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POLÍTICAS EDUCACIONAIS AULA 3 Profª Aline Chalus Vernick Carissimi 02 CONVERSA INICIAL A temática a ser tratada nesta parte do material refere-se à organização dos sistemas de ensino na educação brasileira. Essa abordagem é importante para a construção do conhecimento sobre a organização do ensino brasileiro a partir de redes e sistemas de ensino, que são responsáveis pela oferta educacional e pelo conjunto de escolas públicas ou privadas em cada ente federado. Nesse sentido, discutiremos: A composição dos sistemas de ensino; Gestão da escola e gestão dos sistemas; O papel dos Conselhos de educação; A busca pela construção de um sistema nacional articulado; O PNE e os planos de educação. CONTEXTUALIZANDO O sistema de ensino brasileiro é organizado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n. 9.394/1996, por meio do art. 8º: Art. 8º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão, em regime de colaboração, os respectivos sistemas de ensino. § 1º Caberá à União a coordenação da política nacional de educação, articulando os diferentes níveis e sistemas e exercendo função normativa, redistributiva e supletiva em relação às demais instâncias educacionais. § 2º Os sistemas de ensino terão liberdade de organização nos termos desta Lei. Como observamos, existe entre os entes federados um regime de colaboração para atendimento da educação básica. No entanto, cada sistema de ensino realiza a gestão de seus sistemas a partir de mecanismos de gestão que garantem o princípio democrático nos sistemas públicos de ensino, tais como conselhos de educação e planos de educação. Saiba mais Para compreender melhor o papel da democracia na organização dos sistemas de ensino no Brasil, assista ao vídeo a seguir: Programa Salto para o Futuro entrevista sobre Gestão democrática da escola e do sistema de ensino com os professores Maria Beatriz Luce, da UFRGS; Maria Tereza Goudard, da UERJ, e Marcelo Soares Pereira Silva, da UFU. 03 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=BDr1FLvUe5Y> Acesso em: 7 ago. 2017. TEMA 1 – A COMPOSIÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO A composição dos sistemas de ensino no Brasil, como já mencionado, obedece ao regime de colaboração estabelecido entre os entes federados, portanto organiza-se a partir de uma pacto federativo no qual os governos federal, estaduais e municipais são responsáveis pelo atendimento de cada nível de ensino, conforme destaca a LDB n. 9.394/1996. Vejamos: Art. 9º A União incumbir-se-á de: I - elaborar o Plano Nacional de Educação, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; II - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais do sistema federal de ensino e o dos Territórios; III - prestar assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios para o desenvolvimento de seus sistemas de ensino e o atendimento prioritário à escolaridade obrigatória, exercendo sua função redistributiva e supletiva; IV - estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, competências e diretrizes para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação básica comum; IV- estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, diretrizes e procedimentos para identificação, cadastramento e atendimento, na educação básica e na educação superior, de alunos com altas habilidades ou superdotação; V - coletar, analisar e disseminar informações sobre a educação; VI - assegurar processo nacional de avaliação do rendimento escolar no ensino fundamental, médio e superior, em colaboração com os sistemas de ensino, objetivando a definição de prioridades e a melhoria da qualidade do ensino; VII - baixar normas gerais sobre cursos de graduação e pós-graduação; VIII - assegurar processo nacional de avaliação das instituições de educação superior, com a cooperação dos sistemas que tiverem responsabilidade sobre este nível de ensino; IX - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de educação superior e os estabelecimentos do seu sistema de ensino. § 1º Na estrutura educacional, haverá um Conselho Nacional de Educação, com funções normativas e de supervisão e atividade permanente, criado por lei. § 2° Para o cumprimento do disposto nos incisos V a IX, a União terá acesso a todos os dados e informações necessários de todos os estabelecimentos e órgãos educacionais. § 