taxa de câmbio de equilíbrio conduz ao surgimento de forças automáticas que empurram a taxa de câmbio de volta para o nível de equilíbrio. Para esse mesmo autor, essas condições de equilíbrio estão relacionadasà inclinação das respectivas curvas de oferta e demanda por câmbio. Inclusive, no caso brasileiro, com um regime de câmbio flutuante, o próprio mercado determina o novo nível de equilíbrio da taxa de câmbio. O problema é que esse processo de equilíbrio automático pode durar muito tempo, criando efeitos negativos sobre a macroeconomia, tais como incertezas, expectativas pessimistas, adiamento de decisões sobre entradas e saídas de capitais e fluxos comerciais no mercado externo, entre outros. A partir deste contexto, você consegue perceber alguma coincidência com decisões econômicas que o Brasil adota e você assiste diariamente nos noticiários? Pois bem, neste capítulo abordamos os principais conceitos econômicos e financeiros relacionados ao Comércio Internacional, abordando aspectos teóricos e práticos, aplicados ao comércio internacional. A importância da compreensão dos conceitos financeiros está relacionada com visões de se perceber como o mercado internacional se comporta no atual contexto global, ou seja, o funcionamento das regras do jogo! No próximo capítulo, examinaremos os principais regimes internacionais que permitem a você entender ainda mais sobre a lógica formal e estrutural de atuação no cenário internacional de negócios. Até lá! COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 23 AULA 2 REGIME DE COMÉRCIO INTERNACIONAL No primeiro capítulo, você conheceu os pressupostos fundamentais da Economia e da Gestão Financeira Internacional. Agora, você conhecerá a dinâmica de funcionamento do comércio internacional, especificamente, sobre o regime internacional de comércio. Você será orientado em dois momentos: no primeiro momento, tem-se o conceito básico que define o regime internacional de comércio. Em seguida, de forma retrospectiva e histórica, você verá como a estrutura do comércio internacional se organizou com o passar dos anos e, principalmente, como ela está estruturada hoje, em termos de instituições e regras. 2.1 Regimes Internacionais O que entendemos por regimes internacionais? Entre vários pesquisadores do comércio internacional que estudam os regimes internacionais, Krasner (1983, p.1) afirma que: Regimes internacionais são definidos como princípios, normas, regras e processos de tomada de decisão em torno dos quais as expectativas de atores convergem para uma determinada área de interesse. Para esse mesmo autor, com finalidade de alcançar benefícios coletivos, os participantes operam as relações de comércio internacional equilibrando, de um lado, fatores básicos, entre eles: poder, interesse e valores. Do outro lado, comportamentos e expectativas, com a relação comercial. Ou seja, a relação comercial é automaticamente regulada para atender estas premissas básicas. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 24 Figura 1 – Os Regimes Financeiros Internacionais Fonte: DREAMS TIME (2021) Disponível em: <https://fdreamstime.com/content/154.jpg> Acesso em: 23 out. 2021. Por isso, quando se fala sobre os princípios e normas que regem o comércio internacional, é preciso voltarmos ao Acordo Geral de Comércio e Tarifas (GATT) e, a partir de 1995, à Organização Mundial do Comércio (OMC). Pois, foi e é por meio dessas instituições, que o regime internacional de comércio se constituiu ao longo de décadas, com: reuniões, rodadas de negociações, acordos entre signatários, entre outros assuntos que moldaram a estrutura regimental que vivenciamos em nossos dias. Assim, este segundo capítulo foi construído para apresentar como ocorreu a evolução das instituições que regulamentam o Comércio Internacional. Topa o desafio? 2.1.1 Bretton Woods e o Regime de Comércio Internacional Para entendermos o cenário global deste período inicial de nosso estudo, que permeia e define os atuais procedimentos utilizados no Comércio Exterior, é importante saber que, tanto a Primeira, quanto a Segunda Grande Guerra Mundial, culminaram na implantação de uma nova ordem liberal e multilateral no mundo. Essa ordem, liderada, principalmente, pelos Estados Unidos. Com o final das guerras, houve a necessidade de se estabelecer bases de um sistema econômico e comercial de abrangência global, configurado e impulsionado por meio das vontades e anseios de países declarados como vencedores deste conflito. Assim, em 1944, foi realizada nos Estados Unidos a Conferência de Bretton Woods, que culminou na criação de importantes instituições econômicas internacionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) e o Acordo Geral de Comércio e Tarifas (GATT). Especificamente, o GATT foi formado por 23 países, representando um marco para o regime internacional de comércio. Até hoje, a OMC se baseia nas decisões, procedimentos, práticas