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SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL UNIASSELVI-PÓS Autoria: Ms Silvana Braz Wegrzynovski Indaial - 2021 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Copyright © UNIASSELVI 2021 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. W412s Wegrzynovski, Silvana Braz Sistema único de assistência social. / Silvana Braz Wegrzy- novski. – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 154 p.; il. ISBN 978-65-5646-185-4 ISBN Digital 978-65-5646-186-1 1. Assistência social. – Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 361.981 Impresso por: Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jóice Gadotti Consatti Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Jairo Martins Marcio Kisner Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃO .......................7 CAPÍTULO 2 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL .......53 CAPÍTULO 3 GESTÃO SOCIAL DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – NOVOS DESAFIOS DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL ........................................................................................ 116 APRESENTAÇÃO A disciplina que iniciamos agora, Sistema Único de Assistência Social (SUAS), tem como objetivos principais: conhecer por meio do exercício teórico – prático as realidades históricas, organizacionais e teóricas da política de assistência social; entender também as prioridades dos gestores que acabam impactando na realidade social da população brasileira; compreender o SUAS como um instrumento na garantia dos direitos sociais e redução das desigualdades. No primeiro capítulo abordaremos a assistência social e as políticas sociais brasileiras, através de uma contextualização histórica dessa política pública no Brasil, desde o legado elitista e autoritário na representação total das políticas sociais, das reformas neoliberais, que envolvem contrassensos e retrocessos e a função do Estado Brasileiro diante das novas políticas sociais. No segundo capítulo, estudaremos o SUAS, por meio dos conceitos teóricos do SUAS e de seus eixos estruturantes, abrangendo quais são os níveis e tipos de gestão, do reordenamento (tipificação) dos serviços, programas e projetos socioassistencias dos instrumentos de Gestão do SUAS: Plano de Assistência Social e Plano de Ação e as Políticas de Recursos Humanos (NOB/RH), e os atuais desafios do SUAS . No terceiro e último capítulo, versaremos sobre a importância do Serviço Social na gestão social das políticas sociais através das políticas sociais e da fundamentação teórica metodológica e como avaliar os processos profissionais perante a Reforma do Estado. Então chegou a hora de iniciarmos nossos estudos, vamos lá .... Prof.ª MS. Silvana Braz Wegrzynovski CAPÍTULO 1 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃO A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: • Reconhecer as políticas sociais no Brasil como uma bandeira de luta; • Distinguir os diferentes interesses de implementação das políticas sociais; • Entender a função do Estado Brasileiro diante das novas políticas sociais. 8 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL 9 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃODE CONTRUÇÃO Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Neste primeiro capítulo deste Livro Didático temos como objetivo avaliar quais são os principais processos econômicos, sociais e políticos que são determinados às polícias públicas sociais no Brasil, em especial à Política de Assistência Social. No desenvolver dos tópicos deste capítulo, visamos apresentar e materializar os conhecimentos sobre as confi gurações específi cas em cada esfera sociopolítica das ações estratégicas que são realizadas no que se refere à proteção social das pessoas em situação de vulnerabilidade, através das percepções históricas e críticas da formação econômica e social do país, dando ênfase nas demandas culturais e políticas. A contribuição teórica – metodológica enfatiza um enfoque na problematização dos conceitos propostos ao estudo, uma vez que estão voltados para uma compreensão histórica das políticas públicas sociais no Brasil, com foco nas que estão ligadas em um contexto socioassistencial, que exige a atuação de um profi ssional que atue nas áreas sociais. Este resgate histórico tem sua concretude para focar em um conhecimento sobre a formação econômica e política brasileira, visando um melhor pensar e avaliar como aconteceu o descobrimento do Brasil e em sua dinâmica histórica. Segundo Motta (1994, p. 19), “[...] tentando não cair na velha tradição historicista de “contar a história tal qual ela se passou”. Perante à refl exão teórica- histórica que esta unidade de ensino se apresentará, buscando o resgate de contradições e de perspectivas da política de assistência social, como política pública no Brasil. Caro acadêmico, então, buscando o resgate histórico da assistência social, vamos aos estudos! 2 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃO Avaliando o percurso histórico da política de assistência social no Brasil, constatamos que a sua recorrência é típica e que não se manteve mudança na sua formulação político-assistencial até o fi nal dos anos 1990 e início dos anos 2000. 10 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL A assistência social era vista na sua prática como política para aperfeiçoar e complementar diferentes áreas que a atuação do Estado não conseguia suprir, nesse sentido corria o risco de se reproduzir no seu original projeto, ou seja, a suplementação das demais políticas sociais, como a educação, saúde, habitação. Diante disso os tópicos deste capítulo irão ressaltar toda a trajetória desta política pública. 2.1 O PROCESSO HISTÓRICOS DAS POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL O alcance histórico das políticas sociais no Brasil, destacando a política de Assistência Social, suscita algumas provações que se destacam diante das dimensões das análises e refl exões que envolvem o Serviço Social como profi ssão. De acordo com Iamamoto (1998, p. 20): Para garantir uma sintonia do Serviço Social com os tempos atuais, é necessário romper com uma visão endógena, focalista, uma visão’ de dentro’ do Serviço Social, prisioneira em seus muros internos. Alargar os horizontes, olhar para mais longe, para o movimento das classes sociais e do Estado, em suas relações com a sociedade; não para perder ou diluir as particularidades profi ssionais, mas ao contrário, para iluminá- las com maior nitidez. Segundo Teixeira (1987, p. 48), esta compreensão está explícita através do contexto teórico – metodológico, pois: A emergência e desenvolvimento de uma política social é, por um lado, a expressão contraditória da relação apontada [capital e trabalho], sendo, ao mesmo tempo, fator determinante no curso posterior desta mesma relação entre as forças sociais fundamentais. Assim sendo, para o campo das políticas sociais confl uem interesses de natureza contraditória, advindos da presença de cada um destes atores na cena política, de sorte que a problemática da emergência da intervenção estatal sobre as questões sociais encontra-se quase sempre multideterminada. Perante os diversos interesses e algumas determinações visíveis que foram eleitas como expressõessintéticas que se concentram em questão específi ca, pela qual a assistência social, através da Constituição Federal de 1988 – CF/88, passou a ser parte integrante de proteção social. 11 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃODE CONTRUÇÃO Capítulo 1 Conforme a CF/88: Seção IV DA ASSISTÊNCIA SOCIAL Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II - o amparo às crianças e adolescentes carentes; III - a promoção da integração ao mercado de trabalho; IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de defi ciência e a promoção de sua integração à vida comunitária; V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de defi ciência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei. É importante destacar que a assistência social, diante da CF/88, teve um novo desenho e função nas políticas sociais e se institui como mecanismo dos princípios da seguridade social. Quando analisamos na íntegra, podemos verifi car que o conceito de seguridade social, na legislação atual, tem uma compreensão mais compreensiva, se for comparada às outras versões. A CF de 88 representou um marco importante na inclusão da população no sistema público de seguridade social, através do chamado tripé da seguridade social. Para Wegrzynovski (2015, p. 212), “Um novo conceito de seguridade social foi a partir da Constituição Federal que se constituiria em uma sociedade mais justa e solidária com as pessoas em situações de vulnerabilidade social”. Todos os conceitos e informações relacionados à seguridade social ganham destaque no sistema capitalista no início do século XX. Nesse período aconteceu a efetivação dos Estados de Bem – Social, em que o governo britânico, durante a guerra de 1941, requereu a constituição de uma comissão interministerial para que se realizasse um estudo, visando reformas do sistema de seguro do país. Esse estudo que foi realizado, fi cou conhecido como Plano Beveridge e a comissão foi presidida pelo Sir William Beveridge, sociólogo inglês. Dessa forma deu-se origem a uma nova forma de seguridade social inglesa, que foi colocada em prática somente após a Segunda Guerra Mundial. A CF de 88 representou um marco importante na inclusão da população no sistema público de seguridade social, através do chamado tripé da seguridade social. 