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RESUMO PSICOLOGIA JURÍDICA

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RESUMO PRA PROVA DE PSICOLOGIA JURÍDICA
Um breve histórico da psicologia jurídica no Brasil e seus campos de
atuação
● Delimitar o início da Psicologia Jurídica no Brasil é uma tarefa complexa, em
razão de não existir um único marco histórico que defina esse momento;
● Primeiros trabalhos voluntários
● Área criminal
● Adultos criminosos e adolescentes infratores da lei
● Psicodiagnósticos - forneciam dados e orientação aos operadores do Direito.
● Psicólogo X Testes Psicólogicos
● Atualmente, o psicólogo utiliza estratégias de avaliação psicológica, com
objetivos bem definidos, para encontrar respostas para solução de
problemas.
● A testagem pode ser um passo importante do processo, mas constitui apenas
um dos recursos de avaliação;
● Importância dada à avaliação psicológica e a aproximação da Psicologia com
o Direito;
● A entrada oficial se deu em 1985, quando ocorreu o primeiro concurso
público para admissão de psicólogos (SP);
● Com a implantação do Estatuto da Criança e do Adolescente (Brasil 1990), o
Juizado de Menores passou a ser denominado Juizado da Infância e
Juventude.
● O trabalho do psicólogo foi ampliado, envolvendo atividades na área pericial,
acompanhamentos e aplicação das medidas de proteção ou medidas
socioeducativas;
Psicólogo jurídico e o direito de família
● Destaca- se a participação dos psicólogos nos processos de separação e
divórcio, disputa de guarda e regulamentação de visitas.
● Separação e divórcio: os processos de separação e divórcio que envolvem a
participação do psicólogo são na sua maioria litigiosos, ou seja, são
processos em que as partes não conseguiram acordar em relação às questões
que um processo desse cunho envolve.
● Não são muito comuns os casos em que os cônjuges conseguem, de maneira
racional, atingir o consenso para a separação.
● Isso implica resolver o conflito que está ou que ficou nas entrelinhas nos
meandros dos relacionamentos humanos, ou seja, romper com o
vínculo afetivo- emocional.
Regulamentação de visitas
● O direito à visitação é uma das questões a ser definida a partir do processo de
separação ou divórcio.
● Contudo, após a decisão judicial podem surgir questões de ordem prática ou
até mesmo novos conflitos que tornem necessário recorrer mais uma vez ao
Judiciário, solicitando uma revisão nos dias e horários ou forma de visitação.
● Nesses casos, o psicólogo jurídico contribui por meio de avaliações com a
família, objetivando esclarecer os conflitos e informar ao juiz a dinâmica
presente nesta família, com sugestões de medidas que poderiam ser
tomadas.
Disputa de guarda
● Nos processos de separação ou divórcio é preciso definir qual dos
ex-cônjuges deterá a guarda dos filhos.
● Em casos mais graves, podem ocorrer disputas judiciais pela guarda.
● Nesses casos, o juiz pode solicitar uma perícia psicológica para que se avalie
qual dos genitores tem melhores condições de exercer esse direito.
● Pais que colocam os interesses e vaidade pessoal acima do sofrimento que
uma disputa judicial pode acarretar aos filhos, na tentativa de atingir ou
magoar o ex-companheiro, revelam-se com problemas para exercer a
parentalidade de forma madura e responsável.
Adoção
● Os psicólogos participam do processo de adoção por meio de uma assessoria
constante para as famílias pretendentes à adoção, tanto antes quanto depois
da colocação da criança neste novo lar.
● A equipe técnica dos Juizados da Infância e da Juventude deve saber recrutar
candidatos para as crianças que precisam de uma família e ajudar os
postulantes a se tornarem pais capazes de satisfazer as necessidades de um
filho adotivo.
● A primeira tarefa de uma equipe de adoção é garantir que os candidatos
estejam dentro dos limites das disposições legais e a segunda é iniciar um
programa de trabalho com os postulantes aceitos, elaborado especialmente
para assessorar, informar e avaliar os interessados, e não apenas
“selecionar” os mais aptos.
● Como a adoção é um vínculo irrevogável, o estudo psicossocial torna-se
primordial para garantir o cumprimento da lei, prevenindo assim a
negligência, o abuso, a rejeição ou a devolução. Além do trabalho
desenvolvido junto aos Juizados da Infância e Juventude, existe também o
dos psicólogos que trabalham nas Fundações de Proteção Especial.
● Essas instituições têm como objetivo oferecer um cuidado especial capaz de
minorar os efeitos do acolhimento por tempo muito prolongado,
proporcionando às crianças e aos adolescentes acolhidos uma vivência que
se aproxima à realidade familiar.
● Os vínculos estabelecidos com os monitores que cuidam delas são
facilitadores do vínculo posterior na adoção, uma vez que se estabelece e se
mantém nos mesmos a capacidade de vincular-se afetivamente.
● As relações substitutas provisórias, representadas pelo acolhimento
institucional que abriga os que aguardam uma possibilidade de inclusão em
família substituta, são decisivas para o desenlace do processo de adoção.
Destituição do poder familiar
● O poder familiar é um direito concedido a ambos os pais, sem nenhuma
distinção ou preferência, para que eles determinem a assistência, criação e
educação dos filhos.
● Esse direito é assistido aos genitores, ainda que separados e a guarda
conferida a apenas um dos dois. Porém, a legislação brasileira prevê casos
em que esse direito pode ser suspenso, ou até mesmo destituído, de forma
irrevogável.
● A partir desta determinação judicial, os pais perdem todos os direitos sobre o
filho, que poderá ficar sob a tutela de uma família até a maioridade civil. O
papel do psicólogo nesses casos é fundamental.
● É preciso considerar que a decisão de separar uma criança de sua família é
muito séria, pois desencadeia uma série de acontecimentos que afetarão, em
maior ou menor grau, toda a sua vida futura. Independentemente da causa
da remoção - doença, negligência, abandono, maus-tratos, abuso sexual,
ineficiência ou morte dos pais - a transferência da responsabilidadepara
estranhos jamais deve ser feita sem muita reflexão.
Adolescentes autores de atos infracionais
● O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê medidas socioeducativas
que comportam aspectos de natureza coercitiva.
● São medidas punitivas no sentido de que responsabilizam socialmente
os infratores, e possuem aspectos eminentemente educativos, no
sentido da proteção integral, com oportunidade de acesso à formação
e à informação.
● Os psicólogos que desenvolvem seu trabalho junto aos adolescentes
infratores devem lhes propiciar a superação de sua condição de
exclusão, bem como a formação de valores positivos de participação
na vida social.
● Sua operacionalização deve, prioritariamente, envolver a família e a
comunidade com atividades que respeitem o princípio da não da não
discriminação e não estigmatização, evitando rótulos que marquem
os adolescentes e os exponham a situações vexatórias, além de
impedi-los de superar as dificuldades na inclusão social.
Psicólogo jurídico e o direito civil
● O Psicólogo atua nos processos em que são requeridas indenizações
em virtude de danos psíquicos e também nos casos de interdição
judicial.
● Dano psíquico: o dano psíquico pode ser definido como a sequela, na
esfera emocional ou psicológica, de um fato particular traumatizante.
Pode-se dizer que o dano está presente quando são gerados efeitos
traumáticos na organização psíquica e/ou no repertório
comportamental da vítima. Cabe ao psicólogo, de posse de seu
referencial teórico e instrumental técnico, avaliar a real presença
desse dano.
Psicólogo jurídico e o direito penal
● O psicólogo pode ser solicitado a atuar como perito para averiguação
de periculosidade, das condições de discernimento ou sanidade
mental das partes em litígio ou em julgamento.
● Portanto, destaca-se o papel dos psicólogos junto ao Sistema
Penitenciário e aos Institutos Psiquiátricos Forenses.
Psicólogo jurídico e o direito do trabalho
● O psicólogo pode atuar como perito em processos trabalhistas.
● A perícia a ser realizada nesses casos serve como uma vistoria para
avaliar onexo entre as condições de trabalho e a repercussão na saúde
mental do indivíduo.
● Na maioria das vezes, são solicitadas verificações de possíveis danos
psicológicos supostamente causados por acidentes e doenças
relacionadas ao trabalho, casos de afastamento e aposentadoria por
sofrimento psicológico.
● Cabe ao psicólogo a elaboração de um laudo, no qual irá traduzir, com
suas habilidades e conhecimento, a natureza dos processos
psicológicos sob investigação;
Vitimologia
● Objetiva a avaliação do comportamento e da personalidade da vítima.
● Cabe ao psicólogo atuante nessa área traçar o perfil e compreender as
reações das vítimas perante a infração penal.
● A intenção é averiguar se a prática do crime foi estimulada pela
atitude da vítima, o que pode denotar uma cumplicidade passiva ou
ativa para com o criminoso. Para tanto, a análise é feita desde a
ocorrência até as consequências do crime.
● Além disso, a vitimologia dedica-se também à aplicação de medidas
preventivas e à prestação de assistência às vítimas, visando, assim, à
reparação de danos causados pelo delito.
Psicologia do testemunho
● Os psicólogos podem ser solicitados a avaliar a veracidade dos
depoimentos de testemunhas e suspeitos, de forma a colaborar com
os operadores da justiça.
● O chamado fenômeno das falsas memórias tem assumido um papel
muito importante na área da Psicologia do Testemunho.
● Hoje, sabe -se que o ser humano é capaz de armazenar e recordar
informações que não ocorreram. As falsas memórias podem resultar
da repetição de informações consistentes e inconsistentes no
depoimento de testemunhas sobre o mesmo evento.
A Constituição do Perito Psicólogo em Varas de Família
● A forma pela qual se dá a constituição do psicólogo na função de
perito no contexto de processos de Varas de Família merece uma
reflexão acurada.
