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CONTABILIDADE AVANÇADA CONTABILIDADE AVANÇADAORGANIZADORES CRYSTIAN BÍSCARO; RAYANNE SILVA BARBOSA ORGANIZADORES CRYSTIAN BÍSCARO; RAYANNE SILVA BARBOSA Contabilidade avançada GRUPO SER EDUCACIONAL Ao mesmo tempo que promove um espírito crítico sobre os fatos e atos administrativos e contábeis, esta obra oferece ao estudante das Ciências Contábeis métodos avançados utilizados por essa ciência que buscam contribuir para seu desenvolvimento técnico. O conteúdo é didático e oferece os principais aspectos que devem ser estudados na Contabilidade Avançada, como assuntos relacionados às participações societárias; técnicas contábeis; avaliação de investimentos; e, por �m, tópicos de contabilidade societária. As eliminações contábeis e os lucros não realizados serão tratados aqui, bem como esclareceremos o que são itens monetários e não monetários e quais os principais ajustes que são realizados na contabilidade diante de certos even- tos. Você vai se inteirar dos métodos de avaliação de investimentos, como o método do custo, do valor justo e da equivalência patrimonial, e de que maneira fazer provisões para perdas em investimentos. Verá ainda os tipos de combinação de negócios, como fusão, cisão, incorporação e aqui- sição/alienação de controle e as diferenças entre as formas de encerramento de uma sociedade empresária serão também amplamente abordados. Agora é com você! Bons estudos! gente criando futuro I SBN 9788522129720 9 788522 129720 > C M Y CM MY CY CMY K CONTABILIDADE AVANÇADA Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, do Grupo Ser Educacional. Diretor de EAD: Enzo Moreira Gerente de design instrucional: Paulo Kazuo Kato Coordenadora de projetos EAD: Manuela Martins Alves Gomes Coordenadora educacional: Pamela Marques Equipe de apoio educacional: Caroline Guglielmi, Danise Grimm, Jaqueline Morais, Laís Pessoa Designers gráficos: Kamilla Moreira, Mário Gomes, Sérgio Ramos,Tiago da Rocha Ilustradores: Anderson Eloy, Luiz Meneghel, Vinícius Manzi Bíscaro, Crystian. Contabilidade avançada / Crystian Bíscaro; Rayanne Silva Barbosa – São Paulo: Cengage, 2020. Bibliografia. ISBN 9788522129720 1. Ciências contábeis 2. Contabilidade avançada 3. Barbosa, Rayanne Silva. Grupo Ser Educacional Rua Treze de Maio, 254 - Santo Amaro CEP: 50100-160, Recife - PE PABX: (81) 3413-4611 E-mail: sereducacional@sereducacional.com “É através da educação que a igualdade de oportunidades surge, e, com isso, há um maior desenvolvimento econômico e social para a nação. Há alguns anos, o Brasil vive um período de mudanças, e, assim, a educação também passa por tais transformações. A demanda por mão de obra qualificada, o aumento da competitividade e a produtividade fizeram com que o Ensino Superior ganhasse força e fosse tratado como prioridade para o Brasil. O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego – Pronatec, tem como objetivo atender a essa demanda e ajudar o País a qualificar seus cidadãos em suas formações, contribuindo para o desenvolvimento da economia, da crescente globalização, além de garantir o exercício da democracia com a ampliação da escolaridade. Dessa forma, as instituições do Grupo Ser Educacional buscam ampliar as competências básicas da educação de seus estudantes, além de oferecer- lhes uma sólida formação técnica, sempre pensando nas ações dos alunos no contexto da sociedade.” Janguiê Diniz PALAVRA DO GRUPO SER EDUCACIONAL Autoria Chrystian Bíscaro Graduado em ciências contábeis pela Universidade Estadual de Londrina, pós graduado em controladoria e finanças pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná e mestrando em Administração com ênfase em Gestão e Sustentabilidade pela Universidade Estadual de Londrina. Atualmente é consultor de empresas nas áreas de finanças, contabilidade e gestão estratégica. Também ministra cursos e treinamentos sobre análise de balanços e controladoria. Rayanne Silva Barbosa Graduada em Ciências Contábeis, mestra em Contabilidade e Controladoria e doutoranda em Controladoria pela Universidade Federal de Uberlândia. Já ministrou aulas presenciais e EaD nas áreas de Contabilidade de Custos, Análise das Demonstrações Contábeis, Teoria da Contabilidade, Auditoria e Orçamento Empresarial. Também é graduada em Tradução. SUMÁRIO Prefácio .................................................................................................................................................8 UNIDADE 1 - Participações societárias ...........................................................................................9 Introdução.............................................................................................................................................10 1 Noções preliminares .......................................................................................................................... 11 2 Fundamentos legais e princípios contábeis ....................................................................................... 14 3 Eliminações contábeis ........................................................................................................................ 17 4 Participação minoritária ..................................................................................................................... 22 5 Lucros não realizados ......................................................................................................................... 23 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO ................................................................................................................27 PARA RESUMIR ..............................................................................................................................30 GABARITOS ...................................................................................................................................31 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................32 UNIDADE 2 - Técnicas contábeis .....................................................................................................35 Introdução.............................................................................................................................................36 1 Órgãos regulamentadores .................................................................................................................. 37 2. Técnicas e taxas de conversão ........................................................................................................... 42 3. Itens monetários e não monetários .................................................................................................. 46 4. Principais ajustes ............................................................................................................................... 47 5 Ganhos e perdas ................................................................................................................................ 51 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO ................................................................................................................54 PARA RESUMIR ..............................................................................................................................57 GABARITOS ...................................................................................................................................58 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................59 UNIDADE 3 - Avaliação de investimentos .......................................................................................61Introdução.............................................................................................................................................62 1 Investimentos ..................................................................................................................................... 63 2 Avaliação de investimentos: método do custo .................................................................................. 66 3 Avaliação de investimentos: método do valor justo .......................................................................... 67 4 Avaliação de investimentos: método da equivalência patrimonial ....................................................70 5 Participações societárias .................................................................................................................... 73 6 Provisão para perdas em investimento .............................................................................................. 78 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO ................................................................................................................81 PARA RESUMIR ..............................................................................................................................83 GABARITOS ...................................................................................................................................84 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................85 UNIDADE 4 - Tópicos de contabilidade societária ...........................................................................87 Introdução.............................................................................................................................................88 1 Juros sobre capital próprio ................................................................................................................. 89 2 Combinação de negócios ................................................................................................................... 