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Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo CRB-10/2094 Equipe de tradução desta edição: Adriane Belló Klein (Capítulo 15) Professora titular do Departamento de Fisiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestre e Doutora em Fisiologia pela UFRGS. Pós-Doutora pela University of Manitoba. Orientadora permanente do Programa de Pós-Graduação em Fisiologia da UFRGS. Amanda Stapenhorst Azambuja (Capítulo 8) Mestre em Fisiologia pela UFRGS. Doutora em Ciências Biológicas: Fisiologia pela UFRGS. Ana Caroline Hillebrand (Capítulos 23 e 26) Mestre em Fisiologia pela UFRGS. Doutoranda em Ciências Biológicas: Fisiologia pela UFRGS. Bruno Dutra Arbo (Capítulos 19 e 20) Mestre e Doutor em Ciências Biológicas: Fisiologia pela UFRGS. Caetana Machado Ledur (Apêndices A, B e C) Biomédica. Mestre em Fisiologia pela UFRGS. Denise Maria Zancan (Capítulo 13) Professora associada do Departamento de Fisiologia da UFRGS. Mestre e Doutora em Fisiologia pela UFRGS. Orientadora permanente do Programa de Pós-Graduação em Neurociências da UFRGS. Guilherme Baldo (Capítulos 2, 3, 4 e 5) Professor adjunto do Departamento de Fisiologia da UFRGS. Doutor em Bioquímica pela UFRGS. Orientador permanente do Programa de Pós-Graduação em Fisiologia da UFRGS. Hilton Kenji Takahashi (Capítulos 6 e 7, Créditos e Índice) Pós-Doutor em Fisiologia e controle redox da célula beta-pancreática no Institut de Recherche Expérimentale et Clinique, Université Catholique de Louvain, Bélgica. Júlia Schneider (Apêndices A, B e C) Biomédica. Mestre em Fisiologia pela UFRGS. Luciano Stürmer de Fraga (Capítulos 1, 11 e 12) Professor adjunto do Departamento de Fisiologia da UFRGS. Mestre e Doutor em Fisiologia pela UFRGS. Patrícia Martins Bock (Capítulos 16, 21 e 24) Professora das Faculdades Integradas de Taquara (FACCAT). Mestre e Doutora em Ciências Biológicas: Fisiologia pela UFRGS. Pós-Doutora no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). Rafael Colombo (Capítulos 17 e 18) Doutor em Ciências Biológicas: Fisiologia pela UFRGS. Paulo Cavalheiro Schenkel (Capítulo 14) Professor adjunto do Departamento de Fisiologia da UFRGS. Mestre e Doutor em Fisiologia pela UFRGS. Renata Menezes Rosat (Capítulo 9) Professora do Departamento de Fisiologia do ICBS/UFRGS. Médica. Licenciada em Educação Física pela UFRGS. Mestre em Ciências Biológicas/Fisiologia pela UFRGS. Doutora em Medicina: Clínica Médica pela UFRGS. Vinicius Fernandes Cruzat (Capítulos 22 e 25, Iniciais, Guardas) Pesquisador adjunto na School of Biomedical Sciences, Curtin University, Australia. Mestre e Doutor em Ciências, área de Nutrição Experimental pela Universidade de São Paulo (USP). Pós-Doutor em Fisiologia pela USP e Metabolismo pela School of Biomedical Sciences, Curtin University, Australia. Wania Aparecida Partata (Capítulo 10) Professora associada do Departamento de Fisiologia da UFRGS. Mestre e Doutora em Fisiologia pela UFRGS. Orientadora permanente do Programa de Pós-Graduação em Fisiologia da UFRGS. Equipe de tradução da 5ª edição: Aline de Souza Pagnussat Fisioterapeuta. Professora adjunta do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. Mestre e Doutora em Neurociências pela UFRGS. Ivana Beatrice Mânica da Cruz Bióloga. Professora adjunta da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Professora orientadora dos Programas de Pós-Graduação em Bioquímica Toxicológica e em Farmacologia da UFSM. Colaboradora do Doutorado em Biomedicina da Universidad de León, Espanha. Mestre e Doutora em Genética e Biologia Molecular pela UFRGS. Pós-Doutora em Demografia do Envelhecimento pela University of California, EUA. Ivo Emilio da Cruz Jung Acadêmico de Psicologia. Bolsista de Iniciação Científica em Biogenômica do Desenvolvimento na UFSM. Marco Aurélio Echart Montano Químico. Professor assistente da Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc). Professor do Programa de Pós-Graduação em Biociência e Saúde da Unoesc. Mestre em Biotecnologia pela Universidade de Caxias do Sul (UCS). Doutor em Biomedicina pela Universidad de León, Espanha. Maria Gabriela Valle Gottlieb Bióloga. Mestre em Medicina e Ciências da Saúde pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Medicina e Ciências da Saúde da PUCRS. Maria Izabel de Ugalde Marques da Rocha Farmacêutica. Professora associada do Departamento de Morfologia da UFSM. Mestre em Ciências Farmacêuticas pela