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Olá! É muito bom ter você em nosso curso Saúde Mental, Atenção Psicossocial e Interculturalidade nas Migrações. Este módulo vai focar em apoios específicos para a população migrante. Aqui, nosso foco não serão especialistas em alguma profissão específica da saúde ou da assistência social, mas em qualquer pessoa que trabalhe com a população migrante. Afinal, nós sabemos que boa parte dos serviços prestados para essa população não é feito por especialistas em saúde mental. Unidade 1 - O SUAS e o trabalho em rede em SMAPS Módulo 3 - O SUAS e o trabalho em rede em SMAPS Olá! É muito bom ter você em nosso curso Saúde Mental, Atenção Psicossocial e Interculturalidade nas Migrações. Essa é a única unidade do Módulo 3 e, se você ainda não conferiu os módulos anteriores, sugerimos que comece por eles. Este terceiro módulo vai focar em apoios específicos para a população migrante. Aqui, nosso foco não serão especialistas em alguma profissão específica da saúde ou da assistência social, mas em qualquer pessoa que trabalhe com a população migrante. Afinal, nós sabemos que boa parte dos serviços prestados para essa população não é feito por especialistas em saúde mental. Ainda, uma grande parte de apoio psicossocial pode sim ser feita por pessoal de qualquer área. E, com treinamento, o atendimento poderá ser acolhedor às demandas em SMAPS e facilitar informações para que sejam feitos encaminhamentos às redes integradas aos sistemas de garantia de direitos no Brasil. 1 de 1 Unidade 1 - O SUAS e o trabalho em rede em SMAPS Ao final dessa aula, nós teremos: 1. Apresentado o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e a assistência social para migrantes no Brasil; O conteúdo dessa aula foi adaptado de publicações anteriores da IOM, principalmente: 2. Discutido a respeito das vulnerabilidades específicas de pessoas migrantes e referenciamento para rede especializada; 3. Apresentado boas práticas para enfrentar os desafios ao trabalhar com a pessoa migrante. Guia de Atendimento a Migrantes Internacionais no Âmbito do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) da OIM e do Ministério da Cidadania – Manual sobre Saúde Mental e Apoio Psicossocial de Base Comunitária em Emergência e Deslocamento – Manual sobre Saúde Mental e Apoio Psicossocial de Base Comunitária em Emergência e Deslocamento Cap. 1: Conceitos e Modelos de Trabalho. Autoria: Guglielmo Schininà, Renos Papadopoulos e Jack Saul. https://www.iom.int/sites/g/files/tmzbdl486/files/mhpss/segunda-edicion-manual-smaps-emergencias-y-desplazamiento.pdf Introdução Nós reconhecemos que o trabalho diário com a população migrante, principalmente feito por quem presta serviço direto, é desafiador. Muitos desses desafios têm a ver com situações de vulnerabilidade. As situações de vulnerabilidade são referentes a circunstâncias nas quais uma pessoa ou um grupo tem uma diminuída capacidade em resistir, lidar e se recuperar devido a situações de violência, exploração, abuso e/ou violação de direitos. Não esperamos que ninguém, nem nenhuma organização, dê conta de responder a todas as demandas e situações de vulnerabilidade da população migrante. A aula de hoje é mais um novo lembrete à noção de que o trabalho em SMAPS é um trabalho em rede. Boa Aula! A população migrante não é, por si só, vulnerável. Mas, o processo migratório pode aumentar vulnerabilidades existentes ou causar vulnerabilidades, especialmente quando a migração acontece de maneira forçada e irregular. O entendimento da importância do trabalho em rede é já muito importante, especialmente quando diversas vulnerabilidades se somam - como muitas vezes é o caso da população migrante. Nós sabemos que, embora não seja a maioria das pessoas que migram, parte da população migrante vai precisar de um acolhimento mais específico em relação a demandas em SMPAS que vão exigir uma maior supervisão do caso, seja a nível individual ou comunitário e familiar (IASC, 2007). Por exemplo, uma pessoa sobrevivente de violência de gênero (VBG) que está em um abrigo para pessoas migrantes coordenado por uma organização humanitária, pode precisar de um suporte individual e comunitário maior em diferentes níveis, inclusive emocional e socioeconômico. Novamente, aqui não estamos falando necessariamente de intervenção especializada do ponto de vista psicológico ou jurídico para o caso de violência, por exemplo, mas de uma resposta mais atenta às necessidades