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OS EFEITOS DA POLÍTICA DE VALORIZAÇÃO DO SALÁRIO MÍNIMO SOBRE 
A RECENTE QUEDA DA DESIGUALDADE DE RENDA NAS MACRORREGIÕES 
BRASILEIRAS 
 
Autor: Cássio Freitas Daldegan. Mestrando em Economia, Universidade Federal de Minas 
Gerais, UFMG, Brasil. 
 
Resumo 
Entre as regiões brasileiras, com exceção do Distrito Federal, a renda de todos os trabalhos foi 
a que mais contribuiu para a variação na desigualdade de renda entre 1996 e 2009, 
desigualdade essa que tem se reduzido desde a década passada. Com trabalhadores que 
recebem exatamente um salário mínimo concentrados entre os de menor renda, especialmente 
para Norte e Nordeste, a valorização do mesmo se mostra importante para tal redução. 
Levando em conta as distribuições da renda total das regiões brasileiras, vemos uma 
convergência no pico das distribuições para uma renda maior, mas sem grandes mudanças na 
estrutura das mesmas. 
Palavras-chave: Salário mínimo; distribuição de renda; renda do trabalho. 
 
Área temática: Políticas públicas 
 
Abstract 
Among Brazilian regions, with the exception of the Federal District, the income from all jobs 
was the largest contributor to the reduction in income inequality between 1996 and 2009. 
With workers earning exactly the minimum wage concentrated among lower incomes, 
especially to the North and Northeast regions, the appreciation of it becomes important for 
such reduction. Taking into account the distributions of the total income of the Brazilian 
regions, we see a convergence of peak distributions for a higher income, but without major 
changes in the structure of the same. 
 
Keywords: Minimum wage; income distribution; labor income. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1. Introdução 
 
 O Brasil tem como uma de suas características marcantes o elevado nível de desigualdade de 
renda, que continua muito alta em relação à média mundial. Entretanto, tal quadro vem 
sofrendo uma melhora desde o início da década passada. Dentre várias medidas que podem 
ser utilizadas para o cálculo da desigualdade, a evolução do coeficiente de Gini, entre 2001 e 
2009 permitiu observar alguns períodos de queda mais acentuada e outros menos, mas sem 
interrupção. Esse cenário de redução contínua da desigualdade é o que diferencia esse período 
de vários outros que registram queda em períodos de tempo isolados. 
 Vários estudos já foram feitos procurando identificar os mecanismos que mais contribuíram 
para tal processo e, de forma geral, a renda do trabalho se mostra sempre relevante, sendo 
vista, em grande parte, como a principal determinante. Entretanto, o Brasil se mostra muito 
heterogêneo quanto à composição da remuneração dos trabalhadores. As diferentes regiões 
que compõem nosso país tem características próprias quanto à composição de seus 
trabalhadores dentro do “leque” de remunerações possíveis. Algumas apresentam uma maior 
concentração de trabalhadores com remuneração igual ou em torno do salário mínimo, 
enquanto em outras há maior diversificação. Isso faz com que o impacto da valorização 
salarial sobre a desigualdade de renda seja distinto pelo país. Além disso, a definição do valor 
do salário mínimo influencia a remuneração não apenas daqueles que recebem remuneração 
igual ao mesmo, mas também daqueles que tem seu salário de certa forma indexado ao salário 
mínimo. 
 Devido a este alcance, a política de valorização do salário mínimo vem desempenhando um 
papel social muito importante. O objetivo deste trabalho é identificar a influência do salário 
mínimo como fator redutor da desigualdade de renda nas regiões do Brasil: Sul, Sudeste, 
Nordeste, Norte e Centro-Oeste, além do Distrito Federal1, entre os anos de 1996, 2001, 2005 
e 2009, período em que a valorização do salário mínimo foi expressiva. 
 Neste sentido, para melhor entendimento da política de valorização do salário mínimo no 
Brasil, parte-se de uma discussão sobre a trajetória histórica do mesmo e de sua possível 
relação com a desigualdade de renda, seguida da fundamentação teórica dessa relação e da 
literatura empírica sobre o tema. Nas sessões subsequentes, apresentam-se a estratégia 
empírica e os principais resultados. Por fim, são traçadas algumas considerações finais. 
 
2. Trajetória histórica do salário mínimo 
 
 O salário mínimo é a remuneração mínima que deve ser paga aos trabalhadores com carteira 
assinada nos países em que este é determinado por lei. De acordo com a Constituição Federal 
de 1988, o salário mínimo deve ser uma remuneração que permita ao trabalhador arcar com as 
necessidades vitais básicas do mesmo e de sua família, como os gastos com moradia, 
alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com 
reajustes periódicos para garantir a preservação de seu poder aquisitivo. 
 Apesar de ter seu valor estabelecido pelo governo federal, o salário mínimo tem valores 
diferentes entre os estados brasileiros desde sua criação, o que se explica não só pela 
diferença entre os objetivos dos governantes de cada estado como também por uma adequação 
aos diferentes custos de vida entre as regiões brasileiras. A abrangência do salário mínimo 
aumentou com o tempo. Estabelecido em 1940, até 1963, ele era restrito apenas aos 
trabalhadores urbanos, quando alcançou também os trabalhadores rurais. Apesar de ter sido 
unificado em 1984, a partir de 2000 foi permitido aos estados definir mínimos estaduais 
acima do valor definido a nível federal. A área de influência do mesmo vai além da 
 
1 Tal divisão será considerada pois o Distrito Federal apresenta características muito distintas da região Centro-
Oeste como um todo. 
 