UFSM. Doutora em Fisiologia pela UFRGS. S587f Silverthorn, Dee Unglaub. Fisiologia humana : uma abordagem integrada [recurso eletrônico] / Dee Unglaub Silverthorn ; [tradução: Adriane Belló Klein ... et al.] ; revisão técnica: Maria Flávia Marques Ribeiro, Mauricio Krause, Paulo Cavalheiro Schenkel. – 7. ed. – Porto Alegre : Artmed, 2017. Editado como livro impresso em 2017. ISBN 978-85-8271-404-1 1. Fisiologia humana. I. Título. CDU 612 Fisiologia humana: uma abordagem integrada 65 protetora, chamada de glicocálice. As glicoproteínas presentes na superfície da célula desempenham um papel-chave na respos- ta imune do corpo. Por exemplo, os grupos sanguíneos ABO são determinados pelo número e pela composição dos açúcares liga- dos aos esfingolipídeos da membrana. REVISANDO CONCEITOS 1. Dê o nome de três tipos de lipídeos encontrados nas membranas celulares. 2. Descreva três tipos de proteínas de membrana e como eles são associadas à membrana celular. 3. Por que os fosfolipídeos da membrana celular formam uma bicamada, em vez de uma camada simples? 4. Quantas bicamadas fosfolipídicas uma substância atravessa ao entrar em uma célula? A Figura 3.2c é um mapa resumido da organização da es- trutura da membrana celular. COMPARTIMENTOS INTRACELULARES Muito do que conhecemos sobre as células vem de estudos de organismos simples que consistem em uma única célula. Entre- tanto, os seres humanos são muito mais complexos, com trilhões de células no corpo. Foi estimado que existam mais de 200 tipos diferentes de células no corpo humano, cada tipo com sua pró- pria estrutura e função características. Durante o desenvolvimento, as células especializam-se e adquirem formas e funções específicas. Todas as células do corpo herdam informação genética idêntica no seu DNA, mas nenhu- ma célula usa todas essas informações. Durante a diferenciação, apenas alguns genes se tornam ativos, transformando a célula em uma unidade especializada. Na maioria dos casos, o tamanho, a forma final de uma célula e o seu conteúdo refletem a sua função. A Figura 3.1b mostra cinco células representativas do corpo hu- mano. Estas células maduras têm aspecto diferente entre si, mas todas começaram de forma similar no embrião e mantêm muitas características em comum. As células são divididas em compartimentos Podemos comparar a organização estrutural de uma célula à de uma cidade medieval. A cidade é separada da zona rural circun- dante por uma muralha alta, com entrada e saída estritamente controladas por meio de portões que podem ser abertos e fecha- dos. A cidade dentro dessas muralhas é dividida em ruas e em diversos conjuntos de casas e lojas com funções variadas. Dentro da cidade, um governante do castelo vigia as idas e vindas diárias dos habitantes. Como a cidade depende de comida e matéria- -prima que vêm de fora das muralhas, o governante negocia com os fazendeiros da zona rural. Invasores estrangeiros são sempre uma ameaça, então o governante se comunica e coopera com os governantes das cidades vizinhas. Na célula, o limite externo é a membrana celular. Similar à muralha da cidade, ela controla o movimento de material entre o interior e o exterior da célula pela abertura e o fechamento de “portões” constituídos de proteínas. O lado interno é dividido em compartimentos, em vez de lojas e casas. Cada um desses com- partimentos tem uma finalidade específica que contribui para o funcionamentoda célula como um todo. Na célula, o DNA que está no núcleo é o “governante do castelo”, controlando tanto o funcionamento interno da célula quanto a interação com outras células. Como a cidade, a célula depende de suprimentos do seu meio externo. Ela também deve se comunicar e cooperar com outras células para manter o corpo em funcionamento de forma coordenada. A FIGURA 3.4a é um resumo da estrutura celular. As células do corpo são circundadas pela solução salina diluída do líquido extracelular. A membrana celular separa o meio interno da célula (o líquido intracelular) do líquido extracelular. Internamente, a célula é dividida em citoplasma e núcleo. O citoplasma consiste em uma porção líquida, o citosol; partículas insolúveis, chamadas de inclusões; proteínas fibrosas insolúveis; e estruturas delimitadas por membranas, chamadas de organelas. A Figura 3.4 mostra uma célula típica da parede do intestino delgado. Ela possui a maioria das estruturas encontradas nas cé- lulas animais. O citoplasma inclui o citosol, inclusões, fibras e organelas O citoplasma inclui todo o material envolvido pela membrana celular, exceto o núcleo. Ele possui quatro componentes: 1. Citosol, ou líquido intracelular: é um líquido semigela- tinoso separado do líquido extracelular pela membrana celular. O citosol contém nutrientes e 6 proteínas dissolvi- dos, íons e produtos residuais. Os outros componentes do citoplasma – inclusões, fibras e organelas – estão suspensos no citosol. 