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Soares2018-digital-20-05-FINAL

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS 
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA 
 
 
 
 
FLÁVIO HENRIQUE DOS REIS SOARES 
 
 
DIFERENÇAS INDIVIDUAIS EM PERFECCIONISMO E SUA RELAÇÃO COM 
TRAÇOS DE PERSONALIDADE E VÍNCULOS PARENTAIS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Belo Horizonte 
2018
 
 
 
FLÁVIO HENRIQUE DOS REIS SOARES 
 
 
 
 
DIFERENÇAS INDIVIDUAIS EM PERFECCIONISMO E SUA RELAÇÃO COM TRAÇOS 
DE PERSONALIDADE E VÍNCULOS PARENTAIS 
 
 
 
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Psicologia da Faculdade de 
Filosofia e Ciências Humanas da Universidade 
Federal de Minas Gerais, como parte dos 
requisitos para obtenção do grau de Mestre em 
Psicologia. 
 
Área de concentração: Desenvolvimento Humano 
 
Linha de pesquisa: Diferenças Individuais 
Orientadora: Profa. Dra. Marcela Mansur-Alves 
Co-orientadora: Profa. Dra. Carmem Beatriz 
Neufeld 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Belo Horizonte 
2018 
 
 
 
 
 
À minha mãe e minha avó (in memoriam), cujo o 
amor sem limites moldou parte de quem sou e me 
ensinou a acreditar em mim mesmo, não importa 
o quão difícil seja o caminho. 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
“passarinho que se debruça — o voo já está pronto!” 
 (Guimarães-Rosa, 1956) 
 
Primeiramente agradeço à Deus, Universo, Acaso ou Força Maior que proporcionou minha 
existência, a existência de meus pais, pais de meus pais e assim por diante. Sem a maravilhosa 
engenharia da vida, nada disso faria sentido. Obrigado por me inspirar a tornar minha vida e a vida 
de meus pares um pouco melhor. 
Assim como as páginas que se seguem jamais teriam se escrito sozinhas, meu trabalho 
jamais seria completo sem os vários atores que fazem parte das cenas de minha vida. À minha 
orientadora Marcela Mansur-Alves agradeço por levar ao pé da letra a palavra orientar, com 
seriedade e dedicação guiou-me, lapidou este trabalho e elevou meu nível profissional em todos 
os sentidos. Obrigado por propor tantos desafios criativos e marcar o início de minha carreira! 
Agradeço à minha co-orientadora Carmem Beatriz Neufeld por me apresentar um jeito tão vivo e 
entusiasmado de lidar com a ciência! 
Agradeço a todos os professores que cooperaram com meu trajeto até aqui. Agradeço a 
estes professores e supervisores de estágios na pessoa de Jonas Jardim de Paula, ao qual sou grato 
por despertar meu interesse na psicologia científica. Agradeço à Renata Saldanha por me 
apresentar à Psicologia das Diferenças Individuais. Também agradeço à Professora Elizabeth 
Nascimento por me proporcionar uma experiência viva com a análise de dados! 
Agradeço à minha família, Mãe, Avó, Tias, Irmãs e prima, cujo o suporte incondicional, 
tornou possível afetivamente e objetivamente minha caminhada pela ciência. Ao meu Uthando 
 
 
Lwami Thokozani Malinga, agradeço a paciência, momentos de alegria e segurança sem os quais 
este trabalho jamais seria concluído, “you gave me more than a space, you gave me a place to be”. 
Aos meus amigos, agradeço nas pessoas de Cláudio, Fernando, Márcia e Samantha cujo o 
suporte afetivo tornou suportáveis os momentos mais difíceis que pude enfrentar. À Érica Espírito 
Santo, agradeço por me ouvir nos momentos de angústias e crer na minha capacidade mesmo em 
momentos de dúvida pessoal. Thankyou Luis Silva for helping me so much to improve my English 
and use it like a native. 
Agradeço às alunas de iniciação científica pelo auxílio na coleta de dados e contribuições 
pessoais, em especial, agradeço Míria, que se tornou tão rápido uma amiga. Aos alunos que já tive 
oportunidade de ensinar, agradeço por levarem a sério minhas palavras – e espero que apliquem 
algo do que ensinei! Aos colegas de laboratório agradeço toda a cooperação, aos funcionários da 
UFMG agradeço por serem parte de todas as etapas do mestrado. Agradeço aos colegas do Espaço 
Integrar pelas trocas ricas de conhecimento. Agradeço à agência CAPES e o Programa de Pós-
Graduação em Psicologia, por todo auxílio financeiro e investimento em ciência. 
Agradeço à todas as instituições que acolheram a pesquisa e aos participantes que cederam 
seu tempo com interesse e responsabilidade para participar da pesquisa. Obrigado aos indivíduos 
por trás dos dados. 
Por fim, agradeço aos professores Maycoln Leoni Martins Teodoro, Lucas de Francisco 
Carvalho, Delba Teixeira Rodrigues Barros, Eni Ribeiro da Silva por aceitarem tão gentilmente 
ler meu texto e contribuírem para sua melhora. 
 
 
 
SUMÁRIO 
RESUMO ...................................................................................................................................... 10 
ABSTRACT .................................................................................................................................. 11 
LISTA DE FIGURAS ................................................................................................................... 12 
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS................................................................................... 13 
LISTA DE TABELAS .................................................................................................................. 14 
1. APRESENTAÇÃO ................................................................................................................ 15 
2. OBJETIVOS .......................................................................................................................... 19 
2.1 Objetivo Geral: ............................................................................................................... 19 
2.2 Objetivos Específicos: .................................................................................................... 19 
3. REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................................. 20 
3.1 Modelos teóricos de Perfeccionismo ...................................................................................... 20 
3.1.2 Definições lexicais e unidimensionais ................................................................................. 20 
3.1.3 Definições Multidimensionais .............................................................................................. 22 
3.1.4 Modelo Trifatorial de Slaney ............................................................................................... 26 
3.2 Perfeccionismo e Traços de Personalidade ............................................................................. 33 
3.3 Perfeccionismo e Vínculos parentais ...................................................................................... 43 
4. HIPÓTESES .......................................................................................................................... 49 
5. MÉTODO .............................................................................................................................. 51 
5.1 Background .................................................................................................................... 51 
5.2 Participantes .................................................................................................................. 51 
5.3 Instrumentos ................................................................................................................... 52 
5.4 Procedimentos de coleta e limpeza dos dados ............................................................... 55 
6. RESULTADOS ..................................................................................................................... 58 
 
 
 
6.1 Análises preliminares: estatísticas descritivas para as medidas de interesse, desvios de 
normalidade na amostra e diferenças de grupo relativas às variáveis sociodemográficas ......... 58 
6.2 Associação entre perfeccionismo, personalidade e vínculos parentais .......................... 63 
6.2.1 Análise de correlação............................................................................................. 63 
6.2.2 Análise de regressão: predição dos traços de personalidade e vínculos parentais nas 
dimensões de perfeccionismo ................................................................................................ 66 
6.3 Análise dos Tipos de Perfeccionistas ............................................................................. 72 
6.4 Análise discriminante – Sensibilidade e especificidade nos preditores dos tipos de 
perfeccionismo baseando-se na personalidade e nos vínculos parentais ...................................... 79 
7. DISCUSSÃO ......................................................................................................................... 81 
8. CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 99 
9. REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 103 
10. APÊNDICES.................................................................................................................... 114 
11. ANEXOS ......................................................................................................................... 117 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
Soares, F. H. R. (2018). Diferenças individuais em perfeccionismo e sua relação com traços de 
personalidade e vínculos parentais (Dissertação de Mestrado). Departamento de 
Psicologia, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais. 
 
O perfeccionismo é uma característica psicológica que predispõe os indivíduos à busca de padrões 
elevados de desempenho. A literatura vem apontando que as relações parentais apresentam 
influência no desenvolvimento do perfeccionismo e, por sua vez, os traços de personalidade 
apresentam padrões de associação consistentes com os tipos de perfeccionismo e suas dimensões. 
Apesar do avanço nos estudos, pouco se sabe sobre como os traços e personalidade e vínculos 
parentais se associam às diferenças individuais em perfeccionismo quando analisados em 
conjunto. Neste sentido, o presente trabalho teve como objetivo principal explorar as relações entre 
as dimensões do perfeccionismo (padrões, ordem e discrepância), baseando-se no modelo 
trifatorial de Slaney, os traços de personalidade postulados pelo modelo dos cinco grandes fatores, 
e os vínculos parentais. O estudo teve caráter transversal. Participaram 515 indivíduos, 79% do 
sexo feminino, com idade média de 25,3 anos (DP = 7,8), provenientes de instituições de ensino 
superior públicas e privadas. Como instrumentos, foram utilizadas a Escala de perfeccionismo 
Almost-Perfect Scale Revised versão brasileira, o inventário dos cinco fatores NEO revisado, NEO 
FFI-R (versão curta), e a escala de vínculos parentais, Parental Bonding, versão brasileira. Os 
resultados encontrados apontam para associações de Padrões com Conscienciosidade (r=0,52), 
Abertura (r=0,17) e cuidado materno (r=0,09); Ordem com Conscienciosidade (r=0,57); 
Amabilidade (r=0,13), Extroversão (r=0,12), Neuroticismo (r=-0,12) e cuidado Paterno (r=0,10); 
Discrepância com Neuroticismo (r=0,56), Extroversão (r=-0,25), Amabilidade (r=-0,17) e 
Conscienciosidade (r=-0,17),Cuidado Materno (r=-0,22), Cuidado Paterno (r=0,16) Superproteção 
Materna (r=0,28) e Superproteção Paterna (r=0,11), todas as correlações estatisticamente 
significativas em um nível de p< 0,05. Nas análises de regressão, apenas neuroticismo e 
superproteção materna foram preditores significativos de Discrepância explicando 33% de sua 
variância. Para Ordem, apenas Conscienciosidade foi um preditor significativo explicando 32% da 
variância. Quanto à padrões idade, Conscienciosidade e Abertura foram preditores significativos, 
explicando 32% da variância desse escore. Houve uma prevalência de 32% de perfeccionistas 
adaptativos, 30,6% de perfeccionistas não adaptativos e 37,4% de não perfeccionistas dentro da 
amostra. Estes grupos diferiram em Neuroticismo, Extroversão, Conscienciosidade Cuidado 
Materno e Superproteção Materna, (p<0,05). Estes resultados apontam para o papel dos traços de 
personalidade como principais preditores diretos das diferenças individuais em perfeccionismo. 
Ao passo que os efeitos dos vínculos parentais são mais evidentes na diferenciação dos tipos de 
perfeccionismo. Tais resultados, ainda que o estudo possua limitações quanto à heterogeneidade 
da amostra, levantam a discussão acerca do perfeccionismo como adaptação característica da 
personalidade. 
Palavras chave: perfeccionismo, traços de personalidade, vínculos parentais 
 
 
 
ABSTRACT 
Soares, F. H. R. (2018). Individual differences in perfectionism and its relation with personality 
traits and parental bonds (Master’s thesis). Department of Psychology, Federal University 
of Minas Gerais, Minas Gerais, Brazil. 
 