 
remuneração de trabalhadores com carteira, tendo representado cada vez mais a remuneração 
dos aposentados, que por terem a correção de sua aposentadoria abaixo da correção anual do 
mínimo (quando tem um salário maior que o valor mínimo) cada vez mais aposentados 
recebam o piso. Há também, mesmo que informalmente, uma parcela relevante de 
trabalhadores sem carteira assinada que tem o valor de sua remuneração determinada pelo 
valor do salário mínimo, o que indica um papel progressivo da atual política de valorização do 
mesmo na redução da desigualdade de renda, uma vez que ele consiste na remuneração da 
parcela mais pobre da população, sendo na maioria das vezes a principal fonte de renda. 
 Desde seu estabelecimento, o salário mínimo sofreu muitas variações em seu valor real, o 
que não permitiu a constância de seu poder aquisitivo. Quando estabelecido, o valor do salário 
mínimo era de R$ 603,97 reais, com base em janeiro de 2013. Sofrendo várias reduções de 
seu valor real ao longo do tempo, apenas em 1954 ele teve um reajuste que possibilitou um 
aumento acima de seu nível estabelecido em 1940, tendo tal medida enfrentado forte oposição 
(VIANNA, 1990). 
 Em seguida, seu valor sofreu variações constantes, em que o objetivo era a reposição de seu 
valor real dado o processo inflacionário pelo qual o país passava. A inflação era utilizada 
nesse período para promover um financiamento inflacionário de muitos gastos do governo nas 
áreas de atuação do Plano de Metas. A partir de 1964, com o advento do golpe militar, houve 
uma mudança nos rumos da política salarial. Esta passou a ser utilizada para combater o que 
se entendia como uma inflação de custos (RESENDE, 1990). A recomposição do salário 
mínimo era feita com base na média da inflação durante o ano, e não mais pelo pico, o que fez 
com que este sofresse uma redução considerável. 
 Posteriormente, o país passou por um período de crescimento elevado que perdurou até o 
fim da década de 1970. O crescimento econômico era prioridade e, com isso, planos 
econômicos como o 1° e o 2° Plano Nacional de Desenvolvimento tinham como objetivo 
promover o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) por meio de medidas como o 
incentivo à formação bruta de capital fixo. Foram definidas metas de desenvolvimento 
regional para reduzira disparidade entre as regiões, mas não houve uma política social 
definida, o que não permitiu uma melhora efetiva no nível de desigualdade. Com a inflação 
tratada como um problema secundário, o salário real acabou sofrendo com os efeitos 
redutores da mesma, não tendo havido uma compatibilidade entre o aumento da produtividade 
que ocorreu na época e aumentos reais do salário mínimo. Para que a queda no valor real da 
remuneração ocorresse sem maior resistência dos trabalhadores foram fundamentais a 
repressão do direito à greve e a retirada do poder de negociação dos sindicatos durante o 
regime militar. 
 Com o retorno à democracia, em 1985, a inflação passou a ser tratada como inflação inercial, 
caracterizada pela constância em seu valor de um período para o outro na ausência de choques 
externos, devido aos mecanismos de indexação da economia (MODIANO, 1990). Marcado 
por uma inflação mensal que na maior parte do período alcançava dois dígitos, nos primeiros 
anos de retorno à democracia foram implantados uma série de planos econômicos de combate 
à mesma. A correção salarial, assim como de outros preços relativos, era feita com base na 
inflação passada, mas com o nível mensal elevado da mesma, aquele perdia valor real muito 
rapidamente. Foi um período de variações constantes no valor real do salário mínimo, tendo 
sido este utilizado inclusive como instrumento de combate à inflação por meio do 
congelamento salarial. Apenas com o advento do Plano Real em 1994, a inflação foi reduzida 
de modo a dar condições para que o salário mínimo pudesse voltar a crescer sem ser um 
mecanismo da alimentação da mesma. A partir de então, a valorização salarial tem sido 
praticamente contínua, como pode ser visto no gráfico abaixo. 
 
 
 
 
Gráfico 1: Salário mínimo real no Brasil de 1940 a 2011. 
 
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IPEA. 
 
 Sendo o salário mínimo uma remuneração que serve como base para a camada mais pobre da 
população, espera-se que a manutenção do mesmo abaixo de seu valor de 1940 tenha 
promovido um processo regressivo de distribuição de renda, principalmente levando em conta 
os períodos de permanente elevação do PIB registrados pelo país desde então. 
 Com base na série de variação percentual do PIB anual, que pode ser vista abaixo, entre 
1940 e 1994 houve um crescimento médio do PIB de aproximadamente 5,61 % ao ano, 
enquanto o salário mínimo esteve durante a maior parte do período abaixo do seu nível real 
estabelecido em 1940. Isso indica que os ganhos do crescimento econômico se concentraram 
entre os indivíduos que não recebem o salário mínimo, mas sim entre aqueles que tem um 
ganho acima do mesmo. Já entre 1995 e 2012, período em que se tem a valorização salarial de 
forma contínua, o crescimento anual médio do PIB foi de aproximadamente 3,03%. O 
crescimento menor conjugado com os salários maiores indica o caráter progressista da política 
salarial, visto que a ausência de um crescimento mais acentuado leva a crer que a relação 
entre os ganhos reais dos assalariados sobre os ganhos dos proprietários de capital aumentou 
em comparação com o período anterior. 
 
Gráfico 2: PIB - variação real anual de 1940 a 2012 - (% a.a.). 
 
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IPEA. 
 
 Para analisar uma possível relação entre o aumento do salário mínimo real observado e a 
redução na desigualdade de renda devemos levar em conta a variação no índice de Gini ao 
longo dos anos. No gráfico abaixo temos a trajetória do índice de Gini de 1980 até 2009. 
 A partir de 1995 temos uma diminuição da variação do valor do índice. Há uma maior 
estabilidade que é seguida por uma pequena queda, que se intensifica a partir do início dos 
anos 2000. É possível perceber que o período de início da queda na desigualdade coincide 
com o período de valorização do salário mínimo, o que pode nos dar indícios de uma possível 
relação entre os dois processos. 
Gráfico 3: Coeficiente de Gini para o Brasil de 1980 a 2009. 
 
 
 
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IPEA. 
 
3. Fundamentação teórica 
 
 A ideia defendida neste trabalho é de que a valorização do salário mínimo real colocada em 
prática desde meados da década de 1990 foi um fator relevante para reduzir a desigualdade de 
renda no Brasil. Teoricamente, essa relação pode ser vista a partir do modelo de determinação 
de salário e nível de emprego elaborado em Cahuc e Zylberbe (2004). Os autores iniciam sua 
abordagem desenvolvendo um modelo de monopsônio em que só há um demandante de 
trabalho. Neste modelo, a quantidade de trabalho e o salário que maximizam o lucro do 
demandante são definidos pela igualdade entre a produtividade marginal do trabalho e o custo 
marginal do trabalho. Entretanto, diferente do modelo de concorrência perfeita, o custo 
marginal é maior do que o salário pago ao trabalhador, dado que a elasticidade da oferta de 
trabalho em relação ao salário é positiva. 
 Assim, tanto o número de trabalhadores quanto o salário serão inferiores ao valor dos 
mesmos em concorrência perfeita. Até que o salário alcance este valor, aumentos no mesmo 
possibilitariam aumento no número de empregados no mercado de trabalho, mas estes 
aumentos não seriam aplicados por não maximizarem o lucro da empresa demandante. 
 Assumindo que um cenário de monopsônio dificilmente descreve a realidade, os autores 
consideram mais de uma empresa no modelo. Considerando e o esforço médio feito pelo 
trabalhador desempregado para obter emprego, V o número de vagas disponíveis no mercado 
de trabalho e U o número de desempregados, definimos a rigidez do mercado de trabalho, θ, 
como: . 
 Nesta equação eU corresponde ao número efetivo de pessoas desempregadas, ou seja, 
aquelas que não tem emprego mas que continuam procurando. Cada unidade de esforço 
adicional feito pela pessoa possibilita um aumento na taxa de saída da situação de 
desemprego, sendo o número de contratações, que corresponde a: 
. 
 Sendo assim, para uma pessoa desempregada, quanto maior o esforço feito pela mesma 
maior é sua possibilidade de encontrar um emprego. Já, pelo lado da empresa, as escolhas de 
nível de salário e de empregados são definidas pela igualdade em concorrência perfeita: 
, em que h é o custo de ter uma vaga não preenchida, Y a produtividade, r a 
taxa de juros, q a taxa de redução nos empregos devido ao aumento nos custos de produção e 
w o salário. 
 A equação determina a demanda por trabalho ao definir o valor de θ, visto que deste modo o 
número de vagas disponíveis já estará delimitado. Na situação de equilíbrio entre oferta e 
demanda por trabalho, a taxa de desemprego u é definida como: . Temos, 
portanto, um efeito conjunto, em que um maior salário aumenta o esforço e, o que reduz a 
 
