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UNIDADE 4 AVA PSICANÁLISE

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UNIDADE 4 – PSICANÁLISE: TEORIA E 
TÉCNICA 
A PSICANÁLISE NA CONTEMPORANEIDADE 
1 Reflexões contemporâneas à luz da psicanálise 
Você já parou para se perguntar como a psicanálise, um saber produzido no século XIX 
com Sigmund Freud, se faz atual até hoje? Como ela pode ser capaz de explicar os 
quadros psíquicos e a organização da sociedade na atualidade? Sobre o fim da 
psicanálise ou o seu anacronismo, Anna Freud respondeu a um jovem analista que 
predizia a morte desse saber: 
 
Predizer a morte da psicanálise talvez esteja na moda. A única resposta inteligente é a 
que Mark Twain deu, quando um jornal anunciou, por erro, a notícia de sua morte: 'As 
notícias sobre minha morte são muito exageradas. (...) Sob muitos aspectos é quando 
atacada que a psicanálise caminha melhor. (ROUDINESCO; PLON, 1998, p. 260) 
Desta maneira, traremos aqui de algumas análises de quadros como a depressão e 
diagnósticos da atualidade à luz da psicanálise. Já que, para a psicanálise, tudo é 
trabalho, então vamos ao trabalho. 
1.1 O contemporâneo e a depressão 
O século XXI é marcado pela, cada vez maior, atualização e sofisticação das 
tecnologias. Essas tecnologias imprimem um determinado ritmo ao nosso corpo que é o 
da aceleração. A velocidade, a imposição da felicidade, o individualismo, o grande 
incentivo ao consumo como forma de ter bem-estar, introduzem na sociedade aquilo 
que Freud definiu para indicar um sintoma da civilização, um mal-estar. 
 
Qual seria a razão desse mal-estar? A aceleração impede que o sujeito consiga processar 
e elaborar os acontecimentos, pela falta de tempo que engole o homem. A ditadura da 
felicidade encerra o sujeito numa busca desenfreada de algo ou alguém (um objeto) que 
possa lhe cobrir a falta, que segundo a psicanálise, lhe é constitutiva,e o sujeito se vê em 
meio a culpas e consumismos. 
 
Maria Rita Kehl (2009), em seu livro “O tempo e o cão: a atualidade das depressões” 
nos indica que o mal-estar na contemporaneidade é a depressão. O que, na Idade 
Média, a melancolia despontava como sendo o mal-estar, hoje é a depressão que tem 
aparecido com mais frequência na clínica e denotado o desfuncionamento do modo de 
organização da sociedade. Para além do crescimento da indústria farmacêutica e a sua 
produção de antidepressivos em larga escala a partir da década de 1970, Kehl (2009) 
sugere também que o sujeito contemporâneo está mais propenso a deprimir-se. 
 
Embora a psiquiatria tenha tomado para si a explicação e a resposta a se dar para os 
quadros depressivos, a psicanálise tem muito a dizer sobre elas. Para a teoria 
psicanalítica, a depressão está muito mais para a clínica das neuroses do que da 
psicose, ainda que ela insira as suas especificidades. 
1.2 O funcionamento da depressão para a psicanálise 
O saber psicanalítico sobre o quadro depressivo o situa desde um comprometimento no 
começo da formação da estrutura clínica (neurose, psicose ou perversão), no que diz 
respeito à posição do sujeito frente à elaboração dos seus mecanismos de defesa. 
 
Durante a passagem do sujeito neurótico pelo complexo de édipo na infância, há uma 
escolha do sujeito para a depressão que não o coloca dentro de outras estruturas tais 
como a histeria e a neurose obsessiva. Quando falamos de escolhas, nos remetemos a 
Freud que diz sobre a escolha inconsciente em que, no momento do segundo momento 
do complexo de édipo, a criança consegue ver o pai como rival na disputa do amor pela 
mãe. Nesse momento, para Kehl (2009), o consequente depressivo decide não se 
instalar na rivalidade fálica com o pai, preferindo se apoiar na proteção materna. 
 