Perfectionism is a psychological characteristic that predisposes individuals to pursue high 
standards of performance. Currently, perfectionism is considered a multidimensional construct 
comprising adaptive and maladaptive features. There is evidences about parental relationships 
influences over development of perfectionism and, in turn, personality traits show consistent 
patterns of association with the types of perfectionism and dimensions across studies. 
Nevertheless, little is known about how personality traits and parental bonds are associated with 
individual differences in perfectionism when analyzed together. Regarding this, the aim of this 
work was to explore the relationship between the dimensions of perfectionism, based on Slaney's 
three-factorial model, personality traits as postulated by the five-factors model, and parental 
bonding. The study was transversal with a total of 515 subjects, which 79% female, mean age of 
25.3 years (SD = 7.8), from public and private higher education institutions. The instruments, used 
were the Almost-Perfect Scale Revised Brazilian version, the NEO Five-Factor Inventory (Neo 
FFi-R) and the Parental Bonding scale - Brazilian version. The results show associations of High 
Standards with Conscientiousness (r = .52), Openness (r = .17) and Maternal Care (r = .09); Order 
with Conscientiousness (r =.57); Agreeableness (r = .13), Extroversion (r =.12), Neuroticism (r=-
.12) and Paternal Care (r = .10); Discrepancy with Neuroticism (r = .56), Extroversion (r = -.25), 
Agreeableness (r = -.17) and Conscientiousness (r = -.17), Maternal Care (r = -.22), Parental Care 
(r = .16) Maternal Overprotection (r = .28) and Paternal Overprotection (r = .11).All statistically 
significant at α <0,05. In the regression analyzes, only Neuroticism and Maternal Overprotection 
were significant predictors of Discrepancy explaining 33% of variance. In the Order score only, 
Conscientiousness was a significant predictor explaining 32% of its variance. In High Standards 
the age, Conscientiousness and Openness were significant predictors, explaining 32% of the 
variance of this score. There was a prevalence of 32% of adaptive perfectionists, 30.6% of non-
adaptive perfectionists and 37.4% of non-perfectionists in this samples found by K-means clusters. 
These groups differed in Neuroticism, Extroversion, Consciousness Maternal affection and 
Maternal Overprotection, all at p <0.05. These results are evidences about the role of personality 
traits as the main direct predictor of individual differences in perfectionism. Whereas the effect of 
parental bonds is most evident in the differentiation of types of perfectionism. Such results, 
although the study has limitations regarding the heterogeneity of the sample, foster the discussion 
about perfectionism as a characteristic adaptation of the personality. 
Key Words: Perfectionism, Personality traits, Parental Bonding 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura 1-Esquema ilustrativo das dimensões do perfeccionismo e sua classificação como 
adaptativas e desadaptativas. ........................................................................................................ 32 
Figura 2 - Esquema ilustrativo das dimensões de vínculos parentais em tipos. Adaptado de Parker 
(1979). ........................................................................................................................................... 45 
Figura 3- Gráfico que apresenta a diferença nas médias padronizadas por escore z nas dimensões 
do perfeccionismo após execução da classificação dos grupos (tipos de perfeccionistas). .......... 74 
Figura 4 - Gráfico de barras das médias padronizadas das dimensões de vínculos parentais com 
médias multivariadas significantemente diferentes. Cuidado Materno e Superproteção Materna.
....................................................................................................................................................... 78 
Figura 5 - Gráfico de barras das médias padronizadas dos traços de personalidade com valores 
significativos da diferença multivariada entre os grupos (p<0,05). Nas dimensões Neuroticismo, 
Extroversão e Conscienciosidade. ................................................................................................ 78 
 
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file:///C:/Users/flavi/Desktop/Dissertação%20entregue/Soares2018_digital_version.docx%23_Toc9254116
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file:///C:/Users/flavi/Desktop/Dissertação%20entregue/Soares2018_digital_version.docx%23_Toc9254119
file:///C:/Users/flavi/Desktop/Dissertação%20entregue/Soares2018_digital_version.docx%23_Toc9254119
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file:///C:/Users/flavi/Desktop/Dissertação%20entregue/Soares2018_digital_version.docx%23_Toc9254120
file:///C:/Users/flavi/Desktop/Dissertação%20entregue/Soares2018_digital_version.docx%23_Toc9254120
file:///C:/Users/flavi/Desktop/Dissertação%20entregue/Soares2018_digital_version.docx%23_Toc9254120
 
 
 
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS 
 
APS-R - Almost Perfect Scale-Revised 
CP - Críticas Parentais 
D - Discrepância 
DA - Dúvida sobre as ações 
EP - Expectativas Parentais 
MPS-F - Frost's Multidimentional Perfectionism Scale 
MPS-H - Hewitt's Muldimentional perfectionism Scale 
O – Organização / Ordem 
P - Padrões 
PAO - Perfeccionismo auto orientado 
PF - Preocupação com falhas 
POO - Perfeccionismo orientado para os outros 
PP - Padrões pessoais 
PPS - Perfeccionismo prescrito socialmente 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
Tabela 1- Revisão das correlações bivariadas entre os componentes do perfeccionismo e traços de 
personalidade ................................................................................................................................ 39 
Tabela 2 - Caracterização da amostra, segundo nível socioeconômico (Critério Brasil 2015) ... 52 
Tabela 3 - Estatísticas descritivas para do escore total das escalas utilizadas na pesquisa.......... 59 
Tabela 4 - Correlações de Pearson entre perfeccionismo, traços de personalidade e vínculos 
parentais ........................................................................................................................................ 65 
Tabela 5 - Análise de regressão de "entrada forçada" predizendo Discrepância ......................... 68 
Tabela 6 - Análise de regressão "entrada forçada" predizendo Padrões ...................................... 70 
Tabela 7 - Análise de regressão "entrada forçada" predizendo Ordem ....................................... 71 
Tabela 8 - Tipos de perfeccionistas segundo os escores obtidos nas subescalas da APSR* ....... 72 
Tabela 9 - Diferenças entre as médias dos clusters de perfeccionistas ........................................ 73 
Tabela 10 - Estatísticas descritivas dos tipos de perfeccionistas em relação às diferenças em 
personalidade e vínculos parentais................................................................................................ 77 
Tabela 11 - Resultados da classificação - Especificidade e Sensibilidade da Classificação ....... 80 
file:///C:/Users/flavi/Desktop/Dissertação%20entregue/Soares2018_digital_version.docx%23_Toc9254121
file:///C:/Users/flavi/Desktop/Dissertação%20entregue/Soares2018_digital_version.docx%23_Toc9254121
 
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1. APRESENTAÇÃO 
 
O perfeccionismo é concebido como uma característica da personalidade na qual há 
tendências ao estabelecimento de padrões de desempenho muito elevados, acompanhados do auto 
monitoramento e, muitas vezes, crítica excessiva do próprio desempenho (Stoeber, 2018). 
Atualmente, o perfeccionismo é considerado um construto multidimensional que contempla não 
apenas aspectos disfuncionais, como era considerado antigamente, mas múltiplos componentes 
que apresentam interações complexas. A partir dos anos 1990, várias escalas de perfeccionismo 
foram produzidas impactando positivamente as produções nessa área ( Flett & Hewitt, 2016). 
Desse cenário, surgiram diferentes modelos e perspectivas para o estudo do perfeccionismo, 
aumentando exponencialmente as publicações sobre o assunto. Dada a importância dessa 
característica da personalidade sobre diversos aspectos da vida e sua complexidade, desde as 
primeiras publicações sobre o tema, frequentemente se indaga quais são as diferenças individuais 
entre os perfeccionistas, suas fontes e suas consequências sobre aspectos positivos ou negativos 
da vida (exemplos: Burns, 1980.; Hamachek, 1978; Pacht, 1984). Assim, as diferenças individuais 
entre os perfeccionistas têm chamado atenção dos pesquisadores, fomentando uma tentativa pela 
busca de seus aspectos determinantes/precursores. Assim, dentre esses aspectos figuram-se os 
traços de personalidade (Clark, Lelchook, & Taylor, 2010). Recentemente, com o advento de um 
consenso sobre os traços definidores das diferenças individuais em personalidade, tornou-se 
possível e viável o estudo de quais dessas diferenças estão envolvidas no desenvolvimento e 
desfecho dos tipos de perfeccionismo. 
Nas últimas décadas, o cenário internacional de pesquisa vem apresentando evidências sobre 
a relação entre as diferenças individuais em perfeccionismo e diversos desfechos, tais como saúde 
 