geradas ou aumentadas pela situação de violência Lembrando que um bom acolhimento exige uma conexão humana legítima e uma postura que: seja baseada nos direitos humanos; não cause mais danos à pessoa acolhida; não reproduza discriminação; inclua a pessoa migrante na tomada de decisões relevantes à sua proteção e assistência; respeite a singularidade, com atenção individualizada, com respeito à confidencialidade, privacidade e proteção de dados; seja responsável e preste contas de seu trabalho; Assim, em caso de necessidade, profissionais que trabalham com a população migrante e que não possuem especialização para determinada situação de vulnerabilidade, buscarão encaminhamentos com especialistas para apoiar a oferta de cuidado. O trabalho em rede: assistência social para migrantes no Brasil Em aulas anteriores, nós apresentamos o SUS e a rede de saúde mental, mostrando como o Brasil apresenta em sua política uma gama de serviços gratuitos e especializados em SMAPS, que podem ser ofertados à população migrante, independentemente de seu status migratório. Agora, vamos ter a oportunidade de falar mais do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). permita o livre acesso da pessoa migrante ao acolhimento; seja sensível às interseccionalidades, como gênero, idade, raça e etnia etc.; seja parte de um trabalho em rede. A primeira coisa é nos lembrarmos que a Constituição Federal de 1988 garante igualdade de direitos para todas as pessoas residentes no Brasil, nacionais ou migrantes, com limitações apenas aos direitos políticos, como o direito ao voto e concorrer a uma eleição. A política do SUAS foi estabelecida a partir da Política Nacional de Assistência Social (PNAS), desenhada na Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) em 1993. Em 2004, existiu um marco importante na assistência social brasileira, a partir da Norma Operacional Básica (NOB/SUAS 2005) que estabeleceu diretrizes e regras para a organização, gestão e execução dos serviços do SUAS. A criação do SUAS é muito importante para que uma lógica de garantia de direitos substituísse o assistencialismo na resposta às demandas sociais, por meio de uma resposta estruturada do Estado brasileiro. Os princípios do SUAS, que orientam o atendimento para a população nacional e migrante são: Universalidade – Todas as pessoas têm direito à assistência, sem discriminação. Gratuidade – Ausência de contribuição financeira. Todos os outros direitos, como saúde, educação e assistência social também são garantidos a quem migrou ao Brasil, independentemente do status migratório. As funções da assistência social são: proteção social, vigilância socioassistencial e defesa de direitos assegurando renda, acolhida, vivência familiar, comunitária e social, autonomia, apoio e auxílio (Secretaria Nacional de Assistência Social, 2012). É fato que o acolhimento de pessoas migrantes nas políticas de assistência social são um desafio em todo o mundo, no Brasil inclusive. Mas, apresentando a estrutura do SUAS e as políticas socioassistenciais, esperamos apoiar quem trabalha com a população migrante a orientar esse público sobre o funcionamento dos serviços de assistência social no Brasil. Integralidade – Toda pessoa tem direito a todos os serviços socioassistenciais. Intersetorialidade – Integração e articulação da rede socioassistencial com as demais políticas e órgãos setoriais. Equidade – Respeito às diversidades, priorizando quem estiver em situação de maior vulnerabilidade e risco pessoal e social. O SUAS é organizado assim:Proteção Social Básica (PSB) – Objetivo de prevenir situações de vulnerabilidade, riscos e violações de direitos, visando a inclusão social. A porta de entrada são os Centros de Referência de Assistência Social (CRAS). CRAS realizam cadastro no Cadastro Único (CadÚnico) e orientam famílias para o acesso de benefícios socioassistenciais, realizam encaminhamento para outros serviços, atividades de apoio, entre outras atividades. Proteção Social Especializada (PSE) - média e alta complexidade – Atende situações de violação de direitos ou alta vulnerabilidade social, como situações de violência, maus-tratos, abandono, tráfico de pessoas, situação de rua, discriminação etc. Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS) são os principais centros de apoio da PSE. Oferecem serviços mais especializados que o CRAS e se organizam em dois níveis: média e alta complexidade. Média complexidade: atende situações de risco pessoal e social. Alta complexidade: visa garantir proteção integral em situações de rompimento ou extrema fragilização dos vínculos familiares e realiza atendimento temporário em serviços de acolhimento. Abaixo, temos um quadro disponibilizado no Guia de Atendimento a Migrantes Internacionais no SUAS: Figura 1. Quadro síntese dos serviços socioassistenciais Fonte: OIM, 2022 Não existem serviços exclusivos para pessoas migrantes, mas as situações de vulnerabilidade enfrentadas pela pessoa migrante que busca apoio no CRAS ou no CREAS deverão ser avaliadas para a inclusão e/ou encaminhamento para os serviços disponíveis. Saiba Mais + Para se aprofundar mais nas políticas de assistência social para migrantes no Brasil, recomendamos fortemente a leitura do guia! LER GUIA Além disso, uma prática inovadora do Brasil é o App Clique Cidadania, que pode ser acessado tanto por pessoas brasileiras como migrantes, e elenca as políticas de assistência social em nosso país. Além disso, possui georreferenciamento para os serviços disponíveis no território. Saiba Mais + O Clique Cidadania é gratuito e foi desenvolvido em uma parceria da OIM e Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania. O download pode ser feito aqui. DOWNLOAD Relembramos que pessoas e famílias migrantes podem acessar os serviços do SUAS, tanto na proteção básica quanto na especializada, independentemente do status migratório. https://brazil.iom.int/sites/g/files/tmzbdl1496/files/documents/Guia-Atendimento-a-Migrantes-Internacionais-no-SUAS.pdf https://play.google.com/store/apps/details?id=br.gov.mmfdh.guiadireitoseservicos&pli=1 Vulnerabilidades especí�cas das pessoas migrantes e referenciamento para redes especializadas Como falamos, a migração, por si só, não é uma situação de vulnerabilidade. Porém, algumas pessoas migrantes podem enfrentar situações vulneráveis, em diferentes estágios do processo migratório e por conta de diversos motivos, como situações referentes ao país de origem e ao deslocamento, e, no local de destino, à ausência de regularização migratória, fragilização de redes sociais de apoio, trabalho precário, dificuldades linguísticas, desconhecimento sobre direitos, além de preconceito e discriminação. É preciso reconhecer as especificidades de pessoas migrantes em situação de vulnerabilidade, em sintonia com os princípios da política de assistência social. O Guia de Atendimento a Migrantes Internacionais no SUAS elenca alguns desses perfis: Pessoas Migrantes Idosas – Situações que podem agravar vulnerabilidades: Dependência de cuidados e para mobilidade, falta de cuidados adequados, vínculo frágil ou inexistente com pessoas cuidadoras. Serviços da assistência social que podem aliviar vulnerabilidades: Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculo (SCFV); Serviço de Proteção Social Básica no domicílio para Pessoas com Deficiência e para Pessoas Idosas; Serviço de Proteção Social Especial para Pessoas com Deficiência, Idosas e suas Famílias; Benefício de Prestação Continuada (BPC) (>65 anos, baixa renda familiar). Migrantes com De�ciência – Situações que podem agravar vulnerabilidades: Dependência de cuidados e mobilidade, vínculo frágil ou inexistente com pessoas cuidadoras, isolamento e exclusão laboral. Serviços da assistência social que podem aliviar vulnerabilidades: Serviço de Proteção Social Especial para Pessoas com Deficiência (PcD), Idosas e suas Famílias; Serviço de Acolhimento Institucional em Residência Inclusiva; Benefício de Prestação Continuada (BPC) (comprovação que é PcD e baixa renda familiar); Programa BPC na Escola (crianças e adolescentes com deficiência). Migrantes LGBTQIA+ – Situações que podem agravar vulnerabilidades: Vínculo familiar frágil ou inexistente, exclusão laboral, violência baseada em gênero (VBG), discriminação. Serviços da assistência social que podem aliviar vulnerabilidades: Auxílio Brasil; Programa Acessuas Trabalho; Outros a depender das interseccionalidades. É importante salientar da importância da inclusão do nome social para pessoas trans, travestis e não binárias no registro no CadÚnico e nos acompanhamentos além da necessária sensibilidade em considerar orientação sexual e identidade de gênero. Crianças e adolescentes migrantes desacompanhadas/os ou separadas/os – Crianças, em geral, precisam de um olhar mais atento em relação às suas especificidades. Estarem desacompanhadas ou separadas de suas famílias é uma situação de muita vulnerabilidade. Outras