 
taxa de desemprego, ao passo que também aumenta os custos dos empregadores, q, o que 
eleva u. Portanto, para que um aumento no salário possibilite uma elevação no emprego é 
necessário que a elasticidade do esforço na busca de emprego, e, em relação ao salário, w, seja 
elevada ao mesmo tempo em que a elasticidade de θ em relação a w seja baixa. 
 Os autores ressaltam que essas variações nos níveis de salário e emprego tem consequências 
sobre a desigualdade de renda. Por um lado, com salários mais altos, os custos dos 
empregadores aumentam, o que tende a elevar o desemprego. Por sua vez, salários maiores 
possibilitam uma maior renda às famílias que continuarem com seus integrantes fazendo parte 
do mercado de trabalho. Com o efeito positivo sobrepondo o efeito negativo, ou seja, com o 
aumento na renda das famílias sobrepondo a elevação no desemprego, salário maiores tendem 
a ter um efeito redutor da desigualdade de renda. 
 
4. Revisão da literatura 
 
 Vários estudos já analisaram a recente queda na desigualdade de renda no Brasil levando em 
conta diferentes fatores. Um importante exemplo é o Relatório IPEA (2006), que foi uma das 
primeiras análises do referido fenômeno. Utilizando a Pesquisa Nacionalpor Amostra de 
Domicílio (PNAD) referente aos anos de 2001 a 2004, levou-se em conta cinco determinantes 
da renda familiar: características demográficas; transferência de renda; remuneração de 
ativos; acesso ao trabalho, desemprego e participação no mercado de trabalho e distribuição 
dos rendimentos do trabalho. As características demográficas não apresentaram variações que 
levassem à menor desigualdade de renda no período. Já os efeitos do programa Bolsa Família 
se mostram relevantes, principalmente devido ao aumento no número de pessoas atendidas 
pelo mesmo, tendo sido ela o tipo de transferência que mais contribuiu para variações no 
índice de Gini, comparativamente com transferências privadas e aposentadorias e pensões. O 
rendimento de ativos não parece ter sido relevante, apesar de ser importante levar em conta a 
má captação de tais rendimentos pela PNAD. A variação na ocupação dos adultos no período 
não favoreceu os mais pobres. Já a desigualdade de renda do trabalho apresenta uma redução 
permanente, tendo se intensificado a partir de 2001. Entretanto, seguiu-se a esta publicação 
uma série de outras análises que pretendiam identificar os fatores mais relevantes para reduzir 
a desigualdade de renda até então, sendo que em muitas destas a renda do trabalho se mostrou 
o principal determinante. 
 Estudos como Soares (2010) dão base para a compreensão da política salarial como 
instrumento redutor da desigualdade. A partir dos dados das PNADs de 1995 a 2009, é feita 
uma decomposição dos determinantes da variação da renda domiciliar per capta considerando 
renda do trabalho, renda da previdência, renda dos programas de transferência focalizados e 
demais rendas. Por meio da contribuição acumulada destes fatores à distribuição de renda, foi 
possível identificar que a renda do trabalho foi a que mais contribuiu para a redução na 
desigualdade. Os rendimentos diferentes de um salário mínimo foram os mais relevantes, 
apesar de os ganhos exatamente iguais a um salário mínimo terem sido também significativos. 
Já Saboia (2007) procura discutir o potencial do salário mínimo para a melhoria da 
distribuição de renda no país entre 1995 e 2005. Para tanto, utiliza os dados das PNADs de 
1995, 2001 e 2005, e considera a distribuição dos trabalhadores que tem o rendimento do 
trabalho igual a um salário mínimo entre os diferentes percentis de renda familiar per capta de 
2005, além de fazer a decomposição dos determinantes da variação no índice de Gini para os 
períodos de 1995 a 2005 e 2001 a 2005 considerando rendimentos do trabalho, aposentadorias 
e pensões e transferências de renda. Tanto ao levar em conta os rendimentos individuais 
quanto a renda familiar, o autor chega a resultados que mostram a valorização do salário 
mínimo como o responsável pela maior parte da queda na desigualdade durante o período. 
 
 
 Entretanto, levar em conta apenas o caso do Brasil como um todo pode, na verdade, estar 
escondendo uma maior diversidade de resultados. Neder e Ribeiro (2010) fazem uma análise 
para o Brasil e outra para os estados do Nordeste brasileiro procurando identificar os efeitos 
distributivos do salário mínimo no mercado de trabalho no período de 2002 a 2007. Para isso, 
os autores fazem uma decomposição dos fatores relevantes para explicar a queda na 
desigualdade com base nas PNADs 2002 e 2007, identificando a variação nos índices de Gini 
e de Theil referentes às mudanças no salário mínimo, na formalidade dos empregados e em 
outros atributos tanto para homens quanto para mulheres. Apesar de o salário mínimo ter 
contado com uma participação relevante na queda da desigualdade de renda (nunca inferior a 
30%), no caso dos trabalhadores assalariados do Nordeste, a participação do mínimo para os 
empregados formais, do sexo masculino, chegava a 75,92 %, enquanto para o Brasil o 
resultado era de 30,4% (considerando a influência que o salário mínimo teve na variação do 
índice de Theil). Apesar de ser importante ter um quadro geral dos efeitos de qualquer 
processo para entendê-lo melhor, muitas vezes quando o objeto de estudo se mostra muito 
heterogêneo, como é o caso das características socioeconômicas do Brasil, é importante que 
se faça um estudo considerando as especificidades para as diferentes realidades do país. 
 Tratar a política salarial como uma medida que afeta apenas os trabalhadores que tem 
remuneração equivalente ao piso também é uma generalização cuja revisão pode trazer 
benefícios. Como visto em Soares (2010), grande parte dos efeitos da renda do trabalho na 
queda da desigualdade não se devem ao salário mínimo. Entretanto, muitos trabalhos 
identificaram relação entre a valorização do mesmo e a queda na desigualdade, o que nos leva 
a crer que é relevante levar em conta os salários que, apesar de não serem iguais ao mínimo, 
são diretamente influenciados por variações no mesmo, ou pelos múltiplos dele. Neri (1999) 
chega a indicações de que a valorização do salário mínimo tem efeitos diferenciados sobre o 
mercado de trabalho das diferentes regiões do país. Utilizando os dados da PNAD 1996, 
identificou-se a proporção de pessoas que recebem remuneração igual a um ou a outros 
múltiplos do salário mínimo (tanto acima quanto abaixo do mesmo) para os trabalhadores 
como um todo, os do setor público, os com e os sem carteira. Tal procedimento é então 
repetido para todas as regiões geográficas brasileiras, mostrando diferenças relevantes entre a 
proporção de trabalhadores que recebe uma remuneração igual a um salário e são informais 
ou entre os que recebem remuneração abaixo do salário mínimo para as diferentes regiões. O 
autor conclui que os múltiplos do mínimo, e não apenas a remuneração idêntica ao mesmo, 
correspondem à remuneração de uma porcentagem relevante de trabalhadores, tanto no setor 
formal quanto no informal. 
 Diante dos estudos anteriormente revisados, o presente trabalho tem como objetivo fazer 
uma análise estática dos efeitos da política de valorização salarial a partir de 2001 para as 
regiões geográficas do país. Assim, será possível ter um quadro que destaque as diferenças 
entre as regiões na composição da força de trabalho, por meio da diferenciação entre a 
porcentagem de trabalhadores que recebem os múltiplos do salário mínimo, e observar as 
diferenças quanto à queda na desigualdade em cada região. Detectar as diferenças nos efeitos 
da valorização salarial ao longo do tempo para cada região possibilitará ter uma ideia de quais 
tipos de política seriam mais efetivas para que se atinja um menor nível de desigualdade de 
renda dado a distribuição da força de trabalho entre os diferentes níveis de remuneração. 
 
