Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CIÊNCIAS POLÍTICAS E ÉTICA UNIASSELVI-PÓS Autoria: Dr. Sidelmar Alves da Silva Kunz Indaial - 2020 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jairo Martins Jóice Gadotti Consatti Marcio Kisner Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2020 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: K96c Kunz, Sidelmar Alves da Silva Ciências políticas e ética. / Sidelmar Alves da Silva Kunz. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 133 p.; il. ISBN 978-65-5646-222-6 ISBN Digital 978-65-5646-223-3 1. Ciência política. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 320 Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 Ciência Política, Estado e Governo: Fundamentos Básicos ..................................................................7 CAPÍTULO 2 Democracia, Poder e Eleição sob a Ótica do Estado Democrático de Direito .............................................................45 CAPÍTULO 3 Ética e Política nas Relações Estado-sociedade ..................83 APRESENTAÇÃO Olá, pós-graduando! Seja bem-vindo a essa experiência reflexiva na qual você será conduzido em direção a um aprofundamento sob a perspectiva teórica e prática concernente à compreensão de assuntos caros em nossa sociedade: a Ciência Política e a Ética. No primeiro capítulo, trataremos dos fundamentos conceituais e epistemológicos cruciais para a vida na atualidade. Nesse tocante, promoveremos a sua aproximação a temas consagrados e que merecem a nossa atenção e esforço para o entendimento em relação as suas peculiaridades: a Ciência Política, o Estado e o Governo. No segundo capítulo, enfrentaremos de modo esclarecedor e instigante temas clássicos como a Democracia, o Poder e a Eleição. Essa abordagem se pautará no horizonte de interpretação filosófica e metodológica alinhada à noção colmatada pelo Estado Democrático de Direito. No terceiro capítulo, procuraremos fazer um recorte sobre a Ética tratando do tema Política nas relações Estado-Sociedade, visto como integrador dos assuntos abordados neste livro. A análise procedida busca apresentar aos estudantes familiaridade com os conceitos essenciais para o entendimento das relações existentes entre Ciência Política, Estado e Governo. Além de assumir que a compreensão dos processos não ocorre de modo fragmentado, pois a sociedade é dinâmica e a sua análise implica uma visão sistêmica articulada à pretensão de pensar o todo. Dessa forma, acreditamos que será possível contribuir para a qualificação dos olhares dos discentes, bem como assegurar o necessário exercício reflexivo acerca das relações Estado-Sociedade, tendo como sustentação a interface entre a ética e a política. Bons estudos! Professor Dr. Sidelmar Alves da Silva Kunz. CAPÍTULO 1 Ciência Política, Estado e Governo: Fundamentos Básicos A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: • apresentar conhecimentos teóricos básicos acerca dos conceitos de Ciência Política, Estado e Governo, bem como de suas conexões; • conceituar Ciência Política, Estado e Governo; • utilizar os conceitos, temas e concepções aprendidos para construção do entendimento das relações existentes entre Ciência Política, Estado e Governo. 8 Ciências Políticas e Ética 9 Ciência Política, Estado e Governo: Fundamentos BásicosCiência Política, Estado e Governo: Fundamentos Básicos Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Neste capítulo, vamos estudar os conceitos de Ciência Política, Estado e Governo e a conexão existente entre eles. Serão abordados também os principais elementos utilizados para a análise da política e a partir dessa leitura compreenderemos o que está intrínseco ao conceito de política, e a concepção de que esta se apresenta em diferentes configurações e meios. A complexidade do termo é ampla, o melhor exemplo é a definição no Dicionário Aurélio: Conjunto dos fenômenos e das práticas relativos ao Estado ou a uma sociedade; arte e ciência de bem governar, de cuidar dos negócios públicos; qualquer modalidade de exercício da política; habilidades no trato das relações humanas; modo acertado de conduzir uma negociação estratégica (FERREIRA, 2009, p. 649). Neste capítulo, também trabalharemos as formas que representam o modo como um determinado governo estrutura os poderes e exerce o poder sobre os governados. Mostraremos que as principais classificações sobre as formas de governos remontam a Aristóteles, Maquiavel e Montesquieu. Aristóteles, na Antiguidade, as classificou como monarquia, aristocracia e democracia. A partir do período moderno, duas concepções de governo que ganharam destaque foram as classificadas por Maquiavel: a monarquia e a república; e as de Montesquieu: república, monarquia e despotismo. A partir dessa leitura, percebe-se que as formas de governo incluem sistemas democráticos e não democráticos de governar e estão relacionadas ao número de pessoas que detêm o poder. Ao final deste capítulo, perceberemos que existem várias perspectivas acerca do tema e não é nossa pretensão esgotá-lo. No entanto, a importância desse debate nos dá subsídios para analisar os conceitos, temas e concepções apresentadas para a construção das relações existentes entre ciência política, estado e governo. 2 CIÊNCIA POLÍTICA E ESTADO Na visão de Bonavides (2000, p. 26), a “[...] caracterização da ciência implica, segundo inumeráveis autores, a tomada de determinada ordem de fenômenos, em cuja pluralidade se busca um princípio de unidade”. Essa busca tem como pauta a investigação da evolução, das causas, das circunstâncias e das regularidades passíveis de serem observadas no âmbito do fenômeno tratado, como podemos observar na Figura 1. 10 Ciências Políticas e Ética FIGURA 1 – FENÔMENO POLÍTICO FONTE: <https://blogdaqualidade.com.br/3-dicas-para-fazer-a-politica- da-qualidade-valer-a-pena/>. Acesso em: 4 set. 2020. Desde Platão e Aristóteles, constata-se que a política se dava na polis, a ideia de constituição da polis é perpassada pelo princípio de que a cidade deve ser dirigida por governantes sábios, justos e virtuosos. É de Aristóteles a afirmação de que o homem é um animal político (zoon politikon). Na chamada polis grega, tanto o estudo da ética quanto da constituição da polis (da política) lançam as bases para o comportamento justo do indivíduo e do cidadão. O filósofo Platão compara a ideia de justiça, tanto no indivíduo quanto na sociedade, como sendo a harmonia entre suas partes. Dias (2007) retrata acerca da origem e da evolução do pensamento científico e nos informa que a ciência no Ocidente passou por dois grandes momentos de transformação na sua evolução. E é nesses momentos que “[...] seus principais elementos foram definidos, organizados, construídos, reconstruídos e questionados” (DIAS, 2007, p. 28-29). A primeira ruptura aconteceu nos séculos VI e V a.C., na Grécia Antiga, e a segunda na Renascença, sobretudo a partir do século XVI com a força da modernidade europeia. Nesses períodos, notamos o triunfo da ciência em detrimento de outras formas de pensar a realidade (DIAS, 2007). Roque (2009) elucida que na Grécia Antiga a ciência tinha como propósito alcançar as verdades universais, sendo que tais verdades eram, para Platão, independentesdos nossos sentidos, pois, em sua visão, somente a razão e a reflexão filosófica poderiam conduzir o ser humano até a verdade. Por seu turno, Aristóteles, diferentemente de Platão, entendia que a verdade partia da nossa experiência sensorial. 11 Ciência Política, Estado e Governo: Fundamentos BásicosCiência Política, Estado e Governo: Fundamentos Básicos Capítulo 1 Os escolásticos (termo que se refere aos estudiosos que produziram um método filosófico entre os séculos IX e XIII d.C.) se concentraram na dimensão lógico-dedutiva, uma intensa mobilização para o conhecimento das questões metafísicas e das ciências naturais. A Escolástica visou, sob grande influência do platonismo e, principalmente, do aristotelismo, a responder às diversas questões que a fé cristã suscitava no período. Sobre ciência e política, o sociólogo Max Weber retrata que “a ciência é um produto da reflexão do cientista, enquanto a política é produto do homem de vontade e de ação, ou do membro de uma classe que compartilha com outras ideologias e interesses”. E é essencial distinguir a política e a ciência e considerar que esta tampouco está isenta de valores” (QUINTANEIRO; BARBOSA; OLIVEIRA, 2008, p. 98). A fim de colaborar com a compreensão da Escolástica que se trata do segundo período da filosofia cristã no contexto do Renascimento Carolíngio, indicamos assistir ao vídeo Filosofia Medieval. Escolástica - Prof. Anderson, do canal “Filosofia Total com Prof. Anderson”, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=knoTMbvQoVA. A influência de Francis Bacon (1561-1626), considerado o fundador da ciência moderna, foi tão significativa que o método experimental passou a receber a conotação de método científico. Ressalta-se que, conforme Eva (2008), para Bacon, o conhecimento era concebido num recorte pautado na lógica indutiva, cuja captação da realidade se dava por intermédio dos sentidos. Postula-se a existência de um conhecimento verdadeiro que pode ser alcançado ao percorrer o caminho da observação, coleta, organização dos dados empíricos, explicações gerais e comprovação de hipóteses. A perspectiva de Bacon é marcada pelo otimismo metodológico, ou seja, a crença na “[...] obtenção de um método de interpretação da natureza, capaz de conhecer verdadeiramente as formas das coisas” (EVA, 2008, p. 48). Desta forma, os escritos de Bacon combatiam o pensamento de seus antecessores que, em seu entendimento, faziam uma exaltação às forças do espírito humano, porém, não promoviam auxílios concretos para