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1 FD – Faculdade de Direito Disciplina: Introdução ao Direito Turma B Professora Dra. Claudia Rosane Roesler Divisões ou Ramos do Direito As normas jurídicas que compõem o Direito Positivo podem ser agrupadas em diferentes conjuntos, que recebem o nome de ramos, segundo as matérias que regulam. Assim, chamamos de Direito Constitucional aquele conjunto de normas que regulam a organização do Estado, definindo o regime político e a forma do Estado, disciplinando a existência dos Poderes, dando competências diversas a cada um dos Poderes e estabelecendo os direitos e garantias fundamentais dos cidadãos. Essas normas jurídicas encontram-‐se na Constituição e são, como já vimos, hierarquicamente superiores às demais normas jurídicas que compõem o Direito Positivo. Isso significa que o Direito Constitucional é mais importante do que os demais ramos do Direito? Não, necessariamente. Significa, sim, que para poder compreender adequadamente as normas dos demais ramos do Direito muitas vezes precisamos voltar à Constituição para ver se ela não esboçou, mediante algum princípio ou regra, algo que deva ser levado em conta na interpretação e aplicação das normas daquele ramo. Isso acontece com grande freqüência, pois a Constituição de 1988 foi uma Constituição bastante detalhista e estabeleceu inúmeros princípios e regras que depois são detalhados nas normas jurídicas infraconstitucionais. Podemos considerar que esses princípios ou regras compõem os ramos específicos do Direito, segundo a matéria que tratam, mesmo estando na Constituição. Um princípio como o da proibição das penas cruéis, por exemplo, previsto no art. 5º, XLVII, “e” da Constituição faz parte do Direito Penal e não do Direito Constitucional, em sentido estrito. O que caracteriza especificamente o Direito Constitucional é a matéria regulada nas normas constitucionais. Esta matéria específica é, como comentamos acima, a forma do Estado -‐ federação –, o regime político – democracia –, a 2 separação dos Poderes e suas competências – Executivo, Legislativo e Judiciário – e os direitos e garantias fundamentais. O Direito Administrativo é o conjunto de normas que se destina especificamente a regular a atividade do Estado enquanto Administração Pública, ou seja, enquanto governo que precisa executar determinadas ações e deve fazê-‐lo de acordo com normas jurídicas. Segundo Rizzatto Nunes (2005, p. 139): O Direito Administrativo corresponde ao conjunto de normas jurídicas que organizam administrativamente o Estado, fixando os modos, os meios e as formas de ação para a consecução de seus objetivos. Dessa forma, tais normas estruturam e disciplinam as atividades dos órgãos da Administração Pública direta e indireta, as autarquias, as empresas públicas, as entidades paraestatais etc. O Direito Financeiro também regula a atividade do Estado, mas se preocupa com outro aspecto dela: as atividades financeiras do Estado, a receita e a despesa públicas. Conexo a ele está o Direito Tributário, que regula a instituição, arrecadação e fiscalização de tributos, ou seja, volta-‐se para a relação entre o contribuinte (quem paga os tributos) e o Estado (que os recebe). Durante muito tempo toda essa atividade estatal era regulada exclusivamente pelo Direito Administrativo. E, com o crescimento do tamanho e da complexidade do Estado, dele desmembraram-‐se o Direito Financeiro e o Direito Tributário. Em um primeiro momento, o Direito Financeiro abrangia o Direito Tributário. Hoje, consideramos que esses três ramos são independentes entre si, embora todos regulem a atividade do Estado, cada qual por um ângulo diferente. Em nossas futuras aulas vamos detalhar mais e melhor o que compõe cada um deles. O Direito Penal é um ramo do Direito do qual com certeza você já deve ter ouvido falar com relativa freqüência, especialmente em tempos como os atuais, nos quais a violência se faz presente continuamente nos noticiários. Ele regula a atividade repressiva do Estado fixando o que é delito e quais as penalidades correspondentes. De acordo com Miguel Reale (2004, p.347) o Direito Penal é: “[...] é o sistema de princípios e regras mediante os quais se tipificam as formas de conduta consideradas criminosas, e para as quais são cominadas, de maneira precisa e prévia, penas e medidas de segurança, visando a objetivos determinados.” 