Prévia do material em texto
SEÇÃO 25 FISIOTERAPIA NO PACIENTE GRAVE Fátima Cristina Martorano Gobbi Leny Vieira Cavalheiro 2505 CAPÍTULO 200 ROTINAS E RECURSOS DE FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA EM UTI Raquel Afonso Caserta Eid Leny Vieira Cavalheiro Renata Fulan e Silva DESTAQUES A mensuração da pressão de cuff representa um simples e reprodutivo método de analisar a pressão cuff representa um simples e reprodutivo método de analisar a pressão cuff exercida na mucosa traqueal. Protocolos estabelecidos pela equipe na UTI devem ser criados para maior sucesso do desmame e ex- tubação. Mudanças periódicas de decúbito com posicionamento adequado do paciente no leito otimizam a oxigenação, melhorando a relação ventilação/perfusão, reduzem o trabalho respiratório e minimizam o trabalho cardíaco. A utilização de técnicas adequadas para reduzir ou eliminar hipoxemia durante a aspiração é impres- cindível. A estimulação elétrica do diafragma tem como objetivo resgatar o máximo de fi bras musculares ínte- gras associando sempre a outras técnicas de treinamento muscular. Não há parâmetros para avaliação direta da qualidade, mas sim indicadores que constituem ferramen- tas para identifi car e colocar em foco aspectos específi cos de atuação e que merecem maior atenção. SEÇÃO 25 2506 INTRODUÇÃO A fi sioterapia em UTI é uma abordagem de tratamento recente em nosso país. Nos últimos 20 anos, é a área que mais se desenvolveu dentro dessa profi ssão. Estabeleceu uma série de atribuições na terapia intensiva que se diferencia de acordo com região, recursos e número de profi ssionais aptos a assumir o papel do fi sioterapeuta de UTI. A excelência da qualidade de um serviço se di- ferencia pelo estabelecimento de rotinas, as quais devem garantir a continuidade e a uniformidade do atendimento fi sioterapêutico. A rotina do fi sioterapeuta em uma UTI, adul- ta ou pediátrica, dependerá do tipo de assistência. Podemos classifi car uma UTI tipo III pelos crité- rios divulgados pelo Ministério da Saúde, portaria no 3.432 de 12 de agosto de 1988, em vigor, em que o fi sioterapeuta tem assistência exclusiva à unidade. Nesse tipo de classifi cação, podemos então discursar sobre algumas rotinas contínuas realizadas por esse profi ssional juntamente à equipe multiprofi ssional. O papel do fi sioterapeuta na equipe, no processo de admissão, é o de verifi car se os recursos materiais para assistência ventilatória, oxigenoterapia e emergên- cias respiratórias estão disponíveis. Esta é uma fase de gerenciamento de risco em que há a disponibilização de recursos para um atendimento seguro e rápido ao paciente, independente da utilização efetiva do mes- mo. O próximo passo é avaliar o paciente e estabelecer a necessidade da abordagem de tratamento fi siotera- pêutico. O processo de avaliação é geral, observando- se os aspectos respiratórios e motores e respeitando a funcionalidade respectiva das áreas. A existência de uma fi cha formal para padronizar a abordagem dos profi ssionais em relação aos itens avaliados organiza e direciona o tratamento e as decisões da equipe, assim como auxilia no controle da continuidade do trata- mento, garantindo o mesmo fl uxo de informações. ROTINAS Para melhor efi ciência no atendimento da fi - sioterapia respiratória, foram estabelecidas rotinas que trouxeram maior agilidade e uniformidade ao trabalho, otimizando o tempo de atendimento. Admissão do paciente na UTI A fi sioterapia é parte integrante da equipe inter- disciplinar no momento da admissão do paciente na UTI, portanto, todos os pacientes internados na UTI devem ser submetidos à avaliação de risco para complicações respiratórias e/ou motoras na indicação de tratamento fi sioterapêutico. A fi sioterapia estabelece necessidade de oxige- noterapia, uso de ventilação não-invasiva ou ven- tilação mecânica invasiva junto ao médico intensi- vista (Figura 1). Os pacientes submetidos à ventilação mecânica (VM) devem ter seus parâmetros respiratórios ajus- tados conforme o quadro clínico: modalidade, FiO2, positive end expiratory pressure (PEEP), volume-cor- rente (VT), volume-minuto (VMin), Pico de pressão inspiratória (PPI)). Se necessário, instalar módulos de mecânica respiratória e ou EtCO2. Os parâmetros e as alterações necessários deverão ser sempre regis- trados no impresso de controle do paciente. Os pacientes em VM devem ser acompanhados pela equipe de fi sioterapia, seguindo protocolos estabelecidos junto ao grupo de assistência respi- ratória da UTI e guias de condutas descritas pela equipe. Em se tratando de ventilação não invasiva (VNI), os métodos e as interfaces devem ser ele- gidos conforme o quadro clínico do paciente e se- guindo critérios estabelecidos na UTI: • CPAP: hipoxemia e hipoventilação; • BiPAP: retenção de CO2, hipoxemia e insufi - ciência respiratória aguda, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), acute respiratory distress syndrome (ARDS) e desmame difícil. Interfaces • Máscara facial. • Máscara facial total. 2507 FIGURA 1 – Fluxograma de admissão. A retirada gradual da VNI é realizada pela equi- pe de fi sioterapia conforme preditores de desmame estabelecidos: PImáx, PEmáx, VT, CV, PaO2/FiO2, gasometria arterial e freqüência respiratória. Medidas de cuff A mensuração da pressão de cuff do tubo en-cuff do tubo en-cuff dotraqueal é usada para prevenir escapes de gás e aspiração pulmonar em pacientes com ventilação CAPÍTULO 200 ROTINAS E RECURSOS DE FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA EM UTI Paciente em ventilação espontânea? Definir necessidade de oxigenoterapia Sim Não Necessita VNI? VNI Ventilação não invasiva Sim Não VM Ventilação mecânica Adaptar respirador Adaptar paciente Ajustar parâmetros Instalar módulos de EtCO2 e/ou mecânica 2 mecânica 2 Ajustar parâmetros Admissão do paciente Anotar parâmetros SEÇÃO 25 2508 mecânica. O volume infl ado no cuff gera uma pres-cuff gera uma pres-cuff são que é transmitida diretamente para a parede da traquéia ao redor do cuff . Entretanto, pressões cuff . Entretanto, pressões cuff de cuff acima de 22 cmH2O estão relacionadas à diminuição do fl uxo capilar, com desaparecimen- to desse fl uxo em níveis acima de 42 cmH2O com conseqüentes graus de isquemias e suas complica- ções como ulcerações, estenose de traquéia e fístula traqueobrônquica. A relação entre intubação pro- longada e lesão da mucosa traqueal também tem sido bem demonstrada. Áreas de lesões da mucosa e alterações ciliares são vistas após 2 horas de intu- bação. A palpação do cuff é insufi ciente para detec-cuff é insufi ciente para detec-cuff tar altas pressões. A mensuração da pressão de cuff representa um cuff representa um cuff simples e reprodutivo método de analisar a pressão exercida na mucosa traqueal devendo ser mensurada duas vezes por dia no período da manhã e da tarde e registrada no impresso de controle dos pacientes. Transporte de pacientes da UTI A remoção de pacientes graves envolve risco ao doente e à equipe, na qual os riscos são minimiza- dos mediante planejamento cuidadoso, atuação da equipe e uso apropriado de equipamentos. Planejamento da remoção Os pacientes com comprometimento ventilató- rio ou dependentes de ventilação mecânica neces- sitarão de equipamentos específi cos e um fi siotera- peuta na equipe. Compete ao fi sioterapeuta: • conferir o ventilador quanto a funcionamento, baterias e alimentação elétrica nos veículos; • montar, conferir e estocar os equipamentos res- piratórios e acessórios; • conferir a carga, o funcionamento e a segurança dos cilindros de oxigênio e ar comprimido; • manter a permeabilidade das vias aéreas; • instalar o ventilador no paciente e ajustar os pa- râmetros; • monitorizar os pacientes; • colaborar com os membros da equipe quando necessário. Equipamentos respiratórios para remoção RESPIRADOR • Leve, portátil para poder ser acompanhado jun- to ao paciente, ciclado a volume e à pressão com a opção de pressão de suportee PEEP, ciclado a fl uxo nos neonatos. • Fácil manutenção. • Não sofrer infl uências com as variações de pres- sões, temperatura e movimentação. • Não interferir nos instrumentos de navegação e comunicação do veículo. • Ter a opção de funcionar com bateria (carga su- fi ciente para menos duas vezes o tempo total do transporte) e com corrente alternada. • Não utilizar bateria de chumbo nos transportes aéreos por conter líquidos corrosivos (norma do Departamento de Aviação Civil (DAC). • Estar familiarizado com a equipe de transporte. • Materiais: – AMBU com máscara; – máscara de Venturi; – aspirador portátil; – fi ltro umidifi cador; – cilindros de ar comprimido e de O2. • A quantidade de cilindros dependerá do tama- nho dos mesmos, do volume-minuto do pacien- te, do fl uxo de ar no caso dos respiradores de fl uxo contínuo, do tempo total do transporte, da FiO2 utilizada, dos escapes, dos vazamentos e do tipo do respirador. Efetuar os seguintes procedimentos antes da re- moção: • pacientes em insufi ciência, se possível, devem ser intubados e colocados em ventilação mecâ- nica; 2509 • vias aéreas pérvias: aspiração de secreções respi- ratórias; • manter uma boa oxigenação – FiO2 adequada; • fi xação da cânula endotraqueal para evitar extu- bação acidental; • fi ltro umidifi cador para evitar ressecamento das vias aéreas; • passagem de uma sonda nasogástrica na presen- ça de uma distensão gástrica por piorar a respi- ração e risco de vômito; • drenagem do pneumotórax na presença deste; • imobilização na maca para evitar quedas; • sedação nos pacientes agitados e pouco colabo- rativos; • substituir o ar do cuff nos transportes aéreos cuff nos transportes aéreos cuff por água e trocá-lo novamente na chegada ao destino. Durante a remoção, é importante a avaliação contínua do paciente pela equipe multiprofi ssional. Papel da fi sioterapia na intubação traqueal Durante a intubação realizada pelo médico in- tensivista, o fi sioterapeuta deve prestar assistência na ventilação do paciente: • preparar o material de ventilação (ambu, más- cara e O2) e aspiração traqueal (sondas e luvas estéreis); • checar os parâmetros do respirador previamente; • ventilar o paciente com ambu e máscara conec- tados ao O2; • após a intubação, insufl ar o cuff e mensurar a pressão; • realizar ausculta pulmonar, verifi cando o posi- cionamento da cânula; • confi rmar os parâmetros do respirador; • anotar os parâmetros do respirador; • analisar gasometria e radiografia de tórax pós-intubação, alterando os parâmetros, se necessário. Extubação Após revertido o quadro que levou o paciente a ser submetido à intubação traqueal e à VM, inicia- se o processo de desmame. Critérios de extubação • Oxigenação: PEEP = 5-8 cmH2O, SatO2 ≥ 95% com FiO2 ≤ 40% e PaO2/FiO2 > 200; • Ventilação: VT = 6-8 ml/kg, FR ≥ 30 rpm, VMin = 10-15 l/min e FR/VT = 60-100; • Medidas (em valores absolutos): PiMáx ≥ - 30 cmH2O; • Estabilidade do sistema cardiovascular: FC <120 bpm, PA estável com doses baixas de dro- gas vasoativas; • Afebril; • Ausência de acidose respiratória aguda; • Hemoglobina = 8-10 g/Dl; • Glasgow ≥ 12; • Eletrólitos aceitáveis; • Tosse efetiva. O fi sioterapeuta avalia e realiza as medidas ven- tilatórias, discute a indicação de extubação com o médico intensivista e, preenchendo os critérios descritos acima, realiza a extubação: • preparar material de aspiração; • providenciar oxigenoterapia ou VNI; • explicar ao paciente o procedimento a ser realizado; • aspirar cânula e vias aéreas superiores; • posicionar o paciente em decúbito dorsal eleva- do (30°); • desinsufl ar o cuff cuff ;cuff • retirar cânula endotraqueal; • instalar oxigenoterapia ou VNI. RECURSOS EM FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA A fi sioterapia respiratória tem importante pa- pel no tratamento e na prevenção de complicações CAPÍTULO 200 ROTINAS E RECURSOS DE FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA EM UTI SEÇÃO 25 2510 respiratórias, tornando-se fundamental para os pa- cientes que se encontram em UTI, em pós-opera- tórios de cirurgias cardíacas, torácicas e abdomi- nais, pacientes com doenças pulmonares crônicas, dependentes de ventilação mecânica invasiva ou não-invasiva, doentes neuromusculares ou com fa- lência do mecanismo de tosse, entre outros. As principais técnicas fi sioterapêuticas utiliza- das em UTI serão descritas a seguir. Posicionamento Mudanças periódicas de decúbito com posicio- namento adequado do paciente no leito otimizam a oxigenação, melhorando a relação ventilação/per- fusão, reduzem o trabalho respiratório e minimi- zam o trabalho cardíaco. Exemplos de posiciona- mento utilizado em UTI são posicionamento em decúbito lateral ou posição prona, para auxiliar na resolução de atelectasias lobares e decúbito elevado entre 30o e 45o que auxilia na prevenção de pneu- monia nosocomial, reduzindo a aspiração contínua de conteúdo da orofaringe e diminuindo o refl exo gastroesofágico. Drenagem postural São posturas com base na anatomia brônquica a favor da gravidade, que facilitam a drenagem do muco para as vias aéreas distais, otimizam a relação ventilação/perfusão e a oxigenação. Utiliza-se associando outras técnicas para mobi- lização do muco como percussão, vibração e uso de técnicas de tosse assistida ou aspiração de secreção, se necessário. Contra-indicações relativas à drenagem • Pacientes com instabilidade hemodinâmica. • Pacientes neurológicos com alterações da pres- são intracraniana (PIC). • Crise de broncoespasmo. • Edema pulmonar. • Insufi ciência cardíaca congestiva. Percussão e vibração A percussão consiste em realizar percussões rit- madas sobre a parede torácica, com as mãos em concha, tanto na fase inspiratória como na expira- tória, para auxiliar no transporte do muco para as vias aéreas mais proximais. Contra-indicações relativas à percussão • Dispnéia intensa. • Instabilidade hemodinâmica. • Fratura de costela. • Osteoporose. • Plaquetopenia. A vibração consiste em realizar vibrações com as mãos abertas sobre a parede torácica associada à compressão expiratória simultânea, com o objetivo de facilitar o transporte do muco e estimular o re- fl exo de tosse. Contra-indicações relativas a vibrações • Fratura de costela. • Aumento da PIC. • Instabilidade hemodinâmica. Tosse A tosse é um dos mais importantes mecanismos protetores das vias aéreas, e essencial para remoção do muco. O refl exo de tosse é dividido em quatro fases: • irritativa: é induzida principalmente por irrita- ção das fi bras aferentes do nervo glossofaríngeo na faringe e terminais sensitivos do nervo vago na laringe, traquéia e grandes brônquios; • inspiração profunda: o refl exo irritativo estimu- la uma inspiração profunda; • compressão: a glote se fecha rapidamente en- quanto a musculatura intercostal a abdominal quanto a musculatura intercostal a abdominal quanto a musculatura intercostal a se contraem provocando aumento da pressão intratorácica e abdominal, e a pressão intratorá- cica atinge nível elevado e há abertura da glote; 2511 • expulsão: com a glote aberta o palato mole se eleva fechando a nasofaringe havendo a expul- são do material. Diversas situações comprometem o refl exo de tosse, como doenças neuromusculares, via aérea artifi cial, lesão medular, rebaixamento do nível de consciência, pós-operatório de cirurgias cardíaca, torácica e abdominal alta. Técnicas de tosse assistida facilitam a remoção do muco. Entre as técnicas, destacamos: • tosse cinética: tosse voluntária com uso de co- mando verbal do fi sioterapeuta. O paciente é incentivado a realizar uma inspiração lenta se- guido de uma breve apnéia e efetua uma expira- ção brusca e curta; • tosse do Huffi ng: tosse voluntária também com uso de comando verbal. O paciente realiza uma inspiração profunda seguido de expiração pro- funda com a boca aberta, que pode ser associada à compressão manual sobre o abdômen; • tosse assistida: o paciente realiza uma inspiração profunda, seguidade uma expiração forçada e o fi sioterapeuta assistirá com compressão torácica manual vigorosa durante a fase expiratória. A compressão pode ser realizada na parte anterior do tórax ou em ambos; • tosse provocada ou induzida: utilizada para pa- cientes com rebaixamento do nível de consci- ência, diminuição do refl exo de tosse, criança e pacientes com uso de vias aéreas artifi ciais. Esti- mulação da traquéia com compressão da fúrcu- la esternal, e também manobras com ambu em vias aéreas artifi ciais. Aspiração traqueal Método para remoção de secreção utilizada quando a tosse não é efi caz e em pacientes sob ven- tilação mecânica e ou traqueostomizados. Existem dois sistemas para aspiração traqueal em pacientes sob ventilação mecânica: • sistema aberto: utiliza um cateter de aspiração simples e necessita desconectar o circuito do ventilador e a utilização de cateteres e luvas es- téreis; • sistema fechado: utiliza um cateter protegido por um envelope de plástico para várias aspi- rações e não necessita desconectar o circuito do ventilador. Por algumas razões, o cateter com sistema fe- chado tem vantagens sobre o cateter com sistema aberto: diminuição de alterações hemodinâmicas e hipóxia, principalmente em pacientes que re- querem FiO2 altos e PEEP; pode ser usado para prevenir contaminação durante a aspiração, porém não existem evidências sobre o efeito protetor dos cateteres com sistema fechado em pneumonia asso- ciada à ventilação mecânica (Figura 2). FIGURA 2 – Sistema de aspiração orotraqueal fechada. Complicações da aspiração traqueal • Hipoxemia. • Atelectasia. • Trauma das vias aéreas. • Contaminação. • Arritmia cardíaca. • Aumento da pressão intracraniana. • Tosse e broncoespasmo. A instilação de salina é usada às vezes nas vias aéreas como parte do procedimento de aspiração. CAPÍTULO 200 ROTINAS E RECURSOS DE FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA EM UTI SEÇÃO 25 2512 Isto é feito para facilitar a remoção de secreções, porém essa prática é controversa. Geralmente mais salina é instilada que aspirada, resultando em au- mento do volume de secreção. Esse procedimento não deve ser usado rotineiramente. Cinesioterapia respiratória Diversos exercícios visando principalmente ao aumento do volume-corrente e reexpansão pulmo- nar são descritos a seguir: • respiração diafragmática: exercício utilizado principalmente em pós-operatórios de cirurgias cardíaca, torácica e abdominal. Com o paciente sentado, o fi sioterapeuta estimula o paciente a realizar respirações diafragmáticas, colocando as mãos logo abaixo do processo xifóide e o pa- ciente é orientado para que durante sua inspira- ção eleve a mão do terapeuta; • inspiração em tempos: realizada com o pacien- te sentado, orienta-se que este realize inspirações nasais com pausa inspiratória (apnéia) seguidas de expiração oral completa. A inspiração pode ser em um, dois ou três tempos; • exercícios inspiratórios associados aos mem- bros superiores: o paciente sentado com os membros superiores (MMSS) ao longo do cor- po realiza uma inspiração nasal profunda com elevação dos MMSS até 90o e logo após, reali- za-se a expiração oral com a volta dos MMSS à posição inicial; • sustentação inspiratória máxima: consiste em realizar uma inspiração nasal profunda com uma sustentação de 6 a 10 segundos, seguida de expiração oral; • exercícios utilizando freno labial: realiza-se ins- piração nasal lenta e profunda e uma expiração oral lenta com dentes cerrados e lábios unidos; • exercícios com incentivados inspiratórios: vi- sam estimular o paciente a realizar inspirações profundas com sustentação por alguns segun- dos. São utilizados principalmente para crianças e para que pacientes em pós-operatórios possam realizar, quando corretamente orientados, esses exercícios sozinhos; • exercícios com fl utter: fl utter é um aparelho de uso individual, portátil, que permite gerar em cada expiração simultaneamente uma pressão positiva oscilatória controlada e interrupções do débito respiratório de freqüência regulável. A ação fi siológica do fl utter está na oscilação que provoca alargamento dos brônquios até as es- truturas mais fi nas e as placas de muco são mo- bilizadas. Os locais dos brônquios onde ocorre obstrução pelo muco abrem-se novamente e o colapso é evitado, pelo fato observado nas vias respiratórias instáveis. Assim, a resistência e o trabalho respiratório diminuem enquanto a ca- pacidade vital aumenta (Figura 3); • End Positive Airway Pressure (EPAP)• End Positive Airway Pressure (EPAP)• End Positive Airway Pressure : são exercícios utilizando pressão positiva composta TABELA 1 – Técnicas usadas para reduzir ou eliminar hipoxemia durante a aspiração Técnica Descrição Observação Hiperoxigenação Administrar aumento da FiO2 antes, durante e após o procedimento Deve ser rotineiro com todas as aspirações Insuflação manual Utilizar o ressuscitador manual Dificuldade em gerar altos volumes com este método Aspiração fechada Procedimento que não requer desconexão do ventilador durante a aspiração Benefício para alguns pacientes. Custo-eficiência ainda não se sabe Hiperinsuflação Utilizar suspiros (1 a 2 vezes o volume-corrente) Utilizar adequadamente com ventiladores com suspiro manual Insuflação Utilizar um cateter com duplo lúmen para administrar oxigênio durante a aspiração Dificuldade em utilizar cateter convencional, e custo-benefício não se sabe 2513 por uma válvula unidirecional acoplada a uma máscara facial siliconada, e a resistência expira- tória varia de 5 a 20 cm H2O. A terapia pode durar de 15 a 20 minutos e o incremento do PEEP é feito de acordo com a necessidade do paciente. O EPAP melhora a oxigenação e a complacência pulmonar com aumento da capa- cidade residual funcional; • exercício com pressão positiva intermitente: utilizado para reexpansão pulmonar, por meio de equipamentos que proporcionem pressão po- sitiva, podendo ser coadjuvantes a outras técni- cas de assistência respiratória para pós-operató- rios e pacientes hipersecretivos, principalmente. Ajuste e monitorização da pressão aplicada du- rante o exercício são essenciais para evitar picos de pressão e volumes correntes excessivos. Treinamento muscular Utilizado para pacientes com difi culdade de desmame do ventilador mecânico por fraqueza muscular. Utilizam-se: • resistor de carga linear (Figura 4); • carga de 40% a 60% da pressão inspiratória má- xima (PiMáx); • freqüência de três vezes ao dia; • duração iniciando com 5 minutos, progredindo até 20 minutos por sessão. Há sugestões para utilização no ventilador, porém com pouca evidência científi ca até o momento: • imposição da carga mediante alteração na sensi- bilidade do respirador; • associação ou não de ventilação mandatória in- termitente, com sobrecarga de trabalho nos mo- mentos de respiração espontânea; • variações bruscas ou programadas dos níveis de pressão suporte, utilizando sobrecarga com ní- veis menores que o necessário. Estimulação elétrica do diafragma A estimulação elétrica do diafragma tem como objetivo resgatar o recrutamento de unidades mo- toras íntegras, podendo ser associada a outras téc- nicas de treinamento muscular. Indicada no trata- mento de disfunção neuromuscular do diafragma, devendo estar o nervo frênico íntegro. Para iniciar essa técnica é necessária uma análise prévia da condução do nervo frênico por meio de eletromiografi a. Outra forma é realizar uma ultra- FIGURA 3 – Flutter. FIGURA 4 – Threshold – resistor de carga linear. 1 2 3 4 5 Componentes do equipamento 1. Membrana ou diafragma 2. Carga inspiratória 3. Mola 4. Bocal 5. Fluxo inspiratório para o paciente CAPÍTULO 200 ROTINAS E RECURSOS DE FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA EM UTI SEÇÃO 25 2514 sonografi a de tórax para mensuração do desloca- mento do diafragma durante a inspiração/expira- ção que é verifi cada durante a aplicação de corrente elétrica, marcando o ponto motor com caneta so- bre a pele do paciente. A estimulaçãoé realizada com equipamento para eletroterapia que forneça uma corrente do tipo bipolar simétrica. O modo mais utilizado para a prática clínica é a colocação de dois eletrodos, um para cada hemitórax sobre o ponto motor do músculo diafragma, no qual podemos verifi car uma contração efi caz do diafragma. A duração da aplicação é de 20 a 30 minutos e a freqüência em torno de 30 a 50 Hz (Figura 5). QUALIDADE NO SERVIÇO DE FISIOTERAPIA A implementação de um programa de quali- dade tem como fi nalidade estabelecer passos para que um serviço possa atingir as diretrizes precisas de monitorização da qualidade total. É preciso que uma equipe de saúde multiprofi ssional planeje um programa para a melhoria da estrutura física e de recursos humanos, dos processos diagnósticos e de tratamento e de armazenamento de informações, visando à obtenção de resultados. A execução desse propósito é feita em processos com o objetivo de se atingir a efi cácia (obter o resultado esperado do processo em questão) e a efi ciência (realizar o pro- cesso de acordo com padrões de conformidade). O processo de gestão de qualidade é conhecido como PDCA: planejar (plancomo PDCA: planejar (plancomo PDCA: planejar ( ), executar (do), verifi car (check) e agir de forma corretiva (check) e agir de forma corretiva (check act) (Figura 6).act) (Figura 6).act Não há parâmetros para avaliação direta da qualidade, mas sim indicadores que constituem ferramentas para identifi car e colocar em foco as- pectos específi cos de atuação e que merecem maior atenção. A quantifi cação desses eventos ocorridos é requisito básico para monitorização dos processos. Um indicador é um aspecto defi nido e mensurá- vel do tratamento oferecido ou do resultado desse tratamento. A utilização de um indicador torna o FIGURA 5 – Eletroestimulação do diafragma. FIGURA 6 – PDCA. Planejar a mudança a Executar a mudança Implantar, abandonar ou refazer a mudança Estudar os resultados Agir – Planejar Checar – Fazer 2515 processo de monitorização mais objetivo e menos aleatório. Aplicando o modelo de melhoria contínua da qualidade, observamos que mesmo com a rotina de mensuração de pressão de cuff implantada, pu-cuff implantada, pu-cuff demos aprimorá-la. Realizamos medidas de cuff de cuff de cuff tubo endotraqueal e de cânula de traqueostomia em pacientes sob ventilação mecânica. As medidas fo- ram coletadas nos períodos da manhã, tarde e noite e limites até 25 cm H2O eram permitidas. Notamos que as medidas realizadas pela manhã e tarde apre- sentavam diferença signifi cativa, fato que não ocor- ria no período noturno, o que nos fez descontinuar a mensuração no terceiro período. Em 36% dos pa- cientes, a primeira medida realizada da pressão de cuff estava acima de 31 cm Hcuff estava acima de 31 cm Hcuff 2O (Figura 7). Agir Planejar Checar Fazer Setembro/2002 80% dos pacientes com pressão de cuff Março/2002 30% dos pacientes com pressão de cuffcuffcuf Ok f Ok f Entre março/2002 e setembro/2002 Aumento de vigilância Março/2003 Implantar a mudança (número de medidas) BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA Braxton CC, Reilly PM, Schwab CW. Th e traveling pa- tient. In: Trauma Critical Care: Specifi c Areas. Surg Clin North Am 80:1-8, 2000. Chang AT, Boots RJ, Brown MG et al. Reduced inspi- ratory muscle endurance following successful wea-endurance following successful wea-endurance ning from prolonged mechanical ventilation. Chest 128(2):553-9, 2005. Ciesla ND. Chest Physical Th erapy for Patients in the Intensive Care Unit. Phys Th er 76:609-25, 1996. Epstein SK, Nevins ML, Chung J. Eff ect of un- plannedextubation on outcome of mechanical ven- tilation. Am J Crit Care Med 161:1912-6, 2000. FIGURA 7 – Exemplo de PDCA. Gebremichael M, Borg U, Habashi NM et al. In- terhospital of the extremely ill patient: the mobile. In: Clinical Investigations. Crit Care Med 28:1-15, 2000. Judson MA, Sahn SA. Mobilization of secretions in ICU patients. Respir Care 39:213-26, 1994. Kollef MH, Shopiro SD, Clinkscale D, Cracchiolo L, Clayton D. Th e eff ect of respiratory-initiated treat- ment protocols on patient outcomes and resource utilization. Chest 117(2):467-75, 2000. Lorente L, Lecuona M, Martin MM et al. Ventilator- associated pneumonia using a closed versus an open tracheal suction system. Crit Care Med 33(1):115- 9, 2005. CAPÍTULO 200 ROTINAS E RECURSOS DE FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA EM UTI SEÇÃO 25 2516 Mier A, Brophy C, Moxham J, Green M. Phrenic nerve stimulation in normal subjects and in patients whit diaphragmatic weakness. Th orax 42:885-8, 1997. Neil R. MacIntyre. Chest 120(6):375S-95S, 2001. Ntounenopoulos G, Presneill JJ, MC Elholum M, Cade JF. Chest Phsiotherapy for prevention of ven- tilatior-associated pneumonia. Intensive Care Med 28(7):850-6, 2002. Richard JB. Critical care delivery in the intensive care unit: defi ning clinical roles and the best practice model. Crit Care Med 29(10):2007-19, 2001. Scherer TA, Spengler CM, Awassapian D, Imhof E. Respiratory Muscle Endurance Training in Chronic Endurance Training in Chronic Endurance Obstructive Pulmonary Disease. Am J Respir Crit Care Med 162:1709-14, 2000. Stiller K. Physiotherapy in intensive care. Chest 118(6):1801-13, 2000. Stoller JK, Mascha EJ, Kester L, Haney D.Randomized controlled trial of physician-directed versus respira-versus respira-versus tory therapist consult service-directed respiratory care to adult non-ICU inpatients. Am J Respir Crit Care Med 158(4):1068-75, 1998. 2517 DESTAQUES É fundamental lavar as mãos antes e depois de realizar quaisquer procedimentos com os pacientes. Ajustar frações inspiradas de oxigênio e níveis de PEEP necessários para obter saturação de oxigênio > 95%. Manter os níveis de sensibilidade do ventilador ajustados adequadamente, evitando esforços excessivos e autodisparo nos modos ventilatórios assistidos. Monitorar constantemente a pressão de cuff a fi m de evitar lesões de traquéia e broncoaspiração.cuff a fi m de evitar lesões de traquéia e broncoaspiração.cuff Cautela ao realizar manobras fi sioterapêuticas como Bag Squezing, principalmente no tocante às pres-Bag Squezing, principalmente no tocante às pres-Bag Squezing sões inspiratórias elevadas, evitando assim hiperinsufl ações, realizando insufl ações rápidas e curtas, privilegiando o tempo expiratório, principalmente nos pacientes com broncoespasmo e auto-PEEP. Na técnica de Bag Squezing, é fundamental que o AMBU utilizado tenha válvula de segurança, evitan-Bag Squezing, é fundamental que o AMBU utilizado tenha válvula de segurança, evitan-Bag Squezing do elevações pressóricas até níveis danosos. Avaliar na radiografi a de tórax a presença de imagens sugestivas de alterações pulmonares e o posicio- namento da cânula de intubação. Observar o aspecto e aumento da quantidade da secreção pulmonar, que poderá ser indício de processo infeccioso, servindo também como critério para otimização da umidifi cação do sistema. Utilizar parâmetros ventilatórios adequados evitando assincronia paciente-ventilador. CAPÍTULO 201 FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA NA VENTIL AÇÃO CONVENCIONAL Mineo Kaneko Ana Lucia Bernardo de Carvalho Emerson Carvalho Pinho Corinne Taniguchi SEÇÃO 25 2518 INTRODUÇÃO As técnicas de fi sioterapia têm sido cada vez mais aplicadas na prática clínica das UTIs. A atuação do fi sioterapeuta não se limita apenas a pacientes com problemas pulmonares, mas sim aos acometidos por diferentes afecções em diversos sistemas. Na atualidade, o profi ssional de fi sioterapia tem atuação garantida na prática clínica, principalmen- te em UTIs nas quais os pacientes requerem supor- te ventilatório não-invasivo ou invasivo. Nos pacientes que necessitam de suporte ven- tilatório mecânico invasivo, a atuação do fi siotera- peuta é ampla. Ela tem início já na admissão dos pacientes na UTI, por meio do ajuste dos parâme- tros ventilatórios, da monitorização respiratória, da aplicaçãodas técnicas de higiene brônquica e da utilização das manobras de reexpansão pulmonar. Além disso, desde o momento inicial do supor- te ventilatório, o fi sioterapeuta deverá programar como será o processo de desmame da ventilação mecânica, evitando assim que o paciente perma- neça além do necessário com suporte ventilatório, depois de resolvido o evento inicial que ocasionou instalação deste. CONSIDERAÇÕES GERAIS Em pacientes com prótese endotraqueal e com suporte ventilatório mecânico invasivo, a incidên- cia de pneumonia nosocomial é alta. Isto ocorre pela associação de diversos fatores, pois, além das alterações decorrentes da prótese em si, os pacientes recebem drogas sedativas e, em alguns casos, drogas paralisantes, que infl uenciam no movimento ciliar e na produção do muco, ocasionando acúmulo de secreção e aumento do risco de infecções. Um dos grandes desafi os, na prática em UTI, está em prevenir a pneumonia nosocomial. Esti- ma-se que o risco de um paciente em ventilação mecânica adquirir pneumonia é de aproximada- mente 1% ao dia. No entanto, cuidados simples como lavagem das mãos e assepsia durante os pro- cedimentos são essenciais, diminuindo esse risco. Ainda no tocante à atividade do fi sioterapeuta na UTI, é imprescindível que este fi que atento ao aspecto da secreção traqueobrônquica (coloração, viscosidade e quantidade) e às imagens radiológi- cas, à procura de alterações sugestivas de processo pneumônico, podendo, se necessário, ser traçado programa de atendimento com manobras de hi- giene brônquica ou intensifi car os atendimentos já programados. Ponto fundamental do atendimento, principal- mente em pacientes hipersecretivos, é a aspiração da secreção traqueal, que faz parte da higiene brôn- quica. Esta pode ser realizada com sistema aber- to, com uso de sonda de aspiração e luvas estéreis ou em sistema fechado, com cateter protegido. O sistema fechado proporciona meio estéril entre a extensão do circuito do ventilador e a prótese en- dotraqueal, podendo reduzir o risco de contamina- ção bacteriana. Outra vantagem desse sistema é a possibilidade de manter a PEEP e o fornecimento de oxigênio durante a aspiração, evitando o colap- so alveolar e mantendo a oxigenação arterial. É fundamental entender que a prática da aspi- ração traqueal deve ser realizada somente quando necessária e não em horários previamente estabele- cidos. As indicações de aspiração brônquica estão resumidas na Tabela 1. Finalizada a higiene brônquica com a aspiração das secreções presentes na prótese endotraqueal, recomenda-se a aspiração das vias aéreas superiores TABELA 1 – Indicação de aspiração brônquica • Ausculta sugestiva de presença de secreção pulmonar • Tosse • Redução da saturação percutânea de oxigênio, principalmente em pa- cientes comatosos e/ou curarizados, com reflexo de tosse prejudicado ou abolido. Nesses casos, o acúmulo de secreção pode dificultar a pas- sagem de fluxo de ar do ventilador para os pulmões • Aumento do pico de pressão inspiratório do ventilador, devido à presen- ça de rolha de muco em brônquio principal • Por autociclagem do ventilador mecânico. A presença e oscilação da secreção pulmonar podem ser interpretadas como queda do fluxo ins- piratório, assim o ventilador mecânico cessa o ciclo respiratório e inicia outro, realizando a autociclagem 2519 e secreção que fi ca acumulada na parede posterior da orofaringe. Devemos lembrar que as cânulas orotraqueais e de traqueostomia não evitam com- pletamente a microbroncoaspiração de secreção ou de resíduos alimentares, aumentando o risco de infecção hospitalar. Para minimizar a incidên- cia de pneumonia associada à ventilação mecâni- ca, podem ser utilizadas cânulas orotraqueais que permitem a aspiração subglótica, que minimizam o acúmulo de secreção sobre o cuff cuff .cuff MONITORIZAÇÃO DA PRESSÃO DO BALONETE (CUFF) As pressões de insufl ação do balonete devem ser cuidadosamente monitoradas em todos os pacien- tes intubados ou traqueostomizados. O princípio físico do balonete da cânula é seme- lhante ao manguito do esfi gmomanômetro, isto é, havendo pressões diferentes, a força resultante estará atuando no sentido de maior pressão para o de me- nor pressão. No manguito, o compartimento inter- no sofre ação de compressão. No balonete, o com- partimento externo ao balão sofre ação de repulsão. Se o balonete insufl ado ocupar um espaço me- nor que o diâmetro da traquéia, diferentes pressões no mesmo exercerão pouco efeito sobre a via aérea (Figura 1). Se o diâmetro da traquéia for menor que o do balonete insufl ado, a pressão do mesmo exercerá importante ação de repulsão sobre a tra- quéia (Figura 2). Vale lembrar que a pressão do balonete não deve ultrapassar a pressão capilar da traquéia, mas deve ser sufi ciente para evitar a aspiração de ma- terial da faringe e vazamentos de ar durante picos inspiratórios na ventilação mecânica. Deve ainda ser dada preferência às cânulas providas de balone- tes infl áveis de alto volume e baixa pressão, porque exercem um grau mínimo de compressão sobre um maior segmento traqueal, permitindo melhor an- coragem com menor vazamento. A manutenção da pressão do balonete elevada por um período prolongado pode levar a lesões traqueais, como: traqueomalacia, estenose de tra- quéia, hemorragias e fístulas traqueoesofágicas. Neste sentido, sabe-se que a pressão de balonete maior que a pressão de perfusão traqueal, que va- ria de 26 a 40 cm H2O (20 a 30 mmHg), pode causar isquemia da parede traqueal. Essa pressão de balonete se distribui de forma desigual, ou seja, as regiões anterior e lateral da traquéia sofrem maior infl uência devido aos anéis cartilaginosos rígidos. Há estudos que demonstram que cânulas de diâ- metro compatível com a traquéia e balões de baixa pressão, em torno de 25 cm H2O, foram sufi cien- tes para prevenir a aspiração do material da faringe. Porém, em casos específi cos, pode-se até necessitar de pressão de balonete elevada, como para prevenir vazamentos de ar em pacientes ventilados com al- tas pressões inspiratórias (Tabela 2). 