Como efeito de não entrar na disputa com o pai, contrariando o caminho normal da 
formação da estrutura neurótica - que seria entrar em rivalidade com o pai e perder pra 
ele -, o depressivo se protege mal da castração. A castração é o momento em que, 
neste enfrentamento do filho com relação ao pai, a mãe demarca ao filho a posição 
fálica que o pai exerce mediante o desejo dela. 
 
O depressivo se instala a um passo do caminho em que os neuróticos e histéricos 
escolhem a sua posição fantasmática: no lugar de entrar na batalha fálica, tentando não 
perder uma determinada posição que acreditava ocupar no desejo da mãe, o sujeito 
depressivo escolhe reconhecer-se de antemão no lugar de castrado. Seria o mesmo que 
dizer que: antes de entrar na batalha, já reconhece que perdeu. No entanto, eles não 
recuam porque não tenham rivalidades, mas porque não podem assumir o risco de 
perder e nem a probalidade de um segundo lugar. 
 
Sendo assim, o depressivo não entra no duelo com o pai, durante a passagem pelo 
complexo de édipo, preferindo estar no lugar de objeto indefeso no abrigo da mãe. O 
depressivo paga o preço da impotência, da letargia e da inadequação aos imperativos da 
vida, quando opta pelo gozo ou a satisfação parcial desse lugar de abrigo. 
 
De acordo com Kehl (2009), por conta de sua vulnerabilidade em sua posição na 
estrutura clínica, o sujeito que se instala no recuo diante da batalha pelo seu desejo se 
protegendo no abrigo da depressão, se encontra num lugar mais próximo do “saber 
recalcado sobre a castração do que os neuróticos” (KEHL, 2009, p. 16). 
 
A posição do depressivo é também efeito do esforço de não se ver com um saber que 
seja imperativo a todo sujeito, seja por meio do sintoma, do chiste ou do sonho, o saber 
inconsciente. Podemos dizer, desta forma, que o depressivo não quer se ver com o seu 
desejo e, para a psicanálise, esta é uma forma de se anular subjetivamente. 
 
Com efeito, para não ter que lidar com este sofrimento que o faz ter acesso a 
sua dimensão desejante, o depressivo prefere recorrer aos medicamentos. Como 
sabemos, o medicamento não permite que o sujeito elabore sobre a sua condição e, para 
justificar seu apelo medicamentoso, é preferível dizer que possui um déficit. 
Podemos dizer também que o tempo da aceleração, em que se exige um sujeito ativo, 
voraz, proativo, não ajuda o depressivo e o coloca numa posição de dívida e culpa, 
posto que não consegue acompanhar o ritmo demandado. 
 
 
Para você que ficou mais interessado sobre como a psicanálise enxerga e trabalha 
clinicamente com a depressão, o livro “O tempo e o cão: a atualidade das depressões” 
de Kehl (2009) é uma pesquisa excelente, feita sobre o tema e extraído diretamente da 
experiência clínica da autora. 
Assista aí 
2 Diagnósticos do presente 
Com base na história, podemos dizer que psicanálise e psiquiatra já tiveram 
anteriormente nos séculos XIX e XX um laço muito mais estreito e esse laço definia o 
modo de condução das terapêuticas realizadas, bem como o desenho dos quadros 
clínicos que surgiam para o tratamento. 
 
Veremos a seguir como se dá essa relação entre psicanálise e psiquiatria no século 
XXI e os seus efeitos. 
2.1 Relação da psicanálise e da psiquiatria 
Sigmund Freud, Jacques Lacan, Donald Winnicott, entre outros vários psicanalistas dos 
séculos XIX e XX, tinham a sua formação baseada na medicina psiquiátrica. Seus 
tratamentos eram baseados na longa duração e na palavra. Hoje, a psiquiatria não quer 
mais estar em nenhum contato com a psicanálise. 
 
A psiquiatria, ao longo dos anos, foi se cercando de um certo poder, principalmente a 
partir das neurociências, dando a si o poder de gerir o mal-estar, e foi aos poucos 
desprezando a questão da palavra enquanto cura, dando prioridade à prescrição de 
medicações: ANSIOLÍTICOS, ANTIDEPRESSIVOS, ENTRE OUTROS. 
 