99 3 Encerramento de sociedades ............................................................................................................. 101 4 Postulados ambientais ....................................................................................................................... 104 5 Legislação societária e legislação fiscal/tributária ............................................................................. 106 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO ................................................................................................................109 PARA RESUMIR ..............................................................................................................................111 GABARITOS ...................................................................................................................................112 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................113 Este livro trata da Contabilidade Avançada e apresenta os conceitos dessa importante área para controle das contas das organizações públicas e privadas, em linguagem fácil e repleto de exemplos aplicáveis. Na unidade 1 serão apresentados os regimes contábeis existentes e os grupos de contas que compõem o plano de contas. O modo de contabilizar fatos típicos da contabilidade pública e os exemplos práticos de plano de contas e da escrituração contábil também será claramente explicado. Os principais assuntos relacionados às demonstrações contábeis aplicadas à área pública serão discutidos na unidade 2, ao mesmo tempo em que lista pronunciamentos aplicados à área pública, que visam tornar as demonstrações mais transparentes. Aqui também será explicado o controle do patrimônio das entidades do setor público. Já na unidade 3, o balanço patrimonial na contabilidade pública será detalhado, explicando as regras e preceitos que são estabelecidos em normativos contábeis e na própria legislação brasileira. O passo a passo da realização do levantamento de um balanço patrimonial será mostrado nesta unidade também. Como se calcula a remuneração por juros sobre capital próprio e como se faz os lançamentos contábeis dessa forma de provento são alguns dos itens abordados na unidade 4. Os tipos de combinação de negócios como fusão, cisão, incorporação e aquisição/alienação de controle, além das diferenças entre as formas de encerramento de uma sociedade empresária, como falência, dissolução, liquidação e extinção e os aspectos contábeis desses processos, serão detalhados também. Por fim, os postulados ambientais, que fazem parte do escopo dos princípios de Contabilidade e são considerados como os pressupostos básicos para o exercício da contabilidade são mostrados embasados pelas leis que regula essa matéria. Bons estudos! PREFÁCIO UNIDADE 1 Participações societárias Olá, Você está na unidade Participações Societárias. Conheça aqui os conceitos de sociedades coligadas, controladas, ágio, deságio, participação minoritária, avaliação de investimentos, entre outros. Entenda, ainda, os fundamentos legais que direcionam os trabalhos do profissional de contabilidade, bem como a importância de se conhecer os princípios contábeis para o pleno exercício da profissão. Aprenda técnicas fundamentais relacionadas à consolidação das demonstrações contábeis, como as eliminações contábeis, os lucros não realizados e o tratamento dado aos acionistas minoritários. Conheça, também, algumas das principais normas que orientam as práticas contábeis, bem como os órgãos responsáveis pelas publicações desses documentos. Bons estudos! Introdução 11 1 NOÇÕES PRELIMINARES Para que possamos iniciar, serão apresentados conceitos e métodos avançados utilizados pela ciência contábil que buscam contribuir para o desenvolvimento técnico do estudante, ao mesmo tempo em que o proporciona espírito crítico sobre os fatos e atos administrativos e contábeis. O entendimento dessas informações se faz necessário diante do cenário globalizado que se percebe atualmente, pois o profissional da área contábil, detentor dos conhecimentos práticos e das legislações que regem o mundo empresarial, é peça fundamental de orientação para as entidades de qualquer setor da economia. Cabe lembrar ainda que a ciência contábil é uma ciência social aplicada, o que significa dizer que ela depende, analisa, apura e registra fatos das ações humanas. Essas ações, diante do cenário econômico global, tornam-se cada vez mais complexas, pois não existem fronteiras para as atividades comerciais, visto que, em apenas um instante, é possível efetuar uma transação comercial para um país localizado em outro continente, no qual a legislação pode ser totalmente diferente da do país de origem, com regras e políticas distintas, moeda muitas vezes válida apenas para aquela região, e diversas outras dissemelhanças que podem dificultar a padronização dos registros contábeis. Figura 1 - Comércio globalizado Fonte: EM Karuna, Shutterstock, 2020. 1.1 Desafios para o profissional de contabilidade Além do que já foi abordado, quando se pensa apenas no ambiente nacional, existem também outros desafios para o profissional de contabilidade. Todos os setores da economia são muito dinâmicos e se movimentam de uma forma exponencial. Como exemplo, podemos encontrar hoje duas empresas concorrentes, as quais amanhã podem se agrupar e formar uma nova empresa ou novo grupo empresarial; ou, ainda, é possível que uma empresa decida investir em uma outra 12 companhia, ou seja, adquira uma parcela do seu capital social. Variações monetárias, ganho ou perda nos investimentos, conversão dos relatórios contábeis para moeda estrangeira, entre outros aspectos, necessitam ser apurados e contabilizados tempestivamente. Isso, aliás, é um dos princípios da contabilidade, o chamado Princípioda Oportunidade, o qual entende que os processos de mensuração e apresentação dos elementos patrimoniais devem ser feitos de forma íntegra e oportuna, conforme determinado na Resolução CFC n. 1.282/2010. E, então, podemos perceber que o conhecimento dos conceitos, das legislações e dos órgãos reguladores que disciplinam esses assuntos, alinhado à técnica contábil, é imprescindível para o contador do futuro. Algumas noções preliminares tornam-se necessárias para que se possa aprofundar com segurança neste assunto tão complexo e ao mesmo tempo estimulante. Agora, vamos analisar alguns dos principais conteúdo desta disciplina. Inicialmente é importante que o profissional contábil sempre saiba qual a entidade que regulamenta, disciplina e orienta sobre os temas que serão abordados. A fundamentação legal e os princípios técnicos serão explorados de maneira detalhada adiante. Por isso, observe o nome de alguns órgãos, com cuja nomenclatura você já deve se acostumar desde já: Comissão de Valores Mobiliários (CVM); Conselho Federal de Contabilidade (CFC); Banco Central do Brasil (BACEN); Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (IBRACON) e Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC). A função de cada um e as normas que eles editam também serão abordados no próximo tópico. Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: 1.2 Conceitos básicos Quando se fala em investimentos em empresas, ou, em outras palavras, participações societárias, é comum que alguns termos apareçam. Portanto, para o profissional de contabilidade, a clareza desses conceitos contribui para que o exercício da profissão seja realizado com maior zelo, rigor e competência técnica. Vamos observar algum desses termos: 13 Coligadas O artigo 243, da Lei n. 6.404/76 dispõe que “são coligadas as sociedades nas quais a investidora tenha influência significativa”. Vale ressaltar que, de acordo com a referida lei, entendemos por influência significativa “quando a investidora detém ou exerce o poder de participar nas decisões das políticas financeira ou operacional da investida, sem controlá-la” e, também, ressaltamos que “é presumida influência significativa quando a investidora for titular de 20% (vinte por cento) ou mais do capital votante da investida, sem controlá-la” (BRASIL, 1976). Ágio Significa o ganho, ou seja, a diferença para mais entre o custo de aquisição de um determinado investimento (exemplo: participação societária) em detrimento do valor patrimonial desse mesmo investimento em determinado período (ALMEIDA, 1997; FRANÇA, 2010). É necessário compreender, neste momento, que o valor patrimonial representa o valor efetivo do patrimônio da sociedade investida, o qual pode ser maior ou menor do que aquele existente quando foi realizado o investimento (participação societária). Deságio Por dedução, esse termo reflete o oposto do ágio, abordado anteriormente. Portanto, o deságio reflete a perda, a diferença para menos entre o custo de aquisição de um determinado investimento em detrimento do seu valor patrimonial. Dividendos São uma parcela dos lucros destinados à distribuição aos acionistas de uma sociedade anônima. Os dividendos propostos (conta contábil do passivo circulante) são equivalentes aos lucros a pagar (conta contábil do passivo circulante). Por questões de terminologia, o que nas sociedades anônimas é chamado de dividendos, nas sociedades limitadas chama-se lucros. É importante salientar que existem regras muito bem definidas, também estabelecidas pela Lei n. 6.404/76, que devem ser seguidas no que diz respeito aos dividendos. Participação Minoritária Sempre que uma empresa controlada não tiver 100% de seu controle exercido por uma controladora, fatalmente haverá a existência da figura dos acionistas minoritários (FRANÇA, 2010). No Balanço Patrimonial, essa conta figurará no Passivo antes do Patrimônio Líquido, evidenciando assim que aquela é uma obrigação com capital de terceiros. 