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Indaial – 2020 InstrumentalIdade e Processo de trabalho do educador socIal Prof. Guilherme Augusto Hilário Lopes 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2020 Elaboração: Prof. Guilherme Augusto Hilário Lopes Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: L864i Lopes, Guilherme Augusto Hilário Instrumentalidade e processo de trabalho do educador social. / Guilherme Augusto Hilário Lopes. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 199 p.; il. ISBN 978-65-5663-074-8 1. Educador social. – Brasil. 2. Educação. – Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 370 aPresentação Prezado acadêmico! Estamos iniciando mais uma etapa da sua jornada de estudos. Seja bem-vindo ao Livro Didático da disciplina Instrumentalidade e processo de trabalho do educador social. Neste livro, nós iremos abordar conceitos fundamentais para a atuação do educador social, bem como apresentar as possibilidades e desafios da profissão. O livro encontra-se dividido em três unidades, cada uma dividida em três tópicos e tem por objetivo aprofundar os aspectos do trabalho do educador social. Na primeira unidade, buscamos apresentar o papel da educação e suas transformações ao longo do tempo. Ainda, descrevemos as semelhanças e diferenças entre o educar, ensinar e o cuidar. Não obstante, esta unidade avança sobre as competências sociais e pedagógicas necessárias no trabalho do educador social. Por fim, aborda as sociabilidades e as teorias da socialização, analisando a relação entre o indivíduo e a sociedade. A mediação social como elemento de transformação é o tema central da segunda unidade. Aqui, nós iremos observar fenômenos que se manifestam no cotidiano do educador social, tais como: violência e violação de direitos; a importância da vida social e coletiva e do fortalecimento de vínculos socioafetivos; e os direitos humanos como direitos fundamentais. A terceira unidade condensa o conteúdo apresentado na primeira e segunda unidade, além de avançar sobre os aspectos diretamente relacionados à formação e atuação do educador social. Ou seja, busca compreender os limites e desafios da formação e da atuação do educador social no cenário nacional. Caro acadêmico! Esperamos que o conteúdo apresentado ao longo da disciplina contribua de forma positiva para a sua formação. Ao longo do livro didático sugerimos uma variedade de filmes, livros e artigos que dialogam com universo da educação e do educador social, procurando oferecer uma visão mais ampla da realidade social. É importante salientar que o livro é um convite e uma provocação para o aprofundamento do conhecimento no campo da educação social. Neste sentido, ele aborda questões básicas que podem e devem ser aprofundadas ao longo de sua formação e de sua trajetória profissional. Bons estudos e sucesso! Prof. Me. Guilherme Augusto Hilário Lopes Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi- dades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra- mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida- de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun- to em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen- tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE sumárIo UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO ÀS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO SOCIAL............................. 1 TÓPICO 1 — AFINAL, O QUE É EDUCAÇÃO SOCIAL? ............................................................. 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 CONCEITO DE EDUCAR .................................................................................................................. 4 3 A FUNÇÃO DE EDUCAR .................................................................................................................. 6 4 AS DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS ENTRE O ENSINAR, O CUIDAR E O EDUCAR ....... 14 5 A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO SOCIAL ........................................................................... 18 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 22 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 23 TÓPICO 2 — A FUNÇÃO DO EDUCADOR SOCIAL E SUAS ÁREAS DE ATUAÇÃO ...... 25 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 25 2 O EDUCADOR SOCIAL ENQUANTO AGENTE DE TRANSFORMAÇÃO ....................... 26 3 AS COMPETÊNCIAS PEDAGÓGICAS DO EDUCADOR SOCIAL...................................... 31 4 CAMPOS DE ATUAÇÃO DO EDUCADOR SOCIAL ............................................................... 35 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 41 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 42 TÓPICO 3 —REDES DE SOCIABILIDADE ................................................................................... 45 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 45 2 FORMAS DE SOCIALIZAÇÃO ..................................................................................................... 52 2.1 A RELAÇÃO ENTRE INDIVÍDUO E FAMÍLIA ...................................................................... 57 2.2 A RELAÇÃO ENTRE INDIVÍDUO E SOCIEDADE ................................................................ 59 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 61 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 63 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 64 UNIDADE 2 — A MEDIAÇÃO SOCIAL COMO FERRAMENTADE TRANSFORMAÇÃO ..... 65 TÓPICO 1 — TRABALHANDO COM VIOLÊNCIAS, RISCO E VULNERABILIDADE SOCIAL ......................................................................................................................... 67 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 67 2 AS DIVERSAS FORMAS DE VIOLÊNCIA ................................................................................. 69 3 CONCEITO DE RISCO E VULNERABILIDADE SOCIAL ...................................................... 76 4 O RESGATE DE PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RISCO E VULNERABILIDADE SOCIAL ..... 79 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 81 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 82 TÓPICO 2 — VIDA SOCIAL E CONVIVÊNCIA .......................................................................... 83 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 83 2 RECUPERAÇÃO DE VÍNCULOS FAMILIARES E SOCIAIS .................................................. 86 3 O INDIVÍDUO E O FORTALECIMENTO DE VÍNCULOS AFETIVOS ................................ 94 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 100 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 101 TÓPICO 3 — DIREITOS HUMANOS E O SER HUMANO ENQUANTO SER SOCIAL ..... 103 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 103 2 O QUE SÃO E PARA QUEM SERVE OS DIREITOS HUMANOS ....................................... 105 3 O DESVIO COMO CONDIÇÃO HUMANA ............................................................................. 110 4 AS CONSEQUÊNCIAS DA COLETIVIDADE .......................................................................... 114 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 118 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 121 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 122 UNIDADE 3 — O EDUCADOR SOCIAL ENQUANTO PROFISSIONAL ............................ 125 TÓPICO 1 — O TRABALHO DO EDUCADOR SOCIAL .......................................................... 127 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 127 2 DA PRÁTICA À TEORIA: A IMPORTÂNCIA DA REFLEXÃO ACERCA DO TRABALHO DE EDUCADOR SOCIAL ..................................................................................... 132 3 DESAFIOS, LIMITES E POSSIBILIDADES DA EDUCAÇÃO SOCIAL ............................. 140 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 145 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 146 TÓPICO 2 — A RELAÇÃO DO EDUCADOR SOCIAL COM A COMUNIDADE ...................147 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 147 2 A INSERÇÃO DO EDUCADOR SOCIAL NA COMUNIDADE ........................................... 148 3 O PAPEL DAS ONGS, ASSOCIAÇÕES DE MORADORES E MOVIMENTOS SOCIAIS COMO CANAIS DE EDUCAÇÃO SOCIAL ........................................................... 155 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 166 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 167 TÓPICO 3 — OS PROCESSOS DE ORIENTAÇÃO PARA A CONVIVÊNCIA FAMILIAR E SOCIAL .............................................................................................. 169 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 169 2 O EDUCADOR SOCIAL ENQUANTO ORIENTADOR DE CONVIVÊNCIA................... 170 3 ESPAÇOS DE CONVIVÊNCIA .................................................................................................... 173 4 A CONVIVÊNCIA SOCIAL E FAMILIAR ENQUANTO DIREITO DE TODOS .............. 