2. Inclusões são partículas de materiais insolúveis. Algumas são nutrientes armazenados. Outras são responsáveis por funções celulares específicas. Essas estruturas são, às vezes, chamadas de organelas não membranosas. 3. Proteínas fibrosas insolúveis formam o sistema de susten- tação interno da célula, ou citoesqueleto. 4. Organelas – “pequenos órgãos” – são compartimentos delimitados por membrana que têm papéis específicos a desempenhar na função geral da célula. Por exemplo, as organelas denominadas mitocôndrias geram a maior parte do ATP celular, e as organelas denominadas lisossomos agem como um sistema digestório da célula. As organe- las trabalham de maneira integrada, cada uma assumindo uma ou mais das funções celulares. As inclusões estão em contato direto com o citosol As inclusões das células não possuem membranas limitantes, de modo que estão em contato direto com o citosol. O movimento de material entre inclusões e citosol não requer transporte através de uma membrana. Os nutrientes são armazenados como grânu- los de glicogênio e gotas lipídicas. A maioria das inclusões com funções que não o armazenamento de nutrientes é constituída de proteínas ou combinações de RNA e proteínas. FIGURA 3.4 REVISÃO (b) Citoesqueleto Centríolos (d) Lisossomos Os lisossomos são vesículas de estocagem pequenas, esféricas, que contêm enzimas que degradam biomoléculas. (c) Peroxissomos Os peroxissomos contêm enzimas que degradam ácidos graxos e materiais exógenos. (e) Centríolos Os centríolos são formados por microtúbulos e guiam o DNA durante a divisão celular. As microvilosidades aumentam a área da superfície celular. Elas são sustentadas por microfilamentos. Os microfilamentos formam uma rede logo abaixo da membrana. celular. Os microtúbulos são as maiores fibras do citoesqueleto. Os filamentos intermediários incluem a miosina e a queratina. Citoplasma Citosol Núcleo Membrana celular A CÉLULA é composta por Líquido extracelular • Gotas de lipídeos • Grânulos de glicogênio • Ribossomos Inclusões • Citoesqueleto • Centríolos • Cílios • Flagelos Proteínas fibrosas • Mitocôndrias • Retículo endoplasmático • Aparelho de Golgi • Lisossomos • Peroxissomos Organelas delimitadas por membranas Estrutura celular (a) Mapa esquemático da estrutura celular. A membrana celular separa o meio interno da célula (o líquido intracelular) do líquido extracelular. Internamente, a célula está dividida em citoplasma e núcleo. O citoplasma consiste em uma porção líquida, chamada de citosol; estruturas delimitadas por membranas, chamadas de organelas; partículas insolúveis, chamadas de inclusões; e redes de proteínas que formam o citoesqueleto. (g) Mitocôndria RE rugoso Ribossomos Membrana externa Vesícula Cisternas Espaço intermembrana Matriz Crista RE liso (h) Aparelho de Golgi e vesículas (j) Núcleo Poros nucleares Envelope nuclear Nucléolo (f) Membrana celular A membrana celular é uma bicamada fosfolipídica com proteínas embutidas, as quais agem como transportadores, enzimas, receptores de sinal ou estruturas de ancoramento. Glicolipídeos e glicoproteínas estão presentes somente na face extracelular da membrana. A membrana celular age tanto como portão quanto como barreira entre o citoplasma e o líquido extracelular. Mitocôndrias são estruturas aproximadamente esféricas com uma dupla parede que cria dois compartimentos separados dentro da organela. A matriz interna é circundada por uma membrana que se dobra em folhetos, chamados de cristas. O espaço intermembrana, que se situa entre as duas membranas, exerce um importante papel na produção de ATP. As mitocôndrias são os locais de produção da maioria do ATP celular. O retículo endoplasmático (RE) é uma rede de tubos membranosos interconectados que são uma continuação da membrana nuclear externa. O retículo endoplasmático rugoso possui uma aparência granular devido aos ribossomos localizados na sua superfície citoplasmática. O retículo endoplasmático liso não possui ribossomos, tendo aspecto de tubos