5. Metodologia 
 
 A base de dados utilizada neste trabalho é a Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar dos 
anos de 1996, 2001, 2005 e 2009. O período de análise considera tanto a valorização salarial 
quanto a queda na desigualdade de renda. Assim, torna-se possível identificar o quanto a 
política salarial influenciou o período como um todo, pois apesar de este período ser 
 
 
caracterizado por diferenças relevantes na intensidade de queda na desigualdade, tanto a 
política salarial quanto a variação na desigualdade não mudaram de sentido. 
 A PNAD é uma pesquisa anual feita a nível dos domicílios e de abrangência nacional que 
oferece informações sobre as características demográficas e socioeconômicas da população. 
Dentre as informações coletadas, temos dados sobre sexo, idade, educação, trabalho e 
rendimento, e características dos domicílios, e, com periodicidade variável, informações sobre 
migração, fecundidade, nupcialidade, entre outras. Há, também, a inclusão de outros temas 
específicos que são disponibilizados por meio de suplementos. A partir de 2004, a PNAD 
passou a englobar as áreas rurais dos seis estados da região Norte, tornando-se representativa 
de todo o território nacional. Sendo assim, para os anos de 2005 e 2009 não serão 
consideradas as áreas rurais de tal região, para que seja possíveluma comparação destes 
períodos com o ano de 2001. 
 A decomposição dos índices de Gini, Mehran e Piesch para os anos de 1996, 2001, 2005 e 
2009 permite observar a importância das rendas do trabalho para explicar a variação 
observada na desigualdade. Como pode ser visto em Hoffmann (2006), as três medidas de 
desigualdade estão relacionadas à área entre a Curva de Lorenz e a linha de perfeita 
igualdade. Sendo o rendimento per capta da i-ésima pessoa, com i=1,....,n, em que n indica 
o tamanho da população, estando os rendimentos ordenados de maneira que 
, em que é a média dos , as coordenadas da curva de Lorenz são: 
 e . As três medidas de desigualdade utilizadas estão associadas à área 
entre a curva de Lorenz e a linha de perfeita igualdade (que ocorre quando ) da 
seguinte forma: 
i) Índice de Gini = 
ii) Índice de Mehran = 
iii) Índice de Piesch = 
 Os índices variam de zero a um, sendo que, como pode ser visto, o índice de Mehran é 
ponderado por , sendo por isso mais sensível a mudanças na cauda inferior da 
distribuição. Por sua vez, o índice de Piesch é mais sensível a mudanças na cauda superior. A 
curva de Lorenz pode ser visualizada no gráfico abaixo, obtido a partir de SOARES (2010). 
 
Gráfico 4: Renda acumulada para a população. 
 
Fonte: SOARES (2010). 
 
 
 
 A partir dos valores dos índices para todas as regiões e para os anos analisados, é feita a 
decomposição das rendas que compõem o rendimento domiciliar per capita com o objetivo de 
mensurar o efeito da renda do trabalho como fator determinante do nível de desigualdade de 
renda. A decomposição do efeito da renda do trabalho sobre o índice de Gini é descrita a 
seguir como pode ser encontrado em Silva (2009). O procedimento é análogo ao caso dos 
índices de Mehran e Pisch. Supondo Y como a renda per capta de uma família que é 
determinada por k componentes, temos que . 
 O índice de Gini referente à renda per capta do domicílio é definido como 
, onde cov[Y.F(Y)] corresponde à covariância entre a renda total e o seu 
rank médio dentro da distribuição e a média da renda total. De forma semelhante, o índice 
de Gini por fonte de renda é obtido por . Já a razão de concentração de 
um determinado componente, sendo n o número de observações, é dado por 
. A partir das duas equações anteriormente expostas, temos a razão de 
correlação de ordem, definida por . Com isso, a decomposição do índice 
de Gini da renda total é dado por . Sendo 
, podemos definir a decomposição do Gini como .A 
contribuição relativa do fator k em relação à renda total pode ser definida como 
tal que . 
 Em sequência, são estimadas funções de densidade de Kernel para todas as regiões nos 
quatro períodos de tempo acima mencionados. Como descrito em Pôrto e Sabino (2008), tal 
distribuição possibilita termos um quadro da concentração dos ganhos salariais promovidos 
pela política de valorização do salário mínimo entre as distintas remunerações que são 
diretamente determinadas pelo mesmo. A função de densidade de Kernel é um método para 
estimação de curvas de densidade, no qual cada observação é ponderada pela distância em 
relação ao valor central, o núcleo. 
 De acordo com Kerm (2003) a função de densidade de Kernel pode ser representada como 
segue: . Temos que são os valores dos salários referentes 
às i-ésimas observações, os pesos, K(.) é uma função de Kernel, = h , sendo o 
fator de proporcionalidade local e a janela. Os pontos que estão próximos a recebem um 
peso maior, ao passo que a janela é o que regula a suavidade da função, havendo um trade-off 
entre a variância e o viés. Quanto maior for a janela, menor tende a ser a variância, e maior 
tende a ser o viés (quando a janela tende a zero, a função de Kernel é assintoticamente não 
viesada). Tanto na escolha da janela quanto da função de Kernel deve-se objetivar a 
minimização do erro quadrático médio. 
 Portanto, a aplicação de tal metodologia procura alcançar dois objetivos. Por meio de uma 
análise estática, busca-se identificar se a política salarial realmente tem um efeito relevante na 
 
 
queda da desigualdade de renda em cada região. Já a aplicação da função de densidade de 
Kernel permite ver em quais percentis de renda se concentram os ganhos da política salarial. 
Ao identificar a parcela da população que recebe uma renda do trabalho equivalente aos 
múltiplos do salário mínimo é possível ter um quadro mais geral sobre quais estratos de 
trabalhadores são mais beneficiados pela atual política de valorização salarial nas grandes 
regiões brasileiras. 
 
