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TEMA 01 - O Estado no Setor Público e a Constituição

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DEFINIÇÃO 
Organização do Estado e aspectos constitucionais relevantes para o setor 
público. 
PROPÓSITO 
Estudar a formação do Estado e compreender a sua organização na 
Constituição é essencial para entender as diretrizes que norteiam as atividades 
do setor público, sendo indispensável para a boa atuação dos que trabalham 
na área, como servidores e empregados públicos e também a todos os 
cidadãos. 
PREPARAÇÃO 
É importante que, ao longo do estudo, você tenha em mãos a Constituição 
Federal de 1988. 
OBJETIVOS 
MÓDULO 1 
Descrever a formação e os elementos do Estado 
MÓDULO 2 
Relacionar os poderes do Estado e suas competências legislativas 
INTRODUÇÃO 
A compreensão do que é o Estado e qual é o tratamento dado pela 
Constituição a esse são requisitos basilares para se entender melhor a própria 
estruturação do serviço público. 
Sendo um Estado Democrático de Direito, o Brasil possui como Lei Maior, ou 
seja, como norma fundamental, a Constituição. É nela que encontramos a 
organização de seus entes federados (União, Estados e Municípios) e 
respectivas competências, os princípios e as regras que norteiam as atividades 
do poder público, as garantias fundamentais, entre outras normas essenciais 
para a existência e organização da nossa democracia. 
Nenhuma atividade estatal pode contrariar o que está disposto na Constituição. 
Conhecê-la, portanto, é indispensável, tanto para os servidores e empregados 
públicos como para os cidadãos em geral. 
Para isso, vamos, em um primeiro momento, conhecer melhor a formação do 
Estado e quais são os seus elementos essenciais. Em seguida, vamos estudar 
o processo de formação da própria Constituição e as regras ali estabelecidas a 
respeito da divisão de poderes e das competências legislativas. 
 
Fonte: Create jobs 51/Shutterstock 
MÓDULO 1 
 
Descrever a formação e os elementos do Estado 
ORIGEM E FORMAÇÃO DO ESTADO 
Desde os primórdios da história da humanidade, o homem vive em grupos, 
todos com maior ou menor grau de organização. Mesmo na pré-história, as 
pessoas agrupavam-se em pequenas comunidades de caçadores e coletores 
para dividir o trabalho, somar esforços e, assim, aumentar as chances de 
sobrevivência frente às dificuldades impostas pela natureza. 
As pinturas rupestres são reminiscências desse período e um importante 
registro da importância que a vida em comunidade assume desde o surgimento 
do Homo sapiens na Terra. Isso nos mostra que o ser humano busca, 
naturalmente, a vida em sociedade. 
PINTURAS RUPESTRES 
São pinturas, desenhos e inscrições encontrados nas paredes das cavernas 
pré-históricas. Pelo seu grande valor artístico e histórico, destacamos as 
pinturas existentes nas cavernas de Lascaux, na França, e de Altamira, na 
Espanha. 
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Fonte: Wikipédia 
 
Fonte: Matrioshka/Shutterstock 
Com o passar do tempo, essas comunidades cresceram devido ao aumento 
populacional e à complexidade das relações humanas, exigindo, por 
consequência, um nível maior de desenvolvimento. Esse é o embrião que dará 
origem ao Estado. 
As primeiras formas de Estado são enquadradas dentro do conceito de Estado 
Antigo e englobam as antigas civilizações, como a egípcia. Esse período, de 
acordo com Dallari (2011, p. 70), é marcado por duas características 
principais: natureza unitária e forte religiosidade. 
O Estado Unitário caracteriza-se por ausência de divisões internas, sejam 
territoriais ou organizacionais. Ou seja, ele é visto sempre como uma unidade 
íntegra e indivisível. Conforme veremos a seguir, essa é uma característica que 
difere da atual organização do Estado Brasileiro, que é uma Federação 
composta por entes autônomos (União, Estados e Municípios). 
A forte religiosidade vai além da simples existência de uma religião presente na 
sociedade. Ela se confunde com a própria organização do Estado e também 
com a figura do governante, assumindo, por vezes, a estrutura de um Estado 
Teocrático, no qual a lei religiosa é o que norteia a organização estatal e a vida 
das pessoas. 
Essa concepção levou ao surgimento de Estados cuja figura do governante é 
associada à encarnação dos deuses existentes na cultura local. Novamente, 
um exemplo é o do Antigo Egito, onde o faraó era o governante supremo e, 
mais que isso, considerado o próprio representante divino na Terra. 
Eventualmente, a classe sacerdotal também assumia grande relevância, seja 
participando das tomadas de decisão ou limitando o poder do governante 
supremo. 
 
Fonte: Merydolla/Shutterstock 
Outra categoria é a do Estado Grego. Dalmo de Abreu Dallari (2011, p. 71) 
ressalta que não houve propriamente um único Estado que abarcasse toda a 
civilização grega (helênica), mas admite ser possível o uso da terminologia em 
razão da existência de características comuns aos diferentes Estados que 
surgiram entre os povos helênicos (exemplo: Esparta e Atenas), dentre os 
quais se destacam: a autossuficiência das cidades-estados e uma relevante 
importância do indivíduo, que participa mais ativamente das decisões políticas. 
Essa participação popular também esteve presente no Estado Romano, apesar 
da complexa estrutura que este assumiu ao longo dos séculos em que existiu. 
Aqui, já identificamos algumas diferenças com o Estado Antigo, notadamente a 
maior importância dada ao indivíduo na vida em sociedade, característica que 
atualmente influencia os Estados Modernos, inclusive o Brasil. 
 
Fonte: Wikipédia 
Posteriormente, há o surgimento do Estado Medieval, marcado por forte 
influência do cristianismo e do feudalismo, que consistia, em síntese, em uma 
relação de controle e subordinação entre os poderosos proprietários de terras e 
as pessoas pobres ou de poucas posses, chamadas de vassalagem. Em troca 
de proteção e do direito de usar a terra do senhor feudal, pagava-se uma taxa 
e assumia-se o compromisso de fornecer apoio a ele em caso de guerra. 
Com efeito, a sociedade feudal era marcada pela fragmentariedade, quando 
cada senhor feudal organizava-se a seu modo, dentro de seus domínios. Isso 
criou instabilidades cuja solução passava pela formação de uma unidade 
organizacional. Observamos, aqui, o começo de um processo histórico que 
levará ao surgimento do Estado Moderno. 
ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO 
ESTADO 
Dallari (2011, p. 122) conceitua o Estado como “a ordem jurídica soberana que 
tem por fim o bem comum de um povo situado em determinado território”. 
 
