Buscar

SÍNTESE - PINTO, S. R.. O Pensamento social e político Latino Americano etapas de seu desenvolvimento. Sociedade e Estado, v. 27, p. 337-359, 2012.

Prévia do material em texto

T1: HISTÓRIA DA AMÉRICA III – SÍNTESE TEXTUAL
Profª Adaiane Giovanni
ALUNO: Guilherme Casagrande						 RA: 111437
	
	Há uma controvérsia que ronda o meio acadêmico na América Latina desde os anos 1960, centralizada em uma pergunta: Existe um pensamento latino-americano? Levantada pelo intelectual peruano Salazar Bondy (1925-1974). É à luz deste questionamento, através da obra de Simone Rodrigues Pinto, doutora em Ciência Política, que se estabelece o presente trabalho.
	Como mencionado, o questionamento levantado por Bondy no livro Existe una filosofía de nuestra América? (1968) suscitou diversos debates desde logo após a publicação até à atualidade. Para este autor, o desenvolvimento de um pensamento genuíno e original americano seria impossível, visto que toda tentativa estaria condenada a ser “inautêntica e imitativa” com relação à produção europeia. Esta afirmativa é combatida pela autora, assim como foi combatida na época por Leopoldo Zea (1912-2004), com intenção de promover formas alternativas de conhecimento e dar voz a grupos excluídos, silenciados e marginalizados. Assim como minimizar a supervalorização do pensamento produzido na Europa, que é potencializado pelo que autora denomina de “complexo de Malinche”, em alusão à princesa asteca que, após a chegada dos conquistadores espanhóis, tomou o lado do opressor, sendo fundamental para o processo colonizador graças a sua habilidade com idiomas.
	Fato é, a produção intelectual latino-americana é, e sempre foi, subvalorizada. Quanto a isso, Pinto destaca dois problemas que dificultam o caso, sendo um interno, que se configura pelo sentimento de inferioridade historicamente imposto pelo modelo “tradicional” europeu, salientando a “dificuldade de olharmos a nós mesmos sem a intermediação do conquistador, do europeu, do outro estrangeiro”; e outro externo, relativo à dificuldade de reconhecimento dos grandes centros, citando Bordieu quando afirma que o local de produção, além de ser inferiorizado, é invisibilizado. A autora também comenta que essa marginalização do conhecimento local é constantemente vista como uma maldição que fora perpetuada desde a consolidação das relações de produção capitalistas, que propaga a colonialidade e a submissão de outros continentes fora do Velho Mundo.
	Para a autora, a autenticidade e a originalidade do pensamento latino-americano “(...) depende da perspectiva filosófica que adota o leitor, mas com certeza há uma produção vasta e importante a ser estudada” (PINTO, p.340). Segundo Zea, para ser original, basta partir de si próprio, que não quer dizer que deva ser tão diferente da filosofia já produzida no mundo, ou seja, não há necessidade de ser uma filosofia inovadora, podendo beber de outras fontes, desde que seja feita a adaptação para sua realidade, “uma filosofia como instrumento de transformação da realidade”.
	A autora então discorre sobre as etapas do pensamento social e político na América Latina, partindo do século XVI, com o embate entre o frade Bartolomé de Las Casas (1484-1566) e o filósofo Juan Ginés de Sepúlveda (1489-1573), no que ficou conhecido como “A controvérsia de Valladollid” (1550-1551). Indo para o século XIX, período do apogeu do positivismo e liberalismo no pensamento social e filosófico latino-americano, principalmente no México, Argentina e Cuba. Até finalmente chegar ao século XX, quando, em decorrência da entrada de capital estrangeiro e da imigração, mudanças socioeconômicas alavancaram narrativas e propostas da esquerda, como o socialismo e o indigenismo (até uma articulação entre ambos, como é o caso do Peru). Neste século, os conflitos bélicos e as crises, fizeram com que a relação econômica da América Latina com o restante do mundo sofresse com mudanças, dado o fechamento do mercado de exportações de matérias primas, propiciando uma tentativa de fortalecimento do mercado interno e uma busca incessante pelo desenvolvimentismo e modernização, potencializado pelas rupturas políticas na maioria dos países da América Latina, que envolveu a participação de militares. A partir deste momento, a estratégia é acompanhada por um endurecimento político, através do poder coercitivo, que trouxe retrocessos para diversos grupos sociais.
	A autora relata alguns novos modelos de interpretação para a causa, dentre eles, o denominado “dependentismo”, que conta com pelo menos três correntes de pensamento, com diagnóstico proveniente da crítica à teoria da modernização e do desenvolvimento, que era prevalecente no meio acadêmico durante as décadas de 1950 e 1960. O ambiente gerado por meio dessa teoria somado com o contexto sociopolítico da América Latina, foi o necessário para que fosse instaurada a temática da libertação, como a “Teologia da Libertação”, que teve o seu marco zero na Conferência de Medellín, em 1968, aonde a Igreja Católica reconhece pela primeira vez a necessidade de uma teologia latino-americana da libertação, “caracterizada pelo encontro de Deus no pobre, que se configura em toda uma classe de marginalizados e explorados” (PINTO, p.353). 
	A temática da libertação possui diversas correntes. Pinto destaca algumas, como a própria “Filosofia da Libertação”, que busca romper estruturas totalitárias que alienam e dominam a partir do centro; a “Pedagogia do Oprimido”, de Paulo Freire, que é extremamente aclamada no campo da educação; as teorias pós-coloniais, que contribuem na necessidade de desnaturalizar a dominação eurocêntrica.
	Em conclusão, na perspectiva passada pela autora, as características do pensamento latino-americano podem não ser inéditas (conceitos, interpretações, metáforas ou alegorias), mas são a representação de uma visão “viva e original” da realidade sociocultural e político-econômica do continente latino-americano. É importante demarcar que essa discussão parece ser infindável, pois podemos leva-la a diversas esferas da produção, demandando um estudo aprofundado de cada uma delas, como comenta a autora em relação a um estudo acerca da arte, seja ela a poesia, o teatro, a dança, a pintura, a escultura, a música, etc.
	Contudo, é imprescindível que este avanço no pensamento continue acontecendo para que haja uma valorização real da produção da nossa América, que esteja livre das amarras estabelecidas pelo eurocentrismo. Nas importantes palavras da autora:
“Acredito que estamos avançando para uma releitura crítica e madura do pensamento latino-americano. (...) O importante é continuarmos conhecendo e deixando-se conhecer, assumindo o lugar de onde se fala a fim de produzir um pensamento genuinamente latino-americano, seja lá o que isso signifique.” (PINTO, S.R., 2012, p.357)
	
Referências:
PINTO, S. R.. O Pensamento social e político Latino Americano: etapas de seu desenvolvimento. Sociedade e Estado, v. 27, p. 337-359, 2012.

Continue navegando