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SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL UNIASSELVI-PÓS Autoria: Ms Silvana Braz Wegrzynovski Indaial - 2021 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Copyright © UNIASSELVI 2021 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. W412s Wegrzynovski, Silvana Braz Sistema único de assistência social. / Silvana Braz Wegrzy- novski. – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 154 p.; il. ISBN 978-65-5646-185-4 ISBN Digital 978-65-5646-186-1 1. Assistência social. – Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 361.981 Impresso por: Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jóice Gadotti Consatti Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Jairo Martins Marcio Kisner Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃO .......................7 CAPÍTULO 2 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL .......53 CAPÍTULO 3 GESTÃO SOCIAL DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – NOVOS DESAFIOS DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL ........................................................................................ 116 APRESENTAÇÃO A disciplina que iniciamos agora, Sistema Único de Assistência Social (SUAS), tem como objetivos principais: conhecer por meio do exercício teórico – prático as realidades históricas, organizacionais e teóricas da política de assistência social; entender também as prioridades dos gestores que acabam impactando na realidade social da população brasileira; compreender o SUAS como um instrumento na garantia dos direitos sociais e redução das desigualdades. No primeiro capítulo abordaremos a assistência social e as políticas sociais brasileiras, através de uma contextualização histórica dessa política pública no Brasil, desde o legado elitista e autoritário na representação total das políticas sociais, das reformas neoliberais, que envolvem contrassensos e retrocessos e a função do Estado Brasileiro diante das novas políticas sociais. No segundo capítulo, estudaremos o SUAS, por meio dos conceitos teóricos do SUAS e de seus eixos estruturantes, abrangendo quais são os níveis e tipos de gestão, do reordenamento (tipificação) dos serviços, programas e projetos socioassistencias dos instrumentos de Gestão do SUAS: Plano de Assistência Social e Plano de Ação e as Políticas de Recursos Humanos (NOB/RH), e os atuais desafios do SUAS . No terceiro e último capítulo, versaremos sobre a importância do Serviço Social na gestão social das políticas sociais através das políticas sociais e da fundamentação teórica metodológica e como avaliar os processos profissionais perante a Reforma do Estado. Então chegou a hora de iniciarmos nossos estudos, vamos lá .... Prof.ª MS. Silvana Braz Wegrzynovski CAPÍTULO 1 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃO A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: • Reconhecer as políticas sociais no Brasil como uma bandeira de luta; • Distinguir os diferentes interesses de implementação das políticas sociais; • Entender a função do Estado Brasileiro diante das novas políticas sociais. 8 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL 9 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃODE CONTRUÇÃO Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Neste primeiro capítulo deste Livro Didático temos como objetivo avaliar quais são os principais processos econômicos, sociais e políticos que são determinados às polícias públicas sociais no Brasil, em especial à Política de Assistência Social. No desenvolver dos tópicos deste capítulo, visamos apresentar e materializar os conhecimentos sobre as confi gurações específi cas em cada esfera sociopolítica das ações estratégicas que são realizadas no que se refere à proteção social das pessoas em situação de vulnerabilidade, através das percepções históricas e críticas da formação econômica e social do país, dando ênfase nas demandas culturais e políticas. A contribuição teórica – metodológica enfatiza um enfoque na problematização dos conceitos propostos ao estudo, uma vez que estão voltados para uma compreensão histórica das políticas públicas sociais no Brasil, com foco nas que estão ligadas em um contexto socioassistencial, que exige a atuação de um profi ssional que atue nas áreas sociais. Este resgate histórico tem sua concretude para focar em um conhecimento sobre a formação econômica e política brasileira, visando um melhor pensar e avaliar como aconteceu o descobrimento do Brasil e em sua dinâmica histórica. Segundo Motta (1994, p. 19), “[...] tentando não cair na velha tradição historicista de “contar a história tal qual ela se passou”. Perante à refl exão teórica- histórica que esta unidade de ensino se apresentará, buscando o resgate de contradições e de perspectivas da política de assistência social, como política pública no Brasil. Caro acadêmico, então, buscando o resgate histórico da assistência social, vamos aos estudos! 2 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃO Avaliando o percurso histórico da política de assistência social no Brasil, constatamos que a sua recorrência é típica e que não se manteve mudança na sua formulação político-assistencial até o fi nal dos anos 1990 e início dos anos 2000. 10 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL A assistência social era vista na sua prática como política para aperfeiçoar e complementar diferentes áreas que a atuação do Estado não conseguia suprir, nesse sentido corria o risco de se reproduzir no seu original projeto, ou seja, a suplementação das demais políticas sociais, como a educação, saúde, habitação. Diante disso os tópicos deste capítulo irão ressaltar toda a trajetória desta política pública. 2.1 O PROCESSO HISTÓRICOS DAS POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL O alcance histórico das políticas sociais no Brasil, destacando a política de Assistência Social, suscita algumas provações que se destacam diante das dimensões das análises e refl exões que envolvem o Serviço Social como profi ssão. De acordo com Iamamoto (1998, p. 20): Para garantir uma sintonia do Serviço Social com os tempos atuais, é necessário romper com uma visão endógena, focalista, uma visão’ de dentro’ do Serviço Social, prisioneira em seus muros internos. Alargar os horizontes, olhar para mais longe, para o movimento das classes sociais e do Estado, em suas relações com a sociedade; não para perder ou diluir as particularidades profi ssionais, mas ao contrário, para iluminá- las com maior nitidez. Segundo Teixeira (1987, p. 48), esta compreensão está explícita através do contexto teórico – metodológico, pois: A emergência e desenvolvimento de uma política social é, por um lado, a expressão contraditória da relação apontada [capital e trabalho], sendo, ao mesmo tempo, fator determinante no curso posterior desta mesma relação entre as forças sociais fundamentais. Assim sendo, para o campo das políticas sociais confl uem interesses de natureza contraditória, advindos da presença de cada um destes atores na cena política, de sorte que a problemática da emergência da intervenção estatal sobre as questões sociais encontra-se quase sempre multideterminada. Perante os diversos interesses e algumas determinações visíveis que foram eleitas como expressõessintéticas que se concentram em questão específi ca, pela qual a assistência social, através da Constituição Federal de 1988 – CF/88, passou a ser parte integrante de proteção social. 11 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃODE CONTRUÇÃO Capítulo 1 Conforme a CF/88: Seção IV DA ASSISTÊNCIA SOCIAL Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II - o amparo às crianças e adolescentes carentes; III - a promoção da integração ao mercado de trabalho; IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de defi ciência e a promoção de sua integração à vida comunitária; V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de defi ciência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei. É importante destacar que a assistência social, diante da CF/88, teve um novo desenho e função nas políticas sociais e se institui como mecanismo dos princípios da seguridade social. Quando analisamos na íntegra, podemos verifi car que o conceito de seguridade social, na legislação atual, tem uma compreensão mais compreensiva, se for comparada às outras versões. A CF de 88 representou um marco importante na inclusão da população no sistema público de seguridade social, através do chamado tripé da seguridade social. Para Wegrzynovski (2015, p. 212), “Um novo conceito de seguridade social foi a partir da Constituição Federal que se constituiria em uma sociedade mais justa e solidária com as pessoas em situações de vulnerabilidade social”. Todos os conceitos e informações relacionados à seguridade social ganham destaque no sistema capitalista no início do século XX. Nesse período aconteceu a efetivação dos Estados de Bem – Social, em que o governo britânico, durante a guerra de 1941, requereu a constituição de uma comissão interministerial para que se realizasse um estudo, visando reformas do sistema de seguro do país. Esse estudo que foi realizado, fi cou conhecido como Plano Beveridge e a comissão foi presidida pelo Sir William Beveridge, sociólogo inglês. Dessa forma deu-se origem a uma nova forma de seguridade social inglesa, que foi colocada em prática somente após a Segunda Guerra Mundial. A CF de 88 representou um marco importante na inclusão da população no sistema público de seguridade social, através do chamado tripé da seguridade social. 12 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL Esse plano tinha como foco a proteção social de todas as pessoas que moravam na Grã-Bretanha, fundamentado sempre no princípio da “necessidade”. Ele se desenvolveu através do auxílio de benefícios igualitários, que tinham como variante o estado civil ou sexo, sem ser considerado o rendimento anterior. Por meio desse plano, aconteceu a unifi cação das instituições de seguro social, através de apenas um serviço público, esta política social é centralizada no Ministério da Seguridade Social. Esse modelo de seguridade social infl uenciou o Brasil nas primeiras décadas do século XX, sendo identifi cado nas reproduções e discursos dos técnicos e dos dirigentes dos institutos de previdências e do Ministério do Trabalho. Os autores Oliveira e Teixeira (1989) realizam uma avaliação conjuntural através do documento do Serviço Atuarial do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio de 1950. Essa avaliação compreende: [...] a tendência moderna nesta questão é ampliar o âmbito dos antigos seguros sociais, para compreender nas fi nalidades do Estado, neste setor, não somente a Previdência stricto senso, como também a assistência, a garantia do emprego etc., [...], a seguridade social do trabalhador[...]; da Previdência Social propriamente dita (seguro de pensões), desenvolver um amplo sistema de assistência social (prestações em natureza ou em serviços) [...]. Para que possa o segurado gozar dos benefícios da Previdência, [...] para que possa ser aposentado por velhice, precisa antes de mais nada sobreviver; a condição primordial é a saúde, a qual depende em grande parte de uma boa assistência médica, cirúrgica e hospitalar. Por outro lado, essa assistência, prevenindo os riscos de invalidez e morte prematuras, alivia o encargo de seguros de pensões. (OLIVEIRA; TEIXEIRA, 1989, p. 175, grifos da autora). Conforme os mesmos autores, o ideário da seguridade social, mediante os modelos idealizados inicialmente pela comissão de Lord Beveridge, foi logo depois implementado na grande maioria dos países da Europa Ocidental, na ótica dos governos socialdemocratas e trabalhista, e que são originados no meio de uma articulação política, que era composta pelos países capitalista que estavam aliados a Segunda Guerra e que tinham como objetivo a reconstrução de hegemonia, com a elaboração de novas estratégias. Esse movimento corresponde, na verdade, à parte de um amplo processo de enfrentamento, no plano ideológico, simultaneamente aos projetos fascista e socialista de organização da sociedade, o primeiro dos quais, apesar de derrotado militarmente, demonstrara ter encontrado signifi cativa aceitação em amplos setores de diversos países, enquanto o segundo estava em plena ascensão ao fi nal do confl ito [...]. A democracia liberal procurava demonstrar, em 13 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃODE CONTRUÇÃO Capítulo 1 síntese que, como seus interlocutores, também tinha uma proposta avançada para a satisfação das ‘necessidades sociais’ (OLIVEIRA; TEIXEIRA, 1989, p. 176, grifo da autora). Cabe destacar alguns dos princípios norteadores de concepção que moldam o padrão de Seguridade Social e serviram de bases estruturais dos Estados do Bem-Estar (Welfare State). Eles também foram utilizados como as principais referências, os princípios teóricos e políticos para pensar, elaborar e implementar as legislações sociais na sua totalidade, mesmo sendo alvo de críticas durante todo processo. • A contribuição será adequada à capacidade do segurado e, também, não obrigatória. • O direito a uma renda mínima será para todo cidadão, involuntariamente de contribuição, garantindo um padrão mínimo de bem-estar, apontado de acordo com a situação histórica concreta. • A concessão do benefício não estará acondicionada a critério de mérito, instituído pelos agentes causadores da precisão. Citando novamente Oliveira e Teixeira (1989, p. 178): A Seguridade Social seria, nesta perspectiva, algo além de um mero sistema de concessão de benefícios. Consistiria, também, numa Política de Seguridade Social, na sua acepção mais abrangente, contemplando, além dos benefícios pecuniários tradicionais, ações de saúde, saneamento básico, educação, habitação, medidas de garantia do pleno emprego, redistribuição de renda e outros. Na década de 1950 o modelo de proteção social que estava no auge era fundamentado nos atributos acima citados, que não se concretizou no Brasil. Sendo que o oposto aos modelos históricos que estavam se confi gurando nas políticas sociais, no país, passou a ser caracterizado pelo domínio de um perfi l limitativo e discriminatório, no que se refere aos direitos sociais de todos os cidadãos. Avaliando as primeiras medidas no campo da legislação trabalhista e social, pode-se perceber que existe uma lógica da acumulação que tem se elevado aos 14 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL interesses e anseios coletivos da classe trabalhadora, resultado da correlação de forças antidemocráticas instituídas entre o Estado e Sociedade. Mediante as correlações de forças antagônicas que as políticas sociais no Brasil foram se delimitando, em destaque a de Assistência Social, de forma que passou a ser vistacom mais clareza e nitidez, conforme já citado, a partir da CF de 88, tornando-se o mecanismo de efetivação dos direitos do cidadão e o dever do Estado, no que conduz a proteção social e de suas potencialidades de aprimoramento na execução dos objetivos propostos. Analisando a história política do país, a década de 1930 foi o momento inicial mais representativo de intervenção estatal nas esferas das políticas sociais e econômicas, decorrente do período da modernização industrial e das relações sociais que foram constituídas, como a ordem capitalista. Isso ocasionou para o Estado uma maneira para explorar formas de gerenciamento institucional, buscando uma regulação social, através de novas iniciativas governamentais. Neste período o Brasil estava saindo de uma grande crise econômica e política, que foi originada devido ao colapso monocultor da oligarquia cafeeira. A oligarquia dominante naquele período possuía interesses diferenciados de outros setores, principalmente em relação às oligarquias gaúchas e mineiras, responsáveis pela produção do algodão, açúcar, carne e laticínio, os quais eram abasteciam o mercado interno. Desde o início do século, com o surgimento de novos grupos econômicos, outros sujeitos históricos se fortaleceram, como a classe burguesa industrial, os operários e a denominada classe média, composta pela burocracia civil e militar. Nessa época, precisava-se de uma nova política de exportação, que fosse articulada aos novos preceitos econômicos e que era regida por pressões da classe operária urbana para melhoria das condições de trabalho e vida. Neste período o Brasil estava saindo de uma grande crise econômica e política, que foi originada devido ao colapso monocultor da oligarquia cafeeira. 15 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃODE CONTRUÇÃO Capítulo 1 De acordo com Coutinho (1989, p. 123), Naquele período, o movimento operário lutava pela conquista de direitos civis e sociais, enquanto as camadas urbanas emergentes exigiam uma maior participação política. Essas pressões ‘de baixo’ (que não raramente assumiam a forma de um ‘submersíssimo, esporádico, elementar, desorganizado’) fi zeram com que um setor da oligarquia agrária dominante, o setor mais ligado à produção para o mercado interno, se colocasse à frente da chamada Revolução de 30. O triunfo dessa Revolução levou à formação de um novo bloco de poder, no qual a fração oligárquica ligada à agricultura de exportação foi colocada numa posição subalterna, ao mesmo tempo em que se buscava cooptar a ala moderada da liderança político militar das camadas médias (os tenentes). A diferenciação deste movimento revolucionário se deu pelo seu caráter elitista, através da nova classe econômica, ou seja, um novo bloco de poder, que constituiu o reordenamento e a rearticulação interna dos setores econômicos e oligárquicos. Esse movimento entre as oligarquias, pela sua natureza, foi um movimento antipopular e conservador, através da incorporação dos setores mais conservadores e que ainda não obtinham o controle da máquina estatal, como o setor cafeeiro de São Paulo. Através da criação de um bloco de poder elitista, os setores populares foram excluídos da discussão política, econômica e outras. Esses indícios são fundamentais para compreender os caminhos constitutivos da formação histórica social do Brasil. Para Coutinho (1993), essa manutenção da classe dominante revela o perfi l antidemocrático e de exclusão da classe trabalhadora, dos processos de transformações sociais, sendo vista como uma “revolução passiva”, caracterizada no pensamento de Gramsci. Ainda que sem representação política muitas reivindicações e demandas apresentadas pelas classes subalternas deveriam ter sido aceitas pela classe dominante que estava no poder, para que fosse possível a implementação de um projeto político e econômico, visando a negociação de interesses. 16 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL Os setores dominantes da sociedade brasileira, que estavam sob o comando de Getúlio Vargas, quase que radicalizaram o autoritarismo, por meio de um regime de exceção mais correspondente, para um projeto de sociedade capitalista. Neste sentido, Coutinho (1989) refl ete que: Reprimido com extrema facilidade putsch [conhecido como Intentona Comunista] será o principal pretexto para a instauração da ditadura Vargas. Contudo, apesar de seu caráter repressivo e de sua cobertura ideológica de tipo fascista, o ‘Estado Novo’ varguista promoveu uma acelerada industrialização do País, com o apoio da fração industrial da burguesia e da camada militar; além disso, promulgou um conjunto de leis de proteção ao trabalho, há muito reivindicadas pelo proletariado (salário mínimo, férias pagas, direito à aposentadoria etc.), ainda que ao preço de impor uma legislação sindical corporativista, copiada diretamente da Carta del Lavoro de Mussolini, que vinculava os sindicatos ao aparelho estatal e anulava sua autonomia (COUTINHO,1989, p.123-124). A ditadura no período do Estado Novo foi responsável pela implementação de uma política econômica que estimulou a industrialização, por meio de mecanismos que gerou a acumulação de bens, através da intervenção estatal e que garantiu o mercado interno. O desenvolvimento da economia capitalista depende da organização, infl uência e reprodução de um mercado interno de força de trabalho, com condições de promover a mão de obra assalariada, no que se refere às qualidades político-ideológicas e culturais para seu uso. Diante das novas dinâmicas econômicas, sociais, políticas e culturais que se instauraram no país, Vargas implementou uma legislação social e trabalhista, que além de sua amplitude, detinha o controle direto da classe trabalhadora e da regulamentação das organizações sindicais, sendo ligadas ao Ministério do Trabalho, que foi criado nesse período. O que antes se denominava de discurso da “colaboração de classe” acabou sendo estabelecido como um reconhecimento legal das vulnerabilidades sociais desta classe trabalhadora, focando na renúncia da chamada “destrutiva” ideologia de luta e fi cando limitada a sua organização em uma representação de caráter corporativo ao próprio Estado. Sendo assim, a partir dos objetivos apresentados acima foram anunciados diversos decretos que afetaram diretamente as organizações sindicais, que estabeleceram o sindicalismo único e unidade sindical. Criava-se assim a possibilidade da intervenção do Ministério do Trabalho, que teria autonomia 17 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃODE CONTRUÇÃO Capítulo 1 sufi ciente para intervir na direção sindical, podendo até destituir uma direção eleita, se não fosse de acordo com as ideias do governo. Faleiros (1992, p. 100) avalia essas diretrizes afi rmando: Como os sindicatos se transformaram em ordens de colaboração com o Estado, as reivindicações dos trabalhadores são canalizadas pelos novos aparelhos semiofi ciais. A função principal das organizações sindicais não é mais a reivindicação e a pressão, mas a assistência médica, jurídica e cultural de seus membros. Despolitiza-se a ação sindical e, ao mesmo tempo, retira-se dela o seu potencial de mobilização reivindicativa e política. O perfi l elitista das políticas sociais e trabalhistas, diante da institucionalização, acentuou diretamente no campo da assistência social que acabou sendo caracterizado pelas ações de caridade e fi lantropia, através do imediatismo e interesses de quem necessitava. No Brasil o Serviço Social surge durante o século XX, como um mecanismo para atender imediatamente às demandas sociais, que se fundamentavam nesse novo período da história do modelo capitalista. O Estado começa a ser obrigado a responder aos problemas sociais que estão surgindo no contexto da sociedade. Durante o século XX, começarama ser criadas as primeiras políticas públicas sociais para atender às necessidades da população e instrumentalizar o Serviço Social como profi ssão. 18 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL Para Iamamoto (2007, p. 171, grifo do autor), “A profi ssionalização do Serviço Social pressupõe a expansão de produção e de relações sociais capitalistas, impulsionadas pela industrialização e urbanização, que trazem, no seu verso, a questão social”. Referente às ações que estavam sendo desenvolvidas na área da assistência social, Spozatti (1987, p. 45, grifo da autora) observa que: A assistência Social [...] se reveste de maior racionalidade, introduzindo serviços sociais de maior alcance, sem perda, no entanto, de sua característica básica; o sentido do benefício ou da benevolência, só que, agora, do Estado. [...] é em 1938 que o Decreto-lei nº 525 estatui a organização nacional de Serviço Social enquanto modalidade de serviço público, através do Conselho Nacional de Serviço Social, junto ao Ministério de Educação e Saúde. Criado por decreto, o Conselho Nacional de Serviço Social, teve sua atuação em diversos meios de discussão com objetivos e na área da assistência social, sendo apontado por suspeitas de uso manipulados das verbas e também de indevidas subvenções sociais, que são próprias do modelo de clientelismo político. A assistência social, como política social, tem sua história marcada por mais de meio século de corrupção, por meio de desvio de recurso fi nanceiros destinados a essa área, sendo evidenciados para a sociedade, através dos escândalos que envolviam parlamentares que faziam parte da Comissão de Orçamento do Congresso Nacional, no período do governo do Presidente da República Fernando Collor de Melo. Nesse período, o Conselho Nacional de Serviço Social – CNSS, foi inefi caz no que se referia ao combate das práticas de corrupção, com recursos públicos, ou até cúmplice das irregularidades na utilização das verbas que eram destinadas à implementação de políticas sociais e que acabaram sendo desviadas para a 19 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃODE CONTRUÇÃO Capítulo 1 utilização clientelista dos diversos setores governamentais, como deputados, senadores e até por membros do Executivo. Avaliando o que representa o uso indevido, o mau uso dos recursos públicos, está longe de ser reprimido no Brasil, pois as práticas que estão fundamentadas nessa natureza, nutrem várias estruturas de poder e de desenvolvimento ilícitas que se fazem presentes na atual conjuntura política e econômica. Pode-se perceber que a trajetória da formação da classe burguesa no Brasil é contraditória e evidencia um reconhecimento parcial aos princípios de cidadania pela classe dominante e pelo Estado, através das transformações institucionais e políticas a partir da Revolução de 1930. O autor Marshal (1967) apresenta, em seu escrito Cidadania e Classe Social, que na formação do processo histórico brasileiro há uma contradição nas sequências cronológicas das aquisições e conquistas dos direitos sociais, tendo como referência a Grã-Bretanha, para consolidar a lógica de implementação desses direitos, que se estruturam inicialmente pelos direitos civis, seguidos dos direitos políticos e fi nalizando com os direitos sociais. Através do reconhecimento dos direitos sociais, outros direitos, que benefi ciaram em especial a burguesia e as classes dominantes no país, como os direitos trabalhistas e social, impostos na Era Vargas, acabaram sendo considerados ações de um governo repressor para os segmentos de oposição política. No entanto cauteloso com as necessidades de legitimação da classe de trabalhadores, desprovidas de qualquer forma de politização. A Era Vargas acabou se tornando um governo vigilante nas demandas dos trabalhadores, mas receptivo à reivindicação de organização, representação e reprodução da força de trabalho, necessárias ao modelo capitalista. Nesse sentido, acaba-se adotando certa prática vinculada a uma coerência excludente e inefi caz do sistema de seguridade social no Brasil, que refl ete de forma antidemocrática a relação que o Estado estabeleceu com os cidadãos brasileiros. Isso se dá a partir do momento em que ele leva ao desconhecimento dos direitos e interesses fundamentais e legítimos da classe operária, gerando assim um aumento do empobrecimento dos trabalhadores, tanto por bens materiais quanto de formação política no resgate da cidadania. 20 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL Para uma melhor compreensão das políticas socias pós 1930, Santos (1979, p. 132) apresenta o conceito da conquista da cidadania e o papel do Estado, como “cidadania regulada”, sendo entendida da seguinte maneira: “Por cidadania regulada, entendo o conceito de cidadania cujas raízes encontram-se não em um código de valores políticos, mas em um sistema de estratifi cação ocupacional [...]”. O conceito apresentado por Santos tornou-se um importante referencial característico da formação social da população brasileira, devido à inclusão parcial e seletiva de alguns setores e segmentos sociais, principalmente, os que envolvem as classes trabalhadoras, no que diz respeito à participação dos trabalhadores no processo decisório das políticas sociais e econômicas do país. 1 Descreva o que você entendeu sobre cidadania regulada. O Brasil, através do modelo de cidadania regulada dos processos históricos, passou a ter atitude centralizadora e autoritária pós 1930, despontando que sempre esteve a serviço dos interesses da iniciativa privada. Sendo que esse princípio de privatização se perpetua até os dias de hoje. Coutinho (1993, p. 87) apresenta que: O fato de ter sido esse Estado sempre muito forte e de ter aparentemente se superposto à ordem privada não anula, de modo algum, a realidade fundamental: a de que toda essa força foi sempre, em primeira ou em última instância, mais em primeira do que em última, um poderoso e efi ciente instrumento a serviço de interesses estritamente privados. 21 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃODE CONTRUÇÃO Capítulo 1 No decorrer da história do Estado brasileiro, pode-se analisar que ele foi se modulando na década de 1930 e, cada vez mais, foi aperfeiçoando-se durante o período pós 1964 e no período da ditadura militar, como patrimonialistas, pois os diferentes governos que se sucederam nesses anos eram eleitos e representados pelas elites dominantes e seus dirigentes. Esses atributos estavam centrados em ações com visões tradicionalistas, paternalistas e clientelistas, que vigoraram até o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), que tinha como promessa desmontar o modelo patrimonialista. Ele teve em seu mandato as evidências dos anteriores, principalmente, no que se refere à privatização das empresas estatais. A privatização de vários segmentos públicos se expressa através da intervenção estatal, do Estado, na inovação das condições favoráveis para a ampliação do capital privado, que desde o Golpe Militar de 1964, passou a consentir prioritariamente aos interesses do capital fi nanceiro multinacional, sendo este um caminho que se efetua em grandes dimensões na chamada política de globalização, a partir de 1995, como o governo de FHC. Esse período da história do Brasil não veio de encontro à equidade social e efetivação da cidadania, como se almejava, e, sim, ocorreu um redirecionamento do Estado em relação ao seu papel econômico, através de seu desempenho protagonista no modelo de inserção de sistema capitalista monopolista mundial, gerando um regime antidemocrático dos direitos sociais e políticos da classe trabalhadora. Diante da função de acumulação desenvolvida do capital monopolista por parte do Estado, desde 1964, o autor Coutinho (1989, p. 124), baseado nas refl exões de Gramsci, descreve o conceitode “revolução passiva”: As forças produtivas da indústria, através de uma intervenção maciça do Estado, desenvolveram-se intensamente, com o objetivo de favorecer a consolidação e a expansão do capitalismo monopolista. A estrutura agrária, por seu turno, mesmo conservando o latifúndio como eixo central, foi profundamente transformada, sendo hoje predominantemente capitalista. A camada tecnocrático-militar, que se apoderou do aparelho estatal, certamente controlou e limitou a ação do capital privado, na medida em que submeteu os interesses dos múltiplos capitais ao capital em seu conjunto, mas adotou essa posição ‘cesarista’ precisamente para manter e reforçar o princípio do lucro privado e para conservar o poder das 22 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL classes dominantes tradicionais, quer da burguesia industrial e fi nanceira (nacional e internacional), quer do setor latifundiário que ia se tornando cada vez mais capitalista. A categoria denominada de “revolução passiva” também foi usada pelo pensador marxista, que serviu para esclarecer a mudança do capitalismo italiano, que estava em transição da fase concorrencial para a fase monopolista. A ditadura brasileira adotou alguns procedimentos que fortaleceram o projeto de dominação imposto pelo sistema que estava em vigor. Segundo Faleiros (1992, p. 179): O capital multinacional, que tende à moligopolista, implanta- se através dos setores mais modernos e mais rentáveis, isto é, na indústria de bens duráveis. Ocupa, ao mesmo tempo e gradativamente, os espaços de fi nanciamento para compra desses produtos, sua comercialização, e alcança os investimentos agrícolas. Formam-se conglomerados cada vez maiores em todos os setores da economia. Nesse processo, entram na órbita do capital multinacional várias empresas nacionais, por compra ou simples associação [...] O Estado propicia tal concentração através dos seus mecanismos de união do bloco dominante e de controle do conjunto das medidas econômicas. Outros fatores devem ser considerados importantes e que precisam ser destacados e avaliados no modelo econômico. Durante o período da ditadura, esses fatores relacionados a categorias fundamentais foram essenciais para a implementação de um padrão antipopular e concentrador de poder e de riquezas, tais como: o recurso à violência (diversas formas), repressão, coerção direta e plena restrição da liberdade. É importante destacar que, no período de repressão política e militar, foram fi xados os movimentos sociais organizados, como sindical, estudantil e social, atrelados como uma extorsiva política salarial, que objetivava o achatamento e perdas salariais, que só foram possíveis através da violência institucionalizada pelo regime militar no Brasil. O autoritarismo foi considerado um dos instrumentos mais utilizado para a negociação das políticas públicas sociais, tendo sempre relevância os interesses das classes dominantes. Nesse sentido, não somente os canais de participação popular, como partidos políticos, sindicatos e organizações sociais sofreram retaliações em relação à formação política das massas trabalhadoras. 23 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃODE CONTRUÇÃO Capítulo 1 Para Viana (1989, p. 26): Agências formuladoras ou reguladoras de políticas econômicas (aquelas que têm a ver com o processo produtivo), responsáveis por traduzir demandas setoriais em decisões generalizantes, estabelecem vínculos diretos com ‘clientelas’ selecionadas, garantindo no interior do aparelho estatal o lócus para a articulação técnica de seus interesses. A forma de aparente neutralidade, que acontece o reconhecimento dos reais interlocutores dos diversos setores internos geridos da burguesia, não vem de encontro aos verdadeiros interesses sociais. Sendo assim, conservou-se as chamadas classes “clientelas” ou “pelegas” no movimento sindical, pois não possuíam representatividade ou comprometimento na defesa dos trabalhadores. Perante a negação dos direitos políticos e sociais em todos os setores da sociedade que visavam combater democraticamente os direitos da sociedade civil, as opções de ampliação dos recursos na área social foram limitadas. Nesse sentido, o mito das opções técnicas e racionais se tornam automatizadas, pela abrangência, mediante os discursos que foram propagados equivocadamente aos interesses políticos individualistas e particularistas. Mediante essa questão, Viana (1989, p. 26) observa que: Mantida a aparência constitucional, com a realização de eleições periódicas e câmaras legislativas em funcionamento, a política social, através das imensas máquinas burocráticas de suas agências, cargos disponíveis e serviços prestáveis, transformou-se em esfera ideal para o fazer política, uma política estreita e eleitoreira, alternativa ao tipo de competição política em que se reconhecem pressões confl itantes e se negociam interesses divergentes em arenas abertas. Em todo este período que contemplou o regime autoritário aconteceu a materialização institucional fundamentalmente conservadora no sistema de proteção social, sendo que os princípios de fi nanciamento são edifi cados através de critérios contrários ao da equidade social. Dessa forma ocorreu um bloqueio em todas as formas de transferências de rendas, através de setores e fontes de recursos de fi nanciamento e de transferência de renda. Essas medidas afetaram diretamente os trabalhadores e operários assalariados, pois contribuíram de forma decisiva para a eliminação dos meios de acesso da população às políticas públicas sociais, em especial as de assistência social. 24 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL Acadêmico, aprofunde seus estudos lendo o livro cuja capa está representada na fi gura a seguir, ele é importante para sua atuação profi ssional. FIGURA – CAPA DO LIVRO OS DONOS DO PODER FONTE: <https://images-na.ssl-images-amazon.com/images/ I/31jlAOei-QL._SX346_BO1,204,203,200_.jpg>. Acesso em: 12 jan. 2021. A obra é um ensaio fundamental para a compreensão da formação social e política brasileira. Partindo das origens portuguesas de nosso patronato político, o autor demonstra como o Brasil foi governado, desde a colônia, por uma comunidade burocrática que acabou por frustrar o desenvolvimento de uma nação independente. Sua análise abarca o longo período que vai da Revolução Portuguesa do século XIV até a Revolução de 1930 no Brasil. Esta edição foi revista e acrescida de um índice remissivo. FAORO, Raymundo. Os donos do poder, formação do patronato político brasileiro. 5. ed. Rio de Janeiro: Ed. Globo, 2012. 25 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃODE CONTRUÇÃO Capítulo 1 1 Na Constituição Federal de 88, a proteção social passou a ser garantida aos cidadãos brasileiros devido à multiplicidade de interesses e determinações visíveis que foram eleitas como expressões sintéticas que podem se concentrar como questões específi cas, como a assistência social. Diante disso, cite na íntegra o artigo da CF de 88 que apresenta a assistência social como direito garantido. 