3 As normas do Direito Penal estão basicamente localizadas em uma lei que se chama Código1 Penal. O Código Penal tem duas partes: uma parte geral, na qual aparecem regras e princípios que servem para todos os tipos de delitos previstos no Código; e uma parte especial, com a previsão de cada delito e da pena correspondente. Um exemplo para você entender melhor: na parte geral está a previsão do que é “legítima defesa” (art. 25), enquanto que na parte especial está a definição do que é homicídio (art.121), furto (art.155) etc. Existem, no entanto, leis que chamamos de esparsas e que também contém normas penais, pois muitas vezes as circunstâncias sociais e as modificações ocorridas ao longo do tempo exigem que se façam normas específicas que não podem ser integradas ao Código. O Direito do Trabalho é o conjunto de normas jurídicas que regula as relaçõesentre empregados e empregadores, seja enquanto indivíduos, ou enquanto categorias profissionais. A maior parte de suas normas estão reunidas na Consolidação das Leis do Trabalho – CLT. A CLT é chamada de consolidação e não de Código, como o Código Penal, porque ela é uma reunião de leis que já existiam e que foram agrupadas. Os códigos sempre são leis novas que são feitas já com o intuito de sistematizar um determinado ramo do Direito. Semelhante ao Direito do Trabalho, mas preocupado exclusivamente com questões de seguridade social dos trabalhadores está o Direito Previdenciário. Ele regula como e quanto devemos contribuir para a Previdência para nos aposentarmos, quais os tipos de benefícios previdenciários que existem, como se faz para consegui-‐los etc. O Direito Previdenciário não tem um código ou uma consolidação e está regulado na Constituição e em várias leis esparsas. O Direito Civil é um dos ramos do direito mais importante, porque regula as nossas relações como indivíduos que interagem com o objetivo de fazer negócios, mudar status – casar, por exemplo – , constituir um patrimônio, herdar alguma coisa. 1 Um código é uma lei com características específicas, pois pretende abarcar toda uma área da vida humana e discipliná-‐la, sistematizando adequadamente as normas pertinentes. 4 Nas palavras de Maria Helena Diniz (2005, p. 268): “O direito civil é, pois, o ramo do direito privado destinado a reger relações familiares, patrimoniais e obrigacionais que se formam entre indivíduos encarados como tais, ou seja, enquanto membros da sociedade.” Ele está regulado pelo Código Civil. Em 2002 entrou em vigor um novo Código que substituiu o antigo, que era de 1916 e estava bastante defasado, como você bem pode imaginar. O projeto do novo Código Civil, que entrou em vigor em 2002, demorou anos para passar pelo processo legislativo, que estudamos na aula anterior. Ele é uma lei ordinária e seu primeiro projeto ingressou na Câmara dos Deputados em 1975, mas já estava sendo estudado por uma Comissão de estudiosos do Direito nomeada para isso desde 1961! Sucessivamente “engavetado”, finalmente foi promulgado e publicado em janeiro de 2002 e sua cláusula de vigência previu um ano de adaptação, razão pela qual ele entrou em vigor em janeiro de 2003. O Código Civil também está dividido em duas partes: geral e especial. Na parte geral estão as regras e princípios que disciplinam as pessoas, os bens, os fatos jurídicos, os atos e negócios jurídicos, a teoria das nulidades e a prescrição. Na parte especial as normas dizem respeito ao direito das obrigações, ao direito das empresas, ao direito das coisas, ao direito de família e ao direito das sucessões. Chama-‐se direito das obrigações o conjunto de normas que disciplinam como devemos fazer para assumir obrigações, contratando com outros indivíduos. O direito das empresas, por seu turno, disciplina a forma como as empresas