Porém, a que se deve esse afastamento? Birman (2005) afirma que esse afastamento se 
credita à formação de novas subjetividades no contemporâneo. É possível ver que, 
diante das mudanças da sociedade, naquilo que se refere ao advento da tecnologia, e a 
sua consequente transformação do nosso entendimento de tempo e espaço, fomos 
colocados diante de um imediatismo, por vezes, cruel. A ingestão de remédios atende a 
essa nova formação de subjetividade que quer a resolução de seu problema de maneira 
instantânea e sem trabalhopsíquico. 
 
Birman (2005) aponta ainda que as queixas contemporâneas dos sujeitos giram mais em 
torno do corpo, à ação e sensação e não mais tanto passa pela resolução pelo 
pensamento ou linguagem próprias do material de trabalho da psicanálise. Assim 
sendo, a subjetividade pós-moderna estaria mais às voltas com a pulsão e a interdição, 
do que com o conflito interiorizado. 
 
 
Clique para abrir a imagem no tamanho original 
Figura 1 - ImediatismoFonte: Lightspring, Shutterstock, 2020. 
#PraCegoVer: A imagem mostra uma cabeça humana em perfil, formada por diversos 
relógios analógicos. A parte de cima da cabeça está se desfazendo e os relógios se 
espalhando. 
2.2 Quadros clínicos contemporâneos 
É muito comum na clínica atual presenciarmos a demanda das queixas dos pacientes 
estarem mais às voltas com questões corporais, com certa frequência, na descrição de 
delimitados sintomas. Dentre eles, como exemplo, a síndrome do pânico. 
 
A síndrome do pânico é uma terminologia psiquiátrica que encontra equivalência, na 
clínica psicanalítica, por aquilo que Freud denominou como neurose de angústia, 
portanto, a tal síndrome não é uma doença nova, embora traga nova aparência. A 
síndrome é descrita como uma vivência corporal de um sentimento rompante de morte, 
em que o corpo se apresenta em primeiro plano. 
 
Outra manifestação de sofrimento dirigido ao corpo é a síndrome da fadiga crônica ou 
burnout, em que o sujeito apresenta imenso esgotamento físico. Além dos transtornos 
de ansiedade em que o sujeito sente imensa falta de ar e outras sensações corpóreas; e 
dos transtornos alimentares, entre outros transtornos psicossomáticos, bastante 
diagnosticados na clínica contemporânea. 
 
Todas essas demonstrações de sofrimento estão incluídas no que muitos rapidamente 
nomeiam como estresse. Estresse como um momento em que o corpo se fragiliza e 
precisa de técnicas de relaxamento corporal, medicamentos e atividade física. 
 
A crítica de Birman (2005) incide sobre a nossa atual incapacidade de organizar e 
formar instrumentos de pensamento e ferramenta simbólica para dar conta do excesso 
da vida contemporânea que nos possui e que parece ser maior do que nós, como 
consequência desta impossibilidade de simbolizar ou sublimar o movimento de 
descarregar tudo no corpo. 
 
Este movimento explica a grande variedade de distúrbios psicossomáticos que 
surgiram na atualidade. 
 
Por esta incapacidade de simbolizar e sublimar os eventos psíquicos – ferramentas que 
a psicanálise oferece na análise -, é que cresce cada vez mais a demanda por 
medicamentos. Medicamentos que não intervêm nos pensamentos, portanto, não 
mudam a causa do aparecimento do conflito psíquico, adiando o problema que, a longo 
prazo, produz efeitos colaterais deletérios; mas que apaziguam o sofrimento corporal e 
colocam o sujeito a curto prazo em produtividade novamente. 
 
