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SUMÁRIO 1. Definição ....................................................................... 3 2. Fisiopatologia .............................................................. 4 3. Etiologias .....................................................................10 4. Quadro clínico ............................................................16 5. Diagnóstico ................................................................22 6. Tratamento .................................................................27 Referências bibliográficas ........................................33 3SÍNDROME DE CUSHING 1. DEFINIÇÃO A Síndrome de Cushing (SC) ou hiper- cortisolismo foi descrita pela primeira vez em 1932 por Harvey Cushing, como uma síndrome caracterizada por manifestações sérias consequen- tes aos efeitos sistêmicos da exposi- ção crônica ao cortisol encontrado em uma de suas autópsias sendo asso- ciado com um adenoma hipofisário. Pouco depois, Walters e colaborado- res identificaram a contribuição adre- nal na etiologia dessa síndrome. Na década de 70, Lewinsky descreveu os tumores adrenocorticais clinicamente silenciosos e o conceito de síndrome pré-clínica (“Cushing subclínico”) foi introduzido no início dos anos 80 por Charbonnel. A SC é tida na comunidade científica como uma doença neuroendocrinoló- gica causada pela interrupção do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal levando à exposição crônica a glicocorticoi- des, cuja fonte tanto pode ser endó- gena quanto exógena, resultando em aspectos clínicos de distribuição anormal de gordura (obesidade cen- trípeta), disfunção gonadal, hiperten- são, entre outras. Na maioria das séries de hipercorti- solismo endógeno, o adenoma hipo- fisário (doença de cushing) corres- ponde a aproximadamente 70% das causas de SC enquanto os adenomas adrenais são responsáveis por cer- ca de 10% dos casos. A distribuição por idade e sexo varia de acordo com a causa sendo que a faixa etária de maior incidência ocorre entre os 25 e 50 anos. Exceto pela secreção ectó- pica de ACTH, a SC é mais frequente em mulheres do que em homens. CONCEITO: A Síndrome de Cushing, também denominada hipercortisolismo, é um complexo de sinais e sintomas que resulta da excessiva exposição dos teci- dos ao cortisol. 4SÍNDROME DE CUSHING 2. FISIOPATOLOGIA Figura 1. Eixo hipotálamo-hipófise-adrenal. Fonte: Carie A. Braun & Cindy M. Anderson. Fisiopatologia. Artmed, 2009. 5SÍNDROME DE CUSHING Figura 2. Eixo hipotálamo-hipófise-adrenal. Fonte: WIDMAIER, E. P.; RAFF, H.; STRANG, T.; VANDER, A. Fisiologia Humana – Os Mecanismos das Funções Corporais, 12ª ed. 2013. 6SÍNDROME DE CUSHING A glândula pituitária (também cha- mada de hipófise) é uma estrutura endócrina pequena (cerca de 0,5 g de peso), porém complexa, situa- da na base do prosencéfalo. Possui um componente epitelial denomina- do adeno-hipófise e uma estrutura neural chamada de neuro-hipófise. A adeno-hipófise é composta de cin- co tipos de células que secretam seis hormônios. A neuro-hipófise libera vários neuro-hormônios. Todas as funções endócrinas da glândula pitui- tária são reguladas pelo hipotálamo e por alças de retroalimentação positiva e negativa. A adeno-hipófise secreta vários hor- mônios tróficos que fazem parte de eixos endócrinos. Entram na cons- tituição de um eixo endócrino o hipotálamo, a pituitária e uma glân- dula endócrina periférica. O ponto de equilíbrio de um eixo é em grande parte controlado pelo hormônio peri- férico que exerce uma retroalimenta- ção negativa, ou feedback negativo, sobre a pituitária e o hipotálamo. As adrenais são glândulas localiza- das sobre os rins, por isso também são chamadas suprarrenais. Estas glândulas têm duas funções muito distintas, uma relacionada com o cór- tex, que produz os glicocorticoides, e outra com a medula, que produz adrenalina e noradrenalina. A me- dula da adrenal atua como um grande gânglio simpático, e seus hormônios adrenalina e noradrenalina são libe- rados na circulação por estimulação dos nervos simpáticos que saem da medula espinhal. Figura 3. Anatomia da glândula suprarrenal. Fonte: WIDMAIER, E. P.; RAFF, H.; STRANG, T.; VANDER, A. Fisiologia Humana – Os Mecanismos das Funções Corporais, 12ª ed. 2013. 