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FILOSOFIA E FILOSOFIA DO DIREITO Tema: Introdução à Filosofia do Direito Prof. : Dr. Gustavo Calovi PENSANDO A FILOSOFIA DO DIREITO: Perguntar sobre a filosofia do direito é, antes de tudo, perguntar sobre a própria filosofia, para apenas depois tratar daquilo que lhe seja especificamente jurídico. Mas o que pode ser considerado por filosofia? A filosofia é pensamento sistemático, radical e pleno – uma região geograficamente muito variável do conhecimento humano. A filosofia é identificada, contemporaneamente, como uma TRADIÇÃO CONSOLIDADA de pensamentos, temas, ideias, métodos, indagações e conclusões. Além disso, é uma disciplina universitária, estabelecida e especificada em relação aos demais ramos do conhecimento Graças a essa constância de girar em torno de si mesma e de sua tradição, a filosofia se torna, fundamentalmente, a história da filosofia. Retomar sempre essa história da filosofia é o próprio modo por excelência de penetrar no círculo de debates filosóficos. Um jurista, a princípio, não é considerado filósofo do direito apenas por ser jurista ou por lidar quotidianamente com as injustiças. É O ATRITO DO DIREITO COM A TRADIÇÃO DA HISTÓRIA DA FILOSOFIA QUE CONSTITUI A FILOSOFIA DO DIREITO. Há uma dupla estrutura na filosofia: é uma tradição sistematizada, cujo rol de pensamentos é a sua própria história, mas, ao mesmo tempo, a filosofia é a extração mais radical e profunda do pensamento humano a respeito de si e do mundo. Filosofia não é só a somatória do pensamento já estabelecido do mundo sobre si mesmo. A filosofia pode ser um extrato distinto do todo da tradição do pensamento. Em muitos momentos, ela chega a ser até mesmo o contrário do pensamento estabelecido. A filosofia é um ENFRENTAMENTO do pensamento e da realidade. Considerar a filosofia como um abrir-se ao mundo, no sentido de confirmá-lo, negá-lo ou superá-lo, é tornar a inserir o pensamento no todo histórico e social, do qual ele é provisoriamente tirado para que seja sistematizado e aprofundado. A filosofia é uma forma de PRÁXIS, e nisso Karl Marx fincou a divisa mais alta dos horizontes do pensamento filosófico. Ninguém se põe a estudar e a sistematizar o pensamento como modo neutro de catalogar o conhecimento Há um nexo necessário entre o pensar e a realidade. Filosofia não é apenas a elaboração que se referencie a partir do já dado. ELA É TAMBÉM O NOVO que abala totalmente o senso filosófico estabelecido, ainda que haja posteriormente a incorporação do novo pelo cânone filosófico da tradição. A filosofia é a vida filosófica em ato. A filosofia se torna a vigorosa FERRAMENTA DE TRANSFORMAÇÃO HISTÓRICA E SOCIAL. Assim sendo, ela contribui para a PRÁXIS SOCIAL na medida de sua irresignação com os limites do dado. Apontar possibilidades. Busca superar da verdade consolidada. Assim sendo, o original do pensamento está em ver, no próprio mundo, o que o mundo ainda não é. Essa é a humildade maior que é também a grandeza maior da filosofia: seu lastro no próprio mundo inclusive para negá-lo e para apontar as novas possibilidades. Filosofia do direito não é uma disciplina jurídica, mas é a própria filosofia voltada para uma ordem de realidade, que, segundo Miguel Reale, é uma “REALIDADE JURÍDICA” Sobre a História da Filosofia do Direito A filosofia, ao mesmo tempo em que é uma sistematização do pensamento, é um enfrentamento do próprio pensamento e do mundo. Tudo isso pode se aplicar a objetos específicos da própria filosofia, como o direito. E, assim sendo, A FILOSOFIA DO DIREITO NADA MAIS É QUE A FILOSOFIA GERAL COM UM TEMA ESPECÍFICO DE ANÁLISE, O DIREITO. A ESPECIFICIDADE DA FILOSOFIA DO DIREITO: Para que na multiplicidade