16 
 
mental, bem-estar e relacionamentos interpessoais (Egan, Wade, & Shafran, 2011; Roz Shafran & 
Mansell, 2001). Também, os traços de personalidade são reconhecidos por corriqueiramente se 
correlacionarem e explicarem outros aspectos mais abrangentes da personalidade. Estes traços são 
tendências e disposições individuais que influenciam os modos de ser, agir e sentir do indivíduo, 
possuem estabilidade temporal e situacional e são altamente herdáveis (John, Robins, & Pervin, 
2008; McCrae & Costa, 1997). Há evidências da influência dos traços de personalidade em vários 
desfechos de vida, dentre eles desfechos associados à saúde física e mental (Ozer & Benet-
Martínez, 2006). Na história da pesquisa da diferenças individuais, o perfeccionismo já chegou a 
ser considerado como traço básico por Cattell e, atualmente, faz parte do modelo de personalidade 
de 6 fatores conhecido como HEXACO ocupando o lugar de uma das facetas da conscienciosidade 
(Ashton, 2013). Apesar disso, há maiores evidências a respeito do perfeccionismo se classificar 
como um aspecto disposicional da personalidade, não um traço ou faceta básico (Stoeber,2018). 
Em seu desenvolvimento, o perfeccionismo comumente é citado como resultados da interação das 
relações parentais/ambientais com disposições mais básicas (traços), o que reforça a hipótese dessa 
característica se figurar como umaadaptação característica da personalidade, ou seja um padrão 
aprendido através da interação de determinados traços de personalidade e fatores de ambiente 
partilhado/não partilhado ( Flett, Hewitt, & Oliver, 2002; Maloney, Egan, Kane, & Rees, 2014; 
McCrae & Costa, 1999). Até a data, apesar das muitas pesquisas sobre definições e estratégias de 
mensuração do perfeccionismo, pouco se tem falado sobre a contribuição direta dos traços de 
personalidade no perfeccionismo em conjunto com influências parentais. Assim, é preciso 
esclarecer se o perfeccionismo se figura como uma tendência mais básica e geral da personalidade 
ou como resultado da interação dessas tendências mais gerais e basais (traços) com determinados 
aspectos ambientais (ex. percepção da qualidade dos vínculos parentais/ambiente não 
 
17 
 
compartilhado). Estas duas perspectivas alteram a maneira como o perfeccionismo é abordado e 
tem impacto direto em futuras direções para intervenções sobre essa característica. Partindo-se do 
pressuposto do impacto social do perfeccionismo sobre a saúde , bem conhecido e descrito na 
literatura (ex.Hewitt & Flett, 1991, 2002), conhecer os aspectos básicos da personalidade dos 
perfeccionistas e o que os diferencia é relevante, tanto científica quanto socialmente. 
Além dos traços de personalidade, sabe-se que interações parentais, ambiente compartilhado 
e não compartilhado têm impacto sobre o perfeccionismo. Porém, até a data pouco se estudou 
sobre o papel das relações parentais sobre os níveis e tipos de perfeccionismo. Este campo de 
estudo carece de mais pesquisas sobre interações de múltiplas variáveis sobre o as dimensões do 
perfeccionismo e os tipos de perfeccionistas (estudos centrados nas dimensões e estudos centrados 
em grupos de perfeccionistas). Ademais, até o momento as pesquisas sobre o perfeccionismo têm 
dado foco às críticas parentais e às expectativas parentais para o desenvolvimento e nível de 
perfeccionismo. O estudo atual pretende abordar os vínculos parentais. Estes vínculos dizem 
respeito à relação estabelecida entre os pais e a crianças desde seu nascimento, eles podem ter uma 
qualidade que fomenta desde independência e oferece afeto à falta de cuidado e supercontrole (de 
Cock & Shevlin, 2014; Hauck et al., 2006; Parker, Tupling, & Brown, 1979). Os vínculos parentais 
tem influência sobre aspectos positivos e negativos da saúde mental, assim como a personalidade 
( Enns, Cox, & Larsen, 2000). Este é um ponto importante para a discussão que se pretende fazer 
aqui sobre os fatores que diferenciam os tipos de perfeccionismo 
Tendo em conta as influências da personalidade e dos vínculos parentais sobre diversos 
desfechos ligados a aspectos mais globais da saúde mental e considerando o exposto nos 
parágrafos anteriores, o objetivo principal do presente trabalho foi explorar, por meio de um estudo 
 
18 
 
transversal e descritivo, as relações existentes entre as dimensões de perfeccionismo, conforme 
propostas pelo modelo trifatorial de Slaney, os traços de personalidade e os vínculos parentais. 
Para tanto, esta dissertação está dividida em 9 capítulos: no primeiro encontra-se a 
apresentação do tema e do problema de pesquisa; no segundo estão compilados os objetivos da 
pesquisa; no terceiro, segue-se a revisão teórica sobre a evolução do conceito perfeccionismo, seus 
modelos, relações com a personalidade e relações com vínculos parentais. Seguindo, no quarto 
capítulo foram levantadas as hipóteses baseadas na revisão de literatura. O quinto capítulo destina-
se à descrição do método da pesquisa, incluindo amostra, procedimento, instrumentos utilizados e 
análise de dados. No sexto capítulo, encontra-se apresentação dos resultados. No sétimo capítulo, 
tem-se a discussão e conclusão dos achados da pesquisa. No oitavo capítulo a conclusão do estudo, 
suas implicações e limitação foram apresentadas. Nos capítulos que se seguem (9, 10 e 11) estão 
contidas as referências bibliográficas utilizadas por este estudo, os anexos e apêndices pertinentes 
à pesquisa. 
 
 
19 
 
 
2. OBJETIVOS 
 
2.1 Objetivo Geral: 
Verificar as associações entre o perfeccionismo, os traços de personalidade e os vínculos parentais. 
2.2 Objetivos Específicos: 
• Explorar as associações entre os componentes do modelo trifatorial de perfeccionismo, a 
saber padrões, ordem e discrepância, com cada um dos cinco traços de personalidade, 
propostos pelo modelo dos cinco fatores; 
• Verificar o padrão de associações entre os componentes do perfeccionismo e os vínculos 
parentais de cuidado e controle; 
• Identificar se os traços de personalidade e as dimensões parentais de cuidado e controle 
predizem as diferenças individuais em perfeccionismo 
• Classificar e dividir a amostra com base nos tipos de perfeccionismo, descritos na literatura, 
e testar diferenças nos traços de personalidade e nos vínculos parentais entre estes tipos. 
 
 
 
20 
 
3. REVISÃO DA LITERATURA 
3.1 Modelos teóricos de Perfeccionismo 
 
As pesquisas sobre o perfeccionismo aumentaram exponencialmente a partir década de 1990 
devido à criação de modelos e escalas para avaliação do construto (Flett & Hewitt, 2016). Os 
modelos do Perfeccionismo podem ser abordados de várias maneiras. Para os propósitos do 
presente estudo, o perfeccionismo será abordado de acordo com suas definições lexicais 
(unidimensionais), quanto à sua relação com a saúde e bem-estar e os modelos psicométricos mais 
usados atualmente. As definições lexicais dizem respeito ao significado atribuído a um termo ou 
palavra pelo dicionário. As definições agrupadas quanto à saúde dizem respeito às características 
positivas versus negativas do perfeccionismo e seus impactos na vida dos sujeitos. Por último, as 
definições psicométricas se relacionam aos modelos que operacionalizaram as escalas de 
perfeccionismo, sendo que, atualmente é consenso a multidimensionalidade do construto (Flett & 
Hewitt, 2014). 
3.1.2 Definições lexicais e unidimensionais 
O perfeccionismo pode ser definido como uma exigência exagerada de perfeição em relação 
a si mesmo ou aos outros (Michaelis, 2016.) Geralmente, essas exigências dizem respeito à 
imposição exagerada de alto desempenho (Frost et al., 1990). Neste sentido, destacam-se três 
autores responsáveis por conceituar o perfeccionismo de maneira unidimensional, Burns (1980), 
Patch (1984) e Hollender (1965). Estas conceituações influenciaram os modelos posteriores e o 
que o que há em comum entre estas três definições é exatamente a busca por padrões de 
desempenho elevados (Burns, 1980; Hollender, 1965; Pacht, 1984). 
 
21 
 
Hollender (1965) define o perfeccionismo como a prática de demandar de si mesmo, ou dos 
outros, maior qualidade nas tarefas do que seria necessário para concluí-las. O autor usa o termo 
para se referir a como o indivíduo desempenha suas tarefas ou deseja desempenhá-las. Isso coloca 
o foco do estudo do perfeccionismo sobre as expectativas pessoais. Assim, embora o perfeccionista 
possa gerar produtos valiosos de seu desempenho, com frequência se vê incapaz de aproveitar os 
resultados de seu esforço. Hollender associa o perfeccionismo a diversas vulnerabilidades, 
incluindo propensão à depressão. Para o autor, a combinação de sucessivas falhas poderia levar ao 
desenvolvimento dessa psicopatologia em perfeccionistas (Hollender, 1965). Assim, o 
perfeccionismo apresenta relações complexas com outras características individuais e isso 
predispões alguns indivíduos a mais sofrimento que outros. A definição de Hollender continua a 
ser citada como base para vários autores que destacam os aspectos negativos do perfeccionismo 
(ex. Shafran, Cooper, & Fairburn, 2003). Porém, limita-se ao assumir apenas os aspectos 
patológicos do perfeccionismo partindo de uma perspectiva psicodinâmica. 
Burns (1980), por sua vez, também conceitua o perfeccionismo como uma característicanegativa e destaca sua distinção da busca por excelência. Para ele, os perfeccionistas avaliam a si 
mesmos quanto ao seu valor baseados em padrões de desempenho irracionais. Estes padrões 
geralmente são inflexíveis e impossíveis de alcançar. Assim, situa o perfeccionismo como um 
construto unidimensional, negativo e passível de tratamento. Quanto à personalidade, apenas 
aponta de maneira mais geral que os perfeccionistas têm a tendência a temer mais a reprovação 
exterior e apresentam maior vulnerabilidade emocional. Blatt (1985) acrescenta que entre estas 
vulnerabilidades está o risco de tentativas de suicídio mesmo entre sujeitos considerados bem-
sucedidos. 
 
