Prévia do material em texto
Captação e Distribuição de Água Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Me. Wilson Luis Italiano Revisão Textual: Prof. Esp. Claudio Pereira do Nascimento SAA, Saúde, Meio Ambiente e Educação • Sistema de Abastecimento de Água, SAA; • Saúde; • Saneamento e Reforma Urbana; • Educação. · Identificar as relações existentes entre saúde, ambiente e saneamento; · Compreender o saneamento, sobretudo o Sistema de Abastecimento de Água como fator fundamental à promoção de saúde pública e dignidade humana; · Compreender os benefícios gerados a partir das ações de saneamen- to, sobretudo considerando a capacidade de enfrentamento das ad- versidades e crises sociais, econômicas e ambientais. OBJETIVO DE APRENDIZADO SAA, Saúde, Meio Ambiente e Educação Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE SAA, Saúde, Meio Ambiente e Educação Sistema de Abastecimento de Água, SAA Definição O SAA é o assunto central de nossa disciplina. Por isso, seu estudo e compre- ensão são imprescindíveis. Ao dominar informações relacionadas ao SAA, o aluno poderá discorrer com maior segurança sobre Captação e Distribuição de Água, pois ambas estão contidas no SAA. Para conceituação de SAA (consumo humano), utili- zaremos a definição dada pela Lei 11.445/2007: abastecimento de água é um dos componentes do saneamento básico e engloba um conjunto de infraestruturas, obras civis, materiais e equipamentos, desde a zona de captação até as ligações prediais, destinado à produção e ao fornecimento coletivo de água potável, por meio de rede de distribuição. No geral é composto das seguintes unidades: captação, adução, tratamento, reservação, rede de distribuição, estações elevatórias e ramal predial. Categorias Quanto à modalidade de funcionamento, o abastecimento de água pode ser classificado em sistema de abastecimento de água e solução alternativa, este último subdivide-se em solução alternativa individual e coletiva. Quanto à abrangência de atendimento, o SAA pode ser classificado como individual e coletiva, conforme apresentado na Tabela 1 (FUNASA, 2015). Tabela 1 – Categorias de instalações para o abastecimento de água Modalidade de funcionamento Abrangência do atendimento Distribuição por rede Exemplo Sistema de abastecimento Coletiva Distribuição por rede Sistema abastecedor de uma cidade Solução alternativa Coletiva Desprovida de rede Chafariz, lavanderia e/ou banheiro comunitário Individual Desprovida de rede Poço raso individual Fonte. FUNASA, 2015 Concepção Concepção é o conjunto de estudos necessários à completa caracterização do SAA a ser projetado. É desenvolvida no início do projeto, a partir de arranjos quan- titativos e qualitativos para cada uma das unidades do SAA. Tais estudos podem resultar soluções alternativas que analisadas a partir de critérios sociais, econômicos, ambientais, fornecerão aquela que será implantada, construída. Entre os fatores que condicionam a escolha da alternativa, destacam-se o tamanho da localidade, sua densidade, o manancial, condições topográficas, disponibilidade de energia elétrica, instalações existentes, características geológicas e geotécnicas (FUNASA, 2015). 8 9 Unidades do SAA Um sistema de abastecimento compreende diversas unidades listadas a seguir e ilustradas na Figura 1. • Captação e Tomada de Água; • Adução e Subadução (de água bruta e de água tratada); • Tratamento; • Distribuição (redes distribuidoras); • Estações elevatórias ou de recalque (de água bruta e água tratada). Figura 1 – SAA Fonte FUNASA, 2015 Projeto Para implantação de um SAA, são necessários estudos e projetos para correta definição das obras a serem construídas. Elementos Básicos Deverão ser reunidas informações que permitam a sistematização de um perfeito diagnóstico. As mais importantes são: a) Planta planialtimétrica e cadastral com curvas de metro em metro, em geral na escala 