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1 Produzido em parceria com: TENDÊNCIAS PARA UM FUTURO MAIS SUSTENTÁVEL E EFICIENTE Special Edition Tecnologias emergentes no Agronegócio 2 Emerging Technologies Agro –– 2022 A MIT Technology Review, em parceria com o Cubo Agro, apresenta a pesquisa Emerging Technologies Agro - 2022, que investigou o cenário do investimento tecnológico do agronegócio brasileiro com o objetivo de antecipar tendências para os próximos anos em vias de serem concretizadas. SOLUÇÕES POSSÍVEIS PARA UM FUTURO MAIS EFICIENTE Uma iniciativa apoiada por: Produzido em parceria com: 3 Emerging Technologies Agro –– 2022 REALIZAÇÃO Produzido pelo TEC Institute, a pesquisa tinha como objetivo medir a intenção de investimento da agroindústria em tecnologias habilitadoras. Para isso, ouviu líderes e tomadores de decisão em tecnologia para o segmento, entre produtores rurais, agricultores e pecuaristas; representantes da agroindústria e fabricantes de insumos. METODOLOGIA Foram aplicados 200 questionários estruturados on-line aplicados a representantes dos setores primário e secundário e de vários segmentos do agronegócio. As perguntas foram compostas de acordo com escala Likert e admitiam respostas com variação de 1 a 5, sendo o 3, neutro. O resultado foi determinado pela média aritmética de todas as respostas com os valores correspondentes. A análise das respostas foi realizada por meio de estatística descritiva, buscando correlações entre as variáveis avaliadas, de forma a investigar as razões para o investimento e para a não intenção de investir nas tecnologias. Além disso, foram entrevistadas 16 lideranças do setor com o auxílio de questionários semiestruturados. Os resultados foram compilados de forma a propiciar reflexões complementares para o tema. OBJETIVO Investigar o cenário de investimento tecnológico do agronegócio brasileiro e antecipar tendências tecnológicas que possuem viabilidade de aplicação nos próximos anos. Além disso, criar referência para que líderes possam ter mais embasamento para suas decisões de investimento no segmento. 4 PRINCIPAIS DADOS DA PESQUISA Segmentos representados Intenção de investimento em tecnologias habilitadoras PRIMÁRIO Produtores rurais, como agricultores e pecuaristas. As tecnologias foram avaliadas em uma escala de 1 a 5, onde 1 é “Muito baixa” e 5 é “Muito Alta”. Líderes e tomadores de decisão em tecnologia do segmento de agronegócio brasileiro. Açúcar e álcool Adubo, defensivos ou sementes / insumos agrícolas Algodão e grãos Café Proteína animal Leite e derivados Madeira e celulose IA e aprendizado de máquina 4,07 Georreferenciamento e cartografia digital 4,01 Analytics e big data 4,21 Digital twins 3,12 Meteorologia digital 3,94 Máquinas e equipamentos Óleos, farinhas e conservas Revenda de máquinas Têxtil FLV (frutas, verduras e legumes) Cooperativas e distribuidores 36% SECUNDÁRIO Agroindústrias e fabricantes de insumos. 64% ENTREVISTAS QUALITATIVAS 16 ENTREVISTAS QUANTITATIVAS 200 4,04 Cloud computing e cibersegurança 3,77 Autonomia e computação de borda Blockchain 3,48 Visão computacional (RA/RV) 3,71 Biotecnologia 3,79 3,44 Interfaces naturais e assistentes virtuais Descarbonização 3,79 Conectividade 5G e internet das coisas 4,26 5 Tecnologias com maior e menor intenção de investimento por setor Outras tecnologias listadas na pesquisa como destaque Setor primário Produtores rurais, agricultores e pecuaristas Principais correlações entre variáveis Setor secundário Agroindústrias e fabricantes de insumos CONECTIVIDADE 5G E INTERNET DAS COISAS ANALYTICS E BIG DATA GEORREFE- RENCIAMENTO E CARTOGRAFIA DIGITAL CONECTIVIDADE 5G E INTERNET DAS COISAS BLOCKCHAIN INTERFACES NATURAIS E ASSISTENTES VIRTUAIS METEOROLOGIA DIGITAL INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E APRENDIZADO DE MÁQUINA 4,27 (+) 4,26 (+) DIGITAL TWINS 3,18 (–) DIGITAL TWINS 3,09 (–) 4,13 (+) 4,25 (+) 3,38 (–) 3,46 (–) 4,13 (+) 4,14 (+) INTERFACES NATURAIS E ASSISTENTES VIRTUAIS 3,40 (–) BLOCKCHAIN 3,54 (–) I Quanto mais investimento em “Inteligência artificial e aprendizado de máquina” mais se investe em “Analytics e big data”. II Quanto mais investimento em “Visão computacional (RA/ RV)”, mais se investe em “Interfaces naturais e assistentes virtuais”. III Quanto mais investimento em “Analytics e big data”, mais se investe em “Cloud computing e cibersegurança” IV Quanto mais investimento em “Analytics e big data”, mais se investe em “Conectividade 5G e internet das coisas”. V Quanto mais investimento em “Georreferenciamento e cartografia digital”, mais se investe em “Meteorologia digital”. As tecnologias foram avaliadas em uma escala de 1 a 5, onde 1 é “Muito baixa” e 5 é “Muito Alta”. AÇÚCAR E ÁLCOOL Georreferenciamento e cartografia digital Digital twins 4,52 2,57 COOPERATIVAS E DISTRIBUIDORES Analytics e big data Digital twins 4,62 3,29 REVENDA DE MÁQUINAS Analytics e big data Interfaces naturais e assistentes virtuais 4,40 2,90 LEITE E DERIVADOS Georreferenciamento e cartografia digital Digital twins 4,53 2,93 FLV (FRUTAS, VERDURAS E LEGUMES) Meteorologia digital Digital twins 4,50 2,90 MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS Conectividade 5G e internet das coisas Digital twins 4,52 2,76 CAFÉ Georreferenciamento e cartografia digital Digital twins 4,82 3,27 TÊXTIL Inteligência artificial e aprendizado de máquina Digital twins 4,67 3,33 MADEIRA E CELULOSE Georreferenciamento e cartografia digital Digital twins 4,78 3,22 ALGODÃO E GRÃOS Georreferenciamento e cartografia digital 4,23 3,15 ÓLEOS, FARINHAS E CONSERVAS Inteligência artificial e aprendizado de máquina Visão computacional (RA/RV) 4,67 3,33 PROTEÍNA ANIMAL Georreferenciamento e cartografia digital Digital twins 4,60 3,15 ADUBO, DEFENSIVOS OU SEMENTES / INSUMOS Analytics e big data Digital twins 4.38 3.21 Digital twins • EOS - earth observation system, satélites • Drones, veículos autônomos • Metaverso • Combustível e energia alternativa • Hidrogênio verde • Biotech e Nanotech • Biobased resíduos • Fenotipagem digital • Proteínas alternativas • Tokenização de ativos 6 Emerging Technologies Agro –– 2022 Jornada rumo ao Data decisioning N a visão dos entrevistados, investimentos em “Analytics e big data” habilitam o desenvolvimento de projetos envolvendo “Inteligência artificial e aprendizado de máquina”. A percepção de que não há mais espaço para decisões baseadas apenas no feeling do gestor evidencia a necessidade de mais previsibilidade sobre os resultados de cada ação tomada. Para isso, nada melhor do que uma combinação entre Inteligência Artificial e Big Data. O papel da IA é justamente cruzar dados, identificar relações e gerar insights em um nível que seria praticamente impossível para o cérebro humano. Quanto mais investimento em “Inteligência artificial e aprendizado de máquina” mais se investe em “Analytics e big data”. 