6. Rendimentos do trabalho e desigualdade de renda 
 
 A influência que a valorização do salário mínimo tem sobre a renda das famílias é uma soma 
de dois efeitos: os efeitos negativos esperados de um aumento salarial sobre o nível de 
emprego e os positivos do mesmo sobre o nível de renda dos indivíduos que se mantiveram 
no mercado de trabalho. De acordo com os dados dos Censos de 2000 e 2010, temos que a 
renda per capta, exceto renda nula, e o percentual de empregados com carteira de trabalho 
assinada com 18 anos ou mais aumentaram para todas as regiões brasileiras, sendo que para o 
Brasil, os respectivos aumentos foram de aproximadamente 32,2 e 22,2%. 
 Segundo Cahuc e Zylberbe (2004), tal cenário indica que o aumento no salário mínimo 
propiciou uma redução na desigualdade de renda durante o período, uma vez que não houve 
redução no emprego formal e se observa um aumento na renda per capta e na renda do 
trabalho. Com o aumento no salário, espera-se que os custos maiores levem a uma redução na 
quantidade de trabalhadores contratados e isso não aconteceu entre 2000 e 2010, como visto 
anteriormente. Como relatado em Moretto e Proni (2011), nesse período houve uma expansão 
no consumo, estimulada pela ampliação na oferta de crédito, pelo controle da inflação e pelos 
aumentos reais do salário mínimo. Esses fatos conjuntamente tiveram um efeito positivo 
sobre o mercado de trabalho. A expansão na demanda mais que compensou os aumentos nos 
custos provenientes de um maior salário, possibilitando aumento nos empregos com carteira 
de trabalho assinada. 
 Além da constatação de que os aumentos no salário mínimo real não tem sido acompanhados 
de elevação no desemprego, deve-se identificar o quanto a renda do trabalho contribui para a 
composição da renda total. Com esse propósito, a Tabela 1 a seguir mostra a participação da 
renda do trabalho na renda domiciliar total entre 1996 e 2009. 
 A participação da renda de todos os trabalhos (TTR) sempre correspondeu à maior parcela 
da renda total, e apesar de esta proporção ter diminuído ao longo do tempo, em 2009 ainda 
correspondia à grande maioria da mesma. Os menores valores são observados para a região 
Nordeste. Já, a região Centro Oeste tem a maior parcela dessa renda na renda total. 
 A proporção das aposentadorias (APO) não mudou muito ao longo do tempo. Por sua vez, as 
rendas provenientes de outras fontes (OUT), que englobam doações, juros de aplicações 
financeiras, dividendos e rendimentos de aluguel aumentou muito sua participação 
percentualmente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tabela 1 - Participação de cada parcela em relação à renda total, Brasil e macro regiões, entre 
1996 e 2009 
 Parcela 1996 2001 2005 2009 
Brasil TTR 0.82 0.78 0.75 0.74 
 APO 0.15 0.18 0.18 0.19 
 OUT 0.02 0.04 0.06 0.08 
Norte TTR 0.86 0.84 0.82 0.79 
 APO 0.11 0.12 0.11 0.12 
 OUT 0.02 0.03 0.07 0.09 
Nordeste TTR 0.79 0.74 0.70 0.66 
 APO 0.18 0.20 0.19 0.20 
 OUT 0.02 0.06 0.11 0.14 
Sudeste TTR 0.83 0.79 0.77 0.77 
 APO 0.15 0.18 0.19 0.19 
 OUT 0.02 0.03 0.04 0.04 
Sul TTR 0.83 0.79 0.77 0.76 
 APO 0.15 0.18 0.19 0.19 
 OUT 0.03 0.03 0.05 0.04 
Centro Oeste TTR 0.87 0.85 0.82 0.80 
 APO 0.10 0.12 0.12 0.13 
 OUT 0.03 0.04 0.06 0.06 
Distrito Federal TTR 0.85 0.82 0.81 0.82 
 APO 0.12 0.13 0.13 0.14 
 OUT 0.04 0.05 0.06 0.05 
Fonte: Elaboração própria com base nas Pnads dos anos de 1996, 2001, 2005 e 2009. 
 
 A decomposição dos índicesde desigualdade é mostrada nas tabelas a seguir, tendo sido 
feita considerando as parcelas de renda de todos os trabalhos, aposentadorias e outras fontes 
de renda para os índices de Gini, Mehran e Piesch. De forma geral, os dados para o índice de 
Gini mostram que a renda de todos os trabalhos foi em todos os períodos uma variável 
importante para a queda na desigualdade de renda nas regiões brasileiras, tendo ganhado 
importância ao longo do tempo. Isso indica não só que os aumentos do salário mínimo 
favoreceram justamente os indivíduos com menor remuneração, mas principalmente que a 
renda do todos os trabalhos é a variável mais relevante ao analisar a desigualdade de renda. 
 Ao mesmo tempo em que a renda do trabalho aumentou sua participação na renda total, de 
modo geral o seu poder explicativo em relação à desigualdade teve uma elevação ao longo do 
tempo. Isso sugere não só que a política de elevação do salário mínimo real ganhou força 
como instrumento de redução na desigualdade, como também que não houve indícios de 
esgotamento de seus efeitos ao longo do tempo. Já a contribuição da renda proveniente de 
aposentadorias para a redução da desigualdade de renda se reduziu ao longo do tempo. Os 
resultados encontrados na decomposição vão de encontro aos achados em Hoffmann (2006) e 
Soares (2010), em que, de forma geral, a renda do trabalho é a principal fonte que contribui 
para a redução da desigualdade, e as aposentadorias diminuem a contribuição ao longo do 
tempo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tabela 2 - Contribuição percentual de cada parcela do rendimento na mudança no índice de 
Gini, Brasil e macro regiões, entre 1996 e 2009 
 1996-2001 2001-2005 2005-2009 1996-2009 
Brasil TTR 8.75 37.68 67.99 84.24 
 APO 85.15 55.97 16.85 20.87 
 OUT 17.04 6.35 15.16 -5.11 
Norte TTR -13.00 47.04 -108.82 80.30 
 APO 90.41 46.12 125.52 19.47 
 OUT 22.59 6.83 83.31 0.24 
Nordeste TTR -2.70 25.66 29.57 65.65 
 APO 78.11 56.45 9.34 18.40 
 OUT 24.59 17.90 61.09 15.95 
Sudeste TTR 22.63 41.70 76.38 84.86 
 APO 107.36 57.90 89.36 20.42 
 OUT 18.12 4.29 46.97 -3.35 
Sul TTR -6.24 35.85 80.85 85.26 
 APO 88.75 58.22 13.66 18.60 
 OUT 17.50 5.93 5.49 -3.85 
Centro Oeste TTR -1.63 42.74 87.31 95.29 
 APO 77.24 48.41 12.74 12.68 
 OUT 24.39 8.85 -0.06 -7.97 
Distrito Federal TTR 43.10 40.07 40.36 48.76 
 APO 37.20 44.79 31.78 -7.90 
 OUT 19.70 15.14 27.86 59.15 
Fonte: Elaboração própria com base nas Pnads dos anos de 1996, 2001, 2005 e 2009. 
 
