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A2 cultura e subjetividade

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O nome Malala ecoou pelo mundo quando ela foi baleada pelo Talibã aos 15 anos de idade por seu ativismo pelo direito à educação das mulheres e meninas no Paquistão. E aos 17 anos foi à pessoa mais jovem a ganhar um prêmio Nobel da Paz como reconhecimento da sua luta. "Malala cresceu em uma família muçulmana, com destaque para a sua mãe, que é muito religiosa. Já seu pai era conhecido por ser um homem dedicado à educação e à cultura. Ele participava de grupos literários e atuava como militante pelo meio ambiente e pela educação. Além disso, foi um grande incentivador para que sua filha estudasse. Esse inventivo fez com que ela fosse fluente em três idiomas: pachto, urdu e inglês. A família de Malala se completava com seus dois irmãos mais novos: Atal Yousafzai e Khushal Yousafzai."
 "Ela estudava na instituição fundada por seu pai: a Escola Khushal. Ela fazia parte de uma turma composta somente por meninas, e a influência de seu pai fez com que ela, mesmo sendo uma criança, defendesse o direito feminino de estudar. A escola de seu pai, além de ter garantido que Malala tivesse acesso aos estudos, permitiu que sua família pudesse melhorar de condição
 "Malala narra que, durante sua infância, ela gostava de ler livros como os de Jane Austen, embora ela e suas amigas também gostassem de ler produções da cultura popular, como os livros da série Crepúsculo. A jovem paquistanesa cresceu ouvindo sobre os horrores cometidos pelo Talibã no país vizinho, e considerava-se sortuda por viver no Vale de Swat, uma região que não estava sob a influência dessa organização fundamentalista. Entretanto, tudo mudou quando o Talibã chegou."
 "Apesar das precauções, o pior aconteceu. O Talibã decidiu promover um atentado contra a vida da estudante em represália às constantes críticas que ela fazia a essa organização fundamentalista. No dia 9 de outubro de 2012, o ônibus em que Malala estava foi parado por membros do Talibã, e três tiros foram disparados contra ela.
 "Malala quase morreu por conta do atentado, pois o projétil disparado contra ela acertou sua cabeça. Ela foi levada para um hospital militar, em Peshawar, e passou por uma cirurgia de emergência que foi crucial para que ela sobrevivesse. A cirurgia teve quase cinco horas de duração. Enquanto Malala se recuperava dela, o Talibã assumiu a autoria do atentado.
 "O atentado contra a vida de Malala teve repercussão internacional, e, alguns dias depois da cirurgia, ela foi transferida para Birmingham, na Inglaterra, para receber o melhor tratamento possível até sua recuperação completa."
 "Após recuperar-se, Malala criou o Fundo Malala, cujo objetivo é arrecadar dinheiro para ajudar mulheres a continuarem seus estudos em diferentes partes do planeta. O Fundo desenvolve ações em diversos países, inclusive no Brasil.
A preocupação com a escolaridade feminina não é uma exclusividade brasileira. Com efeito, no contexto internacional, também é possível referenciar movimentos que defendem esta bandeira. Um acontecimento lamentável marcou a discussão na última década na comunidade internacional, quando a jovem ativista Malala Yousafzai sofreu uma tentativa de homicídio em 2012 em razão da publicação de textos escritos sob seu pseudônimo masculino “Gul Makai”, em defesa da educação de meninas no Paquistão, após a proibição de mulheres em ambientes escolares pelo movimento Talibã. Após o atentado, a ativista iniciou uma cruzada contra a exclusão feminina nas escolas do mundo, que a tornou a única adolescente a ganhar o Prêmio Nobel da Paz, dentre outras premiações de direitos humanos.
Em consequência da luta de Malala, a discussão sobre a educação de meninas floresceu em escala mundial. Em visita recente ao Brasil, a ativista noticiou a expansão da Organização sem fins lucrativos Malala Fund, que já atua em seis outros países, para a América Latina, anunciando que “existe 1,5 milhão de meninas sem acesso à escola no Brasil. Quero encontrar meios para mudar isso”.