22 
 
Patch (1984) considera o perfeccionismo em si como uma patologia e corrobora a ideia de 
Burns (1980). Desta forma, indica que os perfeccionistas mantêm padrões tão altos que se tornam 
impossíveis de alcançar. Ambos os autores trabalham com o perfeccionismo de uma perspectiva 
clínica, ou seja, situam o perfeccionismo como uma característica psicopatológica, estando 
presente ou ausente, e se associando a indicadores de saúde mental. Recentemente esta perspectiva 
levou Shafran (2015) a formular o conceito de perfeccionismo clínico, ou seja, a autoimposição de 
padrões de desempenho muito altos acompanhados de avaliação negativa da performance e uma 
série de distorções cognitivas inicialmente introduzidas pelas definições de Burns e Patch. Estas 
distorções são compostas basicamente por pensamentos do tipo tudo-ou-nada e pelas crenças de 
que seu valor depende de seu desempenho (Shafran, Cooper, & Fairburn, 2002). Isto faz com que 
a autoestima dos indivíduos perfeccionistas seja contingente ao seu desempenho. Embora estas 
definições ajudem a entender o perfeccionismo, vários estudos têm corroborado a validade de 
modelos multidimensionais mais abrangentes, tais como aqueles propostos por Hewitt (1991), 
Frost (1990) e Slaney (1996, 2002). 
3.1.3 Definições Multidimensionais 
As definições multidimensionais do perfeccionismo permitem descrever com mais acurácia 
os vários aspectos desse construto. Por exemplo, Hamachek(1978) definiu dois polos do 
perfeccionismo, “normal” e “neurótico” . Para o autor, o perfeccionismo normal diz respeito ao 
estabelecimento e busca por padrões de desempenho elevados. Contudo, na ausência de 
possibilidade de alcançar esses padrões de desempenho, os indivíduos têm flexibilidade para 
remanejar suas metas. Esses indivíduos conseguem aproveitar e ter prazer com suas conquistas. 
Ao contrário, os perfeccionistas “neuróticos” não conseguem ajustar adequadamente suas metas e 
nem obtém satisfação nas tarefas iniciadas. Eles estão sempre aquém dos seus ideais e 
 
23 
 
experimentam facilmente emoções negativas e senso de fracasso (Patch, 1984; Rudolph, Flett, & 
Hewitt, 2007). 
Assim, desde as primeiras definições, é possível perceber a ligação entre o perfeccionismo 
e desfechos negativos como ansiedade, depressão e outras características psicopatológicas 
(Burns,1980). Embora Hamachek escreva a partir de uma perspectiva psicodinâmica, suas 
sugestões foram utilizadas em diversos estudos posteriores (ex. Slaney, Rice, Mobley, Trippi, & 
Ashby, 2001; Stoeber et al., 2006; Terry-Short, Owens, Slade, & Dewey, 1995). Considerando 
essa multidimensionalidade, os modelos atuais que se destacam são o Modelo Multidimensional 
de Hewitt (MPS-H) (1991), Modelo Multidimensional de Frost (1990) (MPS-F) e o Modelo 
Trifatorial de Slaney (APS-R) (1992/2001). O primeiro aborda aspectos pessoais e interpessoais 
do perfeccionismo, o segundo aponta aspectos ligados ao seu desenvolvimento e o terceiro é 
baseado na dicotomia de aspectos positivos e negativos do construto. 
Dentre as escalas de perfeccionismo criadas na década de 1990, a primeira delas foi proposta 
pelo grupo de pesquisa composto por Frost, Marten, Lahart e Rosenblate (1990). O modelo de 
Frost e colaboradores é composto pelas dimensões de Padrões Pessoais (PP), Preocupação com 
Falhas (PF), Dúvidas sobre as Ações (DA), Organização (O), Críticas Parentais (CP) e 
Expectativas Parentais (EP). Desde de sua publicação, este modelo tem sido bastante usado na 
literatura (Flett & Hewitt, 2016). A dimensão PF reflete a tendência a interpretar os erros como 
fracasso aliado à crença de que se perderia o respeito alheio. Por sua vez, PP reflete o 
estabelecimento de padrões e metas muito altos os quais são ativamente referenciados para auto 
avaliação que o indivíduo faz. As críticas e expectativas parentais relacionam-se com a ideia de 
que as figuras parentais foram ou continuam sendo extremamente críticas com o desempenho do 
indivíduo, enquanto que as expectativas se referem ao estabelecimento de padrões e aspirações 
 
24 
 
muito altas voltadas para o indivíduo. A dimensão DA tem forte relação com o transtorno 
obsessivo-compulsivo e reflete a tendência de o indivíduo duvidar de sua capacidade em concluir 
alguma tarefa de maneira correta. A dimensão de organização captura a tendência individual a ser 
organizado e preferir que as coisas tenham sua ordem determinada. Para Frost e colaboradores 
(1990), essas dimensões são os componentes centrais do perfeccionismo e, assim, a partir delas, é 
possível pesquisar e relacionar o construto de uma maneira mais ampla a diversos desfechos. 
Outro modelo que tem contribuído para o avanço das pesquisas sobre o perfeccionismo é o 
Modelo Multidimensional proposto por Hewitt, Flett, Turnbull-Donovan e Mikail (1991). Neste 
modelo, a análise do perfeccionismo se dá em três fatores distintos. O primeiro é o Perfeccionismo 
auto orientado (PAO), ou seja, o indivíduo traça padrões e metas excessivamente altos para si e é 
bastante crítico com seu próprio desempenho. A segunda dimensão é o Perfeccionismo Orientado 
para os Outros (POO) no qual o indivíduo é crítico e duro com seus pares e em seus 
relacionamentos, exigindo que os outros tracem e alcancem padrões de desempenho que considere 
elevado. Numa terceira dimensão está o Perfeccionismo Prescrito Socialmente (PPS). Os 
perfeccionistas que obtém maior escore nesta subescala tendem a acreditar que os outros 
demandam deles nada menos do que um desempenho superior e tomam isto como condição para 
o seu próprio valor. Esta faceta está bastante relacionada aos sintomas depressivos, ansiosos e 
também aos fatores de personalidade ligados à instabilidade emocional, tais como Neuroticismo 
(Hewitt & Flett, 1991). 
Pode-se notar a complementaridade dos modelos citados nos parágrafos acima. Estudos 
utilizando estes modelos testaram a hipótese da existência de dimensões mais gerais e ortogonais 
de perfeccionismo adaptativo e desadaptativo, dualidade já apontada por Hamacek(1978).Stumpf 
e Parker (2000) analisaram a estrutura hierárquica do modelo de perfeccionismo proposto por Frost 
 
25 
 
e colaboradores (1990). Estes autores obtiveram dois fatores os quais denominaram Saudáveis e 
Não-saudáveis do perfeccionismo. Além disso, procuraram seguir o estudo de Stoeber (1998) onde 
a Escala multidimensional de perfeccionismo baseada no modelo de Frost (MPS-F) foi reduzida 
a quatro fatores empíricos. Esta redução foi obtida unindo as escalas de dúvidas sobre ações e 
preocupação com falhas em um único fator e críticas parentais e expectativas parentais em outro. 
Estes fatores condensados compuseram o fator Não-saudável do perfeccionismo. Por outro lado, 
padrões pessoais e organização, compuseram o fator denominado saudável. Mesmo que 
originalmente os autores da MPS-F não tenham desenhado a escala para capturar aspectos 
positivos e negativos do perfeccionismo, achados como estes corroboram a hipótese do 
perfeccionismo saudável versus não saudável proposta inicialmente por Hamachek (1978). Além 
deste estudo, Bieling, Israeli e Antony (2004) analisaram as duas escalas MPS-H e MPS-F em 
conjunto por meio de análise fatorial confirmatória em uma amostra deestudantes. Os resultados 
indicaram uma estrutura bidimensional e ortogonal. Os autores nomearam estes dois fatores de 
Preocupações Avaliativas (Evaluative Concersns) e Esforço Perfeccionista (Perfectionistic 
Strivings). O primeiro composto pelas dimensões de PP, PAO e Organização, enquanto o segundo 
composto pelas demais dimensões. As dimensões desadaptativas representadas pelas escalas têm 
se relacionado às características de personalidade e sintomas psiquiátricos de maneira distinta das 
dimensões positivas (Egan, Piek, & Dyck, 2015a; Hewitt, Flett, & Blankstein, 1991; Stoeber et al., 
2006). Vários autores destacaram a relação do perfeccionismo desadaptativo com sintomas 
depressivos, ansiosos, bulimia, anorexia (Ulu, Tezer, & Slaney, 2012). Por outro lado, autoestima, 
auto eficácia e percepção positiva de si mesmo aparecem ligadas ao polo positivo do 
perfeccionismo (Bieling, Israeli, & Antony, 2004b). Desta maneira, as dimensões das escalas 
criadas para medir o construto localizam-se de maneira diferentes entre os polos positivos e 
 
26 
 
negativos do construto. Pode-se esperar que as dimensões contidas no polo positivo se relacionem 
de maneira mais intensa com aspectos adaptativos da personalidade, enquanto os polos negativos 
com fatores de risco para transtornos afetivos e ansiosos. 
Levando em conta as evidências acerca da dualidade do perfeccionismo, Slaney et. al 
(1996) criaram a Almost Perfect Scale. Esta escala foi desenhada primariamente para medir os 
aspectos desadaptativos do perfeccionismo, assim como as demais escalas criadas anteriormente. 
Contudo, em 2006, uma revisão teórica levou a modificações na primeira versão do modelo de 
Slaney (1996). Esta revisão adequou o modelo estabelecendo duas dimensões adaptativas e uma 
dimensão desadaptativa. O estudo desenvolvido e apresentado nesta dissertação está embasado 
neste modelo. 
3.1.4 Modelo Trifatorial de Slaney 
Em 1996, foi criada a primeira versão da Almost Perfect Scale. Esta escala foi fruto da 
proposição de um modelo multidimensional de perfeccionismo que influenciava desfechos 
clínicos. O desenvolvimento da escala foi feito por um grupo de pesquisa da Universidade da 
Pensilvânia liderado por Robert Slaney com o intuito de avaliar e monitorar os efeitos do 
perfeccionismo sobre os pacientes de psicoterapia. A primeira versão da escala foi resultado da 
revisão da literatura disponível até a época. Esta revisão operacionalizou a criação de uma medida 
com as dimensões de Padrões, Ordem, Ansiedade, Relações Interpessoais, Relação Terapêutica e 
Procrastinação. Contudo, embora a escala apresentasse propriedades psicométricas adequadas, 
nenhuma das pesquisa conduzidas pelos criadores demonstraram que de fato ansiedade e 
procrastinação eram componentes centrais do perfeccionismo (Slaney, Rice, & Ashby, 2002). 
 
