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Indaial – 2021 Fundamentos do acompanhamento terapêutico Profª Karoline Gregol Pereira Profª Nislandia Santos Evangelista Profª Naiara da Silva Floriano Profº Claudio Marcos Odorizzi Junior 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2020 Elaboração: Profª Karoline Gregol Pereira Profª Nislandia Santos Evangelista Profª Naiara da Silva Floriano Profº Claudio Marcos Odorizzi Junior Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: apresentação Este Livro Didático objetiva sistematizar os elementos básicos da disciplina de Fundamentos do Acompanhamento Terapêutico, o qual proporcionará um contato com os principais tópicos, autores, obras, normas e regulamentações da área, além dos instrumentos necessários, não apenas para acompanhar a disciplina ofertada, mas também para os estudos autônomos posteriores. Na Unidade 1, veremos, primeiramente, uma contextualização histórica da saúde, da loucura e do acompanhamento terapêutico. Isso permitirá compreender todo o conceito de doença que foi construído ao longo do tempo. Após isso, nos aprofundaremos nos principais momentos da história da loucura e seu envolvimento com o movimento da luta antimanicomial e a criação das políticas públicas de saúde mental. Finalizaremos a unidade vendo como todo esse trajeto histórico das lutas de saúde mental chegou até o surgimento do Acompanhamento Terapêutico como prática profissional regulamentada e qual a importância dessa profissão no meio da saúde mental. Na Unidade 2, nos aprofundaremos nas principais características que constituem o trabalho do Acompanhante Terapêutico (AT). Faremos um mergulho histórico de toda a trajetória do Acompanhamento Terapêutico, suas raízes e como chegou até o Brasil. Analisaremos as considerações primordiais para a atuação do acompanhante terapêutico, para entender as diversas formas de realizar a clínica e entender quais são os principais objetivos e funções dessa profissão. Por fim, na Unidade 3, faremos um aprofundamento nas teorias sobre a ética, com foco na ética do profissional da área de serviços de saúde, contemplando, portanto, o profissional acompanhante terapêutico. Inicialmente, veremos sobre quais são os fundamentos éticos na prática de saúde mental, analisaremos os modelos de raciocínio ético. O intuito central aqui é conduzir você a uma compreensão dos modelos de raciocínio em meio a resolução de conflitos éticos. Por fim, a unidade te convida a identificar um modelo do processo de tomada de decisão ética. Desejamos uma boa jornada a todos, rumo à edificação da educação, formação profissional e sucesso frente aos desafios intelectuais, éticos e pessoais proporcionados pelo estudo dos Fundamentos do Acompanhamento Terapêutico. Profª Karoline Gregol Pereira Profª Nislandia Santos Evangelista Profª Naiara da Silva Floriano Profº Claudio Marcos Odorizzi Junior Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi- dades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra- mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida- de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun- to em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen- tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE sumário UNIDADE 1 — NASCIMENTO DA CLÍNICA DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO .......................................................................................................... 1 TÓPICO 1 — HISTÓRIA DA SAÚDE, DA LOUCURA E DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO ............................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 HISTÓRIA E CONCEITO DE SAÚDE ............................................................................................ 3 2.1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA SAÚDE .................................................................. 4 2.1.1 Conceito de Saúde ................................................................................................................ 5 2.1.2 Políticas Públicas de Saúde .................................................................................................. 7 2.2 HISTÓRIA DA LOUCURA ......................................................................................................... 10 2.2.1 Movimento Nacional da Luta Antimanicomial .............................................................. 14 2.2.2 Política de saúde mental ..................................................................................................... 15 3 O SURGIMENTO DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO ........................................... 17 3.1 HISTÓRIA DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO .................................................... 17 3.1.1 O Acompanhamento Terapêutico na atualidade ............................................................ 19 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 20 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 21 TÓPICO 2 — DEFINIÇÕES DE ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO .............................. 23 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 23 2 UMA VISÃO GERAL-HISTÓRICA DO AT ................................................................................. 23 3 O QUE É O ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO? ............................................................. 25 3.1 OS NOVOS USOS E CONFIGURAÇÕES DESSA PRÁTICA ................................................. 28 4 A LEGISLAÇÃO DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO ............................................. 30 4.1 POR QUE É IMPORTANTE TER EXPERIÊNCIA COMPROVADA DE UM ANO EM SERVIÇOS TERRITORIAIS DE SAÚDE? ........................................................ 31 4.2 POR QUE É NECESSÁRIO SER SUPERVISIONADO POR UM PROFISSIONAL DE NÍVEL SUPERIOR COM EXPERIÊNCIA EM SAÚDE MENTAL? .......................................31 4.3 POR QUE ESSE PROFISSIONAL DEVE SER DO MUNICÍPIO? .......................................... 32 4.4 QUAL É A IMPORTÂNCIA DE PARTICIPAR DE REUNIÕES? .......................................... 32 4.5 POR QUE UM PLANO TERAPÊUTICO SINGULAR DO USUÁRIO? ................................ 32 4.6 DA CARGA HORÁRIA DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO .............................. 33 5 A ÉTICA DO CUIDADO ................................................................................................................. 34 5.1 O CUIDADO ESTÁ RELACIONADO COM O GÊNERO? .................................................... 35 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 38 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 39 TÓPICO 3 — FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DO TRABALHO DE ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO ........................................................................................ 41 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 41 2 CONTEXTO DA FUNDAMENTAÇÃO DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO ..................................................................................................................................... 41 2.1 A AMIZADE COMO UMA ESFERA POLÍTICA DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO ................................................................................ 46 3 ACOMPANHAMENTO NÔMADE-TERAPÊUTICO ................................................................ 49 4 O ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO NOS MOVIMENTOS DO COTIDIANO .................................................................................................................................. 55 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 59 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 63 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 65 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 67 UNIDADE 2 — A FORMAÇÃO DO ACOMPANHANTE TERAPÊUTICO ............................. 73 TÓPICO 1 — A FORMAÇÃO DO ACOMPANHANTE TERAPÊUTICO E A SAÚDE HUMANIZADA ............................................................................................................. 75 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 75 2 ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO EM FORMAÇÃO-PENSAMENTO ..................... 75 3 DIREITOS HUMANOS E ALTERIDADE .................................................................................... 77 3.1 A ALTERIDADE E A RELAÇÃO COM O OUTRO ................................................................. 79 3.2 ASPECTOS IDENTITÁRIOS NA CONTEMPORANEIDADE............................................... 81 4 POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO (PNH) ............................................................. 83 4.1 POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO (PNH), DIRETRIZES E PRINCÍPIOS ............................................................................................................. 85 4.2 HUMANIZAÇÃO EM GESTÃO E SERVIÇOS DE SAÚDE ................................................... 90 5 ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO E ATENÇÃO PSICOSSOCIAL ............................ 