membranosos lisos. O RE rugoso é o principal local da síntese proteica. O RE liso sintetiza lipídeos e, em alguns tipos celulares, concentra e armazena íons cálcio. O núcleo é circundado por uma membrana dupla, o envelope nuclear. Ambas as membranas do envelope possuem poros que permitem a comunicação com o citoplasma. A membrana externa do envelope nuclear se conecta à membrana do retículo endoplasmático. Em células que não estão em divisão, o núcleo aparece cheio com material granular espalhado, composto de DNA e proteínas. Em geral, um núcleo também contém de 1 a 4 corpos escuros maiores contendo DNA, RNA e proteínas, chamados de nucléolos. O aparelho de Golgi consiste em uma série de espaços ocos em curva, chamados de cisternas, empilhados e circundados por vesículas. Ele participa na modificação e no empacotamento de proteínas. (i) Retículo endoplasmático (RE) e ribossomos 68 Dee Unglaub Silverthorn Ribossomos (Fig. 3.4i) são grânulos de RNA e proteínas pequenos e densos que produzem proteínas sob o comando do DNA celular (ver Capítulo 4). Os ribossomos fixos ligam-se à superfície citosólica das organelas. Os ribossomos livres estão em suspensão, livres no citosol. Alguns ribossomos livres formam grupos de 10 a 20 ribossomos, chamados de polirribossomos. Um ribossomo que está fixo em um minuto, pode se libertar e se tornar um ribossomo livre no próximo minuto. Os ribossomos são mais numerosos em células que sintetizam proteínas que são exportadas da célula. As proteínas fibrosas citoplasmáticas podem ter três tamanhos As três famílias de proteínas fibrosas citoplasmáticas são clas- sificadas de acordo com o diâmetro e a composição proteica (TAB. 3.2). Todas as fibras são polímeros de proteínas menores. As mais finas são as fibras de actina, também chamadas de micro- filamentos. Os filamentos intermediários são um pouco maiores, e podem ser formados por diferentes tipos de proteínas, incluindo queratina, no cabelo e na pele, e neurof ilamentos, em neurônios. As proteínas fibrosas maiores são os microtúbulos ocos, formados por uma proteína chamada de tubulina. Um grande número de proteínas acessórias está associado às proteínas fibrosas da célula. As proteínas fibrosas insolúveis da célula têm dois propó- sitos gerais: suporte estrutural e movimento. O suporte estrutural vem principalmente do citoesqueleto.O movimento da célula ou de elementos dentro da célula ocorre com a ajuda de proteínas fibrosas e de um grupo de enzimas especializadas, denominadas proteínas motoras. Essas funções serão discutidas com mais deta- lhes nas seções seguintes. Os microtúbulos formam centríolos, cílios e flagelos As maiores proteínas fibrosas citoplasmáticas, os microtúbulos, formam as estruturas complexas dos centríolos, dos cílios e dos flagelos, os quais estão todos envolvidos em alguma forma de mo- vimento celular. O centro organizador dos microtúbulos na célula, o centrossomo, adiciona as moléculas de tubulina nos microtúbu- los. O centrossomo aparece como uma região escurecida próxima ao núcleo da célula. Na maioria das células animais, o centrosso- mo contém dois centríolos, mostrados na célula da Figura 3.4e. Cada centríolo é um feixe cilíndrico de 27 microtúbulos, ar- ranjados em 9 tripletes. Na divisão celular, os centríolos guiam os movimentos das fitas de DNA. Nas células que perderam a capa- cidade de divisão, como os neurônios maduros, faltam centríolos. Os cílios são estruturas curtas semelhantes a pelos, que se projetam a partir da superfície celular como cerdas de uma escova. A maioria das células possui um único cílio curto, mas as células que revestem as vias aéreas superiores e parte do tra- to reprodutor feminino são cobertas por cílios. Nestes tecidos, o movimento ciliar coordenado gera correntes que varrem líquidos ou secreções da superfície celular. A superfície de um cílio é uma continuação da membrana celular. O eixo dos cílios móveis contém nove pares de microtúbulos cercando um par central. (FIG. 3.5b). Os microtúbulos terminam dentro da célula no corpo basal. Estes cílios batem de forma rítmica, para trás e para a frente, quando os pares de microtúbulos deslizam um sobre o outro com a ajuda da proteína motora dineína. Os flagelos têm o mesmo arranjo de microtúbulos que os cílios, mas são consideravelmente mais longos. Os flagelos são encontrados em células únicas livres, e em seres humanos a única célula flagelada é o espermatozoide. Um espermatozoide possui