Diante desses projetos criados fora da atuação estatal, é possível observar uma distinção da luta brasileira, que é guiada pela discussão de classe, ao início do ativismo de Malala, que colocava o foco das discussões também em questões culturais e religiosas. De qualquer forma, mesmo que as realidades e as causas iniciais sejam diferentes, pontua-se que o início de um movimento global pela educação de meninas é muito frutífero para a construção da dignidade feminina. Ainda, apesar da importância desses movimentos da sociedade civil, a realidade brasileira precisa do empreendimento de esforços institucionais para efetivar o acesso ao ensino das mulheres mais vulneráveis. Depreende-se de dados do IBGE de 2017 que as duas maiores razões que motivam a evasão escolar de mulheres são o emprego e os cuidados com a família.
Assim, percebe-se a urgência pela construção de mais espaços de promoção de escolaridade feminina, principalmente que atendam às especificidades das necessidades de mulheres pobres e periféricas, visto que a ausência do acesso ao ensino pode resultar na perda da dignidade e diversos direitos sendo mitigados, como o emprego, a previdência e   a saúde. Dessa forma, em razão da multiplicidade de realidades que as mulheres brasileiras enfrentam, parece inadequado discutir o direito à educação da mulher, sem que se especifique o contexto e as vulnerabilidades nele incidentes. Sem isso, seria possível questionar a importância da defesa da escolaridade feminina por meio de atuação do Estado, diante de dados demonstrando que as mulheres estão ultrapassando os homens dentro dos espaços de ensino superior. Em resposta a isso, é imprescindível discutir a experiência das mulheres na educação pública, além das diferenças no acesso de cada uma delas tendo em conta as suas especificidades.
A classificação das pessoas pelo gênero como melhor ou pior, inferior ou superior, gera consequências em todos os âmbitos da vida social. No mundo do trabalho, as mulheres recebem salários menores que os homens desempenhando as mesmas funções e realizam mais trabalho não remunerado, isto é, serviço doméstico e de cuidador.
No âmbito das relações afetivas, as mulheres possuem menos liberdade sexual e são duramente penalizadas quando decidem expressar-se sobre sua sexualidade, além disso, são objetificadas, e isso faz com que seja vítimas de assédio, importunação, que em alguns casos culmina em violência sexual.
Outra consequência da objetificação é o feminicídio, isto é, elas são objetificadas ao ponto de serem assassinadas por companheiros ou ex-companheiros quando não desejam prosseguir no relacionamento ou encontram outros parceiros. Nas relações familiares, pesa sobre as mães uma cobrança muito maior do que sobre os pais na criação dos filhos.
Pode parecer que os resultados negativos da desigualdade de gênero afetam somente as mulheres, mas eles prejudicam o conjunto da sociedade, cerceiam a liberdade de homens que desejem seguir em caminhos profissionais ou comportamentos que são classificados como femininos e impedem que mulheres ofereçam e desenvolvam seu potencial em diversas áreas do conhecimento e liderança que são classificadas como masculinas. Após o surgimento do feminismo, essa temática passou ser amplamente debatida e alguns avanços já aconteceram, mas ainda há uma longa jornada a ser percorrido rumo à equidade de gênero
Hoje, vivenciamos outra realidade bem diferente daquela dos ideais de feminilidade do século XIX. As mulheres, aos poucos, conquistaram espaços de trabalho, independência econômica e um lugar para além do casamento e da maternidade. Com todas estas mudanças elas adquiriram certa autonomia para suas vidas.
Em contrapartida, no século XX, as mulheres têm novas posições sociais e consequentemente há transformações sobre a imagem e representação do feminino. Um fato importante é que a repressão imposta pelo social diminuiu e abriu possibilidades da mulher desfrutar da sua sexualidade, do seu corpo e conhecer como destino outras escolhas como sujeito, visto que sabemos que a sexuação humana não é dada pelosexo biológico, mas sim pelo atravessamento da cultura, conforme Lacan (1972-1973).
