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1 Laís Flauzino | OTORRINOLARINGOLOGIA | 7°P Doenças Sistêmicas 3M2 – DOENÇAS GRANULOMATOSAS NASAIS E INFECCIOSAS SISTÊMICAS FISIOPATOLOGIA: Praticamente todas as doenças tem alguma alteração na via respiratória. • Inflamação crônica • Histologicamente marcada pela formação do granuloma • Macrófagos (epitelioides) cercado por um colar de linfócitos Granulomas – são macrófagos que chegam até a lesão, se tornam epitelioides e acabam entrando em apoptose. Fazem um colar envolta da lesão para evitar que a lesão se expanda. Colar de linfócitos. 1. Macrófagos 2. Fagocitam os agentes “indigestos”. 3. Como resposta, os macrófagos perdem sua motilidade e se acumulam. 4. Fundem-se formando células gigantes multinucleadas. 5. Esse conjunto é circundado por linfócitos. 6. Granuloma Os macrófagos fagocitam parte da lesão e vão formando esse colar envolta. Vai formando o granuloma, fazendo apoptose contendo a lesão. Manifestações: • Geralmente inespecíficas – pode ter febre, pode ter dor, tosse, alteração da fala (disfonia) • Queixas mais frequentes: obstrução nasal, crostas, cacosmia e rinorreia mucossanguinolenta. • Exame físico: mucosa hiperemiada e irregular, aspecto de granulação, com crostas e ocasionalmente com perfuração septal. Pode ser por alteração local, alteração sistêmica ou vascular. Pcts que fazem uso de drogas intranasais (tipo cocaína) – faz vasoconstrição e acaba levando a uma isquemia naquele local podendo causar lesão. Granulomatoses nasais são doenças inflamatórias nasais crônicas específicas em que histologicamente há formação de granulomas. O granuloma é uma área focal de inflamação crônica caracterizada por macrófagos transformados em células semelhantes a células epiteliais (células epitelioides), cercados por um colar de linfócitos (Fig. 63-1). Essas células epitelioides podem se fundir e formar as células gigantes, caracterizadas por abundante citoplasma e 20 ou mais núcleos distribuídos na periferia (células gigantes de Langhans) ou ao acaso (célula gigante do tipo corpo estranho). Classificação: Infecciosa ■ Bacteriana (actinomicose, hanseníase, rinoscleroma, sífilis e tuberculose). ■ Fúngica (histoplasmose, paracoccidioidomicose e rinosporidiose). 2 Laís Flauzino | OTORRINOLARINGOLOGIA | 7°P ■ Parasitária (Leishmaniose). Etiologia Desconhecida ■ Sarcoidose. ■ Doença de Crohn. Autoimune ■ Granulomatose de Wegener. ■ Lúpus eritematoso sistêmico. ■ Síndrome de Churg-Strauss. ■ Policondrite recorrente. Induzida por Trauma ■ Granuloma de colesterol. ■ Granuloma por uso de cocaína. MANIFESTAÇÕES As manifestações nasais dessas doenças geralmente são inespecíficas. As queixas mais frequentes são obstrução nasal, crostas, cacosmia e rinorreia mucosa sanguinolenta. Ao exame físico, a mucosa nasossinusal apresenta-se hiperemiada e irregular com aspecto de granulação, com crostas e, ocasionalmente, com perfuração do septo nasal. Alguns achados ao exame físico são sugestivos, como a depressão da pirâmide nasal em granulomatose de Wegener ou por abuso de cocaína. A ponta nasal arroxeada pode ser vista em sarcoidose. O exame endoscópico demonstrando nódulos submucosos e amarelados é sugestivo da sarcoidose. Perfuração septal pode sugerir granulomatose de Wegener ou abuso de cocaína. Apesar de muitas dessas doenças serem localizadas, algumas podem estar associadas a doenças sistêmicas e letais. A avaliação dos pacientes requer detalhada história clínica e exame físico cuidadoso em busca de evidências de doença em outras áreas, como artrite, lesões dos sistemas nervosos central e periférico, inflamação ocular, envolvimento renal ou do trato respiratório inferior. Somente nesse contexto o exame do nariz e das cavidades paranasais pode ser apropriadamente interpretado. INFECIOSAS: • Tuberculose • Hanseníase • Leishmaniose • Sífilis • Rinoscleroma • Paracoccidioidomicose TUBERCULOSE: Doença sistêmica com comprometimento pulmonar (local da primo infecção) Agente: • Bacilo de Koch/mycobacterium tuberculosis • Transmissão via inalatória ou contato direto com secreções de feridas fistulizadas BCG – protege da forma pulmonar (e meníngea – mas a tuberculose da otorrino pode estar desassociada a tuberculose pulmonar) Clínica: • Obstrução nasal • Epistaxe (recorrente) • Rinorreia • Tumoração septal rósea com ulceração superficial – sangrante ORL: • Linfonodos cervicais, indolores, triangulo cervical posterior (fístulas) – bilaterais ou unilaterais • Úlceras rasas e pálidas nas amígdalas Amigdalite de repetição em adultos não é comum. • Múltiplas perfurações na MT (membrana timpânica) • Ulcerações em PPVV (pregas vocais bilaterais) – disfonia e dor • Sialoadenite (Parotidite) – aumento das parótidas por obstrução ou má drenagem • Obstrução nasal, crostas, rinorreia mucóide, epistaxe, perfuração septal e lesões granulomatosas em cabeça do corneto inferior Corneto inferior principalmente pq ele tem maior contato com o ar filtrado – é mais central, tem maior acometimento. • Tratamento: RIPE (4 meses) + RI (2 meses) • Dx definitivo: histopatologia evidenciando granuloma caseoso de cel gigantes com BAAR Doença infecciosa crônica, contagiosa, cujo agente etiológico é Mycobacterium tuberculosis ou bacilo de Koch. Trata-se da causa mais comum de mortalidade por doença infecciosa no mundo. A Organização Mundial da Saúde estima que 2 bilhões de pessoas tenham tuberculose latente e outros 3 milhões morram anualmente no mundo todo. A transmissão se dá por inalação, contudo pode ser por contato direto em ferida aberta. A mucosa nasal tem ação bacteriostática, porém em situações em que a defesa orgânica está diminuída, o bacilo pode proliferar na região da cavidade nasal. As mulheres são mais acometidas que os homens, e a incidência é maior em pessoas de meia-idade e idosos. A infecção primária é tipicamente uma lesão assintomática em lobo inferior do pulmão. Envolvimento secundário manifesta-se com sudorese noturna, febre, perda de peso e tosse crônica não produtiva. Tuberculose na região de cabeça e pescoço é infrequente e o envolvimento de nariz e cavidades paranasais é raro, representando, na maioria dos casos, um evento secundário ao acometimento pulmonar. O septo nasal é mais acometido que a parede lateral; entretanto, quando esta última é afetada, a lesão localiza-se preferencialmente em concha nasal inferior. O envolvimento de ambas as cavidades nasais pode ser mais raro. 3 Laís Flauzino | OTORRINOLARINGOLOGIA | 7°P O sintoma mais referido é a obstrução nasal acompanhada de episódios de epistaxe e rinorreia mucopurulenta. Outras queixas podem incluir prurido, crises esternutatórias, formação de crostas e cacosmia. Classicamente, a doença é primeira vista como tumoração septal rósea/púrpura ou como infiltração da mucosa com ulceração superficial sangrante ao toque com estilete. Pode ocorrer acometimento da pele da face e do nariz e envolvimento do ducto lacrimal, produzindo dacriocistite. O envolvimento da pirâmide óssea é raro. Se não tratada, a doença evolui com destruição óssea (especialmente maxila e etmoide), com extensão orbitária e intracraniana. O diagnóstico é por história clínica e exames subsidiários. Deve-se pesquisar o agente em raspados de mucosa nasal e biópsia de lesão granulomatosa. Devem-se recorrer a provas laboratoriais, tais como exame bacteriológico e cultura, estudo radiológico e complementação com biópsia. O diagnóstico definitivo geralmente é conseguido pelo estudo histopatológico, pois é muito difícil individualizar o agente etiológico por intermédio da bacterioscopia num meio de grande contaminação secundária, como na cavidade nasal. O estudo histopatológico evidencia granulomas caseosas de células gigantes, nos quais se identificam bacilos álcool-ácido resistentes. O tratamentorecomendado é isoniazida, rifampicina e pirazinamida por dois meses, seguidas por isoniazida e rifampicina por mais quatro meses. Deve- se fazer a notificação compulsória da doença. As