somente um flagelo, em contraste com as células ciliadas, que podem ter uma superfície quase completamente coberta de cílios. (Fig. 3.5a). Os movimentos ondulatórios do flagelo empurram o espermatozoide pelo líquido, da mesma maneira que a contração ondulatória do corpo de uma cobra a empurra no seu ambiente na direção da cabeça. Os flagelos movem-se e dobram-se pelos mesmos mecanismos básicos dos cílios. O citoesqueleto é uma estrutura modificável O citoesqueleto é uma estrutura tridimensional flexível, modifi- cável, com microfilamentos de actina, filamentos intermediários e microtúbulos que se estendem por todo o citoplasma. Algumas proteínas fibrosas do citoesqueleto são permanentes, porém a maioria é sintetizada ou desmontada de acordo com as necessi- dades da célula. Pela natureza mutável do citoesqueleto, seus de- talhes organizacionais são complexos e não serão discutidos aqui. O citoesqueleto tem pelo menos cinco funções importantes. 1. Forma das células. A estrutura proteica do citoesqueleto dá resistência mecânica para a célula e, em algumas célu- las, desempenha um papel importante na determinação da forma celular. A Figura 3.4b mostra como fibras do citoes- queleto ajudam na sustentação de microvilosidades, pro- jeções digitiformes (“em forma de dedos”) da membrana celular que aumentam a área de superfície para a absorção de materiais. TABELA 3.2 Diâmetro das proteínas fibrosas no citoplasma Diâmetro Tipo de proteína Funções Microfilamentos 7 nm Actina (globular) Citoesqueleto; associa-se com a miosina para a contração muscular Filamento intermediário 10 nm Queratina, proteínas do neurofilamento (filamentos) Citoesqueleto, cabelos e unhas, barreira protetora da pele Microtúbulos 25 nm Tubulina (globular) Movimento de cílios, flagelos e cromossomos; transporte intracelular de organelas; citoesqueleto Fisiologia humana: uma abordagem integrada 69 2. Organização interna. As fibras do citoesqueleto estabili- zam a posição das organelas. A Figura 3.4b ilustra organe- las que são mantidas no lugar pelo citoesqueleto. Observe, entretanto, que esta figura é apenas uma “foto” de um mo- mento na vida da célula. O arranjo interior e a composi- ção de uma célula são dinâmicos, mudando de minuto a minuto em resposta às necessidades da célula, da mesma maneira que há sempre movimento no interior da cidade mencionada antes. Uma desvantagem de ilustrações está- ticas de livros-texto é que elas são incapazes de representar com precisão o movimento e a natureza dinâmica de mui- tos processos fisiológicos. 3. Transporte intracelular. O citoesqueleto ajuda a trans- portar materiais para dentro da célula e dentro do cito- plasma, funcionando como um “trilho” intracelular para o deslocamento de organelas. Essa função é particularmente importante nas células do sistema nervoso, onde o mate- rial deve ser transportado por distâncias intracelulares de até cerca de um metro. 4. União das células nos tecidos. Proteínas fibrosas do ci- toesqueleto se conectam com as do espaço extracelular, ligando as células umas às outras e ao material de suporte extracelular. Além de dar resistência mecânica aos tecidos, essas ligações permitem a transferência de informações de uma célula à outra. 5. Movimento. O citoesqueleto ajuda a célula a se mover. Por exemplo, ele ajuda os leucócitos a se esgueirarem para fora dos vasos e auxilia as células nervosas em crescimento a emitirem projeções quando se expandem. Os cílios e os flagelos na membrana celular são capazes de se mover de- vido aos microtúbulos do seu citoesqueleto. Os movimen- tos e o transporte intracelular são facilitados por proteínas motoras especiais que usam energia proveniente do ATP para deslizar ou andar pelas fibras do citoesqueleto. As proteínas motoras geram movimento As proteínas motoras são proteínas que convertem energia ar- mazenada em movimento. Existem três grupos de proteínas mo- toras associadas com o citoesqueleto: miosinas, cinesinas e dineí- nas. Todos os três grupos usam energia armazenada no ATP para impulsioná-las ao longo das fibras do citoesqueleto. As miosinas ligam-se a fibras de actina e são mais bem conhecidas pelo seu papel na contração muscular (Capítulo 12). Cinesinas e dineínas auxiliam o movimento de vesículas pelos mi- crotúbulos. As dineínas também se associam com feixes de micro- túbulos dos cílios e flagelos para criar seu movimento de chicote. Flagelo Cílios Cílio (a) Cílios (b) Cílios e flagelos