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COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN “A Faculdade Católica Paulista tem por missão exercer uma ação integrada de suas atividades educacionais, visando à geração, sistematização e disseminação do conhecimento, para formar profissionais empreendedores que promovam a transformação e o desenvolvimento social, econômico e cultural da comunidade em que está inserida. Missão da Faculdade Católica Paulista Av. Cristo Rei, 305 - Banzato, CEP 17515-200 Marília - São Paulo. www.uca.edu.br Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. Todos os gráficos, tabelas e elementos são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência, sendo de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Diretor Geral | Valdir Carrenho Junior COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 3 SUMÁRIO AULA 01 AULA 02 AULA 03 AULA 04 AULA 05 AULA 06 AULA 07 AULA 08 AULA 09 AULA 10 AULA 11 AULA 12 AULA 13 AULA 14 AULA 15 06 23 38 53 70 89 106 123 145 164 183 205 221 236 249 CONCEITOS ECONÔMICOS E FINANCEIROS RELACIONADOS AO COMÉRCIO INTERNACIONAL REGIME DE COMÉRCIO INTERNACIONAL ACORDOS REGIONAIS DE COMÉRCIO SISTEMA BRASILEIRO DE COMÉRCIO EXTERIOR TERMOS DE COMÉRCIO INTERNACIONAL POLÍTICA BRASILEIRA DE EXPORTAÇÃO EXPORTAÇÃO SISCOMEX - SIMULANDO UMA EXPORTAÇÃO POLÍTICA BRASILEIRA DE IMPORTAÇÃO IMPORTAÇÃO SIMULANDO UMA IMPORTAÇÃO CARACTERIZAÇÃO E EVOLUÇÃO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL DE BENS AGROPECUÁRIOS E ALIMENTOS A DINÂMICA DE INSERÇÃO INTERNACIONAL DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO PADRÕES DE COMPETITIVIDADE INTERNACIONAL LOGÍSTICA INTERNACIONAL NO AGRONEGÓCIO COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 4 INTRODUÇÃO Toda pessoa, independentemente de onde mora, do nível de renda ou mesmo cultural, necessita de alguns bens essenciais à manutenção de sua vida, como abrigo, vestimentas e alimentos. Sem a combinação destes três bens essenciais, as condições de vida dessa pessoa estarão comprometidas. Cada um desses bens é produzido por um setor na economia. O setor econômico da construção civil constrói residências, que é a forma contemporânea de abrigo. O setor têxtil e de confecções, elaboram as vestimentas, sendo que o setor do agronegócio produz os alimentos. Por produzir bens considerados essenciais à vida humana, esses três setores estão presentes em todos os países do mundo. Contudo, é justamente o setor que produz alimentos que assume uma posição de destaque. À medida em que apresenta grande diversidade de bens produzidos, uma estrutura de produção complexa/heterogênea e, igualmente, por ser uma atividade que ocupa grande quantidade da área territorial de todos os países. Além disso, não podemos deixar de considerar que é grande a importância que a comercialização internacional de alimentos assume para o desenvolvimento de qualquer economia no cenário global. Por meio desse tipo de comércio, os países vendem excedentes produtivos e disponibilizam aos mercados consumidores, bens e serviços que ele não produz. Esta relação também é somada a interesses, acordos políticos e econômicos, deixando a interação entre países ainda mais complexa. Entretanto, as práticas decorrentes da globalização dos mercados têm promovido profunda modificação nas formas de atuação empresarial e governamental, especialmente no tocante aos procedimentos adotados para fazer o comércio internacional acontecer no ambiente do Agronegócio. Essa integração econômica e comercial tem mostrado importância ao longo do tempo, desenvolvendo economias e proporcionando melhoria nas condições de vida da população de diversos países. Nesta perspectiva, o Brasil vem se tornando um país especialista na produção e exportação de bens do agronegócio. Isso decorre, justamente, em virtude da abundância dos fatores naturais que nosso país detém. Principalmente, por ser considerado um especialista na produção, bem como, no fato de que grande parte da produção do agronegócio se destina aos mercados internacionais. Isso desperta para a necessidade de que universidades, centros de pesquisa, profissionais e outras COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 5 organizações relacionadas ao agronegócio e às transações internacionais tenham profundo conhecimento sobre o setor, peculiaridades e dinâmicas. Para orientar este entendimento, este livro contribuirá para que os leitores compreendam os procedimentos, trâmites e fluxos que deverão ser seguidos por empresas do Agronegócio que objetivam comprar bens ou serviços de outros países, bem como, vender a produção para mercados estrangeiros. Por isso, os temas abordados aqui são úteis tanto para a compreensão da dinâmica das relações comerciais na arena internacional, quanto para a aplicação no cotidiano profissional. No decorrer do estudo, você terá oportunidade de compreender os aspectos técnicos do comércio exterior, pois sem o conhecimento deles, não é possível atuar na área. O objetivo principal aqui é proporcionar conhecimentos gerais, relativos aos padrões internacionais do comércio, e quando devem ser utilizados, sem visar o esgotamento do assunto, mas sim, instigar e fomentar a pesquisa nesta temática. Especificamente, são discutidos neste livro os seguintes temas: • Conceitos Econômicos e Financeiros relacionados ao Comércio Internacional; • Regime de Comércio Internacional; • Acordos Regionais de Comércio (ARC); • Sistema Brasileiro de Comércio Exterior; • Termos de Comércio Internacional (INCOTERMS); • Exportação e importação, aspectos regulatórios e operacionais; • O que significa Comércio Internacional?; • A dinâmica de inserção internacional do Agronegócio Brasileiro; • Padrões de competitividade e logísticos do Agronegócio Brasileiro. Vale ressaltar que a escolha destes temas foi realizada com o objetivo de trazer à discussão os aspectos mais relevantes que envolvem o Agronegócio e Comércio Internacional. Isso implica reconhecer que nem todas as áreas foram contempladas. No entanto, a compreensão dos conceitos, teorias, processos e relações apresentados nessa obra o qualifica a aprofundar o entendimento desse assunto tão rico e importante para a sociedade. Por fim, desejo que este texto forneça uma base sólida para compreender as transações internacionais relacionadas ao agronegócio. Também espero que este arcabouço conceitual possibilite a expansão dos seus horizontes, motivando a busca por aperfeiçoamento profissional constante no desenvolvimento do comércio internacional. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 6 AULA 1 CONCEITOS ECONÔMICOS E FINANCEIROS RELACIONADOS AO COMÉRCIO INTERNACIONAL Nesta primeira aula, convido você a conhecer os pressupostos fundamentais da Economia e da Gestão Financeira Internacional. Estes conceitos básicos proporcionam o entendimento teórico necessário da estrutura econômica e financeira que envolvem todos os players1 que atuam no mercado internacional. Cenário este, que permeia as empresas do agronegócio brasileiro, bem como, envolve aqueles profissionais que atuam ou pretendem atuar neste fabuloso tabuleiro que envolve a gestão financeira do comércio internacional. 1.1 Gestão Financeira Internacional O que significa Gestão Financeira Internacional? Se procurarmos no Buscador Google encontraremos esta definição como a mais representativa de todas: “Gestão Financeira Internacional compreende o conjunto de processos, métodos e ações que permitem uma empresa controlar, analisar e planejar suas atividades financeiras internacionais (GOOGLE, 2021). Neste início, peço que você pense o seguinte: toda empresa do agronegócio busca crescer e, de forma direta, ganhar mais dinheiro com o Comércio Internacional. A Gestão Financeira Internacional é o caminhoque possibilita isso a elas. 1 Player é uma palavra de origem inglesa e que é traduzida para o português como jogador ou tocador. Em negócios internacionais, player pode ser compreendido como uma pessoa física ou jurídica que estabelece relações de comércio no contexto internacional. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 7 Figura 1 – A Gestão Financeira Internacional Fonte: GSTATIC, (2021) Disponível em: <https://gstatic.com/content/45.jpg> Acesso em: 23 out. 2021. Para conhecer e dialogar com os principais conceitos que envolvem este tipo de gestão financeira, iniciaremos nosso estudo em Comércio Exterior explorando as escolas de pensamento que permeiam os principais pensadores e profissionais desta área de conhecimento. É com base nestas escolas que você decidirá qual perspectiva econômica poderá ser adotada nas transações financeiras internacionais que são desenvolvidas no agronegócio brasileiro. Vamos lá? 1.1.1 Escolas de Investimento Para Mello (2020) são duas as grandes escolas teóricas de investimentos que dão todo o suporte teórico para o desenvolvimento da Gestão Financeira Internacional: a Escola de Análise Fundamentalista e a Escola de Análise Técnica. O quadro a seguir ilustra as características de cada uma destas escolas: https://files.oglobo.com/wp-content/uploads/232.jpg COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 8 Análise Fundamentalista Análise Técnica A análise fundamentalista baseia-se no estudo dos demonstrativos financeiros e das tendências futuras de desempenho econômico da empresa e do setor em que atua, para formular opiniões sobre o valor da ação da empresa analisada. A análise técnica (ou análise grafista) examina o comportamento do preço das ações por meio de índices e gráficos de preços do próprio mercado, para captar tendências de alta (e comprar) ou baixa (e vender). Quadro 1 – Características das Escolas Teóricas de Investimento Fonte: Adaptado de Mello (2020, 18) A forma de analisar a perspectiva da gestão financeira a partir destas duas óticas teóricas apresentadas demonstram duas maneiras distintas que o gestor financeiro se depara ao operar no mercado internacional. A maneira fundamentalista, calcada em demonstrativos financeiros consolidados, ou a técnica, que opera, sobretudo, em movimentos de compra e venda em mercado de ações. Importante destacar que a existência das diferentes características relatadas não atribui grau de superioridade ou inferioridade a qualquer uma delas. Ambas são poderosíssimas neste processo de gestão. Porém, cabe a você escolher a que mais se enquadra com o perfil da empresa gerenciada. Para você que achava que era somente teoria e mais teoria: encara este desafio? ISTO ESTÁ NA REDE Sabe aquele momento em que lhe perguntam qual caminho de uma bifurcação seguir e você não tem ideia de qual deles é o melhor? Muita gente já se deparou com essa situação no mundo dos investimentos financeiros e a dúvida está em escolher entre a análise técnica e a fundamentalista. O inusitado é que, depois de escolher um dos caminhos para seguir, você acaba percebendo que a outra opção também levaria ao mesmo lugar, visando sempre maiores ganhos para sua empresa. Entenda mais sobre quais são as bases de pensamento de cada escola de investimentos, suas diferenças e se elas podem se relacionar ou não. Acesse e descubra muito mais informações em: https://www.infomoney.com.br/colunistas/convidados/analise-tecnica-ou- fundamentalista-como-tirar-proveito-das-duas-escolas/ COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 9 1.1.2 Ensinamentos Econômicos à Gestão Financeira Internacional A Economia de Finanças, com foco no estudo do comportamento dos mercados financeiros, oferece valiosos ensinamentos para os gestores de finanças internacionais. Assim, neste instante vou apresentar os cinco conceitos básicos para o estudo das finanças internacionais. A importância do conhecimento destes conceitos, permeiam todo o entendimento que faremos neste curso de Comércio Internacional. Os conceitos são listados a seguir: • Trade off entre risco e retorno; • Arbitragem; • Eficiência de Mercado; • Precificação dos ativos de capital. • Estrutura a termo das taxas de juros. Como um bom profissional do Agronegócio você precisa conhecer estes conceitos de forma detalhada para o pleno desenvolvimento e sucesso nas relações de comércio internacional. Os dilemas que o gestor financeiro se depara nas negociações internacionais determinam a forma com que ele operará nos mercados externos. Siga adiante! 1.1.2.1 Trade off entre risco e retorno O primeiro conceito básico compreende a relação entre os conceitos de risco e retorno. Os economistas fazem uma distinção entre esses dois conceitos baseados nos dilemas listados a seguir, conforme observamos em Mello (2020, p. 68). 1o DILEMA Em situações de risco, conhece-se a distribuição de probabilidades do evento futuro. Um exemplo simples para seu entendimento, está na probabilidade que você, estudante de Agronegócios, possui em concluir esta disciplina de Comércio Exterior com excelente menção ao término do seu estudo. Ou ainda, a probabilidade que uma empresa americana possui de receber um calote internacional em uma relação comercial estabelecida com o governo do Afeganistão. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 10 2o DILEMA Em situações de incerteza, não se conta com uma distribuição de probabilidades. Ou seja, se navega no escuro. Em outro exemplo simples, podemos considerar as chances de que haja uma tempestade gigantesca de areia no cerrado brasileiro, especificamente, no Congresso Nacional, em Brasília, durante a posse do novo presidente brasileiro nas eleições de 2022. Ou seja, se a relação comercial estabelecida entre duas empresas possui alta incerteza, qualquer coisa pode acontecer! 3o DILEMA Existem maneiras técnicas para avaliar o risco e, em menor grau, a incerteza. As pessoas no geral, inclusive você e eu, apresentam grande aversão ao risco. Para assumir maiores riscos, todos necessitamos de uma compensação maior. Não seria diferente no Comércio Internacional: quanto maior o risco, maior a taxa de retorno desejada por qualquer um dos participantes. Como exemplo, podemos imaginar o próprio processo do descobrimento do território brasileiro por meio dos europeus. Imaginem, naquela época, pessoas embarcavam em um frágil barco rumo ao total desconhecido no oceano Atlântico. Porém, a busca por uma grande compensação, envolvendo tesouros magníficos, financiaram e desenvolveram a navegação em diversas nações europeias neste período. Ou seja, os riscos de insucesso eram plenamente aceitáveis quando confrontados com as possibilidades de ganho. Entre os investidores do Agronegócio brasileiro, a diversificação de carteiras de investimento é muito usada. Para as empresas, isso ocorre por meio do casamento de prazos ou de moedas, ou pela diversificação de clientes ou de fornecedores. Do mesmo modo, diversas operações de hedge2 para o câmbio e para as taxas de juros são utilizadas. 4o DILEMA Relação entre risco e retorno. 2 Hedge é um instrumento de proteção que pode ser fundamental para empresas e investidores se protegerem contra os riscos provocados pelas oscilações do mercado financeiro. O objetivo, neste caso, é garantir um preço de compra ou venda futura, e não lucrar com a operação (ASSAF NETO, 2008). COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 11 Com toda a certeza este é o principal de todos os dilemas apresentados até agora. A taxa de retorno é o lucro obtido com o investimento realizado. Existem diferentes maneiras de calcular o lucro, principalmente para investimento em ações. O lucro, nesse caso, decorre da valorização da ação (que não representa um fluxode caixa), acrescida do dividendo pago (esse sim, um fluxo de caixa). O gráfico apresentado a seguir mostra o dilema risco-retorno para ações: Gráfico 1 – Dilema Risco-Retorno para ações Fonte: Mello (2020, 69). No gráfico apresentado, a reta AB mostra o percentual de poupança do investidor usado para o investimento em ações. À medida que o investidor compromete um percentual maior de seu portfólio com a compra de ações (indo de A para B), o retorno médio esperado sofre aumentos, mas o mesmo ocorre com o risco correspondente. Uma medida de risco muito utilizada em finanças é o desvio-padrão de uma distribuição normal de retornos. Para informar e relembrar temos que o desvio-padrão é a quantidade média de variabilidade em um conjunto de dados qualquer. Ele informa, em média, o quão longe cada valor está da média. Um desvio padrão alto significa que os valores geralmente estão longe da média, enquanto um desvio padrão baixo indica que os valores estão agrupados perto da média (DAL-ZOT; CASTRO, 2015). COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 12 ISTO ACONTECE NA PRÁTICA No comércio internacional de produtos do agronegócio, muitas pessoas encaram o trading3 como novidade, ainda pouco conhecida. Entretanto, esta modalidade de negócios já está há vários anos presente no cenário do agronegócio brasileiro, não sendo poucos aqueles que transformaram o seu modo de vida em torno deste assunto. Há diversas fontes para se aprofundar no estudo sobre trading. Uma das principais é por meio do depoimento de especialistas desta área. Ao consultar opiniões “reais” de corretores e consultores sobre as principais operadoras do mercado, tem-se a possibilidade de ir muito mais além neste jogo financeiro. Assim, para ilustrar este conceito, é sugerido o acesso ao portal eletrônico: Trading no Brasil. Nesta plataforma digital é possível acessar pontos de vistas de profissionais que atuam diretamente neste mercado, e talvez mais importante do que isso, aprender técnicas, conhecimentos e valores que configuram a vida destes profissionais envolvidos em trading. Acesse: Trading no Brasil, no link http://www.tradingnobrasil.com/ e aprenda com base na experiência destes profissionais como você pode participar deste importante mercado. 1.1.2.2 Arbitragem O segundo conceito essencial no estudo das finanças internacionais é a arbitragem. Para Mello (2020, p. 70) a arbitragem é definida como: “a compra de ativos ou commodities em um mercado para uma revenda imediata em um outro mercado, a fim de se beneficiar de um diferencial de preços”. Neste contexto, a arbitragem baseia-se na lei do preço único, segundo a qual os diferentes mercados que negociam o mesmo produto convergirão para um mesmo preço, existindo apenas diferenças equalizadoras (custos de transportes, diferenças de tributação e outros elementos de fricção). O pré-requisito é que haja troca de informação entre os mercados e a mobilidade de capitais. No mercado de câmbio, a arbitragem é fundamental. Graças à arbitragem, existe uma regularidade na precificação das diferentes taxas de câmbio e o funcionamento do mercado cambial ocorre por meio de taxas cruzadas de câmbio. O processo de arbitragem pode envolver os seguintes elementos: 3 Trading é uma modalidade de investimento de curtíssimo prazo, que consiste na compra e venda de ações de alta liquidez. O que o formato traz é seu alto potencial para rendimentos em um só dia ou mesmo em minutos. As negociações do tipo trading acontecem online, por meio de uma plataforma chamada home broker, que realiza toda a operação remota e segura. http://www.tradingnobrasil.com/ COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 13 • Aspectos fiscais; • Transferência de riscos; • Regulação governamental. Um exemplo que ilustra bem o conceito de arbitragem no mercado de câmbio pode ser verificado na seguinte situação: Um profissional de Comércio Exterior da filial brasileira de uma grande empresa americana agroindustrial, decide fazer uma viagem internacional para visitar uma feira de exposições de agronegócios na Alemanha. No entanto, ao fazer a solicitação do pagamento com os custos da viagem, ele percebe que o prazo para esta solicitação estava encerrado. Ou seja, a empresa não aceitava mais os pedidos para o pagamento destes custos. Além disso, os custos da viagem seriam pagos em Euros. Como ele acompanha o mercado internacional e a variação do valor das moedas internacionais, decide fazer a viagem pagando as despesas do próprio bolso. Para tanto, esse profissional realiza um processo triangular de arbitragem cambial, pois em anos anteriores, para investir, ele tinha comprado dólares americanos a um custo menor do que o atual, com seu salário pago em reais. Ao comprar dólares americanos com reais e depois trocar esses dólares por euros, o processo de arbitragem cambial ocorre na prática. Isso acontece com base nas taxas cruzadas de câmbio entre o Real e o Euro, pois possibilitam que os valores estejam relacionados, mesmo com diferentes valores nominais e tempos. 1.1.2.3 Eficiência de Mercado O terceiro conceito fundamental para o estudo das finanças internacionais é a eficiência de mercado. Um mercado eficiente é aquele cujos preços das ações negociadas, prontamente, incorporam novas informações. Mello (2020) identifica a existência de uma hipótese subjacente nesse enfoque, identificada como hipótese das expectativas racionais. Ou seja, “as expectativas podem ser racionais, no sentido de uma avaliação de retornos futuros de um ativo, sob condições pensadas de avaliação de riscos” (MELLO, 2020, 69). COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 14 ANOTE ISSO O pressuposto das expectativas racionais é um conceito econômico formulado pela primeira vez por John Muth, em 1961, e que se popularizou após a publicação de artigo assinado por Robert Lucas e Leonard Rapping em 1969, sobre salário real, emprego e inflação. O cerne desse conceito está baseado na hipótese de que os agentes econômicos utilizam toda a informação disponível sobre o atual comportamento e as previsões para o futuro da economia. Com base na experiência e nessas informações, os agentes antecipam de forma racional as atitudes e políticas futuras do governo, reagindo no presente em consonância com as expectativas formadas e anulando em algum grau a efetividade dessas políticas. A hipótese das expectativas racionais é considerada como o marco teórico da nova economia clássica e se tornou popular entre os economistas a partir da década de 1970, sendo largamente utilizada em modelos e na análise macroeconômica. Ao tratar de aspectos de comportamento dos agentes, a hipótese das expectativas racionais lida também com o conceito de risco moral, motivando estudos nessa área e influenciando a chamada economia comportamental. Fonte: WIKIPEDIA, 2021. https://pt.wikipedia.org/wiki/Expectativas_racionais 1.1.2.4 Precificação dos ativos de capital O quarto conceito essencial ao estudo das finanças internacionais é a precificação dos ativos de capital. Esse conceito se refere à maneira pela qual os valores mobiliários são avaliados em linha com os riscos e retornos antecipados. O modelo chamado Capital Asset Pricing Model (CAPM) é muito utilizado para fins de precificação e para guiar decisões financeiras. CAPM é a sigla para Capital Asset Pricing Model, que significa em português “Precificação de Ativos Financeiros”. O CAPM parte do modelo de escolha da carteira desenvolvido por Harry Markowitz , em 1959. Neste modelo de Markowitz, um investidor escolhe uma carteira em um momento t - 1 que produza um retorno estocástico em t. O modelo admite que os investidores sejam avessos ao risco e que, ao escolherem entre carteiras, preocupem-se apenas com a média e a variação do retorno de seu investimento de um período. Ou seja, este modelo constitui umaforma de analisar e investigar as relações existentes entre o risco e o retorno esperado de um investimento (ASSAF NETO, 2008). De acordo com o Modelo CAPM, é possível explicarmos o prêmio de risco – taxa esperada de retorno menos a taxa livre de risco – para cada ativo financeiro. Ou seja, o modelo CAPM é usado para montar carteiras de investimentos e para selecionar https://pt.wikipedia.org/wiki/Nova_economia_cl%C3%A1ssica https://pt.wikipedia.org/wiki/Nova_economia_cl%C3%A1ssica https://pt.wikipedia.org/wiki/D%C3%A9cada_de_1970 https://pt.wikipedia.org/wiki/D%C3%A9cada_de_1970 https://pt.wikipedia.org/wiki/Macroeconomia https://pt.wikipedia.org/wiki/Risco_moral https://pt.wikipedia.org/wiki/Expectativas_racionais COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 15 as ações que compõem o portfólio de investimentos. A interpretação do CAPM deve ser realizada através da avaliação do retorno que um ativo pode oferecer em relação ao seu risco intrínseco – isto é, o risco não-diversificável, que não depende, portanto, da atuação ou escolha do investidor. Um exemplo de cálculo do CAPM é verificado a seguir: Calcule o retorno exigido para um investimento (Ri), sabendo que os títulos públicos pagam 9%, o mercado remunera a 10% e o beta CAPM é 1,5. Cálculo: Ri = 9% + 1,5 (10% - 9%) = 10,5%. Como é possível observar nesta equação acima, o beta tem influência sobre a diferença entre o retorno de mercado esperado e o retorno livre de risco, que é o prêmio pelo risco assumido. De outra forma: o prêmio é de 1% e o beta de 1,5 incidiu sobre esse prêmio, produzindo resultado de 1,5%, que, somado aos 9% do retorno livre de risco, chega aos 10,5%, conforme calculado pela fórmula (Fonte: adaptado de ASSAF NETO, 2008). 1.1.2.5 Estrutura a termo das taxas de juros O quinto e último conceito trata da distribuição da dívida, ao longo dos anos, e de como se estabelecem juros de curto, médio e longo prazos. Os mercados financeiros utilizam, com frequência, estratégias com base no comportamento temporal das taxas de juros. Uma das operações mais utilizadas por tesourarias de bancos baseia-se, inclusive, na arbitragem entre diferentes curvas de yield4. Uma maneira de representarmos a estrutura a termo das taxas de juros é pelas yield curves. A curva ilustra a dependência do retorno em relação ao prazo de seu vencimento. O gráfico a seguir mostra uma típica yield curve: 4 Yield curve é uma linha que traça os rendimentos, em termos de taxa de juros, de títulos com qualidade de crédito igual, mas com datas de vencimento diferentes. Essa expressão também pode ser denominada como curva a termo, curva de rendimentos ou, ainda, curva de juros (Fonte: ASSAF NETO, 2008). COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 16 Gráfico 2 – Exemplo de yield curve Fonte: Mello (2020, 73). No gráfico, o eixo horizontal mostra o número de anos até o vencimento (n). No eixo vertical, apresenta-se a taxa de retorno esperada (y ou yield). Cada ponto da curva mostra o yield em relação aos anos, até o vencimento. Para construirmos a curva, em geral, comparamos as debêntures com diferentes prazos de vencimento (maturidade) e calculamos as taxas implícitas de retorno anual. 1.2 Principais Funções da Gestão Financeira Internacional Em linhas gerais, as funções da gestão financeira internacional referem-se ao planejamento estratégico e controle de todos os recursos financeiros envolvidos em uma operação de comércio internacional, ou seja: investimentos, despesas, avaliações de risco, pagamentos, patrimônio, fretes, seguros, entre outros (ASSAF NETO, 2008). 1.2.1 Gestão do Risco Em nossos dias, a gestão do risco compreende um novo conceito e área de estudo, sendo que os profissionais atuantes no agronegócio brasileiro que se dedicam a essa qualificação estão entre aqueles que são muito disputados pelas empresas. Isso ocorre COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 17 porque a gestão do risco mostra, com clareza, aos administradores os riscos e retornos de qualquer decisão estratégica no nível tanto institucional quanto transacional. Em uma melhor definição, a gestão de risco é “o conjunto de atividades coordenadas que têm o objetivo de gerenciar e controlar uma organização em relação a potenciais ameaças, seja qual for a sua manifestação”. Isso implica o planejamento e uso dos recursos humanos e materiais para minimizar os riscos ou, então, tratá-los (Fonte: ASSAF NETO, 2008). No comércio exterior que envolve o contexto do agronegócio, a gestão de risco é o processo de identificar e administrar os riscos existentes em uma operação comercial. Essa é uma das tarefas mais importantes de qualquer gestor ou profissional de comércio exterior que atue na gestão financeira de uma fazenda ou agroindústria. Vale mencionar que no agronegócio há fatores de risco de diversas fontes, tanto do próprio sistema quanto relacionadas a fatores agronômicos, climáticos, de mercado e de estratégia organizacional. Qualquer evento incerto que possa impactar um negócio e ao qual é associada uma probabilidade de ocorrência, é considerado um fator de risco. Entende-se, portanto, o risco como incerteza. Existem várias técnicas de gestão de risco, que se apoiam em diversos instrumentos do mercado, tal como operações de hedge em mercados futuros e de opções. As empresas agroindustriais que operam no mercado internacional, em adição ao padrão das normas de gestão de risco de empresas que operam em um mercado doméstico, têm de lidar com o risco. Entre os principais riscos observados, tem-se: • Riscos do ambiente econômico; • Riscos do ambiente político-legal; • Riscos do ambiente cultural; • Grande dívida externa; • Governos instáveis; • Tarifas ou outras barreiras comerciais; • Corrupção; • Entre outros. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 18 1.2.2 Risco Cambial e Sistemas de Flutuação Basicamente, o risco cambial que determina o valor de uma moeda pode ser dividido em dois sistemas: sistema de flutuação livre e sistema de flutuação administrada ou também conhecido como “dirty floating”. No sistema de flutuação livre, os governos e os bancos centrais não têm participação no controle do câmbio. Eles atuam na regulação do mercado para a minimização de fraudes, porém, não interferem na livre flutuação do valor das moedas. Ou seja, no sistema de câmbio flutuante, as operações de compra e venda de moedas funcionam sem controle por parte do governo. Dessa forma, o valor das moedas estrangeiras varia de acordo com a lei da oferta e demanda presente no mercado, flutuando para cima e para baixo. Para Mello (2020), a vantagem desse sistema cambial é que ele se autorregula. Em outras palavras: as próprias forças de mercado se encarregam dessa tarefa de regulação, inibindo, via variação na taxa de câmbio, grandes deslocamentos de oferta ou demanda. Além disso, a taxa de câmbio é apenas um preço. Desse modo, as forças específicas de oferta e demanda de seu próprio mercado é que devem atuar, e não o conjunto da economia. Isso aumenta a eficiência de mercado na visão econômica e dos adeptos deste sistema. A grande desvantagem em se optar por uma taxa de câmbio flutuante é a imprevisibilidade que esse sistema proporciona para os atores do mercado. É sempre importante considerar que no comércio internacional, as taxas de câmbio flutuantes aumentam o risco das transações no mercado e, portanto, aumentam o custo de efetuar negócios com outros países. Para Mello (2020), dois alertas precisam ser feitos: o primeiro é que o fato de o câmbio ser flutuante não significa que ele tenha de ser volátil todo o tempo, pois o sistema pode ser muito estável e previsível. O segundo é que a comunidade financeira internacional já desenvolveu mecanismos para administrar esse risco, entre eles, os derivativos de câmbio5. 5 Derivativosde câmbio são aplicações financeiras que derivam de outros valores e por isso têm esse nome. No mercado de câmbio, por exemplo, os derivativos são aplicações que derivam do valor do dólar. Há vários tipos de operações, mas três são mais conhecidas: mercado a termo, mercado futuro e mercado de opções (Fonte: ASSAF NETO, 2008). COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 19 ISTO ESTÁ NA REDE O câmbio flutuante é o padrão do mundo moderno e um dos pilares da política econômica brasileira. Nesse regime cambial, as cotações das moedas flutuam livremente conforme a oferta e demanda do mercado. Mas, isso não significa uma ausência total de interferência do governo, pois a maioria dos países (incluindo o Brasil) intervém em alguma medida para controlar oscilações bruscas da taxa de câmbio. Por isso, é importante que você entenda exatamente o que é, como funciona e quais são as vantagens do câmbio flutuante no Brasil e no mundo. Continue lendo e fortaleça seu repertório econômico. Acesse: https://www.capitalresearch.com.br/blog/investimentos/cambio-flutuante/ De outra forma, no sistema de flutuação administrada ou dirty floating, o câmbio flutua, porém, o governo ou Banco Central do país intervém comprando e vendendo moedas, de modo a influenciar a formação da taxa de câmbio. Essa intervenção tem por objetivo prevenir excessivas variações na taxa de câmbio, dando maior previsibilidade ao câmbio. No entanto, essa intervenção tem um problema: seu alvo são as taxas de câmbio que, naturalmente, não existiriam se as forças de demanda e oferta funcionassem livremente, de acordo com os fundamentos do mercado. Por isso, em determinadas situações, o sistema pode viabilizar taxas artificiais e distorcidas. Percebe-se, desta forma, que um dos motivos do uso do sistema de flutuação administrada é a possibilidade gerada pelo controle da depreciação da moeda do país, e assim, viabilizar condições superiores para as exportações. Pois bem, em países com inflação elevada, pode ocorrer o efeito contrário, ou seja, o Banco Central administra o sistema de câmbio para valorizar a moeda nacional e, assim, diminuir os preços dos produtos importados. Assim, temos que o objetivo da flutuação administrada é o de suavizar a volatilidade no mercado de câmbio. Isso ocorre, porque uma grande flutuação no preço da moeda estrangeira pode gerar imensos prejuízos para a economia de qualquer país, entre eles: inflação, incerteza para administração dos negócios, fuga de capitais de investidores estrangeiros, entre outras coisas. No Brasil, o sistema de câmbio flutuante foi adotado em 1999, durante a execução do Plano Real. Antes de aderir a esse regime, o país praticava o câmbio fixo, onde o valor do câmbio era fixado internamente. Com a mudança, o Brasil passou a operar no chamado câmbio flutuante sujo, no qual o Banco Central realizava intervenções https://www.capitalresearch.com.br/blog/investimentos/cambio-flutuante/ COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 20 eventuais para conter movimentos desordenados do mercado. Isso significa que, quando há alterações bruscas no valor de uma moeda, o Banco Central brasileiro entra em ação comprando ou vendendo reservas para manter o câmbio em um nível aceitável. Exemplo desta situação é o atual valor do dólar que, em plenos anos de 2021, atinge sua cotação mais alta desde o Plano Real. Vale lembrar que quando o Plano Real foi lançado, em junho de 1994, o dólar era cotado a R$ 1. No momento que este texto está sendo escrito, este valor se aproxima de R$ 5,80. Que diferença!!! Aprenda muito mais sobre o câmbio brasileiro, acessando este link: https://www.bcb.gov.br/estatisticas/estatisticascambio Figura 2 – O equilíbrio dos regimes cambiais DREAMSTIME. Banco de imagens, 2021. Disponível em: <https://dreamstime.net/255.jpg> Acesso em: 23 out. 2021. 1.2.3 Gestão de Risco de Empresas atuantes no Comércio Exterior Para Mello (2020), existem quatro mecanismos principais para administrar a gestão de risco para as empresas que operam no comércio exterior. Estes mecanismos são chamados de hedge e suas principais características são apresentadas no quadro a seguir. https://files.oglobo.com/wp-content/uploads/232.jpg COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 21 Descrição Características/exemplos Internos: uma empresa que vende seu(s) produto(s) em diversos mercados pode selecionar moedas para fazer casamentos na mesma moeda entre custos e receitas. A empresa BMW fabrica carros no Brasil, vende-os em dólares nos Estados Unidos e usa esses dólares para comprar auto partes no mercado norte-americano e enviá-las para o Brasil. Contratos a termo: uma empresa compra moeda estrangeira no mercado a termo e fixa sua taxa de câmbio É um mecanismo muito usado para cobrir o risco de exposição da transação, que compreende os fatores de incerteza do negócio que podem afetar o retorno de um negócio ou transação. Contratos de futuros e de opções: esses contratos existem para poucas moedas, mas incluem o Brasil. O mercado de futuros cria obrigações, enquanto o mercado de opções se baseia em direitos (e não obrigações) e dá maior flexibilidade para a decisão. É um mercado que exige maior atenção dos hedgers6. swaps de moedas: as empresas fazem acordos umas com as outras, para trocar fluxos futuros de pagamento em moedas diferentes e fixam datas para a compensação e liquidação. Pode ser feito em Bolsa ou mercado de balcão, ou ainda via operações diretas entre empresas. Quadro 2 – Tipos de Hedge Fonte: Adaptado de Mello (2020) Como estratégia de negócios, muitas empresas optam por operar em uma faixa de taxa de câmbio que ela acha mais provável de acontecer. No entanto, podem ocorrer surpresas. ISTO ESTÁ NA REDE As empresas exportadoras no estado de Pernambuco tem boa percepção sobre as oportunidades e riscos do comércio exterior. No entanto, a existência de fatores nacionais, conjunturais e regionais, inibem o melhor desempenho delas. Veja como essas empresas fazem a gestão de riscos internacionais, acessando: https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/4494/1/arquivo6111_1.pdf 1.2.4 Estabilidade da Taxa de Câmbio Como o último grande ponto de preocupação para as empresas decididas em operar o mercado internacional, com toda a certeza, compreende a estabilidade da taxa de câmbio. O regime de livre flutuação, adotado no Brasil, como o nome indica, depende 6 Hedger é a denominação do agente econômico que busca dar proteção no mercado de derivativos, ou seja, visa fixar antecipadamente o preço de uma mercadoria ou ativo financeiro de forma a neutralizar o impacto de mudanças no nível de preços. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 22 de forças de oferta e de demanda, que estão sempre se alterando. Portanto, não há surpresa alguma quanto à oscilação. O problema aparece quando essa oscilação é muito forte e muito rápida. Este movimento é chamado de overshooting. Para Fortuna (2020, p. 341): Overshooting significa uma reação exagerada, irracional, dos mercados de levar preços de um ativo a valores extremos e fora das expectativas mais otimistas. Overshootings ocorrem em momentos onde a carga emocional dos participantes do mercado é alta, o que ajuda a acentuar o movimento. Da mesma forma, Mello (2020) argumenta que um mercado cambial pode se dividir em duas categorias: instável e estável. O mercado cambial instável acontece quando um distúrbio em uma taxa de câmbio de equilíbrio empurra a taxa de câmbio cada vez mais longe do equilíbrio. Por sua vez, o mercado cambial estável acontece quando um distúrbio em uma taxa de câmbio de equilíbrio conduz ao surgimento de forças automáticas que empurram a taxa de câmbio de volta para o nível de equilíbrio. Para esse mesmo autor, essas condições de equilíbrio estão relacionadasà inclinação das respectivas curvas de oferta e demanda por câmbio. Inclusive, no caso brasileiro, com um regime de câmbio flutuante, o próprio mercado determina o novo nível de equilíbrio da taxa de câmbio. O problema é que esse processo de equilíbrio automático pode durar muito tempo, criando efeitos negativos sobre a macroeconomia, tais como incertezas, expectativas pessimistas, adiamento de decisões sobre entradas e saídas de capitais e fluxos comerciais no mercado externo, entre outros. A partir deste contexto, você consegue perceber alguma coincidência com decisões econômicas que o Brasil adota e você assiste diariamente nos noticiários? Pois bem, neste capítulo abordamos os principais conceitos econômicos e financeiros relacionados ao Comércio Internacional, abordando aspectos teóricos e práticos, aplicados ao comércio internacional. A importância da compreensão dos conceitos financeiros está relacionada com visões de se perceber como o mercado internacional se comporta no atual contexto global, ou seja, o funcionamento das regras do jogo! No próximo capítulo, examinaremos os principais regimes internacionais que permitem a você entender ainda mais sobre a lógica formal e estrutural de atuação no cenário internacional de negócios. Até lá! COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 23 AULA 2 REGIME DE COMÉRCIO INTERNACIONAL No primeiro capítulo, você conheceu os pressupostos fundamentais da Economia e da Gestão Financeira Internacional. Agora, você conhecerá a dinâmica de funcionamento do comércio internacional, especificamente, sobre o regime internacional de comércio. Você será orientado em dois momentos: no primeiro momento, tem-se o conceito básico que define o regime internacional de comércio. Em seguida, de forma retrospectiva e histórica, você verá como a estrutura do comércio internacional se organizou com o passar dos anos e, principalmente, como ela está estruturada hoje, em termos de instituições e regras. 2.1 Regimes Internacionais O que entendemos por regimes internacionais? Entre vários pesquisadores do comércio internacional que estudam os regimes internacionais, Krasner (1983, p.1) afirma que: Regimes internacionais são definidos como princípios, normas, regras e processos de tomada de decisão em torno dos quais as expectativas de atores convergem para uma determinada área de interesse. Para esse mesmo autor, com finalidade de alcançar benefícios coletivos, os participantes operam as relações de comércio internacional equilibrando, de um lado, fatores básicos, entre eles: poder, interesse e valores. Do outro lado, comportamentos e expectativas, com a relação comercial. Ou seja, a relação comercial é automaticamente regulada para atender estas premissas básicas. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 24 Figura 1 – Os Regimes Financeiros Internacionais Fonte: DREAMS TIME (2021) Disponível em: <https://fdreamstime.com/content/154.jpg> Acesso em: 23 out. 2021. Por isso, quando se fala sobre os princípios e normas que regem o comércio internacional, é preciso voltarmos ao Acordo Geral de Comércio e Tarifas (GATT) e, a partir de 1995, à Organização Mundial do Comércio (OMC). Pois, foi e é por meio dessas instituições, que o regime internacional de comércio se constituiu ao longo de décadas, com: reuniões, rodadas de negociações, acordos entre signatários, entre outros assuntos que moldaram a estrutura regimental que vivenciamos em nossos dias. Assim, este segundo capítulo foi construído para apresentar como ocorreu a evolução das instituições que regulamentam o Comércio Internacional. Topa o desafio? 2.1.1 Bretton Woods e o Regime de Comércio Internacional Para entendermos o cenário global deste período inicial de nosso estudo, que permeia e define os atuais procedimentos utilizados no Comércio Exterior, é importante saber que, tanto a Primeira, quanto a Segunda Grande Guerra Mundial, culminaram na implantação de uma nova ordem liberal e multilateral no mundo. Essa ordem, liderada, principalmente, pelos Estados Unidos. Com o final das guerras, houve a necessidade de se estabelecer bases de um sistema econômico e comercial de abrangência global, configurado e impulsionado por meio das vontades e anseios de países declarados como vencedores deste conflito. Assim, em 1944, foi realizada nos Estados Unidos a Conferência de Bretton Woods, que culminou na criação de importantes instituições econômicas internacionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) e o Acordo Geral de Comércio e Tarifas (GATT). Especificamente, o GATT foi formado por 23 países, representando um marco para o regime internacional de comércio. Até hoje, a OMC se baseia nas decisões, procedimentos, práticas e instituições estabelecidas neste início. O Brasil está entre os países participantes que firmaram o GATT (FABRINI; PRATES, 2019). https://files.oglobo.com/wp-content/uploads/232.jpg COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 25 Figura 2 – Registro histórico do Acordo de Bretton Woods Fonte: OGLOBO (2021) Disponível em: <https://files.oglobo.com/content/232.jpg> Acesso em: 23 out. 2021. Assim, como é impossível estudar e entender os regimes internacionais de comércio sem citar a Organização Mundial do Comércio (OMC) e como esta se liga historicamente ao GATT, é essencial que se inicie o entendimento destas relações a partir de uma perspectiva histórica. Preparado para aprender mais? ISTO ESTÁ NA REDE Acordo de Bretton Woods ou ainda “Acordos de Bretton Woods” é o nome com que ficou conhecida uma série de disposições acertadas por meio de países aliados em julho de 1944, na mesma cidade norte-americana que deu nome ao acordo, no estado de New Hampshire, no hotel Mount Washington. O objetivo de tal encontro de nações era definir os novos parâmetros que iriam gerir a economia mundial após a Segunda Guerra Mundial. Quer saber mais? Descubra em: https://www.infoescola.com/historia/acordo-de-bretton-woods/ 2.1.1.1 Acordo Geral de Comércio e Tarifas (GATT) O GATT foi fundado por meio da assinatura de 23 países. Esse número sempre aumentou, alcançando 123 países na Rodada do Uruguai, em 1989. É válido afirmar que o GATT levou à criação da OMC. Por meio de um conjunto de normas, negociadas, acordadas e ratificadas pelos países-membros, a atuação do GATT sempre foi no sentido de redução das barreiras comerciais e buscar a liberalização do comércio internacional. Os 23 países que fundaram o GATT foram: África do Sul, Austrália, Birmânia, Bélgica, Brasil, Canadá, Ceilão, Chile, China, Cuba, Checoslováquia, Estados Unidos, França, https://files.oglobo.com/wp-content/uploads/232.jpg https://www.infoescola.com/historia/acordo-de-bretton-woods/ COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 26 Países Baixos, Índia, Líbano, Luxemburgo, Nova Zelândia, Noruega, Paquistão, Reino Unido, Rodésia do Sul e Síria (OMC, 2021). Uma das predisposições do sistema Bretton Woods, regido pelo GATT, era a obrigação de que os países signatários1 adotassem uma política monetária que mantivesse a taxa de câmbio indexada ao dólar, que por sua vez, baseava-se no valor do ouro, numa base fixa de 35 dólares por onça (FABRINI; PRATES, 2019). Desde a sua criação, o GATT passou por momentos políticos, econômicos e institucionais que favoreceram mais o liberalismo comercial, nos anos de 1960. Em outros períodos, de maior protecionismo por parte dos países, como nos anos de 1970, especialmente, em virtude das ascensões do Japão e da União Europeia no cenário internacional. Finalizado com a suspensão do sistema Bretton Woods, em 1971, pelo então presidente norte-americano Richard Nixon. ANOTE ISSO Um dos pilares de Bretton Woods, a conversibilidade dólar-ouro foi posta abaixo pelo presidentenorte americano Richard Nixon, em 1971, diante da grande demanda mundial por ouro. Na medida que o capitalismo se desenvolvia, a moeda dos Estados Unidos tornou-se o dinheiro hegemônico nas reservas mundiais e a referência de todo o sistema financeiro mundial. Apesar da instabilidade comercial mundial que vigorou durante a década de 1970, foi nos anos de 1980 que o GATT apresentou os primeiros sinais de insolvência. Principalmente, orientado por ondas de recessão econômica dos países, fortalecimento do processo de regionalização comercial, aumento de práticas protecionistas, ascensão das relações bilaterais e práticas discriminatórias (FABRINI; PRATES, 2019). Foi neste cenário de desequilíbrio que ocorreu, entre os anos de 1986 e 1994, a Rodada do Uruguai, regida ainda pelo GATT. Após aproximadamente sete anos de intensa negociação, embates, exigências e concessões, inaugurou-se uma nova ordem econômica internacional, comandada pela recém-criada Organização Mundial do Comércio, ou simplesmente, OMC. Os países em desenvolvimento, em particular o Brasil, participaram de forma ativa nessas negociações, mais do que em qualquer uma das outras realizadas sob o 1 País signatário significa que o país subscreveu a algum tipo de manifesto, contrato, acordo, carta ou outro documento, com o qual concorda com o conteúdo apresentado (FONTE: VAZQUEZ, 2015). COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 27 sistema do GATT. Para Rego (1997), a Rodada do Uruguai trouxe à discussão temas contemporâneos como: política ambiental, condições e normas de trabalho, políticas de investimentos, políticas de concorrência, imigração, questões monetárias, comércio e desenvolvimento. Como resultado, foram estabelecidos novos acordos e medidas com vistas ao fortalecimento das relações multilaterais, tais como: um novo Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT 94), Acordo Geral sobre Comércio de Serviços (GATS), Acordo sobre Investimentos (TRIMS), Acordo sobre Direito de Propriedade Intelectual (TRIPS), acordos para solução de controvérsias, medidas antidumping, de salvaguarda, compensatórias, entre outras. Figura 3 – Rodada do Uruguai do GATT Fonte: DIRCOM (2021) Disponível em: <https://dircom.org.br/content/232.jpg> Acesso em: 23 out. 2021. A Rodada do Uruguai se encerrou em 15 de abril de 1994, com a assinatura do Tratado de Marrakesh, por 123 países. Com isso, a partir de 1995, a gestão do sistema multilateral do comércio passou a ser responsabilidade da OMC, objetivando a busca pelo livre comércio e a igualdade entre as nações. Para Iramina (2009, p. 18): A OMC, diferentemente do GATT, constituiu-se, assim, em uma organização permanente, com personalidade, Regime internacional de comércio, jurídica própria, com o mesmo status jurídico e internacional das duas instituições do Bretton Woods, ou seja, o FMI e o Banco Mundial. Porém, em 1999, a primeira rodada de negociação liderada pela OMC foi impedida por uma série de manifestações contrárias à globalização e à própria OMC, que ficou conhecida como Batalha de Seattle. Este acontecimento trouxe à tona duas questões: a transparência da organização junto à sociedade civil e o equilíbrio entre os interesses dos países desenvolvidos e aqueles em desenvolvimento (FABRINI; PRATES, 2019). https://files.oglobo.com/wp-content/uploads/232.jpg https://files.oglobo.com/wp-content/uploads/232.jpg https://files.oglobo.com/wp-content/uploads/232.jpg COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 28 ISTO ACONTECE NA PRÁTICA No filme americano, intitulado: Battle in Seattle, com direção e roteiro de Stuart Townsend, lançado em 1999, dezenas de milhares de pessoas vão às ruas de Seattle, em protesto contra a Organização Mundial de Comércio. De início o protesto era pacífico, pedindo o fim das conferências da OMC, mas logo se tornou um motim. O resultado foi a classificação de estado de sítio, que fez com que o Departamento de Polícia e a Guarda Nacional adotassem uma postura de combate aos manifestantes. O drama e a ação são características marcantes deste filme. Por isso, vale a sugestão! 