e instituições estabelecidas neste início. O Brasil está entre os países participantes que firmaram o GATT (FABRINI; PRATES, 2019). https://files.oglobo.com/wp-content/uploads/232.jpg COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 25 Figura 2 – Registro histórico do Acordo de Bretton Woods Fonte: OGLOBO (2021) Disponível em: <https://files.oglobo.com/content/232.jpg> Acesso em: 23 out. 2021. Assim, como é impossível estudar e entender os regimes internacionais de comércio sem citar a Organização Mundial do Comércio (OMC) e como esta se liga historicamente ao GATT, é essencial que se inicie o entendimento destas relações a partir de uma perspectiva histórica. Preparado para aprender mais? ISTO ESTÁ NA REDE Acordo de Bretton Woods ou ainda “Acordos de Bretton Woods” é o nome com que ficou conhecida uma série de disposições acertadas por meio de países aliados em julho de 1944, na mesma cidade norte-americana que deu nome ao acordo, no estado de New Hampshire, no hotel Mount Washington. O objetivo de tal encontro de nações era definir os novos parâmetros que iriam gerir a economia mundial após a Segunda Guerra Mundial. Quer saber mais? Descubra em: https://www.infoescola.com/historia/acordo-de-bretton-woods/ 2.1.1.1 Acordo Geral de Comércio e Tarifas (GATT) O GATT foi fundado por meio da assinatura de 23 países. Esse número sempre aumentou, alcançando 123 países na Rodada do Uruguai, em 1989. É válido afirmar que o GATT levou à criação da OMC. Por meio de um conjunto de normas, negociadas, acordadas e ratificadas pelos países-membros, a atuação do GATT sempre foi no sentido de redução das barreiras comerciais e buscar a liberalização do comércio internacional. Os 23 países que fundaram o GATT foram: África do Sul, Austrália, Birmânia, Bélgica, Brasil, Canadá, Ceilão, Chile, China, Cuba, Checoslováquia, Estados Unidos, França, https://files.oglobo.com/wp-content/uploads/232.jpg https://www.infoescola.com/historia/acordo-de-bretton-woods/ COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 26 Países Baixos, Índia, Líbano, Luxemburgo, Nova Zelândia, Noruega, Paquistão, Reino Unido, Rodésia do Sul e Síria (OMC, 2021). Uma das predisposições do sistema Bretton Woods, regido pelo GATT, era a obrigação de que os países signatários1 adotassem uma política monetária que mantivesse a taxa de câmbio indexada ao dólar, que por sua vez, baseava-se no valor do ouro, numa base fixa de 35 dólares por onça (FABRINI; PRATES, 2019). Desde a sua criação, o GATT passou por momentos políticos, econômicos e institucionais que favoreceram mais o liberalismo comercial, nos anos de 1960. Em outros períodos, de maior protecionismo por parte dos países, como nos anos de 1970, especialmente, em virtude das ascensões do Japão e da União Europeia no cenário internacional. Finalizado com a suspensão do sistema Bretton Woods, em 1971, pelo então presidente norte-americano Richard Nixon. ANOTE ISSO Um dos pilares de Bretton Woods, a conversibilidade dólar-ouro foi posta abaixo pelo presidentenorte americano Richard Nixon, em 1971, diante da grande demanda mundial por ouro. Na medida que o capitalismo se desenvolvia, a moeda dos Estados Unidos tornou-se o dinheiro hegemônico nas reservas mundiais e a referência de todo o sistema financeiro mundial. Apesar da instabilidade comercial mundial que vigorou durante a década de 1970, foi nos anos de 1980 que o GATT apresentou os primeiros sinais de insolvência. Principalmente, orientado por ondas de recessão econômica dos países, fortalecimento do processo de regionalização comercial, aumento de práticas protecionistas, ascensão das relações bilaterais e práticas discriminatórias (FABRINI; PRATES, 2019). Foi neste cenário de desequilíbrio que ocorreu, entre os anos de 1986 e 1994, a Rodada do Uruguai, regida ainda pelo GATT. Após aproximadamente sete anos de intensa negociação, embates, exigências e concessões, inaugurou-se uma nova ordem econômica internacional, comandada pela recém-criada Organização Mundial do Comércio, ou simplesmente, OMC. Os países em desenvolvimento, em particular o Brasil, participaram de forma ativa nessas negociações, mais do que em qualquer uma das outras realizadas sob o 1 País signatário significa que o país subscreveu a algum tipo de manifesto, contrato, acordo, carta ou outro documento, com o qual concorda com o conteúdo apresentado (FONTE: VAZQUEZ, 2015). COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 27 sistema do GATT. Para Rego (1997), a Rodada do Uruguai trouxe à discussão temas contemporâneos como: política ambiental, condições e normas de trabalho, políticas de investimentos, políticas de concorrência, imigração, questões monetárias, comércio e desenvolvimento. Como resultado, foram estabelecidos novos acordos e medidas com vistas ao fortalecimento das relações multilaterais, tais como: um novo Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT 94), Acordo Geral sobre Comércio de Serviços (GATS), Acordo sobre Investimentos (TRIMS), Acordo sobre Direito de Propriedade Intelectual (TRIPS), acordos para solução de controvérsias, medidas antidumping, de salvaguarda, compensatórias, entre outras. Figura 3 – Rodada do Uruguai do GATT Fonte: DIRCOM (2021) Disponível em: <https://dircom.org.br/content/232.jpg> Acesso em: 23 out. 2021. A Rodada do Uruguai se encerrou em 15 de abril de 1994, com a assinatura do Tratado de Marrakesh, por 123 países. Com isso, a partir de 1995, a gestão do sistema multilateral do comércio passou a ser responsabilidade da OMC, objetivando a busca pelo livre comércio e a igualdade entre as nações. Para Iramina (2009, p. 18): A OMC, diferentemente do GATT, constituiu-se, assim, em uma organização permanente, com personalidade, Regime internacional de comércio, jurídica própria, com o mesmo status jurídico e internacional das duas instituições do Bretton Woods, ou seja, o FMI e o Banco Mundial. Porém, em 1999, a primeira rodada de negociação liderada pela OMC foi impedida por uma série de manifestações contrárias à globalização e à própria OMC, que ficou conhecida como Batalha de Seattle. Este acontecimento trouxe à tona duas questões: a transparência da organização junto à sociedade civil e o equilíbrio entre os interesses dos países desenvolvidos e aqueles em desenvolvimento (FABRINI; PRATES, 2019). https://files.oglobo.com/wp-content/uploads/232.jpg https://files.oglobo.com/wp-content/uploads/232.jpg https://files.oglobo.com/wp-content/uploads/232.jpg COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 28 ISTO ACONTECE NA PRÁTICA No filme americano, intitulado: Battle in Seattle, com direção e roteiro de Stuart Townsend, lançado em 1999, dezenas de milhares de pessoas vão às ruas de Seattle, em protesto contra a Organização Mundial de Comércio. De início o protesto era pacífico, pedindo o fim das conferências da OMC, mas logo se tornou um motim. O resultado foi a classificação de estado de sítio, que fez com que o Departamento de Polícia e a Guarda Nacional adotassem uma postura de combate aos manifestantes. O drama e a ação são características marcantes deste filme. Por isso, vale a sugestão! 2.1.1.2 Objetivo, Valores e Estrutura institucional do GATT Conforme visto até agora, o principal objetivo do GATT foi a diminuição de barreiras comerciais e a garantia de que países-membros tivessem acesso mais justo aos mercados internacionais. Os Estados Unidos e a Grã-Bretanha, que estão entre os principais idealizadores do GATT, acreditavam que uma série de normas e regras padronizariam as relações comerciais e minimizariam as chances de um movimento protecionista, como aquele dos anos de 1930. Além disso, essa cooperação comercial aumentaria a interdependência entre os países e contribuiria para a redução da probabilidade de novas guerras mundiais (REGO, 1997). Assim, três valores pautaram sua criação: 1. Restrição e/ou eliminação de práticas intervencionistas governamentais; 2. Multilateralização das relações políticas e comerciais dos Estados, e; 3. Liberalização do comércio mundial. Conforme se percebe com base em registros históricos (OMC, 2021), o organograma do GATT foi inicialmente composto pelo Diretor-Geral, por meio de Assembleias das partes contratantes, Conselho de Representantes e Comitês. A Assembleia dos Países Signatários se reunia anualmente e se constituía como o órgão máximo do GATT. Na maioria dos casos, as decisões eram tomadas por consenso. Porém, quando havia a necessidade de votação, cada membro tinha o direito a um voto e as decisões eram obtidas por meio da maioria simples de votos. Porém, conforme destacam Fabrini e Prates (2019), havia exceções: quando um dos países-membros solicitava que alguma regra ou norma do GATT fosse ignorada, especificamente, por aquela nação, a aprovação exigia dois terços dos votos. Além disso, para modificar cláusulas do princípio da nação mais favorecida, era exigida a unanimidade dos votos. Entre as assembleias, havia reuniões do Conselho dos Representantes. Este conselho era formado por representantes dos países-membros e eram autorizados a exercer ações COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 29 rotineiras e algumas situações que exigiam urgência. Os comitês eram compostos por pessoas técnicas e subdivididos por setores, e encarregados do planejamento e ações específicas de interesse dos países signatários. Finalmente, a Diretoria Geral, com sede em Genebra (ilustrada a seguir), composta de diretor e secretários, responsáveis pelo desenvolvimento do comércio internacional, pelas estatísticas, sendo local para referência dos membros. Figura 4 – Sede do GATT em Genebra, Suíça Fonte: OMC (2021) Disponível em: <https://wto.org/image42.jpg> Acesso em: 23 out. 2021. 