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editora científica p e r s p e c t i v a s e t e n d ê n c i a S MATEMÁTICA E M P E S Q U I S A E D U C A Ç Ã O VOLUME 2 ELOISA ROSOTTI NAVARRO MARIA DO CARMO DE SOUSA O r g a n i z a d o r a s p e r s p e c t i v a s e t e n d ê n c i a S MATEMÁTICA E M P E S Q U I S A E D U C A Ç Ã O editora científica ELOISA ROSOTTI NAVARRO MARIA DO CARMO DE SOUSA O r g a n i z a d o r a s VOLUME 2 editora científica 1ª Edição 2021 Copyright© 2021 por Editora Científica Digital Copyright da Edição © 2021 Editora Científica Digital Copyright do Texto © 2021 Os Autores EDITORA CIENTÍFICA DIGITAL LTDA Guarujá - São Paulo - Brasil www.editoracientifica.org - contato@editoracientifica.org O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores. Permitido o download e compartilhamento desde que os créditos sejam atribuídos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. Todo o conteúdo deste livro está licenciado sob uma Licença de Atribuição Creative Commons. Atribuição 4.0 Internacional (CC BY 4.0). CORPO EDITORIAL Editor Chefe Reinaldo Cardoso Editor Executivo João Batista Quintela Editor Científico Prof. Dr. Robson José de Oliveira Assistentes Editoriais Elielson Ramos Jr. Erick Braga Freire Bianca Moreira Sandra Cardoso Arte e Diagramação Andrewick França Leonardo Higuti Borba Bibliotecário Maurício Amormino Júnior - CRB6/2422 Jurídico Dr. Alandelon Cardoso Lima - OAB/SP-307852 CONSELHO EDITORIAL Mestres, Mestras, Doutores e Doutoras Robson José de Oliveira Universidade Federal do Piauí, Brasil Eloisa Rosotti Navarro Universidade Federal de São Carlos, Brasil Rogério de Melo Grillo Universidade Estadual de Campinas, Brasil Carlos Alberto Martins Cordeiro Universidade Federal do Pará, Brasil Ernane Rosa Martins Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás, Brasil Rossano Sartori Dal Molin Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil Edilson Coelho Sampaio Universidade da Amazônia, Brasil Domingos Bombo Damião Universidade Agostinho Neto, Angola Elson Ferreira Costa Universidade do Estado do Pará, Brasil Carlos Alexandre Oelke Universidade Federal do Pampa, Brasil Patricio Francisco da Silva Faculdade Pitágoras, Brasil Reinaldo Eduardo da Silva Sales Instituto Federal do Pará, Brasil Dalízia Amaral Cruz Universidade Federal do Pará, Brasil Susana Jorge Ferreira Universidade de Évora, Portugal Fabricio Gomes Gonçalves Universidade Federal do Espírito Santo, Brasil Erival Gonçalves Prata Universidade Federal do Pará, Brasil Gevair Campos Faculdade CNEC Unaí, Brasil Flávio Aparecido de Almeida Faculdade Unida de Vitória, Brasil Mauro Vinicius Dutra Girão Centro Universitário Inta, Brasil Clóvis Luciano Giacomet Universidade Federal do Amapá, Brasil Giovanna Moraes Universidade Federal de Uberlândia, Brasil André Cutrim Carvalho Universidade Federal do Pará, Brasil Silvani Verruck Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil Auristela Correa Castro Universidade Federal do Pará, Brasil Osvaldo Contador Junior Faculdade de Tecnologia de Jahu, Brasil Claudia Maria Rinhel-Silva Universidade Paulista, Brasil Dennis Soares Leite Universidade de São Paulo, Brasil Silvana Lima Vieira Universidade do Estado da Bahia, Brasil Cristina Berger Fadel Universidade Estadual de Ponta Grossa, Brasil Graciete Barros Silva Universidade Estadual de Roraima, Brasil Juliana Campos Pinheiro Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil Cristiano Marins Universidade Federal Fluminense, Brasil Silvio Almeida Junior Universidade de Franca, Brasil CONSELHO EDITORIAL Mestres, Mestras, Doutores e Doutoras Raimundo Nonato Ferreira do Nascimento Universidade Federal do Piaui, Brasil Marcelo da Fonseca Ferreira da Silva Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória, Brasil Carlos Roberto de Lima Universidade Federal de Campina Grande, Brasil Iramirton Figuerêdo Moreira Universidade Federal de Alagoas, Brasil Daniel Luciano Gevehr Faculdades Integradas de Taquara, Brasil Maria Cristina Zago Centro Universitário UNIFAAT, Brasil Wescley Viana Evangelista Universidade do Estado de Mato Grosso, Brasil Samylla Maira Costa Siqueira Universidade Federal da Bahia, Brasil Antônio Marcos Mota Miranda Instituto Evandro Chagas, Brasil Dennys Ramon de Melo Fernandes Almeida Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil Francisco de Sousa Lima Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano, Brasil Reginaldo da Silva Sales Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará, Brasil Maria do Carmo de Sousa Universidade Federal de São Carlos, Brasil Mauro Luiz Costa Campello Universidade Paulista, Brasil Sayonara Cotrim Sabioni Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia Baiano, Brasil Ricardo Pereira Sepini Universidade Federal de São João del-Rei, Brasil Flávio Campos de Morais Universidade Federal de Pernambuco, Brasil Sonia Aparecida Cabral Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, Brasil Jonatas Brito de Alencar Neto Universidade Federal do Ceará, Brasil Moisés de Souza Mendonça Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará, Brasil Pedro Afonso Cortez Universidade Metodista de São Paulo, Brasil Julianno Pizzano Ayoub Universidade Estadual do Centro-Oeste, Brasil Cynthia Mafra Fonseca de Lima Universidade Federal de Alagoas, Brasil Marcos Reis Gonçalves Centro Universitário Tiradentes, Brasil Vitor Afonso Hoeflich Universidade Federal do Paraná, Brasil Bianca Anacleto Araújo de Sousa Universidade Federal Rural de Pernambuco, Brasil Bianca Cerqueira Martins Universidade Federal do Acre, Brasil Daniela Remião de Macedo Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, Portugal Dioniso de Souza Sampaio Universidade Federal do Pará, Brasil Rosemary Laís Galati Universidade Federal de Mato Grosso, Brasil Maria Fernanda Soares Queiroz Universidade Federal de Mato Grosso, Brasil CONSELHO EDITORIAL Mestres, Mestras, Doutores e Doutoras Letícia Cunha da Hungria Universidade Federal Rural da Amazônia, Brasil Leonardo Augusto Couto Finelli Universidade Estadual de Montes Claros, Brasil Thais Ranielle Souza de Oliveira Centro Universitário Euroamericano, Brasil Danielly de Sousa Nóbrega Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Acre, Brasil Livia Fernandes dos Santos Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Acre, Brasil Liege Coutinho Goulart Dornellas Universidade Presidente Antônio Carlos, Brasil Ticiano Azevedo Bastos Secretaria Estadual da Educação de Minas Gerais, Brasil Walmir Fernandes Pereira Miami University of Science and Technology, Estados Unidos da América Jónata Ferreira De Moura Universidade Federal do Maranhão, Brasil Camila de Moura Vogt Universidade Federal do Pará, Brasil José Martins Juliano Eustáquio Universidade de Uberaba, Brasil Gloria Maria de Franca Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil Carla da Silva Sousa Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano, Brasil Mário Celso Neves de Andrade Universidade Tiradentes, Brasil Francisco Carlos Alberto Fonteles Holanda Universidade Federal do Pará, Brasil Bruna Almeida da Silva Universidade do Estado do Pará, Brasil SUMÁRIO 98 CAPÍTULO 01 FEIRAS DE MATEMÁTICA EM PESQUISA: REFLEXÕES A PARTIR DE TESES E DISSERTAÇÕES Alayde Ferreira dos Santos; Fátima Peres Zago de Oliveira DOI: 10.37885/201202607 .................................................................................................................................................................................16 CAPÍTULO 02 O MOVIMENTO LÓGICO-HISTÓRICO DAS PESQUISAS COM O XADREZ NA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA Rogério de Melo Grillo; Eloisa Rosotti Navarro; Maria do Carmo de Sousa; Regina Célia Grando DOI: 10.37885/210102909 .................................................................................................................................................................................32CAPÍTULO 03 SITUAÇÕES DESENCADEADORAS DE APRENDIZAGEM NA PERSPECTIVA DA ATIVIDADE ORIENTADORA DE ENSINO, A PARTIR DE JOGOS E BRINCADEIRAS NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO INFANTIL Gabriela Guerreiro Guimarães; Patrícia Pereira; Maria do Carmo de Sousa DOI: 10.37885/201202517 ................................................................................................................................................................................. 46 CAPÍTULO 04 O ENSINO DE ESTATÍSTICA POR MEIO DAS POTENCIALIDADES DO SOFTWARE RSTUDIO Meiri das Graças Cardoso; Leonardo Sturion; Luiz Henrique Chueire Sturion DOI: 10.37885/201202556 ................................................................................................................................................................................ 59 CAPÍTULO 05 TECNOLOGIAS, “BUSCA ATIVA” PELOS ALUNOS E GEOMETRIA ESFÉRICA: DESENCADEAMENTOS DE UM CURSO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA Franciele Santos Teixeira; (UFSCar) Maria do Carmo de Sousa; Maria Teresa Zampieri DOI: 10.37885/201202580 ................................................................................................................................................................................. 