 Nos resultados para o índice de Mehran, de modo geral, a proporção de tal índice que é 
explicada pela renda do todos os trabalhos se mostra bem semelhante ao resultado para o 
índice de Gini. Como o índice de Mehran pondera pelos menores valores, pode-se dizer que a 
renda do todos os trabalhos também foi importante para reduzir a desigualdade de renda entre 
os mais pobres, indicando um efeito progressista da valorização do mínimo. Mesmo para o 
índice de Piesch, que pondera pelas maiores rendas, a renda do trabalho continua sendo o 
fator mais importante, com os resultados apresentados muito semelhantes aos do índice de 
Gini, quanto à importância de cada renda para reduzir a desigualdade. 
 Tivemos um padrão a ser seguido para os três índices, em que a renda do trabalho para a 
maioria das regiões é a fonte de renda menos desigual e a renda de outras fontes a mais 
desigual. Isso quer dizer que mesmo utilizando diferentes índices que ponderam mais com 
relação a parcelas diferentes da população, há um quadro geral de desigualdade de 
rendimentos em que a renda do trabalho o aquele que está mais próxima de um cenário de 
igualdade. Além disso, de modo geral os valores para as rendas específicas não desviaram em 
grande medida daqueles da renda total. Apesar deste quadro geral, destaca-se aqui os 
resultados das regiões Norte e Nordeste, para as quais a desigualdade da renda do trabalho foi 
em sua maioria muito semelhante à da renda total e outras vezes a ultrapassou, neste caso 
especialmente entre os mais pobres (índice de Mehran). Foi a região Nordeste também que se 
destacou como sendo a que tinha a renda do trabalho representando a menor parcela em 
relação a renda total em 2009, apesar de substantiva. Este resultado indica a importância que 
programas mais focalizados como os de transferência de renda podem ter em tal região, visto 
que os aumentos no salário real podem não surtir o efeito esperado em ambientes em que a 
renda do trabalho tem uma menor proporção em relação à renda total, visto que nesta região a 
desigualdade de renda do trabalho se mostra entre as mais elevadas em 2009 para os três 
índices analisados. Já o Distrito Federal chama atenção por apresentar uma distribuição 
 
 
sempre mais desiguais que nas demais regiões para os rendimentos de outras fontes, visto a 
concentração em tal região de uma parcela da população que tem maior acesso a renda de 
lucros e alugueis por terem maior renda, o que faz com que estes se destaquem em relação à 
população como um todo e tornem a distribuição de rendimentos mais desigual. 
 
Tabela 3 - Contribuição percentual de cada parcela do rendimento na mudança no índice de 
Mehran, Brasil e macro regiões, entre 1996 e 2009 
 1996-2001 2001-2005 2005-2009 1996-2009 
Brasil TTR 8.31 44.70 64.09 83.92 
 APO 78.51 51.44 17.57 16.92 
 OUT 10.54 3.87 18.34 -0.85 
Norte TTR -26.38 53.20 -986.58 80.64 
 APO 106.97 42.24 508.85 14.56 
 OUT 19.41 4.56 577.73 4.81 
Nordeste TTR 2.26 30.12 5.77 61.89 
 APO 79.68 55.02 7.05 14.40 
 OUT 18.06 14.85 87.18 23.72 
Sudeste TTR 23.46 50.78 77.22 87.26 
 APO 69.98 47.18 15.74 14.90 
 OUT 7.43 1.59 7.02 -1.69 
Sul TTR -5.18 42.67 81.21 88.05 
 APO 93.22 54.45 12.87 14.87 
 OUT 11.97 2.88 5.91 -2.92 
Centro Oeste TTR 3.43 51.80 87.44 97.25 
 APO 78.26 43.06 11.27 9.13 
 OUT 18.32 5.14 1.28 -6.38 
Distrito Federal TTR 50.68 49.69 -10.51 450.74 
 APO 32.36 37.87 75.00 201.63 
 OUT 16.96 12.44 35.51 -552.37 
Fonte: Elaboração própria com base nas Pnads dos anos de 1996, 2001, 2005 e 2009. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tabela 4 - Contribuição percentual de cada parcela do rendimento na mudança no índice de 
Piesch, Brasil e macro regiões, entre 1996 e 2009 
 1996-2001 2001-2005 2005-2009 1996-2009 
Brasil TTR 8.93 34.20 69.80 84.42 
 APO 88.47 58.21 16.52 23.20 
 OUT 20.30 7.58 13.68 -7.62 
Norte TTR -8.40 44.04 -47.70 80.10 
 APO 84.71 48.02 98.85 22.22 
 OUT 23.69 7.94 48.85 -2.32 
Nordeste TTR -5.11 23.45 40.12 67.49 
 APO 77.35 57.15 10.35 20.35 
 OUT 27.76 19.40 49.53 12.16 
Sudeste TTR 22.30 36.77 75.96 83.18 
 APO 99.86 59.61 63.30 21.74 
 OUT 19.64 5.50 35.85 -4.07 
Sul TTR -6.72 32.47 80.66 83.72 
 APO 86.82 60.09 14.07 20.65 
 OUT 19.90 7.44 5.27 -4.37 
Centro Oeste TTR -3.73 38.30 87.26 94.28 
 APO 76.79 51.03 13.34 14.52 
 OUT 26.93 10.67 -0.61 -8.80 
Distrito Federal TTR 40.33 36.00 48.32 57.01 
 APO 38.98 47.72 25.03 -3.61 
 OUT 20.70 16.29 26.65 46.59 
Fonte: Elaboração própria com base nas Pnads dos anos de 1996, 2001, 2005 e 2009. 
 
