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Os impactos psicossociais da influência da mídia no TDC em mulheres

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OS IMPACTOS PSICOSSOCIAIS DA MÍDIA NO TRANSTORNO DISMÓRFICO CORPORAL EM MULHERES
 Milena Cristina dos Santos Cabral de Oliveira1 
Teoiza Cristina Xavier1
 Karen Kattarine Almeida Costa1 
Marta Souza Graça[footnoteRef:0]2 [0: 1 Discente do curso de Psicologia do Centro Universitário Estácio da Bahia.
1 Discente do curso de Psicologia do Centro Universitário Estácio da Bahia.
1 Discente do curso de Psicologia do Centro Universitário Estácio da Bahia.
2 Especialista em gestão de pessoas e psicologia hospitalar, professora orientadora do curso de Psicologia do Centro Universitário Estácio da Bahia
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 RESUMO
Palavras-chave: Mídia; Transtorno Dismórfico corporal; Psicossocial
1. INTRODUÇÃO
 A busca pela beleza é antiga, desde os primórdios da humanidade sofreu alterações a cada momento sócio-histórico. A principal diferença é que hoje, há diariamente um bombardeio de mensagens que são transmitidas através das mais variadas mídias que visam exercer influência significativa ao estilo de vida e nos comportamentos a serem adotados. São imagens de mulheres belas, consideradas o padrão ideal, apresentando os mais variados métodos de beleza: chás milagrosos, cremes que farão desaparecer em tempo recorde as marcas da idade na pele - inclusive as causadas naturalmente pelo tempo, shampoos para alcançar os cabelos dos sonhos, fora as inúmeras dietas que prometem transformar o corpo radicalmente.
Diante de tal realidade, é crescente o índice de I.C (insatisfação corporal), já que de acordo com os resultados do estudo realizado por Laus, (2012) a mídia influencia negativamente na autopercepção corporal e no nível de I.C - em especial em mulheres, aumentando assim a busca pelo estar e parecer belo, desconsiderando riscos e conduzindo a comportamentos disfuncionais e obsessivos na tentativa de alcançar um padrão pré-estabelecido. Alguns comportamentos se tornam graves ao ponto de gerar transtornos, dentre diversos, os T.A, TOC e o TDC, por exemplo.
O Transtorno Dismórfico Corporal (TDC) é um distúrbio caracterizado pela distorção da autoimagem e pode ser desencadeado por inúmeros fatores entre eles, biológicos e ambientais que conduzem a busca doentia pela perfeição corporal, causando prejuízos psicossociais. E tal busca tem sido cada vez mais uma realidade na sociedade atual e a mídia tem contribuído efetivamente para a difusão de mensagens que elevam o grau de insatisfação com a própria imagem.
 De acordo com a revista eletrônica Veja Saúde (2019), o TDC corresponde a 2% da população mundial, e dentro desta pesquisa, o Brasil representa 4,1 milhões de indivíduos com o transtorno, número altamente preocupante, principalmente pela preconização de casos, tendo início na adolescência. É um transtorno grave que necessita de tratamento medicamentoso e psicoterápico que, se não tratado adequadamente, pode levar ao suicídio.
O objetivo geral de tal estudo é analisar os impactos psicossociais da mídia no TDC em mulheres; e os objetivos específicos são: Compreender como a mídia influencia no TDC; Entender a construção social do corpo através do tempo; Identificar os impactos psicossociais do TDC em mulheres e as possibilidades de tratamento.
Dados de uma pesquisa (Laus, 2012) que investigava a influência da mídia na I.C e no comportamento alimentar de adultos revela que cerca de 78,75% das mulheres apresentaram uma auto percepção corporal distorcida contra 48,63% dos homens, um maior índice de I.C corporal e maior insatisfação com as partes do corpo quando expostas à imagens de modelos consideradas o padrão de beleza, o índice de insatisfação com a própria imagem aumentava.
 Outra pesquisa (Malleta, 2010 apud Lima, 2019) em que foram entrevistadas 3.500 mulheres no Brasil, foi constatado que 9 entre 10 mulheres acreditam que outras pessoas pensam que seus corpos tem algum defeito. Entre essas mulheres 21% são insatisfeitas com sua imagem corporal e apenas 8% tem satisfação com seus corpos.
