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UNIASSELVI - Fundamentos do Acompanhamento Terapêutico

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Indaial – 2021
Fundamentos do 
acompanhamento 
terapêutico
Profª Karoline Gregol Pereira
Profª Nislandia Santos Evangelista
Profª Naiara da Silva Floriano
Profº Claudio Marcos Odorizzi Junior
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020
Elaboração:
Profª Karoline Gregol Pereira
Profª Nislandia Santos Evangelista
Profª Naiara da Silva Floriano
Profº Claudio Marcos Odorizzi Junior
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
apresentação
Este Livro Didático objetiva sistematizar os elementos básicos da 
disciplina de Fundamentos do Acompanhamento Terapêutico, o qual 
proporcionará um contato com os principais tópicos, autores, obras, normas 
e regulamentações da área, além dos instrumentos necessários, não apenas 
para acompanhar a disciplina ofertada, mas também para os estudos 
autônomos posteriores.
Na Unidade 1, veremos, primeiramente, uma contextualização 
histórica da saúde, da loucura e do acompanhamento terapêutico. Isso 
permitirá compreender todo o conceito de doença que foi construído 
ao longo do tempo. Após isso, nos aprofundaremos nos principais 
momentos da história da loucura e seu envolvimento com o movimento 
da luta antimanicomial e a criação das políticas públicas de saúde mental. 
Finalizaremos a unidade vendo como todo esse trajeto histórico das lutas de 
saúde mental chegou até o surgimento do Acompanhamento Terapêutico 
como prática profissional regulamentada e qual a importância dessa 
profissão no meio da saúde mental. 
Na Unidade 2, nos aprofundaremos nas principais características 
que constituem o trabalho do Acompanhante Terapêutico (AT). Faremos um 
mergulho histórico de toda a trajetória do Acompanhamento Terapêutico, 
suas raízes e como chegou até o Brasil. Analisaremos as considerações 
primordiais para a atuação do acompanhante terapêutico, para entender 
as diversas formas de realizar a clínica e entender quais são os principais 
objetivos e funções dessa profissão. 
Por fim, na Unidade 3, faremos um aprofundamento nas teorias 
sobre a ética, com foco na ética do profissional da área de serviços de 
saúde, contemplando, portanto, o profissional acompanhante terapêutico. 
Inicialmente, veremos sobre quais são os fundamentos éticos na prática de 
saúde mental, analisaremos os modelos de raciocínio ético. O intuito central 
aqui é conduzir você a uma compreensão dos modelos de raciocínio em meio 
a resolução de conflitos éticos. Por fim, a unidade te convida a identificar um 
modelo do processo de tomada de decisão ética. 
Desejamos uma boa jornada a todos, rumo à edificação da 
educação, formação profissional e sucesso frente aos desafios intelectuais, 
éticos e pessoais proporcionados pelo estudo dos Fundamentos do 
Acompanhamento Terapêutico.
Profª Karoline Gregol Pereira
Profª Nislandia Santos Evangelista
Profª Naiara da Silva Floriano
Profº Claudio Marcos Odorizzi Junior 
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi-
dades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra-
mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui 
para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida-
de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun-
to em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela 
um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro 
que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você 
terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen-
tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
LEMBRETE
sumário
UNIDADE 1 — NASCIMENTO DA CLÍNICA DO ACOMPANHAMENTO
 TERAPÊUTICO .......................................................................................................... 1
TÓPICO 1 — HISTÓRIA DA SAÚDE, DA LOUCURA 
E DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO ............................................................................... 3 
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3
2 HISTÓRIA E CONCEITO DE SAÚDE ............................................................................................ 3
2.1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA SAÚDE .................................................................. 4
2.1.1 Conceito de Saúde ................................................................................................................ 5
2.1.2 Políticas Públicas de Saúde .................................................................................................. 7
2.2 HISTÓRIA DA LOUCURA ......................................................................................................... 10
2.2.1 Movimento Nacional da Luta Antimanicomial .............................................................. 14
2.2.2 Política de saúde mental ..................................................................................................... 15
3 O SURGIMENTO DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO ........................................... 17
3.1 HISTÓRIA DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO .................................................... 17
3.1.1 O Acompanhamento Terapêutico na atualidade ............................................................ 19
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 20
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 21
TÓPICO 2 — DEFINIÇÕES DE ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO .............................. 23 
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 23
2 UMA VISÃO GERAL-HISTÓRICA DO AT ................................................................................. 23
3 O QUE É O ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO? ............................................................. 25
3.1 OS NOVOS USOS E CONFIGURAÇÕES DESSA PRÁTICA ................................................. 28
4 A LEGISLAÇÃO DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO ............................................. 30
4.1 POR QUE É IMPORTANTE TER EXPERIÊNCIA COMPROVADA 
DE UM ANO EM SERVIÇOS TERRITORIAIS DE SAÚDE? ........................................................ 31
4.2 POR QUE É NECESSÁRIO SER SUPERVISIONADO POR UM PROFISSIONAL 
DE NÍVEL SUPERIOR COM EXPERIÊNCIA EM SAÚDE MENTAL? .......................................31
4.3 POR QUE ESSE PROFISSIONAL DEVE SER DO MUNICÍPIO? .......................................... 32
4.4 QUAL É A IMPORTÂNCIA DE PARTICIPAR DE REUNIÕES? .......................................... 32
4.5 POR QUE UM PLANO TERAPÊUTICO SINGULAR DO USUÁRIO? ................................ 32
4.6 DA CARGA HORÁRIA DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO .............................. 33
5 A ÉTICA DO CUIDADO ................................................................................................................. 34
5.1 O CUIDADO ESTÁ RELACIONADO COM O GÊNERO? .................................................... 35
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 38
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 39
TÓPICO 3 — FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DO TRABALHO DE 
ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO ........................................................................................ 41 
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 41
2 CONTEXTO DA FUNDAMENTAÇÃO DO ACOMPANHAMENTO 
TERAPÊUTICO ..................................................................................................................................... 41
2.1 A AMIZADE COMO UMA ESFERA POLÍTICA 
DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO ................................................................................ 46
3 ACOMPANHAMENTO NÔMADE-TERAPÊUTICO ................................................................ 49
4 O ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO NOS MOVIMENTOS 
DO COTIDIANO .................................................................................................................................. 55
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 59
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 63
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 65
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 67
UNIDADE 2 — A FORMAÇÃO DO ACOMPANHANTE TERAPÊUTICO ............................. 73
TÓPICO 1 — A FORMAÇÃO DO ACOMPANHANTE TERAPÊUTICO 
E A SAÚDE HUMANIZADA ............................................................................................................. 75
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 75
2 ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO EM FORMAÇÃO-PENSAMENTO ..................... 75
3 DIREITOS HUMANOS E ALTERIDADE .................................................................................... 77
3.1 A ALTERIDADE E A RELAÇÃO COM O OUTRO ................................................................. 79
3.2 ASPECTOS IDENTITÁRIOS NA CONTEMPORANEIDADE............................................... 81
4 POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO (PNH) ............................................................. 83
4.1 POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO (PNH), 
DIRETRIZES E PRINCÍPIOS ............................................................................................................. 85
4.2 HUMANIZAÇÃO EM GESTÃO E SERVIÇOS DE SAÚDE ................................................... 90
5 ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO E ATENÇÃO PSICOSSOCIAL ............................ 93
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 97
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 99
TÓPICO 2 — CONSIDERAÇÕES FUNDAMENTAIS PARA A ATUAÇÃO
DO ACOMPANHANTE TERAPÊUTICO ...................................................................................... 101
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 101
2 A DEFINIÇÃO DE CUIDADO ..................................................................................................... 101
3 CUIDADO E ATITUDE .................................................................................................................. 103
4 O SER HUMANO, UM SER INTEGRAL .................................................................................... 105
4.1 O CUIDADO INTEGRAL .......................................................................................................... 106
4.2 ACOLHIMENTO E RESPONSABILIZAÇÃO ........................................................................ 108
4.3 CUIDANDO DE SI E DO OUTRO ........................................................................................... 110
5 O AFETO E O CUIDADO EM SAÚDE ....................................................................................... 111
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 115
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 117
TÓPICO 3 — CARACTERÍSTICAS E MODOS DE REALIZAR A CLÍNICA 
NO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO .............................................................................. 119
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 119 
2 A COMUNICAÇÃO TERAPÊUTICA E SUA INTERFACE 
COM O RELACIONAMENTO TERAPÊUTICO .......................................................................... 120
2.1 APLICAÇÃO PRÁTICA DAS TÉCNICAS DE COMUNICAÇÃO 
NO RELACIONAMENTO TERAPÊUTICO ................................................................................. 123
2.2 VANTAGENS E LIMITAÇÕES DA COMUNICAÇÃO 
E RELACIONAMENTO TERAPÊUTICO ..................................................................................... 127
3 TRANSFERÊNCIA E CONTRATRANSFERÊNCIA ................................................................. 128
4 SINAIS DO RELACIONAMENTO TERAPÊUTICO EFETIVO ............................................ 130
5 AS DINÂMICAS DO AFETO E DO PSIQUISMO HUMANO .............................................. 131
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 135
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 137
TÓPICO 4 — OBJETIVOS E FUNÇÕES DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO ........... 141