93 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 97 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 99 TÓPICO 2 — CONSIDERAÇÕES FUNDAMENTAIS PARA A ATUAÇÃO DO ACOMPANHANTE TERAPÊUTICO ...................................................................................... 101 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 101 2 A DEFINIÇÃO DE CUIDADO ..................................................................................................... 101 3 CUIDADO E ATITUDE .................................................................................................................. 103 4 O SER HUMANO, UM SER INTEGRAL .................................................................................... 105 4.1 O CUIDADO INTEGRAL .......................................................................................................... 106 4.2 ACOLHIMENTO E RESPONSABILIZAÇÃO ........................................................................ 108 4.3 CUIDANDO DE SI E DO OUTRO ........................................................................................... 110 5 O AFETO E O CUIDADO EM SAÚDE ....................................................................................... 111 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 115 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 117 TÓPICO 3 — CARACTERÍSTICAS E MODOS DE REALIZAR A CLÍNICA NO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO .............................................................................. 119 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 119 2 A COMUNICAÇÃO TERAPÊUTICA E SUA INTERFACE COM O RELACIONAMENTO TERAPÊUTICO .......................................................................... 120 2.1 APLICAÇÃO PRÁTICA DAS TÉCNICAS DE COMUNICAÇÃO NO RELACIONAMENTO TERAPÊUTICO ................................................................................. 123 2.2 VANTAGENS E LIMITAÇÕES DA COMUNICAÇÃO E RELACIONAMENTO TERAPÊUTICO ..................................................................................... 127 3 TRANSFERÊNCIA E CONTRATRANSFERÊNCIA ................................................................. 128 4 SINAIS DO RELACIONAMENTO TERAPÊUTICO EFETIVO ............................................ 130 5 AS DINÂMICAS DO AFETO E DO PSIQUISMO HUMANO .............................................. 131 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 135 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 137 TÓPICO 4 — OBJETIVOS E FUNÇÕES DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO ........... 141 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 141 2 CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DOS OBJETIVOS E FUNÇÕES DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO ...................................................................................... 141 2.1 OBJETIVOS DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO NA ATUALIDADE ............. 144 2.2 FUNÇÕES DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO NA ATUALIDADE ................ 145 2.2.1 O acompanhante terapêutico e a família ........................................................................ 148 3 POSSIBILIDADES PARA O ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO .............................. 151 3.1 O ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO DE BEBÊS E CRIANÇAS ............................ 151 3.2 O ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO NA ADOLESCÊNCIA .................................. 152 3.3 O ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO E O ENVELHECIMENTO ............................ 152 3.4 O ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO E O AMBIENTE ESCOLAR ......................... 154 3.5 O ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO E A DEPENDÊNCIAQUÍMICA ................ 155 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 157 RESUMO DO TÓPICO 4................................................................................................................... 159 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 160 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 162 UNIDADE 3 — FUNDAMENTOS ÉTICOS DA PRÁTICA DE ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO ......................................................... 169 TÓPICO 1 — MODELOS DE RACIONCÍNIO ÉTICO ............................................................ 171 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 171 2 O RELATIVISMO ÉTICO .............................................................................................................. 172 2.1 AVALIAÇÃO CRÍTICA DO RELATIVISMO ÉTICO ............................................................. 173 2.2 RELEVÂNCIA DO RELATIVISMO ÉTICO PARA AS PROFISSÕES DE SAÚDE MENTAL ....................................................................................................................... 174 3 O HEDONISMO ÉTICO ................................................................................................................ 176 3.1 AVALIAÇÃO CRÍTICA DO HEDONISMO ÉTICO .............................................................. 177 3.2 A RELEVÂNCIA DO HEDONISMO ÉTICO PARA AS PROFISSÕES DE SAÚDE MENTAL ...................................................................................................................................... 177 4 O UTILITARISMO .......................................................................................................................... 178 4.1 AVALIAÇÃO CRÍTICA DO UTILITARISMO ........................................................................ 181 4.2 RELEVÂNCIA DO UTILITARISMO PARA AS PROFISSÕES DE SAÚDE MENTAL .......... 183 5 A TEORIA ÉTICA FORMALISTA DE KANT ............................................................................ 184 5.1 A AVALIAÇÃO CRÍTICA DA TEORIA ÉTICA FORMALISTA DE KANT ....................... 189 5.2 RELEVÂNCIA DA TEORIA ÉTICA FORMALISTA DE KANT PARA AS PROFISSÕES DE SAÚDE MENTAL ........................................................................... 189 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 191 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 193 TÓPICO 2 — MODELOS DE RACIOCÍNIO NA RESOLUÇÃO DE CONFLITOS ÉTICOS .............................................................................................................. 195 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 195 2 SITUAÇÕES QUE REQUEREM HABILIDADES DE SOLUÇÃO DE PROBLEMAS ÉTICOS ................................................................................................................ 195 3 O RELATIVISMO ÉTICO .............................................................................................................. 197 4 O UTILITARISMO .......................................................................................................................... 197 4.1 AVALIAÇÃO CRÍTICA DO PONTO DE VISTA UTILITARISTA EM RELAÇÃO AO CONFLITO ÉTICO ............................................................................................................................. 197 5 A TEORIA ÉTICA FORMALISTA DE KANT ............................................................................ 198 5.1 AVALIAÇÃO CRÍTICA DO PONTO DE VISTA KANTIANO EM RELAÇÃO AO CONFLITO ÉTICO...................................................................................................................... 198 6 A ÉTICA SITUACIONAL DE FLETCHER ................................................................................. 200 6.1 A AVALIAÇÃO CRÍTICA DA ÉTICA SITUACIONAL ........................................................ 202 7 O CONTEXTUALISMO ÉTICO DE WALLACE ........................................................................ 204 7.1 AVALIAÇÃO CRÍTICA DO CONTEXTUALISMO ÉTICO .................................................. 210 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 211 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 213 TÓPICO 3 — UM MODELO DO PROCESSO DE TOMADA DE DECISÃO ÉTICA ................ 215 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 215 2 O PROPÓSITO DO MODELO ..................................................................................................... 215 3 O MODELO ...................................................................................................................................... 216 3.1 PASSO 1: AVALIAÇÃO INICIAL DAS CONSIDERAÇÕES ÉTICAS IMPLICADAS ........... 218 3.2 PASSO 2: REUNIR INFORMAÇÕES ....................................................................................... 219 3.3 PASSO 3: AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA DAS CONSIDERAÇÕES ÉTICAS IMPLICADAS ..................................................................................................................... 220 3.4 PASSO 4: DELIBERAÇÕES METAÉTICAS RELATIVAS À RELEVÂNCIA DAS CONSIDERAÇÕES ÉTICAS ...................................................................................................... 221 3.5 PASSO 5: DELIBERAÇÕES METAÉTICAS RELATIVAS À RESOLUÇÃO DO DILEMA ÉTICO ......................................................................................................................... 221 3.6 PASSO 6: AVALIAÇÃO TERCIÁRIA DAS CONSIDERAÇÕES ÉTICAS – GERAR OPÇÕES ............................................................................................................ 