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Artigo Cientifico Dayton Clayton atualizado (1)

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1 
 
A EDUCAÇÃO NO SISTEMA CARCERÁRIO BRASILEIRO: AVANÇOS, E SEUS 
DESAFIOS 
 
Dayton Clayton Reis Lima1 
Josinaldo Leal de Oliveira2 
(Orientador) 
RESUMO 
 
O presente trabalho discorre sobre a educação no sistema carcerário brasileiro. O pressuposto 
é de que a educação está prevista constitucionalmente. Portanto, é dever do Estado garanti-la a 
todos os indivíduos. Há vasta e sistêmica legislação que assegura o direito à educação no 
cárcere; entretanto, os problemas e desafios vêm obstando a tutela do direito garantido. Este 
estudo faz uma abordagem geral sobre os avanços da legislação em sua análise histórica; 
perquire acerca dos problemas enfrentados para uma efetiva entrega do que predispõem os 
textos normativos em termos disciplinares; e finaliza com os desafios enfrentados para que a 
docência seja levada aos segregados da sociedade de modo escorreito. O método utilizado para 
o desenvolvimento deste estudo é de caráter qualitativo, e a pesquisa empregada é de base 
bibliográfica e exemplificativa. O aparato legal utilizado para o desenvolvimento do presente 
estudo encontra-se contido na LEP (Lei de Execução Penal), que objetiva demonstrar que a 
educação é um mecanismo de libertação da mente, do corpo e da alma. 
 
Palavras-chave: Educação. Cárcere. Desafios. Direito. Penitenciário. 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 Discente do Curso de Direito da Faculdade Anísio Teixeira (FAT). Membro do IBCCRIM. E-mail: 
dayton.fatdireito@gmail.com. (Este Artigo Científico foi elaborado pelo discente Dayton Clayton Reis 
Lima, Curso Direito, da FAT. A cópia ou reprodução total ou parcial, sem autorização, é 
expressamente proibida, nos termos da Lei de Direitos Autorais, Lei nº 9.61098). 
2 Advogado e Professor da Universidade do Estado da Bahia - UNEB. Pós Doutor em Direito; Doutor 
em Ciências Jurídicas e Sociais; Pós-Graduado em Direito Civil, Direito do Consumidor e Docência 
do Ensino Superior. E-mail: naldo@josinaldoleal.com.br 
2 
 
EDUCATION IN THE BRAZILIAN PRISON SYSTEM: ADVANCES AND ITS 
CHALLENGES 
 
ABSTRACT 
 
This paper discusses education in the Brazilian prison system. The assumption is that education 
is constitutionally foreseen. Therefore, it is the duty of the State to guarantee it to all individuals. 
There is vast and systemic legislation that guarantees the right to education in prison; however, 
problems and challenges have been hindering the protection of the guaranteed right. This study 
takes a general approach to the advances in legislation in its historical analysis; investigate 
about the problems faced for an effective delivery of what predisposes the normative texts in 
disciplinary terms; and ends with the challenges faced so that teaching is taken to the segregated 
of society in an efficient way. The method used for the development of this study is of a 
qualitative nature, and the research used is based on bibliography and examples. The legal 
apparatus used for the development of the present study is contained in the LEP (Criminal 
Execution Law), which aims to demonstrate that education is a mechanism for the liberation of 
the mind, body and soul. 
 
Keywords: Education. Prison. Challenges. Right. Penitentiary. 
____________________ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
SUMÁRIO 
Introdução..................................................................................................................................4 
1 Avanços da Legislação Aplicável à Educação no Sistema Carcerário Brasileiro..........................5 
2 Dificuldades inerentes à Educação no Carcere.................................................................................9 
2.1 Alguns entraves para a efetividade da educação no cárcere.................................................................9 
2.2 Enclausuramento do pensamento crítico.........................................................................................12 
3 Os obstáculos de lecionar em estabelecimentos prisionais..............................................................13 
Considerações........................................................................................................................................16 
Referências............................................................................................................................................17 
Agradecimentos....................................................................................................................................19 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
INTRODUÇÃO 
 
O sistema educacional brasileiro é falho desde a sua concepção. A afirmação é 
categórica, porém nem por isso deixa de ser verdadeira. Tamanha fragilidade é estampada ao 
se perceber os níveis de evasão escolar – que tende ao crescimento nos últimos anos. Alinha-se 
a isso o fato de que as taxas de evasão do ensino médio não diminuem. Segundo dados da 
OCDE, em pesquisa realizada em 2020, quase 47% da população adulta ainda não concluíram 
o ensino médio (DIAS, 2021). 
Se a educação para pessoas em condições “normais” já é precarizada, esse problema 
tende ao infinito ao debruçar-se com problemas em que o sistema prisional brasileiro enfrenta 
no que diz respeito à falta de educação para os indivíduos em situação de cárcere. É inegável 
que a educação é fator emancipador na vida do cidadão, porém, para os apenados, o acesso à 
educação é quase utópico. 
Observando a precariedade da educação no sistema carcerário brasileiro e advogando 
a tese da educação como fator emancipador na vida do apenado, percebe-se a suma importância 
da elaboração do presente estudo. Este, ao seu turno, tem por objetivo geral: 
• investigar qual é o papel fulcral da educação nos estabelecimentos prisionais para 
os indivíduos em situação de cárcere. 
Enquanto objetivos específicos, busca: 
• fomentar a discussão acadêmica acerca do tema da ressocialização do apenado; 
• demonstrar os malefícios que a sociedade padece com a falta de efetiva política 
pública de educação prisional; incentivar a propositura de ações afirmativas para 
alcançar o poder público, buscando tutelar os direitos do apenado de ser 
efetivamente educado. 
É sabido que desde a formação dos primeiros clãs, os indivíduos se desviam das normas 
de condutas pactuadas entre os semelhantes. Sendo essas regras jurídicas ou morais, a subversão 
das condutas humanas, tida como escorreita, é patente. A partir do momento de que se tem a 
plena consciência da dubiedade da vida – “certo ou errado” –, o direito penal surge como 
regulador da adequação social. 
Para os indivíduos que se desviam das regras estabelecidas pela própria sociedade, 
através da participação indireta no poder legiferante, é imposta uma pena – no caso em análise, 
a de prisão. Poucos dentre a sociedade têm a clareza de que ao encarcerado não pesa contra si 
5 
 
