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PREVISÃO DE DEMANDA E GESTÃO DE ESTOQUES W B A 02 46 _v 2. 0 2 Michele Lisboa Silveira Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2021 PREVISÃO DE DEMANDA E GESTÃO DE ESTOQUES 1ª edição 3 2021 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Carolina Yaly Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Nirse Ruscheinsky Breternitz Revisor Daniel Morelli Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Gilvânia Honório dos Santos Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) __________________________________________________________________________________________ Silveira, Michele Lisboa S587p Previsão de demanda e gestão de estoques / Michele Lisboa Silveira, – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2021. 45 p. ISBN 978-65-5903-107-8 1. Inventário. 2. Planejamento de compra. 3. Análise de demanda. I. Título. CDD 658.787 ____________________________________________________________________________________________ Evelyn Moraes - CRB: 010289/O © 2021 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. 4 SUMÁRIO Técnicas de Previsão de Demanda ___________________________ 05 Planejamento e gestão de estoques na cadeia de suprimentos ______________________________________________ 23 Modelos de controle de estoques e administração de materiais _________________________________________________ 40 Gestão da incerteza na cadeia de suprimentos ______________ 58 PREVISÃO DE DEMANDA E GESTÃO DE ESTOQUES 5 Técnicas de Previsão de Demanda Autoria: Michele Lisboa Silveira Leitura crítica: Daniel Morelli Objetivos • Compreender a importância da demanda nos sistemas produtivos. • Aplicar técnicas de previsão de demandas quantitativas e qualitativas. • Elaborar gráficos de controle de demandas e identificar tendência, sazonalidade ou correlação. 6 1. Definições sobre demanda A demanda pode ser entendida como a quantidade de um produto ou serviço que os consumidores desejam adquirir. Essa expressão é amplamente utilizada na literatura aplicada à economia, que busca definir as relações entre oferta e demanda de produtos ou serviços. De acordo com Nogami e Passos (2016, p. 76), “a demanda (ou procura) de um indivíduo por um determinado bem (ou serviço) refere-se à quantidade desse bem que ele deseja e está capacitado a comprar, por unidade de tempo.” No cenário do planejamento estratégico de sistemas produtivos, a compreensão da demanda permite estimar a quantidade ideal de produtos a serem produzidos, evitando a formação de estoques elevados e garantindo o cumprimento dos prazos de entrega ao cliente. De acordo com Tubino (2017), as técnicas de previsão de demanda podem ser aplicadas para que qualquer empresa possa planejar vendas, capacidade, fluxo de caixa, produção de estoques, mão de obra, compras, entre outros. Dessa forma, prevê-la permite que os administradores de sistemas produtivos antevejam o futuro e, com isso, planejem suas ações. Em um mercado competitivo, as empresas buscam reduzir os prazos de entrega, mantendo a qualidade e a competitividade em custos. Nesses casos, a estratégia é iniciar a produção antecipadamente mesmo sem ter pedidos confirmados, ou seja, a produção por estoque Make to Stock (MTS) (MORIKAWA; TAKAHASHI; HIROTANI, 2014). Os estoques da produção MTS devem ser gerenciados e as técnicas de previsão de demanda assumem um papel importante, visto que, a partir das previsões quantitativas ou qualitativas, é possível balancear o sistema produtivo. 7 2. Técnicas de previsão de demanda A previsão de demanda pode ser realizada por técnicas qualitativas ou quantitativas. As qualitativas consistem na experiência de um especialista ou eventualmente na pesquisa com o mercado consumidor, permitindo que as empresas definam a produção com base em observações e tendências do mercado (TUBINO, 2017). Elas podem ser utilizadas quando não se tem um histórico de dados e para casos de organizações que pretendam iniciar a produção de um produto ou de uma oferta de serviços. Para empresas que estão consolidadas no mercado, as previsões qualitativas são aplicadas em conjunto com dados e modelos matemáticos, permitindo que o planejamento estratégico da produção atue no sentido de determinar os níveis ideais de oferta do produto ou serviço. Já os métodos quantitativos fundamentam-se em séries temporais históricas e técnicas com base em correlações, conforme veremos nas seções seguintes. 2.1 Previsões baseadas em séries temporais De acordo com Tubino (2017), as previsões com base nas séries temporais assumem a premissa de que a demanda futura será uma projeção dos valores passados e não recebem influências de outras variáveis. Para se montar o modelo de previsão, é necessário plotar o gráfico da demanda em função do período observado e identificar as características da curva obtida. O Gráfico 1 exemplifica os principais fenômenos que podem ser identificados em previsões com base em séries temporais. A variação randômica é aleatória ou normal, que pode ser tratada pela média, e a sazonalidade refere-se a efeitos cíclicos que se repetem ao longo do tempo. Um exemplo seria a alta demanda de ventiladores no verão e a baixa demanda pelo produto no inverno. A tendência é um efeito de crescimento ou decréscimo consecutivo. Por fim, as variações irregulares são 8 excepcionais e explicadas, por exemplo, devido a catástrofes ou eventos inesperados. Gráfico 1 – Principais eventos em previsões de demanda Fonte: elaborada pela autora. 2.1.1 Média móvel A técnica da média móvel para previsão de demanda é aplicada em séries temporais em que são observadas variações randômicas da demanda. De acordo com Corrêa et al. (2001), essa técnica é útil quando se busca um modelo simples e de baixo custo para prever demandas de muitos itens com histórico de pequenas flutuações e sem indicações de tendências. De acordo com Tubino (2017), a média móvel usa dados de um número predeterminado de períodos, normalmente os mais recentes, para gerar uma previsão. Dessa forma, a cada novo período de previsão, deve-se substituir o dado mais antigo por um mais recente. A média móvel é calculada pela Equação 1. 1 n i i n D Mm n == ∑ (1) 9 Em que: Mmn = média móvel de n períodos. Di = a demanda ocorrida no período i. n = o número de períodos. I = o índice do período (i=1, 2, 3, ...). Na Tabela 1, são apresentados dados fictícios da demanda ao longo de um ano (12 meses) e disponibilizados os valores da Mm2 e Mm6 correspondentes aos cálculos da média móvel (aplicados a partir da Equação 1) para n=2 períodos e n=6 períodos, respetivamente. Também se apresenta o erro correspondente à diferença entre a demanda real e a previsão. Tabela 1 – Dados para a aplicação da média móvel com 2 e 6 períodos Período (meses) D. Real (unidades) Mm2 (unidades) Erro (unidades) Mm6 (unidades) Erro (unidades) 1 1628 2 1658 3 1503 1643 -140 4 1780 1580 2005 1650 1642 9 6 1526 1715 -190 7 1713 1588 125 1624 89 10 8 1852 1619 233 1638 213 9 1620 1782 -162 1670 -50 10 1616 1736 -120 1690 -74 11 1444 1618 -174 1663 -219 12 1959 1530 430 1628 331 Fonte: elaborada pela autora. No Gráfico 2, são plotados os valores da demanda real, Mm2 e Mm6, ao longo de um ano (12 meses). Pode-se observar que, quanto maior o número de períodos passados utilizados no cálculo, maior a suavização das variações aleatórias e menor a sensibilidade do modelo às mudanças de patamar na demanda, caso venham a ocorrer. Gráfico 2 – Aplicação da previsão de demanda pela média móvel Fonte: elaborado pela autora. 2.1.2 Média móvel exponencial De acordo com Ballou (2006), a média móvel exponencial é uma técnica semelhante à média móvel, na qual não são dados pesos iguais às observações passadas. Em vez disso, as observações mais recentes são 11 ponderadas com maior peso do que as menos recentes. Denominou-se de ponderação exponencial a previsão que está descrita na Equação 2. ( ) (1 ) Nova previsão demanda real demanda préviaα α= + − (2) Em que: α = um fator de ponderação que varia entre 0 e 1. Ballou (2006) acrescenta que esse modelo pode ser escrito de acordo com a Equação 3. 1 (1 )t t tM D Mα α+ = + − (3) Em que: t = período atual. α = a constante de ponderação exponencial. Dt = a demanda no período t. Mt = a previsão para o período t. Mt+1 = a previsão para o período seguinte de t. De acordo com Tubino (2017), quanto maior o valor de α, mais rapidamente o modelo de previsão reagirá a uma variação real da demanda. Por outro lado, se α for muito pequeno, as previsões poderão distorcer a demanda real. Ballou (2006) afirma que na prática industrial são utilizados valores de α entre 0,01 e 0,03, embora valores superiores possam ser utilizados para curtos períodos, quando mudanças antecipadas são planejadas na produção, como uma campanha promocional agressiva temporária ou a descontinuação de produtos na linha de produção. O valor de α deve ser escolhido a fim de minimizar os erros de previsão, ou seja, deve ser escolhido um valor que permita 12 uma previsão que siga as mudanças principais que ocorrem na série de tempo e que calcule a média das flutuações aleatórias. Bowersox et al. (2014) destacam que a principal vantagem da suavização exponencial é que ela permite calcular rapidamente uma nova previsão, sem registros históricos ou atualizações substanciais. Portanto, ela é altamente adaptável à previsão computadorizada. 