2.2 A HERANÇA ELITISTA E AUTORITÁRIA NA REPRESENTAÇÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS Perante o contexto histórico das políticas públicas sociais, a previdência social, em que se sabe, possuí um modelo de fi nanciamento que admite diminuídas transferências de ativos para inativos, enfatizando um padrão simplesmente horizontal na distribuição do benefício para os benefi ciários da política de assistência social. A política de previdência social, no período da década de 90, consegue verifi car que ela relevava várias propostas de mudanças na regulamentação da previdência, mediante a revisão constitucional que estava em curso. As preposições convergiam contrárias às reformas neoliberais que recém estavam implementadas no Brasil. Outra propriedade que se pode apontarsobre o sistema nacional de arrecadação, mencionado anteriormente, na época citada, refere-se ao repasse integral dos custos das contribuições sociais aos valores das mercadorias por parte das empresas, assim os assalariados e os consumidores, os fi nanciadores dos programas sociais, acabam gerando uma maior economia. De acordo com Carmargo (1991), o regime militar, diante ao fi nanciamento das políticas sociais, apresentou-se através de um perfi l mais limitado e restrito, ou seja, autoritário e antipopular, para ampliar a arrecadação por meio da captação compulsória de poupança, usando as contribuições sociais, ao invés de ampliar a arrecadação das cargas tributárias, caracteristicamente fi scal, preservando o capital de realizar maiores gastos nas políticas sociais. 26 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL Neste sentido, a quantia de recursos que foram recolhidos com as contribuições sociais computou, naquele momento, mais de 50% da receita tributária de toda a União, que são recursos procedentes de um orçamento paralelo coberto pelo consumo compulsório das contribuições sociais. Essas contribuições foram impostas com a justifi cativa de subsidiar as aplicações, projetos, programas e benefícios de instância social, consequentemente o Estado, União, estaria em última instância comprometido com as despesas sociais, pois fi caram acopladas diretamente ao fundo público exclusivo de cada área, e que já estavam discriminadas cada fonte de fi nanciamento. O Estado se tornou um mecanismo completamente insufi ciente para responder, de maneira democrática, às necessidades primordiais e básicas da população brasileira. A especialidade desse modelo do sistema de arrecadação e fi nanciamento, por mais injusto e induzido que seja, e o seu comprometimento com as políticas sociais incidem somente para uma parte da sociedade, nesses moldes, a classe trabalhadora e o Estado, sempre descomprometido com os interesses sociais, sem disponibilidade de orçamento, mesmo através das arrecadações fi scais. Os dados apresentados, no período militar, mostram que o Produto Interno Bruto (PIB) tinha um percentual pequeno, relacionados à população, sendo 1% das famílias mais ricas e que possuíam aproximadamente 20% de toda a renda nacional. Contrapondo essa realidade, 50% dos mais pobres centralizavam apenas 10% de toda a riqueza produzida, o remanescente estava apropriado pelos extratos da proletarização da política recessiva. Esses dados foram ratifi cados através de relatório do Banco Mundial e apresentam dados inquestionáveis. Para Romão (1991, p. 104): Com efeito, os conhecidos relatórios anuais do Banco Mundial fornecem algumas estatísticas básicas sobre 129 países-membros, afora aqueles com população inferior a um milhão de habitantes. Na sua última versão, o relatório apresenta informações de distribuição de renda para 46 países e entre estes o Brasil é o que aparece com o perfi l mais iníquo. 27 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃODE CONTRUÇÃO Capítulo 1 Com os problemas encontrados para superar a crise econômica, outros caminhos foram trilhados, sendo esses mais atrozes e inefi cientes, causando a recessão, fundamentados no ideário neoliberal. Esses fatores foram utilizados para combater, de qualquer forma, a infl ação durante aquele período no qual aconteceu um arrocho ainda maior dos salários, demissão em massa dos trabalhadores, um enorme sucateamento dos patrimônios públicos, efetivando os cortes nos recursos das políticas sociais e aumentando consequentemente as desigualdades sociais, fome, pobreza e desemprego. Outros segmentos com muito mais estrutura econômica se preveniam de qualquer forma de perdas. Essa chamada “herança indesejada” foi apresentada por Benjamim (1991, p. 50): O atual sistema de poder, que começa na hiperconcentração da riqueza e da terra, passa pelo predomínio dos oligopólios na economia, reproduz- se no controle dos meios de comunicação de massa, apresenta poder de corrupção virtualmente ilimitado, garante sobre representação de oligarquias no Congresso Nacional e tem como reserva um judiciário conservador, esse sistema de poder, aprisiona um grande país [...]. O poder das elites brasileiras no sistema econômico em discussão tem se vinculado e deixado em seu caminho a marca da exclusão na história da sociedade brasileira. Destaca-se uma importante modifi cação nas estruturas obsoletas e distribuídas, que foi o processo de ampliação e materialização do processo das liberdades democráticas, mesmo que limitadas na dimensão política. O Estado brasileiro era o retentor de extensos e ilimitados poderes, mediava em torno de si os setores politizados da sociedade, através de uma disputa corporativa de interesses, que se construiu durante este processo de resistência ao regime militar e nas lutas pela cidadania, uma combativa sociedade civil, que estava reconstruída através da participação e mobilização popular. Nos anos de 1990, a sociedade civil esteve submersa em um período de instabilidade política, em que as classes trabalhadoras tiveram que outra 28 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL vez reconquistar e buscar a capacidade de organização e de luta. Isso se deu mediante a degradação dos modelos de proteção social e de trabalho que foram implementados para a sociedade através das políticas sociais de interesses dos partidos social democratas e liberal que estavam no poder. Como se sabe a ditadura investiu de diferentes maneiras no controle coercitivo da sociedade civil que, apesar da repressão e da desigualdade econômica, cresceu e se fortaleceu simultaneamente ao amadurecimento e à ampliação das forças produtivas sob o regime militar, potencializando-se pela multiplicação de interesses diversifi cados surgidos com a modernização econômica. A luta pela anistia, o multipartidarismo (que deu oportunidade de expressão a novas forças políticas, como o Partido dos Trabalhadores – PT, por exemplo), as manifestações de rua pelas eleições diretas para a presidência da República, a retomada dos sindicatos como espaço de luta política e não apenas de prestação de serviços, a mobilização em torno da Constituição de 1988 e as campanhas eleitorais, bem como, o movimento pela ética na política que detonou o impeachment de Fernando Collor de Melo, são apenas alguns exemplos emblemáticos dessa capacidade de mobilização e de ação da sociedade civil. Esse processo pôde ser constatado através das últimas eleições majoritárias e proporcionais ocorridas com o fi m da ditadura. Com o aumento crescente dos coefi cientes eleitorais, embora ainda aquém do necessário para alçar o poder, as esquerdas passaram a expressar e a reunir as aspirações políticas e éticas de vastos setores democráticos no País, ativadas, principalmente, através da militância contra a ditadura e na luta pelos direitos dos trabalhadores. O Partido dos Trabalhadores, de maior expressão política, e os demais partidos realmente progressistas vêm indubitavelmente demonstrando, tanto em suas atuações no interior dos parlamentos quanto no desafi o das administrações de muitas cidades e governos estaduais e também na luta do dia a dia dos movimentos populares, que é perfeitamente viável a construção de uma sociedade mais justa, ética e democrática, na recriação da história presente e futura deste país. As políticas neoliberais já foram devidamente implementadas e nem por isso a infl ação, combatida a qualquer preço, cedeu. Há que se propor e levar à frente novas alternativas de solução para a crise econômica e social que vem solapando o cotidiano do trabalhador 29 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃODE CONTRUÇÃO Capítulo 1 brasileiro. Assim sendo, essa conjuntura contraditória precisa ser reavaliada nos seus desdobramentos e condicionantes, pois coexistem num mesmopaís uma sociedade civil representativa e organizada e uma população faminta em torno de 35 milhões de habitantes: são mais de três Somálias dentro do Brasil, já que naquele infeliz país africano a população gira em torno de 10,5 milhões. Com efeito, se for perpetuado esse desolador quadro econômico e social, incompatível com os princípios da democracia, pode-se gerar a impressão de que a transição democrática processada na luta contra a ditadura não teve o fôlego necessário para possibilitar a superação dos principais elementos de atraso e da exclusão gestados ao longo da história brasileira. Em função do pacto que levou a uma transição “sem traumas”, todos os ônus recaíram pesadamente sobre a população trabalhadora, que tem – às custas de muito trabalho mal pago – sustentado um modelo econômico concentrador de riquezas, modelo sustentado e aprofundado pelos governos civis que subiram ao poder depois da ditadura, os de José Sarney, Fernando Collor de Melo, Itamar Franco, a primeira e a corrente versão do governo Fernando Henrique Cardoso. Resgatando aquele traço recorrente da dinâmica política, pode-se repensar essa transição à luz da já aludida noção de “revolução passiva”: dado o aspecto conciliatório característico da transição democrática, tornou-se possível desconsiderar a legítima participação das massas populares na derrocada da ditadura, com a aceitação da eleição para presidente no Colégio Eleitoral criado pela ditadura, através da composição Tancredo Neves/José Sarney, e não pela via direta, como foi amplamente reivindicado naquele momento. Porém, essa não foi a única medida conciliatória e “pelo alto” imposta contra os apelos de participação democrática; pode- se recordar também o processo de convocação da Assembleia Constituinte, duramente golpeado pela manobra do Governo Sarney, que preferiu a solução de atribuir poderes constituintes a um Congresso instituído segundo as regras eleitorais e institucionais herdadas da ditadura. Portanto, os que redigiram a nova Constituição não o fi zeram legitimamente, já que não foram eleitos para elaborar a primeira Carta democrática do país, e sim para legislar dentro da rotina normal do Parlamento. Essa manobra, muito combatida pelos setores progressistas, garantiu uma composição ideológica no Congresso Constituinte bastante favorável e adequada aos interesses das elites dirigentes; basta recordar o famoso “centrão”, que articulou uma fi rme resistência às mudanças pretendidas pelos segmentos democráticos. 30 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL PAIVA, Beatriz Augusto de. Assistência social e políticas sociais no Brasil: confi guração histórica, contradições e perspectivas. Revista Katálysis, Florianópolis, n. 4, p. 11-34, jan. 1999. Disponível em: https://periodicos.ufsc. br/index.php/katalysis/article/view/6250/5828. Acesso em: 19 ago. 2020. Para Coutinho (1993, p. 53, grifos da autora): [...] se praticamente todos os sujeitos políticos oposicionistas se empenharam na ‘guerra de posição’ que pôs fi m à ditadura, nem todos levaram em conta, na época, o risco contido nessa forma de transição relativamente ‘negociada’. Nela se verifi ca [...]e, como tentamos indicar, a combinação de processos ‘pelo alto’ e de processos provenientes ‘de baixo’; e, decerto, é o predomínio de uns ou de outros o que determina o resultado fi nal, a natureza do terminus de quem dá transição. A partir do momento em que, com a ida da oposição ao Colégio Eleitoral criado pela ditadura, preponderou uma solução ‘pelo alto’, concretizou-se o risco a que aludimos: o de que a transição terminasse por reproduzir, ainda que ‘atenuados’ e ‘modernizados’, alguns dos traços mais característicos do tradicional modo ‘prussiano’ e ‘passivo’ de promover as transformações sociais no Brasil. Uma transição desse tipo – que poderíamos chamar de ‘fraca’ – implicava certamente uma ruptura com a ditadura implantada em 1964, mas não com os traços autoritários e excludentes que caracterizam aquele modo tradicional de se fazer política no Brasil. Mediante este conjunto de restrições objetivas ao direito de exercer a cidadania, acaba refl etindo diretamente nas políticas sociais de maneira cada vez mais decisiva, pois passou a ser alvo preferencial nos cortes dos recursos e despesas públicas. O corte de recursos fi nanceiros nas políticas públicas sociais acompanhou paralelamente o arrocho salarial. Constando uma difi culdade na reversão desta representação, principalmente no que se refere ao sistema tributário do Brasil, pois representa uma fonte de recursos para a redistribuição de recursos pelas políticas públicas. 31 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃODE CONTRUÇÃO Capítulo 1 A demanda da composição fi scal envia possíveis alternativas para a universalização e remanejamento na importância de estrutura fi scal remetente, portanto, que são produzidas coletivamente de maneira que as políticas sociais se constituem, sendo um elemento determinante para a estratégica e tática na luta pela democracia, através da socialização de bens de consumo e produção. O sistema tributário no Brasil, desde sempre, esteve fundamentado em critérios mais contraditórios e injustos possíveis, sendo um determinante na diferenciação da concentração de rendas, afl igindo diretamente os assalariados, principalmente, os que recebem uma menor renda e os consumidores, que são afetados através dos impostos que indiretamente são introduzidos nos preços das mercadorias. Perante a conjuntura apresentada, o porcentual tributário do PIB é um dos mais baixos se for comparado com todos os outros países, isso devido à sonegação de impostos que atinge quase que a metade do que poderia ser arrecadado. Todo o sistema fi nanceiro, juntamente com os setores industriais nacionais e multinacionais, como os produtores agrários e os latifundiários; os trabalhadores ativos e inativos de todo o sistema privado e público; os cargos eletivos, executivo e legislativo de todas as esferas, e ministros; além de partidos políticos; do Fundo Monetário Internacional, maior fi nanciador das políticas, através de ações desordenadas, discutem o fi m das contribuições sociais, com elas os investimentos das políticas sociais e continuando a estrutura regressiva, sendo esta de interesse dos empresários, propondo um aumento de alíquotas, afetando o assalariado, que estarão relacionadas aos impostos estaduais, municipais, ICMS e ISS, e transforma contribuições em impostos e com uma Contribuição Provisória sobre a Movimentação Financeira – CPMF. Neste período de implementação das políticas neoliberais, algumas das propostas elaboradas por segmentos de esquerdas foram debatidos, como o início das progressividades na pertinência das taxas e alíquotas, em conjunto com a melhora na Receita Federal, que objetivasse o combate à sonegação de impostos. Diante dessas medidas econômicas e políticas, houve uma maior precisão, sem elas os compromissos com uma redistribuição perdem o sentido, em que as políticas públicas seriam apenas um instrumento ratifi cador e reprodutor das desigualdades sociais. 32 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL Para Benjamim (1991, p. 49): Em sociedades capitalistas, nunca houve, nem haverá, transição de modelos se os agentes transformadores não puderem exercer controle sobre a taxa de investimento [...]. Para controlar as variáveis macroeconômicas fundamentais, prover bens e serviços coletivos, induzir distribuição de renda, estabelecer a forma de exploração dos recursos não renováveis, promover o progresso científi co e tecnológico e regular o intercâmbio com exterior, o Estado não precisa deter muito mais do que 25% ou 30% do PIB. O autor citado no trecho anterior defende ainda a suposição clássica, em que o processo distributivo deveria ser entregue somente para as políticas governamentais, de transferir o excedente,que era irrealizável no país, pelos índices de pobreza e desigualdade impostos na sociedade brasileira. O acúmulo dos impostos é grande, comparado ao excedente que é mínimo, sendo necessária a realização de transformações qualitativas no setor econômico, pois só assim o modelo de exclusão social poderá ser superado. A política de Assistência Social, nesse contexto, precisa estar atrelada a uma efi caz política de redistribuição de renda igualitária. Sendo assim, desenha-se o início da construção efetiva da cidadania, através da elaboração, estruturação e implementação de benefícios, programas, projetos e serviços, que deveriam ser universalmente custeados através das contribuições tributárias do capital vigente, por meio de captação e alocação dos recursos públicos, por meio de um claro e criterioso planejamento das ações que utilizem os recursos públicos. Apesar das estratégicas conservadoras que foram utilizadas no processo constituinte e das forças contrárias da sociedade civil que muitas conquistas foram afi rmadas na Constituição Federal de 1988, no que diz respeito aos direitos de cidadania da população brasileira. Isso resultou na chamada “Constituição Cidadã”. É na CF de 88 que são contemplados os direitos sociais à educação, à saúde, ao trabalho, à segurança, à previdência social, à proteção à maternidade e à infância, à assistência aos desamparados (cf. Título II, “Dos Direitos e Garantias Fundamentais”, Capítulo II, “Dos Direitos Sociais”, artigo 6º). 33 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃODE CONTRUÇÃO Capítulo 1 A assistência passou a ser uma referência diretamente interligada com o direito de cidadania, através da aproximação e reconhecimento com área da seguridade, ou seja, passou a ser considerada uma política social específi ca, conforme o artigo 194 (Capítulo II, “Da Seguridade Social”, do Título VIII, “Da Ordem Social”). A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. Esses direitos sociais foram reconhecidos como os novos princípios políticos relacionados a uma estrutura mais racionalizada e democrática na utilização dos recursos e serviços oferecidos pelas políticas públicas, tais como: • Universalidade da cobertura e do atendimento para todos cidadãos. • Igualdade e equivalência dos benefícios e serviços para populações urbanas e rurais. • Seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços. • Irredutibilidade do valor dos benefícios. • Igualdade na forma de participação do custeio, através da participação dos estados e municípios na composição dos fundos sociais. • Diversidade na base de fi nanciamentos. • Caráter democrático e descentralizado da gestão administrativa, através da participação da sociedade civil, em especial, da classe trabalhadora, empresários e aposentados. A democratização dos recursos públicos e das políticas sociais, que foram apontadas na CF/88, está fundamentada nos princípios citados acima, porém, na prática, os cumprimentos das políticas públicas não são efetivados na sua totalidade. Se analisarmos a política de saúde, que está regulamentada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), é evidente a diferença entre o discurso político, independentemente, de partido político e da ação ética de quem está na gestão. Sobre a Previdência Social, desde a CF/88, foram obtidas algumas conquistas importantes para os trabalhadores, podendo ser citadas a regularização dos direitos do trabalhador doméstico; a ampliação da licença maternidade; entre outras. Se faz necessário ponderar todos esses avanços cautelosamente. Apesar de conquistas formais, é importante constar que existe falta de correspondência e diálogo entre tais avanços com a promulgação da CF/88, impedindo assim avanços no âmbito da legislação. Dessa forma, em partes, foi possível materializar os direitos sociais enquanto prestação efetiva de serviços prescritos, excetos os itens legais, que estavam centralizados na época pelo existindo Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS), desde o ano de 1995. 34 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL Esses obstáculos na efetivação das políticas públicas podem ser apontados diante do processo de revisão Constitucional, que era defendido ardorosamente pelos setores empresariais e pelo governo. Esta revisão apontava alterações muito desfavoráveis aos interesses da classe trabalhadora. A sistematização jurídica-formal da seguridade social, realizada para uma análise da assistência social como política social, destina-se a ampliar a discussão desta área com outro ponto de vista. Isso constitui analisar a questão da política pública de assistência social através de novas condições, através de um processo de regulamentação legal. Assim, no ano de 1993, foi aprovada a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS). Desde então, estão sendo efetivados os serviços assistenciais por meio de novas confi gurações da Política de Assistência Social. A Política de Assistência Social será apresentada na sua integra nos próximos capítulos. 1 Após a CF/88, a assistência social se tornou uma referência diretamente interligada com o direito de cidadania permeando os direitos sociais e que foram reconhecidos através dos novos princípios políticos. Cite-os. 2.3 A FUNÇÃO DO ESTADO BRASILEIRO PERANTE AS NOVAS POLÍTICAS SOCIAIS Avaliando a trajetória histórica da política de assistência social no Brasil, averiguamos a recorrência de particularidades típicas que se mantiveram sem mudança na sua formulação político-assistencial, até o fi nal dos anos 90 e inícios dos anos de 2000. A assistência era mencionada na prática como política para completar as diferenças das áreas que a atuação do Estado não conseguia suprir, correndo o risco de se reproduzir no seu original projeto, ou seja, a suplementação das demais políticas sociais, como a educação, saúde, habitação. 35 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃODE CONTRUÇÃO Capítulo 1 A assistência social estava reconhecida como um instrumento transversal que permeia as ações efetivadas pelas demais políticas sociais, mediante a estratégia da universalização dos direitos sociais previstos na CF/88. Os exemplos de presença dos componentes assistenciais nas outras políticas são evidentes na educação básica, através de liberação de recursos para uniformes e merendas escolares, a viabilidade do material didático, oportunizando a continuidade de crianças e adolescentes nas escolas. Na saúde, os serviços assistenciais estão confi gurados no cerne da política, pois qualquer ação de planejamento estratégico, que se refere ao SUS, implica em recursos para o abastecimento e fornecimento de medicamentos, de aparelhos específi cos para cada especialidade, de condução de pacientes, entre outros. Na constituição que está em vigor é possível verifi car que a assistência mantém conexões com todas as políticas sociais dos mais diversos setores e também com as políticas de fundo econômico. A compreensão da análise apresentada anteriormente pode ser verifi cada diante da conjuntura de pauperização da sociedade, na época de implementação da CF/88, signifi cando reconhecer que a maior parte da população se encontrava excluída dos acessos mínimos para uma condição digna de vida. Diante da qualidade de demissão e das insufi ciências características da pobreza e da miséria, são reproduzidos através de um ciclo de gerações familiares os herdeiros de uma sociedade escravista e autoritária, resultando em uma população suprimida por uma luta cotidiana em prol da própria sobrevivência. Das categorias mais complexas e diversas, estes são os usuários da política de assistência social, ou seja, os excluídos no sistema capitalista. Na visãode seguridade social que estava assegurada na legislação vigente, a assistência social conduz aos setores e segmentos na condição de vulnerabilidade social, ou seja, sem condições de prover o sustento, são os excluídos do mercado de trabalho formal e informal. 36 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL O período de implementação de discussão da Constituição Federal e da implementação das políticas neoliberais, a realidade estava concretizada, segundo Menezes (1994, p. 103), da seguinte forma: Em 1981, a soma de trabalhadores sem rendimento (10%), com rendimento até um salário mínimo (23%) e entre um e dois salários mínimos chega a 58,8% de toda PEA (População Economicamente Ativa). Se levarmos em conta que esse padrão de remuneração caracteriza o chamado “estado de pobreza”, quase 60% da PEA trabalham com assalariamento abaixo da remuneração mínima; portanto, são potencialmente usuários das políticas sociais de assistência. Em 1989, a faixa de até um salário mínimo sobe para 8,1% e aquela entre um e dois salários mínimos também decresce para 21,4%. O ‘estado de pobreza’ atinge um percentual de 56,7% no fi nal dos anos 80. Analisando o início dos anos 90, o Brasil estava com aproximadamente 60,2% da população em vulnerabilidade social, de acordo com pesquisas do Banco Mundial, sendo uma realidade gravíssima e alarmante que ultrapassa as probabilidades de utilização dos recursos estatais destinados às políticas sociais. Essa análise da situação econômica, social e política dos anos de 1990 apresenta dados complexos à realidade dinâmica da sociedade brasileira, ponderando os próprios riscos de uma aproximação que se almeja historicamente no que se refere à dinâmica peculiar das políticas sociais, sendo que ela se encontra ponderada aos processos conjunturais correntes, através de ambíguas mudanças na defi nição do desenvolvimento de tais políticas. Nesta perspectiva se faz necessário entender a lógica que muitas vezes se esconde e que preside nos acontecimentos mais acentuados, para conseguir elaborar algumas proposições diante dos cenários que foram construídos naquele período, através do pensamento neoliberal. Os acontecimentos mais relevantes da conjuntura daquele período estavam fundamentados em uma lógica que explica as questões sociais no Brasil, perante a diversidade das características comuns e um mosaico diferenciado de diversos elementos, fatores, atores sociais, dos episódios individuais em todas as regiões do país. 37 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃODE CONTRUÇÃO Capítulo 1 Wanderley (1988, p. 17) afi rma que: “A questão social fundante, nesses 500 anos de descobrimento, centra-se nas extremas difi culdades e injustiças que reinam nas estruturas sociais, resultantes do modo de produção e reprodução social, dos modos de desenvolvimento”. Sendo assim, o caráter das questões sociais brasileiras, em seu contexto substrato histórico e político, tornou-se a matéria-prima da adaptação pública por meio das políticas sociais que, durante o período de implementação do neoliberalismo, mantiveram-se nas mesmas proporções, em todos os sentidos, ampliando a sua circunscrição, ao se confortar com os dados econômicos e sociais do Brasil. Nesta fase é importante considerar o nível de estatísticas que foram indicados no campo das políticas sociais, mediante os indicadores que mais afetam o campo das políticas sociais. Entre outros incisivos que reafi rmam as expectativas para este período econômico, o crescimento do desemprego e o fechamento de alguns postos tradicionais de trabalho foram assustadores, pois não se apontava opção alguma de desenvolvimento social, através de um curto prazo, que permitisse mais emprego e trabalho para a população economicamente ativa e produtiva. Além de um desequilíbrio da economia, outras demandas sociais começaram a ter evidência no país, como na área da saúde, através da propagação de epidemias que estavam controladas, como a dengue, tuberculose e outras, que além de exigirem medidas de prevenção também há exigências de tratamentos concretos, como no caso da AIDS. Na política de saúde as ações estavam em desequilíbrio no que abrangia o fi nanciamento para as atividades designadas como prioritárias, como ensino básico e fundamental. Isso aconteceu, pois, antes da Constituição de 88, era nítida a omissão do Governo Federal em todas as esferas do ensino, desde educação para jovens e adultos até cursos profi ssionalizantes, além de um amplo sucateamento das universidades públicas e pouco investimento nos outros setores da educação, através de programas que garantissem o acesso a um ensino de nível superior. 38 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL Na área da Assistência Social, as ações de fi nanciamento do Governo Federal não representavam nem 1% do orçamento geral da Seguridade Social, que tinha como compromisso o fundo público com o mínimo de 5%, conforme deliberações das duas Conferências Nacionais, que foram realizadas pelo movimento social, edifi cado pelos profi ssionais do Serviço Social para defender a Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS). O início da implementação da LOAS foi marcado por vários equívocos, através dos cortes nos orçamentos sociais, ao processo de municipalização da lei, refl etindo inteiramente na redução dos programas, serviços e de benefícios que estavam destinados à população em condição de vulnerabilidade social. Lessan et al. (1997, p. 69) afi rmam que: [...] no caso da assistência social, os programas foram vítimas das sucessivas mudanças na institucionalidade do setor, num processo de desmonte da estrutura federal sem precedentes, a partir do governo Collor, sendo descentralizados, sem gradualidade ou respeito às defi nições e mecanismos de controle constantes da Lei Orgânica da Assistência Social. Ao cair no vazio de recursos e literalmente desaparecer, o sistema vigente arrastou consigo a maior parte dos programas de alimentação e nutrição, e os programas assistenciais de creches, assistência aos defi cientes e documentação gratuita, dentre outros. Diante disso, o cenário político, econômico e social era negativo, pois o empenho de esclarecimentos dessas informações não é o mesmo que se busca destacar com as conquistas do governo, pois defende e protege o projeto governamental na implantação de suas ações estratégicas voltadas ao seu interesse. Com isso, é importante resgatar as fundamentais linhas de ações que foram implementadas pelos dois governos de Fernando Henrique Cardoso (FHC), em que a coerência política era seguida pelo projeto neoliberal hegemônico no país, além do protótipo duplo ao ajuste fi scal e controle da infl ação. Singer (1999, p. 30) apresenta que: 39 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃODE CONTRUÇÃO Capítulo 1 Apesar de todas as provas em contrário, a tese de que a infl ação sempre é causada por excessos de gasto público é sustentada por evidentes motivos ideológicos. Como os liberais acreditam que os mercados deixados livres, sempre se equilibram eles não podem admitir que a incessante elevação do índice de preços possa ser provocada por disputas entre setores da própria sociedade civil. De modo que evitar para eles sustentar que qualquer infl ação se origina no setor público e só pode ser debelada mediante um ajuste fi scal acompanhado por políticas monetárias restritivas. Boa parte das ações estratégicas do Governo Federal estava em garantir a inserção da economia do Brasil no ritmo e no espaço necessitado ao ciclo da internacionalização dos mercados de capitais, como no modelo de produção e comercialização mundial dos bens de consumo. Sendo assim o Brasil passou a ter uma inserção à globalização e ou modernização da economia, gerando uma suspensão maior nas barreiras alfandegárias para os produtos importados, como tambéma condução dos capitais estrangeiros pela alienação do patrimônio público, ou seja, a privatização de empresas estatais, o domínio superfi cial da infl ação, na base da manutenção dos juros altos e do arrocho salarial. A conjuntura econômica, social e política colocou as classes trabalhadoras em desgastes, desmobilização política e perda dos direitos sociais. Para Fiori (1997, p. 52): O que os conservadores chamam de ‘custo social’ da reestruturação ou ajuste das economias nacionais às condições de competitividade global, não seriam apenas efeitos transitórios, seriam permanentes e crescentes e resultariam da armadilha circular imposta pelas políticas defl acionistas quando propõem, simultaneamente, a estabilidade e a paridade das moedas, a manutenção do equilíbrio fi scal e o aumento da competitividade. E não parece difícil perceber que, na medida em que aqueles dois primeiros objetivos levam a um crescimento econômico medíocre, a responsabilidade pelos equilíbrios macroeconômicos se transfere, de maneira crônica e impotente, para o campo do corte dos gastos fi scais que já estão a esta altura no seu limite pressionados pelos altos juros que a dívida pública enfrentou nestes últimos quinze anos. 40 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL A abertura da economia e a entrada e saída estimulada do capital especulativo fragilizou todo o processo produtivo agrícola e industrial, sendo os dois setores não produtivos, pois não tinham como objetivo gerar empregos. Netto (1999, p. 79) expõe o seguinte: A inviabilização da alternativa constitucional de construção de um Estado com amplas responsabilidades sociais, garantidor de direitos sociais universalizados, foi conduzida por FHC simultaneamente à implementação do projeto político do grande capital. [...] tratava-se de implementar uma orientação política macroscópica que, sem ferir grosseiramente os aspectos formais da democracia representativa, assegurasse ao Executivo federal a margem de ação necessária para promover uma integração mais vigorosa ao sistema econômico conforme as exigências do grande capital e, portanto, sumamente subalterna. Algumas empresas brasileiras, principalmente, as menos competitivas no mercado fi nanceiro, tiveram difi culdade em manter a produção dos produtos, mediante o encarecimento externo do valor fi nanceiro dos empréstimos para dar continuidade ao empreendimento. Muitas delas decretaram falência e outras foram vendidas para grandes investidores multinacionais. Os estados e municípios foram afetados pela diminuição das arrecadações tributárias e também pelos fi nanciamentos dos seus programas. A situação imposta aos trabalhadores destruídos pelo achatamento salarial, pelo desemprego, pela completa e total precarização das condições de trabalho e também de vida, acabou gerando uma instabilidade dos sujeitos e um alastramento da violência social, urbana e doméstica. De acordo com Fiori (1997, p. 51), os trabalhadores e familiares: [...] “já abriram mão de muitos de seus direitos e o desemprego segue aumentando”. O acesso da população brasileira aos direitos sociais garantidos na CF/88 e condições dignas de vida, no fi nal do século passado, foram registrados em uma conjuntura de crise estrutural do sistema econômico, em determinação das medidas sobre o ajuste fi scal e de reorganização produtiva e fi nanceira que se desenvolveram através de medidas neoconservadoras das instituições internacionais e por representação do Governo Federal. O que acontecia era um contraponto nos termos incontestáveis da agenda social para o Brasil, pois o processo de globalização, da maneira que se instalou no país, gerou consequências que refl etiram no aumento da exclusão social, muito mais que na reversão da recessão da economia. 41 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃODE CONTRUÇÃO Capítulo 1 Contrariamente, a análise mais crítica de todo esse processo recomenda uma articulação diante dos efeitos e das causas da crise econômica. Onde o sistema capitalista prevalece só se pode diminuir as taxas de empregos e de crescimento econômico, determinando um grande exército de pessoas, submetidas a viver na miséria ou abaixo a linha de pobreza. São trabalhadores forçados a viver, sobreviver. Os autores Lessa et al. (1997, p. 68) apresentam que: O desmonte do projeto da seguridade social data do início dos anos 90, quando o repasse de recursos de contribuições sociais arrecadadas pela União em nome da seguridade começou a ser de gestão orçamentária em termos de alta infl ação, que consistia em cortar gastos, em termos reais, pela corrosão de seu valor provocado por atrasos deliberados de repasses. Como pobre não tem lobby, os ministérios sociais, ditos do ‘gasto’, e suas clientelas têm sido as maiores vítimas desse procedimento. Estes setores sociais não obtiveram proposta alguma do Governo Federal, como também as ações e projetos concretos fi caram à mercê do compromisso e comprometimento ético, pautados no combate à exclusão social da população brasileira. Sendo assim, uma subjuntiva maioria da população perdeu os direitos sociais, com exceção dos grupos que estão no poder governamental, estimulados pelos grandiosos lucros, obtidos através da sonegação fi scal, como já mencionado anteriormente. O Congresso Nacional foi um ator importante neste período, pois através do seu apoio maioritário para o governo e para as elites dirigentes conseguiu manter a hegemonia diante dos projetos propostos. Analisando as propostas da eleição presidencial de 1989, na qual Fernando Collor de Melo foi eleito pela promessa de “caçar marajás”, percebe-se que esta não foi realizada. Já Fernando Henrique Cardoso, quando eleito no ano de 1994, foi mais sofi sticado e talentoso nos seus programas de governo, através da promessa da Reforma do Estado Brasileiro, ou seja, a desmantelar o Estado varguista. Mas não foi uma proposta fácil de ser implementada, uma vez que o Estado não deixou de ser o instrumento difusor das regulações sociais, mesmo com a conjuntura de um mercado livre, expressada pelo neoliberalismo, ou seja, o Estado mínimo para os trabalhadores e máximo para capital. 