Em função dos dados obtidos, tal pesquisa se justifica pela necessidade de aprofundar os estudos de como a sociedade e a mídia influenciam a busca por um padrão ideal de beleza, em especial em mulheres, que são segundo as pesquisas, mais suscetíveis a um grau mais elevado de insatisfação com a autoimagem e maior tendência a serem influenciadas pelas propagandas midiáticas.
O que muitas vezes acarreta em comorbidades, como por exemplo: transtorno alimentares, ansiedade, depressão e compulsões por cirurgias plásticas desconsiderando questões como aspectos biológicos e genéticos, e os riscos implicados nesses tipos de intervenção. Faz-se necessário entender essa dinâmica, suas consequências psicossociais e a melhor forma de tratamento e prevenção.
O estudo é o resultado de revisão bibliográfica de artigos, teses e dissertações pesquisadas em períodicos como Scielo, Pepsic e revistas científicas em que foram utilizados como critério de inclusão materiais que aprofundem o entendimento da temática estudada e que tenham sido publicados nos últimos 20 anos. O tema foi dividido em três seções onde a primeira visa trazer a compreensão de como se deu a construção sócio-histórica da imagem corporal, a segunda dividida em subseções aborda a relação entre mídia e TDC e a terceira se pauta na compreensão dos impactos psicossociais da influência da mídia no TDC no público feminino e as possibilidades de tratamento.
 
 
2. 2. Processo Sócio-histórico da Imagem do Corpo
 Ao longo dos séculos, o corpo foi visto de diversas formas. Pois cada cultura e sociedade tem sua maneira de caracterizar o padrão de corpo que acreditam que deva ser seguido, o que também é modificado com o passar do tempo. Cada período histórico apresenta seu próprio conceito de beleza.
Falar sobre a beleza é discorrer sobre padrões estéticos que são sempre culturais e mudam ao longo do tempo e conforme as sociedades. Há, portanto, uma história da beleza que, ao contrário do senso comum, não se refere, necessariamente à mulher e nem à aparência física. Ao contrário, “belo” foi, por séculos ou milênios, um qualificativo associado ao homem e aos atributos ditos masculinos e à mulher (DOMINGUES, 2015).
 Para Torres (2019), os padrões de beleza começaram a ser definidas já nos primórdios da humanidade. Na pré-história o corpo era visto como uma ferramenta nas lutas pela sobrevivência, assim como na procura de alimentos. As mulheres, além dessas atividades, também eram vistas como um corpo para procriação, para isso tinham que ter silhuetas largas e seios fartos.
 Já no Egito Antigo esse padrão mudou, as mulheres deveriam apresentar corpos magros, rostos simétricos e cabelos longos (TORRES, 2019). O papel da mulher era mais participativo na sociedade, pois tinham mais direitos e deveres, semelhantes ao dos homens, mesmo não vivendo em uma completa igualdade de gêneros. Em comparação com mulheres de outras sociedades, e até mesmo dos dias atuais, as egípcias exerciam uma grande influência política. Um dos atributos que elas utilizavam para obter poder, era o corpo, exemplo disso foi Cleópatra, que se valeu desse atributo de sedução, para adquirir poder político (BALTHAZAR, 2009).
Nos textos produzidos pelos autores do passado observa-se o corpo como objeto de inquietações morais. Sobretudo o corpo feminino, ao mesmo tempo ignorado e vigiado. Uma preocupação do livre uso do mesmo, como foi feito por diversas mulheres que, como Cleópatra, encontram em seu corpo um meio de realizar alianças políticas, uma estratégia que é extremamente semelhante aos casamentos dinásticos ao longo da história (BALTHAZAR, 2009, p.106)
 Na Grécia Antiga, o corpo nu era sinônimo de admiração, pois o corpo representava saúde e beleza. Quanto maior exibição saudável e apresentação corporal curvilínea mais valorizada, pois significava que a pessoa era atlética e fértil. Nesta época cada idade tinha um padrão de corpo a ser seguido. A mente inteligente também era outro objetivo a ser alcançado, pois era tão valorizadoquanto a beleza do corpo. Mas esse ideal de beleza só se aplicava aos homens livres, pois para as mulheres só cabia o papel de obedecer aos pais e maridos, e conceber filhos (BARBOSA; MATOS; COSTA, 2011).
