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GESTÃO DA SUSTENTABILIDADE AULA 4 Prof.ª Aline Maria Biagi CONVERSA INICIAL PARTICIPAÇÃO SOCIAL Os atores que compõem a sociedade e a gestão são extremamente importantes no desenvolvimento como um todo. Aqui, nesta etapa, abordaremos o capital humano e social na construção da responsabilidade social corporativa (RSC) e da responsabilidade social empresarial (RSE), de forma que possamos visualizar, na prática, a atuação das empresas em prol do desenvolvimento econômico-social. As diferentes visões compartilhadas entre os líderes das diversas nações do mundo, sobre os problemas e as alternativas para uma sociedade mais sustentável, foram impulsionadoras de um nível de consciência que iria além das instâncias governamentais e incluiria outros setores da sociedade. Moraes e Penedo (2019) citam o envolvimento de governos, empresas, organizações não governamentais (ONGs), além de entidades de representação de trabalhadores, órgãos de classe, comunidades e mesmo o cidadão individual como agentes, nesse processo. Dessa forma, o capital humano e social é de grande importância na construção da sustentabilidade. CONTEXTUALIZANDO Cajazeira e Barbieri (2016) apontam que tanto o desenvolvimento sustentável quanto a RSC e a RSE possuem origens antigas, mas distintas. Enquanto a RSC e a RSE se associam à questão da pobreza na Idade Moderna, mesmo período do surgimento das empresas, o desenvolvimento sustentável tem início com os movimentos ambientalistas estabelecidos em resposta à “[...] expansão da industrialização e da ocupação de áreas para exploração agrícola e mineral [que] gerou efeitos deletérios sobre o meio ambiente de muitas regiões” (Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 51). Com isso, a RSC e a RSE possuem um compromisso com a ética da globalização. O termo globalização é bastante amplo, mas, quando voltado ao ambiente de negócios, em geral corresponde à globalização econômica, que representa a “[...] intensificação dos fluxos de produtos, serviços, divisas, conhecimentos aplicados à esfera produtiva e pela capacidade ampliada dos mercados de promover mudanças políticas e sociais” (Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 107). Assim, para nossa atuação em um mundo globalizado, se faz necessário o desenvolvimento de uma ética universal. Essa ética universal foi tema do relatório Nossa diversidade criadora (Cuéllar, 1997), publicado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). As principais ideias norteadoras dessa nova ética universal são: “(1) direitos humanos; (2) fortalecimento da democracia e dos componentes da sociedade civil; (3) proteção das minorias; (4) compromisso com as soluções pacíficas das controvérsias e negociações equitativas; (5) equidade em cada geração e entre gerações” (Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 108). TEMA 1 – CAPITAL HUMANO E CAPITAL SOCIAL Os conceitos de capital natural e capital humano se confundem, a se considerar que nem o capital humano e nem o capital social se adequam a termos como energia, dinheiro ou materiais. Ambos se enquadram muito mais em uma outra visão de mundo, de forma que “[...] o que é visto em algumas culturas como capital humano (porque é carregado dentro das mentes e corpos dos indivíduos) é visto por outras como capital social, pois os indivíduos só recebem identidade e propósito pelo grupo” (Meadows, 1998, p. 57, tradução nossa). A base do capital humano é a população, incluindo questões estruturais de idade e gênero ancoradas em modelos demográficos que podem ser mensurados por atributos como saúde e educação. De forma que, quando os níveis de saúde e educação da população aumentam, outras formas de capital se tornam mais produtivas também, o que proporciona como resultado final um maior bem-estar social, em que pese se considerar que diferentes pessoas, com atributos e culturas igualmente diferentes, possuem resultados e rotinas de trabalho diferenciados (Meadows, 1998). Em relação ao capital social, Salles, Fernandes e Limont (2017, p. 401) apresentam algumas definições a respeito, com duas vertentes teóricas principais: a primeira relacionada ao indivíduo e a segunda considerando o capital social como um bem público, “[...] que permeia a relação entre pessoas e grupos, um elemento pertencente a uma comunidade ou sociedade”. Um