Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Indaial – 2020 Sociologia BraSileira Prof. Renan Subtil Torres 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2020 Elaboração: Prof. Renan Subtil Torres Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: T693s Torres, Renan Subtil Sociologia brasileira. / Renan Subtil Torres. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 170 p.; il. ISBN 978-65-5663-347-3 ISBN Digital 978-65-5663-342-8 1. Sociologia brasileira. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 300 apreSentação Saudações, caro acadêmico! O presente material, o qual se encontra em suas mãos ou na tela de seus aparelhos digitais, é fruto de um zeloso trabalho da UNIASSELVI que almeja apresentar a você a relevância das principais abordagens e autores trabalhados na Sociologia Brasileira. Por meio de nosso livro didático, entraremos em contato com o desenvolvimento da Sociologia em território brasileiro, tão como conheceremos um pouco do trabalho intelectual de cada um dos autores que mais contribuíram para o pensamento acerca da sociedade de nosso país. A Sociologia Brasileira é responsável pelos estudos das particularidades da dinâmica social brasileira que, apesar de influenciada por toda uma série de acontecimentos globais, desenvolve-se de maneira única. A recente descoberta e vastidão de nosso território, a mistura dos povos originários com invasores e escravos, a abundância de nossos recursos naturais, a exploração colonialista dentre outras características, são o pano de fundo para a ocorrência de fenômenos sociais específicos e complexos. Sendo assim, nosso material de estudos apresentará os principais temas e teorias que contemplam nossa realidade, sempre de maneira clara e objetiva. O livro de Sociologia Brasileira desenvolvido pela UNIASSELVI pretende apresentar a você, acadêmico, de uma maneira ao mesmo tempo consistente e didática, as principais discussões sobre as tribulações sociais brasileiras. Também será abordado o desenvolvimento de nossas problemáticas por meio da reconstrução histórica dos mais importantes objetos de estudo que reproduzem a formação do Brasil. A escolha dos autores foi realizada de maneira com a qual possamos enxergar a realidade nacional da maneira mais objetiva e menos abstrata possível, auxiliando-nos a nos situar em meio a uma complexa realidade. A Unidade 1 abordará o desenvolvimento do pensamento social brasileiro, apresentando a maneira com a qual se pensava a sociedade anteriormente aos séculos XIX e XX, as particularidades das análises sociais que compreendem o período posterior. Feito isso, trabalharemos o processo de sistematização da Sociologia em território brasileiro, finalizando com a formalização e institucionalização da Sociologia no Brasil. Para tanto, utilizaremos de autores que lançaram mão de análises sociais em tais períodos, mesmo que anteriores à formação das Ciências Sociais tal como a concebemos hoje. Também apresentaremos as ideias de importantes autores nacionais que interpretam as análises sociais de tempos passados e reconstroem a dinâmica social por meio de análises históricas que devem ser consideradas. Na Unidade 2 estudaremos interpretações clássicas sobre o Brasil por meio de autores como Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Florestan Fernandes e Caio Prado Júnior. Tais pensadores desenvolveram Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi- dades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra- mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida- de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun- to em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA teorias sobre a formação social brasileira desde o período colonial, processo de modernização nacional, relações raciais no país além de cultura, política e economia locais. Trata-se de grandes nomes da investigação acerca da dinâmica social de nosso território e importantes teóricos do processo histórico de construção nacional. Finalmente, na Unidade 3, trabalharemos alguns dos principais temas abordados pela Sociologia Brasileira. Dentre eles estão assuntos como raça e identidade sob a perspectiva de pensadores das Ciências Sociais brasileiras, o processo de modernização do Brasil e a Sociologia Brasileira após a década de 1970. Esperamos que aproveitem o conteúdo preparado pela UNIASSELVI e ampliem seus conhecimentos sobre o contexto social de nosso país! Bons estudos! Prof. Renan Subtil Torres Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen- tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE Sumário UNIDADE 1 — O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO DOS SÉCULOS XIX E XX ........... 1 TÓPICO 1 — A FORMAÇÃO SOCIAL BRASILEIRA .................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 O BRASIL ANTES DA COLONIZAÇÃO PORTUGUESA ......................................................... 3 3 DO PERÍODO COLONIAL À REPÚBLICA VELHA ................................................................... 8 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 19 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 20 TÓPICO 2 — A SISTEMATIZAÇÃO DA SOCIOLOGIA NO BRASIL .................................... 23 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 23 2 A CONSTITUIÇÃO DO PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO ..........................................23 3 PRINCIPAIS ABORDAGENS DA TEORIA SOCIAL BRASILEIRA ...................................... 30 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 32 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 33 TÓPICO 3 — A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA SOCIOLOGIA NO BRASIL ......................... 35 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 35 2 O NASCIMENTO DA SOCIOLOGIA NO BRASIL ................................................................... 35 3 A SOCIOLOGIA BRASILEIRA E SEUS PRINCIPAIS DESAFIOS ......................................... 39 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 49 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 51 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 52 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 54 UNIDADE 2 — INTERPRETAÇÕES CLÁSSICAS SOBRE O BRASIL ..................................... 57 TÓPICO 1 — A SOCIOLOGIA E A INTERPRETAÇÃO DO BRASIL ....................................... 59 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 59 2 OS GRANDES INTÉRPRETES DO BRASIL E SUAS PRINCIPAIS ABORDAGENS .................................................................................................................................. 59 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 68 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 69 TÓPICO 2 — GILBERTO FREYRE, SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA E A FORMAÇÃO DO POVO BRASILEIRO ................................................................. 71 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 71 2 GILBERTO FREYRE E A ESCRAVIDÃO NO BRASIL .............................................................. 71 3 SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA E O DESENVOLVIMENTO SOCIAL DO BRASIL 79 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 88 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 89 TÓPICO 3 — FLORESTAN FERNANDES E CAIO PRADO JÚNIOR ...................................... 91 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 91 2 FLORESTAN FERNANDES: RELAÇÕES SOCIAIS E ESTRUTURA DE CLASSES NA SOCIEDADE BRASILEIRA .................................................................................. 91 3 CAIO PRADO JÚNIOR: A FORMAÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA ........................................................................................................................ 96 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 101 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 106 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 107 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 109 UNIDADE 3 — TEMAS DA SOCIOLOGIA BRASILEIRA ....................................................... 111 TÓPICO 1 — RAÇA E IDENTIDADE NO PENSAMENTO SOCIOLÓGICO BRASILEIRO .............................................................................................................. 113 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 113 2 O DEBATE RACIAL NO BRASIL ................................................................................................ 113 3 O DEBATE ACERCA DA IDENTIDADE DE GÊNERO NO BRASIL CONTEMPORÂNEO ...................................................................................................................... 121 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 127 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 128 TÓPICO 2 — MODERNIZAÇÃO BRASILEIRA ......................................................................... 131 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 131 2 A MODERNIZAÇÃO DO BRASIL NO SÉCULO XIX ............................................................. 131 3 O DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO BRASILEIRO PÓS-PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL ...................................................................................................................... 