Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Nome: RA: Turma: Semestre: 8º Campus: Paraíso Matéria: Práticas psicológicas - Acompanhante Terapêutico Horário da supervisão: Quarta-feira às 10h Fichamento - ÉTICA E TÉCNICA NO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO Andanças com Dom Quixote e Sancho Pança - Kleber Duarte Barretto Capítulo 6 - Daquela função, muitas vezes confundida com a anterior (holding) por caminharem tão próximas que, comumente, não guardamos as devidas distinções. Segundo Barreto (1998), a alimentação e o sono são algumas das funções vitais dos seres humanos, já que a alimentação fornece a vivência de que a vida oferece coisas boas, além de pisões; e o sono, por promover um relaxamento, ajuda a reintegrar o self. Tem-se a necessidade de uma intermediação de nossas experiências, pois elas podem ser disruptivas de modo que se possa deixar de sentir emoções para ser essas emoções (BARRETO, 1998, p.71). Ainda segundo o autor, para se fazer essa intermediação, é possível utilizar a continência. A continência refere-se à capacidade do indivíduo (mae, analista ou outra pessoa) de transformar as experiências de um sujeito através da imaginação. A função de continência é perceptível no trabalho dos poetas, pois eles são capazes de nomear ou encontrar imagens vinculado-as com experiências e sentimentos que muitas vezes não somos capazes de expressar (BARRETO, 1998, p.78). Susana e Silvia afirmam que tal função é algo fundamental no acompanhamento terapêutico pois essa modalidade pode ser vista como um agasalho que irá acompanhar o paciente durante suas ansiedades e angústias. A partir do acompanhamento e da compreensão que se norteará as intervenções junto ao sujeito, seja ela uma ação, uma atitude, um comentário ou até um silêncio. Portanto, essa imagem não pode ser utilizada à continência, pois o “agasalho humano” veicula uma idéia de isolamento, de modo que se exclui a possibilidade de troca presente na concepção de continência (BARRETO, 1998, p.72). Segundo Barreto (1998), enquanto a continência funciona como um ‘filtro’, o holding funcionaria como o chão onde se pisa e, por mais que ambas sejam funções que se complementam, o trabalho correrá um risco de tornar-se adaptativo caso não seja possível se ter um bom holding. Ao lidar com uma vivência caótica, deve-se refletir sintéticamente o que, possivelmente, está se passando para assim se estabelecer um eu observador no acompanhado; e, eventualmente, o acompanhado consiga discriminar da situação angustiante. Caso não se alcance tal etapa, não será alcançado nenhum outro passo na percepção de alguma inferioridade. (BARRETO, 1998, p.76) Winnicott afirmava que, em determinadas situações, nós sonhamos aquilo que o paciente não é capaz de sonhar e Margaret Little (1981) chegou a afirmar que sentimos o que o paciente tem dificuldade de sentir, em relação a uma determinada experiência, e de integrá-la ao seu Self; apontando, também a importância da expressão de tais sentimentos. Capítulo 7 - No qual se trata da não menos importante função de apresentação de objeto. Segundo Kleber (1998), Winnicott formulou a concepção de uma função de constitutiva da subjetividade a partir de um experimento realizado com mães e seus bebês que consistia em fincar um depressor da língua no canto de uma mesa de modo que o bebê pudesse alcançá-lo enquanto a mãe segurava seu bebê. Com essa experiência, Winnicott sugeriu que houvesse um padrão de interação do bebê com a situação estabelecida. O primeiro período percebido foi nomeado de ‘período de hesitação’, na qual a criança percebia a espátula interessado por ela e assim esboçando algum movimento em direção a ela, porém logo inibia-se. Muitas vezes a criança voltava seu olhar para Winnicott ou para a mãe na tentativa de perceber se houve alguma mudança no ambiente. Esse período é marcado pelo conflito, sendo a espera por um movimento do bebê próprio em direção à espátula é o mais importante.