1:2000; b) Informações sobre a economia local e regional; c) Aspectos físicos da localidade: recursos hídricos (superficiais e subterrâneos); geologia, geomorfologia e hidrogeologia; clima e infraestrutura existente; d) Demografia local e regional; 9 UNIDADE SAA, Saúde, Meio Ambiente e Educação e) Áreas da localidade já atendidas por infraestruturas (água, esgoto, drenagem, coleta de lixo, sistema viário, energia elétrica); f) Condições sanitárias da localidade; g) Levantamento completo do SAA eventualmente existente, com a indicação da capacidade nominal de cada unidade constituinte; h) Estudos populacionais para o horizonte de projeto baseados em informa- ções disponíveis ou processos que permitam o enquadramento das variáveis no crescimento; i) Determinação das características qualitativas e quantitativas dos mananciais disponíveis na região, possíveis de aproveitamento para SAA; j) Volumes de água necessários (atual e futuro) considerando os diferentes consumos e eventuais aumento de consumos específicos. Parâmetros de Projeto Consumo O consumo de água está atrelado a um conjunto de fatores da localidade a ser atendida, que variam entre cidades (e na zona rural) como também entre bairros de uma mesma cidade. Podem influenciar diretamente o consumo de água. De forma expedita, estes fatores estão assim resumidos: 1. Clima; 2. Padrão de consumo da população; 3. Hábitos da população; 4. Cobrança pelo uso da água (medição); 5. Qualidade da água distribuída; 6. Valor da tarifa; 7. Pressões na rede de distribuição; 8. Consumos (residencial, comercial, industrial, público); 9. Perdas; 10. Existência de rede de esgoto; 11. Tempo. Em locais onde há medição mediante hidrômetros, o consumo é sensivelmente menor. Para saber mais sobre hidrômetros acesse: https://goo.gl/MNc5nyEx pl or Tipos de Consumo No abastecimento de uma localidade, devem ser consideradas diferentes formas de consumo (usos da água). Tabela 2 – Tipos de Consumo (Usos) de Água Usos Caracterização Doméstico Corresponde à utilização na área interna da edificação. Água usada para ingestão, higiene pessoal, preparo de alimentos, lavagem de roupa, lavagem de utensílios domésticos, descarga de vasos sanitários, higiene e limpeza em geral da moradia, rega de jardins, uso com animais de estimação, piscinas, lavagem de veículos. Comercial Consumo bastante heterogêneo e depende do tipo e porte do comércio, como: bares, padarias, restaurantes, lanchonetes, hospitais, hotéis, postos de gasolina, lava-rápidos,clubes, lojas, prédios comerciais, shopping center. 10 11 Usos Caracterização Industrial Bastante heterogêneo, variando de pequenas indústrias artesanais até grandes consumidores de água como as indústrias de bebida. Pode ser classificado em 5 grupos: 1. Humano; 2. Doméstico; 3. Incorporado ao Produto; 4. Processo de Produção; 5. Perdas. Público Parcela de água utilizada na irrigação de parques e jardins, lavagem de ruas e passeios, edifícios e sanitários de uso público, fontes ornamentais, piscinas públicas, chafarizes e torneiras públicas, combate a incêndios, limpeza de coletores de esgotos, entre outros. De um modo geral, os consumos públicos são de difícil mensuração e cada caso deve ser particularmente estudado. Especial Combate a incêndios, instalações desportivas, ferrovias (se metropolitanos), portos e aeroportos, estações rodoviárias. Perdas Diferença de água que entra no sistema e o consumo autorizado ou ainda, água que é captada ou importada que não foi fornecida para os usuários diversos de forma autorizada, exportada ou utilizada no combate a incêndios, são perdas. São divididas em perdas reais e perdas aparentes. As perdas reais são as perdas físicas de água que ocorrem desde o momento da retirada do manancial (ou importada) até a ligação predial. Estão incluídos os vazamentos. As perdas aparentes estão associadas às imprecisões de medição e ao