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10_IMPROBIDADE_ADMINISTRATIVA__NOVA

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IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA
		
SUMÁRIO
1. Previsão constitucional	3
2. Probidade e Moralidade	5
3. Retroatividade da legislação	6
4. Natureza jurídica	7
5. Conceito de atos de improbidade	10
6. Sujeito passivo	12
7. Sujeito ativo	14
8. Atos de improbidade administrativa	19
9. Sanções pelos atos de improbidade	31
10. Indisponibilidade dos bens	37
11. Afastamento do cargo	42
12. Representação	42
13. Ação de Improbidade Administrativa	44
14. Acordo de não persecução cível	50
15. Sentença	53
16. Prescrição	55
17. Honorários e custas	57
DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO	58
ATUALIZADO EM 05/04/2022[footnoteRef:1] [1: As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos, porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos eventos anteriormente citados. ] 
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA[footnoteRef:2] [2: Por Marcela Albuquerque.] 
1. Previsão constitucional 
A Constituição Federal de 1988 previu, em seu artigo 37, §4º, a base para a sanção por atos de improbidade administrativa:
Art. 37 (...)
§ 4º Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.
A doutrina e jurisprudência consideram que esta norma prevê as sanções mínimas decorrentes de atos de improbidade administrativa, nada impedindo que a lei que regulamente tal dispositivo tenha um rol mais extenso de sanções. Entende-se que o art. 37, §4º da CRF é norma de eficácia limitada, estando hoje regulamentada pela Lei 8.429/92, que trata sobre as sanções aplicáveis em razão de atos de improbidade praticados contra a Administração Pública. 
Ressalta-se que, recentemente, a Lei 14.230/21 promoveu alterações substanciais na Lei 8.429/92, que serão estudadas ao longo deste material. É importante mencionar que a nova lei alterou a própria ementa da Lei 8.429/92:
	Antes da Lei 14.230/21
	Redação atual
	Dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos nos casos de enriquecimento ilícito no exercício de mandato, cargo, emprego ou função na administração pública direta, indireta ou fundacional e dá outras providências.
	Dispõe sobre as sanções aplicáveis em virtude da prática de atos de improbidade administrativa, de que trata o § 4º do art. 37 da Constituição Federal; e dá outras providências.  
Ou seja, a Lei de Improbidade Administrativa passou a prever uma ementa mais ampla. 
A improbidade administrativa também encontra previsão nos seguintes dispositivos da CF/88:
- Art. 14, §9º, CF: Improbidade no período eleitoral 
Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:
§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.
- Art. 15, inciso V, CF: Suspensão dos direitos políticos em caso de improbidade
Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:
V - Improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º
- Art. 85, V, CF: improbidade na qualidade de crime de responsabilidade do Presidente da República
Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente, contra:
V - a probidade na administração;
A competência para legislar sobre o assunto é da União, apesar da Constituição não afirmar isso expressamente. Analisando a necessidade de regulamentar as medidas sancionatórias (direitos políticos, indisponibilidade de bens, ressarcimento do erário e perda de função, que são de competência da União), infere-se pela competência da União (art. 22, I, CF). 
Ex.: Direitos políticos – direito eleitoral – União.
Indisponibilidade e ressarcimento – Direito civil – União.
Perda da função – político penal – União.
#OBS. nas questões que envolvem direito eleitoral, civil ou político penal a competência é privativa da União, sendo a lei considerada nacional, tendo os estados competência suplementar. Já quanto aos dispositivos que envolvem direito administrativo – declaração de bens do servidor, apuração dos fatos na via administrativa, afastamento cautelar do agente – a competência é concorrente, sendo a lei considerada federal, podendo os estados legislarem de outra forma.
2. Probidade e Moralidade 
O que significa improbidade administrativa?
Estamos falando do termo técnico de corrupção administrativa, que se promove com o desvirtuamento da função pública. Há uma afronta à ordem jurídica.
Ela se revela:
a) vantagens patrimoniais indevidas
b) exercício nocivo da função pública, tráfico de influências, favorecimento de uma minoria em detrimento da grande maioria.
Geralmente, associa-se o conceito de improbidade ao de moralidade. No entanto, para os fins de aplicação da lei, o conceito de improbidade é mais amplo, pois abrange não só atos imorais praticados com ofensa aos princípios da Administração Pública, como os atos ilegais em sentido estrito, ou seja, praticados com ofensa às regras positivadas no ordenamento jurídico. Além disso, ato de improbidade pode referir-se não apenas a um ato administrativo, no sentido jurídico do termo, mas também a uma conduta ou mesmo a uma omissão.
Probidade e Moralidade
PROBIDADE está relacionada à honestidade, correção de conduta, boa administração, com o PRINCÍPIO DA MORALIDADE. Elas se equivalem, sendo a moralidade o princípio e improbidade lesão ao próprio princípio - José Afonso da Silva.
#AJUDAMARCINHO: Existe diferença entre os conceitos de “probidade” e “moralidade”?
	1ª corrente:
	2ª corrente:
	3ª corrente:
	Moralidade é um conceito mais amplo que o de probidade.
Probidade seria um subprincípio da moralidade.
	Probidade é um conceito mais amplo que o de moralidade. Isso porque a Lei nº 8.429/92 prevê, como ato de improbidade administrativa, não apenas a violação à moralidade, mas também aos demais princípios da Administração Pública, conforme previsto no art. 11 da referida Lei. Assim, todo ato imoral é um ato de improbidade administrativa, mas nem todo ato de improbidade administrativa significa violação ao princípio da moralidade.
	Moralidade e probidade são expressões equivalentes, considerando que a CF menciona a moralidade como um princípio da Administração Pública (art. 37, caput) e a improbidade como sendo a lesão produzida a esse mesmo princípio (art. 37, § 4º).
	Posição de Wallace Paiva Martins Júnior.
	Defendida por Emerson Garcia e Rogério Pacheco Alves.
	É sustentada por José dos Santos Carvalho Filho.
 
A segunda corrente, na qual a probidade é um gênero, sendo a moralidade uma de suas espécies, é o melhor entendimento. A improbidade irá englobar não apenas os atos desonestos ou imorais, mas também os atos ilegais.
3. Retroatividade da legislação 
Inicialmente, para o estudo da retroatividade da legislação, é importante mencionar que os atos de improbidade administrativa possuem natureza cível, e não criminal. O STF firmou o posicionamento no sentido de que a Lei n8.429/92 não poderia ser aplicada de forma retroativa aos fatos ocorridos antes de sua entrada em vigor. 
#DEOLHONAJURIS: A Lei nº 8.429/92 pode ser aplicada a fatos ocorridos antesde sua entrada em vigor? NÃO. É pacífico o entendimento do STJ no sentido de que a Lei nº 8.429/92 não pode ser aplicada retroativamente para alcançar fatos anteriores a sua vigência, ainda que ocorridos após a edição da Constituição Federal de 1988. STJ. REsp 1129121/GO, Rel. p/ Acórdão Min. Castro Meira, julgado em 03/05/2012.
ADMINISTRATIVO. LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. APLICAÇÃO RETROATIVA A FATOS POSTERIORES À EDIÇÃO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988. IMPOSSIBILIDADE. 1. A Lei de Improbidade Administrativa NÃO pode ser aplicada retroativamente para alcançar fatos anteriores a sua vigência, ainda que ocorridos após a edição da Constituição Federal de 1988. 2. A observância da garantia constitucional da irretroatividade da lei mais gravosa, esteio da segurança jurídica e das garantias do cidadão, não impede a reparação do dano ao erário, tendo em vista que, de há muito, o princípio da responsabilidade subjetiva se acha incrustado em nosso sistema jurídico. (...) (STJ, REsp 1129121/GO, rel. Min. ELIANA CALMON, 2ª Turma, julgado em 03/05/2012).
ADMINISTRATIVO. AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. SERVIDORES DA POLÍCIA RODOVIÁRIAS FEDERAL. LEI N. 8.429/92. IRRETROATIVIDADE. FATOS ANTERIORES À SUA VIGÊNCIA. FATOS POSTERIORES. AUSÊNCIA DO ELEMENTO SUBJETIVO. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. A Lei n. 8.429/1992, assim como as normas penais, não se aplica a fatos a ela anteriores. (...) (STJ, REsp 1327792 / CE, rel. Min. CESAR ASFOR ROCHA, 2ª Turma, julgado em 26/06/2012)
E com relação à Lei 14.230/21, poderá haver a aplicação retroativa?
