Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

Indaial – 2020
Sociologia BraSileira
Prof. Renan Subtil Torres
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020
Elaboração:
Prof. Renan Subtil Torres
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
T693s
 Torres, Renan Subtil
 Sociologia brasileira. / Renan Subtil Torres. – Indaial: 
UNIASSELVI, 2020.
 170 p.; il.
 ISBN 978-65-5663-347-3
 ISBN Digital 978-65-5663-342-8
 1. Sociologia brasileira. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo 
da Vinci.
CDD 300
apreSentação
Saudações, caro acadêmico! O presente material, o qual se encontra 
em suas mãos ou na tela de seus aparelhos digitais, é fruto de um zeloso 
trabalho da UNIASSELVI que almeja apresentar a você a relevância das 
principais abordagens e autores trabalhados na Sociologia Brasileira. Por 
meio de nosso livro didático, entraremos em contato com o desenvolvimento 
da Sociologia em território brasileiro, tão como conheceremos um pouco do 
trabalho intelectual de cada um dos autores que mais contribuíram para o 
pensamento acerca da sociedade de nosso país.
A Sociologia Brasileira é responsável pelos estudos das 
particularidades da dinâmica social brasileira que, apesar de influenciada 
por toda uma série de acontecimentos globais, desenvolve-se de maneira 
única. A recente descoberta e vastidão de nosso território, a mistura dos 
povos originários com invasores e escravos, a abundância de nossos recursos 
naturais, a exploração colonialista dentre outras características, são o pano 
de fundo para a ocorrência de fenômenos sociais específicos e complexos. 
Sendo assim, nosso material de estudos apresentará os principais temas e 
teorias que contemplam nossa realidade, sempre de maneira clara e objetiva.
O livro de Sociologia Brasileira desenvolvido pela UNIASSELVI 
pretende apresentar a você, acadêmico, de uma maneira ao mesmo 
tempo consistente e didática, as principais discussões sobre as tribulações 
sociais brasileiras. Também será abordado o desenvolvimento de nossas 
problemáticas por meio da reconstrução histórica dos mais importantes 
objetos de estudo que reproduzem a formação do Brasil. A escolha dos 
autores foi realizada de maneira com a qual possamos enxergar a realidade 
nacional da maneira mais objetiva e menos abstrata possível, auxiliando-nos 
a nos situar em meio a uma complexa realidade. 
A Unidade 1 abordará o desenvolvimento do pensamento social 
brasileiro, apresentando a maneira com a qual se pensava a sociedade 
anteriormente aos séculos XIX e XX, as particularidades das análises sociais 
que compreendem o período posterior. Feito isso, trabalharemos o processo 
de sistematização da Sociologia em território brasileiro, finalizando com 
a formalização e institucionalização da Sociologia no Brasil. Para tanto, 
utilizaremos de autores que lançaram mão de análises sociais em tais períodos, 
mesmo que anteriores à formação das Ciências Sociais tal como a concebemos 
hoje. Também apresentaremos as ideias de importantes autores nacionais que 
interpretam as análises sociais de tempos passados e reconstroem a dinâmica 
social por meio de análises históricas que devem ser consideradas.
Na Unidade 2 estudaremos interpretações clássicas sobre o Brasil 
por meio de autores como Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, 
Florestan Fernandes e Caio Prado Júnior. Tais pensadores desenvolveram 
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi-
dades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra-
mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui 
para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida-
de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun-
to em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
teorias sobre a formação social brasileira desde o período colonial, processo 
de modernização nacional, relações raciais no país além de cultura, política 
e economia locais. Trata-se de grandes nomes da investigação acerca da 
dinâmica social de nosso território e importantes teóricos do processo 
histórico de construção nacional.
Finalmente, na Unidade 3, trabalharemos alguns dos principais 
temas abordados pela Sociologia Brasileira. Dentre eles estão assuntos como 
raça e identidade sob a perspectiva de pensadores das Ciências Sociais 
brasileiras, o processo de modernização do Brasil e a Sociologia Brasileira 
após a década de 1970. Esperamos que aproveitem o conteúdo preparado 
pela UNIASSELVI e ampliem seus conhecimentos sobre o contexto social de 
nosso país! Bons estudos!
Prof. Renan Subtil Torres
Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos 
materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais 
os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais 
que possuem o código QR Code, que é um código 
que permite que você acesse um conteúdo interativo 
relacionado ao tema que você está estudando. Para 
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos 
e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar 
mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!
UNI
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela 
um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro 
que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você 
terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen-
tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
LEMBRETE
Sumário
UNIDADE 1 — O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO DOS SÉCULOS XIX E XX ........... 1
TÓPICO 1 — A FORMAÇÃO SOCIAL BRASILEIRA .................................................................... 3
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3
2 O BRASIL ANTES DA COLONIZAÇÃO PORTUGUESA ......................................................... 3
3 DO PERÍODO COLONIAL À REPÚBLICA VELHA ................................................................... 8
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 19
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 20
TÓPICO 2 — A SISTEMATIZAÇÃO DA SOCIOLOGIA NO BRASIL .................................... 23
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 23
2 A CONSTITUIÇÃO DO PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO ..........................................23
3 PRINCIPAIS ABORDAGENS DA TEORIA SOCIAL BRASILEIRA ...................................... 30
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 32
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 33
TÓPICO 3 — A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA SOCIOLOGIA NO BRASIL ......................... 35
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 35
2 O NASCIMENTO DA SOCIOLOGIA NO BRASIL ................................................................... 35
3 A SOCIOLOGIA BRASILEIRA E SEUS PRINCIPAIS DESAFIOS ......................................... 39
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 49
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 51
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 52
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 54
UNIDADE 2 — INTERPRETAÇÕES CLÁSSICAS SOBRE O BRASIL ..................................... 57
TÓPICO 1 — A SOCIOLOGIA E A INTERPRETAÇÃO DO BRASIL ....................................... 59
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 59
2 OS GRANDES INTÉRPRETES DO BRASIL E SUAS PRINCIPAIS 
 ABORDAGENS .................................................................................................................................. 59
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 68
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 69
TÓPICO 2 — GILBERTO FREYRE, SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA E A 
 FORMAÇÃO DO POVO BRASILEIRO ................................................................. 71
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 71
2 GILBERTO FREYRE E A ESCRAVIDÃO NO BRASIL .............................................................. 71
3 SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA E O DESENVOLVIMENTO SOCIAL DO BRASIL 79
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 88
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 89
TÓPICO 3 — FLORESTAN FERNANDES E CAIO PRADO JÚNIOR ...................................... 91
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 91
2 FLORESTAN FERNANDES: RELAÇÕES SOCIAIS E ESTRUTURA DE 
 CLASSES NA SOCIEDADE BRASILEIRA .................................................................................. 91
3 CAIO PRADO JÚNIOR: A FORMAÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA 
 CONTEMPORÂNEA ........................................................................................................................ 96
LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 101
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 106
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 107
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 109
UNIDADE 3 — TEMAS DA SOCIOLOGIA BRASILEIRA ....................................................... 111
TÓPICO 1 — RAÇA E IDENTIDADE NO PENSAMENTO SOCIOLÓGICO 
 BRASILEIRO .............................................................................................................. 113
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 113
2 O DEBATE RACIAL NO BRASIL ................................................................................................ 113
3 O DEBATE ACERCA DA IDENTIDADE DE GÊNERO NO BRASIL 
 CONTEMPORÂNEO ...................................................................................................................... 121
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 127
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 128
TÓPICO 2 — MODERNIZAÇÃO BRASILEIRA ......................................................................... 131
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 131
2 A MODERNIZAÇÃO DO BRASIL NO SÉCULO XIX ............................................................. 131
3 O DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO BRASILEIRO PÓS-PRIMEIRA 
 GUERRA MUNDIAL ...................................................................................................................... 135
4 A MODERNIZAÇÃO BRASILEIRA SOB OS OLHARES DE ÁLVARO 
 VIEIRA PINTO, RUY MAURO MARINI, CAIO PRADO JÚNIOR E FLORESTAN
 FERNANDES .................................................................................................................................... 139
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 146
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 147
TÓPICO 3 — A SOCIOLOGIA BRASILEIRA PÓS-1970: NOVOS OLHARES ....................... 149
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 149
2 SOCIOLOGIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA: DA DITADURA 
 MILITAR NO BRASIL ÀS PRINCIPAIS ABORDAGENS SOCIOLÓGICAS 
 NOS DIAS ATUAIS ........................................................................................................................ 149
LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 160
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 165
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 166
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 168
1
UNIDADE 1 — 
O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO 
DOS SÉCULOS XIX E XX
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• apresentar o processo de transformação do pensamento sociológico 
brasileiro por meio de registros do período colonial;
• reconstruir as principais abordagens anteriores à formalização da 
Sociologia em território brasileiro;
• evidenciar o processo de sistematização da Sociologia no Brasil;
• abordar a institucionalização da Sociologia brasileira;
• apresentar autores cujas ideias foram importantes à compreensão do 
processo de formação da Sociologiae da sociedade brasileira como um todo.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você 
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO
TÓPICO 2 – A SISTEMATIZAÇÃO DA SOCIOLOGIA NO BRASIL
TÓPICO 3 – A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA SOCIOLOGIA NO BRASIL
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
2
3
TÓPICO 1 — A 
UNIDADE 1
FORMAÇÃO SOCIAL BRASILEIRA
1 INTRODUÇÃO
Pensar a sociedade na qual estamos inseridos demanda um esforço no 
sentido de considerarmos todos os elementos que a constitui. Isso significa que 
o pensamento sociológico lançado a determinado território parte da ideia de que 
toda sociedade é constituída por seus aspectos sociais. Ou seja, toda sociedade 
é constituída por suas condições materiais e históricas, tão como por todo e 
qualquer tipo de manifestação humana, sendo ela cultural, artística ou filosófica.
 
A Sociologia Brasileira emergiu de um longo processo interdisciplinar que 
leva em conta todos os registros possíveis acerca dos povos originários, invasores, 
escravos e sua interrelação, passando pela realidade material que é única de cada 
região do mundo. Sendo assim, estudaremos no primeiro tópico da Unidade 1 
de nosso material, as condições em meio às quais emergiu o pensamento social 
brasileiro, passando por uma breve história do Brasil, do período pré-colonial 
aos primeiros estudos sobre as populações nativas e seu contato com os invasores 
europeus e os escravizados por eles. Bons estudos!
2 O BRASIL ANTES DA COLONIZAÇÃO PORTUGUESA
Antes de iniciarmos nossos estudos acerca do Brasil como era anteriormente à 
invasão portuguesa do ano de 1500, devemos considerar alguns pontos importantes 
com relação ao conceito de pensamento social. Primeiramente, não devemos 
considerar apenas análises sociológicas, antropológicas, históricas ou provenientes 
de outros campos do saber de forma separada. A sociedade é um fenômeno complexo 
que deve ser analisado sob o máximo de perspectivas possíveis. Segundo, devemos 
pensar a sociedade de maneira macro e micro concomitantemente, ou seja, analisar 
o indivíduo em sua subjetividade, de forma isolada, como um elo que compõe a 
totalidade da realidade e, não menos importante, analisar a sociedade como um 
todo, um grupo de indivíduos capaz de modificar a realidade e construir a história 
do território onde habita. Em terceiro lugar, para se pensar sociologicamente, 
devemos estudar a maior variedade possível de fontes de informação, sejam elas 
escritas, ouvidas, vivenciadas, formais ou não formais. Dessa maneira conseguimos 
conceber a dinâmica social de maneira mais fiel possível à realidade. O autor Freitas 
Pinto (2002, p. 144-145) acredita que: 
UNIDADE 1 — O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO DOS SÉCULOS XIX E XX
4
A ideia de pensamento social corresponde em parte à constatação 
de que a riqueza dos processos sociais e culturais jamais é revelada 
plenamente quando utilizamos tão somente os métodos e recursos 
de uma determinada disciplina como a sociologia, a antropologia 
ou história. O pensamento social é construído transpondo barreiras 
e limites de disciplinas e campos de conhecimento, combinando, em 
muitos casos, dados empíricos e fatos com percepções extraídas da 
poesia, do romance, do teatro.
Sabendo os pressupostos sociológicos apresentados anteriormente, 
comecemos nossos estudos respeitando uma ordem cronológica de fatos que se 
iniciam antes da colonização portuguesa, antes mesmo de nosso país se chamar 
Brasil. Estima-se que o continente americano abrigava aproximadamente uma 
centena de milhão de pessoas, e é importante destacar que o território – o qual, 
hoje, corresponde ao nosso país – era habitado por cerca de 1 a 5 milhões de 
pessoas, dependendo da fonte informativa. Devido ao fato da ausência de registros 
escritos, uma vez que os povos originários transmitiam seus conhecimentos 
por meio, principalmente, da fala, é difícil o acesso àquelas culturas existentes 
anteriormente à invasão portuguesa.
FIGURA 1 – TRIBO BRASILEIRA XINGU
FONTE: <https://www.sohistoria.com.br/ef2/indios/index_clip_image002.jpg>. 
Acesso em: 30 abr. 2020.
É importante saber que o povo nativo se organizava em grupos sociais 
comumente conhecidos como “tribos”. Os indivíduos foram chamados de 
“índios” pelos colonizadores e esse tratamento perdura até hoje. Isso se deve ao 
fato de os portugueses supostamente estarem buscando um caminho alternativo 
à Índia ao se depararem com as terras brasileiras, referindo-se a elas como 
Índias Ocidentais por determinado período. Esse tipo de tratamento acabou por 
generalizar as centenas de etnias e línguas que foram classificadas por estratos 
linguísticos centrais. São eles: tupis-guaranis, que habitavam a região do litoral, 
macro-jê ou tapuias, região do Planalto Central, aruaques ou aruak, da Amazônia 
e caraíbas ou karib, também da região amazônica. 
TÓPICO 1 — A FORMAÇÃO SOCIAL BRASILEIRA
5
As múltiplas sociedades nativas eram complexas, porém possuíam 
algumas características comuns como a divisão social do trabalho. Geralmente, 
os homens eram responsáveis pela caça, pesca, construção de habitações, guerras 
dentre outras atividades. As mulheres costumavam se incumbir dos cuidados com 
a família, confecção de vestimentas, preparo de alimentos, agricultura do milho, 
feijão, abóbora, batata-doce, amendoim, mandioca e outros tipos de trabalho. 
Quase sempre havia uma hierarquia bem estabelecida e líderes específicos, além 
de pessoas especializadas nos cuidados à saúde e referências espirituais. 
Era comum a domesticação de alguns animais considerados selvagens 
pelo homem branco e a harmonia com a natureza era plena quando comparada 
à contemporaneidade. Costumava-se utilizar apenas recursos indispensáveis 
à sobrevivência humana, como madeira, peles de animais, penas, corantes 
naturais, fibras de plantas diversas além de uma riquíssima medicina da floresta, 
infelizmente soterrada e discriminada pela cultura europeia. Hoje existem 
alguns poderosos remédios remanescentes da cultura nativa, utilizados na cura 
de diversas doenças e terapias. Um bom exemplo é o chamado Santo Daime ou 
Ayahuasca, chá de folhas e cipós utilizados em ritos e tratamentos para males 
como a depressão, ansiedade e vícios em substâncias químicas diversas.
O embate entre as culturas originárias e europeias resultaram no 
soterramento dos costumes dos povos nativos. Em outras palavras, a miscigenação 
– que era em parte consequência de estupros realizados pelos portugueses 
colonizadores –, o processo de catequização e ensino da língua portuguesa à 
população genuinamente brasileira, foram alguns dos fatores que acabaram por 
descaracterizar o modo de vida dos chamados povos indígenas. A esse processo 
se dá o nome de aculturação: quando uma cultura perde suas características ou 
deixa de existir devido à influência de uma cultura exterior.
Muitos dos registros acerca da cultura dos povos nativos, que viveram na 
época das primeiras expedições portuguesas ao Brasil, foram retratados pela Carta de Pero 
Vaz de Caminha, escrivão da expedição de Pedro Álvares Cabral, que destinou, ao então 
rei de Portugal, Dom Manuel, suas primeiras impressões sobre o território recém explorado. 
 A carta pode ser acessada por meio do endereço eletrônico a seguir: http://
objdigital.bn.br/Acervo_Digital/livros_eletronicos/carta.pdf. 
 É bastante interessante analisarmos o ponto de vista dos invasores europeus às 
terras dos tupiniquins – primeiros povos a entrar em contato com os portugueses recém-
chegados.
DICAS
UNIDADE 1 — O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO DOS SÉCULOS XIX E XX
6
A colonização de nossas terras não foi a primeira ideia dos portugueses 
após a chegada de Pedro Álvares Cabral em sua primeira expedição ao Brasil, cujo 
desembarque foi no dia 22 abril de 1500, onde hojeé o estado da Bahia. Buscando 
por insumos comercializáveis, que poderiam ser alternativa ao então lucrativo 
comércio oriental de especiarias, os portugueses se decepcionaram à primeira vista, 
pelo fato de não encontrarem recursos naturais como metais preciosos no litoral 
brasileiro. Logo descobriram o Ibirapitanga ou Arabutã, que tempos depois ficaria 
conhecida como Pau-brasil. Tratava-se de uma árvore abundante em território 
nacional, tão como em diversas outras localidades da América e ilhas próximas. 
O nome dela tem origem da cor vermelha de seu interior, que lembrava brasa. 
Chamada inicialmente de pau-de-tinta pelos portugueses, logo ficou conhecida 
como Pau-brasil que, tempo depois, inspiraria o nome de nosso país.
O comércio do Pau-brasil, apesar de lucrativo, não chegava perto 
da lucratividade que o comércio de especiarias no ocidente proporcionava 
a Portugal. Com a ajuda dos povos nativos, seduzidos por meio do escambo. 
Tratava-se da troca de serviços braçais por quinquilharias diversas, oferecidas 
pelos portugueses, configurando uma transação comercial primitiva entre povos 
estrangeiros e originários. O Pau-brasil foi explorado de maneira devastadora, 
chegando à beira da extinção tempos após suas primeiras extrações. Isso se 
devia à utilidade da tinta da madeira no tingimento de tecidos brancos, muito 
valorizados na Europa após coloridos com o vermelho de sua seiva.
FIGURA 2 – EXPLORAÇÃO DO PAU-BRASIL POR MEIO DA MÃO DE OBRA NATIVA
FONTE: <https://escolaeducacao.com.br/wp-content/uploads/2020/01/ciclo-do-pau-brasil-
-2-750x430.jpg>. Acesso em: 6 maio 2020.
 
A extração da madeira no Brasil demandava uma autorização concedida 
pelo rei de Portugal. Essa autorização se chamava estanco. A primeira pessoa a 
receber o estanco foi Fernando de Noronha, que hoje é o nome de uma das ilhas 
do litoral nordestino brasileiro. O Pau-brasil extraído pelas pessoas que recebiam 
o estanco da realeza portuguesa era armazenado em feitorias, ou seja, armazéns 
espalhados pela costa brasileira que serviam de depósito para a madeira que, 
posteriormente, era enviada por meio de embarcações para a metrópole europeia.
TÓPICO 1 — A FORMAÇÃO SOCIAL BRASILEIRA
7
Toda essa movimentação de mercadorias ao longo da costa brasileira atraía 
a atenção de outros povos. Os franceses eram os principais interessados nessa 
nova fonte de riquezas. Eles faziam alianças com tribos inimigas dos portugueses 
e atacavam o litoral em busca do domínio da transação mercantil do Pau-brasil. A 
fim de se defender dos ataques franceses, Portugal decide organizar expedições 
guarda-costas para o Brasil, que eram caravelas armadas enviadas para patrulhar 
os mais de 8 mil quilômetros de litoral e refrear a ameaça estrangeira. 
Diante às disputas que pelo vasto território brasileiro e seus abundantes 
recursos naturais, surge a demanda pela garantia dessas terras por parte de 
Portugal. Foi assim que, no ano de 1534, o então rei português, Dom João III, 
decide implementar um programa de ocupação efetiva do Brasil. Esse ano foi o 
marco final do chamado Período Pré-Colonial, a partir do qual a coroa portuguesa 
decide enviar pessoas para colonizar o território brasileiro. Tal estratégia serviu 
para estabelecer os domínios portugueses sobre as terras recém-tomadas pelos 
europeus, dificultando a entrada de outros povos que estavam em busca das 
riquezas encontradas em terras tupiniquins. Vale salientar que o Pau-brasil era 
apenas um dos inúmeros recursos naturais descobertos, até então, no que hoje 
corresponde aos limites brasileiros. Diversas outras riquezas ainda viriam a ser 
descobertas pelos invasores portugueses, ampliando ainda mais seus interesses 
sobre o território dominado a partir do ano de 1500. 
Podemos sintetizar o Período Pré-Colonial como um tempo de descobertas 
para os povos europeus que aqui desembarcaram em busca da ampliação de seus 
domínios comerciais. Marcada pela aculturação dos povos nativos frente à cultura 
europeia, a época pré-colonial foi fundada na descoberta do valor comercial do 
Pau-brasil, e do conveniente trabalho braçal do povo originário, intermediado 
pelo escambo e fundamental para a extração daquela madeira. O estanco era 
a autorização provida pela coroa portuguesa para a extração do Pau-brasil, que 
era armazenado em feitorias espalhadas pelo litoral brasileiro e, logo depois, 
transportado para a Europa por meio de embarcações. As expedições guarda-
costas serviam de intimidação frente às invasões estrangeiras, principalmente de 
franceses, que objetivavam a disputa dos recursos materiais brasileiros. O referido 
período, classificado como pré-colonial, encerra-se em 1534, quando Portugal envia 
pessoal para ocupar o Brasil de maneira definitiva. O quadro a seguir salienta os 
principais aspectos desse período, que perdura do ano de 1500 até 1534:
QUADRO 1 – PERÍODO PRÉ-COLONIAL
• Duração – de 1500 a 1534.
• Principal atividade econômica – extrativismo.
• Principal matéria-prima – Pau-brasil.
• Regime de trabalho – utilização da mão de obra nativa intermediada pelo 
regime de escambo.
• Autorização real para a atividade – estanco.
• Depósito da matéria-prima bruta – feitoria.
• Principais ameaças – ataques de franceses aliados a tribos nativas rivais aos 
portugueses.
• Principal defesa portuguesa – expedições guarda-costas.
FONTE: O autor
UNIDADE 1 — O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO DOS SÉCULOS XIX E XX
8
Agora que exploramos as principais características do primeiro período 
após à entrada dos portugueses no território que hoje corresponde ao Brasil, 
estudaremos outra fundamental fase da ocupação dessas terras: o Período 
Colonial. Por meio dos estudos dessa outra importante etapa do desenvolvimento 
social brasileiro, construiremos as bases para a investigação acerca da produção e 
desenvolvimento do pensamento sociológico de nosso país.
3 DO PERÍODO COLONIAL À REPÚBLICA VELHA
Tendo em vista que a coroa portuguesa reconheceu a potencialidade do 
Brasil em termos de riquezas, que já estavam atraindo forças estrangeiras que 
as disputavam com os pioneiros europeus, Dom João III, então rei de Portugal, 
decide, em 1534, colonizar essas terras com o objetivo de estabelecer sua 
dominação. Cabe salientar que já ocorriam revoltas e diversas resistências em 
nome das terras brasileiras, antes mesmo da chegada de Portugal ao país. 
Desde o ano de 1494, o Tratado de Tordesilhas já dividia legalmente o 
Brasil que conhecemos hoje em duas partes. As coroas de Portugal e Espanha, na 
época Reino de Portugal e Coroa de Castela, já se interessavam no chamado “novo 
continente”, a América recém invadida pela expedição marítima capitaneada por 
Cristóvão Colombo em 1492. 
O tratado consistia em uma divisão de terras por meio de uma linha 
imaginária. Essa linha cortava o Brasil de norte a sul, do que hoje corresponde ao 
estado do Pará até Santa Catarina. De acordo com o tratado que objetivava pôr fim 
às disputas pelas terras americanas entre os dois reinos, tudo o que situava a oeste 
da linha pertenceria à Coroa Castela e, a leste, do Reino de Portugal. Anos depois 
esse tratado foi revogado a pedido dos portugueses ao perceberem a vastidão 
ainda inexplorada ao centro e a oeste do que hoje corresponde à América Latina. 
Por volta do ano de 1534, o então rei de Portugal, Dom João III, divide o 
Brasil em sesmarias, que consiste em pedaços de terras demarcados por meio de 
linhas imaginárias traçadas vertical e horizontalmente com relação ao mapa do 
território nacional. Cada um desses pedaços de terra era destinado a um nobre 
escolhido pelo rei. As terras delimitadas não eram posse de seus destinatários, os 
chamados donatários. 
Cada donatário tinha direito de ocupar o território e produzir riquezas 
dentro dele, porém, a decisão acerca da destituição dos territórios e/ou substituição 
dos donatários estava nas mãos do rei. Cada um dos donatários recebia uma 
Carta de Doação, que consistia em um documento que assegurava que cada uma 
das sesmarias eradelegada a um administrador específico. 
A Carta Foral, por sua vez, era o documento em que constavam as diretrizes 
de posse da sesmaria, ou seja, as instruções acerca daquilo que o donatário pode 
ou não pode fazer em relação à ocupação do espaço que tomaria conta a partir do 
momento em que recebesse sua Carta de Doação.
TÓPICO 1 — A FORMAÇÃO SOCIAL BRASILEIRA
9
As faixas de terra, cuja gestão era passada de pais para filhos, foram 
batizadas de Capitanias Hereditárias. A partir do ano de 1934, o país passou 
a ser dividido em 15 Capitanias Hereditárias que seriam distribuídas entre 
12 donatários. Cada uma das sesmarias que vieram a se tornar Capitanias 
Hereditárias, recebia um nome e era concedida aos respectivos donatários, 
incumbidos da tarefa de ocupar e produzir riquezas em seus territórios.
• Capitania do Maranhão: João de Barros e Aires da Cunha e Fernando Álvares 
de Andrade.
• Capitania do Ceará: Antônio Cardoso de Barros.
• Capitania do Rio Grande: João de Barros e Aires da Cunha.
• Capitania de Itamaracá: Pero Lopes de Sousa.
• Capitania de Pernambuco: Duarte Coelho Pereira.
• Capitania da Baía de Todos os Santos: Francisco Pereira Coutinho.
• Capitania de Ilhéus: Jorge de Figueiredo Correia.
• Capitania de Porto Seguro: Pero do Campo Tourinho.
• Capitania do Espírito Santo: Vasco Fernandes Coutinho.
• Capitania de São Tomé: Pero de Góis da Silveira.
• Capitania de São Vicente: Martim Afonso de Sousa.
• Capitania de Santo Amaro: Pero Lopes de Sousa.
• Capitania de Santana: Pero Lopes de Sousa.
FIGURA 3 – DIVISÃO POLÍTICA ESTABELECIDA PELO TRATADO DE TORDESILHAS
FONTE: <http://opiniaoenoticia.com.br/wp-content/uploads/tordesilhas.jpg>. 
Acesso em: 15 maio 2020.
UNIDADE 1 — O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO DOS SÉCULOS XIX E XX
10
É importante termos em mente que o processo de formação colonial de 
nosso país não se deu de maneira pacífica, muito menos democrática. A terra, 
que já possuía moradores há milênios, fora dividida em vários pedaços que agora 
passariam a ser jurisdição de um donatário europeu, mesmo que sem a aprovação 
de muitos povos nativos. Foram muitas as batalhas que foram travadas entre 
nativos e colonizadores europeus. Anteriormente ao loteamento e distribuição 
das terras litorâneas do Brasil, existiam conflitos em torno da ocupação de seu 
território vasto e rico em recursos naturais. Além da diversidade da fauna e da 
flora brasileira, a água é abundante e escoa por meio de gigantescos rios. Diversas 
populações vivenciavam disputas por territórios que dispunham de tais recursos 
fundamentais para a sobrevivência.
O século XVI foi marcado por batalhas como o Cerco de Igarassu 
que, conforme Hans Staden (1945), consistiu em um levante realizado pelos 
índios caetés contra os portugueses que, dentre outros fatores motivacionais, 
escravizaram membros de sua etnia. O cerco ocorreu em uma vila de Pernambuco, 
entre 1549 e 1551, conforme alguns historiadores, os quais nem sempre entram 
em consenso quanto à data oficial da resistência. Em 1562, foi realizado o Cerco 
de Piratininga, que foi a união entre índios carijós, guaianás, guarulhos e 
tupiniquins, organizados contra a dominação portuguesa. O fato ocorreu em São 
Paulos dos Campos de Piratininga, quando as etnias indígenas reunidas atacaram 
a vila onde portugueses aliados a tupiniquins se defenderam da ofensiva. Isso 
evidencia a existência da aliança, não só entre índios de diferentes tribos, mas 
entre “homens brancos” (europeus) e indígenas (nativos). 
A imagem a seguir ilustra um pouco da relação amistosa que os 
colonizadores conseguiram estabelecer com os antigos donos das terras de São 
Paulo dos Campos de Piratininga, os índios tupiniquins. Embora a aliança entre 
brancos e indígenas favorecesse ambas as partes, outros povos e, inclusive os 
próprios tupiniquins, levantaram-se contra essa jovem vila, então com dois anos 
de idade. Observe:
FIGURA 4 – ALIANÇA ENTRE HOMENS BRANCOS E TRIBOS NATIVAS
FONTE: < https://cutt.ly/ggbanjn >. Acesso em: 15 maio 2020.
TÓPICO 1 — A FORMAÇÃO SOCIAL BRASILEIRA
11
Mais tarde, entre os anos de 1554 a 1567, foi formada a Confederação 
dos Tamoios que era composta majoritariamente pelo povo Tupinambá, por sua 
vez composto por tribos Tupiniquins, Aimorés e Terminós. Tratava-se de um dos 
primeiros grandes conflitos entre os povos originários, que reivindicavam sua 
liberdade tão como a retomada de suas terras, e homens brancos, especialmente 
portugueses e franceses, que ocupavam um território que compreendia parte 
do litoral paulista e fluminense. A Guerra dos Aimorés foi outro importante 
episódio de resistência por parte dos povos nativos. Os Aimorés eram povos 
que habitavam o território que hoje corresponde aos estados de Minas Gerais e 
Espírito Santo e resistiram à colonização portuguesa por mais de um século. 
Essa guerra, que durou aproximadamente de 1555 a 1673, foi composta 
por diversas batalhas, dentre elas a Batalha do Cricaré. Essa batalha ocorreu na 
Capitania de Espírito Santo, mais especificamente no Povoado de Cricaré, onde 
uma ofensiva liderada por Vasco Fernandes Coutinho, donatário responsável 
pela referida sesmaria, desembarcou com sua armada vinda do litoral do que 
hoje corresponde à Bahia. Apesar da difícil batalha que custou a vida de vários 
nativos e colonizadores, os Aimorés conseguiram afastar a tropa que defendia 
os domínios de Vasco Fernandes Coutinho, cujo comandante, Fernão de Sá, 
morrera neste combate. Após a retirada dos colonizadores invasores, os Aimorés 
destruíram as feitorias dos bandeirantes por volta do ano de 1558.
Outro importante episódio da história da ocupação dos Brasil por 
invasores europeus se materializou com a Guerra dos Bárbaros (1650-1720). O 
conflito ocorreu entre os nativos Tapuias e colonizadores portugueses que, com 
o fim da União Ibérica, em 1640, e a expulsão dos holandeses, em 1654, passaram 
a concentrar sua atenção nas terras nordestinas, mais especificamente da Bahia 
ao Maranhão, para a consolidação do cultivo da cana-de-açúcar e expansão da 
pecuária. Foram aproximadamente 70 anos de combates entre os povos nativos 
e os invasores portugueses, custando a vida de centenas de índios e muitos 
colonizadores portugueses. Para Puntoni (1999, p. 196):
A Guerra dos Bárbaros mais se aproximou de uma série heterogênea 
de conflitos entre índios e luso-brasileiros do que de um movimento 
unificado de resistência. Resultado de diversas situações criadas ao 
longo da segunda metade do século XVII, com o avanço da fronteira 
da pecuária e a necessidade de conquistar e “limpar” as terras para 
a criação de gado, esta série de conflitos envolveu vários grupos e 
sociedades indígenas contra moradores, soldados, missionários e 
agentes da coroa portuguesa.
A Guerra dos Bárbaros foi um massacre contra o povo Tapuia, que era 
composto por grupos culturais que compreendia o povo Jê, Tarairiu, Cariri e 
outros grupos que não eram classificados pelos cronistas da época. Alguns dos 
povos que podem ser citados entre os não batizados pelos colonizadores são os 
Sucurú, os Bultrim, os Ariu, os Pega, os Panati, os Corema, os Paiacu, os Janduí, 
os Tremembé, os Icó, os Carateú, os Carati, os Pajok, os Aponorijon e os Gurgueia. 
Toda essa diversidade fora ignorada pelos invasores europeus que, por meio de 
um processo de aculturação que operava através da catequização e alfabetização 
UNIDADE 1 — O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO DOS SÉCULOS XIX E XX
12
compulsória de nativos às línguas e crenças europeias, apagou culturas altamente 
complexas e de ciência avançada. O domínio dos Tapuia sobre os saberes 
advindos da interação homem-natureza, poderiam, hoje, nos proporcionar 
diversas soluções à vida em sociedade, como a cura de diversos males e doenças, 
tão como uma dinâmica social mais harmoniosa e menos destrutiva em relação 
aos recursos naturais e seres humanos que coexistem contemporaneamente.
A chegada massiva e compulsória de outro povo foi determinante à 
formação de nossa culturae de pensamento social brasileiro: o negro africano. Os 
negros foram trazidos da África pelos colonizadores europeus como alternativa 
à mão de obra indígena, fosse ela livre ou escrava. A expansão da economia 
canavieira do século XVI, trouxe consigo a demanda por um trabalho intensificado 
nas lavouras. Os povos africanos, fisicamente adaptados às rígidas condições de 
sobrevivência de seu continente de origem, foram a solução ao trabalho indígena.
As razões da opção pelo escravo africano foram muitas. É melhor não 
falar em causas, mas em um conjunto de fatores. A escravização do índio 
chocou-se com uma série de inconvenientes, tendo em vista os fins da 
colonização. Os índios tinham uma cultura incompatível com o trabalho 
intensivo e regular e mais ainda compulsório, como pretendido pelos 
europeus. Não eram vadios ou preguiçosos. Apenas faziam o necessário 
para garantir sua subsistência, o que não era difícil em uma época de 
peixes abundantes, frutas e animais. Muito de sua energia e imaginação 
era empregada nos rituais, nas celebrações e nas guerras. As noções de 
trabalho contínuo ou do que hoje chamaríamos de produtividade eram 
totalmente estranhas a eles (BORIS, 1996, p. 28).
A mão de obra escrava proveniente dos negros africanos foi fruto do tráfico 
de pessoas, intensificado durante as expedições portuguesas à costa africana no 
século XV. Após esse período, o comércio escravista se tornou uma atividade 
muito lucrativa para os colonizadores. Os escravos negros possuíam habilidades, 
tanto no cultivo da cana-de-açúcar – que já era uma das atividades portuguesas 
“Uma índia-velha cachimbeira conta a seus netos a história de luta de seus 
antepassados contra as invasões dos colonizadores do nordeste do Brasil, provocadas 
pela expansão da pecuária bovina. A historiografia oficial denominou os confrontos de 
guerra dos bárbaros. Resta-nos saber se são bárbaros os índios ou os europeus”, tal frase 
se encontra na descrição da animação feita sob direção de Júlia Manta, recontando sob a 
perspectiva de uma índia Tapuia remanescente do terrível massacre que, entre os séculos 
XVII e XVIII, tirou a paz dos povos nativos do nordeste brasileiro: A Guerra dos Bárbaros: vale 
a pena conferir essa interessante obra brasileira que retrata, por meio de desenhos, a força 
e resistência dos povos originários do Brasil contra as mazelas da colonização europeia. O 
vídeo pode ser assistido por meio do sítio eletrônico a seguir: https://www.youtube.com/
watch?v=e5duD0qNCrU.
DICAS
TÓPICO 1 — A FORMAÇÃO SOCIAL BRASILEIRA
13
nas ilhas do Atlântico – quanto na criação de gado. Conforme Boris (1996), entre 
os anos de 1550 e 1855, cerca de 4 milhões de negros, em sua maioria jovens e do 
sexo masculino, entraram no Brasil pelos portos utilizados para seu comércio.
Não por acaso, a partir da década de 1570 incentivou-se a importação 
de africanos, e a Coroa começou a tomar medidas através de várias 
leis, para tentar impedir o morticínio e a escravização desenfreada dos 
índios. As leis continham ressalvas e eram burladas com facilidade. 
Escravizavam-se índios em decorrência de "guerras justas", isto é, 
guerras consideradas defensivas, ou como punição pela prática de 
antropofagia. Escravizava-se também pelo resgaste, isto é, a compra 
de indígenas prisioneiros de outras tribos, que estavam para ser 
devorados em ritual antropofágico. Só em 1758 a Coroa determinou 
a libertação definitiva dos indígenas. Mas, no essencial, a escravidão 
indígena fora abandonada muito antes pelas dificuldades apontadas 
e pela existência de uma solução alternativa (BORIS, 1996, p. 28-29).
O povo negro, assim como os nativos brasileiros, também resistiu contra a 
cruel dominação europeia sobre as terras do Brasil. Foram inúmeros os levantes, 
guerras e batalhas contra o sistema escravagista da época. É muito importante nos 
lembrarmos que o nosso país foi o último a abolir legalmente a escravidão dos 
negros africanos que para cá foram trazidos. No ano de 1758 fora abolida a escravidão 
dos índios e, somente em 13 de maio de 1888, os escravos negros do Brasil foram 
libertados das senzalas por meio da assinatura da Lei Áurea. Contudo, a abolição da 
escravatura em terras brasileiras não foi um simples ato de benevolência da nobreza, 
mas resultado de intensas e sangrentas batalhas em nome da liberdade. 
Cabe salientar que o povo negro brasileiro muito sofreu após a abolição 
da escravidão. Assolados pela fome, escassez de empregos remunerados, falta 
de moradias, o povo negro foi empurrado para longe do convívio do branco, 
concentrando-se em localidades que hoje são chamadas de periferias. 
Ao português estranho ao continente cumpre juntar o negro, 
igualmente alienígena. A importação começou desde o estabelecimento 
das capitanias e avultou nos séculos seguintes, primeiro por causa da 
cultura da cana, mais tarde por causa do fumo, das minas, do algodão 
e do café. Depois da supressão do tráfico em 1850, o café provocou 
deslocações consideráveis na distribuição interna; o mesmo efeito 
produziu a abolição (ABREU, 2009, p. 16).
FIGURA 5 – TRANSPORTE DE NEGROS AFRICANOS PARA COMPOSIÇÃO DE MÃO DE OBRA ESCRAVA
FONTE: <https://www.olharconceito.com.br/imgsite/noticias/1(85).jpg>. Acesso em: 16 maio 2020.
UNIDADE 1 — O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO DOS SÉCULOS XIX E XX
14
Diversos foram os personagens e acontecimentos que marcaram a 
resistência negra em território brasileiro. Desde o suicídio das pessoas que não 
mais aguentavam os maus-tratos de uma vida sob regime de escravidão, os abortos 
induzidos pelas escravas negras que eram estupradas recorrentemente pelos seus 
senhores, até as paralisações, assassinatos e guerras contra os escravocratas, são 
exemplos de reação do povo negro trazido para cá. Muitos mártires, símbolos 
da violência e crueldade cometidas contra o povo negro no Brasil, são hoje 
considerados heróis que contribuíram no processo de libertação que se arrasta 
até os dias de hoje. 
Os escravos negros, muitas vezes, conseguiam fugir das senzalas, que 
eram os barracões e outras habitações insalubres e inseguras construídas pelos 
senhores de escravos (“donos” das pessoas que eram traficadas para mão de 
obra escrava) para abrigar o povo capturado em terras africanas. Esses escravos, 
então, associavam-se e formavam comunidades denominadas quilombos, onde 
passavam a se concentrar e acolher os demais negros fugitivos. Os quilombolas, 
moradores dos quilombos, eram comumente surpreendidos por ofensivas de 
capitães do mato, empregados dos senhores de escravos que caçavam e castigavam 
os fugitivos. Cabe salientar que muitos desses capitães do mato eram negros que 
ganhavam algumas regalias de seus senhores em troca de seus serviços, dentre 
elas a delação de escravos que planejavam fugir e a aplicação de penas físicas e 
diversos tipos de tortura.
 No interior das senzalas, os negros escravizados manifestavam sua fé 
e cultura, na medida do possível. As más condições das habitações resultavam 
em doenças e outros tipos de mazelas que dificultavam ainda mais a vida dos 
escravos. Já nos quilombos, que eram assentamentos mais isolados, escondidos 
da ação dos senhores de escravos e capitães do mato, os costumes dos negros 
escravizados podiam se manifestar de forma mais livre. Até hoje, no Brasil, existe 
certo preconceito em relação à cultura e religião de matriz afrodescendente. 
O senso comum dos brasileiros recorrentemente associa as crenças religiosas 
dos negros à feitiçaria ou a chamada “macumba”, expressão utilizada para 
estigmatizar a cultura negra. 
Houve muitas grandes e sangrentas revoltas decorrentes da tentativa de 
emancipação do povo negro em nosso país. Alguns dos principais símbolos de 
resistência negra e batalhas em nome da libertação dos escravos negros no Brasil 
estão listadas no quadro a seguir:
QUADRO 2 – ALGUMAS DAS RESISTÊNCIAS DE ESCRAVOS NEGROS NO BRASIL
• Quilombo dos Palmares: liderado por Zumbi dos Palmares e sua esposa 
Dandara, foi o maior quilombobrasileiro, situado onde hoje fica o estado 
do Alagoas, concentrando boa parte dos escravos fugitivos e soltos 
voluntariamente.
TÓPICO 1 — A FORMAÇÃO SOCIAL BRASILEIRA
15
• Fuga do Engenho Santana: em 1789, um grupo de escravos fugitivos 
constituiu um quilombo dentro do qual se organizaram e construíram um 
trato para apresentar aos senhores daquele engenho. Dentre as principais 
reivindicações estavam o direito ao lazer, folgas e liberação das manifestações 
culturais daquele grupo.
• Revolta dos Malês: rebelião organizada por negros livres e escravos da 
Bahia em busca da abolição. Esse levante ocorreu no ano de 1835 e foi uma 
das dezenas de greves só no estado baiano.
• Rebelião de Carrancas: outra importante rebelião ocorrida, dessa vez, em 
Minas Gerais no ano de 1833.
• Revolta de Manoel Congo: levante organizado por Manoel Congo no 
município de Vassouras, no Rio de Janeiro. Ocorreu no ano de 1838.
• Balaiada: resistência que ocorreu entre os anos de 1839 a 1842 no Maranhão, na 
qual escravos liderados por Cosme Bento das Chagas preocuparam as elites.
FONTE: O autor
Muito contribuiu para o fim da escravidão formal no Brasil as ações do 
chamado Movimento Abolicionista, composto por diversas classes sociais. 
Artistas, membros da elite, intelectuais, negros alforriados, escravos e mulheres 
promoveram diversos tipos de trabalho a favor da abolição da escravatura no 
Brasil. Isso não significa que os outros tipos de resistência já mencionados, além de 
muitos outros, não configurem movimentos abolicionistas. Todavia, o movimento 
passa a ter maior visibilidade e ascensão quando as camadas mais privilegiadas 
da sociedade brasileira interviram de forma mais ativa. Esse fato ilustra o severo 
grau de racismo incrustado em nossa sociedade, desde seus primórdios, quando 
a discriminação em relação às vontades dos negros era ainda mais explícita.
FIGURA 6 – MOVIMENTO ABOLICIONISTA
FONTE: <https://cutt.ly/6gbdOZ2>. Acesso em: 17 maio 2020.
UNIDADE 1 — O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO DOS SÉCULOS XIX E XX
16
Consideradas as bases de nossa sociedade, formada pelos povos nativos, 
colonizadores europeus e escravos negros trazidos da África, avançaremos para 
os períodos posteriores à era colonial. O advento da união do território brasileiro 
a Portugal no ano de 1815, somado às crises financeiras e políticas da coroa 
portuguesa, impulsionaram uma demanda pela Independência do Brasil, que 
já não sustentava tantas cobranças por parte também da Inglaterra. As elites 
portuguesas pressionavam pela volta do regime colonial no Brasil, enquanto as 
elites já estabelecidas em nossas terras não possuíam esse anseio. O então rei 
de Portugal, Dom João VI, deixa seu filho – que viria a se tornar Dom Pedro 
I – tomando conta da política brasileira até que, no ano de 1889, é proclamada a 
República Brasileira. 
Nos primeiros anos da República Velha (1889-1930), nosso povo se 
encontrava sob regime militar. Esse período é chamado de República da Espada 
(1889-1894). Deodoro da Fonseca entra como Presidente da República, substituindo 
o regime provisório dos militares. No ano é estabelecida a Constituição de 
1891, cujos principais pressupostos eram o as eleições diretas para homens 
alfabetizados com mais de 21 anos de idade, o federalismo, que consistia no 
confio de certa autonomia para os estados, divisão do poder em Legislativo, 
Executivo e Judiciário. Nessa época o Brasil também passa a emitir moedas em 
papel, medida adotada por Rui Barbosa, o então Ministro da Fazenda.
O período que vai de 1894 até 1930 é chamado de República Oligárquica, 
quando fora eleito Prudente de Moraes, primeiro presidente civil eleito. A política 
do Brasil era comandada por uma oligarquia rural, ou seja, por grandes produtores. 
O Partido Republicano Paulista (PRP) e o Partido Republicano Mineiro (PRM) 
eram os partidos que mais lançavam presidentes. A Política Café com Leite, 
batizada em referência às duas maiores atividades econômicas da época, era o 
regime eleitoral predominante, no qual os governadores dos estados brasileiros 
e os presidentes da República acordavam de maneira tanto legal quanto ilegal 
para não haver oposição à presidência vigente e garantia de autonomia estatal. 
De outro modo, a Política Café com Leite consistia em trocas de favores entre 
presidentes e governadores de forma a manipularem o jogo político. 
O coronelismo era o regime em que os coronéis, grandes proprietários de 
terra que exerciam influência direta sobre o povo que vivia no interior de seus 
domínios, conduziam o voto de cabresto. O voto de cabresto era a imposição 
do voto ao povo, que era submisso e financeiramente dependente dos violentos 
coronéis que o ameaçava. Tal regime provocou grandes desigualdades e exclusão 
no Brasil republicano, fato que motivou o nascimento dos chamados movimentos 
sociais do período. É válido ressaltarmos que as resistências indígena e negra do 
período colonial brasileiro também foram modalidade de movimento social, pois 
consistia na reivindicação por melhores condições de vida por parte das classes 
menos privilegiadas da sociedade.
TÓPICO 1 — A FORMAÇÃO SOCIAL BRASILEIRA
17
Entre 1893 e 1897, ocorre no Brasil a chamada Guerra de Canudos no 
nordeste brasileiro. Frente às condições de miséria vivenciadas pelo povo 
nordestino, assolado pela fome, seca e violência crescentes, Antônio Conselheiro, 
autointitulado um “enviado de Deus”, toma a frente de um movimento que 
resulta na formação do povoado de Canudos. As gigantescas proporções que o 
resultado dos discursos de Conselheiro tomou, abriu espaço para uma ofensiva 
das forças republicanas que massacraram o povo de Canudos. Há relatos que em 
torno de 20 mil, dos 25 mil habitantes de Canudos, foram mortos pelo exército. 
Além disso, aquela cidade foi totalmente destruída nesse ataque genocida ao 
povo nordestino, protagonizado pelas forças armadas brasileiras.
Dentre os mais notáveis movimentos sociais da época estava a Revolta 
da Vacina, no Rio de Janeiro, onde diversas pessoas estavam insatisfeitas com 
os constantes desalojamentos determinados pelo estado. Os despejos eram 
realizados para a manutenção viária e construção de espaços públicos, além 
disso, nesse mesmo período foi imposta a obrigatoriedade da vacinação contra as 
epidemias que assolavam o Rio. O acúmulo de lixo era um problema que trazia 
graves doenças para a população, dentre elas estão: a varíola, a peste bubônica 
e a febre amarela, doenças que matavam milhares de pessoas na época. Frente 
às drásticas medidas adotadas pelo então presidente Rodrigues Alves, eleito em 
1902, o povo carioca se amotinou.
FIGURA 7 – REVOLTA DA VACINA
FONTE: <https://cutt.ly/Mgbd04S>. Acesso em: 17 maio 2020.
A Revolta da Chibata (1910) foi um movimento social por meio do qual os 
marinheiros brasileiros de baixa patente reivindicavam o fim dos maus tratos que 
sofriam. O líder deles era João Cândido, conhecido como almirante negro, que 
fomentava os pedidos por melhor condições de trabalho, alimentação e a anistia 
daqueles que se envolveram na referida revolta. O movimento foi duramente 
reprimido pelo governo. Mais tarde, entre 1912 e 1917, ocorre a Guerra do 
Contestado, entre as fronteiras do estado do Paraná e Santa Catarina. 
UNIDADE 1 — O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO DOS SÉCULOS XIX E XX
18
O conflito sócio-político se originou da construção de uma estrada de ferro 
que ligaria São Paulo ao Rio Grande do Sul e demandou a expulsão de muitas pes-
soas de suas terras. José Maria de Santo Agostinho, líder que se sensibilizou com o 
sofrimento daqueles camponeses, posicionou-se contra o regime republicano brasi-
leiro e logo seu movimento de resistência foi desmantelado pelas forças do governo.