que o homem dedicasse mais atenção para as sutilezas da natureza a fim de evitar as coisas insanas (EVA, 2008). A base empirista de Bacon (também chamada de insular 12 Ciências Políticas e Ética ou britânica) ia de encontro a outra frente filosófica da Modernidade, a idealista (ou continental, liderada por René Descartes). Essa dualidade iria perdurar por séculos, chegando com força nesses extremos, a depender da inclinação interpretativa das ciências. O empirismo subleva o idealismo justamente por garantir a verificação, algo mais tangencial no ideal-racionalismo francês, seu oposto – e por que não complemento – imediato, não ignorando as etapas de verificação experimental, mas com maior atenção para o patamar racionalista (KUNZ; ARAÚJO; CASTIONI, 2017, p. 20). Para o aprofundamento acerca do método experimental e do pensamento de Francis Bacon, sugerimos assistir ao vídeo Videoaulas Poliedro | Francis Bacon, do canal “TV Poliedro”, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=UfyOLHiY-lE. A partir do período conhecido como Renascentismo, uma corrente filosófica é criada, chamada de Racionalismo. Com inspiração na filosofia grega, o objetivo era teorizar o modo de conhecer dos seres humanos, não aceitando qualquer elemento empírico como fonte do conhecimento verdadeiro. Nesse cenário são considerados filósofos racionalistas: Descartes, Spinoza e Leibniz. O desenvolvimento intelectual e social em curso na Europa alcançou seu auge no século XVIII, com o Iluminismo. A ciência tornou-se a defensora da rebelião contra o dogma dos filósofos católicos. Na França, o grupo de intelectuais conhecido como Les Philosophes, que incluía Voltaire, Rousseau e Diderot, produziu a vasta reunião de informações chamada Encyclopédie, cuja ambição era catalogar o conhecimento humano num espírito da nova ciência. Rousseau contestou a velha ordem ao declarar que, em toda parte, o homem nasce livre. A pressão social por um sistema de governo mais igualitário levou à Revolução Francesa, em 1789, seguida pelas Guerras Revolucionárias e Napoleônicas, que sacudiram a ordem política estabelecida. Dentre os principais pensadores dessa corrente filosófica destacam-se: Voltaire, John Locke, Jean-Jacques Rousseau, Montesquieu, Diderot, Adam Smith, David Hume e Immanuel Kant. A partir do início do século XIX, o Positivismo de Auguste Comte rejeitou qualquer pretensão ao conhecimento não baseada na investigação científica e 13 Ciência Política, Estado e Governo: Fundamentos BásicosCiência Política, Estado e Governo: Fundamentos Básicos Capítulo 1 considerou os pensamentos religioso e metafísico antiquados. O filósofo afirmou que a sociedade devia ser tratada como um objeto de estudo científico e cunhou o termo sociologia. Para o aprofundamento acerca do pensamento positivista, sugerimos assistir ao vídeo Cientificismo, Positivismo Lógico e Positivismo Jurídico, do canal “Direito Sem Juridiquês”, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=g6mvj9-P00M. Com o intuito de colaborar com a apreensão do pensamento de Karl Popper, considerado um severo crítico do positivismo, indicamos assistir ao vídeo Karl Popper - FALSEABILIDADE | Prof. Anderson, do canal “Filosofia Total com Prof. Anderson”, disponível em https:// www.youtube.com/watch?v=eg9KKUAGv6M. Como abordado anteriormente, a ciência e a política tinham extrema importância na antiguidade grega, com o surgimento da polis, e posteriormente, na república romana. Muitos estudiosos trataram esses conceitos separados e juntos através dos séculos, e um dos melhores exemplos é a obra O Príncipe, de Nicolau Maquiavel, escrito na segunda metade do século XV. A referida obra retrata o contexto político de uma Península Itálica conturbada, marcada por constante instabilidade, uma vez que eram muitas as disputas políticas pelo controle e manutenção dos domínios territoriais das cidades e estados. Sua obra seria uma espécie de manual político para governantes que almejassem não apenas se manter no poder, mas também ampliar suas conquistas. A originalidade de Maquiavel estaria em grande parte na forma como lidou com essa questão moral e política, trazendo uma outra visão ao exercício do poder outrora sacralizado por valores defendidos pela Igreja. Considerado um dos pais da Ciência Política, sua obra pioneira, já abordava questões que ainda são importantes na contemporaneidade, tal como a legitimação do poder, principalmente se considerarmos as características do solo arenoso que é a vida política. 14 Ciências Políticas e Ética A Ciência Política propriamente dita só se constituiu muito mais tarde, no decorrer do século XIX. Ela reuniu filosofia moral, filosofia política, política econômica e história, por exemplo, para compor análises sobre o Estado, o governo e suas funções. Além disso, o século XIX ficou reconhecido por ser a era de surgimento das Ciências Humanas, tais como Sociologia, Antropologia e História. Surgiria nessa época algo diferente da Filosofia Política praticada pelos gregos antigos (JUNIOR, 2020). O termo Ciência Política foi cunhado por Herbert Baxter Adams, professor de História na Universidade Johns Hopkins (EUA), em 1880. Atualmente, aplica- se à teoria e à prática da política, assim como envolve descrições e análises dos sistemas e dos comportamentos políticos. Como ciência de estudo da política, dedica-se aossistemas políticos, às organizações e aos processos políticos. Atenta-se também para o estudo das estruturas e das mudanças nas estruturas, assim como análises de governo. Entre os focos de atenção dos cientistas políticos podem estar empresas, sindicatos, igrejas e vários outros tipos de organização dotados de estruturas e processos que se aproximem de um governo (JUNIOR, 2020). Na Figura 2 apresentamos os tipos de conhecimentos, para elucidar a demarcação da ciência na constituição do pensamento humano ao longo da história de como a ciência avançou e passou a ocupar espaço privilegiado na sociedade moderna e contemporânea, ressaltando as afirmações supracitadas no texto. FIGURA 2 – TIPOS DE CONHECIMENTO FONTE: <https://www.diferenca.com/conhecimento-empirico- cientifico-filosofico-e-teologico/>. Acesso em: 3 set. 2020. 15 Ciência Política, Estado e Governo: Fundamentos BásicosCiência Política, Estado e Governo: Fundamentos Básicos Capítulo 1 Quando olhamos para o quadro do século XIX, notamos que houve uma confiança exagerada da modernidade na ciência e nas suas possibilidades. A ciência se firmou como “[...] a religião da modernidade”, o próprio Comte, com sua nova ideologia positivista, propôs uma religião ateísta com suas próprias cerimônias e festas (DIAS, 2007, p. 36). A Figura 3 ilustra bem essa legitimação do conhecimento científico, apontando-o como sendo o único caminho e processo necessário para se obter a verdade, inclusive no plano espiritual em que se tenta construir bases para produzir explicações racionais associadas ao plano da fé. FIGURA 3 – CIÊNCIA COMO RELIGIÃO DA MODERNIDADE FONTE: <https://istoe.com.br/quando-ciencia-encontra-deus/>. Acesso em: 3 set. 2020. E foi nesse momento marcado pelo cientificismo que nasce as ciências sociais e, na atualidade, a visão que prevalece acerca do seu entendimento consiste em considerá-la como “uma busca constante de explicações e soluções, de revisão e reavaliação dos resultados, apesar de sua falibilidade e limites. É por meio destes conceitos, leis e teorias que se busca compreender e agir sobre as coisas, como um processo dinâmico e em construção” (CARTONI, 2009, p. 15). Com a divisão da ciência que se constituiu em uma construção para facilitar a exploração da realidade, a qual se apresenta complexa e desafiante. A divisão ocorreu em campos específicos para viabilizar o aprofundamento dos distintos objetos de investigação; de modo a proporcionar aprofundamento e acumulação de conhecimentos à medida que os pesquisadores conseguem verticalizar, cada vez mais, as suas análises concernentes as suas realidades de pesquisa. 16 Ciências Políticas e Ética A preocupação é no sentido de incentivar a interdisciplinaridade e a autonomização científica. Cada área ou ciência precisa convencer a si própria e as outras áreas de que o seu recorte da realidade tem objetividade, existe e merece ser analisada. O exemplo a ser citado da distinção das áreas e/ou ciências é querela entre Filosofia Política e Ciência Política. Sobre esse assunto, o filósofo Norberto Bobbio considera que: Para se legitimar como ciência, a Ciência Política se mostrou como diferente da Filosofia política. Uma vez que, ela teria uma função descritiva ou explicativa cujo objeto de análise seria avaliar a política tal como é (a “verdade efetiva”) com uma projeção “futurível”. Enquanto a Filosofia Política com sua função prescritiva apresentaria em objeto de análise “a política tal como deveria ser” assumindo uma projeção de teoria de uma idealização de governo (BOBBIO, 2000, p. 1). Os cientistas políticos se convenceram de que a realidade política existia e merecia ser recortada para aprofundamento, pois a política é explicada através de fatos políticos, econômicos, sociais e culturais. Assim, a ciência política assumiu a sua autonomização na justa medida em que os fatos políticos foram vistos como variáveis independentes e capazes de explicar outros fatos. A autonomização da ciência política não se deu somente no plano lógico, mas também no movimento histórico que tornou evidente o seu objeto de investigação. Em tal horizonte, a Ciência Política é apresentada como uma ciência que se submeteu a diversas críticas que colocavam em dúvida a sua existência como ciência, dado que havia uma inquietação do quadro científico quanto ao termo político que é entendido como movediço e instável (BONAVIDES, 2000). O cientista político Paulo Bonavides caracteriza que em razão da mutabilidade do material de estudo que o cientista político lida são constituídos “[...] não somente óbices quase invencíveis ao estudioso, como torna penosíssimo senão impossível o reconhecimento, na Ciência Política, de leis fixas, uniformes, invariáveis” (BONAVIDES, 2000, p. 41). Na esteira desse pensamento, também é inconcebível o cientista político se neutralizar perante o objeto que está analisando, dado que há uma tendência da consciência do pesquisador se conectar com o fenômeno em apreciação. A esse respeito, Bonavides (2000, p. 41) esclarece que: Sua aderência a determinado Estado, seu lastro ideológico, sua vivência em certa época, suas reações psicológicas em presença dos mais distintos grupos, desde a igreja, o sindicato e a comunidade até a família e a escola, fazem desse observador unidade irredutível, capaz de emprestar ao fenômeno observado todo o feixe de peculiaridades que o acompanham, recebidas ou inatas. 