Quanto à Psicanálise, neste período, é possível fazer um percorrido desde os textos clássicos de Freud sobre o Édipo feminino até as fórmulas da sexuação propostas por Lacan nos anos 70, e não parando por aí, seguindo a continuidade de seus estudos. Desta forma, temos que desenrolar o fio que conduz o que significa ser mulher.
Freud (1905) nomeou o enigma do feminino como sendo um "continente negro", numa metáfora ao desconhecido e misterioso continente africano com seus escondidos territórios, inexplorados espaços e desejadas riquezas. Já Lacan (1966) produz desdobramentos sobre o gozo feminino e hoje em dia os analistas vão mais além, pautando em seus estudos e práticas os seguintes questionamentos: “O que significa para o sujeito estar inscrito do lado feminino da sexuação?”, “É possível, em nosso tempo, falar da essência da feminilidade?”, “Onde se posiciona a mulher frente a tantas mudanças?”, “Quais são as implicações nas relações entre homens e mulheres devido às diversidades em relação aos gêneros através dos tempos?”.
A partir de então as mudanças ocorridas na vida das mulheres são muitas. Tudo isso cria impasses e novas formas de apresentação dos sintomas, diferentes dos apresentados pelas histéricas da época de Freud.
Hoje a clínica psicanalítica recebe mulheres em sofrimento, que estampam quadros de adição, compulsão, repúdio aos alimentos e dor. Sintomas que muitas vezes podem se manifestar em quadros depressivos. Elas vêm com sofrimentos assinalados por culpa, somatizações e tropeços do caminho da difícil tarefa de cada dia ter que se fazer e refazer-se mulher. Desta forma, o corpo feminino, em uma topologia íntima, apresenta-se como palco de dores, prazeres e excessos, pois se liga aos ciclos da natureza em razão de vivências próprias como menstruação, gravidez e menopausa.
Por outro lado, há no mundo contemporâneo a imposição do gozar deste corpo, o que se contrapõe ao desejo e se encontra sufocado ao excesso de ficar como mero objeto de gozo. As próprias mudanças na cultura e evolução dos tempos vêm destituindo a noção do gozo feminino e percorrendo outros discursos diferentes relativos ao lugar da sexualidade feminina e masculina.
Dito de outra forma, a diferença anatômica entre homens e mulheres é algo da evidência, já que temos um corpo e este é sexuado. No entanto, se retirarmos a envoltura corporal deparamo-nos com algo muito mais complexo e opaco que está no masculino, no feminino e no processo de sexuação. Será que estas mudanças todas retiram da cena a crucial pergunta feminina: o que fazer para ser amada e desejada? Também há a indagação masculina: o que elas querem de nós? Tais indagações se impõem a cada um de nós em nossa escuta. Apesar da frase, muitas vezes lembrada e escrita por Freud (1924, p. 222): "A anatomia é o destino", ele mesmo retoma o quanto aquilo que constitui a masculinidade ou feminilidade foge do alcance da anatomia.
Ressaltamos que o corpo sexuado é nomeado desde a bipartição que impera na cultura e nos inclui na categoria de gênero, isto determina normas, valores e lugares sociais referentes ao masculino e ao feminino. Para a psicanálise o feminino não é equivalente à mulher, ou seja, nem todo o feminino está do lado das mulheres e nem todo o masculino está do lado dos homens. Isso fica claro quando pensamos no transexualismo ou no masoquismo masculino.
Conforme Berlinck (1977) a condição da virilidade é tão opaca, pelo menos, quanto àquela da feminilidade. Ambos os sexos estão empatados nos seus cenários de sombras e de negrumes enigmáticos, visto que esbarram num dilema em que o falo, como signo do desejado, está presente na constituição do sujeito. Nós observamos que hoje o papel social de homens e mulheres fica cada vez menos delimitado às correspondências estereotipadas aos gêneros do masculino e do feminino. Isto se torna uma questão interessante, pois ambos podem se apresentar e se reinventar singularmente, para além do gozo fálico indo em direção à circulação do gozo Outro. Esta questão é revisitada em cada desenlace amoroso e também em cada análise nos tempos atuais.