3º As atribuições constantes do inciso IX poderão ser delegadas aos Estados e ao Distrito Federal, desde que mantenham instituições de educação superior. Nesse sentido, observamos que a União (governo federal) tem a responsabilidade de organizar o sistema nacional, baixando normas e elaborando o Plano Nacional de Educação (que deverá ser desdobrado em cada sistema de ensino) e as Diretrizes Curriculares, assegurar o processo de avaliação da 04 educação básica, além do compromisso de prestar toda assistência técnica e financeira aos estados e municípios. Toda a organização do ensino superior, público ou privado, abrangendo autorização, reconhecimento, credenciamento e supervisão, fica a cargo do governo federal. As responsabilidades dos estados estão indicadas no artigo 10, conforme segue: Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de: I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus sistemas de ensino; II - definir, com os Municípios, formas de colaboração na oferta do ensino fundamental, as quais devem assegurar a distribuição proporcional das responsabilidades, de acordo com a população a ser atendida e os recursos financeiros disponíveis em cada uma dessas esferas do Poder Público; III - elaborar e executar políticas e planos educacionais, em consonância com as diretrizes e planos nacionais de educação, integrando e coordenando as suas ações e as dos seus Municípios; IV - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de educação superior e os estabelecimentos do seu sistema de ensino; V - baixar normas complementares para o seu sistema de ensino; VI - assegurar o ensino fundamental e oferecer, com prioridade, o ensino médio a todos que o demandarem, respeitado o disposto no art. 38 desta Lei; VII - assumir o transporte escolar dos alunos da rede estadual. Parágrafo único. Ao Distrito Federal aplicar-se-ão as competências referentes aos Estados e aos Municípios. Como podemos verificar, os estados são responsáveis pela oferta do ensino fundamental e, com prioridade, do ensino médio, além de organizar e manter todas as instituições que ficam sob o compromisso do seu sistema de ensino, portanto cabe a eles organizar diretrizes curriculares e planos de educação, além de autorizar, supervisionar e credenciar os estabelecimentos de seu sistema de ensino. Sobre os municípios, podemos observar que: Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão de: I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus sistemas de ensino, integrando-os às políticas e planos educacionais da União e dos Estados; II - exercer ação redistributiva em relação às suas escolas; III - baixar normas complementares para o seu sistema de ensino; IV - autorizar, credenciar e supervisionar os estabelecimentos do seu sistema de ensino; V - oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas, e, com prioridade, o ensino fundamental, permitida a atuação em outros níveis de ensino somente quando estiverem atendidas plenamente as necessidades de sua área de competência e com recursos acima dos percentuais mínimos vinculados pela Constituição Federal à manutenção e desenvolvimento do ensino. VI - assumir o transporte escolar dos alunos da rede municipal. 05 Parágrafo único. Os Municípios poderão optar, ainda, por seintegrar ao sistema estadual de ensino ou compor com ele um sistema único de educação básica. Diante do mencionado verificamos que os municípios são responsáveis pela oferta da educação infantil e, com prioridade, do ensino fundamental, organizando e baixando normatizações para todos os estabelecimentos sob sua jurisdição. TEMA 2 – GESTÃO DA ESCOLA E GESTÃO DOS SISTEMAS A gestão é um processo político e administrativo que envolve o modo de organizar e acompanhar adequadamente os encaminhamentos dados para as ações que são necessárias para o funcionamento de uma instituição ou um sistema de ensino. Quando pensamos na gestão, mais especificamente da educação pública, pensamos que ela é composta pelas ideias de democracia e participação colegiada. A gestão da escola pública, bem como dos sistemas de ensino, deve ter como princípio a gestão democrática, uma vez que, tratando-se de um espaço público, este deve ser democrático e participativo, pautado na concepção de que os sujeitos envolvidos neste mesmo espaço conheçam seus problemas e as causas desses problemas. Encaminha-se, para