7SÍNDROME DE CUSHING Desde 1929 já se sabia que os extra- tos do córtex da adrenal são essen- ciais para a vida, visto que prolongam indefinidamente a sobrevida de pa- cientes com síndrome de Addison. CONCEITO! A doença de Addison é insidiosa, em geral por hipofunção pro- gressiva do córtex adrenal. Produz vá- rios sintomas, incluindo hipotensão e hiperpigmentação, e pode causar crise adrenal com colapso cardiovascular. O diagnóstico é clínico e encontrando altas concentrações de hormônio adrenocor- ticotrófico (ACTH) e baixas concentra- ções de cortisol no plasma. O tratamen- to depende da causa, mas em geral é feito com hidrocortisona e, algumas ve- zes, outros hormônios. Estimulação de neurônios hipotalâmi- cos induz a liberação de hormônio co- ticotrófico (CRH) na hipófise que libe- ra na corrente sanguinea o hormônio ACTH. Estes agindo em receptores acoplados à proteína G estimula a sín- tese e liberação de cortisol e peque- nas quantidades de andrógenos. O cortisol atuando sobre o hipotálamo e hipófise anterior inibe a liberação de ACTH. A este mecanismo de controle é dado o nome de retroalimentação negativa (feedback negativo). Pense que forma inteligente de controle – quando tem muito cortisol – é passa- da a informação para produzir menos. O rompimento deste controle significa um estado patológico. O córtex da adrenal é formado por três zonas concêntricas – reticular, fas- ciculada e glomerulosa. Na primei- ra, são sintetizados os andrógenos; na segunda, o cortisol; e na terceira, a mais externa, o mineralocorticoide al- dosterona. Esta, na realidade, é a fonte de andrógenos das mulheres. Adrenal Glomerulosa Córtex Medula Fasciculada Reticulada Catecolaminas Aldosterona Cortisol Andrógenos 8SÍNDROME DE CUSHING Figura 4. Histologia da glândula suprarrenal. Fonte: SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana: uma aborda- gem integrada. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. O controle de síntese e liberação de cortisol é realizado pelo sistema ner- voso central – quer por uma via neural direta, quer por uma via hormonal, ati- vando o eixo hipotálamo-hipófise-a- drenal. A ativação neural está ligada ao processo do despertar, enquanto a via hormonal está ligada ao controle do estresse. O pico de cortisol gerado pela ativa- ção simpática é breve, enquanto o pico de cortisol gerado pelo eixo hi- potálamo-hipófise-adrenal é mais longo. Neste caso, o CRF (fator de liberação de corticotrofina) é libera- do pelo hipotálamo a partir do núcleo paraventricular. Este peptídeo, de 41 aminoácidos, atua como liberador de ACTH e betaendorfina. O ACTH atua sobre a zona fasciculada da adrenal, levando à liberação de cortisol. Fi- nalmente, o cortisol, atuando sobre o sistema nervoso central, diminui a liberação de CRF e inibe a síntese de ACTH quando atua diretamente na hipófise. Portanto, a administração de altas concentrações de medicamen- tos que contêm cortisol leva a uma inibição da função adrenal. A este processo de controle dá-se o nome de retroalimentação negativa. Em circunstâncias fisiológicas, ou seja, quando o indivíduo não está exposto a situações de estresse, a secreção do cortisol é regulada pelo ciclo cir- cadiano. Ao longo do dia, o cortisol apresenta concentrações elevadas pela manhã, com pico trinta minutos após acordar, seguindo com queda progressiva no restante do dia e con- centrações mais baixas no começo da noite. Este padrão típico de secreção é fundamental para o funcionamento dos demais sistemas do organismo. 9SÍNDROME DE CUSHING Figura 5. Concentrações sanguíneas de cortisol ao longo do dia. Fonte: WIDMAIER, E. P.; RAFF, H.; STRANG, T.; VANDER, A. Fisiologia Humana – Os Mecanismos das Funções Corporais, 12ª ed. 2013.O cortisol tem efeitos no controle do humor, na resposta imunológica e no metabolismo de carboidratos, lipídios e proteico. Ele altera de forma impor- tante o metabolismo ósseo e con- centrações altas estão associadas à osteoporose. Os glicocorticoides também aumentam a função cardía- ca e o tônus vascular periférico. Este é o hormônio do alerta, do estresse e da defesa, tendo, portanto, efeito so- bre diferentes funções biológicas. 10SÍNDROME DE CUSHING Figura 6. Ações do cortisol. Fonte: retirado de www.midia.atp.usp.br Dessa forma, concentrações eleva- das de cortisol podem causar, croni- camente, uma constelação de anor- malidades clínicas que constitui a síndrome de Cushing. CORTISOL Ações anti-inflamatórias e imunossupressivas Aumento da lipólise em células adiposas Aumento de gliconeogênese, glicogênese, estoque de glicogênio e atividade de glicose-6-fosfato Resposta ao estresse – manutenção do tônus vascular Aumento da mobilização de aminoácidos no tecido esquelético e muscular Aumento da mobilização de glicerol e ácidos graxos 3. ETIOLOGIAS A síndrome pode ter causas exóge- nas ou endógenas. No primeiro tipo, caracterizado como Síndrome de Cushing (SC) iatrogênica, a desordem é provocada pelo uso excessivo ou prolongado de corticosteroides, como a prednisona. 