27 
 
A dimensão de padrões, baseada nas definições lexicais do perfeccionismo, media os 
aspectos positivos do construto. As demais dimensões não avaliavam os aspectos negativos como 
esperado. A solução foi a revisão da escala de perfeccionismo e a criação de um fator que 
considerasse adequadamente os aspectos desadaptativos do construto. Assim, em 2001, houve a 
inclusão de uma nova dimensão revisada pelos pesquisadores. A dimensão discrepância foi 
inserida para representar as diferenças entre o alto padrão estabelecido e a avaliação do sucesso 
em tê-los alcançado. Desta maneira, reduziu-se a o modelo inicial para três dimensões, o qual foi 
operacionalizado através da versão revisada da Almost Perfect Scale-Revised (Slaney et al., 2002; 
Slaney et al., 2001). 
A dimensão de padrões diz respeito à tendência ao estabelecimento de padrões de 
desempenho considerados elevados. A dimensão de ordem diz respeito à preferência por ordem, 
asseio e manter-se organizado e, como citado, a dimensão discrepância foi criada com a intenção 
de representar as diferenças entre os padrões estabelecidos e a percepção que os indivíduos têm de 
seu desempenho. As dimensões criadas para a revisão da APS-R procuram classificar 
adequadamente indivíduos como perfeccionistas adaptativos (altos padrões, ordem e baixa 
discrepância), não adaptativos (alta discrepância) e não perfeccionistas (baixos padrões e baixa 
discrepância) através da análise das pontuações dos indivíduos em cada uma das dimensões da 
escala criada (Kenneth,Rice & Ashby, 2007; Slaney, Rice, Mobley, Trippi, & Ashby, 2001). 
No estudo de revisão da APS-R, Slaney, Rice, Mobley, Trippi e Ashby (2001) investigaram 
os fatores teóricos em 809 graduandos em um estudo multicêntrico. Dos 38 itens criados a partir 
de entrevistas clínicas com perfeccionistas e revisão teórica, 23 foram retidos. Esta escolha se deu 
após os resultados da análise fatorial exploratória e confirmatória. Avançando, o modelo teórico 
de três fatores contendo os 23 itens apresentou bons índices de ajuste [X² (227, N=204) =459.22, 
 
28 
 
p <0,05; SRMR= 0,08; RMSEA=0,07; CFI=0,90]. Os autores também testaram as hipóteses da 
relação do perfeccionismo com desfechos positivos e negativos. A correlações entre a média da 
nota geral dos estudantes com a dimensões de padrões (r=0,42), ordem (0,03) e discrepância (r=-
0,18) foram todas significativas, embora nos dois últimos casos, de baixíssima magnitude. Ou seja, 
estudantes com padrões de desempenho superiores mantiveram notas mais elevadas do que os 
demais. Enquanto isso, as relações com indicadores de autoestima indicaram que estudantes com 
maior discrepância apresentaram menor autoestima (r=-0,35). Este estudo corroborou as 
perspectivas apresentadas sobre os fatores adaptativos e desadaptativos do perfeccionismo. 
Embora coerente com a literatura, faltava ao modelo ter sua estrutura testada além das 
amostras majoritariamente compostas por estudantes americanos brancos. Mobley, Slaney e Rice 
(2005) assinalaram que a maioria dos estudos sobre a estrutura do perfeccionismo havia sido 
engendrada neste grupo, deixando dúvidas sobre a generalização dos resultados. Assim, para 
complementar o estudo de validade da APS-R e do modelo trifatorial foi verificada a estrutura da 
escala além da amostra inicial (Mobley, Slaney & Rice, 2005). A validade cultural foi verificada 
entre 251 estudantes afro-americanos (173 mulheres e 77 homens) com idade média de 19 anos. 
Por meio de análises fatoriais confirmatória, o modelo original de três fatores obteve bons índices 
de ajustes em relação às pesquisas anteriores (X²=379,82 df= 227 RMSEA= 0,05 GFI=0,88; CFI= 
0,96). Nos estudos de invariância estrutural entre os grupos, foi usada uma amostra anterior de 
estudantes americanos (n=314). Esta amostra comparativa foi retirada pelos autores do estudo de 
Byrne (1998). Os resultados indicaram invariância estrutural na comparação dos modelos entre as 
amostras. Contudo, foram encontradas diferenças no modo como os construtos se relacionam entre 
os grupos. No grupo afro americano, as correlações entre discrepância, padrões e ordem foram de 
direção negativa, enquanto ordem e padrões correlacionam-se positivamente. Já na amostra 
 
29 
 
americana branca, discrepância, padrões e ordem se correlacionam de maneira positiva. Os autores 
indicam que as diferenças entre os construtos que compões a APSR entre as amostras pode ser 
devido a diferenças culturais. Tal achado não invalida a estrutura da escala, mas alerta para as 
peculiaridades com que o perfeccionismo pode se manifestar em diferentes amostras da população, 
apontando a necessidade de realizar estudos acerca da estrutura e desenvolvimento do 
perfeccionismo em países e grupos culturais distintos. 
Outra diferença encontrada em estudos culturais sobre a estrutura interna da escala pode ser 
vista em Aydin (2013). A autora testou a validade transcultural da APSR entre estudantes norte-
americanos (n=300) e estudantes de uma universidade da Turquia (n=300). Elencou analisar 
apenas asdimensões de discrepância e padrões. Nos resultados, esta última dimensão foi mantida 
como na escala original enquanto os itens referentes à discrepância agruparam-se em duas 
dimensões. Discrepância e Insatisfação. Assim, discrepância estaria relacionada à avaliação do 
desempenho e insatisfação estaria associada a fatores emocionais, tais como se sentir aquém do 
esperado. Aydin atribuiu a emergência do novo fator à percepção dos jovens turcos sobre as fontes 
de insatisfação e discrepância serem externas (econômicas, culturais e sociais) ao invés de 
referirem-se exclusivamente ao desempenho pessoal. Apesar dos resultados serem interessantes, 
não houve a tentativa de comparação entre modelos que sustentasse a criação de um novo fator, 
nem tampouco foram descritos os parâmetros para retenção dos fatores utilizados no estudo. 
Usualmente indaga-se sobre o valor de sem manter ordem e organização como uma 
dimensão do perfeccionismo (Shafran, 2001). Kim, Chen, MacCann, Karlov e Kleitman (2015) 
testaram modelos estruturais da escala e indicaram a necessidade de o fator ordem ser mantido 
como independente dos demais. O modelo com melhor ajuste propunha um fator de Esforço 
positivo, composto por Padrões Pessoais (MPSF-Frost) e Padrões (APS-R) equivalente ao 
 
30 
 
perfeccionismo adaptativo, um fator Preocupações Perfeccionistas, composto por Discrepância 
(APS-R), Preocupação com falhas e Dúvidas sobre Ações (MPS-F) e o fator latente Ordem. O 
último fator foi mantido baseado em dois argumentos: primeiro, o modelo foi o que o que melhor 
se ajustou aos dados e, segundo, embora haja correlação entre Ordem e Esforço positivo, o padrão 
de relação com outros construtos é empiricamente distinto. 
Por sua vez, na América latina, o modelo proposto por Slaney teve seu primeiro estudo 
realizado na Argentina. Arana, Keegan e Rutsztein (2009) adaptaram a APS-R em uma amostra 
composta por 268 estudantes universitários, donde 80,5% eram do sexo feminino e 19,5% do sexo 
masculino. Nos resultados, todos os 23 itens traduzidos para o espanhol mostraram índices de 
correlação item-total adequados quando as subescalas são utilizadas separadamente. Ademais, a 
análise de componentes principais, mostrou carregamento adequado dos itens no fator teórico que 
o embasava. Apesar dos dados serem reduzidos a quatro componentes principais, foi possível 
descartar o quarto componente por meio da prova dos autovalores e ponto de inflexão. É 
importante ressaltar que os itens 5, 12 e 18 apresentaram cargas fatoriais ambíguas em mais de um 
fator, sendo que os itens 5 e 18 carregaram em padrões e ordem, enquanto o item 12 carregou em 
discrepância e padrões. Todos estes itens pertenciam à escala de padrões. Assim, os autores 
chamaram a atenção para representação do construto em sua amostra. Contudo, os itens foram 
retidos por aumentarem a explicação da variância nos fatores em que deveriam carregar. Além 
disso sua eliminação diminuiu consideravelmente a consistência interna das escalas. Este foi um 
dos primeiros estudos de adaptação cultural da escala para outro contexto e idioma. Porém, uma 
limitação importante é a carência do teste da estrutura latente da escala e sua comparação com a 
teoria por trás do instrumento. 
 