17 Ciência Política, Estado e Governo: Fundamentos BásicosCiência Política, Estado e Governo: Fundamentos Básicos Capítulo 1 O filósofo salienta ainda que “a Ciência Política, em sentido lato, tem por objeto o estudo dos acontecimentos, das instituições e das ideias políticas, tanto em sentido teórico (doutrina) como em sentido prático (arte), referido ao passado, ao presente e às possibilidades futuras” (BONAVIDES, 2000, p. 42). É importante ressaltar que a formação do pensamento político diz respeito a um dos aspectos da realidade que é fundamental para a compreensão da sociedade. E, nesse sentido, a ciência política sustenta sua relevância em função de tratar das temáticas relacionadas ao poder em vários aspectos ou momentos. Assinala-se que onde se tem poder e suas relações sociais encontra-se a política, haja vista que a política se manifesta nas relações de poder inerentes à vida social. Além disso, não há que se falar em um poder em apenas um ponto da estrutura social. O poder está nas práticas realizadas, não se refere a nenhuma coisa em específico, se estabelece por meio de mecanismos e dispositivos que se apresentam em uma rede de relações. Na ótica de Bonavides (2000, p. 24): [...] o fenômeno do poder, as competições de grupos e indivíduos para lograr influxo sobre a formação da vontade oficial ou apoderar-se dos instrumentos estatais de decisão, bem como as instituições existentes e os canais abertos ao curso dessa ação, constituem o substrato de toda a matéria política, cujo entendimento requer e impõe exigências de fundo teórico. Essas relações de poder estão presentes em distintos momentos na vida dos indivíduos. Os fatores políticos permeiam a vida em todos os aspectos, no entanto, os cientistas políticos definem a atividade, papel e área da ciência política relacionada ao Estado. Na Figura 4 fica evidenciada a atuação do fenômeno do poder no cotidiano das pessoas. FIGURA 4 – AS CONEXÕES DO PODER NA VIDA CULTURAL FONTE: <http://www.acervofilosofico.com.br/walter-benjamin-a-reprodutibilidade- da-obra-de-arte/o-conceito-da-industria-cultural-14/>. Acesso em: 12 set. 2020. 18 Ciências Políticas e Ética A Ciência Política busca a “[...] discussão de proposições respeitantes à origem, à essência, à justificação e aos fins do Estado, como das demais instituições sociais geradoras do fenômeno do poder, visto que nem todos aceitam circunscrevê-lo apenas à célula mater” (BONAVIDES, 2000, p.44). Tal célula embrionária diz respeito ao Estado e cada vez mais, na atualidade, se tem alargado as consciências, incorporando as contribuições dos partidos, sindicatos, igreja, organismos internacionais, dentre outros. A manutenção da ordem, da estabilidade e da boa convivência social constituiu a dimensão do Estado em separação da religião, da moral, do senso comum, da economia e do jurídico. O Estado passou a figurar com características, lógica e fim próprio. É necessária uma dimensão lógica e histórica centrada no aspecto político em separação de outros aspectos da realidade para viabilizar a existência de um Estado. Tendo em vista a existência e a necessidade de se ter uma situação sólida do Estado é fundamental considerar que o processo eleitoral, na contemporaneidade, tem avançado com vistas a concatenar o mundo político com a estabilidade das demais dimensões da vida, as quais suscitam integração do pensamento com as ações práticas. Deste modo, o mundo político não deve desestabilizar o mundo econômico. Nessa acepção, o atual processo histórico indica a pertinência de se conceber a sociedade conectada a seus distintos atores políticos como alternativa para assegurar a estabilidade na ordem econômico/social, como podemos perceber na figura a seguir. FIGURA 5 – POLÍTICA E ECONOMIA FONTE: <https://www.bombagiu.it/economia-e-politica/>. Acesso em: 3 set. 2020. 19 Ciência Política, Estado e Governo: Fundamentos BásicosCiência Política, Estado e Governo: Fundamentos Básicos Capítulo 1 Os aspectos do social com a política estão intrínsecos no marxismo e na chamada social democracia. No marxismo, conforme Quintaneiro, Barbosa e Oliveira (2008, p. 38), [...]“a consciência de classe conduz, na sociedade capitalista, à formação de associações políticas (sindicatos, partidos) que buscam a união solidária entre os membros da classe oprimida com vistas à defesa de seus interesses e ao combate aos opressores”. Em relação à social-democracia, surgida na Alemanha no início do século XX, dispunha como propósito realizar reformas sociais dentro do capitalismo. Vários países aderiram, sobretudo, através das políticas trabalhistas. Isso é política social. A partir desses elementos, entendemos que não é possível discutir acerca da ciência política sem entender o significado do Estado, considerando que ele é o seu objeto de estudo, e é nele que acontecem as decisões políticas e jurídicas da sociedade. Destarte, pontuamos que esse enquadramento torna fundamental a apreensão de sua estrutura em face do fato de que cada Estado tem a sua organização política, jurídica e societária específica. Como salienta Bonavides (2000), desde a Antiguidade aos nossos dias, o Estado é conhecido como ordem política da sociedade, embora essa denominação nem sempre tenha pertencido a ele. Na Antiguidade, a ideia de Estado era traduzida pela polis dos gregos ou a civitas e a república dos romanos, sobretudo, modelo do vínculo comunitário, de aderência instantânea à ordem política, como também a de cidadania. 1) Produza um texto em que você expresse a importância do conhecimento sobre Ciência Política, Estado e Governo para pensar as realidades políticas na atualidade. 3 FORMAS DE ESTADO O termo Estado (do latim status: modo de estar, situação, condição) data do século XIII e se refere a qualquer país soberano, com estrutura própria e politicamente organizado, bem como designa o conjunto das instituições que controlam e administram uma nação. Segundo Ferreira Filho (2001, p. 45), o conceito de Estado é o que estabelece ser ele “uma associação humana (povo), radicada em base espacial (território), que vive sob o comando de uma 20 Ciências Políticas e Ética autoridade (poder) não sujeita a qualquer outra (soberania)”. Nesta noção se encontram presentes os elementos do Estado, quais sejam, povo, território, poder e soberania. Vários filósofos se debruçaram sobre a definição e os desdobramentos sobre o conceito de Estado. Os ingleses Hobbes e Locke são considerados precursores da Teoria Clássica da concepção de Estado. De acordo com esta teoria, o Estado se originou de um “acordo entre os indivíduos, que ameaçados pela desagregação, buscaram uma forma de manterem-se seguros, assim como a suas propriedades considerados, como hoje, direitos essenciais à subsistência da vida em sociedade” (RAMOS, 2012, p. 4). Para Hegel (1770-1831), por sua vez, introduz na Teoria do Estado uma visão liberal tecnocrática. Para o filósofo, o Estado se sobrepõe aos interesses particulares, colocando a salvo o que há de essencial em cada interesse, isoladamente considerado, impondo princípios de racionalidade à sociedade. A família e a sociedade, em Hegel, condicionam-se à ideia de Estado. Opondo-se ao pensamento de Hegel, Marx, com sua crítica, levou a uma nova e revolucionária concepção de Estado, que pode ser entendida como uma teoria econômica da origem do Estado, apoiada, ainda, por Engels. Karl Marx contestava o Estado Liberal, que se tornara incapaz para resolver os conflitos de classes – capitalistas e operários. Caberia ao Estado buscar, além da igualdade jurídica, a igualdade econômica. Desta forma, o Estado era um “mal necessário”, pelo que, deveria ser transitório, isto é, deveria ser extinto como governo de pessoas, para dar lugar a um sistema de administração de coisas comuns (RAMOS, 2012, p. 6). Max Weber (1864-1920), ao discorrer sobre o fenômeno da centralização do poder, afirma ser o mesmo “monopólio da força legítima”. Segundo o autor, o surgimento do Estado Moderno se confunde com a história da tensão existente entre a descentralização do poder, ou policentrismo do feudalismo e a centralização do poder do Estado territorial “concentrado e unitário”, ou ainda, com a ampliação do espaço público, em detrimento do privado. Assim, Weber dimensionou o fenômeno administrativo do Estado ao afirmar que a burocracia supera as demais formas de administração. Ele definia a burocracia como uma forma de organização humana, baseada na racionalidade, entendida como adequação dos meios aos objetivos e fins pretendidos, a fim de garantir a máxima eficiência possível. A burocracia é tida, ante estes conceitos, como forma de poder (RAMOS, 2012). Mesmo na atualidade, a definição do que se entende por de Estado é vasta, complexa e abrange uma ampla diferenciação acerca da sua caracterização. 