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TCC-ELIZETE

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS 
FACULDADE DE EDUCAÇÃO 
FORMAÇÃO INTERCULTURAL DE EDUCADORES 
INDÍGENAS 
CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANIDADES 
 
 
 
 
Elizete Macedo Gama da Silva 
 
 
 
 
 
Mamona, Pequi e Galinha: óleos e banhas naturais 
da Aldeia Sumaré III – Terra Indígena Xakriabá 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Belo Horizonte 
2017 
 
 
 
 
 
2 
 
 
 
 
 
 
 
Elizete Macedo Gama da Silva 
 
 
 
 
 
 
Mamona, Pequi e Galinha: óleos e banhas naturais 
da Aldeia Sumaré III – Terra Indígena Xakriabá 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao curso de 
Formação Intercultural para Educadores 
Indígenas da Faculdade de Educação da 
Universidade Federal de Minas Gerais, 
como requisito parcial para obtenção do 
título de Licenciado em Ciências Sociais e 
Humanidades. 
Orientador: Paulo Maia 
 
 
 
Belo Horizonte 
2017 
 
 
 
 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 DEDICATÓRIA 
Dedico este trabalho à minha família, especialmente ao meu filho Yan Bruno, e 
a todos meus professores e ao meu orientador Paulo Maia, à minha 
comunidade, às lideranças, aos caciques e a todos os entrevistados. 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
AGRADECIMENTOS 
Agradeço a Deus do céu 
Pela minha luta 
E por tanta força 
Terminando essa faculdade 
Posso mesmo fazer outra. 
 
Agradeço por tudo 
Até pelos tropeção 
De saber cair e levantar 
E prestar mais atenção 
Levando comigo sempre 
O meu Deus no coração. 
 
Agradeço a minha mãe 
Que tanto me aconselhou 
Sempre me dando força 
Me enchendo de amor 
Na hora do desespero 
Ela sempre me ajudou. 
 
 
Me dando muitos conselhos 
Para não desistir 
Lutar pelos os estudos 
Não deixar a peteca cair 
No momento estava chorando 
Depois iria sorrir. 
 
Não esqueço dos colegas 
Que deram um ombro amigo 
Na hora das dificuldades 
Eles estava comigo. 
 
Nunca vou esquecer 
Dos queridos professor 
Que na sua explicação 
É excelente doutor. 
 
Não posso esquecer 
De um grande professor 
O professor Paulo Maia 
Que é o coordenador 
Trabalhando com a turma 
Desde quando começo 
E além de tudo isso 
É o meu orientador. 
 
5 
 
 
 
Agradeço as lideranças 
Pela satisfação 
Acompanhando o curso 
Estendendo suas mãos 
Pessoas de muita garra 
De bons coração. 
 
 
Os nomes das lideranças 
Tudo não posso falar 
Mas alguns vou citar 
Seu Silvino, João de Jovina 
E os dois senhores Valdemar. 
 
Leitores para esse trabalho 
Peço- lhe muita atenção 
Porque ele não encerra aqui 
Ainda tem muita lição 
Juro que esforcei 
Foi muita dedicação 
Ao estudo e o meu filho 
Do fundo do coração. 
 
Talvez esse trabalho prossiga 
Após o tempo que passar 
Deixar parado num canto 
Isso não vou aceitar 
Lembrarei todos os tempos 
Sempre que meus estudos lembrar. 
 
 
 
Agradeço primeiramente a Deus por ter mim dado força e saúde e muita 
paciência para a realização deste trabalho, à minha família pelo apoio que 
sempre me deram, aos entrevistados, lideranças, caciques, Fernanda Xakriabá 
e às pessoas da comunidade, que diretamente ou indiretamente contribuíram 
para eu desenvolver essa pesquisa. A todos professores desde dos anos 
iniciais e do curso FIEI, meu orientador, Paulo Maia, e aos meus colegas da 
turma pelo o apoio. 
 
 
 
6 
 
 
 
 
RESUMO 
O proposto trabalho apresenta os óleos e banhas naturais de animais e plantas 
que utilizamos, destacando a importância desses produtos na sustentabilidade 
e saúde para a sobrevivência e na preservação e fortalecimento dos costumes 
do povo Xakriabá. Considerando que esses saberes são parte importante da 
nossa identidade cultural de nosso povo, observo que houve mudanças com a 
entrada de produtos industrializados no dia-a-dia do povo Xakriabá na aldeia 
Sumaré III. Para que esse trabalho pudesse ser desenvolvido busquei fazer um 
levantamento dos tipos de planta e animais que se usamos na produção de 
óleos e banhas, ilustrando-o com fotos e as descrevendo. Foi feita também 
entrevistas através de diálogos, não havendo gravações nem questionários, a 
pedido dos entrevistados. Então o registrado foi feito através de anotações das 
partes mais importantes, sendo uma conversa sobre o tema a ser tratado. As 
mesmas foram feitas com pessoas mais velhas e jovens, analisando as 
histórias orais sobre os produtos naturais, a realidade vivenciada dos próprios 
entrevistados e observando a fabricação de três produtos: o óleo de mamona, 
óleo de pequi e a banha de galinha, trazendo como estudo o processo 
produtivo, a conservação e as ciências dos mesmos. Portanto, pode-se 
perceber, que a partir da chegada dos produtos industrializados houve várias 
mudanças, não só na alimentação, mas também no meio de transporte e 
comunicação e na cultura tradicional em geral do nosso povo. Os mais velhos 
acham preocupante o consumo de tantos produtos industrializados, e dizem 
que devemos ter cuidado, sabendo usar o que tem de bom nestes produtos ao 
nosso favor sem interferência nos nossos conhecimentos de práticas culturais. 
 
 
Palavras-chaves: Óleos naturais, banhas naturais, práticas Xakriabá, medicina 
tradicional Xakriabá 
 
 
 
 
 
 
7 
 
ÍNDICE 
INTRODUÇÃO ................................................................................................8 
 
 
CAPÍTULO I - OS ÓLEOS E BANHAS 
 
 
1.1– A importância dos óleo e banhas............................................................14 
 
1.2- Frutos, árvores e animais utilizados na produção de óleos e banhas…16 
 
1.2.1 - A mamona............................................................................................16 
1.2.2 - O pequi.................................................................................................19 
1.2.3 - Pau- dói................................................................................................21 
1.2.4 - Pinó.....................................................................................................23 
1.2.5 Gergelim...............................................................................................25 
1.2.6 – Amendoim...........................................................................................27 
1.2.7- A galinha...............................................................................................28 
1.2.8- O porco.................................................................................................29 
1.2.9 - O tatu...................................................................................................30 
1.2.10 - O teiú.................................................................................................32 
1.2.11 - O gato do mato..................................................................................33 
 
CAPÍTULO II - PROCESSO PRODUTIVO 
 
2. 1 - Óleo de mamona....................................................................................34 
2. 2 - Óleo de pequi.........................................................................................35 
2. 3 – Banha de Galinha..................................................................................35 
 
2.2.1-Conservação de óleos e banhas............................................................36 
 
2.2.2- A ciências dos óleos e banhas..............................................................36 
 
 
CAPÍTULO III - SOBRE OS USOS DE ÓLEOS E BANHAS 
 
3.1 – Para que serve os óleos e banhas..........................................................38 
 
 
CAPÍTULO IV – RELATOS DOS ENTREVISTADOS 
 
4.1- Notas a respeito dos entrevistados...........................................................40 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................43 
 
 
 