31 
 
Atualmente (desde 2016), no Brasil, a Almost Perfect Scale-Revised está em fase de 
adaptação. O trabalho faz parte de uma pesquisa multicêntrica entre o Laboratório de Pesquisa e 
Intervenção em Terapia Cognitiva Comportamental (LAPICC/USP-RP) e o Laboratório de 
Avaliação e Intervenção na Saúde (LAVIS/UFMG). A primeira versão do instrumento adaptado 
para o português brasileiro já conta com evidências de validade e propriedades psicométricas 
(Soares, Carvalho, Keegan, Neufeld & Mansur-Alves, manuscrito submetido). 
Em suma, independente da escala utilizada os modelos do perfeccionismo vêm apresentando 
algo em comum, é possível extrair polos positivos e polos negativos de todos eles. Isto auxilia na 
pesquisa do construto e na comparação de resultados mesmo quando outras medidas e arranjos 
entre as medidas são usados de maneiras diversas (Stoeber, 2018). Estas dimensões apresentam 
relações estreitas com aspectos adaptativos e desadaptativos da personalidade diferenciando-se 
entre si e impactando de diferentes maneiras os indivíduos perfeccionistas. Na Figura 1 é possível 
verificar os componentes do perfeccionismo e suas relações com as dimensões adaptativas e 
desadaptativas, segundo os modelos citados nesta seção. 
 
 
32 
 
 
 
Embora existam dúvidas sobre a invariância do modelo estrutural entre as amostras, as 
versões da APSR apresentam resultados psicométricos satisfatórios. A teorização e revisão do 
modelo proposto pela escala segue uma longa tradição de autores que indicam aspectos positivos 
e negativos do perfeccionismo (Ex. Hamachek, 1979). Padrões, ordem e discrepância possuem 
correlação com diferentes desfechos. Estes desfechos indicam tanto pontos positivos, como por 
exemplo, satisfação, realização, quanto aspectos negativos ligados ao perfeccionismo. Mesmo 
sendo explícita a importância do construto ainda não há estudos nacionais que testem estrutura do 
perfeccionismo, sua relação com a personalidade, indicadores de saúde mental e seu 
desenvolvimento em amostras brasileiras. 
 
Figura 1- Esquema ilustrativo das dimensões do perfeccionismo e sua classificação como adaptativas e 
desadaptativas. 
 
33 
 
3.2 Perfeccionismo e Traços de Personalidade 
A personalidade pode ser entendida, a partir das perspectivas de traço, como um sistema em 
que tendências inatas (os traços) interagem com influências ambientais de maior ou menor 
especificidade na construção de ações e experiências individuais únicas (McCrae,2006). Sendo 
assim, para os estudos de personalidade, partindo da perspectiva das diferenças individuais, estas 
tendências inatas podem ser consideradas traços básicos que descrevem o modo de ser, agir e sentir 
dos indivíduos e se apresentam em um contínuo de características (McCrae & Costa 1982). Os 
traços são diferenças individuais relativamente duradouras e estáveis ao longo do tempo (John & 
Pervin, 2008). Atualmente, há relativo consenso sobre a estrutura, continuidade e coesão da 
personalidade durante as várias fases de vida do indivíduo (Roberts & Caspi, 2012). A taxonomia 
geral de personalidade mais consensual na atualidade é descrita a partir de um modelo penta 
fatorial conhecido como “Big Five” ou “Five Factor Model” (Goldberg, 1992; McCrae & Costa, 
1997; 2008). Deste modo, as características que diferenciam os indivíduos podem ser reduzidas a 
cinco dimensões mais gerais. Os componentes principais da personalidade no modelo penta 
fatorial são Neuroticismo, Extroversão, Abertura, Amabilidade e Conscienciosidade. 
A dimensão Neuroticismo relaciona-se com a estabilidade emocional. Indivíduos com 
neuroticismo elevado têm propensão a experimentar sentimentos considerados negativos, tais 
como medo, raiva, tristeza, vergonha culpa e nojo. Assim, o indivíduo é propício a experimentar 
estresse psicológico (McCrae & Costa, 2003). Altos índices de Neuroticismo são associados à 
propensão a psicopatologia e menor bem-estar pessoal (Lahey, 2009). Por outro lado, pessoas com 
num nível baixo de Neuroticismo tendem a ser tranquilas, resilientes diante de situações mais 
estressantes, ou seja, mais emocionalmente estáveis. 
 
34 
 
A Extroversão associa-se com a sociabilidade do indivíduo e propensão a experimentar 
emoções positivas. Esta dimensão relaciona-se de maneira consistente com afetos positivos. Isto 
é, propensão a experimentar alegria, busca por sensações e interações sociais. Ademais, indivíduos 
extrovertidos podem apresentar alto nível de energia e assertividade, isto faz com que com 
regularidade se tornem indivíduos dominantes. Contudo, níveis extremamente altos desse traço 
estão associados à impulsividade. Por outrolado, pessoas introvertidas preferem se expor menos 
às situações sociais. Assim, a introversão deve ser vista como ausência de Extroversão, não seu 
oposto (McCrae & Costa 1998,2006). 
A dimensão denominada Abertura à experiência se relaciona estritamente com a curiosidade 
intelectual, sensibilidade estética e tendência a experimentar sensações e valores distintos. Pessoas 
com alta Abertura tendem a rever com mais facilidade seus valores. Abertura à experiência 
predispõe os indivíduos a maior tolerância à ambiguidade e situações pouco conhecidas. Ao 
contrário, indivíduos com baixa Abertura tendem a ser menos flexíveis, mais objetivos e aderir 
melhor às rotinas. Contudo, McCrae e Costa (1997) asseveram que a abertura à experiência deve 
ser considerada “(...)na amplitude, profundidade e permeabilidade da consciência, e na 
necessidade recorrente de ampliar e examinar a experiência (p. 825)”. 
O quarto fator, amabilidade, se define em termos da orientação individual que vai do contínuo 
de extrema compaixão ao antagonismo (Pervin & John, 2004). Isto é, indivíduos com alta 
Amabilidade tendem a ser altruístas, confiar nos outros e se sensibilizarem facilmente com a 
situação de seus pares (McCrae & Costa, 2003). Ao contrário, indivíduos antagonistas demonstram 
menos simpatia, cooperação e consideração com os outros. Porém, em situações de competição 
alta Amabilidade pode ser prejudicial. Esta dimensão, junto à Extroversão é a mais ligada ao ajuste 
 
35 
 
social, sendo capaz de predizer o sucesso em relacionamentos e resolução conflitos interpessoais 
(Jensen‐Campbell & Graziano, 2001; Costa & McCrae, 2006). 
O fator Conscienciosidade relaciona-se aos comportamentos voltados aos objetivos, 
expressão de organização, deliberação, controle de impulsos e meticulosidade (Pervin & John, 
2004). Este autocontrole se expressa no planejamento deliberado de ações para alcançar um 
objetivo. Indivíduos com baixa Conscienciosidade tendem a ser impulsivos, desorganizados e 
expressar dificuldade em aderir a regras. Por outro lado, pessoas extremamente conscienciosas 
podem ter dificuldade em relativizar suas metas. Este fator tem predito satisfatoriamente o 
desempenho acadêmico, sucesso no trabalho, longevidade (Terracciano, Löckenhoff, Zonderman, 
Ferrucci, & Costa, 2008). 
 Estes componentes da personalidade possuem poder preditivo de desfechos em várias 
esferas da vida. As revisões de Ozer, Benet e Martínez (2006) e de Roberts et al (2007) indicam 
desfechos do tipo individual (ex. felicidade, bem-estar, psicopatologias), interpessoal (ex. 
satisfação nos relacionamentos) e social (atitudes e valores políticos, envolvimento social). 
Ademais, mesmo sendo um modelo da personalidade normal, considera-se que os transtornos são 
o extremo quantitativo dos mesmos fatores ambientais ou genéticos que contribuem para variação 
normal da personalidade normal (Plomin et al., 2016). Assim, devido à abrangência do construto 
e dos instrumentos de personalidade, estas medidas são muito utilizadas para testagem da rede 
nomológica de outros construtos. 
 Podemos entender o processo pelo qual os traços de personalidade influenciam outras 
características e o comportamento por meio de três mecanismos: influência direta, mediação e 
moderação. Hampson (2012) define como influência direta as associações entre um traço e um 
desfecho nas quais não há especificação de variáveis intervenientes (ex. Neuroticismo e 
 
36 
 
dificuldades interpessoais). Os efeitos de moderação são os processos pelos quais os traços afetam 
a associação entre alguma característica e um desfecho, por exemplo, a associação entre 
socialização e felicidade podem depender do nível de Extroversão. Já os efeitos de mediação são 
aqueles em que as associações entre um traço e o desfecho é moderado por outra diferença 
individual, por exemplo, a associação entre perfeccionismo e depressão pode ser mediada pelos 
níveis de autoestima ( Rice, Ashby, & Slaney, 1998). Estes exemplos ilustram a complexidade das 
relações entre traços de personalidade e outros construtos, assim como ressaltam a importância de 
investigar como os traços estão associados a outros aspectos da personalidade humana. 
Especificamente no que se refere ao perfeccionismo, embora haja relativo consenso quanto 
aos seus principais componentes e estrutura interna, pouco se sabe acerca do seu papel na 
estruturação da personalidade como um todo. Os primeiros estudos têm buscado investigar como 
se dão as associações entre os traços de personalidade (componentes mais básicos e com maior 
influência de fatores biológicos) e as dimensões componentes do perfeccionismo. Dois fatores da 
personalidade têm sido associados consistentemente a diferentes componentes do perfeccionismo. 
Por exemplo, o Neuroticismo se associa de maneira moderada às dimensões desadaptativas do 
perfeccionismo (ex. Preocupações perfeccionistas) (Egan et al., 2015; Rice, Ashby, & Slaney, 
2007). Por outro lado, Conscienciosidade tem associações positivas com facetas do perfeccionismo 
como ordem, padrões pessoais e as dimensões adaptativas já nomeadas como “Esforço 
Perfeccionista”( Hill, Hall, & Appleton, 2012). As associações entre Conscienciosidade e 
perfeccionismo adaptativo são tão consistentes que se discute na literatura sua sobreposição. Hill 
et al. (2012) pesquisaram as semelhanças entre os alto-padrões perfeccionistas e a tendência 
pessoal de aspirar e buscar um alto nível de realizações. Embora os fatores tenham apresentado 
alta sobreposição (0,70) e relação semelhante com medidas como autocrítica, os índices de ajuste 
 