01 7 Emerging Technologies Agro –– 2022 Inteligência artificial na análise de cenários E m uma definição abrangente, visão computacional é o campo da inteligência artificial dedicado à extração de informações a partir de imagens digitais. No contexto das tecnologias emergentes no Agro, pode ser usada para a detecção de doenças e pragas e a estimação de safra, além de ser essencial em sistemas robóticos agrícolas. Existe um feedback qualitativo de que o campo precisa de tecnologias que integrem a tecnologia no ambiente natural dos colaboradores. Isso fica evidente também no aparecimento do termo “Metaverso” em terceiro lugar da pesquisa aberta. Quanto mais investimento em “Visão computacional (RA/RV)”, mais se investe em “Interfaces naturais e assistentes virtuais”.02 8 Emerging Technologies Agro –– 2022 Cloud como caminho para expansão do uso de dados C loud computing e big data têm características que levam uma complementaridade entre si de uma forma natural. O investimento em cloud pode trazer mais velocidade de captura e processamento da informação em tempo real. Uma tecnologia emergente identificada na qualitativa, foi a aplicação de conceitos de Edge Computing no agro. Quanto mais investimento em “Analytics e big data”, mais se investe em “Cloud computing e cibersegurança”. 03 9 Emerging Technologies Agro –– 2022 Conectividade para capturar mais informação A relação do uso de dados no campo respeita um processo de maturidade em transformação digital. Dessa forma, quanto mais investimento em analytics, mais necessidade por conectividade e sensores para produzir mais dados e auxiliar na tomada de decisão. Dessa forma, a tecnologia 5G torna-se uma ponte na qual os dados podem ser enviados rapidamente. Quanto mais investimento em “Analytics e big data”, mais se investe em “Conectividade 5G e internet das coisas”. 04 10 Emerging Technologies Agro –– 2022 Crescimento do EOS P ercebe-se que os investimentos em base tecnológica de conectividade e análise, habilitam mais investimento em tecnologias EOS - earth observation system, satélites. Outro item que foi observado em nossa pesquisa aberta. Dessa forma, o uso combinado de mapas georreferenciados com recursos de meteorologia digital facilita a identificação de fenômenos que influenciam nas atividades de plantio. Quanto mais investimento em “Georreferenciamento e cartografia digital”, mais se investe em “Meteorologia digital”. 05 A história do agronegócio é marcada por revoluções tecnológicas e, no Brasil, uma delas ocorre justamente neste momento, impulsionada pelos avanços do mundo digital. Imagens de satélite, já usadas há algum tempo pelo setor, dividem espaço cada vez mais com tecnologias de precisão, biotecnologia, sensores, robôs, drones e análise de dados. Ferramentas que têm apoiado a criação de um modelo sustentável e competitivo de agricultura tropical sem paralelo no mundo, com uma agricultura baseada em ciência, inovação e empreendedorismo. Para conhecer o cenário de investimento no setor e conseguir antecipar tendências tecnológicas viáveis em aplicação para os próximos anos, a MIT Technology Review Brasil analisou a pesquisa Emerging Technologies, realizada pelo TEC Institute. Nela, foram ouvidos líderes e tomadores de decisão em tecnologia para o segmento, entre produtores rurais, agricultores e pecuaristas (36% dos entrevistados) e agroindustriais e fabricantes de insumos (64% dos entrevistados). Foram consultados 200 participantes na pesquisa quantitativa e 16 na qualitativa. As tecnologias com maior média de uso apontadas foram, respectivamente, conectividade 5G e Internet das Coisas (com média de 4,26), analytics e big data (com 4,21), UMA REVOLUÇÃO EM GERMINAÇÃO Emerging Technologies: Pesquisa realizada pelo TEC Institute e publicada pela MIT Technology Review Brasil identifica cenário de investimentos em tecnologia e aponta tendências para o Agro no Brasil. Por Gabriel Menezes Inteligência Artificial e aprendizado de máquina (com 4,07), cloud computing e cibersegurança (com 4,04) e georreferenciamento e cartografia digital (com 4,01). A tecnologia com menor média apontada foi digital twins (representações virtuais dos produtos), com 3,12. O relatório também revelou quais tecnologias são mais requisitadas por diferentes segmentos de atuação do agro. O georreferenciamento e cartografia digital, por exemplo, foram os mais citados pelas áreas de açúcar e álcool (com média de 4,52), algodão e grãos (com 4,23), café (com 4,82), proteína animal (com 4,60), leite e derivados (com 4,53) e madeira e celulose (com 4,78). Outro questionamento foi sobre o eventual uso de alguma tecnologia não citada na lista. Nas respostas abertas, foram apontados drones e veículos autônomos, EOS (Earth observation system, satélites), metaverso, hidrogênio verde, biotech e nanotech, biobased resíduos, fenotipagem digital, proteínas alternativas e tokenização de ativos. A implantação da inovação e a relação entre variáveis de investimento A pesquisa também identificou correlações de variáveis de investimento. A mais forte detectada foi a de que quanto mais investimento em “Inteligência Artificial e aprendizado de máquina”, mais se investe em “Analytics e Big Data”. Com a análise dos dados e feedbacks qualitativos, foi compreendido que “Analytics e Big Data” habilita o desenvolvimento de projetos envolvendo “Inteligência Artificial e aprendizado de máquina”. Essas tecnologias estão sendo usadas no setor de laranjas, por exemplo, para automatizar a contagem de frutos, o que no processo convencional é feito por meio da derriça (a retirada de todos os frutos). Um projeto desenvolvido pela Embrapa e o Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus) permite que esse trabalho seja feito por robôs, que distinguem os frutos verdes e maduros, sem precisar arrancá-los. O trabalho começou em 2019 e está em fase de refinamento da metodologia, com conclusão prevista para 2022. Para o processo, o computador tem que aprender a reconhecer o que é uma laranja verde ou madura, diferenciando-a de folhas, caules e galhos, além de considerar a densidade das plantas, diferença entre floradas, iluminação não uniforme e áreas sombreadas. Para isso, os pesquisadores utilizam técnicas de processamento digital de imagens e aprendizado de máquina (machine learning), que criam algoritmos que permitem ao computador enxergar os frutos com o máximo de precisão. Com a implantação da inovação, a ideia é aprimorar o método atual de contagem dos QUANTO MAIS INVESTIMENTO EM “INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E APRENDIZADO DE MÁQUINA”, MAIS SE INVESTE EM “ANALYTICS E BIG DATA” 12 13 frutos e reduzir os custos operacionais, gerando um protocolo metodológico mais eficiente para apoiar a estimativa da safra. O cálculo dependerá, ainda, de outras metodologias, envolvendo mapeamento dos pomares de citros, coleta de dados nas propriedades e inventário de árvores. A segunda correlação de variáveis detectada pela pesquisa Emerging Technologies foi a de que quanto mais investimento em “Visão computacional (RA/RV)”, mais se investe, também, em “Interfaces naturais e assistentes virtuais’’. Por meio de um feedback qualitativo, foi compreendido que o campo precisa de ferramentas que integrem a tecnologia no ambiente natural dos colaboradores. Isso foi visível, também, na citação do termo “Metaverso”, que ficou no terceiro lugar da pesquisa aberta de tecnologias. Já a terceira correlação