possuem nove pares de microtúbulos circundando um par central. (c) O batimento dos cílios e flagelos gera o movimento do líquido. Membrana celular Movimento do líquido Movimento do líquido Microtúbulos FIGURA 3.5 Cílios e flagelos. CONCEITOS EMERGENTES Cílios únicos são sensores Os cílios no corpo não são limitados às vias aéreas e ao trato reprodutor feminino. Os cientistas sabem há anos que a maioria das células contém um único cílio, que é es- tacionário (não móvel), mas imaginavam que estes cílios primários solitários fossem resquícios evolutivos e sem significância. Os cílios primários diferem estruturalmente dos cílios móveis porque eles não possuem o par central de microtúbulos encontrados nos cílios móveis (um arranjo 9 � 0, em vez de 9 � 2; ver Fig. 3.5). Os pesquisadores, nos últimos anos, aprenderam que esses cílios possuem uma função. Eles podem atuar como sensores do ambien- te externo, passando informações para dentro da célula. Por exemplo, os cílios primários em fotorreceptores do olho auxiliam com a detecção da luz, e os cílios primários no rim percebem o fluxo de líquidos. Utilizando-se técnicas moleculares, descobriu-se que essas pequenas estruturas também possuem papéis importantes no desenvolvimento embrionário. Mutações em proteínas ciliares causam trans- tornos (ciliopatias), variando desde doença policísticado rim até perda de visão e até mesmo tumores. O papel dos cílios primários em outras doenças, incluindo a obesidade, é, no momento, um tópico de intensa pesquisa. 70 Dee Unglaub Silverthorn REVISANDO CONCEITOS 5. Cite os três tamanhos das proteínas fibrosas citoplasmáticas. 6. Qual seria o efeito da ausência do flagelo no espermatozoide? 7. Qual é a diferença entre citoplasma e citosol? 8. Qual é a diferença entre um cílio e um flagelo? 9. Qual é a função das proteínas motoras? A maioria das proteínas motoras são compostas por vá- rias cadeias de proteínas arranjadas em três partes: duas cabeças que se ligam à fibra do citoesqueleto, um pescoço e uma região de cauda que é capaz de se ligar à “carga”, como uma organela que necessita ser transportada através do citoplasma (FIG. 3.6). As cabeças ligam-se alternadamente à fibra do citoesqueleto e, depois, soltam-se, “dando um passo” à frente, usando a energia armazenada no ATP. As organelas criam compartimentos para desempenhar funções especializadas As organelas são compartimentos subcelulares separados do cito- sol por uma ou mais membranas fosfolipídicas com estrutura si- milar à da membrana celular. Esses compartimentos criados pelas organelas permitem que a célula isole substâncias e separe funções. Por exemplo, uma organela pode conter substâncias que seriam prejudiciais à célula, como as enzimas digestórias. As Figuras 3.4g, 3.4h e 3.4i mostram os quatro principais grupos de organelas: mi- tocôndrias, o aparelho de Golgi, o retículo endoplasmático e esfe- ras delimitadas por membrana, chamadas de vesículas. Mitocôndrias Mitocôndrias são organelas únicas em mui- tos aspectos. Primeiro, elas têm uma parede dupla incomum que cria dois compartimentos separados na mitocôndria (Fig. 3.4g). No centro, dentro da membrana interna, há o compartimento chamado de matriz mitocondrial. A matriz contém enzimas, ribossomos, grânulos e, surpreendentemente, seu próprio DNA. Este DNA mitocondrial possui uma sequência de genes dife- rente da encontrada no núcleo. Por ter seu próprio DNA, a mito- côndria pode produzir algumas de suas próprias proteínas. Por que as mitocôndrias contêm DNA e outras organe- las não? Essa pergunta tem sido assunto de estudo profundo e minucioso. De acordo com a teoria endossimbionte procariótica, a mitocôndria descende de bactérias que invadiram as células há milhões de anos. As bactérias desenvolveram uma relação de be- nefício mútuo com seus hospedeiros e, logo, tornaram-se uma parte integrante da célula hospedeira. O elemento que reforça essa teoria é o fato de que os nossos DNA, RNA e enzimas mi- tocondriais são semelhantes aos de bactérias, porém diferentes daqueles dos nossos núcleos celulares. O segundo compartimento do interior de uma mitocôn- dria é o espaço intermembrana, que se encontra entre as mem- branas mitocondriais externa e interna. Esse compartimento tem um papel importante na produção de ATP mitocondrial, de modo que o número de mitocôndrias em uma célula está di- retamente relacionado às necessidades de energia da mesma. Por exemplo, as células do músculo