uma medida “vingadora”. A pena que lhe é imposta tem a função retributiva na justa medida 
ao mal praticado, como visa sua ressocialização. 
Uma sociedade justa é, sobretudo, uma organização social autônoma no pensar e no 
agir. Essa autonomia observa-se a partir do momento em que o “homem é senhor dos seus 
desejos”, sendo este um ser capaz de “domá-lo” ao ser colocado em situação que perturbe a sua 
paz interior, em que possa sopesar entre agir e manter-se inerte, buscando a ordem – condição 
que se adquiri através da educação. 
Malograr a importância da educação para o apenado é desconhecer que sem o braço 
forte e afável da educação, os indivíduos encarcerados retornarão ao convívio social com as 
mesmas mazelas que adentraram no sistema prisional. E o que é ainda pior: com a agravante de 
serem reinseridos na sociedade com um degrau acima no conhecimento criminoso e dezenas de 
degraus abaixo na condição de autocontrole emocional e consciência moral. 
A pesquisa está embasada nas obras de eminentes pensadores que se debruçaramsobre 
o tema. A saber: Paulo Freire (1996), Foucault (1999), Duarte e Sivieri-Pereira (2018), Onofre 
e Julião (2013), Sá (1998), Campos (2015), Cacicedo (2016), Silva (2011) e Ribeiro (2017). 
Para o referencial teórico, diversas leis também foram objetos de estudo: Decreto-Lei nº 687, de 
18 de julho de 1969; Lei nº 3.274, de 2 de outubro de 1957; Decreto nº 7.626, de 2011, Lei nº 
13.163, de 9 de setembro de 2015. 
Acredita-se que a presente análise é de suma relevância para o mundo acadêmico, uma 
vez que o estudo tem um viés de informação técnica, trazendo para o meio da seara jurídica um 
tema pouco explorado e que objetiva chamar a atenção da academia jurídica para que volte o 
seu olhar a um tema tão sensível; e que, no decorrer dos anos, o poder público possa tornar 
efetivos os direitos das pessoas em cárcere. 
 
1 AVANÇOS DA LESGILAÇÃO APLICAVÁVEL À EDUCAÇÃO NO 
SISTEMA CARCERÁRIO BRASILEIRO 
 
É comum depara-se com questionamentos acerca das atuais políticas de segurança 
pública, sobretudo no que que concerne as mazelas nas quais as pessoas em situação de cárcere 
são expostas. Emerge um pensamento pautado no senso comum de que a legislação pouco tutela 
os direitos básicos constitucionalmente garantidos do cidadão enclausurado nos 
estabelecimentos prisionais no país afora. 
Não obstante essa afirmação surgir desnudada do tecnicismo acadêmico, com ausência 
quase absoluta de produção científica para corroborar essa tese, é recorrente as afirmações da 
6 
 
omissão legal frente aos problemas aqui em tela, dentro do âmbito acadêmico, principalmente 
nas universidades e centros de estudos, que deveriam presar pela busca ávida da verdade, ou o 
mais próximo disso possível. 
Ao perquirir sobre os avanços da legislação brasileira no tocante aos centros de estudos 
em estabelecimentos prisionais, percebe-se que, embora ainda distante do ideal desejável, os 
institutos jurídicos existentes sofreram significante e memoráveis alterações ao decorrer do 
tempo. Muito se tem a percorrer, entretanto, a distância do “ponto de partida” salta à vista é 
acende os faróis da esperança. 
No Brasil, ainda colônia de Portugal, em meados do século XVII, as características 
das penas eram de natureza cruel e desumana. Nesse período da História, não se falava em 
privação da liberdade, os indivíduos “arcavam” com o próprio corpo os danos causados à 
sociedade em razão das condutas desvirtuosas. Havia também a custódia do acusado, obstando 
sua fuga e extraindo provas sob tortura. 
Já no século XVIII, a pena de privação da liberdade começa a tomar força e, 
gradativamente, as penalidades com enfoque na crueldade são expurgadas do rol de penas 
adotadas no direito penal brasileiro. Esse novo modelo de punir, vigente no mundo inteiro, traz 
consigo uma nova forma de aprisionamento, que acondiciona, ao mesmo tempo e espaço, a 
prisão do corpo, da alma e da mente, como explica Foucault na sua obra vigiar e punir (1999). 
 
