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1 CONSTRUÇÃO DA POLÍTICA SOCIAL ESTADO DEMOCRÁTICO E SOCIEDADE CIVIL 1 Sumário NOSSA HISTÓRIA..................................................................................................... 2 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 3 ORIGEM, CARACTERÍSTICAS E FUNÇÕES DAS POLÍTICAS SOCIAIS ..... 4 O DESENVOLVIMENTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL .................. 7 AS INSTÂNCIAS PÚBLICAS DE CONTROLE DEMOCRÁTICO E ............... 11 OS DESAFIOS NA ATUAL CONJUTURA ............................................................... 11 ESTADO POLÍTICAS PÚBLICAS SOCIAIS .................................................. 16 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 22 REFERÊNCIAS: ............................................................................................ 24 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós- Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 INTRODUÇÃO Neste contexto tem por intencionalidade explicitar a contribuição dos assistentes sociais nas instâncias públicas de controle democrático, com destaque aos conselhos de políticas e de direitos. Os assistentes sociais podem ter uma dupla inserção nesses espaços: uma essencialmente política, quando participam enquanto conselheiros, e outra que caracteriza um novo espaço sócio-ocupacional, quando desenvolvem ações de assessoria aos conselhos ou a alguns de seus segmentos (usuários, trabalhadores e poder público). Vai-se ressaltar, portanto, a segunda inserção em face das demandas colocadas na atual conjuntura. Pensar o trabalho profissional dos assistentes sociais nessas instâncias supõe uma dupla dimensão: analisar o controle democrático no contexto macrossocietário, que vem alterando as políticas sociais com retração dos direitos sociais, e as respostas técnicoprofissionais e ético-políticas dos agentes profissionais. A temática é abordada em três itens. No primeiro, será caracterizada a importância das instâncias de controle democrático na atual conjuntura, tendo por referência a defesa da Seguridade Social e das demais políticas públicas na garantia dos direitos sociais. Serão ressaltados os principais desafios frente às mudanças efetivadas na relação Estado-sociedade, orientadas pelo neoliberalismo, traduzidas nas políticas de ajuste recomendadas pelos organismos multilaterais nos marcos do “Consenso de Washington”. 4 O segundo se deterá no trabalho do assistente social nesses espaços, considerado como uma nova demanda ao profissional. Vai-se refletir sobre as possibilidades do profissional de Serviço Social contribuir para o fortalecimento e organização política dos conselhos e/ou dos seus diversos segmentos com destaque para os usuários e trabalhadores através da defesa da democracia e dos direitos humanos e sociais. Nesta inserção, cabe ressaltar também a importância da articulação dos conselhos e/ou conselheiros com os movimentos sociais. Pretende-se colocar a relevância dessa temática para a intervenção profissional. No terceiro item, procurar- se-á levantar algumas reflexões com relação à assessoria aos conselhos e movimentos sociais, bem como explicitar os desafios postos para a formação profissional e para o exercício da profissão de Serviço Social. ORIGEM, CARACTERÍSTICAS E FUNÇÕES DAS POLÍTICAS SOCIAIS Neste contexto foram abordadas algumas reflexões sobre o trabalho do Serviço Social, em políticas sociais. A partir dos anos 80 (século XX), a profissão passou a ter uma consistente produção sobre o tema. A análise das políticas sociais tem muitos caminhos a percorrer. As políticas sociais no Brasil estão relacionadas diretamente às condições vivenciadas pelo País em níveis econômico, político e social. 5 São vistas como mecanismos de manutenção da força de trabalho, em alguns momentos, em outros como conquistas dos trabalhadores, ou como doação das elites dominantes, e ainda como instrumento de garantia do aumento da riqueza ou dos direitos do cidadão (Faleiros, 1991, p.8). Tendo a profissão inserida na divisão sociotécnica, o Serviço Social, deve ser entendido a partir das configurações expressas pelas relações de classe estabelecidas pelo modelo societário, o capitalismo. Assim, o Serviço Social como uma das profissões responsáveis pela mediação entre Estado, burguesia e classe trabalhadora na implantação e implementação das políticas sociais destinadas a enfrentar a “questão social”, que emergiu na primeira metade do século XIX, com o surgimento do pauperismo, na Europa Ocidental (Pastorini, 2007, p.16), é que ganha hoje, novos contornos a partir do complexo cenário formado pelos monopólios e pelo ideário neoliberal. O estudo das políticas sociais, na área de Serviço Social, vem ampliando sua relevância na medida em que estas têm-se constituído como estratégias fundamentais de enfrentamento das manifestações da questão social na