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Licões de Direito Empresarial-Salomão Viagem 2019 leitura

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O DIREITO DE EMPRESAS. UM DIREITO EMERGENTE E HETEROGÊNEO 
ESTRUTURA DAS MATÉRIAS 
 
 
 
I. INTRODUÇÃO 
II. NOÇÕES DE DIREITO 
1. Natureza Social do Homem 
2. Acepções do termo direito 
3. O Direito e a ordenação social 
4. Direito natural e Direito positivo 
5. Ordens normativas 
6. O Estado e o Direito 
7. Fontes do Direito-Aspectos gerais 
8. Fontes de Direito em Moçambique 
9. Órgãos emanadores do Direito 
10. O lugar privilegiado da lei e modos da sua formação 
11. Desvalores do acto normativo 
12. Invalidades jurídicas. Nulidade e anulabilidade 
13. Interpretação e integração da lei 
14. Cessação da vigência da lei 
15. A pessoa em Direito 
16. Relação jurídica 
 
III. O DIREITO DE EMPRESAS 
1. A empresa 
2. A teoria da empresa 
3. Perspectiva de empresa segundo Menezes Cordeiro 
4. Direito de empresa. Um Direito novo e heterogénio 
5. O empresário. Perspectiva dogmática e legal à luz do nosso Código 
Comercial 
6. Capacidade jurídico-empresarial 
7. Actos de comércio 
8. As sociedades comerciais e seu destaque na vida empresarial actual 
8.1. Os tipos societários novos e velhos 
O DIREITO DE EMPRESAS. UM DIREITO EMERGENTE E HETEROGÊNEO 
8.2. A responsabilidade (i)limitada das sociedades comerciais 
8.3. As sociedades de pessoas e de capitais 
8.4. O problema da desconsideração da personalidade juridical 
8.5. Contrato de sociedade 
8.6. Procedimentos para constituição de sociedade 
8.7. A empresa em nome individual 
8.8. As “bancas” e os “ambulantes” 
8.9. Sinais distintivos do comércio 
 
IV. TIPOS E FUNÇÕES DAS MARCAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O DIREITO DE EMPRESAS. UM DIREITO EMERGENTE E HETEROGÊNEO 
 
 
 
II. NOÇÕES DE DIREITO 
1. Natureza social do Homem 
O Ponto de partida para o estudo do Direito é a sociedade, pois é nela que as 
suas regras se manifestam para ordenar e sancionar condutas humanas. 
No entanto, há dois discordantes pensamentos quanto a natureza social do 
Homem. 
Uns defendem que o Homem é um ser social, neste sentido destaca-se o 
pensamento de ARISTÓTELES que diz: “O Homem é um animal social”. Deste 
entendimento decorre o brocardo em latim Ubi societas, ibi jus, que significa, onde há 
sociedade há direito, voltaremos a isto daqui há pouco. 
Outros pensadores de peso, em sentido contrário ao de ARISTÓTELES, 
defendem a ideia segundo a qual o Homem por natureza é isolado e o estado social é 
uma distorção da natureza do Homem. Tem encabeçado esta orientação o respeitado 
pensador JEAN-JACQUES ROUSSEAU, nascido em Genebra (1712-1778), autor do 
“Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens”(1753) e 
de “ O Contrato social” (1762) e THOMAS HOBBES, ingles (1588-1679), autor do 
“De cive”(1642) e do “Leviathan”(1651)
1
. Apesar de partirem da mesma base a de que 
a natureza do Homem é contrária a intergação social, divergem nos argumentos 
posteriors. Para ROUSSEAU, no seu estado de natureza o Homem é bom (mito do bom 
selvagem), a sociedade é que o corrompe. Para HOBBES, em estado de natureza o 
Homem é mau (homo homini lupus, bellum omnium contra ommes)
2
. Ora com as 
premissas do estado associal do Homem, os referidos autores pretendem atribuir a vida 
em sociedade uma base contractual o que é pouco aceite na generalidade dos estudos 
sobre a matéria. 
Expostas as duas orientações relativas a natureza do Homem, somos de adopter a 
que diz que o Homem é um ser social. Ubi Homo Ubi Societas Ubi Societas Ubi Homo. 
Como negar isso? 
A convivência social é inerente ao Homem por diversos motivos tais como: 
 
1
 V. Por todos JOÃO CASTRO MENDES, Introdução ao Direito, Edição revista, Pedro Ferreira, Liboa, 
1994, pp. 11-12. 
2
 Idem ob. cit. p. 12 
O DIREITO DE EMPRESAS. UM DIREITO EMERGENTE E HETEROGÊNEO 
-Comunicacionais, 
- Afectivos, 
- Económicos, 
- Procriativos, 
- Emocionais 
- Competitivos 
- Interajuda, 
- Divisão do trabalho, 
- Segurança, 
- Religiosos, 
- Educacionais, 
- Troca de experiências etc3. 
 
 Contudo, a natureza social do Homem não é de todo pacífica, as condutas 
humanas não são uniformes, cada pessoa tem a sua forma de ser e estar em função de 
vários factores internos ou externos a ela. Essas diferenças quando exteriorizadas no 
meio social, muitas vezes desencadeiam conflitos de interesse. Para prevenir ou 
sancionar as condutas que violam a boa convivência social entre os homens, é 
convocado o direito. 
Assim, podemos definir o direito como sendo uma ordem de normas assitidas ou 
não de protecção coactive, que visam regular condutas humanas numa determinada 
sociedade. Ubi societas ibi jus, Ibi jus ubi societas 
 
2. Acepções do termo direito 
O termo direito é polissêmico na medida em que admite uma pluralidade de 
sentidos conforme o contexto da frase. 
 Usa-se por exemplo o termo direito para se referir a um ordenamento jurídico 
específico regulador de certa matéria relevante para a vida em sociedade, como é o caso 
do Direito da Família. 
 Noutros casos o termo direito é usado para exprimir uma prerrogativa, um 
privilégio de alguém decorrente da existência de um ordenamento jurídico específico 
que outorga tal direito. 
 
3
V. Num sentido próximo últ. ob. cit. p. 13. 
O DIREITO DE EMPRESAS. UM DIREITO EMERGENTE E HETEROGÊNEO 
É também frequente o uso do termo direito para exprimir a ideia de disciplina 
que estuda o direito numa determinada area, ou escolar de direito, em suma direito 
como ciência. 
No primeiro caso diz-se que o sentido (do termo direito é) objectivo. Ex. O 
“Direito da família”, conjunto de normas jurídicas que regulam as relações familiares. É 
uma ordem juridica específica que cuida de todos os aspectos da esfera familiar. No 
segundo caso diz-se direito no sentido subjectivo. Ex, Manuel tem o direito de contrair 
matrimónio com Paula. É um privilégio que Manuel tem, o qual emana do Direito da 
Família. Por isso é que se diz que o direito subjectivo depende do direito objectivo. É o 
direito objetivo que estabelece o quadro normativo de direitos e obrigações, por isso, 
não há direito subjective sem direito objectivo. Por ultimo, no terceiro caso diz-se 
direito no sentido epistemilógico. Ex, Ana estuda Direito empresarial ou Alberto vai a 
Faculdade de Direito. 
Tanto o direito objectivo (Direito do Trabalho) como o direito no sentido 
epistemológico (Direito Penal (como ciência), escrevem-se com a inicial maíscula “D”. 
Por seu turno o direito em sentido subjectivo (Américo tem direito a férias) escreve-se 
com a inicial minuscula “d”. 
3. O Direito e a ordenação social 
Não é outro o principal escôpo do Direito senão a ordenação social. Há na 
sociedade diferentes matérias de interesse pesoal ou colectivos que a dinamizam. O 
Direito é chamado para regular cada uma dessas matérias relevantes na sociedade e 
também para sancionar condutas que se mostrem conflituantes com a ordem social 
estabelecida. 
Assim, encontramos o Direito agrupado em campos normativos conforme as 
matérias relevantes de que se trata. Questões de familia, propriedade, obrigações, 
contratos, reparação de danos, sucessões, são por exemplo as que fazem parte do dia-a –
dia das pessoas, por isso ao conjunto agregado de normas que ordenam as matérias que 
acabamos de enunciar a título exemplificativo, a doutrina chama-a de Direito comum ou 
privado. 
Há também normas que regulam matérias sociais de interesse colectivo, de entre 
elas, umas ordenadoras outras sancionatórias. Estas normas são tuteladas pelo Estado 
pois só ele é que tem o legítimo direito e obrigacão de proteger interesses da 
colectividade e sancionar através da coercão-uso da força todo e qualquer 
comportamento que se mostre lesivo a colectividade. Essa força especial detida pelo 
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O DIREITO DE EMPRESAS.UM DIREITO EMERGENTE E HETEROGÊNEO 
Estado para exercer o poder de coação chama-se ius imperi. Normas ordenadoras (da 
vida social, política, cultural, religiosa, económica, administrativas (lato sensu) do 
Estado) ocupam um lugar cimeiro e privilegiado na ordenação social. Para além destas 
normas, temos as administrativas (stricto sensu), penais, de relações entre os Estados e 
ou Organizações Internacionais, processuais e de procedimentos. A este conjunto de 
normas úteis a sociedade mas que estão sob tutela do poder público, portanto Estado, a 
doutrina chama de Direito Público. 
 
