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ACOMPANHAMENTO PLENUS MINISTÉRIO PÚBLICO DIREITO CONSTITUCIONAL SEMANA 15 SINOPSE DE ESTUDO 2 SUMÁRIO 1.1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 3 1.2 INVESTIDURA E POSSE ............................................................................................................... 3 1.3 SUCESSÃO E SUBSTITUIÇÃO ...................................................................................................... 5 1.4 ATRIBUIÇÕES DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA ......................................................................... 7 1.5 RESPONSABILIDADE DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA ........................................................... 12 1.6 OS MINISTROS DE ESTADO ...................................................................................................... 17 1.7 CONSELHO DA REPÚBLICA E CONSELHO DA DEFESA ............................................................. 18 3 1.1 INTRODUÇÃO O Poder Executivo é aquele em que se concentram as funções de cunho executivo. Nesse sentido, no Poder Executivo estão as atribuições, faculdades e prerrogativas atreladas ao exercício da atividade executiva na República Federativa do Brasil. A função típica do Poder Executivo é a de administrar, ou seja, é a função de execução de políticas públicas, fomento, gerenciamento e desenvolvimento da máquina administrativa. De forma atípica, são exercidas as funções típicas do Legislativo (iniciar projeto de lei, editar leis delegadas e medidas provisórias, etc.) e do Judiciário (julgar no chamado “con- tencioso administrativo”). É importante ressaltar que a doutrina majoritária entende que o Po- der Executivo não exerce função jurisdicional. O Poder Executivo no Brasil, de acordo com o art. 76 da Constituição, exercido pelo Presidente da República, auxiliado pelos Ministros de Estado. No Brasil, como adotamos o sistema presidencialista de governo, o Chefe do Execu- tivo cumula as atribuições de chefe de estado (representa a República Federativa do Brasil pe- rante a comunidade internacional) e chefe de governo (comanda e administra o país no âmbito interno). 1.2 INVESTIDURA E POSSE Para que um indivíduo possa ocupar o cargo de Presidente, é necessário que ele cumpra os seguintes requisitos constitucionais: a) Ser brasileiro nato. b) Possuir alistamento eleitoral. c) Estar no pleno gozo dos direitos políticos. d) Ter mais de 35 anos. Destaque-se que essa idade deve ser comprovada na data da posse. e) Não se enquadrar em nenhuma das inelegibilidades previstas na Constituição. f) Possuir filiação partidária. A eleição do Presidente se dá através do sistema eleitoral majoritário de maioria ab- soluta. Nos ditames constitucionais, será considerado eleito Presidente o candidato que obtiver 4 a maioria absoluta de votos, não computados os brancos e nulos. Para as eleições presidenciais, utiliza-se o sistema majoritário de dois turnos. Assim, haverá segundo turno caso o candidato mais votado não obtenha a maioria absoluta dos votos válidos em primeiro turno, devendo concorrer os dois candidatos mais votados. Caso haja empate em segundo lugar, será qualificado o mais idoso, que irá, então, disputar o segundo turno. Se, antes de realizado o segundo turno, ocorrer morte, desistência ou impedimento legal de candidato, convocar-se-á, dentre os remanescentes, o de maior votação, conforme dispõe o art. 77, § 4º, da CF. De acordo com o art. 77, caput, da Constituição, a eleição do Presidente e do Vice- -Presidente da República realizar-se-á, simultaneamente, no primeiro domingo de outubro, em primeiro turno, e no último domingo de outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior ao do término do mandato presidencial vigente. A posse do novo governante ocorrerá no dia primeiro de janeiro do ano seguinte a eleição. Se passados 10 dias da data fixada para a posse e o Presidente ou o Vice-Presidente, salvo motivo de força maior, não tiver assumido o cargo, este será declarado vago. Veja o que dispõe a CF: Art. 78. O Presidente e o Vice-Presidente da República tomarão posse em sessão do Congresso Nacional, prestando o compromisso de manter, defender e cumprir a Constituição, observar as leis, promover o bem ge- ral do povo brasileiro, sustentar a união, a integridade e a independên- cia do Brasil. Parágrafo único. Se, decorridos dez dias da data fixada para a posse, o Presidente ou o Vice-Presidente, salvo motivo de força maior, não tiver assumido o cargo, este será declarado vago. ATENÇÃO! - Caso o Presidente e o Vice não assumam dentro dos 10 dias, ambos os cargos serão declarados vagos. Nesse caso, será necessário realizar uma nova eleição. - Caso o Presidente da República não comparece dentro de 10 dias da data fi- xada para a posse, sem motivo de força maior, o Vice, nesse caso, assumirá o cargo de Presidente e exercerá o mandato inteiro. Por fim, cumpre informar que o mandato terá duração de 4 anos e, como já dito, terá início no dia 1º de janeiro de ano posterior às eleições, sendo permitida a reeleição para um 5 único período subsequente. 