“Mas a relação castigo-corpo não é idêntica ao que ela era nos suplícios. O corpo 
encontra-se aí em posição de instrumento ou de intermediário; qualquer intervenção 
sobre ele pelo enclausuramento, pelo trabalho obrigatório visa privar o indivíduo de 
sua liberdade considerada ao mesmo tempo como um direito e como um bem. 
Segundo essa penalidade, o corpo é colocado num sistema de coação e de privação, 
de obrigações e de interdições. O sofrimento físico, a dor do corpo não são mais os 
elementos constitutivos da pena. O castigo passou de uma arte das sensações 
insuportáveis a uma economia dos direitos suspensos. Se a justiça ainda tiver que 
manipular e tocar o corpo dos justiçáveis, tal se fará à distância, propriamente, 
segundo regras rígidas e visando a um objetivo bem mais “elevado”. Por efeito dessa 
nova retenção, um exército inteiro de técnicos veio substituir o carrasco, anatomista 
imediato do sofrimento: os guardas, os médicos, os capelães, os psiquiatras, os 
psicólogos, os educadores (FOUCAULT, 1999, p. 15).” 
 
Em linhas gerais, Foucault assinala que a punição cruel deixa de ser o sofrimento 
corporal e passa a se tornar a supressão de direitos dos indivíduos. E o agente de segurança, 
figura análoga à do carrasco, posiciona-se em relação ao indivíduo encarcerado como 
“dominador”. Curioso o autor trazer como exemplo os educadores, guardada as proporções do 
tempo e lugar que ele discorre. 
7 
 
É no século XIX que o Brasil sofre uma sistemática alteração no conceito de pena, 
passando por três modelos distintos até chegar no que se chama de pena-educação. Não 
deixando de olvidar que as influências da Europa no nosso ordenamento jurídico, no que tange 
à forma de punição, era naquele tempo acentuada, como esclarecem Duarte e Sivieri-Pereira 
(2018). 
“Embora o Brasil tenha recebido fortes influências europeias sobre a forma de punir, 
devemos igualmente levar em conta nessa época a vigência da escravidão, que veio 
alterar profundamente a implantação dos métodos punitivos, ou seja, associaram-se 
de modo indivisível nos regimentos penais prisão, suplícios e trabalho forçado até o 
final do século XIX. Tivemos no referido século uma transformação do conceito de 
pena, primeiro para a equação “pena-suplício físico”, “pena-privação de liberdade” e 
por último o paradigma “pena-educação”, que tem introduzido a educação como 
forma de tratamento e restauração social das pessoas em privação de liberdade. No 
entanto, é curioso saber que o modelo “pena-educação” não é fato recente na história 
das instituições carcerárias de nosso país, havendo registros de seus primórdios nas 
casas de correção imperial (DUARTE; SIVIERI-PEREIRA, 2018, p. 346).” 
 
Ainda no século XIX, editou-se o decreto de nº 678, em seis de julho de 1850, que 
versa sobre uma educação intelectual com foco nos indivíduos em situação de cárcere. 
Juntamente com esse decreto, surgia a legislação que instituía a casa de correção da corte. O 
capelão figurava como “professor”, devendo zelar pela educação moral e religiosa dos 
apenados, conforme se depreende do Art. 119: 
 
“Art. 119. Ao Capellão da Casa de Correcção, alêm do que lhe fica encarregado pelos 
Art. 95, 97 e 99, incumbe o seguinte: 
1º Ajudar o Director na educação moral dos presos, e concorrer quanto em si couber 
para a sua correcção e reforma. 
2º Visitar os presos, exhortando-os ao trabalho, e bom comportamento, ao menos 
huma vez por semana, e no meio della, alêm do dia de guarda que possa haver 
(BRASIL, 1850).” 
 
No século XX, no governo de Juscelino Kubitschek, nota-se um avanço significativo 
com a edição da lei nº 3.274, de 2 de outubro de 1957, que viria a ser posteriormente revogada 
pela LEP (Lei de Execuções Penais). Na edição da referida norma, há previsão expressa para 
que o Estado proveja a educação dos sentenciados; redação dada pelo inciso XIII, de seu artigo 
1°: 
“Art. 1º São normas gerais de regime penitenciário, reguladoras da execução das 
penas criminais e das medidas de segurança detentivas, em todo o território nacional: 
primórdios nas casas de correção imperial. [...] 
XIII. A educação moral, intelectual, física e profissional dos sentenciados (BRASIL, 
1957).” 
 
8 
 
É claro e inequívoco que há avanços ao longo dos anos na atuação do poder legislativo 
quanto à edição de normas legais, visando amparar os encarcerados no que concerne aos 
regramentos técnicos e jurídicos acerca do dever de atuar do poder público, e com o fito de 
prover aos reeducandos medidas necessárias para sua efetiva educação no sistema carcerário 
brasileiro. 
Já, nos dias atuais, percebe-se recentes e importantes alterações legislativas, bem como 
um decreto do poder executivo que corrobora a afirmação deste tópico no sentido de confirmar 
que há vasto amparo legal para a regulamentação devida e eficaz da implantação sistêmica do 
ensino público nos estabelecimentos prisionais. Editado em 2011, o Decreto nº 7.626 assim 
dispõe:“Art. 1º Fica instituído o Plano Estratégico de Educação no âmbito do Sistema 
Prisional – PEESP, com a finalidade de ampliar e qualificar a oferta de educação nos 
estabelecimentos penais. 
Art. 2º O PEESP contemplará a educação básica na modalidade de educação de jovens 
e adultos, a educação profissional e tecnológica, e a educação superior. 
Art. 3º São diretrizes do PEESP: 
I - Promoção da reintegração social da pessoa em privação de liberdade por meio da 
educação; 
II - Integração dos órgãos responsáveis pelo ensino público com os órgãos 
responsáveis pela execução penal [...] (BRASIL, 2011).” 
 