2.1.1.3 Rodadas de Negociações do GATT Ao todo, durante o período de 1947 a 1993, foram realizadas oito rodadas de negociações entre os países participantes do GATT. O quadro a seguir resume essas rodadas de negociações. Vamos conhecer as principais informações de cada uma delas? ANO LOCAL ASSUNTO COBERTO PAÍSES 1947 Genebra Tarifas 23 1949 Annecy Tarifas 13 1951 Torquay Tarifas 38 1956 Genebra Tarifas 26 1960-1961 Genebra – Rodada Dillon Tarifas 26 1964-1967 Genebra - Rodada Kennedy Tarifas e Medidas Antidumping2 62 1973-1979 Genebra – Rodada Tóquio Tarifas, Barreiras não tarifárias3 e acordos jurídicos 102 1986-1994 Genebra – Rodada Uruguai Tarifas, Barreiras não tarifárias, normas, serviços, propriedade intelectual, têxteis, agricultura, criação da OMC, entre outros 123 Quadro 1 – Informações sobre as Negociações do GATT Fonte: Adaptado de OMC (2021). 2 Antidumping são medidas que combatem a prática da exportação de mercadorias a um preço abaixo do valor de mercado (Fonte: VAZQUEZ, 2015). 3 Barreiras não tarifárias são quaisquer mecanismos e instrumentos de política econômica que influenciam o comércio internacional sem o usode mecanismos tarifários. As quotas para importação são exemplos de barreiras não tarifárias (Fonte: REGO, 1997). https://files.oglobo.com/wp-content/uploads/232.jpg https://files.oglobo.com/wp-content/uploads/232.jpg https://files.oglobo.com/wp-content/uploads/232.jpg COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 30 Nota-se, a partir deste quadro, que entre os anos de 1947 e 1961, o assunto abordado nas rodadas de negociação foi, principalmente, as tarifas. Assim, era esperado que ações neste sentido conduzissem a uma redução significativa nas tarifas de comércio internacional entre os países-membros e, consequentemente, à consolidação da liberalização comercial. Ênfase observada nos anos posteriores! ISTO ESTÁ NA REDE A Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou estudo mostrando que o Brasil enfrenta uma tarifa média de importação mais elevada do que as sobretaxas que incidem sobre bens exportados por países com características geográficas ou econômicas semelhantes. Segundo o estudo intitulado: Barreiras tarifárias enfrentadas pelas exportações brasileiras: uma comparação internacional, o Brasil está sujeito a uma tarifa média de importação de 4,6%, enquanto na média dos outros 17 países analisados neste estudo, essa taxa é de 2,3%. Acesse este link e descubra muito mais: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2021/07/tarifa-de-importacao-enfrentada- pelo-brasil-e-o-dobro-da-media-de-outros-paises-diz-cni.shtml Os anos de 1960, representaram uma significativa ascensão dos países em desenvolvimento no comércio internacional, e este movimento trouxe à tona o assunto à Rodada Kennedy. Em homenagem ao presidente John F. Kennedy, dos Estados Unidos, esta rodada teve como objetivo aumentar as exportações dos Estados Unidos para os países da Comunidade Econômica Europeia. Além disso, os países em desenvolvimento passaram a exigir mais representatividade e poder junto ao GATT. Foi na Rodada Kennedy que, pela primeira vez, a União Europeia participou das negociações como um bloco, bem como, outros assuntos passaram a compor a agenda de negociações, tais como: barreiras não tarifárias, problemas relacionados ao comércio de produtos agrícolas, acordos antidumping e disposições a favor dos países em desenvolvimento (FABRINI; PRATES, 2019). Posteriormente, os anos de 1970 se apresentaram como um marco para o comércio internacional e para a, até então, hegemonia norte-americana. Assim, a Rodada Tóquio iniciou, em 1973, em um cenário de ascensão econômica do Japão e da União Europeia. As negociações que ocorreram durante a Rodada de Tóquio foram as primeiras no sentido de discutir as chamadas barreiras não tarifárias. https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2021/07/tarifa-de-importacao-enfrentada-pelo-brasil-e-o-dobro-da-media-de-outros-paises-diz-cni.shtml https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2021/07/tarifa-de-importacao-enfrentada-pelo-brasil-e-o-dobro-da-media-de-outros-paises-diz-cni.shtml COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 31 Assim, um dos grandes avanços para o regime internacional de comércio, oriundo desta rodada de negociação, foi a criação dos chamados códigos. Os códigos eram tratados que regulavam os procedimentos das barreiras não tarifárias. Além disso, houve a incorporação de um tratamento diferenciado e mais favorável para os países em desenvolvimento. Por outro lado, a Rodada Tóquio fracassou por não obter regras e normas claras para o comércio dos produtos agrícolas. ANOTE ISSO Acordos sobre barreiras técnicas ao comércio exterior: os regulamentos técnicos sobre os produtos variam de país para país e se forem elaborados de maneira arbitrária podem ser utilizados como medidas protecionistas. Portanto, o Acordo sobre Barreiras Técnicas ao Comércio procura garantir que as normas e os regulamentos técnicos não criem