Fonte: Autor 
POVO 
Em primeiro lugar, cumpre distinguir conceitos que muitas vezes são 
empregados de maneira técnica e confusa. Conforme explicaremos a seguir, 
eles não são sinônimos e não se confundem: 
POPULAÇÃO 
É um conceito demográfico, que consiste no somatório de todas as pessoas 
que moram em determinado território ou país. Para Dallari (2011, p. 100), 
alguns autores também incluem nesse conceito as pessoas que ali estão 
temporariamente. Não importa a origem ou a nacionalidade dessas pessoas, 
pois, se elas habitam aquele lugar, fazem parte da respectiva população. 
NAÇÃO 
Faz referência à comunidade e aos seus traços históricos e culturais. Não é um 
conceito demográfico, como o anterior, mas também não é um conceito 
jurídico. Nas palavras de Dallari (2011, p. 101): 
[...] nem o termo nação, que indica uma comunidade, nem o seu derivado, 
nacionalidade, são adequados para qualificar uma situação jurídica, 
indicando, tão só, a pertinência a uma comunidade histórico-cultural, não 
sendo correto o uso da expressão com o sentido de povo. 
CIDADÃO 
É o titular dos direitos políticos, que pode votar e ser votado. Nesse sentido, o 
art.1º, § 3º, da Lei nº 4.717/65, que regula a ação popular, estabelece que a 
prova da cidadania, para ingresso em juízo, será feita com o título eleitoral ou 
com documento que a ele corresponda. Veja que a nossa legislação vinculou 
expressamente o conceito de cidadania à titularidade dos direitos políticos.POVO 
É um conceito que requer uma relação jurídica entre um indivíduo e um Estado. 
Portanto, para se identificar quem constitui o povo de determinado Estado, é 
preciso observar as regras de atribuição de nacionalidade estabelecidas em 
seu ordenamento jurídico. 
Existem dois critérios básicos para a atribuição de nacionalidade (há países 
que adotam composições mistas): 
Jus sanguinis (ou direito de sangue) 
O critério é a hereditariedade. Para ter a nacionalidade, é preciso ser filho de 
nacionais daquele país. 
Jus solis (ou direito de solo) 
Critério territorial. Adquire a nacionalidade quem nasce no território de um país. 
ATENÇÃO 
Conforme o art.12 da Constituição de 1988, o Brasil adota o critério do jus soli, 
ou seja, basta nascer no território brasileiro para adquirir a nacionalidade 
brasileira, ainda que haja situações excepcionais em que o nascido no exterior 
também possa ter nacionalidade brasileira. 
ART.12 
São brasileiros: 
I - natos: 
a. Os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais 
estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país; 
b. Os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que 
qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil; 
c. Os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que 
sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir 
na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de 
atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira. 
A opção por um ou outro critério explica-se nos processos históricos dos 
diferentes países. 
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De modo geral, aqueles que receberam imigrantes adotaram o jus solis, como 
Brasil, Estados Unidos, entre outros. Já os países fortemente marcados pela 
emigração, como os países europeus, adotaram como regra geral o jus 
sanguinis — o que é compreensível, pois buscava-se preservar a 
nacionalidade dos descendentes daqueles nacionais que estavam emigrando. 
Para isso, o local de nascimento do indivíduo deixa de ser relevante, 
prestigiando-se a hereditariedade. 
O processo de formação dos Estados Nacionais, portanto, teve um papel 
relevantíssimo na própria conceituação de povo. Aqueles cujos nacionais 
estavam emigrando definiram critérios para evitar o processo de dispersão. Os 
países que receberam imigrantes, por sua vez, e que tinham como desiderato 
ampliar o seu povo, precisavam acolher os estrangeiros e seus descendentes 
que se instalavam em seu território, sendo este um critério importante na 
concessão da nacionalidade. 
A correta compreensão do conceito de “povo”, para além de um elemento 
constitutivo do Estado, é importante também para a existência da democracia, 
que confere a ele a titularidade do poder. Nesse sentido, o art. 1º, parágrafo 
único da Constituição de 1988, afirma expressamente que “todo o poder emana 
do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos 
termos desta Constituição”. 
TERRITÓRIO 
Território é a base física do Estado, é o espaço sobre o qual ele exerce o seu 
poder soberano. Essa noção surge com o Estado Moderno, a partir da 
necessidade de pôr fim aos conflitos que vinham surgindo entre diversas 
autoridades que buscavam impor seu poder. 
A maioria dos autores concorda que o território é um elemento indispensável 
para a existência do Estado. Há, porém, divergências quanto à natureza 
jurídica da relação que se estabelece entre o Estado e o respectivo território. A 
seguir, veja algumas das principais correntes a esse respeito: 
TERRITÓRIO COMO PATRIMÔNIO DO 
ESTADO 
Analisa o território sob a ótica da propriedade. 
DIREITO REAL INSTITUCIONAL 
Critica a anterior, pois, dentro do território do Estado, existem propriedades 
privadas. Defende, portanto, a existência de um direito real institucional, que 
seria exercido sobre o solo e de acordo com o serviço da instituição estatal. 
PODER DE IMPÉRIO 
Por meio do poder de império, exercido sobre as pessoas, o Estado tem, por 
consequência, o poder sobre o território. O direito do Estado ao território é 
apenas uma consequência, um reflexo da dominação sobre as pessoas, mas 
não um direito subjetivo. 
TERRITÓRIO COMO INTEGRANTE DO 
ESTADO 
O território é elemento integrante da própria identidade do Estado e não um 
objeto da sua dominação. É a teoria que prevalece atualmente. 
Quanto àquilo que integra o território de um país, pode-se incluir o solo e o 
subsolo. Sobre o assunto, destacam-se os seguintes dispositivos da 
Constituição Federal de 1988: art. 20 e art. 176. 
ART. 20 
São bens da União: (...) V - os recursos naturais da plataforma continental e da 
zona econômica exclusiva; VI - o mar territorial; (...) IX - os recursos minerais, 
inclusive os do subsolo. 
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ART. 176 
As jazidas, em lavra ou não, e demais recursos minerais e os potenciais de 
energia hidráulica constituem propriedade distinta da do solo, para efeito de 
exploração ou aproveitamento, e pertencem à União, garantida ao 
concessionário a propriedade do produto da lavra. 
VOCÊ ACHA QUE O ESPAÇO AÉREO 
INTEGRA O TERRITÓRIO? 
 