135 4 A MODERNIZAÇÃO BRASILEIRA SOB OS OLHARES DE ÁLVARO VIEIRA PINTO, RUY MAURO MARINI, CAIO PRADO JÚNIOR E FLORESTAN FERNANDES .................................................................................................................................... 139 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 146 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 147 TÓPICO 3 — A SOCIOLOGIA BRASILEIRA PÓS-1970: NOVOS OLHARES ....................... 149 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 149 2 SOCIOLOGIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA: DA DITADURA MILITAR NO BRASIL ÀS PRINCIPAIS ABORDAGENS SOCIOLÓGICAS NOS DIAS ATUAIS ........................................................................................................................ 149 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 160 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 165 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 166 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 168 1 UNIDADE 1 — O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO DOS SÉCULOS XIX E XX OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • apresentar o processo de transformação do pensamento sociológico brasileiro por meio de registros do período colonial; • reconstruir as principais abordagens anteriores à formalização da Sociologia em território brasileiro; • evidenciar o processo de sistematização da Sociologia no Brasil; • abordar a institucionalização da Sociologia brasileira; • apresentar autores cujas ideias foram importantes à compreensão do processo de formação da Sociologiae da sociedade brasileira como um todo. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO TÓPICO 2 – A SISTEMATIZAÇÃO DA SOCIOLOGIA NO BRASIL TÓPICO 3 – A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA SOCIOLOGIA NO BRASIL Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 — A UNIDADE 1 FORMAÇÃO SOCIAL BRASILEIRA 1 INTRODUÇÃO Pensar a sociedade na qual estamos inseridos demanda um esforço no sentido de considerarmos todos os elementos que a constitui. Isso significa que o pensamento sociológico lançado a determinado território parte da ideia de que toda sociedade é constituída por seus aspectos sociais. Ou seja, toda sociedade é constituída por suas condições materiais e históricas, tão como por todo e qualquer tipo de manifestação humana, sendo ela cultural, artística ou filosófica. A Sociologia Brasileira emergiu de um longo processo interdisciplinar que leva em conta todos os registros possíveis acerca dos povos originários, invasores, escravos e sua interrelação, passando pela realidade material que é única de cada região do mundo. Sendo assim, estudaremos no primeiro tópico da Unidade 1 de nosso material, as condições em meio às quais emergiu o pensamento social brasileiro, passando por uma breve história do Brasil, do período pré-colonial aos primeiros estudos sobre as populações nativas e seu contato com os invasores europeus e os escravizados por eles. Bons estudos! 2 O BRASIL ANTES DA COLONIZAÇÃO PORTUGUESA Antes de iniciarmos nossos estudos acerca do Brasil como era anteriormente à invasão portuguesa do ano de 1500, devemos considerar alguns pontos importantes com relação ao conceito de pensamento social. Primeiramente, não devemos considerar apenas análises sociológicas, antropológicas, históricas ou provenientes de outros campos do saber de forma separada. A sociedade é um fenômeno complexo que deve ser analisado sob o máximo de perspectivas possíveis. Segundo, devemos pensar a sociedade de maneira macro e micro concomitantemente, ou seja, analisar o indivíduo em sua subjetividade, de forma isolada, como um elo que compõe a totalidade da realidade e, não menos importante, analisar a sociedade como um todo, um grupo de indivíduos capaz de modificar a realidade e construir a história do território onde habita. Em terceiro lugar, para se pensar sociologicamente, devemos estudar a maior variedade possível de fontes de informação, sejam elas escritas, ouvidas, vivenciadas, formais ou não formais. Dessa maneira conseguimos conceber a dinâmica social de maneira mais fiel possível à realidade. O autor Freitas Pinto (2002, p. 144-145) acredita que: UNIDADE 1 — O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO DOS SÉCULOS XIX E XX 4 A ideia de pensamento social corresponde em parte à constatação de que a riqueza dos processos sociais e culturais jamais é revelada plenamente quando utilizamos tão somente os métodos e recursos de uma determinada disciplina como a sociologia, a antropologia ou história. O pensamento social é construído transpondo barreiras e limites de disciplinas e campos de conhecimento, combinando, em muitos casos, dados empíricos e fatos com percepções extraídas da poesia, do romance, do teatro. Sabendo os pressupostos sociológicos apresentados anteriormente, comecemos nossos estudos respeitando uma ordem cronológica de fatos que se iniciam antes da colonização portuguesa, antes mesmo de nosso país se chamar Brasil. Estima-se que o continente americano abrigava aproximadamente uma centena de milhão de pessoas, e é importante destacar que o território – o qual, hoje, corresponde ao nosso país – era habitado por cerca de 1 a 5 milhões de pessoas, dependendo da fonte informativa. Devido ao fato da ausência de registros escritos, uma vez que os povos originários transmitiam seus conhecimentos por meio, principalmente, da fala, é difícil o acesso àquelas culturas existentes anteriormente à invasão portuguesa. FIGURA 1 – TRIBO BRASILEIRA XINGU FONTE: <https://www.sohistoria.com.br/ef2/indios/index_clip_image002.jpg>. Acesso em: 30 abr. 2020. É importante saber que o povo nativo se organizava em grupos sociais comumente conhecidos como “tribos”. Os indivíduos foram chamados de “índios” pelos colonizadores e esse tratamento perdura até hoje. Isso se deve ao fato de os portugueses supostamente estarem buscando um caminho alternativo à Índia ao se depararem com as terras brasileiras, referindo-se a elas como Índias Ocidentais por determinado período. Esse tipo de tratamento acabou por generalizar as centenas de etnias e línguas que foram classificadas por estratos linguísticos centrais. São eles: tupis-guaranis, que habitavam a região do litoral, macro-jê ou tapuias, região do Planalto Central, aruaques ou aruak, da Amazônia e caraíbas ou karib, também da região amazônica. TÓPICO 1 — A FORMAÇÃO SOCIAL BRASILEIRA 5 As múltiplas sociedades nativas eram complexas, porém possuíam algumas características comuns como a divisão social do trabalho. Geralmente, os homens eram responsáveis pela caça, pesca, construção de habitações, guerras dentre outras atividades. As mulheres costumavam se incumbir dos cuidados com a família, confecção de vestimentas, preparo de alimentos, agricultura do milho, feijão, abóbora, batata-doce, amendoim, mandioca e outros tipos de trabalho. Quase sempre havia uma hierarquia bem estabelecida e líderes específicos, além de pessoas especializadas nos cuidados à saúde e referências espirituais. Era comum a domesticação de alguns animais considerados selvagens pelo homem branco e a harmonia com a natureza era plena quando comparada à contemporaneidade. Costumava-se utilizar apenas recursos indispensáveis à sobrevivência humana, como madeira, peles de animais, penas, corantes naturais, fibras de plantas diversas além de uma riquíssima medicina da floresta, infelizmente soterrada e discriminada pela cultura europeia. Hoje existem alguns poderosos remédios remanescentes da cultura nativa, utilizados na cura de diversas doenças e terapias. Um bom exemplo é o chamado Santo Daime ou Ayahuasca, chá de folhas e cipós utilizados em ritos e tratamentos para males como a depressão, ansiedade e vícios em substâncias químicas diversas. O embate entre as culturas originárias e europeias resultaram no soterramento dos costumes dos povos nativos. Em outras palavras, a miscigenação – que era em parte consequência de estupros realizados pelos portugueses colonizadores –, o processo de catequização e ensino da língua portuguesa à população genuinamente brasileira, foram alguns dos fatores que acabaram por descaracterizar o modo de vida dos chamados povos indígenas. A esse processo se dá o nome de aculturação: quando uma cultura perde suas características ou deixa de existir devido à influência de uma cultura exterior. Muitos dos registros acerca da cultura dos povos nativos, que viveram na época das primeiras expedições portuguesas ao Brasil, foram retratados pela Carta de Pero Vaz de Caminha, escrivão da expedição de Pedro Álvares Cabral, que destinou, ao então rei de Portugal, Dom Manuel, suas primeiras impressões sobre o território recém explorado. A carta pode ser acessada por meio do endereço eletrônico a seguir: http:// objdigital.bn.br/Acervo_Digital/livros_eletronicos/carta.pdf. É bastante interessante analisarmos o ponto de vista dos invasores europeus às terras dos tupiniquins – primeiros povos a entrar em contato com os portugueses recém- chegados. DICAS UNIDADE 1 — O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO DOS SÉCULOS XIX E XX 6 A colonização de nossas terras não foi a primeira