74 CAPÍTULO 06 ANÁLISES DA PERCEPÇÃO DE ALUNOS DE 2º ANO SOBRE MATEMÁTICA E REFLEXÕES ENVOLVENDO LETRAMENTO MATEMÁTICO Rute Baia da Silva Ubagai; Elizabeth Cardoso Gerhardt Manfredo; Emília Pimenta Oliveira; Marcelo Marques de Araújo; Katlen Flávia Dias de Oliveira DOI: 10.37885/201202573 ................................................................................................................................................................................. 92 SUMÁRIO 98 CAPÍTULO 07 ROBÓTICA EDUCACIONAL: UMA ABORDAGEM VOLTADA PARA O ENSINO DE MATEMÁTICA Neumar Regiane Machado Albertoni; Érica Oliveira dos Santos; Giane Fernanda Schneider Gross; Marco Aurélio Kalinke DOI: 10.37885/201202583 ................................................................................................................................................................................111 CAPÍTULO 08 ENSINANDO MATRIZES, SISTEMAS LINEARES E DETERMINANTES USANDO UM APLICATIVO ONLINE Cristiane Martins Fernandes Tavares; Edson Leite Araújo DOI: 10.37885/201202594 .............................................................................................................................................................................. 128 CAPÍTULO 09 JOGOS E CRIATIVIDADE NO ENSINO DA GEOMETRIA: O LEGO DIGITAL DESIGNER COMO RECURSO DIDÁTICO Frederico Braida; Rodolfo Eduardo Vertuan; Rodrigo Manoel Dias Andrade DOI: 10.37885/201202617 ............................................................................................................................................................................... 148 CAPÍTULO 10 MATEMÁTICA NA VIDA: UMA ABORDAGEM CONTEXTUALIZADA PARA ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO Rosana de Andrade Araújo Pinto; Ana Carolina Pires Martins; Sara Maria de Paula Carvalhêdo DOI: 10.37885/201202623 ...............................................................................................................................................................................161 CAPÍTULO 11 O USO DO APLICATIVO PHOTOMATH POTENCIALIZANDO O ENSINO DE EXPRESSÕES NUMÉRICAS Meiri das Graças Cardoso; Valdeci da Silva Araújo; Grasielly dos Santos de Souza; Juliana Fernandes Lança; Luciana Maria da Silva Costa DOI: 10.37885/201202511 ................................................................................................................................................................................176 CAPÍTULO 12 HISTÓRIA DA MATEMÁTICA E ETNOMATEMÁTICA: ARTICULAÇÕES POSSÍVEIS PARA O ENSINO DE LOGARITMOS Juliana Batista Pereira dos Santos; Isabel Cristina Machado de Lara DOI: 10.37885/201202603 ...............................................................................................................................................................................191 SUMÁRIO 1110 CAPÍTULO 13 CONTRIBUTOS DA ABORDAGEM DA ETNOMATEMÁTICA NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DA GEOMETRIA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO ENSINO MÉDIO Kaline Moura dos Santos; Sidinéia Chagas Silva; Sandra Alves de Oliveira; Robson Aldrin Lima Mattos; Sônia Maria Alves de Oliveira Reis DOI: 10.37885/201202610 ...............................................................................................................................................................................208 CAPÍTULO 14 AS PRÁTICAS ETNOMATEMÁTICAS DOS TECELÕES E AS UNIDADES TEMÁTICAS GEOMETRIA E GRANDEZAS E MEDIDAS Edney Araujo Lima; Francisco de Assis Bandeira DOI: 10.37885/201202439 ..............................................................................................................................................................................225 CAPÍTULO 15 A MATEMÁTICA APLICADA NA HISTÓRIA DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA NA EDUCAÇÃO BÁSICA Sueli Perazzoli Trindade DOI: 10.37885/201202627 ...............................................................................................................................................................................240 CAPÍTULO 16 O ENSINO DOS OBJETOS MATEMÁTICOS ALGÉBRICOS NO 8º ANO SOB O OLHAR DOS REGISTROS DE REPRESENTAÇÃO SEMIÓTICA Luani Griggio Langwinski; Tânia Stella Bassoi DOI: 10.37885/201202587 ...............................................................................................................................................................................254 CAPÍTULO 17 RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS: FAZENDO ESTIMATIVAS PARA CHEGAR À RESPOSTA Malcus Cassiano Kuhn; João Pedro Theves Knopf DOI: 10.37885/201202658 .............................................................................................................................................................................. 270 CAPÍTULO 18 EXPERIÊNCIA COM USO DE UMA WEBQUEST PARA O ENSINO E APRENDIZAGEM DE EQUAÇÕES DE 2º GRAU Rosana Maria Luvezute Kripka; Luana Danelli da Silva; Eduarda Cericato Ferrareze DOI: 10.37885/201202551 ...............................................................................................................................................................................285 SUMÁRIO 1110 CAPÍTULO 19 O TRABALHO COM REGULARIDADES E PADRÕES NO 6º E 7º ANOS DO ENSINO FUNDAMENTAL Karina de Oliveira Castro; Marlene Alves Dias DOI: 10.37885/201202484 ..............................................................................................................................................................................305 CAPÍTULO 20 ECONOMIA DOMÉSTICA E RURAL NA OBRA RECHENBUCH FÜR DUETSCHE SCHULEN IN BRASILLIEN, DE MATHEUS GRÜMM Silvio Luiz Martins Britto DOI: 10.37885/210102796 ............................................................................................................................................................................... 319 CAPÍTULO 21 UMA SEQUÊNCIA DIDÁTICA PARA O ENSINO DE PROGRESSÃO GEOMÉTRICA POR MEIO DE ELEMENTOS DA TEORIA MUSICAL Roberto Lister Gomes Maia; Helenara Regina Sampaio Figueiredo DOI: 10.37885/210102725 ...............................................................................................................................................................................335 CAPÍTULO 22 ESTUDO DAS TRANSFORMAÇÕES GRÁFICAS DA FUNÇÃO QUADRÁTICA COM O AUXÍLIO DE APPLETS DO GEOGEBRA Lúcia Maria Ramos da Silva Santos; Henrique Faria Nogueira; Pyetra Moraes dos Santos; Lívia Azelman de Faria Abreu DOI: 10.37885/201202543 .............................................................................................................................................................................. 361 CAPÍTULO 23 APRENDENDO ANÁLISE COMBINATÓRIA COM O PROBLEMA DOS CINCO DISCOS DE MALBA TAHAN Daniela Batista Santos; Cássio Lopes Carneiro DOI: 10.37885/210102854 ...............................................................................................................................................................................375 CAPÍTULO 24 O USO DE METODOLOGIA DIFERENCIADA PARA O ENSINO DE EXPRESSÕES ALGÉBRICAS Daniela Batista Santos; Joalisson Bahia Santana DOI: 10.37885/210102853 ...............................................................................................................................................................................390 SUMÁRIO 1312 CAPÍTULO 25 O MOVIMENTO LÓGICO-HISTÓRICO E A INVESTIGAÇÃO EPISTEMOLÓGICA HISTÓRICA DE LUIS RADFORD: CONTRIBUIÇÕES PARA A DETERMINAÇÃO DE NEXOS CONCEITUAIS NA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA Rafael Siqueira Silva; Maria do Carmo de Sousa DOI: 10.37885/201202470 ............................................................................................................................................................................... 407 CAPÍTULO 26 EDUCAÇÃO MATEMÁTICA CRÍTICA E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UM ELO POSSÍVEL NA EDUCAÇÃO SUPERIOR Júlio Paulo Cabral dos Reis; Guilherme Mendes Tomaz dos Santos DOI: 10.37885/201102149 ............................................................................................................................................................................... 419 CAPÍTULO 27 CONSTRUINDO SEU FRACTAL: UMA EXPERIÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR Rejane Siqueira Julio; José Claudinei Ferreira DOI: 10.37885/201202526 ..............................................................................................................................................................................438 CAPÍTULO 28 EXPERIÊNCIA COM MODELAGEM MATEMÁTICA EM UM CURSO DE LICENCIATURA Antonio Sales; Cristiano de Lima Pedra; Jaqueline Vitorino Domingos; Leandro Inácio da Silva DOI: 10.37885/201202578 ...............................................................................................................................................................................454 CAPÍTULO 29 UMA EXPERIÊNCIA COMO PROFESSOR DE MATEMÁTICA NUM CURSO DE MESTRADO EM ANGOLA José Luiz Magalhães de Freitas DOI: 10.37885/201202545 ..............................................................................................................................................................................465 CAPÍTULO 30 EXPOSIÇÃO DO LABORATÓRIO DE VISUALIZAÇÃO MATEMÁTICA DA UESC E O PAPEL DA IMPRESSORA 3D NA PRODUÇÃO DE RECURSOS DIDÁTICOS Afonso Henriques; Elisângela Sila Farias; Rosane Leite Funato DOI: 10.37885/201202535 ...............................................................................................................................................................................477 SUMÁRIO 1312 CAPÍTULO 31 UMA EXPERIÊNCIA COM A PRODUÇÃO DE VÍDEOS E ORIGAMI Carolina Yumi Lemos Ferreira Graciolli; Franciele Santos Teixeira; Maria Teresa Zampieri DOI: 10.37885/201202600 ..............................................................................................................................................................................494 CAPÍTULO 32 EXPOMAT: UMA ATIVIDADE DE INTERAÇÃO E MOBILIZAÇÃO DE CONHECIMENTOS MATEMÁTICOS DOS ALUNOS DO ENSINO MÉDIO/TÉCNICO DO IFBA, CAMPUS JUAZEIRO João Batista Rodrigues da Silva; Everaldo dos Santos Gonçalves DOI: 10.37885/201202605 ..............................................................................................................................................................................509 CAPÍTULO 33 EXPLORAÇÃO COM ORIGAMI, ESQUELETO E PLANIFICAÇÃO DE POLIEDROS REGULARES: O HEXAEDRO. Dora Soraia Kindel DOI: 10.37885/201202622 .............................................................................................................................................................................. 