sociedade capitalista atual. Capitalismo concorrencial fase do capitalismo que teve início com aparecimento de máquinas movidas por energia não-humana. Inicia-se na Inglaterra com a máquina a vapor, por volta de 1746 e finda com o início dos monopólios (Behring, 2000, p.32). De acordo o autor, sua origem relacionam-se aos movimentos de massa socialmente democratas e à formação dos estados-nação na Europa Ocidental do final do século XIX, porém sua generalização situa-se na transição do capitalismo concorrencial para o capitalismo monopolista, especialmente em sua fase tardia, após a Segunda Guerra Mundial (Behring & Boschetti, 2006, p.47). Sobre o estudo das políticas sociais historicamente, será marcado pela necessidade de pensar as políticas sociais como “concessões ou conquistas”, na perspectiva marxista (Pastorini, 1997, p.85), a partir de uma ótica da totalidade. 6 Sendo assim, as políticas sociais são entendidas como fruto da dinâmica social, da inter-relação entre os diversos atores, em seus diferentes espaços e a partir dos diversos interesses e relações de força. Aparece como “[...] instrumentos de legitimação e consolidação hegemônica que, contraditoriamente, são permeadas por conquistas da classe trabalhadora” (Montaño, 2007, p.39). De acordo Vieira E. (1995, p.15), a acumulação é o “[...] sentido de concentração e de transferência da propriedade dos títulos representativos de riqueza”. As transformações ocorridas nas revoluções industriais acarretaram uma sociedade com um vasto exército de proletários. Assim, política social surge no capitalismo com as mobilizações operárias e a partir do século XIX com o surgimentodesses movimentos populares, é que ela é compreendida como estratégia governamental. Entre o século XVIII e XIX, com a Revolução Industrial na Inglaterra, que trouxe consequências com a urbanização exacerbada, o crescimento da taxa de natalidade, fecunda o germe da consciência política e social, organizações proletárias, sindicatos, cooperativas na busca de conquistar o acolhimento público e as primeiras ações de política social. Ainda nesta recente sociedade industrial, inicia-se o conflito entre os interesses do capital e os do trabalho. 7 Segundo Vieira E. (1992, p.81), a história do capitalismo testemunha contradição fundamental, de um lado, ininterrupto crescimento do mercado e do consumo e de outro, sua gradativa monopolização. Dessa forma, pode-se afirmar que não há política social desligada das lutas sociais. Porém, o Estado assume algumas das reivindicações populares, ao longo de sua existência histórica. Os direitos sociais dizem respeito inicialmente à consagração jurídica de reivindicações dos trabalhadores. Certamente, não se estende a todas as reivindicações, mas na aceitação do que é conveniente ao grupo dirigente do momento (Vieira, E., 1992, p.23). Conforme Faleiros (1991, p.8), pode-se afirmar que: As políticas sociais ora são vistas como mecanismos de manutenção da força de trabalho, ora como conquista dos trabalhadores, ora como arranjos do bloco no poder ou bloco governante, ora como doação das elites dominantes, ora como instrumento de garantia do aumento da riqueza ou dos direitos do cidadão. Sendo assim entre o século XIX e os anos 1930, foi marcado neste período predominantemente pelo liberalismo e sustentado pela concepção do trabalho como mercadoria e sua regulação pelo livre mercado. O DESENVOLVIMENTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL No Brasil as Políticas sociais têm a sua origem fortemente influenciada pelo desenvolvimento urbano industrial no qual o Estado redefiniu as suas funções e passou a utilizar diversos mecanismos institucionais de controle das forças populares, até então fora de sua esfera de intervenção. 8 Neste processo o desenvolvimento industrial, aliado a expansão urbana das grandes cidades, agravou-se a “questão social” em virtude do desenvolvimento de aglomerados em torno das cidades, atestaram o crescimento do índice de pobreza, de desemprego e da exclusão com privações social, econômica, cultural e política para a classe social que vive do trabalho. “A obra marxiana nos mostra os insumos teóricos para a compreensão da “questão social” como a expressão mais desenvolvida de um tipo de exploração diferenciada “que efetiva num marco de contradições e antagonismos que a tornam, pela primeira vez na história registrada, suprimível sem a supressão das condições nas quais se cria exponencialmente a riqueza social” (NETTO apud GUERRA; ORTIZ; VALENTE e FIALHO, 2007). De acordo a expressão marxiana ,a „‟questão social”, considerando como mais desenvolvida de um tipo de exploração diferenciada “que efetiva num marco de contradições e antagonismos que a tornam, pela primeira vez na história registrada, suprimível sem a supressão das condições nas quais se cria exponencialmente a riqueza social” (NETTO apud GUERRA; ORTIZ; VALENTE e FIALHO, 2007). Tentando compreender, os autores buscam acerca do processo do capital pode-se apreender como bem afirmam GUERRA; ORTIZ; VALENTE e FIALHO (2007), que a “questão social” como “fenômeno datado a partir do século XIX, período no qual era clara a extensão do pauperismo a um espectro cada vez maior de indivíduos, não mais limitados aos doentes, inválidos, órfãos, idosos ou viúvas, mas principalmente aqueles aptos para o trabalho”. Sendo assim, com o avanço do capital, as múltiplas expressões da “questão social” compreendem “novos” sujeitos sociais para além daqueles que vivem bem abaixo da linha de pobreza. 