42 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL É visível um movimento de ampliação da centralização do poder político e econômico, mediante à revelia da democratização das instituições e da sociedade, que são determinadas como as lutas de classes do fi nal século passado. Para Coutinho (1989, p. 138) [...] o atual governo adotou um caminho cada vez mais claro. Longe de propor medidas que desmontassem os traços mais perversos do ‘Estado varguista’ limitou-se em reiterar a ação econômica estatal voltada para a defesa dos interesses da acumulação capitalista privada e em tentar remover (sempre em função dos interesses dessa acumulação) signifi cativos direitos sociais, garantidos sobretudo – para além dos marcos do ‘Estado varguista’ – pelas lutas populares cristalizadas na Constituição de 1988. Com as disputas eleitorais que estavam em jogo durante o período pós CF/88, a sociedade civil foi alvo de um ciclo de reformas estruturais inacabadas e que concluem a chamada programática neossocialista, ou seja, a ascensão do poder antipopular com as alianças partidárias do Partido da Frente Liberal (PFL) e do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), com a eleição do Presidente FHC, no ano de 1994 e no ano de 1988, a mesma aliança foi reeleita, e agregou outros partidos, como o Partido Progressista Brasileiro (PPB), Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Partido Liberal (PL), dentre outros. Entre as reformas estava a aceitação da anulação e quebras dos monopólios públicos, que estavam legalmente amparados constitucionalmente como os monopólios do Petróleo, os monopólios das Telecomunicações e os monopólios dos Portos, e logo após as privatizações das empresas estatais como a Companhia SiderúrgicasNacional (CSN), Usiminas, a Vale do Rio Doce, a Rede Ferroviária Federal, além de algumas empresas estaduais do setor elétrico e de abastecimento de água, e em último lugar o sistema Telebrás/Embratel. Os partidos de oposição e os movimentos sociais e políticos tentaram combater e resistir a essa nova perspectiva, principalmente na conservação de alguns direitos sociais, principalmente da Previdência Social Pública, mas sem muito sucesso. Das poucas conquistas, não foram efetivadas como Emenda à Constituição e sim como Medidas Provisórias e Decretos Normativos, Portarias e ou Ordens de Serviços que reduziram os benefícios que eram antes oferecidos pela Previdência Social e Assistência Social, conforme a Constituição Federal de 1988, com a Lei Infraconstitucional Regulamentadora, nº 8213 de 1992 e com a Lei Orgânica da Assistência (LOAS), nº 8742 de 1993. Para Viana (1989, p. 111), essa análise é fundamentada da seguinte maneira: 43 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃODE CONTRUÇÃO Capítulo 1 [...] a destruição da seguridade social – destruição ‘subjetiva’ porque a discussão girou em torno da previdência, jogando ao limbo a seguridade e ‘objetiva’ porque sedimentou-se a fórmula da vinculação de receitas específi cas (e separadas) para a previdência, saúde e assistência social – propiciou ao governo (a todos, desde 1990) uma situação confortável para lidar com suas verdadeiras urgências. A saber: apresentar às agências multilaterais de crédito (em especial ao FMI) uma prova de bom comportamento; oferecer à indústria de previdência (e aos planos privados de saúde) mais incentivos; e desmantelar boa parte do aparato administrativo público, atribuindo aos funcionários a culpa pelos males do Estado. Houve neste período uma questão duvidosa no que se referia ao fi nanciamento da Seguridade Social, que não teve sua implementação conforme as exigências constitucionais, cujos recursos oriundos das contribuições sociais careceriam serem destinados para a Saúde, Assistência Social e Previdência Social. Esses recursos teriam sidos utilizados para o pagamento da dívida externa. Neste contexto, da LOAS, o Estado estava implementando as reformas administrativas, em que estavam sendo formuladas sem debate ou participação democrática da sociedade organizada, através de uma série de medidas que acabavam com a responsabilização do governo federal e estaduais na prestação de serviços do sistema de proteção social. Muitas políticas consideradas importantes foram passada para responsabilidade sem respaldo técnico e político e sem a carecida suplementação fi nanceira necessária. Pode-se citar como exemplos as políticas de Saúde, Educação e Assistência Social, de Geração de Emprego Renda, além de outras. A descentralização das políticas socais estava em risco mediante a dinâmica que foi imposta pelo Governo Federal. Os ciclos administrativos das reformas neste período permaneceram, em que a reforma político-partidária estava reduzida a emenda de reeleição do Governo Federal, que, consequentemente, paralisou as ações governamentais e o Congresso Nacional. A reforma tributária, fundamentada em diversos projetos e concepções, foi extraída estrategicamente do cenário político e da mídia em virtude da discrição necessária para a negociação pouco transparente nos acordos e consensos que estavam sendo implementados. De todas as reformas, os elementos políticos utilizados nelas são os mais controversos que poderiam afetar de forma geral todos os contribuintes, até os setores vinculados ao capital e que davam sustentabilidade política ao poder. Com essa ideologia de privatização, praticamente o Brasil não precisava de uma reforma fi scal, pois praticamente tudo fi caria sobre responsabilidade da iniciativa privada, tanto os direitos chamados de ‘mercadorizáveis’, como os 44 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL serviços na área da Saúde e da Previdência e da Assistência Social, fi cando sobre a responsabilidade da sociedade organizada voluntária e solidária. Neste sentido, os privilégios da classe dominante continuarão mantidos e os supostos impactos contrários foram distanciados, pois o Brasil teve uma das maiores arrecadações fi scais de sua história. Isso ocasionou uma importante discussão para o governo federal, em que foi defi nido o percentual máximo de despesas com a categoria do funcionalismo perante as três esferas governamentais, orientados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Diante da clareza que se anseia no detalhamento desses processos sociopolíticos e das dinâmicas que ocorrem na sociedade, alude, em explorar uma análise diante dos caminhos necessários e das melhores estratégias usadas para a execução do projeto político que envolvem os trabalhadores sociais, dentro da probabilidade e perspectiva da efetivação de uma sociedade igualitária, justa e democrática. Com esse direcionamento, o Brasil apresentou as suas potencialidades, porém, desenvolvê-las e implementá-las é uma missão difícil, pois o país estava aprendendo a viver em um sistema democrático. No campo político-legal, houve a concentração vitoriosa, que se constitui em referências imprescindíveis para a promoção da tão sonhada e almejada sociedade igualitária. Caro acadêmico, a leitura do livro O neoliberalismo – história e implicações é de fundamental importância para os seus conhecimentos. FIGURA – CAPA DO LIVRO O NEOLIBERALISMO – HISTÓRIA E IMPLICAÇÕES FONTE: <https://images-na.ssl-images-amazon.com/images/ I/81COWA0NhrL.jpg>. Acesso em: 12 jan. 2021. 45 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃODE CONTRUÇÃO Capítulo 1 Os futuros historiadores poderão considerar os anos 1978-1980 um ponto de ruptura revolucionário na história social e econômica do mundo: Deng Xiaoping deu os primeiros passos que iriam transformar a China de um remoto país fechado num centro aberto de dinamismo capitalista. HARVEY, David. O neoliberalismo – história e implicações. São Paulo: Loyola, 2008. 1 Pesquise e descreva quais as diferenças do plano de governo de Fernando Collor de Melo e do governo de Fernando Henrique Cardoso. DEMOCRACIA E SOCIEDADE AUTORITÁRIA Marilena Chaui Visto que o pensamento e a prática liberais identifi cam liberdade e competição, essa defi nição da democracia signifi ca, em primeiro lugar, que a liberdade se reduz à competição econômica da chamada ― livre iniciativa e à competição política entre partidos que disputam eleições; em segundo, que a noção de regime da lei e pela vontade da ordem indica que há uma redução da lei à potência judiciária para limitar o poder político, defendendo a sociedade contra a tirania, pois a lei garante os governos escolhidos da maioria; em terceiro, signifi ca que há uma identifi cação entre a ordem e a potência dos poderes executivo e judiciário para conter os confl itos sociais, impedindo, por meio da repressão e da censura, sua explicitação e desenvolvimento; e, em quarto lugar, que, embora a democracia apareça justifi cada como ―valor ou como ― bem, é encarada, de fato, pelo critério da efi cácia, medida, no plano legislativo, pela ação dos representantes, entendidos como políticos profi ssionais, e, no plano do poder executivo, pela atividade de uma elite de técnicos competentes aos quais cabe a direção do Estado, ou a afi rmação de que a democracia é o governo de muitos por poucos. 46 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL A democracia é, assim, reduzida a um regime político efi caz, baseado na ideia de cidadania organizada em partidos políticos, e se manifesta no processo eleitoral de escolha dos representantes, na rotatividade dos governantes e nas soluções técnicas para os problemas econômicos e sociais. Ora, há, na prática democrática e nas ideias democráticas, uma profundidade e uma verdade muito maiores do que o liberalismopercebe e deixa perceber. Que signifi cam as eleições? Muito mais do que a mera rotatividade de governos ou a alternância no poder, elas simbolizam o essencial da democracia, ou seja, que o poder não se identifi ca com os ocupantes do governo, não lhes pertence, mas é sempre um lugar vazio que, periodicamente, os cidadãos preenchem com representantes, podendo revogar seus mandatos se não cumprirem o que lhes foi delegado para representar. Em outras palavras, a soberania é popular, como a própria palavra signifi ca, pois, em grego, demos é o povo politicamente organizado e kratós, o poder; portanto, poder do povo. Por isso mesmo é também característica da democracia que somente nela se torne claro o princípio republicano da separação entre o público e o privado. De fato, com a ideia e a prática de soberania popular, nela se distinguem o poder e o governo – o primeiro pertence aos cidadãos, que o exercem instituindo as leis e as instituições políticas ou o Estado; o segundo é uma delegação de poder, por meio de eleições, para que alguns (legislativo, executivo, judiciário) assumam a direção da coisa pública. Isso signifi ca, como indica a expressão latina RES pública, que nenhum governante pode identifi car-se com o poder e apropriar-se privadamente dele. Que signifi cam as ideias de situação e oposição, maioria e minoria, cujas vontades devem ser respeitadas e garantidas pela lei? Elas vão muito além dessa aparência. Signifi cam que a sociedade não é uma comunidade una e indivisa voltada para o bem comum obtido por consenso, mas, ao contrário, que está internamente dividida, que as divisões são legítimas e devem ser expressas publicamente. Da mesma maneira, as ideias de igualdade e liberdade como direitos civis dos cidadãos vão muito além de sua regulamentação jurídica formal. Signifi cam que os cidadãos são sujeitos de direitos e que, onde tais direitos não existam nem estejam garantidos, tem-se o direito de lutar por eles e exigi-los. É esse o cerne da democracia: a criação de direitos. E por isso mesmo, como criação de direitos, está necessariamente aberta aos 47 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃODE CONTRUÇÃO Capítulo 1 confl itos e às disputas. Em outras palavras, a democracia é a única forma política na qual o confl ito é considerado legítimo. O que é um direito? Um direito difere de uma necessidade ou carência e de um interesse. De fato, uma necessidade ou carência é algo particular e específi co. Alguém pode ter necessidade de água, outro, de comida. Um grupo social pode ter carência de transportes, outro, de hospitais. Há tantas necessidades quanto indivíduos, tantas carências quanto grupos sociais. Um interesse também é algo particular e específi co, dependendo do grupo ou da classe social. Necessidades ou carências, assim como interesses tendem a ser confl itantes porque exprimem as especifi cidades de diferentes grupos e classes sociais. Um direito, porém, ao contrário de necessidades, carências e interesses, não é particular e específi co, mas geral e universal, seja porque é válido para todos os indivíduos, grupos e classes sociais, seja porque é universalmente reconhecido como válido para um grupo social (como é caso das chamadas ―minorias). Ora, isso signifi ca que sob carências, necessidades e interesses, encontra-se algo que as explica e determina, isto é, o direito. Assim, por exemplo, a carência de água e de comida manifesta algo mais profundo: o direito à vida. A carência de moradia ou de transporte também manifesta algo mais profundo: o direito a condições de vida dignas. Da mesma maneira, o interesse, por exemplo, dos estudantes exprime algo mais profundo: o direito à educação e à informação. Em outras palavras, se tomarmos as diferentes carências e os diferentes interesses, veremos que sob eles estão pressupostos direitos pelos quais se luta justamente porque opera com o confl ito e com a criação de direitos, a democracia não se confi na a um setor específi co da sociedade no qual a política se realizaria – o Estado, mas determina a forma das relações sociais e de todas as instituições, ou seja, é o único regime político que é também a forma social da existência coletiva. Ela institui a sociedade democrática. Dizemos, então, que uma sociedade — e não um simples regime de governo — é democrática quando, além de eleições, partidos políticos, divisão dos três poderes da república, distinção entre o público e o privado, respeito à vontade da maioria e das minorias, institui algo mais profundo, que é condição do próprio regime político, ou seja, quando institui direitos e que essa instituição é uma criação social, de tal maneira que a atividade democrática social realiza-se como um poder social que determina, dirige, controla e modifi ca a ação estatal e o poder dos governantes. 48 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL Essa dimensão criadora torna-se visível quando consideramos os três grandes direitos que defi niram a democracia desde sua origem, isto é, a igualdade, a liberdade e a participação nas decisões. A igualdade declara que, perante as leis e os costumes da sociedade política, todos os cidadãos possuem os mesmos direitos e devem ser tratados da mesma maneira. Ora, a evidência história nos ensina que a mera declaração do direito à igualdade não faz existir os iguais. Seu sentido e importância encontram-se no fato de que ela abre o campo para a criação da igualdade por meio das exigências, reivindicações e demandas dos sujeitos sociais. Por sua vez, a liberdade declara que todo cidadão tem o direito de expor em público seus interesses e suas opiniões, vê-los debatidos pelos demais e aprovados ou rejeitados pela maioria, devendo acatar a decisão tomada publicamente. Ora, aqui também, a simples declaração do direito à liberdade não a institui concretamente, mas abre o campo histórico para a criação desse direito pela prática política. Tanto é assim que a modernidade agiu de maneira a ampliar a ideia de liberdade: além de signifi car liberdade de pensamento e de expressão, também passou a signifi car o direito à independência para escolher o ofício, o local de moradia, o tipo de educação, o cônjuge etc. As lutas políticas fi zeram parte da história das conquistas dos trabalhadores. FONTE: <http://www.revistas.ufg.br/index.php/ci/article/ viewFile/24574/14151>. Acesso em: 30 jun. 2015. 3 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES A Seguridade Social, como um novo conceito de direito à proteção social, foi constituída a partir da Constituição Federal, sendo composta pela Saúde, pela Previdência e pela Assistência Social. Juntamente com esse novo reconhecimento, veio junto à proteção especial para crianças e adolescentes, pessoas com necessidade especiais, pessoas idosas, índios, mulheres, populações carcerárias, que promulgaram um conjunto de políticas fundamentais e essências para reverter o quadro crítico social do Brasil. Com a promulgação da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), foram situados novos e importantes níveis do direito social, através de agendas intensas e permanentes, com a estruturação dos serviços a serem proporcionados e oferecidos para a população. Esses serviços passariam a ser efetuados prioritariamente pelo poder público, através de benefícios de uma renda mínima 49 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃODE CONTRUÇÃO Capítulo 1 para o idoso, pessoas com necessidade especiais, crianças e famílias, ampliados por meio de programas e serviços de enfrentamento da pobreza. Nas legislações vigentes, até o período de desenvolvimento e implementação do neoliberalismo, como o Estatuto da Criança e do Adolescente, a Política Nacional do Idoso, o Programa Nacional para Pessoa Portadora de Defi ciência, entre outras de extrema importância, que estavam em sintonia com a LOAS, formavam um vasto quadrode direitos sociais e de serviços que referenciavam as diversas atividades e ações desenvolvidas pelos órgãos responsáveis da área da Assistência Social. Essas ações foram se fortalecendo através do debate ético político da profi ssão, por meio das parcerias dos municípios, organizações não governamentais e governos estaduais, conforme as diretrizes de descentralização político-administrativa da LOAS. A avaliação das problemáticas que fazem parte da composição das demandas inseridas na área da Assistência Social apresentou no período um grande índice de complexidade, proveniente não só da população que submetida encontrava-se em condições de miséria e vulnerabilidade social, mas também pelo grande número de condições concretas, características de cada segmento social da população excluída do sistema capitalista. Diante da heterogeneidade das situações sociais, estabeleceu-se a exigência das abordagens teóricas, de técnicas através de instrumentos de trabalho do profi ssional, assistente social, da prestação de serviços especializados, que precisariam suprir as carências materiais imediatas, que fossem voltadas para a garantia de sobrevivência física, como também para suprir as necessidades do contexto familiar e comunitária no que se refere ao convívio e ao fortalecimento de vínculos comunitário e familiares. Esses programas e serviços deveriam buscar o comando na superação determinante das trajetórias históricas de exclusão social, violência e subalternidade social, por meio da elaboração e implementação de atividades sócio culturais, fazendo com que os usuários tenham a vivência concreta e real da cidadania ativa, sendo gestores de suas próprias vidas e cidadãos infl uentes e atuantes como trabalhadores emancipados, com seus direitos sociais. Na LOAS, as ações designadas como programas e projetos de enfrentamento da pobreza, ao serem formuladas dentro dos métodos e de conteúdos teóricos e práticos, eram então reorientadas para efetivar estratégias contrárias à alienação e favoráveis à emancipação da população com mais vulnerabilidade social. Isso dava-se por meio de alguns instrumentos políticos e técnicos que fossem produtores de novos espaços de reconhecimento do indivíduo como cidadão de direitos, resgatando a autoestima e maior convivência comunitária e coletiva. 50 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL REFERÊNCIAS BENJAMIN, C. O que fazer: reformas ou revolução. Teoria e debate, n. 15, São Paulo, jul./ago./set. 1991. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 14 dez. 2020. CAMARGO, J. M. (Org.). Distribuição de renda no Brasil. São Paulo: Paz e Terra, 1991. COUTINHO, C. N. Crise e redefi nição do Estado brasileiro. In: PEPE, A. M.; LEISBAUPIN, I. (Org.). Revisão constitucional e Estado democrático. São Paulo/Rio de Janeiro: Loyola/Centro João XXIII, 1993. COUTINHO, C. N. Gramsci: um estudo sobre seu pensamento político. Rio de Janeiro: Campus, 1989. FIORI, J. L. Aos condenados da terra, o equilíbrio fi scal. 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Questão social e desigualdade social no Brasil. São Paulo: Hucitec, 1998. WEGRZYNOVSKI, S. B. O serviço social no capitalismo. Indaial: UNIASSELVI, 2015. 52 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL CAPÍTULO 2 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: • Compreender quais são os conceitos e as bases teóricas do SUAS. • Entender quais são os níveis de gestão do SUAS. • Conhecer o reordenamento dos serviços, programas, projetos benefícios socioassistenciais, instrumentos de Gestão do SUAS. • Avaliar quais são os desafi os de implementação do SUAS. 54 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL 55 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL Capítulo 2 1 CONTEXTUALIZAÇÃO O Serviço Social historicamente sempre acabou sendo repentino das ações da assistência social, como uma relação de dependência. Através dessa perspectiva e vinculação, pode-se cominar em algumas características que apresentaram vários equívocos para a atividade profi ssional e conjuntamente com as bases metodológicas tradicionais, positivistas, que orientaram formação e o exercício profi ssional, até o fi nal de década de 70, e que estimularam uma visão equivocada do perfi l profi ssional. As mudanças que ocorreram através de estudos e do desempenho de vários profi ssionais para apresentar elementos do Serviço Social tradicional, sendo essas ações concretizadas sistematicamente, aumentaram a probabilidade de conhecer a dinâmica do agir profi ssional no contexto social e técnico da divisão do trabalho. No Brasil, a assistência social tem sua trajetória atrelada às práticas benefi centes e fi lantrópicas, fundamentadas em um ideário positivista, resultando em uma visão de naturalidade das desigualdades sociais. Por meio da Constituição Federal de 1988, emergiu um processo de revitalização e democratização da sociedade brasileira, no qual foi regulamentado o direito à assistência social, constituindo a Lei Orgânica de Assistência Social – LOAS/1993. O Estado neoliberal e o agravamento das questões sociais distinguiram um recuo da assistência social. Objetivando romper esse quadro, foi criado o Sistema Único de Assistência Social, que constitui uma nova direção prática para a Política de Assistência Social. Neste segundo capítulo, serão abordadas as questões que dizem respeito às perspectivas da política de assistência social, desde a sua implementação e efetivação do Sistema Único de Assistência Social. 56 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL 2 OS CONCEITOS E BASES TEÓRICAS QUE FUNDAMENTAM O SUAS E SEUS EIXOS ESTRUTURANTES A metodologia de implementação da Política Nacional de Assistência Social (PNAS) teve em seu desenvolvimento um importanteinstrumento na sua consolidação, que foi o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), organizado com a fi nalidade de materializar o processo de andamento da PNAS como uma Política Pública de direito para todos os cidadãos que dela necessitarem. Com a IV Conferência Nacional de Assistência Social, no ano de 2003, a efetivação dos direitos socioassistencias se fortalecem através de uma nova agenda política, por meio do SUAS, que se concretiza como sendo modelo de gestão para todo o Brasil, por meio de todas as esferas governamentais, consolidando um princípio de descentralização conforme LOAS. O projeto Lei nº 3.077/08 foi considerado o marco legal para legalizar o SUAS, tornando uma lei nacional. Durante a tramitação no Congresso Nacional para a aprovação desse projeto de lei, houve manifestação de apoio do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) do Conselho Federal de Assistência Social (CFESS), Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS), da Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social (ENESSO) e outras organizações estudantis e de classe. No dia 6 de julho de 2011, a Lei nº 12.435 foi sancionada pela Presidente do Brasil, Dilma Rousseff, e altera a Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, que dispõe sobre a organização da Assistência Social. Ela tem os seguintes objetivos: Art. 2º A assistência social tem por objetivos: I - a proteção social, que visa à garantia da vida, à redução de danos e à prevenção da incidência de riscos, especialmente: a) a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; b) o amparo às crianças e aos adolescentes carentes; c) a promoção da integração ao mercado de trabalho; d) a habilitação e reabilitação das pessoas com defi ciência e a promoção de sua integração à vida comunitária; e e) a garantia de 1 (um) salário-mínimo de benefício mensal à pessoa com defi ciência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família; 57 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL Capítulo 2 II - a vigilância socioassistencial, que visa a analisar territorialmente a capacidade protetiva das famílias e nela a ocorrência de vulnerabilidades, de ameaças, de vitimizações e danos; III - a defesa de direitos, que visa a garantir o pleno acesso aos direitos no conjunto das provisões socioassistenciais. Parágrafo único. Para o enfrentamento da pobreza, a assistência social realiza-se de forma integrada às políticas setoriais, garantindo mínimos sociais e provimento de condições para atender contingências sociais e promovendo a universalização dos direitos sociais (NR) (BRASIL, 2011b, s.p.). Sendo assim, o SUAS se estabelece como um mecanismo para a concretização da LOAS, enfatizando a descentralização da gestão nas três esferas governamentais com a participação da Sociedade Civil e Estado. Através desse novo sistema é priorizada a responsabilidade do Estado na garantia aos direitos de todos os usuários da Política de Assistência Social, sendo esta a única que tem condições de suprir as necessidades básicas do cidadão. Os eixos estruturantes que serão apresentados neste tópico são as bases organizativas, NOB/SUAS/2005, para a gestão do SUAS, defi nindo, organizando e fortalecendo a efetivação da Política de Assistência Social em todo território nacional. Os eixos principais que norteiam a implementação desse novo sistema são: a) Precedência da gestão pública da política de assistência social. b) Alcance dos direitos socioassistenciais por todos os cidadãos que precisarem. c) Matricialidade familiar. d) Territorialização. e) Descentralização político-administrativa e reordenamento institucional da gestão. f) Financiamento partilhado com todos e entre os entes federados. g) Fortalecimento da relação de democracia entre Estado e sociedade civil. h) Articulação com toda a rede de atendimento socioassistencial. i) Valorização do Controle Social. j) Participação da comunidade/usuário. k) Qualifi cação dos recursos humanos que atuam na política. l) Implementação do sistema de informação, monitoramentos, avaliação e sistematização de resultados. 58 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL Esses eixos contribuem para a personifi cação, unifi cação e qualidade dos serviços ofertados, como também para a avaliação dos indicadores através de consulta aos indicadores sociais, além da defi nição terminológica das ações socioassistenciais. O SUAS, através de sua implementação, passou a ser considerado como uma revolução na assistência social do Brasil. Esse sistema é fruto de aproximadamente duas décadas de discussão, colocando em prática os princípios da Constituição Federal – 88, que integra a Assistência Social, juntamente com Saúde e Seguridade Social à Previdência Social. A Assistência Social, que antes estava fundamentada na prática clientelista, assistencialista e tutelada, passa a ter seus benefícios como direitos de cidadania. Outro eixo do SUAS é a matricialidade sociofamiliar, sendo este a centralidade das ações do sistema. A Assistência Social, que antes estava fundamentada na prática clientelista, assistencialista e tutelada, passa a ter seus benefícios como direitos de cidadania. Para Pereira (2009, p. 26), desde os inícios das décadas de 70, “[...] a família vem sendo redescoberta como um importante agente privado de proteção social”. Essa é a justifi cativa que faz com que a família seja, hoje, o foco de atenções em todas as políticas públicas. Isso decorre da falta de uma política exclusiva no Brasil, como também é inexistente em outros países. A família passou a ser um objetivo de discussão no meio acadêmico e científi co, perante a relação que se constitui entre família e Estado, visto que este é o encarregado e o responsável para suprir as demandas sociais das famílias por meio da promoção de políticas sociais. Na década de 90, o neoliberalismo exaltou as diferenças e desigualdades sociais e, ao mesmo tempo, existia uma discussão de um Estado como um instrumento mais forte, que se fazia presente e interveniente, mas o neoliberalismo tinha como um objetivo o Estado estar longe das demandas sociais, passando a responsabilidade para a sociedade civil. 59 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL Capítulo 2 Potyara Pereira (2009, p. 36) defi ne que as instituições de assistência social constituem uma organização que precisa prover o bem-estar dos usuários por ser: “[...] considerada a célula mantenedora da sociedade ou a base sobre a qual outras atividades de bem-estar se apoiam, a família ganhou relevância atual justamente pelo caráter informal, livre de constrangimentos burocráticos e de controles externos”. O Estado não consegue suprir todas as demandas sociais e acaba passando a responsabilidade de proteção para a família, desviando assim o foco do responsável pelas disparidades sociais. No artigo 226 da Constituição familiar, está expresso que é de responsabilidade do Estado a proteção à família, reconhecendo-a como alicerce da sociedade, como sujeito de direitos, como outras legislações. A concepção do conceito que a família é a referência é importante para os gestores, para os trabalhadores do SUAS, assim como para os conselheiros da assistência social, para que a organização dos serviços seja planejada conforme as demandas das famílias. O profi ssional que atua em determinado território deve organizar um trabalho comunitário, visando o fortalecimento das organizações sociais que já existem, através da inclusão dos usuários, buscando assim o fortalecimento e a autonomia, com refl exões críticas que consequentemente buscam novos horizontes, que esses usuários consigam perceber que fazem parte de uma conjuntura muito maior a que pensam que estão incluídos. Ou seja, fazem parte de um sistema capitalista, que excluí as pessoas, que a vulnerabilidade social que vivem não acontece por falta de capacidade oude capacitação, mas pelo processo de exclusão próprio desse sistema. 60 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL A unidade de avaliação de referência para os técnicos se denomina família referenciada. Conforme a NOB/SUAS (2005, p. 15) “Considera-se “família referenciada” aquela que vive em áreas caracterizadas como de vulnerabilidade, defi nidas a partir de indicadores estabelecidos por órgão federal, pactuados e deliberados”. Diante disso, consegue-se perceber que nem toda família se torna uma instituição que tem condição de fornecer todas as necessidades básicas para os seus membros, apesar de que ainda existe, por parte do Estado e também do mercado, afi rmação de que isso é possível. Pereira (2009, p. 36-37) defende que a família é como um: Forte, porque ela é de fato um lócus privilegiado de solidariedades, no qual os indivíduos podem encontrar refúgio contra o desamparo e a insegurança da existência. Forte, ainda, porque é nela que se dá, de regra, a reprodução humana, a socialização das crianças e a transmissão de ensinamentos que perduram pela vida inteira das pessoas. Mas ela também é frágil, ‘pelo fato de não estar livre de despotismos, violências, confi namentos, desencontros e rupturas’ [...] Se analisarmos a história da constituição de um núcleo familiar, é visível que aconteceram modifi cações na família através de um conjunto de arranjos e que não são apenas considerados nucleares. Para o poder público, um desafi o é elaborar políticas públicas, considerando os novos padrões de família que surgem na contemporaneidade. 61 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL Capítulo 2 A autora Sarti (2008, p. 29) afi rma que: [...] as difi culdades enfrentadas para a realização dos papéis familiares no núcleo conjugal, diante de uniões instáveis e empregos incertos, desencadeiam arranjos que envolvem a rede de parentesco como um todo, a fi m de viabilizar a existência da família. Cyntia Sarti, citada anteriormente, refere-se ainda às famílias que em situação de vulnerabilidade social e, diante da fragilidade, estão sob a responsabilidade de famílias extensas ou de outras pessoas com maior vínculo familiar, fortalecendo assim uma rede de proteção e sociabilidade familiar, portanto é necessário que as políticas públicas e os profi ssionais tenham a clareza que: [...] trabalhar com família requer a abertura para uma escuta, a fi m de localizar os pontos de vulnerabilidade, mas também os recursos disponíveis [...] cada família constrói sua própria história, ou o seu próprio mito, entendido como uma formulação discursiva em que se expressam o signifi cado e a explicação da realidade vivida [...] (SARTI, 2008, p. 26-27). Através do reconhecimento da importância da família como sendo uma unidade de referência na Política de Assistência Social, baseia-se o conceito de que este ambiente deve ser considerado o primeiro de proteção aos usuários. No modelo de família que se refere na Política de Assistência Social entende- se como família as afi nidades constituídas pelos laços consanguíneos, afetivos e de solidariedade. A família para toda a sociedade é vista como algo de grande valor sentimental. Para a população em situação de vulnerabilidade social, pode ser o único bem que possui. Para o SUAS, a matricialidade familiar e sua conjuntura sociofamiliar são consideradas como um dos eixos principais que formam os pilares desse sistema. 62 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL A Política de Assistência Social (2004, p. 42) considera a família como sendo um “[...] espaço privilegiado e insubstituível de proteção e socialização primárias, provedora de cuidados aos seus membros, mas que precisa também ser cuidada e protegida”. Todas as mudanças que ocorreram nas últimas décadas, em relação ao mundo do trabalho e ao acirramento das expressões das questões sociais, afetaram diretamente o núcleo familiar. O assistente social deve ter um olhar que consiga compreender a família, como sendo: [...] mediadora das relações entre sujeitos e a coletividade, delimitando, continuadamente os deslocamentos entre o público e o privado, bem como geradora de modalidades comunitárias de vida [...] um espaço contraditório, cuja dinâmica cotidiana é marcada por confl itos e geralmente, também, por desigualdades [...] (PNAS, 2004, p. 41). As novas confi gurações familiares devem ser compreendidas através das alterações e das mudanças ao antigo modelo implementado na sociedade, que era constituído por pai, mãe e fi lhos, e com as transformações que ocorreram com a modernização da sociedade, a família também se fez parte deste processo. Um novo conceito de família foi aceito pelas políticas públicas, ampliando os serviços ofertados, a partir do momento em que se entende a família como: “[...] um conjunto de pessoas que se acham unidas por laços consanguíneos, afetivos e/ou de solidariedade” (PNAS, 2004, p. 41). 