devem ser constituídas e as regras de seu funcionamento. E o direito das coisas? Quer dizer então que as coisas têm direitos no sentido de direitos subjetivos? Não. O Direito das Coisas, apesar do nome, regula as nossas questões patrimoniais: como se adquire, perde ou transfere a propriedade de coisas móveis – como um carro, por exemplo – imóveis, como uma casa – e semoventes – como os animais. Ele regula, portanto, os nossos direitos subjetivos sobre as coisas. O Direito de Família, como o próprio nome está dizendo, regula situações como o casamento, a filiação, a adoção, a união estável. Já, o Direito das Sucessões regula como e quando se transfere o patrimônio daqueles que morrem. 5 Muito próximo a algumas partes do Direito Civil, constando inclusive no novo Código Civil, está o Direito Comercial. Segundo nos ensina Maria Helena Diniz (2005, p. 274): “O Direito Comercial constitui-‐se de normas que regem a atividade empresarial; porém, não é propriamente um direito dos empresários, mas sim um direito para a disciplina da atividade econômica organizada para a produção e circulação de bens ou de serviços.” Também próximo ao Direito Civil está o Direito do Consumidor. Este ramo cuida, exclusivamente, dos contratos realizados nas relações de consumo, ou seja, protege de maneira mais incisiva os direitos dos consumidores. Parte-‐se do pressuposto que quando somos consumidores de bens e de serviços nossa condição de fazer contratos justos e em condições de igualdade com os fornecedores está diminuída e por isso é necessário que existam regras e princípios específicos para a proteção ao consumidor. Neste sentido, se você e eu fazemos um contrato de compra e venda de meu automóvel não recorremos ao Direito do Consumidor, mas ao Direito Civil. Se você compra o seu automóvel na concessionária ou em uma loja de automóveis, seu contrato está disciplinado e amparado pelo Direito do Consumidor. As normas jurídicas do Direito do Consumidor estão no Código de Defesa do Consumidor, lei que entrou em vigor em 1990. O Direito Ambiental também é um ramo do direito relativamente novo. Inicialmente vinculado ao Direito Administrativo, dele se desvinculou quando as questões de proteção do meio ambiente passaram a exigir um tratamento mais adequadoe detalhado. Assim, assuntos como o uso da água e a proteção aos rios e mares, a proteção da fauna e da flora, o uso adequado do solo, são hoje regulados por normas jurídicas – princípios e regras – que compõem o Direito Ambiental. O Direito Internacional, como o nome indica, regula as relações no plano externo. A peculiaridade disso é que no plano internacional não há um poder único capaz de impor o cumprimento das normas jurídicas e por isso os estudiosos do Direito dizem que não há relação de subordinação, mas de coordenação entre os Estados. Isso acarreta certa dificuldade, como é óbvio, pois se não há ninguém para aplicar a sanção, muitas vezes também não há o cumprimento da norma. Você, com certeza, já viu no noticiário da televisão a desavença entre Israel e os palestinos no 6 Oriente Médio. Israel já foi condenada muitas vezes na ONU – Organização das Nações Unidas – mas se recusa a cumprir a condenação. Do mesmo modo os Estados Unidos quando invadiram o Iraque. Quando essas relações são entre os Estados chamamos o conjunto de normas que as regulam de Direito Internacional Público. Suas regras e princípios estão nos costumes internacionais, nas convenções e nos acordos que os Estados firmam entre si ou quando aceitam participar de organizações internacionais, como a ONU, por exemplo. Conforme nos explica Maria Helena Diniz (2005, p. 265): As fontes do direito internacional público são: 1) as convenções, que geram os tratados internacionais resultantes de acordos entre os Estados e que podem ser a) gerais, se fixam normas de interesse coletivo dos Estados em geral, p. ex., a Carta do Atlântico, que consigna princípios visando a paz universal; b) especiais, quando estabelecem normas de interesse particular dos Estados signatários, p. ex., o Tratado “ABC”, firmado entre