situações incluem maus-tratos, abandono, perseguição pelo crime organizado e tráfico de pessoas. Serviços da assistência social que podem aliviar vulnerabilidades: Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF); Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV); Serviço de Proteção e Atendimento Especializado à Família e Indivíduos (PAEFI); Serviço Especializado de Abordagem Social, entre outros. Além disso, a autoridade judiciária deve emitir medida protetiva de acolhimento (Brasil, 1990) e juizado da infância e juventude deve ser comunicado em 24hs. O trabalho é em rede com todos os outros órgãos competentes, como Conselho Tutelar, Ministério Público, entre outros atores Importante: deve-se sempre assegurar o superior interesse da criança e do adolescente (Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a Convenção da ONU sobre os Direitos da Criança (1989). Saiba Mais no Guia de Atendimento a Migrantes Internacionais no Âmbito do Sistema Único de Assistência Social (SUAS)! Meninas e Mulheres em situação de violência – Situações que podem agravar vulnerabilidades: ausência de regularização migratória, rede social frágil ou inexistente, falta de conhecimento sobre seus direitos. Serviços da assistência social que podem aliviar vulnerabilidades: Serviço de Acolhimento para Mulheres em Situação de Violência; Outros serviços intersetoriais. Para fazer denúncias e receber orientações sobre esses serviços: Ligue 180 Acesse https://www.gov.br/mdh/pt-br/ondh Baixe o APP “Direitos Humanos Brasil”, disponível em Android ou IOS. Importante: Meninas também deverão ser amparadas conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente. Migrantes em situação de rua – Migrantes em situação de rua podem acessar a Política Nacional para a População em Situação de Rua. Existem Centros de Referência da População de Rua, conhecidos também como “Centro Pop”, voltado especialmente para pessoas em situação de rua. Serviços da assistência social que podem aliviar vulnerabilidades: Serviço Especializado em Abordagem Social; Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua (Centro Pop); Serviço de Acolhimento Institucional para Adultos e Famílias, entre outros. https://www.gov.br/mdh/pt-br/ondh Sobreviventes do Trá�co de Pessoas – Pessoas migrantes fazem parte de uma população considerada vulnerável ao tráfico de pessoas, especialmente quando estão indocumentadas. Pode ser que a pessoa que foi vítima de tráfico de pessoas não tenha clareza disso. Assim, caberá à pessoa profissional a sensibilidadede avaliar a situação. Alguns indicadores que a pessoa pode ser vítima de tráfico: Documentos de viagem, como passaporte, em poder de outra pessoa; Documentos pessoais e de viagem falsos; Sentir temor em revelar sua situação migratória; Trabalho contra vontade em longas jornadas e sem dias livres; Mostra sinais de que é vigiada por alguém (como amizades, família ou patrão/patroa); Impossibilidade de abandonar o local de trabalho; Residir no local em que trabalha; Não saber o local em que está; Ter que reembolsar gastos com a viagem do país de origem, trabalhando no local de destino, ou relatar dívidas; Ter restrição de liberdade em razão de obrigações financeiras. Trabalho em condições precárias e insalubre; Relatar não ter posse do seu salário ou controle sobre vida financeira; Sofrer ameaças de violência contra si ou familiares; Lesões visíveis de violência física (como queimaduras de cigarro); Marcas, como tatuagens ou cicatrizes, que sugere, “propriedade” de outra pessoa; Não ter acesso a atenção médica; Psicologicamente, podem relatar também sentirem muito medo, ansiedade, depressão e ideação suicida. Ainda, manter-se calada deixando que outra pessoa fale por si quando lhe dirigem a palavra. Pode ser que sejam relatadas ameaças de morte. Nesse caso, deve-se acionar os programas de proteção específicos existentes no território. Durante o atendimento com uma pessoa que possivelmente é vítima do tráfico de pessoas deve- se adotar as seguintes posturas: Nesses casos, onde o sofrimento se mostra intenso é muito importante realizar encaminhamento para pro�ssionais especialistas em acolher esse tipo de demanda, inclusive em atendimento emergencial em saúde mental. Manter confidencialidade e sigilo profissional; Ser imparcial, especialmente na elaboração de relatórios e encaminhamentos; Informar a vítima sobre os encaminhamentos realizados, que podem ser entendidos como inseguros para