ideia dos portugueses após a chegada de Pedro Álvares Cabral em sua primeira expedição ao Brasil, cujo desembarque foi no dia 22 abril de 1500, onde hojeé o estado da Bahia. Buscando por insumos comercializáveis, que poderiam ser alternativa ao então lucrativo comércio oriental de especiarias, os portugueses se decepcionaram à primeira vista, pelo fato de não encontrarem recursos naturais como metais preciosos no litoral brasileiro. Logo descobriram o Ibirapitanga ou Arabutã, que tempos depois ficaria conhecida como Pau-brasil. Tratava-se de uma árvore abundante em território nacional, tão como em diversas outras localidades da América e ilhas próximas. O nome dela tem origem da cor vermelha de seu interior, que lembrava brasa. Chamada inicialmente de pau-de-tinta pelos portugueses, logo ficou conhecida como Pau-brasil que, tempo depois, inspiraria o nome de nosso país. O comércio do Pau-brasil, apesar de lucrativo, não chegava perto da lucratividade que o comércio de especiarias no ocidente proporcionava a Portugal. Com a ajuda dos povos nativos, seduzidos por meio do escambo. Tratava-se da troca de serviços braçais por quinquilharias diversas, oferecidas pelos portugueses, configurando uma transação comercial primitiva entre povos estrangeiros e originários. O Pau-brasil foi explorado de maneira devastadora, chegando à beira da extinção tempos após suas primeiras extrações. Isso se devia à utilidade da tinta da madeira no tingimento de tecidos brancos, muito valorizados na Europa após coloridos com o vermelho de sua seiva. FIGURA 2 – EXPLORAÇÃO DO PAU-BRASIL POR MEIO DA MÃO DE OBRA NATIVA FONTE: <https://escolaeducacao.com.br/wp-content/uploads/2020/01/ciclo-do-pau-brasil- -2-750x430.jpg>. Acesso em: 6 maio 2020. A extração da madeira no Brasil demandava uma autorização concedida pelo rei de Portugal. Essa autorização se chamava estanco. A primeira pessoa a receber o estanco foi Fernando de Noronha, que hoje é o nome de uma das ilhas do litoral nordestino brasileiro. O Pau-brasil extraído pelas pessoas que recebiam o estanco da realeza portuguesa era armazenado em feitorias, ou seja, armazéns espalhados pela costa brasileira que serviam de depósito para a madeira que, posteriormente, era enviada por meio de embarcações para a metrópole europeia. TÓPICO 1 — A FORMAÇÃO SOCIAL BRASILEIRA 7 Toda essa movimentação de mercadorias ao longo da costa brasileira atraía a atenção de outros povos. Os franceses eram os principais interessados nessa nova fonte de riquezas. Eles faziam alianças com tribos inimigas dos portugueses e atacavam o litoral em busca do domínio da transação mercantil do Pau-brasil. A fim de se defender dos ataques franceses, Portugal decide organizar expedições guarda-costas para o Brasil, que eram caravelas armadas enviadas para patrulhar os mais de 8 mil quilômetros de litoral e refrear a ameaça estrangeira. Diante às disputas que pelo vasto território brasileiro e seus abundantes recursos naturais, surge a demanda pela garantia dessas terras por parte de Portugal. Foi assim que, no ano de 1534, o então rei português, Dom João III, decide implementar um programa de ocupação efetiva do Brasil. Esse ano foi o marco final do chamado Período Pré-Colonial, a partir do qual a coroa portuguesa decide enviar pessoas para colonizar o território brasileiro. Tal estratégia serviu para estabelecer os domínios portugueses sobre as terras recém-tomadas pelos europeus, dificultando a entrada de outros povos que estavam em busca das riquezas encontradas em terras tupiniquins. Vale salientar que o Pau-brasil era apenas um dos inúmeros recursos naturais descobertos, até então, no que hoje corresponde aos limites brasileiros. Diversas outras riquezas ainda viriam a ser descobertas pelos invasores portugueses, ampliando ainda mais seus interesses sobre o território dominado a partir do ano de 1500. Podemos sintetizar o Período Pré-Colonial como um tempo de descobertas para os povos europeus que aqui desembarcaram em busca da ampliação de seus domínios comerciais. Marcada pela aculturação dos povos nativos frente à cultura europeia, a época pré-colonial foi fundada na descoberta do valor comercial do Pau-brasil, e do conveniente trabalho braçal do povo originário, intermediado pelo escambo e fundamental para a extração daquela madeira. O estanco era a autorização provida pela coroa portuguesa para a extração do Pau-brasil, que era armazenado em feitorias espalhadas pelo litoral brasileiro e, logo depois, transportado para a Europa por meio de embarcações. As expedições guarda- costas serviam de intimidação frente às invasões estrangeiras, principalmente de franceses, que objetivavam a disputa dos recursos materiais brasileiros. O referido período, classificado como pré-colonial, encerra-se em 1534, quando Portugal envia pessoal para ocupar o Brasil de maneira definitiva. O quadro a seguir salienta os principais aspectos desse período, que perdura do ano de 1500 até 1534: QUADRO 1 – PERÍODO PRÉ-COLONIAL • Duração – de 1500 a 1534. • Principal atividade econômica – extrativismo. • Principal matéria-prima – Pau-brasil. • Regime de trabalho – utilização da mão de obra nativa intermediada pelo regime de escambo. • Autorização real para a atividade – estanco. • Depósito da matéria-prima bruta – feitoria. • Principais ameaças – ataques de franceses aliados a tribos nativas rivais aos portugueses. • Principal defesa portuguesa – expedições guarda-costas. FONTE: O autor UNIDADE 1 — O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO DOS SÉCULOS XIX E XX 8 Agora que exploramos as principais características do primeiro período após à entrada dos portugueses no território que hoje corresponde ao Brasil, estudaremos outra fundamental fase da ocupação dessas terras: o Período Colonial. Por meio dos estudos dessa outra importante etapa do desenvolvimento social brasileiro, construiremos as bases para a investigação acerca da produção e desenvolvimento do pensamento sociológico de nosso país. 3 DO PERÍODO COLONIAL À REPÚBLICA VELHA Tendo em vista que a coroa portuguesa reconheceu a potencialidade do Brasil em termos de riquezas, que já estavam atraindo forças estrangeiras que as disputavam com os pioneiros europeus, Dom João III, então rei de Portugal, decide, em 1534, colonizar essas terras com o objetivo de estabelecer sua dominação. Cabe salientar que já ocorriam revoltas e diversas resistências em nome das terras brasileiras, antes mesmo da chegada de Portugal ao país. Desde o ano de 1494, o Tratado de Tordesilhas já dividia legalmente o Brasil que conhecemos hoje em duas partes. As coroas de Portugal e Espanha, na época Reino de Portugal e Coroa de Castela, já se interessavam no chamado “novo continente”, a América recém invadida pela expedição marítima capitaneada por Cristóvão Colombo em 1492. O tratado consistia em uma divisão de terras por meio de uma linha imaginária. Essa linha cortava o Brasil de norte a sul, do que hoje corresponde ao estado do Pará até Santa Catarina. De acordo com o tratado que objetivava pôr fim às disputas pelas terras americanas entre os dois reinos, tudo o que situava a oeste da linha pertenceria à Coroa Castela e, a leste, do Reino de Portugal. Anos depois esse tratado foi revogado a pedido dos portugueses ao perceberem a vastidão ainda inexplorada ao centro e a oeste do que hoje corresponde à América Latina. Por volta do ano de 1534, o então rei de Portugal, Dom João III, divide o Brasil em sesmarias, que consiste em pedaços de terras demarcados por meio de linhas imaginárias traçadas vertical e horizontalmente com relação ao mapa do território nacional. Cada um desses pedaços de terra era destinado a um nobre escolhido pelo rei. As terras delimitadas não eram posse de seus destinatários, os chamados donatários. Cada donatário tinha direito de ocupar o território e produzir riquezas dentro dele, porém, a decisão acerca da destituição dos territórios e/ou substituição dos donatários estava nas mãos do rei. Cada um dos donatários recebia uma Carta de Doação, que consistia em um documento que assegurava que cada uma das sesmarias eradelegada a um administrador específico. A Carta Foral, por sua vez, era o documento em que constavam as diretrizes de posse da sesmaria, ou seja, as instruções acerca daquilo que o donatário pode ou não pode fazer em relação à ocupação do espaço que tomaria conta a partir do momento em que recebesse sua Carta de Doação. TÓPICO 1 — A FORMAÇÃO SOCIAL BRASILEIRA 9 As faixas de terra, cuja gestão era passada de pais para filhos, foram batizadas de Capitanias Hereditárias. A partir do ano de 1934, o país passou a ser dividido em 15 Capitanias Hereditárias que seriam distribuídas entre 12 donatários. Cada uma das sesmarias que vieram a se tornar Capitanias Hereditárias, recebia um nome e era concedida aos respectivos donatários, incumbidos da tarefa de ocupar e produzir riquezas em seus territórios. • Capitania do Maranhão: João de Barros e Aires da Cunha e Fernando Álvares de Andrade. • Capitania do Ceará: Antônio Cardoso de Barros. • Capitania do Rio Grande: João de Barros e Aires da Cunha. • Capitania de Itamaracá: Pero Lopes de Sousa. • Capitania de Pernambuco: Duarte Coelho Pereira. • Capitania da Baía de Todos os Santos: Francisco Pereira Coutinho. • Capitania de Ilhéus: Jorge de Figueiredo