8 
 
 INTRODUÇÃO 
 
Os Xakriabá vivem hoje em uma Terra Indígena (TI) homologada em 
1987, localizada na região sudestedo Brasil, no norte de Minas Gerais, 
município de São João das Missões, na margem esquerda do rio São 
Francisco. 
 O território Xakriabá possui 52 mil hectares, a população é de 10.800 
índios aproximadamente, com 32 aldeias e sub aldeias. O tronco de nossa 
língua Akwén é o Macro-Jê, porém hoje o povo Xakriabá, com impacto que 
teve a chegada dos portugueses, fala o português, mas que existem tentativas 
de resgate da língua original. Hoje alguns cantos cantados em rituais de nosso 
povo já são traduzidos na língua original. Nossa terra de direito não foi toda 
demarcada, temos uma boa parte que ainda está nas mãos dos não-índios. 
Porém o povo Xakriabá nunca desistiu, enfrentando a revolta dos fazendeiros e 
mesmo assim, recentemente, foram retomadas, às margens do rio Peruaçu, as 
áreas conhecidas como Caraíbas e Várzea Grande no ano de 2013. 
 A vegetação predominante na Terra Indígena é o cerrado e caatinga, 
conhecido pelos Xakriabá como gerais ou tabuleiro, ali há muitas matas secas 
com várias espécies de árvores: sucupira, unhadanta, imburana, pequi, 
cagaita, quina branca e quina preta, murici, borle, barbatimão, imbudanta, 
tingui, pelero, jatobá, papaconha, cabeça de nego, pau- doí, pinó, sete casaca, 
sambaiba, mamoninha, cansanção, barriguda, grão de galo, caraíba e porcada, 
entres outras, que são utilizados por nós para a caça e coleta. Na caça porque 
algumas dessas árvores citadas dão frutos ou flores, que alimenta a maioria 
dos animais quando estão maduros, por exemplo: o pequi e a caraíba quando 
está florescendo é época de esperar veado para matar. Nessa área é onde se 
encontra grande partes das plantas que usamos para fazer nossos remédios 
naturais. Devido ao menor aproveitamento para o plantio de roças, em alguns 
dos ambientes estão bem preservados, porque hoje estamos fazendo 
movimentos que incentivam fazer reflorestamentos perto das nascentes e 
nosso povo está tomando mais cuidado no preparo do terreno para o plantio, 
principalmente quando vai queimar as roças, diminuindo o desmatamento. A 
principal atividade do povo ainda é a agricultura como plantio de milho, feijão e 
 
9 
 
mandioca, mas atualmente são poucos os roçados por falta de chuva. Além 
das plantas, há presença de insetos e animais como: coelho, tatu, preá, teiú, 
raposa; e animais peçonhentos: como a cobra, lacraia e outros. Os insetos 
também ficam muito nestas matas, o grilo, gafanhoto e o bicudo1, por exemplo. 
Quando termina de queimar a roça, se chover nos próximos dias, começa 
vários tipos de besouro andando na terra e os mais velhos falam que é sinal de 
muita fartura nas roças, mas se não cuidar pode ser que os insetos possam 
tomar de conta da lavoura. Hoje em dia nestes lugares é raro ver muitas 
espécies de pássaros. Pela falta de chuva, eles vão mudando para os lugares 
mais frios, poucos ficam por lá, como a rolinha, jandaia, bico de ferro, gavião, 
lambu, coruja, codorna, caga-cebo e as pegas, um tipo de ave que de vez em 
quando vai em algum quintal procurando ovos de galinha para chupar. 
 Em diversas circunstâncias da sua trajetória, o povo Xakriabá vem 
superando desafios e construindo novas pontes com “diálogos” e trocas de 
experiências entres diversas culturas, valorizando a sua identidade, que é o 
mais importante em todo momento, e também não deixando de ter acesso aos 
conhecimentos da sociedade científica moderna. 
 A aldeia Sumaré III, onde moro, está localizada na terra Indígena 
Xakriabá. É formada por 64 famílias. Nesta aldeia é ofertada a educação 
escolar pela Escola Estadual Indígena Bukinuk, que atende desde a Educação 
Infantil ao 9º ano, onde eu, Elizete Macedo Gama da Silva, de 32 anos, 
trabalho há 5 anos como professora. 
Minha trajetória de vida escolar foi sempre na terra Indígena. Mas no 
início dos meus estudos os professores da escola xakriabá eram não-índios por 
falta de ter pessoas da comunidade com formação exigida para trabalhar. 
Mesmo sendo criança passei por experiências terríveis, pois ouvia cada coisa 
que não era o que meus pais ensinavam em casa. Na escola, por exemplo, 
aqueles professores me diziam que Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil, 
sendo que meus pais falavam que os índios já vivam nas terras que os 
portugueses diziam ter descoberto. A histórias se repetem várias vezes, por ser 
criança não sabia em quem acreditar. 
 
1
 Um besouro do bico grande. 
 
10 
 
Um certo dia brincando no quintal com minha irmã mais velha, vimos um 
sapo e ela, por eu ter medo de sapo, jogou ele em mim. A partir deste dia meu 
corpo todo tomou-se de umas lixa que viraram grandes feridas. Fui para escola 
e antes de sair minha mãe passou uma banha de gato do mato em mim. 
Quando cheguei lá a professora não-índia pediu que eu voltasse tomasse um 
banho e que falasse pra meus pais levar no médico, que naquele tempo não 
tinha na aldeia. Meu pai me levou montada a cavalo na cidade de Itacarambi e 
a primeira coisa que o médico falou é que ia receitar um remédio para mim, 
mas tinha que comprar. E assim pai fez, comprou e usou de acordo com que o 
médico mandou mas, a cada dia que passava, as feridas iam crescendo cada 
vez mais e ficando profundas e o remédio acabou e nada melhorou. 
A minha mãe sempre confiou nos remédios naturais, e que foi contra 
que meu pai me levasse ao médico, e começou a usar em mim os remédios 
naturais novamente, a banha do gato do mato, óleo de pequi e banha de teiú. 
Passando três vezes por dia e ainda depois colocava o gato de casa para 
lamber. Depois de no máximo oito dias, as feridas foram secando e 
desaparecendo, e depois de um mês não havia mais ferida no meu corpo. Hoje 
nem cicatriz não tem porque o óleo de pequi, além de ser cicatrizante de 
feridas, ainda tem o dom não de deixar a pele manchada. 
 Os mais velhos acreditam que é importante falar sobre os costumes dos 
Xakriabá, eles não querem que o povo deixe adormecer seus costumes, mas 
ao longo do tempo, com a entrada e facilidade de aquisição de produtos 
industrializados, muito tem se perdido ou até deixado de ser produzido. Alguns 
desses produtos são os óleos e banhas naturais que estão sendo pouco 
utilizados, porque os óleos industrializados estão muito presentes na 
comunidade, dando facilidade na hora do preparo ou quando for usar, por 
serem encontrados prontos, enquanto os produtos naturais ainda têm que ser 
produzido manualmente. Sendo que esses produtos naturais usados pelos 
Xakriabá são muito saudáveis e extremamente importantes, uma vez que 
através deles podemos curar várias enfermidades e ainda faz parte da cultura 
do povo Xakriabá. 
 Falar dos óleos e as banhas naturais significa não deixar morrer ou 
esquecer os costumes, preservar um patrimônio que pode ser passado de 
geração para geração. Os óleos e as banhas naturais são importantes porque 
 
11 
 
sabemos que a natureza e os animais disponibilizam os produtos com que 
podemos preparar alimentos e alguns ainda servem de remédio. Isso é 
reforçado através da fala de Creusa Barbosa do Santos, de 32 anos da aldeia 
Caatinguinha, mãe de quatro filhos: 
 
“(...) Eu mesmo não levo meus filhos no médico quando estiver com gripe, pode ficar 
ruim do jeito que for, faço meu remédio do mato aqui mesmo e sempre dá certo, no 
outro dia o menino já melhorou (...).” 
 
É meu interesse nesse trabalho revelar os benefícios que os óleos e 
banhas traziam e ainda trazem quando os consumimos. E também buscar 
registrar a importância de serem produzidos, pois fazem parte de nossa 
tradição desde nossos ancestrais. Isso é notado na fala de Eloisa, de 68 anos, 
da aldeia Sumaré 3: 
 
 “(...) Olha, minha filha, nós que fomos criados comendo comida temperada com 
esses óleos e banhas naturais e tomando os remédios feito com eles, somos mais 
fortes de qualquer um jovem de dezoito anos e às vezesmais sadio. É difícil ter esses 
problema que está parecendo hoje em dia (...)”. 
 