O declínio do regime republicano oligárquico se deu com a ascensão 
do tenentismo. Os tenentes eram jovens oficiais que eram contra as oligarquias 
ruralistas que conseguiram implantar o voto secreto no Brasil. Em meio a uma 
crise econômica que afetou o mercado brasileirodo café, enfraquecendo as elites 
aqui estabelecidas, existiu também um conflito político entre Minas Gerais e São 
Paulo. No ano de 1930, o então presidente Washington Luís, lançado por São 
Paulo, estava em seu último ano de mandato, apoiando o candidato Getúlio 
Vargas que perdera as eleições para Júlio Prestes, de Minas Gerais. Sob suspeitas 
de fraudes eleitorais agravadas pelo o assassinato de João Pessoa, vice de Getúlio 
Vargas, Júlio Prestes é deposto por militares que, por meio de um golpe, nomeiam 
Vargas presidente da República no ano de 1930. Tal fato marca o fim do período 
da República Velha.
A breve síntese que acabamos de fazer acerca da formação social do Brasil 
nos apresenta alguns dos elementos que formam a base de nossa sociedade. Nosso 
povo, nossa cultura, costumes, crenças e tradições, são fruto de um complexo e 
amplo processo histórico que envolveu diversos povos, de diversos cantos do 
Planeta. No próximo tópico continuaremos com a síntese histórica nacional sob a 
perspectiva de diversos autores fundamentais à teoria social brasileira. 
19
Neste tópico, você aprendeu que:
• O território que hoje corresponde ao Brasil era habitado por nativos de 
diversas etnias antes da chegada dos invasores portugueses.
• Os povos indígenas, como são conhecidos até hoje os povos nativos brasileiros, 
possuíam uma cultura altamente desenvolvida, além do domínio sobre os 
recursos naturais aqui existentes.
• A invasão portuguesa trouxe consigo a escravidão, tanto dos povos nativos 
quanto dos negros trazidos da África para cá.
• Muitos movimentos de resistência e luta pela emancipação de nossos povos 
foram travadas em território brasileiro.
• O chamado período republicano foi marcado por diversas revoltas populares 
e regimes políticos variados.
• A sociedade brasileira foi formada por elementos advindos das culturas 
nativa, negra e europeia.
RESUMO DO TÓPICO 1
20
1 Antes mesmo de ser conhecido como Brasil, o território no qual vivemos 
era habitado por diversas etnias nativas. Esses povos eram, em sua maioria, 
pessoas que viviam em harmonia com a natureza, além de possuírem política 
bem organizada e altos conhecimentos sobre os recursos naturais – que 
eram muito mais abundantes antes da invasão portuguesa. A chegada dos 
europeus em terras brasileiras foi motivo de muitos conflitos e resistência 
por parte dos povos que aqui habitavam. Covardemente explorados pelos 
colonizadores, os chamados e até hoje conhecidos como indígenas, foram 
submetidos a trabalhos braçais por objetos que recebiam em troca por meio 
do escambo, quando não eram explicitamente escravizados. De acordo com 
as lutas por emancipação protagonizadas pelos povos indígenas no Brasil, 
classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
( ) Houve grandes cercos a cidades e vilas ocupadas por colonizadores 
europeus em busca da libertação de pessoas escravizadas, muitos deles 
terminando em sangrentos confrontos entre nativos e invasores.
( ) Alguns grupos indígenas faziam acordos com colonizadores, conforme 
às demandas por melhores condições de vida às suas tribos, o que não 
impedia que membros da mesma tribo não concordassem com os termos 
estabelecidos pelos portugueses e outros europeus.
( ) Aconteceram conflitos nos quais diversos grupos indígenas diferentes se 
associaram para lutar em resistências às más condições de vida impostas 
pela colonização europeia, alguns terminando na expulsão ou morte de 
colonos invasores.
( ) Os índios submetidos ao escambo não estavam sendo explorados, pois as 
trocas estabelecidas pelos portugueses eram sempre justas e supriam as 
necessidades dos povos nativos, sem demanda por conflitos.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – V – V – F. 
b) ( ) V – V – V – V.
c) ( ) F – V – V – V.
d) ( ) F – V – F – V.
e) ( ) F – F – F – V.
2 O povo negro que foi trazido por meio de tráfico negreiro e hoje compõe 
mais da metade da população brasileira, sempre foi combativo em relação 
aos abusos cometidos pelos senhores de engenho do período colonial 
brasileiro e às sequelas sociais iniciadas nesse tempo. Embora sejam 
diversos os relatos históricos que atribuem à Princesa Isabel e ao 13 de maio 
à liberdade do povo negro no Brasil, estudamos que o trabalho realizado a 
favor da plena emancipação dessas pessoas continua contemporaneamente, 
porém, protagonizado pelo próprio movimento. Foram diversos os levantes 
AUTOATIVIDADE
21
dos escravos negros, que se rebelavam e se concentravam em quilombos, 
reivindicando por direitos que vão desde melhores condições de vida nas 
senzalas à liberdade de manifestações culturais e religiosas. Com base nos 
principais conflitos que ocorreram em nome da liberdade do povo negro no 
Brasil, analise as sentenças a seguir:
I - Zumbi dos Palmares foi um grande líder negro que orientou a resistência 
do quilombo dos Palmares, o maior e mais populoso do Brasil, onde ele e 
sua esposa Dandara trabalharam a favor da emancipação de seu povo.
II - Era muito comum a prática do suicídio entre o povo negro na época das 
senzalas, tão como os abortos realizados por escravas que eram vítimas 
frequentes de estupros cometidos pelos senhores de escravos.
III - Dentre as práticas de resistência, que fizeram parte da luta a favor da 
emancipação do povo negro no período colonial, estão as greves e os 
levantes contra os abusos sofridos durante o regime escravagista.
IV - Apesar da Lei Áurea propor, no dia 13 de maio de 1888, a libertação 
dos escravos no Brasil, as dificuldades sociais junto à discriminação e 
preconceito contra os negros são sequelas do período escravista até os 
dias de hoje.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Somente a sentença I está correta.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) Somente a sentença III está correta.
d) ( ) As sentenças I, II, III e IV estão corretas.
3 O período do Brasil República, dividido em vários momentos conforme 
historiadores, foi marcado por diversas revoltas populares e militares. 
Os novos movimentos sociais emergentes no final do século XIX e início 
do século XX coexistiam com diversos movimentos e dinâmicas sociais 
baseadas na autoridade e no militarismo. De acordo com os conhecimentos 
absorvidos no primeiro tópico de nosso livro de Sociologia Brasileira, 
disserte acerca dos conceitos de coronelismo, tenentismo e sobre a Guerra 
de Canudos e a Revolta da Vacina.
22
23
TÓPICO 2 — A 
UNIDADE 1
SISTEMATIZAÇÃO DA SOCIOLOGIA NO 
BRASIL
1 INTRODUÇÃO
A Sociologia no Brasil emergiu de um processo histórico no qual as 
demandas pela construção de uma teoria social que atendesse a alguns tipos 
de interesse. No presente tópico, abordaremos o processo de organização da 
Sociologia Brasileira anterior a sua formalização e institucionalização. Ou 
seja, analisaremos o período de nascimento das primeiras análises sociais 
documentadas por autores genuinamente brasileiros, que vivenciaram boa 
parte da história de nosso povo e nossa sociedade. Desse modo, conseguiremos 
acompanhar, mesmo que de maneira resumida, a trajetória que percorreram 
as análises sociais brasileiras. Serão estudadas desde as experiências de estudo 
social pioneiras, realizadas em ambiente e por profissionais não pertencentes ao 
meio propriamente sociológico, até o pensamento social científico/acadêmico 
contemporâneo, metodologicamente mais avançados.
Começaremos pela contextualização do período no qual escreveram 
os principais autores de nosso pensamento social, partindo para a análise das 
ideias de diversos outros influentes pensadores nacionais, tão como aqueles 
que são considerados marginais, tanto acadêmica quanto popularmente. Então 
começaremos pelas principais abordagens dos estudos sociais do Brasil.
2 A CONSTITUIÇÃO DO PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO
O conflito entre classes foi o objeto de estudo mais enfatizado das Ciências 
Sociais em seu período de nascimento. Isso ocorria em todo o mundo e na América 
Latinanão foi diferente. O pensamento social foi muito influenciado pelas teorias 
marxistas (MARX, 2013), pois a principal preocupação dos primeiros pensadores a 
investigar a dinâmica social do continente era a condição de exploração das então 
colônias europeias. A pobreza, conflitos étnico-raciais, a violência de maneira 
geral e o processo histórico que resultaram em tais fatores foram as principais 
abordagens da época.
O pensamento social no Brasil, naturalmente, foi constituído por 
pensadores que não eram considerados sociólogos, teóricos políticos ou 
outras classificações intelectuais e/ou acadêmicas. Basta lembrarmos que o 
reconhecimento dos campos do saber de maneira isolada, como hoje é feito na 
Academia, é um fenômeno bastante recente. 
24
UNIDADE 1 — O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO DOS SÉCULOS XIX E XX
As primeiras formações acadêmicas de pesquisadores sociais, ocorre na 
década de 1930 em nosso país. As Ciências Sociais brasileiras foram impulsionadas, 
em grande parte, por autores independentes que relatavam suas impressões sobre 
o período histórico no qual viveram e seu passado.
Conforme os estudos de Cândido (2006), podemos dividir a Sociologia 
Brasileira em dois períodos, de acordo com os pensadores e o contexto no qual 
escreveram. O referido autor sustenta que o primeiro período de produção do 
pensamento social brasileiro está compreendido entre os anos de 1880 e 1930, 
sendo o período de 1930-1940 considerado um momento de transição para a 
produção intelectual voltada à sociedade brasileira a partir da década de 1940. 
A partir daí a Sociologia estaria mais estruturada e seus autores cada vez mais 
especializados na investigação dos fenômenos sociais nacionais.
No Brasil, podemos distinguir nitidamente, na evolução da Sociologia, 
dois períodos bem configurados (1880-1930 e depois de 1940), 
com uma importante fase intermédia de transição (1930-1940). No 
primeiro, é praticada por intelectuais não especializados, interessados 
principalmente em formular princípios teóricos ou interpretar de 
modo global a sociedade brasileira. Além disso, não se registra o 
seu ensino, nem a existência da pesquisa empírica sobre aspectos 
delimitados da realidade presente (CÂNDIDO, 2006, p. 271).
Considerado o trecho anterior, partiremos das análises de autores 
do século XIX para então compreendermos o processo histórico pelo qual se 
desenvolveu o pensamento social brasileiro. Iniciaremos nossos estudos sobre 
a constituição do pensamento social brasileiro a partir da obra de Constância 
Duarte (2010) sobre Nísia Floresta Brasileira Augusta, pseudônimo de Dionísia 
Gonçalves Pinto, nascida em Papari, no Rio Grande do Norte, no ano de 1810. Ela 
foi um grande nome do pensamento social do século XIX e uma das pioneiras do 
debate de gênero nacional. 
Quando observamos o percurso realizado pelas mulheres na conquista 
de seus direitos mais elementares, como o de ser alfabetizada, poder 
frequentar escolas ou simplesmente ser considerada dotada de 
inteligência, verificamos o quanto esse trajeto foi penoso. Em parte, 
é possível vislumbrá-lo através das trilhas deixadas por algumas 
escritoras em seus textos, conscientes de que faziam parte de uma 
reduzida elite de mulheres letradas, e que a educação era importante 
para a valorização social do gênero feminino. Dentre as que 
participaram desse debate, ao longo do século XIX, está a norte-rio-
grandense Nísia Floresta Brasileira Augusta, autora de importantes 
títulos sobre a mulher, professora e fundadora de colégios para 
meninas, que muito contribuiu para o avanço da educação feminina 
em nosso país (DUARTE, 2010, p. 11).
Além dos direitos da mulher, Nísia Floresta reivindicava, por meio de seus 
escritos, pelos direitos fundamentais dos índios e dos escravos negros brasileiros. 
Ela escreveu sobre os direitos das mulheres e os abusos cometidos pelos homens 
na sociedade patriarcal na qual estamos inseridos. 
TÓPICO 2 — A SISTEMATIZAÇÃO DA SOCIOLOGIA NO BRASIL
25
Foi um grande exemplo de resistência feminina que, em tempos quando 
a mulher era dificilmente alfabetizada, forçada a ficar em casa cuidando 
exclusivamente da família e dos afazeres domésticos, Nísia Floresta viajou por 
países como Portugal, Inglaterra, Alemanha, Grécia, Itália e França, estudando 
e lecionando para meninas. Umas de suas obras mais notáveis é Direitos das 
mulheres e injustiça dos homens (FLORESTA, 1839), publicada pela primeira vez no 
ano de 1833. Pode ser considerada uma das precursoras do movimento feminista 
brasileiro, inspirando não só mulheres, mas diversos estratos sociais menos 
privilegiados, explorados e escravizados. 
FIGURA 8 – RETRATO DE NÍSIA FLORESTA
FONTE: Duarte (2010, p. 10)
Um dos grandes nomes do abolicionismo brasileiro é o de Joaquim Na-
buco (1849-1910). Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo foi um político, di-
plomata, advogado e historiador pernambucano que publicava poesias e chegou a 
ser Deputado Geral da Província no ano de 1878. Fundou em sua casa, na praia do 
Flamengo, uma Sociedade Contra a Escravidão. No ano de 1884, Nabuco apoiava 
o Gabinete liberal Sousa Dantas, que propôs diversas medidas que objetivavam 
extinguir gradualmente a escravidão no Brasil. Em 1985 é promulgada a Lei dos Se-
xagenários e, em 1887, Nabuco se torna deputado de Pernambuco. Em discurso na 
Câmara condena a utilização do Exército na perseguição dos escravos fujões. Teve 
forte atuação nos trâmites para a assinatura da Lei Áurea em 13 de maio de 1888.
FIGURA 9 – JOAQUIM NABUCO
FONTE: <https://cutt.ly/egmJcqE>. Acesso em: 19 maio 2020. 
26
UNIDADE 1 — O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO DOS SÉCULOS XIX E XX
No dia 29 de maio de 1867, nascia em Aracati, no Ceará, Adolfo Ferreira 
Caminha, um escritor naturalista que publicou poemas e fundou a Padaria 
Espiritual, movimento literário-político que sustentava a importância da educação 
no que diz respeito aos avanços sociais. Nasceu em tempos difíceis nos quais a 
seca assolava o nordeste brasileiro. Simpatizava com o abolicionismo e publicou 
o jornal O Pão. Sua difícil vida que se findou aos seus 30 anos de idade, inspirou 
obras grandes e quase sempre trágicas.
FIGURA 10 – ADOLFO CAMINHA
FONTE: <https://cutt.ly/3gmJSud>. Acesso em: 19 maio 2020.
Outro grande nome do pensamento social brasileiro é João da Cruz e 
Sousa, poeta, filho de escravos, que nasceu em 1861, na cidade de Nossa senhora 
do Desterro. Teve a oportunidade de estudar no Liceu Provincial de Santa 
Catarina apesar da dura discriminação racial que sofria. Quem financiou seus 
estudos foram os antigos “proprietários” de seus pais, que eram aristocratas. 
Escreveu para o jornal abolicionista Tribuna Popular e é patrono da Academia 
Catarinense de Letras. Colaborou com o jornal Folha Popular e escreveu também 
para revistas. Era ativista a favor do fim do racismo e seus textos quase sempre 
tratavam dos temas escravidão, solidão e dor. Pode ser considerado um símbolo 
da difícil ascensão do povo negro aos cargos tradicionalmente brancos, tão 
como um dos negros pioneiros da Academia no Brasil. Apesar das dificuldades 
provocadas pelo racismo que sofria, era bastante reconhecido entre seus colegas 
e chegou a ser apelidado de “Dante Negro”, em referência ao escritor humanista 
da Itália, Dante Alighieri.
TÓPICO 2 — A SISTEMATIZAÇÃO DA SOCIOLOGIA NO BRASIL
27
FIGURA 11 – CRUZ E SOUSA
FONTE: <https://cutt.ly/WgmJ0ss>. Acesso em: 19 maio 2020.
Domingos José Gonçalves de Magalhães, que viria a se tornar o Visconde 
do Araguaia, é outro dos grandes nomes da política e pensamento social do 
século XIX. Foi um carioca que construiu uma densa carreira, trabalhando como 
médico, professor, diplomata, político, poeta e ensaísta. Divulgou a cultura 
brasileira por meio da Revista Niterói, fundada por ele junto aos escritores 
brasileiros Manuel de Araújo Porto-Alegre (1806-1879) e Francisco de Sales 
Torres Homem (1812-1876). Foi Deputado do Rio Grande do Sul e diplomata no 
cargo de Ministro de Negócios de paísescomo Paraguai, Argentina, Uruguai, 
Estados Unidos, Itália, Vaticano, Áustria, Rússia e Espanha. Também atuou 
como professor de Filosofia e possui uma extensa obra.
FONTE: <https://www.todamateria.com.br/goncalves-de-magalhaes/>. Acesso em: 19 maio 2020.
FIGURA 12 – GONÇALVES DE MAGALHÃES
FONTE: <https://cutt.ly/ngmKvvm>. Acesso em: 19 maio 2020.
28
UNIDADE 1 — O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO DOS SÉCULOS XIX E XX
O poeta, professor, crítico de história, jornalista, teatrólogo e etnólogo, 
Antônio Gonçalves Dias, nasceu em Caxias, no Maranhão, no ano de 1823, sendo 
um dos pensadores que ajudaram a construir o pensamento social brasileiro. 
Fundou a Revista Literária Guanabara e escreveu para diversos jornais da época. 
O autor mestiço foi autor do livro Os Últimos Cantos e grande divulgador da 
grandeza indígena do Brasil. Exaltava o povo nativo brasileiro, atribuindo o papel 
de protagonista aos índios de seus contos. É autor da famosa Canção do Exílio. 
FIGURA 13 – GONÇALVES DIAS
FONTE: <https://s.ebiografia.com/assets/img/authors/go/nc/goncalves-dias-l.jpg>. 
Acesso em: 19 maio 2020.
Por fim, consideremos a obra de Machado de Assis, que foi um jornalista, 
contista, cronista, romancista, poeta e teatrólogo, nascido no ano de 1839, no Rio 
de Janeiro. Joaquim Maria Machado de Assis é considerado um dos maiores, 
senão o maior nome da literatura brasileira. Foi criado no Morro do Livramento, 
estudou de acordo com suas condições e se tornou um grande revisor e escritor 
brasileiro. Também colaborou com o indianismo, dedicando várias de suas obras 
ao povo nativo brasileiro. No quadro a seguir, encontram-se algumas de suas 
principais obras e suas sínteses:
QUADRO 3 – AS OBRAS MAIS IMPORTANTES DE MACHADO DE ASSIS
Memórias Póstumas de Brás Cubas – Nesta criação de 1881, o autor nos mostra a 
perspectiva de um narrador, Brás Cubas, que decide contar sua história de vida 
após sua morte. O livro é cercado de ironia e críticas aos privilégios e a elite da 
época, uma das principais obras de Machado de Assis e sempre exigido nos 
vestibulares.
Dom Casmurro – Esta obra foi publicada pela primeira vez em 1899 e traz o olhar 
minucioso do autor sobre a sociedade e um tema polêmico: o ciúme. Isso, além 
de uma das mais famosas personagens da literatura brasileira: Capitu.
TÓPICO 2 — A SISTEMATIZAÇÃO DA SOCIOLOGIA NO BRASIL
29
A Mão e a Luva – Segundo romance de Assis, a obra foi publicada em 1874, 
em folhetins. Dessa forma, se comparada aos livros anteriores, sua escrita 
é algo mais superficial e simples, com um tom novelesco. A trama gira em 
torno dos relacionamentos burgueses e da personagem Guiomar, protagonista 
considerada heroína da história.
Helena – Com a trama ambientada em Andaraí, no Rio de Janeiro, acompanhamos 
um romance cercado de surpresas, amor proibido e personagens dramáticos. 
Dividido no total de 28 capítulos, esta obra de Machado de Assis faz críticas à 
sociedade e foi publicada em formato de folhetim, em 1876.
Quincas Borba – Lançado em 1891, neste livro acompanhamos a história de 
Rubião, um ingênuo rapaz que decide seguir os ensinamentos do filósofo 
Quincas Borba. Narrado em terceira pessoa, o livro possui traços realistas para 
a época, com muita ironia e certas doses de pessimismo.
Iaiá Garcia – Marcando o fim da fase romântica de Machado de Assis, o livro 
de 1878, também reúne detalhes da sociedade daquela época: os interesses, 
questões de poder, amores proibidos e casamentos arranjados.
Ressurreição – Esta obra de Machado de Assis, de 1872, marca o estilo 
“machadiano”, com os traços de romance, a intimidade com o leitor e o 
pessimismo presente em quase todos os seus livros. No enredo temos Félix, um 
rapaz descrente da própria vida amorosa até se apaixonar por Lívia. Depois, 
somos cercados pela desconfiança do personagem e, mais uma vez, pelo ciúme 
cego do protagonista.
FONTE: <https://beduka.com/blog/materias/literatura/principais-obras-machado-assis/>.
 Acesso em: 19 maio 2020.
FIGURA 14 – MACHADO DE ASSIS
FONTE: <http://machado.mec.gov.br/templates/machado/img/machado.png>. 
Acesso em: 19 maio 2020.
30
UNIDADE 1 — O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO DOS SÉCULOS XIX E XX
É claro que o pensamento social brasileiro foi construído por diversos 
outros autores que, infelizmente, não poderemos apresentar no presente material. 
Todavia, a partir da obra de tais intelectuais, conseguimos identificar os principais 
problemas sociais brasileiros vivenciados até o século XIX. A partir daí, podemos 
explorar as principais abordagens das Ciências Sociais brasileiras, por mais que 
ainda não existisse um campo do saber específico dedicado a esses estudos até então. 
As principais inquietações dos autores tributários ao pensamento social do Brasil 
serão abordadas no próximo subtópico, que ampliará nosso repertório de autores 
fundamentais à formação da Sociologia Brasileira tal como a concebemos hoje. É 
importante salientar que as sínteses apresentadas no presente tópico são de caráter 
introdutório. A complexidade e vastidão da produção da Teoria Social brasileira 
demanda pesquisas mais aprofundadas, tendo em vista o caráter fundamental da 
História do Brasil para o entendimento da problemática social nacional.
3 PRINCIPAIS ABORDAGENS DA TEORIA SOCIAL BRASILEIRA
O subtópico anterior nos apresentou alguns dos tributários da Teoria 
Social Brasileira que evidenciam os principais objetos de estudo do período 
que se inicia com a chegada dos portugueses ao Brasil até o Período Colonial. 
Agora, destacaremos as abordagens predominantes intrínsecas ao pensamento 
social brasileiro, inserindo o ponto de vista de outros autores fundamentais à 
composição das Ciências Sociais no Brasil.
No século XIX, o autor Tobias Barreto de Menezes já tecia reflexões sobre 
temas que abarcavam a Filosofia e Psicologia a fim de compreender o pensamento 
humano. Desde o referido período, Menezes (1889) já expressava suas inquietudes 
em relação à condição humana e nossos direitos fundamentais. A dominação 
de determinadas classes e os efeitos sociais do sistema capitalista faziam parte 
do pensamento desse autor que reconhecia a importância da literatura para a 
construção do pensamento social.
Espíritos medíocres que tiveram a ventura de apparecer á hora própria, 
poderam facilmente conseguir uma reputação intelectual, acima do seu 
mérito e dos seus esforços. De dia em argumentando e capitalisando 
esse renome indebto, fructo do commercio com a ignorância geral, 
chegaram enfim ao ponto de immobilisar, por assim dizer, na pessoa 
deles, todas as honras literárias, e tornal-as para outros de uma quasi 
impossível acquisição (sic) (MENEZES, 1889, p. 113-114).
Outras abordagens da sociedade brasileira foram realizadas por Sílvio 
Romero, que considerava imprescindível levarmos em conta as condições 
climáticas e geográficas do Brasil, os três povos fundamentais que o formaram tão 
como os aspectos morais de nosso povo para compreendermos nossa realidade 
(MORAES FILHO, 1999). O autor sustenta a ideia de que os estudos sociais 
devem contemplar análises antropológicas, biológicas, filosóficas e políticas para 
que sejam consistentes.
TÓPICO 2 — A SISTEMATIZAÇÃO DA SOCIOLOGIA NO BRASIL
31
[...] Sílvio Romero avança a hipótese de que o estudo deve considerar 
o conjunto de elementos assim classificados: primários (ou naturais); 
secundários (ou étnicos) e terciários (ou morais). No primeiro plano 
as questões mais importantes dizem respeito ao clima e ao meio 
geográfico. Aponta-os: “o excessivo calor, ajudado pelas secas na 
maior parte do país; as chuvas torrenciais no vale do Amazonas, 
além do intensíssimo calor; a falta de grandes vias fluviais entre o S. 
Francisco e o Paraíba: as febres de mau caráter reinantes na costa”. 
A isto acrescenta: “o mais notável dos secundários é a incapacidade 
relativa das três raças que constituíram a população do país. Os 
últimos – os fatores históricos chamados política, legislação, usos, 
costumes, que são efeitos que depoisatuam também como causas”. 
Em síntese, as diversas doutrinas acerca do Brasil chamaram a atenção 
para aspectos isolados, que cabia integrar num todo único. O destino 
do povo brasileiro, a exemplo do que se dava em relação à espécie 
humana, estaria traçado numa explicação de caráter biosociológica, 
como queria Spencer (MORAES FILHO, 1999, p. 51).
A construção da nacionalidade brasileira foi abordada por Adolfo 
Varnhagen (1957 apud GUIMARÃES, 1988), que aborda a relação entre o homem 
branco, a nação e o Estado para tentar entender o fenômeno do nacionalismo. 
Varnhagen (1857 apud GUIMARÃES, 1988, p. 18), em relação a sua metodologia 
de estudos, evidencia que: “Em geral busquei inspirações de patriotismo sem ser 
no ódio a portugueses ou à estrangeira Europa, que nos beneficia com ilustrações; 
trarei de pôr um dique a tanta declamação e servilismo à democracia; e procurei 
ir disciplinando produtivamente certas ideias soltas de nacionalidade”.
Devemos considerar o fato de que o Brasil foi construído à base de mão 
de obra negra e indígena, explorada pelos europeus colonizadores. A partir de 
tais pilares, desenvolveram-se diversos tipos de problemas sociais que hoje são 
investigados pela Sociologia Brasileira. 
A dominação de classes, raças e interesses é tema de múltiplas pesquisas 
que, até os dias de hoje, são desafio para os estudiosos que produzem a Teoria 
Social Brasileira. A economia baseada na agricultura, que carrega a herança da mão 
de obra escrava, reflete em diversas problemáticas sociais como a desigualdade, 
a violência, a miséria, o racismo e diversos outros problemas. 
No próximo tópico abordaremos o processo de institucionalização da 
Sociologia no Brasil, apresentando o desenvolvimento e a formalização da disciplina 
como campo do saber independente, tão como a Sociologia foi inserida no âmbito 
acadêmico brasileiro. Para tanto, evidenciaremos o desenrolar histórico das Ciências 
Sociais no país, seu contexto de formação e seus principais produtos iniciais.
32
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• A Teoria Social brasileira foi constituída, inicialmente, por diversos pensadores 
de distintas áreas do conhecimento que acompanhavam os problemas sociais 
do período histórico no qual viveram.
• Dentre os autores que relataram as principais problemáticas sociais brasileiras 
estão tributários do abolicionismo, indianismo, feminismo entre outros.
• O pensamento social brasileiro já se manifestava por meio da literatura, 
jornalismo, política entre outros meios, antes mesmo de se tornar um campo 
do saber independente.
• As principais abordagens sociais estabelecidas anteriormente à formalização 
das Ciências Sociais no Brasil giram em torno da questão racial, colonizadora, 
escravista e econômica.
33
1 A Teoria Social brasileira nasceu anteriormente à formação das Ciências 
Humanas formais. Foram diversos os pensadores que já problematizavam, 
principalmente a partir do século XVIII, a sociedade que se consolidava no 
Brasil. Dentre os principais assuntos abordados por tais intelectuais estavam 
a dominação de classes, patriarcado, escravidão, formação do povo brasileiro, 
colonialismo e outros. Considerando a produção intelectual voltada à Teoria 
Social brasileira, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
( ) Nísia Floresta, por ser considerada uma das pioneiras não só dos debates 
feministas brasileiros como também da ascensão acadêmica feminina, 
tendo em vista as dificuldades que a mulheres sofriam e sofrem até hoje 
em relação ao ingresso na carreira de educador no Brasil.
( ) Dentre os autores nacionais que escreviam, ainda no século XVIII, 
sobre o cenário social brasileiro, muitos trabalhavam como jornalistas, 
professores, políticos, poetas e diversas outras ocupações.
( ) Os autores que trabalhavam a favor do abolicionismo escravocrata no 
Brasil nem sempre eram de origem afrodescendente, sendo alguns deles 
políticos, intelectuais, artistas e outros simpatizantes não negros da causa.
( ) O indianismo é uma das vertentes que surgiram da necessidade que 
alguns autores tiveram de resgatar o protagonismo indígena na formação 
do povo brasileiro, ou seja, reatribuir aos povos nativos do Brasil o título 
de brasileiros legítimos, cuja cultura e etnia foram reduzidas drástica e 
cruelmente frente à dominação europeia.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – V – V – F.
b) ( ) V – V – V – V.
c) ( ) F – V – V – V.
d) ( ) F – F – V – V.
e) ( ) F – F – F – V.
2 O contexto histórico-geográfico no qual se formou o Brasil é único, assim como 
em cada um dos países colonizados ou não. As condições materiais de cada 
território, tão como as especificidades de cada povo que habita determinada 
região são fatores particulares que ajudam a moldar as civilizações que 
ocupam qualquer tipo de espaço. No caso do Brasil, a riqueza de recursos 
naturais e a multiplicidade de etnias que aqui habitavam antes da invasão 
portuguesa, são os pilares de nossa história, que continuou após a chegada 
dos colonizadores e do povo negro trazido da África para serem escravizados 
aqui. Frente à diversidade dos elementos que constituem a sociedade 
brasileira, foram tecidas análises sociais que, desde a chegada dos europeus às 
terras tupiniquins, serviram de base para formação da Teoria Social brasileira. 
Com base nas afirmações sobre as principais abordagens do pensamento 
social brasileiro do Período Colonial, analise as sentenças a seguir:
AUTOATIVIDADE
34
I- Um dos temas mais discutidos entre os pensadores do Período Colonial 
brasileiro é o da exploração do povo nativo, êxodos e o a mão de obra 
escrava com todas suas implicações.
II- Os autores do século XVIII e início do século XIX relataram diversos tipos 
de conflitos entre colonizadores e povos nativos, europeus e escravos 
negros além de alianças entre alguns povos distintos.
III- São frequentes os relatos de lutas entre indígenas e negros que disputavam 
o território brasileiro, tão como a união entre povos europeus para 
escravização e comercialização do povo nativo em terras estrangeiras.
IV- Muitos dos relatos dos precursores do pensamento social brasileiro são 
referentes às resistências que culminaram na expulsão de alguns grupos 
de colonizadores das terras por ele invadidas.
Assinale a alternativa CORRETA?
a) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.
b) ( ) As sentenças I, II e IV estão corretas.
c) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
d) ( ) As sentenças I e IV estão corretas.
e) ( ) As sentenças II, III e IV estão corretas.
3 A ocupação de nosso território por colonizadores europeus é comumente 
retratada como o “descobrimento do Brasil”, todavia, sabemos que aqui 
já existia uma multiplicidade de povos e etnias com dinâmicas sociais 
muito diferentes da europeia, antes mesmo do ano de 1500. O processo 
de aculturação “soterrou” uma grande variedade de culturas, crenças, 
conhecimentos e maneiras de se interagir com a natureza e seus recursos. 
Sabendo isso, faça uma reflexão sobre um Brasil contemporâneo, caso 
os colonizadores não tivessem ocupado as terras dos povos originários. 
Disserte sobre como seria, em sua opinião, um Brasil formado pelos 
povos nativos, sem a interferência do restante do mundo, sem a presença 
da dinâmica capitalista de superprodução, acumulação e consumo, sem 
exploração dos povos e recursos naturais aqui existentes.
35
TÓPICO 3 — 
UNIDADE 1
A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA 
SOCIOLOGIA NO BRASIL
1 INTRODUÇÃO
No presente tópico, daremos sequência à reconstituição e síntese histórica 
iniciada no primeiro tópico, contextualizando o nascimento da Sociologia no 
Brasil como campo do conhecimento independente. Trabalharemos também 
a trajetória dos estudos sociais brasileiros, analisando a maneira com a qual é 
inserida, suspensa e retorna à educação pública nacional.
Para tanto, iniciaremos nossas analises a partir da Revolução de 1930, 
quando se inicia a Era Vargas,período da História do Brasil em que as ciências 
sociais ganham um novo escopo, uma nova dinâmica política emerge e a 
Sociologia ganha um espaço no qual jamais esteve inserido. Acompanhe, então, 
como evoluiu e as transformações que sofreu a Sociologia Brasileira com o 
desenrolar do processo histórico.
2 O NASCIMENTO DA SOCIOLOGIA NO BRASIL
No período que compreende os anos de 1930 a 1945, intitulado Era 
Vargas, o Brasil passa por profundas mudanças políticas, econômicas e sociais. 
Com a tomada de poder por Getúlio Vargas, que assumiu o governo do país por 
meio de um Golpe de Estado apoiado principalmente por militares, a dinâmica 
da Política Café com Leite é rompida, afastando as oligarquias da alternância 
de poder no Brasil. Uma de suas primeiras medidas com relação à Economia 
nacional foi a queima de uma grande parte do café produzido e estocado no 
país a fim de valorizar o produto, tendo em vista que a Crise Econômica de 
1929 havia prejudicado o preço do café. Outra importante medida adotada por 
Getúlio Vargas foi o investimento na indústria com o intuito de substituir a antiga 
economia baseada no comércio de produtos agrícolas.
Nesse período, mais especificamente no ano de 1932, foi publicado o 
Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, um documento escrito por intelectuais 
brasileiros com o objetivo de orientar uma transformação social por meio de 
políticas públicas educacionais brasileiras. Dentre os principais pressupostos do 
Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova estava o enaltecimento dos direitos 
dos cidadãos brasileiros no que tange à educação. 
36
UNIDADE 1 — O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO DOS SÉCULOS XIX E XX
O material propunha que a educação brasileira fosse única, gratuita, 
obrigatória e laica, respeitando o protagonismo da sociedade brasileira sobre nosso 
desenvolvimento social. O Estado, a partir daí, teria maiores responsabilidades 
sobre a educação no país, garantindo o acesso e a permanência de jovens nas escolas.
A Reforma Capanema foi uma reforma educacional promovida pelo 
ministro da Educação e da Saúde de Getúlio Vargas, Gustavo Capanema, que 
implementou, no ano de 1942, uma política educacional alinhada ao seu ideário. 
A referida reforma foi responsável pela regulamentação do ensino primário, 
criou o supletivo para as pessoas que não puderam concluir os estudos no tempo 
estabelecido, organizou o ensino ginasial (4 anos) e colegial (3 anos), estabeleceu 
o ensino profissional de nível médio além da criação do “Sistema S” de formação 
profissional. De acordo com a Agência Senado, Sistema S é um:
A adoção da Reforma Capanema revela uma característica fundamental 
no propósito da educação brasileira no início do século XX. Os investimentos 
eram majoritariamente voltados à formação profissional do povo, tendo em vista 
a tentativa de industrialização do Brasil durante a Era Vargas. Os estudos de 
Torres (2016) identificam que essa tendência perdura contemporaneamente nas 
políticas públicas educacionais brasileiras. Todavia, foi também durante a Era 
Vargas que a Sociologia emerge como campo especializado do saber em terras 
tupiniquins. Como Cândido (2006) já nos revelava no ano de 1956, de acordo 
com suas pesquisas, a Sociologia no Brasil pode ser considerada existente desde o 
século XIX, sendo, até a década de 1930, constituída por juristas e diversos outros 
tipos de profissionais. De 1930 a 1940, o Brasil passa por um período de transição 
que profissionaliza os pesquisadores da Teoria Social. Os estudos de Liedke Filho 
(2005) revelam parte da história da Sociologia no Brasil, tão como algumas etapas 
de sua evolução, suas influências europeias e norte-americanas entre outros 
aspectos que moldaram a Sociologia Brasileira. Liedke Filho (2005) aponta que a 
emergência e a evolução da Sociologia como uma disciplina acadêmico-científica 
no Brasil e na América Latina se divide em duas etapas, cada uma por sua vez 
passa por dois períodos fundamentais. Observe:
Termo que define o conjunto de organizações das entidades corporativas 
voltadas para o treinamento profissional, assistência social, consultoria, 
pesquisa e assistência técnica, que além de terem seu nome iniciado com a letra 
S, têm raízes comuns e características organizacionais similares. Fazem parte 
do sistema S: Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai); Serviço 
Social do Comércio (Sesc); Serviço Social da Indústria (Sesi); e Serviço Nacional 
de Aprendizagem do Comércio (Senac). Existem ainda os seguintes: Serviço 
Nacional de Aprendizagem Rural (Senar); Serviço Nacional de Aprendizagem 
do Cooperativismo (Sescoop); e Serviço Social de Transporte (Sest).
FONTE: <https://www12.senado.leg.br/noticias/glossario-legislativo/sistema-s>. Acesso em: 3 
jun. 2020.
TÓPICO 3 — A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA SOCIOLOGIA NO BRASIL
37
• A Herança Histórico-cultural da Sociologia: 
o Período dos Pensadores Sociais. 
o Período da Sociologia de Cátedra.
• Etapa Contemporânea da Sociologia:
o Período da Sociologia Científica. 
o Período de Crise e Diversificação.
Liedke Filho (2005) concorda com Cândido (2006) ao caracterizar o 
primeiro período da primeira etapa, a Herança Histórico-Cultural da Sociologia 
Brasileira (século XIX até início do século XX).
O período dos Pensadores Sociais, também chamado por alguns autores 
de período Pré-Científico, corresponde historicamente ao período que 
se estende das lutas pela Independência das nações latino-americanas 
até o início do século XX. Durante esse período, a elaboração de teoria 
social tendeu a ser desenvolvida por pensadores e mesmo homens de 
ação (políticos), sob a influência de ideias filosófico-sociais europeias ou 
norte-americanas, por exemplo, o iluminismo francês, o ecletismo de 
Cousin, o positivismo de Comte, o evolucionismo de Spencer e Haeckel, 
o social-darwinismo americano de Sumner e Ward e o determinismo 
biológico de Lombroso. Sob as influências desses autores buscava-
se equacionar duas problemáticas centrais – a formação do Estado 
nacional brasileiro, opondo liberais e autoritários, e a questão da 
identidade nacional, tendo como núcleo a questão racial opondo os que 
sustentavam uma visão racista e os inspirados pelo relativismo étnico-
cultural (LIEDKE FILHO, 2005, p. 377).
Após o momento que os primeiros Pensadores Sociais informais emergem 
no Brasil, o período da Sociologia de Cátedra se desenvolve de forma a fortalecer 
as bases da Teoria Social Brasileira. 
O período da Sociologia de Cátedra iniciou-se nos países latino-
americanos em fins do século passado, quando cátedras de Sociologia 
foram introduzidas nas Faculdades de Filosofia, Direito e Economia. No 
Brasil, esse período teve início em meados da década de vinte, quando 
foram criadas as primeiras cátedras de Sociologia em Escolas Normais 
(1924-25), enquanto disciplina auxiliar da pedagogia, dentro do esforço 
democratizante do movimento reformista pedagógico que tem sua 
expressão maior no movimento da Escola Nova. Neste momento, 
ocorreu a proliferação de publicações como os manuais e coletâneas 
para o ensino de Sociologia, os quais procuravam divulgar as ideias de 
cientistas sociais europeus e norte-americanos renomados, tais como 
Durkheim e Dewey, bem como ideias sociológicas acerca de problemas 
sociais como urbanização, migrações, analfabetismo e pobreza. Ao 
mesmo tempo, a questão da miscigenação racial no Brasil passou a ser 
tratada em uma perspectiva otimista como em Casa Grande e Senzala 
de Gilberto Freyre (2000) (LIEDKE FILHO, 2005, p. 380-381).
O segundo momento, a Etapa Contemporânea da Sociologia, é subdividido 
em Período da Sociologia Científica e Período de Crise e Diversificação. No 
primeiro período ocorre um fenômeno muito importante à Sociologia Brasileira: 
a institucionalização da Sociologia no Brasil.
38
UNIDADE 1 — O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO DOS SÉCULOS XIX E XX
A institucionalização acadêmica da Sociologia no Brasil ocorreu em 
meados da década de 1930, com a criação da Escola Livre de Sociologiae Política de São Paulo (1933) e com a criação da Seção de Sociologia e 
Ciência Política da Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo 
(1934). As tentativas, de relacionar o ensino e a pesquisa em Sociologia, 
ainda que limitadas e parciais em ambas as instituições, demarcam o 
início da chamada etapa da Sociologia Científica, a qual viria a ter seu 
apogeu em fins dos anos de 1950 (LIEDKE FILHO, 2005, p. 382).
O atual momento da Sociologia Brasileira se inicia com o Período de Crise 
e Diversificação da Sociologia no Brasil. 
No bojo da crise social e política brasileira e latino-americana do 
final dos anos 50 e início da década de 60 [...], verificou-se o início 
do período de crise e diversificação da Sociologia brasileira. Este 
momento foi caracterizado pela crise institucional e profissional da 
Sociologia e das ciências sociais em geral, sob o efeito das medidas 
repressivas (cassações, prisões, exílios e desaparecimento) dos regimes 
autoritários. O Golpe de 1964 no Brasil inaugura este ciclo autoritário, 
também chamado de ciclo do novo autoritarismo, caracterizado pela 
transformação dos estados desenvolvimentistas-populistas da região 
em estados burocrático-autoritários, na terminologia proposta por 
Guillermo O’Donnell (1982), e seguido por uma sucessão de golpes 
militares, como os ocorridos na Argentina (golpes de 1966 e 1976) e no 
Uruguai (golpe de 1973) (LIEDKE FILHO, 2005, p. 384).
O quadro a seguir sintetiza os principais momentos da trajetória do 
Pensamento Social Brasileiro, dos primeiros pensadores que lançaram mão das 
primeiras análises sociais no Brasil à institucionalização e principais crises da 
Sociologia nacional. Observe:
QUADRO 4 – A SOCIOLOGIA NO BRASIL
Período 
aproximado Entre 1888 e 1934 Entre 1934 e 1957 Entre 1957 e 2002
Influências
Lombroso;
Spencer;
Comte; Durkheim;
Dewey.
Escola de Chicago;
Marx;
Weber;
Manheim;
Goldman;
Luckàcks;
Sartre.
Gramsci;
Althusser;
Elias;
Habermas;
Foucault;
Giddens;
Bourdieu;
Weber.
TÓPICO 3 — A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA SOCIOLOGIA NO BRASIL
39
Temas
Identidade 
Nacional;
Miscigenação 
Racial (Visão 
Pessimista); 
Escola Nova e 
Democratização;
Miscigenação 
Racial (Visão 
Otimista).
Relações Raciais e 
Democracia Racial;
Estudos de 
Comunidade;
Transição para a 
Modernidade;
Dois Brasis.
Multiculturalismo;
Raças;
Gênero;
Direitos Humanos;
Violência;
Desigualdades Sociais;
Religiões;
Representações 
Sociais;
Identidades Sociais;
Novos Movimentos 
Sociais;
Reativação da 
Sociedade Civil
Problemáticas
Visão Racista X 
Relativismo;
Questão Racial;
Liberais X 
Autoritários;
Formação do 
Estado Nacional.
Sociedade Tradicional 
e Sociedade Moderna;
Modernização, 
Dependência e 
Nacionalismo;
Subdesenvolvimento 
e Desenvolvimento.
Autoritarismo X 
Democratização.
Etapas da 
sociologia
PENSADORES 
SOCIAIS (Não 
formais);
SOCIOLOGIA 
DE CÁTEDRA 
(Cátedras em 
Escolas Normais). 
SOCIOLOGIA 
CIENTÍFICA
(Cursos de Sociologia 
e Política na USP; 
Escola Livre 
Sociologia e Política).
CRISE E 
DIVERSIFICAÇÃO 
(Cassações e Censura);
NOVA IDENTIDADE 
SOCIOLÓGICA 
(Contemporaneidade).
FONTE: Adaptado de Liedke Filho (2005)
Podemos concluir que o estabelecimento da Sociologia no Brasil passou 
por diversas etapas desde sua construção, institucionalização até sua autonomia e 
profissionalização. Agora, concentraremos nossas análises nos principais desafios 
enfrentados pelos brasileiros em busca da ascensão da Sociologia no Brasil.
3 A SOCIOLOGIA BRASILEIRA E SEUS PRINCIPAIS DESAFIOS
Prosseguindo sob as análises de Liedke Filho (2005), acompanharemos as 
principais tribulações da Sociologia Brasileira. Iniciaremos do período de Crise 
e Diversificação da Sociologia Brasileira que, desde a crítica marxista emergente 
no fim da década de 1950 e início dos anos 1960, implicou uma mudança de 
paradigma no que se refere ao pensamento social brasileiro. As mudanças 
político-culturais das décadas de 1960 e 1970 no mundo inteiro colaboraram com 
as mudanças estruturais da Teoria Social, inclusive no Brasil.
40
UNIDADE 1 — O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO DOS SÉCULOS XIX E XX
FIGURA 15 – REFLEXÃO SOBRE AS DIFICULDADES DE ESTABELECIMENTO DA SOCIOLOGIA 
NO BRASIL
FONTE: <https://cafecomsociologia.com/wp-content/uploads/2016/02/Untitled-
-1-2280x1052_c.jpg>. Acesso em: 3 jun. 2020.
Partindo do pressuposto que a Sociologia é uma fundamental ferramenta 
utilizada a favor da conscientização e mudanças sociais contemporâneas, devemos 
refletir sobre os motivos pelos quais esse campo do saber enfrenta diversos 
obstáculos para sua inserção e estabelecimento na educação básica brasileira. As 
segunda onda de sequentes ditaduras militares na América Latina, ocorrida a 
partir da década de 1960, teve início no Brasil no ano de 1964, passando pela 
Bolívia (1964), Argentina (1966 e, posteriormente, 1976) e pelo Chile e Uruguai 
no mesmo ano (1973), foram marco de sucessivas repressões armadas, cassações, 
prisões, exílios, desaparecimentos e censuras aos pensadores das Ciências Sociais. 
O Golpe Militar de 1964, que deu início ao período da Ditadura Militar 
no Brasil (1964-1985), foi marco de inúmeros retrocessos às Ciências Sociais 
brasileiras. Alguns dos acontecimentos mais notáveis foram o fechamento, em 
1964, do ISEB (Instituto Superior de Estudos Brasileiros), criado pelo Decreto nº 
37.608, de 14 de julho de 1955, como órgão do Ministério da Educação e Cultura, 
e as cassações na Universidade de São Paulo, no ano de 1969. Em contrapartida, 
surgiram alguns centros privados de pesquisas como o CEBRAP (Centro 
Brasileiro de Análise e Planejamento), CEDEC (Centro de Estudos de Cultura 
Contemporânea) e o IDESP (Instituto de Estudos Econômicos, Sociais e Políticos 
de São Paulo).
O impacto negativo da instauração do regime autoritário sobre a 
evolução sociológica brasileira está relacionado diretamente com o 
golpe de 1964 e com o “golpe dentro do golpe” de 1968 que tem no 
AI-5 seu marco principal. O fechamento do ISEB, em 1964, os IPM e as 
cassações pareciam indicar que as ciências sociais brasileiras estavam 
entrando em um período recessivo. O fechamento do ISEB em 1964 
pelo regime militar e as cassações de cientistas sociais em 1969, 
assim como o impacto negativo da repressão cultural-educacional 
aos níveis universitários e das condições de exercício profissional, 
correspondem plenamente às características gerais da quarta etapa de 
evolução da Sociologia na América Latina. Todavia, em contraste com 
TÓPICO 3 — A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA SOCIOLOGIA NO BRASIL
41
a evolução adversa da Sociologia em outros países latino-americanos, 
particularmente do Cone Sul, sob as condições autoritárias, a Sociologia 
no Brasil experimentou uma razoável expansão institucional do ensino 
e da pesquisa (LIEDKE FILHO, 2005, p. 396).
O regime militar reavivou um costume que já se praticava no Brasil desde 
a Era Vargas: a queima de livros considerados subversivos. O regime militar 
brasileiro, além de queimar diversos títulos considerados nocivos à ordem 
estabelecida pelo exército nacional, fechou as portas de diversas instituições 
de ensino, bibliotecas e centros de estudos onde literaturas libertárias eram 
compartilhadas. A imagem a seguir ilustra a queima de livros como ato de 
repressão às ideias consideradas contrárias à hegemonia política vigente no Brasil 
na década de 1930. A partir da análise de tal tipo de censura de conhecimento, 
podemos concluir que os saberes produzidos não só na academia, mas por 
diversas categorias de intelectuais do Brasil, são, há muito tempo, considerados 
subversivos e, portanto, alvo de diversas retaliações políticas. 
FIGURA 16 – REFLEXÃO SOBRE A QUEIMA DE LIVROS COMO REPRESSÃO INTELECTUAL 
NO BRASIL
FONTE: <https://www.correio24horas.com.br/fileadmin/acervo/tt_news/Midia_Santana/recor-
te_jornal013.jpg>. Acesso em: 4 jun. 2020.
A perseguição de intelectuais e suas obras é recorrente em regimes 
ditatoriais, ou seja, que não aceite e, consequentemente,reprimem outros tipos de 
manifestação política. A ditadura militar brasileira não atuou de maneira diferente, 
silenciando boa parte da população brasileira sustentando falsos argumentos 
baseados no crescimento e modernização do Brasil. A referida ação é, além de 
antidemocrática, nociva à evolução e emancipação intelectual do povo brasileiro.