Correia. • Capitania de Porto Seguro: Pero do Campo Tourinho. • Capitania do Espírito Santo: Vasco Fernandes Coutinho. • Capitania de São Tomé: Pero de Góis da Silveira. • Capitania de São Vicente: Martim Afonso de Sousa. • Capitania de Santo Amaro: Pero Lopes de Sousa. • Capitania de Santana: Pero Lopes de Sousa. FIGURA 3 – DIVISÃO POLÍTICA ESTABELECIDA PELO TRATADO DE TORDESILHAS FONTE: <http://opiniaoenoticia.com.br/wp-content/uploads/tordesilhas.jpg>. Acesso em: 15 maio 2020. UNIDADE 1 — O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO DOS SÉCULOS XIX E XX 10 É importante termos em mente que o processo de formação colonial de nosso país não se deu de maneira pacífica, muito menos democrática. A terra, que já possuía moradores há milênios, fora dividida em vários pedaços que agora passariam a ser jurisdição de um donatário europeu, mesmo que sem a aprovação de muitos povos nativos. Foram muitas as batalhas que foram travadas entre nativos e colonizadores europeus. Anteriormente ao loteamento e distribuição das terras litorâneas do Brasil, existiam conflitos em torno da ocupação de seu território vasto e rico em recursos naturais. Além da diversidade da fauna e da flora brasileira, a água é abundante e escoa por meio de gigantescos rios. Diversas populações vivenciavam disputas por territórios que dispunham de tais recursos fundamentais para a sobrevivência. O século XVI foi marcado por batalhas como o Cerco de Igarassu que, conforme Hans Staden (1945), consistiu em um levante realizado pelos índios caetés contra os portugueses que, dentre outros fatores motivacionais, escravizaram membros de sua etnia. O cerco ocorreu em uma vila de Pernambuco, entre 1549 e 1551, conforme alguns historiadores, os quais nem sempre entram em consenso quanto à data oficial da resistência. Em 1562, foi realizado o Cerco de Piratininga, que foi a união entre índios carijós, guaianás, guarulhos e tupiniquins, organizados contra a dominação portuguesa. O fato ocorreu em São Paulos dos Campos de Piratininga, quando as etnias indígenas reunidas atacaram a vila onde portugueses aliados a tupiniquins se defenderam da ofensiva. Isso evidencia a existência da aliança, não só entre índios de diferentes tribos, mas entre “homens brancos” (europeus) e indígenas (nativos). A imagem a seguir ilustra um pouco da relação amistosa que os colonizadores conseguiram estabelecer com os antigos donos das terras de São Paulo dos Campos de Piratininga, os índios tupiniquins. Embora a aliança entre brancos e indígenas favorecesse ambas as partes, outros povos e, inclusive os próprios tupiniquins, levantaram-se contra essa jovem vila, então com dois anos de idade. Observe: FIGURA 4 – ALIANÇA ENTRE HOMENS BRANCOS E TRIBOS NATIVAS FONTE: < https://cutt.ly/ggbanjn >. Acesso em: 15 maio 2020. TÓPICO 1 — A FORMAÇÃO SOCIAL BRASILEIRA 11 Mais tarde, entre os anos de 1554 a 1567, foi formada a Confederação dos Tamoios que era composta majoritariamente pelo povo Tupinambá, por sua vez composto por tribos Tupiniquins, Aimorés e Terminós. Tratava-se de um dos primeiros grandes conflitos entre os povos originários, que reivindicavam sua liberdade tão como a retomada de suas terras, e homens brancos, especialmente portugueses e franceses, que ocupavam um território que compreendia parte do litoral paulista e fluminense. A Guerra dos Aimorés foi outro importante episódio de resistência por parte dos povos nativos. Os Aimorés eram povos que habitavam o território que hoje corresponde aos estados de Minas Gerais e Espírito Santo e resistiram à colonização portuguesa por mais de um século. Essa guerra, que durou aproximadamente de 1555 a 1673, foi composta por diversas batalhas, dentre elas a Batalha do Cricaré. Essa batalha ocorreu na Capitania de Espírito Santo, mais especificamente no Povoado de Cricaré, onde uma ofensiva liderada por Vasco Fernandes Coutinho, donatário responsável pela referida sesmaria, desembarcou com sua armada vinda do litoral do que hoje corresponde à Bahia. Apesar da difícil batalha que custou a vida de vários nativos e colonizadores, os Aimorés conseguiram afastar a tropa que defendia os domínios de Vasco Fernandes Coutinho, cujo comandante, Fernão de Sá, morrera neste combate. Após a retirada dos colonizadores invasores, os Aimorés destruíram as feitorias dos bandeirantes por volta do ano de 1558. Outro importante episódio da história da ocupação dos Brasil por invasores europeus se materializou com a Guerra dos Bárbaros (1650-1720). O conflito ocorreu entre os nativos Tapuias e colonizadores portugueses que, com o fim da União Ibérica, em 1640, e a expulsão dos holandeses, em 1654, passaram a concentrar sua atenção nas terras nordestinas, mais especificamente da Bahia ao Maranhão, para a consolidação do cultivo da cana-de-açúcar e expansão da pecuária. Foram aproximadamente 70 anos de combates entre os povos nativos e os invasores portugueses, custando a vida de centenas de índios e muitos colonizadores portugueses. Para Puntoni (1999, p. 196): A Guerra dos Bárbaros mais se aproximou de uma série heterogênea de conflitos entre índios e luso-brasileiros do que de um movimento unificado de resistência. Resultado de diversas situações criadas ao longo da segunda metade do século XVII, com o avanço da fronteira da pecuária e a necessidade de conquistar e “limpar” as terras para a criação de gado, esta série de conflitos envolveu vários grupos e sociedades indígenas contra moradores, soldados, missionários e agentes da coroa portuguesa. A Guerra dos Bárbaros foi um massacre contra o povo Tapuia, que era composto por grupos culturais que compreendia o povo Jê, Tarairiu, Cariri e outros grupos que não eram classificados pelos cronistas da época. Alguns dos povos que podem ser citados entre os não batizados pelos colonizadores são os Sucurú, os Bultrim, os Ariu, os Pega, os Panati, os Corema, os Paiacu, os Janduí, os Tremembé, os Icó, os Carateú, os Carati, os Pajok, os Aponorijon e os Gurgueia. Toda essa diversidade fora ignorada pelos invasores europeus que, por meio de um processo de aculturação que operava através da catequização e alfabetização UNIDADE 1 — O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO DOS SÉCULOS XIX E XX 12 compulsória de nativos às línguas e crenças europeias, apagou culturas altamente complexas e de ciência avançada. O domínio dos Tapuia sobre os saberes advindos da interação homem-natureza, poderiam, hoje, nos proporcionar diversas soluções à vida em sociedade, como a cura de diversos males e doenças, tão como uma dinâmica social mais harmoniosa e menos destrutiva em relação aos recursos naturais e seres humanos que coexistem contemporaneamente. A chegada massiva e compulsória de outro povo foi determinante à formação de nossa culturae de pensamento social brasileiro: o negro africano. Os negros foram trazidos da África pelos colonizadores europeus como alternativa à mão de obra indígena, fosse ela livre ou escrava. A expansão da economia canavieira do século XVI, trouxe consigo a demanda por um trabalho intensificado nas lavouras. Os povos africanos, fisicamente adaptados às rígidas condições de sobrevivência de seu continente de origem, foram a solução ao trabalho indígena. As razões da opção pelo escravo africano foram muitas. É melhor não falar em causas, mas em um conjunto de fatores. A escravização do índio chocou-se com uma série de inconvenientes, tendo em vista os fins da colonização. Os índios tinham uma cultura incompatível com o trabalho intensivo e regular e mais ainda compulsório, como pretendido pelos europeus. Não eram vadios ou preguiçosos. Apenas faziam o necessário para garantir sua subsistência, o que não era difícil em uma época de peixes abundantes, frutas e animais. Muito de sua energia e imaginação era empregada nos rituais, nas celebrações e nas guerras. As noções de trabalho contínuo ou do que hoje chamaríamos de produtividade eram totalmente estranhas a eles (BORIS, 1996, p. 28). A mão de obra escrava proveniente dos negros africanos foi fruto do tráfico de pessoas, intensificado durante as expedições portuguesas à costa africana no século XV. Após esse período, o comércio escravista se tornou uma atividade muito lucrativa para os colonizadores. Os escravos negros possuíam habilidades, tanto no cultivo da cana-de-açúcar – que já era uma das atividades portuguesas “Uma índia-velha cachimbeira conta a seus netos a história de luta de seus antepassados contra as invasões dos colonizadores do nordeste do Brasil, provocadas pela expansão da pecuária bovina. A historiografia oficial denominou os confrontos de guerra dos bárbaros. Resta-nos saber se são bárbaros os índios ou os europeus”, tal frase se encontra na descrição da animação feita sob direção de Júlia Manta, recontando sob a perspectiva de uma índia Tapuia remanescente do terrível massacre que, entre os séculos XVII e XVIII, tirou a paz dos povos nativos do nordeste brasileiro: A Guerra dos Bárbaros: vale a pena conferir essa interessante obra brasileira que retrata, por meio de desenhos, a força e resistência dos povos originários do Brasil contra as mazelas da colonização europeia. O vídeo pode ser assistido por meio do sítio eletrônico a seguir: https://www.youtube.com/ watch?v=e5duD0qNCrU. DICAS TÓPICO 1 — A FORMAÇÃO SOCIAL BRASILEIRA 13 nas