222 3.7 PASSO 7: ESTIMAR AS CONSEQUÊNCIAS DE CADA OPÇÃO ...................................... 223 3.8 PASSO 8: TOMAR UMA DECISÃO ......................................................................................... 223 3.9 PASSO 9: DOCUMENTAR A JUSTIFICAÇÃO E O PROCESSO DE TOMADA DE DECISÕES ......................................................................................................... 223 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 225 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 233 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 235 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 237 1 UNIDADE 1 — NASCIMENTO DA CLÍNICA DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender o contexto histórico e a relação entre saúde, loucura e o acompanhamento terapêutico; • analisar as várias definições de acompanhamento terapêutico; • entender a fundamentação teórica do acompanhamento terapêutico; • identificar a função e o propósito do acompanhamento terapêutico nas práticas de saúde. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades como objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – HISTÓRIA DA SAÚDE, DA LOUCURA E DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO TÓPICO 2 – DEFINIÇÕES DE ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO TÓPICO 3 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DO TRABALHO DE ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO 2 Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 HISTÓRIA DA SAÚDE, DA LOUCURA E DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO 1 INTRODUÇÃO Acadêmico, inicialmente, abordaremos neste tópico a contextualização histórica e o conceito de saúde, assim como as principais políticas de saúde existentes para uma breve compreensão de como este conceito, que é estreitamente vinculado ao conceito de doença, foi sendo construído ao longo do tempo. Na sequência, abordaremos os pontos principais da história da loucura e a sua relação com a criação das políticas públicas de saúde mental e o movimento da luta antimanicomial. Poderemos analisar como os aspectos relacionados com a loucura e o seu tratamento evoluíram até os dias atuais e a sua importância para o reconhecimento da pessoa louca ou doente mental como um ser de direitos. É neste contexto da história da loucura, da criação de políticas de saúde mental e do movimento da luta antimanicomial que veremos o Acompanhamento Terapêutico (AT) ser construído e consolidado como uma prática profissional. Em um primeiro momento, poderemos observar a sua ligação com a lógica manicomial. No entanto, também veremos na sua construção histórica, a evolução, que quebra com a lógica dos manicômios e o controle destes corpos adoecidos e muitas vezes marginalizados, transformando-se em uma prática que reconhece e tem como foco o sujeito, e não mais a sua doença exclusivamente. 2 HISTÓRIA E CONCEITO DE SAÚDE Para iniciar nossos estudos a respeito do nascimento da clínica do Acompanhamento terapêutico (AT), é importante resgatar um breve histórico a respeito da saúde e do seu conceito, que foi e é construído histórica e culturalmente. Você se recorda, neste momento, de algum aspecto acerca deste conceito? Como você definiria saúde? Neste subtópico, nos debruçaremos sobre os estudos a respeito deste conceito, que é amplo e necessário para a compreensão do AT. UNIDADE 1 — NASCIMENTO DA CLÍNICA DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO 4 2.1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA SAÚDE Para iniciarmos um resgate histórico a respeito da saúde, é essencial tratarmos também sobre como a compreensão do conceito de doença foi construída. Estes conceitos, saúde e doença, embora possuam significados opostos, possuem forte relação e estão historicamente vinculados. A doença, inicialmente, partiu de uma concepção mágico-religiosa, caracterizada pela crença de que as doenças se instalam em determinado organismo como consequência de pecados ou em virtude de uma maldição. Para os hebreus, a doença era interpretada como sinal da fúria divina diante da profanação humana (SCLIAR, 2007). Você provavelmente já ouviu falar de Hipócrates, mas se lembra de quem ele foi? Hipócrates ficou conhecido como o pai da medicina, em virtude de sua teoria racional a respeito da medicina e que quebra com a concepção mágico-religiosa. Os estudos do conhecido pai da medicina presumem a existência de quatro fluídos (também conhecidos como humores) do corpo humano: bile negra, bile amarela, fleuma e sangue. Para Hipócrates, a doença acontece com o desequilíbrio destes humores, sendo a saúde o equilíbrio destes componentes, partindo, portanto, do ponto de que o ser humano é uma unidade organizada (SCLIAR, 2007). A compreensão de saúde e doença no Oriente possui uma direção diferente, mas, de certa forma, é equivalente à ideia de Hipócrates: o corpo é composto por forças vitais e, quando estas forças se encontram equilibradas, há saúde. No entanto, quando ocorre uma oscilação nesta força, a pessoa é acometida pela doença. Vale lembrar que práticas terapêuticas, como o Ioga e a acupuntura, são comuns nesta região e são utilizadas com a finalidade de reestabelecer o fluxo normal de energia (SCLIAR, 2007). Durante a Idade Média, a visão mais humana construída por Hipócrates não se sustentou, acontecendo um retorno para uma concepção mágico-religiosa, que compreende os doentes como pessoas possuídas por demônios, recebendo muitas vezes tratamentos de tortura para castigá-los. Cabe ressaltar que é neste contexto que surgem os primeiros manicômios para lidar com os doentes mentais (ATKINSON et al., 2002). Os avanços da ciência continuaram e, ao final do século XIX, foi descoberta através do microscópio a existência de micro-organismos causadores de doença, que culminou no desenvolvimento de soros e vacinas. Este movimento ficou conhecido como a Revolução Pausteriana, onde inicia-se a compreensão de que as doenças podem ser prevenidas e curadas (SCLIAR, 2007). TÓPICO 1 — HISTÓRIA DA SAÚDE, DA LOUCURA E DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO 5 Até aqui, e ainda no início do século XX, não havia um consenso do conceito de saúde, já que para isso as nações deveriam entrar em um consenso. A Liga das Nações surgiu ao final da primeira guerra mundial, mas não conseguiu contemplar um conceito aceito mundialmente. Dessa forma, o conceito de saúde aceito surge ao final da segunda guerra mundial, junto com a Organização das Nações Unidas (ONU) e Organização Mundial da Saúde (OMS) (SCLIAR, 2007). 2.1.1 Conceito de Saúde De acordo com Daneluci (2010), a definição de saúde como ausência de doenças foi colocada à prova em 1948, quando a Organização Mundial da Saúde (2009, s.p.) a definiu como “[...] estado completo de bem-estar físico, mental e social, e não somente ausência de enfermidade ou invalidez”. Todavia, não podemos definir saúde apenas desta forma, afinal, quem de nós considera estar em um estado deste? Nesse sentido, o conceito foi criticado por estudiosos, na medida em que é impossível definir a existência de um estado completo de bem- estar, pois enquanto organismos, estamos em constante mudança. Se alguém lhe perguntar como você está de saúde, o que você responderia? Muitas vezes, estamos bem, porém qualquer imprevisto pode nos deixar mal. Outras vezes, fisicamente está tudo certo, mas as preocupações com os problemas do cotidiano fazem com que não nos sintamos bem. Algumas situações fazem com que nos sintamos doentes; por vezes, identificamos uma causa ou percebemos que alguma coisa agrediu nosso corpo. Em outros momentos, algo não vai bem, mas não nos sentimos doentes, por isso esperamos passar, buscamos relaxar. Quando não percebemos nenhuma alteração na nossa rotina ou não associamos com preocupações, acabamos nos indagando se há algum processo fisiopatológico desregular. Se a ideia de doença e de saúde se encontra muito próxima do que cada um considera “sentir-se bem”, vai variar de pessoa para pessoa e depender de cada cultura, do meio em que se está inserido e da sua relação com o mundo. Em algumas localidades mais precárias, onde, por exemplo, o acesso à água potável é um problema, as diarreias infantis são consideradas somente como “desarranjos” e, por sua frequência constante, acabam sendo encaradas como “normais”. Essas situações nos mostram que existem definições diferentes a respeito de saúde e de doença dadas pelas pessoas, pelos profissionais de saúde (BRASIL, 2005). O que as pessoas consideram como doença ou não se encontra em estreita relação com as estratégias de resolução do problema: buscar por profissionais de saúde, utilizar recursos terapêuticos naturais ou a automedicação. “Como o desenvolvimento do conhecimento humano é um processo histórico, também em relação à saúde/doença, a teoria e a prática que orientam o saber-fazer dos profissionais variam no tempo e no espaço” (BRASIL, 2005, p. 31). Sempre há novas teorias que buscam explicar a situação de saúde/doença, tendocomo referência o modo como a sociedade se organiza e estabelece as condições de vida das pessoas. UNIDADE 1 — NASCIMENTO DA CLÍNICA DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO 6 Daneluci (2010) assinala