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GESTÃO DE VENDAS W BA 00 78 _v 2. 0 22 Carla Montenegro de Vasconcellos Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2019 Gestão de vendas 1ª edição 33 3 2019 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Carolina Yaly Giani Vendramel de Oliveira Juliana Caramigo Gennarini Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Tayra Carolina Nascimento Aleixo Revisor Marcos Antonio Dias Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Daniella Fernandes Haruze Manta Hâmila Samai Franco dos Santos Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Vasconcellos, Carla Montenegro de V331g Gestão de vendas/ Carla Montenegro de Vasconcellos, – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2019. 125 p. ISBN 978-85-522-1638-4 1. Planejamento estratégico. 2. Preços. I. Vasconcellos, Carla Montenegro de. Título. CDD 300 Thamiris Mantovani CRB: 8/9491 © 2019 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. 44 SUMÁRIO Apresentação da disciplina 5 Gestão do relacionamento com os clientes 7 Planejamento de vendas 29 Gestão da força de vendas 54 Canais de marketing 81 Precificação estratégica 108 Negociação 133 Gestão de stakeholders e ética em vendas 157 GESTÃO DE VENDAS 55 5 Apresentação da disciplina A área de vendas é a primeira a ser lembrada quando o assunto diz respeito às receitas da empresa. Ela executa a estratégia corporativa na ponta do cliente e muitas vezes acompanha o processo em toda a cadeia de abastecimento para garantir a satisfação das necessidades e expectativas do mercado, desde o pré-venda ao pós-venda. Com o intuito de estabelecer uma ponte entre os interesses do mercado e os objetivos da organização, o gestor de vendas lança mão de diferentes ferramentas da administração de empresas. Por esse motivo, a Gestão de Vendas reúne temas de áreas de conhecimento distintas. O primeiro tema desta disciplina abordará a temática do marketing baseado no relacionamento, nas estratégias de fidelização e seus benefícios para o cliente e para a empresa. Também introduzirá as etapas básicas do processo de vendas. O segundo assunto abordado será o planejamento de vendas, a definição de objetivos táticos e operacionais, bem como a análise do potencial de mercado e previsão de demanda. O terceiro tema dará ênfase em uma série de ações para gerenciar a força de vendas, tais como: estruturação, dimensionamento, definição de territórios, motivação, planos de remuneração, gestão e avaliação de desempenho. Em seguida serão discutidas questões referentes aos canais de marketing, importantes intermediários entre a empresa e seus consumidores, incluindo conceitos de trade marketing, merchandising e gerenciamento de categoria. O quinto tema evidenciará a importância da precificação para o sucesso da estratégia nas organizações e oferece sugestões de práticas para diferentes situações, de acordo com as condições determinantes de cada uma delas. Como não poderia deixar de ser mencionado, outro assunto fundamental à gestão de vendas está relacionado às negociações e outras técnicas 66 para alcançar o outro por meio do diálogo, conhecendo o papel da percepção, da cognição e da emoção. Finalmente, o último assunto abordado dedica atenção aos interesses de todas as partes interessadas nos negócios da empresa e ressalta a importância da responsabilidade social corporativa e da conduta ética em vendas para o sucesso da organização no longo prazo. 77 7 Gestão do relacionamento com os clientes Autora: Carla Montenegro de Vasconcellos Objetivos • Identificar os fatores que atestam a importância de vendas e marketing para as organizações. • Descrever os modelos de negócios e a importância de ter o cliente como centro do negócio. • Identificar os benefícios dos relacionamentos de longo prazo para a empresa e para o cliente. • Enumerar as etapas do processo de vendas. 88 1. Gestão do relacionamento com os clientes Nesta Leitura Fundamental, será abordada a temática do marketing baseado no relacionamento com os clientes. Serão discutidos os diferentes modelos de mercado, sua natureza e características. Também descreveremos a importância da fidelidade dos clientes para a empresa e os benefícios que esses relacionamentos geram para os próprios clientes. Finalmente, apresentaremos as etapas do processo de vendas que podem servir como guia para direcionar os esforços dos gestores no sentido do atendimento dos objetivos corporativos. 1.1 Marketing e vendas Sempre que o assunto diz respeito às receitas da empresa, pensamos em vendas. Fortalecer a marca e desenvolver novos produtos é tarefa do marketing. Porém, quando pensamos na estratégia voltada para o mercado, no relacionamento com os clientes e nas políticas comerciais, é comum que não se consiga distinguir onde termina a responsabilidade de um departamento e começa a do outro. O que pode significar conflito entre funções, na realidade, evidencia a necessidade de alinhamento e trabalho conjunto para conquistar os objetivos da empresa. Em empresas de menor porte, é comum que ambas as funções sejam executadas por uma equipe única, mais enxuta e focada no cliente. A gestão de vendas pode ser considerada a atividade de marketing mais próxima do cliente. Ao mesmo tempo, ela promove a integração de todas as funções envolvidas na geração de soluções para os clientes, do pré-venda ao pós-venda. Do ponto de vista da estratégia corporativa, uma das responsabilidades fundamentais da área de vendas é a interpretação do ambiente externo 99 9 e a coleta de informações novas sobre as tendências do mercado, para que a empresa possa adaptar seu curso de forma rápida e precisa. Marketing e vendas precisam caminhar juntos para que o setor comercial da empresa seja eficiente, gerando receitas e lucros que garantirão a sustentabilidade do negócio no longo prazo. 2. Modelos de mercado O aumento da competitividade, a variedade de recursos tecnológicos, consumidores mais exigentes e informados, e a ascensão de discussões ambientais e do tema da sustentabilidade exigem uma evolução contínua dos modelos de mercado. Kotler, Kartajaya e Setiwan (2010) descrevem três fases dessa evolução. Na primeira fase, o chamado Marketing 1.0, a empresa planeja as ações de vendas tendo como foco o produto e os resultados. As transações entre cliente e fornecedor têm natureza tática, relacionadas a atividades como segmentação, posicionamento e oferta dos 4 Ps (produto, preço, praça e promoção), dentre outras. Nessa fase, comprador e vendedor assumem comportamentos independentes, buscando maximizar o benefício de cada um individualmente. A competição é a força direcionadora da economia de mercado. Na etapa seguinte, o Marketing 2.0, o foco passa a ser o cliente e sua satisfação. Nesse modelo, é preciso conquistar o consumidor pela emoção. Além dos 4 Ps, as empresas colocam ênfase em serviços e processos de forma a oferecer mais valor para os clientes. As trocas são relacionais e objetivam o longo prazo. Comprador e vendedor assumem comportamento interdependente, por meio do entendimentode que o benefício para um virá por meio da atenção aos interesses do outro. Nesse modelo, a empresa busca o diálogo individualizado com os clientes e a colaboração é o principal direcionador dos negócios. 1010 Já no modelo de mercado que os pesquisadores determinaram como Marketing 3.0, observa-se a reunião das duas etapas anteriores e outras características que favorecem uma visão mais holística. Surge no contexto de uma era mais participativa, em que os pontos de contato do cliente com a empresa são inúmeros em função da explosão tecnológica e da multiplicação das redes sociais. O foco está na conquista do consumidor pela alma, tendo como objetivo proporcionar uma experiência completa para o indivíduo e uma grande preocupação com a contribuição para um mundo melhor. A diferenciação vai além de serviços e processos e as empresas se concentram na tarefa de “fazer a diferença”. O sucesso de qualquer organização passa, portanto, pelo desenvolvimento de seus parceiros, da comunidade e da sociedade em geral. Empregados das empresas socialmente responsáveis trabalham mais motivados por dividirem um propósito maior do que simplesmente fazer dinheiro. Investidores, fornecedores e distribuidores reagem positivamente por sentirem-se partes integrantes dessas iniciativas. Ao cultivar esses valores, a empresa cria uma identificação com clientes que se interessam pelos problemas da sociedade hoje e pelo futuro que aguarda seus filhos e netos. Essa identificação leva à geração de laços que se traduzem em fidelidade. 3. Fidelidade e satisfação Empresas que adotam a estratégia de “forçar” o cliente a comprar seus produtos buscam realizar vendas sem se preocupar com as necessidades de seus clientes. Esse tipo de atitude resulta em trocas transacionais que podem não se repetir. Isso acontece porque os clientes querem sentir que os profissionais de vendas estão à disposição para ajudá-los e apoiá-los não apenas no momento da compra. Consequentemente, muitos negócios têm experimentado uma abordagem de vendas baseada no conceito de construção de 1111 11 relacionamentos. Quando o profissional de vendas identifica os desejos e as necessidades dos clientes e se esforça para oferecer o produto ou serviço que melhor atende a essa demanda, ele é capaz de desenvolver uma relação de longo-prazo com seus consumidores. Fidelizar clientes envolve todas as etapas do processo, tanto antes quanto após a aquisição de um produto ou serviço. Considerando a diversidade de clientes em termos de nível de renda, hábitos de consumo, intenção de compra, dentre outras características, a empresa não conseguirá atingir todos os públicos com uma única abordagem de relacionamento. A gestão de relacionamento com o cliente, do inglês Customer Relationship Management (CRM), ajuda a empresa a definir os melhores clientes para direcionar seus esforços de vendas, bem como estabelecer estratégias para gerenciar as interações da empresa com eles. Suas ações geralmente estão associadas a uma ferramenta de vendas e marketing que ajuda no gerenciamento de contatos, vendas e fluxos de trabalho. Ou seja, sua gestão é mais centrada em um sistema que captura dados e processos dos clientes para definir segmentos baseados em seus perfis. A partir desses dados, estratégias podem ser customizadas para reter os clientes-chave para a empresa. Se por um lado as empresas reúnem informações sobre os clientes para classificá-los por meio de ferramentas de CRM, elas ainda conhecem pouco a respeito dos pensamentos, das emoções e dos estados mentais provocados pela interação do cliente com seus produtos, serviços e marca. Uma abordagem mais recente da gestão do relacionamento com o cliente é o gerenciamento da experiência do cliente (Customer Experience Management – CXM). Pode-se classificar como experiência do cliente a reação existente a partir de qualquer contato direto ou indireto com a empresa. O contato direto ocorre, normalmente, no momento da compra, do uso ou serviço 1212 e existe intenção de contato por parte do cliente. Já o contato indireto pode acontecer de maneira acidental, não planejada, sempre que o cliente for exposto à marca ou aos produtos, receber recomendações ou críticas de outros clientes, propaganda, etc. (MEYER e SCHWAGER, 2007). A gestão da experiência do cliente busca compreender e influenciar essas reações cognitivas, afetivas, emocionais, sociais e físicas do cliente por meio dos muitos pontos de contato do cliente com a marca, o produto ou serviço durante toda a jornada de consumo (MCCOLL- KENNEDY et al., 2015). Os estudos de CXM são mais associados à experiência B2C (negócios voltados aos consumidores finais). Nos negócios voltados a clientes corporativos (B2B), é necessário ir além dos benefícios e entregar soluções, satisfazendo a experiência total do cliente com a empresa. A rentabilidade da conta está diretamente relacionada ao sucesso do cliente em seus negócios. Quando se trata de clientes institucionais, é ainda mais importante que o relacionamento esteja baseado em confiança, pois tanto a empresa quanto o cliente deverão trabalhar juntos para alcançar níveis de melhoria contínua de produtos e processos que beneficiem ambos. A fidelidade é resultante do estabelecimento de parcerias ou alianças estratégicas que vão além da improvisação. As interações contínuas entre a empresa e seus clientes são baseadas em apoio mútuo (ROSENBLOOM, 2002). 4. Benefícios do relacionamento para a empresa Conforme sugerido por consultores internacionais da Bain and Company, o custo de conquistar um novo cliente é cinco vezes maior do que o custo de manter um cliente existente (MCDONALD e WOODBURN, 2007). 1313 13 De acordo com Reichheld (1994, apud MCDONALD; WOODBURN, 2007), clientes fiéis são mais lucrativos que novos clientes porque: • Tendem a gastar mais a cada ano – aumento das vendas. • Aceitam pagar um preço maior pela percepção de valor (preço prêmio) e são menos propensos a trocar de fornecedor em função de aumentos de preços – vendas mais rentáveis. • Reduzem-se os gastos com atração de novos clientes (promoção, instalações, tempo, problemas e questionamentos). Conforme o relacionamento evolui, aprendizado, sinergias, colaboração e integração de sistemas também levam à redução de custos. • Clientes procuram outros clientes para se aconselharem a respeito de fornecedores. Recomendações geram clientes mais propensos a serem fiéis – publicidade gratuita, boca a boca. O Gráfico 1 ilustra a evolução do valor que o cliente gera para a empresa ao longo do tempo. No momento zero, quando o cliente ainda não realiza compras com a empresa, percebemos um resultado financeiro negativo. Isso acontece porque a empresa está realizando investimentos para atrair esse cliente, como, por exemplo, despesas com propaganda, gastos com instalações e expansão da capacidade, aquisição de sistemas operacionais e o próprio custo do tempo necessário para conhecer os clientes potenciais. A partir do momento um, quando o cliente realiza a primeira compra, a tendência é de que ele aumente o volume de compras à medida que conhece o fornecedor e cria vínculos com a marca e com as pessoas. O tempo também influencia a economia de custos, pois é mais barato manter esse cliente engajado, além de gastar menos com assistência técnica em função do nível de aprendizado alcançado entre cliente e empresa. A entrega de valor adicional para o cliente possibilita a cobrança de um preço prêmio. Ou seja, o cliente seguirá fiel ainda que 1414 pague um pouco mais à empresa do que o valor médio de mercado. E, finalmente, esse cliente pode gerar receita para a empresa por meio da atração de novos clientes recomendados por ele. Utilizando sistemas para documentar os custos atuais e a geração de lucros ao longo do tempo, as empresas podem estimar o valor de seus clientes. De posse dessa informação, é possível tomar decisões precisas em relação aos investimentosnecessários para a retenção dos clientes existentes. Gráfico 1 – Valor do ciclo de vida do cliente Fonte: adaptado de McDonald e Wooburn (2007, p. 150). 5. Benefícios do relacionamento para o cliente Uma boa notícia para as organizações é o fato de que os clientes também “preferem ter um relacionamento continuado a trocar continuamente de fornecedores” (ZEITHAML e BITNER, 2003, p. 139). Segundo Gronroos (2003), a principal razão para essa preferência é a eliminação da necessidade de escolha. O processo de escolha de 1515 15 um fornecedor pode ser moroso, consumindo um recurso bastante precioso para os clientes: o tempo. Além disso, a necessidade de tomar decisões com base em informações imprecisas ou subjetivas pode gerar ansiedade e medo de falhar, sensações que não contribuem para a satisfação do cliente. Outro benefício do relacionamento para os clientes é que, uma vez estabelecido, o cliente pode cumprir o objetivo atrelado à sua intenção de compra ou contratação do serviço. A partir do acordo feito com fornecedores que têm como foco o atendimento de suas necessidades, os clientes recebem o valor esperado ou até mesmo algo que supere suas expectativas. Um cliente pode decidir continuar fiel ao curso de língua estrangeira que frequenta, ainda que receba inúmeras ofertas de concorrentes com valores mais atrativos. Algumas razões para esse comportamento podem ser: a localização e o horários das aulas coincidem com seu planejamento mensal; o cliente sabe o que esperar no que diz respeito ao método e aos processos; existe um vínculo de relacionamento com os atendentes e professores; ele sabe que será atendido ainda que solicite algo fora do usual. Segundo Zeithaml e Bitner (2003), pesquisas descobriram três tipos de benefícios que explicam as situações acima e resultam em relacionamentos de longo prazo entre clientes e empresas. São eles: • Benefícios de confiança – Estes estão relacionados à redução da ansiedade, à fé na empresa, ao sentimento de confiabilidade. O cliente sabe o que esperar e, portanto, experimenta um sentimento de segurança. Mudanças de fornecedor envolvem custos financeiros, psicológicos e aqueles relativos ao tempo. A construção de novas relações com fornecedores passa por um período de aprendizado em que podem ocorrer falhas. Já quando 1616 estabelece um relacionamento estável com um fornecedor, o cliente ganha segurança e tranquilidade, aumentando sua qualidade de vida. Esse tipo de benefício foi considerado o mais importante para os clientes. • Benefícios sociais – O tempo favorece o estabelecimento de vínculos sociais e afetivos entre cliente e fornecedor. Os negócios se tornam únicos porque se fortalecem em torno de pessoas específicas, algo difícil de ser copiado pela concorrência. Lidar com profissionais de vendas que já conhecem e de quem gostam também traz qualidade de vida para o cliente. Com o passar do tempo, a empresa passa a fazer parte de um sistema de apoio social do cliente por meio dos relacionamentos pessoais que proporciona. • Benefícios de tratamento especial – Poder solicitar um prato que não está no cardápio, receber um desconto especial ou ser atendido com a promessa de pagar mais tarde quando descobre que esqueceu a carteira em casa são benefícios que o cliente adquire ao demonstrar fidelidade à empresa. Além dos benefícios encontrados no estudo relacionado acima, é importante que o profissional de vendas consiga avaliar outros que possam existir a partir da relação entre o cliente e a empresa. O fortalecimento desse contexto irá contribuir para que o cliente se mantenha fiel à empresa. 6. O processo de vendas Segundo a pesquisadora Judy Siguaw (2003), todas as pessoas são vendedoras. Um candidato a uma vaga de emprego vende a si mesmo enquanto tenta convencer o entrevistador de que é a melhor opção para o cargo. Crianças tentam persuadir os pais a comprar algo que desejam. E, independente do cargo que ocupam, todos os profissionais enfrentam 1717 17 a tarefa diária de vender suas ideias e convencer pessoas a auxiliá-los no atingimento de seus objetivos. Apesar do esforço diário, nem sempre a tarefa de venda é bem- sucedida. Isso porque ela demanda não somente habilidade, mas também planejamento e processo para conquistar novos clientes e promover a manutenção do relacionamento com os clientes existentes. É possível enumerar oitos passos básicos do processo de vendas: prospecção, pré-abordagem, abordagem, identificação das necessidades, apresentação, desconstrução de objeções, selo de compromisso e acompanhamento. Quando pouco tempo é gasto nas primeiras etapas do processo de vendas, especialmente na identificação das necessidades, as taxas de sucesso diminuem. Os clientes estarão menos propensos a selar compromissos quando percebem que a oferta não atende a seus interesses de maneira ótima. A seguir, temos o detalhamento de cada uma das fases do processo de vendas (SIGUAW, 2003). Figura 1 – O processo de vendas Fonte: adaptada de Siguaw (2003, p. 468). 1818 6.1. Prospecção Além de fidelizar o cliente existente, a empresa precisa identificar no mercado os clientes potenciais. Também chamados de prospects, são aqueles que podem vir a comprar ou consumir os produtos ou serviços da organização. Esses clientes fazem parte do público-alvo da empresa, aqueles para os quais ela direciona sua estratégia. Existem diversas formas de encontrar clientes em potencial. Algumas delas são contatos telefônicos (cold calling), visitas sem agendamento, eventos, feiras de negócios, networking por meio de associações da indústria ou organizações sociais, seminários etc. Uma das formas mais eficientes de encontrar clientes em potencial é pedindo referências a clientes satisfeitos com a empresa. Referências propiciam fechamentos de vendas mais rápidos e transações iniciais de maior volume. Uma vez identificados, as informações desses clientes em potencial devem compor a base de dados de CRM (Customer Relationship Management) da empresa para que a força de vendas tenha acesso no momento oportuno. 6.2 Pré-abordagem e planejamento Da mesma forma que o candidato à vaga de emprego precisa reunir o máximo de informações sobre a empresa onde pretende atender a uma entrevista, o vendedor precisa responder a perguntas como, por exemplo: • Quem toma a decisão de compra? • Quais são seus objetivos e interesses? 1919 19 • Que concorrentes atualmente atendem a esse cliente? • Quais as características do negócio do cliente (quando institucional)? Quando o vendedor reúne o máximo de informações sobre o cliente antes do atendimento, ele pode traçar um plano de abordagem personalizado. Ao perceber que não está recebendo um discurso genérico de vendas, o cliente estará mais propenso a ouvir o vendedor e considerar sua proposta. 6.3 Abordando o cliente A fase de abordagem é o momento em que o vendedor tem a oportunidade de utilizar todo o conhecimento reunido na etapa anterior para criar uma ligação de sintonia e empatia com o cliente. O vendedor tem a chance de estabelecer uma boa primeira impressão ao se apresentar ao cliente como alguém que está disposto a entender e ajudá-lo a satisfazer suas necessidades e expectativas. Identificar previamente o estilo do tomador de decisão pode ajudar a desenhar uma estratégia de abordagem adequada. Atitudes como um aperto de mão firme, contato direto no olhar, postura corporal indicando interesse, entre outras, também contribuem para gerar uma percepção positiva por parte do cliente. 6.4 Identificando as necessidades do cliente Nesta etapa é fundamental formular perguntas abertas para capturar o que o cliente quer, muito mais do que tentar vender o que o profissional de vendas tenha a oferecer. É a fase em que se estabelece o diálogo e o vendedor deve pôr em prática a escuta empática. 2020 Quando falamos de escuta empática, a maioria dos estudos está no campo da psicologia humanista, fundadapor Abraham Maslow (SCHULTZ e SCHULTZ, 2016). Dentre os autores que ele reuniu, Carl Rogers, um psicanalista americano, apresentou três conceitos que podemos sugerir como fundamentais para que estabeleçamos um diálogo efetivo com os clientes. São eles: • Congruência: ser o que se sente, sem mentir para si e para os outros (revelar-se digno de confiança, íntegro). • Empatia: capacidade de sentir o que o outro quer dizer e de entender seu sentimento (inclusão – permitir ser afetado pelo mundo do cliente). • Aceitação incondicional: aceitar o outro como ele é, de forma positiva. Respeito e compromisso com o sistema de valor do cliente. Em todos os casos, é importante que se coloquem de lado as próprias perspectivas e crenças para ser capaz de alcançar o outro, pois não existe diálogo quando não há uma atenção plena sobre o que a outra pessoa deseja expressar. Vale salientar que o diálogo também pode existir sem signos, sem sons e sem gestos. Praticar a escuta empática também significa observar outros sinais da comunicação, como a linguagem corporal. Um olhar, um sorriso, um gesto, ou mesmo microexpressões faciais comunicam tão bem quanto palavras. PARA SABER MAIS Abraham Maslow é conhecido na administração pela pirâmide da hierarquia das necessidades. Sua teoria advoga que existe uma ordem em que as necessidades 2121 21 do ser humano precisam ser satisfeitas e que os indivíduos precisam realizar essa trajetória para atingir a plena realização. Do nível mais baixo ao nível mais alto, as necessidades estão classificadas como: fisiológicas, segurança, sociais, autoestima e, quando as necessidades anteriores estiverem saciadas, abre-se espaço para a autorrealização, que é um aspecto de felicidade do indivíduo. 6.5 Apresentando o produto ou serviço Geralmente, clientes não compram produtos ou contratam serviços em função de suas especificações técnicas. Eles o fazem para satisfazer uma necessidade ou para resolver um problema. Dessa forma, o foco da apresentação do profissional de vendas deve estar ligado aos benefícios que a proposta de vendas pode trazer para endereçar as necessidades ou os problemas identificados na etapa anterior. Em outras palavras, benefícios que não se relacionam diretamente com as necessidades dos clientes não serão considerados em sua equação de valor (Figura 2). Figura 2 – Equação de valor para o cliente Fonte: adaptada de Zeithaml e Bitner (2003, p. 389). 2222 Para suportar a proposta de valor, o profissional de vendas também pode recorrer ao testemunho de clientes que possuam o mesmo perfil e estejam satisfeitos com a oferta da empresa, artigos de revistas, pesquisas independentes ou outras literaturas. 6.6 Desconstruindo objeções Faz parte do processo de tomada de decisão do cliente o questionamento sobre se ele deve ou não comprar determinado produto ou contratar um serviço. A ponderação sobre prós e contras acontecerá e não necessariamente significa que o cliente não gostou da apresentação. Ao contrário, denota interesse em avaliar a proposta apresentada. Muitas vezes, as objeções levantadas pelos clientes podem auxiliar o processo de fechamento da venda, pois, uma vez desconstruídas, passam de obstáculo a suporte da tomada de decisão. Quanto mais confiante o cliente estiver de que está realizando uma compra ótima, maior será seu nível de satisfação com o produto, serviço e com a marca. Se o profissional de vendas perceber que algumas objeções aparecem com frequência, ele deve redesenhar a etapa de apresentação do produto de forma a responder a essa questão antes que seja levantada pelo cliente. 6.7 Selando o compromisso O compromisso é selado quando o cliente concorda com a proposta apresentada pelo profissional de vendas e efetua a compra ou assina um acordo de compra. Esse fechamento nem sempre acontece de forma natural, devendo o vendedor solicitá-lo oficialmente. 2323 23 Além de garantir que sairá da negociação com o pedido, o profissional de vendas tem a oportunidade de confirmar todas as condições da proposta de forma que não haja interpretações equivocadas de nenhuma das partes, o que levaria ao descumprimento de promessas mais adiante. 6.8 Acompanhamento e manutenção de promessas A última etapa do processo de vendas requer o cumprimento da promessa feita durante a negociação. Nesse momento, é primordial que o profissional de vendas acompanhe o processamento do pedido dentro da empresa e estabeleça alianças estratégicas para atender à demanda do cliente quanto ao produto ou serviço contratado. Mesmo após a entrega do acordado, o profissional de vendas deve manter contato com o cliente para confirmar se ele se mantém satisfeito com sua decisão de compra ou se necessita de assistência em relação ao produto ou serviço adquirido. Esse acompanhamento demonstra consideração e interesse por parte do vendedor e contribui para a construção de confiança, que é um importante antecedente da intenção de continuidade de relacionamento cliente-empresa. 7. Conclusão Nesta Leitura Fundamental, evidenciamos a importância de uma gestão voltada para a construção de relacionamentos de longo prazo com os clientes, que é suportada pelos benefícios que essas relações trazem para a empresa e para o cliente. A equação de valor para o cliente não é estática e, portanto, é necessário adaptar-se a um ambiente complexo e em constante mudança. Dessa forma, o gerente de vendas deve utilizar, de forma organizada e estratégica, os recursos disponibilizados pela empresa, 2424 bem como ferramentas de gerenciamento do relacionamento com o cliente (CRM), para reunir informações sobre o cliente e seus processos, com o objetivo de construir propostas de valor que aumentarão a satisfação e a fidelidade. Relacionamentos têm como um de seus principais alicerces a confiança. Parcerias ou alianças estratégicas se fortalecem por meio do apoio mútuo e trarão benefícios para todas as partes. ASSIMILE Era uma vez um caso de marketing de relacionamento... Em uma aldeia da China antiga havia um jovem mercador de arroz, Ming Hua. Os negócios não iam bem, até que um dia ele percebeu que deveria pensar mais sobre os moradores da aldeia, suas necessidades e seus desejos, e não apenas distribuir arroz àqueles que entravam em seu armazém. Foi então que decidiu desenvolver um registro dos hábitos alimentares e período de compra de seus clientes. Para começar, Ming Hua bateu às portas de seus clientes perguntando quantos membros havia na residência, quantas tigelas de arroz cozinhavam por dia e o tamanho do jarro de arroz da moradia. Após a coleta dos dados, Ming Hua percebeu que, em uma moradia com quatro pessoas, cada uma consumiria, em média, duas tigelas de arroz por dia e, portanto, o consumo total diário da residência seria de oito tigelas de arroz. Considerando que o jarro de arroz dessa moradia tinha capacidade equivalente a 60 tigelas, ou cerca de um saco de arroz, um jarro cheio duraria um pouco mais de sete dias. Ming Hua passou então a oferecer entrega gratuita em domicílio e um serviço automático de abastecimento do jarro de arroz a cada sete dias para essa residência. 2525 25 Com a oferta de novos serviços, Ming Hua conseguiu criar relacionamentos sólidos com os aldeãos que já eram seus clientes e acabou atraindo outros que ficaram sabendo da novidade. E com isso, os negócios prosperaram. Fonte: adaptado de Gronroos (2003, p. 41). TEORIA EM PRÁTICA Pense sobre uma organização à qual você é fiel como cliente. Pode ser seu banco de uso mais frequente, seu restaurante preferido, o mercado onde realiza a maior parte de suas compras do mês etc. e responda às seguintes perguntas. 1) Por que você é fiel a essa organização? Enumere todos os motivos, como, por exemplo, se existem filas no balcão, se o atendimento é cordial, se oferece programas de fidelidade, se cobre preços da concorrência eventualmente. 2) Quais os benefícios que tem em permanecer fiele não mudar para outro fornecedor? Revisite a sessão em que descrevemos alguns dos benefícios do relacionamento para o cliente e reflita sobre aqueles que percebe na sua relação com esse estabelecimento. 3) O que o levaria a mudar? Pondere todos os componentes da sua equação de valor em relação ao produto ou serviço oferecido pela empresa em comparação às opções de concorrentes no mercado e determine o que poderia acontecer para que seu relacionamento com esse fornecedor fosse interrompido. 2626 VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. Os pesquisadores Kotler, Kartajaya e Setiwan (2010) descrevem três fases de evolução dos modelos de mercado. Dentre as afirmativas abaixo, selecione aquela que não descreve características do modelo denominado Marketing 2.0. a. As empresas colocam ênfase em serviços e processos de forma a oferecer mais valor para os clientes. b. A colaboração é o principal direcionador dos negócios. c. O foco passa a ser o cliente e sua satisfação. d. Comprador e vendedor assumem comportamentos independentes, buscando maximizar o benefício de cada um individualmente. e. As trocas são relacionais e objetivam o longo prazo. 2. No que diz respeito ao relacionamento de longo prazo entre cliente e empresa, assinale abaixo a alternativa incorreta. a. A empresa gasta menos com a atração de novos clientes e consegue reduzir custos por meio de sinergias, colaboração e integração de sistemas. b. Clientes aceitam pagar um preço maior e são menos propensos a trocar de fornecedor em função de aumentos de preços. 2727 27 c. Clientes tendem a gastar menos a cada ano com o mesmo fornecedor porque ficam entediados com a empresa e seus produtos. d. O tempo favorece o estabelecimento de vínculos sociais e afetivos entre cliente e fornecedor. Os negócios se tornam únicos porque se fortalecem em torno das pessoas. e. Clientes recomendam a empresa a outros clientes, que serão mais propensos a serem fiéis e comprarão mais. 3. Podemos enumerar oitos passos básicos do processo de vendas. A etapa na qual a empresa assume a tarefa de identificar no mercado os clientes potenciais é conhecida por: a. Identificação das necessidades. b. Prospecção. c. Acompanhamento. d. Pré-abordagem. e. Planejamento. Referências bibliográficas GRONROOS, C. Marketing, gerenciamento e serviços. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. KOTLER, P.; KARTAJAYA, H.; SETIAWAN, I. Marketing 3.0: as forças que estão definindo o novo Marketing centrado no ser-humano. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. 2828 MCCOLL-KENNEDY, J. R. et al. Fresh perspectives on customer experience. Journal Of Services Marketing, Bingley, v. 29, n. 6-7, p. 430-435, 14 set. 2015. Disponível em: https://doi.org/10.1108/JSM-01-2015-0054. Acesso em: 20 set. 2019. MCDONALD, M. H. B.; WOODBURN, D. Key account management – The definitive guide. 2. ed. Oxford: Elsevier, 2007. ROSENBLOOM, B. Canais de marketing – Uma visão gerencial. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2002. SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. História da Psicologia Moderna. 10. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2016. SCHWAGER, A.; MEYER, C. Understanding customer experience. Harvard Business Review, Brighton, fev. 2007. Disponível em: https://hbr.org/2007/02/understanding- customer-experience. Acesso em: 20 set. 2019. SIGUAW, J. A. et al. Personal selling and sales management. In: Marketing best practices. 2. ed. Ohio: Thomson Learning, 2003. cap. 13, p. 456-492. ZEITHAML, V. A.; BITNER, M. J. Marketing de serviços: a empresa com foco no cliente. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2003. Gabarito Questão 1 – Resposta D Resolução: comprador e vendedor assumem comportamento interdependente, por meio do entendimento de que o benefício para um virá por meio da atenção aos interesses do outro também. Questão 2 – Resposta C Resolução: clientes tendem a gastar mais a cada ano do relacionamento estabelecido com a empresa, pois adquirem confiança e ganham tranquilidade por saber o que esperar. Questão 3 – Resposta B Resolução: a prospecção é a etapa do processo de vendas em que a empresa identifica os clientes potenciais, também chamados de prospects, que são aqueles que podem vir a comprar ou consumir os produtos ou serviços da organização. https://doi.org/10.1108/JSM-01-2015-0054 https://hbr.org/2007/02/understanding-customer-experience https://hbr.org/2007/02/understanding-customer-experience 2929 29 Planejamento de vendas Autora: Carla Montenegro de Vasconcellos Objetivos • Compreender o papel da área de vendas no planejamento e na execução da estratégia corporativa. • Identificar as variáveis que devem ser levadas em conta na construção dos objetivos táticos e operacionais de vendas. • Relacionar as etapas do processo de análise do potencial do mercado e previsão de demanda. • Enumerar os componentes do ambiente interno (microambiente) e do ambiente externo (macroambiente), avaliando seu impacto nos resultados da organização. • Descrever algumas ferramentas tradicionais de apoio ao planejamento de vendas (análise das cinco forças de Porter, análise Pest e análise Swot). 3030 1. Planejamento de vendas Nesta Leitura Fundamental, serão abordados os conceitos básicos de planejamento de vendas e a importância de seu alinhamento ao plano estratégico da empresa. Em seguida, serão apresentadas as variáveis que compõem os objetivos táticos e operacionais de vendas, bem como as etapas do processo de análise do potencial de mercado e previsão de demanda. Finalmente, serão apresentadas ferramentas de apoio ao planejamento de vendas que auxiliam no processo de identificar os componentes do ambiente interno e do ambiente externo à organização, bem como analisá-los para tomar um caminho mais acertado. 2. O papel de vendas na estratégia corporativa Segundo Castro e Neves (2005), existe uma tendência natural de que a gerência de vendas coloque seus esforços em resultados de curto prazo, pois ela é responsável pela geração de caixa que possibilitará o cumprimento das obrigações financeiras da empresa e a consequente sobrevivência do negócio. No entanto, os objetivos imediatos do profissional de vendas precisam estar alinhados com os objetivos de médio e longo prazo da empresa, pois a área de vendas é um dos mais importantes agentes de implementação da estratégia corporativa. Na busca por adquirir vantagem competitiva que possibilite à empresa atingir objetivos acima da média em seu setor, as empresas têm utilizado a estrutura de Porter (apud Mintzberg et. al., 2006, p.116), conhecida como estratégias genéricas. Segundo o autor, as organizações precisam escolher o caminho a seguir entre as opções de: liderança de custo, diferenciação e foco (ou seja, limitação de escopo). 3131 31 2.1 Estratégia de liderança de custos A estratégia de liderança de custos pode se refletir num importante componente da equação de valor para o cliente: o preço. A possibilidade de oferecer preços menores que os da concorrência pode ser importante para que a balança tenda a pender para o lado da empresa em vez de seus concorrentes. Essa estratégia é, geralmente, utilizada em mercados onde o produto oferece poucas possibilidades de diferenciação, como no caso de commodities. Entretanto, ela também pode ser utilizada como forma de introduzir o conceito de economia enxuta, com redução do nível de atributos para atingir clientes mais sensíveis a preço e que valorizam menos os serviços. É o caso, por exemplo, das companhias aéreas conhecidas como low cost, que despiram seus pacotes de vários atributos, como bagagem despachada, marcação de assento, serviço de bordo, flexibilidade para remarcação ou reembolso e outros benefícios para garantir uma tarifa comparativamente menor do que as companhias que continuam oferecendo pacotes que incluem os adicionais acima “sem custo”. PARA SABER MAIS Geralmente, clientes não compram produtos ou contratam serviços em função de suas especificações técnicas. Eles o fazem para satisfazera uma necessidade ou para resolver um problema. Dessa forma, o foco da gestão de vendas deve estar em aumentar os benefícios percebidos pelos clientes e reduzir os sacrifícios de forma a gerar uma equação de valor positiva e superior à equação gerada por seus concorrentes. 3232 Figura 3 – Equação de valor para o cliente Fonte: adaptada de Zeithaml e Bitner (2003, p. 389). O papel da força de vendas, no caso de uma estratégia genérica de liderança de custos, é direcionar esforços para aumentar as vendas e a participação de mercado de forma a gerar economia de escala, reduzir despesas com atividades não essenciais e a oferta de serviços pouco valorizados pelos clientes, controlar o tamanho da força de vendas para que esteja dimensionado adequadamente e, finalmente, direcionar a estratégia para clientes que valorizam vantagens de preço sobre outros atributos. 2.2 Estratégia de diferenciação Ao adotar uma estratégia competitiva de diferenciação, a empresa também procura agregar mais valor percebido aos clientes que seus concorrentes. No entanto, neste caso, a empresa dirige seus esforços para os demais componentes da equação de valor. Algumas das formas de gerar ofertas “únicas” por meio da diferenciação são: • Diferenciação de imagem, como, por exemplo, a mudança para uma embalagem mais atrativa, sem mudanças significativas no desempenho do produto. 3333 33 • Diferenciação de suporte, que consiste em oferecer algo que seja fornecido junto com o produto, mas que não tenha efeito sobre o produto em si. Seria o caso de um computador que já vem com licenças de software instaladas e prontas para utilização. • Diferenciação de qualidade, oferecendo características do produto que o tornam superior às opções de mercado, como melhor desempenho, maior durabilidade, interface amigável etc. Para implementar uma estratégia corporativa baseada em diferenciação, o profissional de vendas deve: comunicar seus produtos e serviços como únicos; estimular a fidelidade à marca; vender benefícios em vez de preço baixo; esforçar-se para entregar níveis de serviço e resposta altamente eficientes; desenvolver e treinar a força de vendas para que apresentem alta qualidade técnica e mercadológica. 2.3 Estratégia de escopo (ou nicho) A estratégia de escopo está diretamente ligada à segmentação do mercado para definir um foco de atendimento para a empresa. Quando a empresa tem clareza do mercado que quer atingir e conhece suas características em profundidade, ela possui uma vantagem nesse segmento que dificilmente será superada por concorrentes que desenvolvem soluções para um público mais amplo. É possível citar como estratégias de escopo: • Segmentação, podendo ser simples ou complexas em termos de oferta especial de produtos, ou, ainda, abrangentes ou seletivas, de acordo com o tamanho do mercado que querem atingir. • Nicho, estratégia que se concentra em um único segmento ou comunidade. Parte do princípio que os clientes são diferentes e, portanto, a oferta da empresa deve endereçar as características particulares dos mesmos. Uma empresa de cosméticos que se especializa no desenvolvimento de produtos para pessoas de pele negra adota claramente uma estratégia de nicho. 3434 O profissional de vendas deve investir na determinação assertiva do mercado-alvo, desenvolver políticas que atendem a seus interesses (e da empresa), dimensionar a própria força de vendas para uma operação provavelmente mais enxuta em função da restrição de demanda, porém mais especializada nas características do público-alvo e nas oportunidades desse mercado. Ferramentas de gestão do relacionamento com o cliente, do inglês Customer Relationship Management (CRM), ajudam o time de vendas a definir os melhores clientes para direcionar seus esforços de vendas de forma a garantir a vantagem competitiva que buscam por meio da estratégia corporativa. 3. Objetivos táticos e operacionais em vendas A partir do entendimento dos objetivos estratégicos que devem nortear as ações de vendas, o próximo passo é refletir sobre a expectativa da empresa nos objetivos táticos e operacionais desenhados para a força de vendas. A busca por resultados individuais ótimos por parte do vendedor precisa, necessariamente, traduzir-se no alcance de resultados ótimos para o negócio como um todo. As cotas, nomenclatura que utilizaremos para nos referir aos objetivos táticos e operacionais de vendas, precisam ser altas o suficiente para apresentar desafio, porém, devem ser alcançáveis. Também é fundamental que sejam claras e objetivas, para que não haja risco de interpretação equivocada do que a empresa espera do profissional de vendas. E, finalmente, elas devem contemplar todos os critérios de desempenho que colocarão a empresa no caminho certo do atendimento de seus objetivos. De acordo com Churchill et. al. (2000, apud CASTRO; NEVES, 2005), podemos classificar os objetivos de vendas em três tipos: cotas de resultados, cotas de atividades e cotas financeiras. 3535 35 As cotas de resultados podem ser consideradas o “motor” da equipe de vendas. Seu resultado é facilmente mensurável no curto prazo e, por esse motivo, acabam ganhando um foco maior que os demais objetivos. Exemplos de cotas de resultado são: venda total em valor; venda total em quantidade; venda de produtos específicos (lançamentos, por exemplo); vendas a clientes específicos (novos clientes, atuais e outros segmentos). Quanto às cotas de atividades, elas demandam o esforço de vendas no curto prazo, mas devem gerar resultados futuros. É como plantar para colher mais adiante. Empresas que não dedicam tempo ao desempenho de atividades que darão frutos no longo prazo, certamente, perderão muito mais tempo no futuro “apagando incêndios”. Esse tipo de cota varia muito de acordo com o modelo de negócio, mas segue alguns exemplos mais comuns: número de visitas; propostas enviadas; serviços realizados; relatórios finalizados; displays de venda implementados; convenções organizadas; treinamento e desenvolvimento individual; treinamento de pessoal nos canais de marketing/vendas; palestras a clientes. Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que esperamos nosso jantar, mas sim do empenho deles em promover seu próprio interesse. (SMITH apud SKOUSEN, 2007, p. 27) O lucro é a recompensa que a empresa recebe por entregar valor para seus clientes. Dessa forma, as cotas financeiras têm como objetivo assegurar que os negócios sejam rentáveis, remunerando a empresa por seu trabalho e investimento em recursos de forma a garantir sua sustentabilidade ao longo do tempo. Exemplos de cotas financeiras são: redução de despesas de venda; aumento da margem bruta; entrega de lucro líquido; redução do ciclo de pagamentos por meio de menores prazos de vendas; redução da inadimplência. Uma vez estabelecidos os objetivos táticos e operacionais da área de vendas, é fundamental garantir que o plano de remuneração esteja desenhado para suportar tais planos. Se a totalidade, ou a maior parte, da comissão do vendedor é uma função do atendimento das cotas de 3636 resultado, ele não terá estímulos para direcionar seus esforços para as atividades que se converterão em vendas futuras ou para garantir que o volume vendido traga rentabilidade para a empresa. Um plano de remuneração bem elaborado diminui a necessidade de supervisão e controle, pois, ao buscar alcançar seus objetivos individuais, o vendedor estará contribuindo para que a empresa alcance seus objetivos corporativos. 4. Análise do potencial do mercado e previsão de demanda Uma das tarefas de vendas é criar demanda por meio de demonstrações e apresentações que reúnam argumentos convincentes sobre sua proposta de valor. No entanto, é preciso ter ideia do tamanho do mercado que a empresa disputa com seus concorrentes para cada um de seus produtos nas regiões de atuação. A estimativa de demanda como base do planejamento empresarial forneceinformações para a área de produção sobre volumes de compra, para o departamento de finanças sobre captação e aplicação de recursos necessários, para o time de recursos humanos sobre o contingente de pessoas, além de servir de suporte para uma série de decisões estratégicas dentro da organização. Enquanto o potencial de vendas se refere ao total de vendas de todo o setor, a previsão de demanda representa a fatia à qual a empresa espera atender desse total, considerando o ambiente e seu programa de marketing. Ambas as tarefas são executadas, idealmente, por meio do esforço conjunto de marketing e vendas. A análise do potencial de vendas tem como base estudos de mercado que envolvem a análise do ambiente externo. Já a previsão de demanda levará em conta a análise do potencial de mercado conjugada à 3737 37 realidade do ambiente interno de forma a traçar objetivos de volume que reflitam o plano de marketing da empresa. A Figura 4 exemplifica as etapas de um processo de análise do potencial de mercado e previsão de demanda. Figura 4 – Etapas da análise do potencial de mercado e previsão de demanda Fonte: adaptada de Churchill et. al. (2000, apud CASTRO e NEVES, 2005). 4.1 Análise do ambiente interno e externo Para obter sucesso nos negócios, toda empresa depende de um bom relacionamento com diversos agentes, tais como fornecedores, intermediários, funcionários, concorrentes, clientes e o público em geral. Tais agentes fazem parte do ambiente mais próximo à organização: o microambiente, ou ambiente interno. 3838 Além das forças que estão sob seu controle, a organização sofre pressões externas, tais como modismos, intervenções governamentais, catástrofes naturais, desvalorização da moeda corrente, crise de energia etc. A análise do macroambiente, ou ambiente externo, implica o tratamento de questões relacionadas a economia, evolução tecnológica, política, comunidade, meio ambiente, distribuição geográfica, densidade demográfica e cultura. O microambiente e o macroambiente constituem o que podemos chamar de ambiente de marketing da organização. 4.1.1 Ambiente interno ou microambiente Segundo Philip Kotler (1993), o microambiente tem cinco componentes. O primeiro diz respeito à própria empresa, sua estrutura e liderança. A gestão de vendas deve considerar em sua análise outros grupos da empresa, tais como: o conselho diretivo e os departamentos de finanças, recursos humanos, pesquisa, suprimentos, produção e logística. O segundo componente do microambiente consiste em canais de marketing como fornecedores e intermediários (atacadistas, distribuidores, varejistas, revendedores, intermediários financeiros, transportadores, agências de propaganda etc.). Estes possuem um papel fundamental na construção da oferta de valor ao consumidor. A falta de suprimentos, a demora na entrega ou a má qualidade ocasionada pelos fornecedores podem prejudicar as vendas e a satisfação do cliente, além de ocasionar aumento dos preços. Da mesma forma, problemas de exposição no ponto de venda, restrição de crédito ao consumidor, baixa capacitação da força de vendas de distribuidores, dentre outros, também comprometem o atendimento dos resultados da organização. O terceiro componente inclui os cinco tipos de mercado aos quais a empresa pode direcionar seus esforços de vendas: o consumidor (compra para consumo pessoal), o produtor (compra para uso em 3939 39 seu processo produtivo), o revendedor (compra para revender), o governamental (compra para oferecer serviços à população ou a empresas que necessitem) e o internacional (inclui consumidores, produtores, revendedores e governos estrangeiros). Conhecer as necessidades e expectativas de seus clientes é condição primordial para que as empresas consigam se sobressair e se manter no mercado. Clientes satisfeitos são fiéis e apresentam mais valor para a organização ao longo do tempo. O quarto componente é representado pelos concorrentes diretos e indiretos da empresa. Para obter sucesso, a empresa precisa disponibilizar uma oferta de valor superior à de seus concorrentes. Além de satisfazer as necessidades e expectativas dos clientes, os profissionais de vendas precisam também adquirir vantagens estratégicas que posicionem seu produto ou serviço como superior. E, finalmente, o quinto componente é o público, ou melhor, são todos os públicos que têm interesse na empresa ou podem afetar sua habilidade em alcançar os resultados esperados. Por exemplo, entidades financeiras podem facilitar o acesso ao crédito pela empresa, a imprensa influencia o mercado por meio de notícias e opiniões, o governo estabelece leis que devem ser seguidas pela organização etc. Outros grupos de interesse, como a comunidade local, órgãos de defesa do consumidor, agências ambientais etc., também afetam a imagem da empresa e, consequentemente, seus resultados. 4.1.2 Ambiente externo ou macroambiente No ambiente interno, a empresa interage diretamente com seus componentes. Entretanto, no ambiente externo, ela está exposta a um conjunto de condições que terão que enfrentar. De acordo com Kotler (1993), é no macroambiente que encontramos as forças que moldam oportunidades e apresentam ameaças à organização. Dessa forma, o profissional de vendas deve estar atento a: 4040 • Ambiente demográfico: fornece informações sobre a faixa etária da população (nascimentos versus óbitos, crianças em fase escolar etc.), estrutura familiar (número de integrantes, mulheres chefes de família etc.), escolaridade (índice de analfabetismo, pessoas com curso superior, domínio de idioma estrangeiro etc.), alterações geográficas (áreas rurais ou urbanas, deslocamentos frequentes) e diversidade étnica, racial, entre outras (colônias de imigrantes, índios etc.). • Ambiente econômico: mostra alterações na renda e no perfil de gastos dos consumidores. Os principais componentes dessa força são: fatores macroeconômicos (variação cambial, taxas de juros, inflação etc.); alterações no padrão de renda (mudança de classe social, melhor distribuição de renda, redução da taxa básica de juro); mudanças nos hábitos de compra do consumidor. • Ambiente natural: apresenta o risco da escassez de recursos que põe em risco o abastecimento de matéria-prima (água doce, reservas florestais, áreas cultiváveis, jazidas petrolíferas etc.), aumento dos custos de energia (esgotamento de fontes combustíveis não renováveis, construção de usinas nucleares etc.), crescentes níveis de poluição (aterros sanitários, matérias de difícil degradação, pouco incentivo à reciclagem etc.) e intervenção governamental por meio de agências de proteção e órgãos reguladores (destinação de resíduos, preservação do meio ambiente, regulamentação de áreas para a atividade industrial de elevado risco etc.). • Ambiente tecnológico: propicia oportunidades de inovação em produtos, serviços e processos (inteligência artificial, fontes alternativas de energia, órgãos artificiais, células-tronco; anestésicos eletrônicos; supercondutores etc.), além da ampliação na regulamentação para adaptar-se às mudanças e seus efeitos. 4141 41 • Ambiente político: oferece um panorama de crescente legislação sobre os negócios e participação dos grupos de interesse público. São três os principais objetivos da intervenção governamental: a proteção das empresas (prevenção de concorrência injusta e desleal – Cade); a proteção dos consumidores (proteção contra práticas comerciais injustas – Procon, Aneel); e a proteção dos interesses da sociedade. • Ambiente cultural: descreve as tendências para o longo prazo ao traduzir crenças e valores centrais (casamento, trabalho, religião, honestidade, patriotismo etc.) e mudanças de valores secundários (consciência ecológica, atenção à saúde, misticismo etc.). Os profissionais de vendas devem ser capazes de decodificar as mensagens intrínsecas de seu macroambiente para identificar oportunidades e ameaças que influenciarão seu sucesso.4.2 Ferramentas de apoio a vendas Os gestores de vendas devem liderar a tarefa de rastrear tendências e descobrir oportunidades dentro da empresa. Para facilitar esse processo, os gestores devem utilizar ferramentas de análise que os auxiliem na tarefa de antever condições adversas e minimizar seus efeitos sobre o negócio. Da mesma forma, essas ferramentas contribuem para a prevenção de cenários oportunistas para a organização. Dentre as ferramentas desenvolvidas para facilitar a análise do ambiente, pode-se destacar a análise das cinco forças de Porter (centrada no microambiente), a análise Pest (foco no macroambiente); e a análise Swot (analisa os ambientes interno e externo). 5. Análise das cinco forças de Porter A análise proposta por Michael Porter (1979) parte do pressuposto de que lidar com a concorrência é a essência da formulação da estratégia. 4242 Isso porque as forças competitivas determinam a lucratividade de uma organização e, consequentemente, influenciam a capacidade de sustentação do negócio. Além dos concorrentes diretos, o modelo evidencia a competição com clientes e fornecedores pelo poder de negociação e uma atenção especial para a entrada de novos competidores e produtos substitutos no mercado. Em relação aos concorrentes, é necessário conhecer quantos existem, quem são, suas forças e fraquezas, estrutura de custos fixos, diferenciação de seus produtos ou serviços, identidade da marca, concentração e equilíbrio, barreiras de saída etc. O preço das compras totais, a diferenciação e a qualidade dos materiais e a qualidade do relacionamento com fornecedores são determinantes para definir custos de insumos, desenvolvimento de fornecedores alternativos ou materiais substitutos, avaliação dos custos de mudança etc. Serviços ou produtos substitutos são aqueles que proporcionam satisfação equivalente à recebida ao consumir os produtos e serviços da empresa. Estar atento aos substitutos ajuda a prever trocas, obsolescência e outros movimentos que podem estar relacionados à ponderação dos clientes em relação à equação de valor dessas empresas versus a oferta da organização. Os profissionais de vendas devem estar preparados para os novos entrantes (novos concorrentes). Barreiras de entrada, tais como economias de escala, diferenciação de produtos, exigências de capital, desvantagem de custo, acesso aos canais de distribuição e políticas governamentais, definirão a gravidade das ameaças de entrada de novos concorrentes no mercado. Assim como acontece com os fornecedores, o poder de barganha e a qualidade do relacionamento ditarão as regras em relação aos clientes. 4343 43 Observe na Figura 5 a interação entre esses agentes no ambiente. Figura 5 – Análise das cinco forças de Porter Fonte: adaptada de Porter (1979). A análise das cinco forças de Porter pode auxiliar a empresa a formular estratégias e criar planos de ação que busquem reposicionar a empresa (construindo defesas contra as forças ou migrando para onde elas são mais fracas), assumir uma posição ofensiva (alterando os componentes das forças e influenciando seu equilíbrio) ou explorar mudança no segmento (que afetam fontes de competição e levam novas causas para o primeiro plano). 6. Análise Pest A análise Pest, sigla para Político-legal, Econômico, Sociocultural e Tecnológico, favorece uma visão detalhada do macroambiente para auxiliar a tomada de decisão do gestor de vendas. 4444 A ferramenta consiste em avaliar os quatro macroambientes no presente e projetar cenários futuros baseados em possibilidades de mudanças. A partir do apontamento das tendências futuras nessas quatro áreas, os gestores poderão relacionar possíveis impactos sobre os negócios da empresa. Dentre os aspectos político-legais, deve-se avaliar o curso da política fiscal, da lei do comércio externo, da lei trabalhista, da lei ambiental e da estabilidade política do governo. O ambiente econômico com aspectos como as taxas de juros, os índices de inflação, estabilidade da moeda, a renda per capita, os níveis de desemprego, evoluções do PIB, disponibilidade de energia, dentre outros, não podem ser deixados fora desta análise. Os aspectos socioculturais avaliados incluem fatores como demografia, distribuição de renda, crescimento populacional, padrões de vida, cultura, religião etc. E, finalmente, dentro do aspecto tecnológico, podemos citar o surgimento de novas patentes, investimento em P&D, automação industrial, e outras tecnologias que podem provocar grandes mudanças no setor ou até mesmo provocar sua extinção, como no caso do serviço de streaming de música oferecido pela Napster, que atingiu violentamente o mercado das grandes gravadoras em 2001. 7. Análise Swot A análise Swot, acrônimo para Strengths, Weaknesses, Opportunities, Threats, traduzido do inglês para Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças, é uma técnica que analisa os ambientes interno e externo e é bastante utilizada como uma etapa do planejamento estratégico. Segundo Mintzberg (2006, p. 80), “as mudanças no ambiente empresarial precisam de monitoramento contínuo por parte da companhia para que a definição de seus negócios não se torne indistinta ou obsoleta”. 4545 45 As forças e fraquezas de uma organização surgem como resultado de suas decisões estratégicas. Avaliando o ambiente interno, os profissionais de vendas devem realizar um inventário das características da organização que a tornam competitiva em relação à concorrência, bem como de todos os atributos que a colocam em desvantagem em seu segmento de atuação. A competência característica de uma organização é definida pelo que ela executa particularmente bem. Sua fortaleza reside na aptidão demonstrada e no potencial para atingir, apesar de circunstâncias opostas ou da concorrência, o que se propôs a fazer (MINTSZBERG, 2003). Uma forma de identificar forças seria avaliar o valor percebido pelos clientes em relação aos produtos ou serviços da organização. Outra fonte de informação poderia ser a avaliação das habilidades implícitas nos sucessos do passado, não necessariamente ligadas ao produto. Como exemplos de competência, podem ser citados menores custos, inovação, market share, imagem e força das marcas, localização conveniente, processos mais eficientes, recursos exclusivos, situação financeira sólida etc. Ao avaliar as vantagens competitivas da empresa, o gestor perceberá pontos em que ela se coloca mais vulnerável em relação ao mercado. Como exemplos de fraquezas, é possível citar o oposto dos relacionados acima, como fortalezas, como maiores custos, imagem ruim e pouca força das marcas, localização desprivilegiada etc. Já no ambiente externo, os gestores devem procurar oportunidades que possam ser aproveitadas para alavancar o crescimento, ao mesmo tempo em que se mantêm alertas para neutralizar eventuais ameaças aos objetivos estratégicos da companhia. O cenário externo afeta todas as organizações que estão sob sua influência. A empresa que for ágil o suficiente para identificar mudanças no ambiente externo pode garantir sua sobrevivência no longo prazo. E pela natureza dinâmica desde ambiente, esse tipo de análise deve ser permanente, para capturar alterações no menor espaço de tempo possível. 4646 Alguns exemplos de oportunidades de crescimento e sustentabilidade da empresa no longo prazo são: novas expectativas ou necessidades do consumidor, tecnologias que permitem o aperfeiçoamento de produtos existentes ou o desenvolvimento de novos produtos, maior poder aquisitivo da população, disponibilidade de crédito, ampliação de áreas de atuação etc. Por outro lado, ameaças ao plano estratégico da organização podem surgir sob a forma de um aumento da concorrência, alterações nos hábitos de consumo, estagnação do mercado, desastres naturais, leis que favorecem segmentos substitutos etc. Mais importante que relacionar as variáveis positivas e negativas dos ambientes interno e externoé definir as ações que serão tomadas a partir do momento em que se toma conhecimento dessas informações. Para auxiliar esse processo, forças, fraquezas, oportunidades e ameaças são cruzadas de forma a compor quatro quadrantes, conforme disposto na Figura 6. Figura 6 – Matriz de análise Swot Fonte: elaborada pela autora. 4747 47 Quando se identificam oportunidades que podem ser aproveitadas e até melhoradas por meio do acionamento das forças da organização, temos o melhor ambiente em termos de tomada de decisão. Ao avaliar oportunidades e fraquezas, o gestor pode definir ações que modifiquem o ambiente interno, tornando a empresa mais preparada para aproveitar as oportunidades. Ao cruzar ameaças e forças, podem surgir possibilidades de influenciar o ambiente externo de modo a torná-lo favorável à organização. E, por último, ao identificar uma ameaça que se torna ainda mais grave quando confrontada com as fraquezas da organização, é provável que a empresa necessite realizar modificações profundas para garantir a sobrevivência do negócio. ASSIMILE “Desde o começo, nosso foco tem sido oferecer aos nossos clientes um valor significativo”, Jeff Bezos, presidente e fundador da Amazon.com. Em menos de cinco anos, Jeff Bezos deixou de ser alguém que tinha uma ideia para se tornar alguém que administra uma empresa multibilionária. O pensamento centrado no cliente e o planejamento de longo prazo foram decisivos para que atingisse o sucesso. A Amazon definiu planos de ação para reforçar competências que, acreditava, seriam demandadas pelos clientes cada vez mais nos anos subsequentes. Preço baixo e entregas rápidas estavam entre as ofertas de valor que sabia que iriam continuar gerando vantagem competitiva para a empresa versus seus concorrentes. 4848 Com relação ao pensamento centrado no cliente, Jeff Bezos procurou oferecer inicialmente algo que o cliente não conseguiria ter em outro local: uma seleção de livros tão grande que não poderia ser encontrada em uma loja física e, além disso, com um formato amigável, uma pesquisa rápida, em um formato de loja convenientemente aberto durante os 365 dias do ano, 24 horas por dia. A combinação de foco no cliente e planejamento de longo prazo também ajudou a Amazon a estender seus negócios para além dos livros. Bezos empreendeu em mercados como música, filmes, brinquedos, eletrônicos, entre outros tantos. Apesar da proposta original “disruptiva” no mercado de livros, a Amazon seguiu promovendo mudanças em seu próprio mercado original, migrando de livros a e-books, de e-books a leitores de e-books (como o Kindle), e ainda partindo para o mercado editorial propriamente dito. Identificar as oportunidades apresentadas pelo ambiente externo, fortalecer as competências que agregariam valor para o cliente, preparar-se para questionar suas próprias crenças de forma a neutralizar quaisquer tipos de ameaças, e, finalmente, partir para a ação, foram passos decisivos dados por essa empresa gigante em direção ao sucesso. Fonte: adaptado de Diamandis e Kotler (2015: p. 128-130). 