11SÍNDROME DE CUSHING A SC endógena pode ser classificada em relação à etiologia em dois gran- des grupos, de acordo com as con- centrações plasmáticas de ACTH em: SC ACTH-dependente e ACTH-in- dependente. As formas ACTH-de- pendentes se relacionam a doenças do eixo hipotálamo-hipofisário, ou tu- mores diversos secretores de ACTH/ CRH. Já as formas ACTH-indepen- dentes ocorrem em consequência a doenças primárias da suprarrenal. ETIOLOGIA DA SÍNDROME DE CUSHING Síndrome de Cushing Endógena Exógena ACTH dependente ACTH independente ETIOLOGIA DA SÍNDROME DE CUSHING ENDÓGENA PREVALÊNCIA Síndrome de Cushing ACTH-dependente 80% Doença de Cushing 70% Secreção ectópica de ACTH 10% Secreção de CRH < 1% Carcinoma de hipófise produtor de ACTH Raro Secreção ectópica de CRH/ACTH Raro Síndrome de Cushing ACTH-independente 20% Adenoma suprarrenal produtor de cortisol 10% Carcinoma suprarrenal produtor de cortisol 5% Hiperplasia macronodular suprarrenal primária (PMAH) < 2% Doença suprarrenal nodular primária (PPNAD) < 2% Síndrome de McCune-Albright Raro Secreção ectópica de cortisol Raro Síndrome de hipersensibilidade ao cortisol Raro Tabela 1. Fonte: retirado de www.mairimed.com/artigos/sindrome-de-cushing 12SÍNDROME DE CUSHING Doença de cushing Quanto à Doença de Cushing (DC) re- fere-se ao hipercortisolismo causado pela secreção excessiva de hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) por le- são hipofisária, sendo essa a causa mais frequente de SC endógena. O principal glicocorticoide produzido pelo córtex da glândula suprarrenal é o cortisol. Em excesso, pode conduzir a uma gama de sintomas, podendo, inclusive, apresentar sinais neuropsi- quiátricos de ansiedade, depressão, psicose, instabilidade emocional e apatia. Em indivíduos saudáveis, a home- ostase fisiológica dos corticotróficos é ajustada por fatores hipotalâmicos estimulatórios e inibitórios e pelo ci- clo de feedback negativo dos glico- corticoides das glândulas suprarre- nais. No entanto, o tumor produtor de ACTH presente na DC é insensível às inibições que ocorreriam normalmen- te, resultando, assim, em um sistema incapaz de se autorregular e, conse- quentemente, em níveis aumenta- dos de glicocorticoides causando o hipercortisolismo. O diagnóstico da DC pode ser um de- safio clínico. Alguns pacientes apre- sentam alguns dos sinais e sinto- mas característicos, como mal-estar generalizado, obesidade e fraqueza muscular, porém o diagnóstico pode ser lento pois parte da sua manifes- tação ainda permanece ampla e não específica. Outros sintomas, incluindo suor excessivo, pelos no corpo, ansie- dade, depressão, facilidade de obter hematomas e irritabilidade, são difí- ceis de diagnosticar, e não são inicial- mente alarmantes aos pacientes ou se apresentam de forma gradativa o suficiente para serem notados apenas em retrospecto. Além disso, o diag- nóstico laboratorial não é totalmente preciso, por vezes é demorado e incô- modo ao paciente e pode apresentar resultados inicialmente confusos. Em paralelo a isto, vê-se que a do- ença está associada ao aumento da mortalidade e a complicações varia- das devido à adiposidade visceral, re- sistência à insulina, hipertensão e hi- percoagulabilidade, levando a riscos como doença cardíaca isquêmica, do- ença cerebrovascular, diabetes melli- tus (secundária ao hipercortisolismo), osteoporose e infecções (devido ao estado de imunossupressão). Alguns destes riscos podem persistir mesmo após a remissão da doença. A DC apresenta-se principalmente pelo ganho de peso em obesidade central, fadiga com miopatia proximal, afinamento da pele com estrias arro- xeadas e hematomas difusos. Alguns pacientes apresentam menores picos de hipercortisolismo, com diagnóstico alcançado depois de muitos anos e consultas médicas. As manifestações do hipercortisolismo incluem hiper- tensão, distribuição anormal de gor- dura, pele fina sensível a hematomas, 13SÍNDROME DE CUSHING fraqueza muscular, osteoporose, hirsutismo e disfunção gonadal. Os pacientes com DC também podem apresentar uma ampla variedade de sintomas psiquiátricos, incluindo de- pressão, instabilidade emocional, de- ficiências cognitivas, apatia, ansieda- de e psicose. No caso de pseudocushing, defini- da pela condição na qual os pacien- tes apresentam o quadro clínico e ní- veis de cortisol anormais, porém não é causado por disfunções eixo hi- potálamo-hipófise-adrenal, a ma- nifestação se dá de maneira parcial apresentando obesidade, estresse, diabetes mellitus descontrolado e síndrome do ovário policístico (SOP). Dessa forma, diferenciação do que é DC e pseudocushing nem sempre é muito precisa. A DC em crianças acontece muito raramente apresentando sintomas insidiosos com características rela- cionadas à falha do crescimento, obe- sidade, puberdade e aparência facial. Os desafios para diagnosticar tal do- ença se dão, em parte, pela ampla manifestação. O termo “cushingóide” existe para demonstrar alguns dos sintomas clássicos da doença, porém alguns deles se mostram presentes também em outros distúrbios, como é o caso da obesidade, fraqueza mus- cular e mal-estar generalizado. SE LIGA! A doença de Cushing é a sín- drome de Cushing que resulta de ex- cesso de produção do hormônio adre- nocorticotrófico (ACTH), geralmente secundária a adenoma hipofisário. Secreção ectópica Os pacientes portadores da síndrome ectópica de ACTH (SEA), particular- mente aqueles com doenças malig- nas como o carcinoma pulmonar de pequenas células, podem apresentar quadro clínico atípico predominan- do o estado consumptivo (35%) e maior frequência de hipopotassemia (> 70%), hiperpigmentação, osteope- nia/osteoporose e alterações meta- bólicas, como a intolerância à glicose. Além do carcinoma do pulmão, a SEA pode ainda ser secundária a tumores no timo ou no pâncreas, e em casos mais raros carcinoma medular da ti- reoide ou feocromocitoma. SE LIGA! Nos doentes com doença maligna, particularmente no carcino- ma de pequenas células do pulmão, os sintomas de hipercortisolismo clássicos – obesidade central, estrias, hiperten- são, fácies em “lua-cheia” – não são os mais prevalentes, devido ao estado con- sumptivo muitas vezes induzido pela rápido turnover tumoral; ao invés, estão presentes sintomas de “wasting”, como perda ponderal e de massa muscular, hi- perpigmentação, miopatia, hipocalemia, osteoporose. 