autor clássico que aborda o conceito de capital social é Pierre Bourdieu, o qual defende que “[...] a abordagem do capital social concentra-se em redes, e especificamente sobre a adesão a rede em termos de acesso a recursos e oportunidades” (Salles; Fernandes; Limont, 2017, p. 402). Para Meadows (1998), “capital social é um estoque de atributos (confiança, conhecimento, eficiência, honestidade) que pertence à coletividade humana, e não a um único indivíduo” (Salles; Fernandes; Limont, 2017, p. 402). Assim, o capital social trata do acúmulo de experiências participativas e organizacionais que ocorrem na base de uma comunidade ou sociedade, reforçando os seus laços de solidariedade, cooperação e confiança entre pessoas, grupos sociais e entidades que buscam a melhoria e, em última análise, a sustentabilidade. (Moraes; Penedo, 2019, p. 88) No ano de 2001, a Organization for Economic Cooperation and Development (OECD) elaborou um relatório abordando o bem-estar das nações, em que se discutia a importância do capital social e humano. No ano seguinte, foi realizada a conferência “Capital social: o desafio de mensuração internacional”, reunindo 22 países, que compartilharam boas práticas e propostas para a melhoria da capacidade de medição e comparabilidade do capital social (Salles; Fernandes; Limont, 2017). O estudo sobre capital social ganhou maior destaque depois da investigação realizada no ano de 2003, pelo Banco Mundial, que formulou conceitos e proposições sobre o capital social e formas de desenvolvê-lo visando à elaboração de projetos de desenvolvimento sustentável. Esse estudo contribui com a abordagem de que “[...] o capital social se refere às normas e às redes que permitem a ação coletiva”, o que incorpora “[...] instituições, relacionamentos e costumes que formam a qualidade e a quantidade das interações sociais de uma sociedade” (Moraes; Penedo, 2019, p. 88). O estudo do Banco Mundial (2003), abordando o desenvolvimento do capital social, apresentou algumas dimensões que compõem um quadro de ações para se atingir o desenvolvimento. Essas dimensões são as que se seguem. Grupos e redes: têm foco no suporte organizacional e na realização de atividades sociais com o objetivo de criar pontes e conexões, com o comprometimento de se “[...] organizar e mobilizar recursos para resolver problemas de interesse comum representa algumas das saídas de grupos sociais que aumentam ou constroem o capital social” (Moraes; Penedo, 2019, p. 90). E o sucesso desses grupos é mensurado pela capacidade deles de “[...] divulgar informações, reduzir o comportamento oportunista e facilitar a tomada de decisão coletiva, porém isso depende de muitos aspectos desses grupos, que refletem sua estrutura, composição e funcionamento” (Moraes; Penedo, 2019, p. 90). Confiança e solidariedade: isso se trata da influência no pensamento e na atitude das pessoas, quando da interação entre elas. “Quando os indivíduos em comunidade confiam uns nos outros e nas instituições que operam entre eles, pode-se chegar a acordos e regras de conduta com mais facilidade” (Moraes; Penedo, 2019, p. 90). Ação coletiva e cooperação: a ação coletiva difere, entre as comunidades. As comunidades organizadas podem ter a sua ação coletiva voltada à construção e manutenção de uma infraestrutura de serviços públicos; ou, em outros casos, estar voltada para garantir uma melhor governança e divisão de responsabilidades (Moraes; Penedo, 2019, p. 90). Coesão e inclusão social: essa dimensão está voltada para a disposição e a capacidade das pessoas de trabalharem juntas em prol de atender a uma necessidade coletiva, considerando os seus diversosinteresses. “A inclusão promove a igualdade de oportunidades e remove os obstáculos formais e informais de participação” (Moraes; Penedo, 2019, p. 90). Informação e comunicação: é a essência das interações sociais. A informação pode fluir de cima para baixo, por operação do campo da política; ou de baixo para cima, na esfera local. Além disso, o fluxo de informações horizontais reforça a capacidade de articulação e de troca de ideias, o que leva a um diálogo aberto, que por sua vez favorece a maturação de um senso de comunidade. Em contrapartida, a falta de informação leva a desconfianças. “Uma melhor divulgação das informações de interesse comum pode quebrar a influência do capital social negativo, bem