2.1.1.2 Objetivo, Valores e Estrutura institucional do GATT Conforme visto até agora, o principal objetivo do GATT foi a diminuição de barreiras comerciais e a garantia de que países-membros tivessem acesso mais justo aos mercados internacionais. Os Estados Unidos e a Grã-Bretanha, que estão entre os principais idealizadores do GATT, acreditavam que uma série de normas e regras padronizariam as relações comerciais e minimizariam as chances de um movimento protecionista, como aquele dos anos de 1930. Além disso, essa cooperação comercial aumentaria a interdependência entre os países e contribuiria para a redução da probabilidade de novas guerras mundiais (REGO, 1997). Assim, três valores pautaram sua criação: 1. Restrição e/ou eliminação de práticas intervencionistas governamentais; 2. Multilateralização das relações políticas e comerciais dos Estados, e; 3. Liberalização do comércio mundial. Conforme se percebe com base em registros históricos (OMC, 2021), o organograma do GATT foi inicialmente composto pelo Diretor-Geral, por meio de Assembleias das partes contratantes, Conselho de Representantes e Comitês. A Assembleia dos Países Signatários se reunia anualmente e se constituía como o órgão máximo do GATT. Na maioria dos casos, as decisões eram tomadas por consenso. Porém, quando havia a necessidade de votação, cada membro tinha o direito a um voto e as decisões eram obtidas por meio da maioria simples de votos. Porém, conforme destacam Fabrini e Prates (2019), havia exceções: quando um dos países-membros solicitava que alguma regra ou norma do GATT fosse ignorada, especificamente, por aquela nação, a aprovação exigia dois terços dos votos. Além disso, para modificar cláusulas do princípio da nação mais favorecida, era exigida a unanimidade dos votos. Entre as assembleias, havia reuniões do Conselho dos Representantes. Este conselho era formado por representantes dos países-membros e eram autorizados a exercer ações COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 29 rotineiras e algumas situações que exigiam urgência. Os comitês eram compostos por pessoas técnicas e subdivididos por setores, e encarregados do planejamento e ações específicas de interesse dos países signatários. Finalmente, a Diretoria Geral, com sede em Genebra (ilustrada a seguir), composta de diretor e secretários, responsáveis pelo desenvolvimento do comércio internacional, pelas estatísticas, sendo local para referência dos membros. Figura 4 – Sede do GATT em Genebra, Suíça Fonte: OMC (2021) Disponível em: <https://wto.org/image42.jpg> Acesso em: 23 out. 2021. 2.1.1.3 Rodadas de Negociações do GATT Ao todo, durante o período de 1947 a 1993, foram realizadas oito rodadas de negociações entre os países participantes do GATT. O quadro a seguir resume essas rodadas de negociações. Vamos conhecer as principais informações de cada uma delas? ANO LOCAL ASSUNTO COBERTO PAÍSES 1947 Genebra Tarifas 23 1949 Annecy Tarifas 13 1951 Torquay Tarifas 38 1956 Genebra Tarifas 26 1960-1961 Genebra – Rodada Dillon Tarifas 26 1964-1967 Genebra - Rodada Kennedy Tarifas e Medidas Antidumping2 62 1973-1979 Genebra – Rodada Tóquio Tarifas, Barreiras não tarifárias3 e acordos jurídicos 102 1986-1994 Genebra – Rodada Uruguai Tarifas, Barreiras não tarifárias, normas, serviços, propriedade intelectual, têxteis, agricultura, criação da OMC, entre outros 123 Quadro 1 – Informações sobre as Negociações do GATT Fonte: Adaptado de OMC (2021). 2 Antidumping são medidas que combatem a prática da exportação de mercadorias a um preço abaixo do valor de mercado (Fonte: VAZQUEZ, 2015). 3 Barreiras não tarifárias são quaisquer mecanismos e instrumentos de política econômica que influenciam o comércio internacional sem o usode mecanismos tarifários. As quotas para importação são exemplos de barreiras não tarifárias (Fonte: REGO, 1997). https://files.oglobo.com/wp-content/uploads/232.jpg https://files.oglobo.com/wp-content/uploads/232.jpg https://files.oglobo.com/wp-content/uploads/232.jpg COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 30 Nota-se, a partir deste quadro, que entre os anos de 1947 e 1961, o assunto abordado nas rodadas de negociação foi, principalmente, as tarifas. Assim, era esperado que ações neste sentido conduzissem a uma redução significativa nas tarifas de comércio internacional entre os países-membros e, consequentemente, à consolidação da liberalização comercial. Ênfase observada nos anos posteriores! ISTO ESTÁ NA REDE A Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou estudo mostrando que o Brasil enfrenta uma tarifa média de importação mais elevada do que as sobretaxas que incidem sobre bens exportados por países com características geográficas ou econômicas semelhantes. Segundo o estudo intitulado: Barreiras tarifárias enfrentadas pelas exportações brasileiras: uma comparação internacional, o Brasil está sujeito a uma tarifa média de importação de 4,6%, enquanto na média dos outros 17 países analisados neste estudo, essa taxa é de 2,3%. Acesse este link e descubra muito mais: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2021/07/tarifa-de-importacao-enfrentada- pelo-brasil-e-o-dobro-da-media-de-outros-paises-diz-cni.shtml Os anos de 1960, representaram uma significativa ascensão dos países em desenvolvimento no comércio internacional, e este movimento trouxe à tona o assunto à Rodada Kennedy. Em homenagem ao presidente John F. Kennedy, dos Estados Unidos, esta rodada teve como objetivo aumentar as exportações dos Estados Unidos para os países da Comunidade Econômica Europeia. Além disso, os países em desenvolvimento passaram a exigir mais representatividade e poder junto ao GATT. Foi na Rodada Kennedy que, pela primeira vez, a União Europeia participou das negociações como um bloco, bem como, outros assuntos passaram a compor a agenda de negociações, tais como: barreiras não tarifárias, problemas relacionados ao comércio de produtos agrícolas, acordos antidumping e disposições a favor dos países em desenvolvimento (FABRINI; PRATES, 2019). Posteriormente, os anos de 1970 se apresentaram como um marco para o comércio internacional e para a, até então, hegemonia norte-americana. Assim, a Rodada Tóquio iniciou, em 1973, em um cenário de ascensão econômica do Japão e da União Europeia. As negociações que ocorreram durante a Rodada de Tóquio foram as primeiras no sentido de discutir as chamadas barreiras não tarifárias. https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2021/07/tarifa-de-importacao-enfrentada-pelo-brasil-e-o-dobro-da-media-de-outros-paises-diz-cni.shtml https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2021/07/tarifa-de-importacao-enfrentada-pelo-brasil-e-o-dobro-da-media-de-outros-paises-diz-cni.shtml COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 31 Assim, um dos grandes avanços para o regime internacional de comércio, oriundo desta rodada de negociação, foi a criação dos chamados códigos. Os códigos eram tratados que regulavam os procedimentos das barreiras não tarifárias. Além disso, houve a incorporação de um tratamento diferenciado e mais favorável para os países em desenvolvimento. Por outro lado, a Rodada Tóquio fracassou por não obter regras e normas claras para o comércio dos produtos agrícolas. ANOTE ISSO Acordos sobre barreiras técnicas ao comércio exterior: os regulamentos técnicos sobre os produtos variam de país para país e se forem elaborados de maneira arbitrária podem ser utilizados como medidas protecionistas. Portanto, o Acordo sobre Barreiras Técnicas ao Comércio procura garantir que as normas e os regulamentos técnicos não criem obstáculos ao comércio. Este acordo reconhece o direito de cada país em adotar normas que considerem adequadas para a proteção da saúde e da vida das pessoas, dos animais ou a preservação dos vegetais, do meio ambiente ou ainda dos interesses dos consumidores (FONTE: OMC, 2021). Após alguns anos de negociações e expectativas, em 1986, foi fixada a pauta para uma nova rodada do GATT. Neste novo encontro seriam abordados os seguintes assuntos: agricultura, têxteis e subsídios (temas pendentes de outras rodadas) e o comércio de serviços, propriedade intelectual e investimentos (novos temas) (FABRINI; PRATES, 2019). Como resultado, foi na Rodada Uruguai que a OMC foi criada. Essa rodada representou um marco para o regime internacional de comércio e, consequentemente, para o multilateralismo econômico. Pois, este evento culminou na substituição do GATT pela OMC. A criação da OMC, em 1o de janeiro de 1995, é considerada como a maior reforma do comércio internacional, desde o fim da Segunda Guerra Mundial (OMC, 2021). Assim, passaremos a última parte deste relato histórico, que trata sobre a criação da OMC e características associadas ao Comércio Internacional atual. Vamos lá? 2.1.2 A Organização Mundial do Comércio (OMC) A Organização Mundial do Comércio (OMC) é um fórum econômico de caráter multilateral que atua no processo de liberalização do comércio internacional. É responsável por fazer a regulamentação das negociações que acontecem entre os COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 32 seus membros, mediante a elaboração de acordos, bem como, no estabelecimento de normas comuns a serem cumpridas. Tudo isto no sentido de criar condições favoráveis e justas à realização dos trâmites comerciais (GUITARRA, 2021). Figura 5 – Logotipo da OMC Fonte: OMC (2021) Disponível em: <https://wto.org/image418.jpg> Acesso em: 24 out. 2021. Para Fabrini e Prates (2019) a alteração de GATT para OMC trouxe consigo alterações institucionais e regimentares significativas. Objetivando constitucionalizar regras comerciais internacionais, instituições e processos decisórios, à OMC foi atribuída responsabilidade sob novas áreas de atuação, como: agricultura, serviços, têxteis e propriedade intelectual. Ainda, de acordo com esses mesmos autores, nesta mudança foi criada uma nova sistemática para resolução de conflitos que garantisse mais proteção aos direitos dos países-membros. Portanto, os fundamentos do GATT de garantir um comércio livre, previsível, pacífico e próspero, não foram alterados. Ao contrário, juntamente com a OMC, foram criadas novas ferramentas que reforçaram estes pilares (FABRINI; PRATES, 2019). São atribuições da OMC (OMC, 2021): • Negociar regras para o comércio internacional de bens, serviços, propriedade intelectual e outras matérias que seus membros venham a acordar; • Zelar pela adequada implementação dos compromissos assumidos; • Servir de espaço para a negociação de novas disciplinas, e; • Resolver controvérsias entre os países-membros. Em dias atuais, a organização conta com um total de 164 países-membros. Teve um orçamento para 2021 acima de 200 milhões de francos suíços. Possui uma equipe com mais de 600 funcionários. Está localizada em Genebra, na Suíça e, nesta presente https://files.oglobo.com/wp-content/uploads/232.jpg https://files.oglobo.com/wp-content/uploads/232.jpg https://files.oglobo.com/wp-content/uploads/232.jpg COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 33 data (Outubro de 2021) é comandada pela nigeriana Ngozi Okonjo-Iweala, eleita diretora- geral da OMC desde 15/02/2021 (OMC, 2021). 2.1.2.1 Princípios da OMC Os princípios da OMC representam a base fundamental do sistema de comércio multilateral, definição essa empregada pela própria organização. Assim, cinco princípios regem os acordos e as tomadas de decisão no âmbito da OMC. Conforme Guitarra (2021), são esses os princípios da OMC: Não discriminação: fundamentado pela cláusula da nação mais favorecida. Não pode haverfavorecimento de um parceiro comercial em detrimento de outros. Quando um país oferece uma condição especial a outro, a exemplo da redução das tarifas de importação para um produto em específico, por exemplo, essa mesma condição deve ser ofertada aos demais países que integram a OMC e são parte das negociações. Além disso, bens importados devem ser tratados da mesma forma como são tratados os bens nacionais. Proibição de restrições quantitativas: redução de barreiras comerciais, como cotas de importação, proibições no escopo das trocas internacionais e outras questões burocráticas e políticas protecionistas que possam travar as relações comerciais. Sua aplicação se dá de forma gradual, com maior prazo para as nações em desenvolvimento. Previsibilidade: transparência na execução de políticas, na tomada de decisões e na adoção de tarifas, com o intuito de tornar o comércio estável e previsível. Concorrência leal: proíbe a utilização de mecanismos que possam ser prejudiciais para algumas das nações que integram o grupo (dumping, subsídios) e para o comércio de forma mais ampla. Promove, assim, uma concorrência com condições mais justas a todos os seus membros, principalmente para os países em desenvolvimento. Tratamento especial e diferenciado para países em desenvolvimento4: determinados acordos estabelecidos pela OMC promovem maior flexibilização de normas aos países com esse status, contando também com a colaboração dos países desenvolvidos, como quando é necessário que as nações em desenvolvimento adotem medidas tarifárias, por exemplo. 4 Países em desenvolvimento são aqueles que apresentam significativo crescimento econômico e social, industrialização recente e crescente, além de aumento expressivo no valor monetário dos bens produzidos (PIB) (FONTE: VAZQUEZ, 2015). COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 34 ISTO ESTÁ NA REDE Ouça este Podcast e descubra como a riqueza é medida entre os países para a formação da classificação dos países, segundo a riqueza. Conheça quais são os países mais ricos e os países mais pobres do mundo. Entenda também a situação do Brasil neste ranking. Ouça em: https://brasilescola.uol.com.br/podcasts/paises-mais-e-menos-ricos-do-mundo.htm 2.1.2.2 Objetivos da OMC Para Guitarra (2021), tendo em vista a intensificação das relações econômicas e comerciais em escala internacional, assim como o aprofundamento das diferenças de condições de negociação enfrentadas pelos países considerados em desenvolvimento face aos países desenvolvidos, que, em tese, possuem economias nacionais mais competitivas, a OMC surgiu em meados dos anos 1990 com o objetivo principal de liberalizar o comércio e supervisionar os trâmites econômicos e comerciais entre as nações que são membros da organização. A principal função assumida pela OMC é a de garantir que o comércio ocorra da forma mais livre e previsível possível, procurando, assim, assegurar condições justas no momento das negociações e fechamento de acordos entre as nações. A organização atua tanto sobre as mercadorias físicas (bens) quanto sobre os serviços e a propriedade intelectual (OMC, 2021). A partir desta função, a OMC disponibiliza em seu sítio eletrônico5, os objetivos de: • Negociar a redução ou até mesmo a eliminação de tarifas de importação e quaisquer outras práticas protecionistas que possam representar um obstáculo ao comércio internacional. • Desenvolver normas e regras de comércio internacional no âmbito dos seus membros, estabelecidas em comum acordo, assim como administrar e promover o monitoramento de sua aplicação. • Garantir a transparência de acordos comerciais. • Monitorar e revisar as políticas comerciais adotadas pelos países-membros. • Solucionar disputas que possam surgir entre as nações que fazem parte do seu quadro. • Estabelecer a cooperação com outros organismos e instituições internacionais. 5 www.wto.org http://www.wto.org/ COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 35 • Assistir tecnicamente e auxiliar na construção de capacidade dos países em desenvolvimento, criando condições mais favoráveis de negociação para essas economias nacionais e garantindo-lhes maior competitividade no âmbito do comércio internacional. O trato aos países em desenvolvimento, que representam 30% dos membros da OMC, corresponde à garantia de maior tempo para cumprimento de acordos e ao estabelecimento de algumas determinações para garantir maior segurança no decorrer das negociações e também no acesso ao mercado internacional. Além dos objetivos listados acima, uma das funções da OMC é a de auxiliar no acesso daqueles países que ainda não fazem parte da organização, que, nos dias atuais, reúne mais de 80% das economias nacionais de todo o mundo (OMC, 2021). 2.1.2.3 A Rodada de Doha e as perspectivas atuais da OMC Conforme percebemos em Silva (2004), em novembro de 2001, foi realizada a IV Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC). Esse tipo de encontro entre países se constitui na mais alta instância da OMC e, especificamente, essa conferência se deu em Doha, no Qatar. O objetivo era derrubar barreiras comerciais e facilitar o acesso aos mercados para incentivar o intercâmbio internacional. Os países mais fortes em agronegócios, entre eles o Brasil, queriam vender para os mais industrializados, e vice-versa. O principal problema da Rodada Doha, ou seja, do comércio mundial, é a preocupação de cada país nos efeitos de uma política liberalizante que supostamente trará desemprego em países que não estão aptos a concorrer de forma igual. Esta rodada aconteceu porque as nações em desenvolvimento, como Brasil e Índia, queriam que a União Europeia e os Estados Unidos diminuíssem os incentivos oferecidos pelo governo aos produtores, proporcionando a redução dos custos de produção. Os países desenvolvidos queriam, em troca, a abertura aos produtos industrializados europeus e americanos. Todas estas questões foram discutidas nas rodadas em Cancún, Genebra, Paris e Hong Kong. Porém, até hoje, não há um consenso a respeito da abertura comercial. O quadro a seguir sintetiza as principais etapas que envolveram esta rodada: COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 36 Etapas Descrição Cancún (2003) A conferência tinha como objetivo planejar um acordo concreto sobre os objetivos da rodada Doha. Esta rodada fracassou após quatro dias de discussão sobre subsídios agrícolas e acesso aos mercados. As quatro áreas-chave de negociação centraram-se em: agricultura, produtos industrializados, comércio de serviços e atualização de normas alfandegárias. Genebra (2004) Nesta conferência: Estados Unidos, União Europeia, Japão e Brasil concordaram em abolir subsídios às exportações, reduzir os subsídios agrícolas e diminuir as barreiras tarifárias. Nações em desenvolvimento concordaram em reduzir tarifas sobre produtos manufaturados, mas obtiveram o direito de proteger suas principais indústrias. O acordo também garantia alfândegas simplificadas e regras mais rígidas para ajudar o desenvolvimento rural. A redução dos subsídios por parte dos Estados Unidos e União Europeia, foram quase irrisórias! Houve outras conferências em Genebra (2006 e 2008). Paris (2005) Esta conferência esteve centrada em alguns temas: a França afirmou que cortaria os subsídios aos agricultores, enquanto os Estados Unidos, a Austrália, a União Europeia, Brasil e Índia não conseguiram chegar a acordos sobre frango, carne bovina e arroz. A maioria dos pontos críticos eram pequenos assuntos técnicos, o que levou os negociadores a temerem que o acordo sobre temas de grande risco político fossem bem mais difíceis. Os EUA prometeram realizar grandes cortes nos subsídios agrícolas, desde que os parceiros comerciais, particularmente a União Europeia, fizessem o mesmo. Os europeus fizeram sua oferta, masa França se recusou a dar mais concessões. Hong Kong (2005) Nesta conferência os negociadores do comércio queriam conseguir progressos tangíveis antes do encontro da OMC, em Hong Kong. Estes negociadores esperavam a adesão ao acordo antes de 2007, quando expirava a legislação por decreto dos EUA. Sem decretos, era muito mais difícil obter a ratificação do senado dos EUA. Na declaração final da conferência foi estabelecida a data de 30 de abril de 2006. Porém, o acordo não foi assinado no prazo e as negociações foram suspensas. Quadro 2 – Síntese da Rodada de Doha Fonte: Adaptado de WIKIPEDIA (2021) https://pt.wikipedia.org/wiki/Agricultura https://pt.wikipedia.org/wiki/Ind%C3%BAstria https://pt.wikipedia.org/wiki/Servi%C3%A7os https://pt.wikipedia.org/wiki/Alf%C3%A2ndega https://pt.wikipedia.org/wiki/Estados_Unidos https://pt.wikipedia.org/wiki/Uni%C3%A3o_Europeia https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Subs%C3%ADdios_%C3%A0s_exporta%C3%A7%C3%B5es&action=edit&redlink=1 https://pt.wikipedia.org/wiki/Barreira_tarif%C3%A1ria https://pt.wikipedia.org/wiki/Ajuda_ao_desenvolvimento https://pt.wikipedia.org/wiki/Rural https://pt.wikipedia.org/wiki/Austr%C3%A1lia https://pt.wikipedia.org/wiki/Frango https://pt.wikipedia.org/wiki/Carne_bovina https://pt.wikipedia.org/wiki/Arroz https://pt.wikipedia.org/wiki/Hong_Kong COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 37 Após esta última conferência em Hong Kong, em 2007 surgiram alguns acordos bilaterais e a OMC achou adequada uma reabertura das negociações. Alguns países se retiraram antes do início da reunião, contudo. Em uma nova conferência da OMC, em Genebra, em julho de 2008, houve a reunião que seria considerada a definitiva. Entretanto, novamente nesta reunião, não houve avanço. O colapso foi atribuído à Índia, que se negou a abrir mão de um dispositivo que protegia seu mercado interno. Com isso, teve um desentendimento insolúvel com os Estados Unidos. Em dezembro de 2013 houve a reunião da OMC em Báli, na Indonésia, com a participação de 159 países. Nesta reunião, a OMC demonstrou interesse na retomada destas discussões da Rodada de Doha. No entanto, até o momento que este material está sendo escrito (Outubro de 2021), ainda não se constatou nenhum avanço positivo nesta perspectiva. 2.1.3 Síntese Evolutiva do Regime de Comércio Internacional Dentro dos 47 anos de história do GATT, o regime internacional do comércio se fortaleceu e se edificou em um sistema multilateral caracterizado principalmente pelo liberalismo econômico. As rodadas de negociação que apoiaram a criação, ampliação e implementação das regras e normas internacionais de comércio totalizaram 8, desde Genebra, em 1947, passando, posteriormente, por Annecy em 1949, Torquay em 1951, Genebra em 1956, Genebra (Rodada Dillon) em 1960/61, Genebra (Rodada Kennedy) em 1964/67, Genebra (Rodada Tóquio) em 1973/79 e finalmente Genebra (Rodada Uruguai) em 1986. Apesar de a OMC ter sido criada em 1995, o sistema de regras e normas que a norteiam existe e vem sofrendo alterações desde os anos de 1940, quando da criação do GATT. Portanto, de 1948 até hoje, o regime internacional de comércio vem evoluindo no mesmo ritmo das alterações econômicas, sociais, ambientais, culturais e empresariais do mundo moderno. Para entender ainda mais a dinâmica evolutiva que permeia o Comércio Internacional, no próximo capítulo, examinaremos os principais acordos regionais de comércio. Nesta visão, os acordos regionais serão capazes de demonstrar uma perspectiva mais aplicada e regionalizada das diretrizes básicas de regimes internacionais de comércio, vistos até agora. Até breve! https://pt.wikipedia.org/wiki/B%C3%A1li COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 38 AULA 3 ACORDOS REGIONAIS DE COMÉRCIO No primeiro capítulo, você conheceu os pressupostos fundamentais da Economia e da Gestão Financeira Internacional. No segundo, você foi convidado a conhecer a dinâmica de funcionamento do comércio internacional, especificamente, sobre o regime internacional de comércio. Agora, você é convidado a conhecer os acordos regionais de comércio. Os acordos regionais de comércio, vistos neste capítulo, são capazes de demonstrar uma perspectiva ainda mais tangível dos regimes internacionais de comércio explorados anteriormente. 3.1 Acordo Regional de Comércio ou Bloco Econômico? O Acordo regional de comércio é também conhecido como bloco econômico, ou ainda, simplesmente, com a sigla: ARC. Ou seja, as diferentes literaturas que contemplam o estudo deste tema, no cenário do agronegócio, sejam de natureza organizacional ou econômica, referem-se ao mesmo objeto de observação. Neste capítulo, para manter sua concentração na leitura, utilizaremos todas as possibilidades de nomenclatura para citarmos e estudarmos este assunto. Tudo certo? Para Pereira (2008, p. 45): Acordos Regionais de Comércio ou ARCs ´são arranjos transnacionais compostos por nações, geralmente, próximas geograficamente, que visam ampliação comercial e encontram neste tipo de arranjo uma forma mais segura e rápida para expansão internacional. Neste tipo de arranjo organizacional, os países que fazem parte do acordo, também conhecidos como países-membros, esperam obter vantagens econômicas. Quando um ARC é firmado, como efeito prático, as barreiras comerciais entre os países-membros são favorecidas. Enquanto os demais países, permanecem sem alterações. Por meio deste incentivo, é projetado que as nações participantes de um ARC fortaleçam suas relações comerciais, bem como, incrementem no médio e longo prazos, investimentos externos e domésticos. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 39 Figura 1 – Acordos Regionais de Comércio – ARCs Fonte: WIKIPEDIA (2021) Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Acordo_comercial> Acesso em: 25 out. 2021. A primeira característica importante dos acordos regionais é que eles geram apenas a liberalização comercial parcial. Ou seja, a abertura de comércio com alguns parceiros, mas não outros. Por um lado, tais acordos propiciam a criação de comércio e, logo, ganhos de bem-estar para os consumidores dos países envolvidos. Contudo, dependendo da estrutura tarifária anterior ao acordo, a exclusão de não parceiros mais eficientes levará a perdas de bem-estar global. Esses são os chamados conceitos de criação de comércio e desvio de comércio, tais como cunhados inicialmente por Jacob Viner, em 1950. ANOTE ISSO Jacob Viner era um economista canadense e é considerado um dos mentores inspiradores da escola de economia de Chicago na década de 1930. Viner foi um notável oponente de John Maynard Keynes durante a Grande Depressão. Embora concordasse com as políticas de gastos do governo promovidas por Keynes. Viner argumentou que a análise de Keynes era falha e não se sustentaria no longo prazo. Conhecido por sua modelagem econômica da empresa, incluindo as curvas de custo de longo e curto prazo, seu trabalho ainda é usado nos dias atuais. Fonte: WIKIPEDIA (2021) Disponível em: <https://en.wikipedia.org/wiki/Jacob_Viner> 25 out. 2021. https://pt.wikipedia.org/wiki/Acordo_comercial https://en.wikipedia.org/wiki/John_Maynard_Keynes https://en.wikipedia.org/wiki/Great_Depression https://en.wiktionary.org/wiki/firm https://en.wikipedia.org/wiki/Jacob_Viner COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 40 A segunda característica importante de um ARC é que a natureza do acordo é crucial para entender os seus efeitos redistributivos e, portanto, os conflitos distributivos inerentes. Acordos envolvendo menores efeitos redistributivos, entre países com dotação similar de fatores, têm maiores chances de sucesso e sustentabilidade no longo prazo, se o argumento de economia política for levado a sério. Isso não significa dizer que acordos entre países similarestambém não envolvam a quebra de monopólios e, portanto, a eliminação de rendas extraordinárias (rents1). Os acordos regionais passaram a acontecer com mais volume e intensidade com o fim da Segunda Guerra Mundial, pois era interesse dos Estados Unidos auxiliar na reconstrução e fortalecimento econômicos dos países Europeus por meio do incentivo à formação de acordos regionais, culminando com a criação da Comunidade Econômica Europeia, em 1958. Nos dias de hoje, é difícil encontrar um país que não pertença a algum tipo de acordo em suas relações comerciais. Porém, a falta de normas e regras mais claras, faz com que abusos aconteçam. Por este motivo, os acordos regionais estão na pauta de discussão do Comitê de Acordos Regionais de Comércio (CARC), do Órgão de Solução de Controvérsias e na Rodada de Doha. No âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), os acordos regionais estão contidos no Art. XXIV do GATT. Nesta regulamentação, a OMC trata sobre os estágios de União Aduaneira e Área de Livre Comércio. Basicamente, o objetivo desta norma é possibilitar a investigação de casos de práticas desleais de preferências regionais e, surgindo abusos, o país-membro da OMC que se sentir prejudicado, pode requerer garantias compensatórias. Como um dos princípios fundamentais da OMC é garantir o livre comércio, a instituição deve zelar para que os processos de integração regional conduzam à facilitação do comércio entre as partes e não servem como barreiras ao comércio de nações que estejam fora do bloco (OMC, 2021). O exemplo ilustrado na tabela a seguir é simples, mas serve para demonstrar na prática, como um acordo regional de comércio funciona. Suponha-se que três países (A, B e C) produzem automóveis aos custos de 35, 26 e 20 e que, no equilíbrio inicial, o país A impõe tarifa de 100% sobre as importações de B e C. Nesse caso, A produz carros domesticamente. Se A e B resolvem formar uma união aduaneira, o país A passa 1 Rents ou Rent-seeking: uma empresa tem um comportamento “rent-seeking” quando ela empreende esforço, gastando tempo e/ou dinheiro, para tentar garantir uma renda econômica para si ou para seu grupo. Um exemplo é quando uma empresa vai ao governo. pedir proteção tarifária, tal empresa está gastando tempo e dinheiro para conseguir a renda desejada. Ela paga o salário de lobistas, investe em publicidade com o objetivo de cooptar a opinião pública à sua causa, gasta tempo em suas reuniões de diretoria para discutir a estratégia de abordagem das autoridades governamentais, eventualmente paga alguma propina a uma autoridade com alto poder de decisão, entre outros (FONTE: MENDES, 2014). COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 41 a importar de B, há criação de comércio, com aumento do excedente do consumidor, e não há destruição de comércio em relação à posição inicial. Países A B C Custo de Produção 35 26 20 Preço País A (Tarifa 100%) 35 52 40 Preço País A (União A + B) 35 26 40 Preço País A (Tarifa 50%) 35 39 30 Tabela 1 – Exemplo de um Acordo Regional de Comércio Fonte: Adaptado de Ferreira (2004) Suponha-se, alternativamente, que o ponto de partida fosse uma tarifa de 50%. Nesse caso, A importa carros de C, ao preço de 30. Assim, uma união entre A e B destrói o comércio, à medida que o país passa a importar automóveis de um produtor menos eficiente (B). O excedente do consumidor aumenta, pois o preço cai de 30 para 26. Contudo, o governo deixa de arrecadar $10. Assim, a perda líquida é de $6, devido ao acordo com B. Enquanto o efeito de bem-estar de acordos regionais sobre países-membros é ambíguo e depende das condições iniciais, o efeito sobre países não-membros é nulo ou negativo, como pode ser visto a partir do exemplo da tabela para o caso do país C. 3.1.1 Diferentes tipos de integração regional Os ARCs podem ser classificados de acordo com os seus diferentes níveis de integração econômica, política e comercial. Essas características dependem, muitas vezes, não somente de uma opção dos países, mas da capacidade territorial e da infraestrutura disponível para conseguirem promover uma maior aproximação entre si. Desse modo, os ARCs podem ser classificados em: Zona de Livre Comércio, União Aduaneira, Mercado Comum, União Econômica e Monetária. O Quadro abaixo resume as características de cada um desses tipos de acordos regionais mencionados. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 42 Zona de Livre Comércio Visa à diminuição ou total eliminação das tarifas impostas sobre produtos comercializados entre os países-membros. É considerado um acordo simples que se restringe ao campo comercial e tributário. Um exemplo é o NAFTA que, como veremos logo mais, é composto por Estados Unidos, México e Canadá. União Aduaneira Funciona nos mesmos termos de uma Zona Aduaneira, com o acréscimo de inserirem também a chamada Tarifa Externa Comum (TEC), que é uma taxa comercial padronizada para um grupo de países. Assim, todos os membros de um mesmo bloco adotam a mesma taxa de impostos alfandegários para países não membros, gerando uma maior cooperação nas relações comerciais e evitando a concorrência em nível regional. O Mercosul, como visto adiante, é um exemplo de bloco econômico que aplica a TEC entre os seus membros efetivos. Mercado Comum É um tipo de acordo que visa a livre circulação de mercadorias, bens e serviços entre os países. Em seu ponto máximo de desenvolvimento, um mercado comum também permite o livre deslocamento de pessoas sem restrições entre as regiões de fronteira. O único exemplo, na atualidade, de bloco com essas condições é a União Europeia, que também será explorada adiante em mais detalhes. União Econômica e Monetária É um mercado comum com o diferencial de, além de todas as características acima citadas, também apresentar uma moeda comum de utilização comercial e a consequente criação de um Banco Central unificado. A União Europeia, desde a criação do Euro, passou a ser considerada também como uma união econômica e monetária, embora nem todos os países-membros adotem a moeda do bloco. Quadro 1 – Níveis de integração dos ARCs Fonte: EscolaEducação (2021) Disponível em: <https://escolaeducacao.com.br/blocos-economicos-e-acordos-regionais/> Acesso em 26 out. de 2021. Para a continuidade do nosso estudo, com base em Ferreira (2004), examinaremos a partir deste ponto, os tipos de ARCs, categorizados em: Acordos Norte-Norte, Acordos Sul-Sul e Acordos Norte-Sul. De forma específica, detalharemos características reais https://escolaeducacao.com.br/mapa-dos-estados-unidos/ https://escolaeducacao.com.br/mapa-do-canada/ COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 43 de três dos principais ARCs da atualidade: União Europeia, Mercosul e proposta de criação da ALCA e UNASUL. Vamos conhecê-los? 3.1.1.1 Acordos Norte-Norte Acordos do tipo Norte-Norte induzem ganhos substanciais de eficiência pelos argumentos que respaldam o comércio intra-industrial, ou seja, obtenção de economias de escala e preferência por variedade (FERREIRA, 2004). O mais notável desses acordos, pela profundidade com que avançou na implementação, foi o Mercado Comum Europeu. Hoje, denominado União Europeia ou simplesmente, UE. Fundada em 1957, a UE era formada inicialmente por Bélgica, França, Alemanha Ocidental, Itália, Holanda e Luxemburgo, com o objetivo explícito de livre fluxo de bens e fatores de produção. Reino Unido, Irlanda e Dinamarca juntaram-se em 1973; Grécia em 1981; Espanha e Portugal em 1986; Áustria, Finlândia e Suécia em 1995; e Chipre, República Checa, Estônia, Hungria, Letônia, Lituânia, Malta, Polônia, Eslováquia e Eslovênia em 2004. A UE aboliu tarifas mútuas em 1968, mas até 1992 uma grande quantidade de regulações impedia o livre-comércio e o livre fluxo de fatores entre os países signatários. A partir de 1992, começam a ser implementados esforçosno sentido de eliminar barreiras não-tarifárias. As barreiras não-tarifárias são classificadas por Ray (1998) em quatro tipos, quer sejam: barreiras fiscais, restrições quantitativas, restrições de acesso a mercados e fricções de natureza burocrática. Para um melhor entendimento, ainda conforme esse mesmo autor citado, as barreiras fiscais dizem respeito às estruturas tributárias diferenciadas entre os países. Tarifas podem subsistir disfarçadas na forma de tributação especial para produtos fabricados domesticamente. Alguns países, como a Irlanda, resistem à harmonização porque procuram atrair capital através de alíquotas de imposto de renda mais baixas, enquanto outros dão subsídios agrícolas substanciais (por exemplo, França) (RAY, 1998). Restrições, sejam quantitativas ou de acesso a mercados, ocorrem na forma de regras para empresas estrangeiras, como quotas para participação em licitações, compras governamentais, entre outros. Fricções de natureza burocrática dizem respeito às exigências de documentação especial para produtos ou serviços fornecidos por não-residentes. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 44 O exemplo da UE mostra que a eliminação de tarifas deve ser acompanhada por harmonização de práticas tributárias, adoção de políticas uniformes na direção de países não-membros, regulações sanitárias comuns, entre outros. Por sua vez, as barreiras a países não-membros são significativas. O caso mais conhecido diz respeito à política agrícola comum (PAC), que impede que produtos agrícolas entrem no mercado comum. ISTO ESTÁ NA REDE Quais são os efeitos da saída da UE que os britânicos já sentem? Especialistas concordam: por conta da pandemia, a maioria dos britânicos ainda não vivenciou as principais mudanças do Brexit. No entanto, determinados consumidores e empresas já começaram a sentir alguns efeitos. Descubra quais são estes efeitos, acessando este link: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-57057331 3.1.1.2 Acordos Sul-Sul Para apresentar um exemplo de um acordo do tipo Sul-Sul, examinaremos o Mercosul. Em março de 1991, Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai assinaram o Tratado de Assunção para estabelecimento deste acordo. Esse ARC previa a redução automática de tarifas de importação dentro do bloco, um programa para eliminação de barreiras não-tarifárias, o estabelecimento de tarifas externas comuns, além da definição de uma política comercial comum entre os parceiros (MERCOSUL, 2021). Figura 2 – Logotipo do Mercosul Fonte: InfoEscola (2021) Disponível em: <https://infoescola.com> Acesso em: 26 out. 2021. https://www.bbc.com/portuguese/internacional-57057331 https://files.oglobo.com/wp-content/uploads/232.jpg https://files.oglobo.com/wp-content/uploads/232.jpg COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 45 Além dos países signatários do Tratado de Assunção, a Venezuela aderiu ao Mercosul em 2012. No entanto, este país está suspenso desde dezembro de 20172, por descumprimento de seu Protocolo de Adesão. Em agosto de 2017, aplicou-se à Venezuela a Cláusula Democrática do Protocolo de Ushuaia, que condiciona a participação do bloco ao respeito da democracia. Todos os outros países da América do Sul estão incluídos no Mercosul, na qualidade de estados associados. Em síntese, o Mercosul é uma união aduaneira, ou seja, possui desde 1995 uma tarifa externa comum (TEC). Contudo, argumentos macroeconômicos têm justificado o grande acúmulo de exceções, o que acabou suscitando a discussão em torno de sua transformação em uma área de livre-comércio (KUME; PIANI, 2001). Neste acordo são dois os grupos de produtos para os quais se permitiram exceções: o primeiro é composto por bens de capital (900 itens tarifários), informática e telecomunicações (200 itens). O segundo grupo, denominado Lista de Exceção Nacional, obedece a critérios discricionários fixados por meio de cada país-membro (FERREIRA, 2004). Assim, como na União Europeia, o Mercosul também tem uma administração e gestão própria. O Protocolo de Ouro Preto, constituído em 1994, além de estabelecer o bloco como pessoa jurídica, também estabeleceu sua estrutura.O Protocolo de Ouro Preto definiu a criação e as atribuições das instituições do Mercosul. Algumas das mais importantes, em que as decisões tomadas, são: Conselho do Mercado Comum (CMC), o Grupo Mercado Comum (GMC) e a Comissão de Comércio do MERCOSUL (CCM). Chagas e Meireles (2019), descrevem uma breve síntese de cada um destes órgãos, quais sejam: • O Conselho do Mercado Comum é o órgão superior do Mercosul, cuja função é reger politicamente a integração dos países, sendo composto pelos Ministros das Relações Exteriores e pelos Ministros da Economia de países-membros. A Presidência do conselho é rotativa, com mandatos de seis meses, seguindo a ordem alfabética desses países. • O Grupo Mercado Comum é o órgão executivo que deve se pronunciar perante as Resoluções obrigatórias para os Estados Parte. Tem como funções principais: formular ações, sempre com a integração econômica e comercial em vista; aprovar o orçamento e a prestação de contas anual; criar ou extinguir órgãos auxiliares dentro do bloco, entre outras. Integram este grupo quatro membros titulares e quatro suplentes por país, determinados pelos seus governos. Entre eles, devem constar necessariamente representantes dos Ministérios das 2 Veja a decisão completa em: https://www.mercosur.int/pt-br/decisao-sobre-a-suspensao-da-republica-bolivariana-da-venezuela-no-mercosul/ http://www.mercosul.gov.br/normativa http://www.mercosul.gov.br/coordenadores-nacionais/grupo-mercado-comum-gmc http://www.mercosul.gov.br/coordenadores-nacionais/grupo-mercado-comum-gmc https://www.mercosur.int/pt-br/decisao-sobre-a-suspensao-da-republica-bolivariana-da-venezuela-no-mercosul/ COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 46 Relações Exteriores (coordenadores do grupo), dos Ministérios da Economia e dos Bancos Centrais. • A Comissão de Comércio do Mercosul é um órgão decisório que analisa e presta assistência técnica ao Grupo Mercado Comum (GMC) sobre a política comercial do bloco. Deve zelar pela aplicação dos instrumentos de política comercial comum para o funcionamento do bloco, além de acompanhar e revisar os temas e matérias relacionados com as políticas comerciais comuns. A comissão é composta por quatro membros titulares e quatro suplentes de cada Estado Parte. A coordenação acontece por meio dos Ministérios das Relações Exteriores. O Mercosul, atualmente, vem passando por um processo de modernização, caracterizado no maior dinamismo da negociação de acordos comerciais com terceiros. Além disso, podemos perceber na existência de tratativas de fortalecimento da vertente econômico-comercial do bloco. Ou seja, em dias atuais, se percebe que esse ARC busca resgatar a vocação original do bloco para a abertura e a integração com o mundo. No sítio eletrônico do Mercosul3, especificamente, na agenda do bloco4, nota-se que seus coordenadores vem propondo e realizando ações que buscam resultados de relações comerciais com países extrabloco. Nota-se diferentes tratativas de aproximação comercial, citam-se os seguintes países: Israel, África do Sul, Índia, Egito, entre outros. Os resultados positivos advindos das aproximações comerciais preconizadas por meio do Mercosul, em nossos dias, conforme informações oficiais (MERCOSUL, 2021), tem-se os seguintes: 3 Ver em https://www.mercosur.int/pt-br/ 4 Ver em https://www.mercosur.int/pt-br/relacionamento-externo/red-de-acordos/ https://www.mercosur.int/pt-br/ https://www.mercosur.int/pt-br/relacionamento-externo/red-de-acordos/ COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 47 • Agenda Externa: • Lançamento de negociações de acordos de livre comércio com o Canadá, Coreia do Sul e Singapura (2018);• Conclusão da negociação do Acordo de Associação entre o MERCOSUL e a União Europeia (2019); • Conclusão da negociação do Acordo de Livre Comércio entre o MERCOSUL e a Associação Europeia de Livre Comércio (2019); • Retomada das negociações de acordo de livre comércio com o Líbano (2019); • Conclusão de diálogo exploratório com o Vietnã (2020). • Econômico e comercial: • Aprovação do Protocolo de Cooperação e Facilitação de Investimentos, que amplia a segurança jurídica e aprimora o ambiente para atração de novos investimentos na região (2017); • Conclusão do acordo do Protocolo de Contratações Públicas do MERCOSUL, que cria oportunidades de negócios para as nossas empresas, amplia o universo de fornecedores dos nossos órgãos públicos e reduz custos para o governo (2017); • Modernização no tratamento de questões regulatórias, com a aprovação do Acordo de Boas Práticas e Coerência Regulatória (2018); • Assinatura do Acordo sobre Facilitação de Comércio do MERCOSUL (2019); • Assinatura do Acordo para a Proteção Mútua das Indicações Geográficas dos Estados Partes do MERCOSUL (2019); • Aprovação do Marco geral para as Iniciativas Facilitadoras de Comércio no MERCOSUL, relativas a regulamentos técnicos (2019); • Conclusão da negociação de acordo sobre comércio eletrônico do MERCOSUL (2020). • Institucional: • Adoção do Orçamento MERCOSUL, que unifica os orçamentos dos órgãos do MERCOSUL (Secretaria do MERCOSUL, Secretaria do Tribunal Permanente de Revisão, Instituto Social do MERCOSUL e Instituto de Políticas Públicas em Direitos Humanos do MERCOSUL); • Modernização dos métodos de trabalho com o crescimento do emprego de videoconferências ainda em 2019, assim como com a adoção da assinatura digital para aprovação de documentos do MERCOSUL; • Entre outros, inclusive em cidadania, tal como a assinatura do Acordo de Cooperação Policial Aplicável aos Espaços Fronteiriços (2019) e o lançamento do Estatuto da Cidadania do MERCOSUL (2021). Quadro 2 – Resultados recentes do Mercosul Fonte: MERCOSUL (2021) Disponível em: <https://www.gov.br/mre/pt-br/assuntos/mercosul/saiba-mais-sobre-o-mercosul/saiba-mais-sobre-o-mercosul> Acesso em 26 out. de 2021. https://www.gov.br/mre/pt-br/assuntos/mercosul/saiba-mais-sobre-o-mercosul/saiba-mais-sobre-o-mercosul COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 48 3.1.1.3 Acordos Norte-Sul Conforme visto, o ARC do tipo Norte-Norte, explora a escala e preferências que induzem o comércio intra indústria. Por sua vez, os acordos do tipo Sul-Sul são determinados pelos mesmos fatores por trás do processo de substituição de importações. Veja o caso do Mercosul! Porém, nos tipos de acordos Norte-Sul, tem-se uma perspectiva diferente, ou seja, esses acordos são motivados por padrões de comércio do tipo H-O. O que significa um padrão de comércio do tipo H-O? Um padrão de comércio do tipo H-O enfatiza a interrelação entre dois fatores de produção em diferentes proporções em cada país e sua utilização na produção de bens diferentes. O ponto central do modelo, define que os países tendem a direcionar seus esforços para a produção dos bens que demandam os fatores em que esses países são abundantes, ou seja, o país deve produzir aquilo que tem mais fatores abundantes para a produção. Esse modelo é conhecido como Teoria da Dotação de Fatores ou Teoria da Proporção de Fatores (WIKIPEDIA, 2021). Como exemplo, imagine a seguinte situação: um país "X" tem mais fatores abundantes para a produção de máquinas, já um país "Y" tem mais fatores abundantes para a produção de alimentos, nesse caso, o país "A" deverá produzir mais máquinas e o país "B" deverá produzir mais alimentos. A abundância do produto o torna mais barato, e portanto, é vantajoso para o país dar