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Prévia do material em texto

Autora: Profa. Lígia Regina Máximo Calavari Menna
Colaboradoras: Profa. Ronilda Ribeiro
 Profa. Cielo Griselda Festino
Literaturas Africanas de 
Língua Portuguesa
Professora conteudista: Lígia Regina Máximo Calavari Menna
Possui mestrado (2003), doutorado (2012) e pós-doutorado (2020) em Letras na área de Estudos 
Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências 
Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). É docente do curso de Letras da Universidade 
Paulista (UNIP) e do curso de pós-graduação lato sensu Língua Portuguesa e Literatura no Contexto 
Escolar da UNIP Interativa. Também é docente colaboradora do Programa de Pós-graduação do 
curso de Letras da FFLCH-USP. Coordenou o curso de Letras da UNIP campus Chácara Santo Antônio 
durante 14 anos e o curso de pós-graduação lato sensu Língua Portuguesa e Literatura no Contexto 
Escolar da UNIP Interativa por 5 anos. É autora dos livros A carnavalização na literatura infantil 
(Giostri, 2017) e A literatura infantil além do livro (Bonecker, 2019) e coautora da coleção didática 
para Ensino Fundamental II intitulada Português: uma língua brasileira, juntamente com Regina 
Figueiredo (Leya, 2014). 
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
M547l Menna, Lígia R. M. C.
Literaturas Africanas de Língua Portuguesa / Lígia R. M. C. 
Menna. – São Paulo: Editora Sol, 2022.
156 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230.
1. Literatura africana. 2. Língua portuguesa. 3. Colonização. 
I. Título.
CDU 869.0(6)
U516.37 – 22
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Profa. Sandra Miessa
Reitora em Exercício
Profa. Dra. Marilia Ancona Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Profa. Dra. Marina Ancona Lopez Soligo
Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Claudia Meucci Andreatini
Vice-Reitora de Administração
Prof. Dr. Paschoal Laercio Armonia
Vice-Reitor de Extensão
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades do Interior
Unip Interativa
Profa. Elisabete Brihy
Prof. Marcelo Vannini
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático
 Comissão editorial: 
 Profa. Dra. Christiane Mazur Doi
 Profa. Dra. Angélica L. Carlini
 Profa. Dra. Ronilda Ribeiro
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista
 Profa. Deise Alcantara Carreiro
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Lucas Ricardi
 Willians Calazans
Sumário
Literaturas Africanas de Língua Portuguesa
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8 
Unidade I
1 PAÍSES AFRICANOS DE LÍNGUA OFICIAL PORTUGUESA .................................................................. 11
2 COLONIALISMO, PÓS-COLONIALISMO E DESCOLONIZAÇÃO ......................................................... 14
3 REFLEXÕES SOBRE O ENSINO DE LITERATURAS AFRICANAS EM 
LÍNGUA PORTUGUESA ...................................................................................................................................... 20
4 LITERATURA ANGOLANA .............................................................................................................................. 25
4.1 Contexto histórico e social ............................................................................................................... 25
4.2 Literatura oral ou oraliteratura ....................................................................................................... 28
4.3 Literatura angolana e seus escritores .......................................................................................... 31
4.3.1“Vamos descobrir Angola!” ................................................................................................................... 33
4.3.2 Viriato da Cruz (1928–1973) .............................................................................................................. 34
4.3.3 António Jacinto (1924–1991) ............................................................................................................ 36
4.3.4 Agostinho Neto (1922–1979) ............................................................................................................ 39
4.3.5 Ana Paula Tavares (1952–) .................................................................................................................. 41
4.3.6 José Luandino Vieira (1935–) ............................................................................................................. 46
4.3.7 Pepetela (1941–) ..................................................................................................................................... 50
4.3.8 José Eduardo Agualusa (1960–) ........................................................................................................ 61
4.3.9 Ondjaki (1977–) ....................................................................................................................................... 75
Unidade II
5 LITERATURA MOÇAMBICANA ..................................................................................................................... 89
5.1 Contexto histórico e social ............................................................................................................... 89
5.2 Literatura moçambicana e seus autores ..................................................................................... 91
5.2.1 José Craveirinha (1922–2003) ........................................................................................................... 93
5.2.2 Orlando Mendes (1916–1990) ........................................................................................................... 97
5.2.3 Noémia de Sousa (1926–2002) .......................................................................................................100
5.2.4 Luís Bernardo Honwana (1942–) ....................................................................................................103
5.2.5 Paulina Chiziane (1955–) ...................................................................................................................105
5.2.6 Mia Couto (1955–) ...............................................................................................................................112
5.2.7 Ungulani Ba Ka Khosa (1957–) ...................................................................................................... 122
6 CABO VERDE ...................................................................................................................................................126
6.1 Baltasar Lopes (1907-1989) ...........................................................................................................128
6.2 Orlanda Amarílis (1924-2014) ......................................................................................................129
6.3 Corsino Fortes (1933-2015) ...........................................................................................................132
7 GUINÉ-BISSAU ...............................................................................................................................................134
7.1 Odete Semedo (1959–) ....................................................................................................................135
8 SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE ................................................................................................................................1388.1 Alda do Espírito Santo (1926-2010) ...........................................................................................139
7
APRESENTAÇÃO
Caro aluno,
Seguindo a proposta da Lei Federal n. 10.639/2003, que tornou obrigatório o ensino de história 
e cultura africana e afro-brasileira nas escolas de Ensino Fundamental e Médio, desenvolveu-se esta 
disciplina. Ela tem entre seus principais objetivos levar você, aluno e futuro professor, a entrar em 
contato com as literaturas dos Palop (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa), como a angolana, 
moçambicana, cabo-verdiana, entre outras, para que possa incorporá-las à sua formação literária e 
cultural, levando em conta a necessidade da construção de um repertório plural, em que diferentes 
etnias e vivências culturais sejam representadas.
Para tal, apresenta-se um panorama dessas literaturas, autores e obras mais representativos, 
considerando os períodos de colonização e pós-colonização, cujo marco divisor são as independências 
em 1975, com o fim do Salazarismo.
Objetiva-se também valorizar a cultura africana e seus ecos na cultura afro-brasileira e na literatura 
brasileira em geral.
Especificamente, espera-se que o aluno seja capaz de analisar e refletir de forma crítica sobre as 
literaturas africanas, levando em conta as relações culturais e literárias entre Brasil, África e Portugal, em 
seus aspectos divergentes e convergentes, considerando também a participação da literatura brasileira 
na formação dos escritores africanos.
Os contextos históricos e sociais também serão apresentados, considerando o colonialismo, as guerras 
civis e o pós-colonialismo dos Palop (Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e 
Príncipe), com destaque para os dois primeiros, cujas literaturas encontram-se mais difundidas no Brasil.
Entre os principais autores, destacam-se os angolanos Viriato Correia, Agostinho Neto, José Luandino 
Vieira, Pepetela, Ana Paula Tavares, José Eduardo Agualusa e Ondjaki; os moçambicanos José Craveirinha, 
Noémia de Sousa, Luís Bernardo Honwana, Orlando Mendes, Paulina Chiziane, Mia Couto e Ungulani Ba 
Ka Khosa; e os cabo-verdianos Baltasar Lopes, Orlanda Amarílis e Corsino Fortes.
Pensando na formação do futuro professor, as obras também serão estudadas pelo viés da prática 
de ensino, com propostas de atividades de aplicação tanto para o Ensino Fundamental quanto para o 
Ensino Médio.
Portanto, incluir os estudos das literaturas africanas na grade do curso de Letras, além de estar 
pautado na lei, é fundamental para enriquecer a formação do futuro professor e permite que ele tenha 
repertórios e ferramentas para trabalhar com seus alunos na Educação Básica.
Bons estudos!
 
8
INTRODUÇÃO
Nossa cultura, história e identidade estão profundamente marcadas, como sabemos, pelos povos 
originários (os indígenas), pelos migrantes europeus e pelos milhares e milhares de negros trazidos da 
África para o Brasil como escravos, para compor uma nação repleta de ambiguidades, entre riquezas e 
mazelas. A África se reflete não somente na cor da pele de muitos brasileiros, mas também em nossa 
música, costumes, literatura, brincadeiras, língua, entre outras manifestações.
Graças às lutas do Movimento Negro, foi criada em 2003 a Lei Federal n. 10.639, que tornou 
obrigatório o ensino de história e cultura africana e afro-brasileira nas escolas de Ensino Fundamental 
e Médio. A partir dessa importante política de ação afirmativa, as literaturas africanas têm ocupado 
cada vez mais espaço na formação dos professores brasileiros, levando inclusive em conta questões 
relacionadas ao preconceito racial e ao racismo. Contudo, vale ressaltar que esse espaço ainda é mínimo, 
e ainda há muito para ser explorado e ampliado, sendo necessária a formação contínua dos professores, 
em um processo constante de conscientização e ensino-aprendizagem.
Assim como o Brasil, vários países africanos foram colonizados pelos portugueses e estiveram 
submetidos à metrópole durante séculos, incorporando a língua portuguesa como oficial. Contudo, esses 
países – a saber, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe – conseguiram 
suas independências somente em 1975, após a Revolução dos Cravos e o fim do Salazarismo, a longa 
ditadura portuguesa. Atualmente, esses países incorporam a sigla Palop.
Vale dizer que os territórios onde esses países se localizam, com exceção de Cabo Verde e São Tomé 
e Príncipe, já eram habitados antes da chegada dos portugueses por diferentes povos, com línguas e 
costumes distintos, mas que foram silenciados e agrupados conforme as regras dos colonizadores, que 
não consideraram suas diferenças, desprezaram a riqueza cultural existente e impuseram sua religião, 
sua cultura e sua língua, língua esta que se tornou oficial.
Nascidas ainda no período colonial, as literaturas africanas em língua portuguesa são distintas entre 
si, pois carregam suas especificidades nacionais, mesmo que possuam percursos históricos semelhantes. 
Ou seja, não existe uma literatura africana, mas várias. Vale ressaltar ainda que as literaturas em língua 
portuguesa convivem com as literaturas em línguas nativas, sejam elas orais ou escritas, como o 
quimbundo, umbundo, quicongo, cokwe, entre outras.
O colonialismo rompeu com o desenvolvimento cultural do continente africano. Mesmo após 
sua independência, há ainda muitas lacunas a serem preenchidas e vozes a serem ouvidas. Nesse 
sentido, muitos escritores manifestaram em suas obras o desejo de resgatar o passado, entender 
melhor sua história, conhecer suas raízes e preencher essas lacunas, algo muito marcante na 
formação dessas histórias literárias.
As pesquisas acadêmicas brasileiras sobre essas literaturas e seus autores remontam à década de 1990 
e atualmente encontram-se amplificadas; contudo, há ainda muitos autores africanos desconhecidos 
entre nós, ou mesmo sem publicações acessíveis, e várias pesquisas a serem feitas.
9
Vale ressaltarmos que o início dessas literaturas foi marcado pelos movimentos de resistência e 
de luta pela libertação política e por um resgate das tradições locais, principalmente na década de 
1960. Nesse sentido, vários dos escritores foram revolucionários e envolveram-se nos movimentos 
de libertação, alguns chegaram a ser presos, como é o caso do escritor José Luandino Vieira, e outros 
participaram inclusive de guerrilhas, como o angolano Pepetela.
É importante esclarecer que, para se ter uma literatura nacional, é preciso que se tenha uma 
consciência nacional, uma ideia ampla de uma nação, promovida por grupos sociais específicos. Nesses 
países africanos, entretanto, essa consciência nacional é um fato recente, com pouco mais de 40 anos, 
em pleno processo de construção e afirmação.
Apesar da independência, ainda persiste nesses países uma mentalidade colonialista aliada ao 
subdesenvolvimento, contexto importantíssimo a se considerar ao analisarmos também as produções 
pós-coloniais e as mais contemporâneas.
Vale ainda considerar que as literaturas africanas são construídas a partir de imaginários distintos 
dos nossos. As concepções de infância, indivíduo, comunidade, família, tempo, espaço, vida e morte, 
entre muitas, constroem-se diferentemente da visão europeia ou ocidental, apresentando novos e 
diferentes prismas.
Portanto, caro aluno, precisamos educar nosso olhar e aguçar nossos sentidos para adentrarmos esse 
universo literário riquíssimo e instigante em um percurso que aqui iniciamos.
11
LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
Unidade I
1 PAÍSES AFRICANOS DE LÍNGUA OFICIAL PORTUGUESA
Os Palop (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa), como já dissemos, são Angola, Moçambique, 
Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe.
 Observação
A língua portuguesa é a língua oficial de Angola, Brasil, Cabo Verde, 
Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe, mas somente 
no Brasil e em Portugal ela é a língua materna, ou seja, a língua aprendida 
desde a infância.Além da língua oficial, esses países têm em comum o fato de terem sido colonizados pelos 
portugueses, tornando-se independentes somente em 1975, após a Revolução dos Cravos (ocorrida 
em 25 de abril de 1974) e o fim do Salazarismo.
 Observação
O Salazarismo, também denominado Estado Novo (1933-1974), foi, 
segundo o professor Benjamin Abdala Jr.: “[...] a institucionalização da 
ditadura, de acordo com o modelo corporativista do fascismo. A consolidação 
do novo regime fez-se em torno do professor de economia António de 
Oliveira Salazar, católico de extrema-direita. Sua ação corresponde às 
expectativas de grupos socioeconômicos ansiosos por uma ‘ordem’ interna, 
sem greves ou questionamentos políticos. [...] Salazar apoiou e depois foi 
apoiado pelos fascistas espanhóis, já que via com desconfiança as possíveis 
consequências políticas de um regime democrático nas fronteira do país. 
Aproximou-se igualmente da Itália fascista e da Alemanha nazista, por 
afinidades ideológicas e de prática política. [...] A Polícia Internacional e 
de Defesa do Estado (Pide), uma espécie de Gestapo nazista em Portugal, 
transformou-se em poder quase autônomo dentro do regime. Prendeu, 
torturou e assassinou milhares de portugueses e africanos durante muitos 
anos. Conseguiu mesmo manter um campo de concentração nas Ilhas 
de Cabo Verde (1936–1956). A censura foi exercida sobre todos os meios de 
comunicação” (ABDALA JR.; PASCHOALIN, 1985, p. 155-156).
12
Unidade I
Veja esses países no mapa a seguir:
Cabo Verde
Guiné-Bissau
São Tomé 
e Príncipe
Angola
Moçambique
Figura 1 – Palop (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa)
Adaptada de: https://cutt.ly/CG6UPZi. Acesso em: 9 maio 2022.
 Saiba mais
Para saber mais sobre o Salazarismo, veja também o documentário:
DO ESTADO Novo à primeira constituição democrática. Portugal: 
RTP, 2002. 8 min. Disponível em: https://cutt.ly/mGDS5f9. Acesso em: 
2 maio 2022.
Como dissemos anteriormente, vale ressaltar que, com exceção de Cabo Verde e de São Tomé e 
Príncipe, os outros territórios já eram habitados antes da chegada dos portugueses. Como sabemos, o 
continente africano é composto por diferentes povos e etnias, com línguas e culturas bem variadas. Essa 
diversidade também é encontrada em um mesmo país. Em Angola, por exemplo, segundo Daniel Sassuco 
13
LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
(apud SEVERO, s.d.), coordenador e professor do Departamento de Línguas Angolanas da Universidade 
Agostinho Neto, a situação etnolinguística pode ser resumida da seguinte maneira:
Quadro 1 
Língua Povo ou grupo
Umbundo Ovimbundu
Kimbundo (quimbundo) Ambundu
Kikongo Bakongo
Cokwe Tucokwe
Kwanyama Vakwanyama
Ngangela Vangangela
Fonte: Severo (s.d.).
Em Moçambique, há mais de 20 línguas reconhecidas. Estima-se que o número chegue a 43, sendo 
em sua maioria do grupo bantu, como emakhuwa (macua) e xalanga, as mais faladas, assim como cibalke, 
cinyungwe, sena, lomwe, entre muitas outras. Segundo a ONU (2020), somente 17% dos moçambicanos 
falam português como primeira língua.
Já em Cabo Verde, o crioulo cabo-verdiano (krioulu kauberdianu) é a língua materna, falada e 
escrita. Essa língua é a base da identidade cultural desse país e atravessa fronteiras.
 Observação
O crioulo é uma mescla do português arcaico e de línguas africanas 
nativas.
Em Guiné-Bissau, a língua mais falada também se denomina crioulo, mas diferente do crioulo 
cabo-verdiano.
São Tomé e Príncipe também possui suas versões crioulas, como o forro ou santomense, o angolar, 
o tonga e o monco. Em Príncipe fala-se também o lunguye, uma mistura do português com outros 
idiomas africanos.
Como você pode observar, há muitas línguas maternas. A língua portuguesa, herdada do império 
colonial, como já dissemos, não é a única, é a língua oficial e administrativa.
14
Unidade I
 Saiba mais
Para saber mais sobre as línguas de Angola, Moçambique e Cabo Verde, 
veja os vídeos a seguir:
APRENDENDO a falar kimbundu – língua angolana. 2018. 1 vídeo 
(8 min). Publicado pelo canal Wawera in Angola. Disponível em: 
https://youtu.be/1F8r8sCK2o4. Acesso em: 2 maio 2022.
KIMBUNDU – língua africana de Angola. 2019. 1 vídeo (19 min). Publicado 
pelo canal MOPC Linguística. Disponível em: https://youtu.be/WdABeeTsCNw. 
Acesso em: 2 maio 2022.
CONHEÇA as línguas faladas em Moçambique – África. 2020. 1 vídeo 
(11 min). Publicado pelo canal Aurélio do Rosário Jr. Disponível em: 
https://youtu.be/P1vcP0RXbi0. Acesso em: 2 maio 2022.
CRIOULO, língua da nossa identidade. 2020. 1 vídeo (20 min). Publicado pelo 
canal Nha Terra Nha Cretcheu. Disponível em: https://youtu.be/P8Z-ia184Tg. 
Acesso em: 2 maio 2022.
Conheça também o site do Laboratório de Línguas Africanas da 
UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais):
UFMG. Laboratório de Línguas Africanas. [s.d.]. Disponível em: 
https://bit.ly/3NKFHDr. Acesso em: 2 maio 2022.
2 COLONIALISMO, PÓS‑COLONIALISMO E DESCOLONIZAÇÃO
As literaturas africanas em língua portuguesa estão muito marcadas pela história, configuradas 
tanto no período colonial, com o domínio do Império Português, como pelo período posterior a suas 
independências, de 1975 até a atualidade, denominado pós-colonial, em que se observa uma necessidade 
premente de descolonização (ou decolonialidade) de estruturas preestabelecidas.
Vejamos a seguir como os conceitos de colonialismo, pós-colonialismo e descolonização se articulam 
em um contexto mais amplo.
Segundo Bonicci (2005, p. 21-22):
 
O colonialismo consiste na opressão militar, econômica e cultural de um 
país sobre um outro, como foi a invasão europeia da África, Ásia e América 
a partir do século 15. Evidentemente, a ideia de império e colônias não é 
15
LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
algo novo na história humana [...] a diferença entre a colonização antiga e 
a capitalista na Modernidade consiste no fato que essa não exigia apenas 
tributos, bens e riquezas dos países conquistados, mas reestruturava as 
economias dos países colonizados de tal modo que o relacionamento 
entre o colonizador e o colonizado ficou mais complexo e intricado, 
envolvendo o intercâmbio de recursos materiais e humanos trocados 
entre ambos. Consequentemente, essa colonização devastou a cultura, às 
vezes, milenar, de muitos povos, a qual foi substituída por uma cultura 
eurocêntrica e cristã.
Dessa forma, o colonialismo na África ao qual nos referimos se configura a partir da colonização 
capitalista na Modernidade, em toda sua complexa estrutura.
Segundo a professora Rita Chaves (2004, p. 147), trata-se da:
 
[...] natureza do colonialismo, que ultrapassa a esfera da exploração 
econômica, pois os colonizados devem ser exilados de sua própria 
história, dando lugar a outra cultura mais bem vista pelos colonizadores 
europeus: sempre se sentindo culto, cristão, superior à civilização que se 
fazia representante.
Ou seja, diferentes povos e etnias foram alienados econômica e culturalmente e perderam muito de 
suas raízes e referências devido às imposições dos colonizadores.
A partir de tal quadro, surgem diferentes movimentos em prol da liberdade, além de processos 
contínuos e intrincados com o da descolonização. Lutar pela independência política gera esse novo 
processo, o da descolonização, que vai muito além dessa luta. Segundo Bonicci (2005, p. 23):
 