identificada foi de que, quanto mais investimento em “Analytics e Big Data”, mais se investe em “Cloud computing e cibersegurança”. Nesse caso, foi possível, também, enxergar a sinergia entre analytics e cloud. O investimento em cloud pode trazer mais velocidade de captura e processamento da informação em tempo real. Uma tecnologia emergente identificada na qualitativa foi a aplicação de conceitos de Edge Computing no agro. Com ele, busca-se o processamento, a análise e o armazenamento de dados mais próximos de onde eles são gerados para permitir análises e respostas rápidas, quase em tempo real. A quarta correlação foi: quanto mais se investe em “Analytics e Big Data”, mais investimento é feito, também, em “Conectividade 5G e Internet das Coisas”. Foi identificado que a relação do uso de dados no campo respeita um processo de maturidade em transformação digital. Dessa forma, quanto mais investimento em analytics, mais necessidade por conectividade e sensores para produzir mais dados e auxiliar na tomada de decisão. E, por último, a quinta correlação identificou que quanto mais investimento em “Georreferenciamento e cartografia digital”, mais se investe, também,em “Meteorologia digital”. Foi percebido que os investimentos em base tecnológica de conectividade e análise, habilitam mais investimento em tecnologias EOS (earth observation system, satélites) - outro item observado na pesquisa aberta. 14 A importância da conectividade para o agronegócio brasileiro A pesquisa foi encomendada pelo Cubo Agro, hub de inovação para o agronegócio criado há cerca de um ano e mantido pela empresas Itaú BBA, Corteva Agriscience, São Martinho, CNHi e Suzano. O objetivo é criar a conexão entre startups, grandes empresas, fundos de investimentos e demais agentes do ecossistema do setor. Atualmente, ele conta com 25 agtechs que participam de diversas atividades de inovação aberta e geração de resultados por meio da adesão a novas tecnologias. Para Mário Lúcio Pires, diretor de Agronegócio do Itaú BBA, o resultado trouxe diagnósticos que são percebidos no relacionamento do dia a dia com diferentes agentes do segmento. O principal deles: a importância da conectividade. “As tecnologias de ponta já estão disponíveis no Brasil, mas em muitos casos não há como utilizá-las por conta da falta de conectividade. É um grande desperdício. Não é só o 5G que ainda não é uma realidade. Em muitos lugares não há qualquer conexão. Até mesmo uma troca de mensagens por um aplicativo de conversa, algo que parece banal para muita gente, torna-se inviável”, comenta. Segundo o diretor, essa falta de conectividade impede totalmente ou torna menos eficaz a utilização de ferramentas fundamentais para a redução de custos e aumento de produtividade. Ele, no entanto, mostra-se otimista e aposta que, com o aumento cada vez maior da importância do agronegócio para a economia nacional, será inevitável que o investimento em infraestrutura para o segmento se torne uma prioridade na agenda do país. Para o executivo, com mais tecnologia e modernidade no agro, não só as pessoas envolvidas nessa cadeia de negócios têm a ganhar. “Mesmo diante das restrições com relação à conectividade, temos empreendedores e startups buscando soluções criativas com o que é possível fazer no momento. São pessoas e empresas que estão trabalhando e conhecendo a realidade de um setor que envolve uma série enorme de variáveis, a começar pelo clima, que é algo que não podemos controlar”. Outra demanda apontada pelo relatório está relacionada às ferramentas de gestão, um ponto que Pires aponta como fundamental para a modernização do campo. “Trabalhamos há muitos anos no Itaú BBA auxiliando o produtor a se profissionalizar e criar governança em seu negócio. Isso era algo que praticamente não existia. Atualmente, existem muitas ferramentas tecnológicas que tornam essas questões muito mais fáceis e acessíveis. Só vão sobreviver no mercado aqueles que tiverem uma gestão organizada”, afirma. Pedro Barros Barreto Fernandes, também diretor de agronegócio do Itaú BBA, concorda que a pesquisa traz elementos que confirmam tendências que já eram apresentadas pelos clientes. E frisa que foi justamente a percepção da demanda por inovações que levou o Cubo a criar uma vertical especificamente dedicada ao agronegócio. “Conseguimos formar uma vertical com diversos sponsors e, com isso, ter uma capacidade de atração de companhias. Ainda estamos num momento de curva, de uma grande entrada de empresas no Cubo Agro”. Para os próximos anos, ele explica que a expectativa é de que a vertical cresça e de que as relações geradas e os projetos entre as empresas participantes e as grandes corporações se avolumem, fazendo dela uma referência, assim como o Cubo já é em outros segmentos. Para Fernandes, com a maturidade da vertical agro, um novo desafio se tornará fundamental: fomentar o consumo das empresas de agronegócio em outras verticais do Cubo. “É óbvio que o ecossistema agro tem dores super específicas, mas essas empresas também têm uma série de problemas que são comuns com outras indústrias. Elas também têm departamentos de Recursos Humanos, de 15 finanças, de contabilidade... São questões que não estão na Vertical Agro. Temos que fazer com que essas empresas entendam o consumo de inovação de uma forma ampla e não só no seu negócio principal. A forma associativa de usar soluções externas é um modo de ser dos nossos tempos”. Soluções digitais para a otimização do agronegócio Para Mariana Castanho, líder comercial da Corteva Agriscience, empresa também mantenedora do Cubo Agro, além da conectividade, também são desafios para o segmento a formação de obra especializada para interpretar os dados e ajustar a tomada de decisão com base na informação digital, além da criação de plataformas integradas. “Atualmente há centenas de startups que resolvem parcialmente as dores do produtor; é necessária uma plataforma que conecte diversas soluções em um único lugar para facilitar o avanço das tecnologias digitais no agro”. Ela ressalta que, se hoje o Brasil é considerado uma potência agrícola mundial e um dos principais produtores e exportadores de alimentos, muito disso se deve justamente à adoção de tecnologias e aplicação da ciência no campo. “Por isso, muitas startups começam a ver uma grande oportunidade de desenvolver soluções inovadoras para a agricultura e a pecuária. Então, entendo que o grande diferencial do Brasil – e o que o faz ser líder na produção de diversas culturas – está na pesquisa e no constante desenvolvimento de tecnologias inovadoras por instituições públicas e privadas e que resultaram em ferramentas que contribuíram para elevar sucessivamente nossa produtividade”. No âmbito das empresas, Mariana Castanho destaca que investimentos em parcerias com startups – e nesse sentido o Cubo Agro tem contribuído para criar trocas e geração de negócios –, em tecnologias e análise de dados para tomada de decisões estão muito aquecidos entre as companhias dos mais diversos setores do agronegócio. Na visão da líder comercial da Corteva Agriscience, para o futuro serão essenciais tecnologias que melhorem a lucratividade do produtor. Entre