Buscando promover a reintegração social, o texto legal acima transcrito visa sobretudo 
regular o ensino no cárcere, desde o básico ao superior, determinando uma ligação entre os 
órgãos responsáveis pela execução penal e de controle educacional. Vê-se que a legislação é 
cristalina ao determinar aos envolvidos que se adeque no intuito de fomentar a formação dos 
encarcerados. 
E por derradeiro e não menos importante, temos a mais recente normatização editada 
no ano de 2015, tratando-se da lei nº 13.163, de 9 de setembro de 2015, que alterou a lei de 
execução penal para determinar em seu corpo a instituição do ensino médio nas penitenciárias, 
além de garantir aos apenados acessos a cursos supletivos, mesmo que na modalidade remota: 
 
“Art. 18-A. O ensino médio, regular ou supletivo, com formação geral ou educação 
profissional de nível médio, será implantado nos presídios, em obediência ao preceito 
constitucional de sua universalização. 
§ 1º O ensino ministrado aos presos e presas integrar-se-á ao sistema estadual e 
municipal de ensino e será mantido, administrativa e financeiramente, com o apoio da 
9 
 
União, não só com os recursos destinados à educação, mas pelo sistema estadual de 
justiça ou administração penitenciária. 
§ 2º Os sistemas de ensino oferecerão aos presos e às presas cursos supletivos de 
educação de jovens e adultos. 
§ 3º A União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal incluirão em seus 
programas de educação à distância e de utilização de novas tecnologias de ensino, o 
atendimento aos presos e às presas (BRASIL, 2015).” 
 
É inconteste que o sistema carcerário brasileiro padece de mazelas que flertam com o 
tratamento desumano, entretanto, a legislação é uníssona ao deliberar acerca do tratamento 
humanizado nos estabelecimentos prisionais, inclusive de ordem constitucional. É falsa a 
afirmação de que não há normas legais favoráveis à educação no sistema carcerário, o que se 
percebe é a ausência da devida aplicação. 
 
2 DIFICULDADES INERENTES À EDUCAÇÃO NO CÁRCERE 
 
Ainda no sentido de se aprimorar o sistema educacional no cárcere brasileiro, há de se 
observar que não basta a existência de avanços nos dispositivos jurídicos que regulamentem as 
instituições de ensino para as pessoas em situação de cárcere. É salutar que possa haver políticas 
públicas severas e comprometidas com o desenvolvimento intelectual do apenado, visando a 
uma efetiva ressocialização. 
É patente que há um descaso estatal em prover o direito à educação para as pessoas 
em situação de cárcere, como também a sociedade civil organizada não tem demonstrado 
interesse no tema. Não obstante, as instituições que deveriam buscar a efetiva tutela dos direitos 
do apenados mantêm-se inerte. Noutro giro, as poucas que se predispõe a agir, não possuem um 
aparato estatal suficiente (ONOFRE; JULIÃO, 2013; SÁ, 1998; CAMPOS, 2015). 
 
2.1 ALGUNS ENTRAVES PARA A EFETIVIDADE DA EDUCAÇÃO NO 
CÁRCERE 
 
A de se perquirir acerca dos principais problemas que a efetividade da educação no 
cárcere enfrenta, a saber: 
• estrutura física dos presídios; 
• burocracia de acesso a materiais didáticos; 
• incompatibilidade de horários entre educação e trabalho. 
10 
 
Uma das principais dificuldades encontradas ao debater-se com o sistema de ensino 
atual nos estabelecimentos prisionais é a baixa ou inexistente estrutura física adequada para que 
se possa prover um ensino de qualidade. Não é razoável o que se percebe nesses 
estabelecimentos: uma estrutura precarizada e que não atende o mínimo necessário de um 
espaço educacional. 
Neste sentindo escreve, Caciceedo. (CACICEDO, 2016). 
 
“A falta de salas de aula, pressuposto básico para o exercício da educação nas prisões, 
é um fenômeno mundial, conforme constatou o pesquisador Marc De Maeyer, que 
após visitar prisões de mais de oitenta países, encontrava ao final apenas “algumas 
classes, não raras vezes, pobremente equipadas, que podiam acolher apenas algumas 
dezenas de estudantes”22. No Brasil, a questão da ausência de educação nas prisões é 
tão naturalizada que, a despeito de ser o país com maior crescimento na construção de 
prisões no mundo23, estas são construídas sem qualquer espaço para práticas 
educativas ou, na melhor das hipóteses, adapta-se um pequeno local que passa a ter 
apenas um valor simbólico. (CACICEDO, 2016, p. 131).” 
 