E os velhos falam sobre as importantes recomendações dos 
procedimentos tradicionais, que são úteis para alimentação e a saúde do povo 
Xakriabá. Diante de todos os tipos de óleos e banhas que fazem parte da 
cultura do povo Xakriabá, posso dizer que há uma maneira de estarmos 
“voltando ao tempo” e reviver o que vivemos antes, pois em algumas falas dos 
mais velhos serão notadas várias experiências dos nossos ancestrais. De 
acordo com Prexeda Nunes Macedo Gama, de 68 anos da aldeia Sumaré III, 
mãe de oito filhos, dentre eles, eu: 
 
“(...) Um tempo atrás minha filha mais velha quebrou a clavícula e o médico não 
engessou só amarrou uma faixa no braço e mandou ficar de repouso 30 dias e não 
deu nenhum remédio pra dor e a menina continuou sentindo dor. Chegando em casa 
preparei meu remédio natural, feito com óleo de mamona e outros ingredientes, uma 
infusão e poucos minutos a dor passou e com menos de 30 dias já estava tudo 
normal e recentemente aconteceu novamente do mesmo jeito com meu filho. (...)” 
 
 
Atualmente os óleos e banhas naturais são bastante falados em eventos 
culturais e nas histórias, oralmente contada pelos mais velhos, além de 
utilizados na preparação dos alimentos servidos nos eventos. Esta pesquisa 
 
12 
 
tem como objetivo entender o porquê das mudanças de produtos naturais para 
produtos industrializados, compreender a importância das plantas e alguns 
animais na saúde e alimentação na comunidade de Sumaré III, conhecer mais 
sobre as plantas e os animais, mostrando sua serventia na comunidade hoje 
em dia, saber a importância dela para os povos antigamente. 
O motivo que me levou a pesquisar e registar alguns óleos e banhas 
Xakriabá foi por ser um tema bastante familiar, e de estar refletindo sobre 
conhecimentos, saberes, ciências, costumes, porque somos conhecedores de 
práticas naturais das plantas e animais, de uma sabedoria que vem guardada 
na memória, nas experiências ao longo da vida, que aprendemos com os mais 
velhos. Isso tem a ver com o significado de ser sábio, no sentido de ser 
inteligente e conhecer além do que aprendemos na escola, aquilo que vem de 
família ou a que a pessoa já nasce com aquele saber. Nesse sentido, ciência é 
um palavra muito usada pelos Xakriabá, no sentido de expressar nossos 
saberes. Está relacionado em preservar o bem-estar na alimentação e a saúde 
da nossa etnia, pois é uma forma de organização interna, nos rituais, remédios, 
entres outros. Ou melhor, não pode ser qualquer um ou de qualquer jeito, 
sendo uma condição de antigamente que faz parte da cultura, mas que, aos 
poucos, e com passar do tempo, está sendo adormecida e pouco valorizada 
nos últimos anos. 
Espero com esse trabalho poder incentivar as gerações atuais e as 
futuras a não usar tantos produtos industrializados e produzir e consumir mais 
produtos naturais produzidos pelos próprios Xakriabá, em respeito aos 
conhecimentos dos antigos. Esse trabalho foi construído para mostrar a 
importância dos óleos e das banhas na nossa sobrevivência, na alimentação e 
saúde da etnia Xakriabá, para compreender que devemos preservá-los, sendo 
que antigamente a realidade era outra sem os produtos industrializados e que 
muitos da nova geração do povo Xakriabá atual não os conhecem. Na aldeia 
Sumaré III, as pessoas mais velhas acham desnecessário o uso de tanto 
produtos industrializados, sendo que podemos produzir produtos naturais 
manualmente sem alteração química. 
Essa pesquisa foi feita por meio de entrevistas, fotos e conversas que 
possibilitaram conhecer e registrar um pouco dos costumes da vida de alguns 
mais velhos e jovens das comunidades Xakriabá. Nestas comunidades realizei 
 
13 
 
entrevistas com mais velhos e o jovens, escutei narrativas sobre os óleos e 
banhas naturais e outros conhecimentos, com a finalidade de ouvir, observar e 
analisar as mudanças acontecidas na feitura e consumo de óleos e banhos 
naturais antigamente e hoje. 
Meu trabalho está dividido em quatro capítulos. No primeiro capítulo 
falarei da importância dos óleos e banhas na alimentação e saúde do povo 
Xakriabá, explicando sobre as matérias-primas que utilizamos para a sua 
produção. No segundo capítulo apresento os processos produtivos, como: a 
coleta das matérias-primas, o preparo e conserva, feitos com as ciências do 
conhecimento tradicional de nosso povo. E no terceiro capítulo falo sobre os 
usos dos óleo e banhas, para cura de enfermidades e limpeza corporal. 
Finalmente, no quarto capítulo descrevo uma síntese de algumas ideias 
principais dos conhecimentos tradicional dos entrevistados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
CAPÍTULO I - OS ÓLEOS E BANHAS 
 
1.1- Importância do óleos e banhas 
 
Acredito que óleos e as banhas são importantes para povo Xakriabá 
porque eles tem várias utilidades, servindo para fazer remédios e na 
preparação de alimentos e limpeza corporal. Com esses óleos e banhas 
existem histórias e costumes na cultura que podem vir adormecer com tempo, 
devido à chegada de produtos industrializados nas comunidades dentro do 
território Xakriabá. Na opinião dos mais velhos, eles acham desnecessário o 
uso de tantos produtos industrializados, pois sabemos que esses produtos tem 
muito conservantes químicos, que são utilizados para estender prazo de 
validade, que podem estar interferindo na nossa saúde. Já os produtos 
naturais, sabemos produzir manualmente, sem qualquer uso de produtos 
químicos, ou seja, a maioria dos produtos naturais são produzidos à base de 
água. E isso foi reforçado na fala de Santilia Araújo da Silva, de 76 anos, da 
aldeia Sumaré I, parteira, rezadeira, benzedora e foliã de Folia de Reis há 50 
anos: 
 
 “(...)Olha, nós não pode desfazer dos remédios da farmácia e nem das coisas de 
comer que vem de fora, pois hoje a gente serve é com eles mesmo, então vamos 
usar os dois, já costumemos, não vai volta aquele tempo, mas nossas coisas que 
fazemos é bom demais (...).” 
 
Dentre esses óleos de mamona, de pequi, pau-dói, pinó, gergelim e 
amendoim e as banhas de galinha, de porco, tatu, teiú e gato do mato, escolhi 
três – o óleo de mamona, o óleo de pequi e a banha de galinha – para falar 
mais. Em nossa medicina natural, esses óleos e essa banha são empregados 
para combater diversas enfermidades e são os mais usados pelo nosso povo. 
Pois um dos aspectos mais importantes dos óleos e banhas naturais é permitir 
que o procedimentos para a prevenção e cura de enfermidades sejam 
preparados manualmente e em casa. De acordo com explicações que recebi 
nas entrevistas, seguindo as orientações de como fazer alguns óleos e banhas, 
consegui produzir aqueles três, por isso vou falar a respeito, sobre como 
produzir, sobre a utilização e sobre os usos. 
 
15 
 
As plantas e os animais estão no nosso dia-a-dia, e em vez de ir 
procurar remédio longe quando precisamos, usamos o que tem em casa 
mesmo. De acordo com as falas dos mais velhos, nas entrevistas feitas durante 
a pesquisa, nunca é demais dizer: produtos naturais são saudáveis, são 
aqueles que promovem saúde e vida a todos humanos. 
 Pois esses produtos fazem parte da nossa cultura, em que a mesma 
sendo praticada, serve de base de inspiração para lutar pelos nossos direitos 
de viver com nossa cultura e costumes em um ambiente tranquilo, sendo que 
fazem parte das crenças, rituais e da medicina tradicional. Deixar de produzi-
los é deixar uma parte de nossa cultura adormecer, ou até acabar. 
O território é o lugar de vida, de cultura, onde um povo constrói sua 
história. Território é base que sustenta a vida dos povos indígenas, e ali eles 
têm seus costumes de produzir seus produtos naturais de forma tradicional. 
Hoje em dia devemos levar em consideração algumas mudanças no clima, tais 
como: alteração da época de chuva, aumento da temperaturae, portanto, mais 
tempo de sol, diminuição de espécies de plantas nativas com desmatamento 
nos últimos tempos. Os produtos naturais não deixaram de ser importantes, 
mas estão sendo substituídos por outros produtos industrializados. Isso se 
confirma na fala de Esverdiana Barbosa dos Santos, de 67 anos, casada e mãe 
de 12 filhos, da aldeia Caatinguinha: 
 
“(...) Antes nosso costumes era outro, era só levantar bem cedinho e começava já luta 
fazendo as coisinhas pra comer, não achava nada pronto. Hoje entra no quarto tá lá o 
monte de coisa que a gente compra pronto fora só pra prepara os alimentos e assim 
por isso que não fazemos mais o que fazia antigamente, faz falta mas até o tempo 
não está igual era antes (...)”. 
 