Como mencionamos acima, a Lei 14.230/21 promoveu alterações substanciais no texto da Lei 8.429/92 e, em regra, alterações benéficas ao sancionado. Assim, passou a ser discutido na doutrina a possibilidade da sua aplicação retroativa. 
· 1ª Corrente: SIM, é possível a aplicação retroativa da Lei 14.230/21. Pelo fato da norma estar inserida dentro do direito sancionador, sendo mais favorável ao sancionado, ainda que de natureza cível, seria cabível a aplicação retroativa da nova Lei aos atos ocorridos antes da sua entrada em vigor. 
· 2ª Corrente: NÃO, não seria cabível a aplicação retroativa da Lei 14.230/21. Não se pode confundir as esferas cível e penal. Enquanto que esta admite a aplicação retroativa da norma mais benéfica, aquela não admite tal postulado, devendo a lei ser aplicada aos atos praticados quando da sua entrada em vigor. 
4. Natureza jurídica 
 
A improbidade não é ilícito penal, tem natureza jurídica de ilícito civil, dependendo de ação civil (ADI 2797), chamada de Ação Civil Pública por Ato de Improbidade, ou simplesmente de Ação de Improbidade Administrativa. Não exclui os crimes porventura praticados, devendo o ilícito penal ser processado mediante ação penal. A mesma conduta também pode considerar uma infração administrativa (funcional), sendo processado por PAD (Lei nº 8.112/90).
Ilícito penal: NÃO se trata de um ilícito penal, porque as suas sanções são totalmente distintas das criminais. A própria CF demonstra que não se trata de crime, ao mencionar no art. 37, § 4º, que as sanções por ato de improbidade administrativa serão aplicados “sem prejuízo da ação penal cabível”.
Ilícito administrativo: As sanções também têm natureza totalmente diferente. Quem irá definir o ilícito administrativo é servidor. Outra distinção reside no fato de que a infração funcional é punida na via administrativa, por meio de processo administrativo. Já as sanções por improbidade administrativa estão sujeitas à reserva de jurisdição, segundo o STF. Mas cuidado! O STF já decidiu que o PAD é independente em relação à ação de improbidade administrativa. Por essa razão, não há necessidade de aguardar-se o trânsito em julgado da ação por improbidade administrativa para que seja editado o ato de demissão do servidor.
#DEOLHONASÚMULA Súmula 651/STJ - Compete à autoridade administrativa aplicar a servidor público a pena de demissão em razão da prática de improbidade administrativa, independentemente de prévia condenação, por autoridade judiciária, à perda da função pública.
Uma mesma conduta pode dar origem a três ações diferentes (ação civil, ação penal e processo disciplinar) e também decisões diferentes em cada um dos processos. Em regra, uma decisão não influência a outra. Chamamos esse fenômeno de independência de instâncias. 
A nova redação do caput do art. 12, dada pela Lei 14.230/21, manteve a previsão a respeito da independência das instâncias civil, administrativa e criminal:
Art. 12. Independentemente do ressarcimento integral do dano patrimonial, se efetivo, e das sanções penais comuns e de responsabilidade, civis e administrativas previstas na legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes cominações, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de acordo com a gravidade do fato:        (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
#DEOLHONAJURIS - A condenação pela Justiça Eleitoral ao pagamento de multa por infringência às disposições contidas na Lei n. 9.504/1997 (Lei das Eleições) não impede a imposição de nenhuma das sanções previstas na Lei nº 8.429/1992 (Lei de Improbidade Administrativa), inclusive da multa civil, pelo ato de improbidade decorrente da mesma conduta. STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 606.352-SP, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 15/12/2015 (Info 576).
Excepcionalmente, haverá comunicação das instâncias. Se no processo penal o agente for absolvido por inexistência de fato ou por negativa de autoria, ele também será absolvido no processo civil e administrativo (absolvição geral), comunicando-se as instâncias (art. 935, CC; art. 126, Lei nº 8.112/90 e art. 66, CPP).
CC/02, Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal.
CPC, Art. 66.  Não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá ser proposta quando não tiver sido, categoricamente, reconhecida a inexistência material do fato.
Lei 8.112/90, Art. 126.  A responsabilidade administrativa do servidor será afastada no caso de absolvição criminal que negue a existência do fato ou sua autoria.
A absolvição penal por insuficiência de provas não se comunica, não atingindo o processo civil nem disciplinar. Se a lei penal exigir o elemento subjetivo doloso e o agente praticou o ato por culpa, será absolvido, mas essa decisão também não vai gerar nenhuma consequência para as demais instâncias.
Caso no processo penal seja reconhecida uma excludente penal (exemplos: estado de necessidade, legítima defesa, exercício regular de direito etc.), o agente pode ser absolvido penalmente, mas não originará absolvição geral. Contudo, a excludente faz coisa julgada no processo civil. É possível ser condenado civilmente, mas não será preciso discutir novamente a excludente.
Art. 21 (...)
§ 3º As sentenças civis e penais produzirão efeitos em relação à ação de improbidade quando concluírem pela inexistência da conduta ou pela negativa da autoria.       (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 4º A absolvição criminal em ação que discuta os mesmos fatos, confirmada por decisão colegiada, impede o trâmite da ação da qual trata esta Lei, havendo comunicação com todos os fundamentos de absolvição previstos no art. 386 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal).        (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
O ato de improbidade é ilícito civil, mas também atinge a seara política (perda da função e suspensão dos direitos políticos). Questiona-se: É possível processar o agente por improbidade na ação de natureza civil (sanção política) e por crime de responsabilidade (sanção política)? Haveria bis in idem? NÃO! A improbidade é julgada pelo Poder Judiciário, enquanto que o crime de responsabilidade é julgado pela Casa Parlamentar.
5. Conceito de atos de improbidade 
A Lei 14.230/21 alterou substancialmente a redação do art. 1º da Lei de ImprobidadeAdministrativa, de modo a deixar expresso o conceito de ato de improbidade e o bem jurídico tutelado pela Lei. 
O bem jurídico tutelado será justamente a probidade administrativa e a integridade do patrimônio público e social da Administração Pública, nos termos do “caput” do art. 1º:
Art. 1º O sistema de responsabilização por atos de improbidade administrativa tutelará a probidade na organização do Estado e no exercício de suas funções, como forma de assegurar a integridade do patrimônio público e social, nos termos desta Lei.     (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
CONCEITO: O ato de improbidade administrativa pode ser conceituado como o ato doloso praticado por agente público, ou por agente público e particular, que:
- Gere enriquecimento ilícito (art. 9º);
- Cause dano ao erário (art. 10); ou
- Viole os princípios da administração pública (art. 11).
Art. 1º, § 1º Consideram-se atos de improbidade administrativa as condutas dolosas tipificadas nos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei, ressalvados tipos previstos em leis especiais.      (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
ELEMENTO SUBJETIVO: Antes da Lei 14.230/21, era possível a existência de ato de improbidade administrativa culposo, na espécie de dano ao erário (art. 10). 
	Antes da Lei 14.230/21
	Após a Lei 14.230/21
	Artigos 9º, 10-A e 11 = Apenas DOLO
	Todos os atos de improbidade = Apenas DOLO
	Art. 10 (Dano ao Erário) = DOLO ou CULPA
	
A partir das alterações promovidas pela Lei 14.230/21, apenas será possível a prática de ato de improbidade administrativa doloso. Ou seja, não existe mais a possibilidade de ato de improbidade administrativa culposo. Essa foi uma das grandes novidades trazidas pela nova legislação. 
A justificativa de tal alteração seria a finalidade da Lei, de punir o agente público desonesto, e não o inábil. 
O art. 17-C, §1º, também estabeleceu a possibilidade de prática de ato de improbidade apenas mediante o dolo. Assim, será sempre necessária a demonstração do dolo por parte do agente público ou de terceiro.
Art. 17-C
§ 1º A ilegalidade sem a presença de dolo que a qualifique não configura ato de improbidade.       (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
#ATENÇÃO: Caso o agente público venha a praticar um ato mediante culpa, apesar de não ser possível a sua punição a título de improbidade administrativa, será cabível a responsabilização no âmbito administrativo. 