2.1.3 Técnicas para a previsão de tendência Conforme ilustrado no Gráfico 1, o fenômeno de tendência pode ser observado em previsões de demanda temporais. De acordo com Bowersox et al. (2014), ela pode ter sentido positivo (aumenta ao longo dos períodos), negativo (ocorre um declínio ao longo do tempo) ou neutro (quando é estável no tempo). O Gráfico 3 apresenta dados fictícios da demanda de fraldas descartáveis em um país cujo índice de natalidade diminuiu ao longo de 12 anos. Observa-se que deve ser feito um ajuste linear para tratar a previsão de demanda, e, com isso, é possível utilizar uma equação linear como forma de previsão. Gráfico 3 – Demanda em função do tempo Fonte: elaborado pela autora. 13 Para descrever uma equação de previsão de demanda (Y) em função do tempo (X), pode ser definida uma equação linear padrão (Equação 4). Y = a+bX (4) Em que: Y = a previsão de demanda para o período X. a = a ordenada à origem, ou intercessão no eixo Y. b = o coeficiente angular. X = o período para previsão. De acordo com Tubino (2017), os coeficientes a e b podem ser obtidos por meio das Equações 5 e 6, respectivamente. Y b X a n − = ∑ ∑ (5) 2 2 ( ) ( )( ) ( ) ( ) n XY X Y b n X X − = − ∑ ∑ ∑ ∑ ∑ (6) Em que: n = número de períodos observados. Na Tabela 2, são apresentados os resultados dos somatórios necessários para o cálculo de a e de b quando aplicados à demanda (média) de fraldas ao longo dos anos (Gráfico 3). 14 Tabela 2 – Dados para a aplicação da previsão de demanda por tendência Período X (mês) Demanda Y (unidades) X² XY 1 1987 1 1987 2 1800 4 3600 3 1600 9 4800 4 1665 16 6660 5 1540 25 7700 6 1400 36 8400 7 1200 49 8400 8 1000 64 8000 9 1008 81 9072 10 800 100 8000 11 600 121 6600 12 654 144 7848 ∑X = 78 ∑Y = 15254 ∑X² = 650 ∑X Y= 81067 Fonte: elaborada pela autora. Empregando as Equações 5 e 6, obtemos os resultados dos coeficientes de acordo com as Equações 7 e 8. 2 12(81067) (78)(15254) 126,46 12(650) 78 b −= = − − (7) 15254 ( 126,46)(78) 2093 12 a − −= = (8) 15 Logo, a equação de previsão da demanda é dada pela Equação 9. Y = 2093 – 126,43X (9) Assim, tem-se um modelo de previsão de demanda a partir do qual é possível estabelecer uma demanda Y de acordo com o período X. Essa equação pode ser obtida nas planilhas eletrônicas adicionando a linha de tendência aos dados do gráfico. O valor de R² (coeficiente de determinação) também pode ser obtido. Quanto mais próximo de 1 for o valor, mais aderente aos dados históricos está a equação de previsão. Nesse exemplo, o software calculou o valor de R² = 0,99751, o que indica a confiabilidade da Equação 9. Bowersox et al. (2014) propõem uma relação específica entre demandas de dois períodos consecutivos, de acordo com a Equação 10. 1t tD D T+ = (10) Em que: D t + 1 = demanda base no período t + 1. D t = demanda base no período t. T = índice do componente de tendência. No exemplo abordado, considerando-se os períodos 2 e 3, calcula-se o índice do componente de tendência pela Equação 11. D 3 = D2T (11) 1600 = 1800T T = 0,88 16 O índice de tendência apresentar valor menor que 1 indica a tendência de diminuição da demanda. Para casos em que o índice de tendência for maior do que 1, significa que a demanda periódica tende a aumentar ao longo do tempo. 2.1.4 Sazonalidade A sazonalidade é um efeito caracterizado pela ocorrência de variações, para cima e para baixo, a intervalos regulares nas séries temporais da demanda, conforme exposto anteriormente no Gráfico 1. O Gráfico 4 apresenta um exemplo da sazonalidade simples com 9 períodos. Para identificar o número de períodos da sazonalidade, a princípio, o fenômeno de primeira alta ou primeira baixa na demanda (exceto o período 1) deve ser identificado. Nesse caso, trata-se do período 5. A partir desse ponto, deve-se avaliar após quantos períodos esse fenômeno se repete, o que acontece no período 14. Em seguida, deve ser realizada uma subtração entre os dois períodos para que se tenha o índice de sazonalidade, de acordo com a Equação 12. 14 – 5 = 9 (12) Portanto, o índice de sazonalidade calculado para a representação dos dados do Gráfico 4 é de 9 períodos. 17 Gráfico 4 – Sazonalidade Fonte: elaborado pela autora. Na Tabela 3, são apresentados os cálculos necessários para a previsão de demanda por sazonalidade. Para aplicá-la, deve ser calculada a média móvel centrada (MMC) a partir do período 5, pois foi nesse período que o primeiro fenômeno de queda expressiva se manifestou. A MMC para o período 5 foi calculada de acordo com a Equação 13. Na média, foram utilizados 9 períodos, dado que equivale ao índice de sazonalidade. 5 1800 1708 1341 1125 1054 1176 1421 1661 1860 1461 9 Mm + + + + + + + += = (13) Tabela 3 – Dados para a aplicação da previsão de demanda por tendência Período (mês) Demanda real (unidades) MMC IS IS médio 1 1800 1,213 2 1708 1,154 3 1341 0,943 4 1125 0,774 5 1054 1461 0,721 0,720 18 6 1176 1453 0,809 0,825 7 1421 1450 0,980 0,980 8 1661 1453 1,143 1,150 9 1860 1453 1,280 1,222 10 1734 1452 1,194 1,213 11 1675 1455 1,151 1,154 12 1373 1455 0,943 0,943 13 1127 1456 0,774 0,774 14 1043 1448 0,720 0,720 15 1200 1454 0,825 0,825 16 1425 1454 0,980 0,980 17 16721454 1,150 1,150 18 1782 1458 1,222 1,222 19 1788 1451 1,232 1,213 20 1680 1451 1,158 1,154 21 1373 0,943 22 1163 0,774 23 980 0,720 24 1200 0,825 Demanda média: 1454 Fonte: elaborada pela autora. 19 Observa-se na Tabela 3 que as MMC foram calculadas para os períodos 5 a 20. Como a média foi feita a cada 9 termos, a última média calculada foi a Mm20, pois esta calculou a média entre o período 16 e 24 (últimos 9 períodos). O índice de sazonalidade (IS) foi calculado pela divisão entre a demanda real e a média móvel central. Assim, exemplifica-se o IS para o período 5 (Equação 14) e a partir daí prosseguiu-se até o período 20. 5 0,72114 1054 61 IS = = (14) A demanda média de 1.454 para essa série de dados foi obtida a partir da média dos valores levantados para as médias móveis centradas. Para calcular os valores dos IS médios (última coluna da Tabela 3), foram seguidos os seguintes passos: • Para os períodos 1 e 2 foram calculadas as médias dos IS (quarta coluna) dos períodos 10 e 19 e 11 e 20, respectivamente. • Para os períodos a partir do mês 3 até o mês 9, os IS médios foram equivalentes aos IS (quarta coluna da Tabela 3) dos períodos a partir do 12 até o 18. • Os IS médios dos períodos a partir do mês 10 até o mês 18 foram equivalentes aos IS médios dos períodos correspondentes a partir do mês 1 ao mês 9. • A partir do período 19 até o período 24, os IS médios foram iguais aos IS médios referentes aos períodos de 1 ao 6. Após a obtenção dos dados indicados na Tabela 3, aplica-se a previsão de demanda, utilizando-se a Equação 15. Demanda prevista = Demanda Média + Demanda Média (IS médio -1) (15) 20 Supondo que o planejador deseja saber a previsão para o período 16, nesse caso, calcula-se de acordo com a Equação 16, aplicando-se o valor do IS = 0,980, conforme identificado na Tabela 3. Demanda prevista = 1454 + [1454(0,980–1)] = 1424,92 (16) Nesse caso, como a demanda real no período 16 foi de 1.425, o erro foi de 0,08, comprovando-se, portanto, a eficácia da previsão de demanda pela sazonalidade. 2.2 Previsões baseadas em correlações Uma previsão de demanda por correlação é aplicada quando a demanda por um determinado produto varia em função de alguma característica diferente do período. Por exemplo, o aumento dos preços das passagens aéreas leva a uma queda da demanda e, portanto, existe uma correlação negativa entre o preço das passagens aéreas e a demanda por viagens, conforme exemplificado pelo Gráfico 5. Uma equação de correlação entre a demanda Y e o fator de influência X, e do coeficiente de correlação R², pode ser definida e calculada por meio de softwares de cálculos estatísticos, como o Microsoft Excel, SAS, Minitab, entre outros. Para efeitos de correlação, define-se ainda a variável r, denominada coeficiente de Pearson. 21 Gráfico 5 – Correlação entre a demanda e o preço de venda Fonte: elaborado pela autora. O coeficiente de Pearson pode variar de -1 a 1. Quanto mais próximo de 1, indica uma correlação positiva, ou seja, o incremento de uma variável impacta no aumento da demanda. Por outro lado, quanto mais próximo de -1, significa uma correlação fortemente negativa, ou seja, o aumento de uma variável impacta na redução da demanda prevista. No exemplo apresentado no Gráfico 5, como o valor r aproximou-se de -1, de fato observou-se que o aumento do preço das passagens reduziu a demanda por passagens aéreas. Nesse contexto, os modelos de correlação são técnicas eficientes para a previsão de demanda. Após estabelecida uma equação linear do tipo Y= a +bX, pode se prever a demanda Y em função de um valor procurado X, característico da variável influente estudada. 2.3 Considerações Os sistemas de produção buscam trabalhar sobre os princípios da manufatura enxuta e adotam técnicas do just in time implementadas no sistema Toyota de Produção e aplicadas nas organizações atuais. Dessa 22 forma, empresas buscam entregar os produtos certos, nas quantidades certas e no momento certo a um preço adequado para compra. Com isso, conhecer e estimar a demanda em função do tempo ou de outros fatores que a influenciam é uma estratégia que permite o balanceamento das linhas produtivas. As técnicas de previsão de demanda são importantes para que se possa planejar a quantidade ideal de produtos ou serviços a serem produzidos. Os estudos de demanda impactam no gerenciamento de estoques, uma vez que permitem direcionar estrategicamente os níveis ideais de produção, evitando quantidades desnecessárias. Referências BALLOU, R. H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos/logística empresarial. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006. BOWERSOX, D. J. et al. Gestão logística da cadeia de suprimentos. Porto Alegre: AMGH, 2014. CORRÊA, H. L. et al. Planejamento, programação e controle da produção. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2001. MORIKAWA, K.; TAKAHASHI, K.; HIROTANI, D. Make-to-stock policies for a multistage serial system under a make-to-order production environment. International Journal of Production Economics, [s.l.], v. 147, p. 30-37, 2014. NOGAMI, O.; PASSOS, O. N. Princípios de economia. 7. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2016. TUBINO, D. F. Planejamento e controle da produção: Teoria e Prática. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2017. 23 Planejamento e gestão de estoques na cadeia de suprimentos Autoria: Michele Lisboa Silveira Leitura crítica: Daniel Morelli Objetivos • Compreender as funções e classificações dos estoques. • Identificar e propor soluções para os problemas do gerenciamento de estoques. • Calcular o nível de serviços dos estoques. • Minimizar custos de estocagem a partir do lote econômico de compra. 24 1. Estoques: funções e classificações Neste material, estudaremos sobre a importância das decisões sobre estoques na cadeia de suprimentos. Sabemos que estoques altos significam perdas financeiras para as empresas, uma vez que são ativos com baixa liquidez e representam riscos para um negócio. Contudo, não se pode generalizar a ideia negativa dos estoques, visto que são necessários para garantir o abastecimento das demandas no mercado, balancear as linhas de produção e suprir outras necessidades, as quais serão descritas neste Tema. De acordo com Guerrini et al. (2019, p. 149), “estoque é a acumulação armazenada de recursos de um processo de transformação; um produto fabricado e ainda não vendido ou um recurso ocioso que possui valor econômico”. A partir dessa definição, compreende-se que os estoques apresentam diferentes características, são utilizados para disponibilizar os insumos em linhas produtivas e representam reservas para atender às demandas, ou indicam acúmulo de produtos que não foram vendidos. Os estoques são utilizados em todas as etapas da cadeia de suprimentos, conforme representado pela Figura 1, que apresenta cinco etapas da cadeia de suprimentos, sendo os estoques identificados nas quatro etapas que antecedem a entrega dos produtos para os clientes. A primeira localização encontra-se nas indústrias hipotéticas de mineração, plástico e petróleo. Em seguida, os estoques das matérias-primas são transportados pelos modais rodoviário, ferroviário e marítimo. As linhas de produção de outras indústrias recebem e processam as matérias-primas a fim de disponibilizar o produto. Os estoques dos produtos acabados são transportados por modais aéreo ou rodoviário até armazéns de produtos acabados em diferentes localidades. Por fim, os estoques são desfeitos e entregues a diferentes entidades, que podem ser clientes, consumidores, casas, cidades ou outros tipos de indústrias. 25 Figura 1 – Os estoques estão localizados em cada elo do canal de suprimentos Fonte: elaborada pela autora. Quanto às funções dos estoques, destacam-se as seguintes: • Concedem independência entre as etapas produtivas: a utilização de estoques amortecedores em diferentes setores da produção permite que, no caso de eventualidade, o fluxo de produçãonão seja interrompido. 26 • Permitem a utilização de lotes econômicos: alguns sistemas produtivos só permitem a produção ou a movimentação econômica de lotes maiores do que a necessidade de consumo imediata, gerando um excedente que precisa ser administrado (TUBINO, 2017). • Como fator de segurança: podem ser utilizados para suprir demandas inesperadas, além de serem necessários para que as empresas gerenciem possíveis riscos, como quebras de máquinas ou problemas no fornecimento de matérias-primas. • Para obter vantagens de preço: podem ser utilizados de forma estratégica a partir da chamada “especulação”. Assim, caso as empresas prevejam o aumento futuro no preço dos produtos, acumulam estoques para garantir vantagens competitivas. Bowersox (2014) considera que os estoques são planejados para atingir diferentes objetivos operacionais, apresentando funções como especialização geográfica, desacoplamento, equilíbrio entre oferta e demanda e proteção contra incertezas, conforme funcionalidades definidas na Tabela 1. Tabela 1 – Diferentes funções dos estoques Funcionalidade Característica Especialização geográfica Permite que diversas unidades de produção sejam oferecidas em diferentes localidades geográficas. Desacoplamento Permite independência entre diferentes setores de produção, de modo que a velocidade de todo o processo não se limite à etapa mais lenta. Equilíbrio entre oferta e demanda Absorve o tempo decorrido entre a disponibilidade do estoque e o consumo. 27 Proteção contra incertezas O estoque tem a função de suprir demandas inesperadas ou atrasos no recebimento ou processamento de pedidos. Nesse caso, é chamado de estoque de segurança. Fonte: adaptada de Bowersox (2014). Diversas outras funções poderiam ser citadas, afinal os estoques são utilizados pelas empresas para obterem vantagens competitivas e estratégicas. De acordo com as funções listadas na Tabela 1, eles são criados para absorver diferentes problemas do sistema de produção. Entretanto, como não agregam valor aos produtos, quanto menor o nível de estoques com que um sistema produtivo conseguir trabalhar, mais eficiente e eficaz esse sistema será (TUBINO, 2017). Os profissionais de uma cadeia de suprimentos consideram o sistema de estocagem uma conveniência econômica, e não uma necessidade de acumular produtos. Tabela 2 – Classificações dos estoques Tipo de estoque Característica Exemplo Estoques de canal São os estoques em trânsito entre elos do canal de suprimentos. Estoques em processo entre operações de produção, estoques portuários aguardando liberação das cargas para embarque. Estoques de especulação Acúmulo de produtos de forma estratégica, a fim de antecipar e prever contra possíveis aumentos da demanda ou valorização do produto no mercado financeiro. Matérias-primas como cobre, ouro e prata são compradas tanto para especulação quanto para o suprimento das necessidades operacionais. 28 Estoque de segurança ou estoque pulmão Trata-se de um estoque superior ao estoque normalmente necessário para suprir a demanda. Empresas cujos fornecedores possuem instabilidade nas entregas. Estoque perdido, morto ou obsoleto Produtos deteriorados, perdidos ou roubados devido a um longo período de armazenamento. Perda de produtos perecíveis (alimentos) devido a danos na embalagem ou prazos de validade vencidos; cargas rodoviárias roubadas; produtos antigos no estoque que foram substituídos por novos modelos. Fonte: adaptada de Ballou (2006). De acordo com a classificação dos estoques na Tabela 2, compreende- se que cada empresa ou indústria terá um tipo, bem como necessitará dele por motivos diferentes. Sendo assim, o conhecimento do tipo de estoque é o primeiro passo para observar suas características e planejar sua otimização, no sentido de mantê-lo somente quando for inevitável. Por exemplo, o estoque perdido, morto ou obsoleto é indesejável, pois afeta diretamente no patrimônio da empresa, ao passo que os estoques no canal são necessários, principalmente no caso de longas distâncias e altos volumes de produtos a serem transportados. 2. Principais problemas do gerenciamento de estoques Apesar das vantagens oferecidas pelos estoques para garantir a disponibilidade dos produtos e equilibrar os fluxos de produção, 29 diversos problemas são constatados nas organizações decorrentes de um gerenciamento equivocado. O primeiro problema dos estoques é decorrente da natureza instável da demanda ao longo do tempo. Apesar das técnicas de previsão de demanda serem fundamentais para decisões de planejamento de estoques, em algumas situações a demanda pode ser altamente instável e impactar na perda de produtos que ficarão parados em estoque. Um exemplo são produtos que apresentam demanda de um único período ou pico, como roupas da moda, árvores de Natal e buttons de campanha política (BALLOU, 2006). Ballou (2006) considera ainda que outro problema é o caso de produtos cuja demanda termina em algum tempo previsível no futuro (geralmente mais longo que um ano), como livros-texto que devem ser revisados a cada cinco anos, peças de reposição de um avião militar e medicamentos com prazo de validade limitado. Nesses casos, o estoque deve ser planejado para satisfazer apenas as necessidades da demanda dentro de um horizonte limitado de tempo, pois, caso contrário, as mercadorias serão perdidas, mortas ou obsoletas. Ainda com relação à demanda, o gerenciamento de estoques está relacionado com as demandas dependentes. Por exemplo, a demanda de embalagens é derivada da demanda pelo produto primário. Se não houver uma sincronia no estoque das embalagens e dos produtos primários, problemas podem acontecer em sistemas produtivos. Uma alternativa nesse caso é a abordagem do Planejamento das Necessidades dos Materiais (MRP – Material Requirements Planning), que planeja a produção a partir do produto, até chegar à matéria-prima. A grande quantidade de itens a serem analisados em estoques pode significar um esforço exaustivo nas organizações e levar ao mal gerenciamento. Com isso, é comum que o controle de estoques seja direcionado para um grupo de produtos, e não item por item. Essa 30 abordagem é definida como gerenciamento de cima para baixo. Embora a operação diária dos estoques possa exigir controle em nível de itens, o planejamento estratégico de níveis de estoques pode ser realizado substancialmente agregando produtos em grupos amplos. Essa técnica é considerada satisfatória quando for o caso de administrar o investimento em estoques de todos os níveis coletivamente. 