519 CAPÍTULO 34 MENOS COM MENOS DÁ MAIS? Rodolfo Masaichi Shintani; Rosa Monteiro Paulo; Fabiane Mondini DOI: 10.37885/201202584 ..............................................................................................................................................................................545 CAPÍTULO 35 DIDÁTICA E METODOLOGIAS DE ENSINO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICA Jéssica Gomes dos Santos Assencio DOI: 10.37885/201202618 ............................................................................................................................................................................... 561 CAPÍTULO 36 CRIPTOGRAFIA: ESTUDO PROPOSITIVO PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA Janice Teresinha Reichert; Reginaldo Cristiano Griseli DOI: 10.37885/201202365 ...............................................................................................................................................................................572 SUMÁRIO 1514 CAPÍTULO 37 USO DAS TDIC NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL E O ENSINO DE GEOMETRIA Paola Sales Spessotto Carvalho; Monica Fürkotter DOI: 10.37885/201202380 ...............................................................................................................................................................................581 CAPÍTULO 38 VIABILIDADE DA IMPLANTAÇÃO DE UMA MÁQUINA AUTOMÁTICA DE CAFÉ NA ESCOLA Andresa Laurett Silva; Antonio Paulo Sasse Kestering; Gabriel Dutra Ribeiro; Gabriela Luiza de Andrade Müller; Leonardo Luiz Donel DOI: 10.37885/201202564 ..............................................................................................................................................................................594 CAPÍTULO 39 CONSTRUÇÃO DE TABELAS E GRÁFICOS DE CONSUMO ALIMENTAR MEDIADA POR TECNOLOGIA André Alfonso Peixoto; Elisabet Alfonso Peixoto DOI: 10.37885/201202410 ...............................................................................................................................................................................602 CAPÍTULO 40 DEMONSTRANDO O TEOREMA DE PITÁGORAS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA Junior de Souza Tardim; Evanilda Kuger; Auriana Kelli Leal Silva DOI: 10.37885/201102247 ...............................................................................................................................................................................623 CAPÍTULO 41 ESTUMÁTICA - NÚMEROS NA ESTUFA Carmen Guisleni da Fonseca DOI: 10.37885/210102723 ...............................................................................................................................................................................635 CAPÍTULO 42 EXPLORANDO NOTÍCIAS NA SALA DE AULA: UMA PROPOSTA PARA ENSINO DE ASTRONOMIA E MATEMÁTICA NO CICLO FUNDAMENTAL II Amanda Cristina Tedesco Piovezan; Leandro Daros Gama DOI: 10.37885/201202421 ...............................................................................................................................................................................655 SUMÁRIO 1514 CAPÍTULO 43 PROJETO DE VIDA NO NOVO ENSINO MÉDIO, EM BUSCA DA REGULAÇÃO DE CONDUTAS JUVENIS Gresiela Ramos de Carvalho Souza; Marcio Antonio da Silva DOI: 10.37885/201202621 ...............................................................................................................................................................................669 CAPÍTULO 44 COMPLEMENTARIDADE NA CIRCULARIDADE DAS REPRESENTAÇÕES: UMA ABORDAGEM SEMIÓTICA PARA ACRIATIVIDADE EM MATEMÁTICA Lúcia Cristina Silveira Monteiro DOI: 10.37885/201202602 ..............................................................................................................................................................................686 CAPÍTULO 45 EXPLORANDO A POTENCIALIDADE DA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS NO CONTEXTO DA PANDEMIA DE COVID-19 PARA O DESENVOLVIMENTO DA LITERACIA ESTATÍSTICA DA POPULAÇÃO Alan Júnior Severo; Pedro Paixão Borges DOI: 10.37885/201202566 .............................................................................................................................................................................. 705 SOBRE AS ORGANIZADORAS .............................................................................................................................720ÍNDICE REMISSIVO ............................................................................................................................................. 721 “ 01 Feiras de Matemática em pesquisa: reflexões a partir de teses e dissertações Alayde Ferreira dos Santos UFSC/UNEB Fátima Peres Zago de Oliveira IFC 10.37885/201202607 Educação matemática em pesquisa: perspectivas e tendências - Volume 2 AT17 Palavras-chave: Feira de Matemática, Pesquisas Acadêmicas, Formação de Professo- res e Estudantes. RESUMO Neste capítulo, investigou-se os resultados de teses e dissertações brasileiras, publicadas no Portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), que tiveram como tema a Feira de Matemática. Trata-se de um evento que existe a trinta e seis anos, como um espaço de divulgação científica e de conhecimento contextualizado matemático que envolve todos os níveis e redes de ensino, com estudantes da Educação Infantil ao Ensino Superior, professores e comunidade. Diante disso, o objetivo aqui é analisar as contribuições das Feiras de Matemática para quem dela participa, identificando convergências e/ou divergências, e as possíveis lacunas na formação de professores e estudantes. Como resultado da busca, encontrou-se apenas sete trabalhos, a partir da expressão ‘Feira de Matemática’ no título, resumo ou nas Palavras-chave. Para tanto, procurou-se responder à questão: O que as dissertações e teses revelam sobre as con- tribuições das Feiras de Matemática, que acontece em movimento e em rede, instituídas em 1985 no Estado de Santa Catarina, para a formação de estudantes e professores? Assim, dessa primeira análise, identificou-se que dos sete trabalhos, apenas três versaram [...] especificamente sobre a Feira de Matemática de Santa Catarina. Como resultado da análise temos que as Feiras de Matemática estão operando como um modificador da aprendizagem em matemática dos estudantes e das práticas dos professores que participam do evento. Além disso, na relação sobre a prática de ensino as Feiras de Matemática podem permitir a formação continuada dos professores, mas principalmente, intervém a formação integral do estudante que delas participam. Educação matemática em pesquisa: perspectivas e tendências - Volume 2 1918 INTRODUÇÃO Na sociedade contemporânea constituída por processos de mudanças contínuas e ubíquas, nós educadores e educadoras, mais do que nunca, precisamos assumir o papel para a formação de pessoas proativas, questionadores, criativas, do instigar a pensar num processo educacional que promove a autoria e autonomia. Sendo assim, compreendemos que os eventos oriundos do processo educativo são a extensão das concepções e princípios da educação. Tais eventos também fazem parte do aprimoramento do conhecimento que envolve para além do que é desenvolvido em sala de aula. Coadunamos com Dimenstein e Rubem Alves (2003, p. 93 e 94) que: Quando o conhecimento tem significado (...); quando o conhecimento se con- verte em um projeto com começo, meio e fim e quando esse projeto pode ser publicizado. Em quarto lugar, (...) o mais importante – esse é o foco de preocupação de preocupação -, é quando o aluno se sente responsável pela disseminação desse conhecimento, quando ele tem vínculo entre o que apren- deu e o que ensinou. Destarte, reforçamos que essas fases, conhecimento com significado, o conhecimento sendo trabalhado num processo de autoria e investigação, o conhecimento publicizado e o jovem se sentindo responsável pelo processo e publicização, provocam atitudes coletivas instigadoras e de movimento de aprendizagem. Isto é, possibilitam aos sujeitos se compro- meter em compartilhar o conhecimento com a comunidade e, que por meio dessa atitude, aprofundam o conhecimento e são instigados a buscar novos conhecimentos. Por isso, há necessidade de espaços de que promovam a socialização do que acon- tece na sala de aula com a presença de estudantes e professores de todos os níveis e redes de ensino, como é o caso das Feiras de Matemática. Elas representam um ambiente de aprendizagem, de divulgação científica e de compartilhamento de conhecimento num processo colaborativo1. Tal evento teve sua origem na Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB) em Blumenau (SC), no ano de 1985, a partir da iniciativa de egressos de um Curso de Especialização em Educação e Ciências que tinham o objetivo de proporcionar maior inte- gração da Matemática com as demais disciplinas. As Feiras de Matemática são entendidas como um evento de natureza didático-científica cujo propósito é transformar as atividades escolares em laboratórios vivos de aprendizagem científica com a participação efetiva de estudantes e professores, coparticipada pela comunidade, com vistas a não elitizar a ma- temática (ZERMIANI, 1996). Fato esse que proporcionou a sua expansão para as demais cidades catarinenses com envolvimento de professores e estudantes da Educação Básica. 