Buscar

Caso Emmy Von N. analisado por Sigmund Freud

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 5 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Caso Emmy Von N. analisado por Sigmund Freud
O caso de Emmy Von N chegou a Freud como uma paciente histérica, que na época era compreendida como uma doença nervosa relacionada ao útero e que provocava crises convulsivas.
Contudo, o principal traço da histeria seria o comportamento de pânico, estresse e emoções extremamente à flor da pele — assim como Emmy apresentava em relação ao medo de animais e de pessoas desconhecidas, por exemplo.
Sabendo disso, Freud começou a utilizar as técnicas de hipnose para desvendar a origem desses medos irracionais da paciente. Assim, o psicanalista hipnotizava a paciente com o objetivo de expandir a sua consciência e retomar lembranças apagadas.
Essa seria uma das estratégias adotadas pelo método catártico, responsável por fazer com que o paciente fale e expresse livremente o que está sentindo, pensando e reprimindo. Com isso, a pessoa hipnotizada se torna capaz de expor tudo que tem lhe causado medo.
Traumas de infância
No caso Emmy Von N analisado por Freud, a paciente relatou episódios de infância em que seus irmãos lhe atiravam animais mortos, como provocação de criança. A partir dessa informação, o psicanalista pode observar como os traumas de infância são levados à vida.
As situações traumáticas passaram então a ser associadas aos eventos de histeria, considerando que por diversas vezes os primeiros espasmos e crises partiam justamente no momento dessas situações.
Qual método Freud empregou no caso Emmy Von N.?
Freud empregou inicialmente o Método Catártico ou Sugestivo, baseado na hipnose.
Este método catártico combinava: a técnica da pressão, em que o terapeuta pressionava a testa do paciente, com as sugestões hipnóticas, em que o terapeuta pedia que o paciente em estado hipnótico se desvencilhasse dos sintomas.
Em síntese, Freud dava ordens (ou sugestões) para a paciente não ter mais determinados sintomas.
O papel central da paciente Emmy Von N. na origem da psicanálise
Emmy demonstrava uma série de sintomas, dentre os quais:
Dores gástricas (surgidas após a morte do marido), tiques nervosos, gagueira, tendência à repetição de frases (como “fique quieto” e “não me toque”), medo de ser tocada e de estar com outras pessoas (por ter sido perseguida em situações da vida), medo de camundongos e de circo, mudanças de humor (o que hoje alguns diriam “bipolaridade”), entre outros.
Freud escreveu a respeito da gagueira, uma das principais manifestações sintomáticas de Emmy: “Eu lhe havia perguntado qual a origem de sua gagueira e ela respondera “não sei”. Pedira-lhe, portanto, que se lembrasse disso na hora da hipnose de hoje.
Em consequência, me respondeu hoje, sem nenhuma reflexão adicional, mas com grande agitação e com dificuldades espásticas na fala: “Como os cavalos certa vez saíram em disparada com as crianças na carruagem; e como outra vez eu estava passando de carruagem pela floresta com as meninas, durante uma tempestade, e uma árvore bem à frente dos cavalos foi atingida por um raio e os cavalos se assustaram e eu pensei: ‘Agora você precisa ficar bem quietinha, se não seus gritos vão assustar os cavalos ainda mais e o cocheiro não conseguirá contê-los de jeito nenhum.’ Surgiu a partir daquele momento.” 
A paciente ficou extraordinariamente agitada ao contar-me essa história. Soube também por ela que a gagueira tinha começado logo após a primeira dessas duas ocasiões, mas havia desaparecido pouco depois e então se estabelecera de uma vez por todas após a segunda ocasião semelhante. Apaguei sua lembrança plástica dessas cenas, mas pedi-lhe que as imaginasse mais uma vez. Ela pareceu tentar fazê-lo e permaneceu quieta enquanto atendia a meu pedido; a partir de então, falou durante a hipnose sem qualquer impedimento espástico.”
Durante a hipnose, ela conseguia se expressar, num fluxo mais contínuo de ideias, sem travas e sem gagueira. Isso reforçou em Freud a ideia de que os sintomas tinham origem psíquica, não eram de origem física.
Emmy se mostrava irritada com a frequente pergunta de Freud “de onde vem esse sintoma?”, respondendo a Freud: “Se eu soubesse eu não precisaria estar aqui”.
Além disso, ela pedia que Freud parasse de falar tanto e deixasse-a falar. O que foi outro insight para Freud, depois, colocar a fala do paciente em lugar de destaque em sua terapia, o que está na base da próxima e definitiva fase da técnica freudiana: a livre associação.
O conceito de histeria e a forma de tratamento com Psicanálise
“Não sei” (resposta recorrente de Emmy Von N.) pode ser entendida como “eu temo dizer”, uma forma de expressar o recalque (mecanismo de defesa) e a recusa em se expressar. Isso porque o Ego usa de mecanismos de defesa para evitar que as causas dos sintomas venham à consciência, afinal seria doloroso reviver aquela dor da causa.
Entretanto, na histeria, o tratamento por excelência é entrar em contato com a causa (descobrir a causa).
Freud notou que, quanto mais lembranças surgiram e ela relatava essas lembranças, menos sintomas Emmy demonstrava ter. Como se o ato de falar amenizasse esses sintomas. E na duração das sessões de hipnose, os sintomas desapareciam e a paciente se expressava de maneira digamos “mais espontânea”.
