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UAL - Relações Internacionais Maio 2022 Mariana Oliveira1 Recensão Crítica The Return of Russia under Putin, Arnon Gutfeld Unidade curricular: Eurásia Mariana Oliveira - 30004848 UAL - Relações Internacionais Maio 2022 Mariana Oliveira2 Este artigo está integrado no Strategic Assessment - A Multidisciplinary Journal on National Security, Volume 10, No. 4, lançado em fevereiro 2008. Escrito por Arnon Gutfeld, professor na Universidade de Tel Aviv, onde leciona história americana e no Centro Interdisciplinar, Herzliya, onde leciona também história Legal e Constitucional do Governo americano e dos Estados Unidos. Formou-se em 1965, em História pela Universidade de Montana, EUA, aonde também fez o seu mestrado na mesma área e em 1971 concluiu o seu doutoramento pela Universidade da Califórnia LA, em história americana. Recebeu prémios académicos como o Prêmio de Mérito do Chanceler da UCLA de Ensino Excecional, em 1970. Publicou livros como American Exceptionalism: The Effects of Plenty on the American Experience, Brighton, UK and Portland, OR: Sussex Academic Press, 2002; Gateways to the American Experience. Tel-Aviv: Ramot Publishing House at Tel- Aviv University, (Hebrew), 2006; Genocide in the 'Land of the Free': The Indians of North Ameica 1776-1890. Raanana, Israel: The Open University of Israel, (Hebrew), 2006; Treasure State Justice: Judge George M. Bourquin Defender of the rule of Law. Lubbock, TX: Texas Tech University Press, 2014. Neste artigo, o autor fala sobre a melhoria do status da Rússia e como o presidente Putin contribuiu para essa melhoria. É um artigo de grande relevância para as Relações Internacionais e é escrito de forma clara e precisa. Esta abordagem divide-se em seis pontos essenciais: “Back to Cold War”, “Putin: Russis’s National Trumpet”, “Renewed Armamen”, “The Economic Transformation and its Political-Strategic Effects”, “Problems of the Awakening Giant” e “A Look Ahead”. No ponto um, “Back to Cold War”, o autor explica como Putin desenvolveu a Rússia, fazendo com que a mesma voltasse a crescer e a ter relevância no cenário internacional. Aqui, o autor fala da aproximação, pela primeira vez, da Rússia, através de aviões de combate, do território canadense, em 2007. Aqui, o autor enfatiza que, naquela altura - quando escreveu o artigo- a Rússia estava a perseguir políticas e ações que abandonara nos últimos dezasseis anos. A regressão económica após o colapso da União Soviética chegava ao fim e a Rússia estava a ser impulsionada pela rica e vasta variedade de fontes de energia e pelos altos preços que praticavam. Isto permitiu a Putin adotar uma política contrária e beligerante em relação aos Estados Unidos e ao Ocidente. Assim, e segundo o autor, perceber-se intuito de Putin, que seria capaz de fazer com que a Rússia atual voltasse a ser uma União Soviética ou a ter a mesma relevância e poder que a União Soviética tivera, nos seus tempos de glória. Aqui, há uma grande discordância, dessa linha de pensamento, entre os académicos, por exemplo, Tomé afirma que a Federação Russa não é a União Soviética e a “guerra híbrida” também não se comprara ao que foi a Guerra Fria. E continua, assim, a dizer que: “Putin comporta-se como se fosse líder da URSS e não se importa que a Federação Russa seja confundida com a sua predecessora - se e quando isso significa que os seus interlocutores respeitam a Rússia como outrora respeitavam a União Soviética” Tomé, 2018. UAL - Relações Internacionais Maio 2022 Mariana Oliveira3 No segundo ponto, “Putin: Russia’s National Trumpet”, o autor segue dizendo que o objetivo de Putin era restaurar a Rússia, de modo a enfatizar a sua influência e voltar a ter importância no cenário internacional, contra os Estados Unidos, China e União Europeia. Segundo o autor “Many of Putin’s foreign policy moves have been intended to elevate his power at home and to send strong signals to the West, ...”