esquelético, que utilizam uma grande quantidade de energia, têm mais mitocôndrias do que as células menos ativas, como as células adiposas (gordura). Outra característica incomum da mitocôndria é a sua ca- pacidade para se replicar mesmo quando a célula à qual ela per- tence não está em divisão celular. Esse processo é auxiliado pelo DNA mitocondrial, o que permite que a organela controle sua própria duplicação. As mitocôndrias replicam-se por brotamen- to, durante o qual pequenas mitocôndrias-filhas se desprendem de uma mitocôndria maior. Por exemplo, as células musculares em exercício, que têm aumento da demanda de energia, podem atender à demanda de mais ATP, aumentando o número de mi- tocôndrias no seu citoplasma. O retículo endoplasmático O retículo endoplasmático, ou RE, é uma rede de tubos membranosos interligados que possuem três funções principais: síntese, armazenamento e transporte de Fibra do citoesqueleto Organela Proteína motora Direção do movimento ATP FIGURA 3.6 Proteínas motoras. As cadeias das proteínas motoras formam uma cauda, que se liga a organelas ou outra carga, e duas cabeças que “caminham” ao longo do citoesque- leto utilizando a energia do ATP. SOLUCIONANDO O PROBLEMA Durante um exame citopatológico de Papanicolau para veri- ficar a presença de câncer de colo, as amostras de tecido do colo do útero são obtidas com um instrumento que lembra uma minúscula escova. As células são retiradas da escova, colocadas em um líquido de conservação e enviadas ao labo- ratório. Lá, a amostra é processada em uma lâmina de vidro que será examinada primeiro pelo computador e, após, por um citologista treinado. O computador e o citologista procu- ram por displasia, uma mudança no tamanho e na forma de células que indica alterações cancerígenas. A célula cance- rosa normalmente pode ser reconhecida por ter um núcleo grande circundado por uma quantidade relativamente peque- na de citoplasma. No primeiro exame citopatológico feito em Jan, foram observadas todas as características de displasia. P2: O que está acontecendo nas células cancerosas que expli- ca o grande tamanho do seu núcleo e a quantidade relati- vamente pequena de citoplasma? 59 797061 85 88 Fisiologia humana: uma abordagem integrada 71 biomoléculas (Fig. 3.4i.). O nome retículo vem da palavra latina para rede e se refere ao arranjo em rede dos túbulos. Micrografias eletrônicas revelam que há duas formas de RE: retículo endo- plasmático rugoso (RER) e retículo endoplasmático liso (REL). O retículo endoplasmático rugoso é o principal local de sín- tese proteica. As proteínas são montadas em ribossomos ligados à superfície citoplasmática do RE rugoso e, em seguida, levadas ao lúmen do RE rugoso, onde elas sofrem alterações químicas. O retículo endoplasmático liso não possui ribossomos e é o principal local para a síntese de ácidos graxos, esteroides e lipídeos (p. 30). No RE liso, os fosfolipídeos da membrana celular são pro- duzidos, e o colesterol é modificado, formando hormônios esteroi- des, como os hormônios sexuais estrogênio e testosterona. O RE liso das células hepáticas e renais desintoxica ou inativa fármacos. Nas células do músculo esquelético, uma forma modificada do RE liso armazena íons cálcio (Ca 2� ) para serem utilizados na contra- ção muscular. O aparelho de Golgi O aparelho de Golgi (também conhe- cido como complexo de Golgi) foi descrito primeiro por Camillo Golgi, em 1898 (Fig. 3.4h). Durante anos, os investigadores pen- saram que esta organela era apenas o resultado do processo de fixação necessário para o preparo de tecidos para exame sob o microscópio óptico. Contudo, agora sabemos, a partir de estudos de microscopia eletrônica, que o aparelho de Golgi é, de fato, uma organela distinta. Ele consiste em uma série de sacos cur- vados ocos, chamados de cisternas, empilhados um em cima do outro como uma série de bolsas de água quente e rodeados por vesículas. O aparelho de Golgi recebe proteínas sintetizadas no RE rugoso e modifica e armazena essas proteínas nas vesículas. Vesículas citoplasmáticas As vesículas citoplasmáticas delimitadas por membrana são de dois tipos: secretoras e de ar- mazenamento. As vesículas secretoras contêm proteínas que se- rão liberadas pela célula. O conteúdo da maioria das vesículas de armazenamento, contudo, nunca deixa o citoplasma. Os lisossomos são pequenas vesículas de armazenamento que aparecem na forma de grânulos delimitados por membrana no