9 Devido as mudanças enfrentadas no Brasil, o Estado é requisitado para o enfrentamento das expressões da “questão social”. Entendeu-se que a sua atuação no campo das desigualdades sociais não podia mais ser enfrentada com força policial, e passou a ser reconhecida como função política. Assim, o autor comenta, em tais descontentamentos, foram criadas a políticas sociais, compreendidas como o “conjunto de programas e ações continuadas no tempo, que afetam simultaneamente várias dimensões das condições básicas de vida da população” (DRAIBE, 1997, p. 14). Historicamente as políticas sociais – surgem para subsidiar os trabalhadores no campo da proteção social que passa a ser promovida pelo Estado, para “apaziguar” as discrepâncias nocivas apontadas pelo capital. Particularmente no tocante ao Serviço Social, a “questão social” surge como um elemento fundamental para o entendimento do papel e sentido desta profissão na ordem burguesa. Mas não se deve compreender “a relação Serviço Social e „questão social‟ sem as necessárias mediações do Estado e das políticas sociais, estas como a modalidade sócio histórica através da qual o Estado enfrenta a „questão social‟ em momentos historicamente determinados visando a manutenção da ordem burguesa” (GUERRA; ORTIZ; VALENTE e FIALHO, 2007). Neste contexto histórico, o Serviço Social no Brasil, vem enfrentando a questão social em sua conjuntura, nos anos de 1930 do século XX, a revolução liderada por Getúlio Vargas (1883-1954) que mudou o bloco do poder e direcionou a política no sentido de transformar as relações Estado/sociedade para a integração do mercado interno e desenvolvimento da industrialização. Vargas governou sob ditadura (Estado Novo), após o golpe de 1937 até 1945 quando foi derrubado militarmente, através de sua política trabalhista, buscava simultaneamente minimizar as 10 greves e os movimentos operários e estabelecer um sistema de seguro social. Explicitamente falava em substituir a luta de classe pela colaboração das mesmas e dessa forma, se observava que o presidente oferecia uma resposta de cima, aos movimentos de baixo. O modelo de proteção social no governo de Vargas se redefinia como fragmentos em categorias e, se materializava-se de forma limitada e desigual na implementação dos benefícios, em troca de controlar as classes trabalhadoras. No período de 1964, ano do golpe militar, a 1988, ano da promulgação da constituição democrática, o país se desenvolveu economicamente com expansão da produtividade, modernização da economia e entrada do capital estrangeiro em parceria com o Estado, onde as políticas sociais apresentavam um caráter assistencialista e clientelista. Segundo afirma Vianna (1990, p.8), “[...] no pós-64, a intervenção social do Estado ganhou dimensões e características bastante nítidas, definindo um perfil específico de política social, regido por princípios „simples‟ e coerentes com o padrão excludente e conservador de desenvolvimento econômico”. Assim, a ditadura se caracterizou pela censura, ausência de eleições, controle do Congresso Nacional pelo poder militar, então no executivo e repressão violenta aos que se apresentavam como opositores. 11 De acordo Faleiros (2000), nesse contexto de relações do Estado com a sociedade, sem legitimidade política, embora houvesse uma falsa democracia, o bloco militar-tecnocrático-empresarial presente no poder obteve o apoio social da população ao aplicar certas medidas sociais. A conjuntura econômica brasileira já se demarcava pela inflação/dívida pública acentuada, no entanto a sociedade encontrou forças diante a repressão vivida, manifestando-se e lutando em busca de seus interesses. Faleiros (2000), novamente destaca que “[...] a sociedade emergiu com força inusitada dos porões da repressão com manifestações de rua, formação de comitês, articulação de organismos,estruturação de abaixo-assinados e organização de lobbies”. Sendo assim, a pressão dos grupos populares, as buscas fervorosas por soluções políticas, econômicas e sociais, levaram a sociedade a instaurar a Assembleia Nacional Constituinte em 1986, que resulta em 1988 na Constituição Federal. Contudo, a promulgação da Constituição Federal brasileira foi possível a efetivação de mudanças nas leis e a efetivação, ainda que na lei, na relação como assistência social como