A descolonização (decolonialidade) não é apenas a luta pela independência 
política, mas, de modo especial, é o desmantelamento de todas as formas 
coloniais de poder e de controle. Nas colônias, o nacionalista possuía 
ideias modernizadoras: após a independência, adotava os valores e os 
modelos políticos, econômicos e culturais europeus, mostrando-se livre 
de tudo o que soava de atrasado. Foram esses [...] que implementaram 
o neocolonialismo como uma nova força global de controle operando 
através da elite local. Essa situação de contínua dependência persiste, 
entre outros, na preferência da língua estrangeira à língua nativa e da 
cultura europeia à culturaindígena.
Como podemos observar, outras formas de controle e opressão, como o neocolonialismo, substituem 
e ampliam as mazelas anteriores, ou seja, o processo de descolonização é constante e de difícil aplicação. 
A mentalidade eurocêntrica, a visão de que tudo que é europeu ou norte-americano é melhor e mais 
“moderno” e aceitável, tudo isso impõe aos antigos colonizados a insistente marca de subalternos, inferiores 
e dependentes.
16
Unidade I
Ao final da década de 1990, teóricos como Aníbal Quijano, sociólogo e pensador peruano, com 
referência às sociedades latino-americanas, propõem novos termos para os estudos pós-coloniais, 
termos complexos, mas muito utilizados na atualidade: colonialidade e decolonialidade.
A colonialidade é um fenômeno decorrente do colonialismo, pois mesmo após seu término, aspectos 
dessas experiências coloniais foram mantidos e se perpetuam, ou seja, as relações império/colônia e 
dominador/dominado são mantidas, econômica e culturalmente, permanecendo as antigas colônias 
como instâncias subalternas. Seus conhecimentos e experiências são ignorados, sua cultura é considerada 
inferior, suas subjetividades e individualidades são desprezadas. O nosso modo de pensar, padrões de 
beleza, religiosidade e cultura em geral ainda estão muito marcados por uma mentalidade europeia ou 
norte-americana.
A partir da colonialidade, surge o conceito de descolonização ou decolonialidade, que consiste, de 
forma simplificada, em refutar e dissolver as estruturas de exploração e dominação, considerando que a 
produção do conhecimento e a cultura não devem ser eurocêntricas.
Sobre o uso do conceito decolonial ou descolonial, não há um consenso. Segundo Quintero, 
Figueira e Elizalde (2019, p. 4):
 
Não há consenso quanto ao uso do conceito decolonial/descolonial, ambas 
as formas se referem à dissolução das estruturas de dominação e exploração 
configuradas pela colonialidade e ao desmantelamento de seus principais 
dispositivos. Aníbal Quijano, entre outros, prefere referir-se à descolonialidad, 
enquanto a maior parte dos autores utiliza a ideia de decolonialidad. Segundo 
Catherine Walsh (WALSH, Catherine (org.). Interculturalidad, Estado, sociedad: 
luchas (de)coloniales de nuestra época. Quito: Universidad Andina Simón 
Bolívar – AbyaYala, 2009), a supressão do “s” não significa a adoção de um 
anglicismo, mas a introdução de uma diferença no “des” castelhano, pois não 
se pretende apenas desarmar ou desfazer o colonial.
Os estudos decoloniais estão atualmente em grande evidência e se baseiam na releitura de alguns 
aspectos teóricos e históricos cristalizados. Por exemplo, a modernidade não é mais vista como um 
fenômeno simétrico, produzido na Europa e posteriormente levado ao restante do mundo, e sim 
“como fenômeno planetário constituído por relações assimétricas de poder” (QUINTERO; FIGUEIRA; 
ELIZALDE, 2019, p. 5).
 Saiba mais
Para saber mais sobre descolonização, colonialidade e decolonialidade, 
acesse o tópico:
MASP. Arte e descolonização. São Paulo: Masp Afterall, 2019. Disponível 
em: https://cutt.ly/mGD502s. Acesso em: 2 maio 2022.
17
LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
Especificamente na África, o processo de colonização foi marcado pela Conferência de Berlim, que 
durou de 15 de novembro de 1884 a 15 de fevereiro de 1885 e fixou as fronteiras das possessões 
portuguesas, inglesas, francesas, alemãs, entre outras, sem levar em conta as diferentes línguas, culturas 
e etnias existentes. Coube a Portugal parte do sudoeste africano, o que se tornaria posteriormente 
Angola e Moçambique. Segundo reportagem do jornal alemão Deutsche Welle:
 
Representantes de 13 países da Europa, dos Estados Unidos da América e 
do Império Otomano deslocaram-se a Berlim a convite do chanceler alemão 
Otto von Bismarck para dividirem a África entre si, “em conformidade com 
o direito internacional”. Os africanos não foram convidados para a reunião 
(CONFERÊNCIA..., 2015).
Vale destacar que Otto von Bismarck foi um dos principais articuladores dessa Conferência e um 
dos nomes mais cruéis e marcantes do colonialismo. Sob seu comando, o Império Colonial alemão 
estendeu-se por territórios onde atualmente ficam Namíbia, Camarões, Togo e parte do Quênia. 
À Grã-Bretanha, couberam os atuais África do Sul, Nigéria, Zimbábue (antiga Rodésia), entre outros; já 
à França, couberam Marrocos, Argélia, Senegal etc.
Como podemos observar, com raras exceções, o continente africano foi loteado arbitrariamente, 
o que gerou conflitos, guerras, miséria e subdesenvolvimento, efeitos nefastos do colonialismo que 
até hoje são percebidos.
Foram instituídos estados – denominados, por exemplo, Angola – sem que houvesse uma nação 
angolana, mas, sim, múltiplos e até divergentes grupos sociais reunidos à revelia, com diferentes línguas 
e tradições.
Esse agrupamento aleatório tornou-se uma estratégia fortalecedora do poder colonial, conforme 
nos explica o professor Carlos Serrano (1988, p. 21):
 
O poder colonial, ao preservar a própria divisão desses grupos e ao explorar as 
contradições que possam existir entre eles, pode mais facilmente preservar um 
processo de dominação, sobretudo ao gerar conflitos entre esses grupos 
para melhor manter o seu poder em relação ao todo, justificando assim o 
velho ditado: dividir para reinar.
Observe uma charge francesa de 1885, em que Bismarck se destaca e o continente africano é 
simbolizado por um bolo:
18
Unidade I
Figura 2 – Bismarck e a divisão da África na Conferência de Berlim
Disponível em: https://cutt.ly/vHvDuiR. Acesso em: 16 maio 2022.
 Observação
Estado e nação são termos muitas vezes utilizados como sinônimos, 
uma vez que as nações são constituídas normalmente em um primeiro 
momento para depois transformarem-se em estados. Por exemplo, o 
Brasil é tanto uma nação quanto um estado, com uma divisão territorial, 
fronteiras, governo e administração próprios, língua materna e oficial, 
costumes e tradições, ou seja, há uma identidade nacional comum, apesar 
de todas as diferenças e especificidades de um país tão imenso. Contudo, 
há nações que não possuem um estado reconhecido, como é o caso da 
Palestina, por exemplo.
Segundo Benedict Anderson (1989), nação seria uma comunidade 
política imaginada, limitada e soberana que, normalmente, existe 
independentemente de um estado politicamente reconhecido.
Cabe e coube, em muito, às literaturas e seus escritores o resgate de tradições, a busca de uma 
harmonia e identidade nacional, assim como o constante desejo de preencher as lacunas deixadas por 
tantos anos de alienação e exploração. Assim, conhecer esse contexto colonial, os aspectos históricos, 
econômicos e sociais, assim como os diferentes conflitos como a guerra colonial e as guerras civis, entre 
outros, é imprescindível para entendermos o processo de formação das literaturas africanas.
19
LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
 Saiba mais
No jornal Deutsche Welle há uma seção especial sobre Angola, 
Moçambique, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, com reportagens e notícias 
atualizadas. Acesse:
Disponível em: https://bit.ly/39gLJwC. Acesso em: 4 maio 2022.
Para saber mais sobre a Conferência de Berlim, leia:
CONFERÊNCIA de Berlim: partilha de África decidiu-se há 130 anos. 
Deutsche Welle, 26 fev. 2015. Disponível em: https://cutt.ly/DGD6HW7. Acesso 
em: 2 maio 2022.
A CONFERÊNCIA de Berlim. RTP. 2017. Disponível em: https://cutt.ly/TGFyTAQ. 
Acesso em: 2 maio 2022.
Para saber mais sobre o riquíssimo continente africano e sua diversidade, 
leia o dossiê sobre a África da revista Via Atlântica:
VIA Atlântica, v. 1, n. 3, 12 jul. 1999. Disponível em: https://cutt.ly/BGFuSum. 
Acesso em: 2 maio 2022.
Vale dizer que, para se ter uma literatura nacional, é preciso que se tenha uma consciência nacional, 
uma ideia ampla de uma nação, promovida por grupos sociais específicos. Nesses países africanos, essa 
consciência nacional é um fato recente e ainda está em processo de afirmação. Apesar das independências,ainda persiste nesses países uma mentalidade colonialista aliada ao subdesenvolvimento, uma visão ainda 
eurocêntrica, que desprestigia e inferioriza os povos africanos.
O início dessas literaturas africanas foi marcado pelos movimentos de resistência e de luta pela 
libertação política, assim como por um resgate das tradições locais, principalmente nos anos 1960. Vários 
escritores foram revolucionários que se envolveram em guerrilhas e nos movimentos de libertação.
Segundo Russell G. Hamilton (1999, p. 10):
 
As peculiaridades da história das cinco colônias também têm contribuído 
para a singularidade da expressão literária dos Palop. Se bem que seja 
de certo modo uma simplificação, consta que mais ou menos durante 
as três derradeiras décadas da época colonial era a expressão literária de 
reivindicação cultural, protesto social e combatividade que vinha preparando 
a cena nos cinco Palop para a atual escrita pós-colonial. Naturalmente, os 
poemas, contos, romances e peças teatrais de reivindicação, protesto social 
20
Unidade I
e combatividade opunham-se ao regime colonial. Aliás, há quem afirme que 
de menor ou maior grau uma obra literária de qualquer sociedade e de 
qualquer época ou apoia ou contesta o regime vigente. Assim, nos Palop, 
seguindo-se à vitória dos respectivos movimentos de libertação, surgiu 
uma literatura que celebrava a derrota do regime colonial, proclamava a 
revolução social e celebrava a (re)construção nacional.
 Lembrete
Os Palop (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) são Angola, 
Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe.
Como podemos concluir, o colonialismo foi extremamente nocivo ao desenvolvimento cultural do 
continente africano. O período pós-colonial trouxe consigo outras mazelas e a perpetuação de uma 
mentalidade colonial, a colonialidade.
Entre diversos temas e objetivos, boa parte dos escritores africanos manifestam o desejo de resgatar 
o passado, preencher lacunas, entender melhor sua história, conhecer suas raízes e fortalecer suas 
identidades literárias nacionais, conforme veremos ao longo desta disciplina.
3 REFLEXÕES SOBRE O ENSINO DE LITERATURAS AFRICANAS EM 
LÍNGUA PORTUGUESA
Como dissemos anteriormente, com a Lei n. 10.639/2003, fruto do Movimento Negro por décadas, o 
ensino sobre a história e cultura da África, em seu amplo leque de variedades, assim como sua relação com 
a história do Brasil e a nossa cultura, tornaram-se obrigatórios, fazendo parte dos conteúdos programáticos 
tanto do Ensino Fundamental como do Ensino Médio. Vejamos o artigo 26-A da referida lei:
 
Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais 
e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura 
Afro-Brasileira.
§ 1º O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá 
o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, 
a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, 
resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e 
política pertinentes à História do Brasil.
§ 2º Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão 
ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas 
de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras (BRASIL, 
2003, grifo nosso).
21
LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
Nesse sentido, incluir os estudos das literaturas africanas na grade do curso de Letras não é somente 
enriquecedor e necessário para a formação dos futuros professores, como também é garantido por lei, 
para que tenham repertórios e ferramentas para trabalhar com seus alunos na Educação Básica.
Entre as diversas literaturas estudadas durante o curso, enfatiza-se o protagonismo da literatura 
brasileira; contudo, é necessário conciliá-la a outras literaturas estrangeiras, em um projeto de estudos 
comparados, para que possamos, inclusive, entender melhor nossa própria literatura. E como a própria 
Lei n. 10.639 ressalta, a formação da sociedade nacional precisa levar em conta a contribuição do povo 
negro, ontem e hoje. Assim, na elaboração dos currículos escolares, é fundamental incluir as literaturas 
africanas, seus autores e obras, analisando suas especificidades e os pontos de semelhança e contraste, 
em um processo consistente de ensino-aprendizagem.
O documento mais recente relacionado à educação é a BNCC (Base Nacional Comum Curricular), 
homologada para o Ensino Fundamental em 2017 e para o Ensino Médio em 2018.
 Saiba mais
No site do MEC (Ministério da Educação), você encontrará várias 
informações sobre a Base, material de apoio e explicações em geral:
Disponível em: https://bit.ly/393kmGh. Acesso em: 4 maio 2022.
Segundo o documento, é preciso desenvolver nos alunos certas competências e habilidades para que 
o aprendizado se realize de forma efetiva. Segundo a Base, a competência é definida como:
Mobilização de conhecimentos (conceito e procedimentos), habilidades 
(práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver 
demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e 
do mundo do trabalho (BRASIL, 2018, p. 8).
Dessa forma, as competências estão mais voltadas para os aspectos sociais, físicos e emocionais. Já 
as habilidades, para o desenvolvimento cognitivo.
No documento ainda são listadas competências para o Ensino Fundamental e outras específicas 
para língua portuguesa. Entre as 10 competências específicas de língua portuguesa para o Ensino 
Fundamental, destacamos a competência 9, por estar diretamente ligada à leitura literária:
Envolver-se em práticas de leitura literária que possibilitem o desenvolvimento 
do senso estético para fruição, valorizando a literatura e outras manifestações 
artístico-culturais como formas de acesso às dimensões lúdicas, de 
imaginário e encantamento, reconhecendo o potencial transformador e 
humanizador da experiência com a literatura (BRASIL, 2018, p. 87).
22
Unidade I
Já as habilidades dos alunos estão divididas em campos de atuação, a saber: campo 
jornalístico-midiático, campo de atuação da vida pública, campo das práticas de estudo e pesquisa e 
campo artístico-literário.
 
Nesses campos, são desenvolvidas quatro práticas de linguagem: oralidade, leitura, produção de 
textos e análise linguística e semiótica.
Destacamos aqui o campo artístico-literário, no qual
 
[...] buscam-se a ampliação do contato e a análise mais fundamentada de 
manifestações culturais e artísticas em geral. Está em jogo a continuidade 
da formação do leitor literário e do desenvolvimento da fruição. A análise 
contextualizada de produções artísticas e dos textos literários, com 
destaque para os clássicos, intensifica-se no Ensino Médio. Gêneros 
e formas diversas de produções vinculadas à apreciação de obras 
artísticas e produções culturais (resenhas, vlogs e podcasts literários, 
culturais etc.) ou a formas de apropriação do texto literário, de 
produções cinematográficas e teatrais e de outras manifestações 
artísticas (remidiações, paródias, estilizações, videominutos, fanfics 
etc.) continuam a ser considerados associados a habilidades técnicas e 
estéticas mais refinadas (BRASIL, 2018, p. 503).
 Saiba mais
É importante que você conheça a BNCC, as competências e as habilidades 
propostas, não só para esta disciplina, mas para outras ao longo do curso. 
Para saber mais sobre a BNCC, assista ao vídeo a seguir, que discute sobre a 
parte introdutória da Base:
AS COMPETÊNCIAS gerais da BNCC. 2018. 1 vídeo (13 min). Publicado pelo 
canal Movimento pela Base. Disponível em: https://youtu.be/-wtxWfCI6gk. 
Acesso em: 2 maio 2022.
O documento possui uma versão impressa e outra para navegação:
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Básica. Base 
nacional comum curricular (BNCC). Brasília: MEC/SEF, 2018. Disponível em: 
https://bit.ly/3tevYOj. Acesso em: 2 maio 2022.
A BNCC para o Ensino Fundamental também enfatiza a importância dos estudos sobre a culturae 
história africana e afro-brasileira, algo que não pode ficar restrito às aulas de história:
23
LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
A inclusão dos temas obrigatórios definidos pela legislação vigente, tais como a 
história da África e das culturas afro-brasileira e indígena, deve ultrapassar 
a dimensão puramente retórica e permitir que se defenda o estudo dessas 
populações como artífices da própria história do Brasil. A relevância da 
história desses grupos humanos reside na possibilidade de os estudantes 
compreenderem o papel das alteridades presentes na sociedade brasileira, 
comprometerem-se com elas e, ainda, perceberem que existem outros 
referenciais de produção, circulação e transmissão de conhecimentos, que 
podem se entrecruzar com aqueles considerados consagrados nos espaços 
formais de produção de saber (BRASIL, 2018, p. 399).
Especificamente na área de língua portuguesa, entre as competências necessárias para a faixa do 
6º ao 9º ano, destacamos aquela que trata da formação do leitor-fruidor:
A formação desse leitor-fruidor exige o desenvolvimento de habilidades, a 
vivência de experiências significativas e aprendizagens que, por um lado, 
permitam a compreensão dos modos de produção, circulação e recepção das 
obras e produções culturais e o desvelamento dos interesses e dos conflitos 
que permeiam suas condições de produção e, por outro lado, garantam 
a análise dos recursos linguísticos e semióticos necessária à elaboração da 
experiência estética pretendida. Aqui também a diversidade deve orientar a 
organização/progressão curricular: diferentes gêneros, estilos, autores 
e autoras – contemporâneos, de outras épocas, regionais, nacionais, 
portugueses, africanos e de outros países – devem ser contemplados; 
o cânone, a literatura universal, a literatura juvenil, a tradição oral, o 
multissemiótico, a cultura digital e as culturas juvenis, entre outras diversidades, 
devem ser consideradas, ainda que deva haver um privilégio do letramento da 
letra (BRASIL, 2018, p. 155, grifo nosso).
Nota-se a importância de oferecer aos alunos uma diversidade de gêneros, textos, linguagens, 
autores e temas, contribuindo para uma ampla experiência estética.
Já para o Ensino Médio, propõe-se uma progressão, uma ampliação do que 
foi construído ao longo do fundamental, com a inclusão de textos mais 
complexos: a inclusão de obras da tradição literária brasileira e de suas 
referências ocidentais – em especial da literatura portuguesa –, assim 
como obras mais complexas da literatura contemporânea e das literaturas 
indígena, africana e latino-americana (BRASIL, 2018, p. 492).
Como parâmetros para a organização de uma progressão curricular, o documento ainda propõe:
Diversificar, ao longo do Ensino Médio, produções das culturas juvenis 
contemporâneas (slams, vídeos de diferentes tipos, playlists comentadas, 
raps e outros gêneros musicais etc.), minicontos, nanocontos, best-sellers, 
24
Unidade I
literatura juvenil brasileira e estrangeira, incluindo entre elas a literatura 
africana de língua portuguesa, a afro-brasileira, a latino-americana etc., 
obras da tradição popular (versos, cordéis, cirandas, canções em geral, contos 
folclóricos de matrizes europeias, africanas, indígenas etc.) que possam 
aproximar os estudantes de culturas que subjazem na formação identitária 
de grupos de diferentes regiões do Brasil (BRASIL, 2018, p. 514).
Como podemos observar, propõe-se uma variedade de gêneros em linguagens diversas, em um 
rico e amplo leque cultural, partindo da tradição oral e popular até novos gêneros advindos nas novas 
TDICs (tecnologias digitais da informação e comunicação), o que demanda o uso de computadores, 
smartphones e internet.
Entre as habilidades propostas para o campo artístico-literário, destacamos:
 