● De modo geral, ela se dá no entrecruzamento de pelo menos três
ordens distintas de conflito: a primeira diz respeito à dissensão
(discordância) familiar que deu origem ao processo;
● a segunda se refere ao encontro nem sempre pacífico entre duas
disciplinas distintas: a Psicologia e o Direito;
● a terceira, finalmente, é aquela que envolve a complexidade inerente
ao exercício de nossa profissão como psicólogos em qualquer lugar
que ele aconteça;
● A relevância de se discutir a constituição do perito psicólogo em Varas
de Família e Sucessões se faz notar quando constatamos as tensões
que se traduzem em uma crescente preocupação, por parte dos
Conselhos Federal e Regionais de Psicologia, em promover debates e
regulamentar as práticas psicológicas na instituição judiciária.
● Em suas considerações iniciais, a Resolução nº 08/2010 menciona a
necessidade de o psicólogo levar em conta as relações de poder nos
contextos em que atua e os impactos dessas relações sobre suas
atividades profissionais, posicionando-se de forma crítica e em
consonância com os demais princípios do Código de Ética
Profissional, conforme disposto no princípio fundamental VII, do
Código de Ética Profissional.
● O Direito, com seus códigos formais, organiza certas formas de
pacificação de conflitos nas relações sociais, constituindo um gênero
discursivo característico do processo judicial.
● Não podemos desconhecer, portanto, que é nessas e por essas relações
que nos constituímos como peritos e é a partir delas que construímos
o nosso fazer na cena processual. Isso não significa dizer que o
psicólogo deva abrir mão do instrumental teórico e metodológico
próprio à sua disciplina, mas que, de alguma forma, tal instrumental é
colocado forçosamente a serviço de uma ordem que o extrapola;
● A nós, psicólogos, as formas que demandas singulares adquirem no
discurso jurídico podem causar certo estranhamento, parecendo
muitas vezes um tanto bizarras e exageradas. Todavia, não podemos
negar os efeitos retóricos desse discurso, por vezes aliciadores de
nossa simpatia, por vezes causa de aversão.
● São efeitos que fazem lembrar Foucault, em A Vida dos Homens
Infames (1977), ao analisar o discurso das petições escritas que
pessoas do povo dirigiam ao Rei, no Estado Absolutista, para solicitar
ordens de prisão.
● A inserção do psicólogo em processos nas Varas de Família e
Sucessões do Brasil obedece a certas disposições do nosso Código de
Processo Civil, ou Lei nº 5869/73 (Brasil,2005). A partir delas,
define-se o lugar do perito como o de um auxiliar da Justiça que,assim
como o escrivão, o oficial de Justiça, o depositário, o administrador e o
intérprete, tem suas atribuições determinadas pelas normas de
organização judiciária (CPC, art. 139). O perito é um profissional de
nível universitário, devidamente inscrito em seu Conselho de classe.
● Os juízes de Varas de Família, em geral,determinam a realização de
perícia psicológica para instruir suas decisões em processos (ou
ações) judiciais que envolvem a guarda e/ou visitação de “menores” –
crianças e adolescentes.
● Não são todos os processos dessa natureza, porém, que demandam a
perícia psicológica, mas principalmente aqueles em que há uma
demanda específica nesse sentido por parte de pelo menos um dos
litigantes, ou nos quais as provas documentais e testemunhais não
oferecem elementos suficientes para a formulação da sentença;
● A leitura dos autos, que são preservados segundo o princípio de
segredo de Justiça,é autorizada a um determinado perito quando há
neles um ofício da autoridade judicial nesse sentido.
● Os autos configuram a cena processual e não devemos deixar de
reconhecer que é essa mesma cena a que constitui os litigantes como
partes, os advogados como seus representantes, e também o
psicólogo como perito, permitindo a sua entrada em cena.
● A partir da leitura dos autos, podemos decidir se responderemos ou
não a essa demanda e, em caso positivo, de que lugar o faremos, entre
os lugares possíveis para isso.
● Decidimos ainda como, quando e onde serão os encontros que
teremos com os litigantes. Escolhemos quais serão as ferramentas
teóricas e técnicas que, de acordo com a nossa formação e abordagem,
serão as mais potentes para que se alcancem as finalidades próprias
da Psicologia, ou seja, produzir os efeitos desejáveis tanto na
amenização do sofrimento presente como na prevenção de danos
maiores decorrentes do conflito judicial;
● A entrevista coloca-nos em relação com uma parte do processo, seja
qual for o estabelecimento ou espaço físico no qual aconteça:
consultório – no caso do perito extrajudicial – ou o próprio fórum.
Não é de admirar, portanto, que a pessoa se apresente a nós como a
uma audiência. Ao invés da demanda que seria própria a um sujeito
em busca de um atendimento psicológico, há uma demanda judicial
na qual todos, inclusive o perito, estão enredados.
● Nas relações que as partes estabelecem com o perito, atualizam-se os
conflitos familiares que chegaram ao ponto limite de recorrer a uma
ação judicial. Lidar com a transferência significa propor uma análise
dos lugares que cada um dos entrevistados atribui a si mesmo e aos
demais – ex-cônjuges, filhos e outros – envolvidos na lide, assim
como das expectativas e dos afetos em jogo, quanto à medida judicial
pleiteada ou refutada.
● Na medida em que procedemos às entrevistas, podemos melhor
compreender a demanda de cada um dos envolvidos em relação ao
Poder Judiciário e nos ressituar em relação à leitura inicial do
processo.
● O laudo é a palavra do perito no jogo processual. É o momento em que
ele assume a voz ativa perante todos os atores da cena jurídica. Esse
momento é precedido por uma espécie de silêncio no compasso
processual, que foi descrito por Ca�é.
● Por seu alinhamento com a autoridade do juiz, e também por ser
representativo da ciência psicológica, o discurso do perito deve ser
impessoal, ou eivado de uma suposta neutralidade (vide artigo 138 do
CPC).
● Qualquer venalidade no discurso do perito é coibida nesse contexto, a
ponto de advogados – e assistentes técnicos – o escarafuncharem até
o limite, em busca de qualquer indício de parcialidade ou falha, seja
ela teórica,técnica,ética, ou até mesmo retórica.
● Entretanto, pode-se também problematizar a real finalidade do laudo
a partir do modo como ele é lido, especialmente por advogados mais
interessados em ganhar suas causas do que na pacificação do litígio e
na diminuição do sofrimento das pessoas neles envolvidas.
● Quando analisamos a prática da perícia psicológica no nível dos
discursos que a constituem e também daqueles que ela produz, nós
nos damos conta de um tensionamento que não se restringe ao lugar
atribuído ao perito na gestão dos conflitos familiares pelos meios
jurídicos, ou à triangulação instaurada pelo processo judicial, mas
também do encontro, nem sempre pacífico, entre saberes tão
distintos quanto a Psicologia e o Direito.
Litígios intermináveis: uma perpetuação do vínculo conjugal?
● Nos sujeitos que protagonizam litígios familiares de longa duração,
observam-se alguns aspectos comuns: alto grau de agressividade,
postura refratária às intervenções, discurso baseado na lógica
adversarial. E, frequentemente, esses sujeitos têm como objeto do
pedido judicial, o filho. Ocorre que, no desenrolar do processo, emerge
a conjugalidade conflituosa para a qual não há respostas no
referencial normativo.
● Dias e Souza (2000) realçam que cada parte luta para comprovar a sua
versão, atribuindo ao outro a culpa pelo fim do relacionamento, e
busca a sua absolvição, esperando que o juiz proclame sua inocência.
● No campo da psicologia, pesquisadores se debruçam sobre o
problema, motivados pelo incremento da psicologia jurídica nas duas
últimas décadas. Ramos e Shine (1999) pontuam que cada genitor está
obstinado com a ideia de ganhar do outro a ‘posse' do filho.
● Psicodinâmica da conjugalidade
● Ao estudar o funcionamento familiar, Eiguer (1985) afirma que o
encontro amoroso entre duas pessoas não seria determinado pelo
acaso, mas haveria uma escolha baseada em critérios não
identificáveis no nível consciente.
● Freud (1914/1996) postula dois tipos possíveis de escolha objetal, a
ligação com o objeto poderia seguir o modelo anaclítico (de ligação)
ou o modelo narcísico. A escolha anaclítica recairia na busca de um
objeto que completasse o sujeito, em contraposição ao que ocorreria
na escolha narcísica, na qual o sujeito elegeria um objeto que se
assemelhasse a ele próprio.
● Magalhães e Féres-Carneiro (2003) nomeiam de ‘trama
identificatória conjugal' o entrelaçamento dos "eus" que se processa
na conjugalidade e apontam que a saúde do vínculo conjugal
dependeria do tipo de identificação objetal realizada entre os
parceiros na constituição da conjugalidade, por meio da introjeção ou
da incorporação.
● No primeiro, haveria a possibilidade de assimilar e transformar o
parceiro por meio de um processo criativo que preserva e até enaltece
a alteridade; já no segundo, por meio da incorporação, o componente
alteritário seria desconsiderado, o que poderia levar a conjugalidade a
um movimento de devorar-se /aniquilar-se;
Tipos de conjugalidade
● Anteriormente, Willi (1975) abordara a psicodinâmica conjugal
enfatizando a noção de complementaridade entre os parceiros, tendo
cunhado o termo colusão para denominar o jogo inconsciente do
casal. O processo colusivo teria início na escolha dos parceiros
mediante a identificação de conflitos fundamentais não superados e a
conexão estabelecida a partir deste encontro promoveria um jogo
conjunto, oculto reciprocamente. Willi propôs quatro tipos
fundamentais de arranjos colusivos: a colusão narcisista, baseada no
tema do "amor como ser um"; a colusão oral, girando em torno do
tema "amor como preocupar-se um com o outro"; a colusão
anal-sádica, embasada no tema "amor como pertencer-se um ao
outro"; e a colusão fálico-edípica, sustentada no tema "amor como
afirmação masculina". Vainer (1999) e Silva (2003) basearam-se
nessa tipologia para analisar longos litígios familiares.