ênfase a esse tipo de produto e se destacar no mercado internacional. De acordo com Ferreira (2004), neste padrão de comércio, do tipo H-O, embora seja o mais efetivo em termos de criação de comércio e de aproveitamento de vantagens comparativas, leva também a maiores impactos redistributivos do que os outros dois tipos de acordos regionais, o que torna acordos do tipo Norte-Sul difíceis de serem implementados. Esse mesmo autor destaca que: Foi assim nas discussões em torno da incorporação de Portugal, Espanha, Grécia, Irlanda e, mais recentemente, dos países do Leste europeu à UE, foi assim quando da incorporação do México ao acordo Estados Unidos/Canadá para formar o Nafta e tem sido assim nas barganhas em torno da construção da Alca e do acordo Mercosul/ UE (FERREIRA, 2004, p. 32). COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 49 Para exemplificarmos acordos do tipo Norte-Sul, exploraremos a proposição americana da Área de Livre Comércio das Américas – ALCA. Proposta por meio dos Estados Unidos, o principal objetivo era buscar a integração comercial do continente. Este bloco econômico seria integrado por 34 nações. Duas grandes potências globais estão localizadas na América (Estados Unidos e Canadá), além de países que possuem uma economia representativa no cenário mundial: Argentina, Brasil, Chile, México, entre outros. A única exceção seria Cuba, visto que esse país apresentava, no final dos anos de 1990, divergências ideológicas com os Estados Unidos. ANOTE ISSO As relações diplomáticas estabelecidas entre a República de Cuba e os Estados Unidos foram iniciadas em 27 de maio de 1902, quando o enviado americano, Herbert Goldsmith Squiers, apresentou as suas credenciais ao governo cubano, em Havana. Rompidas em 3 de janeiro de 1961, dois anos após a vitória da Revolução Cubana por Fidel Castro, foram restabelecidas em 17 de dezembro de 2014 (FONTE: GOOGLE, 2021). Em 1998, na cidade de Santiago, capital do Chile, foi realizada a primeira reunião para debater a criação da Alca. Nessa ocasião, ficou estabelecido que o bloco entraria em vigor a partir de 2005. Porém, vários pontos divergentes foram levantados em novas reuniões, tendo como consequência o fim das negociações. A possível criação da Alca é motivo de preocupação tanto para os países subdesenvolvidos (a maioria) quanto para os desenvolvidos (Canadá e Estados Unidos). Esse bloco visa estabelecer uma zona de livre comércio no continente americano, onde as tarifas alfandegárias seriam, paulatinamente, eliminadas, proporcionando, assim, a livre circulação de mercadorias, capitais e serviços. Entretanto, a livre circulação de pessoas e trabalhadores entre os países integrantes não seria permitida, pois o idealizador da Alca (EUA) não pretende intensificar a entrada de latino-americanos em seu território. Nesse sentido, a maioria dos países da América Latina interpreta a criação da Alca como uma manobra dos Estados Unidos para a expansão de suas empresas transnacionais pelo continente. Porém, há opositores também nos EUA, alegando que o bloco econômico diminuiria o número de empresas no país, visto que muitas delas migrariam para outras nações americanas em busca de mão de obra barata. https://pt.wikipedia.org/wiki/Estados_Unidos https://pt.wikipedia.org/wiki/Estados_Unidos https://pt.wikipedia.org/wiki/Havana https://pt.wikipedia.org/wiki/Fidel_Castro COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 50 Figura 3 – Manifestação contra a criação da ALCA Fonte: Brasil Escola (2021) Disponível em: <https://brasilescola.uol.com.br/alca.htm> Acesso em: 26 out. 2021. ISTO ACONTECE NA PRÁTICA Em parceria com o Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais – São Paulo, a plataforma multimídia UM BRASIL reuniu dois especialistas para debater os rumos da política internacional brasileira e a agenda de comércio exterior para os próximos anos. Foram entrevistados o coordenador do Grupo de Análise da Conjuntura Internacional (GACInt) da USP, Alberto Pfeifer, e o coordenador da graduação em Relações Internacionais do Ibmec/RJ, José Niemeyer. Na conversa mediadapor Jaime Spitzcovsky, os internacionalistas analisam o papel do agronegócio na pauta de exportações brasileira, o potencial de exportação do setor de serviços, as relações do Brasil com os seus principais parceiros comerciais, os acordos regionais e a entrada brasileira na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Acesse a entrevista completa, neste link: <https://www.youtube.com/watch?v=RCuCcvVlZ2s> 3.1.2 ARCs e o Brasil O Brasil está em uma posição intermediária na economia internacional que engloba o continente americano. Visto que nosso país não é uma superpotência econômica, como Canadá ou Estados Unidos. Tão pouco, é um país de economia frágil, como várias nações do continente. Portanto, sua participação é motivo de grande preocupação, http://./%3Chttps://www.youtube.com/watch%3Fv=RCuCcvVlZ2s%3E COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 51 podendo expandir e fortalecer a economia nacional ou gerar problemas de ordem socioeconômica, como o aumento do desemprego O futuro do Comércio Internacional aponta que, em uma economia globalizada, as relações comerciais de qualquer país tendem a se fortalecer em blocos econômicos. Outro aspecto observado no mercado internacional, capaz de interferir no desenvolvimento de uma nação, são as possíveis represálias impostas por países integrantes de ARCs específicos. Portanto, a participação do Brasil tem caráter estratégico sobre quais acordos ele deve fazer parte, bem como, as formas de atuação em cada um deles. Porém, não podemos ignorar que grande parte da população latino-americana é contrária à formação da Área de Livre Comércio das Américas (FERREIRA, 2004). Nesse sentido, nota-se que países do continente americano, sendo que o Brasil não é exceção, têm procurado desenvolver alternativas em que todos possam ser beneficiados, como, por exemplo, o fortalecimento do Mercosul e da Comunidade Andina. Além disso, a criação da União das Nações Sul-Americanas (UNASUL) é uma forma de integrar as nações da América do Sul. Vale informar que a UNASUL é um bloco que visa fortalecer as relações comerciais, culturais, políticas e sociais entre as doze nações da América do Sul – Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela –, além da participação, como observadores, de dois países da América Latina: México e Panamá (FRANCISCO, 2021). Esse projeto foi proposto em 2004, durante uma reunião de Chefes de Estado e de Governo dos países sul-americanos, realizada no Peru, na cidade de Cusco. Nessa ocasião, foi estabelecida a Comunidade Sul-Americana de Nações, que passou a ser chamada de União de Nações Sul-Americanas em 2007, durante um encontro para discutir questões energéticas do subcontinente O estabelecimento da UNASUL constitui grande importância para a integração desses países, pois, através da implantação de uma zona de livre comércio, haverá maior flexibilidade nas relações comerciais, circulação de pessoas e mercadorias. Outro aspecto relevante é a união dos dois blocos econômicos da América do Sul, o Mercosul e a Comunidade Andina (CAN). Além da possibilidade de criação de uma moeda única, denominada pacha5. No entanto, de forma restritiva, se tornou claro no ano de 2020 que a pandemia da COVID-19 e as medidas restritivas adotadas pelos diversos governos tiveram um impacto significativo no andamento das negociações comerciais brasileiras, culminando no cancelamento de rodadas negociadoras presenciais (BRASIL, 2021). 5 Veja mais em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Moeda_única_sul-americana https://pt.wikipedia.org/wiki/Moeda_%C3%BAnica_sul-americana COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 52 Assim, não obstante as limitações decorrentes da realização de reuniões virtuais, o Brasil e o MERCOSUL lograram avançar em algumas frentes. Vale destacar o pacote comercial Brasil-Estados Unidos, formado por um Protocolo composto por anexos sobre Facilitação de Comércio, Boas Práticas Regulatórias e Anticorrupção, bem como, a evolução do Brasil no processo de adesão ao Acordo sobre Compras Governamentais da OMC. Temas esses, em desenvolvimento atual. Para finalizar este tópico, temos a relação atual de países e blocos que o Brasil possui acordos comerciais vigentes (BRASIL, 2020), entre eles: Estados Unidos da América, União Europeia, Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA), Coreia do Sul, Canadá , Singapura, Líbano, Vietnã, Indonésia, Paraguai, México, Uruguai, Países da América Central e Caribe, além dos países que formam o MERCOSUL. Detalhes específicos de cada acordo pode ser observado no documento denominado Anuário do Comércio Exterior Brasileiro, produzido por meio do Ministério da Economia6. Por isso, tendo em vista os principais aspectos que permeiam os Acordos Regionais de Comércio que envolvem o nosso Brasil, no próximo capítulo, examinaremos a estrutura do Comércio Exterior Brasileiro. De forma específica, serão estudadas as principais instituições de comércio exterior. Além disso, serão analisadas as principais funções pelas quais cada uma destas instituições se tornam necessárias para o desenvolvimento do comércio internacional brasileiro. Vejo você no próximo capítulo! 6 O Anuário do Comércio Exterior Brasileiro, ano 2020, pode ser encontrado no seguinte link: https://www.gov.br/produtividade-e-comercio- exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/publicacoes-secex/anuario/arquivos/anuario-comex-2020.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/publicacoes-secex/anuario/arquivos/anuario-comex-2020.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/publicacoes-secex/anuario/arquivos/anuario-comex-2020.pdf COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 53 AULA 4 SISTEMA BRASILEIRO DE COMÉRCIO EXTERIOR Neste capítulo, discutiremos a estrutura do Sistema Brasileiro de Comércio Exterior. Nossa estrutura é um pouco diferenciada quando comparada com a de outros países. Visto que, no Brasil, não há um órgão específico de Comércio Exterior. A gestão é feita de forma descentralizada, bem como, por áreas de competência, entre elas: Política de Comércio Exterior, Política Fiscal, Política Financeira, Políticas Bilaterais de Relações Internacionais. Portanto, neste capítulo, nossa compreensão será construída em duas frentes: na primeira frente, será evidenciado o aspecto histórico do comércio exterior brasileiro, em uma tentativa de compreender o funcionamento do atual sistema. Na segunda frente, identificaremos os principais órgãos governamentais que formam a estrutura do comércio exterior no Brasil. Por fim, este capítulo é finalizado com a apresentação de dados recentes do cenário brasileiro de comércio exterior, com ênfase em processos de exportação e importação ocorridos entre 2020-2021. 4.1 Aspectos conceituais e históricos Afinal, o que significa um sistema de comércio exterior? Com base em Morini e Simões (2011), temos que: O Sistema de Comércio Exterior compreende uma estrutura organizada de instituições e ferramentas, capazes de propiciara troca de produtos ou serviços entre um país e outro. Cada situação destas engloba uma série de procedimentos necessários para a sua execução. O Sistema de Comércio Exterior é o responsável por esta organização e funcionamento (MORINI; SIMÕES, 2011, p.45). É importante mencionar que nos sistemas de comércio exterior é identificada a presença de vários termos, regras e normas nacionais das transações. Estas regras são de âmbito nacional, criadas para disciplinar e orientar tudo o que diz respeito COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 54 à entrada no país de mercadorias procedentes do exterior, no caso quando existe uma importação. Já na saída de mercadorias doterritório nacional, quando é uma exportação. Estas regras refletem diretamente em questões de ordem: Comercial, Tributária, Financeira, Administrativa e Aduaneira. Para entendermos melhor como funciona o Sistema Brasileiro de Comércio Exterior, iniciaremos este capítulo, abordando as características de desenvolvimento deste tipo de comércio no Brasil, nos últimos 200 anos1. Para não tornarmos esta leitura demasiada e tediosa, agruparemos as principais características em vinte décadas, a partir de 1808. Vale destacar que estudar esse processo histórico é extremamente importante para entendermos melhor o funcionamento desta modalidade de comércio em nosso país, em nossos dias. Topa mais este desafio? Década Principais características 1808- 1820 A corte portuguesa se estabeleceu no Brasil em 1808. Em 28 de janeiro daquele ano, foi publicada a Carta Régia de Abertura dos Portos brasileiros às Nações Amigas. Com isso, o Brasil passou a exercer autonomia inédita sobre seu próprio comércio exterior. 1821- 1830 O principal fato histórico desse período para os brasileiros foi a independência do país em 1822. O Brasil assinou o Tratado de Comércio com a Inglaterra, ato que revalidou os termos do Tratado de Comércio firmado entre Portugal e a Grã-Bretanha em 1810. 1831- 1840 A terceira década do século XIX foi marcada, no Brasil, pelo aumento da demanda mundial pela borracha produzida na região amazônica. Entretanto, a balança comercial registra sucessivos déficits. Nesta década, o café começou a se destacar na pauta das exportações brasileiras. 1841- 1850 No ano de 1844 o governo brasileiro extinguiu o Tratado Comercial com a Grã-Bretanha. Esta medida aumentou o custo dos produtos importados, estimulando a instalação de algumas indústrias no país. As exportações de café aumentaram, mas a balança comercial ainda é desfavorável para o Brasil. 1851- 1860 Pela primeira vez o Brasil conseguiu diversificar os destinos de suas exportações, mas as importações continuaram concentradas na Grã-Bretanha. O primeiro saldo positivo da balança comercial foi obtido em 1860 graças ao café, que nesta década correspondia a 48,8% das exportações, seguido pelo açúcar (21,2%), algodão (6,2%), fumo (2,6%) e cacau (1%). 1861- 1870 Nesta década, o café e o algodão são os principais produtos exportados pelo Brasil. O total das exportações entre 1851 e 1860 é de 150 milhões de libras esterlinas, equivalentes a 11,8% do PIB e as importações somam 132 milhões de libras. O superávit comercial do período foi de 18 milhões de libras. 1871- 1880 Entre os anos de 1871 e 1880, os embarques brasileiros de café, açúcar, algodão, couros, borracha, cacau, mate e fumo, continuavam crescendo e representavam 95% de toda a pauta exportadora. 1 A publicação “Alfândegas Brasileiras” efetuada por meio do Ministério de Desenvolvimento foi publicada em 2008 e reedita em 2012, conta a história dos duzentos anos iniciais do comércio exterior brasileiro. A publicação está disponível neste link: https://www.gov.br/receitafederal/pt-br/acesso-a-informacao/institucional/memoria/livros/arquivos-e-imagens/livro-alfandegas-brasileiras-200-anos-2a-edicao-1. pdf https://www.gov.br/receitafederal/pt-br/acesso-a-informacao/institucional/memoria/livros/arquivos-e-imagens/livro-alfandegas-brasileiras-200-anos-2a-edicao-1.pdf https://www.gov.br/receitafederal/pt-br/acesso-a-informacao/institucional/memoria/livros/arquivos-e-imagens/livro-alfandegas-brasileiras-200-anos-2a-edicao-1.pdf COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 55 1881- 1890 A balança comercial brasileira registrava sucessivos saldos positivos, contribuindo para um acúmulo de capital, que parte era direcionado para a expansão das atividades manufatureiras. Em maio de 1888, a Lei Áurea aboliu a escravidão no Brasil e em 15 de novembro de 1889 houve a proclamação da República. 1891- 1900 O comércio exterior continua dependente do café, que constituía o setor mais dinâmico da economia e responde por mais de 60% das exportações brasileiras. Na região Amazônica intensificou-se a exploração da borracha, valorizada pela nascente indústria automobilística nos Estados Unidos. 1901- 1910 Nesta década, iniciou-se uma longa fase de expansão do comércio exterior brasileiro. A Região Norte viveu o auge do ciclo da borracha e o Brasil respondia por 97% da produção mundial. Em 1906, foi colocado em prática o Acordo de Taubaté, para manter em alta o preço internacional do café e garantir os lucros dos cafeicultores. 1911- 1920 O acontecimento histórico que marca a segunda década do século XX é a Primeira Guerra Mundial. A entrada do Brasil na guerra coincide com uma crise no setor cafeeiro, que obrigou o governo a colocar em prática o segundo plano de valorização do produto. Os principais produtos de exportação eram café, açúcar, cacau, mate, fumo, algodão, borracha, couros e peles. 1921- 1930 A quebra da bolsa de Nova York, em 1929, provoca uma crise que se alastra pelo mundo e atinge em cheio a economia cafeeira brasileira. Isso coincide com uma extraordinária expansão das lavouras de café e o resultado foi uma oferta superior à demanda internacional. A solução encontrada pelo governo é a destruição dos estoques excedentes do produto. 1931- 1940 Os efeitos da quebra da bolsa de Nova York e da crise do setor cafeeiro comprometem o desempenho do comércio exterior brasileiro. No início desta década, grande parte da safra do grão se acumula em armazéns. A oferta continua muito maior que a demanda mundial e para contornar a crise do setor, o governo destruiu milhões de sacas de café. O algodão brasileiro desponta como o segundo principal produto de exportação. A política de substituição de importações favorece o desenvolvimento da indústria nacional. Nesta década, houve o início da Segunda Grande Guerra. 1941- 1950 Durante a Segunda Guerra Mundial, o intercâmbio comercial brasileiro era feito principalmente com os Estados Unidos. Com a guerra, os preços internacionais do café se tornam mais uma vez atrativos. A produção e a exportação desse produto volta a sua posição de destaque na economia nacional. 1951- 1960 Neste período, houve a diversificação da pauta exportadora brasileira e também dos destinos desses produtos. No início dos anos 50, a normalização das trocas internacionais já tinha feito com que o café voltasse a concentrar a maior parte das exportações nacionais, tendo os Estados Unidos como seu principal mercado. 1961- 1970 Os anos JK foram bastante proveitosos para a indústria nacional, com sucessivos aumentos da produtividade, mas não houve avanços do comércio exterior brasileiro. Café, açúcar, algodão e minérios ainda são responsáveis por 70% da pauta exportadora do país. Na segunda metade da década, a participação de produtos manufaturados nas exportações brasileiras passou de 7% em 1965 para 30% em 1974. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 56 1971- 1980 Nesta década, a economia brasileira conseguiu crescer de forma considerável. O milagre econômico, iniciado em 1967, chegou a seu auge, com taxas de crescimento anual acima de 11%. A participação dos produtos manufaturados na pauta exportadora brasileira aumentou em 47% de 1974 a 1979 e o Brasil conquistou novos mercados no Oriente Médio e na África. 1981- 1990 Brasil e Argentina assinaram a Ata de Buenos Aires, que fixou a data de 31 de dezembro de 1994 para início das atividades do Mercado Comum do Sul (Mercosul) e, no âmbito da Associação Latino-americana de Integração (Aladi), foi firmado o Acordo de Complementação Econômica N.º 14, que consolidou os protocolos de natureza comercial e propôs uma redução tarifária a partir de 1990. 1991- 2000 No início da década de 90, o Brasil implementou a abertura comercial com redução de tarifas de importação e reformulação dos incentivos às exportações. Os fluxos comerciaisse intensificaram e foi criado o Mercosul. Nesta década também foi instituída a Organização Mundial de Comércio (OMC), organismo multilateral responsável pela regulamentação do comércio. A partir 2000 A partir de 2000, o comércio exterior brasileiro aumentou num ritmo mais vigoroso. O crescimento econômico mundial, o aumento dos preços internacionais de produtos básicos, a diversificação dos mercados importadores e a maior produtividade da indústria nacional são fatores que favoreceram o dinamismo das exportações brasileiras, que passou a atingir sucessivos recordes”. Quadro 1 – Síntese Histórica do Sistema Brasileiro de Comércio Exterior Fonte: BRASIL (2008) Disponível em: <http://www.desenvolvimento.gov.br/comercioexterior> Acesso em 29 out. de 2021. ISTO ESTÁ NA REDE Está disponível no site do Ministério da Economia, para acesso livre, o conteúdo do DVD comemorativo dos 200 anos do comércio exterior brasileiro, lançado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) em comemoração ao bicentenário do comércio exterior brasileiro, completado dia 28 de janeiro de 2008. Todo o conteúdo do DVD foi desenvolvido a partir de uma pesquisa histórica feita pela equipe da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do MDIC sob a coordenação de professores do departamento de História da Universidade de Brasília (UnB) e com o apoio da Agência de Promoção das Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). No texto histórico, é possível encontrar informações sobre os principais produtos exportados e importados a partir de 1808, fatos históricos que influenciaram o comércio exterior brasileiro, imagens, estatísticas e vídeos explicativos. Acesse este conteúdo em: http://www.desenvolvimento.gov.br/comercioexterior http://www.desenvolvimento.gov.br/comercioexterior COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 57 4.2 Principais Órgãos do Comércio Exterior Brasileiro Para identificarmos e conhecermos os atuais órgãos do comércio exterior no Brasil, temos que considerar a seguinte situação: a partir de 2016 e, culminando no governo Bolsonaro, tivemos uma reconfiguração total de órgãos e secretarias que atuavam tradicionalmente em assuntos sobre o comércio exterior Brasileiro. A nova estrutura de siglas e funções foram agrupadas no novo Ministério da Economia, em atuação a partir de 2019. 4.2.1 Ministério da Economia Para você visualizar e entender melhor as mudanças que ocorreram recentemente nas estruturas do comércio exterior brasileiro, tem-se o organograma atual do Ministério da Economia (BRASIL, 2021). Note na parte tracejada em vermelho, que a partir de 2019, esse ministério agrupou em sua estrutura os órgãos governamentais do comércio exterior brasileiro. É sobre estes novos órgãos que teceremos considerações nesta discussão! COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 58 Figura 1 – Organograma do Ministério da Economia Fonte: BRASIL (2021) Disponível em: <https://www.gov.br/economia/pt-br> Acesso em: 28 out. 2021. Conforme é percebido neste organograma, o Comércio Exterior Brasileiro foi reconfigurado por meio de uma nova secretaria: a Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais (denominada SECINT). Esta secretaria foi dividida em três pastas, com as subsecretarias relacionadas, quer sejam: COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 59 • Secretaria Executiva da Câmara de Comércio Exterior: • Subsecretaria de Estratégia Comercial; • Subsecretaria de Investimentos Estrangeiros; • Subsecretaria de Financiamento ao Comércio Exterior. • Secretaria de Assuntos Econômicos Internacionais: • Subsecretaria de Instituições Internacionais de Desenvolvimento; • Subsecretaria de Finanças Internacionais e Cooperação Econômica; • Subsecretaria de Financiamento ao Desenvolvimento e Mercados Internacionais. • Secretaria de Comércio Exterior: • Subsecretaria de Inteligência e Estatísticas de Comércio Exterior – SITEC; • Subsecretaria de Operações de Comércio Exterior – SUEXT; • Subsecretaria de Facilitação de Comércio Exterior – SUFAC; • Subsecretaria de Negociações Internacionais – SEINT; • Subsecretaria de Defesa Comercial e Interesse Público – SDCOM. Quadro 2 – Nova Estrutura do Comércio Exterior Brasileiro Fonte: Brasil (2021) Conduziremos nosso estudo desta estrutura, a partir de agora, abordando as três secretarias evidenciadas, quer sejam: Secretaria Executiva da Câmara de Comércio Exterior (SECAMEX), Secretaria de Assuntos Econômicos Internacionais (SAIN) e Secretaria de Comércio Exterior (SECEX). Então, preparado para aprender mais? A Secretaria Executiva da Câmara de Comércio Exterior (SECAMEX), anteriormente conhecida como CAMEX (Câmara de Comércio Exterior), tem a atribuição de formular, adotar, implementar e coordenar as políticas e atividades relativas ao comércio exterior brasileiro, à atração de investimentos estrangeiros diretos, a investimentos brasileiros no exterior, aos temas tarifários e não tarifários e ao financiamento às exportações com o objetivo de promover o aumento da produtividade e da competitividade das empresas brasileiras no mercado internacional2 (BRASIL, 2021). Criada em 1995, originalmente, esta secretaria estava vinculada ao Conselho de Governo da Presidência da República. Porém, não tinha poderes deliberativos ou operacionais. Possuía um conselho de ministros, composto pelos principais ministérios que tratavam de temas afins ao comércio exterior neste período, sendo presidida pelo chefe da Casa Civil. Em 1998, com a criação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), a Câmara passou a integrar sua estrutura. O Decreto nº 8.807, de 12 de julho de 2016, mudou um aspecto importante na institucionalidade da Camex, que passou então a ser presidida pelo Presidente da 2 Ver Decreto Federal número 10.044 de 2019 e Lei 13.844, também, de 2019. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 60 República. Enquanto a Secretaria Executiva passou ao Ministério das Relações Exteriores (MRE). Em 2017, a Camex foi transferida novamente do MRE para o MDIC, que passou a indicar o secretário-executivo da Câmara. Atualmente, a SECAMEX faz parte da estrutura administrativa do Ministério da Economia (ME), dispondo de um conjunto de colegiados e órgãos, que juntos são responsáveis por coordenar discussões e deliberações em torno dos principais pilares da política de comércio exterior brasileira. A SECAMEX é composta pelas seguintes unidades e endereços eletrônicos: Unidades Endereços eletrônicos Conselho de Estratégia Comercial https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt- br/assuntos/camex/colegiados/cec Comitê Executivo de Gestão (GECEX) https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt- br/assuntos/camex/colegiados/gecex Secretaria Executiva https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt- br/assuntos/camex/se-camex Conselho Consultivo do Setor Privado (CONEX) https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt- br/assuntos/camex/colegiados/conex Comitê de Financiamento e Garantia das Exportações (COFIG) https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt- br/assuntos/camex/colegiados/cofig Comitê de Alterações Tarifárias (CAT) https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt- br/assuntos/camex/colegiados/cat Comitê de Defesa Comercial https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/ pt-br/assuntos/camex/colegiados/comite-de-defesa- comercial Comitê Nacional de Facilitação de Comércio (CONFAC) https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/ pt-br/assuntos/camex/colegiados/comite-nacional-de- facilitacao-de-comercio Comitê Nacional de Investimentos (CONINV) https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt- br/assuntos/camex/colegiados/coninv Grupo Assessor de Ombudsman3 de Investimentos Diretos https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/camex/investimentos-estrangeiros/ ombudsman-de-investimentos-diretos Ponto de Contato Nacional https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt- br/assuntos/camex/pcn Quadro 3 – Unidade e endereços eletrônicos da SECAMEX Fonte: Brasil (2021) 3 Ombudsman é um cargo profissional contratado por um órgão, instituição ou empresa com a função de receber críticas, sugestões e reclamações de usuários e consumidores, com o dever de agir de forma imparcial para mediar conflitos entre as partes envolvidas (GOOGLE, 2021). https://www.go/ https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/camex/colegiados/gecex https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/camex/colegiados/gecex https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/camex/se-camex https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/camex/se-camex https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/camex/colegiados/conex https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/camex/colegiados/conex https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/camex/colegiados/cofig https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/camex/colegiados/cofig https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/camex/colegiados/cat https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/camex/colegiados/cat https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/camex/colegiados/comite-de-defesa-comercial https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/camex/colegiados/comite-de-defesa-comercial https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/camex/colegiados/comite-de-defesa-comercial https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/camex/investimentos-estrangeiros/ombudsman-de-investimentos-diretos https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/camex/investimentos-estrangeiros/ombudsman-de-investimentos-diretos https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/camex/investimentos-estrangeiros/ombudsman-de-investimentos-diretos https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/camex/pcn https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/camex/pcn COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 61 A Secretaria de Assuntos Econômicos Internacionais (antigo SAIN) é um órgão singular do Ministério da Economia, subordinado à Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais, bem como ao Ministro de Estado da Economia, para tratar de questões envolvendo a economia brasileira no seu relacionamento com os demais países, blocos econômicos e organismos internacionais. Esta secretaria presta assessoria técnica especializada em assuntos relativos à economia internacional com o objetivo de defender os interesses econômicos e financeiros do Brasil, fortalecendo sua participação nos processos decisórios internacionais, de forma a contribuir para o desenvolvimento sustentável do País. Algumas temáticas de preocupação desta secretaria são observadas na figura a seguir. Figura 2 – Temas da Secretaria de Assuntos Econômicos e Internacionais Fonte: BRASIL (2021) Disponível em: <https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/assuntos-economicos-internacionais> Acesso em: 28 out. 2021. Finalmente, temos a Secretaria de Comércio Exterior (SECEX). Em síntese, essa Secretaria é encarregada de formular, implementar e administrar a política de comércio exterior brasileira. Criada no governo Itamar Franco pela Medida Provisória nº 309, de 19 de outubro de 1992, subordinada ao Ministério da Indústria, Comércio e Turismo, a SECEX incorporou as principais atribuições do Departamento de Comércio Exterior (DECEX)4. 4 O Departamento de Operações de Comércio Exterior (DECEX) era o órgão responsável pela operacionalização das políticas da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) e completa, em 2021, 21 anos de história, marcada por avanços, como a simplificação de procedimentos de exportação (GOOGLE, 2021). https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/assuntos-economicos-internacionais COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 62 Conforme percebemos em Nassif (2009), posteriormente, por meio do Decreto nº 1.757, de 26 de dezembro de 1995, o governo Fernando Henrique Cardoso, embora preservando essa estrutura ministerial, demarcava de forma mais precisa as áreas de atuação da SECEX, subdividindo-a nos departamentos de Operações de Comércio Exterior, de Negociações Internacionais, de Defesa Comercial e de Políticas de Comércio Exterior. Essa mudança institucional só pode ser melhor entendida se analisada à luz da condução do processo de liberalização comercial no Brasil após 1993. Em linhas gerais, o cronograma inicial de abertura foi mantido até 1992. No entanto, nesse ano foram antecipadas reduções de tarifas aduaneiras previstas para 1993 e 1994, reduzindo em seis meses o prazo para a conclusão da reforma comercial. Além disso, mesmo antes da implantação do Plano Real, em julho de 1994, a abertura comercial vinha-se subordinando à política de estabilização de preços. Para Kume (1996, p.23): No período de março a dezembro de 1994, durante a fase e nos primeiros meses de implantação do Plano Real, o instrumento tarifário foi utilizado intensamente como mecanismo para disciplinar os preços domésticos via aumento da competição externa. A entrada em vigor, também de forma antecipada, da Tarifa Externa Comum (TEC) do Mercosul, em setembro de 1994, cuja vigência fora programada para ser introduzida apenas em janeiro do ano seguinte, acabou reduzindo significativamente o nível de proteção nominal de setores com forte participação nas importações brasileiras, como o automobilístico, o de eletrônica de consumo e o de química fina. Esse conjunto de medidas de comércio aumentou a pressão protecionista por parte de diversos segmentos produtivos, bem como induziu ao incremento do número de petições de abertura de investigação para a aplicação dos instrumentos de defesa comercial externa (destacando-se os direitos anti-dumping). No primeiro caso, o governo procurou evitar a adoção de práticas generalizadas de proteção, elevando para 70% as alíquotas ad valorem apenas dos produtos cujas importações vinham exercendo maior peso na elevação dos déficits comerciais. O aumento dos pedidos de investigação a respeito de prováveis práticas de dumping, de utilização de subsídios e/ou de aplicação de salvaguardas comerciais ensejou a criação, pela primeira vez no Brasil, de um órgão especialmente encarregado da defesa comercial. Nesse sentido, não seria exagerado afirmar que, no organograma COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 63 da SECEX, a maior mudança foi a criação do Departamento de Defesa Comercial, uma vez que as atividades e funções dos demais departamentos já eram cumpridas, no passado, pelos órgãos intervenientes na política de comércio exterior brasileira, especialmente pela CACEX. Nassif (2009) destaca que é preciso ressaltar, porém, que esse período de transição não poderia transcorrer sem sobressaltos. Sobretudo, em virtude do grande despreparo dos recursos humanos. Para esse mesmo autor, “cerca de um terço dos funcionários da antiga CACEX que continuou cedido pelo Banco do Brasil ao Ministério da Indústria, Comércio e Turismo para lidar com as controvérsias comerciais, típicas de uma economia em processo de liberalização” (NASSIF, 2009, p. 12). Entretanto, desde a extinção da CACEX, o forte enxugamento do quadro de pessoal acabou tornando evidente que seria preciso não apenas aprimorar o grau de qualificação técnica, mas também aumentar o número de funcionários da SECEX, pelo menos até o limite compatívelcom uma gestão eficiente do comércio exterior brasileiro (KUME, 1996). 4.2.2 Ministério das Relações Exteriores (MRE) O MRE atua no comércio exterior brasileiro por dois meios: a promoção comercial das exportações e as negociações internacionais que contemplem assuntos que fazem parte da pauta de interesse político-nacional. Quanto à promoção comercial, um dos objetivos do MRE é promover a expansão e a diversificação comercial no exterior. Assim, auxilia as empresas que buscam informações ou apoio para a internacionalização de seus produtos ou serviços. Segundo Faro e Faro (2012, p. 22): O MRE apoia a participação das empresas domésticas em feiras, congressos e eventos internacionais e coordena, em conjunto com outras entidades intervenientes no segmento, a realização de viagens e missões empresariais. Além disso, coleta e sistematiza dos dados relativos às oportunidades comerciais no cenário internacional, disponibilizando informações gerais acerca de mercados selecionados, objetivando, dessa maneira, orientar as ações do empresariado brasileiro. Esta atuação é complementada por meio dos Setores de Promoção Comercial (SECOMs). Localizados em 104 Embaixadas e Consulados ao redor do mundo, os SECOMs fornecem assistência a empresas estrangeiras que desejam investir no Brasil COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 64 ou importar bens ou serviços nacionais. Além disso, no que tange às negociações internacionais, o MRE é parte integrante da defesa dos interesses políticos e comerciais do país internacionalmente. Por exemplo, é o MRE que participa das discussões no âmbito dos acordos de integração regional e inserção competitiva global. ISTO ACONTECE NA PRÁTICA No último dia 17 de julho de 2021 foi realizado o Webinar "Sebrae no Mundo - Brasileiros no Japão". O evento foi transmitido na plataforma no Sebrae no Youtube e contou com a participação dos Consulados do Brasil em Hamamatsu, Nagoia e Tóquio, da Embaixada do Brasil em Tóquio e de empresários brasileiros no Japão. O webinar foi o início de um projeto em parceria na área de empreendedorismo para a criação do "Portal Sebrae no Mundo" e tem por objetivo auxiliar os milhares de brasileiros residentes no Japão a montar o seu próprio negócio em terras nipônicas. O gerente de Inovação do Sebrae, senhor Paulo Renato, com o tema O legado da pandemia: negócios digitais e as tendências do novo normal, explanou sobre as mudanças no comportamento do consumidor com a advento da internet e frente às mudanças enfrentadas pela pandemia. E como a pandemia antecipou mudanças que já estavam em curso. Por sua vez, o gerente de Políticas Públicas do Sebrae Nacional, senhor Silas Santiago, respondeu a algumas dúvidas frequentes de empreendedores no Japão que atuam na área do e-commerce para consumidores no Brasil. Veja o material completo em: https://www.youtube.com/watch?v=D527BxIv6UE 4.2.3 Órgãos anuentes É verificado em Fabrini e Prates (2019), que órgãos anuentes compreendem outros órgãos que precisam intervir nos processos de importação e/ou exportação, aprovando ou consentindo determinados procedimentos. Esses mesmos autores listam 15 órgãos anuentes no comércio exterior brasileiro: https://www.youtube.com/watch?v=D527BxIv6UE COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 65 • Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL; • Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA; • Agência Nacional do Cinema – ANCINE; • Comando do Exército – COMEXE; • Departamento de Operações de Comércio Exterior – DECEX; • Departamento de Polícia Federal – DPF; • Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM; • Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA; • Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – ANP; • Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq; • Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – EBC; • Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial – INMETRO; • Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA; • Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação – MCTI; e, • Superintendência da Zona Franca de Manaus – SUFRAMA. Quadro 4 – Outros órgãos anuentes Fonte: adaptado de Fabrini e Prates (2019) Um exemplo para explicar este grande número de órgãos anuentes, está, por exemplo, nas exportações de armas e munições, que necessitam da anuência do Comando do Exército. Por sua vez, as exportações de castanha do Brasil para a União Europeia necessitam da anuência do MAPA. Também, a importação ou exportação de armas químicas precisa da autorização do MCTI, entre outros. ISTO ESTÁ NA REDE Acesse o artigo publicado na página digital Comex do Brasil, disponível no endereço: https://www.comexdobrasil.com/acordo--brasil-e-chile-o-inicio-da-insercao-do-brasil- no-cenario-inter-nacional/), Este texto reflete sobre a atual posição do Brasil no mercado internacional e os possíveis impactos do acordo com o Chile. 4.3 Cenário atual do Comércio Exterior Brasileiro Com base no Monitor do Comércio Exterior Brasileiro, atualizado em outubro de 2021, são vislumbrados dados atuais do Comércio Exterior Brasileiro, com base no https://www.comexdobrasil.com/acordo--brasil-e-chile-o-inicio-da-insercao-do-brasil-no-cenario-inter-nacional/) https://www.comexdobrasil.com/acordo--brasil-e-chile-o-inicio-da-insercao-do-brasil-no-cenario-inter-nacional/) COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 66 detalhamento dos dados disponibilizados com base no mês de Setembro de 2021. O quadro a seguir, resume esses dados de exportações e importações (BRASIL, 2021): Período detalhado: Setembro de 2021 Exportações Importações O volume das exportações caiu -2,3 %. Em relação a toda série histórica (atualmente contando com 285 meses), o volume total exportado alcançou o 12º maior resultado. Importantes mercados de destino foram responsáveis pela queda do volume total exportado, destacando-se as diminuições do volume exportado para América do Sul (-3,0 %), Ásia (Exclusive Oriente Médio) (-3,7 %), Oriente Médio (-5,1 %) e Europa (-6,9 %). Já as vendas externas aumentaram para América Central e Caribe (41,4 %), Oceania (9,9 %), América do Norte (5,3 %) e África (4,3 %). O volume das importações cresceu 0,1 %. Este resultado foi o segundo crescimento consecutivo recente. Em relação a toda série histórica (atualmente contando com 285 meses), o volume total importado alcançou o 17 º maior resultado. O crescimento do volume dos bens com origem nos seguintes parceiros comerciais foram os principais responsáveis pelo aumento do volume total importado: Ásia (Exclusive Oriente Médio) (3,0 %), Europa (3,0 %) e Oriente Médio (0,2 %). Já o volume das compras externas caíram com origem em: África (-12,7 %), Oceania (-14,8 %), América Central e Caribe (-1,8 %), América do Sul (-2,5 %) e América do Norte (-5,8 %). Quadro 5 – Dados do Comércio Exterior Brasileiro Fonte: Brasil (2021) Disponível em: <https://balanca.economia.gov.br/balanca/IPQ/index.html> Acesso em 28 Out. 2021. Finalmente, para terminarmos com dados atualizados do estudo do sistema brasileiro de comércio exterior, na sequência deste capítulo, são apresentados os dados detalhados de exportações e importações brasileiras, de setembro de 2021. Esta compilação de dados foi extraída da ferramenta: Monitor do Comércio Exterior Brasileiro5. Essa nova ferramenta contém indicadores que permitem avaliar, de maneira simples, o desempenho do comércio exterior sob diversos ângulos e proporciona uma visão mais completa dos movimentos e tendências. Entre as novidades, o Monitor traz novos índices, como o quantum– que mede volumes comercializados – ajustado sazonalmente, o que permite uma observação mais acurada dos movimentos recentes, ao eliminar efeitos sazonais que afetam os fluxos de mercadorias, como períodos de safra,feriados e finais de semana. Assim, é possível observar os movimentos mais recentes e reais de exportação e importações por destino e origem e por grupos de produtos. As informações trazidas nesta ferramenta são analisadas mensalmente, de modo a proporcionar uma visão qualificada dos dados para os mais diversos públicos – desde pesquisadores até estudiosos mais pontuais da informação sobre o comércio exterior brasileiro. 5 Disponível em: https://balanca.economia.gov.br/balanca/IPQ/index.html https://balanca.economia.gov.br/balanca/IPQ/index.html https://balanca.economia.gov.br/balanca/IPQ/index.html COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 67 4.3.1 Dados Recentes da Exportação Brasileira Conforme informações apresentadas no Quadro 5, o volume das exportações brasileiras caiu -2,3 % neste mês de Setembro de 2021, comparado com Agosto de 2021. Em relação a toda série histórica, o volume total exportado alcançou o 12 º maior resultado, encontrando-se -13% abaixo do nível recorde alcançado em abril de 2021 (BRASIL, 2021). No maior nível da classificação por atividade econômica o desempenho do volume exportado foi o seguinte: queda de -9,1 % em Agropecuária, -9,6 % de queda na Indústria Extrativa e aumento de 1,3 % na Indústria de Transformação. Dos 20 ramos de atividades econômicas pesquisadas na Indústria de Transformação, 12 mostraram aumento de volume e 8 apresentaram resultados negativos. As influências positivas no total do volume exportado foram registradas em Fabricação de Produtos Químicos (19,8 %), Fabricação de Produtos Têxteis (13,2 %), Fabricação de Máquinas, Aparelhos e Materiais Elétricos (12,6 %), Fabricação de Outros Equipamentos de Transporte, Exceto Veículos Automotores (6,8 %), Fabricação de Móveis (5,2 %), Fabricação de Máquinas e Equipamentos (4,8 %), Metalurgia (3,4 %), Fabricação de Produtos Farmoquímicos e Farmacêuticos (3,4 %), Confecção de Artigos do Vestuário e Acessórios (3,3 %), Fabricação de Produtos de Metal, Exceto Máquinas e Equipamentos (2,7 %), Fabricação de Produtos Alimentícios (0,6 %) e Fabricação de Veículos Automotores (0,1 %). De outra forma, as seguintes atividades apontaram redução no volume exportado : Fabricação de Produtos Minerais Não-Metálicos (-9,9 %), Fabricação de Equipamentos de Informática, Produtos Eletrônicos e Ópticos (-5,3 %), Fabricação de Bebidas (-5,0 %), Fabricação de Produtos Diversos (-4,6 %), Fabricação de Produtos de Madeira (-4,2 %), Fabricação de Celulose, Papel e Produtos de Papel (-4,2 %), Preparação de Couros e Fabricação de Artefatos de Couro, Artigos para Viagem e Calçados (-1,3 %) e Fabricação de Produtos de Borracha e Materiais Plásticos (0,1 %). O gráfico a seguir ilustra as exportações deste período de forma comparativa: COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 68 Figura 3 – Exportações Quantum Dessazonalizada Fonte: BRASIL (2021) Disponível em: https://balanca.economia.gov.br/balanca/IPQ/xnota.html. Acesso em 28 Out de 2021. 4.3.2 Dados Recentes da Importação Brasileira Por sua vez, conforme informações apresentadas no Quadro 5, o volume das importações brasileiras cresceu 0,1 %. Este resultado foi o 2º crescimento consecutivo recente. Em relação a toda série histórica (atualmente contando com 285 meses), o volume total importado alcançou o 17º maior resultado, encontrando-se -6.1% abaixo do nível recorde alcançado em 7/ 2013 (BRASIL, 2021). Entre as grandes categorias econômicas, os resultados do volume importado foram o seguinte: crescimento de 5,7 % em Bens de Capital; crescimento de 1,4 % em Bens Intermediários; crescimento de 0,5 % dos Bens de Consumo e diminuição de -14,3 % de Combustíveis e Lubrificantes. No maior nível da classificação por atividade econômica o desempenho do volume importado foi o seguinte: crescimento de 1,2 % em Agropecuária, 52,4 % de aumento na Indústria Extrativa e crescimento de 21,8 % na Indústria de Transformação. Dos 21 ramos de atividades econômicas pesquisadas na Indústria de Transformação, 14 mostraram aumento de volume. As influências positivas no total do volume importado foram registradas em Fabricação de Produtos de Madeira (36,1 %), Fabricação de Móveis (27,9 %), Fabricação de Produtos Têxteis (20,4 %), Fabricação de Produtos de Metal, Exceto Máquinas e Equipamentos (20,1 %), Fabricação de Produtos Diversos (15,4 %), Fabricação de Celulose, Papel e Produtos de Papel (11,7 %), Fabricação de Produtos de Borracha e Materiais Plásticos (10,2 %), Fabricação de Máquinas e Equipamentos (8,3 %), Fabricação de Produtos Minerais Não-Metálicos (8,1 %), Fabricação de Máquinas, Aparelhos e Materiais Elétricos (7,2 %), Fabricação de Veículos Automotores (3,6 %), Confecção de Artigos do Vestuário e Acessórios (2,9 %), Fabricação de Produtos https://balanca.economia.gov.br/balanca/IPQ/xnota.html COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 69 Químicos (1,3 %) e Fabricação de Equipamentos de Informática, Produtos Eletrônicos e Ópticos (0,8 %). O gráfico a seguir ilustra as importações deste período de forma comparativa: Figura 4 – Importações Quantum Dessazonalizada Fonte: BRASIL (2021) Disponível em: https://balanca.economia.gov.br/balanca/IPQ/xnota.html. Acesso em 28 Out de 2021. Abordados os principais conceitos, instituições e características históricas do Sistema Brasileiro de Comércio Exterior, no próximo capítulo, examinaremos os principais Termos Internacionais de Comércio, também conhecidos como INCOTERMS. Esses termos tratam das normas padronizadas que regulam aspectos diversos do comércio exterior. Ou seja, os INCOTERMS são as regras que determinam quem paga o frete da mercadoria, qual é o ponto de entrega, quem deve fazer o seguro internacional, entre outras coisas. Interessante, não é mesmo? Vejo você no próximo capítulo! https://balanca.economia.gov.br/balanca/IPQ/xnota.html COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 70 AULA 5 TERMOS DE COMÉRCIO INTERNACIONAL INCOTERMS Neste capítulo são abordados os Termos de Comércio Internacional, também conhecidos por: INCOTERMS. Esses termos estabelecem de forma prática um conjunto padronizado de definições que determinam regras e práticas neutras de transações comerciais. O bom domínio desses termos é indispensável para que o negociador possa incluir todos os gastos oriundos de operações em Comércio Exterior. Assim, com base no entendimento correto e na atualização permanente destas regras internacionais que o comércio entre nações acontece na prática. Encara mais este desafio? 