30 cmH2O 50 cmH2O 30 cmH2O 50 cmH2O FIGURA 1 – Cânula de calibre pequeno e variações de pressões terão pouca interferência na parede da traquéia. FIGURA 2 – Cânula de tamanho adequado e variações de pressões terão interferências importantes na parede da traquéia. CAPÍTULO 201 FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA NA VENTILAÇÃO CONVENCIONAL SEÇÃO 25 2520 FIXAÇÃO DA CÂNULA Após a inserção da cânula, o posicionamento correto deve ser avaliado inicialmente pela auscul- ta da região epigástrica e do hipocôndrio seguido dos campos pulmonares laterais e posteriores, pela radiografi a de tórax, em que a cânula deve estar localizada de 2 a 4 cm acima da carina e também por meio de capnografi a. Essa avaliação deve ser feita periodicamente para reduzir a incidência de intubações seletivas ou desintubações acidentais. MONITORIZAÇÃO VENTILATÓRIA O controle do paciente em ventilação mecâni- ca, ou seja, a monitorização respiratória à beira do leito, é fundamental para um adequado tratamento do paciente grave ventilado artifi cialmente. A monitorização não deve interferir na rotina de cuidados do paciente e não deve adicionar riscos, apesar de certos índices só poderem ser medidos de forma invasiva. É importante salientar que o monitor é apenas um auxiliar e não pode ser substituído por uma cuidadosa avaliação clínica à beira do leito. O fi sioterapeuta deve conhecer e estar atento aos parâmetros do ventilador mecânico para pos- síveis alterações e ajustes necessários. Ventilometria Volume-corrente e volume-minuto Medidas de volume-corrente e volume-minu- to são facilmente obtidas em doentes intubados. Em indivíduos saudáveis, o volume-corrente é de aproximadamente 400 ml e o volume-minuto de aproximadamente 6 litros (dependendo do peso e da altura). Sabe-se que pacientes que apresentam, durante a monitorização respiratória do processo de desma-me da ventilação mecânica invasiva, volume-cor- rente menor que 300 ml e volume-minuto acima de 10 litros podem cursar com insucesso de des- mame. Nas formas de ventilação limitadas à pressão, o volume-corrente será conseqüência da complacên- cia e resistência pulmonares e, dessa maneira, deve- se estar atento às suas variações. No tocante à relação entre o volume-minuto espontâneo e a PaCO2, esta pode fornecer infor- mações valiosas a respeito da demanda imposta ao sistema respiratório do paciente. Freqüência respiratória A freqüência respiratória deve ser ajustada de acordo com a PaCO2 e o pH desejados e dependerá do modo de ventilação escolhido, do nível de cons- ciência e do espaço morto. Em pacientes ventilados de forma assistida, al- terações na freqüência respiratória podem sugerir anormalidades. A hipopnéia geralmente está rela- cionada à depressão respiratória. A taquipnéia pode ser causada por desconforto respiratório, agitação, acidose metabólica, acúmulo de secreção ou ainda por autotrigagem do aparelho. Deve-se lembrar que a elevação da freqüência respiratória pode promover aumento do trabalho TABELA 2 – Níveis ideais de pressão de cuff Limite mínimo Limite máximo Para evitar aspiração do material da faringe: • maior que 25 cm H2O (18 mmHg) Para evitar isquemia da traquéia abaixo da pressão de perfusão capilar da traquéia: • entre 26 a 40 cm H2O (19 a 29 mmHg) Para evitar vazamento de ar nos ciclos respiratórios, depende das pressões de pico e platô inspiratórios: • maior que 10 cmH2O ( 7 mmHg ) Obs: 1 cmH2O = 0,73 mmHg. 2521 respiratório e fadiga muscular, que favorecem a retenção de CO2. Além disso, o tempo expirató- rio diminuído pode provocar ou aumentar a auto- PEEP. Parâmetros ventilatórios Fração inspirada de oxigênio (FiO2Fração inspirada de oxigênio (FiO2Fração inspirada de oxigênio (FiO )2)2 É recomendável aumentar a FiO2 antes de iniciar o procedimento de aspiração traqueal e observar a saturação percutânea de O2. O ideal é manter uma FiO2 sufi ciente para obter SaO2 > 95%, sem expor o paciente ao risco de toxicidade pelo oxigênio. No entanto, com a utilização de dispositivos de sistema de aspiração fechado, as reduções abrup- tas de saturação de oxigênio tornam-se menos fre- qüentes. Sensibilidade A sensibilidade deve ser compreendida como o esforço despendido pelo paciente para disparar uma nova inspiração assistida pelo ventilador. É recomendado o valor de 0,5 a 2 cm H2O abaixo do PEEP no sistema de disparo por pressão, de modo que o sistema de disparo a fl uxo é mais sensível, proporcionando melhor interação entre ventilador e o paciente. A difi culdade na trigagem pode aumentar o trabalho respiratório, gerando desconforto, fadiga muscular e atraso no desmame. O autodisparo leva à dessincronia entre paciente e ventilador. Dentre os fatores que podem levar ao autodis- paro, podemos citar a presença de secreções, água no circuito ventilatório ou sensibilidade do ventila- dor regulada em valores absolutos baixos. Já dentre os fatores que difi cultam o disparo, está a regulagem da sensibilidade em valores eleva- dos, atraso da resposta da válvula de demanda, pre- sença de auto-PEEP, uso de inaladores com fl uxos contínuos, uso de cateter de O2 intracânula utili- zado na técnica da TGI (tracheal gas insufl ation) ou uso de circuito muito complacente. Pressão de pico inspiratórioPressão de pico inspiratórioPr Estudos têm demonstrado que picos elevados de pressões inspiratórias e grandes variações de volume de ar nos pulmões podem provocar lesões no parênquima pulmonar, como alteração na pro- dução de surfactante, na permeabilidade vascular, edema e lesões intersticiais. O aumento da resistência de vias aéreas pode estar relacionado com circuitos respiratórios dobra- dos, acúmulo de água no circuito, secreções abun- dantes, rolhas de secreção, cânula estreita, bronco- espasmo ou ainda edema pulmonar, entre outros. O alarme de pico de pressão deve ser ajustado em torno de 40 cm H2O a fi m de se evitar barotrauma. Mecânica ventilatória Complacência Em condições estáticas (paciente relaxado), a pressão nas vias aéreas é igual à pressão de reco- lhimento elástico do sistema respiratório. Assim, complacência é a medida da variação de volume por unidade de pressão aplicada, geralmente medi- da em ml/cmH2O. COMPLACÊNCIA ESTÁTICA A complacência estática informa sobre o esta- do do tecido pulmonar, podendo estar alterada em doenças como pneumonia, síndrome do descon- forto respiratório agudo (SDRA), atelectasia e ede- ma pulmonar. Durante a vigência de suporte ventilatório, a complacência estática é medida por meio da apli- cação de uma pausa inspiratória (platô ou infl ation hold) de 0,5 a 2 segundos, que simula um período hold) de 0,5 a 2 segundos, que simula um período hold de fl uxo zero, sendo determinada pela fórmula: Cest = volume-corrente Pressão de platô – PEEP Seu valor normal situa-se entre 50 e 100 ml/cm H2O. Valores acima de 30 estão associados com desmame da prótese ventilatória bem-sucedido. CAPÍTULO 201 FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA NA VENTILAÇÃO CONVENCIONAL SEÇÃO 25 2522 COMPLACÊNCIA DINÂMICA A complacência dinâmica dá informações sobre as propriedades resistivas do pulmão, podendo es- tar alterada por broncoconstrição ou secreção nas vias aéreas. Pode ser mensurada com freqüência respiratória defi nida, sendo uma forma de monitorização sensível do aumento da resistência ao fl uxo aéreo nas vias aére- as de pequeno calibre. É determinada pela fórmula: Cdyn = volume-corrente Pressão de pico – PEEP Cdyn = Pressão de pico – PEEP Cdyn = Seu valor normal situa-se entre 100 e 200 ml/ cm H2O. Níveis superiores a 30 são preditivos de desmame bem-sucedido. COMPLACÊNCIA EFETIVA É a recíproca das propriedades elásticas do siste- ma paciente-ventilador, corrigida pelo fator de com- pressão da máquina. É determinada pela fórmula: Ceff = volume-corrente Pressão de platô – PEEP total Elastância Elastância e complacência são propriedades in- versamente proporcionais, ou seja, quando uma aumenta a outra diminui e vice-versa. Clinicamente, a elastância dos pulmões está di- minuída na DPOC e aumentada nas fi broses in- tersticiais. É determinada pela fórmula: E = ∆ pressão (cmH2O) ∆ volume (ml) Resistência Inúmeras variáveis interferem na movimentação do fl uxo gasoso, dentre elas destacamos resistência oferecida pelas vias aéreas do paciente, vias aéreas artifi ciais e circuito do ventilador. Por meio de sua monitorização, é possível a de- tecção precoce de alterações no tônus das vias aére- as, principalmente quando lidamos com pacientes obstrutivos crônicos, na avaliação dos efeitos ad- versos causados pela interposição de vias aéreas ar- tifi ciais, umidifi cadores, fi ltros e circuitos, na mo- nitorização da efi cácia do tratamento com drogas broncodilatadoras e no desmame. Matematicamente, calcula-se a resistência pela fórmula: Raw = Pressão de pico – pressão de platô Fluxo inspiratório Auto-PEEP Em pacientes submetidos à ventilação mecâni- ca, a auto-PEEP ocorre devido à presença de colap- so das vias aéreas que provoca limitação do fl uxo aéreo, ou, mais freqüentemente, devido à freqüên- cia respiratória ou volume-corrente alto e tempo expiratório curto. A maneira mais simples de diagnosticar e quan- tifi car a auto-PEEP consiste na oclusão da via ex- piratória do ventilador antes do início de um novo ciclo inspiratório, possibilitando o equilíbrio entre as pressões alveolar, traqueal e a visualização no manômetro do ventilador. Alguns aparelhos pos- suem um dispositivo facilitador dessa manobra. Capnografi a A capnografi a envolve a mensuração e o regis- tro gráfi co do dióxido de carbono exalado ao fi m da expiração (PetCO2). O capnômetro é um ana- lisador de CO2 que exibe sua concentração ou sua pressão parcial tanto no modo digital como por ondas em tela de vídeo, permitindo também o seu registro gráfi co. As principais informaçõesadvindas do capnógrafo incluem a pressão parcial do CO2 exalado ao fi m da expiração (PetCO2), a freqüên- cia respiratória e o capnograma (registro gráfi co da curva de CO2 em função do tempo, durante todo o ciclo respiratório). 2523 Nessa monitorização, são defi nidas grafi camente as fases do ciclo respiratório. Assim, na inspiração, a concentração de CO2 no ar é zero; em seguida, quando o paciente começa a expirar, inicialmente a taxa de CO2 não se eleva (fase I da curva), pois o ar que está saindo representa o gás das vias aére- as de condução (parte do espaço morto anatômi- co). Na seqüência, nota-se elevação progressiva na concentração do CO2, representada grafi camente por elevação do traçado em forma de S (fase II). A seguir, vem a fase de equilíbrio ou platô, que re- presenta a saída do gás alveolar (fase III). O valor de pico atingido, ao fi nal da fase III, é chamado de PetCO2. Esse valor representa, com boa aproxima- ção, o CO2 alveolar. Normalmente, a diferença en- tre a PaCO2 e o PetCO2 é mínima (< 4 mmHg). Volume-corrente De modo geral, os capnógrafos empregam a ab- sorção seletiva do dióxido de carbono pela radiação infravermelha na determinação de suas concentra- ções no ar exalado. Logo, quanto maior a absorção de luz, maior será a concentração de CO2 na mis- tura analisada. Os capnógrafos por absorção de luz infravermelha são classifi cados como aspirativos (sidestream) ou não-aspirativos (maistream). Capnografi a de sistema aspirativo Possui câmara de absorção interna que recebe a amostra de gás a ser analisada, através de um tubo que promove aspiração contínua de ar do circuito ou das vias aéreas. Esse sistema tem como princi- pal vantagem sua aplicação em pacientes com ou sem prótese ventilatória. O maior problema desse sistema é o vapor de água e a presença de secreções que podem ocluir o tubo, determinando medidas errôneas. Capnografi a de sistema não-aspirativoCapnografi a de sistema não-aspirativoCapnografi a de sistema não-aspi O sensor é colocado no circuito do ventilador, contendo um dispositivo que permite a passagem de luz infravermelha pelas vias aéreas. Conseqüen- temente, seu uso está restrito a pacientes intuba- dos. Sua resposta é mais rápida porque não precisa de amostra e a representação gráfi ca da curva do CO2 é mais fi dedigna que no sistema aspirativo. Alterações na monitorização da capnografi a e capnometria O desvio da confi guração normal do capno- grama deve ser investigado. Em pacientes com DPOC, o ar é expelido de alvéolos com diferentes constantes de tempo, dando confi guração bizarra ao capnograma. O achatamento ou a ausência do capnograma pode ser atribuído à desconexão do circuito respira- tório, à parada respiratória/cardiorrespiratória, à em- bolia pulmonar ou por alteração do tubo traqueal. A diminuição da altura do capnograma pode ser conseqüência de qualquer fator que aumente o es- paço morto, como hipotensão arterial. O aumento na altura do capnograma pode ser decorrente do aumento no metabolismo, como na hipertermia ou na sepse, ou por CO2 liberado pela circulação, como durante laparoscopia ou infusão de bicarbonato. Quando a linha de base do capnograma não re- torna ao zero durante a inspiração, deve-se suspei- tar de reinalação de CO2. A utilização da capnografi a tem sido sugerida por aumentar a segurança do paciente sob assis- tência ventilatória. É um meio não-invasivo de de- tectar problemas que podem ocorrer durante essa assistência, como desconexão do ventilador, intu- bação seletiva, embolia pulmonar ou hipertermia. Quando utilizada em conjunto com a oximetria de pulso, a monitorização de todos os movimentos respiratórios confere extraordinária segurança aos profi ssionais e ao paciente, melhorando incrivel- mente a qualidade da assistência ventilatória. As principais desvantagens da capnografi a in- cluem o preço elevado dos monitores, a necessi- dade de calibração e manutenção constantes e sua CAPÍTULO 201 FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA NA VENTILAÇÃO CONVENCIONAL SEÇÃO 25 2524 não-confi abilidade em pacientes com instabilidade hemodinâmica. RECURSOS FISIOTERAPÊUTICOS NA VENTILAÇÃO MECÂNICA As técnicas utilizadas pela fi sioterapia em pa- cientes sob ventilação mecânica devem ser utiliza- das para as diferentes condições de cada paciente. A seguir, são descritas as técnicas mais utilizadas. Técnica da insufl ação manual ou técnica de bag squezing Essa técnica, descrita inicialmente na década de 1960, é aplicada a pacientes em ventilação me- cânica para incrementar a ventilação, desfazendo atelectasias por hipoventilação e para melhorar a oxigenação. Porém, seu grande efeito está relacio- nado à remoção de secreção pulmonar. A técnica consiste na realização de insufl ação pulmonar com uma bolsa ressuscitadora (AMBU), visando aumentar o volume pulmonar com fl uxo de ar turbulento, mobilizando assim a secreção brônquica e estimulando o refl exo de tosse. A in- sufl ação com AMBU é realizada de forma única e lenta, seguida pelo retorno do AMBU à sua posição inicial, permitindo a saída do ar de forma rápida. Quando da realização da técnica, podemos as- sociar a instilação de soro fi siológico nos pacientes com muco muito viscoso, a drenagem postural, que facilita a saída das secreções e também a mano- bra de vibrocompressão, que aumenta o fl uxo expi- ratório, auxiliando no descolamento das secreções. A técnica de bag squezing deve ser realizada com bag squezing deve ser realizada com bag squezing cautela para evitar insufl ações repetidas que elevam muito o volume e as pressões pulmonares, poden- do causar lesões no parênquima pulmonar. Essa técnica deve ser evitada em pacientes com a necessidade de pressão expiratória fi nal (PEEP) maior que 10 cm H2O, para evitar o colapso de áreas que dependem da manutenção dessa pressão, bem como em pacientes com hipertensão intracra- niana, instabilidade hemodinâmica, pneumotórax ou broncoespasmo. O uso de válvula de PEEP conectada à bolsa de ressuscitação tem como objetivo reexpandir ate- lectasias, melhorar oxigenação, reduzir shunt pul-shunt pul-shunt monar e proteger os pulmões do estresse de estira- mentos. No entanto, altos níveis de PEEP podem diminuir o gradiente de pressão boca-alvéolos e conseqüentemente diminuir o pico de fl uxo expi- ratório. Nesses casos, a manobra de hiperinsufl ação pode não ser efetiva como manobra de remoção de secreção. Umidifi cação O fi sioterapeuta deve estar atento aos aspectos da qualidade e quantidade das secreções respira- tórias dos pacientes em ventilação mecânica. Os pacientes intubados e traqueostomizados perdem os processos naturais de fornecimento de calor e umidade para o ar inspirado. Um bom sistema de umidifi cação e aquecimento é necessário. A umidade é descrita como a quantidade de va- por de água presente em uma mistura gasosa. Pode ser expressa de duas formas: • umidade absoluta: é a massa de vapor de água presente em um determinado volume de gás. É expressa em mgH2O/l ou gH2O/m 3. O valor é proporcional ao aumento da temperatura. Umi- dade absoluta do gás saturado é a quantidade má- xima de vapor de água no gás em uma determina- da temperatura antes que ocorra a condensação; • umidade relativa: é a relação entre a umidade absoluta do gás e a umidade absoluta do gás sa- turado a uma dada temperatura. É expressa em porcentagem. Em condições normais e naturais, o ar é aque- cido e umidifi cado principalmente pelas fossas nasais a uma temperatura aproximada de 33°C com 100% de umidade relativa quando atinge a traquéia e a 37°C com 100% de umidade relativa quando atinge os alvéolos. O ideal é que o ar inspi- rado atingisse esses valores nos pacientes intubados 2525 ou traqueostomizados para evitar ressecamento ou umidifi cação excessiva, hipotermia ou hipertemia com risco de queimaduras. Existem vários tipos de umidifi cadores: • HME (Heat and Moisture Exchanger): trocado-Heat and Moisture Exchanger): trocado-Heatand Moisture Exchanger res de calor e umidade: consiste em um tipo de fi ltro colocado entre o Y e a cânula de intuba- ção ou traqueostomia que retém a umidade e o calor do ar expirado e é reaproveitado durante a inspiração. Podem ser do tipo higroscópico (re- tém a água) ou hidrofóbico (repelem a água). Alguns tipos de HME atuam também como fi l- tros de bactérias. É recomendável a troca a cada 48 horas ou quando houver sujidade; • aquecidos: consistem na passagem do ar inspirado seco e frio numa câmara com água previamente aquecida. Podem ser classifi cados como: umidi- fi cadores de passagem (o fl uxo de ar passa sobre uma superfície aquecida de água e carregam o va- por de água) e umidifi cadores de bolhas (o fl uxo de ar mergulha dentro de um conteúdo de água aquecida através de um tubo). Os umidifi cadores de bolhas oferecem maior resistência à passagem de ar em comparação aos umidifi cadores de pas- sagem, não sendo indicados em pacientes com baixos fl uxos inspiratórios como os neonatos. Problemas com umidifi cação inadequada ou ex- cessiva: • espessamento do muco, diminuição da ativida- de ciliar, podendo levar à obstrução da via aérea, infecção, atelectasia e necrose do trato respirató- rio; • umidade absoluta menor que 22 mgH2O/l faz com que o fl uxo do muco cesse; • alterações histológicas: destruição da cília, de- sorganização do epitélio, descamação das célu- las, ulceração da mucosa; • comprometimento da função muco ciliado; • distúrbios estruturais e funcionais com apenas 10 minutos de ar seco; • podem alterar mecânica respiratória e conduzir à hipoxemia (reduz CRF e complacência estática); • hipertermia e queimaduras na vias aéreas; • excesso de água pode resultar em uma defi ciên- cia na atividade muco ciliada, produção de grande quantidade de muco, ou diminuição da viscosidade do muco comprometendo sua capa- cidade de transporte. Inaloterapia É um recurso utilizado em ventilação mecâ- nica para ofertar substância diretamente no trato respiratório. Essas substâncias são principalmente soluções medicamentosas como broncodilatado- res, antiinfl amatórios, antibióticos, antifúngicos, mucotrópicos, mucocinéticos, mucolíticos e soro fi siológico puro. É importante que essas soluções apresentem uma osmolaridade semelhante da mu- cosa das vias respiratórias para evitar edema, bron- coespasmo, irritação e tosse. As medicações apli- cadas por vias inalatórias são realizadas mediante a prescrição médica, mas o fi sioterapeuta deve co- nhecer a colocação adequada do sistema de inalote- rapia nos pacientes em ventilação mecânica. A inaloterapia nos pacientes em ventilação me- cânica pode ser feita por meio de: • nebulizador ultra-sônico: o aerosol é produzido pela vibração do cristal piezelétrico, que emite ondas ultra-sônicas na solução a ser nebulizada; • nebulizador por jato pressurizado: o aerosol é produzido por meio da geração de um fl uxo de alta velocidade da mistura de ar e da solução a ser nebulizada; • dosadores de aerosol, MDI (metered-dose inha- ler): o aerosol é produzido por intermédio da ler): o aerosol é produzido por intermédio da ler liberação de um frasco sob pressão da medica- ção em suspensão dentro de um solvente volátil, geralmente o clorofl uorcarbonato (CFC). A colocação do inalador é importante para um melhor aproveitamento das partículas do aerosol. Em pacientes em ventilação mecânica que estão com sis- tema de umidifi cação aquecida, o inalador deve ser colocado no ramo inspiratório (Figura 3). Em pacien- tes em ventilação mecânica com sistema de umifi ca- CAPÍTULO 201 FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA NA VENTILAÇÃO CONVENCIONAL SEÇÃO 25 2526 ção do tipo trocadores de calor e umidade (HME), o inalador deve ser colocado entre o fi ltro HME e o paciente (Figura 4). Nos dosadores de aerosol (MDI), é importante o uso de um espaçador (Figura 5). Alguns fatores interferem na efi cácia da inalo- terapia: • umidade: favorece o crescimento higroscópico das partículas do aerosol resultando em um me- nor poder de penetração; • temperatura: aumento de temperatura, mais leve fi ca o gás ofertado e mais pesado o aerosol resultando em um menor poder de penetração; • vias aéreas tortuosas, pequeno calibre, presença de secreções: maior a impactação do aerosol. FIGURA 3 – Posição do inalador no ramo inspiratório. FIGURA 4 – Na presença de um filtro umidificador, posição do ina- lador entre o Y e o paciente. FIGURA 5 – Espaçador no ramo inspiratório. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA I Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica. J Pneu- mol 26(2):16-20, 2000. Artigas A, Bernard GR, Carlet J. And the Consen- sus Commitee. Th e American European Consen- sus Conference on ARDS. Am J Respir Crit Care 4:13332-47, 1998. Barbosa PM, Santos BM. Morphologic trachea altera- tions in intubated patients in function of intuba- tion time. Rev Lat Am Enfermagem 11(6):727-33, 2004. Branson R. Understanding and implementing advances in ventilator capabilities. Lippincott Willians & Wi- lkins, Inc 10(1):23-32, 2004. Branson RD, Campbell RS, Chatburn RL et al. AARC Clinical Practice Guideline: humidifi cation during mechanical ventilation. Respir Care 37:887-90, 1992. Dhand R, Tobin MJ. Inhaled bronchodilatator therapy in mechanically ventilated patients. Am J Respir Crit Care Med 156:3-10, 1997. Ersson U, Carlson H, Mellstrom A et al. Observations on intracranial dynamics during respiratory physio- therapy in unconscious neurosurgical patients. Acta Anaesthesiol. Scand 34(2):99-103, 1990. Honrubia T, López FJG, Franco N et al. Noninvasive versus convencional mechanical ventilation in acute respiartory failure. Chest 128:3916-24, 2005. Kondili E, Alexopoulou C, Prinianakis G et al. Pattern of lung emptying and expiratory resistance in mechani- cally ventilated patients with chronic obstructive pul- monary disease. Intensive Care Med 31, 2004. 2527 Lange CF, Finlay W. Overcoming the adverse eff ect of humidity in aerosol delivery via pressurized me- tered-dose inhalers during mechanical ventilation. Am J Respir Care Med 161:1614-8, 2000. Oliveira C, Ferreira CAS, Feltrim MI et al. Avaliação de pressão do balão do tubo endotraqueal nas pri- meiras horas do pós-operatório imediato de cirurgia cardíaca. Rev Bras Terap Intens 4(4):116-8, 1992. Weavind L, Shaw AD, Feeley TW. Monitoring ven- tilator weaning predictors of succes. J Clin Monit Comput 16(5-6), 409-16, 2000. CAPÍTULO 201 FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA NA VENTILAÇÃO CONVENCIONAL 2529 DESTAQUES Para prevenção de lesão secundária, o tratamento está relacionado à adequada oxigenação cerebral, à redução da PIC e à adequada pressão de perfusão cerebral. O posicionamento no leito deve ser precoce e seguir alguns cuidados como evitar fl exão cervical extre- ma, rotação, inclinação ou hiperextensão que podem interferir no sistema de drenagem venoso jugular, evitar fl exão de quadril maior que 90º podendo limitar a drenagem venosa, evitar excessiva elevação da cabeceira, pois poderá desencadear ↓ PA, ↓ da PIC e ↓ excessiva da PPC. A conduta fi sioterapêutica não se aplica apenas à monitoração respiratória ou de parâmetros de ven- tilação mecânica. Associam-se a esses cuidados as manobras de higiene brônquica, mobilização global passiva, alongamentos globais e mobilização que proporcionem ou favoreçam a funcionalidade. CAPÍTULO 202 FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA EM CONDIÇÕES ESPECIAIS Cilene Saghabi de Medeiros Silva Sandra Sayuri Kanda Ana Cristina Oliveira Gimenes Nádia Maria Coraça SEÇÃO 25 2530 INTRODUÇÃO A intervenção da fi sioterapia na UTI se inicia logo na admissão do paciente. O tratamento con- siste em técnicas e monitorização sistemática do quadro respiratório e motor, em que são traçadas metas a serem atingidas por meio de um plano de tratamento com objetivos específi cos, visando a funcionalidades a serem alcançadas. Neste capítulo, abordaremos o papel da fi sio- terapia em algumas situações especiais, como ma- nejar pacientesneurológicos e/ou neurocirúrgicos, neuromusculares com fraqueza muscular rapida- mente progressiva, lesados medulares na fase agu- da, neuropatia ou miopatia adquirida na UTI e grande queimado. FISIOTERAPIA NO PACIENTE NEUROLÓGICO E/OU NEUROCIRÚRGICO GRAVE Atualmente, o manuseio do paciente neuroló- gico e/ou neurocirúrgico grave é atribuído a toda equipe multiprofi ssional. Para os cuidados, deve-se ter amplo conhecimento da fi siologia e fi siopato- logia, dos problemas primários do sistema nervoso central (SNC), alterações secundárias à patologia clínica ou cirúrgica e das doenças neuromuscula- res. Em pacientes com lesões cerebrais severas não ocorrem apenas distúrbios decorrentes das lesões primárias, mas também danos decorrentes de le- sões secundárias, redução da oxigenação cerebral, piora do edema cerebral, isquemia e elevação da pressão intracraniana (PIC). Fatores que podem levar às lesões secundárias: elevação da PIC, hipotensão, hipocapnia, baixa da hemoglobina, hipóxia e febre. Portanto, para preven- ção de lesão secundária, o tratamento está relaciona- do à adequada oxigenação cerebral, redução da PIC e adequada pressão de perfusão cerebral (PPC). Em pacientes com monitorização da PIC, ava- lia-se a pressão de perfusão cerebral, medida como a diferença entre pressão arterial média (PAM) e PIC média: PPC = PAM – PIC Valor médio normal: PIC = 10 – 5 mmHg PPC = 60 – 95 mmHg (adulto) PPC = 50 – 80 mmHg (criança) Avaliação neurológica Realizar avaliação sistemática antes, durante e após cada procedimento. Nos pacientes sedados, rea lizar inspeção das pupilas, presença de contra- ções musculares tonicoclônicas, presença de padrões musculares, grau de sedação, podendo ser quanti- fi cado estado de consciência por meio da escala de agitação e sedação (SAS), descrita na Tabela 1. Em pacientes sem sedação, avaliar estado de Em pacientes sem sedação, avaliar estado de Em pacientes sem sedação, a consciência por meio da escala de coma de Glas- gow, realizar inspeção de pupilas, presença de pa- drões espásticos ao repouso e durante estimulação TABELA 1 – Escala de sedação – agitação (SAS) 7. Agitação perigosa Tentando retirar cateteres, tubo traqueal e sair do leito. Agressivo 6. Muito agitado Não se acalma, apesar de freqüentes pedidos e explicações. Requer restrição, morde o tubo traqueal 5. Agitado Ansioso e levemente agitado. Tenta sentar, acalma com instruções verbais 4. Calmo e cooperativo Desperta facilmente e obedece a comandos 3. Sedado Mais difícil de ser acordado. Acorda com estímulos verbais e táteis, mas dorme logo após, obedece a comandos simples 2. Muito sedado Desperta com estímulos físicos mais intensos, não se comunica ou obedece comandos. Pode mover-se espontaneamente 1. Sem resposta Sem contato, resposta mínima ou ausente aos estímulos nociceptivos Riker RR, Picard JT, Fraser GL. Crit Care Med 1999. 2531 para movimentação, presença de contração toni- coclônicas, resposta do paciente aos comandos verbais, avaliação de força muscular, mobilidades voluntárias, amplitude de movimentos (ADM) e presença de dor aos manuseios. Avaliação respiratória Por meio da avaliação identifi cam-se alterações respiratórias e a possibilidade de intervenção pre- coce. Avaliar ritmo respiratório, observando fre- qüência, profundidade e regularidade, podendo caracterizar-se como hiperpnéia, taquipnéia, bra- dipnéia, respiração em suspiros, Cheyne-Stokes, atáxica (Biot) e obstrutiva. Devem ser avaliados o uso de musculatura aces- sória, batimento de asa de nariz, cianose, ausculta pulmonar, deformidades estruturais, movimento e assimetrias de caixa torácica, trocas gasosas (gaso- metria e oximetria de pulso). Nos pacientes com suporte ventilatório mecâni- co e via aérea artifi cial, realizar sistematicamente a checagem de parâmetros ventilatórios em que ajus- tes indevidos do respirador podem gerar auto PEEP, elevadas pressões nas vias aéreas, conseqüentemen- te, aumento da pressão intratorácica, hipercapnia e danos respiratório e hemodinâmico. A modalidade inicial de escolha para esse grupo de pacientes é o volume-controlado (VC) por garantir o volume- minuto. Caso haja comprometimento pulmonar, a pressão controlada (PC) pode ser utilizada, porém com constante vigilância das alterações de volume- corrente e conseqüentemente pressão arterial de gás carbônico (PaCO2). Na fase inicial do desmame da ventilação mecâ- nica, pode-se utilizar como modalidade de escolha a ventilação mandatória intermitente sincronizada (SIMV) + pressão suporte (PS), com objetivo de garantir algumas ventilações e permitir nos mo- mentos de respiração espontânea a assistência da PS e melhor sincronização paciente e respirador. Porém, logo que se restabeleça o ritmo respiratório, utilizar PS e SIMV, apenas como suspiros. Consi- derar necessidade de ventilação não-invasiva após a desintubação. Monitorização da PaCO2 e gás carbônico expi- rado (ETCO2): mudanças na pressão parcial de gás carbônico normalmente associam-se à mudança no fl uxo sangüíneo cerebral (FSC) e extração cerebral de oxigênio (ECO2). Um aumento da PaCO2 aumenta o FSC e diminui a ECO2. Portanto, mudanças na PaCO2 referem-se à modalidade terapêutica, hiper- ventilação como tratamento do edema cerebral. Cuidados com a cânula traqueal como: adequa- do posicionamento (2 cm acima da carina), correta fi xação (evitar fi xações que comprimem o sistema de drenagem cerebral), higienização e monitoriza- ção da pressão do cuff cuff .cuff Cuidados especiais e sugestões de técnicas utilizadas Posicionamento no leito: evitar fl exão cervical ex- trema, rotação, inclinação ou hiperextensão que po- dem interferir no sistema de drenagem venoso jugu- lar, evitar fl exão de quadril maior que 90º que poderá limitar a drenagem venosa, evitar excessiva elevação da cabeceira, pois poderá desencadear ↓ PA, ↓ da PIC e ↓ excessiva da PPC. A mudança de decúbito deve ser realizada precocemente, de acordo com as alterações da PIC e estabilidade hemodinâmica. Utilizar posicionamento de cabeça, tronco e membros visando à funcionalidade, evitando pa- drões patológicos, alterações musculares e articu- lares, podendo também favorecer e otimizar oxi- genação e volumes pulmonares, reduzir trabalho respiratório e aumentar o clearance mucociliar. Mobilizações no leito: pode ser utilizado um conjunto de técnicas com objetivo de reduzir os efeitos da imobilidade e permanência no leito, es- timulações para retorno de suas funcionalidades e atividades de vida diária (AVDs). Manobras de higiene brônquica como drena- gem postural, vibração e percussão torácica e aspi- ração traqueal com objetivo de auxiliar na remoção da secreção pulmonar. CAPÍTULO 202 FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA EM CONDIÇÕES ESPECIAIS SEÇÃO 25 2532 Em pacientes com refl exos intactos, a tosse pode resultar em um aumento da pressão intratorácica, da freqüência cardíaca (FC) e PA, podendo causar hipóxia e hipercapnia transitória. Essas alterações aumentam o volume e fl uxo cerebral, elevando a PIC, podendo ser necessário avaliação médica e otimização da sedação e/ou bloqueadores neuro- musculares, hiperoxigenação e hiperventilação an- tes do procedimento. A cinesioterapia respiratória é realizada de acordo com a capacidade de colaboração do paciente, poden- do ser substituída pelo exercício com pressão positiva intermitente. No entanto, seu uso deve ser criterioso, a fi m de evitar complicações como pneumoencéfalo nos pacientes em pós-operatório de craniotomia. O uso de ventilação não-invasiva como o BiPAP ou CPAP está indicado em casos de hipoventilação severa, que comprometa as trocas gasosas ou em pacientes que apresentam hipertonia com alteração da mecânica respiratória. É freqüente a alteração da deglutição nesses pa- cientes devido ao comprometimento do XII par cra- niano e a paralisias faciais, ocasionando hipersecreção pulmonar devido à aspiração de saliva e/ou alimento. FISIOTERAPIA NAS DOENÇAS NEUROMUSCULARESAs doenças neuromusculares (DNM) represen- tam um grande grupo de afecções que comprometem a unidade motora, ou seja, o corpo celular do neurô- nio motor inferior, o prolongamento axonal, a junção neuromuscular ou o tecido muscular esquelético. O quadro clínico geral das DNM apresenta-se como: alterações da motricidade e da sensibilidade, com diminuição dos refl exos tendinosos, fl utuação da fraqueza muscular ou fraqueza rapidamente progressiva. O acometimento de maior risco é o da musculatura respiratória. Cronicamente, os sinais são de dispnéia, ortopnéia, piora da qualidade do sono, fadiga e cefaléia matinal. A falência respira- tória aguda cursa com queda do volume-corrente e da capacidade vital (antes do aparecimento da hi- poxemia), aumento da freqüência respiratória e da freqüência cardíaca, fraqueza da musculatura ins- piratória e expiratória, facial, laríngea, orofaríngea, microatelectasias, hipoxemia e hipercapnia. Na esclerose lateral amiotrófi ca (ELA), os sinais de insufi ciência respiratória surgem quando a capa- cidade vital (CV) reduz-se em 50% do seu valor pre- visto. Na miastenia gravis, há envolvimento precoce da musculatura ocular, fraqueza facial e orofaríngea, com disfagia, disartria, risco de broncoaspiração, de modo que 30% dos pacientes podem evoluir com fraqueza muscular respiratória. Na síndrome de Guillain-Barré (produção de anticorpos e imuni- dade celular contra a mielina), 50% dos pacientes admitidos em UTI têm história de infecção recen- te, geralmente respiratória, desencadeando quadro de fraqueza muscular ascendente, refl exos tendíneos abolidos e fases de progressão, que variam de 3 a 21 dias, fase platô com duração média de 6 a 8 semanas e fase de convalescença que pode chegar até a 2 anos. A falência respiratória cursa com quadro de hipo- ventilação, redução da capacidade vital e dos fl uxos expiratórios, com dispnéia e grande difi culdade para eliminar secreções pulmonares. Avaliação respiratória Consiste na caracterização clínica do compro- metimento respiratório, considerando-se: • confusão; • agitação; • letargia; • cefaléia matinal; • dispnéia; • uso de musculatura acessória; • retração intercostal e supraesternal; • batimento de asa do nariz; • ortopnéia; • monitoração de PImáx e PEmáx; • radiografi a de tórax com objetivo de avaliar imagem sugestiva de pneumonia, atelectasia ou elevação de cúpula diafragmática; 2533 • avaliação dos gases arteriais, sinais de hipoventi- lação alveolar (↑ PaCO2, ↓ PaO2); • a mensuração constante da CV detecta não só o grau de insufi ciência respiratória como também sinais fi siopatológicos e a necessidade de indica- ção de ventilação não-invasiva (VNI), intuba- ção endotraqueal e traqueostomia já que 16% dos pacientes necessitam de UTI e 48% cursam com intubação de urgência. A indicação de VNI se faz para pacientes com DNM que, na descompensação aguda, não te- nham quantidade excessiva de secreção pulmonar e para o desmame da ventilação mecânica invasiva de pacientes que ainda necessitam de suporte ven- tilatório. Sugerem-se modalidades com dois níveis pressóricos. Sua aplicação segue os critérios de Rooper, como descritos na Figura 1. A indicação de internação em UTI e de VNI de pacientes com DNM pode obedecer ainda os critérios de: CV < 20 