como construir confiança e coesão” (Moraes; Penedo, p. 91). O capital humano e social também se aplica nos processos de gestão, uma vez que “[...] todos os aspectos produtivos devem ser avaliados sob a ótica das questões ambientais e sociais” (Moraes; Penedo, p. 98). Assim, a responsabilidade social nos negócios se aplica em toda a cadeia produtiva e não apenas no produto final, uma vez que “[...] respeito e responsabilidade com relação ao ambiente e à sociedade garantem preservação de recursos, parcerias duráveis e transparentes, melhoria na imagem da empresa e desenvolvimento sustentável, além de prevenir riscos futuros, como impactos ambientais ou processos judiciais”. Assim, desenvolvimento sustentável e responsabilidade social são conceitos próximos (Moraes; Penedo, 2019, p. 98). Essa participação e a responsabilidade social assumida fazem com que as organizações deixem de ser coadjuvantes e assumam o protagonismo no processo de desenvolvimento e transformação social. Dessa forma, o empreendedorismo social mobiliza pessoas a participar, em suas próprias comunidades, de “[...] projetos sociais voltados a soluções ambientalmente corretas e socialmente justas, mantendo a condição elementar de serem economicamente viáveis” (Moraes; Penedo, p. 100). Mais do que isso, impulsiona que a comunidade participe ativamente na solução dos seus próprios problemas, focando no “[...] desenvolvimento local, nas relações de solidariedade e cooperação, no desenvolvimento autônomo e auto gestionário de cada pessoa e da comunidade e no estabelecimento de parcerias e alianças com todos os demais atores sociais” – empresas, governos e demais organizações sociais (Moraes; Penedo, p. 100). Ainda sobre essa questão, [...] pode-se citar como exemplo pequenos empresários promovendo ações de desenvolvimento sustentável com seus clientes e fornecedores, por meio de parcerias com organizações não governamentais ou de uma grande corporação, somando esforços com o poder público, por intermédio de seu departamento de responsabilidade social, para oferecer alternativas sustentáveis a determinado projeto social. (Moraes; Penedo, 2019, p. 89) Conclui-se, assim, que o desenvolvimento sustentável está ligado à consolidação dos capitais humanos e sociais. O desenvolvimento sustentável é muito mais fortalecido quando “[...] comunidades fortalecidas em seus laços de cooperação e solidariedade e amplamente voltadas à criação de parcerias e alianças com todos os atores sociais” (Moraes; Penedo, p. 104). De forma que “[...] empresários, governos, organizações não governamentais, sindicatos, órgãos de classe, representantes da sociedade civil e demais atores sociais desempenham aí papel decisivo” (Moraes; Penedo, p. 104). TEMA 2 – A RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA (RSC) Responsabilidade social é a expressão da ética entre os indivíduos e seu meio. Por isso, os critérios éticos que tendem a se impor nas decisões relacionadas com o desenvolvimento contribuem para se determinar o exercício dessa responsabilidade. É precisamente por essa concepção ética que a sociedade contemporânea, e especialmente quem a lidera, admite situações de injustiça que afetam vastos setores da população mundial. As empresas, até algumas décadas atrás, não eram objeto de estudo de cientistas sociais. Apenas a partir dos anos 1980 é que a sociedade passa a questionar as organizações e seus comportamentos, para, então, na década de 1990, a discussão passar a ser sobre a função social das empresas e a sua responsabilidade com a sociedade e o meio ambiente (Avendaño C., 2013). O termo responsabilidade social possui várias interpretações. Avendaño C. (2013, p. 155-156, tradução nossa) reúne, em seu trabalho, algumas definições aceitas pela comunidade acadêmica acerca desse conceito, como: a. “Por Responsabilidade Social Corporativa se entende o reconhecimento e integração em suas operações por parte das empresas, das preocupações sociais e ambientais, dando espaço para práticas empresariais que satisfaçam essa preocupação e configurem as relações entre os interlocutores.” b. RSC seria o “[...] modelo de empresa em que se combinam eficiência e equidade para favorecer a criação de patrimônio líquido total de longo prazo e de forma sustentável, preservando o capital ambiental e o capital físico, financeiro e intelectual da organização”. c. A