21 Ciência Política, Estado e Governo: Fundamentos BásicosCiência Política, Estado e Governo: Fundamentos Básicos Capítulo 1 Na esteira desse pensamento, Pereira (2009) mostra que há estudiosos que acreditam que não existe divergência acerca da concepção e definição do Estado, entretanto, não se trata de um consenso, dado que alguns pensadores consideram que definir Estado é complexo e se constitui como um grande desafio, tendo em vista que é concebido por vários aspectos que interferem na sua definição. Pereira (2009, p. 289) esclarece que o grupo que concorda que há uma definição do Estado ressalta a presença contínua de três elementos fundamentais: a) Um conjunto de instituições e prerrogativas, entre as quais, o poder coercitivo, que só o Estado possui por delegação da própria sociedade; b) o território, isto é, um espaço geograficamente delimitado onde o poder estatal é exercido. Muitos denominam esse território de sociedade, ressaltando a sua relação com o Estado, embora esse mantenha relações com outras sociedades, para além de seu território; c) um conjunto de regras e condutas reguladas dentro de um território, o que ajuda a criar e manter uma cultura política comum a todos os que fazem parte da sociedade nacional ou de que muitos chamam de nação. É interessante termos em vista essas considerações e demarcarmos que esses elementos se apresentam de uma forma mais ideal do que real, visto que, na perspectiva de Pereira (2009), há uma grande dificuldade por parte do Estado em efetivarseu poder, regular a sociedade, regular e gerenciar o ingresso de elementos externos no seu território. Nesse sentido, acentua que “[...] não é pacífica a existência do Estado e nem sua relação com os seus elementos, particularmente com a sociedade” (PEREIRA, 2009, p. 289). Conforme Bonavides (1986, p. 207), existem dois tipos de Estados, sendo que o Estado Federal ou Confederação: [...] deparam-se vários Estados que se associam com vistas a uma integração harmônica de seus destinos. Não possuem esses Estados soberania externa e do ponto de vista da soberania interna se acham em parte sujeitos a um poder único, que é o poder federal, e em parte conservam sua independência, movendo-se livremente na esfera de competência constitucional que lhes for assinalada para efeito de auto-organização. O Estado federado também conhecido como Estado federativo ou composto são estruturados na descentralização política em que os entes federativos podem exercer os seus poderes com base nos regramentos instituídos pela Constituição Federal. Há uma única soberania, a do Estado, mas os membros gozam de autonomia, então, os estados membros compartilham o poder central (CARVALHO FILHO, 2001). 22 Ciências Políticas e Ética O chamado Federalismo tem uma classificação própria, podemos considerar em federalismo por agregação, por desagregação ou segregação. No primeiro tipo, por agregação, estados soberanos e independentes abrem mão de parte de sua soberania para a formação de um novo Estado federativo, passando a ser apenas autônomos entre si, temos os Estados Unidos como exemplo. No federalismo por desagregação, o Estado federativo surge a partir de um Estado unitário que se descentraliza, normalmente por razões políticas e de eficiência, temos o Brasil como exemplo. Quanto à separação das competências e atribuições, o federalismo é dividido em federalismo dual e federalismo cooperativo. No dual, há uma separação rígida entre essas competências, não havendo qualquer interpenetração entre elas nem colaboração entre os entes, exemplo foram os Estado Unidos em sua origem. No federalismo cooperativo, as atribuições são exercidas de forma comum ou concorrente, privilegiando a atuação em conjunto e aproximando os entes federativos. Por esse motivo, o federalismo dual, no mundo moderno, está sendo gradualmente substituído pelo cooperativo. Outra classificação divide o federalismo em simétrico e assimétrico. No federalismo simétrico, há entre os entes federados uma homogeneidade quanto à cultura, ao desenvolvimento e à língua também, como nos Estados Unidos, por exemplo. No assimétrico, há uma diversidade cultural e linguística entre esses entes, como ocorre no Canadá, um país não só bilíngue, mas também multicultural. Também convém citar o federalismo orgânico, em que o Estado federal é considerado um organismo, buscando uma sustentação do todo em detrimento das partes. Esse modelo de federalismo é marcado por uma concepção centralizadora, em que os Estados-membros são enfraquecidos pelo poder central. Outro tipo, o federalismo por integração, há também uma preponderância do governo central em relação aos demais entes federativos. Porém, ele busca atenuar algumas características do modelo federativo clássico em nome da integração nacional. E por último, o federalismo de equilíbrio, que por sua vez, busca manter a harmonia entre os entes federados, reforçando suas instituições e utilizando estratégias como a criação de regiões de desenvolvimento, regiões metropolitanas, concessão de benefícios e programas para redistribuição de renda. O segundo Estado retratado por Bonavides (1986, p. 189) é o Estado Simples ou Unitário: “das formas de Estado, a forma unitária é a mais simples, a mais lógica, a mais homogênea. A ordem jurídica, a ordem política e a ordem administrativa se acham aí conjugadas em perfeita unidade orgânica, referidas a um só povo, um só território, um só titular do poder público de império”. 23 Ciência Política, Estado e Governo: Fundamentos BásicosCiência Política, Estado e Governo: Fundamentos Básicos Capítulo 1 No Estado unitário, faz uso do mecanismo de desconcentração do poder para assegurar a sua efetividade nas distintas localidades, no entanto, as instâncias administrativas ficam subordinadas à administração central. Desse modo, “[...] os órgãos que exercem a soberania nacional são unos para todo o território” (BASTOS, 1995, p. 96). Na tentativa de expor o outro ângulo, pondera-se que é perceptível a dificuldade de definir esse ente abstrato chamado Estado, sobretudo ao considerar os seguintes elementos problematizadores, como a compreensão do que é Estado de Direito, Estado Liberal e Estado de Bem-Estar Social. Cada formato de Estado reflete um contexto social, e sugiram ao final do século XIX e início do século XX. De maneira simples, o chamado Estado de Direito é quando o governante não detém poder absoluto, apenas a lei que está acima de todos, ficando acima até mesmo dos governantes. Nessa perspectiva, somente um Estado com esse formato “fundado nas leis definidas pela vontade geral, seria capaz de limitar os extremos de pobreza e riqueza presentes na sociedade civil e promover a educação pública para todos – meio decisivo para a livre escolha” (BEHRING; ROSSETTI, 2009, p. 58). Já o Estado Liberal se caracteriza pela valorização da autonomia e pela proteção dos direitos dos indivíduos, de modo a lhes garantir a liberdade de fazer o que desejarem desde que tais ações não violem o direito dos outros, ou seja refere-se a uma “sociedade fundada no mérito de cada um em potenciar suas capacidades supostamente naturais” (BEHRING; ROSSETTI, 2009, 58). Nessa perspectiva, Pereira (2009, p. 286) analisa que a liberdade individual que se tornou central no liberalismo clássico do século XVIII, bem como no novo liberalismo (neoliberalismo) da contemporaneidade remete à “chamada liberdade negativa que, em consonância com os anseios da burguesia nascente de substituir no poder uma decadente aristocracia feudal, é definida como: a liberdade que nega qualquer interferência do Estado ou dos governos nos assuntos privados, especialmente no mercado”. O Estado de Bem-Estar Social (ou Estado-providência, ou Estado social) é um tipo de organização política, econômica e sociocultural que coloca o Estado como agente da promoção social e organizador da economia. Existe uma enorme produção acerca desse assunto que demanda um esforço para mostrar os pressupostos distintos de teóricos, de várias áreas do conhecimento, sobre esta temática. Desse modo, pontuamos os principais argumentos sobre este assunto. Em seus estudos, Lemos (2009) identificou quatro correntes de pensamento diferentes. O primeiro grupo corrobora as ideias de Marshall, precursor desta linha de pensamento, sustenta que o surgimento do Estado de Bem-Estar a partir dos conceitos de cidadania e solidariedade. Para esses estudiosos, a construção do 24 Ciências Políticas e Ética Estado de Bem-Estar não teve como alicerce a sua funcionalidade em relação ao sistema capitalista, pelo contrário, foi erguido graças aos seus próprios benefícios num cenário específico de industrialização. Nesse sentido, o determinismo econômico condiz com o evolucionismo ao indicar que “os direitos sociais nascem da ampliação progressiva e natural dos direitos políticos. Seu raciocínio parte do princípio de que uma crescente igualdade política teria levado à construção de políticas sociais minimizadoras das desigualdades econômicas” (LEMOS, 2009, p. 79). Uma segunda classificação, predominantemente econômica e que apresenta como principal aspecto explicativo do desenvolvimento desse modelo o processo de industrialização, tem como principal referência Titmuss. A terceira abordagem é a marxista, que sustenta que o surgimento do Estado de Bem-Estar é “intrínseco ao modo de produção capitalista, portanto, um problema “estrutural”,na sua tradição teórica” (LEMOS, 2009, p. 82). E, por fim, a última abordagem, de Esping-Andersen, que reelaborou a classificação de Titmuss e a classificação dos Estados de Bem-Estar em três modelos políticos: o liberal, o social-democrático e o conservador corporativista. Também é preciso considerar os conceitos de Estado Democrático e Estado Totalitário. O Estado Democrático (de Direito) é uma forma de Estado em que a soberania popular é fundamental. É marcado pela separação dos poderes estatais, a fim de que o legislativo, executivo e judiciário não se desarmonizem e comprometam a soberania popular. Outro aspecto significativo que caracteriza essa forma de Estado é o respeito aos Direitos Humanos que são fundamentais e naturais a todos os cidadãos. Em relação ao Estado Totalitário, este é considerado um sistema político caracterizado pelo controle absoluto de uma pessoa ou de um partido sobre toda uma nação. No sistema totalitarista, a pessoa (no cargo de líder) ou o partido político – ambos representando o Estado – detém um controle total e absoluto sobre a vida pública e privada por meio de um governo autoritário, que para Chauí (2000, p. 550) “significa Estado total, que absorve em seu interior e em sua organização o todo da sociedade e suas instituições, controlando-a por inteiro”. É importante destacar que este regime se sustenta geralmente por um forte militarismo — muito útil para calar as vozes dissidentes — e é acompanhado por forte aparato de propaganda ideológica, cujo principal objetivo consiste em promover o culto ao líder, ressaltar os feitos do regime e, sobretudo, manter o poder de Estado para desenvolver para o desenvolvimento harmonioso da nação e sociedade. O terror era outra arma utilizada pelos regimes totalitários e seu objetivo era amedrontar os opositores. 