1 Coadunamos com Fiorentini (2013, p.62) que “em um processo autenticamente colaborativo todos assumem a responsabilidade de cumprir e fazer cumprir os acordos do grupo, tendo em vista seus objetivos comuns”. 1918 Educação matemática em pesquisa: perspectivas e tendências - Volume 2 As Feiras de Matemática são um incentivo a todos aqueles preocupados em realizar um ensino de Matemática com qualidade, aplicação, inovação e transformação. Além disso, porque “promovem a socialização de práticas escolares de ensino e investigação, a busca dos professores por estratégias pedagógicas que façam a interface entre o conhecimento matemático e a realidade” (HOELLER, et all, 2015, p. 11). Assim, depois de Santa Catarina expandiu-se também para a Bahia e, posteriormente, para outros estados da federação bra- sileira. Tal expansão tem ocorrido num processo colaborativo e com cuidado dos princípios norteadores. Santos e Civiero (2019), apresentam como princípios das Feiras de Matemática o caráter público, colaborativo e democrático, a avaliação qualitativa e não meritocrática e a formação de professores. Além disso, esses princípios englobam “[...] a publicização de trabalhos, o compartilhar de experiências e a motivação de estudantes e professores para aprendizagem matemática” (OLIVEIRA; CIVIERO; POSSAMAI, 2019, p. 126). Continuando com as discussões e tendo os princípios anteriores fundamentados, Oliveira e Zermiani (2020), num contexto de ampliação, trazem a integracão entre ensino, pesquisa e extensão, entre as áreas do conhecimento, e a inclusão. Diante disso, nos questionamos: será que as Feiras de Matemática podem se configurar como um espaço educacional para a formação de estudantes e professores que coaduna com as características da sociedade contemporânea, sociedade da incerteza e com mudan- ças aceleradas? O que a Feira de Matemática desperta em quem dela participa? Como se comportam, em relação à matemática, os professores e estudantes que socializam trabalhos nas Feiras de Matemática? Ao considerar a sua expansão e pensando nas indagações acima, fomos em busca das pesquisas que tiveram as Feiras de Matemática como tema de estudo, seus resultados e relevância. Por ser o estado de Santa Catarina o que mantém latente a discussão e a efetivação das Feiras de Matemática, desde a sua origem. Pretendemos responder à questão: O que as dissertações e teses, defendidas de 2000 a 2018, revelam sobre as contribuições das Feiras de Matemática que acontece em movimento e em rede para a formação de estudantes e professores? Para buscar responder a essa questão o objetivo foi analisar as contribuições das Feiras de Matemática para quem dela participa, a partir de teses e dissertações em que ela foi objeto de estudo, no período de 2000 a 2018. Para isso, fizemos um levantamento no Portal da CAPES para obter essas pesquisas e assim realizar o trabalho. O texto foi estruturado em seções que abordam uma fundamenta- ção teórica sobre as Feiras de Matemática, a metodologiautilizada, a análise das pesquisas e as considerações finais. Educação matemática em pesquisa: perspectivas e tendências - Volume 2 2120 DESENVOLVIMENTO Aspectos Metodológicos Para esse trabalho usamos a pesquisa qualitativa com enfoque na pesquisa bibliográ- fica. Assim, as dissertações e teses defendidas no período demarcado de 2000 a 2018, e que tinham como foco o tema Feiras de Matemática, foram analisadas de maneira ampla, com a utilização de leituras, conforme nos aponta Sasse Lima e Mioto (2007). Em primeiro lugar fizemos um levantamento no Banco de Dados da CAPES, utilizando a expressão “Feira de Matemática”. Como resultado da busca, encontramos apenas sete trabalhos, a partir da expressão no título ou nas palavras-chave, no período de 2000 a 2016. O quadro abaixo mostra o tipo de trabalho, o ano de defesa, os referidos autores e o título de cada um: Quadro 1. Teses e Dissertações sobre Feiras de Matemática – Portal da CAPES Tipo Ano Autor(a) Título Dissertação 2018 ASSUNÇÃO, Edjane Mota Grupo de professores em um Projeto de Feiras de Matemática: Contri-buições para a Prática Docente. Dissertação 2018 SILVA, Francisco Almeira Espaço de socialização de saberes e inovação curricular do professor de Matemática: a primeira Feira Estadual de Matemática do Acre. Tese 2014 SILVA, Viviane Clotilde Narrativas de Professoras que ensinam Matemática na Região de Blu- menau (SC): sobre as Feiras Catarinenses de Matemática e as práticas e concepções sobre ensino e aprendizagem matemática. Dissertação 2009 SOUZA, Carla Peres Feiras Catarinenses de Matemática: contribuições para inclusão escolar de um grupo de alunos com déficit intelectual. Dissertação 2005 SOARES, Rita de Cássia de Souza Feira de Matemática como agente estimulador para a aprendizagem de matemática. Dissertação 2002 ZERMIANI, Vilmar José Avaliação dos projetos de extensão desenvolvidos pelo Laboratório de Matemática da FURB. Dissertação 2002 BIANCHI, Alaydes Sant’Ana Feiras de Matemática: repercussões no processo ensino-aprendizagem Fonte: As autoras Realizamos leituras sucessivas do material encontrado para obter as informações e/ ou dados que viessem atender nosso objetivo. Assim, segundo Sasse Lima e Mioto (2007), foram feitas: a) leitura de reconhecimento do material bibliográfico (leitura rápida no portal da CAPES para localização das obras); b) leitura exploratória e seletiva (leitura rápida para conhecer e selecionar o material encontrado); c) leitura reflexiva ou crítica (para compreensão das afirmações dos autores e do porquê dessas afirmações); d) leitura interpretativa (implica na interpretação das ideias dos autores, e sua inter-relação com o propósito do pesquisador). O estudo das teses e dissertações possibilitou a identificação de 3 categorias no que se refere às Feiras de Matemática: Pesquisas que envolve as Feiras Catarinense de Matemática, Pesquisas que envolve as Feiras de Matemática baseada na Catarinense e, Pesquisas que envolve outra Feira de Matemática. 2120 Educação matemática em pesquisa: perspectivas e tendências - Volume 2 Para fundamentar a análise, apresentamos a seguir a fundamentação teórica que norteia a discussão da tese e das dissertações na seção posterior. Fundamentação teórica Passadas mais de três décadas, de edições anuais das Feiras de Matemática em Santa Catarina, e a partir de 2006 na Bahia, e com expansão para as demais unidades federati- vas do país, ainda é um incentivo a todos aqueles preocupados em realizar um ensino de Matemática com inovação e transformação. Inovação como “a introdução do novo”, sendo o novo aqui “entendido como um dos momentos de um processo de mudança ou a repro- dução crítica do passado.” (OLIVEIRA, 2017, p.152). Ou seja, trabalhar com o ensino de Matemática numa perspectiva que desperte interesse para a pesquisa com os estudantes em sala de aula, além de desenvolver a criticidade dos mesmos, através da socialização do que produzirem. Assim, ao considerar o domínio e o aprofundamento do conhecimento científico e tec- nológico de forma reflexiva, se distanciando dos seus mitos (AULER e DELIZOICOV, 2001) não pode restringir-se a uma parcela da população. Em 1996, Maria Auxiliadora de Abreu já apresentava as Feiras de Matemática como compromisso político e pedagógico do educador matemático, numa discussão sobre o caráter público desse evento. Destacava como obje- tivo, propiciar aos estudantes da classe menos privilegiada a oportunidade de apropriação e socialização do conhecimento científico. Apontava que podiam servir como extensão do trabalho que é realizado em sala de aula, e não como um momento de apresentação isolada, realizada por aqueles que se destacavam em Matemática. Concordamos com a autora e que essas afirmações necessitam ser estudadas para, efetivamente, serem reconhecidas. Ou seja, as Feiras de Matemática se apresentam como possibilidade de compromis- so social, favorecem todos os envolvidos, por possuírem princípio público e democrático de realização, por promoverem o protagonismo para estudantes e professores a partir de experiências vivenciadas em sala de aula ou em trabalhos de iniciação à pesquisa, e por possuírem gratuidade de participação e disponibilização de material bibliográfico, para as pessoas que participam ou pretendem organizá-las (HOELLER et al, 2015). Tudo