(EM13LP51) Analisar obras significativas da literatura brasileira e da literatura 
de outros países e povos, em especial a portuguesa, a indígena, a africana 
e a latino-americana, com base em ferramentas da crítica literária (estrutura 
da composição, estilo, aspectos discursivos), considerando o contexto de 
produção (visões de mundo, diálogos com outros textos, inserções em 
movimentos estéticos e culturais etc.) e o modo como elas dialogam com o 
presente (BRASIL, 2018, p. 516, grifo nosso).
Como podemos perceber, a análise de obras das literaturas africanas também é uma habilidade que 
precisa ser desenvolvida e incluída no planejamento dos professores.
Apesar de os documentos oficiais fundamentarem o ensino das literaturas africanas na Educação 
Básica, os professores ainda encontram vários obstáculos sobre essa prática. Em primeiro lugar, há 
poucos livros editados no Brasil e o seu acesso é limitado. É preciso que os livros de autores africanos 
também sejam incluídos nos programas oficiais de distribuição de livros para as bibliotecas escolares.
Em segundo lugar, há muitos que desconhecem as literaturas africanas e não sabem como ensiná-las. 
Assim, é preciso que todos os profissionais envolvidos (professores, coordenadores, bibliotecários, entre 
outros) tenham uma formação contínua que os auxilie a criar projetos de incentivo à leitura e formação 
de leitores a partir dessas obras.
E, finalmente, o aspecto mais delicado e polêmico: o preconceito. É preciso lutar contra os preconceitos 
sofridos por essas produções que abordam aspectos culturais e sociais importantíssimos, inerentes à 
nossa matriz cultural e histórica, mas que ainda encontram resistência e intolerância.
Ao longo desta disciplina, apresentaremos alguns exemplos de aplicação em que levaremos em 
conta as propostas dos documentos oficiais apresentados, assim como retornaremos às reflexões 
aqui apresentadas.
25
LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
4 LITERATURA ANGOLANA
4.1 Contexto histórico e social
Antes de apresentarmos a literatura angolana, alguns de seus autores e obras, é muito importante 
contextualizar, histórica e geograficamente, Angola, oficialmente República de Angola, país situado na 
costa ocidental da África, do outro lado do oceano Atlântico (se considerarmos o Brasil como ponto de 
referência), fazendo limites com a República Democrática do Congo, a Zâmbia e a Namíbia.
Observe no mapa as principais cidades frequentemente citadas nos contos e romances ango6anos, 
Luanda, Benguela, Huambo e Cabinda:
Luanda
Namíbia
Zâmbia
Zam
bezi
República Democrática 
do Congo
Oceano 
Atlântico 
Sul
Botswana
Porto 
Amboin
Ambriz
Lobito
Huambo
Morro 
de Môco
Namibe
Lubango
24
6
2412
12 12
18
18
18
Benguela
Malanje
Luena
Menongue
Co
ng
oCabinda
Soyo
6
Figura 3 – Mapa de Angola
Adaptada de: https://bit.ly/3xfzvfI. Acesso em: 2 maio 2022.
Note que Cabinda, região rica em petróleo, encontra-se separada do restante do país, acima do rio 
Congo, sendo tema de importantes obras como Mayombe, de Pepetela, por exemplo.
26
Unidade I
 Saiba mais
Para saber mais sobre Angola, consulte o site a seguir:
ANGOLA. Mundo Educação. [s.d.]. Disponível em: https://cutt.ly/JGFSoNo. 
Acesso em: 2 maio 2022.
Em 1482, os portugueses chegaram à atual Angola, região de antigos e poderosos reinos, como 
Kongo e N’dongo.
Nos primeiros contatos não houve violência ou resistência dos habitantes locais, ocorrendo, inclusive, 
alianças econômicas entre os portugueses e as elites locais, algo que mudaria a partir do século XVII, de 
forma esporádica, e contundentemente a partir da década de 1960.
Com o passar do tempo, os portugueses se tornaram mais influentes e poderosos e criaram na região 
um importante posto de tráfico negreiro. De 1641 a 1648, Angola foi invadida pelos holandeses, assim 
como Recife no Brasil. A partir de 1648, Portugal retoma o controle de Angola e a exploração econômica 
dessa região duraria por todo o século XX.
A história de Angola, assim como a de outras ex-colônias africanas, como vimos anteriormente, foi 
marcada pelo colonialismo e pela luta em combatê-lo, a qual se acirrou na década de 1960, em pleno 
Salazarismo.Após várias guerrilhas e acordos, o país conquistou sua independência política somente em 
1975, um ano após a Revolução dos Cravos em Portugal.
Inicialmente, podemos verificar que o processo da libertação de Angola, ou seja, a busca pela 
independência, possui raízes bem antigas. Houve várias formas de resistência, inicialmente por meio 
da imprensa, mais tarde pela literatura, como o movimento Vamos Descobrir Angola, de 1948, entre 
outras manifestações.
Contudo, esse processo para se libertar do colonialismo português assumiu uma postura mais 
ofensiva, como vimos anteriormente, inclusive com a luta armada, a partir dos anos 1960, em resposta 
às políticas colonialistas do Salazarismo. Quanto mais as colônias se opunham a Portugal, mais 
reprimidas eram.
 
Com o início da luta armada nas diversas colônias, a prisão de militantes 
nacionalistas, a fuga de outros para o exterior e o fechamento, em 1964, 
da Casa do Estudante do Império, os intelectuais dedicam-se sobretudo às 
atividades político-militares dos seus partidos na luta pelas independências 
(SERRANO, 1988, p. 129).
Assim, o processo de libertação e as questões políticas confundiam-se com as produções literárias. 
27
LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
Após a independência, os angolanos ainda tiveram que enfrentar a guerra civil, uma fratricida luta 
pelo poder, algo bem complexo se levarmos em conta que, além das diferenças étnicas e ideológicas 
internas, Angola foi lançada no palco da Guerra Fria, ainda colônia, servindo como um território 
experimental para estratégias bélicas e o uso de armamentos em geral, como as tantas minas que a 
tantos mutilaram.
 Observação
Guerra Fria é o nome dado ao período de grande hostilidade entre os 
Estados Unidos e a União Soviética, entre 1947 a 1989, quando não houve 
um conflito armado direto entre essas duas superpotências à época.
 Saiba mais
Sobre as minas terrestres em Angola, leia a reportagem:
JOÃO Lourenço confirma meta de acabar com minas terrestres até 
2025. Deutsche Welle, 28 set. 2019. Disponível em: https://cutt.ly/ZGFDnvN. 
Acesso em: 2 maio 2022.
Conforme nos explica o professor Carlos Serrano, cada um dos diferentes grupos étnicos dos povos 
africanos desenvolveu uma forma própria de resistência em relação ao dominador, o qual, por sua 
vez, também tratava os grupos de forma diferenciada. Assim, essa diversidade étnica foi utilizada 
como instrumento para a conquista e manutenção do poder, dificultando e adiando a libertação dos 
povos africanos:
 
O poder colonial, ao preservar a própria divisão desses grupos e ao explorar 
as contradições que possam existir entre eles, pode mais facilmente preservar 
um processo de dominação, sobretudo ao gerar conflitos entre esses grupos 
para melhor manter o seu poder em relação ao todo, justificando assim o 
velho ditado: dividir para reinar (SERRANO, 1999, p. 21).
Havia vários grupos de luta pela libertação que eram formados a partir de sua origem étnica 
e regional e que, devido a seus interesses diversos e por influência dos países estrangeiros, não 
conseguiam chegar a um consenso, partindo para a luta armada, já não contra os portugueses, mas 
contra si mesmos. A Unita (União Nacional para Independência Total de Angola) representava os 
ovimbundos, estabelecidos ao sul do país, a FNLA (Frente Nacional pela Libertação de Angola) era 
liderada pelos bacongos, habitantes do norte, e o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), 
pelos quimbundos, do centro do país, próximos da capital, Luanda.
28
Unidade I
O MPLA, que assumiu o poder após a independência, possuía um maior número de simpatizantes, 
sendo também mais organizado. Seu presidente, o poeta e ativista Agostinho Neto, se tornaria o primeiro 
presidente do país. Segundo o professor Carlos Serrano (1999), o primeiro manifesto do MPLA (antigo 
Plua – Partido de Luta Unida) de 1956, foi, possivelmente, o primeiro projeto revolucionário que existiu 
em Angola. Esse manifesto pregava como pontos básicos a luta revolucionária e a unidade nacional. Por 
tais ideais, vários de seus militantes foram reprimidos com violência e tiveram que partir para o exterior 
como a única forma de continuarem lutando, conforme citamos anteriormente. Contudo, ainda houve 
milhares de angolanos mortos em guerra ou por se oporem ao colonialismo.
De 1979 a 2017, o país foi presidido por José Eduardo dos Santos, presidente do MPLA. Sem eleições, 
Angola se distanciou dos países democráticos.
Atualmente, o chefe de estado é o general João Lourenço, vice-presidente do MPLA. O país encontra-se 
em paz, mas com feridas profundas, como o autoritarismo, a falta de liberdade de expressão, a miséria 
e as desigualdades sociais.
4.2 Literatura oral ou oraliteratura
Podemos considerar que a literatura angolana se inicia no século XIX, ainda no período colonial, por 
meio de textos escritos; contudo, a rica tradição oral africana remonta ao primórdios da humanidade, 
é preciso enfatizar.
Para tratarmos da tradição oral, referenciamos a professora Tânia Macedo, que, em seu livro com Rita 
Chaves Literaturas de língua portuguesa: marcos e marcas – Angola (MACEDO; CHAVES, 2007), dedica 
um capítulo a esse tema e esclarece que, como há várias comunidades na África, não devemos incorrer 
no erro de generalizações, também no tocante às diferentes tradições africanas e às suas diferentes 
oraturas (literaturas orais).
 Lembrete
Em Angola, falam-se muitas línguas, por exemplo umbundo, kimbundo 
(quimbundo), kikongo (quicongo), cokwe, kwanyama e ngangela. 
A língua portuguesa é a língua oficial no país, mas não é a língua 
materna, como ocorre no Brasil e em Portugal.
Em Angola, há uma realidade pluriétnica que precisa ser considerada, com destaque para nove 
grandes grupos étnico-linguísticos com costumes, línguas e tradições distintos. Segundo o crítico 
angolano Luís Kankjimbo:
 
A literatura angolana sob a forma escrita sedimenta-se apenas no século XIX. 
Porém, a criação verbal oral é bem mais antiga. Remonta aos primórdios 
da própria comunicação humana. Por isso, qualquer definição de literatura 
29
LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
angolana hoje, não pode se perder de vista aquele segmento a que se chama 
oratura ou literatura oral. Trata-se de um acervo de textos orais que podem, 
presentemente, ser conservados com recurso à escrita (KANDJIMBO, 2003 
apud MACEDO; CHAVES, 2007, p. 18).
Tânia Macedo cita os estudos de Héli Chatelain, missionário suíço que chegou a Angola em 1885 e 
definiu seis classes principais para as manifestações culturais angolanas, com base na língua quimbundo: 
mi-sosso, maka, ma-lunda ou mi-sendu, ji-sabu, mi-imbu e ji-nongonongo.
 Os mi-sossos são histórias que contêm algo de maravilhoso e sobrenatural, 
começam e terminam com uma fórmula especial, como ku-ta, algo como 
“vou contar” ou “vou pôr uma estória”. Ao que o auditório prontamente 
responde: “Venha ela” (MACEDO; CHAVES, 2007, p. 19).
Nessas narrativas, os animais, dignos como os homens, detêm o dom da fala. No capítulo em questão 
são citados vários animais e personagens interessantes desse tipo de narrativa, como a lebre, o leão, o 
macaco, entre outros. Já as maka são as histórias verdadeiras ou consideradas como tais. As ma-lunda, 
histórias transmitidas pelos mais velhos, são como crônicas históricas: “São geralmente consideradas 
segredos de estado, e os plebeus apenas conhecem pequenos trechos do sagrado tesouro das classes 
dominantes” (CHATELAIN apud MACEDO; CHAVES, 2007, p. 22). Os ji-sabu são provérbios, muito usados 
na fala cotidiana. Quanto aos mi-imbu, são poemas cantados, em diferentes estilos, assim como a música 
vocal, raramente expressa em palavras. E, finalmente, temos as adivinhas para exercitar o pensamento 
e a memória, os ji-nongonongo.
A literatura escrita muitas vezes se inspira na tradição oral. Um bom exemplo é o poema “Serão do 
menino”, do poeta Viriato da Cruz (1928–1973). Nele, o sujeito poético ou eu lírico descreve um grupo 
de criançasque se encanta com a contação de histórias de suas avós, e uma delas se refere ao mi-sosso 
“O leão e o chacal”.
Nessa narrativa, semelhante ao que conhecemos como fábula, o leão tinha um bode e o chacal, uma 
cabra. O chacal pediu à sua majestade que lhe emprestasse o bode para cruzar com a cabra, o que foi 
feito. Da união, nasceram dois cabritinhos, sendo que um foi oferecido ao rei, que não o aceitou, pois 
considerou que os dois filhotes eram de seu bode por direito. Como o chacal não concordou com o rei, 
este convocou todos os animais da floresta para um julgamento. O chacal pediu ajuda ao cágado, pois 
previu que sua morte seria certa. O animalzinho resolveu ajudar criando um estratagema para confrontar 
o rei. Chegou atrasado ao julgamento e, quando questionado, disse que se atrasara porque seu pai havia 
dado à luz. Todos os bichos ficaram admirados com a desculpa do cágado e se perguntaram: Quem é que 
já viu um macho dar à luz? Todos concordaram que só as fêmeas dão à luz. Ao que o cágado retrucou: 
Por que este julgamento, então? Vocês querem que os cabritos sejam do bode? O leão perdeu essa 
contenda e os dois cabritinhos ficaram o chacal.
Leia trechos do poema de Viriato da Cruz, em que a figura do chacal é substituída por um animal 
mais dócil, a corça:
30
Unidade I
Serão do menino
Na noite morna, escura de breu,
enquanto na vasta sanzala do céu,
de volta das estrelas, quais fogaréus,
os anjos escutam parábolas de santos...
na noite de breu,
ao quente da voz
de suas avós,
meninos se encantam
de contos bantos...
“Era uma vez uma corça
dona de cabra sem macho...
..........................................
... Matreiro, o cágado lento
tuc... tuc... foi entrando
para o conselho animal...
(“– Não tarde que ele chegou!”)
Abriu a boca e falou –
deu a sentença final:
“– Não tenham medo da força!
Se o leão o alheio retém
– luta ao Mal! Vitória ao Bem!
tire-se ao leão – dê-se à corça.”
[...]
Fonte: Macedo e Chaves (2007, p. 30-31).
Observe a ambientação, com a composição de um lugar propício para a contação de histórias, a 
noite morna e escura, iluminada pelas estrelas e por uma fogueira. Como as narrativas primordiais e 
atemporais, ela se inicia com um “Era uma vez...”. A sinestesia se faz presente na expressão “ao quente 
da voz” em uma rima suave com avós, enfatizando o momento de acalanto. Recursos como aliterações 
e assonâncias (quente da voz / de suas avós, meninos se encantam / de contos bantos) e onomatopeia 
(tuc... tuc...) reforçam a oralidade dos versos. Quanto à temática, como uma fábula, os versos apresentam 
uma certa moral a partir de uma concepção maniqueísta em que o Bem (corça) vence o Mal (leão).
31
LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
 Saiba mais
Há muitas coletâneas de mitos e lendas africanos de diferentes etnias e 
países. Sugerimos a leitura do livro a seguir:
SILVA, A. S. A África recontada para crianças. São Paulo: Martin 
Claret, 2019.
Nele, há narrativas de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique 
e São Tomé e Príncipe. A narrativa “O leão e o chacal” é apresentada como 
de origem angolana.
4.3 Literatura angolana e seus escritores
Há muitos escritores relevantes para a formação e história da literatura angolana. Contudo, nossa 
intenção não é fazer uma lista de autores e obras, um extenso catálogo, e sim apresentar a você alguns 
dos nomes mais significativos, aqueles com os quais temos trabalhado ao longo dos anos, por vezes 
objeto de pesquisas acadêmicas e cujas obras são de fácil acesso. Ou seja, faremos aqui uma seleta 
de autores e comentaremos suas principais obras, mas consideramos importante que você pesquise a 
respeito e faça suas escolhas.
Como dissemos anteriormente, o trabalho com as literaturas africanas traz alguns obstáculos, 
como o reduzido número de obras literárias e teóricas publicadas no Brasil, embora esse quadro tenha 
melhorado muito nos últimos anos.
 Saiba mais
Houve uma interessante coleção de autores africanos na década de 
1990 publicados pela editora Ática, mas que estão fora de catálogo, sendo 
encontrados somente em bibliotecas ou sebos.
Atualmente há algumas editoras, como a Kapulana, em São Paulo, e a 
Nandyala, em Belo Horizonte, que têm apresentado um catálogo variado 
de antigos e novos autores.
Para ficar atualizado sobre a literatura angolana e ter uma visão 
mais ampla dos escritores e escritoras, tantos os mais antigos como os 
contemporâneos, sugerimos o site da União dos Escritores Angolanos:
Disponível em: https://bit.ly/3zDchTF. Acesso em: 4 maio 2022.
32
Unidade I
Ainda no século XIX, o jornalismo foi uma das principais manifestações escritas de Angola e os 
jornais foram o principal veículo da divulgação de obras literárias. Um dos jornalistas importantes da 
época foi o português Alfredo Troni (1845–1904), também um prosador ficcional.
Troni viveu a maior parte de sua vida em Angola e se notabilizou como um dos precursores 
da literatura angolana com a novela Nga Mutúri (Senhora viúva), publicada em folhetins no Diário da 
Manhã em Lisboa em 1882, voltando a ser publicada em formato de livro somente em 1973, com o 
subtítulo Cenas de Luanda.
Nessa obra, narra-se a história de uma menina negra, escrava (buxila) e concubina de um comerciante 
branco, que passa à condição de Nga Mutúri, senhora viúva, com a morte de seu amante. A narrativa 
se divide em dois espaços distintos: os primeiros acontecimentos ocorrem “numas terras muito longe”, 
onde vive seu povo, e os demais ocorrem na cidade de Luanda, para a qual foi levada. Segundo Santilli 
(1985, p. 10):
A estória assinala os lances da assimilação que acabam por levar Nga Mutúri 
a rezar em mbundu, a achar que a terra do rei de Portugal, “Muene Putu”, 
é muito melhor que o mato, a pagar seus impostos e viver de juros. [...] 
[A obra] tem sido considerada precursora pela sensibilidade voltada já para 
os dados do mundo africano.
 Observação
Ao estudarmos as literaturas africanas, vamos considerar que, para 
vários indivíduos ou grupos, houve um processo de assimilação cultural, 
em que o colonizado se adaptou à cultura e hábitos do colonizador. Os 
“assimilados” eram vistos como inferiores aos olhos do colonizador e como 
traidores aos olhos daqueles que procuravam manter suas raízes.
Entretanto, na narrativa de Alfredo Troni, Nga Mutúri passa pelo 
processo de assimilação e é bem aceita pela sociedade, até invejada:
“Nga Mutúri é invejada. Não quer homem. [...] Nada, não cai. E, assim, 
como serenamente desfia as suas rezas em mbundu, vão lhe correndo os 
dias da vida sossegados e bens. Está gorda. É muito considerada pelas boas 
famílias [...]” (TRONI, 1895 apud SANTILLI, 1985, p. 45).
 Saiba mais
Leia o artigo:
CESTARI, W. S.; CROSARIOL, I. M. Nga Mutúri: uma questão de memória 
e identidade. Estação Literária, v. 8, n. 1, p. 87-95, 2011. Disponível em: 
https://cutt.ly/TGHxZrp. Acesso em: 3 maio 2022.
33
LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
4.3.1“Vamos descobrir Angola!”
Ainda no período colonial, segundo Macedo e Chaves (2007), o sistema literário angolano se 
consolida a partir de 1948 com o Movimento dos Novos Intelectuais de Angola, sob o lema “Vamos 
descobrir Angola!”, entre outras ações, como a publicação da Antologia dos novos poetas de Angola 
(1950) e a revista Mensagem – a voz dos naturais de Angola.
 Observação
Segundo o professor Antonio Candido (1981, p. 23), sistema literário 
é aquele que engloba autores mais ou menos conscientes de seu papel de 
produzir uma literatura nacional, um conjunto de receptores (leitores) e um 
mecanismo transmissor (livros, jornais etc.).
O Movimento se propunha tanto a redescobrir o país como a produzir obras para o povo, com a 
“expressão dos interesses populares e da autêntica natureza africana” (MACEDO; CHAVES, 2007, p. 56). 
Além disso, seus autores se inspiravam nos escritores e poetas brasileiros:
 
[Os escritores angolanos] sabiam muito bem o que fora o movimento 
modernista brasileiro de 1922. Até eles havia chegado, nítido, o “gritodo Ipiranga” das artes brasileiras, e a lição dos seus escritores mais 
representativos, em especial de Jorge de Lima, Ribeiro Couto, Manuel 
Bandeira, Lins do Rego e Jorge Amado, foi bem assimilada (ERVERDOSA 
apud MACEDO; CHAVES, 2007, p. 56).
É importante ressaltar que vários outros escritores angolanos se inspiraram nos escritores 
brasileiros, autores admirados e muito lidos, como os citados Jorge Amado e José Lins do Rego, 
acrescentando-se às outras gerações Carlos Drummond de Andrade, João Guimarães Rosa e João 
Ubaldo Ribeiro, entre outros.
Segundo Tânia Macedo (MACEDO; CHAVES, 2007, p. 71), o Brasil era visto como um modelo a ser seguido:
 
