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26 Coisa Julgada

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COISA JULGADA
Consequência, efeito da decisão, desdobrando-se em dois efeitos:
· Negativo: impedimento a que esse tema seja novamente colocado em discussão;
· Positivo: obrigação da observação do que foi decidido, tendo força de lei (art. 503).
Porém, não se tratam de efeitos peremptórios, absolutos, havendo exceções.
São os requisitos/pressupostos pra sua existência:
· Existência de decisão, não necessariamente de mérito, podendo ser sentença, acórdão ou mesmo decisão de incidente. Precisam apenas ser tomadas com cognição exauriente/plena, presentes todos os elementos para que o juiz analise a totalidade do processo, a fundo, não sendo sumária ou sumaríssima (cuja fase instrutória inexiste, sendo a instrução pré-processual, gerando coisa julgada apenas no procedimento específico, não no ordinário). Não geram coisa julgada, por exemplo, as tutelas provisórias;
· Trânsito em julgado.
Pode ser:
· Formal: dentro do mesmo processo, produzindo a indiscutibilidade daquele procedimento;
· Material: indiscutibilidade/estabilidade do conteúdo da decisão, não podendo ser revisto em qualquer outro processo. 
Efeitos
São suas limitações:
Subjetivo
Regra geral produz efeito inter partis, porém, pode atingir terceiros, havendo, por exemplo, devedores solidários (cuja legitimidade extraordinária é dada pela lei ou pela vontade das partes) que podem ser cobrados por serem integralmente co-responsáveis pela obrigação. O mesmo ocorre nas situações de substituição processual (legitimidade extraordinária, dada pela lei), processo coletivo, a exemplo da OAB ou um sindicato entrar com processo representando os trabalhadores da área, atingindo-os. O mais comum é a desconsideração da personalidade jurídica, pois as decisões tomadas contra a PJ sempre podem produzir efeitos contra o sócio.
Objetivo
O que se torna indiscutível pela coisa julgada. Para sua definição é preciso lembrar a diferenciação entre as questões principais e incidentais postas pelas partes para serem observadas no processo:
- Incidentais
 Postas como fundamento para a solução da questão principal, sendo objeto apenas da cognição do juiz compondo seu objeto de conhecimento, sendo conhecidas mas não decididas por ele, compondo o objeto do processo.
- Principais
Postas para que sobre elas haja a decisão, sendo objeto da cognição e do julgamento do juiz, compondo seu objeto de conhecimento e também de julgamento (thema decidendum), compondo o objeto litigioso do processo, que está dentro do objeto do processo.
Para doutrina tradicional a questão principal, que compõe o objeto litigioso do processo, é o pedido, enquanto doutrina majoritária defende sê-lo o pedido identificado com a causa de pedir, em razão, inclusive, da exigência de identidade entre eles. De qualquer forma, aqui estaria englobado também o pedido feito pelo réu.
Para Didier, porém, a participação do réu na formação do objeto litigioso do processo não ocorre apenas quando ele apresenta demanda contra o autor mas também quando exerce contradireito em sua defesa, a exemplo da compensação e exceção do contrato não cumprido, pois o juiz também decidirá sobre sua existência.
De qualquer forma, em regra, apenas as questões principais são cobertas pela coisa julgada (art. 503). Isto pode acontecer, porém, com a questão incidental, quando seja prejudicial à incidental, ou seja, quando (§ 1º):
I. Dessa resolução depender o julgamento do mérito;
II. “A seu respeito tiver havido contraditório prévio e efetivo, não se aplicando no caso de revelia”, pois nos casos em que ela se verifica a cognição, o contraditório, ainda não foi feito de modo exauriente;
III. O juízo tiver competência em razão da matéria e da pessoa para resolvê-la como questão principal.
São situações em que a questão incidental precisa ser decidida para a resolução da principal, sendo prejudicial a ela.
§ 2º - Isto “não se aplica se no processo houver restrições probatórias ou limitações à cognição que impeçam o aprofundamento da análise da questão prejudicial”.
É possível dizer, então, que a questão principal sujeita-se ao regime comum de coisa julgada, enquanto a incidental sujeita-se a regime especial.
Deste modo o que é afetado pela coisa julgada é a norma individualizada na decisão, sua aplicação ao caso, não os fatos ou fundamentos, visto que a lei pode ser alterada (art. 504). Assim, é possível a produção de coisa julgada sobre matéria processual (como perempção e prescrição) ou substancial (não sendo, então, possível, levar a fundo o disposto no art. 502), decisões interlocutórias ou sentenças. 
Os efeitos só se produzem sobre pedidos implícitos, apesar de existirem os explícitos.
- Coisa julgada parcial
Verificada quando o juiz observa várias questões (tratando-se de objeto litigioso complexo/composto), decidindo apenas parte delas. 