RSC tratar-se-ia assim de uma “Teoria das partes interessadas ou abordagem pluralista [...] que concebe legitimidade da empresa do ponto de vista para criar riqueza para a sociedade como um todo e bem-estar para os diferentes grupos de interesse”. d. Ou uma filosofia adotada na gestão de instituições para elas agirem não apenas em benefício próprio, mas também em benefício dos seus trabalhadores, famílias e entorno social. e. E, também, o “Compromisso das empresas em contribuir para o desenvolvimento econômico sustentável, trabalhando com os funcionários, suas famílias, a comunidade local e a sociedade em geral para melhorar sua qualidade de vida”. f. Já a RSE seria a “[...] integração voluntária das empresas de preocupações sociais e ambientais nas suas operações comerciais e nas suas relações com os seus parceiros”. Assim, RSE e RSC [...] se refere[m] ao conjunto de obrigações e compromissos legais e éticos que derivam da atividade das organizações e com impacto nas esferas: social, trabalhista, ambiental e direitos humanos, ou seja, as áreas que indica o Pacto Global. As empresas assumem compromissos não só para recompensar os benefícios adquiridos com a sua atividade, mas também para melhorar a sua competitividade e lhes acrescentar valor. Portanto, essas são oportunidades para as organizações estabelecerem diferenças competitivas. (Avendaño C., 2013, p. 156, tradução nossa) Nesse processo de se implantar práticas de RSE, algumas dificuldades são encontradas, devido a vários fatores como a diversidade de questões que “[...] se traduzem em direitos, obrigações e expectativas de diferentes públicos, internos e externos à empresa” (Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 43), o que, nesse variado entendimento sobre a empresa e a sua relação direta com a sociedade e o meio ambiente, se torna uma forte de complicação quando combinado à busca por resultados econômicos. E, para lidar com essa complexidade, essas relações são desagregadas de seus componentes. Um autor que realizou essa desagregação foi Carrol e vamos abordar mais essas dimensões isoladas da RSC. TEMA 3 – AS QUATRO DIMENSÕES DA RSC Carroll (1979, p. 500, citado por Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 43) definiu RSE como “[...] a responsabilidade social das empresas compreende as expectativas econômicas, legais, éticas e discricionárias que a sociedade tem em relação às organizações em dado período”. Essa definição é uma das mais citadas sobre a temática; e “o modelo conceitual que ele desenvolveu tornou-se a base de muitos programas e modelos de gestão da responsabilidade social” (Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 43). Nessa pirâmide, na sua ponta encontra-se a responsabilidade filantrópica, que fala sobre se ser um bom cidadão corporativo, que contribui com recursos para a sociedade melhorar a sua qualidade de vida; com a responsabilidade ética se avança na obrigação de se fazer o correto, o justoe evitar qualquer dano; a responsabilidade legal versa sobre a lei ser a codificação do comportamento da sociedade – em outras palavras, trata-se de jogar com as regras do jogo; e a responsabilidade econômica, nessa abordagem da RSC, é a base para as demais terem efeito (Avendaño C., 2013, p. 157). Figura 1 – Pirâmide de responsabilidade social, de Carroll Fonte: Elaborado com base em Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 44. A responsabilidade econômica remete ao fato de que a empresa deve ser lucrativa, uma vez que é uma unidade econômica básica da sociedade “[...] e como tal tem a responsabilidade de produzir bens e serviços que a sociedade deseja e vendê-los com lucro” (Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 44). A responsabilidade legal é acionada pelo fato de que a sociedade permite que as empresas possuam um papel produtivo como “parte da efetivação de um contrato social” (Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 44) ao qual são impostas regras e leis a que as empresas devem obediência para cumprir a sua missão econômica de acordo com uma estrutura legal. A responsabilidade ética cobre aspectos que as leis e a economia não englobam, mas que “[...] representam expectativas dos membros da sociedade” (Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 44), partindo da obrigação de se fazer o que é certo e justo mesmo quando