elas, soluções financeiras como modelos de sofisticação de Barter e fintechs; sustentabilidade e rastreabilidade que permitam uma valorização da produção agro brasileira e soluções digitais que otimizem a produtividade das lavouras. “Como exemplo, destaco, uma ferramenta da Corteva, Granular Insights, que permite aos produtores direcionarem o monitoramento no campo para identificar mudanças nas lavouras, facilitar a colaboração com os parceiros e trazer informações para tomada de decisão com confiança e economia de tempo”. O metaverso é uma tecnologia que vem ganhando cada vez mais espaço no setor agro por permitir o aumento de lucratividade MUITAS STARTUPS COMEÇAM A VER UMA GRANDE OPORTUNIDADE DE DESENVOLVER SOLUÇÕES INOVADORAS PARA A AGRICULTURA E A PECUÁRIA 16 e a otimização da produtividade através do ambiente digital. A realização de leilões virtuais e o compartilhamento de soluções para o segmento agrícola no mundo digital já é realidade. Algumas empresas vêm apresentando novas ferramentas e maquinários a partir de simulações digitais, com as quais é possível ver na prática o funcionamento de ideias inovadoras; outras vêm utilizando o ambiente virtual para pesquisas com a simulação de lavouras e fazendas. Outra integrante do Cubo Agro, a São Martinho, um dos maiores grupos sucroenergéticos do Brasil, vem fazendo um investimento pesado em inovações e, por conta disso, em conectividade. A empresa desenvolveu, por exemplo, uma rede privada de 4G, em parceria com o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPQD). Ela entrou em funcionamento em uma das unidades em 2019 e, no ano seguinte, foi implementada em todas, cobrindo uma área de aproximadamente 300 mil hectares. De acordo com Edi Claudio Fiori, gerente executivo de TI da São Martinho, com a implantação da rede privada de dados, as possibilidadesno dia a dia aumentaram substancialmente: “Costumamos dizer que iluminamos o nosso campo. Isso nos permitiu primeiramente ter uma visibilidade em tempo real de informações que antes demandariam dias e grande esforço para serem coletadas. E a partir daí, pudemos agir de forma muito mais rápida também. Por exemplo, se um trator para porque furou o pneu, nós conseguimos de imediato acionar o caminhão borracheiro mais próximo. Conseguimos mais eficiência com menor custo operacional”. A importância de ter toda a área operacional conectada, ele acrescenta, não é apenas para receber dados, mas também enviar dados para as máquinas. Com isso, o nível de automação no campo aumentou de forma considerável. VISIBILIDADE EM TEMPO REAL DE INFORMAÇÕES QUE ANTES DEMANDARIAM DIAS E GRANDE ESFORÇO PARA SEREM COLETADAS. “O uso desses dados nos leva a automação e a otimização de processos. Toda operação agrícola é uma grande logística, que envolve pessoas, máquinas, produtos, a produção... Aproveitando os dados de todos os equipamentos agrícolas e muitos sensores instalados em campo, estamos viabilizando um estágio que chamamos de agricultura de ultra precisão”. O próximo passo, segundo ele, é buscar cada vez mais ferramentas e conhecimentos para trabalhar todos os dados para criar insights que ajudem na tomada de decisões, na eficiência operacional e na criação de produtos digitais. Neste sentido, a empresa está desenvolvendo, por exemplo, uma plataforma de manejo integrado de pragas. O objetivo é encontrar combinações de fatores que criam condições para disseminação da praga, e, assim sendo, ações de combate são imediatas e assertivas. “Hoje, temos uma avalanche de dados. Precisamos agora avançar na capacidade de análise e conectar com todas as funções de negócio”. 17 Dados de qualidade para uma agricultura de ultra precisão O gestor de inovação da empresa, Walter Maccheroni ressalta que toda a história da São Martinho é pautada por inovações, com o principal objetivo de aumentar a eficiência dos processos e reduzir custos. “Trabalhamos com commodities, o que significa que a variação de preços é estabelecida por diversos fatores que fogem do nosso potencial. Para que tenhamos um lucro consistente, precisamos estar sempre focados na redução de custos”. E, por ter esse espírito de pioneirismo, ele diz, a empresa se tornou uma referência para o segmento e até mesmo outras indústrias no Brasil e no mundo. “Isso é importante porque torna o país mais avançado tecnologicamente e tem o efeito da atração de startups e universidades”. Maccheroni comenta que um planejamento estratégico foi elaborado para que, na próxima década, a empresa foque ainda mais no desenvolvimento de inovações disruptivas para criar novas possibilidades de negócios. Neste mesmo sentido, há um investimento em capacitação dos funcionários para que eles adquiram uma visão cada vez mais empreendedora. “A nossa participação no Cubo Agro faz parte desse plano. É uma iniciativa para intensificar o nosso pioneirismo, desenvolver novos negócios para a empresa e fortalecer ainda mais o nosso ecossistema”. Três pilares para a revolução: de importador a potência mundial A escalada tecnológica no agro brasileiro começou a ganhar corpo na década de 1970, época em que o país importava boa parte dos seus alimentos básicos, como o feijão, que vinha do México, e o leite, dos Estados Unidos. Em 1973, com a criação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a Embrapa, esse cenário foi completamente transformado. “O que a Embrapa, juntamente com as universidades, os institutos de pesquisa, as assistências técnicas e o setor privado fizeram nas últimas cinco décadas foi uma verdadeira revolução baseada na ciência. Hoje, somos uma potência agropecuária que alimenta mais de 800 milhões de pessoas em todo o mundo. E isso, com dois terços do território nacional com a vegetação nativa preservada: uma área equivalente a 16 vezes a superfície da Alemanha”, comenta o engenheiro agrônomo Celso Moretti, que desde 2019 ocupa a presidência da Embrapa. Ele explica que essa revolução foi feita baseada em três pilares. O primeiro deles, o enriquecimento do solo fraco de algumas regiões até torná-lo fértil. O segundo, a tropicalização de plantas e animais. O boi, por exemplo, veio da Índia e da Europa. Atualmente, há um trabalho neste sentido sendo feito com o trigo, a única commodity que o Brasil ainda importa. O terceiro pilar foi o desenvolvimento de uma plataforma sustentável, que envolve técnicas como a fixação biológica do nitrogênio (FBN) – um processo natural que ocorre em associações de plantas com bactérias –, e o Plantio Direto – técnica em que o cultivo é feito sem as etapas da aração e da gradagem. Nesse sistema, é essencial manter o solo sempre coberto por plantas em desenvolvimento e por resíduos vegetais. Entre os seus benefícios, está o favorecimento do sequestro de carbono e a redução da demanda por água e de extremos de temperatura no solo. Segundo dados recentes, Moretti aponta, há cerca de 35 milhões de hectares sendo cultivados dessa forma no território nacional. Moretti destaca que quando o assunto é tecnologia no setor agropecuário, o Brasil está no patamar dos países mais avançados. “Em tecnologia agropecuária, o Brasil é primeiro mundo. Não existe nenhum outro país no cinturão