Separação conjugal
● A complementação ou a semelhança, vislumbradas no ato de escolha
amorosa, advém de traços identificados reciprocamente que, pela
força do desejo, são tomados pelo todo num processo ilusório. No
entanto, "a ilusão dura pouco tempo, a desilusão logo invade os
amantes e põe à prova a solidez do vínculo sentimental" (Eiguer,
1985, p. 46). Logo, o objeto amoroso com quem se identificou ou que
foi idealizado, apresentará sua alteridade, promovendo um abalo na
ilusão de completude do casal, pois as diversas solicitações
proporcionadas pelo cotidiano desencadeiam defasagens entre
expectativa e realidade, entre o que é desejado e o que o outro pode
atender.
● Diversas reações podem ser desencadeadas por este tipo de
frustração, dependendo da estrutura psíquica dos sujeitos envolvidos
e da qualidade do vínculo formado na conjugalidade. Mas, o que se
pretende aqui ressaltar, sobre o processo de desilusão amorosa, é que
ele pode ser descrito como um desdobramento da ilusão de
completude ocorrida na escolha dos parceiros, ou seja, como uma
consequência da convivência amorosa. E, ainda, que dele tanto pode
resultar um crescimento mútuo com a discriminação dos ‘eus',
produzido pelo manejo das sucessivas frustrações das expectativas
idealizadas de cada ego e, sequencialmente, o reconhecimento da
alteridade, como podem também ser desencadeados estados
patológicos da conjugalidade.
● Para que ocorra a dissolução do vínculo, o desejo de ruptura deve-se
sobrepor ao desejo de complementaridade, caso contrário, os sujeitos
se manterão numa eterna tentativa de separação. Mesmo que ocorra o
afastamento físico, os sucessivos encontros do ex-casal, muitas vezes
promovidos pelo vínculo da parentalidade que não se desfaz, em razão
da educação e do cuidado dos filhos (Féres-Carneiro, 2007), os
conflitos voltam a se expressar com a mesma intensidade e constância
do período anterior à separação conjugal. Nestes casos, seriam
evidenciados o jogo compulsivo e a repetição, indicando que o corte
vincular não teria se produzido.
● Muitos casais legalizam o fim do casamento quando estão começando
a serem superadas as tristezas e novos investimentos estão
começando a ocorrer, evidenciando a possível superação do luto, ou,
como propõe Caruso (1981), usando o recurso de dirigir a libido para
outro objeto, a fim de fugir da vivência catastrófica provocada pela
separação. Nesses casos, o processo legal da separação ou do divórcio
seria mais uma etapa necessária para corporificar o ato da separação,
seria a cena representativa do corte (Andino, 1996).
● Pereira (2003) parte da premissa de que, na linguagem jurídica, os
ritos sociais se traduzem por meio dos processos judiciais e que a
função do rito judicial seria de por fim a uma demanda (intra e
interpsíquica) e marcar a entrada em outra etapa da vida. O autor
sustenta que o processo judicial é um ritual sob o comando de um juiz,
representante legal e simbólico da lei, com a função de por fim a uma
demanda e instalar uma nova fase na vida das pessoas.
● Shine (2002) sustenta que a escolha de lidar com os conflitos por meio
do processo judicial, "responde a uma necessidade anterior de ataque
e defesa que precisa, de certa forma, do reconhecimento público que é
alcançado em um procedimento legal" (p. 69).
● A observação dos tipos de conjugalidade apresentados pode servir de
parâmetro norteador na identificação das dinâmicas dos conflitos
conjugais que se apresentam no judiciário. No entanto, é importante
apontar que os funcionamentos, quando descritos na teoria, são
apresentados como mecanismos distintos e separados.
● Mas, quando se observam as dinâmicas de funcionamento dos casais,
podem ser detectados funcionamentos que se entrelaçam no decorrer
da história da conjugalidade.
● O trabalho do psicólogo jurídico requer um olhar transdisciplinar,
atento ao contexto social que influencia a formação das subjetividades
(Altoé, 2003), ao conjunto normativo onde sua práxis está inserida, à
representação da lei para os sujeitos que recorrem a ela e, tudo isso,
sem perder de vista o funcionamento singular de cada célula desse
organismo – o sujeito.
Princípiodo melhor interesse da criança: como definir a
guarda dos filhos?
● Segundo Gonçalves, 2011, O princípio em comento não possui
previsão expressa na Constituição Federal ou no Estatuto da
Criança e do Adolescente. ‘’Os especialistas do tema lecionam
que este princípio decorre de uma interpretação hermenêutica,
está implícito e inserido nos direitos fundamentais previstos
pela Constituição no que se refere às crianças e adolescentes”.
● O melhor interesse da criança ou o best interest of the child,
recepcionado pela Convenção Internacional de Haia, que trata
da proteção dos interesses das crianças e no Código Civil, em
seus artigos 1.583 e 1.584 reconhece tal princípio, por exemplo,
quando trata-se sobre a guarda do menor. É mister ressaltar,
este instituto tem força de princípio pois está previsto na
Constituição Federal de 1988, em seu art. 227, caput, aduz sobre
os deveres que a família tem para com o menor e adolescente.
● O princípio em comento, como exposto, está inserido no
ordenamento jurídico baseando a grande maioria das decisões
do judiciário, especialmente quando se trata sobre a guarda dos
menores e adolescentes. No entanto, no que concerne ao decidir
sobre a vida e guarda de um menor, ainda se observa bastante a
falta de interpretação social que melhor interesse carrega em
sua essência.
● A guarda dos filhos é direito e dever dos pais. Usa-se o termo
“guarda” para caracterizar a vigilância, proteção e cuidado.
Assim, a guarda dos filhos é o direito e o dever que os pais têm
de vigiar, proteger e cuidar das crianças.
● A guarda é marcada no momento em que um casal se separa ou
quando estes nunca moraram juntos e é preciso definir com
quem a criança vai morar. No ordenamento brasileiro, a guarda
compartilhada é a regra. Porém, há outros tipos de guarda.
● Na guarda compartilhada os pais possuem deveres e direitos
iguais para com o menor, tomando decisões em conjunto sobre
a vida em todos os âmbitos da criança, seja em qual o melhor
colégio, os melhores esportes, línguas estrangeiras, etc.
Segundo Ana Maria Milano Silva (2015, p. 61) “a noção da
guarda compartilhada surgiu do desequilíbrio dos direitos
parentais e de uma cultura que desloca o centro de seu interesse
para privilegiar a criança, no meio de uma sociedade que agora
mostra tendência igualitária”.
● Desse modo, os pais participam efetivamente da criação,
diferente da guarda unilateral, em que apenas um dos pais se
responsabiliza e o outro “supervisiona” de longe.
● É comum que na guarda compartilhada haja dúvidas à respeito
sobre onde será a residência da criança, há especialistas que
defendem a tese de que na guarda compartilhada seja confuso
para o menor, pois este estaria vivendo em dois lares, sobre
duas criações, com opiniões diversas, crenças religiosas
diferentes e portanto, não seria benéfico para a criança,
portanto, nessa modalidade de guarda o melhor interesse da
criança é efetivamente vislumbrado.
● No caso em comento, no que tange os deveres quanto aos
alimentos, a responsabilidade será de ambos os genitores.
● No entanto, a guarda compartilhada não significa que a criança
passará quinze dias na casa de um e quinze dias na casa de
outro, se caso essa forma fosse inviável. A guarda
compartilhada possui como maior finalidade a divisão de
decisão, responsabilidade e maior participação de ambos na
vida do menor, não pretendendo de forma alguma gerar na
criança confusões de identidade e pertencimento.
● O ordenamento jurídico define a guarda unilateral prevista no
Código Civil em seu art. 1.583 §º, é atribuída a um só dos
genitores ou a alguém que o substitua.
● Esta guarda exclusiva para apenas um dos genitores resulta da
vontade de ambos ou quando um deles declara ao juiz que não
se interessa em ter a guarda compartilhada visto ser esse o tipo
de guarda que é segundo os especialistas a mais benéfica à
criança.
● A guarda unilateral pode ser fixada além da vontade de um dos
genitores em não querer a guarda compartilhada bem como
também na verificação de inaptidão, evidenciada, dentre outros,
na falta de zelo e cuidado com o filho, por meio de abuso de
autoridade ou descumprimento de deveres paternos ou
maternos, caso comprovado por investigação detalhada, haverá
a manutenção da guarda unilateral quando houver pedido para
conversão para compartilhada ou a reversão da compartilhada
para unilateral, quanto a isto, existe jurisprudência a respeito.
● A respeito da guarda alternada, esta caracteriza-se pela troca de
períodos entre os genitores. A exemplo é de que a criança
passaria uma semana sob a responsabilidade e autoridade
exclusiva de um e na semana seguinte, sob a responsabilidade
do outro genitor.
● Para alguns especialistas, essa guarda não é recomendada visto
que a criança, especialmente, nos seus primeiros anos de vida
precisa de um lar que seja referência, tem necessidade de
pertencimento.
● Por isso, a guarda alternada poderia vir a confundir e abalar o
psicológico da criança, trazendo em alguns casos o pensamento
de escolha entre um dos pais e má formação de base de afeto.
Quanto aos adolescentes, a mudança contínua de casa e de
poder exercido entre os pais, podem resultar em um escape
desse adolescente para evitar conflitos e responsabilidades
atribuídas por um dos genitores.
● Segundo recomendações de Paulo Lôbo 2019, “nem o interesse
dos pais, nem o do Estado pode ser considerado o único
interesse relevante para a satisfação dos direitos da criança”. A
criança deve ser a protagonista do processo, sendo os seus
interesses os mais importantes, que devem ser assegurados
pelo judiciário.