3.1 Critérios de distinção entre Direito Privado e Direito Público 
Ultrapassam a centena os critérios usados para a distinção dos principais ramos 
de Direito
4
, pelo que, o exame de todos seria certamente enfadonho. Veremos apenas 
àqueles que são mais fáceis de perceber e que têm sido apresentados pelos autores e que 
são: Critério do interesse, critério do sujeito da relação juridica, critério da posição do 
sujeito na relacão juridical. 
O critério do interesse é o que, segundo os seus defensores, é conhecido quando 
uma norma protégé directamente o interesse publico e indirectamente o interesse 
privado. Este critério apesar de ser defendido por autores portugueses de peso como 
Marcelo Caetano e Diogo Frteitas de Amaral, não tem sido pacific por se entender entre 
outros contra argumentos que a fronteira entre os interesses públicos e privados são 
muiti ténues. 
Critério do sujeito da relação. De acordo com este critério, uma relação é de 
Direito Público quando um dos intervenientes é uma entidade pública e de Direito 
Privado quando os intervenientes na relação são entidades privadas. Igualmente este 
critério é havido como insuficiente porque o Estado em muitos casos intervem nas 
relações juridicas actuando como se de um particular se tratasse. Nessas circunstâncias a 
relação não deixa de ser privada. Consequentemente o Estado pode ser responsabilizado 
em termos de direito privado, artigo 501 do Código Civil, pode ser herdeiro nos 
mesmos termos que os particulares o são, artigo 2153. O Estado pode ter ao lado do seu 
domínio public, o domínio privado conforme reza o artigo 1304 do Código Civil. 
Parece, todavia, ser plausível considerer que uma detrminada relação é do 
Direito Público quando os seus sujeitos se apresentam investidos de poderes públicos 
jus imperii e actuam nessa condição e de Direito Privado as relações entre privados ou 
 
4
 Sobre esta matéria v. por todos Castro Mendes, ob. cit, pp. 178-181. 
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O DIREITO DE EMPRESAS. UM DIREITO EMERGENTE E HETEROGÊNEO 
ainda entre o ente público e privado, estando àquele despido da autoridade que o 
caracteriza. Esta é a perspectiva do critério da posição dos sujeitos na relação. 
Portanto, “São relações jurídicas de direito public aquelas em que intervêm 
entidades munidas de autoridade pública, de jus imperii , designadamente o Estado; e 
são normas de direito publico as que disciplinam estas relações. São relações jurídicas 
de direito privado as que se estabelecem entre particulares, ou em que intervenham mas 
despidos do seu imperium-, o Estado ou outra entidade que o possua; paralelamente, o 
direito privado é formado pelas normas que disciplinam tais relações”
5
. 
 
Alistemos então as disciplinas quer do Direito privado quer do Direito Público. 
3. 2. Algumas disciplinas do Direito Privado 
O Direito privado é o ponto de partida normativo e conceitual do direito escrito, 
característico do Sistema Jurídico Romano Germânico. É constituido pelo conjunto de 
normas que regulam as mais comuns situações das relações socias. É a base da 
ordenação da vida em sociedade. 
A par do direito privado comum, encontramos o direito privado especial, o que 
significa que o direito privado classifica-se em direito privado comum e direito privado 
especial
6
. Vejamos agora o direito privado comum que se encontra basicamente alojado 
no Código Civil e que, de acordo com a clássica sistemática germânica apresentada pelo 
reputado jurisconsulto Gustav Hugo e aperfeiçoada pelo incontornável também 
jurisconsulto alemão Friedrich Carl Von Savigny, é constiuido por: 
Livro I. Parte Geral; 
Livro II. Direito das obrigações; 
Livro III. Direito das coisas; 
Livro IV. Direito da família; 
Livro V. Direito das sucessões. 
A sistemática germânica não está isenta de criticas visto que nenhuma das partes 
apresentadas é estanque, há por exemplo obrigações na família, obrigações nas 
sucessões. Todavia, não seria fácil agora propor outra classificação uma vez que esta se 
mostra bastante enraizada e amplamente difundida. Igualmente não seria fácil evitar 
sobreposições de conteúdos de uma parte noutra. 
Vejamos agora o conteúdo de cada sub parte. 
 
5
 V. Castro Mendes, ob. cit., p. 180. 
6
 Idem. p. 181. 
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O DIREITO DE EMPRESAS. UM DIREITO EMERGENTE E HETEROGÊNEO 
 
1. Parte geral: Há no Direito Privado comum (constant do Código 
Civil), para além das disciplinas que a compõem, com conteúdos 
próprios e que são objecto de estudo autónomo, normas relativas 
a conceitos e princípios gerais do Direito. Tais matérias encontra-
se no Livro I do Código Civil. Há nele também uma parte que 
trata de certos tipos contratuais em especial. 
 
2. Direito das obrigações: Estabelece as regras a serem obedecedias 
em qualquer relação contractual (obrigacional), Livro II, artigo 
397º e ss do Código Civil. 
 
3. Direito das coisas ou reais: É aquele conjunto de normas que 
tutelam a propriedade, posse, detenção de bens (coisas). Neste 
direito se enquadram também questões de usufruto, uso e 
habitação, direito de superfície, cervidão predial; todos estes 
considerados de direitos reais de gozo. Por outro lado no mesmo 
domínio há os direitos reais de garantia nomeadamente, a 
consignação de rendimento, o penhor, a hipoteca, os privilégios 
creditórios, o direito de retenção. Livro III, artigo 1251 e ss do 
Código Civil. 
 
4. Direito da família: É constituido pelas normas que regulam as 
relações sócio familiars, mormente, casamento, adopção, filiação, 
regime de bens, separação, divórcio. Livro IV, artigo 1576 e ss do 
Código Civil ora (infelizmente) revogado pela Lei 
 
5. Direito das sucessões: As suas normas se ocupam dos critérios 
de transmissão de bens deixados por uma pessoa falecida, neste 
campo também chamada de de cujus. Este direito funciona por 
ocasião da ocorrência do fenómeno morte, é portanto mortis 
causa. O reconhecimento social de que certa pessoa é parente do 
falecido ou com ele tinha relações muito extreitas não é suficiente 
para que essa pessoa parente ou amiga tenha legitimamente sem 
O DIREITO DE EMPRESAS. UM DIREITO EMERGENTE E HETEROGÊNEO 
qualquer formalidade direitos sobre os bens deixados pelo 
falecido. Livro V, artigo 2024 e ss do Código Civil. 
 
3.3 Direito Privado especial 
Como atrás dissemos, a par do Direito Privado comum, encontra-se o Direito 
Privado especial. Há total unanimidade em apontar-se o Direito comercial como direito 
privado especial, mas o mesmo não acontece por exemplo, quando se inclui o Direito de 
Trabalho nesta mesma categoria. 
Quanto a nós, somos do pensamento de que apenas o Direito commercial é 
privado especial. Explicaremos porquê. 
Para já importa sabermos que o Direito comercial outrora designado de Direito 
mercantile cujos alicersses doutrinários fundamentais se devem grosso modo a doutrina 
italiana, regula principalmente a actuação dos comerciantes. Inicialmente o Direito 
commercial era parte integrante do Direito civil. No entanto, devido a especificidade 
dos sujeitos envolvidos no comercio (comerciantes) e a natureza da própria actividade 
que já demandava autonomia pelas suas especificidades,entendeu-se a necessidade da 
criação de uma regulamentação própria e principios especiais. 
É desta forma que cindiu-se do Direito civil dando origem em Portugal ao primeiro 
Código commercial da autoria de Ferreira Borges em 1883, veio a ser substituido em 
parte pelo Código comercial de Veiga Beirão. Trataremos de mais aspectos sobre o 
Direito comercial ao estudarmos a unidade relative ao Direito empresarial. 
 O Direito de trabalho regula relações juridico-laborais. Essas relações são 
estabelecidas geralmente na base do princípio da autonomia da vontade das partes que 
tem como um dos seus corolários a liberdade contractual. Todavia, há no Direito do 
trabalho, normas imperativas uqe não devem ser afastadas pelas partes. O Estado exerce 
através dessas normas a tutela dos interesses do elo mais fraco na relação laboral, o qual 
se supõe ser o trabalhador. Entendemos que as referidas normas são do Direito público, 
eis a razão porque não nos sentimos à vontade em afirmar que o Direito do trabalho é 
Direito Privado especial. 
 Poderia perguntar-se, e o Direito comercial não contém tais normas? A resposta 
seria positiva. Porém, divergem na sua direcção e tonalidade. No Direito comercial as 
normas que não devem ser afastadas pelos particulares são de mera ordenação e o seu 
desrespeito acarreta a invalidade do acto na vertente de nulidade ou anulabilidade. No 
O DIREITO DE EMPRESAS. UM DIREITO EMERGENTE E HETEROGÊNEO 
Direito do trabalho, para além da cominação da invalidade, há também lugar a sanções 
de ordem material, mormente multas e indemnizações. 
 As demais disciplinas que não tem sido classificadas como sendo do Direito 
Público e ou Direito Privado são chamadas de mistas ou híbridas ou ainda de 
classificação duvidosa. São incorporadas num terceiro ramo de Direito emergente. 
 
3.4. Algumas disciplinas do Direito Público 
 
1. Direito Constitucional. É o principal núcleo de normas jurídicas que 
ordenam os aspectos básicos da vida de um Estado. A filosofia 
social, política e económica de um determinado páis encontra-se 
disposta num instrumento a que se chama de Constituição da 
República. As normas que corporizam esse instrument chama-se de 
Direito Constitucional. Em virtude de a Constituição ser o principal 
instrument jurídico de qualquer Estado evoluido, é também chamada 
de Lei mãe, Lei fundamental, Magna Carta. Na hierárquia das leis a 
Constituição ocupa o lugar cimeiro devendo todas as demais normas 
do Estado a que se refere, subordinarem-se a ela sob pena de serem 
achadas de inconstitucionais, cfr, número 4 do artigo 2 da CRM. 
 
2. Direito Administrativo. A relação do Estado e os governados bem 
como a actuação do Estado e os seus agentes e ou entre os seus 
órgãos é regida por um complexo conjunto de normas próprias a que 
se chama de Direito Administrativo. Estas normas também se 
reportam a organização do Estado. Grosso modo, se relacionam com 
as normas do Direito Constitucional na medida em que as 
dinamizam. 
 