8. Considerações finais Nesta Leitura Fundamental, observou-se a importância do alinhamento dos objetivos imediatos do profissional de vendas com os objetivos de médio e longo prazo da empresa, uma vez que a área de vendas é um dos mais importantes agentes de implementação da estratégia corporativa. 4949 49 As tarefas de análise do potencial de vendas e de previsão de demanda são importantes etapas do processo de planejamento de vendas. Para realizá-las com sucesso, o gestor deve reunir informações sobre o ambiente externo e o ambiente interno que indicarão tendências as quais podem favorecer a realização de previsões mais acuradas. Finalmente, existem diversas ferramentas que ajudam a organizar as informações necessárias e servem de apoio à tomada de decisão em vendas. O processo de planejamento pode ser facilitado por meio de análises como as cinco forças de Porter, a análise Pest e a análise Swot. TEORIA EM PRÁTICA A Procter & Gamble Co. (P&G) é uma das maiores empresas do mundo em bens de consumo. Detém uma grande participação de mercado, liderando vários dos segmentos onde atua, com base em um portfólio de marcas fortes, operações de larga escala, rentabilidade, pesquisa e desenvolvimento (P&D), rede de distribuição. Estas são algumas das maiores fortalezas da empresa. Como desafios imediatos, a empresa vem experimentando redução de receitas e aumento de processos judiciais. Em termos futuros, riscos de câmbio, concorrência intensa, bem como leis e regulamentações restritivas podem gerar impacto em suas operações. Entretanto, previsões positivas sobre o mercado de cosméticos e de higiene pessoal e suas iniciativas estratégicas para aumentar a produtividade e reduzir custos podem promover oportunidades de crescimento para a empresa. 5050 Fonte: Procter & Gamble Co Analysis Swot Analysis, MARKETLINE International Ltd. 10/29/2018, p. 1-10. Disponível em https://store.marketline.com/report/ ml1730183sa--the-procter-gamble-co-strategy-swot-and- corporate-finance-report/. Acesso em: 20 dez. 2019. Considerando as informações publicadas em 2018, e relacionadas acima, e outros dados a que possa ter acesso em fontes complementares, desenhe uma matriz Swot que contemple as características do ambiente interno e externo da empresa e esboce planos de ação para lidar com o cenário apresentado. VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. De acordo com Churchill et. al. (2000, apud CASTRO; NEVES, 2005), as alternativas abaixo relacionam etapas de um processo de análise do potencial de mercado e previsão de demanda. Assinale a única alternativa que não se relaciona com o exemplo citado. a. Desenvolver previsões de vendas. b. Estabelecer as cotas de vendas. c. Avaliar o ambiente externo. d. Determinar forças e fraquezas da organização. e. Redesenhar os planos de marketing. 5151 51 2. Segundo Philip Kotler (1993), é no macroambiente que encontramos as forças que moldam oportunidades e apresentam ameaças à organização. São componentes do macroambiente, exceto: a. Ambiente demográfico. b. Ambiente competitivo. c. Ambiente natural. d. Ambiente cultural. e. Ambiente econômico. 3. No que diz respeito à análise Swot, assinale a alternativa correta. a. É uma ferramenta que avalia os ambientes político- legal, econômico, sociocultural e tecnológico no presente e projeta cenários futuros baseados em possibilidades de mudanças. b. Descreve as tendências para o longo prazo ao traduzir crenças e valores centrais (casamento, trabalho, religião, honestidade, patriotismo etc.) e mudanças de valores secundários (consciência ecológica, atenção à saúde, misticismo etc.). c. É uma técnica que analisa os ambientes interno e externo e é bastante utilizada como uma etapa do planejamento estratégico. 5252 d. Além dos concorrentes diretos, o modelo evidencia a competição com clientes e fornecedores pelo poder de negociação, e uma atenção especial para a entrada de novos competidores e produtos substitutos no mercado. e. Fraquezas e forças são definidas por meio da análise do ambiente externo, enquanto oportunidades e ameaças surgem quando o ambiente interno é avaliado. Referências bibliográficas CASTRO, L. T.; NEVES, M. F. Administração de vendas: planejamento, estratégia e gestão. São Paulo: Atlas, 2005. CHURCHILL, A. G. et. al. Sales force management. 6. ed. Boston: Irwin McGraw- Hill, 2000. DIAMANDIS, P. H.; KOTLER, S. BOLD: How to Go Big. Achieve Sucess and Impact the World. New York: Simon & Schuster, 2015. KOTLER, P.; ARMSTRONG, G. Princípios de marketing. 5. ed. Rio de Janeiro, 1993. MINTZBERG, H. et. al. O processo da estratégia: conceitos, contextos e casos relacionados. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006. PORTER, M. E. Como as forças competitivas moldam a estratégia. In: MONTGOMERY, C. A. & PORTER, M. E. Estratégia: a busca da vantagem competitiva. 7 ed. Rio de Janeiro, Campus,1992. p. 11-27. SKOUSEN, M. The Big Three in Economics. Adam Smith, Karl Marx and John Maynard Keynes. New York: M. E. Sharpe Inc., 2007. ZEITHAML, V. A.; BITNER, M. J. Marketing de serviços: a empresa com foco no cliente. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2003. Gabarito Questão 1 – Resposta D Resolução: esta etapa está relacionada à análise Swot. 5353 53 Questão 2 – Resposta B Resolução: o ambiente competitivo, geralmente representado por clientes, concorrentes e fornecedores, faz parte do microambiente. Questão 3 – Resposta C Resolução: a letra A refere-se à análise Pest; a letra B traz características do ambiente cultural; a letra D descreve a análise das cinco forças de Porter; e a letra E está com a definição invertida. O correto na E seria: fraquezas e forças são definidas por meio da análise do ambiente interno, enquanto oportunidades e ameaças surgem quando o ambiente externo é avaliado. 5454 Gestão da força de vendas Autora: Carla Montenegro de Vasconcellos Objetivos • Discutir os critérios para estruturação, dimensionamento e definição de territórios de atuação da força de vendas. • Descrever a necessidade de garantir a satisfação dos profissionais de vendas por meio de condições que promovam motivação e do desenho de planos de remuneração adequados. • Reforçar a importância da gestão do desempenho e de critérios de avaliação que estimulem a melhoria contínua. • Apresentar três ferramentas de apoio à gestão de vendas como resposta aos desafios atuais enfrentados pelas organizações: downsizing, empowerment e administração virtual. 5555 55 1. Gestão da força de vendas Pesquisas relacionadas ao marketing de relacionamento sugerem que a confiança exerce um papel de destaque na decisão do cliente de permanecer fiel à organização. Uma de suas três dimensões é a confiança no vendedor, que possui características que se traduzem na crença geral por parte do comprador de que as promessas realizadas serão cumpridas conforme seu entendimento (PLANK et al., 1999). Para que a empresa possa atender às expectativas de seus clientes, é necessário que a força de vendas seja bem estruturada, esteja motivada, receba remuneração adequada, tenha seu desempenho avaliado de forma clara e objetiva, execute a política comercial de forma conveniente, conheça profundamente o produto ou serviço e exerça seu papel com a autonomia e a responsabilidade que os novos modelos de negócios demandam. O papel do gerente de vendas é fundamental na composição de uma força de vendas que cumpra essas funções. Nesta Leitura Fundamental, serão abordados os seguintes conceitos básicos de gestão da força de vendas: estruturação, dimensionamento, definição de territórios, motivação, planos de remuneração, gestão de desempenho e avaliação de desempenho. Por fim, serão apresentadas três ferramentas de apoio à gestão de vendas como resposta aos desafios atuais enfrentados pelas organizações: downsizing, empowerment e administração virtual. 1.1 Estrutura Uma força de vendas bem estruturada garante que o processo de vendas está desenhado corretamente para todos os segmentos de mercado que interessam à empresa. A estrutura da força de vendas tem como principal objetivo garantir que os profissionais de vendas conheçam seus produtos e seu mercado em profundidade, melhor que seus concorrentes e, muitas vezes, até mais que seus clientes. 5656 O modelo proposto por Zoltners, Sinha e Zoltners (2001) prevê cinco tipos fundamentais de estrutura para a força de vendas, visando sua especialização no que diz respeito a conhecimento, foco, resolução de problemas, recomendações rápidas, persuasão e habilidades. Não existe uma solução única para qualquer tipo de negócio, portanto, as empresas devem escolher a estrutura que melhor se adapta ao seu ambiente, com o objetivo de ganhar agilidade, eficiência e eficácia. As estruturas sugeridas pelos autores são: • Estrutura generalista, ou por território: os vendedores são responsáveis por toda a linha de produtos da empresa e atendem todos os clientes numa determinada área geográfica. É indicada nos casos em que a linha de produtos é menos complexa e o processo de vendas mais homogêneo em relação aos clientes. Profissionais de vendas generalistas normalmente atuam em territórios menores, onde conseguem reunir dados econômicos, culturais e competitivos. Para que seja eficaz e eficiente, a estrutura por território não deve ser utilizada em ambientes muito heterogêneos. • Estrutura por clientes: utilizada quando o mercado está dividido em diferentes segmentos com necessidades e comportamentos de compra específicos. Os vendedores são divididos de acordo com seu conhecimento sobre o segmento em que atuam, tornando-se mais adaptáveis a eventuais mudanças nas condições do mercado, sendo, portanto, indicada para ambientes muito competitivos. • Estrutura por produtos: indicada para os casos em que a linha de produtos é extensa ou complexa. Nesse tipo de estrutura, os vendedores ajudam a diferenciar seus produtos de concorrentes no mercado ou até mesmo dentro da própria empresa, como no caso de distribuidores que representam empresas concorrentes. Para clientes maiores que compram diferentes linhas de produtos, é recomendável estabelecer times de vendas integrados, 5757 57 preferencialmente subordinados a um mesmo gestor, que, neste caso, poderá ser generalista. Assim a empresa garante experiência de compra única e gestão com foco no cliente. • Estrutura por atividade ou especialidade: utilizada quando as funções de vendas demandam habilidades específicas dos vendedores. Esse tipo de estrutura favorece o aprimoramento dessas habilidades por meio da especialização. Um exemplo desse tipo de estrutura seria a adoção de diferentes profissionais para as atividades de venda e negociação de espaço nos pontos de vendas (merchandising), ou, ainda, a utilização de vendedores especializados em abrir novos clientes (prospecção), enquanto outra parte da força de vendas se dedica ao estabelecimento de relacionamentos de longo prazo com os clientes existentes. • Estrutura mista: incorpora diferentes tipos de especialização da força de vendas, como resposta à heterogeneidade do mercado, complexidade dos produtos, clientes com níveis de influência diversos, estabelecimento de parcerias etc. A adoção de uma estrutura mista pode conferir maior capacidade de adaptação a mudanças, além de um conhecimento profundo do cliente e dos produtos. Entretanto, requer maior coordenação e controle e pode gerar baixa eficiência geográfica. A empresa deve buscar o equilíbrio entre a especialização da força de vendas e a quantidade de pessoas que atendem ao mesmo mercado, maximizando a eficácia e evitando perdas em eficiência. Dessa forma, a estrutura ótima da força de vendas está diretamente relacionada com seu dimensionamento (WEITZ e WENSLEY, 2003). 1.2 Dimensionamento Uma força de vendas bem dimensionada garante que os clientes existentes, assim como os potenciais, tenham cobertura adequada, que 5858 os produtos da empresa sejam propriamente representados e que a agenda do time de vendas esteja concorrida, mas não sobrecarregada. Custos baixos e entrega de resultados esperados não são indicações de que o número de vendedores está bem definido, pois o resultado potencial pode estar subdimensionado ou a empresa pode gerar uma maior rotatividade da força de vendas devido à insatisfação com a sobrecarga de trabalho. Kotler (1998) sugere que as empresas utilizem o critério de carga de trabalho para estabelecer o tamanho da força de vendas. Após definir a quantidade de clientes que receberão atendimento e classificá-los em categorias (tamanho e volume de vendas, por exemplo), é possível determinar o número de visitas por categoria e a frequência com que acontecerão. Conhecendo a capacidade de trabalho de um vendedor mediano, o gerente de vendas poderá, então, determinar o número de vendedores para quetais visitas sejam realizadas. Lodish (1988) inseriu variáveis como a elasticidade de visitas e vendas com o objetivo de determinar o número ótimo de visitas para maximizar os resultados. A empresa também pode quantificar a carga de trabalho em volume de vendas por vendedor. Nesse modelo, a empresa desmembrará os objetivos da organização, esperando que, ao atingir seu objetivo, o profissional de vendas contribua para o resultado total esperado. Considerando que as metas de vendas devem ser altas o suficiente para apresentar desafio e ao mesmo tempo precisam ser alcançáveis, a empresa deve determinar o resultado que um vendedor será capaz de alcançar para então determinar o número de vendedores necessários para atender ao objetivo total da organização. Por meio da comparação entre a receita marginal esperada com o custo de aumentar a força de vendas, o gestor poderá tomar decisões sobre o dimensionamento da força de vendas que maximizar a rentabilidade da empresa enquanto atende à demanda do mercado. 5959 59 As abordagens acima têm como característica uma estrutura lógica “de fora para dentro” da organização, ou seja, a quantidade de vendedores é estimada após a determinação do mercado que deve ser atendido. Dimensionamentos “de dentro para fora” são baseados em informações e estimativas internas, como, por exemplo, o orçamento determinado para a força de vendas que, ao ser dividido pelo custo de um vendedor, determinará a quantidade de profissionais que poderão ser empregados no negócio. Modelos de restrição da força de vendas baseada em custos costumam resultar na determinação de uma equipe pequena que não necessariamente contribui para a maximização dos lucros (ZOLTNERS; SINHA; ZOLTNERS, 2001). 1.3 Definição de territórios A definição de territórios tem como objetivos garantir uma boa cobertura do mercado e regularidade de visitas a clientes, delegar responsabilidade sobre os resultados à força de vendas, promover uma melhor integração entre funções de vendas e marketing por meio de iniciativas coordenadas, avaliar e controlar os resultados por região etc. Desenhar territórios com o mesmo potencial de vendas e a mesma carga de trabalho, apesar de ideal, é uma tarefa dificilmente alcançável. Castro e Neves (2005) sugerem algumas etapas para a definição de territórios. São elas: 1. Tomar uma unidade de controle como base para calcular o potencial de vendas e a quantidade de trabalho (bairro, cidade, região etc.). 2. Determinar o potencial de mercado em cada unidade de controle. 3. Agrupar unidades de controle menores em territórios com potenciais semelhantes. 4. Analisar a carga de trabalho nos territórios. 6060 5. Promover ajustes necessários. 6. Alocar vendedores aos territórios formados. Bons alinhamentos equilibram a carga de trabalho dos territórios e buscam maximizar as vendas dos vendedores alocados e minimizar custos de deslocamento (WEITZ e WENSLEY, 2003). 1.4 Motivação A iniciativa da gerência de vendas de aumentar a motivação da força de vendas contribui significativamente para a melhoria de desempenho. Considerando que as pessoas são diferentes em termos de habilidades, experiências e necessidades, para investir na energia do time de vendas, é importante estar atento às características individuais. Enquanto o líder de vendas dedicará esforços para atender às necessidades de seus funcionários individualmente, a empresa necessita compreender os principais motores da motivação do indivíduo para desenhar programas de incentivo que atendam o coletivo. Fatores como a cultura organizacional, as características e os desafios da função, transparência nas comunicações, treinamento e desenvolvimento, programas de reconhecimento e remuneração adequada contribuem para aumentar o nível de engajamento da força de vendas. Zoltners, Sinha e Zoltners (2001) apresentam cinco ideias centrais para melhorar a motivação do time de vendas. São elas: 1. Oferecer alguma coisa para cada indivíduo. Considerando os diferentes desejos e necessidades de cada integrante da força de vendas, que irão variar de acordo com suas personalidades, idades e níveis de maturidade profissional, os gestores devem oferecer diferentes programas que contemplem algo de interessante para cada colaborador. 6161 61 2. Evitar conflitos entre programas de incentivo. Iniciativas motivacionais precisam ser consistentes. Por exemplo, promoções de cargos ou aumentos salariais devem seguir um critério lógico segundo o senso comum. 3. Distinguir entre o que o indivíduo não é capaz de fazer e o que ele não quer fazer. Muitas vezes, o que parece ser um problema de motivação pode representar uma falta de habilidade. Recrutamento e treinamento adequados são fundamentais para garantir uma equipe motivada. 4. Evitar injustiças. Desequilíbrios em planos de remuneração, cotas, territórios de vendas são exemplos de bloqueadores da motivação. Condições injustas geram o sentimento de impotência diante de um ambiente percebido como alvo de sabotagem. 5. Saber que muito “vamos que vamos” se traduz em “papo furado”. Ações representam mais que palavras. Discursos motivacionais conseguem resultados de curta duração e, portanto, devem ser suportados por políticas de incentivos reais. PARA SABER MAIS A pirâmide de Maslow apresenta a estrutura motivacional clássica ao estabelecer níveis de hierarquia para as diferentes necessidades do ser humano. Segundo o pesquisador, as necessidades das pessoas podem ser divididas em duas grandes categorias: as necessidades básicas, que compreendem as fisiológicas (água, comida, sono, abrigo, vestimenta, sexo), de segurança (do corpo, do emprego, da família, da saúde, da propriedade) e sociais (pertencimento, aceitação, amor, amizade), e as necessidades de crescimento representadas 6262 pela autoestima (confiança, respeito, conquista, reconhecimento, autonomia, status) e realizações pessoais (criatividade, desenvolvimento individual, autocontrole, independência, desafios). Maslow estabeleceu um nível hierárquico que parte das básicas fisiológicas e segue a ordem relacionada acima até as realizações pessoais, definindo o nível de urgência e importância da satisfação de cada tipo de necessidade. Essa representação sugere que o ser humano só alcançará a realização pessoal depois de satisfazer suas necessidades fisiológicas, de segurança, sociais e de autoestima, ainda que todas essas necessidades estejam presentes ao mesmo tempo em sua vida. 1.5 Remuneração Planos de remuneração definem o tipo de pessoa que a empresa atrairá como funcionário, além de influenciar suas atividades e seus comportamentos. No caso da área de vendas, o fato de que programas de remuneração motivam os profissionais e melhoram seu desempenho é um entendimento comum que resulta na prática de uma estrutura salarial recompensada por resultados. De acordo com Blois e Albers (2000), incentivos monetários podem ser oferecidos em quatro diferentes formatos, normalmente apresentados simultaneamente nas organizações: • Salário fixo: montante que não varia em função dos negócios realizados e provê estabilidade financeira enquanto o profissional de vendas enfrenta desafios de vendas difíceis. Uma força de vendas que receba salários fixos mais altos tende a ser mais leal do que aquelas que recebem mais remuneração variável. 6363 63 • Comissões percentuais: pagas em caráter regular com base no volume de vendas mensal e na contribuição para os lucros. Motivadores poderosos, elas podem ser utilizadas como direcionadores da estratégia quando diferenciadas em relação a produtos ou clientes. • Bônus: pagos em determinados momentos a partir do atendimento de objetivos que podem variar ao longo do tempo. • Prêmios pelo destaque em resultados: um tipo de bônus pago pelo alcance de metas relativas, como, por exemplo, conquistar o primeiro lugar em vendas na equipe. Um risco desse tipo de remuneração é fomentar a competiçãoexcessiva entre profissionais de vendas de forma que desestimule a cooperação, ocasionando um clima ruim que pode levar à desmotivação. É comum que as empresas utilizem um sistema misto, combinando esses quatro tipos de recompensa financeira em diferentes proporções. Zoltners, Sinha e Lorimer (2012) alertam para o fato de que a utilização excessiva da remuneração variável pode ter efeitos que prejudicam os resultados e geram instabilidade para o negócio, tais como: menor lealdade à empresa, elevada rotatividade de vendedores, baixo compromisso com tarefas não relacionadas à venda, foco exclusivo nos ganhos imediatos em vez de dedicar esforços a vendas futuras e à construção de relacionamento com os clientes etc. Além disso, a pressão por resultados como consequência desse modelo de recompensa pode minar a saúde dos profissionais de vendas ou estimular comportamentos antiéticos. Segundo Ingram et al. (2009), o plano ótimo de remuneração é aquele resultante do equilíbrio entre as necessidades da organização (vendas, rentabilidade e retenção de bons funcionários) e os desejos da força de vendas (recompensa e reconhecimento por seus esforços). 6464 1.6 Gestão de desempenho A gestão do desempenho é uma tarefa crítica na área de vendas, que pode determinar o sucesso da empresa. Estruturar, dimensionar, definir territórios, motivar e recompensar são etapas de um processo que necessita ser monitorado para garantir que continua alinhado aos objetivos da organização. Além disso, clientes, vendedores e outras variáveis influenciam os resultados, gerando diferentes taxas de sucesso entre segmentos e territórios, sendo necessário que o gerente interprete as fontes dessas flutuações para ajustar o curso. Por meio de um sistema de controle, os gerentes de vendas podem alavancar a produtividade da força de vendas, garantindo que os profissionais trabalhem sem supervisão, porém de forma coesa e criteriosa em busca dos objetivos. Segundo Zoltners, Sinha e Zoltners (2001), como exemplos de etapas utilizadas pelas empresas em um sistema de gestão de desempenho, é possível citar: • Estabelecimento de metas e prioridades. • Desenvolvimento de planos para atingir as metas definidas. • Monitoramento do progresso. • Diagnóstico de problemas. • Feedback e direcionamento para a correção de problemas e mudança de curso. • Orientação contínua e estruturada no desenvolvimento dos vendedores. O gerente de vendas desempenha um papel fundamental nesse processo, atuando como guia e conselheiro de seus vendedores, além de ser responsável por disponibilizar os recursos necessários para que o time de vendas atinja seus objetivos. 6565 65 PARA SABER MAIS No final do século XX, as organizações começaram a investir em ferramentas de automação para apoiar funções de marketing e vendas (RIVERS e DART, 1999, apud MOUTOT e BASCOUL, 2008). Os objetivos desses sistemas podem ser divididos em dois grupos principais: os objetivos orientados ao cliente (níveis de vendas, satisfação etc.) e aqueles orientados à empresa, estes últimos mais direcionados à eficiência de vendas. Por meio de ferramentas integradas ao sistema ERP das empresas, o profissional de vendas tem acesso a dados importantes que podem auxiliá-lo nos processos de tomada de decisão do dia a dia. Da mesma forma, o gestor utiliza essas informações para gerenciar o desempenho da força de vendas. Como exemplos de itens disponíveis em sistemas de automação de vendas, podemos citar: agenda de visitas, contatos de clientes, histórico de vendas, especificações de produtos, preços e prazos de pagamento, estoque, pendências financeiras etc. 1.7 Avaliação de desempenho A avaliação da força de vendas é a comparação do que foi acordado entre gerente e vendedor e o que de fato foi alcançado. Dessa forma, ela está diretamente ligada ao estabelecimento de objetivos e metas para a força de vendas. Esses objetivos, normalmente, têm uma vertente quantitativa (o que tenho que entregar?) e outra qualitativa (como chegarei ao resultado?). Pela ótica quantitativa, são avaliados critérios como: volume de vendas, market share, rentabilidade, número de visitas a clientes, cobertura de material de merchandising nos 6666 pontos de venda, vendas a novos clientes, prazo médio de pagamentos etc. No que diz respeito aos aspetos qualitativos, são avaliadas características pessoais do vendedor e sua atuação em relação aos valores da empresa, como, por exemplo, conduta ética, trabalho em equipe, autonomia, autodesenvolvimento, engajamento de áreas de apoio na empresa, motivação, dentre outros. Além de garantir que o objetivo da organização seja atingido, a avaliação de desempenho permite reconhecer os esforços da força de vendas e oferecer feedback periódico sobre seu desenvolvimento. Dessa forma, ela é, também, um importante instrumento de motivação e engajamento dos colaboradores. Porém, para que produza esse efeito nos vendedores, o gerente de vendas deve determinar e comunicar critérios claros para julgar o desempenho, coletar informações precisas de cada profissional e oferecer feedback positivo para propor melhorias. De acordo com Ingram et al. (2009, p. 285), é possível relacionar os seguintes propósitos à avaliação de desempenho: 1. Assegurar que a remuneração e outros desembolsos de gratificação sejam condizentes com o real desempenho do vendedor. 2. Identificar vendedores que possam ser promovidos. 3. Identificar vendedores que devem ser dispensados e fornecer evidências para justificar a necessidade disso. 4. Determinar as necessidades de aconselhamento e de treinamento específicas de vendedores individuais e da força de vendas. 5. Fornecer informações para o planejamento eficaz de recursos humanos. 6767 67 6. Identificar critérios que possam ser usados para recrutar e selecionar vendedores futuros. 7. Aconselhar vendedores sobre as expectativas de trabalho. 8. Motivar vendedores. 9. Ajudar os vendedores a estabelecer metas de carreira. 10. Relacionar o desempenho dos vendedores com as metas da organização de vendas. 11. Aperfeiçoar a comunicação entre os vendedores e o gerente de vendas. 12. Aperfeiçoar o desempenho dos vendedores. A mensuração das ações realizadas pela força de vendas auxilia a avaliação de desempenho. Variáveis como vendas, rentabilidade, habilidades dos vendedores, soluções para os clientes e outros índices de produtividade ajudam a relacionar ações tomadas pelos profissionais de vendas com seus resultados. Alguns exemplos sugeridos por Zoltners, Sinha e Lorimer (2012) para tornar as metas de vendas mensuráveis são: Conhecimento e habilidades: conhecimento do produto e do mercado, capacidade de prospectar novos clientes, identificação das necessidades dos clientes, realização de escuta ativa e empática, apresentações claras e objetivas, persuasão com clientes e facilitadores, negociação e fechamento de negócios, uso de ferramentas tecnológicas oferecidas pela companhia, análise e interpretação de dados, gerenciamento do tempo etc. Atividades e comportamentos: tempo dedicado a determinados segmentos de mercado, planejamento e organização, solução de problemas, iniciativa, trabalho em equipe, criatividade, liderança, impacto, flexibilidade, adaptação a mudanças etc. 6868 Resultados relacionados aos clientes: satisfação, retenção, conversão, crescimento, recompra, reclamações etc. Resultados para a empresa: vendas em volume e valor, crescimento, rentabilidade, desempenho em relação às cotas, market share, controle de despesas etc. Conhecimentos, habilidades, atividades e comportamentos são medidas de entrada (input), pois atuam como o meio pelo qual serão atingidos os resultados relacionados aos clientes e à empresa, classificados como medidas de saída (output). O foco em medidas de resultados pode ter impacto de curto prazo, enquanto o foco em medidas de input garante melhor desempenho ao longo do tempo. Na Tabela 1 estãolistados alguns dos prós e contras da adoção de medidas de input e output. Tabela 1 – Prós e contras da adoção de medidas de input e output Medidas de input Medidas de output Prós • Oportunidade de mudança de comportamento. • Encoraja o relacionamento com os clientes. • Distingue causas e efeitos. • “Como” vende é tão importante quanto “o que” vende. • Mantém a força de vendas focada nos resultados. • Fácil aplicação. • Promove iniciativa em mercados dinâmicos. • Evita favoritismos presentes no tratamento de intangíveis. • Consome menos tempo. • Consistente entre diferentes pessoas na empresa. Contras • Requer observação e diagnóstico do gestor. • Demanda tempo de avaliação e direcionamento. • Necessita que haja imparcialidade. • Mais difícil de ser aplicada em toda a organização de forma consistente. • Favorece o fim em vez dos meios. • Falha em estimular o profissionalismo. • Foco no curto prazo. • Difícil ampliar áreas de gestão de desempenho com a maturidade do negócio. Fonte: adaptada de Zoltners, Sinha e Lorimer (2012, p. 427). 6969 69 O resultado dos integrantes da força de vendas pode variar devido à diversidade de potencial de seus territórios, à carga de trabalho, ao nível de concorrência, ao esforço promocional da empresa, dentre outros fatores. Adicionalmente, objetivos de desenvolvimento qualitativo devem estar relacionados ao nível de maturidade e o estilo de atuação de cada profissional. Dessa forma, as medidas de desempenho devem ser estabelecidas para cada vendedor individualmente. 2. Algumas ferramentas da gestão da força de vendas: downsizing, empowerment e administração virtual Mudanças no ambiente se traduzem em desafios para os negócios da empresa. Concorrência global, produtos substitutos, maiores exigências de qualidade e diferenciação em serviços, expectativas maiores de velocidade nas entregas, entre outros fatores, têm alterado o cenário de negócios, exigindo revisões de processos e alterações na forma de pensar dos gestores. Para oferecer mais valor a seus clientes, a empresa precisa empregar menos recursos, como pessoas, tempo, capital, equipamentos etc., aumentar a produtividade dos ativos remanescentes (incluindo as pessoas) e ainda garantir a satisfação dos seus funcionários. Para atender a essas demandas, o gestor pode utilizar algumas estratégias adaptadas à realidade de vendas. A seguir, serão apresentadas três dessas ferramentas e suas aplicações. 2.1 Downsizing O downsizing, termo em inglês que pode ser traduzido como “redução de tamanho”, tem como objetivos a redução de custos e o aumento da produtividade, obtidos por meio da racionalização e da reestruturação de níveis hierárquicos da organização. 7070 O enxugamento da força de vendas permite uma comunicação mais rápida e eficiente da alta administração com os níveis operacionais, acelerando a tomada de decisões. No longo prazo, é esperado que revitalize a empresa, proporcione melhoria de processos com redução da burocracia, diminua seus custos e, consequentemente, resulte em expansão de mercado, no desenvolvimento de produtos e serviços mais competitivos e em um clima mais agradável de cooperação entre os funcionários. Porém, normalmente, é a primeira ferramenta utilizada em processos de reestruturação e, no curto prazo, vem acompanhada de uma onda de demissões que gera insegurança nos profissionais remanescentes. Zoltners, Sinha e Lorimer (2018) chamam a atenção para o fato de que executar um downsizing pelos motivos errados pode ocasionar perda de clientes e bons vendedores, além de uma queda significativa no desempenho de vendas. Segundo os autores, os cinco principais erros comumente cometidos pelas empresas e que precisam ser evitados são: 1. Usar o downsizing para cortar custos enquanto ignora o impacto na receita. Como a força de vendas é geradora de receita, seu tamanho afeta diretamente as vendas. Esse impacto é mais difícil de medir do que a redução de custo esperada e aumenta ao longo do tempo à medida que os clientes reduzem as compras ou param de comprar. Para evitar grandes perdas, a gestão de vendas deve relacionar o tamanho da força de vendas com a cobertura necessária à geração de receita. 