Ao buscar a educação como meio de ressocialização, o apenado não deve se deparar 
com uma estrutura que impeça o seu desenvolvimento intelectivo; no entanto, é notório o fato 
de que os órgãos de controle burocrático do sistema carcerário brasileiro, não se preocupa com 
estruturação física decente, haja vista a superlotação recorde não ser objeto de intervenção 
estatal para buscar sua minoração, no intuito de prover aos encarcerados uma forma mais 
similar possível com o convivo social. 
Não podendo deixar de olvidar que ao se falar em estruturação adequada ao exercício 
efetivo da docência, temos a escassez de materiais necessários para que se crie um caminho 
menos tormentosos ao aprendizado, o encarcerado, aqui figura como discente e deve este ser 
tratado como um tal, sendo – lhe disponibilizado os matérias escolares necessários, como 
caneta, lápis, caderno para anotação e etc. Assim como não se pode conceber a ideia de uma 
escola em que o ambiente de ensino esta hermético à sala de aula, também não é razoável a 
hipótese do apenado não ter acesso aos materiais de estudo, dentro de sua unidade de cárcere. 
Em que pese o Brasil ser o país que mais constrói presídios no mundo, a estrutura 
educacional é deixada de lado, mormente quando nas construções os espaços educacionais são 
vilipendiados, deixando de construir espaços suficientemente adequados para uma boa 
interlocução entre o lecionador e o lecionado (CACICEDO, 2016) 
Na sequência ainda discorrendo sobre alguns dos entraves para uma efetiva educação 
prisional, é importantíssimo perquirir a cerca de outra grande dificuldade enfrentada e que 
deveria ser objeto de intervenção dos órgãos de controle, que é a burocratização do acesso aos 
materiais didáticos, sobretudo os livros. 
11 
 
Atualmente no brasil os livros que compõe a base de ensino e os que tem por objetivo 
contribuir com a formação intelectiva de modo subsidiário, são mantidos por política de 
doações, e a regulamentação de acesso exige que o conteúdo dos livros passe pelo crivo da 
penitenciaria que, após “averiguação”, decide quanto ao acesso destes ou não aos detentos. 
Pensar em analise quanto ao conteúdo de uma obra para só após haver ou não, o livre 
acesso para as pessoas em situação de cárcere, é sem dúvidas rememorar com ações os tempos 
sombrios da ditadura. O que causa espécie estranheza é o fato de que em pleno século XXI, tal 
situação não seja combatida com forças veementes. 
Na medida em que se compreende que o homem é fruto do meio, e que todas as 
influências ao seu derredor constituem um todo, é dever do Estado enquanto agente de controle, 
apenas fornecer ao homem “em formação” acesso à todas as experiências através dos livros e 
meios correlatos, dotando este homem de capacidade de fato e de direito para ser senhor de seu 
destino arcando com as consequências de seus atos. O caminho da censura, para evitar 
“rebeliões do pensamento” é aprisionara dignidade da pessoa humana. 
A respeito, do controle discorre Cacicedo (2016): 
 
“A ironia de Marc de Maeyer quando afirma que “os livros são bem protegidos” não 
é sem razão, pois além da dificuldade de acesso aos livros nas prisões, o controle sobre 
o conteúdo dos livros acessíveis aos presos, em verdadeira prática de censura, agrega 
mais uma dificuldade às práticas educativas, que, por óbvio, pressupõem a liberdade 
do pensamento (CACICEDO, 2016, p. 131).” 
 
Resta de todo oportuno afirmar -se que não é razoável pensar em acesso irrestrito dos 
livros sem qualquer prévia análise, e não é o que se busca defender. Inclusive com intuito de se 
evitar troca de “cartas” a pretexto de ser doações de livros, facilitando a comunicação com o 
mundo externo. 
É objeto de critica tão somente a ideia esdrúxula de censura na esteira do pensamento 
colimado acima, sendo a regra em estabelecimentos carcerários atualmente, deve, pois, ser 
objeto de intervenção do estado pelo poder legiferante para que supra omissão legislativa vindo 
socorrer as pessoas que exaustivamente buscam o aperfeiçoamento da educação nos presídios. 
Por derradeiro, fechando a análise de alguns dos entraves que se enfrenta na incessante 
busca por uma adequada educação no cárcere, temos a questão do choque entre de horários de 
aulas com o a disponibilização de postos de trabalho. Na contramão da educação, o trabalho é 
condição obrigatória para o apenado privado de sua liberdade, como se depreende da simples 
leitura de alguns dos artigos da lei de execução penal, no capítulo que trata do trabalho do 
interno. 
12 
 
Vejamos a disposição legal: 
 
“Art. 28. O trabalho do condenado, como dever social e condição de dignidade 
humana, terá finalidade educativa e produtiva. § 1º Aplicam-se à organização e aos 
métodos de trabalho as precauções relativas à segurança e à higiene. § 2º O trabalho 
do preso não está sujeito ao regime da Consolidação das Leis do Trabalho. 
Art. 31. O condenado à pena privativa de liberdade está obrigado ao 
trabalho na medida de suas aptidões e capacidade. Parágrafo único. Para o preso 
provisório, o trabalho não é obrigatório e só poderá ser executado no interior do 
estabelecimento. Art. 32. Na atribuição do trabalho deverão ser levadas em conta a 
habilitação, a condição pessoal e as necessidades futuras do preso, bem como as 
oportunidades oferecidas pelo mercado. (BRASIL 1984)” 
 