consumo não autorizado (furtos). Fonte. FUNASA, 2015 Definição de perdas conforme a Associação Internacional da Água. Segundo a IWA (Associação Internacional da Água), definem-se perdas como “toda perda real ou aparente de água ou todo o consumo não autorizado que determina aumento do custo de funcionamento ou que impeça a realização plena da receita operacional”. Em suma, o indicador de perda pode ser assim representado: O volume de entrada e o consumo autorizado são extraídos do Balanço Hídrico da IWA, conforme figura a seguir: V O LU M E D E EN TR A D A N A D IS TR IB U IÇ Ã O Co ns um o au to ri za do Consumo autorizado faturado Consumo medido faturado Água faturada Consumo medido não faturado Consumo medido não faturado Consumo não medido não faturado Consumo não autorizado Vazamento e extravasamento em reservatórios Vazamento em adutoras e redes Vazamento em ramais Imprecisão de medição Consumo autorizado não faturado Perdas aparentes Perdas reaisPe rd a de á gu a Á gu a nã o co nv er ti da e m re ce it a Figura 2 Fonte: FUNASA, 2014 Ex pl or Consumo per capita O consumo per capita (água consumida por uma pessoa durante um dia) corres- ponde à média dos volumes diários consumidos durante um ano (período mínimo). Normalmente é expresso em litros por habitante e por dia (L/hab x dia). 11 UNIDADE SAA, Saúde, Meio Ambiente e Educação Variações de Consumo Vimos que a quantidade de água (consumo) é função de vários fatores. Esses fatores, no tempo, promovem variações de consumo significativas e podem ser anuais, mensais, diárias, horárias e instantâneas. No projeto de um SAA, são consideradas no cálculo dos volumes (consumos) as seguintes variações: • Variações Anuais: O consumo per capita tende a aumentar com o passar do tempo e com o crescimento populacional; • Variações Mensais: As variações climáticas promovem uma variação mensal do consumo. Quanto mais quente e seco for o clima, maior tende a ser o consumo verificado; • Variações Diárias: Ao longo do ano, haverá um dia em que se verifica o maior consumo. É utilizado o coeficiente do dia de maior consumo (k1), que é obtido da relação entre o máximo consumo diário verificado no período de um ano e o consumo médio diário. O valor usualmente adotado por norma no Brasil para k1 é 1,20; • Variações horárias: Ao longo do dia verificam-se valores distintos de “picos” de vazões horárias. Entretanto, haverá uma determinada hora do dia em que a vazão de consumo será máxima. É utilizado o coeficiente da hora de maior consumo (k2), que é a relação entre o máximo consumo horário verificado no dia de maior consumo e o consumo médio horário do dia de maior consumo. O consumo é maior nos horários de refeições e menores no início da madrugada. O coeficiente k1 é utilizado no cálculo de todas as unidades do sistema, enquanto k2 é usado no dimensionamento da rede de distribuição. O valor usualmente adotado por norma no Brasil para k2 é 1,50. Alcance do Projeto O dimensionamento racional de cada uma das unidades do SAA deve considerar o período futuro de alcance do sistema e não apenas a realidade presente. A este período de tempo dá-se o nome de período do projeto ou alcance do projeto, ou ainda, horizonte do projeto. O alcance pode ser previsto de uma maneira global ou individualizado por unidade do sistema. Dependendo dos estudos e do porte do empreendimento, costuma situar-se na faixa entre 10 a 30 anos, sendo comum adotar-se o período de 20 anos. Populações As populações consideradas num projeto de SAA influem diretamente seu di- mensionamento. As populações podem ser divididas em: • População Residente: Formada pelas pessoas que têm o domicílio como residência habitual; 12 13 • População Flutuante: Proveniente de outras comunidades, transfere-se oca- sionalmente para a área considerada, impondo ao sistema de abastecimento de água consumo unitário similar ao da população