direito e na universalização do direito a saúde e outros. AS INSTÂNCIAS PÚBLICAS DE CONTROLE DEMOCRÁTICO E OS DESAFIOS NA ATUAL CONJUTURA 12 A análise dos principais mecanismos de controle democrático, na atual conjuntura, exige uma reflexão entre o momento de sua proposição – anos 80 – e o da sua implementação – anos 90 – bem como das questões enfrentadas na atual conjuntura. Destaca-se que esses mecanismos foram propostos num contexto de mobilização da sociedade civil, do processo Constituinte e promulgação da Constituição de 1988, que introduziu avanços que buscaram corrigir as históricas injustiças sociais acumuladas secularmente, mas incapaz de universalizar direitos tendo em vista a longa tradição de privatizar a coisa pública pelas classes dominantes. Importantes dispositivos foram definidos com relação à descentralização do poder federal e a democratização das políticas no sentido da criação de um novo pacto federativo, sendo o município reconhecido como ente autônomo da federação, transferindo-se, para o âmbito local, novas competências e recursos públicos capazes de fortalecer o controle social1 e a participação da sociedade civil nas decisões políticas. Essas concepções precisam ser qualificadas, pois ambas têm sido influenciadas por diferentes matrizes teóricas o que lhes atribui antagônicos conteúdos. A concepção de participação, defendida nos anos 1980, é a gestão nas políticas através do planejamento e fiscalização pela sociedade civil organizada. Ou seja, a interferência política das entidades da sociedade civil em órgãos, agências ou serviços do Estado responsáveis pela elaboração e gestão das políticas públicas na área social. Está relacionada à ampliação dos sujeitos sociais na democratização do Estado brasileiro, tendo no horizonte uma nova relação Estado-Sociedade com a ampliação dos canais de participação direta. O controle social enquanto direito conquistado pela Constituição Federal de 1988, mais precisamente do princípio “participação popular”, pretende ampliar a democracia representativa para a democracia participativa, de base. Estão previstas duas instâncias de participação nas políticas sociais: os conselhos e as conferências. 13 Os conselhos são espaços paritários em que a sociedade civil (50%) e os prestadores de serviços públicos, privados e filantrópicos discutem, elaboram e fiscalizam as políticas sociais das diversas áreas: saúde, educação, assistência social, criança e adolescência, idoso, entre outras. São baseados na concepção de participação social, que tem sua base na universalização dos direitos, pautada por uma nova compreensão do caráter e papel do Estado (CARVALHO, 1995). A sua novidade é a ideia do controle exercido pela sociedade através da presença e da ação organizada de diversos segmentos. Os Conselhos devem ser visualizados como lócus do fazer político, como espaços contraditórios, orientados pela democracia participativa, tendo no horizonte a construção da democracia de massas. Os Conselhos nos três níveis: nacional, estadual e municipal foi criados no início da década de 1990, após as Leis Orgânicas das diversas políticas sociais. As conferências são eventos que devem ser realizados periodicamente para discutir as políticas sociais de cada esfera e propor diretrizes de ação. As deliberações das conferências devem ser entendidas enquanto norteadoras da implantação das políticas e, portanto, influenciar as discussões travadas nos diversos conselhos. Destaca-se, entretanto, que esses não são os únicos espaços de ação para o exercício do controle social apesar de, sem dúvida, serem mecanismos fundamentais, já que estão previstos em lei federal (BARROS, 1994, p. 35) 4. Os mecanismos de controle democrático, entretanto, foram implementados a partir dos anos 1990, num cenário de regressão dos direitos sociais, de globalização e mundialização do capital, que tem na financeirização da economia um novo estágio de acumulação capitalista. As estratégias do grande capital passam a ser: acirrada crítica às conquistas sociais da Constituição de 1988 – com destaque para a concepção de Seguridade Social – e a construção de uma cultura persuasiva para difundir e tornar seu projeto consensual e compartilhado. Na atual conjuntura brasileira, o debate das políticas sociais públicas tem privilegiado a focalização em oposição à universalização, enfatizando a despolitização e a tecnificação dos interesses sociais. As forças majoritárias da 14 sociedade brasileira precisam debater a opção política a ser tomada, pois a questão de fundo está relacionada aos valores em que a mesma se estruturará, ou seja, se em valores individualistas, como os da sociedade norte-americana, ou em valores solidários, universalistas, impasses estão colocados, cabendo destacar a comunicação estabelecida com a sociedade brasileira; a fragilidade das lutas empreendidas pela sociedade civil em defesa das políticas públicas, seja