5.1 O que são INCOTERMS? INCOTERMS é a abreviatura do inglês, International Commercial Terms. Em português, significa: Termos Internacionais de Comércio ou Termos do Comércio Internacional. Os INCOTERMS foram publicados pela primeira vez em 1936, pela Câmara do Comércio Internacional (CCI)1. Os termos sofreram alterações e emendas em 1953, 1967, 1976, 1980, 1990, 2000, 2010 e 2020 (ICC, 2021). Para Vazquez (2015, p.248): Os INCOTERMS compreendem normas padronizadas que regulam aspectos diversos do comércio internacional. Ou seja, esses termos definem as regras que determinam quem pagará o frete da mercadoria, o ponto de entrega e quem deve fazer o seguro, entre outras coisas. As regras contidas nestes termos são explicadas por meio de três siglas formadas por três letras maiúsculas, por exemplo, CIF ou FOB. As siglas refletem as práticas comerciais dos contratos de venda de mercadorias. Já as regras descrevem, principalmente, tarefas, 1 A Câmara Internacional do Comércio (International Chamber of Commerce – ICC) é uma organização internacional não governamental que trabalha para promover e assessorar o comércio internacional e a globalização (Fonte: ICC, 2021). COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 71 custos e riscos envolvidosna entrega da mercadoria pelo vendedor ao comprador. Por serem facultativos nas transações internacionais, é importante compreender que esses termos afetam somente relações entre o vendedor e o comprador. Assim, eles não regulam as modalidades de transporte usados no comércio exterior. Os transportes são regulados por contrato específico. Figura 1 – Logo INCOTERMS 2020 Fonte: ICC (2021) Podemos vislumbrar os seguintes objetivos dos INCOTERMS, entre eles: • Definir com precisão as condições de entrega dos bens e o momento da transferência dos riscos e das responsabilidades; • Regular as condições de compra e venda e padronizar nomenclaturas e procedimentos; • Definir quais os custos exatos contidos em cada um dos termos; • Promover a harmonia dos negócios internacionais a partir da interpretação precisa dos termos usados; • Viabilizar contratos realizados entre partes domiciliadas em países diferentes, com legislações, usos e costumes diversos, e; • Definir responsabilidades e riscos, evitando disputas. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 72 ANOTE ISSO A Câmara Internacional de Comércio (ICC) atualizou o seu aplicativo móvel Incoterms® 2020, tornando-o ainda mais conveniente e útil. Desde o primeiro lançamento em 2019, o aplicativo Incoterms® 2020 tem sido uma ferramenta vital para importadores e exportadores que procuram se manter atualizados com os termos do comércio internacional. Nesta nova versão, os usuários podem: • Navegar nas descrições detalhadas de cada uma das regras; • Aceder a conteúdo exclusivo encontrado apenas no aplicativo móvel da ICC, incluindo a introdução da publicação Incoterms® 2020; • Aprender o que fazer e não fazer em cada uma das regras de comércio; • Conectar-se com a rede global de especialistas da ICC para obter conselhos sobre as questões mais urgentes de cada uma das regras comerciais; • Descobrir podcasts de uma gama de profissionais que revelam como as regras Incoterms® são usadas em todo o mundo, e; • Comprar e aceder a recursos adicionais gratuitos de maneira a ajudar os comerciantes a trabalhar de maneira eficaz. A Diretora de Comércio e Investimento da ICC, Emily O'Connor comentou também o lançamento da nova aplicação: “A principal prioridade da ICC era criar um recurso que tornasse as regras Incoterms® de fácil acesso e, mais importante, compreensíveis para todos. O novo aplicativo ICC Incoterms® 2020 tem uma abrangência ampliada comparativamente à versão anterior. Esta atualização traz uma série de recursos intuitivos que os usuários solicitaram, tornando-se ainda mais fácil para eles interpretarem cada um dos 11 termos comerciais ao fazer negócios, em qualquer parte do mundo”. Este app está disponível em todo o mundo de modo gratuito. Qualquer um pode fazer o download desta aplicação em qualquer dispositivo móvel, por meio da Apple App Store para usuários iOS ou Google Play para usuários Android. Neste capítulo, os INCOTERMS estudados são considerados a partir da última atualização efetuada por meio da Câmara Internacional de Comércio, em 2020 (ICC, 2021). Constam onze INCOTERMS nessa última atualização, denominada: INCOTERMS® 2020. Entre as alterações mais importantes: • Delivered at Terminal passa para Delivered at Place Unloaded (DPU); • FCA (Free Carrier) passa a permitir que os Conhecimentos de Embarque (Bills of Lading) sejam emitidos após o carregamento; • CIF (Cost, Insurance and Freight) e CIP (Carriage and Insurance Paid to) estabelecem novos contratos de seguro normalizados; https://2go.iccwbo.org/incoterms-2020-eng-config+book_version-eBook/ COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 73 • FCA (Free Carrier), DAP (Delivered at Place), DPU (Delivered at Place Unloaded) e DDP (Delivered Duty Paid) passam a ter em consideração que o comprador e o vendedor organizam o seu próprio transporte, em vez de utilizarem um terceiro. O quadro a seguir sintetiza os INCOTERMS® 2020, com base nas diferentes siglas e significados que os compõem: SIGLA SIGNIFICADO EXW Ex Works Produto entregue na origem de produção com local de entrega nomeado FCA Free Carrier Produto entregue no transportador em local de entrega nomeado FAS Free Alongside Ship Produto entregue livre ao lado do navio em porto de embarque nomeado FOB Free on board Produto entregue livre a bordo do navio em porto de embarque nomeado CPT Carriage Paid To Produto com transporte pago até o local de destino nomeado CIP Carriage And Insurance Paid To Produto com transporte e seguro pagos até o local de destino nomeado CFR Cost And Freight Produto com custo e frete pagos até o porto de destino nomeado CIF Cost Insurance And Freight Produto com custo, seguro e frete pagos até o porto de destino nomeado DAP Delivered at Place Produto entregue no local de destino nomeado DPU Delivered at Place Unloaded Produto entregue no local desembarcado em local de destino nomeado DDP Delivered Duty Paid Produto entregue com direitos pagos em local de destino nomeado Quadro 1 – INCOTERMS® 2020 – Siglas e significados Fonte: adaptado de ICC (2021) Na sequência deste capítulo são detalhadas as principais características de cada um dos termos usados no comércio internacional. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 74 ISTO ACONTECE NA PRÁTICA O Aprendendo a Exportar Artesanato é um programa de incentivo à exportação integrante do Aprendendo a Exportar. Tem seu conteúdo voltado, especificamente, para o setor do artesanato. O objetivo é contribuir para o desenvolvimento do artesanato por intermédio da difusão da cultura exportadora, bem como, disponibilizar informações sobre como exportar artesanato junto aos artesãos e artesãs e suas entidades representativas. Foi produzido mediante parceria entre o Ministério da Economia, representado pela Subsecretaria de Desenvolvimento das Micro e Pequenas Empresas, Empreendedorismo e Artesanato (SEMPE) e Subsecretaria de Facilitação de Comércio Exterior e Internacionalização (SUFAC), e a Universidade Federal da Paraíba (UFPB), representada pelo Projeto de Extensão Acadêmica Probex COMEX UFPB do Departamento de Economia/CCSA, com o apoio do Governo do Estado da Paraíba por meio do Programa de Artesanato Paraibano (PAP). O tutorial é gratuito e pode ser encontrado no Portal Eletrônico do SISCOMEX. Acesse o link abaixo e bons negócios! http://siscomex.gov.br/aprendendo-a-exportar/aprendendo-a-exportar-artesanato/ 5.1.1 INCOTERMS® 2020 Para melhor compreensão, os onze INCOTERMS® 2020 são definidos e descritos a partir de características e principais obrigações sobre custos e riscos envolvidos no transporte internacional, assumidos entre comprador e vendedor no processo comercial. Preparado para aprendê-los? Vamos lá! 5.1.1.1 EXW ou Ex Works EXW significa: na Origem. Quando uma operação comercial internacional ocorre acordada na modalidade “EXW”, significa dizer que o vendedor está colocando a mercadoria transacionada à disposição do comprador no ponto e local estabelecidos no contrato de compra e venda. O Vendedor não tem obrigação de carregar no veículo transportador, mas se o fizer, será por conta e risco do comprador. Cabe ao comprador contratar e custear o transporte, bem como, contratar e custear o seguro. O risco de extravio ou avaria da mercadoria é do comprador a partir do momento em que a carga é colocada à disposição no local e data combinados. As obrigações http://siscomex.gov.br/aprendendo-a-exportar/aprendendo-a-exportar-artesanato/ COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 75 aduaneiras, quando for aplicável, não são da conta do vendedor (tanto no país do vendedor como no país do comprador ou terceiros países). A figura a seguir ilustra os custos e os riscos deste termo internacional de comércio, sendo que a cor azul engloba o vendedore a laranja, o comprador. O quadrado em preto é o produto negociado e o documento abaixo, as formalidades burocráticas na origem (exportação) ou destino (importação). Usaremos essa mesma legenda para os demais INCOTERMS® 2020 apresentados nesta discussão. Figura 2 – EXW ou Ex Works Fonte: Adaptado ICC (2021) Sob o termo EXW, o comprador deverá desembaraçar as mercadorias para exportação. Assim, ele é o responsável por pagar todas as despesas incidentes, tais como direitos, taxas alfandegárias, despesas com despachantes. Além disso, cabe ao comprador o pagamento de quaisquer despesas ligadas à inspeção dos produtos, fiscalização das mercadorias, salvo se expresso de outra forma no contrato de compra e venda (VAZQUEZ, 2015). Como visto, o EXW é o termo de menor responsabilidade para o vendedor e maior responsabilidade para o comprador. O vendedor poderá assistir o comprador a obter os documentos e mesmo a prestação de serviços, como a contratação do frete interno. Contudo, com base nesse termo, o comprador deverá reembolsar o vendedor por toda a despesa que este tiver assistência solicitada. Esse termo pode ser definido para uma transação comercial que utilize qualquer modo de transporte, entre estas: marítimo, aéreo, rodoviário ou ferroviário. 5.1.1.2 FCA ou Free Carrier FCA significa: Livre no Transportador. Com base neste termo, o vendedor completa suas obrigações contratuais e encerra responsabilidades quando ocorrer a entrega COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 76 da mercadoria já desembaraçada para a exportação para o transportador nomeado pelo comprador, bem como, outra pessoa designada no contrato de compra e venda, em local nomeado do país de origem dos produtos. Esse termo pode ser utilizado em qualquer modalidade de transporte, inclusive o multimodal. Porém, tanto vendedor quanto comprador precisam especificar claramente o ponto que ocorrerá a entrega das mercadorias. Se o comprador não precisar exatamente este ponto no contrato, o vendedor poderá escolher, dentro do perímetro ou local destinado, onde o transportador deverá assumir a custódia das mercadorias. Esse local poderá ser a sede do vendedor. Um exemplo da utilização deste termo, está no uso desta expressão: “FCA TECA Aeroporto Internacional de Viracopos/Campinas”. Em termos práticos, essa expressão significa que a mercadoria estará disponível ao comprador no representante do comprador (agente ou transportadora aérea), no Aeroporto Internacional de Viracopos, na cidade de Campinas, estado de São Paulo. Importante notar que o uso deste termo implica que uma companhia aérea de transporte ou marítima contratada para fazer o transporte é quem assume a responsabilidade da custódia da mercadoria que está em nome do comprador. O quadro a seguir apresenta as principais obrigações e responsabilidades do comprador e do vendedor que negociam por meio desta opção de termo. Comprador Vendedor Pagar o preço compactuado no contrato. Obter licença de importação. Contratar transporte das mercadorias no local compactuando para entrega delas. O comprador não é obrigado a fazer seguro. Assumir a entrega das mercadorias. Assumir todos os riscos de perdas e danos a partir do momento em que ela foi posta à sua disposição. Notificar ao vendedor o nome da empresa de Transporte e o meio de transporte. Pagar despesas de pre-inspeção de embarque, exceto quando haja mandado das autoridades do país de exportação. Fornecer as mercadorias e fatura comercial em conformidade contratada. Obter licença de exportação ou qualquer outra obrigação alfandegária necessária para exportação. Desembaraçar as mercadorias para exportação. Entregar mercadorias desembaraçadas ao transportador em local designado pelo comprador Até a entrega das mercadorias ao transportador, toda responsabilidade é do vendedor. Notificar o comprador quando as mercadorias forem entregues ao transportador. Prestar assistência ao comprador para obtenção de quaisquer outros documentos necessários, sob expensas do comprador. Quadro 2 – Obrigações/Responsabilidades em FCA Fonte: adaptado de Vazquez (2015) COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 77 Em suma, com a utilização de FCA, os bens são entregues ao transportador designado pelo comprador, no local por ele designado, já desembaraçados para a exportação e carregados, se o local designado for o domicílio do vendedor. Se o local designado não for o domicílio do vendedor, ele não é responsável pelo descarregamento naquele local. 5.1.1.3 FAS ou Free Alongside Ship FAS significa: Livre ao lado do navio. Ou seja, o vendedor encerra suas obrigações no momento em que a mercadoria é colocada, desembaraçada para exportação, ao longo do costado do navio transportador indicado pelo comprador, no cais ou em embarcações utilizadas para carregamento da mercadoria, no porto de embarque nomeado pelo comprador. Esse INCOTERM é utilizado, somente, com a modalidade de transporte marítimo. Se encontrarmos em um contrato comercial a expressão: FAS Santos, significa dizer que a mercadoria adquirida está à disposição do comprador estrangeiro no costado do navio indicado, no porto de Santos. Todas as despesas para colocar a mercadoria a bordo do navio são por conta do comprador. A figura a seguir exemplifica as obrigações dos riscos e custos envolvidos com a utilização desse termo: Figura 3 – FAS ou Free Alongside Ship Fonte: Adaptado ICC (2021) 5.1.1.4 FOB ou Free on Board FOB significa livre a bordo do navio. Com o uso desse INCOTERM, o vendedor encerra suas obrigações e responsabilidades quando a mercadoria, desembaraçada para a exportação, é entregue, arrumada, a bordo do navio no porto de embarque, ambos indicados pelo comprador, na data ou dentro do período acordado. Conforme registros de utilização dos INCOTERMS (ICC, 2021), FOB é a condição de venda mais utilizada nas práticas do Comércio Internacional, visto que representa COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 78 o preço da mercadoria sem frete ou seguro, somente com indicação do porto de embarque. Logo, esse INCOTERM é utilizado, exclusivamente, no transporte aquaviário (marítimo ou hidroviário interior). Ressalta-se que a obrigação do vendedor de colocar a mercadoria a bordo do navio no tempo acordado é a essência do termo FOB. Por muitos anos, a murada do navio vem assumindo uma linha imaginária de fronteiras entre países. Com o advento dos INCOTERMS após 2010, essa condição não existe mais, ou seja, foi eliminada. Isso ocorre porque o termo FOB divide a responsabilidade e riscos do vendedor e do comprador, com a colocação da mercadoria a bordo e não somente a transposição da amurada do navio. O serviço de estivação (acomodação) da mercadoria é algo que deverá ser feito após a passagem pela murada do navio. Ou seja, ocorre por custos do vendedor (VAZQUEZ, 2015). A figura a seguir, ilustra a utilização desse termo no comércio internacional: Figura 4 – FOB ou Free on Board Fonte: Adaptado ICC (2021) Em suma, a utilização deste termo implica, na prática, que os bens são entregues pelo vendedor no exato momento em que eles são acomodados a bordo do navio, com os documentos de embarque desembaraçados para o processo de exportação acontecer. ISTO ESTÁ NA REDE Todas as pessoas que trabalham com comércio exterior precisam conhecer as diferenças entre frete FOB e CIF. Isso porque, enquanto alguns clientes querem a comodidade de receber a mercadoria adquirida em casa, outros preferem fazer o frete através de transportadoras e empresas de sua confiança. Para ajudar você a entender ainda melhor qual é a diferença entre frete FOB e CIF, acesse este link indicado: https://www.remessaonline.com.br/blog/fob/ https://www.remessaonline.com.br/blog/fob/ COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 79 5.1.1.5CFR ou Cost and Freight CFR significa: Custo e Frete. Isto implica que o vendedor entrega a mercadoria ao transportador a bordo do navio indicado pelo comprador, no porto de embarque. O vendedor deve contratar e pagar os custos e frete necessários para levar a carga ao porto de destino designado. O vendedor corre o risco de extravio até ao momento da entrega da mercadoria ao transportador. O risco é do comprador a partir do momento em que a carga passa a amurada do navio (ICC, 2021). No que se refere ao transporte, o vendedor contrata e paga o transporte da carga do local de origem até ao local de destino. O contrato de transporte deve ser realizado nos termos usuais e pela rota usual para o tipo de carga. Portanto, o CFR apresenta pontos críticos, já que os riscos e custos são transferidos em locais diferentes. O seguro é do comprador, somente, a partir do momento em que a carga está carregada no navio. Antes disso, todas as obrigações e responsabilidades são do vendedor. Já os trâmites aduaneiros, o vendedor providencia e custeia toda a exportação. A figura a seguir, ilustra as obrigações de custos e riscos inerentes a esse termo, utilizado somente no transporte aquaviário (marítimo ou hidroviário interior): Figura 5 – CFR ou Cost and Freight Fonte: Adaptado ICC (2021) Um exemplo da utilização desse termo pode ser compreendida na expressão: CFR AMSTERDÃ INCOTERMS 2020, que significa que o vendedor é responsável pela contratação do frete até o porto de Amsterdã, na Holanda. Os riscos do vendedor somente terminarão, nesta condição, com a entrega das mercadorias a bordo, no porto de embarque. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 80 Em síntese, usar CRF implica que os bens são entregues pelo vendedor no exato momento em que eles cruzam a amurada do navio, também conhecido por meio do termo em inglês, ship’s rail, no porto de embarque, desembaraçados para a exportação, com o transporte principal pago até o porto de destino designado. Qualquer custo que ocorrer após a entrega a bordo é por conta do comprador. Portanto, o vendedor deverá fornecer ao comprador o documento usual de transporte para o porto de destino compactuado. Como ocorre em outros termos já apresentados e exemplificados neste capítulo, o vendedor deve avisar o comprador que as mercadorias foram colocadas a bordo do navio, conforme pactuado no contrato de compra e venda, caso o termo escolhido entre os parceiros comerciais seja o CFR. 5.1.1.6 CIF ou Cost, Insurance and Freight CIF significa: Custo, Seguro e Frete. Esse termo implica que o vendedor entrega a mercadoria a bordo do navio ou providencia um documento to order2 que comprove que a mercadoria será entregue a bordo do navio indicado pelo comprador no contrato comercial. O risco de perda ou dano da mercadoria é passado assim que a mercadoria é colocada a bordo do navio (ICC, 2021). A utilização desse INCOTERM significa, na prática, que o vendedor deve contratar e pagar os custos e frete necessários, desde o ponto de entrega até o ponto no porto de destino designado. Além disso, cabe ao vendedor contratar e custear o seguro, salvo se o contrário foi acordado ou é costume nesse tipo de negócio, indicando o comprador como beneficiário. Também, os trâmites aduaneiros na exportação são por conta do vendedor, quando aplicável, enquanto ele não tem obrigação na importação e trânsito por terceiros países. A figura a seguir ilustra a utilização deste INCOTERM em uma transação de comércio exterior: Figura 6 – CIF ou Cost, Insurance and Freight Fonte: Adaptado ICC (2021) 2 Um documento to order é um documento capaz de permitir a transferência de propriedade para um novo comprador. No CIF esse documento se justifica devido às múltiplas possibilidades de vendas que podem ocorrer com a mesma mercadoria, em especial commodities. (FONTE: VAZQUEZ, 2015). COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 81 Para Vazquez (2015) esse INCOTERM têm dois pontos críticos, ou seja, a passagem dos riscos e dos custos ocorrem em pontos diferentes. Embora os contratos especifiquem o porto de destino, não costumam citar o porto de embarque. No porto de embarque é o local que os riscos passam do vendedor ao comprador. Se o porto de embarque representar custos operacionais mais baixos, no contrato comercial, as partes devem precisar o mais provável porto de embarque. Também, o porto de destino deve ser identificado corretamente do contrato de compra e venda, visto que a despesa de frete é por conta do vendedor até o porto final. Assim, o vendedor é estimulado a escolher com precisão o porto de destino. Se alguma despesa de descarregamento no destino for imputada ao vendedor este não poderá passar ao comprador, exceto se previsto em contrato. Em suma, os bens são entregues pelo vendedor no exato momento em que eles cruzam a amurada do navio (ships’s rail), no porto de embarque, desembaraçados para exportação, com o transporte principal e o seguro pagos até o porto designado. Esse INCOTERM é utilizado, somente, quando se procede uma negociação aquaviária, seja marítima, fluvial ou lacustre. 5.1.1.7 CPT ou Carriage paid to CPT significa: Transporte pago até o local designado. Com o CPT, é o vendedor quem se encarrega da exportação e transporte até o local combinado. O vendedor deve informar ao comprador quando a mercadoria foi entregue, enviar uma fatura e quaisquer outros documentos que tenham sido acordados. Dessa forma, o risco é do comprador quando a transportadora faz a retirada da mercadoria, no horário especificado no contrato. Também, é o comprador quem faz o seguro e cuida da importação da mercadoria. O INCOTERM CPT é multimodal, ou seja, pode ser usado para todas as formas de transporte. Aliás, é comum para o transporte de contêineres. https://www.remessaonline.com.br/blog/exportacao-de-servicos/ COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 82 ISTO ACONTECE NA PRÁTICA Crise no Mar Trabalhadores rurais dos setores de algodão e carne reclamam de frete caro e perda de oportunidades devido à demora dos envios, motivada pela demanda crescente de grandes exportadores, como Ásia, EUA e Europa. O retorno das atividades comerciais após meses de paralisação devido à pandemia da Covid-19 veio mais forte do que o translado de mercadorias por contêineres e navios estava preparado para suprir, elevando o preço dos fretes e aumentando os prazos para a exportação e importação de produtos. Por causa disso, na semana passada, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) enviou um ofício ao ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, pedindo ações de curto prazo para resolver esses problemas. A carta foi assinada também por entidades do setor. Fonte: G1 NOTÍCIAS (2021) Acompanhe os principais pontos desta carta, acessando o link: https://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2021/09/09/crise-no-mar-entenda-a-escassez-de-conteineres-que-afeta-produtores-do-mundo- todo.ghtml Entre as vantagens de usar o CPT, podemos destacar que ele pode ser utilizado em qualquer tipo de transporte, o que garante mais flexibilidade. Por exemplo, se você precisar que a carga seja transportada em um trajeto de avião e a outra por navio, poderá utilizar o CPT sem problemas. Outra vantagem para o comprador é que ele não precisa se preocupar com o todo o trabalho da contratação do frete para o despacho da mercadoria. Por outro lado, podemos destacar como desvantagem para quem está comprando, a impossibilidade de negociar os valores de fretes diretamente com os fornecedores. Isso porque, nessa negociação, ele poderia conseguir alguns descontos. Já para o vendedor a maior vantagem é que, ao arcar com mais responsabilidades, pode conseguir melhores preços na hora da venda da mercadoria. Em suma, usar o INCOTERM CPT significa que caberá ao vendedor entregar a carga ao transportador, no localacordado em seu país, e com transporte contratado e pago por ele para levar a mercadoria até o local de destino nomeado no exterior. 5.1.1.8 CIP ou Carriage and Insurance Paid to CIP significa: Transporte e Seguros pagos até o local de destino designado. Conforme a definição encontrada no ICC (2021): https://g1.globo.com/tudo-sobre/tarcisio-gomes-freitas/ https://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2021/09/09/crise-no-mar-entenda-a-escassez-de-conteineres-que-afeta-produtores-do-mundo-todo.ghtml https://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2021/09/09/crise-no-mar-entenda-a-escassez-de-conteineres-que-afeta-produtores-do-mundo-todo.ghtml COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 83 Além de arcar com obrigações e riscos previstos para o Incoterm FCA, o vendedor contrata e paga o frete, custo e seguro relativos ao transporte de mercadoria até o destino combinado (ICC, 2021, p.12). Na versão dos INCOTERMS de 2010 quando o comprador usava CIP, o vendedor era apenas obrigado a obter o seguro com cobertura mínima. Isso foi alterado na versão INCOTERMS de 2020, pois, atualmente, quando o comprador usa CIP, implica, na prática, que o vendedor é responsável por todos os riscos da operação, o que aumenta o nível do seguro e, consequentemente, o custo do prêmio a ser arcado pelo vendedor. Além disso, o termo CIP, na atual versão, exige do vendedor o desembaraço das mercadorias para exportação. Se uma empresa de São Paulo vender suas mercadorias para um comprador europeu, com sede em Paris, usando o INCOTERM, CIP PARIS, por exemplo, significa que o exportador brasileiro cotou sua exportação com o preço da mercadoria, mais frete internacional e mais o seguro da mercadoria, do Aeroporto de Guarulhos, São Paulo, até Paris, França, por exemplo. Assim como ocorre nos termos CPT, CFR ou CIF, já verificados neste capítulo, o vendedor cumpre suas obrigações quando a mercadoria é entregue ao transportador e não quando a mesma chega em seu destino final. Isso demonstra que o risco termina em um país (embarque) e os custos em outros (destino). Esta situação deve ser muito bem planejada entre todos os participantes da transação. Visto que, conforme Vazquez (2015, p.45), “às vezes essa modalidade não é entendida pelos comerciantes e pode trazer confusão, e pior, disputas judiciais”. Isso ocorre porque o comprador pode imaginar que comprando CIP PARIS, seu risco começará somente quando a mercadoria chegar em Paris, em que ele a coletará no local definido. Conforme visto, isto é um grande engano, pois por meio da utilização desse termo os custos foram pagos, de fato, até Paris. No entanto, conforme no exemplo dado, os riscos foram transferidos pelo vendedor ainda em São Paulo, quando fez o embarque dos itens no aeroporto de Guarulhos. Este tipo de situação precisa estar muito claramente tipificada no contrato de compra e venda, com a finalidade de evitar futuras disputas judiciais. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 84 ANOTE ISSO Qual é a diferença entre o INCOTERM CIP e CFR? Diferente do CIP, que é multimodal, o CRF (Cost and Freight) só pode ser usado para transporte marítimo e fluvial. Nesse Incoterm, a transferência de risco ocorre após o carregamento da mercadoria no navio. Além disso, o vendedor arca com os custos até o momento em que a mercadoria é descarregada do barco nas docas. No entanto, o risco de perda ou dano, bem como quaisquer custos adicionais após a entrega são transferidos para o comprador. 5.1.1.9 DAP ou Delivered at Place DAP significa: entregue no local de destino nomeado. Por meio deste termo, o vendedor completa suas obrigações e encerra sua responsabilidade quando coloca a mercadoria à disposição do comprador, na data ou dentro do período acordado, num local indicado no país de destino, pronta para ser descarregada do veículo transportador e não desembaraçada para importação. Para Vazquez (2015, p. 51), entrega no local significa: O vendedor entrega a mercadoria quando a mesma é colocada à disposição do comprador no veículo transportador pronta para descarregar, no local de destino combinado. O vendedor assume todos os riscos no transporte da mercadoria até o local designado para entrega (pronta para descarregamento, no veículo transportador). O INCOTERM DAP é utilizado em qualquer modalidade de transporte. Inclusive, por meio deste termo, comprador e vendedor poderão utilizar transportes próprios em trechos do deslocamento da mercadoria entre o local de origem e o local de chegada ou destino final. O quadro a seguir sintetiza as principais responsabilidades do comprador e do vendedor que estabelecem uma negociação por meio do termo DAP: Comprador Vendedor Burocracias alfandegárias e direitos na Importação no seu país; Descarga da mercadoria no local destinado; Junto com o exportador se responsabiliza pela inspeção e perícia na mercadoria. Transporte dentro do país de origem e até o local de destino; Embalagem, Identificação, Carregamento, burocracias alfandegárias e direitos de exportação, armazenamentos e as despesas com embarque; Seguro no país de origem e Internacional; Descarga, Manuseio e Armazenagem no País de destino; Também deverá contratar seguro e transporte até o local destinado no país de destino. Quadro 3 – Obrigações/Responsabilidades em DAP Fonte: adaptado de Vazquez (2015) COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 85 Com base no quadro apresentado, vale ressaltar que DAP exige do vendedor o desembaraço aduaneiro para a exportação, quando aplicável. Porém, o vendedor não é responsável pelo desembaraço na importação. Tão pouco o vendedor é responsável pelas despesas ocorridas no evento e muito menos pelas exigências que tal desembaraço solicite ao comprador. Entretanto, é muito difícil precisar os custos e riscos na chegada ao destino. Muitas empresas de transporte já embutem essas despesas de descarregamento na formação de seu custo de transporte. Assim, Vazquez (2015) recomenda que se faça, somente, a transação utilizando-se do termo DAP se a empresa vendedora possuir maior experiência de mercado. Pois, tal termo faz com que o vendedor assuma grande parte das responsabilidades no transporte e entrega da mercadoria. Sem contar que, caso o local de destino designado seja distante do porto, por exemplo, o vendedor precisará estruturar uma entrega dentro do país importador. 5.1.1.10 DPU ou Delivered at Place Unloaded DPU significa: entregue no local de destino nomeado descarregado. Na prática, esse termo implica que o vendedor completa suas obrigações e encerra sua responsabilidade quando a mercadoria é colocada à disposição do comprador, na data ou dentro do período acordado, em local determinado no país de destino, descarregada do veículo transportador mas não desembaraçada para importação. O vendedor deve assumir todos os riscos e custos envolvidos para isso (BRASIL, 2021). Esse termo substituiu o INCOTERM DAT (Delivery at Terminal), suprimido na revisão ocorrida em 2020. Com base nesta mudança, o risco é do vendedor até ao local e momento em que a mercadoria é colocada à disposição do comprador, descarregada no local de destino. As operações de descarga são por conta e risco do vendedor que também contrata e paga o transporte da carga do local de origem até ao local de destino. Quanto ao seguro, o vendedor não tem obrigação de segurar a carga. Assim, é importante ressaltar que este é o único termo em que o vendedor tem a obrigação de desembarcar a mercadoria na entrega. Com base na legenda já utilizada neste capítulo, na qual a cor azul se refere ao vendedor e a cor laranja ao comprador, perceba na figura a seguir os custos e riscos de uma transação internacional que ocorre usando o termo DPU. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 86 Figura 7 – Custose Riscos no DPU Fonte: Adaptado ICC (2021) Como base nesta figura é clara a observação que, tanto custos, quanto riscos, são de responsabilidade do vendedor até a entrega descarregada da mercadoria em local combinado no país de destino. Além de arcar com os custos do transporte, o vendedor também se responsabiliza por eventuais avarias à carga durante o processo. Porém, o seguro não é obrigatório. O vendedor se responsabiliza apenas pelos trâmites aduaneiros de exportação, sendo aplicável para qualquer modo de transporte. ANOTE ISSO A substituição dos INCOTERMS DAT (Delivered at Terminal) por DPU (Delivered at Place Unloaded) significa que ao contrário do que acontecia com o DAT, no DPU não há dúvidas que o destino pode ser qualquer lugar (incluindo as instalações do comprador) e não apenas um terminal em sentido estrito. Ressalte-se que a única diferença entre o DPU e o Incoterm DPA (Delivered at Place) é que no DPU a mercadoria só é considerada entregue depois de descarregada pelo vendedor no local de destino. Assim, o vendedor deverá verificar as condições do lugar dado que o risco inerente à operação de descarga dos bens corre por conta dele. 5.1.1.11 DDP ou Delivered Duty Paid DDP significa: Entregue com Direitos Pagos em local de destino nomeado. Com o uso deste termo, o vendedor completa suas obrigações e encerra sua responsabilidade quando a mercadoria é colocada à disposição do comprador, na data ou dentro do período acordado, no local de destino designado no país importador, não descarregada do meio de transporte. O vendedor, além do desembaraço, assume todos os riscos e custos, inclusive impostos, taxas e outros encargos incidentes (BRASIL, 2021). COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 87 No que se refere às despesas de transporte, o vendedor contrata e paga o transporte da carga do local de origem até ao local de destino. Porém, não tem obrigação de segurar a carga. As obrigações do vendedor são aduaneiras, pois é ele que providencia os documentos e paga o desembaraço aduaneiro de exportação, de trânsito e de importação, bem como quaisquer outros tributos ou despesas. Este termo pode ser utilizado para qualquer meio de transporte. Em outras palavras, no INCOTERM DDP (Delivered Duty Paid) o vendedor assume acima de tudo todas as responsabilidades e riscos do transporte, desde a origem até o endereço de destino estipulado pelo comprador. A figura a seguir ilustra bem o cenário de uma transação internacional, com o uso do DDP. Note, nesta figura, que a flecha vermelha, localizada em cima do caminhão, indica o local em que as obrigações e responsabilidades do vendedor são extintas. Figura 8 – DDP ou Delivered Duty Paid Fonte: Adaptado ICC (2021) Conforme percebemos na figura ilustrada, esse termo é aquele que estabelece o maior grau de compromisso para o vendedor, na medida em que assume todos os riscos e custos relativos ao transporte e entrega da mercadoria no local de destino designado. Ou seja, o termo DDP é exatamente o oposto de EXW. Em termos específicos, são pontuadas como responsabilidades do vendedor: Embalagem e Identificação, Carga, Transporte e Seguro no país de Origem, Direitos de Exportação, Inspeção, Peritagem e Burocracias Alfandegárias, Armazenamento e Despesas com Embarque, Transporte Internacional e Seguro de Transporte, Descarga, Manuseio e Armazenagem no Destino, Burocracias Alfandegárias e Direitos de Importação e Transporte e Seguro no país de Destino. Já o comprador possui como COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 88 responsabilidades: Descarga da Mercadoria no seu país, Autorização de retirada da mercadoria e possíveis custos de importação (ICC, 2021). 5.1.1.12 Quadro Resumo dos INCOTERMS® 2020 A figura abaixo resume todos os termos vistos neste capítulo. Figura 9 – Resumo dos INCOTERMS® 2020 Fonte: ICC (2021) Abordados os termos de comércio internacional como as regras que determinam as estruturas de obrigações e responsabilidades no comércio internacional, no próximo capítulo, este livro começará a prática do comércio exterior. Isso significa que o processo de exportação será contemplado em termos da política brasileira vivenciada neste início da década de 2020, processos e documentos de exportação e, principalmente, a utilização de simuladores. Ficou interessado? Nos vemos lá! COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 89 AULA 6 POLÍTICA BRASILEIRA DE EXPORTAÇÃO Neste capítulo serão abordadas características da Política Brasileira de Exportação. Assim, o cenário contemporâneo das exportações brasileiras projetado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) para o biênio 2020-21 é apresentado, contextualizando o momento atual que vivemos com as exportações brasileiras, dado a Pandemia do COVID-19. Também, serão apresentadas as principais razões que levam as empresas a adotarem um perfil exportador. Tudo isso, complementado com a sugestão de um plano de exportação. Este plano visa a instrumentalização operacional que esse processo exige das empresas que desenvolvem o Comércio Internacional. Preparado para mais esta etapa? 6.1 Contexto Recente das Exportações Brasileiras O Brasil, com o restante da América Latina, passou por uma abertura econômica no fim dos anos 1980 e início dos 1990, num contexto internacional atrelado ao início do Consenso de Washington1, e no contexto doméstico, ligado ao fim da Ditadura Militar, ao agravamento da crise da dívida externa e ao fim das políticas de industrialização dirigida pelo Estado (BÉRTOLA; OCAMPO, 2015). Neste período, o Brasil derrubou grande parte das barreiras tarifárias e não-tarifárias vigentes (GREMAUD; DE VASCONCELLOS; TONETO JR., 2004). 1 O consenso de Washington foi uma recomendação internacional elaborada em 1989, que visava a propalar a conduta econômica neoliberal com a intenção de combater as crises e misérias dos países subdesenvolvidos, sobretudo os da América Latina (Fonte: Google, 2021). COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 90 Figura 1 – Charge Consenso Washington Fonte: Plataforma Brasil Escola UOL (2021) Disponível em: <https://brasilescola.uol.com.br/> Acesso em: 3 nov. 2021. Desde então, o Brasil passou por mudanças na estrutura produtiva e nos padrões de trocas internacionais. Dois processos históricos contribuíram para novas conformações de inserção do Brasil à economia global: o MERCOSUL e a ascensão da China. Mesmo que nem todos os objetivos do MERCOSUL tenham sido alcançados, houve crescimento do comércio entre os membros. Este comércio, apesar da presença de bens primários, possui forte participação de bens industrializados. Por outro lado, a ascensão chinesa e a grande demanda por commodities primárias pressionou os países latino-americanos rumo a um aumento da participação destes produtos na exportação (DE NEGRI; ALVARENGA, 2011). Atualmente, o crescimento das exportações de bens intensivos em recursos naturais passou a ser uma oportunidade para algumas economias, mas há fortes receios, pois a reprimarização da pauta exportadora estaria associada à desindustrialização e à manutenção de um atraso estrutural da economia brasileira. Tavares (1983, p. 46) argumenta que: A economia brasileira seria estruturalmente vulnerável não apenas por esta heterogeneidade entre produção e consumo, mas também em função das oscilações dos preços dos poucos produtos exportáveis, além de destacar a deterioração dos termos de troca destas exportações. A realidade dos países latino-americanos nesta fase agroexportadora e seus problemas para o desenvolvimento possuem amplo debate na literatura. Bulmer- COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 91 Thomas (1995) fez um balanço das economias latino-americanas e concluiu que elas experimentaram crescimentosustentado pelas exportações de algumas commodities. Porém, este crescimento foi inferior ao dos países centrais, a não ser por exceções como Argentina e Uruguai, que decorreram de diferenciações dentro do modelo agroexportador, como: a diversificação das exportações, mesmo que primárias; certa sorte no fato de suas exportações primárias não terem as características típicas que conduziriam a uma tendência de deterioração de seus preços. Ou ainda, um relacionamento mais forte entre o setor exportador e os setores domésticos destas economias. Resta observarmos, com bastante atenção, que nos anos de 1980 chegou ao fim do consenso político sobre a industrialização dirigida pelo Estado. Parte das políticas de desenvolvimento foram encerradas e a economia brasileira passou por profundas transformações. Iniciou-se a perda de participação relativa da indústria na renda nacional e o crescimento dos bens primários na pauta de exportação. O setor agrícola brasileiro, com uma crescente capacidade de articulação política, deixou de ser discriminado negativamente, já que a proteção à indústria implicava em transferência de renda do setor primário ao secundário por meio de mecanismos como a apreciação cambial (HELFAND; BRUNSTEIN, 2000). Parte dessa transformação pode ser atribuída a mudanças no cenário internacional. O crescimento econômico da Ásia e sua demanda por matérias-primas se tornou um incentivo para a concentração das estruturas produtivas latino-americanas em bens intensivos em recursos naturais, dadas as vantagens comparativas que a região desfruta. Esta reconfiguração da economia e do comércio brasileiro revitalizou o interesse pelos debates travados dos anos 1940 a 1960, tendo como foco a discussão sobre se a América Latina como um todo, e o Brasil em especial, está voltando ao modelo agroexportador. No próximo tópico, abordaremos o contexto atual das exportações brasileiras, com base nas projeções do IPEA (RIBEIRO et al., 2020), envolvendo o biênio 2020-2021, a respeito dos principais destinos de nossas exportações, bem como, produtos. O estudo usado como base sintetiza e projeta dados recentes sobre o comércio exterior brasileiro. Portanto, alguma diferença entre os valores projetados e os valores oficiais que são publicados, pode ocorrer. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 92 6.1.1 Projeções das Exportações Brasileiras Totais (2020-2021) Para Ribeiro et al. (2020, p.13), o gráfico a seguir apresenta a trajetória das exportações brasileiras totais no biênio 2020-2021, projetadas para cenários otimistas, realistas e pessimistas. Esses cenários, conforme o IPEA, são projetados a partir de dados coletados por meio da Organização Mundial do Comércio (OMC), bem como do Fundo Monetário Internacional (FMI). No cenário realista, as exportações cairiam 20,6% em 2020, recuando para US$ 178,9 bilhões, e voltariam a crescer em 2021, à taxa de 9,5%, chegando a US$ 195,9 bilhões. A perda acumulada no biênio seria de quase US$ 30 bilhões. No cenário otimista, Ribeiro et al. (2020, p.14), as exportações sofreriam queda de 17,7% em 2020, recuando para US$ 185,4 bilhões, e cresceriam em 2021, à taxa de 16,5%, chegando a US$ 216,1 bilhões. A perda acumulada no biênio seria da ordem de US$ 9 bilhões, e o montante exportado ficaria em um nível próximo do registrado em 2017. Por fim, no cenário pessimista, as exportações teriam redução de 29,8%, em 2020, para US$ 158,3 bilhões, e cresceriam 12,0% em 2021, subindo para US$ 177,4 bilhões. A perda acumulada no biênio seria de US$ 48 bilhões, e o montante exportado seria o mais baixo desde 2009. Gráfico 1 – Cenário das Exportações Brasileiras no Biênio 2020-21 (em US$ Bilhões) Fonte: Adaptado de Ribeiro et al. (2020) Com base neste gráfico, é importante ressaltar que a pandemia da Covid-19 trouxe consigo uma fortíssima redução da atividade econômica e do comércio internacional em todos os cenários projetados. Em uma avaliação final é possível concluir que: • As exportações em 2020 recuarão para algum valor intermediário ao dos cenários realistas e otimistas apresentados. Isso implicaria algo entre US$180 bilhões (-20%) e US$ 200 bilhões (-11%). COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 93 • Não se pode descartar que o valor pode ficar próximo das projeções feitas com base no cenário pessimista, desde que houvesse uma deterioração das condições da economia mundial muito além do que parece provável na data desta projeção (Abril de 2020) hoje (a queda do PIB mundial nesse cenário seria de 8,8%) ou uma redução muito grande dos preços de exportação. 6.1.2 Projeções das Exportações Brasileiras: Países e Regiões Ribeiro et al. (2020, p.13) argumenta que as variações projetadas são bastante homogêneas entre os diferentes países e regiões. No cenário realista, a queda das exportações em 2020 varia entre -15,0% para a Índia e -22,4% para a União Europeia, e o crescimento em 2021 vai de 7,4% nos casos de Japão e México até 13,8% na China. No cenário otimista, as quedas em 2020 são um pouco menores do que as referentes ao cenário realista em todos os países. Já o crescimento em 2021 é maior em todos eles. Por sua vez, o cenário pessimista gera projeções de queda em 2020 bem maiores (entre 26,5% e 31,6%) e, para 2021, as projeções são de crescimento maior do que o do cenário realista e menor do que o do cenário otimista. A tabela a seguir ilustra esta projeção: Países/Blocos 2019 Cenário Realista Cenário Otimista Cenário Pessimista 2020 2021 2020 2021 2020 2021 Δ% Δ% Δ% Δ% Δ% Δ% Exportações 225,4 -20,6 9,5 -17,7 16,5 -29,8 12,0 China 65,8 -15,5 13,8 -14,2 18,6 -26,5 11,9 União Europeia 35,9 -22,4 9,2 -18,3 16,0 -31,0 12,3 Estados Unidos 29,7 -21,4 9,1 -18,2 16,7 29,6 12,0 Argentina 9,8 -21,2 8,8 -19,0 15,9 -31,6 11,7 Japão 5,4 -20,8 7,4 -17,9 14,3 -28,9 9,8 México 4,9 -22,0 7,4 -19,6 16,7 -29,6 12,0 Coreia do Sul 3,4 -17,5 7,8 -16,0 18,3 -28,9 12,8 Canadá 3,4 -21,7 8,6 -18,2 16,7 -29,6 12,0 Índia 2,8 -15,0 11,9 -14,2 18,6 -28,1 12,8 América Latina 22,6 -20,8 7,8 -19,0 15,9 -31,2 11,7 África 7,5 -17,8 8,5 -16,2 15,4 -27,9 12,1 Oriente Médio 13 -18,8 8,4 -16,7 15,4 -27,9 12,1 Demais países 21,1 -19,0 10,3 -17,5 16,9 -29,5 12,8 Tabela 1 – Exportações Brasileiras: por Países/Regiões (US$ Bilhões) Fonte: Adaptado de Ribeiro et al. (2020) COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 94 Com base nesta tabela, nota-se que no cenário otimista, as quedas em 2020 são um pouco menores do que as referentes ao cenário realista em todos os países. Por sua vez, o crescimento em 2021 é maior em todos eles. O cenário pessimista gera projeções de queda em 2020 bem maiores e, para 2021, as projeções são de crescimento maior do que o do cenário realista e menor do que o do cenário otimista. Em 2020, as exportações para a Índia e para a China teriam crescimento, contrastando com a forte queda das vendas para União Europeia, Estados Unidos, Argentina, Japão, México e demais países da América Latina. Países e regiões, atingidas fortemente pela Pandemia da Covid-19. 