12 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL Esse plano tinha como foco a proteção social de todas as pessoas que moravam na Grã-Bretanha, fundamentado sempre no princípio da “necessidade”. Ele se desenvolveu através do auxílio de benefícios igualitários, que tinham como variante o estado civil ou sexo, sem ser considerado o rendimento anterior. Por meio desse plano, aconteceu a unifi cação das instituições de seguro social, através de apenas um serviço público, esta política social é centralizada no Ministério da Seguridade Social. Esse modelo de seguridade social infl uenciou o Brasil nas primeiras décadas do século XX, sendo identifi cado nas reproduções e discursos dos técnicos e dos dirigentes dos institutos de previdências e do Ministério do Trabalho. Os autores Oliveira e Teixeira (1989) realizam uma avaliação conjuntural através do documento do Serviço Atuarial do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio de 1950. Essa avaliação compreende: [...] a tendência moderna nesta questão é ampliar o âmbito dos antigos seguros sociais, para compreender nas fi nalidades do Estado, neste setor, não somente a Previdência stricto senso, como também a assistência, a garantia do emprego etc., [...], a seguridade social do trabalhador[...]; da Previdência Social propriamente dita (seguro de pensões), desenvolver um amplo sistema de assistência social (prestações em natureza ou em serviços) [...]. Para que possa o segurado gozar dos benefícios da Previdência, [...] para que possa ser aposentado por velhice, precisa antes de mais nada sobreviver; a condição primordial é a saúde, a qual depende em grande parte de uma boa assistência médica, cirúrgica e hospitalar. Por outro lado, essa assistência, prevenindo os riscos de invalidez e morte prematuras, alivia o encargo de seguros de pensões. (OLIVEIRA; TEIXEIRA, 1989, p. 175, grifos da autora). Conforme os mesmos autores, o ideário da seguridade social, mediante os modelos idealizados inicialmente pela comissão de Lord Beveridge, foi logo depois implementado na grande maioria dos países da Europa Ocidental, na ótica dos governos socialdemocratas e trabalhista, e que são originados no meio de uma articulação política, que era composta pelos países capitalista que estavam aliados a Segunda Guerra e que tinham como objetivo a reconstrução de hegemonia, com a elaboração de novas estratégias. Esse movimento corresponde, na verdade, à parte de um amplo processo de enfrentamento, no plano ideológico, simultaneamente aos projetos fascista e socialista de organização da sociedade, o primeiro dos quais, apesar de derrotado militarmente, demonstrara ter encontrado signifi cativa aceitação em amplos setores de diversos países, enquanto o segundo estava em plena ascensão ao fi nal do confl ito [...]. A democracia liberal procurava demonstrar, em 13 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃODE CONTRUÇÃO Capítulo 1 síntese que, como seus interlocutores, também tinha uma proposta avançada para a satisfação das ‘necessidades sociais’ (OLIVEIRA; TEIXEIRA, 1989, p. 176, grifo da autora). Cabe destacar alguns dos princípios norteadores de concepção que moldam o padrão de Seguridade Social e serviram de bases estruturais dos Estados do Bem-Estar (Welfare State). Eles também foram utilizados como as principais referências, os princípios teóricos e políticos para pensar, elaborar e implementar as legislações sociais na sua totalidade, mesmo sendo alvo de críticas durante todo processo. • A contribuição será adequada à capacidade do segurado e, também, não obrigatória. • O direito a uma renda mínima será para todo cidadão, involuntariamente de contribuição, garantindo um padrão mínimo de bem-estar, apontado de acordo com a situação histórica concreta. • A concessão do benefício não estará acondicionada a critério de mérito, instituído pelos agentes causadores da precisão. Citando novamente Oliveira e Teixeira (1989, p. 178): A Seguridade Social seria, nesta perspectiva, algo além de um mero sistema de concessão de benefícios. Consistiria, também, numa Política de Seguridade Social, na sua acepção mais abrangente, contemplando, além dos benefícios pecuniários tradicionais, ações de saúde, saneamento básico, educação, habitação, medidas de garantia do pleno emprego, redistribuição de renda e outros. Na década de 1950 o modelo de proteção social que estava no auge era fundamentado nos atributos acima citados, que não se concretizou no Brasil. Sendo que o oposto aos modelos históricos que estavam se confi gurando nas políticas sociais, no país, passou a ser caracterizado pelo domínio de um perfi l limitativo e discriminatório, no que se refere aos direitos sociais de todos os cidadãos. Avaliando as primeiras medidas no campo da legislação trabalhista e social, pode-se perceber que existe uma lógica da acumulação que tem se elevado aos 14 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL interesses e anseios coletivos da classe trabalhadora, resultado da correlação de forças antidemocráticas instituídas entre o Estado e Sociedade. Mediante as correlações de forças antagônicas que as políticas sociais no Brasil foram se delimitando, em destaque a de Assistência Social, de forma que passou a ser vistacom mais clareza e nitidez, conforme já citado, a partir da CF de 88, tornando-se o mecanismo de efetivação dos direitos do cidadão e o dever do Estado, no que conduz a proteção social e de suas potencialidades de aprimoramento na execução dos objetivos propostos. Analisando a história política do país, a década de 1930 foi o momento inicial mais representativo de intervenção estatal nas esferas das políticas sociais e econômicas, decorrente do período da modernização industrial e das relações sociais que foram constituídas, como a ordem capitalista. Isso ocasionou para o Estado uma maneira para explorar formas de gerenciamento institucional, buscando uma regulação social, através de novas iniciativas governamentais. Neste período o Brasil estava saindo de uma grande crise econômica e política, que foi originada devido ao colapso monocultor da oligarquia cafeeira. A oligarquia dominante naquele período possuía interesses diferenciados de outros setores, principalmente em relação às oligarquias gaúchas e mineiras, responsáveis pela produção do algodão, açúcar, carne e laticínio, os quais eram abasteciam o mercado interno. Desde o início do século, com o surgimento de novos grupos econômicos, outros sujeitos históricos se fortaleceram, como a classe burguesa industrial, os operários e a denominada classe média, composta pela burocracia civil e militar. Nessa época, precisava-se de uma nova política de exportação, que fosse articulada aos novos preceitos econômicos e que era regida por pressões da classe operária urbana para melhoria das condições de trabalho e vida. Neste período o Brasil estava saindo de uma grande crise econômica e política, que foi originada devido ao colapso monocultor da oligarquia cafeeira. 15 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃODE CONTRUÇÃO Capítulo 1 De acordo com Coutinho (1989, p. 123), Naquele período, o movimento operário lutava pela conquista de direitos civis e sociais, enquanto as camadas urbanas emergentes exigiam uma maior participação política. Essas pressões ‘de baixo’ (que não raramente assumiam a forma de um ‘submersíssimo, esporádico, elementar, desorganizado’) fi zeram com que um setor da oligarquia agrária dominante, o setor mais ligado à produção para o mercado interno, se colocasse à frente da chamada Revolução de 30. O triunfo dessa Revolução levou à formação de um novo bloco de poder, no qual a fração oligárquica ligada à agricultura de exportação foi colocada numa posição subalterna, ao mesmo tempo em que se buscava cooptar a ala moderada da liderança político militar das camadas médias (os tenentes). A diferenciação deste movimento revolucionário se deu pelo seu caráter elitista, através da nova classe econômica, ou seja, um novo bloco de poder, que constituiu o reordenamento e a rearticulação interna dos setores econômicos e oligárquicos. Esse movimento entre as oligarquias, pela sua natureza, foi um movimento antipopular e conservador, através da incorporação dos setores mais conservadores e que ainda não obtinham o controle da máquina estatal, como o setor cafeeiro de São Paulo. Através da criação de um bloco de poder elitista, os setores populares foram excluídos da discussão política, econômica e outras. Esses indícios são fundamentais para compreender os caminhos constitutivos da formação histórica social do Brasil. Para Coutinho (1993), essa manutenção da classe dominante revela o perfi l antidemocrático e de exclusão da classe trabalhadora, dos processos de transformações sociais, sendo vista como uma “revolução passiva”, caracterizada no pensamento de Gramsci. Ainda que sem representação política muitas reivindicações e demandas apresentadas pelas classes subalternas deveriam ter sido aceitas pela classe dominante que estava no poder, para que fosse possível a implementação de um projeto político e econômico, visando a negociação de interesses. 