isso imbri- cado nos projetos científicos desenvolvidos em sala de aula pelos diversos níveis de ensino com a abertura para a comunidade presente no evento. Ao pensar na formação científica (OLIVEIRA, 2017) e numa educação libertadora (FREIRE, 2018) diante do processo histórico das Feiras de Matemática, é fundamental compreender seu papel na formação de professores e estudantes, além de possíveis po- tencialidades e importância como ambiente de interação. No que tange aos professores de matemática, temos a expectativa de que as Feiras de Matemática possam, principalmente, Educação matemática em pesquisa: perspectivas e tendências - Volume 2 2322 oportunizar a esses sujeitos que desenvolvam a capacidade de questionar a realidade e de provocar mudanças sob uma perspectiva crítica (SKOVSMOSE, 2014, 2008, 2007, 2001). No que diz respeito à formação do estudante, a expectativa é que as Feiras de Matemática contribuam para que seja um sujeito crítico voltado para o desenvolvimento de sua autonomia, para a tomada de decisão e para a formação de atitudes com questionamento, com argumentações que favoreçam a sua aprendizagem em matemática, e que a percebam como constituidora de transformações sociais. As Feiras de Matemática podem se apresentar como uma proposta que oportuniza aos estudantes uma vivência com a matemática, uma vivência entre eles e o mundo que os cerca, e uma vivência entre eles, em busca de um despertar para a aprendizagem reflexiva de seus conteúdos. Ainda, incentivar professores a realizarem práticas pedagógicas em prol da aprendizagem crítica e reflexiva do aluno que pesquisa, discute, inventa, cria e compartilha seus projetos nas Feiras de Matemática. Assim, as Feiras de Matemática abordam A formação do estudante, enquanto sujeito que busca o conhecimento mate- mático imbricado com questões contemporâneas, no sentido da reflexão, sobre o processo de extensão que ocorre na organização das Feiras de Matemática, podemos afirmar que acontecem em movimento e em rede. Em movimento pelas discussões coletivas e pelos espaços participativos e deliberativos cons- truídos no decorrer da história. Já a rede de feiras nos remete a interligação das relações horizontais, portanto sem hierarquia, mas com identidade e objetivos comuns. (HOELLER et al, 2015, p. 4). Dessa forma, a Educação Matemática, como campo de investigação na área, recebe constantemente influência e diversas contribuições, tanto para o ensino como para a apren- dizagem crítica da matemática (SKOVSMOSE, 2001; FIORENTINI, 2010; CIVIERO, 2016). Assim, pesquisas acadêmicas sobre, como o aluno aprende, formação de professores de matemática,concepções epistemológicas de professores e estudantes sobre a matemática, ou determinados tópicos da mesma, são temas que pairam distintos programas de pós-gra- duação. Essas pesquisas, apresentam resultados úteis para atender às mudanças do dia- -a-dia, e que deve fugir da racionalidade técnica “cujo desenvolvimento se caracteriza pela imitação, pelo treino, com fomento à meritocracia e com foco na formação para o mercado de trabalho” (OLIVEIRA, 2017, p. 9) e com “os conhecimentos matemáticos submetidos a uma ideologia instrumental.” (CIVIERO, 2016, P. 94). No entanto, não podemos pensar matemática e Educação Matemática sem o mote das variáveis contemporâneas, mas que “se mantenham em equilíbrio com o aprimoramento das relações humanas.” (OLIVEIRA, 2017, p. 274). Entendemos ser necessário mudanças que possibilitam imbricação da matemática com as questões sociais, ou seja, que vão além da simples prática de sala de aula. Assim, apontamos para a necessidade de uma ampla 2322 Educação matemática em pesquisa: perspectivas e tendências - Volume 2 discussão quanto à construção e valorização de uma prática reflexiva e crítica do docente que pode desencadear na formação reflexiva e questionadora de seus estudantes. Vemos nas Feiras de Matemática essa possibilidade, como meio de transformação reflexiva das práticas de matemática em sala de aula por envolver áreas da Educação Matemática nos trabalhos, tais como: Questões sobre a Etnomatemática (envolvendo questões culturais e sociais), a Modelagem Matemática (com questões de Ciências Físicas, Químicas e Biológicas), Novas Tecnologias, História da Matemática e Educação Ambiental, têm sido alvo das práticas de sala de aula e os resultados aparecem expostos pelos alunos dos mais variáveis níveis de escolaridade nas Feiras. (BIEM- BEMGUT, 2003, p. 7). Diante disso, pensamos numa Educação Matemática que precisa ser apresentada, discutida e realizada em prol de uma sociedade envolta num ambiente democrático e de criticidade. Assim, cabe ao professor não trabalhar encarcerado à questão técnica dos co- nhecimentos do currículo, menos ainda no desenvolvimento centrado na “formação para o mercado de trabalho, com exaltação do ter em detrimento do ser” (OLIVEIRA, 2017, p. 10). Mas, em benefício das questões sociais como um caminho para “a construção do conheci- mento reflexivo, libertador, tão necessário nos tempos em que vivemos” (BAZZO, 2016, p. 29). Ao estender essa compreensão para os espaços das Feiras de Matemática, é preciso identificar se as mesmas podem se tornar um instrumento de reflexão e ação entre profes- sores, estudantes e a Educação Matemática, e nesse processo poder vir a ser concebida como “instrumento de transformações sociais.” (CIVIERO, 2016, p. 139). Além de poder ser utilizada como potencialidade para tratar das questões contemporâneas e caminho de rup- tura com a meritocracia. Isso porque as Feiras de Matemática “promovem a socialização de práticas escolares de ensino e investigação, a busca dos professores por estratégias peda- gógicas que façam a interface entre o conhecimento matemático e a realidade.” (HOELLER et al, 2015, p. 4). Destarte, entendemos ser isso que diferencia as Feiras de Matemática de outros even- tos onde são apresentados trabalhos de iniciação científica por estudantes da educação básica, a exemplo da Feira de Ciências. Segundo Araújo (2015, p. 11, grifo nosso) a Feira de Ciências tem como um de seus objetivos a “promoção e valorização de vocações e ta- lentos para a Ciência e promoção de uma Alfabetização Científica sólida e eficiente”. E essa busca muitas vezes aflora a competição brutal entre seus participantes, porque “o desen- volvimento da formação científica e tecnológica do estudante nessa perspectiva […] não tem o compromisso com a coletividade, mas com o individualismo e com a competitividade.” (OLIVEIRA, 2017, p. 31, grifo nosso). Nas Feiras de Matemática a competição não é o item Educação matemática em pesquisa: perspectivas e tendências - Volume 2 2524 mais importante, e sim a participação e o compartilhamento dos envolvidos com seus tra- balhos, num processo colaborativo. Discussão das pesquisas De posse da tese e das dissertações, passamos à leitura do título, do resumo, das palavras-chave e das considerações finais, para reconhecimento das pesquisas e assim, proceder à análise. O nosso empenho neste trabalho foi buscar resposta para a ques- tão: O que as dissertações e teses defendidas no período de 2000 a 2018 revelam sobre as contribuições das Feiras de Matemática instituídas em 1985 no Estado de Santa Catarina? Assim, dessa primeira análise, observamos que dos sete trabalhos, apenas três versaram especificamente sobre as Feiras Catarinenses de Matemática. Os demais versaram ou sobre Feiras baseadas nas Catarinenses, ou eram outras Feiras. O quadro abaixo resume isso: Quadro 2. Distribuição das pesquisas encontradas conforme categorias Categoria Trabalhos Critério de Inclusão Pesquisas que envolve as Feiras Catarinense de Matemática (SILVA, 2014) (SOUZA, 2009) (ZERMIANI, 2002) Objeto de estudo: Feira Catarinense de Matemática, seu histórico, princípios e características. Pesquisas que envolve as Feiras de Matemática baseada na Cata- rinense (ASSUNÇÃO, 2018) (SILVA, 2018) Objeto de estudo: Feira de Matemática organizada a partir das orientações das Feiras de SC Pesquisas que envolve outra Feira de Matemática (SOARES, 2005) (BIANCHI, 2002) Objeto de estudo: Feira de Matemática independente das Feiras de SC Fonte: As autoras Diante do quadro acima, foram analisados os trabalhos conforme as categorias. Pesquisas que envolve as Feiras Catarinense de Matemática O primeiro item do Quadro 2, aborda as pesquisas que tiveram as Feiras originadas em Santa Catarina, em 1985, como foco de estudo. E, apesar de versarem sobre o mesmo tema, os problemas de pesquisa foram divergentes. Em Silva (2014, p. 7), o objetivo recaiu sobre “apresentar e analisar narrativas que, em seu conjunto, permitiram atribuir significado a concepções e práticas atualmente vigentes, relacionadas ao ensino e à aprendizagem de Matemática nos Anos Iniciais, em escolas do estado de Santa Catarina”, e utilizou as Feiras de Matemática como locus de busca dos sujeitos de sua pesquisa. As professo- ras dos anos iniciais, sujeitos da pesquisa, foram orientadoras de trabalhos de Feiras de Matemática. O trabalho de Souza (2009), verificou a presença de indícios do desenvolvi- mento de fatores que, em diferentes contextos escolares, favoreçam a inclusão escolar de portadores de necessidades especiais. Para isso, tomou como base o desenvolvimento do trabalho de três estudantes nessa situação de necessidades especiais, e sua socialização na Feira Catarinense de 2007. 