obstáculos ao comércio. Este acordo reconhece o direito de cada país em adotar normas que considerem adequadas para a proteção da saúde e da vida das pessoas, dos animais ou a preservação dos vegetais, do meio ambiente ou ainda dos interesses dos consumidores (FONTE: OMC, 2021). Após alguns anos de negociações e expectativas, em 1986, foi fixada a pauta para uma nova rodada do GATT. Neste novo encontro seriam abordados os seguintes assuntos: agricultura, têxteis e subsídios (temas pendentes de outras rodadas) e o comércio de serviços, propriedade intelectual e investimentos (novos temas) (FABRINI; PRATES, 2019). Como resultado, foi na Rodada Uruguai que a OMC foi criada. Essa rodada representou um marco para o regime internacional de comércio e, consequentemente, para o multilateralismo econômico. Pois, este evento culminou na substituição do GATT pela OMC. A criação da OMC, em 1o de janeiro de 1995, é considerada como a maior reforma do comércio internacional, desde o fim da Segunda Guerra Mundial (OMC, 2021). Assim, passaremos a última parte deste relato histórico, que trata sobre a criação da OMC e características associadas ao Comércio Internacional atual. Vamos lá? 2.1.2 A Organização Mundial do Comércio (OMC) A Organização Mundial do Comércio (OMC) é um fórum econômico de caráter multilateral que atua no processo de liberalização do comércio internacional. É responsável por fazer a regulamentação das negociações que acontecem entre os COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 32 seus membros, mediante a elaboração de acordos, bem como, no estabelecimento de normas comuns a serem cumpridas. Tudo isto no sentido de criar condições favoráveis e justas à realização dos trâmites comerciais (GUITARRA, 2021). Figura 5 – Logotipo da OMC Fonte: OMC (2021) Disponível em: <https://wto.org/image418.jpg> Acesso em: 24 out. 2021. Para Fabrini e Prates (2019) a alteração de GATT para OMC trouxe consigo alterações institucionais e regimentares significativas. Objetivando constitucionalizar regras comerciais internacionais, instituições e processos decisórios, à OMC foi atribuída responsabilidade sob novas áreas de atuação, como: agricultura, serviços, têxteis e propriedade intelectual. Ainda, de acordo com esses mesmos autores, nesta mudança foi criada uma nova sistemática para resolução de conflitos que garantisse mais proteção aos direitos dos países-membros. Portanto, os fundamentos do GATT de garantir um comércio livre, previsível, pacífico e próspero, não foram alterados. Ao contrário, juntamente com a OMC, foram criadas novas ferramentas que reforçaram estes pilares (FABRINI; PRATES, 2019). São atribuições da OMC (OMC, 2021): • Negociar regras para o comércio internacional de bens, serviços, propriedade intelectual e outras matérias que seus membros venham a acordar; • Zelar pela adequada implementação dos compromissos assumidos; • Servir de espaço para a negociação de novas disciplinas, e; • Resolver controvérsias entre os países-membros. Em dias atuais, a organização conta com um total de 164 países-membros. Teve um orçamento para 2021 acima de 200 milhões de francos suíços. Possui uma equipe com mais de 600 funcionários. Está localizada em Genebra, na Suíça e, nesta presente https://files.oglobo.com/wp-content/uploads/232.jpg https://files.oglobo.com/wp-content/uploads/232.jpg https://files.oglobo.com/wp-content/uploads/232.jpg COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 33 data (Outubro de 2021) é comandada pela nigeriana Ngozi Okonjo-Iweala, eleita diretora- geral da OMC desde 15/02/2021 (OMC, 2021). 2.1.2.1 Princípios da OMC Os princípios da OMC representam a base fundamental do sistema de comércio multilateral, definição essa empregada pela própria organização. Assim, cinco princípios regem os acordos e as tomadas de decisão no âmbito da OMC. Conforme Guitarra (2021), são esses os princípios da OMC: Não discriminação: fundamentado pela cláusula da nação mais favorecida. Não pode haverfavorecimento de um parceiro comercial em detrimento de outros. Quando um país oferece uma condição especial a outro, a exemplo da redução das tarifas de importação para um produto em específico, por exemplo, essa mesma condição deve ser ofertada aos demais países que integram a OMC e são parte das negociações. Além disso, bens importados devem ser tratados da mesma forma como são tratados os bens nacionais. Proibição de restrições quantitativas: redução de barreiras comerciais, como cotas de importação, proibições no escopo das trocas internacionais e outras questões burocráticas e políticas protecionistas que possam travar as relações comerciais. Sua aplicação se dá de forma gradual, com maior prazo para as nações em desenvolvimento. Previsibilidade: transparência na execução de políticas, na tomada de decisões e na adoção de tarifas, com o intuito de tornar o comércio estável e previsível. Concorrência leal: proíbe a utilização de mecanismos que possam ser prejudiciais para algumas das nações que integram o grupo (dumping, subsídios) e para o comércio de forma mais ampla. Promove, assim, uma concorrência com condições mais justas a todos os seus membros, principalmente para os países em desenvolvimento. Tratamento especial e diferenciado para países em desenvolvimento4: determinados acordos estabelecidos pela OMC promovem maior flexibilização de normas aos países com esse status, contando também com a colaboração dos países desenvolvidos, como quando é necessário que as nações em desenvolvimento adotem medidas tarifárias, por exemplo. 