Sob o colonialismo, os escritores angolanos encontram na Literatura 
Brasileira aquilo que não fazia parte nem da literatura portuguesa, nem da 
literatura colonial, que, nessa época, o governo metropolitano incentivava 
como forma de assegurar no térreo simbólico a ocupação da terra e 
submissão das pessoas. O Brasil desfrutava ainda do estatuto de ex-colônia 
que contava com um contingente considerável de descendentes de africanos 
em sua população.
Há muitos escritores e escritoras angolanos, poetas, contistas e romancistas, responsáveis 
pela formação e continuidade da literatura angolana. Além do já citado Alfredo Troni, há Castro 
Soromenho, Viriato da Cruz, António Jacinto, Agostinho Neto, José Luandino Vieira, Manuel Rui, 
34
Unidade I
Ruy Duarte Carvalho, Boaventura Cardoso, Uanhenga Xitu, Arnaldo Santos, João Melo, Pepetela, 
José Eduardo Agualusa, Ana Paula Tavares, Cremilda Lima, Gabriela Antunes, Ondjaki, entre outros. 
Selecionamos alguns para esta disciplina, mas você pode ampliar seu repertório acompanhando 
revistas especializadas, como a revista Crioula ou a revista Via Atlântica ou mesmo o site da União 
dos Escritores Angolanos.
4.3.2 Viriato da Cruz (1928–1973)
Viriato da Cruz foi um dos principais destaques do Movimento dos Novos Intelectuais de Angola. 
Também pertenceu à Mensagem de Luanda (1951–1952). Dentro da sua obra, destacam-se poemas que 
retratam o universo da sociedade crioula, a sua linguagem, hábitos e costumes, com registros coloquiais. 
Há uma clara proposta de integrar a oralidade e tradições populares ao mundo letrado, com o uso 
inclusive de palavras em quimbundo, como é caso do poema “Makèzu” (Poemas, 1961):
Makèzu
— Kukiê... Makèzu, Makèzu
O pregão da avó Ximinha
É mesmo como os seus panos
Já não tem a cor berrante
Que tinha nos outros anos.
[...]
“— Não sabe? Todo esse povo
Pegô um costume novo
Qui diz qué civrização:
Come só pão com chouriço
Ou toma café com pão...”
[...]
“— Eles não sabe o que diz
— Pru qué qui vivi filiz
E tem cem ano eu e tu?
— É pruquê nossas raiz
Tem força de makèzu.”
Fonte: Cruz (1961 apud MACEDO; CHAVES, 2007, p. 58-59).
35
LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
Makèzu é um desjejum tradicional em Angola, composto por noz de cola (ou obi, fruto de uma 
planta típica da região) e gengibre mastigado.
Note que a velhinha passa nas ruas vendendo esses frutos e critica os novos costumes trazidos 
pelos colonizadores, como comer pão e chouriço e tomar café. Ela considera que sua vida longeva se 
deva ao makèzu.
Figura 4 – Noz de cola
Disponível em: https://cutt.ly/RGHWD3I. Acesso em: 3 maio 2022.
O poema possui uma variação no número de estrofes, há quadras, quintetos e sextetos, sendo a 
maioria versos de sete sílabas (redondilha maior), com esquemas de rimas também variados. Nos trechos 
selecionados, temos abcb/ddede/ffgf, ou seja, rimas intercaladas e paralelas. Toda a estrutura poética, 
assim como o registro da fala da personagem, colabora com o tema, que consiste em resgatar e valorizar 
a tradição e a língua falada em um registro informal, uma variante popular.
Viriato da Cruz também escreveu poemas românticos e sensuais, como “Namoro”, em que um rapaz 
chamado Benjamim pede sua amada em namoro por muitas vezes, com várias estratégias, mas só recebe 
negativas. Veja alguns versos:
Namoro
Mandei-lhe uma carta em papel perfumado
e com letra bonita eu disse ela tinha
um sorrir luminoso tão quente e gaiato
como o sol de Novembro brincando de artista nas acácias floridas
espalhando diamantes na fímbria do mar
e dando calor ao sumo das mangas
36
Unidade I
Sua pele macia – era sumaúma…
Sua pele macia, da cor do jambo, cheirando a rosas
sua pele macia guardava as doçuras do corpo rijo
tão rijo e tão doce – como o maboque.
Seus seios, laranjas – laranjas do Loge
seus dentes… – marfim
Mandei-lhe essa carta
e ela disse que não.
[...]
Vocabulário
Sumaúma: árvore com painas macias como algodão.
Maboque: fruto.
Cor de jambo: pele morena ou negra.
Loge: localidade.
Fonte: Cruz (1961 apud FERREIRA, 1988, p. 167-168).
Observe que o registro não é tão informal quanto o do poema anterior. Em versos livres, o eu lírico 
relata suas várias tentativas para conquistar sua amada e por meio da hipérbole compara seu sorriso 
ao sol, sua pele a frutos saborosos e árvores com painas macias e seus seios a laranjas, como índices 
de sensualidade.
 Saiba mais
Ouça o poema “Namoro”, de Viriato da Cruz, musicado por Fausto Bordalho:
“NAMORO”, de Viriato da Cruz, interpretado por Fausto. 2011. 1 vídeo (5 min). 
Publicado pelo canal Érica Antunes. Disponível em: https://youtu.be/0bakjzhUqfA. 
Acesso em: 3 maio 2022.
Leia também o artigo a seguir:
AGUALUSA, J. E. Viriato da Cruz e o poder da poesia. Buala, 15 mar. 2011. 
Disponível em: https://cutt.ly/8GHUQpp. Acesso em: 3 maio 2022.
4.3.3 António Jacinto (1924–1991)
Outro poeta muito importante dessa geração e da revista Mensagem foi António Jacinto do Amaral 
Martins. Em boa parte de seus poemas, o tom é de denúncia contra as injustiças sociais e raciais em 
37
LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
Angola. Por sua militância política, foi preso e cumpriu pena no campo de concentração para presos 
políticos no Tarrafal, em Cabo Verde, de 1960 a 1972. Em seu livro Sobreviver em Tarrafal de Santiago, 
de 1985, deixou um testemunho poético dessa época.
Leia alguns versos do poema “Monangamba” – em quimbundo, mona ngamba –, que significa 
carregador, trabalhador braçal.
Monangamba
Naquela roça grande não tem chuva
é o suor do meu rosto que rega as plantações;
Naquela roça grande tem café maduro
e aquele vermelho-cereja
são gotas do meu sangue feitas seiva.
O café vai ser torrado,
pisado, torturado,
vai ficar negro, negro da cor do contratado.
Negro da cor do contratado!
Perguntem às aves que cantam,
aos regatos de alegre serpentear
e ao vento forte do sertão:
Quem se levanta cedo? quem vai à tonga?
Quem traz pela estrada longa
a tipoia ou o cacho de dendém?
[...]
Quem capina e em paga recebe desdém
fubá podre, peixe podre,
panos ruins, cinquenta angolares
“porrada se refilares”?
Quem?
[...]
38
Unidade I
E as aves que cantam,
os regatos de alegre serpentear
e o vento forte do sertão
responderão:
— “Monangambééé...”
Ah! Deixem-me ao menos subir às palmeiras
Deixem-me beber maruvo, maruvo
e esquecer diluído nas minhas bebedeiras
— “Monangambééé...”
[...]
Vocabulário
Tonga: se refere ao povo dos tongas.
Dendém: dendê.
Angolares: moeda de Angola. Pelo contexto, é pouco dinheiro.
Maruyo: bebida alcoólica extraída da seiva de uma planta denominada bordão.
Fonte: Jacinto (1961 apud FERREIRA, 1988, p. 135-136).
Observe que o eu lírico é um monangamba, um serviçal que denuncia sua triste condição de escravo, 
com trabalho árduo e de péssima remuneração. Pago com alimentos podres e roupas ruins, não pode 
nem mesmo reclamar, pois levará uma surra. Como um escravo, em condições sub-humanas, é torturado 
e amassado como um grão de café, enquanto seu patrão enriquece. Os vários pontos de interrogação 
são usados como retórica para indicar a indignação desse trabalhador. Para ele, as aves e o vento gritam 
sua condição de escravizado. Pede que pelo menos o deixem.
 Saiba mais
Leia outros poemas de António Jacinto em:
ANTÓNIO Jacinto. Escritas. [s.d.]. Disponível em: https://cutt.ly/wGJfUJq. 
Acessoem: 3 maio 2022.
Ouça o poema musicado por Rui Mingas em:
RUI Mingas – “Monagambé” do poeta António Jacinto (1924-1991). 2011. 
1 vídeo (4 min). Publicado pelo canal DoTempoDosSonhos. Disponível em: 
https://youtu.be/57Fhg4D9phA. Acesso em: 3 maio 2022.
39
LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
4.3.4 Agostinho Neto (1922–1979)
Figura 5 – Agostinho Neto
Disponível em: https://cutt.ly/MG6O6Eb. Acesso em: 9 maio 2022.
Outro importante poeta angolano foi Agostinho Neto, médico e revolucionário, que participou 
da fundação do MPLA e tornou-se o primeiro presidente de Angola. Sua principal obra foi Sagrada 
esperança (1974).
Segundo Macedo e Chaves (2007), Agostinho Neto foi um poeta paradigmático da literatura e da luta 
anticolonial. Seu poema “Civilização ocidental” exemplifica claramente seu estilo. Leia alguns trechos:
Civilização ocidental
Latas pregadas em paus
fixados na terra
fazem a casa
Os farrapos completam
a paisagem íntima
O sol atravessando as frestas
acorda o seu habitante.
Depois as doze horas de trabalho
escravo
Britar pedra
acarretar pedra
britar pedra
acarretar pedra
ao sol
à chuva
britar pedra
acarretar pedra
40
Unidade I
A velhice vem cedo
Uma esteira nas noites escuras
basta para ele morrer
grato
e de fome.
Fonte: Neto (apud MACEDO; CHAVES, 2007, p. 83-84).
Observe a ironia do título diante das péssimas condições de trabalho, subumanas, provocadas pela tal 
“civilização”. Os versos curtos e a repetição de termos como “britar” e “pedra” dão um ritmo compassado, 
lembrando a própria quebra das pedras. Ironia também em “morrer grato” por tanto sofrimento, pela 
miséria e pela fome.
Vale ressaltar que os anseios políticos não descartam a preocupação estética.
Agora, leia um trecho do poema “Sangrantes e germinantes”, de Agostinho Neto:
Sangrantes e germinantes
Nós
da África imensa
e por cima da traição dos crocodilos
através das florestas majestosas invencíveis no rodar da vida
ansiosa fermente caudalosa nos rios rugidores
no som harmonioso das marimbas em surdina
nos olhares juventude das multidões
mundos de braços de ânsia de esperança
da África imensa
debaixo da garra
sangrantes de dor e esperança de mágoa e força
sangrando na terra desventrada pelo sangue das enxadas
sangrando no suor da roça da compulsão dos algodoais
sangrando fome ignorância, desesperos morte
nas feridas no dorso negro da criança da mãe da honestidade
sangrantes e germinantes
da África imensa
negra
e clara como as manhãs da amizade
desejosa e forte como os passos da liberdade.
[...]
Fonte: Neto (1987 apud MACEDO; CHAVES, 2007, p. 98-99).
Observe que o poeta se refere à África como um todo, e não somente a Angola, dando aos seus versos 
uma dimensão universal. E quanto aos termos “sangrante” (um neologismo) e “germinante”, eles dão 
41
LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
ideia de algo estático, parado, ou algo em movimento, contínuo? Contínuo, não é mesmo? Como se as 
pessoas estivessem em um processo contínuo de sangrar e germinar, morrer e renascer. Observe também 
como o continente é descrito, seus sons e imagens. Segundo o poema, nesse belo sofrido quadro, há 
ainda esperança. Pesquise outros países africanos que também tenham sofrido com a colonização.
 Saiba mais
Para saber mais sobre Agostinho Neto e sua obra, acesse:
Disponível em: https://bit.ly/3QeRJGK. Acesso em: 4 maio 2022.
Veja também o documentário sobre sua vida e obra:
VIDA e obra do Dr. António Agostinho Neto. 2020. 1 vídeo (18 min). 
Publicado pelo canal Memorial Dr. António Agostinho Neto. Disponível em: 
https://youtu.be/pTzOMno8Ctc. Acesso em: 3 maio. 2022.
4.3.5 Ana Paula Tavares (1952–)
Figura 6 – Ana Paula Tavares
Fonte: Tavares (2011, contracapa).
42
Unidade I
Ana Paula Tavares nasceu em Lubango, na província de Huíla, ao sul de Angola. Em algumas 
publicações encontraremos simplesmente Paula Tavares. Poetisa, cronista e professora, formou-se em 
história, fez mestrado em Literaturas Africanas em Língua Portuguesa e doutorado em Antropologia 
da História. Sempre lembrada como “a primeira voz feminina de impacto na cena poética angolana” 
(MACEDO; CHAVES, 2007, p. 76), Ana Paula Tavares atualmente é professora da Universidade Agostinho 
Neto, em Angola, e da Universidade de Lisboa, em Portugal.
A autora tem participado frequentemente de eventos no Brasil e em entrevistas disse admirar 
escritores como Manuel Bandeira, Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo 
Neto, entre outros brasileiros.
Além de ter participado de várias antologias de poesia e prosa em Portugal, Brasil, França, Alemanha 
e Espanha, também publicou alguns ensaios sobre a história de Angola.
Entre seus vários livros, citamos: Ritos de passagem (poemas, Caminho, 1985); Dizes-me coisas 
amargas como os frutos (poemas, Caminho, 2001); Ex-votos (poemas, Caminho, 2003); A cabeça de 
Salomé (crônicas, Caminho, 2004); Como veias finas na terra (poemas, Caminho, 2010); Amargo como 
os frutos (poesia reunida, Pallas Atena, 2010); e Um rio preso nas mãos (crônicas, Kapulana, 2019).
Observe que a autora tem se destacado tanto como poetisa quanto como cronista. Em um de seus 
últimos livros, Um rio preso nas mãos, uma coleção de 38 crônicas, trata de temas diversos, desde 
crítica política, mitologias africanas, oralidade, escrita, o povo de Angola e suas mulheres. Inclusive, 
a situação das mulheres nas sociedades africanas assume forte relevância também em seus poemas, 
sendo abordadas questões do feminismo muito específicas, diferentes da visão ocidental.
Veja alguns trechos de um poema sem título de Ritos de passagem, também coletado em Amargos 
como os frutos:
As coisas delicadas tratam-se com cuidado
(Filosofia cabinda)
Desossaste-me
 cuidadosamente
inscrevendo-me
 no teu universo
 como uma ferida
 uma prótese perfeita, maldita, necessária.
conduziste todas as minhas veias
 para que desaguassem
 nas tuas
 sem remédio
meio pulmão respira em ti
43
LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
e outro, que me lembre
 mal existe
Hoje levantei-me cedo
pintei de tacula e água fria
o corpo aceso
não bato a manteiga
não ponho o cinto
VOU
para o sul saltar o cercado.
[...]
Vocabulário
Tacula: massa de barro vermelho e óleo.
Fonte: Tavares (2011, p. 55).
Observe como nesses versos há uma desconstrução da imagem feminina, uma mulher fragmentada, 
“desossada”, que rompe com aquilo que se espera de uma mulher “do lar”, pois não irá “bater a 
manteiga”, não vai se ater às tarefas domésticas, já que seu “corpo aceso” aflora de desejos, que são 
sua prioridade.
As imagens suscitadas nos primeiros versos são impactantes, reforçadas por um léxico inusitado. 
Expressões como “desossaste-me”, “ferida” e “meio pulmão respira” dão a dimensão do sofrimento e da 
“mutilação” do eu lírico por seu amado. Esse mesmo eu lírico vai ganhando dimensão em busca de sua 
individualidade e liberdade e diz, em letras garrafais: “VOU”.
Figura 7 – Representação de uma mulher africana
Disponível em: https://cutt.ly/kGJNOoy. Acesso em: 3 maio 2022.
44
Unidade I
Leia agora alguns versos do poema “Amargos como os frutos”:
Amargos como os frutos
Amargos como os frutos
Amado, por que voltas
com a morte nos olhos
e sem sandálias
como se um outro te habitasse
num tempo
para além
do tempo todo?
[...]
Onde deixaste a tua voz
macia de capim e veludo
semeada de estrelas?
Amado, meu amado,
o que regressou de ti
é a tua sombra
dividida ao meio
é um antes de ti
as falas amargas
como os frutos. 
Fonte: Tavares (2011, p. 119).
O título já nos chama a atenção pelo paradoxo. Normalmente, os frutos são descritos como 
saborosos, doces e não amargos. Essa ambiguidade pode se referir à própria incompreensão que se tem 
do sentimento amoroso (lembra-se do verso de Camões, “Amar é fogo que arde sem se ver”?). Mas o 
ser amado volta para ela destruído, não é mais o mesmo, é apenas metade do que era. Pensando no 
contexto angolano, provavelmente esse homem viria de uma guerrilha, brutalizado e diferente do que 
um dia fora. Essa perspectivada autora dá voz aos sentimentos femininos em relação a tantos conflitos.
Leia alguns trechos da crônica “A terra tinha feridas na pele”, sobre uma velha nômade de nome Nhae:
A terra tinha feridas na pele
Orientou a boca da sua casa nova para sul para apanhar o arco do sol de manhã e evitar 
o frio no tempo seco. Acendeu, com o pau de girassonde, o fogo, um fogo novo e forte, ao 
contrário da sua vida, que começava a parecer-se com um odre seco e vazio, apesar dos 
imensos dias que lhe ocupavam lugar. Longas partidas e chegadas por entre a rala savana e 
alguns desertos. Por isso resolveu parar. Arrumou por ordem o pilão e o almofariz, a pedra 
45
LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
grande e o rebolo, vinte cabaças para guardar a água e os remédios, cestos de capim tecidos 
noutras paragens e a grande colher de pau que herdara da tia sua parente de afinidade 
por casamento com o chefe. Era filha do sol e da lua e há muito tempo que por ser mãe de 
gémeos tivera que construir abrigo longe das doze casas do círculo e fora proibida de comer 
carne, mel e funje de massango. [...]
Vocabulário
Girassonde: árvore comum em Angola, cuja madeira é muito valiosa.
Almofariz: utensílio para moer grãos.
Funje de massango: mingau de um cereal de sementes pequenas.
Fonte: Tavares (2016).
Nessa crônica, Ana Paula Tavares retoma o tema bastante presente em seus poemas: a condição 
da mulher angolana. A velha Nhae foi expulsa de sua aldeia por ter dado à luz filhos gêmeos, que, 
segundo algumas tradições locais, são de mau agouro para toda a aldeia. Ela passa a viver por conta 
própria perto de sua aldeia, apartada do convívio de todos, sem acesso aos alimentos. As feridas na 
pele da terra foram deixadas por mulheres como Nhae, abandonadas e reféns da própria sorte. Feridas 
que não cicatrizam.
 Saiba mais
No site Rede Angola você encontrará um conjunto de crônicas de Ana 
Paula Tavares, intituladas “Palavras do deserto”:
TAVARES, A. P. Palavras do deserto. Angola: Rede Angola, 2016. Disponível 
em: https://cutt.ly/7GJM1yV. Acesso em: 3 maio 2022.
Leia mais sobre Ana Paula Tavares e conheça alguns de seus poemas em:
ANA Paula Tavares – a poética do espaço. Templo Cultural Delfos, 2015. 
Disponível em: https://cutt.ly/5GJ1Aig. Acesso em: 3 maio 2022.
Sobre a obra Ritos de passagem, assista à entrevista com a autora 
disponível em:
LEITURAS: Ana Paula Tavares – Ritos de passagem. 2014. 1 vídeo (16 min). 
Publicado pelo canal novaangola. Disponível em: https://youtu.be/UV2jErtOUXk. 
Acesso em: 3 maio 2022.
Outra fonte de informações sobre a autora:
ANA Paula Tavares. Pallas Editora. [s.d.]. Disponível em: https://cutt.ly/JGJ0zhz. 
Acesso em: 3 maio 2022.
46
Unidade I
Já apresentamos alguns poetas angolanos. Agora você conhecerá alguns prosadores por excelência, 
com seus contos e romances. Seguiremos uma ordem cronológica a partir dos anos 1960.
4.3.6 José Luandino Vieira (1935–)
Figura 8 – José Luandino Vieira
Fonte: Vieira (2007, contracapa).
José Vieira Mateus de Graça nasceu em Portugal, mas radicou-se em Angola desde criança. Foi 
membro do MPLA e participou da luta armada de resistência contra Portugal. Foi preso diversas vezes 
pela Pide (Polícia Internacional de Defesa do Estado) e condenado a 14 anos de prisão no campo de 
concentração do Tarrafal, em Cabo Verde.
 Saiba mais
Sobre o campo de concentração do Tarrafal em Cabo Verde, veja:
O CAMPO do Tarrafal em Cabo Verde. Portugal: RTP, 2007. 9 min. 
Disponível em: https://cutt.ly/GGLnEmn. Acesso em: 4 maio 2022.
Foi responsável pelo Instituto Angolano de Cinema (1979–1984), cofundador da União dos Escritores 
Angolanos, de que foi secretário-geral (1975–1980 e 1985–1992). Foi secretário-geral adjunto da 
Associação dos Escritores Afro-Asiáticos (1979–1984) e é membro da Academia Angolana de Letras. 
Vive em Portugal desde 1992.
Sua obra é muito extensa. Citamos aqui apenas algumas publicações, como o livro de contos A cidade 
e a infância, de 1957 (Companhia das Letras, 2007), apreendido pela polícia na época, A vida verdadeira 
de Domingos Xavier, de 1961, o mais famoso livro de contos, Luuanda, escrito na prisão em 1963 
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LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
(Companhia das Letras, 2006), assim como Nós, os do Makulusu, de 1967 (Kapuna, 2019) e o romance 
João Vêncio: os seus amores, de 1968.
Tânia Macedo destaca José Luandino Vieira por sua originalidade e linguagem inovadora, com 
temática centrada nas raízes africanas. Segundo a autora:
A utilização pessoal e inovadora do português mesclado ao quimbundo (uma 
das onze línguas nacionais de Angola) aliada a um trabalho artístico em que 
a complexidade de procedimentos técnicos abre caminho a uma renovação 
da linguagem narrativa, tem levado os acadêmicos e os críticos em geral a 
examinarem seus textos, não apenas no que concerne a questões estilísticas, 
mas também àquelas referentes aos diálogos que as “estórias“ luandinas 
ensejam com muitas estórias angolanas e outras, de vários espaços, muitas 
vezes distantes de África, separadas por tempos diversos, e por formas 
diferentes de difusão: a escrita, o canto ou a memória dos “griôs” (MACEDO; 
CHAVES, 2007, p. 93-94).
 Observação
Griôs ou griots são os contadores de histórias africanos, verdadeiras 
bibliotecas vivas de sabedoria.
Principalmente no livro A cidade e a infância, como o próprio título nos adianta, encontraremos 
contos que remetem às memórias do autor. Realidade e ficção se misturam em narrativas potentes, nem 
sempre amenas e felizes. Segundo o autor, “o que conta para mim, realmente, é a vivência da infância. 
Foi uma vivência muito profunda, porque, nessa altura, nós vivemos totalmente. Depois, porque foi feita 
em condições de convivência no musseque [favela]” (LABAN apud MACEDO; CHAVES, 2007, p. 94).
Figura 9 – Capa da edição brasileira de A cidade e a infância
Fonte: Vieira (2007, capa).
48
Unidade I
Tânia Macedo considera que essa vivência de Luandino auxiliou o autor a acompanhar as mudanças 
da cidade e da sociedade de Luanda e a “avaliar as consequências do sistema colonial e a problemática 
do racismo, que acabou por afastar muitos amigos negros da infância, empurrados para a periferia da 
cidade a partir dos finais dos anos 50” (MACEDO; CHAVES, 2007, p. 94).
Já a professora Carmen Lúcia Tindo Secco (2021), em um estudo comparado, apresenta os diálogos 
intertextuais entre Guimarães Rosa, Luandino Vieira e Mia Couto, escritor moçambicano que estudaremos 
na unidade II:
 