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 141
2 CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DOS OBJETIVOS E FUNÇÕES DO 
ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO ...................................................................................... 141
2.1 OBJETIVOS DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO NA ATUALIDADE ............. 144
2.2 FUNÇÕES DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO NA ATUALIDADE ................ 145
2.2.1 O acompanhante terapêutico e a família ........................................................................ 148
3 POSSIBILIDADES PARA O ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO .............................. 151
3.1 O ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO DE BEBÊS E CRIANÇAS ............................ 151
3.2 O ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO NA ADOLESCÊNCIA .................................. 152
3.3 O ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO E O ENVELHECIMENTO ............................ 152
3.4 O ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO E O AMBIENTE ESCOLAR ......................... 154
3.5 O ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO E A DEPENDÊNCIAQUÍMICA ................ 155
LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 157
RESUMO DO TÓPICO 4................................................................................................................... 159
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 160
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 162
UNIDADE 3 — FUNDAMENTOS ÉTICOS DA PRÁTICA 
 DE ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO ......................................................... 169
TÓPICO 1 — MODELOS DE RACIONCÍNIO ÉTICO ............................................................ 171 1 
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 171
2 O RELATIVISMO ÉTICO .............................................................................................................. 172
2.1 AVALIAÇÃO CRÍTICA DO RELATIVISMO ÉTICO ............................................................. 173
2.2 RELEVÂNCIA DO RELATIVISMO ÉTICO PARA AS PROFISSÕES 
DE SAÚDE MENTAL ....................................................................................................................... 174
3 O HEDONISMO ÉTICO ................................................................................................................ 176
3.1 AVALIAÇÃO CRÍTICA DO HEDONISMO ÉTICO .............................................................. 177
3.2 A RELEVÂNCIA DO HEDONISMO ÉTICO PARA AS PROFISSÕES DE SAÚDE 
MENTAL ...................................................................................................................................... 177
4 O UTILITARISMO .......................................................................................................................... 178
4.1 AVALIAÇÃO CRÍTICA DO UTILITARISMO ........................................................................ 181
4.2 RELEVÂNCIA DO UTILITARISMO PARA AS PROFISSÕES DE SAÚDE MENTAL .......... 183
5 A TEORIA ÉTICA FORMALISTA DE KANT ............................................................................ 184
5.1 A AVALIAÇÃO CRÍTICA DA TEORIA ÉTICA FORMALISTA DE KANT ....................... 189
5.2 RELEVÂNCIA DA TEORIA ÉTICA FORMALISTA DE KANT 
PARA AS PROFISSÕES DE SAÚDE MENTAL ........................................................................... 189
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 191
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 193
TÓPICO 2 — MODELOS DE RACIOCÍNIO NA RESOLUÇÃO 
DE CONFLITOS ÉTICOS .............................................................................................................. 195 1 
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 195
2 SITUAÇÕES QUE REQUEREM HABILIDADES DE SOLUÇÃO 
DE PROBLEMAS ÉTICOS ................................................................................................................ 195
3 O RELATIVISMO ÉTICO .............................................................................................................. 197
4 O UTILITARISMO .......................................................................................................................... 197
4.1 AVALIAÇÃO CRÍTICA DO PONTO DE VISTA UTILITARISTA EM RELAÇÃO AO 
CONFLITO ÉTICO ............................................................................................................................. 197
5 A TEORIA ÉTICA FORMALISTA DE KANT ............................................................................ 198
5.1 AVALIAÇÃO CRÍTICA DO PONTO DE VISTA KANTIANO EM RELAÇÃO AO 
CONFLITO ÉTICO...................................................................................................................... 198
6 A ÉTICA SITUACIONAL DE FLETCHER ................................................................................. 200
6.1 A AVALIAÇÃO CRÍTICA DA ÉTICA SITUACIONAL ........................................................ 202
7 O CONTEXTUALISMO ÉTICO DE WALLACE ........................................................................ 204
7.1 AVALIAÇÃO CRÍTICA DO CONTEXTUALISMO ÉTICO .................................................. 210
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 211
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 213
TÓPICO 3 — UM MODELO DO PROCESSO DE TOMADA DE DECISÃO ÉTICA ................ 215
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 215
2 O PROPÓSITO DO MODELO ..................................................................................................... 215
3 O MODELO ...................................................................................................................................... 216
3.1 PASSO 1: AVALIAÇÃO INICIAL DAS CONSIDERAÇÕES ÉTICAS IMPLICADAS ........... 218
3.2 PASSO 2: REUNIR INFORMAÇÕES ....................................................................................... 219
3.3 PASSO 3: AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA DAS CONSIDERAÇÕES 
ÉTICAS IMPLICADAS ..................................................................................................................... 220
3.4 PASSO 4: DELIBERAÇÕES METAÉTICAS RELATIVAS À RELEVÂNCIA DAS 
CONSIDERAÇÕES ÉTICAS ...................................................................................................... 221
3.5 PASSO 5: DELIBERAÇÕES METAÉTICAS RELATIVAS À RESOLUÇÃO 
DO DILEMA ÉTICO ......................................................................................................................... 221
3.6 PASSO 6: AVALIAÇÃO TERCIÁRIA DAS CONSIDERAÇÕES 
ÉTICAS – GERAR OPÇÕES ............................................................................................................ 222
3.7 PASSO 7: ESTIMAR AS CONSEQUÊNCIAS DE CADA OPÇÃO ...................................... 223
3.8 PASSO 8: TOMAR UMA DECISÃO ......................................................................................... 223
3.9 PASSO 9: DOCUMENTAR A JUSTIFICAÇÃO E O PROCESSO 
DE TOMADA DE DECISÕES ......................................................................................................... 223
LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 225
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 233
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 235
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 237
1
UNIDADE 1 — 
NASCIMENTO DA CLÍNICA 
DO ACOMPANHAMENTO 
TERAPÊUTICO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• compreender o contexto histórico e a relação entre saúde, loucura 
e o acompanhamento terapêutico;
•	 analisar	as	várias	definições	de	acompanhamento	terapêutico;
• entender a fundamentação teórica do acompanhamento 
terapêutico;
•	 identificar	a	função	e	o	propósito	do	acompanhamento	terapêutico	
nas práticas de saúde.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, 
você encontrará autoatividades como objetivo de reforçar o conteúdo 
apresentado.
TÓPICO 1 – HISTÓRIA DA SAÚDE, DA LOUCURA E DO 
ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO
TÓPICO 2 – DEFINIÇÕES DE ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO
TÓPICO 3 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DO TRABALHO DE 
ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO
2
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
3
TÓPICO 1 — 
UNIDADE 1
HISTÓRIA DA SAÚDE, DA LOUCURA E DO 
ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, inicialmente, abordaremos neste tópico a contextualização 
histórica e o conceito de saúde, assim como as principais políticas de saúde 
existentes para uma breve compreensão de como este conceito, que é estreitamente 
vinculado ao conceito de doença, foi sendo construído ao longo do tempo. 
Na sequência, abordaremos os pontos principais da história da loucura e 
a sua relação com a criação das políticas públicas de saúde mental e o movimento 
da luta antimanicomial. Poderemos analisar como os aspectos relacionados com a 
loucura e o seu tratamento evoluíram até os dias atuais e a sua importância para o 
reconhecimento da pessoa louca ou doente mental como um ser de direitos. 
É neste contexto da história da loucura, da criação de políticas de saúde 
mental e do movimento da luta antimanicomial que veremos o Acompanhamento 
Terapêutico	 (AT)	 ser	 construído	 e	 consolidado	 como	uma	prática	 profissional.	
Em um primeiro momento, poderemos observar a sua ligação com a lógica 
manicomial. No entanto, também veremos na sua construção histórica, a evolução, 
que quebra com a lógica dos manicômios e o controle destes corpos adoecidos e 
muitas vezes marginalizados, transformando-se em uma prática que reconhece e 
tem como foco o sujeito, e não mais a sua doença exclusivamente.
2 HISTÓRIA E CONCEITO DE SAÚDE
Para iniciar nossos estudos a respeito do nascimento da clínica do 
Acompanhamento terapêutico (AT), é importante resgatar um breve histórico a 
respeito da saúde e do seu conceito, que foi e é construído histórica e culturalmente. 
Você se recorda, neste momento, de algum aspecto acerca deste conceito? 
Como	você	definiria	saúde?	Neste	subtópico,	nos	debruçaremos	sobre	os	estudos	
a respeito deste conceito, que é amplo e necessário para a compreensão do AT. 
UNIDADE 1 — NASCIMENTO DA CLÍNICA DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO
4
2.1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA SAÚDE
Para iniciarmos um resgate histórico a respeito da saúde, é essencial 
tratarmos também sobre como a compreensão do conceito de doença foi construída. 
Estes	conceitos,	saúde	e	doença,	embora	possuam	significados	opostos,	possuem	
forte relação e estão historicamente vinculados. 
A doença, inicialmente, partiu de uma concepção mágico-religiosa, 
caracterizada pela crença de que as doenças se instalam em determinado 
organismo como consequência de pecados ou em virtude de uma maldição. 
Para os hebreus, a doença era interpretada como sinal da fúria divina diante da 
profanação humana (SCLIAR, 2007).
Você provavelmente já ouviu falar de Hipócrates, mas se lembra de quem 
ele	foi?	Hipócrates	ficou	conhecido	como	o	pai	da	medicina,	em	virtude	de	sua	teoria	
racional a respeito da medicina e que quebra com a concepção mágico-religiosa.
Os estudos do conhecido pai da medicina presumem a existência de quatro 
fluídos	 (também	 conhecidos	 como	humores)	do	 corpo	humano:	 bile	 negra,	 bile	
amarela,	fleuma	e	sangue.	Para	Hipócrates,	a	doença	acontece	com	o	desequilíbrio	
destes humores, sendo a saúde o equilíbrio destes componentes, partindo, portanto, 
do ponto de que o ser humano é uma unidade organizada (SCLIAR, 2007).
A compreensão de saúde e doença no Oriente possui uma direção 
diferente, mas, de certa forma, é equivalente à ideia de Hipócrates: o corpo é 
composto por forças vitais e, quando estas forças se encontram equilibradas, há 
saúde. No entanto, quando ocorre uma oscilação nesta força, a pessoa é acometida 
pela doença. Vale lembrar que práticas terapêuticas, como o Ioga e a acupuntura, 
são	comuns	nesta	região	e	são	utilizadas	com	a	finalidade	de	reestabelecer	o	fluxo	
normal de energia (SCLIAR, 2007).