25 Ciência Política, Estado e Governo: Fundamentos BásicosCiência Política, Estado e Governo: Fundamentos Básicos Capítulo 1 Essas distinções acontecem em função da natureza, da historicidade e das condições desenvolvidas nos processos sociais, políticos, econômicos e jurídicos em curso em cada sociedade. A figura a seguir retrata essas diferentes perspectivas. FIGURA 6 – TOTALITÁRIO VERSUS DEMOCRÁTICO FONTE: <https://www.todamateria.com.br/regimes-totalitarios- na-europa/>. Acesso em: 17 set. 2020. O que temos de fato é que o Estado alcança todas as dimensões da vida das pessoas em sociedade, assumindo diferentes responsabilidades no sentido de atender e administrar as distintas demandas constituídas resultantes de interesses diversos. Ele é resultado da sociedade que o engendra e o estabelece e é constituído para desempenhar os interesses da sociedade e deve trabalhar a seu favor. Sendo assim, Dallari (2001, p. 243) assevera que “o Estado exerce influência fundamental na vida de todas as pessoas e de todos os grupos humanos. Esse é um fato do nosso tempo, independente da vontade de cada, não havendo uma só pessoa, rica ou pobre, poderosa ou humilde, que possa ficar totalmente livre da influência do Estado”. Lembrando que o Estado é uma forma de organização do poder político, que tem sua origem na Europa do século XIII e envolve: (a) um território próprio, independente e reconhecido, um povo com demandas, direitos e deveres; (b) forma de governo, uma forma de poder consensual ou não; e (c) constitui instituições políticas com regras e etapas que precisam ser cumpridas, ordenamento jurídico, instituições administrativas, econômicas e policiais. 26 Ciências Políticas e Ética O Estado consiste na pessoa jurídica territorial soberana, constituída pelos elementos povo, território e governo soberano. Ele possui o monopólio do uso da força (WEBER, 1982), que pode ser verificado pela presença de forças armadas e auxiliares na maioria dos países. A figura a seguir ilustra o peso do controle do uso da força nas relações sociais. FIGURA 7 – O USO DA FORÇA FONTE: <https://brainly.com.br/tarefa/30580694>. Acesso em: 12 set. 2020. O cientista político Luiz Carlos Bresser-Pereira (2017, p. 155) afirma que: O Estado, suas leis e suas políticas são sempre a expressão do poder presente nas formas sociais de intermediação política entre a sociedade e o Estado, mas o poder que encontramos na nação, na sociedade civil e nas coalizões de classe está longe de ser o poder do conjunto dos cidadãos iguais perante a lei. A partir dessa compreensão podemos romper com a visão simplista que manifesta o entendimento de que a “história do surgimento do Estado moderno e da formação do estado-nação é uma história de grandes lutas políticas que deixam claro como as nações veem seu Estado – como seu instrumento fundamental de defesa de seus próprios interesses” (BRESSER-PEREIRA, 2017, p. 155). Sobre as formas de Estado, indicamos assistir ao vídeo Aula 8 - Ciência Política - Formas de Estado, do Canal “Leão Nepomuceno”, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=36juD-Qen9A. 27 Ciência Política, Estado e Governo: Fundamentos BásicosCiência Política, Estado e Governo: Fundamentos Básicos Capítulo 1 A caracterização do Estado Federal está intimamente ligada à formação histórica do sistema no país. No caso brasileiro, o federalismo como forma de Estado foi criado em 1891, após a proclamação da República, por um decreto que colocou fim ao Estado Unitário e centralizado e permitiu a criação dos Estados Federados. O período desde a Constituição de 1891 até a atual Constituição foi marcado por um ciclo que alternou fases de descentralização e centralização do poder político, administrativo e fiscal. FIGURA 8 – CARACTERÍSTICAS DA FEDERAÇÃO BRASILEIRA FONTE: <https://liciniarossi.com.br/mapas-mentais/caracteristicas- da-federacao/>. Acesso em: 19 set. 2020. Como exemplo do caso brasileiro, podemos citar os embates no contexto da pandemia do COVID-19 pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) (que se apresenta como um dos maiores desafios sanitários em proporção mundial deste século). O presidente da República concebe uma normativa geral e cada governador e prefeito avalia se aquela normativa terá vigência em seus territórios e não tem autoridade de intervir em um estado que diverge dele alegando a sua autonomia. Isso é uma manifestação da condição da forma de Estado do nosso país que é um Estado simples Federal. No federalismo brasileiro, a União 28 Ciências Políticas e Ética representa a unidade dos Estados e, por esse motivo, “somente ela detém a soberania e a independência nacionais, consubstanciadas na reserva da defesa dos interesses nacionais e na competência privativa acerca de determinadas matérias, consideradas de interesse nacional, expressamente discriminadas na Constituição Federal” (SIMÕES, 2009, p. 40-41). Desse modo, entendemos que a União é o ente poderoso típico, pois só a união pode legislar sobre liberação de drogas, aborto, pena de morte, ao passo que outras questões são de competência dos Estados, municípios e Distrito Federal. Como o nosso movimento foi de desagregação ou de um federalismo centralizador, o Quadro 1 mostra a repartição hierárquica que institui os poderes. QUADRO 1 – REPARTIÇÃO HIERÁRQUICA QUE INSTITUI OS PODERES Nível Federal Nível Estadual Nível Municipal Congresso Nacional de natureza bicameral (Câmara dos Deputa- dos e Senado). Assembleias legislativas (dep- utados estaduais). Câmaras de vereadores. Executivo Federal (Presidência da República, ministérios, au- tarquias, fundações, empresas públicas e de economia mista). Governos estaduais (gover- nador, secretarias de estado, autarquias, fundações, em- presas públicas e de econo- mia mista). Prefeituras (prefeito, secre- tarias municipais, autarquias, fundações, empresas públicas e de economia mista). Judiciário Federal (Supremo Tribunal Federal, Superior Tribu- nal de Justiça, Tribunal Superior do Trabalho, Tribunal Superior Eleitoral e Superior Tribunal Mil- itar, tribunaisregionais federais, tribunais regionais do trabalho, auditorias militares, juízes fed- erais, juizados especiais, juízes do trabalho, juízes eleitorais e juntas eleitorais. Judiciário estadual (tribunais de justiça e do Distrito Feder- al, juízes estaduais e juizados especiais cíveis e criminais). FONTE: Adaptado de Simões (2009) Outro exemplo importante refere-se aos Estados Unidos, cujos estados abdicaram das liberdades que almejavam mantendo o que lhes interessava, conservando assim uma notável autonomia político-administrativa. Desse modo, aos estados é permitido discutir de modo independente e as competências são compartilhadas de modo mais equilibrado. No Brasil, o movimento foi do centro para fora e nos Estados Unidos foi de fora para dentro. Existe um tipo de federalismo chamado de Federalismo Cooperativo, que para Zardin (2016, p. 6) é o que representa atualmente a mais moderna forma de Estado, sendo o sistema adotado por diversos Estados Nacionais, pois “permite 29 Ciência Política, Estado e Governo: Fundamentos BásicosCiência Política, Estado e Governo: Fundamentos Básicos Capítulo 1 uma maior descentralização de poder, com a concessão de autonomia federativa aos entes federados e distribuição de competências comuns e concorrentes entre os entes federativos”. No federalismo cooperativo há competências comuns entre a União e os estados. O Brasil adotou os direitos sociais, prestados pelo Estado para atender à população. As diferenças de poder econômico colocam em questionamento se de fato isso acontece no Brasil. A preocupação com o bem-estar da população é de incumbência a todos os entes. O federalismo brasileiro é centrífugo com concentração de competências na União, em um federalismo cooperativo e de duplo grau em que se inclui os municípios como entes da federação. Os Estados compostos são as aglomerações de países soberanos que se unem. Na forma de estado composto não há um único Estado soberano. A organização em confederação é a união de países que defendem objetivos comuns. Os Estados Unidos da América são uma federação, no entanto, no passado eram 13 colônias que ao obter a independência da Inglaterra se tornaram 13 estados independentes em que cada um tinha a sua soberania. Entenderam que era melhor formalizar um tratado para consolidar uma confederação para lutar contra possíveis intentos da Inglaterra de recolonização que a antiga metrópole poderia encampar a qualquer uma das 13 colônias recém-declaradas independentes. Cada um tinha sua soberania, lei interna, seu próprio executivo e judiciário. Era um acordo para unir forças e fazer resistência por meio da união de forças militares por meio da confederação. FIGURA 9 – CONFEDERAÇÃO FONTE: <https://www.esquematizarconcursos.com.br/artigo/ formas-de-estado>. Acesso em: 19 set. 2020. 