nos espaços de controle democrático, como também em outras esferas e movimentos sociais organizados, bem como o papel desmobilizador dos governos na sua relação com a sociedade. Vianna (2001)” destaca que três mitos sobre a política social têm sido plantados pela Mota (1995) ressalta que esta cultura tem como eixo a crise e procura naturalizar a objetividade da ordem burguesa, tendo como base o novo conformismo social, visando o consentimento das classes subalternas a partir dos seguintes argumentos: a crise afeta toda a sociedade, desqualifica as posições antagônicas das classes, constroi um modo de integração passiva à ordem do capital, desmobilizando e despolitizando as lutas sociais e políticas. “Vianna (2001) Na atualidade, com as condições objetivas explicitadas de fragilização das lutas coletivas, considera-se como uma estratégia importante o fortalecimento da organização popular, tais como os conselhos, conferências e movimentos sociais, tendo como um dos objetivos o questionamento da cultura política da crise gestada pelo grande capital. Assim, precisa-se ter conhecimento das principais questões que esses mecanismos de Controle Social da Sociedade sobre o Estado têm, como também, atentar para alguns desafios a serem enfrentados. Diversos autores têm abordado Esta questão tem que ser politizada com os movimentos organizados e nos espaços públicos de controle democrático para que se fortaleça a concepção de Seguridade Social Pública Essa nã o é uma tarefa fácil, pois vários 15 esses espaços, tanto no Serviço Social como nas outras áreas do conhecimento, ressaltando seus limites e possibilidades. Várias pesquisas também têm sido realizadas em diversas áreas das políticas sociais. Os conselhos têm sido objeto de estudo entre setores liberais e da esquerda com diferentes matizes. Pelos liberais, eles são pensados como instrumentos ou mecanismos de colaboração, e pela esquerda como vias ou possibilidades de mudanças sociais, no sentido de democratização das relações de poder. Ressalta-se que os conselhos podem ser espaços de fortalecimento da gestão democrática, mas podem, também, ser transformados em estruturas burocráticas de aprovação de políticas sociais ou, ainda, em instrumentos que amenizam os conflitos (GOHN, 2001). Os conselhos podem ser espaços de legitimaçãodo poder dominante e de cooptação dos movimentos sociais ou se constituir em mecanismos de participação e controle social na perspectiva de ampliação da democracia direta (CORREIA, 2005). Cortes (1998) apresenta como determinantes que influenciam o caráter da participação social nos conselhos: as mudanças recentes na estrutura institucional do sistema brasileiro de saúde; a organização dos movimentos sociais e sindical na cidade; a aliança entre trabalhadores e lideranças populares ou sindicais; as posições dos gestores municipais sobre a participação dos usuários no sistema e a dinâmica de funcionamento dos conselhos. Campos e Maciel (1997) ressaltam como fundamental a eleição das entidades representativas dos segmentos dos usuários. A escolha dessas entidades nem sempre tem levado em consideração critérios como tradição política, base de sustentação, interesses representados, organização e dinâmica de funcionamento. A inobservância a esses critérios tem incentivado a participação elitista, burocrática e os representantes 16 têm atuado de forma pessoal, subjetiva e arbitrária, não debatendo com as bases de sua entidade as temáticas tratadas nos conselhos. Tendo por referência as análises desses espaços de controle democrático na atual conjuntura, considera-se, entretanto, que eles são importantes para a democratização do espaço público e para a mudança da cultura política presente ao longo da história brasileira, pautada no favor, no patrimonialismo, no clientelismo e populismo. Todas essas práticas não permitiram a criação de mecanismos de participação no processo de gestão das políticas sociais públicas diante do autoritarismo do Estado brasileiro. Um aspecto importante de ser reforçado é a afirmação de Dagnino (2002), que considera como equívoco atribuir aos espaços de participação da sociedade o papel de agentes fundamentais na transformação do Estado e da Sociedade. Eles têm que ser visualizados como uma das múltiplas arenas em que se trava a disputa hegemônica no país. Os autores citados, quando ressaltam os limites, também têm levantado as possibilidades que vão depender do nível de organização da sociedade civil, bem como do investimento através de assessoria dos profissionais e/ou entidades. Esse aspecto será ressaltado no próximo item, ao referir-se à contribuição dos assistentes sociais para o fortalecimento do controle democrático. ESTADO POLÍTICAS PÚBLICAS SOCIAIS 17 Para melhor compreensão e avaliação das políticas públicas sociais implementadas por um governo, é fundamental a compreensão da concepção de Estado e de política social que sustentam