Segundo Lacan (1972–1973), a condição feminina é pensada como uma divisão em diferentes modos de gozo, fazendo com que uma mulher fique a partir da castração atrelada à ordem fálica, ainda que não plenamente, pois ao lado do gozo fálico ela tem acesso a um gozo particular, o qual nomeou gozo Outro.
Esta representação da feminilidade é diferente da elaboração freudiana, que coloca o devir de uma mulher como uma suposta eliminação completa da sexualidade fálica.
A teoria de Freud sobre o vir a ser feminino permaneceu incompleta e fez com que ele indicasse os poetas, literatos e artistas para tratar sobre o impossível de dizer. Exemplos destes fatos são as personagens Anna Karenina de Leon Tolstoi e Madame Bovary de Gustave Flaubert, que encenaram outras escolham que não aquelas em acordo com os parâmetros da feminilidade do século XIX.
Já a mulher lacaniana depara-se com a questão de ser o falo por não tê-lo. Lacan (1972-1973) então estabelece a dialética entre ser ou ter o falo, apontando que o significante fálico não é outra coisa senão o ponto de falta que pode vir a indicar o sujeito.
Homens e mulheres são antes de tudo palavras. De acordo com Ferreira (2014), a hegemonia de um discurso é que os significados de homem e mulher são acoplados à imagem dos seus órgãos sexuais, até hoje é esse o discurso que determina a escolha de um nome próprio para um recém nascido e o inscreve na diferença sexual.
Ao seguir a evolução do pensamento de Lacan sobre a lógica do significante no desenvolvimento do sujeito de ambos os sexos é que se pode acompanhar o alcance de sua teorização sobre a sexualidade feminina, na qual ele define a mulher entre dois campos: o campo do simbólico e do mais além do simbólico. Desta maneira é marcada a diferença pela quais homens e mulheres se posicionam diante da lógica do significante.
Ao partirmos da afirmativa de Lacan "a mulher não existe", nos ocorreu à seguinte questão: como se constitui uma classe que seja masculina ou feminina? Esta questão nos remeteu a algumas considerações sobre a tábua da sexuação no seminário XX a fim de buscar os ensinamentos que estão nestes escritos.
Ainda é denominado por Lacan (1972-1973) que a sexuação é a operação que inscreve a economia de gozo do lado da feminilidade ou da masculinidade, e, ao seguir os apontamentos freudianos, ele sublinha que ambos se estabelecem em relação a um único significante: o falo. Em contrapartida, aponta que não há um significante que estabeleça de modo positivado o que é ser mulher. Assim, a feminilidade se coloca como exceção ao gozo fálico na medida em que circular pelo feminino implica experimentar uma divisão perante diferentes modos de gozo: o gozo fálico, e ainda, um gozo Outro atrelado a ser objeto de desejo.
Deste modo, o significante fálico, mais que a castração, é o que produz para uma mulher o efeito de uma divisão. No dizer de Lacan (1972-1973), uma mulher é não-toda no gozo fálico. Neste caso, ele subverteu a lógica clássica de Aristóteles e inovou
ao trabalhar no conceito de que uma mulher é não-toda.
Figura 1: Quadro da Tábua da Sexuação (Lacan, 1972-1973, p.105)
Enfim, para entendermos tudo isso, Lacan faz uma observação essencial: a de que não podemos falar de totalidade, isto é, do quantificador todo, a não ser com a condição de que haja ao menos um x que diga não à função fálica, que é aquele que está inscrito no lado esquerdo da tábua da sexuação (lado masculino).