2524 Educação matemática em pesquisa: perspectivas e tendências - Volume 2 Já a pesquisa de Zermiani (2002), através do material arquivado sobre Feira de Matemática no Laboratório de Matemática da Fundação Universidade Regional de Blumenau – FURB, analisou o seu desenvolvimento no período de dezoito anos. Aplicou também um instrumento de questionário, com professores e estudantes, que tinham participado das Feiras Catarinenses que ocorreram de 1985 a 1988. Como resultados, destaca que os professores apontaram melhoria na aprendizagem dos estudantes, além do interesse em desenvolver e socializar o trabalho realizado em sala de aula. Já os estudantes, segundo o autor, descobriram uma nova matemática, mais interessante e passaram a ter mais gosto em estudá-la. Ainda segundo ele, a participação em Feiras de Matemática pode estar suscitando mudanças tanto no ensino quanto na aprendizagem da matemática, ou seja interferindo na formação em educação matemática dos participantes diretos. Souza (2009, p. 46) aponta que “modificações, na forma de se trabalhar a matemáti- ca nas escolas catarinenses, podem favorecer a inclusão de alunos com as necessidades educacionais especiais no processo de ensinoe aprendizagem de matemática”. Ou seja, na visão dessa autora, as Feiras de Matemática podem estar contribuindo para esse pro- cesso. Ao encontro de Souza (2009), Silva (2014), afirma em seus resultados que a partir dos significados atribuídos às Feiras pelas depoentes por meio da história oral, lança um olhar sobre as Feiras de Matemática como “lugares praticados e, portanto, lugares em que concepções sobre o ensino e a aprendizagem de Matemática se insinuavam.” (SILVA, 2014, p. 18, grifo nosso). Já Silva (2014, p.15), apesar de seu olhar estar voltado “às questões do ensino e da aprendizagem de Matemática”, teve uma preocupação particular com aquelas a quem a lite- ratura atual tem chamado de professoras que ensinam matemática, por atuarem especifica- mente nos anos iniciais do ensino fundamental. Buscou nas vinte e cinco edições das Feiras Catarinenses de Matemática, analisar as concepções e as práticas, a partir da participação nessas edições, que essas professoras tinham sobre ensino e aprendizagem da matemática. As Feiras de Matemática foram um elemento motivador (mesmo que de for- ma indireta) para que algumas professoras começassem a trabalhar com os projetos (ou com aquilo que chamam, como o fazem também alguns autores, de metodologia de projetos). Contudo, o fato de elas verificarem que esse tipo de atividade leva os alunos a se interessarem pelos estudos e com eles se envolverem as motivou a continuar a trabalhar dessa forma, mesmo quando não mais participando do evento. (SILVA, 2014, p.276). Para a autora o desenvolvimento de projetos na sala de aula para algumas professoras, se deu a partir do contato que tiveram com as Feiras de Matemática, o qual é um evento que promove e instiga práticas que promovem a realização de projetos. Ou seja, há uma incitação da autoria e autonomia, do professor e do estudante. Educação matemática em pesquisa: perspectivas e tendências - Volume 2 2726 Os destaques dessa última pesquisa são para o ensino e aprendizagem, porém, em todos os trabalhos, foram apontados como contribuições e mudanças na formação de pro- fessores e estudantes, a partir da participação nas Feiras de Matemática. Pesquisas que envolvem as Feiras de Matemática baseada na Catarinense O segundo item do Quadro 2, aponta as pesquisas sobre Feira de Matemática que foram organizadas a partir das orientações das Feiras de Santa Catarina. Diferente das pesquisas anteriormente analisadas, que abordaram o desenvolvimento, a organização, avaliação e as contribuições das Feiras Catarinenses de Matemática, ao longo de sua história, os es- tudos de Silva (2018) e Assunção (2018), detalharam esse mesmo processo em Feiras de Matemática que foram baseadas nos princípios das Feiras Catarinenses. Silva (2018) e Assunção (2018), desenvolveram pesquisas a partir da realização de Feiras de Matemática que foram organizadas e acompanhadas para o propósito de suas pesquisas, servindo de locus. Assunção (2018) organizou e apresentou trabalho como orien- tadora em duas edições de Feiras de Matemática, realizando seu estudo com os partici- pantes. Já Silva (2018), acompanhou a realização da Feira de Matemática e entrevistou professores orientadores para obter seus dados. As experiências expostas nas duas pesquisas apresentam concepção similar e defen- dem que as Feiras de Matemática instigam o desenvolvimento de atividades para o ensino e a aprendizagem da Matemática, melhoram a aprendizagem dos estudantes, oportunizando participar das quatro fases indicadas por Dimenstein e Alves (2003), por garantir a responsabi- lidade do estudante na disseminação do conhecimento. Silva (2018), aponta que a realização da Feira de Matemática oportuniza a socialização, a produção e/ou a ressignificação dos saberes docentes, o que contribui para a inovação curricular do professor. E Assunção (2018), afirma que com as Feiras de Matemática é possível a busca por um ensino de qualidade, o que exige a ressignificação da prática pedagógica para novos rumos e novos olhares em relação à Matemática e, como consequência, interfere também na formação dos estudantes. Assunção (2018), teve como objetivo investigar o envolvimento e as estratégias de professores numa Feira de Matemática. Para essa concretização, aplicou questionários, fez observações e entrevistas durante todo o processo de organização da Feira de Matemática para sua pesquisa. Utilizou-se da pesquisa-ação, numa abordagem qualitativa, vivenciando como pesquisadora como uma das professoras orientadoras que expôs trabalho na Feira Regional de Juiz de Fora, Minas Gerais (MG). Segundo a autora, a Feira mostrou-se como uma possibilidade de fugir à prática normal e limitada de sala de aula, além de ajudar a am- pliar o currículo. Também afirma ter atingido seu foco principal que era “[...] compreender as expectativas que as Feiras de Matemática podem provocar nos alunos e nos professores no contexto ensino/aprendizagem de matemática” (ASSUNÇÃO, 2018, p. 52, grifo meu). 2726 Educação matemática em pesquisa: perspectivas e tendências - Volume 2 Ainda, para Assunção (2018), a orientação nas Feiras apresenta-se como um desafio para as depoentes de sua pesquisa, por se voltarem à pesquisa para melhor atenderem aos anseios e a curiosidades dos seus alunos. Ressalta-se que o processo de orientação de trabalhos para as Feiras de Matemática é algo bastante discutido em todos os Seminários de Avaliação. Isso porque tal discussão leva à “[...] condução de um ensino investigativo, reflexivo e exploratório, gerado pela produção e estruturação de significados, apoiado em práticas de cooperação e ética é fundamental para a formação do sujeito integral” (OLIVEIRA; DALLMANN, 2004, p. 85). Para Silva (2018, p. 76), as Feiras de Matemática se mostram um “[...] espaço favorável de produção e/ou ressignificação de saberes e inovação curricular dos (as) professores (as) de Matemática”, além de que “[...] o saber fazer, um trabalho nos moldes da Feira é uma dificuldade enfrentada por todos os professores”. Enfatiza que oportunizou às professoras participantes, a partir das experiências vivenciadas, melhorar suas condições intelectuais, sendo que passaram a ver a Feira não só como um evento científico, mas como um espaço para a exposição do que foi trabalhado na sala de aula. Foi possível observar, em tais pesquisas uma forma de continuidade das Feiras ori- ginadas em SC, devido ao fato do destaque de seus princípios de organização, avaliação e forma de orientação de trabalhos. No que tange à questão da avaliação dos trabalhos apresentados nas Feiras de Matemática embora ocorram semelhança em relação aos re- sultados das pesquisas de Silva (2018) e Assunção (2018), os trabalhos de Soares (2005) e Bianchi (2002) destoam daquelas, o que é apontado no próximo item. Pesquisas que envolvem outra Feira de Matemática O último item do Quadro 2, traz as pesquisas que tratam de Feiras de Matemática que são independentes das originadas em Santa Catarina e que aconteceram, exclusivamente, em escolas específicas, sem apresentar um processo histórico de organização e desenvol- vimento delas. Soares (2005) apresenta um estudo sobre a motivação e a aprendizagem a partir de Feiras de Matemática, organizada por professores e estudantes, que culminaram com o propósito de sua pesquisa. Bianchi (2002), como professora do Curso de Licenciatura em Matemática da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), par- ticipava na organização de material para exposição, sendo que as Feiras de Matemática referidas no seu trabalho foram um espaço destinado à mostra de materiais pedagógicos interativos, apresentados pela referida universidade. Bianchi (2002) apresenta um estudo exploratório realizado em uma escola privada confessional de Canoas, (RS), por meio de questionário2 aplicado a todos os estudantes, do Ensino Fundamental e Ensino Médio, e a todos os professores de Matemática. Bianchi 2 A coleta de dados, segundo a autora, foirealizada pelos professores regulares dos alunos durante o período de aulas, no prazo de 30 (trinta) dias que sucederam a realização da Feira de Matemática na escola. Apresenta um total de 854 alunos do Ensino Funda- mental, 32 do Magistério, 121 do Ensino Médio, além dos professores. Educação matemática em