ALIENAÇÃO PARENTAL e SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL
● Atualmente a Alienação Parental é uma forma de maltrato ou abuso; é
um transtorno psicológico que se caracteriza por um conjunto de
sintomas pelos quais um genitor, denominado cônjuge alienador,
transforma a consciência de seus filhos, mediante diferentes formas e
estratégias de atuação, com o objetivo de impedir, obstaculizar ou
destruir seus vínculos com o outro genitor, denominado cônjuge
alienado, sem que existam motivos reais que justifiquem essa
condição (SERAFIM, 2012, p. 93).
● A Síndrome da Alienação Parental é descrita por Gardner (1985 apud
LEITE, 2015) como um distúrbio que surge excepcionalmente no
contexto de disputas de custódia de filhos. É um distúrbio em que as
crianças são programadas através da campanha de um dos genitores,
a agir com descrédito em relação ao genitor odiado.
● Os filhos exibem pouco ou nenhuma ambivalência sobre seu
aborrecimento que, na maioria das vezes, se alastram para a família
do pai supostamente abandonado.
O PAPEL DAS FIGURAS PARENTAIS NO DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO DA
CRIANÇA
● O relacionamento inicial entre os pais e a criança deve ser entendido,
de acordo com Bee(2003) a partir da observação dos dois lados do
contexto, do desenvolvimento do vínculo dos pais com a criança e do
afeto da criança para com seus pais. As condutas de apego são
incitadas a partir de quando a pessoa necessita de cuidados,
acolhimento ou consolação. Para Papalia e Olds(2000) o apego é um
relacionamento ligado, carinhoso, mútuo entre duas pessoas cuja
influência mútua fortalece ainda mais a ligação destas.
● Em seus estudos, Bee (2003) ressalta que a criança possivelmente só
exibirá uma conduta de apego quando estiver assombrada, chateada
ou sob algum estresse. E será o conteúdo demonstrado através desses
comportamentos que nos falará algo sobre a característica do vínculo
afetivo entre os envolvidos.
● Por sua vez, em relação à presença da figura materna, Bowlby (1989
apud BORSA, 2007)relata que estudos confirmam que crianças que
alcançaram um apego confiável com suas mães tendem a se tornar,
sujeitos autoconfiantes, cooperativos e sociáveis. Contudo, esses
mesmos estudos admitem que as crianças que não constituíram uma
ligação de apego suficiente, tendem a virem a ser emocionalmente
agressivas, afastadas ou antissociais.
● Para Winnicott (1998; 2001apud BORSA, 2007) só na presença de uma
mãe suficientemente boa quea criança pode iniciar o processo de
desenvolvimento pessoal e real. A mãe suficientemente boa é flexível
o suficiente para poder acompanhar o filho em suas necessidades, as
quais oscilam e evoluem no percurso para a maturidade e a
autonomia.
DIFERENÇA ENTRE ALIENAÇÃO PARENTAL (AP) e SÍNDROME DA ALIENAÇÃO
PARENTAL (SAP)
● A Síndrome da Alienação Parental (SAP) não se confunde com a
Alienação Parental (AP).
● O termo síndrome constitui um distúrbio, um agrupamento de
sintomas que se alojam em decorrência da extrema reação emocional
que os pais submetem seus filhos.
● Já a alienação parental são as ações que proporcionam verdadeira
campanha de desrespeito de um genitor em relação ao outro. (SOUZA,
2014).
● A SAP geralmente decorre da AP, ou seja, enquanto a AP tem como
objetivo o afastamento da criança de um genitor através de
procedimentos desonestos da titular da guarda, a Síndrome,por sua
vez, diz respeito às questões emocionais, aos prejuízos e
consequências que o filho alienado vem a sofrer Pinho (2007, apud
SOUZA, 2014).
● De acordo com Silva (2011) a alienação parental define o ato de levar a
criança a abandonar o pai/mãe alvo de críticas, através de
comportamentos de menosprezo até a odiosidade ou acusações de
abuso sexual, influenciados pelo outro componente do par parental. Já
a Síndrome da Alienação Parental engloba os sintomas que a vítima
pode vir ou não a exibir, resultante dos atos de alienação parental.
● É necessário relatar que a expressão Síndrome da Alienação Parental
(SAP) é arduamente recriminada, segundo Souza (2014), por não estar
prevista nem na Classificação de Transtornos Mentais e de
Comportamento encontrados na Classificação Internacional de
Doenças (CID – 10),nem no Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais (DSM IV – TR), ou seja, não é conhecida como
uma categoria diagnosticada e também não é considerada uma
síndrome médica.
SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL (SAP)
● De acordo com Silva (2011) a Síndrome da Alienação Parental (SAP)
ocorre através de uma emoção doentia oriunda das emoções do
genitor alienador. Esse, por sua vez, tem dificuldade em ver o filho
distanciado e elaborar modos de conservar essa criança numa relação
doentia, em que, oprime, super protege e mantém a criança
subordinada às suas recomendações, ideias e ações. “[...] o genitor
alienador é tomado pelos excessos de seus sentimentos, como a raiva,
os ciúmes em relação ao ex - parceiro, agindo de forma intempestiva,
deixando-se levar por seus impulsos”. (SOUSA, 2010, p.110).
ELEMENTOS DE IDENTIFICAÇÃO DA ALIENAÇÃO PARENTAL E DA SÍNDROME
DA ALIENAÇÃO PARENTAL
● De acordo com Annibelli (2011) embora seja um distúrbio atual nos
presentes casos de disputas de guarda, a Síndrome da Alienação
Parental é de difícil identificação, porque, às vezes, não há certeza das
argumentações a respeito do genitor alienado. Entretanto, quanto
antes for detectada, maiores serão as oportunidades de diminuir os
prejuízos ocasionados e voltar à condição anterior à existência da SAP.
Porém, não há forma de reconhecer a síndrome sem que exista
conhecimento precedente a esta.
● Para Freitas (2015) o genitor alienador, com o decorrer do tempo,
pode transparecer uma personalidade agressiva, diferentemente do
pai alienado, que normalmente não têm comportamentos hostis.
Contudo, o genitor alienado pode vir a perder a razão em decorrência
da dor ocasionada pela campanha difamatória e pela separação dos
filhos, originando frustração.
● De acordo com Souza (2014) pode ser verificado que no parágrafo
único do artigo 2º da Lei 2.318, de agosto de 2010, podem ser
observados alguns exemplos de como a alienação pode ser
identificada:
● Art. 2o Considera-se ato de alienação parental a interferência na
formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou
induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a
criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para
que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à
manutenção de vínculos com este. Parágrafo único. São formas
exemplificativas de alienação parental, além dos atos assim
declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados
diretamente ou com auxílio de terceiros:
● I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no
exercício da paternidade ou maternidade;
● II - dificultar o exercício da autoridade parental;
● III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor;
● IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência
familiar;
● V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes
sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e
alterações de endereço;
● VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste
ou contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a
criança ou adolescente;
● VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando
a dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro
genitor, com familiares deste ou com avós.
● O psiquiatra norte-americano elaborou um quadro de sintomas que,
de acordo com ele, aparecem juntos, definindo-os por síndrome.
Esses sintomas aparecem, na maioria das vezes, em crianças que os
pais estão em litígio conjugal. Gardner afirma que, mesmo sendo
sintomas visivelmente diferentes, estes terão a mesma etiologia. Os
sintomas por ele apresentados são:
● Campanha de difamação’; ‘racionalizações pouco consistentes’;
‘absurdas ou frívolas para a difamação’; ‘falta de coerência’;
‘pensamento independente’; ‘ suporte ao genitor alienador no litígio’;
‘ausência de culpa sobre a crueldade e/ou exploração do genitor
alienado’; ‘a presença de argumentos emprestados’; ‘animosidade em
relação aos amigos e/ou família do genitor alienado (GARDNER
● Para Silva (2011) o alienador não é essencialmente a genitora ou o
genitor, mas também primos, avós, tios, atuais cônjuges ou
companheiros da genitora ou do genitor.
PAPEL DA PSICOLOGIA EM RELAÇÃO À SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL
● De acordo com Buosi (2012) o profissional psicólogo diante a
Síndrome da Alienação Parental age em sentido contrário ao que
estabelece as diretrizes nacionais do Conselho Federal de Psicologia a
respeito do trabalho do mesmo. O processo terapêutico das partes
abrange uma penalidade que o profissional dirige ao alienador quando
diagnosticada a síndrome.
● Essa concepção é oposta ao que é proposto nas diretrizes do CFP que
defende que o trabalho do psicólogo tem seu alicerce no compromisso
social e no progresso da qualidade de vida das pessoas. Nos casos
envolvendo a SAP, uma das diretrizes estabelecidas pela justiça é o
acompanhamento regular para a terapêutica psicológica dos membros
da família que foram alcançados pela situação.
● Os juízes podem determinar a realização da terapia compulsória aos
genitores para que tratem os distúrbios e os comportamentos
motivadores da conduta alienadora cometida por um ou os dois. Essa
atitude jurídica tem o objetivo de tornar os genitores, na medida do
possível, sujeitos que busquem soluções para a construção de um
novo arranjo familiar que seja, mas benéfico aos integrantes da
família.
● Dessa forma, o acompanhamento psicológico almeja que os genitores
compreendam que, apesar de não estarem mais em uma relação
conjugal, não deixam de serem genitores, e, devido a isso, é
importante que respondam com as funções inerentes a tal papel
(FREITAS, 2015).
ABANDONO AFETIVO
● O pai que se omite em cuidar do filho, abandonando-o, ofende a
integridade psicossomática deste, acarretando ilícito ensejador de
reparação moral. O sofrimento do filho abandonado pelo pai gera à
figura materna daqueles danos morais, principalmente quando a
consequência desse sofrer é decisiva na formação da personalidade
como um todo unitário.
● Inicialmente, sustenta-se a importância do convívio familiar como
um direito da criança e do adolescente, estabelecido pelo Estatuto da
Criança e do Adolescente – ECA (Brasil, 1990), salientando a
necessidadeda dupla parental.