lesões tuberculosas orais apresentaram um novo aumento nos últimos anos devido ao recrudescimento da tuberculose de maneira geral, seja pelo surgimento de cepas do bacilo de Koch resistentes aos esquemas de tratamento habituais, ou mesmo pelo aumento dos casos de AIDS, o que levou à modificação de programas governamentais de controle da doença. A tuberculose tem cura e o tratamento é gratuito e disponibilizado pelo Sistema Único de Saúde. Seu agente etiológico é o Mycobacterium tuberculosis, micobactéria de multiplicação lenta, também conhecido como bacilo de Koch, um bacilo álcool- ácido resistente. O contágio é respiratório na grande maioria dos casos. Pode apresentar-se de duas formas na boca: como uma doença primária, mais rara, que ocorre como resultado da inoculação direta de tecidos orais, ou como uma lesão secundária a uma tuberculose pulmonar, devido a disseminação hematogênica ou linfática e extensão para estruturas vizinhas. É descrita uma prevalência de lesões orais em 0,05% a 1,5% em pacientes com tuberculose pulmonar. A raridade da tuberculose primária pode ser explicada pela grande vascularização da mucosa oral e também pela ação germicida da saliva. A forma primária ocorre com mais frequência em crianças e adolescentes, sendo que a secundária é vista em adultos e idosos. Fatores sistêmicos e locais podem ser predisponentes para o surgimento de lesões orais. Dentro dos sistêmicos, podemos incluir qualquer imunossupressão, diabetes melito, alcoolismo, linfomas, tumores malignos e aumento da virulência do patógeno. Entre os locais, inclui-se a má higiene oral, o trauma local, as inflamações crônicas, as erupções dentárias, as lesões cirúrgicas, as doenças periodontais, as cáries, a exposição da polpa dentária, os cistos e os abscessos dentários. Tuberculose ocorre com mais frequência em homens do que mulheres e afeta mais a população de nível socioeconômico mais baixo. Quadro clínico: Ulcerações irregulares muito dolorosas e recobertas por fibrina, únicas ou múltiplas. Mais raramente podem manifestar-se como macroglossia, fissuras, nódulos ou placas. Os locais mais frequentes são a língua, a mucosa labial, o palato duro, as mucosas gengival e bucal, sendo acompanhados por persistente linfadenopatia cervical. Podem ocasionar hipersalivação, além de dificuldade à ingesta de alimentos e à fala. Diagnóstico O diagnóstico de tuberculose deve ser suspeitado pelo aspecto clínico das lesões e, principalmente, pela dor intensa que o paciente apresenta. Além disso, o histórico de tosse crônica, de sudorese noturna e de emagrecimento pode indicar doença. Os exames complementares são fundamentais para compor o diagnóstico. O raio X de tórax pode mostrar infiltrado miliar ou mesmo cavernas. O derivado de proteína purificada (PPD, purified protein derivative) e a pesquisa de bacilo de Koch no escarro devem ser sempre solicitados. O exame anatomopatológico de fragmento da lesão pode mostrar necrose caseosa e células gigantes de Langerhans e é indispensável no diagnóstico da tuberculose oral primária. O diagnóstico diferencial das úlceras tuberculosas inclui uma variedade de doenças ulcerativas, tais como carcinoma de células escamosas, úlceras traumáticas, estomatite aftosa, úlceras sifilíticas, 4 Laís Flauzino | OTORRINOLARINGOLOGIA | 7°P actinomicoses, histoplasmose, granulomatose de Wegener, sarcoidose, doença de Crohn, leishmanioses e doença de Hansen. Tratamento O tratamento básico deve ser feito durante seis meses, com uma fase de ataque de dois meses e uma fase de manutenção com duração de quatro meses. O esquema tríplice, composto por rifampicina, isoniazida e pirazinamida na fase de ataque, e fase de manutenção com rifampicina e isoniazida, sofreu modificações. A inclusão de uma quarta droga, o etambutol, foi uma delas. A introdução do etambutol foi justificada pelo aumento da resistência primária à isoniazida, e espera-se, com isso, evitar o aumento da multirresistência. A terapia local para as lesões orais inclui a administração de anti-inflamatórios tópicos e agentes protetores da mucosa oral. Deve-se ressaltar, ainda, a importância de uma boa orientação quanto à higiene oral e à eliminação de possíveis fatores traumáticos. Além da introdução do etambutol, a segunda mudança consistiu em introduzir a apresentação em comprimidos com dose fixa combinada dos 4 fármacos (4 em 1) para a fase intensiva do tratamento. Os comprimidos são formulados com doses reduzidas de isoniazida e de pirazinamida em relação às atualmente utilizadas no Brasil. As vantagens da mudança da apresentação dos fármacos são, entre outras, o maior conforto do paciente, pela redução do número de comprimidos a serem ingeridos, a impossibilidade de tomada isolada de fármacos e a simplificação da gestão farmacêutica em todos os níveis. O esquema quádruplo proposto atualmente pelo Programa Nacional de Controle de Tuberculose do Ministério da Saúde (Tabela 83-1) é indicado para todos os casos novos, isto é, pacientes sem nenhum uso de medicação antituberculose prévia ou, no máximo, uso inferior a 30 dias. É utilizado para todas as formas de tuberculose pulmonar ou extrapulmonar infectados, ou não, pelo vírus da imunodeficiência humana, o HIV. A única exceção são os casos de meningoencefalite. Em casos de recidiva, independentemente do tempo decorrido do primeiro episódio, ou de abandono de tratamento em casos de doença ainda ativa, o retratamento é indicado. Nessa situação, devem-se solicitar a cultura, a identificação da espécie e o teste de sensibilidade em todos os casos. O teste de cultura e o teste de sensibilidade também devem ser solicitados para todos os casos de baciloscopia positiva ao final do segundo mês de tratamento. Otorrinolaringologia, A.B. D. (2017). Tratado de Otorrinolaringologia (3rd ed.). Grupo GEN. https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/978 8595154247 HANSENÍASE: • Mycobacterium leprae ou bacilo de Hansen • Doença granulomatosa que acomete pele e nervos periféricos Pode causar alterações laríngeas e respiratórias. Acomete muito a parte nervosa – faz lesão vascular e nervosa – causa alteração da sensibilidade. Aparece manchas que o pct não sente no local da mancha – fazer avaliação da sensibilidade dessas manchas. • Comum em climas tropicais – contato domiciliar bacilífero • Áreas mais frias do corpo: nariz, pele e nervos superficiais – são mais acometidos • Transmissão: secreções nasais, úlceras exudativas, leite materno Criança não pode ser amamentada se mãe está com bacilo ativo. • Biópsia: ricas em bacilos de Hansen. Formas clínicas: • Indeterminada – manchas sem sensibilidade (Baixo risco de contágio) • Tuberculóide – pele, nervos e gânglios (baciloscopia negativa) • Virchowiana – lesões mucosas nasofaríngeas, altamente bacilíferas. Manifestações clínicas: • Acometem mucosa nasal em 95% dos casos • Rinite congestiva: rinorreia, obst nasal, epistaxe, lesões ulceradas • Fase granulomatosa: infiltração rosa pálida, alteração em septo e conchas. • Fase atrófica: infiltração secundária, diminui vascularização, perfuração septal – nariz em sela, alteração sensibilidade – anosmia Lesões osteocartilaginosas com reabsorção das cartilagens septais, lateral superior e inferior. Diagnóstico: • Esfregaço de raspado epidérmicos e nasais contando o m. leprae • Lesões de pele com alteração de sensibilidade • Acometimento de nervos com espessamento neural https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/9788595154247 https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/9788595154247 5 Laís Flauzino | OTORRINOLARINGOLOGIA | 7°P O 1° par de nervo craniano (olfatório) é o mais acometido – ocorrediminuição do olfato, vai ter edema no local, diminuição das células que chegam. • Baciloscopia positiva Tratamento: • Paucibacilares – Dapsona 100 mg/d e Rifampicina 600 mg/dia por 6 m a 2 anos • Multibacilares – D + R + Clofazimina 50 mg/d por no mínimo 2 anos Para fazer cirurgia reconstrutora são necessários