A Lei ainda conceituou o dolo como a vontade LIVRE e CONSCIENTE de alcançar o resultado ilícito. Antes da Lei 14.230/21, o STJ entendia que bastava o mero dolo genérico para a configuração do ato de improbidade administrativa, consistente na mera voluntariedade. Todavia, a partir da alteração legal, passou a exigir uma finalidade específica (“dolo específico”), qual seja, a vontade livre e consciente de alcançar o resultado ilícito. 
Art. 1º
§ 2º Considera-se dolo a vontade livre e consciente de alcançar o resultado ilícito tipificado nos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei, não bastando a voluntariedade do agente.       (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 3º O mero exercício da função ou desempenho de competências públicas, sem comprovação de ato doloso com fim ilícito, afasta a responsabilidade por ato de improbidade administrativa.        (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
Também interessante a leitura da redação do art. 11, §§1º e 2º, que possuem previsão semelhante, exigindo a finalidade específica de obter proveito ou benefício indevido para si ou para outrem:
Art. 11
§ 1º Nos termos da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, promulgada pelo Decreto nº 5.687, de 31 de janeiro de 2006, somente haverá improbidade administrativa, na aplicação deste artigo, quando for comprovado na conduta funcional do agente público o fim de obter proveito ou benefício indevido para si ou para outra pessoa ou entidade.         (Incluído  pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 2º Aplica-se o disposto no § 1º deste artigo a quaisquer atos de improbidade administrativa tipificados nesta Lei e em leis especiais e a quaisquer outros tipos especiais de improbidade administrativa instituídos por lei.     (Incluído  pela Lei nº 14.230, de 2021)
Outros dois pontos do art. 1º merecem atenção:
DIREITO ADMINISTRATIVO SANCIONADOR: A Lei passou a prever que devem ser aplicados aos atos de improbidade os princípios do Direito Administrativo Sancionador. Como mencionado, os atos de improbidade administrativa possuem natureza cível, e não criminal. Todavia, em face da gravidade dos atos, e da reprimenda daí decorrente, há uma aproximação com o direito penal, o que se denomina de direito administrativo sancionador. Assim, alguns princípios do direito penal, especialmente em relação aos direitos e garantias fundamentais, devem ser aplicados às demais esferas sancionatórias. 
Art. 1º
§ 4º Aplicam-se ao sistema da improbidade disciplinado nesta Lei os princípios constitucionais do direito administrativo sancionador.       (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
DIVERGÊNCIA INTERPRETATIVA: A lei também passou a prever que não constituirá ato de improbidade administrativa quando a conduta do agente foi pautada na interpretação divergente da lei, ou seja, na jurisprudência não pacificada, ainda que venha posteriormente a ser alterada. 
Art. 1º 
§ 8º Não configura improbidade a ação ou omissão decorrente de divergência interpretativa da lei, baseada em jurisprudência, ainda que não pacificada, mesmo que não venha a ser posteriormente prevalecente nas decisões dos órgãos de controle ou dos tribunais do Poder Judiciário.        (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
6. Sujeito passivo
Passaremos agora à análise dos sujeitos dos atos de improbidade administrativa.
#NÃOCONFUNDA:
	
	Aspecto material = ato de improbidade administrativa
	Aspecto processual = ação de improbidade administrativa
	Sujeito ativo
	Quem pratica o ato de improbidade (agente público e terceiro)
	O autor da ação de improbidade (Ministério Público)
	Sujeito passivo
	Contra quem se pratica o ato de improbidade administrativa
	O réu na ação de improbidade administrativa (agente público e terceiro)
O sujeito passivo do ato de improbidade administrativa será aquele que sofre o ato de improbidade administrativa, contra quem se pratica o ato ímprobo. É como se fosse a “vítima” do ato de improbidade administrativa. Não se restringe às entidades da administração pública direita e indireta.
Os entes que podem ser sujeitos passivos dos atos de improbidade administrativa estão previstos nos §§ 5º a 7º do art. 1º:
#AJUDAMARCINHO
	Quem pode ser SUJEITO PASSIVO
	Exemplos
	1) órgãos da Administração direta.
	União, Estados, DF, Municípios.
	2) entidades da Administração indireta.
	Autarquias, fundações, associações públicas, empresas públicas, sociedades de economia mista.
	3) entidade privada que receba subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de entes públicos ou governamentais.
	Entidades do terceiro setor (organizações sociais, OSCIP etc.), entidades sindicais, entre outros.
	4) entidade privada para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra no seu patrimônio ou receita atual, limitado o ressarcimento de prejuízos, nesse caso, à repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos.
	Sociedades de propósito específico, criadas para gerir parcerias público-privadas (art. 9º da Lei nº 11.079/2004).
 
#ATENÇÃO: Antes da Lei 14.230/21, havia previsão diversa a respeito dos entes privados como sujeitos passivos dos atos de improbidade administrativa. Caso o erário houvesse concorrido com mais de 50% na criação ou custeio da entidade privada, haveria a sanção decorrente da improbidade de forma integral. Já se o erário houvesse concorrido com menos de 50%, as sanções de improbidade apenas seriam aplicadas até o montante das verbas públicas recebidas. Tal previsão não mais se sustenta com a Lei 14.230/21, não havendo mais distinção entre as entidades privadas para as quais o erário tenha concorrido mais ou menos de 50%. 
	Antes da Lei 14.230/21
	Após a Lei 14.230/21Art. 1° Os atos de improbidade praticados por qualquer agente público, servidor ou não, contra a administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de empresa incorporada ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com mais de cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita anual, serão punidos na forma desta lei.
Parágrafo único. Estão também sujeitos às penalidades desta lei os atos de improbidade praticados contra o patrimônio de entidade que receba subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de órgão público bem como daquelas para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com menos de cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita anual, limitando-se, nestes casos, a sanção patrimonial à repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos.
	Art. 1º
§ 5º Os atos de improbidade violam a probidade na organização do Estado e no exercício de suas funções e a integridade do patrimônio público e social dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, bem como da administração direta e indireta, no âmbito da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal.        (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 6º Estão sujeitos às sanções desta Lei os atos de improbidade praticados contra o patrimônio de entidade privada que receba subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de entes públicos ou governamentais, previstos no § 5º deste artigo.        (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 7º Independentemente de integrar a administração indireta, estão sujeitos às sanções desta Lei os atos de improbidade praticados contra o patrimônio de entidade privada para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra no seu patrimônio ou receita atual, limitado o ressarcimento de prejuízos, nesse caso, à repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos.        (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
7. Sujeito ativo
O sujeito ativo do ato de improbidade administrativa, por sua vez, será aquele que pratica dolosamente o ato de improbidade administrativa, bem como aquele que induz ou concorre dolosamente para a sua prática. 
Os sujeitos ativos estão previstos nos artigos 2º e 3º da Lei, e podem ser de duas espécies:
a) Agentes públicos (art. 2º);
b) Terceiros que concorrem com agente público (art. 3º). 
#ATENÇÃO: Não é possível que particular, alheio à administração pública, pratique sozinho ato de improbidade administrativa. Para o ato do terceiro se caracterizar como improbidade, é imprescindível que haja um agente público também como autor do ato de improbidade. Neste sentido, é inviável a propositura de ação de improbidade administrativa apenas em face de particular, sem a presença do agente público. 
AGENTES PÚBLICOS: A lei trouxe uma previsão bastante ampla sobre quem pode ser considerado como agente público para fins de ato de improbidade administrativa:
· Agente político;
· Servidor público;
· Todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades referidas como sujeitos passivos do ato de improbidade administrativa. 
	Antes da Lei 14.230/21
	Após a Lei 14.230/21
	Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades mencionadas no artigo anterior.
	Art. 2º Para os efeitos desta Lei, consideram-se agente público o agente político, o servidor público e todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades referidas no art. 1º desta Lei.        (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
Parágrafo único. No que se refere a recursos de origem pública, sujeita-se às sanções previstas nesta Lei o particular, pessoa física ou jurídica, que celebra com a administração pública convênio, contrato de repasse, contrato de gestão, termo de parceria, termo de cooperação ou ajuste administrativo equivalente.        (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
A Lei 14.230/21 trouxe uma inovação importante ao prever expressamente a possibilidade dos agentes políticos serem sujeitos ativos dos atos de improbidade administrativa. Esse já era o entendimento consolidado em sede jurisprudencial, já que o STF admitia a possibilidade do agente político estar submetido a um duplo regime sancionatório: responsabilização pelos atos de improbidade administrativa e a responsabilização pelos crimes de responsabilidade. 