3. Direito Financeiro. Há para o Estado e outros entes públicos 
obrigações de que não devem furtar-se, é o caso dos serviços de saúde, 
educação, ordem e tranquilidade pública, defesa de soberania, 
remuneração de funcionários públicos, construção de infra-estruturas 
públicas como: estradas, pontes, edifícios hospitalares, escolares, 
militares e habitacionais. Em resumo, estas são exemplificativamente 
O DIREITO DE EMPRESAS. UM DIREITO EMERGENTE E HETEROGÊNEO 
algumas das necessidades colectivas que se afunilam em três espécies 
fundamentais: a segurança, a cultura e o bem estar7. Em certos casos o 
Estado é até obrigado a satisfazer necessidades alimentícias dos seus 
cidadãos, é o que acontece nas situações de ocorrência de calamidades 
naturais: cheias ou estiagem (seca). 
A actividade dos tribunais, que consiste na apreciação e decisão através de 
sentenças dos casos que lhes são submetidos, embora empiricamente sejam 
vistas como necessidades colectivas, quando tratadas no âmbito do direito 
administrativo, ficam excluídas do rol das obrigações do poder executivo, por 
entender-se que cabe ao poder judicial apreciar e julgar os conflitos e não ao 
poder executivo8. Contudo é inegável que a justiça é um dos fins do Estado9. 
Ora, para que seja possível o cumprimento das obrigações adstritas ao 
Estado e outros entes públicos, terão que realizar uma actividade económica 
deveras diferente daquela praticada pelos particulares para a satisfação de 
necessidades pessoais. É essa actividade a que se chama de actividade financeira do 
Estado, a qual consiste basicamente na percepção, gestão e dispêndio de dinheiro ou 
meios pecuniários. 
 Os actuais Estados grosso modo não são proprietários de bens susceptíveis 
de gerarem recursos (receitas patrimoniais) aptos a responderem com as suas 
obrigações perante os governados10. Restando-lhes a alternativa de irem buscar 
os meios económicos de que carecem para o cumprimento das suas obrigações, 
principalmente junto dos agentes económicos. 
 Por seu turno, os recursos financeiros conseguidos pelo Estado e outros 
entes públicos que depois são aplicados nas despesas públicas têm a designação 
de receitas públicas. 
 Na realidade moçambicanas as receitas públicas são de natureza 
diversificada, isto é, são provenientes de várias fontes a saber: 
1. As receitas patrimoniais, que provêm do rendimento do património que o 
Estado dispõe. 
 
7
 Sobre as necessidades colectivas e a administração pública v. desenvolvidamente DIOGO FREITAS DE 
AMARAL (FREITAS DE AMARAL), Curso de Direito Administrativo, 3ª ed., V. I, Almedina, 2000, pp. 
25-29. 
8
 Idem., FREITAS DE AMARAL, Curso… ob. cit., p. 28. 
9
 V. MARCELO CAETANO, Manual de Ciência Política e Direito Constitucional, V. I, 6ª ed., Coimbra, 
1970, pp. 143-148. 
10
 V. JOSÉ CASALTA NABAIS (CASALTA NABAIS), Direito Fiscal, 6a ed., Almedina 2011, p. 3. 
O DIREITO DE EMPRESAS. UM DIREITO EMERGENTE E HETEROGÊNEO 
2. As receitas provenientes de taxas, emolumentos ou outras de natureza 
similar, fruto de contraprestações que os entes públicos recebem das 
pessoas para lhes prestarem serviços ou providenciar determinados bens do 
domínio público. 
3. As receitas provenientes de multas, juros de mora, compensações ou outras 
da mesma natureza. Nestes casos os entes públicos cobram determinados 
valores a título de sanções pecuniárias cominadas para certas condutas 
ilícitas ou mesmo valores compensatórios por razões de mora. 
4. Receitas provenientes de empréstimos públicos, voluntários ou forçados, 
internos ou externos. 
5. Receitas públicas multilaterais, bilaterais e unilaterais provenientes de países 
estrangeiros ou organizações não governamentais, a título de donativos ou 
doações. 
6. Receitas provenientes de imposto, que constitui a mais importante receita 
do Estado.11 
Contrariamente ao que se passava no Estado absolutista, no 
moderno Estado de Direito a actividade financeira levada a cabo pelo 
Estado e outras entidades públicas através dos seus agentes (tal como 
acontece em todas actuações do Estado) é regida pelo Direito (normas 
jurídicas específicas). É portanto ao conjunto de normas jurídicas que 
disciplinam a actividade financeira do Estado e demais entes públicos que se 
dá o nome de Direito Financeiro. Um ramo de direito que pode ser definido 
como o complexo de normas jurídicas que disciplinam a obtenção e distribuição 
do dinheiro necessário ao funcionamento dos entes públicos e, bem assim, à 
gestão dos bens propriedade desses mesmos entes12. 
 As normas do direito financeiro, são heterogéneas na medida em 
que visam operações diversas como sejam: aquisição e gestão das receitas, 
realização de despesas. 
Deste modo, o direito financeiro estende-se por três sectores 
distintos como sejam: o direito das receitas, o direito das despesas e o 
direito da administraçãoou gestão financeira13. 
 
11
 V. IBRAIMO IBRAIMO, O Direito e a Fiscalidade, ART C, 200, pp. 11-12. 
12
 V. CASALTA NABAIS, Direito Fiscal, ob. cit., p. 4. 
13
 V. CASALTA NABAIS, Direito Fiscal, ob. cit., p. 4. 
O DIREITO DE EMPRESAS. UM DIREITO EMERGENTE E HETEROGÊNEO 
4. O Direito Criminal ou Penal. A convivência social não é de todo 
pacífica. Há condutas humanas violadoras de bens jurídicos 
fundamentes como são os caso da vida, integridade física, propriedade, 
privacidade, sexualidade, domicílio, bom nome etc. Para fazer face a 
isso, a ordem jurídica possui normas que visam sancionar através de 
medidas punitivas que recaem sobre a pessoa do infractor ou sobre o 
seu património, condutas que violam os referidos bens jurídicos. As 
sanções quando recaiam na própria pessoa do violador do bem jurídico, 
consistem na privação de liberdade (prisão) num estabelecimento 
instituído por lei para o efeito. Quando a conduta reprovável recaia 
segundo o julgador, sobre o património do agente, consiste numa multa 
a ser paga em dinheiro cujo valor é calculado nos termos da lei. De 
referir que não é qualquer comportamento humano anómalo que é 
passível de ser reprimido pela lei penal, mas apenas àqueles 
configurados na lei como sendo merecedores de punição no domínio 
penal. Só é crime o que a lei o define como tal, não há crime nem 
sanção penal sem previsão legal. Eis a razão dos brocardos nullum crimen 
sine lege, nula poena sine crimen. É portanto a própria lei que diz o que é 
penalmente sancionável, resulta desse pressuposto, o principio da 
tipicidade. O Direito penal é, em última análise o conjunto de normas 
que sancionam condutas típicas ilícitas e culposas. 
5. Direito Processual. A ninguém é lícito o uso da força para assegurar o 
próprio direito salvo nos casos especialmente previstos na lei. Esta 
formula resulta do disposto no artigon 1º do Código do Processo Civil. 
Os casos que a lei excepcionalmente admite a acção do particular para 
salvaguardar os seus direitos são a acção directa, legitima defesa, Estado 
de necessidade e direito de resistência, previstos nos artigos 336º, 337º, 
339º do Código Civil e 80º da Constituição da República. A regra 
é, sempre que alguém se sinta prejudicado em algum direito deve 
recorrer ao Estado através dos seus órgãos policiais ou jurisdicionais 
(tribunais), para reivindicar o seu direito violado ou na iminência de o 
ser. Tal reivindicação deve obedecer a normas que regulam os 
procedimentos para a propositura da acção e julgamento do caso. Essas 
normas são processuais. Quando relativas a matérias cíveis dizem-se 
O DIREITO DE EMPRESAS. UM DIREITO EMERGENTE E HETEROGÊNEO 
normas do Processo Civil, quando relativas a matérias de âmbito penal 
dizem-se normas do Processo Penal e por aí em diante conforme a 
matéria a que se refere o processo. 
6. Direito Internacional Público. Tal como as pessoas, os Estados não 
subsistem isoladamente, desenvolvem relações amistosas e de 
cooperação em diferentes domínios com vista a satisfação de 
necessidades mútuas, v. artigos, 17º , 18º ,19º , 20º , 21º da C.R. Os 
Estados também desenvolvem relações com entidades jurídicas distintas 
das da sua natureza mas que são reconhecidas a nível internacional, é o 
caso das organizações internacionais (de âmbito público). Ora, as 
normas que regulam as relações entre os Estados e ou organizações 
internacionais são designadas de Direito Internacional Público, v. artigo 
18º da C.R. Estas normas têm sido objecto de estudo pelos juristas e 
estudantes de relações internacionais. 
As normas do Direito Internacional Público são adoptadas pelos 
Estados através de Tratados e ou Acordos Internacionais. Todavia, para 
que vigorem nos Estados que as aceitaram é necessário que sejam 
recepcionadas por via da ratificação. Em Moçambique os Tratados são 
ratificados pela Assembleia da República, cfr als t) e u) do número 2 do 
artigo 179º da Constituição da República (C.R). O Governo por seu 
turno, celebra e ratifica Acordos e prepara a celebração de Tratados 
Internacionais, cfr, al. g) do número 1 do artigo 204º da C.R. 
 
4 Direito natural e Direito positivo 
É um tema da Filosofia do Direito, pode confirmar-se esta afirmação lendo a distinta 
obra do Professor Oliveira Ascensão
14
 que no respectivo indice
15
 assim o apresenta. O 
que sobre a matéria se apresenta e discute revelam de forma flagrante ser filosófica. 
Simplisticamente pode dizer-se que Direito natural é o conjunto de normas escritas 
ou não que existem e são conhecidas e reconhecidas no meio social independentemente 
do modo como deve estar organizado esse meio social. Essas leis podem ser físicas ou 
écticas. 
 
