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1HISTÓRIA 1. A colonização francesa Antecedentes A França iniciou tardiamente seu processo de expansão ultramarina. Envolvida na Guerra dos Cem Anos (1337-1453), somente na segunda metade do século XV ini ciou as navegações, que proporcionaram a formação de seu Império Colonial na Amé ri ca, estabelecendo-se em áreas desprezadas pelos ibéricos. As navegações francesas tinham por objetivo encon - trar uma passagem a no roes te para a Ásia. Assim como os ingleses, os franceses organizaram sua ação em termos de pi ra taria e concessão de cartas de corso reais contra as frotas dos países ibéricos, ou por meio de ataques a vilas e povoados da América luso-espanhola. Cabe lembrar que o rei Francisco I ques - tio na va o Tratado de Tordesilhas, exigindo para a sua aceitação o “testamento de Adão”. As conquistas Na primeira metade do século XVI, os franceses organizaram expedições para o Novo Mundo. Entre 1534 e 1535, Jacques Cartier explorou a foz do Rio São Lourenço, dando-lhe o nome de Nova França. Nesse mesmo período, tentaram fundar uma colônia de povoamento na Baía da Guanabara (atual Rio de Janeiro), que ficou conhecida como “França Antártica”. Logo em seguida, na França, tiveram início as Guerras de Religião, que en vol ve riam toda a história francesa até o final do século XVI, atrasando assim os empreen dimentos ultramarinos. No reinado de Henrique IV, a questão religiosa foi apaziguada e retomou-se a ideia de exploração da América. Em 1603, Samuel de Champlain começou a ocupação das terras; em 1608, fundou a cidade de Québec, no Canadá. Nessa região, apesar dos esforços para a implan ta - ção de atividades agrícolas, desenvolveu-se um lucrativo comércio de peles com os indígenas algonquinos. Em 1627, o governo do cardeal Richelieu criou a Companhia de Comércio Nova França, que recebeu o monopólio do comércio de peles e comprometeu-se a povoar o Canadá. Em 1642, missionários católicos fundaram a cidade de Montreal, expandindo a área conquistada pela França. Módulos 45 – Expansão e colonização francesa 46 – Expansão e colonização holandesa 47 – Colonização espanhola 48 – África I – Origens e características gerais 49 – África II – Tráfico Negreiro 50 – A origem do ameríndio 51 – Os maias 52 – Os astecas 53 – Os incas 54 – Os indígenas norte-americanos 55 – Indígenas brasileiros 56 – Política indigenista no Brasil 45 Expansão e colonização francesa Palavras-chave: • Corsários • Companhias de comércio • Colbertismo HISTÓRIA INTEGRADA C4_1a_HISTORIA_JR_2021.qxp 04/06/2021 14:16 Página 1 2 HISTÓRIA Entre 1673 e 1674, os jesuítas alcançaram a região dos Grandes Lagos, o que possibilitou a descoberta da foz do Rio Mississippi, pelo qual Robert de Cavelier de La Salle navegou de 1680 a 1682, ane xan do, em nome da França, todo o território até a nascente do rio. Esse território foi denominado Louisiana. O mercantilismo francês proporcionou um afluxo de riquezas para o erário. Sala dos Espelhos, Palácio de Versalhes. Com Colbert, minis tro de Luís XIV, ex tin guiu-se a Compa nhia de Comércio Nova Fran ça e a responsa - bilidade pela colonização pas sou para a Coroa Fran - cesa. O Canadá seria transformado em re gião produtora de ma dei ra e peles, tor nando-se uma pro - víncia do Impé rio. Colbert, ministro das Finanças de Luís XIV. Nas Pequenas An tilhas, a ocupação francesa deu- se principalmente com a fun dação da Companhia das Índias Ocidentais, por Colbert. As ilhas ocupadas pela Fran ça, a partir de 1635, foram Guadalupe, Martinica, São Cristóvão, São Bartolo meu, São Martinho, Santa Lúcia, Santa Cruz e Granada, além da porção ocidental da ilha de Hispaniola ou Ilha de São Domingos (mais tarde, chamada de Haiti). Essas áreas im pro dutivas nas mãos da Companhia de Comércio passaram, em 1674, para o do mí nio do Esta do, produzindo tabaco, algodão, açúcar, cacau, café e ma dei ras tin to riais. 2. O declínio do Império Francês na América A ocupação da América do Norte por franceses e ingleses acabou conduzindo a choques inevitáveis entre esses grupos, motivados por interesses econômicos e territoriais. Os franceses dominavam o comércio de peles com os indígenas, o que atraía a atenção dos ingleses, que já se sentiam limitados, pois a presença francesa na região da Louisiana impedia sua expansão para as áreas a oeste. Nesses conflitos, era comum a busca de alianças com os grupos indígenas locais. Os franceses estabe - le ce ram aliança com os algonquinos; e os ingleses, com os iroque ses, tribos rivais desde o período pré- coloni za dor. A expansão de colonos ingleses para além dos Montes Allegheny resultou em conflito com os franceses que, somado aos conflitos europeus, como a Guerra de Sucessão Espanhola (1701 a 1713), retirou da França, de acordo com o Tratado de Utrecht, a região de Nova Acádia e Terra Nova, no Canadá. Mais tarde, novos conflitos envolveram franceses e ingleses. Entre 1756 e 1763, eclodiu a Guerra dos Sete Anos, travada em duas frentes: uma americana e outra europeia. A França foi a grande derrotada e, com a assina tura do Tratado de Paris, em 1763, perdeu o Canadá, as Peque nas Antilhas e o leste do Rio Mississippi para a Inglaterra. A Espanha (aliada da Inglaterra) recebeu a Louisiana como recompensa pela perda da Flórida para os ingleses. Durante a Guerra de Independência norte-ame ri - cana, a França retomou a Louisiana, que, em 1803, foi vendida por Napoleão Bonaparte aos Estados Unidos da América. Atualmente, a Guiana Francesa é o único território francês nas américas. Foi colônia até 1947, quando se tornou um departamento ultramarino. C4_1a_HISTORIA_JR_2021.qxp 03/06/2021 23:06 Página 2 3HISTÓRIA � (MODELO ENEM) – Em 1555, um dos mais importantes líderes do protes tantismo francês, o Almirante Coligny, enviou uma expedição à América. Em novembro do mesmo ano, sob o comando de Nicholas Durand de Villegaignon, a expedição chegou ao atual Estado do Rio de Janeiro, onde construiu o forte Coligny e fundou uma colônia deno minada França Antártica. Destaca-se, entre as razões que motivaram a fundação dessa colônia, a a) disputa pela posse das lavouras açu - careiras implan tadas no território brasileiro. b) luta pelo controle do porto de Paraty, por onde era exportada a produção de ouro. c) retaliação aos católicos pelo massacre de pro tes tantes na “Noite de São Bartolo - meu”. d) disputa pela hegemonia do comércio de pau-brasil para a manufatura têxtil. e) necessidade de ampliar o controle territorial francês até a foz do Rio da Prata. Resolução Desde os primórdios do século XVI, os franceses se interessavam pela extração do pau-brasil em nosso litoral. A fundação da França Antártica insere-se nessa disputa com os portugueses, bem como nos conflitos entre católicos e huguenotes (protestantes calvinis - tas) na França. Obs.: A importância do pau-brasil relacionava-se com a produção de uma tintura vermelha para as manufaturas têxteis da Europa. Resposta: D � Michel Eyquem de Montaigne (1533-1592) compara, nos trechos a seguir, as guerras das sociedades Tupinambá com as chamadas “Guerras de Religião” dos franceses que, na segunda metade do século XVI, opunham católicos e protestantes. “(...) não vejo nada de bárbaro ou selvagem no que dizem daqueles povos; e, na verdade, cada qual considera bárbaro o que não se pratica em sua terra. (...) Não me parece excessivo julgar bárbaros tais atos de crueldade [o canibalismo], mas que o fato de condenar tais defeitos não nos leve à cegueira acerca dos nossos. Estimo que é mais bárbaro comer um homem vivo do que o comer depois de morto; e é pior esquartejar um homem entre suplícios e tormentos e o queimar aos poucos, ou entregá-Io a cães e porcos, a pre - texto de devoção e fé, como não somente o lemos mas vimos ocorrer entre vizinhos nossos conterrâneos; e isso em verdade é bem mais grave do que assar e comer um homem previa mente executado. (...) Podemos portanto quali ficar esses povos como bárbaros em dando apenas ouvidos à inteligência, mas nunca se compararmos anós mesmos, que os exce demos em toda sorte de barbaridades”. (Michel Eyquem de Montaigne. Ensaios. São Paulo: Nova Cultural, 1984.) De acordo com o texto, pode-se afirmar que, para Montaigne, a) a ideia de relativismo cultural baseia-se na hipótese da origem única do gênero humano e da sua religião. b) a diferença de costumes não constitui um critério válido para julgar as diferentes socie dades. c) os indígenas são mais bárbaros do que os europeus, pois não conhecem a virtude cristã da piedade. d) a barbárie é um comportamento social que pressupõe a ausência de uma cultura civili - zada e racional. e) a ingenuidade dos indígenas equivale à racionalidade dos europeus, o que explica que os seus costumes são similares. Resolução A resposta correta resulta da simples inter pre - tação do texto apresentado. Podemos, porém, reforçá-la considerando o conceito antropo - lógico de cultura: conjunto da produção coletiva de uma comunidade, independen te - men te de seu nível de adiantamento técnico. Assim, não se podem estabelecer juízos de valor entre diferentes culturas, com base exclu sivamente nas diferenças ou no aparente exotismo dos costumes de uma comunidade. Obs.: No texto transcrito, Mon taigne comete uma contradição ao considerar as práticas adotadas pelos europeus, nas guerras entre católicos e protestantes, mais condenáveis que o canibalismo dos tupinambás. Para chegar a essa conclusão, o pensador francês estabe leceu juízos pessoais, sem considerar os valores predominantes na sociedade de seu tempo. Resposta: B Exercícios Resolvidos C4_1a_HISTORIA_JR_2021.qxp 03/06/2021 23:06 Página 3 4 HISTÓRIA � Quais as razões do atraso da França nas Grandes Navegações? RESOLUÇÃO: Os motivos que levaram ao atraso foram: no século XV, o envolvimento na Guerra dos Cem Anos (1337-1453) e a necessidade de recuperação do país após o conflito; no século XVI, as Guerras de Religião (1562-98) entre católicos e hugue notes, as quais dividiram o País, evitando a união dos esforços que deveriam ser direcionados aos empreendimentos marítimos. � Quais as mudanças promovidas na colonização do Canadá com o ministério de Colbert? RESOLUÇÃO: Colbert extinguiu a Companhia de Comércio Nova França, e o Canadá se transformou em província do Império. Como consequência, a França passou a ocupar-se com a exploração comercial das Pequenas Antilhas. � Comente os efeitos da Guerra dos Sete Anos para o Império Colonial Francês. RESOLUÇÃO: A França, derrotada na Guerra, perdeu para a Inglaterra os ter - ritórios do Canadá, Pequenas Antilhas e leste do Mississippi. � Com relação à colonização francesa na América, assinale Verda deiro ou Falso. (0) A exploração colonial foi efetivamente desenvolvida por Col - bert. (1) No Canadá, os franceses estabeleceram postos para o comér cio de peles. (2) Nas pequenas Antilhas, foi desenvolvida a mineração. (3) A França manteve o seu império colonial intacto até o final da Época Moderna. (4) Os franceses não desenvolveram a grande lavoura mercantil em suas colônias americanas. RESOLUÇÃO: 2 – Nas pequenas Antilhas foi desenvolvida a grande lavoura de produtos tropicais. 