tropical do globo que tenha avançado tanto. E esses avanços ocorrem de forma mais acelerada na produção de commodities, 18 naturalmente, que é o nosso carro-chefe”. E para nortear os caminhos a partir de agora, uma das iniciativas da instituição foi o recente lançamento da plataforma Visão de Futuro do Agro Brasileiro, que reúne e sintetiza análises estruturais do ambiente de produção de alimentos, fibras e bioenergia, com horizonte de longo prazo. Ela foi criada a partir da reunião de 300 especialistas e lideranças do agro brasileiro, a análise de 126 documentos e discussões em 37 eventos. O resultado foi a consolidação de oito megatendências para o setor. São elas: sustentabilidade, adaptação à mudança do clima, agrodigital, intensificação tecnológica e concentração da produção, transformações rápidas no consumo e na agregação de valor, biorrevolução, integração de conhecimentos e de tecnologias e incremento da governança e dos riscos. A partir dessa definição, uma série de desafios também foram estabelecidos. Com relação às mudanças climáticas, por exemplo, foi definido que será preciso adaptar a agricultura tropical brasileira para que ela possa competir com países (na sua maioria, os mais desenvolvidos) situados em regiões temperadas, que poderão vir a ter melhores tecnologias e condições climáticas, com o aquecimento do planeta. Além disso, foi destacada a necessidade da diminuição da perda da biodiversidade, desenvolvendo práticas sustentáveis de produção e manejo do solo, água, insumos e energia; e o cumprimento dos acordos internacionais relacionados à mudança do clima, para garantir a melhor imagem dos produtos brasileiros em mercados externos. O agrodigital e a barreira da conectividade Apesar de um cenário promissor em muitos sentidos, para que as inovações tecnológicas se popularizem no campo é preciso ainda 19 superar algumas barreiras. Uma das principais é a conectividade. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 70% das propriedades rurais brasileiras não possuem conexão à internet. Para o presidente da Embrapa, a solução desse desafio virá com políticas públicas, mas também com investimentos privados, que já começaram a ser feitos pelas principais operadoras de telefonia. Além disso, é preciso difundir a cultura digital entre os produtores e conscientizá-los de que esse é um caminho sem volta. Em 2020, uma pesquisa feita pela instituição em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e o InstitutoNacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) fez um retrato sobre a presença do digital no agro. O trabalho contou mais de 750 participantes entre produtores rurais, empresas e prestadores de serviço, e revelou que 84% dos agricultores brasileiros já utilizam ao menos uma tecnologia digital como ferramenta de apoio na produção agrícola. Mais de 70% dos produtores disseram que acessam a internet para pesquisas variadas sobre agricultura. Já as redes sociais, como o Facebook, e os serviços de mensagem, como o WhatsApp, foram apontados por 57,5% deles como meios usados para receber ou divulgar informações sobre a propriedade, comprar insumos ou comercializar sua produção. “Hoje, existem mais celulares do que pessoas no Brasil, e boa parte da população sabe manejar as operações básicas. Temos feito um conjunto de ações em parceria com outras instituições para capacitar e fazer com que toda essa tecnologia chegue até os produtores de todas as regiões”, comenta Moretti. No VII Plano Diretor da Embrapa 2020-2030, a instituição estabeleceu metas robustas sobre o tema. Entre elas, ampliar em 100%, até 2025, o número de usuários de plataformas digitais de dados espaço-temporais integrados para o território brasileiro e de aplicativos e sistemas digitais, ambos gerados pela Embrapa e parceiros. Neste sentido, uma frente de estímulo é a plataforma AgroAPI, que oferece informações e modelos agropecuários criados pela Embrapa que podem ser usados por empresas, instituições públicas e privadas e startups para a criação de softwares, sistemas web e aplicativos móveis para o setor agropecuário, com redução de custo e de tempo. O acesso aos dados e modelos é feito virtualmente por meio de APIs (Interface de Programação de Aplicativos), um conjunto de padrões e linguagens de programação que permite, de maneira automatizada, a comunicação entre sistemas diferentes de forma ágil e segura. Moretti frisa que a chegada da tecnologia 5G também abrirá um leque de possibilidades que trará redução de custos e maior produtividade. No ano passado, por exemplo, foi feito o uso experimental da tecnologia por uma empresa de Londrina (PR) para o manejo da ferrugem, um fungo que ataca as plantações de soja. Normalmente, os produtores usam armadilhas físicas para coletar esporos que podem indicar a presença da praga. Em seguida, o material é levado para a análise e, caso seja confirmado o fungo, a plantação recebe o fungicida. Com o 5G, os especialistas instalaram sensores nas armadilhas capazes de identificar a praga de forma rápida. Em caso de ocorrências localizadas, basta o produtor enviar um drone para aplicar o defensivo apenas naquele pedaço. “Isso traz mais sustentabilidade, economia e eficiência na produção”. Monitoramento de agtechs no território brasileiro O cenário de investimento tecnológico no agronegócio brasileiro também vem sendo monitorado pelo Radar Agtech, um mapeamento das startups do segmento feito pela Embrapa, a SP Ventures e a Homo Ludens. O relatório mais recente, que analisou os anos de 2020 e 2021, identificou 1.574 startups voltadas para o setor no país, concentradas 20 em quase 90% nas regiões Sudeste (62,5%) e Sul (25,2%). A unidade federativa com maior número de agtechs é São Paulo, com 48,1%. O relatório também dividiu as empresas em três estágios distintos de atuação: “Antes da fazenda”, que se refere às necessidades anteriores ao processo de produção, como, por exemplo, fertilizantes, sementes, crédito, seguro e análise fiduciária; “Dentro da fazenda”, que são aquelas que atendem questões do dia a dia da produção, como, por exemplo, automação, gestão de resíduos agrícolas, meteorologia e irrigação e gestão de água; e “Depois da fazenda”, voltadas para a pós-produção, como armazenamento, infraestrutura e logística, biodiversidade e sustentabilidade e sistemas de gerenciamento de lojas e serviço de alimentação. O resultado foi que as empresas voltadas para “Depois da fazenda” são a maior parte: 718. Já “Dentro da fazenda” foram identificadas 657 startups e, “Antes da fazenda”, 199. Já com relação aos segmentos de atuação das startups, os cinco mais populares identificados foram: alimentos inovadores e novas tendências alimentares (com 293 startups), sistemas de gestão de propriedade rural (com 154), plataforma integradora de sistemas, soluções e dados (com 111), marketplaces e plataformas de negociação e venda de produtos agropecuários (com 100) e drones, máquinas e equipamentos (com 79). Redução da emissão de carbono e biorrevolução Com tantas novidades tecnológicas no setor, apontar quais serão as ferramentas indispensáveis para os próximos anos não é uma tarefa simples. Mas, é possível ter