si ou para familiares; Não expressar opinião jurídica para a vítima; Acionar Ministério Público Federal e Polícia Federal. Outros perfis, como indivíduos e famílias indígenas migrantes, também merecem atenção especial já muitas vezes se encontram em situações de vulnerabilidade social no Brasil de diversas ordens, inclusive em situação de rua. Importante sempre pensar nas especificidades da população indígena migrante, como falamos na aula 6. Não queremos dizer que pessoas que fazem parte de algum desses grupos vai, necessariamente, enfrentar problemas relacionados a vulnerabilidades (IASC, 2007). Com exceção dos grupos Canais de Denúncia: Disque 100 Disque 180 (em caso de meninas e mulheres) Saiba Mais + – Para se aprofundar mais no atendimento de pessoas sobreviventes de tráfico, inclusive na construção de protocolos em seu local de trabalho, a OIM elaborou uma cartilha de orientação para a construção de fluxos de atendimentos a vítimas de tráfico de pessoas, que pode ser acessada aqui. Ainda, a OIM possui um curso sobre escuta qualificada para grupos vulneráveis ao tráfico de pessoas, que pode auxiliar tecnicamente profissionais que trabalham com a população migrante. Você pode se inscrever no curso aqui. https://brazil.iom.int/sites/g/files/tmzbdl1496/files/press_release/file/cartilhadefluxos_final_digital.pdf https://brazil.iom.int/pt-br/escuta-qualificada-para-vulneraveis-ao-trafico-de-pessoas mencionados em que a própria situação já denota vulnerabilidade, como sobreviventes de violência de gênero e de tráfico de pessoas, e crianças e adolescentes separadas/os ou desacompanhadas/os. De forma geral, todos esses grupos vão precisar de um olhar atento das equipes de SMAPS no enfrentamento de dificuldades, inclusive auxiliando-os a buscarem ajuda nos serviços especializados, como os da assistência social. Importante relembrarmos que o trabalho em SMAPS se faz de através de uma abordagem participativa que objetiva facilitar as possibilidades para que as pessoas migrantes assumam o controle de suas próprias vidas. Importante notar que todas as aulas anteriores elencam sugestões de prevenção e resposta a algumas vulnerabilidades, como por exemplo, o fortalecimento das redes sociais afetivas das pessoas migrantes nos locais de acolhimento. Ainda, além de reconhecer as consequências negativas para a saúde mental devido ao contexto da migração, é preciso reforçar os ganhos e o fortalecimento de mecanismos de enfrentamento e habilidades que as pessoas tinham antes da migração. Ao trabalhar com as pessoas e comunidades migrantes, as respostas às adversidades devem ser vistas não apenas destacando as respostas negativas, mas conectando-as também com as respostas neutras e fatores de resiliência: ou seja, o que faz com que pessoas e comunidades migrantes consigam continuar após crises. Para isso, é necessário fortalecer os recursos, qualidades, habilidades, redes e mecanismos de enfrentamento preexistentes, atenuando as respostas negativas às adversidades. Em aulas anteriores, falamos sobre interseccionalidade, ou seja, a ideia de que diferentes marcadores vão interagir nas dinâmicas sociais e de opressão. Reforçamos que, nas situações de vulnerabilidade, raça, etnia, gênero, origem, entre outros, vão modular os riscos, seja acentuando-os ou aliviando-os, por meio de recursos pessoais e sociais. Além disso, cada pessoa reage de modo único a eventos que parecem similares. Então, não dá para saber como cada pessoa vai reagir e quais recursos, individuais e coletivos, terá a disposição para lidar com a situação. Boas práticas O mapeamento sobre as organizações da sociedade civil que prestam assistência em SMAPS para migrantes no Brasil, conduzido pela OIM e pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, mostra que o trabalho dessas organizações está fortemente baseado em um trabalho de redes formais e informais em que diferentes atores se somam para prestar serviços à população migrante. Os encaminhamentos feitos pelas organizações são, na sua maioria, feitos para a rede pública de saúde e assistência social, incluindo: É fundamental focar nos recursos que cada pessoa tem para enfrentar as situações que está vivenciando. Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Hospitais Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) Ao responderem a pesquisa, profissionais que trabalham com SMAPS relataram a importância desse trabalho em rede, fortalecido através de atividades como seminários, visitas institucionais, equipes conjuntas, promoção de formações sobre migração, encaminhamentos e acompanhamento de casos etc., e, assim, mesmo que essas organizações não prestem o atendimento direto, encaminham aos serviços e proveem informação adequada sobre disponibilidade de serviços para migrantes. Para isso, é fundamental que profissionais que trabalham com a população migrante tenham conhecimento da rede, seus atores e serviços oferecidos por cada ator, para que o trabalho em SMAPS seja mais potente e efetivo para a população migrante no Brasil. Boa parte das organizações da sociedade civil que prestam assistência em SMAPS no Brasil, como mostra o mapeamento, apresentam soluções e boas práticas em intervenções de base comunitária em SMAPS. Aqui, trazemos algumas delas, que podem aliviar vulnerabilidades a partir de ações feitas também por pessoal não especializado em alguma área específica da saúde mental ou atenção psicossocial, como psicologia, psiquiatria ou assistência social. Assim, destacaremos essas ações para compartilhar ideias com pessoas ou instituições que oferecem ou buscam oferecer serviços em SMAPS para a população migrante no Brasil: Centros de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) Barreiras Linguísticas – Boas práticas Oferecimento de serviços SMAPS em outros idiomas. Exemplos de atividades Aulas de português, uso de intérpretes e pessoas migrantes voluntárias, capacitações de idiomas para a equipe, tradução online e outras formas de cuidado nãoverbais e trabalho em rede com outras instituições que oferecem serviços em outros idiomas. Sugestões para fortalecimento das ações Treinamento e contratação de pessoas migrantes para atuação com mediação intercultural. Importante: As pessoas migrantes que oferecem serviços, inclusive de mediação intercultural, devem ter suas necessidades básicas atendidas e estar em um estado emocional estável. Não é recomendável contratar pessoas migrantes que estejam passando por adversidades como parte da equipe que fornece interpretação para pessoas em estado de vulnerabilidade. Isso pode causar danos porque a pessoa que faz o trabalho de intérpretação/mediação não está emocionalmente estável o suficiente para fornecer esse apoio. Diferenças Culturais – Boas práticas Compreensão, aprendizagem e compartilhamento intercultural Exemplos de atividades Atividades temáticas, celebrações típicas, grupos de conversa, escuta ativa e entendimento da cultura, arte terapia para grupos, reuniões de equipe para troca de informações, estudo de caso e aprimoramento do conhecimento sobre culturas, compreensão da organização sociocultural e religiosa dos grupos, para compreender as concepções de mundo e a concepção da saúde/doença pelos grupos. Barreiras Socioeconômicas – Boas práticas Apoio para a inserção econômica. Exemplos de atividades Oficinas geradoras de renda, formações e capacitação, preparação para a prova de Desse modo, as boas práticas nos mostram a importância do trabalho em rede para a promoção e proteção dos direitos das pessoas migrantes e, assim, da saúde mental e bem-estar. Da mesma forma, o trabalho em rede incentiva a construção de políticas públicas para a população migrante em seus territórios. Importante que qualquer profissional trabalhando com a população migrante, como, por exemplo, profissionais da psicologia e assistência social, busque sempre atualizações em suas áreas, inclusive através de notas técnicas. proficiência em língua portuguesa, apoio para auxiliar nos procedimentos para a revalidação de diplomas, intermediação com empresas para contratação, campanhas e com produção de material informativo sobre direitos de migrantes e documentação. Sugestões para fortalecimento das ações Contratação de pessoas migrantes nas próprias organizações que oferecem serviços. Di�culdades em acessar serviços – Boas práticas Facilitação no acesso aos serviços e colaboração na capacitação da rede SUS e SUAS. Exemplos de atividades Realização de atendimento direto em saúde mental, encaminhamento para as redes de saúde, assistência, segurança, rodas de conversa para explicar direitos e as formas de acesso de forma prática, parcerias com os serviços para levar o serviço diretamente aos migrantes (ex.: mutirões de saúde), apoio na comunicação com as instituições públicas, capacitações e de formações para os profissionais da rede pública. Lembre-se que falar de SMAPS é, primordialmente, falar de garantia de