3. Nível de serviço dos estoques De acordo com Ballou (2006), o objetivo principal do gerenciamento dos estoques é assegurar que o produto esteja disponível no tempo e nas quantidades desejadas. Uma das formas de avaliar a eficiência dos estoques é calcular a probabilidade de preenchimento de um pedido para um produto do estoque atual. Essa probabilidade é chamada de nível de serviço e pode ser definida pela Equação 1. Número esperado de unidades faltantes anualmente Nível de serviço = 1- Demanda anual total (1) O nível de serviço calculado a partir da Equação 1 resulta em um valor entre 0 e 1, sendo desejável um valor próximo de 1, ou seja, atendimento próximo de 100%. Normalmente as empresas estabelecem um valor-alvo para o nível de serviço; logo, devem controlar o número esperado de unidades em falta. Normalmente os clientes requisitam mais de um item ao mesmo tempo. Logo, a avaliação da probabilidade de atender a todo o pedido de um cliente é mais importante do que a probabilidade de atendimento de um único item requisitado. Por exemplo, vamos super que uma malharia requisite quatro tipos de linhas em um pedido e cada tipo de linha tenha um nível de serviço de 98%, ou seja, existe uma possibilidade de 2% de a fornecedora não ter as linhas solicitadas em estoque. Assim, o nível de serviço dafornecedora pode ser calculado pela Equação 2. 31 0,98*0,98*0,98*0,98 = 0,92 (2) Observa-se que a probabilidade de preencher o pedido completamente é de 92%, ou seja, existe uma probabilidade de 8% de que o pedido do cliente não seja atendido. Portanto, o nível de serviço para um pedido com diferentes produtos é menor do que o nível de serviço para um único item. De acordo com Ballou (2006), um fato comum na cadeia de suprimentos é o de que vários pedidos de muitos clientes mostrarão que uma combinação de itens pode aparecer em qualquer pedido. Nesse caso, o nível de serviço é mais apropriadamente expresso por uma taxa média ponderada de preenchimento (WAFR – Weighted Average Fill Rate). A WAFR é definida pela multiplicação da frequência com que cada combinação de itens aparece no pedido pela probabilidade de preencher o pedido completamente, dado o número de itens solicitado. Se um valor alvo da WAFR for especificado, então os níveis de serviço para cada item devem ser ajustados para conseguir a WAFR desejada. 4. Custos de estoques Conforme identificado sobre as diferentes funções dos estoques, quando o objetivo é manter o fluxo produtivo, uma forma de planejar os estoques é a partir da definição de lotes de reposição. Um lote de reposição, também chamado de lote econômico de compra, é a quantidade ideal de mercadorias que devem ser compradas e mantidas em estoque a fim de minimizar os custos totais. A respeito dos custos de estoques, há três tipos associados ao processo de reposição e armazenagem dos insumos: custos diretos, custos de preparação para reposição e custos de manutenção de estoque. De acordo com Tubino (2017), o comportamento desses custos irá 32 definir o tamanho do lote econômico ideal ao processo de reposição e armazenagem do item. O custo direto é decorrente da compra dos itens a serem armazenados e é proporcional à demanda para o período e ao custo unitário do insumo comprado. Ele pode ser calculado a partir da Equação 3. CD = D.C (3) Em que: CD = custo direto do período. D = demanda do item para o período. C = custo unitário de compra do item. Os custos de preparação para a reposição são decorrentes da compra do lote dos insumos. Nesse caso, são considerados custos de preparação o valor gasto com a mão de obra para emissão e o processamento das ordens de compra, materiais e equipamentos utilizados para a confecção das ordens, custos indiretos dos departamentos de compras para a confecção das ordens, como luz, telefone, aluguel etc. De acordo com Tubino (2017), o custo de preparação é proporcional ao custo de uma preparação de compra e ao número de vezes que esse item foi requerido durante o período de planejamento, conforme indicado pela Equação 4. CP = N.A (4) Em que: CP = custo de preparação do período. 33 N = número de pedidos de compra. A = custo unitário de preparação. A determinação do custo unitário de preparação de uma compra (A) pode ser feita de forma simplificada para a grande maioria dos itens comprados, dividindo-se os custos totais do departamento de compras em um período pelo número de ordens emitidas nesse período (TUBINO, 2017). O número de pedidos de compra N durante o período é definido como a razão entre a demanda D e o tamanho do lote econômico de compra, denominado por Q, conforme Equação 5. DN Q = (5) Substituindo-se o valor de N (Equação 5) na expressão que define o custo de preparação (Equação 4), tem-se: DCP A Q = (6) Logo, de acordo com a Equação 6, o custo de preparação CP pode ser definido em função da demanda D, do custo unitário de preparação da compra A e do tamanho do lote de compra Q. O custo de manutenção de estoques é devido à necessidade de diferentes funções para manter os estoques, como mão de obra para armazenagem e movimentação dos produtos; aluguel, luz, seguro, telefone, sistemas computacionais e equipamentos do almoxarifado; custos de deterioração e obsolescência dos estoques; e, principalmente, o custo do capital investido relacionado com a taxa mínima de atratividade (TMA) da empresa. O custo de manutenção é proporcional à quantidade do estoque médio do período de planejamento, ao custo 34 unitário do item e à taxa de encargos financeiros que incidem sobre os estoques; logo, é indicado pela Equação 7. mCM Q C I= ⋅ ⋅ (7) Em que: CM = custo de manutenção dos estoques. Qm = estoque médio. C = custo unitário do item. I = taxa percentual dos impostos sobre os estoques. A taxa de encargos financeiros sobre os estoques (I) é quantificada em termos de percentagem e pode ser obtida dividindo-se os custos de manutenção dos estoques no sistema produtivo pelo valor do estoque médio mantido no período de planejamento, conforme representado pela Equação 8. m CMI Q = (8) Já o estoque médio Qm é definido como a metade do lote econômico de compra Q, conforme definido pela Equação 9. 2m QQ = (9) Finalmente, a partir da definição dos custos diretos, de preparação e manutenção, pode-se obter uma única equação para o custo total do sistema (Equação 12), a qual é decorrente das Equações 10 e 11, respectivamente. CT CD CP CM= + + (10) 35 m DCT D C A Q C I Q = ⋅ + ⋅ + ⋅ ⋅ (11) 2 D QCT D C A C I Q = ⋅ + ⋅ + ⋅ ⋅ (12) Em que: CT = custos totais. D = demanda em um dado período. C = custo unitário. Q = tamanho do lote de compra. A = custo unitário de preparação. I = percentual dos impostos. Sabendo-se que o objetivo de uma cadeia de suprimentos é minimizar os custos totais da aquisição de lotes para a formação de estoques, pode-se aplicar uma técnica matemática para encontrar o mínimo valor do tamanho do lote (Q), que implica no menor custo total. Basta aplicar a derivada da equação do custo total em função do tamanho do lote (Q), igualar a zero e isolar a variável Q desejada, assim como indicado pela Equação 13. 20 02 2* CT D A CI Q Q D AQ C I ∂ ⋅ = − + = ∂ ⋅ ⋅ = ⋅ (13) Em que: Q* = tamanho do lote econômico. D = demanda para um dado período. 36 C = custo unitário. A = custo unitário de preparação. I = percentual dos impostos. Substituindo-se o valor de Q* (Equação 13) na Equação 5, o valor de N, que é o número de pedidos de compra ou a periodicidade econômica, pode ser calculado pela Equação 14. * 2 D C IN A ⋅ ⋅ = ⋅ (14) Quando uma empresa recebe um tamanho fixo de lote (Q*), a demanda apresenta um comportamento denominado “dente de serra”. Para compreendermos o comportamento das variáveis calculadas, devemos considerar uma empresa cujo lote econômico de compra (Q*), calculado pela Equação 13, foi de 300 unidades, inicialmente armazenadas em estoque. A empresa gastou um mês para utilizar esses insumos e, após esse primeiro mês (quando o estoque de segurança foi atingido), ocorreu um novo abastecimento das 300 unidades; a partir de então, esse comportamento se repetiu ao longo dos próximos meses. O Gráfico 1 representa a situação descrita. 37 Gráfico 1 – Comportamento “dente de serra” da demanda em função do tempo Fonte: elaborado pela autora. A imagem do Gráfico 1 apresenta o comportamento da demanda de insumos (quantidade em unidades) para o estoque (Eixo Y) ao longo dos meses (Eixo X) de uma situação hipotética. No início (tempo 0), a empresa possuía 300 itens em estoque. À medida que o tempo passou, o estoque foi utilizado até atingir o nível de 25 unidades (estoque de segurança) no primeiro mês. Ainda no primeiro mês, ocorreu um novo abastecimento de 275 unidades do lote econômico, e o mesmo fenômeno anterior se repetiu, até que, no segundo mês, o estoque (Q*) foi reposto. Além dos custos diretos de preparação e manutenção, também devem ser considerados oscustos decorrentes da falta de estoque, ou seja, os custos das vendas perdidas e dos pedidos em aberto (BALLOU, 2006). 