14SÍNDROME DE CUSHING Ainda são possíveis outras manifes- tações da SC, como as formas ec- tópicas de fontes não hipofisárias, podendo ocorrer de duas maneiras já descritas na literatura: Síndrome de Cushing Ectópica (SCE) associa- da a neoplasiasagressivas e SCE com tumores indolentes e ocultos. A SCE é considerada uma síndrome paraneoplásica. CONCEITO! As síndromes paraneoplá- sicas referem-se a distúrbios clínicos que não podem ser diretamente atribuídos aos efeitos físicos do tumor primário ou metastático. Podem ser causados por: 1. produção de substâncias pelas célu- las tumorais responsáveis por efeitos sistémicos; 2. diminuição de substâncias habitual- mente presentes no organismo, que leva ao aparecimento de sintomas; e 3. resposta imunitária do hospedeiro ao tumor. Dessa forma, as neoplasias que se- cretam quantidades excessivas de ACTH geralmente se diferenciam a partir de células neuroendócrinas e podem se apresentar em forma de lesões benignas e indetectáveis a tumores com metástases múltiplas. Cerca de 50% dos tumores ectópicos causadores da Síndrome de Cushing são pulmonares; se mostrando, em alguns casos, indistinguíveis das ca- racterísticas da Doença de Cushing, sendo, portanto, muitas vezes impos- sível estabelecer diferenciações. A Síndrome de Cushing cíclica é ou- tra forma de manifestação da SC menos frequente, caracterizada por momentos de hipercortisolismo in- tercalados com outros de normocor- tisolismo. Tais ciclos podem ser tan- to regulares como não; podendo os momentos de cortisol normal dura- rem por dias ou anos. Tumores adrenocorticais A síndrome de Cushing ACTH-inde- pendente é habitualmente causada por uma doença suprarrenal unilateral. De acordo com os diferentes relatos da literatura, a ocorrência de adeno- ma e carcinoma de suprarrenal pode ser semelhante ou com predomínio dos adenomas. Em crianças, as cau- sas primárias ocorrem em 65% dos pacientes com síndrome de Cushing, sendo a frequência de carcinoma 3 a 4 vezes maior do que a de adenomas. Os carcinomas adrenocorticais são tumores raros, com incidência de 1-2 por milhão de pessoas por ano. Os pa- cientes com carcinomas adrenocorti- cais tendem a apresentar uma evo- lução rápida e progressiva dos sinais clínicos de hipercortisolismo, muitas vezes coexistindo com sinais de viri- lização (tumores de secreção mista). Além do quadro clínico secundário à hipersecreção hormonal, queixas de dor e desconforto abdominal, acom- panhado ou não de massa palpável, são frequentes. A distribuição etária 15SÍNDROME DE CUSHING é bimodal, com um primeiro pico na infância e um segundo pico entre a 4a e 5a décadas da vida. A maioria dos pacientes com carcinoma da suprar- renal apresenta-se com doença me- tastática no momento do diagnóstico, o que caracteriza um prognóstico re- servado da doença. A tomografia computadorizada apre- senta ótima resolução da anatomia da glândula suprarrenal, com cortes entre 5 mm e 3 mm preferencial- mente. Podem-se identificar as asas das glândulas suprarrenais, sem o contraste intravenoso, entretanto, o contraste pode ser útil para avaliação de áreas de necrose, hemorragia e excluir invasão de trombo ou proces- so tumoral da veia cava nos carcino- mas das suprarrenais. Não é possível, entretanto, distinguir com segurança adenomas e carcinomas secretores de cortisol, baseando-se somente nos critérios morfológicos da lesão. Alguns autores consideram que as lesões maiores de 3,0 cm são suspei- tas de malignidade. CARACTERÍSTICA DAS IMAGENS DE TC E RNM DOS TUMORES ADRENAIS Adenomas do córtex adrenal • Nódulo menor que 3 cm, arredondado • Margens regulares • Homogêneo na tomografia computadorizada • Isosinal em relação ao fígado em T1 e T2 na ressonância magnética • 77% são nódulos unilaterais e únicos • Não há incremento de tamanho em pelo menos um ano de seguimento Carcinoma do córtex adrenal • Nódulo maior que 6 cm, lobulado • Margens irregulares • Heterogêneo na tomografia computadorizada (áreas de necrose, calcificação e hemorragia) • Isosinal em T1 e discreto hipersinal em T2 na ressonância magnética • Invasão local ou sinais de metástases (fígado e pulmão) Domenice S, Fragoso MCBV, Caserta NMG. Síndrome de Cushing Independente do Hormônio Adrenocorticotrófico (ACTH). Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Colégio Brasileiro de Radiologia. Projeto Diretrizes, 2008. 