6.1.3 Projeções das Exportações Brasileiras: Produtos Centrais Ainda, conforme percebemos em Ribeiro et al. (2020), no que se refere aos principais produtos exportados pelo Brasil, as estimativas são de redução em todos eles em 2020 e de recuperação em 2021. Porém, com taxas bastante diferentes. No cenário realista, o complexo soja seria pouco afetado pela crise, com queda de apenas 0,5% nas exportações em 2020, seguida de crescimento de 13,0% em 2021. Trajetória semelhante ocorreria com o complexo carnes (-5,5% em 2020 e +11,5% em 2021) e com os demais produtos básicos (-4,7% e +10,9%). Isso se explica pelo desempenho relativamente mais favorável das economias da China e de outros países asiáticos nesta crise, e também se deve à menor sensibilidade da demanda de alimentosa variações na renda. Em contrapartida, as exportações de petróleo teriam queda de quase 40% em 2020 e recuperação parcial em 2021, com alta de 11,7%. Esse mau desempenho se deve à forte queda prevista na demanda de petróleo em função da crise e à redução dos preços internacionais dos produtos. Com efeito, as cotações do petróleo já se reduziram em cerca de 60% do início do ano até o início de abril. O minério de ferro também sofreria com a queda da demanda e dos preços, mas de forma menos drástica, prevendo-se redução de 15,0% das exportações brasileiras em 2020 e alta de 7,5% em 2021. Quanto aos demais produtos semimanufaturados e manufaturados, a queda esperada em 2020 é de 18,4% e 17,2%, respectivamente, com recuperação apenas parcial em 2021 (ambos cresceriam 9,8%). Os resultados não mudam muito quando as projeções são feitas com base no cenário otimista. As quedas em 2020 são um pouco menores em todos os produtos COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 95 e as taxas de crescimento em 20201 são um pouco maiores. Como resultado, os valores exportados de todos os produtos em 2021 são mais elevados do que os previstos no cenário realista. Já no cenário pessimista, o quadro é bem pior, com quedas bastante elevadas em todos os produtos. O crescimento em 2021 mostra taxas parecidas com aquelas previstas no cenário realista, mas os valores exportados são bem menores, em função da maior queda em 2020. A tabela a seguir ilustra o desempenho dos produtos: Produtos 2019 Cenário Realista Cenário Otimista Cenário Pessimista 2020 2021 2020 2021 2020 2021 Δ% Δ% Δ% Δ% Δ% Δ% Exportações 225,4 -20,6 9,5 -17,7 16,5 -29,8 12,0 Complexo carnes 15,8 -5,5 11,5 -3,6 15,9 -16,6 12,3 Complexo soja 32,8 -0,5 13,0 1,4 18,1 -13,7 14,0 Minério de ferro 22,7 -15,0 7,5 -14,5 8,8 -20,9 7,1 Óleos brutos 24,2 -39,8 11,7 -38,8 14,2 -45,9 11,2 Demais básicos 25,4 -4,7 10,9 -1,6 16,6 -15,7 12,4 Tabela 2 – Exportações Brasileiras: Produtos Centrais (US$ Bilhões) Fonte: Adaptado de Ribeiro et al. (2020) 6.2 Razões para Exportar: O que, para quem e como? É possível identificarmos vários países que possuem economias dinâmicas e diversificadas, que apresentam uma participação percentual significativa na corrente mundial de comércio e que desenvolveram parques industriais e um universo empresarial diversificado e pujante. O que nem todos lembram é que vários destes países não possuem grandes mercados internos e que, para crescer e ampliar os negócios, suas empresas buscaram o caminho do comércio exterior. O Brasil possui um grande mercado interno o que, sem dúvida, representou uma oportunidade e uma situação cômoda para muitas empresas, que preferiram priorizar o mercado doméstico e não chegaram a se interessar seriamente pelas exportações. Entretanto, mesmo neste cenário, cada vez mais, os empresários brasileiros começam a considerar as exportações como uma decisão estratégica importante para suas empresas e para o desenvolvimento de seus negócios. Perceberam que, ao exportar, a empresa adquire um diferencial de qualidade e competência, pois precisa adequar seus produtos aos padrões do mercado externo, COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 96 precisa gerenciar condições que não ocorriam anteriormente e obteriam ganhos de competitividade. A empresa que passa a exportar de forma sustentável, geralmente, obtém melhoria da sua imagem com fornecedores, bancos e clientes e isso se reflete, também, em suas operações no mercado interno. ANOTE ISSO A internacionalização leva ao desenvolvimento da empresa, pois a obriga a se tornar mais moderna, seja para conquistar novos mercados, ou ainda, para preservar suas posições no mercado interno. Atualmente, os avanços da tecnologia permitem comunicações imediatas com as mais distintas regiões do planeta, possibilitando que os mais diversos negócios sejam efetuados, diariamente, com empresas de variados e distantes países. No passado, a indústria nacional era protegida por barreiras que hoje já não existem. Isso faz com que empresas estrangeiras concorram com as empresas brasileiras dentro de nosso próprio país, o que exige que as empresas nacionais se tornem mais competitivas. Neste contexto, o comércio exterior adquire cada vez mais importância para as empresas que querem crescer de forma sustentável. Além disso, a diversificação de mercados, também, representa uma maior segurança com relação às crises que, temporariamente, podem surgir. Assim, as exportações, de modo geral, beneficiam o país como um todo, promovem o ingresso de divisas, a geração e manutenção de emprego e renda, o aumento na qualificação dos recursos humanos, a evolução e o crescimento do parque industrial e do universo empresarial como um todo. 6.2.1 O que Exportar? Conforme identificado em Vazquez (2015), uma empresa pode exportar qualquer produto, não somente aquele fabricado a partir das suas linhas de produção internas. Dessa maneira, a empresa poderá ser uma exportadora ou (importadora) comercial e nada fabricar. Interessante, não é mesmo? A concorrência local e global, derivada da integração e da globalização mundial dos mercados consumidores, proporciona às empresas brasileiras formas de aumentar a COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 97 qualidade de seus produtos via mercado externo. Entretanto, para algumas situações específicas, existirá a necessidade de adaptação dos produtos, em função de embalagens apropriadas, hábitos culturais e religiosos, costumes locais, atendimento a normas técnicas, entre outras possibilidades. Para ajudá-lo a refletir mais sobre a pergunta: o que exportar?, neste tópico, adotamos alguns pressupostos trazidos por Vazquez (2015), no quadro a seguir, que elenca sete cuidados que toda empresa brasileira (ou mundial) precisa considerar ao responder essa pergunta. 1o) Verificar se o produto atende às necessidades do mercado 2o) Verificar se o produto atende às necessidades específicas na fatura pro forma2 3o) Verificar se o produto apresenta vantagens para o mercado-alvo 4o) Verificar se o produto é compatível com o clima, se não fere sentimentos religiosos e não contraria hábitos locais 5o) Verificar se o sistema de pesos e medidas utilizado em seu produto atende às exigências do mercado a ser atingido 6o) Confirmar se o idioma utilizado na embalagem do produto é o do mercado local ou se o produto poderá ser comercializado com rótulo em português 7o) Checar se a embalagem é apropriada para o trânsito até a fronteira do país e no seu interior até a chegada ao destino Quadro 1 – Cuidados sobre o que exportar Fonte: Vazquez (2015) 6.2.2 Para quem exportar? Para responder a esta importante questão, precisamos considerar alguns aspectos, entre eles: a qualidade demandada no mercado-alvo, a importância estratégica do cliente, distância geográfica, custo de fretes, riscos cambiais e comerciais, instabilidade política, entre outros. Enfim, muitas variáveis influenciam nesta decisão. Para facilitar esta escolha, com base em Vazquez (2015), são citados no quadro a seguir, quatro pontos considerados fundamentais, quer sejam: 2 Fatura Pro Forma é o documento resultante do processo de negociação entre o exportador e o importador. Diferentemente da lista de preços ou do recebimento de uma simples solicitação de cotação, essa fatura indicará os detalhes acordados daquela compra específica, com todas as informações atinentes a ela. Veremos mais detalhes sobre a Fatura Pro Forma no próximo capítulo. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 98 Quem são os concorrentes no mercado-alvo? É muito importante saber quem são os concorrentes para a preparação da estratégia de conquista do mercado. Deve-se saber com quem a empresa estará competindo e quais são suas reais possibilidades.Como funciona o Sistema Cambial do país comprador? Se o sistema cambial é centralizado, normalmente revela que o país tem dificuldade com sua balança de pagamentos. Isto pode incorrer em riscos políticos. O cliente paga em moeda local, mas o Banco Central não autoriza a conversão e remessa das divisas, entre outras coisas. A Economia é fechada e o mercado fortemente protegido? As barreiras não tarifárias, que obrigam a verdadeiros artifícios para atingir este mercado, não são um bom sinal. Mercados com medidas de proteção não tarifárias, economia fechada, são verdadeiras incertezas para o sucesso comercial. A sugestão é evitá-los! A estabilidade Política é aceitável? A instabilidade política projeta instabilidade econômica. Portanto, o seguro de crédito à exportação é essencial. Se for o caso, negocie os recebimentos por carta de crédito confirmada por banqueiro dos Estados Unidos, Canadá, da Europa e Japão. Na América Latina, solicite que os pagamentos sejam cursados dentro dos Convênios de Créditos Recíprocos. Se o país apresenta razoável estabilidade política e o seu cliente é pontual, tradicional, entre outros, a operação não deverá oferecer grandes riscos. Quadro 2 – Questões Críticas para Decisão: Para Quem Exportar? Fonte: Vazquez (2015) 6.2.3 Como exportar? Desde que a empresa esteja habilitada a fazer a exportação, com o Registro de Exportador e Importador (REI) emitido junto ao Sistema Integrado de Comércio Exterior (SISCOMEX), administrado pela Secretaria de Comércio Exterior e Receita Federal, o exportador tem condições de efetuar a exportação. Assim, poderá decidir, conforme COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 99 indica Vazquez (2015), sobre qual canal de vendas utilizará para atingir o seu mercado- alvo, quer sejam: Vendas Diretas ao Importador: o exportador/produtor venderá diretamente a seu comprador/importador, sem a intervenção de terceiros. Tal prática revela que o comprador já é tradicional cliente do exportador. Vendas a outra empresa (Comercial Exportadora): o exportador/produtor poderá optar por vender a um terceiro (comercial exportador) que tratará de vender seu produto no exterior. Vendas para Trading Companies3: as vendas a trading companies são equiparadas à exportação, como se o produtor/exportador tivesse feito a exportação. ISTO ACONTECE NA PRÁTICA O acordo comercial com Coreia do Sul terá impacto de R$ 416,8 bilhões no PIB até 2040, prevê Secex: estudo foi publicado em agosto de 2021, com estimativas de alta para PIB, investimentos, salário real, exportações e importações totais, além de queda de preços ao consumidor. A Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia divulgou estudo de impacto para o acordo de livre comércio em negociação com a Coreia do Sul. As negociações Mercosul – Coreia do Sul foram lançadas em maio de 2018 em Seul, na Coreia do Sul. As negociações envolvem compromissos de redução tarifária, maior integração entre os países via redução de barreiras não-tarifárias e compromissos regulatórios no comércio de serviços, em investimentos, propriedade intelectual e compras governamentais. As estimativas da Secex apontam para impacto positivo do acordo em todas as variáveis macroeconômicas – PIB (0,37%), investimentos (1,02%), exportações (1,45%) e importações (1,77%) totais e salário real (0,41%) –, inclusive sobre os preços ao consumidor (-0,08%), que apresentam estimativa de queda. Em termos acumulados até 2040, os impactos estimados são de R$ 416,8 bilhões no PIB, R$ 286,8 bilhões nos investimentos, R$ 231,3 bilhões nas exportações e R$ 486,2 bilhões nas importações. A simulação também permite identificar efeitos setoriais decorrentes dos acordos, em que a maioria absoluta dos setores apresenta aumento de nível de produção, exportações e importações totais. Acesse este estudo na íntegra, no link a seguir: https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/ publicacoes-secex/serie-acordos-comerciais/arquivos/coreia-do-sul-estudo-de-impacto.pdf 3 Trading Companies são empresas que visam a facilitação do processo de importação e exportação de mercadorias entre negociantes em países distintos. https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/publicacoes-secex/serie-acordos-comerciais/arquivos/coreia-do-sul-estudo-de-impacto.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/publicacoes-secex/serie-acordos-comerciais/arquivos/coreia-do-sul-estudo-de-impacto.pdf COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 100 6.3 Plano de Exportação O processo de exportação propriamente dito, deve ser antecedido por um planejamento formal e estruturado. Os empreendedores brasileiros, infelizmente, não têm o hábito de desenvolver um planejamento estratégico antes de iniciar seu negócio. Este perfil pode estar associado ao tipo de empreendedorismo praticado aqui. Dados do Global Entrepreneurship Monitor (GEM) (2018) mostram que no Brasil as pessoas empreendem mais por necessidade do que por oportunidade, e este perfil associa- se diretamente com os conhecimentos e o tempo despendidos antes do início das operações comerciais. Um plano empresarial é útil para conhecer o cenário, nacional ou internacional, pelo qual uma empresa operará. Ou seja, serve como um norte, um caminho, pelo qual as ações futuras se guiarão e os resultados se tornarão mais previsíveis, minimizando, assim, os riscos e incertezas inerentes aos processos de empreender. Atualmente, no Brasil, os empreendedores que objetivam se lançar à internacionalização, dispõem de alguns meios que auxiliam na elaboração do plano de internacionalização. O caminho mais rápido é a contratação de um profissional com experiência, tanto em exportação como no desenvolvimento do plano de internacionalização. Porém, o desenvolvimento de um departamento de comércio exterior e a contratação de um profissional capacitado pode ser custoso para empresas em início de operação ou que ainda não possuem um mercado interno consolidado. Outra forma seria aproveitar oportunidades de treinamento e capacitação oferecidos por órgãos governamentais ou entidades privadas de serviço social, como por exemplo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (APEX), entre outros. Independentemente da maneira ou do tipo de apoio contratado, o desenvolvimento de um plano de internacionalização é muito importante, pois nele estarão fixadas metas e objetivos de curto, médio e longo prazo, que guiarão as ações rumo à internacionalização. Soares (2004) propõe alguns tópicos que devem ser inseridos no plano de internacionalização, conforme apresentado no quadro a seguir: COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 101 TÓPICO ITEM UTILIDADE Sumário Introdução Serve como referência básica para apresentação da empresa a potenciais clientes e parceiros comerciais, como agentes e distribuidores. Não deve conter informações confidenciais. Histórico da empresa Donos, sócios e acionistas Gerência e administração Produtos Serviços Localização Posição no mercado doméstico Introdução Visão e missão Serve como orientação geral dos valores da empresa. Deve ser utilizado para obter comprometimento de todos os envolvidos com o plano, dentro da empresa ou fora dela (prestadores de serviços e fornecedores) Objetivos da internacionalização Organização Modelo de internacionalização Mostra como a empresa vai se organizar para a internacionalização em toda cadeia de produção e o papel de cada um dos responsáveis pela gerência e pelas decisões. Deve ser utilizado para evitar conflitos e/ ou lacunas gerenciais. Fornecedores Experiência internacional Recursos Humanos Mercados potenciaisPesquisa documental Mostra as características gerais de cada um dos mercados pré -selecionados. Tanto a pré-seleção quanto as demais informações são obtidas por meio da pesquisa em fontes secundárias. Serve para ter uma visão geral de cada mercado potencial e dos produtos concorrentes. Deve ser elaborado um capítulo completo para cada mercado selecionado. Ambiente político Ambiente econômico Tamanho do mercado Market share das importações Segmentos importantes Processo de compra Cadeia de marketing Descrição dos concorrentes Barreiras tarifárias e não tarifárias Acordos internacionais Tendências Outras informações relevantes Visão geral Produtos e serviços Adaptação do produto Serve para mostrar à produção e aos fornecedores o esforço de adaptação aos mercados externos selecionados. Capacidade de produção Novos produtos COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 102 Estratégias Mercado(s)-alvo Mostra como a empresa vai se posicionar no(s) mercado(s) -alvo escolhido(s). Deve ser utilizado no planejamento de marketing e das vendas internacionais. Estas informações são confidenciais. posição competitiva externa Posicionamento do produto Preços Comunicação Logística e distribuição Vendas Perfil de intermediários e parceiros Questões legais Riscos Comerciais Serve para decidir se a pré-seleção dos mercados-alvo se sustentam diante dos riscos oferecidos por cada um deles e para precaução com relação a futuros problemas. Cambiais Políticos Culturais Outros Implementação Fluxograma de atividades Serve para orientar os envolvidos (e incumbir ações práticas). Divisão das tarefas Orçamento Recursos Serve para verificar a necessidade de recursos, seu impacto nos custos e se eles estão disponíveis ou deverão ser financiados. Custo das vendas Custos de marketing Outras despesas Quadro 3 – Plano de Internacionalização Fonte: Adaptado de Soares (2004, p. 230) Este roteiro de informações e análises é de grande utilidade para demonstrar a capacidade gerencial, produtiva e financeira da organização frente ao desafio da internacionalização. Além disso, pode ser uma importante ferramenta para angariar investimento junto às instituições públicas ou privadas de financiamento. Trata-se de dados mais qualitativos, que possibilitarão aos gestores compreender os diferentes ângulos pelos quais o processo de exportação direta vincula-se. Realizando esta pesquisa, os empreendedores terão uma visão dos aspectos internos (capacidade humana, material, financeira e produtiva), aspectos externos (concorrentes, mercados potenciais e fornecedores), bem como aspectos institucionais relacionados às legislações, regulamentações, barreiras e incentivos ligados aos mercados que pretendem exportar. Assim, vencida esta etapa e estando mais conscientes e informados sobre os aspectos e impactos da internacionalização, o próximo passo é a análise financeira detalhada. A elaboração de um orçamento de longo prazo é essencial para o estabelecimento de limites inferiores e superiores aos investimentos e despesas necessárias para a exportação. Antes de iniciar esta etapa, é muito importante ter em mente que, antes da montagem de um orçamento para a internacionalização, a empresa precisa operar segundo uma COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 103 organização financeira sistemática. Ou seja, se a empresa não opera segundo um orçamento organizado de custos e investimento, gastos próprios e despesas pessoais dos sócios, é necessário, antes de mais nada, uma reorganização interna. O quadro a seguir apresenta os tópicos necessários para a construção de um orçamento voltado à exportação direta. Ressaltando que, dependendo do tamanho e da estrutura da organização, alguns tópicos podem ser suprimidos ou outros podem ser incluídos. ORÇAMENTO OU FONTES DE FINANCIAMENTO UTILIDADE FONTES 2021 2022 2023 Permite saber se os recursos estão disponíveis ou se deverão ser buscados. Fonte A Fonte B Fonte C CUSTO SOBRE VENDAS COMISSÃO Permite elaborar preços de exportação de forma realista. Comissão A Comissão B Comissão C CUSTOS ADMINISTRATIVOS Seguros Permite inserir despesas não operacionaisBancos Consultoria CUSTOS OPERACIONAIS Produção Permite elaborar o fluxo de caixa das exportações Transportes Documentação Seguros Despachante aduaneiro CUSTOS DE MARKETING Agentes/distribuidores Permite saber quanto se pode investir na promoção do produto e, dessa forma, avaliar se a meta de vendas externas é factível. Propaganda Material promocional Viagens Comunicação Feiras Quadro 4 – Orçamento de Internacionalização Fonte: Adaptado de Soares (2004, p. 230) COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 104 Finalmente, com o plano e o orçamento de internacionalização prontos e analisados, e a certeza do sucesso desse importante passo, é o momento de colocá-lo em ação e iniciar efetivamente o processo de implementação do plano que passa pelas seguintes etapas: seleção do mercado-alvo, definição das estratégias de marketing e logística, busca pelas oportunidades de negócios, identificação de parceiros nacionais e internacionais, estabelecimento de critérios para manutenção e controlar constantemente o orçamento planejado. O quadro abaixo detalha o que e como agir em cada uma dessas etapas. ETAPA DESCRIÇÃO Seleção do mercado-alvo Indica-se iniciar pelos mercados que contenham as menores distâncias (geográfica, cultural, tecnológica e temporal); e buscar por mercados que possuam acordos comerciais com benefícios tarifários ou não tarifários com o Brasil. Estratégias de marketing e logística Com o mercado-alvo escolhido, é possível definir: preço e condições de venda e de pagamento internacional; contratação do despachante aduaneiro; e estabelecimento dos custos logísticos nacionais e internacionais. Busca por oportunidades de negócios e parceiros Os negócios serão angariados por meio da participação em feiras e missões comerciais, pesquisas em bancos de dados de associações, embaixadas ou agências governamentais; e organizar uma agenda de visita própria com potenciais clientes e fornecedores. Identificação de critérios para manutenção dos negócios Promover avaliações periódicas do processo de internacionalização; e ouvir opiniões de terceiros envolvidos no processo. Controle do orçamento Seguir e respeitar o orçamento elaborado. Quadro 5 – Etapas da Internacionalização Fonte: Adaptado de Soares (2004, p. 231) ISTO ESTÁ NA REDE A iniciativa do Governo Federal: Aprendendo a Exportar, tem seu conteúdo voltado para o aprendizado dos procedimentos operacionais da exportação, com abordagem de diversas áreas temáticas de interesse do exportador e características que possibilitam a usuários de diferentes níveis de conhecimento a obtenção de informações de acordo com o grau de interesse. Este conjunto de informações foi produzido com objetivo de contribuir para a difusão da cultura exportadora no país, buscando, principalmente, uma maior participação dos empresários das micro, pequenas e médias empresas, dispostos a iniciar sua caminhada rumo ao mercado internacional. A localização de temas e assuntos específicos poderá ser realizada nos menus de navegação ou, então, utilizando a busca do site, cujo campo está localizado no topo da página. Aproveite para se informar mais sobre o tema e acesse este site no link: http://siscomex.gov.br/aprendendo-a-exportar/ http://siscomex.gov.br/aprendendo-a-exportar/ COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 105 A partir deste momento, com o plano de internacionalização elaborado e implementado, o plano orçamentário como balizador dos investimentos e gastos, e um programa de manutenção dos negócios, a empresa pode, enfim, iniciar os processos de exportação.Portanto, no próximo capítulo, examinaremos os procedimentos operacionais formais da exportação, com as regras de cadastramento e documentos utilizados. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 106 AULA 7 EXPORTAÇÃO Neste capítulo são abordados aspectos formais do processo de Exportação. É importante destacar que a partir de 2 de julho de 2018, o sistema do governo federal responsável por gerenciar estas operações, denominado Novoex, foi desligado. A partir daí, os novos registros de Comércio Exterior passaram a ser efetuados de forma exclusiva por meio do Portal Único Siscomex1. Junto com esse sistema apareceu uma diferente estrutura processual, orientada, sobretudo, por meio do Manual de Exportação via Declaração Única de Exportação (DU-E). Nesta direção, este capítulo contempla os principais aspectos operacionais de habilitação/cadastramento do exportador no sistema Siscomex, bem como, pontos que devem ser observados na DU-E. Interessou- se por este assunto? Siga em frente! 7.1 Portal Único Siscomex Afinal de contas, o que significa Siscomex? Conforme identificado no Portal Único do Siscomex (SISCOMEX, 2021), temos que: O Sistema Integrado de Comércio Exterior (SISCOMEX) consiste em uma iniciativa de desburocratização do comércio exterior brasileiro, decorrente de compromisso assumido pelo Brasil na OMC, no âmbito do Acordo de Facilitação de Comércio, implantado sob o conceito de janela única do comércio exterior, ou seja, uma interface única entre governo e operadores de comércio Fonte: <http://siscomex.gov.br/> Acesso em 5 nov. de 2021. A figura abaixo apresenta a interface desse sistema: 1 Acesse e conheça o Portal Único Siscomex em: http://siscomex.gov.br/ http://siscomex.gov.br/ http://siscomex.gov.br/ COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 107 Figura 1 – Interface do Portal Único Siscomex Fonte: Siscomex (2021) Esse sistema tem como objetivo central a facilitação do acesso aos serviços e também aos órgãos governamentais. Além disso, o portal é a ligação entre as empresas de comércio exterior, agentes aduaneiros, importadores e exportadores. Ou seja, o Siscomex é responsável por facilitar as exportações brasileiras e proporcionar a expansão do mercado externo. Entre as funcionalidades do Siscomex, são disponibilizados acessos para: • Sistemas de Importação, Exportação, Cargas e Logística, Regimes Especiais e Cadastro e Habilitação; • Legislação relacionada ao Comércio Exterior; • Simuladores para Tratamento Administrativo da Exportação e Importação; • Manuais que orientam sobre a elaboração da Declaração Única de Exportação (DU-E), requerimento de LPCO, Tratamento Administrativo na Exportação no Portal Único de Comércio Exterior, Manuais Aduaneiros, Manual de Habilitação no Siscomex, Manual de Despacho na Importação, Manuais Drawback Isenção e Suspensão, Manual Visão Integrada e Módulo Anexação Eletrônica de Documentos, Manual de Recepção de Certificados de Origem Digital (COD), Cartilha LI WEB e Catálogo de Produtos (DUimp); • Fontes de informações sobre a temática e os serviços relacionados ao comércio exterior e perguntas frequentes. Por que o Siscomex assume tamanha importância? A resposta é simples: o uso desse sistema é obrigatório nas operações de comércio exterior no Brasil. Os profissionais de comércio exterior não têm a opção de não utilizá-lo ou de utilizar outro recurso. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 108 Além disso, o acesso ou cadastro no Siscomex se dá por meio de certificação digital. Por isso, caso a pessoa física ou jurídica precise de acesso ao sistema mas ainda não tenha uma certificação digital, precisará providenciar uma, como sendo a primeira coisa a ser feita para ter acesso ao sistema. ANOTE ISSO Para se registrar e começar a usar o sistema, pessoas físicas e jurídicas precisam realizar procedimentos distintos. No caso de pessoas físicas, há muitas situações onde o uso do Siscomex não é obrigatório. Para obter todas as informações necessárias, é importante consultar o Manual de Habilitação no Siscomex da Receita Federal. O manual de habilitação está disponível em: http://receita.economia.gov.br/orientacao/aduaneira/manuais/habilitacao Entre os órgãos que utilizam o Siscomex estão a Secretaria da Receita Federal, Secretaria de Comércio Exterior e Banco Central do Brasil. Todas as informações são integradas e podem ser consultadas em tempo real, pela internet. O Siscomex foi criado para informatizar todo o processo administrativo de exportações, tornando-o mais fácil, ágil e aumentando a transparência das atividades no setor. Com isso, empresas e órgãos fiscalizadores conseguem simplificar e padronizar as operações, diminuir o volume de documentos, reduzir os custos administrativos, entre outros. Porém, é importante a compreensão de que o Siscomex não é uma ferramenta de gestão operacional, financeira ou administrativa. Também não permite que o profissional receba pagamentos pela ferramenta. Nesse caso, o profissional deve procurar um recurso específico para esse fim. 7.1.1 Ambiente de Operações do Portal Único Siscomex Para acesso ao Siscomex, o usuário deve acessar o endereço: www.portalunico. siscomex.gov.br e selecionar a opção “Importador/Exportador", conforme figura a seguir. https://www.remessaonline.com.br/blog/certificacao-digital-aprenda-como-obter-e-instalar/ http://receita.economia.gov.br/orientacao/aduaneira/manuais/habilitacao http://receita.economia.gov.br/orientacao/aduaneira/manuais/habilitacao http://receita.economia.gov.br/orientacao/aduaneira/manuais/habilitacao https://portalunico.siscomex.gov.br/portal/ https://portalunico.siscomex.gov.br/portal/ COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 109 Figura 2 – Passo 1 no Acesso para Exportação via Siscomex Fonte: Siscomex (2021) Em seguida, o usuário deverá selecionar "importador/exportador/despachante". Figura 3 – Passo 2 no Acesso para Exportação via Siscomex Fonte: Siscomex (2021) Após, surgirá a opção de acesso com certificado digital, conforme marcações em vermelho. O usuário deve então clicar nesta opção (acesso com certificado digital) e realizar sua autenticação. Figura 4 – Passo 3 no Acesso para Exportação via Siscomex Fonte: Siscomex (2021) COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 110 7.1.2 Conceitos Padronizados no Siscomex Para efeitos do disposto na Instrução Normativa n° 1.702, de 2017, que disciplina o despacho aduaneiro de exportação processado por meio de Declaração Única de Exportação (DU-E), é necessária a padronização no entendimento dos conceitos expressos no quadro a seguir: Conceito Descrição Declarante Pessoa responsável por apresentar a DU-E e promover o despacho de exportação em nome próprio, se for o exportador, ou em nome de terceiro, quando se tratar de pessoa jurídica contratada para esse fim. Despacho domiciliar Aquele realizado em local solicitado pelo exportador, situado fora de recinto aduaneiro e sob sua responsabilidade. Exportador Qualquer pessoa que promova a saída de mercadoria do território aduaneiro. Referência Única da Carga (RUC) O identificador único e irrepetível servirá de base para o controle da armazenagem e movimentação de cargas para exportação. Referência Única de Carga- Master (MRUC) O identificador único e irrepetível servirá de base para o controle da armazenagem e movimentação de cargas consolidadas para exportação. Recepção de carga a informação prestada pelo interveniente, referente às cargas por ele recebidas para despacho aduaneiro ou em trânsito aduaneiro de exportação. Entrega de carga Informação prestada pelo interveniente, referente às cargas por ele entregues a outro interveniente para trânsito aduaneiro, embarque ao exterior ou transposição de fronteira. Consolidação decarga Informação prestada pelo interveniente, referente ao agrupamento de cargas, por ele realizado, relativas a diferentes operações de exportação que tenham um mesmo destino, final ou para redistribuição, no exterior. Unitização de carga Informação prestada pelo interveniente, referente ao acondicionamento, por ele realizado, dos volumes soltos de uma carga a exportar em uma ou mais unidades de carga. Manifestação de embarque Informação prestada pelo transportador, referente às cargas por ele transportadas ou a serem transportadas para o exterior, ou em trânsito aduaneiro pelo território nacional. Averbação de embarque Confirmação da saída dos bens exportados do País. Evento Registro eletrônico de uma ação ou situação relacionada com a nota fiscal eletrônica (NF-e). Quadro 1 – Conceitos Básicos adotados no Siscomex Fonte: Receita Federal (2021) http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?visao=anotado&idAto=81483 COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 111 7.2 Declaração Única de Exportação DU-E Como mencionado no início deste capítulo, o Siscomex é o sistema responsável por gerenciar o comércio exterior brasileiro. Assim, para o processo de exportação iniciar, um documento é apontado como principal: a Declaração Única de Exportação (DU-E). A Declaração Única de Exportação (DU-E) consiste em: Um documento eletrônico que define o enquadramento da operação de exportação e subsidia o despacho aduaneiro de exportação. Compreende informações de natureza aduaneira, administrativa, comercial, financeira, fiscal e logística, que caracterizam a operação de exportação dos bens por ela amparados (Fonte: Portaria Conjunta RFB/SECEX nº 349, de 21 de março de 2017). Neste contexto, vale ressaltar que a Instrução Normativa no. 1.702 de 21 de março de 2017 disciplinou o despacho aduaneiro de exportação processado por meio de Declaração Única de Exportação (DU-E) se estabeleceu, entre outros, que a Declaração Única de Exportação (DU-E) E é um documento eletrônico que: • Contém informações de natureza aduaneira, administrativa, comercial, financeira, tributária, fiscal e logística, que caracterizam a operação de exportação dos bens por ela amparados e definem o enquadramento dessa operação; e, • Serve de base para o despacho aduaneiro de exportação. No que se refere à elaboração da DU-E, a referida Instrução Normativa define que a DU-E é formulada em módulo próprio do Portal Siscomex e consiste na prestação, pelo declarante ou seu representante, das informações necessárias ao controle da operação de exportação, de acordo com: a) a forma de exportação escolhida pelo exportador; b) os bens integrantes da DU-E; e, c) As circunstâncias da operação. A DU-E tem como base a nota fiscal que ampara a operação de exportação, exceto nas hipóteses em que a legislação de regência dispensa a emissão desse documento e nas hipóteses de exportação com base em nota fiscal em papel ou sem nota fiscal. Neste último caso, todos os dados necessários à elaboração da DU-E devem ser fornecidos pelo declarante. Em suma, conforme se percebe no Portal Único Siscomex, o novo processo de exportação, realizado por meio de Declaração Única de Exportação (DU-E), buscou adequar o controle aduaneiro e administrativo ao processo logístico das exportações, de maneira a realizá-los de maneira eficaz e segura. http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?idAto=81446&visao=anotado http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?idAto=81446&visao=anotado COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 112 ISTO ACONTECE NA PRÁTICA Exportar produtos já foi um ato custoso e trabalhoso. No passado, era necessário, em alguns casos, providenciar três documentos para enviar produtos para fora do país. Entre eles estavam o registro de exportação, a declaração de exportação e a declaração simplificada de exportação. Para simplificar todo o processo, foi criada a Declaração Única de Exportação, além da substituição do extrato completo de exportação pela sua versão simplificada. Você quer saber mais sobre a Declaração Única de Exportação (DU-E) e o extrato simples de exportação? Então, acesse este link a seguir e amplie ainda mais o seu conhecimento! https://logistica.pibernat.com.br/declaracao-unica-de-exportacao-2/ 7.2.1 Formas de Exportação utilizando a DU-E Com base no artigo 11 da Instrução Normativa da Receita Federal do Brasil n° 1.702, de 2017, o exportador poderá utilizar uma das formas a seguir elencadas para realizar o processo de exportação: • Exportação própria: hipótese de exportação em que o declarante e o exportador da DU-E são a mesma pessoa (física ou jurídica). Para DU-E, distintos estabelecimentos de uma empresa não são considerados pessoas distintas. Dessa forma, uma DU-E de exportação por conta própria pode ser instruída com notas fiscais de diferentes filiais de uma mesma empresa. • Exportação por meio de operador de remessa expressa ou postal: Hipótese de exportação em que declarante e exportador são pessoas distintas, sendo que o declarante da DU-E obrigatoriamente deve ser empresa de transporte expresso internacional ou os Correios. • Exportação por conta e ordem de terceiro: Hipótese de exportação em que declarante e exportador são pessoas distintas, sendo que o declarante da DU-E será uma pessoa jurídica especificamente contratada para essa atividade, inclusive na qualidade de operador logístico. A exportação por conta e ordem de terceiro será permitida somente por meio de DU-E instruída com NF-e emitida pelo exportador (§ 2° do art. 13 da IN n° 1.702, de 2017). Esse tipo de operação independe de qualquer outro tipo de procedimento administrativo no Siscomex ou junto à RFB, nem mesmo a apresentação do contrato de prestação dos serviços. https://logistica.pibernat.com.br/declaracao-unica-de-exportacao-2/ http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?visao=anotado&idAto=81483 http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?visao=anotado&idAto=81483 http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?visao=anotado&idAto=81483 COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 113 Figura 5 – Exemplo do Extrato Simplificado da DU-E Fonte: FAZCOMEX (2021) 7.2.2 Como anexar documentos na DU-E A nota fiscal formulário (papel) e outros documentos que instruírem a DU-E, e aqueles exigidos em decorrência de acordos internacionais ou de legislação específica, deverão ser disponibilizados à RFB ou a outros órgãos ou agências da Administração Pública federal, conforme o caso, em meio digital, por meio da funcionalidade Anexação de Documentos Digitalizados. Os documentos instrutivos da DU-E deverão ser disponibilizados à RFB nos casos de direcionamento a canal de conferência aduaneira diferente do canal verde (§ 1° do art. 18 da IN RFB n° 1.702, de 2017). Fica dispensada a exigência de apresentação em meio físico da NF-e ou do Documento Auxiliar da Nota Fiscal Eletrônica (Danfe) (§ 2° do art. 18 da IN RFB n° 1.702, de 2017). https://www.gov.br/receitafederal/pt-br/assuntos/aduana-e-comercio-exterior/manuais/despacho-de-exportacao/topicos/entrega-e-recepcao-dos-documentos/documentos-de-instrucao-do-despacho-por-de/documentos-de-instrucao-do-despacho-por-de https://www.gov.br/receitafederal/pt-br/assuntos/aduana-e-comercio-exterior/manuais/despacho-de-exportacao/topicos/entrega-e-recepcao-dos-documentos/documentos-de-instrucao-do-despacho-por-de/documentos-de-instrucao-do-despacho-por-de http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?visao=anotado&idAto=81483 http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?visao=anotado&idAto=81483 http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?visao=anotado&idAto=81483 COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADECATÓLICA PAULISTA | 114 Figura 6 – Tela de Anexação do Siscomex Fonte: Siscomex (2021) Durante a elaboração da DU-E é possível anexar documentos. Contudo, primeiro deverá ser instalado o programa Assinador Serpro2. Caso seja necessário, é neste espaço que devem ser inseridos os documentos instrutivos obrigatórios do despacho de exportação, com exceção na Nota Fiscal Eletrônica e, bem como, outros documentos eventualmente exigidos pela legislação aduaneira. Por meio do botão anexar documentos, da ficha Anexação, o exportador ou declarante pode anexar documentos necessários à instrução do despacho ou exigidos pela fiscalização aduaneira. 7.2.3 O Módulo de Controle de Carga e Trânsito (CCT) O módulo de Controle de Carga e Trânsito controla a localização da carga de exportação e sua movimentação entre os diversos intervenientes durante todo o despacho aduaneiro. A localização da carga no CCT é sempre definida: 2 Disponível em: https://www.serpro.gov.br/links-fixos-superiores/assinador-digital/assinador-serpro https://www.serpro.gov.br/links-fixos-superiores/assinador-digital/assinador-serpro COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 115 • CNPJ ou CPF do interveniente responsável pelo local onde ela se encontra; • Código da unidade da Receita Federal (URF) com jurisdição aduaneira sobre esse local; e • Coordenadas geográficas deste local. Assim, a todo momento e até que a DU-E/RUC ou MRUC esteja na situação CCE, a carga sempre estará sob a jurisdição de uma unidade da Receita Federal, sob a responsabilidade de um interveniente e em um determinado par de coordenadas. Como consequência, não é possível, por exemplo, entregar uma carga a um interveniente que não possua um CNPJ ou CPF (por exemplo, um estrangeiro). Outra importante observação é que o sistema trabalha com a lógica do interveniente que está executando a ação, ou seja, quando ocorre uma entrega de carga, esta permanece sob a jurisdição da mesma URF e nas mesmas coordenadas geográficas de quem entregou, mas muda o CNPJ/CPF do responsável, que passará a ser aquele de quem recebeu a carga. Pela mesma razão, quando ocorre uma recepção de carga, esta passa para a responsabilidade do CNPJ/CPF do recebedor e também para jurisdição da URF e para as coordenadas de onde ela se encontra. É essa mesma localização que irá determinar se será ou não necessário utilizar uma das formas de trânsito aduaneiro de exportação para completar a operação. A falta de compreensão total desses conceitos tem levado a erros frequentes, principalmente quando a carga não está sob a responsabilidade de um recinto aduaneiro. Quando a carga está com um recinto, o sistema automaticamente identifica a URF, o CNPJ e as coordenadas correspondentes. Entretanto, quando o interveniente não é um recinto, esses três elementos necessitam ser precisamente informados pelo usuário em algum momento, dependendo do tipo de operação que se pretende realizar. Por exemplo, um único dígito diferente ou a mais ou a menos nas coordenadas é suficiente para o sistema entender que a carga está em uma localização distinta da informada. Uma coordenada positiva em vez de negativa, por exemplo, pode indicar ao sistema que a carga se encontra do outro lado do mundo. Em outro exemplo, se porventura um transportador pretende enfatizar, consolidar ou transitar uma carga não estocada em recinto, ele precisa indicar corretamente a localização onde se realiza a operação, pois o sistema irá verificar se a(s) carga(s) está(ão) realmente nesse local. Se tudo estiver sendo feito como esperado, a localização no sistema e a localização https://www.gov.br/receitafederal/pt-br/assuntos/aduana-e-comercio-exterior/manuais/exportacao-portal-unico/introducao/local-do-despacho-de-exportacao-local-de-embarque-e-coordenadas-geograficas/coordenadas-geograficas https://www.gov.br/receitafederal/pt-br/assuntos/aduana-e-comercio-exterior/manuais/exportacao-portal-unico/cce-carga-completamente-exportada https://www.gov.br/receitafederal/pt-br/assuntos/aduana-e-comercio-exterior/manuais/exportacao-portal-unico/transito-aduaneiro-na-exportacao/manifestar-dat/formas-de-transito-aduaneiro-de-exportacao https://www.gov.br/receitafederal/pt-br/assuntos/aduana-e-comercio-exterior/manuais/exportacao-portal-unico/transito-aduaneiro-na-exportacao/manifestar-dat/formas-de-transito-aduaneiro-de-exportacao COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 116 física será a mesma, já que se espera que os registros no sistema reflitam fatos práticos de aplicação. Porém, na dúvida, o usuário deve consultar no estoque após- ACD a localização (URF+CNPJ/CPF+coordenadas) exata onde se encontra a carga. Pela mesma razão, se ele tentar manifestar uma carga que não está na localização por ele indicada, o sistema criticará essa informação. 7.2.3.1 Local de Despacho da Exportação O local de despacho, refere-se a um recinto aduaneiro, bastando ao declarante indicar na DU-E o seu código do Siscomex, pois cada recinto onde se processa despacho de exportação está associado no sistema a uma URF de jurisdição, ao CNPJ do depositário e a um par de coordenadas geográficas. Observado o disposto no § 1º do art. 59 da IN RFB n° 1.702, de 2017, o despacho de exportação poderá ser realizado em: a) Recintos aduaneiros de zona primária ou secundária; b) Locais situados na zona primária, sob a responsabilidade de um operador portuário, de um transportador internacional ou da Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB), ou; c) Qualquer local no território aduaneiro autorizado pela fiscalização aduaneira ou em legislação específica, sob a responsabilidade do exportador. De outra forma, o despacho aduaneiro de exportação de petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados e biocombustíveis, tendo em vista a condição especial em que esses tipos de bem são extraídos/produzidos, faz-se, após prévia habilitação, na unidade da RFB de despacho mais próxima da área onde ocorrerá o embarque das mercadorias ou de outra unidade da RFB, a critério do Superintendente da Receita Federal do Brasil da Região Fiscal jurisdicionante sobre a unidade requerida (Instrução Normativa RFB n° 1.381, de 2013). Nos casos excepcionais em que o despacho de exportação deva ocorrer fora de recinto, o declarante deve indicar essa condição na DU-E e ainda a URF com jurisdição sobre o local onde ele pleiteia que o despacho seja processado, o CNPJ ou CPF do responsável por esse local e suas correspondentes coordenadas geográficas. Nesses casos, sugere-se ainda indicar, nos campos próprios da DU-E, o endereço do local e um ponto de referência para encontrá-lo, a fim de facilitar a identificação do local https://www.gov.br/receitafederal/pt-br/assuntos/aduana-e-comercio-exterior/manuais/exportacao-portal-unico/copy3_of_introducao/consulta-de-estoque http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?visao=anotado&idAto=81483 http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?visao=anotado&idAto=44307 http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?visao=anotado&idAto=44307 COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 117 de despacho pela fiscalização aduaneira. O despacho aduaneiro de exportação para admissão no regime aduaneiro especial de Depósito Alfandegado Certificado (DAC) será processado no próprio recinto alfandegado que opere esse regime. Na hipótese de despacho domiciliar, o exportador deverá indicar em campo próprio da DU-E não apenas tratar-se de despacho fora de recinto, mas também que se trata de despacho domiciliar. Enquanto o despacho fora de recinto não dispensa a recepção de carga pelo operador portuário ou transportador internacional, no despacho domiciliar, por sua vez, a carga já se encontra sob a responsabilidade do exportador e, consequentemente, é dispensada a recepção da carga para despacho. A realizaçãodo despacho domiciliar é permitida ou exigida em legislação específica ou pela unidade da RFB com jurisdição sob o local onde se encontra a carga, que não necessariamente é o estabelecimento do exportador, podendo ser, por exemplo, no meio de uma rodovia federal. Entretanto, ela pode ser indeferida pelo Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil, responsável pela conferência aduaneira da DU-E. O deferimento para a realização de despacho domiciliar se dá de forma tácita, portanto, o exportador pode indicar livremente tratar-se de um despacho domiciliar e, se a DU-E se enquadrar em uma das hipóteses estabelecidas na legislação ou naquelas eventualmente autorizadas pela URF local para o despacho domiciliar, basta o Auditor Fiscal da Receita Federal prosseguir com o despacho. Caso contrário, ele registrou uma exigência para que o exportador cancele a DU-E e registre uma outra para despacho normal. Para o deferimento do despacho domiciliar são considerados a natureza dos bens a exportar, as condições de higiene e de segurança do local indicado para a realização do despacho e a disponibilidade de mão de obra fiscal, além de outros critérios estabelecidos pelo chefe da unidade da RFB jurisdicionante. Nas hipóteses em que o despacho domiciliar se realizar no próprio local do embarque, devem ser indicadas como coordenadas geográficas do local do embarque as mesmas coordenadas da URF do local do despacho, a fim de permitir a entrega da carga ao transportador sem a necessidade de trânsito aduaneiro. Somente o chefe da unidade da Receita Federal do Brasil jurisdicionante pode estabelecer hipóteses em que o despacho de exportação seja realizado obrigatoriamente no domicílio do exportador. O despacho de exportação de cigarros e de bebidas, por exemplo, deverá, obrigatoriamente, ser realizado no estabelecimento industrial do exportador. Após o desembaraço, as mercadorias seguirão em trânsito aduaneiro até o local de embarque COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 118 para o exterior (art. 7° da Instrução Normativa RFB nº 1.155, de 2011 e art. 341 e 343 do Decreto nº 7.212, de 2010). As despesas decorrentes do processamento do despacho domiciliar serão ressarcidas pelo exportador, na forma prevista na legislação de regência (§ 3° do art. 6° da IN RFB n° 1.702, de 2017). ISTO ACONTECE NA PRÁTICA O Brasil é um dos maiores produtores de pedras preciosas e semipreciosas do mundo, tendo a União Europeia como um dos principais destinos para as exportações deste produto. Dentro de todos os minerais produzidos, o quartzo de ametista é tido como um dos principais para a economia brasileira. As pedras de ametista surgiram há aproximadamente 130 milhões de anos quando houve um derrame de lava de erupções vulcânicas. Toda esta riqueza está localizada na província vulcânica Paraná, que além de ser uma das maiores províncias basálticas continentais, também é favorecida por uma particularidade geológica. Está situada acima do grande aquífero Guarani, que, em decorrência de seu intenso fluido, mais íons foram transportados e uma maior quantidade de minerais de sílica foram depositados nos geodos ali existentes. Assim, compreender o mercado para a exportação destas pedras a União Europeia é vital para quem atua neste cenário. Aspectos mercadológicos inerentes ao produto, bem como, o estudo sobre o seu respectivo mercado produtor e comprador e a seleção dos mercados-alvo no bloco comercial escolhido, nesta visão, são de extrema importância. Quer conhecer mais sobre este mercado e os resultados deste estudo? Acesse: https://www. brazilianjournals.com/index.php/BJB/article/view/18084/14628 7.2.3.2 Local de Embarque O local de embarque informado em uma DU-E é definido pelo código da unidade local da RFB (URF) com jurisdição aduaneira sobre esse local e pelas coordenadas geográficas deste local. O local de embarque, em regra, é definido por uma URF, que jurisdiciona o local de saída da mercadoria do território nacional, bastando ao declarante indicar na DU-E seu código do Siscomex, pois cada unidade da RFB onde ocorre embarque de bens para o exterior está associada no sistema a um par de coordenadas geográficas e os recintos nela localizados têm essas mesmas coordenadas cadastradas no Siscomex. http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?visao=anotado&idAto=16127 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/decreto/d7212.