2. Promover múltiplas ondas de demissão. Algumas vezes, as empresas realizam desligamentos de pessoal e esperam uma mudança na situação de mercado que nunca acontece. Múltiplas ondas de demissão causam insegurança e insatisfação, o que acabará estimulando os melhores profissionais a deixarem a empresa por iniciativa própria, deixando para trás os de menor resultado. Reduções de postos de trabalho feitas de forma gradual 7171 71 são eficazes quando não executadas com urgência e quando o processo é bem gerenciado. Uma forma de evitar demissões em massa é congelar contratações para territórios de baixo potencial ou eliminar profissionais de baixo desempenho. A solução proposta pelos autores é avaliar e verificar os números mais de uma vez, se necessário, porém cortar de uma só vez. 3. Cortar postos de trabalho sem repensar a estratégia de vendas. Atender clientes com um time de vendas menor exige que a forma de trabalho seja redefinida. Esperar que menos vendedores trabalhem mais e de forma mais eficiente, atingindo os mesmos objetivos que o time maior entregaria é improvável e provocará efeitos nocivos nos funcionários que permanecem na empresa. Como solução, a empresa deve promover mudanças na estratégia que admitam menos trabalho, porém com foco onde os resultados são mais significativos. 4. Deixar o downsizing roubar a atenção dos vendedores para longe dos clientes. A incerteza gera distração, o que reduz o desempenho da força de vendas. Garantir a continuidade do atendimento a clientes estratégicos, elaborar planos de transição para contas que migram entre carteiras, treinar clientes em plataformas digitais, se for o caso, são alguns dos planos que a gestão de vendas pode pôr em prática para evitar ruptura no atendimento aos clientes, o que pode abrir espaço para a concorrência. 5. Investir menos no sucesso contínuo do time de vendas. A empresa deve garantir que os profissionais de alto desempenho ou potencial saibam que não serão demitidos e, eventualmente, criar um plano de retenção para eles. Auxiliar a equipe reduzida ao longo do processo de mudança também é fundamental. Treinamento, orientação, planos de incentivo e ferramentas de vendas podem ajudá-los a se adaptarem a seus novos papéis na organização. 7272 Antes de optar pelo downsizing e definir seus parâmetros, o gerente de vendas deve avaliar uma série de variáveis para garantir que a empresa tenha mais a ganhar do que eventualmente perderá no processo. 2.2 Empowerment O empoderamento das pessoas em uma organização, mais conhecido pela palavra em inglês empowerment, consiste em delegar autonomia aos funcionários de forma a fortalecer seu poder decisório e tornar a resposta da empresa mais rápida às mudanças no mercado. A descentralização de poder por meio do encorajamento de iniciativa faz com que as decisões possam ser tomadas com agilidade e mais próximas de onde surge sua demanda. Além de estarem expostos a informações relevantes e, consequentemente, mais aptos a atuar com sucesso, o empowerment aumenta o comprometimento da força de vendas com os resultados organizacionais. Considerando uma realidade cada vez mais enxuta nas organizações, com redução de cargos de gestão e supervisão por meio de reestruturações e downsizing, o empowerment também contribui ao desobrigar o gerente de algumas tarefas do dia a dia de vendas. Dessa forma, o gestor de venda atua como um facilitador para os vendedores e pode dedicar mais de seu tempo à definição da estratégia, à análise do macroambiente, ao desenvolvimento de funcionários, à disponibilização de recursos etc. Algumas características favorecem a adoção do empowerment, tais como uma cultura de encorajamento à tomada de decisão, baixoconhecimento do processo de vendas pelos gestores, vendedores mais experientes ou especialistas, ambiente dinâmico com variações entre cliente, possibilidade de medição dos resultados etc. (ZOLTNERS; SINHA; LORIMER, 2018). Dentre as etapas que a empresa precisa cumprir para programar uma estratégia de empowerment com sucesso, é possível citar 7373 73 a tolerância a erros minimizados por meio de treinamento e capacitação, o desenvolvimento de confiança nos delegados que promoverá seu compromisso, a mesma visão compartilhada por todos, a fixação de metas em consenso, avaliações periódicas para ajustar o curso e a motivação dos funcionários como incentivo à atitude empreendedora. O processo de empowerment pode ser implementado gradativamente e evoluir à medida que a força de vendas responde adequadamente aos estímulos. 2.3 Administração virtual A independência intrínseca da função de vendas, a disposição geográfica que prioriza o mercado à empresa e a variação natural das situações e oportunidades que os vendedores enfrentam no dia a dia favorecem a adoção de uma estratégia de administração virtual. O gestor deve reunir uma força de vendas capaz, dinâmica, hábil para trabalhar a distância, com autonomia e foco nos resultados. A qualificação dos profissionais em relação à função de vendas, assim como o acesso e a familiaridade com a tecnologia permitem que a estrutura organizacional seja simplificada e as decisões descentralizadas. O papel do gestor é controlar os resultados sem, necessariamente, ter a propriedade dos processos, atuando como um facilitador para a força de vendas. A possibilidade de se obterem informações em tempo real por meio do uso de ferramentas tecnológicas em telecomunicação e informática diminui a distância entre a empresa e os vendedores em campo. Essa proximidade estimula um clima de cooperação, trabalho em equipe e uma excelente interação com o mercado. Redes internas (intranets), aplicativos para videoconferências, softwares de CRM e ferramentas de automação da força de vendas auxiliam a gestão na tarefa de controle e supervisão dos processos de vendas. 7474 O conceito de administração virtual implica fomentar a autogestão mediante estruturas simples, adaptáveis e sensíveis às mudanças do ambiente de negócios. E é muito importante que seus integrantes estejam capacitados em relação à utilização de tecnologia de informação e processamento de dados para viabilizar sua adoção. ASSIMILE Uma empresa de produtos veterinários enfrenta um problema comum em gestão de vendas: produtos que acabam de ser lançados não recebem muita atenção da equipe de vendas e, portanto, não estão vendendo como esperado. O gerente de vendas desconfia que a equipe esteja com dificuldades em relação às características técnicas da nova linha de produtos e por isso dedicam seu tempo prioritariamente às linhas existentes. A primeira ideia que ocorreu ao gestor para resolver o problema foi alocar vendedores para trabalhar exclusivamente com a nova linha. Como sua remuneração variável, que compõe um percentual significativo de sua remuneração, dependeria de um único produto, o gerente imaginou que os profissionais se esforçariam para adquirir conhecimento sobre os produtos e encontrar clientes potenciais para alavancar o negócio. A decisão de adotar uma estrutura de vendas por produto é indicada quando as empresas precisam de vendedores especializados para determinadas linhas de produtos. Para motivar a equipe a buscar conhecimento sobre os produtos e direcionar esforços para a venda, a empresa poderia oferecer programas de incentivo, como bônus ou prêmios associados ao desenvolvimento 7575 75 da linha em questão. Ao dedicar vendedores existentes para atendimento da nova linha, exclusivamente, é possível que a empresa perca cobertura de mercado se essa iniciativa não estiver combinada com um aumento na quantidade de vendedores. Além disso, o salário fixo desse time dedicado deveria pesar mais em sua remuneração total, caso contrário, a empresa poderia perder bons vendedores para o mercado, pois poderiam ficar desmotivados com a perda de remuneração no curto prazo. Decisões como essa e outras presentes no dia a dia da equipe comercial devem considerar todas as variáveis apresentadas nesta Leitura Fundamental, para garantir o sucesso da organização por meio de uma gestão eficiente e eficaz da força de vendas. Fonte: adaptado de Castro e Neves (2005, p. 69). 3. Considerações finais Nesta Leitura Fundamental, foi verificada a importância de garantir uma força de vendas bem estruturada, motivada, remunerada adequadamente e com desempenho monitorado e avaliado de forma clara e objetiva. Além disso, os desafios competitivos enfrentados pelas empresas em seus mercados demandam a adoção de estratégias que passam por estruturas mais enxutas e com menos níveis hierárquicos, o que demanda um alto grau de autonomia da força de vendas e podem ser suportadas pelo uso de ferramentas tecnológicas que facilitem o acesso a informações estratégicas para a tomada de decisão no dia a dia. 7676 TEORIA EM PRÁTICA A Chanalmport, empresa ligada ao Grupo Herval, é fornecedora exclusiva de acessórios para as lojas oficiais da Apple no Brasil, a iPlace. A empresa enfrentava um desafio comum no varejo de eletrônicos: manter consultores de vendas atualizados em relação à tecnologia existente em acessórios e produtos. A empresa precisava manter o interesse das pessoas envolvidas na venda e promover a interação com as informações técnicas de forma que as ideias e os discursos elaborados estrategicamente para cada um dos produtos fossem repassados aos clientes finais. A solução encontrada foi adotar um aplicativo baseado em microlearning e gamificação para ampliar as vendas que leva informações segmentadas sobre as características dos produtos para os vendedores das 140 lojas iPlace espalhadas pelo país. Com o objetivo de engajar o time de vendas no uso da ferramenta, foi realizada uma competição entre gerentes e subgerentes de lojas pelo aplicativo durante três dias por ocasião de uma convenção de vendas. Em seguida, executaram um teste em três lojas que durou dois meses. A ferramenta possibilitou a customização do conteúdo de acordo com a estratégia da organização de vendas. Dessa forma, consultores de lojas com baixo fluxo de clientes foram treinados com foco no fechamento de vendas, enquanto lojas com clientes de mais poder aquisitivo receberam treinamentos com informações predominantemente técnicas dos produtos. 7777 77 O resultado foi surpreendente: em três meses, a empresa registrou aumento de 20% nas vendas. A que você poderia atribuir o sucesso da estratégia da ChanaImport no que diz respeito aos conceitos de gestão da força de vendas estudados nesta Leitura Fundamental? Fonte: RENNER, M. Grupo Herval treina vendedores com app Baguete Diário, Porto Alegre 14 ago. 2019. Disponível em: https://www.baguete.com.br/ noticias/14/08/2019/grupo-herval-treina-vendedores- com-app. Acesso em: 9 out. 2019. VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. O modelo proposto por Zoltners, Sinha e Zoltners (2001) prevê cinco tipos fundamentais de estrutura para a força de vendas, visando sua especialização no que diz respeito a conhecimento, foco, resolução de problemas, recomendações rápidas, persuasão e habilidades. O tipo de estrutura no qual os vendedores são responsáveis por toda a linha de produtos da empresa e atendem todos os clientes numa determinada área geográfica é denominado: a. Estrutura por clientes. b. Estrutura por produto. c. Estrutura generalista, ou por território. d. Estrutura por projeto. e. Nenhuma das alternativas anteriores. https://www.baguete.com.br/noticias/14/08/2019/grupo-herval-treina-vendedores-com-app https://www.baguete.com.br/noticias/14/08/2019/grupo-herval-treina-vendedores-com-app https://www.baguete.com.br/noticias/14/08/2019/grupo-herval-treina-vendedores-com-app7878 2. Segundo Zoltners, Sinha e Lorimer (2018), executar um downsizing pelos motivos errados pode ocasionar perda de clientes e bons vendedores, além de uma queda significativa no desempenho de vendas. Segundo esses autores, um dos erros comumente cometidos pelas empresas é: a. Usar o downsizing para cortar custos enquanto ignora o impacto na receita. b. Investir menos no sucesso contínuo do time de vendas. c. Promover múltiplas ondas de demissão. d. Cortar postos de trabalho sem repensar a estratégia de vendas. e. Todas as alternativas anteriores. 3. Tipo de remuneração paga em caráter regular com base no volume de vendas mensal e na contribuição para os lucros e que representa um motivador poderoso. A descrição acima se refere a: a. Prêmio por resultados. b. Salário fixo. c. Comissões percentuais. d. Gratificações. e. Bônus. 7979 79 Referências bibliográficas BLOIS, K.; ALBERS, S. Sales-force management. In: BLOIS, K. The Oxford Textbook of Marketing. Oxford: Oxford University Press, 2000. p. 292. CASTRO, L. T.; NEVES, M. F. Administração de vendas: planejamento, estratégia e gestão. São Paulo: Atlas, 2005. INGRAM, T. N.; LAFORGE, R. W.; AVILA, R. A.; SCHWEPKER, C. H; WILLIAMS, M. R. Gerenciamento de vendas: análise e tomada de decisão. São Paulo: Cengage Learning, 2009. KOTLER, P. Administração de marketing: análise, planejamento, implementação e controle. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1998. LODISH, L. M.; GURTIS, E.; NESS, M.; SIMPSON, M. K. Sales force sizing and deployment using a decision calculus model at Syntex Laboratories. 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Acesso em: 15 dez. 2019. ZOLTNERS, A. A.; SINHA, P.; ZOLTNERS, G. A. The complete guide to accelerating sales force performance. New York: AMACOM, 2001. Gabarito Questão 1 – Resposta C Resolução: na estrutura generalista ou por território, os vendedores são responsáveis por toda a linha de produtos da empresa e atendem todos os clientes numa determinada área https://hbr.org/2018/04/how-to-downsize-your-sales-force https://hbr.org/2018/04/how-to-downsize-your-sales-force 8080 geográfica. Profissionais de vendas generalistas, normalmente, atuam em territórios menores onde conseguem reunir dados econômicos, culturais e competitivos. Para que seja eficaz e eficiente, a estrutura por território não deve ser utilizada em ambientes muito heterogêneos. Questão 2 – Resposta E Resolução: antes de optar pelo downsizing e definir seus parâmetros, o gerente de vendas deve avaliar uma série de variáveis para evitar incorrer nos erros apontados por todas as alternativas listadas. Questão 3 – Resposta C Resolução: as comissões percentuais fazem parte do grupo de remunerações variáveis, pagas em caráter regular, com base no volume de vendas mensal e na contribuição para os lucros. Motivadores poderosos, elas podem ser utilizadas como direcionadores da estratégia quando diferenciadas em relação a produtos ou clientes. 8181 81 Canais de marketing Autora: Carla Montenegro de Vasconcellos Objetivos • Evidenciar a importância da gestão de canais para o sucesso dos resultados. • Identificar as funções dos integrantes do canal, sua estrutura e os níveis de intensidade de distribuição mais adotados pelas corporações. • Familiarizar-se com o modelo básico de motivação dos membros do canal. • Conhecer os principais problemas da gestão de canais e antecipar-se na resolução de conflitos. • Situar os canais de marketing entre os demais componentes do marketing-mix. • Descrever o papel das ações de trade marketing na construção de relacionamento de longo prazo baseado em apoio mútuo. • Apresentar o conceito de gerenciamento de categoria e sua participação como ferramenta de maximização dos resultados no varejo. 8282 1. Canais de marketing Nesta leitura, serão abordados os seguintes conceitos básicos de canais de marketing: a importância da gestão de canais para o sucesso dos resultados, as funções dos integrantes do canal, sua estrutura e os níveis de intensidade de distribuição, formas de motivar e engajar os membros do canal, soluções para minimizar conflitos e a interface entre canais e o mix de marketing. Por fim, serão discutidos o papel das ações de trade marketing na oferta de valor para os compradores e o conceito de gerenciamento de categoria como ferramenta de maximização dos resultados no varejo. 1.1 Importância da gestão de canais A maior parte dos fabricantes não comercializa seus produtos diretamente aos consumidores finais, eles utilizam intermediários que recebem o nome de canais de marketing, canais de distribuição ou canais de venda. Alguns integrantes do canal compram e revendem a mercadoria (como os supermercados, por exemplo), enquanto outros negociam com os clientes em nome dos fabricantes, mas não assumem a propriedade dos bens (como no caso de vendedores e representantes de vendas). Também fazem parte dos canais empresas que auxiliam o processo de venda e distribuição, como transportadoras, armazéns independentes, montadoras (de móveis, equipamentos etc.), assistências técnicas, entre outras. Segundo Kotler e Armstrong (2003), o uso de intermediários confere maior eficiência em colocar os bens à disposição do mercado-alvo. 8383 83 Por meio de seus contatos, experiência, especialização e escala de operação, os membros do canal oferecem mais à empresa do que ela poderia fazer por si própria. Os fabricantes podem prover um sortimento limitado de produtos em grande quantidade, mas os consumidores desejam uma quantidade bem maior de produtos em pequenas quantidades. Os intermediários adquirem, então, grandes quantidades de diversos produtores para disponibilizá-las em menor quantidade para o consumidor final. Houve um tempo em que as empresas desenvolviam a estratégia de canal de marketing como algo secundário e operacional, até que muitos intermediários (varejistas e atacadistas, por exemplo) tornaram- se maiores que os grandes produtores. Segundo o ranking da revista Fortune, que elenca as 500 maiores empresas em faturamento do mundo, a varejista americana Walmart ocupou o primeiro lugar em 2019, com mais de 5.000 lojas somente nos Estados Unidos e mais outras tantas mundo afora, resultando em um faturamento anual de mais de US$ 514 bilhões de dólares. Na Tabela 2 estão reunidas, para efeito de comparação, as seis maiores empresas da categoria “Varejo” e as seis maiores fabricantes do setor de “Alimentos, Bebidas e Fumo”. Nela é possível observar que a grande maioria das empresas produtoras teve faturamento menor que o das varejistas. A movimentação delas no ranking versus o ano anterior de 2018 também evidencia a tendência de redução da sua relevância em relação a seus intermediários. 8484 Tabela 2 – Ranking Fortune Global 500 2019 Fonte: adaptada de Fortune Global 500. Disponível em: https://fortune.com/ global500/2019/. Acesso em: 14 out. 2019. Os produtores enfrentam, portanto, um cenário bastante desafiador, com intermediários exercendo pressõessignificativas sobre seu negócio, consumidores a cada dia mais conscientes e exigentes, concorrentes globais com produtos importados, um crescente papel da tecnologia no processo de venda e interação com a marca e uma dificuldade de sustentar vantagens competitivas. Nesse contexto, observa-se uma mudança de atitude nas empresas em relação à gestão de canais. Dentre os 4 Ps de Marketing (produto, preço, promoção e praça), Rosenbloom (2002) ressalta que a estratégia de canal (praça) é a mais difícil de ser copiada pelos concorrentes no curto prazo. Isso porque exige um período relativamente longo para planejar e programar, porque requer uma estrutura de pessoas e organizações, e porque é baseada em interações e relacionamentos. https://fortune.com/global500/2019/ https://fortune.com/global500/2019/ 8585 85 1.2 Funções dos integrantes do canal Um canal de marketing é o conjunto de organizações externas que a empresa administra para tornar um produto ou serviço disponível para consumo (ROSENBLOOM, 2002). Quando o autor menciona o verbo administrar, sugere a necessidade de uma gestão interorganizacional (administrar mais de uma empresa), em que a organização se envolve na operação dos negócios do canal. Esse envolvimento pode variar desde o desenvolvimento inicial da estrutura do canal até seu gerenciamento no dia a dia. O mercado de chocolates, por exemplo, tem uma operação bastante peculiar durante a Páscoa. Ao contrário do resto do ano, boa parte dos estoques de ovos de Páscoa no canal é consignada, ou seja, os produtos retornam para o fabricante ao final do evento caso não sejam vendidos. Isso acontece porque o risco de sobra é alto e os intermediários não estariam dispostos a investir em altos volumes de estoque sem a garantia de devolução. O produtor, que tem interesse em aumentar a disponibilidade de produtos para o consumidor final a cada ano, assume o risco e, consequentemente, adota uma postura muito mais ativa no negócio do intermediário. As negociações de Páscoa, geralmente, começam no ano anterior para definir política de preços, espaço em loja, calendário de entrega e montagem das exposições no ponto de venda e, principalmente, o volume que será disponibilizado. Após garantir a chegada dos produtos ao varejo antes da concorrência para alavancar mais negócios, o produtor assume a gestão de preços e contrata promotores específicos para promover a venda dos ovos durante o período que vai desde a entrega até o domingo de Páscoa. Segundo Churchill e Peter (2013), as diferentes funções dentro de um canal podem ser agrupadas em transacionais, logísticas e de facilitação. A função transacional envolve a propriedade dos bens – compra, venda e o risco assumido de perda por dano ou obsolescência. A função logística descreve ações de mover os bens do produtor até um local 8686 mais próximo ao consumidor, armazenar e proteger os produtos, e oferecer lotes com quantidade e mix mais convenientes para a compra. E, finalmente, a função de facilitação reúne atividades como pesquisa de marketing, financiamento, assistência técnica, inspeção etc. Kotler e Armstrong (2003) apresentam uma divisão mais detalhada das principais funções dos membros do canal. São elas: • Informação: coleta e distribuição do conhecimento sobre os agentes e as forças presentes no ambiente de marketing para auxiliar o planejamento. • Promoção: desenvolvimento e comunicação de mensagens sobre a oferta. • Contato: prospecção e interação com compradores potenciais. • Ajuste: modelagem e adaptação da oferta às necessidades do cliente (fabricação, classificação, montagem e embalagem etc.). • Negociação: acordo sobre condições de transferência da propriedade. • Distribuição física: transporte e armazenagem de mercadorias. • Financiamento: obtenção e utilização de recursos para investimento na operação do canal. • Riscos: assumir os riscos de executar o trabalho do canal. De uma forma geral, a relação entre os membros do canal é interdependente e seus membros se especializam nos diferentes papéis distribuídos ao longo da cadeia de abastecimento com o objetivo comum de alavancar os resultados do setor. 8787 87 PARA SABER MAIS Os integrantes de canal que recebem mais atenção do gestor de vendas são aqueles que executam tarefas relacionadas à comercialização de produtos e serviços. Os tipos mais comumente citados pela literatura são: Distribuidores: são empresas autorizadas a comercializar os produtos e serviços do fabricante. Geralmente adquirem os produtos, investem em transporte, armazenamento e pessoal, e direcionam seus esforços de vendas a outros intermediários (varejistas) que o produtor optou por não atender diretamente. Na maioria das vezes, são exclusivos, não representando fabricantes concorrentes e, portanto, apresentam certo grau de dependência econômica em relação ao fabricante. Consequentemente, as relações são muito próximas e visam o estabelecimento de parcerias de longo prazo. Atacadistas: possuem mais liberdade que os distribuidores, pois não prometem exclusividade, o que favorece o estabelecimento de relações mais transacionais de curto prazo. Possuem grandes estruturas de logística e vendas com o objetivo de oferecer um mix completo de produtos a clientes que estejam dispostos a comprar em grande quantidade, mas não possuem escala suficiente para ser atendido diretamente pelo fabricante, o que acontece, geralmente, no caso de pequenos varejistas. Representantes (ou brokers): são pessoas ou empresas autorizadas a negociar em nome do fabricante sem precisar adquirir seus produtos e serviços para revender. Restringem-se a tarefas de negociação e geralmente são remunerados com comissões sobre as vendas. 8888 Varejistas: direcionam seus esforços para atender os consumidores finais (pessoa física ou jurídica). Eles variam em tamanho desde pequenas lojas de bairro até enormes cadeias de hipermercado, como o Walmart. Podem ser generalistas, como os supermercados, ou especializados, como concessionárias de automóveis. Sua estrutura de operação pode priorizar lojas físicas, lojas virtuais, vendas por catálogo, vendas pela TV, máquinas de vendas automáticas (vending machines), ou estar distribuída em mais de um desses canais. Um desafio para o varejo multicanal é proporcionar uma experiência única e consistente por meio de todos os pontos de contato com o consumidor. Nesse sentido, cresce a necessidade de promover a integração das áreas responsáveis pelos canais por meio da adoção de uma estratégia denominada Omnichannel. Vale pesquisar mais sobre o assunto. 1.3 Estrutura de canais A dimensão da estrutura de canal mais discutida nas empresas é a sua extensão, ou seja, o número de níveis intermediários no canal. Apesar de essa abordagem transmitir uma ideia geral dos tipos de participantes e dos níveis em que eles estão, ela falha em sugerir uma relação entre a estrutura do canal e a gestão do canal. A estrutura do canal pode ser definida como “o grupo de membros do canal para o qual foi alocado um conjunto de tarefas de distribuição” (ROSENBLOOM, 2002, p. 37). A definição de Rosenbloom (2002) sugere que o gestor precisa identificar o conjunto de tarefas de distribuição que devem ser desempenhadas para alcançar os objetivos da empresa. E, uma vez 8989 89 feito isso, ele irá definir como alocar e estruturar tais tarefas, com base, principalmente, na especialização e divisão de trabalho e no nível de esforço de negociação entre vendedores e compradores para atingir o objetivo de distribuição. O fabricante e o consumidor final fazem parte de todos os canais. A quantidade de intermediários que realizam algum tipo de trabalho para aproximar o produto e sua posse do comprador final traduz-se nos níveis do canal (KOTLER; ARMSTRONG, 2003). Alguns exemplos de estrutura mais frequentemente utilizados são: Fabricante – Consumidor (dois níveis) Fabricante – Varejista – Consumidor (trêsníveis) Fabricante – Atacadista – Varejista – Consumidor (quatro níveis) Fabricante – Agente – Atacadista – Varejista – Consumidor (cinco níveis) No primeiro modelo, a empresa atende o consumidor sem a contribuição de intermediários (canal direto). Nos demais, ela chega ao mercado por meio de outros membros da cadeia de abastecimento (canal indireto). Apesar da quantidade de intermediários aumentar o alcance que a empresa tem em relação a seus consumidores, algumas organizações preferem concentrar-se no atendimento direto. Empresas como a Tupperware e a Avon adotam a estratégia de venda direta ao consumidor por meio de contato pessoal externo. Outras optam pelo uso de um sistema interativo, denominado marketing direto, composto por uma ou mais mídias utilizadas para distribuir os produtos diretamente aos consumidores. A Dell Computers, por exemplo, utiliza internet, telefone e catálogos para entrar em contato com seus consumidores. 9090 Como vantagens da abordagem direta, é possível citar: • Menor dependência de membros do canal e economia de custos com a desobrigação de remunerar intermediários. • Melhor gestão do relacionamento com os consumidores e, consequentemente, maior acesso a informações que podem alimentar sistemas de CRM (Costumer Relationship Management) que ajudarão a desenvolver novos produtos e melhorar os existentes. • Maior controle sobre as condições de negociação e exposição do produto. Por outro lado, ao optar pela modalidade de canal indireto, a empresa obtém maior cobertura de mercado, mas precisa garantir algum controle sobre a forma como seus produtos serão vendidos. Como os membros do canal são empresas independentes que enfrentam desafios inerentes a seu ambiente de negócios, eles possuem valores, princípios e objetivos próprios. Distribuidores, atacadistas e varejistas influenciam a estrutura de canal reduzindo o controle total do gestor sob a estratégia. Além dos participantes que desempenham funções de transferência de propriedade, existem agentes que facilitam o processo de distribuição. Esses agentes podem ser considerados parte de uma estrutura auxiliar de canal. Exemplos de instituições que compõem esse conjunto de facilitadores são: transportadoras independentes, companhias de seguros, agências de propaganda etc. Como esses membros não participam das principais decisões tomadas pelos integrantes envolvidos nas tarefas de negociação, costumam apresentar menos compromisso com os objetivos da empresa. O gestor deve buscar estabelecer relações de parceria que promovam seu engajamento. 9191 91 1.4 Níveis de intensidade de distribuição Uma importante etapa da definição da estratégia de canal é a definição do grau de intensidade que deve ser conferido à interação entre seus membros. Muitos estudos ressaltam a necessidade de se estabelecerem relacionamentos mais próximos entre fabricantes e intermediários no nível de atacado e varejo. A construção de parcerias, ou alianças estratégicas, leva ao alcance de altos níveis de eficácia e eficiência na distribuição, pois são baseadas em apoio mútuo (ROSENBLOOM, 2002). Porém esse modelo de interação exige maior investimento de tempo e recursos, tanto do lado do fabricante quanto do intermediário (MCDONALD e WOODBURN, 1999). Dessa forma, nem sempre a estratégia de ambas as empresas ou a proximidade do membro de canal da operação do fabricante favorecem a adoção desse tipo de relacionamento. A intensidade de distribuição adotada pelas empresas influenciará a decisão sobre a forma de se relacionar com seus membros. Segundo Rosenbloom (2002), a intensidade de canal diz respeito ao número de intermediários em cada nível e normalmente se divide em três grandes grupos: intensiva, seletiva e exclusiva. Quanto menor o número de intermediários, mais importante é o estabelecimento de alianças estratégicas com os mesmos. Empresas que adotam um número ilimitado de intermediários em seu canal, geralmente, escolhem uma quantidade reduzida deles para estabelecer relacionamentos de parceria. Distribuição intensiva: de acordo com Kotler e Armstrong (2003), neste modelo prevalece a utilização do maior número possível de membros por nível. Uma estratégia que busque maior cobertura de mercado deve priorizar níveis mais altos de intensidade de distribuição. Bens de consumo de massa, como chocolates, por exemplo, se enquadram nessa categoria, pois procuram estar disponíveis quando e onde seus 9292 clientes desejarem. Características como baixo valor unitário e alta frequência de compra favorecem a distribuição no maior número possível de pontos de venda. Distribuição seletiva: a adoção dessa estratégia demanda que intermediários incluídos no canal sejam cuidadosamente escolhidos e, portanto, que nem todos os disponíveis sejam utilizados. Os intermediários são escolhidos por critérios como localização, reputação e carteira de clientes (CHURCHILL e PETER, 2000). Por meio de uma maior concentração, o fabricante adquire maior controle sobre o processo de venda (KOTLER e ARMSTRONG, 2003). Algumas empresas de bens de consumo optam pela distribuição seletiva quando pretendem atingir mercados-alvo mais segmentados. Distribuição exclusiva: utiliza geralmente um único intermediário em determinado segmento do mercado, o qual trabalha em regime de exclusividade. Alguns fabricantes limitam o número de intermediários com o objetivo de suportar estratégias de posicionamento baseadas na oferta de benefícios sociais e experimentais superiores (KOTLER e ARMSTRONG, 2003). O controle exercido sobre o processo de venda é muito alto e este está menos relacionado à alta exposição dos produtos e mais ao impacto gerado por essa exposição. Produtos de luxo ou aqueles que demandam conhecimento técnico para a venda, por exemplo, não são usualmente encontrados em varejos de autosserviço. Segundo Churchill e Peter (2000), a distribuição exclusiva é utilizada quando um produto requer trabalho de venda especializado ou investimentos em instalação ou estoques específicos. 