30 Ciências Políticas e Ética 1) Estude o conteúdo apresentado acerca das formas de Estado e pesquise a forma de Estado unitário da Argentina atual e do Brasil no período do Império. Em seguida, elabore um texto que explique as características e o funcionamento dessa forma de Estado. 4 GOVERNO: FORMAS E SISTEMAS Bonavides (2000) considera que há uma confusão entre os autores estrangeiros no tocante ao emprego das expressões formas de Governo e formas de Estado. Os alemães, por exemplo, denominam formas de Estado (Staatsformen), enquanto para os franceses essa expressão é usada para denominar aquilo que eles conhecem como formas de Governo, equivalente àquelas classificações mais tradicionais e antigas: a monarquia, a aristocracia e a democracia. Ao nos valermos do entendimento de Bonavides (2000), notamos que como formas de Governo temos a organização e o funcionamento do poder estatal de acordo com os parâmetros estabelecidos para a determinação de sua natureza, sendo destacados três: 1) número de titulares do poder soberano; 2) separação dos poderes, com rigoroso estabelecimento de suas respectivas relações; e 3) princípios fundamentais que animam as práticas governamentais e em consequência o exercício limitado ou absoluto do poder estatal. Sobre esses aspectos, Bonavides (2000) explica que o número de titulares do poder soberano é influenciado pelo nome de Aristóteles e daqueles que corroboraram com seu pensamento seguindo sua célebre classificação das formas de governo, mesmo que houvesse alguma mudança no formato original. Já a separação dos poderes e os princípios fundamentais “[..] são mais recentes, traduzindo melhor a compreensão contemporânea do fenômeno governativo e sua institucionalização social” (BONAVIDES, 2000, p. 248). A separação dos poderes “[...] dominou durante toda a idade do Estado Liberal, representando uma das faces do formalismo constitucional do século passado, apoiado na teoria de Montesquieu, sem que este modo algum pressentisse essa eventual aplicação” (BONAVIDES, 2000, p. 248). 31 Ciência Política, Estado e Governo: Fundamentos BásicosCiência Política, Estado e Governo: Fundamentos Básicos Capítulo 1 Na opinião do autor, as classificações mais importantes são as que seguem ao primeiro critério exposto, incluindo a classificação de Aristóteles, Maquiavel e Montesquieu. Em complemento a essas ideias recorremos ao entendimento a seguir: [...] a análise das Formas de Governo atende à dinâmica das relações entre o poder executivo e o poder legislativo e respeita, em particular, às modalidades de eleição dos dois organismos, ao seu título de legitimidade e à comparação das suas prerrogativas. Além disso, dada a natureza dos regimes democráticos modernos, assume uma importância fundamental na compreensão e explicação do funcionamento das diversas Formas de Governo a organização dos sistemas partidários neles presentes e operantes (BOBBIO; MATTEUCCI; PASQUINO, 1998, p. 517). A proposta teórica de Aristóteles foi feita para o homem comum que dirige a sua obra e possui posses que viabilizam a ele custear os seus estudos e ao mesmo tempo desfrutar do ócio, de modo que isso influencie a sua compreensão da realidade e participação na atividade política. O homem só pode se desenvolver na polis como uma comunidade bem estruturada de acordo com o bem comum. A polis foi uma invenção urbana dos gregos e nela eram ordenadas estruturas para que o homem pudesse alcançar o maior patamar de compreensão da realidade política. Após análise de 158 constituições de cidades-estados ou reinos diferentes, Aristóteles classificou a mais antiga das formas de governo e baseou-a em dois critérios: a primeira corresponde à ordem moral, em que divide as formas de governos em puras e impuras, conforme a qualidade da autoridade exercida, e a segunda classificou o governo de acordo com a concentração do poder exercido, se está nas mãos de um só, de vários homens ou de todo o povo. Ao combinar esses dois critérios, apresentou três regimes políticos: a monarquia, a aristocracia e a democracia. A monarquia é a primeira das formas apresentadas por Aristóteles e corresponde ao poder exercido por um só, visando ao bem comum. Para Bonavides (2000), esse tipo de regime responde à exigência unitária na organização do poder político apresentando uma configuração de governo no qual é fundamental o respeito das leis. A segunda forma na classificação de Aristóteles corresponde à aristocracia, que é o governo de alguns, o governo dos melhores cidadãos, aqueles que 32 Ciências Políticas e Ética possuem a melhor formação intelectual e moral para atender aos interesses do povo, em outros termos, uma forma de governo na qual o poder político era exercido por nobres. A origem da palavra aristocracia remete à ideia de força, que de acordo com Bonavides (2000), tem a raiz envolvida naturalmente para a compreensão de força da cultura, da inteligência, uma força apreendida de modo qualitativo, uma força resultante dos melhores, daqueles que tomam a direção do governo.Nessa perspectiva, Aristóteles considera que a condição para todo governo aristocrático deve ser a de escolher os mais talentosos, os melhores. A democracia é o terceiro tipo de governo incluído na classificação de Aristóteles e se opõe às outras formas até então estabelecidas em que o poder é exercido apenas por um indivíduo ou por um pequeno número de pessoas. Nesse modelo de governo, as reivindicações da sociedade de preservação e observância dos princípios da liberdade e igualdade devem ser atendidas. Esses pontos apresentados por Aristóteles podem ser melhor visualizados no Quadro 2. QUADRO 2 – FORMAS DE GOVERNO – ARISTÓTELES FONTE: <https://ebrael.wordpress.com/2014/05/02/aristoteles-e- o-cinismo-da-democracia-contemporanea/tabela-das-formas-de- governo-segundo-aristoteles/>. Acesso em: 20 set. 2020. A organização política dos postulados de Nicolau Maquiavel marca o início de um pensamento moderno acerca da política, o qual se manifesta como uma atividade separada da religião, assim: Da Democracia entendida em sentido mais amplo, Aristóteles subdistingue cinco formas: 1) ricos e pobres participam do Governo em condições paritárias. A maioria é popular 33 Ciência Política, Estado e Governo: Fundamentos BásicosCiência Política, Estado e Governo: Fundamentos Básicos Capítulo 1 unicamente porque a classe popular é mais numerosa. 2) Os cargos públicos são distribuídos com base num censo muito baixo. 3) São admitidos aos cargos públicos todos os cidadãos entre os quais os que foram privados de direitos civis após processo judicial. 4) São admitidos aos cargos públicos todos os cidadãos sem exceção. 5) Quaisquer que sejam os direitos políticos, soberana é a massa e não a lei. Este último caso é o da dominação dos demagogos, ou seja, a verdadeira forma corrupta do Governo popular (BOBBIO; MATTEUCCI; PASQUINO, 1998, p. 517). Bonavides (2000) explica que aqueles que criticaram Aristóteles por haver concebido as formas de governo com critério qualitativo não consideraram que o referido filósofo distinguiu as formas de governo puro das formas de governo impuro. No pensamento de Aristóteles, os governos puros correspondem àqueles em que os titulares da soberania – quer se trate de um, de alguns ou de todo –, desempenham o poder soberano tendo constantemente o enfoque no interesse comum, enquanto os governos impuros equivalem àqueles em que predominam o interesse pessoal em detrimento do bem comum, o interesse particular dos governantes em oposição ao interesse geral da coletividade. Com essas considerações é possível apreender que para Aristóteles, no momento em que se priorizam os interesses pessoais na administração dos negócios públicos em detrimento aos interesses da sociedade, aquelas formas de governo já apontadas degeneram totalmente. Nessa perspectiva, o conceito fundamental do governo que obedece às leis, a monarquia se transforma em tirania, ou seja, governo de um só que elege o desprezo da ordem jurídica (BONAVIDES, 2000). Uma questão importante a ser lembrada é que o pensamento de Aristóteles é marcado pela relação estabelecida entre “quem” e “como” esse alguém exercerá o poder no Estado, nesse sentido é que surge a distorção em que o interesse individual prevalece em detrimento dos interesses coletivos, e essa observação do filósofo é indispensável para compreender a influência que essas deformações exercem nas formas de governos recentes, com o objetivo de atender aos interesses individuais que caracterizam o totalitarismo vivido no século XX. Maquiavel foi o responsável por uma nova classificação de formas de governo elegendo apenas duas, diferente da teoria clássica tripartida: a monarquia (poder singular) e a República (poder plural), sem, todavia, fazer acepção a respeito de suas formas corruptas. Sob essa perspectiva, a monarquia corresponde ao reino e a república abrange a democracia e a aristocracia. Na sua percepção, os resultados são mais importantes do que a ação política em si, legitimando desse modo a violência contra aqueles que confrontam os interesses estatais. 