ml/kg, PImáx: < -30 cmH2O e PEmáx < + 40 cmH2O, como mostra Figura 2. A partir da mensuração da CV e das pressões inspiratórias e expiratórias máximas, é possível ca- racterizar o pacientes como: baixo, médio e alto risco, como descritos na Figura 2. Em relação ao suporte ventilatório, a indicação de ventilação mecânica invasiva, em que o objetivo é repouso muscular, opta-se por ventilação contro- lada, com volume-corrente variando de 06 a 08 ml/ kg, a PaCO2 entre 35 e 45 mmHg, pressão positiva expiratória fi nal (PEEP) 5 a 10 cmH2O, manuten- ção da SaO2 acima de 95%. Como critérios de des- mame da VM, sinais clínicos de melhora da força muscular, CV > 10 ml/kg, FiO2 < 40% e PEEP < ou igual a 10 cmH2O. Estabilidade hemodinâmica, infecciosa e radiológica e PS < 10 cmH2O. Deve- se considerar o uso de VNI após desintubação do paciente. A indicação de traqueostomia pode ser considerada quando há risco de broncoaspiração, lesão laríngeo-traqueal e indivíduos que apresentam necessidade de intubação por mais de 14 dias. A conduta fi sioterapêutica não se aplica apenas à monitorização respiratória ou de parâmetros de FIGURA 1 – Relação entre a capacidade vital, fisiopatologia e fun- ção pulmonar em pacientes com DNM. Adaptado de Rooper AH: ICU management of acute inflammatory-postinfectious polyneuropathy (Landry-Guillain-Barré-Strohl syndrome). In: Bella I, Chad D. Neu- romuscular disorders and acute respiratory failure. Neurologic Clin North Am 16:2, 1998. FIGURA 2 – Caracterização relacionada ao risco de complicação res- piratória com base nos valores de capacidade vital, levando a indicação de internação na UTI, uso de VNI ou intubação orotraqueal (IOT). CAPÍTULO 202 FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA EM CONDIÇÕES ESPECIAIS Fisiopatologia respiratória ↓ tosse, atelectasia, início de hipoxemia ↓ suspiro, atelectasia + shunt Hipoventilação Hipercapnia Fisioterapia respiratória Inspirômetro de incentivo BiPAP VM, ↓ PaCO2, fadiga Ventilação total C V 65 ml/kg (normal) 30 ml/kg 20 ml/kg 15 ml/kg 10 ml/kg 5 ml/kg Atuação ventilatória CV Baixo risco Se CV > 30 ml/kg Indicação de desmameIndicação de desmame Se CV > 30 ml/kg CV < 65 ml/kg Médio risco CV < 30 ml/kg CV < 30 ml/kg CV < 15 ml/kg IOT Manter IOT Repouso, estabilização clínica CV 8/8h Vias pérvias SaO2 > 93% CV 6/6h Indicação de VNI Vias pérvias SaO2 > 93% ↓ da CV de 4 a 6h Paresia orofaríngea Broncoaspiração Fadiga respiratória Alto risco SEÇÃO 25 2534 ventilação mecânica. Associam-se a esses cuidados as manobras de higiene brônquica, mobilização global passiva, alongamentos globais e mobilização que favoreçam a funcionalidade. Considera-se o uso de cinta abdominal e posicionamento do paciente no leito, específi co às suas necessidades (Tabela 2). FISIOTERAPIA NA POLINEUROPATIA DO PACIENTE CRÍTICO Algumas terminologias são também utilizadas para descrever a polineuropatia do paciente crítico: anormalidade neuromuscular do paciente crítico, desordem neuromuscular e paresia adquirida na UTI, ou ainda miopatia aguda quadriplégica. A desordem neuromuscular adquirida na UTI é de natureza axonal, predominantemente motora, simétrica, aguda, de gravidade variável e normal- mente não ocorre desautonomia. Acomete prin- cipalmente membros inferiores com predomínio distal, ocorrendo redução dos refl exos tendinosos e da massa muscular, levando a um quadro de te- traparesia ou plegia e difi culdade no desmame da ventilação mecânica. Desenvolve-se predominan- temente em pacientes com síndrome da resposta infl amatória sistêmica (SIRS), sepse e falência de múltiplos órgãos, estando também associada à uti- lização de bloqueador neuromuscular, corticoes- teróides, má nutrição, antibióticos neurotóxicos e imobilidade no leito. O diagnóstico é dado por achados eletroneuro- miográfi cos, biópsia muscular ou estudo de condu- ção nervosa sendo sempre necessário o diagnóstico diferencial da síndrome de Guillain-Barré. Prospectivos estudos, utilizando testes neurofi - siológicos, revelaram que a miopatia e/ou neuropa- tia está presente em 52% a 57% dos pacientes que permaneceram em UTI por mais de sete dias, 68% a 100% dos pacientes com sepse ou SIRS, em que mais de 50% dos pacientes que recebem ventilação mecânica superior a sete dias desenvolveram altera- ções eletrofi siológicas, e 25% a 33% apresentaram evidência clínica. Como conseqüência, aumentam custo hospitalar, mortalidade e morbidade. Suge- re-se que a patogenia está relacionada à sepse ou SIRS, durante a qual ocorre distúrbio da microcir- culação, perda da auto-regulação dos vasos sangüí- neos que suprem os nervos periféricos e liberação de citocinasque aumentam a permeabilidade dos vasos, resultando em edema endoneural. Este leva à hipóxia e degeneração axonal de fi bras sensitivas e motoras. Segundo dados da literatura, no período de seis meses ocorre a normalização da condução nervosa, com tempo médio de ventilação mecânica de 52 dias em polineuropatia moderada e 136 dias em polineuropatia grave. Um dos problemas a serem abordados é a imo- bilidade no leito que leva a efeitos fi siológicos em diferentes órgãos e sistemas. O início precoce da reabilitação nesses pacientes é de fundamental im- portância, pois tem como objetivo o restabeleci- mento das funções físicas, psicológicas, sociais, vi- sando sempre ao funcional de acordo com as limi- TABELA 2 – Principais condutas descritas em ELA, SGB e MG Doença neuromuscular (DNM) Conduta motora Conduta respiratória Treinamento muscular ELA (esclerose lateral amiotrófica) Redução de dor, mobilização articular, alongamento, posicionamento, poltrona Exercício diafragmático, SMI (em tempos), tosse, aspiração traqueal (s/n), BiPAP Não há indicação formal na literatura SGB (síndrome de Guillain-Barré) Idem, exercícios ativo-assistidos e ativo-resistidos (evolução clínica) Idem, monitorização ventilatória e da VM Em acordo com evolução clínica (pós-fase aguda) MG (miastenia gravisMG (miastenia gravisMG ( ) Redução de dor, mobilização articular, alongamento, posicionamento, poltrona Idem, monitorização ventilatória e da VM Em acordo com evolução clínica (pós-fase aguda) Não indicada em crise miastênica 2535 tações impostas pela doença. Os principais efeitos da imobilidade em órgãos e sistemas são: • redução dos volumes e capacidades pulmona- res na posição supina: queda da capacidade vital (CV) de 2%, capacidade pulmonar total (CPT) de 7%, do volume residual (VR) de 19% e da capacidade residual funcional (CRF) de 30%; • redução da capacidade de tossir; • atelectasias e pneumonias; • redução da força, resistência e fl exibilidade mus- cular; • redução da massa muscular (perda de 2,3% da massa magra e aumento de 12% da massa gorda em cinco semanas); • risco de lesão nervosa periférica por compressão nervosa; • contraturas articulares; • osteopenia e osteoporose; • redução do volume cardíaco; • redução da circulação periférica; • riscos de desenvolver embolia pulmonar e trom- bose venosa; • redução da mobilidade gastrintestinal; • infecção urinária; • úlceras de pressão; • depressão. Cuidados especiais e sugestões de técnicas utilizadas Nesse grupo de pacientes, é utilizado um con- junto de técnicas com objetivo de prevenir, redu- zir e/ou tratar os efeitos da imobilidade. Inicia-se com posicionamento e mobilizações de cabeça, tronco e membros. Utilizar técnicas com objetivos funcionais sem esforço excessivo pela facilidade de desenvolver fadiga muscular. Sugerem-se exercícios passivos, assistidos, muitas vezes na fase inicial sem ação da gravidade (Figuras 3 e 4), estímulo para mudanças posturais no leito e a longo prazo com melhora da função muscular realizar exercícios mais intensos como ativos e resistidos. FIGURA 4 – Exercício de funcionalidade. FIGURA 3 – Exercício sem ação da gravidade. CAPÍTULO 202 FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA EM CONDIÇÕES ESPECIAIS Sistemática monitorização da função respira- tória deve ser acompanhada, principalmente nos pacientes em que foi iniciado processo de desma- me da ventilação mecânica. É recomendada pela literatura avaliação de força muscular respiratória principalmente nos pacientes com mais de sete dias em ventilação mecânica. Iniciar assim que possí- vel modalidades ventilatórias assistidas e planejar o processo de desmame da ventilação mecânica para desintubação. Nesse processo, fi car atento a sinais de fadiga respiratória e detectar precocemente o motivo da difi culdade de retirada do ventilador. Considerar necessidade de VNI após desintubação. Nesse grupo de pacientes, a necessidade de traque- SEÇÃO 25 2536 ostomia deve ser considerada pelo prolongamento da ventilação mecânica acompanhada da compro- metimento da função muscular. O treinamento muscular respiratório e/ou esti- mulação elétrica transcutânea diafragmática é uma terapêutica que pode ser utilizada nos pacientes com difi culdade de desmame da ventilação mecâ- nica por fraqueza da musculatura respiratória, po- rém existem poucas evidências na literatura. Nesse grupo de pacientes, por apresentarem importante perda de massa e força muscular, deve-se ter ade- quado acompanhamento do suporte nutricional, metabólico, infeccioso e hemodinâmico para que o exercício tenha objetivo não-deletério. FISIOTERAPIA NO TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR – FASE AGUDA A maior parte das lesões medulares acontece devido a um traumatismo na coluna vertebral. Os traumas podem causar fratura do osso vertebral, compressão medular, ruptura dos ligamentos verte- brais, deslocamento ósseo, pinçamento, contusão, edema, hemorragia ou não, ou então provocar uma ruptura da medula e/ou de suas raízes nervosas. A lesão com preservação dos segmentos da me- dula abaixo do nível da lesão geralmente produz uma lesão do tipo neurônio motor superior (NMS) ou paralisia espástica. Os refl exos intrínsecos não poderão ser inibidos devido à lesão e tornar-se-ão hiper-refl exos levando ao aumento do tônus mus- cular, espasmo e espasticidade. A lesão do cone medular, sem preservação do segmento medular, abaixo do nível da lesão, ou uma lesão de cauda eqüina, produz uma lesão do tipo neurônio motor inferior (NMI) ou paralisia fl ácida. Nesse tipo de lesão, o estímulo não pode atingir a medula, e os refl exos e tônus muscular permanecem diminuídos ou ausentes (fl ácidos). As lesões podem ser causadas por fratura ou lu- xação, podendo ocasionar compressão medular nos diversos movimentos: fl exão/extensão, associados ou não à rotação. A coluna cervical é comumente a mais afetada devido à sua mobilidade. Classifi cação das lesões 1. Lesão medular completa: há perda da função motora e de todas as modalidades sensitivas (tátil, térmica, pressão e localização de parte do corpo no espaço) abaixo da lesão e alteração es- fi ncteriana (urinário e fecal). 1.1. Secção completa da medula. 1.2. Esmagamento transversal total da medula 2. Lesão medular incompleta: preservação parcial tanto da função motora ou da função sensitiva abaixo do nível neurológico. 2.1. Concussão. 2.2. Contusão. 2.3. Laceração. 2.4. Compressão. 2.5. Hemorragia. 2.6. Edema. Determina-se o grau de lesão medular geralmen- te 72 horas após o trauma. O exame neurológico consiste na avaliação da sensibilidade, da função motora e dos refl exos tendinosos, não apresentan- do relação direta com o nível da fratura vertebral. A área de sensibilidade do paciente é examinada no sentido craniocaudal. As lesões cervicais continuam sendo um dos maiores problemas da medicina moderna, sendo o impacto social e fi nanceiro. As alterações e compli- cações pulmonares são as maiores causas da mor- bimortalidade e podem desenvolver complicações respiratórias. O comprometimento da musculatura respi- ratória está de acordo com o nível da lesão como mostra o mapa segundo a classifi cação respiratória funcional (Tabela 3). Lesão abaixo de C5, a inervação do diafragma deve estar intacta, com uma capacidade inspiratória de aproximadamente 60% do predito e moderada 2537 TABELA 3 – Classificação respiratória funcional Nível da lesão Diafragma Acessórios Intercostais Abdominais C2 Ausente Ausente Ausente Ausente C4 Comprometimento parcial Presente Ausente Ausente C6 Presente Presente Ausente Ausente T4 Presente Presente Comprometimento parcial Ausente T10 Presente Presente Presente Comprometimento parcial T12 Presente Presente Presente Presente CAPÍTULO 202 FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA EM CONDIÇÕES ESPECIAIS redução da PImáx. Como conseqüência, paralisia dos músculos expiratórios (abdominais e intercos- tais), ocorre uma redução da PEmáx e volume de reserva expiratório (VRE),apresentando severo comprometimento da capacidade de tossir. Lesão acima de C5 (C3 – C4 ou C4 – C5), com parcial envolvimento do diafragma. Lesões em nível de C1 – C2 causam completa paralisia dos músculos respiratórios, sendo obrigatório o suporte ventila- tório contínuo. Pacientes com comprometimento do diafragma podem estar com a capacidade vital (CV) menor de 50% do predito. Estudos mostram que nestes pacientes 74% requerem intubação e 40% desenvolvem pneumonia, de modo que pa- cientes com quadriplegia completa, 90% necessi- tam de intubação comparados a 48,5% com qua- driplegia incompleta. Pela fraqueza dos músculos, há uma expansão paradoxal do abdômen, podendo reduzir o aumen- to da pressão intratorácica e aumentar o grau de co- lapso das vias aéreas. Recente estudo constatou que a PeMáx foi a variável que obteve menores valores em indivíduos tanto com lesão torácica ou lombar em que há comprometimento dos músculos da ex- piração forçada, principalmente os abdominais. As complicações respiratórias mais comuns nos pacientes com lesão cervical alta são: alteração da mecânica respiratória, hipoventilação alveolar, pneumonia, broncoaspiração, embolia pulmonar e apnéia do sono. Os problemas associados podem ser: pneumonia/infecções, trombose venosa, úlce- ras por pressão, contratura articular, disfunção in- testinal, disfunção urinária, disrefl exia autonômica, siringomielia, desnutrição, hipotensão ortostática e calcifi cação heterotópica. Cuidados especiais e sugestões de técnicas utilizadas na fase aguda Avaliação respiratória Consiste em uma maior vigilância na fase aguda do controle gasométrico avaliando PaO2 e PaCO2, radiografi a de tórax, ausculta pulmonar, padrão respiratório, efi cácia e conteúdo da tosse, medidas de CV, CI, PImáx e PEmáx, em que se pode carac- terizar a gravidade do paciente e traçar condutas fi - sioterapêuticas, monitorização respiratória seriada e assistência ventilatória invasiva ou não-invasiva. A intervenção fi sioterapêutica precoce do pa- ciente na UTI tem objetivos respiratórios especí- fi cos como: prevenir ou tratar a fadiga muscular respiratória, hipoventilação pulmonar, adequada higiene brônquica, podendo-se utilizar técnicas variáveis como manobras de higiene brônquica e exercícios de expansão pulmonar. Em pacientes com indicação de VNI, dar prefe- rência para a modalidade com dois níveis de pressão (BiPAP) com objetivo de reduzir o trabalho respi- ratório, recrutamento de unidades alveolares, con- seqüentemente, melhorando trocas gasosas e volu- mes pulmonares. Porém existem poucas evidências na literatura nesse grupo de pacientes que possam comprovar a redução da necessidade de suporte ventilatório invasivo. Sendo necessária a utilização SEÇÃO 25 2538 da ventilação mecânica invasiva, deixar em repouso muscular por 24 a 48 horas. Após estabilidade clí- nica, utilizar modalidades assistidas, monitorando sinais de fadiga e medidas ventilatórias. Sugere-se o uso da cinta abdominal cujo ob- jetivo é melhorar a complacência abdominal, au- mentando a pressão intra-abdominal e facilitando a mecânica respiratória. Para indicar treinamento muscular respiratório, devemos lembrar alguns conceitos: • fraqueza muscular: é a difi culdade de um mús- culo gerar força. A fraqueza não é reversível com o repouso; • fadiga muscular: é a incapacidade do músculo em manter atividade por determinado tempo. A força pode estar normal, mas o músculo não tem resistência para se manter em atividade. A fadiga é reversível com repouso de aproximada- mente 24 horas. O treinamento muscular respiratório pode ser uma terapêutica aplicada em pacientes com diag- nóstico de fraqueza muscular, ainda não muito evi- dente na literatura. O objetivo da técnica é tentar resgatar o máximo de fi bras musculares íntegras, principalmente em lesões incompletas. Secundaria- mente espera-se incrementar o treinamento mus- cular, ou seja, associar as técnicas de eletroestimu- lação às convencionais (alteração da sensibilidade do ventilador e treinadores lineares pressóricos). Esse tipo de tratamento é indicado quando te- mos a funcionalidade envolvida. Para tanto, é ne- cessária análise da condução nervosa do frênico, por meio de eletroneuromiografi a, avaliação da mobilidade das cúpulas diafragmáticas mensuradas pela ultra-sonografi a. Avaliação neurológica Deve ser realizada por meio da escala ASIA (American Spinal Injury Association(American Spinal Injury Association( ) padrão inter- nacional, que sistematiza o exame neurológico, classifi cando a lesão como completa ou incompleta e determinando o nível da lesão. Outros objetivos como prevenir lesões cutâneas, padrões posturais patológicos, contraturas, defor- midades e redução de quadros álgicos fazem par- te do processo de reabilitação logo na fase aguda, podendo-se utilizar técnicas variadas respeitando suas limitações clínicas. O posicionamento funcio- nal adequado de todo o corpo pode ser realizado utilizando acessórios como: travesseiros, toalhas, splints, versaform, rolos etc. Devem fazer parte não só do plano de tratamento, mas também do plano educacional da equipe multiprofi ssional. Exercícios no leito, alongamento, mudanças posturais são en- fatizadas com objetivos funcionais minimizando os riscos desenvolvidos pela imobilidade, alteração de tônus e sensibilidade. Considerar na fase de maior estabilidade clíni- ca a utilização da prancha ortostática por ser uma ferramenta para facilitar o ortostatismo, aumentar pressão de membros inferiores, auxiliar no alinha- mento corporal e proprioceptivo e adaptação he- modinâmica. Durante esta terapêutica é recomen- dada a utilização da meia elástica para facilitar o retorno venoso. ATENDIMENTO FISIOTERAPÊUTICO DO PACIENTE GRANDE QUEIMADO A sobrevivência do paciente grande queima- do sempre foi vista como uma enorme conquis- ta diante do alto índice de mortalidade, de modo que, no âmbito hospitalar, a fi sioterapia tem infl u- ência direta sobre a manipulação da área queimada e enxertada para um resultado funcional e estético satisfatório. Devido à alta complexidade dos cuidados exigi- dos, os procedimentos e recursos disponíveis atuam como coadjuvantes podendo ser adaptados para es- ses pacientes, tendo como objetivos gerais prevenir ou diminuir complicações clínicas e funcionais, diminuir morbimortalidade, retorno rápido e efi - ciente às atividades de vida diária, envolvimento familiar e qualidade de vida global. 2539 A imobilização prolongada do paciente grande queimado, principalmente após os enxertos, fa- vorece a colonização de bactérias, prolongando a permanência hospitalar e dependência para as ati- vidades de vida diária, podendo causar comprome- timentos secundários que jamais são confi nados a um único sistema corporal. A reserva funcional fi ca reduzida, levando a fraqueza e atrofi a muscular, deformidades articulares e músculo-esqueléticas, comprometimento do sistema cardiorrespiratório, endócrino, locomotor e neuromuscular. É um pro- cesso mutável, sendo um desafi o constante para o profi ssional. O comprometimento articular, músculo-esque- lético e a perda de habilidades específi cas depen- dem da localização, profundidade e extensão da área queimada. No entanto, quanto maior a área queimada, maior a probabilidade e evolução para perdas funcionais. São considerados como critérios de internação: • queimaduras de 2o e 3o graus com mais de 10% da superfície corporal (SC) em pacientes < 10 ou > 50 anos; • queimaduras de 2o e 3o graus com mais de 20% da SC em qualquer idade; • queimaduras de 2o e 3o graus em áreas críticas (face, períneo, mãos e pés); • queimaduras de 3o grau com mais de 5% da su- perfície corpórea; • queimaduras elétricas; • lesão inalatória e queimaduras circunferenciais, químicas e pacientes com doenças crônicas. Muitos pacientes apresentam queimadura na ca- beça, no tronco, nos membros superiores e em vias aéreas, podendo evoluir paraintubação orotraqueal e ventilação mecânica. Alguns estudos mostram que a infecção respiratória é a principal causa de morbi- mortalidade e que pode atingir uma taxa de 50% desses pacientes se os mesmos estiverem sob ven- tilação mecânica, podendo aumentar o tempo de permanência hospitalar que varia em média de um a quatro dias por porcentagem de área queimada. Na admissão ou hospitalização em fase aguda, a avaliação minuciosa e detalhada visa identifi car a severidade e extensão da área queimada, que são determinantes necessários para se adequar a con- duta, avaliar a necessidade de suporte ventilatório, programar a terapia no centro cirúrgico, enfati- zando o atendimento fi sioterapêutico freqüente, precoce e intensivo. O propósito do plano de re- abilitação inclui objetivo a curto e longo prazos que facilitam a monitoração do progresso ou per- da de funções. Atendimento fi sioterapêutico no centro cirúrgico O principal objetivo é atingir a amplitude má- xima de movimento articular sob efeito anestésico, bem como o contato com a equipe médica e acom- panhamento dos curativos, visualização das áreas queimadas, enxertadas e doadoras. A manipula- ção é iniciada após sedação, retirada do material contaminado e limpeza do curativo, devendo ser evitados movimentos bruscos e micro-hemorragias durante e após o contato manual feito por meio de procedimentos estéreis (Figura 5). Objetivos respiratórios específi cos A integridade da função respiratória pode ser feita por meio de abordagens terapêuticas que in- cluem a manutenção da saturação de O2 > 93%, manter força muscular respiratória e capacidade cardiorrespiratória, higiene brônquica e expansão pulmonar. Alguns estudos mostram que, devido aos cura- tivos no centro cirúrgico, o paciente grande quei- mado pode apresentar, no período pós-anestésico, uma diminuição signifi cativa da PImáx e do vo- lume-corrente (VT) que pode levar à hipercabia, com PCO2 maior que 50 mmHg, devendo consi- derar, sempre que houver necessidade de suporte ventilatório, o protocolo para desmame difícil de ventilação mecânica. CAPÍTULO 202 FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA EM CONDIÇÕES ESPECIAIS SEÇÃO 25 2540 Objetivos motores específi cos Nos objetivos gerais são expressas atividades funcionais, podendo ser modifi cadas por meio da avaliação contínua dos resultados após cada tera- pia, para poder determinar a efi cácia da atividade e sessão terapêutica e, então, modifi car o tratamento quando necessário. Deve-se enfatizar a amplitude do movimento articular e a força muscular, a pre- venção de deformidades, retrações e complicações ósteo-articulares, estimular precocemente coorde- nação, equilíbrio, controle de tronco, ortostatismo e marcha, buscando alcançar o mais elevado nível funcional, independência para habilidades especí- fi cas e atividades da vida diária (Figura 6). A imobilidade prolongada, o posicionamento inadequado, a manipulação com movimentos rá- pidos e bruscos, a ausência do refl exo de proteção da dor, as deformidades e aderências cicatriciais e a perda signifi cativa da força muscular podem fa- vorecer o aparecimento de calcifi cações heterotópi- cas e prejudicar ou agravar a aquisição das funções motoras. Cuidados especiais e sugestões de técnicas utilizadas Deve-se dar ênfase ao posicionamento e à ma- nipulação cuidadosa da área queimada e enxerta- FIGURA 5 – Mobilização no centro cirúrgico. FIGURA 6 – Prancha ortostática e enfaixamento dos MMII. da, liberar as articulações sempre que possível para não prejudicar a mobilização do membro, realizar enfaixamento compressivo dos membros inferiores em posição ortostática e medir pressão arterial no início e durante as transferências posturais. Respei- 2541 tar o tempo de imobilização sugerido pela equipe médica durante a fase de enxertia, que pode variar de três a sete dias para enxertos de pele e sete a 21 dias quando houver enxerto de pele artifi cial. Tratamento A abordagem terapêutica em ambiente esté- ril pode ser realizada por: exercícios passivos com enfoque no método Kabat (Figura 7) – facilitação neuromuscular proprioceptiva, massagens de fric- ção no sentido das fi bras musculares para minimi- zar as aderências cicatriciais, manter os membros que foram manipulados em posições de alonga- mento até que todo procedimento seja realizado e auxiliar o enfaixamento das áreas queimadas com enfoque na funcionalidade. O cuidado intensivo visa enfatizar mudanças de decúbito a cada 2 horas, posicionamento adequa- do, exercícios passivos, ativos-assistidos e ativos-li- vres sugeridos duas vezes ao dia, treinamento mus- cular respiratório se PiMáx < -30 cm H2O, mano- bras de higiene brônquica, exercícios com RPPI, incentivadores respiratórios e ventilação mecânica não-invasiva, sempre que houver necessidade. Deve ser avaliada a continuidade do tratamento quando o paciente encontra-se fora do centro ci- rúrgico e do ambiente de UTI. FIGURA 7 – Método Kabat. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA Adler SS, Beckers D, Buck M. Método Kabat – facilita- ção neuromuscular proprioceptiva (PFN) – um guia ilustrado. São Paulo, Manole, 1999. Avendano M, Güell R. Rehabilitation in patients with neuromuscular and chest wall diseases. Arch Bron- coneumol 39(12):559-65, 2003. Bella I, Chad D. Neuromuscular disorders and acute respiratory failure. Neurologic Clin North Am 16:2, 1998. Cruz J. Neurointensivismo. São Paulo, Atheneu, 2002. Deem S, Lee CM, Curtis JR. Acquired neuromuscular disorders in the intensive care unit. Am J Respir Crit Care Med 168:735-9, 2003. Dejongle B, Sharshar T, Hopkinson N et al. Paresis following mechanical ventilation. Curr Opin Crit Care 10:47-52, 2004. Demling RH, Crawford G, Lind L et al. Restrictive pulmonary dysfunction caused by the grafted chest and abdominal burn. Crit Care Med 16(8):743-7, 1988. Goldman JM, Rose LS, Willians SJ et al. Eff ect of abdo- minal binders on breathing in tetraplegics pacients. Th orax 41:940-5, 1986. Kerr ME, Rudy EB, Weber BB et al. Eff ect of short-du- ration hyperventilation during endotracheal suctio- ning on intracranial pressure in severe head-injured adults. Nurs Res 46:195-201, 1997. Kerr ME, Weber BB, Sereika SM et al. Eff ect of en- dotracheal suctioning on cerebral oxygenation in traumatic brain-injured patients. Crit Care Med 27:2776-81, 1999. MacDuff A, Grant IS. Critical care management of neuromuscular disease, including long-term venti- lation. Curr Opin Crit Care 9:106-12, 2003. Polkey MI, Moxhan J. Clinical aspects of respiratory muscle dysfunction in the critically illness. Chest 119:926-39, 2001. Rabinstein A, Wijdicks EFM. BiPAP in acute respira- tory failure due to myasthenic crisis may prevent intubation. Neurology 59:1647-9, 2002. Riker RR, Picard JT, Fraser GL. Prospective evaluation of the Sedation-Agitation Scale for adult critically ill patients. Crit Care Med 27:1325-9, 1999. CAPÍTULO 202 FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA EM CONDIÇÕES ESPECIAIS SEÇÃO 25 2542 Robert LW, Jack EW, Young W. Internacional standarts for neurological and functional classifi cation of spi- nal cord injury. Spinal Cord 35:266-74, 1997. Sean M, Peter CG. Noninvasive positive pressure ven- tilation in the intensive care unit: a concise review. Crit Care Med 33:11, 2005. Shneerson JM, Simonds AK. Noninvasive ventilation for chest wall and neuromuscular disorders. Eur Respir J 20:480-7, 2002. Schwarz S, Georgiadis D, Aschoff A et al. Eff ects of body position on intracranial pressure and cerebral perfusion in patientes with large hemispheric stroke. Stroke 33:497-501, 2002. Th omas DC, Kreizman J, Mel CP. Rehabilitation of the patient with critical illness. Critical Care Clinics 18:704-49, 2002. Unterborn JN, Hill NS. Options for mechanical ven- tilation in neuromuscular diseases. Clin Chest Med 15(4):765-81, 1994. Winkler G, Nader A, Frank W et al. Dose-dependent eff ects of inspiratory muscle training in neuromus- cular disease. Muscle & Nerve 23:1257-60,2000. 2543 DESTAQUES Deve-se considerar no paciente a capacidade de planejar, executar e coordenar os movimentos e os subsídios básicos para tal. Os objetivos gerais da fi sioterapia motora no paciente grave são prevenir e minimizar os efeitos da imobilidade no leito e estimulação sensório-motora e cognitiva. O primeiro contato de cada terapia com o paciente, mesmo inconsciente, deve ser iniciado localizando o têmporo espacialmente e, quando possível, fazê-lo ciente dos objetivos e importância do atendimen- to fi sioterápico nessa fase aguda. O adequado posicionamento deve ter como base as posições funcionais dos segmentos e o alinhamento da cabeça e do tronco, conferindo-lhe simetria e estabilidade. Na mobilização dos segmentos, deve-se explorar a possibilidade do movimento ser desde passivo até resistido. Deve-se proporcionar ao paciente informações sensoriais de movimentos ou posturas que desejamos que assuma, colocando-o na postura adequada ou facilitando sua transferência para esta. As alterações sensitivas têm duas categorias: a capacidade dessas informações chegarem ao cérebro e como o cérebro interpreta essas informações e as transformam em movimento. Cabe ao fi sioterapeuta ajudar o paciente, fornecendo-lhe elementos que o estimulem em sua adapta- ção, ressaltando os objetivos alcançados e os pretendidos, despertando sua atenção e diminuindo sua ansiedade. CAPÍTULO 203 FISIOTERAPIA MOTORA NO PACIENTE GRAVE Fátima Cristina Martorano Gobbi José Aparecido de Sousa Junior Andréia Ferreira Rzezinski SEÇÃO 25 2544 INTRODUÇÃO Ao lidarmos com o paciente na UTI em uma condição incapacitante, cabe ao fi sioterapeuta compreender a fi siopatologia da afecção primária e pregressa, os subsídios dos movimentos normais, seu processo de aprendizagem e estratégias de adaptação para explorar seu potencial remanescen- te. Diversos serão os fatores que infl uenciarão na abordagem do paciente em repouso: tipo de lesão, estado clínico, idade e próprio desuso, ocasionan- do uma terapêutica própria e um procedimento adequado para cada caso. O objetivo deste capítulo é destacar a importân- cia da fi sioterapia motora precoce dos pacientes em terapia intensiva e descrever a rotina de avaliação e planejamento terapêutico para eles. Nas últimas décadas, têm sido estudados os efeitos do repouso prolongado no leito e suas con- seqüências fi siológicas. Considerando sempre o equilíbrio global do organismo, quanto mais preco- cemente for suspenso esse repouso, menores serão seus efeitos adversos. Algumas dessas conseqüên- cias são notórias em pacientes em terapia intensiva, como retrações e contraturas musculares, atrofi as, trombose venosa profunda, inadequações posturais decorrentes de um posicionamento incorreto etc. Mediante estudos (Sullivan, 1993; DeLisa, 2002), foram revelados que os efeitos conseqüentes des- sa imobilização superam seus efeitos terapêuticos, tornando-se, em alguns casos, mais problemáticos que a própria doença em questão. Na busca do equilíbrio global do organismo e o fato de que, ao lesionarmos um dos sistemas, po- derá ocorrer alteração nos demais, faz com que a precocidade viável da abordagem inicial evite com- plicações da incapacidade e de riscos secundários. E nessa direção, a experiência da equipe e a indivi- dualidade de cada paciente devem ser consideradas prioritárias no planejamento terapêutico. O cuida- do dessa forma possibilitará um melhor resultado funcional e menor número de medidas terapêuti- cas adicionais (Brainin et al., 2004). AVALIAÇÃO DO PACIENTE A avaliação do paciente é sempre um processo dinâmico e amplo, devendo ser abordados aspec- tos globais e detalhes dependentes da doença em questão, ter uma abordagem funcional utilizando dados que possam ser comparados a cada terapia, devendo os objetivos serem defi nidos com metas funcionais e estruturais (Randall, 2000). Quanto mais precocemente forem defi nidos os objetivos e iniciado o plano de tratamento, melhores serão os resultados (Brainin et al., 2004). Na verifi cação do prontuário, são relevantes os dados de identifi cação, a história da doença e suas condições atuais. A idade do paciente pode deter- minar uma abordagem diferenciada; um idoso re- quer cuidados muito mais intensivos em relação à imobilidade no leito que um adulto jovem. Afi nal, há de se contemplar características específi cas da idade: hipotrofi a ou diminuição da coordenação motora global. Todos os dados devem ser devida- mente balizados para melhores estratégias e efi ciên- cia na terapia, direcionando para o objetivo espera- do no tratamento. Cuidados essenciais com o paciente devem ser destacados como: restrição quanto ao posiciona- mento da cabeça, mudanças de decúbito, posicio- namento dos membros etc., além do tipo de moni- torização, sondas, drenos e cateteres que são usados e que merecem cuidados especiais na abordagem fi sioterapêutica. Devemos seguir, ao avaliar a atividade funcio- nal, o desenvolvimento motor normal, analisando a mobilidade, estabilidade, atividade sobre a estabi- lidade e a função propriamente dita. A partir desse momento, com estas investigações funcionais, pas- samos a defi nir os fatores causais das disfunções apresentadas (Bertoti, 2003). O estado de alerta, reações emocionais e mo- tivação do paciente são fatores relevantes na ava-tivação do paciente são fatores relevantes na ava-tivação do paciente são f liação e durante o programa terapêutico, devendo ser sempre discutidos e compartilhados com outros membros da equipe multiprofi ssional. A experiên- 2545 cia clínica vinculada a evidências encontradas na literatura possibilitará defi nirmos um prognóstico e traçarmos um plano terapêutico próximo da rea- lidade clínica e funcional do paciente. Serão abordados os seguintes aspectos estruturais relevantes para a fi sioterapia: nível de consciência, aspectos neurovegetativos, cognitivos, sensoriais e motores (amplitude de movimento, elasticidade, força, tônus e trofi smo muscular, motricidade, re- sistência, percepção etc.), que serão explorados de- pendendo do diagnóstico clínico em questão. Nível de consciência Dada a inexistência de uma defi nição satisfa- tória para “consciência” até o momento, que con- temple toda a variabilidade de respostas para o seu conteúdo, entendemos como mais oportuno des- crever as respostas que encontramos no paciente para cada estímulo específi co, já que estas respostas poderão intervir nos objetivos e abordagens fi sio- terapêuticas. A escala de coma de Glasgow (GCS) é a mais comumente utilizada e contempla respostas para os estímulos de abertura ocular, resposta verbal e res- posta motora (Tabela 1). Além da GCS a descrição de outras respostas aos estímulos podem suplemen- tar os dados para a avaliação do nível de consciência e esclarecer a condição de participação do paciente. Alterações neurovegetativas Na fi sioterapia devem ser analisados dados re- ferentes aos sinais vitais (freqüências cardíaca e respiratória, pressão arterial sistêmica), fatores de- pendentes de regulação autonômica e endócrina (perfusão periférica, sudorese, presença de edema – caracterizando estase de origem vasomotora ou renal, trofi smo da pele, análise dos anexos, tempe- ratura das extremidades etc.) e fatores emocionais. Estas informações serão de grande valia quan- to aos cuidados que deveremos tomar em relação ao esforço requerido do paciente, necessidade de proteção para úlceras de pressão, posicionamento TABELA 1 – Escala de coma de Glasgow (GCS) Abertura ocular Espontânea 4 Comando verbal 3 Estímulo doloroso 2 Nenhuma 1 Melhor resposta motora Obedece a comando 6 Localiza estímulo doloroso 5 Retira membro à dor 4 Flexão anormal (descorticação) 3 Extensão anormal (descerebração) 2 Nenhuma 1 Resposta verbal Orientado 5 Confuso 4 Palavras inapropriadas 3 Sons 2 Nenhuma 1 Total 3-15 do membro em postura específi ca e nas estratégias que utilizem recursostérmicos ou eletroterápicos e contatos manuais. Sistemas sensoriais A monitorização de informações internas (orga- nismo) e externas (ambiente) é a função primária dos receptores sensoriais. O input sensorial deter-input sensorial deter-input mina a localização do corpo no espaço, a localiza- ção de uma parte do corpo em relação a outra e aspectos do meio ambiente incluindo temperatura, localização e formas de objetos e tipos de superfície (Montgomery, 2003). Devem ser avaliadas quatro propriedades comuns das sensações: modalidade (ou qualidade), intensidade, duração e localização. As modalidades que podem trazer aspectos mais objetivos para o fi sioterapeuta no processo de ava- CAPÍTULO 203 FISIOTERAPIA MOTORA NO PACIENTE GRAVE SEÇÃO 25 2546 liação são dor, tato e propriocepção. Além destas, devem ser verifi cadas a temperatura, olfação, gus- tação, audição e visão. Nessas alterações, dois aspectos são relevantes: a capacidade de estas informações chegarem ao cé- rebro, como o cérebro interpreta estas informações e as transforma em movimento. Assim fi cará equa- cionada a magnitude da alteração e como poderá ser abordada durante o tratamento. Um recurso a ser empregado na pesquisa da sensibilidade são os esquemas representativos dos segmentos corporais, constando face, tronco e membros, destacando alterações e sua localização (dermátomos). Sistemas motores Como citado anteriormente analisaremos o sis- tema motor conforme o desenvolvimento motor normal, iniciando pela mobilidade (capacidade de planejar, executar e coordenar os movimentos e seus subsídios básicos), a estabilidade (manutenção da postura adquirida), mobilidade sobre a estabi- lidade (capacidade de realizar tarefas na posição tanto em cadeia aberta como em cadeia fechada) e a habilidade (atividade específi ca no tempo, veloci- dade e força adequada). Sempre que formos analisar os défi cits apre- sentados, utilizaremos recursos mensuráveis para avaliar o comprometimento estrutural daquela função. Os níveis de controle do movimento são distinguidos em três tipos: refl exos, automáticos e voluntário. Quanto mais delicado e fi no for o movimento, mais caracteristicamente ele será vo- luntário e, não sendo modulado pelas estruturas supra-segmentares, podem ser puramente refl exos. Um dos requisitos para a expressão da motricidade voluntária adequada é a integridade dos refl exos e reações que modulam o movimento. Os refl exos podem ser divididos em três modalidades: miotáti- cos, superfi ciais e posturais. Os refl exos miotáticos refl etem os níveis de in- tegração de acordo com os nervos dos quais de- pendem, sendo os mais comumente pesquisados refl exo aquiliano (segmentos L5 a S2); refl exo pa- telar (segmentos L2 a L4); refl exo estilo-radial (seg- mentos C5 e C6); refl exo bicipital (segmentos C5 e C6); refl exo tricipital (segmentos C7 e C8). Quan- to à intensidade, pode-se apresentar hiporrefl exia, normorrefl exia, hiperrefl exia e clônus. Na hiperre- fl exia pode-se ter tanto o aumento da intensidade como também o da área refl exógena. No entanto, a pesquisa de assimetrias é essencial na intensidade dos refl exos pela variação individual. Nos refl exos superfi ciais o que mais chama a aten- ção é o cutâneo-plantar, cuja alteração se traduz no sinal de Babinski, um exemplo de liberação refl exa. Os refl exos posturais estão presentes no indiví- duo normal, mas podem se exteriorizar de forma mais evidente nas lesões do sistema nervoso cen- tral. Assim, temos os refl exos tônicos cervicais si- métricos e assimétricos e o refl exo tônico labirínti- co, os quais dependem da integração entre bulbo e medula. Além desses, existem as reações de suporte positivo e de “endireitamento” da cabeça sobre o corpo, do corpo sobre a cabeça e do corpo sobre o corpo, caracterizando a necessidade de o indivíduo manter-se em alinhamento corporal concomitante ao alinhamento da cabeça, e refl etindo integridade medular e mesencefálica. Outra reação de “endirei- tamento” é a visual, que ajusta a cabeça no espaço, sem os parâmetros labirínticos ou corpóreos, e que depende de integridade cortical. Associada à avaliação inicial dos refl exos e rea- ções posturais, à análise dos ajustes posturais tôni- cos (de manutenção) e fásicos (de deslocamento) e à variação do tônus muscular em função da postura do indivíduo, deve-se verifi car assim se o paciente assume e mantém a postura, realizando atividades sobre ela. O tônus muscular é avaliado clinicamente pela palpação e verifi cação da resistência ao alongamen- to durante o movimento passivo dos membros, sendo essa resistência dependente da velocidade do movimento e do número de repetições com que é realizado (Kandel et al., 2000). 