que não somos estáveis, assim, a saúde não representa a mesma coisa para todas as pessoas, depende de época, lugar, vivências pessoais de cada um, classe social, gênero, faixa etária, assim como valores individuais até mesmo influenciados pela religião. Esse assunto está ligado aos processos de construção de vida de cada pessoa e saúde e doença não são conceitos definitivos, tampouco opostos, ambos se referem à sobrevivência, à qualidade de vida. São conceitos que dependem do lugar de onde se está, dos tempos, dos contextos e das tensões em que cada um está inserido. No Brasil, propõe-se uma analogia entre o corpo humano e uma máquina, ou melhor, uma impossibilidade de relação entre ambos, pois não se pode comparar a saúde do corpo com a eficiência de uma máquina; o estado de bom funcionamento da máquina não é sua saúde e seu descompasso nada tem a ver com doença (BRASIL, 2005). É importante rejeitar essa associação para ampliar o conceito de saúde, resgatando seu sentido singular e subjetivo, pois quando falamos a respeito de saúde, fazemos menção à dor ou ao prazer – e essas dimensões são subjetivas, escapam a medições. Assim, a saúde é compreendida como a capacidade de cada um de enfrentar situações novas, como a possibilidade de uma pessoa ficar doente e poder recuperar-se. Vivemos com saúde, convivendo e equilibrando nosso organismo, mesmo com as anomalias, as tensões e os desconfortos. Assim, há um conjunto de condições desfavoráveis de existência que deve ser considerado como sendo causa de predisposição a doenças futuras; somos expostos a condições de vida insalubres e estressantes, a acessos inadequados aos serviços considerados essenciais. Considerando que a experiência humana inclui a doença, não há saúde perfeita. Portanto, a implantação de políticas de saúde com objetivos possíveis é fundamental. O país também refere saúde como segurança contra os riscos, coragem para corrigi-los e possibilidade de superar as capacidades iniciais (BRASIL, 2005). Os riscos fazem parte da saúde e o mais importante é identificarmos aqueles que podem e devem ser evitados e aqueles que são próprios da experiência da vida humana. A saúde das pessoas é um assunto que se refere, primordialmente, a elas próprias, e o papel dos profissionais deve ser o de oferecer seus conhecimentos técnicos para auxiliar na autonomia das pessoas, no processo de defesa da vida. TÓPICO 1 — HISTÓRIA DA SAÚDE, DA LOUCURA E DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO 7 2.1.2 Políticas Públicas de Saúde Em 1978 foi realizada a Primeira Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde em Alma-Ata, quando foi percebida a necessidade de ações urgentes na área da saúde. Nesta Conferência foi enfatizado que a saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente a ausência de doença, sendo um direito fundamental. O nível de saúde mais elevado foi estabelecido como a meta social mundial e os cuidados primários de saúde são o “carro-chefe” para que esta meta seja atingida, para que seja trabalhada a promoção de saúde e não somente curar e reabilitar, afinal, estas ações indicam que já exista enfermidade instalada (BRASIL, 2002). FIGURA 1 – CONFERÊNCIA DE ALMA-ATA FONTE: <https://opas.org.br/wp-content/uploads/2015/09/alma-ata-texto.jpg>. Aces- so em: 7 jul. 2021. Para planejar ações para conquistar este objetivo de promover saúde de forma integrada e funcional, realizou-se, em 1986, a Primeira Conferência Internacional sobre Promoção de Saúde em Ottawa. A responsabilidade pela promoção da saúde nos serviços de saúde deve ser compartilhada entre indivíduos, comunidade, grupos, profissionais da saúde, instituições que prestam serviços de saúde e governos. Todos devem trabalhar juntos, no sentido de criarem um sistema de saúde que contribua para a conquista de um elevado nível de saúde (CARTA DE OTAWA, 1986, s.p.). UNIDADE 1 — NASCIMENTO DA CLÍNICA DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO 8 Diante disso, os países ligados à Organização Mundial de Saúde precisavam produzir saúde num âmbito coletivo e, a partir disso, o Brasil começou a discutir uma reforma na sua política de saúde. Com o processo de queda da ditadura militar e transição democrática do país, se desenvolveu a Constituição Federal, em 1988, com repercussões que criaram uma política para esta área (BRASIL, 2002). A Constituição Federal (BRASIL, 1988) estabelece a saúde como direito de todos e dever do Estado, garantindo a redução de risco de doença e acesso universal às ações para sua promoção, proteção e recuperação. O serviço deve ser descentralizado, com atendimento integral com prioridade para a prevenção e com participação da comunidade. Essa nova maneira de idealizar a saúde apresenta o Sistema Único de Saúde (SUS), o qual foi regulamentado por meio das Leis Orgânicas da Saúde (LOS) nº 8.080/90, de 19 de setembro de 1990, e 8.142/90, de 28 de dezembro de 1990. O SUS é um sistema que reúne ações, serviços e unidades de saúde integrados para garantir a saúde de toda a população. Dentre os princípios do SUS estão a equidade da assistência, a universa- lidade do acesso, a resolubilidade, dentre outros, dos quais destacamos o princí- pio de integralidade. Entendemos integralidade como a forma de compreender e prestar cuidados ao ser humano, sendo este termo uma forma de pensar e agir, assim como uma forma de gestão de cuidados. O objetivo é assegurar atenção in- tegral à saúde, desde os níveis mais simples aos mais complexos, compreendendo o indivíduo e as coletividades em sua totalidade e singularidades (BRASIL, 1990). De acordo com Brasil (2005), a Lei Orgânica da Saúde (Lei 8.080, de 1990) define que a saúde tem como fatores determinantes e condicionantes a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer, o acesso aos bens e serviços essenciais, dentre outros. Neste sentido, o SUS como política pela melhoria da qualidade de vida e afirmação do direito à vida e à saúde, neste âmbito ampliado de concepção de saúde, deu origem a novas perspectivas de promoção e cuidado à saúde. Você certamente ouvirá falar nos termos atenção primária, conforme descrito anteriormente, bem como atenção básica, termo utilizado no Brasil. Os autores Boing e Crepaldi (2010) esclarecem sobre o uso destes. Atenção básica tem um sentido amplo e compreende ações integrais que abrangem a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde, cujas ações são efetivadas por meio da Estratégia de Saúde da Família. Sendo assim, o termo atenção básico é empregado particularmente no contexto da saúde pública do Brasil, já o termo atenção primário é internacionalmente utilizado e tem um significado mais restrito, relacionado à saúde coletiva em ações de promoção e prevenção. A Atenção Básica caracteriza-se como porta de entrada preferencial do SUS, formando um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, a redução TÓPICO 1 — HISTÓRIA DA SAÚDE, DA LOUCURA E DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO 9 de danos e a manutenção da saúde com o objetivo de desenvolver uma atenção integral que impacte na situação de saúde e autonomia das pessoas e nos determinantes e condicionantes de saúde das coletividades (BRASIL, 2013, p. 19). Para o desenvolvimento da atenção integral, a Atenção Básica deve cumprir algumas funções para contribuir com o funcionamento das Redes de Atenção à Saúde, sendo elas: ser base; ser resolutiva, identificandoriscos, necessidades e demandas de saúde, na perspectiva de ampliação dos graus de autonomia dos indivíduos e grupos sociais; coordenar o cuidado, elaborando, acompanhando e criando projetos terapêuticos singulares; ordenar as redes, reconhecendo as necessidades de saúde da população sob sua responsabilidade, organizando as necessidades desta população em relação aos outros pontos de atenção à saúde, contribuindo para que a programação dos serviços de saúde parta das necessidades de saúde dos usuários. Esta Política Nacional de Atenção Básica tem como estratégia prioritária a Saúde da Família, que é o programa executado nas unidades de saúde básicas, as quais muitos até hoje denominam de “postinho de saúde” (BRASIL, 2013). A política de saúde tem o desafio de construir a intersetorialidade, que é esta articulação dos distintos setores, para pensar a questão complexa que é a saúde, em que todos se responsabilizam pela garantia desta como um direito humano e de cidadania. É necessário o diálogo das diversas áreas tanto do setor de saúde quanto do governo de forma geral, assim como no setor privado, não governamental, na sociedade, para que todos sejam participantes na proteção e no cuidado com a vida. Pinheiro e Mattos (2009) esclarecem que a integralidade não é apenas uma diretriz do SUS, é uma “bandeira de luta”, o objetivo que enuncia características do sistema de saúde, práticas que são consideradas desejáveis. Seria um conjunto de valores pelos quais vale a pena lutar, pois se relacionam a um ideal de sociedade mais justa e solidária. Os autores discutem sobre três grandes conjuntos de sentidos no princípio de integralidade. Eles incidem sobre diferentes pontos: o primeiro conjunto se refere a atributos das práticas dos profissionais de saúde, sendo valores ligados ao que se pode considerar uma boa prática, independentemente de ela se dar no âmbito do SUS; o segundo conjunto