4 Países em desenvolvimento são aqueles que apresentam significativo crescimento econômico e social, industrialização recente e crescente, além de aumento expressivo no valor monetário dos bens produzidos (PIB) (FONTE: VAZQUEZ, 2015). COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 34 ISTO ESTÁ NA REDE Ouça este Podcast e descubra como a riqueza é medida entre os países para a formação da classificação dos países, segundo a riqueza. Conheça quais são os países mais ricos e os países mais pobres do mundo. Entenda também a situação do Brasil neste ranking. Ouça em: https://brasilescola.uol.com.br/podcasts/paises-mais-e-menos-ricos-do-mundo.htm 2.1.2.2 Objetivos da OMC Para Guitarra (2021), tendo em vista a intensificação das relações econômicas e comerciais em escala internacional, assim como o aprofundamento das diferenças de condições de negociação enfrentadas pelos países considerados em desenvolvimento face aos países desenvolvidos, que, em tese, possuem economias nacionais mais competitivas, a OMC surgiu em meados dos anos 1990 com o objetivo principal de liberalizar o comércio e supervisionar os trâmites econômicos e comerciais entre as nações que são membros da organização. A principal função assumida pela OMC é a de garantir que o comércio ocorra da forma mais livre e previsível possível, procurando, assim, assegurar condições justas no momento das negociações e fechamento de acordos entre as nações. A organização atua tanto sobre as mercadorias físicas (bens) quanto sobre os serviços e a propriedade intelectual (OMC, 2021). A partir desta função, a OMC disponibiliza em seu sítio eletrônico5, os objetivos de: • Negociar a redução ou até mesmo a eliminação de tarifas de importação e quaisquer outras práticas protecionistas que possam representar um obstáculo ao comércio internacional. • Desenvolver normas e regras de comércio internacional no âmbito dos seus membros, estabelecidas em comum acordo, assim como administrar e promover o monitoramento de sua aplicação. • Garantir a transparência de acordos comerciais. • Monitorar e revisar as políticas comerciais adotadas pelos países-membros. • Solucionar disputas que possam surgir entre as nações que fazem parte do seu quadro. • Estabelecer a cooperação com outros organismos e instituições internacionais. 5 www.wto.org http://www.wto.org/ COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 35 • Assistir tecnicamente e auxiliar na construção de capacidade dos países em desenvolvimento, criando condições mais favoráveis de negociação para essas economias nacionais e garantindo-lhes maior competitividade no âmbito do comércio internacional. O trato aos países em desenvolvimento, que representam 30% dos membros da OMC, corresponde à garantia de maior tempo para cumprimento de acordos e ao estabelecimento de algumas determinações para garantir maior segurança no decorrer das negociações e também no acesso ao mercado internacional. Além dos objetivos listados acima, uma das funções da OMC é a de auxiliar no acesso daqueles países que ainda não fazem parte da organização, que, nos dias atuais, reúne mais de 80% das economias nacionais de todo o mundo (OMC, 2021). 2.1.2.3 A Rodada de Doha e as perspectivas atuais da OMC Conforme percebemos em Silva (2004), em novembro de 2001, foi realizada a IV Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC). Esse tipo de encontro entre países se constitui na mais alta instância da OMC e, especificamente, essa conferência se deu em Doha, no Qatar. O objetivo era derrubar barreiras comerciais e facilitar o acesso aos mercados para incentivar o intercâmbio internacional. Os países mais fortes em agronegócios, entre eles o Brasil, queriam vender para os mais industrializados, e vice-versa. O principal problema da Rodada Doha, ou seja, do comércio mundial, é a preocupação de cada país nos efeitos de uma política liberalizante que supostamente trará desemprego em países que não estão aptos a concorrer de forma igual. Esta rodada aconteceu porque as nações em desenvolvimento, como Brasil e Índia, queriam que a União Europeia e os Estados Unidos diminuíssem os incentivos oferecidos pelo governo aos produtores, proporcionando a redução dos custos de produção. Os países desenvolvidos queriam, em troca, a abertura aos