É perceptível que o trabalho é condição obrigatória, entretanto a frequência escolar é 
facultativa, para que se evite a “evasão” do ingresso das aulas no cárcere, é de extrema 
importância compatibilidade de horários entre o trabalho e o horário de aulas. Infelizmente não 
é o que ocorre, pelo fato de que os poucos espaços educacionais que se encontram disponíveis 
possuem horário de aulas engessado e ocorrem no mesmo período do trabalho remunerado. 
Sendo o trabalho e a educação ambas as condições passíveis de haver a detração de pena – 
conforme previsão legal –, não há razão para o apenado optar por estudar, ao invés de trabalhar, 
visto que o choque de horários é um empecilho. 
É uníssono na sociedade civil a afirmação de que o preso não trabalha, atribuindo tal 
condição como se fora uma opção sua, entretanto, basta se emergir nas dificuldades em que 
enfrentam as pessoas em situação de cárcere para se perceber que faltam postos de trabalho 
suficientes para todos os que buscam uma oportunidade. E, ao encontrar-se um emprego, não 
fazem escolha diversa, até pelo caráter remuneratório do trabalho prestado, em detrimento de 
optar por frequentar as aulas, em mesmo horário da prestação de serviços remunerados. 
 
2.2 ENCLAUSURAMENTO DO PENSAMENTO CRÍTICO 
As condutas humanas são moldadas a partir das percepções que o indivíduo nutre 
dentro do seio social a que está inserido. A livre escolha do homem de como se portar frente a 
uma situação ameaçadora se caracteriza por sua capacidade de dialogar consigo mesmo, para 
que suas condutas – agir ou deixar de agir – possam não alterar de forma prejudicial o mundo 
exterior. Essa capacidade cognitiva advém do pensamento crítico. Deixar de aprimorar a 
criticidade do pensamento humano se revela um tamanho descaso com a principal função da 
pena; ou seja, a de ressocializar o indivíduo encarcerado com o mundo extramuros. Em razão 
disso, os espaços acadêmicos dentro do âmbito prisional deveriam presar, antes de mais nada, 
pela forma ávida de se fomentar a busca pela capacidade cognitiva da escolha. 
13 
 
Cacicedo (2016) entende que a prisão, no formato clássico, infantiliza o encarcerado 
e o faz perder responsabilidades próprias da vida adulta: 
 
“No ambiente prisional, os sujeitos são infantilizados, perdem responsabilidades 
próprias de uma vida adulta e têm na obediência cega um mandamento cujo 
descumprimento pode endurecer e alongar o seu próprio encarceramento pela 
imposição de sanções disciplinares. Não é por acaso que no cotidiano da execução 
penal brasileira reivindicações de direitos por parte dos presos sejam frequentemente 
enquadradas como forma de incitação ou participação de movimento para subverter a 
ordem ou a disciplina (art. 50, I, da LEP) ou mesmo como forma de desobediência ou 
desrespeito ao agente penitenciário (art. 50, VI, da LEP). (CACICEDO, 2016, p. 
133).” 
 
Formar pessoas em estabelecimentos prisionais já é um grande desafio, porém, na 
medida em que o aprisionado se encontra em situação de segregação do pensamento, a 
formação serve apenas de dados numéricos. Quanto ao certificado recebido, é só mais um que 
não contempla a exata dimensão do que venha a ser a “conclusão” dos estudos. 
Se a razão de ser do estudioso é aprimorar sua capacidade intelectiva, daí também se 
depreende a possibilidade do ser humano em ser “senhor” de suas escolhas e apto a 
compreender as consequências que as suas ações podem trazer ao convivo social. Ao se deparar 
com uma situação embaraçosa, este ser “educado” poderá sopesar os seus desejos, atento às 
consequências. 
As iniciativas de se educar no estabelecimento prisional não se dão por força de uma 
política pública com um prévio plano pedagógico elaborado para enfrentar os desafios que a 
educação prisional impõe, antes são desenvolvidas pelos próprios agentes de segurança pública 
com objetivo de fundo de precaver de uma ociosidade dos apenados (CACICEDO, 2016). 
Para Freire (1996), é válida a liberdade de decidir mesmo correndo o risco de errar, 
porque é decidindo que se aprende a decidir. Concluindo, assim, que o pensamento crítico é a 
mais autêntica forma de libertação, não sendo concebível que os pensamentos sejam de igual 
modo levados ao cárcere, demonstrando ser essa a mais vil das penas. Liberdade de pensar, 
liberdade no agir. 
 
3 OS OBSTÁCULOS DE LECIONAR EM ESTABELECIMENTOS PRISIONAIS 
 
A arte de lecionar, segundo Freire (1996, p. 30) “exige a convicção de que a mudança 
é possível”, acreditando fielmente nela e no poder transformador que a docência exala nos 
“quatros cantos” do universo. Ensinar não pode ser uma obrigação ou uma moeda de troca, 
14 
 