pelo menos 2 anos após o tratamento completo – usa auto enxerto. Se não fizer o tratamento correto, há chances de voltar e perder a cirurgia. GRANULOMATOSES NASAIS INFECCIOSAS BACTERIANAS O agente etiológico é Mycobacterium leprae ou bacilo de Hansen, que é um bacilo álcool-ácido resistente, parasita intracelular obrigatório, que possui afinidade com células cutâneas e nervos periféricos. O período de incubação é longo, 2 a 5 anos em média. O homem é considerado o único reservatório natural no que diz respeito à transmissão da doença. O sexo masculino é mais acometido. A transmissão da doença ocorre em geral por contato prolongado entre pacientes multibacilíferos não tratados (fonte de infecção) e indivíduos não infectados. Nota-se ainda a importância do muco nasal na transmissão da infecção, podendo ser o fator primordial para a disseminação da doença; a mucosa nasal é considerada a principal porta de entrada e saída para M. leprae, por ser facilmente vulnerável e oferecer livre acesso aos bacilos. As principais formas clínicas são: ■ Indeterminada: as primeiras manifestações clínicas são manchas ou áreas na pele com distúrbio de sensibilidade em decorrência de lesão neural. Nesta fase é difícil identificar o bacilo e o risco de contágio é pequeno. Pode regredir espontaneamente ou evoluir para os tipos polares. ■ Tuberculoide: acomete pele, nervos e gânglios. A baciloscopia é negativa. ■ Virchowiana: atinge mucosas e vísceras. As lesões das mucosas nasofaríngeas são frequentes e têm a particularidade de ser altamente bacilíferas. Há acometimento das mucosas (nariz, boca, faringe, laringe e olhos) desde o início da erupção tuberosa da pele, sobretudo a do nariz. Vários autores consideram de maneira unânime ser o nariz a sede inicial das lesões hansênicas, podendo preceder em meses a anos o acometimento cutâneo e neurológico. As manifestações clínicas apresentam-se de acordo com os estágios da doença: ■ Rinite congestiva: quadro inicial com rinorreia, obstrução nasal, epistaxe, lesões ulceradas e lepromas nodulares. A baciloscopia pode ser positiva. ■ Fase granulomatosa: infiltração de cor rósea pálida na região do septo e conchas nasais. Nesta fase, a baciloscopia é sempre positiva. ■ Fase atrófica: ulceração, infecção secundária, diminuição da irrigação sanguínea do pericôndrio, podendo produzir perfuração do septo nasal, alteração da sensibilidade e perturbações do olfato. A destruição do septo nasal predispõe à formação do nariz em sela (Fig. 63-3). As conchas nasais se atrofiam, predispondo à formação de crostas (Fig. 63- 4). O diagnóstico é obtido por meio da história clínica e do exame dermatoneurológico, complementado por testes e exames laboratoriais. Realiza-se exame baciloscópico do esfregaço dérmico de todos os pacientes com suspeita clínica de hanseníase. Os sítios de coleta de material são áreas com alterações da sensibilidade ou lesões ativas. Não existindo lesões ou áreas dormentes, a coleta é realizada nos dois lóbulos auriculares e nos dois cotovelos, utilizando-se posteriormente a coloração de Ziehl- Neelsen. Pesquisas demonstram a alta sensibilidade de exames de detecção de M. leprae no nariz, como swab nasal, exame histopatológico da mucosa nasal e reação em cadeia da polimerase (PCR) de muco e mucosa nasal, especialmente em pacientes virchowianos. A poliquimioterapia (rifampicina, dapsona e clofazimina) é a base do tratamento, variando de seis meses a um ano, dependendo da forma clínica da doença. Após duas semanas do início do tratamento, o paciente deixa de ser infectante. Os medicamentos são fornecidos pelo Ministério da Saúde e o tratamento deve ser feito em unidades de saúde. Trata-se de uma doença de notificação compulsória. 6 Laís Flauzino | OTORRINOLARINGOLOGIA | 7°P A rinossinusite crônica pode ser tratada cirurgicamente, em especial quando ocorre formação de fístula cutânea, optando-se por abordagens externas (Fig. 63-5). As sequelas nasais e faciais da hanseníase, notadamente na forma virchowiana, são estigmatizantes e usualmente necessitam de reabilitação cirúrgica. Em geral, o tratamento cirúrgico pode ser dois anos após o paciente ser considerado curado. As deformidades mais comuns e seu tratamento usual são: ■ Nariz em sela: rinoplastia com enxerto costocondral. ■ Perfuração de septo nasal: correção de perfuração com enxertos. ■ Madarose: implante capilar. ■ Rugas faciais: ritidoplastia centrofacial. ■ Lagoftalmo: implante de peso de ouro na pálpebra superior. ■ Ectrópio paralítico: cantoplastia com enxerto tarsal inferior. ■ Megalóbulo: reconstrução do lóbulo da orelha LEISHMANIOSE: Protozoário – Leishmania brasiliensis – picada do flebótomo Leishmaniose cutânea: • Local da picada, aumentando gradualmente, úlceras e crostas Cutaneomucosa: • Disseminação sanguínea e linfática • Mais frequente mucosa nasal edemaciada, ulcerada com coriza e epistaxe Visceral: • Mais grave • Febre e hepatoesplenomegalia Diagnóstico: Identificação do amastigota no histopatológico, sorologia e PCR Tratamento: • Glucantime • Anfotericina B (1mg/kg/d) – casos reincidentes ou resistentes • Cx reparadora após 2 anos tratado Pode ter crosta, perfuração septal etc. Nariz de anta ou tapir – columela não existe mais. Leishmaniose Leishmaniose, calazar ou úlcera de Bauru é uma doença provocada por protozoários do gênero Leishmania, transmitida ao homem pela picada de mosquitos flebotomíneos (Phlebotomus ou Lutzomya), também chamados de mosquito-palha ou birigui. Encontra-se entre as grandes endemias existentes no Brasil e na América Latina. Mesmo levando-se em conta as falhas de notificação compulsória, é evidente o crescente número de casos novos da doença. Calcula-se que a prevalência mundial de leishmaniose seja de 12 milhões, acometendo 80 países e com estimativa de 400.000 casos novos da doença por ano. Pode ser classificada em: cutânea, cutaneomucosa e visceral. Na leishmaniose cutânea, as lesões surgem no local da picada, inicialmente pequenas, aumentando gradualmente, com frequência ulceradas e formando crostas. O comprometimento mucoso dá-se por disseminação sanguínea ou linfática, podendo exteriorizar-se após vários anos. Este comprometimento é inicialmente mais frequente na mucosa nasal (90%), que se torna edematosa, ulcerada; há coriza, epistaxe. A forma visceral é a mais grave. Os sintomas mais típicos são febre e hepatoesplenomegalia. O erro no diagnóstico é perigoso, pois, sem tratamento, a taxa de mortalidade para a forma visceral é de praticamente 100%. Os sintomas e sinais precoces da leishmaniose mucosa são obstrução nasal, epistaxe e estabelecimento de granuloma no septo nasal anterior (Fig. 63-10). A princípio, há hiperemia e edema da mucosa do septo anterior, com estabelecimento de nodulações e, às vezes, lesões de pele concomitantes (Fig. 63-11). Nessa fase, o paciente apresenta coriza e, em poucos dias ou meses, pode ocorrer perfuração do septo. A pele do nariz torna-se espessada, edemaciada e hiperemiada, acarretando aumento de volume da pirâmide nasal. Com a evolução da doença, o paciente passa a apresentar fácies leishmaniótica, conhecida como “nariz de tapir” ou “nariz de anta”, em decorrência da infiltração edematosa do revestimento e das estruturas de sustentação do nariz (Fig. 63-12). Posteriormente, em razão da agressão tecidual observada na doença, pode haver comprometimento de todo o nariz, lábio superior, palato e faringe (Fig. 63-13), provocando graves deformidades e mutilações (Fig. 63-14), impedindoa alimentação, dificultando a respiração e a fonação. 