42
UNIDADE 1 — O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO DOS SÉCULOS XIX E XX
O Relatório Final da Comissão da Verdade da UFES (2016), destaca 
a fase da Universidade em tempos de ditadura como uma época de 
contradições. Por um lado se apresentava um projeto de modernização 
da sociedade em que as Universidades ocupavam um lugar de 
destaque, e por outro lado e ao mesmo tempo é estruturada uma política 
de estado voltada para a repressão e o silenciamento da sociedade, 
que constitui o alicerce principal do projeto de hegemonia do grupo 
político que assumiu o poder no Brasil em 1964. As universidades 
tinham papel estratégico na construção do ideal do “Brasil Grande” 
elaborado pelo regime militar (LIMA, 2017, p. 43).
Dentre alguns intelectuais censurados e exilados durante o período da 
ditadura militar estão:
• Ferreira Gullar
Militante do Partido Comunista Brasileiro, o poeta foi preso logo 
após a assinatura do Ato Institucional nº 5, de dezembro de 1968. Atuando 
na clandestinidade desde então, somente em 1971 é que Gullar deixou o país. 
Durante os anos de exílio, passou por Moscou, na Rússia; Santiago, no Chile; 
Lima, no Peru; e Buenos Aires, na Argentina. Seu retorno ao Brasil aconteceu 
somente em março de 1977.
FONTE: <https://www.dw.com/pt-br/exilados-durante-a-ditadura-militar/g-17517116>. Acesso 
em: 4 jun. 2020.
• Oscar Niemeyer
Membro do Partido Comunista Brasileiro desde 1945, o arquiteto foi 
perseguido pelo governo após o golpe. Impedido de trabalhar no Brasil, em 
1967 seguiu para a França, onde se instalou em Paris, e recebeu autorização de 
Charles de Gaulle para exercer sua profissão no país. Reconhecido e valorizado 
no exterior, Niemeyer só voltou para o Brasil no início da década de 1980.
FONTE: <https://www.dw.com/pt-br/exilados-durante-a-ditadura-militar/g-17517116>. Acesso 
em: 4 jun. 2020.
• Ana Maria Machado
Ana Maria Machado nasceu em Santa Teresa, Rio de Janeiro, em 24 de 
dezembro de 1941. É casada com o músico Lourenço Baeta, do quarteto Boca 
Livre, tendo o casal uma filha. Do casamento anterior com o médico Álvaro 
Machado, Ana Maria teve dois filhos. Estudou no Museu de Arte Moderna 
do Rio de Janeiro e no MoMa de Nova York, participou de salões e exposições 
individuais e coletivas no país e no exterior, enquanto fazia o curso de Letras 
(depois de desistir do curso de Geografia). Formou-se em Letras Neolatinas, 
em 1964, na então Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, 
TÓPICO 3 — A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA SOCIOLOGIA NO BRASIL
43
e fez estudos de pós-graduação na UFRJ. Em janeiro de 1970, deixou o Brasil e 
partiu para o exílio. Na bagagem, levava cópias de algumas histórias infantis 
que estava escrevendo, a convite da revista Recreio. Trabalhou como jornalista 
na revista Elle em Paris e no Serviço Brasileiro da BBC de Londres, além 
de se tornar professora de Língua Portuguesa na Sorbonne. Nesse período, 
participou de um seleto grupo de estudantes na École Pratique des Hautes 
Études cujo mestre era Roland Barthes, sob cuja orientação terminou sua tese 
de doutorado em Linguística e Semiologia, em Paris. O trabalho resultou no 
livro Recado do Nome (1976), sobre a obra de Guimarães Rosa.
FONTE: <http://www.academia.org.br/academicos/ana-maria-machado/biografia>. Acesso 
em: 4 jun. 2020.
FIGURA 17 – ANA MARIA MACHADO
FONTE: <https://www.academia.org.br/sites/default/files/academicos/fotografias/ana-maria-ma-
chado.jpg>. Acesso em: 4 jun. 2020.
• Glauber Rocha
O aumento da repressão durante a ditadura fez com que o cineasta 
partisse para o exílio em 1971. Durante a temporada fora do Brasil – que duraria 
cinco anos –, Rocha passou por diversos países da América Latina, Europa e 
nos EUA. Executou uma série de projetos no período em que ficou no exterior 
e retornou ao Brasil apenas em 1976.
FONTE: <https://www.dw.com/pt-br/exilados-durante-a-ditadura-militar/g-17517116>. Acesso 
em: 4 jun. 2020.
44
UNIDADE 1 — O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO DOS SÉCULOS XIX E XX
• Fernando Gabeira
No final dos anos 1960, o jornalista e ex-deputado ingressou na 
luta armada contra a ditadura militar, tendo participado do sequestro do 
embaixador americano Charles Elbrick. Foi preso e, depois de ser libertado, 
partiu para o exílio. Durante este tempo, passou por Chile, Suécia e Itália. Ficou 
dez anos fora do Brasil. Retornou com a anistia, no fim de 1979.
FONTE: <https://www.dw.com/pt-br/exilados-durante-a-ditadura-militar/g-17517116>. Acesso 
em: 4 jun. 2020.
• Augusto Boal
A entrada em vigor do AI-5 fez com que o dramaturgo deixasse o país 
com o Teatro Arena, em uma excursão de um ano, entre 1969 e 1970, por EUA, 
México, Argentina e Peru. Quando voltou ao Brasil, foi preso e torturado e 
decidiu seguir para a Argentina. Boal passaria ainda por uma série de outros 
países antes de voltar ao Brasil, em 1984.
FONTE: <https://www.dw.com/pt-br/exilados-durante-a-ditadura-militar/g-17517116>. Acesso 
em: 4 jun. 2020.
• Álvaro Vieira Pinto
Álvaro Vieira Pinto nasceu em Campos (RJ), no dia 11 de novembro de 
1909. Formado em medicina em 1932, pela Faculdade Nacional de Medicina 
do Rio de Janeiro, em 1934 ingressou na Ação Integralista Brasileira (AIB), 
organização de inspiração fascista, liderada por Plínio Salgado. No campo 
profissional, dedicou-se aos estudos e pesquisas laboratoriais. Paralelamente, 
completou os cursos de física e matemática na Universidade do Distrito Federal 
(UDF). Alceu Amoroso Lima, então reitor da UDF, indicou-o para ensinar 
lógica matemática, disciplina pela primeira fez oferecida no país. Exilou-se a 
princípio na Iugoslávia e posteriormente no Chile.
FONTE: <https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas2/biografias/alvaro_vieira_pinto>. 
Acesso em: 4 jun. 2020.
• Darcy Ribeiro
Formado em antropologia, dedicou seus primeiros anos de vida 
profissional ao estudo dos índios do Pantanal, do Brasil Central e da Amazônia 
(1946-1956). Nesse período, criou o Museu do Índio e formulou o projeto de 
TÓPICO 3 — A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA SOCIOLOGIA NO BRASIL
45
criação do Parque Indígena do Xingu. Elaborou para a Unesco um estudo sobre 
o impacto da civilização sobre grupos indígenas brasileiros no século XX e, em 
1954, colaborou com a Organização Internacional do Trabalho na preparação 
de um manual sobre os povos aborígenes de todo o mundo. Foram 12 anos 
exilado entre o Uruguai, Venezuela, Chile, Peru e México.
FONTE: <http://memoriasdaditadura.org.br/biografias-da-resistencia/darcy-ribeiro/>. Acesso 
em: 4 jun. 2020.
• Paulo Freire
Quando os militares tomaram o poder em 1º abr. 1964, depondo o 
então presidente João Goulart, Paulo Freire vivia com a família em Brasília, 
a serviço do Ministério da Educação e Cultura (MEC). Envolvido com o 
trabalho de formação de professores em Goiânia, era sua assistente, Carmita 
Andrade, quem o mantinha informado sobre a intensa movimentação política 
na capital. Na Câmara dos Deputados, políticos conservadores se revezavam 
na condenação permanente de seu método de alfabetização. Em 18 de abril, 
o deputado Emival Caiado, do partido conservador União Democrática 
Nacional (UDN), denunciou Mauro Borges, então governador de Goiás e 
aliado do ex-presidente Jango, de implantar o comunismo no Estado: “O 
método comunizante do sr. Paulo Freire teve entusiástica acolhida do Governo 
goiano. O sr. Mauro Borges deu total e completa cobertura a órgãos estudantis 
dominados por comunistas”. Caiado concluiu, aos brados: “Não creio que em 
nenhum outro Estado o comunismo tenha se infiltrado tanto!”. Paulo se rendeu 
ao apelo feito por vários de seus amigos, entre eles o professor de literatura e 
líder católico Alceu AmorosoLima, conhecido também como Tristão de Ataíde, 
e buscou exílio na embaixada da Bolívia. Antes disso, tentara sem sucesso a 
representação diplomática do Chile, que recusara seu pedido. Muitos colegas 
também tentaram encontrar formas de acolhê-lo no exterior, caso de Ivan Illich, 
educador austríaco radicado no México, que conhecera Paulo em uma visita ao 
Recife, mas nada havia dado certo até então.
FONTE: <https://brasil.elpais.com/brasil/2019/10/22/cultura/1571754417_189523.html>. Acesso 
em: 4 jun. 2020.
46
UNIDADE 1 — O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO DOS SÉCULOS XIX E XX
FIGURA 18 – PAULO FREIRE
FONTE: <https://cutt.ly/zgm0atEl>. Acesso em: 4 jun. 2020.
Dentre as pessoas que foram exiladas, mortas e/ou desaparecidas durante 
o regime militar no Brasil, grande parte eram mulheres, estudantes, professores e 
outras categorias de intelectuais que lutaram contra os abusos de poder cometidos 
durante o período. Em sua obra, Costa et al. (1980) constitui um apanhado de 
relatos de mulheres que muito sofreram com a ditadura. A seguir consta um dos 
depoimentos de uma vítima de tortura cometida pelos militares que defendiam 
o governo ditatorial:
[...] me puseram numa cela e jogaram Sandra noutra, perto da minha, 
uma cela suja, sem cama. Ela gritava muito porque entravam e 
torturavam ali mesmo. A cada momento chegava um tenente daqueles 
que queria forçar até estuprá-la e tudo. E eu passei a noite assim, andei 
o resto da noite com este tipo de tortura na minha cabeça. Ela gritando 
de um lado e eu, sem condições de pensar direito nem nada, num 
estado nervoso, tremendo, querendo raciocinar... pensar... (COSTA et 
al., 1980, p. 165).
 
A chamada Nova República, período posterior à ditadura militar, e a 
implementação da nova Constituição de 1988 (BRASIL, 2002), trouxe consigo 
uma nova abordagem sociológica no Brasil. Liedke Filho (2005) sintetiza as 
consequências da “transição democrática” em relação à produção da Teoria Social 
no país, apontando uma tendência microssociológica de tais análises. Ou seja, as 
análises sociais brasileiras se voltaram ao estudo de movimentos menores, que 
não concernem mais à resolução de problemas estruturais maiores, como o do 
sistema político-econômico-social vigente.
A Sociologia no Brasil, no período dos anos 1960 e 1970 para os anos 
1990, vivenciou uma passagem de análises macrossociológicas de 
crítica ao modelo econômico-social excludente do “milagre” e de 
crítica ao modelo autoritário para uma microssociologização dos 
estudos. Em grandes linhas, verificou-se uma evolução temática da 
Sociologia brasileira nos seguintes termos: de grandes interpretações 
macroestruturais do modelo econômico-político-cultural do regime 
anterior, passou-se para a análise dos agentes e características 
da transição democrática, seguida dos temas da democratização 
TÓPICO 3 — A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA SOCIOLOGIA NO BRASIL
47
necessária, dos movimentos sociais e da estratégia de reativação da 
sociedade civil. Rapidamente, ocorreu uma dissociação da questão 
dos movimentos sociais em relação a condições macroestruturais, 
passando a Sociologia a dedicar-se massivamente a enfocar as 
identidades e representações sociais dos movimentos urbanos e 
rurais, do movimento sindical, dos movimentos feministas e gay, 
do movimento negro e dos movimentos ecológicos. Filosoficamente 
poder-se-ia dizer que, em termos clássicos, ocorreu um tipo de 
passagem do privilegiamento da questão do “para-si” para o “em-si” 
dos movimentos sociais (LIEDKE FILHO, 2005, p. 425-426).
Darcy Ribeiro é um dos grandes nomes do Pensamento Social Brasileiro. 
Intelectual formado em Medicina e Ciências Sociais, Darcy Ribeiro se interessava por temas 
ligados aos povos nativos brasileiros, Cultura e Educação, trabalhando no Ministério da 
Cultura e da Educação e também como Chefe da Casa Civil. 
 Com a implantação do regime militar, exilou-se em diversos países da América 
Latina onde continuou sua atuação política, assessorando diretamente presidentes como 
Allende, no Chile, e Velasco Alvarado, no Peru. Em uma entrevista concedida ao programa 
Roda Viva da TV Cultura no ano de 1988, Darcy tece observações sobre o regime militar 
brasileiro e suas consequências à Cultura, Educação e Política brasileiras. 
 O vídeo pode ser acessado por meio do endereço eletrônico a seguir: https://www.
youtube.com/watch?v=6r7QDo9yHJk. Suas análises são muito importantes e capazes de 
ampliar nossas perspectivas sobre a Ditadura Militar no Brasil e suas implicações na Ciência, 
em especial, as Ciências Sociais brasileiras. 
 O programa Roda Viva da TV Cultura foi responsável por entrevistas coletivas 
com grandes nomes do pensamento social do Brasil e do mundo, portanto, é altamente 
recomendável o acesso a esse canal informativo que representa uma excelente ferramenta 
a favor da compreensão da dinâmica política mundial, especialmente da América Latina.
DICAS
Contemporaneamente, o Brasil enfrenta sérias dificuldades em relação 
ao ensino das disciplinas, sobretudo, do campo das Ciências Humanas nas 
escolas públicas. Apesar de a Sociologia se tornar, no ano de 2009, conteúdo 
obrigatório nas escolas de ensino médio brasileiras, que era facultativo depois 
do ano de 1980 até então, é visível a tentativa de boicote da disciplina por parte 
dos últimos governantes brasileiros. Podemos associar tal fenômeno a partir das 
análises de Ianni (1997) acerca da importância da Sociologia como instrumento de 
compreensão, inserção e construção social. Observe:
A Sociologia pode ser vista como uma forma de autoconsciência da 
realidade social. Essa realidade pode ser local, nacional, regional ou 
mundial, micro ou macro, mas cabe sempre a possibilidade de que ela 
possa pensar-se criticamente, com base nos recursos metodológicos 
e epistemológicos que constituem a Sociologia como disciplina 
científica. [...] Ocorre que a Sociologia pode tanto decantar a tessitura 
e a dinâmica da realidade social como participar da constituição dessa 
tessitura e dinâmica. Na medida em que o conhecimento sociológico 
48
UNIDADE 1 — O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO DOS SÉCULOS XIX E XX
se produz, logo entra na trama das relações sociais, no jogo das forças 
que organizam e movem, tensionam e rompem a tessitura e a dinâmica 
da realidade social (IANNI, 1997, p. 25).
Dentre as tentativas de restrição ao ensino das Ciências Humanas, com 
destaque à Sociologia no Brasil, estão as recentes leis referentes às reformas 
do Ensino Médio no ano de 2017. Com a implementação da Lei da Reforma 
do Ensino Médio (13.415/2017), que modificou a Lei de Diretrizes e Bases da 
Educação Nacional (LDB) de 1996, o Ensino de Sociologia perdeu o seu caráter 
de obrigatoriedade, assim como várias outras disciplinas importantes à formação 
cidadã e crítica da juventude brasileira. Um imenso retrocesso considerando que:
A presença da Sociologia no Ensino Médio é de grande relevância 
para os jovens brasileiros. Primeiramente, porque é capaz de cumprir 
com a proposta expressa pela Lei nº 9.394/96 (LDB/96) de associar 
conhecimentos de sociologia ao exercício da cidadania. Mesmo que 
a disciplina Sociologia não seja a única capaz de fomentar nos alunos 
a propensão a discorrer sobre assuntos ligados à cidadania, seu 
conteúdo programático contém preceitos diretamente relacionados 
a esse conceito. Um curso de Sociologia pressupõe a apreensão de 
temas e autores oriundos da Ciência Política (o que engloba noções de 
sistemas políticos, formas de exercício do poder, participação popular 
na política, eleições etc.), da Antropologia e sua abordagem relativista 
(capaz de contrastar de forma linear diferentes modelos de organização 
social), além dos conceitos e teorias fundamentais da Sociologia, 
que contribuem para a compreensão das relações sociais (tais como 
desigualdades, gênero, cor/raça, mobilidade social, família, religião 
etc.). Desse modo, é inegável que, se não é a única disciplina capaz de 
incutir nos estudantes um espírito que os leve a atuarde forma cidadã, a 
Sociologia conta com ferramentas adequadas a propiciar uma formação 
reflexiva, que parte da teoria fundamentada para a apreensão do real e 
do cotidiano (BRASIL, 2006a) (MACHALA, 2017, p. 17).
Podemos concluir que o estudo da Sociologia é fundamental para 
o desenvolvimento cognitivo, cívico, moral, ético entre outras instâncias 
individuais, além de ser forte aliado ao processo de conscientização que, para 
Paulo Freire (1980), é importante ferramenta de emancipação intelectual e física 
dos indivíduos. Frente aos aspectos emancipadores intrínsecos à Sociologia, 
diversas barreiras foram impostas ao estudo, desenvolvimento e ensino da Teoria 
Social no Brasil e no mundo. O período do regime militar brasileiro foi responsável 
pela imposição de diversas barreiras ao desenvolvimento da Sociologia Brasileira, 
as quais persistem até os dias atuais. 
TÓPICO 3 — A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA SOCIOLOGIA NO BRASIL
49
A DIALÉTICA DO DESENVOLVIMENTO CAPITALISTA NO BRASIL
Ruy Mauro Marini
O golpe militar que depôs o presidente constitucional do Brasil, João 
Goulart, em abril de 1964, foi apresentado pelos militares brasileiros como uma 
revolução e definido um ano depois por um de seus porta-vozes como uma 
“contrarrevolução preventiva”. Por suas repercussões internacionais, sobretudo 
na América Latina, e diante das concessões econômicas aos capitais norte-
americanos, muitos consideraram o golpe simplesmente como uma intervenção 
disfarçada dos Estados Unidos. Essa opinião é compartilhada por determinados 
setores da esquerda brasileira que, no entanto, nunca souberam explicar por que, 
precisamente quando pareciam chegar ao poder, este lhes foi inesperadamente 
arrebatado sem que se disparasse um só tiro.
Parece-nos que nenhuma explicação sobre um fenômeno político pode 
ser boa se o reduzir a apenas um de seus elementos, e é decididamente ruim se 
tomar como chave justamente um fator condicionante externo. Em um mundo 
caracterizado pela interdependência e, mais que isso, pela integração, ninguém 
negaria a influência dos fatores internacionais sobre as questões internas, 
principalmente quando se trata de uma economia como a daquelas denominadas 
centrais, dominantes ou metropolitanas e de um país periférico, subdesenvolvido. 
Mas em que medida esta influência é exercida? Qual é sua força diante dos fatores 
internos específicos da sociedade sobre a qual atua? O Brasil, com seus 90 milhões 
de habitantes e uma economia industrialmente diversificada, é uma realidade 
social complexa, cuja dinâmica foge às interpretações unilaterais, ainda que esteja 
condicionada e limitada pelo marco internacional no qual está inserida. Sem uma 
análise da problemática brasileira, das relações de força existentes entre os grupos 
políticos e das contradições de classe que se desenrolavam sobre a base de uma 
dada configuração econômica, não se compreenderá a transformação política 
ocorrida a partir de 1964. Mais grave, não será possível relacionar esse desenrolar 
político à realidade econômico-social que se encontra em sua base, nem estimar 
as perspectivas prováveis de sua evolução. Perspectivas que, no final das contas, 
não se referem apenas ao Brasil, mas a toda a América Latina.
1 Política e luta de classes
A história política brasileira apresenta, no século XX, duas fases bem 
caracterizadas. A primeira, que vai de 1922 a 1937, é de grande agitação social, 
marcada por várias rebeliões e por uma revolução: 1930. Suas causas podem ser 
buscadas na industrialização verificada no país na década de 1910, devida sobretudo 
à guerra de 1914, que leva a economia brasileira a realizar um considerável esforço 
de substituição de importações. A crise mundial de 1929 e suas repercussões sobre 
o mercado internacional manteriam a capacidade de importação do país em níveis 
baixos, acelerando, assim, seu processo de industrialização.
LEITURA COMPLEMENTAR
50
UNIDADE 1 — O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO DOS SÉCULOS XIX E XX
As transformações operadas na estrutura econômica nesse período se 
expressam, socialmente, no surgimento de uma nova classe média - isto é, de uma 
burguesia industrial diretamente vinculada ao mercado interno - e de um novo 
proletariado, que passam a pressionar os antigos grupos dominantes para obter 
um lugar próprio na sociedade política. O resultado das lutas desencadeadas 
por esse conflito é, por intermédio da Revolução de 1930, um compromisso - 
o Estado Novo de 1937, sob a ditadura de Getúlio Vargas - através do qual a 
burguesia se estabiliza no poder, em associação aos latifundiários e aos velhos 
grupos comerciantes, ao mesmo tempo em que estabelece um esquema particular 
de relações com o proletariado. Neste esquema, o proletariado será beneficiado 
por toda uma série de concessões sociais (concretizadas sobretudo na legislação 
trabalhista do Estado Novo) e, por outro lado, será enquadrado em uma 
organização sindical rígida, que o subordina ao Governo, dentro de um modelo 
de tipo corporativista.
FONTE: MARINI, R. M. Subdesenvolvimento e revolução. Florianópolis: Insular, 2013. p. 73-75.
51
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
• A Sociologia Brasileira nasceu das teorias sociais formuladas por diversos 
intelectuais das mais variadas áreas do conhecimento, porém, foi reconhecida 
como campo independente do saber apenas no início do século XX.
• A institucionalização da Sociologia no Brasil foi um processo lento e contou 
com a influência da Teoria Social europeia e norte-americana.
• A década de 1930 trouxe consigo diversos avanços para a Sociologia e para a 
Educação de maneira geral no Brasil.
• A Sociologia sofreu com diversos embargos, censuras e outros tipos de 
obstáculos durante o período militar no Brasil.
• A Sociologia Brasileira é atacada até a contemporaneidade com obstáculos em 
forma de reformas educacionais e outros tipos de ações que dificultam seu 
desenvolvimento e ensino.
Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem 
pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao 
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
CHAMADA
52
1 O início do século XX foi marco de uma série de eventos importantes ao 
desenvolvimento da Sociologia Brasileira. Do processo de formalização e 
institucionalização da Sociologia no Brasil, de sua ascensão nos ensinos 
médio e universitário, até os diversos momentos no qual foi atribuído à 
disciplina um caráter obrigatório e/ou facultativo nas escolas brasileiras, a 
Sociologia resiste no Brasil e ainda constitui uma fundamental ferramenta 
utilizada a favor da conscientização e consequente emancipação do povo 
brasileiros. Sobre os principais eventos que fizeram parte da história da 
Sociologia em território nacional, classifique V para as sentenças verdadeiras 
e F para as falsas.
( ) A Sociologia foi reconhecida e difundida de forma mais ampla no início 
do século XX, quando as primeiras instituições que trabalhavam com as 
Ciências Sociais começaram a formar seus profissionais e reconhecê-los 
como acadêmicos.
( ) A Teoria Social Brasileira sofreu uma série de repressões e censuras, 
sendo o tempo que compreendeu a Ditadura Militar um período de 
vultosos silenciamentos, exílio de intelectuais e diversos outros tipos de 
contenção do desenvolvimento da Sociologia.
( ) A Sociologia, após reconhecida academicamente e ensinada nas escolas 
de todo o Brasil, não sofreu alterações quanto a sua obrigatoriedade nos 
ensinos fundamental, médio e superior.
( ) O incentivo à Sociologia no Brasil é um fator que colabora com a 
formulação de políticas públicas e resolução de problemas sociais.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – V – V – F.
b) ( ) V – V – V – V.
c) ( ) V – F – V – F.
d) ( ) V – V – F – F.
e) ( ) F – V – F – F.
2 A Teoria Social possui grande potencial de refletir em decisões políticas 
importantes e, quando disseminada de forma democrática e horizontal, 
pode fornecer a conscientizaçãonecessária à ação política popular. Ou seja, 
quando a maioria da população possui acesso aos principais debates políticos, 
ao conhecimento das principais e mais importantes problemáticas sociais e 
outros fenômenos concebidos por meio da Sociologia, as chances de uma 
política mais justa e voltada a serviço dos propósitos coletivos são maiores. 
AUTOATIVIDADE
53
Essa teoria pode fundamentar algumas políticas adotadas durante o período 
da Ditadura Militar do Brasil, principalmente quando consideramos o esforço 
por parte dos militares para fechar as universidades, proibir o ensino de 
Sociologia nas escolas, censurar literaturas e manifestações artísticas, exilar e 
matar muitos intelectuais brasileiros. De acordo com algumas teorias sociais, 
o referido tipo de prática é voltado à perpetuação de determinada dinâmica 
política imposta a certo território. Com base nos possíveis impactos da 
Sociologia na política brasileira quando disseminada por meio da educação 
pública, analise as sentenças a seguir:
I - Diversos intelectuais da Teoria Social brasileira foram perseguidos, 
exilados ou mortos sob o argumento de subversão às práticas repressivas 
que ocorreram durante o período ditatorial no Brasil.
II - De acordo com Paulo Freire, a conscientização pode ser trabalhada por 
meio do estímulo à capacidade reflexiva da população em relação à 
Sociedade, que, por meio desse e outros recursos educacionais, ampliam 
a capacidade individual de agir politicamente.
III - Darcy Ribeiro foi um dos grandes nomes da Teoria Social brasileira que 
se exilou em diversos países durante o período ditatorial brasileiro.
IV - Apesar dos diversos silenciamentos, perseguições, mortes e exílios 
realizados durante a Ditadura Militar brasileira, ainda sim houve 
pensadores e militantes que continuaram no Brasil atuando politicamente.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Somente a sentença I está correta.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) Somente a sentença III está correta. 
d) ( ) As sentenças I, II, III e IV estão corretas.
3 O Pensamento Social Brasileiro passou por diversas etapas, dentre elas 
ascensão e declínios, principalmente quando consideramos o ensino de 
Sociologia nas escolas públicas brasileiras. De acordo com o conteúdo 
apreendido no último tópico da presente unidade, disserte em um parágrafo 
resumindo a trajetória da Sociologia Brasileira desde o início do século XX 
até os dias atuais, enfocando os principais avanços e retrocessos em relação 
à propagação da Teoria Social por meio da Educação.
54
REFERÊNCIAS
ABREU, C. Capítulos da história colonial. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de 
Pesquisa Social, 2009. 195 p. Disponível em: https://static.scielo.org/scielobooks/
kp484/pdf/abreu-9788579820717.pdf. Acesso em: 5 jun. 2020.
BORIS, F. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 1996.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Organizado 
por Cláudio Brandão de Oliveira. Rio de Janeiro: Roma Victor, 2002. 320 p.
CÂNDIDO, A. A Sociologia no Brasil. Tempo Social, São Paulo, v. 18, n. 1, p. 
271-301, jun. 2006. Disponível em: https://static.scielo.org/scielobooks/kp484/pdf/
abreu-9788579820717.pdf. Acesso em: 5 jun. 2020.
COSTA, A. de O. et al. Memórias das mulheres do exílio. Rio de Janeiro: Paz e 
Terra, 1980.
DUARTE, C. L. Nísia Floresta. Recife: Editora Massangana, 2010.
FLORESTA, N. Direitos das mulheres e injustiça dos homens. 3. ed. Rio de 
Janeiro: [s.n.], 1839.
FREIRE, P. Conscientização: teoria e prática da libertação: uma introdução ao 
pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Moraes, 1980.
GUIMARÃES, M. L. S. Nação e civilização nos trópicos: o instituto histórico e 
geográfico brasileiro e o projeto de uma história nacional. Estudos Históricos, Rio 
de Janeiro, n. 1, p. 5-27, 1988. Disponível em: https://moodle.ufsc.br/pluginfile.
php/814866/mod_resource/content/1/Guimar%C3%A3es%2C%20Manoel.%20
IHGB%20e%20o%20projeto%20de%20um%20Hist%C3%B3ria%20Nacional.pdf. 
Acesso em: 5 jun. 2020. 
IANNI, O. Sobre a inclusão da sociologia no curso secundário. Revista Atualidades 
Pedagógicas, São Paulo, ano 8, n. 40, p. 19-20, jan./abr. 1957.
LIEDKE FILHO, E. D. A Sociologia no Brasil: história, teorias e desafios. 
Sociologias, Porto Alegre, ano 7, n. 14, p. 376-437, jul./dez. 2005.
LIMA, G. R. Memória, gênero e política: a militância das estudantes da UFES 
contra a Ditadura Militar (1969-1972). 2017. 185 f. Dissertação (Mestrado em 
História) – Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Humanas 
e Naturais, Vitória, 2017.
55
MACHALA, B. N. A reforma do Ensino Médio no Brasil e seu impacto no ensino 
da sociologia. Revista Três Pontos, Belo Horizonte, v. 14, n. 2, p. 17-25, 2017. 
Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/revistatrespontos/article/
view/12360. Acesso em: 5 jun. 2020.
MARINI, R. M. Subdesenvolvimento e revolução. Florianópolis: Insular, 2013.
MARX, K. O capital: crítica da economia política. São Paulo: Boitempo, 2013. 
(Livro I: o processo de produção do capital).
MENEZES, T. B. Ensaios e estudos de philosophia e critica. Recife: Editor José 
Nogueira de Souza, 1889.
MORAES FILHO, E. O pensamento político-social de Silvio Romero. In: CENTRO 
DE DOCUMENTAÇÃO DO PENSAMENTO BRASILEIRO. Sílvio Romero 
1851/1914: bibliografia e estudos críticos. Salvador: CDPB, 1999. Disponível em: 
http://www.cdpb.org.br/antigo/silvio%20romero.pdf. Acesso em: 5 jun. 2020.
PINTO, R. F. O pensamento social de Djalma Batista. Revista da Academia 
Amazonense de Letras, Manaus, n. 24, p. 144-152, nov. 2002.
PUNTONI, P. A arte da guerra no Brasil: tecnologia e estratégia militar na 
expansão da fronteira da América Portuguesa, 1550-1700. Novos Estudos, São 
Paulo, n. 53, p. 189-204, mar. 1999. 
STADEN, H. Suas viagens e cativeiro entre os índios do Brasil. São Paulo: 
Editora Nacional, 1945.
TORRES, R. S. Biopolítica e segurança pública: tolerância zero no Espírito 
Santo e uma educação voltada à fabricação de sujeitos produtivos. 2016. 193 f. 
Dissertação (Mestrado em Sociologia Política) – Universidade Vila Velha, Vila 
Velha, 2016.
56
57
UNIDADE 2 — 
INTERPRETAÇÕES CLÁSSICAS SOBRE 
O BRASIL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• apresentar autores que são considerados os clássicos do Pensamento 
Social Brasileiro;
• reconhecer as principais discussões da Sociologia Brasileira produzida a 
partir da década de 1930;
• trabalhar as relações sociais brasileiras do Período Colonial de acordo 
com os estudos de Gilberto Freyre;
• tecer análises historiográficas e sociológicas acerca do desenvolvimento 
social do Brasil a partir das ideias de Sérgio Buarque de Holanda;
• discutir as relações raciais brasileiras sob a perspectiva do pensador 
Florestan Fernandes;
• analisar a formação da sociedade brasileira contemporânea a partir da 
obra de Caio Prado Júnior.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade 
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo 
apresentado.
TÓPICO 1 – A SOCIOLOGIA E A INTERPRETAÇÃO DO BRASIL
TÓPICO 2 – GILBERTO FREYRE, SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA E A 
 FORMAÇÃO DO POVO BRASILEIRO
TÓPICO 3 – FLORESTAN FERNANDES E CAIO PRADO JÚNIOR
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
58
59
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
O presente tópico tem como objetivo introduzir a trajetória e as principais 
colaborações dos autores que são considerados os pensadores clássicos da Teoria 
Social Brasileira. A partir do contexto histórico-espacial, no qual cada um deles 
foi formado e produziu, entenderemos alguns fatores que os influenciaram a 
tecer seus estudos e atuação política em seus respectivos objetos de interesse.
Posteriormente, serão apresentadas as teorias de cada um dos autores de 
forma separada e mais aprofundada. Os referidos autores são GilbertoFreire, 
com suas teorias sobre as relações sociais brasileiras do Período Colonial, Sérgio 
Buarque de Holanda e suas análises historiográficas e sociológicas acerca do 
desenvolvimento social do Brasil, Florestan Fernandes e seus estudos das relações 
raciais brasileiras e, finalmente, Caio Prado Júnior com a formação da sociedade 
brasileira contemporânea. Bons estudos!
2 OS GRANDES INTÉRPRETES DO BRASIL E SUAS PRINCIPAIS 
ABORDAGENS
Iniciaremos a apresentação de nossos principais nomes da Teoria Social 
Brasileira por Gilberto Freyre (1900-1987). Gilberto de Mello Freyre nasceu em 
Recife, no dia 15 de março de 1900, que atuou como sociólogo, historiador, ensaísta, 
jornalista, professor e político, revolucionando o Pensamento Social Brasileiro de 
seu tempo, contribuindo, até os dias de hoje, com a Sociologia Brasileira. 
FIGURA 1 – GILBERTO FREYRE
FONTE: <http://editoraunesp.com.br/blog/icone/homenagem-a-gilberto-freyre>. 
Acesso em: 11 jun. 2020.
TÓPICO 1 — A 
SOCIOLOGIA E A INTERPRETAÇÃO DO 
BRASIL
UNIDADE 2 — INTERPRETAÇÕES CLÁSSICAS SOBRE O BRASIL
60
Gilberto Freyre trabalhou também como antropólogo e artista plástico, 
considerado contemporaneamente como um dos mais importantes sociólogos 
brasileiros. Filho de Francisca de Mello Freyre e do professor, advogado e juiz 
Alfredo Freyre, Gilberto é considerado um ensaísta, diferente de outros grandes 
nomes do pensamento social de sua época. Isso se deve ao fato de que ele 
não obedeceu à risca os pormenores acadêmicos já estabelecidos durante sua 
produção, ou seja, foi um autor que trabalhou de maneira mais informal em 
relação à produção da Academia, embora sua leitura seja obrigatória nos mais 
diversos cursos da área de Ciências Humanas do Brasil.
Freyre estudou no Colégio Americano Gilreath, hoje conhecido como 
Americano Batista, onde se formou bacharel em Letras, além de receber aulas 
particulares em sua residência. No ano de 1918 partiu para os Estados Unidos, 
onde se formou em Artes Liberais e se especializou em Ciências Políticas e Sociais 
pela Universidade de Baylor. Na Universidade de Colúmbia, o brasileiro cursou 
seu mestrado e doutorado em Ciências Políticas, Jurídicas e Sociais. O título de 
sua tese foi A Vida Social no Brasil em Meados do século XIX.
Retornou ao Brasil, na década de 1920, após concluir seus estudos nos 
Estados Unidos e viajar diversas vezes pela Europa. Retorna a sua casa em 
Recife, de onde prosseguiria com boa parte de sua produção intelectual. No ano 
de 1926, Gilberto Freyre participa da formulação do Manifesto Regionalista, cujo 
grupo era contrário à Semana de Arte Moderna de 1922, de ideologia nacionalista. 
Os regionalistas reivindicavam o fim da imposição da cultura europeia pelos 
modernistas no Brasil, em detrimento da cultura local, valorizando nossa cultura 
em tempos em que pouco se fazia em benefício da mesma.
Sua principal obra é Casa-Grande & Senzala (FREYRE, 2003), publicada 
no ano de 1933, extremamente polêmica, é alvo de fortes críticas e elogios até 
os dias atuais. O texto possui grande influência da Antropologia Cultural 
Norte-Americana, tradição de seu professor Franz Boas, importante nome da 
Antropologia mundial. Uma das maiores críticas gira em torno da romantização 
da miscigenação, comumente estabelecida por meio do estupro de mulheres 
brasileiras pelo homem branco e a hipersexualização de nosso povo. Em outras 
palavras, Freyre é muito criticado por naturalizar a sexualidade, muitas vezes 
compulsória, entre diferentes povos que habitavam o Brasil colonial.
Apesar das críticas, a obra foi responsável pela quebra de paradigmas 
relacionados às raças presentes no Brasil, como a supremacia racial: ideia de 
que existem raças superiores e inferiores. A obra propõe uma reconstrução do 
processo de miscigenação que ocorria em meio aos engenhos brasileiros, os quais 
descreveu do ponto de vista arquitetônico, e as construções mais comuns que 
os compunham: casa-grande, senzala, casa de moer e capela. Sua obra foi muito 
criticada e marginalizada pela ala conservadora nacional que era adepta à ideia de 
superioridade da raça branca, dificultando o acesso a tal obra que, com o passar 
do tempo, foi ressurgindo em meio aos estudos acadêmicos brasileiros.
TÓPICO 1 — A SOCIOLOGIA E A INTERPRETAÇÃO DO BRASIL
61
FIGURA 2 – PRIMEIRA EDIÇÃO DE CASA-GRANDE & SENZALA DE 1933
FONTE: <https://d2xsuil29zvzbt.cloudfront.net/imagens/img_m/717/364971.jpg>. 
Acesso em: 11 jun. 2020.
O segundo nome do Pensamento Social Brasileiro, considerado um clássico, 
é Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982). O escritor, sociólogo, historiador, 
jornalista e crítico literário paulista nasceu no dia 11 de julho de 1902. Era filho de 
Heloísa Buarque de Holanda e de Cristóvão Buarque de Holanda, farmacêutico 
e professor universitário. Contribuiu com o mesmo Movimento Modernista que 
resultou na Semana de Arte Moderna de 1922 criticada por Gilberto Freyre. Foi um dos 
fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT) e sua principal obra é Raízes do Brasil 
(HOLANDA, 1995), na qual o autor disserta sobre a formação do povo brasileiro.
FIGURA 3 – SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA
FONTE: <https://s3.static.brasilescola.uol.com.br/be/2020/03/sergio-buarque-de-holanda.jpg>. 
Acesso em: 11 jun. 2020.
UNIDADE 2 — INTERPRETAÇÕES CLÁSSICAS SOBRE O BRASIL
62
Sérgio Buarque concluiu seu bacharelado em Direito pela Faculdade de 
Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro, no ano de 1925, escrevendo, também, 
contos e poemas enquanto cursava sua graduação. Trabalhou em diversos 
jornais brasileiros até viajar à Europa, convidado por Assis Chateaubriand, um 
jornalista, empresário e político brasileiro que atuava em diversas outras áreas. 
Na Alemanha e na Polônia teve acesso à obra de Max Weber, autor da Sociologia 
Clássica que muito influenciou a produção intelectual de Sérgio Buarque de 
Holanda. Retornando ao Brasil, na década de 1930, devido ao crescimento do 
movimento nazista alemão, trabalhou para estatais de notícias. As anotações 
trazidas da Europa serviram como base de seu livro sociológico e historiográfico 
intitulado Raízes do Brasil, primeira e mais influente obra do autor. 
Raízes do Brasil (HOLANDA, 1995) é uma obra publicada no ano de 1936 
e que aborda a formação do povo brasileiro, um dos clássicos do Pensamento 
Social Brasileiro. O texto reflete sobre a colonização do Brasil e suas implicações a 
respeito da sociedade brasileira moderna. Sérgio Buarque também tece reflexões 
acerca da fragilidade da hierarquia dos colonizadores do país, apontando 
que o território brasileiro foi dominado não só pela nobreza de Portugal, mas 
também pela Espanha. O autor também disserta sobre a relação entre disciplina 
e obediência característicos da educação jesuítica, predominante no período 
colonial brasileiro. 
FIGURA 4 – PRIMEIRA EDIÇÃO DE RAÍZES DO BRASIL DE SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA
FONTE: <https://sebodomessias.com.br/imagens/produtos/0/3665_866.jpg>. 
Acesso em: 11 jun. 2020.
A referida obra ainda introduz o conceito de “Cultura da Cana”, muito 
influenciado pela produção weberiana. Trata-se de um conjunto de elementos 
que refletiam na cultura brasileira e que nasciam da produção açucareira. Tais 
elementos essenciais eram as grandes propriedades, o trabalho escravo e o 
mercado exterior, sobre os quais nossa cultura foi moldada. Outro elemento 
fundamental na formação do povo brasileiro, segundo Sérgio Buarque, se 
encontra no conceito de Homem Cordial, que consiste em um povo que age 
TÓPICO 1 — A SOCIOLOGIA E A INTERPRETAÇÃO DO BRASIL
63
conforme suas emoções, submisso aos mandos e desmandos de seus superiores 
e que consideravam mais os bens privados de sua vida em detrimento dos bens 
públicos. De outro modo, o Homem Cordial era aquele que dava preferência aos 
interesses próprios, familiares, deixando de lado as relações públicas quando a 
demanda é auxiliar os membros de seu grupo. 
O terceiro teórico que trabalharemos na presente unidade é Florestan 
Fernandes(1920-1995). Ele foi um político, sociólogo e ensaísta paulista, filho 
de imigrante portuguesa de nome Maria Fernandes. Não chegou a conhecer seu 
pai e foi criado por Hermínia Bresser de Lima, que o incentivou a estudar. De 
origem muito pobre, começou a trabalhar aos seis anos de idade para ajudar sua 
mãe, interrompendo seus estudos ainda no ensino fundamental. Aos 17 anos de 
idade, retorna aos estudos e conclui o que hoje equivale aos ensinos fundamental 
e médio entre 1938 e 1940. 
FIGURA 5 – FLORESTAN FERNANDES
FONTE: <https://www.pragmatismopolitico.com.br/wp-content/uploads/2017/06/diagnostico-
-florestan-fernandes-racismo-resgatado.jpg>. Acesso em: 12 jun. 2020
A vida acadêmica de Florestan Fernandes se iniciou no ano de 1941, quando 
ingressou na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade 
de São Paulo (USP), concluindo seu bacharelado em Ciências Sociais no ano 
de 1943 e a licenciatura em 1944. Em 1943, já escrevia para jornais e se filiou ao 
Partido Socialista Revolucionário (PSR). Cursou pós-graduação em Sociologia e 
Antropologia pela Escola Livre de Sociologia e Política, em seguida atuou como 
pesquisador e professor. Em 1947, concluiu seu mestrado em Ciências Sociais pela 
mesma Escola, quando escreveu sua dissertação intitulada A Organização Social do 
Tupinambá, que mais tarde viria a se tornar uma das principais obras do Pensamento 
Social Brasileiro. No ano de 1951, conclui seu doutorado pela Faculdade de Filosofia, 
Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), escrevendo a tese 
de título A Função Social da Guerra na Sociedade Tupinambá. 
É um autor de tradição marxista, embora também tenha sido influenciado 
pelas ideias weberianas e durkheimianas. Dentre suas diversas obras, podemos 
destacar A Organização Social do Tupinambá (FERNANDES, 1963) e A Integração do 
Negro na Sociedade de Classes (FERNANDES, 1978). A primeira obra foi baseada 
UNIDADE 2 — INTERPRETAÇÕES CLÁSSICAS SOBRE O BRASIL
64
em cronistas do tempo colonial e foi responsável por uma quebra de paradigma 
relacionado à imagem dos povos indígenas que era disseminada até então. 
Rompendo com o estigma associado aos povos originários brasileiros pelos 
colonizadores, Fernandes (1963) desmente o caráter preguiçoso comumente 
associado aos índios brasileiros, inserindo uma análise das complexas relações 
sociais existentes entre os Tupinambá. Muitos aspectos culturais foram descritos 
por Florestan, revolucionando a maneira com a qual se pensava os povos 
indígenas até o século XX.
FIGURA 6 – UMA DAS EDIÇÕES DO LIVRO A ORGANIZAÇÃO SOCIAL DO TUPINAMBÁ DE 
FLORESTAN FERNANDES
FONTE: <https://d1o6h00a1h5k7q.cloudfront.net/imagens/img_m/7863/3358961.jpg>. 
Acesso em: 12 jun. 2020.
A obra intitulada A Integração do Negro na Sociedade de Classes 
(FERNANDES, 1978) o autor disserta sobre as dificuldades enfrentadas pelo povo 
negro no Brasil após a abolição da escravidão. Ele relata as consequências sociais, 
culturais e morais do longo período de escravidão do Brasil, último país a abolir 
formalmente a escravidão, embora não tenha significado o fim do racismo no país. 
Ao mostrar a difícil ascensão dos negros aos moldes capitalistas de trabalho livre, 
Fernandes desmente anteriores teorias como a da democracia racial brasileira, 
evidenciando que as heranças da escravidão constituem um sólido cenário de 
sofrimento, exploração, discriminação e violência contra o povo negro brasileiro.
TÓPICO 1 — A SOCIOLOGIA E A INTERPRETAÇÃO DO BRASIL
65
FIGURA 7 - UMA DAS EDIÇÕES DO LIVRO A INTEGRAÇÃO DO NEGRO NA SOCIEDADE DE 
CLASSES DE FLORESTAN FERNANDES
FONTE: <https://cutt.ly/kgm59oQ>. Acesso em: 12 jun. 2020.
O último autor considerado um clássico do Pensamento Social Brasileiro que 
abordaremos em nosso material será Caio Prado Júnior (1907-1990). Nascido em 
São Paulo, de família abastada, o pensador atuou como escritor, historiador, político, 
sociólogo, economista, filósofo e editor de livros. Sua obra é referência quando o 
tema é a formação da sociedade brasileira contemporânea. Estudou no Colégio São 
Luís e no Chelmesford Hall, em Eastbom – Inglaterra. De tradição marxista, formou-
se bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Largo São 
Francisco e lecionou Economia Política na universidade de São Paulo. 
FIGURA 8 – CAIO PRADO JÚNIOR 
FONTE: <https://cutt.ly/Mgm550H>. Acesso em: 12 jun. 2020.
UNIDADE 2 — INTERPRETAÇÕES CLÁSSICAS SOBRE O BRASIL
66
Os pais de Caio Prado Júnior, Caio e Antonieta Silva Prado, sempre foram 
ligados à política, portanto, desde jovem o sociólogo teve contato com o meio, 
iniciando sua carreira nas atividades no campo pelo Partido Democrático (PD) 
no ano de 1928, contribuindo ativamente com a Revolução de 1930. Filiou-se ao 
Partido Comunista Brasileiro (PCB), viajou para estudar na União Soviética em 
1933, assumiu a vice-presidência da Aliança Nacional Libertadora, foi preso por 
dois anos e se exilou na Europa. Quando retornou ao Brasil, em 1940, publicou 
Formação do Brasil Contemporâneo (PRADO JÚNIOR, 1961), considerada sua mais 
importante obra e um clássico do Pensamento Social Brasileiro, no qual disserta 
sobre a formação histórica do Brasil. Juntamente a nomes como Monteiro Lobato, 
Caio Prado Júnior funda a Editora Brasiliense.
Em Formação do Brasil Contemporâneo (PRADO JÚNIOR, 1961), Caio 
Prado Júnior analisa o processo histórico que culmina com a sociedade brasileira 
contemporânea, enfatizando o economicismo existente por trás das relações 
sociais no país. Em outras palavras, o autor afere que as relações sociais, a cultura 
e a política brasileira são moldadas de acordo com as atividades econômicas 
predominantes de cada época. A chegada do povo negro, por exemplo, foi um 
dos fenômenos determinados pelas demandas econômicas do período colonial, 
pois era lucrativo o trabalho realizado por mão de obra escrava. A principal 
tese do pensador é a de que, apesar de a história do Brasil ser dividida em 
vários períodos pelos historiadores, poucas rupturas ocorreram política e 
economicamente. O referido texto será melhor analisado no próximo tópico, no 
qual nos aprofundaremos nos principais textos de cada um dos autores.
FIGURA 9 – CAPA DE UMA DAS VERSÕES DA OBRA FORMAÇÃO DO BRASIL CONTEMPORÂNEO 
DE CAIO PRADO JÚNIOR
FONTE: <https://cutt.ly/4gm6kbC>. Acesso em: 12 jun. 2020.
TÓPICO 1 — A SOCIOLOGIA E A INTERPRETAÇÃO DO BRASIL
67
Juntos, os quatro autores brevemente apresentados anteriormente, 
representam os principais intérpretes do Brasil, pertencentes à segunda geração 
de pensadores que contribuíram com a Teoria Social Brasileira: a geração 
científica. Como vimos na unidade anterior, a primeira geração de contribuintes 
do Pensamento Social Brasileiro fazia parte de um grupo ainda não formalizado 
de pensadores. Ou seja, não eram pensadores considerados sociólogos pelo 
fato de ainda não existir um campo do saber independente e destinado a ao 
pensamento voltado à Sociedade no Brasil. Um dos pensadores que representou 
a ruptura com a primeira geração dos pensadores sociais brasileiros foi Gilberto 
Freyre, apesar de ser um autor que pouco acompanhou as normas acadêmicas 
emergentes em sua época.
A geração científica corresponde aos autores que foram formados no Brasil, 
especialmente a partir da década de 1930, para desenvolver suas teorias acerca do 
desenvolvimento e funcionamento da dinâmica social brasileira. Gilberto Freyre, 
Sérgio Buarque de Holanda, Florestan Fernandes e Caio Prado Júnior não são 
os únicos pensadores pertencentes à segunda geração de teóricos da sociedade 
brasileira, porém, os sociólogos considerados os expoentes da teoria social no 
Brasil. Isso quer dizer que são os intérpretes mais bem-aceitos da Sociologia de 
sua época. No tópico seguinte, nos aprofundaremos nos principais debates e 
teorias de cada um desses quatro grandes nomes da Sociologia Brasileira.