179 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 184 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 186 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 187 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 189 1 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO ÀS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO SOCIAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • identificar as diferenças entre ensinar, cuidar e educar; • analisar a importância da educação ao longo do tempo; • compreender a função do educador social; • demonstrar quais são suas áreas de atuação; • refletir acerca da importância da socialização e da vida em sociedade; • distinguir socialização primária e secundária. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – AFINAL, O QUE É EDUCAÇÃO SOCIAL? TÓPICO 2 – A FUNÇÃO DO EDUCADOR SOCIAL E SUAS ÁREAS DE ATUAÇÃO TÓPICO 3 – REDES DE SOCIABILIDADE Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 AFINAL, O QUE É EDUCAÇÃO SOCIAL? 1 INTRODUÇÃO A educação é uma atividade desenvolvida pela espécie humana desde tempos longínquos. No decorrer da história podemos nos deparar com inúmeras práticas e formas de educação. É quase impossível pensar o desenvolvimento dos homens e mulheres em sociedade, sem pensar nos mecanismos e no modo como gerações diferentes construíram e compartilharam conhecimento. Ora, se quisermos conhecer um pouco mais sobre o mundo no qual estamos inseridos e qual o nosso papel em sociedade precisamos refletir sobre os papéis sociais. Nossa profissão é um bom exemplo de papel social, isso porque, enquanto profissionais, desempenhamos funções específicas que são esperadas de cada profissional. Você, acadêmico, deve se perguntar: afinal, o que é Educação Social? Para tentar responder ao questionamento iremos fazer uma incursão histórica com o intuito de compreender um pouco mais sobre a origem e a importância da educação social. Além desta introdução, este tópico está dividido em mais quatro partes. Na primeira parte buscamos as definições em torno do conceito de educar. Posteriormente, na segunda parte, avançamos para as funções da educação ao longo do tempo e em diferentes sociedades. Na terceira, a discussão ocorre sobre a relação entre ensinar, cuidar e educar. E por fim, abordamos a importância do educador social para transformação social. Convidamos você, caro acadêmico, para iniciarmos esta jornada em busca do conhecimento acerca da educação social,vamos lá? UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO ÀS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO SOCIAL 4 2 CONCEITO DE EDUCAR Pensar a história da educação é pensar a própria história dos homens ao longo do tempo. A educação enquanto exercício e prática social remonta à antiguidade. O ser humano (homo sapiens) é o único animal que produz cultura de modo racional. Uma das formas de transmissão de cultura é por meio da educação. Existem diversas concepções acerca da palavra educar, mas via de regra ela representa o processo pelo qual os indivíduos aprendem normas, regras e valores. Esses conhecimentos habilitam os sujeitos para efetivo convívio em sociedade, uma vez que este acaba incorporando as regras sociais estabelecidas pelo grupo. A origem etimológica da palavra educar vem do latim “educere”, que de modo literal significa direcionar para fora. Ou seja, trazer à tona a capacidade o indivíduo conhecer o mundo no qual se encontra inserido. De acordo com Brandão (2007), as concepções em torno do conceito educar variam com o passar do tempo e de sociedade para sociedade. Isso acontece porque cada sociedade busca formar tipos distintos de sujeitos. O meio pelo qual ocorre a formação destes sujeitos, está subordinada a processos de educação. Isso implica reconhecer que cada tipo de sociedade busca formar ou moldar um determinado tipo de cidadão. De acordo com Luzuriaga (1983), a educação pode ser vista como a influência dos mais velhos sobre os mais jovens. Essa influência geralmente é intencional e sistemática e pode ser compreendida nas práticas coletivas, ou seja, de modo genérico. Portanto, é a forma como uma geração transmite seus valores e conserva uma existência coletiva. Neste sentido, podemos compreender os aspectos sociais da educação na manutenção e transformação dos valores, normas e outras instituições sociais. A educação também pode ser compreendida como o meio pelo qual preservamos traços da cultura. Dessa forma, pode ser lida como componente indispensável da cultura, tal como a arte, ciência ou mesmo a literatura. Sem educação não seria possível aquisição é transmissão da cultura, pois pela educação é que a cultura sobrevive no espírito humano. Cultura sem educação seria cultura morta. E esta é também uma das funções essenciais da educação: fazer sobreviver a cultura através dos séculos (LUZURIAGA, 1983, p. 2). Como podemos perceber a educação exerce uma função ímpar no desenvolvimento das sociedades humanas. Por um lado, por nos humanizar e proporcionar o convívio social, troca de conhecimento e vivências. Por outro, é o caminho que o ser humano trilha ao longo da história e para registrar a cultura é que permite o resgate sobre as sociedades do passado. TÓPICO 1 — AFINAL, O QUE É EDUCAÇÃO SOCIAL? 5 Podemos considerar a educação como o processo de desenvolvimento consciente do ser humano visando atingir toda sua potencialidade e capacidade em diversos aspectos (SCHMITZ, 1984). IMPORTANT E Como vimos, a educação é meio pelo qual os seres humanos compartilham conhecimentos e aprendem coisas importantes para a vida em sociedade. Uma das áreas da ciência que contribui significativamente na compreensão dos processos educativos é a pedagogia. A pedagogia pode ser compreendida como a ciência da educação, pois busca refletir sobre a prática e a ação educativa. Deste modo, constitui uma ciência própria e estabelece relações com outras ciências, com o objetivo de compreender de maneira mais ampla seu objeto de estudo. Outros campos disciplinares tais como: Psicologia, Filosofia, Sociologia também têm a educação como campo de investigação (LUZURIAGA, 1893). Prezado acadêmico! É importante pontuar que a educação é objeto de investigação adotado por inúmeras áreas do conhecimento. Essa multiplicidade de investigações, contribuem para uma melhor compreensão da educação. Deste modo, as disciplinas que auxiliam no entendimento da educação não se sobrepõem e nem anulam uma a outra, mas de modo contrário, ampliam o entendimento sobre os fenômenos da educação. ATENCAO A pedagogia tem sua origem etimológica na aglutinação de duas palavras da língua grega. Como nos mostra Aranha (2006, p. 65), “A palavra paidagogos significa literalmente ‘aquele que conduz a criança’ (pais, paidós, ‘criança’; agogós, ‘que conduz’)”. Na educação dos gregos quem desempenhava a função de pedagogo geralmente era um escravo. A principal tarefa do pedagogo na Grécia antiga era instruir os mais jovens e acompanhá-los em seus afazeres. Com o passar dos tempos, outras concepções foram incorporadas à palavra pedagogia. Nesse sentido, a pedagogia compreende o conjunto de teorias científicas sobre o universo da educação (LUZURIAGA, 1983; ARANHA, 2006). UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO ÀS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO SOCIAL 6 Dentre os campos teóricos que convergem com a Pedagogia está a Didática. De acordo com Saviani (2007, p. 2), João Amos Comênio considerado pai da didática buscou “[...] construir um sistema pedagógico articulado em que a consideração dos fins da educação constituía a base para a definição dos meios, compendiados na didática como a arte de ensinar tudo a todos”. Como podemos evidenciar, ao passo em que as investigações sobre o processo educativo se ampliam, novos campos de investigação surgem. Um exemplo disso é a didática que de modo simplificado poderíamos dizer que é a área que se preocupa com o processo de ensino e quais métodos e ferramentas devemos utilizar quando ensinamos algo. Caro acadêmico! É preciso salientar que a educação pode ocorrer em contextos e lugares diferentes. A educação formal, geralmente, é realizada em instituições de ensino. Temos como exemplo deste tipo de educação as escolas. E a educação informal, ela recebe esse nome porque é ocorre para além do próprio ambiente escolar. 3 A FUNÇÃO DE EDUCAR Já mencionamos que a educação é uma instituição tão antiga que remonta os períodos dos primeiros agrupamentos humanos ainda nas sociedades primitivas. Deste modo, a educação pode ser vista como uma instituição social. Instituição social é um conjunto de ideias, cultura ou práticas que perduram ao longo do tempo (JOHNSON, 1997). Todas as sociedades, sem distinção, contam com instituições sociais em sua estrutura. Essas instituições têm como propósito a manutenção da própria sociedade como descreve Reinaldo Dias (2010, p. 238): “Instituição social: é um sistema complexo e organizado de relações sociais relativamente permanentes que incorpora valores e procedimentos comuns e atende a certas necessidades básicas da sociedade”. As próprias instituições sociais modificam-se com o passar do tempo. Para compreendermos as mudanças e permanências existentes dentro da área da educação observemos o Quadro 1. TÓPICO 1 — AFINAL, O QUE É EDUCAÇÃO SOCIAL? 