63 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL Capítulo 2 Dessa forma, as famílias passam a ser acolhidas independentemente da confi guração familiar, podendo ser formadas por mãe e fi lhos, pai e fi lhos, ou avós e netos, casais homossexuais, ou até mesmo pessoas que moram em repúblicas. Resumindo, todas as pessoas ou grupos que residem em um mesmo domicílio são considerados famílias, tendo o acesso garantindo de seus direitos. Dentre essas mudanças pode-se observar um enxugamento dos grupos familiares (famílias menores), uma variedade de arranjos familiares (monoparentais, reconstruídas), além dos processos de empobrecimento acelerado e da desterritorialização das famílias geradas pelos movimentos migratórios (PNAS, 2004, p. 42). O trabalho sendo centralizado na família se tornou um instrumento para superar as ações de caráter emergencial e passaram a ser realizados serviços de prevenção e proteção de todos os seus membros. Conforme a PNAS (2004, p. 41): “[...] prevenir, proteger, promover e incluir seus membros é necessário, em primeiro lugar, garantir condições de sustentabilidade para tal”. O Estado Democrático e de Direitos tem como comprometimento a obrigação de proteger a população, através das necessidades básicas para a sobrevivência. Segue uma dica de leitura, somente assim seu conhecimento irá expandir, não deixe de ler. CRUZ, L. R.; GUARESCHI, N. (Orgs.). Políticas públicas e assistência social. Diálogos com as práticas psicológicas. Petrópolis: Vozes, 2009. 64 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL O novo modelo de gestão da política da Assistência Social prioriza a família como foco de atenção e território como base da organização de ações e serviços em dois níveis de atenção: a Proteção Social Básica, que é desenvolvida nos CRAS, pautando- se no fortalecimento dos vínculos familiares e na convivência comunitária; e a Proteção Social Especial, desenvolvida nos CREAS, com o objetivo de promover o acesso aos serviços de apoio e a inclusão em redes de pertencimento. Em ambos os Centros está previsto o profi ssional de psicologia na composição da equipe mínima. Quais as práticas da psicologia nestes locais? No sentido de contribuir com este debate, esta obra reúne trabalhos teóricos e práticos de pesquisadores e profi ssionais da psicologia, da assistência social e da antropologia, caracterizando a transdiciplinaridade da temática das políticas sociais públicas. A descentralização político-administrativa passou a ser estabelecida e permitiu alcançar com maior efi cácia todos os territórios nacionais e suas demandas individualizadas. Dessa forma, uma maior descentralização, (...), costuma ser pré-requisito para ações integradas na perspectiva da intersetorialidade. Descentralização efetiva com transferência de poder e decisão, de competências e de recursos, e com autonomia das administrações dos micros espaços na elaboração de diagnósticos sociais, diretrizes, metodologias, formulação, implementação,execução, monitoramento, avaliação e sistema de informação das ações defi nidas, com garantias de canais de participação local (PNAS, 2004. p. 44). Essas mudanças no processo de gestão da política de assistência social vêm de encontro aos princípios da Constituição Federal de 88, descentralização política-administrativa das atividades e ações governamentais. Esta diretriz está fundamentada no artigo 204 da Constituição Federal de 88: Art. 204. As ações governamentais na área da assistência social serão realizadas com recursos do orçamento da seguridade social, previstos no art. 195, além de outras fontes, e organizadas com base nas seguintes diretrizes: 65 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL Capítulo 2 I - descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação e a execução dos respectivos programas às esferas estadual e municipal, bem como a entidades benefi centes e de assistência social; II - participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis. Parágrafo único. É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a programa de apoio à inclusão e promoção social até cinco décimos por cento de sua receita tributária líquida, vedada a aplicação desses recursos no pagamento de: I - despesas com pessoal e encargos sociais; II - serviço da dívida; - qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente aos investimentos ou ações apoiadas (BRASIL, 1988, s.p.). E sendo reafi rmadas no artigo 6 da LOAS: Art. 6º As ações na área de assistência social são organizadas em sistema descentralizado e participativo, constituído pelas entidades e organizações de assistência social abrangidas por esta lei, que articule meios, esforços e recursos, e por um conjunto de instâncias deliberativas compostas pelos diversos setores envolvidos na área (BRASIL, 1988, s.p.). Estes princípios mediante a política de assistência social estão manifestados pela defi nição de corresponsabilidade em cada esfera governamental que concretiza a política, incumbindo: • Para a coordenadoria e edição das regras de caráter geral à esfera federal. • Para os Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios a coordenação e implemento dos serviços socioassistenciais em suas esferas governamentais. • Para todas as esferas de governamentais a responsabilidade pelo cofi nanciamento; o monitoramento e a avaliação das ações, programas, projetos e serviços. • O fornecimento da capacitação permanente dos profi ssionais é de corresponsabilidade dos Estados e do Governo Federal. • A sistemática das informações na área é de corresponsabilidade para todas as esferas. 66 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL É importante ressaltar que o SUAS é composto por entidades e organizações de assistência social, ou seja do terceiro setor, e também pela efetivação dos conselhos, planos e fundos da assistência social, sendo estes requisitos básicos para a adesão da gestão inicial do SUAS em todas as esferas governamentais. A descentralização da política está relacionada com características socioterritorial de cada local, ou seja, com cada território, em que é necessário identifi car as características sociais, culturais, políticas, econômicas da população do seu entorno, e que acabam revelando a complexidade da diversidade, das desigualdades que existem em todas as regiões do Brasil. Neste sentido, a: [...] territorialização é o reconhecimento da presença de múltiplos fatores sociais e econômicos que levam o indivíduo e a família a uma situação de vulnerabilidade ou risco social. É nos territórios que é operado o princípio da prevenção na Política de Assistência Social (NOB/SUAS, 2005, p.18). A partir desta diversidade que os serviços socioassistenciais de proteção básica foram organizados através de um novo modelo socioassistencial, tendo como referência o número de famílias/habitantes que estão referenciados em um determinado território. A quantidade de família referenciada acontece através dos indicadores socioterritoriais que estão disponíveis nos dados censitários do IBGE. Toda Política Pública, independentemente da área de atuação, para ser efetivada, necessita de investimentos, e que acontecem prioritariamente através de fi nanciamento, para compreender este procedimento referente ao orçamento da gestão pública, em suas determinadas instâncias. 67 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL Capítulo 2 Para Assumpção (2007, p. 43): [...] um instrumento de planejamento da ação governamental é composto das despesas fi xadas pelo Poder Legislativo e que autoriza o Poder Executivo a realizá-las durante o exercício fi nanceiro, mediante a arrecadação de receitas sufi cientes e previamente estimadas. Alguns instrumentos que colaboram com a gestão do orçamento público foram apresentados na Constituição Federal de 1988. São eles: • Plano Diretor. • Plano Plurianual, PPA. • Lei de Diretrizes Orçamentárias, LDO. • Lei Orçamentária Anual, LOA. Para a autora Bernardoni (2010, p. 51): O Plano Diretor é o início de planejamento municipal que deve ser realizado por todos os municípios com mais de 20 mil habitantes, o qual deve estar em harmonia com a Lei Orgânica do Município e com a Lei de Responsabilidade Fiscal. Suas atualizações devem ser feitas pelo menos a cada dez anos. Os demais instrumentos devem ser norteados pelas diretrizes contidas no Plano Diretor. É importante lembrar que o Plano Diretor “Constitui-se no principal instrumento de planejamento sustentável desses municípios, contribuindo na formação de diretrizes para expansão urbana e desenvolvimento nas mais diversas áreas, visando sempre ao interesse da coletividade”. 68 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL A LDO se torna um planejamento de gestão a curto prazo e que objetiva buscar a estabilização entre as receitas e despesas anuais de cada gestão pública, sendo considerada um elo entre o PPA e a LOA, pois, ao ser elaborada, deve-se levar em consideração pelo gestor as metas elencadas no PPA. Outro planejamento considerado de curto prazo é a LOA, que deve estar fundamentada na LDO. Assumpção (2007, p. 58) afi rma: O PPA e a LDO são documentos de planejamento, enquanto que a LOA é a indicação de como esse planejamento irá ser executado. Para a elaboração da LOA, o administrador precisa pensar em várias questões da realidade, sendo que uma delas é “[...] sua capacidade de arrecadação e expressa essa estimativa em números na LOA. Já as receitas são fi xadas, isto é, a LOA expressa, em termos numéricos, o valor máximo da despesa para cada item do orçamento. Portanto, enquanto a RECEITA é PREVISTA, a DESPESA é FIXADA”. Estes instrumentos, PPA, LDO e LOA, precisam estarem interligados entre si, para se efetivarem, e devem conter uma justifi cativa, objetivos, público-alvo, metodologia de execução e os recursos fi nanceiros a serem gastos. Citando novamente Bernardoni (2010, p. 39) [...] por parte do planejador, o processo de planejamento pressupõe uma visão holística de todo o cenário que envolve as políticas públicas, como também uma capacidade de gestão para integrar toda a estrutura da administração (organização, pessoas, equipamentos e recursos fi nanceiros) [...]. 69 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL Capítulo 2 Todas as políticas públicas nos municípios são planejadas e administradas dessa forma, inclusive a Política de Assistência Social. A Constituição Federal de 88 garantiu que o fi nanciamento da Seguridade Social tornasse a base de fi nanciamento da assistência social, saúde e previdência. Os Fundos de Assistência Social (FAS) são as instâncias que representam o fi nanciamento da Política de Assistência Social, em todas as esferas governamentais. É por meio do FAS que todo e qualquer recursoque precise ser destinado aos municípios deve, obrigatoriamente, ser repassado através do fundo, garantindo assim que os Conselhos, nas três esferas, consigam controlar os gastos do poder público com a Política de Assistência Social, pois este fundo promove e facilita a prestação de contas para a toda a população. Segundo a PNAS (2004, p. 49), “[...] o fi nanciamento dos benefícios se dá de forma direta aos seus destinatários, e o fi nanciamento da rede socioassistencial se dá mediante aporte próprio e repasse de recursos fundo a fundo [...]”. Sendo assim, nenhum recurso destinado para a Assistência Social poderá ser gasto sem a aprovação dos Conselhos de Assistência Social, bem como a prestação de contas dos recursos depende da aprovação deles. O que passa a ser chamado de Controle Social dos Gastos Públicos. Para que os municípios possam receber repasses fi nanceiros via fundo, é obrigatório que os Conselhos de Assistência Social, Fundo Municipal Assistência Social estejam implementados e em pleno funcionamento, além da obrigatoriedade da elaboração do Plano de Assistência Social. Neste sentido, os municípios precisam estar em um processo constante de planejamento de suas ações, programas, serviços e projetos, só assim terão pleno funcionamento da Política de Assistência Social. O Plano de Assistência é considerado um instrumento que objetiva o planejamento estratégico, organizando e norteando as ações para sua implementação e execução perante a Política de Assistência Social. 70 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL O órgão gestor é responsável pela elaboração deste Plano, sendo que só poderá ser executado depois que for aprovado pelo Conselho de Assistência Social, tendo este autonomia de pedir reformulações, acompanhar, fi scalizar, aprovar ou não. A Política de Assistência Social, bem como todas as outras políticas públicas, para serem executadas, necessitam de uma equipe de trabalhadores, sendo esses técnicos ou não, porém, para dar suporte, são orientados através de uma Política de Recursos Humanos. O objetivo da elaboração de uma Política de Recursos Humanos é para conseguir afrontar a precarização do trabalho ofertado, infl uenciando na qualidade dos serviços continuados. Quando se refere à precarização do trabalho, logo pensamos na exploração do trabalhador que está inserido em uma empresa privada, porém o Estado não fi ca muito fora da precariedade do trabalho, podendo ser citados os processos seletivos, contratos temporários, licitações, desvio de função, que resultam em uma instabilidade para este trabalhador com baixa remuneração. A PNAS (2004) preocupada com a troca de gestores, prefeitos, a cada quatro anos, em que, na maioria das vezes, altera-se por completo a equipe de funcionários, pois cada gestão tem seus determinados, chamados de “cabos eleitorais” e/ou “militantes” para ocuparem os cargos de confi ança, apontava algumas demandas e que foram, congregadas na Norma Operacional de Recursos Humanos do SUAS (NOB/RH-SUAS) de 2006, mas não se discutia como sendo uma política de recursos humanos. Através da aprovação da NOB/RH-SUAS, o contexto da Política de Assistência Social, inicia seu processo de mudanças, prevendo mudanças essenciais para o enfrentamento no que diz respeito à precarização do trabalho na área da assistência social. A NOB/RH-SUAS (2006, p. 8) afi rma que: “O SUAS vem se consolidando, e a gestão do trabalho na Assistência Social carece de uma atenção maior devido a sua importância para a consolidação do sistema”. A Secretaria Nacional de Assistência Social, considera a NOB/RH-SUAS como sendo um documento primordial na conciliação da Política de Assistência Social, no que conduz a área da gestão do trabalho. Os princípios que estão elencados nessa norma referem-se à gestão do trabalho das políticas sociais públicas e foram congregados pela Política de 71 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL Capítulo 2 Assistência Social e pela Política de Recursos Humanos, para que as relações de trabalho sejam estáveis e dignas entre todos os trabalhadores e que refl etirá no usuário destes serviços. Por meio dessa Política que a gestão do trabalho no SUAS avança na garantia de direitos dos trabalhadores, por meio dos Planos de Carreira, Cargos e Salários, PCCS, que constitui um estímulo para a formação e capacitação continuada, e que as defi nições dos valores de salário sejam realizadas através do nível de formação. O correto seria que todos os trabalhadores que possuem nível superior, ou seja, um profi ssional como assistente social e psicólogos, tenham um salário igual e não defi nindo por profi ssão. Para o CFESS (2007, p. 43) isso é principal e fundamental, sendo que: As possibilidades de atuação profi ssional não podem ser desvinculadas das condições e processos em que se realiza o trabalho. É nesse sentido que as competências e atribuições profi ssionais devem se inserir na perspectiva da gestão do trabalho em seu sentido mais amplo, que contemple ao menos três dimensões indissociáveis: as atividades exercidas pelos trabalhadores (as), as condições materiais, institucionais, físicas e fi nanceiras, e os meios e instrumentos necessários ao seu exercício. A garantia e articulação dessas dimensões são fundamentais para que os (as) trabalhadores(as) possam atuar na perspectiva de efetivar a política de Assistência Social e materializar o acesso da população aos direitos sociais. A NOB/RH-SUAS destaca uma outra questão importante, que está relacionada com a maneira e a forma de contratar um trabalhador para desenvolver os serviços, programas, projetos previstos na Política de Assistência Social, a contratação só será realizada mediante concurso público, possibilitando assim uma estabilidade na relação entre trabalhador e usuários dos serviços. Para o CFESS (2007, p. 43-44) isso signifi ca que: “O estabelecimento de relações de trabalho estáveis, a garantia institucional e condições e meios necessários à realização das atividades são indispensáveis para o exercício profi ssional”. Diante disto, a gestão do trabalho no SUAS possibilita um avanço na qualidade dos serviços prestados, contribui para enfrentar as relações precárias de trabalho e, consequentemente, agiliza a garantia dos direitos trabalhistas e sociais de todos os profi ssionais. 72 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL A leitura da NOB-RH/SUAS será fundamental para que você consiga aprimorar seus conhecimentos. Ela estabelece parâmetros gerais para a gestão do trabalho a ser implementada na área da Assistência Social, englobando todos os trabalhadores do SUAS, órgãos gestores e executores de ações, serviços, programas, projetos e benefícios da Assistência Social. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria Nacional de Assistência Social. Norma operacional básica de recursos humanos do SUAS NOB-RH/SUAS anotada e comentada. Brasília, 2006. 71p. O SUAS conta também com outros eixos estruturantes, sendo eles a informação e o monitoramento, ambos são de fundamental importância para avaliação de todas as políticas públicas, inclusive na Política de Assistência Social. Para que ocorra uma avaliação correta das ações desenvolvidas, é necessário que este processo se desenvolvam antes e após do seu desempenho e execução. O autor Carvalho (2001) teoriza esses momentos de avaliação como sendo ex–ante e post-facto. Para Carvalho (2011, p. 63), na avaliação do ex-ante é imprescindível que se averigue: [...] as alternativas possíveis e os impactos projetados sobre cada uma das alternativas quanto a custos, nível de adesão da organização e dos benefi ciários, padrões de intervenção, estratégias, processos e resultados. É uma avaliação do diagnóstico e da proposta. 73 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL Capítulo 2 Sendo assim, é de grande importância que exista um acompanhamento nas açõespropostas e desenvolvidas, o que se chama de monitoramento das políticas públicas. Falando especifi camente da Política de Assistência Social, através desse processo se consegue acompanhar toda a execução das ações, podendo reavaliar o planejamento e as estratégias como também outras demandas que surgem perante esse processo, sendo assim, “[...] objetivando corrigir distorções durante o próprio desenvolvimento do projeto [...]” (CARVALHO, 2001, p. 64). Carvalho (2001, p. 64) afi rma que, para fi nalizar o ciclo avaliativo, é necessário que aconteça o que chama de post-facto, ou seja, depois do fato ocorrido, sendo que: [...] os projetos podem ter resultados e impactos esperados e não esperados, tangíveis e intangíveis, imediatos ou de médio prazo. Por isso, a avaliação de resultados e impactos deve ocorrer não só ao término dos projetos, mas também depois de algum tempo”. As políticas públicas em sua totalidade, inclusive a Assistência Social, não devem resistir a esse processo de avaliação, visto que seus princípios estão inseridos na prestação dos serviços como qualidade, visando também resultados almejados a curto, médio e longo prazo. Para que isso seja viável, a PNAS (2004) apresentou um sistema de informação, monitoramento e avaliação, que tende a garantir o acompanhamento dos serviços socioassistências que são oferecidos para a população em condição de vulnerabilidade social. Sendo assim, o SUAS passa a defender a participação e controle social de todas ações que são desenvolvidas na Política de Assistência Social, em que qualquer cidadão tem o direito de seguir e acompanhar o fl uxo e o controle dos serviços prestados, por meio dos dados que estão inseridos. Esse controle não cabe somente à comunidade, mas para os gestores, que, para atingir os objetivos dos serviços oferecidos com qualidade, é indispensável que aconteça com regularidade o monitoramento e avaliação. 74 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL O SUAS possui uma rede de informações, através de sistemas interligados e são constantemente aperfeiçoados, em que a tecnologia consiga contribuir com o monitoramento, objetivando uma melhoria na qualidade dos serviços prestados. Esse sistema precisa se manter através do que se chama de Instrumento de Gestão, que: [...] não se caracterizam como documentos meramente burocráticos, mas que têm como objetivo propiciar o planejamento, execução, monitoramento e avaliação dos serviços, programas e projetos, e benefícios socioassistenciais além de municiar as instâncias do sistema descentralizado e participativo de assistência social (BRASIL, 2013, p. 27). Vamos lá para mais uma dica importante de leitura. Esta publicação, fruto de uma pesquisa de fôlego, é uma grande contribuição para todos os profi ssionais que se defrontam com os desafi os postos pelas políticas sociais na atualidade. A autora realiza uma análise crítica dos processos e dos resultados de avaliação da Política de Assistência Social, buscando identifi car as requisições necessárias para sua utilização como parte do conjunto dos instrumentos de viabilização da democracia e do exercício do controle social dessa política de proteção social. Essa refl exão chega ao leitor em uma hora muito oportuna, uma vez que poderá contribuir com o debate crítico sobre os rumos e tendências da atual Política de Assistência Social que desde 2004, com a aprovação da PNAS/ SUAS, coloca-se o desafi o de estruturar sistemas de gerenciamento das informações, monitoramento e avaliação dos resultados. ALVES, Adriana Amaral Ferreira. Assistência social: história, análise crítica e avaliação. Curitiba: Juára, 2011. O eixo sobre a concepção de participação refere-se à importância da democracia participava que começou a se destacar desde a década de 70, no Brasil, através dos Movimentos Sociais, que enfatizavam uma reforma democrática no modelo de fazer política. 75 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL Capítulo 2 Segundo a autora Moura (2009, p. 47), “No debate quanto ativa reforma da democracia, a ideia de participação de grupos e camadas da população tidas como pouco representadas, constituiria incentivo para estimular o melhor funcionamento das instituições políticas”. Sabe-se que os Movimentos Sociais são protagonistas na luta coletiva pela transformação da conjuntura econômica, social e política do país. Para Siqueira (2006, p. 48), “A busca pelo reconhecimento do direito de se ter direitos foi o imperativo desses movimentos. Busca- se ainda o direito de participar e de decidir sobre as ações estatais, infl uenciando as políticas e fi scalizando a operacionalização dos serviços sociais”. Alguns autores defendem que atualmente existem três percepções básicas no que tange a participação, sendo elas: • Participação comunitária: que surgiu no século XX e tinha uma base conservadora, ressaltando o desempenho de atividades sem a preocupação de pensar, elaborar e eleger prioridades. • Participação popular: surge nos anos 70, durante o auge dos Movimento Sociais, que tinham atitude reivindicatórias e de controle das ações das empresas estatais. • Participação social: que surge com a metodologia da democratização do Brasil. O fortalecimento das reivindicações dos Movimentos Sociais teve início através da Constituição Federal de 88, com a institucionalização da participação popular, conforme artigo primeiro, parágrafo único, que afi rma: “Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos diretamente [...]” (BRASIL, 1988, Art. 1º). 76 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL No que se refere à Assistência Social, a Constituição Federal de 88 esclareceu algumas diretrizes, que são: “[...] II – participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis [...]” (BRASIL, 1988, Art. 204). A participação é um componente importante na constituição da democracia, em que os cidadãos são capacitados para avaliarem o desempenho do poder público, como também do privado. Sendo assim, a participação popular poderá ser executada por diversas formas e interesses, objetivo e metas, entre outras, que mudam diante da situação histórica, cultural de cada sociedade. Para Souza (2009, p. 170): “[...] a gestão social pode ser entendida como processo social, no qual o homem se descobre enquanto sujeito político, capaz de estabelecer uma relação direta com os desafi os sociais [...]”. A gestão da Política de Assistência Social precisa ser fl exível e participativa, oferecendo espaços para o treinamento pleno do controle social e que possibilitem a participação contínua dos usuários e outros interessados, como trabalhadores do SUAS, ou governamentais, ou ainda da sociedade civil organizada. Conforme Nogueira (2005, p. 142): A participação que se dedica a compartilhar decisões governamentais, a garantir direitos, a interferir na elaboração orçamentária ou a favorecer sustentabilidade para certas diretrizes concentra-se muito mais na obtenção de vantagens e de resultados do que na modifi cação de correlações de forças ou de padrões estruturais. Uma forma de participação popular continuada acontece por meio do controle social, sendo um instrumento para a efetivação da gestão político administrativo – fi nanceira e também técnico-operativa por meio do caráter democrático e descentralizado. 77 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL Capítulo 2 No SUAS, esses espaços são privilegiados de controle social e se consolidam pelas conferências e conselhos de Assistência Social. As conferências são espaços para avaliar a situação da Política de Assistência Social e propor novas diretrizes para essa política. Um outro espaço de discussão e diálogo contínuo entre sociedade civil e governo é o Conselho de Assistência Social. Os Conselhos são considerados organizações públicas e são constituídospor representantes governamentais, dos trabalhadores e usuários do SUAS e da sociedade civil organizada. Eles têm como objetivo deliberar sobre os rumos da política nas esferas governamentais, além de fi scalizar a execução dos serviços prestados à população. Na Política de Assistência Social, a participação no processo de gestão pode ser de todos os cidadãos, inclusive dos usuários que utilizam os serviços. A difi culdade de participação popular no controle dos serviços públicos é generalizada por toda a sociedade. Para os usuários, torna-se algo muito difícil, porém, não é impossível, pois é um momento de aprendizado e eles são os mais indicados para avaliar os serviços de maneira efetiva, já que fazem uso deles. [...] só se resulta em democratização quando a participação se materializa em políticas para a efetiva extensão de direitos e que a cada nova classe de direitos alcançados corresponda à efetiva integração de cada membro com igual calor na coletividade política” (AVELAR, 2004, p. 234). Os Conselhos se tornam um mecanismo de participação popular, de fi scalização e de aprendizado sobre controle social na Política de Assistência Social e são compostos de maneira paritária, ou seja: • 50 % das cadeiras deverão ser ocupadas por representantes dos usuários ou da organização dos serviços vinculados aos serviços assistenciais, e dos trabalhadores da área e de entidades, que são eleitos nas Conferências. • 50% das cadeiras serão completadas por representantes governamentais. 78 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL Existe uma disparidade na indicação dos conselheiros governamentais, pois estes são indicados pelo chefe do executivo em todas as esferas governamentais e deveriam ser eleitos nas Conferências como os representantes não governamentais. Estado, Políticas Sociais e Implementação do SUAS Maria Carmelita Yazbek [...] o ano de 1988 inaugura um período importante da história brasileira. Neste ano é promulgada a Constituição da República Federativa do Brasil, que reconhece a assistência social como dever de Estado no campo da Seguridade Social e não mais como política complementar, de caráter subsidiário às demais políticas. É bom lembrar que a noção de Seguridade supõe que os cidadãos tenham acesso a um conjunto de certezas e seguranças que cubram, reduzam ou previnam situações de risco e de vulnerabilidades pessoais e sociais. [...] Apesar da alteração do antigo paradigma conservador e assistencialista estabelecida pela Constituição e pela Lei Orgânica da Assistência Social (Loas) para demarcar a assistência social como direito social no âmbito da Seguridade Social ao lado da Saúde e da Previdência, os anos 90 do século XX apresentam um cenário de grandes mudanças no que diz respeito ao papel do Estado. A “reforma do Estado”, como é conhecido o processo de mudanças que se desenrolou a partir desta década, teve forte caráter neoliberal e caracterizou-se principalmente por medidas de ajuste na economia, com severas restrições aos gastos públicos em especial na área social e privatizações de empresas e organizações estatais. Tratou- se de um contexto no qual foram encolhidas as responsabilidades estatais na regulação das políticas públicas e valorizadas as “virtudes” da regulação pelo mercado. O enfrentamento da pobreza e da desigualdade, no contexto neoliberal, passa a ser tarefa da solidariedade da sociedade ou de uma ação estatal aleatória e tímida, caracterizada pela defesa de alternativas privatistas, que envolvem as organizações sociais e a comunidade em geral. Recoloca-se em cena práticas fi lantrópicas 79 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL Capítulo 2 e de benemerência, ganhando relevância ações do denominado Terceiro Setor (não governamental e não lucrativo), como expressão da transferência à sociedade de respostas às sequelas da questão social. Vale lembrar que a questão social circunscreve um terreno de disputas, pois diz respeito à desigualdade econômica, política e social entre as classes na sociedade de mercado, envolvendo a luta pelo usufruto de bens e serviços socialmente construídos, por direitos sociais e pela cidadania. Se tomarmos apenas o exemplo da política de assistência social, veremos que após a promulgação da constituição um amplo processo de debates e lutas no interior da sociedade foram travados para que aquilo que consta na constituição tivesse sua regulamentação. Com isso, cinco anos após a Carta Constitucional, em 7 de dezembro de 1993, foi aprovada a Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), que regulamentou os artigos 203 e 204 da Constituição e tornou possível a assistência social como um dever do Estado e um direito de cidadania, sem a necessidade de contribuição prévia. [...] A concepção de Assistência Social contida na LOAS visa assegurar benefícios continuados e eventuais, programas, projetos e serviços socioassistenciais para enfrentar as condições de vulnerabilidade social. Apesar da conjuntura adversa, pós Constituição de 1988 e pós LOAS, tendo em vista os impactos das mudanças do ordenamento econômico mundial sobre as condições de vida das populações dos países em desenvolvimento destacando-se o Brasil entre eles, a assistência social brasileira inicia seu trânsito para um campo novo: o campo dos direitos, da universalização dos acessos e da responsabilidade estatal. Nesse sentido, pode-se afi rrmar que a LOAS estabeleceu uma nova matriz para a assistência social brasileira, iniciando um processo que tem como perspectiva torná-la visível como política pública e direito dos que dela necessitarem. Um primeiro passo em direção a este fi m foi a criação e instalação de conselhos deliberativos e paritários nas esferas federal, estadual, do Distrito Federal e municipal de governo. A inserção na Seguridade Social aponta também para seu caráter de política de Proteção Social como vimos antes, articulada a outras políticas do campo social voltadas à garantia de direitos e de condições dignas de vida. 80 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL Desse modo, a assistência social confi gura-se como possibilidade de reconhecimento público da legitimidade das demandas de seus usuários e espaço de ampliação de seu protagonismo. Mas, assim como a regulamentação da constituição foi conquistada com muita mobilização, também a efetividade da Loas tem sido conquistada por meio de muitos debates e pactuações políticas que envolvem todo o conjunto da sociedade. A tarefa de consolidar a Assistência Social como política pública de direitos tem aspectos muito peculiares que difi cultam a empreitada. Ou seja, é necessário romper com a ideia do direito como favor ou ajuda emergencial prestada sem regularidade e através de um processo de centralismo decisório; romper também com a lógica de que a assistência social sobrevive apenas com os recursos residuais do investimento público (serviços pobres para pobres), e ainda: romper com o uso dos recursos sociais de maneira clientelista e patrimonialista. [...] A implantação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) é uma verdadeira revolução na assistência social brasileira. Fruto de quase duas décadas de debates, o Sistema coloca em prática os preceitos da Constituição de 1988, que integra a Assistência Social à Seguridade Social, juntamente com Saúde e Previdência Social. De mero favor, de prática assistencialista e tuteladora a assistência social, seus serviços e benefícios passam para um campo novo, o campo dos direitos de cidadania. Marcada, portanto, pelo caráter civilizatório presente na consagração de direitos sociais. A Assistência Social exige que as provisões assistenciais sejam prioritariamente pensadas no âmbito das garantias de cidadania sob responsabilidade do Estado, cabendo a este a universalização da cobertura e garantia de direitos e de acesso para esses serviços, programas. A universalização dos direitos sociais é um dos princípiosdeste novo modelo socioassistencial. Neste contexto, a assistência social, a partir do princípio da intersetorialidade, propicia o acesso a pessoas em situação de vulnerabilidade pessoal e/ou social, às demais políticas setoriais, uma vez que busca garantir segurança para seus usuários: segurança de sobrevivência (de rendimento e 81 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL Capítulo 2 de autonomia); de acolhida e; de convívio ou convivência familiar e comunitária. Estas seriam as condições fundamentais para tornar o usuário do serviço socioassistencial alcançável pelas demais políticas. Por sua vez, como um sistema de gestão, este arranjo institucional propõe pela primeira vez na história do País, sob a primazia da responsabilidade do Estado, a organização em todo o território nacional de serviços socioassistenciais destinados a milhões de brasileiros, em todas as faixas etárias, com a participação e a mobilização da sociedade civil nos processos de implantação e implementação do Sistema. O SUAS, pactuado nacionalmente e deliberado pelo CNAS, prevê uma organização participativa e descentralizada da assistência social, com serviços voltados para o fortalecimento da família, sem, no entanto, sobrecarregá-la, mas ao contrário protegendo-a e apoiando-a. Baseado em critérios e procedimentos transparentes, o SUAS altera fundamentalmente operações como o repasse de recursos federais para estados, municípios e Distrito Federal, a prestação de contas e a maneira como os serviços e os entes federados estão hoje organizados do ponto de vista da gestão de recursos. Como se pode concluir, o SUAS promove uma mudança de conteúdo e de gestão da política pública de assistência social, ao materializar o conteúdo da Loas e defi nir os conceitos e as bases que vão orientar a estruturação do sistema nos estados, no Distrito Federal e nos municípios, os quais serão aqui destacados por serem de fundamental importância para a compreensão do novo modelo socioassistencial. Em outras palavras, o SUAS oferece concretude à Política Pública de Assistência Social na perspectiva de construir os direitos de seus usuários e sua inserção na sociedade [...]. FONTE: <http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/secretaria-nacional-de-assistencia- social-snas/cadernos/caderno-suas-volume-1-2013-confi gurando-os-eixos-da- mudanca/Caderno%20SUAS%20Volume%201%202013%20Confi gurando%20 os%20Eixos%20da%20Mudanca.pdf/download>. Acesso em: 6 set. 2020. 82 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL 1 Para a Política de Assistência Social, o que é considerado família? 