onde se entrega a “docência”, objetivando apenas o retorno financeiro. É preciso encantar ao 
ensinar. 
É comum as pessoas buscarem no profissional da educação um mantra de urbanidade 
e “amor” pela docência, independentemente de qual seja o seu alunado. Entretanto, ao 
realizarem uma pesquisa cientifica, os professores Novelli e Louzada (2012, p. 72-73), docentes 
de uma instituição estadual, ao lecionarem no cárcere, perceberam grande receio e até 
preconceito. 
Outro grave problema que o sistema carcerário enfrenta ao buscar a efetivação da 
educação em seu ambiente é a baixa proatividade do corpo docente em prestar um trabalho de 
excelência. Mormente porque a imensa maioria é admitida via concurso público, e é só após a 
aprovação que este “descobre” que seu destino é lecionar em estabelecimento prisional. 
Como nãohá outra forma, e restando como opção trabalhar no cárcere ou a perda do 
concurso, os profissionais decidem por permanecer trabalhando, mas como uma verdadeira 
“penitência”. Quando permanecer na docência dentro do sistema carcerário é objeto de 
obrigação, a forma de ensinar deixará de ser objeto de renovação, e o empenho do profissional 
tende a zero. 
Há autores que defendem a necessidade de se admitir professores por meio de análise 
de perfil, objetivando uma robusta forma de se averiguar se o profissional é um vocacionado 
para o exercício da docência em estabelecimento prisional. Para Silva (2011), haver professores 
que não sejam devidamente selecionados, torna a prática educativa nos presídios um desastre. 
 
“A grande maioria dos professores que estão nas escolas prisionais nem sempre 
fizeram esta escolha, mas aspectos procedimentais do sistema educacional os levaram 
até lá, o que constitui um fato desastroso para uma prática educativa realizada num 
ambiente de condições tão particulares (SILVA, 2011, p. 150).” 
 
Para além da ausência de ensinar com o coração pulsante – o que deveria permear a 
vontade dos nossos professores –, existe a correlação do medo que os profissionais possuem 
em adentrar os presídios para que possam exercer livremente a sua docência. Com isso, a 
ausência de professores se torna ainda mais real, e a falta de aulas se caracteriza como algo 
natural dentro cárcere. Entretanto, com o passar do tempo, é notável que esses professores se 
adaptem e superam os seus próprios desafios, inclusive se familiarizando com o alunado. 
Portanto, esse processo ocorre de forma livre e natural, fazendo surgir o questionamento de 
como seria a relação do professor com a causa do alunado encarcerado se houvesse uma ampla 
capacitação profissional. 
15 
 
Nesse sentido, Novelli; Louzada (2012) e Freire (1978, 1980) apud Ribeiro (2017), 
entendem que: 
 
“Apesar da inicial resistência, ao relatarem suas percepções profissionais decorrentes 
da experiência experimentada nas salas de aulas do sistema prisional, os professores 
são unanimes em pontuar que os medos e inseguranças que marcavam o início da 
jornada foram superados. Em alguns casos, os professores chegam a externar a 
satisfação pessoal por fazer parte de um processo que identificam como transformador 
na vida do indivíduo. Nota-se que, ainda que nenhum tipo de pedagogia específica 
seja inserido com a intenção de direcionar o tipo de ensino fomentado nos presídios, 
as experiências práticas evidenciam aspectos que se aproximam das propostas 
defendidas por Freire em suas obras (RIBEIRO, 2017, p. 68).” 
 
Outro vasto problema enfrentado é a quantidade de vagas ofertadas para a educação 
no sistema carcerário. As poucas instituições que possuem acesso ao espaço educacional não 
disponibilizam uma quantidade de vagas suficientemente adequada para que seja possível ao 
profissional da educação perceber uma sistemática mudança no estabelecimento prisional. 
Por outra, em função da ausência de metodologia específica para este modelo de 
ensino, cada professor adota uma metodologia que melhor lhe aprouver. Consequentemente, tal 
realidade fragiliza o aprendizado e não torna possível aos detentos com maior dificuldade de 
absorver o conteúdo, acompanharem os demais encarcerados. Razão pela qual o nível de 
aprendizado ainda é baixo. 
Por fim – e não menos importante –, tem-se a fragilidade emocional dos alunos 
detentos, pois estes sofrem uma carga de informações ao adentrarem o estabelecimento 
prisional; e, ao perceberem a presença da educação naquele contexto, entendem como uma 
extensão de sua “punição”, tendendo a não colaborar com seu próprio aprendizado, como relata 
a Profa. Freire (2016): 
 
“É consenso entre estudiosos e pesquisadores dessa modalidade o quanto esses 
sujeitos já sentiram o peso da exclusão. Então, o seu retorno com uma proposta 
educacional que siga a lógica tradicional do chamado “ensino regular”, poderá contar 
como ponto negativo à sua permanência no contexto escolar. O fato é que dentro do 
ambiente prisional as tensões são potencializadas pela própria arquitetura física, 
isolada, vigilante e punitiva, e isso tem tudo para repercutir negativamente na relação 
com os professores. Acrescente-se a convivência diária entre os diversos sujeitos, 
sejam os agentes prisionais, corpo dirigente, professores e internos que, mesmo com 
interesses diferentes, se veem absorvidos por interesses comuns (FREIRE, 2016, p. 
92).” 
 
Não é admissível que as pessoas em situação de cárcere tenham a percepção de que 
todas as estruturas de aprisionamento em sua volta estejam voltadas à sua punição, incluindo a 
educação. É preciso que o Estado contribua para uma organização tal da educação dentro dos 
16 
 
cárceres, de forma que ela se apresente ao encarcerado como medida de libertação e nunca de 
extensão da pena. 
Nesse sentindo, afirma Foucault (1999): 
 
“Para isso, é preciso que o castigo seja achado não só natural, mas interessante; é 
preciso que cada um possa ler nele sua própria vantagem. Que não haja mais essas 
penas ostensivas, mas inúteis. Que também cessem as penas secretas; mas que os 
castigos possam ser vistos como uma retribuição que o culpado faz a cada um de seus 
concidadãos pelo crime que lesou a todos [...] (FOUCAULT, 1999, p. 128).” 
 