2547 O músculo pode estar hipotônico, normotôni- co ou hipertônico e sua avaliação deve ser iniciada posicionando o paciente de forma alinhada da ca- beça em relação ao tronco, já que, como discutido anteriormente, a postura da cabeça poderá alterar o tônus muscular do tronco e membros mesmo em um indivíduo normal. A hipertonia do tipo elástica é aquela cuja resis- tência ao alongamento é observada principalmente quando se realiza o movimento com velocidade, o que causa exacerbação do refl exo de estiramento e, portanto, maior resistência abrupta a este alon- gamento (“sinal do canivete”). A resistência tende a ceder com as repetições do movimento por des- sensibilização do fuso muscular. Esta alteração do tônus é comum em acidente vascular encefálico ou traumatismo cranioencefálico. A hipertonia plástica, classicamente descrita como sendo o tônus encontrado em pacientes pa- rkinsonianos, caracteriza-se por um aumento da resistência ao alongamento durante todo o arco do movimento, independente da velocidade com que o movimento é realizado, tanto no músculo ago- nista quanto no antagonista ao movimento (“sinal da roda denteada”). Pode ser ainda detectado situação de fl acidez, comumente encontrada na fase imediatamente pós-acidente vascular encefálico (AVE). Outras alterações são hiporrefl exia e arrefl exia nas lesões nervosas periféricas cujo manejo com o paciente exigirá cuidados específi cos do fi sioterapeuta e de toda equipe em função da vulnerabilidade muscu- lotendíneo e articular. Sugerimos a escala de Ashworth como forma de mensurar o tônus, devendo ser testada sempre pelo mesmo terapeuta e, sempre que possível, em pos- turas funcionais (sentado ou em pé), possibilitando que a informação coletada do tônus muscular seja em uma postura utilizada para atividades funcio-em uma postura utilizada para atividades funcio-em uma nais e não de relaxamento. Outra característica da integração neuromus- cular a ser observada é o trofi smo muscular que poderá estar alterado em pacientes com qualquer diagnóstico clínico como conseqüência do desuso, idade, atividades pregressas e da patologia em ques- tão. A medida pode ser através da perimetria dos membros. Na motricidade voluntária é necessário ressaltar o envolvimento cortical para a realização do mo- vimento e interação nos diversos níveis segmen- tares de controle motor; a atividade essencial dos gânglios da base, no planejamento e iniciação do movimento; e a atuação do cerebelo, na compa- ração constante entre o movimento executado e o planejado, visando torná-lo preciso e coordenado. Resultando em cinco pontos principais analisados: execução, precisão de velocidade e direção, força muscular e especifi cidade. A ênfase dos movimentos deve ser funcional, assegurando uma resposta apropriada de todo o corpo. Caso necessite investigar um movimento es- pecífi co de uma articulação específi ca solicitaremos os movimentos de forma analítica. O movimen- to normal é preciso, tanto em direção quanto em velocidade devendo ser solicitado de forma lenta ou rápida, em várias direções, atingindo o alvo de forma precisa e harmônica. A avaliação da motrici- dade da face deve ser realizada em seqüência. Para a forçamuscular, vários testes de graduação são propostos, sendo o mais empregado o proposto por Kendall que a gradua em: nula (0); vestígios (1); pobre (2); regular (3); boa (4); e normal (5), em função de o indivíduo conseguir iniciar ou rea- lizar o movimento contra a gravidade e contra uma resistência imposta (Kendall, 1995). O problema das provas de força muscular é o seu componente de subjetividade, devendo ser sempre avaliada pelo mesmo terapeuta e de forma comparativa bilateral. A ocorrência de sinergismos em certos movi-A ocorrência de sinergismos em certos movi-A ocorrência mentos é comum e ocorre devido a uma condição biomecânica ou neurofi siologicamente determina- da. Em condições normais o paciente avaliado deve ser capaz de controlá-los realizando apenas um mo- vimento por articulação, ou seja, com especifi cida- de. Devemos verifi car a amplitude de todos os mo- vimentos articulares, tendo em vista a amplitude CAPÍTULO 203 FISIOTERAPIA MOTORA NO PACIENTE GRAVE SEÇÃO 25 2548 normal e circunstancial. Uma forma de indicador seria a utilização de tabelas que relacionam os valo- res normais com os avaliados. A presença de movimentos involuntários e re- ações associadas, como tremor, balismo, coréia, atetose etc. são característicos de lesões em regiões específi cas do sistema nervoso central e sua incom- patibilidade com o movimento voluntário harmô- nico. Devem ser avaliadas a freqüência e localização (proximal/distal), durante quais movimentos se tor- na exacerbado e quando tende a desaparecer, e qual a limitação funcional que acarreta para o paciente. Funções cognitivas A perda da consciência até a defi ciência da me- mória, julgamentos imprecisos, períodos curtos de atenção, desatenção ou difi culdades no proces- samento e aprendizado de informações merecem avaliação específi ca, cujo resultado e abordagem estão diretamente ligados ao tratamento. Essas in- formações deverão ser conseguidas com a equipe multiprofi ssional. Algumas defi ciências a serem exploradas que in- terferem no processo de reabilitação são: • distúrbios do esquema corporal e imagem cor- poral: não consegue reconhecer qual é a mão di- reita ou a esquerda; negligência unilateral, falta de preocupação pela existência da hemiplegia, negação da hemiplegia (anasognosia) e perda da consciência da metade do corpo; • síndrome das relações espaciais: apresenta um conjunto de defi ciências como a característica de não perceber a relação de objetos no espaço ou a relação do próprio corpo com os objetos; • agnosias: constituem-se na perda ou alteração na capacidade de percepção, embora estejam con- servadas as várias formas de sensibilidade neces- sárias para este reconhecimento, podendo ser: agnosia visual quando o paciente não pode no- mear nem descrever a utilidade dos objetos apre- sentados, mas é capaz de identifi cá-los quando os toca ou pelo barulho característico; agnosia tátil ou estereoagnosia quando o paciente é in- capaz de reconhecer objetos através do tato ou manuseio ou descrever qualquer detalhe destes; agnosia auditiva quando o paciente é incapaz de reconhecer sons característicos, mas, ao tocar ou olhar objetos, classifi ca-os corretamente; • apraxias: segundo Déjerine é um distúrbio na atividade gestual intencional em indivíduos cujos aparelhos de execução estão intactos (au- sência de paralisia, ataxia ou coreoatetose) e que possui conhecimento total do ato a realizar (ausência de agnosia e de defi ciência intelectual global). Podem ser classifi cadas como: – apraxia ideatória caracterizada por uma dis- tração extrema e falta de lógica nas ações, embora a realização das diversas partes que compõe o ato completo está normal. Por exemplo, ao ser solicitado para colocar um relógio no pulso, o paciente terá difi culdade de manipulá-lo adequadamente para colocá- lo no pulso; – apraxia ideomotora caracteriza-se pela inca- pacidade de executar idéias, o paciente rea- liza atos automáticos normalmente, porém ao comando de outra pessoa não consegue executá-los. Exemplo: ao colocar um sapato com cadarço o paciente é capaz de dar o laço automaticamente. Porém será incapaz de dar um laço em uma fi ta de presente quando so- licitado; – apraxia construtiva distingue-se pela im- possibilidade do paciente fazer ou copiar qualquer fi gura, desde as mais simples ca- racterizando-se pela incapacidade em cons- truir coisas a partir das partes componentes. Exemplo: ao ser oferecido ao paciente um objeto, um papel de presente e uma fi ta, ele é incapaz de organizar as etapas para execução dessa tarefa. Portanto, ao avaliarmos um paciente com com- portamento excessivamente exploratório, com len- tidão no reconhecimento tátil de um objeto, ou 2549 comportamentos bizarros, podemos estar diante de uma das afecções acima descritas. METAS Os objetivos gerais da fi sioterapia motora no paciente grave são: • prevenção ou minimização dos efeitos da imo- bilidade no leito; • estimulação sensório-motora e cognitiva. É de extrema importância estabelecermos metas de curtos e longos prazos no processo de reabili- tação. Sullivan et al. defi nem as metas em longo prazo como as relacionadas aos resultados funcio- nais, e as de curto prazo direcionadas para áreas es- pecífi cas, como força, coordenação, amplitude de movimento, equilíbrio, postura, resistência e dor. Como efeitos secundários do repouso no leito ou da diminuição relativa da atividade, temos o descondicionamento que se refl ete por alterações nos sistemas respiratório, músculo-esquelético, gastrin testinal, nervoso, renal, cardiovascular; além de alterações emocionais. Segundo relato na literatura (De Lisa, 2002), os músculos não usados atrofi am e perdem força em taxas que variam desde 5% ao dia a 8% por sema- na; verifi ca-se que a velocidade do fl uxo sangüíneo ao nível das veias dos membros inferiores é reduzi- da à metade após oito horas de imobilização, mos- trando que existe uma correlação signifi cativa entre a duração da imobilização do paciente no leito e a incidência de trombose venosa profunda. O esquema básico dessas manifestações clínicas se- cundárias à imobilidade está representado na Figura 1. TRATAMENTO O primeiro contato de cada terapia com o pa- ciente mesmo inconsciente deve ser iniciado loca- lizando o têmporo espacialmente e, quando possí- vel, fazê-lo ciente dos objetivos e importância do atendimento fi sioterapêutico nessa fase aguda. FIGURA 1 – Manifestações clínicas secundárias à imobilidade. CAPÍTULO 203 FISIOTERAPIA MOTORA NO PACIENTE GRAVE Sistema cardiovascular – Hipotensão ortostática – Redução do volume plasmático – Redução do desempenho cardiovascular – Tromboembolismo Riscos da imobilidade Sistema renal – Estase urinária – Cálculos renais – Infecção urinária Sistema psicológico – Ansiedade – Depressão – Deficiência intelectual Sistema respiratório – Aumento da resistência mecânica à respiração – R– R– edução da tosse e atividade ciliar brônquica – R– R– edução do volume-corrente – Embolia pulmonar Sistema músculo-esquelético – Contraturas – Fraqueza muscular – Atrofia por desuso Sistema gastrintestinal – Perda de apetite – Constipação Sistema nervoso – Alterações sensoriais – Alterações cognitivas – Comprometimento do equilíbrio e coordenação – Diminuição da capacidade funcional SEÇÃO 25 2550 A análise do ambiente e a melhor posição no leito são fatores terapêuticos, pois viabilizam a in- teração do paciente com o meio e sua possibilidade de “independência”. Assim, pacientes hiperativos devem ser locados em áreas mais restritas ou de menor circulação, evitando ser hiperestimulados por sons, luzes etc. Ao contrário, pacientes idosos, instáveis, que necessitam de observação constan- te por parte da equipe, podem ser instalados em um leito central da unidade. Naquelas vítimas de acidente vascular encefálico, o hemicorpo afetado deve ser estimulado, para tanto, a opção deve ser colocá-lo posicionado em umleito que o obrigue a, com freqüência, integrar o seu lado afetado em suas atividades, orientando que toda a equipe mul- tidisciplinar e familiares acessem-no por esse lado. É importante a decisão do melhor local para a instalação de equipamentos de monitorização, po- sicionamento de acesso venoso periférico, cânulas de intubação, sondas gástricas, quando possível, evitando estímulos assimétricos e restrições na li- berdade de movimento do paciente, como por exemplo um acesso venoso periférico no lado aco- metido de um hemiplégico, o que pode persuadi- lo a usar, ainda menos, este membro. Posicionamento no leito O adequado posicionamento deve se basear nas posições funcionais dos segmentos e no alinhamen- to da cabeça e do tronco. Nem sempre a posição mais apropriada é possível devido às condições clí- nicas do paciente ou a défi cits estruturais já instala- dos; por exemplo contraturas, tornando a adaptação necessária. Sugerimos, quando em decúbito dorsal, posicioná-lo com a cabeça alinhada com o tronco, báscula lateral da escápula, fl exão do ombro a 45 °, abdução a 60°, cotovelo em ligeira fl exão ou a 90°, pronação do antebraço, extensão do punho de 30° a 40°, semifl exão dos dedos e semi-oponência do po- legar, visando manter a posição funcional da mão. A pelve deve estar em leve antepulsão por meio da utilização de pequeno travesseiro ou toalha, man- tendo o quadril em posição neutra em relação às rotações, o joelho em ligeira fl exão e o tornozelo ali- nhado. Quando estes recursos não forem sufi cientes e/ou em lesões mais severas, as órteses podem ser bem indicadas o mais precocemente possível. Nos decúbitos laterais, seguem os cuidados da cabeça em relação ao tronco: evitar inclinações late- rais e rotação da cabeça, o ombro de apoio deve es- tar protraído com o cotovelo em semifl exão, semi- supinação de antebraço, semi-extensão de punho, semifl exão dos dedos e semi-oponência do polegar abordagem funcional da mão. O membro superior contra-lateral deve seguir os mesmos cuidados do membro superior apoiado no leito (para isto, pode- se usar travesseiro, bola, rolo etc.). O membro in- ferior de apoio estará com o quadril em extensão e joelho semifl etido e o pé com a devida proteção no tornozelo evitando escaras em maléolo lateral. O membro contralateral deverá estar apoiado to- talmente, quadril e joelho fl etidos, evitando que o quadril desalinhe, como ilustram as Figuras 2 e 3. FIGURA 2 – Paciente em decúbito lateral: posição correta. 2551 estar exacerbado; o desalinhamento da cabeça po- derá facilitar respostas do tônus aos refl exos cervi- cais simétricos e assimétricos; a utilização de órte- ses que acentuem padrões refl exos (por exemplo, uma órtese inadequada com o intuito de evitar a fl exão plantar e a inversão poderá estar desencade- ando a reação positiva de suporte ou outras postu- ras refl exas), posturas fi xas não signifi cam melhora de função, pois podem limitar o início da mobi- lidade. Cuidado com posicionamentos e fi xadores que comprimam feixes vasculonervosos, como na região axilar, côndilo medial do cotovelo, fossa po- plítea e cabeça da fíbula. Em pacientes com queimaduras, o posicionamen- to deverá considerar a área afetada, reparações cirúr- gicas e considerações adicionais da equipe médica. Quando possível, explorar a sedestação com os pacientes. Os mesmos cuidados devem ser consi- derados em relação aos segmentos, adicionando atenção especial para a adequada inclinação do encosto de maneira a expor o paciente aos ajustes antigravitários da musculatura do tronco e cabe- ça, de acordo com a tolerância da manutenção da postura e dos subsídios neurais que ele apresenta para tal. Assim o procedimento requer uma ava- liação criteriosa da posição do encosto e o tempo que o paciente poderá aproveitar melhor desta esti- mulação. Também deve se explorar a possibilidade de alternar o apoio dos pés no solo, pois além de um melhor estímulo sensorial da descarga de peso também alivia a sobrecarga sobre a coluna lombar, como ilustram as Figura 4. Vale ressaltar nesta posição a orientação ao pa- ciente e acompanhante quanto a cuidados para o risco de queda, principalmente se houver possibi- lidade de períodos de agitação, estando o paciente restrito adequadamente, quando necessário. Mobilização A atividade motora apropriada deve servir de parâmetro para termos sucesso nas terapias, levan- tando os seguintes questionamentos: queremos A B FIGURA 3 – Paciente em decúbito dorsal: posição correta nas adaptações do tronco e membros inferiores (A) e da mão (B). Outros itens são relevantes no posicionamento do paciente no leito, como por exemplo: evitar a permanência por tempo prolongado do paciente em decúbito dorsal que facilitará o tônus extensor em função do refl exo tônico labiríntico que pode CAPÍTULO 203 FISIOTERAPIA MOTORA NO PACIENTE GRAVE SEÇÃO 25 2552 Sugerimos iniciar a mobilização de forma global, com uma boa base de sustentação e a abordagem do movimento por meio das regiões proximais em direção das distais a fi m de assegurar o cuidado em todos os níveis de segmento do movimento anali- sado. Exemplo: mobilidade do tronco em compo- nentes rotacionais e da cintura escapular explorada antes da abordagem completa da gleno-umeral. En- tende-se por regiões proximais o tronco, as cinturas escapular e pélvica, e por distais, cabeça, membros superiores e inferiores. A mobilização deve permi- tir ao paciente a sensação normal do movimento, visando também atingir sua completa amplitude, respeitando as limitações circunstanciais analisadas posteriormente. Dessa forma, estaremos abrangen- do a elasticidade musculotendínea, o retorno veno- so, a ideal nutrição dos tecidos articulares, hipera- tividade do fuso muscular e a estimulação de todos os receptores sensoriais periféricos. Na mobilização dos segmentos, devemos explo- rar a possibilidade do movimento ser passivo, ati- vo-assistido, ativo e resistido. Passivo O movimento passivo refere-se a qualquer mo- vimento de uma articulação que é produzido por uma força externa (Frank et al., 1984). O cuidado com a amplitude e mecânica articular é fundamen- tal durante esse manuseio. A conduta pode ser a re- petição analítica de movimento por movimento ou a global, que associa movimentos tridimensionais de forma lenta e cadenciada, e sempre que possível solicitando que o paciente atente ao movimento, acompanhando-o e percebendo-o. Em pacientes com artralgias, deve-se ter muita cautela no número de repetições, variando entre um pequeno número para não exacerbar o proces- so infl amatório. Ressaltamos que mesmo realizan- do movimentos passivos, deve-se monitorizar os sinais vitais do paciente, principalmente: freqüên- cia cardíaca, respiratória e pressão arterial que po- dem variar imediatamente na presença de algum ganhar mobilidade ou estabilidade, quais tipos de contração muscular iremos trabalhar, isométrica ou isotônica, concêntrica ou excêntrica, qual a melhor posição de trabalho, quais seguimentos fortes uti- lizaremos como forma de irradiação para as partes mais fracas. FIGURA 4 – Note a adequação da postura para a dada inclinação do encosto, o alinhamento dos segmentos e a variação da posição dos pés. 2553 incômodo, cansaço etc. A manipulação deverá ser interrompida ou alterada caso sejam detectadas va- riações importantes. Ativo assistido Essa forma pode ser utilizada quando existe a possibilidade, mesmo que parcial, de colaboração do paciente. Seu intuito é estimular a função exis- tente otimizando a atividade muscular e suas adap- tações metabólicas, iniciando, corrigindo, ou com- pletando o arco do movimento. Podemos ainda associar a essa manobra estímulos neuromuscula- res proprioceptivos, tais como tapping sobre o ventre muscular, gelo, pincéis, estímulos de estiramento e comandos verbais, visando um melhor desempe- nho do movimento. Quando o paciente apresentar grau 3 na escala de Kendall, associamosaos movi- mentos contrações isotônicas concêntrica e excên- trica visando melhorar a coordenação, aumentar o controle ativo e a amplitude do movimento. Essa mobilização é de grande importância no pós-operatório de cirurgias ortopédicas, em que a dor é um fator de imobilismo. A mobilização precoce destes pacientes com o adequado suporte medicamentoso proporciona alívio dos sintomas, com ganho gradual dos movimentos, amplitudes articulares e na prevenção da formação de aderên- cias capsulares. Nas grandes queimaduras, apesar da dor à mobilização, essa estratégia deve ser enco- rajada para evitar restrições cicatriciais principal- mente pós-operatórias. Ativo livre Consideraremos os mesmos aspectos citados an- teriormente, com a diferença de que o paciente po- derá executar de forma independente o arco com- pleto de movimento ou dentro de suas limitações. Podendo ser realizado contra a gravidade ou não, estará com conseqüente ganho ou manutenção da força muscular promovendo um melhor trofi smo, potencializando ainda um efi ciente retorno veno- so e iniciando um processo de adaptação cardio- vascular. Devemos lembrar que os exercícios dos membros superiores produzem aumento do débito cardíaco, principalmente por aumento na freqüên- cia cardíaca, e não no volume sistólico. Portanto para exercícios com membros superiores o nível de esforço deve ser cauteloso, principalmente para cardiopatas. Ressaltamos a importância de explo- rar os movimentos funcionais com a fi nalidade de integrá-los às atividades futuras a serem realizadas pelo paciente, principalmente naqueles com dis- funções neurológicas. Resistido Intensifi ca as atividades neuromusculares pro- prioceptivas, requerendo a atividade conjunta de músculos sinérgicos estimulando ainda mais todos os aspectos anteriormente citados: trofi smo e força muscular, coordenação, adaptação cardiovascular etc. A resistência aplicada deve ser sempre adequa- da ao paciente, não superestimando nem subes- timando seu potencial. É associada às contrações isométricas (propiciar estabilidade) e isotônicas (melhorar mobilidade). Os cuidados a respeito das alterações cardiovasculares merecem novamente destaque pelo fato de existir carga e componentes de isometria neste tipo de movimento. A indicação deste exercício é relativa para pacientes com pro- cessos articulares em fase aguda. Outros aspectos que podem limitar o ganho de força muscular do paciente é sua condição nutricional e presença de processos infecciosos. Observação: diante de afecções neurológicas e/ ou fase aguda o uso da sobrecarga muscular pode estar contra-indicado (Delisa, 2002; Cash, 2000). Equilíbrio O equilíbrio humano se mantém por meio de um processo complexo envolvendo as informações sensoriais do movimento do corpo; a integração das informações sensoriomotoras no sistema ner- voso central é uma resposta adequada da execução neuromuscular (Duncan, 1984). A tarefa básica do CAPÍTULO 203 FISIOTERAPIA MOTORA NO PACIENTE GRAVE SEÇÃO 25 2554 equilíbrio é manter o centro de gravidade do corpo sobre a base de sustentação. Devemos analisar as sobre a base de sustentação. Devemos analisar as sobre a reações de equilíbrio, proteção e de alinhamento corporal a cada deslocamento de peso utilizado du- rante as terapias ou atividade funcionais realizadas pelo paciente, identifi cando os componentes anor- mais e que requerem uma estimulação mais espe- cífi ca. Sabemos que estes ajustes respondem até as pequenas transferências de peso possíveis por meio de mudanças de posturas de membros superiores, membros inferiores, cabeça e tronco (Shumway- Cook, 2003). Mecanismos posturais refl exos pressupõem um cérebro adulto intacto e fornecem um subsídio para todos os movimentos. Em qualquer postura, mas principalmente em ortostatismo, é necessário o incremento das reações de balanceio (Canelas, 1983). Essas reações são automáticas, e indivíduos normais são capazes de controlá-las ou modifi cá-las voluntariamente para seu uso funcional. A capaci- dade de manter o equilíbrio em diversas posições fornece a base de sustentação para todos os movi- mentos funcionais (Davies, 1985). O fato de o paciente estar restrito a um leito de terapia intensiva não pode ser fator limitante para iniciarmos o trabalho de equilíbrio na fase aguda. Posturas que devem e podem ser vastamente ex- ploradas na UTI são os decúbitos dorsal, lateral e o sentado, justamente pela ampla possibilidade que estes decúbitos proporcionam à estimulação dos ajustes posturais. Devemos possibilitar que o paciente receba informações sensoriais de novas posturas e informações dos movimentos funcionais realizados sobre estas posturas. Caso o paciente não tenha condições sensoriomotoras para assumir a postura desejada, devemos utilizar recursos de fa- cilitação que variam desde um simples comando verbal e visual até estímulos de facilitação neuro- muscular. O decúbito lateral é a primeira postura que devemos facilitar para que o paciente assuma. Utilizando padrões fl exores e extensores, com con- tatos em regiões escapulares e pélvicas facilitaremos a mudança postural, possibilitando que ele assu- ma a posição lateral. Uma vez na postura lateral, por meio das técnicas de reversão de antagonistas poderemos aumentar a estabilidade, a força e a co- ordenação dos componentes musculares agonistas, e antagonistas (Adler, 1999). Passamos a explorar posturas mais altas a cada sucesso adquirido pelo paciente. Utilizando variedade e variabilidade nos estímulos, possibilitaremos que o paciente ative as reações de equilíbrio (de retifi cação e de proteção). Podemos considerar as reações de equilíbrio como sendo um dos principais fatores na manutenção do equilíbrio e o equilíbrio com um dos principais fa- tores para uma atividade funcional normal. Estimulação sensorial Com base nos mecanismos neurofi siológicos normais, podemos incrementar as informações sensórias de diferentes formas, observando sempre o resultado que estas estimulações ocasionaram nas respostas. Por meio de contrações musculares pro- porcionamos estímulos proprioceptivos aferentes no sistema nervoso central (Kabat, 1954). Tapping sobre o ventre muscular, estímulos cutâneos com diferentes texturas; contato manual direcionando o movimento e estimulando os músculos agonistas e sinérgicos; descarga de peso; técnicas de aproxima- ção e tração; mudanças posturais, enfi m são algu- mas sugestões para estimulação sensorial. Todos os estímulos devem ser informados ao paciente pelo profi ssional, possibilitando que ele saiba exatamente a atividade a ser realizada e o que se espera como meta. Ao melhorar sensações proprioceptivas median- te técnicas de aproximação, conseguimos propor- cionar ao paciente estabilidade postural que pos- sibilitará realizar atividades funcionais dentro de uma boa sustentação e sobre estruturas articulares em padrões normais. As sensações devem ser forne- cidas constantemente e próximo da normalidade. Algumas informações direcionadas aos familiares e acompanhantes podem auxiliar o paciente em seu dia-a-dia. Por exemplo: manter o paciente simétrico 2555 e alinhado possibilitará o recebimento de informa- ções normais para seu esquema corporal, solicitar ao paciente que acompanhe com o olhar a direção dos movimentos que realizará para uma determina- da tarefa, o contato manual sobre os componentes musculares ativos e o comando verbal como forma de explicar e integrá-lo à atividade. Motivação A motivação alicerça e reforça o que o pacien- te aprende, otimizando sua adesão na reabilitação. Compartilhar com o paciente os objetivos dos exercícios, destacar seus ganhos diários, e ser posi- tivo com seus sucessos. Assim também é desenvolvida a responsabilida- de gradual em incorporar no seu dia-a-dia as estra- tégias aprendidas e a coragem de explorar outras táticas para sua melhor adaptação futura. Orientação suplementar É de grande valia a orientação de posicionamen-to e exercícios para o paciente, familiares e cuida- dores, a fi m de dar continuidade no processo reabi- litativo e incitar o envolvimento familiar precoce. MATERIAIS DE AUXÍLIO É necessário salientar que na UTI pode-se fa- zer uso de materiais de auxílio, devendo-se sempre consultar previamente o Serviço de Controle de Infecção Hospitalar sobre sua forma de limpeza e higienização. A preferência, sempre que possível, deve ser dada a materiais laváveis: • rolos: para adequação de posicionamento e ma- nutenção da postura específi ca; • bolas e bastões: para estimulação e facilitação de atividades funcionais principalmente em situa- ção de défi cit de compreensão e atenção e para explorar atividades bimanuais; • órteses: adequadamente prescritas e no momento certo estabilizam segmentos que outros posicio- nadores não fariam prevenindo deformidades; • materiais de diferentes texturas, formas, cores e temperaturas: para a estimulação sensorial; • faixas elásticas e pesos: para otimizar exercícios resistidos; • estímulos sonoros: incrementam a atenção nos campos visuais; • prancha ortostática: utilizada para facilitar o or- tostatismo precoce. Indicada na estabilidade clí- nica monitorizando PA, FC, FR atentamente. A elevação da prancha deve ser gradual (por exem- plo a cada 10º) para atingir a estabilidade dos sinais clínicos e permanecer sem sintomas por aproximadamente 30 minutos. O fi sioterapeu- ta deve permanecer junto ao paciente avalian- do criteriosamente alguma alteração que possa ocorrer, evitando alterações bruscas e inadequa- das dos sinais vitais (Delisa, 2002); • recursos de eletroterapia: podem e devem ser utilizados, desde que devidamente monitoriza- dos e levando em conta qualquer interferência que possam causar em outros equipamentos da unidade. Logo, a cada abordagem do paciente, necessi- tamos da integração sensorial, do equilíbrio, assim como de suas funções cognitivas, em que cada ma- nipulação terá seus objetivos bem delineados. Res- saltamos que mesmo para um paciente puramente ortopédico a base de procedimentos pode e deve ser ampliada ao relacionarmos todas estas funções analisadas, pois estas constituem a base do controle motor envolvidos no tratamento. CONSIDERAÇÕES FINAIS O paciente deve sempre ser tratado como um todo, visando o equilíbrio global de seu organismo, a fi m de que possam ser traçados os objetivos de curto e longo prazo. Para tanto, cabe ao fi siotera- peuta fazer uso de toda técnica e conhecimento ao assisti-lo, evitando uma abordagem rotulada, pre- determinada e limitada, mas explorando todo seu potencial remanescente. CAPÍTULO 203 FISIOTERAPIA MOTORA NO PACIENTE GRAVE SEÇÃO 25 2556 Logo, a cada abordagem, necessitamos: orientar o paciente sobre os objetivos da terapia e que estes objetivos sejam direcionados para uma meta fun- cional; aplicar a medida que servirá de parâmetro para avaliar o resultado do tratamento; ser positivo e motivar o paciente durante a terapia; ter como base o desenvolvimento motor normal – mobili- dade, estabilidade, mobilidade sobre estabilidade e a função propriamente dita; medir o resultado da terapia e avaliar se o plano terapêutico escolhido foi apropriado (resultado). BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA Ali J. Pulmonary function and posture in traumatic quadriplegia. J Trauma 39(2):334-7, 1995. Adler S, Beckers D, Buck M. PNF – facilitação neuro- muscular proprioceptiva. São Paulo, Manole, 1999. Bertoti DB. Functional neurorehabilitation. Th rough the Life Span. Philadelphia, FA Davis Company, 2003. Bickerstaff ER. Exame do paciente neurológico. Rio de Janeiro, Atheneu, 1987. Bobath B. Hemiplejía del adulto. Buenos Aires, Pana- mericana, 1990. Brainin M, Olsen S, Chamorro A et al. Organization of stroke care: education, referral, emergency manage- ment and imaging, stroke unit and rehabilitation. Cerebrovascular Diseases 17:1-14, 2004. Brodal A. Anatomia neurológica com correlações clíni- cas. 3. ed. São Paulo, Roca, 1984. Canelas HM, Assis JL, Scaff M. Fisiopatologia do siste- ma nervoso. São Paulo, Sarvier, 1983. Carr JH, Shepherd RB. Fisioterapia en los transtornos cerebrales. Buenos Aires, Panamericana, 1985. Davies PM. Starting again: early rehabilitation after traumatic brain injury or other severe brain lesions. London, Springer-Verlag, 1994. DeLisa JA. Tratado de medicina de reabilitação. São Paulo, Manole, vol. 2, 2002. Duncan PW. Proceeding of the APTA Forum. Nash- ville 13-15, 1989. Frank C, Akeson WH, Woo SL et al. Physiology and therapeutic value of passive joint motion. Clinical Orthopaedics and Related Research 185:113-25, 1984. Grieve J. Neuropsicologia em terapia ocupacional – exame da percepção e cognição. 2. ed. São Paulo, Santos, 2005. Kendal ER, Schwartz JH, Jessell TM. Essentials of neu- ral science and behaviour. 3. ed. London, Prentice- Hall, 1995. Kandel ER, Schwartz TH, Jessell T. Principles of neural science. 4. ed. McGraw-Hill, 2000. Montgomery PC, Connolly BH. Clinical aplications for motor control. SLACK Incorporated, EUA, 2003. Randall KE, McEwen IR. Writining patient-centered functional goals. Physical Th erapy 80:12, 2000. Shumuway-Cook A, Woollacott MH. Controle motor – teorias e aplicações. 2. ed. Manole, 2003. Stokes MC. Neurologia para fi sioterapeutas. Porto Ale- gre, Premier, 2000. Sullivan SBO. Fisioterapia: avaliação e tratamento. São Paulo, Atheneu, pp. 155-63, 1995. Timo-Iaria C. Fisiologia do sistema nervoso. In: Aires MM. Fisiologia básica. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, pp. 22-300, 1993. 