7 Laís Flauzino | OTORRINOLARINGOLOGIA | 7°P O diagnóstico é baseado na identificação da amastígota no exame histopatológico da lesão cutânea, mucosa ou visceral. A identificação do microrganismo pode ser facilitada pela coloração pelo método de Giemsa (Fig. 63-15). A sensibilidade da identificação por microscopia é de 75%-85%, em centros especializados. Testes sorológicos e PCR específicos para o parasita têm sido amplamente utilizados e têm facilitado o diagnóstico da doença. A droga de escolha é o antimonial pentavalente N- metil glucamina, administrado por via endovenosa e diluída, na dose de 20mg/kg/dia, por 20 a 40 dias. A pentamidina é uma alternativa, na dose de 4mg/kg/dia, via intramuscular, por 5 a 7 semanas, porém é mais eficaz nas formas cutâneas sem comprometimento de mucosa. A anfotericina B pode ser usada em doença na forma visceral. O paciente tratado deve ser acompanhado durante 12 meses. Ao final desse período, se permanecer estável, será considerado clinicamente curado. As sequelas nasais e faciais da leishmaniose cutaneomucosa são importantes e podem ser reabilitadas cirurgicamente (rinoplastia e correção de perfuração septal). Em geral, o tratamento cirúrgico pode ser efetuado dois anos após o paciente ser considerado curado. Nas Américas, as leishmanioses são enfermidades zoonóticas que causam nos humanos um conjunto de síndromes clínicas que podem comprometer a pele, as mucosas e as vísceras. A forma mucosa da leishmaniose tegumentar americana (LTA) é uma doença de grande importância no nosso país devido à sua elevada morbidade e sequelas deixadas, mesmo após o tratamento. É, geralmente, causada pela Leishmania (viannia) brasiliensis, que se caracteriza pela alta agressividade e pelo difícil isolamento nos tecidos acometidos. As recidivas são frequentes, mesmo anos após tratamento e aparente cura. Observou-se uma mudança no perfil do contágio da leishmaniose. No passado, a contaminação era quase que exclusiva de homens e relacionada ao desmatamento; atualmente, a distribuição dos casos entre homens e mulheres é mais uniforme, com acometimento também de crianças, o que reforça a ideia de que o contágio, nos dias de hoje, é domiciliar ou peridomiciliar. Pacientes de zona urbana contaminados, muitas vezes, relatam atividades de lazer que envolvem risco de infecção, como pesca ou ainda viagens de turismo a áreas endêmicas. A LTA é uma zoonose de animais silvestres transmitida por flebótomos dos gêneros Lutzomya e Psychodopygus. Os seres humanos não fazem parte, habitualmente, da cadeia de veiculação. No Brasil, a LTA pode ser causada por L. amazonensis, L. guyanensis e L. braziliensis. Quando o vetor flebotomíneo pica a pessoa, produz uma mácula de aproximadamente 0,5 cm de diâmetro, rodeada de um halo mais claro, que perdura por 1 a 2 dias. Essa mácula apresenta-se como efeito da picadura, e o período de incubação pode variar de 2 semanas a 2 meses. O aumento do tamanho do granuloma dérmico é o primeiro sinal da leishmaniose cutânea. Essa lesão consiste em uma pápula que evolui para nódulo, indolor, de aumento progressivo e que, na evolução, ulcera. Em algumas ocasiões, forma-se uma placa com descamação epidérmica. Inicialmente, a úlcera está coberta por uma crosta que está bem aderida e, ao retirá-la, sangra com facilidade. Ao desprender a crosta, observa-se a úlcera típica, de fundo límpido, redonda, de cor rósea, tecido granuloso, com bordas regulares e elevadas, indolor e de base endurecida. Na sua evolução natural, e dependendo do agente etiológico, a úlcera pode curar espontaneamente em 8 Laís Flauzino | OTORRINOLARINGOLOGIA | 7°P algumas semanas ou meses ou tornar-se crônica. Quando curada, a úlcera deixa uma cicatriz atrófica. Quadro clínico: Leishmaniose Mucosa e Mucocutânea Considera-se uma complicação de uma metástase, por via hematogênica ou linfática, de uma lesão cutânea distante ou, mais raramente, pela extensão à mucosa da lesão cutânea quando acomete a face. Pode ocorrer vários meses ou muitos anos após a cicatrização da forma cutânea. A maioria das lesões de mucosas aparecem nos 2 primeiros anos após a cicatrização da lesão cutânea, portanto, na anamnese, sempre se deve interrogar pela cicatriz característica da lesão cutânea. Em alguns pacientes, pode manifestar-se de forma simultânea à lesão cutânea e, em outros casos, pode não ocorrer a evidência de cicatrizes prévias nem história da enfermidade. O local mais afetado, geralmente, é a região nasal. Cursa com sensação de nariz obstruído, prurido, formação de crostas sero-hemáticas, presença de secreção mucossanguinolenta e, às vezes, sangramento nasal. O eritema, o edema e a infiltração produzem aumento do volume da ponta nasal e das asas de nariz. A lesão pode, ainda, perfurar o septo e destruir todas as estruturas, causando uma grave deformidade, como a ponta nasal caída e grossa, simulando um nariz de tapir (Fig. 83-8, A). As lesões orais da leishmaniose podem ser por acometimento do lábio superior, devido a uma extensão da lesão da cavidade nasal que chega a ponta nasal, columela e filtro labial, apresentando um aspecto infiltrativo e de úlceras recobertas por crostas; ou ainda um comprometimento da mucosa da cavidade oral, principalmente de palato mole (Fig. 83-8, B) e de úvula, com ulceração recoberta por uma granulação grosseira. Pode afetar também a região laríngea, ocasionando disfonia e comprometimento da fala. As lesões mucosas não evoluem espontaneamente para a cura, podendo provocar graves destruições e mutilações que afetam a qualidade de vida do paciente. Como as recaídas pós tratamento são frequentes, é importante reconhecer a sintomatologia associada às sequelas para não administrar medicamentos desnecessários. A perda da arquitetura e da função nasal leva o paciente a apresentar a sensação de ressecamento nasal, formação de crostas e, às vezes, dores. A presença de infecções bacterianas pode evoluir para as infecções de seios paranasais, e os pacientes podem apresentar, ainda, transtornos de deglutição como consequência das deformidades faciais, da amputação de úvula ou de sinéquias de palato mole e rinofaringe. Dentro do diagnóstico diferencial de leishmanioses mucosas, devemos incluir para a região nasal: traumatismos, infecções bacterianas, sífilis, uso de cocaína, intoxicação por cromo, granuloma maligno de linha média, paracoccidiodomicoses, histoplasmoses, pólipos nasais, rinosporidioses, doença de Hansen, carcinoma espinocelular e basocelular. Para a região de palato e laringe: carcinomas, paracoccidiodomicoses, histoplasmoses e tuberculose. Diagnóstico O aspecto clínico da lesão, a presença de lesões nasais e o encontro de cicatrizes que possam corresponder à lesão de inoculação são fatores importantes para o diagnóstico de leishmaniose. Porém, o diagnóstico de certeza só é feito com o achado da Leishmania, o que, na forma mucosa, é extremamente raro. O encontro do parasita pode ocorrer no exame anatomopatológico da lesão ou mesmo pela cultura do fragmento. A reação intradérmica de Montenegro contribui para a composição do quadro, mas sua positividade não distingue infecção passada, doença ativa ou inativa. No entanto, devido à baixa positividade desses métodos, outros estão sendo utilizados, como a imuno-histoquímica e a PCR para detecção do DNA do agente, em associação à hibridização in situ. Exames sorológicos com uso de imunofluorescência indireta e ELISA também podem contribuir para o diagnóstico e ser usados para controle de tratamento. O PCR pode demonstrar a presença do DNA do parasita, mesmo em lesões cicatriciais de pacientes tratados ou não, o que é de grande importância para o diagnóstico diferencial com outras doenças ulcerogranulomatosas e na concomitância de doenças. Tratamento O tratamento da leishmaniosemucosa tem um grande fator limitante, que é a toxicidade das drogas. Além disso, outros fatores apresentam grande influência no resultado do tratamento, como imunidade do hospedeiro e patogenicidade do parasita. Um dos fatores considerado importante é que a lesão de inoculação deve ser tratada, mesmo que, em algumas semanas, ela tenha evoluído para cura espontânea, a fim de se evitar a doença em mucosa, que pode surgir meses ou anos após a cicatrização da lesão cutânea. 