RESPOSTA 
Sim, apesar de não haver consenso quanto ao limite de sua utilização. O tema 
foi objeto do Tratado sobre Exploração e Uso do Espaço Cósmico, promulgado 
pelo Decreto nº 64.362, de 1969, que em seu art. 2º dispõe que “o espaço 
cósmico, inclusive a Lua e demais corpos celestes, não poderá ser objeto de 
apropriação nacional por proclamação de soberania, por uso ou ocupação, 
nem por qualquer outro meio”. Buscou-se evitar que o uso indevido do espaço 
aéreo projetasse conflitos para fora do planeta, especialmente no contexto da 
época, em que havia a Guerra Fria e a corrida espacial. 
SOBERANIA 
Dentre os elementos que compõem o Estado, a soberania certamente é o mais 
difícil de ser conceituado e o que mais suscita controvérsias na doutrina. 
Dallari (2011, p. 86) nos ensina que, em termos políticos, “a soberania 
expressava a plena eficácia do poder”, podendo ser conceituada como “o poder 
incontrastável de querer coercitivamente e de fixar as competências”. Esse é 
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um conceito que privilegia a força e a capacidade de impor o seu poder e suas 
determinações. 
Já a concepção jurídica conceitua a soberania como “o poder de decidir em 
última instância sobre a atributividade das normas, vale dizer, sobre a eficácia 
do direito”. 
As características da soberania são: 
UNIDADE 
INDIVISIBILIDADE 
INALIENABILIDADE 
IMPRESCRITIBILIDADE 
Só se admite uma única soberania em um mesmo Estado. 
Aplica-se inteiramente ao que ocorre dentro do Estado, não podendo ser 
fragmentada. 
Aquele que a detém desaparece se perdê-la. 
Seria um contrassenso uma soberania com prazo de validade. 
Um tema de extrema importância diz respeito à titularidade da soberania. 
Vejamos, então, as principais diferenças da teoria teocrática e da teoria 
democrática: 
Teoria teocrática 
Associa a soberania ao poder divino. Ou seja, a soberania vem de Deus, e 
seria exercida pelo monarca ou pela autoridade representante da vontade 
divina na Terra. Ela foi o fundamento para Estados Absolutistas e teve larga 
aceitação durante a Idade Média. Jean Bodin (1530-1596) e Hobbes (1588-
1679) colocam o monarca como o titular da soberania. Posteriormente, para 
Locke (1632-1704), ela seria concentrada no Parlamento. É com Rousseau 
https://stecine.azureedge.net/repositorio/o_estado_no_setor_publico_e_a_constituicao/index.html#collapse-steps1
https://stecine.azureedge.net/repositorio/o_estado_no_setor_publico_e_a_constituicao/index.html#collapse-steps2
https://stecine.azureedge.net/repositorio/o_estado_no_setor_publico_e_a_constituicao/index.html#collapse-steps3
https://stecine.azureedge.net/repositorio/o_estado_no_setor_publico_e_a_constituicao/index.html#collapse-steps4(1712-1778) e as Revoluções Francesa e Americana que o povo começa a 
assumir o protagonismo. 
Teoria democrática 
Seu pilar comum é o povo como titular da soberania. Essa é a concepção 
contemporânea que prevalece atualmente, e que foi incorporada pela 
Constituição Federal de 1988, tanto em seu preâmbulo quanto em seu art. 1º. 
PREÂMBULO 
“Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional 
Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o 
exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-
estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de 
uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia 
social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução 
pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte 
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.” 
ART.1º 
A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados 
e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de 
Direito e tem como fundamentos: 
(...) Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de 
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. 
Assista ao vídeo a seguir para saber mais sobre os elementos do Estado e a 
titularidade da soberania. 
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PODER DO ESTADO 
Esse é um tema central no estudo da Teoria Geral do Estado. Alguns autores, 
como Georges Burdeau (1905-1988), defendem que o Estado não detém 
propriamente um poder, mas que ele é um poder. A maior parte dos autores, 
porém, reconhece o poder como uma característica essencial à própria 
existência do Estado. 
Aqui, podemos fazer uma relação com o tópico estudado anteriormente. 
Apesar de haver defensores de que o poder do Estado confunde-se com a 
soberania, a tendência é colocá-lo como um elemento à parte. Há divergências 
também se esse seria um poder político ou jurídico. 
 
Fonte: Create jobs 51/Shutterstock 
Poder político 
Seria incondicionado e buscaria assegurar sua eficácia sem qualquer limitação. 
A definição de sua extensão está no uso da força. 
Poder jurídico 
Essa concepção, cujo grande teórico foi Hans Kelsen (1881-1973), entende 
que o poder do Estado nasce do direito, que também o conforma e limita. 
Considerando que há uma ordem jurídica na base de toda a vida social, o 
poder ou a dominação estatal não se caracterizariam pela força e dominação 
de alguns homens sobre outros, mas sim pela submissão de todos às normas. 
A coação não seria do Estado em si, mas a partir das normas jurídicas. Kelsen 
defende um poder de dominação contra o qual não se pode resistir 
(irresistível), mas estritamente jurídico. 
A crítica que se faz à teoria de Kelsen diz respeito à origem dessa ordem 
jurídica que sustentaria o poder estatal. Afinal, no início da organização da 
comunidade e do Estado, o poder não possui um regramento específico. Ele é, 
essencialmente, de fato. Ele existe independentemente de uma ordem jurídica 
existente, até porque, na formação do Estado, não há formalmente uma ordem 
jurídica. 
Kelsen contra-argumenta falando em uma “norma fundamental hipotética, cujo 
caráter jurídico só pode ser suposto, uma vez que não foi posto por ninguém”. 
É um argumento evidentemente frágil, o que dificulta a aceitação do poder do 
Estado como exclusivamente jurídico. Dallari (2011, p. 116) prefere adotar um 
entendimento intermediário, de que o poder do Estado é parcialmente político e 
jurídico. 
PERSONALIDADE JURÍDICA 
 