14
 O Direito, Introdução e Teoria, ob. cit., pp. 169-216 
15
 Ob. cit., p. 668. 
O DIREITO DE EMPRESAS. UM DIREITO EMERGENTE E HETEROGÊNEO 
Direito positivo seria o conjunto de normas criadas ou não pelo Estado através dos 
órgãos competentes e postas a vigorar na ordem jurídica através de meios formais para o 
efeito estabelecidos. 
Vê-se assim que o Direito natural está presente na sociedade e no seio do Direito 
positivo. 
Parece que o núcleo central do Direito como um todo se encontra no Direito natural, 
é ele que fornece a razão ao Homem para criação do Direito positive. 
É caudalosa a discussão feita e ainda se faz sobre a primazia de um em relação ao 
outro. Assim, há os que entendem como nós, que o Direito natural precede o Direito 
positive, outros negam fervorosamente esta forma de ver e dizem que Direito é só 
Direito positive, e é deste segundo entendimento que resulta a corrente juridico 
filosófica denominada de posetivismo, encabeçada por Kant
16
. Para esta corrente só é 
Direito o Direito positivo, escrito e formal, tudo o resto não é Direito. Os que assim 
pensam, insurgem-se contra o Direito natural alegando que o mesmo é deveras abstracto 
e não passivel de estudo no domínio científico. 
Há também os que entendem (dualistas) que na sociedade coexistem duas 
modalidades de Direito, o natural e o positivo, ideia que não é de todo de afastar. De 
resto, há um Direito que inegávelmente só é positivo, por exemplo, o que visa a 
aplicação do Direito vigente e aquele que tem como escôpo inibir a verificação de 
violação de um Direito, seja ele natural ou positivo lato sensu. Mais concretamente 
referimo-nos deste modo às normas processuais ou contravencionais. Uma norma que 
apresenta os requisitos para a elaboração de uma peticão inicial só pode ser puramente 
do Direito positive, idem para a norma que obriga o conductor a parar quando a luz do 
semáforo está no vermelho. 
O Direito natural possui um conjunto de normas (Leis naturais) não éticas que 
“governam” e “favorecem” a própria natureza. À essas normas o homem nada pode 
fazer para as contrariar. Pode às violar num determinado ponto do universe humano, 
mas não o poderá fazer com certeza em todos. João pode destruir o enxame de abelhas 
próximo da sua casa, mas não poderá acabar com todos os enxames que existem no 
mundo. Portanto, a vida no reino animal, vegetal bem como as dinámicas no meio 
inanimado, resultam da aplicação silenciosa e impessoal das leis naturais. Podemos 
assim dizer que o Direito natural tem duas dimensões, a física (constituida pelas leis 
 
16
 V. Oliveira Ascensão, ob. cit., p. 184. 
O DIREITO DE EMPRESAS. UM DIREITO EMERGENTE E HETEROGÊNEO 
naturais) e a ética (que fixam o dever ser). A dimensão física do Direito natural é a que 
é movida pela ordem natural e não é passivel de ser violada porque necessária e de certo 
modo fatal. A dimensão ética do Direito natural é constituida por normas que fixam o 
dever ser independentemente da actividade legislativa. 
Uma importante questão que se coloca é a de saber se oDireito natural é ou não 
universal?
17
 A resposta nos parece puder ser positiva. As normas do Direito natural têm 
um conteúdo nuclear conhecido e reconhecido no universe humano. A vida, o alimento, 
a família, a liberdade, a integridade física, a vida em sociedade e suas instituições 
fundamentais são, no nosso ver, alguns dos exemplos do Direito natural presentes em 
todo universe humano. 
Que dizer da relação Direito Natural Direito Positivo? O Segundo depende em 
grande medida do primeiro na medida em que vai buscar as suas bases nele. Há quem 
defende a ideia de que o Direito positivo confere tutela (protecção e garantia) ao Direito 
natural. Não pensamos assim. Embora o Direito positivo exerça a tutela através da 
imperatividade e coercibilidade, o Direito Natural de per si através da conciência da 
pessoa violodora das suas normas, exerce o juizo intra psicológico. O violador da norma 
do Direito natural é julgado e condenado pela sua própria consciência. Esta condenação 
as vezes leva a auto flagelação e suicídio (lento ou expontâneo). Pelo que, o Direito 
natural não depende do positivo para a sua afirmação como tal. Entendemos deste modo 
que o Direito natural se auto tutela. 
 
5 Ordens normativas 
A sociedade é assitida por uma diversidade complexa de normas que quando 
agrupadas segundo os fins a que se reportam formam diferentes ordens normas. 
Fora das ordens técnicas
18
 que visam a obtenção de um certo resultado útil ao 
homem, temos as seguintes ordens normativas: Ordem do trato social, ordem moral, 
ordem religiosa e ordem juridica. 
Ordem do trato social. É constituída por usos e convenções sociais assumidas de 
forma tácita. As normas que constituem essa ordem e que geralmente não são escritas, 
têm o seu domínio nas diferentes esferas da vida social tais como: cortesia-nas relações 
sociais, moda, práticas profissionais, desportivas, comerciais. Cada sector da vida social 
cria os seus próprios usos. Por exemplo, no desporto, quando um jogador em pleno 
 
17
 Idem, ob. cit., p. 213. 
18
 Para mais detalhes, v. Oliveira Ascensão, ob. cit., pp. 31-32. 
O DIREITO DE EMPRESAS. UM DIREITO EMERGENTE E HETEROGÊNEO 
campo sem intensão deixa cair o outro, o uso nesse domínio obriga o autor da queda a 
levantar o colega da equipa adversária, se o não fizer, é mal visto não só pela vítima 
como também pelos espectadores em geral. Assim, a violação das normas de trato social 
acarretam como consequência, a reprovação social e sanções inominadas. 
A regra do trato social pode evoluir a norma juridica passando a ser assistida de 
protecção coactiva. É o que sucede com a prática de os Advogados e magistrados 
usarem togas quando em sessão de julgamento. O uso desse traje que inicialmente era 
simples prática, está agora previsto nos intrumentos que regulam o exercício dessas 
profissões, pelo que a sua omissão acarreta sanções jurídicas de caracter profissional. 
Em última análise o trato social estabelece o estar num determinado momento e 
lugar. 
Ordem moral. É uma ordem de conduta que se destina a aperfeiçoar a pessoa 
humana para o bem. É o individuo que é aperfeiçoado na sua forma de ser e estar e não 
a sociedade como tal, embora as repercussões das normas de caracter moral se façam 
sentir na sociedade de um modo geral. A sociedade e o Direito natural é que ditam o que 
é moralmente correcto. Não é contudo de ignorar a existência de algumas variações em 
matéria de normas morais as quais se verificam em função do meio social que se 
observa. A sociedade ao emanar as suas normas de ordem éctica para os individuos nela 
inseridos se conformarem com elas, espera receber dos seus membros uma resposta 
comportamental adequada aos padrões ora difundidos. Pelo que, o nao cumprimento das 
normas morais cuja finalidade como já dissemos é aperfeicoar o homem ao bem, 
acarreta sancoes de natureza social. A pessoa achada violadora da norma é reprovada 
socialmente. 
Ordem juridica. É a ordem normativa constituida pelas normas criadas ou adoptadas 
pelo Estado através dos órgãos competentes. É por esse motivo que essa ordem 
normativa é chamada de juridica. Visa harmonizar a vida humana em sociedade, o bem 
comum. É a ordem normativa relevante para o nosso estudo porque é nela que se 
manifesta o Direito que se aplica na maior parte dos actuais Estados. Caracterizada 
principalmente pela imperatividade e coercibilidade das suas normas porque, regra 
geral, de cumprimento obrigatório e é através do uso da força imposto o seu 
cumprimento pelas pessoas. 
Em sede do estudo das ordens normativas, como já deve ter reparado, há zonas de 
difícil distinção, uma vez que todas as ordens normativas estão ao serviço do Homem e 
visam conduzi-lo ao bem ou ao bom convívio social. É neste âmbito que se discute a 
O DIREITO DE EMPRESAS. UM DIREITO EMERGENTE E HETEROGÊNEO 
distinção entre Direito e Moral. Alguns não vêem nenhuma diferença entre estas duas 
ordens normativas, entendem que o Direito é uma parte mínima da moral (teoria do 
mínimo ético) caracterizada por se revestir de valores éticos. A teoria do mínimo ético é 
representada esquematicamente por dois eixos concentricos em que o Direito é indicado 
no eixo minúsculo. Esta teoria não é digna de aplausos pois, na realidade, a moral lida 
com aspectos do âmbito interno da pessoa humana, o Direito por sua vez, se ocupa de 
exteriorizações comportamentais anti juridicos. Diferentemente do Direito, na moral 
não há coercibilidade nem imperatividade. Nem todo o Direito é éctico, excepto no 
domínio das normas criminais ou penais. Por estes argumentos, vê-se que a teoria do 
mínimo ético não passa de uma mera referência em sede do estudo das ordens 
normativas. 
Ordem religiosa. Dizem ser constituida por “normas religiosas” que se destinam a 
aperfeiçoar o homem e a estabelecer a relação entre o Homem e o seu Criador. Diz-se 
também que o não cumprimento das normas desssa ordem acarreta sanções não na vida 
presente mas na futura (punição de Deus). 
Não cremos que as normas ditas da ordem religiosa sejam de facto religiosas. 
Preferimos (sem querer inventar a roda) designá-las de ordem normativa divina, ordem 
divina. Isto porque, essas normas cujo escôpo é a relação entre os Homems e Deus (seu 
Criador) e entre os Homens entre si, não são de origem religiosa mas sim divina. As 
religioões apenas às ensinam e divulgam aos seus membros. De certa forma exercem 
uma certa fiscalização ao cumprimento das mesmas pelos seus membros. Foi Deus com 
o seu próprio dedo Quem escreveu em tábuas de pedra os Dez Mandamentos (v. Êxodo 
31: 18), e entregou a Moisês para os divulgar aos homens a partir do povo de Israel. 
Contudo, as religiões, pelo menos as mínimamente organizadas possuem as suas 
próprias normas internas de carácter organizacional e disciplinar. A violação dessas 
normas tem como consequência a aplicação de sanções religiosas contra os seus 
violadores. 
A violação de normas divinas, por vezes tem consequências na vida presente. É só 
reparar que algumas relevantes normas da ordem juridica são de inspiração divina. Por 
exemplo a norma que diz: “Não matarás”, está presente nas duas ordens normativas 
embora com formulações diferentes, procuram proteger o bem supremo “a vida”. O 
assassino, é sancionado tanto pela ordem juridica como poderá vir a sê-lo por Deus se 
entretanto não se mostrar arrependido. 
 