37 
 
de um modelo único contendo as duas dimensões se mostrou menos adequado que um modelo 
diferenciando as duas variáveis latentes. Isto indica a relação do perfeccionismo com este fator de 
personalidade, mas também cria evidências a favor da separação dos dois construtos. 
As dimensões do perfeccionismo descritas pela MPS-H foram associadas ao grau de 
Neuroticismo tanto em amostras de estudantes quanto em amostras psiquiátricas(Hewitt et al., 
1991). O Perfeccionismo Prescrito Socialmente (PPS) associou-se positivamente e 
significativamente (p<0,05) ao maior nível de Neuroticismo independente da amostra ou sexo 
(estudantes r= 0,37 e pacientes r= 0,24). Mesmo este estudo sendo um dos primeiros a associar o 
perfeccionismo aos fatores de personalidade, pesquisas posteriores confirmaram a relação entre 
perfeccionismo e Neuroticismo. Outros autores encontraram relações parecidas e até mais fortes 
entre os traços (Dunkley, Mandel, & Ma, 2014). Hill, McIntire e Bacharach, (1997) relataram que, 
dos traços de personalidade, apenas Neuroticismo era preditor estatisticamente significativo do 
perfeccionismo prescrito socialmente. Em relação às características que compõe o Neuroticismo, 
os autores encontraram relações positivas e estatisticamente significativas entre as facetas de raiva 
e hostilidade (r=0,21), depressão(r=0,31), embaraço/constrangimento (r=0,22) e vulnerabilidade 
em relação ao perfeccionismo PPS , enquanto ansiedade e depressão foram associadas de maneira 
positiva ao Perfeccionismo Orientado para os Outros (r=0,14). Mais recentemente, De Cuyper, 
Claes, Hermans, Pieters, e Smits, (2015) utilizando o modelo de Hewitt, relataram associações 
semelhantes entre o Neuroticismo e a dimensão de perfeccionismo socialmente prescrito e a 
relação do Perfeccionismo autorientado e a Conscienciosidade. Os autores apresentaram estes 
resultados como evidências para diferenciação entre um perfeccionismo adaptativo (auto 
orientado) e negativo (socialmente prescrito). Já no modelo de Frost (F-MPS), Neuroticismo 
apareceu associado positivamente às preocupações com erros (r=0,30) e dúvidas sobre ações 
 
38 
 
(r=0,42) enquanto Conscienciosidade relaciona-se a padrões pessoais (r=0,36) e 
organização(r=0,54), todas correlações significativas no nível de p<0,05 (Stumpf& Parker, 2000). 
Desta forma, aspectos mais ligados à adaptabilidade do perfeccionismo associam-se à 
Conscienciosidade enquanto aspectos desadaptativos associam-se ao Neuroticismo (Dunkley, 
Blankstein, Masheb, & Grilo, 2006; Egan et al., 2015; Murray W Enns, Cox, Sareen, & Freeman, 
2001; Stumpf & Parker, 2000). 
Quanto às dimensões do perfeccionismo definidas no modelo de Slaney, a discrepância 
apresenta padrões de associação moderada com Neuroticismo, enquanto ordem e padrões com 
Conscienciosidade (Rice, Ashby, & Slaney, 2007). Estas associações são as mesmas encontradas 
nos modelos de perfeccionismo positivo e negativo. Assim, aqueles que possuem menor 
estabilidade emocional estão mais propensos a apresentar os sinais negativos do perfeccionismo. 
Além das associações com o Neuroticismo, o padrão de correlações entre Conscienciosidade e 
Padrões também é moderado e ficam entre 0,39 e 0,48. Isto significa que indivíduos que possuem 
altos padrões tendem a traçar suas metas deliberadamente e empreender esforço para alcançá-las. 
Os padrões de associação entre perfeccionismo e personalidade se assemelham mesmo com o uso 
de diferentes escalas. Por exemplo, a dimensão e Padrões Pessoais (MPS-F), Perfeccionismo Auto 
orientado (MPS-H) e Padrões (APS-R) todos apresentam relações com a Conscienciosidade em 
diversos estudos ( Hill et al., 1997; Rice et al., 2007; Stumpf & Parker, 2000). De maneira 
complementar, nos estudos disponíveis sobre associações entre as dimensões da APS-R e Big Five, 
alguns assinalam a relação negativa entre Conscienciosidade e discrepância. A seguir, é 
apresentada uma tabela contendo um resumo das correlações entre as dimensões do 
perfeccionismo e fatores da personalidade. Para isso foram feitas buscas contendo os descritores 
Perfect*; Personality; Neuroticism; Cosncientiouness; Extraversion; Openness; Agreableness nas 
 
39 
 
babes de dados Scopus, PsycINFO e ScienceDirect. Foram selecionados somente os artigos que 
ultilizaram o nometo tri fatorial do perfeccionismo e que continham correlações com fatores de 
personalidade. Em negrito, na Tabela 1, estão destacadas as correlações encontradas entre as 
dimensões do perfeccionismo utilizadas para este estudo (P,D e O) e os traços de personalidade do 
modelo dos cinco grandes fatores. 
 
 
Os demais fatores da personalidade apresentam padrões de relações diferentes entre os 
estudos pesquisados. A Extroversão, Abertura e Amabilidade tendem a associar-se a aspectos 
positivos do perfeccionismo (Dunkley, Blankstein, Masheb, & Grilo, 2006; Hill, McIntire, & 
Bacharach, 1997; Rice, Ashby, & Slaney, 2007). Por exemplo, Rice, Ashby e Slaney (2007) 
Correlações significativas entre as dimenções do perfeccionismo e fatores da personalidade
Autor Ano
Padrões . 0,23 e 0,14 0,37 0,14 0,46 e 0,48
Discrepância 0,59 e 0,65 -0,32 e 0,16 . . -0,22 e -0,33
Ordem . . . . 0,55
P. AutoOrientado 0,16 . . . 0,42
P. Orientado aos Outros . . . -0,20 0,17
P. Prescrito Socialmente 0,40 . . . .
Preocupação com falhas 0,51 . . -0,18 -0,18
Padrões Pessoais . . . 0,39
Expectativas Parentais 0,12 . . . .
Criticismo Parental 0,36 . . -0,33 .
Dúvidas sobre as ações 0,59 -0,28 . . -0,34
Organização . . . . 0,60
Padrões . 0,19 0,32 . 0,41
Discrepância 0,40 -0,16 . . .
Padrões . . . . 0,46
Discrepância . . . . -0,31
Padrões . . . . 0,39
Discrepância 0,51 . . . -0,21
*Avaliação em duas amostras diferentes
ConscienciosidadeDimensão Neuroticismo Extroversão Abertura Amabilidade
2017Suh, Gnilka, & Rice
Rice, Ashby e 
Slaney*
2007
Ulu e Tezer 2010
2015
Ozbilir, Day, & 
Catano
Tabela 1- Revisão das correlações bivariadas entre os componentes do perfeccionismo e traços de 
personalidade 
 
40 
 
encontraram associações significativas e positivas entre Abertura e Padrões. De fato, neste estudo 
as médias de pontuação no nível de Extroversão e Abertura entre perfeccionistas adaptativos e 
desadaptativos foram significativamente diferentes. Dunkley e colaboradores (2006) indicaram 
que a Extroversão estabelece uma relação inversa com as dimensões autocríticas do 
perfeccionismo. Em uma amostra de 475 estudantes com média de 20 anos de idade, testaram as 
associações entre o perfeccionismo positivo (altos padrões), o perfeccionismo negativo 
(perfeccionismo socialmente prescrito) e os fatores de personalidade. O perfeccionismo negativo, 
para além do Neuroticismo, associou-se a menores níveis de Extroversão. Assim, nesta amostra, 
os indivíduos com maior assertividade e tendência a experimentar emoções positivas 
apresentaram menor nível nas dimensões negativas do perfeccionismo (Rice et al., 2007). 
Contudo, diferente do Neuroticismo e Conscienciosidade, a Extroversão não parece ser um bom 
preditor do perfeccionismo, pois as análises entre estudos diferentes não revelam consistência de 
resultados (Hill et al., 1997). 
A Amabilidade tende a se relacionar aos fatores interpessoais do perfeccionismo assim como 
a Extroversão. Por exemplo, Hill e colaboradores (1997) indicaram que indivíduos com menor 
Amabilidade estariam mais propensos a manifestar altas expectativas de desempenho para os 
outros. Além disso, indivíduos que têm menor Amabilidade seriam mais egoístas e competitivos 
(Ashton, 2013). Desta maneira, uma explicação plausível proposta por Hill e colaboradores (1997) 
é que os perfeccionistas estariam demasiadamente voltados para si mesmo e seu desempenho 
incutindo no risco de serem egoístas. Estas características estariam ligadas a maiores problemas 
interpessoais. Contudo, nas associações revisadas, há apenas evidências que a Amabilidade tende 
a se manifestar ao lado de características mais positivas da personalidade, ao contrário dos fatores 
negativos do perfeccionismo tais como dúvidas sobre ações e preocupação com falhas (Boysan & 
 