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/decreto/d7212.htm http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?visao=anotado&idAto=81483 https://www.brazilianjournals.com/index.php/BJB/article/view/18084/14628 https://www.brazilianjournals.com/index.php/BJB/article/view/18084/14628 https://www.gov.br/receitafederal/pt-br/assuntos/aduana-e-comercio-exterior/manuais/exportacao-portal-unico/introducao/local-do-despacho-de-exportacao-local-de-embarque-e-coordenadas-geograficas/coordenadas-geograficas https://www.gov.br/receitafederal/pt-br/assuntos/aduana-e-comercio-exterior/manuais/exportacao-portal-unico/introducao/local-do-despacho-de-exportacao-local-de-embarque-e-coordenadas-geograficas/coordenadas-geograficas COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 119 No caso de o embarque ocorrer em pontos de fronteira alfandegados ou portos e aeroportos de menor porte e que não sejam sede da URF de jurisdição, deve ser indicado na DU-E o código no Siscomex do recinto alfandegado onde ocorrerá o embarque da carga para o exterior e o sistema apropriará a URF e as coordenadas correspondentes. Também pode ser necessário indicar um recinto de embarque específico em portos de grande porte, onde cada recinto tem suas próprias coordenadas, distintas daquelas da URF de jurisdição. Se isso não for feito, pode ser que o embarque ocorra em local distinto daquele indicado na DU-E e esta não irá averbar automaticamente. A indicação de um recinto como local de embarque é menos suscetível a erros, mas, se o embarque ocorrer efetivamente em outro recinto e este tiver coordenadas distintas daquele, o exportador poderá ser obrigado a retificar o local de embarque na DU-E, a fim de permitir a averbação automática da sua declaração. Outro aspecto importante a se observar é que alguns portos e aeroportos são jurisdicionados por URF fisicamente distantes de sua localização, havendo neles apenas um recinto subordinado à URF de jurisdição e onde se efetuará o embarque para o exterior. Por exemplo, o Porto de Aratu é jurisdicionado pela Alfândega do Porto de Salvador, que está situado a dezenas de quilômetros de distância. Assim, se o exportador indicar como local de embarque a URF Porto de Salvador, em vez do recinto do Porto de Aratu, o sistema interpretará que o local de embarque é em Salvador e, assim, não ocorrerá a averbação automática da DU-E. Quando a mercadoria, após seu desembaraço aduaneiro de exportação, for carregada em aeronave ou embarcação que faça percurso interno conjugada com outra que complemente a operação de transporte no percurso internacional, será considerado local de embarque aquele em que a mercadoria for carregada no veículo que fará a viagem internacional, mesmo que venha a escalar em outro ponto do território nacional. ANOTE ISSO O embarque antecipado de bens objeto de DU-E ainda não desembaraçada pode ser autorizado em diversas hipóteses previstas no art. 96 da IN RFB nº 1702/17. Essa é uma situação especial de despacho de exportação, que se aplica principalmente nas exportações de granéis e de veículos. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 120 7.2.3.3 Coordenadas Geográficas As coordenadas geográficas desempenham um importante papel no controle de carga do Portal Único do Siscomex. Elas servem para definir os locais de despacho e embarque de uma operação de exportação e futuramente serão utilizadas tambémno controle do trânsito aduaneiro de exportação. Todo recinto aduaneiro onde se processe o despacho de exportação ou que, por alguma razão, receba carga de exportação em trânsito com destino ao exterior deve ter suas coordenadas cadastradas na Tabela 61 do sistema Siscomex. Algumas URFs localizadas em zona primária também têm coordenadas próprias, cadastradas na Tabela 60 do Siscomex e podem ser indicadas como local de embarque, entretanto, se os recintos nela localizados não tiverem as mesmas coordenadas da URF, isso pode impedir a ocorrência do evento CCE e da consequente averbação da carga, pois o exportador pode indicar a URF como local do embarque e o transportador indicar o recinto, ou vice versa, e o sistema interpretará que são locais distintos. Assim, recomenda-se indicar um recinto de zona primária como o local do embarque. A fim de minimizar a possibilidade de erros, foram cadastradas as coordenadas geográficas apenas dos recintos onde foram registradas operações de exportação em 2015 e 2016 e das URF situadas em zona primária, onde se efetuam embarques de exportação. Em razão desse critério inicial, em princípio, apenas novos recintos aduaneiros necessitarão ter suas coordenadas cadastradas. Nesse caso, quando o exportador tentar indicar como local de despacho ou embarque um recinto sem coordenadas, ou ele não o encontrará entre aqueles listados na tela de preenchimento da DU-Para atualizar as coordenadas de um recinto aduaneiro ou criar um novo recinto, a URF deve primeiramente efetuar algumas verificações: • Confirmar que no recinto realmente está ou estará autorizado o processamento de despachos de exportação ou o recebimento de carga em trânsito de exportação. • Verificar se o recinto se encontra fisicamente na mesma zona primária onde se encontra a URF à qual ele está jurisdicionado. Em caso afirmativo, em princípio devem ser cadastradas as mesmas coordenadas da URF. Como exceção, a URF pode entender conveniente impor maior controle sobre determinado recinto de sua zona primária, bastando, para tal fim, ela solicitar o cadastro de coordenadas próprias para o recinto, assim, todas as movimentações desde ou para esse recinto só serão permitidas sob regime de trânsito controlado pelo CCT. • Se o recinto se encontra em zona secundária ou, se em zona primária, mas jurisdicionado a uma URF fora da zona primária, devem ser utilizadas as coordenadas do próprio recinto. https://www.gov.br/orientacao/aduaneira/manuais/exportacao-portal-unico/cce-carga-completamente-exportada COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 121 Confirmada a necessidade de sua atualização ou criação e identificadas as coordenadas geográficas a serem utilizadas, a URF solicitará a atualização ou criação do recinto na tabela 61 ao setor responsável pela manutenção das tabelas do Siscomex. A eventual atualização de coordenadas geográficas de uma URF deve ser providenciada de maneira similar. 7.2.3.4 Fluxo Básico da Exportação O fluxo básico de exportação é o processo pelo qual todas as empresas devem passar ao exportar seus produtos ou serviços para o exterior. Esse processo deve ser realizado para organizar todas as etapas da exportação, dentro e fora das empresas, e permitir que consigam se planejar com relação ao futuro. Assim, a partir de tudo aquilo que foi discutido neste capítulo, a figura sugerida é capaz de representar o fluxo básico da exportação: Figura 7 – Fluxo básico de exportação Fonte: Siscomex (2021) COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 122 Com base em diversas instruções normativas da Receita Federal do Brasil, principalmente a 1.702/2017 e a 1.603/2015, este capítulo proporcionou o estudo dos principais aspectos operacionais para a prática do comércio internacional no Brasil. Principalmente, para obtenção da Declaração Única de Exportação (DU-E). Isto permite para o avanço desta discussão, no próximo capítulo, que o processo de exportação seja simulado. Então, com base na sugestão de etapas práticas de negociação do processo de exportação, bem como, a demonstração dos principais documentos utilizados nesse processo, o próximo capítulo é definido. Preparado para esta discussão? COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 123 AULA 8 SISCOMEX - SIMULANDO UMA EXPORTAÇÃO Neste capítulo faremos a demonstração do uso do simulador Siscomex Exportação. O uso deste simulador é importante porque é por meio dele, que os procedimentos administrativos da exportação podem ser aprendidos por qualquer pessoa, sendo um exportador em potencial ou um estudante de Comércio Exterior. Para demonstrar a lógica de funcionamento desse simulador, ilustraremos um processo normal de exportação do produto doce de leite. O resultado desta simulação servirá de base para nossa discussão e aprendizado neste primeiro tópico. Adicionalmente, o fluxo do processo de exportação é examinado, bem como, exemplos de documentos utilizados neste processo são apresentados. Pronto para mais este desafio? 8.1 Simulador Siscomex Exportação O Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex) é um portal eletrônico de controle do Governo Federal utilizado para realizar operações de comércio exterior e também funciona como um método de controle e registro de suas atividades. É neste sistema que estão integradas todas as informações relacionadas com as exportações que acontecem no país. Por isso, seu uso é obrigatório. Para proporcionar maior assertividade no uso do sistema Siscomex em operações de comércio exterior, bem como, proporcionar maior capacidade de planejamento da exportação, é muito importante verificar, previamente ao registro da DU-E, se a exportação pretendida será sujeita a necessidade de licenciamento, autorização ou certificação, ou até impedimento. Nesta direção, tem-se no Siscomex um módulo de simulação, também conhecido como Simulador Siscomex Exportação. Esse módulo orienta o usuário sobre quais são os procedimentos administrativos que ele deve considerar como necessários para a realização da exportação, de acordo com o produto alvo da exportação. Com https://www.remessaonline.com.br/blog/siscomex-o-que-e-e-por-que-e-importante/ COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 124 o objetivo de apresentar como esta simulação acontece, são elencados dois passos fundamentais, quer sejam: 1o Passo: acessar a tela inicial do Siscomex em: http://siscomex.gov.br/ e depois clicar na função, simulador de exportação. Na imagem a seguir, esta função está circulada em vermelho. Usaremos, a partir daqui, este mesmo padrão para as demais figuras, indicando qual botão está em destaque para o acionamento desta funcionalidade no simulador. Figura 1 – Tela inicial do Siscomex Fonte: Siscomex (2021) Com o clique, é gerada a seguinte imagem no simulador: Figura 2 – Simulador Siscomex Exportação Fonte: Siscomex (2021) http://siscomex.gov.br/ COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 125 Note que nesta tela é possível fazer aplicação de filtros de consulta com base nos seguintes parâmetros: país, enquadramento, situação especial e Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM). Ou seja, fornecendo um conjunto mínimo de informações, pode- se verificar se a operação pretendida está sujeita a licenciamento ou não. ISTO ESTÁ NA REDE NCM é a sigla para Nomenclatura Comum do Mercosul. Toda e qualquer mercadoria que circula no Brasil deve ter o código NCM e este código deve ser informado no preenchimento da nota fiscal e outros documentos de comércio exterior. É importante você saber que independentemente de um produto ser importado ou comercializado dentro do país, é necessário que seja informado na nota fiscal eletrônica, NF-e, o código padrão dele que foi estabelecido pela Nomenclatura do Mercosul. Além de identificaro produto e a sua categoria, o código é fundamental para determinar os tributos envolvidos nas operações de exportação e importação e de saída de produtos industrializados, além de ser base para o estabelecimento de direitos de defesa comercial, de ser utilizada no âmbito do ICMS e na valoração aduaneira. A NCM obedece à seguinte estrutura de código: 0000.00.00. Ou seja, é um código de oito dígitos que corresponde ao produto. Cada um dos numerais representa algo diferente, conforme: • Os dois primeiros caracterizam o produto (capítulo); • Os dois números seguintes abrangem mais sobre a característica do produto (posição); • O quinto e sexto definem a sua subcategoria (ou subposição); • O sétimo o classifica item; e, • O oitavo se refere ao subitem, que descreve especificamente do que se trata a mercadoria Desde 1º de outubro de 2021 ocorreram algumas atualizações na tabela NCM. Alguns códigos foram incluídos na tabela NCM e outros códigos NCM foram extintos. Confira esta atualização no link a seguir: http://siscomex.gov.br/informacoes/tratamento-administrativo-de-exportacao/ Com o conhecimento dos parâmetros possíveis de serem simulados, visto que cada um deles é detalhado em diversas possibilidades, dependendo do caso e do produto/ mercadoria exportada, a simulação pode ser realizada caso não exista nenhum fator restritivo. http://siscomex.gov.br/informacoes/tratamento-administrativo-de-exportacao/ COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 126 2o Passo: Fazer a programação da simulação na tela do simulador. Para efeito desta simulação, vamos considerar o tratamento administrativo de uma exportação para a África do Sul do produto Doce de Leite, com NMC 1901.90.20, sem nenhuma situação especial definida. Figura 3 – Simulador Siscomex Exportação Programado Fonte: Siscomex (2021) Conforme os dados do produto usado no exemplo foi processado, o simulador retornou com a seguinte tela de resultado simulado a partir das variáveis programadas, com a mensagem do tratamento administrativo necessário. Figura 4 – Resultado gerado na simulação Fonte: Siscomex (2021) COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 127 Observamos que na mensagem transcrita gerada neste simulador que o exportador de doce de leite, imaginado neste exemplo, precisa prestar atenção para alguns requisitos importantes, de cunho administrativo. O primeiro desses requisitos é o órgão anuente envolvido. Neste exemplo: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento ou simplesmente (MAPA). Essa observação é importante pois será esse ministério o órgão responsável por dar anuência ao certificado do produto pretendido para a exportação, em nosso exemplo, doce de leite. Isso ocorre porque sendo o doce de leite um produto de origem animal, demandará por um certificado com características fito/zoo/sanitárias. O segundo requisito observado no resultado gerado desta simulação é o tipo de certificado necessário que será exigido no processo de exportação do doce de leite. Existem três modelos de certificados possíveis que envolvem o produto deste exemplo, quer sejam: • Certificado de Venda Livre: é utilizado para informar ao país comprador que o produto tem livre venda no Brasil. Para solicitar a emissão deste certificado, o exportador precisa preencher requerimento padrão, entregando-os ao Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal (SIPOA) de sua jurisdição, via peticionamento eletrônico de usuário externo do SEI1. • Certificado de Produto Exclusivo para Exportação: é emitido após autorização para a fabricação de um produto que não atende às regras brasileiras, e é elaborado exclusivamente para exportação. Para solicitar sua emissão, utiliza-se os mesmos procedimentos de solicitação do certificado de Venda Livre. Certificado Sanitário Internacional: é emitido com base em uma Declaração de Conformidade de Produto para Alimentação Animal (DCPAA)2. Para solicitação, utiliza- se também os mesmos procedimentos dos anteriores. Uma vez percebido que o produto não possui maiores restrições, define-se o tipo de certificado pretendido. Neste caso do exemplo: usaremos o Certificado Sanitário Internacional, de forma específica, obteremos este certificado por meio de uma Declaração de Conformidade de Produto para Alimentação (DCPAA). O DCPAA é um documento emitido em idioma português e é apresentado pelo exportador à unidade de Vigilância Agropecuária do MAPA (VIGIAGRO), no ponto de egresso da mercadoria para a emissão do Certificado Sanitário Internacional. 1 Disponível no link: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/insumos-agropecuarios/insumos-pecuarios/alimentacao-animal/ peticionamento-eletronico 2 Conheça as regras para emissão de DCPAA e de Certificados Sanitários Internacionais em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/ insumos-agropecuarios/insumos-pecuarios/alimentacao-animal/emissao-de-dcpoa-e-dcpoa-aa https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/insumos-agropecuarios/insumos-pecuarios/alimentacao-animal/peticionamento-eletronico https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/insumos-agropecuarios/insumos-pecuarios/alimentacao-animal/peticionamento-eletronico https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/insumos-agropecuarios/insumos-pecuarios/alimentacao-animal/emissao-de-dcpoa-e-dcpoa-aa https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/insumos-agropecuarios/insumos-pecuarios/alimentacao-animal/emissao-de-dcpoa-e-dcpoa-aa COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 128 Um certificado do tipo DCPPA traz informações quanto: • Conformidade do produto a ser exportado (tipo e controle de processamento, embalagens, análises laboratoriais realizadas no produto, origem das matérias- primas de origem animal, entre outros); • Condições sanitárias relativas aos animais que deram origem aos ingredientes de origem animal que eventualmente fazem parte do produto exportado; • Status sanitário brasileiro referente às doenças de notificação obrigatória e quarentenárias. A figura a seguir ilustra este tipo de certificado. Figura 5 – Exemplo de DCPAA Fonte: Siscomex (2021) COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 129 O terceiro requisito administrativo observado no resultado projetado da simulação da exportação do doce de leite, compreende o tipo de despacho que será utilizado no processo de exportação. É importante ressaltar que o despacho de exportação é o procedimento mediante o qual é verificada a exatidão dos dados declarados pelo exportador em relação à mercadoria, aos documentos apresentados e à legislação específica, com vistas a seu desembaraço aduaneiro e a sua saída para o exterior. Toda mercadoria destinada ao exterior, inclusive a reexportada, está sujeita a despacho de exportação, com as exceções estabelecidas na legislação específica. Para produtos que envolvem o agronegócio, existem duas possibilidades de se fazer o despacho de exportação, quer sejam: de forma comum ou com embarque antecipado. No caso de exportações que envolvem embarque antecipado, ou seja, aqueles embarques de bens objeto de uma DU-E ainda não desembaraçada, compreendidos nas hipóteses previstas no art. 96 da Instrução Normativa da Receita Federal do Brasil nº 1702/17, geralmente, envolvendo exportações de granéis e de veículos, é solicitado o preenchimento do formulário E00104 identificado como: Certificado para Produtos de Origem Animal com Embarque Antecipado. Como no nosso modesto exemplo, o doce de leite não é produto que possui as características apresentadas em um embarque antecipado (graneis ou veículos). Tão pouco, se enquadra nas hipóteses previstas na respectiva instrução normativa. O tipo de despacho utilizado, neste caso, seria o despacho comum. Assim, na orientação simulada se entende que o despacho seja efetuado com o uso do formulário EOO105: Certificação para Produtosde Origem Animal. A mensagem do simulador é finalizada, informando que em caso de consumo de bordo, o certificado não é exigido para este tipo de produto. ISTO ACONTECE NA PRÁTICA Doce de Leite Vegano? Se você é fã de doce de leite, provavelmente deve saber que a opção argentina é uma das mais famosas e amadas. Já pensou em experimentar essa versão, feita à base de plantas? Agora é possível! Em parceria com o Instituto Nacional de Tecnologia Industrial (INTI), a empresa argentina Las Quinas desenvolveu um produto semelhante ao doce de leite, feito somente com ingredientes vegetais. Em entrevista ao site La Nacion, Ricardo Parra, fundador da Las Quinas, que é assessorado pelo instituto desde 2007 e atualmente exporta para Ásia, Europa e about:blank COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 130 Estados Unidos, destacou que todo o trabalho em conjunto para elaborar o doce de leite vegano foi primordial. Eles conseguiram um produto com maior vida útil, sem aditivos e seguindo as normas de segurança em todos os processos produtivos. Com a proposta de oferecer aos consumidores um produto livre de origem animal, o doce de leite vegano foi feito a partir da combinação de nozes, leguminosas e oleaginosas. Como resultado, o teor total de proteína e sólidos é comparável ao do leite de vaca, permitindo assim alcançar atributos semelhantes ao do doce de leite sem a necessidade de adicionar amidos. Para o desenvolvimento do novo produto, os especialistas do Instituto, acompanharam todos os processos, desde a seleção dos ingredientes, definição da tecnologia de processamento, até a primeira produção piloto. Um diferencial do doce de leite vegano, além de um excelente alimento de valor nutricional, é também a embalagem. Para o produto foi elaborado um rótulo limpo, com poucos ingredientes, para que o cliente compreenda do que é feita a sua composição. Quer saber + sobre o mercado vegano, acesse: https://veganbusiness.com.br/doce-de-leite-vegano/ 8.2 Documentos Básicos na Exportação Após efetuada a simulação no Siscomex Exportação e verificando que não existem restrições legais que a impeçam, o exportador precisa formalizar e iniciar o processo. Neste tópico são apresentados os principais documentos exigidos para que esse processo de exportação possa ocorrer. Com objetivos diferentes, os exportadores devem ter conhecimento e familiaridade sobre todos os documentos para exportação. Portanto, na continuidade desta discussão, apresentaremos aqueles considerados mais importantes. Preparado? 8.2.1 Fatura Pro-Forma ou Pro Forma Invoice A Fatura Pro-Forma ou Pro Forma Invoice compreende a elaboração de uma cotação que permite o nascimento do pedido, razão pela qual se recomenda que este documento seja muito bem estruturado. Uma vez que qualquer deslize que possamos vir a cometer em sua elaboração provocará reflexos até o final daquela operação. É por isso que se diz esta máxima no ambiente profissional do comércio internacional: “as dificuldades https://veganbusiness.com.br/doce-de-leite-vegano/ COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 131 que enfrentamos em qualquer processo de exportação SEMPRE tiveram origem no momento da cotação”. Porém, é difícil relacionar/sugerir todos os itens que devem ser abordados na elaboração desse documento, sendo que eles variam de acordo com o produto, mercado objetivado, condições usuais de comercialização e outros. O ideal para que possamos fazer uma conferência e ficarmos mais tranquilos, a fim de nos certificarmos de que nada deixou de ser abordado, é elencar os itens básicos que devem compor a Pro Forma, a saber: • Descrição do produto; • Modalidade ou condição da venda; • Condição de pagamento; • Embalagem; • Volumes: máximos e mínimos; • Transporte internacional; • Seguro internacional; • Preço; • Prazo de entrega; • Validade da cotação; • Fontes de referência e demais documentos necessários. Outro ponto de destaque diz respeito à necessidade de ser criada uma sequência numérica para figurar nesses documentos. Com respeito a essa sequência, costuma- se orientar, em especial, o iniciante na atividade de comércio exterior para, salvo em momento de início de ano-calendário, na medida do possível, evitar que a primeira fatura Pro Forma receba a numeração um. É recomendado este cuidado para não deixar a ideia de que se trata de empresa principiante na atividade, inspirando com isso, preocupação desnecessária para o importador. Admitindo-se que a fatura Pro-Forma resulte na efetivação de uma venda, com o recebimento do correspondente pedido, aqui terá início a operação de exportação, que deverá ser assim alinhada, em termos de sequência documental com os demais documentos anexados neste processo de exportação, principalmente com: COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 132 Recebimento do Pedido Este, após análise, será numerado (atribuindo-se o número de processo que predominará até o arquivamento final dos documentos) e serão remetidas ao cliente, no exterior, a confirmação e a informação de que será cumprido nas datas nele estabelecidas. Romaneio ou Packing List Ao se iniciar a preparação da mercadoria, nasce aquele que usualmente se denomina de o primeiro documento de uma exportação: Romaneio ou Packing List. Esse documento detalha a lista dos volumes e respectivos conteúdos, recebendo a mesma numeração atribuída ao processo. Além disso, o romaneio é necessário para que o embarque dos produtos seja possível. É um documento emitido pelo exportador, que apresenta todos os itens que serão embarcados e as respectivas informações. Assim, percebemos que o objetivo do romaneio é facilitar a identificação e localização de qualquer produto dentro de um lote, além de facilitar a conferência da mercadoria por parte da fiscalização, tanto no embarque como no desembarque. Não existe um modelo padrão para este Packing List, porém, no Brasil recomenda-se que contenha os seguintes elementos: • Quantidade total de volumes (embalagem); • Marcação dos volumes; • Identificação dos volumes por ordem numérica; e, • Espécie de embalagens utilizadas, seja caixa, pallet, entre outros, contendo peso líquido, peso bruto, dimensões unitárias e o volume total da carga. Para ilustrar, note o modelo exemplificado na figura a seguir: Figura 6 – Exemplo de Romaneio ou Packing List Fonte: FAZCOMEX (2021) Disponível em: <https://www.fazcomex.com.br/blog/packing-list-ou-romaneio-de-carga-saiba-mais/> Acesso em 7 Nov. de 2021. https://www.fazcomex.com.br/blog/packing-list-ou-romaneio-de-carga-saiba-mais/ COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 133 8.2.2 Fatura Comercial ou Invoice A Fatura Comercial é um documento que substitui a nota fiscal no âmbito internacional. É um documento que servirá de base para o desembaraço alfandegário tanto no Brasil como no exterior. Ela reflete todas as condições de negociação entre o exportador e importador. Na exportação brasileira, a Invoice é emitida após a confirmação de compra e antes da emissão da Declaração Única de Exportação (DUE) e faturamento. Esta fatura é emitida pelo próprio exportador, em inglês ou no idioma do país importador, em papel timbrado da empresa com a descrição Fatura Comercial (português), Factura Comercial (espanhol) ou Commercial Invoice (inglês). Como a Fatura Comercial se trata do principal documento no comércio exterior, na figura abaixo estão listados todos os campos de uma Invoice, bem como, a legenda que identifica cada um deles. O objetivo de ilustrar a Fatura Comercial desta maneira é fazer com que você, leitor, identifique o local exato em que cada um destes campos está inserido, bem como, o tipo de informação que precisa ser preenchida de forma correta e sem rasuras. Figura 7 – Campos de preenchimento da Fatura Comercial ou Invoice Fonte: IBSolutions(2021) Disponível em: <https://ibsolutions.com.br/fatura-comercial-modelo-e-informacoes/> Acesso em 8 Nov. de 2021. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 134 Conforme os números que identificam os campos específicos na Invoice apresentada na figura, considere a seguinte legenda para identificar o local e ordem corretas de inserção das informações, necessárias neste documento: 1. Exporter: Dados completos do exportador (nome e endereço); 2. Date: Data de emissão da Fatura Comercial; 3. Invoice Number: Número de referência da Fatura Comercial. Número do documento; 4. Importer: Dados completos do importador (nome e endereço); 5. Terms of Payment: Forma de pagamento (Antecipado, à vista, a prazo e carta de crédito) 6. Mean of Transport: Modal de transporte (marítimo, aéreo, rodoviário, ferroviário ou aquaviário); 7. Port of Loading: Porto de embarque (porto, aeroporto ou ponto de fronteira); 8. Destination: Local de destino final sendo normalmente o endereço do importador. Pode ser também qualquer outro local designado pelo importador; 9. Quantity: Quantidade do produto. Atentar à unidade de medida podendo ser unidade, quilo, tonelada, kit e outros; 10. Net Weight: Peso líquido unitário do produto; 11. Code: Código do produto de referência do exportador e/ou importador; 12. Description of goods and HS Code: Descrição do produto e classificação fiscal (NCM); 13. Unit FOB price: Preço unitário do produto no local de embarque; 14. Total FOB price: Preço total do produto no local de embarque; Quadro 1 – Campos de Preenchimento da Invoice Fonte: elaborado pelo autor Em suma, a Invoice é uma exigência legal para quem deseja exportar serviços e produtos para o exterior. Usada apenas para operações internacionais, essa fatura comercial funciona como o documento legal com todas as informações sobre a exportação e o importador. Muitas pessoas confundem com a função da nota fiscal, mas um documento não anula a necessidade do outro. Se qualquer empresa deseja expandir os negócios para o exterior, é necessário saber que a nota fiscal acompanha a Invoice. Além disso, é preciso ficar atento ao preenchimento correto de todas as informações, estar ciente da importância do documento e dos impostos previstos em transações internacionais. Afinal, a Invoice é um documento importante para ambos os lados de uma negociação e é essencial para que a contabilidade da empresa possa ter um controle correto do financeiro. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 135 ANOTE ISSO Na hora de contabilizar as invoices, os contadores das empresas devem estar atentos ao fechamento de câmbio. Nesse momento, acontece a venda para o banco, por parte do exportador, da moeda estrangeira. Por exemplo, se você como exportador recebe US$ 10.000,00 (Dez mil dólares) e na data do câmbio o dólar estiver em R$5,38, o faturamento calculado é de R$ 53.816,00 (US$ 10.000,00 x R$5,38). A variação cambial é contabilizada até o dia do recebimento do serviço, mas o cálculo de faturamento é feito de acordo com a base no dia que foi feito o negócio. 8.2.3 Conhecimento de Embarque Outro documento de grande relevância no processo de exportação é o Conhecimento de Embarque. O conhecimento de embarque, também conhecido pelo termo conhecimento de carga, é o nome do documento emitido pelo responsável pelo transporte a fim de descrever diversos dados importantes pertinentes à operação, como: embarcador; consignatário; tipo e quantidade de itens embarcados; locais de embarque e descarga (portos e aeroportos); dados do avião, ou navio, transportador e valor do frete. Apesar de ser um conceito amplo, o conhecimento de embarque possui três funções básicas: • Servir como um título de propriedade da mercadoria, lembrando que este documento é transferível e negociável; • Atuar como recibo de entrega da carga ao transportador; • Evidenciar o contrato de transporte entre o usuário e a companhia marítima que realizou a entrega. O Conhecimento de Embarque precisa estar assinado pelo responsável pelo navio ou avião, admitindo que os itens descritos foram recebidos a bordo, com boas condições de preservação, no local mencionado e se comprometendo a entregá-las no destino acordado, mediante pagamento do frete. É este documento que define a contratação da operação de transporte entre diferentes países, além de servir como um comprovante de que a mercadoria foi recebida. Ele constituirá a obrigação de que ela seja entregue em seu lugar de destino. Em outras palavras, é a prova de posse de propriedade da mercadoria. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 136 O quadro a seguir resume os principais: Tipo Descrição Embarque Marítimo O conhecimento de embarque marítimo é chamado de Bill of Landing (ou BL) e também funciona como um contrato de transporte, título de crédito e comprovante de recebimento da carga. É emitido pela empresa responsável pelo transporte e deve conter a quantidade de vias originais que forem solicitadas pelo embarcador ou o necessário para prestar o serviço adequadamente, o que, em geral, ocorre em três vias. O pagamento é feito pelo embarcador e pode ser efetuado também em três modalidades diferentes: pré-pago, a pagar e pago no destino. Multimodal Chamado de Throughbill of Landing, esse tipo de conhecimento atende operações multimodais, ou seja, aquelas em que se contrata um armador e o transporte de um ponto a outro. Assim, o documento cobre toda a operação, mesmo em outros modais, e requer uma responsabilidade ainda maior do armador da carga. Afretamento O Charter Party Bill of Landing é o conhecimento baseado em afretamento. Ele é gerado para amparar um contrato de afretamento de um navio, ou seja, é o envio de uma carga única, por um contrato feito por um (ou poucos) embarcadores. Vale mencionar que ele não é emitido em caso de consignatários ou para situações de envios regulares. Embarque aéreo AWB O Air Waybill (AWB) é um conhecimento emitido pela companhia aérea responsável pelo transporte ou pelo agente, nos casos em que as cargas não são consolidadas. Embarque aéreo MAWB O Master Air Waybill (MAWB) é o documento emitido para a companhia quando a carga é consolidada pelo agente. Representa os volumes de todos os embarcadores que foram consolidados. Embarque aéreo HAWB House Air Waybill (HAWB) é o conhecimento emitido pelo agente, voltado para cada embarcador, detalhando a relação de cargas que estão sendo enviadas e consolidadas no MAWB. Quadro 2 – Tipos de Conhecimento de Embarque Fonte: elaborado pelo autor O conhecimento de embarque, em geral, pode ser composto por diversas vias, sendo mais comum que seja emitido em seis documentos: três negociáveis e três não negociáveis. As vias devem ser entregues ao embarcador/transportador para que sejam apresentadas ao banco e recebam o valor estipulado no crédito documentário. Depois disso, os documentos devem ser remetidos pelo banco ao importador, para que, então, este possa retirar suas mercadorias. Veja que as cópias das vias não negociáveis servem para informar a todos os agentes envolvidos e não têm validade para a retirada da mercadoria, tampouco para recebimento do valor estabelecido no crédito documentário. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 137 Cada companhia de transporte pode ter seu próprio modelo de conhecimento de embarque, mas é preciso que os principais dados necessários sejam preenchidos adequadamente, como: • nome e endereço da companhia de transporte; • nome do exportador e do importador; • porto de embarque e destino; • nome da mercadoria • total de volumes; • volume cúbico e peso bruto; • nome de quem deve ser notificado quando a mercadoria chegar ao seu destino; • forma de pagamento do frete (“collet” ou “prepaid“); • nome do agente da transportadora no porto deembarque (com assinatura e carimbo do responsável); • carimbo do local de estiva do item transportado. Por fim, é importante destacar que existe também o “Clean on Board“, mais conhecido pelo nome de conhecimento de embarque limpo. Trata-se de um documento que não registra nenhum defeito ou avaria na embalagem ou na mercadoria. Caso ocorra algum problema durante a operação, é necessário que uma observação seja feita para relatar a avaria, tornando o conhecimento “sujo”. Em suma, o conhecimento de embarque é necessário em todas as operações de envio de cargas — pelos modais marítimo ou aéreo, ou ambos — e qualquer falha na emissão, ou a falta dela, pode resultar em multas ou, até mesmo, na apreensão das mercadorias. 8.2.4 Apólice de Seguro de Transporte Internacional Apólice de Seguro de Transporte Internacional é o documento emitido pelo seguro contratado pelo importador ou exportador para proteger a carga, a qual está sendo comprada ou vendida, de qualquer sinistro que possa ocorrer. Na exportação, pode ser uma obrigação junto ao comprador ou mesmo um serviço adicional oferecido pelo vendedor. A manutenção da proteção das mercadorias é uma das maiores preocupações de gestores e responsáveis pelo setor de logística de empresas que trabalham com Comércio Exterior. Apesar do seguro para a carga não ser obrigatório, sua importância COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 138 é fundamental para que os parceiros comerciais tenham tranquilidade e proteção no caso de ocorrer algum sinistro com a carga e isso não prejudique seriamente seu negócio. Dependendo da frequência de operações no comércio internacional, existem duas modalidades de contratação de seguro: • Seguro avulso: para somente uma viagem isolada; • Seguro apólice aberta: indicado para quem realiza mais de uma operação durante o mês. Geralmente são contratos de doze meses. O seguro internacional de carga é uma forma de garantir mais segurança na cadeia de suprimentos e distribuição. As apólices podem ser para cargas em importação ou exportação e, dependendo da mercadoria e condições negociadas (Lembre dos INCOTERMS), podem ter coberturas integrais ou parciais como seguem: • Cobertura básica ampla A: cobertura para quaisquer danos de causa externa, inclusive roubo da carga. • Cobertura básica restrita B: garantia de prejuízo parcial e perda total da mercadoria em decorrência de acidente com veículo transportador (avião, caminhão, navio etc.) e pode ter a cobertura de roubo adicionada. • Cobertura básica restrita C: cobre a perda total da mercadoria em decorrência de acidente com meio de transporte e pode ter a cobertura de roubo adicionada. É importante ressaltar, porém, que a empresa tem total liberdade para inserir serviços adicionais em sua apólice de seguro de carga, de acordo com suas necessidades. Esses adicionais podem ser de inúmeros tipos e especificações: • Frete e/ou de seguro; • Despesas; • Tributos (mercadorias exportadas); • Lucros esperados; • Mercadorias em devolução ou redespachadas; • Embarques aéreos sem valor declarado (svd); • Embarques em navios com denominação a avisar em viagens nacionais; • Classificação de navios em viagens internacionais; • Transbordo e desvio de rota; • Riscos de greves; COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 139 • Riscos de guerra para embarques aquaviários e aéreos; • Prorrogação de prazo de duração dos riscos; • Extensão de cobertura e abertura de volumes; • Benefícios internos; • Destruição; • Mercadorias transportadas em veículos do segurado; • Roubo (somente com a cobertura básica restrita – b); • Extravio (somente com a cobertura básica restrita – b); • Riscos de quebra (somente com a cobertura básica ampla – a). Cada apólice de seguro de transporte é única, já que é feita em cima da operação do cliente, levando em consideração todos os aspectos da operação em si. Além disso, a cotação da seguradora costuma considerar diversos fatores. Entre eles, o tipo de veículo de transporte, o destino da entrega, os tipos de cobertura, o período de cobertura, se os produtos são perecíveis ou não, o tipo de embalagem das mercadorias, entre outros. Contudo, para falar sobre o cálculo de seguro de carga é preciso, inicialmente, mencionar a taxa Ad Valorem. Trata-se da taxa cobrada dentro da tabela de fretes e que representa o custo do seguro da carga. No caso de Apólices abertas, o cálculo é feito multiplicando-se o valor da carga transportada declarada no documento fiscal pela taxa do seguro, definida previamente. Ainda, para chegar ao valor final, soma-se a isso o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). O preço do seguro pode variar de acordo com a distância, a rodovia percorrida e o peso do produto transportado. A figura a seguir ilustra, como exemplo, uma apólice de seguro de transporte: Figura 8 – Exemplo de Apólice de Seguro de Transporte Internacional Fonte: FAZCOMEX (2021) COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 140 ANOTE ISSO De acordo com o Código Civil o documento obrigatório que deve ser emitido pelas seguradoras é a apólice. Assim sendo, não espere a emissão de uma Nota Fiscal da sua seguradora ou qualquer outro documento, como a cotação de preços. 8.2.5 Certificado de Origem O Certificado de Origem é o documento (em papel ou digital) que assegura a origem da mercadoria, ou seja, ele certifica que a mercadoria foi elaborada utilizando os critérios de produção previamente estabelecidos, respeitando as regras de origem contidas no regime de origem. No comércio exterior, é utilizado basicamente para concessão de preferência tarifária resultante de um acordo comercial. O responsável pela emissão do Certificado de Origem sempre é o exportador, o qual deve enviar o documento ao importador para que este realize a operação de nacionalização da mercadoria. Em geral, Federações de Comércio, Indústria e Agricultura e algumas Associações Comerciais são habilitadas para a emissão do Certificado de Origem3, com a apresentação dos seguintes documentos: Fatura Comercial, Declaração de Origem e Formulário do Certificado de Origem preenchido. A figura a seguir ilustra um exemplo de certificado de origem: 3 A última atualização da listagem das entidades está Portaria SECEX n. 39, de 9 de outubro de 2019, disponível em: https://www.in.gov. br/web/dou/-/portaria-n-39-de-9-de-outubro-de-2019-221052920 https://www.in.gov.br/web/dou/-/portaria-n-39-de-9-de-outubro-de-2019-221052920 https://www.in.gov.br/web/dou/-/portaria-n-39-de-9-de-outubro-de-2019-221052920 COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 141 Figura 9 – Exemplo de Certificado de Origem Mercosul Fonte: Siscomex (2021) ISTO ESTÁ NA REDE Certificado de Origem Digital (COD) – Situação atual em 16/08/2021 O Certificado de Origem Digital (COD) é um importante projeto concebido no âmbito da Associação Latino-Americana de Integração (Aladi), que propõe a substituição gradual do certificado de origem preferencial emitido em papel por um documento eletrônico em formato .xml, denominado Certificado de Origem Digital (COD), trazendo uma série de vantagens, em termos de celeridade, redução de custos, autenticidade e segurança da informação, destinado ao processo de certificação e validação da origem de mercadorias comercializadas entre os países. Veja o status de implementação com os países que o Brasil possui relações comerciais no Mercosul: BRASIL E ARGENTINA Em 2 de setembro de 2016 foi firmado Memorando de Entendimento entre Brasil e Argentina que normatizou a aceitação das assinaturas digitais entre os dois países no âmbito do COD. Brasil e Argentina iniciaram o Projeto Piloto no âmbito dos ACE 14 e ACE 18, em 10 de outubro de 2016, com prazo de término em 3 meses, prorrogado uma vez até 26 de fevereiro. Na prorrogação, determinou-se como meta a inclusão depelo menos 50 COD no sistema aduaneiro, com 95% de acertos, para cada um dos países. No Brasil, para cada entidade foi exigida a inclusão no sistema aduaneiro argentino de pelo menos 5 COD com acerto maior que 95%. Concluído o Piloto, o COD foi implementado com a habilitação de 10 entidades emissoras COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 142 brasileiras e duas entidades argentinas. Durante a IV Reunião da Comissão Bilateral de Produção e Comércio, em Buenos Aires, Argentina, nos dias 4 e 5 de abril de 2017, foi assinada a Ata dando por finalizado o Projeto Piloto e definindo o dia 10 de maio de 2017 para implantação do COD entre os dois países. Em 10 de maio de 2017, o COD foi implementado e a partir dessa data abarca as operações de exportação e importação que estiverem sob os Acordos de Complementação Econômica nos 14 (ACE 14 - Automotivo) e 18 (ACE 18 – Mercosul). Por força da Portaria Nº 4, de 8 de março de 2019, a emissão do COD, nos ACE 14 e ACE 18, tornou-se obrigatória a partir de 8 de abril de 2019. A emissão em papel só pode ocorrer em casos fortuitos ou de força maior, ou a pedido do país importador, devendo a SECEX ser necessariamente comunicada. BRASIL E URUGUAI A implantação do COD entre Brasil e Uruguai ocorreu em 9 de abril de 2018, com a publicação da Portaria Secex 18, de 6 de abril de 2018, encerrando os trâmites jurídicos necessários para o efetivo uso do COD com o referido parceiro brasileiro. Por força da Portaria Nº 36, de 3 de outubro de 2019, a emissão do COD, nos ACE 02 e ACE 18, tornou-se obrigatória a partir de 21 de outubro de 2019. A emissão em papel só pode ocorrer em casos fortuitos ou de força maior, ou a pedido do país importador, devendo a SECEX ser necessariamente comunicada. 8.2.6 Carta de Crédito Carta de Crédito (Letter of Credit – L/C) é uma modalidade de pagamento que possui regulação internacional, além da intermediação de um ou mais bancos, de forma a garantir a segurança da transação comercial entre exportador e importador. Assim como vimos anteriormente com os Termos de Comércio Internacional (INCOTERMS), a Carta de Crédito, também, é regulada por meio da Câmara Internacional do Comércio (ICC)4. Em outras palavras, a Carta de Crédito é um instrumento de financiamento comercial amplamente adotado o qual garante a entrega da mercadoria e o pagamento para compradores e vendedores, respectivamente. Para os vendedores, a Carta de Crédito não apenas garante que o pagamento seja feito prontamente e na íntegra, mas também reduz o risco de produção no caso de o comprador cancelar ou alterar um pedido. As Cartas de Crédito também oferecem aos vendedores a oportunidade de receber financiamento durante o período entre o envio das mercadorias e o recebimento do 4 A publicação UCP600 da ICC é que traz a regulamentação da Carta de Crédito. Acesse em: https://www.iccbrasil.org/publicacoes/48/ http://www.mdic.gov.br/images/REPOSITORIO/secex/deint/coreo/PORTARIA_N_4_DE_8_DE_MARO_DE_2019_-_Dirio_Oficial_da_Unio_-_Imprensa_Nacional.pdf http://www.mdic.gov.br/images/REPOSITORIO/secex/deint/coreo/PORTARIA_N_4_DE_8_DE_MARO_DE_2019_-_Dirio_Oficial_da_Unio_-_Imprensa_Nacional.pdf https://www.iccbrasil.org/publicacoes/48/ COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 143 pagamento. Para os compradores, as Cartas de Crédito garantem que o vendedor honrará sua parte do negócio e fornecerá produtos ou serviços com prova documental. Cartas de Crédito também permitem que os compradores demonstrem solvência e controlem o período de tempo para o envio de mercadorias. O quadro a seguir demonstra o fluxo de uma Carta de Crédito em uma exportação. 1o) O importador, após já ter acertado os detalhes da negociação, procura seu banco (denominado “banco emissor”) para abrir crédito em nome do exportador, geralmente com a prestação de garantia. 