2.1 OS NÍVEIS DE GESTÃO E PROTEÇÃO SOCIAL NO SUAS O SUAS foi a principal conquista obtida como deliberação da IV Conferência Nacional de Assistência Social, que ocorreu em Brasília (DF), esforçando-se para viabilizar um processo de desenvolvimento nacional que garanta a universalização dos direitos sociais e da proteção social. O modelo de gestão do SUAS é descentralizado e participativo, consolidando- se através da regulação e organização em todo país por meio de serviços, programas, projetos e benefícios socioassistenciais, de modo contínuo e eventual, e que sejam executados e fornecidos por meio de pessoas jurídicas, mas de direito público, com critérios universais e de ações interligadas e articuladas com a sociedade civil. O SUAS defi ne três níveis de gestão inicial, básica e plena e organiza as ações em Proteção Social Básica (PSB) e Proteção Social Especial (PSE) de média e alta complexidade. Com estratégia de implementação nos municípios, o SUAS determinou três níveis de gestão, sendo: inicial, básica e plena e defi niu responsabilidade para cada uma das três esferas governamentais, viabilizando assim uma gestão articulada e o aprofundamento do pacto federativo. Esse processo é seguido de incentivos aos acessos de fi nanciamento público para a Política de Assistência Social. Os requisitos necessários para cada nível de gestão são: • Inicial: implementado conselho, fundo, plano e recursos fi nanceiros no fundo. • Básica: implementado conselho, fundo e plano, recursos fi nanceiros no fundo, implementado o Centro de Referência da Assistência Social, em número e capacidade de acordo com o porte de cada munícipio, plano de inserção e acompanhamento de benefi ciários do Benefício de Prestação Continuada, BPC, prioridade de acesso 83 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL Capítulo 2 aos benefi ciários do Programa Bolsa Família, PBF, diagnóstico de áreas de risco e de maior vulnerabilidade social, secretaria exclusiva no conselho, conselhos implementados e funcionando , como o Conselho Municipal de Assistência Social, CMAS, Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, CMDCA e Conselho Tutelar. • Plena: implementado conselho, fundo e plano, recursos fi nanceiros no fundo, implementado o Centro de Referência da Assistência Social, em número e capacidade de acordo com o porte de cada munícipio, plano de inserção e acompanhamento de benefi ciários do Benefício de Continuada (BPC), ter uma unidade de recepção para o BPC o diagnóstico de áreas de risco e de maior vulnerabilidade social, uma secretaria exclusiva no conselho, conselhos implementados e funcionando, como o Conselho Municipal de Assistência Social (CMAS), Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) e Conselho Tutelar, sistema municipal de monitoramento e avalição por nível de proteção social, declarar a capacidade instalada de alta complexidade, cumprir os pacto do resultado, gestor do fundo nominado e lotado no órgão gestor de assistência social, uma política de recursos humanos com carreira para os trabalhadores do SUAS, uma unidade de recepção para o BPC e programas eventuais, prioridade de acesso aos benefi ciários do PBF, diagnóstico de áreas de risco e de maior vulnerabilidade social, secretaria exclusiva no conselho, conselhos implementados e funcionando, como o Conselho Municipal de Assistência Social (CMAS), Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) e Conselho Tutelar; sistema municipal de monitoramento e avalição por nível de proteção social, declarar a capacidade instalada de alta complexidade, cumprir os pacto do resultado, gestor do fundo nominado e lotado no órgão gestor de assistência social, política de recursos humanos com carreira para os trabalhadores do SUAS (NOB/SUAS, 2005). Na gestão inicial, constitui o início da organização da Assistência Social, como política nos municípios, por meio de serviços ainda muito limitados. Os municípios que estão nesta fase de gestão inicial têm o encargo de: [...] municiar e manter atualizadas as bases de dados dos subsistemas e aplicativos da Rede SUAS [...]; inserir no Cadastro Único as famílias em situação de maior vulnerabilidade social e risco, conforme critérios 84 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL do Programa Bolsa Família [...] preencher o plano de ação no sistema SUAS-WEB e apresentar o relatório de gestão como forma de prestação de contas (NOB/ SUAS, 2005, p. 50). Analisando o referencial acima, percebe-se que os níveis de gestão básica e plena aumentam expressivamente as exigências de condições para a participação no Sistema, aumentando as responsabilidades municipais. Cada município poderá solicitar a gestão básica, a partir do momento que começar a executar as ações citadas, acrescentando algumas atividades, para atender sua demanda de forma mais efetiva, podendo requerer o co-fi nanciamento dos serviços, programas e projetos socioasssistenciais. A gestão básica é um importante progresso na representação do SUAS. Pois, entre as requisições desacatam-se a implantação do CRAS e a manutenção de uma secretaria exclusiva do conselho de assistência social, conforme o porte de cada município, realizar o diagnóstico de áreas de maior concentração de vulnerabilidade. Conforme a NOB/SUAS, para estruturarCentros de Referência de Assistência Social (CRAS), de acordo com o porte do município, em áreas de maior vulnerabilidade social, para gerenciar e executar ações de proteção básica no território referenciado, deve-se seguir os critérios a seguir: • Pequeno Porte I – mínimo de 1 CRAS para até 2.500 famílias referenciadas. • Pequeno Porte II – mínimo de 1 CRAS para até 3.500 famílias referenciadas. • Médio Porte – mínimo de 2 CRAS, cada um para até 5.000 famílias referenciadas. • Grande Porte – mínimo de 4 CRAS, cada um para até 5.000 famílias referenciadas. • Metrópoles – mínimo de 8 CRAS, cada um para até 5.000 famílias referenciadas. FONTE: <http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/arquivo/norma- operacional-basica-do-suas.pdf/view>. Acesso em: 20 set. 2020. 85 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL Capítulo 2 O município, neste nível, deverá executar ações para: [...] prevenir situações de risco por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições. Por isso deve responsabilizar-se pela oferta de programas, projetos e serviços socioassistenciais que fortaleçam vínculos familiares e comunitários que promovam os Benefícios de Prestação Continuada (BPC) e transferência de renda e que vigiem direitos violados no território (NOB/SUAS, 2005, p. 51). O nível de gestão do SUAS nos municípios se elava, na medida em que eles começam a assumir novas ações, como também aumenta as suas responsabilidades, recursos, refl etindo em um aumento na abrangência de acolhimento e atendimento dos usuários da Política de Assistência Social, podendo chegar no terceiro nível de gestão, a plena. Através da gestão plena, os gestores municipais passam a se responsabilizarem pelas atividades e ações dos outros dois níveis de gestão, e na organização e implementação da Proteção Social Especial de Média e Alta Complexidade. Através da descentralização da assistência social para os estados e municípios foi necessária uma coordenação estratégica, que tinha capacidade de articular e organizar o sistema de gestão, por meio da pactuação de regras claras e objetivas, garantindo a efetivação das ações em todos os níveis. É importante destacar que nem todo município pode aderir ao nível de gestão Básica ou da Gestão Plena, a adesão aos níveis mencionados acima depende e é realizada em conformidade com o porte de cada município. Na legislação estão previstas diretrizes e ações com critérios fundamentais para a implementação e desenvolvimento da Política de Assistência Social. Nesse sentido, é necessário que aconteça a descentralização político-administrativo dentre as esferas governamentais. Existe uma diferença entre descentralizar e municipalizar as políticas públicas na sua totalidade, sendo: 86 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL • Descentralizar: quando se distribui, compartilha e/ou divide os recursos destinados a uma determinada política pública. • Municipalizar: quando acontece uma transferência de responsabilidade, porém sem partilhar do poder de decisão. Uma das maiores provações na implementação do SUAS, nos municípios, acontece através da descentralização, pois acontece entre todos os entes federados, ou seja, em âmbito da União, Estados, Distrito Federal e os Municípios. Os municípios são os responsáveis pela elaboração, formulação e implantação das ações que estão relacionadas diretamente com os usuários, através da oferta de serviços, programas e projetos, devido à aproximação da própria relação entre os vínculos comunitários e poder público. Em muitas ações municipais estão sendo utilizados os dados do Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico). O CadÚnico foi disciplinado pelo Decreto nº 6.135 de 36 de junho de 2007 e regulamentado pela Portaria nº 376, de 16 de outubro de 2008, tornando-se um instrumento da PNAS, de coleta de dados e informações, buscando a identifi cação de todas as famílias com vulnerabilidades sociais e de baixa renda no país, sendo considerado como porta de entrada para os programas e serviços sociais. No CadÚnico deverão serem cadastradas as famílias com renda mensal de até meio salário mínimo por pessoa, as famílias com uma renda superior a esse critério poderão ser incluídas no cadastro se a inclusão estiver vinculada a uma seleção ou acompanhamento em algum programa social, desenvolvido pela União, estados ou municípios. Os dados das famílias são coletados através do preenchimento do formulário do CadÚnico, sendo um formulário por família e as principais informações cadastradas são: • Características do domicílio (número de cômodos, tipo de construção, tratamento da água, esgoto e lixo). • Composição familiar (número de componentes, existência de pessoas com defi ciência). • Identifi cação e documentação de cada componente da família. • Qualifi cação escolar dos componentes da família. • Qualifi cação profi ssional e situação no mercado de trabalho. 87 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL Capítulo 2 • Remuneração. • Despesas familiares (aluguel, transporte, alimentação e outras). FONTE: <http://www.mds.gov.br/programabolsafamilia/cadastro_ unico/o-que-e-1 Acessado em />. Acesso em: 13 set. 2020. O CadÚnico é utilizado pelo Governo Federal para identifi car possíveis potencialidades dos benefi ciários dos programas sociais, como Bolsa Família, Projovem Adolescente/Agente Jovem, Tarifa Social Elétrica e Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI). Quando uma família é cadastrada no CadÚNICO, não signifi ca que ela será incluída nos programas sociais, sua inclusão acontecerá após a seleção, atendimento e acompanhamento por tais programas conforme os critérios e procedimentos de cada um. O CadÚNICO necessita da participação dos três níveis governamentais, atuando de forma articulada para cumprir as suas responsabilidades e competências para combater a pobreza e as desigualdades sociais. Dessa forma, compete a cada esfera de governo e Agente Operador do CadÚnico o seguinte: Compete aos municípios: • Identifi car as famílias que compõem o público-alvo do Cadastro Único e registrar seus dados nos formulários específi cos. • Analisar os dados e zelar pela qualidade das informações coletadas. • Digitar, em sistema específi co, e transmitir os dados das famílias cadastradas, acompanhando o retorno do processamento pela Caixa (arquivo-retorno). • Manter atualizada a base de dados municipal do Cadastro Único. • Dispor de infra-estrutura e recursos humanos permanentes para a execução das atividades inerentes à operacionalização do CadÚnico. • Estimular a utilização dos dados do Cadastro Único para o planejamento e gestão de políticas públicas locais voltadas à 88 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL população de baixa renda, executadas no âmbito do governo local. • Prestar apoio e informações às famílias de baixa renda sobre o Cadastro Único. • Arquivar os formulários em local adequado por um período mínimo de 5 anos. Compete aos estados: • Coordenar o processo de cadastramento em âmbito estadual. • Analisar os dados do Cadastro Único e verifi car as principais necessidades das famílias. • Constituir legalmente e com funcionamento regular um colegiado intersetorial ou uma coordenação, do PBF e do CadÚnico, com pelo menos um representante de cada uma das seguintes áreas, sem prejuízo de outras: a) assistência social; b) educação; c) saúde; d) planejamento. • Contribuir para a ampliação do acesso da população pobre, inclusive indígenas e quilombolas, à documentação civil, com prioridade para o registro civil de nascimento. • Promover atividades de capacitação aos municípios, apoiando-os técnica e logisticamente. • Contribuir para a identifi cação e o cadastramento de populações tradicionais e específi cas. • Estimular o uso do cadastro pelos programas das demais Secretarias Estaduais e dos municípios. • Motivar os municípios a manter atualizada a basede dados do Cadastro Único. Compete à Secretaria Nacional de Renda de Cidadania – Senarc, do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS: • Coordenar, acompanhar e supervisionar, no âmbito federal, a gestão, a implantação e a execução do CadÚnico. • Emitir regulamentos e instruções operacionais sobre o CadÚnico, para subsidiar procedimentos que se verifi carem necessários à operacionalização dele. • Articular os processos de capacitação de gestores e de outros agentes públicos envolvidos com a operação do CadÚnico. • Avaliar a conformidade e qualidade do CadÚnico, defi nindo estratégias para buscar a veracidade e aumentar a qualidade das informações nele registradas. • Tornar disponível atendimento aos governos locais para esclarecimentos de dúvidas referentes ao CadÚnico. 89 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL Capítulo 2 • Estimular o uso do cadastro por outros órgãos do Governo Federal, pelos estados, Distrito Federal e municípios. • Disponibilizar para os estados, periodicamente, a base de dados dos municípios situados em sua área de abrangência. • Adotar procedimentos de fi scalização e controle, com intuito de detectar falhas ou irregularidades. • Autorizar o envio de formulários de cadastramento aos governos locais. Compete ao Agente Operador do CadÚnico – CAIXA: • Fornecer e remeter os formulários utilizados para o cadastramento das famílias, mediante autorização do MDS. • Desenvolver, sob supervisão do MDS, os aplicativos necessários à digitação e à transmissão dos dados cadastrais. • Processar os cadastros enviados pelos municípios, identifi cando e atribuindo o Número de Identifi cação Social (NIS) para as pessoas cadastradas. • Capacitar gestores e técnicos no sistema operacional, mediante autorização do MDS. • Manter atendimento operacional e suporte técnico próximo aos municípios. FONTE: <http://www.mds.gov.br/programabolsafamilia/ cadastro_unico/o-que-e-1>. Acesso em: 13 set. 2020. A inscrição no Cadastro Único ou atualização dos dados cadastrais ou quando for necessário é um direito de toda a população de baixa renda, cabe aos municípios e ao Distrito Federal manter uma estrutura física e humana para acolher a demanda populacional em um tempo ágil, mesmo através de agendamento de entrevistas, como hora e data marcada. Os municípios e o DF precisam dispor de uma equipe técnica de trabalho qualifi cada e de uma estrutura física adequada para desenvolver as atividades. Para conhecer melhor como deve ser composta a equipe técnica do CadÚnico e da infraestrutura necessária, acesse o link: <http://mds.gov.br/ assuntos/cadastro-unico>. Um exemplo de prática da descentralização da Política de Assistência Social acontece através da implementação dos Centros de Referências de Assistência Social (CRAS) nos territórios municipais, em especial aos que contêm uma maior 90 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL vulnerabilidade social e também dos Centros Especializados de Referências de Assistência Social (CREAS), permitindo assim um atendimento integral, territorialidade, intersetorial, através de um trabalho de rede de atendimento socioassistencial. O cuidado que se deve ter com a descentralização é de não isolar as famílias em vulnerabilidade social e sim garantir o direito ao acesso a cidades, fortalecendo e ampliando os conhecimentos dos seus direitos sociais. O SUAS precisa garantir toda uma infraestrutura necessária para atender às demandas nos territórios e atender às necessidades dos usuários que necessitem da Política de Assistência Social através da proteção social. A NOB/SUAS (2005) preconiza que a Proteção Social de Assistência Social, ao ter um foco voltado para a emancipação dos usuários, através de um processo de desenvolvimento humano e social e na conquista de seus direitos, tem como princípios fundamentais: • A matricialidade sociofamiliar. • A territorialização. • A proteção pró-ativa. • A integração à seguridade social. • A integração às políticas sociais e econômicas. Com isso, a Proteção Social tem por assegurado a segurança de acolhida, a segurança social de renda, a segurança do convívio ou vivência familiar, comunitária e social; a segurança do desenvolvimento da autonomia individual, familiar e social; e a segurança de sobrevivência a riscos circunstanciais. O SUAS estabelece os serviços socioassistenciais a partir dos seguintes desempenhos: • Vigilância sociassistencial: consiste na metodologia de gestão da informação da realidade social das famílias analisando os territórios onde convivem; implica na competência de lançar informações sobre vulnerabilidades territorialidades que se sucedem sobre as famílias nos diferentes ciclos de vida. • Proteção social: consiste no conjunto de ações, cuidados, atenções, benefícios e auxílios ofertados pelo SUAS para redução e prevenção do impacto das vicissitudes naturais ao ciclo de vida, a dignidade humana e a família como núcleo básico de sustentação afetiva, biológica e relacional (NOB/SUAS, 2005, p. 92). • Defesa social e institucional: incide na segurança ao acesso aos direitos socioassistenciais e seu amparo, necessitando ser por meio de instrumentos 91 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL Capítulo 2 como: ouvidorias, centros de referência, centros de apoio sócio jurídico, conselhos de direitos. O SUAS institui uma maneira de organizar as ações de Proteção Social, da Política de Assistência Social, conforme a complexidade dos serviços efetuados, que foram classifi cadas em: • Proteção Social Básica. • Proteção Social Especial, que foi subdividindo-se em: Proteção Social Especial de Média e Alta Complexidade. Os serviços efetuados como os Benefícios Assistenciais continuaram a ser desenvolvidos conforme critérios da Política de Assistência Social. A organização do SUAS mediante os dois tipos de proteção social está consolidada através dos equipamentos públicos chamados de: • Centros de Referência de Assistência Social (CRAS). • Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS). • Centros de Referência para População de Rua (CENTROPOP). As responsabilidades desses equipamentos são dos gestores municipais, podendo ser ou não cofi nanciados pelo Governo Federal. Os CRAS, CREAS e CENTROPOP são unidades públicas e estatais e que percebem e identifi cam a presença do Estado nos diferentes territórios, em especial os que possuem o maior nível de vulnerabilidade social, como espaço para intervenção profi ssional no cotidiano da população, buscando uma nova história de vida para os usuários da Assistência Social. Os serviços, programas, projetos e benefícios são organizados através do SUAS, através da referência territorial, levando em consideração as necessidades e as demandas dos usuários, porém, o principal foco de atenção deve ser a família. A modalidade diferencia os benefícios sociais da seguinte maneira: • Benefícios de Prestação Continuada (BPC): é um direito constitucional para idosos e pessoas com defi ciência no Brasil, que visa promover a participação, a autonomia e a inclusão efi caz destes cidadãos na sociedade. Por ser um benefício que possibilita, de maneira articulada com outras políticas de direitos, a garantia de renda, constitui-se como um trabalho contínuo com os benefi ciários e suas respectivas famílias, visando à superação das vulnerabilidades através da inserção deles nos serviços socioassistenciais. 92 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL O BPC é um benefício individual, não vitalício e intransferível, que garante a transferência mensal de 1 (um) salário mínimo para pessoa idosa, com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais, e para pessoa com defi ciência de qualquer idade, que comprove não possuir meios de se sustentar ou de ser sustentada pela família. O BPC é um benefício da política de Assistência Social, que agrega a Proteção Social Básica do Sistema Únicode Assistência Social (SUAS). Para ter direito a ele, não é necessário ter contribuído com a Previdência Social. De acordo com o Art. 21 da LOAS, o BPC deve ser revisto a cada dois anos para avaliação da continuidade das condições que lhe deram origem. Os programas de assistência social integram atividades integradas e complementares, conforme a LOAS, e são defi nidos pelos Conselhos de Assistência Social, sendo eles: • Benefícios Eventuais: esses benefícios estão previstos na LOAS (1993) sob a responsabilidade de provisões da gestão municipal, através de fi nanciamento e prestação, e estadual, por cofi naciamento. Esses benefícios são caracterizados pelas atitudes suplementar e provisória e são ofertados às pessoas e famílias, em alguma eventualidade, como nascimento, morte, calamidade pública e outras vulnerabilidades sociais. Atualmente os Benefícios Eventuais estão garantidos pelo Art. 22 da Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), e que foi alterada pela Lei nº 12.435, de 6 de julho de 2011. Em conjunto com os serviços socioassistencias, associam as garantias do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), por meio dos embasamentos dos princípios de cidadania e dos direitos sociais e humanos. Os benefícios passaram por diversas e importantes mudanças para se chegar na forma que está hoje, em 1954. Através do Decreto nº 35.448, foram criados, na conjuntura da Previdência Social, o auxílio-maternidade e o auxílio- funeral, propostos aos segurados e aos dependentes. Eles eram oferecidos no valor de um salário mínimo, por meio de uma carência mínima de 12 contribuições mensais ao Sistema da Previdência Social. O auxílio-maternidade era prestado à mulher segurada da Previdência ou ao segurado em virtude do parto de sua esposa. O auxílio-funeral era coberto a quem comprovasse pagar as despesas de funeral com um certo segurado da 93 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL Capítulo 2 Previdência Social e não havia tempo mínimo de contribuição para ter acesso ao auxílio. A Lei n° 3.807, aprovada em 28 de janeiro de 1960, chamada de Lei Orgânica da Previdência Social (LOPS), causou alterações no auxílio-funeral, que passou a ser fi xado em duas vezes o valor do salário mínimo vigente, repassado aos dependentes do segurado falecido, para auxiliar nas despesas do funeral, conforme o Art. 44, da LOPS, e Art. 105, do Decreto nº 48.959-A/1960. Esses benefícios sofreram alterações novamente, através da aprovação da Lei nº 8.213, de 24 de agosto de 1991, que dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social, introduzindo o início da seletividade, nomeando como benefi ciários os segurados com renda, de até Cr$ 5.000,00 (cinco mil cruzeiros), valor equivalente a três salários mínimos da época. A da Previdência Social fi cou com essa prestação até 1996. Somente quando a Assistência Social começou a garantir a cautela às pessoas por circunstância de nascimento ou morte, na confi guração de benefícios eventuais, sem a requisição de contribuições prévias e como uma segurança afi ançada por essa Política, que a Previdência Social não fi cou mais responsável por esses benefícios. Os Benefícios Eventuais vêm se consolidando e adotando forma à medida que a política de assistência social se concretiza e materializa como um direito do cidadão e dever do Estado. Através da Resolução nº 212, de 19 de outubro de 2006, o Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) e a União, por intermédio do Decreto nº 6.307, de 14 de dezembro de 2007, constituíram critérios com orientação para a regulamentação e a providência de Benefícios Eventuais, na esfera da Política Pública de Assistência Social nos municípios, nos estados e no Distrito Federal. O Decreto nº 6.307/2007 defi ne como modalidades de Benefícios Eventuais: • Natalidade para atender preferencialmente: • Necessidades do bebê que vai nascer. • Apoio à mãe nos casos em que o bebê nasce morto ou morre logo após o nascimento. • Apoio à família no caso de morte da mãe. 94 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL • Funeral para atender preferencialmente: • Despesas de urna funerária, velório e sepultamento. • Necessidades urgentes da família advindas da morte de um de seus provedores ou membros. • Ressarcimento no caso da ausência do Benefício Eventual, no momento necessário. • Vulnerabilidade Temporária para o enfrentamento de situações de riscos, perdas e danos à integridade da pessoa e/ou de sua família. • Calamidade Pública para o atendimento das vítimas de calamidade pública, de modo a garantir a sobrevivência e a reconstrução da autonomia delas. Os programas, serviços, projetos e benefícios que são vinculados com as políticas de saúde, educação e outras políticas setoriais, mediante o Art. 9 do Decreto nº 6.307/07, não se confi guram como Benefícios Eventuais da Assistência Social. O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome realizou, em outubro de 2009, um Levantamento Nacional dos Benefícios Eventuais, possibilitando uma ação conjunta com outros segmentos. Em outubro de 2009, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) realizou o Levantamento Nacional sobre os Benefícios Eventuais o qual permitiu obter uma visão geral do fornecimento desses benefícios, como também um levantamento dos progressos e problemas que a maioria dos municípios enfrentam. Através dos critérios utilizados na coleta de dados deste levantamento, no ano de 2010, o CNAS criou o Grupo de Trabalho Benefícios Eventuais através da Resolução CNAS nº 21 de julho de 2010, objetivando a discussão do resultado do Levantamento Nacional dos Benefícios Eventuais/2009 e propor diretrizes para concessão dos benefícios, diante das demandas atribuídas da política de assistência social e de saúde. Através do resultado deste grupo de trabalho, formado por representantes do MDS, MS, CNAS e CNS, foi aprovada a Resolução CNAS nº 39, de 9 de dezembro de 2010, que dispõe sobre o novo processo de reordenamento dos 95 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL Capítulo 2 Benefícios Eventuais da Política de Assistência Social relacionado com à Política de Saúde. No Art 1º desta resolução, dispõe que não são de responsabilidade da política de assistência social instrumentos que se referem à órtese e prósteses, cadeiras de roda, muletas, óculos, leites, dietas de prescrição especiais, como também o fornecimento de fraldas descartáveis para pessoas que necessitam. O consentimento e o valor dos Benefícios Eventuais devem ser decididos pelos estados, pelo Distrito Federal e pelos municípios e previstos na lei orçamentária anual, baseados em critérios e prazos defi nidos pelos Conselhos de Assistência Social. Os Benefícios Eventuais podem ser ofertados através da exposição de demandas dos indivíduos e sua família em situação de vulnerabilidade ou então por identifi cação das demandas durante o atendimento e acompanhamento sociofamilair dos usuários(as) nos serviços de Proteção Social Básica e Proteção Social Especial. As Resoluções do CNAS nº 18, de julho de 2013, e nº 32, de 31 de outubro de 2013, constituem as prioridades e as metas para a gestão municipal, estadual, e Distrito Federal e as obrigações do Governo Federal. O Governo Federal dispõe de alguns Programas Sociais, não podendo esquecer que programa não é uma política social, podendo ser extintas conforme o interesse de cada gestão. Como exemplo, pode-se citar o Programa Bolsa Família, que colabora e contribui para combater a pobreza e a desigualdade social em todo território brasileiro. Foi criado em 2003, no governo do Luiz Inácio Lula da Silva, está fi rmado através Lei Federal nº 10.836, de 9 de janeiro de 2004 e foi regulamentado pelo Decreto nº 5.209, de 17 de setembro de 2004, e outras normas. É um programa de transferência de renda direta ao usuário, com condicionalidades (compromissosassumidos nas áreas de educação, de saúde e de assistência social), focado nas famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza em todo o Brasil. Ele está incluído no Plano Brasil Sem Miséria (BSM), fundamentado na garantia de renda, na inclusão produtiva e no acesso aos serviços da área social. 96 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL O Bolsa Família possuí três eixos principais, sendo eles: • Complemento da renda: todos os meses, as famílias atendidas pelo Programa recebem um benefício em dinheiro, que é transferido diretamente pelo governo federal. Esse eixo garante o alívio mais imediato da pobreza. • Acesso a direitos: as famílias devem cumprir alguns compromissos (condicionalidades), que têm como objetivo reforçar o acesso à educação, à saúde e à assistência social. Esse eixo oferece condições para as futuras gerações quebrarem o ciclo da pobreza, graças a melhores oportunidades de inclusão social. • Articulação com outras ações: o Bolsa Família tem capacidade de integrar e articular várias políticas sociais a fi m de estimular o desenvolvimento das famílias, contribuindo para elas superarem a situação de vulnerabilidade e de pobreza. FONTE: <http://mds.gov.br/assuntos/bolsa-familia/o-que-e>. Acesso em: 13 set. 2020. As condicionalidades impostas pelo programa não se confi guram como uma punição e sim na lógica de que os direitos sociais básicos sejam acessados por toda a população que se encontre em condições de vulnerabilidades sociais, pobreza ou extrema pobreza. Diante disso, todos os níveis de governo devem assegurar a oferta de serviços socioassitenciais. O Bolsa Família, como programa social, tem a competência de agregar e articular com outras políticas públicas, focando na estimulação do desenvolvimento da autonomia familiar. A gestão do programa é descentralizada, todos os entes federados têm suas atribuições na sua execução. Para saber mais sobre o Programa Bolsa Família, acesse: <http://mds.gov.br/assuntos/bolsa-familia> A responsabilidade de realizar as ações socioassistencial de Proteção Social Básica e Especial pertence às organizações governamentais, através de convênios, parcerias e ajustes com entidade e instituições de Assistência Social. Para saber mais sobre o Programa Bolsa Família, acesse: <http://mds.gov. br/assuntos/bolsa- familia> 97 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL Capítulo 2 O objetivo da Proteção Social Básica, conforme a PNAS (2004, p. 33): [...] prevenir situações de risco por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições, e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. Destina-se à população que vive em situação de vulnerabilidade social decorrente da pobreza, privação (ausência de renda, precário ou nulo acesso aos serviços públicos, dentre outros) e, ou, fragilização de vínculos afetivos – relacionais e de pertencimento social (discriminações etárias, étnicas, de gênero ou por defi ciências, dentre outras). Conforme a NOB/SUAS (2005, p. 23-24), a Política de Assistente Social deverá ser operada por intermédio de: a) Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), territorialidades de acordo com o porte do município. b) Rede de serviços socioeducativos direcionados para grupos geracionais, intergeracionais, grupos de interesse, entre outros. c) Benefícios eventuais. d) Benefícios de Prestação Continuada. e) Serviços e projetos de capacitação e inserção produtiva. O CRAS, como equipamento da Política de Assistência Social, deve executar os serviços de Proteção Básica, pois é um equipamento estatal do SUAS, visando trabalhar as famílias, por meio de uma visão e ações de empoderamento, o que signifi ca que, em toda a história da assistência social, trabalhou-se de maneira emergencial e com atitudes vocalista, e por meio do SUAS inicia-se um trabalho voltado para a prevenção. O CRAS tem como função oferecer suporte para que o cidadão que se encontra em condições de vulnerabilidades social e que acaba sendo envolvido em um ciclo de exclusão social, que é originado do modelo de acumulação capitalista. O trabalho realizado pelo CRAS tem como foco central o atendimento à família, uma vez que ela se encontra em um contexto de vulnerabilidade e de exclusão social, e necessitam de amparo, proteção e sustentabilidade. 98 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL Para as famílias, o CRAS deve ser considerado uma referência, pois será através desse equipamento que elas terão possibilidade de acessar outras políticas públicas, como também viabilizar a garantia de seus direitos sociais. Para realizar as ações previstas no CRAS, é necessário que ele tenha uma equipe de referência e que consiga realizar o trabalho de maneira interdisciplinar. A ampliação de CRAS nos municípios depende da realização das etapas que eles deverão seguir, que abrangem a aceitação formal através do sistema informatizado como o Governo Federal, e adotam o cofi nanciamento federal. Através deste ato, o município passa a aceitar os compromissos elencados pelo Governo Federal, através do Ministério do Desenvolvimento Social, por meio de demonstração de condições e capacidade de implementação do Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF). A Tipifi cação Nacional de Serviços Socioassistenciais, conforme anexos, organizados por níveis de complexidade do SUAS: Proteção Social Básica e Proteção Social Especial de Média e Alta Complexidade, será apresentada no próximo tópico. A ampliação de CRAS tem como objetivo a sua universalização, ponderando as particularidades e especifi cidades das diversas realidades econômicas, culturais, étnicas e sociais de cada região do Brasil. Sobre os Serviços de Proteção Social Especial é importante ressaltar que eles têm como foco de intervenção as famílias e indivíduos em situação de risco pessoal ou social, ou seja, em situação de violência, em que seus direitos são violados, ameaçados, ou não há acesso a eles. Esse nível de proteção tem estreita conexão com o sistema de garantia de direitos, atuando nas situações de maus-tratos físicos e ou psíquicos, abandono, cumprimento de medidas socioeducativas, uso de substâncias psicoativas, situação de rua ou de trabalho infantil, e outras situações de violação de direitos. Na maioria das situações em que ocorre a violação dos direitos, vulnerabilidade e risco social, elas afetam os núcleos familiares e suas relações, como também os vínculos comunitários, causando confl itos, discórdias, tensões, rupturas, exigindo um atendimento especializado e demandando de uma articulação entre os instrumentos de defesa de direitos, como Ministério e Defensoria Pública, Conselhos Tutelares, Juizados, Delegacia Especializada e outros, como também outras políticas públicas, Saúde, Habitação, Educação e outras. 