ilhas do Atlântico – quanto na criação de gado. Conforme Boris (1996), entre os anos de 1550 e 1855, cerca de 4 milhões de negros, em sua maioria jovens e do sexo masculino, entraram no Brasil pelos portos utilizados para seu comércio. Não por acaso, a partir da década de 1570 incentivou-se a importação de africanos, e a Coroa começou a tomar medidas através de várias leis, para tentar impedir o morticínio e a escravização desenfreada dos índios. As leis continham ressalvas e eram burladas com facilidade. Escravizavam-se índios em decorrência de "guerras justas", isto é, guerras consideradas defensivas, ou como punição pela prática de antropofagia. Escravizava-se também pelo resgaste, isto é, a compra de indígenas prisioneiros de outras tribos, que estavam para ser devorados em ritual antropofágico. Só em 1758 a Coroa determinou a libertação definitiva dos indígenas. Mas, no essencial, a escravidão indígena fora abandonada muito antes pelas dificuldades apontadas e pela existência de uma solução alternativa (BORIS, 1996, p. 28-29). O povo negro, assim como os nativos brasileiros, também resistiu contra a cruel dominação europeia sobre as terras do Brasil. Foram inúmeros os levantes, guerras e batalhas contra o sistema escravagista da época. É muito importante nos lembrarmos que o nosso país foi o último a abolir legalmente a escravidão dos negros africanos que para cá foram trazidos. No ano de 1758 fora abolida a escravidão dos índios e, somente em 13 de maio de 1888, os escravos negros do Brasil foram libertados das senzalas por meio da assinatura da Lei Áurea. Contudo, a abolição da escravatura em terras brasileiras não foi um simples ato de benevolência da nobreza, mas resultado de intensas e sangrentas batalhas em nome da liberdade. Cabe salientar que o povo negro brasileiro muito sofreu após a abolição da escravidão. Assolados pela fome, escassez de empregos remunerados, falta de moradias, o povo negro foi empurrado para longe do convívio do branco, concentrando-se em localidades que hoje são chamadas de periferias. Ao português estranho ao continente cumpre juntar o negro, igualmente alienígena. A importação começou desde o estabelecimento das capitanias e avultou nos séculos seguintes, primeiro por causa da cultura da cana, mais tarde por causa do fumo, das minas, do algodão e do café. Depois da supressão do tráfico em 1850, o café provocou deslocações consideráveis na distribuição interna; o mesmo efeito produziu a abolição (ABREU, 2009, p. 16). FIGURA 5 – TRANSPORTE DE NEGROS AFRICANOS PARA COMPOSIÇÃO DE MÃO DE OBRA ESCRAVA FONTE: <https://www.olharconceito.com.br/imgsite/noticias/1(85).jpg>. Acesso em: 16 maio 2020. UNIDADE 1 — O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO DOS SÉCULOS XIX E XX 14 Diversos foram os personagens e acontecimentos que marcaram a resistência negra em território brasileiro. Desde o suicídio das pessoas que não mais aguentavam os maus-tratos de uma vida sob regime de escravidão, os abortos induzidos pelas escravas negras que eram estupradas recorrentemente pelos seus senhores, até as paralisações, assassinatos e guerras contra os escravocratas, são exemplos de reação do povo negro trazido para cá. Muitos mártires, símbolos da violência e crueldade cometidas contra o povo negro no Brasil, são hoje considerados heróis que contribuíram no processo de libertação que se arrasta até os dias de hoje. Os escravos negros, muitas vezes, conseguiam fugir das senzalas, que eram os barracões e outras habitações insalubres e inseguras construídas pelos senhores de escravos (“donos” das pessoas que eram traficadas para mão de obra escrava) para abrigar o povo capturado em terras africanas. Esses escravos, então, associavam-se e formavam comunidades denominadas quilombos, onde passavam a se concentrar e acolher os demais negros fugitivos. Os quilombolas, moradores dos quilombos, eram comumente surpreendidos por ofensivas de capitães do mato, empregados dos senhores de escravos que caçavam e castigavam os fugitivos. Cabe salientar que muitos desses capitães do mato eram negros que ganhavam algumas regalias de seus senhores em troca de seus serviços, dentre elas a delação de escravos que planejavam fugir e a aplicação de penas físicas e diversos tipos de tortura. No interior das senzalas, os negros escravizados manifestavam sua fé e cultura, na medida do possível. As más condições das habitações resultavam em doenças e outros tipos de mazelas que dificultavam ainda mais a vida dos escravos. Já nos quilombos, que eram assentamentos mais isolados, escondidos da ação dos senhores de escravos e capitães do mato, os costumes dos negros escravizados podiam se manifestar de forma mais livre. Até hoje, no Brasil, existe certo preconceito em relação à cultura e religião de matriz afrodescendente. O senso comum dos brasileiros recorrentemente associa as crenças religiosas dos negros à feitiçaria ou a chamada “macumba”, expressão utilizada para estigmatizar a cultura negra. Houve muitas grandes e sangrentas revoltas decorrentes da tentativa de emancipação do povo negro em nosso país. Alguns dos principais símbolos de resistência negra e batalhas em nome da libertação dos escravos negros no Brasil estão listadas no quadro a seguir: QUADRO 2 – ALGUMAS DAS RESISTÊNCIAS DE ESCRAVOS NEGROS NO BRASIL • Quilombo dos Palmares: liderado por Zumbi dos Palmares e sua esposa Dandara, foi o maior quilombobrasileiro, situado onde hoje fica o estado do Alagoas, concentrando boa parte dos escravos fugitivos e soltos voluntariamente. TÓPICO 1 — A FORMAÇÃO SOCIAL BRASILEIRA 15 • Fuga do Engenho Santana: em 1789, um grupo de escravos fugitivos constituiu um quilombo dentro do qual se organizaram e construíram um trato para apresentar aos senhores daquele engenho. Dentre as principais reivindicações estavam o direito ao lazer, folgas e liberação das manifestações culturais daquele grupo. • Revolta dos Malês: rebelião organizada por negros livres e escravos da Bahia em busca da abolição. Esse levante ocorreu no ano de 1835 e foi uma das dezenas de greves só no estado baiano. • Rebelião de Carrancas: outra importante rebelião ocorrida, dessa vez, em Minas Gerais no ano de 1833. • Revolta de Manoel Congo: levante organizado por Manoel Congo no município de Vassouras, no Rio de Janeiro. Ocorreu no ano de 1838. • Balaiada: resistência que ocorreu entre os anos de 1839 a 1842 no Maranhão, na qual escravos liderados por Cosme Bento das Chagas preocuparam as elites. FONTE: O autor Muito contribuiu para o fim da escravidão formal no Brasil as ações do chamado Movimento Abolicionista, composto por diversas classes sociais. Artistas, membros da elite, intelectuais, negros alforriados, escravos e mulheres promoveram diversos tipos de trabalho a favor da abolição da escravatura no Brasil. Isso não significa que os outros tipos de resistência já mencionados, além de muitos outros, não configurem movimentos abolicionistas. Todavia, o movimento passa a ter maior visibilidade e ascensão quando as camadas mais privilegiadas da sociedade brasileira interviram de forma mais ativa. Esse fato ilustra o severo grau de racismo incrustado em nossa sociedade, desde seus primórdios, quando a discriminação em relação às vontades dos negros era ainda mais explícita. FIGURA 6 – MOVIMENTO ABOLICIONISTA FONTE: <https://cutt.ly/6gbdOZ2>. Acesso em: 17 maio 2020. UNIDADE 1 — O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO DOS SÉCULOS XIX E XX 16 Consideradas as bases de nossa sociedade, formada pelos povos nativos, colonizadores europeus e escravos negros trazidos da África, avançaremos para os períodos posteriores à era colonial. O advento da união do território brasileiro a Portugal no ano de 1815, somado às crises financeiras e políticas da coroa portuguesa, impulsionaram uma demanda pela Independência do Brasil, que já não sustentava tantas cobranças por parte também da Inglaterra. As elites portuguesas pressionavam pela volta do regime colonial no Brasil, enquanto as elites já estabelecidas em nossas terras não possuíam esse anseio. O então rei de Portugal, Dom João VI, deixa seu filho – que viria a se tornar Dom Pedro I – tomando conta da política brasileira até que, no ano de 1889, é proclamada a República Brasileira. Nos primeiros anos da República Velha (1889-1930), nosso povo se encontrava sob regime militar. Esse período é chamado de República da Espada (1889-1894). Deodoro da Fonseca entra como Presidente da República, substituindo o regime provisório dos militares. No ano é estabelecida a Constituição de 1891, cujos principais pressupostos eram o as eleições diretas para homens alfabetizados com mais de 21 anos de idade, o federalismo, que consistia no confio de certa autonomia para os estados, divisão do poder em Legislativo, Executivo e Judiciário. Nessa época o Brasil também passa a emitir moedas em papel, medida adotada por Rui Barbosa, o então Ministro da Fazenda. O período que vai de 1894 até 1930 é chamado de República Oligárquica, quando fora eleito Prudente de Moraes, primeiro presidente civil eleito. A política do Brasil era comandada por uma oligarquia rural, ou seja, por grandes produtores. O Partido Republicano Paulista (PRP) e o Partido Republicano Mineiro (PRM) eram os partidos que mais lançavam presidentes. A Política Café com Leite, batizada