7. Identificação dos beneficiados pela valorização do salário mínimo 
 
 Após a identificação da relevância da política salarial como redutor da desigualdade de 
renda, é importante identificar em cada região qual é a proporção de indivíduos beneficiados 
pela política salarial vigente e em quais parcelas da população estes estão dispostos. Com o 
intuito de mostrar a importância que o salário mínimo tem para a renda dos indivíduos de 
cada decil da distribuição de renda, considerou-se os indivíduos que tem o valor da 
remuneração do trabalho principal menor que um salário mínimo, igual, igual a dois ou três 
salários dentro de cada extrato de renda. Os gráficos a seguir mostram a distribuição dos 
indivíduos quanto à renda do trabalho principal, em termos de salários mínimos, para cada 
decil de renda per capta. 
 As regiões Norte e Nordeste apresentam uma concentração bem maior de indivíduos com 
remuneração igual ou menor a um salário mínimo entre os dois primeiros decis de renda se 
comparadascom quaisquer outras regiões, ao passo que entre os decis de maior renda, a 
representação é menor. No caso do Nordeste, se compararmos tal quadro àquele apresentado 
pela decomposição do índice Mehran, em que a proporção da variação na desigualdade de 
renda que se deve às mudanças na renda do trabalho é a menor entre as regiões, vemos que ao 
mesmo tempo em que o Nordeste é a região com maior porcentagem de sua população 
recebendo um salário mínimo ou menos entre os mais pobres, é nesta região que a elevação 
do salário mínimo tem menor efeito redutor da desigualdade. Os resultados abaixo mostram o 
menor poder explicativo da variação na renda do trabalho para redução na desigualdade de 
renda no Nordeste. Isso não se deve ao fato de que esta fonte de renda exerce pouca influência 
em tal processo, mas sim porque a renda de outras fontes tem um efeito especialmente grande, 
visto que os gráficos mostram que a valorização do salário mínimo é importante para reduzir 
a desigualdade de renda especialmente no Nordeste. 
 
 
 De forma geral, todas as regiões apresentam um processo de “arraste”, com registro de 
aumento de indivíduos com rendimento igual a um salário mínimo e aos múltiplos do mesmo 
entre os representantes dos decis intermediários ao longo do tempo. No caso de quem recebe 
exatamente um salário mínimo, os picos passaram a se concentrar entre os 30 e os 60% mais 
ricos. Este processo indica que sua valorização tem um efeito redutor na desigualdade, não 
apenas para os de menor renda, mas também para aqueles que detêm níveis de renda 
intermediária. 
 
Gráfico 5 - Percentual de pessoas que recebem menos que um salário mínimo por décimos da 
distribuição da renda per capta 
0
5
10
15
20
25
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Percentual de pessoas que recebem menos que um 
salário mínimo, por décimo da distribuição, 1996
N NE SE S CO DF Brasil
0
5
10
15
20
25
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Percentual de pessoas que recebem menos que um 
salário mínimo, por décimo da distribuição, 2001
N NE SE S CO DF Brasil 
Fonte: Elaboração própria com base nas Pnads dos anos de 1996, 2001, 2005 e 2009. 
 
Gráfico 6 - Percentual de pessoas que recebem menos que um salário mínimo por décimos da 
distribuição da renda per capta 
0
5
10
15
20
25
30
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Percentual de pessoas que recebem menos que um salário 
mínimo, por décimo da distribuição, 2005
N NE SE S CO DF Brasil
0
5
10
15
20
25
30
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Percentual de pessoas que recebem menos que um salário 
mínimo, por décimo da distribuição, 2009
N NE SE S CO DF Brasil 
Fonte: Elaboração própria com base nas Pnads dos anos de 1996, 2001, 2005 e 2009. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Gráfico 7 – Percentual de pessoas que recebem exatamente um salário mínimo, por décimo da 
distribuição, 1996, 2001, 2005 e 2009 
0
5
10
15
20
25
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Percentual de pessoas que recebem exatamente um 
salário mínimo, por décimo da distribuição, 1996
N NE SE S CO DF Brasil
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Percentual de pessoas que recebem exatamente um salário mínimo, 
por décimo da distribuição, 2001
N NE SE S CO DF Brasil 
Fonte: Elaboração própria com base nas Pnads dos anos de 1996, 2001, 2005 e 2009. 
 
Gráfico 8 – Percentual de pessoas que recebem exatamente um salário mínimo, por décimo da 
distribuição, 1996, 2001, 2005 e 2009 
0
5
10
15
20
25
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Percentual de pessoas que recebem exatamente um salário 
mínimo, por décimo da distribuição, 2005
N NE SE S CO DF Brasil
0
5
10
15
20
25
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Percentual de pessoas que recebem exatamente um salário 
mínimo, por décimo da distribuição, 2009
N NE SE S CO DF Brasil 
Fonte: Elaboração própria com base nas Pnads dos anos de 1996, 2001, 2005 e 2009. 
 
 A posição dos indivíduos em cada decil da distribuição de renda que ganham dois e três 
salários é mostrada nos dois gráficos a seguir. Podemos observar uma concentração de 
indivíduos nos maiores valores da distribuição. Regionalmente, esta característica é mais 
marcante no Sudeste e no Distrito Federal. Embora as regiões Norte e Nordeste tenham um 
maior registro nos decis inferiores também para múltiplos do salário mínimo, o movimento 
para a direita registrado na distribuição faz com que as observações se concentram mais entre 
os decis de maior renda do que o observado para o caso dos que recebem exatamente um 
salário. Neste caso, a valorização real do salário mínimo tem um efeito concentrador de renda, 
uma vez que os beneficiados estão entre os de maior renda. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Gráfico 9 – Percentual de pessoas que recebem dois salários mínimos, por décimo da 
distribuição, 1996 e 2001, 2005 e 
2009
0
5
10
15
20
25
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Percentual de pessoas que recebem dois salários 
mínimos, por décimo da distribuição, 1996
N NE SE S CO DF Brasil
0
5
10
15
20
25
30
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Percentual de pessoas que recebem dois salários mínimos, por 
décimo da distribuição, 2001
N NE SE S CO DF Brasil
0
5
10
15
20
25
30
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Percentual de pessoas que recebem dois salários mínimos, 
por décimo da distribuição, 2005
N NE SE S CO DF Brasil
0
5
10
15
20
25
30
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Percentual de pessoas que recebem dois salários mínimos, por 
décimo da distribuição, 2009
N NE SE S CO DF Brasil 
Fonte: Elaboração própria com base nas Pnads dos anos de 1996, 2001, 2005 e 2009. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Gráfico 10 – Percentual de pessoas que recebem três salários mínimos, por décimo da 
distribuição, 1996, 2001, 2005 e 2009 
0
5
10
15
20
25
30
35
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Percentual de pessoas que recebem três salários 
mínimos, por décimo da distribuição, 1996
N NE SE S CO DF Brasil
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Percentual de pessoas que recebem três salários mínimos, por décimo 
da distribuição, 2001
N NE SE S CO DF Brasil 
0
5
10
15
20
25
30
35
40
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Percentual de pessoas que recebem três salários mínimos, 
por décimo da distribuição, 2005
N NE SE SE CO DF Brasil
0
10
20
30
40
50
60
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Percentual de pessoas que recebem três salários mínimos, por 
décimo da distribuição, 2009
N NE SE S CO Brasil 
Fonte: Elaboração própria com base nas Pnads dos anos de 1996, 2001, 2005 e 2009. 
 