 Era considerado um corpo feminino bonito, aquele que se aproximava das características masculinas, com poucas curvas, corpo roliço e rosto sereno. Elas eram confinadas em seus lares e não podiam expor seus corpos, assim como os homens podiam. Por ficarem tanto tempo em casa, elas acabaram se ocupando de cuidar do corpo e do cabelo, utilizando loções para clarear a pele, o que era outra característica importante para as mulheres gregas, ter uma pele alva (DOMINGUES, 2015).
 De acordo com Domingues (2015), as mulheres romanas não podiam usar muita maquiagem, pois se utilizassem mais do que era adequado, eram tidas como prostitutas ou adulteras. Enquanto as características físicas, foi preservado o padrão grego, em que tinham que ter uma pele clara, e para alcançar esse objetivo, elas utilizavam pó de giz e fezes de crocodilo.
 Em sociedades futuras as mulheres continuaram utilizando das mais diversas substâncias para clarear a pele, como foi o caso do arsênico, que é um veneno e que dependendo da quantidade podia causar sérias consequências, inclusive a morte (SOUZA, 2018).
 Enquanto isso no período do Cristianismo, o corpo passou a ser visto como fonte do pecado, o que é “proibido”. Nesta época a sociedade estava voltada para a espiritualidade e controlar o que material. O Cristianismo e a teologia tinham uma visão muito crítica em relação ao corpo (BARBOSA; MATOS; COSTA, 2011).
 Segundo Domingues (2015), mesmo sendo condenado pela sociedade, as mulheres tinham toques de vaidade, ao clarearem seus cabelos e depilarem suas sobrancelhas, mesmo que o ideal fosse uma aparência angelical e roupas pesadas para esconder os seios e quadris.
 Durante a Idade Média, a religião exercia grande influência na vida das pessoas, o que as obrigavam a serem contidas, e menos criativas. Qualquer preocupação com o corpo era proibida, pois deveria ater-se em preocupar-se com a alma. Nesta época tinha como objetivo, o trabalho na terra, e era vinculada as seguintes características: altura, cor da pele e o peso do corpo (BARBOSA; MATOS; COSTA, 2011).
 Na Era Renascentista deixou-se de lado a visão religiosa e se deu lugar para ciência. O corpo passou a ser fonte de estudos e uma inspiração para as artes, como foi o caso das obras de Leonardo Da Vinci e Michelangelo. Foi também um período de busca do corpo saudável através de atividades (BARBOSA; MATOS; COSTA, 2011).
 De acordo com Brito (2016), o período renascentista que ocorreu por volta do século XVII, o sujeito passou a dar mais importância aos processos biológicos do corpo, em como os alimentos influenciam no bom funcionamento corporal. 
A partir de meados do século XVI, os pintores de Veneza e Flandres abandonam a idealização da beleza feminina e buscam representar um corpo mais real dando-lhe plasticidade e volume. Pintam o corpo feminino para ser desejado. Corpos femininos nus ou seminus envolvidos por véus transparentes são retratados em telas a óleo e nos afrescos de palácios e igrejas. Abre-se um enorme abismo entre a Vênus de Botticelli e as mulheres carnais e cheias de curvas de Veronese, Ticiano e Rubens (DOMINGUES, 2015).
 Segundo Rosário (2006, Brito, 2016), durante o século XIX e o surgimento do capitalismo, as indústrias tiveram o aumento e sua produção, e com isso passou a ver o ser humano como “corpo produtor” e também consumidor de seus produtos. Os meios de comunicação, mesmo que precários e o aumento da expectativa de vida, trouxe uma preocupação das pessoas com seus corpos.
 Com o crescimento do capitalismo, as mulheres se vestiam para demonstrar o poder aquisitivo de seus pais e maridos. Quanto mais peças de roupas se utilizava, maior o status da família. Por esse motivo essas mulheres tinham que usar objetos como espartilho, que era uma peça fundamental no vestuário desta época, tanto que todas as mulheres tinham que usar, independente da classe social. Outras peças utilizadas pela nata da sociedade eram armações para criar sustentação nos vestidos, além de várias camadas de saias e corpetes. O papel do espartilho era levantar os seios e afinar a cintura, características que eram tidas como o ideal de beleza (DOMINGUES, 2015).