1.5 Motivação dos membros do canal Para garantir a cooperação dos integrantes do canal com o objetivo de alavancar os resultados, o fabricante precisa utilizar algumas táticas para motivá-los. De acordo com as características do mercado e as 9393 93 expectativas do intermediário, o gestor pode desenvolver um mix de atitudes e programas cooperativos que despertem o interesse do membro do canal. Segundo Rosenbloom (2002), após avaliar as implicações legais de cada ambiente de negócios, o gestor pode utilizar uma série de táticas, como as listadas na Tabela 3. As táticas escolhidas serão diferentes para cada categoria de membro do canal. Dessa forma, é provável que distribuidores sejam mais bem motivados por treinamento e consultoria operacional, enquanto varejistas esperam receber contrapartidas à disponibilização de espaço em gôndola. Dessa forma, vale dedicar esforço na identificação de grupos com características similares antes de definir estratégias de motivação adequadas. Tabela 3 – Algumas táticas para a motivação dos membros do canal # Setor 1 Política comercial que garanta margens satisfatórias (preços, descontos, prazo de pagamento, verba contratual etc.). 2 Remuneração em troca de espaço de exposição (gôndolas, vitrines etc.). 3 Suporte publicitário e promocional (incluindo propagandas em encartes e mídia). 4 Disponibilização de mão de obra para apoio ao ponto de venda (promotores e demonstradores). 5 Campanhas de merchandising com apoio de materiais diversos (mobiliário, cartazes, expositores etc.). 6 Proteger o mercado por meio da distribuição seletiva e de políticas de combate à guerra de preços. 7 Oferecer consultoria operacional de apoio à gestão e ao treinamento para a força de vendas. 8 Proporcionar suporte logístico, suporte técnico, sistemas operacionais, pesquisa de mercado, CRM etc. 9 Gerenciar o ciclo de vida do produto e permitir devoluções deitens de baixo giro ou fora da validade. 10 Oferecer acordos de exclusividade de território ou linha de produto, protegendo o faturamento do membro do canal. Fonte: adaptada de Rosenbloom (2002, p. 163). 9494 1.6 Conflitos de canal A quantidade de intermediários determinará o tamanho da cobertura de mercado, ou seja, quanto mais canais de marketing a empresa tiver, mais o produto estará acessível para usuários ativos e potenciais, alavancando as vendas como consequência dessa estratégia. O recurso do consumidor será direcionado ao canal que melhor atenda às suas necessidades. Por outro lado, uma estratégia multicanal aumenta a probabilidade de haver conflitos de interesses de seus membros, que competirão entre si pelo mercado. Dessa forma, é fundamental que a equipe de vendas esteja integrada com os canais de marketing e desenvolva essa rede identificando as responsabilidades dos diferentes agentes de venda (vendedores contratados, representantes, distribuidores, internet, atacadistas, revendas, varejistas e outros formatos). A promoção de ajustes, como, por exemplo, alocação de produtos específicos, definição da carteira de clientes e o estabelecimento de políticas de preços diferentes entre canais minimizará a geração de conflitos, que podem levar os canais a desenvolverem relações entre eles e podem não beneficiar o negócio da empresa. Segundo a revisão da literatura realizada por Souza, Piato e Alcântara (2016), as principais características associadas à existência de conflito de canal são: 1. Divergências entre os papéis que precisam ser cumpridos pelos membros do canal. 2. Discordância entre os membros do canal sobre a alocação de recursos necessários para atingir suas respectivas metas. 3. Diferenças na percepção e interpretação dos estímulos ambientais. 4. Expectativas frustradas em relação ao comportamento futuro de outros membros do canal. 9595 95 5. Disputas sobre o domínio da tomada de decisão. 6. Incompatibilidade de metas e objetivos entre os integrantes do canal. 7. Dificuldade de comunicação. 8. Competição dentro do canal entre seus integrantes ou quando o intermediário representa produtos concorrentes aos do fabricante. Os fabricantes devem refletir sobre as características listadas acima e identificar outras fontes possíveis de conflitos para minimizar as razões de sua existência. Coughlan et al. (2002) e Rosenbloom (2002) sugerem ações para evitar o surgimento de conflitos e minimizar os existentes. São elas: • Estabelecer comunicação frequente e efetiva. • Proporcionar meios onde possam ser expressas insatisfações. • Realizar revisão crítica de ações passadas. • Garantir uma divisão equilibrada dos recursos. • Balancear as relações de poder entre a empresa e seus intermediários. • Desenvolver planos de ação para serem acionados em eventuais conflitos. • Estabelecer um comitê permanente para avaliar conflitos de canais. • Utilizar mecanismos de arbitragem quando necessário. 9696 1.7 Interface entre o marketing mix e o canal O momento em que o produto chega ao ponto de venda representa a fase final da estratégia e seus componentes do marketing mix (produto, preço, promoção e praça/distribuição). A gestão do canal de marketing precisa levar em consideração a sinergia entre os compostos de marketing e como cada um afeta o desempenho do outro. Do ponto de vista da interface entre canais e produto, três áreas demandam atenção, segundo Rosenbloom (2002): planejamento e desenvolvimento de novos produtos, ciclo de vida do produto e a gerência estratégica do produto. Em outras palavras, o gestor estará envolvido em temas como treinamento, promoção e aceitação de novos produtos, ajustes do sortimento do canal para ingressar com lançamentos, provisão de cobertura ajustada ao ciclo de vida do produto para evitar rupturas de abastecimento e execução da estratégia de diferenciação, posicionamento, expansão, marca etc. No que diz respeito ao preço, o gestor deve prestar atenção para garantir que: as margens do canal sejam adequadas para cobrir seus custos e proporcionar lucro; as margens dos diferentes membros variem de acordo com as funções que desempenham; as margens oferecidas pelo fabricante sejam competitivas em relação ao mercado; aumento ou diminuição de serviços prestados sejam refletidos nas margens do membro do canal; se houver preços de referência no nível de atacado ou do varejo, estes devem ser reconhecidos; as variações de preços de diferentes produtos reflitam as diferenças entre eles. E, finalmente, é preciso reconhecer que o suporte do membro do canal é uma das principais ferramentas do composto de comunicação/ promoção do fabricante. As estratégias básicas de promoção que contribuem para o envolvimento do canal são: programas de treinamento; propagandas cooperadas; designação de quotas ou concursos de vendas; vendedores dedicados a orientar os esforços 9797 97 de vendas do membro do canal; desenvolvimento de material de merchandising adequado ao ponto de venda e seu público- alvo; promoções em loja, feiras e eventos, onde fabricantes têm a oportunidade de interagir com os membros do canal e engajá-los com um propósito comum. 1.8 O papel do trade marketing O trade marketing é uma ciência que tem como principal objetivo estruturar o relacionamento entre fabricantes e seus canais de venda com o objetivo de melhorar o desempenho da marca, e atendendo às necessidades do consumidor final e do membro do canal. Esse departamento atua como ponte entre as áreas de marketing e vendas, buscando não apenas executar a estratégia no ponto de venda, mas também estabelecer um fluxo de comunicação baseada na inteligência das informações (AMUI, 2010). A prioridade do trade marketing é manter o relacionamento entre o fabricante e os pontos de venda enquanto melhora o posicionamento da marca junto aos consumidores. O gestor de vendas deve direcionar seus esforços para abastecer o canal de vendas (sell in), enquanto utiliza ferramentas de trade marketing para promover a venda ao consumidor (sell out) em parceria com o membro do canal. O estudo do comportamento do comprador (shopper), ou seja, dos atributos relacionados à experiência de compra, serve de base para o desenho das iniciativas de trade marketing que possibilitarão atender às necessidades do consumidor e aumentar as taxas de conversão no ponto de venda. Segundo Alvarez (2008), os objetivos das ações de trade marketing são: • Atrair a atenção do shopper para o produto nas gôndolas por meio da definição de planogramas e da disposição de materiais de merchandising que gerem curiosidade e motivem a experimentação. 9898 • Ocupar o maior espaço físico possível no ponto de venda, garantindo visibilidade e limitando as ações da concorrência. • Manter sortimento e amplitude da linha de produtos de forma a gerar vantagem competitiva, evitando prejuízos com estoque excessivo ou rupturas de abastecimento. • Garantir que a comunicação, localização, mix, merchandising e preço reflitam as estratégias de marketing estabelecidas pela empresa. • Desenvolver ações de sell out que promovam o alcance dos objetivos de sell in da força de vendas. • Tirar o foco exclusivo de competição por baixos preços, estimulando a venda por meio de iniciativas que promovam o aumento da percepção de valor e uma precificação que capture o valor percebido. O shopper tem expectativas diferentes de preços, dependendo do ponto de venda. • Promover serviços como treinamento à equipe de vendas do membro do canal, orientação do ponto de venda, exposição e outros. • Garantir retorno adequado ao nível de investimento no canal. • Fortalecer relacionamentos de longo prazo por meio de calendários promocionais sazonais ou anuais. Estratégias de trade marketing têm um peso ainda maior na construção de modelos de parceria entre fabricantes e seus canais de distribuição, valendo-se da adaptação de produtos, da logística e daestratégia de marketing. A atitude de apoio mútuo com o objetivo de alavancar a venda ao consumidor final promove um ambiente de aprendizado e melhoria contínua e o estabelecimento de relacionamentos baseados na confiança entre os membros do canal. 9999 99 1.9 Gerenciamento de categorias O gerenciamento de categorias surge como consequência da troca de informações entre indústria e varejo que viabiliza a harmonização das estratégias entre esses membros do canal. O processo consiste na definição do planograma ideal por categoria de produtos, definindo espaço e localização em gôndola que estimulem o comportamento de compra do consumidor e a priorização de itens que, além de volume, tragam também maior rentabilidade para o varejista. O gerenciamento de categorias é realizado pelo fabricante, pois se subentende que este possua uma expertise maior em relação ao shopper de sua categoria do que o varejista que comercializa uma variedade delas. Dessa forma, o processo começa com a definição do fabricante líder do segmento, denominado “capitão de categoria”. A empresa fabricante firma, então, um contrato com o varejista assumindo a responsabilidade por todo o projeto e execução no ponto de venda, e garantindo a confidencialidade sobre os dados das vendas de concorrentes aos quais terá acesso para realizar o planejamento do espaço na proporção da participação de cada fornecedor. As lojas são reunidas em grupos com características semelhantes para que sejam definidos planos de gerenciamento de categoria que atendam às necessidades de cada tipo de ponto de venda de forma customizada. Segundo Amui (2010), a partir da execução do gerenciamento de categoria, algumas ações podem ser tomadas, tais como: • Definir itens que devem ser adicionados ou removidos do sortimento. • Estabelecer o espaço ocupado e a localização dos itens na gôndola. • Posicionamento de preço entre marcas concorrentes. • Plano de promoção de vendas sazonal ou anual. 100100 O gerenciamento de categoria pode ser considerado como base para outras estratégias, como, por exemplo, o ECR – Efficient Consumer Response (Resposta Eficiente ao Consumidor), que procura adequar os níveis de estoque de cada produto em patamares que atendam à demanda sem gerar excedentes de baixo giro. Geralmente, ferramentas de ECR disparam pedidos de reposição de estoque à medida que o shopper realiza suas compras. Por meio de esforços logísticos e fluxo de informações em tempo real, algumas empresas conseguem manter lojas com nível de estoque fora da gôndola próximo ao zero. Esse fato torna ainda mais importante que o gerenciamento de categoria desenhe e execute o planograma de gôndola de forma a garantir o produto certo na quantidade certa para atender à demanda do shopper e maximizar as vendas do varejista. ASSIMILE Uma estratégia de múltiplos canais O fabricante de alimentos X adota uma estrutura multicanal e tem seu faturamento distribuído da seguinte forma: 49,8% para o pequeno e médio varejo, 46% para grandes varejistas, 3,6% para atacadistas e 0,6% para vendas diretas e institucionais. A relação entre a empresa fabricante e os grandes varejistas é formalizada em contratos de suprimento. As vantagens de negociar com as grandes redes varejistas são a garantia de espaço e exposição de produto para grandes massas, a manutenção da participação no mercado e o volume. Esse canal atinge significativa parcela do mercado, funcionando como vitrine para a marca, além de ter um alto giro de produtos. Eles ajudam a pagar os custos fixos e de propaganda. Em contrapartida, essas redes exigem um padrão elevado de nível de serviço, 101101 101 compreendendo frequência de entrega, fill rate (% do pedido solicitado que é atendido), disponibilidade de produto na gôndola, baixo nível de estoque, perdas por vencimento próximas a zero, além de exigências comerciais como níveis mínimos de margem de lucro e investimento em verbas para diversas finalidades. As empresas atacadistas são atendidas diretamente pelo fabricante, de quem compram os produtos. Esse canal tem como característica uma grande independência, apresentando como desvantagem o baixo controle do fabricante sobre seu processo de vendas e um menor compromisso com os produtos em função da não exclusividade. A distribuição para o pequeno e médio varejo é feita por meio de dois tipos de intermediários: brokers e distribuidores autorizados. Os brokers fazem a distribuição para redes de varejo com cinco a nove caixas de atendimento (checkouts). O fabricante fica responsável pelo atendimento do pedido, pela promoção e pelo transporte, mas as notas fiscais são emitidas em nome do broker. Já a venda direcionada ao varejo com quatro ou menos checkouts é feita por meio dos distribuidores autorizados que compram os produtos do fabricante e se responsabilizam pela sua venda e entrega. Todas as empresas intermediárias têm contratos com a empresa X de exclusividade de área. O fornecimento para o pequeno e médio varejo é mais complexo e dispendioso quando comparado ao grande varejo, porém oferece vantagens como maior rentabilidade, facilidade de negociação e ausência de contratos que oneram a operação. 102102 No Brasil, os consumidores estão espalhados em uma extensa área territorial, os pontos de venda são distantes uns dos outros e algumas regiões apresentam difícil acesso. Com o objetivo de disponibilizar seus produtos onde e quando seus consumidores desejarem, o fabricante X adotou uma estratégia que combina canais diretos (grandes varejistas) e indiretos (atacadistas, brokers e distribuidores). Conforme apresentado nesta Leitura Fundamental, as funções de canal são entre eles divididas e o marketing mix definido para evitar conflitos. Fonte: adaptado de Silva et. al. (2016, p. 126). 2. Considerações finais Nesta leitura, foi verificada a crescente importância da gestão de canais como motor de entrega dos resultados esperados pelas organizações. No processo de definição da estratégia de canais, abordamos as etapas de distribuição das funções entre os integrantes do canal, da definição da estrutura e dos níveis de intensidade de distribuição, das táticas de motivação e engajamento dos intermediários envolvidos, das soluções para minimizar conflitos e da interface entre canais e o mix de marketing. Além disso, considerando o ambiente competitivo cada vez mais acirrado que os fabricantes enfrentam, verificamos a necessidade de dar atenção não somente para o atendimento das necessidades dos compradores/consumidores, mas também para garantir uma operação rentável, eficiente e eficaz para o membro do canal de forma a mantê-lo comprometido com os resultados almejados pelos produtores. 103103 103 TEORIA EM PRÁTICA A Johnson & Johnson é uma gigante que atua em diversos segmentos e suas operações são realizadas por meio de três diferentes empresas no Brasil. A Johnson Medical Devices (produtos médico-hospitalares), a Janssen (medicamentos) e a Johnson & Johnson Consumo (produtos OTC e higiene e beleza). Em 2017, a J&J Consumo possuía as seguintes categorias de produtos: absorventes, cuidados com a pele, cuidados com o bebê, cuidados com os cabelos, desodorantes, emplastro, enxaguatórios, escova dental, fio e fita dental, hastes flexíveis, lentes de contato, OTC (produtos farmacêuticos de autosserviço) e protetor solar. No passado, sua distribuição estava estruturada por divisões de produtos, ou seja, equipes de vendas especializadas em algumas categorias de produto que atendiam aos canais de venda varejistas. A empresa concentrava boa parte dos negócios na venda direta, cerca de 2.000 varejistas, e cada cliente chegava a receber a visita de três vendedores diferentes da mesma empresa. Os demais pontos de venda no Brasil eram atendidos por distribuidores exclusivos e atacadistas, porém sem território definido. Era, portanto, comum que os varejistas atendidos pelo canal indiretoperdessem muito tempo em leilão com distribuidores e atacadistas, em vez de usá-lo para desenvolver foco no negócio. Outro problema gerador de conflitos no canal indireto era a ausência de contratos com distribuidores. Após uma intensa revisão estratégica da área de vendas, o que antes era estruturado por linha de produtos passa a 104104 ser estruturado por canais de distribuição, ou seja, por tipo de clientes. A empresa passou a dividir seu mercado em: grandes contas (key accounts), varejos regionais (incluindo redes de farmácia e atacados generalistas) e distribuidores. Em 2017, somente as key accounts e algumas grandes redes varejistas regionais eram atendidas pela força de vendas da J&J diretamente. O restante ficava sob a responsabilidade de distribuidores. Nesse momento, uma relação contratual bem definida determinava regiões geográficas para atuação dos distribuidores e um programa de excelência com duas auditorias anuais media e avaliava indicadores de desempenho que garantiriam maior eficiência e eficácia nas ações de seus distribuidores. Desenhe a rede de distribuição da J&J Consumo, antes e depois da reestruturação que direcionou a gestão de vendas para uma ótica de canais de marketing. Reflita e enumere benefícios que a empresa buscou quando tomou a decisão de mudar. Fonte: experiência profissional da autora como gerente de vendas da empresa no ano mencionado. VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. São empresas autorizadas a comercializar os produtos e serviços do fabricante. Geralmente adquirem os produtos, investem em transporte, armazenamento e pessoal, e direcionam seus esforços de vendas a outros intermediários que o produtor optou por não atender diretamente. 105105 105 A descrição acima pode ser atribuída ao seguinte tipo de membro do canal: a. Representante de vendas. b. Vendedor interno. c. Distribuidor. d. Varejista. e. Nenhuma das alternativas anteriores. 2. Para garantir a cooperação dos integrantes do canal, o fabricante precisa utilizar algumas táticas para motivá-los. No que diz respeito a atitudes ou programas cooperativos que o produtor pode utilizar para despertar o interesse do membro do canal, é possível citar: a. Remuneração em troca de espaço de exposição (gôndolas, vitrines etc.). b. Oferecer consultoria operacional e treinamento para a força de vendas. c. Disponibilização de mão de obra de apoio ao ponto de venda (promotores). d. Suporte publicitário e promocional (incluindo encartes e mídia). e. Todas as alternativas anteriores estão corretas. 106106 3. Assinale a alternativa falsa sobre os objetivos das ações de trade marketing, segundo Alvarez (2008): a. Promover serviços como treinamento à equipe de vendas do membro do canal. b. Atrair a atenção do shopper para o produto nas gôndolas. c. Fortalecer relacionamentos de longo prazo por meio de calendários promocionais sazonais ou anuais. d. Reduzir a dependência dos membros do canal e economizar custos com a desobrigação de remunerar intermediários. e. Ocupar o maior espaço físico possível no ponto de venda. Referências bibliográficas ALVAREZ, F. Trade marketing: a conquista do consumidor no ponto de vendas. São Paulo: Saraiva, 2008. AMUI, A. M. Trade marketing: pontos de vista comentados. São Paulo: LCTE, 2010. CHURCHILL, G. A.; PETER, J. P. Marketing: criando valor para os clientes. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. COUGHLAN, A.T. et al. Canais de marketing e distribuição. 6. ed. Porto Alegre: Bookman, 2002. KOTLER, P.; ARMSTRONG, G. Princípios de marketing. 9. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2003. MCDONALD, M. H. B.; WOODBURN, D. Key Account Management: building on supplier and buyer perspectives. 2. ed. London: Cranfield School of Management, 1999. ROSENBLOOM, B. Canais de marketing – Uma visão gerencial. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2002. 107107 107 SILVA, V. S. et. al. Estratégia de gestão de múltiplos canais de distribuição: um estudo na indústria brasileira de alimentos. Production, São Paulo, v. 26, n. 1, p. 115-128, jan./mar. 2016. SOUZA, T. A.; PIATO, E. L.; ALCANTARA, R. L. C. Elementos facilitadores para o surgimento de conflitos no canal de distribuição: perspectiva do setor atacadista brasileiro. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 36., 2016, João Pessoa. Anais eletrônicos [...]. João Pessoa: ABEPRO, 2016. p. 1-15. Disponível em: http://www.abepro.org.br/biblioteca/TN_STO_232_356_29889.pdf. Acesso em: 17 out. 2019. Gabarito Questão 1 – Resposta C Resolução: representantes de vendas e vendedores internos não adquirem a mercadoria para revenda e os varejistas realizam vendas diretamente ao consumidor final, e não a intermediários. Questão 2 – Resposta E Resolução: todas as alternativas descrevem atitudes que estimulam o engajamento do membro do canal e ajudam a direcionar seus esforços ao atendimento dos objetivos do fabricante. Questão 3 – Resposta D Resolução: o objetivo de reduzir a dependência dos membros do canal e economizar custos com a desobrigação de remunerar intermediários refere-se à adoção de uma estratégia de canal sem intermediários. O trade marketing tem como principal objetivo estruturar o relacionamento entre fabricantes e seus canais de venda, portanto, suas ações se fazem presentes nos casos em que o fabricante adota uma estrutura de venda que contemple membros de canal. http://www.abepro.org.br/biblioteca/TN_STO_232_356_29889.pdf 108108 Precificação estratégica Autora: Carla Montenegro de Vasconcellos Objetivos • Compreender o conceito e a importância da precificação estratégica. • Reconhecer a relevância do equilíbrio entre custos, clientes e concorrentes como fontes de informação para a formação do preço ótimo. • Analisar situações e determinantes que influenciam a adoção de diferentes estratégias de preços. • Apresentar a relação entre a teoria presente na literatura e a prática das empresas no ambiente de negócios. 109109 109 1. Precificação estratégica Nesta leitura, serão abordados os seguintes temas referentes à precificação estratégica: o conceito de preço; a importância da precificação para o sucesso da estratégia nas organizações; a necessidade de se equilibrar o uso de informações de custos, clientes e concorrentes na formação de preços; situações enfrentadas pelas empresas que favorecem a escolha de algumas estratégias de preços; definição das condições determinantes do uso das práticas mais abordadas pela literatura. Por fim, será apresentada a relação entre as recomendações realizadas por pesquisadores da área de precificação e a prática efetiva das empresas no ambiente de negócios. 1.1 Conceito e definição De acordo com Rocha e Christensen (1999), o preço é a expressão das condições pelas quais o vendedor e o comprador estão dispostos a realizarem uma troca. Para o vendedor, o preço pode representar a compensação recebida pelos produtos e serviços que oferece ao mercado. Por outro lado, para o comprador, o preço define aquilo que ele está disposto a dar para obter o que o vendedor lhe oferece. Ingenbleek et al. (2003) consideram que o processo de formação de preço é uma sequência de atividades que conduzem a uma decisão sobre preços. Tais atividades são chamadas de práticas de preço, que devem ser diferenciadas dos objetivos e estratégias de preços. 1.2 Importância da precificação estratégica Clientes e fornecedores buscam maximizar seu benefício individual durante uma negociação, o que implica limitar o benefício do outro. Diferentes interesses e magnitudes de poder dos agentes econômicos comandam a dinâmica do mercado no que se refere à determinação dos preços. 110110 Numa situação de monopólio, em que as empresas “estão no comando”, a equação de formação de preços das empresas é simples: adiciona-se ao custo o lucro que se quer obter e o resultado será o preço a cobrar do cliente (preço = custo + lucro). Entretanto, a cada dia, situações de monopólio se tornam mais difíceis de seremencontradas, em função do acirramento da concorrência, o que inviabiliza a utilização dessa equação. Num regime de concorrência perfeita, em que o mercado é quem determina o preço que deve ser praticado, o tamanho do lucro das empresas vai então depender da magnitude de seu custo (lucro = preço – custo). Entretanto, apesar da concorrência perfeita ser favorecida pelo aumento de competidores no mercado, outros fatores influenciam a decisão sobre o quanto os consumidores estariam dispostos a pagar por um produto ou serviço. Segundo Katona (1953 apud VASCONCELLOS, 2008), apesar de a teoria econômica determinar que o objetivo das pessoas, em geral, seja a maximização da utilidade, essa tarefa pode ser impossível porque muitas decisões têm natureza qualitativa envolvendo variáveis difíceis de medir, ou, ainda, porque as limitações cognitivas do homem tornam impraticável considerar todas as alternativas possíveis. Esses fatores o desviam da realização da equação matemática perfeita por parte dos clientes, para a comparação dos benefícios entre concorrentes ou substitutos. Sugere-se, então, que a formação de preços seja realizada pelas empresas, tendo em conta suas informações internas (custos, lucro desejado etc.) e externas (percepção de utilidade para o cliente, existência de concorrentes ou substitutos etc.). Segundo Monroe (2003), apesar de ser uma tarefa desafiadoramente complexa, o formador de preço deve entender como os clientes percebem o preço, como desenvolvem sua percepção de valor, quais são os custos relevantes para atender a essa necessidade, bem como considerar os objetivos de preços da organização e sua posição competitiva no mercado. 111111 111 Holden e Nagle (2006) defendem que a formação de preço deve refletir o valor gerado pelos demais componentes do mix de marketing: produto, praça e promoção. Segundo Monroe (2003), é possível que o preço também influencie a percepção de valor, principalmente quando é mais difícil para o cliente comparar benefícios entre o produto e as demais ofertas disponíveis, o que se verifica especialmente no setor de serviços. O fato de o preço poder influenciar a percepção de qualidade e, como consequência, atuar como um dos determinantes da satisfação do cliente, aliado à participação direta que tem na rentabilidade da empresa, reforça a visão da formação de preços como fator de sustentação do negócio ao longo do tempo. Conforme atestado por Monroe (2003), a decisão de preços é uma das mais importantes decisões da gestão, pois afeta a lucratividade da empresa e sua competitividade no mercado. 1.3 Equilibrando os 3 Cs – custos, clientes e concorrentes A formação de preços pode ser definida como um processo de coleta, troca e interpretação de informações, que envolve diferentes departamentos, tais como vendas, marketing, produção e finanças. Os objetivos e perspectivas variadas dessas funções na organização influenciam a decisão pelo nível de uso de informações internas, como custos, por exemplo, e externas, como a expectativa dos clientes e o comportamento da concorrência (DAY, 1994 apud VASCONCELLOS, 2008). Hogan e Nagle (2006) indicam o uso equilibrado de informações baseadas nos 3Cs – custos, clientes e concorrentes – para determinar o preço que garantirá o sucesso da estratégia da organização. Utilizar informações de custos como base para a precificação significa acrescentar uma margem de lucro ao custo para determinar o preço. É importante que o gestor tenha em conta o volume de vendas previsto. 112112 Precificar com base em informações sobre os clientes requer o estabelecimento do preço de forma condizente com o valor percebido, ou seja, a soma dos benefícios que os clientes percebem que receberão caso aceitem a oferta (HUNT e MORGAN, 1995 apud VASCONCELLOS, 2008). E, finalmente, formar preços com base na concorrência é o mesmo que posicionar seus patamares de preços mais baixos, iguais ou mais altos que os da concorrência, tendo em conta o objetivo que a empresa deseja atingir. Ao adotar apenas informações de custos, as empresas, provavelmente, irão afetar o volume de vendas. Se fundamentam suas decisões de preços somente nas expectativas dos clientes, é possível que reduzam o valor percebido pelos compradores e achatem as margens de lucro do negócio. Por outro lado, utilizando o preço para combater seus concorrentes, a empresa corre o risco de se colocar em meio a uma guerra de preços que poderá trazer consequências trágicas no longo prazo. Dessa forma, práticas de preço baseadas em informações de custos, clientes e concorrentes não devem ser tratadas isoladamente, como se fossem excludentes. Abaixo são relacionadas algumas características intrínsecas a essas abordagens. Informações de custos: a visão de dentro para fora da organização não é recomendada pela maior parte dos estudos na área de precificação, porém, considerar informações de custos na tomada de decisão por preços garante que a empresa possa sustentar um negócio rentável ao longo do tempo. Segundo Monroe (2003), uma questão importante a ser considerada pelas empresas é a definição de quais custos são importantes no processo de precificação estratégica. Informações de valor para os clientes: em alguns casos, o fornecedor consegue estimar o valor percebido pelos clientes. Em outros, segundo Hu, Parsa e Khan (2006, apud VASCONCELLOS, 2008) e Monroe (2003), os consumidores têm dificuldade em definir esse valor. A heterogeneidade de produtos e serviços dificulta sua comparação com concorrentes 113113 113 e substitutos. Por outro lado, a possibilidade de o cliente participar da cadeia de produção e distribuição do item agrega benefícios, porém também pode aumentar os custos de aquisição do produto. E, finalmente, a equação de valor para o cliente ganha componentes intangíveis para determinação da qualidade, que será conhecida apenas após a compra do produto ou contratação do serviço. Apesar de sua apuração mais complexa, as informações baseadas em valor para os clientes são cruciais para o processo de formação de preços. Não as considerar pode comprometer o posicionamento da empresa e, consequentemente, suas chances de sucesso. Segundo Ingenbleek (2007), as empresas precisam cobrar do cliente remuneração equivalente ao benefício que entregam, nem mais (o que reduziria a intenção de compra), nem menos (o que prejudicaria a rentabilidade da empresa). Informações de concorrentes: ignorar o comportamento dos concorrentes pode comprometer a competitividade da organização. O cliente constrói sua percepção de valor sob grande influência das alternativas existentes no mercado e, consequentemente, de seus preços como referência (GREWAL et al., 1998 apud VASCONCELLOS, 2008). A organização deve influenciar o nível de preços praticado pelo mercado, evitando guerras de preço. Diversos estudos advogam que a prática de preços baseada nos custos leva ao insucesso, no entanto, ao medirem o sucesso de práticas de preços que utilizam informações de custos, valor para os clientes e/ou concorrentes, Ingenbleek et al. (2003) concluíram que, em geral, não há uma prática “má” ou uma prática “melhor” no que se refere ao tipo de informação utilizada na formação de preços. Os resultados da pesquisa desses autores propõem que um entendimento claro de sua posição de custos é condição necessária para que as empresas atinjam seus objetivos, ao mesmo tempo em que também defendem a importância do uso das demais informações de mercado – clientes e concorrência. 