do pensamento se identifique a filosofia do direito, exige se uma DUPLA ESPECIFICIDADE: ela é um RAMO ESPECÍFICO da filosofia geral e o máximo pensamento possível sobre o próprio direito. Distinguir a filosofia do direito tanto da filosofia geral quanto do pensamento jurídico comum é a TAREFA INICIAL da sua Filosofia do direito e filosofia: O problema inicial da filosofia do direito ESTÁ NA ESPECIFICIDADE DO QUE SE POSSA CONSIDERAR POR DIREITO. A depender dos juristas, essa questão historicamente não se resolve de modo uníssono. Para alguns, o fenômeno jurídico se circunscreve às normas estatais. Para outros, as apreciações sobre o justo também entram na composição do direito. A filosofia do direito não se limita à resposta do jurista sobre o próprio direito, na medida em que se estende para além da compreensão média do operador do direito sobre si próprio e sua atividade. Assim, a filosofia do direito pode desvendar conexões íntimas entre o direito e a política, o direito e a moral, o direito e o capitalismo, que escapam da visão mediana do jurista. Assim sendo, em se tratando de um OBJETO HISTÓRICO VARIÁVEL SOCIALMENTE E VARIÁVEL TAMBÉM A DEPENDER DA VISÃO FILOSÓFICA, haverá sempre conexões entre a filosofia do direito com outros objetos específicos da própria filosofia que lhe sejam próximos e cujas fronteiras sejam porosas. Exemplo: Conexões entre o direito e a política; direito e a moral, direito e o capitalismo. Assim, podemos dizer que a filosofia do direito é irmã da filosofia política. Filosofia do direito e O direito Além de ser um objeto específico da filosofia geral, lastreado em seus métodos, a filosofia do direito deve ser especificada em relação ao próprio pensamento jurídico. DURANTE GRANDE PARTE DA HISTÓRIA, COM A INDISTINÇÃO DO DIREITO EM RELAÇÃO À POLÍTICA, à ética, à moral e à religião, os discursos mais amplos sobre o direito, que não era ainda eminentemente técnico, eram tidos por filosofia do direito. Com o capitalismo (1750), a contar da modernidade, o direito adquire uma especificidade técnica. Ele passa a ser considerado a partir do conjunto das normas jurídicas estatais. Um assunto como o da norma jurídica é tomado, quase sempre, como assunto de teoria geral do direito – sendo ensinado, pois, na disciplina universitária da Introdução ao estudo do direito. A reflexão sobre o justo, por sua vez, se a deixa reservada à disciplina universitária chamada por Filosofia do direito. Mas não se podem estudar as duas questões como isoladas e alheias entre si, academicamente bem instaladas em duas disciplinas específicas e insulares. Um pensamento de juristas ou de filósofos? Quase sempre o filósofo generalista desconhece o direito. E o jurista, por sua vez, nunca se conformou em ser apenas um prático jurídico sem vislumbrar as razões maiores e últimas de sua atividade. Por isso, em várias ocasiões, a filosofia do direito acaba sendo um produto de juristas filósofos. A filosofia do direito, assim, alimenta uma dúplice exigência: o conhecimento profundo do direito e o conhecimento profundo da filosofia. Na realidade contemporânea, no entanto, a atividade jurídica e o pensamento conservador e positivista afastam do jurista uma formação profunda e ampla de filosofia. O jurista filósofo, ao fazer filosofia do direito, é filósofo 14 Ao sistematizar o todo do pensamento jurídico, a filosofia do direito esclarece o que é dado. Mas, o direito não é dado apenas no seu aspecto interno, no seu afazer de juristas. Ele se manifesta socialmente, de modo histórico, a partir de determinadas estruturas e relações sociais. A filosofia do direito se ocupa das relações sociais que são constituintes e constituídas pelo direito, e isso envolve