(BARRETO, 1998, p.90). O segundo período foi nomeado de período de uso, porém Safra (1995), baseado nas ideias de Winnicott, denominou esse segundo período de ‘período de posse’. Neste o bebê utiliza o objeto de diversas maneiras, mas a ênfase deve estar na apropriação e no fazer uso de um objeto; que indicaria o potencial criativo do sujeito a partir da transformação de um objeto da realidade compartilhada em algo próprio. Um dos fatores a considerar para um viver criativo, na teoria winnicottiana, é a capacidade que se tem de usar um objeto. (BARRETO, 1998, p.91). Barreto (1998) diz que o terceiro período consiste em uma emergência de agressividade. O bebê, durante o experimento de Winnicott, derrubava ou jogava o objeto no chão e, após esse padrão, o autor indicava o final da consulta. Safra denomina esse período como 'período de separação’, já que a criança mostra por meio da agressividade e pelo desinteresse que está preparada para separar-se da deste momento (BARRETO, 1998, p.92). A possibilidade de experienciar os três períodos implica para alguns bebês uma transformação de self, sendo denominado (transformação de self) por Winnicott como lição de objeto. Todo esse processo consistia em uma experiência integradora e constitutiva, por se ter um começo, um meio e um fim; além de um ambiente que respeita e aguarda o ritmo da criança e o possível surgimento de um gesto espontâneo. (BARRETO, 1998, p.92). A apresentação de objeto é uma função relacionada à capacidade do ambiente de se colocar onde foi alucinado e é por ela, segundo Winnicott, que o bebê desenvolverá a capacidade de realização. A realização está relacionada aos recursos que o bebê adquire durante a noção de processo, ou seja, durante a percepção das dimensões de espaço e tempo. (BARRETO, 1998, p.94). Segundo Barreto (1998), as falhas nessa função levariam o sujeito a uma dificuldade e/ou incapacidade em operar nessas dimensões, podendo acarretar também um sentimento de irrealidade, no qual o sujeito não sente que está no mundo. Em situações de agressividade ou mais extremas, é importante identificar qual foi a gota d'água, qual o tipo de angústia que foi mobilizada para, assim, poder conversar com o indivíduo sobre tais aspectos (BARRETO, 1998, p.95). Ainda segundo o autor, o acompanhante terapêutico precisa reconhecer, se for o caso, que houve falhas de sua parte de modo que não deixe o acompanhado no lugar de “louco”. A função de apresentação de objetos depende do que foi chamado por Winnicott de devoção, ou seja, a capacidade do acompanhante terapêutico e identificar com o acompanhado, ao mesmo tempo em que utiliza o que apreendeu por esse processo a favor do crescimento do sujeito (BARRETO, 1998, p.98). Capítulo 8 - No qual se aborda a função de manipulação corporal (handling) e o contato com as necessidades corporais. Winnicott afirma que o contato corporal (carregá-lo no colo, banhá-lo) entre mãe-bebê é importante para o desenvolvimento psíquico do bebê, já que isso possibilita a humanização e simbolização na relação com o outro. Além disso, todas essas experiências também permitem que o bebê habite seu corpo, ou seja, promove a personalização. (BARRETO, 1998, p.99). Segundo Barreto (1998), a personalização está relacionada à possibilidade de se ter uma integração psique-soma, algo que de alguma forma é dito como inato, mas é necessário ser conquistado durante o desenvolvimento. Ainda segundo o autor, é possível que, caso não se tenha uma personalização adequada, o sujeito não se reconheça em seu próprio corpo. Em casos que ocorre uma regressão, pode-se haver uma perda de contato com suas necessidades corporais, de modo que o corpo é vivido como algo estranho e se tem dificuldade de perceber as necessidades básicas (BARRETO, 1998, p.100). É possível que o acompanhante intervenha no processo de personalização do indivíduo, pois o acompanhado observa os movimentos do acompanhante podendo recuperar o próprio corpo a partir de imitações ou introjeções (BARRETO, 