produtos industrializados europeus e americanos. Todas estas questões foram discutidas nas rodadas em Cancún, Genebra, Paris e Hong Kong. Porém, até hoje, não há um consenso a respeito da abertura comercial. O quadro a seguir sintetiza as principais etapas que envolveram esta rodada: COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 36 Etapas Descrição Cancún (2003) A conferência tinha como objetivo planejar um acordo concreto sobre os objetivos da rodada Doha. Esta rodada fracassou após quatro dias de discussão sobre subsídios agrícolas e acesso aos mercados. As quatro áreas-chave de negociação centraram-se em: agricultura, produtos industrializados, comércio de serviços e atualização de normas alfandegárias. Genebra (2004) Nesta conferência: Estados Unidos, União Europeia, Japão e Brasil concordaram em abolir subsídios às exportações, reduzir os subsídios agrícolas e diminuir as barreiras tarifárias. Nações em desenvolvimento concordaram em reduzir tarifas sobre produtos manufaturados, mas obtiveram o direito de proteger suas principais indústrias. O acordo também garantia alfândegas simplificadas e regras mais rígidas para ajudar o desenvolvimento rural. A redução dos subsídios por parte dos Estados Unidos e União Europeia, foram quase irrisórias! Houve outras conferências em Genebra (2006 e 2008). Paris (2005) Esta conferência esteve centrada em alguns temas: a França afirmou que cortaria os subsídios aos agricultores, enquanto os Estados Unidos, a Austrália, a União Europeia, Brasil e Índia não conseguiram chegar a acordos sobre frango, carne bovina e arroz. A maioria dos pontos críticos eram pequenos assuntos técnicos, o que levou os negociadores a temerem que o acordo sobre temas de grande risco político fossem bem mais difíceis. Os EUA prometeram realizar grandes cortes nos subsídios agrícolas, desde que os parceiros comerciais, particularmente a União Europeia, fizessem o mesmo. Os europeus fizeram sua oferta, masa França se recusou a dar mais concessões. Hong Kong (2005) Nesta conferência os negociadores do comércio queriam conseguir progressos tangíveis antes do encontro da OMC, em Hong Kong. Estes negociadores esperavam a adesão ao acordo antes de 2007, quando expirava a legislação por decreto dos EUA. Sem decretos, era muito mais difícil obter a ratificação do senado dos EUA. Na declaração final da conferência foi estabelecida a data de 30 de abril de 2006. Porém, o acordo não foi assinado no prazo e as negociações foram suspensas. Quadro 2 – Síntese da Rodada de Doha Fonte: Adaptado de WIKIPEDIA (2021) https://pt.wikipedia.org/wiki/Agricultura https://pt.wikipedia.org/wiki/Ind%C3%BAstria https://pt.wikipedia.org/wiki/Servi%C3%A7os https://pt.wikipedia.org/wiki/Alf%C3%A2ndega https://pt.wikipedia.org/wiki/Estados_Unidos https://pt.wikipedia.org/wiki/Uni%C3%A3o_Europeia https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Subs%C3%ADdios_%C3%A0s_exporta%C3%A7%C3%B5es&action=edit&redlink=1 https://pt.wikipedia.org/wiki/Barreira_tarif%C3%A1ria https://pt.wikipedia.org/wiki/Ajuda_ao_desenvolvimento https://pt.wikipedia.org/wiki/Rural https://pt.wikipedia.org/wiki/Austr%C3%A1lia https://pt.wikipedia.org/wiki/Frango https://pt.wikipedia.org/wiki/Carne_bovina https://pt.wikipedia.org/wiki/Arroz https://pt.wikipedia.org/wiki/Hong_Kong COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 37 Após esta última conferência em Hong Kong, em 2007 surgiram alguns acordos bilaterais e a OMC achou adequada uma reabertura das negociações. Alguns países se retiraram antes do início da reunião, contudo. Em uma nova conferência da OMC, em Genebra, em julho de 2008, houve a reunião que seria considerada a definitiva. Entretanto, novamente nesta reunião, não houve avanço. O colapso foi atribuído à Índia, que se negou a abrir mão de um dispositivo que protegia seu mercado interno. Com isso, teve um desentendimento insolúvel com os Estados Unidos. Em dezembro de 2013 houve a reunião da OMC em Báli, na Indonésia, com a participação de 159 países. Nesta reunião, a OMC demonstrou interesse na retomada destas discussões da Rodada de Doha. No entanto, até o momento que este material está sendo escrito (Outubro de 2021), ainda não se constatou nenhum avanço positivo nesta perspectiva. 