também o campo da APRECIAÇÃO DO DIREITO ENQUANTO MANIFESTAÇÃO DO JUSTO E DO INJUSTO NA SOCIEDADE. Sendo uma provocação ao direito e ao mundo, a filosofia do direito aponta as razões estruturais e o caráter injusto ou justo do direito e do próprio mundo. O pensar o direito em termos radicais exige o pensar a própria sociedade e a história em termos radicais, até porque as mazelas e estruturas de exploração são conexas. O vigor de pensar e apontar o injusto e o justo faz da filosofia do direito a razão que vai além. Nesse momento, o maior pensamento jurídico não é só umaexplicação profunda do direito, É O ENFRENTAMENTO DO DIREITO E DA SOCIEDADE, PORQUE SOMENTE POR MEIO DA TRANSFORMAÇÃO O QUE É INJUSTO PODERÁ RESULTAR EM ALGUMA FORMA DE JUSTO. Sobre a História da Filosofia do Direito Enquanto estudo sistemático, a filosofia do direito desemboca, necessariamente, numa história da filosofia do direito, por duas razões fundamentais. A primeira delas é que o estudo histórico da filosofia enrijece a disciplina, em seu conhecimento, para os fins didáticos e de aprendizado. O rigor estrutural da história da filosofia do direito permite a solidez do aprofundamento das ideias e mesmo dos posteriores contrastes entre tais ideias. A compreensão da filosofia do direito é a compreensão de sua história por conta da multiplicidade de visões sobre o direito e o justo, que não é devida apenas ao caráter insular de cada filósofo do direito, mas, principalmente, pelo fato de que, sendo um objeto histórico-social variável, o direito não é o mesmo em todos os tempos históricos. Só se pode iniciar o estudo da filosofia do direito como história da filosofia do direito porque o pensamento jurídico não é um todo de posições que tenha sido sempre rigidamente demarcado, sem variações. A história da filosofia do direito referencia os mais importantes quadrantes do que se pensa sobre o direito e a justiça. O recurso à história da filosofia do direito é sistemático e didático, na busca de conhecer profundamente cada pensamento jusfilosófico. CADA FILÓSOFO DO DIREITO É UMA FILOSOFIA DO DIREITO. Tomado nesse sentido amplo, pode-se falar de DUAS GRANDES MANIFESTAÇÕES DE FILOSOFIA DO DIREITO. Uma que, desde o passado longínquo, a partir do surgimento de um mínimo pensamento filosófico sistematizado, até chegar à Idade Moderna. Nas idades Antiga, Medieval e mesmo em boa parte da Idade Moderna, NÃO HÁ UM DIREITO COMO OBJETO ESPECÍFICO E INSTÂNCIA PARTICULAR DO TODO SOCIAL. Há uma apreciação do direito muito próxima da religião, da ética, da moral, e por isso uma certa indistinção entre todos esses fenômenos. Já na Idade Contemporânea, com a especificidade plena do direito no quadro da sociedade capitalista, pode-se então vislumbrar também uma específica filosofia do direito como sua decorrência. O capitalismo dá especificidade ao direito, e, por conta disso, pode-se dizer que somente a partir daí há uma filosofia do direito como tal. Resumindo: Dá Grécia antiga até a modernidade, o direito está numa relação de proximidade da religião, ética, moral, etc. Já na contemporaneidade ocorre o processo de especificação plena do Direito a partir da situação que se modifica com o surgimento do Capitalismo. QUESTÕES: Produza um texto, entre 12 e 15 linhas, fazendo uso de 1 citação indireta, que contemple os seguintes itens: 1) De que modo Filosofia geral e Filosofia Direito estão relacionados? 2) A filosofia é uma ferramenta de transformação social? 3) De que forma podemos explicar que o objeto de estudo da Filosofia do Direito é socialmente e historicamente variável? 4) De que modo o capitalismo se relaciona com a Filosofia do Direito.
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