16 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL Os setores dominantes da sociedade brasileira, que estavam sob o comando de Getúlio Vargas, quase que radicalizaram o autoritarismo, por meio de um regime de exceção mais correspondente, para um projeto de sociedade capitalista. Neste sentido, Coutinho (1989) refl ete que: Reprimido com extrema facilidade putsch [conhecido como Intentona Comunista] será o principal pretexto para a instauração da ditadura Vargas. Contudo, apesar de seu caráter repressivo e de sua cobertura ideológica de tipo fascista, o ‘Estado Novo’ varguista promoveu uma acelerada industrialização do País, com o apoio da fração industrial da burguesia e da camada militar; além disso, promulgou um conjunto de leis de proteção ao trabalho, há muito reivindicadas pelo proletariado (salário mínimo, férias pagas, direito à aposentadoria etc.), ainda que ao preço de impor uma legislação sindical corporativista, copiada diretamente da Carta del Lavoro de Mussolini, que vinculava os sindicatos ao aparelho estatal e anulava sua autonomia (COUTINHO,1989, p.123-124). A ditadura no período do Estado Novo foi responsável pela implementação de uma política econômica que estimulou a industrialização, por meio de mecanismos que gerou a acumulação de bens, através da intervenção estatal e que garantiu o mercado interno. O desenvolvimento da economia capitalista depende da organização, infl uência e reprodução de um mercado interno de força de trabalho, com condições de promover a mão de obra assalariada, no que se refere às qualidades político-ideológicas e culturais para seu uso. Diante das novas dinâmicas econômicas, sociais, políticas e culturais que se instauraram no país, Vargas implementou uma legislação social e trabalhista, que além de sua amplitude, detinha o controle direto da classe trabalhadora e da regulamentação das organizações sindicais, sendo ligadas ao Ministério do Trabalho, que foi criado nesse período. O que antes se denominava de discurso da “colaboração de classe” acabou sendo estabelecido como um reconhecimento legal das vulnerabilidades sociais desta classe trabalhadora, focando na renúncia da chamada “destrutiva” ideologia de luta e fi cando limitada a sua organização em uma representação de caráter corporativo ao próprio Estado. Sendo assim, a partir dos objetivos apresentados acima foram anunciados diversos decretos que afetaram diretamente as organizações sindicais, que estabeleceram o sindicalismo único e unidade sindical. Criava-se assim a possibilidade da intervenção do Ministério do Trabalho, que teria autonomia 17 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃODE CONTRUÇÃO Capítulo 1 sufi ciente para intervir na direção sindical, podendo até destituir uma direção eleita, se não fosse de acordo com as ideias do governo. Faleiros (1992, p. 100) avalia essas diretrizes afi rmando: Como os sindicatos se transformaram em ordens de colaboração com o Estado, as reivindicações dos trabalhadores são canalizadas pelos novos aparelhos semiofi ciais. A função principal das organizações sindicais não é mais a reivindicação e a pressão, mas a assistência médica, jurídica e cultural de seus membros. Despolitiza-se a ação sindical e, ao mesmo tempo, retira-se dela o seu potencial de mobilização reivindicativa e política. O perfi l elitista das políticas sociais e trabalhistas, diante da institucionalização, acentuou diretamente no campo da assistência social que acabou sendo caracterizado pelas ações de caridade e fi lantropia, através do imediatismo e interesses de quem necessitava. No Brasil o Serviço Social surge durante o século XX, como um mecanismo para atender imediatamente às demandas sociais, que se fundamentavam nesse novo período da história do modelo capitalista. O Estado começa a ser obrigado a responder aos problemas sociais que estão surgindo no contexto da sociedade. Durante o século XX, começarama ser criadas as primeiras políticas públicas sociais para atender às necessidades da população e instrumentalizar o Serviço Social como profi ssão. 18 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL Para Iamamoto (2007, p. 171, grifo do autor), “A profi ssionalização do Serviço Social pressupõe a expansão de produção e de relações sociais capitalistas, impulsionadas pela industrialização e urbanização, que trazem, no seu verso, a questão social”. Referente às ações que estavam sendo desenvolvidas na área da assistência social, Spozatti (1987, p. 45, grifo da autora) observa que: A assistência Social [...] se reveste de maior racionalidade, introduzindo serviços sociais de maior alcance, sem perda, no entanto, de sua característica básica; o sentido do benefício ou da benevolência, só que, agora, do Estado. [...] é em 1938 que o Decreto-lei nº 525 estatui a organização nacional de Serviço Social enquanto modalidade de serviço público, através do Conselho Nacional de Serviço Social, junto ao Ministério de Educação e Saúde. Criado por decreto, o Conselho Nacional de Serviço Social, teve sua atuação em diversos meios de discussão com objetivos e na área da assistência social, sendo apontado por suspeitas de uso manipulados das verbas e também de indevidas subvenções sociais, que são próprias do modelo de clientelismo político. A assistência social, como política social, tem sua história marcada por mais de meio século de corrupção, por meio de desvio de recurso fi nanceiros destinados a essa área, sendo evidenciados para a sociedade, através dos escândalos que envolviam parlamentares que faziam parte da Comissão de Orçamento do Congresso Nacional, no período do governo do Presidente da República Fernando Collor de Melo. Nesse período, o Conselho Nacional de Serviço Social – CNSS, foi inefi caz no que se referia ao combate das práticas de corrupção, com recursos públicos, ou até cúmplice das irregularidades na utilização das verbas que eram destinadas à implementação de políticas sociais e que acabaram sendo desviadas para a 19 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃODE CONTRUÇÃO Capítulo 1 utilização clientelista dos diversos setores governamentais, como deputados, senadores e até por membros do Executivo. Avaliando o que representa o uso indevido, o mau uso dos recursos públicos, está longe de ser reprimido no Brasil, pois as práticas que estão fundamentadas nessa natureza, nutrem várias estruturas de poder e de desenvolvimento ilícitas que se fazem presentes na atual conjuntura política e econômica. Pode-se perceber que a trajetória da formação da classe burguesa no Brasil é contraditória e evidencia um reconhecimento parcial aos princípios de cidadania pela classe dominante e pelo Estado, através das transformações institucionais e políticas a partir da Revolução de 1930. O autor Marshal (1967) apresenta, em seu escrito Cidadania e Classe Social, que na formação do processo histórico brasileiro há uma contradição nas sequências cronológicas das aquisições e conquistas dos direitos sociais, tendo como referência a Grã-Bretanha, para consolidar a lógica de implementação desses direitos, que se estruturam inicialmente pelos direitos civis, seguidos dos direitos políticos e fi nalizando com os direitos sociais. Através do reconhecimento dos direitos sociais, outros direitos, que benefi ciaram em especial a burguesia e as classes dominantes no país, como os direitos trabalhistas e social, impostos na Era Vargas, acabaram sendo considerados ações de um governo repressor para os segmentos de oposição política. No entanto cauteloso com as necessidades de legitimação da classe de trabalhadores, desprovidas de qualquer forma de politização. A Era Vargas acabou se tornando um governo vigilante nas demandas dos trabalhadores, mas receptivo à reivindicação de organização, representação e reprodução da força de trabalho, necessárias ao modelo capitalista. Nesse sentido, acaba-se adotando certa prática vinculada a uma coerência excludente e inefi caz do sistema de seguridade social no Brasil, que refl ete de forma antidemocrática a relação que o Estado estabeleceu com os cidadãos brasileiros. Isso se dá a partir do momento em que ele leva ao desconhecimento dos direitos e interesses fundamentais e legítimos da classe operária, gerando assim um aumento do empobrecimento dos trabalhadores, tanto por bens materiais quanto de formação política no resgate da cidadania. 20 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL Para uma melhor compreensão das políticas socias pós 1930, Santos (1979, p. 132) apresenta o conceito da conquista da cidadania e o papel do Estado, como “cidadania regulada”, sendo entendida da seguinte maneira: “Por cidadania regulada, entendo o conceito de cidadania cujas raízes encontram-se não em um código de valores políticos, mas em um sistema de estratifi cação ocupacional [...]”. O conceito apresentado por Santos tornou-se um importante referencial característico da formação social da população brasileira, devido à inclusão parcial e seletiva de alguns setores e segmentos sociais, principalmente, os que envolvem as classes trabalhadoras, no que diz respeito à participação dos trabalhadores no processo decisório das políticas sociais e econômicas do país. 1 Descreva o que você entendeu sobre cidadania regulada. O Brasil, através do modelo de cidadania regulada dos processos históricos, passou a ter atitude centralizadora e autoritária pós 1930, despontando que sempre esteve a serviço dos interesses da iniciativa privada. Sendo que esse princípio de privatização se perpetua até os dias de hoje. Coutinho (1993, p. 87) apresenta que: O fato de ter sido esse Estado sempre muito forte e de ter aparentemente se superposto à ordem privada não anula, de modo algum, a realidade fundamental: a de que toda essa força foi sempre, em primeira ou em última instância, mais em primeira do que em última, um poderoso e efi ciente instrumento a serviço de interesses estritamente privados. 