a lei não o obriga, com o objetivo de minimizar ou mesmo extinguir o cometimento de danos, às pessoas, por conta das atividades empresariais. E, por fim, a responsabilidade discricionária ou volitiva, que mais tarde foi chamada de filantrópica, é considerada: [...] como uma restituição à sociedade de parte do que a empresa recebeu. Essa dimensão abrange ações que atendam às expectativas da sociedade de que as empresas atuem observando critérios de cidadania e expressando comprometimento com atitudes e programas para promover o bem- estar humano (Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 45). Mesmo com o sucesso de seu modelo em quatro dimensões representado pela pirâmide, Carroll continuou a trabalhar nessa teoria empresarial e mais tarde Schwartz e Carroll desenvolveram o modelo dos três domínios, com novas perspectivas conceituais voltadas à RSC e às suas práticas de fato. Vamos abordar esse novo modelo na próxima seção. TEMA 4 – MODELO DOS TRÊS DOMÍNIOS DA RSC Algumas críticas surgiram em relação ao modelo das quatro responsabilidades, entre as quais o fato de existir uma hierarquia entre as responsabilidades e de a responsabilidade filantrópica estar na ponta da pirâmide. O modelo em pirâmide não capturaria, por isso, de forma completa, as interações entre as quatro responsabilidades antes descritas (Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 45). Na busca por corrigir essas questões, Carrol elaborou um novo modelo, em forma de círculos, para identificar os domínios da responsabilidade social empresarial e corporativa. A Figura 2 mostra os três domínios da RSC Figura 2 – O modelo dos três domínios da RSC Fonte: Elaborado com base em Cajazeiras; Barbieri, 2016, p. 46. Nesse novo modelo, a filantropia deixou de ser uma dimensão específica, talvez em razão de um entendimento de que seja “[...] difícil distinguir entre atividades éticas e filantrópicas, tanto do ponto de vista teórico quanto prático. Além disso, a filantropia pode estar sendo praticada apenas por interesses econômicos” (Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 46). Outra novidade desse modelo é a sobreposição de domínios da responsabilidade, que formam estes sete segmentos da RSE: 1. exclusivamente ético; 2. exclusivamente legal; 3. exclusivamente econômico; 4. ético-legal; 5. ético-econômico; 6. econômico-legal; 7. ético-econômico-legal. Individualmente, o campo econômico volta-se às atividades econômicas de impacto positivo, direto ou indireto, com o objetivo de maximizar lucros ou valor de ações das empresas, tais como “[...] atividades para incrementar as vendas ou para evitar litígios são exemplos de impactos econômicos direto; ações para melhorar a imagem da empresa ou para elevar a motivação dos empregados são exemplos de impactos indiretos” (Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 47). O campo da responsabilidade legal, por sua vez, “[...] refere-se às respostas dadas pela empresa com relação às normas e aos princípios legais, podendo ser vistas sob três grandes categorias: conformidade legal, medidas para evitar litígios e medidas antecipatórias às leis” (Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 47). O domínio ético é a “[...] responsabilidade da empresa diante das expectativas da população em geral e dos stakeholders relacionados, envolvendo imperativos éticos e globais” (Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 47). Nesse domínio, a responsabilidade social é apresentada em forma de obediência a três padrões éticos gerais. O primeiro é o que se denomina, na filosofia moral, relativismo ético, que compreende [...] os padrões e as normas sociais aceitas como necessárias para o funcionamento das empresas pelas indústrias onde elas atuam, pelas indústrias onde elas atuam, pelas associações profissionais e pela sociedade, incluindo acionistas, clientes, empregados, competidores e outros stakeholders. Como essas normas sociais variam entre diferentes grupos sociais, uma forma de se contornar essa limitação é mediante a elaboração e aplicação de códigos formais de ética. (Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 47) O segundo padrão ético é o consequencialista, segundo o qual ações são analisadas e decididas pelas suas consequências: “uma ação é considerada consequencialista se promove o bem social ou se o seu propósito é produzir