O DIREITO DE EMPRESAS. UM DIREITO EMERGENTE E HETEROGÊNEO 
6 O Estado e o Direito 
Actualmente o Estado e o Direito são duas realidades conceituais cujo estudo se tem 
afigurado inseparável. Custa saber se o Estado precede o Direito ou o contrário. A 
verdade é que é praticamente impossivel falar do Estado sem o Direito, mas Direito sem 
Estado parece ser possivel, se olharmos para as sociedades pré-históricas que subsistem 
em determinados pontos do mundo, nãotinham estrutura estadual como hoje se 
apresenta, no entanto o Direito aí sempre existiu. 
Duas concepções se expõem quanto a relação Direito/Estado. Uma denominada 
monista que associa o Direito ao Estado, entendendo que o Direito é apenas proveniente 
do Estado, que não há Direito sem Estado. Esta concepção rigida ao nosso ver, 
aproxima-se ao positivismo jurídico que não admite qualquer outra forma de Direito 
senão o formal. 
A outra concepção, dita dualista admite outra proveniência do Direito que não 
apenas a estadual. Diremos em breve o que pensamos a propósito desta questão. 
Falemos agora do conceito de Estado para uma melhor compreensão da matéria deste 
tópico. 
Já temos uma ideia do que é Direito, agora precisamos de saber o que é 
Estado.Estado é uma sociedade politicamente organizada (definição amplamente usada). 
Para que seja considerado como tal é necessário que tenha uma população, território e 
poder politico (soberania e independência). 
A sociedade de que aqui nos referimos, é aquela que está organizada sob o ponto de 
vista jurídico. Ora, nem sempre foi assim. No passado, antes das grandes revoluções que 
mudaram o rumo sócio politico e económico do mundo, as sociedades eram 
monarquicas, portanto governadas por pessoas ligadas por laços de parentesco. Ainda 
hoje há resquicios dessa forma de estar das sociedade antigas. O Direito ou o conjunto 
de normas que orientavam a vida dessas sociedades, era emanado pelo próprio monarca 
que as ditava segundo o seu lívre arbítrio; detinha todos os poderes que hoje são 
passiveis de divisão. 
De formas minusculas de Estado se evoluiu ao Estado moderno que é caracterizado 
principalmente pela sua actuação com base no Direito. Mas que Direito? O criado pelo 
próprio Estado através dos órgãos competentes, o que significa que a outra 
preponderante característica dos Estados modernos é a divisão do poder (executivo, 
legislativo e judicial), sendo o poder legislativo o principal encarregue de elaboarar leis. 
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O DIREITO DE EMPRESAS. UM DIREITO EMERGENTE E HETEROGÊNEO 
Os Estados não se apresentam da mesma forma. Há Estados unitários, simples como 
é o caso de Moçambique, com um únuco alinhamento governativo. Nestes Estados o 
Direito que os rege é o Direito estadual unitário. Há também Estados complexos isto é, 
vários Estados num só, são exemplos disso, os Estados Unidos, Brasil e Suiça. Em cada 
um dos Estados que constitui o Estado maior ou federal, há um Direito vigente, o qual 
deve se conformar com o Direito do Estado Federal que é o Direito Geral. Nestes casos, 
o Direito Estadual é o Direito do Estado Federal. 
Mas só o Estado é que cria o Direito? Aqui vamos responder a questão que 
deixamos há pouco. Entendemos que não, tal como o Professor Oliveira Ascenção 
somos da opinião que a ideia de que o Direito é só estadual é pretensa
19
. Embora este 
disponha sobre as regras gerais da ordem juridica, nomeadamente através da 
Constituição e Leis, existe o Direito criado por pessoas jurídicas do Direito privado para 
as reger, é o caso do Direito das assocoações baseado nos respectivos estatutos 
aprovados pelos seus membros. Os estatutos da associação, são criados pela livre 
vontade dos seus membros que os aprovam e os vinculam na ordem jurídica. Embora o 
seu conteúdo deva respeitar o Direito estadual, este só indirectamente é considerado, por 
isso não é por assim dizer de origem estadual. Também as relações obrigacionais são 
regidas por contratos elaborados através da manifestação da autonomia da vontade das 
partes, embora devam respeitar certas estipulações da lei estadual, só reflexamente se 
subordinam a elas. Por essa razão pode se afirmar que as cláusulas contratuais entre 
particulares não são de origem estadual. O Direito das regiões autónomas, Estados 
federados, autárquias e outras formas locais de exercício do poder, não são em rigor 
estaduais embora sejam por este garantidos. 
O Direito é transcendente ao Estado, com isto queremos dizer que ele existe 
independentemente do Estado. Mesmo na sociedade mocaambicana há vários meios 
sociais regídos pelo Direito não estadual (o Direito costumeiro), não deixa de ser 
Direito. 
Todavia, quando se fala de Direito, sem nenhum outro atributo, ressalta à mente até 
do leigo, o Direito estadual, pois este: “…é hoje a forma mais importante, prototípica ou 
paradigmática de Direito”
20
. 
 
7 Fontes do Direito-Aspectos gerais 
 
19
 V. OLIVEIRA ASCENSÃO, ob. cit., pp. 60-62. 
20
 V. CASTRO MENDES, ob. cit., p. 25. 
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O DIREITO DE EMPRESAS. UM DIREITO EMERGENTE E HETEROGÊNEO 
A expressão fonts do Direito não é univocal, remete o que a ouve pela primeira vez 
a diferentes sentidos, histórico, instrumental, sociológico ou material, órgânico e 
técnico-jurídico. 
Sentido histórico. Traduz a ideia do sistema que sob o ponto de vista histórico 
inspirou ou deu origem a um determinado Direito. Por exemplo, o nosso Direito tem 
como fonte histórica o Direito Romano. 
Sentido instrumental. Se refere ao instrument onde se encontra redigido ou 
compilado o Direito. Exemplo, o Boletim da República, a Constituição da República, a 
Bíblia Sagrada, são fonts instrumentais do Direito. 
Sentido sociológico. Entende-se como fonte do Direito, o conjunto de factos sociais 
que norteam a actividade de criadora de Direito. Por exemplo, o aumento do parque 
automóvel numa determinada cidade pode obrigar a alterações ao vigente Código de 
Estrada. O surto de certa epidemia ou actos criminais ediondos, pode impulsionar a 
criação de leis específicas para fazer face a esses cenários assitidos numa determinada 
sociedade. Por isso é que se se diz fonte do Direito em sentido sociológico. 
Sentido orgânico. Dá a ideia da origem orgânica do Direito. O orgão que emanou o 
Direito, é a fonte orgâniaca desse Direito. Por exemplo, no nosso país, como veremos 
infra, o Presidente da República, a Assembleia da República e o Governo, são fonts 
orgânicas do Direito. 
Sentido técnico jurídico. Se refere aos diferentes modos de formação e revelação das 
regras jurídicas. Este é o sentido mais relevante para o nosso estudo como veremos no 
tópico a seguir. 
Por muito que se diga a respeito das fontes do Direito, entendemos e como o 
Professor Oliveira Ascensão que a verdadeira fonte do Direito é a sociedade
21
. Mas a 
sociedade em si mesma considerada não emana o Direito. São as pesoas humanas que a 
compõem, que através da razão alimentada pelo dever ser existente na natureza e ou 
testemunhos geracionais revelam as condutas aceites no meio social. 
Ao sentido técnico jurídico tem sido tradicionalmente dito pertencerem a lei, o 
costume a jurisprudência e a doutrina. 
Lei, em sentido amplo da expressão se deve entender como sendo toda e qualquer 
norma juridical proveniente de uma entidade estadual competente. Diz-se que a lei é 
fonte do Direito porque dela se extrai a regra juridica a ser aplicada num determinado 
 
21
 OLIVEIRA ASCENSÃO, ob. cit., pp. 60-62. 
O DIREITO DE EMPRESAS. UM DIREITO EMERGENTE E HETEROGÊNEO 
caso concreto. A lei em si não resolve a questão suscitada mas a regra nela contida ao 
ser extraida para ser aplicada ao caso concreto faz da lei a fonte dessa regra. 
São várias as espécies de leis
22
 e não há uniformidade no seu alistamento, pelo que, 
apresentaremos aqui as que nos parecem essenciais. 
Lei em sentido material, coincide com o sentido amlo do termo lei, toda e qualquer 
disposição proveniente de uma entidade estadual competente. 
Lei em sentido formal, é aquela que acarreta para a sua emanação a observância de 
formalidades próprias por seu turno previstas na lei, sem as quais sera havida por 
inválida. 
Lei em sentido orgânco é a que provem de específicos órgãos legislativos,mormente a Assembleia da República e o Governo. Lei geral e lei especial. 
Lei geral e aquela que se aplica a generalidade das pessoas sobre quem certa materia 
se refere. 
Lei especial e aquela que se destina a certa ou certas pessoas. A especialidade e 
relative e pode ser em relacao as pessoas, material e lugar. 
Havendo conflito entre a lei geral e a lei especial aplica-se a lei especial porque a lei 
geral nao afasta a lei especial ou a lei especial prevalece sobre a lei geral 
As leis podem também ser vistas no âmbito geográfico e politico. Nestas 
circunsâncias, temos: leis federais, estaduais, nacionais, regionais, locais, autárquicas 
e ou minicipais conforme os casos. 
Podem tambem ser aferidas quanto ao tempo, asim se diz leis novas, antigas ou 
transitórias. A lei nova afasta a lei antiga. 
Em termos de vigencia podem ser, leis vigentes e leis revogadas. 
 Costume
23
. É a fonte que consiste na prática reiterada assitida de convicção de 
obrigatoriedade. Daqui resulta que há dois elementos fundamentais para que se 
verifique o costume, isto para não se considerer qualquer prática como sendo costume. 
É necessário que decorra do uso que é a tal prática social reiterada. Mas a referida 
prática reiterada deve ser juridicamente relevante e assitida de convicção de 
obrigatoriedade
24
. 
Tal como tecemos em relação a lei, o costume em si mesmo não é fonte do Direito, 
oferece uma regra ou dele é extraido para ser aplicada a um caso concreto. 
 