9 Laís Flauzino | OTORRINOLARINGOLOGIA | 7°P A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o uso do antimônio pentavalente administrado por via intramuscular, ou endovenosa, na dose de 20 mg/kg/dia, no período de três semanas, como primeira escolha para o tratamento da leishmaniose cutânea. Existem tentativas de se reduzirem as altas doses utilizadas para que ocorra diminuição dos efeitos colaterais, porém, com resultados terapêuticos semelhantes. Já existem estudos, inclusive, que mostram a eficácia da terapia intralesional com a mesma medicação, com custos e efeitos colaterais menores. Para o tratamento da leishmaniose mucosa, a OMS também recomenda o antimônio administrado por via intramuscular ou endovenosa na dose de 20 mg/kg/dia, mas por um período mínimo de 28 dias. O mecanismo de ação desses compostos é incerto, porém, provavelmente, atuam na inibição de enzimas do parasita, em especial as envolvidas na síntese de trifosfato de adenosina (ATP, adenosine triphosphate). Têm como desvantagem a via de administração parenteral e os efeitos colaterais, que são, na maioria, reversíveis, como fadiga, dores musculares, alterações no eletrocardiograma, alteração nas aminotransferases e pancreatite química, principalmente em pacientes idosos. Apesar do tratamento adequado, vários pacientes apresentam recidivas. A infecção pelo HIV é um fator de risco para a falha do tratamento. Como segunda escolha de tratamento, a anfotericina B pode ser usada na dose de 1 mg/kg, diariamente ou em dias alternados, num total de 20 a 40 mg/kg, porém tem grande toxicidade, podendo causar trombocitopenia, convulsões, febre, flebite, anemia, diminuição da função tubular renal e hipocalcemia. Outra droga de segunda escolha é o isotionato de pentamidina (Pentacarinat™), recomendado na dose de 2 a 4 mg/kg, cujo efeito colateral principal é o diabetes. O sulfato de aminosidine foi usado para tratamento da leishmaniose mucosa, porém mostrou resultados pobres. A pentoxifilina associada ao Glucantime™ tem sido utilizada para tratar as lesões mucocutâneas, devido ao fato de atuar no TNF-α. A dose recomendada é de 400 mg, via oral, 8/8 horas, por 28 dias. SÍFILIS: • Treponema pallidum (espiroqueta) – transmitido via sexual ou via transversal • Diagnóstico: VDRL (> sensibilidade/rastreio) e FTA-Abs (>especificidade) VDRL fica positivo por muito tempo depois, então faz o VDRL junto com FTA-Abs que é mais especifico. Quando o VDRL dá positivo e não tem nenhum exame anterior, a gente faz o tratamento e depois repete o VDRL com FTA-Abs para saber se teve remissão da doença ativa ou não. • Tratamento: penicilina benzatina Se primária – 1 milhão e 200. Secundária e terciária 2 milhões e 400 1x por semana, 3 semanas consecutivas (dose dobrada). Em crianças a dosagem é menor. Primária: • Cancro (ulcera firme e dura) no local de inoculação da bactéria. • 10% tem alteração na cavidade oral – lábio, amigdalas, lingua, gengivas, mucosa jugal. Desaparecem em 1-2 meses Secundária: • Multimanifestações – máculas, placas, pápulas, lesões vegetantes (1 a 6 m após o cancro desaparecer) lesões em palma das mãos altamente infecciosas • ORL: Rinite aguda, OMA, faringite, adenopatias cervicais. Latente: • sem manifestações clínicas, mas com sorologias + Terciária: • Gomas e tubérculos – não infectantes • Nariz em sela, ulceração em palato ósseo, infiltração granulomatosa em língua, laringe Úlceras maiores, mais graves e mais crônicas. Congênita: • Precoce – até 2 anos, obstrução nasal • Tardia: Maxila hipodesenvolvida, nariz em sela, dentes de Hutingson, palato ogival, atraso DNPM Quando é congênita pode ter obstrução nasal associada e hipoplasia de maxila Sífilis Doença causada pela espiroqueta Treponema pallidum, adquirida geralmente por contato sexual, participando assim do grupo das doenças sexualmente transmissíveis. A contaminação também pode ser por via transplacentária, transfusional ou acidental. Há cerca de 30 casos por 100.000 habitantes por ano nos Estados Unidos e na Europa. Os sinais e sintomas de sífilis são vários, dependendo do estágio em que se encontra. A sífilis primária (cancro sifilítico) manifesta-se após um período de incubação variável de 10 a 90 dias, com média de 21 dias após o contato. Até este período inicial, o indivíduo permanece assintomático, quando aparece o “cancro duro”. O cancro é uma pequena ulceração firme e dura que surge no ponto exposto inicialmente ao treponema, geralmente pênis, vagina, reto ou cavidade oral. Esta lesão permanece por 4 a 6 semanas, desaparecendo espontaneamente. A sífilis secundária é caracterizada por uma erupção cutânea que aparece de 1 a 6 meses (em gera 6 a 8 semanas) após a lesão primária ter desaparecido. Normalmente, trata-se de uma erupção vermelha/rosácea, simetricamente em tronco e membros, palma das mãos e sola dos pés. Manchas do tipo placas também podem aparecer nas mucosas genital, oral e nasal. São altamente infecciosas. A sífilis terciária surge 1 a 10 anos após a infecção inicial em cerca de 15% dos pacientes não tratados. É 10 Laís Flauzino | OTORRINOLARINGOLOGIA | 7°P caracterizada pela formação de gomas sifilíticas (tumorações com bordas elevadas e centro amolecido), as quais podem acometer qualquer local do corpo, especialmente coração, sistema nervoso central e via aereodigestiva superior. Sífilis congênita (adquirida no útero e presente ao nascimento) ocorre quando uma criança nasce de mãe com sífilis primária ou secundária. Cerca de 40% dos nascimentos de mães sifilíticas são natimortos; 40 a 70% dos sobreviventes estão infectados e 12% destes morrerão nos primeiros anos de vida. Manifestações de sífilis congênita incluem alterações radiográficas, dentes de Hutchinson (incisivos centrais superiores espaçados e com entalhe central), “molares em amora” (ao sexto ano, os molares ainda têm suas raízes malformadas), bossa frontal, rinite persistente bilateral, nariz em sela, maxilares subdesenvolvidos, hepatomegalia, esplenomegalia, anemia e linfonodomegalia. Existe acometimento nasal em cerca de 1% dos casos diagnosticados de sífilis (Figs. 63-7 e 63-8). São de especial atenção a rinite persistente bilateral do lactente, as lesões na mucosa nasal (goma ou sífilis secundária), que podem causar perfuração septal e deformidade estética, e o nariz em sela em sífilis congênita. O diagnóstico pode ser por exame de campo escuro ou por sorologia. O exame de campo escuro é positivo em cancro ou lesões úmidas na forma secundária. Como teste sorológico inespecífico, tem- se o VDRL (Venereal Disease Research Laboratory), que fornece resposta positiva em uma a duas semanas. Já a absorção de anticorpo treponêmico fluorescente (FTA-ABS, fluorescent treponemal antibody absorption) é um teste específico dirigido contra componentes próprios do T. pallidum, que podem ser detectados a partir da segunda semana de infecção, tendendo a permanecer positivo por vários anos e, às vezes, por toda a vida. O tratamento depende da forma clínica: ■ Sífilis primária: penicilina benzatina, 2,4 milhões UI, via intramuscular, em dose única (1,2 milhão UI em cada glúteo). ■ Sífilis recente secundária e latente: penicilina benzatina, 2,4 milhões UI, via intramuscular, repetida após uma semana. Dose total de 4,8 milhões UI. ■ Sífilis tardia (latente e terciária): penicilina benzatina, 2,4 milhões UI, intramuscular,semanal, por três semanas. Dose total de 7,2 milhões UI. Para indivíduos alérgicos à penicilina, as opções são: ■ Tetraciclina, 500 mg, via oral, 6/6h, por 15 dias. ■ Doxiciclina, 100 mg, via oral, 12/12h, por 15 dias. ■ Eritromicina, 500 mg, via oral, 6/6h, por 15 dias. O tratamento das deformidades nasais (rinoplastia reparadora ou correção de perfuração septal) deve ser postergado até três anos após fim do tratamento, especialmente em casos de sífilis terciária. Para o nariz em sela da sífilis congênita, deve-se aguardar o término do desenvolvimento craniofacial da criança para rinoplastia reparadora, devendo ser antecipado somente em situações de obstrução nasal grave sem resposta ao tratamento clínico. RINOSCLEROMA: • Rara, lenta, progressiva Comum no Brasil principalmente em homens com mais de 60 anos. Deformidades. Deposição da Klebsiela rhinoscleromatis • Mulheres negras (15-30 anos) – fora do Brasil • Endêmica – leste europeu, norte da África, Américas central e do sul – viagens para essas áreas • Pouco contagiosa – necessita de muitos contatos • Klebsiella rhinoscleromatis (G-) • Presente no esfregaço de secreção basal e na biópsia Não dá diagnóstico antes de fazer esfregaço. 