A importância desses produtos naturais é destacada pelos mais velhos 
nas entrevistas. Eles expressam suas dificuldades de estar usando os produtos 
industrializados e não esquecem dos produtos naturais, pois viveram muitos 
anos produzindo seus próprios alimentos e remédios. Mas hoje os jovens não 
dão muita importância a esses produtos, pois acham que são de difícil acesso 
e são complicados de produzir, já os produtos industrializados vem prontos e 
são de fácil acesso. É por essa razão que eu acho que está ocorrendo esta 
troca, pela facilidade do produto industrializado e pelo trabalho que dá para 
 
16 
 
produzir o natural. Exemplos disso são a banha e o óleo de cozinha 
industrializados. 
 
 
1.2 – Frutos, árvores e animais utilizados para produzir óleos e banhas 
 
 
1.2.1- A mamona 
 
 A mamona é uma planta não muito grande e tem dois tipos: a Mamona 
da Mata, também conhecida como Rajada, e a Preta, também conhecida como 
Mamoninha do Tabuleiro. 
A Mamona da Mata pode ser plantada assim como se planta o feijão e o 
milho, mas às vezes ela costuma nascer mesmo sem plantar. Floresce no mês 
de agosto e a sua colheita é no final de outubro para novembro. A colheita da 
mamona pode ser feita de dois jeitos: o mais prático é quebrar os cachos com 
os frutos quando estiverem maduros e pôr para secar em um local seco, 
expondo ao sol até que os frutos comecem abrir naturalmente. A partir daí 
pode bater para descascá-los. E há outro jeito, que é limpar embaixo do pé, e 
deixar as sementes cair sem precisar bater, colher todos os dias no final da 
tarde ou se preferir dois dias depois. 
 As sementes tem ser guardadas em garrafa pet ou misturada com cinza 
para não estragarem. Para plantar no ano seguinte só pode ser plantada as 
sementes colhidas no ano anterior, pois as sementes podem ficar com 
dificuldades para germinar e apodrecem dentro da terra. Agora para produzir o 
óleo, pode ser de qualquer tempo, desde que as sementes não estejam 
estragadas. 
 Já a Mamona do Tabuleiro é nativa da terra e floresce e colhe na mesma 
época que a Mamona da Mata, de suas sementes também fazem o óleo. A 
colheita é no mesmo processo, mas o mais prático é quebrar os galhos e 
deixar secar em um local expondo ao sol, pois o Tabuleiro, que é o lugar onde 
elas crescem, fica longe das casas das aldeias e dá trabalhado carregar. A 
duas mamonas não tem semelhanças nas folhas, mas tem nas sementes, 
 
17 
 
porém tendo o mesmo nome, florescem e colhem na mesma época. Suas 
utilidades são: para tratar o ressecamento da pele e contra queda de cabelo. 
 
 
 
 Foto 1- Pé de mamona, Aldeia Sumaré III, Terra Indígena Xakriabá, 2017. 
 
18 
 
 
Foto 1- frutos da mamona, Aldeia Sumaré III, terra indígena Xakriabá, 2017. 
 
Foto 2 - sementes de mamona, Aldeia Sumaré III, Terra Indígena Xakriabá, 2017. 
 
 
 
 
 
 
19 
 
1 .2 .2 O Pequi 
 
 O Pequi é uma árvore de porte grande, de troncos galhudos e cheios de 
curvas, variam de tamanho pela região. Nativa do Tabuleiro-Cerrado, demora 
para germinar, e precisa crescer bastante para começar florescer. 
 A época da floração é devida ao início da chuva, mas no mês de outubro 
tem um leve chuva, que é chamada a chuva das flores. Durante a sua floração 
começa a espera de veado, pois, para os povos Xakriabá, a época do pequi 
florescer é tempo da caça de veado. É só no final de dezembro para janeiro 
que os frutos começam a amadurecer. Mas isso pode variar, pois depende da 
ocorrência da primeira chuva. O fruto do pequi tem várias utilidades: comer 
cozido e cru, fazer sabão e óleo de sua polpa. O óleo da polpa serve de 
remédio para gripe ou catarro no peito, luxação, dores musculares, ferida e 
nariz entupido (congestionamento nasal). No caso do preparo dos alimentos 
como: arroz, feijão, abobora mandioca. Da castanha do pequi faz a paçoca 
para comer e também faz óleo, que serve pra temperar alguns alimentos, 
menos carne. 
 
O pequi era mais consumido antigamente, pois ele tem várias utilidades, 
e essas eram todas praticadas diariamente na época de seu amadurecimento. 
Atualmente, ainda são encontradas pessoas que fazem essas práticas de 
saberes. Mas essas práticas não são mais cotidianas porque foi substituído por 
outros produtos industrializados, encontrados prontos no mercado. Hoje em dia 
não cresce mais tanto pequi no Xakriabá nas áreas que cresciam antes por 
causa da chuva, que mudou, e do desmatamento. Então ficou mais difícil 
produzir o óleo. Por isso o uso desses produtos industrializados é mais 
frequente. Podemos entender porque hoje eles já fazem parte da vida de todo 
o povo Xakriabá e é certo de que dificilmente deixará de usar. Então temos que 
estar produzindo e usando os produtos naturais e os industrializados, sem 
haver uma substituição, de modo que não vamos deixar de usar nem um nem o 
outro. Valorizar o nosso conhecimento, usando os dois sem interferência, o 
melhor saber, usar o que tem de bom nos produtos industrializados, usar ao 
nosso favor. 
 
20 
 
 
 
 
Foto 4 - Pé de pequi no Cacheado, Aldeia Sumaré III, Terra Indígena Xakriabá, 2017. 
 
 
 
 
Foto 5 - Fruto do pequi, Aldeia Sumaré III, Terra Indígena Xakriabá, 2017. 
 
21 
 
1.2.3 Pau-dói 
 
 É uma árvore nativa do cerrado de porte grande, e sua floração é em 
agosto e colheita dos frutos em novembro. Quando seus frutos estão maduros, 
os animais sentem o cheiro de longe e vão à sua procura. Mas hoje é raro 
encontrar essa planta adulta por causa do desmatamento, até porque uma vez 
que colhem o óleo dessa planta a chance dela ficar viva é pouca, pois o furo é 
muito profundo no tronco. Mas isso também depende da idade da árvore, se for 
uma árvore bem mas mais velha, viverá, porque seu tronco é bem mais grosso. 
Isso varia também da pessoa e de como fazer o furo. Hoje na comunidade de 
Sumaré 3, em um local chamado de Tamburi, tem um pé, mas está ainda 
pequeno e mesmo assim várias pessoas já tentaram tirar o óleo e não 
conseguiram. O Pau-dói é muito valorizado pelos Xakriabá porque o tronco 
serve para tirar o óleo, as cascas dos frutos servem para dor de dente, a polpa 
para os animais comerem e com as sementes fazem colar. É consumida 
também por várias aves como o Jacu, Perdiz, Periquito Jandaia e Cai-neném e 
outros. 
 
 
 
 
 
 
 
22 
 
 
Foto 6 - Pé de pau–doí, Aldeia Sumaré III, (Tamburi) Terra Indígena Xakriabá, 2017. 
 
 
Foto 7 - o tronco do pau-doí, Aldeia Sumaré III, Terra Indígena Xakriabá, 2017. 
 