3 – Antes do fim da Idade Moderna, a França já havia perdido diversos territórios para a Inglaterra. 4 – O principal foco da colonização francesa nas Américas foi o desenvolvimento de latifúndios. Itens verdadeiros: 0 e 1. Itens falsos: 2, 3 e 4. Exercícios Propostos C4_1a_HISTORIA_JR_2021.qxp 03/06/2021 23:06 Página 4 5HISTÓRIA � Jean de Léry viveu na França na segunda metade do século XVI, época em que as chamadas Guerras de Religião opuseram católicos e protestantes. No texto abaixo, ele relata o cerco da cidade de Sancerre por tropas católicas. “(...) desde que os canhões começaram a atirar sobre nós com maior frequência, tornou-se necessário que todos dormissem nas casernas. Eu logo providenciei para mim um leito feito de um lençol atado pelas suas duas pontas e assim fiquei suspenso no ar, à maneira dos selvagens americanos (entre os quais eu estive durante dez meses) o que foi imediatamente imitado por todos os nossos soldados, de tal maneira que a caserna logo ficou cheia deles. Aqueles que dormiram assim puderam confirmar o quanto esta maneira é apropriada tanto para evitar os vermes quanto para manter as roupas limpas (...).” Neste texto, Jean de Léry a) despreza a cultura e rejeita o patrimônio dos in dí genas americanos. b) revela-se constrangido por ter de recorrer a um invento de “selvagens”. c) reconhece a superioridade das sociedades indí ge nas americanas com relação aos europeus. d) valoriza o patrimônio cultural dos indígenas ame ricanos, adaptando-o às suas necessidades. e) valoriza os costumes dos indígenas americanos por que eles também eram perseguidos pelos católicos. RESOLUÇÃO: O texto se explica por si mesmo, mostrando como um europeu que vivera entre os índios do Brasil assimilou algumas de suas práticas, adaptando uma delas (o uso da rede) às suas neces sida des na Europa. Resposta: D � (UFRRJ – MODELO ENEM) – O texto a seguir trata das incursões francesas na América; entretanto, essas ainda não representavam que a França tivesse dado início à sua expansão. “Ao longo do século XVI, os franceses estiveram na América, mas isso não significava uma atitude sistemática e coerente desenvolvida pela Coroa. Era, no mais das vezes, atuação de corsários e de uns poucos indivíduos. Como exemplo, pode-se mencionar as invasões do litoral brasileiro, (...), e algumas visitas à América do Norte.” (R. de M. Faria; F. C. Berutti; A. M. Marques. História para o Ensino Médio. Belo Horizonte: Lê, 1998, p.182.) Dentre os motivos que levaram a França a iniciar tardiamente sua expansão marítima e comercial, podemos destacar a) os problemas internos ligados à consolidação do Estado Nacional. b) a derrota da França na violenta guerra contra a Alemanha. c) a falta de associação entre a Coroa e a Burguesia francesa. d) a violenta disputa religiosa entre calvinistas e luteranos. e) a não inclusão das classes superiores no projeto expan - sionista. RESOLUÇÃO: As guerras de religião (católicos contra protestantes huguenotes) impediram a unificação do país em torno de uma família real, condição fundamental para a realização das navegações. Resposta: A � (FUVEST) – Sobre a presença francesa na baía de Guanabara (1557-1560), podemos dizer que foi a) apoiada por armadores franceses católicos que procuravam estabelecer no Brasil a agroindústria açucareira. b) um desdobramento da política francesa de luta pela liberdade nos mares e assentou-se numa exploração econômica do tipo da feitoria comercial. c) um protesto organizado pelos nobres franceses huguenotes, descontentes com a Reforma Católica implementada pelo Concílio de Trento. d) uma alternativa de colonização muito mais avançada do que a portuguesa, porque os huguenotes que para cá vieram eram burgueses ricos. e) parte de uma política econômica francesa levada a cabo pelo Estado com intuito de criar companhias de comércio. RESOLUÇÃO: A França não reconhecia o Tratado de Tordesilhas e afirmava que as terras do Novo Mundo não pertenciam a quem as descobriu, mas a quem as ocuparia de fato. Resposta: B C4_1a_HISTORIA_JR_2021.qxp 03/06/2021 23:06 Página 5 6 HISTÓRIA 1. Antecedentes Na Baixa Idade Média, a região da Flandres (ou Países Baixos), correspondente à Bélgica e à Holanda atuais, era um importante centro mercantil e manufa - tureiro, principalmente no setor têxtil. Poli ti ca men te, era formada por um aglomerado de feudos com extensão variável, submetidos sucessivamente à suserania da França, do Ducado da Borgonha, da Áustria e, a partir de 1556, da Espanha (então governada por um ramo da Dinastia de Habsburgo). Na época, a Reforma Protestante provocara uma cisão entre os flamengos: os habitantes da porção setentrional (atual Holanda) aderiram ao calvinismo, enquanto os moradores do sul (Bélgica de hoje) permaneceram cató - licos. Felipe II, rei da Espanha (1556-98)e senhor dos Países Baixos, era um católico inflexível e o principal líder leigo da reação antiprotestante (Contrarreforma). Tentando forçar os flamengos do norte* a retornar ao catolicismo, ele iniciou uma série de perseguições que levaram os protestantes a se revoltar contra o domínio espanhol, em 1568. Em 1581, os rebe lados proclamaram a indepen - dência da República das Sete Províncias Unidas dos Países Baixos (comumente conhecida como Holanda), sob a forma de uma república burguesa. * Inicialmente, o termo flamengo designava todos os habitantes da Flandres. Atualmente, aplica-se apenas aos belgas que falam holandês (os belgas que falam francês são conhecidos pelo nome de valões). Por outro lado, a denominação Países Baixos, antes extensiva a toda a Flandres, hoje se restringe à Holanda. Mesmo durante o período em que esteve subordi na - da à Espanha, a Holanda desenvolveu-se como um Estado capitalista, e, como já foi dito, com a burguesia profes sando uma religião protestante calvinista. Assim, os flamengos já tinham uma participação expressiva no comércio marítimo europeu, possuindo uma grande frota mercante, desenvolvendo uma poderosa marinha de guerra e tornando-se rapidamente uma das maiores potências navais da época, comparável à Espanha e à Inglaterra. Além disso, naquela época, os holandeses tornaram-se parceiros de Portugal na comercialização do açúcar brasileiro, realizando grandes investimentos nos engenhos de cana-de-açúcar. 2. União Ibérica Em 1580, com a extinção da Dinastia de Avis, a Coroa Portuguesa passou para a Espanha, formando a União Ibérica (1580-1640). Obrigados a seguir a política externa espanhola, os portugueses romperam suas rela - ções mercantis com os flamengos, contra os quais pas - sa ram a combater. Em 1599, os holandeses tentaram uma primeira pe - ne tração no Rio de Janeiro, mas não obtiveram sucesso. Em 1602, fundaram a Companhia das Índias Orien tais e iniciaram a penetração no Oriente (Índia, Ceilão, hoje Sri Lanka, e Ilhas Molucas), além de realizarem o tráfico negreiro com a África. De 1609 a 1621, foi firmada e vigorou a Trégua dos Doze Anos, período em que se intensificaram as com - pras de açúcar e Amsterdã tornou-se um dos grandes centros refinadores e distribuidores do produto. Os êxitos da Companhia das Índias Orientais esti mu - la ram a criação, em 1621, de uma empresa congênere para atuar no Oceano Atlântico: a Companhia das Índias Oci dentais (sigla em holandês: WIC), estruturada nos moldes de sua antecessora. A WIC atuou nas três Américas e também na costa ocidental da África, onde chegou a dominar Angola, importante centro fornecedor de escravos. Na América do Sul, os holandeses invadiram o Brasil em duas ocasiões, visando apoderar-se dos centros produtores de açúcar, mas foram expulsos nas duas tentativas (Guerras do açúcar). Em 1624-25, atacaram a Bahia. Na segunda vez, invadiram Pernambuco (1630-54), tendo chegado a dominar o litoral nordestino desde Alagoas até o Mara nhão. Mesmo derrotados, conseguiram transplantar o cultivo da cana e as técnicas da produção açucareira para as possessões que haviam conquistado nas Antilhas, estabelecendo uma concorrência que prejudicou o açúcar brasileiro. Aliás, algumas dessas colônias insulares permanecem até hoje sob a soberania dos Países Baixos. 