O trânsito em julgado pode ser parcial e decorre da última decisão do processo, produzindo efeitos a cada pessoa ou matéria, podendo inclusive se provisoriamente executados, eventual apelação suspendendo o processo apenas quanto à parte transitada.
Assim, um mesmo processo tendo objetos litigiosos principais e incidentais pode produzir coisa julgada em momentos distintos, possibilitando seu cumprimento ou execução em momentos distintos.
O CPC não estabelece quando inicia o prazo para a propositura de ação rescisória, diante de várias decisões e coisa julgada múltipla, dispondo apenas que seu prazo prescricional começa a contar da ultima decisão do processo (art. 975). Para Didier, caso entenda-se que esta decisão é a última em todo o processo, sendo possível propor ação rescisória em qualquer momento durante o processo, após o transito em julgado de cada decisão do processo, seria atentatório à segurança jurídica, pois questões decidas a anos poderiam ser rediscutidas. Assim, o entendimento de que trata-se da última decisão sobre a questão decidida encontra-se em maior consonância com as disposições do CPC, atendendo também à igualdade, visto que, havendo coisa julgada parcial e possibilidade de execução da definitiva da decisão e o credor não a promove no prazo prescricional, há a prescrição intercorrente (art. 924, V), sendo injusto que para o devedor não transcorre o prazo para a ação rescisória.
São as possibilidades em relação à formação do processo, os regimes de formação da coisa julgada:
Pro et contra
Regra geral, forma-se independentemente da procedência ou não do pedido, não sendo afetada por esta estrutura do processo.
Secundum eventum litis
“Segundo resultado do processo”. Depende do resultado para ser formada. É o que costuma ocorrer no processo penal, no qual a sentença condenatória sempre pode ser revista em favor do réu, não produzindo coisa julgada.
Secundum eventum probationis
Depende do exaurimento de todas as provas, o que se observa pela procedência da demanda, de modo a não produzir coisa julgada a decisão que determina a improcedência do pedido pela insuficiência de provas. É característico da legitimidade extraordinária, podendo a parte representada, titular do direito, rediscutir a questão se o representante o perdeu, como ocorre nos processos coletivos (art. 103 CDC), na ação popular (art. 18, lei 4.717/65) e no mandado de segurança individual ou coletivo (art. 19, lei 12.016/09).
Às vezes, a coisa julgada é pro et contra, mas a sua extensão a terceiros dá-se secundum eventum litis, como ocorre em ação:
· Proposta por credor solidário: é pro et contra, mas somente se estende aos demais credores se favorável (art. 274 CC);
· Coletiva: é pro et contra, mas somente se estende ao plano individual se favorável ao indivíduo (art. 103, CDC).
Coisa jugada e negócios processuais
Os acordos/negócios jurídicos processuais também produzem coisa julgada, como sentenças que homologam ou reconhecem algo.
Didier observa 5 possibilidades de negócio jurídico em torno da coisa julgada (não necessariamente sobre ela):
· Para rever, rescindir ou invalidar a decisão transitada em julgado: não é permitido, pois as partes não podem desfazer, negocialmente, um ato estatal, uma declaração judicial;· Sobre os efeitos da decisão: renúncia ao crédito reconhecido judicialmente, sendo possível que pessoas divorciadas voltem a casar-se, por exemplo. É
· Sobre exceptío rei iudicatae: a parte renuncia ao direito de opor a exceção da coisa julgada, em eventual demanda que lhe seja dirigida;
· Sobre o direito à rescisão: renúncia a ele, à semelhança do que ocorre com o direito ao recurso. Não se trata de negócio processual, pois se renuncia o direito postestativo material à rescisão da decisão. É permitido;
· Para afastar a coisa julgada: as partes resolvem que a questão pode ser novamente decidida, ignorando a coisa julgada anterior, impedindo que o juiz conheça de ofício a existência da coisa julgada anterior. É permitido, com base no art. 190. Para Eduardo José da Fonseca Costa, porém, tal acordo seria ineficaz, visto que as partes estariam dispondo de direito do juiz, não seu. Para Didier, porém, esta é exatamente a finalidade dos acordos processuais, a exemplo daqueles que desistem da demanda, impedindo o juiz de julgá-la. 
Flexibilização
Além da ação rescisória, para revisão da coisa julgada, é possível a querella nulitatis, ação para apontar nulidades do processo, anulando, logo, a decisão. Já eventuais erros materiais podem ser corrigidos a qualquer tempo, por petição simples (impugnação a erro material), o que também flexibiliza a coisa julgada. Por fim, as declarações de inconstitucionalidade de lei podem levar à revisão de decisões inconstitucionais.
Por este motivo a coisa julgada não é imutabilidade definitiva, mas pretensão de estabilidade.

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