 
23 
 
1.2.4- Pinó 
 
 É uma árvore nativa da mata de porte grande que possui troncos muito 
ramificados, possuindo vários galhos. Antigamente a castanha da fruta desta 
árvore era bastante consumida. O pinó hoje é raro nas comunidades por ser 
bastante retirada sua madeira para fazer cocho2. E da sua madeira as 
molecadas que gostam de criar canarinho, fazem um furo no tronco e tira um 
líquido, uma espécie de uma cola, que serve de armadilha para pegar os 
canarinhos. O pinó quando está pequeno, ao encostamos em suas folhas, 
pode queimar a pele e até virar ferida. Mas isso depende da pessoa, pois quetem reação alérgica pode ser mais forte. 
O pinó floresce no mês de janeiro e amadurece os frutos no final do mês 
de maio para junho, dão frutos muito bonitos, que mesmo maduro possuem 
casca dura e resistente, e é dividido em três parte por dentro. Cada parte tem 
uma castanha da cor preta, que tem ser descascada para tirar a polpa para 
comer ou fazer o óleo. Este pode ser usado para ressecamento na pele. O fruto 
do pinó demora muitos anos para estragar, mesmo deixado largado de 
qualquer jeito no ambiente descuidado. 
Mulheres menstruadas e que ganharam neném não podem comer a 
castanha do pinó, por ela ser muito forte e a pessoa sente uma diarréia. 
Segundo os mais velhos ela é remosa, ou seja, um alimento forte. Por isso, 
uma vezes que não estamos bem de saúde física, temos que evitar esse tipo 
de alimento, o que os mais velhos chamam de resguardo ou indieta. 
Antigamente essa árvore, o pinó, também era chamada pelo mais velhos de 
João Congo. 
 
2
 Neste caso, o sentido da palavra designa uma vasilha utilizada para colocar água para animais 
domésticos. 
 
24 
 
 
Foto 3- pé de pinó, Aldeia Sumaré III, Terra Indígena Xakriabá, 2017. 
 
Foto 4- Fruto do pinó, Aldeia Sumaré III, Terra Indígena Xakriabá, 2017. 
 
 
25 
 
 
Foto 5- castanha do pinó, Aldeia Sumaré III, Terra Indígena Xakriabá, 2017 
 
 
 
 
1.2.5 - Gergelim 
 
O gergelim é uma planta pequena, que é plantada na roça igual o milho, 
o feijão de corda, “feijão catador,” ou em volta do quintal. As sementes do 
gergelim são pequeninhas, de cor preta, seu ciclo é curto, o plantio varia de 90 
a 100 dias para o cultivo. O gergelim não exige muita água, principalmente, na 
época da colheita, porque pode mofar as sementes, por isso ele se adapta bem 
às condições climáticas aqui no Xakriabá. Serve para fazer paçoca, para 
comer e fazer o óleo, que serve de remédio para gripe complicada, bronquite e 
asma. O óleo do gergelim é tomado puro ou com chá, sendo o mais indicado o 
chá de poejo. O poejo é uma planta rasteira que tem um cheiro agradável e 
bom para melhorar gripe também, podendo tomar o chá das folhas com o óleo 
de gergelim. 
 
26 
 
Os galhos do gergelim, os mais velhos que são benzedores, costumam 
usar os raminhos dele para rezar em crianças pequenas de quebrante3, dor de 
barriga e mal olhado. Suas folhas servem para fazer esfoliação de pele, 
deixando suave. 
 
 
 
Foto 6- Pé de gergelim, Aldeia Sumaré III, Terra Indígena Xakriabá, 2017. 
 
3
 Uma dor inexplicável. 
 
27 
 
 
Foto 7 - Sementes de gergelim, Aldeia Sumaré III, Terra Indígena Xakriabá, 2017. 
 
1.2.6– Amendoim 
 
O amendoim é uma planta rasteira que pode ser plantada na roça, mas 
tem que ser em terra fofa. Tem algumas terras tem que ser adubadas para 
plantar o amendoim, principalmente se for uma terra que foi plantada muitos 
anos seguidos sem descanso. Os grãos de amendoim são muito saborosas e 
tem muitos nutrientes, podendo ser usadas de várias formas na alimentação. O 
amendoim serve para fazer o óleo para temperar vários tipos de alimentos, só 
não pode temperar carne. É também utilizado para fazer a paçoca dos grãos 
para comer. Podemos ainda comer os grãos de várias maneiras, cruas ou 
torradas com sal ou açúcar e também misturada com canjica e leite. Mas hoje, 
por seu cultivo ser muito trabalhoso, é raro os povos Xakriabá fazer plantio de 
amendoim. 
 
 
 
28 
 
 
Foto 8 - Grãos de amendoim, Aldeia Sumaré III, Terra Indígena, 2017. 
 
 
1.2.7- A Galinha 
 
A galinha para ser tirada a banha tem que ser galinha caipira, e que não 
foi criada comendo ração produzida fora, tem que comer somente milho 
plantado aqui mesmo no Xakriabá ou em qualquer outro lugar, desde que seja 
sem usar agrotóxico. A banha a ser retirada está localiza nas tripas e na moela, 
pode ter também banha em outro lugares da galinha, nas costela e no papo. 
As galinhas caipiras das raças Barbuda, Pé de Carranca, Pé de Pena, 
Cocuruto na Cabeça, Pescoço Pelado, Nanica, Pedrês e Rupiada não podem 
ser utilizadas para retirar a banha, porque a mulher que ganhou neném não vai 
poder tomar. Pois a mulher pode não sentir bem e ter um hemorragia, ou seja, 
um sangramento forte pós- parto, e na menstruação pode interromper a 
menstruação e sentir forte dor de cólica e dor de cabeça. Então a banha que 
pode ser retirada é a da Galinha Índia. A banha de galinha serve para curar 
gripe, catarro no peito, ressecamento no intestino e pode ser usada no cabelo 
contra queda e ressecamento de pele. Também as penas da Galinha Rupiada 
servem para dor de cólica, é só colocar as penas para torrar no fogo, moer e 
tomar na água quando sentir a dor de cólica. O sangue da galinha Pescoço 
 
29 
 
Pelado serve de remédio para pessoa que foi picada por animais peçonhentos, 
é só passar no local e tomar um colher de sopa. 
 
 
Foto 9- a galinha índia, Aldeia Sumaré III, Terra Indígena Xakriabá, 2017. 
 
 
1.2.8- O Porco 
 
O porco para ser tirado a banha não pode ser leitoa ou cuiúda4. Tem que 
ser porco macho capado, criado comendo muita lavagem e milho com 
frequência para não criar pipoca5, que a deixaria a banha estragada sem poder 
utilizar. A banha está localizada por baixo das costelas em volta dos rins e 
pode ser usada contra ressecamento na pele e contra queda de cabelo e para 
 
4
 Porca fêmea parideira. 
 
5
 Uns pedacinhos de carne que ficam embolados na banha, dando mal cheiro. 
 
30 
 
preparar alimentos como feijão, arroz, abóbora, maxixe, mandioca macarrão e 
para fritar biscoito de goma de mandioca. 
 
 
Foto 10 - O porco, Aldeia Sumaré III, Terra Indígena Xakriabá, 2017. 
 
 
1.2.9- O Tatu 
 
O Tatu é um animal encontrado na mata e no Tabuleiro, temos várias 
espécies: Tatu Peba, Galinha, Chino, Bola pequeno e o grande. Destas 
espécies é só do Tatu Bola pequeno e Peba, que a banha é retirada para fazer 
remédio. O Tatu Peba também pode ser criado em casa, pois ele come de tudo 
que uma pessoa come, em especial leite e carne. Para o consumo da carne 
 
31 
 
pode-se comer todos deles, como o Tatu Galinha, Chino e o Bola grande, 
porém a mulher não pode comer quando estiver menstruada ou que ganhou 
neném para não inflamar o útero e ter sangramento forte. A banha é utilizada 
para preparar alimentos e passar em ferida para melhorar e não assentar 
inseto. Nas primeiras chuvas das águas no final setembro para outubro e no 
fim das águas no mês de março, os tatus são encontrados com facilidade. 
Antigamente o casco do tatu era muito utilizado como vasilha pra colocar 
comida, para comer e guardar alimentos, e pouco tempos atrás, no início do 
ano 2000, usava para fazer colares. 
 
 
 
Foto 11 - O tatu peba, Aldeia Sumaré III, Terra Indígena Xakriabá, 2017. 
 
 
 
 
 
32 
 
1.2.10 - O Teiú 
 
O Teiú é um animal terrestre que vive nas matas e gostam de se 
alimentar com ovos e insetos. Entre os Xakriabá é muito caçado, porque sua 
carne é saborosa, a banha é muito utilizada para passar em ferida para 
melhorar e não sentir dor, e o rabo para produzir anel, que uma vez usando o 
anel do cabo de Teiú não sente câimbra. O Teiú também no mês de outubro 
aparece com frequência fazendo rastros, avisando que o tempo das águas está 
começando. É no final das águas no mês de fevereiro que o Teiú fica mais 
difícil de ser encontrado. 
 