3 Estudos sobre violência 
Neste tópico, falaremos sobre como a psicanálise estuda e entende os fenômenos da 
violência. Algumas críticas direcionadas à teoria psicanálitica seguem no sentido de 
dizer que suas análises ficam muito restritas à dimensão individual ou a uma clínica que 
não engloba a constituição social dos sujeitos. Saindo de uma esfera mais 
individualista de análise dos funcionamentos psíquicos de cada pessoa, veremos alguns 
psicanalistas contemporâneos trazendo para os seus trabalhos um diagnóstico da 
atualidade afirmando a inseparabilidade entre sujeito e sociedade. 
3.1 Violência como o negativo 
Em seu livro “Pulsão de Morte: por uma clínica psicanalítica da potência”, André 
Martins (2009), filósofo e psicanalista, questiona a atualidade do conceito de pulsão 
de morte, elaborado por Freud. O conceito é utilizado por muitos pós-freudianos para 
explicar alguns movimentos de seus pacientes na clínica, mas esse autor questiona a sua 
real aplicabilidade, haja visto que até na obra freudiana, em alguns momentos, ele 
tratará das forças da vida para diminuir o sofrimento psíquico de seus pacientes. 
 
Quando se trata do debate acerca da violência e da criminalidade atual, não se pode 
fugir de um pensamento marcado pelas tendências negativas que se manifestariam 
em psicopatologias individuais ou coletivas, e o seu consequente remédio repressivo. 
Essas soluções repressivas se sustentam em uma crença na propensão a destruição 
inscrita nas subjetividades. Poderíamos pensar, assim, sobre qual a influência do 
pensamento de pulsão de morte freudiana nessa crença de uma inclinação para a 
maldade? 
 
Freud chegou ao conceito de pulsão de morte a partir das suas experiências clínicas. Ele 
se questionava sobre como o paciente pode escolher a neurose no lugar da cura; 
como explicar o prazer de matar que alguns sujeitos apresentam, ou como explicar a 
impossibilidade de vivenciar a felicidade e o prazer de alguns pacientes, quando estes 
ganham algo que esperavam há muito tempo, sem elucidar esses fenômenos pela pulsão 
de morte, ou seja, pelo movimento do homem rumo à autodestruição. 
 
Porém, na mesma medida que Freud nos coloca em direção a este conceito, ele 
apresentará a possibilidade de outras explicações: ele vai dizer que na neurose 
obsessiva e na melancolia, por exemplo, o superego é bastante exigente na sua relação 
com o ego, lhe colocando diferentes obrigações e, consequentemente, fazendo com que 
surja muitos sentimentos de culpa. A diferença entre estas duas estruturas psíquicas é 
que, na neurose obsessiva, o ego lutaria contra estes sentimentos de culpa impostos pelo 
superego; e, na melancolia, o ego as aceitaria. A forma de se resolver esta questão em 
análise seria trazer à consciência os processos recalcados que mantêm o sentimento de 
culpa. Como exemplo, Martins (2009) traz o caso “Fort da” de Freud, em que descreve 
a situação de uma criança que, diante da não presença da mãe, vai construindo pra si um 
modo de lidar com essa angústia. A criança brinca com o carretel em que ele joga e 
depois o puxa pela linha, trazendo-o de volta. Se existe esta dimensão criativa dos 
sujeitos em lidar com as suas angústias, por que Freud precisa recorrer à teoria da 
pulsão de morte? 
 
É na questão da agressividade que Freud mais insistirá com a lógica da pulsão de 
morte. E é Winnicott quem apresenta outras perspectivas sobre este assunto. Winnicott 
não enxergará uma tendência ao negativo nas primeiras manifestações de agressividade 
de uma criança, mas perceberá uma necessidade de expansão com relação ao mundo. 
Estas manifestações, para o psicanalista, só poderiam ser tidas como secundárias e não 
como uma expressão de que existe uma natureza em seus movimentos, pois vai 
depender do modo como o ambiente pode abrigar este bebê na sua vivência primeira 
de indiferenciação e dependência do responsável por ele. Os sujeitos, cujo meio não 
foi suficientemente bom para acolher o desamparo inicial, podem sim viver as 
demandas pulsionais como ameaças internas, erigindo seus mecanismos de defesa, mas 
não se pode generalizar, como afirmam os estudos winnicottianos. 
3.2 Freud pensador da cultura 
Freud escreveu algumas poucas obras se dedicando a pensar especificamente sobre a 
cultura. Dentre elas, estão as obras “Mal-estar na civilização” (1929/1996) e “Futuro de 
uma ilusão” (1927/1976). Em “Mal-estar na civilização” (FREUD, 1996), ele faz 
a oposição entre civilização e instinto, entre desejo e lei. Como os sujeitos são 
dotados de impulsos instintuais, e esses impulsos podem levá-los à barbárie, podemos 
entender que, para a civilização se manter ordenada, é preciso esse sujeito seja contido 
em seus impulsos, gerando assim um mal-estar. Mal-estar, pois o homem 
estaria sacrificando suas pulsões para poder viver em sociedade. 
 