Durante a Idade Média, a visão mais humana construída por Hipócrates 
não se sustentou, acontecendo um retorno para uma concepção mágico-religiosa, 
que compreende os doentes como pessoas possuídas por demônios, recebendo 
muitas vezes tratamentos de tortura para castigá-los. Cabe ressaltar que é neste 
contexto que surgem os primeiros manicômios para lidar com os doentes mentais 
(ATKINSON et al., 2002).
Os	avanços	da	ciência	continuaram	e,	ao	final	do	século	XIX,	foi	descoberta	
através do microscópio a existência de micro-organismos causadores de doença, 
que	 culminou	 no	 desenvolvimento	 de	 soros	 e	 vacinas.	 Este	movimento	 ficou	
conhecido como a Revolução Pausteriana, onde inicia-se a compreensão de que 
as doenças podem ser prevenidas e curadas (SCLIAR, 2007).
TÓPICO 1 — HISTÓRIA DA SAÚDE, DA LOUCURA E DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO
5
Até	 aqui,	 e	 ainda	 no	 início	 do	 século	 XX,	 não	 havia	 um	 consenso	 do	
conceito	de	saúde,	já	que	para	isso	as	nações	deveriam	entrar	em	um	consenso.	A	
Liga	das	Nações	surgiu	ao	final	da	primeira	guerra	mundial,	mas	não	conseguiu	
contemplar um conceito aceito mundialmente. Dessa forma, o conceito de saúde 
aceito	surge	ao	final	da	segunda	guerra	mundial,	junto	com	a	Organização	das	
Nações	Unidas	(ONU)	e	Organização	Mundial	da	Saúde	(OMS)	(SCLIAR,	2007).
2.1.1 Conceito de Saúde 
De	acordo	com	Daneluci	(2010),	a	definição	de	saúde	como	ausência	de	
doenças foi colocada à prova em 1948, quando a Organização Mundial da Saúde 
(2009,	 s.p.)	 a	definiu	 como	“[...]	 estado	 completo	de	bem-estar	 físico,	mental	 e	
social, e não somente ausência de enfermidade ou invalidez”. Todavia, não 
podemos	definir	saúde	apenas	desta	forma,	afinal,	quem	de	nós	considera	estar	
em um estado deste? Nesse sentido, o conceito foi criticado por estudiosos, na 
medida	em	que	é	impossível	definir	a	existência	de	um	estado	completo	de	bem-
estar, pois enquanto organismos, estamos em constante mudança.
Se alguém lhe perguntar como você está de saúde, o que você 
responderia? Muitas vezes, estamos bem, porém qualquer imprevisto pode nos 
deixar	mal.	Outras	vezes,	fisicamente	está	tudo	certo,	mas	as	preocupações	com	
os problemas do cotidiano fazem com que não nos sintamos bem. Algumas 
situações	 fazem	 com	 que	 nos	 sintamos	 doentes;	 por	 vezes,	 identificamos	
uma causa ou percebemos que alguma coisa agrediu nosso corpo. Em outros 
momentos, algo não vai bem, mas não nos sentimos doentes, por isso esperamos 
passar, buscamos relaxar. Quando não percebemos nenhuma alteração na nossa 
rotina	ou	não	associamos	com	preocupações,	 acabamos	nos	 indagando	se	há	
algum	processo	fisiopatológico	desregular.
Se a ideia de doença e de saúde se encontra muito próxima do que cada 
um	considera	“sentir-se	bem”,	vai	variar	de	pessoa	para	pessoa	e	depender	de	
cada cultura, do meio em que se está inserido e da sua relação com o mundo. Em 
algumas localidades mais precárias, onde, por exemplo, o acesso à água potável é 
um	problema,	as	diarreias	infantis	são	consideradas	somente	como	“desarranjos”	
e,	por	sua	frequência	constante,	acabam	sendo	encaradas	como	“normais”.	Essas	
situações	nos	mostram	que	existem	definições	diferentes	a	respeito	de	saúde	e	de	
doença	dadas	pelas	pessoas,	pelos	profissionais	de	saúde	(BRASIL,	2005).
O que as pessoas consideram como doença ou não se encontra em estreita 
relação	 com	as	 estratégias	de	 resolução	do	problema:	 buscar	por	profissionais	
de	saúde,	utilizar	recursos	terapêuticos	naturais	ou	a	automedicação.	“Como	o	
desenvolvimento do conhecimento humano é um processo histórico, também 
em relação à saúde/doença, a teoria e a prática que orientam o saber-fazer dos 
profissionais	variam	no	 tempo	e	no	espaço”	 (BRASIL,	 2005,	p.	 31).	 Sempre	há	
novas teorias que buscam explicar a situação de saúde/doença, tendocomo 
referência	 o	modo	 como	 a	 sociedade	 se	 organiza	 e	 estabelece	 as	 condições	de	
vida das pessoas.
UNIDADE 1 — NASCIMENTO DA CLÍNICA DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO
6
Daneluci (2010) assinala que não somos estáveis, assim, a saúde não 
representa a mesma coisa para todas as pessoas, depende de época, lugar, 
vivências pessoais de cada um, classe social, gênero, faixa etária, assim como 
valores	 individuais	 até	 mesmo	 influenciados	 pela	 religião.	 Esse	 assunto	 está	
ligado aos processos de construção de vida de cada pessoa e saúde e doença não 
são	conceitos	definitivos,	tampouco	opostos,	ambos	se	referem	à	sobrevivência,	
à qualidade de vida. São conceitos que dependem do lugar de onde se está, dos 
tempos,	dos	contextos	e	das	tensões	em	que	cada	um	está	inserido.
No	 Brasil,	 propõe-se	 uma	 analogia	 entre	 o	 corpo	 humano	 e	 uma	
máquina, ou melhor, uma impossibilidade de relação entre ambos, pois não se 
pode	 comparar	 a	 saúde	do	 corpo	 com	a	 eficiência	de	uma	máquina;	 o	 estado	
de bom funcionamento da máquina não é sua saúde e seu descompasso nada 
tem	 a	 ver	 com	 doença	 (BRASIL,	 2005).	 É	 importante	 rejeitar	 essa	 associação	
para ampliar o conceito de saúde, resgatando seu sentido singular e subjetivo, 
pois quando falamos a respeito de saúde, fazemos menção à dor ou ao prazer 
–	 e	 essas	 dimensões	 são	 subjetivas,	 escapam	 a	 medições.	 Assim,	 a	 saúde	 é	
compreendida	como	a	capacidade	de	cada	um	de	enfrentar	situações	novas,	como	
a	possibilidade	de	uma	pessoa	ficar	doente	e	poder	recuperar-se.	Vivemos	com	
saúde, convivendo e equilibrando nosso organismo, mesmo com as anomalias, as 
tensões	e	os	desconfortos.
Assim,	há	um	conjunto	de	condições	desfavoráveis	de	existência	que	deve	
ser considerado como sendo causa de predisposição a doenças futuras; somos 
expostos	a	condições	de	vida	insalubres	e	estressantes,	a	acessos	inadequados	aos	
serviços considerados essenciais. Considerando que a experiência humana inclui 
a doença, não há saúde perfeita. Portanto, a implantação de políticas de saúde 
com objetivos possíveis é fundamental.
O país também refere saúde como segurança contra os riscos, coragem 
para	corrigi-los	e	possibilidade	de	superar	as	capacidades	iniciais	(BRASIL,	2005).	
Os	riscos	fazem	parte	da	saúde	e	o	mais	importante	é	identificarmos	aqueles	que	
podem e devem ser evitados e aqueles que são próprios da experiência da vida 
humana. A saúde das pessoas é um assunto que se refere, primordialmente, a elas 
próprias,	e	o	papel	dos	profissionais	deve	ser	o	de	oferecer	seus	conhecimentos	
técnicos para auxiliar na autonomia das pessoas, no processo de defesa da vida.
TÓPICO 1 — HISTÓRIA DA SAÚDE, DA LOUCURA E DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO
7
2.1.2 Políticas Públicas de Saúde
Em 1978 foi realizada a Primeira Conferência Internacional sobre 
Cuidados Primários de Saúde em Alma-Ata, quando foi percebida a necessidade 
de	ações	urgentes	na	área	da	saúde.	Nesta	Conferência	foi	enfatizado	que	a	saúde	
é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente a 
ausência de doença, sendo um direito fundamental. O nível de saúde mais elevado 
foi estabelecido como a meta social mundial e os cuidados primários de saúde 
são	o	“carro-chefe”	para	que	esta	meta	seja	atingida,	para	que	seja	trabalhada	a	
promoção	de	saúde	e	não	somente	curar	e	reabilitar,	afinal,	estas	ações	indicam	
que já exista enfermidade instalada (BRASIL, 2002).
FIGURA 1 – CONFERÊNCIA DE ALMA-ATA
FONTE: <https://opas.org.br/wp-content/uploads/2015/09/alma-ata-texto.jpg>. Aces-
so em: 7 jul. 2021.
Para	 planejar	 ações	 para	 conquistar	 este	 objetivo	 de	 promover	 saúde	
de forma integrada e funcional, realizou-se, em 1986, a Primeira Conferência 
Internacional	sobre	Promoção	de	Saúde	em	Ottawa.
A responsabilidade pela promoção da saúde nos serviços de saúde 
deve ser compartilhada entre indivíduos, comunidade, grupos, 
profissionais	da	saúde,	 instituições	que	prestam	serviços	de	saúde	e	
governos. Todos devem trabalhar juntos, no sentido de criarem um 
sistema de saúde que contribua para a conquista de um elevado nível 
de saúde (CARTA DE OTAWA, 1986, s.p.).
UNIDADE 1 — NASCIMENTO DA CLÍNICA DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO
8
Diante disso, os países ligados à Organização Mundial de Saúde precisavam 
produzir saúde num âmbito coletivo e, a partir disso, o Brasil começou a discutir 
uma reforma na sua política de saúde. Com o processo de queda da ditadura militar 
e transição democrática do país, se desenvolveu a Constituição Federal, em 1988, 
com	repercussões	que	criaram	uma	política	para	esta	área	(BRASIL,	2002).