● Outrossim, o ECA, regulamentando o supramencionado dispositivo,
prevê, dentre os direitos fundamentais da criança e do adolescente, o
direito ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo
de desenvolvimento (art. 15, ECA), bem como o de serem criados e
educados no seio de sua família (art. 19, ECA). O direito à convivência
familiar expressa, dentre outros desdobramentos, o direito dos filhos
de serem acompanhados em seu desenvolvimento tanto pelo pai,
como pela mãe.
● O convívio familiar passa a ser descrito, não apenas pela coabitação,
mas pela determinação de práticas afetivas. A definição desse direito
da criança não se restringe à satisfação das necessidades dos filhos,
mas, sustentada pelo saberpsi, avança para a prescrição de relações
cotidianas suficientemente adequadas do ponto de vista psíquico.
● A grande evolução das ciências que estudam o psiquismo humano
veio a escancarar a decisiva influência do contexto familiar para o
desenvolvimento sadio de pessoas em formação. Não mais se podendo
ignorar essa realidade, passou-se a falar em paternidade
responsável... O distanciamento entre pais e filhos produz sequelas de
ordem emocional e reflexos no seu sadio desenvolvimento. O
sentimento de dor e de abandono pode deixar reflexos permanentes
em sua vida.
● Podemos pensar que uma das condições que torna possível acionar
um membro da família por abandono afetivo é um movimento nos
próprios modos de compreender a(s) família(s). Pensando em
imagens de família em algumas épocas históricas, Roudinesco (2003)
analisa as demandas políticas lançadas à família. Numa imagem de
família “tradicional”, o objetivo principal estava em assegurar a
transmissão de um patrimônio, subordinada à lógica patriarcal e
assentada numa ordem do mundo imutável.
● Já a família “moderna” (final do século XVIII) funda-se no amor
romântico e obedece à lógica afetiva, atribuindo autoridade ora
dividida entre Estado e pais, ora dividida entre pais e mães,
semelhante ao jogo de forças presente nas enunciações em análise
neste acórdão. Na família “contemporânea”, surgida a partir de 1960,
os indivíduos buscam relações íntimas ou realização sexual e a
transmissão de autoridade vai se configurando numa problemática
por conta das recomposições conjugais.
● A categoria “pai” está sendo construída, potencializada e/ou regulada
pelas mesmas estruturas de poder através das quais busca legitimação
ou através das quais é solicitada a prestar contas. Além disso, nas
importantes ressalvas de Butler (2003a) aos pressupostos presentes
na discussão da produção e ocultação de sujeitos políticos, há a
invocação de um “antes” – premissa de um sujeito anterior a ser
representado e a invocação de uma identidade comum acionada pela
nomeação dessa categoria.
● Ambos os pressupostos retiram o caráter histórico das categorias
identitárias, assim como invisibilizam as diferenças e “intersecções
com modalidades raciais, classistas, étnicas, sexuais e regionais de
identidades discursivamente constituídas” (p. 20). A interferência das
transformações sociais aparece como um processo que deturparia a
função “natural” e “a-histórica” do pai, no exercício da autoridade e
também a função da mãe.
● A ausência das funções paternas já se apresenta hoje, inclusive, como
um fenômeno social alarmante e provavelmente é o que tem gerado as
péssimas consequências conhecidas por todos nós, como o aumento
da delinquência juvenil, menores de rua e na rua, etc. E isto não é um
fenômeno de determinada classe social. Certamente, nas classes
menos favorecidas economicamente, o abandono material é maior,
pois se mistura também com a questão política de abandono de
Estado, que também exerce em muitos casos, uma função paterna e de
o ‘Grande Outro’.
● Esta ausência paterna e o declínio do pater-viril está acima da
questão da estratificação social. É um fenômeno e consequência das
transformações sociais iniciadas com a revolução feminista, a partir
da redivisão sexual do trabalho e a consequente queda do
patriarcalismo (solicitado autor livro Groreninga e Pereira, 2003, p.
225) .
● A definição da paternidade como categoria explicativa é possível no
acionamento de sua diferenciação em relação à maternidade. Caso
contrário, estaria falando de parentalidade, ou de forma mais ampla,
do papel da família. Investigando a “categoria” jurídica nomeada de
“abandono afetivo”, há prevalência de processos acionando o pai por
abandono afetivo.
● Em menor número estão os processos de abandono afetivo em que a
mãe é acionada. Nos casos da mãe, confirmado o abandono afetivo, a
mesma perde o poder familiar.
● Os casos de abandono por parte da mãe geralmente referiam-se à
avaliação dos modos de vida dessa mãe (várias eram usuárias de
álcool e/ou drogas), culminando com a extinção do poder familiar.
Nesse sentido, configura-se o abandono afetivo materno quando,
através de uma avaliação moral, entende-se que esta mãe “não possui
condições psicológicas e morais para proporcionar uma formação
saudável e digna a seus filhos” (Tasch, 2010, p. 13).
● Já no caso dos homens pais – geralmente ações ajuizadas pelas mães
juntamente com seus filhos – o processo não busca a retirada do
poder familiar. Pelo contrário, expressamente, busca manter esse
vínculo e pleiteia a responsabilização através da determinação de uma
indenização por danos morais. Nesse caso, a permanência do poder
familiar e o pagamento da indenização são pensados ambos como
uma punição. Segundo Dias (2010), num caso assim, a perda do poder
familiar, isoladamente, poderia “constituir-se não em uma pena, mas
uma bonificação por abandono”.
● O afeto é construído como autoridade no âmbito do Direito em geral,
“vai além do sentimento, e está diretamente relacionado à
responsabilidade e ao cuidado... por isso pode se tornar uma obrigação
jurídica e ser fonte de responsabilidade civil” (Pereira, 2012, p. 8).
● É com base nessa construção técnica – que estabelece a afetividade
como cuidado – que é possível atribuir responsabilidade aos pais para
além da obrigação alimentar e exigir sanções ao seu exercício, quando
considerado inadequado.
● Seguindo o rastro dessa categoria jurídica – “Abandono Afetivo”,
chegou à decisão mais recente do STJ. A decisão de abril de 201215
avalia se o abandono afetivo “constitui elemento suficiente para
caracterizar dano moral compensável” (STJ 1159242).
● A enunciação da ministra relatora busca legitimar o cuidado como um
valor jurídico. “O cuidado dentro do contexto da convivência familiar
leva à releitura de toda a proposta constitucional e legal relativa à
prioridade constitucional para a convivência familiar” (STJ 1159242).
Para tanto, o texto do relatório resgata a teoria de Winnicott para
mostrar a importância do cuidado na constituição infantil.
● [...] do lado psicológico, um bebê privado de algumas coisas correntes,
mas necessárias, como um contato afetivo, está voltado, até certo
ponto, a perturbações no seu desenvolvimento emocional que se
revelarão através de dificuldades pessoais, à medida que crescer.
● Por outras palavras: à medida que a criança cresce e transita de fase
para fase do complexo de desenvolvimento interno, até seguir
finalmente uma capacidade de relacionação, os pais poderão verificar
que a sua boa assistência constitui um ingrediente essencial.
(Winnicott, 2008) (STJ 1159242).
● A enunciação legítima o cuidado como uma conduta a ser avaliada,
prescrita e cobrada nas instâncias competentes. “Não se discute mais
a mensuração do intangível – o amor – mas, sim, a verificação do
cumprimento, descumprimento, ou parcial cumprimento, de uma
obrigação legal: cuidar” (STJ 1159242, p. 10). Esse movimento
responde à crítica feita a esses processos pela impossibilidade de
obrigar um pai ou uma mãe a amar seus filhos.
● Através da diferenciação entre amor e cuidado, “o amor é faculdade,
cuidar é dever” (STJ 1159242, p. 11), normatizam-se modos de cuidar
e, por consequência, se possibilita a mensuração do cuidado.
● A medida do cuidado se verificaem diferentes ações: “presença;
contatos, mesmo que não presenciais; ações voluntárias em favor da
prole; comparações entre o tratamento dado aos demais filhos –
quando existirem –, entre outras fórmulas possíveis que serão
trazidas à apreciação do julgador, pelas partes” (STJ 1159242, p. 11). Se
o afeto fosse somente uma expressão de amor, a reivindicação por
responsabilidade civil não encontraria legitimidade.
Acolhimento: crianças e adolescentes (Medidas Protetivas)
PEQUENO HISTÓRICO DAS INSTITUIÇÕES DE ACOLHIMENTO
● O abandono e o afastamento de crianças e adolescentes de suas
famílias, não é um fenômeno contemporâneo, muitas vezes atribuído
à modernidade, à desestrutura familiar, aos novos modelos
familiares, à pobreza, às drogas, enfim, aos problemas de ordem
social dos tempos atuais.
● Orfanatos, educandários, santas casas, casas de misericórdia,
abrigos, unidades de acolhimento, casas-lares etc., são denominações
comuns que, ao longo do tempo, foram sendo utilizadas para designar
as instituições que recebem essas crianças e adolescentes e que, por
qualquer razão, são afastados da convivência com seus familiares ou
responsáveis.
● Porém, tentativas vêm sendo realizadas no intuito de ajudar essas
crianças e adolescentes, criando oportunidades para que essas
crianças e adolescentes possam desfrutar do convívio familiar. Muitas
dessas crianças desde tenra idade se encontram vivendo em
instituições de acolhimento, esquecidas pelas famílias, pela sociedade
e pelo Estado.
● Mesmo com tanto descaso da sociedade e do Estado, alguns aparatos
vêm sendo implantados visando sanar essas questões, procurando
priorizar a vida em família dessas crianças e adolescentes. O mais
recente é a chamada “Nova Lei de Adoção” ou “Lei da Convivência
Familiar”, assim denominada porque foi elaborada com base no Plano
Nacional da Convivência Familiar.