3. Decadência A Companhia das Índias Ocidentais também tentou fixar-se na América do Norte, fundando em 1625, na Ilha de Manhattan, a cidade de Nova Amsterdam, capital da colônia da Nova Holanda. A região recebeu numerosos imigrantes e prosperou, mas não conseguiu resistir ao crescente poderio da Inglaterra. A Guerra de Navegação dos holandeses con tra os ingleses de Oliver Cromwell (1651-54), devido à decretação do Ato de Nave ga ção (1651) pela Ingla ter ra, contri buiu para 46 Expansão e colonização holandesa Palavras-chave: • Independência • Companhias de comércio • Guerras do açúcar C4_1a_HISTORIA_JR_2022.qxp 13/05/2022 14:45 Página 6 7HISTÓRIA enfraquecer ainda mais os flamen gos. Em 1674, Nova Amsterdam passou definiti vamente para o domínio inglês, com o nome de Nova York. Pieter Stuyvesant (1612-72), governador da Nova Holanda, defendendo a cidade de Nova Amsterdam (futura Nova York) contra os ingleses. Ainda no século XVII, a Holanda estabeleceu-se na região da Guiana, mas perdeu para a Grã-Bretanha boa parte desse território (1796). A área restante (com exclusão da Guiana Francesa) permaneceu em poder da Holanda até 1975, quando obteve sua independência, com o nome de Suriname. Em marcha lenta nas ilhas do Caribe “Formadas por Barbados, ilhas de Sotavento, Trinidad e Tobago, Guadalupe, Porto Rico e República Dominicana, as Antilhas eram as Sugar Lands, ilhas do açú car, que foram sucessivamente incorpo ra das ao mercado mundial como produtoras de açúcar e ficaram conde - nadas até nossos dias. Prisio nei ras da monocul tura da cana nos lalifúndios de vastas terras exaustas, as ilhas sofrem com o desem prego e a pobreza; o açúcar é cultivado em gran de escala e em grande escala irradia suas mal di ções. Também Cuba conti nua depen dendo, em medida determinante, de suas vendas de açúcar, mas a partir da reforma agrária de 1959, iniciou-se um intenso pro cesso de diversificação da economia da ilha, o que colocou um ponto-final no desemprego. Os cubanos não trabalham ape nas cinco meses no ano, durante as safras, mas sim doze, ao longo da inter rompida e, decerto, difícil construção de uma nova sociedade. ‘Pensareis talvez, senhores’, dizia Karl Marx em 1848, ‘que a produção de café e açúcar é o destino natural das Índias Oci den tais. Há dois séculos, a natureza, que pou co tem a ver com o comércio, não tinha plan ta do ali nem a árvore do café nem a cana-de-açú car’. A divisão interna cional do trabalho não se foi estruturando por obra e graça do Espírito Santo, senão por obra dos homens ou, mais precisa mente, por causa do desen - vol vimento internacional do capitalismo. Na realidade, Barbados foi a primeira ilha do Caribe onde se produziu o açúcar para a exportação em grandes quanti da - des, desde 1641, embora anteriormente os espanhóis tenham plantado cana na Ilha Dominicana e em Cuba. Foram os holan deses, como vimos, que introdu zi - ram as plantações na minúscula ilha britânica. Em 1666, já havia em Barbados 800 planta ções de cana e mais de 800 mil escravos. Vertical e horizontalmente ocupada pelo latifúndio nascente, Barba - dos não teve melhor sorte do que o Nor - des te do Brasil. Antes, a ilha desfrutava da policultura; produ zia, em pequenas propriedades, algo dão, ta baco, laranjas, vacas e porcos. Os canaviais devoraram as culturas agrícolas e devasta ram as densas matas em nome do efêmero apogeu. Rapidamente, a ilha descobriu que seus solos haviam se esgotado, que não tinha como alimentar sua população e que estava produ zindo açúcar a preços fora de concorrência. O açúcar propagou-se a outras ilhas, em direção ao arquipélago de Sotavento, rumo à Jamaica e, em terras continentais, às Guianas. No começo do século XVIII, os escravos eram, na Jamaica, dez vezes mais numerosos do que os colonos brancos. Também seu solo se cansou em pouco tempo. Na segunda metade do século, o melhor açúcar do mundo brota - va do solo esponjoso das planuras da cos - ta do Haiti, uma colônia francesa que na - quela época se chamava Saint Domin gue. Ao norte e a oeste, o Haiti converteu-se em sorvedouro de escravos, pois o açúcar exigia cada vez mais braços. Em 1786, chegaram à colônia 27 mil escravos e, no ano seguinte, 40 mil. No outo no de 1791, explodiu a revolução. Num só mês, se tem bro, duzentas planta ções de cana fo ram tomadas pelas chamas; os incên dios e os combates suce deram-se sem trégua à C4_1a_HISTORIA_JR_2021.qxp 03/06/2021 23:06 Página 7 8 HISTÓRIA medida que os escravos insurretos iam empurrando os exércitos fran ceses até o oceano. Os barcos zarparam car regando cada vez mais fran ceses e cada vez menos açúcar. A longa guerra der ramou rios de sangue e devastou as plantações. O país, emcinzas, ficou para lisado; em fins do século, a produ ção caiu verti cal - mente. ‘Em novembro de 1803 quase toda a colônia, antigamente flores cente, era um grande ce mitério de cinzas e escombros’, diz Lep kowski. A Revolu ção Haitiana tinha coinci - dido, e não só no tempo, com a Revo - lução Francesa; o Haiti sofreu também, na própria carne, o bloqueio da coalizão inter - nacional contra a França quando a Ingla - ter ra domi nava os mares. Porém, logo sofreu, à medi da que sua in de pendência se fazia inevi tável, o bloqueio da França. Cedendo à pressão francesa, o Congresso dos Estados Unidos proibiu o co mércio com o Haiti, em 1806. Logo em 1825, a França reconheceu a indepen dên cia de sua anti ga colônia, mas em troca de uma gi gan tes ca indenização em dinheiro. E m 1802, pouco de pois de Tous saint-Lou - verture (cau dilho dos exér citos escra vos) ser preso, o ge neral Leclerc escre vera a seu cunhado Na poleão: ‘Eis minha opinião sobre o país: há que supri mir todos os negros das montanhas, homens e mulheres, conser vando-se somente as crianças menores de doze anos, extermi - nar a metade dos negros nas planícies e não deixar na colônia nem um só negro que use jarre tei ras’. O trópico vingou-se de Leclerc, pois mor reu ‘agarrado pelo vômito-negro’ (apesar das esconju ra - ções mágicas de sua esposa, Paulina Bona - par te, irmã de Napoleão), sem poder cumprir seu plano, porém a indeni za ção em dinhei ro se tornou uma pedra esma - gadora sobre as costas dos haitianos independentes que haviam sobre vivido aos banhos de sangue das suces sivas expedi ções militares enviadas contra eles. O país nasceu em ruínas e não se recuperou jamais; hoje é o mais pobre da América Latina. A crise do Haiti provocou o auge açu - ca reiro de Cuba, que rapidamente conver - teu-se na primeira supridora do mundo. Também a produção cubana de café, outro artigo de intensa demanda no ultramar, recebeu seu impulso da queda de pro dução haitiana, po rém o açúcar ganhou a corrida da mono cul tura e, em 1862, Cuba viu-se obrigada a importar café. Um membro dile to da ‘sacaro cracia’ cuba na chegou a escrever sobre as ‘profundas vantagens que se podem tirar da desgraça alheia’. À rebelião haitiana suce de ram os preços mais fabulo sos da história do açú car no mercado euro peu, e, em 1806, Cuba já tinha duplicado, ao mesmo tempo, os en genhos e a produti - vidade.” (Eduardo Galeano. As veias abertas da América Latina. Rio de Janeiro: Paz e Terra. Adaptado.) � (MACKENZIE – MODELO ENEM) – “E se a lição foi aprendida a vitória não será vã. Nesse Brasil holandês tem lugar para português e para o Banco de Amsterdam.” (Chico Buarque e Rui Guerra. Cababar.) Indique a alternativa que justifica o texto relativo às Invasões Holandesas no séc. XVII. a) Após a vitória holandesa, os senhores de engenho continuaram a resistência, sem jamais aceitar o novo dominador. b) A administração de Nassau, marcada pela intolerância religiosa, desencadeou a violenta resis tência dos colonos. c) Negros e índios não participaram das lutas contra os invasores holandeses. d) A Companhia das Índias ofereceu créditos, liber dade religiosa e proteção aos colonos, que aos poucos retornaram aos engenhos e à produção. e) Os holandeses não conseguiam dominar Pernam buco, nem conseguiam aliados entre os nativos, sofrendo duros revezes. Resolução A política adotada pela Companhia das Índias Ocidentais em relação ao Brasil holandês somen - te corresponde ao explicitado na alter nativa d se consi derarmos o Período Nassoviano (1637-44). Antes e depois disso, o que houve foi uma postura de exploração e de arrocho econômico. Resposta: D � (FATEC – MODELO ENEM) – “Guerreado por Madri e pela Holanda, posto em qua - rentena pela Santa Sé, Portugal busca o apoio de Lon dres, preferindo à aliança com os dis - tan tes here ges à as sociação com os vizinhos católicos. Dando se guimento a vários tratados bilaterais, os portu gueses fa cilitam o acesso dos mercadores e das mercadorias inglesas às zonas sob seu controle na Ásia, África e América.” (L.F. de Alencastro. A economia política dos descobrimentos. In A. Novaes (org.). A descoberta do homem e do mundo. São Paulo: Cia. das Letras, 1998, p. 193.) O trecho do texto de Alencastro refere-se a) ao período inicial da expansão marítima portu guesa, no qual as rivalidades com a Espanha em torno da partilha da América levaram a uma apro ximação diplomática entre Portugal e Inglaterra. b) à época da Restauração, que se seguiu à união di nás tica entre as monarquias ibéricas e que obrigou a Coroa Portuguesa a en frentar tropas espanholas na Europa e holan desas na África e na América. c) à época napoleônica, que acabou por definir o início da aproximação diplomática de Portugal com a Inglaterra, em virtude da articulação franco-espanhola que ameaçava as colônias portuguesas na América. d) ao período de Guerras de Religião, durante o qual a monarquia portuguesa, por aproxi - mar-se dos calvinistas ingleses, passou a ser enca rada com suspeitas pelo poder pontifício. e) à época das primeiras viagens portuguesas às Ín dias, quando muitas expedições foram or gani zadas em conjunto por Inglaterra e Portugal, o que alijou holandeses e es - panhóis das atividades mercantis reali - zadas na Ásia. Resolução A União Ibérica (1580-1640) terminou quando da Res tauração Portuguesa, com a ascensão da Dinastia de Bragança. Nessa ocasião, Portugal teve de lutar contra a Espanha (que não queria reconhecer a eman cipação lusa) e contra a Holanda, que invadira diversas colô - nias portu guesas, entre elas o Brasil e An gola. Resposta: B Vômito-negro: febre amarela. Exercícios Resolvidos C4_1a_HISTORIA_JR_2021.qxp 03/06/2021 23:06 Página 8 9HISTÓRIA � (UFV) – Durante a segunda metade do século XVII, os portugueses perderiam grande parte do controle do comércio do Oriente e das rotas do Oceano Índico para os holandeses, que, por sua vez, logo se veriam superados pelos