38 O custo das vendas perdidas ocorre quando o cliente desiste do seu pedido devido à falta de mercadorias em estoque. Nesse caso, o custo é o lucro que a empresa não obteve, além de implicar prováveis desistências de compras futuras por parte dos clientes. Como exemplos de produtos temos: pão, gasolina, refrigerantes, entre tantos outros que não podem faltar de um fornecedor, dado que são facilmente encontrados em outro fornecedor do mesmo ramo. Os custos dos pedidos em aberto são aqueles de cuja compra o cliente não desistiu, mas somente efetuará o pagamento quando o produto estiver pronto. Nesses casos, a empresa deve arcar com custos adicionais de serviços de escritório e de vendas para processar os pedidos, além de pagar custos adicionais de manuseio quando tais pedidos não são preenchidos por meio do canal normal de distribuição. Produtos que podem assumir os custos de pedidos em aberto são aqueles que o cliente considera um diferencial e se propõe a aceitar o tempo de produção, como veículos sob encomenda ou produtos personalizados. 5. Considerações Os estoques são encontrados em todas as etapas de uma cadeia de suprimentos; logo, é importante que sejam gerenciados a fim de cumprirem suas funções nos sistemas produtivos. Caso não estejam bem sincronizados com a demanda, as empresas podem perder clientes ou, ao contrário, acumular itens obsoletos ou perdidos que não poderão ser vendidos. Dessa forma, os estoques devem ser planejados a fim de garantir um nível de abastecimento ideal às demandas manifestadas pelos clientes. Mesmo com todos os objetivos e as funcionalidades dos estoques em uma cadeia de suprimentos, o controle dos custos deve ser realizado 39 com cuidado, no sentido de buscar sua redução. Neste Tema, foram apresentados os principais custos associados à compra de um lote, ou seja, os custos de aquisição, preparação e manutenção de lotes de tamanhos fixos. Além disso, foram identificados os custos decorrentes da perda de vendas ou de processamento de pedidos, que devem ser avaliados com cautela para que as organizações possam definir as estratégias para controlá-los. Definimos o conceito do lote econômico, bem como a forma de calcular seu valor. O lote econômico de compra é uma ferramenta importante, pois permite que as organizações encontrem a quantidade ideal de produtos a serem comprados para alimentar um sistema produtivo, de modo que tenham os menores custos associados à aquisição das matérias-primas. Referências BALLOU, R. H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos/logística empresarial. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006. BOWERSOX, D. J. et al. Gestão logística da cadeia de suprimentos. Porto Alegre: AMGH, 2014. GUERRINI, F. M. et al. Planejamento e controle da produção – Modelagem e Implantação. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019. TUBINO, D. F. Planejamento e controle da produção: teoria e prática. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2017. 40 Modelos de controle de estoques e administração de materiais Autoria: Michele Lisboa Silveira Leitura crítica: Daniel Morelli Objetivos • Compreender a importância do controle de estoques. • Classificar os produtos de acordo com as técnicas ABC, VED, XYZ e FSN. • Elaborar gráficos de Pareto e “dente de serra”. • Determinar o ponto de pedido para aquisição do lote econômico de compra. • Calcular o tempo entre revisões periódicas. 41 1. A importância de controlar os estoques Os estoques são necessários em toda a cadeia de suprimentos. É praticamente impossível que uma organização não tenha produtos acabados e tampouco matérias-primas ou componentes armazenados para atender à demanda. Os produtos são montados para atender às expectativas dos clientes para a produção de itens unitários sob encomenda e por projeto. Afinal, em um mercado competitivo é inadmissível que as empresas percam clientes por falta de produtos, uma vez que com isso estariam perdendo para a concorrência. Entretanto, sabe-se que os estoques representam riscos para um negócio, pois são ativos com baixa liquidez. Nesse sentido, eles representam o custo de oportunidade, ou seja, quando se investe em estoques, a empresa deixa de direcionar recursos para outras áreas potenciais de crescimento, como tecnologia e inovação. Dessa forma, pode-se aplicar diferentes técnicas de controle de estoques nas organizações a fim de obterem vantagens estratégicas. De acordo com Tubino (2017), um modelo de controle de estoques tem a função de definir para um item um conjunto de regras que estabeleça o momento no qual a ordem desse item deve ser autorizada para a reposição. A partir disso, elas serão sequenciadas, emitidas e liberadas. Desse modo, serão apresentados os modelos de controle de estoques disponíveis para a administração de materiais dentro da lógica empurrada em cadeias de suprimentos. 2. Controle de estoques ABC Uma das formas com as quais as organizações podem controlar os estoques é classificando os materiais de acordo com sua importância e valor, utilizando a denominada curva ABC. 42 A curva ABC, ou 80-20, se baseia no teorema do economista e sociólogo Vilfredo Pareto (1848-1923), que segundo Paoleschi (2019), em seus estudos sobre renda e riqueza, observou que uma pequena parcela (20%) da população concentrava a maior parte da riqueza (80%). Uma analogia ao teorema desenvolvido pelo sociólogo pode ser feita para os estoques: quando se avalia o percentual sobre os custos acumulados de estoques para diferentes produtos, apenas 20% dos itens são responsáveis por até 80% dos custos acumulados em estoque. A curva ABC pode ser entendida a partir do gráfico de Pareto. Para exemplificar, considere uma fábrica de componentes hidráulicos que mantém em estoque 10 tipos de produtos utilizados como matéria- prima. Cada produto tem um código diferente e um valor de consumo anual, na Tabela 1, os produtos são listados em graus de 1 a 10, sendo que o produto correspondente ao grau 1 representa o maior consumo anual; o produto de grau 2, o segundo maior consumo anual, e assim por diante. Além disso, na tabela são indicados os valores dos consumos acumulados, calculados da seguinte forma: na primeira linha, repete- se o valor do consumo anual do produto de grau 1 (XR). Na segunda linha, deve ser calculada a soma dos consumos apresentados pelos produtos de grau 1 e 2. Na terceira linha, soma-se o valor da segunda linha com o produto de grau 3, e assim sucessivamente. Na última coluna, por fim, indica-se a porcentagem acumulada, calculada da seguinte forma: divide-se o valor do consumo acumulado do produto de grau 1 pelo valor acumulado que aparece no último produto, e se repete esse procedimento para os demais itens, ou seja, a divisão deve ser feita sempre com o consumo acumulado do produto de grau 10 no denominador. 43 Tabela 1 – Dados de consumo dos itens de uma fábrica de componentes hidráulicos Grau Código do produto Valor do consumo anual (R$) Consumo acumulado anual Porcentagem acumulada 1 XR 580.000 580.000 0,73 2 XP 60.000 640.000 0,80 3 XU 60.000 700.000 0,88 4 WM 40.000 740.000 0,93 5 WO 20.000 760.000 0,95 6 WC 20.000 780.000 0,98 7 XA 5.000 785.000 0,98 8 XS 5.000 790.000 0,99 9 ZE 5.000 795.000 0,99 10 ZD 5.000 800.000 1,00 Fonte: elaborada pela autora. No Gráfico 1 são plotados os custos anuais acumulados em função do conjunto de produtos que a empresa mantém em estoque. 44 Gráfico 1 – Curva ABC para uma fábrica de componentes hidráulicos Fonte: elaborado pela autora. A imagem do Gráfico 1 apresenta a curva de Pareto, ou seja, um gráfico de dispersão em que o eixo X indica o grau do produto no estoque de 1 a 10 (quanto maior o grau, maior o custo acumulado naquele ponto) e o eixo Y indica o custo acumulado multiplicado por R$1000,00. No Gráfico 1 estão destacados o custo acumulado dos produtosde grau 2, 5 e 10, sendo eles de R$ 640.000,00; R$ 760.000,00 e R$ 800.000,00, respectivamente. De acordo com o Gráfico 1, o custo acumulado pelo estoque dos 10 produtos foi de R$ 800.000,00. Para que os produtos sejam classificados nas classes A, B e C, são feitas as seguintes considerações: • Classe A: produtos XR e XP (Grau 1 e 2). Para o produto XP, a porcentagem acumulada é igual a 0,8, isso significa que o custo dos produtos de grau 1 e 2 juntos representaram 80% do investimento da empresa em estoques. Na curva ABC, os itens com custos acumulados em até 80% dos custos totais são classificados como produtos da classe A. Além disso, os produtos XR e XP representam 20% do portfólio de itens que a 45 empresa possui em estoque, ou seja, apenas 2 dos 10 produtos são da classe A. • Classe B: produtos XU, WM e WO (Grau 3, 4 e 5). Para produto WO (grau 5), a porcentagem acumulada igual a 0,95, significa que os itens de grau 3, 4 e 5 juntos contribuíram entre 80% e 95% sobre os custos acumulados na curva de Pareto. Na curva ABC, produtos com essa característica são classificados como classe B. Isso significa que contribuíram em aproximadamente 15% para elevar os custos com estoques. • Classe C: produtos WC, XA, XS, ZE e ZD (Graus 6,7,8, 9 e 10). Os demais itens do gráfico de Pareto representaram os 5% restantes dos custos acumulados com estoques da empresa, sendo classificados como produtos da classe C. A partir desse exemplo, torna-se possível compreender porque a empresa deve direcionar o controle de estoques de matéria-prima sobre os itens da classe A. Além de serem poucos produtos para controlar (apenas 20% do total dos itens), eles são produtos que representam 80% do investimento da empresa. Considerando que o valor do consumo é calculado em função do preço multiplicado pela quantidade de compra, normalmente os itens classificados na categoria A assumem altos consumos acumulados devido ao número elevado de itens adquiridos. Com isso, pode-se entender que eles são produtos de alto valor e rotatividade, logo, não podem faltar. Os produtos da classe B possuem menor representatividade (15%) sobre os custos acumulados, ou seja, apresentam uma movimentação média para a empresa. Já os itens da classe C têm a menor representatividade sobre os custos com estoques (5%), o que significa que não devem ser direcionados esforços estratégicos elevados por parte da empresa. Além disso, é de pouca importância manter um controle focado para uma grande quantidade de itens caracterizados por uma baixa rotatividade na empresa. 