tanto, um processo de planejamento coletivo, tomada de decisões, acompanhamento das ações e avaliação do processo e do resultado do trabalho realizado, tomando sempre o cuidado de levar em conta o princípio da democracia, subentendendo-se que a tomada de decisão deve partir da maioria dos sujeitos que compõem a comunidade, e esta decisão, qualquer que seja, deve ser respeitada. A ideia de gestão democrática e participativa não é nova, uma vez que está indicada na Constituição Federal de 1988, sendo também fruto do pensamento de muitos educadores desde o fim dos anos 70 que se engajavam no movimento a favor da escola gratuita, universal e de qualidade. A LDB n. 9.394/1996 também se debruça sobre o aspecto da gestão citando que o ensino público brasileiro terá como base o princípio da gestão democrática, conforme consta: “Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de educação básica que os integram progressivos 06 graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas gerais de direito financeiro público”. A Constituição Federal de 1988 (CF/1988) apresenta no art. 206 os princípios sobre os quais se edificará o desenvolvimento do ensino do país, conforme segue: “Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: [...] VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; [...]” Administrar uma instituição ou um sistema de ensino requer a participação coletiva dos sujeitos nas escolas por meio dos conselhos escolares e nos sistemas de ensino por meio dos conselhos municipais e estaduais de educação, estes como espaços, em uma última instância, de decisões. Segundo Libâneo, “Não é preciso insistir que a prática da gestão e da direção participativas convergem para a elaboração do projeto pedagógico e assunção das responsabilidades de forma cooperativa e solidária” (2001, p.115). Portanto, a democratização implica refletir em torno do ambiente social em que a escola ou sistema de ensino se encontra inserida, com os diferentes aspectos culturais, sociais e econômicos trazidos pela sociedade, sendo imprescindível debater sobre as contradições e diferenças existentes, desenvolvendo o diálogo em torno das questões educacionais, pautadas no próprio contexto social. No desempenho da gestão democrática, é preciso garantir a liberdade de expressão para que o processo tenha a efetiva participação da coletividade. TEMA 3 – O PAPEL DOS CONSELHOS DE EDUCAÇÃO Conforme apresentado na temática anterior, os conselhos de educação têm como missão precípua a garantia do processo democrático na gestão dos sistemas. Os conselhos de educação, via de regra, devem ser efetivados nos sistemas de ensino como mecanismos deliberativos das normativas e da organização dos sistemas. Para Cury (2006), Um Conselho de Educação é, antes de tudo, um órgão público voltado para garantir, na sua especificidade, um direito constitucional da cidadania. Eis porque um conselheiro, membro desse órgão, ingressa no âmbito de um interesse público cujo fundamento é o direito à educação das pessoas que buscam a educação escolar. A educação escolar regular, distinta da educação livre, é regular porque está sub lege e seus certificados e diplomas possuem validade oficial. Suas funções, 07 voltadas para essa finalidade, são um múnus público, e devem ser levadas adiante por um órgão colegiado, formado por membros que se reúnem em uma colegialidade, horizontalmente organizada. Sob coordenação não hierárquica, todos os membros se situam no mesmo plano concorrendo, dentro da pluralidade própria de um Conselho, para a formação de uma vontade majoritária ou consensual do órgão. (p.41) Portanto, os conselhos municipais e estaduais de educação visam promover as oportunidades de desenvolver o fortalecimento da democracia e da gestão colegiada nos sistemas, uma vez que a gestão democrática se fundamenta na organização e na participação dos diversos segmentos que compõem a sociedade. Diante disso, é importante apresentar, mesmo que brevemente, uma noção de democracia. Para Camargo e Adrião (2003), citado por Amboni (2007), a democracia pode ser tomada como princípio e método do processo participativo: Como princípio, articula-se ao da igualdade, proporcionando a todos os integrantes do processo participativo a condição de sujeito, expressa no seu reconhecimento enquanto interlocutor válido. (...) Como método, deve garantir a cada um dos