7 QUADRO 1 – FASES DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FONTE: Adaptado de Luzuriaga (1983) Fase histórica Características Educação Primitiva Comum na pré-história. Considerado uma forma de educação natural, pois nela a influência era espontânea, direta predomina sobre o intencional. Nesta época, ainda não existiam povos ou estados apenas pequenos agrupamentos humanos. Por esse motivo não se pode estabelecer uma cronologia específica sobre esse período. Educação Oriental Já havia civilizações desenvolvidas sociedades com caráter autocrático, erudito e religioso. Os povos que compõe esse tipo de educação são as civilizações do Crescente Fértil e povos do continente asiático. Essa forma de educação foi comum durante cerca de 2 milênios que corresponde a 3 mil anos a.C. a 1 mil a.C. Educação Clássica Tem início com as civilizações ocidentais, tem como caráter uma educação humanista e cívica. Compreende Grécia e Roma que apesar das diferençasguardam muitas semelhanças. Desenvolve-se aproximadamente entre o século X a.C. e o século V da era cristã, ou seja num período de 1.500 anos. Educação Medieval Esta fase inicia no século V e se estende até o século XV. A educação medieval pode ser compreendida como uma educação baseada no cristianismo e atinge todos os povos da Europa. Educação Humanista Forma de educação característica do período do Renascimento, tem suas origens ainda no período anterior. Esta fase busca um retorno à cultura clássica, porém, com a emergência de novos elementos baseados na natureza, na arte e na ciência. Educação Cristã Reformada Como resposta a educação humanista, a educação cristã reformada surge durante o século XVI, por meio das reformas religiosas. De um lado impulsionada pelo surgimento das confissões protestantes e no outro lado pelas reformas na própria igreja católica. a história se refere esse episódio como Reforma e Contrarreforma essas formas de educação vão atingir a Europa e depois continente americano. Educação Realista Tem início com os métodos da educação moderna, baseia-se na filosofia e nas ciências novas tem como principais representantes estudiosos como Galileu Galilei, Nicolau Copérnico, Isaac Newton, René Descartes. Essa fase inicia se no século XVII, e avança para os dias atuais. Grandes nomes da área da didática marcam esse período como Wolfgang Ratke e João Amós Comênio. Educação Racionalista e Naturalista Educação própria do século XVIII, no qual emerge a chamada “ilustração”, movimento cultural iniciado na Renascença. Este é o século é retratado por figuras proeminentes como Marquês de Condorcet (filósofo e matemático francês) Jean-Jacques Rousseau (filosofo iluminista). As ideias desse período influenciaram a uma vertente da pedagogia intitulada “idealista”. Sendo Johann Heinrich Pestalozzi um o principal representantes dessa nova forma de educação. Educação Nacional Iniciada ainda antes da revolução francesa, essa forma de educação vai atingir seu potencial máximo no século XIX. Neste formato de educação o Estado Possui uma postura intervencionista, busca formar uma consciência nacional bem como cidadãos patrióticos. Muitas nações passam adotar esse modelo em que a uma universalização da escola primária gratuita é obrigatória. Educação Democrática Uma das principais características que podemos atribuir a educação no século XX, é a busca pela educação democrática. A finalidade desse formato de educação é a liberdade e o acesso de várias pessoas a educação, por pressupor que educação é um direito inalienável e fundamental para dignidade humana. Esse formato de educação busca garantir o acesso e a permanência ao maior número de pessoas quanto possível. UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO ÀS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO SOCIAL 8 Existem muitas nuances e ramificações dentro de cada fase histórica da educação. Neste sentido, o Quadro 1 traz à luz informações gerais sobre as transformações ocorridas na educação desde o período pré-histórico à contemporaneidade. Todas as variações e mudanças com relação à educação ao longo do tempo tem relação com o período no qual essa prática se encontra circunscrita. A educação, enquanto prática e como uma instituição social, tem finalidade e propósito. Afinal de contas, não se educa ao acaso. A educação é um dos meios pelo qual o ser humano passa a incorporar os valores e normas de uma determinada sociedade. No terceiro tópico desta unidade será abordado o tema da socialização de maneira mais detalhada e como a socialização é importante na formação e manutenção da vida em sociedade. ESTUDOS FU TUROS Acadêmico! Sugerimos a leitura referente às transformações na educação nos dois últimos séculos. A EDUCAÇÃO ATRAVÉS DOS TEMPOS João Cardoso Palma Filho O século XIX vê surgir das entranhas do iluminismo do século XVIII duas concepções antagônicas de organização social e de educação. De um lado, está o positivismo que busca consolidar o modelo burguês de educação e, de outro, o movimento popular e socialista. O primeiro tem em Augusto Comte (1798-1857) o seu expoente máximo que viria a influenciar o reformador educacional brasileiro Caetano de Campos no final do século XIX. O segundo tem como expoente Karl Marx (1818-1883). Ambos representam correntes de pensamento que, ao lado do ideário católico e do liberalismo, influenciarão o pensamento pedagógico brasileiro do século XX. Assim é que entre os autores do Manifesto dos Pioneiros pela Educação Nova, assinado em 1932 por 26 educadores brasileiros, vamos encontrar próceres educacionais que sofreram influência dessas correntes de pensamento. IMPORTANT E TÓPICO 1 — AFINAL, O QUE É EDUCAÇÃO SOCIAL? 9 Do lado positivista destaca-se a figura do sociólogo francês E. Durkheim (1858- 1917) que tem em Fernando de Azevedo um seguidor no Brasil. Para o sociólogo francês: “A educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre as gerações que não se encontram ainda preparadas para a vida social; tem por objetivo suscitar e desenvolver, na criança, certo número de estados físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política no seu conjunto e pelo meio especial que a criança, particularmente, se destine”. Já para o filósofo britânico Alfred North Whitehead (1861-1947), a educação deve ser útil: “A educação é a aquisição da arte de utilizar os conhecimentos. É uma arte muito difícil de se transmitir”. De outra parte, a concepção socialista de educação se opõe à concepção burguesa. Como assinala Gadotti (1996, p.119), “ela propõe uma educação igual para todos”. Algumas das ideias do movimento socialista que acabaram incorporadas no discurso liberal do manifesto dos pioneiros, como o princípio da educação laica e da coeducação, já eram defendidas por Thomas Morus (1478-1535) no seu livro Utopia. O movimento socialista no campo da pedagogia contempla uma grande heterogeneidade de ideias pedagógicas, muitas das quais acabaram sendo incorporadas em muitos projetos educacionais de cunho liberal, história da Educação passando a integrar princípios educacionais e a orientar práticas pedagógicas em muitos países de economia de mercado. Mas, sem dúvida, o grande movimento educacional do século XX relaciona-se com o pensamento pedagógico da Escola Nova. Vários pedagogos engajaram-se neste movimento de renovação educacional, dentre outros se destacaram: Ferrière, educador, escritor e conferencista suíço; John Dewey, filósofo liberal estadunidense, que mais influência exerceu no movimento da Escola Nova brasileiro, influência que se deu na pessoa do educador pátrio Anísio Teixeira. Para Dewey, educação era ação (learning by doing). Desse modo, o aspecto instrucional da educação ficava relegado a um segundo plano. Dewey imaginava o processo educacional como algo contínuo, no qual, permanentemente, reconstruía-se a experiência concreta, ativa e produtiva de cada ser humano. Para ele, a escola não deveria preparar para a vida, pois a escola deveria ser a própria vida. Na sua obra “Como pensamos” (1979), apresenta os cinco estágios do ato de pensar que sempre ocorre diante de um problema. Os estágios são: a) necessidade sentida; b) análise da dificuldade; c) as alternativas de solução do problema; d) a experimentação de várias soluções, até que o teste mental aprove uma delas; e e) ação como prova final para a solução proposta que deve ser verificada de modo científico. Pode-se concluir que, para Dewey, a educação, antes de qualquer coisa, é processo e não produto, ou seja, o importante é ensinar a pensar. Trata-se do famoso princípio do “aprender a aprender” que, esquecido durante algumas décadas, retorna valorizado neste início de milênio. Além desses dois pensadores da educação, outros nomes se destacaram no movimento. Entre eles, Ovide Decroly queformulou a metodologia dos centros de interesse; Maria Montessori, grande nome da pedagogia do pré-escolar, que revolucionou com seu método de trabalho o ambiente de aprendizagem; Édouard Claparède, para quem atividade educativa era aquela que correspondia a uma necessidade humana, daí chamá- la de educação funcional; Jean Piaget que concentrou a sua atenção de pesquisador no estudo da natureza do desenvolvimento da inteligência na criança e forneceu as bases para a construção da pedagogia