14 Avaliação de Investimentos Quando uma empresa decide investir a longo prazo (participação societária) em outra companhia, esse investimento deve ser mensurado e contabilizado para que assim os demonstrativos contábeis possam ser apresentados em consonância com as regras determinadas. Essa mensuração pode ser chamada de avaliação de investimentos, que, conforme o tipo de participação nas sociedades empresariais, pode ser adotadas técnicas diferentes. Entre as principais técnicas de avaliação de investimentos encontra-se o método de custo e o método de equivalência patrimonial (ALMEIDA, 1997). Após essa breve explanação sobre o conteúdo, esperamos ampliar a sua perspectiva e aprofundar mais alguns conceitos, além de exemplificar alguns modos de contabilização. Buscamos, com isso, oferecer uma experiência prática e elucidar possíveis questões que ainda possam não estar esclarecidas. 2 FUNDAMENTOS LEGAIS E PRINCÍPIOS CONTÁBEIS Conforme foi abordado anteriormente, é parte fundamental ao trabalho do profissional contábil o conhecimento das legislações, dos órgãos reguladores, dos princípios contábeis que norteiam as contabilizações, enfim, de todo o embasamento técnico que fornece suporte para as suas atividades. Dessa forma, comentaremos na sequência os principais fundamentos legais e princípios contábeis que devem orientar os trabalhos de qualquer profissional da contabilidade envolvido com tópicos avançados. Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: 15 2.1 Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976 Conhecida também como lei das sociedades por ações, essa extensa lei disciplina diversos aspectos das sociedades por ações, sendo que, para muitos assuntos, os conceitos estabelecidos nela têm sido estendidos para outros tipos de sociedade, como as sociedades por quotas de responsabilidade limitada. Dentre alguns capítulos importantes está o capítulo 18, que determina regras sobre a transformação, a incorporação, a fusão e a cisão de sociedades empresariais. Já o capítulo 20, por sua vez, trata sobre as sociedades coligadas, controladoras e controladas, e pode ser considerado verdadeiramente um roteiro esclarecedor sobre o tratamento e as regras que devem ser aplicados. Entre os principais pontos destacamos o conceito de cada tipo de sociedade investida (coligada ou controlada), a abordagem sobre a responsabilidade dos administradores, a forma de apresentação das demonstrações financeiras e as notas explicativas, a avaliação dos investimentos e a consolidação das demonstrações contábeis. Como percebemos é uma lei de grande importância. Todavia, é necessário que tenhamos em mente que ela foi formulada no ano de 1976, e, por isso, é natural que já tenha sofrido algumas alterações. Dentre as atualizações mais relevantes, destacamos a Lei n. 11.638/2007 e a Lei n. 11.941/2009. 2.2 Pronunciamento técnico CPC 18 (R2) O Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) foi criado no ano de 2005 e é composto por sete entidades que se uniram com o intuito de emitir documentos técnicos contábeis sobre a forma de proceder diante de múltiplas situações. A sua criação foi legitimada por meio da Resolução CFC n. 1.055/05. As entidades que o compõem são: Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca), Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec Nacional), B3 Brasil Bolsa Balcão, Conselho Federal de Contabilidade (CFC), Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon), Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi) e Entidades representativas de investidores do mercado de capitais. O objetivo do CPC é: o estudo, o preparo e a emissão de documentos técnicos sobre procedimentos de Contabilidade e a divulgação de informações dessa natureza, para permitir a emissão de normas pela entidade reguladora brasileira, visando à centralização e uniformização do seu processo de produção, levando sempre em conta a convergência da Contabilidade Brasileira aos padrões internacionais. (CONSELHOFEDERAL DE CONTABILIDADE, 2005, on-line) O CPC 18 estabelece a contabilização de investimentos em coligadas e em controladas e, além disso, define os critérios para que se aplique o método da equivalência patrimonial quando se fizer necessária a contabilização de investimentos em coligadas, em controladas e em 16 empreendimentos controlados em conjunto, também conhecidos como joint ventures (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2012a). 2.3 Pronunciamento técnico CPC 36 (R3) O CPC 36 tem por objetivo estabelecer diretrizes para elaborar e apresentar as demonstrações contábeis consolidadas quando a empresa controla uma ou mais entidades (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2012b). É um importante documento técnico que busca facilitar a compreensão dos usuários externos da contabilidade, uma vez que as demonstrações estarão de certa forma sintetizadas. 2.4 Instrução CVM 247, de 27 de março de 1996 A Comissão de Valores Mobiliários também contribuiu para o aprofundamento e consolidação dos critérios a serem adotados, no quesito de avaliação de investimentos em sociedades coligadas e controladas e de procedimentos para a elaboração e divulgação das demonstrações contábeis consolidadas. Isso ocorre porque é exatamente essa a base do texto da Instrução CVM 247/96, e, ao analisarmos o documento, percebemos que sempre existe uma preocupação das entidades regulamentadoras em respeitar o pleno atendimento aos Princípios Fundamentais de Contabilidade. Por isso, uma vez mais, vale ressaltar que os princípios contábeis devem orientar todo profissional da área e juntamente com demais dispositivos técnicos formam a base de um trabalho técnico, criterioso e fundamentado. 2.5 Resolução CFC n. 1.295, de 17 de setembro de 2010 O Conselho Federal de Contabilidade editou a Resolução n. 1.295/2010, tratando de um assunto pouco abordado por outras entidades. Ela se refere ao efeito das mudanças nas taxas de câmbio e a como se dá o processo de conversão das demonstrações contábeis. Destacamos, a seguir, um dos objetivos extraído na íntegra dessa resolução: Uma entidade pode manter atividades em moeda estrangeira de duas formas. Ela pode ter transações em moedas estrangeiras ou pode ter operações no exterior. Adicionalmente, a entidade pode apresentar suas demonstrações contábeis em uma moeda estrangeira. O objetivo desta Norma é orientar acerca de como incluir transações em moeda estrangeira e operações no exterior nas demonstrações contábeis da entidade e como converter demonstrações contábeis para moeda de apresentação. (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, 2010, on-line) 2.6 Norma brasileira de contabilidade ITG 09, de 21 de novembro de 2014 Essa norma atualizou diversas outras editadas anteriormente pelo CFC. Isso foi necessário porque era importante explanar as orientações e interpretações relacionadas às demonstrações contábeis individuais, demonstrações separadas, demonstrações consolidadas e à aplicação 17 do método de equivalência patrimonial. Diante de seu caráter orientador, essa norma tem diversos exemplos práticos de contabilização e apresentação das demonstrações contábeis para esclarecer os pontos técnicos e teóricos ali relacionados. Outros assuntos relevantes abordados são: investimentos em controladas e ágio por expectativa de rentabilidade futura (goodwill), expectativa de lucros futuros, lucros não realizados, perda de controle e alterações na participação em empresa controlada, entre outros (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, 2014). 2.7 Normas brasileiras de contabilidade – aspectos gerais Neste momento é possível que possa haver dúvidas sobre qual norma ou legislação deve ser adotada diante das situações que ocorrem no dia a dia do profissional de contabilidade, bem como sobre a sua ampla variedade de legislações. É importante saber sobretudo que a Lei n. 6.404/76 – e suas alterações – é a regra geral e deve ser seguida prioritariamente. Ao mesmo tempo, é preciso buscar orientação técnica nas normas específicas editadas principalmente pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC), pois esse é o órgão superior que determina a maneira pela qual serão realizados e confeccionados os trabalhos e peças contábeis. Percebemos também que muitas normas editadas pelo CFC estão correlacionadas a outras regras de órgãos distintos, de modo especial com o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) e também o International Financial Reporting Standards (IFRS), que, traduzido para o português, significa Normas Internacionais de Contabilidade, ou ainda, Normas Internacionais para Relatórios Financeiros. A fundação IFRS é uma organização criada para desenvolver uma padronização mundial de informações contábeis de alta qualidade, para que assim possam ser compreensíveis, aplicáveis e aceitos globalmente todos os padrões contábeis internacionais (INTERNATIONAL FINANCIAL REPORTING STANDARDS, 2017). 3 ELIMINAÇÕES CONTÁBEIS Após passar pelos conceitos iniciais e aprender sobre as normas que devem ser aplicadas nos assuntos avançados de contabilidade, é necessário que haja o aprofundamento sobre o assunto, FIQUE DE OLHO O CFC disponibiliza em seu endereço eletrônico uma relação com todas as normas contábeis completas, no qual ele indica o número da norma técnica, o nome da norma (que descreve o assunto abordado), e ainda faz correlações com os números das normas que tratam sobre o mesmo assunto tanto no CPC quanto no IFRS. O documento pode ser acessado por meio do link: https://cfc.org.br/tecnica/normas-brasileiras-de-contabilidade/normas-completas/ 18 além do exemplo prático de algumas situações. Assim, abordaremos as eliminações contábeis. As eliminações são necessárias em decorrência da consolidação das demonstrações contábeis. De acordo com Padoveze (1997, p. 198), a “consolidação de balanços é a técnica contábil de aglutinarmos o patrimônio e os resultados de um conglomerado de empresas que tem o mesmo controle societário e administrativo”. Recordemos o conceito de empresa controlada definida conforme a Lei n. 6.404/76 quando diz que “considera-se controlada a sociedade na qual a controladora, [...] é titular de direitos de sócio que lhe assegurem, de modo permanente, preponderância nas deliberações sociais e o poder de eleger a maioria dos administradores” (BRASIL, 1976). Logo, uma pergunta que devemos fazer é: como devem ser apresentados os relatórios contábeis consolidados, uma vez que existem lançamentos contábeis nas empresas controladas e nas controladoras que podem confundir, ou melhor dizendo, deixar incompreensível alguns relatórios quando estiverem unificados? Figura 2 - Análise de Relatórios Fonte: Portrait Images Asia by Nonwarit, Shuterstock, 2020. 