alguma noção ao refletir sobre demandas que hoje começam a se tornar fundamentais para a sociedade e governos. Uma delas é a sustentabilidade. E neste sentido, a prática do ESG (Environmental, Social e Governance) vem ganhando cada vez mais importância no mercado. Ela determina uma série de ações de sustentabilidade que devem ser adotadas por uma empresa ou um governo para que, por exemplo, eles possam receber investimentos de determinados grupos. E uma das formas de compensação por impactos ambientais é por meio da compra de créditos de carbonos. Cada crédito equivale a uma tonelada de dióxido de carbono (CO2) que deixou de ser emitida na atmosfera por alguma empresa, que pode negociá-la com outras que tiveram uma emissão grande. A tecnologia blockchain vem sendo usada para trazer agilidade e mais confiabilidade neste mercado, por meio de tokenização. Celso Moretti, o presidente da Embrapa, afirma que o agro brasileiro ainda não participa com todo o seu potencial neste segmento, que já movimenta bilhões de dólares. “O agro tem uma oportunidade muito grande para se inserir nesse mercado, já que, há mais de 30 anos, utiliza técnicas que reduzem a emissão de carbono, como o plantio direto. Já há também no mercado a carne carbono neutro, produzida pelo sistema de integração silvipastoril (pecuária-floresta) ou agrossilvipastoril (lavoura-pecuária- floresta). Nele, você tem numa mesma área a plantação da pastagem e outros cultivos, como a soja”. Ele lembra que as mudanças climáticas também vêm criando demandas por inovações. E que boa parte delas está ligada à biotecnologia, como, por exemplo, a edição do genoma de plantas e animais. “Recentemente, apresentamos na Embrapa duas variedades de cana geneticamente editadas. Isso mostra que temos essa expertise e abre uma quantidade enorme de possibilidades, como, por exemplo, criar plantas mais tolerantes à seca e às temperaturas mais elevadas”, diz Moretti. Universidades trabalham por inovações mais acessíveis Dentro das universidades, os avanços tecnológicos voltados para o agronegócio vêm sendo trabalhados continuamente com 21 o objetivo de não só criar novas soluções, mas também dominar as ferramentas já existentes e tornar o acesso a elas mais democrático. A afirmação é do pesquisador Gustavo Bastos Lyra, professor do Departamento de Ciências Ambientais do Instituto de Florestas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), além de docente do Programa de Pós- graduação em Engenharia Agrícola e Ambiental da instituição. Segundo ele, com o passar dos anos e a maior complexidade das demandas, o agro se tornou uma matéria multidisciplinar, que, além da agronomia, envolve engenharias, computação e outras áreas. Ao passo em que as inovações são agregadas pela tecnologia nacional, o custo é bastante reduzido. Por exemplo, uma estação meteorológica que antigamente poderia custar em média R$ 35 mil, hoje tem modelos pela metade do preço. “As universidades estão muito comprometidas em fazer com que as pesquisas se transformem em ferramentas e cheguem até os produtores. Há um trabalho com as empresas, governos e institutos de pesquisas neste sentido. Hoje, há um movimentomuito forte de incubadoras de empresas dentro das instituições de ensino”. O pesquisador destaca que as inovações já podem ser encontradas em grandes empreendimentos e até mesmo em produções de médio porte em diversas partes do país, mas reforça que a falta de conectividade é uma barreira que precisa ser superada. “A agricultura digital depende da transmissão de dados para a nuvem, e é preciso existir algum tipo de conexão para que isso ocorra. Existem casos em que essa transmissão de dados é feita via rádio ou via satélite, mas o primeiro tem uma extensão limitada e o segundo, um custo muito alto. O 5G promete ser a grande solução”. Na visão dele, as inovações tecnológicas no setor, cada vez mais, serão voltadas para mitigar os riscos de produção, visto que com a globalização a concorrência está cada vez maior. “A agricultura por si só é uma atividade de risco elevado. Você utiliza a tecnologia para controlar esse risco. Antigamente, ao produtor bastava a sensibilidade. Hoje, com as grandes produções, não dá para ser assim. O campo que usa as novas tecnologias tem uma vulnerabilidade menor”, comenta. Outro ponto de atenção cada vez maior nas inovações, aponta o especialista, será a sustentabilidade. A rastreabilidade dos produtos, por meio da tecnologia blockchain, por exemplo, tende a se tornar cada vez mais popular, uma vez que há uma cultura crescente entre os consumidores de conhecer todo o processo de produção e fazer escolhas mais sustentáveis. Além disso, com os sistemas de monitoramento e processamento de dados, O AGRO SE TORNOU UMA MATÉRIA MULTIDISCIPLINAR, QUE, ALÉM DA AGRONOMIA, ENVOLVE ENGENHARIAS, COMPUTAÇÃO... será possível cada vez mais recuperar áreas degradadas e transformá-las em produtivas. “Ter um agronegócio forte e competitivo mundialmente exigirá a preservação das florestas, até mesmo por uma exigência de mercados estrangeiros. E não há a necessidade 22 no Brasil de mais terras para o segmento. Com o que já existe, é possível produzir mais e mais barato, com a ajuda da tecnologia”, conclui Lyra. Universidades trabalham por inovações mais acessíveis O mundo digital surgiu na vida de Bernhard Kiep em 1999, quando ele estudava na Harvard Bussines School. De lá para cá, além de produtor rural, ele se envolveu diretamente numa série de projetos tecnológicos voltados para o segmento do agronegócio. Um dos mais recentes é o aplicativo inLida, cofundado por ele, uma espécie de caderneta de campo digital para que o pecuarista e a sua equipe façam a contagem do rebanho por meio do controle das informações coletadas dos animais. No sistema, é possível ver, por exemplo, gráficos com a distribuição das categorias animais da propriedade, a evolução do rebanho, o nascimento, desmama e mortalidade, vendas, além da importação e exportação de planilhas com dados do rebanho e de inseminação em Excel. O aplicativo é gratuito e funciona, também, no modo off-line. Segundo Kiep, o mundo digital teve um avanço expressivo no agronegócio brasileiro principalmente nos últimos três ou quatro anos. Para ele, o trabalhador do campo brasileiro está muito mais aberto para experimentar as novidades tecnológicas do que o americano ou o europeu, por exemplo. “O desenvolvedor, no entanto, precisa conhecer a realidade do negócio e criar uma ferramenta simples e funcional. Com o arrocho financeiro e a alta de juros, os produtores passarão a ter uma seletividade muito maior para decidir pelas inovações que eles realmente precisam ter, e não aquelas que são legais de ter. No inLida, a solução foi criar uma ferramenta gratuita e se manter por meio de patrocínios e parceiros”, explica. Ele também é membro do conselho da empresa austríaca Pessl Instruments GmbH, que no Brasil atua com a marca METOS Brasil. Ela oferece soluções de tecnologia de monitoramento climático, risco agrícola e gerenciamento de irrigação. Os seus produtos incluem estações meteorológicas, dispositivos de monitoramento de umidade do solo, controladores de automação de