construtivista, ao lado de Vygotsky e Wallon. UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO ÀS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO SOCIAL 10 Os estudos de Piaget influenciaram outros pesquisadores, com destaque para Emília Ferreiro, psicóloga Argentina que, a partir de seus estudos sobre os processos de alfabetização da criança, tem influenciado os educadores brasileiros com estudos voltados para esta área, bem como para a prática em sala de aula no ensino fundamental. O educador brasileiro Paulo Freire, cujo pensamento educacional, hoje, é mundialmente reconhecido também sofreu influência do ideário pedagógico escolanovista, embora discordasse do conservadorismo político que alguns membros desse movimento apresentavam. Concluindo esse rápido panorama, consideramos necessário tecer alguns comentários sobre a educação no terceiro milênio. As transformações a que estamos assistindo, nos dias atuais, com o avanço das tecnologias de comunicação e de informação, estão levando-nos a repensar as práticas pedagógicas que, enquanto práticas sociais, não ficam imunes a esse conjunto de transformações. Os efeitos da terceira revolução industrial (a da informática e da microeletrônica e da engenharia genética) são até mais profundos do que o impacto que as duas primeiras causaram. Com as duas primeiras, vimos emergir a preocupação com a educação das massas populares que desembocou, principalmente a partir do século XIX, na construção dos grandes sistemas educacionais de massa, impulsionados pelo novo modo de produção industrial e pela urbanização. Neste início de século, condicionada pelas consequências da globalização, a preocupação passa a ser com a construção de uma educação planetária. Esta tem nos quatro pilares a seguir enunciados a sua base de sustentação: 1) Aprender a conhecer. 2) Aprender a fazer. 3) Aprender a viver juntos, aprender a viver com os outros. 4) Aprender a ser (UNESCO, 1998). Como assinala o pensador francês Edgar Morin, os educadores precisam refletir sobre a natureza do conhecimento a ser trabalhado pela escola, enfatizando o ensino sobre: a condição humana, a identidade terrena, as incertezas que cada vez mais assolaram a espécie humana, com vistas a desenvolver uma educação voltada para a compreensão em todos os níveis educativos e em todas as idades, que pede a reforma das mentalidades e a consideração do caráter ternário da condição humana, que é ser ao mesmo tempo indivíduo/sociedade/ espécie. Morin conclui que há necessidade de a educação se preocupar com a ética do gênero humano, tendo em vista estabelecer uma relação de “controle mútuo entre a sociedade e os indivíduos pela democracia e conceber a Humanidade como comunidade planetária” (MORIN, p. 2001). FONTE: PALMA FILHO, João Cardoso. A educação através dos tempos. Acervo digital – objetos educacionais Unesp, 2010. p. 6-8. Disponível em: https://bit.ly/33Liwm9. Acesso em: 22 mar. 2020. Você já perguntou qual é a função da educação? Experimente fazer um exercício de pesquisa com pessoas no seu cotidiano. Faça a seguinte pergunta “O que é educação e qual é a sua função”? TÓPICO 1 — AFINAL, O QUE É EDUCAÇÃO SOCIAL? 11 É importante deixar claro, que quando falamos em educação, estamos nos referindo a ela de maneira ampla. Ou seja, no processo de educação (aprendizagem) pelo qual passamos no decorrer da nossa vida. É importante destacar que a educação não ocorre só no ambiente escolar. A educação escolar ou a escolarização é mais uma das formas de educação existentes. NOTA As respostas certamente irão variar com relação a concepção que cada respondente tem sobre educação. Provavelmente, muitas respostas vão mencionar a importância da educação para a formação do sujeito, por entender que ela é fundamental para o convívio em sociedade. Outras podem ver a educação como instrumento de dominação e reprodução social (GADOTTI,1999). Antes de tudo, é preciso levar em consideração que as pessoas possuem opiniões próprias sobre as coisas. Isso pode variar de acordo com contexto social, econômico, político, ideológico, de classe, entre outros. Como educação é um assunto abrangente e comum e que se estende a todas as pessoas, as opiniões sobre ela também são as mais diversas. No entanto, o que queremos, neste tópico, é compreender a função da educação. Ora, a educação tem inúmeras funções, essa pergunta só faz sentido quando inserida em um contexto mais amplo. Isto é, a pergunta para ter uma resposta adequada deve ser considerada em um determinado contexto sócio- histórico. A educação enquanto categoria analítica passou por profundas transformações. Isso implica reconhecer que o consenso ou o entendimento do que é ou deixa de ser educação também se modificou com o passar do tempo (LUZURIAGA, 1983). Ou seja, os valores que norteavam o processo educativo na antiguidade, durante o período medieval e hoje são muitos diferentes. Mesmo assim, nos referimos a educação como se fosse uma entidade coletiva ou categoria única. Caro acadêmico! É importante salientar que essas diferentes formas de educação ao longo do tempo não se anulam. De modo contrário, cada sociedade estabeleceu meios próprios para transmitir conhecimentos e valores para novas gerações. IMPORTANT E UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO ÀS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO SOCIAL 12 Não há uma uniformização quando nos referimos à educação no curso do seu desenvolvimento histórico. Cada tipo de educação visa formar um sujeito com competências e capacidades que respondam aos interesses da sociedade na qual está inserido. Por esse motivo, uma simples pergunta pode levar a várias respostas. As ideias pedagógicas variam no espaço e tempo. Essas transformações modificam nossa própria visão sobre a educação e a sua função. Como podemos ver na Figura 1, a educação busca apresentar as muitas dimensões que podemos usar para compreender as questões relacionadas com a educação. FIGURA 1 – DIMENSÕES DA EDUCAÇÃO FONTE: O autor Na dimensão histórica podemos destacar as muitas transformações que permitiram a manutenção da educação enquanto instituição social. Por mais, que ela sofra modificações de uma sociedade para outra, a educação permanece enquanto prática social. Isto é, a forma como educamos hoje difere do modo adotado nas sociedades primitivas e nas sociedades antigas. Por mais que haja diferença nessa forma de educar é possível notar permanências. Na dimensão cultural destacamos a importância que a educação possui na transmissão de valores, normas, crenças e comportamento. Neste sentido, a educação pode ser vista como forma meio para formação de unidade e identidade. Outra variável possível de constatar é a cultural. Imaginem duas crianças com a mesma idade em contexto socioespaciais e culturais distintos. As duas possivelmente vão passar pela escola e vão aprender coisas com as pessoas de sua comunidade. Embora tenham a mesma idade e passem por experiências parecidas, os contextos não são idênticos. Imagine uma criança educada no Japão e outra no Brasil. TÓPICO 1 — AFINAL, O QUE É EDUCAÇÃO SOCIAL? 13 A dimensão ideológica trata dos embates entorno da própria educação. Existem grupos com opiniões diversas que as vezes são convergentes outras divergentes. A dimensão ideológica busca compreender quais são os motivos que esses indivíduos ou grupos atribuem a sua opinião e por que o fazem. O conceito de ideologia é um dos conceitos mais complexos dentrodas ciências humanas e muitas vezes tido como vilão. O cientista político Andrew Heywood (2010), descreve que a ideologia nos oferece a) explicações da situação atual, ou seja, nos oferece uma visão de mundo; b) permite pensarmos num futuro desejável, um modelo ideal de sociedade; e c) explicam como mudar o panorama político. A dimensão econômica influi diretamente sobre a ordem material. Em outras palavras, há quem vê na educação uma forma de ascensão social. A educação em países em desenvolvimento permite uma maior mobilidade social. Deste modo, educação no prisma econômico desloca seu eixo para relação indivíduo e Estado (CARNOY, 1984). Como o Estado pode atuar para melhorar as condições de renda e educação de sua população. A dimensão social constitui uma dimensão extensiva e restritiva. Extensiva porque, quando falamos em social nos remetemos a sociedade e todos as dimensões arroladas até momento são frutos e ocorreram em sociedade. Restritiva porque é muito difícil pensar uma sociedade sem educação. Lembrando que educação e escola não são sinônimos, educação é mais do que escolarização. A política também é uma das dimensões importantes quando falamos em educação. Pois é o que define quais as obrigações que indivíduos, estados e municípios devem ter quando o assunto é educação. Se considerarmos a educação como elemento indispensável à dignidade humana e para o pleno exercício da cidadania, iremos perceber que o direito e acesso à educação pública é uma conquista histórica muito recente. E este só foi possível por meio de muita luta. Prezado acadêmico! Busque sempre, em sua prática profissional, analisar as questões em uma perspectiva globalizante e abrangente. Tome, por exemplo, as dimensões que utilizamos