em referência às duas maiores atividades econômicas da época, era o regime eleitoral predominante, no qual os governadores dos estados brasileiros e os presidentes da República acordavam de maneira tanto legal quanto ilegal para não haver oposição à presidência vigente e garantia de autonomia estatal. De outro modo, a Política Café com Leite consistia em trocas de favores entre presidentes e governadores de forma a manipularem o jogo político. O coronelismo era o regime em que os coronéis, grandes proprietários de terra que exerciam influência direta sobre o povo que vivia no interior de seus domínios, conduziam o voto de cabresto. O voto de cabresto era a imposição do voto ao povo, que era submisso e financeiramente dependente dos violentos coronéis que o ameaçava. Tal regime provocou grandes desigualdades e exclusão no Brasil republicano, fato que motivou o nascimento dos chamados movimentos sociais do período. É válido ressaltarmos que as resistências indígena e negra do período colonial brasileiro também foram modalidade de movimento social, pois consistia na reivindicação por melhores condições de vida por parte das classes menos privilegiadas da sociedade. TÓPICO 1 — A FORMAÇÃO SOCIAL BRASILEIRA 17 Entre 1893 e 1897, ocorre no Brasil a chamada Guerra de Canudos no nordeste brasileiro. Frente às condições de miséria vivenciadas pelo povo nordestino, assolado pela fome, seca e violência crescentes, Antônio Conselheiro, autointitulado um “enviado de Deus”, toma a frente de um movimento que resulta na formação do povoado de Canudos. As gigantescas proporções que o resultado dos discursos de Conselheiro tomou, abriu espaço para uma ofensiva das forças republicanas que massacraram o povo de Canudos. Há relatos que em torno de 20 mil, dos 25 mil habitantes de Canudos, foram mortos pelo exército. Além disso, aquela cidade foi totalmente destruída nesse ataque genocida ao povo nordestino, protagonizado pelas forças armadas brasileiras. Dentre os mais notáveis movimentos sociais da época estava a Revolta da Vacina, no Rio de Janeiro, onde diversas pessoas estavam insatisfeitas com os constantes desalojamentos determinados pelo estado. Os despejos eram realizados para a manutenção viária e construção de espaços públicos, além disso, nesse mesmo período foi imposta a obrigatoriedade da vacinação contra as epidemias que assolavam o Rio. O acúmulo de lixo era um problema que trazia graves doenças para a população, dentre elas estão: a varíola, a peste bubônica e a febre amarela, doenças que matavam milhares de pessoas na época. Frente às drásticas medidas adotadas pelo então presidente Rodrigues Alves, eleito em 1902, o povo carioca se amotinou. FIGURA 7 – REVOLTA DA VACINA FONTE: <https://cutt.ly/Mgbd04S>. Acesso em: 17 maio 2020. A Revolta da Chibata (1910) foi um movimento social por meio do qual os marinheiros brasileiros de baixa patente reivindicavam o fim dos maus tratos que sofriam. O líder deles era João Cândido, conhecido como almirante negro, que fomentava os pedidos por melhor condições de trabalho, alimentação e a anistia daqueles que se envolveram na referida revolta. O movimento foi duramente reprimido pelo governo. Mais tarde, entre 1912 e 1917, ocorre a Guerra do Contestado, entre as fronteiras do estado do Paraná e Santa Catarina. UNIDADE 1 — O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO DOS SÉCULOS XIX E XX 18 O conflito sócio-político se originou da construção de uma estrada de ferro que ligaria São Paulo ao Rio Grande do Sul e demandou a expulsão de muitas pes- soas de suas terras. José Maria de Santo Agostinho, líder que se sensibilizou com o sofrimento daqueles camponeses, posicionou-se contra o regime republicano brasi- leiro e logo seu movimento de resistência foi desmantelado pelas forças do governo. O declínio do regime republicano oligárquico se deu com a ascensão do tenentismo. Os tenentes eram jovens oficiais que eram contra as oligarquias ruralistas que conseguiram implantar o voto secreto no Brasil. Em meio a uma crise econômica que afetou o mercado brasileirodo café, enfraquecendo as elites aqui estabelecidas, existiu também um conflito político entre Minas Gerais e São Paulo. No ano de 1930, o então presidente Washington Luís, lançado por São Paulo, estava em seu último ano de mandato, apoiando o candidato Getúlio Vargas que perdera as eleições para Júlio Prestes, de Minas Gerais. Sob suspeitas de fraudes eleitorais agravadas pelo o assassinato de João Pessoa, vice de Getúlio Vargas, Júlio Prestes é deposto por militares que, por meio de um golpe, nomeiam Vargas presidente da República no ano de 1930. Tal fato marca o fim do período da República Velha. A breve síntese que acabamos de fazer acerca da formação social do Brasil nos apresenta alguns dos elementos que formam a base de nossa sociedade. Nosso povo, nossa cultura, costumes, crenças e tradições, são fruto de um complexo e amplo processo histórico que envolveu diversos povos, de diversos cantos do Planeta. No próximo tópico continuaremos com a síntese histórica nacional sob a perspectiva de diversos autores fundamentais à teoria social brasileira. 19 Neste tópico, você aprendeu que: • O território que hoje corresponde ao Brasil era habitado por nativos de diversas etnias antes da chegada dos invasores portugueses. • Os povos indígenas, como são conhecidos até hoje os povos nativos brasileiros, possuíam uma cultura altamente desenvolvida, além do domínio sobre os recursos naturais aqui existentes. • A invasão portuguesa trouxe consigo a escravidão, tanto dos povos nativos quanto dos negros trazidos da África para cá. • Muitos movimentos de resistência e luta pela emancipação de nossos povos foram travadas em território brasileiro. • O chamado período republicano foi marcado por diversas revoltas populares e regimes políticos variados. • A sociedade brasileira foi formada por elementos advindos das culturas nativa, negra e europeia. RESUMO DO TÓPICO 1 20 1 Antes mesmo de ser conhecido como Brasil, o território no qual vivemos era habitado por diversas etnias nativas. Esses povos eram, em sua maioria, pessoas que viviam em harmonia com a natureza, além de possuírem política bem organizada e altos conhecimentos sobre os recursos naturais – que eram muito mais abundantes antes da invasão portuguesa. A chegada dos europeus em terras brasileiras foi motivo de muitos conflitos e resistência por parte dos povos que aqui habitavam. Covardemente explorados pelos colonizadores, os chamados e até hoje conhecidos como indígenas, foram submetidos a trabalhos braçais por objetos que recebiam em troca por meio do escambo, quando não eram explicitamente escravizados. De acordo com as lutas por emancipação protagonizadas pelos povos indígenas no Brasil, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Houve grandes cercos a cidades e vilas ocupadas por colonizadores europeus em busca da libertação de pessoas escravizadas, muitos deles terminando em sangrentos confrontos entre nativos e invasores. ( ) Alguns grupos indígenas faziam acordos com colonizadores, conforme às demandas por melhores condições de vida às suas tribos, o que não impedia que membros da mesma tribo não concordassem com os termos estabelecidos pelos portugueses e outros europeus. ( ) Aconteceram conflitos nos quais diversos grupos indígenas diferentes se associaram para lutar em resistências às más condições de vida impostas pela colonização europeia, alguns terminando na expulsão ou morte de colonos invasores. ( ) Os índios submetidos ao escambo não estavam sendo explorados, pois as trocas estabelecidas pelos portugueses eram sempre justas e supriam as necessidades dos povos nativos, sem demanda por conflitos. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – V – V – F. b) ( ) V – V – V – V. c) ( ) F – V – V – V. d) ( ) F – V – F – V. e) ( ) F – F – F – V. 2 O povo negro que foi trazido por meio de tráfico negreiro e hoje compõe mais da metade da população brasileira, sempre foi combativo em relação aos abusos cometidos pelos senhores de engenho do período colonial brasileiro e às sequelas sociais iniciadas nesse tempo. Embora sejam diversos os relatos históricos que atribuem à Princesa Isabel e ao 13 de maio à liberdade do povo negro no Brasil, estudamos que o trabalho realizado a favor da plena emancipação dessas pessoas continua contemporaneamente, porém, protagonizado pelo próprio movimento. Foram diversos os levantes AUTOATIVIDADE 21 dos escravos negros, que se rebelavam e se concentravam em quilombos, reivindicando por direitos que vão desde melhores condições de vida nas senzalas à liberdade de manifestações culturais e religiosas. Com base nos principais conflitos que ocorreram em nome da liberdade do povo negro no Brasil, analise as sentenças a seguir: I - Zumbi dos Palmares foi um grande líder negro que orientou a resistência do quilombo dos Palmares, o maior e mais populoso do Brasil, onde ele e sua esposa Dandara trabalharam a favor da emancipação de seu povo. II - Era muito comum a prática do suicídio entre o povo negro na época das senzalas, tão como os abortos realizados por escravas que eram vítimas frequentes de estupros cometidos pelos senhores de escravos. III - Dentre as práticas de resistência, que fizeram parte da luta a favor da emancipação do povo negro no período colonial, estão as greves e os levantes contra os abusos sofridos durante o regime escravagista. IV - Apesar da Lei Áurea propor, no dia 13 de maio de 1888, a libertação dos escravos no Brasil, as dificuldades sociais junto à discriminação e preconceito contra os negros são sequelas do período escravista até os dias de hoje. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Somente a sentença I está correta. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) Somente a sentença III está correta. d) ( ) As sentenças I, II, III e IV estão corretas. 3 O período do Brasil República, dividido em vários momentos conforme historiadores, foi marcado por diversas revoltas populares e militares. Os novos movimentos sociais emergentes no final do século XIX e início do século XX coexistiam com diversos movimentos e dinâmicas sociais baseadas na autoridade e no militarismo. De acordo com os conhecimentos absorvidos no primeiro tópico de nosso livro de Sociologia Brasileira, disserte acerca dos conceitos de coronelismo, tenentismo e sobre a Guerra de Canudos e a Revolta da Vacina. 22 23 TÓPICO 2 — A UNIDADE 1 SISTEMATIZAÇÃO DA SOCIOLOGIA NO BRASIL 1 INTRODUÇÃO A Sociologia no Brasil emergiu de um processo histórico no qual as demandas pela construção de uma teoria social que atendesse a alguns tipos de interesse. No presente tópico, abordaremos o processo de organização da Sociologia Brasileira anterior a sua formalização e institucionalização. Ou seja, analisaremos o período de nascimento das primeiras análises sociais documentadas por autores genuinamente brasileiros, que vivenciaram boa parte da história de nosso povo e nossa sociedade. Desse modo, conseguiremos acompanhar, mesmo que de maneira resumida, a trajetória que percorreram as análises sociais brasileiras. Serão estudadas desde as experiências de estudo social pioneiras, realizadas em ambiente e por profissionais não pertencentes ao meio propriamente sociológico, até o pensamento social científico/acadêmico contemporâneo, metodologicamente mais avançados. Começaremos pela contextualização do período no qual escreveram os principais autores de nosso pensamento social, partindo para a análise das ideias de diversos outros influentes pensadores nacionais, tão como aqueles que são considerados marginais, tanto acadêmica quanto popularmente. Então começaremos pelas principais abordagens dos estudos sociais do Brasil. 2 A CONSTITUIÇÃO DO PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO O conflito entre classes foi o objeto de estudo mais enfatizado das Ciências Sociais em seu período de nascimento. Isso ocorria em todo o mundo e na América Latinanão foi diferente. O pensamento social foi muito influenciado pelas teorias marxistas (MARX, 2013), pois a principal preocupação dos primeiros pensadores a investigar a dinâmica social do continente era a condição de exploração das então colônias europeias. A pobreza, conflitos étnico-raciais, a violência de maneira geral e o processo histórico que resultaram em tais fatores foram as principais abordagens da época. O pensamento social no Brasil, naturalmente, foi constituído por pensadores que não eram considerados sociólogos, teóricos políticos ou outras classificações intelectuais e/ou acadêmicas. Basta lembrarmos que o reconhecimento dos campos do saber de maneira isolada, como hoje é feito na Academia, é um fenômeno bastante recente. 24 UNIDADE 1 — O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO DOS SÉCULOS XIX E XX As primeiras formações acadêmicas de pesquisadores sociais, ocorre na década de 1930 em nosso país. As Ciências Sociais brasileiras foram impulsionadas, em grande parte, por autores independentes que relatavam suas impressões sobre o período histórico no qual viveram e seu passado. Conforme os estudos de Cândido (2006), podemos dividir a Sociologia Brasileira em dois períodos, de acordo com os pensadores e o contexto no qual escreveram. O referido autor sustenta que o primeiro período de produção do pensamento social brasileiro está compreendido entre os anos de 1880 e 1930, sendo o período de 1930-1940 considerado um momento de transição para a produção intelectual voltada à sociedade brasileira a partir da década de 1940. A partir daí a Sociologia estaria mais estruturada e seus autores cada vez mais especializados na investigação dos fenômenos sociais nacionais. No Brasil, podemos distinguir nitidamente, na evolução da Sociologia, dois períodos bem configurados (1880-1930 e depois de 1940), com uma importante fase intermédia de transição (1930-1940). No primeiro, é praticada por intelectuais não especializados, interessados principalmente em formular princípios teóricos ou interpretar de modo global a sociedade brasileira. Além disso, não se registra o seu ensino, nem a existência da pesquisa empírica sobre aspectos delimitados da realidade presente (CÂNDIDO, 2006, p. 271). Considerado o trecho anterior, partiremos das análises de autores do século XIX para então compreendermos o processo histórico pelo qual se desenvolveu o pensamento social brasileiro. Iniciaremos nossos estudos sobre a constituição do pensamento social brasileiro a partir da obra de Constância Duarte (2010) sobre Nísia Floresta Brasileira Augusta, pseudônimo de Dionísia Gonçalves Pinto, nascida em Papari, no Rio Grande do Norte, no ano de 1810. Ela foi um grande nome do pensamento social do século XIX e uma das pioneiras do debate de gênero nacional. Quando observamos o percurso realizado pelas mulheres na conquista de seus direitos mais elementares, como o de ser alfabetizada, poder frequentar escolas ou simplesmente ser considerada dotada de inteligência, verificamos o quanto esse trajeto foi penoso. Em parte, é possível vislumbrá-lo através das trilhas deixadas por algumas escritoras em seus textos, conscientes de que faziam parte de uma reduzida elite de mulheres letradas, e que a educação era importante para a valorização social do gênero feminino. Dentre as que participaram desse debate, ao longo do século XIX, está a norte-rio- grandense Nísia Floresta Brasileira Augusta, autora de importantes títulos sobre a mulher, professora e fundadora de colégios para meninas, que muito contribuiu para o avanço da educação feminina em nosso país (DUARTE, 2010, p. 11). Além dos direitos da mulher, Nísia Floresta reivindicava, por meio de seus escritos, pelos direitos fundamentais dos índios e dos escravos negros brasileiros. Ela escreveu sobre os direitos das mulheres e os abusos cometidos pelos homens na sociedade patriarcal na qual estamos inseridos. TÓPICO 2 — A SISTEMATIZAÇÃO DA SOCIOLOGIA NO BRASIL 25 Foi um grande exemplo de resistência feminina que, em tempos quando a mulher era dificilmente alfabetizada, forçada a ficar em casa cuidando exclusivamente da família e dos afazeres domésticos, Nísia Floresta viajou por países como Portugal, Inglaterra, Alemanha, Grécia, Itália e França, estudando e lecionando para meninas. Umas de suas obras mais notáveis é Direitos das mulheres e injustiça dos homens (FLORESTA, 1839), publicada pela primeira vez no ano de 1833. Pode ser considerada uma das precursoras do movimento feminista brasileiro, inspirando não só mulheres, mas diversos estratos sociais menos privilegiados, explorados e escravizados. FIGURA 8 – RETRATO DE NÍSIA FLORESTA FONTE: Duarte (2010, p. 10) Um dos grandes nomes do abolicionismo brasileiro é o de Joaquim Na- buco (1849-1910). Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo foi um político, di- plomata, advogado e historiador pernambucano que publicava poesias e chegou a ser Deputado Geral da Província no ano de 1878. Fundou em sua casa, na praia do Flamengo, uma Sociedade Contra a Escravidão. No ano de 1884, Nabuco apoiava o Gabinete liberal Sousa Dantas, que propôs diversas medidas que objetivavam extinguir gradualmente a escravidão no Brasil. Em 1985 é promulgada a Lei dos Se- xagenários e, em 1887, Nabuco se torna deputado de Pernambuco. Em discurso na Câmara condena a utilização do Exército na perseguição dos escravos fujões. Teve forte atuação nos trâmites para a assinatura da Lei Áurea em 13 de maio de 1888. FIGURA 9 – JOAQUIM NABUCO FONTE: <https://cutt.ly/egmJcqE>. Acesso em: 19 maio 2020. 