A obra do autor brasileiro (Guimarães Rosa) e dos africanos mencionados 
(José Luandino Vieira e Mia Couto) encontram-se no cerne dos paradigmas 
da modernidade, fundando na literatura de seus países uma escritura da 
arquitetura ficcional. Embora se inscrevam na esfera transgressiva da ficção 
contemporânea, não rompem com a tradição oral, trabalhando com a 
memória viva e com o imaginário mítico popular. [...] Luandino ficcionaliza 
a vida nos musseques luandenses onde o português, mesclando-se ao 
quimbundo, se encontra africanizado (SECCO, 2021, p. 44).
Leia o início do conto “Encontro de acaso”, do livro A cidade e a infância:
Encontro de acaso
— Olá, pá, não pagas nada?!
Um encontro de acaso. Um encontro cruel que me lembrou a meninice descuidada. 
Ele, eu e os outros. A Grande Floresta e o Clube Kinaxixi refúgio de bandidos. Os sardões e 
os pássaros. As fugas da escola. Por detrás da Agricultura existia a Grande Floresta. Grande 
Floresta para nós miúdos de oito anos que fizemos dela o centro do mundo, a sede do nosso 
grupo de “cobóis”. Mafumeiras gigantes, cheias de picos, habitadas por sardões, plim-plaus, 
picas, celestes, rabos-de-junco.
Um encontro de acaso!
Sempre fui amigo dele. Desde pequeno que era o chefe do bando. As pernas tortas, as 
feições duras, impusera-se pela força. Da sua pontaria com a fisga nasceu o respeito como 
chefe. Nós gostávamos dele porque tinha imaginação. Inventava as aventuras na água suja 
que se acumulava na floresta. Foi o inventor das jangadasque nos levariam à conquista do 
reduto dos Bandidos do Kinaxixi. Ah! O Kinaxixi dos bailes ao domingo. [...] E ontem eu vi-o 
outra vez. Há tanto tempo que o não via! Mas já não era o mesmo chefe, nem o rapaz das 
ruas que colocava tubos para a nova conduta de água.
Fonte: Vieira (2007, p. 9-10).
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LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
 Saiba mais
O conto integral está disponível gratuitamente em:
VIEIRA, J. L. Encontro de acaso. In: VIEIRA, J. L. A cidade e a infância. São 
Paulo: Companhia das Letras, 2007. Disponível em: https://bit.ly/3Oge0SG. 
Acesso em: 4 maio 2022.
Nesse conto, há uma mistura de alegria, pelas boas memórias da infância, e de pura tristeza, pelos 
caminhos diferentes a que a vida nos leva.
O narrador relembra os bons momentos de sua infância no musseque de Kinaxixi, uma favela, onde 
havia muito companheirismo entre as crianças. Refere-se a um amigo, cujo nome não é revelado, o 
grande líder do grupo, na época muito admirado.
O narrador afirma que foi “um encontro cruel que me lembrou a meninice descuidada”. O conto se 
inicia com uma fala “– Olá, pá, não pagas nada?!”, cujo autor desconhecemos. Somente com o decorrer 
da narrativa, saberemos que se trata do amigo da infância.
Ao entrar em um bar, o narrador encontra seu antigo amigo, ao acaso, como diz. Ele parece não 
o reconhecer, mas seus olhos confirmam o contrário. O narrador, branco, e o amigo, negro, tiveram 
destinos diferentes. O grande chefe da infância está descalço, maltrapilho e bêbado, em contraste à 
figura alegre e confiante do menino de outrora.
Esse conto exemplifica o que encontraremos nas demais narrativas do livro, como marcas do estilo 
do autor, como vimos anteriormente. Uma preferência por narrar a infância e a cidade de Luanda na 
década de 1950, quando crianças negras e brancas brincavam alegremente, sem ter a dimensão da 
miséria social e das consequências do racismo que as separaria.
 Saiba mais
Para saber mais sobre o autor estudado neste tópico, assista aos 
vídeos a seguir:
JOÃO Vêncio: os seus amores, de José Luandino Vieira. 2014. 
1 vídeo (15 min). Publicado pelo canal novaangola. Disponível em: 
https://youtu.be/h6uOgRNpKhQ. Acesso em: 4 maio 2022.
A ESCRITA reinventada por Luandino Vieira. Portugal: RTP, 2006. 
4 min. Disponível em: https://cutt.ly/XGLVxoS. Acesso em: 4 maio 2022.
50
Unidade I
4.3.7 Pepetela (1941–)
Figura 10 – Pepetela
Disponível em: https://cutt.ly/8GLV9hM. Acesso em: 4 maio 2022.
Um dos maiores romancistas angolanos, Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, de pseudônimo 
Pepetela (“pestana” em umbundo), nasceu em Angola, na província litoral de Benguela, em 29 de outubro 
de 1941. É descendente de uma família colonial, mas seus pais já eram nascidos em Angola. Participou 
intensamente do MPLA e de diversas guerrilhas. 
Sua extensa obra demonstra o ideal desse grande escritor: a busca incessante de recontar a história 
para encontrar a identidade nacional angolana.
Sociólogo por formação, em outubro de 1976, logo após a independência, foi nomeado vice-ministro 
da Educação, cargo que exerceu até 1982. Após essa data, tornou-se professor universitário e abraçou 
sua carreira de romancista.
Grande parte da sua produção foi publicada após a independência, como ocorreu com muitos dos 
ficcionistas angolanos. Os dias de alta tensão entre o colonizador e o colonizado são vivenciados pela 
maioria de seus heróis. Há também o resgate do tradicional mesclado às questões históricas, como em 
Yaka e em A montanha da água lilás: fábula para todas as idades.
51
LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
Em 1997, foi-lhe atribuído o Prêmio Camões pelo conjunto de sua obra. Seus livros foram lançados 
inicialmente pelas Publicações Dom Quixote, em Portugal. No Brasil, têm sido editados pelas editoras 
Leya e Kapulana.
Segue uma pequena lista com algumas de suas obras com a data da primeira publicação e, entre 
parênteses, a data da edição brasileira, caso houver: Muana Puó (1969); Mayombe, romance escrito 
entre 1970 e 1971 e publicado em 1980 (Leya, 2013); As aventuras de Ngunga (1972); O cão e os calus 
(1985); Yaka (1984); Lueji, o nascimento de um império, de 1989 (Leya, 2015); A geração da utopia, 
romance que começou a ser escrito em 1972 e foi publicado em 1994 (Leya); A gloriosa família, o 
tempo dos flamingos (1997); A parábola do cágado velho (1997); A montanha da água lilás: fábula para 
todas as idades, de 2000 (FTD/Quinteto, 2018); Jaime Bunda, o agente secreto, de 2002 (Record, 2003); 
O planalto e a estepe (Leya, 2009); A sul. O sombreiro (Leya, 2012); O tímido e as mulheres (Leya, 2014); 
Quase fim do mundo (Kapulana, 2019); Sua Excelência, de corpo presente (Kapulana, 2020); e O desejo 
de Kianda, de 1995 (Kapulana, 2021).
Mayombe
Uma de suas obras em maior evidência no Brasil na atualidade é Mayombe.
 Saiba mais
A obra, inclusive, tem sido solicitada em vestibulares. Sugerimos que 
você faça a leitura integral.
PEPETELA. Mayombe. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1993.
Mayombe é o nome da floresta em que se desenrola uma das primeiras guerrilhas entre os portugueses 
e o MPLA, dando o início ao movimento de libertação.
Mesmo estando em vantagem, os soldados angolanos possuíam dois grandes desafios: convencer a 
população de que não eram bandidos e lutar contra o tribalismo, o preconceito entre as várias etnias que 
compunham o movimento. Por meio da leitura de Mayombe, podemos ter um panorama do confronto 
armado que ocorrera. É um documento social, assim como uma visão utópica sobre o futuro, um sonho 
de como Angola poderia ser.
Leia o trecho a seguir, uma análise do professor Carlos H. Serrano (1999, p. 10, grifo nosso):
 