68
Neste tópico, você aprendeu que:
• O Pensamento Social Brasileiro rompeucom sua primeira geração de 
contribuintes no início do século XX, quando a Sociologia foi reconhecida 
cientificamente, como um campo independente do saber, formando seus 
primeiros teóricos academicamente reconhecidos.
• Gilberto Freyre foi um pensador brasileiro que muito contribuiu com as 
análises acerca da formação do povo brasileiro, enfatizando a mestiçagem 
como um processo fundamental para o entendimento da mesma.
• Sérgio Buarque de Holanda avançou com as análises da formação do povo 
brasileiro, considerando a colonização do Brasil e suas implicações a respeito 
da sociedade brasileira moderna.
• Florestan Fernandes investigou a formação da sociedade brasileira por meio 
das relações entre as classes sociais aqui existentes, do protagonismo dos 
povos originários e do processo de inserção do povo negro na sociedade 
capitalista pós-abolição da escravidão.
• Caio Prado Júnior enfatiza, principalmente, as condições históricas relacionadas 
à formação da sociedade brasileira contemporânea, evidenciando a influência 
dos aspectos econômicos de cada um dos períodos de nossa história sobre a 
dinâmica social.
RESUMO DO TÓPICO 1
69
1 Sabemos que a primeira geração de pensadores que contribuiu para o 
desenvolvimento do Pensamento Social Brasileiro não teve sua origem 
intelectual dentro dos muros de universidades ou escolas especializadas 
na teorização acerca de nossa Sociedade. Foram indivíduos e grupos de 
diversas naturezas que lançaram mão das primeiras análises relacionadas 
à formação e funcionamento da dinâmica social do Brasil, desde os povos 
originários até políticos, artistas, professores jornalistas e diversos outros 
profissionais que somaram com a construção da Teoria Social Brasileira até 
o início do século XX. A partir da década de 1930, emergem no Brasil as 
primeiras instituições e grupos dedicados exclusivamente às investigações 
voltadas à Sociologia e Política, formando nossos primeiros profissionais 
formalmente reconhecidos pela Academia. Eis que nasce a segunda geração 
de pensadores sociais brasileiros: aqueles submetidos aos métodos e 
aceitação científicos. Sobre essa nova etapa do Pensamento Social Brasileiro, 
analise as sentenças a seguir:
I - O começo do século XX foi de fundamental importância no que diz 
respeito ao avanço das Ciências Sociais no Brasil, principalmente por 
causa do reconhecimento da Sociologia como uma disciplina formal.
II - As primeiras universidades voltadas aos estudos sociais no Brasil só 
emergiram a partir da década de 1930, dificultando o reconhecimento de 
pensadores anteriores a tal período como teóricos sociais.
III - Apesar de não estarem submetidos aos métodos científico/acadêmicos, as 
teorias sobre a formação da sociedade brasileira formuladas até o século 
XIX também podem ser consideradas teorias sociais válidas.
IV - Apesar de só emergir no início do século XX, a Academia já reconhecia 
como sociólogos até mesmo os povos originários que escreveram no Brasil.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Somente a sentença I está correta.
b) ( ) Somente a sentença II está correta. 
c) ( ) Somente a sentença III está correta.
d) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas. 
e) ( ) As sentenças II, III e IV estão corretas.
2 O início do século XX é marcado pela ascensão da Sociologia no Brasil. 
As pesquisas acadêmicas, a partir dessa época, contam com instituições 
que se voltam exclusivamente aos estudos sociais no país, formando 
seus primeiros profissionais, alguns dos quais muito contribuíram para a 
formação da Teoria Social Brasileira. Dentre os intelectuais que escreveram, 
principalmente, a partir da década de 1930, podemos destacar alguns dos 
expoentes do Pensamento Social Brasileiro, considerados os principais 
intérpretes do Brasil. Com base no exposto, classifique V para as sentenças 
verdadeiras e F para as falsas:
AUTOATIVIDADE
70
( ) Gilberto Freyre é considerado um pensador que marcou uma nova era 
no Pensamento Social Brasileiro. Embora não escrevesse integralmente 
de acordo com as normas e formalidades científicas, que acabavam de 
ascender no Brasil de sua época, Freyre foi responsável por gigantescas 
contribuições à reconstrução da história de nosso povo.
( ) Sérgio Buarque de Holanda contribuiu com análises voltadas à formação 
do povo brasileiro, concentrando seus estudos nos impactos que o 
processo de colonização provocou em na dinâmica social moderna.
( ) Florestan Fernandes devolveu aos povos originários o protagonismo na 
formação de nossa sociedade. A partir de sua extensa obra, o Brasil pôde 
observar, por meio de outra perspectiva, o papel dos povos indígenas e 
dos afro-brasileiros na construção social de nosso país.
( ) Caio Prado Júnior é um autor cuja obra nos auxilia no entendimento 
em relação à formação da sociedade brasileira contemporânea por 
meio, principalmente, de análises voltadas à importância das atividades 
econômicas em relação à construção da civilização no Brasil dos dias atuais.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – V – V – F.
b) ( ) F – V – V – V.
c) ( ) V – F – V – V.
d) ( ) V – V – V – V. 
e) ( ) F – F – F – F.
3 O Pensamento Social Brasileiro é composto por quatro nomes que se 
destacaram durante o século XX e foram considerados os maiores intérpretes 
do Brasil. Todos eles foram bastante influentes na Sociologia Brasileira e 
compuseram grandiosas obras que revolucionaram a Teoria Social Brasileira 
em sua época. O ponto de vista de cada um deles é importantíssimo para a 
compreensão do que hoje concebemos como a sociedade brasileira. Apesar 
de vários livros e pesquisas realizadas por cada um deles, estudamos, no 
presente tópico, apenas as contribuições que receberam maior atenção do 
público que compõe o campo científico/acadêmico brasileiro. Considerando 
o conteúdo estudado, construa um parágrafo dissertando as principais 
contribuições de cada um deles.
71
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
O presente tópico pretende aprofundar os conhecimentos acerca da obra 
de Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda, dois dos principais intérpretes 
do Brasil. Para tanto, adentraremos seus mais notáveis escritos com o intuito de 
melhor compreendermos as contribuições desses intelectuais ao Pensamento 
Social Brasileiro, principalmente no que toca a formação e desenvolvimento do 
povo brasileiro.
Apresentaremos então as problemáticas mais relevantes abordadas 
por cada um dos autores citados anteriormente, buscando esclarecer pontos 
importantes de seus discursos com o objetivo de remontarmos da maneira mais 
simples e clara possível o processo de formação de nosso povo. Esse trabalho 
demanda a leitura de seus textos além da perspectiva de intérpretes especialistas 
na obra de tais estudiosos que se debruçaram sobre a Teoria Social Brasileira. 
2 GILBERTO FREYRE E A ESCRAVIDÃO NO BRASIL
Iniciaremos nossos estudos a partir da obra de Gilberto Freyre, um autor 
que se dedicou ao processo de miscigenação no Brasil, lançando mão de uma 
nova perspectiva do assunto. Freyre acreditava que a miscigenação (também 
conhecida como mestiçagem) seria um fenômeno muito comum no Brasil, 
determinante para a formação de nosso povo e algo a ser considerado positivo.
A obra de Freyre é considerada ensaística. Em outras palavras, trata-se de 
uma obra que não obedece fielmente às normas científicas, ou seja, possui uma 
linguagem muita mais próxima da popular do que acadêmica. Apesar de pouco se 
alinharem às regras tecnicistas do mundo científico/acadêmico, os textos de Freyre 
são considerados uma obra essencial à compreensão do Brasil, principalmente 
quando falamos dos elementos fundamentais que serviram de base à formação do 
povo brasileiro. Sua obra é responsável por desmistificar uma espécie de racismo 
científico que iniciava seu processo de construção no começo do século XX. 
Esse tipo de racismo nasce em forma de teorias científicas, que começavam 
a contaminar os diversos espaçosintelectuais da época com a ideia da inferioridade 
de algumas raças em relações a outras. Esse tipo de teoria também defendia a 
ideia de que a mistura entre etnias poderia ser algo negativo no sentido biológico. 
TÓPICO 2 — 
GILBERTO FREYRE, SÉRGIO BUARQUE DE 
HOLANDA E A FORMAÇÃO DO POVO 
BRASILEIRO
72
UNIDADE 2 — INTERPRETAÇÕES CLÁSSICAS SOBRE O BRASIL
Dito de outra forma, seria a ideia de que o contato entre brancos e negros, índios e 
brancos, índios e negros entre a multiplicidade de outras combinações entre raças 
humanas, poderia afetar as instâncias física e/ou intelectuais dos descendentes 
dessas relações. Ou seja, a miscigenação seria algo ruim para a humanidade. Freyre 
(2003; 2013) rompe com tal concepção e propõe a ideia de que a miscigenação 
poderia ser algo positivo aos seres humanos e às sociedades.
Freyre explora a fundo o tema da miscigenação em sua obra Casa-Grande 
& Senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal (FREYRE, 
2003), tomando como ponto de referência, como explícito no próprio título de 
seu livro, o espaço físico onde ocorria maior interação entre escravos negros 
e os donos de terras para os quais trabalhavam em regime de escravidão, os 
chamadores “senhores de engenho”. Herdando muita influência de seu professor 
Franz Boas, Gilberto Freyre trazia em suas obras muitas ideias advindas da 
Antropologia Cultural, ou Culturalismo. Isso influenciou em sua reconstrução do 
povo brasileiro por meio de seus principais aspectos culturais: trabalho escravo, 
economia agrícola e família patriarcal. Para o autor, essas são as condições 
preponderantes que facilitaram a mistura entre raças no Brasil.
Quando em 1532 se organizou econômica e civilmente a sociedade 
brasileira, já foi depois de um século inteiro de contato dos portugueses 
com os trópicos; de demonstrada na Índia e na África sua aptidão 
para a vida tropical. Mudado em São Vicente e em Pernambuco o 
rumo da colonização portuguesa do fácil, mercantil, para o agrícola; 
organizada a sociedade colonial sobre base mais sólida e em condições 
mais estáveis que na índia ou nas feitorias africanas, no Brasil é que 
se realizaria a prova definitiva daquela aptidão. A base, a agricultura; 
as condições, a estabilidade patriarcal da família, a regularidade do 
trabalho por meio da escravidão, a união do português com a mulher 
índia, incorporada assim à cultura econômica e social do invasor 
(FREYRE, 2003, p. 65).
O Culturalismo é uma vertente de estudos voltados à compreensão de 
comportamentos individuais e coletivos por meio a análise a cultura à qual o sujeito ou 
grupo está inserido. O Culturalismo é muito difuso em campos do saber como a Psicologia 
e as Ciências Sociais, no caso do último, emergiu no seio da Antropologia com os estudos 
de europeus direcionados aos povos, sobretudo, tribais com os quais se deparavam em 
meio a suas expedições. O povo Brasileiro é um documentário, disponível na plataforma 
YouTube, que demonstra um pouco dos estudos culturalistas brasileiros, evidenciando 
como a cultura de nossos povos ancestrais, nativos do Brasil, influenciaram na formação 
de nosso povo tal como se apresenta hoje em dia. O documentário pode ser acessado por 
meio do seguinte link: https://www.youtube.com/watch?v=TMNulMYchm0&ab_channel=F
unda%C3%A7%C3%A3oLeonelBrizolaFLB-AP. Aproveite!
DICAS
TÓPICO 2 — GILBERTO FREYRE, SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA E A FORMAÇÃO DO POVO BRASILEIRO
73
Por meio de Casa-Grande & Senzala, Freyre (2003) consegue desmistificar 
a ideia de hierarquias raciais, que consiste em conceber a existência de raças e/
ou etnias superiores e inferiores. O pensador refutou as teorias que tentavam 
inferiorizar os negros. Além disso, a obra concebe o patriarcalismo – sistema social 
no qual o homem adulto possui privilégios sociais, morais, políticos entre outros 
– como um fator importante no que diz respeito à formação de nosso povo. Freyre 
(2003) acredita que o patriarcado dominou também as relações raciais, submetendo 
negros e índios aos mandos e desmandos dos senhores de engenho: geralmente 
descendentes europeus brancos que possuíam grandes propriedades de terra, nas 
quais a produção agrícola era impulsionada por meio da mão de obra escrava.
O sistema patriarcal criara um espaço para a aproximação entre raças, 
principalmente entre brancos e negros, que potencializou a miscigenação 
entre diferentes etnias. A presença das casas-grandes – sede administrativa 
das fazendas onde vivia o patriarca, senhor de engenho escravocrata – que 
abrigava os grandes produtores e suas famílias, das quais eram administrados e 
a demanda por senzalas – casarões rudimentares onde viviam os escravos negros 
que trabalhavam na propriedade – no mesmo território, proporcionou condições 
para a mestiçagem dentro da dinâmica do engenho. Segue na Figura 10 uma 
ilustração feita por Cícero Dias no ano de 1933 e que retrata a casa-grande de um 
dos engenhos existentes no Brasil colonial: o Engenho Noruega, antigo Engenho 
dos Bois, em Pernambuco.
FIGURA 10 – ENGENHO NORUEGA
FONTE: <https://cutt.ly/igQtDyc>. Acesso em: 21 jun. 2020.
A proximidade entre brancos e negros provocada pelo regime escravista, 
fez com que a mestiçagem entre esses dois povos fosse ocorrendo de maneira 
gradativa. Embora Freyre (2003) sustente a ideia de que a relação entre senhores 
de engenho e escravos no Brasil fosse mais leve quando comparada às relações 
74
UNIDADE 2 — INTERPRETAÇÕES CLÁSSICAS SOBRE O BRASIL
senhor-escravo de outros países, ainda sim era um sistema extremamente 
violento, sendo comum o fato de escravas serem frequentemente estupradas por 
seus “senhores”. Gilberto Freyre apresenta uma perspectiva mais complexa em 
relação à concepção simplista entre escravos e seus “donos”. O autor apresenta 
o patriarca como dono de diversos outros personagens além de seus escravos, 
como de sua esposa, seus filhos e demais elementos que compunham o engenho 
do qual eram gestores.
Apesar da obra de Freyre ser um dos referenciais mais ricos e 
revolucionários de sua época, principalmente quando se trata de dados históricos 
e análises sociais, ela ainda é alvo de muitas críticas. Umas das principais críticas 
gira em torno da chamada romantização da mestiçagem, desconsiderando que 
ela é fruto, em sua maior parte, de relações abusivas entre senhores de engenho e 
suas escravas. A linguagem empregada por Freyre (2003, 2013) também provocou 
desconfortos a muitos dos críticos de sua obra, alguns dos quais julgaram como 
desrespeitosa. A própria Igreja de sua época condenou como chulo o palavreado 
comumente empregado pelo autor.
Quanto à miscibilidade, nenhum povo colonizador, dos modernos, 
excedeu ou sequer igualou nesse ponto aos portugueses. Foi 
misturando-se gostosamente com mulheres de cor logo ao primeiro 
contato e multiplicando-se em filhos mestiços que uns milhares 
apenas de machos atrevidos conseguiram firmar-se na posse de terras 
vastíssimas e competir com povos grandes e numerosos na extensão de 
domínio colonial e na eficácia de ação colonizadora. A miscibilidade, 
mais do que a mobilidade, foi o processo pelo qual os portugueses 
compensaram-se da deficiência em massa ou volume humano para 
a colonização em larga escala e sobre áreas extensíssimas. Para tal 
processo preparara-os a íntima convivência, o intercurso social e sexual 
com raças de cor, invasora ou vizinhas da Península, uma delas, a de fé 
maometana, em condições superiores, técnicas e de cultura intelectual 
e artística, à dos cristãos louros (FREYRE, 2003, p. 70-71).
O trecho anterior evidencia outro aspecto fundamental de sua teoria: a de 
que os portugueses já eram mestiços antes mesmo de colonizarem o Brasil. Isso 
aconteceu por meio do contato entre portugueses e os chamados povos “mouros” 
do norte africano, além do fato de Portugal ser um país costeiro, o que facilitou 
a mistura entre os brancos portugueses e outros povos. A teoria de Freyre é a 
de que a mestiçagem, ao contrário da degeneraçãobiológica em qual muitos 
teóricos de seu tempo acreditavam provocar, fortalecia as raças, fazendo com que 
os portugueses estivessem ainda mais aptos a conquistar outros territórios em 
detrimento de outros povos. O acesso a outras culturas também atribuiu ao povo 
colonizador português o caráter heterogêneo do povo brasileiro. Sendo assim, 
além da combinação entre europeus, nativos e negros, já existia a mestiçagem 
própria dos colonizadores portugueses, por isso o Brasil seria um país tão rico em 
termos de diferentes raças e culturas.
Outros conceitos importantes na teoria de Freyre (2003) e que lhe atribuiu 
muitas críticas é o da sexualidade e da sensualidade dos povos tropicais. Para o 
autor, as condições climáticas dos trópicos seriam um fator que contribuía para 
a fluidez sexual dos povos nativos em relação ao que acontecia na Europa. A 
TÓPICO 2 — GILBERTO FREYRE, SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA E A FORMAÇÃO DO POVO BRASILEIRO
75
sensualidade de nossos povos seria então aflorada pelo clima. O pensador sustentava 
a ideia de que as condições climáticas colaborariam com o desenvolvimento de 
uma suposta falta de pudor dos brasileiros. Cabe relembrarmos que muitos relatos 
da mestiçagem entre brancos e negros no Brasil ocorreu de maneira compulsória, 
ou seja, as negras escravas eram comumente estupradas por seus senhores, sendo 
equivocada a perspectiva freyriana de que isso acontecia de forma natural, bonita 
ou romântica. A linguagem utilizada por Freyre (2003) no trecho a seguir evidencia 
sua perspectiva “hipersexualizada” acerca do papel da negra: mulher destinada 
à satisfação das inúmeras necessidades do homem branco, inclusive as sexuais.
Na ternura, na mímica excessiva, no catolicismo em que se deliciam 
nossos sentidos, na música, no andar, na fala. no canto de ninar menino 
pequeno, em tudo que é expressão sincera de vida. Trazemos quase 
todos a marca da influência negra. Da escrava ou sinhama que nos 
embalou. Que nos deu de mamar. Que nos deu de comer, ela própria 
amolengando na mão o bolão de comida. Da negra velha que nos contou 
as primeiras histórias de bicho e de mal-assombrado. Da mulata que nos 
tirou o primeiro bicho-de-pé de uma coceira tão boa. Da que nos iniciou 
no amor físico e nos transmitiu, ao ranger da cama-de-vento, a primeira 
sensação completa de homem. Do moleque que foi o nosso primeiro 
companheiro de brinquedo (FREYRE, 2003, p. 367).
FIGURA 11 – CULTURA DO ESTUPRO NA AMÉRICA LATINA RETRATADA POR DIEGO RIVERA
FONTE: <https://cutt.ly/XgQyilz>. Acesso em: 22 jun. 2020.
Outra crítica à obra de Gilberto Freyre (2003) é a da supervalorização da 
aristocracia brasileira. Há quem interprete seu texto de maneira com a qual os 
senhores de escravos brasileiros pareçam figuras bondosas, caridosas, reafirmando 
a tese freyriana de que a escravidão no Brasil foi mais branda em relação a de 
outros países. Contudo, os castigos físicos eram acontecimentos corriqueiros 
nos engenhos, representados por meio de diversas pinturas e vários relatos das 
atrocidades cometidas contra os negros escravizados em nosso território. 
Embora Freyre (2003) acreditasse que a escravidão no Brasil tenha sido 
algo mais leve em relação a outros países, não muda o fato de que o regime aqui 
era absurdamente cruel em relação aos escravos. Essas pessoas sofriam abusos de 
76
UNIDADE 2 — INTERPRETAÇÕES CLÁSSICAS SOBRE O BRASIL
diversas naturezas, violência física e psicológica, torturas e castigos inimagináveis. 
A punição destinada aos escravos que tentavam fugir ou demostravam algum tipo 
de resistência às condições subumanas de existência nos engenhos brasileiros, era 
muitas vezes o “tronco”, no qual eram chicoteados em frente aos seus familiares, 
amigos e demais trabalhadores, comumente resultante na morte deles. 
Podemos concluir que a obra Casa-Grande & Senzala (FREYRE, 2003), 
ao mesmo tempo em que é alvo de críticas voltadas a sua linguagem e suposta 
simpatia aos senhores de engenho, é reconhecida como um dos textos mais 
importantes para se entender o processo de desenvolvimento do povo e da cultura 
brasileira. O livro consegue descrever, de maneira minuciosa, vários elementos e 
comportamentos com os quais teve contato, porém, é claro, sob uma perspectiva 
de uma pessoa pertencente à classe aristocrata de seu tempo. Devemos, portanto, 
considerar que sua linguagem sexualizada e/ou a visão romântica da escravidão 
no Brasil, pode ser explicada pela vivência do autor em detrimento da vivência 
dos negros que passaram pelos suplícios da escravidão.
Uma personagem que ilustra muito bem as torturas sofridas pelos escravos, 
em especial as escravas brasileiras, é a escrava Anastácia. Ela foi um dos inúmeros exemplos 
de luta e resistência aos maus tratos, tortura e abusos, inclusive sexuais, cometidos pelos 
seus senhores. Era conhecida por uma beleza particular que chamava a atenção de seus 
estupradores, porém, relutante em se entregar aos abusos, sofria a ira de seus donos que a 
sentenciaram a usar uma máscara de ferro pelo resto de sua vida, retirada apenas quando 
se alimentava. Depois de uma vida inteira de sofrimento, Anastácia teve seus restos mortais 
enterrados na Igreja do Rosário, que logo desapareceram em um incêndio. Anastácia é 
considerada santa por religiões de matriz afro-brasileira e possui muitos devotos no Brasil. 
Segundo eles, Anastácia realizava milagres, dentre eles o da cura de enfermos e feridos. Sua 
biografia é recontada em diversos livros 
FIGURA – SANTA ANASTÁCIA
FONTE: <https://cutt.ly/ngQumz4>. Acesso em: 23 jun. 2020.
IMPORTANT
E
TÓPICO 2 — GILBERTO FREYRE, SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA E A FORMAÇÃO DO POVO BRASILEIRO
77
Antonio Candido (1993, 1995), por exemplo, foi um dos críticos a dar 
mais ênfase a uma interpretação dualista de Gilberto Freyre. Tanto no 
famoso prefácio a Raízes do Brasil, quanto no artigo “Aquele Gilberto”, 
publicado à época da morte de Freyre e depois republicado em 
Recortes, Candido constrói um esquema dualista para entender Freyre. 
Para ele, o autor de Casa grande & senzala seria um escritor que ainda 
detinha a visão senhorial e aristocrática da história brasileira e que, no 
entanto, também havia sido um inovador capaz de ter seus momentos 
progressistas e de trazer no bojo de sua interpretação do Brasil 
elementos que problematizavam a visão senhorial do país. Fernando 
Henrique Cardoso (1993, p.25) segue o mesmo padrão argumentativo 
de Candido ao afirmar que “[o] encanto do livro de Gilberto Freyre é 
que ele, ao mesmo tempo em que desvenda, oculta e mistifica”. O que 
se pode concluir da leitura de Candido e Cardoso é que tanto a lucidez 
crítica quanto a mistificação saudosista fazem parte da obra de Freyre. 
Entretanto, não há em seus argumentos nenhuma explicação de como 
essa configuração peculiar funciona, ou seja, como tais linhas de força 
ideológicas interagem entre si (MELO, 2009, p. 280).
Quando lemos um texto conhecido, é de fundamental importância que 
pesquisemos suas possíveis críticas, advindas de outros leitores, com diferentes perspectivas. 
Esse estudo faz com que ampliemos nossa percepção do texto e que possamos enxergar 
com outros olhos alguns detalhes que comumente deixamos passar despercebidos, além 
de conceber novas interpretações daquelas palavras. Uma dica importante para o momento 
de leitura das críticas, especialmente se forem feitas por outros intelectuais conhecidos, é 
fazer uma breve pesquisa da classe social, tradição e posicionamento ideológico de cada 
autor. Esses fatores podem exercer muita influência na perspectiva e, consequentemente, 
na interpretação de determinados autores a respeito de cada Teoria Social criticada. Por 
exemplo: um autor ex- escravo pode ter uma perspectiva completamente diferente de 
um autor descendente de escravocratas. Por isso, é importante pesquisarmos os autores e 
críticos de todos os textos aos quais temos acesso.
ATENCAO
Outra notável obra de Gilberto Freyre é Sobrados e Mucambos: decadência 
do patriarcado rural edesenvolvimento do urbano (FREYRE, 2013), publicada alguns 
anos após o lançamento da primeira edição de Casa-Grande & Senzala (FREYRE, 
2003) e que disserta sobre a decadência do patriarcado rural no decorrer dos 
séculos XVIII e XIX. 
Conforme Freyre (2013), enfraquecido com o declínio da escravidão e 
influenciada pelos movimentos modernos estrangeiros, o patriarcado rural perde 
gradualmente seu espaço, prestígio e poder. As elites rurais são, então, forçadas a 
deixar as casas-grandes e passam a viver em sobrados urbanos e seus ex-escravos, 
por sua vez, passam a se refugiar em casas de pau-a-pique em bairros pobres da 
cidade. A linguagem muito se assemelha à de sua primeira obra (FREYRE, 2003), 
porém o foco dessa vez seria a formação das cidades brasileiras.
78
UNIDADE 2 — INTERPRETAÇÕES CLÁSSICAS SOBRE O BRASIL
Em suma, podemos afirmar que a ideia central de Gilberto Freyre foi 
a respeito da dinâmica da casa-grande e da senzala, que os elementos sociais, 
culturais, políticos e econômicos fundamentais do Brasil se moldaram. Em 
outras palavras, o processo histórico brasileiro seguiu mais ou menos a mesma 
dinâmica de seus primórdios, do período colonial. A partir desse período, houve 
pequenas modificações nas atividades produtivas, no sistema escravista entre 
outros elementos que não abalaram as estruturas sociais brasileiras. Ou seja, 
por mais que a aristocracia agrária tenha se retraído, os negros brasileiros não 
estejam mais sob regime de escravidão, as casas-grandes e senzalas se tornaram 
obsoletas, ainda sim existe um abismo entre as classes: uma elite social continua 
existindo, os sobrados se tornaram mansões nos dias de hoje, os mocambos hoje 
compõem as favelas e as pessoas que lá habitam são majoritariamente o povo 
negro, famílias migradas das zonais rurais, nordestinos e seus descendentes.
Concluímos que a obra de Gilberto Freyre, apesar de duramente 
criticada por apresentar uma perspectiva elitista da sociedade brasileira, pela 
hipersexualização da mulher negra e indígena, pela criação do mito do bom 
senhor entre outras, ela ainda é referência no que diz respeito ao resgate histórico 
e na descrição dos costumes de nosso povo desde o período colonial. Portanto, 
devemos ler sua obra e seus intérpretes para que tenhamos maior capacidade de 
entender o processo pelo qual o Brasil passou até obter a configuração social dos 
dias atuais, tecer análises de nossa sociedade e propor mudanças matérias sólidas. 
Devemos, também, lembrar de tomarmos os devidos cuidados ao efetuarmos 
nossas leituras para que haja o mínimo de más interpretações possíveis e possamos 
obter o máximo de informações que expliquem nossa história.
FIGURA 12 – REFLEXÃO SOBRE AS HERANÇAS DA CASA-GRANDE E DA SENZALA À SOCIEDADE 
BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA
FONTE: <https://cutt.ly/HgQiEMt>. Acesso em: 24 jun. 2020.
TÓPICO 2 — GILBERTO FREYRE, SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA E A FORMAÇÃO DO POVO BRASILEIRO
79
3 SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA E O DESENVOLVIMENTO 
SOCIAL DO BRASIL
Sérgio Buarque de Holanda é autor de outra obra fundamental à 
compreensão da formação de nossa sociedade a partir do regime colonial no 
Brasil. Uma de suas mais importantes obras recebe o título de Raízes do Brasil 
(HOLANDA, 1995), publicada pela primeira vez no ano de 1936, na qual o 
pensador discorre sobre a construção das relações sociais brasileiras sob uma 
perspectiva de desenvolvimento histórico. Para Holanda (1995), nosso país 
herdou características sociais fundamentais determinadas pelo colonialismo 
e que refletem no tipo de política predominante até os dias de hoje. Em suma, 
Sérgio Buarque de Holanda nos apresenta o colonialismo como o fator que deu 
origem às principais heranças políticas e sociais do Brasil. 
O trecho a seguir introduz o pensamento central de sua obra (HOLANDA, 
1995), mostrando-nos que, em sua perspectiva, a cultura e o corpo social brasileiro 
são fruto, principalmente, das intervenções do povo europeu em nossas terras. Em 
outras palavras, foi a colonização europeia o fator preponderante ao estabelecimento 
de uma cultura cuja estrutura central nunca se rompeu com o passar dos tempos. 
Ela apenas se transformou e se adaptou conforme as condições materiais e forças 
dominantes que regeram, e regem até os dias de hoje, nossa sociedade.
A tentativa de implantação da cultura europeia em extenso território, 
dotado de condições naturais, se não adversas, largamente estranhas 
a sua tradição milenar, é, nas origens da sociedade brasileira, o 
fato dominante e mais rico em consequências. Trazendo de países 
distantes nossas formas de convívio, nossas instituições, nossas 
ideias, e timbrando em manter tudo isso em ambiente muitas vezes 
desfavorável e hostil, somos ainda hoje uns desterrados em nossa terra. 
Podemos construir obras excelentes, enriquecer nossa humanidade de 
aspectos novos e imprevistos, elevar à perfeição o tipo de civilização 
que representamos: o certo é que todo o fruto de nosso trabalho ou de 
nossa preguiça parece participar de um sistema de evolução próprio 
de outro clima e de outra paisagem (HOLANDA, 1995, p. 31).
Em Raízes do Brasil (Holanda, 1995) identifica uma série de fatores que, 
segundo ele, moldaram a cultura e a política de nossa sociedade. Representando 
um dos pensadores brasileiros mais importantes no que tange à compreensão da 
dinâmica social brasileira, Sérgio Buarque de Holanda foi bastante influenciado 
pelas ideias de Max Weber. 
O autor brasileiro usa a perspectiva weberiana de “tipos ideais” ou “tipos 
puros”, que é o método desenvolvido pelo autor alemão para estudar a sociedade. 
Tipos ideais são, basicamente, parâmetros de observação da sociedade, ou seja, 
um referencial para compararmos o que observamos com uma teoria sobre essa 
mesma observação. 
Os tipos ideais não são conceitos inflexíveis, que objetivam colocar fenômenos 
sociais dentro de caixas conceituais, mas sim, conceitos que podem variar de acordo 
com a evolução do raciocínio em relação a determinado objeto social.
80
UNIDADE 2 — INTERPRETAÇÕES CLÁSSICAS SOBRE O BRASIL
A metodologia empregada por Holanda em Raízes do Brasil, implica 
concebermos a sociedade como um conjunto de modelos ou grupos de pessoas. 
Em outras palavras, o autor enquadra os principais atores que compõem a 
dinâmica social brasileira, desde o período colonial, em diferentes classes. Alguns 
dos exemplos de pares ideais adotados por Holanda (1995) são “aventureiros” 
e “trabalhadores”, “urbano” e “rural” entre outras classificações que são 
apresentadas no curso de toda a obra. 
O primeiro paradigma que Holanda (1995) quebra, quando sua obra é 
comparada a estudos e teorias anteriores, é o de que o Brasil fora colonizado 
puramente pelo povo português. Para o pensador, as terras brasileiras, assim 
como praticamente toda a América Latina, foram dominadas pelos povos ibéricos, 
ou seja, em sua maioria portugueses e espanhóis. Sérgio Buarque de Holanda 
identifica em Espanha e Portugal algumas características peculiares em relação 
ao resto da Europa, garantindo melhores condições à dominação do Brasil.
 O principal fator ibérico favorável à colonização, não só a do Brasil, mas 
de toda a América Latina, foi a proximidade geográfica espanhola e portuguesa 
em relação ao continente recém explorado, uma vez que os dois países possuem 
costa marítima voltada ao oeste.
É significativa, em primeiro lugar, a circunstância de termos recebido a 
herança através de uma nação ibérica. A Espanha e Portugal são, com a 
Rússia e os países balcânicos (e em certo sentido também a Inglaterra), 
um dos territórios-ponte pelos quais a Europa se comunica com os 
outros mundos. Assim, eles constituem uma zona fronteiriça, de 
transição, menos carregada, em alguns casos, desse europeísmo que, 
não obstante, mantêm como um patrimônio necessário (HOLANDA, 
1995, p. 31).
FIGURA 13 – REPRESENTAÇÃO CARTOGRÁFICA QUE EVIDENCIA A POSIÇÃO PRIVILEGIADA 
DOS PAÍSES IBÉRICOS EM RELAÇÃO AO CONTINENTE AMERICANO
FONTE: <https://teletime.com.br/wp-content/uploads/2017/02/tratado-de-tordesilhas.jpg>.Acesso em: 12 jul. 2020.
TÓPICO 2 — GILBERTO FREYRE, SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA E A FORMAÇÃO DO POVO BRASILEIRO
81
Outra notável característica que Espanha e Portugal compartilhavam, 
ressaltada por Holanda (1995), e que facilitou a colonização do Brasil e muitos 
outros países latino-americanos pelos povos ibéricos foi a ausência de uma 
hierarquia feudal tão imponente quanto a que havia em outros países europeus. 
Essa falta de uma hierarquia forte nos dois referidos países, facilitou a ascensão, 
crescimento e fortalecimento da burguesia mercantilista, classe que se destacou 
na busca pela expansão do mercado e, consequentemente, das expedições 
marítimas. Sérgio Buarque de Holanda sustenta a ideia de que essa falta de 
organização por parte das nobrezas ibéricas, que impuseram poucos limites às 
transações mercantis da burguesia, resultou na maior autonomia econômica de 
Portugal e Espanha, que tiveram mais oportunidades de se aventurar pelos mares 
em busca de maiores riquezas.
Holanda (1995) acredita que Portugal passou por muitas mazelas 
governamentais, embora tenha sido um grande império, inclusive se tornando o 
primeiro Estado Nacional. Com o advento de ocorrências como, por exemplo, as 
dívidas acumuladas com a Inglaterra e conflitos com a Espanha e Holanda, Portugal 
se desestabilizou administrativamente. Uma das consequências de tais desafios 
enfrentados pela coroa portuguesa foi a concessão involuntária das boas condições 
de desenvolvimento das quais gozou a burguesia mercantil daquele país. 
A dinâmica econômica mais autônoma da península Ibérica em relação 
aos países europeus vizinhos constitui uma série de heranças muito importante 
à formação das sociedades emergentes nas terras colonizadas por Portugal e 
Espanha, conforme Holanda (1995). A autonomia e a capacidade de prover a si 
mesmo todas as suas demandas, torna-se um valor entre os povos ibéricos, que 
passam a atribuir mais valor àqueles que conseguem, por si só, por meio de seu 
próprio esforço, suprir suas necessidades e/ou de sua família. Isso viria, segundo 
Sérgio Buarque de Holanda (1995), a influenciar diretamente a formação da 
cultura, especialmente as relações de trabalho, dos países colonizados.
Precisamente a comparação entre elas e as da Europa de além-Pireneus 
faz ressaltar uma característica bem peculiar à gente da península 
Ibérica, uma característica que ela está longe de partilhar, pelo menos 
na mesma intensidade, com qualquer de seus vizinhos do continente. 
É que nenhum desses vizinhos soube desenvolver a tal extremo essa 
cultura da personalidade, que parece constituir o traço mais decisivo na 
evolução da gente hispânica, desde tempos imemoriais. Pode dizer-se, 
realmente, que pela importância particular que atribuem ao valor próprio 
da pessoa humana, à autonomia de cada um dos homens em relação aos 
semelhantes no tempo e no espaço, devem os espanhóis e portugueses 
muito de sua originalidade nacional. Para eles, o índice do valor de 
um homem infere-se, antes de tudo, da extensão em que não precise 
depender dos demais, em que não necessite de ninguém, em que se baste. 
Cada qual é filho de si mesmo, de seu esforço próprio, de suas virtudes… 
– e as virtudes soberanas para essa mentalidade são tão imperativas, que 
chegam por vezes a marcar o porte pessoal e até a fisionomia dos homens. 
Sua manifestação mais completa já tinha sido expressa no estoicismo que, 
com pouca corrupção, tem sido a filosofia nacional dos espanhóis desde o 
tempo de Sêneca (HOLANDA, 1995, p. 32).
 
82
UNIDADE 2 — INTERPRETAÇÕES CLÁSSICAS SOBRE O BRASIL
Voltando ao conceito de tipos ideais que Sérgio Buarque de Holanda herdou 
de Max Weber, trabalhando-o de maneira intensa em sua obra, analisaremos um 
par ideal considerado por ele fundamental à formação da sociedade brasileira: o 
“aventureiro” e o “trabalhador” (HOLANDA, 1995). 
De acordo com Holanda (1995), o grupo social cognominado “aventureiro”, 
é composto por um tipo de sujeito que não se interessa na realização de uma 
atividade laboral capaz de suprir de forma direta suas necessidades fundamentais, 
suprir as demandas básicas de sua sobrevivência e de sua família. Em outras 
palavras, o aventureiro não se preocupa com o tipo de trabalho necessário para 
alimentar sua família, que seria o cultivo, por exemplo, e suas consequências ao 
mundo no qual está inserido. Ele está muito mais atento às estratégias que gerariam 
maior lucratividade para si mesmo, como pensar a quantidade de terras que deve 
ocupar para o plantio e o tipo de mão de obra que irá empregar para tal atividade. 
O “trabalhador”, por sua vez, é o sujeito que volta sua atenção muito mais 
ao trabalho em sua manifestação prática e nos seus resultados diretos em relação 
a sua sobrevivência. Utilizando o mesmo exemplo empregado ao aventureiro, 
podemos dizer que o trabalhador se preocupa muito mais na forma com a qual 
realizará o trabalho na lavoura (que não será realizado pelo aventureiro) e na 
maneira com a qual ele proverá seu sustento. De outro modo, o trabalhador é 
aquele indivíduo que pensa no resultado imediato de seus serviços e nos motivos 
pelo qual dispende sua energia no trabalho por ele realizado.
FIGURA 14 – REPRESENTAÇÃO DO PAR IDEAL “AVENTUREIRO-TRABALHADOR” NO PERÍODO 
COLONIAL BRASILEIRO
FONTE: <https://cutt.ly/bgQoGp1>. Acesso em: 12 jul. 2020.
 
A imagem da Figura 14 ilustra o par ideal composto pelo aventureiro 
e o trabalhador intrínsecos à “cultura do café” (termo que trabalharemos 
detalhadamente mais adiante) brasileira. Podemos observar o seguinte: o sujeito 
aventureiro, incorporado pelo homem branco montado ao cavalo no lado direito 
da pintura, que pode ser concebido como o proprietário da plantação de cana-de-
açúcar e o trabalhador, encarnado pelos negros que dependiam diretamente de 
seu trabalho braçal para garantir sua sobrevivência em dado regime.
TÓPICO 2 — GILBERTO FREYRE, SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA E A FORMAÇÃO DO POVO BRASILEIRO
83
Sendo o par ideal explanado anteriormente considerado uma das bases da 
formação social brasileira, Sérgio Buarque de Holanda enquadra os portugueses 
e espanhóis como sendo os aventureiros, sendo os indígenas e negros africanos 
concebidos como os trabalhadores que, em um primeiro momento colonial 
brasileiro, compuseram nosso povo e nossa cultura. Os colonizadores europeus 
eram aventureiros por objetivarem a multiplicação de suas riquezas com a 
exploração das terras dominadas, lançando-se em aventuras marítimas que 
culminaram com a invasão e domínio de vários territórios do Globo, inclusive o 
Brasil. Os africanos escravizados e trazidos para cá, junto aos povos nativos que 
foram submetidos ao trabalho escravo ou demasiadamente exploratório pelos 
europeus, dão origem a uma classe de trabalhadores que Holanda (1995) afirma 
existir até os tempos modernos (quem sabe, contemporâneos).
O que o português vinha buscar era, sem dúvida, a riqueza, mas 
riqueza que custa ousadia, não riqueza que custa trabalho. A 
mesma, em suma, que se tinha acostumado a alcançar na Índia com 
as especiarias e os metais preciosos. Os lucros que proporcionou de 
início, o esforço de plantar a cana e fabricar o açúcar para mercados 
europeus, compensavam abundantemente esse esforço – efetuado, de 
resto, com as mãos e os pés dos negros –, mas era preciso que fosse 
muito simplificado, restringindo-se ao estrito necessário às diferentes 
operações (HOLANDA, 1995, p. 49).
Uma das grandes inovações que o pensamento de Holanda (1995) 
proporcionou à Teoria Social Brasileira, encontra-se em sua perspectiva dialética 
em relação às transformações ocorridas na sociedade brasileira com o desenvolver 
da história. Para o autor, nossa sociedade é fundada sobre bases sólidas que pouco 
se modificaram até a idade moderna. Para melhor ilustrar essa ideia, podemos 
considerar as relações de dominação entre diferentes classes (ou pares ideais) 
que, apesar de se adaptarem às mudanças sociais ocorridas com os passar do 
tempo, mantêm-seigual em sua essência. 
Um bom exemplo é a relação de dominação dos povos brancos europeus sobre 
os nativos e negros africanos: em regime escravocrata os negros eram dominados de 
forma mais direta, trancados em senzalas e fisicamente castigado pelos senhores de 
engenho. Em tese, a escravidão sofrida pelos povos negros foi formalmente abolida 
por meio da Lei Áurea, de 13 de maio de 1888. Todavia, os descendentes de africanos 
ainda viviam (e vivem até hoje) submetidos a uma dinâmica sociocultural que dificulta 
de maneira evidente sua sobrevivência, inserção, ascensão e tratamento igualitário, 
em uma sociedade moderna que herda a hegemonia social dos descendentes 
europeus colonizadores. Sendo assim, é possível identificarmos a continuidade de 
uma cultura e de uma política que sofreram leves alterações em suas roupagens, 
embora continuem essencialmente as mesmas.
84
UNIDADE 2 — INTERPRETAÇÕES CLÁSSICAS SOBRE O BRASIL
FIGURA 15 – REFLEXÃO SOBRE NOVAS ROUPAGENS PARA A CULTURA COLONIAL QUE SO-
BREVIVE NA CONTEMPORANEIDADE 
FONTE: <http://joseliamaria.com/wp-content/uploads/2019/06/IMG_6762-1024x739.jpg>. 
Acesso em: 13 jul. 2020.
A Figura 15 revela, quando compara à figura anterior (Figura 14), a 
continuidade de uma cultura colonial que se manteve praticamente intacta 
na contemporaneidade. Observamos um trabalhador de descendência negra 
trabalhando no corte da cana-de-açúcar. Embora possua condições mínimas de 
trabalho, como equipamentos de proteção individual (EPIs) exigidos pela legislação 
trabalhista vigente, não está na condição de aventureiro quando analisado pela 
ótica de Holanda (1995). Continua sendo um trabalhador preocupado com suas 
demandas cotidianas que agora são atendidas (pelo menos parcialmente) pelo 
salário que recebe, que não é alto o suficiente para tirar o mesmo da condição de 
trabalhador. Percebemos que pouca coisa mudou em relação ao mesmo trabalho 
realizado por meio de mão de obra escrava dos tempos coloniais. O trabalho 
é duro e as vezes insuficiente para a própria subsistência, enquanto os lucros 
provenientes de seu esforço são destinados ao proprietário da lavoura, que pode 
ser concebido na condição de um aventureiro.
Compare-se o sistema de produção, tal como existia quando o 
mestre e seu aprendiz ou empregado trabalhavam na mesma sala e 
utilizavam os mesmos instrumentos, com o que ocorre na organização 
habitual da corporação moderna. No primeiro, as relações de 
empregador e empregado eram pessoais e diretas, não havia 
autoridades intermediárias. Na última, entre o trabalhador manual e 
o derradeiro proprietário — o acionista — existe toda uma hierarquia 
de funcionários e autoridades representados pelo superintendente da 
usina, o diretor-geral, o presidente da corporação, a junta executiva 
do conselho de diretoria e o próprio conselho de diretoria. Como 
é fácil que a responsabilidade por acidentes do trabalho, salários 
inadequados ou condições anti-higiênicas se perca de um extremo ao 
outro dessa série (HOLANDA, 1995, p. 142).
O trecho anterior apresenta, por meio de outro exemplo, a transição entre 
duas relações de trabalho fundamentalmente iguais, que passaram por adaptações 
ao longo da história que mascararam as mesmas condições dos aventureiros, 
que, nesse caso, é o proprietário de determinada corporação e os trabalhadores, 
representados pelos funcionários, que perpetuam a mesma dinâmica anterior, 
porém, sob regime trabalhista diferente do qual eram submetidos anteriormente.
TÓPICO 2 — GILBERTO FREYRE, SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA E A FORMAÇÃO DO POVO BRASILEIRO
85
Outro importante conceito de Holanda (1995), que inovou o Pensamento 
Social Brasileiro de sua época, foi o de homem cordial. O autor sustenta a ideia 
de que o homem cordial moldou as bases da cultura e política brasileiras. Trata-
se de um homem que, por meio de uma política orientada por um personalismo, 
construiu um povo cordial. No entanto, o conceito de cordial para Sérgio Buarque 
de Holanda (1995), não é o sinônimo de benevolência, educação, altruísmo ou 
quaisquer outros adjetivos positivos. 
De acordo com Holanda (1995), cordial, palavra derivada do latim cordis, 
que significa coração, possui uma conotação de guiado pelo afeto. Isso não 
quer dizer que o brasileiro seja essencialmente compreensivo ou afável. Porém 
quer dizer que o sujeito construído por meio, principalmente, do caráter do 
perfil europeu colonizador, é guiado através de seus interesses particulares, em 
especial, interesses familiares. Simplificando, o homem cordial de Sérgio Buarque 
de Holanda (1995) é, grosso modo, o homem que coloca os interesses privados 
acima dos interesses públicos, comuns ao restante da sociedade.
O exemplo que melhor se aplica ao exposto anteriormente, é o da ausência 
de separação da esfera pública da privada nas decisões políticas no Brasil. O 
patrimonialismo herdado dos europeus influencia no momento em que um 
político, eleito por vias democráticas, delega um cargo público importante a algum 
parente ou outra pessoa de sua confiança, independentemente de sua capacidade 
de exercer as tarefas inerentes à função do mesmo. Ou seja, o político brasileiro 
é, comumente, aquele que tem suas ações políticas guiadas por laços afetivos 
pessoais, particulares, privados ao invés de atender aos anseios públicos. Isso dá 
sentido à expressão patrimonialismo, uma vez que tal político investe em seus laços 
emocionais, em seu patrimônio afetivo, objetivando acumular respeito ao invés de 
realmente fazer uma política justa aos olhos dos demais membros da sociedade.
Não era fácil aos detentores das posições públicas de responsabilidade, 
formados por tal ambiente, compreenderem a distinção fundamental 
entre os domínios do privado e do público. Assim, eles se caracterizam 
justamente pelo que separa o funcionário “patrimonial” do puro 
burocrata conforme a definição de Max Weber. Para o funcionário “ 
patrimonial” , a própria gestão política apresenta-se como assunto de 
seu interesse particular; as funções, os empregos e os benefícios que 
deles aufere relacionam-se a direitos pessoais do funcionário e não a 
interesses objetivos, como sucede no verdadeiro Estado burocrático, 
em que prevalecem a especialização das funções e o esforço para se 
assegurarem garantias jurídicas aos cidadãos. A escolha dos homens 
que irão exercer funções públicas faz-se de acordo com a confiança 
pessoal que mereçam os candidatos, e muito menos de acordo com 
as suas capacidades próprias. Falta a tudo a ordenação impessoal que 
caracteriza a vida no Estado burocrático (HOLANDA, 1995, p. 145-146).
Esse comportamento advém, conforme Holanda (1995), das raízes culturais 
do povo brasileiro, que é moldada principalmente pela educação que recebemos 
no curso da história e pelas relações de trabalho às quais fomos submetidos. O 
pensador brasileiro acredita que carregamos fortes heranças da educação jesuítica 
que recebemos, de forma quase exclusiva, até aproximadamente o final do século 
86
UNIDADE 2 — INTERPRETAÇÕES CLÁSSICAS SOBRE O BRASIL
XVIII. Esse modelo de educação era baseado no culto à disciplina e obediência, 
que submetia nossos educandos a um tipo de respeito cego a indivíduos de 
prestígio, como alguns militares, por exemplo. 
A disciplina não era fomentada devido a uma visão estratégica, que 
poderia prover aos indivíduos alguns benefícios pessoais ou coletivos por meio 
de algum tipo específico de atitude, mas de forma a moldar os sujeitos pela 
imposição de um comportamento submisso, considerado ideal pelos educadores. 
Sendo assim, podemos dizer que fomos, durante muito tempo (quase três séculos), 
educados para respeitar pessoas ao invés de ideias (personalismo), obedecendo 
a concepções políticas individuais, privadas, em detrimento das demandas e 
posicionamentos coletivos, públicos. 
FIGURA 16 – REFLEXÃO SOBRE A PARCIALIDADE DA NOMEAÇÃO DE PESSOAS AFETIVAMENTE 
LIGADAS AOS GESTORES INSTITUCIONAIS NO BRASIL
FONTE: <https://ospyciu.files.wordpress.com/2014/07/1.jpg>.Acesso em: 13 jul. 2020.
A provocação realizada pela Figura 16 gira em torno do tema nepotismo, 
que consiste na nomeação de parentes e/ou pessoas de confiança de gestores 
estatais a cargos públicos. A cultura patrimonialista que, de acordo com Holanda 
(1995), está intrínseca à sociedade brasileira, pode resultar em práticas, como 
a denunciada anteriormente, na esfera pública. Ao analisarmos tal possível 
consequência, proveniente de um comportamento herdado do povo europeu pelos 
brasileiros, o homem cordial pode ser concebido como um sujeito antidemocrático 
por natureza, que prioriza seu patrimônio social, moral e material ao invés de 
zelar pelo bem comum.