1.3 SUCESSÃO E SUBSTITUIÇÃO Inicialmente, veja o que diz a Constituição: Art. 79. Substituirá o Presidente, no caso de impedimento, e suceder- -lhe-á, no de vaga, o Vice-Presidente. Parágrafo único. O Vice-Presidente da República, além de outras atri- buições que lhe forem conferidas por lei complementar, auxiliará o Pre- sidente, sempre que por ele convocado para missões especiais. Art. 80. Em caso de impedimento do Presidente e do Vice-Presidente, ou vacância dos respectivos cargos, serão sucessivamente chamados ao exercício da Presidência o Presidente da Câmara dos Deputados, o do Senado Federal e o do Supremo Tribunal Federal. Assim, nos casos de impedimentos circunstanciais do Presidente da República (li- cenças, férias, doença, afastamento para viagens oficiais, etc.), o Vice-Presidente é o substituto natural. Contudo, impedido também o Vice, podem ser ainda substitutos eventuais do Presi- dente, em ordem sucessiva: o Presidente da Câmara dos Deputados, o do Senado Federal e o do Supremo Tribunal Federal. Observe, portanto, que a substituição é sempre temporária e não implica vacância do cargo, nem assunção dele por parte do substituto, mas apenas ocupação interina. Questão interessante que deve ser comentada é se o possível substituto do Presi- dente da República for réu em processo criminal, ele pode assumir a presidência. Foi proposta a ADPF 402/DF, cujo objeto era interditar o acesso de pessoas que sejam rés em ações criminais, aos cargos que podem substituir o Presidente da República. Todavia, conforme ficou assentado pelo Min, Celso de Mello, “os substitutos even- tuais do Presidente da República a que se refere o art. 80 da Constituição, caso ostentem a posição de réus criminais perante essa Corte Suprema, ficarão unicamente impossibilitados de exercer o ofício de Presidente da República, embora conservem a titularidade funcional da chefia e direção de suas respectivas casas”. No tocante à vacância, ela representa, por sua vez, o afastamento definitivo do cargo (cassação, renúncia, morte, etc.). São hipóteses de vacância: a) Não comparecimento dentro de 10 dias da data fixada para a posse, exceto por motivo de força maior. 6 b) Por morte, renúncia, perda ou suspensão dos direitos políticos e perda da nacio- nalidade brasileira. c) Condenação por crime de responsabilidade, ou comum, mediante decisão do Se- nado Federal ou do STF, respectivamente. d) Ausência do país por mais de 15 dias sem autorização do Congresso Nacional (art. 83, CF). Quanto a esse ponto, o STF considera inconstitucional norma estadual que exige prévia licença da Assembleia Legislativa para que o governador e o vice-governador possam ausentar- -se do País por qualquer prazo. Ou seja, a Constituição Estadual deve reproduzir o regramento da Constituição Federal (só necessita de autorização caso a ausênciafor por mais de 15 dias). Aqui cabe a mesma regra do impedimento. Havendo vacância, o Vice-Presidente su- cederá naturalmente. Todavia, em caso de vacância também do cargo de Vice, serão chamados ao exercício da Presidência na seguinte ordem: Presidente da Câmara dos Deputados, Presi- dente do Senado Federal e Presidente do Supremo Tribunal Federal. ATENÇÃO! E como ficaria a questão da substituição e da vacância no âmbito estadual, dis- trital e municipal? Em caso de impedimento ou vacância do cargo de Governador de Estado, e diante da não assunção pelo Vice-Governador, serão chamados, sucessivamen- te, para governar, seguindo a simetria com o modelo fixado no art. 80: o Presi- dente da Assembleia Legislativa e o Presidente do TJ local. No Distrito Federal, em caso de impedimento ou vacância do cargo de Gover- nador, e diante da não assunção pelo Vice-Governador, serão chamados, su- cessivamente, para governar, seguindo a simetria com o modelo fixado no art. 80: o Presidente da Câmara Legislativa e o Presidente do TJ do Distrito Federal e Territórios. Nos Municípios, em caso de impedimento ou vacância do cargo de Prefeito e do Vice-Prefeito serão chamados, sucessivamente, para governar, seguindo a simetria com o modelo fixado no art. 80: o Presidente da Câmara Municipal e outra autoridade prevista na Constituição do Estadual. É importante ressaltar que apenas o Vice-Presidente poderá suceder o Presidente