Freud deposita na humanidade a característica de uma animalidade. Para ele, o homem 
detém uma postura natural para ser agressiva e, muitas vezes, selvagem. Desta maneira, 
fazem-se necessárias as leis e códigos de conduta da civilização para barrar os 
impulsos de serem manifestadosde modo puro. Esses impulsos, então, precisam ser 
reprimidos. 
 
Clique para abrir a imagem no tamanho original 
Figura 2 - ImpulsosFonte: MachineHeadz, Istock, 2020 
#PraCegoVer: A imagem mostra duas crianças com mochilas nas costas, empurrando 
um ao outro. 
 
Pelo fato de todos nós possuirmos movimentos em direção à destruição, à anti-
sociabilidade, à anti-cultura, é preciso haver uma batalha da civilização para retirar a 
liberdade dos sujeitos e substituir pelo senso de comunidade. O papel da civilização 
será sempre o de conservar a ordem e dar segurança. Isso não quer dizer que os 
indivíduos nunca terão satisfação, mas satisfações sempre parciais. 
 
Já no trabalho “Futuro de uma ilusão” (FREUD, 1976), está contida uma 
certa desesperança com relação ao homem, pois ele vai entender que alguns homens 
não vão conseguir abrir mão de suas pulsões por questões de excesso delas ou por 
doenças, e vai apresentar problemas para a civilização. Desta maneira, a luta entre 
indivíduo e civilização será sempre infinda. Freud também irá apontar a religião como 
um importante mecanismo de freio para os impulsos instintuais do homem. Como 
se a religião se constituísse como um pai cuidador que oferece proteção, segurança e lei. 
3.3 Mal-estar na contemporaneidade 
Sobre os estudos da infância e da adolescência contemporâneas e sua noção de 
desenvolvimento pela luz da psicanálise, podemos nos perguntar se o olhar sobre a 
agressividade infanto-juvenil poderia ser tomado no sentido mais de uma expressão de 
saúde do que de doença, saindo um pouco da tendência ao negativo freudiano. Como 
explicar os processos de agressividade e delinquência juvenil pela psicanálise? 
 
Aberastury e Knobel (1970/1981), no livro “Adolescência Normal”, vão afirmar alguns 
aspectos da adolescência como normais e próprios ao caminho da organização psíquica, 
tais como: 
 
 agressividade, homossexualidade e esquizoidia; 
 a dificuldade de aprendizado, necessidade de busca de identidade e 
pertencimento a grupos; 
 imprescindibilidade em intelectualizar e fantasiar; 
 aspectos regressivos ao início do desenvolvimento; 
 impulsos sexuais, ações reivindicatórias com propensão à destruição e à 
agressividade; 
 maneiras ambivalentes de lidar com processos da vida; 
 separação gradual dos pais; 
 incisivas oscilações de humor, entre outras características. 
Estes autores enumeram essas características como um padrão esperado de apresentação 
nesta fase do desenvolvimento, para afirmá-las como manifestações normais da 
adolescência. 
 