residente. A população flutuante é relevante na caracterização do consumo e deve ser estimada no planejamento e projeto do sistema de abastecimento de água; • População Temporária: Proveniente de outras comunidades ou de outras áreas da comunidade em estudo, que se transfere para a área de abastecimento, impondo ao sistema consumo unitário inferior ao atribuído à população, enquanto presente na área, e em função das atividades que lá exerce. Projeções Populacionais Sendo um SAA projetado para um determinado horizonte, é necessário verificar as populações das localidades para este horizonte. Há vários métodos para projetar as populações futuras. Destacam-se o método dos componentes demográficos (que considera como variáveis a fecundidade, mortalidade e migração), os métodos matemáticos (em que as previsões são estabelecidas através de equações) e método de extrapolação gráfica (que consiste no traçado de uma curva ajustada a dados já observados em outras localidades semelhantes à estudada, porém, maior). A Tabela 3 apresenta a equações utilizadas pelos métodos aritméticos (pressupõe uma taxa de crescimento constante, a partir de dados populacionais conhecidos, mais adequado para períodos de 1 a 5 anos), geométrico (considera o crescimento populacional função da população de cada instante) e da curva logística. Tabela 3 – Métodos matemáticos utilizados na projeção populacional Método Fórmula da Projeção Coeficiente Projeção aritmética P P K t tt a� � � �0 0( ) K P P t ta � � � 2 0 2 0 Projeção geométrica P P et k t tg� � � �0 0( ) ou P P it t t� � � �0 1 0( ) ( ) K InP InP t tg � � � 2 0 2 0 ou i ekg� �1 Crescimento logístico P P c et s K t t� � � �1 1 0.( ) P P P P P P P P P Ps � � � � �� � � � � 2 0 1 2 1 2 0 2 0 2 1 2 ( ) c P P Ps� �( )/2 0 K t t In P P P P P P s s 1 2 1 0 1 1 0 1 � � � � � � � [ ( ) ( ) ] Onde: P0, P1, P2 = populações nos anos t0, t1, t2 Pt = população estimada no ano t (hab) Ps = população de saturação (hab) Ka, Kg, K1, i, c = coeficientes Fonte: FUNASA, 2015 13 UNIDADE SAA, Saúde, Meio Ambiente e Educação Volume de Água Necessário Diante dos parâmetros e conceitos expostos, verifica-se que para o dimensio- namento das diversas unidades de um SAA é necessário estabelecer as vazões apresentadas na Tabela 4. Tabela 4 – Vazões para Dimensionamento Vazões (Q) Parâmetros Unidade QMé dia Pxq = 3600xH Q Vazão média L/s P População a ser considerada no projeto Habitantes q Consumo per capita L/hab x dia H Nº de horas de funcionamento do sistema Q Pxqxk 1 1 3600 = xH Q1 Vazão do dia de maior consumo L/s P Populaçãoa ser considerada no projeto Habitantes q Consumo per capita L/hab x dia H Nº de horas de funcionamento do sistema k1 Coeficiente do dia de maior consumo Q Pxqxk xk 2 1 2 3600 = xH Q1 Vazão do dia de maior consumo na hora de maior demanda L/s P População a ser considerada no projeto Habitantes q Consumo per capita L/hab x dia H Nº de horas de funcionamento do sistema k1 Coeficiente do dia de maior consumo k2 Coeficiente da hora de maior consumo Fonte: NETTO; ALVAREZ, 1987 A Figura 3 ilustra esquematicamente a aplicação dos coeficientes de variação do consumo no dimensionamento das diversas unidades de um SAA. K1 K1 K1 K1 K1 e K2 Figura 3 – Esquema de um SAA mostrando a aplicação dos coeficientes de variação do consumo (K1 e K2) no dimensionamento das unidades Fonte: Adaptado de funasa.gov 14 15 Importante! Sobre o acréscimo de 3% na vazão da ETA. Importante! Assista ao vídeo, nele você poderá consolidar os conhecimentos sobre vazões de dimen- sionamento. Disponível em: https://youtu.be/2UPXVFEoN5wEx pl or Saúde Déficit em Saneamento O PLANSAB, para efeito de caracterização do déficit em abastecimento de água potável, esgotamento sanitário e manejo de resíduos sólidos, desenvolveu o mo- delo conceitual exposto na Figura 4 (PLANSAB, 2013). População total População com oferta de serviço coletivo