A Constituição Federal (BRASIL, 1988) estabelece a saúde como direito 
de todos e dever do Estado, garantindo a redução de risco de doença e acesso 
universal	às	ações	para	sua	promoção,	proteção	e	recuperação.	O	serviço	deve	
ser descentralizado, com atendimento integral com prioridade para a prevenção 
e com participação da comunidade. Essa nova maneira de idealizar a saúde 
apresenta o Sistema Único de Saúde (SUS), o qual foi regulamentado por meio das 
Leis Orgânicas da Saúde (LOS) nº 8.080/90, de 19 de setembro de 1990, e 8.142/90, 
de	 28	de	dezembro	de	 1990.	O	SUS	 é	um	 sistema	que	 reúne	 ações,	 serviços	 e	
unidades de saúde integrados para garantir a saúde de toda a população.
Dentre os princípios do SUS estão a equidade da assistência, a universa-
lidade do acesso, a resolubilidade, dentre outros, dos quais destacamos o princí-
pio de integralidade. Entendemos integralidade como a forma de compreender 
e prestar cuidados ao ser humano, sendo este termo uma forma de pensar e agir, 
assim como uma forma de gestão de cuidados. O objetivo é assegurar atenção in-
tegral à saúde, desde os níveis mais simples aos mais complexos, compreendendo 
o indivíduo e as coletividades em sua totalidade e singularidades (BRASIL, 1990).
De	 acordo	 com	 Brasil	 (2005),	 a	 Lei	 Orgânica	 da	 Saúde	 (Lei	 8.080,	 de	
1990)	 define	 que	 a	 saúde	 tem	 como	 fatores	 determinantes	 e	 condicionantes	 a	
alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a 
renda, a educação, o transporte, o lazer, o acesso aos bens e serviços essenciais, 
dentre outros. Neste sentido, o SUS como política pela melhoria da qualidade de 
vida	e	afirmação	do	direito	à	vida	e	à	saúde,	neste	âmbito	ampliado	de	concepção	
de saúde, deu origem a novas perspectivas de promoção e cuidado à saúde.
Você certamente ouvirá falar nos termos atenção primária, conforme 
descrito anteriormente, bem como atenção básica, termo utilizado no Brasil. Os 
autores Boing e Crepaldi (2010) esclarecem sobre o uso destes. Atenção básica 
tem	um	sentido	amplo	e	compreende	ações	integrais	que	abrangem	a	promoção	
e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a 
reabilitação	 e	 a	manutenção	da	 saúde,	 cujas	 ações	 são	 efetivadas	por	meio	da	
Estratégia de Saúde da Família. Sendo assim, o termo atenção básico é empregado 
particularmente no contexto da saúde pública do Brasil, já o termo atenção 
primário	 é	 internacionalmente	 utilizado	 e	 tem	 um	 significado	 mais	 restrito,	
relacionado	à	saúde	coletiva	em	ações	de	promoção	e	prevenção.
A Atenção Básica caracteriza-se como porta de entrada preferencial do 
SUS,	formando	um	conjunto	de	ações	de	saúde,	no	âmbito	individual	
e coletivo, que abrange a promoção e a proteção da saúde, a prevenção 
de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, a redução 
TÓPICO 1 — HISTÓRIA DA SAÚDE, DA LOUCURA E DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO
9
de danos e a manutenção da saúde com o objetivo de desenvolver 
uma atenção integral que impacte na situação de saúde e autonomia 
das pessoas e nos determinantes e condicionantes de saúde das 
coletividades (BRASIL, 2013, p. 19).
Para o desenvolvimento da atenção integral, a Atenção Básica deve cumprir 
algumas	funções	para	contribuir	com	o	funcionamento	das	Redes	de	Atenção	à	
Saúde,	 sendo	elas:	 ser	base;	 ser	 resolutiva,	 identificandoriscos,	necessidades	e	
demandas de saúde, na perspectiva de ampliação dos graus de autonomia dos 
indivíduos e grupos sociais; coordenar o cuidado, elaborando, acompanhando 
e criando projetos terapêuticos singulares; ordenar as redes, reconhecendo as 
necessidades de saúde da população sob sua responsabilidade, organizando 
as necessidades desta população em relação aos outros pontos de atenção à 
saúde, contribuindo para que a programação dos serviços de saúde parta das 
necessidades de saúde dos usuários. Esta Política Nacional de Atenção Básica tem 
como estratégia prioritária a Saúde da Família, que é o programa executado nas 
unidades	de	saúde	básicas,	as	quais	muitos	até	hoje	denominam	de	“postinho	de	
saúde” (BRASIL, 2013).
A	política	de	saúde	tem	o	desafio	de	construir	a	 intersetorialidade,	que	
é esta articulação dos distintos setores, para pensar a questão complexa que é 
a saúde, em que todos se responsabilizam pela garantia desta como um direito 
humano e de cidadania. É necessário o diálogo das diversas áreas tanto do setor 
de saúde quanto do governo de forma geral, assim como no setor privado, não 
governamental, na sociedade, para que todos sejam participantes na proteção e 
no cuidado com a vida.
Pinheiro	e	Mattos	(2009)	esclarecem	que	a	integralidade	não	é	apenas	uma	
diretriz	do	SUS,	é	uma	“bandeira	de	luta”,	o	objetivo	que	enuncia	características	
do sistema de saúde, práticas que são consideradas desejáveis. Seria um conjunto 
de valores pelos quais vale a pena lutar, pois se relacionam a um ideal de sociedade 
mais justa e solidária. 
Os autores discutem sobre três grandes conjuntos de sentidos no princípio 
de integralidade.
Eles incidem sobre diferentes pontos: o primeiro conjunto se 
refere	 a	 atributos	 das	 práticas	 dos	 profissionais	 de	 saúde,	 sendo	
valores ligados ao que se pode considerar uma boa prática, 
independentemente de ela se dar no âmbito do SUS; o segundo 
conjunto refere-se a atributos da organização dos serviços; o terceiro, 
aplica-se às respostas governamentais aos problemas de saúde 
(PINHEIRO;	MATOS,	2009,	p.	65).
Portanto, podemos tomar a integralidade como princípio orientador 
das práticas, da organização do trabalho, da organização das políticas e uma 
afirmação	da	abertura	para	o	diálogo.
UNIDADE 1 — NASCIMENTO DA CLÍNICA DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO
10
Um paciente não se reduz a uma lesão que no momento lhe 
causa	 sofrimento.	 Não	 se	 reduz	 a	 um	 corpo	 com	 possíveis	 lesões	
ainda silenciosas, escondidas à espera de um olhar astuto que as 
descubra.	Tampouco	se	reduz	a	um	conjunto	de	situações	de	risco.	
O	profissional	que	busque	orientar	 suas	práticas	pelo	princípio	da	
integralidade busca sistematicamente escapar aos reducionismos 
(PINHEIRO;	MATTOS,	2009,	p.	65).
Para os autores, quando se busca orientar a organização dos serviços 
de	 saúde	 pelo	 princípio	 da	 integralidade,	 busca-se	 ampliar	 as	 percepções	
das necessidades dos grupos, as quais não se reduzem às necessidades de 
atendimento oportuno de seus sofrimentos, assim como não se reduzem por uma 
única disciplina, como a epidemiologia ou a clínica. A integralidade é a recusa 
em aceitar um recorte do problema que o reduza a uma ou algumas de suas 
dimensões,	 desconsiderando	 as	 demais;	 as	 respostas	 aos	 problemas	 de	 saúde	
devem	abarcar	suas	mais	diversas	dimensões.
Boing e Crepaldi (2010) explanam em seu artigo que, para se desenvolver 
a almejada atenção integral à saúde, o trabalho interdisciplinar se torna uma 
real necessidade. A inter-relação entre as diferentes áreas de conhecimento, 
entre	os	profissionais	e	entre	estes	com	o	senso	comum	requer	criatividade	e	
flexibilidade,	princípios	que	exploram	as	potencialidades	de	 cada	 ciência	 e	 a	
compreensão de seus limites.
2.2 HISTÓRIA DA LOUCURA
A história da loucura também perpassa pela visão místico-religiosa e pela 
concepção racional de Hipócrates. A pessoa considerada louca era vista como 
um	corpo	possuído	por	demônios,	 e	por	muito	 tempo	ficou	marginalizada	na	
sociedade ou ainda, em casos extremos, foi morta em função de sua loucura e dos 
maus espíritos que a acometiam. 
Foi	no	final	do	século	XVIII	que	as	concepções	mística	e	humoral	foram	
substituídas pela associação entre loucura, razão e moral. Assim, o louco passou 
a ser visto como um selvagem, desprovido de lógica, inteligência e sentimentos 
nobres. Alguém que não poderia responder pelos seus atos e, portanto, precisaria 
retornar ao seu estado de normalidade para conviver em sociedade (HEIDRICH, 
2007;	FERNANDEZ;	CHENIAUX,	2011).
A partir dessa concepção, mudaram, também, as formas de intervenção 
na loucura. A esse respeito, Fernandez e Cheniaux (2011, p. 30) contam que:
[...]	 Diversas	 técnicas	 de	 punição	 física	 foram	 desenvolvidas,	
algumas delas lembrando procedimentos de tortura, com o 
objetivo de reeducar o doente mental. Métodos de restrição, como a 
cadeira tranquilizante, eram empregados para acalmar o enfermo. 
Aqueles que não respondiam adequadamente a essas rigorosas e, 
muitas vezes, cruéis técnicas educacionais, eram acorrentados em 
pequenas celas, como se fossem animais selvagens.