 
 
 
Foto 12- O teiú, Aldeia Sumaré III, Terra Indígena Xakriabá, 2017. 
 
 
 
 
 
 
 
33 
 
1.2.11- O Gato do mato 
 
O Gato do Mato é um felino que vive na mata e às vezes aparece perto 
dos quintais atacando as galinhas. Para pegar o Gato do Mato muitos fazem 
armadilhas, laços ou assaprão ou mesmo atirando de espingarda. Hoje em dia 
é raro ver falar quem viu um Gato do Mato,pois ele é muito procurado por ser 
comedor de galinha. As pessoas vivem vigiando para ele não ter aproximação 
dos quintais, e quando encontrado, é morto para tirar sua banha, que serve de 
remédio. A banha é usada para passar em ferida que tem dificuldade de 
melhorar, muito profunda, de borda seca que pode virar ferida brava. Também 
algumas pessoas comem a carne. A carne do Gato do Mato serve de remédio 
para pessoas adquirem furúnculo6. 
 Como não encontramos mais gatos do mato, não foi possível tirar uma 
foto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6
 Furungo ou nascida, assim fala o povo Xakriabá. 
 
34 
 
CAPITULO II - PROCESSO PRODUTIVO 
 
Desses óleo e banhas que foram citados, escolhi dois óleo e uma banha 
para serem melhor explicados: o óleo de mamona e o óleo de pequi, e a banha 
de galinha. Para isso aprendi a produzi-los. Mesmo que esses procedimentos 
sejam difíceis, como é falado pelos mais velhos, eles podem reduzir os efeitos 
de muitas enfermidade e curá-las. 
 
2.1. - Óleo de mamona 
 A colheita da mamona tem dois jeito para colher: quebrar os galhos com 
os frutos e colocar para secar em um local seco, exposto ao sol, e bater com 
quando estiver seco o suficiente para descascá-los e soprar na peneira; e outra 
maneira é deixar limpo embaixo da planta, onde os frutos secam e abrem 
sozinhos e as sementes caem no chão, que precisa estar limpo, devem ser 
coletadas no final da tarde. Para produzir o óleo de mamona, quebra a 
mamona e coloca para secar no máximo 15 dias. Depois que estiver seca é só 
bater e soprar na peneira. Em seguida, para produzir o óleo é necessário ser 
torrada as mamonas e pisar no pilão até que vai formando uma farofa. A farofa 
é então colocada na panela com água e levada ao fogo, deixe fervendo por 
alguns minutos que o óleo vai começar subir. Em seguida pega o óleo por 
cima, sem mexer na massa embaixo, dá umas mexidas depois para subir mais 
óleo, até que não tenha mais para pegar. Coloque o óleo em uma panela para 
fritar no fogo. Para saber se está pronto e só jogar um pouquinho no fogo, se a 
chama do fogo crescer mais ainda, está pronto, ao contrário precisa deixar 
mais um pouco no fogo. 
As sementes da mamonas devem ser estocadas em garrafa pet ou em 
sacos, nesse caso, precisa misturar com cinza. Já óleo produzido das 
sementes tem que ser guardado em vasilhas plásticas ou de vidro. 
 
 
 
 
35 
 
2.2 - Óleo de pequi 
Quando está no tempo do amadurecimento do pequi, a colheita é 
levantar de manhã e ir coletar no Tabuleiro os frutos que já estão no chão, 
embaixo da árvore, pois os frutos do pequi não podem ser coletados 
arrancando do pé, tem que ter caído no chão por eles mesmos. O óleo de 
pequi tem duas maneiras de ser preparado: raspado cru ou raspado cozido. 
 Para produzir o óleo de pequi raspado cru, descasque o pequi e coloque 
dentro d’água e vai raspando a polpa do pequi, até que, por cima da água, 
forma uma cobertura amarela. Essa cobertura é colocada para fritar em uma 
panela no fogo por alguns minutos. Para saber se estar pronto é só jogar um 
pouquinho no fogo, se chiar é porque o óleo está pronto, ao contrário precisa 
deixar no fogo mais um pouco. 
Para produzir o óleo de pequi cozido é pisado. Depois que os pequis, 
estiverem cozidos, coloca para esfriar, pode ser de um dia para o outro, vai 
raspando, tirando a polpa das castanhas e colocando a polpa com água no 
fogo para ferver. O óleo vai começa subir, por cima da água, vai pegando o 
óleo e coloca para fritar. Faz o mesmo processo do anterior para saber se estar 
pronto. Os pequi só pode ser estocado no máximo por cinco dias com a casca 
para depois produzir e os descascados pode deixar de um dia por outro. Já o 
óleo deve ser guardado em vasilhas plásticas ou vidros sem quaisquer 
vestígios de água. 
 
2.3 – Banha de Galinha 
 
 A banha é localizada nas tripas e na moela. Para obter a banha tem 
que matar a galinha e tirar a banha, lavar e colocar na panela no fogo para 
fritar. Deixando por alguns minutos, em seguida coloque para esfriar em um 
vasilha, deixando aberta. Depois que esfriar, feche a vasilha e guarde. 
 
 
 
 
 
 
36 
 
2.4 – Conservação dos Óleos e Banhas 
 
As banhas de galinha, de porco, de Tatu Teiú e a banha Gato do Mato 
tem o mesmo prazo de validade, variando muito de como foi feito. Se tiver uma 
boa fritura no acabamento, feito na lua certa e pela pessoa certa, como 
veremos a seguir, pode ser usado por no máximo seis meses. As banhas não 
podem ser guardadas em vasilhas plásticas, pois isso interfere no prazo de 
validade. Tem que guardar em vasilhas de vidro, sem qualquer vestígio de 
água, a vasilha tem que estar limpa e bem tampada, guardada no lugar fresco. 
Os óleos também tem o mesmo prazo de validade, e podem ser 
guardado em vasilhas de plástico ou de vidro, no máximo por um ano. Desde 
que seja feito no tempo certo, de acordo como deve ser feito, talvez ele dure 
até mais tempo, isso se for feito na lua certa, se as pessoas do olho ruim não 
se aproximaram quando estava sendo produzido. O óleo tem que ser 
armazenado no lugar certo para não correr nenhum risco de perder o produto, 
pode ser usado até um ano, principalmente óleo de mamona. 
 
2.5- Ciências dos óleos e banhas 
 
A sabedoria, as crenças, os conhecimentos e a ciência do povo 
Xakriabá estão relacionadas aos fenômenos e elementos da natureza dos 
animais, aos hábitos da etnia. Ciência para nosso povo já vem do tempo dos 
antigos, tem a ver com os segredos. Mesmo sendo da etnia, tem pessoas que 
não podem saber de todos os segredos do povo Xakriabá pelo seu 
comportamento. Na brincadeira não tem ciência, isso acontece porque a 
pessoa só sabe de um segredo se for escolhida e preparada por um dos mais 
velhos, o pajé da aldeia. 
Nas entrevistas, cada pessoa mostra que tem alguma coisa de diferente 
no conhecimento. Possuíram de várias formas, com experiências próprias ou 
adquiridas na convivência com outras pessoas. Mas que a ciência é 
preservada, ciência não pode ensinar por ser dos encantados, que acontecem 
nas horas mortas no meio da noite. Por exemplo, uma água corrente no riacho, 
meia noite ela pára de correr, nesta hora mesmo o vento não venta. Mas 
 