ingleses. Holandeses e ingleses deviam seu sucesso à capacidade de organizar e financiar seus empreendimentos simultaneamente militares e comerciais. a) Qual o principal instrumento de política colonial dos holan de - ses e ingleses? b) Aponte um evento que indique os desdobramentos da con - cor rência entre as grandes potências na América Portugue - sa. RESOLUÇÃO: a) As companhias de comércio. b) A decretação dos Atos de Navegação pela Inglaterra. � O que foi a Guerra do Açúcar? RESOLUÇÃO: Conflitos em que a Holanda buscou apoderar-se das regiões produtoras de açúcar no Nordeste brasileiro. � Assinale a alternativa correta. I. A grande propriedade inexistiu nas áreas coloniais dos chama dos não ibéricos. II. As colônias franco-holandesas não exploraram nenhuma forma de escravidão. III. A Guiana foi a única porção territorial que os holandeses toma ram de Portugal. a) Se todas estiverem corretas. b) Se todas estiverem incorretas. c) Se I e II estiverem corretas. d) Se I e III estiverem corretas. e) Se II e III estiverem corretas. RESOLUÇÃO: I. Falso, pois Inglaterra, França e Holanda desenvolveram colônias de exploração com latifúndios. II. Falso, pois franceses e holandeses se utilizaram da escravidão para a exploração colonial. III. Falso, pois os holandeses também tomaram posse de Pernam - buco, no século XVII. Itens falsos: I, II e III. Resposta: B � Assinale a alternativa correta. I. Os holandeses chegaram a se estabelecer na região do Rio Hud son. II. As companhias de comércio holandesas eram pacíficas em - presas mercantis. III. O Ato de Navegação, de Cromwell, ani qui lou a supremacia marítima flamenga. a) Se todas estiverem corretas. b) Se todas estiverem incorretas. c) Se I e II estiverem corretas. d) Se I e III estiverem corretas. e) Se II e III estiverem corretas. RESOLUÇÃO: II. Falso, pois as companhias holandesas não agiram pacifi ca - mente durante todo período colonial, entrando em conflito com portugueses, espanhóis e ingleses. Itens verdadeiros: I e III. Itens falsos: II. Resposta:D Exercícios Propostos C4_1a_HISTORIA_JR_2021.qxp 03/06/2021 23:06 Página 9 10 HISTÓRIA � (FUVEST – MODELO ENEM) – Este quadro, pintado por Franz Post por volta de 1660, pode ser corretamente relacionado a) à iniciativa pioneira dos holandeses de construção dos primeiros engenhos no Nordeste. b) à riqueza do açúcar, alvo principal do interesse dos holandeses no Nordeste. c) à condição especial dispensada pelos holandeses aos escravos africanos. d) ao início da exportação do açúcar para a Europa por determinação de Maurício de Nassau. e) ao incentivo à vinda de holandeses para a consti tuição de pequenas propriedades rurais. RESOLUÇÃO: A União Ibérica (1580-1640) fez com que Portugal rompes se relações com a Holanda, que até então comercia li za va o açúcar brasileiro, mas se encontrava em guerra com a Espanha. Em consequência, a Com pa nhia das Índias Ocidentais, formada por capitais ho landeses, atacou o Nordeste brasileiro, principal re gião produtora de açúcar. Durante a dominação holandesa em Pernambuco, ocorreu a administração de Maurício de Nassau (1637-1644), que trouxe para o Brasil o pintor Franz Post, autor da tela reproduzida na questão. Resposta: B � (MACKENZIE) – “(...) o número de refinarias, na Holanda, passara de 3 ou 4 (1595) para 29 (1622), das quais 25 encontravam-se em Amsterdã, que se transformara no grande centro de refino e distribuição do açúcar na Europa.” (Elza Nadai e Joana Neves.) A respeito do aumento de interesse, por parte dos holandeses, não apenas na refinação do açúcar brasileiro, mas também no transporte e distribuição desse produto nos mercados europeus, acentuadamente no século XVII, é correto afirmar que: a) com a União Ibérica (1580-1640), os holandeses desejavam conquistar militarmente o litoral nordestino para obter postos estratégicos na luta contra a Espanha. b) a ocupação de Salvador, em 1624, por tropas flamengas, foi um sucesso, do ponto de vista militar, para diminuir o poderio de Filipe II, rei da Espanha. c) a criação da Companhia das Índias Ocidentais foi responsável pela conquista do litoral ocidental da África, do nordeste brasileiro e das Antilhas, visando obter mão de obra para as lavouras antilhanas. d) o domínio holandês, no nordeste brasileiro, buscava garantir o abastecimento de açúcar, controlando a principal região produtora, pois foi graças ao capital flamengo, que a empresa açucareira pode ser instalada na colônia. e) a Companhia das Índias Ocidentais, em 1634, na luta pela conquista do litoral nordestino, propõe a proteção das propriedades brasileiras submetidas à custódia holandesa, porém, em troca, os brasileiros não poderiam manter sua liberdade religiosa. RESOLUÇÃO: Os holandeses invadiram duas vezes o Nordeste Brasileiro: Salvador (1624-25), centro administrativo; e Pernambuco (1630- 54), centro produtor de açúcar. Tinha por objetivo garantir os investimentos flamengos na agroindústria do açúcar, devido à proibição espanhola (União Ibérica) do comércio entre Portugal e a Holanda. Resposta: D C4_1a_HISTORIA_JR_2021.qxp 03/06/2021 23:06 Página 10 11HISTÓRIA 1. A conquista da América Da fase inicial de exploração do novo continente pelos espanhóis, destacam-se as conquistas de Porto Rico, em 1508, por Juan Ponce de León; Jamaica, em 1509, por Juan Esquivel; Cuba, em 1511, por Diego Velázquez. Também sobressaem a descoberta do Oceano Pacífico, em 1513, por Vasco Núñez Balboa; no mesmo ano, a navegação da Bacia do Mississippi, por Juan Ponce de León; o descobrimento do Rio da Prata, em 1516, por Juan Días de Solis; a primeira viagem de circum-navegação da Terra, de 1519 a 1522, iniciada por Fernão de Magalhães e concluída por Sebastián del Cano. Aos europeus e espanhóis interessava mesmo a conquista de áreas com metais preciosos e, nesse aspecto, a Espanha foi privilegiada na conquista da América. Entre 1519 e 1521, Fernão Cortês, contando com a supremacia bélica, dominou o Império Asteca (México), garantindo para a Espanha o envio de imensas quantidades de metais preciosos. O controle das minas de metais preciosos no Novo Mundo não cessava somente com essas conquistas. Entre 1531 e 1533, Francisco Pizarro e Diego de Almagro conquistaram o Império Inca (Peru), fundando, em 1535, a Ciudad de los Reyes, atual Lima. Além das ricas regiões mineradoras, a Espanha dominou El Salvador e Guatemala (1523 a 1524), Honduras (1524 a 1526), Califórnia (1532) e Bolívia (1538 a 1544). A conquista militar e religiosa (ação da Companhia de Jesus) desestruturou a cultura religiosa e sua organização econômica, atingindo até a sua integridade física. 2. A administração espanhola na América As terras americanas eram consideradas proprie - dade pessoal dos reis es pa nhóis. Assim, a admi nis tra ção seguiu um rígido esquema, determinado pela Coroa. Durante a fase de conquista europeia, grandes ex - ten sões de terras eram entregues aos chefes conquis - tadores, que eram denominados adelantados e possuíam autonomia de poder dentro do território. Páginas do catecismo para índios, do frei Pedro de Gante. Com a descoberta das minas de prata e ouro, a Coroa Es panhola, fortalecida, retirou a inde pen dên cia dos ade lan tados e redefiniu a adminis tração da América. A subdivisão do território da América Espanhola en - con trou sua forma definitiva no século XVIII, como segue: • Vice-Reinos: No va Espanha, cria do em 1535, compre en dendo o oeste do atual território norte-ame - ricano, o México e parte da América Central; Peru, criado em 1543, formado pelos atuais Peru e parte da Bolívia; Nova Granada, criado em 1717, abrangendo os atuais Equador, Panamá e Colômbia; Rio da Prata, criado em 1776, composto pelos atuais territórios da Argentina, do Paraguai, do Uru guai e parte da Bolívia. • Capitanias-Gerais: Cuba, Guatemala, Venezuela e Chile. Órgãos administrativos No século XVI, a Espanha já organizava os órgãos que controlariam, a partir da Europa, as possessões ameri ca nas. Em 1503, foi criada a Casa de Contratação, com a tarefa de fiscalizar a exploração colonial e impedir o con - trabando, por meio da contagem e registro das riquezas coloniais. Origi nalmente, as funções reservadas à Casa de Contratação eram comerciais. Durante o reinado de Felipe II, ela passou a ter um papel meramente fisca - lizador das áreas coloniais, ficando subordinada ao Con - selho das Índias, criado em 1524 por Car los V. Esse órgão passou a controlar os assuntos re lativos à Amé - rica, tais como no meação de vice-reis, capi tães-ge rais e Au diências, além de fun cio nar como tri bunais de apela - ção para os colo nos e fazer as leis para a América. Durante o reinado de Felipe II, o Conselho das Índias foi submetido ao próprio rei, esva ziando-se o seu poder. 