No entanto, a padronização dos conceitos de beleza, ancorada pela necessidade de consumo criada pelas novas tecnologias e homogeneizada pela lógica da produção, foi responsável por uma diminuição significativa na quantidade e na qualidade das vivências corporais do homem contemporâneo. De facto, com a comunicação de massas, a reprodução do corpo não se reduz agora, ao âmbito da pintura ou do desenho, mas pode atingir um vasto número de indivíduos. O corpo pode ser reproduzido em série através de fotografia, do cinema, da televisão (BARBOSA; MATOS; COSTA, 2011, p. 28).
 No início do século XX, a moda ditava que as mulheres deveriam ter os seios achatados, um corpo que se remetia ao masculino. Com a chegada do cinema por volta dos anos 30, esse modelo foi modificado para o corpo curvilíneo, voluptuoso e seios fartos, que foi fortemente influenciado pelas atrizes. Já a partir de 1960, o estilo de magreza começou a ser o novo padrão de beleza. Esse modelo inicialmente foi chamado de Twiggy, era o corpo com características masculinas ou infantis (MOTA, 2007).
 Foi nesse período do século XX, que teve início a batalha do espelho e da balança, pois se as mulheres não estivessem no peso ideal, eram tidas como obesas, e obesidade era sinônimo de ser uma pessoa relaxada com a aparência, além de exagerar na comida. Enquanto o corpo magro representava a saúde. Padrões esses que perduraram até os dias atuais.
Toda a experiência do corpo parece estar a ser posta em questão; a definição de espaço e tempo, a distinção entre real e o imaginário. Todas estas fronteiras estão as ser questionadas pelas novas tecnologias, especialmente a internet e a realidade virtual (BARBOSA; MATOS; COSTA, 2011).
 Atualmente a publicidade que é veiculada através de meio de comunicação, como as redes sociais vem cada dia mais bombardeando as pessoas com imagens de corpos como objetos de desejo, acabam idealizando os músculos, seios, boca, nariz e tantas outras partes do corpo com um padrão perfeito. Pelo fato de não se encaixarem neste modelo, os indivíduos acabam por criar uma imagem distorcidas de se mesmas. O que acaba na procura de tratamentos estéticos, cirurgias plásticas e lipoaspiração, tudo para alcançar o que é propagado como perfeição (BARBOSA; MATOS; COSTA, 2011).
3. BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A MÍDIA 
De acordo com Ferreira (2008) a mídia é definida como um conjunto de variados meios de comunicação, áreas técnicas de propaganda que têm a intenção de produzir conteúdo informativo.
O termo mídia deriva do inglês media que tem sua origem no latim - sign.“meio”, “forma”. Dessa maneira entende-se que a mídia é o meio pelo qual as informações são transmitidas.
Durante muito tempo era considerado artigo de luxo o acesso às notícias, já que seletivamente restringia-se a alta sociedade. No século XIX foi criado um jornal popular nos Estados Unidos que tinha o objetivo de alcançar classes mais baixas através de manchetes sensacionalistas, devido ao grande número de vendagem, os anunciantes aproveitaram para promoverem suas marcas (FERREIRA, 2008).
De acordo com Boris e Cesídio (2007) “Ela não apenas veicula, mas também constrói discursos e produz significados e sujeitos”. (pág.19)
A mídia passou por transformações ao longo do tempo, até chegar ao que conhecemos hoje, seu início se deu através da escrita, passando pela criação do rádio, tv e mais recentemente a internet. 
É dividida entre analógica, onde a comunicação é unilateral, e digital, em que a comunicação se dá de forma bilateral. Podemos entender como mídia analógica,o rádio, a tv, jornais, revistas e outdoors. Entretanto, define-se como digital todo conteúdo produzido na internet. Todas elas têm a função de disseminar conteúdo informativo e publicitário, mas segundo dados do site Exame.com (2014), a televisão é o meio de comunicação mais usado pelos brasileiros, que passam, em média, 3h30, em frente ao aparelho.