refere-se a atributos da organização dos serviços; o terceiro, aplica-se às respostas governamentais aos problemas de saúde (PINHEIRO; MATOS, 2009, p. 65). Portanto, podemos tomar a integralidade como princípio orientador das práticas, da organização do trabalho, da organização das políticas e uma afirmação da abertura para o diálogo. UNIDADE 1 — NASCIMENTO DA CLÍNICA DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO 10 Um paciente não se reduz a uma lesão que no momento lhe causa sofrimento. Não se reduz a um corpo com possíveis lesões ainda silenciosas, escondidas à espera de um olhar astuto que as descubra. Tampouco se reduz a um conjunto de situações de risco. O profissional que busque orientar suas práticas pelo princípio da integralidade busca sistematicamente escapar aos reducionismos (PINHEIRO; MATTOS, 2009, p. 65). Para os autores, quando se busca orientar a organização dos serviços de saúde pelo princípio da integralidade, busca-se ampliar as percepções das necessidades dos grupos, as quais não se reduzem às necessidades de atendimento oportuno de seus sofrimentos, assim como não se reduzem por uma única disciplina, como a epidemiologia ou a clínica. A integralidade é a recusa em aceitar um recorte do problema que o reduza a uma ou algumas de suas dimensões, desconsiderando as demais; as respostas aos problemas de saúde devem abarcar suas mais diversas dimensões. Boing e Crepaldi (2010) explanam em seu artigo que, para se desenvolver a almejada atenção integral à saúde, o trabalho interdisciplinar se torna uma real necessidade. A inter-relação entre as diferentes áreas de conhecimento, entre os profissionais e entre estes com o senso comum requer criatividade e flexibilidade, princípios que exploram as potencialidades de cada ciência e a compreensão de seus limites. 2.2 HISTÓRIA DA LOUCURA A história da loucura também perpassa pela visão místico-religiosa e pela concepção racional de Hipócrates. A pessoa considerada louca era vista como um corpo possuído por demônios, e por muito tempo ficou marginalizada na sociedade ou ainda, em casos extremos, foi morta em função de sua loucura e dos maus espíritos que a acometiam. Foi no final do século XVIII que as concepções mística e humoral foram substituídas pela associação entre loucura, razão e moral. Assim, o louco passou a ser visto como um selvagem, desprovido de lógica, inteligência e sentimentos nobres. Alguém que não poderia responder pelos seus atos e, portanto, precisaria retornar ao seu estado de normalidade para conviver em sociedade (HEIDRICH, 2007; FERNANDEZ; CHENIAUX, 2011). A partir dessa concepção, mudaram, também, as formas de intervenção na loucura. A esse respeito, Fernandez e Cheniaux (2011, p. 30) contam que: [...] Diversas técnicas de punição física foram desenvolvidas, algumas delas lembrando procedimentos de tortura, com o objetivo de reeducar o doente mental. Métodos de restrição, como a cadeira tranquilizante, eram empregados para acalmar o enfermo. Aqueles que não respondiam adequadamente a essas rigorosas e, muitas vezes, cruéis técnicas educacionais, eram acorrentados em pequenas celas, como se fossem animais selvagens. TÓPICO 1 — HISTÓRIA DA SAÚDE, DA LOUCURA E DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO 11 O filme brasileiro Nise – O Coração Da Loucura, dirigido por Roberto Berliner, em 2016, retrata a luta da psiquiatra Nise da Silveira para oferecer um tratamento diferenciado em psiquiatria. A trama, baseada em fatos, passa-se no Hospital Psiquiátrico Nacional, nos anos 1950. Nesse filme, é possível identificar várias formas de violências e punições realizadas em nome da terapêutica e da ciência, às quais os pacientes eram submetidos. DICAS Esse modo de tratamento da loucura foi parcialmente rompido, quando, em 1792, Philippe Pinel (1745-1826), defensor dos ideais revolucionários presentes na Revolução Francesa, foi nomeado para a direção do hospital Bicêtre, localizado em Paris (AMARANTE, 2003; FERNANDEZ; CHENIAUX, 2011). Pinel, conhecido como pai da psiquiatria, iniciou mudanças no trato com a loucura, implementando o tratamento moral. Esse modo de lidar com a loucura correspondeu, também, com a tomada dos hospitais pelos saberes científicos. Lembre-se de que, até este momento, quem administrava os hospitais era a Igreja, e essa instituição não tinha objetivos médicos. Assim, a medicina ocupou os hospitais e teve, à disposição, todos as pessoas internadas como objetos de estudo e pesquisa. Puderam observá-las, descrevê-las e compará-las, igual ao método científico utilizado nas ciências naturais. Assim, “a ciência assume a palavra da verdade, da objetividade, da ordem e da moral. Construída pela razão humana, seria a única possibilidade de se chegar à verdade das coisas e dos fatos” (AMARANTE, 2003, p. 30). A grande revolução de Pinel foi considerar a loucura um fenômeno passível de estudo e tratamento da medicina. Em sua concepção, o louco era um alienado, [...] aquele que se deixa dominar por paixões artificiais, distantes da realidade objetiva. Os impulsos subjetivos determinariam a ação do indivíduo e ele se tornaria assediado pela fantasia, pelas ilusões, pelas ideias distorcidas; ora agressivos e perigosos, ora indiferentes e irresponsáveis, os alienados seriam invariavelmente alheios aos que os cercavam e aos princípios e regras da ordem social (AMARANTE, 2003, p. 14). Segundo Amarante (2003), Pinel entendia a alienação como uma alteração das paixões e as dividia em paixões debilitantes ou opressivas e paixões alegres. A seguir, há exemplos de cada uma dessas paixões. UNIDADE 1 — NASCIMENTO DA CLÍNICA DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO 12 QUADRO 1 – DESCRIÇÃO DAS PAIXÕES DESCRITAS POR PINEL FONTE: Adaptado de Amarante (2003) Com essa concepção, Pinel ficou conhecido por desacorrentar os loucos e desenvolveu o tratamento moral, que se propunha a reeducar a mente alienada através do isolamento e do trabalho terapêutico. O isolamento, além de ser um recurso necessáriopara o estudo da alienação e possibilitar o afastamento do alienado dos excessos da vida urbana, também possibilitaria a internalização das regras institucionais, isto é, do modelo disciplinar, como uma espécie de polícia interior. Já o trabalho terapêutico era entendido como uma forma de estimular a vontade e de controlar as energias e pensamentos (HEIDRICH, 2007; VENANCIO, 2011). A ideia do trabalho como tratamento para a alienação mental, também proposta pelo alienismo, ancorava-se na crença de que era possível a aproximação com a loucura, já que sua natureza alienada não deixava de conservar, em algum nível, o ser de razão, o que, por consequência, tornava-a passível de cura. Produzia-se, assim, a noção de um indivíduo alienado em relação a si mesmo, mas que mantinha um núcleo são, razoável, e, por isso, era passível de ser alcançável por outrem: o alienista (GAUCHET; SWAIN, 1980, p. 85 apud VENANCIO, 2011, p. 36). Alienista é como o profissional responsável pelo tratamento do doente mental era chamado na época. NOTA A seguir, veremos um quadro de Tony Robert – Fleury (1837-1912), intitulado Pinel, Médecin em Chef de La Salpêtrière, em 1795. TÓPICO 1 — HISTÓRIA DA SAÚDE, DA LOUCURA E DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO 13 FIGURA 2 – PINEL, MÉDECIN EM CHEF DE LA SALPÊTRIÈRE FONTE: <https://bit.ly/2VGOVdA>. Acesso em: 8 jul. 2021. Esse quadro simboliza o ato de Pinel de desacorrentar os loucos e iniciar a tomada da loucura pela psiquiatria, através do isolamento como recurso de produção de conhecimento e, também, recurso terapêutico. Esquirol, discípulo de Pinel, afirmava que a loucura era um distúrbio cerebral crônico; Jean-Martin Charcot empregou o método anatomoclínico, em que pretendia relacionar as lesões cerebrais observadas posts mortem a quadros neurológicos; e Wilhelm Griesinger, psiquiatra alemão, foi responsável pela formulação da famosa frase “doenças mentais são doenças cerebrais” (FERNANDEZ; CHENIAUX, 2011, p. 32). Aqui, você pode perceber que as explicações do que era a loucura, ou a doença mental, começam a ter forte base biológica. Essa concepção será a origem para o chamado paradigma psiquiátrico, que nada mais é que reduzir a complexidade do fenômeno da loucura à biologia humana. Essa concepção estimulou o desenvolvimento científico de novas intervenções na loucura. No início do século XX, quatro métodos de terapia biológica se destacavam na psiquiatria: a malarioterapia; o coma insulínico; convulsões induzidas por substâncias químicas; e eletroconvulsoterapia (FERNANDEZ; CHENIAUX, 2011). O surgimento dos psicofármacos reforçou a convicção no olhar biológico da loucura. Em 1949, descobriram que o lítio poderia ser utilizado no tratamento da mania; entre 1954 e 1957, surgiram os primeiros ansiolíticos; em 1958, surgiram o haloperidol e os primeiros antidepressivos; e, em 1959, surgiu o Diazepam (BURKLE, 2009). UNIDADE 1 — NASCIMENTO DA CLÍNICA DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO 14 O marco dessa nova concepção de tratamento para a doença mental pode ser considerado a criação da clorpromazina, em 1952, pois, a partir daí, desordens psiquiátricas que eram antes tratadas através de contenção mecânica, intervenções cirúrgicas e práticas de expurgo do sintoma (eletrochoque, malarioterapia, sangria