21 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃODE CONTRUÇÃO Capítulo 1 No decorrer da história do Estado brasileiro, pode-se analisar que ele foi se modulando na década de 1930 e, cada vez mais, foi aperfeiçoando-se durante o período pós 1964 e no período da ditadura militar, como patrimonialistas, pois os diferentes governos que se sucederam nesses anos eram eleitos e representados pelas elites dominantes e seus dirigentes. Esses atributos estavam centrados em ações com visões tradicionalistas, paternalistas e clientelistas, que vigoraram até o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), que tinha como promessa desmontar o modelo patrimonialista. Ele teve em seu mandato as evidências dos anteriores, principalmente, no que se refere à privatização das empresas estatais. A privatização de vários segmentos públicos se expressa através da intervenção estatal, do Estado, na inovação das condições favoráveis para a ampliação do capital privado, que desde o Golpe Militar de 1964, passou a consentir prioritariamente aos interesses do capital fi nanceiro multinacional, sendo este um caminho que se efetua em grandes dimensões na chamada política de globalização, a partir de 1995, como o governo de FHC. Esse período da história do Brasil não veio de encontro à equidade social e efetivação da cidadania, como se almejava, e, sim, ocorreu um redirecionamento do Estado em relação ao seu papel econômico, através de seu desempenho protagonista no modelo de inserção de sistema capitalista monopolista mundial, gerando um regime antidemocrático dos direitos sociais e políticos da classe trabalhadora. Diante da função de acumulação desenvolvida do capital monopolista por parte do Estado, desde 1964, o autor Coutinho (1989, p. 124), baseado nas refl exões de Gramsci, descreve o conceitode “revolução passiva”: As forças produtivas da indústria, através de uma intervenção maciça do Estado, desenvolveram-se intensamente, com o objetivo de favorecer a consolidação e a expansão do capitalismo monopolista. A estrutura agrária, por seu turno, mesmo conservando o latifúndio como eixo central, foi profundamente transformada, sendo hoje predominantemente capitalista. A camada tecnocrático-militar, que se apoderou do aparelho estatal, certamente controlou e limitou a ação do capital privado, na medida em que submeteu os interesses dos múltiplos capitais ao capital em seu conjunto, mas adotou essa posição ‘cesarista’ precisamente para manter e reforçar o princípio do lucro privado e para conservar o poder das 22 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL classes dominantes tradicionais, quer da burguesia industrial e fi nanceira (nacional e internacional), quer do setor latifundiário que ia se tornando cada vez mais capitalista. A categoria denominada de “revolução passiva” também foi usada pelo pensador marxista, que serviu para esclarecer a mudança do capitalismo italiano, que estava em transição da fase concorrencial para a fase monopolista. A ditadura brasileira adotou alguns procedimentos que fortaleceram o projeto de dominação imposto pelo sistema que estava em vigor. Segundo Faleiros (1992, p. 179): O capital multinacional, que tende à moligopolista, implanta- se através dos setores mais modernos e mais rentáveis, isto é, na indústria de bens duráveis. Ocupa, ao mesmo tempo e gradativamente, os espaços de fi nanciamento para compra desses produtos, sua comercialização, e alcança os investimentos agrícolas. Formam-se conglomerados cada vez maiores em todos os setores da economia. Nesse processo, entram na órbita do capital multinacional várias empresas nacionais, por compra ou simples associação [...] O Estado propicia tal concentração através dos seus mecanismos de união do bloco dominante e de controle do conjunto das medidas econômicas. Outros fatores devem ser considerados importantes e que precisam ser destacados e avaliados no modelo econômico. Durante o período da ditadura, esses fatores relacionados a categorias fundamentais foram essenciais para a implementação de um padrão antipopular e concentrador de poder e de riquezas, tais como: o recurso à violência (diversas formas), repressão, coerção direta e plena restrição da liberdade. É importante destacar que, no período de repressão política e militar, foram fi xados os movimentos sociais organizados, como sindical, estudantil e social, atrelados como uma extorsiva política salarial, que objetivava o achatamento e perdas salariais, que só foram possíveis através da violência institucionalizada pelo regime militar no Brasil. O autoritarismo foi considerado um dos instrumentos mais utilizado para a negociação das políticas públicas sociais, tendo sempre relevância os interesses das classes dominantes. Nesse sentido, não somente os canais de participação popular, como partidos políticos, sindicatos e organizações sociais sofreram retaliações em relação à formação política das massas trabalhadoras. 23 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃODE CONTRUÇÃO Capítulo 1 Para Viana (1989, p. 26): Agências formuladoras ou reguladoras de políticas econômicas (aquelas que têm a ver com o processo produtivo), responsáveis por traduzir demandas setoriais em decisões generalizantes, estabelecem vínculos diretos com ‘clientelas’ selecionadas, garantindo no interior do aparelho estatal o lócus para a articulação técnica de seus interesses. A forma de aparente neutralidade, que acontece o reconhecimento dos reais interlocutores dos diversos setores internos geridos da burguesia, não vem de encontro aos verdadeiros interesses sociais. Sendo assim, conservou-se as chamadas classes “clientelas” ou “pelegas” no movimento sindical, pois não possuíam representatividade ou comprometimento na defesa dos trabalhadores. Perante a negação dos direitos políticos e sociais em todos os setores da sociedade que visavam combater democraticamente os direitos da sociedade civil, as opções de ampliação dos recursos na área social foram limitadas. Nesse sentido, o mito das opções técnicas e racionais se tornam automatizadas, pela abrangência, mediante os discursos que foram propagados equivocadamente aos interesses políticos individualistas e particularistas. Mediante essa questão, Viana (1989, p. 26) observa que: Mantida a aparência constitucional, com a realização de eleições periódicas e câmaras legislativas em funcionamento, a política social, através das imensas máquinas burocráticas de suas agências, cargos disponíveis e serviços prestáveis, transformou-se em esfera ideal para o fazer política, uma política estreita e eleitoreira, alternativa ao tipo de competição política em que se reconhecem pressões confl itantes e se negociam interesses divergentes em arenas abertas. Em todo este período que contemplou o regime autoritário aconteceu a materialização institucional fundamentalmente conservadora no sistema de proteção social, sendo que os princípios de fi nanciamento são edifi cados através de critérios contrários ao da equidade social. Dessa forma ocorreu um bloqueio em todas as formas de transferências de rendas, através de setores e fontes de recursos de fi nanciamento e de transferência de renda. Essas medidas afetaram diretamente os trabalhadores e operários assalariados, pois contribuíram de forma decisiva para a eliminação dos meios de acesso da população às políticas públicas sociais, em especial as de assistência social. 24 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL Acadêmico, aprofunde seus estudos lendo o livro cuja capa está representada na fi gura a seguir, ele é importante para sua atuação profi ssional. FIGURA – CAPA DO LIVRO OS DONOS DO PODER FONTE: <https://images-na.ssl-images-amazon.com/images/ I/31jlAOei-QL._SX346_BO1,204,203,200_.jpg>. Acesso em: 12 jan. 2021. A obra é um ensaio fundamental para a compreensão da formação social e política brasileira. Partindo das origens portuguesas de nosso patronato político, o autor demonstra como o Brasil foi governado, desde a colônia, por uma comunidade burocrática que acabou por frustrar o desenvolvimento de uma nação independente. Sua análise abarca o longo período que vai da Revolução Portuguesa do século XIV até a Revolução de 1930 no Brasil. Esta edição foi revista e acrescida de um índice remissivo. FAORO, Raymundo. Os donos do poder, formação do patronato político brasileiro. 5. ed. Rio de Janeiro: Ed. Globo, 2012. 25 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃODE CONTRUÇÃO Capítulo 1 1 Na Constituição Federal de 88, a proteção social passou a ser garantida aos cidadãos brasileiros devido à multiplicidade de interesses e determinações visíveis que foram eleitas como expressões sintéticas que podem se concentrar como questões específi cas, como a assistência social. Diante disso, cite na íntegra o artigo da CF de 88 que apresenta a assistência social como direito garantido. 2.2 A HERANÇA ELITISTA E AUTORITÁRIA NA REPRESENTAÇÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS Perante o contexto histórico das políticas públicas sociais, a previdência social, em que se sabe, possuí um modelo de fi nanciamento que admite diminuídas transferências de ativos para inativos, enfatizando um padrão simplesmente horizontal na distribuição do benefício para os benefi ciários da política de assistência social. A política de previdência social, no período da década de 90, consegue verifi car que ela relevava várias propostas de mudanças na regulamentação da previdência, mediante a revisão constitucional que estava em curso. As preposições convergiam contrárias às reformas neoliberais que recém estavam implementadas no Brasil. Outra propriedade que se pode apontarsobre o sistema nacional de arrecadação, mencionado anteriormente, na época citada, refere-se ao repasse integral dos custos das contribuições sociais aos valores das mercadorias por parte das empresas, assim os assalariados e os consumidores, os fi nanciadores dos programas sociais, acabam gerando uma maior economia. De acordo com Carmargo (1991), o regime militar, diante ao fi nanciamento das políticas sociais, apresentou-se através de um perfi l mais limitado e restrito, ou seja, autoritário e antipopular, para ampliar a arrecadação por meio da captação compulsória de poupança, usando as contribuições sociais, ao invés de ampliar a arrecadação das cargas tributárias, caracteristicamente fi scal, preservando o capital de realizar maiores gastos nas políticas sociais. 