37 
 
poucos conseguem ver, só quem acredita nos encantos da natureza, dos 
animais podem ver uma parte disso. Pode ser que mesmo sendo a mesma 
coisa e duas pessoas vendo na mesma hora, elas enxergam de diferentes 
formas os conhecimentos que dizem respeito à nossa alimentação, saúde, 
religião, moradia e tudo de essencial para vivermos bem na aldeia. Enfim 
sabedoria, crenças, conhecimento e ciência estão aí no nosso meio para ajudar 
a revitalizar nossa cultura. Pois a ciência está em quase tudo no nosso dia-a-
dia, mas poucos sabem e veem em como deve ser vista. São inexplicáveis as 
ciências. 
Os óleos só podem ser produzidos na lua cheia ou crescente, pois se for 
produzido em qualquer lua não rende e às vezes não vira o óleo, só fica a 
massa. Alguns óleos, se forem usados fora da quantidade, podem ser 
prejudiciais, ou seja, não melhora o problema e pode causar diarreia. Pessoas 
que nasceram quinta-feira e sexta-feira não podem produzir, nem presenciar a 
produção dos óleos. Se por ventura essas pessoas forem fazer o óleo, não 
vira, e se vira, não rende, e nos remédios não é o mesmo efeito. Na produção 
dos óleos tem coisas que não pode falar, porque tem a ver com os segredos da 
ciências, onde tem pessoas que precisam receber uma preparação sobre o 
respeito, conhecimento de um velho ou pajé da aldeia para saber de tal coisa 
pelo seu comportamento. 
O óleo de pau-dói, para ser tirado, a pessoa não pode olhar para cima e 
ver as folhas da árvore, tem ir de longe, mais ou menos olhando na direção do 
buraco que já foi perfurado dias antes, e nenhuma pessoa pode saber quevocê foi tirar o óleo de pau, se alguma pessoa passar lá e ver o buraco não vai 
sair o óleo. Segundo os mais velhos ainda tem umas palavras que precisam 
ser faladas quando for perfurar o buraco na madeira da árvore 
 A banha de porco a ciência já vem desde quando for castrar o porco, 
tem que ser na lua nova, até porque nas outras luas o próprio animal pode 
morrer. Pois o corte fica dolorido, adquirindo um pûs e as varejeiras põem seus 
ovos e vira uma bicheira cheia de bichos, vermes. 
As outras banhas, como as banhas da galinha, do tatu, teiú, porco e gato 
do mato podem ser guardada por seis meses, desde que tenham sido feitas na 
lua nova. 
 
 
38 
 
CAPITULO III - SOBRE OS USOS DOS ÓLEOS DE MAMONA E PEQUI E DA 
BANHA DE GALINHA 
3.1- Para que serve os óleos e banhas 
 
O óleo de mamona é muito utilizados pelos Xakriabá. Quando uma 
mulher ganha a criança, o óleo já está pronto para ser usado no umbigo da 
criança que amolece, e cai mais rápido, passando duas ou três vezes, 
principalmente à noite, e tomar uma colher de sopa um dia depois do 
nascimento para limpar o intestino. A mãe da criança também precisa usar uma 
infusão na barriga, por oito dias, para prevenir inflamações no útero depois do 
parto, chamada de insergação7. O óleo de mamona também é usado em 
feridas para melhorar e cicatrizar rápido. Ou quando só machuca e a lesão fica 
inchada pode usar uma infusão feita do óleo com algodão e resina de jatobá, 
passando no local por um tempo de no máximo um mês. Isso depende da 
lesão, pois a infusão pode grudar na pele e só descola quando a lesão 
melhora. Essa infusão é usada também em machucado de animais, que 
machucam ou quebram perna ou as mãos. Para o povo Xakriabá essa infusão 
é usada com o gesso 
Antigamente o óleo de mamona era usado para acender o fogo ou 
colocando na candeia para iluminar à noite dentro de casa, principalmente 
quando a mulher ganhava neném e tinha de ficar durante sete noites com a 
candeia acesa. Mas não é mais usada essa prática nem pelas pessoas que 
ainda produzem o óleo, só em alguns eventos culturais por causa da energia. 
O óleo de pequi é utilizado para curar gripe, usando umas três gotinhas 
na chá enquanto estiver gripado e passar entre os peitos antes de dormir e por 
fora do nariz. Também pode ser usado em lesão, fazendo uma infusão com 
folha de matruz, amarrando com uma faixa no local. O óleo do pequi também é 
usado quando estiver sentindo dores musculares, fazendo massagens com 
movimentos circulares três vezes por dia. É usado para melhorar ferida que 
tem dificuldade de melhorar. Também é utilizado na preparação de alimentos 
como: arroz, feijão, macarrão, entres outros alimentos. 
 
7
 Insergação é uma infusão tradicional do povo Xakriabá feita principalmente de óleo de mamona com 
sebo de rim de gado. 
 
39 
 
A banha de galinha é usada para gripe complicada, tomando três 
gotinhas no chá de manhã ou à noite. É indicada também para o tratamento 
queda de cabelo, passar massageando o couro cabeludo e lavar só no dia 
seguinte ou pode usar diariamente em menor quantidade. Usa-se também a 
banha de galinha no chá para curar gripe e passar por fora do nariz à noite, 
antes de dormir. É também bom para ressecamento na pele, passando com a 
pele úmida depois do banho e temperar a própria carne da galinha. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
40 
 
Capítulo IV - Notas sobre os entrevistados 
 
As entrevistas não foram feitas na forma de um questionário, nem houve 
gravações, foi uma conversa informal a pedido dos entrevistados. Começou 
através de uma pergunta, que foi feita para os mesmos, buscando saber sobre 
a importância que tem óleos e banhas naturais para nosso povo. Dentre os 
entrevistados buscou-se valorizar o conhecimento dos mais velhos, pessoas de 
diferentes comunidades que tem conhecimento com esses produtos. Durante a 
pesquisa conversei com várias pessoas. Gostaria de destacar uma síntese de 
algumas ideias contadas pelos entrevistados que achei muito importante. Não 
estou transcrevendo as entrevistas, estou colocando com minhas palavras 
algumas ideias principais e que considero importante. 
Segundo Iraci Nunes Macedo Carneiro, de 41 anos, da aldeia Sumaré 
III, é de muita importância o uso e produção dos óleos e banhas, pois quando 
um mulher tem seu filho aqui com a parteira, o tratamento é muito diferente do 
que recebe no hospital, porque a parteira usa só produtos naturais na mulher e 
na criança. Com óleo de mamona faz uma infusão com outros produtos e 
coloca na barriga da mulher para não ter inflamação no útero. Para criança dá 
o óleo para tomar para limpar uma baba que tem na garganta ao nascer, e faz 
um curativo no umbigo. Só que hoje tudo está mudando, parece que as 
pessoas não querem fazer. Ela mesma conta que tem tempo que faz, 
justificando que não é porque não quer, mas pela dificuldade de encontrar os 
ingredientes. Dona Iraci cita que mamona mesmo está bem difícil, e o pequi 
então não acha, quando acha só uns dois para colocar no feijão. 
Eloisa Nunes Bezerra, de 66 anos, da aldeia Sumaré III, chama atenção 
que a palavra importância é pouco, pois para ela os óleos e banhas naturais 
são os melhores e o mais interessantes, pois uns anos atrás, quando ganhava 
seus filhos, foram os óleos e banhas naturais que a serviram. Para ela, a 
criança que nasce e não toma o óleo de mamona fica com o estômago sujo, 
fácil de ter congestão. Em tom de brincadeira diz que na idade em que está, 
que não está prestando mais não, explicando que não está aguentando mais 
pisar a mamona e nem pegar pequi no Tabuleiro. Também me informou que 
 
41 
 
até hoje faz a banha de galinha e de porco para passar no cabelo, segundo ela, 
o cabelo vira uma seda com essas banhas. 
O senhor José Gomes de Oliveira, de 79 anos, da aldeia Sumaré III, em 
nossa conversa chama a atenção que hoje tem pessoas que não conhecem a 
importância desses óleos e banhas, principalmente nas comidas. Ele diz que 
as comidas temperadas com esses óleos e banhas são tão boas e gostosas, 
só que para alguns não vale um tustão8, ou seja, não tem valor. Os remédios 
de farmácia também para ele não são bons iguais aos que produzimos aqui, 
pois a importância dada a eles não são iguais. Uma lembrança interessante, 
que o mesmo relata, é que no tempo da mãe dele se enchia muito uru9 de 
pequi para ela fazer o óleo e que usava o ano inteiro. 
Em suas falas, Roberta Nunes de Oliveira, de 74 anos, moradora da 
aldeia Sumaré III, sugere que devemos usar os dois, os óleos e banhas e os 
produtos industrializados, pois hoje em dia, como os tempos estão mudando, e 
as chuvas também, está difícil de achar os frutos, plantas e animais para 
produzir os óleos. Ela lembra que até as roças plantadas hoje é prejuízo, sem 
contar as muitas doenças que hoje em dia são descobertas. Conta ainda que, 
antigamente, tudo era importante para todo mundo, novos e velhos. Hoje uns 
dão valor, outros não, mas é vida, vamos vivendo até dia que Deus quiser. 
Dona Esverdiana Barbosa dos Santos, de 67 anos, da aldeia 
Caatinguinha, fala que os óleos e as banhas são muito importantes e que estão 
servindo para ela até hoje e ela que ainda produz. Mas que o mais difícil é o 
óleo do pau-dói. Ela disse ainda que lá nas Corujas10 tem cocho11 num pau-dói 
que ainda sai o óleo, e que antigamente era tão fácil de encontrar que todo 
mundo tinha. E que hoje em dia as pessoas estão comprando os produtos de lá 
de fora e que só fala desses produtos naturais quando vai falar da história do 
nosso povo, e que é importante que os jovens de hoje possam saber da grande 
importância que tinha e ainda tem as coisas naturais. 
 