2o) Após atendidas as exigências do banco emissor, este abrirá a Carta de Crédito e a enviará ao beneficiário por meio de outro banco (denominado “banco avisador”). Eventualmente pode acontecer de existir o compromisso adicional de um segundo banco, chamado de banco confirmador, o qual agiria como uma espécie de avalista, no sentido de garantir o crédito ordenado pelo importador junto ao banco emissor. 3o) O banco do importador (emissor), então, comunica ao banco do exportador (avisador) a emissão da Carta de Crédito. 4o) O banco avisador informa ao exportador que o crédito já foi aberto nas condições determinadas e, portanto, pode dar início a produção ou providenciar a entrega da mercadoria. Nesta forma de pagamento, o vendedor (beneficiário), somente embarca a mercadoria após ter recebido do banco emissor um compromisso de pagamento, à vista ou a prazo, emitido por conta e ordem do comprador. 5o) Depois de embarcar a mercadoria, o exportador informa ao seu banco que já cumpriu sua parte no acordo e apresenta a documentação comprobatória. O banco emissor pagará o valor acordado assim que este lhe apresente os documentos que comprovem o exato cumprimento das exigências contidas na Carta de Crédito. 6o) Cumpridas todas as cláusulas da Carta de Crédito, o banco do importador libera o pagamento ao exportador e este remete os documentos ao banco emissor. 7o) A documentação necessária para efetuar o desembaraço aduaneiro é entregue ao importador o qual providencia a liberação da mercadoria. Quadro 3 – Fluxo de uma Carta de Crédito Conforme já mencionado, as Cartas de Crédito têm o objetivo de mitigar os riscos econômicos envolvidos nas negociações comerciais internacionais. É importante notar também que as leis brasileiras não normatizam as Cartas de Crédito, essa responsabilidade é apenas da Câmara de Comércio Internacional, a qual é composta por mais de 100 países. É importante notar que na Carta de Crédito os bancos têm a responsabilidade de examinar e concluir sobre a veracidade da documentação apresentada pelo exportador, com relação ao que foi exigido pelo importador, assumindo a responsabilidade de honrar o pagamento do preço em nome deste último. Assim sendo, após a análise da instituição financeira, esta permitirá que a operação seja concretizada ou se a COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 144 garantias prestadas deverão ser utilizadas. A figura a seguir ilustra uma carta de crédito internacional. Figura 10 – Exemplo de Carta de Crédito Fonte: Siscomex (2021) Em suma, para o exportador, a carta de crédito é uma das transações mais seguras. A carta de crédito de exportação garante que o exportador vai receber pela sua mercadoria em determinado prazo. O comprador também tem a segurança de que só terá que pagar a dívida, caso o exportador cumpra com todas as exigências determinadas no documento, incluindo prazo de entrega. Vistos estes principais documentos utilizados no processo de exportação, no próximo capítulo, trataremos da importação. Com especificidade, abordaremos a política brasileira de importação. Preparado para mais conhecimento? COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 145 AULA 9 POLÍTICA BRASILEIRA DE IMPORTAÇÃO Neste capítulo são abordadas características da Política Brasileira de Importação. Para este estudo, é fundamental mencionar que a partir do início de 1997, no Brasil, houve uma revolução na condução da política brasileira de importação: passamos a usar o sistema eletrônico chamado Siscomex Importação. A partir daí, a evolução do processo que orienta as importações brasileiras foi constante. Inclusive, em dias atuais, com a implementação do Novo Processo de Importação (NPI) e a Declaração Única de Importação (DUIMP1). Para entender esta lógica, abordamos com detalhes o fluxo deste processo, com informações operacionais, bem como, aquelas que perfazem o entendimento sobre como ocorre o cadastramento e a habilitação dos importadoresbrasileiros, especificamente, na obtenção da Licença de Importação (LI), do cadastramento do RADAR e do preenchimento da DUIMP. Vamos começar? 9.1 Estrutura de Importação Brasileira Para entendermos como está organizada a estrutura brasileira de importação, é importante o entendimento de que as importações, em termos gerais de classificação, estão agrupadas em dois tipos: importações permitidas e importações não-permitidas (VAZQUEZ, 2015, p. 234). • Importações Permitidas: são, em geral, processadas no Siscomex, podendo ser efetuadas pelo importador, por conta própria, mediante habilitação prévia, ou por intermédio de representantes credenciados, nos termos e condições estabelecidos pela Receita Federal do Brasil (RFB). • Importações não-permitidas: podem ocorrer devido ao País de origem da mercadoria (por razões de ordem econômica, política ou social, ou em função de recomendações de organismos internacionais) ou devido à própria natureza 1 Essa declaração constitui o documento principal do processo de importação, vinculando informações de outros módulos, tais quais: tratamento administrativo, licença de importação, controle de carga, conferência aduaneira, gerenciamento de risco, trânsito aduaneiro e pagamento centralizado de tributos (Fonte: Siscomex, 2021). COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 146 da mercadoria que se pretenda importar (com o objetivo de preservar o meio ambiente, a saúde pública, entre outros). Figura 1 – Importações Brasileiras Fonte: Campo e Negocios (2021) Disponível em: <https://campoenegocios.com.br/> Acesso em 10 de Nov. 2021. O sistema administrativo das importações permitidas se encontra disciplinado pela Portaria nº 23, de 14 de julho de 20112, compreendendo as seguintes modalidades: • Importações Dispensadas de Licenciamento; • Importações Sujeitas a Licenciamento Automático; e • Importações Sujeitas a Licenciamento não Automático. Como regra geral, as importações brasileiras estão dispensadas de licenciamento, devendo os importadores somente providenciar o registro da Declaração Única de Importação (DUIMP) no Siscomex, com o objetivo de dar início aos procedimentos de Despacho Aduaneiro junto à unidade local da Receita Federal do Brasil (RFB). As importações sujeitas a licenciamento ocorrem nos casos em que a legislação exija a autorização prévia de órgãos específicos da Administração Pública para a importação de determinadas mercadorias ou quando condições específicas devam ser observadas. Nesses casos, o importador deve formular uma Licença de Importação com a antecedência prevista na legislação. Previamente à importação, o importador deverá sempre consultar o Sistema Integrado de Comércio Exterior (SISCOMEX) a fim de verificar se há exigência de tratamento administrativo para a operação que deseja realizar. Nesse sentido, o Simulador do Tratamento Tributário e Administrativo das Importações, disponibilizado pela Receita Federal do Brasil (RFB), também permite ao público simular uma situação com fins de verificar qual tratamento administrativo incidente sobre determinada mercadoria, eventual órgão de governo responsável pela emissão de licença de importação e o valor 2 Disponível em: https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/acesso-a-informacao/legislacao/portarias-secex/anos- anteriores/portarias_secex_2011/portaria-secex-23-11-consolidada.pdf. https://campoenegocios.com.br/ http://www.mdic.gov.br/sitio/interna/interna.php?area=5&menu=3175 http://www.receita.fazenda.gov.br/ http://www.receita.fazenda.gov.br/ https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/acesso-a-informacao/legislacao/portarias-secex/anos-anteriores/portarias_secex_2011/portaria-secex-23-11-consolidada.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/acesso-a-informacao/legislacao/portarias-secex/anos-anteriores/portarias_secex_2011/portaria-secex-23-11-consolidada.pdf COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 147 dos tributos incidentes sobre a operação, a partir de um valor aduaneiro informado. No entanto, o simulador é apenas ferramenta de referência, não vinculado ao tratamento a ser dado na operação real. Abordaremos o uso deste simulador adiante. Por enquanto, falaremos mais sobre o licenciamento das importações brasileiras. 9.2 Licenciamento de Importação no Brasil Uma das estruturas que fundamentam a política brasileira de importação é o licenciamento das importações. A Licença de Importação (LI) é um documento por meio do qual o governo autoriza a importação realizada por uma empresa ou pessoa física, mediante verificação do cumprimento de normas legais e administrativas. Ela é necessária quando a importação que se pretende realizar está sujeita à anuência de um ou mais órgãos anuentes, como, por exemplo, ANVISA, MAPA, IBAMA, INMETRO, entre outros (BRASIL, 2021). Para registrar uma LI, empresas, cidadãos, fundações e organizações internacionais, governos municipais, estaduais ou mesmo, outras esferas e poderes do governo federal, responsáveis pelo processo de importação, precisam utilizar o sistema Siscomex. Este registro é gratuito, porém, a condição básica é de que o acesso a ele só pode ser efetuado mediante certificado digital3. A figura a seguir ilustra a tela inicial de acesso do Siscomex Importação. Figura 2 – Panorama Inicial do Siscomex Fonte: Siscomex (2021) Ao acessar o sistema Siscomex Importação Web4, o usuário é direcionado para a tela acima, onde, clicando no ícone ‘Certificado Digital’, ele fará o login no sistema. Não há possibilidade de acesso utilizando o CPF e senha, é feito unicamente via 3 Certificado digital é um documento eletrônico que contém dados sobre a pessoa física ou jurídica que o utiliza, servindo como uma identidade virtual que confere validade jurídica e aspectos de segurança digital em transações digitais (Fonte: Wikipedia, 2021). 4 Acesso em: http://www1.siscomex.receita.fazenda.gov.br/ http://www1.siscomex.receita.fazenda.gov.br/ COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 148 Certificação Digital, com a utilização de um Token5. Depois de efetuado o processo de login, o usuário é levado até a tela inicial do sistema. A figura a seguir ilustra esta tela inicial, com destaque (na cor vermelha) para os seguintes links: 1º) Informações Gerais, 2º) Menu Operações, 3º) Menu Ajuda; e 4º) Opção Sair. Figura 3 – Tela Inicial Siscomex Fonte: Siscomex (2021) Os links sublinhados em vermelho, compreendem: 1) Informações Gerais: apresenta o nome e CPF do usuário ativo, bem como a contagem regressiva do tempo da sessão. Após decorridos 30 minutos, a sessão expirará e um novo login deverá ser realizado. 2) Operações: Operações – acesso às Funcionalidades do Sistema através de menu dinâmico, aberto ao clicar no ícone ‘Operações’ e movível livremente pela tela. Divide-se entre as operações existentes na importação de mercadorias no Brasil, a saber: Licenciamento de Importação, Declaração de Importação e Despacho de Importação. Cada um deles com seu funcionamento específico dentro do sistema. 3) Ajuda – Abre uma nova janela com ajuda online de Siscomex Importação. 4) Sair – Faz o logout no sistema. 5 Token é um dispositivo eletrônico gerador de senhas, geralmente sem conexão física com o computador, podendo também, em algumas versões, ser conectado a uma porta USB. Existe também a variante para smart cards e smartphones, que é capaz de realizar as mesmas tarefas do token. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 149 Sempre que o usuário for elaborar uma nova solicitação de LI, abrir uma solicitação salva ou uma LI já existente (para, a partir dela, elaborar uma nova ou simplesmente para visualizar, editar ou corrigir seus erros), entre outros, será exibido um formulário, permitindo que se digite e/ou altere os dados, conformesua necessidade. Este formulário é composto basicamente de quatro abas, mostradas e descritas a seguir. Figura 4 – Tela de Preenchimento de uma LI Fonte: Siscomex (2021) O botão “Salvar” grava a solicitação de LI. Lembrando que, para a solicitação ser salva, deve ter sido preenchido pelo menos a ‘Identificação da Solicitação de LI’ e o CPF, CNPJ ou Identificação do importador no grupo de dados Tipo do Importador, o que permitirá a sua recuperação posteriormente. Caso se deseje submeter a solicitação de LI para registro, basta utilizar a opção Registrar disponível no cabeçalho do formulário, onde será acionada a funcionalidade “Registrar LI”. O formulário também é provido de elementos facilitadores que auxiliarão no preenchimento da solicitação de LI, conforme a figura a seguir: COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 150 Figura 5 – Tela de Elementos Facilitadores de uma LI Fonte: Siscomex (2021) As setas incluem ou excluem dados de uma lista. As setas para direita ou para baixo incluem um item na lista, enquanto as setas para esquerda ou para cima excluem um item selecionado da lista. Alguns campos do formulário contém uma lupa indicando que este campo possui assistente de preenchimento. Pode-se digitar o valor do campo ou clicar na lupa para abrir uma janela pop-up que permitirá a busca e escolha do valor desejado. Ao clicar neste valor, a janela pop-up fechará e o sistema preencherá o valor no campo automaticamente. Por fim, estão disponíveis duas setas no final do formulário que permitem a transição das abas citadas anteriormente. 9.2.1 Informações Básicas de Licenciamento de Importação Na aba "Básicas", as informações são concernentes ao tipo de importador e dados auxiliares sobre a procedência da mercadoria a ser importada. Esta também conta com a "Identificação da Solicitação de LI", termo usado nas funcionalidades de busca para encontrar a solicitação de LI posteriormente. Figura 6 – Aba de informações básicas Fonte: Siscomex (2021) COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 151 Além disso, esta aba disponibiliza um campo livre denominado “Informações Complementares”, no qual o importador pode registrar informações adicionais referentes à operação, que não estejam contempladas nos demais campos do licenciamento e sejam importantes para a análise do(s) órgão(s) anuente(s). ISTO ESTÁ NA REDE Desde o início da pandemia, diversos setores econômicos no Brasil e no mundo se viram diante de uma turbulência jamais vivenciada nos últimos anos, o que ainda suscita incertezas e desafios para o futuro próximo. No comércio internacional também não foi diferente. Ao longo dos meses passados, os efeitos da crise foram sentidos de perto pelas empresas, e as previsões de importações e exportações para 2021, inevitavelmente, precisaram ser revistas. Para visualizar esta matéria completa e entender mais sobre o atual cenário de comércio exterior brasileiro, acesse este link a seguir e boa leitura: https://digital.intermodal.com.br/modais/comex-o-cenario-das-importacoes-e- exportacoes-para-2021 9.2.2 Informações do Fornecedor no Licenciamento de Importação Na aba "Fornecedor", são informados o tipo de fornecedor e as informações relativas ao Exportador e ao Fabricante ou Produtor. Nesta aba foram incluídos campos para o importador fornecer mais informações acerca do exportador e do fabricante/produtor. Além do nome da empresa, deverão ser informados nome e e-mail do responsável, que será o ponto focal do fornecedor estrangeiro, no caso de necessidade de contato pelo órgão governamental. https://digital.intermodal.com.br/modais/comex-o-cenario-das-importacoes-e-exportacoes-para-2021 https://digital.intermodal.com.br/modais/comex-o-cenario-das-importacoes-e-exportacoes-para-2021 COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 152 Figura 7 – Aba de informações sobre Fornecedor Fonte: Siscomex (2021) ANOTE ISSO O processo de importação pode ser dividido em três fases: administrativa, fiscal e cambial. A fase administrativa se refere aos procedimentos e exigências de órgãos de governo prévios à efetivação da importação e variam de acordo com o tipo de operação e de mercadoria: trata-se do licenciamento das importações. A fase fiscal compreende o tratamento aduaneiro, por meio do despacho de importação, que é o procedimento mediante o qual é verificada a exatidão dos dados declarados pelo importador em relação às mercadorias importadas, aos documentos apresentados e à legislação específica, com vistas ao seu desembaraço aduaneiro. Essa etapa ocorre em recintos próprios, logo após a chegada da mercadoria no Brasil, e inclui o recolhimento dos tributos devidos na importação. Após a conclusão do desembaraço aduaneiro, a mercadoria é considerada importada e pode ser liberada para o mercado interno. Já a fase cambial diz respeito à operação de compra de moeda estrangeira destinada a efetivação do pagamento das importações (quando há esse pagamento) sendo processada por entidade financeira autorizada pelo Banco Central do Brasil a operar em câmbio. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 153 9.2.3 Informações da Mercadoria no Licenciamento de Importação Na aba "Mercadoria", encontram-se os dados gerais da mercadoria, a condição e o seu destaque NCM. Nesta aba também são informados os dados relativos ao processo anuente, sobre o tipo de Drawback6 e a descrição detalhada da mercadoria. As principais configurações nesta aba são as seguintes: Figura 8 – Aba de informações sobre Mercadoria Fonte: Siscomex (2021) Com base na figura apresentada, O importador deverá selecionar, no campo “Tipo da Condição da Mercadoria”, se a importação é de material novo (“Nenhuma” - selecionada por padrão) ou usado (“Material Usado”). Caso se trate de material usado, o importador deverá selecionar o “Enquadramento Material Usado”, que pode ser “Admissão Temporária” ou “Nacionalização”. No caso de “Nacionalização”, o importador deverá selecionar o “Tipo de Operação”, com as seguintes opções: “ExTarifário”, “Linha de Produção”, “Máquinas para Reconstrução”, “Moldes e Ferramentas”, “Veículos com mais de 30 anos”, “Doação”, “Contêiner”, “Retorno de Mercadoria”, “Partes e Peças Recondicionadas”, “Máquinas e Equipamentos”, “Outros”. 6 Drawback é um regime aduaneiro especial que consiste na suspensão ou isenção de tributos incidentes dos insumos importados e/ ou nacionais vinculados a um produto a ser exportado. Ele foi criado em 1996 pelo Governo Federal com o objetivo de trazer facilidades para empresas que trabalham com comércio exterior. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 154 Figura 9 – Tipo de condição da Mercadoria Fonte: Siscomex (2021) Ao informar uma NCM que possua pelo menos um Destaque de Mercadoria cadastrado no “Tratamento Administrativo” do SISCOMEX, o campo “Destaque NCM” deverá ser preenchido na LI pelo importador. Neste caso, ao ser acionada a lupa existente nesse campo, o sistema disponibilizará uma tabela contendo o Código e a Descrição dos destaques vigentes para a NCM informada, bem como o código 999 acompanhado da descrição “Sem destaque”. O importador deverá selecionar um dos destaques exibidos e utilizar a seta para incluí-lo no campo pertinente, à direita da lupa, só sendo permitidas inclusões de destaques compatíveis com a NCM informada, evitando, assim, erros de preenchimento. Caso a NCM não tenha destaque vigente, o referido campo ficará desabilitado. A figura a seguir ilustra esta condição, indicando em vermelho, a lógica de processamento. Figura 10 – Destaque NCM Fonte: Siscomex (2021) Caso não seja uma importação amparada por Drawback, o importador deverá manter, no campo “Modalidade”, a opção “Não Tem Drawback” (selecionada por padrão). Se for importação amparada por Drawback,deverá ser selecionada a modalidade referente à operação que está sendo realizada (Suspensão Genérico, Suspensão não Genérico, COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 155 Isenção AC Web ou Isenção AC Papel). Nesta situação, deve ser fornecido o Número do AC (Ato Concessório) no campo, cujo tamanho é de 11 caracteres (algarismos) se for Drawback Suspensão e de 13 caracteres se for Drawback Isenção. Figura 10 – Drawback na operação Fonte: Siscomex (2021) Para cada Produto da LI, devem ser prestadas as seguintes informações: “Unidade Comercializada”, “Peso Líquido em Kg”, “Quantidade na Unidade Comercializada”, “Quantidade na Medida Estatística”, “Valor no Local de Embarque”, “Valor Unitário na Condição de Venda”, “Especificação”. Após prestadas essas informações, deve-se clicar em “incluir”. Importante salientar que o “Peso Líquido em Kg” e o “Valor no Local de Embarque” são informações de cada item de produto que se pretenda importar. As informações de cada produto são apresentadas em um quadro-resumo, em que elas podem ser visualizadas, alteradas ou excluídas. A figura a seguir ilustra este quadro resumo, para a seguinte operação: importação de 100 camisas – cada uma custando 10,00 FOB e 11,00 CFR e pesando 0,1 kg. Os valores registrados são os seguintes: a) para o Peso Líquido em Kg: 10,0; b) para o Valor no Local de Embarque: 1.000,00; e c) para o Valor Unitário na Condição de venda: 11,00. No quadro resumo estas informações são apresentadas, bem como o “Valor do Produto na Condição de Venda”, que é calculado pelo sistema. Figura 11 – Quadro Resumo da LI Fonte: Siscomex (2021) COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 156 9.2.4 Informações da Negociação no Licenciamento de Importação Na aba "Negociação", o importador deverá prestar informações relativas ao Regime de Tributação do Imposto de Importação, Fundamento Legal, Acordo Tarifário e Cobertura Cambial. Caso seja uma importação amparada por algum acordo no âmbito da ALADI, o importador deverá informar o código do Acordo. No caso de importação com cobertura cambial, o importador deverá informar a Modalidade de Pagamento ou a Instituição Financeira, de acordo com o prazo de pagamento. Caso seja uma importação sem cobertura cambial, o importador deverá informar o motivo, entre os disponibilizados pelo Sistema. A figura a seguir ilustra as informações requeridas. Figura 12 – Registro de Tributação Fonte: Siscomex (2021) ISTO ACONTECE NA PRÁTICA O Drawback, instituído pelo Decreto-Lei nº 37, de 1966, e aperfeiçoado por diversas normas posteriores, é um regime aduaneiro especial que permite a suspensão ou eliminação de tributos incidentes na aquisição de insumos empregados na industrialização de produtos exportados. Existem três modalidades de drawback: suspensão, isenção e restituição de tributos. As duas primeiras são administradas pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex), ao passo que a terceira é de competência da Receita Federal do Brasil (RFB). Dados estatísticos de 2019, demonstram totais de operações com drawback: • Exportações: US$ 49,1 bilhões (21,8% do total exportado no Brasil); • Importações: US$ 6,5 bilhões (3,6% do total importado no Brasil); • Mercado Interno: US$ 943,7 milhões, (12,8% do total de insumos). Quer saber +, acesse: https://www.fazcomex.com.br/blog/empresas-que-utilizam- drawback/ https://www.fazcomex.com.br/blog/empresas-que-utilizam-drawback/ https://www.fazcomex.com.br/blog/empresas-que-utilizam-drawback/ COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 157 9.3 RADAR Siscomex O Registro e Rastreamento da Atuação dos Intervenientes Aduaneiros (RADAR Siscomex) é o cadastro da Receita Federal utilizado para controlar os acessos aos sistemas de comércio exterior de importação e por demais órgãos intervenientes, entre eles a ANVISA, o MAPA, INMETRO, IBAMA, interligando as informações entre todos envolvidos. Para que uma pessoa física ou jurídica possa operar no comércio exterior, ou seja, para que possa importar, é necessário que esteja habilitada no RADAR para credenciamento de representante legal e acesso ao sistema Siscomex. O cadastro no sistema Radar da Receita Federal poderá ser requerido tanto por pessoas físicas como por pessoas jurídicas, desde que estejam com sua situação devidamente regular perante o fisco. Cabe salientar que existem algumas particularidades a serem observadas, assim como o procedimento de cadastramento varia ligeiramente de acordo com o tipo de solicitante e modalidade desejada, quer sejam (SISCOMEX, 2021): Radar Expresso: trata-se de uma modalidade mais simples cuja habilitação costuma ser mais ágil, de forma totalmente digital, sem grandes exigências, desde que a empresa esteja com seu cadastro regular perante a Receita Federal, cabendo bem em casos específicos de pequenas empresas que desejam começar a operar no comércio exterior, com limite de U$ 50.000,00 por semestre na importação. Radar Limitado: esta modalidade já é um pouco mais complexa, sendo o seu requerimento efetuado também de forma digital, porém, em alguns casos é solicitada a apresentação física de alguns documentos, entre eles os documentos que comprovem a origem de recursos financeiros para subsidiar a operação pretendida, sendo indicada para empresas de médio porte, as quais, na maioria das vezes, já se cadastraram na modalidade expressa e necessitaram de uma revisão de limite. O limite financeiro de que a empresa poderá transacionar no comex será estipulado de acordo com a capacidade da empresa, a qual será apurada pela Secretaria da Receita Federal através de um levantamento dos tributos pagos. Radar Ilimitado: neste caso, o processo é semelhante à modalidade limitada, também via meio digital, podendo ser solicitado pelo fisco ou não os documentos comprobatórios, este é o tipo de radar indicado para empresas de grande porte, as quais, muitas vezes, já utilizavam o Limitado e excederam o limite, e neste caso a COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 158 Receita Federal também avalia o volume tributário e identifica se a empresa pode se enquadrar como ilimitada. Independentemente da habilitação solicitada, a Receita Federal avalia a capacidade de cada empresa e concede a habilitação de acordo com o seu porte. Note que após a publicação da IN 1893/2019, ambos os casos Limitado e Ilimitado passaram a ter suas solicitações via meio eletrônico, e somente em caso de seleção para apresentação de documentos é que se formaliza um pedido via processo administrativo junto ao e-CAC da Receita Federal. 9.4 Declaração Única de Importação (DUIMP) Depois de verificarmos nos capítulos anteriores, que no processo de exportação brasileiro houve a implantação recente da Declaração Única de Exportação, neste tópico, também, abordaremos uma nova ferramenta da Política Brasileira de Importação que está em processo de implantação: a Declaração Única da Importação (DUIMP). Mas, o que significa DUIMP? A Declaração Única de Importação (DUIMP) é o documento eletrônico que reúne todas as informações de natureza aduaneira, administrativa, comercial, financeira, tributária e fiscal pertinentes ao controle das importações pelos órgãos competentes da Administração Pública brasileira na execução de suas atribuições legais (RFB, 2021). A DUIMP se torna importante no processo de importação brasileiro porque ela substitui documentos tradicionais de importação. Ou seja, esta declaração incorpora a Declaração de Importação (DI) e a Declaração Simplificada de Importação (DSI). Embora a DUIMP esteja ainda na forma de projeto-piloto, envolvendo apenas algumas empresas, sua implementação estimada para o início de 2022, visa englobar 40% do volume total importado no Brasil (SISCOMEX, 2021). Esta declaração é obtida por meio do sistema Siscomex, no módulo importação.Para tanto, é necessário que o dirigente da empresa importadora ou o despachante aduaneiro responsável pelo procedimento de importação, possuam certificação digital para fazer a solicitação. Para efeito de exemplificação, são organizados na sequência deste tópico, procedimentos necessários no Siscomex para preenchimento desta declaração. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 159 Figura 13 – Aba de Identificação da DUIMP Fonte: Siscomex (2021) No campo Carga, o usuário deve digitar o número de identificação da carga relacionada à operação de importação. Uma vez que a DUIMP está em fase de projeto-piloto, são permitidas, por enquanto, apenas cargas marítimas e, por essa razão, deve-se preencher com o respectivo número do CE mercante7. Com a informação da identificação da carga, todas as demais informações, excetuando o valor do seguro, serão automaticamente preenchidas pelo sistema. Figura 14 – Aba Carga na DUIMP Fonte: Siscomex (2021) Por sua vez, na aba Documentos da DUIMP são preenchidas as informações dos documentos instrutivos do despacho e, se houver, processos vinculados, sejam administrativos ou judiciais. 7 O CE Mercante constitui um método de controle fiscal para operações marítimas, que consiste em um conhecimento de carga informado de maneira eletrônica às autoridades aduaneiras. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 160 Figura 15 – Aba Documentos na DUIMP Fonte: Siscomex (2021) Para efeito de ilustração, a seguir, tem-se a aba item da DUIMP. Para incluir um produto na DUIMP, este procedimento precisa ser efetuado por meio da consulta de um produto já cadastrado no catálogo de produtos do Siscomex8. Ou ainda, o cadastro do produto pode ser criado no momento da elaboração da Declaração Única de Importação. 8 O Catálogo de Produto na importação é um módulo do Portal Siscomex. E tem como finalidade principal auxiliar o preenchimento das DUIMP, utilizando um banco de dados dos produtos e dos operadores estrangeiros presentes nas operações do importador. Esse banco de dados é gerido pelo próprio importador, atualizando-o com novos produtos ou novas informações dos produtos já cadastrados (Fonte: Siscomex, 2021). COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 161 Figura 16 – Aba Item na DUIMP Fonte: Siscomex (2021) Finalmente, na tela de resumo da DUIMP o sistema mostrará um resumo com o somatório das principais informações da importação. A figura abaixo ilustra esta tela. Figura 17 – Aba Resumo na DUIMP Fonte: Siscomex (2021) 9.5 Fluxo Básico do Processo de Importação Brasileiro Conforme visto neste capítulo, a partir da intenção de importar, o importador pode decidir por embarcar a carga diretamente (visto que a maior parte das importações brasileiras não requer licenciamento) ou registrar um pedido de licença para os órgãos anuentes, também conhecido como obtenção da LI. Os principais aspectos operacionais para registro da LI no sistema Siscomex foi efetuado no início desta discussão. Agora, no entanto, importa distinguir a licença de importação do Siscomex, um documento eletrônico específico (LI), do conceito de licença de importação. Considera-se licença de importação: Todo procedimento administrativo que envolver a apresentação de um pedido ou de outra documentação diferente daquela necessária para fins aduaneiros ao órgão anuente competente, como condição prévia para a autorização de importações para o território aduaneiro, sendo ele processado pelo Siscomex ou não. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 162 Fica evidente nesta definição, que o fluxo do processo de importação é entendido no Brasil a partir da obtenção do documento eletrônico que contém a licença de importação, gerada a partir do sistema Siscomex. O pedido de licença no Siscomex, após exame pelos anuentes, pode ser deferido, caso a operação esteja em conformidade com as exigências legais para prosseguimento. Indeferido de forma motivada, em caso de operação proibida ou caso essa apresente alguma desconformidade insanável. Ou ainda, colocado em exigência, em caso de incorreção sanável de preenchimento ou necessidade de complementação de informação ou de apresentação de documentos comprobatórios da operação. Os pedidos de licença de importação feitos por meio do Siscomex cuja exigência não seja atendida pelo importador em 90 dias são automaticamente cancelados pelo sistema. Esta situação é mais recorrente nos casos em que o órgão anuente deve ser provocado pelo importador – em sistema próprio, via protocolo ou outras formas – para realizar sua análise. A maioria dos órgãos anuentes demanda que os importadores atendam a procedimentos de licenciamento preliminares ou concomitantes àquele do Siscomex, como, por exemplo, preenchimento de cadastros ou processos específicos, os quais podem gerar necessidade de pagamento de taxas para análise das informações prestadas. Executados tais procedimentos de licenciamento que envolvem, por exemplo, cadastro de importadores, fiscalizações ou certificações de produtos, o órgão anuente inicia a análise do pedido de licença de importação (LI). Em relação ao pedido de LI no Siscomex, a análise do órgão anuente pode se restringir aos dados prestados no próprio pedido e eventuais documentos de apoio ou abranger sua conferência em vista dos procedimentos prévios ou paralelos de licenciamento. Mesmo um licenciamento processado diretamente no Siscomex pode conter etapas executadas externamente a ele, como distribuição de cotas, investigação de origem, consultas públicas, fiscalizações e verificações de carga, a depender do órgão anuente e seu campo de atuação. Com a chegada da mercadoria no Brasil e o registro da Declaração Única de importação (DUIMP) há o início da etapa de controle aduaneiro, realizada pela Receita Federal do Brasil (RFB), que inclui gestão de riscos, análise documental, conferência física da mercadoria, desembaraço aduaneiro, entre outras ações. Um único detalhe aqui: “com as informações validadas pelo sistema, os tributos federais são calculados e devem ser pagos antes de se prosseguir para o processo de análise de riscos e seleção das cargas” (RFB, 2021). COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 163 De acordo com os parâmetros da Receita Federal do Brasil (RFB, 2021), as mercadorias cujas DUIMP sejam selecionadas para o canal verde não necessitam passar por exame documental nem por conferência física, salvo aquelas que, em decorrência de procedimento de análise de riscos tenham o canal alterado. As selecionadas para o canal amarelo passam por exame documental e as para canal vermelho ou cinza devem ser conferidas documental e fisicamente. A figura a seguir ilustra este fluxo de forma gráfica. Figura 18 – Etapas e Procedimentos da Importação Fonte: Siscomex (2021) Em suma, quando existe uma LI no processo de importação, ela corresponderá a uma adição da DUIMP, havendo a migração automática da maior parte de seus dados, que serão posteriormente complementados pelo importador. As informações migradas ficam indisponíveis para alteração na adição da DUIMP. Caso o importador precise alterar, na DUIMP, alguma informação originária da LI, ou ainda, se as informações registradas diretamente na adição da DUIMP acarretarem em alteração nas condições da LI previamente concedida, o importador deverá requerer um pedido de retificação e, consequentemente, uma nova atuação dos órgãos anuentes. Para avançarmos ainda mais nessa discussão, no próximo capítulo, abordaremos mais informações sobre importação. Vejo você lá! COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 164 AULA 10 IMPORTAÇÃO Após termos vistos os procedimentos necessários para o cadastramento e habilitação dos importadores brasileiros,na obtenção da Licença de Importação (LI), no RADAR e no preenchimento da DUIMP, neste capítulo, veremos procedimentos que envolvem a continuidade do processo de importação, decorrentes destes acessos, bem como, da habilitação no Portal Único Siscomex. De forma detalhada, este capítulo apresenta aspectos específicos da importação com considerações a respeito: Fatura Pro Forma Invoice e cuidados necessários, Imposto de Importação (II), Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), Imposto de Circulação de Mercadorias (ICMS), Regime de Drawback, Regime Ex-Tarifário e incentivos fiscais para a importação. Para finalizar, são apresentados os principais conceitos que envolvem o processo de importação. Preparado? 10.1 O processo de Importação Conforme definido em Oliveira (2021, p. 103): O processo de importação compreende a entrada temporária ou definitiva em território nacional de bens ou serviços originários ou procedentes de outros países, a título oneroso ou gratuito. Esse processo é o ingresso seguido de internalização de mercadoria estrangeira no território aduaneiro. Em termos legais, a mercadoria só é considerada importada após sua internalização no país, por meio da etapa de desembaraço aduaneiro e do recolhimento dos tributos exigidos em lei. A partir desta definição, nota-se que o processo de importação pode ser dividido em três fases: administrativa, fiscal e cambial. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 165 • A fase administrativa1 se refere aos procedimentos e exigências de órgãos de governo prévios à efetivação da importação e variam de acordo com o tipo de operação e de mercadoria: trata-se do licenciamento das importações. • A fase fiscal compreende o tratamento aduaneiro, por meio do despacho de importação, que é o procedimento mediante o qual é verificada a exatidão dos dados declarados pelo importador em relação às mercadorias importadas, aos documentos apresentados e à legislação específica, com vistas ao seu desembaraço aduaneiro. Essa etapa ocorre em recintos próprios, logo após a chegada da mercadoria no Brasil e inclui o recolhimento dos tributos devidos na importação. • A fase cambial diz respeito à operação de compra de moeda estrangeira destinada à efetivação do pagamento das importações (quando há esse pagamento), sendo processada por entidade financeira autorizada pelo Banco Central do Brasil a operar em câmbio. Estas duas últimas fases são abordadas neste capítulo detalhadamente. Porém, a negociação começa com a Fatura Pro Forma, portanto, vê-la-emos a seguir. 10.1.1 Fatura Pro Forma Invoice Conforme visto no processo de Exportação, anteriormente, a Fatura Pro Forma Invoice compreende um documento resultante do processo de negociação entre o exportador e o importador, formalizando a negociação entre as partes envolvidas. Diferentemente da lista de preços ou do recebimento de uma simples solicitação de cotação, a Pro Forma indica os detalhes acordados de uma compra específica, com todas as informações relacionadas a ela. Derivado do inglês, Pro Forma Invoice, a emissão da fatura é fundamental para o fechamento do câmbio, no caso de pagamento antecipado ou modalidades que possuam carta de crédito. Além de ser o documento que formaliza a negociação entre as partes envolvidas. A Fatura Pro Forma é emitida pelo próprio exportador, a pedido do importador, em papel timbrado da empresa com a descrição fatura pro-forma (português), factura pro forma (espanhol) ou pro-forma invoice (inglês). Sua emissão ocorre no início das negociações para poder formalizar as condições negociadas entre o exportador e importador. 1 Esta fase já foi estudada no capítulo anterior, com a apresentação das rotinas de cadastramento do responsável pela importação e obtenção da Licença de Importação (LI). COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 166 A legislação aduaneira brasileira não dispõe sobre quais são os dados obrigatórios na Fatura Pro Forma. Porém, é possível verificar algumas informações comuns em todas as Faturas Pro Forma: a) Dados do exportador (nome e endereço completos); b) Dados do importador (nome e endereço completos); c) Descrição dos itens comercializados, bem como sua quantidade, preço unitário, preço total e unidade comercializada; d) Modalidade de transporte; e) Previsão de embarque; f) Incoterms; g) Local de embarque; h) Local de destino; i) Peso líquido; j) Peso bruto; k) Tipo de embalagem / quantidade de volumes; e, l) Modalidade de pagamento. Apesar de não possuir valor contábil ou jurídico, a Fatura Pro Forma exerce um papel importante nas operações de Comércio Exterior. Assim sendo, é recomendado solicitar sua emissão antes da realização de qualquer compra no exterior. Caso exista qualquer problema com a operação, a Fatura Pro Forma pode ser utilizada para provar qual era o acordado entre as partes. Caso o produto necessite de Licença de Importação (LI), o órgão competente poderá solicitar a Fatura Pro Forma para verificação do preço. Ela também pode ser solicitada na Receita Federal, em caso de processo de investigação de preço no decorrer ou após o despacho aduaneiro. Ou seja, enquanto a Fatura Pro Forma é o documento inicial, a Fatura Comercial é um dos documentos finais da operação, juntamente ao Conhecimento de Embarque e o Packing List, entre outros (OLIVEIRA, 2021). 10.1.1.1 Como analisar uma Fatura Pro Forma? A Análise de uma fatura Pro Forma é essencial para que se garantam todos os termos negociados entre importadores e exportadores. Os principais pontos a serem analisados em uma Fatura Pro Forma são sugeridos no Check-List, a seguir. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 167 Item Descrição Sim Não 1 Exportador: nome completo, endereço e telefone 2 Consignatário: nome completo, endereço, telefone e CNPJ 3 Adquirente: nome completo, endereço, telefone e CNPJ 4 Número da Pro Forma Invoice ou do contrato de venda 5 Data de emissão 6 Fabricante: nome completo, endereço e telefone ou a expressão ‘SAME AS EXPORTER’ quando o fabricante for igual ao exportador 7 Descrição dos produtos, com código e código NCM 8 Quantidade de contêineres (com indicação do tamanho) 9 Peso líquido e bruto por item 10 País de origem e de aquisição 11 País de procedência 12 Porto de embarque 13 Porto de destino 14 Preço unitário 15 Preço total 16 Moeda da operação 17 Incoterms 18 Forma de pagamento 19 Previsão de data de embarque 20 Dados bancários do exportador 21 Assinado / identificação do signatário Quadro 1 – Check-List para conferência na Pro Forma Invoice Fonte: SEBRAE (2021) Além das informações já mencionadas que devem constar na Fatura Pro Forma, este documento também deve possuir dados específicos sobre a mercadoria a ser embarcada, tais como: número de lote ou número de série, por exemplo. Ou seja, a Fatura Pro Forma contém dados que permitam que a mercadoria seja identificada pelo comprador ou mesmo pela fiscalização, quando da chegada ao destino, podendo ser requisitada e servir de base durante todo o processo de importação. No entanto, erros podem incorrer no seu preenchimento, veja isto a seguir. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 168 10.1.1.2 Erros mais comuns na Fatura Pro Forma Erros na emissão da Fatura Pro Forma podem gerar atrasos na negociação e, por consequência, nos embarques de importação. Veja os erros mais comuns. • Omissão da informação sobre o número da Fatura Pro Forma de referência do exportador; • Ausência de informação da data estimada de embarque para fechamento antecipado de câmbio de importação e exportação; • Omissão dos dados bancários (conta e banco) do fornecedor para envio do pagamento; • Menção de dados incompletos ou inconsistência com demais documentos de importação e exportação; • Falta de descriçãoda mercadoria, denominações próprias e comerciais, com a indicação dos elementos indispensáveis à sua perfeita identificação; • Ausência ou menção de informações parciais sobre forma de pagamento e moeda de negociação; • Falta de indicação ou informação incorreta sobre o INCOTERM (termo de negociação de venda) da operação; • Necessidade de menção de cada espécie de mercadoria e se houver, o montante e a natureza das reduções e dos descontos concedidos ao importador; • Omissão ou menção errônea sobre país de origem, procedência e aquisição; e, • Inexistência ou identificação inválida sobre o emissor do documento. A seguir, tem-se um exemplo de uma Fatura Pro Forma. Figura 1 – Exemplo de uma Fatura Pro Forma Fonte: Oliveira (2021) COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 169 10.2.1 Aspectos Tributários envolvidos na Importação Aqui, apresentaremos considerações sobre os principais tributos envolvidos em uma importação de mercadorias. Estes tributos envolvem o dia a dia das empresas nacionais que atuam neste contexto internacional e assumem enorme importância na formação do preço da mercadoria e na decisão da importação. 10.2.1.1 Imposto de Importação (II) O primeiro tributo considerado compreende o Imposto de Importação ou II. O Imposto de Importação é um tributo federal que incide sobre mercadoria estrangeira e tem como fato gerador sua entrada no território nacional. A legislação básica que contempla este imposto é dada por meio do Decreto-Lei nº 37/19662 e no Regulamento Aduaneiro contido no Decreto nº 6.759/20093. De acordo com esta legislação, são considerados contribuintes do II: • Importador: qualquer pessoa que promova a entrada de mercadoria estrangeira no território nacional; • Destinatário de remessa postal internacional: indicado pelo respectivo remetente ou comprador de mercadoria entrepostada; • Consignatário de mercadoria submetida ao entreposto aduaneiro: nacionalizar a mercadoria e promover o despacho aduaneiro para consumo em seu nome. Ainda, conforme o entendimento da legislação mencionada, são considerados estrangeiros os equipamentos, as máquinas, os veículos, os aparelhos e os instrumentos, bem como as partes, as peças, os acessórios e os componentes, de fabricação nacional, adquiridos no mercado interno pelas empresas nacionais de engenharia, e exportados para a execução de obras contratadas no exterior, na hipótese de retornarem ao país. Na mesma direção, também é considerada estrangeira a mercadoria nacional ou nacionalizada exportada que retornar ao país, salvo as exceções: • Enviada em consignação e não vendida no prazo autorizado; • Devolvida por motivo de defeito técnico, para reparo ou para substituição; • Por motivo de modificações na sistemática de importação por parte do país importador; 2 Acesso em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1960-1969/decreto-lei-37-18-novembro-1966-375637-publicacaooriginal-1-pe. html 3 Acesso em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d6759.htm https://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1960-1969/decreto-lei-37-18-novembro-1966-375637-publicacaooriginal-1-pe.html https://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1960-1969/decreto-lei-37-18-novembro-1966-375637-publicacaooriginal-1-pe.html http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d6759.htm COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 170 • Por motivo de guerra ou de calamidade pública; • Por outros fatores alheios à vontade do exportador. O II também é chamado como tarifa aduaneira, direitos de importação, tarifa das alfândegas ou direitos aduaneiros. Esse é um tributo de competência da União, e assim se justifica porque se trata de um imposto com implicações no relacionamento do país com o exterior, e isso cabe ao Governo Federal, que precisa ter políticas uniformes e padronizadas em seu trato. Esse imposto possui grande importância no cenário externo tendo em vista as negociações de inúmeros tratados, visando a necessidade de integração dos países e a abertura econômica (OLIVEIRA, 2021). ISTO ACONTECE NA PRÁTICA Apesar da reclamação dos importadores em relação às alíquotas do Imposto de Importação4, esse tributo possui função regulatória, não tendo objetivos fiscais, mas sim de regulação da atividade econômica. Até mesmo para poder exercer sua função, o Imposto de Importação não se sujeita ao princípio da anterioridade, podendo ser alterado no mesmo exercício financeiro pelo Poder Executivo. Como qualquer tributo, ele arrecada recursos para a União, mas muito pouco em relação ao total. Dados da Receita Federal dos últimos anos mostram que o montante recebido com o Imposto de Importação representa menos de 3% do total de tributos arrecadados. É o imposto de renda cobrado das pessoas físicas e jurídicas o tributo mais expressivo para a União (quase 30% do total) (RFB, 2021). Como exemplos da função regulatória do Imposto de Importação, pode-se citar as alterações em função da Pandemia da Covid-19, visualizadas nos endereços a seguir: a) Lista dos produtos com imposto de importação zerado https://www.fazcomex.com.br/blog/lista-dos-produtos-com-imposto-de-importacao-zerado b) Importação de Arroz, Soja e Milho: Governo zera o Imposto de Importação https://www.fazcomex.com.br/blog/governo-zera-imposto-de-importacao-soja-milho c) Brinquedos: Governo reduz o Imposto de Importação https://www.fazcomex.com.br/blog/brinquedos-governo-reduz-o-imposto-de-importacao d) Importação de armas: Governo zera o Imposto de Importação https://www.fazcomex.com.br/blog/importacao-de-armas-governo-zera-o-imposto-de-importacao 4 A relação das alíquotas do Imposto de Importação (II) é permanentemente atualizada e disponibilizada em: https://www.mercosur.int/ politica-comercial/ncm/, disponível para acesso público. Entre neste link e confira você mesmo! https://www.fazcomex.com.br/blog/lista-dos-produtos-com-imposto-de-importacao-zerado https://www.fazcomex.com.br/blog/importacao-de-armas-governo-zera-o-imposto-de-importacao https://www.mercosur.int/politica-comercial/ncm/ https://www.mercosur.int/politica-comercial/ncm/ COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 171 De acordo com a legislação vigente, o Imposto de Importação não incidirá sobre: • Mercadoria estrangeira que, corretamente descrita nos documentos de transporte, chegar ao país por erro inequívoco ou comprovado de expedição, e que for redestinada ou devolvida para o exterior; • Mercadoria estrangeira idêntica, em igual quantidade e valor, e que se destine a reposição de outra anteriormente importada que se tenha revelado, após o desembaraço aduaneiro, defeituosa ou imprestável para o fim a que se destinava, desde que observada a regulamentação editada pelo Ministério da Fazenda (ou Economia); • Mercadoria estrangeira que tenha sido objeto da pena de perdimento, exceto na hipótese em que não seja localizada, tenha sido consumida ou revendida; • Mercadoria estrangeira devolvida para o exterior antes do registro da Declaração de Importação, observada a regulamentação editada pelo Ministério da Fazenda (ou Economia); • Embarcações construídas no Brasil e transferidas por matriz de empresa brasileira de navegação para subsidiária integral no exterior, que retornem ao registro brasileiro, como propriedade da mesma empresa nacional de origem, entre outros. 