irrigação, armadilhas eletrônicas para insetos, sistemas remotos de monitoramento de culturas, software de alerta de doenças e pragas e previsões meteorológicas localizadas. Outro negócio em que está envolvido é a InstaAgro, a primeira grande loja virtual voltada para o agronegócio com atuação em todo o território nacional. “Não somos um marketplace tradicional. Nos responsabilizamos por todo o processo, da compra até a entrega do produto, e garantimos toda a segurança. E tudo isso por um preço justo aos produtores”. Já Maurício Nicocelli Netto se formou em Engenharia Agronômica na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Após alguns anos de experiência no segmento tecnológico do agronegócio, em 2017 ele decidiu criar a Monagri, uma consultoria em agricultura digital. “Eu ensino os agricultores a trabalharem com tecnologia. Hoje, atendo seis grandes grupos do Mato Grosso, que totalizam 72 mil hectares. O meu trabalho é formar a unidade de tecnologia, que envolve pessoas, sistemas e plataformas. Além disso, faço consultorias para empresas que querem entrar no ramo do agro e viajo por diversas partes do mundo para trocar conhecimentos nesta área. Eu sou um encorajador da tecnologia no agro”. Na sua visão, as informações e ferramentas tecnológicas atualmente estão mais democratizadas. As mesmas tecnologias disponíveis em países da Europa e nos Estados Unidos, também podem ser encontradas por aqui. “O maior desafio é fazer com que o produtor tenha o entendimento de que pode 23 usá-las. Ainda existe muita fazenda que está capitalizada e pode investir, mas mesmo assim prefere manter o sistema tradicional. A geração mais nova de produtores, por sua vez, vem aderindo em peso às novidades e criando uma maior competitividade no setor”. E entre as tecnologias que se tornarão essenciais nos próximos anos, ele aponta as máquinas autônomas, desde robôs, tratores a pulverizadores, além dos drones e Vants (Veículos aéreos não tripulados). “Outra coisa, que é elementar, mas se tornará uma exigência para se manter no mercado, é o uso de softwares de gestão. Quem não aderir, ficará para trás”, diz. A tecnologia voltada para a gestão foi justamente um dos alicerces para o crescimento da Alvorada Produtos Agropecuários, empresa criada em 1986 na cidade de Dourados, no Mato Grosso do Sul, por Feres Soubhia Filho, até hoje diretor e único proprietário. De lá para cá, ela se expandiu bastante e hoje conta com 36 filiais em sete estados, com mais de 700 colaboradores, sendo cerca de 100 deles fazendo trabalho de campo. Em 2021, o faturamento da empresa foi de R$ 1,3 bilhão e, para esse ano, a meta é chegar a R$ 1,6 bilhão. Outro planejamento estabelecido é chegar a 200 filiais até o ano de 2026. De acordo com o gerente financeiro da empresa, Felipe Flumian Soubhia, sempre houve um foco especial no investimento em tecnologia, para permitir o crescimento físico e de vendas. Atualmente, todos os processos da Alvorada são centralizados: financeiro, contabilidade, recursos humanos, marketing e compras. “Hoje, contamos com uma ferramenta de Business Intelligence (BI) líder de mercado que fornece todos os dados necessários em tempo real para tomadas de decisões. Informações como receita, margem, prazos, compras de clientes, despesas, contas a pagar, entre outras, são disponibilizadas em poucos segundos através dessa ferramenta. Nosso ERP (sistema integrado de gestão empresarial) vai ao campo junto com o nosso vendedor, onde, por meio de um tablet, ele consegue implantar pedidos e verificar os preços atualizados dos produtos”, comenta. A empresa está iniciando, também, as suas operações de e-commerce e, no seu Centro de Serviços Compartilhados (CSC), houve um investimento em robotização. Os robôs exercem atividades repetitivas referentes a procedimentos fiscais, cadastrais e financeiros. “Essaferramenta nos possibilitou um ganho enorme, já que essas atividades demandavam um tempo enorme de nossa equipe, que não se sentia motivada para realizar esses tipos de procedimentos. Para projetos futuros na área de tecnologia, a empresa começou seus estudos em softwares para fazendas, dispositivos de rastreamento animal e dispositivos de diagnóstico animal”, conclui o gerente. Entenda as tecnologias apontadas na pesquisa: Inteligência Artificial e aprendizado de máquina A Inteligência Artificial é o campo d a c i ê n c i a d a c o m p u t a ç ã o c o m capacidade para elaborar sistemas que criam raciocínios próprios a partir de algoritmos. Por meio dela, é possível fazer o aprendizado de máquinas, em que o computador ganha a capacidade de aprender por si próprio, com base em modelos de treinamento e experiências. 01 Cloud computing e cibersegurança Cloud computing é uma tecnologia que possibilita o acesso remoto a softwares, armazenamento de arquivos e processamento d e d a d o s p o r m e i o d a i nt e r n et . J á a cibersegurança é a tecnologia voltada para a proteção de computadores e servidores, dispositivos móveis, sistemas eletrônicos, redes e dados contra ataques criminosos. Descarbonização Conjunto de ferramentas voltado para a redução da emissão de carbono das cadeias produtivas. O tema vem ganhando cada vez mais relevância para investidores e consumidores. Digital twins Um digital t win é uma repres entaç ão virtual de objetos ou processos físicos. Ele permite que os especialistas analisem a performance e todas as variáveis por meio dessa representação. Conectividade 5G e Internet das Coisas O 5G é o padrão de tecnologia de quinta geração para redes móveis e de banda larga, com muito mais potência do que a tecnologia 4G. Já a Internet das Coisas se refere a objetos físicos capazes de receber e transmitir dados. No campo, o uso da segunda está intimamente relacionado à popularização da primeira. Analytics e big data O Analytics é uma ferramenta que faz a análise computacional sistemática de dados ou estatísticas. Ele é usado para a descoberta, interpretação e comunicação de padrões significativos. Já o big data é uma rede de dados com maior variedade que chega em volumes crescentes e com velocidade cada vez maior. Autonomia e computação de borda Trata-se de uma arquitetura de rede que atua sob a nuvem, distribuindo recursos de processamento e armazenamento para dispositivos de Internet das Coisas. O objetivo é pré-processar os dados no local físico ou próximo do usuário e acelerar os processos. Georreferenciamento e cartografia digital Trata-se de um conjunto de ferramentas que fazem o armazenamento e visualização de dados espaciais. O objetivo é a produção de mapas. Blockchain É um sistema que possibilita o rastreio de trocas de alguns tipos de informação pela web. São pedaços de código que carregam informações conectadas. Ele p e r m i te, p o r exe m p l o, a s t ra n s a ç õ e s com criptoativos. Meteorologia digital Sistema que fornece a previsão do tempo localizada, permitindo planejamento de operações como o manejo hídrico e o monitoramento de doenças e pragas. Visão computacional A visão computacional utiliza Inteligência Artif icial para identific ar e interpretar dados visuais. Ela pode ser implantada e m c â m e ra s , s e r v i d o re s d e b o rd a o u na nuvem. Interfaces naturais e assistentes virtuais Sistemas que permitem a interação humana de uma forma intuitiva e natural, seja pelo corpo, voz, toque e gestos. Biotecnologia Tecnologia que utiliza sistemas biológicos o u o r g a n i s m o s v i v o s p a r a f a b r i c a r o u m o d i f i c a r p ro d u t o s . N o a g ro, e l a é u t i l i z a d a , p o r exe m p l o, p a ra to r n a r espécies mais resistentes a variações de climas. 