FAMÍLIA E AS CAUSAS DO PROCESSO DE ACOLHIMENTO
● Definir o conceito de família é uma tarefa difícil, por se tratar de um
tema muito amplo e que muda na linha do tempo de longa duração,
em função das características sociais, econômicas, culturais,
educacionais e legais; por isso mesmo, continua incompleto e,
frequentemente, já está ultrapassado. De qualquer forma, é preciso
concordar que a família constitui um valor fundamental à vida social.
● A família contemporânea está muito mais diversificada, se
apresentando de forma pluralista, pelos diversos tipos e modelos de
convivência.
● Outrora os acolhimentos de crianças normalmente se davam em razão
do abandono, que, no caso dos escravos, era, muitas vezes,
estimulado.
● Antes das rodas dos expostos, as crianças eram deixadas nas naves
das igrejas, próximo às casas de particulares, nas ruas, onde o
crescimento sem planejamento das grandes cidades, a falta de
habitações dignas, levou a negligência, a mendicância, a exploração
no trabalho tornaram comum, crianças e adolescentes nas ruas. ▪
Além disso, cada vez mais crianças e adolescentes estavam envolvidos
na prática de crimes, o que justificava o acolhimento como forma de
punição ou como meio de disciplinar essa criança ou adolescente
(GUARÀ, 2010).
● A nova realidade social impôs ao Estado novos desafios. A solução
encontrada foi a criação de orfanatos, com função recuperadora e
depois estas crianças eram devolvidas ao convívio social, o que na
maioria das vezes não acontecia. As crianças acabavam vivendo até
adultas nessas instituições e depois lançadas à sociedade, sem
nenhum tipo de suporte que as permitisse uma vida autônoma e feliz.
● Tem-se observado que, em grande parte dos acolhimentos, não há
uma única causa. A pobreza, muitas vezes, vem acompanhada da
negligência, dos maus-tratos, do alcoolismo. O certo é que, nos
últimos tempos, vem aumentando significativamente o acolhimento;
● O que se observa é que os motivos para que criança e o adolescente se
encontre em instituições de colhimento são os mais variados, vão
desde lares desestruturados a rejeição materna, ou seja, o abandono é
parte desse processo.
● Apesar da existência de aparatos legais, o acolhimento é uma
realidade na sociedade brasileira e cada vez mais essas crianças estão
se distanciando de suas famílias e perdendo os vínculos afetivos. O
que se observa é que as instituições de acolhimento representam uma
segurança para essas crianças e adolescentes para que possam
preservar suas vidas e integridade.
● A violência que a maioria é submetida impede que continuem vivendo
nos seus lares (LIMA, 2015, p. 35).
● A legislação por sua reconhece o direito da criança e do adolescente de
viverem em ambiente familiar, bem como, de que eventual
acolhimento deve ser excepcional, provisório, pelo menor tempo
possível, exige a implantação de programas que possam de alguma
forma, contribuir para, inicialmente, se possível, evitar o acolhimento
ou, quando este se mostre absolutamente necessário, minorar as
consequências do abandono ou da institucionalização, principalmente
quando prolongada.
● A maior parte das crianças privadas do convívio familiar advém desta
parcela significativa da população brasileira, aliado a outras causas
(violência, negligência, maus tratos, desestruturação familiar, baixa
escolaridade dos pais, desemprego e subemprego, drogadição etc.)
impõem enormes dificuldades de reabilitação e de reestruturação.
● Para isso, a política de atendimento deve ser estruturada,
principalmente na esfera municipal, em face da municipalização do
atendimento (art. 88, I, do ECA), de modo que, tão logo se constate a
necessidade de intervenção na família, para proteger a criança ou
adolescente, esta seja possível.
● É fundamental, pois, que cada Município estruture a sua política de
garantia do direito à convivência familiar. (CUNEO, 2016);
● É preciso que se tenha claro que o acolhimento institucional não pode
ser visto como algo para vida toda, mas sim, temporário.
● Por isso o psicólogo deve atuar com sensibilidade frente a estas
crianças, fazendo com que compreendam que o espaço que estão
provisoriamente frequentando precisam respeitar as individualidades
e diferenças individuais, de forma que preserve a vida comunitária
dessa criança e adolescente.
● Indispensável que a política municipal de garantia do direito à
convivência familiar tenha a efetiva participação de técnicos,
preferencialmente equipes multidisciplinares, cuja atribuição é a de
apoiar as equipes técnicas das varas da infância e da juventude, bem
como das unidades de acolhimento, no sentido de manter a criança ou
adolescente na família, promover a reintegração familiar de crianças e
adolescentes acolhidos, bem como contribuir para a preparação de
famílias substitutas, buscando alternativas para que o acolhimento
institucional seja o mais breve possível (MARQUÊS; CZERMAC, 2015).
● Os limites da intervenção no âmbito das relações familiares têm sido
objeto de constante debate doutrinário.
● No plano da convivência familiar, especificamente, o Estado pode
proporcionar condições para que os pais ou familiares exerçam suas
responsabilidades, mas não pode obrigar o cidadão, por exemplo, a
desenvolver relações de afeto para com os filhos, embora a afetividade
seja um direito da criança. Não se pode, igualmente, obrigar a família
extensa a assistir os filhos de outros familiares.
● A prevenção ao abandono passa necessariamente pela articulação das
redes de atendimento dos Municípios, que devem estar preparadas
para interferir e agir prontamente toda vez que se verifique
encontrar-se uma criança em situação de risco.
● Caberá ao psicólogo conhecer a realidade desta criança e adolescente,
assim como os motivos que o levaram a institucionalização, para que
possa através deste conhecimento da realidade intervir com mais
segurança.
● É preciso também que a equipe que atende essas crianças tenha
competência técnica, pois dessa forma contribuirá para que a criança
e o adolescente tenha a menor quantidade de traumas e marcas
possíveis. É preciso que as instituições de acolhimento tenham ações
que não excluam a criança de sua vidasocial, pois o que mais se vê nas
instituições que conhecemos é o isolamento que essas crianças e
adolescentes se submetem.
Adoção / Núcleos Familiares
● A história da adoção tem um percurso extenso no Brasil e se faz
presente desde a época da colonização. A princípio esteve relacionada
com caridade, em que os mais ricos prestavam assistência aos mais
pobres. Era comum haver no interior da casa das pessoas abastadas
filhos de terceiros, chamados “filhos de criação”.
● A situação deste no interior da família não era formalizada, servindo
sua permanência como oportunidade de se possuir mão-de-obra
gratuita (PAIVA,2004) e, ao mesmo tempo, prestar auxílio aos mais
necessitados, conforme pregava a Igreja.
● Hoje em dia, embora a lei proíba tal prática, ainda encontramos casos
de pessoas que realizaram uma adoção à brasileira e justificam que o
fizeram por não saber que era ilegal e porque na época em que o avô, o
pai, ou algum conhecido realizou uma adoção, era assim que se fazia.
● Em uma pesquisa realizada pela Associação dos Magistrados
Brasileiros, em 2008, apenas 35% dos respondentes afirmaram que,
caso desejassem adotar, buscariam uma criança através das Varas de
Infância e Juventude, enquanto 66,1% recorreriam aos
hospitais/maternidades ou abrigos, confirmando que a maioria dos
brasileiros não sabe por onde se inicia um processo de adoção legal.
● Mudanças legais foram ocorrendo desde então, até culminar com o
Estatuto da Criança e do Adolescente (E.C.A), Lei 8.069, de 13 de julho
de 1990, que há quase 20 anos regulamentou a prática da adoção no
Brasil (mas que sofreu algumas mudanças a partir de novembro de
2009, com a lei 12.010/09, também chamada de Nova lei da Adoção), e
que coloca como prioridade a garantia, às crianças e adolescentes, dos
seus direitos, dentre os quais a convivência familiar.
● Foi somente com a legislação de 1988 que a lei passou a tratar de
maneira igualitária todos os filhos, havidos ou não do casamento, ou
por adoção. E é este pressuposto legal que alicerça o E.C.A, que aboliu a
adoção simples, ampliando os benefícios da adoção plena a todos os
menores de 18 anos de idade, garantindo a permanência irrevogável
no seio da família adotivo, sob a condição de filho, assegurando-lhes
os mesmos direitos dos filhos biológicos, rompendo os vínculos de
parentesco com a família de origem.
● Observa-se que todas as leis referentes à adoção, e que foram
anteriores ao E.C.A, há sempre uma prioridade à família biológica, seja
considerando a adoção possível somente quando as pessoas não
pudessem gerar filhos; ou considerando o filho adotivo inferior ao
biológico (que poderia perder seu espaço dentro da família, para as
adoções revogáveis), ou, ainda, negando lhe o direito à herança
deixada pelos pais quando havia filhos biológicos.
● Tal fato também justifica a característica, ainda bastante presente
nas família adotivas, que é o desejo de que a adoção seja um assunto
sigiloso e que, muitas vezes, é de conhecimento apenas dos membros
da família, não sendo divulgado, nem entre os parentes, muito menos
para as pessoas conhecidas, uma espécie de segredo de família.
● Uma pesquisa realizada por Berthoud (1997) também traz resultados
similares, concluindo aquela autora que o preconceito mais grave da
população em geral sobre a adoção está relacionado ao
desconhecimento sobre a herança genética. Para os participantes de
sua pesquisa, adotar poderia ser um risco, já que haveria a
possibilidade de adotar alguém com ‘sangue ruim’, ou seja, com
traços negativos de comportamento e personalidade.
● O sangue do outro me é desconhecido e, consequentemente, as
características que esse outro possui. E o que é desconhecido fomenta
fantasias, muitas vezes ameaçadoras.