citoplasma (Fig. 3.4d). Os lisossomos atuam como o sistema digestório da célula. Eles utilizam enzimas poderosas para degra- dar bactérias ou organelas velhas, como as mitocôndrias, até seus componentes moleculares. Aquelas moléculas que podem ser reutilizadas são reabsorvidas no citosol, ao passo que o restante é eliminado da célula. Foram identificados 50tipos de enzimas nos lisossomos de diferentes tipos de células. Devido ao fato de as enzimas lisossômicas serem tão pode- rosas, os pesquisadores trataram de resolver a questão de porque essas enzimas normalmente não destroem as células que as contêm. O que os cientistas descobriram é que as enzimas lisossômicas são ativadas apenas em condições muito ácidas, 100 vezes mais ácidas do que os níveis de acidez normais do citoplasma. Logo que os li- sossomos se desprendem do aparelho de Golgi, o seu pH é próximo ao do citosol, 7,0 a 7,3. As enzimas são inativas nesse pH. Sua ina- tividade é uma forma de segurança. Se o lisossomo se romper ou acidentalmente liberar as enzimas, elas não prejudicarão a célula. No entanto, à medida que o lisossomo permanece no ci- toplasma, ele acumula H � em um processo que utiliza energia. O aumento das concentrações de H � diminuem o pH dentro da vesícula para 4,8 a 5,0, e as enzimas são ativadas. Uma vez ativa- das, as enzimas lisossômicas podem degradar biomoléculas dentro da vesícula. A membrana lisossômica não é afetada pelas enzimas. As enzimas digestórias dos lisossomos não são sempre mantidas isoladas dentro da organela. Ocasionalmente, os lisos- somos liberam suas enzimas para fora da célula para dissolver material de suporte extracelular, como as porções duras de carbo- nato de cálcio presentes nos ossos. Em outras ocasiões, as células permitem que as enzimas de seus lisossomos entrem em contato com o citoplasma, levando à autodigestão de toda a célula ou de parte dela. Quando os músculos atrof iam (encolhem) por falta de uso ou o útero diminui de tamanho após a gestação, a perda de massa celular é devida à ação dos lisossomos. Uma liberação inapropriada de enzimas lisossômicas tem sido implicada em certas doenças, como a inflamação e a des- truição dos tecidos das articulações que ocorrem na artrite reu- matoide. Nas condições herdadas, chamadas de doenças de arma- zenamento do lisossomo, os lisossomos são ineficazes, uma vez que eles não têm algumas enzimas específicas. Uma das doenças de armazenamento do lisossomo mais conhecidas é a condição fatal herdada, chamada de doença de Tay-Sachs. Bebês com a doença de Tay-Sachs possuem lisossomos defeituosos que falham na de- gradação dos glicolipídeos. O acúmulo de glicolipídeos nos neu- rônios causa disfunção do sistema nervoso, incluindo cegueira e perda da coordenação. A maioria dos bebês que apresentam a doença de Tay-Sachs morre no início da infância. Os peroxissomos são vesículas de armazenamento ainda menores que os lisossomos (Fig. 3.4c). Durante anos, pensou- -se que eles eram um tipo de lisossomo, mas agora sabemos que os peroxissomos contêm um conjunto diferente de enzimas. Sua principal função parece ser a degradação de ácidos graxos de cadeia longa e de moléculas exógenas potencialmente tóxicas. Os peroxissomos possuem esse nome a partir do fato de que as reações que ocorrem dentro deles geram peróxido de hi- drogênio (H2O2), uma molécula tóxica. Eles convertem rapida- mente esse peróxido para oxigênio e água, utilizando a enzima ca- talase. Os distúrbios peroxissomais interrompem o processamento normal dos lipídeos e podem alterar gravemente a função neural pela modificação da estrutura das membranas dos neurônios. REVISANDO CONCEITOS 10. O que distingue as organelas das inclusões? 11. Qual é a diferença anatômica entre o retículo endoplasmático rugoso e o retículo endoplasmático liso? Qual é a diferença funcional? 12. Em que os lisossomos diferem dos peroxissomos? 13. Aplique o princípio fisiológico da compartimentalização às organelas em geral e às mitocôndrias em particular. 14. Um exame microscópico de uma célula revela muitas mitocôndrias. O que essa observação implica em relação à necessidade de energia da célula? 15. Ao examinar um tecido de uma espécie desconhecida de peixe, você descobre um tecido contendo grande quantidade de retículo endoplasmático liso nas células. Qual é a possível função dessas células? Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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