Fonte: Freedomz/Shutterstock 
A ideia de conferir personalidade jurídica ao Estado atinge o objetivo de limitar 
o seu poder e também promove a conciliação das noções políticas e jurídicas 
de poder estatal. 
Trata-se de uma ficção jurídica que busca conferir direitos e deveres a uma 
entidade que não se confunde com os indivíduos da sociedade, estes sim 
dotados de consciência e de vontade. Surge, então, a pessoa jurídica. 
PESSOA JURÍDICA 
Ente a que a ordem jurídica atribui personalidade distinta daquela de seus 
membros ou instituidores, sendo o termo personalidade aí compreendido na 
sua acepção de aptidão para ser titular de direitos e obrigações. 
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SCHREIBER, 2018 
Anderson Schreiber (2018, p. 98) também faz uma importante distinção entre 
as pessoas humanas e as jurídicas: “enquanto as pessoas humanas são fins 
em si mesmas, as pessoas jurídicas consistem em um dos muitos instrumentos 
jurídicos colocados a serviço das pessoas humanas.” 
ATENÇÃO 
A adoção da teoria da personalidade jurídica é essencial para 
compreendermos a atuação do poder público e sua organização. Afinal, sua 
principal consequência é de que as pessoas físicas, quando agem em nome do 
Estado, imputam a este a sua vontade, não se confundindo com suas 
manifestações pessoais. 
A partir daí, surge também a teoria do órgão, desenvolvida por Otto Gierke 
(1841-1921), que faz uma analogia entre o Estado e o corpo humano. Como o 
Estado atua por meio dos agentes públicos que integram os órgãos públicos, 
os órgãos são parcelas do “todo” — o Estado —, e por isso a atuação destes 
agentes é imputada à respectiva pessoa estatal. 
Destaque-se que o órgão público não possui personalidade jurídica, sendo, 
portanto, entes despersonalizados, cuja atuação, como foi dito, é imputada à 
pessoa jurídica que integram. Esses conceitos e essas distinções são 
essenciais no estudo da responsabilidade civil do Estado. 
 
Fonte: Stokkete/Shutterstock 
DICA 
Caso uma pessoa queira ajuizar uma ação para pleitear reparação em razão 
de danos sofridos pela atuação de um servidor de uma secretaria municipal, 
por exemplo, ela não deve ir ao Judiciário contra o servidor, nem contra a 
secretaria (que não possui personalidade jurídica), mas sim contra o Município, 
pessoa jurídica titular de direitos e deveres, apta a figurar em uma relação 
processual. 
O ordenamento jurídico brasileiro previu expressamente a personalidade 
jurídica do Estado e, por consequência, dos entes federativos que compõem a 
Federação Brasileira, no art. 40 e no art. 41 do Código Civil. 
ART. 40 
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As pessoas jurídicas são de direito público, interno ou externo, e de direito 
privado. 
ART. 41 
São pessoas jurídicas de direito público interno: I - a União; II - os Estados, o 
Distrito Federal e os Territórios; III - os Municípios; IV - as autarquias, inclusive 
as associações públicas; V - as demais entidades de caráter público criadas 
por lei. Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, as pessoas jurídicas de 
direito público, a que se tenha dado estrutura de direito privado, regem-se, no 
que couber, quanto ao seu funcionamento, pelas normas deste Código. 
VERIFICANDO O APRENDIZADO 
1. A RESPEITO DA FORMAÇÃO E DOS ELEMENTOS DO 
ESTADO, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA: 
O Estado Antigo é marcado pelo feudalismo. 
Apenas nos últimos séculos é que o ser humano passou a viver em 
comunidade. 
As primeiras formas de Estado eram marcadas pela representação 
democrática e separação de poderes. 
Um dos elementos constitutivos do Estado é o povo, que não se confunde com 
o conceito de população. 
2. A RESPEITO DA SOBERANIA, MARQUE A ALTERNATIVA 
CORRETA: 
Ela é marcada pela divisibilidade. 
É possível haver mais de um poder soberano dentro do mesmo Estado. 
Ela é imprescritível, pois não há prazo de validade para a sua manifestação. 
Ao longo da história, ela sempre foi titularizada pelo povo. 
GABARITO 
1. A respeito da formação e dos elementos do Estado, assinale a 
alternativa correta: 
A alternativa "D " está correta. 
 
 
Conforme estudamos, o povo é um dos elementos essenciais à existência do 
Estado e não se confunde com o conceito de população. Este é um conceito 
puramente demográfico, enquanto a noção de povo está relacionada à 
nacionalidadedos indivíduos. 
2. A respeito da soberania, marque a alternativa correta: 
A alternativa "C " está correta. 
 
 
A soberania é um dos elementos constitutivos do Estado e dentre as suas 
principais características está a imprescritibilidade, ou seja, não há prazo de 
validade para a sua manifestação. A soberania é sempre exercida com a 
pretensão de ser permanente, sem prazo, assim como a existência do Estado, 
que só é interrompida por algum evento revolucionário, ou força maior. 
MÓDULO 2 
 
Relacionar os poderes do Estado e suas competências legislativas 
PODER CONSTITUINTE 
Vimos que um dos elementos constitutivos do Estado é a soberania, 
titularizada pelo povo, conforme expresso na nossa Constituição Federal de 
1988. Esse é justamente o ponto de partida para estudarmos o tema do poder 
constituinte. Ele consiste no poder de elaborar uma nova Constituição, que é a 
Lei Maior de um Estado e que será o fundamento de todo o ordenamento 
jurídico. 
Ao estudar os elementos constitutivos do Estado, nós também 
diferenciamos nação e povo. Esses conceitos são importantes para 
entendermos a evolução histórica das teorias a respeito da titularidade do 
poder constituinte: 
 
Fonte: Notbad/Shutterstock 
Nos séculos XVIII e XIX prevaleceu a ideia de que a nação seria titular do 
poder constituinte. Isso se deu no contexto da Revolução Francesa, que atacou 
a ideia de que todo o poder emanaria do rei. 
 