#EXCEÇÃO: A única exceção seria a do Presidente da República, que apenas responderia na esfera política-administrativa por crimes de responsabilidade, não incidindo as regras sobre a improbidade administrativa. 
#DEOLHONAJURIS #STF: Os agentes políticos, com exceção do Presidente da República, encontram-se sujeitos a duplo regime sancionatório, de modo que se submetem tanto à responsabilização civil pelos atos de improbidade administrativa quanto à responsabilização político-administrativa por crimes de responsabilidade. O foro especial por prerrogativa de função previsto na Constituição Federal em relação às infrações penais comuns não é extensível às ações de improbidade administrativa. STF. Plenário. Pet 3240 AgR/DF, rel. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 10/5/2018 (Info 891).
TERCEIROS: O terceiro deve ser compreendido como aquela pessoa que contribui no ato de improbidade administrativa, mas que não se enquadra no conceito de agente público previsto no art. 2º.
· É a pessoa física ou jurídica
· Não sendo agente público
· Que induziu ou concorreu dolosamente na prática do ato de improbidade.
A partir das alterações inseridas pela Lei 14.230/21, não é possível que o terceiro seja enquadrado como sujeito ativo do ato apenas por ter sido beneficiado. É imprescindível que ele atue de forma a induzir ou concorrer para o ato de improbidade administrativa. 
	Antes da Lei 14.230/21
	Após a Lei 14.230/21
	Art. 3° As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber, àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta.
	Art. 3º As disposições desta Lei são aplicáveis, no que couber, àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra dolosamente para a prática do ato de improbidade.        (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 1º Os sócios, os cotistas, os diretores e os colaboradores de pessoa jurídica de direito privado não respondem pelo ato de improbidade que venha a ser imputado à pessoa jurídica, salvo se, comprovadamente, houver participação e benefícios diretos, caso em que responderão nos limites da sua participação.          (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 2º As sanções desta Lei não se aplicarão à pessoa jurídica, caso o ato de improbidade administrativa seja também sancionado como ato lesivo à administração pública de que trata a Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013.           (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
#OBS: O art. 23-C prevê que aquele que praticar alguns atos referentes aos partidos políticos, serão responsabilizados nos termos da Lei 9.096/95, não havendo a responsabilização por atos de improbidade administrativa. 
Art. 23-C. Atos que ensejem enriquecimento ilícito, perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação de recursos públicos dos partidos políticos, ou de suas fundações, serão responsabilizados nos termos da Lei nº 9.096, de 19 de setembro de 1995.       (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
RESPONSABILIDADESUCESSÓRIA: A Lei prevê a possibilidade de sucessão na responsabilidade decorrente da prática de ato de improbidade. Em regra, essa responsabilidade sucessória apenas incidirá na obrigação de reparar o dano decorrente do ato de improbidade. As demais sanções previstas na lei são personalíssimas e não serão transferidas aos sucessores. 
A lei elenca duas espécies de sucessão:
· Sucessor ou herdeiro daquele que causar danos ao erário ou se enriquecer ilicitamente: Nesta situação, a sanção de reparação do dano estará limitada ao valor da herança ou do patrimônio transferido.
· Sociedade sucessora em razão de alteração contratual, transformação, incorporação, fusão ou cisão. Nas hipóteses de fusão e incorporação, a obrigação de reparar o dano estará limitado ao limite do patrimônio transferido. A exceção será na hipótese de simulação ou fraude decorrente da fusão ou incorporação, não se aplicando tal limite. 
	Antes da Lei 14.230/21
	Após a Lei 14.230/21
	Art. 8° O sucessor daquele que causar lesão ao patrimônio público ou se enriquecer ilicitamente está sujeito às cominações desta lei até o limite do valor da herança.
	Art. 8º O sucessor ou o herdeiro daquele que causar dano ao erário ou que se enriquecer ilicitamente estão sujeitos apenas à obrigação de repará-lo até o limite do valor da herança ou do patrimônio transferido.      (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
Art. 8º-A A responsabilidade sucessória de que trata o art. 8º desta Lei aplica-se também na hipótese de alteração contratual, de transformação, de incorporação, de fusão ou de cisão societária.      (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
Parágrafo único. Nas hipóteses de fusão e de incorporação, a responsabilidade da sucessora será restrita à obrigação de reparação integral do dano causado, até o limite do patrimônio transferido, não lhe sendo aplicáveis as demais sanções previstas nesta Lei decorrentes de atos e de fatos ocorridos antes da data da fusão ou da incorporação, exceto no caso de simulação ou de evidente intuito de fraude, devidamente comprovados.      (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
8. Atos de improbidade administrativa
Os atos de improbidade administrativa estão previstos nos artigos 9º, 10 e 11 da Lei 8.429/92. Alerta-se que a previsão do rol de atos de improbidade administrativa é meramente exemplificativo. 
O mesmo ato pode, inclusive, ser enquadrado em mais de uma das hipóteses apresentadas. Nesse caso, aplicam-se as sanções previstas para a infração mais grave. Observem que as sanções utilizadas para punir atos que importam enriquecimento ilícito são mais rígidas que as aplicáveis aos atos que causam prejuízo ao erário, as quais, por sua vez, são mais rígidas que as aplicáveis aos atos que atentam contra os princípios da Administração Pública. Assim, a Lei estabelece uma hierarquia entre os atos de improbidade, punindo com mais rigor aqueles que considera mais graves. 
	Antes da Lei 14.230/21
	Após a Lei 14.230/21
	Art. 9º = atos que importam em enriquecimento ilícito
Art. 10 = Atos que causam prejuízo ao erário
Art. 10-A = Atos decorrentes de concessão ou aplicação indevida de benefício financeiro ou tributário (inserido pela LC 157/2016)
Art. 11 = Atos que atentam contra os princípios da Administração Pública
	Art. 9º = atos que importam em enriquecimento ilícito
Art. 10 = Atos que causam prejuízo ao erário
Art. 11 = Atos que atentam contra os princípios da Administração Pública
#OBS: O art. 10-A foi revogado, e o ato ali passou a estar disposto no inciso XXII do art. 10.
#AJUDAMARCINHO
	Atos que importem em enriquecimento ilícito
(art. 9º)
	Atos que causem prejuízo
(art. 10)
	Atos que atentem contra os princípios da Administração Pública (art. 11)
	Auferir qualquer tipo de vantagem indevida em razão do exercício de função pública.
	Qualquer conduta que enseja perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres dos sujeitos passivos.
	Qualquer conduta que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições.
 
ATOS QUE IMPORTEM EM ENRIQUECIMENTO ILÍCITO (ART. 9º): Os atos que importam em enriquecimento ilícito são aqueles em que o agente recebe algum tipo de vantagem patrimonial indevida. Também deverá estar presente o elemento subjetivo do dolo, bem como a relação de causalidade entre a vantagem recebida indevidamente e a função pública exercida pelo agente. 
Observa-se que são os atos tidos como mais “graves” pela lei, em decorrência da previsão das sanções cominadas. 
#ATENÇÃO: Mesmo antes da Lei 14.230/21, só seria possível a prática de ato de improbidade que importe em enriquecimento ilícito mediante a conduta dolosa. 
Vamos agora conferir o rol dos atos previstos no art. 9º da Lei:
Art. 9º Constitui ato de improbidade administrativa importando em enriquecimento ilícito auferir, mediante a prática de ato doloso, qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo, de mandato, de função, de emprego ou de atividade nas entidades referidas no art. 1º desta Lei, e notadamente:         (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
A Lei 14.230/21 alterou o próprio “caput” do art. 9º. Passou a prever expressamente o elemento subjetivo do dolo, o que já era consagrado na própria jurisprudência dos Tribunais Superiores. 