● A questão genética assegura aos pais biológicos a certeza de que são
pais. Gerar um filho significa, além da perpetuação biológica, uma
espécie de apropriação desse filho. “Os pais biológicos sabem desde o
início que a criança é incondicionalmente sua” afirma Levinzon
(2004,p. 26). Os pais adotivos, por outro lado, precisam que a
sociedade,na figura da justiça, lhes garanta essa posse;
● É comum entre as pessoas que adotam, a preferência por crianças de
pouca idade e com características físicas próximas às suas
(MALDONADO, 1997; WEBER, 1999). De acordo com Vieira (2004)
essa preferência seria uma clara tentativa de reproduzir da maneira
mais fiel possível a experiência que teriam aquelas pessoas caso
tivessem elas mesmas concebido o filho, além de diminuir os riscos de
se defrontar com a curiosidade indiscreta das pessoas que,
encontrando pouca semelhança física entre pais e filho, poderiam
questionar a filiação daquele, mostrando quão forte é a influência
cultural, que privilegia os vínculos genéticos.
● E isso causa impacto negativo em algumas famílias adotivas, que
acabam por se sentirem menores, como uma subcategoria. Assim,
num efeito bola de neve, a adoção permanece sendo um dos segredos
das famílias e estas, por mais que valorizem os laços de afeto, buscam,
incessantemente, a imitação da biologia;
● Os pais, cujo filho é adotivo, muitas vezes se sentem inseguros sobre
os vínculos afetivos desenvolvidos entre eles, fantasiando que um dia
o filho deseje conhecer os pais biológicos e, caso esse encontro venha
a acontecer, o ‘sangue’ fale mais alto e ele opte por ficar com a família
“de sangue”. Para Schetinni Filho (1998), tal insegurança decorre da
interpretação que os pais adotivos fazem da adoção como uma espécie
de interferência no fluxo natural da vida daquele filho, algo como se
seu lugar fosse ao lado dos pais biológicos.
FAMÍLIAS ACOLHEDORAS
● Nessa modalidade de acolhimento, crianças e adolescentes são
encaminhados para famílias devidamente cadastradas, selecionadas e
formadas para esta função. As famílias acolhedoras recebem em suas
casas as crianças que precisam de acolhimento temporário e
provisório, até que possam retornar para suas famílias de origem ou,
quando isso não é possível, sejam encaminhadas para adoção.
Adoção por homossexuais – uma nova configuração familiar sob os olhares da
psicologia e do direito:
● No que diz respeito à Constituição Federal Brasileira, o capítulo dos
direitos e deveres individuais e coletivos traz no caput do artigo 5° que
“todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”.
● Isso deveria ser refletido na prática com a indiferenciação das pessoas
por suas orientações sexuais em casos de adoção, embora nem sempre
esta seja a realidade encontrada. Apresenta-se como necessária uma
mudança na visão da sociedade e da própria ciência que vem buscando
aprimorar esta questão.
● No apego, o outro é visto como uma base segura a partir da qual o
indivíduo pode explorar o mundo e experimentar outras relações. O
emprego desta ótica, do apego e da formação dos laços afetivos
baseados na convivência, trouxe a noção de que o ambiente familiar
deve ser acolhedor e propenso a favorecer o bem-estar daqueles que
nele coexistem.
● A homoafetividade não é apontada nem pelas teorias jurídicas da
paternidade sócio-afetiva, nem pelas teorias psicológicas do apego,
como um fator impeditivo para o estabelecimento do afeto com uma
criança.
● O foco do julgamento da adoção volta-se, então, para o ambiente
familiar como um todo – não determinado pela sexualidade.
● Dolto (1998) afirma que no processo de adoção devem ser levadas em
conta as afinidades da família com a criança, no sentido de que essa
propicie um ambiente adequado para o seu desenvolvimento mental e
emocional.
● Embora os trabalhos a respeito da criança criada por pai ou casal
homoafetivo sejam recentes, dentre eles encontram-se pesquisas
empíricas como a de González (2005) e Tarnovski (2002) com estas
famílias, cujos resultados apresentam semelhanças no que diz
respeito ao desenvolvimento criadas por heterossexuais.
● A Associação Americana de Psicólogos, a Academia Americana de
Pediatras, a Associação Psicanalítica Americana e a Associação
Americana de Psiquiatras já se pronunciaram a respeito do tema,afirmando que pais homossexuais são capazes de proporcionar
ambientes saudáveis e protetores aos seus filhos – cujo
desenvolvimento é similar ao de crianças criadas por heterossexuais
nos âmbitos emocional, cognitivo, social e sexual (Fernández & Vilar,
2004);
● Um dos argumentos utilizados para o indeferimento da adoção por
homossexuais relaciona-se ao estabelecimento de papéis, ou seja, a
importância do modelo pai/mãe no desenvolvimento da criança –
como tendo a mãe a função cuidadora e o pai a normatizadora.
● Isto é um equívoco, visto que as atribuições de gênero em nossa
sociedade são socialmente construídas. Fernández e Vilar (2004)
levantam questões acerca deste modelo referencial comparando
monoparentalidade à homoparentalidade– se é necessário um casal
heterossexual para a construção da identidade sexual dos filhos
pode-se dizer que um filho do sexo masculino criado apenas por sua
mãe necessariamente apresentaria dificuldades com sua sexualidade.
● Um dos argumentos utilizados para o indeferimento da adoção por
homossexuais relaciona-se ao estabelecimento de papéis, ou seja, a
importância do modelo pai/mãe no desenvolvimento da criança –
como tendo a mãe a função cuidadora e o pai a normatizadora.
● Isto é um equívoco, visto que as atribuições de gênero em nossa
sociedade são socialmente construídas. Fernández e Vilar (2004)
levantam questões acerca deste modelo referencial comparando
comparando monoparentalidade à homoparentalidade– se é
necessário um casal heterossexual para a construção da identidade
sexual dos filhos pode-se dizer que um filho do sexo masculino criado
apenas por sua mãe necessariamente apresentaria dificuldades com
sua sexualidade.
● González (2005) e Tarnovski (2002)pesquisaram famílias compostas
por pais homossexuais respectivamente na Espanha e no Brasil, e
ambos apontam que pais homossexuais são tão capazes de
proporcionar um desenvolvimento saudável quanto pais
heterossexuais.
● Os autores também indicam como facilitador na criação e adequação
da criança à sociedade: a vasta rede social e de apoio com a qual
mantém relações de parentesco e amizade frequentes tanto com
hétero quanto homossexuais –alguns deles também com filhos.
● Os códigos brasileiros não distinguem hetero de homoafetividade no
que diz respeito à adoção. Diante da inexistência de vedação legal, os
aspectos morais e educacionais da criação das crianças são os
pontos-chave da argumentação contrária à adoção dentro do que os
juízes consideram o melhor para o desenvolvimento psicológico e
social do adotado. Resta-nos questionar as competências de alguns
juízes e peritos envolvidos nestas avaliações.
A ATUAÇÃO DE PSICÓLOGOS EM CONSELHOS TUTELARES
● A imprecisão quanto ao papel do psicólogo no CT pode se relacionar
com a história da inserção técnica em instituições de políticas
públicas no Brasil. Há relatos assistemáticos e pontuais sobre a
atuação de psicólogos em diversos setores públicos desde meados do
século passado.
● Todavia, foi somente com os movimentos democráticos da década de
1980 que essas alocações se tornaram oficiais em todo o país, a partir
das promulgações de leis embasadas nos princípios da Constituição
Federativa da República do Brasil, de 1988 (Yamamoto & Oliveira,
2010).
● A atuação de psicólogos em CTs pode ocorrer com irregularidades se
não compreendidas as diferenças entre órgãos judiciais, legislativos e
administrativos.
● Os órgãos judiciais são aqueles ligados ao Poder Judiciário e possuem,
portanto, função jurisdicional, isto é, julgam conflitos de interesse
por meio do processo. Os órgãos legislativos estão ligados ao Poder
Legislativo e têm a função de legislar, ou seja, criar leis e fiscalizar o
Poder Executivo.
● Os órgãos administrativos estão vinculados ao Poder Executivo e têm
a função de executar função pública administrativa, bem como
elaborar políticas que forneçam diretrizes para a administração
pública (Alexandrino & Paulo, 2013).
● As primeiras legislações específicas sobre infância e adolescência
datam, na Europa, do início da década de 20 do século passado, o que
influenciou, no Brasil, a promulgação do Código de Menores, em 1927,
editado posteriormente em 1979. Em seu artigo 2º, o Código de
Menores (Presidência da República, 1979) reconhecia como “em
situação irregular” crianças e adolescentes vítimas de negligência,
maus tratos e violência por ação, omissão, impossibilidade ou falta do
exercício parental, bem como autores de ato infracional e/ou “com
desvio de conduta”.
● Ainda que trouxesse inovações acerca dos direitos de tais sujeitos, a lei
legitimava práticas higienistas que se preocupavam muito mais com a
limpeza da cidade do que com o bem-estar de seus atendidos (Rizzini
& Pilotti, 2011).
● Com a promulgação da Constituição Federativa da República do Brasil,
de 1988, e o ECA, em 1990, a Doutrina da Situação Irregular é então
substituída pela Doutrina da Proteção Integral. A Doutrina da Situação
Regular era a base jurídica do Código de Menores, caracterizada
majoritariamente por pressupostos e implicações de forte caráter
higienista.
● A Doutrina da Proteção Integral, todavia, trouxe uma visão garantista
de direitos, de modo a conceber crianças e adolescentes como seres de
direitos e deveres e em situação peculiar do desenvolvimento. Com
ela, tornou-se constitucional, por meio do artigo 227, a prioridade
absoluta aos direitos das crianças e adolescentes:
● “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao
adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.”
(Presidência da República, 1988, Art. n. 227);
● A fim de promover essas medidas protetivas, seja às crianças e
adolescentes ou a seus pais e responsáveis, o CT pode realizar
encaminhamentos a órgãos de atendimento, podendo representar ao
Ministério Público os casos em que suas deliberações foram
descumpridas sem justificativa (Presidência da República, 1990, Art.