16SÍNDROME DE CUSHING Figura 8. Etiologias da síndrome de Cushing. Fonte: retirado de medicinanet.com.br 4. QUADRO CLÍNICO Os sinais considerados mais específi- cos da SC são: pletora facial, fácies de lua cheia, fraqueza muscular proximal, estrias cutâneas largas e avermelha- das/violáceas (> 1 cm), pele atrófica e fragilidade capilar/equimoses espon- tâneas num paciente que apresenta ganho de peso ou redistribuição do peso. Figura 9. Paciente com Síndrome de Cushing apresen- tando faces em lua cheia e pletora facial, além de depó- sito aumentado de gordura em pescoço e face. Fonte: SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. 17SÍNDROME DE CUSHING Figura 10. Paciente com síndrome de Cushing apre- sentando fácies pletórica de lua cheia com eritema e telangiectasias das bochechas e da fronte. A face e o pescoço mostram deposição aumentada de gordura. Uma pista clínica importante para a presença de excesso de glicocorticoi- de é o desenvolvimento simultâneo e a gravidade crescente de vários des- ses sintomas. As manifestações clínicas da síndro- me de Cushing podem ser categori- zadas em reprodutivas, dermatoló- gicas, metabólicas, cardiovasculares, musculoesqueléticas, neuropsiquiá- tricas e infecciosas. Além da conside- rável morbidade causada pelo hiper- cortisolismo, também há um aumento nas taxas de mortalidade. • Reprodutivo: ◊ Irregularidades menstruais devido a correlação com o au- mento do cortisol sérico e a diminuição das concentrações séricas de estradiol, mas não com as concentrações séricas de androgênio. ◊ Sinais de excesso de andró- geno adrenal. Mulheres com alguns tipos de síndrome de Cushing apresentam sinais de excesso de andrógeno (mais comumente carcinoma adre- nal). As glândulas supra-re- nais são a principal fonte de andrógenos nas mulheres. Por outro lado, os testículos são a principal fonte de andrógenos nos homens. Assim, homens com síndrome de Cushing não apresentam sinais de ex- cesso de androgênio, porque o cortisol não possui ativida- de androgênica. O excesso de andrógeno nas mulheres afetadas pode causar os se- guintes sintomas: hirsutismo, pele facial oleosa e acne no rosto, pescoço ou ombros e virilização. • Dermatológica: ◊ Estrias ocorrem quando a pele frágil se estende devido ao aumento do tronco, seios e abdômen. As estrias apare- cem como estrias largas, roxo- -avermelhadas, porque a pele cada vez mais fina não escon- de a cor do sangue venoso na derme subjacente. 18SÍNDROME DE CUSHING Figura 11. Paciente do sexo feminino, portadora de síndrome de Cushing, apresentando estrias em ab- dome e coxas. Fonte: https://www.uptodate.com/ contents/image?imageKey=ENDO%2F67682&topicKe- y=ENDO%2F143&search=SINDROME%20DE%20 CUSHING&rank=3~150&source=see_link ◊ Atrofia de pele há perda de gordura subcutânea a um grau suficiente para que os vasos sanguíneos subcutâneos pos- sam ser vistos. A pele eventu- almente se torna frágil devido a essas alterações ◊ Infecções fúngicas, especial- mente tinea versicolor, são frequentemente encontradas no tronco. ◊ Hiperpigmentação induzida pelo aumento da secreção de ACTH, não de cortisol. ACTH é o principal hormônio pig- mentar em humanos. Ele atua através da ligação a recepto- res de hormônios estimulado- res de melanócitos. Figura 12. Hiperpigmentação em lábios e mucosa oral em paciente portadora de síndrome de Cushing. Fonte: https://www.uptodate.com/contents/ima- ge?imageKey=ENDO%2F56401&topicKey=EN- DO%2F143&search=SINDROME%20DE%20 CUSHING&rank=3~150&source=see_link • Metabólicas: ◊ Intolerância à glicose. É prin- cipalmente devido à estimu- lação da gliconeogênese pelo cortisol e resistência periférica à insulina causada pela obesi- dade, mas a supressão diretada liberação de insulina tam- bém pode contribuir. ◊ Obesidade progressiva. A característica mais comum dos pacientes com síndrome de Cushing é a obesidade pro- gressiva central (centrípeta), geralmente envolvendo a face, pescoço, tronco, abdômen e, internamente, canal medu- lar e mediastino. As extremi- dades são frequentemente poupadas. 19SÍNDROME DE CUSHING Figura 13. Paciente com síndrome de Cushing apre- sentando gordura abdominal e estrias. Fonte: SILVER- THORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana: uma aborda- gem integrada. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. • Cardiovascular ◊ Pacientes com síndrome de Cushing endógena apresen- tam risco aumentado de morte por doença cardiovascular, in- cluindo infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e tromboembolismo. Outros problemas cardiovasculares comuns em pacientes com síndrome de Cushing incluem hipertensão e dislipidemia. • Musculoesqueléticas ◊ Perda muscular e fraqueza proximais, sendo induzidas pelos efeitos catabólicos do excesso de glicocorticoide no músculo esquelético. ◊ Perda óssea. A osteoporose é muito comum na síndrome de Cushing e é causada pela diminuição da absorção intes- tinal de cálcio, diminuição da formação óssea, aumento da reabsorção óssea e diminuição da reabsorção renal de cálcio. • Neuropsiquiátricas ◊ Podem ocorrer vários sinto- mas neuropsicológicos, in- cluindo insônia, depressão e perda de memória. • Infecciosas ◊ Os glicocorticoides inibem a função imune, contribuindo assim para um aumento da frequência de infecções. A inibição da liberação de cito- cinas contribui com a redução associada nas respostas in- flamatórias e febris à infecção bacteriana, podendo dificultar a detecção dessas infecções. 