46 As organizações, normalmente, têm dificuldade em controlar individualmente todos os itens de um estoque, sendo assim, a curva ABC direciona as decisões no sentido de controlar o estoque dos grupos de produtos mais importantes economicamente. Além disso, a curva ABC é utilizada para que a organização defina suas políticas de vendas, estabelecendo prioridades para programar e sincronizar a linha de produção. Na avaliação dos resultados da curva ABC, segundo Paoleschi (2019), podem ser associados o giro dos itens no estoque, o nível da lucratividade e o grau de representação no faturamento da organização. De acordo com Ballou (2006), o controle agregado do estoque pela curva ABC somente poderá ser aplicado quando os produtos não têm a mesma importância para a empresa em termos de vendas, lucros, participação no mercado ou competitividade. Dessa forma, ao aplicar seletivamente a as classificações A, B e C, os objetivos do serviço podem ser alcançados com níveis mais baixos de estoque do que com uma política única aplicada a todos os produtos. Uma característica que se deve considerar a partir da classificação ABC, é quanto ao ciclo de vida dos produtos. Nesse contexto, os produtos são introduzidos no mercado gradualmente. No início, tanto a oferta quanto as demandas são baixas, pois trata-se de uma fase de aceitação dos clientes. Posteriormente, as vendas crescem até determinado ponto, quando são niveladas e em seguida, declinam. Dessa forma, os produtos de uma empresa geralmente estão em vários estágios de seus ciclos de vida e, consequentemente, contribuem para as vendas e os lucros de maneira desproporcional. Isto é, alguns itens podem contribuir com uma proporção elevada para o volume de vendas, o que acontece com os itens da classe A. Entretanto, devido ao ciclo de vida, os produtos podem ser reclassificados em outras categorias, conforme dita sua importância. Por isso, é importante que a curva ABC esteja atualizada de acordo com os objetivos de uma organização. 47 3. Análises VED, XYZ e FSN Pode-se utilizar diferentes critérios para classificar as peças de reposição dos estoques. Dessa forma, classificações como VED, XYZ e FSN são aplicadas de forma complementar à curva ABC, buscando a segmentação dos materiais estocados para facilitar análises e tomadas de decisões nas empresas. De acordo com Vrat (2014), a técnica VED (Vital, Essencial, Desirable – em português, vital, essencial e desejável) aborda o que acontece caso os produtos exigidos não estejam disponíveis no estoque. Com base na criticidade do item, a análise VED identifica os três grupos a seguir: • V (vitais): são itens indispensáveis para garantir as operações de uma empresa. • E (essenciais): itens com baixa necessidade de criticidade e cuja escassez será tolerada por curto período. • D (desejáveis): itens de menor criticidade, cuja escassez não será prejudicial para as operações de uma empresa. A análise VED permitirá que os gerentes de materiais determinem o nível de serviço desejado e, caso necessário, a quantidade de estoque de segurança. Uma aplicação da análise VED é na área de saúde, por exemplo, no controle de estoque de medicamentos em um hospital ou uma farmácia, os medicamentos que salvam vidas estarão na categoria V porque sua indisponibilidade pode levar à perda de vidas humanas. Os medicamentos de categoria E são aqueles que são essenciais, mas algum grau de atraso é admissível e a falta deste produto não levará à perda de vidas, ou um substituto alternativo pode estar disponível. Por outro lado, segundo Vrat (2014), medicamentos da categoria D, como vitaminas, suplementos alimentares etc., são aqueles em que os níveis de serviço podem ser baixos. 48 De acordo com Moreira (2019), a técnica VED pode ser combinada com a análise ABC, conforme interações descritas de acordo com o Quadro 1. Assim, uma nova classificação, do tipo I, II e III é direcionada aos grupos de produtos: • A categoria I inclui todos os itens vitais e com altos custos de estocagem, são eles os itens AV, BV, CV, AE e AD. • A categoria II inclui os itens dos grupos E e B, denominados BE, CE e BD. • A categoria III inclui o grupo CD, ou seja, itens desejáveis e com pouca representatividade financeira sobre os estoques. Quadro 1 – Matriz ABC-VED A B C V AV BV CV E AE BE CE D AD BD CD Fonte: elaborado pela autora. Uma classificação semelhante à técnica VED é a classificação XYZ. De acordo com Muniz (2015), produtos da classe X representam os itens de baixa criticidade, com pouco impacto no atendimento aos clientes; os itens Y representam transtorno considerável ao processo em caso de falta; e os de criticidade Z são produtos que geram consequências desastrosas na organização em caso de falta. Ao se comparar a metodologia VED e a XYZ, percebe-se grande similaridade no objetivo final, sendo que os itens X são semelhantes aos desejáveis (D), com pouco impacto, os produtos Y correspondem aos 49 essenciais (E), com impactos moderados, e os produtos Z se identificam os itens vitais (V), com danos significativos ao processo ou ao produto. Ainda, destaca-se uma técnica complementar às apresentadas, que é a classificação FSN, que avalia os produtos estocados com base no tempo médio de permanência no estoque. A classificação FSN é descrita de acordo com o Quadro 2. Quadro 2 – Classificação FSN Sigla SignificadoF Fast moving – movimentação rápida S Slow moving – movimentação lenta N Non moving – não móvel Fonte: elaborado pela autora. A análise FSN é usada para descobrir os itens não móveis no departamento da loja. Quanto maior a permanência do item no estoque, mais lenta será a movimentação do material (VAISAKH et al., 2013). As diferentes técnicas apresentadas para o controle de estoques permitem o desenvolvimento de um gerenciamento de estoques voltado para a importância econômica, para a demanda manifestada pelos clientes e dos tempos de movimentação em estoques. Assim, quando uma organização aplica as diferentes técnicas em conjunto, elas poderão identificar quais são os itens mais importantes nas empresas, a fim de que possam estabelecer prioridades de controle de estoques, cumprindo a proposta de valor na armazenagem de diferentes produtos. 50 4. Controle de estoque por ponto de pedido O modelo de controle de estoque por ponto de pedido, também conhecido como ponto de reposição, consiste em determinar uma quantidade a partir da qual devem ser emitidas ordens de compra do lote econômico. Esse modelo pode ser bem explicado pelo gráfico dente de serra, um gráfico que representa a quantidade de itens em estoque em função do tempo. Para que o gráfico dente de serra seja elaborado, devem ser conhecidas as seguintes informações: • Tamanho do lote econômico, calculado pela Equação 1: 2DAQ CI = (1) Em que: Q= tamanho do lote econômico. D= demanda para um dado período. C= custo unitário. A= custo unitário de preparação. I= percentual dos impostos. • Ponto de pedido, calculado pela Equação 2: sPP D LT Q= × + (2) Em que: PP= quantidade do ponto de pedido, em unidades. D= demanda para um dado período. 51 LT= lead time, ou seja, o tempo de reabastecimento médio em unidades do tempo (as unidades de tempo das variáveis D e LT devem ser as mesmas). Qs= estoque de segurança. • Periodicidade econômica, calculada pela Equação 3. 2 D C IN A ⋅ ⋅ = ⋅ (3) Em que: N = periodicidade econômica ou número de pedidos de compra. D= demanda para um dado período. C= custo unitário. A= custo unitário de preparação. I= percentual dos impostos. • Tempo entre os pedidos, calculado pela Equação 4. QT D = (4) Em que: T= tempo entre pedidos. Q= tamanho do lote econômico. D= demanda para um dado período. Para que você possa entender a aplicação do ponto de pedido, considere o controle de estoques de lãs em uma indústria têxtil. O 52 analista de estoques calculou que o lote econômico das lãs foi igual a Q* = 100 kg. Além disso, a demanda semanal era de 70 kg/semana e o tempo de entrega (LT) do fornecedor de lãs correspondia a 3 dias. Devido à agilidade no tempo de entrega do fornecedor, a indústria não utilizava estoque de segurança. Com isso, calculou-se o ponto de pedido a partir da Equação 4. 10 (kg/dia) 3 (dia) + 0 = 30 kg sPP D LT Q PP = × + = × (4) Observe, ainda, que as unidades da demanda e do lead time devem ser as mesmas, sendo assim, o analista adaptou a demanda semanal conhecida por semana para a demanda correspondente por dia, considerando que a indústria trabalhava todos os dias da semana (70 kg a cada 7 dias, significam 10 kg por dia). No período estudado pelo analista foram feitas 3 reposições. Além disso, também foi possível calcular o tempo entre pedidos, de acordo com a Equação 5. 