Para Holanda (1995), a família é, desde os tempos coloniais, a instituição 
mais importante para o brasileiro, à qual somos condicionados a dedicar nossos 
maiores esforços em detrimento de outras instâncias da vida social. Isso quer 
dizer que somos muito mais fiéis ao bem-estar de nossos familiares em relação 
ao restante da sociedade. A cordialidade então se limita ao recinto doméstico e à 
garantia dos interesses daqueles que o compõem. De acordo com Sérgio Buarque 
de Holanda, é comum que a parcela do povo que possui acesso aos estudos e 
TÓPICO 2 — GILBERTO FREYRE, SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA E A FORMAÇÃO DO POVO BRASILEIRO
87
cargos que demandam esforços acadêmicos, busquem a esfera pública por meio 
de outras funções políticas. Porém, sua atuação se limita aos valores e costumes 
apreendidos no seio familiar, o que a faz, comumente, lançar mão de políticas 
públicas alinhadas aos interesses domésticos.
Essa aptidão para o social está longe de constituir um fator apreciável 
de ordem coletiva. Por isso mesmo que relutamos em aceitar um 
princípio superindividual de organização e que o próprio culto 
religioso se torna entre nós excessivamente humano e terreno, toda a 
nossa conduta ordinária denuncia, com frequência, um apego singular 
aos valores da personalidade configurada pelo recinto doméstico. 
Cada indivíduo, nesse caso, afirma-se ante os seus semelhantes 
indiferente à lei geral, onde esta lei contrarie suas afinidades emotivas, 
e atento apenas ao que o distingue dos demais, do resto do mundo 
(HOLANDA, 1995, p. 155).
O trecho anterior pode ser entendido como uma tentativa de Holanda 
(1995) de explicar as raízes da tradição política do Brasil, um país fundado sobre 
valores estritamente familiares, personalistas e individualistas. A cordialidade 
se resume em um afeto destinado muito mais aos nossos iguais imediatos, ou 
seja, nossa família, do que uma emoção voltada ao reconhecimento de toda 
uma classe à qual pertencemos e que é alheia ao nosso meio familiar. Sendo 
assim, o contexto político brasileiro, dominado por aqueles cuja posição social 
privilegiada os permite estudar, herda de nossos antepassados membros quase 
sempre pertencentes à elite “bacharelada”, aos quais se refere Sérgio Buarque de 
Holanda (1995), àqueles que se formaram e ingressaram na carreira política. 
De qualquer modo, ainda no vício do bacharelismo ostenta-se 
também nossa tendência para exaltar acima de tudo a personalidade 
individual como valor próprio, superior às contingências. A dignidade 
e importância que confere o título de doutor permitem ao indivíduo 
atravessar a existência com discreta compostura e, em alguns casos, 
podem libertá-lo da necessidade de uma caça incessante aos bens 
materiais, que subjuga e humilha a personalidade. Se nos dias atuais 
o nosso ambiente social já não permite que essa situação privilegiada 
se mantenha cabalmente e se o prestígio do bacharel é sobretudo uma 
reminiscência de condições de vida material que já não se reproduzem 
de modo pleno, o certo é que a maioria, entre nós, ainda parece pensar 
nesse particular pouco diversamente dos nossos avós. O que importa 
salientar aqui é que a origem da sedução exercida pelas carreiras 
liberais vincula-se estreitamente ao nosso apego quase exclusivo aos 
valores da personalidade (HOLANDA, 1995, p. 157).
Juntas, as obras de Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda, apesar 
de suas limitações naturais, contribuíram para o desenvolvimento das bases 
de uma nora era da Teoria Social Brasileira: a que seria trabalhada de acordo 
com os parâmetros científicos e acadêmicos. Sendo assim, é imprescindível a 
leitura da produção intelectual de ambos os autores, sempre de maneira crítica, 
considerando o contexto de formação de cada um deles e o que esses fatores 
influenciaram em seus respectivos pensamentos.
88
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• O Pensamento Social Brasileiro adentrou em seu período científico-acadêmico 
por meio da obra de Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda.
• Gilberto Freyre foi um grande nome do Pensamento Social Brasileiro, 
contribuindo com uma perspectiva acerca da formação do povo brasileiro 
partindo do processo de miscigenação no Brasil.
• A obra de Gilberto Freyre é, até hoje, alvo de fortes críticas, principalmente 
em relação à linguagem nela empregada e à romantização de fatos que 
representaram muito sofrimento ao povo afrodescendente e às mulheres 
brasileiras.
• Sérgio Buarque de Holanda contribuiu com o avanço da Teoria Social 
Brasileira, considerando alguns aspectos fundamentais do período colonial e 
suas implicações sociais na modernidade.
• A obra de Sérgio Buarque de Holanda evidencia algumas características que 
foram herdadas dos colonizadores europeus pelo nosso povo, moldando 
um modelo cultural e político baseado na cordialidade, personalismo, 
individualismo e patrimonialismo.
89
1 Gilberto Freyre é considerado um dos maiores contribuintes do Pensamento 
Social Brasileiro, trabalhando principalmente o processo de formação 
do povo brasileiro por meio de sua perspectiva sobre a mestiçagem ou 
miscigenação. Embora tenha sofrido muitas críticas com o passar dos 
tempos, sua obra contribuiu com a reconstrução dos elementos fundamentais 
que constituíram a dinâmica social brasileira: a casa-grande e a senzala. 
Partindo do pressuposto freyriano que esses dois elementos, intimamente 
interligados, moldaram as bases da cultura e da política brasileiras, analise 
as sentenças a seguir sobre o processo de formação de nosso povo:
I - A miscigenação no Brasil foi um processo no qual as diferentes raças 
e etnias aqui inseridas (europeus e africanos), misturaram-se aos povos 
nativos e entre si, dando origem ao nosso povo que é considerado um 
dos mais ricos em termos de diversidade racial.
II - Embora Gilberto Freyre tenha narrado de maneira romântica o processo 
de miscigenação e as comodidades da escravidão ao homem branco 
brasileiro, ambos foram processos violentos e que deixaram marcas em 
nossa sociedade até os tempos atuais.
III - Embora não negue o caráter cruel e violento do regime escravocrata 
brasileiro, Gilberto Freyre sustenta a ideia de que a escravidão no Brasil 
foi “branda” em relação a outros países, sendo essa afirmação alvo de 
muitas críticas ao seu pensamento.
IV - Gilberto Freyre foi um autor que narrou, de forma imparcial e isenta 
de concepções emotivas, a escravidão no Brasil, tão como o processo de 
mestiçagem, ao qual se referia com repúdio aos estupros e violências que 
ocorreram aqui durante esse período.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças I, II, III e IV estão corretas.
b) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas. 
c) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
d) ( ) As sentenças III e IV estão corretas.
e) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
2 Sérgio Buarque de Holanda revolucionou a Teoria Social Brasileira emergente 
no início do século XX, concebendo a cultura e a política moderna como fruto 
histórico de fenômenos sociais iniciados no período colonial. Para o autor, 
bases de nossa sociedade sofreram poucas modificações em sua essência, 
seguindo padrões que se originaram nos povos ibéricos que colonizaram 
nossas terras, antes mesmo da colonização. A modernidade seria composta, 
na concepçãode Holanda, por uma série de “pares ideais” que, contrapostos 
ou não, evoluíram de acordo com o processo histórico e moldaram a sociedade 
brasileira até a modernidade. De acordo com o que estudamos no presente 
tópico, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
AUTOATIVIDADE
90
( ) Os tipos ideais “aventureiro” e “trabalhador”, que Sérgio Buarque de 
Holanda considerava as classes mais fundamentais que compuseram 
a sociedade brasileira, eram formados, basicamente, por aqueles que 
objetivavam lucrar com atividades econômicas e aqueles que trabalhavam 
para suprir as suas necessidades imediatas, respectivamente.
( ) Sérgio Buarque de Holanda acreditava que a sociedade brasileira carrega 
heranças sociais advindas do modo de vida dos povos ibéricos, uma vez 
que Espanha e Portugal, com suas particularidades políticas em relação 
ao resto da Europa, obtiveram maiores vantagens no desenvolvimento 
mercantilista, garantindo maior autonomia no comércio, exploração e 
suprimento de suas demandas familiares.
( ) O homem cordial de Sérgio Buarque de Holanda, é aquele sujeito 
altruísta, educado e pacífico que foi responsável por solidificar nossas 
bases culturais e políticas voltadas ao atendimento das necessidades do 
povo em detrimento de suas demandas pessoais e familiares. 
( ) O caráter hereditário da trama política brasileira, ou seja, a cultura da 
valorização dos laços familiares sobre as aptidões políticas no momento 
da nomeação de cargos públicos por gestores do Estado, possui pouca 
relação com a cordialidade intrínseca aos governos que regem o Brasil 
desde o período colonial.
Assinale a alternativa que a presenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – V – V – V.
b) ( ) V – F – V – V.
c) ( ) V – V – F – V.
d) ( ) F – F – V – V.
e) ( ) V – V – F – F. 
3 Sabemos que Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda são dois 
grandes autores brasileiros que muito contribuíram com a construção das 
bases da Teoria Social Brasileira, principalmente no que diz respeito à era 
científico/acadêmica que nasceu no início do século XX. Isso não significa 
que os pensadores que contribuíram com o Pensamento Social Brasileiro, 
anteriormente, não foram de grande importância nesse processo. Dentre 
limitações e perspectivas muito criticadas contemporaneamente, os 
referidos autores foram responsáveis por grandiosas inovações no que 
diz respeito à reconstrução de um Brasil ainda desconhecido por muitos 
até o século passado. Com base no conteúdo estudado no presente tópico, 
resuma, com suas palavras, as principais contribuições de cada um desses 
autores aos estudos de nossa sociedade.
91
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
O terceiro e último tópico da Unidade 2 de nosso material apresentará as 
ideias centrais de outros dois grandes nomes do Pensamento Social Brasileiro: 
Florestan Fernandes e Caio Prado júnior. Abordaremos os principais conceitos 
trabalhados em suas obras mais importantes, destacando suas abordagens e 
inovações em relação à perspectiva sociológica construída no Brasil.
Para tanto, utilizaremos escritos desenvolvidos por diferentes intérpretes 
das obras de ambos os pensadores e trechos retirados de sua própria literatura, 
objetivando maior riqueza de análises e perspectivas. Lembrando que a leitura 
das obras de Florestan Fernandes e Caio Prado Júnior são indispensáveis, uma vez 
que toda sua riqueza não pode ser expressada apenas por meio de interpretações 
feitas por outros estudiosos ou sínteses que objetivam a introdução ao pensamento 
de ambos. Bons estudos!
2 FLORESTAN FERNANDES: RELAÇÕES SOCIAIS E ESTRUTURA 
DE CLASSES NA SOCIEDADE BRASILEIRA 
Antes de iniciarmos nossos estudos das contribuições de Florestan 
Fernandes à Teoria Social Brasileira, devemos considerar as principais influências 
e métodos adotados pelo autor para composição de sua obra. Fernandes é um autor 
que bebe de várias fontes para construir seu ponto de vista, dentre elas devemos 
ressaltar o pensamento de Max Weber, Emile Durkheim e, principalmente, Karl 
Marx. Florestan Fernandes era considerado um autor marxista, apesar de sua 
influência heterogênea, pois adotou o materialismo histórico dialético de Marx 
como método de conceber a realidade. Trata-se, de maneira bem resumida, de 
considerar o mundo material como algo composto por elementos em constante 
mudança. Esse incessante ciclo de mudanças ocorre no mundo material, ou 
seja, em tudo aquilo que podemos tocar e transformar, sob o efeito de nossas 
necessidades, reflexão e trabalho, resultando na construção da história.
Outra característica pessoal interessante de Florestan Fernandes é sua 
condição de pessoa negra, pobre e que vivenciou severas dificuldades em sua 
vida. Precisou trabalhar muito cedo, já aos seis anos de idade, para ajudar sua 
família, fato que talvez tenha influenciado sua concepção acerca da existência 
de diferentes classes sociais, e a importância do trabalho humano na construção 
de nossa história. É considerado um autor “militante”, ou seja, que abre mão 
TÓPICO 3 — 
FLORESTAN FERNANDES E CAIO PRADO 
JÚNIOR
92
UNIDADE 2 — INTERPRETAÇÕES CLÁSSICAS SOBRE O BRASIL
da neutralidade proposta pela Sociologia científica, posicionando-se a favor de 
uma classe social específica: a trabalhadora. Bastos (2015) sustenta a ideia de que 
Florestan Fernandes facilitou o entendimento acerca da estrutura social brasileira, 
partindo do estudo da realidade das classes menos privilegiadas.
[...] opera com a afirmação de que o elo mais fraco da corrente social 
ilustra o funcionamento da sociedade [e que, portanto,] a escolha 
para análise de um grupo que carrega desvantagens maiores do que 
outros para integrar-se socialmente implica uma admissão teórico-
metodológica: a partir da periferia percebe-se melhor o movimento 
da sociedade, possibilitando, assim, a percepção dos princípios que a 
articulam (BASTOS, 2015, p. 49).
Florestan Fernandes possui uma obra muito extensa, porém, as duas 
obras que ganharam maior destaque devido às inovações que concedeu à Teoria 
Social Brasileira foram, sua dissertação de mestrado intitulada A Organização 
Social dos Tupinambá (FERNANDES, 1963) e A Integração do Negro na Sociedade de 
Classes (1978). Ambas as obras romperam com as ideias de Gilberto Freyre, que 
resultaram numa concepção de “democracia racial” existente no Brasil que, até 
então (década de 1940), estavam em alta entre os intelectuais da época. Embora 
Freyre não tenha utilizado o termo democracia racial em sua obra e desmentir 
essa ideia em entrevista posteriormente, era muito comentado que o pensamento 
freyriano induzia a crença na existência de uma igualdade entre as raças que se 
miscigenaram e compuseram nosso povo. 
Em Florestan Fernandes, as relações raciais entre brancos, índios 
e negros são vistas sob o prisma da exclusão social na passagem da 
sociedade colonial para a tradicional escravista e daí para a sociedade 
de classes. Consequentemente, o objeto de análise, nas obras 
interpretativas do Brasil não é apenas o negro ou o índio, mas o povo, 
a sociedade brasileira que emerge na história. Uma sociedade que 
comporta tanto momentos de modernização, quanto de arcaísmo; de 
inclusão e integração como de exclusão e discriminação. Enfim, um 
sistema social que apresenta, ao mesmo tempo, processos integrativos 
e desintegrativos (MARIOSA, 2019, p. 188).
Florestan Fernandes (2008) é adepto da ideia de que as chamadas estruturas 
sociais são construtos socioculturais que se modificam lentamente ao desenrolar 
da história. Isso quer dizer que alguns hábitos sociais geram mentalidades que, 
por mais que operem por meio de outros moldes com o passar dos tempos, 
permanecem com uma estrutura fundamental intacta devido à cultura criada por 
esses mesmos hábitos. Utilizemo-nos novamente do exemplo da escravidão no 
Brasil: por mais que a abolição da escravatura tenha sido formalizada por meio 
da Lei Áurea, de 13 de maio de 1888, a cultura da diferenciação entre negros e 
brancos nãocessou no momento em que a ela fora outorgada. A cultura racista 
herdada de nosso antepassado colonizador demanda um processo histórico mais 
longo, além de outros fatores políticos, para ser gradualmente superada.
Em termos sociológicos, as sociedades humanas que tendem ou 
participam de um mesmo padrão de civilização podem ostentar 
essa condição de várias maneiras. No essencial, a vigência de um 
padrão de civilização sempre pressupõe um mínimo de eficácia em 
TÓPICO 3 — FLORESTAN FERNANDES E CAIO PRADO JÚNIOR
93
sua atualização histórico-social. Todavia, tanto estrutural quanto 
funcionalmente, ocorrem amplas flutuação em torno e abaixo ou 
acima desse mínimo. As sociedades do Novo Mundo não constituem 
exceção a essa regra. Ao contrário, elas mostram como as contingências 
da conquista, da colonização e da integração nacional afetaram, por 
vezes de modo dramático e profundo, a amplitude, o curso e os 
efeitos de “expansão da civilização ocidental” nesta parte do globo 
(FERNANDES, 2008, p. 98).
FIGURA 17 – REFLEXÃO SOBRE A CRÍTICA À TEORIA DA DEMOCRACIA RACIAL
FONTE: < https://4.bp.blogspot.com/-arh_aAeep7c/WT10qdp9XVI/AAAAAAAAAfc/eDfhQcf-tDs-
R73xQvvSeP1Jft1JxcK2rQCLcB/s1600/democracia%2Bracial.jpg >. Acesso em: 14 jul. 2020.
Uma das teorias de Florestan Fernandes que ganhou destaque entre os 
pensadores sociais brasileiros é a do Capitalismo Dependente (FERNANDES, 
1975), contexto sócio-político-econômico no qual o Brasil está inserido. Dentre 
outras consequências desse modelo capitalista, especialmente em relação à América 
Latina, está a submissão do bloco de países latino-americanos à dinâmica político-
econômica capitaneada principalmente por países europeus e pelos Estados 
Unidos da América. A referida tese denuncia a submissão da trama produtiva 
brasileira não só às exigências de uma burguesia interna, mas também à burguesia 
estrangeira à qual a nacional está submetida. Ou seja, o trabalho de produção de 
riquezas brasileiro deve suprir as demandas tanto da hegemonia local, quanto das 
elites burguesas europeia e estadunidense. Tal sistema financeiro internacional 
reflete na superexploração do trabalho e na dificuldade de absorção das riquezas 
que produzimos pela nossa própria sociedade.
O autor (FERNANDES, 1975) explica que a superação dessa condição 
dependente por parte do Brasil é dificultada devido à herança colonial no país. 
Isso significa que a ruptura com o sistema de Capitalismo Dependente demandaria 
uma mudança política interna drástica, de forma a voltar a produção brasileira de 
riquezas às demandas nacionais em detrimento da histórica atenção ao mercado 
exterior que explora nosso território. Essa ideia é baseada na noção de que o 
rompimento com as estruturas sociais construídas em solo brasileiro demanda 
tempo e trabalho para se concretizar.
94
UNIDADE 2 — INTERPRETAÇÕES CLÁSSICAS SOBRE O BRASIL
Uma outra importante tese de Florestan (FERNANDES, 1975) é a de que 
o Estado brasileiro foi tomado pela estrutura burguesa que havia se estabelecido 
aqui. Em outras palavras, nossas instituições foram construídas por quem 
dominava a dinâmica cultural, política e econômica no Brasil: a burguesia 
colonizadora. Isso quer dizer que, com o passar do tempo, a organização política 
foi se moldando de forma a adquirir um aspecto mais democrático (que não quer 
dizer que se tornaria um governo democrático de fato). Porém, as mesmas classes 
que dominavam o Brasil colonial, inseriram-se na política formal e continuaram 
ditando seus interesses por intermédio do Estado. Ou seja, partindo do conceito 
de estruturas sociais sólidas, dificilmente rompidas a curto prazo, nosso território, 
cultura, política e economia continuaram orientados pelas mesmas pessoas que 
dominavam o país em regime colonial.
Em uma de suas obras de maior destaque, Florestan Fernandes (1978) 
discorre sobre a condição do negro no Brasil pós-escravidão, associando a 
desigualdade racial no contexto capitalista a uma questão de dominação entre 
classes sociais. Para o pensador, a situação do povo negro brasileiro continuou 
desfavorável socialmente em relação aos brancos, que possuíam melhores 
oportunidades e cargos empregatícios, dentre outros privilégios. Analisando a 
conjuntura político-social de São Paulo do século XX, Fernandes (1978) observou 
que naquele estado em vias de crescimento econômico, as desigualdades sociais 
eram mais facilmente observáveis. Lá a discriminação racial se tornara algo mais 
nítido em relação a outros estados brasileiros onde a integração do negro na 
sociedade também era um processo difícil e desigual.
Partindo do pressuposto que as ideias originárias dos discursos proferidos 
por pensadores, não só da área social, mas de quaisquer campos do conhecimento, são 
compreendidas de maneira mais clara quando acessadas em forma articulada e na íntegra, 
torna-se imprescindível acompanharmos suas conversas, aulas e entrevistas (quando 
possível, é claro). Sendo assim, apresentamos uma entrevista de Florestan Fernandes 
concedida ao programa Vox Populi, que pode ser acessada no endereço eletrônico a 
seguir: https://www.youtube.com/watch?v=dPAYUfcwR0E. Por meio dela conseguimos 
nos aproximar ainda mais dos argumentos construídos pelo autor de forma didática, 
complementando a leitura de sua obra que também é fundamental ao entendimento de 
seu pensamento.
DICAS
TÓPICO 3 — FLORESTAN FERNANDES E CAIO PRADO JÚNIOR
95
FIGURA 18 – REFLEXÃO SOBRE A DIFICULDADE NO QUE TANGE À INTEGRAÇÃO DO NEGRO 
NA SOCIEDADE DE CLASSES
FONTE: <https://observatorio3setor.org.br/wp-content/uploads/2019/04/1-racismo.jpg>. 
Acesso em: 14 jul. 2020.
A obra de Fernandes (1978) apresenta uma análise acerca da inserção 
do povo negro no contexto social do estado que mais se desenvolvia industrial 
e, consequentemente, economicamente. O texto, então, versa os desafios 
enfrentados pelo negro em busca de sua integração na dinâmica capitalista 
após a recente abolição formal da escravidão no Brasil. O autor percebe que, 
desde o reconhecimento do fim da escravidão no ano de 1888, o negro, apesar 
de legalmente protegido contra o escravismo, continuava isolado do restante da 
sociedade que possuía maiores chances de ingresso em um mercado de trabalho 
industrial nascente.
Encontrando-se em uma condição desfavorável, na qual até mesmo os 
imigrantes europeus recém chegados ao Brasil recebiam prioridade na ocupação 
dos empregos gerados pela indústria emergente, o negro brasileiro se depara 
com um crescente processo de marginalização. Tal fato é associado por Fernandes 
(1978) à herança cultural colonial, que dá continuidade à mentalidade escravista 
que inferioriza o negro em relação ao branco. Observa-se a continuação da ideia, 
oriunda das classes hegemônicas, de que os negros não poderiam ocupar os 
mesmos cargos que os brancos.
Outra tese muito importante e inovadora elaborada por Fernandes (1978), 
ressalta a resistência de uma parcela do povo negro brasileiro em relação a sua 
integração à nova dinâmica social pós-escravidão. Segundo o pensador, muitos 
negros que estavam inseridos ou tiveram contato direto com a trama escravista, 
sendo ex-escravos ou seus descendentes, tomavam consciência de que as novas 
modalidades de trabalho a eles oferecidas davam continuidade à exploração 
que sofriam durante regime de escravidão. A recusa pelos novos trabalhos que 
seguiam submetendo o negro brasileiro a condições precárias resultaria na busca 
por outras alternativas para sua sobrevivência. Atividades ilícitas, ou consideradas 
criminosas pela classe hegemônica brasileira, estariam cada vez mais presentes 
na vida do negro no Brasil.
96
UNIDADE 2 — INTERPRETAÇÕES CLÁSSICAS SOBRE O BRASIL
O compromisso de Florestan Fernandes com a mudança da condição 
inferior do negro no Brasil se manifesta em sua obra. O sociólogo ressalta a 
importância da luta de classes por meio de movimentos sociais que reivindiquem 
melhores condições de vida ao povo negro. A organização de ações que denunciama desigualdade, o racismo, a discriminação, a falta de oportunidades dentre outras 
diversas dificuldades enfrentadas cotidianamente pelos negros brasileiros seriam, 
conforme o autor, um trabalho que proporcionaria ao negro, de forma gradual, 
melhores condições de vida em meio à sociedade de classes (FERNANDES, 1978).
FIGURA 19 – EXEMPLO DE MANIFESTAÇÃO SOCIAL QUE DENUNCIA O SOFRIMENTO DO 
AFRO-BRASILEIRO NA CONTEMPORANEIDADE
FONTE: <https://www.cartacapital.com.br/wp-content/uploads/2019/04/negros.jpg>. 
Acesso em: 14 jul. 2020.
Cabe ressaltar que a obra de Florestan Fernandes é muito vasta e não se 
limita apenas às obras estudadas no presente subtópico. Por se tratar de um dos 
maiores pensadores brasileiros, que é considerado um dos maiores sociólogos da 
América Latina e do mundo, o estudo de sua produção intelectual é imprescindível 
a uma análise de aspectos fundamentais da sociedade brasileira. Portanto, é 
obrigatória a leitura de seus escritos àqueles que pretendem contribuir com a 
Teoria Social Brasileira, com a teoria e/ou com políticas em âmbito nacional.
3 CAIO PRADO JÚNIOR: A FORMAÇÃO DA SOCIEDADE 
BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA
Uma nova perspectiva acerca da formação da sociedade brasileira 
contemporânea é formulada por Caio Prado Júnior: outro grande pensador que 
contribuiu de maneira ímpar com a Teoria Social Brasileira. Caio Prado Júnior 
(1961) é um intelectual que também se utiliza dos métodos marxistas para 
compreensão da realidade, inovando em suas análises da formação do Brasil 
contemporâneo partindo de pressupostos econômicos. Isso quer dizer que o autor 
identifica, durante o desenvolver histórico de nossa sociedade, alguns fatores 
fundamentais que foram orientados pelo tipo de economia aqui existente. Ou 
seja: nossa cultura e política foram construídas a partir da dinâmica econômica 
estabelecida em nosso território.
TÓPICO 3 — FLORESTAN FERNANDES E CAIO PRADO JÚNIOR
97
Caio Prado Júnior (1961) identifica na economia implantada no Brasil, desde o 
período pré-colonial, as bases de nossa cultura e política. O intelectual se depara, aos 
estudar os diversos ciclos econômicos brasileiros identificados pelos historiadores, 
com padrões culturais engendrados por cada modelo econômico aqui desenvolvido. 
Por exemplo, no início do século XVI, a partir da invasão dos primeiros europeus, 
Prado Júnior (1961) observa um tipo de cultura emergente da dinâmica extrativista 
do Pau-brasil. Essa cultura foi forjada devido à submissão dos povos nativos aos 
trabalhos de extração da madeira que era comercializada no exterior. 
O trabalho realizado pelos povos ditos indígenas, seduzidos pela já 
mencionada prática do escambo, orientaria toda uma cultura brasileira. Dos 
contatos iniciais que resultaram na proximidade entre europeus invasores e povos 
nativos, intermediada pelo escambo, influenciaria a cultura aqui estabelecida 
antes da chegada dos brancos.
Prado Júnior (1961) enfatiza as consequências da economia imposta pelos 
povos europeus ao comportamento de etnias que, mais tarde, formariam alguns 
dos pilares fundamentais da sociedade brasileira. Um de seus conceitos centrais à 
compreensão do processo histórico que culminou com o Brasil contemporâneo, parte 
da ideia de que durante o período colonial brasileiro, fatos essenciais interferiram 
em nossa cultura e política. O autor introduz o “sentido da colonização” como uma 
sequência de fatos históricos forjados pela dinâmica colonial, sobretudo pelos seus 
aspectos econômicos, que constituíram as bases de nossa sociedade.
Todo povo tem na sua evolução, vista à distância, um certo “sentido”. 
Este se percebe não nos pormenores de sua história, mas no conjunto de 
fatos e acontecimentos essenciais que a constituem num largo período 
de tempo. Quem observa aquele conjunto, desbastando-o do cipoal de 
incidentes secundários que o acompanham sempre e o fazem muitas 
vezes confuso e incompreensível, não deixará de perceber que ele se 
forma de uma linha mestra e ininterrupta de acontecimentos que se 
sucedem em ordem rigorosa, e dirigida sempre numa determinada 
orientação. É isto que se deve, antes de mais nada, procurar quando se 
aborda a análise da história de um povo, seja aliás qual for o momento 
ou o aspecto dela que interessa, porque todos os momentos e aspectos 
não são senão partes, por si só incompletas, de um todo que deve ser 
sempre o objetivo último do historiador, por mais particularista que 
seja. Tal indagação é tanto mais importante e essencial que é por ela 
que se define, tanto no tempo como no espaço, a individualidade da 
parcela de humanidade que interessa ao pesquisador: povo, país, nação, 
sociedade, seja qual for a designação apropriada no caso. É somente aí 
que ele encontrará aquela unidade que lhe permite destacar uma tal 
parcela humana para estudá-la à parte (PRADO JÚNIOR, 1961, p. 13).
O trecho anterior introduz a ideia de que, a partir da observação dos 
aspectos centrais do desenvolvimento histórico de determinada sociedade, povo, 
nação, dentre outras denominações, podemos compreender a formação de dada 
cultura. Concebendo a economia como o fator preponderante à construção social 
do Brasil, Prado Júnior (1961) aponta o sentido que a colonização deu à nossa 
sociedade. O autor acredita que as atividades econômicas aqui implantadas pelos 
povos europeus, moldaram nossos costumes e, portanto, foram fundamentais à 
evolução de nossa sociedade até os dias de hoje.
98
UNIDADE 2 — INTERPRETAÇÕES CLÁSSICAS SOBRE O BRASIL
O autor (PRADO JÚNIOR, 1961) aponta que entender o papel da América 
Latina para os povos ibéricos colonizadores, é de fundamental importância para 
entender a formação de nossa sociedade. Ele acredita que o fato de que território 
latino-americano fora muito mais para a exploração e produção de riquezas do 
que propriamente para a ocupação dos colonizadores, tem muito a dizer sobre o 
desenvolvimento de nossa cultura (PRADO JÚNIOR, 1961). 
O intelectual disserta sobre toda uma cultura que nasce em torno das 
atividades econômicas centrais do Brasil, desde sua colonização. Ele concebe, 
por exemplo, o clico econômico da cana-de-açúcar, como fator originário de uma 
“cultura da cana”, que moldou aspectos culturais e políticos brasileiros que, 
até a contemporaneidade, pouco sofreram mudanças estruturais significativas 
(PRADO JÚNIOR, 1961).
FIGURA 20 – O CICLO ECONÔMICO DA CANA-DE-AÇÚCAR COMO UM DOS ORIENTADORES 
POLÍTICO-CULTURAIS DO BRASIL CONTEMPORÂNEO
FONTE: <https://cutt.ly/3gQsZMR>. Acesso em: 14 jul. 2020.
Caio Prado Júnior (1961) destaca um caráter pouco racional em relação à 
ocupação do Brasil pelos povos ibéricos. Isso quer dizer que se houve de fato uma 
racionalidade em torno da utilização de nosso território, ela estaria muito mais 
voltada à exploração de nossos recursos do que à construção de uma sociedade 
voltada ao crescimento econômico e/ou à habitação do local. Nesse sentido, o 
conceito de “colônia de exploração” e “colônia de povoamento”. A colonização 
de nosso país e dos demais da América Latina, estaria muito mais voltada à 
exploração dos recursos naturais e produção de riquezas do que propriamente ao 
povoamento por parte dos europeus ibéricos.
A inserção do negro na sociedade brasileira também é associada por Caio 
Prado Júnior (1961) aos aspectos economicistas de nosso desenvolvimento. O 
autor discorre que o tráfico negreiro para o Brasil foi motivado, sobretudo, pelas 
vantagens econômicas do trabalho escravo na produção de riquezas retiradas de 
nosso país. Sendo assim, a economia também seria preponderante em relação à 
chegada em massa dos povos africanos no Brasil. É muito importante salientar 
o papel da economia na introdução de uma das etnias que compõem a base do 
povo brasileiro, conforme os estudos do referido pensador.
TÓPICO 3 — FLORESTAN FERNANDES E CAIO PRADO JÚNIOR
99
Comparando a colonização latino-americana com a colonização da 
América do Norte, sobretudo a consolidada nos Estados Unidos da América, 
CaioPrado Júnior (1961) aponta uma dualidade em relação às intenções dos 
colonizadores europeus na América. Enquanto na América Latina a colonização 
estivesse voltada muito mais à exploração e impulsionamento do capitalismo 
europeu, nos Estados Unidos, a colonização seria mais racionalizada no sentido 
da construção de um país cujo povoamento seria o objetivo maior dos europeus. 
Essa concepção provocou muitos debates no mundo acadêmico e, até os dias de 
hoje, discutem-se algumas teses do autor.
Ao analisar a comparação que Prado Júnior faz entre a colonização da 
América do Norte e a do Sul, na sua obra História Econômica do Brasil, 
Adorno levanta três observações: a primeira delas, e mais significativa, diz 
respeito a indefinição da natureza econômico social da empresa mercantil 
colonizadora. Ora, não se trata de feudalismo, embora o patrimonialismo 
expresso pelas sesmarias apontasse nessa direção, também não se trata 
de capitalismo, haja vista, que não há separação radical entre trabalho e 
capital. Restava qualificá-lo de pré-capitalismo, mas não haveria clareza 
na inserção da colonização no terreno da acumulação originária do 
capital, já em andamento no mundo europeu, especialmente na Inglaterra 
(ADORNO, 1989, p. 241 apud LIMA, 2008, p. 72).
Embora os conceitos do intelectual em questão sejam amplamente 
refutados na academia contemporânea, principalmente aqueles referentes ao 
capitalismo ou às etapas pelo qual seu desenvolvimento passou, Caio Prado 
Júnior (1961) contextualiza, de maneira original, a ocupação da América Latina 
e América do Norte pelos europeus. As ideias de Caio Prado Júnior (1961) 
representaram um grande avanço no que tange à compreensão do propósito da 
colonização do continente americano como um todo. 
O conceito de “Revolução Brasileira” é outra tese de fundamental 
importância na obra de Caio Prado Júnior. Conforme o pensador (PRADO 
JÚNIOR, 1961), para que o Brasil alcançasse sua emancipação em relação 
aos domínios políticos estrangeiros, que estão diretamente relacionados à 
condição de país economicamente dependente, nosso território necessitaria de 
uma modernização econômica. Por mais contraditório que pareça, o pensador 
sustenta a ideia de que o Brasil só poderia se desvincular politicamente dos países 
que dominavam a dinâmica econômica mundial, por meio do estabelecimento de 
uma burguesia forte. A partir dessa formação de uma base econômica sólida, o 
país poderia voltar sua produção de riquezas para o interior, rompendo com seu 
caráter de “apêndice econômico” de outros países. Isso reforça a ideia de que a 
economia é o fator que mais exerce influência sobre nossa história.
100
UNIDADE 2 — INTERPRETAÇÕES CLÁSSICAS SOBRE O BRASIL
FIGURA 21 – REFLEXÃO ACERCA DA SOBREPOSIÇÃO DA ECONOMIA SOBRE OS DEMAIS 
ASPECTOS DA FORMAÇÃO DO BRASIL CONTEMPORÂNEO
FONTE: <https://conhecimentocientifico.r7.com/wp-content/uploads/2018/11/destaque.jpg>. 
Acesso em 15 de julho de 2020.
Encerraremos a Unidade 2 de nosso livro didático com uma interpretação 
da obra de Caio Prado Júnior.
TÓPICO 3 — FLORESTAN FERNANDES E CAIO PRADO JÚNIOR
101
AGRARISTAS POLÍTICOS BRASILEIROS
Raimundos Santos
[...]
O PAPEL DO SINDICALISMO NA REFORMA DO MUNDO RURAL
Relembremos agora como o “ponto de vista do trabalho” orienta a 
dissertação agrária. À luz da interpretação de Brasil, ela pode ser vista como marco 
de um campo intelectual que não restringe a reforma do mundo rural à questão 
fundiária. Caio Prado Júnior confere importância à ideia de uma reforma agrária 
não camponesa; um tema continuado sob registro diverso por outros autores no 
pré-64 e depois da destituição de Jango, inclusive em tempos bem recentes.
Na época da Declaração de Março de 1958, embora refratado, o agrarismo 
de Caio Prado fez-se presente no PCB, em particular, como já aludido no princípio 
deste ensaio, na fórmula da reforma agrária “inicialmente não camponesa”, 
que se tornaria reforma agrária camponesa numa segunda fase. Por sua visão 
“não estagnacionista” pós-1958, o PCB adota, naqueles anos radicalizantes da 
“pré-revolução brasileira” (FURTADO, 1962), a proposição programática das 
“medidas parciais de reforma agrária”, bem ecléticas e nada catastróficas, nelas, 
aliás, refletindo-se o argumento não campesinista de Caio Prado. Fora desse 
campo, naquela época o conceito de reforma agrária ainda se amplia mediante o 
equacionamento propriamente nacional-desevolvimentista, como se pode ver em 
textos isebianos. Desperta particular interesse a modalidade de reforma agrária 
de Ignácio Rangel, autor que, avaliando a falta de condições políticas para um 
processo redistributivista, argumenta a favor de uma reforma agrária centrada 
em questões “não propriamente agrárias” (problemas estritamente agrícolas, 
como produção, preços, intermediação etc.). 
Em relação ao seu próprio campo, o historiador valoriza “a atenção especial 
com os assalariados e semiassalariados”, elemento que, no pré-64, compunha a 
tática agrária sindical-camponesa dos comunistas. Mas, ao mesmo tempo, via na 
mistura errática de reivindicações trabalhistas e camponesas – que, segundo ele, 
aparecia no novo agrarismo do PCB – a primazia do tema da luta pela terra, o que 
levava a se perder a “réstia de bom senso” que os comunistas haviam adquirido 
quando passaram a dar atenção ao sindicalismo rural (PRADO JÚNIOR, 1966). 
O modelo caiopradiano da revolução “agrária e nacional” – na aparência, 
simples inversão da fórmula “anticolonialista e agrária antifeudal” prescrita 
pela III Internacional aos países coloniais e dependentes – sugere uma grande 
transformação ao modo americano, no sentido de que aqui também era possível 
buscar dinamismo em um Oeste (o largo mercado rural) complementar a um 
Leste (nossa industrialização) insuficientemente modernizado. Diversamente da 
LEITURA COMPLEMENTAR
102
UNIDADE 2 — INTERPRETAÇÕES CLÁSSICAS SOBRE O BRASIL
tradição comunista, Caio Prado atribui essa função a um protagonismo popular 
não camponês assentado em reivindicações trabalhistas da força de trabalho dos 
grandes setores da agropecuária, mobilizada por sindicatos estáveis e espalhados 
pelos municípios brasileiros. Fazendo decorrer a ideia de revolução agrária 
da sua interpretação de Brasil, o clássico pensa na renovação do mundo rural 
como avivamento de um capitalismo débil que, entregue à própria lógica, ver-
se-ia incapaz de modernizar o país e abrir espaço aos contingentes devastados, 
particularmente os excluídos do sistema produtivo agrário.
Ao contrário do vazio social que Gilberto Freyre debitava às nossas 
“revoluções políticas”, Caio Prado referencia sua ideia de revolução agrária 
justamente na Abolição. É esta filiação que o historiador confere – às vésperas 
de 1964, tempo de urgências e radicalismos – ao Estatuto do Trabalhador Rural 
(1963), comparando o alcance desta lei ao impacto generalizante que tivera o 13 
de maio de 1888, ao conformar o contingente nacional da força de trabalho livre. 
No caso, como proteção de direitos, o Estatuto viria a universalizar processos 
socioeconômicos por meio da expansão de sindicatos nos grandes setores da 
agropecuária, onde estava – vale repetir o autor – o núcleo estratégico da revolução 
agrária, do qual se difundiriam à economia rural impulsos transformadores 
sustentáveis: os assalariados e semiassalariados, os “empregados agrícolas”. 
Em vez de um “movimento camponês” pela terra confinado em poucas 
regiões, Caio Prado aposta na mobilização desse campo popular, único capaz 
de assegurar trabalho revolucionário expansivo, “em profundidade”, como ele 
dizia. Para além dos termos e paradigmas pecebistas, o historiador apresenta ao 
partido comunista uma teorização do rural derivado da sua hipótese sobre nossa 
gênese e evolução no sentido de um modernismo inconcluso. Como se observou 
no princípio destas notas, o autor propõe essa problematização nas categorias 
marxianas, mas, em vez de evocar um ser demiúrgico do processo modernizador, 
o “Capital”,como se vê em outros constructos acadêmicos, era o trabalho mediado 
por uma extensa mobilização social – por meio da forma sindical moderna – que 
ocupava centralidade no tema da modernização e da reforma do mundo rural.
Em artigo sobre o Estatuto do Trabalhador Rural publicado na Revista 
Brasiliense (1963), o autor diz que não se sustentava uma transformação completa 
da estrutura e organização dos grandes setores da economia agrária sem um 
amplo “movimento social reivindicatório”. Citemos o autor: “Seria naturalmente 
ingenuidade pura imaginar que um simples texto legal, estabelecendo a 
reorganização de nossas principais atividades agrárias e dando-lhes estrutura e 
funcionamento da produção completamente distintos e originais, tivesse a virtude, 
somente por si, e sem o amparo, impulso e instrumento de poderosas e ativas 
forças sociais, de determinar tais consequências. Ora não se apresenta nenhum 
sintoma ponderável da ação dessas forças. As reivindicações dos trabalhadores 
empregados na grande exploração rural brasileira vão noutro sentido que não o 
do fracionamento da base fundiária em que se assenta aquela grande exploração; 
e o da transformação deles, de empregados que são, em pequenos produtores 
individuais e autônomos. As reivindicações desses trabalhadores são as de 
‘empregados’, que é a sua situação econômica e social. A saber, reivindicações 
por melhores condições de trabalho e emprego” (PRADO JÚNIOR, 1963, p. 6-7).
TÓPICO 3 — FLORESTAN FERNANDES E CAIO PRADO JÚNIOR
103
Esse grande “movimento social reivindicatório” poderia desequilibrar, a 
favor da força de trabalho, a lógica estruturante do mundo rural: a “contradição” 
entre os monopolizadores das condições de trabalho e os despossuídos rurais. 
Era essa, e não a contradição antifeudal e antilatifundiária, como pensavam os 
comunistas e outros grupos militantes, a “dialética econômica” que tensionava 
o mundo produtivo e rural brasileiro (PRADO JÚNIOR, 1966). Assim, em vez 
da fórmula marxista-leninista, era tal desequilíbrio que estimulava os conflitos 
pela terra, os quais, por serem pontuais e esporádicos, não possuíam amplitude 
suficiente para sustentar a renovação do mundo rural ao “modo americano”. Para 
Caio Prado, a luta pela terra, usando expressão bem mais contemporânea, não era 
a “questão política do campo” (MARTINS, 1982). O acesso à terra pressupunha 
forma associativa moderna e permanente; movimento esse que, afinal, se firmaria 
com a rede sindical inicialmente assentada por todo o país a partir da estruturação 
da União dos Lavradores e Trabalhadores da Agricultura do Brasil (Ultab), em 
1954, e da Confederação dos Trabalhadores da Agricultura (Contag), em 1963, 
construções já mencionadas anteriormente. 
Façamos agora um outro tipo de observação: a pequena presença de 
Caio Prado na controvérsia do então chamado “objetivismo burguês”. Em 
um dos textos publicados na referida Tribuna de debates, na qual também vê 
a tributação como meio para forçar o acesso à terra, Caio Prado diferencia o 
ponto de vista do trabalho do tributo proposto nas teses oficiais, o qual aparecia 
“mais como medida de incentivo à produtividade das grandes propriedades” 
(PRADO JÚNIOR, 1960a; 1996, p. 69). Continuemos com o autor: “Essa melhoria 
não será trazida pelo simples aumento da produtividade, como mostramos 
anteriormente; e ocorrem mesmo frequentemente situações em que o aumento 
da produtividade agrícola é acompanhada pelo agravamento das condições de 
vida do trabalhador. A contradição fundamental na economia agrária brasileira 
reside, como vimos, na oposição de grandes proprietários e a massa trabalhadora 
efetiva ou potencialmente a serviço deles, seja qual for a forma das relações de 
trabalho vigente – salariato, semiassalariato, parceria ou formas mistas. É no 
terreno da luta social em que aquela oposição se manifesta, que a reforma agrária 
deve ser colocada. A par das reivindicações imediatas (legislação trabalhista, 
regulamentação da parceria em benefício do trabalhador etc.), figurará a facilitação 
do acesso da massa trabalhadora à propriedade da terra, o que determinará 
condições mais favoráveis à luta dos trabalhadores. A tributação, como medida 
essencial para aquele fim de proporcionar terra aos trabalhadores, deve, portanto, 
visar, em primeiro e principal lugar, o barateamento e a mobilização comercial 
da terra, e não a simples produtividade, que será consequência da reforma e não 
constitui condicionamento dela” (Id.: 69-70).
Mediado por tal tipo de movimento social, em Caio Prado o tema do 
trabalho não é mobilizado de modo impreciso nem constitui simples evocação 
do princípio marxista-leninista da superioridade operária em relação aos seus 
aliados, mas advém de uma interpretação de Brasil. Aliás, a propósito da “questão 
política do campo”, registre-se um ponto da bibliografia que está a merecer 
tratamento: por trás da busca da “questão política no campo” ou da “questão 
nevrálgica”, como preferia o historiador, radicam, a rigor, imagens de Brasil 
104
UNIDADE 2 — INTERPRETAÇÕES CLÁSSICAS SOBRE O BRASIL
diferenciadas por suas origens e significados singulares. Em uma comparação 
entre Caio Prado e José de Souza Martins, já se apontou o par exploração versus 
expropriação (FARIA, 1990) como uma polaridade que distingue os autores em 
suas ênfases no trabalhismo e na terra, respectivamente. 
Também se sugeriu que esse mesmo par não apenas diferencia sindicatos 
e ligas camponesas, negociação e confronto, pressão por políticas públicas 
e reivindicação de terra, como também, no fundo, configura dois estilos de 
mobilização agrária. Vistos de um ponto amplo, tais polaridades expressam 
linhagens de interpretação do Brasil, cujas construções explicitam – isso é 
importantíssimo – modos desiguais de conceber a conexão teoriaprática; 
ponto este sempre reivindicado pelos grandes nomes desses mesmos campos 
intelectuais, sobressaindo-se Caio Prado Júnior como outsider do primeiro deles. 
Vale dizer, um militante pouco valorizado pelo partido comunista como um dos 
clássicos do nosso ensaísmo e não assumido plenamente, mediante interpelações 
a sua teoria do Brasil e excursos sobre a revolução, proveitosos que teriam sido 
para o pecebismo contemporâneo. 
Assim, à luz desse tipo de associação entre pensamento social e 
político, Caio Prado se nos afigura não apenas como pensador agrarista, mas 
também um dos publicistas constituintes do marxismo político brasileiro, como 
temos sugerido desde o princípio destas páginas. Ou seja, e dizendo de modo 
paradoxal, Caio Prado e Alberto Passos Guimarães (voltando ao outro autor 
comunista) respondem pelos registros mais expressivos dos êxitos de um partido 
que se esgotou com o fim da URSS. E falamos em êxitos, não obstante o partido 
comunista se exaurir na passagem aos anos 1990, após haver sido, em menos de 
um decênio, deslocado pelos novos grupos petistas, com a ajuda da Igreja, tanto 
do associativismo quanto do mundo intelectual. E isto mesmo que, neste mundo 
intelectual, os comunistas tenham produzido controvérsias de vários temas da 
chamada revolução brasileira, sempre expondo os seus argumentos, intramuros 
e na esfera pública, quer nas suas publicações quer em espaços da mídia nacional. 
Com a distância do tempo e vendo as coisas a partir de hoje, podemos 
afirmar que a primeira e talvez a principal realização daquele partido comunista 
consiste em haver deixado na esquerda militante uma tradição de política 
democrática, anunciada em 1958 na sequência dos debates sobre o stalinismo. 
São elementos de uma cultura política valiosa por sua origem difícil (forçando 
passagem em meio ao marxismo-leninismo e a posturas dogmáticas, algumas 
radicalizadas); uma cultura de esquerda também muito educativa, por causa da 
presença de não poucas ambiguidades, persistentes no PCB ao longo do tempo, 
mas não só nele, já que algumas ainda são visíveis hoje em outros grupos, inclusive 
do PT. Depois, mas não com menor importância, está o valorda contribuição 
dos comunistas para a melhora do mundo rural, tanto em termos da extensão 
de direitos (por meio do agrarismo sindical-camponês) quanto em relação ao 
que chamavam de “medidas parciais de reforma agrária”, cuja proposição mais 
significativa – recordem-se os tempos – teve início no imediato pré-64. 
TÓPICO 3 — FLORESTAN FERNANDES E CAIO PRADO JÚNIOR
105
Como igualmente já referimos, aquele tipo de sindicalismo prossegue em 
nossos dias na Contag, que ainda mantém certos traços antigos e faz lembrar a 
inspiração em Caio Prado. Por sua vez, foi por meio de um agrorreformismo de 
“soluções positivas” e gradualista, como aquele a que tende o PCB pelo menos 
desde meados dos anos 1950, que viria a se consolidar – digamos ao velho modo – 
um campesinato, ao qual Alberto Passos Guimarães, em seu tempo, se refere como 
um campesinato ainda por se constituir. Um campesinato que, ao fim do “século 
do comunismo”, já se visualiza na figura da agricultura familiar, florescente aqui 
e em muitas partes do mundo desenvolvido. No entanto, como ainda veremos, 
Alberto Passos Guimarães e Caio Prado não são clássicos do marxismo político 
brasileiro apenas por trazerem até nós o registro intelectual da presença pecebista 
no nosso mundo rural.
[...]
FONTE: SANTOS, R. Agraristas políticos brasileiros. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesqui-
sas Sociais, 2008. p. 13-20. Disponível em: https://static.scielo.org/scielobooks/59grm/pdf/san-
tos-9788599662816.pdf. Acesso em: 7 out. 2020.
106
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
• O Pensamento Social Brasileiro avançou consideravelmente a partir das 
contribuições dos autores marxistas Florestan Fernandes e Caio Prado Júnior.