Aberastury e Knobel (1981) entendem que a adolescência se constitui pelo intermédio 
entre a fase infantil e o tornar-se adulto, em que os sujeitos vão adquirindo um si 
mesmo a partir de referências internas parentais e possibilidades de 
exteriorização. Nesse momento, é o momento em que o adolescente vai buscar edificar 
outras relações fora das relações parentais. No constituir-se a si próprio, o jovem 
percebe que as suas orientações antigas infantis não lhes servem mais para lidar com as 
questões impostas pelo cotidiano. Sua autonomia e responsabilidade aumentam, de 
modo que, em alguns momentos, pode não ser capaz de enfrentar alguns processos. 
Além disso, a sexualidade vem de modo mais incisivo do que o repertório psicológico 
que possui para lidar com ela, e esse movimento pode levar à gravidez precoce, por 
exemplo. 
 
Para lidar com as suas questões existenciais, o jovem pode desenvolver mecanismos de 
defesa, tais como: MENTIR, ENGANAR, ESCONDER, ROUBAR, DESTRUIR. 
 
O embate adolescente, para estes psicanalistas, acaba no momento em que a identidade 
se edifica, especialmente com a decisão profissional (sua entrada efetiva no mundo 
adulto). No entanto, eles vão apontar para o aspecto da psicopatia, que é o contrário 
dessa vivência, que é quando o jovem fracassa na estruturação psíquica de seu luto 
da perda da infância e da construção de identidade, refreando a entrada na vida 
adulta. 
 
Na interlocução entre adolescência, delinquência e psicopatia, temos o psicanalista 
inglês Donald Winnicott, que é um autor muito utilizado e que tende a ver a 
agressividade com positividade. Winnicott escreveu o livro “Privação e Delinquência” 
(WINNICOTT, 1987/2005), em que entende que o apelo antissocial tende a se 
manifestar no ambiente desde as primeiras fases da vida de uma criança. É, assim, 
saudável que um sujeito expresse suas questões internas direcionadas ao meio em que 
vive. Mesmo que use o termo delinquência em seus estudos - termo que está carregado 
de simbologia negativa - Winnicott quer conservar uma visão positiva acerca das 
expressões de agressividade na adolescência: rebeldia e desobediência seriam 
manifestações do jovem em direção a sua autonomia. 
 
Para o autor, é preciso que haja um ambiente bom para que receba esses impulsos dos 
adolescentes em uma compreensão que saiba reconhecer que são demais as exigências 
que recaem sobre ele, e o conduza a redescobrir o bom ambiente. É, desta maneira, 
preciso que o ambiente lhe ofereça condições de tentar de novo. Em toda rebeldia, para 
Winnicott, existe o elemento de contestação de direitos, ainda que se expresse de 
maneira desorganizada. A adolescência é, por excelência, um período de construção de 
valores, sentidos, formas de ver a si mesmo, o outro e o mundo e será o ambiente a 
designar a avaliação da agressividade desses sujeitos. 
 
Para você que se interessou em saber um pouco mais sobre os impulsos de 
agressividade, não como uma tendência negativa do ser humano, mas como algo que se 
pode remeter à saúde, é recomendável o artigo da psicóloga e psicanalista, Cristina 
Rauter (2003) “Produção social do negativo: Notas introdutórias”. 
Assista aí 
4 Formação de identidades em sociedades contemporâneas 
Uma das críticas direcionadas à psicanálise seria ao fato de ela estar muito mais atenta 
aos processos psíquicos e a sua formação a partir das relações parentais, e incluir pouco 
a dimensão social do sujeito no espaço da clínica. 
 
No processo de estudo das histéricas, existia um contexto de repressão sexual da 
mulher na década de 20, por exemplo, não podemos dizer que o século XXI seja tão 
permeado assim por essas questões. O que se quer dizer é que o contexto social 
também atravessa os sujeitos e as suas manifestações psicopatológicas. 
 
Veremos aqui, neste capítulo, então, a formação das identidades no contexto atual. 
4.1 A construção das subjetividades 
A constituição das formas de ser de um sujeito está condicionada a diferentes fatores, 
tais como: aspectos inerentes do próprio sujeito, a sua trajetória de vida, a como se dão 
as suas relações afetivas, bem como ao contexto social, político, econômico e cultural 
que permeia a sua vida. 
 