a maior quantidade de benefícios líquidos, ou o menor custo líquido, comparativamente às outras alternativas” (Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 47). O terceiro e último padrão ético geral é denominado deontológico e “[...] envolve as noções de obrigação e dever como motivadores de ações” (Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 47). Esse modelo de RSC apresenta algumas limitações, por exemplo: “ao estabelecer domínios distintos[,] surgem categorias de responsabilidade social exclusivas, quando se sabe que todas elas se combinam de modo inseparável” (Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 49). Outra limitação está na ausência das questões ambientais como uma dimensão específica, o que faz com que essas questões se percam em discussões econômicas e legais sem que lhes seja aplicada a devida noção de responsabilidade social para se atingir o desenvolvimento sustentável. A RSC de uma empresa deve estar atenta a essas questões atuais, que envolvem tanto as questões ambientais quanto a inclusão de minorias no escopo empresarial, tema abordado no próximo tópico. TEMA 5 – RSC E A INCLUSÃO DE MINORIAS A importância da diversidade na pauta empresarial está consolidada em um contexto global, em boa parte em relação a diferentes forças de trabalho a serem somadas. Dessa forma, as questões que abrangem “[...] gênero, etnia, orientação sexual, idade, crença religiosa ou limitações físicas, por exemplo, assinalam a heterogeneidade, demandando práticas que harmonizem lucro e justiça social” (Akamine, 2021, p. 575). Aqui, podemos considerar minoria como [...] um grupo, numericamente menor ou não, que possui uma diferença de oportunidades em relação ao outro grupo. Diferenças essas que no contexto em que estão inseridas geram barreiras que impedem este grupo de desfrutar de cotidianos sociais, como por exemplo, a atuação no mercado de trabalho. Desse grupo são: negros, pessoas com deficiência, mulheres, homossexuais e indígenas. (Akamine, 2021, p. 581) Akamine (2021) cita que a abordagem das temáticas envolvendo diversidade como um frutífero tema de estudos nas organizações teve início nos anos 1980, considerando que a inclusão das minorias historicamente discriminadas seria vantajosa ao ambiente de trabalho, uma vez que o tornaria mais diversificado e democrático. Entretanto, cabe citar que, [...] em relação à diversidade, os discursos são particularmente ambíguos. Em busca de legitimidade social, ao investir em práticas não discriminatóriasse habilitam a ser percebidas como mais socialmente responsáveis [...]. Contudo, são de se considerar a efetividade e os desdobramentos dos discursos empresariais pró-diversidade. (Akamine, 2021, p. 575) O êxito e a efetividade da inclusão de minorias no ambiente de trabalho se consumarão justamente na “[...] intensidade com que são praticadas as políticas de igualdade de oportunidades entre indivíduos de segmentos socialmente discriminados” (Akamine, 2021, p. 575). Nesse ponto, a adoção ou não de tais medidas é questão central no processo de RSC, “[...] pois a legitimidade [das políticas de RSC] é ameaçada quando os indivíduos não acreditam nas políticas pela ausência de oportunidades de ascensão e de reconhecimento” (Akamine, 2021, p. 576). Assim, o papel gerencial na promoção da diversidade e inclusão é explicito no fragmento discursivo: criar um melhor ambiente de trabalho”. “Os gerentes, assim, devem somar “às políticas da companhia e políticas e práticas locais no seu negócio e região” e isso “inclui entender, apropriar-se e comunicar conceitos chave em mensagens dirigidas aos empregados”, o que significa se familiarizarem “com os principais temas/objetivos e envolvimento com planos de ação para alcançar objetivos””. (Akamine, 2021, p. 576) Dentre os benefícios observados na gestão da diversidade nas organizações estão a atração de talentos, a conquista de mercado em diferentes segmentos, o incentivo à solução de problemas, a flexibilidade organizacional (Akamine, 2021). Essas vantagens se tornam importantes, quando consideradas a globalização e a competitividade que nela impera, que faz com que as empresas repensem as maneiras de gerir seus negócios. A diversidade cultural, nessa abordagem empresarial, (re)configura a ética como “[...] condição adaptativa das relações humanas na sociedade atual. O equilíbrio