tais ações e programas de intervenção. Ou seja, visões diferentes de sociedade, Estado, política educacional geram projetos diferentes de intervenção nesta área. Formando na produção elementos sofismado em sua construção, instrumentos de avaliação de programas, projetos e mesmo de políticas públicas é fundamental se referir às chamadas “questões de fundo”, as quais informam, basicamente, as decisões tomadas, as escolhas feitas, os caminhos de implementação traçados e os modelos de avaliação aplicados, em relação a uma estratégia de intervenção governamental qualquer. Neste contexto é fundamental que estabeleça entre Estado e políticas sociais, ou melhor, entre a concepção de Estado e a(s) política(s) que este implementa, em uma determinada sociedade, em determinado período histórico. Na análise e avaliação de políticas implementadas por um governo, fatores de diferentes natureza e determinação são importantes. Especialmente quando se focaliza as políticas sociais (usualmente entendidas como as de educação, saúde, previdência, habitação, saneamento etc.) os fatores envolvidos para a aferição de seu “sucesso” ou “fracasso” são complexos, variados, e exigem grande esforço de análise. As Políticas públicas são entendidas como o “Estado em ação” (Gobert, Muller, 1987); é o Estado implantando um projeto de governo, através de programas, de ações voltadas para setores específicos da sociedade. 18 Estado não pode ser reduzido à burocracia pública, aos organismos estatais que conceberiam e implementariam as políticas públicas. As políticas públicas são aqui compreendidas como as de responsabilidade do Estado – quanto à implementação e manutenção a partir de um processo de tomada de decisões que envolve órgãos públicos e diferentes organismos e agentes da sociedade relacionados à política implementada. Neste sentido, políticas públicas não podem ser reduzidas a políticas estatais. No desenvolvimento do processo de acumulação capitalista – e nas crises do capitalismo – as formas de utilização tradicionais da força de trabalho se deterioram, são até mesmo destruídas, escapando à competência dos próprios indivíduos a decisão quanto à sua utilização. Relacionado a isto, funções tradicionalmente não sujeitas ao controle estatal e circunscritas às esferas privadas da sociedade – inclusive a educação – passam a ser desempenhadas pelo Estado. Sendo assim o Estado atua como regulador a serviço da manutenção das relações capitalistas em seu conjunto. Ou seja, esta função reguladora através da política social é claramente colocada por Offe: “(...) a política social é a forma pela qual o Estado tenta resolver o problema da transformação duradoura de trabalho não assalariado em trabalho assalariado” (Lenhardt & Offe, 1984, p. 15). O Estado capitalista moderno cuidaria não só de qualificar permanentemente a mão-de-obra para o mercado, como também, através de tal política e programas sociais, procuraria manter sob controle parcelas da população não inseridas no processo produtivo. O sistema de acumulação capitalista engendra em seu desenvolvimento problemas estruturais relativos à constituição e reprodução permanente da força de trabalho e à socialização desta através do trabalho assalariado. Assim, o Estado deve “responder” a estes problemas, ou em outros termos, deve assegurar as condições materiais de reprodução da força de trabalho – inclusive 19 visando uma adequação quantitativa entre a força de trabalho ativa e a força de trabalho passiva – e da reprodução da aceitação desta condição. “Offe & Lenhardt colocam em questão dois esquemas de argumentação da ciência política: a) a explicação da gênese da política social estatal baseada na teoria dos interesses e das necessidades, a partir de exigências políticas dos trabalhadores assalariados organizados; b) a explicação da gênese da política social a partir dos imperativos do processo de produção capitalista, das exigências funcionais da produção capitalista “(Offe, 1984, p. 3237). A concorrência de fatores advindos de diferentes esferas e organismos da sociedade em seu conjunto para a gênese e desenvolvimento do Estado tem sido sistematicamente apontada por Offe em seus trabalhos. Respondendo à uma pergunta sobre um “novo pacto social”, o autor assinala: “os problemas de um país não vão ser resolvidos apenas pela ação do Estado ou do mercado. É preciso um novo pacto, que resolve o dever do Estado de dar condições básicas de cidadania, garanta a liberdade do mercado e da competição econômica e, para evitar o conflito entre esses dois interesses, permita a influência de entidades comunitárias.” (entrevista publicada em Veja, abril de 1998) Por tanto as ações empreendidas pelo Estado não se implementam automaticamente, têm movimento, têm contradições e podem gerar resultados diferentes dos esperados. Especialmente por se voltar para e dizer respeito a grupos diferentes, o impacto das políticas sociais implementadas pelo Estado capitalista sofrem o efeito de interesses diferentes expressos nas relações sociais de poder. Tendo em vista que, as teorias políticas liberais concebem asfunções do Estado essencialmente voltadas para a garantia dos direitos individuais, sem interferência nas esferas da vida pública e, especificamente, na esfera econômica da sociedade. Entre os direitos individuais, destacam-se a “propriedade privada como direito natural” (Locke, 1632-1704), assim como o direito à vida, à liberdade e aos bens necessários para conservar ambas. 