2557 DESTAQUES A insufi ciência respiratória pode ser causada por qualquer doença que afete direta ou indiretamente os pulmões. Aproximadamente um terço das pessoas que sofrem dessa síndrome desenvolvem-na em conseqüência de uma infecção grave e extensa (sepse). O objetivo do tratamento é manter a PaO2 maior que 60 mmHg e otimizar a função cardíaca e o uso de oxigenoterapia adequada, por meio de cateter nasal ou máscara facial, visando SpO2 ≥ 92%. Os benefícios do tratamento da IRpA são reverter hipoxemia, tratar acidose respiratória, aliviar o des- conforto respiratório, prevenir e tratar a atelectasia, reverter a fadiga dos músculos respiratórios, permi- tir a sedação e/ou o bloqueio neuromuscular, diminuir o consumo de oxigênio sistêmico e miocárdico, reduzir a pressão intracraniana e estabilizar a parede torácica. CAPÍTULO 204 FISIOTERAPIA NA INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA AGUDA Claudia Talerman Marcos Antonio Manara Karin Raquel Klava SEÇÃO 25 2558 INTRODUÇÃO Podemos defi nir insufi ciência respiratória aguda (IRpA) como uma incapacidade do sistema respi- ratório em atender aos seus objetivos primordiais, que são a manutenção da oxigenação e/ou ventila- ção do paciente. Como conseqüência desta anor- malidade o sangue venoso que retorna aos pulmões não é sufi cientemente oxigenado, assim como o dióxido de carbono (CO2) não é adequadamente eliminado. No caso de doença pulmonar crônica a pre- sença de PaO2 < 50 mmHg e PaCO2 > 50 mmHg não é conclusivo de insufi ciência respiratória aguda, pois a compensação renal da acidose res- piratória crônica vai determinar um pH normal. Porém, a acidose respiratória associada a um pH < 7,35 é imprescindível para caracterizar uma insufi ciência respiratória crônica agudizada (Fi- gura 1). A insufi ciência respiratória aguda mani- festa-se por PaO2 < 60 mmHg e/ou PaCO2 > 45 mmHg podendo apresentar um pH < 7,35 em ar ambiente. CLASSIFICAÇÃO Existem várias formas de se classifi car a insufi ci- ência respiratória aguda: pelo seu mecanismo fi sio- patológico, duração, etiologia e local anatômico da disfunção primária. A maioria dos autores divide a insufi ciência respiratória em dois tipos: IRpA hipoxêmica (tipo I) • PaO2 < 50 mmHg e PaCO2 < 40 mmHg. • Mecanismo básico: défi cit de oxigenação. • Insufi ciência respiratória por hipoxemia deve-se a causas de desordens no coração, pulmão ou sangue. A função do tecido cardíaco émedida pelo C(a-v) O2 e é anormal se for maior que 5 ml/dl. • Insufi ciência respiratória por hipoxemia deve ocorrer devido à inabilidade de combinação do débito cardíaco com o consumo de oxigênio. • Exemplos: – pneumonia; – atelectasia; – síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA); – insufi ciência cardíaca; – tromboembolismo pulmonar (TEP); – desequilíbrio ventilação-perfusão (V/Q); – shunt (o alvéolo é perfundido, mas não há acesso de oxigênio ao alvéolo); – alterações da difusão. IRpA hipercápnica (tipo II) • PaO2 < 50 mmHg e PaCO2 > 50 mmHg. • Mecanismo básico: défi cit de ventilação. • O aumento no PaCO2 ocorrerá se houver au- mento no metabolismo da produção de CO2 ou se a ventilação alveolar diminuir. • O aumento na produção de CO2 deve ocorrer durante atividades físicas, febre ou excesso de alimentação. • A diminuição na ventilação alveolar deve ocor- rer se houver aumento no espaço morto ou di- minuição na ventilação minuto (diminuição da freqüência respiratória ou volume-corrente). • A PaO2 varia com idade e posicionamento do paciente: – posição ortostática: PaO2 = 104,2 - (0,27 x idade); – decúbito dorsal: PaO2 = 103,5 - (0,42 x idade). • Exemplos: disfunção do centro respiratório (medula) – drogas, traumas, tumores, hipoti- reoidismo. • Doenças neuromusculares (Guillain-Barré, miastenia gravis, trauma espinhal, botulismo, esclerose lateral amiotrófi ca – ELA, miosite). • Intoxicação por barbitúricos. • Alcalose metabólica. 2559 • Desordem das vias aéreas periféricas (asma, DPOC, corpo estranho). • Doenças da parede torácica ou pleural (trauma, cifoescoliose, derrame pleural). • Obstrução das vias aéreas (estenose subglótica, tumor, edema laríngeo). APRESENTAÇÃO CLÍNICA A avaliação clínica é de fundamental impor- tância. Sinais como cianose, dispnéia e freqüência respiratória acima de 30 respirações por minuto ocorrem inicialmente. Pode-se observar agitação, cefaléia, convulsões e tremores. Na avaliação respi- ratória alterações de amplitude, ritmo, freqüência, padrão e apnéia podem ocorrer. Durante a inspe- ção do paciente, é preciso avaliar a presença de su- dorese, cianose e uso de musculatura acessória. No exame físico, a natureza pulmonar da IRpA é reforçada pela presença de alterações nos apare- lhos cardiovascular e pulmonar, com sinais de insu- fi ciência cardíaca esquerda e/ou direita e alterações no murmúrio vesicular, com a presença de ester- tores crepitantes ou sibilos. A presença de sinais sugestivos de infecção grave também é importante, pela possibilidade de sepse e, conseqüentemente, SDRA. Hemodinamicamente observam-se sinais como taquicardia, bradicardia, arritmias, hiperten- são, hipotensão e até parada cardiorrespiratória. Os sinais clínicos de hipoxemia (confusão men- tal) e/ou hipercapnia (sonolência) são duvidosos e nem sempre estão presentes; a pressão arterial dos gases sangüíneos deve sempre ser usada para deter- minar a presença de insufi ciência respiratória. Pacientes com doença pulmonar obstrutiva crô- nica com hipercapnia permanente devem ser diag- nosticados com insufi ciência respiratória, quando há um aumento abrupto na PaCO2 maior que 5 mmHg que comumente é visto nesses pacientes. O diagnóstico nesses casos deve ser realizado o mais rápido possível, para que possam ser adminis- tradas medidas terapêuticas adequadas. Algumas doenças extrapulmonares podem afe- tar o sistema respiratório de forma atípica e silen- ciosa como em pacientes que apresentam doença neuromuscular. Doenças agudas ou traumas também podem desenvolver complicações respiratórias que devem ser observadas precocemente. A gasometria arterial é essencial para o diagnósti- co e confi rmação da IRpA. Exames de imagem como radiografi a simples e TC de tórax são de extrema im- portância, podendo fornecer informações adicionais, tais como a presença de pneumonia, pneumotórax ou infi ltrados pulmonares (Figuras 1 a 4). FIGURA 1 – Radiografia de tórax – IRpA. FIGURA 2 – TC de tórax – atelectasia posterior. CAPÍTULO 204 FISIOTERAPIA NA INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA AGUDA SEÇÃO 25 2560 H2O (normal entre -80 e -120 cm H2O), asso- ciado ao aumento da freqüência respiratória; • disfunção de vias aéreas: quadros obstrutivos como asma e DPOC, aspiração de corpos estra- nhos ou conteúdo gástrico, disfunções de larin- ge e cordas vocais; • disfunção do parênquima pulmonar: os pacien- tes apresentam dispnéia, elevação da freqüência respiratória e cianose. Estes sinais estão associa- dos à pneumonia, atelectasia ou SDRA; • disfunção de caixa torácica: casos de cifoescolio- se grave ou trauma de tórax; • disfunção vascular e de ventrículo direito: pre- sença de tromboembolismo pulmonar; • disfunção cardíaca esquerda: por aumento da pressão capilar pulmonar e posterior encharca- mento dos espaços intersticiais. TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO A atuação do fi sioterapeuta é de extrema im- portância, devendo avaliar o quadro respiratório do paciente e indicando a conduta mais adequada para cada caso específi co. Portanto, a avaliação, a vigilância e as reavalia- ções freqüentes são essenciais bem como a monta- gem e o manuseio dos equipamentos utilizados. Avaliação A avaliação fi sioterapêutica deve contemplar o nome, data de nascimento, diagnóstico, em casos cirúrgicos anotar o tipo de cirurgia realizada e em que dia de pós-operatório o paciente se encontram, ausculta pulmonar, radiografi a de tórax, freqüência respiratória e cardíaca, expansibilidade, padrão res- piratório e oxigenoterapia utilizada. Mensurar, quando indicado, a pressão inspirató- ria máxima (PImáx) e pressão expiratória máxima (PEmáx), volume-corrente (VC), volume-minuto (Vmin), capacidade vital (CV), anotando seus res- pectivos valores. Solicitar a tosse ao paciente e ano- FIGURA 4 – Radiografia de tórax – infiltrado pulmonar D. FIGURA 3 – TC de tórax – atelectasia. ETIOLOGIA A insufi ciência respiratória pode ser causada por qualquer doença que afete direta ou indiretamente os pulmões. As causas mais freqüentes de IRpA são: • alteração do drive respiratório: caracteriza-se por hipoventilação ou hiperventilação. A medi- da da função do drive respiratório é realizada pela mensuração da PO. Seu valor normal é de 2 a 4 cm H2O; • disfunção neuromuscular: verifi ca-se queda no volume-corrente, capacidade vital e pressão ins- piratória máxima com valores abaixo de -30 cm 2561 tar sua efi ciência, se produtiva, anotar o aspecto e quantidade da secreção. Na presença de drenos des- crever a localização do dreno, se borbulha ou oscila, aspecto e quantidade do débito apresentado. Anotar parâmetros do paciente em ventilação mecânica: freqüência respiratória (f ), fração ins- pirada de oxigênio (FiO2); volume-corrente (VC), pico de pressão inspiratória (PP), pressão positiva expiratória fi nal (PEEP), modalidade da ventilação mecânica, relação tempo inspiratório e expiratório (I:E), saturação de oxigênio observado no oxímetro de pulso (SatO2), ETCO2 (end tidal dióxido de car- bono) se o paciente estiver com monitorização de CO2 instalado, pressão do cuff , número da cânula e cuff , número da cânula e cuff número em que a cânula de intubação está fi xada. No caso de utilização de ventilação não-invasi- va: CPAP (continuous positive airway pressure) ano-continuous positive airway pressure) ano-continuous positive airway pressure tar (f, PEEP, FiO2, SaO2) e BiPAP anotar (f, IPAP, EPAP, FiO2, VC e SaO2). Conduta fi sioterapêutica na insufi ciência respiratória por hipoxemia (tipo I) O objetivo do tratamento é manter a PaO2 maior que 60 mmHg e otimizar a função cardíaca e o uso de oxigenoterapia adequada, através de ca- teter nasal ou máscara facial, visando SpO2 ≥ 92%. O posicionamento do paciente com elevação do decúbito > 30° e na presença de secreções pulmo- nares, manobras para auxiliar a higiene brônquica. A drenagem postural visa facilitar a drenagem da secreção de uma região específi ca dotórax e o paciente deve permanecer em cada uma das posi- ções durante a aplicação da tapotagem e vibrocom- pressão. Ativar refl exivamente a tosse estimulando manualmente a fúrcula ou solicitar verbalmente ao paciente associado à compressão do tórax. A aspiração traqueal tem como objetivo remo- ver secreção das vias aéreas, podendo ser via naso- traqueal, orotraqueal, cânula de traqueostomia, ou cânula naso ou orotraqueal. Aplicação de pressão positiva expiratória para di- minuição do débito cardíaco, reversão de atelectasias e infi ltrados. Em pacientes com disfunção do ventrí- culo direito, o uso da PEEP deve ser cauteloso. Utilização de exercícios com pressão positiva intermitente (RPPI) tem como objetivo manter e/ ou melhorar os volumes pulmonares e promover o deslocamento de secreções. Uso de ventilação não-invasiva com dois níveis de pressão, associados ao uso de broncodilatadores leva a uma diminuição do trabalho respiratório, associa- do à diminuição de mortalidade intra-hospitalar. Em casos mais graves, intubação e ventilação mecânica são necessárias. O objetivo é a hipoven- tilação controlada, uso de volumes-correntes me- nores, baixa freqüência respiratória e alto fl uxo ins- piratório, mantendo níveis de auto-PEEP baixos. Utilizar FiO2 para manter oxigenação adequada. Após a realização da intubação deveremos colo- car o paciente no respirador onde deverá ser ven- tilado com menor pressão de platô possível, man- tendo os alvéolos sempre abertos otimizando os valores da PEEP e promovendo perfeita sincronia entre o paciente e o ventilador mecânico. Insufi ciência respiratória por hipercapnia (tipo II) O tratamento da hipercapnia visa aumentar a ventilação alveolar (uso de broncodilatadores ou aumento da freqüência respiratória) e diminuição do CO2. A avaliação e manuseio imediato da hipercapnia dependem do pH e da elevação do PaCO2: • pH maior que 7,45: corrigir alcalose metabólica; • pH entre 7,45 e 7,30: monitorizar paciente; • pH entre 7,30 e 7,25: considerar suporte venti- latório; • pH menor ou igual a 7,25: se não for revertido, suporte ventilatório obrigatório. O manuseio da insufi ciência respiratória por hi- percapnia envolve os seguintes itens: • suporte ventilatório não-invasivo ou necessidade de intubação; CAPÍTULO 204 FISIOTERAPIA NA INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA AGUDA SEÇÃO 25 2562 • ventilação não-invasiva evita a necessidade de intubação. O uso do BiPAP resulta em melhora no pH, diminui pCO2 e diminui a freqüência respiratória. CRITÉRIOS PARA INDICAÇÃO DE VENTILAÇÃO NÃO-INVASIVA OU CRITÉRIOS PARA INDICAÇÃO DE VENTILAÇÃO NÃO-INVASIVA OU CRITÉRIOS PARA INDICAÇÃO DE INTUBAÇÃO TRAQUEAL VENTILAÇÃO NÃO-INVASIVA OU INTUBAÇÃO TRAQUEAL VENTILAÇÃO NÃO-INVASIVA OU Os benefícios do suporte ventilatório mecâni- co são reverter hipoxemia, tratar acidose respira- tória, aliviar o desconforto respiratório, prevenir e tratar a atelectasia, reverter a fadiga dos músculos respiratórios, permitir a sedação e/ou o bloqueio neuromuscular, diminuir o consumo de oxigênio sistêmico e miocárdico, reduzir a pressão intracra- niana e estabilizar a parede torácica. Critérios para instalação de ventilação mecânica não-invasiva Os critérios para instalação de ventilação me- cânica não-invasiva (Figura 5) estão descritos a se- guir: • paciente cooperativo com Glasgow > 12; • freqüência respiratória > 30 rpm; • estabilidade hemodinâmica; • ausência de vômitos ou distensão gástrica; • ausência trauma facial; • pouca secreção pulmonar; • PaCO2 > 45 mmHg; • pH < 7,35 e > 7,10. Critérios para instalação de intubação orotraqueal e ventilação mecânica Os critérios para instalação de intubação oro- traqueal e ventilação mecânica estão descritos a seguir: • Glasgow < 12; • confusão mental; • instabilidade hemodinâmica; • distensão gástrica; • hipoxemia; • fadiga muscular; • PaCO2 com aumento progressivo e ou pH < 7,2; • distensão gástrica; • PCR. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA Alex CG, Tobin MJ. Assessment of pulmonary func- tion in critically ill patients. Laghi F, Tobin MJ. Disordes of respiratory muscles. American Journal Respiratory Critical Care 168:10-48, 2003. Ayres SM, Grenvik A, Holbrook PR, Shoemaker WC. Textbook of Critical Care. Philadelphia, WB Saun- ders Company, pp. 649-58, 1995. Barbas CSV, Amato MBP, Carvalho CRR. Medida do trabalho respiratório. In: Monitorização respiratória em UTI. Terzi GGR. Rio de Janeiro, Manole, pp. 167-78,1998. Barbas CSV, Hoelz C, Rodrigues Jr. M. Insufi ciência respiratória aguda: abordagem diagnóstica e tera- pêutica. In: Knobel E. Terapia intensiva: pneumo- logia e fi sioterapia respiratória. São Paulo, Atheneu 1-13, 2004. Cuvelier A, Viacroze C. Dependency on mask ventila- tion after acute respiratory failure in the intermedia- te care unit. European Respiratory Journal 26:289- 97, 2005. FIGURA 5 – Máscara total face – VNI. 2563 Hunrubia T, García Lopéz FJ. Noninvasive versus con-versus con-versus ventional mechanical ventilation in acute respira- tory failure: a multicenter randomized controlled trial. Chest Journal 128:3916-24, 2005. Jubran A, Tobin MJ. Monitoring during mechanical ventilation. Clin Chest Med 17:453-74, 1996. Kreit JW, Rogers RM. Approach to the patient with acute respiratory failure. In: Ayres SM, Grenvik A Holbrook PR, Shoemaker WC. Textbook of Criti- cal Care. Philadelphia, WB Saunders Company, pp. 680-7, 1995. Rubenfeld GD, Caldwell E, Peabody E et al. Incidence and outcomes of acute lung injury. N Engl J Med 20;353(16):1685-93, 2005. Pratter MR, Irwin RS. A physiologic approach to ma- naging respiratory failure. In: Irwin RS, Cerra FB, Rippe JM. Intensive Care Medicine. Philadelphia, Lippincott-Raven, pp. 571-5, 1999. Slutsky AS. Mechanical ventilation. ACCP Consensus Conference. Chest 104:1833-59, 1993. West JB. Fisiologia respiratória moderna. 3. ed. São Paulo, Manole, p. 188, 1990 CAPÍTULO 204 FISIOTERAPIA NA INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA AGUDA 2565 DESTAQUES A intolerância ao exercício é um importante sintoma nos pneumopatas crônicos e exerce um forte impacto sobre a qualidade de vida desses pacientes. Considerando-se um programa de reabilitação pulmonar, o teste de exercício incremental, em fase pré-reabilitação, indica a intensidade de treinamento, com base na freqüência cardíaca, sintomas como dispnéia ou fadiga nos membros inferiores e a carga aplicada durante o teste. Deve-se ponderar que nenhum dos questionários utilizados atualmente é recomendado na prática diária, mas que a avaliação da qualidade de vida deve, obrigatoriamente, ser considerada em todos os trabalhos clínicos envolvendo pacientes com DPOC, sendo um ponto crucial a levar em conta na elaboração de estratégias terapêuticas e na avaliação dos seus resultados. CAPÍTULO 205 REABILITAÇÃO PULMONAR Leny Vieira Cavalheiro Ana Maria Braga Marques Cristiana Eigenheer de Souza Coelho Ana Cristina Oliveira Gimenes SEÇÃO 25 2566 INTRODUÇÃO Os pacientes portadores de DPOC e SDRA que experimentam uma longa estadia em UTI são dire- cionados a programas de reabilitação pulmonar. A inclusão neste plano de tratamento deve ser o mais precoce possível. Esses pacientes oferecem múltiplos fatores de es- tresse físico e psicológico, sendo o diagnóstico e a intervenção precoces indispensáveis para que os pa- cientes, após a alta hospitalar, possuam habilidades para as atividades de vida diária, possam retornar ao trabalho e manter uma adequada qualidade de vida. Pacientes comatosos podem tornar-se comple- tamente paralisados devido a desordens neuromus- culares, desenvolver defi ciência e paralisia durante o curso da doença. Neuropatia, miopatia ou ambas têm sido sugeridas como causas. Alteração na fun- ção motora devido a distúrbios neuromusculares poderiam sugerir, por engano, um agravamento da doença do SNC e induzir a investigação desneces- sária ou tratamento inapropriado. Com a melhora dos recursos e habilidade das equipes de UTI, há a melhora na sobrevida.O in- teresse de pesquisadores tem sido não só a taxa de mortalidade, mas também a recuperação da função pulmonar e qualidade de vida dos sobreviventes. Sobre outro aspecto, não menos importante, esses sobreviventes apresentam uma qualidade de vida aceitável, mas com défi cits nas funções físicas e sociais quando comparados com pessoas de mes- ma idade com saúde íntegra. O que não é sabido é qual o grau de recuperação das funções diárias nos sobreviventes a longo prazo e especifi camente qual é a disfunção pulmonar residual. Limitações pul- monares podem representar somente um indicador de um distúrbio mais severo e não ser a causa dos défi cits na qualidade de vida relatada. Os pacientes com DPOC são admitidos na te- rapia intensiva frente a quadro de descompensa- ção clínica. Segundo a Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease (GOLD), os critérios clí- nicos para admissão na UTI seguem na Tabela 1. Alguns aspectos da reabilitação pulmonar ini- ciam-se ainda no leito da terapia intensiva, que benefi ciarão esses pacientes no seguimento do tra- tamento na fase ambulatorial. IMPORTÂNCIA DO EXERCÍCIO NO PNEUMOPATA Efeitos fi siológicos do treinamento A intolerância ao exercício é um importante sin- toma nos pneumopatas crônicos e exerce um forte impacto sobre a qualidade de vida desses pacientes. É bem sabido que muitos sobreviventes de SDRA têm persistente redução da função pulmonar con- sistindo de défi cits ventilatórios restritivos ou obs- trutivos, hiperreatividade brônquica, capacidade de difusão de monóxido de carbono prejudicada e queda na PaO2 durante o exercício. Melhora ou normalização da função pulmonar pode ser obser- vada por até um ano depois da alta hospitalar e défi cits residuais típicos consistem de falha na con- dução de oxigênio. Isto pode ser explicado por fi - brose e obliteração microvascular, que são seqüelas patológicas características depois de SDRA. A função muscular é caracterizada por força e endurance. Perda de um desses componentes resul- ta no descondicionamento e efeitos sobre a capaci- dade de exercício e qualidade de vida. TABELA 1– Indicações para admissão hospitalar nas exacerba- ções segundo o GOLD • Aumento considerável na intensidade dos sintomas, tais como a mani- festação repentina de dispnéia ao repouso • História prévia de DPOC grave • Surgimento de novos sinais físicos (ex: cianose, edema periférico) • Impossibilidade de resposta da exacerbação ao tratamento médico inicial • Co-morbidades significativas • Arritmias de ocorrência recente • Incerteza do diagnóstico • Idade mais avançada • Apoio domiciliar insuficiente 2567 É importante entender os princípios e compo- nentes do treinamento para incorporá-lo adequa- damente no tratamento desses pacientes. Os efeitos a curto e longo prazo de um condi- cionamento físico sistemático tem sido objeto de extensiva investigação. Em indivíduos normais é sabido que a participação em um programa perso- nalizado de exercícios resulta em vários efeitos: • aumento no consumo máximo de oxigênio com melhora no uso do oxigênio periférico; • treinamento específi co aumenta força e endu- rance; • melhora da coordenação muscular; • troca da composição corpórea com aumento da massa muscular e diminuição do tecido adi- poso; • melhora da sensação de bem-estar. Os resultados de um programa de exercícios apresentam diferentes benefícios dependendo da severidade da obstrução. Indivíduos com leve a moderada obstrução poderão manifestar os mes- mos achados que indivíduos sadios. Pacientes com a forma severa da doença aumentam a capacida- de de endurance e sua sensação de bem-estar. Há endurance e sua sensação de bem-estar. Há endurance muitos estudos sobre os diferentes tipos de trei- namento e seus efeitos sobre a performance destes pacientes, incluindo aumento de enzimas muscu- lares, menor sensação de dispnéia para a mesma atividade, decréscimo na produção de acido lático para o mesmo trabalho, e melhora das atividades de vida diária e na qualidade de vida relatada. Uma vez que os benefícios são alcançados, a informação é disponibilizada e pensamos sobre os efeitos dos programas de manutenção de cada resultado, in- cluindo a performance de exercícios. Pacientes com DPOC manifestam decréscimo da tolerância ao exercício. Os fatores mais impor- tantes que contribuem para esta limitação são: • alterações na mecânica pulmonar; • disfunção dos músculos respiratórios; • disfunção muscular periférica; • troca gasosa anormal; • alterações cardíacas; • desnutrição; • aumento da dispnéia. Embora os pacientes mais graves não possam exercitar-se no mesmo nível que os mais leves, onde o efeito do treinamento é imaginado ser ideal (acima do limiar anaeróbio), uma grande corpo- ração de evidências confi rma que a realização de exercícios é um instrumento benéfi co na terapêuti- ca auxiliar desses pacientes, onde eles podem alcan- çar seu completo potencial. Avaliação da capacidade física Teste de exercício cardiorrespiratório (TECR) O TECR é bastante útil na determinação da ne- cessidade do uso de medicamentos e seus possíveis efeitos sobre a função respiratória e/ou cardiopul- monar. Também pode ser útil na indicação e ava- liação do efeito da oxigenoterapia na DPOC, em que o objetivo básico é manter uma saturação de oxigênio (SaO2) acima de 90% durante o esforço. Em geral, considera-se o consumo de oxigê- nio de pico (VO2 pico) ser indistinguível do VO2 máximo (VO2máx) como índice prognóstico em doenças pulmonares e cardiovasculares. A classi- fi cação de disfunção aeróbia de Weber com base no VO2máx e no limiar anaeróbio é característica disso (Tabela 2). Considerando-se um programa de reabilitação pulmonar, o teste de exercício incremental, em fase pré-reabilitação, indica a intensidade de treina- mento, baseado na freqüência cardíaca, sintomas como dispnéia ou fadiga nos membros inferiores e a carga aplicada durante o teste. O TECR pode, principalmente, estabelecer os mecanismos de li- mitação ao exercício, seja ela ventilatória ou perifé- rica, permitindo assim a prescrição de programa de treinamento individualizado. No TECR, alguns critérios são relevantes para identifi cação dos distúrbios ventilatórios no exer- CAPÍTULO 205 REABILITAÇÃO PULMONAR SEÇÃO 25 2568 cício dinâmico incremental como, por exemplo: baixa ou ausente reserva ventilatória (através da re- dução da ventilação voluntária máxima – VVM), resposta ventilatória elevada para a demanda meta- bólica, padrão taquipnéico (↑ freqüência respirató- ria em relação ao volume-corrente), anormalidades da troca gasosa intrapulmonar e dispnéia como principal sintoma limitante. Distúrbios da troca gasosa também podem ser avaliados: redução da PaO2 e/ou SaO2 e/ou aumen- to da PaCO2, aumento de respostas ventilatórias submáximas, dispnéia de esforça e graus variados de redução da reserva ventilatória. No teste incremental, algumas variáveis devem ainda ser consideradas como: reserva cronotrópi- ca – a diferença entre a freqüência cardíaca máxi- ma atingida e a prevista, para avaliação e quanti- fi cação do estresse cardiovascular (dependente do VO2máx), redução do pulso de oxigênio máximo, que sugere distúrbio circulatório e/ou periférico; a relação ∆FC/∆VO2, em que maiores inclinações são compatíveis com baixa oferta periférica ou bai- xa captação de O2. Consideram-se ainda as respostas subjetivas du- rante o teste de exercício: sensação de dispnéia e cansaço dos membros inferiores avaliados através da escala de Borg, que se alteram dependendo do nível de intervenção aplicada. O treinamento, em nível do limiar de lactato estimado, parece ser particularmente efi caz. Em pacientes com DPOC, o limiar de lactato ocorre mais próximo do VO2máx do que em indivíduos normais. Modifi cações na capacidade oxidativa muscular, alterações circulatórias centrais e periféricas, menor sensação de dispnéia e melhora na mecânica respira- tória estão envolvidos no aumentoda capacidade de exercício após programa de reabilitação pulmonar. A melhor maneira de testar o sistema cardiopul- monar é com exercício dinâmico (como bicicleta ergométrica ou esteira). A ergoespirometria foi recentemente incorpora- da aos testes pela elevada sensibilidade ao exame. O exame deve permitir o estudo e a análise de exa- mes pertinentes à prática fi sioterapêutica que ava- liem funções cinesiológicas de órgãos e sistemas. Avaliação de qualidade de vida A qualidade de vida, o grau com que a condi- ção médica afeta a habilidade de cada pessoa nas funções da vida diária, tem se tornado progressiva- mente reconhecida como um importante resultado das intervenções médicas. O conceito de qualidade de vida é baseado no “World Health Organization” que defi niu saúde e qualidade de vida como “um estado de completo bem-estar físico, mental e so- cial” e não simplesmente a ausência de doença. A implicação desta defi nição é que saúde, e conse- qüentemente qualidade de vida relatada, abrange múltiplas dimensões. Mais especifi camente, tem sido sugerido que existem cinco critérios básicos e diferentes de qualidade de vida: saúde física, saúde mental, função social, funcionamento diário nas diversas atividades e percepção geral de bem-estar. Existem atualmente diversos questionários que objetivam avaliar a qualidade de vida dos pacien- TABELA 2 – Disfunção aeróbia de Weber, baseada no VO2máx e limiar anaeróbio (LA) em TECR incremental limitado por sintomas em esteira ergométrica Classe funcional Gravidade VO2máx (ml.min -1.kg-1) LA (ml.min-1.kg-1) A Ausente a leve > 20 > 14 B Leve a moderada 16-20 11-14 C Moderada a intensa 10-16 8-11 D Intensa 6-10 5-8 2569 tes. Estes objetos são de origem internacional e ne- cessitam ter validação no Brasil para que possamos usá-los. O SF-36 (short form) foi originalmente dese- nhado como um indicador geral do status da saúde para uso em pesquisas populacionais de política de saúde, mas também pode ser aplicado numa gran- de variedade de tipos e severidades de condições de saúde. Ele inclui 36 questões e cobre oito domínios (funcionamento físico e social, desenvolvimento fí- sico e emocional, dor corporal, percepção da saúde geral, vitalidade e saúde mental). Cada domínio produz um score que varia de (0) a 100 (melhor). score que varia de (0) a 100 (melhor). score O SF-36 é um questionário de autopontuação. O Chronic Respiratory Questionnaire (CRQ) foi o primeiro questionário específi co desenvolvido para avaliar a qualidade de vida de pacientes com DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica). Ele mensura quatro domínios: dispnéia, fadiga, função emocional e domínio sobre a doença principal. Os scores dessas quatro dimensões são somados para scores dessas quatro dimensões são somados para scores ter um score total da qualidade de vida. score total da qualidade de vida. score Scores para Scores para Scores os domínios do CRQ obtém uma variação de 1-7; scores maiores denotam uma melhor qualidade de scores maiores denotam uma melhor qualidade de scores vida. Diferenças de scores de 0.5,1.0 e 1.5 são defi -scores de 0.5,1.0 e 1.5 são defi -scores nidas como pequenas mas clinicamente importan- te, moderada e grande respectivamente. O Saint George Respiratory Questionnaire (SGRQ) é específi co para avaliar a qualidade de vida de pacientes portadores de patologias pulmo- nares. O questionário possui 53 questões divididas em três componentes: sintomas, cobrindo o des- conforto devido a sintomas respiratórios; ativida- de, avaliando alterações nas atividades físicas; im- pacto, avaliando o impacto global na vida diária e no bem-estar do paciente. Um score total também score total também score é calculado e varia de zero (representando saúde total) a cem (corresponde ao pior estado possível). O questionário tem pesos específi cos e estes pesos parecem ser válidos para ambos os sexos, uma larga faixa de idade e uma extensa variação de gravidade da doença. O SGRQ apresenta ainda boa repro- dutibilidade, tornando-se adequado para estudos comparativos, de longa duração, relacionados com o efeito das doenças das vias aéreas nas atividades diárias e no bem-estar dos pacientes. Já existe uma versão ofi cial do SGRQ em português autorizada pelo Prof. Paul Jones e validada no Brasil. Temos de ponderar que nenhum dos questio- nários utilizados atualmente é recomendado na prática diária, mas que a avaliação da qualidade de vida deve, obrigatoriamente, ser considerada em todos os trabalhos clínicos envolvendo pacientes com DPOC, sendo um ponto crucial a levar em conta na elaboração de estratégias terapêuticas e na avaliação destes resultados. Em vários estudos usando uma variedade de instrumentos, a reabilitação pulmonar tem conse- guido consistente redução dos sintomas de disp- néia nos pacientes com DPOC. A importância da dispnéia como resultado de uma medida nos estu- dos desses pacientes tem ganhado maior reconhe- cimento com o desenvolvimento de muitos instru- mentos de medidas estabelecidos. Estudos futuros devem utilizar-se destes instrumentos. ASPECTOS DO PROGRAMA DE REABILITAÇÃO PULMONAR Treinamento de músculos respiratórios e periféricos em DPOC Numerosos estudos têm demonstrado que o paciente com DPOC está associado à fraqueza muscular. Comparado com indivíduos normais, pacientes com sintomas e sinais de falência respi- ratória, cardíaca ou a combinação de ambos apre- sentam redução signifi cante da força em músculos respiratórios e periféricos. Contudo, força e endu- rance não têm sido afetados da mesma forma nestes rance não têm sido afetados da mesma forma nestes rance músculos. A fadiga não é provavelmente o fator li- mitante da função muscular respiratória, mas sim a força muscular, que está correlacionada com o grau de dispnéia do paciente. É necessário entender o conceito de que os músculos respiratórios de pacientes com DPOC operam cronicamente contra a impedância mecâ- CAPÍTULO 205 REABILITAÇÃO PULMONAR SEÇÃO 25 2570 nica da via aérea. O desequilíbrio entre a capaci-nica da via aérea. O desequilíbrio entre a capaci-nica da dade funcional desses músculos em relação à sua carga de trabalho tem papel importante na gênese da dispnéia e da hipercapnia. A disfunção dos mús- culos respiratórios é determinante importante do aumento da utilização de recursos de saúde e da sobrevida de pacientes com DPOC grave que se encontram hospitalizados. Ao repouso ou durante exercícios de baixa in- tensidade, o trabalho da respiração, em indivíduos saudáveis, é pequeno e os músculos respiratórios não têm difi culdade em se manter ativos. Pacientes com DPOC exibem fraqueza muscu- lar respiratória funcional e redução da capacidade de endurance muscular, pelo prejuízo de sua estru-endurance muscular, pelo prejuízo de sua estru-endurance tura e de sua função. De fato, diafragma, músculos acessórios e músculos expiratórios são submetidos a crônicas cargas mecânicas. Portanto, o descon- dicionamento não parece ser a causa da disfunção muscular respiratória. Por essa razão, é necessário defi nir as causas desta disfunção e classifi cá-las em fatores extrínsecos e intrínsecos. Os fatores extrín- secos referem-se à geometria da caixa torácica, vo- lumes pulmonares e fatores metabólicos sistêmicos. Os fatores intrínsecos relatam as mudanças no tipo de fi bra, na massa e no metabolismo muscular. Um dos fatores críticos que causam maior dis- função muscular respiratória é a hiperinsufl ação pulmonar. A geometria da caixa torácica é alterada na hiperinsufl ação levando à redução crônica da zona de aposição do diafragma. Isto gera compro- metimento mecânico, pois reduz a possibilidade de excursão da cúpula diafragmática e reduz a ex- pansão da caixa torácica inferior. A hiperinsufl ação muda o arranjo mecânico das regiões costal e crural do diafragma levando a uma redução da capacida- de de gerar força, diminuição do seu comprimento e aumento da raio da curvatura diafragmática e, deacordo com a lei de Laplace, reduz a conversão de tensão em pressão. O comprimento da fi bra diafragmática é de- terminante na capacidade de geração de força. O comprimento ótimo da fi bra muscular é determina- do pela relação intrínseca tensão/comprimento do sarcômero. Esse fator torna-se ainda mais relevante quando ocorre a hiperinsufl ação dinâmica, durante o exercício, onde a limitação do fl uxo expiratório também está presente, reduzindo ainda mais a capa- cidade do diafragma em gerar força e endurance. Então, para a manutenção da ventilação, pa- cientes com DPOC desenvolvem pressões trans- diafragmáticas máximas maiores quando compara- dos a indivíduos normais. Em outras palavras, o diafragma preserva ou en- tão aumenta suas propriedades instrínsecas à custa do prejuízo de suas propriedades extrínsecas. Nessa adaptação estrutural, quanto maior a relação vo- lume residual/capacidade pulmonar total, maior a carga mecânica para a musculatura inspiratória, resultando em: aumento da proporção de fi bras do tipo I, aumento da densidade do volume e da capacidade oxidativa mitocondrial das fi bras mus- culares diafragmáticas. Esses achados morfológicos são indicadores da adaptação aeróbia do diafragma frente à doença. Vários estudos funcionais em indivíduos saudá- veis e em pacientes com DPOC têm demonstrado que o treinamento com carga inspiratória pode au- mentar a endurance e a força muscular inspiratória. endurance e a força muscular inspiratória. endurance Esta melhora funcional é observada apenas quando aplica-se treinamento específi co desta musculatura mas não quando se realizam programas de exercí- cios globais. Alguns autores demonstraram que o treinamen- to muscular (carga de 40% da pressão inspiratória máxima – PiMáx) pode ter algum impacto sobre a capacidade de exercício, tempo de endurance em endurance em endurance esteira, mas principalmente na redução da disp- néia. Entretanto, não há mudança signifi cativa na função dos músculos inspiratórios submetidos a treinamento específi co. Essa controvérsia aparece, pois há uma diferen- ça muito grande na magnitude e duração da car- ga muscular inspiratória (na literatura elas variam de 30% a 80% da PiMáx). Sabe-se que após um programa específi co de treinamento, há aumento 2571 das fi bras do tipo I, ganho da PiMáx e redução da dispnéia. Em contrapartida, não foram encontra- dos efeitos adicionais na capacidade de exercício funcional, nem na melhora da qualidade de vida destes pacientes. Dessa forma é preciso salientar que o treina- mento de músculos inspiratórios deve ser consi- derado em pacientes com DPOC quando: houver fraqueza muscular estabelecida (excluindo-se fator de hiperinsufl ação pulmonar), fraqueza muscular funcional, quando houver difi culdade no desma- me da ventilação mecânica, cuja causa seja a re- dução da PiMáx ou indivíduos que apresentem dispnéia mesmo apesar da ótima terapêutica, seja ela medicamentosa, suplementação de oxigênio ou pacientes em programa de reabilitação pulmonar. Em relação à musculatura periférica, sabe-se que aproximadamente 70% dos pacientes com DPOC têm menor força de quadríceps que indivíduos normais de mesma idade. Na musculatura periférica desses pacientes en- contram-se menores porcentagens de fi bras do tipo I e um correspondente aumento de fi bras do tipo II (principalmente fi bras do tipo IIb/x). Apenas como informação, as fi bras musculares do tipo I são fi bras de contração lenta, dependentes do meta- bolismo aeróbio, resistentes à fadiga. Em contraste, as fi bras do tipo II (IIb/x) são de contração rápida, mais susceptíveis a fadiga, porque sua conversão de energia está baseada no metabolismo glicolítico, anaeróbio. As fi bras do tipo IIa têm propriedades intermediárias, contração rápida, desenvolvendo moderada tensão e relativamente resistentes à fadi- ga, sendo aptas a trabalhar sobre ambas condições: aeróbias e anaeróbias. Esse aumento de fi bras do tipo II em músculos periféricos de pacientes com DPOC é ocasionado pela hipóxia, onde a oferta de oxigênio aos músculos periféricos reduz-se causando hipoxemia, além de ini- bir a conversão normal de fi bras tipo IIa em tipo I. O estresse oxidativo com a presença de radicais livres, ativos principalmente no período da exacer- bação, reduzem a efi ciência da cadeia transporta- dora de elétrons mitocondrial, prejudicando o me-dora de elétrons mitocondrial, prejudicando o me-dora tabolismo oxidativo. O desuso gera fraqueza muscular pela menor efi ciência da atividade do neurônio motor, redu- ção da proporção