O romance de Pepetela é aqui tomado como um documento social pois, 
apesar de ficção, ele é escrito no momento de vivência do autor, onde o 
escritor, o militante e o cientista social se relacionam intimamente para, 
através desta obra, captarem, uma realidade que faria parte de uma “história 
imediata”. Este “olhar de dentro” ou “observação participante”, procedimento 
52
Unidade I
metodológico tão caro a uma antropologia, podem constituir de certa forma 
a estratégia vivenciada pelo autor para explicitar os diversos discursos dos 
“narradores” (personagens) e atores sociais, tornando-os sujeitos da história 
e revelando a consciência de si na luta de libertação nacional. 
Pepetela, ao dar primazia ao “narrador”, revela ainda esta dimensão da 
oralidade, comum às sociedades africanas, e importante no resgate das 
suas identidades. Identidade que se constrói pela memória dos narradores 
fictícios (personagens e/ou atores e pelo próprio autor). 
Convém referir aqui o romance Mayombe, do autor angolano Pepetela, como 
um modelo de análise da organização do Combate, que retrata a luta por 
meio de personagens que vivem a problemática dos valores e contradições 
do momento político em questão. Sendo narrado por diversos militantes, 
temos deste modo visões múltiplas e pessoais do tempo e do espaço 
por aquelas vivenciados. Este romance parece-nos altamente pedagógico 
pela forma com que nele se explicitam as contradições existentes dentro 
desse processo, relacionadas sobretudo à diversidade cultural e étnica dos 
elementos que compunham o Exército de Liberação Nacional. É narrado por 
uma multiplicidade de pessoas, todas militantes do MPLA, que participaram 
da guerrilha em Mayombe, floresta tropical em Cabinda, constituindo 
a 2ª Região político-militar do MPLA. O partido está ausente, mas ele se 
faz presente mediante a fala do delegado local. Os personagens que 
assumem a narrativa do romance fazem-no sempre na primeira pessoa. 
Cada personagem desenvolve uma reflexão autônoma a respeito das suas 
motivações enquanto lutadores pela independência, motivações estas que 
são singulares na medida em que as origens de cada indivíduo se tornam e 
se apresentam diferentes.
Segundo o professor Mário Lugarinho, em entrevista dada a Lucas Prado ao Jornal da USP, entretanto, 
a obra não é umretrato fiel da época, e sim uma idealização:
Há críticos que vão dizer que é um retrato muito fiel e há críticos que vão 
dizer que é um retrato muito idealizado. [...] Eu diria que os personagens de 
Mayombe têm, sim, um toque de idealização, na medida em que você tem 
uma cordialidade, especialmente no comandante Sem Medo, excessiva. Uma 
cordialidade que é dada por uma certa doçura. O comandante é um homem 
pacífico. Ele rejeita as atitudes extremas que a guerra impõe. [...] Acho que 
o Pepetela quando confere essa característica singular a esse grupo de 
guerrilheiros, principalmente ao seu comandante, está querendo dizer “nós 
estamos indo à guerra, mas nós não queríamos ter ido à guerra” (PRADO, 2018).
A seguir, um trecho de Mayombe em que um dos narradores, Muatiânvua, explica como é difícil 
ser tribalista, ter preconceitos pelos de outras tribos, em um país tão multicultural, tão complexo:
53
LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
Mayombe
Meu pai era um trabalhador bailundo da Diamang, minha mãe era um kimbundo do Songo. 
O meu pai morreu tuberculoso com o trabalho das minas, um ano depois de eu nascer. Nasci na 
Lunda no centro do diamante. O meu pai cavou com a picareta a terra virgem, vagões de terra, 
que ia ser separada para dela se libertarem os diamantes. Morreu num hospital da companhia, 
tuberculoso. [...]
O mar foi por mim percorrido durante anos, de norte a sul, até a Namíbia, onde o deserto vem 
misturar-se com a areia da praia, até ao Gabão e ao Ghana, e ao Senegal, onde o verde das praias 
vai amarelecendo, até de novo se confundir com elas na Mauritânia, juntando a África do Norte 
à África Austral, no amarelo das suas praias. Marinheiro do Atlântico, e mesmo do Índico eu fui. 
Cheguei até a Arábia, e de novo, encontrei as praias amarelas de Moçâmedes e Benguela, onde 
cresci. Praias de Benguela, praias da Mauritânia, praias da Arábia, não são as amarelas praias de 
todo o Mundo? [...]
Onde eu nasci, havia homens de todas as línguas vivendo nas casas comuns e miseráveis da 
Companhia. Onde eu cresci, no Bairro Benfica, em Benguela, havia homens de todas as línguas, 
sofrendo as mesmas amarguras. O primeiro bando a que pertenci tinha mesmo meninos brancos, 
e tinha miúdos nascidos de pai umbundo, tchokue, kimbundo, fiote, kuanhama. [...]
Querem hoje que eu seja tribalista?
De que tribo? pergunto eu. De que tribo, se eu sou de todas as tribos, não só de Angola, como 
de África? Não falo eu o swahili, não aprendi eu o haussa com um nigeriano? Qual é a minha 
língua, eu, que não dizia uma frase sem empregar palavras de línguas diferentes? E agora, que 
utilizo para falar com os camaradas, para deles ser compreendido? O português. A que tribo 
pertence a língua portuguesa?
Eu sou o que é posto de lado porque não seguiu o sangue da mãe kimbundo ou o sangue do 
pai umbundo. Também Sem Medo, também Teoria, também o Comissário, e tantos outros mais.
A imensidão do mar que nada pode modificar ensinou-me a paciência. [...] Eu, Muatiânvua, de 
nome de rei, eu que escolhi a minha rota no meio dos caminhos do Mundo, eu, ladrão, marinheiro, 
contrabandista, guerrilheiro, sempre à margem de tudo (mas não é a praia uma margem?), eu 
não preciso de me apoiar numa tribo para sentir a minha força. A minha força vem da terra 
que chupou a força de outros homens, a minha força vem do esforço de puxar o cabo e dar à 
manivela e de dar murros na mesa duma taberna situada algures no Mundo, à margem da rota dos 
transatlânticos que passam, indiferentes, sem nada compreenderem do que é o brilho-diamante 
da areia duma praia.
Fonte: Pepetela (1993, p. 138-140).
54
Unidade I
Além de citar os diferentes dialetos presentes em Angola, como umbundo, tchokue, kimbundo, 
fiote e kuanhama (designações também para etnias), o narrador cita outras línguas, swahili e 
haussa, e diferentes regiões da África, demonstrando que o tribalismo e os preconceitos não fazem 
qualquer sentido.
O romance pode ser considerado um retrato jornalístico da guerra colonial, ou mesmo um documento 
social, como nos explicou anteriormente o professor Serrano (1999). Por meio de múltiplos narradores, 
em um processo polifônico, Pepetela reconstrói um momento na história de Angola do qual foi 
testemunha. Isso não significa que tenham sido deixados de lado aspectos literários como a construção 
das personagens, suas reflexões e atitudes, as situações dramáticas, as descrições bem elaboradas e o 
uso de metáforas visuais e sonoras, como no fragmento que acabamos de apresentar, feita entre os 
diamantes e o mar, por exemplo, que enriquecem muito essa narrativa.
Na floresta situada em Cabinda, os guerrilheiros fazem a luta e discutem sobre sua realização 
e seus desdobramentos. Na montagem textual, a atmosfera de diálogo marca diversos níveis da 
narrativa, impasses, diferentes sonhos para o futuro e diferentes atitudes diante da guerra. Os 
principais narradores e personagens são o Teoria (professor), o Comandante Sem Medo, o Comissário 
Político, Lutamos e Muatiânvua.
Além da guerra, há outras questões que angustiam os soldados. Veja essa dolorosa reflexão 
de Teoria:
Criança ainda, queria ser branco, para que os brancos me não chamassem negro. Homem, 
queria ser negro, para que os negros me não odiassem. Onde estou eu, então? E Manuela, como 
poderia ela situar-se na vida de alguém perseguido pelo problema da escolha, do sim ou do não? 
Fugi dela, sim, fugi dela, porque ela estava a mais na minha vida; a minha vida é o esforço de 
mostrar a uns e a outros que há sempre lugar para o talvez.
Fonte: Pepetela (1993, p. 8).
Um homem que se entrega aos ideais da guerra de libertação, mas se sente em um limbo racial e 
emocional. Ser negro ou ser branco? Viver um grande amor ou lutar pela pátria?
Interessante observar que alguns narradores acreditam que sua ação é militar, devendo haver 
confrontos com armas, já outros consideram que é uma ação política, em que é preciso convencer 
os trabalhadores e o povo de que suas intenções eram boas e queriam a libertação de Angola. Veja o 
seguinte trecho:
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LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
O Comandante disse:
— Comissário, sei que uma operação política e econômica tem interesse. O problema é o 
seguinte: se destruímos estes aparelhos, a ação militar está estragada, pois os tugas ficarão 
prevenidos de que andamos por aqui...
— Claro – cortou o Comissário. – Mas isso será mais uma razão para que eles andem 
na estrada. São forçados a aumentar as patrulhas, pois aqui há população e eles querem 
cortar-nos dela. Eles andarão ainda mais e teremos, pois, mais oportunidade de lhes dar 
porrada. Qual é o problema? Não mataremos vinte na primeira emboscada, pois estarão 
mais atentos? Bem, mataremos dez. A guerra popular não se mede em número de inimigos 
mortos. Ela mede-se pelo apoio popular que se tem.
— Esse apoio só se consegue com as armas – disse o Das Operações.
— Não só. Com as duas coisas. Com as armas e com a politização. Temos de mostrar 
primeiro que não somos bandidos, que não matamos o povo. O povo daqui não 
nos conhece, só ouve a propaganda inimiga, tem medo de nós. Se apanharmos os 
trabalhadores, os tratarmos bem, discutirmos com eles e, mais tarde, dermos 
uma boa porrada no tuga, então sim, o povo começa a acreditar e a aceitar. Mas é 
um trabalho longo. De qualquer modo, esta ação pode não impedir que se faça também 
uma emboscada.
Fonte: Pepetela (1993, p. 14, grifo nosso).
Note-se que o Comandante e o Comissário discordam de qual seria a melhor estratégia para 
convencer o povo. Tuga era como chamavam os portugueses de forma pejorativa.
Outra questão presente em toda a obra é a relação entre o coletivo e o indivíduo. Veja o trecho a 
seguir, em que são narrados os momentos finais do Comandante Sem Medo:
O Comissário apertou-lhe mais a mão, querendo transmitir-lhe o sopro de vida. Mas 
a vida de Sem Medo esvaía-se e para o solo do Mayombe, misturando-se às folhas em 
decomposição. [...] Mas o Comissário não ouviu o que o Comandantedisse. Os lábios já 
mal se moviam. A amoreira gigante à sua frente. O tronco destaca-se do sincretismo da 
mata, mas se eu percorrer com os olhos o tronco para cima, a folhagem dele mistura-se 
à folhagem geral e é de novo o sincretismo. Só o tronco se destaca, se individualiza. Tal 
é o Mayombe, os gigantes só o são em parte, ao nível do tronco, o resto confunde-se 
56
Unidade I
na massa. Tal o homem. As impressões visuais são menos nítidas e a mancha verde 
predominante faz esbater progressivamente a claridade do tronco da amoreira gigante. 
As manchas verdes são cada vez mais sobrepostas, mas, num sobressalto, o tronco da 
amoreira ainda se afirma, debatendo-se. Tal é a vida. [...] Os olhos de Sem Medo ficaram 
abertos, contemplando o tronco já invisível do gigante que para sempre desaparecera no 
seu elemento.
Fonte: Pepetela (1993, p. 169).
Nessas reflexões, a personagem vê nos troncos da amoreira a individualidade, já as folhas em suas 
copas se confundem em uma coletividade, a massa. O homem deve seguir suas motivações pessoais 
(individuais) ou do grupo (da coletividade)? Esse foi um grande conflito dos membros do MPLA, divididos 
entre seus valores, seus desejos e suas ideologias.
A geração da utopia
Em 1993, Pepetela escreveria A geração da utopia, romance que percorre trinta anos da história de 
um grupo de jovens angolanos e que se confunde com a própria história de Angola.
Qual teria sido o destino daqueles que lutaram tão arduamente pela libertação de Angola? Seus 
sonhos foram furtados com a guerra civil e as sombras de tantos conflitos e interesses. Não é uma 
continuação de Mayombe, mas poderia ser. Leia um trecho em que o personagem Sábio expõe suas 
angústias e decepções:
A geração da utopia
Quantos mortos nesta guerra? Quantos lares abandonados, quantos refugiados nos 
países vizinhos, quantas famílias separadas? Para quê? Quando penso nos sofrimentos 
somados de todos, nas esperanças individuais destroçadas, nos futuros estragados, o 
sangue, sinto raiva, raiva imponente, mas contra quê? Já nem é contra o inimigo. Cumpre 
o seu papel o colonizador. O colonialista é colonialista, acabou. Dele não há nada a 
esperar. Mas de nós? O povo esperava tudo de nós, prometemos-lhe o paraíso na terra, 
a liberdade, a vida tranquila do amanhã. Falamos sempre no amanhã. Ontem era noite 
escura do colonialismo, hoje é sofrimento da guerra, mas amanhã será o paraíso. Um 
amanhã que nunca vem, um hoje eterno. Tão eterno que o povo esquece do passado e diz 
que ontem era melhor que hoje.
Fonte: Pepetela (2013, p. 169).
Podemos considerar que as marcas da guerra são muito profundas e muitas vezes não são vistas a 
olho nu. Essas marcas reverberam na atualidade e podem ser percebidas por meio da desigualdade social 
e da miséria em todos os níveis.
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LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
Figura 11 – Marca das guerras: casa em Huambo cravada de balas
Disponível em: https://cutt.ly/9GZkq6u. Acesso em: 4 maio 2022.
 Observação
Em 1993, Angola vivia uma longa e sangrenta guerra civil entre os dois 
principais grupos políticos, MPLA e Unita, que matou mais de 1,5 milhão 
de pessoas, terminando somente com a morte de Jonas Savimbi, líder 
da Unita, em 2002.
A montanha da água lilás
Outra obra interessante do autor é A montanha da água lilás, de 2000, uma narrativa direcionada ao 
público infantil, mas que é apreciada por todos os leitores. Utilizamos aqui uma edição portuguesa das 
Publicações Dom Quixote, mas já há uma edição brasileira da editora Quinteto, de 2018, com ilustrações 
belíssimas de Maurício Negro.
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Unidade I
Figura 12 – Capa da edição portuguesa de A montanha da água lilás
Fonte: Pepetela (2000, capa).
A obra é dividida em 16 pequenos capítulos que se dispõem cronológica e linearmente: “A montanha”, 
“Os Lupis”, “As três qualidades”, “Os Jacalupis”, “A água lilás”, “As descobertas científicas”, “Disputa e 
acordo”, “Os bichos da planície”, “O lupi-comerciante tem ideias”, “O apetite dos Jacalupis”, “A reunião 
decisiva”, “As modas da planície”, “Os Lupões jacalupizam”, “Os leões e as onças”, “Luta e exílio” e “Toda 
a estória tem um fim, não é?”.
Figura 13 – Capa da edição brasileira de A montanha da água lilás
Fonte: Pepetela (2018, capa).
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LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
Exemplo de aplicação
Uma atividade interessante para se propor em sala de aula é a comparação de diferentes capas de 
um mesmo livro para versões diversas.
Observe as capas de A montanha da água lilás anteriormente apresentadas. Na versão portuguesa, 
os créditos das ilustrações são dados a uma empresa (Imagem, Vip, de Angola), em que se destaca uma 
representação dos lupis e suas variantes (lupões e jacalupis).
Já na edição brasileira, o ilustrador Maurício Negro compôs uma capa mais abstrata e muito simbólica. 
Em uma primeira olhada, vemos folhas de árvores com um tom verde-escuro, mas, com um olhar 
mais atento, vemos mãos entre as folhas, como se estivessem clamando, pedindo algo. Das folhas e de 
seu caule, escorre uma gota de água lilás, que remete tanto ao petróleo como a uma gota de sangue. 
O petróleo, como objeto de ganância e discórdia, e o sangue, como o mais nítido símbolo da morte 
devido à guerra.
O livro, com o subtítulo Fábula para todas as idades, constitui-se em uma interessante analogia 
à situação política e social em Angola pós-independência, marcando principalmente a guerra civil. 
E, como o subtítulo já anuncia, é uma narrativa não somente para crianças, mas para pessoas de 
todas as idades.
 Observação
Fábula: grosso modo, é uma narrativa da tradição oral cujos 
personagens são animais. As atitudes dos animais e o enredo dessas 
narrativas se referem aos vícios e virtudes humanas, trazendo, em boa 
parte, moralidades e reflexões sobre o comportamento humano. Grandes 
fabulistas foram o grego Esopo (cuja existência é questionada) e o 
francês La Fontaine.
Os lupis, seres alaranjados e felpudos, viviam felizes em harmonia, mas tiveram que expulsar os 
rinocerontes de seu território. Por meio de analogias, vemos a luta pela libertação de Angola e a guerra 
contra os colonizadores portugueses aqui também retratada:
A montanha da água lilás
Tinham que expulsar os rinocerontes para a sua planície. Mas como, se eram tão 
pequenos e fracos? Decidiram exagerar na gritaria. Assim mesmo. O lupi-lupi-lupi invadiu 
a montanha... E o coro lúpico prosseguia lá em cima. Até que, com os nervos arrasados, 
cacimbados mesmo, os rinocerontes retiraram e nunca mais voltaram à montanha.
Fonte: Pepetela (2000, p. 26).
60
Unidade I
Mesmo com a expulsão dos rinocerontes, os lupis viram suas vidas mudarem radicalmente após a 
descoberta da água lilás, uma água milagrosa que curava todas as feridas e deixava os pelos macios e os 
animaizinhos de muito bom humor.
Os animais estrangeiros, os que viviam na planície, ficaram muito interessados na água lilás e 
se ofereceram para comprá-la em troca de frutas. Os lupis, que colhiam suas próprias frutas, ficaram 
encantados com as frutas da planície e passaram a não subir mais nas árvores, tornando-se totalmente 
dependentes da comercialização da água lilás, uma analogia ao petróleo existente na região de Cabinda, 
até hoje muito disputada:
Assim, a montanha se foi animando como os clientes que apareceram para tomar banho. 
[...] O lupi-comerciante não teve a genialidade para descobrir nome bem apropriado para 
essas constantes excursões dos bichos para a montanha. E o restante dos lupis andavam 
distraídos com outros interesses. Só essa distração explica o muito tempo que teve de se 
esperar até a palavra turismo ser inventada.
Fonte: Pepetela (2000, p. 89).
Observamos no trecho anterior como os animais da planície tornaram-se “clientes” e como o turismo, 
ainda não denominado, virou uma forma de captação de recursos.
Com o tempo, os lupis ficaram cada vez mais agressivos e exigentes devido às grandes alterações 
sociais advindas da descoberta da água “milagrosa”. O lupi-poeta, quem descobriua água lilás, foi 
mandado para o exílio. A mudança de costumes foi drástica, como o fato, por exemplo, de os jacalupis, 
lupis maiores e mais fortes, passarem a comer carne:
Que quer a hiena, jac-jac-jac?
— Mandou-me entregar-te isto para provares. Nunca na tua vida inteira comeste coisa 
tão boa. É carne seca.
— Só como fruta, jac-jac-jac.
— Pois é, eu sei. Mas prova para ver se não é mesmo bom. E ficas com a força dos 
grandes carnívoros, se comeres muita carne.
O argumento era convincente para quem só apreciava a razão da força.
Fonte: Pepetela (2000, p. 97).
61
LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
Após várias disputas e desperdícios, a água lilás se esgotou e os lupis se viram obrigados a reconstruir 
sua comunidade. Muitos foram embora de sua terra e outros, como o lupi-poeta, puderam sair do exílio, 
resgatar algumas tradições e alertar as gerações futuras:
— Lupi-poeta, tens que contar tudo isso que passou. Para que os lupis não se esqueçam 
de seus erros. O lupi-poeta fez então muitos poemas. Contavam a estória dos lupis e da 
água lilás. Também da desgraça que se abateu sobre eles e seu destino.
Fonte: Pepetela (2000, p. 163).
Note, caro aluno, como o poder da literatura é valorizado. Coube a Pepetela, um lupi-poeta, contar 
e recontar as histórias de Angola para que os mesmos erros não fossem cometidos.
 Saiba mais
Sobre Pepetela, veja:
PEPETELA, o guerrilheiro escritor. Portugal: RTP, 2014. 8 min. Disponível 
em: https://cutt.ly/xGZnchH. Acesso em: 4 maio 2022.
PEPETELA escritor angolano. 2010. 1 vídeo (4 min). Publicado pelo canal 
Zetney Carvalho. Disponível em: https://youtu.be/HgP2pcQL3d0. Acesso em: 
4 maio 2022.
4.3.8 José Eduardo Agualusa (1960–)
Figura 14 – José Eduardo Agualusa
Disponível em: https://cutt.ly/WG6A1Wo. Acesso em: 9 maio 2022.
62
Unidade I
José Eduardo Agualusa (Alves da Cunha) nasceu no Huambo, Angola, em 1960. Estudou Silvicultura 
e Agronomia em Lisboa, Portugal. Os seus livros estão traduzidos para mais de vinte idiomas. Escritor e 
jornalista, circula por Luanda, Lisboa e Brasil em viagens frequentes.
Citaremos algumas de suas obras e o ano em que foram lançadas em Portugal ou Angola. Entre 
parênteses, a editora e o ano de publicação no Brasil: Nação crioula, de 1997 (Língua Geral, 2012); Um 
estranho em Goa, de 2000 (Gryphus, 2011); O vendedor de passados, de 2004 (Tusquets, 2018); Manual 
prático de levitação, de 2005 (Gryphus, 2021); As mulheres de meu pai, de 2007 (Língua Geral, 2012); 
Barroco tropical (Companhia das Letras, 2009); Milagrário pessoal (Língua Geral, 2010); A vida 
no céu, de 2014 (Melhoramentos, 2015); A rainha Ginga, de 2014 (Foz, 2015); A sociedade dos 
sonhadores involuntários (Planeta/Tusquets, 2017); e Os vivos e os outros (Planeta/Tusquets, 2020), 
entre muitos outros.
Em entrevista para Ubiratan Brasil em 2013, Agualusa reflete sobre literatura e identidade:
Não creio numa literatura cheia de certezas. Escrevemos para tentar 
compreender o mundo, ao menos o nosso mundo íntimo. Continuamos 
a escrever porque, felizmente, as questões nunca se esgotam. Num país 
jovem, como Angola, a questão da identidade ainda é importante. Para 
aqueles que, como eu, são vistos como minoritários, a questão da identidade 
é importante a vida inteira (BRASIL, 2013).
Como podemos observar, o que move Agualusa a escrever é o desejo de compreender o mundo 
e a si mesmo, propiciando a seus leitores obras riquíssimas, histórica, cultural e literariamente, com 
personagens extremamente humanos e muito peculiares.
 Saiba mais
Para saber mais sobre José Eduardo Agualusa, acesse:
BRASIL, U. José Eduardo Agualusa: identidade e memória. Templo Cultural 
Delfos, 2013. Disponível em: https://cutt.ly/EGZ05ZN. Acesso em: 4 maio 2022.
JOSÉ Eduardo Agualusa. Fronteiras do Pensamento. [s.d.]. Disponível em: 
https://cutt.ly/1GZ7pcc. Acesso em: 4 maio 2022.
Assista, ainda, aos vídeos a seguir:
SÉRIE 15 Minutos – José Eduardo Agualusa. 2018. 1 vídeo (13 min). Publicado 
pelo canal Sempre Um Papo. Disponível em: https://youtu.be/gb0DxDXFNys. 
Acesso em: 4 maio 2022.
JOSÉ Eduardo Agualusa – 04/07/2011. 2015. 1 vídeo (83 min). Publicado 
pelo canal Roda Viva. Disponível em: https://youtu.be/VXrQFxhuI5w. Acesso em: 
4 maio 2022.
63
LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
O vendedor de passados
Um dos livros do autor que tem sido muito lido no Brasil é O vendedor de passados, pelo qual 
recebeu o Prêmio de Ficção Estrangeira, entregue pela National Portrait Gallery de Londres, em 2007.
 Saiba mais
Sugerimos que você faça a leitura integral dessa obra.
AGUALUSA, J. E. O vendedor de passados. Rio de Janeiro: Gryphus, 2004.
Figura 15 – Capa de O vendedor de passados, de José Eduardo Agualusa