pesquisa: perspectivas e tendências - Volume 2 2928 (2002) não aborda de que forma os trabalhos foram avaliados ou se houve avaliação durante a exposição realizada. Porém, seus resultados apontaram os jogos e desafios matemáticos, apresentados e testados na Feira de Matemática, como a maior fonte de atração, tanto na opinião dos alunos como na dos monitores e professores. Segundo a pesquisadora, a forma de ensinar dos professores e o jeito de aprender dos alunos, a partir da participação em Feiras de Matemática, foi citada, por grande parte dos sujeitos, como razão para novas aprendizagens e como forma de estabelecer o elo entre o conhecimento científico e o co- nhecimento cotidiano. No entanto, apesar de não mostrar de que forma essa constatação foi feita na realização da Feira de Matemática em estudo, seus resultados convergem para as considerações acerca das Feiras surgidas em Santa Catarina, As Feiras influenciam o desempenho do professor modificando suas percep- ções sobre ensino-aprendizagem, despertando o interesse em ensinar mate- mática sobre novos enfoques, indicando a necessidade de contínua atualização e apresentando formas de ensinar e de aprender que busquem tornar a mate- mática divertida, atraente, prazerosa, simples, acessível e calcada muito mais no raciocínio e na aquisição de estruturas do que em fórmulas e algoritmos sem significados (BIANCHI, 2002, p. 75). Soares (2005, p. 50) aponta que, nas Feiras de Matemática realizadas para fazer a referida pesquisa, a avaliação foi feita pelos próprios orientadores, sem uma comissão de avaliação, além de que “[...] professores de áreas afins se interessaram pela Feira de Matemática e atribuíram valor através de nota aos trabalhos dos expositores em suas dis- ciplinas, sem terem, contudo, participado ativamente das reuniões ou mesmo nos dias das Feiras de Matemática”. Destaca, em seus resultados, que expressivo número dos alunos pensa que a Feira de Matemática é importante para a sua aprendizagem em Matemática. Constata-se que as Feiras referidas na pesquisa de Soares (2005) não apresentam nenhuma relação com as Feiras de Matemática originadas em 1985, pelo fato delas não seguirem nenhuma deliberação, como ocorre com as Feiras Catarinenses, em que a ava- liação é processual, contínua e feita por um grupo de professores que analisam o traba- lho em “[...] diferentes aspectos, considerando critérios gerais como a comunicação oral e escrita, o conteúdo matemático, a qualidade científica e a relevância científico-social, e o critério específico por modalidade com ênfase ao conteúdo matemático” (ANDRADE FILHO et al., 2017, p. 278). Quanto a Soares (2005), visou verificar em que medida a Feira de Matemática estimula a motivação, a pesquisa e a busca por novos conhecimentos. Para tanto, montou um projeto e realizou Feiras de Matemática na Escola Técnica Estadual Marechal Mascarenhas de Moraes, no município de Cachoeirinha, Rio Grande do Sul (RS). Aponta, entre outros aspectos, que, na Feira de Matemática pesquisada, “[...] não havia a necessidade de o assunto pertencer 2928 Educação matemática em pesquisa: perspectivas e tendências - Volume 2 à série em que o aluno estava estudando; portanto, o trabalho não precisava versar sobre conteúdo trabalhado em aula” (SOARES, 2005, p. 61). Destaca-se que isso diverge de um dos princípios das Feiras de Matemática no que tange ao conteúdo matemático apresentado nos trabalhos que são expostos, pois estes “[...] devem se enquadrar, no mínimo, no nível de escolaridade em que os alunos se encontram” (GAUER, 2004, p. 41), isto é, um aluno do Ensino Médio não poderá trabalhar por exemplo, só com o conteúdo de ‘regra de três’, ‘porcentagem’, entre outros, que são específicos do Ensino Fundamental. Soares (2005) também explica que alunos e professores que apresentam e orientam trabalhos para serem expostos na Feira de Matemática vencem a barreira do medo do fra- casso ao se arriscarem a mostrar seus trabalhos durante o evento. Ao depararmos com as pesquisas, independente da categoria e mesmo que de maneira implícita, em todas aparece a formação de professores e /ou de estudantes. CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente capítulo teve como objetivo analisar as contribuições das Feiras de Matemática para quem dela participa, a partir de teses e dissertações em que ela foi objeto de estudo, no período de 2000 a 2018. O que foi atendido, a partir da questão: O que as dissertações e teses defendidas no período de 2000 a 2018 revelam sobre as contribuições das Feiras de Matemática para a formação de estudantes e professores, instituídas em 1985 no Estado de Santa Catarina? Vimos pelas pesquisas analisadas que as Feiras de Matemática estão funcionando como um modificador tanto da aprendizagem dos estudantes como das práticas dos profes- sores que participam do evento. Isso porque, através de sua atuação, o professor sente-se instigado a fazer um trabalho diferenciado para atender às novas demandas, tanto da so- ciedade, quanto da própria matemática enquanto ciência. Para além do que aparece nas pesquisas, as responsabilidades dos professores de matemática somam-se a de fortalecer a importância dessa ciência no cotidiano, as inter- venções e transformações sociais, construindo uma aprendizagem reflexiva, crítica e com significado para o educando. Concretizar essa meta parece não ser fácil, já que, muitas vezes, os professores apresentam dificuldades para instituir essa representação para a matemática e não conseguem (re)significá-la, de forma a articular com as variáveis contemporâneas de forma crítica, voltadas para a dignidade humana. Dentre essas variáveis temos os algoritmos matemáticos que são base para o desenvolvimento tecnológico e científico e que interferem diretamente no desenvolvimento social e humano. Portanto, como espaço de reflexão sobre a prática de ensino, as Feiras de Matemática podem permitir vislumbrar como se dá não apenas a formação continuada dos professores, Educação matemática em pesquisa: perspectivas e tendências - Volume 2 3130 mas principalmente, a formação científica e reflexiva do estudante que delas participam, além de verificar a articulação da construção do conhecimento matemático e a possível relação com as questões relacionadas à formação integral dos envolvidos. Dessarte, é preciso “promover produções pedagógicas mais sistematizadas para criar a base desse pensamento pedagógico matemático crítico, que assegure uma formação inte- gral, preocupada com a educação que recusa a divisão dos seres humanos em dois grupos: um que pensa e manda, e outro que obedece e executa.” (CIVIERO, 2016, p. 286, grifos nosso). Vemos essa como um dos desafios importantes para o professor de matemática e para as Feiras de Matemática. REFERÊNCIAS 1. ABREU, M. A. M. de. Compromisso Político Pedagógico do Educador Matemático. Revista Catarinense de Educação Matemática. SBEM/SC, ano 1, n.1, p.19 – 20, 1996. 2. ASSUNÇÃO, E. M. Grupo de Professores em um Projeto de Feiras de Matemática: Contri- buições para a Prática Docente. Dissertação (Programa de Mestrado Profissional em Educação Matemática) Universidade Federal de Juiz de Fora, MG, 2018. 3. AULER, D.; DELIZOICOV, D. Alfabetização científico-tecnológica para quê? Ensaio, v.3. n.1. jun. 2001. p. 1-13. 4. 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RESUMO O objetivo do presente capítulo é analisar as pesquisas que tratam do jogo de xadrez no âmbito da Educação Matemática, especificamente, as pesquisas realizadas no Brasil nos programas de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação, Educação Matemática e PROFMAT. Com isso, usamos do Banco de Teses da Capes (2020) como referência, englobando o período de 1995 a 2019. Instituímos este recorte, dado que a primeira pes- quisa foi incutida na plataforma no ano de 1995 e a última no ano de 2019. Ademais, vale enfatizar que esta pesquisa é subsidiada por uma perspectiva lógico-histórica (KOPNIN, 1978), pois assumimos que os discursos e práticas pedagógicas com o xadrez, no bojo da Matemática Escolar, estão em constante movimento e transformações sociais, sendo, destarte, uma categoria histórica e cultural. Por intermédio do movimento lógico-histórico das pesquisas analisadas, constatamos que existe uma essencialidade em se realizar uma reflexão mais aprofundada sobre o papel do xadrez em aulas de Matemática. Além disso, faz-se fulcral investigar em que medida o xadrez pedagógico, no contexto da Matemática Escolar, em conformidade com um conjunto de preceitos didático-metodo- lógicos, engendra a produção de conhecimentos matemáticos, o desenvolvimento do pensamento matemático, a valorização do jogo como um elemento da cultura lúdica e/ ou o desenvolvimento dos alunos (crianças e jovens-estudantes). Educação matemática em pesquisa: perspectivas e tendências - Volume 2 3534 “ABERTURA” O jogo é, talvez, a melhor maneira de preservar a expressividade humana na escola. Jean Vial O xadrez é considerado um dos jogos mais estratégicos produzidos historicamente e jogado até hoje. O seu valor estratégico permite inúmeras possibilidades de se desenvolver um trabalho pedagógico escolar no âmbito da Educação Matemática. A nossa experiência com o ensino de xadrez nas escolas tem nos possibilitado defender a concepção de que um jogo por si só não é pedagógico. Por esta razão, temos experimentado a sua abordagem didática em uma perspectiva metodológica