População que usa o serviço coletivo População que usa solução sanitária individual População que não usa o serviço coletivo População que tem solução sanitária adequada (Atendimento adequado) População que tem solução sanitária precária (Atendimento precário) População que recebe serviço com qualidade (Atendimento adequado) População que recebe serviço com qualidade inadequada (Atendimento precário) População sem oferta de serviço coletivo População sem solução sanitária (Sem atendimento) Figura 4 – Conceito de deficit em saneamento básico adotado no PLANSAB Fonte. PLANSAB, 2013 15 UNIDADE SAA, Saúde, Meio Ambiente e Educação A partir deste conceito, o PLANSAB traz, conforme Tabela 5, a caracterização adotada para atendimento e déficit, para os quais as situações que caracterizam o atendimento precário foram entendidas como déficit, pois, embora não impeçam o acesso ao serviço, ele é ofertado em condições insatisfatórias ou provisórias, potencialmente comprometedoras da saúde humana e da qualidade do ambiente domiciliar e do seu entorno (PLANSAB, 2013). Tabela 5 – Caracterização do atendimento e do déficit de acesso ao abastecimento de água, esgotamento sanitário e manejo de resíduos sólidos Componente (1) Atendimento Adequado Deficit Atendimento precário Sem atendimento Abastecimento de água Fornecimento de água potável por rede de distribuição ou por poço, nascente ou cisterna, com canalização interna, em qualquer caso sem intermitências (paralisações ou interrupções). • Dentre o conjunto com fornecimento de água por rede e poço ou nascente, a parcela de domicílios que: – Não possui canalização interna; – recebe água fora dos padrões de potabilidade; – tem intermitência prolongada ou racionamentos. • Uso de cisterna para água de chuva, que forneça água sem segurança sanitária e, ou, em quantidade insuficiente para a proteção à saúde. • Uso de reservatório abastecido por carro pipa. Todas as situações não enquadradas nas definições de atendimento e que se constituem em práticas consideradas inadequadas (3) Esgotamento sanitário • Coleta de esgotos, seguida de tratamento; • Uso de fossa séptica (2). • Coleta de esgotos, não seguida de tratamento; • Uso de fossa rudimentar Manejo de Resíduos sólidos • Coleta direta, na área urbana, com frequência diária ou em dias alternados e destinação final ambientalmente adequada dos resíduos; • Coleta direta ou indireta, na área rural, e destinação final ambientalmente adequada dos resíduos. Dentre o conjunto com coleta, a parcela de domicílios que se encontram em pelo menos uma das seguintes situações: • na área urbana, com coleta indireta ou com coleta direta, cuja frequência não seja pelo menos em dias alternados; • destinação final ambientalmente inadequada. (1) Em função de suas particularidades, o componente drenagem e manejo de águas pluviais urbanas teve abordagem distinta. (2) Por “fossa séptica” pressupõe-se a “fossa séptica sucedida por pós-tratamento ou unidade de disposição final, adequadamente projetados e construídos”. (3) A exemplo de ausência de banheiro ou sanitário; coleta de água em cursos de água ou poços a longa distância; lançamento direto de esgoto em valas, rio, lago, mar ou outra forma pela unidade domiciliar; coleta indireta de resíduos sólidos em área urbana; ausência de coleta, com resíduos queimados ou enterrados, jogados em terreno baldio, logradouro, rio, lago ou mar ou outro destino pela unidade domiciliar. Fonte. PLANSAB, 2013 A partir do conceito e caracterização do déficit, o PLANSAB apresenta uma visão da situação do saneamento básico no Brasil conforme Tabela 6. 