Fonte: Agualusa (2018, capa).
Em O vendedor de passados, conheceremos a história de Félix Ventura, um negro albino que ganha 
a vida reescrevendo o passado de sua clientela, formada por uma emergente burguesia angolana que 
necessita de um novo passado, após a independência e a longa guerra civil, com uma árvore genealógica 
com ancestrais ilustres. A situação se complica quando surge um misterioso estrangeiro em busca de um 
passado angolano. Vejamos o início desse romance e seu insólito narrador:
O vendedor de passados
Nasci nesta casa e criei-me nela. Nunca saí. Ao entardecer encosto o corpo contra o 
cristal das janelas e contemplo o céu. Gosto de ver as labaredas altas, as nuvens a galope, 
e sobre elas os anjos, legiões deles, sacudindo as fagulhas dos cabelos, agitando as largas 
asas em chamas. É um espetáculo sempre idêntico. Todas as tardes, porém, venho até aqui e 
divirto-me e comovo-me como se o visse pela primeira vez. A semana passada Félix Ventura 
chegou mais cedo e surpreendeu-me a rir enquanto lá fora, no azul revolto, uma nuvem 
enorme corria em círculos, como um cão, tentando apagar o fogo que lhe abrasava a cauda. 
64
Unidade I
— Aí, não posso crer! Tu ris?! 
Irritou-me o assombro da criatura. Senti medo, mas não movi um músculo. O albino tirou 
os óculos escuros, guardou-os no bolso interior do casaco, despiu o casaco, lentamente, 
melancolicamente, e pendurou-o com cuidado nas costas de uma cadeira. Escolheu um 
disco de vinil e colocou-o no prato do velho gira-discos. “Acalanto para um Rio”, de Dora, a 
Cigarra, cantora brasileira que, suponho, conheceu alguma notoriedade nos anos setenta. 
Suponho isto a julgar pela capa do disco. É o desenho de uma mulher em biquíni, negra, 
bonita, com umas largas asas de borboleta presas às costas. “Dora, a Cigarra – Acalanto para 
um Rio – O Grande Sucesso do Momento”. A voz dela arde no ar. Nas últimas semanas tem 
sido esta a banda sonora do crepúsculo. Sei a letra de cor.
Vocabulário
Gira-discos: toca-discos.
Fonte: Agualusa (2004, p. 11).
Logo de início, deparamo-nos com a fala do narrador que nunca saiu da casa, lá nasceu e vive, 
relatando a vida de Félix, que não se conforma com o riso de tão misterioso narrador. Somente no 
capítulo intitulado “O estrangeiro” é que saberemos que o narrador é uma osga (lagartixa):
O homem levantou-se. Vi-o aproximar-se e senti que os olhos dele me atravessavam. 
Era como se olhasse diretamente para a minha alma (a minha velha alma). Abanou a cabeça 
num silêncio perplexo: 
— Sabe o que é isto? 
— Como?! 
— É uma osga, sim, mas de uma espécie muito rara. Está a ver estas listras? Trata-se 
de uma osga-tigre, ou osga tigrada, um animal tímido, ainda pouco estudado. Os 
primeiros exemplares foram descobertos há meia dúzia de anos na Namíbia. Acredita-se 
que possam viver duas décadas, talvez mais. O riso impressiona. Não lhe parece um 
riso humano? 
Fonte: Agualusa (2004, p. 27).
O homem que identifica Eulálio como uma osga-tigre é o estrangeiro misterioso. Repare como 
o sorriso da osga chega a ser assustador. O mais inusitado é que a osga, Eulálio, sonha e se vê 
como um ser humano:
65
LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
Sonhei que tomava chá com Félix Ventura. Tomávamos chá, comíamos torradas 
e conversávamos.Sucedia isto num salão amplo, ao estilo art nouveau, com as paredes 
cobertas por austeros espelhos emoldurados a jacarandá. Uma claraboia, com um belo vitral 
representando dois anjos de asas abertas, deixava passar uma luz feliz. Havia outras mesas 
ao redor, e pessoas sentadas, mas não tinham rosto, ou eu não lhes via o rosto, o que me 
dava igual, pois toda a sua existência se resumia a um leve murmurinho. Podia ver a minha 
imagem refletida nos espelhos – um homem alto, de carão comprido, a carne cheia, e, 
todavia, lassa, um tanto pálida, um desdém mal disfarçado pela restante humanidade. Era 
eu, sim, há muito tempo, na duvidosa glória dos meus trinta anos. 
— Você inventou-o, a esse estranho José Buchmann, e ele agora começou a inventar-se a si 
próprio. A mim parece-me uma metamorfose... Uma reencarnação. Ou antes: uma possessão. 
O meu amigo olhou-me assustado: 
— O que quer dizer? 
— José Buchmann, será que você não percebe? apoderou-se do corpo do estrangeiro. 
Ele torna-se mais verídico a cada dia que passa. O outro, o que havia antes, aquele sujeito 
noturno que entrou pela nossa casa há oito meses, como se viesse, nem digo de um outro 
país, mas de uma outra época, onde está ele? 
— É um jogo. Sei que é um jogo. Sabemos todos. 
Fonte: Agualusa (2004, p. 79).
Félix Ventura criou para o estrangeiro todo um passado angolano e o rebatizou de José Buchmann. 
Aquilo que era apenas uma ilusão passou a ser para o estrangeiro a pura realidade. Como Eulálio diz, 
José Buchmann apoderou-se do estrangeiro.
 Saiba mais
Assista ao filme O vendedor de passados, com Lázaro Ramos e Alinne 
Moraes no elenco. Inspirado livremente na obra de José Eduardo Agualusa, 
o filme traz um enredo bem diferente.
O VENDEDOR de passados. Direção: Lula Buarque de Holanda. Brasil: 
Conspiração Filmes, 2015. 100 min.
66
Unidade I
Figura 16 – Pôster do filme O vendedor de passados
Disponível em: https://bit.ly/3QlmBFw. Acesso em: 14 jun. 2022.
Manual prático de levitação
Criar situações insólitas em meio a um contexto real é uma constante na obra de Agualusa, como 
podemos observar no livro Manual prático de levitação, composto por vinte contos que misturam 
realidade e ficção, levando o leitor literalmente a levitar em situações insólitas. Vejamos um trecho do 
conto homônimo ao título do livro:
Manual prático de levitação
Não gosto de festas. Aborrece-me a conversa fiada, o fumo, a alegria fátua dos bêbados. 
Irritam-me ainda mais os pratos de plástico. Os talheres de plástico. Os copos de plástico. 
Servem-me coelho assado num prato de plástico, forçam-me a comer com talheres de 
plástico, o prato nos joelhos, porque não há mais lugares à mesa, e inevitavelmente o garfo 
quebra-se. A carne salta e cai-me nas calças. Derramo o vinho. Além disso odeio coelho. 
Faço um esforço enorme para que ninguém repare em mim, mas há sempre uma mulher 
que, a dada altura, me puxa pelo braço, vamos dançar? e lá vou eu, de rastos, atordoado 
pelo estrídulo dissonante dos perfumes e o volume da música. [...]. Naquela noite estava 
quase a ser esquecido quando reparei num sujeito alto, todo vestido de branco, como um 
lírio, alva cabeleira à solta pelos ombros, a rondar sombriamente os pastéis de bacalhau. 
O homem parecia estar ali por engano. Achei-o de repente tão desamparado quanto eu. 
Podia ser eu, exceto pela roupa, pois evito o branco. O branco não é muito apropriado 
para o meu negócio. Menos ainda as cores garridas. Obedeço ao lugar-comum – visto-me 
de negro. Aproximei-me do homem, numa solidariedade de náufrago, e estendi-lhe a 
67
LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
mão Sou Fulano – disse-lhe. – Vendo caixões. A mão do homem (entre a minha) era lassa 
e pálida. Os olhos tinham um brilho escuro, vago, como um lago, à noite, iluminado pela 
luz do luar. A maioria das pessoas não consegue disfarçar o choque, ou o riso, depende da 
circunstância, quando escutam a palavra caixões. Alguns hesitam: paixões? Não, corrijo 
caixões. O sujeito, porém, permaneceu imperturbável.
— Nenhum nome é verdadeiro –, respondeu-me, com forte sotaque pernambucano. – 
Mas pode me chamar Emanuel Subtil.
— E o que faz o senhor?
— Sou professor.
— Ah Sim? E de quê? Emanuel Subtil sacudiu a cabeleira num movimento distraído.
— Dou aulas de levitação.
Vocabulário
Estrídulo: estridente.
Lassa: cansada, gasta.
Fonte: Agualusa (2005, p. 49).
Um narrador extremamente “de mal com a vida”, um vendedor de caixões, surpreende-se a 
encontrar um brasileiro que se diz professor de levitação. Observe a primorosa construção das frases 
e a ambientação frenética de uma festa em que o narrador se sente extremamente deslocado. Sons e 
aromas se misturam e se completam com a presença enigmática de Emanuel Subtil.
Nação crioula
Outro romance memorável é Nação crioula.
 Saiba mais
Sugerimos que você leia o livro integralmente.
AGUALUSA, J. E. Nação crioula. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2012.
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Unidade I
Figura 17 – Capa de Nação crioula
Fonte: Agualusa (2012, capa).
Nesse livro, de subtítulo A correspondência secreta de Fradique Mendes, o autor prefere se voltar 
para um resgate de fatos e personalidades históricas que circulavam por Luanda, Paris e Rio de Janeiro 
nos finais do século XIX, quando se inicia a formação de uma nação crioula.
O ficcional se destaca com a concepção do personagem Carlos Fradique Mendes e sua 
correspondência secreta com seu amor Ana Olímpia. Fradique Mendes e suas cartas foram uma 
criação ficcional de Eça de Queiroz, reelaborada por Agualusa. Esse processo intertextual enriquece 
a obra, que mistura história e ficção, dando ênfase ao gênero carta, tão pouco utilizado na 
atualidade. Como pano de fundo, o livro traz ainda o movimento abolicionista e as questões entre 
escravos e escravocratas.
 Observação
Eça de Queiroz foi um dos maiores romancistas portugueses. Sua obra 
se situa no realismo/naturalismo português, marcada pelo detalhismo, a 
crítica social e a ironia.
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LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
Vejamos trechos de uma das primeiras cartas de Fradique Mendes para sua madrinha que morava 
em Paris:
Nação crioula
Carta a Madame de Jouarre
Luanda, Maio de 1868
Minha querida madrinha,
Desembarquei ontem em Luanda às costas de dois marinheiros cabindanos. Atirado para 
a praia, molhado e humilhado, logo ali me assaltou o sentimento inquietante de que havia 
deixado para trás o próprio mundo. Respirei o ar quente e úmido, cheirando a frutas e a 
cana-de-açúcar, e pouco a pouco comecei a perceber um outro odor, mais sutil, melancólico, 
como o de um corpo em decomposição. É a este cheiro, creio, que todos os viajantes se 
referem quando falam de África.
Olhando a cidade que se erguia fatigada à minha frente pensei que não devia ter 
trazido o Smith. Vi-o desembarcar, tentando manter o aprumo de Escocês antigo enquanto 
cavalgava os dois negros, a perna direita no ombro esquerdo de um deles, a perna esquerda 
no ombro direito do outro. Chegou junto a mim lívido, descomposto, pediu perdão e 
vomitou. Disse-lhe:
— Bem-vindo a Portugal!
Vocabulário
Cabindanos: de Cabinda, cidade angolana.
Fonte: Agualusa (2012, p. 11-12).
Observe como os europeus eram carregados pelos escravos negros, homens que são descritos como 
animais de carga. Fradique Mendes e seu amigo escocês são carregados até a praia. Fradique diz que 
desembarcou “nas costas dos marinheiros cabindanos”, já seu amigo “cavalgava os dois negros”. Ao final, 
em tom de ironia, pois haviam odiado o lugar, Fradique Mendes diz “Bem-vindo a Portugal”, já que 
Angola fazia parte do Império Português.
Em outro momento, de Paris, Fradique Mendes escreve a sua amada:
Carta a Ana Olímpia
Paris, Dezembro de 1872
Minha doce Princesa,
70
Unidade I
É Dezembro em Paris. Era já Dezembro quando parti de Luanda deixando para trás o 
esplendor do teu olhar. E há de ainda ser Dezembro depois que terminar o mês, e a seguir 
virá Dezembro e o Inverno, e novamente Dezembro e sempre assim, até que de novo eu 
retorneà Estação do Sol, que é em toda a parte todo o instante que o teu olhar ilumina.
Faz Dezembro em Paris. Após três semanas de neve e de frio as águas do Sena degelaram, 
engrossaram, e como uma imensa jiboia enfurecida – será talvez Muene-Zambi-dia-Menha, 
a divindade das águas de que tanto me falaste – o rio saltou sobre a cidade atropelando as 
pontes, arrancando árvores, atacando casas, prédios e monumentos nacionais.
Fonte: Agualusa (2012, p. 49).
Note a linguagem metafórica dessa carta, repleta de elogios e hipérboles. Vivendo em um inverno 
rigoroso, sem poder voltar para Angola (aquela que criticara em suas primeiras cartas e agora adora), 
sonha com o olhar de Ana Olímpia que tudo ilumina, como o Sol. Elementos da cultura africana, como 
uma jiboia representando uma divindade das águas, também se destacam.
 Observação
Nos países do hemisfério Norte, dezembro é um dos meses de inverno, 
com muita neve. Já em Angola, dezembro é um mês quente e faz parte 
da estação das chuvas, que ocorre entre outubro e abril. A estação seca 
(cacimbo) ocorre entre maio e setembro.
Ao final, com a morte de Fradique Mendes, o autor inclui uma carta de Ana Olímpia em resposta a 
Eça de Queiroz:
Carta da senhora Ana Olímpia, comerciante em Angola, ao escritor português 
Eça de Queiroz
Luanda, Agosto de 1900
Exmo. Senhor,
Receio que já não se recorde de mim. Em 1888 recebi uma carta sua informando-me 
que tencionava publicar em livro a correspondência de Carlos Fradique Mendes, e 
perguntando-me se eu o podia ajudar nessa tarefa. Era, dizia V., “uma forma de homenagear 
o português mais interessante do século XIX”, e era também um ato de patriotismo, “pois 
nos tempos incertos e amargos que vão, Portugueses destes não podem ficar para sempre 
esquecidos, longe, sob a mudez de um mármore”. Respondi-lhe que acreditava ser desejo 
71
LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
de Carlos manter-se morto depois de morto, longe, sob a mudez de um mármore. Poucos 
meses depois, ao folhear a Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro, soube que V. tinha decidido 
ignorar a minha opinião. Fez bem. Na altura, é certo, revoltei-me. A publicação daquelas 
cartas pareceu-me uma profanação, um ato perverso de necrofilia. Carlos Fradique Mendes, 
assim exposto, como um cadáver na laje fria de um museu anatômico, era ele ainda, era 
talvez ele, e era já irremediavelmente outro – um morto, nu, deitado de costas, sujeito à 
voraz indiscrição da turba.
Passaram-se os anos, envelheci, voltei a ler aqueles jornais antigos, reli as cartas que 
Carlos me escreveu, e pouco a pouco comecei a compreender que V. tinha razão. Fradique 
não nos pertence, a nós que o amámos, da mesma forma que o céu não pertence às aves [...].
Fonte: Agualusa (2012, p. 169-170).
Vale dizer que ao longo da narrativa, Fradique Mendes também se comunica com Eça de Queiroz, 
dando vida ao personagem ficcional e justificando ficcionalmente a existência do próprio livro do 
escritor português.
 Observação
Eça de Queiroz inventou o personagem Fradique Mendes como um 
poeta culto e muito viajado. Ao ler as cartas, temos a impressão de que 
ele realmente existiu, já que participa de eventos históricos e encontra-se 
com personalidades como Victor Hugo, por exemplo. Por meio de Fradique 
Mendes, Eça exprime seu ceticismo sobre a sociedade de sua época.
Figura 18 – Capa de uma edição brasileira de A correspondência de Fradique Mendes
Fonte: Queiroz (1997, capa).
72
Unidade I
Outra obra memorável de José Eduardo Agualusa é A rainha Ginga, na qual o autor transporta o 
leitor para o século XVI e lhe apresenta uma figura histórica, polêmica e instigante: Njinga Mbande, a 
rainha Ginga.
A rainha Ginga
Figura 19 – Capa de A rainha Ginga
Fonte: Agualusa (2015, capa).
Como ocorre em muitas de suas obras, Agualusa faz um intercâmbio de culturas, acrescentando ao 
enredo personagens de diferentes nacionalidades, mesclando fatos históricos à ficção.
Em A rainha Ginga, há o narrador – personagem brasileiro, Francisco José da Santa Cruz, nascido em 
Olinda –, que nos apresentará a vida da rainha, além de contar um pouco de sua própria história, marcada 
por uma crise de fé, assim como por seus desejos sexuais, motivados pela beleza e encantos de Muxima.
O padre é um mestiço de mãe índia caeté que se torna um dos secretários da rainha e a acompanha 
como seu intérprete.
Njinga Mbande nasceu por volta de 1583, na região do Ndongo, em uma das regiões que atualmente 
fazem parte de Angola. Combateu a administração colonial portuguesa usando tanto a sua perspicácia 
diplomática como as suas habilidades militares.
A rainha Ginga era respeitada por seus súditos por defender seu povo contra os portugueses, 
mas também era muito temida. Sofreu diversas críticas por sua falta de escrúpulos. Acredita-se que 
tenha matado o seu sobrinho para obter o reinado de Ndong. Além disso, consta que tenha facilitado 
o tráfico de escravos no seu território por meio de acordos tanto com os portugueses como com os 
holandeses. Por outro lado, Ginga foi uma personagem histórica original que tem fascinado gerações. 
Ginga exerceu seu poder com inteligência e originalidade, era astuta para as negociações políticas e 
hábil nas questões diplomáticas.
73
LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
Possuía uma coleção de esposas (na verdade, homens vestidos de mulheres) e fazia questão de ser 
chamada de “rei”. Para se equiparar aos portugueses e obter seu respeito, pediu para ser batizada e 
recebeu o nome de Ana de Souza.
Figura 20 – Retrato de Njinga Mbande, a rainha Ginga
Disponível em: https://cutt.ly/MGC5Kdn. Acesso em: 5 maio 2022.
É importante que tenhamos em mente que a história da rainha Ginga foi contada pelos portugueses 
por meio de uma visão eurocêntrica. Coube a Agualusa recontar sua história por outros vieses, também 
polêmicos. Quanto ao estilo, a estrutura dos capítulos assemelha-se a dos textos barrocos, que apresentam 
uma síntese do enredo logo no início. Por outro lado, a linguagem é contemporânea. Vejamos um trecho 
do primeiro capítulo:
A rainha Ginga
A primeira vez que a vi, a Ginga olhava o mar. Vestia ricos panos e estava ornada de 
belas joias de ouro ao pescoço e de sonoras malungas de prata e de cobre nos braços e 
calcanhares. Era uma mulher pequena, escorrida de carnes e, no geral, sem muita existência, 
não fosse pelo aparato com que trajava e pela larga corte de mucamas e de homens de 
armas a abraçá-la.
Foi isto no Reino do Sonho, ou Soyo, talvez na mesma praia que lá pelos finais do 
século XV viu entrar Diogo Cão e os doze frades franciscanos que com ele seguiam, ao 
encontro do Mani-Soyo – o Senhor do Sonho. A mesma praia em que o Mani-Soyo se lavou 
com a água do batismo, sendo seguido por muitos outros fidalgos da sua corte. Assim, 
cumpriu Nosso Senhor Jesus Cristo a sua entrada nesta Etiópia ocidental, desenganando o 
pai das trevas. Ao menos, na época, eu assim o cria.
74
Unidade I
Na manhã em que pela primeira vez vi a Ginga, fazia um mar liso e leve e tão cheio de 
luz que parecia que dentro dele um outro sol se levantava. Dizem os marinheiros que um 
mar assim está sob o domínio de Galena, uma das nereidas, ou sereias, cujo nome, em grego, 
tem por significado calmaria luminosa, a calmaria do mar inundado de sol.
Aquela luz, crescendo das águas, permanece na minha lembrança, tão viva quanto as 
primeiras palavras que troquei com a Ginga.
Indagou-me a Ginga, após as exaustivas frases e gestos de cortesia em que o gentio 
desta região é pródigo, bem mais do que na caprichosa corte europeia, se eu achava haver 
no mundo portas capazes de trancar os caminhos do mar. Antes que eu encontrasse resposta 
a tão esquiva questão, ela própria contestou, dizendo que não, que não lhe parecia possível 
aferrolhar as praias.
Fonte: Agualusa (2015, p. 9-10).
Vemos no início dessa narrativa a bela descrição feita da rainha, uma mulher pequena e tão poderosa. 
A imposição da fé cristã aos povos africanos também gera um ponto importantepara reflexão. Por que 
Ginga perguntaria se seria possível aferrolhar as praias, trancar os caminhos do mar? Não seria possível; 
assim, seria inevitável que os portugueses tivessem em suas terras, assim como seria inevitável o tráfico 
de escravos.
 Saiba mais
Leia sobre Njinga Mbandi, rainha do Ndongo e do Matamba, na série em 
quadrinhos “Mulheres na história da África”, da Unesco (Organização das 
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura):
UNESCO. Njinga Mbandi. [s.d.]. Disponível em: https://cutt.ly/XGVw265. 
Acesso em: 5 maio 2022.
Veja também:
NJINGA, a rainha de Angola. Direção: Sérgio Graciano. Angola: Semba 
Comunicação, 2013. 109 min.
JINGA de Angola, a rainha guerreira da África. 2020. 1 vídeo (27 min). 
Publicado pelo canal História e Tu. Disponível em: https://youtu.be/lqK-gRfAQ98. 
Acesso em: 5 maio 2022.
Por fim, assista ao documentário musical a seguir, com Taís Araújo, sobre a 
cultura afro-brasileira.
ATABAQUE Nzinga. Direção: Otávio Bezerra. Brasil: Olhar Feminino Produções, 
2007. 87 min.
75
LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
4.3.9 Ondjaki (1977–)
Figura 21 – Ondjaki
Disponível em: https://cutt.ly/vGVaXRr. Acesso em: 5 maio 2022.
Ondjaki (Nadalu de Almeida) nasceu em Luanda. Seu pai é engenheiro e sua mãe, professora. Poeta 
e prosador, faz parte da geração de artistas angolanos que nasceram após a independência, mas ainda 
em clima de guerra. Morou no Rio de Janeiro entre 2008 e 2015.
Ondjaki, seu nome literário, é uma palavra umbundu, língua do sul de Angola, que tem vários 
significados, desde “guerreiro” a “traquinas”, e pode significar também “aquele que enfrenta desafios”.
Também escreve para cinema e correalizou um documentário sobre a cidade de Luanda (Oxalá 
cresçam pitangas – histórias de Luanda, de 2006). Em 2013, recebeu o Prêmio José Saramago, da 
Fundação Círculo de Leitores; e em 2016, o Prix Littérature-Monde, na categoria literatura não francesa, 
sendo os últimos pelo romance Os transparentes (2012). Também recebeu prêmios no Brasil, como o 
Prêmio FNLIJ Brasil 2010 e, também em 2010, o Prêmio Jabuti, na categoria Juvenil, com AvóDezanove 
e o segredo do soviético (romance).
 Saiba mais
Veja o documentário a seguir:
OXALÁ cresçam pitangas: histórias de Luanda. Direção: Kiluanje 
Liberdade e Ondjaki. Portugal: Klig, 2006. 63 min. Disponível em: 
https://youtu.be/En8rugU5KTk. Acesso em: 5 maio 2022.
Alguns livros seus foram traduzidos para o francês, espanhol, italiano, alemão, inglês, sérvio, sueco 
e chinês: Bom dia camaradas, de 2001 (Companhia das Letras, 2014); Os da minha rua (Língua Geral, 
2007; Pallas, 2021); AvóDezanove e o segredo do soviético, de 2008 (Companhia das Letras, 2009); 
Ynari: a menina das cinco tranças, de 2004 (Companhia das Letras, 2010); O voo do golfinho, de 2009 
76
Unidade I
(Companhia das Letras, 2012); Os transparentes (Companhia das Letras, 2013); e Materiais para confecção 
de um espanador de tristezas (Pallas, 2021), entre outros.
Bom dia, camaradas
Essa obra é narrada por um garoto de classe média que vive em uma Angola recém-independente, 
onde as regras sociais precisam ser repensadas, assim como as causas da desigualdade social devem 
ser questionadas. O narrador relata cenas cotidianas, que mostram que as mudanças não acontecem 
de um dia para o outro por um simples decreto. Ser uma nação independente não é tão fácil. Leia um 
trecho em que o garoto conversa com António, um empregado da casa, que considera que no tempo 
dos portugueses era melhor:
Bom dia, camaradas
Quando arrumava a garrafa de água, e limpava a bancada, o camarada António queria 
continuar com as tarefas dele sem mim ali. Eu atrapalhava a livre circulação pela cozinha, 
além de que aquele espaço pertencia só a ele. Gostava pouco de ter gente ali.