• Florestan Fernandes foi um dos maiores pensadores sociais brasileiros, 
ressignificando o papel histórico dos povos nativos brasileiros e dos negros.
• Caio Prado Júnior introduziu uma perspectiva economicista da formação do 
Brasil contemporâneo.
• Florestan Fernandes denunciou as dificuldades ainda sofridas pelo povo 
negro brasileiro pós-escravidão.
• Caio Prado Júnior percebeu padrões sociais no Brasil que sofreram poucas 
mudanças estruturais desde o período colonial.
Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem 
pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao 
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
CHAMADA
107
1 Florestan Fernandes é um dos pensadores brasileiros que mais contribuíram 
com a Teoria Social, não só brasileira, mas de um âmbito mundialmente 
abrangente. Sua influência marxista e sua vivência adquirida em um contexto 
de severas dificuldades sociais em um Brasil em pleno desenvolvimento 
industrial, foram características que o autor afirma contribuírem com o 
teor de sua vasta obra. Partindo do pressuposto que observar de perto a 
realidade material que nos circunda constitui, juntamente ao conhecimento 
do processo histórico que a moldou, uma forte base à compreensão de nossa 
sociedade, podemos considerar o trabalho de Florestan Fernandes uma obra 
completa e muito significativa, tanto dentro como fora do espaço acadêmico. 
Considerando o conteúdo estudado no presente tópico e as principais 
contribuições de Florestan Fernandes, analise as sentenças a seguir:
I - Dentre uma multiplicidade de outros objetos de estudo, Florestan 
Fernandes se dedicou aos povos originários, sendo sua dissertação de 
mestrado e tese de doutorado dedicadas ao povo Tupinambá.
II - Florestan Fernandes era um autor estritamente acadêmico, ou seja, não se 
envolvia com a política nacional e não demonstrava seus posicionamentos 
políticos em sua obra. 
III - A obra de Florestan Fernandes muito contribuiu com denúncias acerca 
das dificuldades que o povo negro no Brasil sofre, mesmo depois da 
abolição formal da escravidão.
IV - O referido pensador brasileiro sustenta a ideia da existência de estruturas 
sociais sólidas, que só são rompidas a partir de resistências protagonizadas 
pelas classes que mais sofrem na sociedade.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.
b) ( ) As sentenças I, II e IV estão corretas.
c) ( ) As sentenças I, III e IV estão corretas. 
d) ( ) As sentenças I, II, III e IV estão corretas.
e) ( ) Somente a sentença I está correta.
2 Caio Prado Júnior representa outro intelectual brasileiro que inovou em sua 
perspectiva acerca da formação do Brasil contemporâneo. Para o sociólogo, 
a economia assumiu um papel importante na formação de nossa cultura e, 
consequentemente, de nossa política. O pensador acreditava também na 
existência de um “sentido da colonização”, que orientava as transformações 
culturais brasileiras a partir de seu desenvolvimento histórico. Outros 
dois conceitos importantes trabalhados em sua obra são os de “colônia de 
exploração” e “colônia de povoamento”, que consistem em classificações 
das colônias americanas de acordo com a intenção dos colonizadores 
europeus em relação a ocupação do novo continente. Sobre a teoria de Caio 
Prado Júnior, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
AUTOATIVIDADE
108
( ) Caio Prado Júnior focou seus estudos no papel dos povos indígenas e do 
negro no desenvolvimento do cultural do Brasil.
( ) Ao analisarmos a obra de Caio Prado Júnior, identificamos o papel 
preponderante da Economia no desenvolvimento social do Brasil.
( ) Para Caio Prado Júnior, o Brasil pode ser considerado uma colônia de 
povoamento, uma vez que os povos ibéricos sempre tiveram a intenção 
de fixar colônias de seus povos aqui a fim de desenvolver a Economia da 
colônia.
( ) Caio Prado Júnior identificou diferentes padrões de colonização nos 
Estados Unidos da América em relação aos países latino-americanos.
( ) O pensador brasileiro Caio Prado Júnior, identifica em sua obra um 
sentido explorador no que tange à ocupação ibérica em nosso território.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – V – V – F – F.
b) ( ) F – V – V – V – V.
c) ( ) F – F – F – F – V.
d) ( ) F – V – F – V – V.
e) ( ) V – F – F – V – V.
3 Considerando as obras de Florestan Fernandes e Caio Prado Júnior dois 
expoentes do Pensamento Social Brasileiro, torna-se de fundamental 
importância por parte do sociólogo o aprofundamento em suas respectivas 
literaturas. De acordo com o que estudamos no Tópico 3 do presente 
material, disserte sobre as principais colaborações de cada um desses 
pensadores em relação à Teoria Social Brasileira.
109
REFERÊNCIAS
BASTOS, E. R. Sessenta anos da publicação de um relatório exemplar. Sinais 
Sociais, Rio de Janeiro, v. 10, n. 28, p. 29-54, maio/ago. 2015.
FERNANDES, F. Sociedade de classes e subdesenvolvimento. São Paulo: Global, 
2008.
FERNANDES, F. A integração do negro na sociedade de classes. São Paulo: Ática, 
1978.
FERNANDES, F. Capitalismo dependente e classes sociais na américa latina. 
Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1975.
FERNANDES, F. A organização social dos Tupinambá. São Paulo: Difusão 
Europeia do Livro, 1963.
FREYRE, G. Casa-grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime 
da economia patriarcal. São Paulo: Global, 2003.
FREYRE, G. Sobrados e mucambos: decadência do patriarcado rural e 
desenvolvimento do urbano. São Paulo: Global, 2013.
HOLANDA, S. B. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
LIMA, A. S. Caio Prado Jr. e a polêmica “feudalismo-capitalismo”: pela 
desconstrução de consensos. Aurora, Marília, ano 2, n. 3, dez.2008. Disponível em 
https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/aurora/article/view/1195. Acesso em: 
23 jun. 2020.
MARIOSA, D. F. Florestan Fernandes e os aspectos sócio-históricos de uma 
integração híbrida no Brasil. Sociologias, Porto Alegre, ano 21, n. 50, p. 182-209, 
jan./abr. 2019. Disponível em https://www.scielo.br/pdf/soc/v21n50/1807-0337-
soc-21-50-182.pdf. Acesso em: 23 jun. 2020.
MELO, A. C. Saudosismo e crítica social em casa grande e senzala: a articulação 
de umapolítica da memória e de uma utopia. Estudos Avançados, São Paulo, 
v. 23, n. 67, 2009. Disponível em https://www.scielo.br/pdf/ea/v23n67/a31v2367.
pdf. Acesso em: 23 jun. 2020.
PRADO JÚNIOR, C. Formação do Brasil contemporâneo: colônia. Brasília: 
Editora Brasiliense, 1961.
SANTOS, R. Agraristas políticos brasileiros. Rio de Janeiro: Centro Edelstein 
de Pesquisas Sociais, 2008. p. 13-20. Disponível em: https://static.scielo.org/
scielobooks/59grm/pdf/santos-9788599662816.pdf. Acesso em: 7 out. 2020.
110
111
UNIDADE 3 — 
TEMAS DA SOCIOLOGIA BRASILEIRA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• analisar os principais debates sobre raça e identidade no pensamento 
sociológico brasileiro;
• reconhecer os aspectos fundamentais do processo de modernização no 
Brasil e suas implicações sociais;
• discutir os novos moldes da Sociologia Brasileira pós-1970, seus 
principais contribuintes e abordagens;
• abordar as principais problemáticas sociais contemporâneas do Brasil;
• sintetizar a conjuntura política brasileira contemporânea, apontando 
possíveis soluções sociológicas.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você 
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – RAÇA E IDENTIDADE NO PENSAMENTO SOCIOLÓGICO
 BRASILEIRO
TÓPICO 2 – MODERNIZAÇÃO BRASILEIRA
TÓPICO 3 – A SOCIOLOGIA BRASILEIRA PÓS-1970: NOVOS OLHARES
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
112
113
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
O conteúdo estudado nas unidades anteriores enfatizou, dentre outros 
assuntos, a multiplicidade de matrizes étnicas que compõem o Brasil. Tal fato 
contribui para que os debates em torno do tema raça estejam constantemente 
presente no meio sociológico brasileiro. Além disso, os debates identitários 
de maneira geral, ganham amplo espaço de discussões, sobretudo na 
contemporaneidade.
O presente tópico abordará as discussões brasileiras mais relevantes 
sobre raça e identidade, apresentando o pensamento de estudiosos brasileiros 
de temas raciais, de gênero e outros grupos identitários. O estudo de tal temática 
é imprescindível à compreensão das principais lutas, resistências, preconceitos, 
perseguições entre outros conflitos que são envolvidos pelas representações 
identitárias presentes no Brasil.
2 O DEBATE RACIAL NO BRASIL
Viver em um país no qual o povo foi formado a partir do contato entre 
uma ampla variedade étnica como no Brasil, demanda o entendimento acerca 
da existência dos muitos conflitos provenientes dessa multiplicidade de pessoas 
convivendo em um mesmo território. Vimos anteriormente que o Brasil foi 
formado a partir do embate entre diferentes povos, o que ocasionou a dominação 
e subjugação de uns por outros. Esse fenômeno foi responsável por uma cultura 
racialmente desigual, na qual alguns povos são, independentemente de seu grau 
de miscigenação, inferiorizados por outros que se sentem mais evoluídos, mais 
puros ou quaisquer sentimentos de superioridade.
A desigualdade racial no Brasil, assim como em qualquer lugar no mundo, 
resulta em mazelas sociais gravíssimas, submetendo grupos inteiros de pessoas a 
condições de vida inferiores às pertencentes a raças hegemônicas. Essa hegemonia 
racial de determinados povos não significa superioridade em nenhum aspecto, 
mas significa que, em um dado momento histórico, essa raça mais privilegiada 
se impôs em detrimento de outras que terão maiores dificuldade de se inserir na 
dinâmica social estabelecida. 
TÓPICO 1 — 
RAÇA E IDENTIDADE NO PENSAMENTO 
SOCIOLÓGICO BRASILEIRO
UNIDADE 3 — TEMAS DA SOCIOLOGIA BRASILEIRA
114
A discriminação e, consequentemente, o racismo são elementos presentes 
na sociedade brasileira, sendo temas amplamente discutidos em meio acadêmico, 
político, popular e diversas outras instâncias do pensamento social.
O autor Clóvis Moura (1992), reconstrói a trajetória do povo negro no 
Brasil, concebendo-o como “o grande povoador” do nosso território. O sistema 
escravagista foi responsável pelo tráfico em massa de africanos para as terras 
tupiniquins tomadas à força pelos colonizadores europeus. Por isso, de acordo 
com o autor, os negros africanos constituem um povo de suma importância à 
construção política, social, econômica e cultural de nosso povo, embora tenha 
sido excluído do usufruto das riquezas produzidas em nossas terras.
A história do negro no Brasil confunde-se e identifica-se com a 
formação da própria nação brasileira e acompanha a sua evolução 
histórica e social. Trazido como imigrante forçado e, mais do que isto, 
como escravo, o negro africano e os seus descendentes contribuíram 
com todos aqueles ingredientes que dinamizaram o trabalho durante 
quase quatro séculos de escravidão. Em todas as áreas do Brasil 
eles construíram a nossa economia em desenvolvimento, mas, por 
outro lado, foram sumariamente excluídos da divisão dessa riqueza 
(MOURA, 1992, p. 7).
Partindo da ideia de que o negro impulsionou de forma imprescindível o 
desenvolvimento brasileiro desde o período colonial, constituindo boa parte de 
nossa população, devemos considerar esse povo como um dos maiores tributários 
de nossa sociedade. 
É importante destacar que, apesar de servir ao trabalho de construção 
política, social, econômica e cultural do Brasil de forma mais significativa do que 
quaisquer outros povos que compõem nossa nação, por meio de trabalho braçal 
forçado, pesado e extremamente desumano, o negro brasileiro sofre até os dias 
de hoje com a segregação racial. Isso implica na discriminação que marginaliza o 
povo negro, tão fundamental à constituição de nossa sociedade, submetendo-o às 
condições de profunda desigualdade no contexto capitalista moderno.
Já mencionamos a importância do povo negro brasileiro, desde os estudos 
das obras de Gilberto Freyre (FREYRE, 2003; 2013), Sérgio Buarque de Holanda 
(HOLANDA, 1995), Florestan Fernandes (FERNANDES, 1963; 1975; 1978; 2008), 
Caio Prado Júnior (PRADO JÚNIOR, 1961; 1981) e outros nomes do pensamento 
social brasileiro. 
Portanto, não é novidade, pelo menos desde o começo do século XX, que 
os negros africanos trazidos para o Brasil constituem boa parte de nossa história. 
No entanto, devemos estar cientes da luta desse povo pelo reconhecimento de sua 
condição de ator fundamental na construção de nossa sociedade, por condições 
iguais de trabalho, habitação, sociabilidade e, enfim, melhores condições de vida 
no Brasil contemporâneo.
TÓPICO 1 — RAÇA E IDENTIDADE NO PENSAMENTO SOCIOLÓGICO BRASILEIRO
115
As lutas por emancipação do povo negro brasileiro sempre estiveram 
presentes durante o período escravagista e, até os dias de hoje, contribui com 
o processo histórico de libertação dessas pessoas que tanto sofrem os efeitos do 
colonialismo. Além das resistências diretas à escravidão, manifestadas por meio 
de levantes, revoltas, desobediências aos senhores, fugas e diversos outros tipos, 
a “quilombagem”, de acordo com as palavras de Moura (1992), ganha destaque 
entre as lutas dos negros no Brasil. Por se tratar de um processo puramente 
violento, o escravismo, conforme Moura (1992), demandou, e demanda até 
hoje, uma resposta violenta como instrumento de ruptura. Ou seja, não seriam 
possíveis as conquistas do povo negro, inclusive a abolição formal da escravidão 
(erroneamente atribuída à princesa Isabel, que outorgou a Lei Áurea), por outras 
vias políticas que não envolvessem o radicalismo da ação direta e violenta de 
emancipação do povo negro escravizado no Brasil.
A quilombagem é um movimento emancipacionista que antecede, em 
muito, o movimento liberal abolicionista; ela tem caráter mais radical, 
sem nenhum elemento de mediação entre o seu comportamento 
dinâmico e os interesses da classe senhorial. Somente a violência, 
por isso, poderá consolidá-la ou destruí-la.De um lado os escravos 
rebeldes; de outro os seus senhores e o aparelho de repressão a essa 
rebeldia (MOURA, 1992, p. 22).
Considerando o trecho anterior, devemos reconhecer que são legítimos 
quaisquer movimentos emancipacionistas por parte dos negros no Brasil, 
inclusive aqueles fundados sobre bases violentas. Basta refletir sobra a violência 
histórica que esse povo sofreu durante séculos, sobretudo, em nosso território: o 
último a abolir formalmente a escravidão em todo o globo terrestre. 
 
FIGURA 1 – RESISTÊNCIA NEGRA NO BRASIL. CARLOS LATUFF
FONTE: <https://escravidaobrasil.weebly.com/uploads/4/2/0/7/42076079/8328419.jpg?399>. 
Acesso em: 4 ago. 2020.
 
Outro autor que ressalta a importância do negro, no que tange à 
formação do povo brasileiro, é Darcy Ribeiro, destacando em sua obra o histórico 
apagamento de seu papel crucial em nossa formação como sociedade (RIBEIRO, 
1995). O referido pensador, nosso conterrâneo, evidencia as sucessivas tentativas 
de negação e soterramento das tradições negras em nosso país por parte dos 
colonizadores europeus e seus descendentes ao decorrer da história do Brasil. 
UNIDADE 3 — TEMAS DA SOCIOLOGIA BRASILEIRA
116
A contribuição cultural do negro foi pouco relevante na formação 
daquela protocélula original da cultura brasileira. Aliciado para 
incrementar a produção açucareira, comporia o contingente 
fundamental da mão de obra. Apesar do seu papel como agente cultural 
ter sido mais passivo que ativo, o negro teve uma importância crucial, 
tanto por sua presença como a massa trabalhadora que produziu quase 
tudo que aqui se fez, como por sua introdução sorrateira mas tenaz e 
continuada, que remarcou o amálgama racial e cultural brasileiro com 
suas cores mais fortes (RIBEIRO, 1995, p. 114).
Levando em consideração o conteúdo exposto anteriormente, devemos 
conceber como legítimos os movimentos por emancipação negra presentes, 
até os dias de hoje, em nossa sociedade. Afinal, apesar de legalmente abolida 
a escravidão no Brasil, no final do século XIX, os negros ainda sofrem com o 
longo processo histórico de violentos abusos vivenciados por eles em solo 
brasileiro. Hoje em dia, o movimento de libertação do negro, tão como diversas 
manifestações culturais desse povo ainda são profundamente estigmatizadas 
por aqui. Sua religião, costumes, inserção social e política são cotidianamente 
tolhidos pela dinâmica capitalista contemporânea.
Atualmente, os movimentos sociais organizados pelo negro no Brasil 
contam com diversos coletivos que atuam em prol da liberdade, igualdade de 
direitos, inserção na dinâmica político-econômica, dentre uma infinidade de 
direitos que lhes foram historicamente negados. Um bom exemplo é o do MNU 
(Movimento Negro Unificado) que reúne muitos militantes favoráveis à causa 
negra no país. O Movimento Negro Unificado existe, oficialmente, desde o dia 7 
de julho de 1978, quando foi lançado nas escadarias do Teatro Municipal de São 
Paulo, reunindo cerca de duas mil pessoas.
O MNU (Movimento Negro Unificado) possui como principal objeto o 
enfrentamento ao racismo no Brasil. O MNU, por meio de seu Plano de Lutas do MNU, 
aprovado no 17º Congresso Nacional, realizado em Salvador/BA, em 2014, divulgou seu 
Plano de Enfretamento ao Racismo, cujos principais parágrafos de seu estatuto versam: 
realizar campanhas de enfrentamento ao racismo, ao racismo institucional, à intolerância 
religiosa, ao machismo, à homofobia, à lesbofobia e à transfobia; fortalecer e ampliar em 
nível nacional a campanha “Não dê Bola pro Racismo”; apoiar/realizar campanhas contra 
o tráfico de mulheres e homens negros; contra a exploração sexual e tráfico de crianças e 
jovens negros; organizar debate sobre economia criativa e etnodesenvolvimento voltado 
à população negra; realizar seminários com as seguintes temáticas: juventude, mulheres 
negras, LGBT, infância e adolescência; realizar seminários/encontros com operadores do 
direito filiados ao MNU; cobrar nos editais de concursos públicos e processos seletivos a 
igualdade de direitos étnicos e religiosos respeitando a expressão da identidade do povo 
negro e de religião de matriz africana. Mais informações podem ser acessadas por meio do 
endereço eletrônico a seguir: https://mnu.org.br/mnu/. 
ATENCAO
TÓPICO 1 — RAÇA E IDENTIDADE NO PENSAMENTO SOCIOLÓGICO BRASILEIRO
117
O movimento negro no Brasil conta, desde o ano de 1975, com o Instituto 
de Pesquisa das Culturas Negras (IPCN), que fomenta a capacitação de militantes 
que atuam em diversas instâncias. O IPCN contribui com a luta racial negra no 
interior de espaços políticos, culturais, intelectuais e diversos outros, sempre 
buscando o fim do racismo brasileiro e os Direitos Humanos fundamentais até 
hoje negado aos negros. O IPCN atuou junto ao Grêmio Recreativo de Arte Negra 
Escola de Samba Quilombo (GRANESQ) e também em blocos afros, como o 
Agbara Dudu. Auxiliou bailes de Black Music realizados em baixo do Viaduto 
Negrão de Lima, no bairro de Madureira, zona norte carioca, e outros locais onde 
as comunidades negras se concentravam.
FIGURA 2 – INSTITUTO DE PESQUISA DAS CULTURAS NEGRAS E OS MOVIMENTOS DE 
COMBATE AO RACISMO NO BRASIL
FONTE: <http://artememoria.org/wp-content/uploads/2018/11/ATO-CONTRA-O-RACISMO-
1024x691.jpg>. Acesso em: 5 ago. 2020.
O estado do Espírito Santo conta com o Coletivo Zacimba Gaba, movimento 
idealizado e criado com objetivo de acolhimento, diálogo, empoderamento e 
reflexão sobre a capoeira feminina do Espírito Santo. O grupo que incentiva a 
conservação da cultura afro-brasileira atua em diversos espaços capixabas e conta 
com o apoio de algumas instituições de ensino. 
Algumas atividades do Zacimba Gaba são acompanhadas por meio de sua 
página oficial no Facebook, acessada através do link https://www.facebook.com/Coletivo-
Zacimba-Gaba-ES-628179580924265/?ref=page_internal. 
DICAS
UNIDADE 3 — TEMAS DA SOCIOLOGIA BRASILEIRA
118
O debate racial no Brasil não se limita apenas ao povo negro trazido 
da África. O povo nativo brasileiro, denominado “indígena” desde a época da 
invasão europeia, sobrevive até os dias de hoje em meio à dominação sócio-
político-cultural dos invasores. 
As centenas de milhões de povos originários da América, existentes 
anteriormente à colonização europeia, foram reduzidas à aproximadamente cinco 
milhões de nativos. Em terras hoje consideradas brasileiras, a predominância nativa 
é de povos de linguagem tupi que, por meio de um processo histórico permeado 
por inúmeras guerras e disputas territoriais, destacaram-se em sua ocupação. 
Há quem diga que os povos nativos americanos viviam em plena 
harmonia antes da invasão europeia, porém, a raça humana sempre foi marcada 
por conflitos. Darcy Ribeiro (1995) evidencia em sua obra, um pouco da dinâmica 
de ocupação do território que viria a ser nosso país. Explicitando o caráter 
dominador de algumas etnias, Ribeiro (1995) registra a trajetória de alguns grupos 
de nativos pela América do Sul, tão como o processo de ocupação dessas terras. 
A costa atlântica, ao longo dos milênios, foi percorrida e ocupada 
por inumeráveis povos indígenas. Disputando os melhores 
nichos ecológicos, eles se alojavam, desalojavam e realojavam, 
incessantemente. Nos últimos séculos, porém, índios de fala tupi, bons 
guerreiros, se instalaram, dominadores, na imensidade da área, tanto 
à beira-mar, ao longo de toda a costa atlântica e pelo Amazonas acima, 
como subindo pelos rios principais, como o Paraguai, o Guaporé, o 
Tapajós, até suas nascentes. Configuraram, desse modo, a ilha Brasil, 
de que falava o velho Jaime Cortesão (1958), prefigurando, no chão 
da América do Sul, o que viria a ser nosso país. Não era, obviamente, 
uma nação, porque eles não se sabiam tantos nem tão dominadores. 
Eram, tão-só, uma miríade de povos tribais, falando línguas do mesmo 
tronco, dialetos de uma mesma língua, cada um dos quais, ao crescer, 
se bipartia, fazendo dois povos que começavam a se diferenciar e logo 
se desconheciam ese hostilizavam (RIBEIRO, 1995, p. 29).
Para quem não sabe, Zacimba Gaba foi princesa de Cabinda, na Angola, foi 
captura e trazida para o Brasil há cerca de 300 anos. Quem arrematou Zacimba, entre 
aproximadamente doze negros trazidos para o Porto da Aldeia de São Matheus, situado na 
Capitania do Espírito Santo, foi o fazendeiro português José Trancoso. A princesa sofreu 
diversos tipos de violência durante anos, inclusive estupro. Ela é mais um, entre múltiplos 
exemplos de pessoas capturadas na África e trazidas ao Brasil para trabalhar sob o regime 
de escravidão. Prova do desrespeito branco em relação à nobreza africana, submetida aos 
terrores do regime escravocrata brasileiro.
INTERESSA
NTE
TÓPICO 1 — RAÇA E IDENTIDADE NO PENSAMENTO SOCIOLÓGICO BRASILEIRO
119
Contemporaneamente, o maior dos desafios do nativo brasileiro é a 
resistência às imposições sociais do homem branco invasor. Comparado aos 
tempos de colonização europeia no Brasil, são poucos os remanescentes de 
tribos indígenas concentrados no território brasileiro, menos ainda aqueles que 
conservam sua cultura e costumes ancestrais frente à dominação colonizadora. 
Ehrenreich (2014) narra em sua obra, a incapacidade dos colonizadores 
europeus em entender seu caráter invasor, fato que muito dificultou o avanço de 
sua dominação sobre os povos nativos do Brasil. Ehrenreich (2014) disserta um 
pouco sobre o processo de manipulação do povo Botocudo, instalados entre o 
que hoje corresponde aos estados de Minas Gerais e Espírito Santo.
Dentre os povos primitivos da América do Sul, são os Botocudos ou 
Aimorés os que requerem o maior interesse do etnólogo. Embora 
ainda hoje a maioria deles se encontre no nível mais baixo dos usos 
e costumes, não foi sem resultado que ofereceram resistência até os 
tempos mais recentes frente às influências exercidas pela civilização 
que os cercava, ao passo que as demais tribos indígenas da costa leste 
do Brasil estão, em parte, completamente dizimadas e, em parte, se 
submeteram à raça branca e negra do país, perdendo todas as suas 
particularidades tribais. Desse modo, os Botocudos são ainda hoje os 
senhores incontestáveis de suas florestas montanhosas, apesar de o 
seu antigo território já ter sido muito restringido. Nas proximidades 
imediatas da costa, a apenas poucos dias de viagem de portos muito 
frequentados, estando alguns deles em fase de plena florescência, 
uma parte da autêntica vida primitiva dos indígenas ficou conservada 
nas matas virgens entre o Rio Doce e rio Pardo, de um modo como 
acreditamos existir somente bem no interior desse incrivelmente vasto 
continente (EHRENREICH, 2014, p. 43).
Conforme Ehrenreich (2014), o povo Botocudo sofreu, desde a chegada dos 
europeus ao novo continente, diversos tipos de abusos como a coerção, escravização, 
embate direto dentre outros tipos de violência. A importância dessas pessoas em 
relação à formação do povo brasileiro é imensa. Os conhecimentos dos botocudos, 
quanto ao território e relações sociais locais, tão como sua força de trabalho foram 
explorados de maneira violenta pelo branco. Todavia, a resistência dessas pessoas 
sempre se fez presente, seja na forma de desobediência e/ou enfrentamento aos 
brancos, até hoje os botocudos são símbolo de força e coragem nativa.
Hoje, no Espírito Santo, existem tribos das etnias Tupiniquim e Guarani 
instaladas, principalmente, na cidade de Aracruz. Lá, esses povos têm a 
oportunidade de se concentrar e manter vivos muitos costumes ancestrais. 
Embora o contato com o homem branco tenha influenciado muito nos costumes 
desses povos, muitos deles ainda conservam sua língua, religião e diversas outras 
manifestações culturais. A cidade de Aracruz é referência capixaba em estudos 
indígenas, que contam com a boa vontade e acessibilidade por parte de muitos 
índios que concordam em difundir sua história com os demais ocupantes do 
Brasil, independentemente de sua origem.
UNIDADE 3 — TEMAS DA SOCIOLOGIA BRASILEIRA
120
FIGURA 3 – POVOS NATIVOS REMANESCENTES NO BRASIL
FONTE: <http://www.aracruz.es.gov.br/arquivos/turismo/Dana_dos_Guerreiros.jpg>. 
Acesso em: 9 ago. 2020.
 Embora bastante soterrada e contada em versões advindas de descendentes 
colonizadores, a história do índio brasileiro ainda pode ser acessada por meio 
de narrativas de descendentes indígenas. Daniel Munduruku (2010) representa 
um dos nomes indígenas que contribuem com o reavivamento da cultura nativa 
brasileira, mesmo em tempos de dominação de uma ciência fundamentalmente 
europeia, manifestada pela produção acadêmica contemporânea. A seguir, 
encontra-se o trecho de Histórias de Índio que retrata a vivência nativa brasileira.
Após o banho e a brincadeira, ele devia se ocupar de alguma tarefa 
com a mãe ou o pai. Não havia uma hora definida para começar 
esta atividade uma vez que Kaxi tinha percebido que os mais velhos 
diziam serem eles os senhores do tempo e não possuírem nenhum 
controlador do tempo - que ele descobriu mais tarde se tratar do 
kaxinug usado pelo homem branco para marcar as horas. Às vezes, 
saíam bem cedinho para a roça ou para a caça e a pesca, outras vezes 
iam só na parte da tarde, e outras, ainda, não iam a lugar nenhum, 
preferindo ficar em casa, conversando e pitando [...]. À medida que 
crescia, Kaxi ia sendo iniciado nos costumes tradicionais de sua tribo. 
Falava a gíria [...], caçava, pescava, plantava e colhia junto com os 
adultos (MUNDURUKU, 2010, p. 19).
O debate racial em torno dos povos negro e nativo, hoje, transcendem o espaço 
acadêmico, ganhando as ruas e as mais diversas instâncias sociais. Os diálogos e 
enfrentamentos objetivam, principalmente, a emancipação dos povos que constituem 
a civilização brasileira. O sentido da palavra emancipação aqui empregado, consiste 
na busca por condições mais justas de sobrevivência frente à parcela da sociedade 
mais privilegiada em relação ao sistema social, político, econômico e cultural 
predominante no Brasil. Esse sistema é imposto desde os tempos coloniais brasileiros 
e perdura, sem grandes modificações estruturais, até os dias de hoje. 
Roberto Damatta é um autor brasileiro que também estuda povos nativos 
brasileiros. Um dos aspectos que o referido pensador ressalta acerca de povo ori-
ginário do Brasil é, dentre diversos outros, sua organização social e aspectos gerais 
de sua cultura. O trecho a seguir diz respeito aos costumes de alguns povos nativos 
brasileiros e a concepção que os mesmos possuem acerco do conceito de tempo.
TÓPICO 1 — RAÇA E IDENTIDADE NO PENSAMENTO SOCIOLÓGICO BRASILEIRO
121
Assim, do mesmo modo que ocorre entre os apinayé do Brasil Central, 
grupo tribal que eu mesmo estudei e pesquisei (Cf. DaMatta, 1976), 
a organização de grupos de idades ajuda a sublinhar etapas de 
tempo pela referência a uma formalização típica dessas sociedades 
e, obviamente, não depende de qualquer característica ambiental 
natural. Os apinayé - como os nuer - marcam uma duração ou um 
evento do passado fazendo referência a um parente mais velho; como, 
por exemplo: "isso aconteceu no tempo em que meu Geti (avô) era 
moço..." Além disso, os nuer assinalam o tempo por meio de certas 
atividades. Mas ele jamais é individualizado como algo concreto, 
conforme acontece conosco. É Evans-Pritchard quem diz: "Os nuer 
não possuem uma expressão equivalente ao 'tempo' de nossa língua 
e portanto, não podem, como nós, falar do tempo como se fosse algo 
concreto, que passa, pode ser perdido, pode ser economizado e assim 
por diante. Não creio que eles jamais tenham a mesma sensação de 
lutar contra o tempo ou de terem de coordenar as atividades com 
uma passagem abstrata do tempo, porque seus pontos de referência 
são principalmente as próprias atividades sociais, que, em geral, têm 
o caráter de lazer." E conclui Evans-Pritchard, ironicamente: "Os nuer 
têm sorte"(Cf. EvansPritchard, 1978: 116) (DAMATTA, 1997, p. 22-23).
A resistência desses povos, manifestada em todos os âmbitos da sociabilidade 
contemporânea, é defundamental importância à continuidade da busca por 
igualdade e respeito. Afinal, a base de toda nossa população é sustentada por tais 
etnias, sejam elas nativas ou inseridas em nosso território. Apresentamos, aqui, 
apenas uma amostra dos principais debates raciais brasileiros. Agora, trataremos 
de outros assuntos identitários de suma importância à sociedade brasileira.
3 O DEBATE ACERCA DA IDENTIDADE DE GÊNERO NO BRASIL 
CONTEMPORÂNEO
A identidade de gênero abre espaço para o debate de problemáticas 
delicadas e muito polêmicas em todo o mundo e, no Brasil, não é diferente: o 
tema ganha cada vez mais espaço ao passar dos anos. Devemos iniciar nossas 
ponderações sobre identidade de gênero esclarecendo o sentido que a expressão 
tomará em nossas análises. Por se tratar de um tema identitário, devemos ter 
em mente que a conversa gira em torno de um sentimento subjetivo. Ou seja, 
trata-se de como determinada pessoa se identifica em relação ao gênero. De outra 
maneira, identidade de gênero significa a maneira como um indivíduo se enxerga 
e suas implicações sociais.
Falar de identidade de gênero significa romper com a concepção 
tradicional de sexo biológico. Em outras palavras, não significa falar apenas de 
homem e mulher, mas também de outras identidades de gênero.
 A identidade de gênero não está relacionada à orientação sexual da 
pessoa, então, não está relacionada ao tipo de gênero pelo qual sente ou deixa 
de sentir atração sexual. Significa, na verdade, a maneira com a qual o sujeito se 
identifica e a posição social que essa identidade assume. Posição social significa, 
UNIDADE 3 — TEMAS DA SOCIOLOGIA BRASILEIRA
122
no presente contexto, as implicações relacionais às quais sua identidade de gênero 
está submetida. Isso quer dizer que a sociedade assume maneiras distintas de 
relacionar com determinados gêneros.
As relações de gênero no Brasil, assim como em boa parte do globo, estão 
impregnadas de valores patriarcais. O patriarcado consiste a ideia da suposta su-
perioridade masculina nos mais diversos meios sociais. Isso quer dizer que, cultu-
ralmente, a sociedade brasileira está inclinada a conceber a figura masculina como 
dominante na sociedade em detrimento de quaisquer outros gêneros. Sendo assim, 
pessoas que se identificam como pertencentes a gêneros não enquadrados na cate-
goria “homem cis heterossexual” – expressão na qual “cis” significa que o indiví-
duo assume sua sexualidade biológica, ou seja, identifica-se com o sexo com o qual 
nasceu –, tendem a sofrer diversos tipos de violência, principalmente por homens.
A ideia da supremacia masculina, resultante do já mencionado 
patriarcado, engendra uma ideologia e, consequentemente, um comportamento 
denominado machismo. O machismo é reproduzido principalmente por homens 
e se manifesta em todo o mundo. O machismo existente no Brasil, apesar de suas 
peculiaridades, decorrentes da especificidade histórica e geográfica brasileira, 
serve de fundamento para inúmeras opressões no seio da sociedade. As mulheres 
compõem o grupo de indivíduos que mais sofrem com as imposições e violências 
ocasionadas pelo machismo. Todavia, toda opressão desperta naturalmente um 
tipo de resistência. No caso do machismo, a resistência feminina deu origem a um 
forte movimento que vem ganhando força ao passar dos tempos: o feminismo.
FIGURA 4 – MANIFESTAÇÃO DO FEMINISMO BRASILEIRO
FONTE: <https://static.todamateria.com.br/upload/fe/mi/feminismo_lobby_do_baton_bb.jpg>. 
Acesso em: 14 ago. 2020.
O movimento feminista brasileiro emergiu no século XIX de acordo com 
as demandas por educação feminina, direito feminino de participação política e 
inserção social. A condição da mulher brasileira, desde o período colonial, é de 
submissão em relação ao homem, que a submete a tarefas subalternas, tanto no 
seio familiar como no âmbito político, seja ela escrava ou livre. 
TÓPICO 1 — RAÇA E IDENTIDADE NO PENSAMENTO SOCIOLÓGICO BRASILEIRO
123
Como vimos na Unidade 1 de nosso livro, Nísia Floresta Augusta foi uma 
das precursoras do ideal libertário feminista no Brasil. Influenciada pelas ideias 
da inglesa Mary Wollstonecraft, Nísia escreveu diversas obras com o intuito 
de orientar as mulheres brasileiras em direção a uma vida digna e mais igual 
em relação aos homens. A professora brasileira foi grande influência no meio 
educacional e político, incentivando inúmeras mulheres a resistir aos abusos e 
violências patriarcais.
O feminismo é um movimento libertário importantíssimo e se manifesta 
por meio de inúmeras vertentes. Embora seja um campo do saber e uma 
manifestação política protagonizada pelas mulheres, o feminismo possui 
vertentes que contemplam os interesses de diversas outras classes. 
A referida luta acaba transcendendo a problemática exclusivamente 
feminina, buscando a atenção de demandas de outros grupos de pessoas que 
não possuem acesso a determinadas informações sobre a dinâmica social. 
Essas classes de indivíduos, que permanecem incapazes de reagir aos abusos 
e violências consequentes do sistema patriarcal, recebem atenção de algumas 
vertentes do feminismo, dentre elas, o feminismo marxista. Mary Castro (2000) 
nos conta como deve ser abrangente essa categoria de resistência feminina.
Engendrar um feminismo marxista, a partir de análises das 
experiências de mulheres de setores populares em movimentos e 
organizações de base, e re-acessando criticamente as teorias marxista 
e feminista não pode ser agenda exclusiva das feministas de esquerda, 
mas de todos os socialistas e comunistas inclusive, é importante que 
haja mais espaço e diálogo na mídia crítica marxista, nos partidos e 
na academia para esse conhecimento. Nestes tempos, um feminismo 
marxista é mais que um gênero de feminismo (CASTRO, 2000, p. 108).
Outra importante autora brasileira é Heleieth Saffioti que, dentre outros 
assuntos, disserta sobre o lugar da mulher no sistema capitalista. Segundo 
Saffioti (1976), a mulher pertencente à classe trabalhadora sempre se viu obrigada 
a trabalhar para sustentar sua família, sobreviver e ajudar na construção das 
riquezas produzidas em suas respectivas nações. Ou seja, além de submetida 
às atividades domésticas tradicionais que o patriarcado lhe impunha, a mulher 
proletária trabalha, desde tempos considerados pré-capitalistas, em proporções 
semelhantes ao que o homem trabalha.
A MULHER das camadas sociais diretamente ocupadas na produção 
de bens e serviços nunca foi alheia ao trabalho. Em todas as épocas e 
lugares, tem ela contribuído para a subsistência de sua família e para 
criar a riqueza social. Nas economias pré-capitalistas, especificamente 
no estágio imediatamente anterior à revolução agrícola e industrial, 
a mulher das camadas trabalhadoras era ativa: trabalhava nos 
campos e nas manufaturas, nas minas e nas lojas, nos mercados 
e nas oficinas, tecia e fiava, fermentava a cerveja e realizava outras 
tarefas domésticas. Enquanto a família existiu como uma unidade 
de produção, as mulheres e as crianças desempenharam um papel 
econômico fundamental (SAFFIOTI, 1976, p. 17).
UNIDADE 3 — TEMAS DA SOCIOLOGIA BRASILEIRA
124
Em outra de suas obras, Saffioti (2004) aborda com mais ênfase as 
consequências violentas do patriarcado em relação não somente às mulheres, mas 
à violência sofrida por diversas outras classes devido à grande desigualdade vivida 
no Brasil. Além disso, a autora sustenta a teoria de que as desigualdades abrem 
espaço para conflitos que serão superados apenas quando a sociedade evoluir e 
negar suas contradições por meio do conhecimento. Saffioti (2004) acredita que o 
conhecimento, assim como o preconceito, é algo construído socialmente, ou seja, a 
desigualdade é algo que nasce, é sustentado e perpetuado pelos indivíduos.
O mais preocupante são as gerações mais jovens, cujos atos de 
crueldade para com índios, sem teto, homossexuais revelam mais do 
que intolerância; demonstram rejeição profunda dos não-idênticos. As 
desigualdades constituem fontes de conflitos,em especial quando tão 
abissais como no Brasil. Em casos como este, e eles existem também 
em outras sociedades, as desigualdades traduzem verdadeiras 
contradições, cuja superação só é possível quando a sociedade alcança 
um outro estado, negando, de facto e de jure, o status quo. Neste estágio 
superior, não haverá mais as contradições presentes no momento atual. 
No entanto, podem surgir outras no processo do devir histórico. Numa 
sociedade como a brasileira, com clivagens de gênero, de distintas raças/
etnias em interação e de classes sociais, o pensa mento, refletindo estas 
subestruturas antagônicas, é sempre parcial (SAFFIOTI, 2004, p. 37-38).
FIGURA 5 – PINTURA DA REVOLUCIONÁRIA FRIDA KAHLO QUE RETRATA A BANALIZAÇÃO DE 
ATOS DE VIOLÊNCIA E CRUELDADE CONTRA AS MULHERES
FONTE: <https://static.todamateria.com.br/upload/un/os/unoscuantospiquetitosfridakahlo-cke.jpg>.
 Acesso em: 18 ago. 2020.
Aproveitando as ponderações de Saffioti (2004) acerca das violências 
sofridas por pessoas consideradas diferentes da maioria, ou seja, os “não 
idênticos”, adentraremos em outro assunto, o preconceito contra a classe LGBTQ+. 
A sigla LGBTQ+ significa “Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transgêneros, 
Queer e outros”, também é uma sigla menos extensa para estabelecer orientações 
sexuais e identidades de gêneros não masculinos heterossexuais. Existem siglas 
mais completas como LGBTTTQQIAA: “Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, 
Transgêneros, Two-Spirits (Dois-Espíritos), Queer, Questionando, Intersex, 
Assexual, Aliado e Pansexual”. Utilizaremos a sigla LGBTQ+ para abreviar nossas 
abordagens. Segue, no Quadro 1, a maioria (pois a classificação está em constante 
expansão) das respectivas identidades de gênero definidas:
TÓPICO 1 — RAÇA E IDENTIDADE NO PENSAMENTO SOCIOLÓGICO BRASILEIRO
125
QUADRO 1 – LISTA COM AS PRINCIPAIS CLASSIFICAÇÕES DE ORIENTAÇÃO SEXUAL E 
IDENTIDADE DE GÊNERO EMPREGADAS CONTEMPORANEAMENTE
• Lésbica: mulheres que sentem atração romântica ou sexual por outras mulheres.
• Gay: homens que sentem atração romântica ou sexual por homens. O termo 
também pode ser utilizado para mulheres homossexuais.
• Bissexual: pessoas que sentem atração (afetiva ou sexual) por ambos os sexos.
• Transgênero: pessoas que não se identificam com seu sexo biológico e estão 
em trânsito entre gêneros.
• Transsexual: são pessoas que se identificam com um sexo diferente do seu 
nascimento. Por exemplo: uma pessoa que nasceu homem, mas se identifica 
como mulher, é uma mulher transgênero.
• 2/Two-Spirit (Dois-Espíritos): utilizado por nativos norte-americanos para 
representar pessoas que acreditam ter nascido com espíritos masculino e 
feminino dentro delas.
• Queer: pode ser considerado um termo “guarda-chuva”, englobando 
minorias sexuais e de gênero que não são heterossexuais ou cisgênero.
• Questionando: pessoas que ainda não encontraram seu gênero ou orientação 
sexual – estão no processo de questionamento, ainda incertos sobre sua 
identidade.
• Intersex: é uma variação de características sexuais que incluem cromossomos 
ou órgãos genitais que não permitem que a pessoa seja distintamente 
identificada como masculino ou feminino.
• Assexual: é a falta de atração sexual ou falta de interesse em atividades 
sexuais – pode ser considerado a “falta” de orientação sexual.
• Aliado: são pessoas que se consideram parceiras da comunidade LGBTQ+.
• Pansexual: é a atração sexual ou romântica por qualquer sexo ou identidade 
de gênero.
FONTE: <https://cutt.ly/VgYljFz>. Acesso em: 18 ago. 2020.
As pessoas que se identificam como pertencentes a qualquer uma das 
categorias LGBTQ+, assim como as mulheres que não se identificam com o 
referido grupo, são comumente vítimas de preconceito e discriminação entre 
muitos membros da sociedade patriarcal. Essas pessoas estão organizadas no 
Brasil em diversos coletivos e entidades, buscando basicamente sua ascensão 
social, o fim da violência e condições iguais de vida em um país onde existem 
muitas manifestações machistas, racistas, homofóbicas dentre outras agressões. 
 Dentre as organizações a favor dos direitos LGBTQ+ atuantes no Brasil, 
está a ABGLT (Associação Brasileira LGBT). A Associação Brasileira de Lésbicas, 
Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT) se define como uma 
organização brasileira cujo objetivo e missão são, desde o ano de 1995, a organização 
de ações que promovam a cidadania e os direitos humanos de pessoas que se 
autoidentificam como pertencentes a quaisquer uma das classificações LGBT. 
UNIDADE 3 — TEMAS DA SOCIOLOGIA BRASILEIRA
126
A organização contribui para a construção de uma nova sociedade, que 
seja democrática e na qual nenhuma pessoa seja vítima de discriminação, coerção 
e/ou violência, por causa de suas orientações sexuais e identidades de gênero.
FIGURA 6 – IMAGEM DE MANIFESTAÇÃO LGBTQ+ ESTAMPADA NO SITE OFICIAL DA ASSOCIAÇÃO 
BRASILEIRA DE LÉSBICAS, GAYS, BISSEXUAIS, TRAVESTIS, TRANSEXUAIS E INTERSEXOS (ABGLT)
FONTE: < https://bit.ly/34CVKiF>. Acesso em: 18 ago. 2020.
Uma das pessoas que se identifica pertencente ao grupo LGBTQ+ 
brasileiro e disserta sobre a problemática que envolve identidade de gênero no 
país é Berenice Bento (2006). Bento é uma mulher transexual que identifica em 
sua obra uma espécie de patologização das muitas identidades de gênero que 
fogem do padrão homem-cis-heterosexual (BENTO, 2006). Ou seja, foi tratado 
como doente, desde o século XX, toda pessoa que não se identificava com seu 
sexo biológico, que buscou transformações físicas ou teve sua orientação sexual 
voltada a pessoas do mesmo gênero. Ao mesmo tempo em que foram criados 
padrões de comportamento sexual e identidade de gênero, foram tratadas como 
anomalias psíquicas as demais concepções subjetivas acerca da sexualidade que 
fugia à norma tradicional da sociedade, sobretudo o que diz respeito às pessoas 
que se consideram transexuais.
A articulação entre os discursos teóricos e as práticas reguladoras dos 
corpos ao longo das décadas de 1960 e 1970 ganhou visibilidade com 
o surgimento de associações internacionais, que se organizam para 
produzir um conhecimento voltado à transexualidade e para discutir 
os mecanismos de construção do diagnóstico diferenciado de gays, 
lésbicas e travestis. Nota-se que a prática e a teoria caminham juntas. 
Ao mesmo tempo em que se produz um saber específico, são propostos 
modelos apropriados para o “tratamento” (BENTO, 2006, p. 40).
Podemos concluir o tópico dizendo que em uma sociedade fundada 
sobre terras colonizadas, na qual a escravidão foi formalmente abolida em 
tempos recentes e o patriarcado interfere diretamente sobre a cultura nacional, 
a desigualdade se torna presente no cotidiano das pessoas e engendra diversos 
tipos de violência. O preconceito, discriminação e demais agressões sociais 
são fruto de um processo histórico que só pode ser modificado por meio de 
resistências organizadas, portanto, coletivos e organizações de classes são sempre 
um caminho rumo a rupturas comportamentais no seio da sociedade.
127
Neste tópico, você aprendeu que:
• O povo brasileiro foi formado por três raças fundamentais: brancos, negros e 
nativos americanos.
• A multiplicidade de raças e identidades brasileiras engendrou conflitos raciais 
e diversos tipos de violência.
• A resistência negra, assim como o movimento dos povos nativos brasileiros, é 
muito forte no Brasil, conquistando por meio de lutas, conflitos e resistências, 
múltiplos direitos a esses dois povos cruelmente dominados pela colonização 
europeia.
• O movimento de luta feminista no Brasil é responsável pela emancipação e 
garantia de direitos de milhões de mulheres, além de ajudar no combate ao 
machismo e à violência contra a mulher que o sistema patriarcal estimula.
• A luta LGBTQ+ é protagonista da resistência contra a homofobia e outras 
violências ocasionadas pela desigualdade de gênero no Brasil.
RESUMO DO TÓPICO 1
128
1 O Brasil é um país cujo povo é formado pormúltiplas etnias, uma das 
consequências sociais de toda essa riqueza racial coexistente num mesmo 
território é a discriminação e o racismo – graves problemas sociais que 
abrem espaço para a violência. Como todo o tipo de opressão é passível 
a resistências de inúmeras naturezas, não seria diferente com relação à 
violência racial brasileira que oprime, principalmente, pessoas de matrizes 
étnicas africanas e nativas, desde o período colonial. Nesse contexto de 
desigualdade racial, emergem movimentos sociais a favor da emancipação, 
reivindicação por igualdade de oportunidades, fim da crueldade contra 
classes menos privilegiadas socialmente dentre outras lutas. Os movimentos 
negro e indígena do Brasil foram muito importantes para esses dois grupos 
étnicos. Considerando os desafios e conquistas de tais movimentos sociais, 
analise as sentenças a seguir:
I - O movimento negro muito contribuiu com o processo de libertação 
dos escravos brasileiros, todavia, até a contemporaneidade, esse grupo 
étnico sofre com a herança histórica do colonialismo brasileiro e com as 
desigualdades engendradas por uma sociedade racista.
II - Os nativos brasileiros, que são chamados de indígenas devido à 
generalização cultural praticada pelos colonizadores europeus, 
resistem no Brasil em algumas tribos remanescentes que conservam sua 
cultura ancestral, embora muitas sofram com a interferência da cultura 
colonizadora.
III - Embora a maioria dos livros de história recontem o fim da escravidão 
dos negros brasileiros do ponto de vista colonizador, atribuindo o 
protagonismo de tal evento à princesa Isabel e à Lei Áurea, os verdadeiros 
protagonistas foram os próprios escravos que lutaram, resistiram e se 
organizaram em nome da liberdade de seus iguais.
IV - Sem os movimentos negro e indígena não haveria garantia de que os 
mínimos direitos atribuídos a esses povos pela sociedade contemporânea 
seriam concedidos.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Somente a sentença I está correta.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) Somente a sentença III está correta.
d) ( ) Somente a sentença IV está correta.
e) ( ) As sentenças I, II, III e IV estão corretas.