Sabemos que o bebê, a partir do seu nascimento, vivencia as diferentes situações 
com muitos medos: não conhece ainda os recursos que existem ao seu redor para 
sobreviver. Ao longo da vida, vai construindo esses referenciais e descobrindo a sua 
capacidade, a partir dos graus de autonomia e confiança que o ambiente oferece. 
O corpo se desenvolve e a sua vida psíquica vai sendo dimensionada a partir da sua 
relação com o outro. No entanto, para a psicanálise, a vida psíquica de um sujeito não 
se estabelece a partir do nascimento, mas previamente, quando esta criança já é 
elaborada no discurso dos pais. A partir dos ideais, anseios e projeções dos pais, a 
criança vai sendo gestada antes mesmo de nascer. Podemos dizer que esse discurso 
prévio também vai compondo a personalidade e a formação de identidade da criança, e 
como ela se relaciona com estes anseios. 
 
Clique para abrir a imagem no tamanho original 
Figura 3 - Discurso prévioFonte: Highwaystarz-Photography, Istock, 2020. 
#PraCegoVer: A imagem mostra a barriga de uma mulher grávida passando creme na 
barriga. 
 
No momento em que o feto está sendo gestado na barriga da mãe, ele: escuta, sente, 
percebe a luz, os impactos emocionais da mãe, os modos de se alimentar,práticas 
cotidianas maternas, o pai e o ambiente. Quando nasce, se o ambiente é bom com 
cuidados, carinho e educação, tem condições de formar para si uma existência com a 
qual seja capaz de lidar. 
 
No contato do bebê com a mãe, vai sendo possível desenvolver aspectos inatos e 
inaugurar outros, por meio do afeto e da educação com o primeiro objeto real 
externo. Imitação, introjeção, projeção, reintrojeção são etapas conscientes e 
inconscientes pelas quais passam para estruturar seu aparelho psíquico, criando o 
mundo simbólico. Desta maneira, podemos dizer que a subjetividade é formada por 
elementos de ordem: INDIVIDUAL, FAMILIAR, SOCIAL E CULTURAL. 
 
A identidade da criança, assim, é esse caldo de interação entre: 
 
 os aspectos inatos, as suas potencialidades; 
 o discurso e desejo de seus pais engendrados antes de nascer e depois nas referências 
transmitidas; 
 e, por último, a qualidade das interações afetivas que promove no contexto 
sociohistórico em que vive. 
A terapêutica da psicanálise vai permitir analisar o processo de formação da identidade 
do sujeito por meio da identificação: o mecanismo de funcionamento do insconsciente, 
as suas projeções afetivas, manifestações da ansiedade, mecanismos de defesa que são 
erigidos, a organização do ego e do superego (se eles são capazes de lidar com o 
imperativo do inconsciente e o superego atua de maneira incisiva), um campo 
consistente de sustentação das frustrações, análise dos sonhos, vida interior e vida 
externa, impulsos agressivos e sexuais e suas possibilidades de contenção, aspectos 
regressivos, fixações, inibições, simbolizações dentro dos princípios do prazer e da 
realidade. 
 
Em termos da formação no aspecto social contemporâneo da criança, como pertencente 
a uma família e a uma comunidade, na relação com o social, é possível ver como a 
criança forma seus entendimentos de democracia, solidariedade, altruísmo, tolerância, 
conseguir estabelecer relações de afeto e aceitação com a diferença e com os iguais. 
Desde a mais tenra idade, vai se formando a estrutura para uma manifestação de 
personalidade mais dura ou libertadora, submissa ou autônoma, anárquica, democrática 
ou ditadora. 
 
As demonstrações psicopatológicas, de aprendizado ou sociais, até no que se refere à 
delinquência, podem também ser entendidas como manifestação de ansiedades, defesas, 
influenciadas pelo contexto cultural em que vivemos, nas formas de organização da 
sociedade. 
 
Infância e adolescência são fases em que os sujeitos estão em franco desenvolvimento 
biopsicossocial, o que representa as suas fragilidades frente aos estímulos internos e 
externos que formam a sua identidade. Estão, desta forma, prenhes de potencial 
destrutivo, criativo, de vida e de morte que precisam ser moldados, restringidos e 
estimulados pela cultura de seu tempo, por meio das suas leis, valores e normas. 
 