para tentar explicar o que é educação e como é possível estabelecer várias conexões. Pensar de maneira ampla auxilia na compreensão do mundo que nos circunda e ajuda a fugir de imediatismo. ATENCAO UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO ÀS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO SOCIAL 14 4 AS DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS ENTRE O ENSINAR, O CUIDAR E O EDUCAR Iremos adentrar e buscar compreender melhor alguns conceitos importantes e que fazem parte da atividade cotidiana de um educador social. O trinômio ensinar, cuidar e educar guardam semelhanças e contrastes entre si. O conceito de ensinar também se modificou com a passagem do tempo como nos mostra Antunes (2011, p. 51), [...] a palavra “ensinar” aparece entre aspas. Se consultamos o Minidicionário Enciclopédico Escolar, de Ruth Rocha e Hindenburg da Silva Peres, o verbete informa que ensinar significa instruir, educar, adestrar, castigar. O conceito apavora e concordar plenamente com ele seria um retrocesso, pois instruir e educar são conceitos aceitáveis, mas adestrar e castigar remete-nos justamente à escola da qual procuramos fugir. Quase sempre quando pesquisamos sobre ensino, a bibliografia encontrada está atrelada à escola. Como podemos perceber os seres humanos recorreram a várias práticas para atingir seus fins. Isto é, o processo de ensino, muitas vezes, foi mediado por punições, sanções e castigos infligidos aos educandos. Um outro olhar sobre o conceito de ensino é apresentado por Castro (2018, p. 9, grifo nosso): Costuma-se associar ao conceito de ensino a ideia de instrução. Esta, às vezes, diz respeito ao processo de transmissão do saber, à tarefa de instruir; outras vezes, denomina seu resultado: fala-se, por exemplo, de homens instruídos, como de pessoas que adquiriram o saber, a cultura e de instrução como um procedimento, uma ação. Indica a aquisição de algum conteúdo cognitivo, mas o termo é usado também na expressão “instrução moral e cívica”, mais comprometida com a formação de atitudes e valores, sabendo-se que o mesmo radical aparece na palavra “instrutor” relacionada à aquisição de destrezas, hábitos ou habilidades. Como acontece com muitas outras palavras do vocabulário pedagógico, não tem um significado preciso, embora tenha tendência a priorizar a aquisição de determinadas informações ou saberes, e corresponde à necessidade que tem a humanidade de valorizar os tesouros culturais que coloca à disposição das novas gerações. Como podemos perceber a ideia de ensino está vinculada ao processo de instrução. Pode ser representado de dois modos: 1) como a forma pela qual ocorre a transmissão do saber; e 2) como resultado dessa ação. No primeiro caso, está vinculado ao processo pelo qual o indivíduo aprende uma competência ou habilidade. No segundo caso, está associado a um comportamento ou valor. Além do ensino, outro conceito central para nós enquanto educador social é a palavra cuidar. Essa deriva do latim colere que significa cultivar, contextualizando significa compreender o cuidado como algo indispensável a todo ser humano. TÓPICO 1 — AFINAL, O QUE É EDUCAÇÃO SOCIAL? 15 O cuidar é um processo que envolve desenvolvimento; cuidar é ajudar a crescer e a se realizar e, para isso, existe um padrão comum: ao cuidar experiencia-se o outro ser de forma a considerá-lo com capacidades e necessidades de crescer. [...] No processo de ajudar o outro a crescer, a ideia é a de que esse venha cuidar também de algo ou alguém, assim como de si mesmo (WALDOW, 2006, p. 36). Perceba que o cuidado é algo indispensável quando pensamos no desenvolvimento da empatia e autonomia dos sujeitos. O cuidado, enquanto uma atividade coletiva, não é exclusividade da espécie humana. Ao observamos o reino animal, também podemos evidenciar práticas de cuidados em diferentes espécies. Porém, o aperfeiçoamento das práticas de cuidado através do tempo é obra humana como nos mostra Waldow (2006, p. 39): O ser humano, ao longo do seu desenvolvimento, adquire formas de expressão de cuidar que se sofisticam. De modo informal, o cuidar se inicia, ou se expressa, predominantemente de duas formas: como um modo de sobreviver e com uma expressão de interesse e carinho. O primeiro modo faz-se notar em todas as espécies os sexos. Homens e mulheres, bem como plantas e animais, desenvolvem formas de sobrevivência que, dada a capacidade de raciocínio do ser humano aprimoram-se e sofisticam-se com o tempo. O segundo modo ocorre entre os humanos, predominantemente considerando sua capacidade de usar a linguagem, entre outras formas, para se comunicar com o outros. Desde o início da espécie, os estudos sobre o desenvolvimento mostram que o ser humano, independentemente sexo, tinha uma preocupação principal: sobreviver, e para isso precisava primeiro de alimento e água. Posteriormente, buscava abrigo de proteção contra inimigos e, mais tarde ainda, conta frio e chuva; construir abrigos onde se refugiava em fabricava indumentárias para cobrir o corpo, em geral com pele de animais, folhas e fibras tecidas. Desenvolveu instrumentos para casa e a pesca, artefatos é utensílios para o preparo é o consumo dos alimentos. Cuidar uns dos outros foi fundamental para que a espécie humana evoluísse até a nossa espécie, os Homo sapiens. Num primeiro momento, o cuidado está correlacionado à necessidade de proteção e manutenção do grupo. Posteriormente, com a Revolução Cognitiva, ocorrida no período pré-histórico (HARARI, 2017), representada pelas formas de comunicação, linguagem elaborada e o cuidado tomam novos contornos. Uma forma mais clara de compreendermos as necessidades humanas foi sintetizada nas obras do psicólogo americano Abraham Harold Maslow (1943; 1962). Segundo seus estudos, existe uma hierarquia das necessidades básicas dos seres humanos, estas estão dispostas em uma pirâmide como ilustra a Figura 2. UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO ÀS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO SOCIAL 16 FIGURA 2 – PIRÂMIDE DAS DA NECESSIDADES DE MASLOW FONTE: <https://bit.ly/2WBcbIq>.Acesso em: 22 mar. 2020. Na base da pirâmide se encontram as necessidades básicas indispensáveis para qualquer indivíduo como necessidades fisiológicas de segurança. As necessidades de pertencimento e amor (necessidades sociais), assim como, as necessidades de estima compõem o quadro de necessidades psicológicas. No topo da pirâmide estão as necessidades de autorrealização como crescimento, independência e realização pessoal. Para Maslow (1943; 1962), ao passo que vamos satisfazendo nossas necessidades mais básicas, buscamos satisfazer também as necessidades mais abstratas que se encontram no topo da pirâmide. Até o momento apresentamos os conceitos de ensinar e cuidar, iremos agora discorrer sobre o último conceito que é educar. TÓPICO 1 — AFINAL, O QUE É EDUCAÇÃO SOCIAL? 17 Existem inúmeras concepções sobre o educar, no entanto, vamos nos ater aqui à concepção de educação como um resultado do esforço do ensinar e do cuidar. Isto é um educar com um olhar humanizado sobre o processo de uma educação que privilegie a interação e a troca entre os sujeitos envolvidos no processo. “Educar é comover. Educar é doar. Educar é sentir e pensar, não apenas a própria identidade, mas também outras formas possíveis de viver e conviver (SKLIAR, 2014, p. 189). Na Figura 3, nós temos a representação gráfica em forma de diagrama da relação entre educar, ensinar e cuidar. FIGURA 3 – DIAGRAMA DA RELAÇÃO ENTRE EDUCAR, ENSINAR E CUIDAR FONTE: O autor Podemos verificar que a educação engloba tanto o cuidado para com quem se educa, como o ensino. Esse trinômio é importante para que a educação seja, humanizada e de qualidade. Para que a educação ocorra de forma humanizada, acolhedora e significativa para todos os envolvidos devemos privilegiar a relação entre o educar, cuidar e o ensinar. Essa forma de pensar a educação não deve se restringir apenas a locais formais de educação. Para além dos muros das escolas e centros de educação e mesmo universidades a educação tem que ser algo maior do que mera reprodução de conteúdo. Estimado acadêmico! O educar significa muito mais do que ensinar e cuidar. O cuidado e o ensino constituem partes importantes da educação. Pensar sobre o processo de educar sem o cuidar e o ensinar seria um esforço infrutífero. Neste sentido, lembre-se, futuro educador social, você tem um grande desafio em suas mãos o de educar. IMPORTANT E UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO ÀS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO SOCIAL 18 5 A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO SOCIAL A educação social emerge da necessidade de apararmos as desigualdades sociais. Nesse sentido, a sua atuação é fundamental na melhoria das condições sociais dos indivíduos no qual realiza seu trabalho. A educação como uma educação não formal é o palco do educador social. A educação não formal respeita a cultura, pois ela faz parte do ser humano e os valores são importantíssimos para sua formação. O indivíduo é reconhecido como um ser que pensa, age, sente e necessita ser respeitado para que possa crescer e se desenvolver. [...] A