de fi bras do tipo I e aumento de fi bras do tipo II decorrendo declínio da atividade de enzimas envolvidas na conversão de energia oxi- dativa. Medicamentos como os corticóides, redu- zem a síntese protéica e aumentam o catabolismo de proteínas, estimulando a mobilização de ami- noácidos das proteínas musculares, estimulando o metabolismo glicolítico. Associam-se ainda a esses fatores a depleção nu- tricional e a própria infl amação sistêmica, exacer- bando sintomas como dispnéia e fadiga. Treinamento da musculatura periférica, visando melhora da performance muscular, seja pelo ganho de força ou de endurance, torna-se fundamental para estes pacientes. O aumento da área seccional de fi bras oxidativas e a elevação da atividade de en- zimas oxidativas do músculo quadríceps, em com- binação com menor acúmulo de lactato durante o exercício, têm sido encontrados em pacientes DPOC treinados. O treinamento induz o aumento da proporção de fi bras do tipo I e IIa, acompanhados de maior capacidade oxidativa e maior resistência à fadiga. Além disso, a redução do acúmulo de lactato atra- vés do treinamento de membros inferiores torna-se crucial na redução da dispnéia. Menores formações de lactato geram menores concentrações de íons H+, com diminuição da acidez sangüínea. Sendo assim, há uma menor estimulação do centro res- piratório para o aumento da ventilação em uma mesma carga de exercício. Este fator é fundamental para a redução da hiperinsufl ação dinâmica e alívio da dispnéia. Alguns pacientes apresentam difi culdade em participar de programas de reabilitação pulmonar que empregam treinamento muscular de maior in- tensidade. Esse fato ocorre principalmente quan- do a doença se encontra em estágio mais avança- do ou quando associam-se limitações da reserva CAPÍTULO 205 REABILITAÇÃO PULMONAR SEÇÃO 25 2572 cardiopulmonar. Uma alternativa a esta situação é a eletroestimulação neuromuscular transcutânea (EENM), técnica já comprovada em aumentar a relação fi bra/capilar, massa muscular e número de fi bras do tipo I na musculatura do quadríceps. Protocolos baseados na aplicação da estimula- ção elétrica 5 dias por semana, durante 6 semanas demonstraram, sem a associação de outro tipo de treinamento muscular, aumento signifi cante da força muscular e capacidade funcional de exercí- cio, na ausência da mudança da função de pacien- tes com DPOC. Trabalhos demonstraram aumento do pico de torque de até 42% em pacientes com DPOC após uso de EENM e aumento na tolerância de exercí- cio. Além disso, parece ser uma técnica terapêutica ideal para aumento na capacidade de exercício em pacientes com limitação ventilatória grave, ou pa- cientes acamados, dependentes de ventilação me- cânica, caracterizando quadro de extrema disfun- ção muscular esquelética. Demonstrou-se ainda que o aumento de for- ça muscular nestes pacientes, através do uso da EENM, associada ou não à contração muscular voluntária de quadríceps, aumentou a saturação de oxigênio, reduziu a freqüência respiratória e o tempo de permanência em ventilação me- cânica, além da redução de tempo em que os pacientes permaneceram acamados, com maior possibilidade de realizar transferências, minimi- zando assim as complicações associadas ao imo- bilismo como pneumonia e tromboembolismo pulmonar. Os mecanismos de disfunção muscular dos membros inferiores são desconhecidos. Os estudosque avaliam a resistência ou endurance muscular na endurance muscular na endurance DPOC são confl itantes. Serres et al. afi rmaram que portadores de DPOC atingem níveis agravantes, com redução em 50% da resistência muscular em comparação ao grupo controle. Essas características são encontradas pelas alterações morfológicas e enzimáticas na DPOC. Mador et al. (2004) referiram que o treinamen- to de força pode levar a uma melhora signifi cante em pacientes idosos com DPOC, porém o aumen- to de força não se traduz em uma melhora da qua- lidade de vida, performance de exercício ou fadiga do quadríceps comparado ao atingido pelo treino de endurance sozinho.endurance sozinho.endurance Bernard et al. (1999) estudaram o efeito do trei- namento aeróbico associado com o treinamento de força em pacientes DPOC, concluindo que ocor- re grande melhora na força muscular periférica do que só com o treinamento aeróbico; porém, essas medidas de melhora não se estendem a aumentos na qualidade de vida e na tolerância ao exercício. Ainda neste estudo, quando avaliado o efeito deste treino associando aeróbico com aumento de força, observou-se que o estímulo de treinamento adequa- do aumenta a força muscular, mas quando compa- rados pacientes DPOC com indivíduos saudáveis, o aumento de força muscular não foi completo, in- dicando que o período de treinamento não foi su- fi ciente ou que fatores além da inatividade crônica estão envolvidos na explicação da atrofi a e fraqueza muscular no DPOC. Ainda nesta pesquisa, conclu- íram que o aumento na qualidade de vida não pode ser observado pois os movimentos de fortalecimen- to que levaram à aumento da força muscular não são os movimentos desenvolvidos pelo paciente em suas AVDs, e por isso mesmo o paciente não pode notar e correlacionar diretamente o aumento de força com melhora na qualidade de vida. Zanotti et al. (2003) mostraram o uso de es- timulação elétrica em pacientes DPOC acamados e em ventilação mecânica, tendo como efeito um aumento de força muscular global e diminuindo o número de dias de passar do leito para poltona. O uso da estimulação diafragmática elétrica trans cutânea (EDET) emprega estímulos elétricos, através de eletrodos, colocados em pontos motores do nervo frênico (intacto) que promovam a excita- bilidade da fi bra e contração do diafragma. O objetivo dessa técnica é recrutar mais fi bras musculares, associar técnica de estimulação elétrica 2573 com treinamento muscular, seja com alteração da sensibilidade no ventilador, seja com treinadores lineares pressóricos, para reabilitação e condiciona- mento do diafragma, aumentando assim a resistên- cia e a força muscular. Os métodos de avaliação para uso dessa técnica são espirometria (CVF e VEF), medidas de PImáx e PEmáx, eletroneuromiografi a e ultra-sonografi a. Há vários trabalhos na literatura que mostram que há aumento de força muscular, aumento do vo- lume espontâneo e inspirado signifi cativo, melho- rando assim a qualidade de vida desses pacientes. Membros superiores A utilização do membro superior refl ete em assincronia toracoabdominal nos pacientes com DPOC grave. A elevação do braço a 90º em fl exão já demonstra signifi cante aumento do VO2 e VCO2, concomitantemente aumento da ventilação minu- to e na freqüência cardíaca. Lake et al. verifi caram que o treinamento isolado de membros superiores e inferiores resulta em um aumento na performan- ce muscular de força e endurance, porém se os trei- namentos forem associados existe a referência de uma maior sensação de bem-estar pelos pacientes submetidos ao treinamento (Tabela 3). Ries et al. estudaram o efeito de duas formas de treinamento, o exercício com resistência da gravidade e com faci- litação neuromuscular proprioceptiva modifi cada, comparando com um grupo de DPOC que não treinou membros superiores (MS). Os pacientes que fi zeram o treinamento melhoraram a tolerân- cia nos testes e diminuição na fadiga. Os tipos de treinamento são classifi cados em sua maioria como exercícios com carga contro- lada (como os cicloergômetros de braço) e carga não controlada (como uso de halteres e resistência contra a gravidade). Ambos incrementam a carga no decorrer do treinamento de acordo com a ob- servação da performance do exercício demonstrada pelos pacientes. Na carga controlada, usualmente utilizamos de 50% a 60% da carga máxima encon- trada no teste incremental. Os benefícios do treinamento de membros su- periores e inferiores persistem até um ano depois de programas com duração de 8 a 12 semanas. A avaliação do membro superior pode ser re- alizada por teste incremental em cicloergômetro, teste de uma repetição máxima de carga e pelos testes de capacidade de manter-se em exercício com incremento de carga. Não há consenso sobre a melhor forma de avaliação para determinar a car- ga de treinamento ou a melhora após intervenção terapêutica. Ventilação não-invasiva com pressão positiva na reabilitação pulmonar de pacientes com DPOC Como descrito na literatura, programas de reabi- litação pulmonar melhoram a capacidade de exercí- cio e qualidade de vida de pacientes com DPOC. A extensão dos efeitos fi siológicos do exercício nestes pacientes parece estar relacionada à intensidade de treinamento. Muitos estudos têm relatado uso de treinamento de alta intensidade como mais efi cazes dentro de um programa de reabilitação pulmonar quando comparado com os de baixa intensidade. Contudo, treinamentos de alta intensidade não são tão tolerados por pacientes com DPOC grave, ta- manha a resposta fi siopatológica e sensação de disp- néia frente ao exercício. Na tentativa de melhora deste quadro, várias intervenções vêm sendo apli- TABELA 3 – Nível de evidência da intervenção de treinamento de membros superiores e inferiores Tipo de treinamento Resultados Evidência Membros superiores Melhoram a performance nos exercícios de membro superior e diminui o consumo de oxigênio durante sua elevação B Membros inferiores Melhoram a performance nos exercícios, dispnéia e qualidade de vida A CAPÍTULO 205 REABILITAÇÃO PULMONAR SEÇÃO 25 2574 cadas durante exercício aeróbio como: medicações, suplementação de oxigênio e suporte ventilatório através de ventilação não-invasiva (VNI). A VNI tem sua função comprovada na exacerba- ção aguda da DPOC, através do alívio da carga dos músculos respiratórios e da redução da PCO2 arte- rial, prevenindo a fadiga respiratória e melhorando a recuperação após o evento da exacerbação. Em pacientes com DPOC estável, o uso de pressão de suporte inspiratório demonstrou au- mento da tolerância de exercício durante o teste de caminhada. Comparando diversos modos ventilatórios, o uso de dois níveis de pressão (BiPAP) ou a ventila- ção proporcional assistida (PAV), durante a realiza- ção de programas de exercício, tem papel superior em reduzir a pressão transdiafragmática quando comparados à pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP). Além disso, os benefícios da sua CPAP). Além disso, os benefícios da sua CPAP aplicação estão em aumentar a duração e intensi- dade do tempo de treinamento e menores forma- ções de lactato durante testes de exercício, o que infere melhor capacidade oxidativa muscular. Isso é uma contribuição importante, pois a redução da carga dos músculos respiratórios diminui a necessi- dade de fl uxo sangüíneo neste local. Isso sugere um aporte maior de sangue para os membros inferiores durante o exercício, resultando em melhor nutri- ção e aporte de oxigênio para estes músculos. Alguns estudos sugerem que o emprego de supor- te ventilatório inspiratório de 10 cm H2O já é capaz de melhorar a performance do teste de endurance em endurance em endurance 60% de pacientes com DPOC, além de substancial redução da sensação de dispnéia durante o exercício. O ajuste do nível de pressão inspiratória fi ca a cargo do conforto respiratório do paciente durante o exer- cício. Já para a pressão expiratória, devem ser empre-gados níveis entre 2 e 5 cm H2O como descrito na maioria dos estudos em literatura científi ca. Sendo assim, o emprego da VNI durante o exer- cício promove aumento da capacidade ventilatória e/ou redução da carga sobre os músculos ventila- tórios, permitindo a aplicação de maiores cargas de treinamento, principalmente em pacientes com DPOC grave, o que auxilia em melhores resultados do programa de reabilitação pulmonar. RESULTADOS DE PROGRAMAS DE REABILITAÇÃO PULMONAR As principais metas dos programas de reabilita- ção pulmonar são a redução dos sintomas, melhora na qualidade de vida e maior independência nas atividades de vida diária e prática. A metanálise publicada por Salman em 2003 refere 20 trials randomizados controlados sobre re-trials randomizados controlados sobre re-trials sultados em programas de reabilitação pulmonar. Todos os trials avaliados fi zeram alguma aborda-trials avaliados fi zeram alguma aborda-trials gem de exercício de membros inferiores, superiores e treinamento específi co de músculo respiratório. As variáveis comparadas foram o teste de cami- nhada de seis minutos para performance física e o questionário de qualidade de vida pelo CRDQ (Questionário de doença respiratória crônica) para avaliação da dispnéia. Essa metanálise mostra que o teste de avaliação da capacidade física mais utilizado é o teste de cami- nhada de seis minutos. Para avaliação da dispnéia e qualidade de vida foi mais utilizado o questionário de doença respiratória crônica (CRDQ). Os pro- gramas com o melhor resultado no teste de cami- nhada são os que incluem treinamento de membros inferiores. O treinamento dos músculos respirató- rios isolados não indica melhora nos pacientes com DPOC, após a intervenção. Os DPOC classifi cados como leves e moderados melhoram mais rápido, en- quanto os classifi cados como grave melhoram signi- fi cantemente nos programas com duração de pelo menos seis meses. Há grande variabilidade entre as propostas de programas, portanto a freqüên cia e duração ótima não foram determinadas. A maioria varia entre oito a 12 semanas. Segue Tabela 4 com os resultados dessa meta- nálise. Nossos resultados são coerentes com a literatura mostrando melhora nos testes descritos na Tabela 5. 2575 TABELA 4 – Resultados da metanálise publicada por Salman em 2003 Autor No pacientes FEV 1% ou litros (DP) Idade em anos (DP) Duração Intervenção Distância percorrida em metros (DP) Questionário de qualidade de vida CRDQ (DP) Escore de qualidade Lake FR11 14 0,9 l (0,25) 66 (2) 8 semanas U e L C 355 (72) 3 T 327 (103) Gosselink R13 19 43% (15) NA 3 meses U e L C – 0,1 (16) * 2 T 15,9 (27) * Wijkstrs PJ15 36 1,2 l (0,3) 62,1 (5) 12 semanas U, L e R C 462 (34) C 70 (3) 2 T460 (35) T 76 (5) Simpson K16 28 39,4% (20) 71 (5) 8 semanas U e L C 506 (86) C 15,6 (1,3) 2 T 518 (69) T 13,3 (1,3) Guyatt G17 82 1,0 l (0,34) 66 (7,5) 6 mês R C 409 (94) C 33,2 3 T 406 (86) T 35,4 Strijbos JH18 30 42% (14) 61 (5,3) 3 mês L C 262 (12) 2 T 280 (14) McGavin C19 24 1,05 l (0,50) 59 (6,8) 3 mês L C 509 (156) 2 T 526 (66) Cambach W20 19 60% (19) 62 (7) 3 mês U,L, e R C 494 (78) C 19 (4) 2 T 480 (99) T 19 (4) Cockcroft A21 34 1,42 l (0,6) 61 (4,9) 7 mês U e L C 564 (221) 4 T 523 (296) Bendstrup K 29 32 1,03 l (0,02) 64 (2) 12 semanas U e L C 36,1 (10)* C 0,6 (3,8) * 3 T 113,1 (18)* T 8,6 (3,5) * Sassi- DambronD24 77 1,15 l (0,6) 67,4 (8) 6 semanas R C 397 (114) 2 T 402 (75) Griffith TL25 200 39,5% (16,3) 68,2 (8,1) 6 semanas U e L C 125 (97) C 12,8 (5,0) 2 T 140 (94) T 13,9 (3,8) Wedzicha J27 56 0,98 l (0,3) 68,6 (7,7) 8 semanas U e L C 217 (22) C 82 (22) 2 T 191 (22) T 82(18) Troosters T29 62 42% (8) 61 (8) 6 mês U e L C 61 (18) C 84 (22) 2 T 60 (19 T 77 (17) Bauldoff GS30 20 50% (22) 62 (14) 8 semanas U C 14,8 (5) 1 T 17,1 (2,6) R: treinamento muscular respiratório; U: treinamento dos membros superiores; L: treinamento dos membros inferiores; T: grupo tratado; C: grupo-controle. CAPÍTULO 205 REABILITAÇÃO PULMONAR SEÇÃO 25 2576 TABELA 5 – Resultados do programa de reabilitação pulmonar do Hospital Israelita Albert Einstein Inicial Final Significância estatística Teste de caminhada 394,5 (107,5) 480 m (113,9) P = 0,0004 Teste incremental de MMSS 1,4 kg (0,4) 2,3 kg (0,8) P = 0,0036 Teste incremental de MMII 33 km/h com 6,9% (3,1) 3,3 km/h com 12,2% (3,6) P < 0,0001 Teste de endurance de MMII 7,8 min (4,13) 40,5 MIN (28,5) P < 0,001 Aplicamos o Saint George Respiratory Questionary no início e fi nal do programa com uma diferença im- portante na melhora da qualidade de vida desses in- divíduos. Segundo a literatura, uma melhora em 4% no resultado geral é bastante positiva (Tabela 6). TABELA 6 – Média de melhora no questionário de qualidade de vida Domínios Resultado em % Sintomas 29% Atividades 30,3% Impacto social 15,6% Geral 22,3% O programa é constituído de treinamento ae- róbio de membros inferiores e de força e enduran- ce de músculos periféricos. A orientação para as ce de músculos periféricos. A orientação para as ce AVDS e alongamento também compõem o cir- cuito de exercícios. Para os DPOC classifi cados como graves, inserimos os exercícios intervalados associados a técnicas de conservação de energia. A vigilância no exercício é importante para manter sempre o parâmetro ótimo de freqüência cardíaca e saturação de oxigênio durante os treinamentos. A duração é de três meses com freqüência de três vezes por semana. Em síntese, o treinamento dirigido e persona- lizado é o mais importante componente na rea- bilitação desses pacientes com obstrução ao fl uxo aéreo. Os benefícios do treinamento de extremida- des superiores e inferiores são múltiplos e parecem persistir por até um ano depois de um programa de 8 a 12 semanas. Por ser o exercício possível de ser executado por pacientes fi sicamente hábeis sem levar em consideração a idade ou a severidade da doença, ele deveria ser a peça fundamental de qual- quer programa. Estudos futuros poderão esclarecer a ótima duração e freqüência de treinamento assim como os benefícios s longo prazo. PERSPECTIVAS Reabilitação subaquática Abordagens recentes vêm sendo citadas no tra- balho com pacientes DPOC na piscina, embora este seja um assunto muito pobre dentro do âm- bito científi co. Vários materiais estão sendo utili- zados como coadjuvante no tratamento da piscina, como bicicleta ergométrica aquática, porém o es- tudo do homem no meio aquático fi ca difi cultado pela aplicação e manuseio dos instrumentos dentro da piscina. Vários efeitos fi siológicos são benéfi cos para esse recurso terapêutico tais como: • a energia necessária para a fl utuação e a força de atrito que a água oferece ao deslocamento contribuem para um gasto energético aumenta- do, quando os exercícios são realizados no meio líquido. A resistência oferecida pelo líquido, em qualquer direção e velocidade que os movimen- tos sejam executados, também contribui para o dispêndio energético do indivíduo; • o fato de a densidade do corpo humano ser se- melhante à da água resulta em um peso corporal menor quando está submerso. Esta característi- ca do meio líquido o torna propício à iniciação da prática de atividades aquáticas em qualquer 2577 idade, assim como também possibilita que in- divíduos com limitações se benefi ciem da dimi- nuição de peso hidrostático tendo maior facili- dade para exercitarem-se; • a grande quantidade de trabalho aeróbio reali- zado nos programas de natação produz notáveis adaptações no sistema cardiorrespiratório, me- lhorando o transporte de oxigênio para os mús- culos implicados no trabalho. Essas adaptações permitem o desenvolvimen- to do metabolismo oxidativo. A quantidade de ar mobilizada por minuto (VE) é aproximadamente 30% menor para o mesmo nível de consumo de oxigênio (VO2) em exercício dentro d’água, devido à pressão exercida pela água sobre o tórax no afun- damento normal do corpo ao nadar. O nadador melhora a resistênciaaeróbia da musculatura ins- piratória, assim como tem que expirar contra a re- sistência oferecida pela água e para compensar esta menor VE tem que melhorar a extração tissular de O2, a nível periférico. O uso de um fl uxômetro aéreo (equipamento de baixo custo e disponível no mercado) pode in- formar o pico de fl uxo respiratório (peak-fl owformar o pico de fl uxo respiratório (peak-fl owformar o pico de fl uxo respiratório ( ) an- tes e depois da sessão de exercício; se a diferença for maior que 20% (para menos e após a aula) fi ca cla- ro o diagnóstico de obstrução. Uma alta VE induz ao resfriamento e ressecamento das vias aéreas. Na natação, a faixa até 30 cm acima do nível da água fi ca úmida pela evaporação natural da água, fa- cilitando o processo, sendo portanto altamente reco- mendada como atividade física para pneumopatas. A exposição a baixas temperaturas (37°C) es- timula adaptações agudas para que a temperatura central do corpo possa ser mantida em níveis óti- mos. Na natação, o contato com a água com tem- peratura mais baixa do que a do corpo desencadeia uma vasoconstrição periférica como resposta aguda à mudança de temperatura. Essa resposta do orga- nismo ao estresse de uma temperatura mais baixa visa desviar o fl uxo sangüíneo da superfície da pele visa desviar o fl uxo sangüíneo da superfície da pele visa desviar o fl uxo sangüíneo da superf para as áreas mais centrais, de modo a conservar a temperatura central estável. A glândula tireóide e a medula supra-renal são estimuladas pela mudança de temperatura e aumentam a produção de tiro- xina, adrenalina e noradrenalina elevando a taxa metabólica e a produção de calor. Essa termogêne- se química contribui para a manutenção da tem- peratura interna em níveis ideais. Outra resposta do organismo à exposição ao frio são as contrações involuntárias sincronizadas denominadas calafrios, que promovem uma elevação da produção de calor no organismo de quatro a cinco vezes em relação ao nível de produção de calor quando em condição de repouso. Esse mecanismo de manutenção da temperatura leva a um aumento no custo energéti- co das atividades aquáticas realizadas em tempera- turas mais baixas. Nedal et al. (1978) constataram que a captação de oxigênio era maior em qualquer velocidade, quando a temperatura da água era mais fria, devido a energia necessária para regular a tem- peratura interna do corpo. Como dissemos anteriormente, o contato com a água fria desencadeia a vasoconstrição periféri- ca que reduz o fl uxo periférico, deslocando maior volume de sangue para a região central do corpo. Essa alteração no volume sangüíneo é constatada por receptores localizados, principalmente no átrio esquerdo, e esses enviam estímulos para a hipófi - se posterior, que diminui a secreção do hormônio vasopressina (antidiurético). A diminuição na pro- dução de vasopressina promove um aumento na eliminação de água nos rins, e a urina é eliminada até que o volume sangüíneo se normalize. Somado a esse mecanismo, o tecido atrial libera o peptídeo atrial natriurético (fator atrial natriurético) que atua nos rins estimulando a diurese e nos vasos es- timulando a vasodilatação. No mergulho, a freqüência cardíaca sofre um aumento inicial, em seguida, decresce com o pros- seguimento do mergulho, podendo atingir valores abaixo da freqüência cardíaca de repouso, mesmo com a pessoa exercitando-se (Ästrand, 1980). Ex- plica-se essa baixa da freqüência cardíaca como um efeito de vários fatores atuando em conjunto, não CAPÍTULO 205 REABILITAÇÃO PULMONAR SEÇÃO 25 2578 se devendo apenas a apnéia do mergulho. Recepto- res cutâneos participam dessa resposta, visto que ao molhar apenas o nariz (ou a apnéia) a bradicardia é constatada. No caso do mergulho prolongado, que gera uma hipoxemia progressiva, é também prová- vel que quimiorreceptores contribuam nesse ajuste. Voltando à superfície, com as primeiras respirações, a freqüência cardíaca retorna a valores normais. A câimbra é uma contração involuntária, du- radoura e dolorosa, que aparece espontaneamen- te podendo se prolongar por vários minutos. Ela ocorre em um determinado músculo ou grupo de músculos, e pode ocorrer durante o sono ou em outra situação de repouso, durante a atividade fí- sica ou horas após. Observa-se que a ocorrência de câimbras pode ser em função de alterações metabó- licas decorrentes do treinamento, ou em função de fl uxo sangüíneo defi ciente para um grupo muscu- lar. A presença de câimbras também está associada à exposição à baixas temperaturas. As chamadas câimbras do “calor” são observadas em decorrên- cia de exercícios prolongados, feitos em ambientes com temperatura elevada e com uma alta taxa de sudorese que acarreta uma perda excessiva de líqui- do e baixa acentuada nos íons corporais. Não está bem defi nido o mecanismo responsável pela câim- bra, mas algumas teorias são levantadas. Monod e Flandrois (1994) citam dois prováveis mecanismos: co-ativação de nível anormal dos músculos ago- nistas e antagonistas pode desencadear a câimbra; modifi cação do conteúdo de Ca++ do sarcoplasma, devido a uma insufi ciência de ATP, não permite o retorno do Ca++ para o retículo sarcoplasmático e o relaxamento do músculo não ocorre. Em geral a câimbra é mais rapidamente eliminada quando se promove a extensão do grupo muscular afetado. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA Costes F, Agresti A, Court-Fortune I. Noninvasive ven- tilation during exercise training improves exercise tolerance in patients with chronic obstructive pul- monary disease. Journ Cardiopulmonar Rehabilita- tion 23:307-13, 2003. Gosker HR, Wouters EFM, Vusse GJ et al. Skeletal muscle dysfunction in chronic obstrutive pulmo- nary disease e chronic heart failure: underlying me- chanisms e therapy perspectives. Am J Clin Nutr 71:1033-47, 2000. Hul AV, Gosselink R, Hollander P et al. Acute eff ects of inspiratory pressure support during exercise in pa- tients with COPD. Eur Respir J 23:34-40, 2004. Hul AV, Kwakkel G, Gosselink R. Th e accute eff ects of noninvasive ventilatory support during exercise on exercise endurance e dyspnea in patients with chro-endurance e dyspnea in patients with chro-endurance nic obstructive pulmonary disease. Journ Cardio- pulmonar Rehabilitation 22:290-7, 2002. Lake FR, Hendersen K, Briff a T et al. Upper limb e lower limb exercise training in patients with chronic airfl ow obstruction. Chest 97:1077-82, 1990. Lötters F, Tol B, Kwakkel G et al. Eff ects of controlled inspiratory muscle training in patients with COPD: a meta-analysis. Eur Respir J 20:570-6, 2002. Man WDC, Hopkinson NS, Harraf F et al. Abdominal muscle and quadriceps strength in chronic obstruc- tive pulmonary disease. Th orax 60:718-22, 2005. Neder JA, Nery LE. Fisiologia clínica do exercício: teoria e prática. São Paulo, Artes Médicas, p. 404, 2003. Neder JA, Sward D, Ward SA et al. Home based neu- romuscular electrical stimulation as a new rehabili- tative strategy for severely disabled patients with COPD. Th orax 57:333-7, 2002. Orozco-Levi M. Structure e function of that respiratory muscles in patients with COPD: impairment or ad- aptation? Eur Respir J 22(Suppl. 46):41S-51S, 2003. Ries AL, Ellis B, Hawkins RW. Upper extremity exerci- se training in chronic obstructive pulmonary disea- se. Chest 93:688-92, 1988. Salman GF, Mosier MC, Beasley BW et al. Rehabilita- tion for patients with chronic obstructive pulmona- ry disease – meta-analysis of randomized controlled trials. J Gen Intern Med 18:213-21, 2003. Wasserman K, Casaburi R, Whipp B. Principles of exercise testing and interpretation. 3. ed. Lippincott Williams & Wilkins,Baltimore, USA, p. 556, 1999. Zanotti E, Felicetti G, Maini M et al. Peripheral mus- cle strength training in bed-bound patients with COPD receiving mechanical ventilation – eff ect of electrical stimulation. Chest 124:292-6, 2003. 2579 DESTAQUES O exercício físico nas doenças cardiovasculares tem papel profi lático e terapêutico.A prescrição da atividade física deve observar as indicações, contra-indicações, intensidade, duração, freqüência e pro- gressão. A reabilitação cardiovascular é classifi cada em fases I, II, III e IV. Neste capítulo, enfatizaremos a reabilitação cardiovascular no paciente grave em fase hospitalar (fase I). A reabilitação fase I consiste em estimular a progressão das atividades físicas, educar o paciente, dar suporte psicológico e orientá-lo para alta hospitalar. Os pacientes coronariopatas, portadores de insufi ciência cardíaca e os pacientes cardíacos cirúrgicos constituem a maior parte da população que realiza reabilitação cardíaca hospitalar. CAPÍTULO 206 REABILITAÇÃO CARDIOVASCUL AR Andrea Kaarina Meszaros Bueno Pedro Veríssimo da Fonseca Neto Vanessa Nishiyama Soloviov Marcos Antonio Manara SEÇÃO 25 2580 INTRODUÇÃO Embora haja relatos de atividade física em me- dicina desde o século XIX, a reabilitação cardiovas- cular é ainda um procedimento jovem, nascido da cardiologia. Heberden, há aproximadamente 200 anos, já recomendava a atividade física descrevendo seus benefícios a pacientes com angor pectoris. Nas pri- meiras décadas do século passado, os pacientes com infarto agudo do miocárdio (IAM) permane- ciam em repouso absoluto no leito por seis a oito semanas no hospital e igual período em domicílio. Acreditava-se que qualquer atividade física poderia predispor a aneurismas ou rupturas ventriculares, e que a hipoxemia secundária ao esforço poderia pre- cipitar arritmias, recorrência de infarto e até morte súbita. Esse conceito foi reforçado após o estudo de Jetter e White (1944), que mostrava alta incidência de ruptura miocárdica em pacientes psiquiátricos pós-infarto, sugerindo que a atividade física inevi- tável neste tipo de paciente seria a causa. A partir de meados da década de 1940, Dock e Harrison questionaram o repouso prolongado no leito, enfa- tizando os riscos de tromboembolismo, pneumo- nias e perda de massa óssea e muscular. A partir de 1951, Levine e Lown já recomendavam sentar os doentes em poltronas e a beira do leito. Em 1952, Newman caracterizou como deambulação precoce 3 a 5 minutos de caminhada, duas vezes ao dia, na quarta semana pós-IAM. No início da década de 1970, surgiram muitos estudos relacionados à mobilização precoce no Reino Unido e nos Esta- dos Unidos. Estudos controlados mostraram não haver diferença na ocorrência de angina, reinfarto, insufi ciência cardíaca ou morte entre os pacientes mobilizados na fase hospitalar após infarto quando comparados com os pacientes que permaneciam em repouso. O primeiro conceito de reabilitação cardiovascular surgiu em 1969, na Conferência de Mirtle Beach, na Carolina do Sul (EUA). Wenger et al. sistematizaram a fase hospitalar da reabilita- ção cardíaca aplicando-a na unidade coronária e enfermaria pela equipe multiprofi ssional. O I Consenso Nacional de Reabilitação Car- diovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia defi ne a reabilitação cardiovascular como um ramo de atuação da cardiologia que, implementada por equipe multiprofi ssional, permite a restituição ao indivíduo das condições clínica, física, psicológica e laborativa satisfatórias. CLASSIFICAÇÃO Tradicionalmente a reabilitação cardiovascular está classifi cada em quatro fases: • fase I: fase aguda, fase hospitalar; • fase II ou ambulatorial: até 12 semanas de exer- cício supervisionado após a alta hospitalar; • fase III ou de manutenção: com duração variável, de monitorização intermitente e supervisionada; • fase IV ou supervisionada a distância: não-su- pervisionada. Essa classifi cação, além de didática, tem relação com o estado clínico em que o paciente se encontra. À medida que o paciente progride nas suas ati- vidades, necessita cada vez menos de monitoriza- ção e supervisão direta. Neste capítulo, enfatizaremos a atuação da fi sio- terapia na reabilitação cardiovascular do paciente grave em fase hospitalar. As principais indicações e contra-indicações para um programa de reabilita- ção cardiovascular encontram-se na Tabela 1. Fase I: avaliação e tratamento Segundo a American Association of Cardiovas- cular & Pulmonary Rehabilitation (AACPR), para iniciar o programa de reabilitação hospitalar, o pa- ciente deve estar clinicamente estável, ou seja: • não apresentar dor torácica ou dor recorrente nas útlimas 8 horas; • não apresentar nenhuma anormalidade signifi - cante do ritmo cardíaco ou do ECG nas últimas 8 horas; • não apresentar nenhum sinal de descompensa- ção cardíaca (dispnéia ao repouso com alteração da ausculta pulmonar). 2581 TABELA 1 – Indicações e contra-indicações para um programa de reabilitação cardiovascular Indicações Contra-indicações Pós-infarto do miocárdio clinicamente estável Embolia recente/tromboflebite Angina estável Angina instável Pacientes submetidos à cirurgia cardíaca Estenose aórtica grave Insuficiência cardíaca congestiva compensada Queda de pressão arterial maior que 20 mmHg com sintomas Doença vascular periférica Diabetes descontrolada Fatores de risco para doença arterial coronariana (DAC): diabetes mellitus, hiperlipidemia, hipertensão etc. Pressão sistólica > que 200 mmHg ou pressão diastólica em repouso > que 110 mmHg Transplante de coração Afecções ortopédicas graves Angioplastia coronariana transluminal percutânea Insuficiência cardíaca congestiva descompensada Cardiomiopatia Doença sistêmica aguda com febre Doença renal Alteração em repouso do segmento ST Arritmias descontroladas Bloqueio AV total (sem marcapasso) Segundo a American College of Sports Medi- cine (ACSM), para identifi car a dose adequada de atividade para os pacientes internados, é importan- te considerar a história clínica, o estado clínico e os sintomas do paciente. Portanto, torna-se necessária a avaliação dos sinais vitais e da escala de percepção de esforço (Borg), instrumentos necessários para a identifi cação da intensidade, duração, freqüência e progressão do exercício. O exercício corretamente prescrito e supervisio- nado por fi sioterapeutas durante a hospitalização e depois da alta proporciona numerosos benefícios para pacientes cardíacos devidamente seleciona- dos. Esses exercícios: • melhoram os efeitos psicológicos e fi siológicos deletérios do repouso no leito durante a hospi- talização; • proporcionam uma vigilância clínica adicional dos pacientes por uma equipe multidisciplinar (médicos, fi sioterapeutas, enfermeiros, nutri- cionistas, psicólogos, terapeutas ocupacionais, entre outros); • podem identifi car os pacientes com defi ciências cardiovasculares, físicas ou cognitivas durante a sua execução, quando comparados aos pacientes que permanecem em repouso; • oferecem maior confi ança e segurança para o paciente retornar ao lar e ao trabalho, reinician- do as suas atividades dentro dos limites impos- tos por sua doença; O programa educacional da fase I tem como principais objetivos: • fornecer informações sobre a doença cardíaca e fatores de risco; • orientações sobre cuidados apropriados a serem tomados na presença de sinais e sintomas; • estratégias de modifi cação de fatores de risco in- cluindo cessação do tabagismo e aconselhamen- to nutricional; • informações sobre procedimentos de exames aos quais o paciente poderá ser submetido; • orientações de alta incluindo cuidados com ati- vidade sexual, retorno ao trabalho e exercícios a serem realizados em casa; • orientações sobre os benefícios físicos dos pro- gramas de reabilitação cardiovascular fase II e III. CAPÍTULO 206 REABILITAÇÃO CARDIOVASCULAR SEÇÃO 25 2582 Portanto, a base para a reabilitação cardiovas- cular nessa fase consiste em estimular a progressão das atividades físicas, educar o paciente, dar supor- te psicológico e orientá-lo para alta hospitalar. Reabilitação cardiovascular fase I em situações específi cas Pacientes portadores de síndromes coronarianas agudas, pós-angioplastia ou tratamento clínico A faseI de reabilitação pós-infarto do mio- cárdio segue a estratégia de mobilização precoce, iniciando movimentação passiva das articulações, progredindo para sedestação e ortostatismo, atin- gindo até a alta hospitalar a deambulação inde- pendente. O exemplo de um programa de reabi- litação fase I para pacientes que não apresentam complicações é descrito na Tabela 2. Esse pro- grama é uma adaptação do protocolo da Emory University School of Medicine para o Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE), e o gasto energé- tico (METs) foi estudado pelas medidas diretas de consumo de oxigênio com doentes coronariopa- tas estáveis simulando os exercícios propostos. O programa é composto de sete etapas progressivas iniciando-se na unidade coronariana (UCO) até a alta hospitalar. No início do programa, da primei- ra à terceira etapa, a atividade deve ser de baixa intensidade (2 METS), atingindo em torno de 4 METS até a última etapa. TABELA 2 – Protocolo de fisioterapia cardíaca fase I – Insuficiência coronária Etapa METs 1 2 Paciente deitado (A) Exercícios diafragmáticos (1 x 10) (B) Exercícios diafragmáticos associados a diagonal de Kabath, ativo-assistido ou ativo para MMSS (1 x 10 para cada membro) (C) Repetir o exercício acima em 2 tempos (1 x 10 para cada membro) (D) Repetir o exercício acima em 1 tempo com os dois membros simultaneamente (E) Ativos-assistidos MMII → tríplice-flexão (1x10) + abdução/adução quadril (1x10) para cada membro (F) Flexo-extensão de tornozelo(1x10) para cada pé (G) Circundução de tornozelo (1x10) para cada pé (H) Tosse assistida (I) Pressão positiva (5x20) se necessário 2 2 Paciente sentado Realizar os exercícios de A a I, de forma ativa 3 3 Paciente em ortostatismo • Exercícios de (A) a (D) de forma ativa • (J) ativos p/ MMII → com apoio de MMSS – ficar na ponta do pé (1x10) com dois membros simultaneamente • Semi-agachamento (1x10) • Abdução e adução (1x10) com um membro de cada vez • Deambulação no quarto (1 volta = do leito até o banheiro e vice-versa) 4 3-4 Paciente em ortostatismo • Mesmos exercícios da etapa 3 • Deambulação no corredor (50 m) 5 3-4 • Etapa 3 • Deambulação no corredor (100 m) 6 3-4 • Etapa 3 • Deambulação no corredor (150 m) • Subir e descer 1/2 lance de escadas 7 3-4 • Etapa 3 • Deambulação no corredor (200 m) • Subir e descer um lance de escadas 1 x 10: 1 série de 10 repetições Adaptado do Grady Memorial