10.2.1.2 Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) O IPI é um imposto de competência da União. Este imposto incide tanto sobre produtos industrializados nacionais quanto sobre os produtos industrializados importados. O contribuinte do IPI vinculado à importação é o importador. O fato gerador do IPI, na importação, é o desembaraço aduaneiro de produto de procedência estrangeira. De acordo com a legislação em vigor, ocorre o fato gerador do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), tornando-se o imposto devidonas situações a seguir. Na saída de produto de estabelecimento industrial ou equiparado a industrial: • É considerado industrial o estabelecimento que executa qualquer das operações consideradas industrialização perante a legislação do IPI (transformação, beneficiamento, montagem, acondicionamento ou reacondicionamento, bem como, renovação), das quais resulte produto tributado, ainda que de alíquota 0%, ou beneficiado com a isenção do imposto ou destinado à exportação. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 172 • A equiparação a industrial é dividida em duas categorias distintas: a equiparação obrigatória (por exemplo, estabelecimentos importadores) e a equiparação facultativa, em que a equiparação fica a critério do próprio contribuinte do imposto. • Equiparar um estabelecimento comercial a um industrializador sem que a empresa realize qualquer processo produtivo é o mesmo que dizer que o comerciante passa a partir da equiparação a atuar como contribuinte do IPI, ficando a partir dessa data obrigado ao recolhimento do imposto e ao cumprimento de todas as obrigações acessórias próprias dos estabelecimentos industriais. No desembaraço aduaneiro de produto de procedência estrangeira: • O estabelecimento que importar produto do exterior será considerado contribuinte em relação ao fato gerador decorrente do desembaraço aduaneiro que realizar. Além disso, o importador também será considerado contribuinte, como equiparado a industrial, no momento em que der saída dos produtos por ele importados. Não constitui fato gerador desembaraço aduaneiro de mercadorias: • Enviada em consignação e não vendida no prazo autorizado; • Devolvida por defeito técnico, que exija sua devolução para reparo ou substituição; • Por motivo de modificações na sistemática de importação por parte do país importador ou por motivo de guerra ou calamidade pública; • Por outros fatores alheios à vontade do exportador. O IPI incidente nas importações será calculado mediante aplicação das alíquotas, constantes da Tabela de Incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados. Uma informação importante é que a TIPI5 apresenta tantos os produtos tributados, inclusive com alíquota 0, como também relaciona os produtos não tributados (OLIVEIRA, 2021). 10.2.1.3 Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) é um imposto estadual cobrado em cima da circulação de mercadorias e bens importados de outros lugares. Por ser um imposto estadual, há algumas mudanças de estado para estado, como 5 Acesso em: https://guiatributario.files.wordpress.com/2020/10/tipi-.pdf https://guiatributario.files.wordpress.com/2020/10/tipi-.pdf COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 173 o valor de alíquotas. Na prática ele é um imposto cobrado de forma indireta, ou seja, seu valor é adicionado ao preço do produto ou serviço prestado. O valor do ICMS só é cobrado quando a mercadoria ou o serviço é prestado para o consumidor, que passa a ser o titular deste item ou do resultado da atividade realizada. Cada estado tem a responsabilidade de estipular a porcentagem a ser cobrada, assim cada localidade possui a sua própria tarifa, o que pode trazer dúvidas a quem comercializa produtos para outros estados. Existem conceitos básicos com relação a este imposto que precisam ser considerados, quer sejam (FAZCOMEX, 2021): • Fato gerador: o ICMS na importação tem seu fato gerador a ser considerado no momento do desembaraço aduaneiro da mercadoria. Podemos dizer que o fato gerador é o ponto central e relevante para identificar o momento de surgimento da obrigação tributária, identificar o sujeito passivo, os demais elementos da obrigação. É o momento que faz nascer o relacionamento jurídico entre o contribuinte e o Estado. • Incidência: incide sobre a entrada de bem, ou mercadoria importada do exterior por pessoa física ou jurídica. Ainda que não seja contribuinte habitual do imposto, ele incide em qualquer que seja sua finalidade. Incide também sobre o serviço prestado no exterior. • Base cálculo: embora este imposto seja estabelecido por cada Estado, os regulamentos apresentam características tributárias semelhantes. Existe diferenciação em relação a algumas isenções e alíquotas, mas basicamente os seguintes termos valem para todo o Brasil. Um desses termos é a que na composição da base de cálculo do ICMS se deve considerar o valor da mercadoria que constam do documento de importação, acrescido do valor dos impostos de importação. Deve-se incluir também quaisquer outros impostos, taxas, contribuições e despesas aduaneiras. Uma curiosidade é que o próprio ICMS integra sua base de cálculo. Também, faz parte as despesas aduaneiras que, por sua vez, são aquelas efetivamente pagas à repartição alfandegária até o momento do desembaraço da mercadoria, incluindo as diferenças de peso, classificação, fiscal de mercadorias e multas por infrações. O encontro de contas entre empresas contribuintes e empresas credoras do ICMS, pode ocorrer nas operações de importação por conta e ordem e de terceiros. Este COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 174 encontro, quando permitido pelo Regulamento do ICMS de cada Estado, ocorre mediante autorização prévia (Regime Especial) concedida pelo Estado. Uma vez autorizadas previamente, estas operações se tornam benéficas e seguras tanto para o credor do ICMS que reaverá os recursos, quanto para o contribuinte que reduzirá o seu custo com o ICMS da Importação (OLIVEIRA, 2021). 10.2.1.4 Regime Ex-Tarifário Ex-Tarifário é a sigla utilizada no comércio exterior para Exceção Tarifária. É quando o governo concede redução do Imposto de Importação de itens para os quais não há produção no Brasil ou ela é insuficiente. O Ex-tarifário é uma exceção à Tarifa Externa Comum (TEC) e a condição essencial é a de que não haja produção nacional equivalente do produto beneficiado com o regime. Consiste na redução temporária da alíquota do imposto de importação de bens de capital (BK), de informática e telecomunicação (BIT), assim marcados na Tarifa Externa Comum do Mercosul (TEC), quando não houver a fabricação nacional equivalente. Este regime foi criado por Portaria Ministerial6, servindo para dar destaque a certas mercadorias classificáveis em determinados códigos tarifários da TEC. Tem objetivo de fazer com que tais mercadorias deixem de sofrer a incidência da alíquota normal do Imposto de Importação prevista na TEC. Com este regime, as mercadorias classificáveis no correspondente código tarifário passam a sofrer a incidência da alíquota reduzida, de acordo com o estipulado nesta portaria mencionada. Para fazer jus à alíquota mais benéfica do Ex-Tarifário, a mercadoria importada deve se identificar totalmente com aquela nele descrita. Como apresentado, o regime de Ex-Tarifário consiste na redução temporária da alíquota do imposto de importação de bens de capital (BK), de informática e telecomunicação (BIT). Porém, a partir de 2020, o Ministério da Economia tem promovido a redução a 0% (zero), ao amparo do Ex-Tarifário. Sem a aplicação do regime, as importações de BK têm uma incidência de 14% de Imposto de Importação, e as de BIT 16%. Constitui-se como benefícios do Ex-Tarifário para o país a busca da promoção e atração de investimentos no país, uma vez que desonera o montante dos aportes direcionados a empreendimentos produtivos. Importância do regime de Ex-Tarifário: 6 Acesso em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l3244.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l3244.htm COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 175 • Aumento da viabilidade de investimentos em bens de capital (BK) e de informática e telecomunicação (BIT) sem produção equivalente no país; • Facilita o incrementoda inovação por parte de empresas de diferentes segmentos da economia, com a incorporação de novas tecnologias inexistentes no Brasil, refletindo num aumento da produtividade e competitividade do setor produtivo; e, • Gera um efeito multiplicador de emprego e renda sobre diferentes áreas da economia nacional. Para obtenção do Ex-Tarifário, são exigidas informações técnicas detalhadas do bem a ser importado, bem como da previsão de importação e ganho para o país. O pleito para concessão do regime especial de Ex-Tarifário deve estar acompanhado de informações relativas: à empresa ou entidade de classe pleiteante; aos dados técnicos sobre o produto e a operação de importação. Além desta possibilidade de redução do Imposto de Importação, temos na sequência, outra possibilidade muito utilizada: o Regime Aduaneiro de Drawback. 10.2.1.5 Regime Aduaneiro de Drawback7 Drawback é um regime aduaneiro especial que consiste na suspensão ou isenção de tributos incidentes dos insumos importados e/ou nacionais vinculados a um produto a ser exportado (OLIVEIRA, 2021). Foi criado em 1996 pelo Governo Federal com o objetivo de trazer facilidades para empresas que trabalham com comércio exterior. É um importante mecanismo de competitividade internacional e um dos regimes mais utilizados pelos exportadores brasileiros. O regime de Drawback poderá ser concedido a operação que se caracterize como: • Transformação: exercida sobre matéria-prima ou produto intermediário, importe na obtenção de espécie nova; • Beneficiamento: importe em modificar, aperfeiçoar ou, de qualquer forma, alterar o funcionamento, a utilização, o acabamento/aparência do produto; • Montagem: consiste na reunião de produto, peças ou partes e de que resulte um novo produto ou unidade autônoma, ainda que sob a mesma classificação fiscal; 7 A mais recente regulamentação sobre Drawback foi feita por meio da Portaria Secex 44 de 24/07/2020, disponível em: https://www. in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-44-de-24-de-julho-de-2020-268684638 https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-44-de-24-de-julho-de-2020-268684638 https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-44-de-24-de-julho-de-2020-268684638 COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 176 • Renovação ou recondicionamento: exercida sobre produto usado ou parte remanescente de produto deteriorado ou inutilizado, renove ou restaure o produto para utilização; e, • Acondicionamento ou reacondicionamento: na alteração ou apresentação do produto, pela colocação de embalagem, ainda que em substituição da original, salvo quando a embalagem colocada se destine apenas ao transporte de produtos. • A empresa interessada deverá comprovar mediante Laudo Técnico de Drawback e Estrutura de produtos, se estes forem solicitados pela SUEXT (Subsecretaria de Operações de Comércio Exterior). Os principais benefícios do Drawback são fiscais e financeiros. Não havendo o recolhimento de tributos, há redução nos encargos e custos financeiros/fiscais, que influenciam diretamente no fluxo de caixa da empresa. Assim, a empresa beneficiária torna-se mais competitiva no mercado internacional, podendo melhorar seus principais pilares comerciais. ISTO ESTÁ NA REDE “Sem iniciativas governamentais para ampliar prazos, diante dos impactos da pandemia da Covid-19 no setor, exportadoras brasileiras que utilizam o drawback estimam perdas de mais de R$ 1,2 bilhão em 2021. O levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) é referente a 406 atos concessórios, dos quais 121 já venceram no primeiro semestre de 2021. A quantia é relativa à recomposição tributária pelos insumos que são incorporados aos bens para exportação. Para o setor produtivo, há risco de os prejuízos serem ainda maiores, uma vez que adesão ao regime é alta, acima de 2 mil empresas”. Quer saber mais? Acesse: https://noticias.portaldaindustria.com.br/noticias/internacional/empresas-estimam- prejuizos-de-mais-de-r-12-bi-sem-prorrogacao-de-prazos-para-exportacao/ Atualmente, existem três modalidades de drawback: suspensão, isenção e restituição de tributos (RFB, 2021). As duas primeiras são administradas pela Secretaria de Comércio Exterior – Secex. A terceira modalidade é de competência da Receita Federal do Brasil (RFB). http://www.portaldaindustria.com.br/cni/ https://noticias.portaldaindustria.com.br/noticias/internacional/empresas-estimam-prejuizos-de-mais-de-r-12-bi-sem-prorrogacao-de-prazos-para-exportacao/ https://noticias.portaldaindustria.com.br/noticias/internacional/empresas-estimam-prejuizos-de-mais-de-r-12-bi-sem-prorrogacao-de-prazos-para-exportacao/ COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 177 A modalidade suspensão consiste na suspensão de tributos incidentes sobre a aquisição, no mercado interno ou via importação, de mercadorias para emprego ou consumo na industrialização de produto a ser exportado. Nesta modalidade, que é a mais utilizada no Brasil, a empresa beneficiária assume o compromisso de exportar os bens produzidos a partir dos insumos adquiridos ao amparo do regime, nas condições e prazos definidos na legislação (SISCOMEX, 2021). A figura a seguir ilustra esta modalidade de drawback. Figura 2 - Drawback Suspensão Fonte: FAZCOMEX (2021) Por sua vez, a modalidade isenção possibilita a isenção ou redução de tributos incidentes na importação ou aquisição doméstica de mercadoria equivalente à empregada ou consumida na industrialização de produto previamente exportado, para reposição de estoques. Veja este esquema de drawback representado na figura a seguir. Figura 3 - Drawback Isenção Fonte: FAZCOMEX (2021) O drawback de restituição, por fim, trata da restituição dos tributos pagos na importação de insumo importado e utilizado na produção de bem exportado. Esta modalidade é pouco utilizada, de modo que, atualmente, o regime de drawback compreende basicamente as modalidades suspensão e isenção. Visto estas modalidades de drawback, é evidente para o leitor, que o regime de Drawback, independente de sua modalidade, é um regime tributário que tem alcance geral. Ou seja, sua utilização é possível desde a pequena indústria até as grandes COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 178 multinacionais. Pois, não discrimina qualquer segmento da indústria, nem distingue país de exportação ou importação (OLIVEIRA, 2021). 10.2.1.6 Incentivos e Guerra Fiscal nas Importações O termo guerra fiscal representa o esforço competitivo entre os estados e o Distrito Federal para que a alocação de investimentos privados seja direcionada aos seus respectivos territórios. A principal vantagem usada neste conflito é a concessão de benefícios e incentivos fiscais. A guerra fiscal de ICMS, por exemplo, é prática competitiva comum entre os estados brasileiros que buscam atrair empresas de outros territórios para o seu. Estes estados oferecem uma série de benefícios e incentivos fiscais de ICMS, como isenções, diferimentos, reduções de alíquotas, de base de cálculo, entre outros. Geralmente, os benefícios fiscais são atribuídos na forma de concessões tributárias ou Tratamento Tributário Diferenciado (TTD). Sendo assim, como exemplos, a seguir, temos alguns dos benefícios fiscais presentes nos estados brasileiros, quer sejam: Diferimento do ICMS via TTD Santa Catarina: Santa Catarina é referência em importação no Brasil e oferece o TTD 410. O incentivo é atribuído para empresas que desejam reduzir o ICMS na entrada de mercadorias no Brasil destinadas à revenda, com alíquota reduzida de 0,6% a 2,6%. Diferimento do ICMS via TTD Espírito Santo: Existem duas TTD: INVEST e FUNDAP. O INVEST tem como objetivo o incentivo da importação dentro do estado. Mas, para ser beneficiado, as empresas devem se enquadrar em alguns critérios, como a geração de empregos, execução de projetos de interesse do estado, entre outros. Por sua vez, o FUNDAP(Fundo de Desenvolvimento das Atividades Portuárias) é voltado para empresas que possuem matriz ou filial no Espírito Santo e que também nacionalizam produtos dentro do estado. Corredor de importação de Minas Gerais: Minas Gerais possibilita o diferimento (postergação do pagamento) do ICMS sobre operações de importação de mercadorias para revenda importadas por MG, além da redução da alíquota nas vendas em operações internas e interestaduais das mercadorias importadas destinadas à revenda. No processo de importação, para que o contribuinte tenha o benefício do regime especial, o desembaraço deve ocorrer, preferencialmente, dentro do estado. Porém, o contribuinte pode apresentar justificativa caso a ação ocorra fora de Minas Gerais. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 179 Paraná Competitivo8: O programa Paraná Competitivo trouxe importantes benefícios fiscais para as importações realizadas pelo estado, ampliando a abrangência dos benefícios concedidos. As medidas trazem redução do imposto ICMS de importação para os estabelecimentos que realizarem operações de revenda da mercadoria importada por meio de portos e aeroportos paranaenses, com desembaraço aduaneiro no Estado. 10.3.1 Fechamento de Câmbio nas Importações Em uma transação normal de importação, o importador brasileiro compra os produtos e serviços em moeda estrangeira, que geralmente é o dólar. Logo, para conseguir pagar a sua compra, ele precisa passar por um processo chamado: fechamento de câmbio. Para Oliveira (2021) o fechamento de câmbio é uma parte essencial para os processos do comércio exterior. As transações de importação dependem de um valor contratado por ambas partes para negociação do pagamento em moeda estrangeira. Mas o que significa fechamento de câmbio? Para Vazquez (2015, p. 168): O fechamento de câmbio é o processo de conversão de divisas estrangeiras (ou seja, moedas de outros países) em moeda nacional (no caso do Brasil, o Real). Esse processo é intermediado sempre pelo Banco Central do Brasil (Bacen), com a finalidade de fiscalizar e regulamentar o mercado. As fiscalizações acontecem nos processos de importação e exportação. Por isso, todas as operações que envolvam câmbio devem estar registradas no Sistema de Informações do Banco Central (SISBACEN). Para operacionalização do fechamento de câmbio, o primeiro passo é entrar em contato com uma agência de câmbio autorizada pelo Banco Central. A partir desse contato, serão solicitadas documentações para intermediar o processo de importação e gerar um contrato para intermediar a comercialização. Quando é gerado um contrato de câmbio com todas informações prestadas. O fechamento de câmbio deverá acontecer de acordo com a necessidade dos clientes, taxa de juros em vigor e variações na taxa de câmbio. A vantagem de negociar um contrato sempre dará a possibilidade de o cliente optar por uma taxa que lhe agrade. Ou seja, pesquisar e comparar o agente é importante para o resultado final das transações internacionais. Principalmente com o impacto dos custos no processo de comércio. Uma observação importante é que esse tipo de operação terá até 180 dias antes ou depois do embarque dos produtos para ser realizada. Assim, durante o processo 8 Conheça mais sobre o programa Paraná Competitivo, acessando esse link sugerido: http://www.fazenda.pr.gov.br/Pagina/Parana-Competitivo https://www.suno.com.br/artigos/fundo-cambial/ https://www.suno.com.br/artigos/mercado-de-cambio/ https://www.suno.com.br/artigos/balanca-comercial/ http://www.fazenda.pr.gov.br/Pagina/Parana-Competitivo COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 180 de importação ficará a critério do operador saber da relação de: variação do câmbio, taxa cambial e termos do contrato. Para concluir uma transação, ou seja, liquidar o contrato de câmbio, a instituição responsável pela transferência e conversão das moedas entre exportadores e importadores, emitirá o Código Swift e transferirá o valor contratado. ANOTE ISSO Código Swift é um código que identifica instituições financeiras pelo mundo e permite o envio e o recebimento internacional de valores. O código Swift permite que contas de instituições financeiras internacionais se conectem ao mesmo sistema e a transferência de valores aconteça. Em uma importação, além do código Swift é necessário também o IBAN, que identifica a conta do cliente que irá receber as transferências internacionais. 10.4.1 Principais conceitos e siglas usados nas Importações Na legislação brasileira são estipulados métodos específicos para as operações de importação, operações de exportação e para operações financeiras. Apresentamos no quadro a seguir os principais termos, procedimentos e métodos utilizados como conceitos na importação. Conceito Descrição Preços Independentes Comparados (PIC) Definido como a média aritmética dos preços de bens, serviços e direitos, idênticos ou similares, apurado no mercado brasileiro, ou de outros países, em operações de compra e venda, em condições de pagamento semelhantes. Preço de Revenda menos Lucro (PRL) Definido como a média aritmética preços de revenda dos bens, serviços ou direitos, diminuídos dos: descontos incondicionais concedidos; impostos e contribuintes sobre vendas; comissões e corretagens pagas; de margem de lucro. Custo de Produção mais Lucro (CPL) Definido como o custo médio de produção de bens, serviços ou direitos, idênticos ou similares, no país onde tiverem sido originalmente produzidos, acrescidos dos impostos e taxas cobrados pelo referido país, na exportação, e de margem de lucro de 20%, calculada sobre o custo apurado. Conferência Aduaneira Tem a finalidade de identificar o importador, verificar a mercadoria, determinar seu valor e classificação, e constatar o cumprimento de todas as obrigações, fiscais e outras, exigíveis em razão da importação. Pode ser realizada na zona primária ou na zona secundária, e deve ser feita na presença do importador ou seu representante. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 181 Desembaraço Aduaneiro Uma vez concluída a conferência sem exigência fiscal ou outra dar-se-á o desembaraço aduaneiro da mercadoria. Não é desembaraçada a mercadoria sujeita a controles especiais, antes de cumpridas as exigências pertinentes. A entrega da mercadoria só ocorre após o desembaraço aduaneiro. Porém existem exceções. De acordo com a natureza da mercadoria, da operação de importação, e da via de transporte utilizada pode ser autorizada anteriormente ao desembaraço: nos casos de despacho ou entrega antecipada e de entrega fracionada. Despacho Antecipado É iniciado após a chegada da mercadoria à repartição aduaneira onde será processado. De acordo com a natureza da mercadoria, a qualidade do importador ou a via de transporte utilizada, é permitido o registro da declaração de importação antes da chegada da mercadoria. Entrega Fracionada No caso de partida que constitua uma só importação e que não possa ser transportada num único veículo, será permitido o seu fracionamento em lotes, devendo cada veículo apresentar seu próprio manifesto, e o conhecimento de carga do total da partida. Entrega Antecipada A entrega da mercadoria ao importador antes de totalmente realizada a conferência aduaneira, em situações de comprovada impossibilidade de sua armazenagem em local alfandegado ou, ainda, em outras situações justificadas, em vista da natureza da mercadoria ou de circunstâncias específicas da operação de importação. Por exemplo: na importação de produtos químicos ou material explosivo, por questões de segurança da repartição aduaneira, pode ser autorizada a entrega antecipada dos produtos. Comprovante de Importação Após o registro do desembaraço aduaneiro no Sistema, é emitido o comprovante de importação em via única, a ser entregue ao importador. Ocomprovante de importação não substitui a documentação fiscal exigida nos termos da legislação específica para efeito de circulação da mercadoria no território nacional. Revisão Aduaneira É o ato pelo qual a autoridade fiscal, após o desembaraço da mercadoria, reexamina o despacho aduaneiro, com finalidade de apurar a regularidade do pagamento do imposto e demais gravames devidos à Fazenda Nacional ou do benefício fiscal aplicado e da exatidão das informações prestadas pelo importador. Mercadoria Abandonada Mercadorias e bens que ficam na zona primária ou em recintos alfandegados por prazo acima do permitido na legislação aduaneira (90 dias), assim como as mercadorias provenientes de naufrágio ou outros acidentes cujos interessados não foram localizados, são considerados abandonados. A mercadoria ou bem abandonado sofre processo de perdimento e, após a aplicação da pena de perdimento, tem uma das destinações previstas na legislação, como a incorporação à Administração Pública ou a venda em leilão. Vistoria Aduaneira É realizada antes da entrega da mercadoria, e tem a função de verificar ocorrência de avaria ou falta de mercadoria estrangeira na entrada no território aduaneiro, para identificar o responsável e apurar o crédito tributário dele exigível. Devem assistir à vistoria, obrigatoriamente, o depositário, o importador e o transportador; e facultativamente, o segurador ou qualquer pessoa que comprove legítimo interesse. Quadro 2 – Principais conceitos usados Fonte: Adaptado de Oliveira (2021, p. 138). COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 182 Observadas as diferentes características conceituais que envolvem o processo de importação, principalmente no que condiz a questão tributária e cambial, para o próximo capítulo, com o conhecimento apresentado e discutido até aqui, já temos condições de simular uma importação de mercadorias via sistema Siscomex e entender quais são as rotinas necessárias para torná-la real. Então, com base nesta simulação das etapas práticas do processo de importação, bem como, na demonstração dos principais procedimentos utilizados, nossa discussão avançará com a prática da importação por meio do Simulador de Importação Siscomex. Estarei com você em mais esta etapa de seu aprendizado. Até lá! COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 183 AULA 11 SIMULANDO UMA IMPORTAÇÃO Neste capítulo, simularemos o processo de importação com a sugestão de seis passos. Essa sugestão proporciona para pretensos importadores, conhecimentos de como esse processo acontece, em termos administrativos e tributários, a partir do momento que ele opta pela decisão de importar. A utilização de simuladores é de grande importância em qualquer operação de comércio exterior, visto que os principais tratamentos administrativos são orientados de forma correta, bem como, temos transparência na incidência da carga tributária nos produtos importados. Isto permite que o importador possa planejar seu processo de importação com altas probabilidades de obter sucesso na operação. Para importar é preciso definir o fornecedor no exterior, analisar os procedimentos operacionais, estar devidamente habilitado, entre outras características que fazem parte do processo e que tornam este tipo de operação a principal porta de acesso para o consumo global. Está interessado em aprender mais? Vamos adiante com a sugestão dos principais passos da importação. 11.1 Passo um: Habilitação e demais registros As pessoas físicas e jurídicas que estão interessadas em iniciar o processo de importação estão obrigadas à habilitação para atuar no comércio exterior e ter acesso ao Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex), bem como, credenciar seus representantes para a prática de atividades relacionadas com o despacho aduaneiro, perante a Secretaria da Receita Federal (SRF). Esta habilitação é chamada de Sistema de Rastreamento da Atuação dos Intervenientes Aduaneiros (RADAR). Os procedimentos de habilitação no RADAR são disciplinados pela Instrução Normativa da Receita Federal do Brasil (RFB) nº 1.288/2012 e Ato Declaratório COANA nº 33/2012, que implica para o importador, na prática, cadastramento nos seguintes sistemas: COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 184 • Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex) que constitui um sistema informatizado que integra as atividades de registro, acompanhamento e controle de comércio exterior, realizadas na Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais (Secint), que funciona como vice-ministério, na atual estrutura do Ministério da Economia (ME), pela Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB) e pelo Banco Central do Brasil (Bacen), que são órgãos gestores do sistema, além de outros órgãos anuentes. Nesse sistema as operações de importação são registradas e analisadas on-line pelos órgãos gestores do sistema. A habilitação de empresas pode ser feita diretamente no Siscomex, a partir do cadastro efetuado junto à Secretaria da Receita Federal do Brasil. • Registro de Exportadores e Importadores (REI), que constitui um cadastro da Secint no credenciamento do importador no processamento de operações de Comércio Exterior no Siscomex (exportação e importação). Essa inscrição é efetuada de forma automática quando ocorre a primeira operação de Comércio Exterior registrada por meio do sistema. 11.2 Passo dois: contato com o mercado internacional Para definir de quem e de onde importar, deve-se pensar que essa decisão acontece no contexto de planejamento de necessidades empresariais. A estratégia deve ser bem elaborada, para analisar a quantidade do produto a ser importado, a periodicidade da importação, formas de pagamento, condições e tempo de transporte. Estas informações ajudam na seleção dos possíveis mercados a fornecer a mercadoria para o importador. Também, são necessárias algumas análises quanto aos países potenciais, tais como, a verificação de acordos comerciais com o Brasil e das alíquotas incidentes. Dados indispensáveis para compor o custo da importação do produto. Após definir o país, a empresa importadora precisa avaliar qual o melhor fornecedor, dentro daquele país, para o produto que lhe interessa. A pesquisa pode ser feita por meio dos sites das empresas, repartições diplomáticas, contatos em feiras de negócios, entre outros. Em muitos casos, a empresa já dispõe de um provável fornecedor no exterior (OLIVEIRA, 2019). Muitos fatores são fundamentais para a escolha do melhor fornecedor, entre eles: • Capacidade produtiva; • Preço; COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 185 • Prazo; • Condições para a entrega do produto no Brasil; • Atuação e histórico no mercado interno e externo; • Especificações do produto; • Carteira de clientes; • Idoneidade. O contato inicial com o fornecedor escolhido pode ser feito por e-mail, carta, telefone ou até mesmo pessoalmente. Esse contato é fundamental para determinar a escolha do produto, o preço, a garantia, a logística e as condições. É conveniente solicitar ao exportador o envio de amostras, catálogos e sempre que possível, ter conhecimento prévio das instalações da fábrica. Com todos os pontos acordados entre as partes, o importador deve solicitar ao exportador a Fatura Pro Forma, que corresponde ao pedido, na qual constará os dados comerciais da transação, tais como: o preço, condições de venda e forma de pagamento. Este documento foi apresentado no capítulo anterior e está disponível para sua consulta, caso precise. É de suma importância que na Fatura Pro Forma ocorra a definição da modalidade de transporte, bem como a forma de pagamento do frete, se ocorrerá pelo importador ou pelo exportador. Caso fique acordado que o exportador será responsável pelo frete, o conhecimento de embarque será emitidocomo Frete Prepaid1. Entretanto, se o importador ficar como responsável pelo frete, o conhecimento de embarque será emitido com o Frete Collect2. 11.3 Passo três: Análise do Produto A análise do produto é fundamental para que não gere nenhum custo não planejado no processo de importação, tão pouco, penalidades administrativas e multas. A primeira etapa de qualquer análise de produto é a classificação fiscal da mercadoria, para enquadrar o produto a ser importado na Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM). Após devidamente classificado à NCM, o importador precisa verificar se há alguma formalização ou restrição para entrada do produto no Brasil. A emissão de licença 1 Este frete significa que será pago imediatamente após o embarque, para retirada do B/L. Normalmente, esse frete é pago no local ou país de embarque, podendo ser pago também no exterior. 2 O frete Collect indica que o destinatário do envio é responsável pelos custos de envio, bem como por quaisquer encargos acessórios que possam surgir ao longo do percurso. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 186 de importação e de certificação de origem, são exemplos de formalização/restrição, entre outros requisitos dispostos em normativos legais. 11.3.1 Classificação Fiscal de Mercadorias A classificação fiscal de mercadorias é importante não somente para determinar os tributos envolvidos nas operações de importação, mas também para fins de controle estatístico e determinação do tratamento administrativo requerido para determinado produto. O importador deve, a princípio, determinar ele próprio, ou por um profissional por ele contratado, a respectiva classificação fiscal do produto a ser importado. Para tanto, quem for fazer a classificação deve estar familiarizado com o Sistema Harmonizado de Designação e Codificação de Mercadorias e com as Regras Gerais para a Interpretação do Sistema Harmonizado, que podem ser pesquisadas por meio da Tarifa Externa Comum (TEC) ou da Tabela de Imposto sobre Produtos Industrializados (TIPI), nas Notas Explicativas do Sistema Harmonizado (NESH) e em Ementas de Pareceres e Soluções de Consulta publicadas em Diário Oficial da União (DOU) (SISCOMEX, 2021). O Sistema Harmonizado de Designação e de Codificação de Mercadorias ou simplesmente: Sistema Harmonizado (SH), é um método internacional de classificação de mercadorias, baseado em uma estrutura de códigos e suas respectivas descrições. O SH foi criado para promover o desenvolvimento do comércio internacional, assim como aprimorar a coleta, a comparação e a análise das estatísticas do comércio exterior. Além disso, o SH facilita as negociações comerciais internacionais, a elaboração das tarifas de fretes e das estatísticas relativas aos diferentes meios de transporte de mercadorias e de outras informações utilizadas pelos diversos intervenientes no comércio internacional. A composição dos códigos do SH, formado por seis dígitos, permite que sejam atendidas as especificidades dos produtos, tais como origem, matéria constitutiva e aplicação, em um ordenamento numérico lógico, crescente e de acordo com o nível de sofisticação das mercadorias (OLIVEIRA, 2019). O Brasil, a Argentina, o Paraguai e o Uruguai adotam, desde janeiro de 1995, a Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM), que tem por base o Sistema Harmonizado. Assim, dos oito dígitos que compõem a NCM, os seis primeiros são formados COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 187 pelo Sistema Harmonizado, enquanto o sétimo e oitavo dígitos correspondem a desdobramentos específicos atribuídos no âmbito do Mercosul. 11.3.2 Licença de Importação (LI) Conforme a legislação vigente, no Brasil, a LI poderá ser efetuada de forma automática ou não automática. Em ambos os tipos dessas licenças são prestadas informações de natureza cambial, fiscal e comercial. Os procedimentos para obtenção da LI foram apresentados no capítulo anterior, envolvendo a política brasileira de importação. Em regra geral, as importações brasileiras estão dispensadas de licenciamento. Todavia, as hipóteses previstas de produtos sujeitos a licenciamento de importação, no atual cenário do comércio exterior brasileiro, excedem as importações dispensadas. Por este motivo, é importante ficar alerta. 11.3.2.1 Licenciamento automático3 Sempre condicionado à NCM do produto, o licenciamento automático ocorre quando não existe nenhuma exigência especial por parte dos órgãos anuentes. Sua obtenção se dará de forma automática pelo Siscomex. Ou seja, com a formulação da Declaração Única de Importação (DUIMP). O licenciamento automático poderá ser efetuado após o embarque da mercadoria no exterior, mas anteriormente ao despacho aduaneiro de importação. 11.3.2.2 Licenciamento não automático Também condicionado à NCM do produto, o licenciamento não automático ocorre quando existem exigências, tais como autorizações por parte do órgão anuente para que possa embarcar a mercadoria e prosseguir com o processo de importação. Dentre os produtos relacionados no Siscomex, sujeitos a licenciamento não automático, destacam-se: • Produtos sujeitos à obtenção de cotas tarifária e não tarifária; • Sob amparo dos benefícios da Zona Franca de Manaus e das Áreas de Livre Comércio; 3 A fundamentação legal está nos artigos 14 e 16 da Portaria Secex nº 23/2011. Esta portaria pod e ser acessado, aqui: http://siscomex. gov.br/legislacao/secex/ http://siscomex.gov.br/legislacao/secex/ http://siscomex.gov.br/legislacao/secex/ COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 188 • Produtos sujeitos à anuência do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); • Produtos originários de países com restrições constantes de Resoluções da Organização das Nações Unidas (ONU); • Em substituição de mercadoria, nos termos da Portaria do Ministério da Fazenda nº 150/1982; • Produtos sujeitos a medidas de defesa comercial e de bens idênticos aos sujeitos a medidas de defesa comercial, quando originários de países ou produtores não gravados. O licenciamento não automático deverá ser efetuado previamente ao embarque da mercadoria no exterior. O pedido deverá ser registrado no Siscomex pelo importador ou por seu representante legal ou, ainda, por agentes credenciados pelo Decex4 e por meio da Receita Federal do Brasil (RFB). O licenciamento não automático poderá ser efetuado após o embarque da mercadoria no exterior, mas anteriormente ao despacho aduaneiro, nas seguintes situações transcritas a seguir. • Importações ao amparo dos benefícios da Zona Franca de Manaus e das Áreas de Livre Comércio, exceto quando o produto estiver sujeito a Tratamento Administrativo no Siscomex que exija o cumprimento da condição prevista; • Mercadoria ingressada em entreposto aduaneiro ou industrial na importação; • Importações sujeitas à anuência do CNPq; • Importações de brinquedos; • Importações de mercadorias sujeitas à anuência da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), quando previsto na legislação específica; e, • Nos casos de nacionalização de unidades de carga, código NCM 8609.00.00, seus equipamentos e acessórios, usados, desde que se trate de contêineres rígidos, padrão ISO/ABNT (International Organization for Standardization/Associação Brasileira de Normas Técnicas). 4 É o órgão responsável pela operacionalização das políticas da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). O Decex administra o Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex) e sua função é simplificar a operacionalidade do comércio exterior brasileiro e promover as exportações. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 189 A fundamentação legal deste tipo de licenciamento também estácontida na Portaria Secex nº 23/2011, artigos 15, 17 e 18 (SISCOMEX, 2021). ISTO ESTÁ NA REDE O que significa: Licença de Importação INMETRO? A licença de importação Inmetro é um documento eletrônico emitido no SISCOMEX, sistema da Receita Federal, para controle de operações de importação e exportação que contém dados sobre a mercadoria a ser importada. O Inmetro no comércio exterior opera como órgão anuente sobre o controle de alguns produtos. Brinquedos, rodas automotivas e seringas hipodérmicas são alguns exemplos de produtos amparados pelo órgão. Para obter uma licença de importação Inmetro é necessário que tenham sido observados os processos de certificação de um fornecedor e do produto a ser importado, além da correta confecção do documento. Já, para determinar qual modelo de certificação a ser seguido para um produto, alguns fatores são levados em consideração. O nível de confiança e as características da matéria-prima são alguns deles. A coleta de amostras do produto para posterior ensaio é o procedimento observado em qualquer modelo de certificação. Outros procedimentos também podem ser utilizados. Ensaios periódicos da mercadoria na fábrica ou no comércio, por exemplo, são procedimentos para atestar a conformidade dos produtos. Os procedimentos detalhados para obter este licenciamento podem ser encontrados no portal do Inmetro, disponível em: http://www.inmetro.gov.br/ 11.4 Passo quatro: Embarque no Exterior Definidas as questões comerciais e as questões dos tratamentos administrativos, o importador pode autorizar o embarque da mercadoria no exterior. O exportador enviará, conforme as modalidades de pagamento acordadas, os documentos que darão a permissão ao importador para liberar a mercadoria na aduana brasileira, como: fatura comercial, packing list, certificado de origem, conhecimento de embarque, certificado fitossanitário, entre outros. Os principais documentos são apresentados nesta sequência. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 190 11.4.1 Fatura Comercial A fatura comercial é o documento de natureza contratual que espelha a operação de compra e venda entre o importador brasileiro e o exportador estrangeiro. Tal documento, com a via original assinada de próprio punho pelo exportador, instruirá a Declaração Única de Importação (DUIMP). A primeira via da fatura comercial será sempre a original, podendo ser emitida, assim como as demais vias, por qualquer processo. Será aceita como primeira via da fatura comercial, quando emitida por processo eletrônico, aquela da qual conste expressamente tal indicação. A fatura deve conter as seguintes indicações (FISCOSOFT, 2014): • Nome e endereço, completos, do exportador e do importador; • Especificação das mercadorias em português ou em idioma oficial do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio, ou, se em outro idioma, acompanhada de tradução em língua portuguesa, a critério da autoridade aduaneira, contendo as denominações próprias e comerciais, com a indicação dos elementos indispensáveis à sua perfeita identificação; • Marca, numeração e, se houver, número de referência dos volumes; • Quantidade e espécie dos volumes; • Peso bruto dos volumes, entendendo-se, como tal, o da mercadoria com todos os seus recipientes, embalagens e demais envoltórios; • Peso líquido, assim considerado o da mercadoria livre de todo e qualquer envoltório; • País de origem, como tal entendido aquele onde houver sido produzida a mercadoria ou onde tiver ocorrido a última transformação substancial; • País de aquisição, assim considerado aquele do qual a mercadoria foi adquirida para ser exportada para o Brasil, independentemente do país de origem da mercadoria ou de seus insumos; • País de procedência, assim considerado aquele onde se encontrava a mercadoria no momento de sua aquisição; • Preço unitário e total de cada espécie de mercadoria e, se houver, o montante e a natureza das reduções e dos descontos concedidos ao importador; • Frete e demais despesas relativas às mercadorias especificadas na fatura; • Condições e moeda de pagamento; e Incoterm utilizado. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 191 11.4.2 Packing List ou Romaneio de Carga O romaneio de carga é o documento de embarque que discrimina todas as mercadorias embarcadas ou todos os componentes de uma carga em quantas partes estiver fracionada. O romaneio tem o objetivo de dar a conhecer detalhadamente como a mercadoria está apresentada, a fim de facilitar a identificação e localização de qualquer produto dentro de um lote, além de facilitar a conferência da mercadoria por parte da fiscalização, tanto no embarque como no desembarque. Contém comumente os seguintes elementos (SISCOMEX, 2021): • Quantidade total de volumes (embalagem); • Marcação dos volumes; • Identificação dos volumes por ordem numérica; e • Espécie de embalagens (caixa,pallet, entre outros) contendo peso líquido, peso bruto, dimensões unitárias e o volume total da carga. O romaneio é exigível em situações em que é prática corrente sua emissão. A previsão normativa que exige apresentação do documento são as disposições do § único do art. 553 do Regulamento Aduaneiro c/c inc. III do art. 18 da IN SRF nº 680/06, em que se menciona que a declaração de importação será instruída com o romaneio de carga, quando aplicável. A função básica do romaneio é a identificação de conjuntos de volumes, em regra, mercadorias embaladas. Em situações em que não é prática usual a emissão de tal documento, não há que se falar em instrução da Declaração de Importação com o romaneio e, por conseguinte, tampouco em imposição de multa. Exemplos de situações em que não é prática a emissão do romaneio de carga: granéis e cargas não embaladas que por si só se identificam como automóveis (nº do chassi) ou máquinas e equipamentos de grande porte (nº de série) (SISCOMEX, 2021). A não-apresentação do romaneio de carga (packing-list) na instrução do despacho aduaneiro (em situações em que seja prática corrente sua emissão) enseja a aplicação da multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) prevista na alínea “e”, inciso VIII do art. 728 do Regulamento Aduaneiro5. 5 Acesso em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d6759.htm http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?visao=anotado&idAto=15618 http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?visao=anotado&idAto=15618 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d6759.htm COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 192 Figura 1 – Packing List Fonte: Siscomex (2021) 11.4.3 Conhecimento de Embarque Conhecimento de Embarque é o documento emitido por conta do transportador, e nele deve constar o tipo e quantidade de mercadorias embarcadas, quem é o embarcador, ou consignatário, os portos (aeroportos) de embarque e descarga, o nome do navio (avião) transportador e o valor do frete. O conhecimento de embarque deve ser assinado pelo comandante (capitão) do navio ou avião ou preposto expressamente autorizado para tanto. Admite-se o recebimento das mercadorias descritas a bordo do navio ou avião mencionado, em boa ordem e condições, no local ou porto mencionado, com a obrigação de entregá-las, no porto ou local de destino mencionado, nas mesmas condições recebidas, ao consignatário nomeado ou o portador do conhecimento de embarque, mediante o pagamento do frete. O conhecimento de embarque (BL - Bill of Lading) é um dos documentos mais importantes do comércio exterior, emitido pela companhia responsável pelo transporte da mercadoria. O BL é um contrato de transporte, recibo de entrega da carga e a título de crédito. Veja um exemplo na figura a seguir. COMÉRCIO EXTERIOR NO AGRONEGÓCIO PROF. CLAUDIO ZANCAN FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 193 Figura 2 – Exemplo de Bill of Lading (BL) Fonte: OLIVEIRA (2019)