26 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL Neste sentido, a quantia de recursos que foram recolhidos com as contribuições sociais computou, naquele momento, mais de 50% da receita tributária de toda a União, que são recursos procedentes de um orçamento paralelo coberto pelo consumo compulsório das contribuições sociais. Essas contribuições foram impostas com a justifi cativa de subsidiar as aplicações, projetos, programas e benefícios de instância social, consequentemente o Estado, União, estaria em última instância comprometido com as despesas sociais, pois fi caram acopladas diretamente ao fundo público exclusivo de cada área, e que já estavam discriminadas cada fonte de fi nanciamento. O Estado se tornou um mecanismo completamente insufi ciente para responder, de maneira democrática, às necessidades primordiais e básicas da população brasileira. A especialidade desse modelo do sistema de arrecadação e fi nanciamento, por mais injusto e induzido que seja, e o seu comprometimento com as políticas sociais incidem somente para uma parte da sociedade, nesses moldes, a classe trabalhadora e o Estado, sempre descomprometido com os interesses sociais, sem disponibilidade de orçamento, mesmo através das arrecadações fi scais. Os dados apresentados, no período militar, mostram que o Produto Interno Bruto (PIB) tinha um percentual pequeno, relacionados à população, sendo 1% das famílias mais ricas e que possuíam aproximadamente 20% de toda a renda nacional. Contrapondo essa realidade, 50% dos mais pobres centralizavam apenas 10% de toda a riqueza produzida, o remanescente estava apropriado pelos extratos da proletarização da política recessiva. Esses dados foram ratifi cados através de relatório do Banco Mundial e apresentam dados inquestionáveis. Para Romão (1991, p. 104): Com efeito, os conhecidos relatórios anuais do Banco Mundial fornecem algumas estatísticas básicas sobre 129 países-membros, afora aqueles com população inferior a um milhão de habitantes. Na sua última versão, o relatório apresenta informações de distribuição de renda para 46 países e entre estes o Brasil é o que aparece com o perfi l mais iníquo. 27 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃODE CONTRUÇÃO Capítulo 1 Com os problemas encontrados para superar a crise econômica, outros caminhos foram trilhados, sendo esses mais atrozes e inefi cientes, causando a recessão, fundamentados no ideário neoliberal. Esses fatores foram utilizados para combater, de qualquer forma, a infl ação durante aquele período no qual aconteceu um arrocho ainda maior dos salários, demissão em massa dos trabalhadores, um enorme sucateamento dos patrimônios públicos, efetivando os cortes nos recursos das políticas sociais e aumentando consequentemente as desigualdades sociais, fome, pobreza e desemprego. Outros segmentos com muito mais estrutura econômica se preveniam de qualquer forma de perdas. Essa chamada “herança indesejada” foi apresentada por Benjamim (1991, p. 50): O atual sistema de poder, que começa na hiperconcentração da riqueza e da terra, passa pelo predomínio dos oligopólios na economia, reproduz- se no controle dos meios de comunicação de massa, apresenta poder de corrupção virtualmente ilimitado, garante sobre representação de oligarquias no Congresso Nacional e tem como reserva um judiciário conservador, esse sistema de poder, aprisiona um grande país [...]. O poder das elites brasileiras no sistema econômico em discussão tem se vinculado e deixado em seu caminho a marca da exclusão na história da sociedade brasileira. Destaca-se uma importante modifi cação nas estruturas obsoletas e distribuídas, que foi o processo de ampliação e materialização do processo das liberdades democráticas, mesmo que limitadas na dimensão política. O Estado brasileiro era o retentor de extensos e ilimitados poderes, mediava em torno de si os setores politizados da sociedade, através de uma disputa corporativa de interesses, que se construiu durante este processo de resistência ao regime militar e nas lutas pela cidadania, uma combativa sociedade civil, que estava reconstruída através da participação e mobilização popular. Nos anos de 1990, a sociedade civil esteve submersa em um período de instabilidade política, em que as classes trabalhadoras tiveram que outra 28 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL vez reconquistar e buscar a capacidade de organização e de luta. Isso se deu mediante a degradação dos modelos de proteção social e de trabalho que foram implementados para a sociedade através das políticas sociais de interesses dos partidos social democratas e liberal que estavam no poder. Como se sabe a ditadura investiu de diferentes maneiras no controle coercitivo da sociedade civil que, apesar da repressão e da desigualdade econômica, cresceu e se fortaleceu simultaneamente ao amadurecimento e à ampliação das forças produtivas sob o regime militar, potencializando-se pela multiplicação de interesses diversifi cados surgidos com a modernização econômica. A luta pela anistia, o multipartidarismo (que deu oportunidade de expressão a novas forças políticas, como o Partido dos Trabalhadores – PT, por exemplo), as manifestações de rua pelas eleições diretas para a presidência da República, a retomada dos sindicatos como espaço de luta política e não apenas de prestação de serviços, a mobilização em torno da Constituição de 1988 e as campanhas eleitorais, bem como, o movimento pela ética na política que detonou o impeachment de Fernando Collor de Melo, são apenas alguns exemplos emblemáticos dessa capacidade de mobilização e de ação da sociedade civil. Esse processo pôde ser constatado através das últimas eleições majoritárias e proporcionais ocorridas com o fi m da ditadura. Com o aumento crescente dos coefi cientes eleitorais, embora ainda aquém do necessário para alçar o poder, as esquerdas passaram a expressar e a reunir as aspirações políticas e éticas de vastos setores democráticos no País, ativadas, principalmente, através da militância contra a ditadura e na luta pelos direitos dos trabalhadores. O Partido dos Trabalhadores, de maior expressão política, e os demais partidos realmente progressistas vêm indubitavelmente demonstrando, tanto em suas atuações no interior dos parlamentos quanto no desafi o das administrações de muitas cidades e governos estaduais e também na luta do dia a dia dos movimentos populares, que é perfeitamente viável a construção de uma sociedade mais justa, ética e democrática, na recriação da história presente e futura deste país. As políticas neoliberais já foram devidamente implementadas e nem por isso a infl ação, combatida a qualquer preço, cedeu. Há que se propor e levar à frente novas alternativas de solução para a crise econômica e social que vem solapando o cotidiano do trabalhador 29 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃODE CONTRUÇÃO Capítulo 1 brasileiro. Assim sendo, essa conjuntura contraditória precisa ser reavaliada nos seus desdobramentos e condicionantes, pois coexistem num mesmopaís uma sociedade civil representativa e organizada e uma população faminta em torno de 35 milhões de habitantes: são mais de três Somálias dentro do Brasil, já que naquele infeliz país africano a população gira em torno de 10,5 milhões. Com efeito, se for perpetuado esse desolador quadro econômico e social, incompatível com os princípios da democracia, pode-se gerar a impressão de que a transição democrática processada na luta contra a ditadura não teve o fôlego necessário para possibilitar a superação dos principais elementos de atraso e da exclusão gestados ao longo da história brasileira. Em função do pacto que levou a uma transição “sem traumas”, todos os ônus recaíram pesadamente sobre a população trabalhadora, que tem – às custas de muito trabalho mal pago – sustentado um modelo econômico concentrador de riquezas, modelo sustentado e aprofundado pelos governos civis que subiram ao poder depois da ditadura, os de José Sarney, Fernando Collor de Melo, Itamar Franco, a primeira e a corrente versão do governo Fernando Henrique Cardoso. Resgatando aquele traço recorrente da dinâmica política, pode-se repensar essa transição à luz da já aludida noção de “revolução passiva”: dado o aspecto conciliatório característico da transição democrática, tornou-se possível desconsiderar a legítima participação das massas populares na derrocada da ditadura, com a aceitação da eleição para presidente no Colégio Eleitoral criado pela ditadura, através da composição Tancredo Neves/José Sarney, e não pela via direta, como foi amplamente reivindicado naquele momento. Porém, essa não foi a única medida conciliatória e “pelo alto” imposta contra os apelos de participação democrática; pode- se recordar também o processo de convocação da Assembleia Constituinte, duramente golpeado pela manobra do Governo Sarney, que preferiu a solução de atribuir poderes constituintes a um Congresso instituído segundo as regras eleitorais e institucionais herdadas da ditadura. Portanto, os que redigiram a nova Constituição não o fi zeram legitimamente, já que não foram eleitos para elaborar a primeira Carta democrática do país, e sim para legislar dentro da rotina normal do Parlamento. Essa manobra, muito combatida pelos setores progressistas, garantiu uma composição ideológica no Congresso Constituinte bastante favorável e adequada aos interesses das elites dirigentes; basta recordar o famoso “centrão”, que articulou uma fi rme resistência às mudanças pretendidas pelos segmentos democráticos. 