100 (kg) 10 dias 10 (kg/dia) QT D T = = = (5) Conhecidas as informações necessárias, o analista montou o gráfico dente de serra, conforme representado pelo Gráfico 2. A imagem do Gráfico 2 representa no eixo X, o tempo em semanas e no eixo Y, a quantidade em kg de lã disponíveis no estoque. O estoque se inicia com 100 unidades, é consumido até 0 e reposto novamente a partir de uma nova solicitação de compra. O gráfico destaca que, após o estoque atingir 30 unidades (após 4 dias desde o início do controle), foi efetuado um pedido de reabastecimento, que demorou 3 dias para ser reposto. Sendo assim, o gráfico mostra que após uma semana desde o início do controle, o lote de 100 unidades foi reposto. Em seguida, o 53 mesmo comportamento se repete até finalizar com uma reposição na terceira semana. O gráfico indica o intervalo entre os pedidos, que é de 10 dias. Gráfico 2 – Controle de estoque por ponto de pedido Fonte: elaborado pela autora. De acordo com o exemplo apresentado, o modelo de controle de estoques por ponto de pedido é eficiente para controlar a reposição dos estoques, principalmente porque antecipa os pedidos devido ao intervalo de tempo entre o pedido e a entrega, o que permite que a linha de produção opere sem interrupções por falta de matéria-prima, por exemplo. 5. Modelo das revisões periódicas O modelo de controle de estoques por revisões periódicas é interpretado a partir de um gráfico da quantidade de itens em estoque T = 0 dias 54 em função do tempo. De acordo com Tubino (2017), enquanto o modelo de controle por ponto de pedido trabalha no eixo das quantidades, propondo a reposição dos estoques quando o seu nível ultrapassa determinada quantidade; o modelo por revisões periódicas trabalha no eixo dos tempos, estabelecendo datas nas quais serão analisadas a demanda e as demais condições dos estoques, para decidir pela reposição. Define-se como tr o tempo entre cada revisão, que pode ser calculado a partir da periodicidade econômica ou por outro fator qualquer, como a data em que é realizado o inventário periódico dos estoques ou, ainda, no sentido de consolidar a data de entrega de vários itens por um mesmo fornecedor para aproveitar os descontos obtidos no preço ou no transporte deles. No caso de se usar a periodicidade econômica, o tempo entre cada revisão tr é calculado pela Equação 6. ano ano r t Q tt N D ⋅ = = (6) Em que: tr= tempo ótimo entre revisões. tano= número de dias trabalhados no ano. N= periodicidade econômica. Q= lote econômico. D= corresponde à demanda para o período. Sempre que o nível de estoques passar pela linha pontilhada que limita os períodos entre revisões, tr deverá ser providenciada uma reposição (Q) que levará determinado tempo de chegada (LD) para recompor os níveis de estoques. 55 A seguir, explicaremos o modelo de controle de estoques por revisões periódicas para uma fábrica de pneus, que precisa estabelecer de quanto em quanto tempo deverá ser feita a encomenda da borracha, matéria-prima principal para o produto final. Sabe-se que a empresa trabalha 315 dias por ano, o lote econômico é de 15 toneladas de borracha e a demanda anual é de 225 toneladas. Além disso, o tempo de entrega do fornecedor da borracha é de 10 dias. Logo, o tempo ótimo entre revisões é calculado pela equação a seguir: ano r Q tt D ⋅ = , ou seja, 15 315 21 225r t ⋅= = (7) O Gráfico 3 apresenta o controle de estoques por revisões periódicas para a fábrica de pneus, sendo que o abastecimento do estoque deverá ser feito a cada 21 dias. Gráfico 3 – Controle de estoques por revisões periódicas Fonte: elaborado pela autora. A imagem do Gráfico 3 apresenta o número de toneladas de borracha ao longo de 93 dias, sendo que a demanda pelo estoque apresenta o comportamento semelhante a um “dente de serra”. O estoque no tempo 0 é de 15 toneladas, e após 21 dias é feita uma solicitação de 56 reposição do lote econômico. Assim, o gráfico indica que o tempo ótimo entre revisões (tr) equivalente aos 21 dias calculados no exemplo. O tempo de abastecimento (LT = 10 dias) também é indicado no gráfico, e está localizado entre os valores de 21 e 31 dias. Dessa forma, o lote econômico é reposto com 31 dias e consumido novamente durante mais 11 dias, até chegar no nível determinado pelo dia 42, momento em que é feito um novo pedido e, assim, a mesma sequência se repete ao longo do tempo. De acordo com oGráfico 3, sempre que o nível de estoques passar pela linha que limita os períodos entre revisões (tr), deverá ser providenciada uma reposição (Q), que levará determinado tempo de ressuprimento (LD) para chegar e recompor os níveis de estoques. 6. Considerações finais Os sistemas de produção que trabalham com técnicas de manufatura empurradas podem adotar diferentes formas para controlar os estoques. O planejamento agregado é uma estratégia que permite a tomada de decisões sobre grupos de produtos que apresentam características de custo, demanda e rotatividade semelhantes. Assim, classificações como ABC, VED, XYZ e FSN podem ser aplicadas em conjunto para que as organizações possam oferecer níveis ideais de serviços, conforme os valores financeiros agregados por cada grupo de produtos. Neste tema, também foram apresentados diferentes gráficos para o controle dos estoques. Enquanto os gráficos de Pareto são importantes para a identificação dos produtos ABC, os gráficos dente de serra permitem o controle dos estoques pelo ponto de pedido ou pelo tempo de ressuprimento, avaliando o consumo dos estoques ao longo do tempo. 57 Referências BALLOU, R. H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos/logística empresarial. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006. MOREIRA, P. R. A. Criação e gestão de um armazém de peças sobressalentes numa empresa têxtil. 2019. 91 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Sistemas)–Universidade do Moinho, Portugal, 2019. MUNIZ, L. R. Desenvolvimento de um modelo de tomada de decisão para estocagem de materiais MRO em mineradoras. 2015. 103 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção)–Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2015. PAOLESCHI, B. Almoxarifado e gestão de estoques. 3. ed. São Paulo: Érica, 2019. TUBINO, D. F. Planejamento e controle da produção: teoria e prática. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2017. VAISAKH, P. S. et al. Inventory management of spare parts by combined FSN and VED (CFSNVED) Analysis. International Journal of Engineering and Innovative Technology (IJEIT), [s. l.], v. 2, n. 7, p. 303-309, 2013. VRAT, P. Materials management: an integrated systems approach. New Delhi: Springer, 2014. 58 Gestão da incerteza na cadeia de suprimentos Autoria: Michele Lisboa Silveira Leitura crítica: Daniel Morelli Objetivos • Compreender a incerteza na cadeia de suprimentos e relacionar o estoque de segurança com o nível de serviço. • Calcular a média e o desvio padrão da demanda e do tempo de ressuprimento. • Calcular estoque de segurança, estoque médio e estoque máximo. • Calcular a quantidade de pedido único em estoques com demandas incertas. 59 1. Gerenciamento da incerteza em sistemas produtivos Em sistemas produtivos, é comum a aplicação de técnicas de previsão de demanda a fim de que as organizações possam dimensionar o fluxo de mercadorias, abastecimento e estoques. Entretanto, as previsões estão associadas a erros, que acontecem devido à variabilidade de diferentes características ao longo do tempo. De acordo com Chopra e Meindl (2011), uma empresa pode criar uma reserva para os erros de previsão usando o estoque e a capacidade de segurança de diversas maneiras, como: • Usar as horas extras como forma de capacidade de segurança. • Manter permanentemente uma força de trabalho extra. • Usar subcontratações. • Criar e manter estoques extras ou comprar capacidade extra. Entre as formas de prevenção contra os erros, esse tema aborda os conceitos sobre estoques extras, conhecidos como estoques de segurança. O estoque de segurança é uma medida adicional ao estoque regular, utilizado para satisfazer a demanda média e as condições de prazo de entrega, dado que essas características podem apresentar variabilidade ao longo do tempo (CHOPRA; MEINDL, 2011). De acordo com Ballou (2006), o estoque de segurança é determinado por procedimentos estatísticos que tratam a natureza aleatória das variabilidades envolvidas. Assim, a quantidade de estoque de segurança mantida depende da extensão da variabilidade da demanda e do tempo de entrega, bem como do nível de serviço desejado por uma empresa. 60 Nesse contexto, é importante entender que estoques de segurança são necessários, dado que os tempos de entrega e a demanda não podem ser previstos exatamente. Afinal, caso esses dados fossem definidos, não seria necessária a existência dos estoques de segurança. Entretanto, a previsão do estoque de segurança deve ser precisa e próxima da realidade, afinal, caso a empresa mantenha níveis elevados de estoque de segurança, ela pode comprometer seus recursos financeiros. 2. Cálculo do estoque de segurança, estoque médio e estoque máximo O modelo de controle de estoque por ponto de pedido é definido de acordo com a Equação 1. sPP D LT Q= × + (1) Em que: PP= quantidade do ponto de pedido em unidades. D= demanda para um dado período. LT= lead time, ou seja, tempo de reabastecimento médio em unidades do tempo. Qs= estoque de segurança. Isso significa que ao alcançar o nível de estoque no ponto de pedido calculado, deverá ser emitida uma nova ordem de compra do lote econômico, denominado por Q. Logo, a Equação 1 prevê a existência de um estoque de segurança Qs, que deve ser considerado diante da incerteza sobre a demanda e do tempo de reabastecimento (lead time) em sistemas produtivos. Dessa 61 forma, segundo Corrêa (2010), a incerteza deve ser quantificada a partir das probabilidades associadas aos diferentes níveis de crescimento da demanda e após a emissão do pedido de ressuprimento, enquanto decorre o lead time. Primeiramente, estimaremos a incerteza da demanda, considerando- se que o tempo de ressuprimento é constante. Para isso, é necessário conhecer as características das variações passadas em torno das previsões feitas, ou seja, definir o desvio padrão. Em estatística, para que uma análise de probabilidades seja realizada, é comum assumir que os dados seguem uma distribuição normal, de acordo com o Gráfico 1. Gráfico 1 – Distribuição normal Fonte: elaborado pela autora. Considerando que as demandas observadas ao longo do tempo seguem uma distribuição normal, pode-se realizar uma previsão de demanda com base na média das demandas passadas (Equação 2). Além disso, para caracterizar a distribuição dos erros de previsão, é necessário calcular o desvio padrão, de acordo com a Equação 3. 