TÓPICO 1 — HISTÓRIA DA SAÚDE, DA LOUCURA E DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO
11
O filme brasileiro Nise – O Coração Da Loucura, dirigido por Roberto Berliner, 
em 2016, retrata a luta da psiquiatra Nise da Silveira para oferecer um tratamento diferenciado 
em psiquiatria. A trama, baseada em fatos, passa-se no Hospital Psiquiátrico Nacional, 
nos anos 1950. Nesse filme, é possível identificar várias formas de violências e punições 
realizadas em nome da terapêutica e da ciência, às quais os pacientes eram submetidos.
DICAS
Esse modo de tratamento da loucura foi parcialmente rompido, quando, 
em	1792,	Philippe	Pinel	(1745-1826),	defensor	dos	ideais	revolucionários	presentes	
na Revolução Francesa, foi nomeado para a direção do hospital Bicêtre, localizado 
em	Paris	(AMARANTE,	2003;	FERNANDEZ;	CHENIAUX,	2011).
Pinel, conhecido como pai da psiquiatria, iniciou mudanças no trato com 
a loucura, implementando o tratamento moral. Esse modo de lidar com a loucura 
correspondeu,	 também,	 com	 a	 tomada	 dos	 hospitais	 pelos	 saberes	 científicos.	
Lembre-se de que, até este momento, quem administrava os hospitais era a 
Igreja, e essa instituição não tinha objetivos médicos. Assim, a medicina ocupou 
os hospitais e teve, à disposição, todos as pessoas internadas como objetos de 
estudo e pesquisa. Puderam observá-las, descrevê-las e compará-las, igual ao 
método	 científico	 utilizado	 nas	 ciências	 naturais.	 Assim,	 “a	 ciência	 assume	 a	
palavra da verdade, da objetividade, da ordem e da moral. Construída pela razão 
humana, seria a única possibilidade de se chegar à verdade das coisas e dos fatos” 
(AMARANTE, 2003, p. 30).
A grande revolução de Pinel foi considerar a loucura um fenômeno passível 
de estudo e tratamento da medicina. Em sua concepção, o louco era um alienado,
[...]	 aquele	que	 se	deixa	dominar	por	paixões	 artificiais,	distantes	
da realidade objetiva. Os impulsos subjetivos determinariam a 
ação do indivíduo e ele se tornaria assediado pela fantasia, pelas 
ilusões,	 pelas	 ideias	 distorcidas;	 ora	 agressivos	 e	 perigosos,	 ora	
indiferentes e irresponsáveis, os alienados seriam invariavelmente 
alheios aos que os cercavam e aos princípios e regras da ordem 
social (AMARANTE, 2003, p. 14).
Segundo Amarante (2003), Pinel entendia a alienação como uma alteração 
das	paixões	e	as	dividia	em	paixões	debilitantes	ou	opressivas	e	paixões	alegres.	
A	seguir,	há	exemplos	de	cada	uma	dessas	paixões.
UNIDADE 1 — NASCIMENTO DA CLÍNICA DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO
12
QUADRO 1 – DESCRIÇÃO DAS PAIXÕES DESCRITAS POR PINEL
FONTE: Adaptado de Amarante (2003)
Com	essa	concepção,	Pinel	ficou	conhecido	por	desacorrentar	os	loucos	e	
desenvolveu o tratamento moral, que se propunha a reeducar a mente alienada 
através do isolamento e do trabalho terapêutico.
O isolamento, além de ser um recurso necessáriopara o estudo da 
alienação e possibilitar o afastamento do alienado dos excessos da vida urbana, 
também possibilitaria a internalização das regras institucionais, isto é, do modelo 
disciplinar, como uma espécie de polícia interior. Já o trabalho terapêutico era 
entendido como uma forma de estimular a vontade e de controlar as energias e 
pensamentos (HEIDRICH, 2007; VENANCIO, 2011).
A ideia do trabalho como tratamento para a alienação mental, 
também proposta pelo alienismo, ancorava-se na crença de que 
era possível a aproximação com a loucura, já que sua natureza 
alienada não deixava de conservar, em algum nível, o ser de 
razão, o que, por consequência, tornava-a passível de cura. 
Produzia-se, assim, a noção de um indivíduo alienado em 
relação a si mesmo, mas que mantinha um núcleo são, razoável, 
e, por isso, era passível de ser alcançável por outrem: o alienista 
(GAUCHET;	SWAIN,	1980,	p.	85	apud VENANCIO, 2011, p. 36).
Alienista é como o profissional responsável pelo tratamento do doente mental 
era chamado na época.
NOTA
A seguir, veremos um quadro de Tony Robert – Fleury (1837-1912), 
intitulado	Pinel,	Médecin	em	Chef	de	La	Salpêtrière,	em	1795.
TÓPICO 1 — HISTÓRIA DA SAÚDE, DA LOUCURA E DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO
13
FIGURA 2 – PINEL, MÉDECIN EM CHEF DE LA SALPÊTRIÈRE
FONTE: <https://bit.ly/2VGOVdA>. Acesso em: 8 jul. 2021.
Esse quadro simboliza o ato de Pinel de desacorrentar os loucos e iniciar 
a tomada da loucura pela psiquiatria, através do isolamento como recurso de 
produção de conhecimento e, também, recurso terapêutico.
Esquirol,	 discípulo	 de	 Pinel,	 afirmava	 que	 a	 loucura	 era	 um	 distúrbio	
cerebral crônico; Jean-Martin Charcot empregou o método anatomoclínico, 
em	 que	 pretendia	 relacionar	 as	 lesões	 cerebrais	 observadas	 posts mortem a 
quadros neurológicos; e Wilhelm Griesinger, psiquiatra alemão, foi responsável 
pela	 formulação	 da	 famosa	 frase	 “doenças	 mentais	 são	 doenças	 cerebrais”	
(FERNANDEZ;	CHENIAUX,	2011,	p.	32).
Aqui,	 você	pode	perceber	 que	 as	 explicações	do	que	 era	 a	 loucura,	 ou	
a doença mental, começam a ter forte base biológica. Essa concepção será a 
origem para o chamado paradigma psiquiátrico, que nada mais é que reduzir a 
complexidade do fenômeno da loucura à biologia humana.
Essa	 concepção	 estimulou	 o	 desenvolvimento	 científico	 de	 novas	
intervenções	 na	 loucura.	 No	 início	 do	 século	 XX,	 quatro	 métodos	 de	 terapia	
biológica se destacavam na psiquiatria: a malarioterapia; o coma insulínico; 
convulsões	 induzidas	 por	 substâncias	 químicas;	 e	 eletroconvulsoterapia	
(FERNANDEZ;	CHENIAUX,	2011).
O surgimento dos psicofármacos reforçou a convicção no olhar 
biológico da loucura. Em 1949, descobriram que o lítio poderia ser utilizado no 
tratamento	da	mania;	entre	1954	e	1957,	surgiram	os	primeiros	ansiolíticos;	em	
1958,	surgiram	o	haloperidol	e	os	primeiros	antidepressivos;	e,	em	1959,	surgiu	
o Diazepam (BURKLE, 2009).
UNIDADE 1 — NASCIMENTO DA CLÍNICA DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO
14
O marco dessa nova concepção de tratamento para a doença mental 
pode	 ser	 considerado	 a	 criação	 da	 clorpromazina,	 em	 1952,	 pois,	 a	
partir daí, desordens psiquiátricas que eram antes tratadas através de 
contenção	mecânica,	intervenções	cirúrgicas	e	práticas	de	expurgo	do	
sintoma (eletrochoque, malarioterapia, sangria etc.), passaram a ser 
'tratadas’	através	de	medicamentos	(BURKLE,	2009,	p.	45).
Percebe-se	que,	da	Idade	Antiga	até	a	metade	do	século	XX,	houve	uma	
mudança na compreensão da etiologia da loucura, e, apesar de surgirem algumas 
novas tecnologias, como medicamentos e lobotomias, há algo que se mantém 
recorrente na oferta de atenção à loucura: o manicômio.
Assim, o isolamento nos manicômios e a concepção biológica acerca da 
loucura persistiram por cerca de 200 anos, e só começaram a ser repensados a 
partir da Segunda Guerra Mundial, quando os manicômios começaram a ser 
comparados a campos de concentração. Foi preciso uma guerra, e todas as 
violações	de	direitos	humanos	básicos	que	ela	realizou,	para	que	começassem	a	
repensar a existência e o modo de funcionamento dos manicômios (AMARANTE, 
2003; ROSA; SCHARF, 2008).
Essa inquietação com relação ao trato com a loucura, vigente no 
período Pós-Segunda Guerra Mundial, possibilitou o surgimento de novas 
experiências nesse campo.
Para aprofundar seus estudos a respeito da história da loucura, sugerimos a leitura 
do artigo: Michel Foucault e a “História da Loucura”: 50 anos Transformando a História da 
Psiquiatria, disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/cbsm/article/view/68499/41275.
DICAS
2.2.1 Movimento Nacional da Luta Antimanicomial
Em 1987, além da realização da I Conferência Nacional de Saúde Mental, 
aconteceu o II Congresso Nacional do MTSM, em Bauru – SP.
Esse	segundo	evento	vai	registrar	a	presença	de	associações	de	usuários	
e	familiares,	como	a	“Loucos	pela	Vida”,	de	São	Paulo,	e	a	Sociedade	
de Serviços Gerais para a Integração Social pelo Trabalho (SOSINTRA), 
do	 Rio	 de	 Janeiro.	 Com	 a	 participação	 de	 novas	 associações,	 passa	
a se construir um movimento mais amplo, na medida em que não 
apenas trabalhadores, mas outros atores se incorporam à luta pela 
transformação das políticas e práticas psiquiátricas (LÜCHMANN; 
RODRIGUES, 2007, p. 403).