2.1.3 Síntese Evolutiva do Regime de Comércio Internacional Dentro dos 47 anos de história do GATT, o regime internacional do comércio se fortaleceu e se edificou em um sistema multilateral caracterizado principalmente pelo liberalismo econômico. As rodadas de negociação que apoiaram a criação, ampliação e implementação das regras e normas internacionais de comércio totalizaram 8, desde Genebra, em 1947, passando, posteriormente, por Annecy em 1949, Torquay em 1951, Genebra em 1956, Genebra (Rodada Dillon) em 1960/61, Genebra (Rodada Kennedy) em 1964/67, Genebra (Rodada Tóquio) em 1973/79 e finalmente Genebra (Rodada Uruguai) em 1986. Apesar de a OMC ter sido criada em 1995, o sistema de regras e normas que a norteiam existe e vem sofrendo alterações desde os anos de 1940, quando da criação do GATT. Portanto, de 1948 até hoje, o regime internacional de comércio vem evoluindo no mesmo ritmo das alterações econômicas, sociais, ambientais, culturais e empresariais do mundo moderno. Para entender ainda mais a dinâmica evolutiva que permeia o Comércio Internacional, no próximo capítulo, examinaremos os principais acordos regionais de comércio. Nesta visão, os acordos regionais serão capazes de demonstrar uma perspectiva mais aplicada e regionalizada das diretrizes básicas de regimes internacionais de comércio, vistos até agora. Até breve! https://pt.wikipedia.org/wiki/B%C3%A1li COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 38 AULA 3 ACORDOS REGIONAIS DE COMÉRCIO No primeiro capítulo, você conheceu os pressupostos fundamentais da Economia e da Gestão Financeira Internacional. No segundo, você foi convidado a conhecer a dinâmica de funcionamento do comércio internacional, especificamente, sobre o regime internacional de comércio. Agora, você é convidado a conhecer os acordos regionais de comércio. Os acordos regionais de comércio, vistos neste capítulo, são capazes de demonstrar uma perspectiva ainda mais tangível dos regimes internacionais de comércio explorados anteriormente. 3.1 Acordo Regional de Comércio ou Bloco Econômico? O Acordo regional de comércio é também conhecido como bloco econômico, ou ainda, simplesmente, com a sigla: ARC. Ou seja, as diferentes literaturas que contemplam o estudo deste tema, no cenário do agronegócio, sejam de natureza organizacional ou econômica, referem-se ao mesmo objeto de observação. Neste capítulo, para manter sua concentração na leitura, utilizaremos todas as possibilidades de nomenclatura para citarmos e estudarmos este assunto. Tudo certo? Para Pereira (2008, p. 45): Acordos Regionais de Comércio ou ARCs ´são arranjos transnacionais compostos por nações, geralmente, próximas geograficamente, que visam ampliação comercial e encontram neste tipo de arranjo uma forma mais segura e rápida para expansão internacional. Neste tipo de arranjo organizacional, os países que fazem parte do acordo, também conhecidos como países-membros, esperam obter vantagens econômicas. Quando um ARC é firmado, como efeito prático, as barreiras comerciais entre os países-membros são favorecidas. Enquanto os demais países, permanecem sem alterações. Por meio deste incentivo, é projetado que as nações participantes de um ARC fortaleçam suas relações comerciais, bem como, incrementem no médio e longo prazos, investimentos externos e domésticos. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 39 Figura 1 – Acordos Regionais de Comércio – ARCs Fonte: WIKIPEDIA (2021) Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Acordo_comercial> Acesso em: 25 out. 2021. A primeira característica importante dos acordos regionais é que eles geram apenas a liberalização comercial parcial. Ou seja, a abertura de comércio com alguns parceiros, mas não outros. Por um lado, tais acordos propiciam a criação de comércio e, logo, ganhos de bem-estar para os consumidores dos países envolvidos. Contudo, dependendo da estrutura tarifária anterior ao acordo, a exclusão de não parceiros mais eficientes levará a perdas de bem-estar global. Esses são os chamados conceitos de criação de comércio e desvio de comércio, tais como cunhados inicialmente por Jacob Viner, em 1950. ANOTE ISSO Jacob Viner era um economista canadense e é considerado um dos mentores inspiradores da escola de economia de Chicago na década de 1930. Viner foi um notável oponente de John Maynard Keynes durante a Grande Depressão. Embora concordasse com as políticas de gastos do governo promovidas por Keynes. Viner argumentou que a análise de Keynes era falha e não se sustentaria no longo prazo. Conhecido por sua modelagem econômica da empresa, incluindo as curvas de custo de longo e curto prazo, seu trabalho ainda é usado nos dias atuais. Fonte: WIKIPEDIA (2021) Disponível em: <https://en.wikipedia.org/wiki/Jacob_Viner> 25 out. 2021. https://pt.wikipedia.org/wiki/Acordo_comercial https://en.wikipedia.org/wiki/John_Maynard_Keynes https://en.wikipedia.org/wiki/Great_Depression https://en.wiktionary.org/wiki/firm https://en.wikipedia.org/wiki/Jacob_Viner COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 40 A segunda característica importante de um ARC é que a natureza do acordo é crucial para entender os seus efeitos redistributivos e, portanto, os conflitos distributivos inerentes. Acordos envolvendo menores efeitos redistributivos, entre países com dotação similar de fatores, têm maiores chances de sucesso e sustentabilidade no longo prazo, se o argumento de economia política for levado a sério. Isso não significa dizer que acordos entre países similares
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