2 Outra herança que engendra muita violência no seio da sociedade brasileira 
é o sistema familiar patriarcal. O patriarcado implica em uma cultura 
que supervaloriza a figura masculina, sobretudo, a dos homens adultos 
heterossexuais. Todo esse enaltecimento do masculino abre espaço para 
uma subcultura machista, que permeia o tecido social nacional fazendo 
AUTOATIVIDADE
129
vítimas. As vítimas do machismo que sofrem de maneira mais direta com 
tal subcultura, herdada de nossas raízes colonizadas, são as mulheres. 
Todavia, muitas outras pessoas também são vítimas de tais violências. Em 
resposta às violências sofridas pelos homens de nossa sociedade, emerge 
o feminismo brasileiro: conjunto de movimentos sociais e políticos que 
possuem como principais objetivos o empoderamento feminino, igualdade 
de direitos civis e ruptura com os padrões patriarcais da sociedade. 
Considerando esse importante movimento de luta feminina no Brasil, 
classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
( ) O movimento feminista no Brasil é responsável por inúmeras conquistas 
para as mulheres, dentre elas está sua gradual ascensão num mercado de 
trabalho dominado, assim como outras instâncias da vida social, pelos 
homens.
( ) O empoderamento feminino auxilia na resistência em relação aos abusos 
patriarcais e na busca por maiores níveis de respeito em um país no qual 
a sociedade herdou inúmeras violências e tempos coloniais.
( ) A sociedade brasileira emancipa seu povo de maneira natural, sendo 
assim, as mulheres brasileiras alcançarão sua liberdade e igualdade de 
direitos naturalmente, mesmo sem a presença de movimentos sociais que 
os reivindiquem.
( ) O feminismo brasileiro é uma ideologia que propõe o ódio aos homens 
como forma de protesto contra a violência cometida por eles.
( ) Sem uma resistência organizada por parte das mulheres brasileiras, poucos 
direitos teriam sido conquistados a elas desde o período colonial.
Assinale a opção que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – F – V – F – V.
b) ( ) V – V – V – F – V.
c) ( ) V – V – F – F – V. 
d) ( ) F – F – V – V – V.
e) ( ) F – V – V – V – F.
3 As pessoas pertencentes ao grupo LGBTQ+ são vítimas de ódio e violência 
fomentados por diversas instituições no Brasil. Não é raro aprendermos na 
escola, na igreja, no ciclo de amigos ou no seio familiar que identidades de gênero 
e/ou orientação sexual divergente da norma homem e mulher heterossexuais 
cis são algo que foge à natureza humana. Esse fato faz com que a discriminação 
e o preconceito contra essa classe de pessoas seja algo de difícil ruptura em 
nosso território. Em meio à violência, ódio e discriminação sofridos por essas 
pessoas, muitas se organizam em movimentos LGBTQ+. Considerando o que 
aprendemos no primeiro tópico desta unidade, disserte acerca da importância 
de tais movimentos sociais para a classe LGBTQ+ no Brasil.
130
131
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
O Brasil é um país vasto em território e recursos naturais que passou por 
um processo histórico particular em relação à América Latina e ao mundo. Apesar 
de ser uma nação que foi moldada sob os ditames do imperialismo europeu e 
habitado de maneira exploratória, o Brasil passou por um período de vultosos 
avanços materiais e tecnológicos durante os últimos séculos, continuando a se 
desenvolver até a contemporaneidade.
O presente tópico enfocará o processo de modernização brasileiro a 
partir da ótica de grandes autores nacionais, sintetizando os principais eventos 
que marcaram nosso desenvolvimento ao longo dos anos. O estudo desse tema 
é de fundamental importância à compreensão do desenrolar histórico de nosso 
país. No presente estudo, teremos acesso aos principais elementos e eventos que 
contribuíram com a formação do Brasil que conhecemos hoje. Aproveite!
2 A MODERNIZAÇÃO DO BRASIL NO SÉCULO XIX
A economia brasileira do século XIX girava em torno, principalmente, da 
produção do café. Sua produção foi introduzida com sucesso no interior de São 
Paulo, onde a planta crescia com vigor e saúde, intensificando sua colheita. O Vale 
do Paraíba foi uma das localidades de destaque no início da produção cafeeira, 
que se expandiu para o oeste posteriormente. Embora tenha gerado bons frutos 
inicialmente, o cultivo do café no Vale do Paraíba declinou devido ao desinteresse 
dos produtores locais no investimento na modernização da agricultura, cuja 
principal característica no período era a adoção da mão de obra livre.
Além da demanda por mão de obra livre, pois essa também seria 
consumidora da produção nacional, multiplicando os lucros dos grandes 
produtores, ainda existia a demanda por extensões mais vastas de terra para o 
cultivo do café. Foi o que aconteceu na expansão para a produção em direção ao 
oeste paulista: imensidões de mata atlântica foram derrubadas para a implantação 
daquela cultura extensiva. Com as terras já preparadas para o cultivo, faltava 
agora a modernização dos “braços” que produziam o café. Sendo assim, foram 
implantadas, com mais intensidade, técnicas mecanizadas transporte, pilagem, 
ensacamento, pesagem. entre outros. 
TÓPICO 2 — 
MODERNIZAÇÃO BRASILEIRA
132
UNIDADE 3 — TEMAS DA SOCIOLOGIA BRASILEIRA
A alta produtividade do café, que passou a ser voltada para o mercado 
exterior, fez com que aumentasse a demanda por transportes em massa do 
produto para os portos, cuja produção partia por meio de navios para outros 
países. Foi assim que o Brasil passou a investir massivamente em ferrovias e 
grandes locomotivas para que o escoamento do café fosse realizado de maneira 
mais rentável. Nasce, então, uma série de importantes linhas férreas que 
impulsionaram a modernização brasileira.
FIGURA 7 – A BARONEZA: PRIMEIRA LOCOMOTIVA DO BRASIL
FONTE: <https://cutt.ly/agYzT56>. Acessoem: 25 ago. 2020.
 O desenvolvimento do transporte ferroviário na Inglaterra foi consequência 
direta da Revolução Industrial, que começou a ganhar força em 1830. Com isso, Dom Pedro 
II viu a necessidade de colocar o Brasil nos trilhos também. Foi aí que surgiu a ideia das 
construções das estradas de ferro, que seria um importante passo para uma nova era para 
a nação brasileira. Apesar de ser algo grandioso e que revolucionaria a economia nacional, 
as pessoas deram pouca importância ao fato. Foi só após Irineu Evangelista de Souza, o 
Visconde de Mauá, construir a primeira ferrovia do país, chamada de Estrada de Ferro Mauá, 
que o povo finalmente se deu conta do que estava acontecendo. A inauguração oficial 
aconteceu no dia 30 de abril de 1854, onde circulava pela primeira vez a Baroneza, guiada 
pelo Visconde num trecho de 14,5 Km a uma velocidade de 36 Km/h. O evento foi tão 
importante para a época que contou com a presença do Imperador Dom Pedro II e de toda 
a sua Comitiva Imperial. 
FONTE: <https://amantesdaferrovia.com.br/blog/a-baroneza-o-primeiro-trem-do-brasil>. 
Acesso em: 25 ago. 2020.
IMPORTANT
E
TÓPICO 2 — MODERNIZAÇÃO BRASILEIRA
133
A modernização do transporte não foi o único avanço promovido pela 
cultura do café no Brasil. A vida nas cidades mudou de maneira drástica com 
o crescimento econômico, físico e populacional de algumas delas. São Paulo, 
por exemplo, central econômica do Brasil, foi impulsionada pela prosperidade 
na produção cafeeira daquele período. Monteiro Lobato (2009) retrata em sua 
obra, mesmo que de uma maneira um tanto quanto romantizada, o crescimento 
paulista a partir da cultura do café do final do século XIX. 
A quem viaja pelos sertões do chamado oeste de São Paulo empolga 
o espetáculo
maravilhoso da preamar do café. Aquela onda verde nasceu humilde 
em terras fluminenses. Tomou vulto, desbordou para São Paulo e, 
fraldejando a Mantiqueira, veio morrer, detida pela frialdade do 
clima, à beira da Paulicéia.
Mas não parou. Transpôs o baixadão geento e foi espraiar-se em 
Campinas.
Ali começou mestre Café a perceber que estava em casa. Corredor de 
mundo, viajante exótico vindo da Arábia ou da África, provara pelo 
caminho todos os massapés e sondara todos os climas.
Franzia o nariz, porém. Veio sorrir ali, ao pisar esse oásis do rubídio 
que é o oeste paulista. E arranchou de vez, para sempre, em sua casa.
Repete-se, então, o movimento bandeirante de outrora. Atrai o homem 
aventureiro não mais o ouro dissimulado em pepitas no seio da terra, 
mas o ouro anual das bagas vermelhas que se derriçam em balaios.
A região era todo um mataréu virgem de majestosa beleza.
Rasgara-o a facão o bandeirante antigo, por meio de picadas; o 
bandeirante moderno, machado ao ombro e facho incendiário na mão, 
vinha agora não penetrá-lo, mas destruí-lo.
Almas fechadas ao contemplativismo, nunca lhes amolentou o pulso a 
beleza augusta dos jequitibás de frondes sussurrantes como o oceano, 
nem o vulto grave das perobeiras milenárias (LOBATO, 2009, p. 16).
 
Lobato (2009) enfatiza o crescimento populacional de São Paulo na última 
década do século XIX, que passou de 64.000 habitantes para 239.000 até o ano 
de 1900. Esse crescimento exponencial facilitou a modernização da cidade que 
hoje é a mais populosa do Brasil, com cerca de 12 milhões de pessoas. Outra 
cidade que prosperou com o movimento de urbanização, advindo da crescente 
modernização do país, foi o Rio de Janeiro. A capital carioca recebeu, no mesmo 
período, melhorias em termos de infraestrutura, como calçamento, gás encanado, 
redes de saneamento entre outras.
A modernização do Brasil, de meados do século XIX, refletiu também em 
avanços como a criação de dezenas de indústrias, diversos bancos, companhias 
de navegação a vapor, companhias de seguro, estradas de ferro, empresas de 
mineração, transporte urbano dentre diversos outros, apenas entre 1850 e 1860. 
A região sudeste foi a mais privilegiada pelos avanços proporcionados pela 
modernização, crescendo exponencialmente desde o início do referido processo. 
O processo de modernização brasileiro não trouxe apenas avanços e 
melhorias a nossa sociedade. Paralela ao progresso econômico, a desigualdade 
social cresceu também em ritmo acelerado. Se por um lado existe uma pequena 
classe que usufrui de maneira plena dos benefícios da modernização do Brasil, 
134
UNIDADE 3 — TEMAS DA SOCIOLOGIA BRASILEIRA
por outro, existe uma maioria de indivíduos que sofre com a superexploração do 
trabalho, com a miséria, com a violência e outras sobras da produção de riquezas 
no país. Contemporaneamente, nosso território é marcado por um abismo social 
que pode ser retratado pela Figura 8, a qual mostra como algumas pessoas são 
privilegiadas economicamente, vivendo em apartamentos seguros e confortáveis 
no Rio de Janeiro, habitam ao lado de uma grande quantidade de brasileiros que 
vivem as piores mazelas do capitalismo.
FIGURA 8 – MODERNIZAÇÃO E DESIGUALDADE NO BRASIL CONTEMPORÂNEO
FONTE: <https://aventurasnahistoria.uol.com.br/media/uploads/legacy/2018/11/28/favela-
-rj-1116795.jpg>. Acesso em: 26 ago. 2020.
Um importante sociólogo brasileiro tenta buscar as origens da desigualdade 
acentuada pelo processo de modernização no Brasil a partir da explicação de um 
fenômeno global. Ruy Mauro Marini (2013) acredita que o subdesenvolvimento 
brasileiro e latino-americano, é fruto de sua submissão aos mandos e desmandos 
do sistema econômico mundial, capitaneado principalmente pelos Estados 
Unidos da América. 
O caráter imperialista dos países que dominam a economia mundial é um 
dos fatores que submetem os países da América Latina, inclusive o Brasil, a sua 
condição de subdesenvolvimento e pobreza.
A história do subdesenvolvimento latino-americano é a história 
do desenvolvimento do sistema capitalista mundial. Seu estudo é 
indispensável para quem deseje compreender a situação que este 
sistema enfrenta atualmente e as perspectivas que a ele se abrem. 
Inversamente, apenas a compreensão segura da evolução da economia 
capitalista mundial e dos mecanismos que a caracterizam proporciona 
o marco adequado para situar e analisar a problemática da América 
Latina (MARINI, 2013, p. 47).
TÓPICO 2 — MODERNIZAÇÃO BRASILEIRA
135
O processo que proporcionou aos Estados Unidos da América o domínio 
do sistema capitalista, teve um forte marco com o final da Primeira Guerra Mundial 
(1914-1918), quando o referido país conseguiu se sobressair economicamente e se 
tornar a maior potência de todo o globo. Sendo assim, abordaremos, no próximo 
subtópico, o processo de desenvolvimento e modernização brasileiros a partir do 
fim da Primeira Guerra Mundial. 
No referido período ocorreram fenômenos de suma importância em 
relação à modernização, desenvolvimento e desigualdade presentes até os dias de 
hoje no Brasil. Portanto, são imprescindíveis para o sociólogo os estudos acerca 
desse processo rico em acontecimento e fenômenos que compõem a história de 
nosso país.
3 O DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO BRASILEIRO PÓS-
PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL
O advento da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) provocou profundas 
transformações em todo o mundo, inclusive no Brasil. Os Estados Unidos da 
América, que entraram no primeiro grande conflito global no final do mesmo, 
saíram da guerra como a maior potência econômica mundial. 
O Brasil, grande exportador do café, que no final da Primeira Guerra 
era nosso principal produto, tinha os Estados Unidos como um dos principais 
compradores de nossa mercadora. Nossa economia, que girava em torno da 
produção cafeeira, agora, nos anos 1920, era impulsionada com a entrada de 
novas máquinas industriais e novas tecnologias. 
Os meios de comunicação brasileiros avançam no pós-Guerra, trazendo 
benefícios àquela parcela da população nacional que tinha acesso ao rádio, por 
exemplo, que revolucionou o sistema informacional no Brasil. 
O telefone também foi uma facilidade que a prosperidade econômica 
brasileira proporcionou ao povo maisabastado de nosso país, encurtando distância 
entre as pessoas. A crescente tecnologia foi só um dos aspectos da modernização 
brasileira. Esse processo de transformação ocorreu em diversos âmbitos no país, 
inclusive o âmbito material, político, social, habitacional, econômico, produtivo 
dentre tantos outros.
136
UNIDADE 3 — TEMAS DA SOCIOLOGIA BRASILEIRA
FIGURA 9 – A MODERNIZAÇÃO BRASILEIRA E AS PRIMEIRAS TRANSMISSÕES A RÁDIO 
OCORRIDAS NA DÉCADA DE 1920
FONTE: <https://informa.life/wp-content/uploads/2012/09/old_radio_1.jpg>. 
Acesso em: 24 ago. 2020
A segunda metade de século XX marcou a modernização de nosso sistema 
produtivo. O maquinário destinado à potencialização da produção agrícola 
recebeu melhorias mais acentuada a partir da década de 1960. Considerando o 
contexto do referido período, marcado pelo fortalecimento das políticas de caráter 
socialista no Brasil, torna-se válido destacar que ocorreram eventos importantes 
no que se refere à vida no campo. 
Todavia, com a imposição da ditadura militar no país foi promulgado o 
Estatuto da Terra (Lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964). O mesmo estatuto 
propunha um modelo agropecuário concentrador de terras, que modernizaria 
seletivamente o campo, excluindo aqueles que vivem da produção em pequenas 
propriedades.
No dia 7 de setembro de 1922, o País celebrava os primeiros cem anos de 
existência fora das amarras do governo português. A cidade do Rio de Janeiro, então capital 
federal, comemorava a data com alguns eventos oficiais – entre eles uma exposição que 
trazia, pela primeira vez ao território nacional, os principais aparelhos e instrumentos da 
tecnologia da radiodifusão, que já haviam atingido uma escala considerável em território 
norte-americano. Para demonstrar o funcionamento do principal “invento” da época, uma 
transmissão experimental foi realizada, tendo como palco o tradicional Teatro Municipal. 
Dali o público ouviu a voz do então presidente, Epitácio Pessoa, declamando as vantagens 
daquela nova tecnologia, seguida dos arranjos da ópera O Guarani, obra do compositor Carlos 
Gomes. Esses foram os sons da primeira transmissão radiofônica oficial da História do Brasil.
FONTE: <https://informa.life/90-anos-de-radio/>. Acesso em: 24 ago. 2020.
INTERESSA
NTE
TÓPICO 2 — MODERNIZAÇÃO BRASILEIRA
137
Uma das principais ações advindas do Estatuto da Terra foi a concessão 
de crédito para produtores rurais investirem em suas respectivas produções. 
A medida foi positiva para alguns trabalhadores do campo que, com acesso a 
maquinários mais modernos, melhores insumos e defensivos agrícolas. Lembrando 
que defensivo agrícola é um nome mais brando atribuído aos agrotóxicos, 
contribuindo para o disfarce de algumas das consequências destrutivas ao ser 
humano da produção em massa. Além dos prejuízos à saúde das pessoas, outra 
consequência social da modernização da agropecuária no Brasil é o monopólio 
de alguns poucos latifundiários que, prosperando a partir das ações do Estatuto 
da Terra, começaram a ocupar e concentrar cada vez mais terras para produzir, 
cultivando verdadeiros impérios. A formação de tais impérios foi extremamente 
prejudicial a milhares de famílias brasileiras que vivem no campo e ficaram 
sem terras para produzir, formando as primeiras resistências contra os efeitos 
deletérios da produção latifundiária.
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) é a principal 
organização de trabalhadores rurais que luta pelos direitos fundamentais 
previstos no Estatuto da Terra e que não são atendidos. 
O pleno emprego, assim como consta no Art. 1° § 2º da Lei nº 4.504/1964, 
é um dos inúmeros direitos negados aos pequenos produtores rurais, que 
produzem a maior parte do alimento que milhões de brasileiros levam a mesa 
todos os dias. 
São esses os direitos reivindicados pelo Movimento dos Trabalhadores 
Rurais Sem Terra, ao contrário do estigma que a organização sofre no Brasil, 
sendo associada a invasores de terras que querem simplesmente expropriar 
os latifundiários quando, na verdade, buscam apenas a divisão das terras 
concentradas para o trabalho destinado ao sustento de suas famílias.
Nos países centrais do sistema capitalista, a democratização do acesso à terra, 
a reforma agrária foi uma das principais políticas para destravar o desenvolvimento social 
e econômico, produzindo matéria prima para a nascente indústria moderna e alimentos 
para seus operários. No Brasil, nem mesmo as transformações políticas e econômicas para 
o desenvolvimento do capitalismo foram capazes de afrontar a concentração de terras. Ao 
longo de cinco séculos de latifúndio, também foram travadas lutas e resistências populares. 
As lutas contra a exploração e, por conseguinte, contra o cativeiro da terra, contra a 
expropriação, contra a expulsão e contra a exclusão, marcam a história dos trabalhadores. 
A resistência camponesa se manifesta em diversas ações e, nessa marcha, participa do 
processo de transformação da sociedade.
FONTE: <https://mst.org.br/nossa-historia/inicio/>. Acesso em: 24 ago. 2020.
ATENCAO
138
UNIDADE 3 — TEMAS DA SOCIOLOGIA BRASILEIRA
O MST é resultado da união de diversos outros movimentos anteriores que 
se uniram em busca de seus direitos fundamentais à terra, ao trabalho e à qualidade 
de vida digna que todo o brasileiro merece. A imagem nos mostra alguns jornais 
publicados pela organização dos trabalhadores rurais sem terra no Brasil, que lutam 
incessantemente em busca de um espaço em meio à concentração latifundiária.
FIGURA 10 – JORNAIS PUBLICADOS PELOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA QUE SE 
ORGANIZARAM NO BRASIL
FONTE: <https://mst.org.br/wp-content/uploads/2019/11/84-861.png>. 
Acesso em: 25 ago. 2020.
A modernização brasileira e os avanços tecnológicos nascentes no Brasil 
em decorrência dela, implicaram em outra transformação na dinâmica social 
brasileira: a intensificação da imigração. Principalmente, os estados de São Paulo 
e Rio de Janeiro investiram em uma boa quantidade de mão de obra estrangeira 
antes mesmo da abolição da escravidão no final do século XIX. 
Desde meados do século XX, novas feições e formas de organização foram 
criadas na luta pela terra e na luta pela reforma agrária. Nas diferentes regiões do país, 
contínuos conflitos e eventos formaram o campesinato no princípio da segunda metade do 
século passado. A ditadura implantou um modelo agrário mais concentrador e excludente, 
instalando uma modernização agrícola seletiva, que excluía a pequena agricultura. O regime 
militar foi duplamente cruel e violento com os camponeses. Por um lado – assim como 
todo o povo brasileiro – os camponeses foram privados dos direitos de expressão, reunião, 
organização e manifestação, impostos pela truculência da Lei de Segurança Nacional e do 
Ato Institucional nº 5. Por outro, a ditadura implantou um modelo agrário mais concentrador 
e excludente, instalando uma modernização agrícola seletiva, que excluía a pequena 
agricultura, impulsionando o êxodo rural, a exportação da produção, o uso intensivo de 
venenos e concentrando não apenas a terra, mas os subsídios financeiros para a agricultura. 
FONTE: <https://mst.org.br/nossa-historia/inicio/>. Acesso em: 24 ago. 2020.
IMPORTANT
E
TÓPICO 2 — MODERNIZAÇÃO BRASILEIRA
139
O governo imperial brasileiro estimulou a imigração europeia em massa 
para o Brasil, com o intuito de ocupar regiões ainda despovoadas pelo povo 
colonizador, além de suprir as demandas por trabalhadores livres nas lavouras 
de café. Sendo assim, diversas famílias de origem italiana, alemã, dentre outras 
nacionalidades, vieram para o país em busca de oportunidades de emprego e 
melhores condições de vida, fugindo da pobreza vivida na Europa.
O contato com outros povos, advindos de outros países europeus e que 
ainda não haviam se estabelecido no Brasil, modificou, de maneira significativa, a 
sociedade brasileira, sobretudo, nossas relações sociais e nosso desenvolvimento 
urbano. Nossa cultura ficou ainda mais miscigenada, enriquecendo,por um 
lado, as relações entre pessoas de diferentes nacionalidades e, por outro lado, 
acentuando conflitos entre diferentes etnias, resultando na potencialização de 
violências como o racismo.
No próximo subtópico, apresentaremos a perspectiva de alguns dos mais 
notáveis pensadores brasileiros sobre o tema da modernização brasileira, expondo 
alguns aspectos de seus pontos de vista. Devido à riqueza de elementos que juntos 
moldaram nossa sociedade, cuja apreensão de maneira completa se torna muito 
difícil por parte de apenas um autor, teceremos algumas ponderações sobre as 
perspectivas de Álvaro Vieira Pinto, Caio Prado Júnior e Florestan Fernandes do 
referido tema, enriquecendo nosso debate e ampliando nosso aparato intelectual 
relativo à formação do Brasil contemporâneo.
4 A MODERNIZAÇÃO BRASILEIRA SOB OS OLHARES DE 
ÁLVARO VIEIRA PINTO, RUY MAURO MARINI, CAIO PRADO 
JÚNIOR E FLORESTAN FERNANDES
Iniciaremos nossas discussões acerca da modernização brasileira 
analisada por autores brasileiros com a perspectiva de Álvaro Vieira Pinto acerca 
da tecnologia e sua relação com o desenvolvimento no Brasil. 
Pinto (2005) explica que, em seu ponto de vista, o subdesenvolvimento é 
algo intrínseco ao processo de modernização, ou seja, as desigualdades e a pobreza 
são consequências do caráter desigual e excludente do capitalismo globalizante. 
Tal sistema sócio-político-econômico atua de forma a explorar uma 
maioria de trabalhadores, que usufrui muito menos da riqueza que produz 
com seu trabalho ao mesmo tempo em que uma minoria, que trabalha menos, 
goza dessa mesma riqueza de forma plena. O mesmo acontece com a ciência 
e a tecnologia. Enquanto uma parcela da humanidade trabalha para produzir 
saberes e tecnologias novas, outra consegue tirar maior proveito dessa produção 
em detrimento dos que trabalham mais.
140
UNIDADE 3 — TEMAS DA SOCIOLOGIA BRASILEIRA
Só há saber novo com avanço técnico. Se uma parte da humanidade já 
demonstrava usufruir benefícios da apropriação social da tecnologia, 
restava ao intelectual engajado explicar as causas dos “entraves 
históricos” ao desenvolvimento nacional em países como o Brasil, 
rico e pobre ao mesmo tempo. Aliás, se existe um traço peculiar que 
pode ser atribuído à “geração isebiana”, com todo o exagero que essa 
expressão contém, esse traço pode ser reconhecido na atenção contínua 
às concomitâncias da sociedade. Trata-se de outra herança da Cepal: 
perceber que o subdesenvolvimento não é uma situação assemelhada 
ao passado do mundo desenvolvido. É, ao contrário, concomitante a 
ele e, na maioria dos casos, resultante da deterioração nos termos de 
troca entre as partes (PINTO, 2005, p. 8).
A situação de desigualdade que caminha junto à modernização do Brasil 
foi agravada, conforme Ruy Mauro Marini (2013), pelas políticas neoliberais 
impostas ao mercado exterior pelos Estados Unidos da América. 
O neoliberalismo é, de maneira resumida, uma ideologia/doutrina 
político-econômica que prega a liberdade de concorrência mercantil, a ausência 
de regulação estatal da economia, abertura para o mercado exterior, supressão de 
assistência social por parte dos governos entre outras características. 
No Brasil, o neoliberalismo ganhou maiores proporções na segunda 
metade do século XX, quando nossos governantes abriram espaço ao capital 
estadunidense que buscou a ampliação de seu mercado para países de todos os 
continentes de forma intensiva após o término da Primeira Guerra Mundial, a 
fim de superar uma crise econômica. Esse foi mais um episódio da modernização 
brasileira que abriu espaço a novos e graves problemas sociais em nosso país.
Os governos de Café Filho e Juscelino Kubitschek, que se sucedem à 
grave crise política de 1954 produzida pela situação aqui descrita – 
encerrada pelo suicídio do presidente Vargas –, sendo, portanto, frutos 
do compromisso entre as classes dominantes em conflito, tratarão 
de encontrar uma fórmula de transação que permita superar a crise 
econômica, sem levar a um confronto definitivo entre as posições 
implicadas. O recurso escolhido foi abrir a economia brasileira aos 
capitais estadunidenses, a fim de romper o nó formado no setor cambial. 
A Instrução 113 da Superintendência da Moeda e do Crédito – Sumoc 
(atual Banco Central) cria o marco jurídico para essa política, cujo auge é 
atingido com o Plano de Metas do governo de Kubitschek, que acarreta 
cerca de 2,5 milhões de dólares em investimentos e financiamentos e 
empurra de novo a expansão industrial (MARINI, 2013, p. 115).
A maior abertura ao capital estrangeiro teve como uma de suas 
consequências a entrada de novas empresas estrangeiras em nosso território, 
fato que nos trouxe acesso a novos produtos, serviços e tecnologias por um lado, 
todavia, por outro lado, acentuou a exploração e a desigualdade social. 
Uma das causas desse retrocesso quanto ao abismo social entre classes 
econômicas no Brasil foi, dentre outras, a entrada de uma política trabalhista que 
desrespeita as normas da Consolidação das Leis do Trabalho brasileira. 
TÓPICO 2 — MODERNIZAÇÃO BRASILEIRA
141
Um bom exemplo dessa precarização do trabalho decorrente do incentivo 
neoliberal estadunidense é o sistema de fast-food. As redes estrangeiras de 
alimentação rápida, submetem os brasileiros a escalas de trabalho pagas por hora, 
com um salário base muito inferior a um salário mínimo, sendo o complemento 
dessa renda responsabilidade do empregado, independentemente do movimento 
do comércio ou quaisquer outros fatores que influenciem as vendas.
FIGURA 11 – NEOLIBERALISMO, GLOBALIZAÇÃO E EMPRESAS MULTINACIONAIS INSTALADAS 
NO BRASIL E NO MUNDO
FONTE: <https://cutt.ly/DgYxPPZ>. Acesso em: 28 ago. 2020.
A competitividade entre os trabalhadores contemporâneos que vendem sua 
força de trabalho nesse novo Brasil modernizado, é mais acirrada do que nunca. 
Essa consequência do neoliberalismo no mercado de trabalho obriga a 
população a dispender muito mais tempo e energia com os estudos, sejam eles 
cursos de aperfeiçoamento, faculdades, pós-graduações, especializações e outros 
tipos de qualificação para conseguirem vagas de emprego disponíveis no mercado. 
No interior das empresas e outras instituições que empregam os brasileiros, 
a competitividade incentivada pelos patrões para obtenção de melhores resultados 
e, consequentemente, maiores lucros, submete os funcionários a jornadas de 
trabalhos mais intensas em nome de bonificações, cargos mais elevados e até da 
própria permanência na instituição. 
Torres (2016) identifica que a racionalidade de gestores de empresas 
contemporâneas, que fomentam a competitividade, o excesso de trabalho 
realizado por classes sociais exploradas, o investimento no capital intelectual 
e financeiro que objetiva o lucro das organizações, transcendeu os espaços 
empresariais e adentrou à esfera pública. 
142
UNIDADE 3 — TEMAS DA SOCIOLOGIA BRASILEIRA
Essa nova inclinação de gestores públicos – sejam eles políticos e/ou 
pessoas que ocupam cargos que regulamentam a dinâmica social – à adoção de 
técnicas utilizadas no meio empresarial para o estímulo à produtividade e ao 
lucro é, conforme Torres (2016), altamente prejudicial à parcela da população que 
trabalha mais por salários menores. 
Isso se deve ao tempo, ao esforço, energia, saúde e outros elementos 
que a classe proletária deposita na competitividade trabalhista que, quando 
manifestada em meio público, incide sobre a busca por resultados numéricos que 
representam produtividade em diversas esferas da vida em sociedade. 
Um dos exemplos utilizados pelo referido autor se encontra na esfera 
carcerária, cuja produtividade do Poder Executivo é expressada por meio de 
políticas públicas que fomentam a competitividade por maiores números de 
prisões e apreensões, superlotando as prisões brasileiras.
Outra das características do neoliberalismo brasileiro é o retorno em 
massa das privatizações. Caio Prado Júnior (1981) reconstrói o processo histórico 
no qual o Brasil foicondicionado aos mecanismos econômicos estrangeiros, desde 
o período da colonização de nosso país. 
A dinâmica economicista neoliberal que vivemos contemporaneamente, 
seria a continuação de uma cultura exploratória a qual o Brasil foi submetido, 
considerando que a maior parte das riquezas aqui produzidas, quase sempre 
foram usufruídas por povos europeus.
Se vamos à essência da nossa formação, veremos que na realidade nos 
constituímos para fornecer açúcar, tabaco, alguns outros gêneros; mais 
tarde ouro e diamante; depois algodão, e em seguida café, para o comércio 
europeu. Nada mais que isto. É com tal objetivo, objetivo exterior, 
voltado para fora do país e sem atenção e considerações que não fossem o 
interesse daquele comércio, que se organizarão a sociedade e a economia 
brasileiras. Tudo se disporá naquele sentido: a estrutura social, bem como 
as atividades do país. Virá o branco europeu para especular, realizar um 
negócio; inverterá seus cabedais e recrutará a mão de obra de que precisa: 
indígenas ou negros importados. Com tais elementos, articulados numa 
organização puramente produtora, mercantil, constituir-se-á a colônia 
brasileira (PRADO JÚNIOR, 1981, p. 22).
Pacheco Júnior (2018) faz uma interpretação acerca da racionalidade de 
Caio Prado Júnior, especialmente no tocante ao modo de vida de países nos quais 
os povos colonizadores se instalaram com o objetivo maior de habitar as novas 
terras americanas. 
Para Pacheco Júnior (2018), Caio Prado sustenta a ideia de que no Brasil 
e na maioria dos países da América Latina, existiu um padrão de colonização 
explorador, no qual o lucro destinado aos países do exterior se sobressaía em 
detrimento das demandas internas do país. Enquanto isso, nas zonas temperadas 
da América, a ocupação das terras pelos colonizadores era muito mais voltada à 
habitação e enriquecimento locais.
TÓPICO 2 — MODERNIZAÇÃO BRASILEIRA
143
Para as regiões situadas nas zonas temperadas da América, dirigiram-
se fundamentalmente os ingleses, em função dos processos político-
religiosos e econômicos que passavam no velho continente. Por um 
lado, a Inglaterra vivia um processo de privatização das suas áreas de 
pastagens, com os cercamentos das terras e a expulsão dos camponeses 
para as cidades; era o período de gestação das indústrias e uma 
nova forma de produção material da vida nas áreas em processo de 
urbanização; por outro lado, uma forte perseguição político-religiosa 
aos puritanos ingleses. Caio Prado (2000) nos mostra que esse tipo de 
colonização parte de condições e circunstâncias especiais, pois nada 
tem a ver com a ação de traficantes e exploradores sedentos por lucro. 
Cita o autor: “o que os colonos desta categoria têm em vista é construir 
um novo mundo, uma sociedade que lhes ofereça garantias que no 
continente de origem já não lhes são mais dadas” (PRADO JÚNIOR, 
2000, p. 15 apud PACHECO JÚNIOR, 2018, p. 32).
O Brasil contemporâneo vive um período no qual as privatizações, venda 
de empresas estatais, estímulo à competitividade entre a classe trabalhadora e a 
potencialização de lucros particulares estão no auge. 
Se até o final do século XX existiram políticas voltadas à melhoria das 
condições de vida do povo brasileiro, hoje nossas empresas que geram as maiores 
receitas para nosso país e que poderiam ser convertidas na resolução de problemas 
sociais graves, estão sendo vendidas para o setor privado, ou seja, o lucro produzido 
por essas instituições e que seria convertido em melhorias públicas, fica retido na 
mão de empresas ou pessoas físicas. O neoliberalismo implica em uma dinâmica 
político-social economicista, na qual a economia é sempre prioridade em relação à 
distribuição das riquezas produzidas no seio de nossa pátria.
FIGURA 12– REFLEXÃO SOBRE AS PRIVATIZAÇÕES E A VENDA CONTEMPORÂNEA DE EMPRESAS 
ESTATAIS BRASILEIRAS
FONTE: <https://outraspalavras.net/wp-content/uploads/2020/07/ASasASasAS.jpg>. 
Acesso em: 28 ago. 2020.
144
UNIDADE 3 — TEMAS DA SOCIOLOGIA BRASILEIRA
Florestan Fernandes (1975) acredita que a modernização no Brasil faz 
parte de um processo histórico intitulado revolução burguesa, que influenciou 
a construção do país sob os moldes capitalistas europeus. Embora influenciadas 
pela Europa colonizadora, a cultura e a política brasileiras foram construídas de 
maneira peculiar, considerando as tradições nativas, colonizadoras e dos escravos 
trazidos para cá.
[...] ao se apelar para a noção de ‘Revolução Burguesa’, não se pretende 
explicar o presente do Brasil pelo passado dos povos europeus. 
Indaga-se, porém, quais foram e como se manifestaram as condições 
e os fatores histórico-sociais que explicam como e porque se rompeu, 
no Brasil, com o imobilismo da ordem tradicionalista e se originou 
a modernização como processo social (FERNANDES, 1975, p. 20-21).
A formação da civilização brasileira, tal como se configura hoje foi, segundo 
Fernandes (1975), orientada à atenção das demandas senhoriais. Ou seja, nossa 
cultura, política e economia foram moldadas de acordo com as necessidades dos 
herdeiros da riqueza produzida pela colonização. O formato do Estado, tão como 
o modelo econômico, as normas sociais e a modernização se desenvolveram a 
partir da dinâmica de produção de riquezas divididas de maneira desigual, cuja 
parcela da sociedade que mais trabalhou para construir nossa sociedade recebeu 
desproporcionalmente menos do que aqueles que herdaram os meios de produção.
Enquanto veículo para a burocratização da dominação patrimonialista 
e para a realização concomitante da dominação estamental no plano 
político, tratava-se de um estado nacional organizado para servir aos 
propósitos econômicos, aos interesses sociais e aos desígnios políticos 
dos estamentos senhoriais. Enquanto fonte de garantias dos direitos 
fundamentais do “cidadão”, agência formal de organização política 
da sociedade quadro legal de integração ou funcionamento da ordem 
social, tratava-se de um Estado nacional liberal e, nesse sentido, 
“democrático” e “moderno” (FERNANDES, 1975, p. 68).
Podemos afirmar que a modernização brasileira seguiu os padrões de 
desenvolvimento proporcionados, inicialmente, pela exploração de nosso povo 
nativo e dos escravos trazidos para o Brasil por meio do tráfico negreiro. Sendo 
assim, nossa cultura, política e economia estavam, desde o início da invasão 
europeia, vinculadas ao sistema produtivo aqui estabelecido pelos colonizadores. 
Mais tarde, durante os séculos XIX e XX, a produção cafeeira brasileira 
foi a grande impulsionadora de nossa economia, trazendo avanços tecnológicos 
à agricultura, transporte e à urbanização. A partir daí, a modernização do Brasil 
avançou de maneira mais intensa, refletindo no êxodo rural, crescimento exponencial 
das cidades e suas populações. O investimento industrial que o país recebeu durante 
o século XX deu prosseguimento aos avanços tecnológicos que modificaram nossas 
relações de trabalho, produção e distribuição das riquezas aqui produzidas.
Diversos intelectuais brasileiros buscaram as raízes de nossa modernização 
em processos históricos que envolveram nosso modelo de colonização, o 
sistema produtivo aqui empregado, a exploração de nossos trabalhadores, a 
multiplicidade cultural miscigenada e diversos outros fatores. Os movimentos 
TÓPICO 2 — MODERNIZAÇÃO BRASILEIRA
145
sociais também fizeram parte de nosso processo modernizador, auxiliando na 
luta pela distribuição de nossos recursos naturais e acesso às riquezas brasileiras 
àqueles que a produzem de maneira mais direta e intensa: por meio do trabalho 
braçal nem sempre assalariado.
Outro autor cuja menção é importante, principalmente no que diz respeito 
ao tema trabalho, é Octávio Ianni que, em sua obra O Mundo do Trabalho, disserta 
acerca das principais características do mundo do trabalho contemporâneo. Para 
Ianni (1994), a dinâmica do trabalho dos dias atuais acompanha o processo de 
globalização do capitalismo que, a partir das inovações materiais e metodológicasda referida esfera, transformou não só as relações de trabalho da maioria dos 
países do Globo, mas a estrutural social de países como o Brasil.
O que caracteriza o mundo do trabalho no fim do século XX, quando 
se anuncia o século XXI, é que este tornou-se realmente global. Na 
mesma escala em que ocorre a globalização do capitalismo, verifica-
se a globalização do mundo do trabalho. No âmbito da fábrica global 
criada com a nova divisão internacional do trabalho e produção – ou 
seja, a transição do fordismo ao toyotismo e a dinamização do mercado 
mundial, amplamente favorecidas pelas tecnologias eletrônicas – 
colocam-se novas formas e significados do trabalho. São mudanças 
quantitativas e qualitativas que afetam não só os arranjos e a dinâmica 
das forças produtivas, mas também a composição e a dinâmica 
da classe operária. A própria estrutura social, em escala nacional, 
regional e mundial, é atingida pelas mudanças. Na medida em que 
a globalização do capitalismo, considerada inclusive como processo 
civilizatório, implica a formação da sociedade global, rompem-se os 
quadros sociais e mentais de referência estabelecidos com base no 
emblema da sociedade nacional (IANNI, 1994, p. 2).
A obra de Ianni é de fundamental importância para o entendimento de 
questões nacionais e internacionais, sobretudo acerca do desenvolvimento do 
capitalismo globalizado e sua influência sobre diversos aspectos sociais, inclusive 
brasileiros. Portanto, considera-se indispensável, a qualquer estudioso do Brasil 
e da América Latina, a leitura de seus estudos, que contribuíram de forma 
significativa com a Teoria Social Brasileira.
146
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• O processo de modernização brasileiro foi impulsionado pela cultura do café 
consolidada no século XIX.
• Os avanços tecnológicos iniciais no Brasil, provenientes da produção cafeeira, 
foram direcionados ao setor de transporte com a construção das primeiras 
ferrovias.
• A modernização brasileira foi potencializada com os avanços tecnológicos, 
urbanos e sociais emergentes após a Primeira Guerra Mundial.
• Diversos autores brasileiros concebem a modernização do Brasil como parte 
de um processo histórico global.
• Alguns dos intelectuais nacionais consideram que a modernidade brasileira 
está condicionada às demandas dos países colonizadores, sobretudo os 
europeus e os Estados Unidos da América.
147
1 O processo de modernização do Brasil envolve uma série de fatores 
que constituem peculiaridades em nosso desenvolvimento quando 
comparado a outros países do globo. Colonizados por europeus, 
cujo objetivo maior era a exploração dos recursos naturais aqui 
existentes. Enquanto outras partes do continente americano eram 
ocupadas com vistas à construção de uma civilização desenvolvida, 
plenamente habitável e com clima semelhante ao da Europa, nossas 
terras eram destinadas ao lucro dos senhores e descendentes 
colonizadores. Isso implicou na formação de modelos de política, 
cultura e economia moldados de forma a dar atenção às demandas 
estrangeiras, à busca pelo enriquecimento dos invasores por meio 
da exploração da mão de obra nativa e africana, intermediada 
pelo escambo e a escravidão. Considerando as particularidades da 
modernização brasileira em relação ao resto do mundo, classifique 
V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
( ) O desenvolvimento tecnológico, no Brasil, obteve grandes avanços a 
partir da agricultura que, além de receber investimentos em técnicas 
e equipamentos de produção, resultou no avanço de outros setores da 
economia brasileira.
( ) O processo de urbanização foi uma das principais consequências da 
modernização do Brasil, trazendo consigo o adensamento populacional 
dos grandes centros urbanos emergentes, sobretudo nos estados de São 
Paulo e Rio de Janeiro.
( ) As primeiras grandes estradas de ferro brasileiras foram fruto da 
modernização da produção cafeeira.
( ) O final do século XIX foi um marco da entrada das grandes multinacionais 
estadunidenses no Brasil.
( ) A troca da mão de obra escrava por mão de obra assalariada no Brasil fez 
parte do seu processo de modernização.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – V – V – V – V.
b) ( ) V – V – V – F – V. 
c) ( ) V – V – F – V – V.
d) ( ) F – V – V – V – F.
e) ( ) V – F – V – V – V.
2 A modernização brasileira, do início do século XX, foi responsável por 
inúmeros avanços tecnológicos, além de impulsionar o nascimento de 
diversos movimentos sociais de suma importância ao avanço de nossa 
sociedade. O crescimento econômico impulsionado pela cultura do café, 
principal produto voltado ao mercado exterior do referido período, foi 
um dos principais elementos que contribuíram com a modernização do 
AUTOATIVIDADE
148
Brasil. O final da Primeira Guerra Mundial e a ascensão econômica dos 
Estados Unidos da América que conquistou a hegemonia mundial nesse 
aspecto após o primeiro grande conflito global, refletiu na intensificação da 
exportação cafeeira para o mesmo país norte-americano. Considerando o 
conteúdo estudado no Tópico 2 da terceira unidade de nosso livro didático, 
analise as sentenças a seguir:
I - A produção de café brasileira, sobretudo do oeste paulista, refletiu na 
instalação da malha ferroviária em nosso país, fator que muito facilitou o 
transporte terrestre de pessoas e mercadorias no Brasil.
II - Dentre os avanços tecnológicos que a modernização brasileira 
proporcionou a algumas parcelas da população, destaca-se a transmissão 
via rádio, que revolucionou nossa comunicação.
III - A telefonia brasileira também recebeu investimentos com o advento 
do pós-guerra, ganhando seus primeiros aparelhos telefônicos que 
encurtaram as distâncias entre aquelas pessoas que podiam investir 
nesse tipo de tecnologia recém introduzida em nosso território.
IV - A imigração europeia em massa para o Brasil também constituiu 
uma importante característica do modelo de modernização de nosso 
país, influenciando na forma com a qual o país cresceu de maneira 
multicultural.
V - Dentre os movimentos sociais que surgiram a partir da modernização 
agrícola no Brasil, está o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem 
Terra, o MST, que possui, como principal objetivo, a reforma agrária de 
maneira justa entre os trabalhadores do campo.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Somente a sentença I está correta.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) Somente a sentença III está correta.
d) ( ) As sentença IV e V estão corretas.
e) ( ) As sentenças I, II, III, IV e V estão corretas.
3 Dentre alguns dos principais tributários do pensamento social brasileiro 
que trabalham, além de outros temas, com o processo de modernização de 
nosso país, estão Álvaro Vieira Pinto, Ruy Mauro Marini, Caio Prado Júnior 
e Florestan Fernandes. Esses pensadores contribuíram com os estudos 
do desenvolvimento histórico e os elementos centrais que influenciaram 
a modernidade brasileira tal como a concebemos hoje. Considerando o 
conteúdo estudado no presente tópico, faça um resumo das principais 
contribuições de cada um desses autores no que se refere ao processo de 
modernização do Brasil.
149
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Devemos ter em mente que a Sociologia Brasileira, assim como qualquer 
outro estudo, prática, trabalho ou quaisquer manifestações humanas, passou e 
passa por um processo histórico que a molda de maneira constante. Isso significa 
que o pensamento humano, por se tratar de algo fluido e integralmente em estágio 
de metamorfose, está passível a sofrer modificações ao passar dos tempos, de 
acordo com os fatores externos, materiais e imateriais que o influenciam. 
O Brasil passou por diversos momentos importantes e decisivos ao 
desenvolvimento da Sociologia, até ela se apresentar da forma que a concebemos 
contemporaneamente. O último tópico de nosso material em Sociologia Brasileira, 
encerrará nossos estudos com uma breve reconstrução da Sociologiano Brasil, 
apontando os principais eventos e o desenvolvimento do referido campo do 
saber em um passado recente. Tal temática é de fundamental importâncias, não 
só para os futuros sociólogos ou pesquisadores de áreas afins, mas para todas as 
pessoas que almejam compreender o desenrolar de nossa história e dos dias de 
hoje. Aproveite!
2 SOCIOLOGIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA: DA 
DITADURA MILITAR NO BRASIL ÀS PRINCIPAIS ABORDAGENS 
SOCIOLÓGICAS NOS DIAS ATUAIS
A década de 1960 foi decisiva em diversos aspectos da história do Brasil. 
Isso se deve, principalmente, a um evento que influenciou de maneira incisiva a 
política, a cultura, a economia, os costumes, a educação e diversos outros âmbitos 
da vida brasileira em sociedade: a instauração da ditadura militar no Brasil, 
em 1964. O regime ditatorial em território brasileiro resultou em uma série de 
retrocessos ao nosso povo. Não foi diferente em relação à educação.
Desde a década de 1930, no Brasil, existia um forte debate acerca do futuro 
da educação no país. Os Manifestos dos pioneiros da Educação Nova (1932) e dos edu-
cadores (1959) (AZEVEDO et al., 2010), publicados nos anos de 1932 e 1959, foram 
importantes documentos redigidos por educadores brasileiros com o objetivo de 
propor novas diretrizes para a educação nacional. O Manifesto dos Pioneiros da Edu-
cação Nova, escrito por 26 profissionais da educação, propôs uma nova política edu-
cacional que proporcionasse a emancipação do povo, igualdade de oportunidades 
e rompimento com os ideais políticos dominantes desde aquele período. 
TÓPICO 3 — A 
SOCIOLOGIA BRASILEIRA PÓS-1970: 
NOVOS OLHARES
150
UNIDADE 3 — TEMAS DA SOCIOLOGIA BRASILEIRA
Nós não devíamos, nem podíamos recuar diante da resistência dos 
ortodoxos, em face da extensão crescente da sociologia nos domínios 
da educação. O manifesto, em que a educação se encara como um 
processo social e se põe em relevo “o predomínio da ação que exercem 
os fatores sociais sobre os indivíduos”, acusa, certamente, na base e no 
desenvolvimento de seus princípios e de seu plano, uma consciência 
profunda das transformações que o poder crescente da indústria 
e do comércio impõe aos espíritos como às coisas, e, portanto, “o 
ponto de vista sociológico”, que considera um fato de estrutura social 
as transformações consequentes no sentido e na organização das 
instituições pedagógicas. É desse ponto de vista sociológico que aí se 
estuda a posição atual do problema dos fins de educação; é ele que 
nos fez encarar a educação como “uma adaptação ao meio social”, um 
processo pelo qual o indivíduo “se penetra da civilização ambiente”; é 
ele ainda que nos levou a compreender e a definir a posição da escola 
no conjunto das influências cuja ação se exerce sobre o indivíduo, 
envolvendo-o do berço ao túmulo (AZEVEDO et al., 2010, p. 26-27).
Podemos afirmar que, da década de 1930 ao final da década de 1950, os 
debates acerca de uma educação mais igualitária, libertadora e com grande potencial 
de transformação social estavam acalorados. Os intelectuais da época, tão como as 
forças dominantes, tinham plena consciência do poder transformador e libertador 
da Educação. Sendo assim, o conflito de interesses entre essas duas classes que, de 
um lado prezava pela libertação de nosso povo por meio da educação e de outro 
resistia em nome da exploração de nosso trabalho, intensificou-se.
Os anos 1960 foram decisivos para a imposição do modelo educacional 
considerado ideal pela classe dominadora. A Ditadura Militar deflagrada em 
1964, trouxe consigo uma dura reforma no modelo educacional nacional. O 
primeiro governador ditatorial do Brasil foi Castello Branco (1964-1967), cuja 
primeira medida promulgada por meio de um primeiro Ato Institucional (AI-1), 
foi a reforma universitária. Uma das primeiras políticas universitárias instituídas 
por Castello Branco foi o alinhamento dos professores universitários brasileiros 
com estadunidenses. Tratava-se do acordo MEC USAID (United States Agency for 
International Development). A sigla USAID traduzida para o português é Agência 
dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional. 
