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TEXTO DE FILOSOFIA MITO 2019

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TEXTO DE FILOSOFIA - PROFESSOR IMERSON NÃO FAZER ANOTAÇÕES
Homero e Hesíodo
Os mitos gregos surgem quando ainda não havia escrita, portanto eram preservados pela tradição e transmitidos oralmente pelos aedos e rapsodos, cantores ambulantes que davam forma poética aos relatos populares e os recitavam de cor em praça pública. 
Homero, um desses poetas, teria sido o provável autor de dois poemas épicos, as epopéias Ilíada e Odisséia. A Ilíada trata da guerra de Tróia (Tróia em grego é Ílion) e a Odisséia relata o retorno de Ulisses a Ítaca, após a guerra de Tróia (Odisseus é o nome grego de Ulisses). Existe, no entanto, uma controvérsia a respeito da época em que Homero teria vivido (séc. IX ou VIlI a.c.i) e até se ele realmente teria existido. Alguns intérpretes acham que essas obras foram elaboradas por diversos autores, em razão inclusive da diversidade do estilo dos dois poemas e de passagens indicativas de períodos históricos diferentes. 
Foi importante a função didática das epopéias na vida dos gregos, por descreverem o período da civilização micênica e transmitirem os valores da cultura por meio das histórias dos deuses e antepassados, expressando uma determinada concepção de vida. Por isso, desde cedo as crianças decoravam passagens dos poemas de Homero. As ações heróicas relatadas nas epopéias mostram a constante intervenção dos deuses, ora para auxiliar o protegido, ora para perseguir o inimigo. No período da civilização micênica, o indivíduo é presa do Destino (Moira), que é fixo, imutável, e não pode ser alterado. Até distúrbios psíquicos, como, por exemplo, o desmaio momentâneo de Agamemnon, são atribuídos à ação divina. Hesíodo, outro poeta que teria vivido por volta do final do século VIII e princípios do VII a.C., produz uma obra com particularidades que tendem a superar a poesia impessoal e coletiva das epopéias. Essas características novas são indicativas do período arcaico, que então se inicia. Por exemplo, Hesíodo valoriza o trabalho e a justiça, destacando a importância das regras que balizam o comportamento humano. 
Mesmo assim, sua obra teogonia (teo: deus: gonia:origem) reflete ainda o interesse pela crença nos mitos. Nela Hesíodo relata as origens do mundo e dos deuses, em que as forças emergentes da natureza vão se divinizando, transformando-se nas próprias divindades: a Terra é Gaia, o Céu é Urano, o Tempo é Cronos. Esses seres nascem ora por segregação, ora pela intervenção de Eros (o Amor) ,princípio divino que aproxima os opostos.
No período arcaico surgem os primeiros filósofos gregos, por volta de fins do século VII a.C. e durante o século VI a.C. Alguns autores chamam de "milagre grego" à passagem da mentalidade mítica para o pensamento crítico racional e filosófico, por destacarem o caráter repentino e único desse processo. No entanto, outros estudiosos atenuam a ênfase dada a essa mutação e superam essa visão simplista e "a-histórica", realçando o fato de que a racionalidade crítica resultou de processo muito lento, preparado pelo passado mítico, cujas características não desaparecem "como por encanto" na nova abordagem filosófica do mundo. Ou seja,a filosofia na Grécia não é fruto de um salto, do "milagre" realizado por um povo privilegiado, mas é a culminação do processo gestado através dos tempos e que, portanto, tem sua dívida com o passado mítico. Algumas novidades do período arcaico ajudam a transformar a visão que o mito oferecia. Essas novidades são: a invenção da escrita e da moeda, a lei escrita, o nascimento da pólis. E todas elas como condição para o surgimento do filósofo.