A afirmativa de que existe ao menos um x, ou seja, que exista pelo menos um homem para quem a castração não incide, faz com que Lacan nos convide a reconhecer o pai da horda primitiva, descrito em Totem e Tabu, onde há a passagem do estado de natureza ao estado da cultura. A psicanálise, então, se utiliza da noção do pai mítico para formular a noção do pai como operador simbólico. O Pai simbólico é o que ordena uma função fálicae permite ao sujeito o acesso a uma identidade sexual baseada na resposta que cada um dá à sua castração.
Sabemos que a função do pai simbólico tem a ver com a lei da proibição do incesto. Esta lei opera mesmo na ausência de um pai, porque esta função tem caráter estruturante na triangulação edípica.
No complexo de Édipo, pai, mãe e filha estão todos referidos ao desejo a um quarto elemento: o falo. Portanto, as fórmulas da esquerda, que se encontram do lado do masculino na medida em que formam uma classe, como uma totalidade também faz um conjunto fechado, visto que cada elemento é relativo às
propriedades da classe, o qual neste caso é ser castrado. Isto ocorre porque há a exceção de que ao menos um não está submetido à castração. É desta forma que a classe dos homens se funda.
Entretanto, no lado das mulheres, o que se inscreve? Uma mulher é não toda inscrita sob a ordem fálica, diz Lacan. Este novo quantificador do lado direito da tábua da sexuação nos tira da ideia de totalidade, bem como de que exista uma classe que seja das mulheres. Do lado dos homens é o falo que organiza o gozo sobre o limite, ele faz o que se diz um conjunto fechado, embora não para todos. Referente ao lado das mulheres tem um conjunto infinito, aberto, organizado de uma forma diversa do gozo fálico, o que Lacan chama de gozo Outro.
O gozo Outro é o que escapa ao significante, ou seja, uma possibilidade de um trânsito maior entre os modos permitidos de gozar. Ao escapar à ordem fálica, o gozo feminino escapa à representação, nisto consistindo seu "mistério", tanto para o sujeito que goza quanto para aquele que é excluído dele. Podemos dizer que uma mulher não se sente jamais fundada sobre sua existência, pois ela está sempre incerta do lugar que ocupa de onde vem sua queixa de não encontrar um dizer que a represente.
“O indizível deste gozo Outro, do qual as mulheres não todas fálicas podem desfrutar, na verdade, não constitui um mistério sobre o verdadeiro ser das mulheres, pois a verdade do sujeito é dada pelo desejo e não pelo gozo”. (Kehl, 2008, p.249)
O que precisamos hoje na escuta analítica é que se abra as possibilidades de uma mulher construir para si mesma, desde a posição de sujeito de desejo, uma resposta à pergunta: "o que é ser mulher?" Como diz Kehl (2008, p.272), “é necessário poder reconhecer os recursos fálicos identificatórios das mulheres contemporâneas não como sintomas a serem curados, mas sim como expansões dos limites do eu e modalidades de satisfação pulsional ao alcance de qualquer sujeito”, o que se torna fundamental a este eterno devir que a faz ser uma mulher. Isto nos leva a pensar na possibilidade de movimentos e mudanças possíveis referentes à posição da mulher frente ao feminino.
REFERENCIAS:
Fuks, b. B. Freud e a cultura. Rio de janeiro: jorge zahar, 2003. Introdução: p. 07-16.
Fuks, b. B. Freud e a cultura. Rio de janeiro: jorge zahar, 2003. Unidade 1.
A família contemporânea e o real do sexo
Berlinck, manoel tosta. Histeria. São paulo: escuta 1977.
Reud, sigmund. Algumas consequências psíquicas da distinção anatômica entre os sexos. Obras completas - volume xxi. Rio de janeiro: imago, 1969. 
Lacan, jacques. O seminário, livro 20: mais ainda (1972 – 1973). Rio de janeiro: jorge zahar, 1985.	
Kehl, maria rita. Deslocamentos do feminino. Rio de janeiro: imago, 2008.

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