47 Colonização espanhola Palavras-chave: • Vice-reinos • Casa de contratação • Frotas anuais/porto único C4_1a_HISTORIA_JR_2022.qxp 13/05/2022 14:45 Página 11 12 HISTÓRIA Os responsáveis pela realização de sindicância sobre os funcionários espanhóis na América eram os Juízes de Resi dência, enquanto os Visitadores eram encarre - gados de fa zer inspeções não previstas regularmente e que eram defi ni das em razão das necessidades da Coroa, como ve rificar a ocor rência de abusos ou fazer reformas ad mi nis trativas. A maior autoridade executiva da América, escolhida dentro da nobreza, eram os vice-reis. Eram represen tan - tes diretos da Coroa Espanhola que monopolizavam as funções militares, judiciais (presidente da Audiência da capital do vice-reino), fiscais (membro do Tribunal de Con - tas), administrativas (distribuir reparti mi en tos, doar terras), religiosas (autoridade da Igreja das Índias) e finan - ceiras (presi dente da Junta da Fazenda Colonial). Fun ção semelhante à do vice-rei era exe r ci da pelos capi tães-ge - rais, que governavam as capitanias-gerais e cons ti tuíam a au to ridade executiva máxima nessas áreas. Na América, os principais órgãos administrativos eram representados pelas Audiências e Cabildos. Apartir de 1526, as chamadas Audiên cias, que cor - res pon diam aos tribunais de justiça criados na Espa nha, foram trans plantadas para a Amé rica; ficavam subordi na - das ao Conselho das Índias e repre sentavam a justiça real em todo o território colonial. Os critérios de implan - tação das audiências no continente americano foram ba - seados na concen tra ção demo gráfica e na im portância econômica das regiões. Eram representadas pelos ouvidores (no mea dos pelo rei e com função vita lícia) e, em bora con sistissem em poder local, não se tratava de um poder limitado, na me dida em que aos ouvidores cabia, entre outras ta refas, a de fiscalizar os vice-reis. As Audiên cias mais importantes, na América, foram as do México, Lima, Guatemala, Bogotá, Quito, Santiago do Chile e Bue nos Aires. Os Cabildos ou Ayuntamientos correspondiam às Câmaras Municipais. Cons tituíam o poder político local e gozavam de autonomia em relação à Espanha. Formados pela elite local, eram responsáveis pela política, pela administração e, também, pela eleição de uma autori - dade política e judiciária, conhecida como alcaide. Todo esse aparelho burocrático montado pela Coroa tinha por finalidade im pe dir o contrabando, garantir a manu ten ção do monopólio comercial e da co brança de im postos, o que levaria, consequentemente, ao seu próprio fortale ci mento. Entre os impostos cobrados pela Espanha na América, figuravam: o taxado sobre o comércio externo e interno, por vias marítimas, denominado almoja ri - fazgo; sobre a extração mineral, denominado quinto; sobre a circulação de mercadorias e sobre índios em idade adulta, aptos a trabalhar, chamado al cavala; e o de proteção aos galeões que faziam o comércio entre Espanha e Amé rica, denominado avería. Além dos impostos, a Espanha adotou, como meio de manter um rígido fiscalismo sobre a América, o sistema de portos únicos. Na Espanha, o porto comercial ficava em Sevilha e, posteriormente, foi trans ferido para Cádiz. Na América, os portos autorizados a realizar importações e ex por tações foram fixados no Panamá (Porto Belo), no Mé xi co (Vera Cruz), na Colômbia (Cartágena) e em Cuba (Havana). O poder eclesiástico completava a administração co - lonial. Para que se efetivasse o processo de colonização foram criadas as missões ou reduções, para a evange li - zação dos nativos. A partir de 1571, foram montados os Tribunais do San to Ofício da Inquisição, para perse - guir e punir os hereges. Colombo e os reis católicos. Monopólio: exclusividade. C4_1a_HISTORIA_JR_2021.qxp 03/06/2021 23:06 Página 12 13HISTÓRIA 3. A estrutura social e a mão de obra Quanto à estrutura social, havia profundas diferen - ças entre as classes sociais, com relação aos nascidos na Espa nha e aos nascidos na América. Pode mos iden - tificar, cla ra mente, quatro grupos: chapetones ou guachupines, bran cos nascidos na Espanha que, na América, ocu pavam os car gos burocráticos da adminis - tração; criollos, brancos nascidos na América que, apesar de constituírem a elite eco nô mica local, estavam impedidos de assumir cargos su periores dentro da admi nistração; mestiços, resultado da mis - cigenação de brancos e indí genas, que de sem penha - vam funções como as de capata zes e artesãos; e escravos ne gros, que, trazidos da África, eram utilizados em várias ati vidades. O grupo indígena era majoritário e constituía a base de sustentação da economia colonial. Eram consi dera dos vassalos do rei e sobre eles recaía a tarefa mais árdua: trabalhar para fortalecer o Império Espanhol. Eram obriga dos a pagar impostos, e o pagamento era feito com tra balho compulsório. Uma das formas de paga mento era a encomienda, segundo a qual era dado ao colonizador o direito de posse sobre um território e os indígenas que nele se encontravam; esses indígenas, para permane cerem no território, pagavam tributos sob a forma de trabalho e, em troca, recebiam a catequese. Outra forma de imposto era o reparti mien to, instituído pela Coroa para a construção de grandes obras públicas ou para a exploração de regiões ricas, como minas e grandes lati fúndios; consistia no recru ta mento de massas indígenas, que era feito, geralmente, por sorteio, e, em troca do trabalho, o indígena recebia um salário. Esse fato, porém, não significa que se tratava de relações capi talistas de trabalho, pois este era compulsório e asseme lhava-se à mita e ao cuate quil, instituições, respec ti vamente, incaica e asteca, que foram formas de exploração de trabalho exercidas pelas elites dessas civilizações. Manuscrito espanhol do século XVI mos - trando a exploração no México. � (MODELO ENEM) – Sobre a implementa - ção do sistema colonial espanhol na América, temos as seguintes asserções: I. A Casa de Contratação era a instituição res - ponsável por todas as questões coloniais, fossem de natureza judicial, legislativa, mili tar ou ecle siástica. II. O Conselho das Índias era uma importante instituição, pois estava incumbida de cen - tralizar a administração das colônias; por - tanto, com petia a essa a suprema autori - dade sobre todas as ques tões coloniais, fos sem de natureza judicial, legislativa, militar ou eclesiástica. III. A Casa de Contratação tinha como função central a organização do comércio, o reco - lhimento de impostos e a fiscalização dessas áreas. Dessas afirmações, está(ão) correta(s) a) apenas I. b) apenas II. c) apenas III. d) I e II somente. e) II e III somente. Resolução A afirmativa I está incorreta, porque a Casa de Contratação era responsável pelo controle do comércio colonial para impedir o contrabando. Resposta: E � (UNESP – MODELO ENEM) – "(...) desde o começo até hoje a hora presente os espa - nhóis nunca tiveram o mínimo cuidado em procurar fazer com que a essas gentes fosse pregada a fé de Jesus Cristo, como se os índios fossem cães ou outros animais: e o que é pior ainda é que o proibiram expres sa mente aos religiosos, causando-lhes inumeráveis aflições e perseguições, a fim de que não pregassem, porque acreditavam que isso os impediria de adquirir o ouro e riquezas que a avareza lhes prometia." (Frei Bartolomeu de Las Casas. Brevíssima relação da des truição das Índias, 1552.) No contexto da colonização espanhola na América, é possível afirmar que a) existia concordância entre colonizadores e missionários sobre a legitimidade de sujeitar os povos indígenas pela força. b) os missionários influenciaram o processo de con quista para salvar os índios da cobiça espa nhola. c) colonizadores, soldados e missionários respeitavam os costumes, o modo de vida e a religião dos povos nativos. d) os padres condenavam as atitudes dos soldados porque pretendiam ficar com as riquezas das terras descobertas. e) os missionários condenavam o uso da força e propunham a conversão religiosa dos povos indí genas. Resolução O texto reflete o choque – frequente na América Es pa nhola e também na América Portuguesa –, entre os mis sionários católicos (notadamente jesuítas) e os con quis tadores espanhóis, acerca da forma de tratar os in dí genas para incorporá-los ao processo colo nizador. Resposta: E Exercícios Resolvidos Latifúndio: grande propriedade rural. C4_1a_HISTORIA_JR_2021.qxp 03/06/2021 23:06 Página 13 14 HISTÓRIA � “A espada, a cruz e a fome dizimaram a família selvagem”. A propósito dos versos do poeta chileno Pa blo Neruda, comen - te os efeitos da colonização para os indígenas da América. RESOLUÇÃO: Conquista e subordinação dos povos ameríndios; destruição da sua cultura e modo de vida; imposição de valores cultu rais europeus. � (UNESP) – As epidemias provocadas pelos contatos entre europeus e povos autóctones da América a) demonstraram o risco da expansão territorial para áreas distantes e determinaram o imediato desenvolvimento de vacinas. b) representaram uma espécie de guerra biológica que afetou, ainda que de forma desigual, conquistadores e conquistados. c) provocaram a interdição, pelas cortes europeias, da circulação de mulheres grávidas entre osdois continentes. d) foram utilizadas pelos nativos para impedir o avanço dos europeus, que contraíram doenças tropicais, como a febre amarela e a malária. e) levaram à proibição, pelas cortes europeias, do contato sexual entre europeus e nativos, para impedir a propagação da sífilis. RESOLUÇÃO: A baixa imunidade dos nativos às moléstias trazidas pelos europeus provocou inúmeras mortes entre os primeiros. Esse fator biológico veio a ser utilizado por espanhóis e portugueses como um recurso de guerra destinado a quebrantar a resistência inimiga. Resposta: B � (UNESP) – “A instalação de uma Igreja poderosa, dominadora e próxima dos autóctones” contribuiu para a dominação espanhola e portuguesa da América, uma vez que os religiosos a) mediaram os conflitos entre grupos indígenas rivais e asseguraram o estabelecimento de relações amistosas destes com os colonizadores. b) aceitaram a imposição de tributos às comunidades indígenas, mas impediram a utilização de nativos na agricultura e na mineração. c) toleraram as religiosidades dos povos nativos e assim conseguiram convencê-los a colaborar com o avanço da colonização. d) rejeitaram os regimes de trabalho compulsório, mas estimularam o emprego de mão de obra indígena em obras públicas. e) desenvolveram missões de cristianização dos nativos e facilitaram o emprego de mão de obra indígena na empresa colonial. RESOLUÇÃO: A catequese dos indígenas pela Igreja Católica resultou em um processo de aculturação que, além de facilitar a submissão dos nativos aos europeus, contribuiu para inseri-los na empresa colonizadora como mão de obra compulsória e de baixo custo. Resposta: E � ”O encontro entre o Velho e o Novo Mundo, que a descoberta de Colombo tornou pos - sível, é de um tipo muito particular: é uma guerra — ou a Conquista —, como se dizia então. E um mistério continua: o resultado do combate. Por que a vitória fulgurante, se os habitantes da América eram tão superiores em número aos adversários e lutaram no próprio solo? Se nos limitarmos à conquista do México — a mais espetacular, já que a civilização mexicana é a mais brilhante do mundo pré- colombiano — como explicar que Cortez, liderando centenas de homens, tenha conseguido tomar o reino de Montezuma, que dispunha de centenas de milhares de guerreiros?” (TODOROV. T. A conquista da América. São Paulo: Martins Fontes. 