1998, p.104). É necessário queo acompanhante terapêutico habite o próprio corpo para que o handling aconteça. Winnicott afirma que a psicossomática do analista é importante para o auxílio do indivíduo em tal questão, pois refere-se a leitura do outro a partir do próprio corpo. (BARRETO, 1998, p.104). Capítulo 9 - Do valor da desilusão, ou ainda, da capacidade de discriminação: realidade subjetiva e realidade compartilhada. Na teoria de Winnicott, “o estabelecimento do contato com a realidade faz parte de um processo maturacional” (BARRETO, 1998, p.111). Ainda segundo Barreto (1998), inicialmente é preciso que a função de ilusão esteja satisfeita e, tendo a ilusão de estar criando a realidade, se buscará a realidade por amor, pois assim pode-se deparar com objetos necessitados. Segundo Winnicott, só é possível falar em desilusão, caso o bebê possa ter sua onipotência satisfeita em sua relação com o outro. Caso contrário, não poderá se ter um vínculo criativo com o mundo ou com a cultura; tendo como única opção o isolamento ou uma submissão à realidade (BARRETO, 1998, p.111). E durante esse processo é preciso que o indivíduo seja capaz de suportar separações e frustrações, tendo a agressividade e sobrevivência do objeto serão fundamentais (BARRETO, 1998, p.112). O sujeito precisa ser capaz de colocar sua agressividade e destrutividade no vínculo com outra pessoa e este sobreviver, ou seja, o vínculo sobreviver (tanto sobrevivência física quanto psíquica). O objeto só pode ser percebido como algo externo (algo que está fora do controle de sua onipotência) a partir dessa experiência e, assim, se estabelece mais claramente o que é externo ou interno. (BARRETO, 1998, p.112). “Essa capacidade de discriminação externo/interno (realidade compartilhada e realidade subjetiva) é algo passível de ser desenvolvido, na medida em que um outro possa exercê-la conosco” (BARRETO, 1998, p.112). Segundo Kleber (1998), é importante que o acompanhante terapêutico tenha respeito pelo tempo do paciente, além de ser necessário ter a capacidade de abordar a situação em uma linguagem coloquial; tratando-se de usar-se de uma desilusão para enriquecer o campo de experiência do acompanhado. O acompanhante terapêutico, ao se colocar em função do sujeito, dá a possibilidade que o acompanhado o crie segundo sua própria imaginação, assim, o acompanhante torna-se o sonho do sujeito no mundo. Ou seja, o profissional deixa-se ser objeto subjetivo do acompanhado constituindo o estado de ilusão (BARRETO, 1998, p.115-116). Capítulo 10 - Onde se discute a função de interdição. Segundo Barreto (1998), dentro da psicanálise, a função de interdição tem sido trabalhada como uma função paterna por estar associada ao terceiro objeto que interfere na relação mãe-bebe, ou seja, à presença física ou simbólica do pai. Essa função possui três modalidades: interdição da pulsão oral, interdição das pulsões anais e interdição edípica. A função de interdição retira o sujeito de um estado confusional na qual se perde a consciência de si a partir do escoamento do ser em um aspecto parcial da personalidade do sujeito. Com isso, a pulsão pré-genital fica confundida com o sujeito de modo que o indivíduo é o ódio, o erotismo, etc. Ou seja, tudo isso é vivido dentro do reino do absoluto (BARRETO, 1998, p.119). Caso clínico: citado sobre uma moça apegada a seu carro, com que possui certa fascinação por passear em seu carro pela cidade. Inicialmente era acompanhada apenas por um acompanhante terapêutico, porém em um dado momento foi necessário que seu acompanhamento começasse ao acordar e terminasse ao deitar-se para dormir. Ela possuía uma maneira perigosa de dirigir, de modo que já se envolveu diversos acidentes de carro; desde os menos graves até os mais graves. Em uma ocasião, foi necessário que o AT utilizasse força física para tirá-la do banco do motorista após ela dirigir relativamente rápido. O ocorrido pareceu ter deixado uma marca positiva. (BARRETO, 1998, p.119-126)
Compartilhar