02 08 07 03 09 04 05 06 12 11 10 13 25 Tudo conectado A chegada do 5G do Brasil se sobrepõe ao estudo em andamento do 6G, previsto para entrar em operação em 2030. A ampliação da conectividade - incluindo a internet por satélite - vai impulsionar a Internet das Coisas, com soluções de computação de borda e nuvem, e tornar o tráfego de informações onipresente. Produção sem fronteiras A distância física entre as áreas rurais e urbanas vai encurtar, via internet. Operações automatizadas serão controladas a partir de qualquer ponto do planeta, desde que haja conexão disponível. Da mesma forma, quem optar por permanecer no campo, poderá coordenar, remotamente e digitalmente, toda a cadeia de produção até que os produtos cheguem ao consumidor. 01 Colheita no metaverso Novos dispositivos de realidade aumentada e virtual trarão um grau maior de imersão a o l o n g o d o p ro c e s s o d e p ro d u ç ã o. Tecnologias hápticas, que simulam tato, olfato e paladar, serão capazes de fazer com que a experiência sintética seja muito próxima da verdadeira. Eventualmente, até animais e plantas serão submetidos a estímulos ambientais sinteticamente modificados no metaverso. 02 Sensores moleculares Sensores microscópicos, a nível celular, vão ampliar a capacidade da computação de borda. Informações importantes, sobre o desenvolvimento dos alimentos, serão obtidos em tempo real a partir do envio de dados pelos próprios organismos e alimentados energeticamente por eles. 03 FUTURO AGRO Um novo mundo vai surgir nos próximos anos a partir do uso de tecnologias emergentes. O setor agropecuário será impactado por essas mudanças e, por sua vez, impactará os outros grandes segmentos da economia. A partir do cruzamento de macrotendências mundiais e tecnologias pesquisadas neste relatório, apresentamos alguns cenários que podem se transformar em oportunidades de negócios. Selecionamos 3 grandes movimentos globais: Conectividade, Longevidade e Hiperpersonalização. O objetivo aqui não é acertar previsões, mas refletir sobre possibilidades a serem construídas por meio de tecnologias habilitadoras. A construção do futuro exigirá o planejamento e o esforço de cada um de nós. Por Rafael Coimbra 26 Hiperpersonalização em massaNovas e antigas gerações No passado, produtos iguais eram ofertados para pessoas muito diferentes. No futuro será possível entregar experiências únicas a partir de soluções combinadas, que vão da biotecnologia a cadeias logísticas preditivas. Graças ao avanço científico, pela primeira vez na história humana, teremos o maior número de gerações convivendo simultaneamente. A base da pirâmide está mudando e teremos, proporcionalmente, mais pessoas idosas entre nós. Além disso, a população mundial segue crescendo. Chegaremos a 9,7 bilhões, em 2050, segundo a ONU. O desafio será produzir alimentos e energia suficiente para todos, sem destruir o planeta. Precisaremos desenvolver novos produtos, mais eficazes, além de planejar melhor as cadeias de distribuição a partir de uma compreensão da Terra em tempo real. O fim da geladeira A c o n exã o d o c a m p o c o m a s c a s a s inteligentes terá impacto na cadeia de distribuição. A logística, de ponta a ponta, impactada pela c artografia digital de precisão, tenderá a se tornar mais rápida, barata e inteligente, a ponto de se antecipar às necessidades dos consumidores. Pode ser que, em algum momento, a geladeira e despensa não sejam mais necessárias. Os algoritmos vão prever o que falta em casa e tudo chegará na hora desejada. 01 Alimentos eficientes Atualmente uma grande parte dos alimentos é desperdiçada em diversas etapas: produção, transporte e consumo. Para alimentar o planeta de forma sustentável será preciso repensar toda a cadeia de forma mais eficiente. Com o uso de Big Data e Analytics vai ser possível entender padrões para produzir, transportar e consumir apenas o necessário.01 Bolsa verde Novas soluções de rastreabilidade vão surgir em cima das redes blockchain. M u i t a s e m p r e s a s e c o o p e r a t i v a s vã o s e t ra n sfo r m a r e m o rg a n i z a ç õ e s autônomas descentralizadas (DAOs). E os produtos vão virar tokens fungíveis e não fungíveis (NFTs). Uma grande bolsa verde digital surgirá para transacionar ativos internacionais. 02 Combustível descarbonizante Eliminar os combustíveis fósseis e adotar aqueles de baixa emissão de carbono não será o suficiente para evitar o aquecimento global. É preciso encontrar novas substâncias que removam o dióxido de carbono da atmosfera. Os combustíveis do futuro vão sequestrar poluentes e transformá-los em insumos agrícolas. 02 Refeição DNA Os consumidores vão poder optar por alimentos com sabores exclusivos, criados a partir de gostos particulares. Ou, para melhorar a saúde, a partir do cruzamento de dados do próprio DNA com os genes dos al imentos a s erem produzidos. A inteligência artificial já está sendo usada para a compreensão, por exemplo, da estrutura de proteínas. Em breve, a computação quântica, aliada a novos algoritmos, impulsionará ainda mais, esse tipo de conhecimento. 03 Gêmeo digital da Terra Os modelos climatológicos avançaram muito, graças à Inteligência Artificial. Em algum momento será possível construir uma representação digital muito próxima do que existe fisic amente no planeta , p r o c e s s a n d o u m g r a n d e v o l u m e d e informações. A previsão do tempo será múltipla: hiperlocal ou global, imediata ou longamente antecipada. 03 27 http://mittechreview.com.br https://mittechreview.com.br/assine/ https://mittechreview.com.br/topicos/podcast/ https://www.youtube.com/c/MITTechnologyReviewBrasil/playlists https://mittechreview.com.br/assine/ 28 André L. Miceli CEO e Editor-chefe MIT Technology Review Brasil Pedro Brito Coordenador de Design MIT Technology Review Brasil Suelen Rapello Designer MIT Technology Review Brasil Rafael Coimbra Editor-executivo MIT Technology Review Brasil Paulo Serra Gerente de Operações MIT Technology Review Brasil Natanael Damasceno Coordenador de Conteúdo MIT Technology Review Brasil Iago Ribeiro Chief Creative Officer MIT Technology Review Brasil Júlia Costa Gerente de projetos B2B MIT Technology Review Brasil mittechreview.com.br /mittechreviewbr Nossa missão é inspirar a inovação e a aquisição de conhecimento, bem como aumentar a conscientização sobre o poder da tecnologia na sociedade, das ciências humanas e negócios, a fim de construir um futuro melhor para os amantes e líderes de tecnologia de língua portuguesa. Fale Conosco redacao@mittechreview.com.br Anuncie www.mittechreview.com.br/anuncie Produzido em parceria com: site TRBR 4: Botão 6: Podcasts 4: Botão 7: Botão 8:
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