20SÍNDROME DE CUSHING Figura 14 Características dominantes da síndrome de Cushing. Fonte: Carie A. Braun & Cindy M. Anderson. Fisiopa- tologia. Artmed, 2009. 21SÍNDROME DE CUSHING QUADRO CLÍNICO Síndrome de Cushing Alopécia Fadiga Obesidade central Hirsutismo Impotência sexual Alterações menstruais Hipertensão Disfunção psiquiátrica Edema Hipocalemia Intolerância à glicose Cefaleia Dor lombar ou abdominal Evento tromboembólico QUADRO CLÍNICO Síndrome de Cushing Trombofilia Distúrbios Neurológicos Catarata, Glaucoma Manifestações de Pele Nefrolitíase Úlcera Péptica Osteoporose Infecções Doença Cardiovascular Dislipidemia Dislipidemia Obesidade Miopatia Afecção do eixo gonadal 22SÍNDROME DE CUSHING 5. DIAGNÓSTICO Antes da avaliação para possível Sín- drome de Cushing, é essencial que uma história cuidadosa tenha ex- cluído a ingestão de glicocorticoides exógenos. O diagnóstico de síndrome de Cushing se inicia pela determinação de um es- tado de hipercortisolismo e da perda do ritmo cicardiano da secreção do cortisol, preferencialmente confirma- do por dois testes, visto que quando apenas um teste encontra-se altera- do, pode se tratar de pseudo-Cushing. O teste de supressão com dexameta- sona 1 mg e 2 mg, bem como a me- dida do cortisol salivar à meia noite ou sérico noturno, e a medida do cor- tisol urinário de 24 horas são testes de primeira linha para este fim, tendo os dois últimos maior especificidade e sensibilidade. • Mensuração de cortisol uriná- rio livre: O cortisol urinário livre é elevado (> 120 μg/24h e > 331 nmol/24 h]) em quase todos os pa- cientes com síndrome de Cushing. Entretanto, vários pacientes com elevações de cortisol urinário livre entre 100 e 150 μg/24 h (276 e 414 nmol/24 h) apresentam obesidade, depressão ou síndrome de ovários policísticos, mas não síndrome de Cushing. Um paciente com sus- peita de síndrome de Cushing, com concentração muito elevada de cortisol urinário livre (> 4 vezes o limite superior da normalidade), quase certamente apresenta sín- drome de Cushing. Duas a três co- letas normais geralmente excluem o diagnóstico. Níveis ligeiramente elevados costumam exigir inves- tigação mais aprofundada, assim como os níveis normais quando a suspeita clínica é alta. • Teste de supressão com dexa- metasona: são administrados 1, 1,5 ou 2 mg de dexametasona, VO, entre 23 e 0 h, e o cortisol plas- mático é medido das 8 às 9 h da manhã seguinte. Na maioria dos pacientes normais, esse fármaco diminui o cortisol sérico matinal para < 1,8 μg/mL (< 50 nmol/L), ao passo que os pacientes com sín- drome de Cushing praticamente sempre apresentam níveis mais elevados. Um teste mais especí- fico, porém igualmente sensível, é a administração de 0,5 mg de de- xametasona, VO, a cada 6 h, por 2 dias (baixa dose). Em geral, uma incapacidade evidente de suprimir as concentrações de cortisol em resposta à baixa dose de dexame- tasona estabelece o diagnóstico. SE LIGA! o Teste de supressão com dexametasona é positivo de corticosol >1,8 µ/dl após dose de dexametasona. 23SÍNDROME DE CUSHING • Medições de cortisol à meia noi- te: Se os resultados das medições de cortisol urinário livre e do teste de supressão com dexametasona são indeterminados, o paciente é hospitalizado para a medição de cortisol sérico à meia-noite, que provavelmente é mais conclusi- vo. Alternativamente, amostras de cortisol na saliva podem ser reco- lhidas e armazenadas na geladeira em casa. O cortisol normalmente tem limites entre 5 e 25 μg/dL (138 a 690 nmol/L) no início da manhã (6 a 8h) e diminui gradualmente para < 1,8 μg/dL (< 50 nmol/L) à meia-noite. Uma vez confirmado o hipercortiso- lismo endógeno, o segundo passo na investigação é determinar se a sín- drome de Cushing é dependente ou independente de ACTH, que se faz pela medida de duas amostras do ACTH plasmático. DIAGNÓSTICO DA SÍNDROME DE CUSHING http://www.mairimed.com/artigos/sindrome-de-cushing/ Indivíduos com suspeita clínica de Síndrome de Cushing • Teste de supressão com dexametasona em dose baixa • Cortisol salivar noturno • Cortisol livre na urina de 24h Excluir uso exógeno de glicocorticoides Solicitar métodos de primeira linha Somente 1 exame alterado (SC duvidosa) Pelo menos 2 exames alterados (SC confirmada)Exames normais(Exclui SC) Considerar métodos adicionais de segunda linha Solicitar dosagem de ACTH Considerar ciclicidade, seguimento, reavaliação se necessário • Cortisol sérico noturno • Teste CRH-dexa • Teste