26 UNIDADE 1 — O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO DOS SÉCULOS XIX E XX No dia 29 de maio de 1867, nascia em Aracati, no Ceará, Adolfo Ferreira Caminha, um escritor naturalista que publicou poemas e fundou a Padaria Espiritual, movimento literário-político que sustentava a importância da educação no que diz respeito aos avanços sociais. Nasceu em tempos difíceis nos quais a seca assolava o nordeste brasileiro. Simpatizava com o abolicionismo e publicou o jornal O Pão. Sua difícil vida que se findou aos seus 30 anos de idade, inspirou obras grandes e quase sempre trágicas. FIGURA 10 – ADOLFO CAMINHA FONTE: <https://cutt.ly/3gmJSud>. Acesso em: 19 maio 2020. Outro grande nome do pensamento social brasileiro é João da Cruz e Sousa, poeta, filho de escravos, que nasceu em 1861, na cidade de Nossa senhora do Desterro. Teve a oportunidade de estudar no Liceu Provincial de Santa Catarina apesar da dura discriminação racial que sofria. Quem financiou seus estudos foram os antigos “proprietários” de seus pais, que eram aristocratas. Escreveu para o jornal abolicionista Tribuna Popular e é patrono da Academia Catarinense de Letras. Colaborou com o jornal Folha Popular e escreveu também para revistas. Era ativista a favor do fim do racismo e seus textos quase sempre tratavam dos temas escravidão, solidão e dor. Pode ser considerado um símbolo da difícil ascensão do povo negro aos cargos tradicionalmente brancos, tão como um dos negros pioneiros da Academia no Brasil. Apesar das dificuldades provocadas pelo racismo que sofria, era bastante reconhecido entre seus colegas e chegou a ser apelidado de “Dante Negro”, em referência ao escritor humanista da Itália, Dante Alighieri. TÓPICO 2 — A SISTEMATIZAÇÃO DA SOCIOLOGIA NO BRASIL 27 FIGURA 11 – CRUZ E SOUSA FONTE: <https://cutt.ly/WgmJ0ss>. Acesso em: 19 maio 2020. Domingos José Gonçalves de Magalhães, que viria a se tornar o Visconde do Araguaia, é outro dos grandes nomes da política e pensamento social do século XIX. Foi um carioca que construiu uma densa carreira, trabalhando como médico, professor, diplomata, político, poeta e ensaísta. Divulgou a cultura brasileira por meio da Revista Niterói, fundada por ele junto aos escritores brasileiros Manuel de Araújo Porto-Alegre (1806-1879) e Francisco de Sales Torres Homem (1812-1876). Foi Deputado do Rio Grande do Sul e diplomata no cargo de Ministro de Negócios de paísescomo Paraguai, Argentina, Uruguai, Estados Unidos, Itália, Vaticano, Áustria, Rússia e Espanha. Também atuou como professor de Filosofia e possui uma extensa obra. FONTE: <https://www.todamateria.com.br/goncalves-de-magalhaes/>. Acesso em: 19 maio 2020. FIGURA 12 – GONÇALVES DE MAGALHÃES FONTE: <https://cutt.ly/ngmKvvm>. Acesso em: 19 maio 2020. 28 UNIDADE 1 — O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO DOS SÉCULOS XIX E XX O poeta, professor, crítico de história, jornalista, teatrólogo e etnólogo, Antônio Gonçalves Dias, nasceu em Caxias, no Maranhão, no ano de 1823, sendo um dos pensadores que ajudaram a construir o pensamento social brasileiro. Fundou a Revista Literária Guanabara e escreveu para diversos jornais da época. O autor mestiço foi autor do livro Os Últimos Cantos e grande divulgador da grandeza indígena do Brasil. Exaltava o povo nativo brasileiro, atribuindo o papel de protagonista aos índios de seus contos. É autor da famosa Canção do Exílio. FIGURA 13 – GONÇALVES DIAS FONTE: <https://s.ebiografia.com/assets/img/authors/go/nc/goncalves-dias-l.jpg>. Acesso em: 19 maio 2020. Por fim, consideremos a obra de Machado de Assis, que foi um jornalista, contista, cronista, romancista, poeta e teatrólogo, nascido no ano de 1839, no Rio de Janeiro. Joaquim Maria Machado de Assis é considerado um dos maiores, senão o maior nome da literatura brasileira. Foi criado no Morro do Livramento, estudou de acordo com suas condições e se tornou um grande revisor e escritor brasileiro. Também colaborou com o indianismo, dedicando várias de suas obras ao povo nativo brasileiro. No quadro a seguir, encontram-se algumas de suas principais obras e suas sínteses: QUADRO 3 – AS OBRAS MAIS IMPORTANTES DE MACHADO DE ASSIS Memórias Póstumas de Brás Cubas – Nesta criação de 1881, o autor nos mostra a perspectiva de um narrador, Brás Cubas, que decide contar sua história de vida após sua morte. O livro é cercado de ironia e críticas aos privilégios e a elite da época, uma das principais obras de Machado de Assis e sempre exigido nos vestibulares. Dom Casmurro – Esta obra foi publicada pela primeira vez em 1899 e traz o olhar minucioso do autor sobre a sociedade e um tema polêmico: o ciúme. Isso, além de uma das mais famosas personagens da literatura brasileira: Capitu. TÓPICO 2 — A SISTEMATIZAÇÃO DA SOCIOLOGIA NO BRASIL 29 A Mão e a Luva – Segundo romance de Assis, a obra foi publicada em 1874, em folhetins. Dessa forma, se comparada aos livros anteriores, sua escrita é algo mais superficial e simples, com um tom novelesco. A trama gira em torno dos relacionamentos burgueses e da personagem Guiomar, protagonista considerada heroína da história. Helena – Com a trama ambientada em Andaraí, no Rio de Janeiro, acompanhamos um romance cercado de surpresas, amor proibido e personagens dramáticos. Dividido no total de 28 capítulos, esta obra de Machado de Assis faz críticas à sociedade e foi publicada em formato de folhetim, em 1876. Quincas Borba – Lançado em 1891, neste livro acompanhamos a história de Rubião, um ingênuo rapaz que decide seguir os ensinamentos do filósofo Quincas Borba. Narrado em terceira pessoa, o livro possui traços realistas para a época, com muita ironia e certas doses de pessimismo. Iaiá Garcia – Marcando o fim da fase romântica de Machado de Assis, o livro de 1878, também reúne detalhes da sociedade daquela época: os interesses, questões de poder, amores proibidos e casamentos arranjados. Ressurreição – Esta obra de Machado de Assis, de 1872, marca o estilo “machadiano”, com os traços de romance, a intimidade com o leitor e o pessimismo presente em quase todos os seus livros. No enredo temos Félix, um rapaz descrente da própria vida amorosa até se apaixonar por Lívia. Depois, somos cercados pela desconfiança do personagem e, mais uma vez, pelo ciúme cego do protagonista. FONTE: <https://beduka.com/blog/materias/literatura/principais-obras-machado-assis/>. Acesso em: 19 maio 2020. FIGURA 14 – MACHADO DE ASSIS FONTE: <http://machado.mec.gov.br/templates/machado/img/machado.png>. Acesso em: 19 maio 2020. 30 UNIDADE 1 — O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO DOS SÉCULOS XIX E XX É claro que o pensamento social brasileiro foi construído por diversos outros autores que, infelizmente, não poderemos apresentar no presente material. Todavia, a partir da obra de tais intelectuais, conseguimos identificar os principais problemas sociais brasileiros vivenciados até o século XIX. A partir daí, podemos explorar as principais abordagens das Ciências Sociais brasileiras, por mais que ainda não existisse um campo do saber específico dedicado a esses estudos até então. As principais inquietações dos autores tributários ao pensamento social do Brasil serão abordadas no próximo subtópico, que ampliará nosso repertório de autores fundamentais à formação da Sociologia Brasileira tal como a concebemos hoje. É importante salientar que as sínteses apresentadas no presente tópico são de caráter introdutório. A complexidade e vastidão da produção da Teoria Social brasileira demanda pesquisas mais aprofundadas, tendo em vista o caráter fundamental da História do Brasil para o entendimento da problemática social nacional. 3 PRINCIPAIS ABORDAGENS DA TEORIA SOCIAL BRASILEIRA O subtópico anterior nos apresentou alguns dos tributários da Teoria Social Brasileira que evidenciam os principais objetos de estudo do período que se inicia com a chegada dos portugueses ao Brasil até o Período Colonial. Agora, destacaremos as abordagens predominantes intrínsecas ao pensamento social brasileiro, inserindo o ponto de vista de outros autores fundamentais à composição das Ciências Sociais no Brasil. No século XIX, o autor Tobias Barreto de Menezes já tecia reflexões sobre temas que abarcavam a Filosofia e Psicologia a fim de compreender o pensamento humano. Desde o referido período, Menezes (1889) já expressava suas inquietudes em relação à condição humana e nossos direitos fundamentais. A dominação de determinadas classes e os efeitos sociais do sistema capitalista faziam parte do pensamento desse autor que reconhecia a importância da literatura para a construção do pensamento social. Espíritos medíocres que tiveram a ventura de apparecer á hora própria, poderam facilmente conseguir uma reputação intelectual, acima do seu mérito e dos seus esforços. De dia em argumentando e capitalisando esse renome indebto, fructo do commercio com a ignorância geral, chegaram enfim ao ponto de immobilisar, por assim dizer, na pessoa deles, todas as honras literárias, e tornal-as para outros de uma quasi impossível acquisição (sic) (MENEZES, 1889, p. 113-114). Outras abordagens da sociedade brasileira foram realizadas por Sílvio Romero, que considerava imprescindível levarmos em conta as condições climáticas e geográficas do Brasil, os três povos fundamentais que o formaram tão como os aspectos morais de nosso povo para compreendermos nossa realidade (MORAES FILHO, 1999). O autor sustenta a ideia de que os estudos sociais devem contemplar análises antropológicas, biológicas, filosóficas e políticas para que sejam consistentes. TÓPICO 2 — A SISTEMATIZAÇÃO DA SOCIOLOGIA NO BRASIL 31 [...] Sílvio Romero avança a hipótese de que o estudo deve considerar o conjunto de elementos assim classificados: primários (ou naturais); secundários (ou étnicos) e terciários (ou morais). No primeiro plano as questões mais importantes dizem respeito ao clima e ao meio geográfico. Aponta-os: “o excessivo calor, ajudado pelas secas na maior parte do país; as chuvas torrenciais no vale do Amazonas, além do intensíssimo calor; a falta de grandes vias fluviais entre o S. Francisco e o Paraíba: as febres de mau caráter reinantes na costa”. A isto acrescenta: “o mais notável dos secundários é a incapacidade relativa das três raças que constituíram a população do país. Os últimos – os fatores históricos chamados política, legislação, usos, costumes, que são efeitos que depois
Compartilhar