Mas não podemos desconsiderar o grande avanço das mídias digitais como Facebook, Instagram e Youtube que são responsáveis pela veiculação de boa parte de conteúdo publicitário e com isso vêm ganhando mais espaço no cenário atual como meio de divulgação, propagação e de entretenimento. 
 3.1 ENTENDENDO O TDC: O QUE É, SUAS CAUSAS E SINTOMAS
O TDC de acordo com DSM-V (2014) caracteriza-se por uma percepção da autoimagem de maneira distorcida, onde o indivíduo acredita ter um grande defeito, que normalmente não existe ou é pequeno demais para ser notado por terceiros. 
Na década de 80, o TDC fazia parte do DSM III como um transtorno somatoforme e era chamado de Dismorfofobia (CONRADO, 2009). Atualmente faz parte do DSM - V como um transtorno do espectro do transtorno obsessivo compulsivo.
Seu desenvolvimento se inicia geralmente na adolescência. A média de idade de início do transtorno é 16 a 17 anos, a mediana de idade de início é 15 anos, e a idade mais comum de início é 12 a 13 anos. (DSM-V, 2014 pág.244) 
Suas causas são multifatoriais, podendo ser gerado por fatores ambientais como negligência, abandono e por fatores genéticos (DSM-V 2014, pág.244). Fatores sociais como a ditadura de padrões estéticos também são considerados como influenciadores na insatisfação corporal.
 As principais características do TDC segundo DSM-V são uma excessiva preocupação na correção de defeitos inexistentes ou mínimos, mas que causam grande desconforto e insegurança leva-se horas na tentativa de camuflar a imperfeição que pode ocasionar prejuízos sociais e até financeiros. O nariz, a pele e os cabelos são alguns dos pontos principais que despertam descontentamento. 
Outra característica são os pensamentos obsessivos e os comportamentos repetitivos. O indivíduo se sente compelido a executar esses comportamentos, os quais não são prazerosos podendo aumentar a ansiedade e a disforia. Eles geralmente tomam tempo e são difíceis de resistir ou controlar (DSM-V, 2014, pág.243).
O TDC acomete mulheres e homens apresentando uma prevalência relativamente maior em mulheres. O que mais se destaca é o foco da insatisfação, os homens normalmente querem ser mais fortes, podendo desenvolver um subtipo de TDC conhecido por Dismorfia Muscular e as mulheres querem ser mais magras desenvolvendo muitas vezes comorbidades como A.N e B.N.
3.2 COMO A MÍDIA INFLUENCIA NO TDC
A partir da década de 20, o corpo começa a sofrer forte influência da mídia, de acordo com Camargo (2020), contudo, foi o cinema de Hollywood que ajudou a criar novos padrões de aparência e beleza, difundindo novos valores da cultura de consumo e projetando imagens de estilos de vida glamourosos para o mundo inteiro.
 Camargo (2020) afirma que:
 Os programas de televisão, revistas e jornais têm dedicado espaços em suas programações cada vez maiores para apresentar novidades em setores de cosméticos, de alimentação e vestuário. Propagandas veiculadas nessas mídias estão o tempo todo tentando vender o que não está disponível nas prateleiras: sucesso e felicidade.
Na década de 80, o boom do fitness teve seu início através da criação de revistas que tinham como foco o corpo, como a Revista Boa forma criada em 1984 e a Corpo a Corpo de 1987 (CAMARGO 2020). De lá pra cá, o corpo tem sido objeto de culto e a mídia tem tirado grande proveito disso através das inúmeras propagandas onde apresentam um corpo magro ou sarado como sinônimo de saúde, beleza e aceitação social. Sobretudo, o corpo feminino que é fortemente explorado pelo mercado publicitário na tentativa de induzir a um estilo de vida que se tornou símbolo de poder. As mulheres na mesma proporção que ocupam um lugar de influência ao ser a principal imagem utilizada na mídia como forma de atrair atenção, são também as principais vítimas da cobrança por perfeição estética, como ratificam Boris e Cesídio (2007) “A mulher, em busca da beleza do seu corpo, está na condição de oprimida com relação à mídia, que lhe impõe novas formas de existir e de se relacionar no mundo.”