Argentina, Brasil e Chile, relativo ao comércio recíproco; 2) os usos e costumes jurídicos internacionais, que consistem na observância constante de uma norma reguladora de relações internacionais, tais como ato diplomático, sentença de tribunal internacional, prescrição governamental adotada por várias nações, lei e sentença nacionais atinentes a uma relação internacional. Quando as relações são entre um Estado e os cidadãos são pertencentes a outro Estado chamamos de Direito Internacional Privado. Como as normas jurídicas de um Estado têm vigência apenas no território dele, é preciso que existam normas que regulem qual norma deve prevalecer quando, por exemplo, cidadãos de Estados diferentes estabelecem relações entre si, ou cidadãos de um mesmo Estado vivendo em um Estado diverso também realizam atos jurídicos. Vamos dar um exemplo, de Maria Helena Diniz (2005, p. 266), para você entender melhor. Um brasileiro de 18 anos e uma argentina, também de 18 anos, decidem se casar e morar no Brasil. De acordo com o Código Civil brasileiro a maioridade é atingida aos 18 anos. De acordo com o Código Civil argentino, aos 22 anos. Deste modo, o brasileiro pode se casar sem a anuência dos seus pais, pois é maior de idade, enquanto que a argentina não o é e, precisaria de anuência de seus pais. Como isso se resolve? As regras do Direito Internacional Privado dizem que deve prevalecer a lei do lugar onde se realiza o casamento e onde se domiciliam os indivíduos que estão se casando. Neste caso, portanto, prevalece a lei brasileira. 7 Por fim, existem os ramos do Direito vinculados às questões processuais, ou seja, que disciplinam como uma ação que ingressa no Poder Judiciário deve ser feita. Você, com certeza, lembra que dissemos anteriormente que ter um direito subjetivo significa que alguém tem um dever. Isso implica que se a pessoa não cumpre o dever podemos ir ao Poder Judiciário para exigir que o faça. A previsão de como fazê-‐lo, qual tipo de ação, onde encaminhá-‐la e como será o seu processamento é o que chamamos de matéria processual. Existem, assim, três subdivisões de Direito Processual: o Civil, o Penal e o do Trabalho. Cada um deles disciplina as ações que versam sobre a proteção das relações civis, penais e do trabalho. Também estão incluídas aqui as normas que disciplinam a organização judiciária: quantos e onde ficam os tribunais, como se dividem as suas tarefas, etc. O Direito Processual Civil está em um código, chamado de Código de Processo Civil. O Direito Processual Penal também está em um código, o Código Processual Penal. Já, o Direito Processual do Trabalho não está codificado e aparece junto com o Direito do Trabalho na Consolidação das Leis do Trabalho – CLT. Referências BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 2006. BRASIL. Código Civil. Lei n. 10.406 de 10.1.2002. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Codigos/quadro_cod.htm. BRASIL. Código de Defesa do Consumidor. Lei n. 8.078 de 11.09.1990. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Codigos/quadro_cod.htm. BRASIL. Código Penal. Del. n. 2.848 de 7.12. 1940. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Codigos/quadro_cod.htm. BRASIL. Código de Processo Penal. Del. n. 3.689 de 3.10.1941. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Codigos/quadro_cod.htm. 8 BRASIL. Código Tributário Nacional. Lei 5.172de 25.10.1966. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Codigos/quadro_cod.htm. BRASIL. Código de Processo Civil. Lei n. 5.869 de 11.1.1973. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Codigos/quadro_cod.htm. BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Del. n. 5.452 de 1.5.1943. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Codigos/quadro_cod.htm. DINIZ, Maria Helena. Compêndio de Introdução à Ciência do Direito. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. NUNES, Rizzatto. Manual de Introdução ao Direito. 6.ed. São Paulo: Saraiva, 2005. REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2004.
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