A escrita A consciência mítica predomina em culturas de tradição oral, quando ainda não há escrita. É bem verdade que de início, a primeira escrita é mágica e reservada aos privilegiados, aos sacerdotes e aos reis. Enquanto os rituais religiosos são cheios de formulas mágicas, termos fixos e inquestionados, os escritos deixam de ser reservados apenas aos que detêm o poder e passam a ser divulgados em praça pública, sujeitos à discussão e à crítica. Isso não significa que a escrita tenha se tornado acessível a todos, muito ao contrário, a maioria da população é constituída de analfabetos. O que está em destaque, no entanto, é a dessacralização da escrita, ou seja seu desligamento do sagrado. A escrita gera nova idade mental porque exige de quem escreve uma postura diferente daquela de quem apenas fala. Como a escrita fixa a palavra, e consequentemente o mundo para além de quem a proferiu, necessita de maior rigor e clareza, o que estimula o espírito crítico. Além disso, a retomada posterior do que foi escrito e o exame pelos outros - não só de contemporâneos mas de outras gerações abrem os horizontes do pensamento, propiciando o distanciamento do vivido o confronto das ideias, a ampliação da crítica. Portanto. a escrita surge como possibilidade maior de abstração, uma reflexão da palavra que tenderá a modificar a própria estrutura do pensamento. A moeda Entre os séculos VIII e VI a.c. dá-se o desenvolvimento do comércio marítimo decorrente da expansão do mundo grego, com a colonização da Magna Grécia (atual sul da Itália e Sicília) e Jônia (litoral da atual Turquia). O enriquecimento dos comerciantes provoca a substituição de valores aristocráticos por valores da nova classe em ascensão. Na época da aristocracia rural, de riqueza baseada em terras e rebanhos, a economia é pré-monetária. Os objetos usados para troca vêm carregados de simbologia afetiva e sagrada, por causa do caráter sobrenatural que impregna as relações sociais, fortemente marcadas pela posição social de pessoas consideradas superiores devido à origem divina de seus ancestrais. A moeda inventada na Lídia aparece na Grécia por volta do século VII a.C., o que facilita os negócios e impulsiona o comércio. Com o recurso da moeda, os produtos que antes se restringiam ao seu valor de uso passam a ter valor de troca, isto é, transformam-se em mercadoria. Daí a exigência de algo que funcionasse como valor equivalente universal das mercadorias. Emitida e garantida pela pólis, a moeda faz reverter seus benefícios para a própria comunidade. Além desse efeito político de democratização de um valor, a moeda sobrepõe aos símbolos sagrados e afetivos o caráter racional de sua concepção: muito mais do que um metal precioso que se troca por qualquer mercadoria. A moeda é artifício racional, convenção humana, noção abstrata de valor que estabelece a medida comum entre valores diferentes. Nesse sentido, a invenção da moeda desempenha papel revolucionário, pois está vinculada ao nascimento do pensamento racional crítico. A lei escrita e o cidadão da pólis Para Jean- Pierre Vernant. helenista e pensador francês, o nascimento da pólis (por volta dos séculos VI e VII a.C.) é um acontecimento decisivo que "marca um começo, Uma verdadeira invenção", por provocar grandes alterações na vida social e nas relações humanas. A transformação da pólis muito se de aos legisladores Drácon (séc.VII a. C.), Sólon e Clístênes.VI.C que sinalizam Uma nova era: a justiça. até então dependente da interpretação da vontade divina ou da arbitrariedade dos reis é codificada numa legislação escrita. Regra comum a todos, norma racional sujeita à discussão ê modificação, a lei escrita passa a encarnar uma dimensão propriamente humana. As reformas da legislação de Clístenes fundam a pólis sobre nova base: a antiga organização tribal é abolida e estabelecem-se relações não mais resultantes da consangüinidade, mas determinadas por outra organização administrativa. Essas modificações expressam o ideal igualitário que prepara a democracia nascente,já que a unificação do corpo social ,abole a hierarquia fundada no poder aristocrático das famílias. Ou seja, "os que compõem a cidade, por mais diferentes que sejam por sua origem, sua classe, sua função, aparecem de uma certa maneira 'semelhantes' uns aos outros". A originalidade da cidade grega é que ela está centralizada na ágora(praça pública), espaço onde se debatem os problemas de interesse comum

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