114114 1.4 Situações de preços e estratégias relacionadas Diversos pesquisadores têm contribuído com sugestões de estratégias de preços para adoção em diferentes contextos (MONROE, 2003; HOGAN e NAGLE, 2006; TELLIS, 1986 apud VASCONCELLOS, 2008). Vasconcellos (2008) sugere agrupar as principais situações que favorecem o uso de determinadas práticas de preços em cinco grupos: precificação de novos produtos, precificação competitiva,precificação de linha de produtos, precificação baseada em custos e precificação de bens sob encomenda. A seguir, serão apresentadas as definições desses contextos e as principais características das estratégias de preços a eles relacionadas. 1.4.1 Precificação de novos produtos Como o próprio nome diz, as estratégias agrupadas sob essa classe têm em comum o fato de serem normalmente utilizadas para determinar os preços de lançamentos. São elas: • Skimming: o uso desta prática requer a definição inicial de um preço alto para atingir consumidores menos sensíveis ao preço e mais ávidos a experimentar novas tecnologias ou soluções. A empresa procura capturar o máximo de valor enquanto aproveita a vantagem de possuir uma solução única, ainda não copiada pelos concorrentes. É esperado que os preços reduzam com o tempo, à medida que a concorrência aumente ou novas tecnologias sejam lançadas no mercado (DEAN, 1950, apud VASCONCELLOS, 2008). • Preço penetração: esta estratégia consiste em adotar um preço inicial baixo para acelerar a venda do produto, atingindo rápida penetração no mercado. • Precificação da curva de experiência/aprendizagem: ser considerada uma versão da estratégia de penetração, pois 115115 115 consiste em adotar um preço inicial baixo para atingir mais rapidamente maiores volumes de venda. O que muda, nesse caso, é que o objetivo da empresa é reduzir os custos unitários por meio do ganho de experiência, por exemplo, com os processos de montagem e outros fatores geradores de custos (BOSTON CONSULTING GROUP, 1972 apud VASCONCELLOS, 2008). 1.4.2 Precificação competitiva As estratégias agrupadas sob esta situação têm como foco produtos geralmente mais maduros, cuja demanda seja fácil de ser estimada. As práticas listadas abaixo utilizam como informação-base o preço de seus concorrentes. • Líder de preços: ao adotar essa estratégia, as empresas esperam que seus concorrentes sigam suas decisões de preços. Normalmente, praticam preços maiores que os da concorrência, que aguarda o posicionamento do líder para poder estabelecer seus próprios preços (GREER, 1984 apud VASCONCELLOS, 2008). • Paridade de preço: esta estratégia consiste em adotar preço igual ao da concorrência ou manter uma diferença constante entre seus preços e os preços de mercado. • Menor preço: a adoção desta estratégia consiste em oferecer sempre os menores preços em relação ao mercado. 1.4.3 Precificação de linha de produtos Espera-se que as estratégias reunidas sob esta situação sejam adotadas quando a empresa oferece outros itens simultaneamente à oferta do produto principal. Assume-se que a existência de produtos, acessórios, bens ou serviços suplementares podem influenciar a decisão sobre preços de um determinado produto. 116116 • Preço pacote (bundling): é uma estratégia mais utilizada quando a solução completa é um conjunto de partes vendidas separadamente (JAIN, 1993 apud VASCONCELLOS, 2008). Computadores montados com diferentes componentes de hardware e softwares apresentam um preço único pela configuração do pacote. Ao adotar essa estratégia, as empresas evitam que os compradores façam cotações das partes em separado, levando a uma redução do preço total e da rentabilidade do pacote como um todo. Ao deter vantagem sobre uma das partes da solução, a empresa aumenta sua competitividade sobre concorrentes que ofereçam apenas parte do pacote, por exemplo, pois eles terão que subcontratar o que não fabricam a maiores custos. Adicionalmente, o cliente ganha em conveniência e qualidade, pois reduz a chance de haver incompatibilidade entre as partes. • Preço complementar: a empresa que adota essa estratégia, geralmente, forma preços menores para o produto principal, enquanto os produtos auxiliares ou suplementares são vendidos com maiores margens. Um bom exemplo é a formação de preços adotada pelas empresas de impressoras pessoais e seus respectivos cartuchos de tintas. Uma vez adquirida a impressora, o cliente acaba refém de ter que adquirir os cartuchos do mesmo fabricante. Dessa forma, a maior ameaça competitiva enfrentada pelas empresas acontece no momento da compra do produto principal, a impressora, o que justifica adotar um preço menor, que será compensado quando o cliente comprar os suprimentos para uso frequente. • Preço eficiência: esta estratégia consiste em oferecer versões do produto com menos funcionalidades que as demais versões disponíveis. A ideia é que a redução de atributos que agreguem pouco ou nenhum valor para o cliente possibilite uma redução do preço que aumente o valor percebido pelo cliente. 117117 117 1.4.4 Precificação baseada em custos Esta situação implica o uso de estratégia de mesmo nome descrita abaixo e pode ser adotada em contextos de pouca ou nenhuma informação sobre a demanda (HARRISON; WILKES, 1975 apud VASCONCELLOS, 2008). • Preço baseado em custos (cost-plus): esta estratégia consiste no uso de informações de custos (fixos e/ou variáveis), margens de contribuição etc., no momento da decisão sobre preços. A escolha por essa prática é justificada por Urdan (2005 apud VASCONCELLOS, 2008) como resultante de certa prudência financeira, que levaria a empresa a optar por responsabilizar as equipes de marketing e vendas pela comunicação do valor necessário para justificar os preços praticados. 1.4.5 Precificação de serviços ou bens sob encomenda Segundo Bitner e Zeithaml (2003), as principais características que diferenciam serviços de produtos são: serviços são muitas vezes percebidos como únicos (heterogeneidade) e, portanto, difíceis de comparar com seus concorrentes; não é possível estocar serviços (perecibilidade), dessa forma, conciliar a disponibilidade de recursos para a prestação deles com a flutuação da demanda torna-se um desafio importante na busca por eficiência de custos; o valor adicionado pelo serviço é uma variável mais complexa de ser medida (intangibilidade). Essas características fazem com que a equação de valor para o cliente de serviços se concentre em atributos mais qualitativos que quantitativos. O mesmo acontece com os bens desenvolvidos sob regime de produção customizada para atender a demandas específicas de seus clientes. As estratégias de preços que podem ser relacionadas a essa situação são: • Preço diferenciado: ao adotar essa estratégia, a empresa opta por oferecer produtos e serviços com preços diferentes de acordo 118118 com critérios como: momento ou local da compra, características dos clientes etc. (AVLONITIS e INDOUNAS, 2006). • Preço imagem: o gestor adota um preço-prêmio para influenciar a percepção de valor do cliente por meio da associação de exclusividade à imagem do produto ou serviço (AVLONITIS e INDOUNAS, 2006). • Preço relacionamento: o preço do produto é estabelecido de acordo com o valor agregado em toda a cadeia de valor, que pode considerar, inclusive, a participação do cliente na produção ou prestação do serviço (AVLONITIS e INDOUNAS, 2006). O objetivo principal dessa estratégia é garantir o estabelecimento de relacionamentos de longo prazo baseados no compromisso e no apoio mútuo entre cliente e fornecedor. Segundo Dolan e Simon (1998), a parte crítica da diferenciação por meio do valor adicionado é a certeza de que os investimentos no relacionamento adicionarão, de fato, mais valor para o cliente do que os custos decorrentes de sua implementação. • Preço garantia: por meio da adoção dessa estratégia, o gestor determina um preço associado à condição de que o cliente obtenha benefício após aceitar a proposta. “Satisfação garantida ou seu dinheiro de volta” é um slogan que traduz o conceito da estratégia. Seu foco está em aumentar a percepção de qualidade do produto e/ou reduzir a percepção do risco, influenciando positivamente a equação de valor para o cliente (MONROE, 2003). 1.5 Determinantes das estratégias de preços Noble e Gruca (1999) definiram como determinantes o conjuntode condições de mercado, da empresa e concorrentes sob os quais uma determinada estratégia deveria ser utilizada. Após revisar diferentes estudos acadêmicos sobre o assunto, Vasconcellos (2008) buscou relacionar estratégias de preços com seus determinantes de acordo com o exposto a seguir. 119119 119 • Precificação de novos produtos – skimming: em função da necessidade de se garantir uma situação de exclusividade para que se obtenha sucesso com essa estratégia, o alto nível de diferenciação do produto torna-se um determinante importante para a adoção da mesma (JAIN, 1993 apud VASCONCELLOS, 2008). A existência de clientes insensíveis ao preço é outro aspecto fundamental (GUILTINAN et al., 1997 apud VASCONCELLOS, 2008; SCHOELL e GUILTINAN, 1995 apud VASCONCELLOS, 2008). Uma alta utilização da capacidade produtiva também é esperada, visto que essa estratégia implica um volume de vendas inicial reduzido em função do público-alvo, e finalmente, uma baixa ou inexistente vantagem de custos em função da escala e curva de experiência poderá justificar o uso dessa estratégia (SCHOELL e GUILTINAN, 1995 apud VASCONCELLOS, 2008). • Precificação de novos produtos – preço penetração: empresas que vislumbrem vantagens de custos em função da escala (TELLIS, 1986 apud VASCONCELLOS, 2008) e que tenham baixa utilização da capacidade produtiva estarão mais propensas a escolher essa estratégia (SCHOELL e GUILTINAN, 1995 apud VASCONCELLOS, 2008). Da mesma forma, espera- se que a demanda seja elástica (GUILTINAN et al., 1997 apud VASCONCELLOS, 2008) e que o produto seja pouco diferenciado em relação a produtos concorrentes (SCHOELL e GUILTINAN, 1995 apud VASCONCELLOS, 2008). • Precificação de novos produtos – precificação da curva de experiência/aprendizagem: os determinantes desta estratégia são os mesmos da estratégia de penetração, em função de se tratar de uma variante da mesma. • Precificação competitiva – líder de preços: espera-se que os líderes de preço tenham expressiva participação de mercado (KOTLER, 1997) e baixos custos (GREER, 1984 apud 120120 VASCONCELLOS, 2008) em função de escala ou curva de experiência (JAIN, 1993 apud VASCONCELLOS, 2008). Outros determinantes dessa estratégia são: a facilidade de se detectarem alterações de preços dos concorrentes (NAGLE e HOLDEN, 2006), demanda inelástica (GUILTINAN et al., 1997 apud VASCONCELLOS, 2008), e alta utilização da capacidade de fábrica (SCHOELL e GUILTINAN, 1995 apud VASCONCELLOS, 2008). • Precificação competitiva – paridade de preço: a empresa estará propensa a adotar essa estratégia quando, em um mercado maduro, ela estiver em desvantagem de custos em relação à concorrência, tiver baixa participação de mercado e baixa diferenciação de produto (NAGLE e HOLDEN, 2006; KOTLER, 1997). Os demais determinantes são comuns à estratégia “líder de preços”: facilidade de se detectarem alterações de preços dos concorrentes (NAGLE e HOLDEN, 2006), demanda de preços inelástica e demanda de marca altamente elástica (GUILTINAN et al., 1997 apud VASCONCELLOS, 2008), e alta utilização da capacidade de fábrica (GUILTINAN e GUILTINAN, 1995 apud VASCONCELLOS, 2008). • Precificação competitiva – menor preço: espera-se que a empresa tenha vantagens de custos (NAGLE e HOLDEN, 2006) em função de escala ou curva de experiência (JAIN, 1993 apud VASCONCELLOS, 2008), baixa utilização da capacidade como fraqueza (KOTLER, 1997), e baixa participação de mercado (NAGLE e HOLDEN, 2006; KOTLER, 1997). Uma dificuldade em detectar alterações de preços dos concorrentes (GREER, 1984 apud VASCONCELLOS, 2008) pode garantir que a empresa não comece uma guerra de preços por meio da adoção dessa estratégia. Espera-se também que a demanda seja altamente elástica (GUILTINAN et al., 1997 apud VASCONCELLOS, 2008) e que essa estratégia encontre mais sucesso em mercados com baixa diferenciação de produto (NAGLE e HOLDEN, 2006; KOTLER, 1997). 121121 121 • Precificação de linha de produtos – preço pacote (bundling): a empresa deve ter vantagem de custos no oferecimento da solução completa e espera-se que a elasticidade-marca seja alta. Outros determinantes podem acontecer aleatoriamente, uma vez que essa estratégia trata de um processo de determinação de preços e comercialização. • Precificação de linha de produtos – preço complementar: custos altos de mudança podem levar os clientes a pagarem preços maiores pelas partes acessórias ou suplementares (TELLIS, 1986 apud VASCONCELLOS, 2008). • Precificação de linha de produtos – preço eficiência: espera- se que a empresa adote essa estratégia quando a elasticidade- marca for alta (GUILTINAN et al., 1997 apud VASCONCELLOS, 2008), e as mudanças de preços sejam difíceis de serem detectadas, pois a empresa corre o risco de canibalizar as vendas do produto principal, de preço mais alto (DOLAN e SIMON, 1998). • Precificação baseada em custos – cost-plus: os gestores estarão mais propensos a escolher esta estratégia em um contexto em que haja pouca ou nenhuma informação sobre a demanda (HARRISON e WILKES, 1975 apud VASCONCELLOS, 2008), e haja dificuldade em se detectarem mudanças de preço no mercado. • Precificação de serviços ou bens sob encomenda – preço diferenciado (AVLONITIS e INDOUNAS, 2006): a adoção dessa estratégia será mais bem-sucedida nos casos em que os clientes tenham diferentes expectativas e necessidades em relação ao mesmo produto/serviço, o que pode ser fruto de uma demanda muito heterogênea ou sazonal. Outro importante determinante é a dificuldade de se determinarem alterações de preços, para que o sentimento de injustiça quanto às diferenças de preços seja mais difícil de ser processado. Uma alta diferenciação 122122 do produto/serviço, especialmente quanto às características adaptadas sob encomenda, também contribui para a redução do sentimento de injustiça. • Precificação de serviços ou bens sob encomenda – preço imagem (AVLONITIS e INDOUNAS, 2006): as empresas deverão optar por esta estratégia quando, além de altamente diferenciados, seus produtos/serviços forem percebidos como de alta qualidade em comparação com as ofertas existentes (GUILTINAN et al., 1997 apud VASCONCELLOS, 2008). • Precificação de serviços ou bens sob encomenda – preço relacionamento (AVLONITIS e INDOUNAS, 2006): acredita-se que esta estratégia será adotada quando os custos de mudança dos clientes forem altos e quando o produto/serviço for altamente diferenciado, o que contribui para um risco percebido de desabastecimento mais alto. • Precificação de serviços ou bens sob encomenda – preço garantia (MONROE, 2003): esta estratégia encontrará melhor aplicação quando a empresa estiver num ambiente de alta sensibilidade a preços por parte dos clientes e, ao contrário dos demais contextos, seu produto/serviço não for diferenciado e/ou sua qualidade for percebida como inferior à de seus concorrentes. Essa estratégia também poderá ser utilizada nos casos em que a empresa apresente alta desvantagem de custos. Em função da necessidade de adotar preços maiores que os da concorrência, dada sua desvantagem em custos, a empresa pode optar pela estratégia de preço garantia, de forma a aumentar o valor percebido de seu produto/serviço, justificando o preço superior. A relação entre situações de preços, estratégias e determinantes pode ser sumarizada conforme esquema apresentado na Tabela 4. 123123 123 Conforme exposto por Noble e Gruca (1999), a maioria das pesquisas empíricas mostrou que muitas empresas procuram atender a múltiplos objetivos em seu processo de determinação de preços. Consequentemente, é comum que as empresas utilizem mais de uma única estratégia. Identificar a presença de alguns dos determinantes mencionados anteriormente pode ajudar a avaliar o uso de estratégias de preços adequadas às situações enfrentadas pela organização. PARA SABER MAIS Para reduzir a sensibilidade a preços do consumidor, as empresas lançam mão depráticas alternativas que influenciam o cálculo da equação de valor para o cliente sem, necessariamente, alterar seus atributos. Ao entrar em um supermercado, o consumidor procura sinais que o ajudem a identificar oportunidades de compra a preços baixos, pois não é capaz de realizar pesquisas e memorizar os valores praticados pelo mercado para todos os itens em sua lista de compras. A presença de produtos em folhetos promocionais, cartazes diferenciando o preço nas gôndolas, volume acima do padrão em exposições fora do corredor da categoria são exemplos de evidências que influenciam a percepção de preço do consumidor a ponto de estimular uma compra nem sempre programada. Em outros casos 2+1 pode parecer menor que 3. O enquadramento de ofertas sob a perspectiva “pague apenas mais X pela oferta premium” gera mais conversões em compras que a apresentação do preço total. Essa abordagem sugere que os acréscimos de preço podem ser percebidos como menos relevantes quando colocados em posição de comparação com o preço-base. 124124 Tabela 1 – Situações, estratégias de preços e seus determinantes Situação Estratégia Determinante Preços de novos produtos Tempo de introdução do produto (início do ciclo de vida). Skimming Alta diferenciação do produto no mercado. Demanda de mercado inelástica. Alta utilização da capacidade. Desvantagem de custo em função da escala ou experiência. Curva de experiência/ aprendizagem Baixa diferenciação do produto no mercado. Vantagem de custo em função da escala. Baixa utilização da capacidade. Demanda de mercado elástica. Penetração Baixa diferenciação do produto no mercado. Vantagem de custo em função da escala. Baixa utilização da capacidade. Demanda de mercado elástica. Preço competitivo Tempo de Introdução do Produto (Mercado Maduro). Facilidade de se determinar a demanda do mercado. Líder de preços Alta participação de mercado. Facilidade de se detectarem mudanças de preços. Demanda inelástica. Alta utilização da capacidade. Vantagens de custo-escala. Vantagem de custo-aprendizado. Paridade de preços Desvantagem de custos. Baixa participação de mercado. Baixa diferenciação de produto no mercado. Facilidade de se detectarem mudanças de preços. Demanda de preços inelástica. Demanda de marca elástica. Alta utilização da capacidade. Menor preço Baixa utilização da capacidade. Baixa participação de mercado. Baixa diferenciação de produto no mercado. Demanda elástica. Vantagens de custo-escala. Vantagem de custo- aprendizado. Dificuldade de se detectarem mudanças de preços. Preço de linha de produtos Existência de produtos, acessórios, bens ou serviços suplementares. Preço pacote (bundling) Vantagem de custos. Demanda de marca elástica. Preço produto complementar Alto custo de mudança. Preço eficiência Dificuldade de se detectarem mudanças de preço. Demanda de marca elástica. Preço baseado em custos Difícil determinação da demanda. Cost-plus Dificuldade de se detectarem mudanças de preço. 125125 125 Preço de serviços ou bens sob encomenda Níveis de heterogeneidade, perecibilidade e intangibilidade dos componentes da proposta. Preço diferenciado Alta diferenciação de produto. Dificuldade de se detectarem alterações de preços. Diferentes expectativas dos clientes quanto ao produto. Preço imagem Alta qualidade de produto. Alta diferenciação de produto. Preço relacionamento Alta diferenciação de produto. Alto custo de mudança do cliente. Preço garantia Demanda do produto elástica. Desvantagem de custos. Baixa diferenciação e/ou baixa qualidade do produto. Fonte: adaptada de Vasconcellos (2008, p. 35). 1.6 Relação entre teoria e prática de preços Ainda que se constate a importância do preço no marketing mix e a necessidade de uma formação de preços eficaz como fonte de aumento de vendas e rentabilidade para a empresa, as empresas ainda têm dificuldades de aplicar o que a literatura indica como melhores práticas, especialmente no Brasil. O período inflacionário gerou um ambiente externo cujas características impediam que as empresas adotassem as recomendações previstas na literatura. Muitas empresas chegaram a redesenhar sua estratégia de negócio quando perceberam que a administração do capital de giro poderia gerar mais receita do que o negócio-núcleo da empresa. Por outro lado, a inflação afetou a percepção do consumidor quanto aos referenciais de preços, tornando quase impossível aferir uma equação ótima de valor (VASCONCELLOS, 2008). A estabilização da moeda e o controle dos níveis de inflação em patamares inferiores iniciados após o Plano Real produziu uma alteração no comportamento do consumidor brasileiro. A tarefa de comparar 126126 preços de produtos concorrentes e substitutos em tempo de tomar a decisão de compra ficou muito mais fácil, o que aumentou a competição entre as empresas. Outros acontecimentos, como o fenômeno da globalização, com a consolidação dos blocos de livre comércio, e o surgimento de novas tecnologias de informação, que viabilizou dentre outras coisas a compra de produtos estrangeiros por meio da internet, também contribuíram de forma significativa no processo de transformação do ambiente competitivo. Em estudo realizado por Vasconcellos (2008) com empresas integrantes da indústria brasileira de bens de capital, foi verificado que a prática de preços considerou os 3 Cs (clientes, concorrentes e custos), conforme proposto por Monroe (2003) e Hogan e Nagle (2006). Apesar de confirmada a dominância da estratégia cost-plus (NOBLE e GRUCA, 1999; CHIA e NOBLE, 1999), escolhida por 75% das empresas, o nível de utilização das informações sobre clientes destacou-se em relação ao nível de utilização das informações sobre custos com a maior média (7,9). Dessa forma, os resultados da pesquisa sugerem que a prática de marketing, no que diz respeito à formação de preços, está se fortalecendo. Nos Estados Unidos da América, em pesquisa realizada com 270 empresas do mesmo setor que as brasileiras, Noble e Gruca (1999) registraram a dominância do uso da estratégia de preço cost-plus (56%) sobre as demais. Esse domínio se deu não apenas na escolha, mas também por meio da atribuição da maior importância média (71%). Entretanto, 35% dos gestores que usaram a estratégia cost-plus a combinaram com outra estratégia de preço. O mesmo modelo de pesquisa aplicado em Singapura confirmou a hipótese de predominância da estratégia cost-plus (42,7% das empresas). No entanto, apenas 37% dos respondentes escolheram uma única estratégia de preços, enquanto 32% escolheram duas e 31% escolheram três (CHIA e NOBLE, 1999). 127127 127 Ingenbleek et al. (2003) realizaram pesquisa equivalente na Bélgica e verificaram que muitas empresas combinaram as estratégias de formação de preços com base nos custos com estratégias de formação de preços com base no mercado (clientes e fornecedores), o que demonstra que um número significativo de gestores está olhando para dentro e para fora de suas organizações quando estabelecem os preços de seus produtos, conforme sugerido por Monroe (2003). ASSIMILE A precificação dinâmica e outras práticas de revenue management (RM) estão se tornando cruciais na operação de muitas empresas, como, por exemplo, companhias aéreas, serviços de hospedagem, negócios de transporte por aplicativos, organizações do setor de entretenimento, entre outras. Esse processo consiste na oferta de múltiplos preços para uma mesma unidade de produto ou serviço de acordo com disponibilidade, local e hora da compra ou do consumo, perfil do consumidor etc. Essa abordagem é usualmente aplicada a serviços em função da sua característica perecível, ou seja, a impossibilidade de se estocarem serviços durante períodos de baixa demanda para vender em períodos de alta. O aplicativo de transporte de passageiros Uber, por exemplo, utiliza uma tabela dinâmica que varia de acordo como horário do dia e do local de origem da corrida, pois está associada à relação entre a quantidade de pedidos (demanda) e a disponibilidade de motoristas na região (oferta). 128128 De uma forma geral, o processo de precificação dinâmica é facilitado à medida que o comércio virtual se desenvolve. A tecnologia viabiliza o reajuste dos preços baseado nas informações coletadas sobre o perfil dos compradores potenciais e nas características do ambiente de mercado no exato momento da compra ou contratação. Além disso, o consumidor tem menos referência dos preços pagos por outros consumidores, o que evita o sentimento de injustiça. 2. Considerações finais Nesta leitura, foi verificada a importância da precificação como um componente de sucesso da estratégia nas organizações. O processo de definição dos preços requer o uso equilibrado de informações baseadas nos 3Cs – custos, clientes e concorrentes – para garantir que a empresa tenha consciência do impacto da precificação sobre o volume de vendas e que evite a redução do valor percebido pelo cliente, o estabelecimento de guerras de preços com a concorrência e o achatamento das margens de lucro do negócio. Situações enfrentadas pelas empresas favorecem a adoção de categorias de estratégias de preços e alguns fatores podem atuar como determinantes das práticas mais abordadas pela literatura mencionadas nesta leitura. Por fim, apesar de muitas empresas adotarem estratégias de preços baseadas em informações de custos, pesquisas observaram que elas costumam combiná-las com estratégias de formação de preços baseadas em informações do mercado (clientes e fornecedores), demonstrando atenção dos gestores em relação ao equilíbrio dos 3Cs, conforme sugere a teoria. 129129 129 TEORIA EM PRÁTICA Mudanças na percepção do consumidor sobre o conceito de “luxo” estão dificultando a identificação do processo por meio do qual os clientes tomam a decisão sobre pagar um preço-prêmio ou não. Em outras palavras, a equação de valor para o cliente de produtos que agregam características exclusivas está ainda mais difícil de ser mensurada. Esse desafio ressalta a importância do conhecimento das tendências do comportamento do consumidor e de seu estilo de vida. A opção por produtos de “luxo” ou depende cada vez menos do poder aquisitivo do consumidor e mais de sua experiência com a marca ou de fatores que competem com o preço em sua mente. Alimentos orgânicos, marcas que não empregam trabalho infantil, produtos que não utilizam matéria-prima de origem animal podem satisfazer as aspirações do consumidor e levá-lo a pagar mais pela oferta, tanto quanto razões mais tradicionais, como a percepção de que preços altos indicam melhor qualidade, a crença de que gastar mais é sinal de automerecimento e confirma o sucesso e o status etc. O interesse pessoal em determinados mercados também influencia a tomada de decisão sobre preços. Alguns aficionados por automóveis preferem pagar mais por esses itens a consumir alimentos mais premium, por exemplo. O inverso pode acontecer com pessoas que se interessam por gastronomia. Nesse contexto, reflita sobre as duas importantes questões: Quais são os perfis de consumidores de seus produtos? 130130 Que atributos aspiracionais do produto ou da marca influenciariam suas decisões por pagar mais? Fonte: adaptado de Allsopp (2005). VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. Computadores montados com diferentes componentes de hardware e softwares apresentam um preço único pela configuração do pacote. Ao adotar essa estratégia, as empresas evitam que os clientes façam cotações das partes separadamente, levando a uma redução do preço total e da rentabilidade do pacote como um todo. A descrição acima pode ser atribuída à seguinte estratégia de preços: a. Cost-plus. b. Preço imagem. c. Paridade de preço. d. Preço-pacote (bundling). e. Preço eficiência. 2. Preço diferenciado, preço imagem, preço relacionamento e preço garantia são estratégias adotadas em qual das seguintes situações apresentadas neste estudo: a. Precificação competitiva. b. Precificação de novos produtos. 131131 131 c. Precificação baseada em custos. d. Precificação de linha de produtos. e. Precificação de serviços ou bens sob encomenda. 3. Assinale a alternativa falsa sobre os determinantes da estratégia de preço penetração: a. Alto custo de mudança. b. Baixa diferenciação do produto no mercado. c. Vantagem de custo em função da escala. d. Baixa utilização da capacidade. e. Demanda de mercado elástica. Referências bibliográficas ALLSOPP, J. Premium pricing: understanding the value of premium. Journal of Revenue and Pricing Management, v. 4, n. 2, p. 185-194, 2005. AVLONITIS, G. G., INDOUNAS, K. A. Pricing practices of service organizations. Journal of Service Marketing, v. 20, p. 346-356, 2006. CHIA, J. A. L.; NOBLE P. M. Industrial pricing strategies in Singapore and the U.S.: same or different? Asia Pacific Journal of Management, v. 16, n. 2, p. 293-304, 1999. DOLAN, R. J.; SIMON, H. O poder dos preços: as melhores estratégias para ter lucro. São Paulo: Futura, 1998. HOGAN, J.; NAGLE, T. 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VASCONCELLOS, C. M. Estratégias e práticas de preços na indústria brasileira de bens de capital. 2008. 76 f. Dissertação (Mestrado em Administração) – Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/ DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=154526. Acesso em: 20 out. 2019. ZEITHAML, V. A.; BITNER, M. J. Marketing de serviços: a empresa com foco no cliente. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2003. Gabarito Questão 1 – Resposta D Resolução: preço pacote (bundling) é uma estratégia mais utilizada quando a solução completa é um conjunto de partes que podem ser vendidas separadamente. Questão 2 – Resposta E Resolução: preço diferenciado, preço imagem, preço relacionamento e preço garantia são estratégias normalmente adotadas para a precificação de serviços e podem ser usadas para precificar bens sob encomenda pelo fato de apresentarem características únicas que dificultam sua comparação com concorrentes. Questão 3 – Resposta A Resolução: o alto custo de mudança é determinante da adoção de estratégias como preço relacionamento ou preço produto complementar, conforme o caso. http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=154526 http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=154526 133133 133 Negociação Autora: Carla Montenegro de Vasconcellos Objetivos • Definir o conceito de negociação e sua importância no dia a dia das organizações. • Discutir a necessidade de uma preparação adequada e da definição de um plano de ação antes da negociação em si. • Compreender as diferenças entre negociação distributiva e integrativa, bem como as práticas recomendadas para cada tipo de barganha. • Conhecer a outra parte por meio da definiçãode estilos e do uso de técnicas de escuta ativa e empática, inspirando confiança. • Analisar o papel de percepção, cognição e emoção de forma a evitar desvios no processo de negociação. • Ilustrar a importância da comunicação não verbal para o estabelecimento de um diálogo efetivo. 134134 1. Negociação Nesta leitura, serão abordados os seguintes temas referentes à negociação: o conceito de negociação; a importância da negociação no dia a dia das organizações; a necessidade de uma preparação adequada e da definição de um plano de ação antes da negociação em si; as diferenças entre negociação distributiva e integrativa, bem como as práticas recomendadas para cada tipo de barganha; características das partes envolvidas e técnicas para alcançar o outro por meio do diálogo; a construção de relacionamentos baseados na confiança; o papel da percepção, cognição e emoção, bem como formas de evitar desvios no processo de negociação; elementos da comunicação não verbal. 1.1 Conceito e definição Negociação é o processo de buscar aceitação de ideias, propósitos ou interesses visando ao melhor resultado possível, de tal modo que as partes envolvidas terminem a negociação consciente de que foram ouvidas, tiveram oportunidade de apresentar toda a sua argumentação e que o produto final seja maior que a soma das contribuições individuais. (JUNQUEIRA, 1988, p. 5) O conceito apresentado pelo autor acima citado implica que haja algum equilíbrio no atendimento dos interesses das partes em uma negociação. Para atingir esse equilíbrio, é necessário não apenas um alinhamento de valores, mas também atenção a outros resultados do processo, tais como: cronograma adequado, nível de esforço mensurado, condições recíprocas de negociação alinhadas e, finalmente, processo/projeto implantado com sucesso. Negociar consiste em testar os limites das partes envolvidas e de seus processos, utilizando estratégias que mantenham os níveis de tensão dentro de um patamar de tolerância aceitável pelos negociadores. Em outras palavras, a negociação é a ferramenta que viabilizará o 135135 135 consenso entre as partes enquanto perseguem o melhor resultado possível para si e suas organizações. 