. Os sinais da força russa, da sua influência voltam-se a ver quando esta ameaça usar seu direito de veto na rganização das Nações Unidas na questão do Kosovo; impede o uso de sanções contra o Irão; vende armas à Síria; pratica desinformação e provoca tensões no Médio Oriente. A questão do “his power at home”, pode-se se fazer um paralelo com a guerra da Ucrânia e com a questão da desinformação já praticada por Putin há vários anos. Observa-se que os russos sabem sobre a o conflito na Ucrânia é o que a narrativa do Kremlin que os canais oficiais de TV mostram: que é uma operação militar especial limitada e que Putin teve que seguir este caminho de modo a proteger a Rússia. Assim, o que era o intuito de Putin segundo a autor, anos atrás, hoje também se vê o tamanho da sua posição perante grande parte da nação russa, que confia no seu líder, quase que cegamente. Na Rússia há uma opressão violentíssima e, mesmo que na atualidade haja alguns movimentos de contestação interna demonstrando a insatisfação, demonstrando o descontentamento da sociedade russa, conclui-se que: “...esses movimentos não têm conseguido, contudo, atingir uma dimensão de consolidação social capaz de enfrentar o poder instalado, e têm sido igualadas ou mesmo superada em números, e desafiados no seu alcance, por movimentos de apoio ao Kremelin.”, Freire, 2013. No terceiro ponto, “Renewed Armament” e no quinto ponto, “Problems of the awakenning Giant”, Putin concentrou-se em desenvolver infra-estruturas militares e estratégicas para que a Rússia se desenvolvesse cada vez mais, mesmo que com dificuldades de redefinição. Segundo o autor, a Rússia sente “the difficult birth pangs of redefinition and rebirth” e isto pode ser visto até nos dias de hoje. A redefinição das suas fronteiras, diminuindo o seu território e presenciar o que foi dia parte do território da antiga União Soviética, aqueles que estiveram presentes no pacto de Varsóvia, nos últimos anos a se alinharem à União Europeia, ao ocidente, através da política de alargamento, como a se alinharem, também, à NATO – organização esta que é basicamente comandada pelo arqui-inimigo tanto da Rússia como do que foi a União Soviética, os Estados Unidos. As relações entre a Rússia e os Estados Unidos sempre foram debilitadas e vêm se deteriorando cada vez mais, principalmente devido a Guerra da Ucrânia. Os Estados Unidos lançou sanções económicas contra a Rússia pela sua ingerência nas eleições presidenciais norte-americanas, pela anexação da Crimeia e pela sua atitude em relação à Ucrânia. Para a Rússia e segundo o primeiro-ministro russo Medvedev, estas sanções equivalem à uma guerra comercial em larga escala. UAL - Relações Internacionais Maio 2022 Mariana Oliveira4 No quarto ponto, “Economic Transformations and its Political- Strategic Effects”, o autor enfatiza que quando Putin foi eleito primeiro-ministro em 1999, a Rússia encontrava-se em crise e que os anos da década de 1990 foi a década dos oligarcas e que essa década foram “years of shortages, crime, weakness , and humiliation.”. No entanto, com Putin no poder, a Rússia uma crescente na economia, resultantes das subidas nos preços e na grande demanda de gás natural e petróleo. Em 2006, a percentagem total do Produto Nacional Bruto (PNB) da Rússia era maior do que a média dos, até então, G8, crescendo em 67 por cento, sendo este o sétimo ano consecutivo de crescimento. Segundo o autor, “The Russian economy was revived, and Putin ... is instituting an aggressive, assertive foreign policy in order to wipe out the humiliations of the former generation of Russians.” Assim, Putin lutou para que a Rússia se reerguesse, tirando a Rússia, segundo o autor, de uma “..lack of hope, to optimism, progress, and even a mmeasure of esteem”. Isto, resultando numa onda de ignorância da população em relação ao seu líder e o seu desrespeito pela democracia. A nação russa vê Putin como um salvador pós-Gorbachev, era em que passaram por anos obscuros. Para a nação, ou a maior parte da nação, o que Putin fez foi tirá-los do buraco em que se encontravam, havendo, assim, pouca ou alguma contestação.Como visto no ponto dois, além de opressos, a população russa é desinformada. No sexto e último ponto, “A Look Ahead”, o autor vê Putin como aquele que desenvolveu a Rússia depois da queda da União Soviética. Putin é comparado, por Gutfeld, com Estaline, porém “less murderous but with similar authority and influence, who has in mind a Russia that plays a starring role on the international stage.”