16 17 Tabela 6 – Atendimento e deficit por componente do saneamento básico no Brasil, 2010 Componente Atendimento adequado Deficit Atendimento precário Sem atendimento (x 1.000 hab) % (x 1.000 hab) % (x 1.000 hab) % Abastecimento de água 112.497 (1) 59,4 64.160 33,9 12.810 6,8 Esgotamento sanitário 75.369 (2) (3) 39,7 96.241 50,7 18.180 9,6 Manejo de resíduos sólidos 111.220 (4) 58,6 51.690 (5) 27,2 26.880 14,2 Fontes: Censo Demográfico (IBGE, 2011), SNIS (SNSA/MCidades, 2010), PNSB (IBGE, 2008). (1) Corresponde à população atendida pelas soluções expostas na Tab. 4.1, subtraída da proporção de moradias atingidas por paralisação ou interrupção em 2010. Uma vez que os dados sobre desconformidade da qualidade da água consumida não permitem estimar a população atingida, adicionalmente àquela que enfrenta intermitência, foi assumido que a dedução para paralisações e interrupções já abrangeria o contingente com qualidade da água insatisfatória, para todas as formas de abastecimento. (2) As bases de informações do IBGE adotam a categoria “rede geral de esgoto ou pluvial” e, portanto, os valores apresentados incluem o lançamento em redes de águas pluviais. (3) Embora, para efeito de conceituação do atendimento, as fossas sépticas tenham sido consideradas como solução adequada, para a estimativa de investimentos o número de fossas sépticas existentes não pode ser considerado integralmente aproveitável para a população a ser futuramente atendida. Por um lado, apesar de significativa mudança no número de fossas sépticas enumeradas pelo Censo Demográfico de 2010, observando-se uma redução relativa desta categoria em relação ao Censo Demográfico de 2000, infere-se que ainda há problemas de classificação indevida, denominando-se de fossas sépticas diferentes tipos de fossas precárias, devido a dificuldades inerentes aos levantamentos de campo, que necessitam ser aprimorados. Por outro, domicílios atendidos por fossas sépticas adequadas podem passar a contar com rede coletora de esgotos no futuro, podendo conduzir a que essas fossas sejam desativadas ou tenham seu efluente lançado nesta rede. (4) Não se deduziu, do atendimento adequado, a população atendida com frequência de coleta inferior a dias alternados, em função da inexistência de tais informações no Censo 2010 e da limitação das informações da PNSB. Como destinação final ambientalmente adequada foram considerados os volumes de resíduos sólidos destinados às seguintes unidades: aterro sanitário, aterro controlado em municípios com até 20.000 habitantes, estação de compostagem, estação de triagem e incineração. (5) Considerou-se destinação final ambientalmente inadequada a destinação em vazadouro a céu aberto e em aterros controlados, nesse caso em municípios com população superior a 20.000 habitantes. Fonte. PLANSAB, 2013 Importante para nossa disciplina é relacionar que aproximadamente 41% da popu- lação brasileira (cerca de 80 milhões de pessoas), em termos de abastecimentode água, podem ter suas condições de saúde impactadas pelo não atendimento adequado. Assista aos vídeos (constantes do material complementar) disponíveis em: https://youtu.be/il8iFOY5GOg e https://youtu.be/Bz6C9MWfeQQ Ex pl or Tabela 7 – Doenças relacionadas com o abastecimento de água Grupo de Doenças Forma de transmissão Principais doenças e agente etiológico Formas de prevenção (A) Doenças diarréicas e verminoses Ingestão de água com contaminantes, má higiene dos alimentos e a forma de tratamento dos dejetos. Cólera (Vibrio cholerae) Giardíase (Giardia lamblia) Criptosporidíase (Cryptosporidium parvum) Febre tifoide (Salmonella typhi) Febre paratifoide (Salmonella paratyphi dos tipos “A”, “B” ou “C”) Amebíase (Entamoeba histolytica) Hepatite infecciosa (vírus: “A” e “B”) Ascaridíase (Ascaris lumbricoides) A educação sanitária, o saneamento e a melhoria do estado nutricional dos indivíduos. Implantar sistema de abastecimento e tratamento da água, com fornecimento em quantidade e qualidade para uso e consumo humano. Proteção de contaminação dos mananciais e fontes de água. 17 UNIDADE SAA, Saúde, Meio Ambiente e Educação Grupo de Doenças Forma de transmissão Principais