11 Laís Flauzino | OTORRINOLARINGOLOGIA | 7°P Lembrar do que pode estar associado: uma espinha que inflamou, ficou grande e depois criou um nódulo – o nódulo cresce, as vezes aumenta e diminui – esse é o rinoscleroma. É como se fosse uma cicatriz fibrótica. • Biópsia: infiltrado polimorfonuclear em submucosa com céls de Mikulicz • Marcador imunohistoquímico: histiócito CD 68 Sinais e sintomas: • Rinorréia purulenta • Rinite atrófica • Nódulos amolecidos na submucosa (nasal, faringe, laringe) • Cicatriz – espessamento fibrótico Normalmente é pequeno – deformidades causadas por cicatrizes fibróticas que quando você tira, é como se fosse um tumor. • Fase catarral: rinorreia, crostas e obstrução nasal • Fase granulomatosa: nódulos e lesões infiltrativas no nariz • Fase cicatricial: estenose do vestíbulo do nariz e da laringe Tratamento: • Tetraciclina e Estreptomicina VO por 4 semanas – 70% de sucesso – culturas negativas Escleroma é uma infecção crônica granulomatosa, lentamente progressiva, que afeta o nariz e outras estruturas do trato respiratório. É uma doença rara, podendo ser assintomática por vários anos. O nariz é a estrutura comprometida com maior frequência, evoluindo com deformidades da pirâmide nasal causadas pelas lesões granulomatosas. Eventualmente, estende-se para laringe, nasofaringe, cavidade oral e cavidades paranasais e, em menor frequência, para lábios, traqueia e brônquios. Raramente é descrita a forma extrarrespiratória. O agente etiológico é Klebsiella rhinoscleromatis, um bacilo capsulado Gram-negativo. A doença é encontrada na América Central e no Leste Europeu. A ocorrência em famílias consanguíneas sugere que um controle genético da resposta do hospedeiro a K. rhinoscleromatis pode estar envolvido na patogênese do rinoescleroma. Apresenta três fases evolutivas: ■ Catarral: rinorreia, crostas e obstrução nasal, podendo durar semanas ou meses. ■ Granulomatosa: nódulos e lesões infiltrativas; no nariz podem causar alargamento da pirâmide nasal e destruição do septo. ■ Cicatricial: estenose do vestíbulo do nariz e da laringe. Ao exame físico nasal podem ser encontradas grandes massas nodulares ou pólipos, às vezes confundidas com tumores malignos. O acometimento do antro maxilar é frequente (Fig. 63-6). Histologicamente contém grandes macrófagos com citoplasma claro, vacuolado e abundante (células de Mikulicz) associados a células inflamatórias crônicas, especialmente plasmócitos com numerosos corpúsculos de Russell. O diagnóstico é estabelecido com a biópsia, que revela esses aspectos histológicos sugestivos e a identificação do bacilo pela coloração de Warthin- Starry. A cultura em meio de ágar MacConkey isola o agente. O tratamento medicamentoso preconizado atualmente é com ciprofloxacino, devido a seu alto poder de penetração em macrófagos. Deve ser usado por até dois dias após a remissão dos sintomas (usualmente 250 a 500 mg, 2 vezes/dia, por 7 a 14 dias). Se houver estenose cicatricial, tanto do nariz quanto da laringe, é necessário tratamento cirúrgico. PARACOCCIDOIDOMICOSE: • Doença granulomatosa sistêmica • Paracoccidioides brasiliensis – inalação esporos do solo • Não transmite pessoa-pessoa • Manejo com a terra • Tempo prolongado entre os sintomas e a saída da área endêmica 12 Laís Flauzino | OTORRINOLARINGOLOGIA | 7°P Clínica: • Lesões cutaneomucosas ulcerações com fundo granuloso e avermelhado (estomatite moriforme), mucosa nasal e oral, lesões de laringe com destruição da epiglote Destruição de cartilagem septal. Epiglote é importante para deglutir sem broncoaspirar então pode ter alteração nisso, pneumonia de repetição. Diagnóstico: • Visão direita fungo por citologia ou histologia Tratamento: • Itraconazol por 6 meses Roda de leme – visão direta do fungo na histopatologia. Raio x alterado – pode não ser compatível com a clínica do paciente. “Asa de borboleta” Exantema moriforme A paracoccidioidomicose é uma das doenças ulcerogranulomatosas mais comuns no nosso meio, sendo a doença fúngica mais frequente. Tem acometimento da mucosa oral em grande parte dos casos. É causada pelo fungo Paracoccidioides brasiliensis. É mais frequente no sexo masculino, em uma proporção que varia de 10 a 15 para cada mulher. Isso ocorre porque os homens estão mais expostos ao habitat do fungo, pelo trabalho agrícola, e as mulheres beneficiam-se do papel protetor do estrogênio. O contágio ocorre por via inalatória, com o fungo proveniente do solo, estabelecendo-se no pulmão. É inalado na forma de micélio e transforma-se na forma patogênica de levedura induzido pela temperatura corporal humana. Após o contágio, quando não ocorre regressão do complexo primário, o quadro pode evoluir para paracoccidioidomicose, que vai assumir uma forma aguda ou uma forma crônica. A forma aguda ou subaguda é mais comum em indivíduos jovens e tem grande envolvimento sistêmico, com comprometimento de baço, fígado, linfonodos e medula óssea. A forma crônica acomete indivíduos mais velhos, geralmente entre 30 e 60 anos. Nessa forma é que ocorre o comprometimento pulmonar e de mucosas. Quadro clínico: Ulcerações rasas, com fundo granuloso e pontilhado hemorrágico, semelhante a “picada de pulga”, aspecto que foi chamado de estomatite moriforme (Fig. 83-9). As lesões podem ser múltiplas e são dolorosas, causando disfagia e sialorreia. Toda a cavidade oral pode ser acometida, porém tem grande preferência por lábios e gengivas, inclusive rebordos alveolares, onde pode causar exposição da raiz, amolecimento e perda de elementos dentários. O acometimento laríngeo, na forma crônica, é muito frequente e causa disfonia e dispneia. O aspecto radiológico do quadro pulmonar é, normalmente, em asa de borboleta, com acometimento das regiões médias, peri-hilares, porém pode haver comprometimento difuso, semelhante à tuberculose. Diagnóstico: O diagnóstico é feito pelo encontro do fungo, em material obtido por raspado das lesões ou, com maior segurança, por biópsia. O exame microscópico de fragmentos de biópsia revela acantose, hiperplasia pseudoepiteliomatosa, células inflamatórias, células gigantes multinucleadas e formas esféricas, com membrana birrefringente. Como o fungo reproduz-se por esporulação, causa o aspecto classicamente descrito como “roda de leme”. Os fungos podem ser visualizados com a coloração de hematoxilina-eosina ou Grocott, sendo essa última a mais eficaz. As provas sorológicas específicas têm importância não apenas no auxílio diagnóstico, como também para avaliar a resposta do hospedeiro ao tratamento e o critério de curada doença. Os métodos podem ser o de imunodifusão dupla (ID), de contraimunoeletroforese (CIE), de 13 Laís Flauzino | OTORRINOLARINGOLOGIA | 7°P imunofluorescência indireta (IFI), de ensaio imunoenzimático (ELISA) e de imunoblot (IB). O primeiro, ID, é considerado o melhor método. A especificidade dos testes sorológicos varia de 85% a valores próximos de 100%. Reações falso-positivas podem ocorrer com soros de pacientes com histoplasmose e aspergilose. Atualmente, esses métodos são disponíveis em serviços de referência. O diagnóstico diferencial das lesões da boca é feito, principalmente, com a histoplasmose e a tuberculose. É importante salientar que já foi descrita a relação da paracoccidioidomicose com o surgimento de carcinoma espinocelular, e pode coexistir com a tuberculose. Assim, na vigência de quadro pulmonar de tuberculose diagnosticado, as lesões orais devem ser investigadas, e o contrário também é verdadeiro. Tratamento O itraconazol é a opção terapêutica mais recomendada