Através de outdoors, novelas, revistas etc., diariamente diz-nos como devemos ser, o que comprar, o que vestir, para alcançarmos tal padrão idealizado. Segundo Ferreira (2008) a mídia exerce total influência na divulgação de um padrão de corpo ideal na sociedade atual. Com o avanço da internet, onde as notícias chegam de forma instantânea, o impacto é ainda maior, a imagem de mulheres e homens “perfeitos” induzem um sentimento de insatisfação e não pertencimento de sua autoimagem. Boris e Cesídio (2007) afirmam que
 A mídia é uma manifestação cultural, criada não apenas com o objetivo de transmissão de informação, mas de influenciar intencionalmente não apenas o comportamento das mulheres, mas o dos homens também, interferindo na maneira de organizar a sua subjetividade e atingindo questões peculiares ao seu gênero, principalmente com relação à sua representação corporal (p.15)
A beleza tem sido desnaturalizada, o “fabricado” é mais bonito e aceito, e por consequência mais cobiçado, mesmo que se pague um alto preço, nessa busca desenfreada de corresponder a um padrão social. Dessa forma, Boris e Cesídio afirmam que:
Assim, os meios de comunicação – que atingem não apenas pessoas de uma mesma cultura, mas, também, de culturas diferentes – com os seus recursos de “marketing”, um conjunto de estudos e de medidas que preveem, estrategicamente, o lançamento e a sustentação de um produto ou de um serviço no mercado consumidor, submetem o consumidor, aquele que compra, a se entregar aos seus interesses, fazendo do seu corpo objeto passível de ser manipulado, pois, mesmo sendo dotado de razão e de liberdade, se deixa atrair por imagens socialmente desejáveis de maneira imperceptível (pág.14)
Maduro (2008) afirma que a mídia em geral - como tv, jornais e revistas influenciam significativamente na insatisfação corporal ao tentar disseminar a ideia de que corpos magros ou musculosos são os ideais. 
De acordo com Camargo (2020):
Preocupados com a busca desenfreada da “beleza perfeita” e pela vaidade excessiva, sob influência dos mais variados meios de comunicação, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica apresenta uma estimativa de que cerca de 130 mil crianças e adolescentes submeteram-se no ano de 2009 a operações plásticas.
 Com isso, leva-se ao desenvolvimento de transtornos de imagem como o TDC, onde a busca por esse padrão se tornou prejudicial e patológico. Atender às expectativas se tornou doentio, ser aceito socialmente parece ser fundamental para autoaceitação e a não compreensão das diferenças de forma saudável têm acarretado significativamente na I.C e numa percepção distorcida da realidade sobre si mesmo, podendo levar a consequências irreversíveis como o suicídio. 
 4. OS IMPACTOS DO TDC EM MULHERES E POSSIBILIDADES DE TRATAMENTO
O corpo feminino sempre esteve associado a beleza e sensualidade. E como reflexo disso são mais explorados pelo mercado publicitário e indústrias da moda e cosmética. De acordo com Ferreira (2008), a imposição de perfeição estética é muito superior às mulheres se comparadas aos homens. Tentando direcionar as mulheres na escolha desde os estilos de cabelo, até as roupas que as deixam mais desejáveis sexualmente. A mídia passa a impressão de que a mulher precisa está dentro de um padrão para ser considerada bela e consequentemente desejada. “Outro ponto a ressaltar é que a mídia também propaga, muitas vezes, a ideia de que a mulher apenas pode obter sucesso profissional através da beleza e da sensualidade do seu corpo.” BORIS E CESÍDIO (2007, pág.23)
Segundo Coelho et al. (2015), a divulgação na mídia de imagens de corpos magros e/ousarados são considerados como padrão de beleza ideal, a internalização de sentimentos de culpa por não se encaixarem em padrões de beleza feminino pré-estabelecidos pela sociedade e mídia, induz nas mulheres insatisfeitas um profundo sentimento de vergonha em relação a aparência física. O que leva, entre outros aspectos, a se sentirem insuficientemente atraentes, colaborando para a I.C, e influenciando a busca pelas cirurgias plásticas. Há um grande índice de pessoas candidatas a cirurgias plásticas, portadoras de TDC. Mulheres mesmo sendo submetidas a cirurgias para correção do “defeito”, após o procedimento ainda continuavam insatisfeitas com a sua imagem. Boris e Cesídio (2007) salientam que :
“O ideal de corpo preconizado pela sociedade leva a mulher a uma insatisfação crônica com seu corpo, se odiando por alguns quilos a mais e adotando medidas radicais para corresponder ao modelo cultural.”