etc.), passaram a ser 'tratadas’ através de medicamentos (BURKLE, 2009, p. 45). Percebe-se que, da Idade Antiga até a metade do século XX, houve uma mudança na compreensão da etiologia da loucura, e, apesar de surgirem algumas novas tecnologias, como medicamentos e lobotomias, há algo que se mantém recorrente na oferta de atenção à loucura: o manicômio. Assim, o isolamento nos manicômios e a concepção biológica acerca da loucura persistiram por cerca de 200 anos, e só começaram a ser repensados a partir da Segunda Guerra Mundial, quando os manicômios começaram a ser comparados a campos de concentração. Foi preciso uma guerra, e todas as violações de direitos humanos básicos que ela realizou, para que começassem a repensar a existência e o modo de funcionamento dos manicômios (AMARANTE, 2003; ROSA; SCHARF, 2008). Essa inquietação com relação ao trato com a loucura, vigente no período Pós-Segunda Guerra Mundial, possibilitou o surgimento de novas experiências nesse campo. Para aprofundar seus estudos a respeito da história da loucura, sugerimos a leitura do artigo: Michel Foucault e a “História da Loucura”: 50 anos Transformando a História da Psiquiatria, disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/cbsm/article/view/68499/41275. DICAS 2.2.1 Movimento Nacional da Luta Antimanicomial Em 1987, além da realização da I Conferência Nacional de Saúde Mental, aconteceu o II Congresso Nacional do MTSM, em Bauru – SP. Esse segundo evento vai registrar a presença de associações de usuários e familiares, como a “Loucos pela Vida”, de São Paulo, e a Sociedade de Serviços Gerais para a Integração Social pelo Trabalho (SOSINTRA), do Rio de Janeiro. Com a participação de novas associações, passa a se construir um movimento mais amplo, na medida em que não apenas trabalhadores, mas outros atores se incorporam à luta pela transformação das políticas e práticas psiquiátricas (LÜCHMANN; RODRIGUES, 2007, p. 403). TÓPICO 1 — HISTÓRIA DA SAÚDE, DA LOUCURA E DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO 15 A partir desse encontro, o movimento passou a se chamar Movimento Nacional da Luta Antimanicomial (MNLM), e, além de uma ampliação dos membros, com a participação de usuários, familiares, integrantes de associações profissionais e sindicalistas, retomou o questionamento das bases conceituais do saber psiquiátrico, das práticas de institucionalização; denunciava a violência dos manicômios, a transformação da loucura em mercadoria e a hegemonia da rede privada de assistência (AMARANTE, 1998). Assim, “o movimento se apropria da discussão que extrapola o campo da psiquiatria e passa a entender que transformar o manicômio significa transformar a sociedade” (HEIDRICH, 2007, p. 108). O dia 18 de maio foi considerado, a partir do congresso de Bauru, o Dia Nacional da Luta Antimanicomial, e seu lema é: “Por uma sociedade sem manicômios”. Em 1993, foi realizado o I Encontro Nacional da Luta Antimanicomial em Salvador (BA), quando foi construída a carta de direitos dos usuários e familiares dos serviços de saúde mental, e se reafirmaram as características do movimento como autônomo, plural e parceiro de outros movimentos sociais, além da responsabilidade para que a sociedade possa refletir a respeito das suas pautas (LÜCHMANN; RODRIGUES, 2007). Lobosque (2001 apud LÜCHMANN; RODRIGUES, 2007, p. 403, grifo do autor) sintetiza a proposta do Movimento Nacional da Luta Antimanicomial, ao defini-lo como: Movimento da Luta Antimanicomial – Movimento –, não um partido, uma nova instituição ou entidade, mas um modo político peculiar de organização da sociedade em prol de uma causa; Nacional – não algo que ocorre isoladamente num determinado ponto do país, e sim um conjunto de práticas vigentes em pontos mais diversos do nosso território; Luta – não uma solicitação, mas um enfrentamento, não um consenso, mas algo que põe, em questão, poderes e privilégios; antimanicomial – uma posição clara então escolhida com a palavra de ordem indispensável a um combate político, e que, desde então, nos reúne por uma sociedade sem manicômios. Assim, o MNLM se configurou como um avanço na construção de um novo lugar social para o sofrimento psíquico, refletindo e apoiando as transformações nas políticas de saúde mental e na rede assistencial. 2.2.2 Política de saúde mental De acordo com a Secretaria de Atenção à Saúde (BRASIL, 2013), a atual política de saúde mental brasileira é resultado de uma mobilização que se iniciou na década de 1980, com o objetivo de mudar a realidade dos antigos manicômios, que eram os locais onde viviam mais de 100 mil pessoasdiagnosticadas com transtornos mentais. A importância dada aos direitos humanos após a ditadura militar e experiências eficazes de países europeus impulsionaram estas mobilizações na busca de um modelo de saúde mental baseado em serviços comunitários no território, não mais em hospitais. Esse processo deu origem ao Movimento da Luta Antimanicomial e ao projeto coletivo da Reforma Psiquiátrica. UNIDADE 1 — NASCIMENTO DA CLÍNICA DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO 16 Ainda na década de 1980 iniciou-se a desinstitucionalização de moradores de manicômios, criando-se serviços de atenção psicossocial. A atenção a estas pessoas com transtornos mentais passou a ter como objetivo o pleno exercício de sua cidadania, e não somente o controle de seus sintomas, como era anteriormente, o que implicou a necessidade de se organizarem serviços abertos, com a participação ativa dos usuários e formando redes com outras políticas públicas, como educação, habitação, trabalho, cultura. Portanto, este desafio da saúde mental vai para além do SUS, pois, para se realizar, é primordial a abertura da sociedade para a sua própria diversidade, afinal estes sujeitos não eram aceitos pela sociedade (BRASIL, 2013). Em 2001, após mais de dez anos de tramitação no Congresso Nacional, é sancionada a Lei nº 10.216 que afirma os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Os princípios do movimento iniciado na década de 1980 tornam-se uma política de estado (BRASIL, 2013, p. 21). Entre os equipamentos substitutivos ao modelo manicomial, podemos citar os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT), os Centros de Convivência (CECOS), as Enfermarias de Saúde Mental em hospitais gerais, as oficinas de geração de renda e, certamente, as Unidades Básicas de Saúde cumprem também uma importante função na composição dessa rede comunitária de assistência em saúde mental. Nascidas com a redemocratização, a reforma sanitária e a reforma psiquiátrica são parte de um Brasil que escolheu garantir a todos os seus cidadãos o direito à saúde. Não é por acaso que, tanto no campo da Atenção Básica quanto da Saúde Mental, saúde e cidadania são indissociáveis (BRASIL, 2013, p. 22). Assim, entendemos que as práticas em saúde mental podem e devem ser realizadas por todos os profissionais de saúde; o cuidado em saúde mental deve ocorrer na realidade do dia a dia, com as singularidades dos pacientes e de suas comunidades. Algumas ações de saúde mental são realizadas sem que os profissionais as percebam em sua prática, por isso é necessário refletir acerca do que já se realiza e o que o território tem a oferecer como recurso para contribuir. FIGURA 3 – SAÚDE MENTAL FONTE: <https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQsAOI99-Ep7t3HsMKFot- -LHBC_BZ1_MlOHqDlPKb4Mdyaf0DsF>. Acesso em: 07 jul. 2021. TÓPICO 1 — HISTÓRIA DA SAÚDE, DA LOUCURA E DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO 17 3 O SURGIMENTO DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO É no contexto de luta contra a lógica manicomial que o acompanhamento terapêutico (anteriormente chamado como assistente ou auxiliar psiquiátrico, ou ainda amigo qualificado) vai sendo construído. Essa construção acontece buscando uma ruptura com a lógica utilizada nos manicômios, mas possui um início completamente vinculado a ela, procurando manter o controle sobre os corpos dos ditos loucos. Até aqui abordamos os pontos históricos que deram sustentação para que o acompanhamento terapêutico surgisse. A partir de agora, trataremos diretamente sobre como esses pontos foram determinantes desde o seu surgimento até a estrutura e formato que possui nos dias de hoje. 3.1 HISTÓRIA DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO A emergência do Acompanhamento Terapêutico (AT) se articula com diversos momentos históricos, como a urgência sanitária no Pós-Segunda Guerra Mundial, que exigiu um cuidado intensivo com a saúde assim como novos métodos; o surgimento do hospital-dia, dos psicofármacos, da comunidade terapêutica e da reforma psiquiátrica (SILVA, 2005). Estes movimentos aconteceram a partir da década de 1950 na Europa e nos Estados Unidos, e essa concepção de atendimento chegou à América Latina no final da década de 1960, inicialmente na Argentina, onde muitos psicanalistas estiveram vinculados a hospitais psiquiátricos. Em volta deste movimento político, foram criadas funções para os agentes de saúde mental, que passaram a ser nomeados auxiliares psiquiátricos e, em outros lugares, atendentes terapêuticos (PELÚCIO; SILVA; SOUZA, 2019, p. 268-269). O surgimento do Acompanhamento Terapêutico, desde o seu início, possui ligação com a área da saúde, possuindo relação com disciplinas como