136, III). É por meio do trabalho em rede que as famílias acessam seus
direitos, o que reforça a necessidade de que haja uma comunicação e
articulação institucional efetiva (Deslandes & Campos, 2015).
● São atribuições dos conselheiros tutelares ainda o encaminhamento
de casos específicos a órgãos jurídicos. Ao Ministério Público, os casos
em que se verifiquem crime ou infração administrativa contra os
direitos das crianças ou adolescentes (Presidência da República, 1990,
Art. n. 136, Inciso IV), como, por exemplo, situações em que se
verifique a prática de violência doméstica, sexual, etc. contra crianças
e adolescentes.
● “A Psicologia pode e deve se inserir nessa instituição [o CT], de forma
a contribuir para a promoção de saúde da população, buscando a
garantia do desenvolvimento pleno da criança e do adolescente” (p.
865).
● O que se defende aqui, no entanto, é que essa promoção de direitos
deve se dar para além da prestação de serviços precários ou ausentes
no município. Em casos como esses, o corpo técnico perpetua as
irregularidades do município na prestação de serviços a crianças e
adolescentes.
● A atuação dos psicólogos deve funcionar no sentido de desvelar as
demandas técnicas que são solicitadas à psicologia no campo jurídico,
com o devido olhar atento que evita a reprodução da violência
estrutural presente na sociedade contemporânea. Isso significa que,
ao atender as demandas de ordem jurídica, os psicólogos devem ter
um olhar crítico, atentando-se para que, por meio de seu discurso,
não sejam alastradas verdades que estigmatizem seus atendidos, mas
um olhar de complexidade sobre sua existência e realidade social
(Arantes, 2011).
● A atuação dos psicólogos em CTs deve ter como base ações de
promoção à saúde, desenvolvendo a autonomia e potencialidades da
população. Nessa perspectiva, os atendidospelo órgão adotam a
postura de sujeitos propriamente ditos, tornando-se mais críticos
(Sequeira et al., 2010). Ademais, sua atuação deve ser
instrumentalizada pelo ECA, munindo-se da concepção de infância e
adolescência apresentada pela lei, qual seja: a de sujeitos de direitos e
responsabilidade em situação peculiar do desenvolvimento (Brambilla
& Avoglia, 2010).
● Devido à complexidade que envolve as ações do CT, múltiplas
demandas de atendimento podem emergir para os psicólogos, sempre
no sentido de subsidiar as ações dos conselheiros tutelares. O presente
trabalho apresenta três possíveis atribuições a psicólogos que se
insiram em tais equipes técnicas de apoio.
● Elevado índice de pais busca o CT por orientação com relação aos
filhos, frequentemente inseridos em contextos de evasão escolar,
práticas de atos infracionais e consumo de substâncias psicotrópicas
(Sequeira et al., 2010). Como já citado, esse tipo de demanda pode
advir também de encaminhamentos de dirigentes de
estabelecimentos de ensino (Presidência da República, 1990, Art. n.
56, II).
● Os responsáveis, em tais situações, comumente se eximem da
implicação direta de sua postura com a conduta dos adolescentes,
atribuindo a responsabilidade pelos problemas apresentados às “más
companhias” com quem convivem (Sequeira et al., 2010).
● Pedidos de internações, agressões físicas e outros procedimentos
coercitivos são recorrentemente defendidos pelos responsáveis como
formas eficazes de lidar com o problema (Espíndula, Trindade, &
Santos, 2009).
● Para além dos encontros entre psicólogos e conselheiros tutelares,
essas supervisões técnicas podem se dar também a partir de encontros
entre psicólogos e os núcleos familiares em atendimento no CT. Tais
ações devem ocorrer, contudo, somente de forma pontual, tendo em
vista o caráter do CT de fomentar na sociedade civil a postura de
reivindicação de direitos.
● Os conselheiros tutelares, nesse sentido, tornam-se representantes
locais desse objetivo constitucional, de modo que o saber técnico não
deve se sobrepor ao fazer popular.
● No que se refere às atividades de fiscalização, o CT pode e deve
desenvolver visitas institucionais a programas de atendimento
socioeducativos, casas de acolhimento institucional e demais
entidades de atendimento a crianças e adolescentes, verificando
possíveis infrações administrativas, ameaças e violações dos direitos
das crianças e adolescentes (Presidência da República, 1990, Art. n.
95).
● Os psicólogos, em tal contexto, podem apoiar essas ações, auxiliando
os conselheiros tutelares em seu planejamento e os acompanhando
nas idas aos locais.
● A presença dos psicólogos nessas visitas, seguidas de supervisão
técnica posterior, podem subsidiar as medidas protetivas delegadas às
crianças e adolescentes em atendimento nos locais, bem como os
encaminhamentos posteriores ao MP, caso verificadas irregularidades
(Presidência da República, 1990, Art. n. 191).
● A pedido dos conselheiros tutelares, os psicólogos podem também
participar de estudos de caso realizados com as equipes técnicas
desses locais, seja para o tratamento de questões relacionadas às
instituições, seja a seus atendidos.
● A assessoria ao Poder Executivo na formulação de proposta
orçamentária referente aos atendimentos a crianças e adolescentes,
por meio da qual o CT atinge sua atribuição de cobrança (Presidência
da República, 1990, Art. n. 136, IX), pode também ser subsidiada por
psicólogos inseridos no CT.
● Dado o caráter intersetorial da prática psicológica no contexto das
entidades de atendimento às crianças e adolescentes, o conhecimento
em psicologia pode munir a proposição de propostas de políticas
públicas a diversos setores.
● Tendo por base o conhecimento sobre as diversas possibilidades de
atenção às crianças e adolescentes em diferentes contextos
(Educação, Saúde, Assistência Social, etc.), os psicólogos podem
auxiliar os conselheiros tutelares no mapeamento de serviços
ausentes e precários no município.
● Dentre as atribuições dos conselheiros tutelares (Presidência da
República, 1990, Art. n. 136), destaca-se a delegação de medidas
protetivas a crianças e adolescentes que tenham seus direitos
ameaçados ou violados, bem como a crianças de até 12 anos
incompletos autoras de ato infracional (Inciso I). Cabe ao CT também
providenciar as medidas protetivas determinadas pelas autoridades
judiciais a adolescentes e jovens de 12 a 21 anos incompletos autores
de ato infracional (Inciso VI).
● As medidas protetivas mencionadas estão descritas nos sete
primeiros incisos do artigo 101 do ECA e referem-se a
encaminhamento aos pais (Inciso I), orientação, apoio e
acompanhamento temporários (Inciso II) e acesso a outros serviços e
programas como forma de garantia de seus direitos (Inciso III ao VII).
Violência contra crianças e adolescentes: questão social, questão
de saúde
● A violência contra a criança e o adolescente é todo ato ou omissão
cometidos por pais, parentes, outras pessoas e instituições, capazes
de causar dano físico, sexual e/ou psicológico à vítima.
● Implica, de um lado, numa transgressão no poder/dever de proteção
do adulto e da sociedade em geral; e de outro, numa coisificação da
infância. Isto é, numa negação do direito que crianças e adolescentes
têm de serem tratados como sujeitos e pessoas em condições especiais
de crescimento e desenvolvimento.
● A violência contra esses grupos etários, conforme mostra Assis,
acompanha a trajetória humana desde os acontecimentos mais
primitivos de que se tem registro. E são também inumeráveis as
modalidades pelas quais se expressa, dentro das diferentes culturas.
● A violência contra criança e adolescente, no transcorrer da
civilização, além do caráter arbitrário dos pais de decidirem sobre sua
vida, sempre esteve muito vinculada ao processo educativo. Ela tem
sido considerada, em todos os tempos, como um instrumento de
socialização e portanto, como resposta automática a desobediências e
rebeldias.
● Embora muito se tenha caminhado na sociedade ocidental, do ponto
de vista ideológico, há estudiosos que divergem da ideia de que
sejamos hoje mais respeitosos com as crianças do que nos séculos
passados.
● Em seu belo e extenso trabalho, Guerra comenta que, se no
transcurso da história, as sociedades praticavam o infanticídio, os
espancamentos, e os incestos, se muitos estados, no passado,
sacrificaram e mutilaram suas crianças para aliviar a culpa dos
adultos; em nossa época, tão ciosa de sua própria racionalidade,
continuamos matando e mutilando crianças e as submetendo à fome.
Violência estrutural
● Entendemos por violência estrutural, aquela que incide sobre a
condição de vida das crianças e adolescentes, a partir de decisões
histórico-econômicas e sociais, tornando vulnerável o seu
crescimento e desenvolvimento.
● Por ter um caráter de perenidade e se apresentar sem a intervenção
imediata dos indivíduos, essa forma de violência aparece
"naturalizada“ como se não houvesse nela a ação de sujeitos políticos.
● Portanto é necessário desvendá-la e suas formas de reprodução
através de instrumentos institucionais, relacionais e culturais;
● Em suas expressões, a violência estrutural tem várias formas-limite
de manifestação. As três maiores expressões de vulnerabilidade são
comentadas a seguir: os chamados "meninos e meninas de rua"; os
"meninos e meninas trabalhadores" e as "crianças e adolescentes
institucionalizados".
● Em relação aos meninos e meninas de rua, muitos estudos têm sido
feitos no país e nós mesmos buscamos, através da literatura existente
e de trabalho de campo por amostragem em todas as regiões do país,
traçar o seu perfil.
● Nas ruas, eles convivem com ameaças a sua vida, indução ao crime,
maus tratos praticados por policiais ou por outros, sendo explorados
por comerciantes, seguranças, além de serem estigmatizados como
"futuros bandidos".
● O caso do trabalho infantil no Brasil vem sendo fortemente
acompanhado e desestimulado pelas Organizações
Não-Governamentais (ONGs) de defesa de direitos e pela

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