— Mas, António... Tu não achas que cada um deve mandar no seu país? Os portugueses 
tavam aqui a fazer o quê?
— Ê! menino, mas naquele tempo a cidade estava mesmo limpa... tinha tudo, não faltava nada...
— Ó António, não vês que não tinha tudo? As pessoas não ganhavam um salário justo, 
quem fosse negro não podia ser diretor, por exemplo...
— Mas tinha sempre pão na loja, menino, os machimbombos funcionavam... – ele 
só sorrindo.
— Mas ninguém era livre, António... não vês isso?
— Ninguém era livre, como assim? Era livre sim, podia andar na rua e tudo...
— Não é isso, António – eu levantava-me do banco. – Não eram angolanos que 
mandavam no país, eram portugueses... E isso não pode ser...
O camarada António aí ria só.
Sorria com as palavras, e vendo-me assim entusiasmado dizia esse menino! então abria 
a porta que dava para o quintal, procurava com os olhos o camarada João, o motorista, e 
lhe dizia: esse menino é terrível! e o camarada João sorria sentado na sombra da mangueira.
Vocabulário
Machimbombo: ônibus.
Fonte: Ondjaki (2014, p. 12-13).
77
LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
Observe que, ao criar um narrador menino, o autor lhe confere uma linguagem coloquial e um jeito 
jovial e questionador.
Vale dizer que quando os portugueses saíram de Angola após a independência, levaram consigo 
professores, intelectuais, empresários e toda forma de infraestrutura. Os novos governantes tiveram 
que começar em uma situação de grande miséria e carestia. Assim, era comum que várias pessoas 
considerassem a época dos portugueses melhor, apesar de os angolanos serem considerados pessoas de 
segunda classe, sem direitos.
Os da minha rua
Vários de seus escritos podem ser considerados memórias literárias, ou autoficção, como os que 
encontramos nos contos de Os da minha rua.
 Saiba mais
Recomendamos a leitura integral da obra.
ONDJAKI. Os da minha rua. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2007.
Os da minha rua
O mundo tinha aquele cheiro da terra depois de chover e também o terrível cheiro 
das despedidas. Não gosto de despedidas porque elas têm esse cheiro de amizades que se 
transformam em recordações molhadas com bué de lágrimas, Não gosto de despedidas 
porque elas chegam dentro de mim como se fossem fantasmas mujimbeiros que dizem 
segredos do futuro que eu nunca pedi a ninguém para vir soprar no meu ouvido de criança.
Vocabulário
Bué: muito.
Mujimbeiro: quem propaga boatos. 
Fonte: Ondjaki (2007, p. 14).
Leia a seguir um trecho do conto “A piscina do Tio Victor”, retirado do mesmo livro, com várias 
histórias de sua infância, umas tristes, outras alegres, compostas em um rico trabalho literário de 
resgate de uma identidade individual e social:
78
Unidade I
A piscina do Tio Victor
Quando o tio Victor chegava de Benguela, as crianças até ficavam com vontade de 
fugar à escola só para ir lhe buscar no aeroporto dos voos das províncias. A maka é que 
ele chegava sempre a horas difíceis e a minha mãe não deixava ninguém faltar às aulas. 
Então era em casa, à hora do almoço, que encontrávamos o tio Victor. E o sorriso dele, 
gargalhada tipo cascata e trovão também, nem dá para explicar aqui em palavras escritas. 
Só visto mesmo, só uma gargalhada dele já dava para nós começarmos a rir à toa, alegres, 
enquanto ele iniciava umas magias benguelenses. – Isto vocês de Luanda nunca viram – 
abria a mala onde tinha rebuçados, chocolates ou outras prendas de encantar crianças, 
mais o baralho de cartas para magias de aparecer e desaparecer o Ás de Ouros, também 
umas camisas posteradas que nós, “os de Luanda”, não aguentávamos. À noite deixávamos 
ele jantar e beber o chá que ele gostava sempre depois das refeições. Devagarinho, eu e os 
primos, e até alguns amigos da rua, sentávamos na varanda à espera do tio Victor. É que o tio 
Victor tinha umas estórias de Benguela que, é verdade, nós os de Luanda até não lhe 
aguentávamos naquela imaginação de teatro falado, com escuridão e alguns mosquitos 
tipo convidados extra. Eu já tinha dito ao Bruno, ao Tibas e ao Jika, cambas da minha rua, 
que aquele meu tio então era muito forte nas estórias. Mas o principal, embora ninguém 
tivesse nunca visto só uma foto de admirar, era a piscina que eledisse que havia em 
Benguela, na casa dele: – Vocês de Luanda não aguentam, andam aqui a beber sumo Tang! 
Ele ria a gargalhada dele, nós ríamos com ele, como se estivessem mil cócegas espalhadas 
no ar quente da noite. – Nós lá temos uma piscina enorme – fazia uma pausa dos filmes, 
nós de boca aberta a imaginar a tal piscina. – Ainda por cima, não é água que pomos lá – 
eu a olhar para o Tibas, depois para o Jika: – Não vos disse? O tio Victor continuou assim 
numa fala fantasmagórica: – Vocês aqui da equipa do Tang não aguentam..., a nossa 
piscina lá é toda cheia de Coca-Cola! [...]
Vocabulário
Maka: conversa, questão, disputa, caso, assunto.
Fugar: fugir.
Rebuçados: doces.
Posteradas: que tem “pôster”, no sentido de ter estilo, cheias de estilo, chiques. 
Cambas: amigos, companheiros.
Sumo: suco.
Equipa: time.
Fonte: Ondjaki (2007, p. 67-71).
Note que o narrador adulto assume o ponto de vista da criança que demonstra grande afeto pelo 
tio brincalhão que marcou sua infância. A inocência e espontaneidade dão o tom a esse curioso e 
bem-humorado conto, em que se imaginava que em Benguela as piscinas continham Coca-Cola.
79
LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
O voo do golfinho
Nesse belíssimo livro, ilustrado pela talentosa Danuta Wojciechotwska, Ondjaki cria um narrador 
golfinho/pássaro que nos conta sua história em busca de sua identidade. Vejamos o trecho inicial:
O voo do golfinho
Chamo-me golfinho, mas agora também me chamo pássaro.
Tenho uma pequena história para contar.
Sentem-se que eu vou começar.
Cresci no mar, a brincar, com outros golfinhos.
Gostava de nadar, de sorrir e até já gostava de voar.
Os meus amigos diziam que eu tinha um bico diferente.
O que seria um bico diferente?
Fonte: Ondjaki (2012, p. 6-7).
Veja a seguir uma ilustração de Danuta Wojciechotwska para o livro:
Figura 22 – Ilustração de Danuta Wojciechotwska para a obra O voo do golfinho
Fonte: Ondjaki (2012, p. 6-7).
Na ilustração, podemos observar a figura do golfinho rodeado por seus amigos e como seu focinho 
se assemelha a um bico de pássaro. Acima, vemos um pássaro laranja, um duplo possível.
Ondjaki ainda escreveu outros livros para o público infantil e juvenil, demostrando grande sensibilidade 
para com esse público. Contudo, são obras que a todos encantam, por seu lirismo e profundidade.
80
Unidade I
 Saiba mais
Para saber mais sobre Ondjaki, acesse:
UMAS Palavras 2013 | Ep. 06: Ondjaki. 2015. 1 vídeo (27 min). Publicado 
pelo canal Futura. Disponível em: https://youtu.be/Yqi3lLpAtZc. Acesso em: 
5 maio 2022.
Um tema interessante são as memórias de infância, período da vida em que a escola é o espaço 
de maior convívio. Muitos são os exemplos de narrativas com essa temática na literatura, em que 
são retratadas situações cômicas, de amizade e solidariedade, mas muitas vezes de conflitos, tensões 
e injustiças.
No livro Contos africanos dos países de língua portuguesa (número 44 da coleção Para gostar de ler, 
da editora Ática, de 2014) você encontrará dois contos que remetem a essa temática: “Zito Makoa, da 
4ª classe”, de Luandino Vieira, e “Nós choramos pelo Cão-Tinhoso”, de Ondjaki.
De gerações e contextos históricos bem distintos, esses escritores, por meio de suas memórias, 
ficcionalizam situações tensas e de muita emoção. A narrativa de Luandino se situa por volta dos anos 
1950, em uma Luanda colonial, em que a independência ainda era um sonho. Zito sofre maus-tratos e 
é perseguido pelos colegas, com exceção de seu grande amigo Zeca.
Figura 23 – Capa do livro Contos africanos dos países de língua portuguesa
Fonte: Bragança et al. (2009, capa).
81
LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
Para separar uma briga entre os meninos da classe, a professora é bastante agressiva. Leia um trecho:
Zito Makoa, da 4ª classe
Na mesma hora em que a professora chegou, já lhes tinham separado. Mesmo assim 
arrancou para o meio dos miúdos e pôs duas chapadas na cara do Zito. O barulho das mãos 
na cara gordinha do monandengue calou a boca de todos e mesmo o Fefo, conhecido pelo 
riso de hiena, ficou quietinho que nem um rato.
— Miúdos ordinários, desordeiros! Quem começou? – e a fala irritada da mulher cambuta 
e gorda fazia-lhe ainda tremer os óculos na ponta do nariz.
Ninguém que se acusou. Ficaram mesmo com os olhos no chão da aula, fungando 
e espiando os riscos que os sapatos tinham desenhado no cimento durante a confusão. 
Raivosa, a professora deu um puxão na manga de Zito e gritou-lhe:
— Desordeiros, malcriados! És sempre tu que arranjas complicações!
— É ele mesmo! – e essa acusação do Bino obrigou toda a gente a gritar, apontando-lhe, 
sacudindo o medo de respeito que a professora trazia quando chegava.
— Foi ele, sô pessora! Escreveu coisas...
— É bandido. O irmão é terrorista!
Vocabulário
Monandengue: criança.
Cambuta: de baixa estatura.
Fonte: Vieira (2009, p. 122).
A 4ª classe do título seria o mesmo que 4ª série ou 4º ano, ou seja, com meninos de cerca de 10 anos 
de idade. A professora era branca e a sala somente de meninos, brancos e negros. Zito, negro, pobre e 
com um irmão revolucionário, torna-se alvo de perseguição e de maus-tratos também de seus colegas. 
Na escola, como em outros espaços sociais, os conflitos são comuns, mas no contexto angolano da 
década de 1950, questões raciais, sociais e políticas dão o tom, aspectos bem retratados nos contos 
de Luandino.
Já o escritor Ondjaki é de uma outra geração, dos anos 1990, já no período pós-colonial, mas 
embebido na guerra civil. O conto “Nós choramos pelo Cão-Tinhoso” também se passa na escola 
e faz referência ao conto “Nós matamos o Cão-Tinhoso!”, do escritor moçambicano Luíz Bernardo 
Honwana, de 1964.
82
Unidade I
Nesse conto, o menino narrador, o Ginho, apesar de grande sofrimento, torna-se cúmplice da 
morte de um cãozinho de rua, chamado maldosamente de Cão-Tinhoso. Ondjaki também utiliza um 
narrador adolescente para retomar a emoção da história de Honwana. Nesse conto não há violência 
física, apesar de uns caçoarem dos outros com apelidos, mas a professora é respeitada, assim como os 
respeita. Contudo, a visão estereotipada de que “homem não chora” é partilhada pelos meninos nesse 
conto, que tentam conter suas lágrimas a ler/reler a tão triste história do cãozinho que sofre uma 
inominável violência.
Vejamos um trecho:
Nós choramos pelo Cão-Tinhoso
Foi no tempo da oitava classe, na aula de português. Eu já tinha lido esse texto dois 
anos antes, mas daquela vez a estória me parecia mais bem contada com detalhes que 
atrapalhavam uma pessoa só de ler ainda em leitura silenciosa – como a camarada professora 
de português tinha mandado. Era um texto muito conhecido em Luanda: “Nós matámos o 
Cão-Tinhoso”.
Eu lembrava-me de tudo: do Ginho, da pressão-de-ar, da Isaura e das feridas 
penduradas do Cão-Tinhoso. Nunca me esqueci disso: um cão com feridas penduradas. 
Os olhos do cão. Os olhos da Isaura. E agora de repente me aparecia tudo ali de novo. 
Fiquei atrapalhado. [...]
Embora noutras turmas tentassem arranjar alcunhas para os colegas, aquela era a minha 
primeira turma onde ninguém tinha escapado de ser alcunhado. E alguns eram nomes de 
estiga violenta.
Muitos eram nomes de animais: havia o Serpente, o Cabrito, o Pacaça, a Barata-da-Sibéria, 
a Joana Voa-Voa, a Gazela, e o Jacó, que era eu. Deve ser porque eu mesmo falava muito 
nessa altura. Havia o É-tê, o Agostinho-Neto, a Scubidú e mesmo alguns professores 
também não escapavam da nossa lista. Por acaso a camarada professora de português era 
bem porreira e nunca chegámos a lhe alcunhar.
Vocabulário
Alcunha: apelido.
Estiga: caçoar.
Porreira: afável, prestativa.
Fonte: Ondjaki (2009, p. 98).
83
LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
Observe que o ambiente escolar nesse conto é mais amigável, apesar do uso de apelidos ofensivos. 
O conflito narrativo está na tensão criada para a leitura do conto, muito impactante para o narrador. 
Ele seria quase o último da lista e procura segurar as lágrimasa todo custo. Os olhos tristes do cão e 
suas feridas penduradas são citados repetidas vezes no conto. Isaura é uma menina muito apegada ao 
cão de rua, velhinho e doente.
Exemplo de aplicação
Trata-se de um tema interessante para se tratar com os alunos. Como atividade em sala de aula, 
poderia ser pedido aos alunos que pesquisassem outras narrativas que se passam na escola, ou mesmo 
que contassem suas próprias histórias.
 Saiba mais
Leia o dossiê “Imagens de infâncias em literaturas africanas e/ou das 
diásporas africanas”, disponível na revista a seguir:
CADERNO Seminal, n. 41, 2022. Disponível em: https://cutt.ly/dGBdn6t. 
Acesso em: 5 maio 2022.
Para saber mais sobre a literatura angolana, acesse o site da revista 
Via Atlântica e pesquise o termo “Angola”. Você terá acesso a vários 
artigos sobre a literatura angolana, inclusive em estudos comparados 
com outras literaturas.
Disponível em: https://bit.ly/3tFbLR5. Acesso em: 5 maio 2022.
Para saber mais sobre a literatura para crianças nas literaturas africanas 
em língua portuguesa, acesse os sites:
BIOGRAFIA dos autores. De Lá Pra Cá. [s.d.]. Disponível em: 
https://cutt.ly/LHvVaV4. Acesso em: 16 maio 2022.
NEVES, A. Angelina Neves e a produção para infâncias. Florianópolis: UFSC, 
1992. Disponível em: https://cutt.ly/bHvBTcB. Acesso em: 16 maio 2022.
84
Unidade I
 Resumo
Iniciamos esta unidade esclarecendo que os Palop (Países Africanos 
de Língua Oficial Portuguesa) são Angola, Moçambique, Cabo Verde, 
Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe e que a língua portuguesa é somente 
mais uma das várias línguas faladas nesses países colonizados por Portugal.
As literaturas desses países estão muito marcadas pelo contexto colonial 
(até 1975), pelos movimentos de luta pela independência, pelas guerras 
civis, assim como pelo combate às estruturas de poder e à desigualdade 
social, fatores ainda existentes no período pós-colonial.
Dessa forma, conceitos como colonialismo, pós-colonialismo e 
descolonização (decolonialidade) se articulam em um contexto amplo 
e precisam ser considerados nos estudos literários. Atualmente, os estudos 
decoloniais estão em grande evidência e se baseiam na releitura de alguns 
aspectos teóricos e históricos cristalizados e na necessidade de se romper 
com a visão de mundo meramente eurocêntrica.
Vale destacar que o processo de colonização na África foi oficializado 
na Conferência de Berlim, que durou de 15 de novembro de 1884 a 15 de 
fevereiro de 1885, e fixou as fronteiras das possessões portuguesas, inglesas, 
francesas e alemãs, entre outras, sem levar em conta as diferentes línguas, 
culturas e etnias existentes, um dos principais motivos de conflitos variados.
Em nossas reflexões sobre o ensino de literaturas africanas em língua 
portuguesa, ressaltamos a importância da Lei n. 10.639/2003, que viabilizou e 
tornou obrigatório o ensino sobre a história e cultura da África, em seu 
amplo leque de variedades, assim como sua relação com a história do 
Brasil e a nossa cultura. Por conseguinte, na elaboração dos currículos 
escolares, é fundamental incluir as literaturas africanas, seus autores e 
obras, considerando suas especificidades.
Apesar de os documentos oficiais fundamentarem o ensino das 
literaturas africanas na Educação Básica, os professores ainda encontram 
vários obstáculos sobre essa prática.
Quanto ao contexto histórico e social de Angola, vimos que, após os 
flagelos da guerra colonial, os angolanos ainda tiveram que enfrentar a guerra 
civil, uma fratricida luta pelo poder, com incontáveis mortos e mutilados.
85
LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
Em Angola, há uma realidade pluriétnica e plurilinguística que precisa 
ser considerada. Falam-se umbundo, kimbundo (quimbundo), kikongo 
(quicongo), cokwe, kwanyama, ngangela, entre outras línguas.
Ainda no século XIX, o jornalismo foi uma das principais manifestações 
escritas de Angola e os jornais foram veículos de divulgação de obras 
literárias. Um dos jornalistas importantes da época foi o português Alfredo 
Troni (1845–1904), que se notabilizou como um dos precursores da 
literatura angolana com a novela Nga Mutúri.
Na poesia, destacamos Viriato da Cruz e António Jacinto, que 
participaram ativamente do movimento Vamos Descobrir Angola em 
meados da década de 1960; Agostinho Neto, o primeiro presidente com 
seus poemas de resistência ao domínio português; e a poetisa e cronista 
Ana Paula Tavares.
Na prosa, o grande contista José Luandino Vieira se destaca por sua 
originalidade e linguagem inovadora, com a temática centrada nas raízes 
africanas. Seu livro A cidade e a infância sintetiza duas temáticas preciosas 
para o autor: o amor por Luanda e o saudosismo da infância.
Como grande romancista, temos Pepetela, em cujas obras encontramos 
heróis que vivenciam dias de alta tensão entre o colonizador e o colonizado. 
A busca da identidade nacional angolana e o preenchimento das lacunas 
culturais deixadas pelo colonizador são marcas de sua rica produção. Entre 
seus romances, destacamos Mayombe, A geração utopia e A montanha da 
água lilás: fábula para todas as idades.
José Eduardo Agualusa se destaca por seus romances O vendedor de 
passados, Nação crioula e A rainha Ginga, obras riquíssimas histórica, 
cultural e literariamente que demonstram o desejo do autor em resgatar o 
passado, analisar o presente e compreender o mundo e a si mesmo.
Entre os escritores mais jovens, destacamos Ondjaki, cujas obras registram 
tanto sua história pessoal quanto a história de Angola. Seus livros Bom 
dia, camaradas, Os da minha rua e O voo do golfinho ganharam destaque 
em nossos estudos.
Há ainda muitos outros autores e obras angolanos a serem apreciados 
e estudados. Apresentamos somente uma amostra.
86
Unidade I
 Exercícios
Questão 1. Avalie as afirmativas a seguir:
I – As nações enunciadas a seguir compõem os Palop (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa): 
Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Nigéria e São Tomé e Príncipe.
II – Português é a única língua falada nos Palop.
III – Ao demarcar fronteiras entre as diversas possessões europeias – portuguesas, inglesas, francesas, 
alemãs, entre outras –, o processo de colonização na África, oficializado na Conferência de Berlim entre 
novembro de 1884 e fevereiro de 1885, desconsiderou totalmente as línguas, as etnias e as sociedades 
africanas ali existentes.
IV – As literaturas dos Palop compartilham o fato de estarem muito marcadas pelo contexto 
colonial, pelos movimentos de luta pela independência e pelo combate às estruturas de poder e à 
desigualdade social.
V – Na prosa dos Palop, destacam-se, entre outros, Viriato da Cruz, António Jacinto, Agostinho Neto 
e Ana Paula Tavares.
É correto o que se afirma apenas em:
A) I.
B) II.
C) III e V.
D) I e IV.
E) III e IV.
Resposta correta: alternativa E.
Análise das afirmativas
I – Afirmativa incorreta.
Justificativa: a Nigéria, cuja língua oficial é o inglês, não está incluída entre os Palop. Somente estão 
incluídos Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe.
87
LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
II – Afirmativa incorreta.
Justificativa: português, língua do colonizador, não é a única língua falada nos Palop, por haver 
diversos grupos étnicos nesses países, cada qual com língua própria.
III – Afirmativa correta.
Justificativa: é correto afirmar que a demarcação de fronteiras entre as diversas possessões europeias 
no continente africano desconsiderou totalmente as línguas, as etnias e as sociedades ali existentes.
IV – Afirmativa correta.
Justificativa: é correto afirmar que todas as literaturas dos Palop são marcadas pelo contexto 
colonial, pelos movimentos de luta pela independência e pelo combate às estruturas de poder e à 
desigualdade social.
V – Afirmativa incorreta.
Justificativa: Viriato da Cruz, António Jacinto, Agostinho Neto e Ana Paula Tavares são alguns dos 
poetas mais respeitados nos Palop. Eles não produzem textos em prosa.Questão 2. Com base no conteúdo das aulas e nos conhecimentos por você adquiridos durante o 
desenvolvimento desta disciplina, assinale a alternativa incorreta:
A) No século XIX, uma das principais manifestações escritas de Angola foi o jornalismo, por meio do 
qual eram divulgadas obras literárias. O jornalista português Alfredo Troni (1845–1904), um dos 
precursores da literatura angolana, é o autor da novela Nga Mutúri.
B) Nas obras do angolano Pepetela, há heróis vivendo dias de alta tensão entre o colonizador e o 
colonizado. A busca da identidade nacional angolana e o preenchimento das lacunas culturais 
deixadas pelo colonizador são marcas de sua rica produção.
C) Na produção em prosa do contista José Luandino Vieira, autor dotado de muita originalidade e 
linguagem inovadora, estão incluídas as obras A cidade e a infância, Mayombe e A geração utopia.
D) Colonialismo, pós-colonialismo e descolonização (decolonialidade) são conceitos que se articulam 
em um contexto amplo e que não devem ser ignorados nos estudos literários. Estudos decoloniais 
estão em grande evidência, baseados na releitura de aspectos teóricos e históricos cristalizados, 
para atenderem à necessidade de romper com a hegemonia da visão eurocêntrica de mundo.
E) A Lei n. 10.639, que passou a vigorar em 2003, tornou obrigatória a inclusão da História e Cultura 
Afro-brasileira na grade curricular do Ensino Fundamental e Médio.
Resposta correta: alternativa C.
88
Unidade I
Análise das alternativas
A) Alternativa correta.
Justificativa: é correto afirmar que por meio do jornalismo foram divulgadas obras 
literárias. Alfredo Troni (1845–1904), autor da novela Nga Mutúri, foi um dos precursores 
da literatura angolana.
B) Alternativa correta.
Justificativa: é correto afirmar que Pepetela expressa a tensão entre colonizadores e 
colonizados e que sua produção integra o movimento de busca da identidade nacional 
angolana e de preenchimento das lacunas culturais deixadas pelo colonizador.
C) Alternativa incorreta.
Justificativa: é correto afirmar que José Luandino Vieira seja autor dotado de muita 
originalidade e linguagem inovadora. No entanto, é incorreto afirmar que sejam de sua 
autoria as obras A cidade e a infância (de José Vieira Mateus de Graça), A geração utopia e 
Mayombe (estas, da autoria de Pepetela).
D) Alternativa correta.
Justificativa: é correto afirmar que colonialismo, pós-colonialismo e descolonização 
(decolonialidade) são conceitos que não devem ser ignorados nos estudos literários, assim 
como é correto afirmar que os estudos decoloniais estão em grande evidência, dada a 
necessidade de romper com a hegemonia da visão eurocêntrica de mundo.
E) Alternativa correta.
Justificativa: ao alterar a Lei n. 9.394/96, que estabelece as diretrizes e bases da educação 
nacional, a Lei n. 10.639/2003 tornou obrigatória a inclusão da temática História e Cultura 
Afro-Brasileira na grade curricular do Ensino Fundamental e do Ensino Médio.

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