Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 1 Disciplina Análise de Impacto Ambiental Tema Identificação e valoração de impactos ambientais Professor Wanessa Priscila David do Carmo Conversa inicial Olá! Nesta aula, estudaremos a identificação dos impactos ambientais e suas respectivas classificações. Também veremos o que é a valoração ambiental e porque é importante rotular o meio ambiente com um valor monetário, por mais curiosa que esta ação possa parecer. Bom estudo! (Vídeo 1 disponível no AVA.) Contextualizando O projeto de transposição do rio São Francisco é uma das obras ambientais e politicamente polêmicas no Brasil. É um projeto antigo, já que desde 1847 já existia uma preocupação em relação a constante seca do Nordeste e, tendo esta problemática em vista, o Império Brasileiro já idealizara uma possível transposição das águas para a solução dessa dificuldade. Porém, devido à precariedade dos recursos na época, o projeto não foi iniciado. Em 1985, ele foi formalmente concebido pelo hoje já extinto Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS), sendo em 1999 transferido para o Ministério da Integração Nacional. O rio São Francisco nasce na Serra da Canastra em Minas Gerais e possui cerca de 2,7 mil km de extensão que passa por cinco Estados brasileiros e deságua no Oceano Atlântico, na divisa entre Sergipe e Alagoas. O projeto pretende captar 63,5 m³/s de água do rio (3,5% da vazão disponível) e transferi-la para outras bacias situadas em Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, através de um sistema de canais, estações de bombeamento, pequenos reservatórios e usinas hidrelétricas. O objetivo CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 2 principal é sanar a deficiência hídrica na região do semiárido através desta transferência de água. Estima-se que 12 milhões de pessoas de 390 municípios do Ceará, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte serão beneficiadas no consumo de água. Muitos argumentam que a transposição do rio São Francisco é demasiado cara e não será capaz de suprir a necessidade da população da região, uma vez que o problema não seria o déficit hídrico, mas sim a má administração dos recursos existentes por partes de estados e municípios. Para alguns especialistas, o problema da seca poderia ser resolvido com a conclusão das obras de distribuição que estão paradas nos municípios contemplados pela obra de transposição, a um custo muito mais barato e viável do que a transposição. Discussões políticas à parte, as obras foram oficialmente iniciadas em 2007, com sua conclusão prevista para 2012. A obra sofreu atrasos e a conclusão foi postergada para 2017. Na questão ambiental, esta transposição também gera polêmica, pois, devido à sua grandiosidade, os impactos ambientais seguem tamanha proporção. Os impactos gerados foram documentados no EIA/RIMA da transposição do rio São Francisco, que foi publicado em 2004 (ECOLOGY BRASIL/AGRAR/JP MEIO AMBIENTE). Neste relatório, os impactos foram classificados em positivos e negativos, e também classificados quanto à fase do empreendimento que ocorrerão: Fase de Planejamento, de Construção e de Operação. Veremos no decorrer da aula alguns impactos relatados neste estudo e, ao final da aula, você deverá responder se foi um impacto negativo ou positivo e em qual fase do empreendimento possivelmente ocorrerá ou ocorreu este impacto. Os primeiros impactos são referentes ao meio socioeconômico que relatam um aumento na produção alimentícia, uma vez que a irrigação do campo e do abastecimento para rebanhos acabaria com a baixa produtividade no campo. Que tipo de impacto é este? Em qual fase ele se enquadra? CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 3 Acidentes relacionados com a população e possibilidade de interferência com populações indígenas também foram relatados como um impacto para toda a região das obras. Na questão ambiental, há um risco de introdução de espécies de peixes potencialmente daninhas ao homem nas bacias receptoras, como, por exemplo, a piranha, além da proliferação de vetores de doenças. (Vídeo 2 disponível no AVA.) Tema 1: Introdução Como já estudamos nos temas anteriores, os órgãos ambientais estabelecem estudos obrigatórios para determinados empreendimentos, como o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). Estes são etapas exigidas para concessão de licenças das atividades listadas nas Resoluções nº 001/86, e para aquelas consideradas efetivas ou potencialmente causadoras de significativa degradação do meio ambiente, conforme Resolução nº. 237/97 do mesmo órgão (Figura 1) Exemplo: projetos como a construção de rodovias, portos, minas, ferrovias, hidrovias e aeroportos exemplos das atividades listadas nestas resoluções. O principal objetivo do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) é identificar, analisar e avaliar os impactos ambientais gerados por atividades potencialmente poluidoras, bem como propor as medidas mitigadoras e planos de monitoramento. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 4 Figura 1 – Principais etapas na execução de um estudo de Impacto Ambiental Fonte: Adaptado (SÁNCHEZ & HACKING, 2002) O projeto em análise nos leva a formular hipóteses a respeito de modificações ambientais que podem ou não serem provocadas no projeto em análise. Esta ação é a identificação de impactos, o primeiro passo a ser tomado para um correto Estudo de Impacto Ambiental, onde essa identificação é realizada através da confecção de uma lista de possíveis impactos. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 5 Tema 2: Impactos ambientais Estudamos no tema 1 que impacto ambiental, de acordo com a Resolução 001/1986 do CONAMA, pode ser definido como: (...) qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetem: a saúde, a segurança e o bem-estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; a qualidade dos recursos ambientais. Vimos também que existem diferentes tipos de impactos. Hoje, para ampliar nosso conhecimento, vamos nos aprofundar nas definições de impacto ambiental, que podem ser visualizadas na tabela 1: TIPO DE IMPACTO QUANTO À DESCRIÇÃO CLASSIFICAÇÃO MAGNITUDE É a extensão do efeito de determinada ação sobre a característica ambiental, em escala espacial e temporal. Grande (alta), média ou pequena (baixa) SIGNIFICÂNCIA Indica a importância do impacto no contexto da análise. Se a importância apresentar níveis elevados, o impacto é grandemente significativo; se apresentar níveis médios é medianamente significativo; e, finalmente, se a magnitude e/ou a importância forem pequenas, o impacto poderá ter pouca significância. Alta (grandemente significativo), média (medianamente significativo) ou baixa (pouca significância) NATUREZA Indica quando o impacto tem efeitos benéficos/positivos (POS) ou adversos/negativos (NEG) sobre o componente socioambiental. Benéficos/positivos ou adversos/negativos CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 6 FORMA Indica se o impacto ambiental é direto ou indireto. O impacto pode ser decorrente de uma ação do Empreendimento, ou se é um impacto indireto, decorrente de um ou mais impactos gerados diretamente ou indiretamente, ou quando é parte de uma cadeia de reações. Direto ou indireto TEMPORALIDADE Indica se o impacto ambiental ocorre de forma imediata, de médio ou longo prazo. Imediato, médio ou longo prazo DURAÇÃO/ CONSTÂNCIA Indica se o impacto ambiental é permanente ou temporário. Temporárioou permanente ABRANGÊNCIA Indica se os efeitos dos impactos se fazem sentir localmente ou regionalmente, sendo este último determinado quando a ação é sentida além das imediações do local do empreendimento Local ou regional REVERSIBILIDADE Indica se o impacto ambiental em questão é reversível ou irreversível. Permite identificar que impactos poderão ser integralmente evitados ou poderão apenas ser mitigados ou compensados. Reversível ou irreversível EFEITO (CUMULATIVIDADE) Classifica os impactos em cumulativo ou sinérgico. Um impacto é considerado cumulativo quando resulta da soma de outros impactos gerados por um ou mais empreendimentos isolados, porém em um mesmo sistema ambiental, seja por ações passadas, presentes ou futuras. Já o impacto sinérgico é o resultante da presença simultânea de um ou mais fatores, inclusive de outros empreendimentos, cuja associação não apenas potencializa a sua ação, como também produz um efeito distinto. Cumulativo ou sinérgico CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 7 IMPORTÂNCIA Grau de interferência do impacto ambiental sobre diferentes fatores ambientais. Ela é grande, média ou pequena, na medida em que tenha maior ou menor influência sobre o conjunto da qualidade ambiental local. Grande, média ou pequena (Vídeo 3 disponível no AVA.) Tema 3: As diferentes fases dos empreendimentos Os impactos no meio ambiente provocados por empreendimentos ocorrem de maneira diferenciada nas distintas fases do projeto. O detalhamento correto do que ocorrerá em cada etapa do projeto facilita a identificação dos impactos que possam vir a ocorrer durante todo o projeto, desde seu planejamento até o fechamento (quando esta etapa for cabível ao empreendimento). SÁNCHEZ (2008) exemplifica alguns empreendimentos e seus respectivos impactos e fases que estes impactos devem ocorrer: 1) Principais atividades de um empreendimento de mineração: a. Fase de pesquisa e planejamento i. Contratação de pessoal ii. Abertura de vias de acesso iii. Instalação de acampamentos iv. Perfuração e coleta de amostras b. Fase de Implantação i. Implantação