doenças e agente etiológico Formas de prevenção (B) Doenças da pele Relacionadas com os hábitos de higiene. Impetigo (Staphylococcus aureus) Dermatofitose e micoses (fungos dos gêneros Trychophyton, Microsporum e Epidermophyton) Escabiose (Sarcoptes scabiei) Piodermite (Sarcoptes scabiei) Não permitir banhos de banheira, piscina ou de mar. Lavar frequentemente as mãos com água e sabão. (C) Doenças dos olhos A falta de água e a higiene pessoal insuficiente criam condições favoráveis a sua disseminação. Conjuntivites (vírus e bactérias) Evitar aglomerações ou frequentar piscinas de academias ou clubes e praias. Lavar com frequência o rosto e as mãos, uma vez que estas são veículos importantes para a transmissão de micro- -organismos patogênicos. (D) Transmitidas por vetores As doenças são propagadas por insetos cujos ciclos possuem uma fase aquática. Malária (Plasmodium vivax, P. falciparum ,P. malariae) Dengue (DENV 1, 2, 3 e 4) Febre amarela (vírus do gênero Flavivirus) Filariose (Wuchereria bancrofti) Eliminar os criadouros de vetores com inspeção sistemática e medidas de controle (drenagem, aterro e outros). Dar destinação final adequada aus resíduos sólidos. (E) Associada à água O agente etiológico penetra pela pele ou é ingerido. Esquistossomose (Schistosoma mansoni) Leptospirose (Bactéria do gênero Leptospira) Evitar o contato com águas infectadas. Proteger mananciais. Adotar medidas adequadas para disposição do esgoto. Combate do hospedeiro intermediário. Cuidados com a água para consumo humano. Cuidados com a higiene, remoção e destino, adequados de dejetos. Fonte. Funasa, 2015 Assista ao vídeo (constantes do material complementar) disponível em: https://youtu.be/USu2rWUnoXw Ex pl or Internações Os resultados apontam para números alarmantes. No Brasil, ainda ocorrem cerca de 340 mil internações por doenças infecciosas associadas à falta de sane- amento, com mais de 2 mil mortes (dados de 2013). O desdobramento econô- mico é imediato: além do gasto com a saúde, o trabalhador que adoece se afasta do trabalho, comprometendo sua produtividade. As análises estatísticas realizadas evidenciaram que o acesso à rede geral de coleta de esgoto e à água tratada pode elevar a renda de um trabalhador em mais de 14%. No caso de crianças e adoles- centes, a doença causa o afastamento da escola, com efeito expressivo sobre seu desempenho escolar (TRATA BRASIL). 18 19 Saneamento e Reforma Urbana Aspecto determinante de nossa realidade (que reafirma a necessidade da Reforma Urbana) diz respeito à especulação imobiliária. Tem como resultado a expansão descontrolada das metrópoles no Brasil (que fornece um modelo para as demais cidades) e que acentua os problemas ambientais de saneamento. Seus interesses são dominantes no Congresso Nacional e isso tem a ver com financiamento de campanha. (MARICATO, 2016). Reforma Urbana é direito à cidade. É a democracia urbana. É a antibarbárie. É a luta de classes reconhecida nas cidades enquanto palco de relações sociais, mas também por meio das cidades enquanto produto e mercadoria que envolve exploração, mais- valia e alienação (MARICATO, 2016). Ex pl or Veja mais sobre Reforma Urbana em: https://bityl.co/BgAd Ex pl or A impiedosa especulação imobiliária é um dos fatores responsáveis pela expulsão de milhões de moradores pobres da cidade para as periferias e para as favelas. Esta população fica sujeita às inundações, deslizamentos e a todo tipo de risco, levando- -os à graves doenças, inclusive ligadas a falta de saneamento básico (AZEREDO; MOTTA, 2011). Importante! A proposta de reforma urbana fundamentava-se na reforma fundiária. Entretanto, a função social da propriedade ficou apenas no papel (mesmo que este papel sejam a Constituição Federal e a Lei Federal Nº 10.257/2001 - Estatuto da Cidade). Dois aspectos políticos contribuíram para a derrota da utopia da reforma urbana (além da