3.1 Entendimento das eliminações contábeis Quando existe um grupo econômico formado por empresas controladas e controladoras, é natural que haja transações comerciais entre essas empresas. Como exemplo, podemos imaginar a Empresa Alpha e a Empresa Beta, respectivamente empresa controladora e controlada. Nenhum impedimento legal existe para que a Empresa Beta, hipoteticamente, preste serviços para receber a prazo da Empresa Alpha, desde que os serviços a serem realizados pela Empresa Beta estejam de acordo com o seu objeto social (atividades econômicas). 19 Sendo assim, no Balanço Patrimonial (BP) da Empresa Beta, o valor correspondente aos serviços a receber figurará em um grupo de contas no Ativo Circulante. Bem como no BP da Empresa Alpha, os serviços tomados a pagar estarão evidenciados em um grupo no Passivo Circulante. Porém, por ocasião da consolidação do BP, momento em que os demonstrativos das duas empresas serão aglutinados, a conta a receber de uma empresa será anulada pela conta a pagar da outra. Esse é o conceito básico que deve ser compreendido quando se trata do tema das eliminações contábeis. Borges (2016) deixa seu entendimento sobre essa questão da seguinte forma: Nos casos de demonstrações financeiras consolidadas que incluam partesrelacionadas, não são todos os saldos e transações que serão divulgados, visto que grande parte será eliminada no processo de consolidação. Em outras palavras, não é permissivo, nem mesmo racional a inclusão de valores relativos a operações comerciais oriundos de dentro de um mesmo grupo econômico, ilustrado pelas demonstrações financeiras consolidadas. (BORGES, 2016, p. 38) 3.2 Consolidação das demonstrações contábeis Voltando ao conceito de consolidação, Almeida (1997, p. 31) traz a seguinte definição: “a consolidação tem por objetivo apresentar demonstrações financeiras de duas ou mais sociedades como se fossem uma única entidade”. A necessidade da consolidação também está prevista na Instrução CVM n. 247/96 que exige que três demonstrações financeiras sejam consolidadas para as companhias de capital aberto: o Balanço Patrimonial, a Demonstração do Resultado do Exercício e a Demonstração do Fluxo de Caixa. Para fundamentar o exemplo prático que será apresentado em sequência, destaca-se na íntegra os artigos 24 e 28 da Instrução CVM n. 247/96, na parte que trata especificamente sobre as eliminações por ocasião da consolidação dos demonstrativos: Art. 24. Para a elaboração das demonstrações contábeis consolidadas, a investidora deverá observar, além do disposto no artigo 10, os seguintes procedimentos: I - excluir os saldos de quaisquer contas ativas e passivas, decorrentes de transações entre as sociedades incluídas na consolidação; II - eliminar o lucro não realizado que esteja incluído no resultado ou no patrimônio líquido da controladora e correspondido por inclusão no balanço patrimonial da controlada. III - eliminar do resultado os encargos de tributos correspondentes ao lucro não realizado, apresentando-os no ativo circulante/realizável a longo prazo - tributos diferidos, no balanço patrimonial consolidado. Art. 28. Para a elaboração da demonstração consolidada do resultado do exercício a 20 investidora deverá: II - excluir todas as receitas e despesas decorrentes de negócios entre a investidora e as sociedades controladas, bem como entre estas. Consideremos uma situação em que uma empresa controlada pertença integralmente à empresa controladora. A consolidação, neste caso, consiste em somar os valores constantes nos ativos, passivos e contas de resultado das duas companhias. Porém, é necessário eliminar o investimento (que constará na contabilidade da controladora) e o patrimônio líquido (que constará na contabilidade da controlada), bem como eliminar as possíveis receitas de equivalência patrimonial (que constará na contabilidade da controladora) uma vez que tal resultado estará evidenciado no resultado incorrido da controlada, através de suas receitas, despesas e custos. Exemplo Considere os seguintes fatos contábeis: a) A controladora adquiriu integralmente o capital social da empresa controlada em 1 de janeiro de 202X, pelo valor de $ 500, que se refere ao valor do patrimônio líquido da controlada. b) A controlada teve um lucro de $ 40 em 202X e os dividendos propostos foram de $ 30 em 31 de dezembro de 202X. Na contabilidade da controladora, os lançamentos relativos a esses fatos foram realizados da seguinte maneira: Quadro 1 - Lançamentos de fatos contábeis Fonte: Elaborado pelo autor, 2020. 21 Para fins didáticos, apresentamos a seguir o balancete de verificação das partidas dobradas contendo os saldos das contas contábeis após os registros anteriores. Antes de tudo, é importante recordar o conceito de balancete de verificação, esse instrumento contábil algumas vezes entendido como simples ou desnecessário mas que, na realidade, além de detectar possíveis erros de lançamentos, é muito importante para a tomada de decisão: O balancete de verificação tem como base o método das partidas dobradas [...]. Portanto, somando-se todos os débitos, por um lado, e todos os créditos, por outro, o total de ambos será sempre o mesmo. Assim, deve-se verificar se os lançamentos a débito e a crédito foram realizados adequadamente ou não. (MARION, 2009, p. 162) Figura 3 - Balancete de Verificação para consolidação exercício 31/12/202X Fonte: Fonte: ALMEIDA, 1997 (Adaptado). Para compreendermos melhor esse balancete, é necessário que observemos alguns pontos. Conforme as orientações técnicas destacadas anteriormente, é possível perceber que a conta Dividendos a receber que constava na contabilidade da empresa controladora foi eliminada no momento da consolidação. Isso ocorreu porque o valor de $ 30 dessa conta foi compensado com a conta contábil “Dividendos a pagar” constante no balancete da controlada. Por sua vez, o valor de $ 510, que figura na conta de “Investimentos”, também foi eliminado em contrapartida com o patrimônio líquido da controlada ($ 470), juntamente com a conta “Receita de equivalência patrimonial” ($ 40). Dessa forma, atendendo ao disposto na Instrução CVM 247/96, foram realizadas as eliminações 22 cabíveis. Então, as demais contas contábeis entre controladora e controlada foram somadas e demonstrada conforme as duas últimas colunas da tabela, que evidenciam o Demonstrativo de Resultado do Exercício e o Balanço Patrimonial consolidados. 4 PARTICIPAÇÃO MINORITÁRIA Quando uma empresa não é controlada integralmente, há a figura dos acionistas minoritários, os quais podem ser considerados proprietários da empresa controlada. A maior diferença dessa classe de acionistas é que eles não exercem o controle da empresa, e, por isso, algumas vezes podemos encontrar nos registros contábeis, para identificá-los, a nomenclatura “participações de não controladores”. 4.1 Apresentação dos acionistas minoritários no balanço Conforme afirma Almeida (1997), quando existe participação minoritária, o modo de proceder em relação à consolidação dos demonstrativos contábeis é diferente em comparação com a consolidação de uma entidade controlada integralmente por uma controladora. A definição que o autor aponta sintetiza bem a forma de mensuração e apresentação dos relatórios: A participação dos acionistas minoritários no patrimônio líquido da controlada deve ser incluída em grupo específico de contas do balanço patrimonial consolidado, imediatamente antes do patrimônio líquido. Por outro lado, a participação dos acionistas minoritários no resultado da controlada é apresentada na penúltima linha da demonstração consolidada de resultado, antes de se chegar ao lucro ou prejuízo líquido final consolidado. (ALMEIDA, 1997, p. 34) Na realidade, essa orientação fornecida por Almeida (1997, p. 34) está em conformidade com o que diz o artigo 25 da Instrução CVM 247/96. Vejamos: “a participação dos acionistas não controladores, no patrimônio líquido das sociedades controladas, deverá ser destacada em grupo isolado, no balanço patrimonial consolidado, imediatamente antes do patrimônio líquido”. Em síntese, quando houver a participação minoritária em uma empresa controlada, na ocasião da consolidação das demonstrações contábeis, tanto o valor que representa a obrigação com essa parcela dos acionistas (passivo), quanto a quantia correspondente à distribuição de resultados (DRE) continuarão sendo demonstrados na consolidação, sem que ocorra nenhuma eliminação. 4.2 Proteção aos acionistas minoritários É importante considerar também que os acionistas minoritários têm algumas proteções para que não haja desvantagens por força de ações tomadas pelos controladores (majoritários). Em especial destacamos o parágrafo 1º do artigo 202 da Lei n. 6.404/76, que possui a seguinte redação: 23 § 1º O estatuto poderá estabelecer o dividendo como porcentagem do lucro ou do capital social, ou fixar outros critérios para determiná-lo, desde que sejam regulados com precisão e minúcia e não sujeitem os acionistas minoritários ao arbítrio dos órgãos de administração ou da maioria. (BRASIL, 1976, on-line) Gelbcke et al. (2018), ressaltam que na legislação anterior à Lei n. 6.404/76, os acionistas minoritários estavam sujeitosàs decisões dos acionistas majoritários (controladores), pois eles, na maioria das vezes, têm maior representatividade nas Assembleias Gerais deliberativas. Por esse motivo, foi criada a figura do Dividendo Obrigatório, a fim de garantir uma parcela de lucro – mínima, porém garantidora –, para os acionistas não controladores (minoritários). 