I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou imóvel, ou qualquer outra vantagem econômica, direta ou indireta, a título de comissão, percentagem, gratificação ou presente de quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente público;
II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem móvel ou imóvel, ou a contratação de serviços pelas entidades referidas no art. 1° por preço superior ao valor de mercado;
III - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a alienação, permuta ou locação de bem público ou o fornecimento de serviço por ente estatal por preço inferior ao valor de mercado;
IV - utilizar, em obra ou serviço particular, qualquer bem móvel, de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades referidas no art. 1º desta Lei, bem como o trabalho de servidores, de empregados ou de terceiros contratados por essas entidades;        (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
Antes da Lei 14.230/21, este inciso IV especificava os bens que poderiam ser utilizados: veículos, máquinas, equipamentos ou material de qualquer natureza. A partir da alteração legal, passou a estar prevista a utilização de “qualquer bem móvel”, ou seja, uma redação mais ampla .
V - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para tolerar a exploração ou a prática de jogos de azar, de lenocínio, de narcotráfico, de contrabando, de usura ou de qualquer outra atividade ilícita, ou aceitar promessa de tal vantagem;
VI - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para fazer declaração falsa sobre qualquer dado técnico que envolva obras públicas ou qualquer outro serviço ou sobre quantidade, peso, medida, qualidade ou característica de mercadorias ou bens fornecidos a qualquer das entidades referidas no art. 1º desta Lei;        (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
Antes da Lei 14.230/21, a declaração seria sobre mediação ou avaliação em obras públicas ou qualquer outro serviço. A partir da alteração legal, a declaração falsa poderá ser sobre “qualquer dado técnico”, também sendo uma redação mais ampliativa. 
VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de mandato, de cargo, de emprego ou de função pública, e em razão deles, bens de qualquer natureza, decorrentes dos atos descritos no caput deste artigo, cujo valor seja desproporcional à evolução do patrimônio ou à renda do agente público, assegurada a demonstração pelo agente da licitude da origem dessa evolução;         (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
A grande inovação deste inciso foi a inserçãoda parte final, prevendo estar “assegurada a demonstração pelo agente da ilicitude da origem dessa evolução”. 
VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de consultoria ou assessoramento para pessoa física ou jurídica que tenha interesse suscetível de ser atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente público, durante a atividade;
IX - perceber vantagem econômica para intermediar a liberação ou aplicação de verba pública de qualquer natureza;
X - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indiretamente, para omitir ato de ofício, providência ou declaração a que esteja obrigado;
XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1° desta lei;
XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1° desta lei.
ATOS QUE CAUSEM PREJUÍZO AO ERÁRIO (ART. 10): Para a configuração dos atos do art. 10, será imprescindível a demonstração de que ocorreu efetivo dano ou prejuízo ao erário. 
Neste artigo ocorreu uma das maiores modificações promovida pela Lei 14.230/21. Antes da alteração, admitia-se a prática de ato doloso ou culposo que causasse dano ao erário. A partir da nova lei, apenas os atos dolosos, ainda que causem dano ao erário, poderão ser enquadrados como improbidade administrativa.
	Atos que causem prejuízo ao erário
	Antes da Lei 14.230/21
	Após a Lei 14.230/21
	DOLO ou CULPA
	Apenas DOLO
Vamos agora conferir o rol dos atos previstos no art. 10 da Lei:
Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão dolosa, que enseje, efetiva e comprovadamente, perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta Lei, e notadamente:         (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
O “caput” do art. 10 trouxe duas alterações significantes:
- Passou a prever que apenas os atos dolosos que causem lesão erário constituirão ato de improbidade;
- O ato de improbidade administrativa deverá ensejar efetiva e comprovadamente a perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação.
I - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para a indevida incorporação ao patrimônio particular, de pessoa física ou jurídica, de bens, de rendas, de verbas ou de valores integrantes do acervo patrimonial das entidades referidas no art. 1º desta Lei;        (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
Apenas inseriu a expressão “indevida” incorporação. 
II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;
III - doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente despersonalizado, ainda que de fins educativos ou assistências, bens, rendas, verbas ou valores do patrimônio de qualquer das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem observância das formalidades legais e regulamentares aplicáveis à espécie;
IV - permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação de bem integrante do patrimônio de qualquer das entidades referidas no art. 1º desta lei, ou ainda a prestação de serviço por parte delas, por preço inferior ao de mercado;
V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem ou serviço por preço superior ao de mercado;
VI - realizar operação financeira sem observância das normas legais e regulamentares ou aceitar garantia insuficiente ou inidônea;
VII - conceder benefício administrativo ou fiscal sem a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;
VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou de processo seletivo para celebração de parcerias com entidades sem fins lucrativos, ou dispensá-los indevidamente, acarretando perda patrimonial efetiva;      (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
A nova lei inseriu a parte final no inciso: “acarretando perda patrimonial efetiva”. 
IX - ordenar ou permitir a realização de despesas não autorizadas em lei ou regulamento;
X - agir ilicitamente na arrecadação de tributo ou de renda, bem como no que diz respeito à conservação do patrimônio público;        (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
Antes da lei 14.230/21, a conduta seria “agir negligentemente”. A partir da nova lei, a conduta passou a ser “agir ilicitamente”, inclusive porque a negligência constitui uma forma de culpa, não sendo mais possível a prática de ato de improbidade culposo. 
XI - liberar verba pública sem a estrita observância das normas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação irregular;
XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enriqueça ilicitamente;
XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas, equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades mencionadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de servidor público, empregados ou terceiros contratados por essas entidades.
XIV – celebrar contrato ou outro instrumento que tenha por objeto a prestação de serviços públicos por meio da gestão associada sem observar as formalidades previstas na lei;       (Incluído pela Lei nº 11.107, de 2005)
XV – celebrar contrato de rateio de consórcio público sem suficiente e prévia dotação orçamentária, ou sem observar as formalidades previstas na lei.        (Incluído pela Lei nº 11.107, de 2005)
XVI - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para a incorporação, ao patrimônio particular de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores públicos transferidos pela administração pública a entidades privadas mediante celebração de parcerias, sem a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;           (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014)     (Vigência)
XVII - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize bens, rendas, verbas ou valores públicos transferidos pela administração pública a entidade privada mediante celebração de parcerias, sem a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;           (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014)     (Vigência)
XVIII - celebrar parcerias da administração pública com entidades privadas sem a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;           (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014)     (Vigência)
IX - agir para a configuração de ilícito na celebração, na fiscalização e na análise das prestações de contas de parcerias firmadas pela administração pública com entidades privadas;       (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
A lei 14.230/21 alterou a redação do inciso para retirar a expressão agir “negligentemente”. Isso porque a negligência é uma forma de culpa, não sendo mais admissível a prática de ato de improbidade culposo. 
XX - liberar recursos de parcerias firmadas pela administração pública com entidades privadas sem a estrita observância das normas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação irregular.    (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014, com a redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015)  
XXI - liberar recursos de parcerias firmadas pela administração pública com entidades privadas sem a estrita observância das normas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação irregular.   (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014)     (Vigência)
XXI - (revogado);         (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
O inciso XXI que foi revogado previa o ato de liberar recursos de parcerias firmadas pela administração pública com entidades privadas sem a estrita observância das normas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação irregular.  
 
XXII - conceder, aplicar ou manter benefício financeiroou tributário contrário ao que dispõem o caput e o § 1º do art. 8º-A da Lei Complementar nº 116, de 31 de julho de 2003.         (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
O inciso XXII foi inserido pela Lei 14.230/21, prevendo a conduta que antes estava enquadrada no art. 10-A da Lei 8.429/92, referente à concessão indevida de benefício financeiro ou tributário.
 
Os atos de prejuízo ao erário podem acarreta ou não a perda patrimonial, tendo em vista que o dano poderá ser de outra natureza. No caso de existência de perda patrimonial efetiva, será obrigatório o ressarcimento ao erário. 
Caso não haja a perda patrimonial efetiva, não deverá ser imposta a sanção de ressarcimento ao erário, pois acarretaria um enriquecimento indevido do ente. Ademais, a perda patrimonial, por si só, não será suficiente para a caracterização do ato de improbidade administrativa, já que se faz necessária a demonstração do dolo, juntamente com a finalidade específica de causar este dano. 
Observem os §§1º e 2º que foram introduzidos no art. 10 pela Lei 14.230/21:
Art. 10 (...)