educação não formal apresenta muitas vezes características da educação social, que tem por referência a pedagogia social (SALGADO, 2018, p. 32). Como a educação social é uma forma de educação manifesta na própria realidade social e dialoga com vários campos do conhecimento, sua definição se torna uma tarefa difícil. Como descreve Díaz (2006), não há uma única maneira de descrever ou conceituar o que é educação social. A educação social encontra-se ligada às discussões que ocorrem nas áreas da Sociologia, Pedagogia Social, Serviço Social, Psicologia e também da educação. Esses vários campos disciplinares contribuem para formação do educador social. Cabe salientar que a educação social é uma realidade recente na história da educação social, principalmente, em nosso país. Os projetos de educação social ocorrem em outros períodos que não são preenchidos por atividades da educação formal. De acordo com Trilla (1996), a educação social atua com aqueles indivíduos que estão sob condição de risco social. Uma das funções sociais da educação social é justamente acompanhar os sujeitos que são deixados à margem da sociedade (GARCIA, 2009). Caro acadêmico! No próximo tópico desta unidade, você irá conhecer um pouco mais das principais áreas de atuação do educador social. ESTUDOS FU TUROS Para compreendermos a importância da Educação Social, precisamos fazer um resgate na história recente a fim de assimilar em que contexto social essa área de conhecimento surgiu. Podemos nos reportar ao século XX como um século de grandes transformações sociais. TÓPICO 1 — AFINAL, O QUE É EDUCAÇÃO SOCIAL? 19 Entre os principais episódios que marcaram o século XX estão as guerras mundiais e a crise do modo de produção capitalista, evidenciado pela quebra da bolsa de valores em 1929. Não bastasse isso, ainda temos a polarização entre Estados Unidos da América e a União das Repúblicas Socialistas Soviética ao fim da Segunda Guerra Mundial. É nesse cenário que surgem as primeiras políticas de educação social promovidas pelos países envolvidos nos conflitos e crises do século passado. Lideranças políticas viram que o único modo de reorganizar o setor econômico, era por meio da intervenção e incentivo econômico em áreas sociais. Dessa forma, temos os primeiros contornos de políticas na área de assistência e educação social (DÍAZ, 2006). No Brasil, podemos dizer que a Educação Social se constitui inicialmente fora das universidades como resultado da contribuição de muitos saberes e conhecimentos. Ou seja, num primeiro momento, a educação social estava voltada no atendimento de pessoas em vulnerabilidade ou risco vinculado a uma mentalidade caritativa e assistencial. Recentemente, sua atuação está associada à luta pela garantia de direito dos indivíduos e redução de desigualdades. Neste sentido, a educação atua com vistas a melhorar a vida em sociedade. Em suma, as fronteiras da Educação Social, como ciência, estão em construção e são frutos de algumas conquistas recentes dos profissionais que atuam dentro desta área. Como efeito, boa parte dos referenciais teóricos são provenientes de outros países ou de outras áreas do conhecimento como nos mostra Garcia (2009, p. 233-234). O campo da educação social no Brasil não dispõe de uma sistematização teórica efetuada pelo campo investigativo universitário, não possuindo uma carreira universitária. Em função disso, o que parece acontecer é que nos utilizamos da expressão por uma concepção de senso comum e nos aproximamos dos estudos e produções teóricas realizados em outros países, para, através dessa inter-relação, produzirmos e avançarmos na concepção de educação social e conhecermos se há alguma que nos interessa e que responda aos anseios desse campo no Brasil. Na esfera da atuação política do educador social, nós podemos constatar avanços significativos. Há uma articulação entre sujeitos de diversas regiões do país preocupados com as discussões e o reconhecimento do educador social no âmbito profissional. Essa articulação é materializada por meio do Encontro Nacional de Educação Social (ENES). Estes encontros têm por princípio o fortalecimento de políticas e ações voltadas para o universo da educação social. De acordo com ENES (2020, s.p.), UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO ÀS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO SOCIAL 20 A educação social pauta-se pelo compromisso com a luta pelos direitos humanos em todas as suas categorias, configurando-se, portanto, como potencializadora das ações dos educadores na afirmação dos direitos à cidadania das populações em situação de vulnerabilidade social. Em um cenário de flagrante retrocesso contra os direitos humanos no Brasil e golpe contra a democracia e os direitos dos trabalhadores,a história e os princípios da Educação Social nos fortalecem na construção de um projeto popular. Sobre os encontros do ENES (2020, s.p.) podemos destacar: A educação social pauta-se pelo compromisso com a luta pelos direitos humanos em todas as suas categorias, portanto, configura-se como potencializadora das ações dos educadores na afirmação dos direitos de cidadania de populações em situação de vulnerabilidade social. A partir do primeiro ENES alguns encaminhamentos devem ser observados: caráter nacional; realização bienal; ênfase na participação de indivíduos, mais do que instituições; multireferencialidade e interdisciplinaridade teórica; debate que garanta políticas de afirmação de direitos; estímulo ao processo de construção de práticas educativas e implementação de formas de organização de educadores; e a contribuição para o diálogo internacional sobre Educação Social. Já foram realizados 07 ENES, a saber: o “I Encontro Nacional de Educação Social”, realizado em junho de 2001, na cidade de São Paulo/SP, com cerca de 1000 participantes, o “II Encontro Nacional de Educação Social” realizado em julho de 2002, em Maringá/PR, com cerca de 700 participantes, o “III Encontro Nacional de Educação Social” realizado em novembro de 2004, em Colatina/ES, onde participaram cerca de 750 pessoas, o “IV Encontro Nacional de Educação Social” realizado em novembro de 2006 em Belo Horizonte – MG onde participaram 800 pessoas, o “V Encontro Nacional de Educação Social” realizado em novembro de 2008 em Recife – PE com a participação de cerca de 1.200 pessoas, o VI “Encontro Nacional de Educação Social” realizado em Julho de 2011 na cidade de Goiânia-GO e o VII “ Encontro Nacional de Educação Social” , realizado em outubro de 2017 em Fortaleza. Os participantes são oriundos de diversas áreas de políticas públicas, de garantia de direitos humanos, de programas governamentais e não governamentais, de movimentos sociais entre outros. Notadamente o maior público é o que atua com crianças e adolescentes, fato que pode ser explicado pela iniciativa dos profissionais e militantes da área da criança e do adolescente em realizar o I Encontro Nacional de Educação Social. Para conhecer mais da educação social no Brasil, sugerimos que você acesse o site do Encontro Nacional de Educação Social (ENES). Lá existe um acervo com documentos e registros dos encontros, além de uma biblioteca virtual com relatório e resoluções acerca da profissão. Acesse: https://www.enes8.org/. DICAS TÓPICO 1 — AFINAL, O QUE É EDUCAÇÃO SOCIAL? 21 Outro marco importante é a regulamentação da profissão de Educador Social no Brasil. Bauli e Müller (2019), analisaram o processo de normatização da profissão e as legislações que procuraram aperfeiçoar e delimitar os diretos e deveres dos profissionais que atuam na área da educação social. Por fim, o que podemos concluir é que a Educação Social carrega uma bagagem baseada no contexto histórico das sociedades e no desenvolvimento humano social dos indivíduos. Sua importância fica evidente quando percebemos que este profissional é peça-chave para mudanças sociais positivas e significativas. 22 Neste tópico, você aprendeu que: • As concepções acerca da educação se modificam de acordo com cada sociedade. Entretanto, é possível perceber que a educação é uma instituição social consolidada no tempo. • A educação é uma das formas pela qual os seres humanos compartilham conhecimentos e valores. • A pedagogia é uma ciência que busca analisar e teorizar processos de educação. • Cada tipo de educação visa formar um sujeito com competências e capacidades que respondam aos interesses da sociedade em que está inserido. • Para que a educação ocorra de forma significativa devemos privilegiar a relação entre o educar, cuidar e o ensinar. • A educação social recebe contribuições de inúmeras áreas entre elas podemos destacar: Sociologia, Pedagogia Social, Serviço Social, Psicologia e Educação. RESUMO DO TÓPICO 1 23 1 A educação é fundamental na formação dos indivíduos. É praticamente impossível pensarmos na construção de uma sociedade sem passar por processos educacionais. Neste sentido, escreva sobre a importância da educação ao longo da história. 