. A verdade é que Estaline e Putin não são idênticos, mais ainda assim, não podem ser desconsideradas, pois há similaridades no âmbito político, social e humanitário. O autor segue por dizer que o Ocidente não entende que a Rússia como é hoje, a Rússia de Putin, mudou de direção sob sua liderança, e está avançando longe da escassez, longe de fome e da corrupção da década de 1990. O objetivo final que o autor cita é que Putin pretendia governar a Rússia “with a high hand” e não há que o possa fazer frente ou detê-lo. Isso é claro nos dias atuais, a guerra da Ucrânia é uma forma de Putin demonstrar que o seu objetivo será alcançado e que não mede consequências. O problema para o Ocidente e Estados Unidos é que segundo Tomé: “A Rússia não tem o poder dos Estados Unidos, mas mantém a paridade nuclear. Depende muito economicamente da União Europeia, mas a União Europeia também é muito dependente da sua energia”. Assim, o que o Ocidente faz para tentar travar um maior avanço da guerra são sanções, sanções estas que de nada surtem efeito e, acima de tudo, podem fazer com que o fornecimento de gás, petróleo e matérias primas ao Ocidente, sejam postos em risco. A Rússia, neste momento, detém a geopolítica dos recursos energéticos, que são os seus maiores atributos de poder. Assim, a Rússia possui a maior reserva destes recursos no UAL - Relações Internacionais Maio 2022 Mariana Oliveira5 mundo - apenas a sua produção é menor do que a dos Estados Unidos. Ainda assim, a Rússia continua a ser a maior exportadora de gás natural do mundo. O setor da indústria energética russa é uma das principais da sua economia. Isso faz com que a Rússia seja líder global em exportação de energia e, simultaneamente, um dos maiores consumidores mundiais, devido às necessidades do seu mercado interno (MITROVA, 2014). A Rússia converteu-se numa coluna indispensável no comércio de gás eurasiático. A insatisfação de Putin, atualmente, é visível com a Guerra da Ucrânia. Tudo isto, devido a expansão da NATO para o Leste Europeu, a possibilidade de adesão da Ucrânia, que já foi parte da União Soviética, à esta aliança militar é impensável para Putin, pois para ele a Ucrânia não tem direito à sua soberania independente da Rússia. O avanço da NATO em território Leste Europeu impossibilita à Putin restabelecer uma zona de influência da russa, como outrora foi a União Soviética. Para Putin, o Ocidente e EUA querem uma expansão da sua influência na vizinhança comum e detêm uma estratégia anti-Rússia, segundo Tomé, e o ato da Guerra da Ucrânia é uma forma de defesa da sua integridade. Os ex-soviéticos estão cada vez mais divididos entre os dois “eixos” e a política de vizinhança detida pelo Ocidente, enfraquece cada vez mais a influência russa, o que para Putin é impensável. Por suma, pode-se dizer que Gutfeld assume, neste artigo, uma visão pró-Putin e tem uma exposição clara e, efetivamente, transmite todo o conhecimento pretendido, fazendo com que este seja um artigo de grande relevância para as Relações Internacionais. A verdade é que não se pode negar os avanços russo sob a liderança de Vladimir Putin e, até a altura em que este artigo foi escrito, Putin não havia imposto tão grandemente o seu poder no cenário internacional, até a data então, o autor leva em consideração o conflito relativo à Geórgia e o conflito relativo à Chechénia. Putin e toda a sua influência, todo o seu poder - muitas vezes incontestado pela sua nação - está a criar um novo cenário nas relações internacionais, cenário este de que detêm uma grande iminência, principalmente pelos Estados da União Europeia, por alternativas no âmbito energético - sendo ainda bastante dependente da Rússia. Não se sabe até quando os avanços bélicos da Rússia na Ucrânia continuará, porém a mesma pode se escalar por toda a Europa. Putin está a tentar recuperar as “partes perdidas” com a queda da União Soviética. Como fala no artigo, Putin que rever a gloria Rússa, como a passada União Soviética, e para isso não mede esforços e, se ao seu ver, essa for a única forma de continuar com a glória que alcançou até então, Putin correrá o risco então de uma escalada na guerra da Ucrânia para o restante do espaço Europeu. Efetivamente, Putin aceitar a independência da Ucrânia e a aprofundação dos seus laços com a União Europeia e até mesmo com a NATO parece algo bastante improvável no cenário atual. UAL - Relações Internacionais Maio 2022 Mariana Oliveira6 Bibliografia CHAGAS, Déboran. (2014) “A Geopolítica dos Recursos Naturais da Rússia: uma Análise sob a Perspetiva de Vladimir Putin” Dossiê Relações Internacionais e Meio Ambiente, nº33, 1.