1 2 3 4 ... n D D D D D D n µ + + + + += (2) 62 Em que: µD= média das demandas. Di= demanda no período i, sendo que i=1 até n. 2 2 2 2 1 2 3( ) ( ) ( ) ... ( ) 1 D D D n D D D D D D n µ µ µ µσ − + − + − + + −= − (3) Em que: = desvio padrão da demanda. Di é a demanda no período i, sendo que i=1 até n. µD= média das demandas calculada pela Equação 2. A partir da média e do desvio padrão calculados, esses valores podem ser utilizados para determinar probabilidades, por exemplo, a probabilidade de que a demanda semanal seja maior que um determinado valor. Além disso, é possível definir o tamanho do estoque de segurança para obter uma probabilidade com um nível de serviço estipulado. Por exemplo, determinar o estoque de segurança para alcançar um nível de serviço em 95%, ou seja, conhecendo o estoque de segurança haveria a probabilidade de 5% de que a demanda não fosse atendida completamente. Dessa forma, quando a variabilidade ocorre somente na demanda, o estoque de segurança pode ser calculado de acordo com a Equação 4. s D LTQ z t σ= × × (4) Em que: Qs= estoque de segurança. 2 2 2 2 1 2 3( ) ( ) ( ) ... ( ) 1 D D D n D D D D D D n µ µ µ µσ − + − + − + + −= − 63 z= fator de segurança, que é uma função do nível de serviço que se pretende. = desvio padrão da demanda. LT= lead time, ou seja, o tempo de reabastecimento médio em unidades do tempo. t= período ao que se refere o lead time. Na Tabela 1 são indicados alguns valores para o fator de segurança z. Essesvalores podem ser consultados no Microsoft Excel ou em manuais de probabilidade e estatística que indiquem as áreas sob a distribuição normal padronizada. No Excel, basta inserir a função =INV.NORMP(). Por exemplo, para 99% de nível de serviço, a função INV.NORMP(0,99) resulta em 2,326 (CORRÊA, 2010). Tabela 1 – Fatores de segurança (z) para diferentes níveis de serviços Nível de serviço Fator de segurança (z) 20% -0,842 30% -0,524 40% -0,253 50% 0,000 60% 0,253 70% 0,524 80% 0,842 90% 1,282 2 2 2 2 1 2 3( ) ( ) ( ) ... ( ) 1 D D D n D D D D D D n µ µ µ µσ − + − + − + + −= − 64 95% 1,645 99% 2,326 99,9% 3,090 Fonte: adaptada de Corrêa (2010). Para que você compreenda melhor, considere que uma indústria vende em média 200 itens por semana, e que o desvio padrão da demanda é de 40 unidades por semana. Considere que o lead time de ressuprimento dos itens seja de 4 semanas e que a indústria pretende alcançar um nível de serviço de 99%. Assim, o estoque de segurança poderia ser calculado de acordo com a equação a seguir: 42,326 40 186,08 1 s D s LTQ z t Q σ= × × = × × = (5) Sendo, z = 2,326, conforme consultado na Tabela 1 para o nível de serviço de 99%. = 40 unidades. LT= 4 semanas. t= 1 semana, pois o lead time do exemplo é semanal. Dessa forma, para que a indústria alcance um nível de serviço de 99%, ela deverá manter um estoque de segurança de 187 unidades. Ou seja, haverá 1% de probabilidade de que a demanda não seja atendida com esse nível de estoque. Para esse exemplo, também é possível calcular o ponto de pedido de acordo com a Equação 6. 200 4 187 987 sPP D LT Q PP = × + = × + = (6) 2 2 2 2 1 2 3( ) ( ) ( ) ... ( ) 1 D D D n D D D D D D n µ µ µ µσ − + − + − + + −= − 65 Isso significa que quando o estoque estiver com 987 unidades, deve ser feito um pedido de compra. No exemplo anterior, utilizamos o desvio padrão da demanda. Entretanto, o tempo de ressuprimento (lead time) também pode variar. Desse modo, é necessário analisar a distribuição estatística dos tempos de entregas passados e aplicar a média e o desvio padrão. Nesse caso, o estoque de segurança é calculado de acordo com a Equação 7. s LTQ z Dσ= × × (7) Em que: Qs= estoque de segurança. z= fator de segurança, que é uma função do nível de serviço que se pretende. = desvio padrão do lead time. D= demanda. Veja o exemplo: considere que a demanda de uma fábrica de eletrodomésticos é de 200 unidades semanais, mas que o fornecedor de componentes plásticos apresentou um tempo de abastecimento que segue uma distribuição normal com média de 1 semana e desvio padrão de 0,5 semana. Dado que a fábrica estima um nível de serviço de 90%, calcule o estoque de segurança. Nesse caso, o estoque de segurança Qs é calculado de acordo com a Equação 8. 1,282 0,5 200 128,2 s LT S Q z D Q σ= × × = × × = (8) Em que: s LTQ z Dσ= × × 66 z= 1,282, conforme consultado na Tabela 1 para o nível de serviço correspondente a 90%. = 0,5 semana. D= 200 unidades. Portanto, o estoque de segurança deve ser de 128,2 unidades, ou seja, 129 unidades. No primeiro exemplo apresentado, a demanda foi variável, enquanto no segundo exemplo foi o lead time o fator de variação. Entretanto, na prática industrial é comum que tanto a demanda quanto o tempo de ressuprimento apresentem variabilidades. Nesses casos, a fórmula para calcular os estoques, de acordo com Ballou (2006), é definida pela Equação 9. 2 2 2( ) ( )s D LTQ z LT Dσ σ= × × + × (9) Em que: Qs= estoque de segurança. z= fator de segurança. LT= lead time. = desvio padrão da demanda. D= demanda. = desvio padrão do lead time. Para que você possa compreender uma aplicação da demanda e do lead time variáveis, considere o exemplo de uma fábrica de componentes elétricos que utiliza fios de cobre como matéria-prima. A demanda s LTQ z Dσ= × × 2 2 2 2 1 2 3( ) ( ) ( ) ... ( ) 1 D D D n D D D D D D n µ µ µ µσ − + − + − + + −= − s LTQ z Dσ= × × 67 média por semana é de 250 m do fio, sendo que o desvio padrão é de 50 m por semana. A fábrica compra lotes fixos de 900 m. No entanto, o fornecedor demora em média 2 semanas para entregar o fio de cobre, com um desvio padrão de 0,5 semana. Considerando que a fábrica estima um nível de serviço de 95%, o estoque de segurança pode ser calculado a partir da Equação 10. 2 2 2 2 2 2 ( ) ( ) 1,645 (2 50 ) (250 0,5 ) 236,24 s D LT s Q z LT D Q σ σ= × × + × = × × + × = (10) Em que: z= 1,645, conforme consultado na Tabela 1 para o nível de serviço de 95%. LT= 2 semanas. = 50 m. D= 250 m. = 0,5 semana. Ou seja, a fábrica deverá manter um estoque de segurança com 237 m de fio de cobre. Além disso, o ponto de pedido pode ser calculado de acordo com a Equação 11. 250 2 237 737 sPP D LT Q PP = × + = × + = (11) Assim, quando o estoque estiver com 737 m de fio de cobre, a fábrica deverá realizar um novo pedido para abastecimento do estoque. Adicionalmente aos conceitos de estoque de segurança, Ballou (2006) define o nível médio de estoque (AIL – average inventory level) de acordo com a Equação 12. 2 S QAIL Q= + (12) 2 2 2 2 1 2 3( ) ( ) ( ) ... ( ) 1 D D D n D D D D D D n µ µ µ µσ − + − + − + + −= − s LTQ z Dσ= × × 68 Em que: AIL= nível do estoque médio. Q= lote econômico. Qs= estoque de segurança. Ainda no exemplo da fábrica de componentes elétricos, o estoque médio pode ser calculado a partir da seguinte equação: 900 237 687 2 AIL = + = (13) Ou seja, a fábrica deverá manter uma média de 687 m do fio de cobre em estoque. Por fim, o estoque máximo pode ser definido de acordo com a Equação 14. máx SQ Q Q= + (14) Em que: Qmax= estoque máximo. Q= lote econômico. Qs= estoque de segurança. Logo, para o modelo de estoque dos fios de cobre, o estoque máximo é calculado a partir da Equação 15. 900 237 1137máxQ = + = (15) Assim, a fábrica de componentes elétricos deve controlar seu estoque de modo que o armazenamento máximo seja de 1.137 m do fio de cobre. 69 Resumindo, as principais informações sobre o estoque dos fios de cobre são indicadas no Quadro 1, sendo que no Gráfico 2 esses dados podem ser visualizados no gráfico dente de serra. Quadro 1 – Dados para o controle de estoques de fios de cobre Variável Quantidade (em metros) Estoque máximo (Qmáx) 1.137 Ponto de pedido (PP) 737 Estoque de segurança (QS) 237 Estoque médio (AIL) 687 Lote econômico (Q) 900 Fonte: elaborado pela autora. Gráfico 2 – Dados para o controle de estoques de fios de cobre Fonte: elaborado pela autora. 70 3. Controle básico de estoques puxados Semelhante aos sistemas de produção puxada, os estoques puxados são característicos de itens que são vendidos a partir da solicitação de um cliente. De acordo com Ballou (2006), muitos problemas práticos de estoques são característicos de itens perecíveis, ou cuja demanda é um evento único. Por exemplo, produtos como frutas, verduras, flores, jornais têm prazo de validade curto e definido, além de não estarem disponíveis por períodos posteriores à venda. Assim, determinados produtos apresentam uma demanda incerta, logo, somente um pedido pode ser colocado para estes produtos, a fim de satisfazer à demanda. Dessa forma, o tamanho do pedido que minimiza os custos, ou seja, o lote econômico (Q) pode ser calculado no ponto onde o lucro marginal da unidade seguinte vendida é igual ao prejuízo marginal da não-venda da próxima unidade. Assim, o lucro marginal por unidade obtido pela venda de uma unidade é definido de acordo com a Equação 16. Lucro preço unidade custo por unidade= − (16) A perda incorrida por unidade por não vender uma unidade é definida pela Equação 17. Perda custo por unidade valor residual por unidade= − (17) Considerando