5 LUCROS NÃO REALIZADOS É comum, quando uma empresa é controlada por outras, que existam transações comerciais entre as empresas de um mesmo grupo. São as operações conhecidas como intercompanhias (intercompany). Santos e Machado (2005) explicam o conceito de lucros não realizados a partir dessas transações: Quando ocorre a transação de venda de ativos entre as controladas e coligadas e entre elas e a investidora e se esses ativos ainda não tiverem sido revendidos para terceiros até a data do encerramento do exercício, considera-se que o resultado dessa venda não foi realizado, pois houve uma transação apenas doméstica (intercompanhias), não havendo, portanto, resultado econômico na análise do grupo. Esse resultado será considerado realizado somente quando esses ativos forem revendidos a terceiros. Assim, enquanto permanecer no balanço da controladora, considera-se que o Lucro não foi Realizado. (SANTOS; MACHADO, 2005, p. 10) O conceito é fácil de ser compreendido, considerando que uma companhia, por si só, não pode gerar receitas e despesas para ela mesma, a não ser através de uma operação com terceiros. Levando em conta que, nas demonstrações contábeis consolidadas, a ideia é justamente a de apresentar os resultados de um grupo econômico, não faz sentido que transações entre as partes desse mesmo grupo sejam considerados para fins de apresentação aos acionistas. FIQUE DE OLHO Para saber mais sobre algumas proteções previstas na legislação que expressam determinados direitos para os acionistas minoritários, ou em outras palavras, os não controladores, leia na íntegra os artigos n. 117, 161, 215, 254 e 276 da Lei n. 6.404/76. 24 No mesmo sentido, Almeida (1997, p. 41) complementa o conceito dizendo que “as transações comerciais entre controladora e controlada devem ser eliminadas das demonstrações financeiras consolidadas. Essas transações envolvem geralmente prestações de serviços e vendas de imobilizados e estoques”. Vale ressaltar, também, que eventuais tributos, relacionados aos lucros não realizados deverão ser eliminados do resultado consolidado e, para fins de ajustes contábeis, deverão figurar no ativo circulante ou não circulante no balanço consolidado. Em complemento, também cabe destacar que, quando ocorre prejuízo em transações intercompanhias, ele não deve ser eliminado. Essa orientação está determinada no artigo 9°, parágrafo 2º, da Instrução CVM 247/96: “os prejuízos decorrentes de transações com a investidora, coligadas e controladas não devem ser eliminados no cálculo da equivalência patrimonial”. Também no mesmo sentido, encontramos o artigo 248 da Lei n. 6.404/76, o qual disciplina que “[...] no valor de patrimônio líquido não serão computados os resultados não realizados decorrentes de negócios com a companhia, ou com outras sociedades coligadas à companhia, ou por ela controladas”. Alguns exemplos dos impactos das transações intercompanhias na consolidação dos demonstrativos contábeis se fazem necessários para ampliar a perspectiva de aprendizagem. 5.1 Venda de ativo imobilizado não depreciável Quando ocorre a venda com lucro, de um ativo imobilizado não depreciável – por exemplo, um terreno – a consequência, e provavelmente o principal motivo para que seja realizada a sua eliminação no momento da consolidação é que, para a empresa que compra esse ativo, ele estará sendo superavaliado (pois foi vendido um ativo com lucro), e para a empresa que vende, existe um resultado econômico (lucro), o qual, na realidade, não foi observado efetivamente quando se considera o conglomerado econômico (consolidado). 25 Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: 5.2 Venda de ativo imobilizado depreciável Seguindo o princípio que verificamos anteriormente, quando ocorre a venda com lucro, de um ativo imobilizado no qual já ocorreu parte da depreciação, a empresa compradora deve depreciar a quantidade de períodos restantes. Porém, a inconformidade, nesse caso, quando se considera o grupo consolidado, é que uma vez que o bem está sendo vendido com lucro, ele será contabilizado na empresa compradora com valor maior do que estava na empresa vendedora e, consequentemente, o valor de sua depreciação mensal também será maior, desde que seja considerada a mesma taxa de depreciação e a quantidade de períodos a serem depreciados proporcionais. Logo, teremos um aumento na despesa de depreciação dentro do mesmo grupo, sem que se tenha efetivamente incorporado um novo bem imobilizado. 5.3 Venda de estoques Na mesma linha, quando uma das empresas do grupo, seja controlada ou controladora, efetuarem vendas de seus estoques, o resultado dessas operações deverá ser excluído. Também não é difícil de se compreender o motivo da eliminação, que é necessária pois, se os bens continuam em estoque no grupo que abrange as controladas, controladoras e/ou coligadas, não é prudente – e tampouco retrata a realidade – manter o registro dessas operações no consolidado. 5.4 Prestação de serviços Quando ocorre a prestação de serviços intercompanhias, também é preciso eliminar os resultados dos lançamentos contábeis na ocasião da consolidação. A contabilização geralmente envolverá, para a empresa que prestou serviços, um lançamento a débito em uma conta do ativo circulante (contas a receber) e a crédito em uma conta de receita. Para a empresa que adquiriu 26 os serviços, por sua vez, representará um lançamento a débito em conta no grupo de despesas com serviços e um lançamento a crédito em uma conta do passivo, geralmente contas a pagar. Quando consolidados, esses lançamentos devem ser eliminados, pois, na realidade, eles de certa forma anularão um ao outro. Todavia, tecnicamente é necessário a eliminação de cada item específico, pois, gerencialmente, a eliminação de cada valor em suas respectivas contas contábeis é de particular importância para a correta análise dos índices gerenciais. Enfim, é sempre recomendável que o profissional contábil esteja atento às legislações atualizadas que envolvem os fatos a serem contabilizados. O cuidado com a avaliação patrimonial, consolidação dos demonstrativos contábeis e as eliminações necessárias, devem fazer parte do escopo do contador do futuro. 27 Nesta unidade, você teve a oportunidade de: • conhecer as noções e conceitos preliminares que envolvem as participações societárias, tais como coligadas, controladas, ágio e deságio; • compreender os fundamentos legais e princípios contábeis que regem as ações dos profissionais de contabilidade e conhecer alguns órgãos como CFC, CPC, CVM e IRFS; • aprender sobre as eliminações contábeis e visualizar na prática como se apresentam essas eliminações no balanço e no resultado consolidado; • estudar sobre as participações minoritárias e como elas devem ser evidenciadas no balanço; • conhecer o conceito de lucros não realizados, bem como averiguar algumas das principais transações com essa característica. PARA RESUMIR AALMEIDA, M. C. Contabilidade Avançada: textos, exemplos e exercícios resolvidos. São Paulo: Atlas, 1997. BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as sociedades por ações. Brasília, DF: Congresso Nacional, 1976. Disponível em: planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ l6404compilada.htm. Acesso em: 3 fev. 2020. ______. Lei n. 11.638, de 28 de dezembro de 2007. Altera e revoga dispositivos da Lei no 6.404, de 15 de dezembro de 1976, e da Lei no 6.385, de 7 de dezembro de 1976, e estende às sociedades de grande porte disposições relativas à elaboração e divulgação de demonstrações financeiras. Brasília, DF: Congresso Nacional, 2007. Disponível em: planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11638.htm.Acesso em: 3 fev. 2020. ______. Lei n. 11.941, de 27 de maio de 2009. Altera a legislação tributária federal rela- tiva ao parcelamento ordinário de débitos tributários; concede remissão nos casos em que especifica; institui regime tributário de transição e dá outras providências. Brasília, DF: Congresso Nacional, 2009. Disponível em: planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007- 2010/2009/Lei/L11941.htm. Acesso em: 3 fev. 2020. BORGES, V. A. Contabilidade societária I. Rio de Janeiro: SESES, 2016. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução CFC n. 1.055/05, de 7 de ou- tubro de 2005. Cria o Comitê de Pronunciamentos Contábeis – (CPC), e dá outras providencias. Brasília: CFC, 2005. Disponível em: static.cpc.aatb.com.br/Imagens/ Res_1055.pdf?_ga=2.228442196.890734238.1578755296-505715103.1578755296&_ ga=2.228442196.890734238.1578755296-505715103.1578755296. Acesso em: 3 fev. 2020. ______. Resolução CFC n. 1.295/10, de 17 de setembro de 2010. Aprova a NBC TG 02 – Efeitos das Mudanças nas Taxas de Câmbio e Conversão de Demonstrações Contá- beis. Brasília: CFC, 2010. Disponível em: cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codi- go=2010/001295. Acesso em: 3 fev. 2020. ______. Norma brasileira de contabilidade – ITG 09, de 21 de novembro de 2014. Dispõe sobre as demonstrações contábeis individuais, demonstrações separadas, demonstra- ções consolidadas e aplicação do método de equivalência patrimonial. Brasília: CFC, 2014. Disponível em: cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?codigo=2014/ITG09. Aces- so em: 3 fev. 2020. COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Instrução CVM n. 247, de 27 de março de 1996. Dispõe sobre a avaliação de investimentos em sociedades coligadas e controladas e sobre os procedimentos para elaboração e divulgação das demonstrações contábeis consolidadas, para o pleno atendimento aos Princípios Fundamentais de Contabilidade e dá outras providências. Brasília: CVM, 1996. Disponível em: .cvm.gov.br/legislacao/ins- trucoes/inst247.html. Acesso em: 3 fev. 2020. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Pronunciamento Técnico CPC 18 (R2), de 13 de dezembro de 2012. Investimento em Coligada, em Controlada e em Empreendi- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS mento Controlado em Conjunto. 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Revista Contabilidade & Finanças, São Paulo, v. 16, n. 39. p. 7-19, 2005. UNIDADE 2 Técnicas contábeis Você está na unidade Técnicas Contábeis. Conheça aqui os principais órgãos regulamentadores nacionais e internacionais da profissão contábil. Entenda, ainda, as técnicas utilizadas e quais taxas de conversão devem ser adotadas quando uma entidade possui atividades no exterior. Aprenda, além disso, o que são itens monetários e não monetários, bem como os principais ajustes que são realizados na contabilidade diante de certos eventos. Conheça também os procedimentos que devem ser adotados quando a entidade reconhece ganhos ou perdas em suas transações. Bons estudos! Introdução 33 1 ÓRGÃOS REGULAMENTADORES A contabilidade é uma ciência social aplicada, e a definição sintética de Ribeiro (2002, p. 14) esclarece que ela “permite, através de suas técnicas, manter um controle permanente do patrimônio da empresa”. Dentro dessa perspectiva, é necessário considerarmos que, para atingir adequadamente seus objetivos, o profissional de contabilidade saiba onde encontrar recursos e subsídios suficientes para que, assim, possa desempenhar e desenvolver as suas múltiplas atividades. Além disso, é imprescindível que ele entenda a estrutura dos órgãos regulamentadores de sua profissão a fim de que, de acordo com o porte, o ramo de negócio e a complexidade de cada operação, tenha a clareza da aplicabilidade das respectivas regulamentações. O Conselho Federal de Contabilidade (CFC) esclarece como o profissional contábil deve proceder em relação a aplicação das normas contábeis diante de tantos órgãos que emitem os seus diversos pareceres, pronunciamentos, entre outros documentos: A contabilidade, por ser uma ciência social, é única, independentemente do tamanho ou da natureza da entidade. Assim o registro de um ato ou fato administrativo não pode ser diferente em uma entidade pelo fato dela ser maior ou menor que outra entidade. O que pode ocorrer é a adoção de procedimentos específicos, no que se refere principalmente a critérios de avaliação, para determinadas entidades, entre outros motivos, em função do porte, da complexidade das operações e do ramo de negócios. Assim não há que se cogitar de contabilidade diferente, mas de procedimentos e controles mais simples ou sofisticados de acordo com o porte da entidade. Deve-se considerar o fato de que os Pronunciamentos, Interpretações e Orientações emanadas do Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC não têm poder normativo. No caso específico dos profissionais de contabilidade, o poder normativo é configurado quando publicada a Norma Brasileira de Contabilidade – NBC, pelo Conselho Federal de Contabilidade. Assim, objetivamente as Normas Brasileiras de Contabilidade – NBC, emitidas pelo Conselho Federal de Contabilidade são de aplicação compulsória por todos os profissionais, sejam eles responsáveis por grandes ou pequenas entidades (nestas incluídas as microempresas). (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, [201-], on-line) Dessa forma, fica evidente que, no que tange à aplicabilidade das normas contábeis, o órgão que tem autonomia e hierarquia para fazer valer as suas determinações é o Conselho Federal de Contabilidade, sendo que outras regulamentações, interpretações, orientações, bem como outros documentos, deverão estar em conformidade com alguma determinação do próprio CFC. Caso contrário, corre-se o risco de executar um trabalho fora dos padrões técnicos. Com esse entendimento, podemos seguir para apresentação dos principais órgãos regulamentadores, verificando suas finalidades e a abrangência da edição de seus documentos. Apresentaremos órgãos nacionais e internacionais, pois não podemos esquecer que, com a convergência da contabilidade em padrões internacionais, e com a globalização da economia, as fronteiras para o universo contábil deixaram de existir, o que faz todo sentido e está alinhado com a orientação do CFC, a qual retrata que “a contabilidade é uma ciência única”. 34 1.1 Órgãos regulamentadores nacionais Verificaremos, agora, os principais órgãos regulamentadores nacionais que têm relação com o profissional de contabilidade. É importante salientar que, muitas vezes, a depender do porte e ramo de atividade que o profissional esteja atuando, ele deverá atender às normas brasileira de contabilidade, em conjunto com determinações ou exigências específicas de certos órgãos fiscalizadores de algumas atividades, como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) ou o Banco Central do Brasil (BACEN). O órgão máximo que determina as normas contábeis que deverão ser seguidas é o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) Trata-se de uma Autarquia Especial Corporativa e possui personalidade jurídica de direito público. O CFC foi criado e é regido por umalegislação específica: o Decreto-Lei n. 9.295/4, e, ainda, cabe salientar que esse órgão possui estrutura, organização e funcionamento regulamentados pela Resolução CFC n. 1.370/2011, a qual aprova o Regulamento Geral dos Conselhos de Contabilidade. Em relação à sua estrutura, o CFC é composto por um representante de cada estado e do Distrito Federal, totalizando, portanto, 27 conselheiros efetivos e seus respectivos suplentes. Dentre outras finalidades, e sempre considerando a legislação vigente, as suas principais atribuições estão relacionadas a fornecer orientações técnicas aos profissionais de contabilidade, normatizar os procedimentos contábeis a serem observados e fiscalizar o exercício da profissão contábil, a fim de averiguar se os critérios e regras estabelecidas estão sendo seguidos, o que garante a profissionalização e valorização do profissional contábil. Vale ressaltar que as fiscalizações são efetivadas por meio dos Conselhos Regionais de Contabilidade. O CFC é também o órgão, em última instância, que decide sobre recursos e defesas originadas e impostas pelos Conselhos Regionais. Além disso, ele também deve regular os princípios contábeis (que atualmente são sete), o cadastro de qualificação técnica (específico para contadores interessados em atuar como auditores e peritos) e os programas de educação continuada (que são obrigatórios para determinados profissionais da contabilidade, porém aberto e facultativo para todos). O CFC também é o órgão responsável pela edição e publicação das Normas Brasileiras de Contabilidade, que podem ser divididas em dois grupos: normas profissionais e normas técnicas. As normas profissionais dizem respeito às práticas que devem ser adotadas pelos profissionais de contabilidade (contadores, auditores, peritos, entre outros). Já as normas técnicas apresentam característica de instrução de procedimentos nas diversas esferas onde a contabilidade é aplicada (setor público, terceiro setor, microempresas etc.). Além do CFC, temos os Conselhos Regionais de Contabilidade (CRCs), que foram criados por meio do Decreto-Lei n. 9.295/46. Uma de suas principais atribuições está relacionada às ações de 35 fiscalização do exercício da profissão contábil. São esses órgãos que, dentro de sua abrangência estatual, atuam diretamente junto aos profissionais contábeis (pessoa física) e aos escritórios de prestação de serviços contábeis (pessoa jurídica). A fiscalização do CRC pode ter caráter preventivo ou punitivo. Nas ações de fiscalização preventiva, como o próprio nome sugere, o objetivo é divulgar e orientar os profissionais de contabilidade em relação às normas e princípios que regem a profissão contábil. Por outro lado, a dimensão punitiva é aplicada quando são encontrados pelos fiscais irregularidades ocorridas no exercício da profissão. Destacamos, ainda, algumas atribuições dos conselhos regionais que estão expressas no artigo 10 do Decreto-Lei n. 9.295/46, conforme segue: a) examinar reclamações a representações escritas acerca dos serviços de registro e das infrações dos dispositivos legais vigentes, relativos ao exercício da profissão de contabilista, decidindo a respeito; b) fiscalizar o exercício das profissões de contador, impedindo e punindo as infrações, e, bem assim, enviando às autoridades competentes minuciosos e documentados relatórios sobre fatos que apurarem, e cuja solução ou repressão não seja de sua alçada; c) publicar relatório anual de seus trabalhos e a relação dos profissionais registrados; d) elaborar a proposta de seu regimento interno, submetendo-o à aprovação do Conselho Federal de Contabilidade; e) representar ao Conselho Federal Contabilidade acerca de novas medidas necessárias, para regularidade do serviço e para fiscalização do exercício da profissão [...]