atualmente, pois permite o controle das formas leves e moderadas da doença em menor período de tempo. Atua na membrana celular do fungo e se mostra bem eficaz. A dose recomendada é de 200 mg/dia, em uma única tomada. Não deve ser associado a antiácidos, a bloqueadores de receptor H2 e à rifampicina. O tratamento, de modo geral, tem duração de 6 a 9 meses e deve ser monitorado com avaliação das funções hepática e renal. Entretanto, considerando que esse medicamento não está disponível na rede pública da maioria dos estados do nosso país, a combinação sulfametoxazol- trimetroprim é, por vezes, a alternativa mais utilizada na terapêutica ambulatorial. A dose recomendada é de sulfametoxazol 800 a 1.200 mg e trimetoprim 160 a 240 mg, 2x dia, por 12 meses nas formas leves e 18 a 24 meses nas formas moderadas. Uso é muito prolongado, já que sua ação é fungistática. Pacientes com formas graves, doença disseminada ou comorbidades devem receber anfotericina B ou associação sulfametoxazol/trimetoprim por via endovenosa, necessitando de internação hospitalar. As sequelas decorrentes da cura das lesões orais da paracoccidioidomicose devem-se ao intenso processo de fibrose e retração locais e podem levar a microstomia, disfonia e retração da língua. Paracoccidioidomicose Paracoccidioides brasiliensis é um fungo dimórfico, cuja forma sexuada multicelular é um bolor com micélios constituídos por hifas, mas, no homem, há uma adaptação para a forma unicelular de levedura com multiplicação assexuada por germinação. A paracoccidiomicose existe nas zonas rurais do Brasil e de outros países da América Latina. Afeta principalmente os agricultores que trabalham com terra que contém os esporos (produzidos pela forma sexual livre). A infecção é ocasionada pela inalação desses esporos infecciosos. No Brasil, a maior incidência é nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. A infecção pelo P. brasiliensis é contraída nas duas primeiras décadas de vida, com o pico de incidência entre 10 e 20 anos de idade. A evolução para doença é incomum nessas décadas, ocorrendo mais em adultos entre 30 e 50 anos, como reativação de foco endógeno latente e depende de fatores relacionados tanto com o agente infeccioso quanto com o hospedeiro. A maioria dos casos de paracoccidioidomicose acomete indivíduos do sexo masculino, fumantes e etilistas crônicos, cujas condições de higiene, nutricionais e socioeconômicas são precárias. Clinicamente, apresenta a forma juvenil (aguda ou subaguda), sendo de curso rápido e apresentando marcante envolvimento do sistema reticuloendotelial, representando 3%-5% dos casos; e a forma adulta ou crônica, mais localizada, que acomete frequentemente pulmões e vias respiratórias. As lesões cutaneomucosas caracterizam-se por ulcerações com fundo granuloso e avermelhado, acompanhado por ponteado hemorrágico típico, denominado estomatite moriforme. Mucosas nasal e oral são quase sempre acometidas, e os lábios apresentam tumefação difusa (Fig. 63-9). Observam- se lesões laríngeas, com destruição da epiglote. Gengivites úlcero-hemorrágicas, periodontites, mobilidade e perdas dentais são frequentes. O diagnóstico se faz pela visão direta do fungo (aspecto de “roda de leme”) em exame de citologia ou histopatologia. A cultura microbiana (em meio de Saborraud) também estabelece o diagnóstico. Exames indiretos como reação de precipitação, reação de fixação de complemento, eletroforese de proteínas e intradermorreação com a paracoccidioidina auxiliam em diagnóstico, estadiamento e acompanhamento da doença. A droga de escolha para o tratamento da doença é o itraconazol (200 mg/dia, por seis meses). A anfotericina B (1 a 1,5 mg/kg, em dias alternados, até dose total de 1 a 2 g) deve ser usada em casos mais graves. INFLAMATÓRIAS: • Granulomatose de Wegener • Sarcoidose O diagnóstico é por exclusão – pede tudo, ANCA, PCR, VHS para ver se é ou não doença autoimune. As granulomatoses estão muito associadas à doenças autoimunes. SARCOIDOSE Doença multissistêmica de etiologia indeterminada. Não tem exame específico. • Nasal: 3 a 20% dos casos, faz coriza purulenta, obstrução nasal 14 Laís Flauzino | OTORRINOLARINGOLOGIA | 7°P • Envolvimento glandular: Parotidite (mais comum) e edema de glândulas lacrimais. • Síndrome de Heerfordt: febre crônica, edema parotídeo bilateral, uveíte e paralisia facial Diagnóstico: • Linfonodomegalia hilar bilateral no rx • Bx (granuloma sem necrose) – biópsia sem necrose • Elevação do cálcio sérico e urinário, FA (fosfatase alcalina), linfopenia Tratamento: • MTX (metrotexato), hidorxicloroquina, CTC VO (corticoide via oral) • Tto nasal: SFN, CTN, geralmente não requer cirurgia – para evitar crostas associadas e complicações • Rx tórax sugestivo • Histopatologia sugestiva • Exames específicos Aspecto retículo nodular peri-hilar bilateral, moderada hipertrofia peri-hilar bilateral. Calcificações dos linfonodos (“casca de ovo”) Espessamento de mucosa, partes moles nos seios bilaterais. Etmoide tomado com lesão. Necrose de concha associada com crosta Granulomas de células epitelióides sem necrose central e com infiltrado linfocitário e plasmocitário ao seu redor. Sarcoidose – exames específicos: não tem. Sarcoidose A sarcoidose, ou doença de Besnier-Boeck- Schaumann, foi descrita pela primeira vez em 1875, por Hutchinson, que a chamou de doença de Mortimer, em referência ao nome do paciente cujo quadro clínico relatou. É uma doença granulomatosa, multissistêmica, de etiologia e patologia indeterminadas, porém com alterações evidentes do sistema imunológico, como proliferação de células inflamatórias na área ou órgão afetado (granuloma), depressão das respostas cutâneas de hipersensibilidade tardia aos antígenos, além de síntese e circulação em excesso de imunoglobulinas. Tem distribuição mundial, com predileção pela zona rural. No Brasil, poucos são os casos relatados. É mais frequente entre a 3a e a 5a década de vida, com tendência familiar e predileção por mulheres e negros, sendo encontrada entre 1 e 40 doentes por 100.000 pessoas. Compromete todos os órgãos, com predileção por pulmões (94%); gânglios linfáticos (37%); pele, fígado e olhos (21%); ossos, músculos, glândulas exócrinas, 15 Laís Flauzino | OTORRINOLARINGOLOGIA | 7°P coração, sistema nervoso e rins (10%); tonsilas palatinas (2,4%); nariz e mucosa oral (2,1%) e laringe (1,5%). Cerca de 5% dos casos são assintomáticos e detectados em radiografias de tórax, acidentalmente. Em 45% das vezes, os sintomas são sistêmicos (febre, anorexia, artralgias). Sintomas pulmonares (dispneia, tosse, dor torácica) estão presentes em 50% das ocorrências. As localizações cutâneas preferencialmente estão na face. Destaca-se o lupus pernio como a lesão cutânea associada mais específica da sarcoidose.