1991. Adaptado.) No contexto da conquista, conforme análise apresentada no texto, uma estratégia para superar as disparidades levantadas foi a) implantar as missões cristãs entre as comunidades submetidas. b) utilizar a superioridade física dos mercenários africanos. c) explorar as rivalidades existentes entre os povos nativos. d) introduzir vetores para a disseminação de doenças epidêmicas. e) comprar terras para o enfraquecimento das teocracias autóctones. RESOLUÇÃO: A utilização das rivalidades entre os povos nativos da América para conseguir aliados na luta contra grupos dominantes (astecas, no caso citado), pelos colonizado res europeus, foi um recurso para minimizar a inferio ridade numérica dos atacantes em relação à população nativa. Obs. A referência da alternativa D sobre o emprego de agentes biológicos para provocar doenças e debilitar a resistência dos nativos não pode ser aplicada à conquista do Império Asteca pelos espanhóis, tendo em vista a rapidez com que esse processo se consumou (1519-1521). Resposta: C Exercícios Propostos C4_1a_HISTORIA_JR_2021.qxp 03/06/2021 23:06 Página 14 15HISTÓRIA 1. Introdução “A História da África é importante para nós, brasilei ros, porque ajuda a explicar-nos. Mas é importan te também por seu valor próprio e porque nos explica o grande continente que fica em nossa fronteira leste e de onde proveio quase metade de nossos antepassados. Não pode continuar o seu estudo afastado de nossos currículos, como se ela fosse matéria exótica. O obá do Benin ou o angola a quiluanje estão mais próximos de nós do que os reis da França.” (Alberto da Costa e Silva. Os estudos de história da África e sua importância para o Brasil. Palavras na abertura da II Reunião Internacional de História de África.) 2. Política e sociedade No continente africano surgiram diferentes formas de organização sociopolítica, que variavam de grandes impérios a pequenos vilarejos. Mas, mesmo com essa diversidade de estruturas políticas, todas possuíam a mesma unidade básica: a família. Reunindo parentes e agregados, a família era subordinada ao chefe, geralmen te o homem mais velho e sábio. Várias famílias agrupadas formavam uma aldeia, que se dispunha à autoridade de um chefe. Esse chefe era responsável pela justiça e pela distribuição de terras, e também liderava os guerreiros em combate. Para tomar suas decisões, o chefe de aldeia contava com um conselho formado pelos líderes das famílias que faziam parte da aldeia. Diferentes aldeias podiam se reunir, formando uma confederação liderada por um conselho de chefes, que tomavam decisões em conjunto. Entretanto, caso da reunião de aldeias surgisse um único líder, com autoridade sobre todos os demais chefes, ocorreria a formação de um reino (ou império). Por fim, cabe destacar a existência de grupos nôma - des nos desertos e áreas florestais, além das diversas cidades independentes e fortificadas, cercadas por paliçadas ou muralhas, espalhadas pelo continente. 3. Reinos Nilo Egito Antigo (séc. XXX – I a.C.) • Política: império teocrático. • Economia: agricultura (rio Nilo); comércio; artesa nato. • Religião: politeísta; antropozoomórfica; mumifi - cação. • Destaque: arquitetura (pirâmides e templos); escrita (hieróglifos). • Decadência: invasões (romanos). Kush (séc. XVIII a.C. – IV) • Política: monarquia eletiva. • Economia: agricultura; comércio; artesanato; pecuária; mineração (ouro). • Religião: politeísta. • Povo: kushita. • Destaque: no séc. VIII a.C., os kushitas conquis ta - ram o Egito e reinaram por cem anos; arquitetura (pirâmides). • Decadência: invasão e conquista pelo Reino de Axum. 48 África I – Origens e características gerais Palavras-chave: • Tribos • Agricultura • Comércio • Diversidade C4_1a_HISTORIA_JR_2022.qxp 13/05/2022 14:45 Página 15 16 HISTÓRIA Sudaneses Gana (séc. IV – XIII) • Política: monarquia centralizada. • Economia: comércio (tecidos e noz-de-cola), mineração (ouro) e agricultura. • Religião: religião tradicional africana; islamismo. • Povos: soninquês; mandingas ou diulas. • Destaque: era conhecida, desde o século VIII, como “a terra do ouro”. • Decadência: ascensão do Reino do Mali. Mali (séc. XI – XVI) • Política: monarquia descentralizada, abarcando diferentes reinos e aldeias. • Economia: mineração (ouro), comércio, agricult - ura, pecuária e artesanato. • Religião: religião tradicional africana; islamismo. • Povos: mandingas; jalofos, sereres, tucolores e fulas (Senegal); bambaras e soninquês (Níger); malinquês; queitas. • Destaque: Mansa Musa, entre 1324 e 1326, fez uma peregrinação a Meca, levando 60 mil servos, 100 camelos e gigantescas quantidades de ouro; em 1337, a cidade de Timbuktu (ou Tombuctu), capital de seu império, se transformou num centro islâmico de estudos. • Decadência: disputas internas. Songai (séc. XV – XVI) • Política: monarquia centralizada. • Economia: mineração (ouro), comércio (produtos agrícolas e escravos) e agricultura (arroz, sorgo e milhete). • Religião: religião tradicional africana; islamismo. • Povo: songai. • Destaque: Soni Ali, em meados do século XV, fez o Império Songai atingir seu auge territorial e eco - nômico (agricultura e comércio). • Decadência: invasão marroquina Mansa Musa – Atlas Catalão, 1375. Savanas e florestas Ifé (séc. VI – XVI) • Política: monarquia divina. • Economia: mineração (ouro), comércio (marfim, noz-de-cola, sal, pimenta, inhame, vidro, peixe seco, dendê, goma e escravos), agricultura e metalurgia (ferro e bronze). • Religião: religião tradicional africana. • Povo: edo, ibo, nupe, ijó, igala e iorubá. • Destaque:centro religioso da região; imagens em bronze e ferro, hoje consideradas obras de arte, narram a história desse reino. • Decadência: concorrência comercial da costa atlântica. Benin (séc. XII – XIX) • Política: monarquia. • Economia: comércio (dendê, pimenta, marfim e escravos; usavam como moeda pedaços de cobre e ferro, além de búzios), agricultura (inhame, melão, feijão, pimenta e algodão), metalurgia (ferro e bronze) e artesanato (marfim). • Religião: religião tradicional africana. • Povo: edos. • Destaque: exército profissional e uso de fortificações para defesa. • Decadência: invasão britânica em 1896-1897. Oyo (séc. XIV – XIX) • Política: monarquia. • Economia: comércio (sal, couro, cavalos, noz-de- cola, marfim, tecidos e escravos), metalur gia (ferro) e artesanato (couro). • Religião: religião tradicional africana. • Povo: iorubá. • Destaque: exército profissional. • Decadência: invasão britânica em 1896. África Oriental Axum (séc. I – X) • Política: monarquia. • Economia: mineração (ouro, esmeraldas e ferro); comércio (marfim, cascos de tartaruga, produtos agrícolas, sal, seda e especiarias), com rotas marítimas e terrestres, interligando Axum com a Índia, China, Egito, Mesopotâmia, Síria e Bizâncio; agricultura (trigo e cevada); pecuária (gado bovino, ovelhas e camelos). • Religião: politeísmo árabe e judaísmo (até o séc. IV); cristianismo (após o séc. IV). • Povo: abissínios, kushitas, kunamas e naras. C4_1a_HISTORIA_JR_2021.qxp 03/06/2021 23:06 Página 16 17HISTÓRIA • Destaque: primeiro reino africano a cunhar moe - das; acreditavam ser descendentes de Salomão e da rainha de Sabá. • Decadência: expansão islâmica. Grande Zimbábue (séc. XI – XVI) • Política: monarquia. • Economia: comércio (cerâmica, produtos agríco - las, cobre, sal, ouro e marfim, tecidos, porcelana e vidro), com rotas marítimas e terrestres interli - gando o Grande Zimbábue com a Índia, China, Síria e Pérsia; agricultura; pecuária; mineração; artesanato (escultores e tecelões). • Religião: religião tradicional africana. • Povo: xonas. • Destaque: construções de muralhas de blocos de granito, com mais de 10m de altura, que cerca - vam as moradias dos governadores. • Decadência: diminuição das águas do rio Save; infestação da mosca tsé-tsé; crescimento popula - cional; esgotamento do solo e dos animais de caça. África Centro-ocidental Congo (séc. XIV – XIX) • Política: monarquia eletiva; • Economia: comércio (produtos agrícolas, sal, tecidos de algodão e de ráfia e escravos); agricul - tura (coco, banana, dendê, sorgo, milhete, inhame e noz-de-cola); criação de animais (porcos, cabras e galinhas); mineração e artesanato (cestarias, ferreiros e tecelões). • Religião: religião tradicional africana; cristianismo. • Povo: congos. • Destaque: utilizavam búzios como moeda. • Decadência: dominação portuguesa (1857). 