Ainda assim, é possível perceber que, para Foucault, a pena é uma justa prestação dada 
pelo Estado àqueles que, de algum modo, desviaram-se de seu padrão de conduta. Entretanto, 
ao se deparar dentro de um estabelecimento prisional, o indivíduo já sabe quais ações o levaram 
à prisão, à sentença e punição, não existindo, portanto, razão para lhe tolher também o acesso 
à educação – como forma de nova punição. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Em face do que foi exposto, conclui-se que, a despeito das percepções trazidas do seio 
social, pautadas no senso comum de que a legislação não tutela os direitos e garantias 
individuais das pessoas em situação de cárcere, percebe-se que tais impressões não guardam 
verossimilhança com a realidade fática, pois a nossa legislação sofreu e sofre avanços 
significativos ao longo do tempo, e é dever de todos os cidadãos cooperarem para que esse 
progresso teórico seja efetivado na prática. 
A população não deve distanciar seus olhos dos problemas infimamente ligados à 
situação carcerária no que diz respeito à ausência de estruturas dignas e suficientes, para que se 
possa fornecer a homens e mulheres em situação de cárcere um espaço propenso a educá-los. 
Não é razoável pensar de modo diverso ao fato de que uma estrutura favorável e um ambiente 
menos hostil possível é capaz de transformar uma pessoa através da educação. 
A desburocratização de acesso aos livros é medida de fácil aplicação; e diferentemente 
dos problemas de estruturas físicas, que requerem a construção de alas e outras providências, 
facilitar o acesso aos livros é algo que pode ocorrer de modo rápido e prático, recorrendo ao 
bom senso e a mais elevada virtude de cuidado com a coletividade. A humanização hoje do 
cárcere refletirá, sem dúvida alguma, na sociedade futura, lembrando que não existe prisão ad 
eternum. 
17 
 
Ao entrar no estabelecimento prisional, na maioria das vezes, o apenado sabe que em 
determinado momento irá retornar ao convívio social; e quando o sistema carcerário deixa de 
prestar-lhe assistência digna, contribui para que isso, futuramente, reflita de forma negativa na 
coletividade, pois, ao sair do estabelecimento prisional, o apenado volta à convivência social, 
levando consigo tudo o que aprendeu dentro do cárcere, já que, por omissão do Estado em 
ensinar-lhe boas práticas, as facções se encarregam de ensinar-lhe as péssimas. Reverberando 
negativamente na sociedade vindoura. 
É preciso que a sociedade civil se organize, exija dos órgãos de fiscalização que as 
políticas públicas sejam implementadas, bem como oMinistério Público – como fiscal da 
ordem jurídica –, deve se imbuir da função de fiscalizar com afinco os estabelecimentos 
prisionais, requerendo, judicialmente, se necessário, que o poder público passe a cumprir as 
determinações legais. 
Dessa forma, espera-se que o presente trabalho contribua na discussão acadêmica 
acerca da necessidade de se melhor avaliar as políticas públicas adotadas atualmente, com o 
fito de se aproximar a realidade fática da pretensão da legislação contida no ordenamento 
jurídico vigente. A verdade é que não se faz justiça sem educação. 
 
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POL%C3%8DTICAS-P%C3%9ABLICAS-QUE-VISAM-GARANTIR-O-ACESSO-
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nov. 2022. 
 
AGRADECIMENTOS 
 
A Deus, único e soberano juiz – que julga com exata retidão e que tem me ajudado ao 
longo da minha existência – grato por sua paciência para comigo. Em todas as vezes que pensei 
em desistir, pude sentir Sua mão amiga me impulsionando para frente. 
À minha família, tanto biológica quanto afetiva, por todo carinho, empenho e 
dedicação durante a jornada da minha graduação, e, principalmente, na jornada da vida, razão 
de ser o homem que me tornei e que devo a eles. Furto-me de nominá-los para não ser injusto 
com menções rasas, em detrimento do meu mais profundo e sincero amor. 
Aos amigos que tive a honra de conhecer no GRUPO DE ESTUDOS AVANÇADO 
DO IBCCRIM – AL, que durante os nossos encontros de debates, puder me sentir acolhido 
sendo irrelevante o fato de ainda ser acadêmico. Agradeço imensamente aos mentores do Grupo 
de Estudos, pessoas maravilhosas que auxiliaram em todos os momentos. 
Ao meu orientador e mentor, Professor e amigo Josinaldo Leal, agradeço imensamente 
por tanto carinho para comigo. Ouso afirmar que não sou merecedor de ter tido a honra de 
20 
 
conhecer alguém de um conhecimento jurídico tão extenso quanto a extensão de seu cuidado 
para com os seus alunos e mentorados. Meu mais profundo e eterno agradecimento. 
Aos meus amigos, sejam da graduação ou fora dela, saibam todos quanto lerem meu 
trabalho que serei eternamente grato pela compreensão, por cada vez que falhei em algum 
compromisso, por me dedicar a essa pesquisa 
Em suma, são essas as pessoas que levo para a vida! Como sempre costumo afirmar: 
“A quem nos quer bem, quero bem também e pertinho de mim. Mas a quem não nos quer, 
sequer os conheço”.

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