em caráter definitivo. Assim, o Presidente da Câmara dos Deputados, o do Senado Federal e o do Supremo Tribunal Federal poderão exercer a Presidência apenas interinamente, ou seja, em 7 caráter temporário. No caso de dupla vacância, ou seja, se faltar de forma definitiva o Presidente e o Vice- -Presidente da República, duas situações podem ocorrer: a) Se a dupla vacância ocorrer nos dois primeiros anos do mandato, haverá convoca- ção de eleições diretas, a realizarem-se nos 90 dias após aberta a última vaga. b) Por outro lado, se a dupla vacância ocorrer dos dois últimos anos do mandato, ca- berá ao Congresso Nacional promover eleições indiretas para escolha dos ocupantes de ambas as vagas, no prazo de até 30 dias após a última vacância. Aqueles que forem eleitos dessa maneira deverão apenas completar o mandato dos seus antecessores. É o que se chama de “mandato-tampão”. Vejamos o que dispõe a Constitui- ção: Art. 81. Vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, far-se-á eleição noventa dias depois de aberta a última vaga. § 1º - Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita trinta dias depois da última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma da lei. § 2º - Em qualquer dos casos, os eleitos deverão completar o período de seus antecessores. Questão controversa gira em torno da dupla vacância quando ocorre nas esferas es- tadual e municipal. Parte da doutrina entende que, em homenagem ao princípio da simetria, o modelo previsto na CF/88 é de reprodução obrigatória pelas Constituições Estaduais e pelas Leis Orgânicas dos Municípios. De forma contrária, já decidiu o STF que a regra constitucional que estabelece eleição indireta para Presidente e Vice-Presidente não é de observância obrigatória por parte das de- mais unidades federativas, pois a matéria não possui caráter jurídico-eleitoral. 1.4 ATRIBUIÇÕES DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA Inicialmente, vejamos o que dispõe a Constituição: Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: I - nomear e exonerar os Ministros de Estado; II - exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a direção superior da administração federal; III - iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos previstos nesta Constituição; 8 IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir de- cretos e regulamentos para sua fiel execução; V - vetar projetos de lei, total ou parcialmente; VI – dispor, mediante decreto, sobre: a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públi- cos; b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos; VII - manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus repre- sentantes diplomáticos; VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a refe- rendo do Congresso Nacional; IX - decretar o estado de defesa e o estado de sítio; X - decretar e executar a intervenção federal; XI - remeter mensagem e plano de governo ao Congresso Nacional por ocasião da abertura da sessão legislativa, expondo a situação do País e solicitando as providências que julgar necessárias; XII - conceder indulto e comutar penas, com audiência, se necessário, dos órgãos instituídos em lei; XIII - exercer o comando supremo das Forças Armadas, nomear os Co- mandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, promover seus oficiais-generais e nomeá-los para os cargos que lhes são privativos; XIV - nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os Ministros do Su- premo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, os Governadores de Territórios, o Procurador-Geral da República, o presidente e os diretores do banco central e outros servidores, quando determinado em lei; XV - nomear, observado o disposto no art. 73, os Ministros do Tribunal de Contas da União; XVI - nomear os magistrados, nos casos previstos nesta Constituição, e o Advogado-Geral da União; XVII - nomear membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII; XVIII - convocar e presidir o Conselho da República e o Conselho de De- fesa Nacional; XIX - declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autorizado pelo Congresso Nacional ou referendado por ele, quando ocorrida no inter- valo das sessões legislativas, e, nas mesmas condições, decretar, total ou parcialmente, a mobilização nacional; XX - celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do Congresso Nacio- nal; XXI - conferir condecorações e distinções honoríficas; XXII - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças es- 9 trangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam tem- porariamente; XXIII - enviar ao Congresso Nacional o plano plurianual, o projeto de lei de diretrizes orçamentárias e as propostas