30 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL PAIVA, Beatriz Augusto de. Assistência social e políticas sociais no Brasil: confi guração histórica, contradições e perspectivas. Revista Katálysis, Florianópolis, n. 4, p. 11-34, jan. 1999. Disponível em: https://periodicos.ufsc. br/index.php/katalysis/article/view/6250/5828. Acesso em: 19 ago. 2020. Para Coutinho (1993, p. 53, grifos da autora): [...] se praticamente todos os sujeitos políticos oposicionistas se empenharam na ‘guerra de posição’ que pôs fi m à ditadura, nem todos levaram em conta, na época, o risco contido nessa forma de transição relativamente ‘negociada’. Nela se verifi ca [...]e, como tentamos indicar, a combinação de processos ‘pelo alto’ e de processos provenientes ‘de baixo’; e, decerto, é o predomínio de uns ou de outros o que determina o resultado fi nal, a natureza do terminus de quem dá transição. A partir do momento em que, com a ida da oposição ao Colégio Eleitoral criado pela ditadura, preponderou uma solução ‘pelo alto’, concretizou-se o risco a que aludimos: o de que a transição terminasse por reproduzir, ainda que ‘atenuados’ e ‘modernizados’, alguns dos traços mais característicos do tradicional modo ‘prussiano’ e ‘passivo’ de promover as transformações sociais no Brasil. Uma transição desse tipo – que poderíamos chamar de ‘fraca’ – implicava certamente uma ruptura com a ditadura implantada em 1964, mas não com os traços autoritários e excludentes que caracterizam aquele modo tradicional de se fazer política no Brasil. Mediante este conjunto de restrições objetivas ao direito de exercer a cidadania, acaba refl etindo diretamente nas políticas sociais de maneira cada vez mais decisiva, pois passou a ser alvo preferencial nos cortes dos recursos e despesas públicas. O corte de recursos fi nanceiros nas políticas públicas sociais acompanhou paralelamente o arrocho salarial. Constando uma difi culdade na reversão desta representação, principalmente no que se refere ao sistema tributário do Brasil, pois representa uma fonte de recursos para a redistribuição de recursos pelas políticas públicas. 31 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃODE CONTRUÇÃO Capítulo 1 A demanda da composição fi scal envia possíveis alternativas para a universalização e remanejamento na importância de estrutura fi scal remetente, portanto, que são produzidas coletivamente de maneira que as políticas sociais se constituem, sendo um elemento determinante para a estratégica e tática na luta pela democracia, através da socialização de bens de consumo e produção. O sistema tributário no Brasil, desde sempre, esteve fundamentado em critérios mais contraditórios e injustos possíveis, sendo um determinante na diferenciação da concentração de rendas, afl igindo diretamente os assalariados, principalmente, os que recebem uma menor renda e os consumidores, que são afetados através dos impostos que indiretamente são introduzidos nos preços das mercadorias. Perante a conjuntura apresentada, o porcentual tributário do PIB é um dos mais baixos se for comparado com todos os outros países, isso devido à sonegação de impostos que atinge quase que a metade do que poderia ser arrecadado. Todo o sistema fi nanceiro, juntamente com os setores industriais nacionais e multinacionais, como os produtores agrários e os latifundiários; os trabalhadores ativos e inativos de todo o sistema privado e público; os cargos eletivos, executivo e legislativo de todas as esferas, e ministros; além de partidos políticos; do Fundo Monetário Internacional, maior fi nanciador das políticas, através de ações desordenadas, discutem o fi m das contribuições sociais, com elas os investimentos das políticas sociais e continuando a estrutura regressiva, sendo esta de interesse dos empresários, propondo um aumento de alíquotas, afetando o assalariado, que estarão relacionadas aos impostos estaduais, municipais, ICMS e ISS, e transforma contribuições em impostos e com uma Contribuição Provisória sobre a Movimentação Financeira – CPMF. Neste período de implementação das políticas neoliberais, algumas das propostas elaboradas por segmentos de esquerdas foram debatidos, como o início das progressividades na pertinência das taxas e alíquotas, em conjunto com a melhora na Receita Federal, que objetivasse o combate à sonegação de impostos. Diante dessas medidas econômicas e políticas, houve uma maior precisão, sem elas os compromissos com uma redistribuição perdem o sentido, em que as políticas públicas seriam apenas um instrumento ratifi cador e reprodutor das desigualdades sociais. 32 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL Para Benjamim (1991, p. 49): Em sociedades capitalistas, nunca houve, nem haverá, transição de modelos se os agentes transformadores não puderem exercer controle sobre a taxa de investimento [...]. Para controlar as variáveis macroeconômicas fundamentais, prover bens e serviços coletivos, induzir distribuição de renda, estabelecer a forma de exploração dos recursos não renováveis, promover o progresso científi co e tecnológico e regular o intercâmbio com exterior, o Estado não precisa deter muito mais do que 25% ou 30% do PIB. O autor citado no trecho anterior defende ainda a suposição clássica, em que o processo distributivo deveria ser entregue somente para as políticas governamentais, de transferir o excedente,que era irrealizável no país, pelos índices de pobreza e desigualdade impostos na sociedade brasileira. O acúmulo dos impostos é grande, comparado ao excedente que é mínimo, sendo necessária a realização de transformações qualitativas no setor econômico, pois só assim o modelo de exclusão social poderá ser superado. A política de Assistência Social, nesse contexto, precisa estar atrelada a uma efi caz política de redistribuição de renda igualitária. Sendo assim, desenha-se o início da construção efetiva da cidadania, através da elaboração, estruturação e implementação de benefícios, programas, projetos e serviços, que deveriam ser universalmente custeados através das contribuições tributárias do capital vigente, por meio de captação e alocação dos recursos públicos, por meio de um claro e criterioso planejamento das ações que utilizem os recursos públicos. Apesar das estratégicas conservadoras que foram utilizadas no processo constituinte e das forças contrárias da sociedade civil que muitas conquistas foram afi rmadas na Constituição Federal de 1988, no que diz respeito aos direitos de cidadania da população brasileira. Isso resultou na chamada “Constituição Cidadã”. É na CF de 88 que são contemplados os direitos sociais à educação, à saúde, ao trabalho, à segurança, à previdência social, à proteção à maternidade e à infância, à assistência aos desamparados (cf. Título II, “Dos Direitos e Garantias Fundamentais”, Capítulo II, “Dos Direitos Sociais”, artigo 6º). 33 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃODE CONTRUÇÃO Capítulo 1 A assistência passou a ser uma referência diretamente interligada com o direito de cidadania, através da aproximação e reconhecimento com área da seguridade, ou seja, passou a ser considerada uma política social específi ca, conforme o artigo 194 (Capítulo II, “Da Seguridade Social”, do Título VIII, “Da Ordem Social”). A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. Esses direitos sociais foram reconhecidos como os novos princípios políticos relacionados a uma estrutura mais racionalizada e democrática na utilização dos recursos e serviços oferecidos pelas políticas públicas, tais como: • Universalidade da cobertura e do atendimento para todos cidadãos. • Igualdade e equivalência dos benefícios e serviços para populações urbanas e rurais. • Seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços. • Irredutibilidade do valor dos benefícios. • Igualdade na forma de participação do custeio, através da participação dos estados e municípios na composição dos fundos sociais. • Diversidade na base de fi nanciamentos. • Caráter democrático e descentralizado da gestão administrativa, através da participação da sociedade civil, em especial, da classe trabalhadora, empresários e aposentados. A democratização dos recursos públicos e das políticas sociais, que foram apontadas na CF/88, está fundamentada nos princípios citados acima, porém, na prática, os cumprimentos das políticas públicas não são efetivados na sua totalidade. Se analisarmos a política de saúde, que está regulamentada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), é evidente a diferença entre o discurso político, independentemente, de partido político e da ação ética de quem está na gestão. Sobre a Previdência Social, desde a CF/88, foram obtidas algumas conquistas importantes para os trabalhadores, podendo ser citadas a regularização dos direitos do trabalhador doméstico; a ampliação da licença maternidade; entre outras. Se faz necessário ponderar todos esses avanços cautelosamente. Apesar de conquistas formais, é importante constar que existe falta de correspondência e diálogo entre tais avanços com a promulgação da CF/88, impedindo assim avanços no âmbito da legislação. Dessa forma, em partes, foi possível materializar os direitos sociais enquanto prestação efetiva de serviços prescritos, excetos os itens legais, que estavam centralizados na época pelo existindo Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS), desde o ano de 1995. 