participantes igual poder de interferência e decisão, criando mecanismos que facilitem a consolidação de iguais possibilidades de opção e ação diante dos processos decisórios. (p.30) Cury (2006), ao analisar a gestão democrática, assim a descreve: A gestão democrática é o princípio que aponta para essa metodologia de um novo modo de administrar que se traduz pela comunicação, pelo envolvimento coletivo e pelo diálogo. A gestão democrática, enquanto temática histórica, nos move em direção contrária àquela mais difundida em nossa trajetória política onde os gestores se pautam ora por um movimento paternalista, ora por uma relação propriamente autoritária. (p.58) Portanto, é preciso entender a democracia não só como acesso, como prática desenvolvida junto à sociedade, e neste sentido a democracia como método de atuação dos conselhos de educação é princípio central para fazer com que as políticas previstas para a educação possam sair do papel e acontecer na realidade educativa, fazendo progredir e desenvolver ações que possibilitem uma maior abrangência de acesso a educação, bem como melhoria na própria qualidade. Portanto, de acordo com Cury (2006) O conselheiro como gestor normativo deve encaminhar orientações necessárias que têm a ver com a cultura dos estabelecimentos escolares e do próprio sistema de ensino do município. Tais orientações fazem parte intrínseca de sua função. Certamente esse encaminhamento, ao lado do estudo, investigação e da busca de interpretação, deve se abrir, em muitos aspectos, ao diálogo com as pessoas envolvidas ou interessadas e com os fatores situacionais da educação escolar, como é o caso das audiências públicas. Isso faz parte do princípio da gestão 08 democrática e deve impulsionar os Conselhos a exercerem um papel mais ativo nas diretrizes e nas ações operacionais que lhes cabem chamando os interessados à participação. (p. 56) Concluindo a temática, podemos dizer que o papel principal dos conselhos de educação é democratizar as relações de poder presentes nos espaços de disputas das políticas educacionais, que normatizam e organizam todas as diretrizes educativas de um ente federado. A dinâmica dos conselhos, portanto, está posta nos limites e possibilidades da atuação política dentro de um sistema de ensino.TEMA 4 – A BUSCA PELA CONSTRUÇÃO DE UM SISTEMA NACIONAL ARTICULADO Os debates em torno da criação de um sistema nacional de educação como organizativo da educação brasileira em meio aos inúmeros sistemas de educação, estaduais, municipais e federal, foram uma tentativa de se colocar num único centro a organização do ensino a partir de diretrizes, políticas e normativas que fossem desdobradas nos entes federados. A tentativa de se estabelecer um sistema único de ensino, ou seja, um sistema nacional de educação, foi uma das temáticas que envolveu a realização da primeira Conferência Nacional de Educação (CONAE), portanto seu desafio era a construção de um sistema nacional de educação, com temática Construindo o Sistema Nacional Articulado O objetivo principal da CONAE era elaborar um conjunto de ações para a educação escolar nacional desde a educação infantil até a pós-graduação, que deveriam ser traduzidas no Plano Nacional de Educação (PNE). Para Dourado (2014): Por isso, a Conae cumpre um importante papel político ao problematizar a necessidade do estabelecimento de diretrizes para a instituição de um sistema nacional de educação que possibilite a ação articulada entre os entes federados, a efetivação de planejamento sistemático, que, após avaliar o conjunto de ações, programas e planos em desenvolvimento, contribua para o estabelecimento de políticas de Estado, programas e ações que garantam organicidade entre as políticas educacionais no país, envolvendo os diferentes órgãos de gestão educacional (MEC, sistemas de ensino e instituições) e, ainda, destacando a necessária mediação entre o Estado, demandas sociais e o setor produtivo, de modo a se avançar na superação do cenário educacional, historicamente demarcado pela fragmentação ou superposição de ações e programas, pela centralização das políticas de organização e gestão da educação básica no país. (Dourado, 2014, p.9) 09 Ainda sobre a conferência, cabe destacar que estabeleceu um refinado processo democrático de participação, sendo a primeira realizada para debater as políticas para a educação