º sem./2014. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/vernaculo/article/view/37140 GUTFELD, Arnon (2008) “The Return of Russia Under Putin” - Strategic Assessment - A Multidisciplinary Journal on National Security, Volume 10, No. 4. Disponível em: https://www.inss.org.il/wp- content/uploads/sites/2/systemfiles/AdkanEng10_4a_Gutfeld.pdf FREIRE, Maria Raquel (2013) “A nova Rússia de Putin” - OBSERVARE - JANUS 2013 - As incertezas da Europa. Disponível em: https://repositorio.ual.pt/handle/11144/601 JONHSTON, Robert. STROMQUIST, Emily. (2014) “The Russian Gas Sector: A Political Risk Case Study.” - Harvard Belfer Center Programsor Projects: The Geopolitics of Energy Project, janeiro 2014. Disponível em: https://www.belfercenter.org/sites/default/files/files/publication/CES-pub- GeoGasEurasia-012914.pdf MITROVA, Tatiana (2014) ”The Geopolitics of Russian Natural Gas.” The James A. Baker III, Institute for Public Policy of Rice University, Houston, fevereiro de 2014. Disponível em: https://www.belfercenter.org/sites/default/files/files/publication/CES-pub-GeoGasRussia- 022114.pdf OLCOTT, Martha Brill.(2004) “The Energy Dimension in Russian Global trategy: Vladimir Putin and the Geopolitics of Oil” The James A. Baker III, Institute for Public Policy of Rice University, Houston, outubro 2004. Disponível em: https://www.bakerinstitute.org/media/files/Research/9b526ac8/vladimir-putin-and-the- geopolitics-of-oil.pdf PETROV, Nikolay, LIMPAN, Maria e HALE, Henry (2013) “Three dilemmas of hybrid regime governance: Russia from Putin to Putin” - Post-Soviet Affairs, Volume 30, 2014 - Issue 1, pp: 1-26. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/1060586X.2013.825140?casa_token=rbc6 dm8wNu0AAAAA%3A6xPThSaN9kaX- HdUnl0y5nRqg7u3a68Qg6iL0n0QHiNh6wrtfmt6rt7_bN1hexMSjjY3iTjq_audNw TOMÉ, Luis (2018/2019), “Geopolítica da Rússia de Putin: não é a União Soviética, mas gostava de ser…” in Relações Internacionais, 60. Lisboa, IPRI-UNL: pp. 69-99. Disponível em: https://repositorio.ual.pt/handle/11144/4299 https://revistas.ufpr.br/vernaculo/article/view/37140 https://www.inss.org.il/wp-content/uploads/sites/2/systemfiles/AdkanEng10_4a_Gutfeld.pdf https://www.inss.org.il/wp-content/uploads/sites/2/systemfiles/AdkanEng10_4a_Gutfeld.pdf https://repositorio.ual.pt/handle/11144/601 https://www.belfercenter.org/sites/default/files/files/publication/CES-pub-GeoGasEurasia-012914.pdf https://www.belfercenter.org/sites/default/files/files/publication/CES-pub-GeoGasEurasia-012914.pdf https://www.belfercenter.org/sites/default/files/files/publication/CES-pub-GeoGasRussia-022114.pdf https://www.belfercenter.org/sites/default/files/files/publication/CES-pub-GeoGasRussia-022114.pdf https://www.bakerinstitute.org/media/files/Research/9b526ac8/vladimir-putin-and-the-geopolitics-of-oil.pdf https://www.bakerinstitute.org/media/files/Research/9b526ac8/vladimir-putin-and-the-geopolitics-of-oil.pdf https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/1060586X.2013.825140?casa_token=rbc6dm8wNu0AAAAA%3A6xPThSaN9kaX-HdUnl0y5nRqg7u3a68Qg6iL0n0QHiNh6wrtfmt6rt7_bN1hexMSjjY3iTjq_audNwhttps://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/1060586X.2013.825140?casa_token=rbc6dm8wNu0AAAAA%3A6xPThSaN9kaX-HdUnl0y5nRqg7u3a68Qg6iL0n0QHiNh6wrtfmt6rt7_bN1hexMSjjY3iTjq_audNw https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/1060586X.2013.825140?casa_token=rbc6dm8wNu0AAAAA%3A6xPThSaN9kaX-HdUnl0y5nRqg7u3a68Qg6iL0n0QHiNh6wrtfmt6rt7_bN1hexMSjjY3iTjq_audNw https://repositorio.ual.pt/handle/11144/4299 UAL - Relações Internacionais Maio 2022 Mariana Oliveira7 SEGRILLO, Angelo (2014)”De Gorbachev a Putin: A Saga da Rússia do Socialismo ao Capitalismo”, Editora Prismas/ Editora Appris. Disponível em: http://lea.vitis.uspnet.usp.br/arquivos/angelosegrillolivrodegorbachevaputin.pdf http://lea.vitis.uspnet.usp.br/arquivos/angelosegrillolivrodegorbachevaputin.pdf
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