de resolução de problemas (GRILLO, 2012, 2018; GRILLO; GRANDO, 2014; GRILLO et al., 2020). Partindo dessa premissa, consideramos que está presente no discurso a questão de que o xadrez contribui para a aprendizagem matemática, uma vez que bons jogadores de xadrez seriam considerados bons em matemática escolar. Entrementes, as pesquisas en- viesadas sob a égide desse discurso, basicamente, pouco demonstram as potencialidades e possibilidades que o xadrez escolar pode oferecer ao desenvolvimento do pensamento matemático, ou mesmo, da produção do conhecimento matemático escolar. Algumas dessas pesquisas se atentam apenas para a abordagem da matemática no xadrez em suas regras, peças e formas de marcação de ponto,s como: plano cartesiano, movimentação das peças, valores das peças, formas do tabuleiro e das peças, tal qual, treinamentos de jogadas. Outras pesquisas já procuram, por sua vez, demonstrar o desen- volvimento do raciocínio lógico no xadrez, no âmbito da Psicologia da Educação, a partir de análise de processos cognitivos em sujeitos isolados (SILVA, 2010a; ALVES, 2006). É fulcral assinalarmos que, embora não sejam estudos na esfera da Educação Matemática, eles exerceram (e ainda exercem) certa influência nas bases teóricas e metodológicas no que tange às pesquisas da área com a aludida temática. Coadunado a isso, em nossos estudos (GRILLO, 2012; GRILLO; GRANDO, 2014),analisamos algumas perspectivas didático-metodológicas do xadrez que são trabalhadas no âmbito da matemática escolar. De um lado o “xadrez como treinamento” e de outro o “xadrez como passatempo”. No primeiro, visa-se ao treinamento com o objetivo do domínio técnico e tático do jogo, ou de símil modo, a fragmentação do jogo de forma utilitária (e.g., o uso somente do tabuleiro ou das peças, desvalorizando o movimento de jogar). Os professores, por consequência, seguem à risca os manuais de xadrez e, comumente, assume-se como lema “o xadrez é a ginástica da inteligência”, por esta razão, desenvolve habilidades mate- máticas. No segundo, o jogo torna-se um simples “passatempo”, em que não há espaço para 3534 Educação matemática em pesquisa: perspectivas e tendências - Volume 2 um olhar mais crítico e reflexivo quanto às formas de se jogar. Dessa maneira, concebendo que o xadrez por si só ocasiona o desenvolvimento das funções psíquicas, ou colabora para a produção de conhecimentos matemáticos pelos alunos (crianças e jovens-estudantes). Defendemos, então, uma terceira vertente, o Xadrez Pedagógico (GRILLO, 2012; GRILLO, GRANDO, 2014; GRANDO, 2000; GRILLO et al., 2020), trabalhado no âmbito da Resolução de Problemas. Esse viés se alicerça na construção de uma proposta didático- -metodológica para o xadrez, que se alinhe aos objetivos da Matemática Escolar, tomando o jogo como conteúdo e a resolução de problemas como metodologia. Ora, defendemos que analisar o xadrez sob os enfoques explicitados anteriormente (treinamento e passatempo), sumamente, oferecem pouca contribuição à aprendizagem significativa da matemática es- colar. Dessarte, ideamos que a essência do jogo de estratégia na matemática se faz pela perspectiva da Resolução de Problemas, sem descaracterizar o jogo, suas formas de ação e o lúdico. O “treinamento” não faz parte da proposta pedagógica erigida pela escola e o “passatempo” não desenvolve todas as possibilidades e potencialidades que o xadrez possui. Por este prisma, um fator que justifica a realização dessa investigação, indubitavel- mente, é a escassez de pesquisas relativas ao jogo de xadrez e a Educação Matemática, principalmente, que se propuseram a explorar as potencialidades e possibilidades pedagó- gicas que o xadrez pode proporcionar ao desenvolvimento do pensamento matemático, ou mesmo, à produção de conhecimento matemático escolar. À vista disso, o objetivo do presente capítulo é analisar, de um modo geral, as pesquisas que tratam do jogo de xadrez no campo da Educação Matemática, em específico, as pes- quisas realizadas no Brasil nos programas de pós-graduação Stricto Sensu em Educação, Educação Matemática e PROFMAT1 (mormente, pesquisas relativas ao uso do jogo de xadrez no contexto da Matemática Escolar). Para tanto, utilizamos do Banco de Teses da Capes (2020) como referência, abarcando o período de 1995 a 2019. O aludido período para a busca ficou estabelecido entre os anos de 1995 a 2019, dado que os primeiros trabalhos foram postados na plataforma no ano de 1995. No mais, concluímos a busca em 2019, pois as pesquisas defendidas e publicadas em 2020, ainda não estão hospedadas na supramen- cionada plataforma da Capes. Vale sublinhar que esta pesquisa é norteada por uma perspectiva lógico-histórica (KOPNIN, 1978), visto que assumimos que as práticas pedagógicas com o Xadrez, bem como seus discursos, além da própria Educação Matemática, estão em constante movi- mento e transformações sociais, sendo, portanto, uma categoria histórica e cultural. Nesse entendimento, Kopnin (1978) esclarece que o histórico do objeto refletido no pensamento 1 O Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional (PROFMAT) é um programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Mate- mática, reconhecido e avaliado pela CAPES, credenciado pelo Conselho Nacional de Educação – CNE, validado pelo Ministério da Educação e conduzindo ao título de Mestre. Educação matemática em pesquisa: perspectivas e tendências - Volume 2 3736 engendra o conteúdo do pensamento e, por consequência, o lógico é considerado como o reflexo desse conteúdo. Em outras palavras, o lógico representa o cerne do objeto, assim como da história do seu desenvolvimento em um sistema de abstrações. O movimento lógico-histórico nos proporciona considerar que uma das leis precípuas da lógica do movimento do pensamento, isto é, do movimento do simples ao complexo, do empírico ao teórico, advém por intermédio do desenvolvimento do pensamento no âmago do materialismo dialético. Isto posto, o movimento lógico-histórico sustenta-nos no sentido de podermos sair da compreensão global (empírico real) da prática pedagógica com o xadrez, a título de exemplo, e, por via de categorias e abstrações, produzir uma nova visão crítica frente à essa prática (KOPNIN, 1978). De um modo sintético, o lógico-histórico nos propicia recorrer às relações concretas e efetivas por trás dos fenômenos, porque concerne à uma possibilidade para analisarmos os fenômenos como fatos singulares e historicamente desenvolvidos, que se manifestam em diferentes entendimentos de ser da essência. Sob este ângulo, depreender o fenômeno e construir o conceito e suas práticas é precisamente atingir a essência da coisa. Dito de outra maneira, ainda que possam ser percebidos em momentos diferentes da ação humana, inferimos que o histórico (acontecimentos, fenômenos) e o lógico (essência) estão diame- tralmente imbricados. Assim, perfazendo uma unidade (um todo). Mediante o explicitado, torna-se basilar a articulação no bojo das facetas históricas e lógicas do objeto de conhecimento, objetivando um movimento de apropriação conceitual, o qual se estabelece na unidade entre a essência do objeto e sua teoria. Desse modo, para construirmos uma prática pedagógica com o xadrez na Educação Matemática, faz-se fundamental um esforço crítico que abstraia as coisas do campo prático, no sentido ao pen- samento teórico. A priori, os objetos de conhecimento não se revelam como elementos a serem analisados e compreendido teoricamente. No entanto, manifestam-se como elementos empíricos num dado momento histórico. Destarte, reputamos o conhecimento, tanto do xadrez pedagógico quanto da Educação Matemática, como um processo totalizante, porque está inserido no âmago da dialética dos processos socioculturais e históricos, quer dizer, a totalidade está inexoravelmente correlacio- nada à práxis histórica. Nesses moldes, a perspectiva lógico-histórica é capaz de possibilitar uma depreensão mais aprofundada da realidade como um vir a ser social. Em síntese, frisa- mos a inerência entre o histórico e o lógico, entendendo que seria impraticável uma lógica destituída do fazer objetivo/subjetivo do ser humano. Conforme Kopnin (1978, p. 186), o “lógi- co reflete não só a história do próprio objeto como também a história do seu conhecimento”. Nesse viés, a concepção de xadrez pedagógico na Educação Matemática, que é a finalidade deste texto, transforma-se no decorrer do tempo, tendo em vista a forma pelos 3736 Educação matemática em pesquisa: perspectivas e tendências - Volume 2 quais se organizam e preconcebem os modos em que o ser humano constrói conceitos e práticas com o jogo de xadrez. Por conseguinte, analisar o movimento histórico das pes- quisas, permite-nos entender os conceitos, práticas e discursos elaborados, tal qual, os seus processos de sistematização atinentes ao xadrez na Educação Matemática. Com isso, possibilitando-nos analisar as maneiras historicamente construídas de interpretar e dar sig- nificação ao referido fenômeno. Afora a presente seção2, organizamos este capítulo em outras duas seções. Na primeira seção, incumbiremos de apresentar um quadro com as principais pesquisas nacionais rela- tivas ao xadrez e que se inserem no campo da Educação Matemática. Na segunda seção, aduziremos as nossas análises a respeito dessas pesquisas. De resto, findaremos o presente capítulo, trazendo as nossas considerações
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