§ 1º Nos casos em que a inobservância de formalidades legais ou regulamentares não implicar perda patrimonial efetiva, não ocorrerá imposição de ressarcimento, vedado o enriquecimento sem causa das entidades referidas no art. 1º desta Lei.        (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 2º A mera perda patrimonial decorrente da atividade econômica não acarretará improbidade administrativa, salvo se comprovado ato doloso praticado com essa finalidade.       (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
ATOS QUE ATENTEM CONTRA OS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (ART. 11): O artigo 11 elenca os atos de improbidade administrativa que violam princípios da administração pública. São os atos de menor gravidade previstos na lei, em razão das sanções abstratamente previstas.
Para a caracterização de tais atos serão necessários os seguintes requisitos:
- Conduta ilícita;
- Enquadramento do ato em algum dos incisos do art. 11;
- Dolo, juntamente com o fim de obter proveito ou benefício indevido;
- Ofensa aos princípios da Administração Pública;
- Lesividade relevante. 
Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública a ação ou omissão dolosa que viole os deveres de honestidade, de imparcialidade e de legalidade, caracterizada por uma das seguintes condutas:         (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
A alteração do “caput”, promovida pela Lei 14.230/21, alterou a própria interpretação a respeito da taxatividade do rol previsto neste artigo. Isto porque, antes da modificação, o artigo indicava como ato de improbidade “qualquer ação ou omissão” que viole os deveres. A partir da nova lei, será ato de improbidade a ação ou omissão dolosa que viole os deveres, “caracterizada por uma das seguintes condutas”. Portanto, o rol passa a ser visto como taxativo, e não meramente exemplificativo como nos artigos 9º e 10. 
Outra alteração se refere à previsão expressa da conduta dolosa, embora mesmo antes de tal mudança a jurisprudência dos Tribunais Superiores já fosse no sentido de que os atos que violem os princípios da administração pública só pudessem ser praticados mediante dolo. 
Por fim, na indicação dos deveres, foi suprimido o dever de lealdade às instituições. 
I - (revogado);         (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
Este inciso, revogado pela Lei 14.230/21, previa como ato de improbidade “praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto, na regra de competência”.
II - (revogado);        (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
O inciso II, revogado pela Lei 14.230/21, previa como ato de improbidade administrativa “retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício”. 
III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das atribuições e que deva permanecer em segredo, propiciando beneficiamento por informação privilegiada ou colocando em risco a segurança da sociedade e do Estado;        (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
A Lei 14.230/21 inseriu a parte final no inciso III, condicionando a existência do ato de improbidade administrativa a dois resultados:
- Propiciar beneficiamento por informação privilegiada; ou 
- Colocar em risco a segurança da sociedade e do Estado. 
IV - negar publicidade aos atos oficiais, exceto em razão de sua imprescindibilidade para a segurança da sociedade e do Estado ou de outras hipóteses instituídas em lei;        (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
A Lei 14.230/21 inseriu a hipótese de exceção quando da negativa de publicidade. Ou seja, a partir da nova lei, não constitui ato de improbidade administrativa quando o agente nega publicidade aos atos oficiais em razão da imprescindibilidade para a segurança da sociedade e do Estado, ou em outras hipóteses instituídas em lei. 
V - frustrar, em ofensa à imparcialidade, o caráter concorrencial de concurso público, de chamamento ou de procedimento licitatório, com vistas à obtenção de benefício próprio, direto ou indireto, ou de terceiros;       (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
Antes da Lei 14.230/21, o inciso V previa como ato de improbidade apenas a conduta de frustrar a licitude de concurso público. A partir da nova lei, incluiu a frustação ao caráter competitivo, e não apenas à licitude do procedimento. Ademais, além do concurso público, passou a prever também o chamamento ou procedimento licitatório. Inseriu-se, ainda, uma finalidade específica: “obtenção de benefício próprio, direto ou indireto, ou de terceiros”. 
VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo, desde que disponha das condições para isso, com vistas a ocultar irregularidades;        (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
A Lei 14.230/21 inseriu um condicionante neste inciso: desde que o agente tivesse condições de prestar as contas, com a finalidade de ocultar as irregularidades. 
VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de terceiro, antes da respectiva divulgação oficial, teor de medida política ou econômica capaz de afetar o preço de mercadoria, bem ou serviço.
VIII - descumprir as normas relativas à celebração, fiscalização e aprovação de contas de parcerias firmadas pela administração pública com entidades privadas.        (Redação dada pela Lei nº 13.019, de 2014)       (Vigência)
IX - (revogado);        (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
O inciso IX foi revogado pela Lei 14.230/21, que previa como ato de improbidade administrativa: deixar de cumprir a exigência de requisitos de acessibilidade previstos na legislação.
X - (revogado);         (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
O inciso X foi revogado pela Lei 14.230/21, que previa como ato de improbidade administrativa: transferir recurso a entidade privada, em razão da prestação de serviços na área de saúde sem a prévia celebração de contrato, convênio ou instrumento congênere, nos termos do parágrafo único do art. 24 da Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990.
XI - nomear cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas;          (Incluído  pela Lei nº 14.230, de 2021)
Inciso novo, incluído a partir da Lei 14.230/21. Trata-se da conduta denominada de “nepotismo”. A Lei 14.230/21 inseriu no texto da Lei de Improbidade Administrativa a redação da Súmula Vinculante 13:
#DEOLHONASÚMULA Súmula Vinculante 13: A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investidoem cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição Federal.
Antes de tal modificação na Lei de Improbidade Administrativa, não havia uma norma legal específica vedando o nepotismo. A previsão legal existente se referia à proibição de manter parentes sob sua chefia, nos termos do art. 117, VIII, da Lei 8.112/90 (Lei dos servidores públicos federais):
Art. 117.  Ao servidor é proibido: 
VIII - manter sob sua chefia imediata, em cargo ou função de confiança, cônjuge, companheiro ou parente até o segundo grau civil;
Todavia, mesmo diante da ausência de previsão expressa em diploma legislativo, os Tribunais Superiores já consideravam a proibição da prática de nepotismo. Isso porque o nepotismo viola os princípios constitucionais da impessoalidade, eficiência, igualdade e moralidade. Assim, seria desnecessária a edição de uma lei específica vedando o nepotismo, ante os fundamentos constitucionais já existentes. 
Todavia, o §5º do art. 11 prevê uma exceção ao ato de nepotismo:
§ 5º Não se configurará improbidade a mera nomeação ou indicação política por parte dos detentores de mandatos eletivos, sendo necessária a aferição de dolo com finalidade ilícita por parte do agente.       (Incluído  pela Lei nº 14.230, de 2021)
XII - praticar, no âmbito da administração pública e com recursos do erário, ato de publicidade que contrarie o disposto no § 1º do art. 37 da Constituição Federal, de forma a promover inequívoco enaltecimento do agente público e personalização de atos, de programas, de obras, de serviços ou de campanhas dos órgãos públicos.        (Incluído  pela Lei nº 14.230, de 2021)
Inciso novo, incluído a partir da Lei 14.230/21. O art. 37, §1º, da CF/88 prevê o dever de publicidade no âmbito da Administração Pública. A promoção pessoal do agente público viola o princípio da imparcialidade. 
Art. 37 (...)
§ 1º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos.
A Lei 14.230/21 também inseriu alguns parágrafos no art. 11. 
§ 1º Nos termos da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, promulgada pelo Decreto nº 5.687, de 31 de janeiro de 2006, somente haverá improbidade administrativa, na aplicação deste artigo, quando for comprovado na conduta funcional do agente público o fim de obter proveito ou benefício indevido para si ou para outra pessoa ou entidade.         (Incluído  pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 2º Aplica-se o disposto no § 1º deste artigo a quaisquer atos de improbidade administrativa tipificados nesta Lei e em leis especiais e a quaisquer outros tipos especiais de improbidade administrativa instituídos por lei.     (Incluído  pela Lei nº 14.230, de 2021)
O §1º trata da Convenção da ONU contra a Corrupção, chamada de Convenção de Mérida. Este dispositivo previu um fim especial de agir na aplicação do art. 11, qual seja, o fim de obter proveito ou benefício indevido para si ou para outra pessoa ou entidade. O especial fim de agir deverá ser aplicado a todos os atos de improbidade previstos na Lei 8.429/92, ou em outras leis. 