2 Enquanto seres biológicos e sociais, possuímos necessidades e desejos. E, por sua vez, estas necessidades e desejos são condicionantes de nossas ações. Partindo deste pressuposto, sobre a Pirâmide de Necessidades de Maslow assinale a alternativa INCORRETA. a) ( ) As necessidades básicas se encontram na base da pirâmide e estão vinculadas as necessidades fisiológicas e de segurança. b) ( ) No topo da pirâmide estão as necessidades mínimas que são indispensáveis para todos os seres humanos. c) ( ) As necessidades psicológicas estão relacionadas a questões de pertencimento, amor e estima. d) ( ) A autorrealização encontra-se no topo da pirâmide e versa sobre a realização pessoal. 3 A educação social assume uma grande importância na luta contra as mais diversas formas de desigualdade social. Sobre a importância da educação social, leia as sentenças a seguir e classifique V para Verdadeiras e F para Falsas. ( ) A educação social só acontece de maneira efetiva dentro de espaços escolares. ( ) Não existem políticas públicas que visem a redução das desigualdades no Brasil. ( ) É preciso fazer um resgate da história para compreender de maneira mais aprofundada a importância da educação social. ( ) A educação social, enquanto ciência, está em construção e suas conquistas derivam do esforço dos profissionais que se dedicam e trabalham nesta área. Agora assinale a alternativa que apresente a sequência CORRETA: a) ( ) F – F – V – V. b) ( ) V – V – F – F. c) ( ) F – F – V – F. d) ( ) F – V – F – V. AUTOATIVIDADE 24 25 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 A FUNÇÃO DO EDUCADOR SOCIAL E SUAS ÁREAS DE ATUAÇÃO 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico! As transformações sociais e o papel do educador social estão de alguma forma relacionadas. A sociedade é ampla e complexa e compreender como ela funciona faz parte do trabalho do educador social. Isso porque esse profissional irá trabalhar nos mais diversos tipos de ambientes, com os mais diversos tipos de sujeitos. É na sociedade que encontramos problemas sociais, religiosos, econômicos, políticos, entre outros, mas é em sociedade que também encontramos a oportunidade de dialogar e promover ações para possíveis soluções destes problemas. Essa pluralidade e complexidade existente na vida em sociedade têm impacto direto no trabalho do educador social. É pensando nisso que este tópico irá discutir o papel transformador do educador social na sociedade e convidá-lo para refletir acerca de suas ações e da sua importância enquanto profissional. Como vimos, no tópico anterior, existem discrepâncias entre o educar, o ensinar e o cuidar, pois a educação não tem um fim nela mesma e vai além dos processos de ensino e aprendizagem dentro do ambiente escolar. Ao considerar a complexidade da educação e suas práticas, este tópico tem como objetivo proporcionar uma série de leituras, sugestões e reflexões sobre as competências pedagógicas e socais do educador social. Neste tópico, também serão propostas atividades, em que a principal intenção é que você, estudante, consiga refletir tanto sobre as experiências e vivências do educador social, quanto acerca das mudanças sociais, da vida em sociedade e dos desafios que este profissional pode encontrar no seu cotidiano. Por último, já cientes da importância do educador social, suas práticas e realidades, conversaremos sobre alguns conceitos importantes, para através deste tópico, conhecer as áreas de atuação em queo educador social está inserido. Vamos lá? 26 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO ÀS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO SOCIAL 2 O EDUCADOR SOCIAL ENQUANTO AGENTE DE TRANSFORMAÇÃO Muito provavelmente, você que está lendo este livro se tornará um educador social. Saiba que sua atuação em sociedade é fundamental para a transformação social. E além de profissionais da área, nós também somos a sociedade, temos casas, moramos em comunidades, bairros, cidades. Por isso, para compreender o papel do educador social, precisamos pensar também na relação entre educação e sociedade. É um desafio, mas se faz necessário construir este diálogo entre a educação social e a comunidade. É desta maneira que perceberemos como é possível articular nossos saberes acadêmicos com a realidade social na qual estamos inseridos. Moacir Gadotti (2012, p. 5), em seu artigo intitulado Educação Popular, Educação Social, Educação Comunitária: conceitos e práticas diversas, cimentadas por uma causa comum, faz um questionamento importante: “Quem educa o educador social? Onde este profissional se forma?” Para ampliar seus conhecimentos, acesse o artigo Educação Popular, Educação Social, Educação Comunitária: Conceitos e práticas diversas, cimentadas por uma causa comum, de Moacir Gadotti, neste link: https://bit.ly/2U8wLOK. DICAS É pensando nisso que discutir sobre o papel do educador social se faz ainda mais importante neste tópico, para de alguma forma, contribuir com o aperfeiçoamento dos educadores sociais em geral. Sobre essa relação entre sociedade e educação, consideremos alguns pontos: A compreensão de que uma prática educativa compõe uma prática social permite entender que a primeira ocorre em diferentes espaços na sociedade e de várias maneiras. Quando se fala em prática educativa, logo se pensa em um processo de ensino-aprendizagem que acontece exclusivamente no ambiente escolar, mas, com a compreensão dessa prática como uma prática social, a educação pode ser concebida de outra forma. Passar a compreender o processo de ensino–aprendizagem de uma maneira ampla, em que o ser humano, protagonista desse processo, é entendido como um ser que vive e se desenvolve socialmente, torna lógica a conclusão de que, a todo o momento e em todos os lugares, ele ensina ou aprende algo (MACHADO, 2015, p. 14-15). TÓPICO 2 — A FUNÇÃO DO EDUCADOR SOCIAL E SUAS ÁREAS DE ATUAÇÃO 27 Desta maneira, é importante ressaltar que pouco vamos falar neste tópico sobre educação escolar. Estamos falando de educação em um sentido muito mais amplo, no qual o educador social faz parte do processo de ensino-aprendizagem de maneira integral. Como nos diz Paulo Freire (1999, p. 52), em sua obra “Pedagogia da Autonomia”, “[...] ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”. O sociólogo Anthony Giddens (2012, p. 590, grifo do autor) nos explica a diferença de educação e escolarização, veja: A educação, assim como a saúde, costuma ser vista como um bem social livre de problemas, ao qual se tem direito. Quem não seria a favor dela? De fato, a maioria das pessoas que passaram por um sistema educacional e saíram alfabetizadas e com um conhecimento razoável provavelmente concordaria que a educação foi benéfica para elas. Todavia, existe uma diferença entre educação e escolarização. A educação pode ser definida como uma instituição social, que possibilita e promove a aquisição de habilidades e conhecimento e a ampliação de horizontes pessoais. A educação pode ocorrer em muitos ambientes sociais. A escolarização, por outro lado, refere-se ao processo formal pelo qual certos tipos de conhecimento e habilidades são transmitidos, normalmente por meio de um currículo predefinido em ambientes especializados: as escolas. A escolarização, na maioria dos países, divide-se em estágios, como os estágios das escolas primária e secundária e, em muitas sociedades, é um requisito obrigatório para todas as pessoas até uma determinada idade. Há várias formas de compreender a realidade em que estamos inseridos e há outras tantas de entender o fenômeno educativo. Estudamos, no tópico anterior, o conceito de educar, por isso agora conseguimos pensar na multidimensionalidade deste conceito. Assim, de acordo com tudo o que já lemos até aqui, podemos perceber que o educador social é um profissional que possui uma função complexa e de extrema importância na contemporaneidade. Valorizar e reconhecer a função do educador social é essencial! Por isso este tópico conta com subsídios teóricos que convidam a refletir sobre a construção de práticas inovadoras que contribuam com os processos de mudanças sociais. ATENCAO “Quando analisamos a educação atualmente em nosso contexto cada vez mais globalizado, o que se observa é a diversidade de provisão educacional ao redor do mundo” (GIDDENS, 2012, p. 611). 28 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO ÀS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO SOCIAL Ao entrar em uma sala de aula, em quase todos os lugares do mundo, um professor encontrará seus alunos enfileirados em carteiras escolares e ele seguirá rotinas como fazer a chamada, aplicar provas, passar tarefas, entre outros. Já o educador social construirá sua rotina em cima das experiências inéditas do cotidiano em que irá trabalhar. A prática educativa pode acontecer em diferentes espaços e com diferentes pessoas. Por isso é importante que o educador social esteja aberto para lidar com os desafios diários durante o exercício da profissão. Faz parte então, que o educador social seja capaz de lidar com a diversidade. Sobre a diversidade que encontramos ao trabalhar nesta área, Gadotti (2012, p. 2) afirma: A diversidade é a marca desse movimento de educação social, popular, cidadã, cívica, comunitária. Trata-se de uma rica diversidade que precisa ser compreendida, respeitada e valorizada. A primeira impressão que se tem é de fragmentação, mas se olharmos o conjunto desta obra, veremos que ela está unida [...]