34 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL Esses obstáculos na efetivação das políticas públicas podem ser apontados diante do processo de revisão Constitucional, que era defendido ardorosamente pelos setores empresariais e pelo governo. Esta revisão apontava alterações muito desfavoráveis aos interesses da classe trabalhadora. A sistematização jurídica-formal da seguridade social, realizada para uma análise da assistência social como política social, destina-se a ampliar a discussão desta área com outro ponto de vista. Isso constitui analisar a questão da política pública de assistência social através de novas condições, através de um processo de regulamentação legal. Assim, no ano de 1993, foi aprovada a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS). Desde então, estão sendo efetivados os serviços assistenciais por meio de novas confi gurações da Política de Assistência Social. A Política de Assistência Social será apresentada na sua integra nos próximos capítulos. 1 Após a CF/88, a assistência social se tornou uma referência diretamente interligada com o direito de cidadania permeando os direitos sociais e que foram reconhecidos através dos novos princípios políticos. Cite-os. 2.3 A FUNÇÃO DO ESTADO BRASILEIRO PERANTE AS NOVAS POLÍTICAS SOCIAIS Avaliando a trajetória histórica da política de assistência social no Brasil, averiguamos a recorrência de particularidades típicas que se mantiveram sem mudança na sua formulação político-assistencial, até o fi nal dos anos 90 e inícios dos anos de 2000. A assistência era mencionada na prática como política para completar as diferenças das áreas que a atuação do Estado não conseguia suprir, correndo o risco de se reproduzir no seu original projeto, ou seja, a suplementação das demais políticas sociais, como a educação, saúde, habitação. 35 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃODE CONTRUÇÃO Capítulo 1 A assistência social estava reconhecida como um instrumento transversal que permeia as ações efetivadas pelas demais políticas sociais, mediante a estratégia da universalização dos direitos sociais previstos na CF/88. Os exemplos de presença dos componentes assistenciais nas outras políticas são evidentes na educação básica, através de liberação de recursos para uniformes e merendas escolares, a viabilidade do material didático, oportunizando a continuidade de crianças e adolescentes nas escolas. Na saúde, os serviços assistenciais estão confi gurados no cerne da política, pois qualquer ação de planejamento estratégico, que se refere ao SUS, implica em recursos para o abastecimento e fornecimento de medicamentos, de aparelhos específi cos para cada especialidade, de condução de pacientes, entre outros. Na constituição que está em vigor é possível verifi car que a assistência mantém conexões com todas as políticas sociais dos mais diversos setores e também com as políticas de fundo econômico. A compreensão da análise apresentada anteriormente pode ser verifi cada diante da conjuntura de pauperização da sociedade, na época de implementação da CF/88, signifi cando reconhecer que a maior parte da população se encontrava excluída dos acessos mínimos para uma condição digna de vida. Diante da qualidade de demissão e das insufi ciências características da pobreza e da miséria, são reproduzidos através de um ciclo de gerações familiares os herdeiros de uma sociedade escravista e autoritária, resultando em uma população suprimida por uma luta cotidiana em prol da própria sobrevivência. Das categorias mais complexas e diversas, estes são os usuários da política de assistência social, ou seja, os excluídos no sistema capitalista. Na visãode seguridade social que estava assegurada na legislação vigente, a assistência social conduz aos setores e segmentos na condição de vulnerabilidade social, ou seja, sem condições de prover o sustento, são os excluídos do mercado de trabalho formal e informal. 36 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL O período de implementação de discussão da Constituição Federal e da implementação das políticas neoliberais, a realidade estava concretizada, segundo Menezes (1994, p. 103), da seguinte forma: Em 1981, a soma de trabalhadores sem rendimento (10%), com rendimento até um salário mínimo (23%) e entre um e dois salários mínimos chega a 58,8% de toda PEA (População Economicamente Ativa). Se levarmos em conta que esse padrão de remuneração caracteriza o chamado “estado de pobreza”, quase 60% da PEA trabalham com assalariamento abaixo da remuneração mínima; portanto, são potencialmente usuários das políticas sociais de assistência. Em 1989, a faixa de até um salário mínimo sobe para 8,1% e aquela entre um e dois salários mínimos também decresce para 21,4%. O ‘estado de pobreza’ atinge um percentual de 56,7% no fi nal dos anos 80. Analisando o início dos anos 90, o Brasil estava com aproximadamente 60,2% da população em vulnerabilidade social, de acordo com pesquisas do Banco Mundial, sendo uma realidade gravíssima e alarmante que ultrapassa as probabilidades de utilização dos recursos estatais destinados às políticas sociais. Essa análise da situação econômica, social e política dos anos de 1990 apresenta dados complexos à realidade dinâmica da sociedade brasileira, ponderando os próprios riscos de uma aproximação que se almeja historicamente no que se refere à dinâmica peculiar das políticas sociais, sendo que ela se encontra ponderada aos processos conjunturais correntes, através de ambíguas mudanças na defi nição do desenvolvimento de tais políticas. Nesta perspectiva se faz necessário entender a lógica que muitas vezes se esconde e que preside nos acontecimentos mais acentuados, para conseguir elaborar algumas proposições diante dos cenários que foram construídos naquele período, através do pensamento neoliberal. Os acontecimentos mais relevantes da conjuntura daquele período estavam fundamentados em uma lógica que explica as questões sociais no Brasil, perante a diversidade das características comuns e um mosaico diferenciado de diversos elementos, fatores, atores sociais, dos episódios individuais em todas as regiões do país. 37 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃODE CONTRUÇÃO Capítulo 1 Wanderley (1988, p. 17) afi rma que: “A questão social fundante, nesses 500 anos de descobrimento, centra-se nas extremas difi culdades e injustiças que reinam nas estruturas sociais, resultantes do modo de produção e reprodução social, dos modos de desenvolvimento”. Sendo assim, o caráter das questões sociais brasileiras, em seu contexto substrato histórico e político, tornou-se a matéria-prima da adaptação pública por meio das políticas sociais que, durante o período de implementação do neoliberalismo, mantiveram-se nas mesmas proporções, em todos os sentidos, ampliando a sua circunscrição, ao se confortar com os dados econômicos e sociais do Brasil. Nesta fase é importante considerar o nível de estatísticas que foram indicados no campo das políticas sociais, mediante os indicadores que mais afetam o campo das políticas sociais. Entre outros incisivos que reafi rmam as expectativas para este período econômico, o crescimento do desemprego e o fechamento de alguns postos tradicionais de trabalho foram assustadores, pois não se apontava opção alguma de desenvolvimento social, através de um curto prazo, que permitisse mais emprego e trabalho para a população economicamente ativa e produtiva. Além de um desequilíbrio da economia, outras demandas sociais começaram a ter evidência no país, como na área da saúde, através da propagação de epidemias que estavam controladas, como a dengue, tuberculose e outras, que além de exigirem medidas de prevenção também há exigências de tratamentos concretos, como no caso da AIDS. Na política de saúde as ações estavam em desequilíbrio no que abrangia o fi nanciamento para as atividades designadas como prioritárias, como ensino básico e fundamental. Isso aconteceu, pois, antes da Constituição de 88, era nítida a omissão do Governo Federal em todas as esferas do ensino, desde educação para jovens e adultos até cursos profi ssionalizantes, além de um amplo sucateamento das universidades públicas e pouco investimento nos outros setores da educação, através de programas que garantissem o acesso a um ensino de nível superior. 