8
 Dinheiro. 
 
9
 Vasilha feita de palha de coco cabeçudo. 
 
10
 Na Aldeia Peruaçu.11
 Buraco. 
 
42 
 
 O jovem Fernando Fernandes Carneiro, de 22 anos, da aldeia Sumaré 
III, conta que é importante para nós porque esses óleos e banhas fazem parte 
do nosso viver antigamente e hoje. Só não está produzindo a mesma 
quantidade, também pelas dificuldades e pela presença desses produtos 
industrializados. É triste saber que os produtos naturais estão adormecidos e é 
uma tradição nossa, temos que reverter a situação. Não que vamos parar usar 
os produtos industrializados, mas podemos usar os dois, e produzir ainda mais 
os nossos produtos naturais. 
 E por fim, Arlinda Cavalcante da Gama, de 35 anos, da aldeia Sumaré I, 
nos relata a importância de se pensar que esses óleos e banhas fazem parte 
da nossa história, que a gente nunca perca o amor por eles. Pois era um meio 
que tinha antes para sobreviver, mas que com passar do tempo as coisas 
foram evoluindo, os tempos não são os mesmos e com a entrada de produtos 
de fora nas aldeias com facilidade, está essa situação. Mas ainda é tempo, 
temos que não deixar acabar essa prática e a nossa cultura. Então este 
trabalho que está sendo feito sobre os óleos e banhas é um incentivo aos 
jovens e a todos que produziam mas que deixaram de produzir. 
Observei nas falas de todos entrevistados como eles destacam a 
importância do conhecimento que cada um tem dos produtos naturais, se 
tornando um incentivo para usar esses produtos, mas que hoje os produtos 
naturais são menos usados por causa do difícil acesso às matérias-primas. 
Mas, apesar disso, todos entrevistados defendem nossos conhecimentos 
tradicionais por ser conhecedores dos mesmos. Eles falam também que no 
tempo dos produtos industrializados podemos estar usando os dois juntos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
43 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Este trabalho consistiu em trazer informações prévias do meu próprio 
conhecimento sobre os óleos e banhas que são produzidos ainda hoje na 
aldeia Sumaré III, e também as orientações recebidas nas entrevistas com os 
mais velhos. Esse conhecimento não fica só na teoria, tem acontecido na 
prática de algumas pessoas do nosso povo. Para realização desse trabalho 
foram realizadas entrevistas com pessoas mais velhas e também jovens que 
tem mantido firmemente esse costume de produzir os óleos e banhas. Antes 
da pesquisa eu via as plantas e animais sempre, mas não sabia se servia de 
remédio e nem procurava querer saber. Mas ao longo deste trabalho, em cada 
entrevista, procurava descobrir mais para mostrar um pouco a realidade de 
vida na aldeia antes e hoje em dia nas comunidades. Por isso contei na 
introdução um pequeno trecho de minha história de vida, para mostrar como as 
experiências multiplicam os conhecimentos cada vez mais. Cada entrevistado 
afirmou a importância dos produtos naturais, que não dependem de nenhuma 
substância química. Mas foi inevitável nos relembrar também dos produtos 
industrializados, que atualmente tem tomado espaço dos produtos tradicionais. 
Neste trabalho mostrei como são produzidos os óleos e banhas, como são 
conservados com durabilidade, e também como podem ser usados. 
 Compreendi a grande relevância da relação da natureza com o homem, 
pois existe um vínculo estável entres ambos, em que a natureza oferece com 
abundância os seus recursos, e que o homem se sente mais à vontade em 
preservar a cultura, costumes e tradição. A natureza em si nos ensina a 
desfrutar dos seus alimentos, nos dá a oportunidade e o privilégio de viver de 
sentir em ambiente natural. 
 A partir das conversas nas entrevistas que foram feitas para realizar o 
meu trabalho, meu interesse pelo conhecimento tradicional de nosso povo só 
fez crescer ainda mais. Aprendi a valorizar mais a cultura do meu povo, 
compreendi que a existência dos animais e das plantas tem tanto uma 
serventia culinária, quanto na medicina natural, apresentando muitas utilidades, 
e que nosso povo poderia produzir esses produtos e ter uma série de práticas e 
hábitos mais saudáveis. O trabalho realizado mostra a necessidade de 
fortalecer e valorizar os costumes culturais de nosso povo, evitando o 
 
44 
 
adormecimento desses saberes tradicionais. Enfim, aprendi a dá valor no 
conhecimento tradicional de nosso povo. Não só a dar valor, mas praticar. 
Assim, depois das entrevistas, consegui produzir os óleos de mamona e de 
pequi e a banha de galinha, o que foi uma experiência incrível para mim. 
Os Xakriabá mais velhos cresceram tomando remédios e comendo 
produtos naturais. Percebo que de fato faço parte desse povo, sou privilegiada 
por ser uma índia Xakriabá. Mas hoje alguns desses produtos só estão na 
memória. Fico imaginando como nós, Xakriabá, produzíamos uma grande 
variedade de produtos naturais, que atualmente pouco são reconhecidos pela 
geração atual. Por isso, o meu trabalho mostra nossas práticas tradicionais 
para compreender os conhecimentos de antigamente e destacar a importância 
de tudo que a natureza oferece. A natureza tem bastante valor para nós 
indígenas. Dela são retirados nossos princípios e elementos essenciais para 
nossa vida. Para que hoje e as outras gerações futuras possam usufruir dela, 
devemos preservar tudo que temos e devemos também continuar sabendo 
produzir a partir de nossos conhecimentos tradicionais, fazendo com que esses 
costumes possam permanecer vivos no povo Xakriabá. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Entrevistas realizadas 
 
 
 Arlinda Cavalcante da Gama, 35 anos. Aldeia Sumaré I, Terra Indígena 
Xakriabá, julho de 2016. 
 
 Creusa Barbosa dos Santos, 32 anos. Aldeia Caatinguinha, Terra 
Indígena Xakriabá, novembro de 2016. 
 
 Esverdiana Barbosa dos Santos, 67 anos. Aldeia Caatinguinha, Terra 
Indígena Xakriabá, novembro de 2016. 
 
 Eloisa Nunes Bezerra, 66 anos. Aldeia Sumaré III, Terra Indígena 
Xakriabá, julho de 2016. 
 
 Fernando Fernandes Carneiro, 22 anos. Aldeia Sumaré III, Terra 
Indígena Xakriabá, outubro de 2016. 
 
 Iraci Nunes Macedo Carneiro, 41 anos. Aldeia Sumaré III, Terra 
Indígena Xakriabá, outubro de 2016. 
 
 José Gomes de Oliveira, 79 anos. Aldeia Sumaré III, Terra Indígena 
Xakriabá, junho de 2016. 
 
 Prexeda Nunes Macedo Gama, 68 anos. Aldeia Sumaré III, Terra 
Indígena Xakriabá, fevereiro de 2017. 
 
 Roberta Nunes de Oliveira, 74 anos. Aldeia Sumaré III, Terra Indígena 
Xakriabá, junho de 2016. 
 
 Santília Araújo da Silva, 76 anos. Aldeia Sumaré I, Terra Indígena 
Xakriabá, julho de 2016.

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