 Os resultados para os deciís de renda corroboram aqueles obtidos para a decomposição dos 
índices de desigualdade. A renda do trabalho ter sido identificada como a principal variável 
para explicar a desigualdade de renda ao mesmo tempo em que foi na maioria das vezes a 
fonte de renda menos desigual é relacionada ao fato de que aqueles que recebiam o salário 
mínimo aos poucos diminuíram sua representatividade entre os mais pobres e aumentaram 
entre os de maior renda, o que só pôde ocorrer com os aumentos reais do mesmo. Ou seja, 
com o tempo os trabalhadores que recebem exatamente o valor do salário mínimo estão 
migrando para os decis intermediários de renda, contribuindo para uma redução da 
desigualdade de renda.. 
 A função de densidade de Kernel utilizada, a seguir, nos permite um melhor panorama da 
desigualdade de rendimentos em cada região. A função mostra a proporção de indivíduos em 
relação ao total que apresentam cada um dos diferentes valores existentes para o logaritmo 
neperiano da renda total. Como é característico de uma população altamente desigual, os 
gráfico de densidade de distribuição para todas as regiões apresentam um pico em valores de 
baixa remuneração. 
 Observando os gráficos para os quatro períodos é possível identificar uma tendência geral 
dos mesmos de se deslocarem para a direita ao mesmo tempo em que se vê uma concentração 
em torno do valor 6. Apesar desta convergência, cada região manteve sua distribuição de 
renda com as mesmas características gerais que apresentavam em 1996. Enquanto o Brasil 
apresenta um resultado intermediário, asregiões Norte e especialmente Nordeste contam com 
uma maior representação de indivíduos entre os decis de baixo rendimento, enquanto o 
 
 
Distrito Federal chama atenção pela maior quantidade de observações na cauda direita da 
distribuição. 
 Como pôde ser visto na decomposição do índice de Mehran, que pondera pelos mais pobres, 
entre os quais se concentra a maioria dos indivíduos que recebem exatamente um ou menos 
de um salário mínimo, a renda do trabalho foi a parcela da renda total que mais contribuiu 
para reduzir a desigualdade de renda. Pode-se dizer então que os aumentos reais do salário 
mínimo contribuiram para o deslocamento do pico das distribuições de Kernel para a direita 
ao longo do tempo. 
 
Gráfico 11: Gráfico da distribuição de densidade de Kernel para a renda total em relação a 
todas as regiões brasileiras, DF e Brasil para o ano de 1996. 
0
.1
.2
.3
.4
.5
D
en
si
da
de
 K
er
ne
l
0 2 4 6 8 10
Log da renda total
Norte Nordeste
Sudeste Sul
Centro-oeste Distrito Federal
Brasil
1996
Distribuição da renda total, por região
 
Fonte: Elaboração própria com base na Pnad 1996. 
 
Gráfico 12: Gráfico da distribuição de densidade de Kernel para a renda total em relação a 
todas as regiões brasileiras, DF e Brasil para o ano de 2001. 
0
.1
.2
.3
.4
.5
D
en
si
da
de
 K
er
ne
l
0 5 10
Log da renda total
Norte Nordeste
Sudeste Sul
Centro-oeste Distrito Federal
Brasil
2001
Distribuição da renda total, por região
 
Fonte: Elaboração própria com base na Pnad 2001. 
 
 
Gráfico 13: Gráfico da distribuição de densidade de Kernel para a renda total em relação a 
todas as regiões brasileiras, DF e Brasil para o ano de 2005. 
0
.1
.2
.3
.4
.5
D
en
si
da
de
 K
er
ne
l
0 5 10 15
Log da renda total
Norte Nordeste
Sudeste Sul
Centro-oeste Distrito Federal
Brasil
2005
Distribuição da renda total, por região
 
Fonte: Elaboração própria com base na Pnad 2005. 
 
Gráfico 14: Gráfico da distribuição de densidade de Kernel para a renda total em relação a 
todas as regiões brasileiras, DF e Brasil para o ano de 2009. 
0
.1
.2
.3
.4
.5
D
en
si
da
de
 K
er
ne
l
0 5 10 15
Log da renda total
Norte Nordeste
Sudeste Sul
Centro-oeste Distrito Federal
Brasil
2009
Distribuição da renda total, por região
 
Fonte: Elaboração própria com base na Pnad 2009. 
 
 Os resultados mostram a necessidade de se ter políticas voltadas para os problemas 
específicos de cada região, sem as quais não haverá uma distribuição de renda mais igualitária 
para as mesmas. Mesmo com o aumento na representatividade dos trabalhadores com rendas 
intermediárias nas regiões como um todo, a estrutura da distribuição de renda (a forma da 
função de Kernel), não convergiram entre as regiões para o período analisado. Apesar de a 
 
 
política de valorização do salário mínimo ter sido importante durante esta última década, 
claramente ela não é suficiente para combater o problema da má distribuição de renda do 
Brasil, provocado por múltiplos fatores, com particularidades regionais. O caráter abrangente 
de uma política de valorização salarial que atinge trabalhadores em todos os decis de renda 
tem sua importância por alcançar uma grande parcela da população, mas não consegue fazer 
com que parcelas específicas da mesma migrem para extratos de maior renda, sendo 
necessário para isto políticas específicas focalizadas nestes indivíduos. 
 
8. Conclusão 
 
 Vários estudos já analisaram a recente queda na desigualdade e seus determinantes. Para 
além dos estudos focados nos efeitos da transferência de renda ou da renda do trabalho para o 
Brasil como um todo, neste trabalho procurou-se identificar a relevância da valorização do 
salário mínimo para reduzir a desigualdade de renda nas regiões brasileiras. 
 Ao decompor os índices de Gini, Pisch e Mehran em relação às rendas do trabalho, 
aposentadorias e outras fontes, a renda do trabalho concentrou a maior parte do efeito redutor 
da desigualdade de renda entre os anos de 1996 e 2009. Já a renda de aposentadorias perdeu 
importância ao longo do tempo, assim como a renda de outras fontes. Chama atenção os 
resultados para o Nordeste, em que a renda do trabalho foi a que menos explicou a queda na 
desigualdade de renda se comparado com as demais regiões e também onde a renda de outras 
fontes manteve um maior poder explicativo em 2009. Apesar disso, deve ser considerado o 
fato de que as regiões Norte e Nordeste tem uma maior parcela de trabalhadores que recebem 
exatamente um salário mínimo entre os decis de menor renda, indicando um importante efeito 
desconcentrador da política salarial. 
 A função de densidade Kernel mostra que houve um processo de arraste de 1996 a 2009 em 
que os picos de distribuição das regiões passaram a se concentrar mais à direita da mesma, 
mostrando uma redução na desigualdade de renda em todas as regiões durante o período 
analisado. Entretanto, não houve mudança substancial nas formas das distribuições de 
frequência das regiões, que se mostram muito desiguais, indicando a necessidade da 
implementação de políticas específicas que levem em consideração as características 
regionais para que o Brasil como um todo alcance um cenário de maior igualdade. 
 
Referências bibliográficas 
 
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Variação anual real do PIB: <http://www.ipeadata.gov.br/>. Acessado em 19 de Maio de 
2013.

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