§ 3º O enquadramento de conduta funcional na categoria de que trata este artigo pressupõe a demonstração objetiva da prática de ilegalidade no exercício da função pública, com a indicação das normas constitucionais, legais ou infralegais violadas.         (Incluído  pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 4º Os atos de improbidade de que trata este artigo exigem lesividade relevante ao bem jurídico tutelado para serem passíveis de sancionamento e independem do reconhecimento da produção de danos ao erário e de enriquecimento ilícito dos agentes públicos.          (Incluído  pela Lei nº 14.230, de 2021)
Os §§3º e 4º passaram a exigir requisitos mais rígidos para a configuração do ato de improbidade administrativa. Deverá haver a demonstração da prática de ilegalidade, além de exigir a demonstração de lesividade relevante. Todavia, na hipótese dos atos do art. 11, não será imprescindível a ocorrência de prejuízo ao erário ou de enriquecimento ilícito, que constituem hipóteses de improbidade previstas nos artigos 9º e 10. 
9. Sanções pelos atos de improbidade
As sanções pelos atos de improbidade administrativa estão previstas no art. 12 da Lei 8.429/92. Elas são cominadas a depender se o ato de improbidade administrativa está previsto no art. 9º, 10 ou 11. Há uma gradação correspondente ao tipo de ato praticado, ou seja, os atos do art. 9º são mais graves, havendo sanções mais severas, enquanto que os atos do art. 11 são menos graves, com sanções mais brandas. 
A CF/88, no art. 37, §4º, estabelece algumas sanções decorrentes da improbidade administrativa:
a) Suspensão de direitos políticos;
b) Perda da função pública;
c) Indisponibilidade dos bens;
d) Ressarcimento ao erário. 
A jurisprudência entende que a CF/88 trouxe um rol mínimo de sanções, não havendo óbice a que a lei infraconstitucional imponha outras espécies de sanções. Foi isso o que fez a Lei 8.429/92, que previu a possibilidade de imposição das seguintes sanções ao sujeito que pratica o ato de improbidade administrativa: 
a) perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio;
b) perda da função pública;
c) suspensão dos direitos políticos;
d) proibição de contratar com o poder público;
e) proibição de receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios;
f) multa civil;
g) ressarcimento integral do dano (não é mais visto como sanção).
O novo cenário das sanções por improbidade ficou desta forma:
	Art. 9º: Enriquecimento ilícito
	Art. 10: Dano ao erário
	Art. 11: Violação a princípios
	Perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio;
	Perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância;
	Não se aplica
	Perda da função pública;
	Perda da função pública;
	Não se aplica
	Suspensão dos direitos políticos até 14 (catorze) anos;
	Suspensão dos direitos políticos até 12 (doze) anos;
	Não se aplica
	Pagamento de multa civil equivalente ao valor do acréscimo patrimonial;
	Pagamento de multa civil equivalente ao valor do dano;
	Pagamento de multa civil de até 24 (vinte e quatro) vezes o valor da remuneração percebida pelo agente
	Proibição de contratar com o poder público ou de receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo não superior a 14 (catorze) anos.
	Proibição de contratar com o poder público ou de receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo não superior a 12 (doze) anos.
	Proibição de contratar com o poder público ou de receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo não superior a 4 (quatro) anos.
	Antes da Lei 14.230/21
	Após a Lei 14.230/21
	I - na hipótese do art. 9°, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, ressarcimento integral do dano, quando houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de oito a dez anos, pagamento de multa civil de até três vezes o valor do acréscimo patrimonial e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez anos;
II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perda dos bens ou valores acrescidosilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos, pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do dano e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos;
III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos, pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos.
IV - na hipótese prevista no art. 10-A, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de 5 (cinco) a 8 (oito) anos e multa civil de até 3 (três) vezes o valor do benefício financeiro ou tributário concedido. (Incluído pela Lei Complementar nº 157, de 2016)
	I - na hipótese do art. 9º desta Lei, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos até 14 (catorze) anos, pagamento de multa civil equivalente ao valor do acréscimo patrimonial e proibição de contratar com o poder público ou de receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo não superior a 14 (catorze) anos;        (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
II - na hipótese do art. 10 desta Lei, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos até 12 (doze) anos, pagamento de multa civil equivalente ao valor do dano e proibição de contratar com o poder público ou de receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo não superior a 12 (doze) anos;        (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
III - na hipótese do art. 11 desta Lei, pagamento de multa civil de até 24 (vinte e quatro) vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar com o poder público ou de receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo não superior a 4 (quatro) anos;        (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
Além da alteração de alguns parâmetros relativos às sanções, a Lei 14.230/21 também trouxe algumas inovações sobre as sanções em específico. Vamos analisar essas modificações:
Ressarcimento integral do dano: O ressarcimento integral do dano patrimonial não é mais uma sanção, mas sim verdadeira consequência do ato de improbidade. Ademais, o ressarcimento apenas irá ocorrer caso o dano patrimonial seja efetivo. 
Perda da função pública: Apenas irá atingir o vínculo de mesma qualidade e natureza que o agente público detinha no momento da infração. De forma excepcional, o juiz poderá estender a sanção para os demais vínculos, consideradas as circunstâncias do caso e a gravidade da infração. Ademais, a perda da função pública não mais se aplica no caso de cometimento dos atos de improbidade previstos no art. 11 (atos que violem os princípios da administração pública). 
Art. 12 (...)
§ 1º A sanção de perda da função pública, nas hipóteses dos incisos I e II do caput deste artigo, atinge apenas o vínculo de mesma qualidade e natureza que o agente público ou político detinha com o poder público na época do cometimento da infração, podendo o magistrado, na hipótese do inciso I do caput deste artigo, e em caráter excepcional, estendê-la aos demais vínculos, consideradas as circunstâncias do caso e a gravidade da infração.         (Incluído  pela Lei nº 14.230, de 2021)
Multa civil: A sanção de multa civil passou a ser mais branda a partir da nova lei. Todavia, inseriu-se a previsão de aumento até o dobro, caso o valor se mostre ineficaz em virtude da situação econômica do réu. 
Art. 12 (...)
§ 2º A multa pode ser aumentada até o dobro, se o juiz considerar que, em virtude da situação econômica do réu, o valor calculado na forma dos incisos I, II e III do caput deste artigo é ineficaz para reprovação e prevenção do ato de improbidade.        (Incluído  pela Lei nº 14.230, de 2021)
Proibição de contratar com o poder público ou receber benefícios: houve um aumento do período estipulado para a proibição de contratar ou receber benefícios. Ademais, depois da nova lei, em regra, o condenado apenas ficará proibido de contratar com o ente púbico lesado. Todavia, de forma excepcional, o juiz poderá ampliar a proibição para os demais entes. Observe que a nova lei também estabeleceu que esta sanção deverá constar no Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Suspensas (CEIS). 
Art. 12(...)
§ 4º Em caráter excepcional e por motivos relevantes devidamente justificados, a sanção de proibição de contratação com o poder público pode extrapolar o ente público lesado pelo ato de improbidade, observados os impactos econômicos e sociais das sanções, de forma a preservar a função social da pessoa jurídica, conforme disposto no § 3º deste artigo.         (Incluído  pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 8º A sanção de proibição de contratação com o poder público deverá constar do Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Suspensas (CEIS) de que trata a Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013, observadas as limitações territoriais contidas em decisão judicial, conforme disposto no § 4º deste artigo.       (Incluído  pela Lei nº 14.230, de 2021)
Responsabilização de pessoas jurídicas: Observa-se que não apenas as pessoas físicas poderão ser condenadas pelos atos de improbidade administrativa. Também será possível que as pessoas jurídicas sofram as sanções. Neste sentido, a nova lei previu algumas regras específicas para as pessoas jurídicas:
Art. 12 (...)
§ 3º Na responsabilização da pessoa jurídica, deverão ser considerados os efeitos econômicos e sociais das sanções, de modo a viabilizar a manutenção de suas atividades.        (Incluído  pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 7º As sanções aplicadas a pessoas jurídicas com base nesta Lei e na Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013, deverão observar o princípio constitucional do non bis in idem.      (Incluído  pela Lei nº 14.230, de 2021)
Princípio da insignificância: mesmo sendo de pequena gravidade o ato de improbidade, a jurisprudência não admite a aplicação do princípio da insignificância. Todavia, será possível a aplicação da multa como única sanção:
Art. 12 (...) 
§ 5º No caso de atos de menor ofensa aos bens jurídicos tutelados por esta Lei, a sanção limitar-se-á à aplicação de multa, sem prejuízo do ressarcimento do dano e da perda dos valores obtidos, quando for o caso, nos termos do caput deste artigo.        (Incluído  pela Lei nº 14.230, de 2021)
Cumprimento da sentença: será possível que o juiz unifique sanções aplicadas em outros processos, em razão da continuidade do ilícito ou da prática de diversas ilicitudes. 