22
 Idem., p. 285 e ss. 
23
 Para mais detalhes sobre a temática do costume v. por todos NORBERTO BOBBIO, La consuetudine 
come fatto normative, Pádua, 1942. 
24
 V. OLIVEIRA ASCENSÃO, ob. cit., pp. 264-268. 
O DIREITO DE EMPRESAS. UM DIREITO EMERGENTE E HETEROGÊNEO 
Há três especiaies de costumes quando confrontados com a lei
25
. 
Costume secundum legem. É aquele que é de acordo com a ele, que a interpreta. 
Costume praeter legem (para além da lei). Regula hipoteses e aspectos de que a lei 
não trata. 
Costume contra legem. É contrário a lei, é um tipo de costume que nao vale. 
Jurisprudencia. É o conjunto de relevantes decisões proferidas normalmente por 
tribunais de escalão superior que podem ser usadas para extração da regra juridica a 
aplicar num caso concreto. Uma vez que os juizes são independentes na sua actuação, 
custa afirmar com categoria que a jurisprudência é verdadeira fonte de Direito
26
 a não 
ser que seja costume jurisprudencial, jurisprudencia uniformizada e precedente
27
. 
Contudo, não há como não alistá-la nesta sede se a generalidade dos autores a indicam 
como fonte de Direito. 
A jurisprudência tem sido usada como verdadeira fonte de Direito nos paises anglo-
saxónicos onde se aplicam as regras dos casos precedentes. Há também propensão para 
o uso da jurisprudência em países onde reina o conservadorismo legal, facto que 
mantém os respectivos códigos intáctos. Nessas circunstâncias a jurisprudência acaba 
por ser a solução para os casos omissos
28
. 
Da jurisprudência pode resultar uma regra que fixe doutrina com força obrigatória 
geral a que se chama assento
29
 nos termos do artigo 2 do Código Civil. Essa regra tem a 
mesma força vinculativa que a lei. 
Doutrina. São exposições e soluções teoricas apresentadas pelos estudiosos ou 
cultores do Direito, também chamados de jurisconsultos. A obra de Direito do 
conceituado Professor Oliveira Ascensão é doutrina. Por natureza a doutrina não é 
vinculativa, não é aplicada na apreciação dos casos embora exerça uma grande 
influência na actividade legislativa. Por isso é que muitos autores tal como o costume e 
a jurisprudência a consideram de fonte mediata do Direito face a lei que é tida como 
fonte imediata do Direito. 
 
8 Fontes do Direito em Moçambique 
 
25
 V. OLIVEIRA ASCENSAO, ob. cit., pp. 269-270, v. tb., CASTRO MENDES, ob. cit., p. 116. 
26
 V. Neste sentido OLIVEIRA ASCENSÃO, ob. cit., p. 318 e ss. 
27
 V. Mais detalhes em OLIVEIRA ASCENSÃO, ob. cit., p. 322-331. 
28
 Idem., pp. 321-322. 
29
 V. Sobre a origem histórica e a problemática dos assentos em OLIVEIRA ASCENSÃO, ob. cit., pp. 
326-331. 
O DIREITO DE EMPRESAS. UM DIREITO EMERGENTE E HETEROGÊNEO 
Na nossa ordem juridica existem dois tipos de fontes do Direito. As legais formais e 
e as costumeiras- práticas. 
 As fontes de natureza legal e formal resultam da própria lei que revela o Direito 
Positivo a ser aplicado dentro da ordem juridical nacional, cfr, número 3 do artigo 2 da 
CRM e artigo 1 do Código Civil. Portanto, a lei é a principal fonte do Direito em 
Moçambique. Poderiamos ser tentados a dizer que é a única fonte do Direito como o 
fizemos noutra ocasião, mas vemos agora que o costume também o é principalmente na 
resolução de conflitos por via dos tribunais comunitários e também nas transações 
correntes da vida social. 
O reconhecimento do costume como fonte do Direito em Moçambique é feito 
implicitamente pela Constituição da República no seu artigo 4 que estabelece: “O 
Estado reconhece os vários sistemas normativos e de resolução de conflitos que 
coexistem na sociedade moçambicana, na medida em que não contrariem os valores e 
os principios fundamentais da Constituição”. Esta norma, ao dizer que o Estado 
reconhece os “vários sistemas normativos” e de resolução de conflitos, admite sem 
dúvidas as normas do sistema costumeiro que não sejam contrarias a Constituição. 
Ensina-se em escolas de Direito do nosso país que, a doutrina e a jurisprudência são 
também fontes de Direito em Moçambique, mas fontes mediatas porque não são 
directamente aplicadas aos casos concretos que demandam soluções jurídicas. O 
costume também é assim considerado. Mas nós humildemente pensamos que o que 
importa nesta sede é falar das fontes imediatas que quanto a nós são a lei e o costume 
conforme explicamos no parágrafo anterior e não das fontes mediates cujo tratamento é 
do domínio das generalidades das fontes do Direito. Entendemos assim que a doutrina e 
a jurisprudência são fontes mediates e doutrinárias do Direito. Doutrinárias porque 
inevitavelmente devem ser referidas no estudo doutrinário das fontes do Direito. Porém, 
quando se pretende estudar as fontes do Direito em Moçambique, julgamos ser curial 
apontar àquelas que o são sob o ponto de vista legal e prático. 
Quando a actividade jurisprudêncial produz decisões cujo teór se torna vinculativo 
para casos análogos futuros em toda a ordem jurídica, como os assentos, assumem o 
mesmo valor jurídico da lei, v. artigo 2º do Código Civil. 
 
9 Órgãos emanadores do Direito 
Os órgãos emanadores do Direito são de natureza collegial ou individual. No caso 
de Moçambique os órgãos que emanam o Direito são: A Assembleia da República, o 
O DIREITO DE EMPRESAS. UM DIREITO EMERGENTE E HETEROGÊNEO 
Governo, o Presidente da República, e o Ministro. A nível do poder local, criam Direito 
que vincula localmente as Assembleias Municipais. 
A Assembleia da República é o mais alto órgão legislativo da República de 
Moçambique, cfr., número 1 do artigo 169º da C.R.M, é da sua exclusive competência 
aprovar leis cfr., artigo 179º da CRM. A designação lei é exclusive dos actos 
legislativos da Assembleia da República cfr., artigo 182 da C.R. M. Os demais actos 
deste órgão revestem a forma de resolucão, cfr., o mesmo artigo na sua parte final. 
Veremos na unidade seguinte, quais os passos para a elaboração de uma lei. 
O Governo também emana normas jurídicas tecnicamente chamadas de Decretos e 
Decretos-Leis. 
Os Decretos são legítimos actos normativos do Governo, cfr., artigo 210 da C.R.M 
parte final. Ao passo que os Decretos-Leis são aprovados pelo Governo mediante 
autorização legislative da Assembleia da República, cfr., alínea d) do artigo 204. Isto 
significa que o Governo não pode aprovar Decretos-Leis sem a devida autorizaçãoda 
Assembleia da República que à posterior o deve ratificar, cfr., artigo 181 da C.R.M. Os 
actos não normativos do Governo revestem a forma de resolução, cfr., número 4 do 
artigo 210 da CRM. 
O Presidente da República por sua vez emana normas jurídicas cuja designação é: 
decreto presidencial nos termos do disposto no artigo 158 da Constituição da República. 
As demais decisões deste órgão revestem a forma de despacho. 
O Ministro no exercício das sua funções, cria normas a que se chamam de diplomas 
ministeriais, essas normas são normalmente de carácter regulamentar. 
As autarquias locais, que constituem uma das manifestações do poder local, nos 
termos do número 1 parte final do artigo 135 da C.R.M conjugado com a Lei 2/97 de 28 
de Maio (Lei das autarquias locais) nos seus artigos 6 e 11 conjugados tem competência 
de aprovar regulamentos (posturas camarárias também se chamam) que visam organizer 
a vida na autarquia local. 
 
10 O lugar privilegiado da lei e modos da sua formação 
Como atrás dissemos, a lei é a principal fonte formal do Direito nos países que 
usam o Direito escrito. Durante muito tempo o Direito escrito era tido como 
característico do sistema jurídico romano germânico, facto que actualmente está a 
perder terreno uma vez que mesmo em países anglo saxónicos em que a principal 
fonte de Direito é o costume, hoje já usam o Direito escrito em muitos casos. 
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A lei ocupa um lugar privilegiado na ordem juridica face as demais normas 
jurídicas nela emanadas. No entanto elas conhecem por sua vez algumas 
especificidades que reconduzem a certa hierarquia. Há as que são mais solenes e 
respeitáveis que as outras. Assim, as leis constitucionais estão acima das leis 
ordinárias formais e estas acima das leis ordinárias comuns ou não solenes
30
. 
As leis constitucionais são as que constam da Constituição. São na sua essência 
leis mas de nível superior pela sua natureza e pressupostos para a sua aprovação. Há 
mais solenidades na aprovação de uma lei constitucional que na aprovação de uma 
lei ordinária formal ou solene. 
A lei ordinária formal solene é a que é normalmente aprovada pela Assembleia 
da República no exercício das suas funções ordinárias. Exige uma maioria de 2/3 
dos deputados para a sua aprovação. São as leis no sentido restrito da palavra “lei” 
ou propriamente ditas. 
As leis ordinárias comuns ou não solenes são as emanadas pelos órgãos centrais 
do Estado (decretos, decretos presidenciais, diplomas ministeriais), órgãos locais (se 
os houverem, em Moçambique não temos pelo menos até onde sabemos, casos de 
normas emanadas pelos órgaõs locais), entidades autónomas (como é o caso das 
autarquias locais). Estas são leis em sentido material ou amplo. 
O princípio aureo na hierarquia das leis é o de que: as leis de escalão inferior não 
devem contrariar as de escalão superior. 
Uma importante questão coloca-se em sede da hierarquia das leis, que é a de 
saber em que posição se encontram os Tratados e Acordos Internacionais face as leis 
internas. 
Porque ratificados (recepcionados) pela Assembleia da República, entendemos 
que os Tratados internacionais encontram-se na mesma posição hierárquica que a lei 
ordinárias formais e solenes. E os Acordos porque celebrados pelo Governo, são do 
mesmo nível hierárquico que algumas leis ordinárias comuns ou não solenes. Ex, os 
decretos. 
Esquematicamente teriamos a seguinte hierarquia: 
1. Leis constitucionais (Constituição da República). 
2. Leis ordinárias formais ou solenes-Tratados Internacionais. 
 