38 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL Na área da Assistência Social, as ações de fi nanciamento do Governo Federal não representavam nem 1% do orçamento geral da Seguridade Social, que tinha como compromisso o fundo público com o mínimo de 5%, conforme deliberações das duas Conferências Nacionais, que foram realizadas pelo movimento social, edifi cado pelos profi ssionais do Serviço Social para defender a Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS). O início da implementação da LOAS foi marcado por vários equívocos, através dos cortes nos orçamentos sociais, ao processo de municipalização da lei, refl etindo inteiramente na redução dos programas, serviços e de benefícios que estavam destinados à população em condição de vulnerabilidade social. Lessan et al. (1997, p. 69) afi rmam que: [...] no caso da assistência social, os programas foram vítimas das sucessivas mudanças na institucionalidade do setor, num processo de desmonte da estrutura federal sem precedentes, a partir do governo Collor, sendo descentralizados, sem gradualidade ou respeito às defi nições e mecanismos de controle constantes da Lei Orgânica da Assistência Social. Ao cair no vazio de recursos e literalmente desaparecer, o sistema vigente arrastou consigo a maior parte dos programas de alimentação e nutrição, e os programas assistenciais de creches, assistência aos defi cientes e documentação gratuita, dentre outros. Diante disso, o cenário político, econômico e social era negativo, pois o empenho de esclarecimentos dessas informações não é o mesmo que se busca destacar com as conquistas do governo, pois defende e protege o projeto governamental na implantação de suas ações estratégicas voltadas ao seu interesse. Com isso, é importante resgatar as fundamentais linhas de ações que foram implementadas pelos dois governos de Fernando Henrique Cardoso (FHC), em que a coerência política era seguida pelo projeto neoliberal hegemônico no país, além do protótipo duplo ao ajuste fi scal e controle da infl ação. Singer (1999, p. 30) apresenta que: 39 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃODE CONTRUÇÃO Capítulo 1 Apesar de todas as provas em contrário, a tese de que a infl ação sempre é causada por excessos de gasto público é sustentada por evidentes motivos ideológicos. Como os liberais acreditam que os mercados deixados livres, sempre se equilibram eles não podem admitir que a incessante elevação do índice de preços possa ser provocada por disputas entre setores da própria sociedade civil. De modo que evitar para eles sustentar que qualquer infl ação se origina no setor público e só pode ser debelada mediante um ajuste fi scal acompanhado por políticas monetárias restritivas. Boa parte das ações estratégicas do Governo Federal estava em garantir a inserção da economia do Brasil no ritmo e no espaço necessitado ao ciclo da internacionalização dos mercados de capitais, como no modelo de produção e comercialização mundial dos bens de consumo. Sendo assim o Brasil passou a ter uma inserção à globalização e ou modernização da economia, gerando uma suspensão maior nas barreiras alfandegárias para os produtos importados, como tambéma condução dos capitais estrangeiros pela alienação do patrimônio público, ou seja, a privatização de empresas estatais, o domínio superfi cial da infl ação, na base da manutenção dos juros altos e do arrocho salarial. A conjuntura econômica, social e política colocou as classes trabalhadoras em desgastes, desmobilização política e perda dos direitos sociais. Para Fiori (1997, p. 52): O que os conservadores chamam de ‘custo social’ da reestruturação ou ajuste das economias nacionais às condições de competitividade global, não seriam apenas efeitos transitórios, seriam permanentes e crescentes e resultariam da armadilha circular imposta pelas políticas defl acionistas quando propõem, simultaneamente, a estabilidade e a paridade das moedas, a manutenção do equilíbrio fi scal e o aumento da competitividade. E não parece difícil perceber que, na medida em que aqueles dois primeiros objetivos levam a um crescimento econômico medíocre, a responsabilidade pelos equilíbrios macroeconômicos se transfere, de maneira crônica e impotente, para o campo do corte dos gastos fi scais que já estão a esta altura no seu limite pressionados pelos altos juros que a dívida pública enfrentou nestes últimos quinze anos. 40 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL A abertura da economia e a entrada e saída estimulada do capital especulativo fragilizou todo o processo produtivo agrícola e industrial, sendo os dois setores não produtivos, pois não tinham como objetivo gerar empregos. Netto (1999, p. 79) expõe o seguinte: A inviabilização da alternativa constitucional de construção de um Estado com amplas responsabilidades sociais, garantidor de direitos sociais universalizados, foi conduzida por FHC simultaneamente à implementação do projeto político do grande capital. [...] tratava-se de implementar uma orientação política macroscópica que, sem ferir grosseiramente os aspectos formais da democracia representativa, assegurasse ao Executivo federal a margem de ação necessária para promover uma integração mais vigorosa ao sistema econômico conforme as exigências do grande capital e, portanto, sumamente subalterna. Algumas empresas brasileiras, principalmente, as menos competitivas no mercado fi nanceiro, tiveram difi culdade em manter a produção dos produtos, mediante o encarecimento externo do valor fi nanceiro dos empréstimos para dar continuidade ao empreendimento. Muitas delas decretaram falência e outras foram vendidas para grandes investidores multinacionais. Os estados e municípios foram afetados pela diminuição das arrecadações tributárias e também pelos fi nanciamentos dos seus programas. A situação imposta aos trabalhadores destruídos pelo achatamento salarial, pelo desemprego, pela completa e total precarização das condições de trabalho e também de vida, acabou gerando uma instabilidade dos sujeitos e um alastramento da violência social, urbana e doméstica. De acordo com Fiori (1997, p. 51), os trabalhadores e familiares: [...] “já abriram mão de muitos de seus direitos e o desemprego segue aumentando”. O acesso da população brasileira aos direitos sociais garantidos na CF/88 e condições dignas de vida, no fi nal do século passado, foram registrados em uma conjuntura de crise estrutural do sistema econômico, em determinação das medidas sobre o ajuste fi scal e de reorganização produtiva e fi nanceira que se desenvolveram através de medidas neoconservadoras das instituições internacionais e por representação do Governo Federal. O que acontecia era um contraponto nos termos incontestáveis da agenda social para o Brasil, pois o processo de globalização, da maneira que se instalou no país, gerou consequências que refl etiram no aumento da exclusão social, muito mais que na reversão da recessão da economia. 41 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃODE CONTRUÇÃO Capítulo 1 Contrariamente, a análise mais crítica de todo esse processo recomenda uma articulação diante dos efeitos e das causas da crise econômica. Onde o sistema capitalista prevalece só se pode diminuir as taxas de empregos e de crescimento econômico, determinando um grande exército de pessoas, submetidas a viver na miséria ou abaixo a linha de pobreza. São trabalhadores forçados a viver, sobreviver. Os autores Lessa et al. (1997, p. 68) apresentam que: O desmonte do projeto da seguridade social data do início dos anos 90, quando o repasse de recursos de contribuições sociais arrecadadas pela União em nome da seguridade começou a ser de gestão orçamentária em termos de alta infl ação, que consistia em cortar gastos, em termos reais, pela corrosão de seu valor provocado por atrasos deliberados de repasses. Como pobre não tem lobby, os ministérios sociais, ditos do ‘gasto’, e suas clientelas têm sido as maiores vítimas desse procedimento. Estes setores sociais não obtiveram proposta alguma do Governo Federal, como também as ações e projetos concretos fi caram à mercê do compromisso e comprometimento ético, pautados no combate à exclusão social da população brasileira. Sendo assim, uma subjuntiva maioria da população perdeu os direitos sociais, com exceção dos grupos que estão no poder governamental, estimulados pelos grandiosos lucros, obtidos através da sonegação fi scal, como já mencionado anteriormente. O Congresso Nacional foi um ator importante neste período, pois através do seu apoio maioritário para o governo e para as elites dirigentes conseguiu manter a hegemonia diante dos projetos propostos. Analisando as propostas da eleição presidencial de 1989, na qual Fernando Collor de Melo foi eleito pela promessa de “caçar marajás”, percebe-se que esta não foi realizada. Já Fernando Henrique Cardoso, quando eleito no ano de 1994, foi mais sofi sticado e talentoso nos seus programas de governo, através da promessa da Reforma do Estado Brasileiro, ou seja, a desmantelar o Estado varguista. Mas não foi uma proposta fácil de ser implementada, uma vez que o Estado não deixou de ser o instrumento difusor das regulações sociais, mesmo com a conjuntura de um mercado livre, expressada pelo neoliberalismo, ou seja, o Estado mínimo para os trabalhadores e máximo para capital. 42 SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL É visível um movimento de ampliação da centralização do poder político e econômico, mediante à revelia da democratização das instituições e da sociedade, que são determinadas como as lutas de classes do fi nal século passado. Para Coutinho (1989, p. 138) [...] o atual governo adotou um caminho cada vez mais claro. Longe de propor medidas que desmontassem os traços mais perversos do ‘Estado varguista’ limitou-se em reiterar a ação econômica estatal voltada para a defesa dos interesses da acumulação capitalista privada e em tentar remover (sempre em função dos interesses dessa acumulação) signifi cativos direitos sociais, garantidos sobretudo – para além dos marcos do ‘Estado varguista’ – pelas lutas populares cristalizadas na Constituição de 1988. Com as disputas eleitorais que estavam em jogo durante o período pós CF/88, a sociedade civil foi alvo de um ciclo de reformas estruturais inacabadas e que concluem a chamada programática neossocialista, ou seja, a ascensão do poder antipopular com as alianças partidárias do Partido da Frente Liberal (PFL) e do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), com a eleição do Presidente FHC, no ano de 1994 e no ano de 1988, a mesma aliança foi reeleita, e agregou outros partidos, como o Partido Progressista Brasileiro (PPB), Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Partido Liberal (PL), dentre outros. Entre as reformas estava a aceitação da anulação e quebras dos monopólios públicos, que estavam legalmente amparados constitucionalmente como os monopólios do Petróleo, os monopólios das Telecomunicações e os monopólios dos Portos, e logo após as privatizações das empresas estatais como a Companhia Siderúrgicas
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