- Continuidade do ilícito = a maior sanção aplicada deverá ser aumentada de 1/3 ou será aplicado o cúmulo benéfico (soma das penas, caso seja mais benéfica ao réu).
- Prática de novos ilícitos = somará as sanções.
#OBS: Nesta soma, as sanções de suspensão de direitos políticos e de proibição de contratar ou receber incentivos fiscais ou creditícios deverão observar o limite de 20 anos. 
Art. 18-A. A requerimento do réu, na fase de cumprimento da sentença, o juiz unificará eventuais sanções aplicadas com outras já impostas em outros processos, tendo em vista a eventual continuidade de ilícito ou a prática de diversas ilicitudes, observado o seguinte:        (Incluídopela Lei nº 14.230, de 2021)
I - no caso de continuidade de ilícito, o juiz promoverá a maior sanção aplicada, aumentada de 1/3 (um terço), ou a soma das penas, o que for mais benéfico ao réu;        (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
II - no caso de prática de novos atos ilícitos pelo mesmo sujeito, o juiz somará as sanções.         (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
Parágrafo único. As sanções de suspensão de direitos políticos e de proibição de contratar ou de receber incentivos fiscais ou creditícios do poder público observarão o limite máximo de 20 (vinte) anos.       (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
Ademais, para evitar o enriquecimento ilícito do ente público, caso haja a reparação do dano em outras esferas, deverá ser deduzido o valor da obrigação que já foi executada. Era um entendimento do STJ que foi incorporado pela nova lei. 
Art. 12 (...)
§ 6º Se ocorrer lesão ao patrimônio público, a reparação do dano a que se refere esta Lei deverá deduzir o ressarcimento ocorrido nas instâncias criminal, civil e administrativa que tiver por objeto os mesmos fatos.       (Incluído  pela Lei nº 14.230, de 2021)
Execução das sanções: apenas poderá ocorrer após o trânsito em julgado da sentença condenatória. Antes da nova lei, apenas as sanções de perda da função pública e a suspensão dos direitos políticos exigiam o trânsito em julgado. Agora a impossibilidade da execução provisória se aplica a todas as sanções. Apesar da necessidade do trânsito em julgado, no caso da suspensão dos direito políticos, será computado o tempo entre a decisão colegiada e o trânsito em julgado:
Art. 12 (...)
§ 9º As sanções previstas neste artigo somente poderão ser executadas após o trânsito em julgado da sentença condenatória.      (Incluído  pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 10. Para efeitos de contagem do prazo da sanção de suspensão dos direitos políticos, computar-se-á retroativamente o intervalo de tempo entre a decisão colegiada e o trânsito em julgado da sentença condenatória.      (Incluído  pela Lei nº 14.230, de 2021)
Aplicação das sanções: o art. 21 da Lei menciona a não necessidade de ocorrência de efetivo dano ao patrimônio, o qual só será imprescindível nos atos do art. 10, que trata dos atos que causam prejuízo ao erário. Nos demais atos a demonstração da ocorrência de dano é prescindível. 
Ademais, o artigo 21 também trata da independência das instâncias, relativizando-se em determinadas situações:
Art. 21. A aplicação das sanções previstas nesta lei independe:
I - da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio público, salvo quanto à pena de ressarcimento e às condutas previstas no art. 10 desta Lei;          (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
II - da aprovação ou rejeição das contas pelo órgão de controle interno ou pelo Tribunal ou Conselho de Contas.
§ 1º Os atos do órgão de controle interno ou externo serão considerados pelo juiz quando tiverem servido de fundamento para a conduta do agente público.       (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 2º As provas produzidas perante os órgãos de controle e as correspondentes decisões deverão ser consideradas na formação da convicção do juiz, sem prejuízo da análise acerca do dolo na conduta do agente.       (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 3º As sentenças civis e penais produzirão efeitos em relação à ação de improbidade quando concluírem pela inexistência da conduta ou pela negativa da autoria.       (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 4º A absolvição criminal em ação que discuta os mesmos fatos, confirmada por decisão colegiada, impede o trâmite da ação da qual trata esta Lei, havendo comunicação com todos os fundamentos de absolvição previstos no art. 386 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal).        (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 5º Sanções eventualmente aplicadas em outras esferas deverão ser compensadas com as sanções aplicadas nos termos desta Lei.         (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
10. Indisponibilidade dos bens
A indisponibilidade de bens não é uma sanção pela prática de atos de improbidade, na verdade, é uma medida de natureza cautelar cuja finalidade não é punir alguém, e sim evitar que a pessoa se desfaça de seus bens a fim de frustrar uma eventual execução judicial.
A Lei 14.230/21 inseriu diversas inovações sobre a indisponibilidade de bens, inclusive superando alguns posicionamentos jurisprudenciais dos Tribunais Superiores. 
O finalidade da medida de indisponibilidade de bens está prevista logo no “caput” do art. 16, sendo a garantia da integral recomposição do erário ou do acréscimo patrimonial resultante do enriquecimento ilícito:
Art. 16. Na ação por improbidade administrativa poderá ser formulado, em caráter antecedente ou incidente, pedido de indisponibilidade de bens dos réus, a fim de garantir a integral recomposição do erário ou do acréscimo patrimonial resultante de enriquecimento ilícito.         (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
Como se observa do dispositivo, o pedido de indisponibilidade poderá ser realizado em dois momentos:
- Em caráter antecedente: antes mesmo da propositura da ação de improbidade administrativa;
- Em caráter incidente: já no curso da ação de improbidade administrativa. 
Esses momentos de requerimento do pedido de indisponibilidade está em sintonia com o novo regramento do CPC acerca das tutelas provisórias, que também podem ser formuladas em caráter incidental ou antecedente. Ademais, a Lei 14.230/21 inseriu o §8º no art. 16 para mencionar que o regime das tutelas provisórias de urgência será aplicado na indisponibilidade de bens:
Art. 16 (...)
§ 8º Aplica-se à indisponibilidade de bens regida por esta Lei, no que for cabível, o regime da tutela provisória de urgência da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil).        (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
Antes da Lei 14.230/21, o §1º do art. 16 mencionava que a indisponibilidade seria realizada mediante o sequestro de bens. Todavia, o CPC/15 acabou com as medidas cautelares típicas, tal como o sequestro. Desta forma, não fazia mais sentido a menção do sequestro na lei de improbidade administrativa. 
§ 1º (Revogado).         (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
A indisponibilidade de bens será decretada pelo próprio juiz competente pela ação de improbidade administrativa. Todavia, ressalta-se que essa indisponibilidade não poderá ser determinada de ofício pelo juiz. 
O Ministério Público, como o legitimado ativo da ação de improbidade administrativa, terá também a legitimidade para formular o pedido de indisponibilidade de bens perante a autoridade judicial. O Ministério Público poderá formular o pedido por iniciativa própria ou mediante a representação da autoridade que teve conhecimento dos atos de improbidade administrativa. 
Art. 16 (...)
§ 1º-A O pedido de indisponibilidade de bens a que se refere o caput deste artigo poderá ser formulado independentemente da representação de que trata o art. 7º desta Lei.       (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
Após o requerimento formulado pelo Ministério Público, a indisponibilidade dos bens poderá ser decretada pelo juiz com ou sem a oitiva do réu. A regra será a oitiva do réu, no prazo de 5 dias, com o intuito de resguardar o contraditório e a ampla defesa. Todavia, caso o contraditório possa frustrar a medida, a indisponibilidade poderá ser decretada de forma liminar, sem a oitiva do réu. 
Os pressupostos para a indisponibilidade dos bens serão os mesmos das medidas de urgência:
- Fumus boni iuris (“fumaça do bom direito”): probabilidade da ocorrência dos atos descritos na petição inicial com fundamento nos respectivos elementos de instrução.
- Periculum in mora (“perigo na demora”): perigo de dano irreparável ou de risco ao resultado útil do processo.
Art. 16 (...)
§ 3º O pedido de indisponibilidade de bens a que se refere o caput deste artigo apenas será deferido mediante a demonstração no caso concreto de perigo de dano irreparável ou de risco ao resultado

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