Contudo, prevaleceu a tese da soberania popular, segundo a qual o poder 
constituinte tem como titular o povo. Isso está claro no preâmbulo e no art. 1º 
da nossa Constituição quando menciona expressamente os representantes do 
povo, como vimos no módulo 1. Segundo Luís Roberto Barroso (2017, p. 145), 
“a teoria democrática se fixou na concepção de que a soberania é do povo”. 
 
Fonte: Nobelus/Shutterstock 
ATENÇÃO 
Apesar de a titularidade ser do povo, o poder constituinte é exercido pelos 
agentes eleitos. É o caso de parlamentares que são democraticamente eleitos 
para integrar uma Assembleia Constituinte. 
ESPÉCIES DE PODER 
CONSTITUINTE 
 
Fonte: Autor 
A doutrina tradicionalmente classifica o poder constituinte 
como originário e derivado. 
O poder constituinte originário é aquele que dá início a uma nova 
Constituição, fundando um novo ordenamento jurídico. Ele rompe com a ordem 
anterior, fundando uma nova. 
O poder constituinte derivado é aquele que se manifesta por intermédio de 
modificações feitas na Constituição. Por isso, ele também é chamado de 
reformador ou de segundo grau. 
Vamos, então, analisar a seguir as principais características de cada um deles. 
PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO 
As principais características do poder constituinte originário (SOUZA NETO; 
SARMENTO, 2017, p. 252-261) são: 
INICIAL 
Ele funda uma nova ordem jurídica por meio da criação de uma nova 
Constituição. Essa característica coloca a Constituição no topo da ordem 
jurídica e tem como consequência jurídica a hierarquização das normas do 
ordenamento jurídico. Dessa maneira, todas as leis posteriormente editadas 
devem estar em consonância com a Constituição, que é o fundamento de 
validade de todos os atos normativos. 
ILIMITADO 
Não precisa respeitar limites existentes no direito anterior. Esse caráter 
juridicamente ilimitado tem sido alvo de ressalvas por parte da doutrina. 
Parcela da doutrina coloca como limite o direito natural, outros os direitos 
humanos ou os princípios suprapositivos de justiça. Daniel Sarmento defende 
que o poder constituinte originário se sujeita aos valores historicamente 
sedimentados e necessários à garantia de um respeito mínimo aos direitos 
humanos e à democracia. A doutrina majoritária, porém, ainda defende o seu 
caráter ilimitado sem quaisquer condicionamentos. O Supremo Tribunal 
Federal também tem rejeitado os argumentos que buscam questionar normas 
originárias da Constituição (ADI 815). 
INCONDICIONADO 
Não se sujeita a qualquer regra procedimental. Se a Constituição é fundamento 
do novo ordenamento que se inaugura, em princípio não haveria sentido em 
observar regras previamente existentes para o seu exercício. Daniel Sarmento, 
contudo, faz algumas ponderações. Ele defende a necessidade de se ter um 
procedimento democrático, tendo em vista que o seu titular é o povo. Sob essa 
perspectiva, devem ser rejeitados procedimentos autoritários como a outorga 
unilateral de uma Constituição ou a sua imposição por países estrangeiros. 
INDIVISÍVEL 
Do mesmo modo que a soberania é una e indivisível — conforme visto no 
módulo anterior —, assim também deve ser o poder constituinte originário. 
Afinal, este é uma das formas de manifestação da soberania. 
Isso tem interessantes consequências práticas, como na discussão — por 
vezes ventilada no Brasil — em torno de se aceitar ou não uma assembleia 
constituinte parcial. Há quem defenda essa possibilidade sob o argumento de 
que a soberania popular pode decidir romper com apenas uma parte da ordem 
constitucional. Parcela da doutrina que aborda o assunto, contudo, vê com 
ressalvas essa possibilidade, diante do risco de ocorrer uma fraude à 
Constituição mascarada pelo exercício do poder constituinte. Para que uma 
constituinte parcial ocorresse, seria preciso um forte engajamento popular, que 
caracterizasse um “momento constituinte” apto a tornar legítima essa 
manifestação parcial do poder constituinte. Não é, porém, o que se observa no 
Brasil, onde a ideia tem sido tratada nos bastidores da política, sem ampla 
discussão ou apelo popular. 
PERMANENTE 
Possui essa característica, pois pode se manifestar a qualquer momento. Ainda 
que haja uma nova Constituição fruto do poder constituinte originário, ele pode 
voltar a se manifestar no futuro. É por isso que, após uma nova Constituição 
ser elaborada, o poder constituinte não se extingue, mas permanece em estado 
de latência. 
Dentre as suas características, existe controvérsia a respeito de ser um poder 
de fato ou de direito. Para a corrente positivista, ele seria um poder de fato, que 
se impõe sem fundamento em qualquer ordem jurídica anterior e, muitas vezes, 