99 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL Capítulo 2 A Proteção Social Especial está subdividida em Serviços de Média e Alta Complexidade. Conforme a NOB/SUAS (2005, p. 24), a Proteção Social Especial, por ter como referencial de atuação as situações de risco ou violação de direitos, inclui: a) Crianças e adolescentes em situação de trabalho. b) Adolescentes em medida socioeducativa. c) Crianças e adolescentes em situação de abuso e/ou exploração sexual. d) Crianças, adolescentes, pessoas com defi ciência, idosos, migrantes, usuários de substâncias psicoativas e outros indivíduos em situação de abandono. e) Famílias com presença de formas de negligência, maus- tratos e violência. A responsabilidade de executar os Serviços de Proteção Social Especial de Média Complexidade cabe ao Centros Especializados de Assistência Social (CREAS), sendo unidades públicas estatais e que dispõe de atendimento às famílias e ao indivíduos em situação de risco, em que os vínculos familiares e comunitários não foram interrompidos. O CREAS realiza serviços especializados para as famílias ouindivíduos vitimados e em situação de violação de direitos, através de atendimento e proteção imediata. Esses serviços são oferecidos por meio de uma equipe multiprofi ssional, através de acompanhamento técnico especializado, e contínua articulação com toda a rede de serviços socioassistenciais e outras políticas públicas, como também em conjunto com o Sistema de Garantia de Direitos, como Conselho Tutelar, Vara da Infância e da Juventude, Ministério Público, Defensoria Pública e outros. Os Serviços de Proteção Social Especial de Alta Complexidade são os que garantem a proteção integral, ou seja, alimentação, moradia, higienização e proteção, para os indivíduos ou famílias que se encontram em situação de ameaça ou sem referência familiar, quando necessitam ser retirados do seu núcleo familiar ou comunitário. Estes equipamentos de proteção integral podem ser: Atendimento 100 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL Integral Institucional, Família Substituta, Família Acolhedora, Casa Lar, Casa de Passagem, Repúblicas, Medidas Socioeducativas Restritivas e Privativas de Liberdade e Trabalho Protegido. Esses serviços precisam garantir o fortalecimento dos vínculos familiares e/ ou comunitários e o desenvolvimento da autonomia dos usuários. Diante das observações descritas anteriormente, os CRAS e CREAS são instrumentos fundamentais na efetivação do SUAS, pois concretizam de forma coerente e correta a descentralização das Políticas de Assistência Social, fazendo com que os serviços, programas e projetos consigam estar mais perto dos usuários que necessitarem dessa política pública. Os CRAS e CREAS, sendo implementados nos territórios das famílias, com maior vulnerabilidade social, tornam-se equipamentos em que os profi ssionais da Política de Assistência Social, não só o Assistente Social, possam conhecer as demandas sociais de cada núcleo familiar, facilitando assim o acesso e a garantia dos direitos. Leitura Complementar A Política Pública de Assistência Social Enquanto Estratégia na Garantia dos Direitos Humanos Tiago Gomes Cordeiro A divisão das atenções por categorias perpassa a perspectiva compensatória de entendimento provida pela assistência social, a partir do risco já instalado, conforme destaca Sposati (2006, p. 112): O Suas, ao propor a proteção social básica além da especial, ultrapassa o “caráter compensatório” do entendimento corrente da proteção social provida pela assistência social como política de seguridade social por ocorrer, via de regra, após a gravidade do risco instalado. À proteção social básica cabe prevenir situações de risco, desenvolvendo potencialidades, por meio do fortalecimento dos vínculos familiar e comunitário. Essa proteção prevê o desenvolvimento de serviços, programas e projetos de acolhimento 101 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL Capítulo 2 para a convivência e socialização das famílias e indivíduos, com o objetivo de prevenir situações de risco. Tem como foco populações que estejam em situação de vulnerabilidade social decorrente da pobreza, privação ou fragilização de vínculos afetivos. As execuções desses serviços acontecem de forma direta, por meio do Cras, por outras unidades públicas de assistência social, ou até mesmo de forma indireta pelas organizações. No que tange à proteção social especial, tem-se como foco a atenção voltada a famílias e indivíduos em situações de risco pessoal e social, sendo essas caracterizadas como: situação de abandono, maus-tratos físicos ou psíquicos, abuso sexual, uso de substâncias psicoativas, cumprimento de medidas socioeducativas, situação de rua, situação de trabalho infantil, entre outras (PNAS, 2004). Quanto aos serviços da proteção social especial, a Pnas (2004, p. 31) defi ne que: sociais conveniadas “Têm estreita interface com o sistema de garantia de direito exigindo, muitas vezes, uma gestão mais complexa e compartilhada com o Poder Judiciário, Ministério Público e outros órgãos e ações do Executivo”. Essa categoria de proteção requer acompanhamento individual, com mais ênfase nas famílias e indivíduos. Por tratar de risco pessoal e social, deve ser tomada com mais precaução e atenção, sendo que muitos casos têm relação próxima com o Poder Judiciário e o Ministério Público. Esse modelo de proteção classifi ca-se em duas modalidades, de média e de alta complexidade. Com relação à alta complexidade, os serviços são: “Aqueles que garantem proteção integral – moradia, alimentação, higienização e trabalho protegido para famílias e indivíduos que se encontram sem referência e/ou em situação de ameaça, necessitando ser retirados de seu núcleo familiar e/ou comunitário (PNAS, 2004. p. 32). Nessa proteção, os serviços concedidos são: atendimento integral institucional; casa/lar; república; casa de passagem; albergue; família substituta; família acolhedora; medidas socioeducativas de privação de liberdade e trabalho protegido (PNAS, 2004). No que se refere à média complexidade, a Pnas (2004, p. 32) defi ne que: São considerados serviços de média complexidade aqueles que oferecem atendimentos às famílias e indivíduos com seus direitos violados, mas cujos vínculos familiar e comunitário não foram rompidos. 102 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL Neste sentido, requerem maior estruturação técnico-operacional e atenção especializada e mais individualizada e/ou acompanhamento sistemático e monitorado. Os serviços oferecidos na proteção de média complexidade são: serviço de orientação e apoio sociofamiliar; plantão social; abordagem de rua; cuidado no domicílio; serviço de habilitação e reabilitação na comunidade das pessoas com defi ciência; medidas socioeducativas em meio aberto – Prestação de Serviços Comunitários (PSC) e Liberdade Assistida (LA). Entre os serviços ofertados, destacamos que o Centro de Referência Especializado da Assistência Social (Creas) encontra-se situado nessa categoria. Conforme defi ne a PNAS (2004, p. 32): A proteção especial de média complexidade envolve também o Centro de Referência Especializado da Assistência Social, visando a orientação e o convívio sociofamiliar e comunitário. Difere-se da proteção básica por se tratar de um atendimento dirigido às situações de violação de direitos. O Creas diferencia-se dos serviços da proteção social básica, por dar ênfase ao trabalho especializado, atendendo a situações de violação de direitos, mas cujos vínculos familiar e comunitário não foram rompidos. O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), para dinamizar o Creas, criou o Guia de Orientação no 1 – Creas (primeira versão) e o documento de Orientações sobre a Gestão do Creas (primeira versão, formato didático). Nesses documentos, encontra-se todo o conteúdo de desenvolvimento do Creas, como: a caracterização, organização, gestão, o fi nanciamento, a estrutura de equipe, os serviços ofertados, entre outros temas. Com relação à característica do serviço, observa-se que este deve ser uma unidade pública estatal de atenção especializada à população com direitos violados. Suas ações devem fomentar o atendimento e o acompanhamento a partir de um conjunto de profi ssionais especializados. O Creas constitui-se numa unidade pública estatal, de prestação de serviços especializados e continuados a indivíduos e famílias com seus direitos violados, 103 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL Capítulo 2 promovendo a integração de esforços, recursos e meios para enfrentar a dispersão dos serviços e potencializar a ação para os seus usuários, envolvendo um conjunto de profi ssionais e processos de trabalhos que devem ofertar apoio e acompanhamento individualizado especializado (GUIA DE ORIENTAÇÃO Nº 1, 2005, p. 3). Entre os eixos norteadores do trabalho do Creas, destacam-se o território, a localização da unidade de atendimento, que deve ser de fácil acesso para aspessoas, e a rede de serviços socioassistenciais. Quanto ao atendimento, esse deve ter como centralidade da atenção a família, potencializando os recursos e o protagonismo na participação social a partir de uma atenção especializada, objetivando o acesso a direitos socioassistenciais. Quanto à orientação para o desenvolvimento do trabalho, a acolhida e a escuta especializada devem proporcionar, entre outros aspectos: • O fortalecimento da função protetiva da família. • A interrupção de padrões de relacionamento familiares e comunitários com violação de direitos. • A potencialização dos recursos para a superação da situação vivenciada e reconstrução de relacionamentos familiares, comunitários e com o contexto social, ou construção de novas referências, quando for o caso. • O acesso das famílias e indivíduos a direitos socioassistenciais e à rede de proteção social. • O exercício do protagonismo e da participação social. • A prevenção de agravamentos e da institucionalização (ORIENTAÇÕES SOBRE A GESTÃO DO CREAS, primeira versão, formato didático, 2005, p. 6). Na perspectiva de articulação da rede de serviços, cabe ao Creas ainda ser um dos articuladores da rede de proteção de média complexidade em interface com a básica e a especial, junto com as demais políticas públicas e outros setores, a fi m de que sejam realizadas ações integradas. Nesse sentido, deve articular reuniões e encontros periódicos com a rede de serviços local. O Creas deve articular os serviços de média complexidade e operar a referência e a contra- referência com a rede de serviços socioassistenciais da proteção social básica e especial, com as demais políticas públicas e demais instituições que compõem o Sistema de Garantia de Direitos e movimentos sociais. Para tanto, é importante estabelecer mecanismos de articulação permanente, como reuniões, encontros ou 104 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL outras instâncias para discussão, acompanhamento e avaliação das ações, inclusive as intersetoriais (GUIA DE ORIENTAÇÃO Nº 1, 2005, p. 5). Tanto a PNAS quanto o Suas apresentam importantes contribuições para a consolidação da política de assistência social, principalmente ao tratarem da centralidade da política na matricialidade familiar, garantindo, assim, as convivências familiar e comunitária dos indivíduos. Um importante atributo refere-se ao conjunto de serviços, programas e projetos que constituem o Suas, que pode ser prestado de forma direta – pelo Estado – ou por meio de convencimento com instituições da sociedade civil. Outra consideração é quanto à divisão das proteções sociais, a partir de níveis de complexidades. Dessa forma, diferencia a atenção a ser fornecida, ultrapassando o caráter compensatório que denotaram historicamente as práticas de assistência social e afi ançando, no caso da média complexidade, o Creas como lócus para as ações e intervenções especializadas direcionadas às famílias e aos indivíduos. FONTE: <http://www.encontro2014.andhep. org br/resources/anais/1/1397489466_ARQUIVO Apoliticapublicadeassistenciasocialenquantoestrategianagarantiadosdireitoshumanos .pdf>. Acesso em: 11 set. 2020. 1 O SUAS defi ne três níveis de gestão inicial, básica e plena e organiza as ações em Proteção Social Básica (PSB) e Proteção Social Especial (PSE) de média e alta complexidade. Quais são os objetivos de cada tipo de proteção? 2 Pesquise qual é a realidade do SUAS em seu município. Qual é o nível de gestão da Política de Assistência Social? Quantos CRAS existem e qual é o porte de seu município? Foram implementados CREAS e o Serviço de Alta Complexidade? Se existe a gestão da política de assistência social, quantos têm e quantas famílias são atendidas em ambos os Serviços? 105 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL Capítulo 2 2.2 A LINHA DO TEMPO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL Será apresentada neste subtópico uma síntese dos marcos legais que construíram a linha do tempo da assistência social, desde a Constituição de 1988 até os dias de hoje. Essa síntese se dá pela importância de pontuar as principais legislações que marcaram a implementação do SUAS, oferecendo assim contribuições e subsídios para que os trabalhadores, usuários, entidades, conselheiros e gestores se qualifi quem para discutir sobre o SUAS que temos e o SUAS que queremos. Em 1988 ocorreu a publicação da Constituição Federal, dispondo nos artigos 203 e 204 a Assistência Social como direito garantido a quem dela precisar. Em 1993 foi publicada a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), Lei nº 8.742/93, que dispõe sobre a organização da Assistência Social no Brasil. Em 1995 aconteceu a convocação da I Conferência Nacional de Assistência Social, com o tema: A Assistência Social como um direito do cidadão e dever do Estado, sendo realizada entre os dias 20 e 23 de novembro de 1995. Em 1997 houve a convocação para a II Conferência Nacional de Assistência Social, tendo como tema: O Sistema Descentralizado e Participativo da Assistência Social – Construindo a Inclusão – Universalizando Direitos. Em 2003 foi criado o Ministério de Assistência Social; aconteceu, em dezembro, a IV Conferência Nacional de Assistência Social, com o tema: Assistência Social como Política de Inclusão: Uma Nova Agenda para a Cidadania – LOAS 10 anos, que aprovou a criação do Sistema Único de Assistência Social. Através de Medida Provisória, foi criado o Programa Bolsa Família, que unifi cou todos os programas que existiam de transferência de renda. Em 2004 foi criado o Ministério Social de Combate à Fome (MDS), fortalecendo a regulamentação da LOAS e a construção do SUAS; houve a suspensão da exigência da Certidão Negativa de Débitos, que impossibilitava o MDS a repassar para os municípios o valor aproximado de 25 milhões mensais; houve a publicação da Política Nacional de Assistência Social (PNAS/2004), através da Resolução CNAS nº 145, de 15 de outubro de 2004, defi nindo assim as diretrizes para a efetivação do novo modelo de gestão para a assistência social; com a aprovação da Lei nº 10.836, de 9 de janeiro de 2004, o Programa Bolsa Família foi instituído como lei. 106 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL Em 2005, em dezembro, aconteceu a V Conferência Nacional de Assistência Social, com o tema: SUAS Plano 10: Estratégias e Metas para a Implementação da Política Nacional de Assistência Social; foi publicada a Norma Operacional Básica de Assistência Social (NOB/SUAS/2005), que foi aprovada através da resolução CNAS nº 130, em que se cria a Rede SUAS e o Sistema Nacional de Informação do SUAS. Neste mesmo ano, houve a promulgação da Lei n° 11.258, de 30 de dezembro de 2005, que retifi ca a LOAS, acrescentando o serviço de atendimento a pessoas que vivem em situação de rua; foi publicada a Resolução CNAS nº 191/2005, que regulamenta o Art. 3º da LOAS, que aborda as entidades e organização das entidades e organizações de assistência social. Neste mesmo ano também foi publicada a Resolução CNAS nº 209/2005, que estabelece o Código de Ética do CNAS. Em 2006, em dezembro, através da Resolução CNAS nº 269/2006, a Norma Operacional Básica de Recursos Humanos (NOB-RH/SUAS/2006), foi publicada a Portaria MDS nº 148/2006 que instituiu normas, critérios e procedimentos de base para a gestão do PBF e do CadÚnico de Programas Sociais do Governo Federal e estabelece o IGD. Neste mesmo ano foram publicadas as seguintes resoluções: Resoluções do CNAS nº 23 e 24, que regulamentam o acordo acerca dos trabalhadores do setor e dos representantes dos usuários; Resolução da CNAS nº 212/2006, que sugere critérios para a regulamentação da providência de benefícios eventuais; Resolução nº 237, que propõe diretrizes para estruturação, reformulação e funcionamento dos Conselhos de Assistência Social. Em 2007 aconteceu a VI Conferência Nacional de Assistência Social, entre os dias 14 a 17 de dezembro de 2007, tendo como tema: Compromissose Responsabilidades para assegurar a Proteção Social pelo Sistema Único de Assistência Social (SUAS); foi difundido o Decreto nº 6.307, de 14 de dezembro de 2007, sobre os Benefícios Eventuais que estão na LOAS, no Art. 22, o Plano Decenal SUAS; que estruturou ações para 10 anos; Plano 10, que expõe as metas e as estratégicas do Plano Decenal que foram deliberadas da V Conferência Nacional e as Metas do Governo Federal; e, com aprovação destas Metas Nacionais pela Resolução CNAS nº 210/2007, através do Decreto nº 6.214, que regulamenta o Benefício de Prestação Continuada – BPC, destinado à pessoa com defi ciência e ao idoso, citado na Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, outro decreto publicado foi o de nº 6.308, de 14 de dezembro, que dispõe sobre as entidades e organizações de assistência social, que dispõe o Art. 3 da Lei nº 8.742/93. Neste ano foi lançado o Programa de Acompanhamento e Monitoramento do Acesso e Permanência na Escola das Pessoas com defi ciência e que são benefi ciárias do BPC e BPC na Escola; deu-se início ao Monitoramento dos CRAS, Censo CRAS 2007; e foi instituída a Carteira do Idoso, com ferramenta para a comprovação para o acesso aos benefícios conforme o Estatuto do Idoso. 107 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL Capítulo 2 Em 2008 iniciou-se um novo procedimento para a ampliação do Programa de Atenção Integral à Família (PAIF), centralizado no CRAS, sendo este acompanhado pelo governo Federal e Estado; através de um ambiente virtual, foi criado o primeiro indicador de acompanhamento dos CRAS – IDCRAS; houve também a defi nição do programa de monitoramento e avaliação do Benefício de Prestação Continuada; através de sistema computadorizado, foi publicada a Lei nº 11.692 que dispõe sobre o Programa Nacional de Inclusão de Jovens – Projovem; iniciou-se o Levantamento Nacional das Crianças e Adolescentes em serviços de acolhimento institucional e família; o Decreto do BPC sofreu nova alteração, através do Decreto nº 6.564, de 12 de setembro. Em 2009 foi fi nalizado o processo de transição dos serviços de educação infantil para o setor de educação, conforme a PNAS e a LDB; aconteceu a VII Conferência Nacional de Assistência Social, entre os dias 30 de novembro a 3 de dezembro, tendo como tema: Participação e Controle do SUAS; foi criada a Rede Nacional de Monitoramento da Assistência Social (RENMAS); no dia 23 de dezembro, foi realizada a publicação do Decreto nº 7.053, que institui a Política Nacional para a População de Rua e seu Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento; aconteceu a implementação do Cadastro Nacional do SUAS. Neste ano foi lançada a coletânea CapacitaSUAS; foi aprovada a Tipifi cação Nacional dos Serviços Socioassistenciais, Resolução CNAS nº 109/09, que foi publicada no Diário Ofi cial da União, o Protocolo de Gestão Integrada entre os serviços e benefícios, objetivando a integração do PBF e do PAIF. Também foi aprovada neste ano a Lei nº 12.101/09, que dispõe sobre a certifi cação das entidades benefi centes de assistência social, que regula os procedimentos de inserção de contribuições para a seguridade social; e foi lançada a Pesquisa MUNIC, da qual os resultados foram disseminados somente em 2010. Em 2010 foram aprovadas as seguintes resoluções: Resolução CNAS nº 16/10, que dispõe sobre os parâmetros nacionais para inscrição das entidades e organizações de assistência social, bem como os serviços, programas, projetos e benefícios socioassistenciais nos Conselhos de Assistências Sociais municipais e do DF; Resolução CNAS nº 31/10, que destina recursos do FNAS para ações de capacitação de profi ssionais que atuam nos CRAS e CREAS; Resolução CNAS nº 39/10, que dispõe sobre o processo de 2010, que regulamenta a Lei nº 12.101, de 27 de novembro de 2009, alterado pelo Decreto nº 7.300, de 14 de setembro de 2010, dispondo sobre o processo de certifi cação das entidades benefi centes de assistência social e para obtenção da inserção das contribuições para seguridade social. Ainda neste ano foi publicado o Decreto nº 7.334, de 19 de outubro, que institui o Censo SUAS. Em 2011 foi publicada a Lei nº 12.435, que altera a Lei nº 8.742/1993 (LOAS), integrando ao texto o SUAS; foi aprovado o Decreto nº 7.617, de 17 de novembro, 108 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL que altera o Regulamento do Benefício da Prestação Continuada, que foi aprovado em 2007 pelo Decreto nº 6.214, de 26 de setembro de 2007; aconteceu a VII Conferência Nacional de Assistência Social, no período de 7 a 10 de dezembro, tendo como tema geral: Avançando na consolidação do Sistema Único de Assistência Social – SUAS, com a valorização dos trabalhadores e a qualifi cação da gestão dos serviços, programas, projetos e benefícios; foi publicado o Decreto nº 7.636, de 7 de dezembro, que dispõe sobre o apoio fi nanceiro da União ao Estado, Distrito Federal e Município proposto ao aprimoramento dos serviços, programas projetos e benefícios, com base no IGDSUAS; foram aprovadas as seguintes resoluções: Resolução do CNAS no 17/11, que retifi ca a equipe de referência defi nida pela NOB – RH/SUAS, reconhecendo as categorias profi ssionais de nível superior para atender às especialidades dos serviços socioassistenciais e das funções essenciais de gestão do SUAS; Resolução CNAS no 32/11, que constitui um percentual dos recursos do SUAS, cofi nanciados pelo governo federal, e que poderão ser gastos no pagamento de profi ssionais que formam e integram as equipes de referências, conforme o Art. 6º da Lei nº 8.742/93, inserido pela Lei nº 435/11; Resolução CNAS nº 33/11, que dispõe sobre a ação da Integração ao Mercado de Trabalho no campo da assistência social e estabelece seus requisitos; Resolução do CNAS nº 34/11, que defi ne a Habilitação e Reabilitação da pessoa com defi ciência e a promoção de sua integração à vida comunitária no campo da assistência social e estabelece seus requisitos. Em 2012 houve a aprovação da nova Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social (NOB/SUAS); através da Resolução CNAS nº 33/12, foi aprovada a Resolução CNAS nº 08/12, que estabelece o Programa Nacional de Capacitação do SUAS – CapacitaSUAS; e a última resolução aprovada em 2012 foi a Resolução CNAS nº 18/12, que estabelece o Programa Nacional de Promoção do Acesso ao Mundo do Trabalho – ACESSUAS – TRABALHO. Em 2013 foram aprovadas as seguintes resoluções: Resolução CNAS nº 01/13, que dispõe sobre o reordenamento do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV); Resolução nº 18/13, que dispõe sobre as prioridades e metas específi cas para a gestão municipal do SUAS; Resolução nº 31/13, dando ênfase aos princípios e diretrizes da regionalização no SUAS, através de novos parâmetros para a oferta do Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI), e do Serviço de Acolhimento para Crianças, Adolescentes e Jovens até 21 anos, como também critérios de elegibilidade e divisão dos recursos de cofi nanciamento federal para a ampliação dos Serviços; Resolução nº 32/13, dispondo sobre o Pacto de Aprimoramento da Gestão dos Estados e do Distrito Federal no âmbito do SUAS, estabelecendo a revisão das prioridades das gestões estaduais e do Distrito Federal e dos compromissos da União, que foram estabelecidos na Resolução nº 17, de novembro de 2010, da Comissão Intergestores Tripartites (CIT). No SUAS, foi 109 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL Capítulo 2 realizada a IX Conferência Nacional de Assistência Social, no período de 16 a 19 de dezembro, com o tema: A Gestão e o Financiamento na efetivação do SUAS. Em 2014 foram aprovadas as seguintes resoluções: Resolução nº 4/14, que determina o Programa Nacional de Aprimoramento da Rede Socioassistencial Privada no SUAS – Aperfeiçoa a Rede e delimita critérios e procedimentos visando incentivar e qualifi car os serviçose programas, projetos e benefícios socioassistenciais que formam a contribuição das entidades privadas no âmbito do SUAS; Resolução nº 9/14, reconhecendo as ocupações profi ssionais de ensino médio e fundamental do SUAS, em consonância com via NOB-RH/ SUAS; Resolução nº 13/14, que inclui na Tipifi cação Nacional de Serviços Socioassistenciais, a faixa etária de 18 a 59 anos no Serviço de Convivência Fortalecimento de Vínculos; Resolução nº 14/14, que determina parâmetros nacionais para a inscrição das entidades e/ou organizações de Assistência Social, serviços, programas, projetos nos Conselhos de Assistência Social; Resolução nº 27/14, que altera a Resolução do CNAS nº 18/12, que institui o Programa Nacional de Acesso ao Mundo do Trabalho; Resolução nº 28/14, que altera a Resolução CNAS nº 8/12, que delibera sobre o Programa Nacional do SUAS. Em 2015 o SUAS comemorou seus dez anos de existência, ou seja, uma década de um Sistema Único de Assistência Social no Brasil. Essa experiência de implantação de um Sistema público procede na decisão política de dar prioridade, na agenda federal, através de maior atenção para as populações com maiores vulnerabilidades sociais, com o compromisso e comprometimento dos entes federados e com a participação da sociedade civil. Diante disso, o SUAS passou a integrar um projeto de país que queira uma sociedade mais justa e igualitária, através de uma economia inclusiva. Neste período de 10 anos, o SUAS passou por processo de estruturação e implementação do esplendor normativo e legal. Na NOB/SUAS – 2012, foi refl etido sobre novos desafi os para a década seguinte, por meio de um patamar de novas qualidades, como a qualifi cação e aprimoramento da gestão e dos serviços ofertados, e também a providência da proteção social não contributiva em um panorama que enfatiza e traz para o debate novas questões desafi adoras, como as alterações climáticas e ambientais, sociodemográfi cas em uma conjuntura econômica. Perante as novas responsabilidades para a década seguinte, o CNAS convocou a X Conferência Nacional de Assistência Social, tendo como tema geral: Consolidar o SUAS de vez rumo a 2026, que foi realizada no período de 7 a 10 de dezembro de 2015 em Brasília/DF. Caro acadêmico, agora cabe a você, como futuro profi ssional, dar continuidade na Linha do Tempo da Assistência Social. Seja você também um 110 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL protagonista dessa Política, sem esquecer, jamais, quais são os PRINCÍPIOS ÉTICO-POLÍTICOS DO SERVIÇO SOCIAL. 2016 – foi aprovado o II Plano Decenal da AssistênciaSocial (2016/2026), O CONSELHO NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL CNAS; em reunião ordinária realizada nos dias 17, 18, e 19 de maiode 2016, no uso da competência que lhe conferem os incisos II, V, IX e XIV do artigo 18 da Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993 – Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, através da RESOLUÇÃO Nº 7, DE 18 DE MAIO DE 2016. Foi instituído por meio do Decreto nº 8.869, de 5 de outubro de 2016, e alterado pelo Decreto nº 9.579, de 22 de novembro de 2018, de caráter intersetorial e com a fi nalidade de promover o desenvolvimento integral das crianças na primeira infância, considerando sua família e seu contexto de vida. O Programa tem como objetivos promover o desenvolvimento humano a partir do apoio e do acompanhamento do desenvolvimento infantil integral na primeira infância; apoiar a gestante e a família na preparação para o nascimento e nos cuidados perinatais; colaborar no exercício da parentalidade, fortalecendo os vínculos e o papel das famílias no desempenho da função de cuidado, proteção e educação de crianças na faixa etária de até seis anos de idade; mediar o acesso da gestante, das crianças na primeira infância e das suas famílias às políticas e aos serviços públicos de que necessitem; integrar, ampliar e fortalecer ações de políticas públicas voltadas para as gestantes, crianças na primeira infância e suas famílias. Nos últimos anos, as políticas públicas, a Assistência Social assim como as demais, vêm sofrendo com os ataques neoliberais e neoconservadores de políticos descomprometidos com a realidade da população brasileira, valorizando os setores econômicos em detrimento do social. 1 Realize uma pesquisa e aponte quais foram as deliberções da X Conferência Nacional de Assistência Social, tendo como tema geral: Consolidar o SUAS de vez rumo a 2026, que ocorreu em 2015, no Brasil. 2 Aponte três delibarações da X Conferência Nacional de Assistência Social, tendo como tema geral: Consolidar o SUAS de vez rumo a 2026, que você considera mais importantes e justifi que-as. 111 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL Capítulo 2 3 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Durante as últimas três décadas, o Brasil assistiu a um progressivo adensamento de sua proteção social, envolvendo a expansão de redes universais de serviços, a ampliação de benefícios monetários e a promoção da equidade. Essa construção abrangeu avanços expressivos na defi nição das circunstâncias sociais, das responsabilidades protetivas e das ofertas da política de assistência social, além da consolidação de arranjos institucionais e operacionais. A política de assistência social passou a ocupar um lugar estratégico no sistema de proteção social brasileiro. O processo de implementação do SUAS, mesmo permeado por confl itos e disputas e dependente da interação de grande número de atores, dinâmicas políticas e territórios diversifi cados, tem sido capaz de operar expressivo volume de benefícios monetários e ampla rede de serviços, especialmente devido ao desenvolvimento de múltiplas dimensões de capacidades institucionais e normativas. As mobilizações em torno da destituição de Dilma Rousseff da presidência da república favoreceram uma nova agenda de reformas que ganhou corpo rapidamente, embasada em novos horizontes normativos. A oposição ao sistema de proteção social constituído no país desde 1988 conseguiu mobilizar-se quando a crise política de 2016 abriu uma janela de oportunidades, com possibilidade de reversão da trajetória de construção de capacidades estatais na política de assistência social abordada neste capítulo. Nesse novo contexto político, destaca-se a Emenda Constitucional nº 95/2016, que institui um Novo Regime Fiscal (NRF) no âmbito da União para os próximos vinte anos, com congelamento, em termos reais, das despesas primárias, e projeta redução real dos gastos nas quatro principais políticas sociais, confi gurando um movimento de transformações de longo alcance e profundidade na saúde, educação, previdência social e assistência. A restrição da proteção previdenciária e a perspectiva de pressão sobre as ofertas da assistência social indicam um modelo liberal, uma infl exão em relação à perspectiva abrangente que ainda organiza normativamente a proteção social brasileira. Se até recentemente mantinha-se, com tensões, o horizonte de focalização nos mais pobres como instrumento complementar em um padrão referenciado à universalidade efetiva de políticas sociais, incluindo no radar da proteção social o compromisso da equidade e o resgate de populações historicamente invisíveis para o poder público, o contexto atual sinaliza em direção a uma perspectiva restritiva e residual da proteção social. Em síntese, se, cabalmente implementado, esse programa reformista de grande envergadura implicará alterações profundas no perfi l do sistema de 112 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL proteção social e no lugar da assistência social, reduzindo expressivamente a responsabilidade pública pela política de assistência social ao mesmo tempo em que fragiliza sua capacidade protetiva. A crítica ao alto patamar de gasto social e a opção por um Estado minimalista já estão embasadas em um novo regime fi scal, ao passo que avançam declarações e iniciativas calcadas em exigência de maior comprometimento com o trabalho e desenvolvimentode ativos, com ênfase na responsabilidade individual, sinalizando reformas também no âmbito da assistência social. Uma vez que não existe um caminho inexorável de “evolução” de programas sociais, são propostas que refl etem uma outra visão dos horizontes da proteção social. Saem de cena a perspectiva de integração entre políticas sociais, a busca ativa de grupos urbanos e rurais ainda distantes dos benefícios e sinaliza-se com o reforço da necessidade de comprovação de meios, além de reforçarem argumentos meritocráticos e perspectivas morais em torno da pobreza e da desigualdade. Propostas como a “premiação” de gestores municipais pela saída de benefi ciários do programa e o suposto estímulo à inserção de benefi ciários no mercado de trabalho ignoram tanto os indicadores recentes que apontam aumento da pobreza e da desigualdade no Brasil, bem como a deterioração das condições do mercado de trabalho. Saem do radar considerações sobre a volatilidade de renda dos mais pobres e sobre os perfi s de inserção profi ssional dos atuais benefi ciários. Em síntese, sob a roupagem de maior “fi scalização e efi ciência”, esconde-se uma visão liberal e focalizadora da proteção social. Resta observar como será o balanço de forças entre a capacidade política do atual governo de impor sua agenda — pela via legislativa, por falta de recursos e investimentos em capacidades, por modifi cações normativas no nível das burocracias e também via modifi cação de instrumentos de políticas públicas — e a capacidade de reação e resistência por parte das comunidades de políticas públicas e demais atores interessados. REFERÊNCIAS ASSUMPÇÃO, Márcio José. Contabilidade pública. Curitiba: IBPEX, 2007. AVELAR, Lúcia. Participação política. In: AVELAR, Lucia; CINTRA, Antônio Octavio (org.). Sistema político brasileiro: uma introdução. Rio de Janeiro: Fundação Konrad-Adenauer-Stiftung; São Paulo: Fundação Unesp, 2004. BERNARDONI, Doralice Lopes. Planejamento e orçamento na administração pública. 2. ed. Curitiba: IBPEX, 2010. 113 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL Capítulo 2 BRASIL. CapacitaSUAS Caderno 2: Vigilância Socioassistencial: Garantia do Caráter Público da Política de Assistência Social. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Centro de Estudos e Desenvolvimento de Projetos Especiais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. 1. ed. Brasília: MDS, 2013, 124 p.: il. BRASIL. Lei nº 12.594, de 18 de janeiro de 2012. Institui o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase), regulamenta a execução das medidas socioeducativas destinadas a adolescente que pratique ato infracional; e altera as Leis nos 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente); 7.560, de 19 de dezembro de 1986, 7.998, de 11 de janeiro de 1990, 5.537, de 21 de novembro de 1968, 8.315, de 23 de dezembro de 1991, 8.706, de 14 de setembro de 1993, os Decretos-Leis nos 4.048, de 22 de janeiro de 1942, 8.621, de 10 de janeiro de 1946, e a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943. 2012a. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12594.htm. Acesso em: 20 set. 2020. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Orientações Técnicas sobre o Serviço de Proteção Social a Adolescentes em Cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida (LA) e de Prestação de Serviços à Comunidade (PSC): versão preliminar, Brasília: MDS; Secretaria Nacional de Assistência Social, 2012b. p. 38. BRASIL. Lei nº 12.435, de 6 de julho de 2011. Altera a Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, que dispõe sobre a organização da Assistência Social. 2011a. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/ Lei/L12435.htm. Acesso em: 9 set. 2020. BRASIL. Casa civil. Lei nº 12.435, de 6 de julho de 2011. 2011b. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12435.htm. Acesso em: 6 set. 2020. BRASIL. Resolução CNAS nº 21 de julho de 2010. 2010a. Disponível em: fi le:///C:/Users/85089303991/Downloads/CNAS%202010%20-%20021-%20 20.07.2010.pdf. Acesso em: 2 out. 2020. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Gestão do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil no SUAS: orientações técnicas. Brasília: MDS, Secretaria Nacional de Assistência Social, 2010b. Reimpresso em maio de 2011. p. 56. 114 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL BRASIL. Conselho Nacional de Assistência Social. Resolução nº 109, de 11 de novembro de 2009. Dispõe sobre Tipifi cação Nacional dos Serviços Socioassistenciais. Disponível em: http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/ protecaobasica/servicos/projovem/arquivos/tipifi cacao-nacional.pdf/download. Acesso em: 14 set. 2020. BRASIL. Tribunal de Contas da União Orientações para Conselheiros da Área de Assistência Social / Tribunal de Contas da União. Brasília: TCU, 4ª Secretaria de Controle Externo, 2007a. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Financiamento da Assistência Social no Brasil. Caderno SUAS, ano 2, n. 2, Brasília: 2007b. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Norma operacional básica de recursos humanos do SUAS. NOB-RH/SUAS. Brasília, 2006. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social NOB/SUAS. Brasília, 2005. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Presidência da República. Política Nacional de Assistência Social – PNAS. Brasília, 2004. BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Presidência da República. Brasília, 1990. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Presidência da República. Presidência da República. Brasília, 1988. CARVALHO, Maria do Carmo Brant de. Avaliação de projetos sociais. In: AVILA, Célia M. de. Gestão de projetos sociais. 3. ed. São Paulo: Associação de Apoio ao Programa Capacitação Solidária (AAPCS), 2001. CFESS – Conselho Federal de Serviço Social. Parâmetro para atuação de assistentes sociais e psicólogos (as) na Política de Assistência Social. Brasília, CFP/CFESS, 2007. 115 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL Capítulo 2 COMISSÃO INTERGESTORES TRIPARTITE. Resolução CIT Nº 7, de 10 de setembro de 2009. Protocolo de Gestão Integrada de Serviços, Benefícios e Transferências de Renda no âmbito do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). [S.I.], 2009. p. 20. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Serviço de Proteção Social a Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência, Abuso e Exploração Sexual e suas Famílias: referências para a atuação do psicólogo. Conselho Federal de Psicologia. Brasília: CFP, 2009. p. 52. FUNDAÇÃO DE AÇÃO SOCIAL. Prefeitura de Curitiba. Protocolo de Gestão dos CREAS de Curitiba. 