TÓPICO 1 — HISTÓRIA DA SAÚDE, DA LOUCURA E DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO
15
A partir desse encontro, o movimento passou a se chamar Movimento 
Nacional da Luta Antimanicomial (MNLM), e, além de uma ampliação dos 
membros,	com	a	participação	de	usuários,	 familiares,	 integrantes	de	associações	
profissionais	e	sindicalistas,	retomou	o	questionamento	das	bases	conceituais	do	
saber psiquiátrico, das práticas de institucionalização; denunciava a violência dos 
manicômios, a transformação da loucura em mercadoria e a hegemonia da rede 
privada	de	assistência	(AMARANTE,	1998).	Assim,	“o	movimento	se	apropria	da	
discussão que extrapola o campo da psiquiatria e passa a entender que transformar 
o	manicômio	significa	transformar	a	sociedade”	(HEIDRICH,	2007,	p.	108).
O dia 18 de maio foi considerado, a partir do congresso de Bauru, o 
Dia	Nacional	da	Luta	Antimanicomial,	 e	 seu	 lema	é:	“Por	uma	sociedade	sem	
manicômios”. Em 1993, foi realizado o I Encontro Nacional da Luta Antimanicomial 
em Salvador (BA), quando foi construída a carta de direitos dos usuários e 
familiares	dos	serviços	de	saúde	mental,	e	se	reafirmaram	as	características	do	
movimento como autônomo, plural e parceiro de outros movimentos sociais, 
além	da	responsabilidade	para	que	a	sociedade	possa	refletir	a	respeito	das	suas	
pautas (LÜCHMANN; RODRIGUES, 2007). Lobosque (2001 apud LÜCHMANN; 
RODRIGUES, 2007, p. 403, grifo do autor) sintetiza a proposta do Movimento 
Nacional	da	Luta	Antimanicomial,	ao	defini-lo	como:
 
Movimento da Luta Antimanicomial – Movimento –, não um partido, 
uma nova instituição ou entidade, mas um modo político peculiar 
de organização da sociedade em prol de uma causa; Nacional – não 
algo que ocorre isoladamente num determinado ponto do país, e sim 
um conjunto de práticas vigentes em pontos mais diversos do nosso 
território; Luta – não uma solicitação, mas um enfrentamento, não 
um	consenso,	mas	algo	que	põe,	 em	questão,	poderes	 e	privilégios;	
antimanicomial – uma posição clara então escolhida com a palavra de 
ordem indispensável a um combate político, e que, desde então, nos 
reúne por uma sociedade sem manicômios.
Assim,	o	MNLM	se	configurou	como	um	avanço	na	construção	de	um	novo	
lugar	social	para	o	sofrimento	psíquico,	refletindo	e	apoiando	as	transformações	
nas políticas de saúde mental e na rede assistencial.
2.2.2 Política de saúde mental
De acordo com a Secretaria de Atenção à Saúde (BRASIL, 2013), a atual 
política de saúde mental brasileira é resultado de uma mobilização que se iniciou 
na década de 1980, com o objetivo de mudar a realidade dos antigos manicômios, 
que eram os locais onde viviam mais de 100 mil pessoasdiagnosticadas 
com transtornos mentais. A importância dada aos direitos humanos após a 
ditadura	militar	e	experiências	eficazes	de	países	europeus	impulsionaram	estas	
mobilizações	 na	 busca	 de	 um	modelo	 de	 saúde	 mental	 baseado	 em	 serviços	
comunitários no território, não mais em hospitais. Esse processo deu origem ao 
Movimento da Luta Antimanicomial e ao projeto coletivo da Reforma Psiquiátrica.
UNIDADE 1 — NASCIMENTO DA CLÍNICA DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO
16
Ainda na década de 1980 iniciou-se a desinstitucionalização de moradores 
de manicômios, criando-se serviços de atenção psicossocial. A atenção a estas 
pessoas com transtornos mentais passou a ter como objetivo o pleno exercício 
de sua cidadania, e não somente o controle de seus sintomas, como era 
anteriormente, o que implicou a necessidade de se organizarem serviços abertos, 
com a participação ativa dos usuários e formando redes com outras políticas 
públicas,	como	educação,	habitação,	trabalho,	cultura.	Portanto,	este	desafio	da	
saúde mental vai para além do SUS, pois, para se realizar, é primordial a abertura 
da	sociedade	para	a	sua	própria	diversidade,	afinal	estes	sujeitos	não	eram	aceitos	
pela sociedade (BRASIL, 2013).
Em 2001, após mais de dez anos de tramitação no Congresso Nacional, 
é	 sancionada	 a	 Lei	 nº	 10.216	 que	 afirma	 os	 direitos	 das	 pessoas	
portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial 
em saúde mental. Os princípios do movimento iniciado na década de 
1980 tornam-se uma política de estado (BRASIL, 2013, p. 21).
Entre os equipamentos substitutivos ao modelo manicomial, 
podemos citar os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), os Serviços 
Residenciais Terapêuticos (SRT), os Centros de Convivência (CECOS), 
as	 Enfermarias	 de	 Saúde	 Mental	 em	 hospitais	 gerais,	 as	 oficinas	
de geração de renda e, certamente, as Unidades Básicas de Saúde 
cumprem também uma importante função na composição dessa rede 
comunitária de assistência em saúde mental. 
Nascidas com a redemocratização, a reforma sanitária e a reforma 
psiquiátrica são parte de um Brasil que escolheu garantir a todos os 
seus cidadãos o direito à saúde. Não é por acaso que, tanto no campo 
da Atenção Básica quanto da Saúde Mental, saúde e cidadania são 
indissociáveis (BRASIL, 2013, p. 22).
Assim, entendemos que as práticas em saúde mental podem e devem 
ser	realizadas	por	todos	os	profissionais	de	saúde;	o	cuidado	em	saúde	mental	
deve ocorrer na realidade do dia a dia, com as singularidades dos pacientes e de 
suas	comunidades.	Algumas	ações	de	saúde	mental	são	realizadas	sem	que	os	
profissionais	as	percebam	em	sua	prática,	por	isso	é	necessário	refletir	acerca	do	
que já se realiza e o que o território tem a oferecer como recurso para contribuir.
FIGURA 3 – SAÚDE MENTAL
FONTE: <https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQsAOI99-Ep7t3HsMKFot-
-LHBC_BZ1_MlOHqDlPKb4Mdyaf0DsF>. Acesso em: 07 jul. 2021.
TÓPICO 1 — HISTÓRIA DA SAÚDE, DA LOUCURA E DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO
17
3 O SURGIMENTO DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO
É no contexto de luta contra a lógica manicomial que o acompanhamento 
terapêutico (anteriormente chamado como assistente ou auxiliar psiquiátrico, 
ou	 ainda	 amigo	 qualificado)	 vai	 sendo	 construído.	 Essa	 construção	 acontece	
buscando uma ruptura com a lógica utilizada nos manicômios, mas possui um 
início completamente vinculado a ela, procurando manter o controle sobre os 
corpos dos ditos loucos. 
Até aqui abordamos os pontos históricos que deram sustentação para que o 
acompanhamento terapêutico surgisse. A partir de agora, trataremos diretamente 
sobre como esses pontos foram determinantes desde o seu surgimento até a 
estrutura e formato que possui nos dias de hoje. 
3.1 HISTÓRIA DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO 
A emergência do Acompanhamento Terapêutico (AT) se articula com 
diversos momentos históricos, como a urgência sanitária no Pós-Segunda Guerra 
Mundial, que exigiu um cuidado intensivo com a saúde assim como novos 
métodos; o surgimento do hospital-dia, dos psicofármacos, da comunidade 
terapêutica	e	da	reforma	psiquiátrica	(SILVA,	2005).	
Estes	movimentos	aconteceram	a	partir	da	década	de	1950	na	Europa	e	
nos Estados Unidos, e essa concepção de atendimento chegou à América 
Latina	no	final	da	década	de	 1960,	 inicialmente	na	Argentina,	 onde	
muitos psicanalistas estiveram vinculados a hospitais psiquiátricos. 
Em	 volta	 deste	movimento	 político,	 foram	 criadas	 funções	 para	 os	
agentes de saúde mental, que passaram a ser nomeados auxiliares 
psiquiátricos e, em outros lugares, atendentes terapêuticos (PELÚCIO; 
SILVA; SOUZA, 2019, p. 268-269).
O surgimento do Acompanhamento Terapêutico, desde o seu início, possui 
ligação com a área da saúde, possuindo relação com disciplinas como medicina, 
terapia ocupacional, enfermagem e psicologia. Além disso, seu percurso está 
diretamente vinculado com as práticas de cuidado com a pessoa considerada 
doente	mental	e	com	o	questionamento	da	lógica	manicomial	(SILVA,	2005).	
A	 partir	 da	 história	 da	 loucura,	 podemos	 recordar	 que	 as	 instituições	
hospitalares retiravam as pessoas do convívio em sociedade, sem uma prática 
terapêutica ou tratamento adequado a estas pessoas. 
É	 somente	 no	 século	 XVIII,	 durante	 a	 Revolução	 Francesa,	 que	 o	
internamento se torna tratamento com objetivo principal de correção disciplinar, 
passando	 a	 ser	 responsabilidade	 então	dos	médicos.	No	 século	XIX	 a	 loucura	
recebe o título de doença mental. Neste momento da história, o alienista possui 
dupla função: tratar e corrigir o louco e proteger toda a população deste insano. 
Importante ressaltar que este tratamento oferecido ao doente mental começou a 
ser	questionado	somente	na	metade	do	século	XX	(SILVA,	2005).	
UNIDADE 1 — NASCIMENTO DA CLÍNICA DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO
18
Com a criação do hospital-dia na década de 1940 temos o primeiro espaço 
terapêutico, onde eram atendidas pessoas com alguns tipos de patologias que 
não eram consideradas perigosas, já que ainda não existiam os medicamentos 
para	conter	os	loucos.	Nestes	espaços	eram	realizadas	intervenções	de	áreas	como	
psicologia,	serviço	social,	terapia	ocupacional,	entre	outras	(SILVA,	2005).