o faz pela força, a depender do processo histórico em curso. Já para a corrente 
jusnaturalista, que enxerga o poder constituinte originário com fundamento no 
direito natural, ele seria um poder de direito. 
Daniel Sarmento defende que o poder constituinte originário não é apenas 
um poder de fato, mas também de direito. Nesse sentido, ele afirma: 
NÃO HÁ DÚVIDA DE QUE O PODER 
CONSTITUINTE ORIGINÁRIO É UM PODER 
EMINENTEMENTE POLÍTICO, QUE, COMO JÁ 
RESSALTADO, NÃO ATUA SEGUINDO OS 
PROCEDIMENTOS E OBSERVANDO OS 
LIMITES DITADOS PELA ORDEM JURÍDICA 
QUE O ANTECEDEU. SEM EMBARGO, 
APESAR DA SUA DIMENSÃO POLÍTICA, ELE 
TAMBÉM PERTENCE À ESFERA DO DIREITO, 
UMA VEZ QUE, COMO JÁ SALIENTAMOS 
ANTERIORMENTE, NÃO É ONIPOTENTE, 
ESTANDO SUJEITO A LIMITES E 
CONDICIONAMENTOS NÃO SÓ SOCIAIS, 
COMO TAMBÉM JURÍDICOS, ATINENTES AO 
RESPEITO AO CONTEÚDO MÍNIMO DOS 
DIREITOS HUMANOS E À OBSERVÂNCIA DE 
PROCEDIMENTO DEMOCRÁTICO NA 
ELABORAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO. 
SARMENTO, 2017 
PODER CONSTITUINTE DERIVADO 
Conforme vimos, o poder constituinte derivado é aquele que se manifesta a 
partir de alterações feitas na Constituição em vigor. Por isso, ele também é 
chamado de “reformador” ou de “segundo grau”. Suas principais características 
são: 
DERIVADO 
É instituído pelo poder constituinte originário. 
JURIDICAMENTE LIMITADO 
Deve respeitar as limitações estabelecidas pela Constituição em vigor. O poder 
constituinte originário impõe condicionantes para a reforma constitucional que 
precisam ser respeitadas. 
CONDICIONADO 
Deve respeitar as formas e os procedimentos previamente definidos para sua 
manifestação. 
Ele se subdivide em poder constituinte derivado reformador e poder 
constituinte derivado decorrente: 
PODER CONSTITUINTE DERIVADO REFORMADOR 
É responsável pelas alterações formalmenterealizadas no texto da 
Constituição Federal. Tais alterações devem seguir um trâmite mais rígido do 
que o de elaboração das leis ordinárias, já que a Constituição protege direitos 
fundamentais e decisões políticas fundamentais que não podem ficar ao 
alvedrio de maiorias ocasionais. Cria-se, porém, uma tensão: facilitar demais 
essas alterações no texto constitucional pode banalizar as regras e os 
princípios consagrados na Constituição. Por outro lado, dificultá-lo em excesso 
é antidemocrático e cria instabilidades, pois dificulta a harmonia entre as 
normas constitucionais e a realidade que elas buscam disciplinar. 
Nesse contexto, a Constituição Federal de 1988 estabeleceu, em seu art. 60, 
diversos limites e condicionantes para sua alteração, entre elas as 
famosas cláusulas pétreas. Vejamos: 
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 Não é qualquer cidadão nem qualquer parlamentar que pode apresentar 
uma proposta de emenda à Constituição. A iniciativa de emenda à 
Constituição é reservada a: um terço, no mínimo, dos membros da Câmara 
dos Deputados ou do Senado Federal; ao Presidente da República; de mais 
da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação, 
manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros. 
 Limitação Circunstancial: a Constituição não poderá ser emendada na 
vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio. 
 Limitação Temporal/Procedimental: a matéria constante de proposta de 
emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova 
proposta na mesma sessão legislativa. 
 Cláusulas Pétreas: são limitações materiais ao poder constituinte 
reformador. Assim, não será objeto de deliberação a proposta de emenda 
tendente a abolir a forma federativa de Estado; o voto direto, secreto, 
universal e periódico; a separação dos poderes; os direitos e as garantias 
individuais. 
As cláusulas pétreas são um pré-compromisso assumido no momento de 
manifestação do poder constituinte originário de forma a preservar valores que 
compõem a essência da Constituição, a sua identidade. 
Diante dessas limitações, uma eventual proposta de emenda à 
Constituição que tenda a abolir a cláusula pétrea deve ser reconhecida 
como inconstitucional. 
PODER CONSTITUINTE DERIVADO DECORRENTE 
Manifesta-se na elaboração e reforma do texto das Constituições Estaduais. 
Observe que, em se tratando de Constituições dos Estados, mesmo a 
elaboração do seu texto originário é caracterizada como poder constituinte 
decorrente, e, portanto, derivado. Afinal, as Constituições Estaduais estão 
submetidas ao art. 25 da Constituição Federal, lei maior do ordenamento 
jurídico: “Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que 
adotarem, observados os princípios desta Constituição”. 
HÁ PODER CONSTITUINTE 
DECORRENTE NO ÂMBITO MUNICIPAL? 
 