conjuntura capitalista internacional): primeiro, as forças que propuseram a reforma urbana foram engolidas pela institucionalidade, bem como partidos de esquerda, que perderam sua capacidade transformadora; segundo, o financiamento das campanhas eleitorais, especialmente na escala local, está imbricado com as forças que têm nas cidades seu grande negócio (MARICATO, 2016). Importante! Outro aspecto do desastre ambiental, decorrente desse predatório padrão de uso e ocupação do solo, é a contínua impermeabilização da superfície da terra, incluindo o tamponamento de córregos, que acarretam frequentes enchentes, poluição do ar e expansão horizontal desmedida, reforçando a dependência em relação ao automóvel (MARICATO, 2016). 19 UNIDADE SAA, Saúde, Meio Ambiente e Educação Sobre Saneamento, Reforma Urbana, Uso e Ocupação do Solo, Especulação Imobiliária. Assista ao vídeo disponível em: https://youtu.be/3GWk7UMIAHoEx pl or Importante! A questão do saneamento é fundamental e básica nessa discussão sobre o combate à malária, febre amarela, dengue e à febre do zika e do chikungunya. Em São Paulo, aproximadamente 2 milhões de pessoas moram em Áreas de Proteção de Mananciais. Isso não se dá pela ausência de legislação ambiental ou urbanística e sim por não interessarem ao mercado imobiliário em virtude da legislação proibitiva. São as áreas que sobram para os que não têm lugar na cidade formal: áreas de proteção ambiental e áreas de risco de desmoronamento (MARICATO, 2016). Importante! Educação Moradores de áreas sem acesso à rede de distribuição de água e de coleta de esgotos têm um aumento do atraso escolar, ou seja, uma escolaridade menor significa uma perda de produtividade e de remuneração das gerações futuras. Somente o custo desse atraso escolar devido à falta de saneamento alcançou R$ 16,6 bilhões em 2015. 20 21 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Combate à febre amarela exige investimento em infraestrutura sanitária (artigo) https://goo.gl/ikNTwp Vídeos Seminário Privatização é a Alternativa Parte 1 https://youtu.be/ooy80hZdpr8 Seminário Privatização é a Alternativa Parte 2 https://youtu.be/6YaS-ZE0hiM Seminário Privatização é a Alternativa Parte 3 https://youtu.be/Z1Kfgjof9g4 Leitura Benefícios Econômicos e Sociais da Expansão do Saneamento no Brasil (Estudo) https://goo.gl/1y35mx 21 UNIDADE SAA, Saúde, Meio Ambiente e Educação Referências Brasil. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Manual de Saneamento / Ministério da Saúde, Fundação Nacional de Saúde. – 4. ed. – Brasília: Funasa, 2015. 642 p. NETTO, José M. de Azevedo; ALVAREZ, Guilhermo Acosta. Manual de Hidráulica. 7. ed. São Paulo: Edgard Blucher, 1986. 2 v. Brasil. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde.Redução de perdas em sistemas de abastecimento de água / Ministério da Saúde, Fundação Nacional de Saúde. 2. ed. – Brasília: Funasa, 2014. 172 p. BRASIL. Ministério das Cidades. Ministério (Org.). Plano Nacional de Saneamento Básico: PLANSAB. 2013. Disponível em: <http://www.cidades.gov.br/images/ stories/ArquivosSNSA/PlanSaB/plansab_texto_editado_para_download.pdf>. Acesso em: 24/jan/2013. BRASIL (PLANSAB, 2013). AZEREDO, Margareth A. de; MOTTA, Ana Lucia Torres Seroa da. SANEAMENTO – Uma análise sobre a expansão urbana da cidade do Rio de Janeiro e a demanda por serviços de saneamento básico. 2011. Disponível em: <https:// revistainternacionaldoconhecimento.wordpress.com/2011/01/06/saneamento- uma-anlise-sobre-a-expanso-urbana-da-cidade-do-rio-de-janeiro-e-a-demanda-por- servios-de-saneamento-bsico-por-margareth-a-de-azeredo-et-al/>. Acesso em: 23/ fev/2018. MARICATO, Ermínia. Saneamento básico é fundamental no combate ao mosquito da dengue. 2016. Disponível em: <http://www.redebrasilatual.com. br/saude/2016/02/saneamento-basico-e-fundamental-no-combate-ao-mosquito- da-dengue-4364.html>. Acesso em: 23/fev/2016. 22