O AT emerge desse campo onde ocorre uma grande mudança de 
perspectiva no cuidado aos doentes, se comparada com as práticas 
usadas nos clássicos manicômios. Esse processo de mudança aponta 
principalmente	para	o	final	da	década	de	1940,	início	de	50,	quando	se	
deu a invenção de substâncias que prometiam alterar o funcionamento 
neuropsicológico do sujeito tido como louco. Em 1949 aconteceu a 
avaliação	da	primeira	“droga	mental”,	quando	o	terapeuta	australiano	
John F. Cade comprovou que o carbonato de lítio estabilizava, ou melhor, 
controlava	o	humor	do	“doente	bipolar”,	também	rotulado	de	“psicótico	
maníaco-depressivo”.	 Essa	 nova	 intervenção	 ficou	 potencializada	
em	 1952	 quando,	 na	 França,	 os	 pesquisadores	 Jean	 Delay	 e	 Pierre	
Deniker (LEMGRUBER, 2004) utilizaram e testaram o neuroléptico 
clorpromazina durante três dias em oito pacientes psicóticos, os quais 
tiveram	uma	redução	das	suas	alucinações	auditivas.	Assim,	essa	droga	
(tida	como	o	“primeiro	psicotrópico	eficaz”)	vira	mais	uma	“arma”	no	
tratamento	químico	dos	transtornos	psicológicos	(SILVA,	2005,	p.	20-21).
Neste contexto de controle dos transtornos psicológicos através do 
tratamento medicamentoso, há um avanço no tratamento dos doentes mentais e 
na função de acompanhante terapêutico. Na medida que o doente mental pode 
ser controlado, as camisas de força são substituídas pelos psicofármacos e a 
pessoa tida como doente mental pode reinserir-se na sociedade, desde que sob o 
controle	do	medicamento	e	com	acompanhante.	“Portanto	não	é	à	toa	que	uma	
das	primeiras	funções	dos	acompanhantes	terapêuticos	foi	o	controle	da	ingestão	
dos remédios prescritos e a vigilância do comportamento fora da instituição 
manicomial”	(SILVA,	2005,	p.	22).
Dessaforma, podemos observar que apesar do avanço obtido no 
tratamento com o acompanhamento terapêutico, a função de acompanhante 
leva neste primeiro momento para fora do manicômio a mesma lógica de seu 
funcionamento: o controle. 
Deve	 ficar	 claro	 que	 os	 programas	 de	 controle	 (manicomial)	 e	 de	
“tratamento”	do	“doente	mental”	entram	em	processo	de	 falência	no	
século	XX,	pois	não	conseguem	dar	conta	do	que	prometiam	dar,	ou	
não forneciam o que vendiam: o paciente continuava (ou piorava) sendo 
visto como o louco doente (irracional e perigoso), apesar (ou pelo efeito) 
dos	remédios	(psicofármacos)	e	das	“práticas	de	saúde”	dentro	e	fora	da	
estrutura	hospitalar	(relações	de	poder)	(SILVA,	2005,	p.	27).
Com as propostas da reforma psiquiátrica que emergiram inicialmente na 
Europa, as práticas terapêuticas realizadas nos hospitais e fora das comunidades 
terapêuticas ganham novos incentivos. No dia 13 de maio de 1978 é aprovada 
TÓPICO 1 — HISTÓRIA DA SAÚDE, DA LOUCURA E DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO
19
na Itália a Lei nº 180, também conhecida como a Lei Basaglia, que desautoriza a 
internação em manicômios. Com isso, inicia-se o processo de desinstitucionalização 
da loucura, com a desocupação dos leitos psiquiátricos e a construção de novos 
espaços	para	o	atendimento	dos	doentes	mentais	(SILVA,	2005).	
Podemos perceber, que a história do acompanhamento terapêutico surge 
em um contexto de insatisfação com a estrutura manicomial, tendo ligação 
direta com a reforma psiquiátrica e a luta antimanicomial. A proposta do 
acompanhamento terapêutico é justamente de que estas pessoas possam sair do 
isolamento do manicômio e circular em sociedade, considerando o contato com o 
outro e com o contexto social importantes para o seu desenvolvimento. 
3.1.1 O Acompanhamento Terapêutico na atualidade
Atualmente,	 o	 campo	 profissional	 do	Acompanhamento	 Terapêutico	 é	
considerado	 um	 campo	multiprofissional	 que	 permanece	 ligado	 ao	 campo	 da	
saúde. No entanto, sua prática acontece com pessoas que estão vivenciando uma 
situação que causa sofrimento intenso (não necessariamente consideradas loucas, 
como aconteceu em seu percurso histórico), como na depressão, transtornos 
alimentares, pessoas enlutadas, psicose, autismo, entre outros fatores que 
ocasionam o sofrimento ao ser humano (PELÚCIO; SILVA; SOUZA, 2019).
Trata-se de uma clínica que atua junto à experiência cotidiana do 
paciente,	sustentada	nas	redes	de	relações	psicossociais.	É	um	recurso	
utilizado para o cuidado de pessoas cujas possibilidades de circulação 
social encontram-se comprometidas, e a subjetividade ameaçada pela 
impossibilidade de estabelecer vínculos afetivos e sustentar uma vida 
produtiva	no	ambiente	 familiar,	 social	 e	profissional.	Nesse	contexto,	
o AT destaca-se como uma forma de fazer clínica nos espaços sociais. 
Utiliza a rua, o quarto, o parque, o cinema, o trabalho; cenários da vida 
do paciente a serem apropriados, que venham promover inserção social 
e a expressão de sua subjetividade (BRANDALISE; ROSA, 2009, p. 4).
Com todos os avanços que aconteceram historicamente na construção 
do Acompanhamento Terapêutico, também podemos observar que o espaço de 
atuação	profissional	do	AT	passou	por	muitas	mudanças,	podendo	estar	hoje	em	
diversos espaços, como no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), nas escolas, 
nos hospitais, e em todos os espaços sociais que o sujeito acompanhado possa/
queira estar (PELÚCIO; SILVA; SOUZA, 2019).
20
Neste tópico, você aprendeu que:
• O conceito de saúde passa por uma construção histórica e cultural, além de 
estar	diretamente	ligado	à	construção	do	que	significa	a	doença.	Ao	falar	em	
saúde precisamos sempre olhar para o contexto social, época e cultura para 
compreender	os	limites	do	que	significa	saúde	para	aquela	determinada	região	
ou comunidade. 
•	 A	 história	 da	 loucura	 possui	 concepções	 diversas,	 desde	 um	 olhar	místico-
religioso até um olhar racional. Inicialmente, os loucos foram marginalizados 
e excluídos das suas comunidades, muitos foram torturados e mortos, em 
virtude da crença de que eram possuídos por demônios. 
• A reforma psiquiátrica, o movimento da luta antimanicomial, assim como a 
criação de políticas públicas de saúde e de políticas de saúde mental foram 
muito importantes para alterar o paradigma inicial da história da loucura e da 
lógica manicomial, reconhecendo os sujeitos com transtornos psicológicos ou 
em sofrimento psíquico como pessoas de direitos. 
• É no contexto de luta contra a lógica manicomial que o Acompanhamento 
Terapêutico surge, como uma nova aposta de tratamento do sujeito considerado 
louco, reinserindo-o nos diversos espaços sociais. A sua construção, aos 
poucos, vai dando lugar a um tratamento humanizado, com foco no sujeito 
que é acompanhado, e não mais de forma exclusiva na sua doença.
RESUMO DO TÓPICO 1
21
1	 A	 Organização	 Mundial	 da	 Saúde	 (2009,	 s.	 p.)	 define	 saúde	 como	 um	
“[...]	estado	completo	de	bem-estar	 físico,	mental	e	social,	e	não	somente	
ausência de enfermidade ou invalidez”. Sobre o conceito de saúde, assinale 
a alternativa CORRETA:
a) ( ) Hipócrates é considerado o pai da Medicina, acreditando em uma 
concepção místico-religiosa.
b) ( ) O Conceito de saúde estabelecido pela OMS é válido para todas 
as pessoas e possível de ser atingido. Os estudiosos concordam 
completamente com ele. 
c) ( ) O conceito de saúde é imutável. 
d)	(			)	 O	conceito	de	saúde	não	é	definitivo,	ele	depende	do	lugar	de	onde	
se	está,	dos	 tempos,	dos	contextos	e	das	 tensões	em	que	cada	um	
está inserido.
2 O conceito de saúde passa por uma construção histórica e cultural, além de 
estar	diretamente	ligado	à	construção	do	que	significa	a	doença.	Ao	falar	em	
saúde precisamos sempre olhar para o contexto social, época e cultura para 
compreender	os	 limites	do	que	 significa	 saúde	para	aquela	determinada	
região ou comunidade. Com base na história e conceito de saúde, analise as 
sentenças a seguir:
I-	 O	 conceito	de	 saúde	aceito	 surge	ao	final	da	 segunda	guerra	mundial,	
junto	 com	 a	 Organização	 das	 Nações	 Unidas	 (ONU)	 e	 Organização	
Mundial da Saúde (OMS)
II-	 A	concepção	mágico-religiosa	sobre	a	saúde	aborda	os	fluídos	corporais	
(bile	negra,	bile	amarela,	fleuma	e	sangue).
III- Durante a Idade Média, a visão mais humana construída por 
Hipócrates não se sustentou, acontecendo um retorno para uma 
concepção mágico-religiosa, que compreende os doentes como pessoas 
possuídas por demônios, recebendo muitas vezes tratamentos de 
tortura para castigá-los. Cabe ressaltar que é neste contexto que 
surgem os primeiros manicômios para lidar com os doentes mentais. 
 
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.
AUTOATIVIDADE
22
3 As políticas públicas de saúde e as políticas de saúde mental foram muito 
importantes para que os sujeitos com transtornos psicológicos fossem 
reconhecidos como pessoas de direitos. De acordo com as políticas 
estudadas	neste	tópico,	classifique	V	para	as	sentenças	verdadeiras	e	F	para	
as falsas:
( ) Em 1978 foi realizada a Primeira Conferência Internacional sobre Cuidados 
Primários de Saúde em Alma-Ata, quando foi percebida a necessidade de 
ações	urgentes	na	área	da	saúde.	