É caracterizado por placas e nódulos vermelho- arroxeados ou violáceos, que usualmente acometem nariz, bochechas, orelhas e lábios. As localizações mucosas são raras. As lesões interessam principalmente as cavidades nasais e as cavidades paranasais. A incidência de sarcoidose nasal varia de 3%-20% dos casos de sarcoidose sistêmica, podendo ser a única manifestação da moléstia. Clinicamente, manifesta-se com coriza purulenta, obstrução nasal e crostas. Ao exame físico, observam-se duas apresentações: ■ Nódulos de volume variado, que se localizam sobre o septo ou as conchas inferiores, de coloração inicialmente branca e opaca, com discretas linhas hiperêmicas, tornando-se depois amarelo-ocre. ■ Infiltração difusa, com toda a mucosa extremamente espessada, pálida, infiltrada e endurecida ao toque. Evolui para formação de tecido fibroso, com consequente estenose das cavidades nasais. Podem ser observados também perfuração septal ou pólipos nasais. Estabelecer o diagnóstico é complexo e consiste na associação de achados de estudos laboratoriais, biópsia de vários espécimes e estudos radiográficos. Os exames laboratoriais podem revelar linfopenia, hiperglobulinemia, hipercalcemia e hipercalciúria. As provas de função hepática mostram aumento de fosfatase alcalina. Elevação dos níveis da enzima de conversão da angiotensina e do cálcio urinário é sugestivo. A radiografia do tórax é importante devido ao elevado percentual de comprometimento pulmonar. Algumas reações imunológicas podem ser realizadas, o que auxilia no diagnóstico ao mostrar diminuição ou ausência das reações cutâneas de hipersensibilidade tardia ou aumento de produção dos anticorpos humorais. A positividade no teste de Kveim-Siltzbach, representada por granuloma epitelioide sobre a biópsia cutânea, efetuada seis semanas após a injeção intradérmica do antígeno, indica possibilidade de sarcoidose de 80%. A biópsia é de grande importância para o diagnóstico, sendo a pele e a mucosa nasal os espécimes mais utilizados. O estudo histopatológico típico revela a formação de granulomas, sem necrose caseosa. Encontram-se células gigantes multinucleadas e, ocasionalmente, eosinófilos. Estas células gigantes podem conter três tipos de inclusão intracitoplasmática: corpúsculos de Schaumann, corpos asteroides de Wolbach e esferas centrais. A abordagem terapêutica depende dos sinais e sintomas e dos órgãos acometidos. Cerca de 75% dos casos necessitam apenas de medicações sintomáticas (anti-inflamatórios não hormonais). Aproximadamente 10% dos pacientes necessitam de tratamento para doença extrapulmonar e 15%, para doença pulmonar persistente. A corticoterapia é a base do tratamento, sendo indicada quando existirem complicações ou localizações expondo o doente a sequelas graves e definitivas, como o comprometimento de órgãos vitais. As principais indicações são sinais clínicos de insuficiência respiratória progressiva, uveíte anterior com risco de cegueira, lesões cutâneas extensas e antiestéticas, neuropatia periférica, comprometimento cerebelar e hipercalcemia e hipercalciúria com comprometimento das funções renais. A droga de escolha é a prednisona, na dose de 1mg/kg/dia, diminuindo-a gradativamente até uma dose de manutenção por cerca de um ano. O uso de imunossupressores deve ser limitado aos casos refratários aos corticosteroides. Envolvimento cutâneo limitado e não desfigurante pode ser tratado com infiltração intralesional de corticosteroide (2 a 10 mg/mL de acetonida de triancinolona em intervalos mensais). Lesões cutâneas crônicas como placas ou lupus pernio requerem terapias mais agressivas. Exérese cirúrgica e reconstrução com enxertos e retalhos podem ser realizadas. Pode-se fazer cirurgia endoscópica funcional das cavidades paranasais que, em geral, melhora a qualidade de vida dos pacientes, porém há possibilidade de recorrência dos sintomas. Os pacientes devem ser acompanhados, pois, apesar do alto percentual de cura espontânea (95%), a taxa de mortalidade de 5% exige que o médico mantenha vigilância rigorosa. GRANULOMATOSE DE WEGENER: • Doenças sistêmica caracterizada por granulomatose necrotizante e vasculite de pequenos vasos do trato respiratório São alterações de complemento intravasculares que fazem lesões intravasculares associadas a glomerulonefrite e alterações das vias respiratórias. • Sintomas iniciais: febre, anorexia e emagrecimento • Tríade clássica: Lesões granulomatosas necrosantes no trato respiratório + vasculite + glomerulonefrite 16 Laís Flauzino | OTORRINOLARINGOLOGIA | 7°P Reação inflamatória que causa os complexos que vão para vários locais. Nos rins ficam presos e causam lesão renal. Vasculite – complementos passam nos vasos e causam lesões. Diagnóstico: • ANCA-C + (99% de especificidade) • ↑ ANCA-C: recidiva ou progressão • Biópsia: granulomas necrosantes com vasculite (RINS), granulação piogênica e com células epitelióides. • Investigação sistêmica: hemograma, U, Cr, PCR, VHS, ECA (enzima conversora de angiotensina – pode estar aumentada) – descartar outras doenças, principalmente sarcoidose Acomete pulmão, rim, seios paranasais, rinofaringe Clínica: febre, cefaléia, artralgia, emagrecimento ORL: • Nasossinusal: rinorréia, epistaxe, perfuração septal, nariz em sela (1/4 dos pctes), RNSC (rinossinusite crônica) • Oral: hiperplasia gengival, gengivite • Laringe: 25% estenose subglótica, estridor • Ouvido: Pericondrite, paralisia facial, perda auditiva Tratamento • Prednisolona em altas doses, citotóxicos (azatioprina), plasmaférese • SFN (soro fisiológico nasal), CTN (corticoide nasal), rinoplastia ou correção de perfuração somente após indolente. Granulomatose de Wegener A granulomatose de Wegener é uma doença sistêmica idiopática rara, imunologicamente mediada, caracterizada por acometer as pequenas artérias do trato respiratório superior e inferior e dos rins, provocando reação inflamatória com necrose, formação de granuloma e vasculite nesses órgãos. Peter McBride descreveu os sintomas da doença pela primeira vez em um jornal médico inglês, relatando especificamente a deformação nasal que a doença pode gerar. Heinz Karl Ernst Klinger chegou a descrever outras características que apontam para a doença, mas o quadro geral foi apresentado e formalizado por Friedrich Wegener, um patologista alemão, que reportou a doença em 1936 e 1939. A média de idade do diagnóstico costuma estar entre 20 e 40 anos, com predominância no sexo masculino, na proporção de 1,5:1. É uma doença incomum em pessoas da raça negra. Como sintomas gerais iniciais, o paciente costuma apresentar febre, anorexia, emagrecimento, fadiga e fraqueza. As manifestações mais frequentes do trato respiratório superior envolvem o nariz e as cavidades paranasais (em 80%-90% dos casos) e são obstrução nasal crônica com rinorreia clara, ulceração e edema da mucosa nasal, parosmia, epistaxe e cefaleia. Perfuração do septo nasal e ulceração/erosão do vômer são clássicas. Podem ocorrer otalgia e otorreia, decorrentes do bloqueio da tuba auditiva por acometimento da nasofaringe, otite média com efusão e otite média crônica com perfuração da membrana timpânica. A tríade clássica da granulomatose de Wegener é: ■ Lesões granulomatosas necrosantes no trato respiratório. ■ Vasculite. ■ Glomerulonefrite. A granulomatose de Wegener é sugerida pela apresentação clínica e por teste sorológico. O diagnóstico é estabelecido por biópsia tecidual. O anticorpo anticitoplasma de neutrófilo (ANCA) apresenta alta sensibilidade e especificidade em pacientes com doença generalizada ativa e usualmente demonstra coloração citoplasmática. Apesar de também específico para granulomatose de Wegener limitada, é menos sensível nessa condição clínica. A biópsia do tecido envolvido é vital em razão das lesões renais serem quase sempre não específicas,mostrando somente glomerulonefrite crescêntica. A biópsia das vias aéreas superiores, especialmente de nariz e pulmão, em geral é necessária para confirmar o diagnóstico. O tratamento é feito com drogas imunossupressoras e deve ser instituído o mais cedo possível, pois se trata de uma enfermidade grave, que leva à morte devido a infecções e, principalmente, à falência renal. Preconiza-se ciclofosfamida administrada nas doses de 2 mg/kg/dia, por VO, que deve ser continuada por um ano após a indução da remissão completa e, daí em diante, será reduzida gradualmente até poder ser suspensa. No início da terapia (1o mês), utiliza-se prednisona na dose de 1 mg/kg/dia, com redução progressiva em seis meses. A associação sulfametoxazol-trimetoprima é utilizada por alguns devido ao efeito benéfico no controle das infecções secundárias. RINOFIMA: • Elefantíase nasal ou acne hiperplásica • Associado, na maioria das vezes, ao alcoolismo • Hipertrofia e hiperplasia das glândulas sebáceas, proliferação fibrovascular da derme e acantose do epitélio Associada ao aumento de acne. Como se fosse hipertrofia do tecido local. • Homens 12: 1 Mulher Muito comum no Brasil, principalmente em homens. • Em torno de 60 anos - idosos • Tratamento: resseção cirúrgica, exérese por ácidos aplicados sobre a pele, isotretinoína. 17 Laís Flauzino | OTORRINOLARINGOLOGIA | 7°P