totalmente financiada e convocada pelo Ministério da Educação (MEC), o qual proporcionou a participação de inúmeros segmentos da sociedade civil organizada (sindicatos, secretarias de educação, conselhos de educação, entidades representativas de estudantes e pais). Segundo Azevedo (2010, p.27), Vivenciamos mais uma etapa significativa da luta dos educadores e educadoras por condições adequadas aos processos de escolarização em todos os níveis. Refiro-me ao que está conduzindo à elaboração e à implementação do II Plano Nacional de Educação (II PNE), após a vigência da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de 1996, desencadeado sobretudo, com as amplas mobilizações municipais e estaduais que culminaram com a Conferência Nacional de Educação (Conae). Os principais eixos debatidos na 1ª Conferência Nacional de Educação no Brasil foram: 1. Papel do Estado na garantia do direito à educação de qualidade: organização e regulação da educação nacional; 2. Qualidade da educação, gestão democrática e avaliação; 3. Democratização de acesso, permanência e sucesso escolar; 4. Formação e valorização dos/das profissionais da educação; 5. Financiamento da educação e controle social; 6. Justiça social, educação e trabalho: inclusão, diversidade e igualdade. Para Dourado (2014), o debate em torno da necessidade de se estabelecer um sistema nacional de educação converge no sentido de instituir políticas, diretrizes e estratégias comuns aos diversos sistemas de educação espalhados pelo país, conforme destaca. Nessa direção, um dos grandes desafios à educação nacional refere-se à efetiva articulação entre os entes federados com vistas à construção de um SNE que garanta diretrizes nacionais comuns, políticas articuladas e universais. Assim, ao Sistema Nacional de Educação caberá o papel de articulador, normatizador, coordenador geral da educação nacional, por meio de um fórum nacional, visando garantir finalidades, diretrizes e estratégias educacionais comuns e, ao mesmo tempo, as especificidades próprias de cada um. Assim, o esforço de construção do SNE articula-se ao desafio de avaliação e proposição de novo PNE, como expressão de política de Estado para a área. (Dourado, 2014, p. 9) 010 Cabe compreender que a instituição de um sistema nacional precisa ter como princípio de estruturação o reconhecimento do regime de colaboração entre os entes federados, o que, nesse sentido, torna-se uma grande desafio. TEMA 5 – O PNE E OS PLANOS DE EDUCAÇÃO Os planos de educação são documentos norteadores da política educacional em cada sistema de ensino. Eles estabelecem diretrizes e metas no âmbito nacional, quando do plano nacional de educação, e nos estados e municípios, quando dos planos estaduais e municipais. Os planos de educação geralmente são elaborados para o prazo de 10 anos, e sua função é fazer com que a política pública ocorra no limiar da política de estado e supere a política de governo, aquela proposta pelos candidatos aos governos, portanto são os principais indutores das políticas educacionais. Neles, são estabelecidos um conjunto de diretrizes sobre o atendimento educacional em cada um dos entes federados, tendo como referência o próprio plano nacional. O estabelecimento de metas e estratégias nos planos de educação abarca todo o sistema, das instituições públicas às privadas, nos mais diversos níveis e modalidades de ensino. Os marcos legais que instituem a elaboração dos planos de educação são a CF/1988 e a LDB n. 9.394/1996. Nesse sentido, Souza (2014) faz um resgate do aporto legislativo sobre o tema: Com a Constituição Federal (CF) de 1988 (Brasil, 1988) fez-se ressurgir a ideia de um PNE de longo prazo (inicialmente plurianual), com força de lei, com o objetivo de articulação sistêmica e voltado para conferir estabilidade às iniciativas governamentais e à aplicação de recursos na área de educação, orientação esta reiterada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Brasil, 1996b). Esta lei incumbiu a União de elaborar o PNE em colaboração com os Estados e os Municípios (inc. I, art. 9º). Em 2009, por intermédio da Emenda Constitucional (EC) nº 59, de 11 de novembro de 2009 (Brasil, 2009), nova redação do texto constitucional estabelece a duração do PNE, os princípios que devem presidir sua elaboração e as finalidades pretendidas (art. 214). (Souza, 2014, p.175) Os planos de educação