. (BRASIL, 1946, on-line) Além do CFC e dos CRCs, diante da necessidade da convergência internacional das normas contábeis, da centralização na emissão dessas normas e, da representação e processos democráticos na elaboração dessas informações foi criado, no ano de 2005, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC). Ele é composto por sete entidades, que se uniram com o intuito de contribuir e atender a essas necessidades: Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca), Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec Nacional), B3 Brasil Bolsa Balcão, Conselho Federal de Contabilidade (CFC), Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon), Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi) e Entidades representativas de investidores do mercado de capitais. A criação do Comitê se deu por meio da Resolução CFC n. 1.055/05 que apresenta, como objetivo do CPC: O estudo, o preparo e a emissão de documentos técnicos sobre procedimentos de Contabilidade 36 e a divulgação de informações dessa natureza, para permitir a emissão de normas pela entidade reguladora brasileira, visando à centralização e uniformização do seu processo de produção, levando sempre em conta a convergência da Contabilidade Brasileira aos padrões internacionais. (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, 2005, on-line) Os principais documentos que o CPC elabora e emite são Pronunciamentos, Interpretações, Orientações e Comunicados. Todos esses são documentos técnicos, e é importante destacar que todos os pronunciamentos sempre são submetidos a audiências públicas, sendo que as Orientações e Interpretações também poderão passar por esse mesmo tipo de processo. Um quarto órgão regulamentador que também deve ser destacado é a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Ela é uma autarquia em regime especial, e está diretamente ligada ao Ministério da Economia, (até 31 de dezembro de 2018 foi chamada de Ministério da Fazenda). Criada em 7 de dezembro de 1976, pela Lei 6.385/76, possui personalidade jurídica e patrimônio próprios. Sua autoridade administrativa é independente, o que significa que ela não está subordinada a nenhum outro órgão governamental. No que tange à sua administração interna e estrutura de pessoal, a CVM garante a estabilidade de seus dirigentes, além de propiciar-lhes mandato fixo. Por fim, no que diz respeito às questões financeiras e orçamentárias, a entidade possui autonomia para deliberar de forma independente sobre tais quesitos. Os principais objetivos dessa entidade são os de fiscalizar, normatizar, disciplinar e desenvolver o mercado de valores mobiliários no Brasil. Vale lembrar que, de acordo com a Lei 10.198/2001, o conceito de valores mobiliários tornou-se mais genérico a fim de abranger todos os títulos que se enquadram nessa categoria. Desta forma o conceito está assim descrito: Constituem valores mobiliários, quando ofertados publicamente, os títulos ou contratos de investimento coletivo, que gerem direito de participação, de parceria ou de remuneração, inclusive resultante de prestação de serviços, cujos rendimentos advêm do esforço do empreendedor ou de terceiros. (BRASIL, 2001, on-line) Dentro de sua competência e atribuições que lhe são exigíveis, a CVM poderá examinar registros contábeis, livros e documentos de pessoas e/ou empresas sujeitas à sua fiscalização, além de intimá-las a prestar declarações ou esclarecimentos. Ela pode, ainda, solicitar informações a órgãos e empresas públicas, e possui poderes para determinar às companhias abertas a republicação de demonstrações financeiras e múltiplos dados. Outra entidade regulamentadora, que é uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Economia, é o Banco Central (BACEN). O BACEN foi criado em 31 de dezembro de 1964, por meio da Lei n. 4.595. Dentre diversas competências e atribuições que lhe dizem respeito, a que mais chama a atenção para o profissional de contabilidade é a sua autoridade para realizar a organização, disciplina e fiscalização do Sistema Financeiro Nacional (SFN) e do Sistema de Consórcio (BACEN, [2019]). Isso significa que asentidades subordinadas ao Sistema Financeiro Nacional, e ao Sistema 37 de Consórcio, deverão atender também eventuais regulamentos emitidos pelo BACEN. Destaca- se a Resolução n. 484/78 e suas alterações, que tratam sobre os procedimentos a serem adotados na avaliação e contabilização de investimentos em sociedades coligadas ou controladas, também se refere à questão das reavaliações e por fim estabelece a obrigatoriedade de auditoria externa para determinadas instituições (BACEN, 1978). Como percebemos, a normas contábeis a serem adotadas pelo profissional de contabilidade devem sempre estar em conformidade com a determinação do Conselho Federal de Contabilidade (CFC). Porém, de acordo com cada ramo de atividade e porte da empresa, podem existir outros órgãos que fiscalizem ou que exerçam fiscalizações dos mais diversos temas, inclusive no que tange aos aspectos contábeis. Sendo assim, além dessas entidades nacionais, destacam-se outros órgãos que podem ser de interesse do usuário da contabilidade e profissionais envolvidos: Receita Federal do Brasil (RFB), Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) e Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP). 1.2 Órgãos regulamentadores internacionais Desde o ano de 2007, quando ocorreram diversas mudanças na legislação brasileira com relação à convergência brasileira aos padrões internacionais de contabilidade, alguns órgãos regulamentadores internacionais começaram a ganhar destaque no cenário nacional. O International Accounting Standards Board (IASB), que, em português, significa “Conselho Internacional de Normas Contábeis”, é uma instituição internacional criada em 2001, com sede em Londres, que tem como objetivo estudar os padrões contábeis, publicar e promover as normas contábeis internacionais. Os pronunciamentos e normas emitidos pelo IASB são conhecidos pela sigla IFRS, que são as iniciais das palavras, em inglês, International Financial Reporting Standard, e que podemos traduzir como Normas Internacionais de Contabilidade, ou, ainda, Normas Internacionais para Relatórios Financeiros. Jochem (2013), esclarece que o modelo conhecido como IFRS está presente em mais de 140 países. Editado pelo Conselho Federal de Contabilidade, apresenta várias possibilidades de adoção por parte das empresas: • IFRS full (completo) é aquele que exige a adoção de todas as normas editadas (as NBC TGs). • IFRS para Pequenas e Médias Empresas (NBC TG 1000), para Microempresas e Empresas de Pequeno Porte. Outro importante órgão regulamentador internacional é a International Federation of Accountants (IFAC), que pode ser chamada, em português, de “Federação Internacional de Contadores”. Esse é um órgão internacional da profissão contábil, cujo corpo é formado por mais 38 de 175 organizações associadas em 130 países, e representa quase três milhões de contadores profissionais. Seu objetivo principal está relacionado em atender o interesse dos membros associados, aumentando a relevância, a reputação e o valor da profissão contábil global. Também estabelece a promoção da adesão às normas profissionais de alta qualidade e contribui para o desenvolvimento das normas internacionais. Há, também, uma organização norte-americana, o Financial Accounting Standards Board (FASB), que tem como objetivo aumentar a comparabilidade internacional e a qualidade dos padrões contábeis utilizados nos Estados Unidos. O FASB, em português, “Conselho de Normas de Contabilidade Financeira”, também se propõe a emitir pronunciamentos contábeis válidos e visa a aperfeiçoar os procedimentos, conceitos e normas contábeis especialmente nos Estados Unidos. O interesse das normas publicadas por esse órgão para empresas no Brasil se deve ao fato de que as empresas brasileiras que negociam ações no mercado de capitais americano devem preparar ou adaptar suas demonstrações aos padrões FASB. Esses padrões são conhecidos através da sigla GAAP, que corresponde a Generally Accepted Accounting Principles, em português, “Princípios Contábeis Geralmente Aceitos”. 2. TÉCNICAS E TAXAS DE CONVERSÃO Uma empresa pode ter investimentos societários no exterior, seja por meio de uma filial ou de empresas controladas e coligadas. Naturalmente, os resultados financeiro-econômicos de uma empresa que possui tais investimentos, poderão sofrer alterações devido à influência na taxa de câmbio (GELBCKE et al, 2018). De acordo com Almeida (1997, p. 151), “a avaliação dos fatos registrados pela contabilidade em unidades monetárias é muito importante para demonstrar e homogeneizar os diversos itens do patrimônio das entidades”. Portanto, percebemos que entender os métodos e técnicas existentes para realizar a conversão das demonstrações contábeis é fundamental 2.1 Pronunciamento Técnico CPC 02 (R2) O CPC 02 (R2), aprovado em 2010, trata sobre os efeitos das mudanças nas taxas de câmbio e conversão de demonstrações contábeis. Devido à sua constante atualização, principalmente para que as normas contábeis estejam alinhadas às normas internacionais emitidas pelo IASB, o CPC 02 já passou por duas revisões – identificadas pela letra “R” seguida do número “2” dentro dos parênteses, logo após o número do Pronunciamento Técnico CPC. Esse pronunciamento é muito utilizado, em especial porque foi aprovado por diversos outros órgãos reguladores, confirmando a sua coerência, abrangência e aplicabilidade. Os órgãos que manifestaram a sua aprovação foram CVM, CFC, ANS, SUSEP, ANEEL, ANTT e BACEN. 