Hospital and Emory University School of Medicine. Membros superiores: MMSS; membros inferiores: MMII. 2583 Segundo a ACSM, as recomendações para se aplicar corretamente um protocolo são: • intensidade: – Borg inferior a 13 (Tabela 3); – freqüência cardíaca (FC) que não aumente mais que 20 bpm em relação ao repouso; – até a tolerância se assintomático; – são motivos para interrupção ou reanálise, a pre- sença dos seguintes sintomas: angina, dispnéia, tonturas, palidez, cianose, náusea, arritmias, re- ação hipertensiva (> 220 mmHg para sistólica e > 110 para diastólica) e hipotensão postural. • duração: – duração total de até 20 minutos; – exercícios intermitentes de curta duração (3 a 5 minutos); – conforme a necessidade do paciente, oferecer repouso durante os exercícios de até 2 minutos. • freqüência: – mobilização precoce: 3 a 4 x/dia nos três pri- meiros dias e 2 x/dia a partir do quarto dia. • progressão: – inicialmente aumentar a duração até 10 a 15 minutos de exercício, e a seguir, aumentar a intensidade. A presença ou manifestação de complicações são impeditivos temporários. Deve-se iniciar ou retornar ao programa assim que o problema for contornado. Pacientes em pós-operatório de cirurgia cardíaca As cirurgias cardíacas mais realizadas são revascu- larização do miocárdio, troca ou plastia valvar, trans- plante cardíaco e cirurgia de grandes vasos (correção de aneurisma de aorta, dissecção de aorta etc.). Inicia-se um vínculo com o paciente no pré- operatório, e em seguida, a atenção deve focar as complicações respiratórias do pós-operatório. Co- mumente, estes pacientes apresentam atelectasias, TABELA 3 – Escala do esforço percebido de Borg 6 7 muito, muito fácil 8 9 muito fácil 10 11 fácil 12 13 ligeiramente cansativo 14 15 cansativo 16 17 muito cansativo 18 19 exaustivo 20 derrame pleural, inefi ciência de tosse, hipoxemia, congestão pulmonar. A fi sioterapia exerce um pa- pel fundamental em minimizar e até reverter estes processos, aplicando técnicas específi cas conforme protocolo descrito na Tabela 4. Situações especiais • Para pacientes que evoluam com alterações neu- rológica, hemodinâmica, respiratória ou meta- bólica iniciar o desmame da ventilação mecâni- ca (VM) após a estabilização do quadro. • Critérios clássicos são recomendados para des- mame e desintubação. • Pacientes que evoluam com quadro de insufi ci- ência respiratória após desintubação, sugere-se as seguintes condutas conforme a Figura 1. Pacientes portadores de insufi ciência cardíaca congestiva (ICC) A ICC é defi nida como a inabilidade do co- ração em satisfazer as necessidades teciduais, que resulta em sintomas como fadiga e dispnéia de es- CAPÍTULO 206 REABILITAÇÃO CARDIOVASCULAR SEÇÃO 25 2584 TABELA 4 – Protocolo de fisioterapia em revascularização do miocárdio Pré-operatório POI 1º PO 2o PO, 3o PO, 4o PO A partir do 5o PO UTI Semi-intensiva Enfermaria Enfermaria F I S I O T E R A P I A • Avaliação de fisioterapia respiratória • Orientações quanto ao tratamento de fisiotera- pia, cirurgia, anestesia, UTI, intubação orotraque- al, drenos, dor e incisão cirúrgica • Realização de exercícios • Avaliação física, exames laboratoriais, RX de toráx, identificar fatores de risco para complicações pulmo- nares Quatro atendimentos • Paciente intubado: – modalidade AC em VC ou PC – VT de 8 a 10 ml/kg/ peso – FiO2 para SpO2 > 95% PEEP de 5 cm H2O – pressão de platô < 35 cm H2O – relação I/E de 1:2 – frequência respiratória 12 a 14 rpm • Pacientes com IMC > 30 kg/cm2 deve-se usar inicialmente PEEP 10 cm H2O e avaliar evolução hemodinâmica • Paciente desintubado: – suporte de O2 para sa- turação ≥ 95% – respiração diafragmá- tica (RD) – cinesioterapia respira- tória (CR) associada a exercícios ativos de membros superiores (MMSS) – inspiração sustentada – incentivadores – tosse assistida – respiração com pres- são positiva intermi- tente (RPPI) – exercícios de extremi- dades Três atendimentos • Suporte de O2 para satu- ração ≥ 95% • RD • CR associada a exercí- cios ativos de MMSS • Inspiração sustentada • Incentivadores • Tosse assistida • RPPI • Exercícios de extremida- des • Sedestação Dois atendimentos • Suporte de O2 para satu- ração ≥ 95% • RD • CR associada a exercí- cios ativos de MMSS • Inspiração sustentada • Incentivadores • Tosse assistida • RPPI • Sedestação • Exercícios de membros inferiores (MMII) • Deambulação no quarto progredindo para corre- dor Dois atendimentos • Suporte de O2 para satu- ração ≥ 95% • RD • CR associada a exercí- cios ativos de MMSS • Inspiração sustentada • Incentivadores • Tosse assistida • Exercícios de MMII • Deambulação no corre- dor • Treino de subir e descer escada AC: assisto-controlado; VT: volume controlado; PC: pressão controlada; RD: respiração diafragmática; CR: cinesioterapia respiratória; MMSS: membros superiores; I/E: inspiração/expiração; RPPI: respiração com pressão positiva intermitente; MMII: membros inferiores. FIGURA 1 – Condutas para pacientes com insuficiência respiratória após desintubação. Desintubação Sinais de insuficiência respiratória hipoxêmica CPAP PEEP ≥ 7,5 cmH20 SpO2 ≥ 95% Sinais de insuficiência respiratória hipercápnica BiPAP Ipap e Epap para VT = 8-10 ml/kg SpO2 ≥ 95% 2585 treinamento específi co, não é rotineiro este tipo de procedimento no paciente internado, salvo a necessidade de desmame de ventilação mecânica invasiva ou não-invasiva após detectar fraqueza muscular com repercussõesclínicas importantes. Portanto, sempre que possível, a imobilização prolongada deve ser evitada, pois pode favorecer a estase venosa, embolia pulmonar, osteoporose, retenção urinária, obstipação intestinal e infecções pulmonares, descondicionar a musculatura esque- lética, diminuir os refl exos vasomotores posturais. Com isso, é evidente a importância da reabilitação precoce em pacientes portadores de ICC. Abordagem da fi sioterapia na fase II (convalescença pós-alta hospitalar) nos cardiopatas Os principais objetivos desta fase são: melhorar a capacidade funcional, diminuir os fatores de ris- cos cardiovasculares, restituir a autoconfi ança e pre- parar o paciente para sua atividade profi ssional, fa- tores que propiciam melhora da qualidade de vida. A inatividade imposta pela doença e a incerteza do restabelecimento podem gerar ansiedade e depressão. Recomenda-se, para a prescrição do exercício, que os indivíduos sejam classifi cados, segundo o risco para exercício físico, em três classes: baixo, moderado e elevado risco (Tabela 5). A fase II inicia-se duas a três semanas após o evento agudo. Os pacientes são submetidos a um teste ergométrico convencional para prescrição da intensidade do exercício, cuja freqüência cardíaca de treinamento corresponde a aproximadamente 70% da capacidade funcional. O programa é constituído principalmente de atividade aeróbica realizada três vezes por semana durante três meses. Cada sessão tem duração de 45 minutos, sendo 10 minutos de aquecimento, 25 mi- nutos de condicionamento e 10 desaquecimento. Neste programa são inclusos também exercí- cios de resistência com peso, exercícios localizados e de circuito. forço progredindo para dispnéia em repouso. Estes sintomas são atribuídos à uma variedade de defi ci- ências, incluindo fl uxo sangüíneo prejudicado para as necessidades metabólicas, respostas ventilatórias anormais, alterações da circulação periférica, perda da função oxidativa da musculatura esquelética e fraqueza muscular respiratória. Além disso, no paciente descompensado esses sintomas podem ser ainda mais exuberantes devido à congestão pulmonar, hiperreatividade brônqui- ca e edema agudo de pulmão. Com isso, é muito comum nas unidades cardiológicas o uso de ven- tilação não-invasiva (VNI) como tratamento não- farmacológico de escolha para auxiliar na melhora desses quadros. Por isso, para esse grupo de pacientes, na fase hospitalar da reabilitação, além dos cuidados rela- cionados aos efeitos deletérios do repouso prolon- gado no leito, esses pacientes necessitam de uma maior atenção com relação às complicações respi- ratórias e do sistema músculo-esquelético, já que em sua maioria, podem apresentar cronicamente menor capacidade funcional, maior intolerância ao exercício e maior risco de complicações respirató- rias. Portanto, é muito importante avaliar clinica- mente o custo-benefício do exercício neste pacien- te enquanto internado, pois considerando que ele interna quando descompensa, não está completa- mente elucidado o momento certo de se iniciar a reabilitação. No entanto, com bastante critério clí- nico é interessante induzir esses pacientes a ativida- des progressivas precoces, respeitando seus limites, mas nem sempre esperando sua total compensação. O uso de drogas vasoativas e de ventilação não-in- vasiva em desmame não são impeditivos para o iní- cio da reabilitação, pois a proposta é sempre de ati- vidades de baixo consumo de oxigênio (2-4 METs) assim como acontece com os pacientes infartados e, portanto, não levando a risco cardiovascular. Outro fator relevante é a fraqueza dos músculos respiratórios, que pode compor o quadro clínico destes pacientes. Apesar de evidências fi siopato- lógicas e clínicas da melhora dos sintomas após CAPÍTULO 206 REABILITAÇÃO CARDIOVASCULAR SEÇÃO 25 2586 Aulas sobre a doença cardiovascular e controle dos fatores de risco também fazem parte desta pro- gramação. A reprogramação é normalmente feita pelo duplo produto e evolução clínica diária, de modo que ao fi nal de três a quatro meses é realiza- do mais um teste ergométrico, podendo ser enca- minhado para a fase III. Abordagem da fi sioterapia na fase III (após terceiro mês) Os integrantes das fases I e II podem iniciar a fase III, recomendada para pacientes crônicos com estabi- lidade clínica. Nessa fase procura-se alto nível de ati- vidade para melhor desenvolver a capacidade aeróbia, e atingir o máximo da capacidade física, compatível com a capacidade funcional do coração. Tem a dura- ção de 6 a 12 meses, sendo aconselhável estender por tempo indeterminado como procedimento de ma- nutenção da capacidade e profi laxia da aterosclerose. Abordagem da fi sioterapia na fase IV A elegibilidade para reabilitação não supervisio- nada varia pouco de acordo com diferentes autores. Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, não são elegíveis os pacientes com VOsão elegíveis os pacientes com VOsão elegí 2 pico < 18 ml/ kg/min (5METs), aparecimento de angina ou ou- tra manifestação clínica de isquemia do miocárdio em carga < 18ml/kg/min (5METs), infarto do mio- cárdio extenso com fração de ejeção < 35% em re- pouso, teste ergométrico com redução de fração de ejeção de 10% ao esforço, queda da pressão arterial sistólica no teste ergométrico, arritmia ventricular complexa, intervalo QT corrigido > 440 ms, an- tecedentes de parada cardíaca primária, inabilida- de de automonitorização e aderência ao exercício, obesidade importante, hipertensão arterial refratá- ria e diabetes mellitus descompensada. Na ausência diabetes mellitus descompensada. Na ausência diabetes mellitus de contra-indicações, são elegíveis os pacientes es- táveis, após seis meses de treinamento, que apre- sentem conhecimento sufi ciente do treinamento aeróbio, temperamento e motivação capazes de to- tal aderência ao treinamento. A necessidade de trei- namento prévio tem sido suprimida em inúmeros relatos, e substituída por consultas, demonstrações e palestras em grupos. Nesses casos, a reabilitação não supervisionada se torna possível para pacientes com perfi l psicológico e sociocultural adequado. TABELA 5 – Risco cardiovascular para exercício físico Pacientes de baixo risco Pacientes de risco moderado Pacientes de risco elevado Classe I e II da New York Heart Association Classe funcional I e II da New York Heart Association Classe funcional > III da New York Heart Association Capacidade funcional > 6 METs Função VE em repouso limítrofe Dois ou mais infartos do miocárdio Ausência de insuficiência cardíaca Capacidade funcional > 6 METs Capacidade funcional < 6 METs Ausência de sinais de isquemia no repouso e em intensidades < 6 METs Isquemia ou taquicardia ventricular não-sustentada no teste ergométrico Disfunção ventricular esquerda em repouso Elevação pressórica apropriada ao exercício Depressão do segmento ST > 3 mm ou angina durante o exercício Ausência de extra-sistolia ventricular complexa Queda da pressão arterial sistólica durante o exercício Capacidade de auto-avaliação da intensidade de esforço Episódio prévio de parada cardiorrespiratória Função VE em repouso preservada Taquicardia ventricular durante o exercício em intensidade < 6 METs Incapacidade de auto-avaliação de esforço 2587 São considerados elegíveis para reabilitação não supervisionada os pacientes de baixo risco para ati- vidade física (Tabela 5). CONSIDERAÇÕES FINAIS A reabilitação cardiovascular é efetiva para au- mentar a capacidade funcional, favorecer a modi- fi cação dos fatores de risco da doença, diminuir sintomas e melhorar a qualidade de vida dos pa- cientes. Apesar de benefícios cientifi camente compro- vados, apenas 10% a 20% dos pacientes elegíveis participam de um programa de reabilitação cardio- vascular ambulatorial. Quando se trata de pacien- tes internados esta porcentagem é ainda menor já que, na maioria das vezes, esses pacientes iniciam a reabilitação somente quando apresentam compli-cações respiratórias. A equipe multiprofi ssional deve conscientizar os pacientes sobre os benefícios da reabilitação cardiovascular objetivando a captação de pacientes para estes programas e conseqüentemente atingin- do toda a população com real indicação. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA Balady GJ, Berra KA, Golding LA et al. Diretrizes do ACSM para os testes de esforço e sua prescrição. 6. ed. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2003. Gosker HR, Wouters EF, Van Der Vurse GJ et al. Ske- letal muscle dysfunction in chronic obstructive pulmonary disease and chronic heart failure: under- lying mechanisms and therapy perspectives. Am J Clin Nutr 71:1033-47, 2000. I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascu- lar. Departamento de Ergometria e Reabilitação da SBC. Arquivos Brasileiros de Cardiologia 69:4, 1997. II Diretriz da SBC para tratamento de IAM. Arquivos Brasileiros de Cardiologia 74:s.II, 2000. II Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) para diagnóstico e tratamento da insufi ciên- cia cardíaca. Arquivos Brasileiros de Cardiologia 72: s.I, 1999. Leon AS, Costa F, Franklin BA, Balady GJ et al. Car- diac Rehabilitation and Secondary Prevention of Coronary Heart Disease – AHA Scientifi c State- ment. Circulation 111:369-76, 2005. Meyer FJ. Respiratory muscle disfunction in congestive heart failure: clinical correlation and prognostic sig- nifi cance. Circulation 103(17): 2153-8, 2001. Porto CC, Bucher RDD, Meneghello RS. Doenças do coração, prevenção e tratamento. Princípios da rea- bilitação cardiovascular. 1. ed. Rio de Janeiro, Gua- nabara Koogan, p. 73-82, 1998. Regenga MM. Fisioterapia em cardiologia: da unidade de terapia intensiva à reabilitação. São Paulo, Roca, pp. 243-60, 2000. Robertson L. Guidelines for cardiac rehabilitation and secondary prevention programs. American Asso- ciation of Cardiopulmonary Rehabilitation. 3. ed. Champaign, Human Kinetics, p. 281, 1999. Stewart KJ, Badenshop D, Keteyian SJ et al. Cardiac rehabilitation following percutaneous revasculariza- tion, heart transplant, heart valve surgery, and for chronic heart failure. Chest 123(6):2103-4, 2003. Umeda IIK. Manual de fi sioterapia na reabilitação car- diovascular. São Paulo, Manole, pp. 41-99, 2005. Waxman AB. Pulmonary function test abnormalities in pulmonary vascular disease and chronic heart fail- ure. Clin Chest Med 22(4):751-8, 2001. Womack L. Cardiac rehabilitation secondary preven- tion programs. Clin Sports Med 22:135-60, 2003. CAPÍTULO 206 REABILITAÇÃO CARDIOVASCULAR 2589 DESTAQUES O estado funcional é freqüentemente medido por meio das atividades da vida diária (AVD), que incluem as básicas, e as mais complexas são medidas pelas atividades instrumentais da vida prática (AIVP). O benefício decorrente da avaliação geriátrica abrangente é demonstrado com mais efi cácia com pro- gramas para pacientes internados designados especifi camente para avaliação e reabilitação sem aumen- tar o tempo de internação. O objetivo sempre deve ser a manutenção da função, esta é essencial para medir a saúde global e o bem-estar do idoso. CAPÍTULO 207 FISIOTERAPIA NO PACIENTE IDOSO Telma de Almeida Busch Mendes Marcos Roberto Faria José Aparecido de Sousa Junior Fátima Cristina Martorano Gobbi SEÇÃO 25 2590 INTRODUÇÃO O envelhecimento da população trouxe para a fi sioterapia novos desafi os. O perfi l do paciente mudou exigindo a busca de novos conhecimentos e a capacitação de profi ssionais para as áreas de Ge- riatria e Gerontologia. Atualmente, o idoso responde pela maior parce- la das internações. O grande número de comorbi- dades que envolvem o paciente idoso hospitalizado o torna mais suscetível às complicações. Essas com- plicações vão desde a imobilidade, perda funcional, incapacidade e institucionalização. Destas internações, um número nada desprezí- vel é de idosos que são vítimas de quedas ocorridas em espaço público ou privado. Queda é um pro- blema sério e comum para esta população e pode levar ao medo de cair, dor, lesões severas que po- dem aumentar o tempo de internação e a maiores complicações com conseqüências desastrosas para qualidade de vida do idoso. O objetivo deste capítulo é demonstrar a im- portância da avaliação na detecção dos vários pro- blemas que envolvem o idoso hospitalizado; visan- do o idoso como um ser total, não fragmentado e, portanto, o quanto o trabalho transdisciplinar é fundamental. A hospitalização representa na vida do idoso um evento sentinela. Reside aí a oportu- nidade de os profi ssionais da área de saúde identi- fi carem os pacientes de risco e evitarem os efeitos adversos da doença aguda e da hospitalização. O Brasil possui hoje cerca de 14,5 milhões de idosos, o que representa algo em torno de 9,1% da população total. Apesar de o envelhecimento co- locar-se neste país como fato recente, a população idosa brasileira é considerada uma das maiores do mundo. Em poucos anos, esta população poderá superar a marca de 30 milhões de pessoas (IBGE- Censo/2000). Preocupa-nos não só o custo de uma internação hospitalar e das complicações que podem aumen- tar esta estadia, mas o quanto signifi ca na vida do idoso a dependência e incapacidade funcional que pode não ser passageira, mas defi nitiva. Depender de alguém sem o menor vínculo, sem o menor laço de afetividade pode fazer a vida perder o sentido e nada ter mais valor a não ser esperar pela morte. O CUIDADO COM O PACIENTE IDOSO HOSPITALIZADO A hospitalização por uma doença aguda fre- qüentemente leva a perda da independência fun- cional. Embora os resultados funcionais não sejam usualmente o foco do cuidado no hospital em uma fase aguda, eles são determinantes da qualidade de vida, da independência física, do custo dos cuida- dos e do prognóstico entre pacientes idosos. Nos Estados Unidos, a freqüência da hospita- lização para idosos com 85 anos ou mais é duas vezes mais alta comparada com idosos com 65 a 74 anos. Os idosos apresentam a hospitalização mais freqüente e longa e a severidade da doença maior comparados a pacientes jovens. Múltiplos são os fatores hospitalares que podem favorecer o declínio funcional. A própria causa da internação, a doença aguda, pode comprometer a habilidade funcional, além do ambiente hostil. Es- ses fatores estão relacionados na Figura 1. O estado funcional é freqüentemente medido por meio das atividades da vida diária (AVD), que incluem as básicas, e as mais complexas são me- didas pelas AIVPs. Recentes estudos têm identi- fi cado os fatores de risco para declínio funcional pela perda na performance das AVDs. Próximos de um terço dos pacientes hospitalizados por do- ença aguda apresentam declínio funcional. Com- parados com a pré-admissão, 32% dos pacientes apresentam declínio em uma ou mais funções das AVDs e 40% em três ou mais funções, referências do mesmo estudo. Devido ao grande crescimento de idosos frágeis, do custo elevado no cuidado de saúde, da incerteza do melhor a ser feito, alguns estudos realizados en- tre 1973 e 1987 conduziram ao desenvolvimento de um Consenso para auxiliar na decisão clínica. 2591 FIGURA 1 – Fatores relacionados ao declínio funcional do idoso hospitalizado. Neste consenso, objetivos, estrutura, processos e elementos da avaliação geriátrica foram decididos. Considerando os objetivos defi nidos na avalia- ção geriátrica, os objetivos de uma boa avaliação fi sioterapêutica devem ser: • melhorar a identifi cação do problema; • guiar as intervenções; • estabelecer objetivos a curto e longo prazo; • identifi car os fatores de riscos envolvidos (mo- difi cáveis ou não); • atentar para doenças pregressas e atuais; • permitir monitorar a evolução – documentar mudanças; • predizer resultado. Estudos apontam a importância da avaliação geriátrica abrangente e da presença de um time in- terdisciplinar específi co para esta categoria. O benefício decorrente da avaliação geriátrica abrangente é demonstrado com mais efi cáciacom programas para pacientes internados designados CAPÍTULO 207 FISIOTERAPIA NO PACIENTE IDOSO Doença aguda Desnutrição Ambiente hospitalar hostil Comprometimento das habilidades funcionais (AVDs e AIVDs) • Desordem dos corredores e barulho aumenta o risco de queda • Mudança na rotina • Vários procedimentos podem comprometer a nutrição • Restrição imposta é muitas vezes mal indicada • Excesso de atividades e exames complementares • Restrições: sondas, cateteres prejudicando a mobilidade • Prescrições de medicações inapropridas (delirium) Depressão, expectativas negativas da hospitalização Imobilidade Perda de tônus vascular = hipotensão ortostática Perda de condicionamento Perda de força muscular, equilíbrio Complicações iatrogênicas: úlceras, hipotensão ortostática SEÇÃO 25 2592 especifi camente para avaliação e reabilitação sem aumentar o tempo de internação. Muitos estudos sobre a queda encontraram como fator de risco: idade, alterações no estado mental, alterações cognitivas, quadro de confusão, alterações da mobilidade: fraqueza muscular, défi - cit de equilíbrio, instabilidade postural por tontu- ra/vertigem, síncopes, certas medicações, doenças crônicas (neurológicas), difi culdades nas elimina- ções e meio ambiente. A avaliação fi sioterapêutica deve ser parte de uma avaliação geriátrica abrangente, transdisci- plinar. Não podemos desconsiderar na avaliação o respeito pelas diferenças próprias da faixa etária. Cada profi ssional faz sua avaliação e focaliza as in- tervenções nos problemas detectados, contribuin- do para o desenvolvimento de um plano de cui- dados coordenados. Cada integrante desta equipe tem seu papel e estabelece objetivos, os quais são compartilhados e (muitas vezes inter-relacionados) com os demais membros. Estes objetivos funcio- nais devem ser estabelecidos com o paciente, a fa- mília e ou cuidador, assim que possível. Hoje com o advento da humanização na UTI, esse trabalho é possível e envolvente. A família ou acompanhante podem permanecer ao lado do pa- ciente, o que pode minimizar o trauma da mudan- ça ambiental que para o idoso é fator desencadean- te de confusão. Podem dessa forma participar mais e receber orientações importantes ainda nesta fase aguda, do melhor manejo, posicionamento e dos objetivos de cada profi ssional envolvido. Quando a unidade de internação é a UTI, a avaliação fi sioterapêutica ocorre automaticamente e o idoso segue em programa de fi sioterapia após uma discussão em equipe voltada para as necessida- des específi cas do paciente. Embora esta avaliação seja precoce e global, muitas vezes a gravidade do paciente exige que se estabeleçam prioridades no atendimento inicial. A insufi ciência respiratória e a dependência mecânica de um respirador podem limitar algumas intervenções. Neste momento, a manutenção da força muscular, da ADM, mobili- dade no leito e trocas posturais simples devem ser incentivadas no limite possível. O idoso de uma UTI é bem mais grave devido a doenças múltiplas. Sobrevivem apesar da enorme vulnerabilidade e complexidade e têm alta desta unidade ainda ne- cessitando de grandes cuidados que são proporcio- nados na unidade semi-intensiva. A inclusão de novos profi ssionais se torna pos- sível à medida que o paciente apresenta alguma evolução e pode advir da detecção de novos riscos que servem como marcadores das necessidades es- pecífi cas do paciente. A avaliação nutricional é importante para nor- tear a intervenção proposta pelo fi sioterapeuta. Isto reforça mais uma vez a importância do trabalho em equipe. Existem condições que podem predispor o idoso a um quadro temporário com sintomas simi- lares a demência, com a perda da função intelec- tual e cognitiva que são a febre alta, desidratação, depressão, reações medicamentosas, desequilíbrio eletrolítico, defi ciência de vitaminas, desnutrição. Certas emoções como extrema tristeza, solidão, ansiedade, estresse, podem causar sintomas como esquecimento, perda da memória, confusão. A di- fi culdade de lidar com a mudança ou perda da au- tonomia, de direcionamento nas atividades da vida diária, que é comum para quem se aposenta, pode também causar este quadro. O paciente deve ser reavaliado a cada terapia e novos objetivos devem ser propostos a cada meta atingida. O objetivo sempre deve ser a manutenção da função, esta é essencial para medir a saúde global e o bem-estar do idoso. Assim se faz necessário o uso de ferramentas especiais para esta avaliação, os instrumentos utilizados devem ser sensíveis a esse grupo, para que os resultados sejam fi dedignos. História Saber ouvir o paciente é fator essencial para um diagnóstico correto. Só que esta coleta pode ser muito difícil por inúmeros fatores que envolvem os idosos e que podem difi cultar esta comunicação. 2593 A audição prejudicada, a visão, a falta de aten- ção, memória são exemplos que também reforçam a necessidade de se coletar a história com a família e/ou cuidador, sempre considerando o idoso no seu ambiente socioeconômico. Além disso, muitos dos sinais e sintomas de doen- ça não são valorizados pelos idosos que acabam con- siderando-os próprios da idade. O medo da doença, incapacidade ou depressão pela perda da indepen- dência contribuem para a negação do idoso diante de perdas e isto pode comprometer a história. Por outro lado as queixas devem ser ouvidas com muita atenção já que podem ajudar a discernir as manifestações agu- das das crônicas. “A clínica é soberana”. Por alterações da imunidade o idoso pode não apresentar sintomas típicos, como é o caso de uma pneumonia sem febre ou tosse e, nos casos de úlcera ou infarto do miocár- dio, a dor pode se manifestar em menor grau. Mesmo nas infecções, alterações no hemograma podem não ocorrer. Observar mudanças nos sintomas pode con- tribuir nos achados do que pode ser modifi cado. Esclarecer qual a expectativa do idoso, a expec- tativa do familiar, do cuidador com relação a fi sio- terapia, e poder predizer os resultados possíveis e quais não serão. Avaliar o impacto que a doença ou o problema tem sobre este idoso e sua família. A própria adesão do paciente ao tratamento depende de como estes objetivos são traçados, se juntos ou não. À medida que os objetivos a curto prazo são alcançados maior é o estímulo para se alcançarem objetivos mais difíceis. Outro fator que deve ser valorizado pelo pro- fi ssional que avalia são os antecedentes que estão relacionados a história pregressa do paciente. Exame físico O exame físico tem como objetivo identifi car problemas que comprometem a funcionalidade do idoso e qualidade de vida está intimamente rela- cionada ao status funcional, ou seja, as habilidades funcionais, divididas em atividades da vida diária (AVD) e atividades instrumentais da vida diária (AIVD). O nível de consciência pode comprome- ter a avaliação respiratória e motora inicial por isso esta deverá ser completada posteriormente. Aspec- tos da mobilidade do idoso duas semanas antes da internação, bem como do seu ambiente social, seu bem-estar psicológico devem ser interrogados com a pessoa mais próxima deste idoso. O exame físico deve ser específi co e conter: • nível de consciência: se consciente, orientado (temporal e espacial) ou confuso, comatoso. Há várias escalas para avaliar o nível de consciên- cia, mas nenhuma delas contempla de maneira completa essa avaliação. Escalas CAM – Th e Confusion Assessment Method avalia o estado confusional agudo (ECA). Devem ser aplicadas pelo menos duas vezes por dia e a partir do re- sultado positivo medidas devem ser tomadas. Além do nível de consciência, deve ser analisa- do o estado cognitivo do paciente, a fi m de oti- mizar a sua integração e participação efetiva no tratamento; • sinais vitais: FC e ritmo cardíaco: identifi car a presença de arritmias principalmente durante a intervenção fi sioterapêutica; PA: deve ser checa- da em ambos os braços quando possíveldevido a arteriopatias e a pseudo-hipertensão que podem estar presentes. Há exceções como em mastecto- mias com esvaziamento ganglionar, suspeitas de TVP. Deve ainda ser checada em posições dife- rentes a cada três minutos para descartar hipo- tensão ortostática. FR: a frequência respiratória e o ritmo elevado são indicadores de alterações cardiopulmonares ou ainda neurológicas. Vários fatores como secreção traqueal ou de VAS advin- das de uma pneumonia podem ser ou não por broncoaspiração, infecções do trato respiratório mais alto podem resultar em aumento dos níveis de CO2 e rebaixamento do nível de consciência, causando até queda de língua e microaspirações. A causa ainda pode ser distúrbios eletrolíticos com alterações no nível de consciência. Aten- ção deve ser dada a oxigenação adequada com vigilância na oximetria e posicionamento do pa- CAPÍTULO 207 FISIOTERAPIA NO PACIENTE IDOSO SEÇÃO 25 2594 ciente. Muitas vezes o paciente relata falta de ar com padrão respiratório irregular e saturação de oxigênio adequada. Neste caso deve-se investi- gar outros fatores e exames laboratoriais como gasometria e/ou radiografi a; • ausculta pulmonar: deve-se descrever as altera- ções mais freqüentes; • alterações do estado geral: desidratação, desnu- trição, palidez; • alterações de pele: escaras, úlceras; • palpação: avalia o tônus muscular, normalmen- te comprometido pela idade. Avalia fl exibili- dade, detectar a presença de encurtamentos e deformidades. Amplitude de movimento Deve-se avaliar a ADM passiva e ativa. O que se observa é a limitação da articulação e de suas estruturas ao movimento (cápsula, ligamentos, membrana sinovial e músculos). O comprometimento das ADMs de cervical e tornozelo está relacionado ao aumento de queda em idosos. Força muscular Existem vários instrumentos para avaliar a for- ça muscular. Adotaremos aqui a escala de Kendall: • grau 0 – força zero: sem contração visível ou palpável; • grau 1 – força 1: só esboça contração muscular, mas insufi ciente para produzir movimento mes- mo sem gravidade; • grau 2 – força 2: inicia o movimento, mas não completa a ADM; • grau 3 – força 3: completa o movimento sem a resistência da gravidade; • grau 4 – força 4: completa a ADM, contra a gravidade; • grau 5 – força 5: completa a ADM contra a gra- vidade e com resistência. Avaliação neurológica Na presença de défi cit neurológico importante recomendamos uma avaliação neurológica especí- fi ca onde predomínio do comprometimento seja identifi cado, bem como a coordenação e refl exos. Avaliação funcional O estado funcional e de saúde são infl uenciados por fatores físicos, psicológicos e socioeconômicos. Assim é preciso avaliar o idoso em diversos domí- nios: físico, mental, social, econômico, funcional e ambiental, os quais se interligam. Existem vários instrumentos confi áveis e valida- dos que foram desenvolvidos para serem aplicados em idosos, mas o fundamental na escolha do ins- trumento é que ele seja sensível a população que se estuda. Idosos que vivem em comunidade? Institu- cionalizado? Frágil? Saudável? Os testes submáximos são os de maior aplicabi- lidade a esta população, pois impõem menor risco e proporcionam maior segurança ao terapeuta. A escala FIM é a que assegura uma avaliação mais completa da mobilidade e da funcionalidade do idoso restrito ao leito e incapaz de realizar ou- tros testes. O índice de Barthel é o mais utilizado para AVDs e a escala de Lawton para AVPs. O índice de Katz também avalia o desempenho do idoso nas AVDs, mas não é um teste de fácil aplicabilidade. A escala Tinetti avalia a marcha e o equilíbrio no idoso, mas é de difícil e demorada aplicação. Um recente estudo de 2002 revelou a concor- dância entre observadores dos testes de sensibili- dade cutâneo do calcanhar esquerdo, time up and go modifi cado, o step test 10,5, 20,5, 30,5 cm e POMA, o que sugere serem testes reprodutíveis, não sujeitos a interpretação do observador. O teste time up and go modifi cado avalia o tempo gasto para uma população de idosos reali- zar uma tarefa solicitada. Verifi cou-se uma relação 2595 entre dependência de AVD e a performance no teste. Sabemos da importância da funcionalidade por isso este teste pode ser complementado com a realização de dupla tarefa, o que exigiria dele maior concentração, mas o aproximaria das atividades do dia-a-dia. O POMA avalia equilíbrio e marcha e mostrou grande especifi cidade para uma população de ido- sos institucionalizados. A escala de BERG não é sensível para idosos saudáveis e avalia o equilíbrio funcional, sendo aplicável para idosos institucionalizados ou que vi- vem em comunidade. Exames laboratoriais • Albumina: ocorre declínio do valor (< 0,5 g/ml) com a idade, especialmente em idosos hospita- lizados, mas geralmente indica desnutrição. A meia-vida é de 21 dias o que difi culta uma rea- valiação rápida do tratamento. • Pré-albumina: tem uma meia-vida menor (três dias), portanto é mais rápida para avaliar a mu- dança no tratamento. • Exame da prega cutânea: avalia a massa ma- gra/% de gordura, mas só é válido na ausência de edema. • Balanço nitrogenado: avalia o metabolismo protéico e o catabolismo, ou seja, se a dieta está adequada. Vários fatores podem aumentar o ca- tabolismo: febre, infecção, TCE e AVE. • Antígeno prostatático específi co: pode estar ele- vado em pacientes com hiperplasia de próstata no início. Alterações com o processo de envelhecimento e sua importância para a intervenção fi sioterapêutica estão listados na Tabela 1. TABELA 1 – Envelhecimento e possibilidade de intervenção fisioterapêutica Cuidados preventivos Alterações Sistema envolvido Intervenção fisioterapêutica1 Manter mobilidade presente evitando deixar o idoso na cama • Dispnéia, tosse persistente, tra- queobronquite, pneumonia • Queda da PO2, considerar a fórmu- la: 96 - (idade x 0,4) • Respiratório • Higiene brônquica, suporte de oxigênio se SpO2 menor que 93% (limite = 88%) • Atenção ao posicionamento (cabe- ceira elevada) • Avaliar necessidade de VNI • Ortopnéia, edema, angina, claudi- cação, palpitação, síncope • Cardiovascular • Avaliar necessidade de VNI • Posicionamento no leito Manter cabeceira 45º durante as dietas e evitar a fisioterapia durante a administração • Refluxo, dificuldade na deglutição com queimação • Gastrintestinal • Posicionar o paciente sentado ou no decúbito lateral elevado e aspi- rar VAS Orientar decúbito lateral elevado, evitar queda de língua e solicitar avaliação fonoaudiológica e nutricional – rever dieta • Engasgo, tosse freqüente ao rece- ber dieta VO – provável disfagia • Sistema neurológico e músculo- esquelético • Manter via aérea pérvea, higiene brônquica e, ao final, aspiração naso-traqueal ou traqueal. Orientar decúbito elevado, lateral ou senta- do, com cabeça bem alinhada Aumenta o risco de queda – identificar o risco com pulseira de cores diferentes – intervenções1 • Freqüência nas eliminações, ur- gência, noctúria, incontinência • Geniturinário • Tratamento específico da inconti- nência – biofeedeback, cinesiote- rapia Risco de fraturas – orientação nutricional e acompanhamento médico, fisioterapia preventiva, exercícios físicos para melhorar a flexibilidade, equilíbrio e fortalecimento muscular individualizado em grupo • Diminuição da densidade óssea – osteoporose • Sistema ósseo • Tratamento dependerá das conse- qüências e, local da fratura. Mas deve envolver cinesioterapia e ter- moterapia quando necessário para alívio da dor, bem como o que foi utilizado na prevenção e individua- lizado 1 As intervenções são um trabalho conjunto da equipe de enfermagem e reabilitação que dependerão da classificação quanto à severidade do risco. CAPÍTULO 207 FISIOTERAPIA NO PACIENTE IDOSO SEÇÃO 25 2596 TABELA 1 – Envelhecimento e possibilidade de intervenção fisioterapêutica (continuação) Cuidados preventivos Alterações Sistema envolvido Intervençãofisioterapêutica1 Visão – encaminhar ao oftalmologista Audição – otorrino Avaliação específica do equilíbrio e balanco Avaliação do ambiente do idoso2 • Distúrbios da visão, perda da au- dição, Instabilidade postural e ou desequilíbrio, tonturas • Sistema neurológico • Fortalecimento muscular • Exercícios de equilibrio, integração sensorial • Exercícios de mobilidade global • Reabilitação vestibular • Exercícios de orientação corporal e alinhamento Todos exercícios utilizados como reabilitadores podem e devem ser usados como preventivos • Perda da elasticidade, aumento da rigidez, perda da mobilidade e flexibilidade – dificuldade na mo- bilidade em geral: transferências, abaixar e levantar, subir de descer degraus • Sistema conjuntivo • Exercícios de mobilidade e flexibili- dade • Exercícios de alongamento • Treino de equilíbrio estático e dinâ- mico • Treino de marcha simples e com obstáculos, distratores Cuidados com TVP Diagnóstico diferencial e cuidados com hipotensão ortostática • Fadiga (diminuição do VO2 máx) • Diminuição da força dos músculos respiratórios (PI/PE), da elasticida- de da caixa torácica, diminuição da atividade ciliar; pode comprometer a tosse, causar acúmulo de secre- ção – risco de infecções respirató- rias • Diminuição da circulação periférica – risco de edema de MMII e TVP • Diminuição da efetividade dos ba- roceptores – risco de hipotensão ortostática • Sistema cardiopulmonar • Treinamento muscular quando PI < 60 A desnutrição é fator de alerta ao fisioterapeuta • Diminuição da visão: dificuldade no preparo do alimento • Diminuição do paladar • Diminuição do olfato – diminuição do apetite • Perda dos dentes – diminuição da ingestão calórica • Sistema sensorial e alterações nu- tricionais no idoso • Uma boa conduta é interagir com nutricionista e dosar a intervenção proporcionalmente a adequação da dieta e exames Incentivar a mobilidade no leito até as AVDs, evitar restrições físicas ou ambientais • Imobilidade • Envolve vários sistemas: • Músculo-esqueléticos, ósseo, vas- cular • Exercícios que incentivem a mobi- lidade ativa, transferências, ortos- tatismo e deambulação Avaliar a marcha e a necessidade de adaptação para a marcha • Restrições para deambular • Sistemas muscular e vestibular • Treino de marcha e equilíbrio com adaptação ou não Identificar os fatores de risco, a severidade, realizar orientação educacional e monitorar Eleger os pacientes que têm indicação de realizar reabilitação preventiva • Queda • Sistema muscular, neurológico, (vestibular) • Ósseo • Realizar reabilitação com exer- cícios gerais e específicos para fortalecimento muscular, treino de equilíbrio, reabilitação vestibular, quando necessário Diagnosticar precocemente, impedir as restrições das atividades caso exista e encaminhar ao psicólogo quando necessário • Medo de cair • Psicológico ou outros sistemas podem estar envolvidos • Estimular a realização das ativi- dades eliminando os mecanismos envolvidos: fraqueza muscular, perda de equilíbrio etc. Realizar o screening de depressão nas primeiras 24 de admissão • Depressão • Psicológico • Necessidades psiquiátricas ou psicológicas são discutidas com o time bem como a evolução do tratamento 2 Atenção com tapetes em locais de circulação, pisos escorregadios,mobiliários etc. 2597 TABELA 1 – Envelhecimento e possibilidade de intervenção fisioterapêutica (continuação) Cuidados preventivos Alterações Sistema envolvido Intervenção fisioterapêutica1 Todos os pacientes são avaliados diariamente e anotadas as mudanças comportamentais • Delirium • Medidas para diminuir os fatores de risco para delirium: otimizar a função cognitiva prevenir a perda do sono evitar a imobilidade melhorar a visão e audição tratar a desidratação(função médica) Orientação espacial e temporal – calendários e relógios de fácil manuseio • Desorientação • Sistema cognitivo • Papel do time interdisciplinar CONSIDERAÇÕES FINAIS A fi sioterapia tem papel fundamental na reabili- tação do idoso, tanto no aspecto preventivo quanto restaurador da incapacidade. Esse trabalho só tem resultado positivo se for parte de um time transdisciplinar focado nas ne- cessidades específi cas do idoso. Este time deve ter como foco o cuidado no paciente, a revisão dos problemas ativos, a preocupação em diminuir o tempo de internação, prevenir o declínio funcional advindo de uma hospitalização, atenção específi ca na transição dos cuidados do hospital para a casa, criando uma trajetória “funcional”, considerando as exigências dos cuidados em casa. Realizar modifi cações no ambiente hospitalar, maximizando a independência física e encorajando a mobilidade é a nossa prioridade. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA Berg K, Norman KE. Functional assessment of balan- ce and gait. Clinic Geriatric Med 12(4):705-23, 1996. Buettner LL. Focus on caregiving. Falls prevention in dementia populations. Provider 28(2):41-3, 2002. Capezuti E, Hartford J. Buiding the science of falls. Prevention Reseach. JAGS 52:461- 2, 2004. Cordeiro RC, Dias RC, Dias JMD et al. Concordân- cia entre observadores de um protocolo da avaliação fi sioterapêutica em idosas institucionalizadas. Rev Fisioter Univ São Paulo 9(2):69-77, 2002. Fletcher K. Immobility: geriatric self-learning module. Medsurg Nurs 14(1):35-7, 2005. Fulmer T, Guadagno L, Dyer CB et al. Progress in el- der abuse screening and assessment instruments. J AMGS 52:297-304, 2004. Grieve J. Neuropsicologia em terapia ocupacional – exame da percepção e cognição. 2. ed. São Paulo, Santos, 2005. Guimarães LHCT; Galdino DCA, Martins FLM et al. Comparação da propensão de quedas entre idosos que praticam atividade física e idosos sedentários. Revista Neurociências 12(2):1-6, 2004. High KP, Salem W. Th e Importance of geriatric – specif instruments and functional status assessment in infectious diseases research: time to start preach- ing to the congregation instead of the choir. JAGS 52:1768-70, 2004. Kauff man TL. Manual de reabilitação geriátrica. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2001. Kerzman H, Chetrit A, Brin L. Toren characteristics of falls in hospitalized patient. J Advanced Nursing 47:223-9, 2003. Landefeld SC, Palmer RM, Kresevic D et al. A random- ized trial of care in a Hospital Medical Unit Espe- cially Designed to Improve the Funcional Outcomes of Acutely III Olders Pacientes. New England J Med 332:1338-44, 1995. Lawton MP. Enviroment and others determinants of well- being in older people. Gerontologist 23(4):85-9, 1983. Podsiadlo D, Richardson S. Th e timed “up & go”: A test of basic functional mobility for frail elderly persons. Journal of the American Geriatrics Society 39:142-8, 1991. CAPÍTULO 207 FISIOTERAPIA NO PACIENTE IDOSO SEÇÃO 25 2598 Reuben DB, Borok G, Wolde G et al. A randomized trial of comprehensive geriatric assessmente in the care of hospitalized pacientes. N England J Med 332:1345-50, 1995. Rubenstein LZ, Joseph KR, Wieland GD et al. Eff ecti- veness of a geriatric evaluation team: a randomized clinical trial. N Engl Med 311:1664-70, 1984. Rubin CD, Sizemore MT, Loftis PA et al. Th e eff ect of ge- riatric evaluation and management on medicare reim- bursement in a large public hospital; a randomizaded clinical trial. J Am Geriatric Soc 40:990-5, 1992. Sager MMRKA, Rudberg MA, Franke T et al. Hospi- tal admission risk profi le: identifi ng older patients at risk for functional decline following acute me- dical illness and hospitalization. J Am Geriatr Soc 44(3):251-7, 1996. Stuck AU, Siu AL, Wieland GD et al. Comprehensive geriatric assessment: a meta-analyses controlled tri- als. Lancet 342:1032-6, 1993. Waitzberg DL, Rodrigues JG, Gama AH et al. Desnu- trição. In: Nutrição enteral e parenteral na prática clínica. São Paulo, Atheneu, 1990. 2599 DESTAQUES A fi sioterapia no paciente transplantado tem como principais objetivos prevenir e tratar as alterações pulmonarese músculo-esqueléticas. Uma equipe multidisciplinar preparada deve estar presente com o paciente a ser transplantado. A avaliação pré-operatória permite identifi car os fatores de risco e instituir conduta fi sioterapêutica específi ca; tratando quando se faz necessário, orientando e deixando-o em melhores condições para o transplante. Estando presente a estabilidade do quadro clínico e cirúrgico, o processo de desmame da ventilação mecânica e extubação devem ser realizados o mais precocemente possível. A utilização da ventilação não-invasiva no pós-operatório de transplante pode ser necessária. A fi sioterapia deve ser precoce, iniciando-se logo após a cirurgia; técnicas de fi sioterapia respiratória como manobras de higiene brônquica e exercícios respiratórios devem ser realizados. O paciente deve ser orientado a continuar realizando exercícios respiratórios, deambulação e exercícios de baixa resistência para a musculatura global após a alta hospitalar. É indicado um programa de reabilitação principalmente para pacientes que realizaram transplante pulmonar e cardíaco, se possível três vezes por semana, para melhora da capacidade física e conseqüen- temente melhora da qualidade de vida. CAPÍTULO 208 FISIOTERAPIA NO TRANSPL ANTE Celso Bella Junior Marcos Antonio Manara Sabrina Lacroce Santiago Oliveira Marcia Helena Faro Savoy SEÇÃO 25 2600 INTRODUÇÃO A fi sioterapia no paciente transplantado tem como principal objetivo prevenir e tratar as altera- ções pulmonares e músculo-esqueléticas. Diversas complicações podem estar presentes na fase pré-operatória decorrentes do tempo de espera para a realização do transplante e o agravamento da doença. A oportunidade de o fi sioterapeuta avaliar o paciente nesta fase traz benefícios no que diz res- peito a orientar, prevenir e tratar, deixando-o em melhores condições para a realização o transplante. Na fase hospitalar a fi sioterapia possui um papel importante na prevenção, cuidados e tratamento das possíveis complicações que podem ocorrer no período pós-operatório. No momento da alta hospitalar o paciente deve ser orientado e direcionado para dar continuidade a um programa de reabilitação, com objetivo de me- lhorar a capacidade funcional e qualidade de vida. Uma equipe multidisciplinar preparada com- posta por anestesiologistas, cirurgiões, clínicos, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos e fi siote- rapeutas deve estar presente com o paciente a ser transplantado. AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA PRÉ-TRANSPLANTE AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA PRÉ-TRANSPLANTE AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA Quando avaliamos o paciente no pré-operatório é possível identifi car os fatores de risco e instituir conduta fi sioterapêutica mais específi ca; tratando quando se faz necessário, orientando e deixando- o em melhores condições para o transplante. É importante salientar que os fatores de risco estão estreitamente correlacionados a complicação pul- monar e podem ser classifi cados em fatores de risco anestésicos, cirúrgicos e clínicos. Na avaliação pré-operatória dos diversos tipos de transplante, seja ele de rins, pâncreas, fígado, coração e pulmão, devemos obter os dados pessoais de iden- tifi cação do paciente, além das datas de internação e cirurgia, hipótese diagnóstica e proposta cirúrgica: • avaliação da função pulmonar: as complicações pulmonares são constante preocupação no perío- do pós-operatório. A avaliação pode ser feita por meio de um ventilômetro. São medidas simples que podem ser tomadas à beira do leito e que per- mitem ao fi sioterapeuta um acompanhamento fi el da função pulmonar, tanto no pré como no pós- operatório, nos mostrando o volume-corrente, vo- lume-minuto e a capacidade vital. É de se esperar que nos transplantes de rim e pâncreas (cirurgia abdominal baixa) o volume e a capacidade pulmo- nar podem sofrer alterações, mas com uma menor incidência e relevância comparada ao transplante de fígado (cirurgia abdominal alta) e às cirurgias torácicas (transplante de coração e pulmão); • avaliação muscular respiratória: pode ser obtida por meio de um manovacuômetro, observando as pressões inspiratórias e expiratórias máximas. Opta-se por efetuar as medidas a partir da capa- cidade residual funcional (CRF), por ser o pon- to de repouso para o sistema respiratório, não havendo, nessa situação, a interferência da ação de forças elásticas iniciais; • índice diafragmático: são medidas da circunfe- rência torácica e abdominal inspiratória e expi- ratória, que podem ser medidas por meio de um magnetômetro ou pletismografi a de indutância; uma vez não dispondo destes equipamentos, os dados podem ser obtidos a partir de uma medi- da linear, feita com uma fi ta métrica simples. O índice diafragmático é capaz de refl etir o mo- vimento toracoabdominal, que evidência mu- danças nas cirurgias torácicas e nas abdominais altas, com diminuição da pressão transdiafrag- mática e mudança no padrão respiratório, que se torna predominantemente costal por pelo menos 48 horas após a cirurgia; • tabagismo: a cessação do consumo de tabaco no pré-operatório deve-se dar num período míni- mo de oito semanas, a fi m de permitir a redução das alterações no epitélio ciliado da árvore brôn- quica e, conseqüentemente, diminuir a incidên- cias de complicações pulmonares; 2601 • exame físico: observa-se a ventilação, o tipo de tórax, a amplitude respiratória, o tipo res- piratório, a expansibilidade, cianose, dispnéia, tiragens intercostais, tosse/expectoração e por meio dos dados do peso e da altura do paciente obtém-se o IMC e nota-se que o paciente des- nutrido pode apresentar diminuição da respos- ta ventilatória e diminuição da força contrátil do diafragma, enquanto no obeso se percebe diminuição progressiva da capacidade residual funcional (CRF) e do volume de reserva expi- ratório (VRE), favorecendo o aparecimento de atelectasia e infecção pulmonar; • exames complementares: radiografi a de tórax, tomografi a computadorizada, espirometria e gasometria arterial; • quadro motor: com a falência de órgãos nobres e o tempo na fi la de espera pelo transplante, mudan- ças fi siológicas podem envolver o sistema mús- culo-esquelético, cardiovascular e respiratório, o sistema nervoso central e periférico, o autônomo e endócrino e o sistema imunológico, repercutin- do no quadro motor e manifestando polineuro- patia, retinopatia, atrofi a muscular, alteração da sensibilidade, diminuição ou ausência de refl exos tendinosos, repercutindo nas atividades de vida diária e na maioria dos casos impossibilidade para o trabalho. Cabe, nesses casos, avaliarmos o quadro motor, incluindo o trofi smo muscular global, força muscular, edema, deformidades, en- curtamentos e independência funcional; • capacidade física: as desordens músculo-esque- léticas recorrentes a disfunção metabólica e nu- tricional são evidentes em grande parte dos can- didatos a transplante, com maior impacto nos candidatos a transplante de fígado, coração e pulmão, repercutindo diretamente na capacida- de física, e o teste de caminhada de seis minutos pode ser um marcador para objetivar melhora desses parâmetros no pós-operatório. Concluída a avaliação pré-operatória, recomen- dam-se os seguintes cuidados e orientações aos pa- cientes: • interrupção do consumo tabagístico; • explicações gerais sobre o ato cirúrgico, como tipo de incisão, intubação orotraqueal e sedação; • conscientização da importância da tosse no pós- operatório para evitar o acúmulo de secreções; • explicação dos efeitos da imobilidade no leito, orientação dos exercícios e deambulação precoce; • se necessário, realizam-se exercícios fi sioterápi- cos respiratórios. Identifi cada fraqueza da mus- culatura respiratória, pode-se realizar um treino de fortalecimento e endurance com o threshold, threshold, threshold caso o quadro clínico do paciente permita, dei- xando-o em melhores condições para o ato ci- rúrgico e desmame da ventilação mecânica.ASPECTOS CIRÚRGICOS: IMPACTO PULMONAR Pacientes que realizam transplante estão susce- tíveis a complicações pulmonares principalmente pelo longo tempo de cirurgia, procedimentos anes- tésicos, além das alterações nas propriedades mecâ- nicas no período pós-operatório após a extubação. A incidência de complicações irá depender prin- cipalmente da incisão cirúrgica, diferenciando-se a cada tipo de transplante e a presença de fatores de risco. No transplante hepático, a incisão localiza-se na região abdominal alta (subcostal). No procedi- mento cirúrgico convencional, a veia cava supra- hepática é pinçada, uma porção do hemidiafragma direito é incluída no pinçamento, provocando de- senvolvimento de derrame pleural à direita. A pa- ralisia do diafragma pode ser causada por lesão do nervo frênico durante a clampagem da veia cava. As principais complicações pulmonares posterior- mente a cirurgia são: derrame pleural, atelectasia, pneumonia, paralisia diafragmática, aumento da secreção pulmonar, desmame ventilatório difícil. No transplante pulmonar, devido ao porte grande da cirurgia, complicações pulmonares es- tão presentes com certa freqüência, tanto no que diz respeito ao órgão vindo do doador, como por CAPÍTULO 208 FISIOTERAPIA NO TRANSPLANTE SEÇÃO 25 2602 exemplo, uma hiper-hidratação anteriormente à ci- rurgia acarretando edema pulmonar ou até mesmo embolias, como no receptor. Durante o ato cirúr- gico pode-se ter secção total dos vasos linfáticos e presença de circulação extracorpórea (CEC) levan- do a isquemia e reperfusão, além do tempo longo intra-operatório. Deve-se também contar com a denervação que ocorre ao transplantarem o órgão, havendo posteriormente comprometimento do movimento mucociliar. O “novo órgão” quando já transplantado apre- senta vários fatores desfavoráveis como propensão a inúmeras infecções principalmente devido ao contato direto com o meio ambiente e ventilação mecânica no pós-operatório imediato, além de deiscências de suturas de anastomose brônquica devido a escassa irrigação sangüínea. As infecções tanto bacterianas como fúngicas são as principais causas de mortalidade entre os transplantados, tanto no pós-operatório imediato, quanto tardio. Rejeição aguda, lesão pulmonar secundária à is- quemia e reperfusão são caracterizadas por derra- me pleural intenso, queda de saturação arterial de oxigênio (SatO2) aos mínimos esforços e infi ltrado intersticial na radiografi a de tórax. A deiscência de anastomose brônquica se apresenta menos freqüen- te em relação a décadas anteriores, porém constitui uma parcela importante de ocorrências no pós- operatório, visto que a difi culdade de cicatrização brônquica devido a vascularização e denervação é muito acentuada. No transplante cardíaco, durante a cirurgia, quando o receptor é submetido à anestesia geral e circulação extracorpórea (CEC) para implementa- ção do órgão, tanto o tecido miocárdico quanto o pulmão sofrem alterações fi siológicas. Devido à CEC, poderemos ter o “pulmão pós- perfusão” em um pós-operatório imediato que ca- racteriza-se por resistência pulmonar aumentada, ou seja, diminuição da complacência pulmonar devido ao edema, áreas de hemorragia ou presença de células septais dentro da luz alveolar, septos al- veolares espessados, áreas de shunt, principalmente shunt, principalmente shunt a hipertensão pulmonar, situação ao qual o novo órgão não está preparado. A esternotomia produz piora da função pul- monar por disfunções ventilatórias restritivas. A paralisia/paresia do nervo frênico pode ser encon- trada por traumas ou lesões na região. As infec- ções pulmonares podem estar presentes ainda na fase hospitalar, sendo mais freqüente nos primei- ros meses após o transplante. O trato respiratório e renal são as regiões mais acometidas por bacté- rias e vírus. Os principais fatores predisponentes a infecção pulmonar são: imunossupressão, disfunção em outros órgãos, intubação prolongada, estado nu- tricional, doenças ou infecções associadas, trom- boembolismo pulmonar, agressão cirúrgica e de- senvolvimento de instabilidade hemodinâmica no pós-operatório imediato. No transplante de rim, a incisão cirúrgica é mais baixa havendo menor incidência de complicações pulmonares quando comparada aos outros trans- plantes citados acima, sendo mais observada em pessoas com doença pulmonar prévia, porém são também pacientes que realizam tratamento com imunossupressor, levando ao comprometimento das defesas imunológicas do organismo, aumen- tando a probabilidade de infecções. Em geral, pacientes transplantados no período pós-operatório podem desenvolver complicações pulmonares por alteração da função pulmonar (volumes e capacidades), como também altera- ções nas propriedades mecânicas no período pós- operatório após extubação. Ocorre diminuição do volume-corrente com aumento da freqüência respiratória, com intuito de manter a ventilação minuto (volume de gás ventilado por minuto). A resistência e a elasticidade pulmonares estão au- mentadas, implicando em um aumento do traba- lho respiratório, havendo tendência à movimen- tação paradoxal na inspiração. Entretanto, apesar do uso de modernas técnicas de cuidados preven- tivos, as complicações pulmonares ainda ocorrem com freqüência. 2603 FISIOTERAPIA NO PÓS-OPERATÓRIO Após o término da cirurgia, os pacientes em pós-operatório imediato de transplante são enca- minhados à UTI aos cuidados da equipe multipro- fi ssional, onde se iniciam os processos de avaliação, monitorização e tratamento específi co. A avaliação é um instrumento importante para o direciona- mento terapêutico e tem como objetivo a obtenção e interpretação de dados relevantes sobre o pacien- te à beira do leito. Duas fontes fundamentais de dados sobre o paciente são a anamnese e o exame físico, que ajudam a identifi car a necessidade ou não de intervenções imediatas ou futuras. No exame físico inicial o fi sioterapeuta deverá avaliar os seguinte sistemas: • neurológico: nível de consciência do paciente mediante as escalas de Glasgow e Ramsay; • respiratório: inspeção torácica, padrão respira- tório, expansibilidade torácica, freqüência res- piratória, tosse, ausculta pulmonar, presença de drenos, de oxigênio suplementar, oxigenação pela oximetria de pulso, presença de intubação traqueal e ventilação mecânica, radiografi a de tórax e gasometria arterial; • hemodinâmico: freqüência cardíaca, pressão ar- terial, uso de drogas vasoativas. Nos pacientes admitidos conscientes e em res- piração espontânea o uso de oxigenoterapia é fre- qüente e têm com objetivo atenuar a hipoxemia e a hipóxia tecidual presentes e manter a SatO2 acima de 92%. Já nos pacientes admitidos sob efeito anesté- sico residual, em intubação traqueal e ventilação mecânica, a condição neurológica do paciente no momento da admissão na UTI deverá orientar o fi sioterapeuta quanto a escolha da modalidade ven- tilatória, isto é, em pacientes onde a administração anestésica encontra-se ao fi nal do seu efeito e este encontra-se já com drive respiratório, uma modali-drive respiratório, uma modali-drive dade espontânea como a ventilação por pressão de suporte (PSV) poderá ser aplicada. Já em pacientes sem presença de drive no momento da admissão, as modalidades de ventilação mecânica controladas devem ser escolhidas. Estando presente a estabilidade do quadro clíni- co e cirúrgico, o processo de desmame da ventila- ção mecânica e extubação devem ser considerados. Quando a retirada do suporte ventilatório não é possível no pós-operatório imediato como preco- nizada, a sua manutenção deve ser prudente, crite- riosa e cercada por cuidados específi cos devido aos efeitos deletérios que podem ocorrer de sua pre- sença, como o surgimento das pneumonias asso- ciadas a ventilação mecânica, a fraqueza muscular respiratória e as lesões pulmonares decorrentes de estratégias ventilatórias mal aplicadas. Em relação aos cuidados específi cos necessárioscom o paciente ventilado artifi cialmente podemos citar: • certifi cação e/ou estabelecimento da via aérea patente adequada por meio de um tubo en- dotraqueal, fi xação adequada na rima labial de modo a não seletivá-lo em um dos brônquios principais levando ao colapso do pulmão não ventilado ou a eventos de extubação acidental, trocas periódicas da fi xação do tubo tanto para higienização como também para a prevenção de escaras labiais e auriculares; • escolha do ventilador mecânico: dependerá basicamente da gravidade em que o paciente se encontra, da necessidade de uma maior ou menor variedade de modalidades ventilatórias e melhor monitorização; • verifi cação do funcionamento adequado do ventilador antes de conectá-lo ao paciente; • seleção da modalidade ventilatória e parâmetros ventilatórios iniciais: consiste na adequação do suporte ventilatório a condição clínica do pa- ciente tendo como objetivo principal a estabili- zação da oxigenação e ventilação; • a monitorização contínua e a avaliação da con- dição do paciente e do sistema de ventilação devem ser realizadas repetidamente de modo CAPÍTULO 208 FISIOTERAPIA NO TRANSPLANTE SEÇÃO 25 2604 a constatar novas situações e a necessidade de novos ajustes e intervenções. Em relação a mo-novos ajustes e intervenções. Em relação a mo-novos a nitorização ventilatória devem ser observados alguns itens como o volume-corrente inspirado e expirado, volume-minuto, freqüência respira- tória, sensibilidade de disparo do ciclo respirató- rio, pico de pressão máximo, fração inspirada de O2 ofertada, relação I:E, mensuração do PEEP e presença de auto-PEEP, funcionamento e regu- lagem adequada dos sistemas de alarme e a veri- fi cação da ocorrência de sincronia ou assincronia ventilatória entre o paciente e o ventilador; • mensuração da pressão de cuff : realizada duas cuff : realizada duas cuff vezes ao dia, rotineiramente nos períodos da manhã e tarde ou em outros períodos no caso de novas admissões ou de acordo com necessidade específi ca, com o objetivo de verifi car e adequar suas pressões (preconiza-se pressões entre 20 a 25 cm H2O) prevenindo tanto as lesões larín- geas e traqueais como a ocorrência de microas- pirações do conteúdo supra cuff decorrentes da cuff decorrentes da cuff insufl ação insufi ciente; • manutenção da via aérea pérvia e melhora da condição pulmonar: consiste em um conjunto de técnicas e ações realizadas pelo fi sioterapeuta tais como as manobras de higiene brônquica, de reexpansão pulmonar, recrutamento alveolar quando necessário, aspiração traqueal e mudan- ças de decúbito; • acompanhamento de exames complementares relevantes ao paciente como radiografi a toráci- ca, tomografi a computadorizada, ultra-sonogra- fi a, gasometria arterial e outros exames labora- toriais. Assim que estabilizada a causa que manteve o paciente sob ventilação mecânica prolongada e mais o preenchimento dos critérios para futura ex- tubação, o processo de desmame ventilatório de- verá ser iniciado e a extubação realizada o quanto antes possível. Nos casos dos pacientes sob ventilação mecânica prolongada e sem perspectivas de extubação a curto prazo a realização de traqueostomia deve ser con- siderada. Além das possíveis complicações cirúr- gicas que esses pacientes podem apresentar, outras complicações decorrentes da própria utilização da sedação, bloqueadores neuromusculares e ventila- ção mecânica prolongada como a polineuropatia do paciente grave podem ocorrer, levando também a disfunção muscular respiratória (perda de fi bras musculares respiratórias e conseqüente fraqueza desta musculatura), resultando em mais uma causa de insucesso no desmame. Normalmente, o insu- cesso no desmame da ventilação mecânica rela- cionado diretamente ao sistema respiratório se dá basicamente pelo desequilíbrio entre a capacidade ventilatória e a demanda ventilatória do paciente. O uso da ventilação não-invasiva (BIPAP ou CPAP) por meio de máscara facial ou facial total no pós-operatório de transplante na UTI se dá ba- sicamente nas seguintes situações: • em pacientes que são extubados no POI e ao longo dos dias de pós-operatório evoluem com quadro de desconforto respiratório secundário a distúrbios metabólicos, infecções respiratórias, derrame pleural moderado ou volumoso, edema agudo pulmonar, atelectasias ou comprometi- mento do equilíbrio tóraco-abdominal princi- palmente em cirurgias abdominais (mecânica ventilatória desfavorável); • piora radiológica de etiologias diversas sem a presença de desconforto respiratório; • hipercapnia excessiva; • em pacientes em que a extubação traqueal deve ocorrer o mais breve possível, devido a possibili- dade de que os riscos de complicações excedam os benefícios gerados por sua utilização e que as condições respiratórias do paciente necessi- te do uso da VNI para garantir a troca gasosa, expansibilidade torácica adequada e também conforto respiratório. Neste sentido, alguns es- tudos publicados têm mostrado diminuição do tempo de ventilação mecânica invasiva, porém sem evidência da diminuição do tempo total da utilização de suporte ventilatório. Outros estu- 2605 dos têm relacionado também a infl uência da ex- tubação precoce destes pacientes na redução dos cuidados intensivos e custos no transplante; • quadro de insufi ciência respiratória imediata- mente após extubação. Fisioterapia respiratória As técnicas de fi sioterapia respiratória têm como principais objetivos a perviabilidade das vias aére- as, promover condições para adequada ventilação e reexpansão pulmonar, prevenindo ou amenizando complicações no período pós-operatório. A dor no pós-operatório é quase sempre asso- ciada a diminuição da expansibilidade torácica e inibição da tose contribuindo para possíveis com- plicações como atelectasia e acúmulo de secreção, limitando a terapia. Portanto, o fi sioterapeuta deve ser criterioso na escolha das técnicas a serem utili- zadas, avaliando as condições do paciente. Manobras de higiene brônquica podem ser rea- lizadas de acordo com a tolerância do paciente de- vido ao acúmulo de secreção pulmonar, já que os movimentos ciliares estão prejudicados; associando a drenagem postural no intuito do favorecimento da ação da gravidade auxiliar na remoção das se- creções. Os exercícios respiratórios visam à reexpansão ou ao aumento da expansibilidade pulmonar e constituem-se de exercícios que encorajam ou as- sistem pacientes com inspirações profundas para que o volume-corrente seja aumentado; entre eles podemos citar o padrão respiratório diafragmático, inspiração sustentada na capacidade pulmonar to- tal, inspiração fracionada ou em tempos. Os incentivadores respiratórios também são indicados como exercícios respiratórios para o au- mento do volume pulmonar. A utilização da pressão positiva intermitente (RPPI) pode ser utilizada principalmente nos casos de atelectasia, incapacidade de eliminar secreção adequadamente e em pacientes não colaborativos em que outras formas de terapia já foram realiza- das sem sucesso, porém deve-se ter cautela devido a possíveis complicações como aerofagia e até mes- mo pneumotórax, entre outras. O fi sioterapeuta deve encorajar e auxiliar o pa- ciente a tossir visando a eliminação de secreções pulmonares. Se necessário, o fi sioterapeuta deve solicitar ao médico a prescrição de analgésico antes da terapia para melhor realização dos exercícios e tolerância a estes. Deve-se encorajar a mobilização precoce do paciente transplantado desde o período de perma- nência na UTI (como movimentação de membros inferiores e superiores, sedestação à beira do leito e deambulação precoce quando possível). A mobili- zação precoce é indicada por proporcionar maior expansibilidade torácica e favorecer volumes inspi- ratórios maiores, além de prevenir os efeitos dele- térios da imobilidade no leito que muitas vezes já estão presentes desde o período pré-operatório. Cabe ao fi sioterapeutaestar atento a todos os fa- tores no sentido de prevenir e/ou amenizar as com- plicações que se instalam no pós-operatório ime- diato e tardio, tendo sempre em vista a recuperação e melhora da capacidade funcional do paciente. PLANO EDUCACIONAL E REABILITAÇÃO Após a fase hospitalar, o paciente deverá ter acompanhamento médico constante, estar atento às infecções e rejeições, assim como ao aumento ou modifi cação da coloração da secreção, febre, pros- tração e volta da dispnéia. O paciente deve ser orientado não só no mo- mento da alta hospitalar, mas também durante toda a internação, que durante o período domiciliar de- verá continuar realizando exercícios respiratórios, deambulação e exercícios de baixa resistência para a musculatura global. Após liberação médica deverá acompanhar pro- grama de reabilitação principalmente para pacientes que realizaram transplante pulmonar e cardíaco, CAPÍTULO 208 FISIOTERAPIA NO TRANSPLANTE SEÇÃO 25 2606 se possível três vezes por semana, para melhora da capacidade física e conseqüentemente melhora da qualidade de vida. Segundo alguns estudos, números maiores de pacientes estão sendo encaminhados para a reabili- tação cardíaca fase II e III logo após o transplante (cerca de uma semana pós-alta ou conforme libe- ração médica). A prescrição do exercício para o paciente deve ter como base dados derivados do teste ergoespiro- métrico em esforço até a fadiga voluntária, utilizan- do protocolos de rampa ou de estado estável com acréscimos gradativo de 1 a 2 METs. A avaliação tem a função de identifi car as diferentes fases meta- bólicas do exercício progressivo máximo para a pos- sível programação das sessões de condicionamento. A sensibilidade do eletrocardiograma ao exercício nesse grupo de pacientes é baixa em termos de cap- tação de isquemia devido a denervação. As recomendações para intensidade do exercício para os transplantados cardíacos são de 60% a 75% do VO2 máximo; taxa de esforço referido em torno de 11 a 15 na escala de Borg de esforço (6 a 20); limiar ventilatório; e uso da escala de dispnéia. A resposta inicial da freqüência cardíaca é atenuada e muitas vezes pode não corresponder a intensidade do exercício, por isso deve-se empregar cargas de METs predeterminados, ou escalas de esforço ou dispnéia como guias para a terapia. Períodos lon- gos de aquecimento e desaceleração são benéfi cos, pois as respostas fi siológicas ao exercício e à recupe- ração são mais lentas. Como resultado, o aumento do VO2 de pico dependerá mais de uma adaptação periférica que propriamente central, já que o fa- tor mais infl uenciado pelo treinamento físico é a diferença arteriovenosa de oxigênio. Esse processo adaptativo muscular melhora a capacidade funcio- nal e, conseqüentemente, a qualidade de vida dos pacientes. Pacientes com transplante cardíaco respondem ao exercício isométrico com elevação normal ou esperada da pressão arterial (PA), tanto sistólica como diastólica, em contraste com elevação da freqüência cardíaca como visto em indivíduos nor- mais. O aumento da pressão arterial parece estar mais relacionado ao aumento da resistência vascu- lar periférica do que a uma melhor contratilidade miocárdica ou a um débito cardíaco elevado. Um programa de exercícios físicos deve levar em consideração: tipos de exercício, que devem ser cíclicos, como exercícios em bicicleta ergométrica ou caminhadas na esteira; intensidade do exercício; duração, que preferencialmente deve ser em torno de 30 a 40 minutos de exercício aeróbio em cada sessão; e freqüência em média de duas a três vezes por semana. Devida importância deve ser dada aos exercícios de resistência muscular localizada, alon- gamento e fl exibilidade e relaxamento. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica. J Pneu- mol 26(Supl 2):3-68, 2000. American College of Sports of Medicine. Diretrizes do ACSM para os testes de esforço e sua prescrição. 6. ed. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2003. Baz MA, Palmer SM, Staples ED et al. Lung transplan- tation after long-term mechanical ventilation. Chest 119(1):224-7, 2001. Chiavegato LD, Jardim JR, Faresin SM et al. Alterações funcionais respiratórias na colecistectomia por via laparoscópica. J Pneumol 26(2):1-15, 2000. Chatila WM, Furukawa S, Gaughan JP et al. Respi- ratory failure after lung transplantation. Chest 123(1):165-73, 2003. Esteban A, Frutos-Vivar F, Ferguson ND et al. Non- invasive positive-pressure ventilation for respiratory failure after extubation. N Engl J Med 350:2452- 60, 2004. Hall JC, Tarala RA, TapperJ, Hall JL. Prevention of res- piratory complications after abdominal surgery: a randomized clinical trial. BMJ 312:148-52, 1996. Lee JH, Jawan B, Fung ST et al. Respiratory manage- ment of orthotopic liver transplant patients. Trans- plantation Proceedings 28(3):1693-4, 1996. Lenner R, Padilla ML, Teirstein AS et al. Pulmonary complications in cardiac transplant patients. Chest 120(2):508-13, 2001. 2607 Kavanagh T. Exercise rehabilitation in cardiac trans-Kavanagh T. Exercise rehabilitation in cardiac trans-Ka plantation patients: a comprehensive review. Eura Medicophys 41(1):67-74, 2005. Nava S, Piaggi G, DeMattia E et al. Muscle retrining in the ICU patients. Minerva Anestesiol 68:341-5, 2002. Nusair S, Eid A, Bardach E, Berkman N. Resolving impaired response to exercise in hepatopulmonary syndrome after liver transplantation. Int J Cardiol 20;102(3):533-5, 2005. Pereira EDB, Faresin SM, Juliano Y et al. Fatores de risco para complicações pulmonares no pós-operatório de cirurgia abdominal alta. J Pneumol 22(1):19-26, 1996. Piner PL, Hector L, Ray K et al. A randomized trial of exercise training after renal transplantation. Trans- plantation 74(1):42-8, 2002. Rasko A, Deshpande K, Bonvino S. Liver failure, transplantation and critical care. Crit Care Clin 19(2):155-83, 2003. Regenga MM. Fisioterapia em cardiologia – da UTI à reabilitação. São Paulo, Roca, 2000. Sadaghdar H, Chelluri L, Bowles SA et al. Outcome of renal transplant recipients in the ICU. Chest 107(5):1402-5, 1995. CAPÍTULO 208 FISIOTERAPIA NO TRANSPLANTE