entre ética, estética e técnica serve para intermediar a vida mediante os parâmetros providenciais do respeito e da dignidade humana” (Akamine, 2021, p. 578). A diversidade cultural é, assim, caracterizada “[...] por práticas e produções culturais desenvolvidas por grupos e coletivos, mas também por indivíduos que a expressam de forma singular” (Akamine, 2021, p. 578). E, mais do que aproveitar o que cada indivíduo pode oferecer a uma empresa, a gestão da diversidade se faz necessária no sentido de aproveitar o melhor de cara região também. Ao citar Vils, Akemine (2021) aponta a gestão da diversidade como um importante processo para o crescimento da empresa, o que contemplaria “[...] ouvir as opiniões, conhecer as culturas, a maneira e características de cada um no trabalho, não existindo um modelo, algo inquestionável, com o qual todos concordem. Querem-se pessoas participativas, com ideias e atitudes proativas” (Akamine, 2021, p. 581). Há que se registrar ainda que a ideia de responsabilidade social tem levado a considerar as diversas organizações como agentes éticos porque não é nem de uma pessoa moral nem de uma soma de indivíduos, mas de comunidades ligadas por valores, hábitos e atitudes comuns, definidos numa missão que deve ser legítima para a sociedade. (Avendaño C., 2013, p. 160, tradução nossa) E um importante instrumento nessa missão é a governança corporativa, tema que vamos abordar em outro momento. TROCANDO IDEIAS A inclusão de minorias como uma ferramenta da RSC é um instrumento de desenvolvimento do capital social e humano. Vamos pensar em exemplos de como essa inclusão pode ser benéfica para a gestão tanto da empresa quanto da gestão da sustentabilidade, tema de que já tratamos? NA PRÁTICA Muhammad Yunus é conhecido como o pai do empreendedorismo social e foi o vencedor do Prêmio Nobel da Paz no ano de 2006. Assista a uma entrevista na qual Yunus cita alguns exemplos de negócios sociais, disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=R1wSxoVrkmM> (Acesso em: https://www.youtube.com/watch?v=R1wSxoVrkmM 12 dez. 2022). Depois de ver alguns exemplos citados na entrevista, apresente um exemplo de negócio social, desenvolvido ou não por Muhammad Yunus, enfatizando as vantagens e os desafios desse modelo de negócio. FINALIZANDO Na gestão da sustentabilidade, o capital humano e social se faz de extrema importância, uma vez que confiança, conhecimento, eficiência e honestidade são importantes na concepção empresarial e corporativa e só podem ser atingidos na interação com o capital humano da empresa. A RSC se divide em questões éticas, legais e econômicas (e, em algum ponto, filantrópicas) para poder unir a eficiência da empresa com o bem-estar social. Nesse processo, uma das ferramentas para que a RSC seja efetivada de forma prática é a inclusão de minorias para que, além de se enriquecer o capital humano e social da empresa, se possa pensar e agir além das questões econômicas exclusivamente, para se construir uma gestão da sustentabilidade global. REFERÊNCIAS Scrivens, K. and C. Smith (2013), "Four Interpretations of Social Capital: An Agenda for Measurement", OECD Statistics Working Papers, No. 2013/06, OECD Publishing, Paris. Meadows, D. 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Disponível em: <http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1794- 44492013000100014&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 8 dez. 2022. CAJAZEIRA, J. E. R.; BARBIERI, J. C.Responsabilidade social empresarial e empresa sustentável. 3. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2016. E-book. CRIANDO empresas sociais, por Muhammad Yunus (legendado). Novasinapse Conteúdos Digitais, 2 maio 2015. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=R1wSxoVrkmM>. Acesso em: 8 dez. 2022. CUÉLLAR, J. P. de. Nossa diversidade criadora: relatório da Comissão Mundial de Cultura e Desenvolvimento. Paris: Unesco, 1997. MEADOWS, D. Indicators and Information Systems for Sustainable: A Report to the Balaton Group. Stellenbosch: The Sustainability Institute, 1998. MORAES, P. R. B.; PENEDO, A. S. T. Sustentabilidade e empreendedorismo. In: OLIVEIRA, S. V. W. B.; LEONETI, A.; CEZARINO, L. O. (Org.). Sustentabilidade: princípios e estratégias. Barueri: Editora Manole, 2019. SALLES, F.; FERNANDES, V.; LIMONT, M. 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