Para Shmidtt, Oliveira e Gallas (2008), pelo desejo exacerbado de mudança para atingir a tão sonhada imagem corporal, desconsiderando as possíveis consequências, os portadores desse transtorno se expõem a riscos que muitas vezes têm finais trágicos, entre eles, o óbito - como a realização de procedimentos por médicos sem especialização que podem causar danos físicos irreparáveis que comprometem a saúde, elevam a baixa autoestima e afetam as relações. Além da busca por correção estética, o TDC gera impactos psicossociais, como o isolamento social, prejuízos afetivos e financeiros, e podendo ser agravados por comorbidades psiquiátricas como ansiedade, fobia social, TOC, vigorexia, ortorexia, e nas mulheres em especial, transtornos alimentares como A.N e B.N.
O ideal de beleza cria um desejo de perfeição, introjetado e imperativo. Ansiedade, inadequação e baixa auto-estima são os primeiros efeitos colaterais desse mecanismo. Os mais complexos podem ser a bulimia e a anorexia, além de grande parte do orçamento familiar gasto em produtos e serviços ligados à estética (MORENO, 2008, p. 13).
Ferreira (2008) afirma que “O número de casos de anorexia e bulimia é alto, principalmente entre as mulheres, que tentam ter o corpo das “top models”.
Boris e Cesídio (2007) concluiram que o corpo passou de objeto de interesses patriarcais, a um corpo submetido a padrões socialmente estabelecidos pelos meios de comunicação. E como consequência tornou-se refém da sociedade e de um ideal de beleza irreal e inatingível. 
O tratamento segundo o dicionário Aurélio tem como objetivo aliviar e curar pessoas doentes, através de meios adequados. O Transtorno Dismórfico Corporal pode ser tratado por meio de tratamento farmacológico e/ou psicoterapêutico.
No tratamento farmacológico da TDC, os medicamentos de melhor eficácia são os inibidores seletivos de recaptação de serotonina, também tem eficácia os antidepressivos tricíclicos (CONRADO, 2009). Diversos estudos observaram que a fluoxetina, fluvoxamina ou clomipramina tem melhor desempenho na remissão do TDC.
Já no tratamento por psicoterapia se utiliza a abordagem de terapia cognitivo-comportamental, que se utiliza a identificação e a modificação cognitivas e comportamentais, são usadas técnicas de automonitoramento dos pensamentos e comportamentos, além de técnicas cognitivas e exercícios (CONRADO, 2009). 
BALTHAZAR, Gregory da Silva. Cleópatra a Sedução do Oriente: O Corpo como meio Feminino de Exercer Política. Revista de História Comparada (2009). Ano 3, v. 6, n. 6.
BARBOSA, M. R; MATOS, P.M; COSTA, M. E. Um olhar sobre o corpo: o corpo ontem e hoje. Psicologia e Sociedade (2011). 23(1), 24-34.
BRITO, R. R. R. de. A concepção de corpo e autoimagem feminina na pós-modernidade. Campos dos Goytacazes, RJ: Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro – UEFN, 2016.
DOMINGUES, Joelza Ester. A beleza da Grécia Antiga ao século XIX. Ensinar História. 04 de março de 2015.
MORENO, Rachel. A beleza impossível: mulher, mídia e consumo. São Paulo: Ágora, 2008.
MOTA, Maria Dolores B. De Vênus a Kate Moss: reflexões sobre corpo, beleza relação de gênero. Fortaleza: UFCE, 2007, p. 1 a 11.
SOUZA, Ivan. História dos cosméticos da Antiguidade ao século XXI. Cosméticos em Foco. 01 de abril de 2018.
TORRES, Maria Fernanda Almeida. Editoriais de moda: Uma análise imagética e semiótica da construção dos padrões de beleza feminina. Anais do VII Eneimagem e IV Eieimagem, Londrina, 14-17 de maio de 2019.

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