desmopressina 24SÍNDROME DE CUSHING Se o paciente tiver síndrome de Cushing independente de corticotro- pina (ACTH), a tomografia compu- tadorizada (TC) das glândulas su- prarrenais é geralmente o próximo procedimento, procurando uma mas- sa adrenal. Caso a medida de ACTH plasmático se encontre maior do que 20 pg/dL, o diagnóstico de doença de Cushing pode ser feito mediante a presença de uma lesão > 6mm de diâmetro na res- sonância magnética de hipófise, pelo teste do hormônio liberador de corti- cotrofina (CRH) e o teste de supres- são após alta dose de dexametasona. Pacientes com doença dependente de ACTH devem ser submetidos a testes não invasivos (teste de supres- são de altas doses de dexametasona e teste de estimulação do hormônio liberador de corticotropina [CRH]). A supressão do cortisol durante a admi- nistração de dexametasona, associa- da a aumentos no ACTH plasmático e no cortisol sérico após a adminis- tração de CRH, é consistente com o diagnóstico de adenoma hipofisário (doença de Cushing). As imagens de RM de alta resolu- ção sem sutura e com gadolínio da sela turca devem ser obtidas antes da amostragem do seio petrosal para excluir um tumor com mais de 6 mm de tamanho, o que pode evitar a ne- cessidade de amostragem venosa. O procedimento também é indicado antes da exploração transesfenoidal para documentar a anatomia da sela turcica. O resultado inconclusivo após a reali- zação destes exames indica o catete- rismo do seio petroso inferior, padrão ouro para o diagnóstico de doença de Cushing. A maneira mais direta de demonstrar a hipersecreção de ACTH na hipófise é documentar um gradiente de ACTH central-periféricono sangue que drena o tumor. O seio venoso petroso drena a hipófise atra- vés do seio cavernoso. Para realizar esse procedimento, os cateteres são inseridos pelas veias jugular ou femo- ral nas duas veias petrosais inferiores. SE LIGA! A realização desse procedi- mento, determina se há gradiente (do- minante) de ACTH entre os seios petro- sos e a periferia, bem como o gradiente entre os dois seios petrosos (direito e esquerdo). Um gradiente basal (antes do CRH ou do DDAVP) > 2 e/ou após o estímulo > 3 é compatível com doença hipofisária. Ao contrário, gradientes < 2 são compatíveis com produção ectópica de ACTH por tumores extra-hipofisários. Vale ressaltar a presença de resultados falso-negativos, ou seja, pacientes com comprovação cirúrgica de doença hipo- fisária que apresentaram gradiente cen- tro- periferia < 1,8 durante o cateterismo bilateral de seios petrosos. 25SÍNDROME DE CUSHING DIAGNÓSTICO DA SÍNDROME DE CUSHING Solicitar TC/RM de adrenal Sem resposta Aumento do ACTH Teste com CRH ou desmopressina OU teste de supressão com dexametasona Realizar RNM de sela túrcica SC ACTH- independente Teste do CRH (ou desmopressina) Síndrome de Cushing endógena confirmada (solicitar ACTH plasmático) Tumor de adrenal/ hiperplasia Adequada supressão (dexametasona) e estimulação Resposta negativa Tumor > 6mm Ausência de tumor ou < 6mm Cateterismo do Seio Petroso inferiorDoença de Cushing Presença de gradiente centro-periferia Sem gradiente centro-periferia ACTH ectópico ACTH < 5 pg/mL ACTH 5-20 pg/mL SC ACTH-dependente ACTH > 20 pg/mL Fonte: https://www.uptodate.com/contents/image?imageKey=ENDO%2F79853&topicKey= ENDO%2F156&search=SINDROME%20DE%20CUSHING&source=outline_link 26SÍNDROME DE CUSHING Figura 15. Tomografia ectópica de um adenoma adrenal ectópico. Fonte: retirado de www.uptodate.com Figura 16. TC de um carcinoma adrenocortical. Fonte: retirado de www.uptodate.com 27SÍNDROME DE CUSHING Figura 17. Ressonância magnética na Doença de Cushing Fonte: retirado de www.uptodate.com 6. TRATAMENTO Uma vez diagnosticada a DC, a base da terapia inclui a remoção do ade- noma hipofisário, o que pode ser feito usando cirurgia transesfenoidal. As taxas relatadas de remissão inicial após a intervenção cirúrgica variam de 69% a 98%. Semelhantemente, as taxas de recorrência variam entre 7% e 66%. As complicações cirúr- gicas que ocorrem com maior frequ- ência são o pan-hipopituitarismo e o diabetes insípidus central, por lesão da neuro-hipófise. Devido essas notáveis taxas de re- cidiva grande parte dos pacientes precisa ser submetida a uma se- gunda modalidade de tratamento que inclui irradiar tumores hipofisá- rios, através de: • radioterapia convencional (CRT): técnica que fornece radiação io- nizante para atingir pequenos tumores; • radioterapia estereotáxica (SRT): técnica que fornece grande radia- ção ionizante aos tumores-alvo por métodos estereotáxicos, enquanto poupa o tecido circundante. A adrenalectomia total bilateral com terapia diária de reposição de glico- corticóides e mineralocorticoides por toda a vida é a cura definitiva final e pode ser preferida por alguns pacien- tes em vez da radioterapia. 