20 Na medida em que o Estado, no capitalismo, não institui, não concede a propriedade privada, não tem poder para interferir nela. Tem sim a função de arbitrar – e não de regular – conflitos que possam surgir na sociedade civil, onde proprietários e trabalhadores estabelecem relações de classe, realizam contratos, disputam interesses etc. As teses neoliberais, absorvendo o movimento e as transformações da história do capitalismo, retomam as teses clássicas do liberalismo e resumem na conhecida expressão “menos Estado e mais mercado” sua concepção de Estado e de governo. Voltadas fundamentalmente para a crítica às teses de Keynes (1883-1946), que inspiraram o Estado de Bem-Estar Social, defendem enfaticamente as liberdades individuais, criticam a intervenção estatal e elogiam as virtudes reguladoras do mercado. Estas ideias ganharam força e visibilidade com a grande crise do capitalismo na década de 1970, apresentada como possíveis saídas para a mesma. Assim, para os neoliberais, as políticas (públicas) sociais – ações do Estado na tentativa de regular os desequilíbrios gerados pelo desenvolvimento acumulação capitalista – são consideradas um dos maiores entraves a este mesmo desenvolvimento e responsáveis, em grande medida, pela crise que atravessa a sociedade. A intervenção do Estado constituiria uma ameaça aos interesses e liberdades individuais, inibindo a livre iniciativa, a concorrência privada, e podendo bloquear os mecanismos que o próprio mercado é capaz de gerar com vistas a restabelecer o seu equilíbrio. Sendo uma vez livre, o mercado é apontado pelos neoliberais como o grande equalizador das relações entre os indivíduos e das oportunidades na estrutura ocupacional da sociedade. Coerentes com estes postulados, os neoliberais não defendem a responsabilidade do Estado em relação ao oferecimento de educação pública a todo cidadão, em termos universalizantes, de maneira padronizada. 21 Um sistema estatal de oferta de escolarização compromete, em última instância, as possibilidades de escolha por parte dos pais em relação à educação desejada para seus filhos. Ou seja, uma administração pública – informada por uma concepção crítica de Estado – que considere sua função atender a sociedade como um todo, não privilegiando os interesses dos grupos detentores do poder econômico, deve estabelecer como prioritários programas de ação universalizantes, que possibilitem a incorporação de conquistas sociais pelos grupos e setores desfavorecidos, visando à reversão do desequilíbrio social. Mais do que oferecer “serviços” sociais – entre eles a educação – as ações públicas, articuladas com as demandas da sociedade, devem se voltar para a construção de direitos sociais. Numa sociedade extremamente desigual e heterogênea como a brasileira, a política educacional deve desempenhar importante papel ao mesmo tempo em relação à democratização da estrutura ocupacional que se estabeleceu, e à formação do cidadão, do sujeito em termos mais significativos do que torná-lo “competitivo frente à ordem mundial globalizada”. Ou seja, a frustração – ou não – destas expectativas se coloca em relação direta com os pressupostos e parâmetros adotados pelos órgãos públicos e organismos da sociedade civil com relação ao que se concebe por Estado, Governo e Educação Pública. 22 CONSIDERAÇÕES FINAIS Identificam-se, no Serviço Social, a partir dos anos 1990, diversas produções que analisam os mecanismos de controle democrático construídos nos anos 1980, no processo de redemocratização da sociedade brasileiro, e implementado nos anos 1990, período de crise e aprofundamento da política de ajuste, que têm impactos na organização e mobilização dos sujeitos sociais, conforme já explicitado neste texto. Essas produções, entretanto, não têm como preocupação central a análise do trabalho do assistente social nessas instâncias. Algumas pontuam questões a serem enfrentadas, demandas para o profissional, mas não se detêm nessa análise. As publicações que tratam dessa temática são produzidas a partir do ano 2000, sendo resultado da inserção dos profissionais em diversos espaços de controle democrático, como conselhos, conferências, fóruns, plenárias, comitês, orçamento e planejamento participativo, bem como de projetos de extensão que articulam ensino e pesquisa das universidades. As proposições apresentadas abrem a