direitos, que fazem parte da promoção do bem-estar. O processo migratório pode aumentar vulnerabilidades existentes ou causar novas, especialmente quando a migração acontece de maneira forçada e irregular. É importante reconhecer que ninguém ou nenhuma organização pode lidar com todas as demandas e situações de vulnerabilidade da população migrante sozinha e, portanto, o trabalho em rede é crucial, especialmente quando várias vulnerabilidades se somam. Profissionais que trabalham com migrantes devem encaminhar casos de vulnerabilidade específica para especialistas que possam fornecer apoio adequado. No Brasil, migrantes, independentemente do status migratório, podem acessar serviços de assistência social por meio do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). A porta de entrada do SUAS são os Centro de Referência de Assistência Social (CRAS). Migrantes podem acessar o CRAS mais próximo para receber orientações, se cadastrar e ter encaminhamentos para os serviços disponíveis. Em situações de vulnerabilidade, fatores como raça, etnia, gênero e origem influenciam os riscos, podendo agravá-los ou diminuí-los, através de recursos pessoais e sociais disponíveis. Importante saber que cada pessoa reage de maneira única e, portanto, não é possível prever como cada pessoa reagirá ou quais recursos individuais e coletivos estarão disponíveis para lidar com a situação. Quem trabalha com SMAPS deve focar nos recursos que cada pessoa possui para enfrentas as situações de vulnerabilidade, e não focar apenas nas violências e violações. O trabalho em rede incentiva a construção de políticas públicas para a população migrante em seus territórios. Lembre-se que falar de SMAPS é, primordialmente, falar de garantia de direitos, que fazem parte da promoção do bem-estar. O que fazer: DI R E T O A O PO N T O O que evitar: Colaborar com os serviços de garantia de direitos, especialmente SUS e SUAS, para encaminhamentos para os serviços pertinentes. Fortalecer a abordagem intercultural no trabalho em rede. Conhecer e engajar com a rede de serviços de seu território. Focar apenas nas dificuldades enfrentadas pela pessoa migrante e esquecer-se dos recursos individuais e comunitários que ela tem para enfrentar as situações que está vivenciando. Achar que consegue resolver todas as demandas que a pessoa migrante está enfrentando de modo isolado, sem apoio de outros serviços e profissionais. Não informar a pessoa migrante sobre os encaminhamentos que serão realizados, deixando-a de fora de seu próprio processo. Canais para denúncias: Disque 100: Disque Direitos Humanos. Um serviço de atendimento telefônico gratuito destinado a receber denúncias, manifestações e reclamações sobre violações de direitos humanos. Ligue 180: Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência. 190: Polícia Militar Ouvidoria do Ministério da Cidadania: 0800 707 2003. Página web https://www.gov.br/mdh/pt-br/ondh Aplicativo “Direitos Humanos Brasil”, disponível em Android ou IOS. Aplicativo “Sabe” para denúncia por crianças e adolescentes. Referências – Publicações da OIM: OIM. (2017). International Dialogue on Migration 2017 background paper. Understanding migrants’ vulnerabilities: a solution-based approach towards a global compact that reduces vulnerabilities and empowers migrants. Genebra: IOM. OIM. (2021a). Assistência em Saúde Mental e Atenção Psicossocial à População Migrante e Refugiada no Brasil - A Rede de Apoio da Sociedade Civil. Brasília: OIM. OIM (2021b). Manual sobre salud mental y apoyo psicosocial con base comunitaria en emergencias y desplazamiento. Genebra: OIM. OIM. (2022). Guia de Atendimento a Migrantes Internacionais no âmbito do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Brasília: IOM. Outras Fontes: Brasil. (1990). Art. 93 da Lei 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da União. Brasília. Inter-Agency Standing Committee (IASC, Comitê Permanente Interagências). (2007). Diretrizes do IASC sobre saúde mental e apoio psicossocial em emergências humanitárias. Tradução de Márcio Gagliato. Genebra: IASC. https://www.gov.br/mdh/pt-br/ondh Secretaria Nacional deAssistência Social. (2012). Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social (NOB/SUAS). Brasília. Você chegou ao �nal desse módulo. Agora vamos testar seus conhecimentos? Feche esta página de conteúdo e acesse o exercício avaliativo que está disponível no ambiente virtual.
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