1.2 Relevância A todo momento, os meios de comunicação estão se referindo a privatizações, fusões, incorporações, joint-ventures e alianças estratégicas, como necessidades de uma economia moderna, dinâmica e competitiva. As negociações estão presentes não apenas quando se firmam acordos estabelecendo esses tipos de procedimentos, mas também nas suas implementações, quando pessoas, provenientes de culturas organizacionais distintas e até conflitantes, devem encontrar termos comuns e trabalharem numa mesma direção. Os crescentes conflitos de poder entre nações, etnias e grupos sociais requerem habilidades de negociação para evitar embates violentos que comprometem o estabelecimento da paz e da qualidade de vida entre os envolvidos. A destruição de florestas tropicais, as chuvas ácidas, os resíduos nucleares, a destruição da camada de ozônio, o efeito estufa, a elevação dos níveis dos mares etc., tornam urgente a necessidade de se realizarem ponderações entre as necessidades do progresso e a má utilização de recursos naturais de forma a alcançar uma solução que contemple o melhor resultado possível para a humanidade. Além disso, durante um tempo, verificou-se que as decisões eram tomadas por indivíduos que davam ordens e, por outro lado, executadas por aqueles que seguiam suas ordens/instruções. A partir da revolução do conhecimento, com o advento da internet, as pirâmides de poder estão se tornando horizontais. A hierarquia dá lugar a um modelo que mais se parece a uma rede. E em organizações com estruturas horizontais, em redes, a tomada de decisão se dá por meio de negociações (URY, 2018). 136136 1.3 Planejamento De acordo com Lewicky et al. (2007), o ato de planejar e definir os caminhos que serão percorridos durante uma negociação evita que o negociador aja por meio de improvisos ou confie seu desempenho ao acaso. A etapa que antecede a negociação é vital para seu sucesso e pode ser representada pelo estabelecimento de objetivos, pela definição da estratégia e pelo desenho do plano de condução da negociação. • Objetivos da negociação: muitas negociações falham porque as partes não determinam seus objetivos de forma clara. Se o negociador não tem clareza do que espera obter, todo o esforço empenhado na definição da estratégia e no planejamento da negociação terá sido em vão. Além de listar o que deseja alcançar, o negociador deve estabelecer níveis de prioridade e avaliar possíveis trocas (trade offs) entre metas múltiplas (LEWICKY, et al., 2007). Formalizar e sistematizar os objetivos favorece a manutenção do foco no que a organização necessita por meio da negociação. • Estratégia de negociação: após definir aonde quer chegar, o negociador deve traçar o caminho que o levará a atingir os objetivos. Segundo Matsatsinis e Samaras (2001), a definição do caminho a seguir, ou seja, do processo da negociação, deve considerar três princípios básicos: a definição da estratégia (antes de iniciar a negociação); a adoção de táticas para solução de problemas (durante a negociação); e o desenho de um procedimento de contingência estratégico e tático (caso não se obtenham resultados favoráveis). Para elaborar esse plano de ação, faz-se necessário mapear os interesses da outra parte e confrontar com os próprios de forma a analisar as opções e identificar a melhor alternativa para o acordo negociado, conhecida sob a sigla Batna, do inglês best alternative to a negotiated agreement (FISHER; URY; PATTON, 1991 apud LEWICKY, et al., 2007). 137137 137 Os negociadores que têm uma BATNA forte, isto é, uma alternativa muito positiva ao acordo negociado, terão um maior poder de barganha ao longo da negociação e, por essa razão, serão capazes de chegar mais perto de seus objetivos. (LEWICKY et al., 2007, p. 32) • Plano ou processo de negociação: após a identificação dos objetivos e a definição da estratégia, é preciso desenhar o passo a passo para garantir o sucesso da negociação. É a fase de coleta de dados e informações, de escolha das pessoas que irão compor a equipe de negociação, de elaboração da agenda de reuniões etc. Também é nesta fase que se deve compor um repertório de opções para solucionar os pontos que serão negociados, buscando compreender seu impacto e conferir legitimidade aos argumentos que suportarão tais opções. Segundo Lewicky et al. (2007), o negociador deve obter o máximo de informações que puder antes do início da negociação ou, quando isso não é possível, nos seus estágios iniciais. O levantamento das seguintes informações da outra parte se prova fundamental para garantir um planejamento eficaz: • Recursos, características e poder de barganha. • Limites e alternativas. • Interesses e objetivos. • Constituintes, autoridade e estrutura social. • Reputação e estilo. • Estratégia e táticas. 138138 PARA SABER MAIS Negociar em equipe, muitas vezes, é imprescindível, sobretudo em ambientes mais complexos. Dominar todos os aspectos relevantes para o fechamento do acordo entre as partes pode ser impraticável para um único negociador. Além da quantidade de informação, a natureza específica de algumas delas requer a presença de especialistas que reforçarão a legitimidade das questões negociadas. Como exemplo de profissionais que podem auxiliar o processo de negociação dependendo das características da oferta, é possível citar engenheiros, advogados, profissionais da área financeira, agências de publicidade etc. A negociação em equipe requer procedimentos de preparação que garantam que os papéis estarão bem definidos, que todos conheçam os procedimentos que serão adotados e que sejam estabelecidos códigos de comunicação entre os membros do time. Ao mesmo tempo em que uma equipe bem preparada mostra-seextremamente poderosa, uma equipe sem o preparo adequado pode arruinar todas as chances de sucesso. 1.4 Negociação distributiva Barganha distributiva ou barganha competitiva é um processo conhecido como “ganha-perde”. Nesse modelo de negociação, as partes desejam que seus objetivos sejam atendidos independentemente da possibilidade de atender aos interesses da outra parte. Em outras palavras, para que um ganhe, o outro tem que perder. A negociação distributiva, segundo Lewicky et al. (2007), depende das estratégias e táticas utilizadas por cada um dos participantes em um 139139 139 processo de negociação. Uma das premissas teóricas da barganha distributiva apontada por esse autor é que a diferença entre os pontos de resistência, o que chamou de variação de barganha, variação de acordo ou zona de acordo em potencial, determina a faixa em que a negociação ocorrerá. Ambas as partes envolvidas na negociação sabem que existe a possibilidade de terem que aceitar menos do que esperam, porém trabalham para que o acordo seja melhor do que os respectivos pontos de resistência. A busca pelo consenso pode reduzir a resistência entre as partes, convertendo um resultado positivo para o acordo. O mix de barganha consiste em tudo o que o negociador pode fazer para melhorar a oferta do que pretende entregar. Ainda que não seja o tipo de negociação mais indicado pela literatura, nos casos em que a transação acontecerá uma única vez, como a venda de um carro usado, por exemplo, esse modelo costuma apresentar bons resultados. Para chegar o mais próximo possível de seus objetivos, o negociador pode adotar as seguintes táticas: 1. Avaliar os objetivos e pontos de resistência da outra parte e os custos, caso haja desistência, para definir que estratégias utilizar visando reverter ou converter a intenção da outra parte em resistir ou desistir. 2. Gerenciar o que a outra parte conhece sobre seus objetivos, pontos de resistência e custos de desistência e alterar a estratégia caso a outra parte obtenha tais informações. 3. Influenciar a discussão para que a outra parte não decida antecipadamente, para que haja tempo para conduzir a negociação a um campo mais neutro. 4. Administrar os custos e evitar que a negociação se torne inviável para as partes. 140140 1.5 Negociação integrativa Ao contrário do modelo de negociação distributiva, a barganha integrativa busca realizar transações “ganha-ganha”, fugindo do formato em que há vencedores e vencidos. A principal característica desse tipo de negociação é que ambas as partes buscam satisfazer os interesses de todos os envolvidos, estabelecendo relacionamentos duradouros entre os participantes. Lewicky et al. (2007) sugere que o negociador tenha em mente alguns passos para garantir o melhor resultado em um processo de negociação integrativa. São eles: foco no que as partes têm em comum; atenção a necessidades e interesses de todos os envolvidos; identificação de ganhos que atendam aos objetivos das partes; adoção de critérios para avaliar o desempenho da negociação. Esses autores ressaltam a importância da preparação dos negociadores no sentido de garantir uma negociação sem ruídos em que todos saiam satisfeitos com o desfecho. Algumas características listadas por eles são: a. Os negociadores devem agir com honestidade e integridade, promovendo a confiança entre os participantes. b. Os negociadores devem estar preparados para fazer concessões, o que contribui para a construção de relações fortes no longo prazo. c. Os negociadores devem reconhecer as intervenções das partes e valorizá-las sempre que possível. d. Os negociadores devem pensar de maneira sistêmica, em um nível mais organizacional, ampliando o foco da negociação. e. Os negociadores devem compreender os movimentos da outra parte, o que inclui atributos como postura, expressões, linguagem corporal e outros sinais que comuniquem informações importantes sobre o outro. 141141 141 Para que haja fluidez em uma negociação integrativa, os negociadores devem, em primeiro lugar, identificar e definir o problema. É fundamental que o fruto dessa etapa seja aceitável pelas partes, além de prático e de fácil compreensão. Ao definir o problema, ficam também evidentes os obstáculos para a sua solução. Faz-se necessária a despersonalização do problema por meio do princípio da neutralidade, sem definir posicionamentos que anulem a outra parte. Ao separar o que é problema daquilo que é solução, os participantes ficam mais próximos do alcance de seus objetivos. Após identificar e definir o problema, os negociadores devem buscar uma compreensão mais ampla das necessidades dos envolvidos na negociação. Segundo Lewicky et al. (2007), a chave para o estabelecimento de um acordo integrativo é a habilidade das partes de entender e satisfazer seus interesses mutuamente. Portanto, a identificação desses interesses é uma etapa essencial no processo de negociação integrativa. Segundo os autores citados acima, tais interesses podem ser classificados como: • Interesses substantivos: são os aspectos tangíveis da negociação, normalmente relacionados a interesses de viés econômico ou financeiro, como preços ou taxas, por exemplo, ou ao objeto da negociação, como a divisão de recursos. • Interesses processuais: dizem respeito ao desenrolar do próprio processo de negociação, podendo refletir os estilos dos negociadores e seus padrões de comportamento. É fundamental identificar, por exemplo, a presença de negociadores que têm intenção de fomentar a competição ou utilizar métodos coercitivos no processo. • Interesses de relacionamentos: presentes quando as partes têm como objetivo construir relacionamentos duradouros, evitando tomar decisões que prejudiquem essa condição no longo prazo. 142142 Esses relacionamentos podem ser intrínsecos, quando se valoriza o prazer de criar vínculos, ou instrumentais, em que as partes têm como objetivo extrair benefícios e vantagens no futuro que não devem ser comprometidos pelo insucesso da negociação atual. • Interesses morais e éticos: baseados em princípios aceitáveis pelos negociadores, nos valores aceitos por suas organizações como corretos. É importante que se conheçam os princípios que motivam as partes envolvidas de forma que a solução apresente sinergia com eles. Por sua característica intrínseca à cultura das organizações, esse tipo de interesse permeia os demais. Para que se estabeleçam negociações integrativas com sucesso, sugere-se atenção aos seguintes fatores (LEWICKY, 2007): 1. Existência de algum objetivo comum às partes. Se não houver convergência de objetivos, a negociação poderá adotar um viés competitivo. 2. Fé na habilidade de resolução de problemas do outro. 3. Atribuição de legitimidade à outra parte e respeito a seu ponto de vista. 4. Motivação e compromisso de trabalhar em conjunto. 5. Confiança na boa-fé da outra parte. 6. Comunicação clara e objetiva, que reflita a verdade entre as partes e evite a abordagem de temas ou perspectivas desnecessários. 7. Compreensão da dinâmica da negociação integrativa. As partes devem estar cientes da necessidade de todos saírem vencedores, posicionando o processo para o interesse mútuo, focando nos objetivos, problemas e soluções que sejam bons para ambas. 143143 143 1.6 As partes envolvidas Diversas negociações tomam parte no dia a dia das pessoas, contemplando familiares, amigos, membros de grupos sociais ou religiosos, integrantes de partidos políticos, associações e condomínios, além dos tradicionais acordos necessários ao sucesso no ambiente de negócios, entre clientes e fornecedores, entre superiores e subordinados, ou entre diferentes departamentos dentro da mesma empresa. Em todos os casos, lidamos com indivíduos, ainda que eles defendam interesses coletivos ou de organizações. O ser humano tem características individuais resultantes de sua realidade cultural, religião, filosofia, profissão etc.,que o levam a perceber o mundo de forma única. O negociador cria expectativas e pauta sua maneira de agir e ponderar em paradigmas que influenciam seu comportamento ao negociar e tomar decisões, ainda que inconscientemente. O comportamento do indivíduo é um tema amplamente estudado na área da psicologia e diferentes estudos buscam reunir pessoas em grupos que apresentem características comuns, denominando-os estilos de personalidade. O conhecimento de diferentes estilos tem como objetivo atingir algum nível de controle sobre outros indivíduos. Segundo Pessoa (2008), ter controle sobre a outra parte significa influenciar o pensamento e as ações dos outros. Esse autor busca definir o estilo social de diferentes negociadores por meio da análise de características como: 1. Iniciativa, comunicação ágil, apresentação de desafios, objetividade, autoconfiança, proatividade, rapidez na tomada de decisão, sentido de urgência – perfil afirmativo ou dominante. 2. Ponderação, sutileza, calma, reatividade, reflexão maior para a tomada de decisão, paciência – perfil interrogativo ou condescendente. 144144 3. Espontaneidade, impulsividade, emoção, bom humor, abertura, carisma, afeto, improviso, orientação para o macro – perfil extrovertido ou informal. 4. Autocontrole, disciplina, afastamento do outro, dissimulação, impassividade, organização, orientação para o micro – perfil controlado ou formal. Combinadas em quatro quadrantes, é possível construir estratégias para lidar com negociadores que apresentem dominância das características 1 e 3, por exemplo. Isso significa dizer que esses indivíduos tendem a ser afirmativos ou dominantes ao mesmo tempo em que apresentam características ligadas à extroversão e informalidade. Após combinar as diferentes escalas, Pessoa (2008) propõe a análise de quatro estilos sociais: analítico, controlador, expressivo e sociável. • Estilo analítico: priorizam os métodos, seguem padrões, refletem bastante, são cautelosos e se sentem seguros quando confrontados com argumentos baseados em dados e fatos. • Estilo controlador: são voltados para a ação, buscam identificar problemas para endereçar soluções, tomam decisões rápidas, buscam o poder e o controle dos resultados. Seu foco está em alcançar objetivos e metas. • Estilo expressivo: criativos, intuitivos, buscam o reconhecimento das partes, são motivados pela procura contínua de um projeto grandioso, são impulsivos, generalistas e suas decisões são orientadas para ideias. • Estilo sociável: buscam, acima de tudo, construir relacionamentos interpessoais, são orientados ao networking, são acessíveis, confiáveis, promovem a inclusão social, têm dificuldade em dizer não. 145145 145 Existem inúmeras ferramentas gerenciais desenvolvidas com o objetivo de traçar os perfis dos profissionais envolvidos no negócio da empresa. No entanto, como cada indivíduo possui características únicas baseadas em suas experiências, necessidades, seus desejos e motivações, o ideal é que o negociador desenvolva uma escuta ativa e se coloque no lugar do outro com empatia e respeito por suas diferenças, de forma a obter o melhor do processo de negociação. A maior parte dos estudos relacionados à escuta ativa e empática está no campo da psicologia humanista, fundada por Abraham Maslow (SCHULTZ e SCHULTZ, 2016). Dentre os autores que Maslow reuniu, Carl Rogers, um psicanalista americano, apresentou três conceitos que podem ser considerados fundamentais para o estabelecimento de um diálogo efetivo com os clientes. São eles: 1. Congruência – ser o que se sente, sem mentir para si e para os outros (revelar-se digno de confiança, íntegro). 2. Empatia – capacidade de sentir o que o outro sente, de compreender seu sentimento (inclusão – permitir ser afetado pelo mundo do outro). 3. Aceitação incondicional – aceitar o outro como é, de forma positiva. Respeito e compromisso com o sistema de valor da outra parte. Em todos os casos, é importante que se coloquem de lado as próprias perspectivas e crenças para ser capaz de alcançar o outro. Ao adotar as práticas sugeridas por Carl Rogers, o negociador se colocará mais próximo à outra parte, contribuindo para o desenvolvendo de uma das características mais importantes para o sucesso da negociação: a confiança. 146146 1.7 A relação de confiança A confiança mútua é um dos principais aspectos do processo de negociação em que ambas as partes saem ganhando, conhecida como ganha-ganha. Ela fica mais sólida quando conquistada por meio da vivência e da experimentação, consequentemente, sua construção pode levar algum tempo. No entanto, é possível inspirar confiança por meio de algumas práticas, como a escuta ativa e empática mencionada anteriormente. Lewicky et al. (2007) apresentam alguns pressupostos fundamentais sobre a confiança na negociação. São eles: • A maioria das pessoas inicia um novo relacionamento concedendo o crédito da confiança à outra parte e se, ao longo do tempo, um dos negociadores agir de maneira contrária aos princípios postos para negociação, ele poderá ser excluído de futuras negociações. • Confiar no outro induz ao comportamento cooperativo entre as partes. O consenso e o atingimento dos objetivos das partes envolvidas se dão de forma mais rápida e tranquila quando há confiança. • Adotar um viés integrativo influencia a inspiração de confiança. Um negociador que se coloque no lugar do outro e construa propostas em torno de resultados ganha-ganha ganhará credibilidade da outra parte. • Quanto maior for a quantidade de informação relevante e precisa utilizada no processo de negociação, maior será o clima de confiança baseado na transparência. 1.8 Percepção, cognição e emoção No processo de alcançar o outro e inspirar confiança, estar atento não envolve somente ouvir, mas traduzir o que é ouvido. Se ocorrerem 147147 147 falhas na interpretação do outro ou do problema apresentado, dificilmente será alcançado êxito com o diálogo. Além de evitar desvios perceptivos e cognitivos durante o processo de negociação, é também necessário considerar que as emoções das partes envolvidas em relação às empresas ou aos negociadores também podem definir o sucesso da negociação. A percepção é o processo de “dar sentido”, ou seja, interpretar o ambiente para agir adequadamente. Ela é seletiva e imprecisa. O indivíduo tem a percepção influenciada por suas necessidades, seus desejos, motivações e experiências pessoais. Para facilitar a análise do ambiente em que ocorre a negociação, é comum que se tomem atalhos que podem desviar o negociador do intuito de compreender a outra parte de forma plena. Algumas distorções de percepção são: • Estereótipo: atribuir características ao outro baseado apenas em sua condição de membro de uma categoria social ou demográfica. Exemplo: “idosos são conservadores”. • Efeito halo: julgar, analisar, concluir e definir uma pessoa a partir de uma única característica, como aparência, forma de se vestir, falar, postura etc. • Percepção seletiva: ver e ouvir somente os fatos que apoiam suas crenças e os seus referenciais socioculturais. Está relacionada aos nossos desejos ou medos. • Projeção: atribuir aos outros características ou sentimentos do próprio indivíduo. Assumir que o outro reagirá como você mesmo reagiria. 148148 • Foco/ponto de vista: é um mecanismo que utilizamos para enquadrar, modelar e organizar o mundo à nossa volta. Dependendo do olhar sobre um mesmo assunto, é possível ver aspectos diferentes do problema. A Figura 7 ilustra a relação entre as percepções de figura e de fundo, bastante estudadas pela psicologia da Gestalt. Figura 7 – Figura-fundo: o vaso de Rubin Fonte: peterhermesfurian/iStock.com. Parceiros chegam a um comum acordo não por haver cedido em relação a suas expectativas, mas por terem enxergado os desejos de ambos os lados sob um único ponto de vista. (FOLLET, M. P. apud LEWICKI et al., 2007, p.114) Da mesmaforma que podem cometer erros de percepção, as pessoas processam dados e informações de maneira imperfeita e tendem a cometer desvios cognitivos sistemáticos. Estar atento a essas armadilhas é importante para evitá-las, mas também para identificar esse comportamento na outra parte a ponto de promover ajustes na condução da negociação. Um indivíduo acometido por desvios cognitivos tende a apresentar comportamentos como: • Evidências confirmatórias – Procura evidência confirmatória e exclui do processo de decisão as informações contrárias. “Eu sabia!” 149149 149 • Custo afundado – Tem dificuldade de admitir erro e não busca corrigir decisões anteriores. • Status quo – Tende a permanecer no estado inicial por medo da mudança e do risco de consequências ruins. • Ancoragem – Estabelece padrões irreais (estimativas baseadas no passado, preço de referência abaixo do mercado etc.) • Enquadramento e risco – Encaram decisões sob perspectiva de lucro (propenso ao risco) ou prejuízo (avesso ao risco). Finalmente, nem todo aspecto da negociação passa pela visão racional, cognitiva. Emoções positivas e negativas influenciam o diálogo e a troca entre as partes envolvidas e, portanto, devem ser identificadas para que seja possível lidar com elas de forma adequada. Sentimentos positivos entre parceiros de negócios, provavelmente, resultarão em processos colaborativos, pois criam atitudes positivas em relação ao outro. Por outro lado, sentimentos negativos podem levar ao estabelecimento de relações mais competitivas durante o processo de negociação; ao comprometimento da habilidade de analisar a situação de forma precisa; à transformação do conflito em ordem pessoal e o envolvimento de outros parceiros; à retaliação. 1.9 O corpo fala Nem sempre a comunicação entre os indivíduos se dá pelas palavras, sendo importante estar atento à linguagem não verbal durante o processo de negociação. Segundo Buber (1982), ainda que possa renunciar a qualquer mediação de sentidos, a linguagem ainda é linguagem. O diálogo pode existir sem signos, sem sons, sem gestos, embora esse seja seu modo mais comum de acontecer. 150150 Praticar a escuta ativa também significa observar outros sinais da comunicação, como, por exemplo, a linguagem corporal (um olhar, um sorriso, um gesto, ou mesmo microexpressões faciais). Segundo Lewicky et al. (2007), 90% da comunicação não está nas palavras, mas em um contexto amplo que inclui modos de expressão, linguagem corporal e muitas outras formas. Outra forma de alcançar o outro é por meio da análise do comportamento, que consiste em observar a outra parte, comparar com a linha de base do próprio sujeito e criar hipóteses, considerando outras observações, tais como o ambiente, as interações da pessoa, sua história de vida, seu comportamento verbal etc. O famoso personagem de ficção da literatura britânica, Sherlock Holmes, utiliza o que chama de método dedutivo e científico que abrange a observação de uma série de aspectos para deduzir informações sobre o indivíduo, como origem, profissão, motivação etc. ASSIMILE No Dilema do Prisioneiro, um dos exemplos mais clássicos da Teoria dos Jogos, temos a seguinte situação: Dois indivíduos suspeitos de haverem cometido um crime juntos são colocados pela polícia em celas separadas. Como não há provas necessárias para condená-los, os oficiais desenham uma estratégia para que os próprios prisioneiros produzam a prova contra ambos. A proposta apresentada pela polícia aos suspeitos poderia ser comparada à seguinte situação: 1. Se o suspeito A denunciar o B, ele sai livre e o outro pegará 10 anos de prisão (0 + 10 = 10 anos de prisão combinados). 151151 151 2. Se o suspeito B denunciar o A, ele sai livre e o outro pegará 10 anos de prisão (0 + 10 = 10 anos de prisão combinados). 3. Se ambos ficarem em silêncio, pegarão 6 meses de prisão cada (6 meses + 6 meses = 1 ano de prisão combinado). 4. Se ambos confessarem, pegarão 5 anos de prisão cada (5 + 5 = 10 anos de prisão combinados). As quatro alternativas possíveis ilustram as escolhas que as partes podem fazer entre cooperar e competir. Nas alternativas 1 e 2, percebemos uma relação distributiva, pois, para que uma parte ganhe e saia livre, a outra tem que perder, ficando 10 anos presa. Já a alternativa 3 pode ser associada a uma situação de barganha integrativa, em que o ganho combinado é melhor do que em qualquer outra configuração. Entretanto, se não houver confiança e compromisso entre as partes posicionando o processo para o interesse mútuo, elas buscarão atender a seus interesses individuais independentemente do resultado para o outro. Ao buscarem o resultado ótimo para o indivíduo optando pelas alternativas 1 e 2 simultaneamente, os suspeitos acabarão provocando uma situação em que ambos perdem (alternativa 4), ficando mais tempo na prisão do que se optassem por não denunciar a outra parte. 2. Considerações finais Nesta leitura, foi verificada a importância da negociação no dia a dia das organizações, quer seja entre clientes e fornecedores, mas também entre líderes e liderados ou entre diferentes departamentos dentro 152152 da empresa. Ficou evidente que a etapa mais importante do processo de negociação acontece antes mesmo de que ela inicie e consiste no estabelecimento de objetivos, definição da estratégia e planejamento do curso de ações, sendo fundamental o conhecimento dos interesses da outra parte e de seu estilo de negociação. Após a apresentação das diferenças entre os tipos de negociação distributiva e integrativa, bem como as práticas recomendadas para cada tipo de barganha, analisou-se o papel da percepção, cognição e emoção de forma a evitar desvios no processo. E, finalmente, verificou-se o impacto da comunicação não verbal no estabelecimento de um diálogo efetivo. TEORIA EM PRÁTICA Para ser rápido, é preciso ter calma. Isso acontece porque a incerteza leva à insegurança, que resulta em relutância e demora na tomada de decisão. A confiança na outra parte, por outro lado, é fator determinante para que propostas sejam fechadas mais rapidamente. No entanto, o processo de construção de confiança leva tempo e demanda esforço de ambas as partes no estabelecimento de bases sólidas para o relacionamento. Para ilustrar essa situação, Ury (2018) citou um caso em que o investidor Warren Buffett negociava com Charlie Munger para que este último adquirisse a emissora de televisão americana ABC. Buffett iria investir cinco milhões de dólares no negócio quando Charlie lhe perguntou o que queria pelos cinco milhões. Buffett respondeu com outra pergunta: “Por que não me diz o que eu deveria receber? O que seria justo neste caso?” Charlie então devolveu a decisão para Buffett: “Warren, pode definir o que acha justo, eu confio em você”. 153153 153 Após uma chamada de no máximo 30 segundos, Warren e Charlie fecharam um acordo que se provou muito bom para os dois lados. Mais tarde, a ABC foi comprada pelo grupo Disney e os sócios auferiram um lucro significativo. A negociação entre Warren e Charlie foi amigável, eficiente e rápida porque ambos já haviam construído uma relação de confiança. Pouco importava quem estabeleceria o primeiro valor, pois os dois tinham certeza de que o outro estaria agindo de boa-fé ao desenhar a proposta. Dessa forma, para se fechar mais acordos com eficiência e eficácia, é necessário investir no relacionamento, na confiança, na credibilidade. Segundo Ury (2018), os melhores negociadores são os que mais investem para manter suas reputações como justos e honestos. Fonte: adaptado de Ury (2018, p. 3). VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. Uma empresa brasileira de médio porte do setor varejista, a Carrinho S.A., que possui 30 lojas na cidade do Rio de Janeiro, pretende expandir suas atividades para outras cidades e estados. Com o objetivo de viabilizar sua rápida expansão, os representantes da empresa reúnem seus principais fornecedorespara solicitar investimento adicional que seria pago na proporção do número de lojas que conseguirem inaugurar. A empresa entende que sua expansão também beneficia seus fornecedores, que terão mais pontos de venda à disposição do consumidor final e, por esse motivo, espera conseguir uma boa adesão à sua proposta. 154154 Assinale a alternativa que se refere ao tipo de negociação descrito acima. a. Oligopólica. b. Integrativa. c. Ganha-perde. d. Distributiva. e. Marginal. 2. É um mecanismo que utilizamos para enquadrar, modelar e organizar o mundo à nossa volta. Dependendo do olhar sobre um mesmo assunto, é possível ver aspectos diferentes do problema. A descrição acima se refere a qual tipo de desvio perceptivo a que o indivíduo está exposto? a. Estereótipo. b. Efeito halo. c. Percepção seletiva. d. Projeção. e. Figura-fundo. 3. Quando sob o efeito do desvio cognitivo conhecido como ancoragem, o indivíduo: 155155 155 a. Tem dificuldade de admitir erro e não busca corrigir decisões anteriores. b. Procura evidência confirmatória e exclui do processo de decisão as informações contrárias. “Eu sabia!” c. Estabelece padrões irreais (estimativas baseadas no passado, preço de referência abaixo do mercado etc.). d. Tende a permanecer no estado inicial por medo da mudança e do risco de consequências ruins. e. Encaram decisões sob a perspectiva de lucro (propenso ao risco) ou prejuízo (avesso ao risco). Referências bibliográficas BUBER, M. Do diálogo e do dialógico. São Paulo: Perspectiva, 1982. JUNQUEIRA, L. A. C. Negociação: tecnologia e comportamento. Rio de Janeiro: COP Editora Ltda., 1988. KOFFKA, K. Principles of Gestalt Psychology. London: Routledge, 2001. LEWICKI, R.; BARRY, B.; SAUNDERS. D. M. Essentials of negotiation. 4. ed. New York: McGraw-Hill/Irwin, 2007 MATSATSINIS, N. F.; SAMARAS, A. P. MCDA and preferences disaggregation in group decision support systems. European Journal of Operational Research, n. 130, p. 414-429, 2001. PESSOA, C. Negociação aplicada: como utilizar táticas e estratégias para transformar conflitos interpessoais em relacionamentos cooperativos. São Paulo: Atlas, 2008. SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. História da psicologia moderna. 10. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2016. URY, W. William Ury: “Se você quer que algo seja feito, precisa negociar”. Administradores.com: 28 out 2018. [Entrevista cedida a] Simão Mairins e Raiza Pacheco. Administradores.com. 23 jul. 2018. Disponível em https:// administradores.com.br/noticias/william-ury-se-voce-quer-que-algo-seja-feito- precisa-negociar. Acesso em: 28 out. 2019. https://administradores.com.br/noticias/william-ury-se-voce-quer-que-algo-seja-feito-precisa-negociar https://administradores.com.br/noticias/william-ury-se-voce-quer-que-algo-seja-feito-precisa-negociar https://administradores.com.br/noticias/william-ury-se-voce-quer-que-algo-seja-feito-precisa-negociar 156156 Gabarito Questão 1 – Resposta B Resolução: no modelo de negociação integrativa, as partes buscam um interesse comum que norteie a proposta, o que contribuirá para o estabelecimento de relacionamentos duradouros. Questão 2 – Resposta E Resolução: esse comportamento, muito estudado pela psicologia da Gestalt, revela que os nossos padrões estão construídos de forma que um mesmo contexto pode ser identificado como figura ou como fundo, produzindo interpretações diferentes de uma mesma realidade. Questão 3 – Resposta C Resolução: as alternativas correspondem, respectivamente, aos desvios cognitivos custo afundado, evidências confirmatórias, ancoragem, status quo e enquadramento e risco. 157157 157 Gestão de stakeholders e ética em vendas Autora: Carla Montenegro de Vasconcellos Objetivos • Identificar todos os stakeholders que, de alguma forma, podem influenciar o sucesso do negócio. • Avaliar quais dados coletados serão utilizados para satisfazer os interesses e os objetivos dos envolvidos. • Decidir como utilizar de forma estratégica informações sobre os graus de poder, influência e interesses das partes interessadas. • Apresentar práticas de planejamento e definição da estratégia de abordagem dos stakeholders. • Entender os fundamentos da ética e responsabilidade social corporativa, bem como sua interface com a área de vendas. 158158 1. Gestão de stakeholders Nesta leitura, serão abordados os seguintes temas referentes à gestão de stakeholders e ética em vendas: o conceito e definição de stakeholders e stockholders, bem como sua importância e seu impacto para o sucesso da organização. Considerando as etapas necessárias para a análise dos stakeholders, serão apresentadas práticas de identificação e classificação das partes interessadas e seu nível de influência e engajamento no negócio. A partir dos dados coletados, serão discutidos procedimentos de planejamento e definição da estratégia de abordagem desses agentes. Por fim, esta leitura levantará questões relevantes em relação à ética e à responsabilidade social corporativa e algumas particularidades aplicadas à área de vendas. 1.1 Conceito e definição A razão de existir de um negócio é a geração de benefício para as pessoas. Por outro lado, o negócio pode trazer prejuízos para outras pessoas. Os satisfeitos e os insatisfeitos são chamados partes interessadas no negócio: os stakeholders. Stockholder é o termo em inglês para acionista, aquele que é dono da totalidade ou de uma parte de um negócio. Stakeholder foi o termo usado para definir aqueles que possuem qualquer tipo de interesse ou participação no que a empresa faz. Obviamente, o stockholder, ou acionista, é também um stakeholder. Mas esses acionistas são apenas um dos muitos grupos que a empresa deve atender atualmente para obter sucesso. Segundo Robert Edward Freeman (1984), o termo stakeholder apareceu pela primeira vez na literatura de administração de empresas em um memorando interno do Instituto de Pesquisa de Stanford, em 1963, referindo-se aos grupos “dos quais a organização depende para sua 159159 159 sobrevivência ao longo do tempo”. Freeman ampliou um pouco mais essa definição fazendo referência a “qualquer grupo ou indivíduo que pode afetar ou é afetado pela conquista dos objetivos da organização”. A ideia central dessa abordagem é ressaltar a importância de medirmos a efetividade das empresas por sua habilidade de satisfazer os interesses não somente dos acionistas, mas também dos agentes que possuem participação nos negócios da organização. No entanto, existe uma visão mais ampla de quem deveriam ser considerados stakeholders, que vem crescendo bastante nos últimos tempos. Ela se baseia na realidade de que as companhias podem ser afetadas, ou podem afetar, pessoas que não necessariamente possuem demandas legítimas em relação às ações da organização. No entanto, o impacto gerado na empresa por essas entidades, em última instância, afetará também aqueles que possuem demandas ou relacionamentos legítimos com a empresa. Essa abordagem está centrada no sistema social e frequentemente está relacionada ao que chamamos de conduta ética, responsabilidade social, respeito ao meio ambiente, ou seja, a temas que têm chamado cada dia mais a atenção das organizações. Independente da visão abordada, se mais restrita ou mais ampla, é muito importante que se tenha conhecimento das partes interessadas atuantes e potenciais dentro do ambiente da empresa. 1.2 Importância e impacto Aquele que conhece o inimigo e a si mesmo não correrá perigo algum em cem confrontos. Aquele que não conhece o inimigo, mas conhece a si mesmo, será por vezes vitorioso e por vezes encontrará a derrota. Aquele que não conhece o inimigo e tampouco a si mesmo será invariavelmente derrotado em todos os confrontos. (TZU, 2006, p. 64) 160160 Estudo realizado pelo Project Management Institute (2013) aponta que 75% dos casos de fracassos da implantação de PMOs em organizações estão relacionadas a questões culturais e resistênciasque não foram tratadas adequadamente. O aumento do número de stakeholders, por meio da multiplicação dos pontos de contato do consumidor e outros agentes com a empresa e seus produtos e marcas, faz com que a empresa perca controle sobre diversos aspectos do negócio, tornando-se apenas um dos muitos agentes envolvidos. Nesse contexto, a análise de stakeholders torna-se fundamental para que a organização consiga vasculhar seu ambiente à procura de ameaças a evitar ou oportunidades a explorar (FREEMAN, 1984). 1.3 Análise de stakeholders Para realizar uma análise de stakeholders, é necessário começar respondendo às seguintes perguntas: 1. Quem são as partes interessadas no negócio da empresa? 2. Como influenciam a organização e qual seu nível de engajamento? 3. O que a empresa necessita em relação a eles? 4. Qual o critério que utilizam para avaliar as decisões de negócios? 5. Como estão posicionados em escala de importância? Alguns autores, a exemplo de Freeman (2010), Wood (1990), Weiss (1998), Svendsen (1998) e Carroll e Buchholtz (2000), desenvolveram modelos de análise de stakeholders. Tais modelos compreendem, na maioria das vezes, as seguintes etapas: 161161 161 • Identificação e classificação dos stakeholders: nesta fase, é possível identificar todas as potenciais partes interessadas coletando informações relevantes (departamento, interesses, nível de conhecimento, expectativas, papel, entre outras). • Avaliação de seu nível de influência e engajamento, o que possibilita a compreensão do impacto no negócio. • Definição da estratégia de abordagem, de acordo com a avaliação de como as partes interessadas principais, provavelmente, irão reagir em diversas situações, no sentido de maximizar seu suporte e minimizar impactos negativos. 1.4 Identificação e classificação dos stakeholders A etapa inicial da análise de stakeholders é a identificação das partes interessadas no negócio. Nesta fase, é possível empregar uma lista prévia de stakeholders típicos ou utilizar os stakeholders identificados em modelos já consagrados, como o das cinco forças de Porter (1980) – fornecedores, compradores, substitutos, novos entrantes e concorrentes –, ou o da rede de valor de Brandenburger e Nalebuff (1995; 1996) – fornecedores, clientes, concorrentes e complementares. Carroll e Buchholtz (2000) dividiram os stakeholders em classes de acordo com a natureza da interface entre o negócio e os grupos ou indivíduos com os quais a empresa interage. A Figura 8 traz um exemplo do modelo desenvolvido por esses autores e adaptado ao ambiente de uma indústria farmacêutica. É possível verificar nesse modelo como a relação do negócio com os diferentes segmentos da sociedade constitui um ambiente social verdadeiramente complexo. 162162 A identificação dos stakeholders isoladamente não leva a conclusões sobre o ambiente. Segundo Mitroff (1983), na identificação dos stakeholders encontra-se o ponto de partida para se estabelecerem políticas, interesses, poder e comportamento dos agentes. Estudos realizados por esse autor sugerem que os stakeholders possuem propriedades intrínsecas, quando independem de outros stakeholders, e extrínsecas, quando decorrem da interação entre os stakeholders. Tais propriedades podem estar relacionadas a: seus propósitos e motivações; os benefícios que têm ou podem vir a ter; os recursos controlados por eles (materiais, físicos, políticos e habilidades); seus conhecimentos específicos; compromissos legais ou de outras naturezas; e seu relacionamento com outros stakeholders, envolvendo poder, autoridade, responsabilidade e credibilidade. A identificação dos stakeholders também fica mais fácil se pensarmos neles em categorias. Morgan e Hunt (1994, p. 21) sugeriram uma relação de classes baseadas nos fundamentos do marketing de relacionamento que também é bastante utilizada na prática da gestão de stakeholders. São elas: 1. Stakeholders internos – empregados e unidades de negócios. 2. Stakeholders compradores – consumidores finais e intermediários (varejistas, atacadistas, distribuidores etc.). 3. Stakeholders fornecedores – de matéria-prima, insumos e serviços. 4. Stakeholders laterais – concorrentes, governo, organizações sem fins lucrativos. 163163 163 Figura 8 – Modelo de identificação de stakeholders Fonte: adaptada de Carroll e Buchholtz (2000, p. 9). 1.5 Influência e engajamento De um modo geral, todos os modelos de análise de stakeholders tentam agrupá-los de acordo com o tipo de relacionamento que eles estabelecem com a empresa, tendo em conta o nível de influência que têm sobre os resultados e o quão engajados estão em relação às ações da organização. Esse nível de influência e engajamento vai depender de algumas características ou atributos desses stakeholders como, por exemplo, sua legitimidade sobre as questões ligadas à empresa, o poder que possuem para influenciar ou afetar diretamente os negócios e a urgência de suas necessidades ou expectativas. 164164 Mitchell, Agle e Wood (1997) propuseram um modelo de avaliação baseado nessas três dimensões, conforme descritas a seguir. • Poder: habilidade de influenciar as ações da organização. Mintzberg (1983) define poder como a capacidade de levar alguém a tomar uma atitude que, sem essa influência, a pessoa não tomaria. Os stakeholders podem se valer de três diferentes tipos de poder (ETZIONI, 1964 apud MITCHELL; AGLE; WOOD, 1997): ○Utilitário: proveniente da dependência de recursos, habilidades técnicas e informações (exemplo: sindicatos e cooperativas). ○Normativo: resultado de leis, compromisso com princípios morais e requisitos sobre os quais a organização não tem controle. ○Coercitivo: proveniente de força ou ameaça (exemplo: governo). • Legitimidade: conhecimento específico (tácito ou explícito), experiência ou contato com a realidade da empresa que conferem autenticidade às demandas dos stakeholders. Pode ser individual, organizacional ou social. Também pode ser definida como fundamento, lógica ou validade que autenticam a demanda do stakeholder em relação à organização. Alguns exemplos de situações que conferem legitimidade ao stakeholder são: ○Existência de uma relação contratual. ○Responsabilidade em relação ao bem-estar físico ou moral do stakeholder (direitos que devem ser respeitados, não violados pelas ações da organização). 165165 165 ○O stakeholder assume algum risco como resultado de haver investido alguma forma de capital, humano ou financeiro, na empresa. Apesar de a legitimidade conferir poder em alguns casos, nem sempre isso acontece, como no caso de acionistas minoritários. • Urgência: quando a demanda do stakeholder necessita de resposta imediata da organização (tempo), para que não resulte em problemas graves (criticidade). Qualidade ou condição de algo que é urgente; que não pode ser adiado; necessidade de agir prontamente; situação crítica ou bastante grave. (URGÊNCIA, 2015). A urgência confere dinâmica às interações entre as organizações e seus stakeholders e está baseada em dois atributos: ○Nível de sensibilidade ao tempo em que um atraso no atendimento da demanda ou na construção do relacionamento torna-se inadmissível para o stakeholder. ○ Importância, criticidade ou gravidade dessa demanda ou relacionamento sob o ponto de vista do stakeholder. O modelo de Mitchell, Agle e Wood (1997) considera que os diferentes stakeholders de uma organização podem ser identificados em classes que possuem um, dois ou até mesmo todos os três atributos relacionados acima. Sendo eles stakeholders latentes (se possuírem apenas um atributo), stakeholders espectadores (quando possuírem dois atributos) e stakeholders definitivos (os que possuem todos os três atributos). De acordo com esse modelo, agentes que não possuem nenhum dos atributos não serão considerados stakeholders. A Figura 9 apresenta a relação proposta por Mitchell, Agle e Wood (1997), que será descrita em seguida.166166 Figura 9 – Modelo de avaliação de influência e engajamento Fonte: adaptada de Mitchell, Agle e Wood (1997, p. 23). • Stakeholders latentes: são aqueles que possuem apenas um atributo e recebem pouca atenção da empresa. A orientação de abordagem com relação a esse tipo de stakeholder é não mais que reconhecer sua existência e prevenir-se de uma eventual interferência. Eles podem ser: ○Adormecido: poder sem legitimidade ou urgência. Geralmente possuem pouca ou nenhuma interação com a empresa. É o caso, por exemplo, de grandes fortunas (poder utilitário) que não investem na companhia. Apesar de terem apenas esse atributo, a natureza dinâmica do poder pode transformar esse stakeholder em mais relevante se eles adquirem legitimidade ou urgência. Se esse potencial investidor decide comprar uma quantidade grande de ações da empresa, por exemplo, adquire, assim, legitimidade. ○Discricionário: legitimidade sem poder ou urgência. Sem poder e urgência, existe uma tendência dos gestores de fazerem pouco a respeito. No entanto, como possuem legitimidade, algumas empresas decidem abraçar iniciativas de responsabilidade social que atendem às demandas desses stakeholders. Como exemplo de stakeholders discricionários, é 167167 167 possível citar ONGs ou instituições de caridade que recebem doações e trabalho voluntário de algumas corporações. ○Exigente: urgência sem poder ou legitimidade. Produzem mais ruído que incômodo para a organização. Enquanto não adquirem poder ou urgência, não faz sentido dar atenção às demandas desses stakeholders. Um exemplo desse tipo de stakeholder poderia ser um manifestante que levanta um cartaz em frente ao prédio da Petrobras com os dizeres: “O fim do mundo é eminente e a Petrobras é a causa”. Pode ser bastante irritante, mas sua demanda será, certamente, ignorada. • Stakeholders espectadores: a presença de dois atributos leva o stakeholder a assumir uma postura mais ativa em relação à empresa. Da mesma forma que há um aumento na probabilidade de resposta da empresa em relação aos interesses do stakeholder. Eles podem ser: ○Dominantes: legítimos e poderosos. Sua influência na empresa é significativa. Apesar de não serem os únicos stakeholders, como alguns estudiosos tentam apontar, eles certamente devem receber muito da atenção dos gestores. Geralmente existem mecanismos que atestam a importância dessas relações, como, por exemplo, representatividade no conselho diretivo para proprietários, credores e líderes comunitários, ou um departamento de recursos humanos que reforça a importância da relação entre a empresa e seus colaboradores. ○Dependentes: não possuem poder, mas suas demandas são legítimas e urgentes. Dependem da benevolência ou caridade dos gestores da empresa ou precisam apelar para obter apoio de outro stakeholder (litígios com o judiciário, por exemplo). O meio ambiente é um exemplo típico de stakeholder discricionário que se transforma em dependente à medida que suas demandas se tornam urgentes e críticas. 168168 ○Perigosos: não possuem nenhuma legitimidade, mas têm poder e suas demandas são urgentes. Existe uma expectativa que essa combinação gere respostas violentas e, consequentemente, perigosas. Terroristas políticos ou religiosos, por exemplo, podem usar bombas ou outras táticas coercitivas para chamar a atenção para suas demandas. Falhas na identificação desse tipo de stakeholder pode representar uma perda de oportunidade de mitigar os perigos, deixando as empresas despreparadas para reagir em tempo de evitar consequências mais graves. • Stakeholders definitivos: quando um stakeholder dominante, que já possui poder e legitimidade em relação à empresa, apresenta uma demanda urgente, os gestores precisam atuar de forma imediata para atender e dar prioridade a essa demanda. Falhar na classificação desse tipo de stakeholder pode gerar consequências desastrosas para as empresas e seus gestores. Stakeholders dependentes também podem se tornar definitivos quando conseguem adquirir poder por meio da união com outros stakeholders poderosos. No caso do meio ambiente, órgãos de defesa como o Ibama ou o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade podem exercer seu poder de polícia ambiental para proteger áreas de conservação instituídas pela União que estejam sob risco diante das ações da organização. PARA SABER MAIS De acordo com o Project Management Institute (2013), os níveis de engajamento também podem ser associados à postura adotada pelo stakeholder. Dessa forma, a abordagem de gerenciamento de projetos avalia o nível de influência do stakeholder, categorizando-o como: 169169 169 Líder – Engajado em garantir o sucesso do projeto. Apoiador – Apoia e vende o projeto naturalmente. Sente orgulho de participar. Neutro – Tem conhecimento sobre o projeto, porém, está neutro. Pode mudar a atitude com o tempo, tomar partido. Resistente – Não esconde a insatisfação e, se tiver oportunidade, prejudicará o andamento do projeto. Desinformado – Não tem informação sobre o projeto, por isso, não tem posição formada a respeito dele. 1.6 Planejamento e definição da estratégia Segundo o Project Management Institute (2013), após a etapa de identificação e classificação das partes interessadas, o gestor deve se concentrar em: • Planejar o gerenciamento das partes interessadas: desenvolvimento de uma estratégia apropriada com o objetivo de envolver as partes interessadas durante o ciclo de vida do projeto/negócio, baseando-se nas análises de suas necessidades, seus interesses, envolvimento, interdependências e impacto potencial no sucesso da organização. • Gerenciar e controlar o envolvimento das partes interessadas: comunicação e trabalho junto às partes interessadas para atingir suas necessidades/expectativas, endereçar questões assim que ocorrerem e promover o envolvimento das partes interessadas nas atividades do projeto durante o seu ciclo de vida. 170170 Em outras palavras, após definir quem são os stakeholders e avaliá-los quanto aos tipos de interesse, nível de engajamento e importância para o negócio, o próximo passo é responder às seguintes perguntas: • Quais oportunidades ou desafios os stakeholders apresentam para a empresa? • Que responsabilidades (econômica, legal, ética etc.) a empresa tem para com seus stakeholders? • Que estratégias ou ações devem ser endereçadas pela empresa para minimizar resistências ou ameaças de alguns stakeholders enquanto procura maximizar suportes e oportunidades de outros? Oportunidades podem aparecer como potencial para cooperação, assim como desafios podem ser vistos como uma potencial ameaça. A Figura 10 ilustra as diferentes abordagens estratégicas propostas por Savage et al. (1991) de acordo com os potenciais de ameaça e oportunidade apresentados pelos stakeholders. Segundo os autores, quanto mais alto for o potencial de ameaça ou cooperação apresentado pelos stakeholders, mais recomendado será para a empresa a adoção de estratégias que estimulem a colaboração. Agentes que apresentam alto potencial de cooperação e baixo potencial de ameaça devem ser envolvidos nos processos da empresa de forma que ela possa se beneficiar de seu engajamento positivo. Por outro lado, aqueles que apresentam baixo potencial de cooperação e alto potencial de ameaça devem ser alvos de estratégias de defesa por parte da empresa. E finalmente, quando diante de stakeholders que apresentam baixo potencial de cooperação e ameaça, a empresa deve nada mais que monitorá-los para o caso de haver alguma alteração em seu comportamento ao longo do tempo. 171171 171 Figura 10 – Tipologia diagnóstica de stakeholders organizacionais Fonte: adaptada de Savage et al. (2001, p. 6). 1.7 Ética e responsabilidade social corporativa De acordo Epstein (1987, p. 104), a ética dos negócios consiste na reflexão sistemática sobre a significância moral das atitudes de negócios pessoais ou organizacionaise suas consequências para seus stakeholders. Por outro lado, a responsabilidade social corporativa está relacionada à geração de soluções que gerem benefícios para os stakeholders por meio das decisões da organização. Apesar de ambos os temas estarem bastante próximos e terem assuntos e objetivos que se sobrepõem enquanto no conceito de ética a moral tem o maior peso, para a responsabilidade social corporativa, o produto das ações da organização ganha foco. Carroll e Buchholtz (2000) dividem a responsabilidade social corporativa em quatro tipos para facilitar o entendimento de seus componentes. Seu modelo considera as expectativas econômicas, legais, éticas e filantrópicas que a sociedade tem em relação às organizações. 172172 De acordo com esses autores, a responsabilidade econômica está relacionada ao fato de que a sociedade espera que a empresa produza bens e serviços que satisfaçam suas necessidades e os venda a preços justos, que reflitam o valor para o cliente e garanta a sobrevivência do negócio por meio do retorno aos investidores. Ao direcionar esforços para atender à sua responsabilidade social de cunho econômico, a empresa geralmente confere mais atenção à gestão eficiente de custos, à geração de receitas, à política de investimentos no negócio, às decisões estratégicas etc. Por outro lado, as organizações têm responsabilidades legais. Da mesma forma que a sociedade permite que a empresa assuma o papel produtivo mencionado anteriormente, ela estabelece regras – as leis – sob as quais a empresa deverá operar. As responsabilidades sociais de cunho legal refletem o que a sociedade vê como “ética codificada”, pois incorpora noções de práticas justas para controlar o comportamento das organizações. Apesar de bastante importantes, as leis não conseguem endereçar todas as questões enfrentadas pelos negócios no dia a dia, além de não acompanharem as mudanças do ambiente corporativo e tecnológico com a mesma velocidade. Por esse motivo, as responsabilidades éticas cumprem um papel fundamental no processo de abraçar as atividades e práticas que são esperadas ou proibidas pela sociedade, apesar de não estarem codificadas em leis. A responsabilidade social de cunho ético incorpora o escopo de normas, padrões, valores e expectativas que refletem o que os consumidores, funcionários, acionistas e a comunidade consideram como justos e consistentes com seus direitos morais. Nesse sentido, as responsabilidades éticas apresentam evolução contínua. Finalmente, as organizações devem cumprir com suas responsabilidades sociais de cunho filantrópico. Apesar de o termo “responsabilidade” não ser muito apropriado para uma atividade de caráter voluntário, não mandatório por leis ou princípios éticos, elas recebem essa tratativa em função da expectativa que a sociedade 173173 173 tem a respeito de seu cumprimento pelas organizações. Doações de produtos ou serviços, voluntariado por meio de seus funcionários, parcerias com governos locais e outras organizações são exemplos de ações corporativas que demonstram que a empresa exerce um papel de cidadã socialmente responsável. Cada categoria de stakeholder pode estabelecer expectativas diferentes em relação às responsabilidades econômicas, legais, éticas e filantrópicas da organização. Dessa forma, a gestão de stakeholders deve mapear tais especificidades para definir a estratégia ideal para atender as partes interessadas que mais impacto geram nos negócios. 1.8 Ética em vendas A força de vendas desempenha um papel fundamental no desenvolvimento de transparência e confiança com vários stakeholders. Apesar da gestão de stakeholders reconhecer o valor intrínseco de todas as partes interessadas, estratégias de vendas endereçam clientes e concorrentes com mais frequência (DAY, 1994; NARVER e SLATER, 1990 apud FERRELL e FERRELL, 2009). Isso acontece porque o ambiente de vendas impõe grande pressão sobre resultados, estabelecendo recompensas atreladas a indicadores financeiros como vendas e rentabilidade. Os incentivos pelo desempenho, que levam a decisões envolvendo risco excessivo, ofuscam a perspectiva de uma gestão de stakeholders balanceada e, em alguns casos, podem estimular comportamento antiético e potencialmente ilegal. Dessa forma, a tomada de decisão ética em vendas requer entendimento e integração com as iniciativas de toda a organização em relação aos princípios e valores éticos. Principalmente pela característica multifuncional da área de vendas, que conta com a colaboração de diversas áreas dentro da empresa para apoiar sua atividade, as questões de ética em vendas não devem ser direcionadas ao indivíduo ou postas a cargo da gerência de vendas de forma isolada da organização. 174174 Segundo Ferrell e Ferrell (2009), para evitar situações de risco que envolvam subornos, fixação de preços, conflitos de interesse etc., sugere-se que sejam utilizados critérios de avaliação de desempenho baseados em três pilares: econômico, ambiental e social. Dessa forma, é necessário que o corpo diretivo gerencie seus objetivos de vendas de forma a reforçar a orientação do time para os interesses de seus stakeholders. ASSIMILE São muitos os agentes afetados e que afetam as ações tomadas pelas empresas e a eles podemos denominar stakeholders. Esses agentes têm necessidades, expectativas e direitos que devem ser levados em conta pela organização. As razões passam, muitas vezes, por questões éticas e de responsabilidade social, mas principalmente porque sua influência sobre os resultados do negócio pode ser significativa. A abordagem da gestão de stakeholders tem, portanto, um papel fundamental para o sucesso da empresa ao longo do tempo. A partir desse contexto, sugere-se a seguinte reflexão: a. Você trata de forma adequada os interesses dos stakeholders envolvidos em suas ações no dia a dia? b. Com que frequência recebe sugestões ou reclamações dos stakeholders sobre as decisões que toma em nome da empresa? 175175 175 c. Constrói alianças com stakeholders internos na organização buscando atender a seus interesses? d. Já deixou de proporcionar lucro para os acionistas quando percebeu que deixaria de cumprir com suas responsabilidades éticas ou sociais em relação a outros stakeholders? 2. Portanto, é muito importante que se tenha sempre em mente a resposta para a seguinte pergunta: no interesse de quem os negócios da empresa devem ser geridos? 2. Considerações finais Nesta leitura, foi verificada a importância da gestão das partes interessadas, os stakeholders, como um componente de sucesso da estratégia nas organizações. Foram identificados e classificados alguns dos indivíduos, grupos ou organizações que podem impactar ou ser impactados pelas ações da empresa. Também foram analisadas e documentadas informações relevantes sobre seus interesses, envolvimento, interdependências e impacto potencial no negócio. A partir da análise dos stakeholders, foram apresentados os procedimentos de planejamento e definição da estratégia de abordagem das partes interessadas. Finalmente, discutiram-se questões relacionadas à ética e responsabilidade social corporativa, bem como sua interface com a área de vendas. Conclui-se que a gestão de stakeholder é um modelo instrumental que descreve, prevê e recomenda atitudes, estruturas e práticas que, se bem conduzido, leva ao alcance dos objetivos do negócio, como rentabilidade, sustentabilidade e crescimento. 176176 TEORIA EM PRÁTICA A maioria das ameaças geradas por stakeholders, geralmente, tem origem quando a empresa negligencia suas responsabilidades legais e éticas para com eles. Por outro lado, em alguns momentos, também se apresentam oportunidades de “fazer a coisa certa” e agir de maneira responsável em relação à sociedade. Em 1982, na cidade de Chicago, nos Estados Unidos da América, a empresa Johnson & Johnson foi surpreendida com casos de envenenamento criminoso por cianeto de potássiopor meio do consumo de um medicamento comercializado pela empresa, o Tylenol. Ficou comprovado que as oito embalagens adulteradas haviam sido produzidas em empresas diferentes, o que descartou a hipótese de sabotagem na produção. A J&J estabeleceu relações de cooperação com o departamento de polícia de Chicago, com o FBI e com a FDA (Food and Drug Administration) para ajudar na apuração do culpado. Independentemente das investigações, a empresa organizou um recall histórico. Foram recolhidos 31 milhões de frascos, o que significou uma perda de receita de US$ 100 milhões (equivalente a US$ 267 milhões em 2018). Além disso, a J&J também providenciou a troca das embalagens já adquiridas pelos consumidores. No momento da crise, o market share do produto caiu de 35% para 8%, mas em pouco tempo Tylenol reconquistou a liderança do mercado de analgésicos. A Johnson &Johnson lançou embalagem com selo triplo um mês após o recall. Fonte: adaptado de Pandya e Shell (2007, p. 51). 177177 177 VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. Colaboradores, sindicatos, antigos funcionários, mulheres e minorias são exemplos de stakeholders que podem ser classificados, segundo Carroll e Buchholtz (2000, p. 9), como: a. Econômicos. b. Políticos. c. Tecnológicos. d. Sociais. e. Humanos. 2. Conhecimento específico (tácito ou explícito), experiência ou contato com a realidade da empresa que conferem autenticidade às demandas dos stakeholders. Pode ser individual, organizacional ou social. O parágrafo acima descreve uma das dimensões de influência dos stakeholders em relação à empresa, conforme proposto por Mitchell, Agle e Wood (1997). Assinale a alternativa que apresenta tal dimensão: a. Poder. b. Confiança. c. Urgência. d. Relacionamento. e. Legitimidade. 178178 3. Segundo Ferrell e Ferrell (2009), para evitar situações de risco que envolvam subornos, fixação de preços, conflitos de interesse etc., sugere-se que sejam utilizados critérios de avaliação de desempenho baseados em três pilares. São eles: a. Negociação, análise e vendas. b. Financeiro, comportamental e social. c. Vendas, rentabilidade e market share. d. Produtividade, receita e rentabilidade. e. Econômico, social e ambiental. 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Questão 3 – Resposta: E Resolução: ao adicionar critérios de desempenho baseados em atitudes voltadas ao social e ao ambiental, os gestores evitarão que a pressão por resultados financeiro-econômicos resulte em atitudes pouco éticas ou até mesmo ilegais do time de vendas. https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/ https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/ 180180 Apresentação da disciplina Gestão do relacionamento com os clientes Objetivos Gestão do relacionamento com os clientes Modelos de mercado Fidelidade e satisfação Benefícios do relacionamento para a empresa Benefícios do relacionamento para o cliente O processo de vendas Conclusão Assimile Teoria em prática Verificação de leitura Referências bibliográficas Gabarito Planejamento de vendas O papel de vendas na estratégia corporativa Objetivos táticos e operacionais em vendas Análise do potencial do mercado e previsão de demanda Análise das cinco forças de Porter Análise Pest Análise Swot Considerações finais Verificação de leitura Referências bibliográficas Gabarito Gestão da força de vendas Algumas ferramentas da gestão da força de vendas: downsizing, empowerment e administração virtual Verificação de leitura Referências bibliográficas Gabarito Canais de marketing Considerações finais Verificação de leitura Referências bibliográficas Gabarito Precificação estratégica Considerações finais Verificação de leitura Referências bibliográficas Gabarito Negociação Considerações finais Verificação de leitura Referências bibliográficas Gabarito Gestão de stakeholders Considerações finais Verificação de leitura Referências bibliográficas Gabarito