41 
 
Kiral, 2016). Por exemplo, dos quatro estudos revisados sobre personalidade, discrepância, ordem 
e padrões, apenas um relata associações significativas entre padrões e Amabilidade. Neste mesmo 
estudo, a Amabilidade apresenta uma relação negativa, mas fraca, com perfeccionismo orientado 
para os outros, críticas parentais e preocupação com falhas ( Rice et al., 2007). 
A Abertura, relacionada ao nível de curiosidade intelectual, imaginação ativa e experiência 
de sentimentos, também apresenta padrões de associação inconsistentes com o perfeccionismo. 
Slaney et al. (2007) encontraram associações marginais entre Abertura e padrões (r=0,37), estes 
achados foram replicados por Ulu e Tezer (2010). Ambos os estudos foram conduzidos utilizando-
se da APSR. Desta maneira foi indicado que indivíduos que tenderam a endossar altos padrões 
fossem mais curiosos e mentalmente ativos ( Rice et al., 2007). Apesar disto, em outros estudos as 
associações entre padrões pessoais e Abertura não são significativos (Egan, Piek, & Dyck, 2015b; 
Stumpf & Parker, 2000). 
Para além das associações, alguns autores consideram o Neuroticismo e a Conscienciosidade 
como fatores que influenciam o desenvolvimento do perfeccionismo. No entanto, até a data, 
existem apenas dois estudos que testaram esta hipótese. O primeiro deles testou modelos 
etiológicos do perfeccionismo incluindo, vínculos parentais, Neuroticismo e esquemas cognitivos 
centrais (Maloney et al., 2014). O segundo testou a hipótese de a Conscienciosidade predizer níveis 
posteriores de perfeccionismo de maneira longitudinal. 
O primeiro estudo empírico a respeito do desenvolvimento do perfeccionismo baseado em 
diferenças da personalidade relata que níveis altos de Conscienciosidade predizem acréscimos 
temporais no perfeccionismo. Neste estudo, testou-se a hipótese de que a Conscienciosidade 
influencia o desenvolvimento do perfeccionismo orientado a si mesmo enquanto o Neuroticismo 
participa no desenvolvimento do perfeccionismo socialmente prescrito. Na pesquisa foram 
 
42 
 
avaliados adolescentes com uma média de 16 anosde idade. Estas avaliações ocorreram em dois 
tempos. Primeiro, no início do ano escolar, e depois no fim do período letivo. Mesmo com o curto 
espaço de tempo foi possível observar que a Conscienciosidade foi o único fator da personalidade 
a predizer aumentos no perfeccionismo. Assim, concluiu-se que indivíduos com maior 
Conscienciosidade não estão propensos apenas a serem perfeccionistas, mas sujeitos a aumentarem 
o nível de perfeccionismo com o passar do tempo (Stoeber, Otto, & Dalbert, 2009b). 
O modelo de desenvolvimento do perfeccionismo pesquisado por Maloney et al. (2014) 
indicou a participação direta e indireta do Neuroticismo sobre os níveis de perfeccionismo. A 
relação indireta se deu pela mediação de esquemas cognitivos relacionados à rejeição. Este estudo 
apontou a importância desse traço para o desenvolvimento do perfeccionismo e corroborou coma 
teoria do desenvolvimento do perfeccionismo proposta por Flett et al. (2002). Esta teoria indica 
que além de pressões ambientais e parentais, crianças com temperamento menos estável são mais 
propensas a tornarem-se perfeccionistas. É importante notar que este modelo inclui a interação de 
vínculos parentais, expectativas parentais e criticismo. Estes dois fatores (CP e EP) mostraram 
relação direta com o perfeccionismo enquanto os vínculos parentais demonstraram relação 
mediada por esquemas de rejeição e desconexão. Estes esquemas dizem respeito a padrões de 
pensamentos e crenças desenvolvidos na infância. A partir dessas evidências preliminares pode-se 
hipotetizar que o desenvolvimento do perfeccionismo parece depender tanto de aspectos 
individuais quanto ambientais (Flett et al, 2002.) 
Em suma, os traços da personalidade mais estudados até o momento em relação ao 
perfeccionismo são o Neuroticismo e a Conscienciosidade. Ambos os traços são conhecidos por 
sua relação com desfechos adaptativos e desadaptativos (Costa & McCrae, 1992). Deste modo, os 
autores dos estudos citados usam esses traços para confirmar a hipótese de dualidade do 
 
43 
 
perfeccionismo. Todavia, é possível notar associações mais amplas da personalidade. A 
combinação dos outros fatores parece influenciar de maneira distinta a manifestação do 
perfeccionismo. 
3.3 Perfeccionismo e Vínculos parentais 
Assim como características individuais, existem fatores externos e processos ambientais 
específicos que participam do desenvolvimento do perfeccionismo. Admite-se quatro modelos de 
desenvolvimento para o perfeccionismo baseado em fatores de aprendizagem e influência 
ambiental. O primeiro chama-se Modelo de expectativas sociais, o segundo é baseado na teoria de 
Aprendizagem Social (Bandura,1969), o terceiro nomeado de Reatividade Social e o quarto 
relaciona-se ao perfil parental ansioso. Embora distintos, estes fatores e processos são explicados 
através de uma perspectiva integrativa( Flett, Hewitt, Oliver, & MacDonald, 2002). 
As expectativas sociais referem-se à pressão que as crianças sofrem para alcançar padrões 
de desempenho elevado. Este modelo é associado às expectativas parentais assim como na 
gratificação contingente à performance (Flett et al. 2002). Por exemplo, os filhos ou alunos só são 
gratificados caso superem o desempenho esperado numa tarefa de casa. Este tipo de influência 
externa pode promover o desenvolvimento de uma autoestima contingente à aprovação. Num 
único estudo empírico sobre a etiologia do perfeccionismo é possível observar o impacto direto 
das expectativas e críticas parentais sobre o nível de ajustamento dos sujeitos participantes 
(Maloney et al., 2014). O papel dos pais no desenvolvimento do perfeccionismo dos filhos tem 
tanto impacto na literatura sobre o tema que, na escala de perfeccionismo de Frost há duas 
dimensões dedicadas às críticas parentais e expectativas parentais. (Frost, Marten, Lahart, & 
Rosenblate, 1990). 
 
44 
 
Os modelos baseados em aprendizagem social destacam o papel da imitação no 
desenvolvimento de padrões e expectativas muito elevadas (Flett et al., 2002). O modelo de 
reatividade social está ligado às vulnerabilidades infantis devido a fatores ambientais como falta 
de afeto dos pais, abuso, e condições de vida extremamente caóticas. Assim, as crianças 
desenvolveriam o perfeccionismo como uma maneira de lidar com as pressões de seu ambiente 
(Idem). Já o modelo de criação por pais ansiosos destaca a participação dos pais na criação de 
crenças sobre insegurança nas crianças, assim, o perfeccionismo seria uma maneira de lidar com 
a incertezas e assegurar os melhores desfechos possíveis, dimensão semelhante a Dúvidas sobre 
Ações (Frost et al. 1990). Todos estes modelos apresentam relações parentais e características 
individuais no cerne do desenvolvimento de padrões de comportamento perfeccionistas. É possível 
observar, por exemplo, que as percepções pessoais das críticas parentais influenciam o nível de 
perfeccionismo, assim como controle parental exacerbado e a falta de afeto (Flett et al., 2002). 
Assim, é possível destacar a participação das relações parentais e dos vínculos estabelecidos entre 
pais e filhos para desenvolvimento de padrões perfeccionistas. 
O desenvolvimento socioemocional e as características individuais da criança são 
influenciadas por seu temperamento, mas também pelas relações de vínculo estabelecidas com os 
cuidadores nos seus primeiros anos de vida. Estas primeiras relações também são conhecidas por 
influenciarem desfechos interpessoais posteriores. A psicologia do desenvolvimento tem dado 
bastante atenção aos estilos de apego e suas consequências para as diferenças individuais. O apego 
é definido como uma relação de vínculo e cuidado estabelecida entre os principais cuidadores e a 
criança (Field,1996). A qualidade dessa ligação pode ser estudada através dos comportamentos 
parentais. Estes comportamentos têm sido relatados como consistentes ao longo do tempo e sua 
influência vem sendo observada sob vários resultados, incluindo psicopatologia e 
 
45 
 
desenvolvimento saudável (Wilhelm, Niven, Parker, & Hadzi-Pavlovic, 2005) . Assim, embora a 
avalição dos vínculos parentais e seu estilo seja feita retrospectivamente, existem relações entre a 
recordação do relacionamento das figuras parentais com a criança e uma variedade de 
psicopatologias em adultos (Enns, Cox, & Clara, 2002). 
Os vínculos parentais podem ser definidos em termos de comportamentos e atitudes dos 
pais ou cuidados em relação a seus filhos. Em 1978, Parker, Tupling e Brown compilaram uma 
série de relatos na literatura para criar um meio de avaliar os vínculos parentais. Os 
comportamentos parentais e suas atitudes voltadas para a criança influenciavam toda a qualidade 
da relação desenvolvida que, por sua vez, influenciaria desfechos futuros. Ademais, os autores 
procuravam definir as qualidades ideais da relação parental para que fosse proporcionado o 
desenvolvimento adequado das crianças e para formação de vínculos afetivos posteriores. Este 
estudo deu origem Parental Bonding, instrumento utilizado até hoje para avaliar as qualidades da 
relação entre o cuidado e a crianças (Parker, 1979, 1990). 
 
Figura 2 - Esquema ilustrativo das dimensões de vínculos parentais em tipos. Adaptado de Parker (1979). 
 
46 
 
Os vínculos parentais – comportamentos e atitudes que mediam a qualidade da relação com 
a criança- são essencialmente compostos por duas dimensões. Estas dimensões são distintas e 
apareceram como fruto das pesquisas de Parker e colaboradores (1979, 2005), mas também foram 
confirmadas por meio de análises fatoriais exploratórias e confirmatórias em mais de uma cultura 
(Hauck et al., 2006; Teodoro, 2010). Estes vínculos podem ser avaliados por meio das atitudes e 
comportamentos relacionados ao cuidado, afeto, proteção e controle sobre a criança. A primeira 
grande dimensão representa o cuidado. Esta dimensão é composta por um contínuo que vai de 
cuidado/afeto

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