medicina, terapia ocupacional, enfermagem e psicologia. Além disso, seu percurso está diretamente vinculado com as práticas de cuidado com a pessoa considerada doente mental e com o questionamento da lógica manicomial (SILVA, 2005). A partir da história da loucura, podemos recordar que as instituições hospitalares retiravam as pessoas do convívio em sociedade, sem uma prática terapêutica ou tratamento adequado a estas pessoas. É somente no século XVIII, durante a Revolução Francesa, que o internamento se torna tratamento com objetivo principal de correção disciplinar, passando a ser responsabilidade então dos médicos. No século XIX a loucura recebe o título de doença mental. Neste momento da história, o alienista possui dupla função: tratar e corrigir o louco e proteger toda a população deste insano. Importante ressaltar que este tratamento oferecido ao doente mental começou a ser questionado somente na metade do século XX (SILVA, 2005). UNIDADE 1 — NASCIMENTO DA CLÍNICA DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO 18 Com a criação do hospital-dia na década de 1940 temos o primeiro espaço terapêutico, onde eram atendidas pessoas com alguns tipos de patologias que não eram consideradas perigosas, já que ainda não existiam os medicamentos para conter os loucos. Nestes espaços eram realizadas intervenções de áreas como psicologia, serviço social, terapia ocupacional, entre outras (SILVA, 2005). O AT emerge desse campo onde ocorre uma grande mudança de perspectiva no cuidado aos doentes, se comparada com as práticas usadas nos clássicos manicômios. Esse processo de mudança aponta principalmente para o final da década de 1940, início de 50, quando se deu a invenção de substâncias que prometiam alterar o funcionamento neuropsicológico do sujeito tido como louco. Em 1949 aconteceu a avaliação da primeira “droga mental”, quando o terapeuta australiano John F. Cade comprovou que o carbonato de lítio estabilizava, ou melhor, controlava o humor do “doente bipolar”, também rotulado de “psicótico maníaco-depressivo”. Essa nova intervenção ficou potencializada em 1952 quando, na França, os pesquisadores Jean Delay e Pierre Deniker (LEMGRUBER, 2004) utilizaram e testaram o neuroléptico clorpromazina durante três dias em oito pacientes psicóticos, os quais tiveram uma redução das suas alucinações auditivas. Assim, essa droga (tida como o “primeiro psicotrópico eficaz”) vira mais uma “arma” no tratamento químico dos transtornos psicológicos (SILVA, 2005, p. 20-21). Neste contexto de controle dos transtornos psicológicos através do tratamento medicamentoso, há um avanço no tratamento dos doentes mentais e na função de acompanhante terapêutico. Na medida que o doente mental pode ser controlado, as camisas de força são substituídas pelos psicofármacos e a pessoa tida como doente mental pode reinserir-se na sociedade, desde que sob o controle do medicamento e com acompanhante. “Portanto não é à toa que uma das primeiras funções dos acompanhantes terapêuticos foi o controle da ingestão dos remédios prescritos e a vigilância do comportamento fora da instituição manicomial” (SILVA, 2005, p. 22). Dessaforma, podemos observar que apesar do avanço obtido no tratamento com o acompanhamento terapêutico, a função de acompanhante leva neste primeiro momento para fora do manicômio a mesma lógica de seu funcionamento: o controle. Deve ficar claro que os programas de controle (manicomial) e de “tratamento” do “doente mental” entram em processo de falência no século XX, pois não conseguem dar conta do que prometiam dar, ou não forneciam o que vendiam: o paciente continuava (ou piorava) sendo visto como o louco doente (irracional e perigoso), apesar (ou pelo efeito) dos remédios (psicofármacos) e das “práticas de saúde” dentro e fora da estrutura hospitalar (relações de poder) (SILVA, 2005, p. 27). Com as propostas da reforma psiquiátrica que emergiram inicialmente na Europa, as práticas terapêuticas realizadas nos hospitais e fora das comunidades terapêuticas ganham novos incentivos. No dia 13 de maio de 1978 é aprovada TÓPICO 1 — HISTÓRIA DA SAÚDE, DA LOUCURA E DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO 19 na Itália a Lei nº 180, também conhecida como a Lei Basaglia, que desautoriza a internação em manicômios. Com isso, inicia-se o processo de desinstitucionalização da loucura, com a desocupação dos leitos psiquiátricos e a construção de novos espaços para o atendimento dos doentes mentais (SILVA, 2005). Podemos perceber, que a história do acompanhamento terapêutico surge em um contexto de insatisfação com a estrutura manicomial, tendo ligação direta com a reforma psiquiátrica e a luta antimanicomial. A proposta do acompanhamento terapêutico é justamente de que estas pessoas possam sair do isolamento do manicômio e circular em sociedade, considerando o contato com o outro e com o contexto social importantes para o seu desenvolvimento. 3.1.1 O Acompanhamento Terapêutico na atualidade Atualmente, o campo profissional do Acompanhamento Terapêutico é considerado um campo multiprofissional que permanece ligado ao campo da saúde. No entanto, sua prática acontece com pessoas que estão vivenciando uma situação que causa sofrimento intenso (não necessariamente consideradas loucas, como aconteceu em seu percurso histórico), como na depressão, transtornos alimentares, pessoas enlutadas, psicose, autismo, entre outros fatores que ocasionam o sofrimento ao ser humano (PELÚCIO; SILVA; SOUZA, 2019). Trata-se de uma clínica que atua junto à experiência cotidiana do paciente, sustentada nas redes de relações psicossociais. É um recurso utilizado para o cuidado de pessoas cujas possibilidades de circulação social encontram-se comprometidas, e a subjetividade ameaçada pela impossibilidade de estabelecer vínculos afetivos e sustentar uma vida produtiva no ambiente familiar, social e profissional. Nesse contexto, o AT destaca-se como uma forma de fazer clínica nos espaços sociais. Utiliza a rua, o quarto, o parque, o cinema, o trabalho; cenários da vida do paciente a serem apropriados, que venham promover inserção social e a expressão de sua subjetividade (BRANDALISE; ROSA, 2009, p. 4). Com todos os avanços que aconteceram historicamente na construção do Acompanhamento Terapêutico, também podemos observar que o espaço de atuação profissional do AT passou por muitas mudanças, podendo estar hoje em diversos espaços, como no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), nas escolas, nos hospitais, e em todos os espaços sociais que o sujeito acompanhado possa/ queira estar (PELÚCIO; SILVA; SOUZA, 2019). 20 Neste tópico, você aprendeu que: • O conceito de saúde passa por uma construção histórica e cultural, além de estar diretamente ligado à construção do que significa a doença. Ao falar em saúde precisamos sempre olhar para o contexto social, época e cultura para compreender os limites do que significa saúde para aquela determinada região ou comunidade. • A história da loucura possui concepções diversas, desde um olhar místico- religioso até um olhar racional. Inicialmente, os loucos foram marginalizados e excluídos das suas comunidades, muitos foram torturados e mortos, em virtude da crença de que eram possuídos por demônios. • A reforma psiquiátrica, o movimento da luta antimanicomial, assim como a criação de políticas públicas de saúde e de políticas de saúde mental foram muito importantes para alterar o paradigma inicial da história da loucura e da lógica manicomial, reconhecendo os sujeitos com transtornos psicológicos ou em sofrimento psíquico como pessoas de direitos. • É no contexto de luta contra a lógica manicomial que o Acompanhamento Terapêutico surge, como uma nova aposta de tratamento do sujeito considerado louco, reinserindo-o nos diversos espaços sociais. A sua construção, aos poucos, vai dando lugar a um tratamento humanizado, com foco no sujeito que é acompanhado, e não mais de forma exclusiva na sua doença. RESUMO DO TÓPICO 1 21 1 A Organização Mundial da Saúde (2009, s. p.) define saúde como um “[...] estado completo de bem-estar físico, mental e social, e não somente ausência de enfermidade ou invalidez”. Sobre o conceito de saúde, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Hipócrates é considerado o pai da Medicina, acreditando em uma concepção místico-religiosa. b) ( ) O Conceito de saúde estabelecido pela OMS é válido para todas as pessoas e possível de ser atingido. Os estudiosos concordam completamente com ele. c) ( ) O conceito de saúde é imutável. d) ( ) O conceito de saúde não é definitivo, ele depende do lugar de onde se está, dos tempos, dos contextos e das tensões em que cada um está inserido. 2 O conceito de saúde passa por uma construção histórica e cultural, além de estar diretamente ligado à construção do que significa a doença. Ao falar em saúde precisamos sempre olhar para o contexto social, época e cultura para compreender os limites do que significa saúde para aquela determinada região ou comunidade. Com base na história e conceito de saúde, analise as sentenças a seguir: I- O conceito de saúde aceito surge ao final da segunda guerra mundial, junto com a Organização das Nações Unidas (ONU) e Organização Mundial da Saúde (OMS) II- A concepção mágico-religiosa sobre a saúde aborda os fluídos corporais (bile negra, bile amarela, fleuma e sangue). III- Durante a Idade Média, a visão mais humana construída por Hipócrates não se sustentou, acontecendo um retorno para uma concepção mágico-religiosa, que compreende os doentes como pessoas possuídas por demônios, recebendo muitas vezes tratamentos de tortura para castigá-los. Cabe ressaltar que é neste contexto que surgem os primeiros manicômios para lidar com os doentes mentais. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. AUTOATIVIDADE 22 3 As políticas públicas de saúde e as políticas de saúde mental foram muito importantes para que os sujeitos com transtornos psicológicos fossem reconhecidos como pessoas de direitos. De acordo com as políticas estudadas neste tópico, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Em 1978 foi realizada a Primeira Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde em Alma-Ata, quando foi percebida a necessidade de ações urgentes na área da saúde. ( ) A Lei Orgânica da Saúde (Lei nº 8.080, de 1990) define que a saúde não é determinada por fatores como a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer. ( ) Em 2001, após mais de dez anos de tramitação no Congresso Nacional, é sancionada a Lei nº 10.216, que afirma os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F– F – V. 4 A emergência do AT se articula com diversos momentos históricos, como a urgência sanitária no Pós-Segunda Guerra Mundial, que exigiu um cuidado intensivo com a saúde assim como novos métodos; o surgimento do hospital-dia, dos psicofármacos, da comunidade terapêutica e da reforma psiquiátrica (SILVA, 2005). De acordo com os estudos realizados acerca da história do acompanhamento terapêutico, disserte sobre seus principais fatores históricos. 5 Durante a sua trajetória e evolução na história, o Acompanhamento Terapêutico foi dando lugar a um olhar humanizado, com foco no sujeito e no contexto social em que ele vive, e não mais somente na sua doença. Disserte sobre a prática do AT realizada atualmente. 23 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 DEFINIÇÕES DE ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO 1 INTRODUÇÃO Prezado acadêmico, seja bem-vindo ao segundo tópico desta unidade! O acompanhamento Terapêutico (AT) tem como foco principal a atenção e cuidado para pacientes acometidos por sofrimento psíquicos ou transtornos mentais que, por diversas razões, necessitam de um acompanhamento especializado direcionado para a sua demanda, que fogem dos serviços tradicionalmente disponibilizados por clínicas, consultórios e hospitais psiquiátricos. Portanto, podemos definir que o acompanhamento terapêutico acontece fora destes ambientes atuando como uma extensão do cuidado tradicional, podendo ocorrer nas ruas, nas residências, shoppings e praças visando a ressocialização do sujeito. Rolnik (1997) define o AT como uma prática nômade ou itinerante. Os profissionais de AT vão até onde o sujeito pode estar e tem como característica um tratamento que acontece em constante movimento. Além de se fazer presente em vários ambientes não tradicionais, ele é um tratamento que se faz sem se fixar. Esse movimento junto ao sujeito é parte essencial do trabalho ao qual vem a somar com o movimento de escuta clínico que, em diferentes nuances, estão presentes em todos os formatos da psicoterapia. Neste segundo tópico, nos aprofundaremos nas diversas formas de definições do Acompanhamento Terapêutico. 2 UMA VISÃO GERAL-HISTÓRICA DO AT Caro acadêmico, sempre que iniciamos o nosso aprendizado sobre um tema novo, precisamos nos ater a alguns conceitos-chaves básicos para que a experiência de aprendizagem seja satisfatória, não somente para te apresentar mais conteúdos, mas também para que tenhas recursos suficientes para compreender a construção total das coisas, todas as situações e intercorrências que formaram o que conhecemos hoje. Considerando isso, vamos iniciar este tópico fazendo um breve histórico sobre o surgimento do AT. O AT surgiu na América Latina, na esfera de uma clínica psiquiátrica em um hospital localizado em Buenos Aires, capital da Argentina. 24 UNIDADE 1 — NASCIMENTO DA CLÍNICA DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO Schneeroff e Edelstein (2005) descrevem que o médico Dr. Jorge Garcia Badaraco atuava como chefe do Hospital J. Borda e já trabalhava com acompanhamento terapêutico desde o ano de 1960. Nesse mesmo período, o Dr. Eduardo Kalina, considerado o fundador do Acompanhamento Terapêutico, estava trabalhando em um caso de um paciente adolescente com dependência química. Ele percebeu durante o tratamento que somente o consultório não era suficiente para que alcançasse um resultado de cura para o indivíduo, e então, o inseriu em um grupo terapêutico. Com o tempo, ele percebeu que isso também não havia sido suficiente e se deu conta de que pacientes como ele necessitavam de pessoas que atuassem como intermédio entre seus vínculos simbióticos (dependência absoluta) com outros dependentes, com o seu retorno à rua e com a droga. A partir disso, surgiu em 1970 “o amigo qualificado” que deveria ter como características serem leais, serem antidrogas e de um grande potencial criativo para conseguir alcançar um modelo de identificação positiva (MAUER; RESNIZKY, 2005). FIGURA 4 – DR. EDUARDO KALINA, FUNDADOR DO AT FONTE: <http://prensasantiago.com.ar/wp-content/uploads/2018/12/Dr-Eduardo-Kalina.jpg>. Acesso em: 20 jul. 2021 O acompanhamento terapêutico faz parte do tratamento em saúde mental e sua efetividade é evidente. Essa prática foi reconhecida e ganhou notoriedade em vários países da América Latina, em especial Argentina, Brasil, Uruguai, Peru e Chile. O AT chegou ao Brasil em meados de 1970 graças a um intercâmbio científico cultural entre Argentina e Brasil, e principalmente, pela vinda de muitos psicanalistas decorrente da atual situação política, também devido à formação das primeiras comunidades terapêuticas localizadas em São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Porto Alegre (RS). TÓPICO 2 — DEFINIÇÕES DE ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO 25 Prezado acadêmico, para que possas conhecer o trabalho do Dr. Eduardo Kalina, fundador do Acompanhamento Terapêutico, deixamos como sugestão um vídeo de uma participação do médico no 1º Congresso Internacional de Crack e outras Drogas, um debate que se impõe. O vídeo está disponível no link: https://www.youtube.com/watch?v=2Jo_cNQDNFw. DICAS 3 O QUE É O ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO? O AT atua na integração da rede de profissionais que realizam atendimentos a pacientes que necessitam de auxílio para tratamento de desordens físicas e/ou mentais, ou até mesmo para melhorar a sua qualidade de vida. Para Varella et al. (2006), a profissão de Acompanhante Terapêutico é descrita como uma intervenção relativamente nova e ainda com pouca visibilidade quanto aos diversos benefícios da sua função. O trabalho é realizado por, preferencialmente, profissionais da saúde habilitados com formação em profissões como psicologia, enfermagem, terapia ocupacional, educação física, fisioterapia, entre outras, pois a sua atuação está diretamente ligada à reabilitação e prevenção de doenças, atuando também na promoção da saúde. Egger (1985), em suas contribuições acerca das funções que devem ser exercidas pelo acompanhante terapêutico, destaca as seguintes: Estar próximo do paciente. Diminuir o sentimento de solidão. Auxiliar o paciente a planejar, organizar o pensamento. Ajudar a estruturar hábitos. Reorganizar condutas de forma mais adaptativa. Auxílio em decisões. Assumir responsabilidades pelo paciente. Estimular capacidades latentes. – Ajudar o working through. Agir como superego. Examinar com o paciente os seus limites. Operar a alta progressiva na hospitalização. Atuar como ponto de contato entre o paciente e a família. Manter o vínculo terapêutico quando o paciente troca de terapeuta. Executar com o paciente um programa de atividades físicas e recreativas. (EGGER, 1985, p. 8). Em consonância ao estudo de Egger, vale ressaltar que o profissional acompanhante terapêutico precisa ter como finalidade quatro propósitos: treinar habilidades sociais do paciente, educá-lo, executar em forma de experimentação estratégias de resoluções de problemas em tarefas diárias e ampliar o repertório de pensamentos e condutas do paciente. Diante do exposto, fica mais perceptível compreendermos as diferenças do trabalho realizado no AT do trabalho realizado em espaços tradicionais de saúde, como atenção médico/psiquiátrica, por exemplo. https://www.youtube.com/watch?v=2Jo_cNQDNFw 26 UNIDADE 1 — NASCIMENTO DA CLÍNICA DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO Porto e Sereno (1991) também contribuem descrevendo o acompanhamento terapêutico como sendo: prática de saídas pela cidade, com a intenção de montar um “guia” que possa articular o paciente na circulação social, através de ações, sustentado por uma relação de vizinhança do acompanhante com o louco e a loucura dentro de um contexto histórico (PORTO; SERENO, 1991, p. 30-31). Egger (1985), em seu estudo, também contribui descrevendo que acompa- nhante não existe por si só, ele se caracteriza pela equipe, dizendo que o trabalho do AT funciona como uma extensão do Setting terapêutico do psicoterapeuta:
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