abordam o conjunto do atendimento educacional existente em um território, envolvendo redes municipais, estaduais, federais e instituições privadas que atuam em diferentes níveis e modalidades da educação: das creches às universidades. Trata-se, pois, do principal instrumento da política pública educacional. Para além das metas e estratégias para os diferentes níveis de ensino, os planos de educação constituem-se em instrumento que orienta não só toda a 011 política educacional dos entes federados, como é o principal mecanismo de gestão das políticas, permitindo, além da participava democrática da sociedade, também a fiscalização e o controle da política pública. O Plano Nacional de Educação (PNE) aprovado pela Lei nº 13.005/2014 traça as diretrizes, metas e estratégias para a educação nacional na próxima década. É o documento que orienta todas as demais políticas educacionais nos entes federados, a partir de seus próprios planos. São metas do PNE e devem replicar em todos os estados e municípios brasileiros: Meta 1: universalizar, até 2016, a educação infantil na pré-escola para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco) anos de idade e ampliar a oferta de educação infantil em creches, de forma a atender, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) das crianças de até 3 (três) anos até o final da vigência deste PNE. Meta 2: universalizaro ensino fundamental de 9 (nove) anos para toda a população de 6 (seis) a 14 (quatorze) anos e garantir que pelo menos 95% (noventa e cinco por cento) dos alunos concluam essa etapa na idade recomendada, até o último ano de vigência deste PNE. Meta 3: universalizar, até 2016, o atendimento escolar para toda a população de 15 (quinze) a 17 (dezessete) anos e elevar, até o final do período de vigência deste PNE, a taxa líquida de matrículas no ensino médio para 85% (oitenta e cinco por cento). Meta 4: universalizar, para a população de 4 (quatro) a 17 (dezessete) anos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, o acesso à educação básica e ao atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino, com a garantia de sistema educacional inclusivo, de salas de recursos multifuncionais, classes, escolas ou serviços especializados, públicos ou conveniados. Meta 5: alfabetizar todas as crianças, no máximo, até o final do 3º (terceiro) ano do ensino fundamental. Meta 6: oferecer educação em tempo integral em, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) das escolas públicas, de forma a atender, pelo menos, 25% (vinte e cinco por cento) dos(as) alunos(as) da educação básica. Meta 6: oferecer educação em tempo integral em, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) das escolas públicas, de forma a atender, pelo menos, 25% (vinte e cinco por cento) dos(as) alunos(as) da educação básica. Meta 7: fomentar a qualidade da educação básica em todas as etapas e modalidades, com melhoria do fluxo escolar e da aprendizagem, de modo a atingir as seguintes médias nacionais para o Ideb: 6,0 nos anos iniciais do ensino fundamental; 5,5 nos anos finais do ensino fundamental; 5,2 no ensino médio. Meta 8: elevar a escolaridade média da população de 18 (dezoito) a 29 (vinte e nove) anos, de modo a alcançar, no mínimo, 12 (doze) anos de estudo no último ano de vigência deste plano, para as populações do campo, da região de menor escolaridade no País e dos 25% (vinte e cinco por cento) mais pobres, e igualar a escolaridade média entre negros e não negros declarados à Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Meta 9: elevar a taxa de alfabetização da população com 15 (quinze) anos ou mais para 93,5% (noventa e três inteiros e cinco décimos por cento) até 2015 e, até o final da vigência deste PNE, erradicar o analfabetismo absoluto e reduzir em 50% (cinquenta por cento) a taxa de analfabetismo funcional. Meta 10: oferecer, no mínimo, 25% (vinte e cinco por cento) das matrículas de educação de jovens e adultos, nos ensinos fundamental e médio, na forma integrada à educação profissional. 