Desta feita, para compreendermos um pouco mais sobre a formação da identidade é 
importante explorar como se dá a relação com o outro na psicanálise e a própria noção 
de identidade. 
 
Assista aí 
4.2 A relação com o outro e a noção de identidade na psicanálise 
Somos seres interdependentes, ou seja, precisamos do outro para fabricar o nosso ser 
e a nossa identidade. O processo de constituição da identidade na relação com o outro 
se dá pelo processo de identificação. 
 
O processo de identificação se define como complexo, movente e dura a vida 
toda. Como já dissemos anteriormente, este processo tem começo no imaginário dos 
pais, antes mesmo da criança nascer, por meio de seus desejos para a criança e vai se 
desenhando por novos elementos que vão sendo inseridos durante a vida desse sujeito. 
 
A duração ao longo da vida se dá por uma permanente reorganização do ego frente aos 
pontos críticos que são exigidos do sujeito enfrentar, com outros direcionamentos da 
libido e mudanças em valores e ideias, muito guiadas pelos valores de referência 
criados na infância e adolescência. 
 
De acordo com Laplanche e Pontalis (2001, p.132) “a identificação é "um processo 
psicológico pelo qual um sujeito assimila um aspecto, uma propriedade, um atributo do 
outro e se transforma total ou parcialmente, a partir daquele modelo". Isto significa que 
a criança, por meio da identificação, pode se organizar em torno de limites e 
possibilidades de expansão no que diz respeito a ela mesma e ao mundo ao seu redor. 
 
São estruturações e reestrurações permanentes de elaborações, lutos e mudanças 
que ocorrem no psiquismo, em grande medida, inconscientes. Todo este movimento 
dá ao sujeito a noção de um si mesmo, de uma identidade. Ainda que sejamos diferentes 
e semelhantes em alguns aspectos, existe este movimento comum que nos permite a 
todos girar em torno da passagem por estes processos. É um entendimento de disposição 
psicológica em que Freud trabalhou muito em suas obras. 
 
O bebê nasce em uma circunstância de dependência integral e vai caminhando 
para se constituir enquanto ser autônomo gradualmente, isto é, passa de um estágio 
em que se coloca entre o eu e o não eu, até o momento em que pode dizer “eu sou”, se 
pondo frente as suas escolhas de vida. 
 
A identidade, por assim dizer, é efeito de múltiplas identificações parciais, em que 
podemos nos defrontar com uma pluralidadade de pessoas psíquicas em uma mesma 
pessoa, levando em consideração questões afetivas que vão oscilando, modificando, às 
vezes de modo contraditório ou dialogando entre si. A identidade se fabrica por meio 
das relações sociais em que se avistam influências entre as estruturas mentais e a 
sociedade. Além disso, é preciso considerar as fantasias inconscientes, elementos 
econômicos, dinâmicos e estruturais da mente, bem como o espaço que existe na mente 
para as questões dos ritos, dos mitos, das utopias e do real. 
 
Ética, moral, superego, delinquência, democracia se apresentam como noções que se 
interrelacionam entre si na produção da subjetividade e identidade do indivíduo, sendo 
formado por inúmeros fatores, afinados entre si ou não, na organização e formação do 
aparelho psíquico. Desta interação recorrente entre as potencialidades do ser e suas 
relações afetiva, educacional, histórica, econômica, social e política advém o indivíduo 
com as suas potencialidades relacionais. 
É ISSO AÍ! 
Nesta unidade, você teve a oportunidade de: 
 compreender o funcionamento da clínica atual das depressões pela perspectiva da 
psicanálise; 
 entender como a relação do homem consigo mesmo e com o outro é afetada pela 
dinâmica de funcionamento do contemporâneo; 
 conhecer como a psicanálise estuda os fenômenos da agressividade e da 
violência; 
 entender como se dá a formação de identidade para a psicanálise; 
 estudar a noção de identidade e a relação com o outro na formação de identidade 
no contemporâneo. 
REFERÊNCIAS

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