30
 V. Neste sentido, OLIVEIRA ASCENSÃO, ob. cit., pp. 584-585. 
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3. Leis ordinárias comuns ou não solenes (decretos, decretos presidenciais, 
diplomas ministeriais, posturas camarárias, regulamentos)- Acordos 
internacions (estão em paralelo apenas com os decretos). 
Vejamos agora como é que é formada a lei. O processo de formação da lei 
(em sentido formal solene, restrito ou propriamente dita) obedece etapas 
necessárias sem as quais o acto normativo enferma de desvalores. 
Há que saber primeiro a quem cabe a iniciativa de lei. Nos termos do 
disposto no artigo 183 da CRM, a iniciativa de lei pertence: 
a) aos deputados, 
b) as bancadas parlamentares; 
c) às comissões da Assembleia da República; 
d) ao Presidente da Répública, 
e) ao Governo. 
A iniciativa de lei prevista nas alíneas a) a c) do artigo 183 da C.R.M, isto é, de dentro 
da Assembleia da República, chama-se- projecto de lei conforme reza o estabelecido no 
número 2 do mesmo artigo ao referir que: “ Os deputados e as bancadas parlamentares 
não podem apresentar projectos…”. 
 As restantes iniciativas de lei, são designadas de proposta de lei, como se 
alcança do previsto na alinea c) do artigo 204 da C.R.M. Compete ao Conselho de 
Ministros preparer propostas de lei a submeter à Assembleia da República. Esta fase 
inicial é chamada de elaboração. 
 A fase seguinte a submissão do projecto ou proposta de lei à Assembleia da 
República é a aprovação, precedida por debates na generalidade e na especialidade. A 
votação compreende uma votação na generalidade que corresponde a admissão do 
projecto ou proposta, uma votação na especialidade que consiste na apreciação 
minunciosa do projecto ou proposta ora admitidos e finalmente uma votação final 
global que se tradua na aprovação da lei, nos termos do disposto nos numerous 1 e 2 do 
artigo 184 da C.R.M. A Assembleia da República só pode deliberar achando-se 
presentes mais de metade dos seus membros, conforme disposto no número 1 do artigo 
187 da C.R. M. 
 Uma vez aprovada a lei, é submetida ao Presidente da República para a sua 
promulgação nos termos do disposto no número 1 do artigo 163 da C.R.M, seguida da 
publicação no Boletim da República, confira o número 1 do artigo 144. A promulgação 
é um acto de fiscalização preventiva da lei feita pelo Presidente da República visando 
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evitar que a mesma fira a Constituição da República ou seja contrária aos anseios dos 
cidadãos. 
 Após a publicação que deve necessariamente ser feita no Boletim da República 
(BR), artigo 144º da C.R.M, a lei deve entrar em vigor imediatamente ou decorrido que 
seja determinado lapso de tempo. Ao interregno entre a publicação e entrada em vigor 
da lei chama-se vacation legis cujo regime jurídico supletivo (que se aplica na falta de 
fixação de prazo para a entrada em vigor de certa lei) consta da Lei 6/2006 de 18 de 
Abril. Em Moçambique a lei entra em vigor simultaneamente em todo o território 
nacional. Não é assim em todos os países, especialmente nos de dimensão territorial 
maior. Nestes países a lei entra em vigor sucessivaente, pore tapas nas diferentes regiões 
desses Estados. 
 Em resumo as fases de elaboração de uma lei são: 
-Elaboração; 
-Aprovação; 
-Promulgação; 
-Publicação; 
- Entrada em vigor
31
. 
 
11 Desvalores do acto legislativo 
O processo de elaboração da lei pode ser afectado por uma acção ou omissão que 
reconduz a vícios que se chamam de desvalores do acto legislativo
32
. Aqui nos 
referimos apenas ao acto de elaboração da lei e não de qualquer norma. 
 São três os desvalores do acto legislativo a saber: 
- Invalidade, 
- Inexistência, 
- Ineficácia. 
 A invalidade é um desvalor que se manifesta em duas vertentes, na possibilidade 
de o acto em referência ser tido como nulo (nulidade), por um lado, e por outro, na 
possibilidade de o acto ser anulável (anulabilidade). Uma lei não aprovada ou aprovada 
ilegal ou irregularmente é nula ou anulável conforme a gravidade do vício que sobre ela 
recai. Se estiver em causa o quorum mínimo para a aprovação, entendemos que a lei ora 
aprovada sera nula. Mas se for violado um procedimento meramente formalde votação, 
 
31
 V. CASTRO MENDES, ob. cit., pp. 97-103. 
32
 V. OLIVEIRA ASCENSÃO ob. cit., pp. 297-301. 
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em que por exemplo algum dos votantes (cujo voto era necessário para o quorum 
necessário) não levantou completamente o seu braco, essa lei será anulável. Voltaremos 
às espécicies de invalidades infra 12. 
 Inexistência é o desvalor do acto legislativo considerado na falta de promulgação 
da lei. Em Moçambique a promulgação é um acto exclusivo da competência do 
Presidente da República conforme vimos supra 10. 
 A ineficácia verifica-se quando há um vício relativo a publicação da lei (cfr. 
Número 1 do artigo 144º da CRM) e sua entrada em vigor. Já sabemos que a lei deve 
ser publicada no Boletim da República e pode estar sujeita a um lapso de tempo 
(vacatio legis) para que comece a vigorar. A matéria da publicação da lei no Boletim da 
República e o lapso de tempo para a sua entrada em vigor deve ser entendida na 
conjugação dos artigos 144º da CRM e artigo 5 do Código Civil. 
 
 
12 Invalidades jurídicas. Nulidade e anulabilidade 
Falemos um pouco mais da invalidade
33
. Dissemos na unidade anterior que a 
invalidade podia ser vista na vertente de nulidade e ou anulabilidade. Estas figuras têm 
o seu regime jurídico nos artigos 285º e seguintes do Código Civil. A nulidade é 
invocada quando um acto ou norma jurídica por enfermar de um vício formal e ou 
sobretudo de ordem material, não pode à partida produzir os devidos efeitos na ordem 
jurídica. A anulabilidade verifica-se quando o acto cujos efeitos já estão a produzir-se 
pode sofrer interrupção em virtude de se considerar infestado por um vício que 
normalmente é de forma. Portanto, no caso da anulabilidade os efeitos jurídicos não são 
considerados à partida enquanto que na anulabilidade os efeitos jurídicos são 
considerados mas a qualquer momento podem ser interrompidos. 
A nulidade (artigo 286º do Código Civil) caracteriza-se por: 
- ser invocável a todo o tempo, 
-por qualquer interessado, 
-e ser de conhecimento oficioso por parte do tribunal. 
A anulabilidade (artigo 287º do Código Civil)) por sua vez caracteriza-se por: 
- só puder ser invocada por quem tem legitimidade nos termos da lei, isto é, as 
pessoas cujos interesses são por lei protegidos ao puderem invocar essa figura, 
 
33
 V. Por todos OLIVEIRA ASCENSÃO ob. cit., pp. 77-78. 
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artigo 163
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-só puder ser invocada até um ano depois da cessação do vício que lhe serve de 
fundamento. 
O vício da nulidade é insanável quando o objecto do negócio a que se reporta, ferir 
de forma flagrante com os requisitos legalmente estabelecidos cfr., artigo 280º do 
Código Civil, ao passo que a anulabilidade pode ser sanada, tornando o acto em causa 
confirmado ou válido (convalidação), cfr., artigo 288 do Código Civil. 
Se um acto jurídico (negócio jurídico) for considerado nulo por se ter arguido a 
nulidade ou a anulabilidade, quem havia se beneficiado com o acto agora declarado nulo 
deve restituir tudo o que tiver sido prestado ou, se a restituição em espécie não for 
possível, o valor correspondente, cfr., número 1 do artigo 289º do Código Civil. 
 
- 
13 Interpretação e integração da lei 
13. 1. Interpretação
34
 
A lei não deve ser aplicada antes de ser interpretada sob pena de não realizar o fim a 
que se destina e causar danos aos visados. A técnica de interpretar a lei chama-se 
exegese, com ela se visa fixar o sentido e o alcance de uma lei para a correcta aplicação. 
Nos termos do disposto no número 1 do artigo 9º do Código Civil, a interpretação 
não deve cingir-se à letra da lei. Isto significa que o interprete, hermeneuta também se 
diz, não deve considerar apenas o texto da lei, a declaração da lei, pois se assim o fizer 
estará a basear-se num tipo de interpretação que é declarativa, na medida em que basea-
se apenas no enunciado do texto. Para além do texto da lei o interprete deve reconstituir 
a partir dos textos o pensamento legislativo. Deve assim o hermeneuta procurar extrair 
do texto a razão daquela norma, o pensamento legislativo. 
Assim, para uma cabal fixação do sentido e alcance da lei, o interprete deve ter em 
consideração os elementos: 
- Lógico racional. O interprete deve considerar não só o que está dito no texto 
(elemento literal) mas também extrair do mesmo o que o legislador quis dizer, 
baseando-se nos aspectos lógicos e racionais da normaa saber: 
-Sistemático. O interprete deve ter em conta a unidade do sistema jurídico onde ele 
se encontra, interpretar de forma que não colida com alguma norma do sistema jurídico 
de referência. 
 