4. Economia Desde a Antiguidade, o continente africano possuía uma economia complexa e dinâmica. Com o processo de sedentarização, a agricultura e a criação de animais progrediram extraordinariamente. A necessidade de armazenamento do excedente de produção estimulou a fabricação de objetos de cerâmica, e a metalurgia acom panhou esse desenvolvimento. Um considerável siste ma de trocas comerciais, tanto interno (via Saara, ligando o Sahel e o Magreb) como externo (via Mediter - râneo, Índico e Atlântico), foi estabelecido, tendo como suas bases a mineração, a produção de sal e de víveres (gêneros alimentícios), além da escravidão. Agricultura e pastoreio Produtos agrícolas típicos do continente eram: banana, sorgo, milhete (milho de grãos miúdos), inhame, trigo e cana-de-açúcar. O contato com os europeus (via Atlântico) e com a Ásia (via Índico) resultou na introdução do cultivo de novas espécies, nativas do Oriente e das Américas, como frutas cítricas, tomate, cebola, tabaco, mandioca, amendoim, batata-doce, assim como certas variedades de milho e inhame que acabaram diversifi cando e, em alguns lugares, até revolucionando as práticas agrícolas. A pecuária também fazia parte da economia básica das populações africanas antigas. Os tipos de gado eram o bovi no (das raças zebu e sanga, mais adaptados ao cli - ma seco e quente), o asinino (burros), o equino (cavalos) e os camelos, usados no transporte de cargas pesadas em longas distâncias. Esses animais eram criados em grandes estábulos, no interior das aldeias ou dentro das muralhas das cidades. Cabe ainda destacar que nas áreas litorâneas, assim como naquelas que contam com lagos (como o Chade, o Tanganica e o Vitória) e rios (como o Nilo e o Níger), a pesca foi uma importante atividade econômica. Comércio Interno Rotas de comércio interligavam diferentes regiões: o Saara, a África Ocidental e Oriental, o interior e áreas do Transvaal, formando de uma maneira dinâmica uma intrincada rede mercantil. “Os nômades, senhores do deserto, foram muito beneficiados pelo comércio transaariano, pois as caravanas levavam-lhes cereais e tecidos em troca de carne, sal e água. Assim, os nômades e os povos seden tários complementavam-se. As caravanas necessitavam de guias na imensidão do Saara; estes lhes eram fornecidos pelos nômades, que conheciam as rotas e eram pagos a preço de ouro. (Djibril Tamsir Niane. Relações e intercâmbios entre as várias regiões. In Djibril Tamsir Niane (edit.). História geral da África, vol. IV. Brasília: UNESCO, 2010, p. 699.) Ruínas das muralhas do Grande Zimbábue. C4_1a_HISTORIA_JR_2021.qxp 03/06/2021 23:06 Página 17 18 HISTÓRIA Externo No mar Mediterrâneo transitavam produtos e mercadorias vindos da Europa para o norte do continente africano e, no sentido oposto, navios carregados partiam dos portos africanos em direção ao Velho Mundo. Esse trânsito de produtos (como grãos), pessoas e conheci - mento ocorria desde a Antiguidade, quando fenícios, gregos, cartaginenses e romanos faziam tal travessia. Já na Idade Média, o norte da África foi palco da expansão islâmica, que interligou tal região à Península Arábica, graças às caravanas de mercadores e aos peregrinos em direção à Meca. A costa oriental da África, desde o Chifre da África até Sofala, se ligaram, via oceano Índico, a redes de comércio que se estendiam até a China e a Indonésia, passando pela Índia e pela Arábia Saudita. Nessa região circulavam produtos caros e luxuosos, como incenso, tecidos finos e pedras preciosas, que eram trocados por marfim, escravos, tecidos, âmbar, pele e penas raras. O tran sporte por essas longas distâncias era compen - satório, já que tais mercadorias alcançavam altos preços nos mercados de Axum (Etiópia), Cairo e, via Mar Vermelho, de Constantinopla e Roma. Já o litoral Atlântico, com a chegada dos portugue - ses durante o processo de Expansão Marítima (e, mais tarde, com franceses, ingleses e holandeses), acabou interligando o continente africano às economias europeia e americana, com o comércio de ouro, marfim, pimenta e escravos. Além disso, os entrepostos portugueses na África serviam como pontos de apoio para as viagens lusas até os portos comerciais orientais. Artesanato e mineração A produção de cerâmica acontecia em diversos pontos do continente, servindo o comércio interno e também as redes comerciais externas. Os povos africanos da Antiguidade desenvolviam, ainda a metalurgia (ferro, ouro e bronze) e a produção de vidro. O sal, produto valorizado no território africano, devido a sua utilizacão para a conservação de alimentos, chegava a valer mais que o ouro. 5. Religião e cultura Religião As populações africanas acreditavam em um Ser Supremo que governava o mundo junto com divinda des; estas agiriam como Seus ministros ou funcionários, que realizavam Seus desejos e funcionavam como in terme - diários entre Ele e os homens. Esse sistema de crenças é chamado por alguns especialistas de politeís mo, en - quanto outros o definem como um monoteísmo difuso. Entre aqueles que definem esse sistema de crenças como politeísta está E. G. Parrinder, em West African Religion. O autor usaessa definição devido à presença de vários seres divinos no panteão africano. Já os que estabelecem a crença dos povos africanos como um monoteísmo difuso, a exemplo de Bolaji Idowu, em Olodumare, entendem que as divindades derivam de uma única e suprema autoridade. Esse Ser Supremo, criador do universo, teria colo - cado um espírito em todas as coisas, vivas ou não. Por essa razão, a religião africana é considerada animista. As sociedades africanas antigas cultuavam seus ancestrais, cujos nomes eram passados de geração em geração pela tradição oral, e também utilizavam objetos mágico-religiosos. Essa religião tradicional africana manteve-se como o principal sistema de crenças do continente, mesmo com a chegada de outras religiões, como o cristianismo (que perdia adeptos conforme diminuía a extensão do Império Bizantino, mas sobreviveria na Etiópia, Núbia e em algu mas partes do Egito, até ser mais tarde reintrodu zido pelas potências ibéricas durante a Expansão Marítima) e o islamismo (em expansão desde o século VII, tendo chegado ao Magreb, Sahel e na costa Oriental da África). A cidade de Timbuktu (ou Tombuctu), um grande centro islâmico de estudos no Mali. C4_1a_HISTORIA_JR_2021.qxp 03/06/2021 23:06 Página 18 19HISTÓRIA Línguas As diversas línguas faladas no continente podem ser agrupadas em quatro grandes troncos: afro-asiático; nilo- saariano; niger-kordofarian (que deu origem ao impor tan - te conjunto bantu); e o khoisan. Arte “Para os africanos que os produzem e utilizam, tais objetos são insígnias de poder, status e prestígio, são objetos que tornam os ancestrais presentes, que auxiliam a manutenção do equilíbrio do mundo, que propiciam a fertilidade, que apoiam a transmissão da tradição oral. São, portanto, fundamentais para sua existência. Eles nunca ou raramente são apenas decorativos ou estéticos, como grande parte da arte ocidental. Muitas vezes eles não eram feitos para serem admirados; alguns nem sequer podiam ser vistos por todos. (...) Tais objetos têm uma evidente qualidade estética, que inclui noções de equilíbrio, proporção, simetria – como expresso no conceito yoruba ojú-onà, que pode ser traduzido como ‘consciência do design’. Os artistas utilizam códigos reconhecidos por todo o grupo social, que resultam em características formais e iconografia específicas. As Máscaras, esculturas e emblemas são objetos que trazem os ancestrais à presença dos vivos, auxiliando a manutenção do equilíbrio, garantindo a prosperidade e fertilidade, orientando as ações dos indivíduos e da comunidade, explicando e dando sentido ao mundo. Jogos divinatórios e instrumentos musicais são outras formas de estabelecer a comunicação entre vivos e ancestrais ou com as divindades.” (MAFRO – Museu Afro-Brasileiro. Projeto de Atuação Pedagógica e Capacitação de Jovens Monitores – Material do Professor. Universidade Federal da Bahia, 2005.) Placa de latão mostrando o rei do Benin – século XVI, Reino do Benin. Cabeça coroada – cobre, século XIV-XV, Reino de Ifé. C4_1a_HISTORIA_JR_2021.qxp 03/06/2021 23:07 Página 19 20 HISTÓRIA � (ESTÁCIO – FMJ) – Sobre a cultura africana no século pré-expansão marítima, podemos afirmar: a) era bastante variada, com cânticos, danças, sendo um espelho da cultura primitiva encontrada no Brasil com os indígenas. b) possuíam reinos organizados, com religiões diversas, destacando-se as tradições de origem banta e a presença muçulmana. c) os reinos de Mali e Songai eram de fatos tribos atrasadas espa lhadas pelo deserto do Saara, o que demonstra o atraso tecnológico do grupo. d) os africanos criam cânticos para exaltar os deuses, brancos, que viriam do céu e que os levaria à salvação, por isso a aceitação da dominação dos europeus. e) as disputas entre hutus e haussas que já ocorria histori camente no século XVI é uma demonstração da cultura africana subsaari - ana que, perdida em conflitos, não avançava. Resolução Resposta: B � (UNICAMP) – “A longa presença de povos árabes no norte da África, mesmo antes de Maomé, possibilitou uma interação cultural, um conhecimento das línguas e costumes, o que facilitou posterior mente a expansão do islamismo. Por outro lado, deve-se considerar a superiorida de bélica de alguns povos africanos, como os sudaneses, que efetivaram a conversão e a conquista de vários grupos na região da Núbia, promovendo uma expansão do Islã que não se apoia na presença árabe.” (Adaptado de Luiz Arnaut e Ana Mônica Lopes. História da África: uma introdução. Belo Horizonte: Crisálida, 2005, p. 29-30.) Sobre a presença islâmica na África, é correto afirmar que: a) O princípio religioso do esforço de conver - são, a jihad, foi marcado pela violência no norte da África e pela aceitação do islami - smo em todo o continente africano. b) Os processos de interação cultural entre árabes e africanos, como os propiciados pelas relações comerciais, são ante riores ao surgimento do islamismo. c) A expansão do islamismo na África ocorreu pela ação dos árabes, suprimindo as crenças religiosas tradicionais do continente. d) O islamismo é a principal religião dos povos africanos e sua expansão ocorreu durante a corrida imperialista do século XIX. Resolução Mera interpretação de texto, pois a alternativa B parafraseia as afirmações do enunciado. Todavia, é conveniente lembrar que a arábia Pré-Islâmica mantinha importantes relações comerciais com a costa africana do Mar Vermelho e do Oceano Indico – mas não com a África do Norte, banhada pelo Mediterrâneo e dominada sucessivamente por romanos, vândalos e bizantinos. Resposta: B � Considerando os principais contatos comerciais estabe - lecidos pelos africanos, interna e externamente, indique a) as principais rotas internas. b) os principais contatos externos. c) os principais produtos comercializados. RESOLUÇÃO: a) Transaariana e Transvaal. b) Muçulmanos, indianos e chineses na Costa Oriental; europeus na Costa Ocidental e Mediterrânea. c) Cereais, tecidos, carne, sal, ouro, marfim e escravos. � ”No império africano do Mali, no século XIV, Tombuctu foi centro de um comércio internacional onde tudo era negociado – sal, escravos marfim etc. Havia também um grande comércio de livros de história, medicina, astronomia e matemática, além de grande concentração de estudantes. A importância cultural de Tombuctu pode ser percebida por meio de um velho provérbio: ‘O sal vem do norte, o ouro vem do sul, mas as palavras de Deus e os tesouros da sabedoria vêm de Tombuctu’.” (ASSUMPÇÃO, J. E. “África: uma história a ser reescrita”. In: MACEDO, J. R. (Org.). Desvendando a história da África. Porto Alegre: UFRGS. 