Os anos 1950 e 1960 foram marcados por um intenso debate sobre a 
educação brasileira. Muitos intelectuais e movimentos sociais formularam propostas para a 
organização de um sistema nacional de ensino mais democrático e popular, que superasse 
as desigualdades socioculturais, formasse cidadãos consciente de seus direitos e preparados 
para desafios econômicos. O Brasil era considerado uma pátria “mal-educada”, com índices 
de analfabetismo alarmantes. A polarização política que antecedeu ao golpe de 1964 
também atingiu a educação. A sociedade brasileira fervilhava com projetos educacionais 
humanistas e inovadores que, mais tarde, sofreram diretamente os impactos da repressão.
FONTE: <http://memoriasdaditadura.org.br/livros-sob-censura/>. Acesso em: 29 ago. 2020.
ATENCAO
TÓPICO 3 — A SOCIOLOGIA BRASILEIRA PÓS-1970: NOVOS OLHARES
151
Os encontros dos profissionais da educação superior brasileira com os 
técnicos estadunidenses, resultaram na produção do Relatório Meira Matos, 
nome do coronel do exército que o redigiu, orientando a reforma universitária e 
do ensino fundamental em nosso país. 
Em âmbito universitário, a medida fundamental imposta pelos militares 
era a redução dos custos com os estudantes. Ou seja, o referido relatório estabelecia 
o enxugamento dos recursos destinados à educação superior pública a fim de não 
comprometer os demais orçamentos do ministério da educação. 
FIGURA 13 – REFLEXÃO ACERCA DAS REPRESSÕES CONTRA A EDUCAÇÃO E A REFORMA 
UNIVERSITÁRIA INSTITUÍDA PELO REGIME MILITAR NO BRASIL
FONTE: <https://s1.static.brasilescola.uol.com.br/be/conteudo/images/dm10(1).jpg>. 
Acesso em: 29 ago. 2020.
A fim de melhor compreendermos os acontecimentos que interferiram na 
dinâmica educacional brasileira do período militar, sugerimos que assista ao documentário 
Educação na Ditadura: a marca da repressão, disponível na plataforma YouTube, por meio 
do endereço: https://www.youtube.com/watch?v=YqDgaGNDads&ab_channel=UNIVESP. 
Nele temos acesso a uma série de entrevistas com especialistas sobre o assunto, que 
remontam as principais mudanças e retrocessos que a ditadura militar brasileira provocou 
ao modelo educacional do país. 
DICAS
Rosa, Ribeiro Júnior e Torres (2018) identificam em sua obra uma tendência 
à adoção de métodos educacionais estadunidenses em escolas brasileiras, 
semelhante ao que ocorreu durante o regime militar brasileiro. Esse fato evidencia 
que o modelo educacional implementado durante a ditadura militar ainda possui 
resquícios na educação contemporânea. 
152
UNIDADE 3 — TEMAS DA SOCIOLOGIA BRASILEIRA
O ponto que mais chama a atenção na tentativa de implementação de 
políticas educacionais estrangeiras, principalmente estadunidenses, revela 
o despreparo ou, até mesmo, a falta de interesse e nosso corpo político em 
uma educação libertadora para o nosso povo. Uma educação desconectada 
de nossa realidade material e nossa cultura, representa um grande perigo ao 
desenvolvimento de nosso povo, que fica à mercê das demandas políticas e 
econômicas de países imperialistas. A perseguição aos ideais marxistas, que 
se contrapunham à exploração do trabalho, à desigualdade e à miséria a qual 
é submetido nosso povo, foi um dos fatores que mais influenciaram os moldes 
educacionais brasileiros durante a ditadura militar. 
A educação superior foi a mais lesada com essa disputa ideológica que 
resultou em censuras de obras de diversas naturezas, destruição de acervos 
inteiros de livros, perseguição, exílio, tortura e morte de intelectuais, dentre uma 
infinidade de outras barbaridades cometidas pelos militares em solo brasileiro. 
O regime militar foi responsável por muitas modificações nas diretrizes 
básicas da educação brasileira. A Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971, marca um 
momento de inserção da ideologia dos ditadores por meio da educação pública.Um dos artigos dessa legislação educacional, implementada no início 
da década de 1970, propõe o ensino de novas disciplinas como Educação Moral 
e Cívica, Educação Física, Educação Artística e Programas de Saúde como 
instrumentos de doutrinação a favor dos interesses dos dominadores. Observe: 
Art. 7º Será obrigatória a inclusão de Educação Moral e Cívica, 
Educação Física, Educação Artística e Programas de Saúde nos 
currículos plenos dos estabelecimentos de lº e 2º graus, observado 
quanto à primeira o disposto no Decreto-Lei n. 369, de 12 de setembro 
de 1969. (Vide Decreto nº 69.450, de 1971) (BRASIL, 1971).
Livros são fundamentais para a formação cultural e política da população, para 
a preservação da memória dos povos, além de serem essenciais para a educação. O regime 
militar brasileiro impôs a censura contra livros que considerava perigosos, subversivos ou 
imorais. Nessa sessão, você conhecerá uma “biblioteca proibida” de livros censurados 
e saberá o que os censores escreviam sobre essas obras. Ao mesmo tempo, a ditadura 
sustentou a modernização de grandes grupos editoriais, favorecendo a concentração do 
poder econômico nas mãos de poucos empresários. Mas para os militares, censurar os 
livros não era suficiente: era preciso incentivar uma modernização editorial com controle 
político rígido. Essa ação se fez com o apoio à indústria gráfica e à produção de papel, além 
da criação de programas governamentais de compra de livros escolares, que favoreceram 
determinadas empresas e difundiram manuais alinhados com os valores conservadores. 
FONTE: http://memoriasdaditadura.org.br/livros-sob-censura/ Acesso em: 29 ago. 2020.
IMPORTANT
E
TÓPICO 3 — A SOCIOLOGIA BRASILEIRA PÓS-1970: NOVOS OLHARES
153
A introdução dessas novas disciplinas foi acompanhada do deslocamento das 
disciplinas de Filosofia e Sociologia. Isso se deve ao fato de que os principais nomes 
tributários de tais campos do saber, que outrora tinham seus conteúdos lecionados de 
maneira obrigatória nas escolas públicas brasileiras, eram considerados subversivos 
à ideologia dos ditadores daquele período sombrio, violento e opressivo pelo qual o 
Brasil passou ao ser submetido ao governo militar compulsório.
FIGURA 14 – MANIFESTO ESTUDANTIL BRASILEIRO
FONTE: <https://cutt.ly/7gYvDVs>. Acesso em: 30 ago. 2020.
 
Da década de 1940 até a de 1970, a Sociologia conseguiu alcançar um nível 
de institucionalização mais avançado em todo o mundo. Tal processo implicou 
em um grau maior de formalização da disciplina dentro e fora das universidades. 
Isso quer dizer que a Sociologia recebeu maior atenção em diversas partes 
do mundo, sendo concebida como um campo independente do conhecimento em 
vários países. Até então, os estudos sociológicos haviam alcançado um momento de 
maior cientificidade e desprendimento de ideologias em relação aos períodos ante-
riores. Ou seja, nascia uma ciência livre de utilitarismos e voltada muito mais à com-
preensão dos fenômenos sociais do que a busca pelo enriquecimento, por exemplo.
Em síntese, entre 1940 e 1970 a sociologia parecia estar assentada 
sobre bases sólidas. Predominou neste contexto uma preocupação 
de identificar e defender um paradigma teórico particular que 
consubstanciasse os princípios básicos da epistemologia sociológica. 
Embora não fosse consensual, havia por parte de muitos sociólogos 
um acordo tácito de que os princípios morfológicos básicos sobre os 
quais assentavam cientificamente o entendimento do mundo social – o 
grau de generalizações abstratas e universais, tanto a nível conceitual 
quanto metodológico – já estavam construídos ou parcialmente 
construídos. Nessa perspectiva, a sociologia estava entrando 
finalmente nos “eixos”, isto é, em processo de rigorosa delimitação 
do seu campo científico, cuja plena consolidação poderia estabelecer 
mútuas conexões entre as diferentes orientações teóricas existentes. 
A sociologia marchava a largos passos para finalmente atingir um 
estágio tão desejado de maior maturidade científica: desvincular-se 
definitivamente das tradições filosóficas e ideológicas. A vitória do 
sonho comtiano [...] (ALVES, 2010, p. 18-19).
154
UNIDADE 3 — TEMAS DA SOCIOLOGIA BRASILEIRA
A partir da década de 1970, o Brasil viveu a chamada Crise da Sociologia. 
O regime militar brasileiro foi um dos principais fatores que contribuíram para a 
emergência dessa crise. 
O choque cultural vivenciado no Brasil dos anos 1960 e a intervenção dos 
militares na política foram fatores que contribuíram com o declínio da Sociologia, 
considerada, dentre outros campos do saber, uma disciplina subversiva em 
relação aos preceitos dominantes. 
Em outras palavras, a Sociologia representava uma ameaça à ordem 
instaurada pelo regime ditatorial. Sendo assim, o governo dos militares instaurou 
uma série de reformas ao ensino da Sociologia, sobretudo o ensino universitário, 
adequando-o aos interesses capitalistas voltados ao crescimento econômico e 
alinhando seus métodos aos difundidos pela maioria das potências econômicas 
do mundo: os Estados Unidos da América. 
A chamada crise da sociologia dos anos 1970 é um fenômeno complexo, 
pois abarcou aspectos muitos diferentes do universo intelectual, 
social e político do mundo ocidental. Embora os estudos sobre esse 
período se utilizem de diferentes perspectivas interpretativas (Marsal, 
1977; Picó, 2003), há um certo consenso de que a “crise” da sociologia 
desse período foi decorrente de mudanças culturais e de valores 
desenvolvidos pelos diversos movimentos sociais ocorridos na década 
de 1960. Muitos desses movimentos assinalavam para uma “revolução 
cultural” plasmada pelas transformações das condições materiais, de 
estilos de vida, de liberdades pessoais, explicitando os desajustes entre 
a estrutura institucional da sociedade civil (como a universidade) e 
uma educação mais permissiva e democrática. Exemplo significativo é 
a “revolta estudantil” dos anos 1960 que, para a constituição do campo 
sociológico, foi uma das mais expressivas, pois, entre outros aspectos, 
colocou em questão a qualidade do ensino, a estreiteza das estruturas 
científicas, a deterioração das funções universitárias e o predomínio 
da sociedade tecnocrática (ALVES, 2010, p. 19).
O ensino dos anos 1970 passava a receber fomento estrangeiro, ou seja, 
incentivos financeiros por parte de outros países, principalmente os Estados 
Unidos, para que seus objetos de investigação estivessem muito mais voltados ao 
crescimento econômico daquele país do que quaisquer outros temas. 
A Sociologia estava perdendo seu caráter filosófico, as reflexões 
incentivadas pelos financiadores de nossas pesquisas, estavam muito mais 
interessados na produção de riquezas do que no avanço intelectual do ser humano.
Nesse contexto, a sociologia objeto de ataque: pela sua colaboração com 
os planos reformistas; pela sua identificação com a teoria funcionalista 
americana; pelo seu “sociologismo” e fechamento às indagações filosóficas; 
pelo seu caráter nomotético e uni-paradigmático. Além do mais, a nível 
teórico, os movimentos sociais levantaram questões importantes. Uma 
delas é referente à história: são os atores sociais que constituem o sujeito 
da história ou a história é dotada de uma lógica imanente, constituindo 
um processo sem sujeito? (ALVES, 2010, p. 19-20).
TÓPICO 3 — A SOCIOLOGIA BRASILEIRA PÓS-1970: NOVOS OLHARES
155
Até os anos 1970, as Ciências Sociais foram forjadas de forma a atender 
aos interesses reformistas dos militares no Brasil. Já, durante as décadas de 1970 
e 1980, a Sociologia passa por transformações e retornam, em certa medida, aos 
seus moldes mais voltados ao entendimento da sociedade e seus fenômenos, 
desprendendo-se dos interesses estritamente dominadores e economicistas 
de tempos de ditadura. Sendo assim, a Sociologia retoma seu fluxo evolutivo, 
de maneira limitada, devido aos mandos e desmandos dos militares em nosso 
território, porém, retomando aos objetos de estudo anteriores e lançando mãode novas pesquisas. Sobre a manipulação das Ciências Sociais dos anos 1960 até 
1970, Alves (2010, p. 28) afere que:
Essa situação sofre mudanças substanciais a partir das décadas de 1970 
e 1980. Com o relativo declínio do funcionalismo nos Estados Unidos 
e do estruturalismo na Europa, aparecem ou emergem orientações 
teóricas novas ou parcialmente excluídas do panteão acadêmico. Digno 
de nota é a preocupação que os teóricos passam a ter pela integração das 
dicotomias estabelecidas nas ciências sociais. Há um renovado retorno 
aos seus clássicos, novas propostas de sínteses teóricas são formuladas 
e, inevitavelmente, ressurge a preocupação com a metateorização, isto é, 
pelo questionamento das estruturas subjacentes à teoria. O movimento 
autoreflexivo, que os cientistas sociais passam a demonstrar, fez com 
que houvesse um retorno à filosofia. Autores mais alinhados com a 
filosofia do que propriamente com a sociologia – como Schutz, Merleau-
Ponty, Paul Ricoeur, Michel Serres, Foucault, Habermas, Charles Taylor 
e Castoriadis – fazem usualmente parte nos programas das disciplinas 
sociológicas. Por outro lado, cientistas como Bourdieu, Giddens, 
Luhmann, Jeffrey Alexander escrevem artigos de caráter eminentemente 
filosófico. Nesse contexto, a teoria da ação social recebe novo impulso, 
resultando na expansão do campo conceitual das ciências sociais e, com 
isso, inaugurando novas problemáticas.
A Sociologia Brasileira passa, a partir das décadas de 1970 e 1980, a receber 
maiores influências de autores, sobretudo europeus, que realizavam abordagens 
mais voltada à questão das subjetividades, liberdades individuais entre outras. 
Além disso, emerge uma interdisciplinaridade no interior da Sociologia que 
transcende o espaço, até mesmo, das Ciências Humanas. Estariam inseridas nos 
estudos sociológicos, com cada vez mais frequência, problemáticas que adentram 
temas mais comumente abordados nas Ciências da Natureza, Filosofia, Medicina 
dentre outras áreas do conhecimento humano.
No presente trabalho, procuramos refletir sobre dois pontos. O 
primeiro refere-se ao processo de transformação da sociologia iniciado 
nas décadas de 1970 e 1980. Observamos que as ciências sociais (e 
com elas, a sociologia) perderam a relativa uniformidade disciplinar. 
Mais especificamente, houve uma diminuição do nível de consenso 
em torno das linhas de demarcação entre as ciências, sem que com 
isso tenha se eliminado a disciplinarização. A sociologia tem cada vez 
mais assumido um caráter multidisciplinar. Como resultado desse 
processo – e aí talvez esteja a grande novidade das ciências sociais 
contemporâneas – é o estabelecimento da reconciliação e novas 
alianças entre posições até então tidas como antinômicas entre ciências 
da natureza, ciências humanas e filosofia. As novas configurações que 
emergem das pesquisas em curso são usualmente atravessadas por 
polaridades múltiplas (ALVES, 2010, p. 28).
156
UNIDADE 3 — TEMAS DA SOCIOLOGIA BRASILEIRA
FIGURA 15 - REFLEXÃO SOBRE A REPRESSÃO AOS INTERESSES ESTUDANTIS CONSIDERADOS 
SUBVERSIVOS PELO REGIME MILITAR BRASILEIRO
FONTE: <https://static.poder360.com.br/2018/12/Top-Midia-1-868x644.jpg>. 
Acesso em: 30 ago. 2020.
A Sociologia Brasileira contemporânea está em seu ponto culminante, em 
termos de abordagens. Nunca se estudou a multiplicidade de temas como hoje. A 
Sociologia, hoje, transcende o campo estritamente sociológico do saber, adentrando 
as mais diversas áreas do conhecimento, uma vez que quase todo fenômeno, ou 
objeto da realidade, pode influenciar a sociedade e, consequentemente, a maneira 
com a qual vivemos. 
Feita a ressalva, podemos dizer que, partindo das discussões 
genéricas, da divulgação e das “teorias gerais do Brasil”, a Sociologia 
se configurou afinal entre nós como disciplina caracterizada, embora 
sincrética, praticada cada vez mais por especialistas. Hoje é possível 
a formação adequada do sociólogo entre nós, devido à organização 
do ensino, relativa densidade do meio científico e solicitação 
crescente da sociedade, em fase de grande progresso técnico e 
consequente racionalização nos setores administrativo, assistencial e 
de planejamento. É fora de dúvida que a sociologia brasileira já existe 
como bloco, o que se verifica pela posição internacional que vem 
adquirindo aos poucos. Até aqui, projetava-se fora do país este ou 
aquele sociólogo, destacado como exceção graças ao mérito pessoal; 
hoje, sem prejuízo disso, é a nossa sociologia que começa a projetar-se 
em conjunto (CANDIDO, 2006, p. 301).
O trecho anterior reflete sobre o recente despertar do interesse do 
estabelecimento de uma Sociologia do Brasil e a formação de um ponto de vista 
sociológico legitimamente brasileiro. Assumir uma abordagem mais brasileira 
significa nos aproximarmos ainda mais de nossa realidade, afinal, o Brasil é 
um país de sociedade com inúmeras peculiaridades em relação ao resto do 
mundo. Aprender sobre a dinâmica social brasileira é de suma importância, 
principalmente para os pesquisadores, militantes, políticos e outros profissionais 
que almejam direcionar seus trabalhos à melhoria de nossa sociedade. Hoje 
observamos uma grande demanda por estudos sociais e políticos, tendo em vista 
a multiplicidade de crises que vivemos hodiernamente. Os novos movimentos 
sociais despertam, a cada dia que passa, o interesse por temáticas sociológicas que 
TÓPICO 3 — A SOCIOLOGIA BRASILEIRA PÓS-1970: NOVOS OLHARES
157
auxiliam no processo de libertação de nosso povo, na ampliação das liberdades 
individuais, no combate à miséria e à violência, dentre outras inúmeras possíveis 
intervenções. Os estudos sociais brasileiros e latino-americanos podem nos servir 
de ferramentas utilizadas a favor da mudança de paradigmas que dificultam o 
desenvolvimento da humanidade, tanto daqui, como de todo o Planeta.
O Brasil é um país que possui potencial para sustentar e alavancar o 
desenvolvimento humano durante muito tempo. Isso se deve ao fato de que 
nosso país possui uma vasta bacia hidrográfica, grande remanescente da Floresta 
Amazônica, muitos recursos minerais e muitos outros. Devido à crescente 
exploração irracional de tal riqueza, sobretudo durante os últimos governos 
brasileiros, estamos correndo o risco de perder tudo isso devido à má gestão do país 
por parte de governantes despreparados e políticas voltadas ao enriquecimento 
de uma minoria de pessoas. Sendo assim, é dever de todo o indivíduo e coletivo 
que almeja melhores condições de vida para os seres humanos, estudar nossa 
história e conjuntura política e social.
FIGURA 16 – PINTURA DE JOAQUÍN TORRES GARCÍA QUE REPRESENTA A IMPORTÂNCIA DA 
AMÉRICA DO SUL PARA OS SERES HUMANOS
FONTE: <https://iberoamericasocial.com/wp-content/uploads/2018/04/America-Invertida.jpg>. 
Acesso em: 30 ago. 2020.
A Teoria da Dependência da América Latina foi um esforço intelectual 
de diversos pensadores latino-americanos que, trabalhando conjuntamente, 
elaboraram a tese de que:
158
UNIDADE 3 — TEMAS DA SOCIOLOGIA BRASILEIRA
Se a teoria do desenvolvimento e do subdesenvolvimento eram o 
resultado da superação do domínio colonial e do aparecimento de 
burguesias locais desejosas de encontrar o seu caminho de participação 
na expansão do capitalismo mundial; a teoria da dependência, surgida 
na segunda metade da década de 1960, representou um esforço crítico 
para compreender a limitações de um desenvolvimento iniciado num 
período histórico em que a economia mundial estava já constituída 
sob a hegemonia de enormes grupos econômicos e poderosas forças 
imperialistas, mesmo quando uma parte delas entrava em crise e abria 
oportunidade para o processo de descolonização (SANTOS, 2020, p. 18).
Outro tributário da Teoria da Dependência é Ruy Mauro Marini (2011) que, 
em sua obra, reflete dentre outros aspectos da dependência latino-americana, a 
crise do socialismo europeu, a revolução técnico científica e a ascensão da doutrina 
neoliberal, que boicotaram com os ideais e as políticas emancipadorasemergentes 
na América Latina do século XX. Conforme o autor, a economia de mercado 
impõe, contemporaneamente, políticas que perpetuam o subdesenvolvimento 
desses países, fundamentais à expansão e manutenção do capitalismo moderno.
A crise do socialismo europeu, a revolução técnico-científica e a 
difusão da doutrina neoliberal puseram em xeque, nos anos de 1980, 
os pontos de referência que se valiam os meios políticos e intelectuais 
mais progressistas da América Latina para pensar o futuro da região: 
os conceitos de desenvolvimento e de dependência. Seu lugar é 
ocupado hoje por palavras de ordem, entre os quais se destacam a 
economia de mercado, a inserção n processo mundial de globalização 
e a redução do Estado (MARINI, 2011, p. 213).
André Gunder Frank é outro pensador que contribuiu com a Teoria da 
Dependência. Dentre outras contribuições, Frank (2005) contextualiza a formação 
do Brasil como resultado de forças mercantis capitalistas globais. 
O autor também é tributário da ideia de que as condições de 
desenvolvimento de nosso país fazem parte da natureza do sistema sócio-político-
econômico capitalista, que produz a própria condição de desenvolvimento e 
subdesenvolvimento dos países que fazem parte dessa trama.
O Brasil, em seu conjunto, por mais feudais que suas características 
possam parecer, deve sua formação e sua natureza atual à expansão 
e ao desenvolvimento de um único sistema mercantil-capitalista que 
alcança (hoje com exceção dos países socialistas) o mundo inteiro. [...] 
este sistema capitalista, em todo tempo e lugar – e é de sua natureza 
que assim seja –, produz desenvolvimento e subdesenvolvimento. 
Um é tão produto do sistema “capitalista” como o outro. [...] Chamar 
“capitalista” ao desenvolvimento e atribuir o subdesenvolvimento ao 
“feudalismo” é uma incompreensão séria que conduz aos mais graves 
erros políticos (FRANK, 2005, p. 58).
Vânia Bambirra é uma intelectual brasileira que também fez parte do 
processo de desenvolvimento da Teoria da Dependência. Em uma entrevista, 
a autora marxista conta um pouco da trajetória do grupo de pensadores que 
compuseram essa importante teoria que nos ajuda a compreender o processo 
TÓPICO 3 — A SOCIOLOGIA BRASILEIRA PÓS-1970: NOVOS OLHARES
159
histórico pelo qual o Brasil esteve e está inserido. A partir da compreensão de tal 
processo histórico é possível entender melhor as condições de desenvolvimento 
de nosso país, condições que podem ajudar a explicar nossas disparidades sociais.
E a gente então começou, era um grupo grande, era muita gente 
envolvida... nós começamos [a estudar O Capital [...] fomos interrompidos 
pelo golpe [...] A ideia da teoria da dependência não tinha desabrochado. 
Claro que nas teses da Polop já havia, já se percebia, já estava anotado 
que as burguesias nacionais eram vinculadas ao imperialismo, a ideia 
da classe dominante dominada, que a gente vai desenvolver depois 
no Chile... Eu me lembro que você me perguntou pelo telefone... se 
por acaso a teoria da dependência tinha surgido na UnB. Eu digo que 
não, que realmente ela desabrochou, a equipe mesmo... foi composta 
na Faculdade de Economia da Universidade do Chile e no Centro de 
Estudios Socio-Económico (Ceso) (BAMBIRRA, 2013, p. 32).
O ex-presidente da República brasileira, Fernando Henrique Cardoso, é 
um grande sociólogo adepto da Teoria da Dependência que acredita que a solução 
da maioria de nossos problemas sociais seria uma mudança política radical. O 
autor acredita que uma das vias transformadoras de nossas condições de pobreza 
e desigualdade se manifestaria sob a forma de uma revolução socialista.
As alternativas que se apresentariam, excluindo-se a abertura do 
mercado interno para fora, isto é, para os capitais estrangeiros, 
seriam todas inconsistentes, como o são na realidade, salvo se se 
admite a hipótese de uma mudança política radical para o socialismo 
(CARDOSO; FALETTO, 1977, p. 120).
O estudo dos autores mencionados anteriormente e suas respectivas teorias 
são de fundamental importância no que tange ao conhecimento da dinâmica social 
brasileira, sobretudo acerca do processo histórico no qual o Brasil está inserido e 
que resultou nas desigualdades que vivemos contemporaneamente. 
A Teoria da Dependência é uma das grandes teorias sobre o 
desenvolvimento e subdesenvolvimento dos países que compõem a América 
Latina, portanto, cabe reforçarmos nossa compreensão do referido tema com uma 
leitura complementar de um dos grandes tributários desse pensamento.
160
UNIDADE 3 — TEMAS DA SOCIOLOGIA BRASILEIRA
SUBDESENVOLVIMENTO E REVOLUÇÃO
Ruy Mauro Mariani
A história do subdesenvolvimento latino-americano é a história do desen-
volvimento do sistema capitalista mundial. Seu estudo é indispensável para quem 
deseje compreender a situação que este sistema enfrenta atualmente e as perspecti-
vas que a ele se abrem. Inversamente, apenas a compreensão segura da evolução da 
economia capitalista mundial e dos mecanismos que a caracterizam proporciona o 
marco adequado para situar e analisar a problemática da América Latina.
As simplificações nas quais, por sua limitação natural, este trabalho possa 
incorrer não devem fazer o leitor esquecer esta premissa fundamental.
A vinculação ao mercado mundial
A América Latina surge como tal ao se incorporar no sistema capitalista 
em formação, isto é, no momento da expansão mercantilista europeia do século 
XVI. A decadência dos países ibéricos, que primeiro se apossaram dos territórios 
americanos, engendra aqui situações conflitivas, derivadas dos avanços das 
demais potências europeias. É a Inglaterra, mediante sua dominação imposta 
sobre Portugal e Espanha, que finalmente prevalece no controle e na exploração 
desses territórios.
No decorrer dos três primeiros quartos do século XIX, e concomitantemente 
à afirmação definitiva do capitalismo industrial na Europa – principalmente na 
Inglaterra –, a região latino-americana é chamada a uma participação mais ativa no 
mercado mundial, como produtora de matérias-primas e como consumidora de uma 
parte da produção leve europeia. A ruptura do monopólio colonial ibérico se torna 
então uma necessidade e, com isso, desencadeia-se o processo de independência 
política, cujo ciclo termina praticamente ao final do primeiro quarto do século XIX, 
dando como resultado as fronteiras nacionais em geral ainda vigentes em nossos 
dias. A partir desse momento se dá a integração dinâmica dos novos países ao 
mercado mundial, assumindo duas modalidades que correspondem às condições 
reais de cada país para realizar tal integração e às transformações que esta vai 
sofrendo em função do avanço da industrialização nos países centrais.
Assim, num primeiro momento, os países que respondem mais 
prontamente às exigências da demanda internacional são aqueles que apresentam 
certa infraestrutura econômica, desenvolvida na fase colonial, e que se mostram 
capazes de criar condições políticas relativamente estáveis. Chile, Brasil e, pouco 
depois, Argentina aumentam sensivelmente neste período seu comércio com as 
metrópoles europeias, baseado na exportação de alimentos e matérias-primas 
como cereais, cobre, açúcar, café, carnes, couro e lã. 
LEITURA COMPLEMENTAR
TÓPICO 3 — A SOCIOLOGIA BRASILEIRA PÓS-1970: NOVOS OLHARES
161
Paralelamente, utilizando inclusive o crédito oferecido pela Inglaterra, 
aumentam suas importações de bens de consumo não duráveis e dão início à 
construção de um sistema de transporte, através de obras portuárias e das 
primeiras ferrovias, abrindo assim um mercado complementar à incipiente 
produção pesada europeia.
A partir de 1875 certas mudanças no capitalismo internacional se fazem 
sentir. Novas potências se projetam para o exterior, em especial a Alemanha e os 
Estados Unidos, e este último país começa a instaurar uma política própria no 
continente americano, muitas vezes em choque com os interesses britânicos. No 
próprio campo do comércio, a influência estadunidense é considerável, tornandoperceptível em alguns países, principalmente no Brasil, a tendência a direcionar 
suas exportações para a nova potência do norte.
Nos países centrais, por sua vez, aumenta o desenvolvimento da indústria 
pesada, com a tecnologia que lhe corresponde, e a economia se orienta a uma 
maior concentração das unidades produtivas, dando lugar ao surgimento dos 
monopólios. Esses traços, gerados pela acumulação capitalista realizada nas 
etapas anteriores, aceleram o processo e forçam o capital a buscar campos 
de aplicação fora das fronteiras nacionais, mediante empréstimos públicos e 
privados, financiamentos, aplicação em ações e, em menor medida, investimentos 
diretos. Portanto, diferentemente dos créditos externos utilizados antes e que 
correspondiam a operações comerciais compensatórias, a função que assume agora 
o capital estrangeiro na América Latina é subtrair abertamente uma parte da mais-
valia criada dentro de cada economia nacional, o que aumenta a concentração do 
capital nas economias centrais e alimenta o processo de expansão imperialista.
Em parte pelo efeito multiplicador da infraestrutura de transportes e pelo 
afluxo de capital estrangeiro, mas principalmente devido à aceleração do processo 
de industrialização e urbanização nos países centrais, que infla a demanda mundial 
de matérias-primas e alimentos, a economia exportadora latino-americana 
conhece um auge sem precedentes. Esse auge está, no entanto, marcado por um 
aprofundamento de sua dependência frente aos países industriais, a tal ponto 
que os novos países que se vinculam de maneira dinâmica ao mercado mundial 
desenvolvem uma modalidade particular de integração.
Efetivamente, o desenvolvimento do principal setor de exportação 
tende, nos países dependentes, a ser assegurado pelo capital estrangeiro através 
de investimentos diretos, deixando às classes dominantes nacionais o controle 
de atividades secundárias de exportação ou a exploração do mercado interno. 
Mesmo os países que haviam se integrado de forma dinâmica à economia 
capitalista em sua fase anterior veem seu principal produto de exportação cair 
nas mãos do capital estrangeiro - como é o caso do Chile, primeiro com o salitre e 
logo com o cobre, ou da Argentina com os frigoríficos e do Brasil com o controle 
da exportação de café.
162
UNIDADE 3 — TEMAS DA SOCIOLOGIA BRASILEIRA
Ainda que não transforme fundamentalmente o princípio sobre o qual se 
assenta a economia dependente latino-americana, esse processo tem implicações 
de certo alcance. De fato, em contraste com o que ocorre nos países capitalistas 
centrais, onde a atividade econômica está subordinada à relação existente entre 
as taxas internas de mais-valia e de investimento, nos países dependentes o 
mecanismo econômico básico provém da relação exportação-importação, de 
modo que, mesmo que seja obtida no interior da economia, a mais-valia se realiza 
na esfera do mercado externo, mediante a atividade de exportação, e se traduz em 
rendas que se aplicam, em sua maior parte, nas importações. A diferença entre 
o valor das exportações e das importações, ou seja, o excedente passível de ser 
investido, sofre, portanto, a ação direta de fatores externos à economia nacional.
Contudo, nos países em que a atividade principal de exportação está sob 
o controle das classes dominantes locais existe uma certa autonomia das decisões 
de investimento – condicionada, evidentemente, pela dependência da economia 
frente ao mercado mundial. Em geral, o excedente é aplicado no setor mais rentável 
da economia, que é precisamente a atividade de exportação que mais excedente 
produziu (o que explica a afirmação sobre a tendência à monoprodução); porém, 
para atender o consumo das camadas da população que não têm acesso aos bens 
importados, ou então como defesa contra as crises cíclicas que afetam regularmente 
as economias centrais, parte do excedente se orienta também para atividades 
vinculadas ao mercado interno. Por isso, em alguns países – como a Argentina, 
o Brasil ou o Uruguai –, ao lado de uma indústria vinculada essencialmente à 
exportação (frigorífico, moinhos etc.), desenvolve-se uma indústria leve que 
produz para o mercado interno, indo além do nível artesanal e dando lugar, 
progressivamente, à implementação de núcleos fabris de relativa importância.
E diferente a situação dos países em que a principal atividade de exportação 
se encontra nas mãos de capitalistas estrangeiros. A mais-valia colhida na esfera 
do comércio mundial pertence a capitalistas estrangeiros, e apenas uma parte 
dela – cuja magnitude varia de acordo com o poder de barganha de cada setor – 
passa à economia nacional através de tributos e impostos pagos ao Estado. Daqui 
se derivam duas consequências: redistribuída às classes dominantes locais – que 
por isso disputam o controle do Estado –, essa parte da mais-valia se converte em 
demanda de bens importados, reduzindo consideravelmente o excedente passível 
de ser reinvestido; do mesmo modo, a parte da mais-valia que permanece em mãos 
do capitalista estrangeiro somente é investida no país se as condições da economia 
central assim exigirem. Partes substanciais da mais-valia são subtraídas do país 
através da exportação de lucros e, nos ciclos de depressão na metrópole, ela é 
transferida integralmente.
Deste modo, com maior ou menor grau de dependência, a economia 
que se cria nos países latino-americanos, ao longo do século XIX e nas primeiras 
décadas do seguinte, é uma economia exportadora, especializada na produção 
de alguns poucos bens primários. Uma parte variável da mais-valia que aqui se 
produz é drenada para as economias centrais, pela estrutura de preços vigente 
no mercado mundial, pelas práticas financeiras impostas por essas economias ou 
pela da ação direta dos investidores estrangeiros no campo da produção.
TÓPICO 3 — A SOCIOLOGIA BRASILEIRA PÓS-1970: NOVOS OLHARES
163
As classes dominantes locais tratam de se ressarcir desta perda aumentando 
o valor absoluto da mais-valia criada pelos trabalhadores agrícolas ou mineiros, 
submetendo-os a um processo de superexploração. A superexploração do trabalho 
constitui, portanto, o princípio fundamental da economia subdesenvolvida, com 
tudo que isso implica em matéria de baixos salários, falta de oportunidades de 
emprego, analfabetismo, subnutrição e repressão policial.
A integração imperialista dos sistemas de produção
A consolidação do imperialismo como forma dominante do capitalismo 
internacional não ocorre de forma tranquila. No curso de sua evolução terá que 
passar por um período extremamente difícil, que se abre com a guerra de partilha 
colonial de 1914, avança com a desorganização imposta ao mercado mundial 
pela crise de 1929 e culmina com a guerra pela hegemonia mundial de 1939. A 
economia que emerge deste processo reestabelece a tendência integradora do 
imperialismo, mas agora em nível mais alto do que o anterior, na medida em que 
consolida definitivamente a integração na esfera do mercado e impulsiona a etapa 
da integração dos sistemas de produção compreendidos em seu raio de ação.
Em seu aspecto mais global, este processo dá lugar a tendências 
contraditórias. Por um lado, reforça o sistema imperialista, conformando um centro 
hegemônico de poder – os Estados Unidos – que impulsiona e coordena a integração, 
garantindo-a com seu poder militar. Por outro lado, conduz ao surgimento de um 
campo de forças opostas; o campo socialista, que nasce e se desenvolve no fogo dos 
conflitos engendrados pela própria integração imperialista.
Dada a limitação deste ensaio à análise do que acontece no interior 
do sistema imperialista, não podemos aprofundar o estudo dos fenômenos 
específicos que se verificam nas economias centrais. Assinalemos apenas que o 
processo de integração se acompanhada de uma expansão acelerada do setor de 
bens de capital, particularmente notável nas indústrias que, dentro deste setor, 
encontram-se vinculadas à produção bélica. Paralelamente ocorre uma hipertrofiado aparelho estatal, que se converte no principal agente de produção e consumo 
da economia, especialmente no que se refere à indústria de guerra.
Se bem é certo que a estatização e a militarização imperialistas se realizam 
em função do campo socialista, também é certo que obedecem à própria dinâmica 
do sistema e expressam os mecanismos básicos que o regem. Em última instância, 
esta dinâmica e estes mecanismos se referem à acumulação de capital no interior 
do sistema, que tende a concentrar – por meio da superexploração do trabalho 
nas economias periféricas – partes sempre crescentes da mais-valia nos centros 
integradores. O aumento do excedente passível de ser investido que estes 
centros dispõem, por muito que seja malgasto em atividades não produtivas – 
como a indústria bélica e a publicidade –, acarreta um aumento constante dos 
investimentos diretos nas economias periféricas, através dos quais se realiza 
progressivamente a integração do sistema produtivo destas economias ao sistema 
do centro integrador.
164
UNIDADE 3 — TEMAS DA SOCIOLOGIA BRASILEIRA
Este processo se coliga com o crescimento e a diversificação do sistema 
periférico. Por certo, a crise do mercado imperialista, que estoura na segunda 
década do século XX, tem como mais importante consequência a inviabilização 
da antiga forma de vinculação que antes se impunha na América Latina – a 
forma da economia primário-exportadora. Isso se manifesta como uma tendência 
permanente, que não se limita apenas aos períodos de retração do mercado 
mundial; pelo contrário: devido ao surgimento de novas regiões produtoras 
(impelido pela expansão imperialista) e ao desenvolvimento de produções 
similares ou substitutos artificiais nas próprias economias centrais, constantemente 
se reduzem as possibilidades de comércio da América Latina, ao mesmo tempo 
em que se reduzem os termos de troca.
FONTE: MARINI, R. M. Subdesenvolvimento e revolução. Florianópolis: Insular, 2013, p. 47-54. Dis-
ponível em: http://www.unirio.br/cchs/ess/Members/debora.holanda/teorias-do-brasil-2019-01/
unidade-3/ruy-mauro-marini-subdesenvolvimento-e-revolucao/at_download/file. Acesso em: 23 
out. 2020.
165
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
• O desenvolvimento da Sociologia no Brasil seguiu um padrão até os anos 1960, 
quando a intervenção militar interveio na maneira de se pensar a sociedade 
brasileira por meio de reformas educacionais.
• A Sociologia foi uma das disciplinas banidas do currículo escolar durante o 
regime ditatorial.
• A reforma universitária implicou no alinhamento de professores brasileiros 
com especialistas estadunidenses.
• A educação sofreu uma significativa redução em seus investimentos durante 
a ditadura militar.
• O ensino da Sociologia foi considerado subversivo por representar ameaça ao 
modelo político ditatorial.
• Dentre as transformações sofridas pela Sociologia após a intervenção militar 
brasileira, o foco foi no economicismo e na produção de estratégias de 
acumulação de riquezas por parte de classes privilegiadas.
Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem 
pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao 
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
CHAMADA
166
1 A Sociologia no Brasil é, tão como no restante do mundo, uma disciplina 
responsável pela ampliação da percepção das pessoas em relação ao 
funcionamento da sociedade, suas implicações políticas, as injustiças 
e violências cometidas pelos governantes e outras classes, dentre uma 
infinidade de fenômenos. O poder de desconstrução de valores petrificados 
e, por vezes, ultrapassados, além da capacidade de elevar os níveis de 
consciência e níveis de raciocínio que possui a Sociologia, foram fatores 
que abalaram e continuam abalando as classes dominantes de todo o 
mundo. Isso acontece devido à alienação à qual nosso povo é submetido, 
pois é necessário que o povo esteja alienado da realidade social. Isso 
serve para que as classes dominadoras possam explorar seu trabalho e 
produzir riquezas das quais os trabalhadores que a produzem, de fato, não 
usufruem. Considerando os aspectos mencionados anteriormente acerca 
da importância da Sociologia, classifique V para as sentenças verdadeiras e 
F para as falsas:
( ) A Sociologia no Brasil pode ser considerada um instrumento utilizado a 
favor da libertação de nosso povo, tanto do modo de produção explorador 
dominante, como da cultura imperialista.
( ) O ensino da Sociologia pode contribuir para a formação de governantes 
mais conscientes, uma vez que são produzidas teorias políticas 
importantes no âmbito científico/acadêmico brasileiro.
( ) O regime ditatorial no Brasil foi um fator retardante em relação ao 
desenvolvimento da Sociologia no Brasil.
( ) A Sociologia foi considerada uma das matérias mais importantes na 
época da ditadura militar brasileira, recebendo incentivos por parte do 
exército, da marinha e aeronáutica brasileiros.
( ) O alinhamento entre professores universitários brasileiros e 
estadunidenses foi uma das estratégias de dominação utilizados no 
período ditatorial brasileiro.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – V – V – V – F.
b) ( ) V – V – F – V – F.
c) ( ) F – F – V – V – V.
d) ( ) V – F – V – F – V.
e) ( ) V – V – V – F – V. 
2 O regime militar brasileiro foi um grande repressor, não só do ensino da 
Sociologia no Brasil, mas de múltiplas manifestações artísticas e culturais 
de diversas naturezas. O governo ditatorial se viu obrigado a reprimir 
todo e qualquer tipo de manifestação que se opunha à instauração de um 
regime que privilegiasse classes minoritárias do Brasil e outros países que 
se interessavam, sobretudo, na instalação de suas empresas em nosso solo. 
AUTOATIVIDADE
167
Nesse contexto, emergiram muitos movimentos sociais que reivindicavam 
por uma grande variedade de direitos tolhidos pelos militares, lutavam 
contra as violências e outros abusos cometidos pelo exército. A resposta 
dos ditadores foi truculenta, resultando no exílio, prisão, morte e tortura 
de diversos professores, artistas, líderes e membros de movimentos sociais 
libertários e contrários ao regime instaurado no ano de 1964. Considerando 
os absurdos cometidos pelo regime ditatorial no Brasil, e que foram 
relatados em nosso material de estudo, analise as sentenças a seguir:
I - Diversos professores foram expulsos do Brasil durante o regime ditatorial 
instaurado na década de 1960, sobretudo professores marxistas que 
consideravam abusivas as violências cometidas pelo regime militar.
II - Dentre os professores exilados pela ditadura militar brasileira, Paulo 
Freire, Darcy Ribeiro, Ruy Mauro Marini e Florestan Fernandes foram 
alguns dos que continuaram atuando mesmo no exterior de nosso país.
III - A Sociologia e a Filosofia foram banidas do currículo obrigatório do 
ensino público brasileiro durante o regime militar.
IV - A Sociologia era considerada subversiva pelos ditadores militares 
brasileiros por denunciar os abusos e incoerências das práticas dessa 
classe que foi responsável pela morte e tortura de milhares de brasileiros 
entre as décadas de 1960 e 1980 no Brasil.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Somente a sentença I está correta.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) Somente a sentença III está correta.
d) ( ) Somente a sentença IV está correta.
e) ( ) As sentenças I, II, III e IV estão corretas.
3 Durante um longo período no Brasil, a Sociologia sofreu diversos tipos 
de limitação, censura e reformas que impediram que a disciplina se 
desenvolvesse de maneira natural. O período da ditadura militar brasileira 
foi um dos grandes entraves ao pleno desenvolvimento das investigações 
sociais brasileiras. De acordo com o que aprendemos no presente tópico, 
disserte acerca dos principais retrocessos que a Sociologia sofreu no período 
militar brasileiro.
168
REFERÊNCIAS
ALVES, P. C. A teoria sociológica contemporânea:da superdeterminação pela teo-
ria à historicidade. Revista Sociedade e Estado, Brasília, v. 25, n. 1, jan./abr. 2010. 
Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/sociedade/article/view/5510. 
Acesso em: 23 out. 2020.
AZEVEDO, F. et al. Manifestos dos pioneiros da educação nova (1932) e dos edu-
cadores (1959). Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2010.
BAMBIRRA, V. Teoria da dependência: lugar e papel das ciências sociais da UnB. 
Brasília: Biblioteca do Instituto de Ciências Sociais, 2013. p. 27-71. 
BENTO, B. A reinvenção do corpo: sexualidade e gênero na experiência transse-
xual. Rio de Janeiro: Garamond, 2006.
BRASIL, Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971. Fixa Diretrizes e Bases para o ensi-
no de 1° e 2º graus, e dá outras providências. Disponível em: https://www2.cama-
ra.leg.br/legin/fed/lei/1970-1979/lei-5692-11-agosto-1971-357752-publicacaoori-
ginal-1-pl.html#:~:text=Fixa%20Diretrizes%20e%20Bases%20para,graus%2C%20
e%20d%C3%A1%20outras%20provid%C3%AAncias.&text=%C2%A7%20
1%C2%BA%20Para%20efeito%20do,m%C3%A9dio%2C%20o%20de%20segun-
do%20grau. Acesso em: 23 out. 2020.
CANDIDO, A. A sociologia no Brasil. Tempo Social, São Paulo, v. 18, n. 1, p. 271-
301, jun. 2006. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/ts/article/view/12503. 
Acesso em: 23 out. 2020.
CARDOSO, F. H.; FALETTO, E. Dependência e desenvolvimento na América 
Latina: ensaio de interpretação sociológica. 4. ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 
1977. 143 p.
CASTRO, M. G. Marxismo, feminismo e feminismo marxista: mais que um gêne-
ro em tempos neoliberais. Crítica Marxista, São Paulo, v.1, n. 11, p. 98-108, 2000.
DAMATTA, R. A casa & a rua: espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil. 5. ed. 
Rio de Janeiro: [S. n.], 1997. Disponível em http://www.tecnologia.ufpr.br/portal/
lahurb/wp-content/uploads/sites/31/2017/09/DAMATTA-Roberto-A-Casa-e-a-
-Rua.pdf Acesso em: 15 de outubro de 2020.
EHRENREICH, P. Índios botocudos do Espírito Santo no século XIX. Vitória: 
Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, 2014.
FERNANDES, F. Sociedade de classes e subdesenvolvimento. São Paulo: Global, 
2008.
169
FERNANDES, F. A integração do negro na sociedade de classes. São Paulo: Ática, 
1978.
FERNANDES, F. Capitalismo dependente e classes sociais na América Latina. 
Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1975.
FERNANDES, F. A organização social dos Tupinambá. São Paulo: Difusão Europeia 
do Livro, 1963.
FRANK, A. G. A agricultura brasileira: o capitalismo e o mito do feudalismo. In: 
STÉDILE, J. P. (Org.). A questão agrária no Brasil. São Paulo: Expressão Popular, 
2005. (Volume 2).
FREYRE, G. Casa-grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime 
da economia patriarcal. São Paulo: Global, 2003.
FREYRE, G. Sobrados e mucambos: decadência do patriarcado rural e desenvol-
vimento do urbano. São Paulo: Global, 2013.
HOLANDA, S. B. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
IANNI, O. O mundo do trabalho. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v. 8, n. 1, 
p. 2-12, jan./mar., 1994.
LOBATO, M. A onda verde. São Paulo: Editora Globo, 2009.
MARINI, R. M. Subdesenvolvimento e revolução. Florianópolis: Insular, 2013, 
p. 47-54. Disponível em: http://www.unirio.br/cchs/ess/Members/debora.holan-
da/teorias-do-brasil-2019-01/unidade-3/ruy-mauro-marini-subdesenvolvimento-
-e-revolucao/at_download/file. Acesso em: 23 out. 2020.
MARINI, R. M. Desenvolvimento e dependência. In: TRASPADINI, R.; STEDILE, 
J. P. (Orgs.). Ruy Mauro Marini: vida e obra. São Paulo: Expressão Popular, 2011. 
p. 221-224.
MOURA, C. História do negro brasileiro. São Paulo: Ed. Ática, 1992.
MUNDURUKU, D. Histórias de índio. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 
2010.
PACHECO JÚNIOR, I. Considerações sobre o pensamento de Caio Prado Júnior: co-
lonização e revolução. Praça, Recife, v. 2, n. 1, p. 24-49, 2018. Disponível em: https://
periodicos.ufpe.br/revistas/praca/article/view/236280. Acesso em: 23 out. 2020.
PINTO, Á. V. O conceito de tecnologia. Rio de Janeiro: Contraponto, 2005.
170
PRADO JÚNIOR. C. História econômica do Brasil. São Paulo: Círculo do Li-
vro, 1981. Disponível em: http://www.afoiceeomartelo.com.br/posfsa/autores/
Prado%20Jr,%20Caio/Historia%20Economica%20do%20Brasil.pdf. Acesso em: 
23 out. 2020.
PRADO JÚNIOR. C. Formação do Brasil contemporâneo: colônia. Brasília: Edi-
tora Brasiliense, 1961.
RIBEIRO, D. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Com-
panhia das Letras, 1995.
ROSA, P. O.; RIBEIRO JÚNIOR, H.; TORRES, R. S. Biopolítica, educação e se-
gurança pública: ponderações sobre a implementação das políticas de tolerância 
zero nas escolas do Espírito Santo. Florianópolis: Insular: 2018.
SAFFIOTI, H. I. B. Gênero, patriarcado, violência. São Paulo: Editora Fundação 
Perseu Abramo, 2004.
SAFFIOTI, H. I. B. A mulher na sociedade de classes: mito e realidade. Petrópolis: 
Vozes, 1976. 
SANTOS, T. Teoria da dependência: balanço e perspectivas. Florianópolis: Insu-
lar, 2020.
TORRES, R. S. Biopolítica e segurança pública: tolerância zero no Espírito Santo 
e uma educação voltada à fabricação de sujeitos produtivos. 2016. 193 f. Disserta-
ção (Mestrado em Sociologia Política) – Universidade Vila Velha, Vila Velha, 2016.

Mais conteúdos dessa disciplina