39 Algumas definições são necessárias para que se possa aprofundar nas questões técnicas. Tais definições encontram-se no início do Pronunciamento CPC 02 (R2): Taxa de fechamento É a taxa de câmbio à vista vigente ao término do período de reporte. Variação cambial É a diferença resultante da conversão de um número específico de unidades em uma moeda para outra moeda, a diferentes taxas cambiais. Taxa de câmbio É a relação de troca entre duas moedas. Valor justo É o preço que seria recebido pela venda de um ativo ou que seria pago pela transferência de um passivo em uma transação não forçada entre participantes do mercado na data de mensuração. Moeda estrangeira É qualquer moeda diferente da moeda funcional da entidade. Entidade no exterior É uma entidade que pode ser controlada, coligada, empreendimento controlado em conjunto ou filial, sucursal ou agência de uma entidade que reporta informação, por meio da qual são desenvolvidas atividades que estão baseadas ou são conduzidas em um país ou em moeda diferente daquelas da entidade que reporta a informação. Moeda funcional É a moeda do ambiente econômico principal no qual a entidade opera. Grupo econômico É uma entidade controladora e todas as suas controladas. Itens monetários São unidades de moeda mantidas em caixa e ativos e passivos a serem recebidos ou pagos em 40 um número fixo ou determinado de unidades de moeda. Investimento líquido em entidade no exterior É o montante que representa o interesse (participação na maior parte das vezes) da entidade que reporta a informação nos ativos líquidos dessa entidade. Moeda de apresentação É a moeda na qual as demonstrações contábeis são apresentadas. Taxa de câmbio à vista É a taxa de câmbio normalmente utilizada para liquidação imediata das operações de câmbio. Desses conceitos, um dos mais relevantes é o da moeda funcional, pois essa definição irá impactar diretamente os cálculos e a apresentação das demonstrações contábeis. O CPC 02 (R2) esclarece que para uma entidade determinar sua moeda funcional deve considerar diversos fatores, entre eles a moeda que mais influencia os preços de bens e serviços, a moeda que mais influencia o valor de mão de obra e materiais e, ainda, a moeda na qual são normalmente acumulados valores recebidos de atividades operacionais. Uma vez que foi determinada a moeda funcional, ela não deve ser alterada, pois, caso contrário, perde- se a característica da comparabilidade das demonstrações contábeise, consequentemente, a qualidade das informações geradas diminuirá. 2.2 Conversão de contas patrimoniais e de resultado De maneira geral, a regra a ser adotada, conforme o item 39 do CPC 02 (R2), em relação ao procedimento de conversão das demonstrações contábeis diferenciam-se entre as contas patrimoniais (ativo e passivo) e as contas de resultado (receitas e despesas). FIQUE DE OLHO A Embraer S/A, com sede no Brasil, é um exemplo de empresa que utiliza o dólar dos Estados Unidos da América como moeda funcional. Essa decisão está esclarecida nas notas explicativas juntamente com os relatórios financeiros do terceiro trimestre de 2019. Além disso, outras práticas contábeis adotadas pela companhia são esclarecidas no relatório visando a transparência com os investidores. O documento pode ser acessado no link: https://ri.embraer.com.br/listresultados.aspx?idCanal=dwxMd7dcHTw/kwbNAc2ESQ== 41 O pronunciamento determina que os ativos e passivos devem ser convertidos utilizando-se a taxa de fechamento na data do respectivo balanço. Já para as receitas e despesas, a conversão deve considerar as taxas cambiais em vigor nas respectivas datas das transações. Por fim, as variações cambiais que ocorrerem referentes às conversões deverão ser reconhecidas em uma conta específica no patrimônio líquido da entidade, normalmente conhecida como “outros resultados abrangentes”. Vamos analisar, agora, um exemplo prático. Considere os seguintes fatos contábeis: No dia 31 de dezembro de 20X1, uma empresa brasileira decide investir US$ 28.000,00 em uma empresa nos Estados Unidos. Nesse dia, a taxa de câmbio era R$ 3,57, portanto, o desembolso em reais foi de R$ 100.000,00. Para fins didáticos, considere que a empresa dos Estados Unidos não realizou nenhuma operação durante o ano seguinte (20X2) e continuou com aqueles recursos (US$ 28.000,00) em seu caixa. Porém, no dia 31 de dezembro de 20X2 a taxa de câmbio era R$ 3,80, então, a empresa brasileira deve realizar a conversão do seu balanço patrimonial conforme a data da apuração em 31 de dezembro de 20X2. Tabela 1 - Balanço Patrimonial Fonte: Elaborada pelo autor, 2020. Observe que a variação cambial positiva, nesse caso, ficou evidenciada conforme determina o CPC 02 (R2), ou seja, em uma conta chamada Outros Resultados Abrangentes, que se encontra dentro do Patrimônio Líquido da empresa brasileira. Logo, percebemos que essa variação cambial, apesar de refletir um ganho para a entidade, não deve ser contabilizada como receita, mas sim diretamente no PL. 42 3. ITENS MONETÁRIOS E NÃO MONETÁRIOS No âmbito das normas contábeis, em especial o Pronunciamento CPC 02 (R2), existem regras específicas que deverão ser adotadas de acordo com os itens das demonstrações contábeis. Ou seja, a forma de conversão para a devida contabilização pode ser diferente, dependendo da característica do item. Esses itens classificam-se em duas categorias: itens monetários e itens não monetários. Itens monetários · Representam o direito a ser realizado ou uma obrigação a ser exigida em um número fixo ou determinável de unidades de moeda, como dinheiro em espécie no caixa, saldo das contas bancárias, contas a receber em dinheiro, contas a pagar em dinheiro etc. (BRAGA; SOARES, 2018; FIPECAFI, 1995). Itens não monetários Representam uma obrigação a pagar ou direito a receber, porém seus respectivos valores, num conceito mais simples, não necessariamente serão realizados em dinheiro, por exemplo: ativo imobilizado, estoques, adiantamento de clientes, despesas antecipadas, entre outros. 3.1 Itens monetários e não monetários em moeda estrangeira Quando uma entidade realiza uma transação em moeda estrangeira, o valor a ser considerado no momento da contabilização deve ser o da moeda funcional da entidade, convertida pela taxa de câmbio à vista entre a moeda funcional e a moeda estrangeira, na data da transação ocorrida. Porém, e em complemento ao que foi visto no tópico anterior, o CPC 02 (R2) estabelece alguns critérios que devem ser adotados quando da apresentação dos demonstrativos contábeis nas situações em que a empresa possui transações em moeda estrangeira. Esses critérios encontram- se no item 23 do pronunciamento: a) Os itens monetários em moeda estrangeira devem ser convertidos, usando-se a taxa de câmbio de fechamento; b) Os itens não monetários que são mensurados pelo custo histórico em moeda estrangeira devem ser convertidos, usando-se a taxa de câmbio vigente na data da transação; e c) Os itens não monetários que são mensurados pelo valor justo em moeda estrangeira devem ser convertidos, usando-se as taxas de câmbio vigentes nas datas em que o valor justo tiver sido mensurado. (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2010, on-line) 43 Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: 3.2 Registro pelo custo histórico e pelo valor justo Para a apresentação de demonstrativos contábeis em moeda estrangeira, vale ressaltar o conceito de registro pelo custo histórico e o registro de custo pelo valor justo. O custo a valor justo é uma forma de mensuração de determinado item patrimonial baseado em valores de mercado. O CPC 46, em seu Apêndice A, define valor justo como sendo o “preço que seria recebido pela venda de um ativo ou que seria pago pela transferência de um passivo em uma transação não forçada entre participantes do mercado na data de mensuração” (GELBCKE et al., 2018). Por sua vez, encontramos em Martins (2003, p. 21) uma definição simples e ao mesmo tempo clara sobre o conceito do registro pelo custo histórico, qual seja “os ativos são registrados contabilmente por seu valor original de entrada, ou seja, histórico”. 4. PRINCIPAIS AJUSTES No decorrer das práticas contábeis diárias, ocorrem inúmeros fatos e atos administrativos que são registrados pela contabilidade, e que posteriormente merecem tratamento técnico apropriado para que se possa garantir o atendimento dos princípios contábeis fundamentais e a convergência dos relatórios contábeis adequados às normas internacionais. Esses tratamentos técnicos, na maioria dos casos, são conhecidos como ajustes. 44 Figura 1 - Ajustes contábeis Fonte: Simone van den Berg, Sutterstock, 2020. 4.1 Ajuste a valor presente O termo ajuste a valor presente remete aos termos e cálculos financeiros nos quais ocorrem operações matemáticas para se converter, em uma data atual, um valor que irá ocorrer em data futura, utilizando-se, para isso, uma determinada taxa de desconto. Nesse sentido, o conceito de ajuste a valor presente ganha respaldo. Normalmente, nas operações com a exigência de recebimento ou pagamento a longo prazo, há incidência de juros. O grande desafio para os profissionais de contabilidade estava justamente em retratar, por meio das demonstrações contábeis, informações em uma data atual referente a um evento que aconteceria no futuro (cobrança com juros, por exemplo). Isso, de certa forma, parecia não estar adequado à realidade da entidade e, consequentemente, poderia colocar em risco as avaliações oriundas dos diversos usuários da contabilidade. Por meio da Lei n. 11.638, de 28 de dezembro de 2007, ficou estabelecido o desconto a valor presente para contas a pagar e receber de longo prazo, e, conforme situações específicas, também pode ser aplicado para as contas de curto prazo (GELBCKE et al., 2018). O CPC 12, que foi aprovado e divulgado em 2008, e que trata exclusivamente sobre o Ajuste a Valor Presente, 45 define de forma sintética o conceito de valor presente como sendo “a estimativa do valor corrente de um fluxo de caixa futuro”. A contabilização do ajuste a valor presente deve ocorrer no exato momento em que a transação principal que originou o lançamento for reconhecida. Hipoteticamente será demonstrada uma sequência de contabilização para melhor compreensão: Vamos a um exemplo prático: Considere uma empresa que realizou uma venda a longo prazo no montante de R$ 20.000,00, sendo que o valor da mercadoria vendida é R$
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