RESPOSTA 
Os Municípios podem elaborar suas Leis Orgânicas, conforme autorizado pelo 
art. 29 da Constituição Federal, mas há controvérsia se seriam ou não 
manifestação do poder constituinte decorrente. A seu favor, apontam-se a auto-
organização municipal e o quórum qualificado para a aprovação da Lei 
Orgânica. Em sentido contrário, afirma-se que, como ela precisa observar, 
além da Constituição Federal, também a Constituição Estadual, não haveria 
manifestação do poder constituinte decorrente. Daniel Sarmento defende a 
equiparação da Lei Orgânica à Constituição Estadual (SOUZA NETO; 
SARMENTO, 2017, p. 339). 
Assista ao vídeo a seguir para saber mais sobre limitações ao poder 
constituinte derivado. 
 
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MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL 
Estudamos os limites formais às mudanças do texto constitucional. Contudo, 
pode existir mudança na Constituição sem alteração do seu texto: é a 
chamada mutação constitucional. Trata-se de uma alteração por via informal, 
em razão da plasticidade de inúmeras normas constitucionais (BARROSO, 
2017, p. 160-163): 
[...] A ALTERAÇÃO DO SIGNIFICADO DE 
DETERMINADA NORMA DA CONSTITUIÇÃO, 
SEM OBSERVÂNCIA DO MECANISMO 
CONSTITUCIONALMENTE PREVISTO PARA 
AS EMENDAS E, ALÉM DISSO, SEM QUE 
TENHA HAVIDO QUALQUER MODIFICAÇÃO 
DE SEU TEXTO. ESSE NOVO SENTIDO OU 
ALCANCE DO MANDAMENTO 
CONSTITUCIONAL PODE DECORRER DE UMA 
MUDANÇA NA REALIDADE FÁTICA OU DE 
UMA NOVA PERCEPÇÃO DO DIREITO, UMA 
RELEITURA DO QUE DEVE SER 
CONSIDERADO ÉTICO OU JUSTO. PARA QUE 
SEJA LEGÍTIMA, A MUTAÇÃO PRECISA TER 
LASTRO DEMOCRÁTICO, ISTO É, DEVE 
CORRESPONDER A UMA DEMANDA SOCIAL 
EFETIVA POR PARTE DA COLETIVIDADE, 
ESTANDO RESPALDADA, PORTANTO, PELA 
SOBERANIA POPULAR. 
BARROSO, 2017 
Um exemplo diz respeito ao limite de idade para inscrição em concursos 
públicos. Antigamente, admitia-se a vedação à inscrição de pessoas com mais 
de 45 ou 50 anos. Nos dias atuais, essa discriminação não é mais aceita, 
entendendo-se que não possui razoabilidade. 
DIVISÃO DE PODERES 
A divisão de poderes busca evitar excessos e autoritarismos por parte do 
Estado, a partir de um sistema de freios e contrapesos. É um dos pilares do 
constitucionalismo moderno. 
Sem a separação de poderes, se fossem as mesmas pessoas com a função de 
governar, legislar e julgar, seriam muito maiores as chances de se ter um 
déspota, um tirano, colocando em risco as liberdades individuais e os direitos 
fundamentais dos cidadãos. Além disso, uma pessoa que faz tudo, que 
concentra todas essas competências, não vai conseguir fazer nada bem. No 
mundo contemporâneo, há uma tendência à especialização como maneira de 
aumentar a qualidade do trabalho. Ela possui, então, duas funções essenciais: 
Limitação do poder em prol da liberdade dos governados. 
Especialização do exercício do poder em prol de mais eficiência no exercício 
das funções públicas. 
Barroso (2017, p. 211) fala da necessidade de independência orgânica de cada 
um dos poderes em face dos demais, o que exige três requisitos: 
1. Uma mesma pessoa não poderá ser membro de mais de um Poder ao 
mesmo tempo. 
2. Um Poder não pode destituir os integrantes de outro por força de decisão 
exclusivamente política. 
3. A cada Poder são atribuídas, além de suas funções típicas ou privativas, 
outras funções (chamadas normalmente de atípicas), como reforço de sua 
independência frente aos demais poderes. 
Nesse contexto, surge a divisão tripartida de poderes: 
PODER LEGISLATIVO 
PODER EXECUTIVO 
https://stecine.azureedge.net/repositorio/o_estado_no_setor_publico_e_a_constituicao/index.html#collapse-steps5
https://stecine.azureedge.net/repositorio/o_estado_no_setor_publico_e_a_constituicao/index.html#collapse-steps6
PODER JUDICIÁRIO 
Função de editar leis, que são normas gerais, abstratas e impessoais. 
Função tipicamente administrativa. 
Função típica de aplicar as normas jurídicas e defender a Constituição. 
É importante ressaltar que essa separação de poderes não é absoluta. Cada 
Poder possui funções típicas e também atípicas. 
A função típica de um Poder é a sua função tida como principal, predominante. 
Ex.: a função típica do Poder Legislativo é a de editar leis; a do Judiciário é de 
julgar e aplicar essas leis. 
Já as funções atípicas são aquelas que fogem à função principal daquele 
Poder e que, por vezes, aproximam-se da função típica dos outros poderes. 
EXEMPLO 
O Poder Legislativo, excepcionalmente, pode exercer a função de julgar, como 
ocorre nos casos de impeachment, conforme prevê o art. 52 da Constituição 
Federal; o Poder Judiciário, por sua vez, também exerce competências 
administrativas de organização interna que se distanciam da sua função típica 
de julgar — por exemplo, é o que ocorre quando realiza concursos públicos 
para a contratação de servidores e quando celebra contratos administrativos 
para a obtenção de produtos ou serviços. Do mesmo modo, o Poder Executivo, 
ao editar medidas provisórias, exerce uma função atípica de legislar. 
ART. 52 
Compete privativamente ao Senado Federal:I. Processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos 
crimes de responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os 
Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da 
mesma natureza conexos com aqueles; 
https://stecine.azureedge.net/repositorio/o_estado_no_setor_publico_e_a_constituicao/index.html#collapse-steps7
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II. Processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal, os membros 
do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério 
Público, o Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral da União nos 
crimes de responsabilidade. 
Esse arranjo institucional busca um equilíbrio entre os poderes, conhecido 
como checks and balances, a fim de garantir o seu funcionamento harmônico. 
CHECKS AND BALANCES 
Sistema conhecido como Freios e Contrapesos. 
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS 
 