do canteiro de obras ii. Encomenda de máquinas e equipamentos iii. Remoção da vegetação iv. Instalação de linha de transmissão de energia elétrica ou gerador c. Fase de operação i. Britagem ii. Estocagem do minério iii. Expedição CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 8 iv. Transporte d. Fase de desativação i. Preenchimento das escavações ii. Revegetação e recuperação de áreas degradadas iii. Desmontagem das instalações iv. Dispensa da mão de obra 2) Principais atividades de um empreendimento rodoviário: a. Fase de planejamento i. Divulgação do empreendimento ii. Declaração de utilidade pública e anúncio das desapropriações iii. Investigações geotécnicas preliminares, levantamentos topográficos e cadastrais b. Fase de Implantação i. Contratação de serviços ii. Abertura de vias de acesso iii. Transporte de máquinas até os locais c. Fase de operação i. Conservação e manutenção da via ii. Controle de operações iii. Circulação de veículos Você notou que são diferentes empreendimentos, ambos altamente impactantes, mas cada um possui diferentes ocorrências nas suas diferentes fases de execução? Sim, e é por isto que a especificidade da obra deve ser levada em conta no momento do planejamento dos impactos ambientais e suas respectivas fases. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 9 Tema 4: Identificação dos impactos ambientais É uma fase de extrema importância para o projeto e a equipe deve conhecer perfeitamente cada método de avaliação e sua correta aplicabilidade. Impactos significativos podem decorrer de ações realizadas em diferentes etapas do empreendimento e, por isso, é necessário que durante a elaboração deste mapeamento de possíveis impactos, sejam analisadas todas as etapas do ciclo de vida de um empreendimento. (Vídeo 4 disponível no AVA.) Tema 5: Valoração do dano ambiental Determinar o valor econômico de um recurso ambiental é estimar o valor monetário deste em relação aos outros bens e serviços disponíveis na economia (SEROA DA MOTTA, 1998). Para a economia, o valor de um recurso ambiental é a contribuição do recurso para o bem-estar social, enquanto bem-estar é a atividade de consumo. Baseando-se nesta premissa, de acordo com Seroa da Motta (1998), a taxonomia geral do valor econômico do recurso ambiental é explicada pela figura 2: CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 10 Figura 2 – Taxonomia geral do valor econômico do recurso ambiental Fonte: Adaptado (SEROA DA MOTTA, 1998) Segundo Seroa da Motta (1998), o valor econômico dos recursos ambientais (VERA) pode ser expresso da seguinte forma: VERA = (VUD + VUI + VO) + VE (Vídeo 5 disponível no AVA.) CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 11 Contextualizando – resposta Após o período de estudo, responda ao desafio apresentado inicialmente. a) O aumento na produção alimentícia seria um impacto positivo na fase de construção. b) Acidentes relacionados com a população e possibilidade de interferência com populações indígenas são impactos negativos que ocorrerão na fase de planejamento. c) O risco de introdução de espécies nas bacias receptoras e proliferação de vetores é um impacto negativo e ocorrerá na fase de operação do empreendimento. Feedback a) O impacto é positivo sim, mas o impacto ocorrerá na fase de operação do empreendimento. b) O impacto é negativo sim, porém poderão ocorrer na fase de construção do empreendimento. c) Resposta correta. Finalizando Com a correta apresentação dos impactos, é possível obter uma avaliação mais precisa e confiável dos impactos gerados, mitigando aqueles que forem negativos ao meio ambiente. Abordamos a necessidade da valoração do impacto ambiental e todas as suas componentes. Até a próxima! (Vídeo 6 disponível no AVA.) CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 12 Referências BRASIL. Resolução CONAMA Nº 001, de 23 de janeiro, 1986. BRASIL. Resolução CONAMA Nº 237, de 19 de dezembro, 1997. ECOLOGY BRASIL/AGRAR/JP MEIO AMBIENTE. RIMA do projeto de integração do rio São Francisco com bacias hidrográficas do nordeste setentrional. Preparado para o ministério da integração nacional, 2004. SANCHEZ, L.E. Avaliação de Impacto Ambiental. Conceito e Métodos. 495 p. Editora Oficina de Textos, 2008. SANCHEZ; L.E.; HACKING, T. An approach to linking environmental impact assessment and environmental management systems. Impact Assessment and Project Appraisal 20 (1), 25-38, 2002. SEROA DA MOTTA, R. Manual de Valoração Econômica de Recursos Ambientais, MMA/IPEA, Brasília, 1998. https://scholar.google.com/citations?view_op=view_citation&hl=pt-BR&user=xM6JmOcAAAAJ&citation_for_view=xM6JmOcAAAAJ:2osOgNQ5qMEC https://scholar.google.com/citations?view_op=view_citation&hl=pt-BR&user=xM6JmOcAAAAJ&citation_for_view=xM6JmOcAAAAJ:2osOgNQ5qMEC
Compartilhar