34
 V. Por todos, desenvolvidamente OLIVEIRA ASCENSÃO, ob. cit., pp. 381-430. 
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- Histórico. O momento histórico em que a lei foi elaborada também deve ser 
chamado a interpretação que deve analisar os precedentes normativos, trabalhos 
preparatórios e a occasio legis (todos os circunstancialismos sociais que rodearam o 
aparecimento da lei). 
-Teleológico. A finalidade da lei deve também ser tomada em linha de conta no 
momento da interpretação. 
-A ratio legis. É a conjugação de todos estes elementos interpretativos com vista a 
extrair o seu espírito ou razão da lei. Com a interpretação da lei se visa em última 
análise encontrar a ratio legis que servirá de base a aplicação da regra jurídica. 
Uma vez aplicados de forma conjugada ou não os elementos interpretativos 
acabados de apresentar, resultam os seguintes tipos de interpretação
35
: 
-Interpretação declarativa, 
-Interpretação extensiva, 
-Interpretação restritiva, 
- Interpretação enunciativa, 
-Interpretação correctiva, 
- Interpretação abrrogante, 
 
A interpretação declarativa é a que se limita a letra da lei, o interprete não vê outro 
sentido e alcance da lei que não o que se extrai da leitura do texto normativo. 
Pode acontecer que alguma ou algumas palavras da lei tenham mais que um sentido, 
de extensão desigual. Se a interpretação toma como exacto o sentido mais lato, chama-
se interpretação declarativa lata; se mais restrito, interpretação declarativa restrita. 
Cfr. Artigos 362º, 1320º n. 1, 1326º n. 1, 1351º n. 1, 1563º n. 1 alínea a) e 1570º n. 1, 
todos do Código Civil. 
Interpretação extensiva. Verifica-se quando se chega a conclusão de que a letra da 
lei é mais restrita que o seu espírito. Cfr. Artigo 11º do Código Civil, artigo 877º do 
Código Civil. 
Interpretação restritiva. É a que faz com que o interprete limite a norma por 
entender que o texto vai além do sentido. Entende o interprete que o legislador disse 
mais do que queria dizer. É o que sucede por exemplo, qundo a lei se refere a menores, 
o elemento sistemático força a entender que se refere só a menores não emancipados. 
 
35
 V. Por todos CASTRO MENDES, ob. cit., pp. 231 e ss. 
O DIREITO DE EMPRESAS. UM DIREITO EMERGENTE E HETEROGÊNEO 
Interpretação enunciativa. É a que leva o interprete a deduzir da norma interpretada 
outras normas, afins ou periféricas 
Interpretação correctiva. Consiste na situação de o interprete constatar que a norma 
objecto da interpretação não é de acordo com o sistema. É inadequada ao quadro legal 
vigente. Por exemplo, toda e qualquer norma que se afigure discriminatória em razão do 
género, raça, etnia, etc, deve ser interpretada correctivamente em obediência ao 
princípio da igualdade previsto nos artigos 35º e 36º da CRM. 
Interpretação abrogante. É a que conduz a conclusão segundo a qual a norma não 
tem conteúdo válidoou vigente. 
 
13. 2. Integração das lacunas da lei 
 A imperfeição do humana atinge o campo legislativo, na medida em que não é 
possível prever na lei todo o tipo de situações da vida. Muitos e diferentes factos 
surgem na medida em que o tempo e as sociedades avançam. Por, exemplo, a sociedade 
de informação em que vivemos hoje, era impensável há séculos atrás. No entanto hoje, 
as legislações devem se adequar a esta realidade. 
 A imprevisibilidade de certos factos por parte do legislador, faz surgir vazios 
legais a que se chamam de lacunas da lei. E porque o julgador nos termos do disposto 
no artigo 8º do Código Civil, não pode sob qualquer pretexto abster-se de julgar 
invocando a falta ou obscuridade da lei ou alegar dúvida insanável acerca dos factos em 
litígio, terá que encontrar uma forma de suprir, colmatar ou tapar a lacuna da lei. Mas 
como é que isso se faz? 
 Os critérios de suprimento de lacunas encontram-se consagrados no artigo 10º 
do Código Civil e são os seguintes: 
- O recurso a analogia. Os casos que a; lei não preveja são regulados segundo a norma 
aplicável aos casos análogos, n. 1 do artigo 10º do Código Civil. Na falta da lei a aplicar 
num determinado caso, o julgador deve procurar no sistema jurídico local uma lei que 
tem a mesma ratio legis que a que está em falta. 
-Criação de norma. Na falta de caso análogo, a situação é resolvida segundo a norma 
que o próprio interprete criaria, se houvesse de legislar dentro do espírito do sistema, n. 
2 do artigo 10º do Código Civil. Nesta situação (de falta de caso análogo), o interprete 
deve colocar-se no lugar do legislador e criar uma norma que, se ele fosse de facto 
legislador, criaria tal norma. 
 
O DIREITO DE EMPRESAS. UM DIREITO EMERGENTE E HETEROGÊNEO 
14 Cessação da vigência da lei 
A lei normalmente é feita para vigorar por um período indeterminado pese embora 
existam aquelas, que à partida, são elaboaradas para vigorarem num determinado 
horizonte temporal. Assim, a lei pode deixar de produzir os devidos efeitos em virtude 
de ter aparecido uma lei nova ou por ter naturalmente terminado o seu prazo de 
vigência. No primeiro caso diz-se revogação, no segundo diz-se caducidade. O facto de 
a lei deixar de produzir os seus efeitos seja por uma ou por outra razão, chama-se 
cessação da vigência da lei. O regime jurídico desta matéria consta do artigo 7º do 
Código Civil. 
A regra áurea é a de que: “Quando se nào destine a ter vigência temporária, a lei só 
deixa de vigorar se for revogada por outra lei”, cfr. Número 1 do artigo 7º. Isto significa 
que o modo mais comum de uma lei cessar é a revogação. 
A revogação pode acontecer de uma de duas formas: 
 - 1º, resultar de declaração expressa, da incompatibilidade entre as novas 
disposições e as regras precedentes, cfr primeira parte do número 1 do artigo 7º do 
Código Civil. A este tipo de revogação diz-se expressa. Ex, a lei B sobre certa matéria 
afasta expressamente o modo como a lei A regulava a mesma matéria. Portanto a lei B 
diz expressamente que a lei A está revogada. 
-2º ou da circunstância de a nova lei regular toda a matéria da lei anterior, neste caso 
á revogação diz-se tácita, em virtude de ser aferida por via interpretativa. O interprete 
apercebe-se que há diferença no tratamento da mesma matéria entre a lei nova (B) e 
antiga (A). 
A lei pode também deixar de vigorar naturalmente, quando os motivos pelos quais 
ela foi criada se verificam ou quando ela mesma expressa o seu tempo de vigência. 
Quando isto acontece a cessação da lei é por caducidade. Ex, uma lei que é elaborada 
para vigorar durante o período de emergência de calamidades naturais ou guerra, findo 
que seja esse motivo a lei caduca. Pode também uma lei ser criada para vigorar durante 
um certo período transitório entre duas leis, findo que seja esse período transitório a lei 
transitória caduca. 
Tanto a revogação como a caducidade ocorre nos contratos. Quando a revogação 
opera nos contratos tem a designação de rescisão a qual deve ser levada a cabo mediante 
apresentação de justa causa sob pena de dar lugar a indemnização a parte que rescindiu 
o contrato sem justa causa. 
O DIREITO DE EMPRESAS. UM DIREITO EMERGENTE E HETEROGÊNEO 
Os contratos caducam quando o seu tempo de validade chega ao fim. Ex, um 
contrato celebrado por um período de um ano, caduca no fim do prazo de um ano 
contado a partir da data em que o mesmo foi celebrado. 
Uma lei de carácter geral não revoga uma de carácter especial, excepto se outra for a 
intenção inequívoca do legislador cfr, número 3 do artigo 7º do Código Civil. Ex, a lei 
que estabelece a maioridade geral aos 21 anos em Moçambique, não revoga a que 
estabelece a maioridade especial para efeitos eleitorais, 18 e 35 anos respectivamente 
conforme seja para eleger ou ser eleito para parlamentar ou Presidente da República. 
Uma vez revogada a lei não deve voltar a vigorar, é o que se deve entender do 
disposto no número 4 do artigo 7º do Código Civil, princípio da não represtinação ou 
não repescagem da lei revogada. Exepto se de forma expressa o legislador estabelecer a 
repescagem de uma lei que havia sido revogada e a pôr a vigorar de novo. 
 
15 A pessoa em Direito 
No domínio do Direito há um alargamento do conceito de pessoa. São também 
consideradas de pessoas, além dos seres humanos, algumas realidades abstractas criadas 
pela ficção jurídica
36
 para o cumprimento de determinados fins considerados 
economicamente viáveis. 
Nem sempre foi assim. Foi o Século XX que também trouxe a pessoalidade algumas 
realidades não humanas. Isto aconteceu inicialmente no Direito romano que passou a 
reconhecer através do Código do Direito Canónico, portanto da igreja Católica Romana, 
a par da igreja, as unidades corporativas e patrimoniais como sendo pessoas. 
Em Moçambique esse outro tipo de pessoas chama-se pessoas colectivas, mas não é 
assim em todo o mundo, por exemplo no Brasil, chamam-nas de pessoas jurídicas em 
contraposição a pessoa física (humana). 
É o Código Cívil no seu artigo 157º que nos diz quem são à partida as pessoas 
colectivas em Moçambique. Assim, em princípio são consideradas pessoas colectivas 
no nosso país, às associações, às fundações e as sociedades comerciais. 
As associações e fundações adquirem personalidade jurídica pelo reconhecimento, 
cfr, número 1º do artigo 158º do Código Civil. As sociedades comerciais adquirem 
personalidade jurídica…. 
 
3636
 De acordo com SAVIGNY, pronunciando-se sobre a natureza jurídica da “pessoa” através da teoria 
da ficção, a pessoa é criada por uma ficção legal, não existe socialmente mas ideologicamente. É uma 
abstracção criada pela técnica jurídica. 
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O substracto ou o elemento que mais se evidencia na associação, é o pessoal 
(pessoas). Nas fundações, a massa de bens. Nas sociedades umas são 
predominantemente caracterizadas pelo elemento pessoal, outras patrimonial outras 
ainda a combinação dos dois elementos. 
A par das pessoas colectivas constantes do Código Civil conforme acabámos de 
apresentar, há as criadas pelo Estado para prossecução de determinados fins. Estas 
pessoas são: os institutos e empresas públicas, associações e fundações públicas, são 
também pessoas colectivas, mas, especiais. 
Há ainda que considerar a existência de pessoas colectivas do Direito público de 
tipo territorial. Nesta categoria destaca-se em primeiro lugar o próprio Estado unitário 
ou federal, os Estados federados, as regiões autónomas e as autarquias locais. 
Por último, no domínio das pessoas colectivas temos também as cooperativas cujo 
regime jurídico consta da Lei 23/2009 de 8 de Setembro, cfr, especialmente o artigo 2º 
deste diploma legal. 
 
 
16 Relação jurídica 
A para das relações puramente sociais, econtramos àquelas que têm relevância

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