28SÍNDROME DE CUSHING CURIOSIDADE: Apesar da possibilida- de da adrenalectomia bilateral, contudo, além da necessidade diária de reposição de glicocorticoides e mineralocorticoides nos pacientes submetidos a esse proce- dimento, estima-se uma incidência de 21% de síndrome de Nelson, caracte- rizada pela tríade de hiperpigmentação cutânea, elevação dos níveis de ACTH e expansão do tumor hipofisário. Por isso ela acaba sendo reservada para os pa- cientes não curados com a radioterapia. Para os pacientes com tumores não ressecáveis, o hipercortisolismo pode ser controlado com inibidores da en- zima adrenal, como cetoconazol, me- tirrapona e etomidato. Alguns pacientes têm tumores indo- lentes e uma expectativa de vida lon- ga, mas não podem ser curados cirur- gicamente. Esses pacientes podem ser tratados com mitotano para obter uma adrenalectomia médica. SE LIGA! Mortalidade e Morbidade. O aumento de adiposidade visceral, resis- tência à insulina, hipertensão e hiperco- agulabilidade levam a DC a represen- tar um grande risco de mortalidade e complicações cardiovasculares. Tal risco vascular persiste, inclusive, mesmo após a remissão da doença. Alguns estudos indicam que a DC não tratada leva a uma taxa de mortalidade de 5 anos em 50%. As concentrações mais elevadas cito- cinas e adipocinas pró-inflamatórias e também menores concentrações de adi- ponectina anti-inflamatória podem com- por um fator de risco aditivo de doenças metabólicas e cardiovasculares em pa- cientes com a SC. Tais fatores podem le- var a comorbidades severas, como ate- rosclerose, acidente vascular cerebral isquêmico, diabetes tipo 2, insuficiência circulatória crônica, remodelação ós- sea, crescimento de células neoplásicas, dentre outros. 29SÍNDROME DE CUSHING TRATAMENTO DA SÍNDROME ECTÓPICA DE ACTH Síndrome ectópica de ACTH Cura (<10%) benigno Ressecção cirúrgica do tumor Sem cura (>90%) maligno Inibidores de enzima adrenal Síndrome de Cushing controlada Tumor indolente Adrenalectomia médica com mitotano Síndrome de Cushing controlada Orth, D. N. (1995). Cushing’s Syndrome. New England Journal of Medicine, 332(12), 791–803. 30SÍNDROME DE CUSHING TRATAMENTO DA DOENÇA DE CUSHING Doença de Cushing Cura em 80% Cirurgia transesfenoidal Sem cura em 20% Radiação pituitária Cura em 45% a 85% Sem cura em 15% a 55% Adrenalectomia bilateral Cura em 100% Orth, D. N. (1995). Cushing’s Syndrome. New England Journal of Medicine, 332(12), 791–803. 31SÍNDROME DE CUSHING TRATAMENTO DO TUMOR ADRENAL Tumor Adrenal Cura do adenoma Ressecção cirúrgica do tumor Sem cura do carcinoma Quimioterapia Carcinoma recorrente Ressecção cirúrgica do tumor recorrente Síndrome de Cushing controlada Orth, D. N. (1995). Cushing’s Syndrome. New England Journal of Medicine, 332(12), 791–803. Remissão de alguns Progressão da maioria Inibidores de enzima adrenal 32SÍNDROME DE CUSHING Etiologias/Fisiopatologia Tumor da adrenal Hiperprodução de adrenal autônoma Diagnóstico TratamentoQuadro clínico Tumor hipofisário produtor de ACTH Secreção ectópica de ACTH Uso crônico de glicocorticoides (iatrogenia) Doença de Cushing Hipersecreção de cortisol Ex: carcinoma de pequenas células de pulmão Exposição crônica a excesso de glicocorticoides Fácies de lua cheia Estrias Pletora facial Diminuição da libido Insônia, depres- são, ansiedade Ganho ponderal HAS Hiperglicemia/ DM Amenorreia Osteopenia/ osteoporose Doença de Cushing Tumores adrenais Secreção ectópica Ressecção transesfenoidal + radioterapia Adrenalectomia + quimioterapia Ressecção de tumor/inibidores da esteroidogênese (cetoconazol)/ adrenalectomia bilateral Constatar hipercortisolismo Supressão com dexametasona em dose baixa OU cortisol salivar noturno OU cortisol livre na urina 24h Hipercortisolismo confirmado: dosar ACTH ACTH elevado ACTH baixo ACTH elevado TC abdome (Investigar tumor de adrenal) RNM de sela túrcica Investigar secreção ectópica (TC tórax/abdome) SÍNDROME DE CUSHING 33SÍNDROME DE CUSHING REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ROMANHOLI, Daniella JPC; SALGADO, Luiz Roberto. Síndrome de Cushing exógena e reti- rada de glicocorticóides. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia & Metabologia, v. 51, n. 8, p. 1280-1292, 2007. Sergio Augusto Nader Damasceno, Eduarda Pereira de Paiva Freitas, Janaína de Moraes Silva, Maria, T., Marco Orsini, & Victor Hugo do Vale Bastos. (2019). Síndrome de Cushing: Revisao Integrativa. Revista De Saúde, 10(2), 76-81. Domenice S, Fragoso MCBV, Caserta NMG. Síndrome de Cushing Independente do Hor- mônio Adrenocorticotrófico (ACTH). Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabolo- gia Colégio Brasileiro de Radiologia. Projeto Diretrizes, 2008.Loriaux, D. L. (2017). Diagnosis and Differential Diagnosis of Cushing’s Syndrome. New England Journal of Medicine, 376(15), 1451–1459. Lynnette K Nieman, MD. Establishing the cause of Cushing’s syndrome Uptodate, 2020. Chao LW et al. Clínica Médica – Medicina USP/ HC-FMUSP. Editora Manole. Volume (5), 2009. Kasper, Dennis L., et al. Manual de Medicina de Harrison. McGraw Hill Brasil, 2017. 34SÍNDROME DE CUSHING
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