2011. MOURA, Reidy Rolim de. Estruturas de oportunidades políticas e aprendizado democrático: o associativismo de Bairro em Blumenau (1994- 2009). 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Famílias enredadas. In: ACOSTA, Ana Rojas; VITALE, Maria Amália Faller (Orgs). Família: redes, laços e políticas públicas. 4. ed. São Paulo Cortez, 2008. 116 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL SIQUEIRA, Rosângela Bujokas de. Conselhos de política e participação democrática: análise dos setores saúde e assistência social em Ponta Grossa – PR. Dissertação de mestrado defendida no Programa de Mestrado em Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Ponta Grossa: UEPG, 2006. SOUZA, Rodriane de Oliveira. Participação e controle social. In: SALES, Mione Apolinário et al. Política Social, Família e Juventude: uma questão de direitos. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2009. RIO DE JANEIRO. Secretaria Municipal de Assistência Social. Cadernos de Assistência Social: Serviço de Combate ao Abuso e Exploração Sexual – SECABEXS. Rio de Janeiro, 2008. v. 16. p. 46. CAPÍTULO 3 GESTÃO SOCIAL DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – NOVOS DESAFIOS DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: • Compreender os impactos sociais e macroeconômicos das reformas do Estado e os refl exos sobre as políticas públicas. • Detalhar os processos de gestão pública nas políticas sociais. • Apresentar as formas de atuação do Serviço Social na administração dos programas e projetos sociais. • Realizar um levantamento histórico dos debates teóricos e metodológicos na avaliação da gestão social. • Instrumentalizar os profi ssionais para realizar a avaliação das politicas, programas e projetos. • Apresentar os indicadores utilizados para o monitoramento e avaliações das Políticas e Projetos Sociais. • Apresentar os procedimentos sociais que derivaram a redução da função do Estado na área das políticas sociais e quais as atribuições do Estado perante as desigualdades sociais no Brasil. • Avaliar as ações do Serviço Social nas demandas da gestão de programas e projetos sociais. • Minimizar o entendimento dos processos na demanda da gestão das políticas sociais. • Ofertar a capacidade do assistente social na atuação profi ssional e como gestor das políticas sociais. 118 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL 119 GESTÃO SOCIAL DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – NOVOS DESAFIOS DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL Capítulo 3 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Este capítulo consiste em apresentar uma refl exão crítica das atuais tendências da gestão social no âmbito das políticas sociais, levando em consideração o despeito que houve com a dispersão e generalização, na década de 1990, com o uso da expressão gestão social no país. Isso se deu através de uma visão multidisciplinar, em que a expressão passou a ser mecanismo de intervenção profi ssional do Serviço Social desde a gênese profi ssional durante a década de 1930, porém com formas de abordagens diferentes e de projetos societários contrários. Sobre essa temática, Silva (2013, pp. 33-34) apresenta a seguinte abordagem: a) O conservadorismo católico sob a pretensa equidistância entre o liberalismo e o socialismo. b) A consolidação da sociedade burguesa em diferentes estágios (o “espírito social” do empresariado das primeiras décadas do século XX, o controle social do Estado, visa o desenvolvimentismo, a modernização conservadora da ditadura militar, a reforma e a contrarreforma da década de 1980, o projeto neoliberal). c) E a perspectiva de questionamento e ruptura com os modos dominantes de pensar a sociedade e suas infl uências na área profi ssional, buscando alternativas no âmbito de um projeto societário ancorado em valores democráticos de horizonte socialista. Para o Serviço Social um dos aspectos importantes e históricos a serem considerados entre o período de 1930 e 1999 é a Reforma do Estado, sendo considerado um marco nas mudanças que ocorreram nas políticas públicas sociais. Todas essas mudanças refl etiram diretamente na relação entre o Estado e a sociedade, na participação da população, nas relações internas de poder entre as classes sociais, atingindo a ação do profi ssional nas suas atividades diárias em sua atuação nas áreas sociais. Nesta unidade será apresentada a redução da função do Estado diante das demandas sociais e quais são suas atribuições perante as desigualdades sociais. 120 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL 2 OS IMPACTOS SOCIAIS NAS POLÍTICAS PÚBLICAS DIANTE DAS REFORMAS DO ESTADO BRASILEIRO E A FUNÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL Os antecedentes históricos que sustentavam a ideologia neoliberal e sua erradicação no mundo, em especial na América Latina e no Brasil, são fundamentados em um exemplo de desenvolvimento econômico, no qual predomina o fortalecimento do mercado, através de um mercado livre e forte que abandona a infl uência do estado na economia, fortalecendo no fi nal da década de 70 um cenário de recessão da economia. Neste cenário se apresentaram muitos elementos da Reforma do Estado, em que esta precisava criar mecanismos e arranjos que conseguissem dar respostas ao novo modelo econômico, através de ações efi cientes, efi cazes e efetivas. O modelo neoliberal se fortaleceu mundialmente no governo de Margaret Thatcher (1979 a 1990) na Inglaterra e de Ronald Reagn (1981 a 1989) nos EUA, tendo uma maior adesão nos países que tinham seus fundamentos no modelo do Estado do Bem-estar Social, Welfare State. De acordo com Olivera (1998, p. 19-20), WelfareState [...] pode ser sintetizado na sistematização de uma esfera pública, onde a partir de regras universais e pactuadas, o fundo público em suas diversas formas, passou ao pressuposto do fi nanciamento da acumulação do capital, de um lado, e do outro, o fi nanciamento da reprodução da força de trabalho, atingindo globalmente toda população por meio de gastos sociais. A sugestão neoliberal trazia promessas de liberdade econômica como também de prosperidade fi nanceira, mesmo sendo contrárias às formas nacionalistas e desenvolvimentista de governar. 121 GESTÃO SOCIAL DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – NOVOS DESAFIOS DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL Capítulo 3 No começo da década de 80, através da marca de instituições fi nanceiras como o Fundo Monetário Internacional – FMI e do Banco Mundial, os prazos de pagamento das dívidas externas que foram contraídas devido à crise fi scal e econômica acabaram sendo dilatados e os países da América Latina, no caso o Brasil também, tiveram que se adequar ao novo modelo econômico que estava sendo implementado. A década 1970 marca o início do período do chamado “milagre econômico brasileiro”. Empréstimos e investimentos estrangeiros alavancam o processo de desenvolvimento. Novos empregos e infl ação baixa trazem euforia à classe média e ao empresariado. Ao mesmo tempo, vive-se o auge da repressão, com censura à imprensa e violência contra a oposição. É o momento da linha-dura no poder, que tem no presidente da República, Emílio Garrastazu Médici, seu grande representante. Em seu governo, a infl ação anual fi cou abaixo dos 20 por cento e o crescimento do PIB em 1970 foi de 10,4 por cento, chegando a 14 por cento em 1974. A ênfase da presença do Estado na economia alinhava-se ao projeto Brasil Potência, que o governo militar vislumbrava para o país. Iniciativas econômicas grandiosas somadas a uma propaganda competente culminaram no governo Medici com o chamado “Milagre Econômico” (1968 a 1973). Seu principal artífi ce foi o economista Antônio Delfi m Netto, que já tinha sido ministro da Fazenda no Governo Costa e Silva. A crise internacional do petróleo, em 1973, levou a economia mundial a uma retração. O Brasil não seguiu essa orientação, optou por manter sua política de crescimento. O presidente Ernesto Geisel também incentivouos megaprojetos, sobretudo no setor hidrelétrico. Em 1975, assinou com a Alemanha um acordo nuclear de US$ 10 bilhões para instalar oito usinas atômicas no Brasil. A iniciativa foi atacada pelo péssimo momento econômico para o investimento e pela aquisição de uma tecnologia obsoleta e defeituosa. Além disso, em nada interessava, externamente, que o Brasil avançasse na área nuclear. 122 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL A decadência do regime militar esteve associada à crise econômica e à má administração dos governos Medici, Geisel e Figueiredo. A oposição ao sistema criticava a intervenção e as imposições ditadas pelo FMI. Depois disso, o alvo das oposições foi o imperialismo norte-americano, representado pelo governo e pelo empresariado. As multinacionais eram acusadas de ser o escoadouro das riquezas do Brasil. As auditorias do FMI nas contas do país eram uma dura interferência na soberania nacional. A transição para a democracia, com o governo José Sarney (1985 a 1990), em um período de caos econômico, antes de mais nada teve de recuperar a confi ança nacional e internacional. FONTE: Adaptado de <https://www.algosobre.com.br/historia/ milagre-economico-o.html>. Acesso em: 30 set. 2020. O ano de 1989 foi marcado no Brasil como sendo um ano da retomada de sonhos, em que poderia se construir um país democrático e com menos desigualdades sociais, pois a ditadura tinha acabado fazia quatro anos, com o término do último governo com um presidente general, este em seus discursos dizia que preferia o cheiro de cavalo ao cheiro de gente. O ano de 1989 foi um ano marcado mundialmente por diversos acontecimentos que mudaram a conjuntura da época e que refl etem até hoje, tais como: • Queda do Muro de Berlim. • Morte de três mil pessoas na Praça Celestial da Paz, em Pequim. • Prêmio Nobel da Paz concebido ao Dalai Lama. No início da década de 1990, o Brasil enfrentava alguns desafi os e contradições que estavam centralizadas em um modelo de regime a alta infl ação e de incertezas referentes às condutas políticas diante do modelo econômico. Neste sentido buscou-se uma maneira de igualar a situação econômica, consequentemente, abriu-se espaço para um novo modelo de acumulação de capital, a fi nanceira. Perante esta conjuntura, o país passa a ser envolvido em uma nova etapa do capitalismo mundial. 123 GESTÃO SOCIAL DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – NOVOS DESAFIOS DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL Capítulo 3 Diante das novas formas e concepções de como gerenciar um Estado e qual é seu papel diante dessa nova realidade que foi imposta, a percepção de mundo vencedora derrubou as antigas bases políticas que compõem as áreas governamentais. Mediante um novo paradigma econômico, esse modelo neoliberal se infi ltrou com intensidade em todas as áreas das políticas e gerências públicas, em que foi possível apenas se adaptar à nova realidade. Através do refl exo das reformas que foram aplicadas ao setor econômico, será fundamentado como e quais foram as razões para a ideologia neoliberal se instalar no Brasil e na América Latina, ressaltando suas implicações diante das políticas sociais nos governos dos anos de 1990, enfatizando os mandatos de Fernando Henrique Cardoso. O objetivo deste tópico é apresentar a conformação do Neoliberalismo com a Reforma do Estado, enfatizando a participação dos segmentos não públicos nas demandas sociais. De acordo com Armando Boito Jr, “a pobreza não é um dado natural com o qual se deparam os governos neoliberais; ela é produzida pela própria política econômica neoliberal, que reduz o emprego e os salários e reconcentra a renda” (BOITO JR, 2003, p. 77). A América Latina foi considera a terceira civilização a ser cenário das experiências neoliberais. Para adaptar a ideologia na América Latina, alguns ideólogos defendem que o modelo de governo utilizado é de ideologias nacionalistas e desenvolvimentistas. Mesmo após ocorrer um imenso processo de privatização em massa, em especial nos países europeus, o continente latino-americano foi o primeiro a experimentar o modelo neoliberal sistemático do mundo. O Chile, apesar dos governos ditatoriais de Pinochet, foi o primeiro país a aderir, de maneira rigorosa, ao neoliberalismo. A entrada do modelo neoliberal nos países desse continente aconteceu através da renegociação das dívidas externas, pois eles foram obrigados a colocar em prática um ajuste fi scal a fi m de quitar as dívidas com os países credores, portanto ocorreu uma grande adesão fi nanceira para os países que aderiram a esse modelo. 124 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL As instituições fi nanceiras multilaterais como FMI (Fundo Monetário Internacional) e os Bancos Mundiais tiveram um papel importante nessa conjuntura, pois colocaram à disposição empréstimos como um prazo maior para o pagamento das dívidas e os países acabaram cedendo as prescrições. No Brasil as políticas neoliberais foram implantadas a partir do governo Collor e o Plano Real foi constituído no governo de Itamar Franco, no qual suas metas e diretrizes foram impostas ao Estado. De acordo com Fiori (1997, p. 14): FHC é que foi concebido para viabilizar no Brasil a coalizão de poder capaz de dar sustentação e permanência ao programa de estabilização do FMI, e viabilidade política ao que falta ser feito das reformas preconizadas pelo Banco Mundial. O modelo neoliberal e sua lógica foram aderidos no Brasil de maneira mais retardatária. A partir desse chamado “atraso”, consegue-se apresentar um fator de grande importância na maneira de adiar a chegada do modelo neoliberal no país. Para Figueiras (2000), o aumento da frente política de oposição ao regime militar no momento fi nal da crise desse regime, dos acordos para a eleição direta de Tancredo Neves e José Sarney, estreitou as probabilidades da política econômica. Do mesmo modo a crescente mobilização social durante os anos 70 e 80 através da representação no Novo Sindicalismo, no Movimento dos Sem Terra e, em seguida, no Partido dos Trabalhadores, que fi zeram oposição para que o projeto neoliberal não fosse implementado Brasil, como foi na Argentina e no Chile, diminuiu as chances da política econômica. No ano de 1989, o povo brasileiro, após muitos anos, voltou às urnas para eleger, por meio do voto direto, o presidente e o vice-presidente da República. 125 GESTÃO SOCIAL DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – NOVOS DESAFIOS DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL Capítulo 3 No período da eleição, o povo brasileiro estava com um sentimento de frustação em relação ao governo Sarney, pois ele havia fracassado nas suas promessas repetidamente proclamadas, como: o controle da infl ação, a retomada do crescimento econômico, a distribuição de renda e a resolução da dívida externa. Através de uma disputa bem acirrada, o candidato pelo Partido de Renovação Nacional (PRN), Fernando Collor de Mello, o qual era desconhecido, teve sua imagem construída pelas grandes mídias, recebeu apoio eleitor delas e infi ltrou-se em todos os setores mais elevados do capitalismo no país. Para Brum (2002), o fracasso do plano econômico Brasil Novo 2 (Plano Collor) foi a derrota da mudança econômica, que era fundamentada no pensamento neoliberal e tinha como foco uma reorganização do desenvolvimento e do crescimento do Brasil, como também uma redefi nição do papel do Estado. Ou seja, tratava-se de pensamentos e ideias divulgadas por grande parte dos políticos e da burguesia, em relação às necessidades do país com um “choque de capitalismo”. O Plano Collor foi caracterizado por ser um programa de estabilização articulado a um projeto de mudanças estruturais de longo prazo. Como seu plano econômico não teve o desempenho esperado, no qual a alta infl ação foi mantida, Collor teve seu nome ligado a um processo de corrupção, que o levou a ser retirado do cargo de presidente e, consequentemente, postergandoa impetração do modelo neoliberal no país. Com o processo de impeachment concluído, seu vice-presidente, Itamar Franco, assumiu a presidência do país. Itamar Franco tinha como orientação resgatar a ética na política e preparar o país para um novo plano econômico de estabilização. À frente desse projeto estava um grupo de economistas, que foram comandados na época pelo Ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso. Qual era a ideia? Fernando Henrique Cardoso tinha como fundamentação a tese de uma “liberalização” dos cadeados corporativos que impediam o nascimento de um segmento de empresários mais dinâmicos. E o sucesso da sua estratégica econômica, o Plano Real, o fez vencer as eleições em 1994, dando andamento aos seus projetos. 126 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL O Plano Real contava com uma série de medidas que objetivavam a estabilização monetária e o fi m de um regime de hiperinfl ação. O foco desse plano era o ajustamento das economias periféricas, que estavam sobre chancelas de órgãos internacionais como o FMI e Banco Mundial (FIORI,1997). A estratégia adota por Fernando Henrique Cardoso tinha como objetivos: o combate à infl ação, por meio da dolarização da economia e juntamente com a valorização das moedas nacionais, considerando uma evidência na necessidade de um ajuste fi scal; a reforma do Estado, na qual continha as privatizações e a reforma administrativa, visando à desregulamentação dos mercados e liberalização comercial e fi nanceira. Socialismo e neoliberalismo são, sem dúvida, duas das maiores questões da nossa época. No livro intitulado Crise do socialismo e ofensiva neoliberal, os temas são tratados sob uma perspectiva fortemente crítica. A crise do socialismo é abordada não como signo do ‘fi m da história’, mas como esgotamento de um padrão da transição social que se revelou incapaz de realizar a dupla socialização que compete ao período pós-revolucionário: a socialização do poder político e a socialização da economia. Já a ofensiva neoliberal é enfocada como expressão da incompatibilidade entre o capitalismo contemporâneo e as instituições democráticas. Uma tese fundamental articula os dois ensaios deste livro: enquanto a sociedade estiver subordinada ao capital, a história continuará mobilizada pelas lutas dos trabalhadores na direção de uma ordem societária sem exploração, sem opressão e sem alienações FIGURA – CAPA DO LIVRO CRISE DO SOCIALISMO E OFENSIVA NEOLIBERAL FONTE: <https://images-na.ssl-images-amazon.com/images/I/41M25N81- +L._SX334_BO1,204,203,200_.jpg>. Acesso em: 12 jan. 2021. 127 GESTÃO SOCIAL DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – NOVOS DESAFIOS DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL Capítulo 3 A reforma do Estado é um tema que vem sendo discutido nas agendas políticas internacionais desde as primeiras décadas dos anos 80. A reformulação do aparelho estatal se tornou uma demanda quase que universal, como resposta à crise econômica que neutralizou economicamente e politicamente os países nas últimas décadas do século XX. Diante dessa conjuntura, formou-se um paradigma de reforma do Estado, no qual o Brasil foi marcado por quatro grandes problemas diante desse processo de reformulação do Estado brasileiro. Veja a seguir quais são eles. Um problema econômico-político – a delimitação do tamanho do Estado; um outro também econômico- político, mas que merece tratamento especial – a redefi nição do papel regulador do Estado; um econômico-administrativo – a recuperação da governança ou capacidade fi nanceira e administrativa de implementar as decisões políticas tomadas pelo governo; e um político – o aumento da governabilidade ou capacidade política do governo de intermediar interesses, garantir legitimidade, e governar (BRESSER PEIRERA, 1998, pp. 49-50). As reformas do Estado no país iniciaram de forma tímida no governo do ex-presidente Fernando Collor de Mello, incialmente começaram com algumas privatizações e muita discussão sobre os serviços públicos, que era considerado um dos principais problemas do Estado, diante dessas novas medidas. Porém, foi no governo de Fernando Henrique Cardoso que a Reforma do Estado teve ênfase como uma condição para o capital voltar ao crescimento econômico e dar continuidade na estabilização da economia brasileira. Foi constituído o Ministério da Administração e Reforma do Estado (MARE) e era encabeçado por Luís Carlos Bresser Pereira, sendo este o administrador de todo o processo de reformulação do Estado brasileiro. Como uma das partes indispensáveis do processo que visava criar um novo modelo econômico baseado nos princípios neoliberais e que foram estimulados, a partir do Consenso de Washington, a reforma do Estado foi efetuada. De acordo com seus idealizadores, seria uma alternativa para potencializar e liberar a economia para uma nova fase de crescimento. 128 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL O Consenso de Washington trata-se de uma reunião sem caráter deliberativo, que aconteceu em 1989, entre acadêmicos e políticos norte-americanos e latino-americanos com o objetivo de apresentar soluções que fi ndassem com a estagnação soberana por mais de vinte anos na América Latina. Mesmo de formas diferentes, o alcance que houve em cada país e que estava condicionado às relações centro/periferia de suas cidades passou por duas etapas. Na primeira etapa ocorreu a retomada ofensiva do neoliberalismo que se estendeu até 1990. Para Silva (2003, p. 12), “O Estado foi fortemente criticado pelo seu caráter intervencionista, exigindo-se a redução do seu “tamanho” como uma condição ao livre funcionamento do mercado”. Silva (2003) afi rma que a disputa fi cou sobre a distinção exclusiva e não exclusiva do Estado. A primeira solução que foi efetivada pelo governo federal foi a racionalização dos recursos fi scais, por meio da abertura de mercados, das privatizações de empresas estatais. A segunda etapa foi marcada por uma provável alternativa ao fracasso das políticas neoliberais, considerando uma transformação parcial diante da situação socioeconômica. Na segunda etapa houve outros objetivos, como a efi ciência dos serviços públicos a ser alcançada através da otimização dos recursos humanos e fi nanceiros, efetividade de democratização (SOUZA; CARVALHO, 1999). Com o grande aumento da carestia oriundo de décadas e do desempenho pouco valorizado do social e do econômico; e com a orientação das políticas neoliberais de cortar investimentos com gastos públicos em determinadas políticas sociais, o problema da pobreza no Brasil agravou-se mais ainda. 129 GESTÃO SOCIAL DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – NOVOS DESAFIOS DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL Capítulo 3 Nesse sentido, foi chamada a atenção para a promoção das políticas sociais, em destaque para o problema do desemprego, da pobreza e para a necessidade emergente de regulamentar o movimento do capital no país, em que alguns projetos de enfrentamento a essas demandas foram criados. Um exemplo que pode ser estudado nesse contexto, entre política, programa e projetos, é o Projeto Programa Fome Zero, uma proposta de Política de Segurança Alimentar para o país, para enfrentar a fome através de caminhos considerados analíticos e com ângulos diferentes em suas análises, ou seja, caminhos diversos e com diferentes visões. Esse projeto pode ser considerado um através de três aspectos: o signifi cado político face à questão social brasileira; a gestão e as polêmicas de ordem técnica e política e a lógica que o preside em tempos de neoliberalismo. O Programa Fome Zero foi apresentado como uma proposta de Programa de todo o Governo Federal e envolvia em suas ações estratégicas todos os Ministérios, sendo que na época foi estruturado o Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome (MESA) e o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA) para propor políticas e combate à fome. Aproposta política do Programa Fome Zero era alinhar as políticas específi cas e locais, com uma grande visibilidade pública efetiva. Para saber mais sobre o Programa Fome Zero, acesse o site: <https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104- 12902003000100007&script=sci_arttext&tlng=pt>. Acesso em: 30 set. 2020. Porém esses enfretamentos não signifi caram uma crítica às ideias das políticas neoliberais, mas ao contrário, avaliou-se que foram insufi cientes para realizar um novo ciclo de desenvolvimento socioeconômico no Brasil, sendo necessário melhorá-las. Diante dos ideários neoliberais, outro processo foi delimitado perante a atuação do Estado, que foi a terceirização dos setores governamentais para o setor privado, por meio de licitação pública e de contratos de serviços de apoio. Um exemplo é a terceirização da merenda escolar em diversos municípios brasileiros, que antes era oferecida pelo poder público e passou a ser fornecida pela iniciativa privada. 130 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL Foi através do Programa Nacional de Publicização (PNP) que o governo federal passou para “o setor público não estatal”, terceiro setor, a produção e o gerenciamento de serviços considerados competitivos ou exclusivos do Estado, estabelecendo-se um sistema de parceria entre Estado e sociedade para seu fi nanciamento e controle (BRASIL, 1995). Essa terceirização abrangeu também outras demandas como os serviços de saúde (SILVA, 2003). A Reforma do Estado que ocorreu no governo de FHC acabou manifestando medidas legislativas, regulatórias e ações governamentais para um novo redirecionamento estratégico da função do Estado. O Estado deveria passar de impulsionador do desenvolvimento para impulsionador da competitividade da economia. Porém o que aconteceu foi a transferência do patrimônio público para o mercado privado, mudando toda relação do Estado com o setor privado e a sociedade, o Estado passou a ser um mecanismo complementar ao mercado privado. É importante ressaltar um aspecto essencial nesse contexto que é a política social, pois é considerada uma dimensão fundamental da efetivação da democracia nas sociedades modernas e pelo seu conceito estar interligado aos valores de equidades sociais. No meio institucional, as políticas sociais fazem parte de um sistema de ação com uma dimensão muito complexa, que é o resultado de muitas causalidades e diferentes atores e áreas da ação social e pública, como: proteção contra riscos, combate à miséria, desenvolvimento de capacidades que possibilitem a superação das desigualdades e o exercício pleno da cidadania (IVO, 2004). 131 GESTÃO SOCIAL DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – NOVOS DESAFIOS DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL Capítulo 3 Considerando assim as políticas sociais como mecanismos e instrumentos institucionais fomentados para garantir a cada pessoa condições materiais de vida que consintam ao cidadão exercer seus diretos sociais e civis com toda dignidade de um ser humano. No Brasil, as políticas sociais começaram a se devolver a partir do século XX, durante um longo período de 80 anos, como um modelo de proteção social que foi modifi cado somente com a Constituição Federal de 1988. Para Fleury e Fleury (2004), o modelo do sistema de proteção social brasileiro, que era vigente até o fi nal da década de 80, parecia com um modelo de seguro social na área de previdência, incluindo a atenção à saúde, como um modelo assistencial para população que não tinha vínculos trabalhistas formais. A Constituição Federal de 1988 é considerada um marco institucional relevante por apresentar um novo modelo de seguridade social. Esse modelo de seguridade social procurou romper com as noções de cobertura restrita a setores que estão inseridos no mercado formal e diminuir os vínculos entre contribuições e benefícios, gerando instrumentos mais redistributivos e solidários entre contribuintes. Os benefícios passaram a ser vistos a partir da ótica das necessidades, com fundamento nos princípios da justiça social, o que tornou compulsória a extensão da cobertura da população (FALEIROS, 2004). Esse modelo estruturou a organização e o formato da proteção social no Brasil em busca da universalização e da consagração dos direitos sociais. 132 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL Segundo Fleury e Fleury (2004, p. 113), A inclusão da previdência, da saúde e da assistência no âmbito da seguridade social introduziu a noção de direitos sociais universais como parte da condição de cidadania. Antes, esses direitos eram restritos à população benefi ciária da previdência. Dessa maneira, esse novo padrão constitucional de política social diferenciou- se pela universalização da cobertura e sobretudo pelo reconhecimento dos direitos sociais, afi rmação do Estado perante as políticas sociais, submissão das ações privadas à regulação do estatal diante da função de grande importância pública das ações e serviços prestados nessas áreas. O novo modelo de seguridade social estava submisso a dois outros componentes essenciais: a participação da sociedade e a descentralização político-administrativa. Para a cientista política Sonia Draibe (2003), mesmo acontecendo o fortalecimento de algumas áreas das políticas públicas, como a saúde e a assistência social, o modelo do sistema de proteção que se aquiesceu no período posterior teve as mesmas características de momentos anteriores, sendo assim, o mesmo modelo de sistema historicamente constituído desde à década de 30, através de uma base com conceitos categorial e meritocrático. Draibe (2003) afi rma ainda que essa medida foi uma forma retórica dos ideólogos neoliberalista, quando assumiram o poder presencial na metade da década de 90, de disseminar a ideia que o modelo estatal era inefi ciente e necessitava de algumas reformas que colocassem o país na rota do crescimento econômico e diminuiria as desigualdades sociais existentes no Brasil. O assessor da área social, Sérgio Tiezzi, do governo de Fernando Henrique, descreve a medida acima como: O sistema de proteção social consolidado ao longo do tempo acabou se caracterizando por um esforço de gasto relativamente elevado (cerca de 18% do PIB), 133 GESTÃO SOCIAL DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – NOVOS DESAFIOS DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL Capítulo 3 grande centralização administrativa, escasso controle democrático, grandes inefi ciências operacionais e por uma estrutura de benefícios com baixo conteúdo distributivo. (...) Neste sentido, era absolutamente indispensável assegurar as condições de estabilidade macroeconômica, realizar a reforma do Estado (TIEZZI, 2004, pp. 49-50). Porém, a correlação de forças políticas que na época favoreceram a promulgação da Constituição de 1988 era outra. As ideias neoliberais, vindas do grupo conservador que apoiavam a candidatura de Fernando Collor de Mello, ganharam força e espaço no contexto político e econômico, minando dessa forma os avanços sociais que estavam propostos pela Constituição. Um exemplo a ser citado é o da Seguridade Social, pois foi um dos alvos privilegiados dessa ofensiva conservadora. Ao mesmo tempo que no país instituíam-se mecanismos políticos e democráticos de regulação do modelo capitalista, no campo político e econômico, em todo mundo estes mecanismos estavam perdendo sua validade e estavam prestes a serem trocados pela ideologia neoliberal, visando a desregulação, a fl exibilização e a privatização, sendo esses objetos essências para a globalização do capital. O início do ano de 1995 foi marcado por um governo controlado pelo grupo de centro direita e, consequentemente, a reforma do sistema de proteção social passou a ser discutida novamente. Para Draibe (2003), mesmo em outro ambiente intelectual e valorativo e diante das restrições fi scais que estavam junto com o programa de estabilização e as reformas pró-mercado, um novo ciclo de transformaçõeschegou para mudar a fi sionomia do sistema brasileiro. 134 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL A estratégia de desenvolvimento social do Executivo Federal que foi apontado em 1996 visava a mudanças que estavam estruturadas em três eixos centrais: O reforço dos serviços básicos de caráter universal; a ênfase nos programas de trabalho, emprego e renda; o destaque a programas prioritários, voltados para o combate à pobreza, porém concebidos com a mescla entre políticas universais e políticas focalizadas (DRAIBE, 2003; TIEZZI, 2004). Essas defi nições apresentadas pelos autores citados acima foram realizadas por meio da classifi cação das difi culdades sociais que existiam na época. Um aspecto decisivo para a efetivação da estabilização da economia e da Reforma do Estado acabou envolvido como sendo a reforma administrativa, fi scal e da previdência, sem esquecer os serviços básicos universais, sendo eles: educação, saúde, previdência social e assistência social. O foco dessa reestruturação e a reforma de todas essas políticas públicas necessitavam da extinção de desperdícios, do aumento das efi ciências delas, de promover a descentralização e a universalização, sempre que necessário e quando fosse legítima, focando na melhoria da qualidade e na reestruturação dos benefícios e dos serviços para gerar um aumento do impacto redistributivo. Por fi m, os programas de curto prazo, que são considerados as ações e os programas relevantes para afrontar os assuntos mais dramáticos, como a redução da mortalidade infantil (TIEZZI, 2004). Neste sentido, Boito Jr (1999) percebe que as políticas públicas de cunho sociais acabaram sendo permeadas pela falta de recursos, pela descentralização participativa e pela focalização dos serviços públicos. Como também a terceirização dos serviços públicos para o setor privado. Essas ideias foram oriundas e levadas pelas agências internacionais, como o Banco Mundial e o FMI, as quais poderiam fazer das políticas social neoliberal um mecanismo para o fortalecimento e erradicação da pobreza em toda a América Latina, pois as fundamentações são decorrentes do neoliberalismo. Durante o governo de FHC, pontuar as políticas públicas sociais na visão neoliberal era questionar qual amplitude desses setores e a responsabilidade do Estado nas áreas sociais. 135 GESTÃO SOCIAL DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – NOVOS DESAFIOS DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL Capítulo 3 Com o processo de terceirização dos serviços que o governo FHC via como fundamental, o aspecto competitivo no setor social, essas políticas públicas acabaram sendo vistas como mercadoria. O caráter de direito social fi ca confuso neste processo, pois estava disponível somente para quem possuísse condições e recursos econômicos e fi nanceiros para adquiri-los. Com as políticas sociais sendo focalizadas, através do racionamento dos custos e dos gastos, com a redução da responsabilidade do Estado como provedor dos direitos sociais para a população, as políticas neoliberais foram o resultado da negação de uma política social inclusiva, resultando em uma população miserável e dependente cada vez mais das políticas sociais que não atendiam às demandas necessárias. O Brasil como toda a América Latina, durante a década de 90, aderiu aos programas compensatórios, como solução para as vulnerabilidades sociais decorrentes do modelo capitalista e do modo de produção. Neste período esses programas sociais compensatórios eram deliberados através de critérios políticos e partidários, por meio das emendas parlamentares, de transferência de recursos fi nanceiros para o estado e municípios, resultando em ações pontuais. Com a transferência gradual das execuções das políticas públicas federais para os estados e municipais, começaram a aparecer pilares que deram sustentabilidade a essa nova forma descentralizada de governar, com aspectos legais, disposições institucionais e mecanismo e instrumentos de gestão. Como aspectos legais podemos citar as leis complementares que instituem e regulamentam as políticas públicas e as suas descentralizações, sendo algumas delas as seguintes: a Lei nº 8080/90 que institui o Sistema Único de Saúde (SUS), a Lei nº 8.742/93, que foi alterada pela Lei nº 12435/11, ou a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), que instituem o Sistema Único de Assistência Social, e também da Lei nº 9.394/96, Lei de Diretrizes de Base (LDB). Fora a importância dessas leis, é preciso considerar as resoluções dos Conselhos das respectivas áreas, as Portarias e as Normas Operacionais. No que se refere à Assistência Social, a sua consolidação enquanto política pública na Constituição Federal de 1988, a Constituição Cidadã, assim conhecida, foi o resultado da organização e da luta dos movimentos sociais e das categorias dos profi ssionais organizados. 136 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL O artigo 203 da Constituição Cidadão refere-se à Assistência Social: ART. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: I - A proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice. II - O amparo às crianças e aos adolescentes carentes. III - A promoção da integração ao mercado de trabalho. IV - A habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de defi ciência e a promoção de sua integração à vida comunitária. V - A garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de defi ciência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a sua própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei. Art. 204. As ações governamentais na área da assistência social serão realizadas com recursos do orçamento da seguridade social, previstos no art. 195, além de outras fontes, e organizadas com base nas seguintes diretrizes: I - Descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação e a execução dos respectivos programas às esferas estadual e municipal, bem como a entidades benefi centes e de assistência social. II - Participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis. 137 GESTÃO SOCIAL DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – NOVOS DESAFIOS DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL Capítulo 3 Na LOAS está evidenciado nos seus artigos a fundamentação de organização das ações socioassistenciais em um Sistema Único de Assistência Social (SUAS), sendo este cofi nanciado e executado por todos os entes federados. Esse processo deu início a uma intensa regulamentação dos instrumentos e até mesmos dos conceitos de gestão da Assistência Social de forma universal. 1 As ideias neoliberais estão fundamentadas em um modelo de desenvolvimento socioeconômico baseado no fortalecimento do mercado e no que ele gera, ou seja, a lei de oferta e procura. Há necessidade de um mercado livre e forte, não sendo necessária a intervenção do Estado para o crescimento econômico. Perante este fundamento, descreva como que esse modelo interferiu na efetivação das políticas sociais. 2 No início dos anos 80, por meio das instituições fi nanceiras mundiais, todos os prazos de pagamento das dívidas externas foram obtidos diante da crise fi scal e econômica, sendo essas dilatadas. Todos os países, especialmente os da América Latina, passaram por um processo de adaptação do novo modelo econômico que estava sendo implementado mundialmente. Analise as questões a seguir e assinale a alternativa correta, que corresponde ao nome desse novo modelo econômico. a) ( ) Social democrático. b) ( ) Neoliberalismo. c) ( ) Liberalismo. d) ( ) Militarismo. 138 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL 3 O SERVIÇO SOCIAL COMO MECANISMO DE GESTÃO NOS PROCESSOS E METODOLOGIAS DE GERENCIAMENTO DAS POLÍTICASDE ASSISTÊNCIA SOCIAL NÍVEIS DE GESTÃO E PROTEÇÃO SOCIAL NO SUAS O Serviço Social, na sua trajetória histórica como profi ssão, dedica-se à implementação das políticas públicas sociais em todas as esferas governamentais, resultando assim em uma relação entre o Estado e suas demandas sociais. Desde o surgimento da profi ssão, o Serviço Social se fez presente na maioria das áreas em que possuía intervenção do Estado, sendo mediador e executor das políticas sociais, que são desenvolvidas e implementadas visando o enfrentamento e o controle das desigualdades sociais no Brasil. O assistente social, como profi ssional, em âmbito governamental, sempre interviu nas demandas sociais em diferentes áreas do poder público, como nas políticas sociais de saúde, de assistência social, educação, habitação e outras. O Estado brasileiro, no que se refere ao enfrentamento das desigualdades sociais sempre legitimou às instituições, as políticas sociais e profi ssionais, dentre eles os assistentes sociais, sendo reconhecido como profi ssional que está apto para intervir nas demandas sociais e na atuação da gestão de tais políticas públicas citadas anteriormente, isso ocorre em todos os níveis governamentais. Neste sentido, o Estado é o maior empregador de profi ssionais do Serviço Social, constituindo-se um espaço privilegiado de contratação de assistentes sociais. De acordo com Iamamoto (1999, p. 119): O setor público tem sido o maior empregador de assistentes sociais, sendo a administração direta a que mais emprega, especialmente na esfera estadual, seguida da municipal. Constata-se uma clara tendência à municipalização da demanda, o que coloca a necessidade de maior atenção à questão regional e ao poder local. 139 GESTÃO SOCIAL DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – NOVOS DESAFIOS DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL Capítulo 3 As demandas se interiorizam nos municípios, pois esses são os implementadores das políticas públicas sociais e, como isso, os governos municipais contratam mais assistentes sociais para realizar a implementação da gestão dos programas e projetos sociais relacionados a essas políticas. Conforme a Constituição Federal de 88, a descentralização política- administrativa das políticas públicos, para âmbito municipal, defi ne uma nova dimensão de ações profi ssionais para o assistente social. Com o aumento considerado dos espaços sócio-ocupacionais, decorrentes da responsabilização que os municípios têm no que diz respeito aos provimentos dos serviços prestados aos usuários de tais políticas sociais, os assistentes sociais acabam desenvolvendo uma função fundamental na implantação, no desenvolvimento, na operacionalização e na gestão das políticas públicas sociais. A atuação do assistente social mediante a gestão das políticas públicas sociais vem se destacando cada vez mais na implantação das políticas públicas sociais. Porém, a complexidade das demandas estatal requer um profi ssional de serviço social, que tenha uma atuação a mais do que só a execução dos programas e projetos alocados nos serviços públicos, que atuem juntamente na formulação, no planejamento, na avaliação e, em especial, na gestão dos programas, dos projetos e dos serviços sociais ofertados para a população usuária. Para o autor Lewgoy (2010, p. 198), o momento atual necessita de um profi ssional que: [...] saiba planejar, avaliar, implantar e executar os serviços incutidos nas políticas sociais. Que também se evidencie na esfera dos planos, programas e projetos sociais e na prestação de serviços no âmbito de benefícios e serviços sociais, nas habilidades de elaborar, implementar, organizar, administrar, pesquisar, encaminhar, coordenar e assessorar. O desenvolvimento de competências técnicas e habilidades gerenciais voltadas à realização do trabalho profi ssional na esfera da gestão pública das políticas sociais contribuem para a substituição do agente subalterno e executivo por um profi ssional competente e qualifi cado para as novas funções requisitadas ao assistente social. 140 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL Neste sentido, as novas competências técnicas e habilidades gerencias focadas na efetivação da atuação profi ssional no contexto da gestão das políticas sociais cooperam para a requisição de um profi ssional qualifi cado e competente, para atender a essas novas ações e funções que são solicitadas ao serviço social. Essas novas modifi cações nas funções do assistente social são consequência das novas formas de agir que requerem dos profi ssionais do serviço social novas confi gurações de concretizar sua atuação profi ssional. Ponderando a afi nidade constituída mediante as transformações contextuais analisadas no modelo de organização dos mecanismos de produção e de reprodução da vida social e material e nas áreas que acontecem a inserção da atuação do assistente social, vai requerer e exigir um profi ssional que esteja articulado com as formas de organização e gestão do trabalho que estão surgindo para a profi ssão. Diante das transformações analisadas anteriormente e com o crescimento efetivo dos espaços sócio-ocupacionais que estão surgindo dentro do Estado, que necessita da atuação profi ssional do assistente social no que se refere à gestão das políticas sociais, os profi ssionais enfrentam desafi os que estão sendo propostos para a Reforma do Estado. Com todas essas transformações que vem acontecendo na sociedade brasileira e na máquina e/ou aparelho estatal, requer-se que o profi ssional não seja apenas executor fi nal das políticas públicas sociais e sim: É necessário ser um profi ssional qualifi cado na execução, gestão e formulação de políticas sociais públicas, com uma postura crítica e, ao mesmo tempo, criativa e propositiva, ou seja, um profi ssional que possa responder com ações qualifi cadas que detectem tendências e possibilidades impulsionadoras de novas ações, projetos e funções, rompendo com atividades rotineiras e burocráticas (SARMENTO, 1999, p. 100). Com isso, para a efetivação do trabalho do assistente social no quesito da gestão pública, é fundamental que o profi ssional tenha como base de ação um planejamento organizado com as diretrizes das políticas sociais e esteja fundamentado com um conhecimento teórico-prático, que seja amplo e crítico sobre a gestão do seu trabalho como profi ssional nas políticas sociais. Dessa forma contribui para direcionar a atuação profi ssional, muito além das ações de execução fi nal das políticas públicas sociais. Os assistentes sociais, que atuam nas políticas sociais, deverão transcorrer a inquietação dessas novas confi gurações de trabalho e das probabilidades que a gestão oferece, superando as práticas conservadoras e minimalistas que até então eram instrumentos de ação profi ssional. 141 GESTÃO SOCIAL DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – NOVOS DESAFIOS DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL Capítulo 3 Segundo Sarmento (1999, p. 100), as novas confi gurações de gestão que são verifi cadas no campo das políticas sociais: Vem exigindo um nível de conhecimento técnico bem mais amplo, tanto para a compreensão crítica das condições políticas em que estas exigências são colocadas, principalmente no que se refere ao desmonte das políticas sociais por parte do Estado – como da fragilização dos direitos sociais. Este processo de assimilação de novos conhecimentos sobre os contextos de gestão requer conhecimento e capacidade técnica do profi ssional de serviço social para realizar as atividades gerenciais que foram propostas no seu campo de trabalho, devendo sempre considerar a conjuntura real que cerca a realização das suas ações diárias como assistente social. Os (as) assistentes sociais trabalham com as mais diversas expressões da questão social, esclarecendo à população seus direitos sociais e os meios de ter acesso a eles. O signifi cado desse trabalho muda radicalmente ao voltar-se aosdireitos e deveres referentes às operações de compra e da venda. Se os direitos sociais são frutos de lutas sociais e de negociações com o bloco do poder para o seu reconhecimento legal, a compra e venda de serviços no atendimento a necessidades sociais de educação, saúde, renda, habitação, assistência social, entre outras pertencem a outro domínio – o do mercado, mediação necessária à realização do valor e, eventualmente, da mais valia decorrentes da industrialização dos serviços. Historicamente, os assistentes sociais dedicaram-se à implementação de políticas públicas, localizando-se na linha de frente das relações entre população e instituição ou, nos termos de Netto (1993), sendo “executores das políticas sociais”. Embora esse seja ainda o perfi l predominante, não é mais o exclusivo, sendo abertas outras possibilidades. O processo de descentralização das políticas sociais públicas, com ênfase na sua municipalização, requer dos assistentes sociais – como de outros profi ssionais – novas funções e competências. Os assistentes sociais estão sendo chamados a atuar na esfera da 142 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL formulação e avaliação de políticas e do planejamento, gestão e monitoramento, inscritos em equipes multiprofi ssionais. Eles ampliam seu espaço ocupacional para atividades relacionadas ao controle social, à implantação e orientação de conselhos de políticas públicas, à capacitação de conselheiros, à elaboração de planos e projetos sociais, ao acompanhamento e avaliação de políticas, programas e projetos. Tais inserções são acompanhadas de novas exigências de qualifi cação, tais como: o domínio de conhecimentos para realizar diagnósticos socioeconômicos de municípios, para a leitura e análise dos orçamentos públicos, identifi cando seus alvos e compromissos, assim como os recursos disponíveis para projetar ações; o domínio do processo de planejamento; a competência no gerenciamento e avaliação de programas e projetos sociais; a capacidade de negociação, o conhecimento e o know-how na área de recursos humanos e relações no trabalho, entre outros. Somam- se possibilidades de trabalho nos níveis de assessoria e consultoria para profi ssionais mais experientes e altamente qualifi cados em determinadas áreas de especialização. Registram-se, ainda, requisições no campo da pesquisa, de estudos e planejamento, entre inúmeras outras funções. FONTE: IAMAMOTO, Marilda. O serviço social na cena contemporânea. CFESS, ABEPSS. Serviço Social: direitos sociais e competências profi ssionais. CEAD/UnB. Brasília. 2009. Os assistentes sociais que estão inseridos na gerência das políticas sociais, em especial da Política de Assistência Social, precisam realizar suas ações profi ssionais nos princípios, diretrizes e ética que norteiam a profi ssão. A temática gestão das políticas sociais e todo o seu aporte teórico-metodológico é inserido dentro de recomendações e normas técnicas, pois vêm de uma área de administração pública. 143 GESTÃO SOCIAL DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – NOVOS DESAFIOS DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL Capítulo 3 Para Paiva (1999, p. 90): A conceituação de noções como efi ciência, efi cácia e efetividade; o detalhamento das diferentes funções gerenciais, planejamento, organização, direção e controle; a caracterização dos diferentes níveis organizacionais – estratégicos, tático, operacional – encontram na bibliografi a pertinente uma série de orientações, análise e exercícios que podem ser úteis e facilitadores da organização do projeto de intervenção do assistente social, que desempenha a função de gestor na área social, dependendo do uso que se faça deles. Neste contexto, é necessário entender que a administração se concretiza como uma técnica essencial a qualquer ação que abranja recursos e que tenha um objetivo para se chegar. Pode-se concluir que a gestão é todo processo que tem como objetivo a efi ciência e a efi cácia das ações realizadas. A administração e/ou a gestão incide em uma ação que não pode ser realizada separadamente de qualquer atividade que envolva pessoas, recursos e que tenha um objetivo fi m. Na área administrativa esse processo é compreendido em cinco funções essências para que uma entidade ou organização consiga chegar em seus objetivos fi ns, sendo eles: planejamento, organização, direção e controle. O planejamento tem função em seu conceito de determinar e constituir ações e situações futuras e almejadas, considerando os recursos necessários para realizar a ação proposta, com detalhamento defi nido, através de responsabilidades para a efetivação e distribuição dos recursos disponíveis. A função de direção se compreende o processo como forma de mobilizar e acionar os recursos tanto material como humano para efetivação dos objetivos meios. Já a função do controle tem como foco a garantia da realização dos objetivos, podendo identifi car se existe a necessidade de mudanças no decorrer das ações. O controle, normalmente, surge das avaliações contínuas que infl uenciam no desenvolvimento do trabalho dos profi ssionais e de outras pessoas envolvidas no processo, visando a uma melhor qualidade nos resultados desejados. 144 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL A administração é considerada como uma ciência organizada através de várias teorias, que são fundamentadas em conceitos que versam diretamente as pessoas em sua totalidade. Essas teorias que são o alicerce teórico e fundamentam a administração evidenciam que as funções de gestão poderão ser realizadas por qualquer pessoa capacitada e responsável por alguma ação organizada no seio organizacional. O assistente social nessa diretriz se torna um agente que interfere absolutamente em todas as relações e contextos sociais. O profi ssional tem uma certa autonomia para planejar e formular as suas ações de trabalho. O profi ssional de serviço social necessita de competências e habilidades para elaborar modalidades de intervenção profi ssional no seu cotidiano e, com isso, precisa estar apto para adquirir novos conhecimentos voltados para as competências e habilidades na área de gestão, pois se torna um instrumento de atuação e de domínio do assistente social. Os instrumentos usados na gestão das políticas sociais podem se tornar instrumentos de competência e de habilidade para o a Política de Assistência Social, analisando que estes podem ajudar na elaboração das ações de trabalho e na efetivação dessa política. Ressaltando que o assistente social deverá estar aberto para congregar os princípios da gestão no cotidiano de seu campo de trabalho. Esse processo de apropriação da gestão das políticas sociais requer a necessidade de aperfeiçoamento dos conhecimentos dos conceitos e princípios que dão fundamentação para essa ação profi ssional. Se faz necessário ter uma determinada competência de forma crítica para distinguir as exigências burocráticas exclusivas dessas funções de gerenciamento das ações das políticas. O trabalho do assistente social é constituído por particularidades que requerem uma atitude crítica e comprometida com a garantia dos direitos sociais e não somente com a execução burocrática dos programas e projetos na área pública. Os assistentes sociais precisam desenvolver funções gerenciais que deverão estar alinhadas com os princípios e valores descritos no Projeto Ético Político profi ssional, fundamentado sempre em prerrogativas legais que regulam a profi ssão de assistente social, buscando retirar das suas abordagens cotidianas ações funcionalistas ou então apenas executivas. 145 GESTÃO SOCIAL DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – NOVOS DESAFIOS DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL Capítulo 3 1 A metodologia utilizada para a formulação e implementação das políticas sociais é considerada um campo privilegiado de atuação do assistente social, além de ter suas práticas profi ssionais fundamentadas em conceitose princípios teóricos e práticos da gestão de tais políticas, contribuindo dessa forma desde o início da formulação e implementação dos serviços públicos que atendem às demandas do serviço social. Perante essa afi rmação, descreva algumas das ações de gestão que você conhece na sua atuação profi ssional. 3 O PROCESSO DE AVALIAÇÃO DAS POLÍTICAS, PROGRAMAS E PROJETOS SOCIAIS PERANTE A ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL DE SERVIÇO SOCIAL O Serviço Social no Brasil tem suas atribuições e competências em diversos espaços sócios-ocupacionais orientadas pelos princípios, direitos e deveres que estão inseridos nos documentos: Código de Ética Profi ssional de 1993, Lei de Regulamentação da Profi ssão (Lei nº 8.662, de 7 de junho 1993) e nas Diretrizes Curriculares da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS, 1996). Os documentos citados anteriormente se tornam instrumentos essenciais e legais na inserção do profi ssional de serviço social nos espaços de gestão, planejamento, execução e avaliação de políticas e programas sociais, considerando sempre as diretrizes do projeto ético-político da profi ssão. Neste sentido vale destacar a atuação do assistente social na área de gestão e avaliação das políticas sociais em algumas políticas públicas sociais como nas áreas de Assistência Social, Educação e Saúde. Na Política de Assistência Social, a atuação do Serviço Social requer atribuições nas atividades de gestão, planejamento, avaliação e execução 146 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL diretamente dos programas, projetos e serviços aos usuários dessa política, dessa forma potencializa o atendimento aos diretos de cada cidadão. Os assistentes sociais contribuem na Política de Saúde através do planejamento, gestão, avaliação e execução de programas e projetos desta área visando à inserção da população usuária e dos trabalhadores que atuam nesta política, no que diz respeito às deliberações e participação social na gestão. Já na Política de Educação, o profi ssional de Serviço Social atua diretamente com os estudantes e famílias, além dos órgãos de deliberação, como os conselhos deliberativos. Os assistentes sociais nesta política, de forma coletiva, intervêm juntamente com os movimentos sociais em prol de uma educação pública e de qualidade. Os profi ssionais de Serviço Social visam neste sentido a inserção da profi ssão nos espaços democráticos e que buscam o controle social da Política de Educação. As atribuições do assistente social no processo de gestão e avaliação das políticas sociais, em especial nas três áreas citadas anteriormente, são exemplos de gestão social. Segundo Carvalho (2014, p. 33), Ancora-se em princípios constitucionais que dão forma e conteúdo às políticas, aos programas e aos serviços públicos, reconhecendo o Estado como autoridade reguladora das ações públicas. Nesta perspectiva, a gestão social tem signifi cado abrangente, não se reduzindo apenas à gerência técnico- administrativa de serviços e programas sociais. Refere-se fundamentalmente à governança das políticas e programas sociais públicos; à qualidade de bem-estar ofertada à nação e à cultura política impregnada ao fazer social. As ponderações em relação à atuação profi ssional do assistente social no processo de gestão e avaliação das políticas públicas sociais têm como objetivo entender e apreender qual o cotidiano da ação profi ssional no cumprimento das ações para o desenvolvimento, implementação e efetuação de tais políticas, através do contexto de um Estado democrático e de direito e que está respaldado por meio de uma Constituição que distingue a primazia do Estado na direção das políticas públicas e com a participação da sociedade civil. Será enfatizado neste tópico a atuação do assistente social na Política de Assistência, sendo este o maior campo de atuação profi ssional. A Assistência Social, quando foi reconhecida através do estatuto de políticas públicas e quando começou a integrar o tripé que compõe a seguridade social 147 GESTÃO SOCIAL DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – NOVOS DESAFIOS DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL Capítulo 3 que está inserida na Constituição Federal, possibilitou a abertura de várias frentes de atuação do Serviço Social, juntamente com a Lei de Regulamentação da Profi ssão no país. O Conselho Federal de Assistência Social (CFESS), explanando sobre o dispositivo legal que regula a profi ssão no Brasil, determinou e sistematizou alguns Parâmetros para a atuação do profi ssional de Serviço Social na Política de Assistência Social, lançou a Série Trabalho e Projeto Profi ssional para o trabalho dos assistentes sociais. Esta publicação contém refl exões em relação à prática profi ssional do Serviço Social em diferentes espaços sócio-ocupacionais. Esses parâmetros têm como referência: [...] as normas reguladoras do Serviço Social, sobretudo os valores e princípios do Código de Ética Profi ssional, as atribuições e competências asseguradas na lei de regulamentação da profi ssão (Lei nº 8662/1993), na Resolução CFESS 493/06 e nas Diretrizes Curriculares do Serviço Social elaborada pela Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social ABEPSS (CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 2010, p. 1-2). Nas ações cotidianas do assistente social diante da Política de Assistência Social, as atribuições dele são conduzidas pelas Normas Operacionais Básicas procedidas do Sistema Único de Assistência Social, que tem como foco regular e orientar as diretrizes que concordam com o desenvolvimento operacional desta política. As atribuições dos assistentes sociais são ações de formulação, gestão, implementação, execução, monitoramento e avaliação dessa política social, que é materializada através de uma luta histórica da profi ssão para o reconhecimento da assistência social como política pública que tem como objetivo assegurar os direitos conquistados dos cidadãos e em resposta a contrariar a lógica da caridade e da benemerência que assinalou em épocas passadas o trabalho do assistente social. Sendo assim: [...] a concepção da assistência social como direito impõe aos trabalhadores da política que estes superem a atuação na vertente de viabilizadores de programas para a de viabilizadores de direitos. Isso muda substancialmente o processo de trabalho. [...] Exige dos trabalhadores da área o conhecimento profundo da legislação implantada a partir da Constituição de 1988 (BRASIL, 2004, p. 47). Na área da assistência social a conquista do estatuto de política pública em 15 de outubro de 2004, por meio da Resolução nº 145 do Conselho Nacional de Assistência Social Social (CNAS), reforça os termos de responsabilidade 148 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL do Estado com os setores sociais em condições de vulnerabilidade, visando à garantia de direitos e o reconhecimento da condição do cidadão diante de sua cidadania. Em consonância com LOAS, no seu capítulo II, seção I, artigo 4º, a Política Nacional de Assistência Social (PNAS) é conduzida pelos seguintes princípios básicos: 1. Supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências de rentabilidade econômica. 2. Universalização dos direitos sociais, tornar o destinatário da ação assistencial alcançável pelas demais políticas públicas. 3. Respeito à dignidade do cidadão, a sua autonomia e ao seu direito a benefícios e serviços de qualidade, bem como à convivência familiar e comunitária, vedando-se qualquer comprovação vexatória de necessidade. 4. Igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem discriminação de qualquer natureza, garantindo-se equivalência às populações urbanas e rurais. 5. Divulgação ampla dos benefícios, serviços, programas e projetos assistenciais, bem como dos recursos oferecidos pelo poder público e dos critérios para a sua concessão (BRASIL, 2004, p.26). Fundamentadas nestes princípios as competências consideradas específicas dos assistentes sociais no quesito da Política de Assistência Social, perante os parâmetros que foram estabelecidos para atuação do profi ssional em Serviço Social, esta área atinge diferentes dimensões que se tornam interativas, complementares e indissociáveis da prática diária: 149 GESTÃO SOCIAL DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – NOVOS DESAFIOS DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL Capítulo 3 [...] uma dimensão que engloba as abordagens individuais, familiares ou grupais na perspectiva de atendimento às necessidades básicas e acesso a direitos [...] uma dimensão de intervenção coletiva junto a movimentos sociais, na perspectiva da socialização da informação, mobilização e organização popular [...] uma dimensão voltada para inserção nos espaços democráticos de controle social e construção de estratégias para fomentar a participação [...] uma dimensão de gerenciamento, planejamento e execução direta de bens e serviços [...] uma dimensão que se materializa na realização sistemática de estudos e pesquisas sobre as reais condições de vida e demandas da classe trabalhadora, e possam alimentar o processo de formulação, implementação e monitoramento da política de assistência social [...] uma dimensão pedagógica- interpretativa e socializadora de informações e saberes no campo dos direitos, da legislação social e das políticas públicas (CONSELHO FEDERALDE SERVIÇO SOCIAL, 2010, p. 18-19). Sendo assim, pode-se perceber que essas dimensões expressam a ampliação do campo de intervenção do assistente social na área da Política de Assistência Social, porém reforça o compromisso político e ético do profi ssional com as demandas pertencentes a esta referida política, como exemplo podemos citar: crianças e adolescentes, mulheres vítimas de violência doméstica, idosos e outros. As ações dos assistentes sociais que dizem respeito à gestão e avaliação da Política de Assistência Social acabam compreendendo um conjunto de acúmulo de saberes e de experiências que são, de alguma forma, articulados com o desempenho dessa política. As ações realizadas conforme a correlação de forças e de condições sociais, políticas, econômicas e culturais são relacionadas à agenda pública governamental. A ação dos profi ssionais do Serviço Social na área da gestão da Política de Assistência Social é uma parte que integra uma equipe multidisciplinar formada por outras áreas de atuação profi ssional, como advogados, psicólogos e educadores sociais; e que focam na materialização intersetorial do profi ssional. Essa intersetorialidade é entendida como um empenho para realizar parcerias com instituições que são essenciais para garantir o sucesso das ações planejadas na Política de Assistência Social, evitando assim o assistencialismo diante das demandas sociais. 150 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL Isolada do conjunto das políticas públicas e nem se pode reforçar a perspectiva de que o enfrentamento das desigualdades estruturais pode se dar pela via da resolução de problemas individualizados e que desconsiderem as determinações objetivas mais gerais da sociabilidade. Os desafi os que se colocam demandam dos/as profi ssionais, e dos/as assistentes sociais especialmente, uma articulação na defesa do SUAS e de todas as políticas sociais, a partir de uma leitura crítica da realidade e das demandas sociais (CONSELHOFEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 2010, p. 27). A atuação dos assistentes sociais na Política de Assistência Social requer ações na área da Proteção Social Básica e Especial. Na proteção básica as ações realizadas têm como foco a prevenção de riscos sociais e isso acontece através dos procedimentos que desenvolvem a potencialidade e o fortalecimento dos vínculos familiares. Os assistentes sociais que atuam na Proteção Básica estão centralizados nos Centros de Referências em Assistência Social (CRAS) e tem como fundamento das ações a matricialidade familiar. A Proteção Social Especial é o atendimento assistencial que se oferece às famílias e aos indivíduos que estão e se encontram com seus direitos violados através da situação de risco, podendo ser pessoal ou social. Vários exemplos podem ser citados, como abandono, trabalho infantil, maus tratos físicos e psíquicos, abuso sexual. O assistente social faz parte de uma equipe interdisciplinar que visa o acompanhamento individual e social das famílias e dos indivíduos em situação de violação dos direitos. Os profi ssionais que atuam na Proteção Social Especial desenvolvem seu trabalho nos Centros de Referências Especializados de Assistência Social (CREAS). A Proteção Social Especial requer uma maior articulação profi ssional com todo o sistema de garantia de direitos, o que requer uma gestão dos programas e projetos mais ampla e compartilhada com outras instituições, como Poder Judiciário, Ministério Público e outros. As atribuições e as competências dos assistentes sociais que atuam na Proteção Social Básica ou na Proteção Social Especial requerem, na sua inserção profi ssional nas atividades de gestão, planejamento e avaliação, sendo ações 151 GESTÃO SOCIAL DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – NOVOS DESAFIOS DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL Capítulo 3 fundamentais para analisar o desempenho da política em sua implementação e articulação com as demandas apresentadas. Sendo assim, as contribuições das análises e estudos de avaliação, que visam ao aperfeiçoamento da gestão das políticas públicas, fazem com que o Estado redirecione e aperfeiçoe as políticas sociais de sua responsabilidade. Na Política de Assistência Social este ato representará um resgaste da dívida social com os cidadãos excluídos socialmente ao longo da história. 1 O Serviço Social no Brasil apresenta um vasto campo de atuação profi ssional, em destaque nas políticas públicas sociais. O Serviço Social é a profi ssão que faz a mediação entre os interesses do Estado e da população. Nesse sentido contextualize a afi rmação anterior relacionada com sua prática profi ssional. 2 De acordo com Armando Boito Jr (1999, p. 77) “a pobreza não é um dado natural com o qual se deparam os governos neoliberais; ela é produzida pela própria política econômica neoliberal, que reduz o emprego e os salários e reconcentra a renda”. Os países da América Latina foram considerados a terceira civilização das experiências neoliberais e, para adaptar a ideologia na América Latina, muitos ideólogos defendem que foram utilizadas algumas ideologias para contextualizar esse fato. Com base nessas informações, analise as questões a seguir e assinale quais ideologias foram utilizadas nesse contexto. a) ( ) Nacionalista e desenvolvimentista. b) ( ) Positivista e nacionalistas. c) ( ) Estruturalista e desenvolvimentistas. d) ( ) Positivistas e desenvolvimentistas. 4 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Como pudemos perceber, a atuação profi ssional dos assistentes sociais no Brasil se dá de forma relevante em torno das políticas públicas. O profi ssional tem em sua essência de atuação desenvolver a mediação entre as políticas sociais implementadas pelo Estado e os interesses dos usuários destas políticas, enquanto demanda que necessita de programas, projetos e investimentos. 152 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL A consolidação desse processo de mediação profi ssional acontece no seio de uma sociedade desigual, na qual o Estado assume as políticas públicas de forma compensatória perante a dívida social que cada vez mais se acumula diante do modelo capitalista no qual estamos inseridos. Nessa conjuntura, ao avaliar os espaços sócio-ocupacionais que foram ocupados pelos assistentes sociais nas instituições públicas, é destacado um novo campo de atuação profi ssional, a gestão e avaliação das políticas públicas sociais. Em cumprimento a essas atribuições específi cas, gestão e avaliação não podem acontecer de forma separada das demais ações relacionadas com o planejamentoe execução das políticas públicas, como artifício total que permeiam os interesses contraditórios que vão além do campo institucional e acaba refl etindo na realidade social dos cidadãos. Os parâmetros e subsídios que orientam a atuação do assistente social têm como objetivo estratégico a análise crítica da realidade, fomentando nesse sentido a adoção de políticas sociais que efetivem os direitos dos cidadãos e que conduzam a uma melhor qualidade de vida, principalmente, para a maioria da camada da sociedade, os excluídos. Os assistentes sociais, além de intervirem na realidade que lhe capacitam, precisam atuar no processo de formulação das políticas socais, nesse sentido, os profi ssionais passam a acumular competência teórica, política e técnica, que dão habilidades para exercer a profi ssão na área da gestão, execução e avaliação direta das políticas públicas, focando em uma perspectiva de garantia ao acesso dos direitos sociais para todos cidadãos brasileiros como sujeitos políticos e sociais. Nos espaços sócio-ocupacionais, que são compostos por equipes interdisciplinares, os assistentes sociais acabam fundamentando suas práticas através de direitos e deveres, atribuições e competências contidas no Código de Ética Profi ssional, na Lei de Regulamentação da Profi ssão e na formação técnica profi ssional fundamentada em diretrizes curriculares estabelecidas pela ABEPSS. Diante disso, os assistentes sociais acabam atuando tanto no campo do planejamento e gestão, como na execução direta e avaliação das políticas sociais, através de um posicionamento crítico e com compromisso político e ético com as demandas de sua intervenção profi ssional diária. A ação profi ssional do assistente social se materializa com o entrosamento político dos profi ssionais e de toda sua competência teórica e técnica 153 GESTÃO SOCIAL DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – NOVOS DESAFIOS DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL Capítulo 3 fundamentada em uma formação profi ssional solidifi cada e que direciona a atuação profi ssional no país. Considerando todas as políticas públicas sociais que demandam de atuação de um profi ssional do Serviço Social, este visa dimensionar a sua atuação profi ssional na perspectiva da defesa dos direitos sociais e do reconhecimento da cidadania para todos em conformidade com a Constituição Federal e com o Projeto Ético Profi ssional, sendo este um dos desafi os dos profi ssionais. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social. Política Nacional de Assistência Social. Brasília, DF, 2004. BRASIL. Presidência da República. Plano Diretor da reforma do aparelho do Estado. Brasília, 1995. BRASIL. Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS. Lei nº 8042/1993. Brasília: PR, 1993. BRESSER PEREIRA, L. C. A reforma do estado nos anos 90: lógica e mecanismos de controle. Lua Nova, n. 45, pp. 45-95, 1998. BRUM, A. J. Desenvolvimento econômico brasileiro. Petrópolis: Vozes, 2002. BOITO JR, A. Política neoliberal e sindicalismo no Brasil. São Paulo: Xamã, 1999. CARVALHO, M. do C. B. de. 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