34 Ciências Políticas e Ética Para Maquiavel, ao chefe de Estado cabe agir de acordo com as circunstâncias e não a partir de preceitos morais individuais. Por esta razão, o que distingue a bondade da maldade na ação política é sempre o bem coletivo e jamais os interesses particulares. O que determina se uma atitude é ética é a sua finalidade política. Neste sentido, os valores morais só podem ser compreendidos a partir da vida social. Assim, sublinha Maquiavel, existem virtudes que podem arruinar o Estado e vícios que, inversamente, podem salvá-lo. O que do ponto de vista da moral tradicional é plenamente condenável, na ética política maquiaveliana é perfeitamente aceitável. Na esteira desse pensamento, a adoção da monarquia ou da república variava conforme o contexto social e político do momento, ou seja, se a conjuntura fosse tranquila de paz e estabilidade institucional, a melhor escolha seria a forma de governo monárquico. Enquanto que, se o contexto fosse de conflitos extremos, teria preferência o governo da república. Sob essa concepção não é possível rotular uma forma de governo essencialmente boa ou má. O entendimento era que o que classificava a forma de governo sendo boa ou má era a intenção do governante. Isso significa que as formas de governos, monarquia e república, em si, não apresentavam natureza negativa ou positiva. Para Maquiavel, o que interessava era o modo e propósito que o príncipe utilizava para governar, desse modo, se o governo fosse conduzido para atender ao interesse público, em favor da comunidade política governada, em que prevalecesse as prioridades públicas do Estado, tanto a monarquia como a república seriam boas. Não obstante, caso o governo fosse direcionado voltado para os interesses individuais, particulares e mesquinhos, era considerado por Maquiavel como um governo corrupto e degenerado (WINTER, 2006). Após a classificação de Maquiavel, é interessante você conhecer uma outra bastante conhecida na Idade Moderna que foi a elaborada por Montesquieu. Para esse pensador não havia uma forma de governo padrão que se adaptasse a qualquer povo em qualquer época, significa dizer que a estrutura de uma teoria sociológica do governo e da lei depende das circunstâncias em que cada povo vive, tendo a obra O Espírito das Leis, em 1748. Nessa obra classificou as formas de governo da seguinte maneira: a república, a monarquia e o despotismo. Indicamos assistir ao documentário O Príncipe (Nicolau Maquiavel), do Canal “grandeslivros”, disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=LUDOnaqziLo. 35 Ciência Política, Estado e Governo: Fundamentos BásicosCiência Política, Estado e Governo: Fundamentos Básicos Capítulo 1 Segundo Bonavides (2000), em toda forma de governo, Montesquieu diferencia a natureza e o princípio desse governo. A natureza do governo se manifesta naquilo que faz com que ele seja o que é, enquanto o princípio do governo corresponde àquilo que o faz atuar, que estimula o funcionamento do poder, como exemplo, podemos citar as paixões. Portanto, para elaborar um sistema de governo político e estável era necessário antes de tudo considerar o desenvolvimento socioeconômico, determinantes geográficos, climáticos, pois na sua avaliação esses aspectos influenciavam, sobremaneira, a forma de governo. Para Montesquieu, cada forma de governo era fundamentada em um princípio. A república abrange a democracia e a aristocracia. Na sua interpretação, a natureza de todo governo democrático constitui-se que soberania deve residir nas mãos do povo. Já a democracia abrange a virtude de uma nação que é externada no amor da pátria, na igualdade, na consciência dos deveres cívicos. Por outro lado, a natureza da aristocracia consistia na soberania pertencer a alguns e seu princípio a moderação dos governantes (BONAVIDES, 2000).Sobre a monarquia, Montesquieu a considera como o regime das diferenças, das separações, das transformações e dos equilíbrios sociais, isso porque sua natureza deriva de ser o governo de um só, desse modo, cabe ao soberano governar por meio das leis fixas e estabelecidas. A característica da organização política dessa forma de governo denota como traço marcante a presença de poderes ou corpos intermediários na sociedade. O clero, a justiça e a nobreza fazem parte dessas organizações privilegiadas e hereditárias que exercem a presença do trono como poderes subordinados e dependentes. Seu princípio essencial é fundamentado no sentimento de honra, no amor das distinções, na devoção aos privilégios. O pensador finaliza sua classificação elencando o despotismo. Em sua percepção, essa forma de governo é traduzida na ignorância ou violação da lei. A monarquia é reinada fora da ordem jurídica impulsionada pelos caprichos e desejos pessoais (BONAVIDES, 2000). Desta forma: O princípio de todo o despotismo reside no medo: onde há desconfiança, onde há insegurança, onde há incerteza, onde as relações entre governantes e governados se fazem à base do temor recíproco, não há, segundo Montesquieu, governo legítimo, mas governo despótico, governo que nega a liberdade, governo que teme o povo (BONAVIDES, 2000, p. 252). Por fim, o filósofo avalia que o despotismo não chega nem ao menos ser considerado como uma forma de governo, haja vista que enquanto o governo, em sentido figurado, representa o lavrador que semeia e colhe, o despotismo simboliza o selvagem, cujo papel consiste em cortar a árvore para colher os frutos. Em outras palavras, a interpretação de Bonavides (2000) expressa que o despotismo se configura como uma multidão de iguais e um chefe. 36 Ciências Políticas e Ética O princípio da monarquia se cifra no sentimento da honra, no amor das distinções, no culto das prerrogativas. Interpretando o pensamento de Montesquieu, assevera Emílio Faguet que esse princípio monárquico não é o sentimento exaltado da dignidade pessoal, nem tampouco o orgulho feudal, mas o desejo de ser distinguido numa corte brilhante, a satisfação do amor próprio numa posição, num grau, num título, numa dignidade. A honra, como princípio monárquico, desperta nos servidores da Coroa a paixão da fidelidade pessoal, a dedicação, o altruísmo, a abnegação, o desapego e o sacrifício (BONAVIDES, 2000, p. 252). Indicamos a leitura do livro Dicionário de Política. Referência completa da obra: BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. Brasília: Editora Universidade de Brasília, v. 1, 1998. Também pode ser acessado no seguinte endereço eletrônico: https://edisciplinas.usp.br/ pluginfile.php/2938561/mod_resource/content/1/BOBBIO.%20 Dicion%C3%A1rio%20de%20pol%C3%ADtica..pdf. Em face dos conceitos expostos, temos um panorama da classificação das principais formas de governo e elucidaremos, agora, os sistemas de governo. Ressaltamos que é muito comum as pessoas confundirem as “formas de governo” com os “sistemas de governo”, mas iremos mostrar a distinção existente entre elas para facilitar sua compreensão. Entendemos por sistema de governo a forma como o poder de um país é dividido e exercido e varia conforme a distribuição de funções entre os poderes executivo e legislativo. Desse modo, a separação dos poderes mais frequentes na modernidade se organiza em torno de dois regimes, que apresentam diferentes características: presidencialismo e parlamentarismo. Estados Unidos foi o pioneiro em adotar o presidencialismo. De acordo com Winter (2008), o sistema presidencialista foi concebido na Convenção da Filadélfia pelos norte-americanos e consolidado na Constituição Federal de 1787, [...] pela qual instituíram sua União, conferindo ao governo central uma esfera de autoridade soberana, que não mais tinham o poder de recusar. Instituíram um Poder Legislativo 37 Ciência Política, Estado e Governo: Fundamentos BásicosCiência Política, Estado e Governo: Fundamentos Básicos Capítulo 1 central (Congresso Nacional) com regras para eleição de seus parlamentares; um Poder Executivo central; assim como um Judiciário federal, representado pelo Supremo Tribunal, com poderes para anular os atos legislativos estaduais, que entrassem em conflito com a Constituição Comum. A Constituição Federal, as leis e tratados, instituídos em seu cumprimento, foram proclamados leis supremas de um único país. Os juízes de todos os Estados deviam observá-la, rigorosamente, sem levar em conta as disposições contrárias nas constituições estaduais. Criou-se um colégio eleitoral para escolher o presidente da nação, devendo cada Estado eleger seus senadores (SIMÕES, 2009, p. 32). Na atualidade, esse sistema é o predominante entre vários países. Ainda que figurem vários sistemas presidencialistas é salutar destacarmos que o presidencialismo não é homogêneo na sua forma de governo, há distinções e peculiaridades em função da história e cultura de cada Estado-nação. Dessa maneira, as características gerais são reconhecidas como fundamentais para o desenho e a identificação do sistema de governo. Apesar disso, o presidencialismo se refere ao sistema político governado por um presidente, bem como a organização política dessa estrutura prevê a separação clara entre os três poderes. O formato desse sistema apresenta como diferencial o fato de o presidente exercer a dupla função simultaneamente de chefe de estado e chefe de governo. Ele é eleito por meio de eleições diretas (sistema democrático) e não pode ser destituído do cargo durante o período de vigência do seu mandato (que é pré-determinado), exceto em caso de impedimento de mandato, ao contrário do que ocorre no parlamentarismo, em que o chefe de governo é eleito pelos parlamentares. O presidente, também como chefe da administração pública, de acordo com Winter (2008, p. 56-57), é: [...] responsável pela condução da política externa (nesta condição encarna a irresponsabilidade política, ele representa a nação no exterior), é chefe das Forças Armadas, é responsável pela condução da política de governo, tem autonomia na escolha de seus ministros, e, em relação ao Poder Legislativo, tem direito à iniciativa na elaboração das leis (ou seja, está investido de importantes funções legislativas), além do direito do veto (que pode, eventualmente, ser derrubado). Em relação ao Poder Judiciário, escolhe os juízes das Cortes Superiores (mesmo que a escolha tenha que ser aprovada pelo Poder Legislativo), embora exista, conceitualmente, uma separação de poderes, estes seriam independentes e autônomos (WINTER, 2008, p. 56-57). É interessante saber que, no Brasil, a forma de estado é a Federada, a forma de governo é republicana e o sistema de governo é o presidencialista. Sartori (1993, p. 5) aponta que “[...] na maioria dos países latino-americanos (destacando- 38 Ciências Políticas e Ética se a Argentina, Uruguai, Brasil e Chile), a democracia presidencialista só foi restabelecida nos anos 80”. O sistema de governo adotado no Brasil é motivo de discordância entre alguns estudiosos pela “[...] forte concentração de poder numa só figura, o que potencializa o risco de autoritarismo, e a possibilidade de crises institucionais graves causadas pelo desacordo entre o Executivo e o Legislativo” (BARROSO, 2006, p. 296-297). Sugerimos assistir ao filme Dheepan (O Refúgio no Brasil). Direção: Jacques Audiard. 