de orçamento previstos nes- ta Constituição; XXIV - prestar, anualmente, ao Congresso Nacional, dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa, as contas referentes ao exer- cício anterior; XXV - prover e extinguir os cargos públicos federais, na forma da lei; XXVI - editar medidas provisórias com força de lei, nos termos do art. 62; XXVII - exercer outras atribuições previstas nesta Constituição. Parágrafo único. O Presidente da República poderá delegar as atribui- ções mencionadas nos incisos VI, XII e XXV, primeira parte, aos Ministros de Estado, ao Procurador-Geral da República ou ao Advogado-Geral da União, que observarão os limites traçados nas respectivas delegações. Vamos comentar agora os principais incisos. Quanto ao inciso I e II, podemos observar que os cargos de Ministros de Estado são de livre nomeação e exoneração, devendo ser escolhidos entre brasileiros com mais de 21 anos e no pleno exercício dos direitos políticos. Ademais, conforme já dito no art. 76, os Ministros auxiliam diretamente o Presidente da República na direção superior da administração federal. No tocante ao inciso III, conforme estudamos na aula de processo legislativo, o Pre- sidente da República poderá dar início ao processo legislativo, seja apresentando projetos de lei de sua iniciativa privativa (art. 61, § 1º), seja apresentando projetos de lei de iniciativa geral. No inciso IV, está prevista a competência do Presidente da República para expedir decretos e regulamentos para a fiel execução das leis. Trata-se de competência para edição dos chamados decretos executivos, os quais são atos normativos secundários. Como já se sabe, os decretos executivos não podem inovar na ordem jurídica, limi- tando-se a facilitar a execução dasleis. A doutrina faz menção a um tipo específico de decreto executivo: o “regulamento autorizado”. Quanto à forma, este em nada se diferencia de um decreto típico do Poder Execu- tivo. No entanto, quanto ao conteúdo, o “regulamento autorizado” busca complementar a lei, conforme expressa determinação nela contida. 10 Quanto ao inciso VI, nele consta a competência para editar os chamados “decretos” autônomos, os quais são atos normativos primários (extraem seu fundamento de validade dire- tamente da Constituição), possuindo a mesma hierarquia das leis formais. De acordo com tal dispositivo, o Presidente poderá dispor sobre organização e fun- cionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos; e extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos. Cabe destacar ainda que, conforme parágrafo único do art. 84, a edição de decretos autônomos é competência delegável do Presidente da República, que poderá concedê-la aos Ministros de Estado, ao Advogado-Geral da União ou ao Procurador-Geral da República. Prosseguindo. O Presidente, na condição de Chefe de Estado, representa o Brasil em suas relações internacionais. Por conta disso, ele exerce as competências dos incisos VII, VIII, XIX, XX, XXI e XXII. No tocante aos incisos IX e X, tais competências estão relacionadas à segurança inter- na, preservação da ordem institucional e da harmonia das relações federativas. Tanto a inter- venção federal quando o estado de sítio e o estado de defesa são institutos que tem salvaguar- dar a ordem jurídica nos momentos de instabilidade institucional. Cabe destacar, no entanto, que cabe ao Congresso Nacional, conforme art. 49, V, sus- pender o estado de defesa, o estado de sítio e a intervenção federal. Em relação ao inciso XII, é da competência do Presidente conceder indulto e comu- tar penas, com audiência, se necessário, dos órgãos instituídos em lei. O indulto é o perdão da pena. Já a Comutação é a substituição de uma pena mais grave por uma pena menos grave. Tal competência é exercida mediante decreto executivo que, geralmente, é publica- do ao final de todo ano (“indulto natalino”). Ademais, conforme parágrafo único do art. 84, a referida competência é delegável aos Ministros de Estado, ao Advogado-Geral da União ou ao Procurador-Geral da República. Quanto aos incisos XIV, XV e XVI, compete ao Presidente da República nomear as se- guintes autoridades: os Ministros do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, os Governadores de Territórios, o Procurador-Geral da República, o Presidente e os Diretores do Banco Central, o Advogado-Geral da União e os Ministros do Tribunal de Contas da União. Quanto ao TCU, este possui 9 Ministros. Desses, 2/3 são escolhidos pelo Congresso Nacional e 1/3 pelo Presidente da República. Aqueles que forem escolhidos pelo Presidente da República deverão ter seu nome previamente aprovado pelo Senado Federal, após os que serão 11 nomeados. Destaque-se que, mesmo os