Fonte: Wikipédia 
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O Brasil é uma Federação e, como tal, composto por entes federativos 
autônomos. É indispensável, portanto, que haja uma repartição de 
competências entre eles, inclusive legislativas. 
O princípio norteador dessa repartição de competências é o da predominância 
de interesse. Dessa maneira, o constituinte buscou conferir à União a 
competência para as matérias de interesse nacional, aos Estados as de 
interesse regional e aos Municípios os assuntos de interesse local (art. 30). 
A Constituição Federal começa por enumerar as competências legislativas da 
União em: 
PRIVATIVAS 
O art. 22 estabelece que sejam aquelas atribuídas a um ente, mas que podem 
ser delegadas ou suplementadas. Assim, por exemplo, cabe apenas à União 
legislar sobre direito civil e populações indígenas. 
CONCORRENTES 
O art. 24 estabelece que diversos entes possam legislar sobre o assunto, 
respeitando-se a competência da União para editar normas gerais. 
SUPLEMENTARES 
O art. 24, nos parágrafos 2º e 3º, estabelece que, no caso de inexistir lei federal 
sobre normas gerais, confere aos Estados a possibilidade de exercerem a 
competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. 
O Supremo Tribunal Federal, em suas decisões, tem definido os limites 
dessas competências constitucionalmente atribuídas aos entes federativos. O 
Tribunal já entendeu, por exemplo, que são constitucionais as leis estaduais 
que fixam número máximo de alunos por sala de aula (ADI 4060), bem como 
as que obrigam ônibus a serem adaptados aos portadores de necessidades 
especiais, por entender que isso se insere na esfera de competência para a 
regulamentação do Estado (ADI 903). 
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Fonte: OSTILL is Franck Camhi/Shutterstock 
Além das competências legislativas, a Constituição também estabelece uma 
repartição de competências administrativas entre os entes federativos. Essa 
competência administrativa refere-se às matérias atribuídas a cada ente na 
implementação de suas políticas públicas e de sua organização administrativa. 
São matérias voltadas especialmente para o gestor, ou seja, ao Poder 
Executivo, que é o Poder que detém a competência típica de gestão e de 
administração, conforme já estudamos no tópico da separação de poderes. 
 SAIBA MAIS 
Algumas competências são reservadas privativamente à União, como a 
declaração de guerra e a emissão de moeda (art. 21, II e VII da Constituição). 
Outras são conferidas a todos os entes, sendo chamadas de competências 
comuns, previstas no art. 23 da Constituição, como é o caso da proteção do 
meio ambiente, por exemplo. Assim, União, Estados e Municípios podem atuar 
concretamente e implementar políticas públicas para proteger o meio ambiente, 
como geralmente ocorre por meio de órgãos e secretarias especializadas (é 
muito comum os entes terem uma Secretaria de Meio Ambiente). O art. 30 
também menciona competências administrativas dos Municípios, sempre 
voltadas ao interesse local. 
VERIFICANDO O APRENDIZADO 
1. (ANO: 2019 BANCA: INSTITUTO AOCP ÓRGÃO: PC - ES 
PROVA: INSTITUTO AOCP - 2019 – PC - ES - ESCRIVÃO DE 
POLÍCIA) O PODER CONSTITUINTE É A MANIFESTAÇÃO 
SOBERANA DA SUPREMA VONTADE POLÍTICA DE UM 
POVO, SOCIAL E JURIDICAMENTE ORGANIZADO. A 
RESPEITO DO PODER CONSTITUINTE, É CORRETO 
AFIRMAR QUE: 
O poder constituinte derivado não está preso a limites formais. 
O poder constituinte originário está previsto e regulado no texto da própria 
Constituição. 
O poder constituinte derivado pode manifestar-se na criação de um novo 
Estado ou na refundição de um Estado. 
O poder constituinte originário é permanente, eis que não se esgota no 
momento de seu exercício, podendo ser convocado a qualquer momento pelo 
povo. 
2. (ANO: 2018 BANCA: CESPE / CEBRASPE ÓRGÃO: SEFAZ-
RS PROVA: CESPE - 2018 - SEFAZ-RS - ASSISTENTE 
ADMINISTRATIVO FAZENDÁRIO) EMENDA À CONSTITUIÇÃO 
CONSISTE EM UMA: 
Reforma, oriunda do poder constituinte decorrente. 
Reforma, oriunda do poder constituinte derivado. 
Revisão, oriunda do poder constituinte originário. 
Revisão, atribuída ao Supremo Tribunal Federal, que tem o poder de julgar a 
proposta que a originou. 
GABARITO 
1. (Ano: 2019 Banca: INSTITUTO AOCP Órgão: PC - ES Prova: INSTITUTO 
AOCP - 2019 – PC - ES - Escrivão de Polícia) O poder constituinte é a 
manifestação soberana da suprema vontade política de um povo, social e 
juridicamente organizado. A respeito do poder constituinte, é correto 
afirmar que: 
A alternativa "D " está correta. 
 
 
Conforme estudamos no módulo 2, o poder constituinte originário, mesmo após 
sua manifestação, continua existindo em estado de latência. Ele não se esgota 
e pode voltar a ser exercido pelo povo em um novo momento constitucional. 
2. (Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: SEFAZ-RS Prova: 
CESPE - 2018 - SEFAZ-RS - Assistente Administrativo Fazendário) 
Emenda à Constituição consiste em uma: 
A alternativa "B " está correta. 
 
 
A emenda à Constituição consiste em uma alteração do texto constitucional, 
devendo obedecer a todas as limitações que lhe são impostas pelo seu texto 
originário. Ela é fruto, portanto, do poder constituinte derivado. 
CONCLUSÃO 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Ao longo do nosso estudo, analisamos as origens do Estado e os diferentes 
processos históricos que levaram ao surgimento do Estado Moderno. Vimos 
também seus elementos constitutivos e conceitos essenciais como povo, 
território, soberania, nação e cidadania. 
Em seguida, estudamos a manifestação do poder constituinte e sua relação 
com o surgimento e a alteração das Constituições, o que é essencial para se 
compreender a organização do Estado e suas consequências para a 
democracia. 
Em uma democracia, em que o povo é o titular da soberania, é essencial limitar 
o poder do Estado, de modo a evitar tiranias e desrespeito aos direitos 
fundamentais. Para isso, as Constituições têm instituído a separação de 
poderes, manifestada a partir dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. 
Por fim, estudamos as competências legislativas sob a ótica da nossa 
Federação, composta por entes autônomos. 
Dessa maneira, pudemos compreender melhor o papel do Estado dentro da 
nossa democracia, o que é essencial não apenas para aqueles que integram a 
estrutura da Administração Pública, mas para todos os cidadãos. 
 
AVALIAÇÃO DO TEMA: 
REFERÊNCIAS 
BARROSO, L. R. Curso de direito constitucional contemporâneo: os 
conceitos fundamentais e a construção de um novo modelo. 6. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2017. 
BRASIL. Casa Civil. Constituição da República Federativa do Brasil de 
1988. Brasília, 1988. 
BRASIL. Casa Civil. Decreto nº 64.362, de 17 de abril de 1969. Promulga o 
Tratado sobre Exploração e Uso do Espaço Cósmico. Brasília, 1969. 
BRASIL. Casa Civil. Lei nº 4.717, de 29 de junho de 1965. Regula a ação 
popular. Brasília, 1965. 
BRASIL. Casa Civil. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código 
Civil. Brasília, 2002. 
DALLARI, D. A. Elementosde teoria geral do Estado. 30. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2011. 
SCHREIBER, A. Manual de direito civil contemporâneo. São Paulo: Saraiva 
Educação, 2018. 
SOUZA NETO, C. P.; SARMENTO, D. Direito Constitucional: teoria, história e 
métodos de trabalho. 2. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2017. 
 
EXPLORE+ 
Pesquise e leia os seguintes artigos: 
 Separação dos poderes e sistema de freios e contrapesos: desenvolvimento 
no Estado brasileiro, de Maurílio Maldonado. 
 A repartição de competências na Constituição de 1988, de Paulo Mohn. 
 
CONTEUDISTA 
Elias Suzano Mendes 
CURRÍCULO LATTES 
 
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