2015. Com o intuito de esclarecer as diferenças dos sistemas de governo, apresentamos o Quadro 3, que explicita as principais características dos sistemas de governo. QUADRO 3 – PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS SISTEMAS DE GOVERNO Presidencialismo Parlamentarismo Semipresidencialismo Presidente ou Monarca Exerce a função de chefe de estado e chefe de governo. Chefe de estado (sem re- sponsabilidade política). Chefe de governo (pri-meiro-ministro). Chefe de estado compartil- ha o poder com o primeiro ministro. Forma de eleição Eleições diretas. Eleições indireta, o chefe de governo é escolhido pelo parlamento. Chefe de estado eleito pela população (eleições dire- tas). Mandato Tem um mandato pré-determinado. Não é pré-fixado, pois terá duração de acordo com a confiança da Assembleia. Tem um mandato pré-deter- minado. Equipe de gov- erno Escolhida pelo pres- idente (ministros). Escolhida pelo parlamento. O primeiro-ministro é indi- cado pelo presidente. Exemplos de Países Afeganistão, Argen- tina, Angola, Brasil, Estados Unidos, México. Austrália, Inglaterra, Japão, Suécia, Itália, Portugal, Holanda, Noruega. Argélia, França, Portu- gal, Egito, Rússia, Ucrânia, Romênia. FONTE: O autor 39 Ciência Política, Estado e Governo: Fundamentos BásicosCiência Política, Estado e Governo: Fundamentos Básicos Capítulo 1 Tendo em vista os aspectos expostos no Quadro 3, de maneira oposta ao presidencialismo, no parlamentarismo o Executivo e o Legislativo caminham juntos e cada um desses poderes tem um representante, sendo o Parlamento uma instituição soberana. Na concepção de Cintra (1993), o sistema parlamentar visa à harmonia entre os poderes e as funções efetivas de governo são assumidas pelo chefe de governo (primeiro-ministro), que tem várias responsabilidades, enquanto o chefe de Estado tem poderes limitados e, na maioria das vezes, exerce um papel meramente simbólico. Em sistemas parlamentaristas, o voto é indireto, ou seja, a população elege os legisladores e o chefe de governo é escolhido pelo parlamento, sendo que estes podem do mesmo modo destituí-lo do cargo. Um terceiro sistema de governo é caracterizado por combinar aspectos do presidencialismo e do parlamentarismo. Nessa dinâmica, o poder executivo é composto por um presidente, um primeiro-ministro e ministros de gabinetes. O presidente exerce a função de chefe de Estado ao passo que o primeiro-ministro é o chefe de governo, estabelecendo estrutura dual no Executivo (TAVARES, 2017). Nesse formato de sistema, as eleições presidenciais são independentes das eleições legislativas. Considerando esses elementos, são apontadas cinco características do semipresidencialismo: (i) chefe de Estado eleito pelo povo; (ii) compartilhamento de poder com um primeiro-ministro, estabelecendo estrutura dual no Executivo; (iii) presidente que não depende do Parlamento, mas que deve canalizar sua vontade por meio do Governo; (iv) o Governo estar sujeito à confiança do Parlamento; e (v) flexibilidade de exercício do poder (SARTORI apud TAVARES, 2017, p. 148-149). Como podemos observar, o semipresidencialismo é um sistema que contém características do sistema presidencialista e também do sistema parlamentarista, tornando-o peculiar. Seu formato permite que o presidente assuma as funções objetivas do governo e, portanto, há uma responsabilidade política, diferente do que ocorre no parlamentarismo. Sugerimos assistir à série The Crow. Websérie. Diretores: Stephen Daldry, Philip Martin, Julian Jarrold e Benjamin Caron. 2016. 40 Ciências Políticas e Ética Outro fator interessante é que o poder executivo também é compartilhado com o primeiro-ministro, que geralmente fica responsável pelos assuntos políticos do país, enquanto o papel do presidente está direcionado para intervir nos assuntos externos, mas isso não significa que se ausente dos assuntos internos. Pelo contrário, o poder é compartilhado entre o executivo e o parlamento e isso tem gerado profícuos debates acerca da sua eficácia em determinados países. 1) Fazendo uso do conteúdo trabalhado, construa um texto que expresse o entendimento de Aristóteles acerca das formas de governo. 5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Ao longo deste capítulo, desenvolvemos importantes reflexões sobre os fundamentos históricos e teóricos da Ciência Política, do Estado e do Governo, assim como a relação existente entre eles. As ideias trabalhadas aqui partiram de estudos realizados por diversos autores e trouxeram elementos importantes para que você possa ter clareza entre Estado e governo, bem como as suas relações com a ciência política. Como foi possível ser observado, os estudiosos da ciência política não se limitam em somente definir o Estado, pelo contrário, há uma preocupação e necessidade entre eles em entender como se organiza. O percurso que desenvolvemos nos levou à noção de que o Estado é formado pelos elementos povo, território e governo (soberano), e a partir desses aspectos torna-se viável analisar o seu funcionamento e compreender a sua natureza. E, ainda, registramos a relevância da apreensão de que as relações de poder entre governantes e governados são materializadas em leis e decisões políticas. Também verificamos que os Estados podem ser classificados como simples ou composto, e que as classificações da forma de Estado nos ajudam a compreender a distribuição do poder no território e as suas relações com o povo, assim como as dinâmicas que envolvem a soberania. 41 Ciência Política, Estado e Governo: Fundamentos BásicosCiência Política, Estado e Governo: Fundamentos Básicos Capítulo 1 As formas e sistemas de governo também foram abordadas, para tanto, utilizamos autores de referência nesse debate e exploramos as suas classificações, dando ênfase nas contribuições de Aristóteles, Maquiavel e Montesquieu para elucidar as formas e os sistemas de governo. REFERÊNCIAS BARROS, A. R. G de. Soberania e República em Jean Bodin. Discurso, n. 39, p. 59-84, 2011. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/discurso/article/ view/68264/70976. Acesso em: 19 set. 2020. BARROS, J. D. Cristianismo e política na Idade Média: relações entre Papado e Império. HORIZONTE - Revista de Estudos de Teologia e Ciências da Religião, v. 7, n. 15, p. 53-72, 20 dez. 2009. Disponível em: http://periodicos. pucminas.br/index.php/horizonte/article/view/880. Acesso em: 3 set. 2020. BARROSO, L. R. A reforma política: uma proposta de sistema de governo, eleitoral e partidário para o Brasil. Instituto Ideias, n. 3, p. 287-360, jul./set. 2006. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/1604367/mod_ resource/content/1/Texto%20Barroso%20Sistema%20de%20Governo%2C%20 eleitoral%20e%20partid%C3%A1rio.pdf. Acesso em: 20 set. 2020. BASTOS, C. R. Curso de Teoria do Estado e Ciência Política. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 1995. BEHRING, E. R.; BOSCHETTI, I. Política Social: fundamentos e história. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2009. BOBBIO, N. Teoria geral da política: a filosofia política e as lições dos clássicos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2000. BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de Política. Brasília: Editora Universidade de Brasília, v. 1, 1998. Disponível em: https:// edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/2938561/mod_resource/content/1/BOBBIO.%20 Dicion%C3%A1rio%20de%20pol%C3%ADtica..pdf. Acesso em: 19 set. 2020. BONAVIDES, P. Ciência Política. 10. ed. (9ª tiragem). São Paulo: Editora Malheiros, 2000. Disponível em: https://biblioteca.isced.ac.mz/ bitstream/123456789/155/1/Ciencia%20Politica%20-%20Obra%20de%20 Paulo%20Bonavides.pdf. Acesso em: 2 set. 2020. 42 Ciências Políticas e Ética BONAVIDES, P. Ciência Política. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1986. p. 207. BRESSER-PEREIRA, L. C. Estado, Estado-Nação e formas de intermediação política. Lua Nova, São Paulo, n. 100, p. 155-185, 2017. Disponível em: https:// www.scielo.br/pdf/ln/n100/1807-0175-ln-100-00155.pdf. Acesso em: 19 set. 2020. CARVALHO FILHO, J. dos S. Pacto federativo: aspectos atuais. Revista da EMERJ, Rio de Janeiro, v. 4, n. 15, 2001. Disponível em: https://www.emerj.tjrj. jus.br/revistaemerj_online/edicoes/revista15/revista15_200.pdf. Acesso em: 19 set. 2020. CARTONI, D. M. Ciência e conhecimento científico. Anuário da produção acadêmica docente, v. III, n. 5, 2009. Disponível em: https://repositorio.
Compartilhar