Ministros do TCU escolhidos pelo Congresso Nacional, serão nomeados pelo Presidente da República. Em relação aos incisos XVII e XVIII, cabe ao Presidente nomear os membros do Con- selho da República e convocar e presidir o Conselho da República, bem como o Conselho de Defesa Nacional. O Conselho da República é órgão superior de consulta do Presidente da República, que pronuncia-se, sem efeito vinculante, sobre intervenção federal, estado de defesa, estado de sítio e questões relevantes para a estabilidade das instituições democráticas. Integram o referido órgão 6 cidadãos brasileiros natos com mais de 35 anos. Desses, 2 são nomeados pelo Presidente da República, 2 são eleitos pela Câmara dos Deputados e 2 eleitos pelo Senado Federal. O Conselho de Defesa Nacional também é órgão superior de consulta do Presidente (pronunciam-se também sem efeito vinculante), mas nos assuntos relacionados com a sobera- nia nacional e a defesa do Estado democrático. O inciso XXIII confere ao Presidente a competência privativa de iniciar o processo legislativo das leis orçamentárias (Plano Plurianual, Lei de Diretrizes Orçamentárias e Lei Orça- mentária Anual). O inciso XXIV diz respeito à prestação de contas do Presidente da República. De acor- do com tal dispositivo, a prestação deve ser apresentada, dentro de 60 dias após a abertura da sessão legislativa, ao Congresso Nacional, uma vez que cabe ao referido órgão julgar as contas do Presidente da República. Caso as contas não sejam prestadas dentro dos 60 dias, nesse caso, caberá à Câmara dos Deputados proceder à tomada de contas do Presidente da República, conforme dispõe o art. art. 51, II, da CF. De acordo com o inciso XXV, compete ao Presidente da República prover e extinguir os cargos públicos federais, na forma da lei. Assim, a nomeação de aprovado em concurso pú- blico e a nomeação de alguém para exercer cargo em comissão são tarefas que cabem ao Pre- sidente da República. Ademais, conforme o parágrafo único do art. 84, a competência de prover cargos pú- blicos federais também poderá ser delegada aos Ministros de Estado, ao Advogado-Geral da União ou ao Procurador-Geral da República. 12 A extinção de cargos públicos, quando vagos, poderá ser feito por decreto autônomo. No entanto, quando os cargos estiverem ocupados, a sua extinção dependerá de lei formal. Considerando que a edição de decretos autônomos é delegável, a extinção de cargos públicos vagos poderá ser delegada aos Ministros de Estado, ao Advogado Geral da União e ao Procu- rador-Geral da República. No entanto, a extinção de cargos públicos ocupados não é matéria delegável. 1.5 RESPONSABILIDADE DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA A lógica da responsabilização dos governantes decorre da adoção da forma republi- cana de governo. Assim, os detentores de mandato presidencial estão sujeitos ao julgamento tanto político (crimes de responsabilidade) quanto judicial (crimes comuns). Quando estudamos o Poder Legislativo, vimos que os parlamentares possuem tanto imunidade material (inviolabilidade civil e penal por palavras e opiniões) quanto imunidade formal (prerrogativas relacionadas ao processo). Ocorre que, no caso do Presidente da Repúbli- ca, este só possui imunidade formal. Vejamos essas imunidades: a) Vedação à prisão cautelar: de acordo com o art. 86, § 3º, da CF, enquanto não sobrevier sentença condenatória, emanada do STF, nas infrações comuns, o Presidente da Re- pública não estará sujeito à prisão. Assim, não são admitidas prisão em flagrante, prisão pre- ventiva e prisão temporária. b) Irresponsabilidade penal relativa: de acordo com o art. 86, § 4º, o Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções. Dessa forma, o Presidente só poderá ser responsabilizado por atos praticados no exercício da função ou em razão dela. Cumpre ressaltar, no entanto, que a referida imunidade só se aplica às infrações pe- nais. Por conseguinte, o Presidente da República poderá ser responsabilizado, durante o man- dato, por infrações civis e administrativas, por exemplo, mesmo que estranhos ao exercício de suas funções. Assim, como o Presidente não poderá ser responsabilizado, durante o mandato, por infrações penais estranhas ao exercício de suas funções, haverá suspensão provisória do pro- cesso e a consequente suspensão do prazo prescricional. Com o fim do mandato, ele responde- rá normalmente pela infração. c) Necessidade de autorização da Câmara dos Deputados: de acordo com o art. 86, caput, para que o Presidente da República seja processado e julgado, nos crimes comuns ou de 13 responsabilidade, há um prévio juízo de admissibilidade político pela Câmara dos Deputados. Assim, o Presidente somente será