Emmy disse ao final de sessões: “agora eu me sinto muito melhor”. Freud começava a identificar que o ato de falar livremente ajudava no alívio dos sintomas psíquicos. Anos depois, Freud abandonaria a hipnose em favor de outra técnica, a livre associação, em que o papel de “falar livremente” se torna ainda mais relevante.
Freud, Hipnose e Psicanálise
Freud relatava não conseguir hipnotizar todos os pacientes. Ele entendia que nem todos os pacientes eram hipnotizáveis.
A paciente Emmy pedia para falar. Então, muitas sessões tinham grande parte de “conversa” e cada vez menos de hipnose, pelas anotações que o próprio Freud fazia das sessões. Isso seria já uma transição em favor da associação livre.
“Se, para sermos breves, adotarmos o termo “conversão” para designar a transformação da excitação psíquica em sintomas somáticos crônicos, que é tão característica da histeria, podemos então dizer que o caso da Sra. Emmy Von N. apresentava apenas uma pequena quantidade de conversão. A excitação, que era originariamente psíquica, permaneceu em sua maior parte nessa esfera, e é fácil compreender que isso lhe confere uma semelhança com as outras neuroses, não histéricas. Existem casos de histeria em que todo o excedente da estimulação sofre conversão, de modo que os sintomas somáticos da histeria se intrometem no que parece ser uma consciência inteiramente normal. A transformação incompleta, no entanto, é mais comum, de modo que pelo menos parte do afeto que acompanha o trauma persiste na consciência como um componente do estado emocional do indivíduo.”
Na histeria, há necessidade de lembrar como forma de tratar. A lembrança é retornar à fonte do sintoma e, ao se lembrar a origem do sintoma, de maneira “quase automática” o sintoma desaparece.
A ideia de “conversão” no conceito de “histeria de conversão” significa que tudo aquilo que é vivido de forma traumática (e não é combatido na ocasião em que ocorre) é convertido em sintoma.
Conversão significa: Eventos da vida do paciente que são “perdidos” enquanto tal, mas que são transformados em sintomas (e assim permanecem na vida psíquica do sujeito).
Assim, o caso Emmy Von N. trouxe importantes insights para a Psicanálise
O passado está presente, pelo menos como sintoma; isto é, o sintoma é a prova presente de um evento de outra natureza, ocorrido no passado.
 No inconsciente, passado e presente convivem livremente, pois o inconsciente não tem temporalidade.
 A fala do paciente é importante e é a essência do tratamento, mais do que a sugestão do analista.
​ Emmy deu o insight para Freud iniciar a associação livre.
De certa forma, Emmy Von N. é a coautora da Psicanálise, o que mostra a incrível importância do par analítico (analista – paciente).
A psicanálise não invalida a hipnose, que pode ser usada de maneira efetiva até hoje, embora psicanálise e hipnose tenham técnicas diferentes:Hipnose: Método com técnicas de sugestão;
 Psicanálise: Método da associação livre.
A importância do caso para a psicologia e psicanálise
A personalidade e comportamento imperativo de Emmy Von N. foi o principal fator para que a psicologia e a psicanálise se consolidassem da maneira que conhecemos hoje:
O paciente relatando livremente os fatos e emoções que o levaram até ali.
Isso pois, nas consultas com Freud, Emmy fazia questão de falar o que queria e interrompia qualquer pergunta que a desviasse de seu relato. O psicanalista permitiu que a consulta seguisse dessa forma e resolveu aderir a tática com os demais pacientes estudados.
Essa atitude de Emmy mudou a relação entre paciente e analista, bem como mudou o formato em que ocorriam as consultas. 
Pois, analisando a forma como a paciente se expressava, Freud conseguia muito mais informações do que conduzindo a sessão com perguntas calculadas.
Histeria e sexualidade
Outras questões interessantes também foram discutidas com mais amplitude e propriedade após o estudo do caso Emmy Von N, como a relação entre histeria e sexualidade. O conceito da hipnose e da sugestão também foram melhor investigados.
Freud associou que o quadro de Emmy poderia estar ligado a sua abstinência sexual, uma vez que a mulher era viúva há 24 anos. Desse modo, a histeria não era mais associada a uma condição ocasionada pelo útero, mas sim com a sexualidade da paciente. É como se a repressão do superego impusesse proibições ao prazer, e isso fosse se acumulando em tensões à paciente.
Muitos outros estudiosos também fizeram essa associação, que inicialmente era superficial demais para chegar a resultados conclusivos. Entretanto, a percepção foi determinante para se reconhecer o papel das interferências externas no ocasionamento da histeria.
Ou seja, em vez de uma condição genética que colocaria a mulher como predisposta à histeria — no caso da condição associada ao útero —, agora se enxerga a possibilidade de outros acontecimentos e situações serem os causadores das crises.
Todo esse processo de transformação pelo qual passa o caso de Emmy Von N. são uma amostra de como os diagnósticos clínicos dos quadros mentais dos pacientes foram evoluídos conforme os estudos passaram a investigar o indivíduo e sua amplitude.

Outros materiais