2008 (adaptado.) Uma explicação para o dinamismo dessa cidade e sua importância histórica no período mencionado era o(a) a) isolamento geográfico do Saara ocidental b) exploração intensiva de recursos naturais. c) posição relativa nas redes de circulação. d) tráfico transatlântico de mão de obra servil. e) competição econômica dos reinos da região. RESOLUÇÃO: A cidade de Tombuctu, capital do império do Mali, constituiu no período citado um ponto de importante escala e de convergência das rotas transaarianas, que ligavam comercialmente o Norte da África à região do Sahel e, por extensão, à África Equatorial. Acessoriamente, Tombuctu também realizava a conexão entre a África Ocidental, o Vale do Nilo e, no limite, o Mar Vermelho e o Oriente Médio. Resposta: C Exercícios Resolvidos Exercícios Propostos C4_1a_HISTORIA_JR_2021.qxp 03/06/2021 23:07 Página 20 21HISTÓRIA � “A África também já serviu como ponto de partida para comédias bem vulgares, mas de muito sucesso, como Um príncipe em Nova York e Ace Ventura: um maluco na África; em ambas, a África parece um lugar cheio de tribos doidas e rituais de desenho animado. A animação O Rei Leão, da Disney, o mais bem-sucedido filme americano ambientado na África, não chegava a contar com elenco de seres humanos.” (E. Leibowitz. Filmes de Hollywood sobre África ficam no clichê. Disponível em: http://noticias.uol.com.br.Acesso em: 17 abr. 2010.) A produção cinematográfica referida no texto contribui para a constituição de uma memória sobre a África e seus habitantes. Essa memória enfatiza e negligencia, respectivamente, os seguintes aspectos do continente africano: a) A história e a natureza. b) O exotismo e as culturas. c) A sociedade e a economia. d) O comércio e o ambiente. e) A diversidade e a política. RESOLUÇÃO: Os filmes citados enfatizam o exotismo da África, mantendo a visão etnocentrista ocidental que, desde os primeiros contatos dos europeus com o Continente Negro, procurou contrastar os povos locais com os brancos “civilizados”, dentro de uma perspectiva depreciativa. Ao mesmo tempo, negligenciam a evidência de que as populações africanas apresentam uma rica variedade de culturas que não podem ser avaliadas por juízos de valor, já que refletem um longo processo de construção da própria identidade, tão digna de consideração quanto a de outros continentes. Resposta: B � (IFRN – Adaptado) – Na África Tradicional – nome que se dá ao período da história africana que antecede a Revolução Industrial – a solução dos conflitos de terra apresentava particularidades. Segundo um escritor que nasceu e viveu no Mali, “[...] todo africano tem um pouco de genealogista e é capaz de remontar a um passado distante em sua própria linhagem. Do contrário, estaria como que privado de sua “carteira de identidade”. No antigo Mali, não havia quem não conhecesse pelo menos 10 ou 12 gerações de antepassados. [...] A genealogia é, desse modo, ao mesmo tempo sentimento de identidade, meio de exaltar a glória da família e recurso em caso de litígio. Um conflito por um pedaço de terra, por exemplo, poderia ser resolvido por um genealogista, que indicaria qual ancestral havia limpado e cultivado a terra, para quem a havia dado, sob que condições etc.” (A. Hampaté Bâ. A tradição viva. In J. Ki-Zerbo. (ed.). História Geral da África, I: Metodologia e Pré-História da África. Brasília: UNESCO, 2010, p. 203-204.) A partir da leitura do texto, é possível concluir que, nessa sociedade, a posse da terra era legitimada a) pelos laços familiares mantidos com as antigas dinastias. b) pela tradição hereditária familiar, que ignorava os docu - mentos escritos. c) pela identificação étnica reivindicada com os ancestrais. d) pelo modelo familiar patrilinear, que regularizava as sucessões. RESOLUÇÃO: O texto exemplifica como o regime de posse de terra na “África Tradicional” estava muito mais ligado à questões de genealogia e legado cultural, do que, como no Ocidente, por questões de direito instituído ou documentos escritos. Resposta: B � (FGV) – “Durante a Antigüidade e a Idade Média, a África per maneceu relativamente isolada do resto do mundo. Em 1415, os portugueses conquistaram Ceuta, no norte do continente, dando início à exploração de sua costa ocidental.” (José Jobson de A. Arruda e Nelson Piletti, Toda a História.) Acerca da África, na época da chegada dos portugueses em Ceuta, é correto afirmar que a) nesse continente havia a presença de alguns Estados or - ganizados, como o reino do Congo, e a exploração de escravos, mas não existia uma sociedade escra vista. b) assim como em parte da Europa, praticava-se a ex ploração do trabalho servil que, com a presença euro peia, transformou-se em trabalho escravo. c) a população se concentrava no litoral e o continente não conhecia formas mais elaboradas de organização política, daí a denominação de povos primitivos. d) os poucos Estados, organizados pelos bantos, encon travam- se no Norte e economicamente viviam da exploração dos escravos muçulmanos. e) a escravidão e outras modalidades de trabalho com pulsório eram desconhecidas na África e foram introduzidas apenas no século XVI, pelos portugueses e espanhóis. RESOLUÇÃO: Embora a África todo compreenda duas partes bastante distintas (África do Norte e África Ne gra), em ambas, na época mencionada, existiam Estados orga nizados e havia escravos; mas estes não cons tituíam a base da força de trabalho e, conseqüen temen te, não caracterizavam as sociedades africanas como escravistas. Resposta: A C4_1a_HISTORIA_JR_2021.qxp 03/06/2021 23:07 Página 21 22 HISTÓRIA 1. Introdução Embora existam populações negroides nativas no Sudeste Asiático, na Nova Guiné e na Austrália, con si - dera-se a África ao sul do Saara (especialmente a África Oriental) como o berço desse tronco étnico; por isso, o con ti nente africano é também conhecido como Con ti - nen te Negro*. No transcorrer da Idade Moderna, um grande contingente de negros afri ca nos foi des lo cado à força para as Américas e obri ga do a tra ba lhar, na condição de es cra vos, em co lônias de ex ploração implantadas pelas po tên cias ma rí ti mas europeias. Calcula-se que, entre o século XVI e a primeira metade do XIX, cerca de 10 mi lhões de africanos foram transportados através do Atlântico, vindo a constituir uma parcela ponderável da po pu lação das Américas (na maioria das Antilhas, a proporção de negros chega a quase 100%). Note-se que sua presença foi menos marcante nas maioria das possessões hispano- americanas, onde pre valeceu a mão de obra indígena. * Os povos da África do Norte não fazem parte da África Negra, pois estão relacionados, étnica e culturalmente, com os árabes e com os berberes (principal etnia saariana). Durante a Idade Média, a escravidão, tão relevante na Antiguidade, praticamente deixou de existir na Europa, embora os Estados cristãos do Mediterrâneo mantivessem a prática de usar cativos muçulmanos como remadores em suas galeras (barcos de guerra que, apesar de disporem de velas, tinham nos remos seu principal meio de pro pul são). Já no mundo islâmico, que incluía a África do Norte, a es cra vi dão era institucio - nalizada, abrangendo indis tin tamente bran cos e negros. Estes últimos eram levados para a África Se tentrional em caravanas que atravessavam o Saara, trans por tando também ouro, marfim e pimenta-ver melha. Pouco depois de iniciarem a Expansão Marítimo-Co - mercial, os lusitanos descobriram e ocuparam os arqui - pé la gos atlânticos dos Açores, Madeira e Cabo Verde; ali desenvolveram a produção açucareira, que já praticavam no sul de Portugal. Para cultivar a cana e produzir o açúcar, recorreram a escravos trazidos da África Con ti - nental*. Esse foi o início do escravismo mo der no, que se tornaria a mola propulsora da economia de muitas colônias, entre elas o Brasil**. * Escravos africanos foram também introduzidos no Algarve (sul de Portugal), a fim de trabalhar nas lavouras de cana e engenhos de açúcar. ** A escravidão negra foi justificada durante muito tempo pela interpretação tendenciosa, não endossada pela Igreja, de um episódio bíblico: os negros estavam des ti nados a ser escravos porque esta foi a maldição lançada por Noé sobre a descendência de seu filho Cam, da qual eles faziam parte. 2. O tráfico negreiro A colonização da América impulsionou extraordi - nariamente o comércio transatlântico de seres humanos. Praticada a princípio apenas pelos portugue ses, essa atividade passou depois a contar com intensa participação de franceses, holandeses e so bretudo ingle - ses, os quais chegaram a ser hegemônicos nesse setor da economia. Os negros trazidos para as Américas eram quase sempre capturados por outras comunidades em guerras tribais, sendo depois vendidos aos comerciantes brancos. As negociações eram realizadas em feitorias estabelecidas pelos europeus no litoral atlântico da África e em Moçambique. As transações eram feitas por meio do escambo, isto é, da troca de mercadorias com valores desiguais. Os escravos eram cambiados por produtos de custo baixo (aguardente, tabaco, te ci dos de má qualidade e objetos de metal*), mas seriam vendidos nas colônias americanas por preços altamente com pen sa dores – mesmo perdendo-se na travessia, em média, 40% dos cativos transportados. Na verdade, o comércio de escravos afri ca nos tor nou-se um dos negócios mais rentáveis do 49
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