(			)	A	Lei	Orgânica	da	Saúde	(Lei	nº	8.080,	de	1990)	define	que	a	saúde	não	é	
determinada por fatores como a alimentação, a moradia, o saneamento 
básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer.
( ) Em 2001, após mais de dez anos de tramitação no Congresso Nacional, é 
sancionada	a	Lei	nº	10.216,	que	afirma	os	direitos	das	pessoas	portadoras	de	
transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F– F – V.
4 A emergência do AT se articula com diversos momentos históricos, como a 
urgência sanitária no Pós-Segunda Guerra Mundial, que exigiu um cuidado 
intensivo com a saúde assim como novos métodos; o surgimento do 
hospital-dia, dos psicofármacos, da comunidade terapêutica e da reforma 
psiquiátrica	(SILVA,	2005).	De	acordo	com	os	estudos	realizados	acerca	da	
história do acompanhamento terapêutico, disserte sobre seus principais 
fatores históricos.
5	 Durante	 a	 sua	 trajetória	 e	 evolução	 na	 história,	 o	 Acompanhamento	
Terapêutico foi dando lugar a um olhar humanizado, com foco no sujeito 
e no contexto social em que ele vive, e não mais somente na sua doença. 
Disserte sobre a prática do AT realizada atualmente.
23
TÓPICO 2 — 
UNIDADE 1
DEFINIÇÕES DE ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO
1 INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico, seja bem-vindo ao segundo tópico desta unidade! O 
acompanhamento Terapêutico (AT) tem como foco principal a atenção e cuidado 
para pacientes acometidos por sofrimento psíquicos ou transtornos mentais 
que,	 por	 diversas	 razões,	 necessitam	 de	 um	 acompanhamento	 especializado	
direcionado para a sua demanda, que fogem dos serviços tradicionalmente 
disponibilizados por clínicas, consultórios e hospitais psiquiátricos. Portanto, 
podemos	 definir	 que	 o	 acompanhamento	 terapêutico	 acontece	 fora	 destes	
ambientes atuando como uma extensão do cuidado tradicional, podendo ocorrer 
nas ruas, nas residências, shoppings e praças visando a ressocialização do sujeito. 
Rolnik	(1997)	define	o	AT	como	uma	prática	nômade	ou	itinerante.
Os	 profissionais	 de	AT	 vão	 até	 onde	 o	 sujeito	 pode	 estar	 e	 tem	 como	
característica um tratamento que acontece em constante movimento. Além de se 
fazer presente em vários ambientes não tradicionais, ele é um tratamento que se 
faz	sem	se	fixar.	Esse	movimento	junto	ao	sujeito	é	parte	essencial	do	trabalho	ao	
qual vem a somar com o movimento de escuta clínico que, em diferentes nuances, 
estão presentes em todos os formatos da psicoterapia. 
Neste segundo tópico, nos aprofundaremos nas diversas formas de 
definições	do	Acompanhamento	Terapêutico.
2 UMA VISÃO GERAL-HISTÓRICA DO AT
Caro acadêmico, sempre que iniciamos o nosso aprendizado sobre um 
tema novo, precisamos nos ater a alguns conceitos-chaves básicos para que a 
experiência de aprendizagem seja satisfatória, não somente para te apresentar mais 
conteúdos,	mas	também	para	que	tenhas	recursos	suficientes	para	compreender	
a	construção	total	das	coisas,	todas	as	situações	e	intercorrências	que	formaram	o	
que conhecemos hoje. Considerando isso, vamos iniciar este tópico fazendo um 
breve histórico sobre o surgimento do AT.
O AT surgiu na América Latina, na esfera de uma clínica psiquiátrica em 
um hospital localizado em Buenos Aires, capital da Argentina. 
24
UNIDADE 1 — NASCIMENTO DA CLÍNICA DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO
Schneeroff	 e	 Edelstein	 (2005)	 descrevem	 que	 o	 médico	 Dr.	 Jorge	
Garcia Badaraco atuava como chefe do Hospital J. Borda e já trabalhava com 
acompanhamento terapêutico desde o ano de 1960. Nesse mesmo período, o Dr. 
Eduardo Kalina, considerado o fundador do Acompanhamento Terapêutico, estava 
trabalhando em um caso de um paciente adolescente com dependência química. 
Ele	percebeu	durante	o	tratamento	que	somente	o	consultório	não	era	suficiente	
para que alcançasse um resultado de cura para o indivíduo, e então, o inseriu em 
um grupo terapêutico. Com o tempo, ele percebeu que isso também não havia sido 
suficiente	e	se	deu	conta	de	que	pacientes	como	ele	necessitavam	de	pessoas	que	
atuassem como intermédio entre seus vínculos simbióticos (dependência absoluta) 
com outros dependentes, com o seu retorno à rua e com a droga. A partir disso, 
surgiu	em	1970	“o	amigo	qualificado”	que	deveria	ter	como	características	serem	
leais, serem antidrogas e de um grande potencial criativo para conseguir alcançar 
um	modelo	de	identificação	positiva	(MAUER;	RESNIZKY,	2005).
FIGURA 4 – DR. EDUARDO KALINA, FUNDADOR DO AT
FONTE: <http://prensasantiago.com.ar/wp-content/uploads/2018/12/Dr-Eduardo-Kalina.jpg>. 
Acesso em: 20 jul. 2021
O acompanhamento terapêutico faz parte do tratamento em saúde 
mental e sua efetividade é evidente. Essa prática foi reconhecida e ganhou 
notoriedade em vários países da América Latina, em especial Argentina, Brasil, 
Uruguai, Peru e Chile. 
O AT chegou ao Brasil em meados de 1970 graças a um intercâmbio 
científico	cultural	entre	Argentina	e	Brasil,	e	principalmente,	pela	vinda	de	muitos	
psicanalistas decorrente da atual situação política, também devido à formação 
das primeiras comunidades terapêuticas localizadas em São Paulo (SP), Rio de 
Janeiro (RJ) e Porto Alegre (RS). 
TÓPICO 2 — DEFINIÇÕES DE ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO
25
Prezado acadêmico, para que possas conhecer o trabalho do Dr. Eduardo 
Kalina, fundador do Acompanhamento Terapêutico, deixamos como sugestão um vídeo 
de uma participação do médico no 1º Congresso Internacional de Crack e outras Drogas, 
um debate que se impõe. O vídeo está disponível no link:
 https://www.youtube.com/watch?v=2Jo_cNQDNFw.
DICAS
3 O QUE É O ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO?
O	 AT	 atua	 na	 integração	 da	 rede	 de	 profissionais	 que	 realizam	
atendimentos a pacientes que necessitam de auxílio para tratamento de desordens 
físicas e/ou mentais, ou até mesmo para melhorar a sua qualidade de vida. Para 
Varella et al.	 (2006),	a	profissão	de	Acompanhante	Terapêutico	é	descrita	como	
uma intervenção relativamente nova e ainda com pouca visibilidade quanto aos 
diversos benefícios da sua função. O trabalho é realizado por, preferencialmente, 
profissionais	da	saúde	habilitados	com	formação	em	profissões	como	psicologia,	
enfermagem,	terapia	ocupacional,	educação	física,	fisioterapia,	entre	outras,	pois	
a sua atuação está diretamente ligada à reabilitação e prevenção de doenças, 
atuando também na promoção da saúde. 
Egger	 (1985),	 em	 suas	 contribuições	 acerca	das	 funções	 que	devem	 ser	
exercidas pelo acompanhante terapêutico, destaca as seguintes:
Estar próximo do paciente. Diminuir o sentimento de solidão. 
Auxiliar o paciente a planejar, organizar o pensamento. 
Ajudar a estruturar hábitos. Reorganizar condutas de forma mais 
adaptativa. 
Auxílio	em	decisões.	Assumir	responsabilidades	pelo	paciente.	
Estimular capacidades latentes. – Ajudar o working through. 
Agir como superego. Examinar com o paciente os seus limites. 
Operar a alta progressiva na hospitalização. 
Atuar como ponto de contato entre o paciente e a família. 
Manter o vínculo terapêutico quando o paciente troca de terapeuta. 
Executar com o paciente um programa de atividades físicas e 
recreativas.	(EGGER,	1985,	p.	8).
Em	 consonância	 ao	 estudo	 de	 Egger,	 vale	 ressaltar	 que	 o	 profissional	
acompanhante	terapêutico	precisa	ter	como	finalidade	quatro	propósitos:	treinar	
habilidades sociais do paciente, educá-lo, executar em forma de experimentação 
estratégias	de	resoluções	de	problemas	em	tarefas	diárias	e	ampliar	o	repertório	
de	pensamentos	e	condutas	do	paciente.	Diante	do	exposto,	fica	mais	perceptível	
compreendermos as diferenças do trabalho realizado no AT do trabalho realizado 
em espaços tradicionais de saúde, como atenção médico/psiquiátrica, por exemplo. 
https://www.youtube.com/watch?v=2Jo_cNQDNFw
26
UNIDADE 1 — NASCIMENTO DA CLÍNICA DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO
Porto e Sereno (1991) também contribuem descrevendo o acompanhamento 
terapêutico como sendo:
prática	de	saídas	pela	cidade,	com	a	intenção	de	montar	um	“guia”	
que possa articular o paciente na circulação social, através de 
ações,	sustentado	por	uma	relação	de	vizinhança	do	acompanhante	
com o louco e a loucura dentro de um contexto histórico (PORTO; 
SERENO, 1991, p. 30-31).
Egger	(1985),	em	seu	estudo,	também	contribui	descrevendo	que	acompa-
nhante não existe por si só, ele se caracteriza pela equipe, dizendo que o trabalho 
do AT funciona como uma extensão do Setting terapêutico do psicoterapeuta:

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