processado e julgado após autorização da Câmara dos Depu- tados, por 2/3 dos seus membros, em votação nominal. É importante ressaltar que, conforme recente decisão do STF, os Estados não têm competência paraeditar normas que condicionem a instauração de ação penal contra Gover- nador, por crime comum, à prévia autorização da Assembleia Legislativa. Antigamente, entendia-se que essa era a única imunidade que se estendia aos Gover- nadores. Todavia, atualmente, com esse novo entendimento, não há extensão das imunidades acima estudadas. Vamos prosseguir. Conforme já dito anteriormente, o Presidente poderá ser respon- sabilizado tanto por crimes de responsabilidade quanto por crimes comuns. Os crimes de responsabilidade são infrações político-administrativas, definidas em legislação federal, que atentam contra a Constituição e especialmente contra o rol do art. 85, da CF. Vejamos: Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da Repú- blica que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente, con- tra: I - a existência da União; II - o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Minis- tério Público e dos Poderes constitucionais das unidades da Federação; III - o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais; IV - a segurança interna do País; V - a probidade na administração; VI - a lei orçamentária; VII - o cumprimento das leis e das decisões judiciais. Parágrafo único. Esses crimes serão definidos em lei especial, que esta- belecerá as normas de processo e julgamento. É importante registra que o referido rol é meramente exemplificativo, cabendo à lei ordinária a tipificação dos crimes. ATENÇÃO! De acordo com o enunciado da Súmula Vinculante 46, a definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas de processo e julgamento são da competência legislativa da União. 14 A Lei 1.079/50 tipifica de forma taxativa as condutas dos incisos I ao VII, bem como normatiza o processo de julgamento dos crimes de responsabilidade. O procedimento para apuração e julgamento dos crimes de responsabilidade do Pre- sidente da República obedece a um sistema bifásico. Ademais, a base atual para a análise do procedimento foi decidido pelo STF na ADPF nº 378. Na primeira fase, é necessária a autorização da Câmara dos Deputados (juízo de ad- missibilidade do processo), pelo voto de 2/3 dos membros, conforme já dito quando tratamos das imunidades. A referida fase se inicia mediante denúncia popular, assinada por qualquer cidadão. Ocorre que o Presidente da Câmara tem competência para rejeitar liminarmente a denúncia popular, com fundamento seja em questões formais, seja na falta de justa causa da acusação. Em caso de rejeição, há possibilidade de recurso ao Plenário da Câmara. Caso seja recebida a denúncia, o Presidente da Câmara determinará que seja eleita uma comissão especial para analisar o pedido. O Plenário da Casa, por votação aberta, institui a omissão parlamentar especial (composta de 65 Deputados Federais titulares e mais 65 suplen- tes), a partir de nomes indicados pelos líderes partidários e conforme representação proporcio- nal dos partidos, a fim de pronunciar-se sobre a admissibilidade da acusação. Após a instalação da comissão, o Presidente da República terá o prazo de 10 sessões para apresentar sua defesa. Depois de apresentada a referida defesa, a comissão possui um prazo de 5 sessões para apresentar o parecer. Em sequência, o parecer é votado na comissão especial e, posteriormente, é subme- tido à apreciação do Plenário da Câmara, sendo exigido o quórum de 2/3 para autorização do processo contra o Presidente da República. Caso seja rejeitada, a denúncia será arquivada. Admitida pela Câmara a acusação, esta será remetida ao Senado Federal, começan- do, portanto, a segunda fase. ATENÇÃO! Esse mesmo procedimento é exigido para instaurar o julgamento político do Vice-Presidente e dos crimes conexos praticados pelos Ministros de Estado e pelos Comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica. É importante ressaltar que, no julgamento da ADPF nº 378, o STF decidiu que o Sena- do não é obrigado, em virtude da decisão da Câmara, a instaurar o processo. Ou seja, segundo 15 o STF, a expressão “processar e julgar”, prevista no art. 52, I, da CF, abrange não apenas o julga- mento final, mas também a realização de um juízo inicial de instauração ou não do processo. Com isso, o poder de afastar provisoriamente o Presidente da República será do Senado Fede- ral. Resumindo. Se o Senado rejeitar a denúncia, haverá o arquivamento do procedimen- to. Por outro lado, se a denúncia for recebida (segundo o STF o quórum necessário é de maioria simples presente a maioria absoluta de seus membros), será