012 Meta 11: triplicar as matrículas da educação profissional técnica de nível médio, assegurando a qualidade da oferta e pelo menos 50% (cinquenta por cento) da expansão no segmento público. Meta 12: elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50% (cinquenta por cento) e a taxa líquida para 33% (trinta e três por cento) da população de 18 (dezoito) a 24 (vinte e quatro) anos, assegurada a qualidade da oferta e expansão para, pelo menos, 40% (quarenta por cento) das novas matrículas, no segmento público. Meta 13: elevar a qualidade da educação superior e ampliar a proporção de mestres e doutores do corpo docente em efetivo exercício no conjunto do sistema de educação superior para 75% (setenta e cinco por cento), sendo, do total, no mínimo, 35% (trinta e cinco por cento) doutores. Meta 14: elevar gradualmente o número de matrículas na pós-graduação stricto sensu, de modo a atingir a titulação anual de 60.000 (sessenta mil) mestres e 25.000 (vinte e cinco mil) doutores. Meta 15: garantir, em regime de colaboração entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, no prazo de 1 (um) ano de vigência deste PNE, política nacional de formação dos profissionais da educação de que tratam os incisos I, II e III do caput do art. 61 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, assegurado que todos os professores e as professoras da educação básica possuam formação específica de nível superior, obtida em curso de licenciatura na área de conhecimento em que atuam. Meta 16: formar, em nível de pós-graduação, 50% (cinquenta por cento) dos professores da educação básica, até o último ano de vigência deste PNE, e garantir a todos(as) os(as) profissionais da educação básica formação continuada em sua área de atuação, considerando as necessidades, demandas e contextualizações dos sistemas de ensino. Meta 17: valorizar os(as) profissionais do magistério das redes públicas de educação básica, de forma a equiparar seu rendimento médio ao dos(as) demais profissionais com escolaridade equivalente, até o final do sexto ano de vigência deste PNE. Meta 18: assegurar, no prazo de 2 (dois) anos, a existência de planos de carreira para os(as) profissionais da educação básica e superior pública de todos os sistemas de ensino e, para o plano de carreira dos(as) profissionais da educação básica pública, tomar como referência o piso salarial nacional profissional, definido em lei federal, nos termos do inciso VIII do art. 206 da Constituição Federal. Meta 19: assegurar condições, no prazo de 2 (dois) anos, para a efetivação da gestão democrática da educação, associada a critérios técnicos de mérito e desempenho e à consulta pública à comunidade escolar, no âmbito das escolas públicas, prevendo recursos e apoio técnico da União para tanto. Meta 20: ampliar o investimento público em educação pública de forma a atingir, no mínimo, o patamar de 7% (sete por cento) do Produto Interno Bruto (PIB) do País no 5º (quinto) ano de vigência desta Lei e, no mínimo, o equivalente a 10% (dez por cento) do PIB ao final do decênio. Como podemos observar, muitos são os desafios postos para a educação nacional no âmbito do PNE. Podem ser considerados maiores ainda os desafios dos entes federados em fazer cumprir, a partir do PNE e de suas realidades locais, seus próprios planos de educação. 013 FINALIZANDO Nesta aula, pudemos compreender o funcionamento e a organização dos sistemas de ensino na educação brasileira, abordando temáticas como a composição dos sistemas de ensino; a gestão da escola e gestão dos sistemas; o papel dos conselhos de educação; a busca pela construção de um sistema nacional articulado e o PNE e os planos de educação. Tivemos também a oportunidade de entender toda a rede que norteia a educação nacional a partir de seus diversos sistemas de ensino. 014 REFERÊNCIAS AMBONI, V. Gestão democrática e controle social dos recursos financeiros destinados às escolas estaduais do Paraná. Revista Urutágua, n. 13 - ago./nov. 2007. Disponível em: <http://www.urutagua.uem.br/013/13amboni.htm>. Acesso em: 21 ago. 2017. BRASIL. Constituição (1988) Constituição da República Federativa do Brasil. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. _____. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Casa Civil, Presidência da República, Brasília, DF, 20 dez. 1996. CURY, C. R. J. Conselhos de Educação: fundamentos e funções. Revista RBPAE – v.22, n.1, p. 41-67, jan./jun. 2006. DOURADO, L. F. Plano Nacional de Educação, Conferência Nacional de Educação e a construção do Sistema Nacional de Educação. Revista Jornal de Políticas Educacionais, n. 16, p. 03-11, jul./dez., 2014. LIBÂNEO, J. C. 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