possibilidade para que os assistentes sociais passem de meros executores das políticas para atuarem na formulação e assessoria aos diversos sujeitos coletivos e movimentos sociais participantes deste processo. Sabe-se, entretanto, que essa produção é ainda muito restrita. A maioria dos autores do Serviço Social que estão estudando os conselhos tem sua fundamentação em Gramsci e apreendem a contradição de classes como questão central desses mecanismos, analisando-os como arena de conflitos, onde estão em jogo interesses antagônicos. Nas outras áreas, identifica-se um número significativo de estudos que concebem os conselhos enquanto espaços de consenso, de pacto, onde os diferentes interesses sociais convergem para o interesse de todos. Com relação à ação do assistente social, podem-se identificar duas direções. A primeira tem sido desenvolvida pelos profissionais como apoio-técnico ou técnicoadministrativo, ou seja, os profissionais dão suporte aos conselhos exercendo as seguintes atividades: elaboração da pauta e de relatórios da reunião, convocação das reuniões, organização da documentação. Esse tipo de trabalho tem sido exercido por funcionários das prefeituras e que, muitas vezes, ocupam o lugar de secretário executivo dos conselhos. Este tipo de atividade precisa de reflexão, pois a atuação 23 profissional está reduzida à atividade administrativa, de suporte legal aos conselhos, não estabelecendo relação com o projeto ético-político da categoria. A segunda caracteriza as ações técnico-políticas, desenvolvidas pelos assistentes sociais, junto aos conselhos e/ou segmentos dos conselhos que envolvem a democratização e socialização da informação, realização de pesquisas, ação socioeducatica. Elas configuram um trabalho de assessoria que, conforme foi sinalizado por alguns autores, não deve ser pontual, mas estar articulada com diversas ações. É importante, nesta atividade, a colaboração da Universidade para garantir uma relativa autonomia na análise com relação às políticas sociais. Outra questão importante refere-se ao desafio posto aos profissionais de Serviço Social vinculados à Universidade para retomar a articulação ensinopesquisa e extensão. Nos anos 1980, houve um dinamismo das experiências de extensão articuladas ao estágio. Estas, entretanto, tiveram um recuo a partir de 1990. A extensão também tem sofrido mutações. A concepção que se defende pauta-se na universidade compromissada com a sociedade e com as transformações necessárias para o fortalecimento da democracia de massas, e não na prestação de serviços, com viés privatista. Ressalta-se que as entidades da categoria, principalmente o conjunto CFESS/CRESS, têm estimulado a inserção dos assistentes sociais nos espaços de controle democrático desde 1998. movimentos sociais é um espaço de trabalho que os assistentes sociais podem contribuir para o fortalecimento dos sujeitos políticos na perspectiva da garantia e/ou ampliação dos direitos sociais, tendo no horizonte a emancipação humana.A partir das indicações pontuadas, considera - se que a assessoria às instâncias públicas de controle democráticas articuladas aos 24 REFERÊNCIAS: CAMPOS, E. B.; MACIEL, C. A. B. Conselhos paritários: O enigma da participação e da construção democrática. Serviço Social & Sociedade. São Paulo: Cortez, n. 55, 1997. CORREIA, Maria Valéria da Costa. Que controle social? Os conselhos de saúde como instrumento. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2000. ______. Desafios para o Controle Social: subsídios para capacitação de conselheiros de saúde. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2005. GUERRA, Yolanda; ORTIZ, Fátima da silva Grave; VALENTE, Joana; FIALHO, Nádia. O debate contemporâneo da “questão social”. IN: III Jornada Internacional de políticas Públicas. São Luís – MA, 28 a 30 de agosto 2007. FALEIROS, Vicente de Paula. Natureza e desenvolvimento das políticas sociais no Brasil. IN: Capacitação em Serviço Social e Política Social. Módulo 3 p. 43-56, 2000. NETTO, José Paulo. Democracia e Transição Socialista: escritos de teoria e política. Belo Horizonte: Oficina de Livros, 1990. ______. A construção do projeto ético-político do Serviço Social e a crise contemporânea. Capacitação em Serviço Social e Política Social. Módulo 1. Brasília, CEAD, 1999. OFFE, Claus. Algumas contradições do Estado Social Moderno. Trabalho & Sociedade: Problemas estruturais e perspectivas para o futuro da sociedade do trabalho, vol. 2, Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1991. OFFE, Claus. Problemas estruturais do Estado capitalista. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1984. 25 VIANNA, Maria Lucia Teixeira Werneck. O Silencioso Desmonte da Seguridade Social no Brasil. In: BRAVO, Maria Inês Souza; PEREIRA, Potyara A. P. (Org.). Política Social e Democracia. São Paulo: Cortez; Rio de Janeiro: UERJ, 2001.
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