iniciado o processo de crime de responsabilidade. Instaurado o processo no Senado, a defesa tem direito de se manifestar após a acu- sação, momento em que se considera formalmente instaurado o processo de impeachment contra o Presidente da República e que o acusado é afastado das funções presidenciais pelo prazo máximo e improrrogável de 180 dias, conforme art. 86, § 1º, II e § 2º. Se, decorrido o prazo de 180 dias, o julgamento não estiver concluído, cessará o afas- tamento do Presidente, sem prejuízo do regular prosseguimento do processo. O julgamento no Senado será conduzido pelo Presidente do STF. A condenação do Presidente da República exigirá um quórum de 2/3 dos Senadores, por meio de votação nomi- nal e aberta. A decisão condenatória será lavrada sob a forma de resolução do Senado Federal, sendo que proferida a decisão condenatória, o acusado estará automaticamente destituído do cargo de Presidente da República. É importante ressaltar que, não obstante o texto constitucional traz como penas a “perda do cargo, com inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública”, o Senado Federal deliberou por só aplicar a pena de perda do cargo para a ex-presidente Dilma Rousseff. Cabe destacar que, segundo o STF, não é cabível recurso contra o mérito da decisão do Senado Federal no processo de impeachment. Entretanto, o STF considera que, no processo constitucional de impeachment, devem ser assegurados os princípios do devido processo legal, dentre eles o contraditório, a ampla defesa e a fundamentação das decisões. Assim, é possível o controle jurisdicional quanto aos aspectos processuais (formais) no processo de impeachment. Por fim, é importante ressaltar que, mesmo que o Presidente da República venha a renunciar, o processo não se interromperá. Inclusive, esse é o entendimento do STF: “a re- núncia ao cargo, apresentada na sessão de julgamento, quando já iniciado este, não paralisa o processo de impeachment” (MS 21.689-1/DF). 16 Agora que entendemos o procedimento do julgamento do Presidente por crimes de responsabilidade, chegou o momento dos crimes comuns. Crime comum diz respeito a qualquer tipo de infração penal, incluindo os delitos eleitorais e as contravenções penais. Nos crimes comuns, o Presidente da República é processado e julgado perante o STF, após autorização da Câmara dos Deputados. Assim, a denúncia ou queixa-crime é apresentada ao STF, mas este só poderá recebê-la após o juízo de admissibilidade político da Câmara dos Deputados (2/3 dos Deputados). Vale ressaltar que, mesmo após a autorização da Câmara dos Deputados, é possível que o STF decida rejeitar a denúncia e não instaurar o processo. Caso a denúncia ou queixa-crime seja recebida, o Presidente da República ficará au- tomaticamente suspenso do exercício do mandato por até 180 dias, conforme art. 86, § 1º, I e §2º. ATENÇÃO! - Nos crimes comuns, o Presidente ficará suspenso de suas funções desde o recebimento da denúncia ou queixa-crime pelo STF. - Nos crimes de responsabilidade, o Presidente ficará suspenso de suas funções desde a instauração do processo pelo Senado Federal. Se o STF condenar o Presidente pela prática de crime comum, seus direitos políticos serão suspensos (conforme art. 15, III) e, consequentemente, ele perderá o mandato presiden- cial, sem prejuízo da sanção penal cabível. Prosseguindo. O julgamento dos Chefes do Executivo dos Estados, do Distrito Federal e dosMunicípios é semelhante ao do âmbito federal. Nos Estados e no Distrito Federal, os Governadores também podem ser responsabi- lizados por crimes comuns ou de responsabilidade. Pelos primeiros são julgados pelo STJ (art. 105, I, “a”). Já pelos crimes de responsabilidade são julgados pelo Tribunal de Justiça do Estado do qual são governantes. Nos Municípios, os Prefeitos estão também sujeitos à responsabilização por crimes comuns e por crimes de responsabilidade. Pela prática de crime comum, conforme o art. 29, X, da CF, os Chefes do Executivo municipal são processados e julgados pelo Tribunal de Justiça do Estado de que o Município faz parte. 17 No tocante aos crimes de responsabilidade, é necessário fazer uma diferenciação entre crimes de responsabilidade próprios e impróprios. Enquanto os primeiros são infrações político-administrativas sancionadas com a cassação do mandato e a suspensão dos direitos políticos, os segundos são crimes de responsabilidade sancionados com penas comuns (deten- ção ou reclusão). Dessa forma, no caso de crime de responsabilidade própria, a competência para julgamento é da Câmara Municipal. Já no caso de crime de responsabilidade impróprio, a competência é do Tribunal de Justiça respectivo. Ressalta-se que a Constituição Federal previu algumas hipóteses de crime de responsabilidade em seu art. 29, § 2º, sendo, no entanto, apenas um rol exemplificativo. 