. Essa diversidade tem em comum o compromisso ético-político com a transformação da sociedade, desde uma posição crítica, popular, política, social e comunitária. A consciência política do educador social caminha junto com o seu trabalho nas comunidades e coletivamente vai construindo ferramentas, através do diálogo, compartilhando seus saberes, técnicas e experiências, que servirão de apoio para transformar positivamente a realidade. O papel ético e político do educador social baseia-se numa educação transformadora que rompa com status quo, que permite com que os indivíduos vivam a margem da sociedade possam se livrar desta situação (NATALI; SOUZA; MÜLLER, 2013). Deste modo, é fundamental que o educador social tenha compromisso ético e político no exercício de profissão. Valorizar as diferenças, conhecer e respeitar outras culturas, pensar em práticas inovadoras e estimular a aprendizagem de um jeito que o indivíduo se sinta protagonista da sua própria história são maneiras de mudar a realidade na qual vivemos. Portanto, a educação social possui, [...] uma gama ampla de atividades educacionais cujo objetivo é estimular a participação política de grupos sociais subalternos na transformação das condições opressivas de sua existência social. Em muitos casos, as atividades de “educação popular” visam o desenvolvimento de habilidades básicas como a leitura e a escrita, consideradas como essenciais para uma participação política e social mais ativa. Em geral, seguindo a teorização de Paulo Freire, busca-se utilizar métodos pedagógicos – como o método dialógico, por exemplo – que não reproduzam, eles próprios, relaçõessociais de dominação (SILVA, 2000, p. 48). TÓPICO 2 — A FUNÇÃO DO EDUCADOR SOCIAL E SUAS ÁREAS DE ATUAÇÃO 29 Desta forma, faz-se necessário que o educador social perceba a importância de subsídios teóricos, mas também incorpore novas práticas. É preciso que o profissional compreenda que só é possível ser um agente transformador da sociedade se ele se permitir compartilhar o que sabe, sugerindo novas atividades e propostas. FIGURA 4 – EDUCAÇÃO NÃO É SÓ IR À ESCOLA FONTE: <https://bit.ly/3di8f5z>. Acesso em: 15 mar. 2020. Podemos entender na Figura 4 que há uma variedade de práticas educativas e que vão além do ambiente escolar. Quando se trata da educação social, essas práticas podem acontecer em vários espaços e precisam de um profissional que seja responsável por elas: o educador social. Fique tranquilo. Iremos aprender em breve quais ambientes são espaços para práticas na educação social. Veremos isso ainda neste tópico! ESTUDOS FU TUROS Outro fato que precisa ser ressaltado, é que o profissional educador precisa estar preparado para lidar com as condições sociais e de vida dos seus educandos. Então, o educador social enquanto exerce o seu trabalho possui influência sobre a mudança social no ambiente em que está inserido. São vários os fatores que ajudam a promover mudança social, entre eles podemos citar: fatores culturais, de ambiente, políticos e econômicos. E quando um educador social trabalha para que a realidade de algum indivíduo mude, ele trabalha a favor da mudança social. 30 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO ÀS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO SOCIAL Segundo Giddens (2012, p. 98), Identificar mudanças significativas envolve mostrar o quanto existe alterações na estrutura subjacente de um objeto ou situação durante um período de tempo. No caso de sociedades humanas, para decidir o quanto e de que maneira o sistema está em processo de mudança, temos que mostrar em que grau existe alguma modificação das instituições básicas durante um período específico. Desta forma, percebemos que o trabalho do educador social não é feito da noite para o dia e precisa de planejamento e seriedade para lidar com as diversidades e adversidades que serão encontradas ao longo do percurso educacional. O educador social, como já vimos de forma breve anteriormente e iremos aprofundar em seguida, trabalhará em vários ambientes diferentes e por isso terá que lidar com vários sujeitos diferentes e diversos tipos de realidade. FIGURA 5 – A IMPORTÂNCIA DO EDUCADOR FONTE: <https://bit.ly/2y0gfrt>. Acesso em: 23 mar. 2020. A figura ilustra a importância do educador no processo formativo dos seus educandos, seja dentro ou fora de ambientes formais. A imagem também convida a refletir, já que a faixa etária, o gênero, a raça, a etnia e a condição social e dos sujeitos que o educador social irá atender pode variar muito de lugar para lugar. Seu trabalho trata então da promoção de ações que acabarão consequentemente melhorando as condições de vida destes indivíduos, sejam eles crianças, adolescentes, adultos ou idosos. É o processo educacional contínuo e gradual que promove mudanças sociais e faz deste profissional um agente transformador. TÓPICO 2 — A FUNÇÃO DO EDUCADOR SOCIAL E SUAS ÁREAS DE ATUAÇÃO 31 3 AS COMPETÊNCIAS PEDAGÓGICAS DO EDUCADOR SOCIAL O que fundamenta a ação do educador social? Qual é o papel do educador social? Na tentativa de responder a essas questões, abordaremos agora quais são as competências pedagógicas do educador social. Vamos buscar interagir com a pedagogia social e compreender a função pedagógica deste profissional. Segundo o autor Érico Ribas Machado (2015, p. 18), [...] a Pedagogia Social pode auxiliar na orientação da tomada de decisões, particularmente em momentos cruciais. A Pedagogia Social é considerada como o dispositivo pedagógico de leitura, de crítica e de elaboração de propostas ou modelos propriamente educativos em relação às políticas sociais. Este mesmo autor também nos diz que a pedagogia social é avaliada como a ciência da educação social. Neste sentido, nós precisamos tomar cuidado, pois as definições de educação social, pedagogia social e também de trabalho social são muito parecidas, e, às vezes, aparecem juntas em obras e artigos de alguns pesquisadores (MACHADO, 2015). É objetivo deste tópico é contribuir para o esclarecimento dessas questões e convidá-los a refletir sobre a relação que a educação social tem com as áreas da assistência social e da pedagogia. Essas áreas se aproximam de várias formas e todas elas se preocupam com o desenvolvimento humano e a mediação com as práticas educativas. Podemos já ter ouvido falar que toda pedagogia é social, mas que nem toda educação é formal. Por isso, quando falamos aqui de pedagogia social estamos conceituando a relação entre educação e sociedade, falando de um conceito exclusivamente social. Portanto, tratar das competências pedagógicas de um educador social é buscar entender quais caminhos ele vai trilhar para organizar as práticas e os processos de ensino e aprendizagem dos grupos com os quais ele vai trabalhar. Mas o que são competências pedagógicas? Podemos, de modo breve, dizer que são um conjunto de conhecimentos, habilidades, técnicas e atitudes que auxiliam na construção da educação de qualidade contribuindo para a formação geral dos indivíduos. Ou ainda, Segundo o MEC, as competências são ações e operações que utilizamos para estabelecer relações com e entre objetos, situações, fenômenos e pessoas que desejamos conhecer. São operações mentais estruturadas em rede que mobilizadas permitem a incorporação de 32 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO ÀS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO SOCIAL novos conhecimentos e sua integração significada a esta rede. As habilidades decorrem das competências adquiridas e referem-se ao plano imediato do saber fazer. Com essas orientações, a prática pedagógica não será a transmissão dos saberes, mas o processo mesmo de construção, apropriação e mobilização destes saberes. A construção de competências depende de conhecimentos significados (MENEZES, SANTOS, 2001, s.p.). Podemos pensar então que são competências pedagógicas tudo aquilo que o educador planeja e faz para consolidar o processo de ensino e aprendizagem quando se relaciona com as pessoas e ambientes em que está trabalhando. “A compreensão de que uma prática educativa compõe uma prática social permite entender que a primeira ocorre em diferentes espaços na sociedade e de várias maneiras” (MACHADO, 2015, p. 14). Desta maneira, cabe refletir que as competências pedagógicas do Educador Social podem variar quando levamos em consideração a realidade do indivíduo, mas que de todo modo, essas competências são essenciais para que o profissional consiga exercer seu trabalho de forma efetiva. De acordo com a Base Nacional Comum Curricular – BNCC (BRASIL, 2017) atual, existem algumas competências gerais que devem ser desenvolvidas com ao longo da Educação Básica com os estudantes. É verdade que já deixamos claro aqui algumas vezes que a educação escolar não tem um fim nela mesma e que vamos além dos muros da escola. Por isso a importância do Educador Social. Mas vamos ler o Quadro 2 a seguir: QUADRO 2 – AS COMPETÊNCIAS GERAIS DA BNCC COMPETÊNCIAS GERAIS DA NOVA BNCC 1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. 2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade,
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