1.6 OS MINISTROS DE ESTADO Vejamos, inicialmente, o regramento constitucional: Art. 87. Os Ministros de Estado serão escolhidos dentre brasileiros maio- res de vinte e um anos e no exercício dos direitos políticos. Parágrafo único. Compete ao Ministro de Estado, além de outras atribui- ções estabelecidas nesta Constituição e na lei: I - exercer a orientação, coordenação e supervisão dos órgãos e entida- des da administração federal na área de sua competência e referendar os atos e decretos assinados pelo Presidente da República; II - expedir instruções para a execução das leis, decretos e regulamentos; III - apresentar ao Presidente da República relatório anual de sua gestão no Ministério; IV - praticar os atos pertinentes às atribuições que lhe forem outorgadas ou delegadas pelo Presidente da República. Art. 88. A lei disporá sobre a criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública. Assim, conforme dicção constitucional, os Ministros de Estado são auxiliares do Pre- sidente da República e são cargos de livre nomeação e exoneração. Para que o indivíduo possa assumir o cargo de Ministro, ele deve cumprir alguns re- quisitos: a) Ser maior de 21 anos; b) Estar no gozo dos direitos políticos; c) Ser brasileiro nato ou naturalizado (exceção: Ministro de Estado da Defesa que ne- cessariamente precisa ser brasileiro nato). 18 Quanto aos Ministros de Estado, não há mais o que comentar, uma vez que durante a presente sinopse já enfrentamos os aspectos mais importantes. 1.7 CONSELHO DA REPÚBLICA E CONSELHO DA DEFESA São órgãos superiores de consulta do Presidente da República em assuntos de alta relevância nacional. As diferenças entre esses órgãos envolvem as suas funções e os seus membros. A mera leitura dos dispositivos é suficiente para compreender esse ponto. Quanto ao Conselho da República, a Constituição Federal dispõe o seguinte: Art. 89. O Conselho da República é órgão superior de consulta do Presi- dente da República, e dele participam: I - o Vice-Presidente da República; II - o Presidente da Câmara dos Deputados; III - o Presidente do Senado Federal; IV - os líderes da maioria e da minoria na Câmara dos Deputados; V - os líderes da maioria e da minoria no Senado Federal; VI - o Ministro da Justiça; VII - seis cidadãos brasileiros natos, com mais de trinta e cinco anos de idade, sendo dois nomeados pelo Presidente da República, dois eleitos pelo Senado Federal e dois eleitos pela Câmara dos Deputados, todos com mandato de três anos, vedada a recondução. Art. 90. Compete ao Conselho da República pronunciar-se sobre: I - intervenção federal, estado de defesa e estado de sítio; II - as questões relevantes para a estabilidade das instituições democrá- ticas. § 1º O Presidente da República poderá convocar Ministro de Estado para participar da reunião do Conselho, quando constar da pauta questão relacionada com o respectivo Ministério. § 2º A lei regulará a organização e o funcionamento do Conselho da República. Ademais, a título de informação, o referido órgão foi regulado pela Lei 8.041/90. Por sua vez, quanto ao Conselho de Defesa, a Constituição Federal dispõe o seguinte: Art. 91. O Conselho de Defesa Nacional é órgão de consulta do Presiden- te da República nos assuntos relacionados com a soberania nacional e a 19 defesa do Estado democrático, e dele participam como membros natos: I - o Vice-Presidente da República; II - o Presidente da Câmara dos Deputados; III - o Presidente do Senado Federal; IV - o Ministro da Justiça; V - o Ministro de Estado da Defesa; VI - o Ministro das Relações Exteriores; VII - o Ministro do Planejamento. VIII - os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica. § 1º Compete ao Conselho de Defesa Nacional: I - opinar nas hipóteses de declaração de guerra e de celebração da paz, nos termos desta Constituição; II - opinar sobre a decretação do estado de defesa, do estado de sítio e da intervenção federal; III - propor os critérios e condições de utilização de áreas indispensáveis à segurança do território nacional e opinar sobre seu efetivo uso, espe- cialmente na faixa de fronteira e nas relacionadas com a preservação e a exploração dos recursos naturais de qualquer tipo; IV - estudar, propor e acompanhar o desenvolvimento de iniciativas ne- cessárias a garantir a independência nacional e a defesa do Estado de- mocrático. § 2º A lei regulará a organização e o funcionamento do Conselho de Defesa Nacional. Ademais, também a título de informação, o referido órgão foi regulado pela Lei 8.183/91.
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